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Equações Diferenciais Ordinárias

Universidade Eduardo Mondlane Sansão Pedro, PhD i


Sumário

I Introdução à Equações Diferenciais com Derivadas Parciais 1


1.1 Equações Diferenciais com Derivadas Parciais . . . . . . . . . . . . . . . . 1
1.1.1 O que é uma EDDP . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1
1.1.2 Classificação de EDDPs . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3
1.1.3 Classificação de equações lineares de segunda ordem em duas variá-
veis com coeficientes constantes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6
1.1.4 Actividades Formativas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8
UNIDADE TEMÁTICA I

Introdução à Equações Diferenciais


com Derivadas Parciais

1.1 Equações Diferenciais com Derivadas Parciais

Aula 1: Equações Diferenciais com Derivadas Parciais


Objectivo geral da aula
Esta aula tem como objectivo principal demonstrar a utilidade de equações diferenciais
com derivadas parciais bem como são classificadas.

Objectivos específicos da aula


• Introduzir o conceito de EDDP;

• Apresentar diversos métodos de resolução de EDDPs;

• Descrever a classificação de EDDPs;

1.1.1 O que é uma EDDP


Uma equação diferencial em derivadas parciais (eddp) pode escrever-se como uma relação
onde aparece uma função incógnita u junto com pelo menos uma derivada parcial. Dado
que em uma EDDP devem aparecer derivadas parciais se sobreentende que u depende de
pelo menos duas variáveis independentes. Em geral, uma EDDP é uma relação da forma

G(x1 , x2 , ...xn , u, ux1 , ....uxn , ...um m2 mk


x1 , ux2 , ...uxn ) = 0
1
(1.1.1)

onde m1 + ... + mk < ∞, quer dizer, nesta relação aparecem um numero finito de
derivadas parciais em relação a qualquer das variáveis x1 , ....xn de uma função incógnita

1
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u = u(x1 , x2 , ...xn ). Neste material utilizaremos t, x, y, z, η, ξ, x1 , x2 ...xn para denotar as


variáveis independentes, a variável t estará associada com o tempo, x1 , ....xn estão asso-
ciadas com dimensões espaciais. As derivadas parciais de u se denotam em geral como
m 2 ∂2u
uxmi
= ∂∂xmu , neste material usaremos as notações uxx = ∂∂xu2 e uηξ = ∂η∂ξ . O número de
i
variáveis de uma equação diferencial parcial (1.1.1), se define como o número de variáveis
da função incógnita u.

Exemplo de equações mais destacadas

1. A equação de calor : ut − uxx = 0

2. A equação da barra ut − uxxx = 0

3. A equacao das funções p-armónicas :div(|| ▽ u||p−2 ▽ u) = 0, onde 1 < p < ∞


p
▽u = (ux , uy , uz ) e || ▽ u|| = u2x + u2y + u2z

4. A equação de Burgers: ut + uux = 0

5. Equação de Laplace em coordenadas polares: urr + 1r ur + 1


u
r2 θθ
=0

Porquê as EDDPs são úteis

A maioria das leis naturais da física, como as equações de Maxwell, a lei de resfriamento
de Newton, as equações de Navier-Stokes, as equações de movimento de Newton e a equa-
ção de Schrodinger da mecânica quântica, são declaradas (ou podem ser) em termos de
EDDPs, isto é , essas leis descrevem fenômenos físicos relacionando derivadas de espaço e
tempo. Derivadas ocorrem nessas equações porque as derivadas representam coisas natu-
rais (como velocidade, aceleração, força, atrito, fluxo, corrente). Portanto, temos equações
relacionando derivadas parciais de alguma quantidade desconhecida que gostaríamos de
encontrar. O propósito desta disciplina é para demonstrar duas coisas ao estudantes:

• Como formular uma EDDP a partir de um problema físico (construir o modelo


matematico),

• Como resolver uma EDDP (acompanhada de condições iniciais e de fronteira).

Agora, vejamos alguns dos métodos existentes ou mais usados para a resolução de EDDPs.

Métodos de resolução de EDDPs

Embora exista uma boa vasta gama de métodos para resolver EDDPs, os mais impor-
tantes são aqueles que convertem os EDDPs em equações diferenciais ordinárias. Abaixo
mencionamos alguns:

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1. Separação de Variáveis: esta técnica reduz a EDDP em n variáveis para uma


EDO de n variáveis.

2. Transformada Integral: este procedimento reduz uma EDDP em n variáveis


independentes para uma em n−1 variáveis; pelo que, uma EDDP em duas variáveis
poderá ser transformada em uma EDO.

3. Mudança de Coordenadas: este método muda a EDDP original para uma EDO
ou uma outra EDDP (mais tractável) fazendo mudança de coordenadas do problema
(por exemplo radando os eixos).

4. Métodos Numéricos: este método muda a EDDP para um sistema de equações de


diferença que pode ser resolvida por meio de técnicas iterativas no computador; em
muitos casos, este é o único método que funciona. Além dos métodos que substituem
a EDDP por equações de diferenças, existem outros metódos que tentam aproximar
soluções por meio de superfíies polinomiais (aproximações de splines).

5. Métodos de pertubação : este método muda um problema não linear em uma


sequencia de problemas lineares que aproximam o problema original.

6. Técnica do Impulso-repulsivo: este procedimento decompoe as condições iniciais


e de fronteiras em impulsos simples and determina a resposta a cada impulso. A
resposta total é então encontrada adicionando estas respostas simples.

7. Equações Integrais: esta técnica a muda uma EDDP para uma equação integral
(uma equação em que o argumento está sob o integral).

8. Método de Cálculo Variacional: estes métodos encontram a solução de uma


EDDP reformulando a equação como um problema de minimização . Como resul-
tado, o minimo de uma certa expressão (em muitos casos representa a energia total)
é também solução da EDDP.

9. Expansão de funções próprias: este método tenta encontrar a solução de uma


EDDP como uma soma infinita de autofunções. Essas autofunções são encontradas
resolvendo o que é conhecido como um problema de autovalor correspondente ao
problema original.

1.1.2 Classificação de EDDPs


Equações diferenciais com derivadas parciais são classificadas mediante vários aspectos.
A classificação é extrema importância pois a teoria geral e os próprios métodos de solução
geralmente são aplicáveis a uma determinada classe de equações . Abaixo apresentamos
a lista de seis classificações básicas,

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1. Ordem: a ordem de uma EDDP é a ordem da derivada parcial mais elevada na


equação , por exemplo,

• ut = uxx (segunda ordem)


• ut = ux (primeira ordem)
• ut = uuxxx + sinx (terceira ordem)

2. Número de Variáveis: esta refere-se ao número de variáveis independentes, por


exemplo,

• ut = uxx (duas variáveis: x e t)


• ut = urr + 1r ur + 1
u
r2 θθ
(três variáveis: r, θ e t)

3. Linearidade: equações diferenciais parciais são lineares ou não lineares. Nas lineares,
a variávei dependente u e todas suas derivadas estão postas de maneira linear (não
estão multiplicadas com ela mesma). Precisamente, uma EDDP de segunda
ordem em duas variáveis é uma equação do tipo

Auxx + BUxy + Cuyy + Dux + Euy + F u = G (1.1.2)

onde A, B, C, D, E, F e G podem ser constantes ou funções de x e y ; por exemplo,

utt = e−t uxx + sint (linear)


uuxx + ut = 0 (não linear)
uxx + yuyy = 0 (linear)
xux + yuy + u2 = 0 (não linear)

4. Homogeneidade: a equação (1.1.2) é chamada homogênea se a parte direita G(x, y)


é identicamente igual a zero para todos x e y . Se G(x, y) não é identicamente igual
a zero, então a equação é chamada não homogênea.

5. Tipo de Coeficientes: se os coeficientes A, B, C, D, E e F na equação (1.1.2)


são constantes, então (1.1.2) é dita ter coeficientes constantes caso contrário
constantes variáveis.

6. Três tipos básicos de equações lineares: todas equações lineares do tipo (1.1.2) são
classificadas em:

(a) parabólica
(b) hiperbólica
(c) elíptica

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Note que:
Equações parabólicas descrevem processos de difusão e de condução de calor e
satisfazem a seguinte propriedade B 2 − 4AC = 0.
Equações hiperbólicas descrevem sistemas vibratórios e movimentos de onda e
saisfazem a seguinte propriedade B 2 − 4AC > 0.
Equações elípticas descrevem feenómenos em equilíbrio e satisfazem a propriedade
B 2 − 4AC < 0
Exemplo 1.1.1. a) ut = uxx , B 2 − 4AC = 0 (parabólica)

b) utt = uxx , B 2 − 4AC = 4 (hiperbólica)

c) uξη = 0, B 2 − 4AC = 1 (hiperbólica)

d) uxx + uyy = 0, B 2 − 4AC = −4 (elíptica)





elíptica para y > 0
e) yuxx + uyy = 0, B 2 − 4AC = −4y parabólica para y = 0



hiperbólica para y < 0

Observação 1.1.1. Se recordarmos na disciplina de equações diferenciais ordinárias, que


dada uma equação diferencial se pode associar um operador L, no qual está definido sobre
um espaço de funções, por exemplo:

d2 u(t) 2

dt2
+ 3 du(t)
dt
− 5u(t) = +t2 + 1 se associa ao operador L[U ] = d dtu(t)
2 + 3 du(t)
dt
− 5u(t) =
no qual está definido sobre o espaço de funções que tem segunda derivada.
Uma equação diferencial ordinária se diz linear se o operador L correspondente é linear
ou seja, se cumpri o seguinte:
L[αu + v] = αL[U ] + L[V ] para todo α ∈ R. De maneira similar de como se faz para
uma variável pode-se definir um operador associado a equações em derivadas parciais e se
pode distinguir os operadores lineares dos não lineares.
Exemplo 1.1.2. • Com a equação ut −uxx = cosx, se associa com o operador L[u] =
ut − uxx .

• Com a equação de Laplace , uxx + uyy + uzz = 0 se associa o operador L[U ] =


uxx + uyy + uzz .

• A equação de Burgers ut + uux = 0 tem um operador não linear L[u] = ut + uux ,


quer dizer, a forma análoga as equações diferenciais ordinárias, as equações em
derivadas parciais, se dizem lineares , se o operador associado for linear.

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1.1.3 Classificação de equações lineares de segunda ordem em


duas variáveis com coeficientes constantes

Em geral, as equações lineares de segunda ordem em duas variáveis tem a forma (1.1.2)
onde os coeficientes A, B, C, D, F e G são funções reais definidas em uma região Ω
R
⊂ 2 e A2 + B 2 + C 2 > 0. Se os coeficientes são constantes reais, com a possível excepção
de G, a equação (1.1.2) se chama equação em derivadas parciais, linear de segunda ordem
com coeficientes constantes. Em esta secção nos restringiremos a este caso.
É importante notar que a equação (1.1.2) é parecida com a equação geral das cônicas em
R
espaço 2 . Notemos que a euação

Ax2 + Bxy + Cy 2 + Dx + Ey + F = 0 (1.1.3)

R
com A, B, C, D, F ∈ e A2 + B 2 + C 2 > 0 mediante a uma mudança de coordenadas
apropriada o descriminante B 2 − 4AC permanece invariante em relação ao sinal e a
equação (1.1.3) pode simplificar-se , quer dizer, se tem uma propriedade intrínseca da
equação, a qual permite uma classificação das cônicas de acordo com o sinal de B 2 −4AC .
Par a equação (1.1.2) acorre algo similar a da equação (1.1.3), o que permitirá classificar
as equações em derivadas parciais lineares de segunda ordem em duas variáveis.Mas antes
de estabelecer esta classificação precisamos da definição e lema seguintes.

Definição 1.1.1. Se define o descriminante I da equação em derivadas parciais (1.2)


como
I = B 2 − 4AC

Lema 1.1.1. Considere a mudança de coordenadas dada por



ξ = a x + a y a
11 12 11 12
a
com ≠ 0 (1.1.4)
η = a21 x + a22 y a21 a22

R
com a11 , a12 , a21 , a22 ∈ .
Se A′ uηη + B ′ uηξ + C ′ uξξ + D′ uη + E ′ uξ + F ′ u + G′ = 0 é a equação transformada mediante
a mudança de coordenadas (1.1.4) então sgn(B 2 − 4AC)=sgn(B ′2 − 4A′ C ′ ), isto quer
dizer que, o sinal do descriminante é um invariante da mudança de coordenadas.

Demonstração 1.1.1. Dada a mudança de coordenadas (1.1.4) obtemos ξx = a11 , ξy =

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a12 , ηx = a21 e ηy = a22 de onde, mediante a regra de cadeia

ux = uξ a11 + uη a21
uy = uξ a12 + uη a22
uxx = uξξ a211 + 2uξη a11 a21 + uηη a221 ,
uxy = uξξ a11 a12 + uξη (a11 a22 + uηη a21 a22 ) + uηη a21 a22 , uyy = uξξ a212 + 2uξη a12 a22 + uηη a222
(1.1.5)
Substituindo (1.1.5) em (1.1.3) obtemos:

A′ uξξ + B ′ uξη + C ′ uηη + F̄ = 0 (1.1.6)

donde
A′ = Aa211 + Ba11 a12 + Ca212 ,
B ′ = 2Aa11 a21 + B(a11 a22 + a21 a12 ) + 2Ca12 a22 , (1.1.7)
C ′ = Aa221 + Ba21 a22 + Ca222 ,
e F̄ somente depende das demais derivadas de primeira ordem de u. Fazendo alguns
calculos algebricos se obtem

B ′2 − 4A′ C ′ = B 2 ((a11 a22 + a21 a12 )2 − 4a11 a22 a21 a12 ) − 4AC((a11 a22 )2 + (a21 a12 )2 − 2a11 a22 a21 a12 )
= (B 2 − 4AC)(a11 a22 − a21 a12 )2

donde segue que sign(B 2 − 4AC) = sgn(B ′2 − 4A′ C ′ ), para a11 a22 − a21 a12 ̸= 0 como
queriamos demonstrar.

Uma vez que se tem esta invariabilidade do sinal do descriminante, tem sentido clas-
sificar de acordo com o tal sinal a equações em derivadas parciais lineares de segunda
ordem com coeficientes constantes, de onde se tem a seguinte definição :

Definição 1.1.2. Se diz que a equação (1.1.2) é :

1. parabólicas seI = 0;

2. Elípticas, se I < 0;

3. Hiperbólicas, se I > 0

Leituras obrigatórias
A leitura dos textos obrigatórios constitui a base de consolidação da aprendizagem dos
conteúdos desta unidade temática, daí que sejam indispensáveis, sendo igualmente de
suma importância a resolução dos exercícios que complementarão as leituras.

[1 ] Stanley J. Farlow Partial Differential Equations for Scientists and Engineers, DO-
VER PUBLICATIONS, INC. New York, 1993.

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[2 ] Gabriel López garza & Fco. Hugo Martínez Ortiz, Equaciones Diferenciales Par-
ciales, 2013 Gabriel López.

1.1.4 Actividades Formativas


As actividades que se seguem complementam o estudo desta unidade temática. Resolva-as
e verifique se estão certas.

Actividade Formativa
1. Resolver exercícios números 1-5 na página 8 do livro [1] de Stanley Farlow.

2. Determine quais das seguintes equações representam equações diferenciais parcias,


justifique a sua resposta.

a) cos(ux + uy ) − cosux cosuy + senux senuy = 0.


b) sen2 (uxx + uxy ) + cos2 (uxx + uxy ) − u = 1.
c) u2xx + u2yy − (uxx − uyy )2 = 0

3. Quais das seguintes equações são lineares e quais não são lineares. Determine en-
contrando o operador associado e em caso que seja linear demonstre.

a) ux u2xy + 2xuuyy − 3xyuy − u = 0.


b) a(x, y.ux , uxy )uxyy + b(x, y, uyyy ) − f (x, y) = 0.
c) cos(x + y)ux + cosuy = 0

4. Determine o tipo das seguintes equações diferenciais parciais

a) uxx + 4uxy + uyy + ux + uy + 2u − x2 y = 0.


b) 2uxx + 2uxy + uyy + ux + uy − u = 0.
c) uxx + 2uxy + uyy + ux + uy + 3u − xy 2 = 0.
d) xuxx + yuyy − u = 0
e) F (x, y, u, ux , uy , uxx , uxy , uyy ) = 0 onde F é continuamente diferenciável com
respeito as três últimas variáveis e ao menos uma das derivadas de F com
respeito a uma das três ultimas variáveis é diferente de zero.

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