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João Pessoa – PB
Fevereiro de 2018
Universidade Federal da Paraı́ba
Centro de Ciências Exatas e da Natureza
Programa de Pós–Graduação em Matemática
Mestrado em Matemática
sob a orientação do
João Pessoa – PB
Fevereiro de 2018
Catalogação na publicação
Seção de Catalogação e Classificação
UFPB/BC
Produto tensorial entre espaços de
Banach e aplicações
por
Banca Examinadora:
1
O autor foi bolsista da(o) CAPES/CNPq durante a elaboração desta dissertação.
Aos meus pais, Luzia e An-
tonio, por se doarem inte-
gralmente, proporcionando-
me uma base sólida para
que cada etapa dessa cami-
nhada fosse conquistada.
Agradecimentos
O presente trabalho tem como objetivo principal estudar o produto tensorial entre espaços
de Banach. Para isso, inicialmente, apresentaremos alguns resultados de Análise Funcio-
nal e de espaços de sequências a valores vetoriais que serão necessários ao desenvolvimento
dos conteúdos posteriores. Em seguida, faremos um estudo algébrico do produto tensorial
de espaços vetoriais, destacando sua construção e suas propriedades. No viés topológico,
estudaremos as normas projetiva e injetiva, suas propriedades e o dual do produto ten-
sorial projetivo. Por fim, veremos duas aplicações do produto tensorial entre espaços de
Banach, a saber, uma com respeito ao método de composição, que gera multi-ideais a
partir de ideais de operadores lineares, e a outra relacionada a uma caracterização para
os operadores absolutamente somantes.
This work has as the main purpose to study the tensor product between Banach spaces.
For this, initially, we will present some results of Functional Analysis and of vector-valued
sequence spaces that will be necessary to the development of the later contents. Next,
we will make an algebraic study of the tensor product of vector spaces, highlighting its
construction and its properties. In the topological bias, we will study the projective and
injective norms, their properties and the dual of the projective tensor product. Finally, we
will see two applications of the tensor product between Banach spaces, namely one with
respect to the composition method, which generates multi-ideals from the linear operator
ideals, and other related to a characterization for the absolutely summing operators.
Introdução 1
1 Preliminares 3
1.1 Resultados Clássicos de Análise Funcional . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3
1.2 Dualidade e Adjunto de um operador . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
1.3 Completamento de um espaço normado . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
1.4 Espaços de sequências a valores vetoriais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
2 Produto Tensorial 30
2.1 Produto tensorial de espaços vetoriais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30
2.2 Produto tensorial e linearização . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37
2.3 Tensores como formas bilineares e como aplicações lineares . . . . . . . . . 43
2.4 Dualidade tensorial e dualidade de traço . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47
2.5 Alguns exemplos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49
2.5.1 Funções de valores vetoriais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49
2.5.2 Funções de duas variáveis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50
4 Aplicações 75
4.1 Multi-ideais de composição . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 75
4.2 Operadores absolutamente p-somantes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 78
Referências Bibliográficas 84
ix
Notações
• K denota o corpo R ou C;
x
• idE denota a aplicação identidade em E;
• en denota a sequência (0, . . . , 0, 1, 0, . . .) cujos termos são todos nulos com exceção
do n-ésimo;
• [A] ou span {A} denota o espaço vetorial gerado pelo subconjunto A de um espaço
vetorial E;
xi
Introdução
1
pensar em termos de ideais de operadores e em termos de produtos tensoriais é de fato
bastante útil.
Atualmente, pesquisadores como, por exemplo, P. Rueda e G. Botelho vêm utilizando
o produto tensorial entre espaços de Banach como uma importante ferramenta na Análise
Funcional. Entre seus trabalhos, destacamos o artigo [1], desenvolvido com a colaboração
de D. Pellegrino, que deixa evidente, entre outras contribuições, a utilidade do produto
tensorial projetivo no método de composição, que gera multi-ideais a partir de ideais de
operadores lineares, e o artigo [3], que aborda a propriedade Schur em produtos tensoriais
projetivos e injetivos.
O objetivo principal deste trabalho é estudar o produto tensorial entre espaços vetoriais
(e de Banach), mostrando sua construção, algumas de suas propriedades e duas aplicações
na Análise Funcional. Para isso, estruturamos a dissertação em quatro capı́tulos da forma
que descrevemos abaixo.
O Capı́tulo 1 traz uma breve explanação de resultados preliminares necessários para o
desenvolvimento da teoria ao longo do trabalho. Nele, apresentamos resultados clássicos
de Análise Funcional e, entre muitas coisas, tecemos algumas considerações sobre os
espaços de sequências a valores vetoriais.
No Capı́tulo 2, abordamos a teoria do produto tensorial de espaços vetoriais. Nosso
interesse, nesse capı́tulo, se concentra no estudo algébrico dessa teoria, observando sua
construção e suas propriedades.
No Capı́tulo 3, estudamos duas maneiras de normar o produto tensorial de espaços
vetoriais (em particular, de Banach). Trabalhamos a norma projetiva, mostramos que o
produto tensorial projetivo lineariza as aplicações bilineares contı́nuas e determinamos o
espaço dual do produto tensorial projetivo. Além disso, apresentamos um estudo sobre a
norma injetiva.
No último capı́tulo, o Capı́tulo 4, apresentamos duas aplicações dos produtos tensoriais
entre espaços de Banach: a primeira aplicação relaciona o produto tensorial ao método
de composição, método usado para gerar multi-ideais a partir de ideais de operadores
lineares; a segunda apresenta uma caracterização para os operadores absolutamente p-
somantes em função da continuidade de operadores entre espaços produtos tensoriais.
Um fato digno de nota: muitos resultados clássicos de Análise Real e de Álgebra
Linear serão utilizados indistintamente ao longo da dissertação sem nenhuma menção ou
indicações de referências.
2
Capı́tulo 1
Preliminares
Neste capı́tulo, faremos uma breve apresentação de alguns resultados de Análise Fun-
cional e dos espaços de sequências a valores vetoriais que serão necessários para o de-
senvolvimento da teoria dos próximos capı́tulos. Salientamos que algumas demonstrações
serão omitidas, por se tratarem de resultados clássicos, e para elas apontaremos as devidas
referências.
k·kE : E −→ [0, ∞)
x 7−→ kxkE
Quando um espaço vetorial for munido de uma norma será chamado de espaço vetorial
normado ou simplesmente espaço normado e denotado pelo par (E, k·kE ).
3
1. Preliminares
Definição 1.2. Um espaço normado E é chamado de espaço de Banach se ele for completo
na métrica
d(x, y) = kx − yk , para todo x, y ∈ E,
Definição 1.4. Duas normas k·k e k·k0 em um espaço vetorial E são equivalentes se
existem constantes a, b > 0 tais que, para todo x ∈ E, tem-se
(a) As aplicações k·k1 , k·k2 e k·k∞ definem normas equivalentes no produto cartesiano
E1 × · · · × En .
(b) E1 × · · · × En munido de uma das normas do item (a) é Banach se, e somente se,
E1 , . . . , En são espaços de Banach.
kxm − xn k = kxm − x + x − xn k
ε ε
≤ kxm − xk + kx − xn k < + = ε,
2 2
4
1. Preliminares
Nosso objetivo agora é mostrar que qualquer espaço vetorial normado de dimensão
finita é um espaço de Banach. Para isso precisaremos do seguinte lema:
Teorema 1.8. Todo espaço normado de dimensão finita é um espaço de Banach. Conse-
quentemente, todo subespaço de dimensão finita de um espaço normado E é fechado em
E.
n n
X 1 X k 1
akj − am
j ≤ (aj − am
j )βj = kxk − xm k < ε,
j=1
c j=1 c
n
X n
X
lim kxk − xk = lim (akj − bj )βj ≤ lim akj − bj = 0,
k k k
j=1 j=1
5
1. Preliminares
c0 := (aj )∞
j=1 : aj ∈ K para todo j ∈ N e aj −→ 0 ,
c00 := (aj )∞
j=1 ∈ c0 : existe j0 ∈ N tal que aj = 0, para todo j ≥ j0 ,
( ∞
)
X
`p := (aj )∞
j=1 : aj ∈ K para todo j ∈ N e |aj |p < ∞ ,
j=1
∞
`∞ := (aj )j=1 : aj ∈ K para todo j ∈ N e sup |aj | < ∞ .
j∈N
n n
! p1 n
! 1q
X X X
|aj bj | ≤ |aj |p · |bj |q ,
j=1 j=1 j=1
n
! p1 n
! p1 n
! p1
X X X
|aj + bj |p ≤ |aj |p + |bj |p
j=1 j=1 j=1
∞
! p1
X
(aj )∞
j=1 p
= |aj |p .
j=1
6
1. Preliminares
(aj )∞
j=1 ∞
= sup |aj |
j∈N
(ii) Se para todos x0 ∈ E e ε > 0 existe δ > 0 tal que kT (x) − T (x0 )k < ε, sempre que
x ∈ E e kx − x0 k < δ.
(a) T é Lipschitziano.
(c) T é contı́nuo.
7
1. Preliminares
Demonstração: Da teoria dos espaços métricos, sabemos que as implicações (a) ⇒ (b)
⇒ (c) ⇒ (d) são sempre válidas e não dependem da linearidade de T .
(d)⇒(e) Digamos que T é contı́nuo no ponto x0 ∈ E. Então, para todo ε > 0 existe
δ = δ(ε) > 0 tal que kT (x) − T (x0 )k < ε, sempre que kx − x0 k < δ. Seja x ∈ E tal que
kxk < δ. Então, kxk = kx + x0 − x0 k < δ implica em
2
sup kT (x)k ≤ < ∞.
kxk≤1 δ
e portanto T é Lipschitziano.
8
1. Preliminares
A condição (f) do Teorema 1.14 nos mostra como normar o espaço L(E, F ) dos ope-
radores lineares contı́nuo de E em F :
(a) A expressão
kT k = sup kT (x)k
x∈BE
para todo x ∈ E. Além disso, kϕ ⊗ yk = supx∈BE kϕ(x)yk = kϕk kyk . Como ϕ ⊗ y(E) ⊆
[y], temos que ϕ ⊗ y é um operador linear contı́nuo de posto finito.
Os operadores lineares contı́nuos de posto finito possuem a seguinte caracterização:
9
1. Preliminares
Demonstração: (a) ⇒ (b) Suponha que a imagem de T tenha dimensão finita, isto é,
dim(T (E)) = n ∈ N. Escolha uma base {y1 , . . . , yn } para T (E). Desse modo, para todo
x ∈ E existem únicos α1 , . . . αn ∈ K tais que
n
X
T (x) = αi yi . (1.1)
i=1
dimensão finita, a norma de F restrita a T (E) e a norma k·ks são equivalentes, logo existe
k > 0 tal que
10
1. Preliminares
Demonstração: Seja (Ti )i∈I uma famı́lia de operadores em L(E, F ). Para cada n ∈ N
considere o conjunto
e a aplicação contı́nua k·k ◦ Ti : E → R. Como A(n, Ti ) = (k·k ◦ Ti )−1 ([0, n]), segue que
A(n, Ti ) é fechado para todos n ∈ N e i ∈ I. Dessa forma,
\
An := x ∈ E : sup kTi (x)k ≤ n = A(n, Ti )
i∈I
i∈I
S∞
donde x ∈ n=1 An . Pelo Teorema 1.18, tem-se int(An0 ) 6= ∅, para algum n0 ∈ N. Sejam
a ∈ int (An0 ) e r > 0 tais que a bola fechada de centro a e raio r esteja contida no aberto
int (An0 ), isto é,
{x ∈ E : kx − ak ≤ r} ⊆ int (An0 ).
kTi (x − a)k = kTi (x) − Ti (a)k ≤ kTi (x)k + kTi (a)k ≤ n0 + n0 ≤ 2n0 ,
2n0
para todo i ∈ I. Logo, kTi (ry)k = kTi (x − a)k ≤ 2n0 e kTi (y)k ≤
para todo i ∈ I e
r
todo y ∈ E com kyk ≤ 1. Tomando o supremo sobre y ∈ BE obtemos
2n0
kTi k = sup kTi (y)k ≤ ,
kyk≤1 r
2n0
sup kTi k ≤ < ∞.
i∈I r
11
1. Preliminares
T : E −→ F
x 7−→ T (x) = lim Tn (x),
n→∞
(a) A é contı́nua.
12
1. Preliminares
(d) Existe C ≥ 0 tal que kA(x, y)k ≤ C kxk · kyk para todos x ∈ E e y ∈ F .
f : E × F −→ R
(x, y) 7−→ kT (x) − yk
13
1. Preliminares
Primeiro, provaremos a linearidade. Sejam λ ∈ K e (x, T (x)), (y, T (y)) ∈ G(T ). Temos
π((x, T (x)) + λ(y, T (y))) = π(x + λy, T (x) + λT (y)) = π(x + λy, T (x + λy))
= x + λy = π(x, T (x)) + λπ(y, T (y)),
Para todo x ∈ E.
Pelo Teorema da Aplicação Aberta, π −1 também é contı́nua e assim, existe c > 0 tal
que kπ −1 (x)k1 = k(x, T (x))k1 ≤ c kxk, para todo x ∈ E. Daı́,
14
1. Preliminares
Demonstração: Consideremos a função p : E → R dada por p(x) = kϕk kxk. Para todo
a ∈ K e todos x, y ∈ E, temos
Como |ϕ(x)| ≤ kϕk kxk = p(x) para todo x ∈ G, pelo Teorema de Hahn-Banach existe
e : E → K cuja restrição a G coincide com ϕ e que satisfaz |ϕ(x)|
um funcional linear ϕ e ≤
p(x) = kϕk kxk para todo x ∈ E. Logo, ϕ
e é contı́nuo e kϕk
e ≤ kϕk. Por outro lado,
≤ sup |ϕ(x)|
e = kϕk
e .
x∈BE
Portanto, kϕk
e = kϕk.
kϕk
e = kϕk = sup |ϕ(λx0 )|
kλx0 k≤1
15
1. Preliminares
Pelo Corolário 1.27 existe ψ ∈ E 0 tal que kψk = 1 e ψ(x) = kxk . Logo,
e de
(a) Existe uma projeção P : E −→ E tal que P (E) = F . Neste caso dizemos que P é
uma projeção de E sobre F .
Demonstração: (a) ⇒ (b) Seja x ∈ F . Tomando y ∈ E tal que P (y) = x temos que
x = P (y) = P (P (y)) = P (x). Se x = P (x), então x ∈ Im(P ) = F . Considerando o
operador identidade de E, idE : E −→ E, temos
16
1. Preliminares
zn = xn − yn = xn − P (xn ) −→ x − y.
Definição 1.34. Sejam E um espaço de Banach e (xn )∞ n=1 uma sequência em E. Dizemos
∞
P∞
que (xn )n=1 é somável quando a série n=1 xn é convergente, absolutamente somável
P∞ ∞
quando a série n=1 kxn k é convergente e que (xn )n=1 é incondicionalmente somável
quando a série ∞
P
n=1 xσ(n) converge para toda permutação σ : N → N.
17
1. Preliminares
Desse modo, se (xi )i∈I é uma famı́lia absolutamente somável, então existe um subcon-
junto enumerável I0 de I tal que xi = 0 se i ∈
/ I0 .
Proposição 1.36. Um espaço normado E é Banach se, e somente se, toda sequência
absolutamente somável é incondicionalmente somável.
n
X m
X n
X n
X
xσ(k) − xσ(k) = xσ(k) ≤ xσ(k)
k=1 k=1 k=m+1 k=m+1
∞
X
≤ xσ(k) < ε,
k=n0
∞
X k
X
xσ(n) = lim xσ(n) = x.
k
n=1 n=1
Reciprocamente, seja (xn )∞ n=1 uma sequência de Cauchy em E. Então, para cada k ∈ N
1 1
e ε = k > 0, existe n0 = n0 (k) ∈ N tal que kxn − xm k < k , para todos n, m > n0 .
2 2
Considere n1 := n0 ( 12 ) + 1 e, para k > 1, nk := max{n0 ( 21k ), nk−1 } + 1. Assim, obtemos
1
uma sequência de ı́ndices n1 < n2 < n3 < · · · tais que xnk+1 − xnk < 2k
. Pelo Critério
de Comparação, a convergência da série
∞ ∞
X 1 X
k
= 1 implica em xnk+1 − xnk < ∞.
k=1
2 k=1
Por hipótese, temos que toda série absolutamente somável é incondicionalmente somável.
Em particular, ∞
P
k=1 (xnk+1 − xnk ) = a, para algum a ∈ E. Assim,
k
!
X
lim xnk+1 = lim xn1 + (xnj+1 − xnj )
k k
j=1
k
X
= xn 1 + lim (xnj+1 − xnj ) = xn1 + a,
k
j=1
18
1. Preliminares
∞ ∞
! p1 ∞
! p1∗
p∗
X X p
X
|aj bj | ≤ |aj | · |bj | = (aj )∞
j=1 p
(bj )∞
j=1 p∗
< ∞,
j=1 j=1 j=1
P∞
logo j=1 aj bj é absolutamente convergente e portanto convergente, mostrando assim a
boa definição da ϕb . Considere agora (aj )∞ ∞
j=1 , (cj )j=1 ∈ `p e λ ∈ K. Daı́,
∞
X
ϕb ((aj )∞ ∞ ∞
j=1 + λ(cj )j=1 ) = ϕb ((aj + λcj )j=1 ) = (aj + λcj )bj
j=1
∞
X X∞ ∞
X
= (aj bj + λcj bj ) = aj b j + λ cj b j
j=1 j=1 j=1
= ϕb ((aj )∞ ∞
j=1 ) + λϕb ((cj )j=1 ),
k k k
! p1 k
! p1∗
p∗
X X X X
aj b j ≤ |aj bj | ≤ |aj |p · |bj |
j=1 j=1 j=1 j=1
e fazendo k −→ ∞ temos
∞
X ∞
X
|ϕb (a)| = aj b j ≤ |aj bj |
j=1 j=1
19
1. Preliminares
∞
! p1 ∞
! p1∗
p∗
X X
≤ |aj |p · |bj | (1.3)
j=1 j=1
= kakp kbkp∗ .
Tomando o sup em (1.3) com kakp = 1, temos kϕb k ≤ kbkp∗ . Portanto, ϕb é contı́nua.
A boa definição, a linearidade e continuidade da ψ seguem imediatamente da ϕb .
P∞
Seja a = (aj )∞ j=1 ∈ `p . Então, a se escreve de forma única como a = j=1 aj ej ,
onde ej é a base de Schauder de `p . Dado ϕb ∈ (`p )0 , pela continuidade de ϕb temos
ϕb (a) = ∞
P Pk
j=1 aj ϕb (ej ). De fato, se para cada k ∈ N denotarmos ck = j=1 aj ej , por
linearidade
k
! k k
X X X
ϕb (ck ) = ϕb aj e j = ϕb (aj ej ) = aj ϕb (ej ),
j=1 j=1 j=1
de modo que
k
X ∞
X
ϕb (a) = ϕb ( lim ck ) = lim ϕb (ck ) = lim aj ϕ(ej ) = aj ϕb (ej ),
k→∞ k→∞ k→∞
j=1 j=1
∞
! ∞ ∞ ∞
X X X X
ψ(a) = ψ aj ej = ψ(aj ej ) = aj ψ(ej ) = aj bj = ϕb (a),
j=1 j=1 j=1 j=1
p∗
|bj | , se j ≤ k e bj 6= 0
k bj
cj = .
0, se j > k ou bj = 0
P∞ P∞ ∗
Desse modo, temos ϕb (ak ) = k
j=1 cj bj = j=1 |bj |p e assim
k
! p1
p
X
|ϕb (ak )| ≤ kϕb k kak k = kϕb k ckj
j=1
1
k ∗ p! p
X |bj |p
= kϕb k
j=1
bj
20
1. Preliminares
k
! p1
(p∗ −1)p
X
= kϕb k |bj |
j=1
k
! p1
X ∗
= kϕb k |bj |p .
j=1
Daı́
k k
! p1
p∗ p∗
X X
|bj | = ϕb (ak ) = |ϕb (ak )| ≤ kϕb k |bj | .
j=1 j=1
1 1
Dividindo pelo último fator e usando 1 − p
= p∗
, temos
k
!1− p1 k
! p1∗
p∗ p∗
X X
|bj | = |bj | ≤ kϕb k
j=1 j=1
e tomando k −→ ∞, obtemos
∞
! p1∗
p∗
X
kbkp∗ = |bj | ≤ kϕb k .
j=1
Logo, (bj )∞
j=1 ∈ `p∗ e portanto ψ
−1
está bem definida e é contı́nua, o que completa a
demonstração.
Proposição 1.38. Os espaços `1 e (c0 )0 são isomorfos isometricamente por meio da relação
de dualidade
∞
ψ
X
b= (bj )∞
j=1 ∈ `1 7−→ ϕb ∈ (c0 ) , 0
ϕb ((aj )∞
j=1 ) = aj bj , para todo (aj )∞
j=1 ∈ c0 . (1.4)
j=1
Vimos que para todo espaço normado E podemos considerar seu dual E 0 , que é um
espaço de Banach. Podemos também considerar o dual de E 0 , que chamamos de bidual
e denotamos por E 00 . O próximo resultado mostra que todo espaço normado pode ser
encontrado no seu bidual e sua demonstração se encontra em [2, Proposição 4.3.1].
21
1. Preliminares
ϕ ∈ E 0 , o operador linear
JE : E −→ E 00
x 7−→ JE (x)(ϕ) = ϕ(x)
é chamado adjunto de T.
Demonstração: Primeiro, veremos que o operador T 0 está bem definido, ou seja, que
T 0 (ϕ) ∈ E 0 para todo ϕ ∈ F 0 . De fato, dados x, y ∈ E e λ ∈ K, temos
22
1. Preliminares
para todo x ∈ E, obtemos T 0 (ξ) = ϕ e por isso T 0 é sobrejetor. Seja ψ ∈ ker(T 0 ). Então
para todo x ∈ E. Como T é sobrejetor, temos de (1.7) que ψ(y) = 0, para todo y ∈ F ,
donde T 0 é injetor. Para garantir que T 0 é um isomorfismo, resta mostrar que (T 0 )−1
é contı́nuo, já que a inversa de um operador linear é sempre linear. Mas isso decorre
imediatamente do fato (de fácil demonstração) de que (T 0 )−1 = (T −1 )0 . Para concluir,
mostremos que kT 0 (ϕ)k = kϕk, para todo ϕ ∈ F 0 . Como T é um isomorfismo isométrico,
x ∈ BE se, e somente se, T (x) ∈ BF . Daı́,
23
1. Preliminares
questão é afirmativa. Além disso, iremos expor alguns resultados relacionados a esse
completamento.
O espaço normado E pode ser identificado como um subespaço denso do seu completa-
mento Ê com a seguinte identificação x ∈ E ←→ ξ(x) ∈ Ê. A menos dessa identificação,
podemos escrever E = ξ(E). Assim, pela Proposição 1.45 temos que
Ê
BE = BÊ . (1.8)
24
1. Preliminares
`∞ (E) = (xn )∞ ∞
n=1 ∈ E : (xn )n=1 é limitada em E .
N
É simples mostrar que `∞ (E) é um espeço vetorial com as operações usuais de sequências
e que a função k·k∞ : `∞ (E) → [0, ∞) dada por
k(xn )∞
n=1 k∞ := sup kxn kE ,
n
Proposição 1.47. (`∞ (E), k·k∞ ) é um espaço de Banach se, e somente se, E é um espaço
de Banach.
Definição 1.48. Seja E um espaço normado. O conjunto das sequências que convergem
para zero em E será denotado por c0 (E) e em sı́mbolos temos
c0 (E) := (xj )∞
j=1 : xj ∈ E, para todo j ∈ N e kxj kE −→ 0 .
Não é difı́cil mostrar que c0 (E) é um subespaço de `∞ (E) e o próximo resultado garante
que c0 (E) é um espaço de Banach com a norma de herdada de `∞ (E). A demonstração
deste fato pode ser encontrada em [13, Teorema 2.2.4 (a)].
Definição 1.50. Sejam E um espaço vetorial normado e 1 ≤ p < ∞. Dizemos que uma
P∞ p
sequência (xn )∞
n=1 em E é fortemente p-somável se n=1 kxn k < ∞.
25
1. Preliminares
Em sı́mbolo temos
( ∞
)
X
`p (E) := (xn )∞
n=1 ∈ E :
N
kxn kp < ∞ .
n=1
Com as operações usuais de sequências, `p (E) é um espaço vetorial. Além disso, utilizando
a Desigualdade de Minkowski 1.10, não é difı́cil mostrar que a função
Proposição 1.51. Seja E um espaço normado. Então (`p (E), k·kp ) é um espaço de
Banach se, e somente se, E é um espaço de Banach.
para todo j ∈ N e para todos k, r > k0 . Desse modo, para cada j ∈ N, a sequência (xkj )∞
k=1
k
é de Cauchy em E. Definamos y := (yj )∞
j=1 , onde yj = lim xj .
k→∞
Afirmação: y ∈ `p (E) e xk → y.
De fato, temos que (1.9) implica em
m ε p
p
X
xkn − xrn < ,
n=1
2
26
1. Preliminares
∞
X
|ϕ(xj )|p < ∞, sempre que ϕ ∈ E 0 .
j=1
k·kp,w : `w
p (E) −→ [0, ∞)
∞
! p1
X
(xj )∞ ∞
j=1 7−→ (xj )j=1 p,w
:= sup |ϕ(xj )|p .
ϕ∈BE 0
j=1
Com um argumento de gráfico fechado, não é difı́cil provar que a função k·kp,w está
bem definida e define uma norma sobre `w
p (E) (as propriedades de norma são facilmente
verificadas).
Mais ainda, utilizando a mesma técnica usada na demonstração da Proposição 1.51 e
com a ajuda do Teorema de Hahn-Banach, temos a seguinte proposição:
lim (xj )∞
j=n p,w
= 0.
n
27
1. Preliminares
Mostraremos a seguir que o espaço `up (E) é um espaço de Banach com a norma induzida
por `w
p (E).
Proposição 1.56. Seja E um espaço de Banach. Então `up (E) é um subespaço fechado
de `w
p (E) com a norma k·kp,w .
para todo k ∈ N. Em outras palavras, para todo ε > 0 existe l0 = l0 (ε, k) ∈ N tal que
ε
(xkn )∞
n=l w,p
< , (1.11)
2
∞
! p1
ε X p
> xk − x w,p
= (xkn − xn )∞
n=1 w,p
= sup ϕ(xkn − xn )
2 ϕ∈BE 0 n=1
! p1 (1.12)
∞
p
X
≥ sup ϕ(xkn − xn ) = (xkn )∞ ∞
n=l − (xn )n=l w,p
,
ϕ∈BE 0
n=l
para todo k > k0 e todo l ∈ N. De (1.11) e (1.12), para l > l0 (ε, k0 ) e k = k0 + 1, temos
k(xn )∞ ∞ k ∞ k ∞
n=l kw,p = (xn )n=l − (xn )n=l + (xn )n=l w,p
ε ε
≤ (xn )∞ k ∞
n=l − (xn )n=l w,p
+ (xkn )∞
n=l w,p
< + = ε,
2 2
28
1. Preliminares
1 1 1
`p (E) ,→ `up (E) ,→ `w
p (E) ,→ `∞ (E).
∞
! p1 ∞
! p1
X X
(xj )∞
j=1 w,p
= sup |ϕ(xj )|p ≤ sup kϕkp kxj kp
ϕ∈BE 0 ϕ∈BE 0
j=1 j=1
∞
! p1
X
= sup kϕk kxj kp = (xj )∞
j=1 p
sup kϕk = (xj )∞
j=1 p
.
ϕ∈BE 0 ϕ∈BE 0
j=1
P∞
Por fim, se (xj )∞
j=1 ∈ `p (E) então j=1 kxj kp < ∞ e assim
lim (xj )∞
j=n w,p
≤ lim (xj )∞
j=n p
= 0.
n n
1
Portanto `p (E) ,→ `up (E).
1
A inclusão `up (E) ,→ `w
p (E) segue imediatamente da Proposição 1.56.
Agora, seja (xj )∞ w
j=1 ∈ `p (E). Então,
∞
X
|ϕ(xj )|p < ∞,
j=1
∞
! p1
X p
kxk k = sup |ϕ(xk )| ≤ sup |ϕ(xj )| = (xj )∞
j=1 w,p
,
ϕ∈BE 0 ϕ∈BE 0
j=1
29
Capı́tulo 2
Produto Tensorial
x ⊗ y : B(X × Y ) −→ K
A 7−→ (x ⊗ y)(A) = A(x, y).
30
2. Produto Tensorial
Em sı́mbolos, temos
X ⊗ Y = span {x ⊗ y : x ∈ X, y ∈ Y }
( n )
X
= λi xi ⊗ yi : n ∈ N, λi ∈ K, xi ∈ X, yi ∈ Y, i = 1, . . . n ,
i=1
n
X
u(A) = λi A(xi , yi ). (2.2)
i=1
É importante ressaltar que o valor da expressão (2.2) não depende da representação es-
colhida para u.
Veremos a partir de agora algumas propriedades elementares dos produtos tensoriais.
31
2. Produto Tensorial
n
X
u= zi ⊗ yi ,
i=1
n n n
!
X X X
u(A) = λi A(xi , yi ) = λi ϕ(xi )ψ(yi ) = ψ λi ϕ(xi )yi = 0,
i=1 i=1 i=1
Pn
para todo ψ ∈ Y # . Segue que i=1 λi ϕ(xi )yi = 0 e assim, como Z é linearmente in-
dependente, temos λi = 0, i = 1, . . . , n. O resultado segue então de (iv) da Proposição
2.2.
(b) Como, por hipótese, os conjuntos {wi : i ∈ I} e {zj : j ∈ J} são linearmente indepen-
dentes, então pelo item (a) o conjunto {wi ⊗ zj : (i, j) ∈ I × J} é linearmente indepen-
dente e, como sabemos, gera X ⊗ Y .
32
2. Produto Tensorial
n
X n
X
u= xi ⊗ y i = x1 ⊗ y 1 + xi ⊗ yi
i=1 i=2
Xn n
X
= λi xi ⊗ y1 + xi ⊗ y i
i=2 i=2
= λ2 x2 ⊗ y1 + · · · + λn xn ⊗ y1 + x2 ⊗ y2 + · · · + xn ⊗ yn
= λ2 (x2 ⊗ (y1 + y2 )) + · · · + λn (xn ⊗ (y1 + yn ))
Xn X n
= λi xi ⊗ (y1 + yi ) = wi ⊗ zi ,
i=2 i=2
poderı́amos determinar isso pela avaliação ni=1 A(xi , yi ) para cada forma bilinear A ∈
P
B(X × Y ). Entretanto, existem formas mais fáceis, como mostra a seguinte proposição:
(i) u = 0;
Pn
(ii) i=1 ϕ(xi )ψ(yi ) = 0, para todos ϕ ∈ X # , ψ ∈ Y # ;
Pn
(iii) i=1 ϕ(xi )yi = 0, para todo ϕ ∈ X # ;
Pn
(iv) i=1 ψ(yi )xi = 0, para todo ψ ∈ Y # .
Demonstração: As implicações (i) ⇒ (ii) ⇒ (iii) seguem diretamente com uso da mesma
técnica usada na demonstração do item (a) da Proposição 2.3. Mostraremos que (iii) ⇒
(iv) ⇒ (i).
33
2. Produto Tensorial
(iii) ⇒ (iv) Seja ψ ∈ Y # . Se ni=1 ϕ(xi )yi = 0, para todo ϕ ∈ X # , então temos que
P
permitida na escolha do ψ.
(iv) ⇒ (i) Sejam A : X × Y −→ K uma forma bilinear, E = [x1 , · · · , xn ], F = [y1 , · · · ,
yn ] subespaços de X e Y respectivamente e T : E × F −→ K a restrição de A em E × F .
Escolhendo bases para os subespaços de dimensão finita E, F e expandindo T em relação
a essas bases, produzimos uma representação para T da forma
m
X
T (x, y) = θj (x)ωj (y), (2.3)
j=1
n
X n
X n X
X m
u(A) = A(xi , yi ) = T (xi , yi ) = θj (xi )ωj (yi )
i=1 i=1 i=1 j=1
n X
m m n
!
X X X
= θj (ωj (yi )xi ) = θj ωj (yi )xi = 0,
i=1 j=1 j=1 i=1
e portanto u = 0.
34
2. Produto Tensorial
Observação 2.7. (a) A partir da definição acima, fica evidente que ao aplicar a Pro-
posição 2.5 não é necessário tomar os funcionais em todo o espaços dual, mas apenas
a subconjuntos separadores de pontos.
(b) Um caso importante do uso do item (a) ocorre quando os espaços componentes no
produto tensorial são espaços duais: para mostrar que ni=1 ϕi ⊗ψi = 0 em X # ⊗Y #
P
que ni=1 ϕi ⊗ ψi = 0. Usando a Proposição 2.5, temos que ni=1 θ(ϕi )ω(ψi ) = 0,
P P
para todos x ∈ X e y ∈ Y .
é injetiva.
Mostraremos agora que o produto tensorial respeita a soma direta.
35
2. Produto Tensorial
Pn
ϕ(vi )yi − m
P Pn Pm
Logo i=1 j=1 ϕ(wj )zj = 0 e portanto i=1 ϕ(vi )yi = j=1 ϕ(wj )zj . Mas
Pn #
F ∩ G = {0}, então i=1 ϕ(vi )yi = 0, para todos ϕ ∈ X . Segue que u = 0.
X ⊗Y (X ⊗ F ) ⊕ (X ⊗ G) Y
' 'X ⊗G'X ⊗ .
X ⊗F (X ⊗ F ) F
De forma análoga, se H e W são subespaços de X tais que X = H ⊕ W , então
X ⊗Y X
' ⊗ Y.
H ⊗Y H
36
2. Produto Tensorial
e : X⊗Y −→ K
A
u 7−→ A(u)
e = u(A).
A(u
e + λv) = (u + λv)(A) = u(A) + (λv)(A) = u(A) + λv(A) = A(u)
e + λA(v).
e
e Pn xi ⊗ yi ) = Pn A(x
Além disso, tem-se A( e i ⊗ yi ) = Pn A(xi , yi ).
i=1 i=1 i=1
Seja θ : X × Y −→ X ⊗ Y , definida por θ(x, y) = x ⊗ y, uma aplicação. Note que θ é
bilinear, pois dados x1 , x2 ∈ X, y ∈ Y e λ ∈ K, temos
e ◦ θ)(x, y) = A(θ(x,
(A e e ⊗ y) = (x ⊗ y)(A) = A(x, y).
y)) = A(x
37
2. Produto Tensorial
n
! n
X X
ψ(u) = ψ xi ⊗ yi = ψ(xi ⊗ yi )
i=1 i=1
n
X n
X
= ψ(θ(xi , yi )) = (ψ ◦ θ)(xi , yi )
i=1 i=1
n n (2.5)
X X
= e ◦ θ)(xi , yi ) =
(A A(θ(x
e i , yi ))
i=1 i=1
n n
!
X X
= e i ⊗ yi )) = A
A(x e xi ⊗ yi = A(u),
e
i=1 i=1
B(X × Y ) = (X ⊗ Y )# .
Observação 2.9. Observe que o cálculo da unicidade (2.5) nos mostra que para conhecer
como um funcional aplicado num tensor se comporta, basta conhecer seu comportamento
nos tensores elementares. Dessa forma, a partir de agora, quando formos provar que um
funcional definido num produto tensorial é linear, iremos considerar apenas os tensores
elementares.
n
! n
X X
A
e xi ⊗ y i = A(xi , yi ).
i=1 i=1
38
2. Produto Tensorial
e portanto A
e é linear. A unicidade da aplicação A
e segue de cálculo análogo ao da unicidade
(2.5) no caso do funcional linear. A situação é ilustrada no diagrama abaixo:
X ×Y A /
>Z
θ
X ⊗Y A
e
Teorema 2.10. Sejam X, Y e Z espaços vetoriais sobre o corpo K. Para cada aplicação
bilinear A : X × Y −→ Z existe uma única aplicação linear Ae : X ⊗ Y −→ Z tal que
e ⊗ y), para todos x ∈ X, y ∈ Y . Além disso, a correspondência A ←→ A
A(x, y) = A(x e é
um isomorfismo entre os espaços vetoriais B(X × Y, Z) e L(X ⊗ Y, Z).
Vamos mostrar inicialmente que Φ é linear e, pela Observação 2.9, usaremos para isso
tensores elementares. Sejam x ⊗ y ∈ X ⊗ Y e λ ∈ K. Temos
(A^
+ λB)(x ⊗ y) = (A + λB)(x, y)
= A(x, y) + (λB)(x, y)
= A(x, y) + λB(x, y)
e ⊗ y) + λB(x
= A(x e ⊗ y).
Logo,
Φ(A + λB) = (A^
+ λB) = A
e + λB
e = Φ(A) + λΦ(B)
39
2. Produto Tensorial
e portanto Φ é linear. Agora, seja A ∈ ker(Φ), isto é, Φ(A) = 0. Temos que A
e = Φ(A) = 0
e ⊗ y) = A(x, y) = 0, para quaisquer x ∈ X e y ∈ Y . Segue que A = 0 e
e portanto A(x
assim Φ é injetor. Por fim, iremos mostrar a sobrejetividade do Φ. Seja T ∈ L(X ⊗ Y, Z).
Defina a aplicação
A : X × Y −→ Z
(x, y) 7−→ A(x, y) = T (x ⊗ y).
Note que A é bilinear, isto é, A ∈ B(X × Y, Z). De fato, pela linearidade de T , tem-se
Como corolário imediato do teorema anterior, segue o importante fato, que discutimos
previamente no inı́cio dessa seção, que dá conta do dual do espaço produto tensorial.
40
2. Produto Tensorial
e de X ⊗ Y em W é um isomorfismo e
Demonstração: Mostraremos que a aplicação B
fazendo-se B
e = J, segue o resultado.
Por hipótese, temos que a aplicação B : X × Y −→ W é bilinear. Assim, pelo Teorema
e ∈ L(X ⊗ Y, W ) tal que B = B
2.10, existe uma única aplicação B e ◦ θ, isto é, B(x, y) =
B(θ(x,
e e ⊗ y), para todos x ∈ X, y ∈ Y . Como a aplicação B
y)) = B(x e é linear, basta
mostrarmos que Be é bijetiva.
Tomando Z = X ⊗ Y , A = θ : X × Y −→ X ⊗ Y e aplicando a propriedade que é dada
a W e B por hipótese, temos que existe uma única aplicação linear L : W −→ X ⊗ Y tal
que θ = L ◦ B. Então L(B(x, y)) = (L ◦ B)(x, y) = θ(x, y) = x ⊗ y, para todos x ∈ X,
y ∈ Y . Agora, suponha que x ⊗ y ∈ ker(B), e ⊗ y) = 0. Daı́,
e isto é, B(x
e portanto B
e é injetiva. Iremos provar agora que B
e é sobrejetiva, mas antes disso, é
necessário provarmos que o conjunto {B(x, y) : x ∈ X, y ∈ Y } gera W . Suponha, por
absurdo, que isso não ocorra. Então existe w ∈ W tal que w ∈
/ span{B(X × Y )} e
podemos supor w 6= 0. É fácil ver que a aplicação identidade em W , IW : W −→ W ,
satisfaz a condição B = IW ◦ B. Tomando Z = W no enunciado do teorema e fazendo
temos A = B e L = IW segue que IW é a única aplicação linear tal que B = IW ◦ B. Se β
é uma base para span{B(x, y) : x ∈ X, y ∈ Y }, então β ∪ {w} é um conjunto linearmente
independente. Assim, com o auxı́lio do Lema de Zorn, podemos considerar uma base γ
de W contendo β ∪ {w}. Seja t : W −→ W uma aplicação linear definida primeiramente
no vetores da base γ por
x, se x ∈ β
t(x) =
0, se x ∈
/β
k
X k
X
w= λi B(xi , yi ) = B(λi xi , yi ).
i=1 i=1
41
2. Produto Tensorial
k k
!
X X
w= B(zi , yi ) = B
e zi ⊗ yi ,
i=1 i=1
Pk
onde i=1 zi ⊗ yi ∈ X ⊗ Y . Portanto, B
e é sobrejetiva e, consequentemente, um isomor-
fismo.
Note que u 7−→ ut é uma aplicação linear bem definida. De fato, basta observar que
essa aplicação é simplesmente a linearização da aplicação bilinear A : X × Y −→ Y ⊗ X.
Além disso, é uma questão simples mostrar que a transposta produz um isomorfismo
de X ⊗ Y em Y ⊗ X. Usaremos a mesma ideia para definirmos o produto tensorial de
aplicações lineares.
Demonstração: Seja x⊗y ∈ ker(S ⊗T ). Então (S ⊗T )(x⊗y) = 0, isto é, S(x)⊗T (y) =
0, onde S(x) ∈ E e T (y) ∈ F . Dado ψ ∈ F # , pela Proposição 2.5 temos S(x)ψ(T (y)) = 0
e pela linearidade de S
S(xψ(T (y))) = S(x)ψ(T (y)) = 0,
Como, por hipótese, S é injetiva, isso implica que xψ(T (x)) = 0, para todo ψ ∈ F # .
Então, para cada ϕ ∈ X # , temos que ϕ(xψ(T (y))) = ϕ(x)ψ(T (y)) = 0 e da linearidade e
injetividade de T segue que ψ(ϕ(x)y) = 0. Isso implica em ϕ(x)y = 0, para todo ϕ ∈ X #
e da Proposição 2.5 segue que x ⊗ y = 0. Logo, S ⊗ T é injetiva.
42
2. Produto Tensorial
Bx,y : X # × Y # −→ K
(φ, ψ) 7−→ Bx,y (φ, ψ) = φ(x)ψ(y).
X ⊗ Y ⊂ B(X # × Y # )
por meio da aplicação que associa cada tensor x ⊗ y à forma bilinear Bx,y .
Quando os espaços em questão são duais (espaços X com a propriedade de que X ## =
43
2. Produto Tensorial
X) temos
X # ⊗ Y # ⊂ B(X ## × Y ## ) ⇒ X # ⊗ Y # ⊂ B(X × Y ), (2.6)
Pn
onde o tensor i=1 ϕi ⊗ ψi é identificado com a forma bilinear que aplica (x, y) em
Pn
i=1 ϕi (x)ψi (y). Dessa forma, devido a essa imersão canônica, poderemos considerar os
tensores como formas bilineares quando assim for necessário. Se for preciso distinguir o
tensor u da forma bilinear associada a ele, denotaremos a forma bilinear por Bu .
Os tensores também podem ser visualizados como aplicações lineares. Cada tensor
u = ni=1 xi ⊗ yi gera duas aplicações lineares que as escrevemos como:
P
Lu : X # −→ Y
n
X
ϕ 7−→ Lu (ϕ) = ϕ(xi )yi
i=1
Ru : Y # −→ X
n
X
ψ 7−→ Ru (ψ) = xi ψ(yi ).
i=1
Note que a Proposição 2.5 garante que as aplicações lineares u 7−→ Lu e u 7−→ Ru são
injetivas. Daı́ temos mais duas identificações
44
2. Produto Tensorial
n
!
X
#
u (ψ)(x) = ψ(u(x)) = ψ ϕi (x)xi
i=1
n
X n
X
= ϕi (x)ψ(xi ) = JX (xi )(ψ)ϕi (x)
i=1 i=1
n n
! n
!
(∗) X X X
= xi (ψ)ϕi (x) = xi (ψ)ϕi (x) = xi ⊗ ϕi (ψ)(x),
i=1 i=1 i=1
e : X # ⊗ X −→ K
A (2.8)
X n n
X
ϕi ⊗ xi 7−→ ϕi (xi ).
i=1 i=1
Na verdade, esse processo descrito acima generaliza o conceito de traço de uma matriz
para espaços (e operadores) de dimensão infinita.
Definição 2.17. Seja A : X # × X −→ K uma forma bilinear dada por A(ϕ, x) = ϕ(x).
A linearização de A dada em (2.8) é chamada de traço em X e denotaremos por tr ou trX
quando for necessário especificar o espaço X em questão.
(c) Suponha que X tenha dimensão finita e seja V : X −→ X uma aplicação linear. Se
V é representada por uma matriz A em relação a alguma base para X, então trX V
é a soma das entradas diagonais de A.
45
2. Produto Tensorial
Pn
Demonstração: (a) Seja i=1 ϕi ⊗ xi uma representação de U . Pela Proposição 2.16
#
temos que U tem posto finito e
n
!t n
X X
#
U = ϕ i ⊗ xi = xi ⊗ ϕ i ,
i=1 i=1
portanto,
n
! n n
!
X X X
trX # U # = trX # xi ⊗ ϕi = ϕi (xi ) = trX ϕ i ⊗ xi = trX U.
i=1 i=1 i=1
Pn
(b) Suponha S de posto finito, isto é, S = i=1 ϕi ⊗ yi . Então
n
! n
X X
T (S(x)) = T ϕi (x)yi = ϕi (x)T (yi )
i=1 i=1
Pn
e portanto T S = i=1 ϕi ⊗ T (yi ) é de posto finito. Analogamente,
n
X n
X
S(T (y)) = ϕi (T (y))yi = T # (ϕi )(y)yi
i=1 i=1
Pn
e isso implica em ST = i=1 T # (ϕi ) ⊗ yi . Além disso, temos
n
X n
X
trX T S = ϕi (T (yi )) = T # (ϕi )(yi ) = trY ST.
i=1 i=1
(c) Seja {e1 , . . . , en } uma base para X com funcionais coordenados {ϕ1 , . . . , ϕn } de tal
modo que cada x ∈ X tenha a expansão x = ni=1 ϕi (x)ei . Se A = (aij ) é uma matriz de
P
n
! n
X X
V (x) = V ϕi (x)ei = ϕi (x)V (ei )
i=1 i=1
n
X n
X Xn X
n
= ϕi (x) aij ej = ϕi (x)aij ej .
i=1 j=1 i=1 j=1
Pn
Portanto V = i,j=1 ϕi ⊗ aij ej e então
n
! n n n
X X X X
trV = tr ϕi ⊗ aij ej = ϕi (aij ej ) = aij ϕi (ej ) = aii .
i,j=1 i,j=1 i,j=1 i=1
46
2. Produto Tensorial
(X ⊗ Y )# = X # ⊗ Y # ,
Φ : X # ⊗ Y # −→ (X ⊗ Y )#
ϕ ⊗ ψ 7−→ Γ : X ⊗ Y −→ K
x ⊗ y 7−→ Γ(x ⊗ y) = ϕ ⊗ ψ(x ⊗ y) = ϕ(x)ψ(y),
ϕ ⊗ ψ(x ⊗ y) = ϕ(x)ψ(y).
Agora, vamos examinar como a dualidade funciona entre esses espaços. Suponha S ∈
L(X, Y ) e T ∈ L(Y, X). Usando as identificações descritas acima, S e T correspondem a
tensores u = ni=1 ϕi ⊗ yi ∈ X # ⊗ Y e v = m #
P P
j=1 xj ⊗ ψj ∈ X ⊗ Y , respectivamente.
47
2. Produto Tensorial
Então temos que T (S) = hS, T i = hu, vi = trY ST . De fato, aplicando S em T temos
m n
!
X X
T (S) = xj ⊗ ψ j ϕi ⊗ yi
j=1 i=1
Xm
= xj ⊗ ψj (ϕ1 ⊗ y1 + · · · + ϕn ⊗ yn )
j=1
Xm m
X
= xj ⊗ ψj (ϕ1 ⊗ y1 ) + · · · + xj ⊗ ψj (ϕn ⊗ yn )
j=1 j=1
= x1 ⊗ ψ1 (ϕ1 ⊗ y1 ) + · · · + xm ⊗ ψm (ϕ1 ⊗ y1 ) + · · · +
x1 ⊗ ψ1 (ϕn ⊗ yn ) + · · · + xm ⊗ ψm (ϕn ⊗ yn )
= ϕ1 (x1 )ψ1 (y1 ) + · · · + ϕ1 (xm )ψ1 (yn ) + · · · +
ϕ1 (xm )ψm (y1 ) + · · · + ϕn (xm )ψm (yn )
Xn n
X
= ϕi (x1 )ψ1 (yi ) + · · · + ϕi (xm )ψm (yi )
i=1 i=1
Xn
= (ϕi (x1 )ψ1 (yi ) + · · · + ϕi (xm )ψm (yi ))
i=1
Xn Xm
= ϕi (xj )ψj (yi ).
i=1 j=1
Além disso,
n n m
! n X
m
X X X X
S(T (y)) = ϕi (T (y))yi = ϕi xj ψj (y) yi = ψj (y)ϕi (xj )yi ,
i=1 i=1 j=1 i=1 j=1
isto é,
n X
X m
ST = ψj ⊗ ϕi (xj )yi .
i=1 j=1
Logo,
n X
X m n X
X m
trY ST = ψj (ϕi (xj )yi ) = ϕi (xj )ψj (yi )
i=1 j=1 i=1 j=1
e, observando os resultados das contas que acabamos de fazer, a dualidade entre os espaços
L(X, Y ) e L(Y, X) é dada por
48
2. Produto Tensorial
F L(X, Y )# = (X # ⊗ Y )# = X ## ⊗ Y # = L(Y, X ## ),
com a dualidade dada por hS, T i = trY ST = trX ## T S, como no caso de dimensão finita.
f · x : S −→ X
s 7−→ f (s)x.
A : F (S) × X −→ F (S, X)
(f, x) 7−→ f · x.
A : F (S) ⊗ X −→ F (S, X)
n n
X X (2.9)
fi ⊗ xi 7−→ f i · xi .
i=1 i=1
49
2. Produto Tensorial
Mostraremos agora que a aplicação linear (2.9) é injetiva. De fato, suponha que a função
Pn Pn
i=1 fi xi = 0. Então temos que i=1 fi (s)xi = 0, para todo s ∈ S. Como os funcionais
ϕ : F (S) −→ K, f 7−→ f (s), formam um subconjunto separador de pontos do espaço dual
de F (S) (não é difı́cil mostrar isso), então pela Observação 2.7 tem-se ni=1 fi ⊗ xi = 0
P
As mesmas ideias podem ser aplicadas a subespaços de F (S). Por exemplo, sejam
P (K) o espaço vetorial de funções polinomiais em K e P (K, X) um espaço de funções
polinomiais em K com valores no espaço vetorial X. Cada elemento P ∈ P (K, X) tem
a forma P (s) = nk=0 sk xk , onde xk ∈ X. Sejam pk as funções monomiais pk (s) = sk .
P
Então o polinômio P é dado pelo tensor nk=0 pk ⊗ xk . Por outro lado, é fácil ver que
P
A / c00 (N, X)
c00 × X = c00 (N) × X 6
= c00 (X)
θ
A
e
c00 ⊗ X = c00 (N) ⊗ X
Pn
Desse modo, se x ∈ c00 (X) então x = (x1 , . . . , xn , 0, 0, . . .) = i=1 ei ⊗ xi , onde ei é a
sequência de escalares que tem 1 no n-ésima termo e zero nos demais. Assim, identificamos
50
2. Produto Tensorial
n
X n
X n
X
ps ⊗ qt (a, b) = ps (a)qt (b) = as b t
k=0 k=0 k=0
e assim A
e é sobrejetora, donde concluı́mos que
P (K × K) = P (K) ⊗ P (K).
51
Capı́tulo 3
Neste capı́tulo, estudaremos duas maneiras de normar o produto tensorial entre espaços
de Banach. Inicialmente, abordaremos a norma projetiva, veremos que, assim como o
produto tensorial algébrico lineariza as aplicações bilineares, o produto tensorial proje-
tivo lineariza as aplicações bilineares contı́nuas. Em seguida, dissertaremos sobre o dual
do produto tensorial projetivo e estudaremos a norma injetiva. Os livros [5], [17] e o
trabalho [20] compõem as principais referências utilizadas nesse estudo.
Pn
seja satisfeita. Agora, considere u ∈ X ⊗ Y um tensor qualquer. Se i=1 xi ⊗ yi é uma
representação de u, então decorre da desigualdade triangular que a norma satisfaz
n
X
kuk ≤ kxi k kyi k . (3.2)
i=1
Como a desigualdade (3.2) deve ser válida para qualquer representação de u, tomando o
52
3. Produto tensorial projetivo e injetivo
Pn
O fato do zero ser uma cota inferior para o conjunto { i=1 kxi k kyi k} faz com que o
ı́nfimo tomado acima esteja bem definido. Como utilizamos a desigualdade triangular em
(3.2), o lado direito da desigualdade (3.3) se torna o maior candidato possı́vel para uma
norma natural em X ⊗ Y .
Definição 3.1. Sejam X, Y espaços vetoriais normados sobre o corpo K. Para cada
tensor u ∈ X ⊗ Y , definimos a norma projetiva de u como
( n n
)
X X
π(u) := inf kxi k kyi k : u = xi ⊗ y i , (3.4)
i=1 i=1
Note que π satisfaz (3.1) e (3.2). Quando for necessário especificar os espaços com-
ponentes no produto tensorial, denotaremos a norma projetiva por πX,Y ou π(u; X ⊗ Y ).
Mais a frente, mostraremos que dada uma outra norma k·k em X ⊗Y teremos kuk ≤ π(u).
Veremos agora que π é uma norma no produto tensorial.
ψ ∈ Y 0 temos
n
X n
X n
X
ϕ(xi )ψ(yi ) ≤ |ϕ(xi )| |ψ(yi )| ≤ kϕk kψk kxi k kyi k ≤ kϕk kψk ε
i=1 i=1 i=1
e portanto
n
X
ϕ(xi )ψ(yi ) ≤ kϕk kψk ε.
i=1
Desde que o valor da soma ni=1 ϕ(xi )ψ(yi ) é independente da representação de u, segue
P
que ni=1 ϕ(xi )ψ(yi ) = 0 e como os espaços duais X 0 e Y 0 são subconjuntos, respecti-
P
vamente, dos duais algébricos X # e Y # que separam pontos, então, pelo item (a) da
Observação 2.7, segue que u = 0. Ainda, é claro que se u = 0 temos π(u) = 0.
53
3. Produto tensorial projetivo e injetivo
Mostraremos agora que π(λu) = |λ| π(u). Quando λ = 0 não há o que mostrar. Então
suponha λ 6= 0. Se ni=1 xi ⊗ yi é uma representação de u então λu = ni=1 (λxi ) ⊗ yi .
P P
Daı́, temos
n
X n
X
π(λu) ≤ kλxi k kyi k = |λ| kxi k kyi k .
i=1 i=1
Como isso é válido para toda representação de u, segue que π(λu) ≤ |λ| π(u). De modo
análogo, temos π(u) = π(λ−1 λu) ≤ |λ|−1 π(λu), donde |λ| π(u) ≤ π(λu). Portanto,
π(λu) = |λ| π(u).
Agora, provaremos que π satisfaz a desigualdade triangular. Sejam u, v ∈ X ⊗ Y
Pn
e ε > 0. Decorre da definição de π que existem representações u = i=1 xi ⊗ yi e
Pm
v = j=1 wj ⊗ zj tai que
n
X m
X
kxi k kyi k ≤ π(u) + ε e kwj k kzj k ≤ π(v) + ε.
i=1 j=1
Pn Pm
Então i=1 xi ⊗ y i + j=1 wj ⊗ zj é uma representação para u + v e portanto
n
X m
X
π(u + v) ≤ kxi k kyi k + kwi k kzi k ≤ π(u) + π(v) + 2ε. (3.5)
i=1 j=1
n
! n
X X
A(u)
e = A
e xi ⊗ y i ≤ e i ⊗ yi )
A(x
i=1 i=1
n
X n
X
= |ϕ(xi )ψ(yi )| = |ϕ(xi )| |ψ(yi )|
i=1 i=1
n
X n
X
≤ kϕk kψk kxi k kyi k ≤ kxi k kyi k ,
i=1 i=1
54
3. Produto tensorial projetivo e injetivo
Usaremos essa notação com moderação, pois, embora seja conveniente, poderá causar
ambiguidade. Note que não necessariamente A ⊗ B é um espaço vetorial e que todos os
seus elementos são tensores elementares.
55
3. Produto tensorial projetivo e injetivo
A envoltória convexa de S, co(S), pode ser caracterizada pelo conjunto abaixo ([20,
Proposição 3.8]):
( n n
)
X X
co(S) = λi xi : n ∈ N, xi ∈ S, λi ≥ 0, λi = 1, i = 1, . . . , n
i=1 i=1
Proposição 3.6. Sejam X, Y espaços normados sobre o corpo K. A bola unitária fechada
ˆ π Y é o fecho da envoltória convexa do conjunto BX ⊗ BY .
de X ⊗
ˆ πY .
Demosntração: Seja BX ⊗ˆ π Y a bola unitária fechada de X ⊗ Como BX ⊗ˆ π Y =
ˆ πY
X⊗
BX⊗π Y é suficiente provar para o espaço X ⊗π Y , isto é, basta mostrar que BX⊗π Y =
coX⊗π Y (BX ⊗ BY ), pois
ˆ πY
X⊗ ˆ πY
X⊗ ˆ
BX ⊗ˆ π Y = BX⊗π Y = coX⊗π Y (BX ⊗ BY ) = coX ⊗π Y (BX ⊗ BY ).
n
X
u= xi ⊗ y i
i=1
n
X
= (kxi k kxi k−1 xi ) ⊗ (kyi k kyi k−1 yi )
i=1
n
X
= kxi k kyi k (kxi k−1 xi ) ⊗ (kyi k−1 yi )
i=1
Xn
= λi wi ⊗ zi ,
i=1
Pn
com wi ∈ BX , zi ∈ BY , λi ≥ 0 e i=1 λi < 1. Assim, u ∈ co(BX ⊗ BY ) e então
X⊗π Y
B̊X⊗π Y ⊆ co(BX ⊗ BY ), o que implica em BX⊗π Y = B̊X⊗π Y ⊆ coX⊗π Y (BX ⊗ BY ).
Por outro lado, temos que BX ⊗ BY ⊂ BX⊗π Y . De fato, dado u ∈ BX ⊗ BY , temos
u = x ⊗ y, com x ∈ BX e y ∈ BY (lembre que BX ⊗ BY é definido como em (3.6)). Daı́,
π(u) = kxk kyk ≤ 1 e assim u ∈ BX⊗π Y . Segue que co(BX ⊗ BY ) ⊆ BX⊗π Y , pois BX⊗π Y
56
3. Produto tensorial projetivo e injetivo
X⊗π Y
coX⊗π Y (BX ⊗ BY ) ⊆ BX⊗π Y = BX⊗π Y .
Então
n
!
X
π(S ⊗ T (u)) = π S(xi ) ⊗ T (yi )
i=1
n
X
≤ kS(xi )k kT (yi )k
i=1
n
X
≤ kSk kT k kxi k kyi k
i=1
e tomando o ı́nfimo sobre todas as representações de u, temos π(S⊗T (u)) ≤ kSk kT k π(u).
Assim, S ⊗π T : X ⊗π Y −→ W ⊗π Z é um operador linear contı́nuo para a norma projetiva
e kS ⊗π T k ≤ kSk kT k. Por outro lado,
57
3. Produto tensorial projetivo e injetivo
Veremos agora que o produto tensorial projetivo não respeita subespaços, isto é, se
W é um subespaço do espaço de Banach X, de tal forma que W ⊗ Y seja um subespaço
algébrico de X ⊗ Y , então a norma induzida em W ⊗ Y por X ⊗π Y não é, geralmente,
a norma projetiva πW,Y (·). De fato, considere a definição da norma π(u; W ⊗ Y ) onde
u ∈ W ⊗ Y . O ı́nfimo que define essa norma é assumido sobre o conjunto de todas as
representações de u em W ⊗ Y . Se ampliarmos esse espaço W para X, o conjunto das
representações de u se torna maior e portanto teremos
( n n
) ( n n
)
X X X X
kxi k kyi k : u = xi ⊗ yi ∈ W ⊗ Y ⊆ kxi k kyi k : u = xi ⊗ y i ∈ X ⊗ Y
i=1 i=1 i=1 i=1
o que implica em
π(u; X ⊗ Y ) ≤ π(u; W ⊗ Y ).
Embora a norma projetiva não respeite subespaços de modo geral, veremos que isso
não acontece para espaços complementados.
(a) E ⊗ F é complementado em X ⊗π Y .
58
3. Produto tensorial projetivo e injetivo
e portanto P ⊗ Q(X ⊗π Y ) = E ⊗ F .
(b) Seja u ∈ E ⊗ F . Já vimos que πX,Y ≤ πE,F . Agora, considere ni=1 xi ⊗ yi uma
P
Pn
representação de u em X ⊗ Y . Então, u = P ⊗ Q(u) e i=1 P (xi ) ⊗ Q(yi ) é uma
representação de u em E ⊗ F . Assim,
n
X n
X
πE,F (u) ≤ kP (xi )k kQ(yi )k ≤ kP k kQk kxi k kyi k . (3.7)
i=1 i=1
Veremos adiante o porquê da escolha do nome projetivo para a norma π. Antes disso,
definiremos o operador quociente, mostraremos que o produto tensorial de operadores quo-
cientes também é um operador quociente e uma consequência desse resultado justificará
a nomenclatura da norma π.
59
3. Produto tensorial projetivo e injetivo
n
! n n
X X X
Q⊗R wi ⊗ zi = Q(wi ) ⊗ R(zi ) = xi ⊗ y i ,
i=1 i=1 i=1
temos
n
X
π(u) = π(Q ⊗ R(v)) ≤ kQk kRk kwi k kzi k .
i=1
n
! n n
X X X
Q⊗R wi ⊗ zi = Q(wi ) ⊗ R(zi ) = xi ⊗ y i = u
i=1 i=1 i=1
e além disso
n
! n
X X
π wi ⊗ zi ≤ kwi k kzi k
i=1 i=1
n
X
≤ (1 + ε) kxi k (1 + ε) kyi k (3.8)
i=1
n
X
= (1 + ε)2 kxi k kyi k
i=1
2
≤ (1 + ε) (π(u) + ε).
60
3. Produto tensorial projetivo e injetivo
ˆ π X.
Exemplo 3.14. O produto tensorial projetivo `1 ⊗
∞ ∞
!
X X
kan xk = kxk |an | .
n=1 n=1
∞
X
k(xn )∞
n=1 k1 = kxn k .
n=1
61
3. Produto tensorial projetivo e injetivo
Assim, existe uma aplicação linear J : `1 ⊗ X −→ `1 (X) satisfazendo J(a ⊗ x) = (an x)∞ n=1 .
Pm ∞
Agora, se i=1 ai ⊗xi é uma representação de u ∈ `1 ⊗X, onde ai = (ain )n=1 , i = 1, . . . , m,
então
m
!∞ ∞ m
X X X
kJ(u)k1 = ain xi = ain xi
i=1 n=1 1 n=1 i=1
∞ X ∞
m m
!
X X X
≤ kain xi k = |ain | kxi k (3.9)
n=1 i=1 i=1 n=1
Xm
= kai k1 kxi k ,
i=1
e desde que (3.9) é válida para toda representação de u, tomando o ı́nfimo sobre todas es-
sas representações, segue que kJ(u)k1 ≤ π(u). Agora, fixe uma representação m
P
i=1 ai ⊗ xi
m
de u. Então J(u) = (un )∞
P
n=1 , onde un = i=1 ain xi .
P∞
Afirmação: A série n=1 en ⊗ un converge para u em `1 ⊗π X, onde {en } são os vetores
canônicos em `1 .
k
! m k m
!!
X X X X
π u− en ⊗ un =π ai ⊗ x i − en ⊗ ain xi
n=1 i=1 n=1 i=1
m k X
m
!
X X
=π ai ⊗ x i − en ⊗ ain xi
i=1 n=1 i=1
m k
!!
X X
=π ai ⊗ xi − ain en ⊗ xi
i=1 n=1
m
!
X
=π (ai ⊗ xi − Pk (ai ) ⊗ xi )
i=1
m
!
X
=π (ai − Pk (ai )) ⊗ xi
i=1
m
X
≤ kai − Pk (ai )k kxi k ,
i=1
Pk
segue que π u − n=1 en ⊗ un −→ 0 quando k −→ ∞, provando assim a afirmação.
Agora, temos
∞
! ∞
X X
π(u) = π en ⊗ un ≤ kun k = kJ(u)k1 ,
n=1 n=1
62
3. Produto tensorial projetivo e injetivo
Os argumentos que foram dados para o espaço `1 no Exemplo 3.14 se aplica de forma
equivalente para o espaço `1 (I), onde I é um conjunto de indexação arbitrária, nos forne-
cendo uma identificação
ˆ π X = `1 (I, X),
`1 (I)⊗ (3.10)
Para provar isso, precisamos apenas lembrar que se (xi )i é uma famı́lia absolutamente
somável, então existe um subconjunto enumerável, I0 , de I tal que xi = 0 se i ∈
/ I0
(Proposição 1.35).
1
É bem comum encontrar a demonstração desse fato para espaços separáveis e vários autores comentam
que a demonstração para o caso geral é muito semelhante. Infelizmente, não encontramos nenhuma
demonstração explı́cita e por questões de escopo do nosso trabalho (e tempo) não fizemos esforços para
demonstra-la.
63
3. Produto tensorial projetivo e injetivo
P∞
n=1 xn ⊗ yn converge para u e
∞
X
kxn k kyn k < π(u) + ε.
n=1
e
∞
X ∞
X ∞
X
kxn k kyn k = kyn k = kvjn k = π(v) ≤ π(u) + ε.
n=1 n=1 n=1
64
3. Produto tensorial projetivo e injetivo
e
(∞ ∞ ∞
)
X X X
π(u) = inf |λn | kxn k kyn k : u = λ n xn ⊗ y n , |λn | < ∞, xn , yn −→ 0 .
n=1 n=1 n=1
3.2 ˆ πY
O espaço dual de X ⊗
No Capı́tulo 2, vimos que o produto tensorial X ⊗ Y lineariza aplicações bilineares em
X × Y . Nesta seção, estudaremos como o produto tensorial projetivo X ⊗ˆ π Y lineariza as
aplicações bilineares contı́nuas e determinaremos o seu espaço dual.
Sabemos que uma aplicação bilinear B : X ×Y −→ Z, entre os espaços normados X, Y
e Z, é contı́nua se existe uma constante c > 0 tal que kB(x, y)k ≤ c kxk kyk, para todo
x ∈ X, y ∈ Y . Denotamos por B(X × Y, Z) o espaço das aplicações bilineares contı́nuas
de X × Y em Z, onde a norma é dada por
Quando Z = K, denotamos esse espaço por B(X × Y ), espaço das formas bilineares
contı́nuas.
Teorema 3.17. Seja B ∈ B(X × Y, Z) uma aplicação bilinear contı́nua. Então existe
um único operador linear contı́nuo B ˆ π Y −→ Z, satisfazendo B(x
e : X⊗ e ⊗ y) = B(x, y),
para todos x ∈ X, y ∈ Y . Além disso, a correspondência B ←→ B e é um isomorfismo
ˆ π Y, Z).
isométrico entre os espaços B(X × Y, Z) e L(X ⊗
Demonstração: Como B é uma aplicação bilinear, pelo Teorema 2.10, existe uma única
e : X ⊗ Y −→ Z tal que B(x
aplicação linear B e ⊗ y) = B(x, y), para todos x ∈ X, y ∈ Y e a
correspondência B ←→ B e é um isomorfismo entre os espaços B(X × Y, Z) e L(X ⊗ˆ π Y, Z).
Mostraremos que B e é contı́nua para a norma projetiva e que a correspondência B ←→ B e
ˆ π Y, Z).
é um isomorfismo isométrico entre B(X × Y, Z) e L(X ⊗
Pn
Seja u = i=1 xi ⊗ yi ∈ X ⊗ Y . Temos
n
! n
X X
B(u)
e = B
e xi ⊗ yi = e i ⊗ yi )
B(x
i=1 i=1
n
X n
X
= B(xi , yi ) ≤ kB(xi , yi )k (3.12)
i=1 i=1
65
3. Produto tensorial projetivo e injetivo
n
X
≤ kBk kxi k kyi k .
i=1
ˆ π Y, Z)
Φ : B(X × Y, Z) −→ L(X ⊗
B 7−→ B.
e
A linearidade e continuidade da Φ seguem das definições e do que já fizemos acima. Vamos
mostrar que Φ é sobrejetora. Seja L ∈ L(X ⊗π Y, Z) e B : X × Y −→ Z uma aplicação
bilinear (de imediata verificação) contı́nua dada por B(x, y) = L(x ⊗ y). Da continuidade
do operador L segue que
ˆ π Y, Z).
B(X × Y, Z) = L(X ⊗
Se Z for o corpo dos escalares, temos uma identificação canônica do espaço dual do
produto tensorial projetivo com o espaço das formas bilineares contı́nuas
B(X × Y ) = L(X ⊗ ˆ π Y )0 .
ˆ π Y, K) = (X ⊗ (3.13)
Com a identificação (3.13), a ação de uma forma bilinear contı́nua B como um funcional
66
3. Produto tensorial projetivo e injetivo
ˆ π Y é dada por
linear contı́nuo em X ⊗
n
! n
X X
B xi ⊗ y i = B(xi , yi ).
i=1 i=1
Φ : B(X × Y ) −→ L(X, Y 0 )
B 7−→ LB
e assim tem-se
|B(x, y)| = |LB (x)(y)| ≤ |LB (x)| kyk ≤ kLB k kxk kyk .
o que implica em kLB k ≤ kBk e portanto kBk = kLB k. Daı́ kΦ(B)k = kLB k = kBk.
Além disso, é claro que Φ é sobrejetora (basta tomar para cada S ∈ L(X; Y 0 ) a forma
67
3. Produto tensorial projetivo e injetivo
ˆ π Y )0 = B(X × Y ) = L(X, Y 0 ),
(X ⊗ (3.15)
n
! n
X X
S xi ⊗ yi = S(xi )(yi ).
i=1 i=1
ˆ π Y )0 = L(Y, X 0 ),
(X ⊗ (3.16)
n
! n
X X
T xi ⊗ yi = T (yi )(xi ).
i=1 i=1
Essas identificações, (3.15) e (3.16), produzem mais duas variações na fórmula de duali-
dade para a norma projetiva de um elemento de X ⊗ ˆ πY :
68
3. Produto tensorial projetivo e injetivo
Pn
sejam (ϕ, ψ) ∈ X 0 × Y 0 e i=1 xi ⊗ yi uma representação qualquer de u ∈ X ⊗ Y . Então
n
X n
X
kBu (ϕ, ψ)k = ϕ(xi )ψ(yi ) ≤ |ϕ(xi )ψ(yi )|
i=1 i=1
n
X n
X
= |ϕ(xi )| |ψ(yi )| ≤ kϕk kψk kxi k kyi k .
i=1 i=1
Pn
onde i=1 xi ⊗ yi é uma representação qualquer de u. Note que a boa definição e as
propriedades da norma injetiva ε(·) seguem da norma k·k em B(X 0 × Y 0 ).
Como visto na Seção 2.3, também podemos visualizar os elementos do produto ten-
sorial X ⊗ Y como operadores de X 0 em Y ou de Y 0 em X. Assim, os operadores
lineares contı́nuos Lu : X 0 −→ Y e Ru : Y 0 −→ X dados, respectivamente, por Lu (ϕ) =
Pn Pn
i=1 ϕ(xi )yi e Ru (ψ) = i=1 xi ψ(yi ), associados ao tensor u, têm a mesma norma que a
forma bilinear Bu (cálculo imediato). Os mesmos argumentos que utilizamos para mostrar
que Bu é contı́nua, nos mostra que Lu e Ru são contı́nuos. Isso nos dá mais duas fórmulas
para a norma injetiva:
( n
)
X
ε(u) = sup ϕ(xi )yi : ϕ ∈ BX 0 (3.18)
i=1
( n
)
X
= sup xi ψ(yi ) : ψ ∈ BY 0 .
i=1
69
3. Produto tensorial projetivo e injetivo
tem-se
( n
)
X
ε(u) = sup ϕi (x)ψi (y) : x ∈ BX , y ∈ BY , (3.19)
i=1
n
X n
X n
X n
X
ϕ(xi )yi ≤ kϕ(xi )yi k = |ϕ(xi )| kyi k ≤ kϕk kxi k kyi k
i=1 i=1 i=1 i=1
70
3. Produto tensorial projetivo e injetivo
(c) Sejam ϕ ∈ X 0 e ψ ∈ Y 0 funcionais lineares. Então existe uma única aplicação linear
ϕ ⊗ ψ : X ⊗ Y −→ K tal que ϕ ⊗ ψ(x ⊗ y) = ϕ(x)ψ(y), para todos x ∈ X, y ∈ Y . Daı́,
n
X
|ϕ ⊗ ψ(u)| = ϕ(xi )ψ(yi )
i=1
n
X ϕ ψ
= kϕk kψk (xi ) (yi )
i=1
kϕk kψk
n
X
≤ kϕk kψk sup ϕ0 (xi )ψ 0 (yi )
ϕ0 ∈BX 0 , ψ 0 ∈BY 0 i=1
e segue que kϕ ⊗ ψk ≤ kϕk kψk e que ϕ ⊗ ψ é contı́nuo. Por outro lado, temos
= sup |ϕ(x)ψ(y)|
x∈BX , y∈BY
≤ sup |ϕ(x)ψ(y)|
ε(x⊗y)≤1
= kϕ ⊗ ψk
n n n
!
X X X
ϕ(xi )yi = ϕ(xi )yi = sup ψ ϕ(xi )yi
i=1 i=1 ψ∈BZ 0 i=1
Y Z
n
X n
X
= sup ϕ(xi )ψ(yi ) = sup ϕ(xi ψ(yi ))
ψ∈BZ 0 i=1 ψ∈BZ 0 i=1
n
!
X
= sup ϕ ψ(yi )xi .
ψ∈BZ 0 i=1
71
3. Produto tensorial projetivo e injetivo
Portanto,
n n
!
X X
εX,Y (u) = sup ϕ(xi )yi = sup sup ϕ ψ(yi )xi
ϕ∈BX 0 ϕ∈BX 0 ψ∈BZ 0
i=1 i=1
n
! n
X X
= sup sup ϕ ψ(yi )xi = sup ψ(yi )xi
ψ∈BZ 0 ϕ∈BX 0 i=1 ψ∈BZ 0 i=1 X
n
X
= sup ψ(yi )xi = εW,Z (u).
ψ∈BZ 0 i=1 W
Assim como na norma projetiva, veremos que, na norma injetiva, o produto tensorial
entre operadores lineares contı́nuos também é um operador linear contı́nuo.
do tensor u ∈ X ⊗ Y , então
( n
)
X
εW,Z (S ⊗ T (u)) = sup ϕ(S(xi ))ψ(T (yi )) : ϕ ∈ BW 0 , ψ ∈ BZ 0
i=1
( n
)
X
= sup S 0 (ϕ)(xi )T 0 (ψ)(yi ) : ϕ ∈ BW 0 , ψ ∈ BZ 0
i=1
( n
)
X S 0 (ϕ) T 0 (ψ)
= kS 0 k kT 0 k sup (x i ) (yi ) : ϕ ∈ BW 0 , ψ ∈ BZ 0
i=1
kS 0 k kT 0 k
( n
)
X
≤ kS 0 k kT 0 k sup γ(xi )σ(yi ) : γ ∈ BX 0 , σ ∈ BY 0
i=1
72
3. Produto tensorial projetivo e injetivo
ˆ ε X.
Exemplo 3.23. O produto tensorial injetivo c0 ⊗
ˆ ε X pode ser iden-
Neste exemplo, vamos mostrar que o produto tensorial injetivo c0 ⊗
tificado com o espaço (de Banach) c0 (X), das sequências em X que convergem para zero,
munido da norma k(xk )∞
k=1 k∞ = supk∈N kxk k.
Considere a aplicação canônica J : c0 ⊗X −→ c0 (X) que leva o tensor u = ni=1 ai ⊗xi
P
∞
na sequência de valor vetorial em X, J(u) = ( ni=1 aik xi )k=1 , onde ai = (aik )∞
P
k=1 ∈ c0 .
Mostraremos que J(u) é um elemento de c0 (X). De fato,
n
X n
X n
X n
X
aik xi ≤ kaik xi k = |aik | kxi k ≤ max |aik | kxi k −→ 0,
1≤i≤n
i=1 i=1 i=1 i=1
quando k −→ ∞. Além disso, não é difı́cil verificar que a aplicação J é linear. Agora,
vamos calcular a norma de J(u). Usando a dualidade entre c0 e `1 e o Teorema de
Hanh-Banach, temos
n n
!
X X
kJ(u)k∞ = sup aik xi = sup sup ϕ aik xi
k∈N i=1 k∈N ϕ∈BX 0 i=1
n
X n
X
= sup sup aik ϕ(xi ) = sup sup aik ϕ(xi )
k∈N ϕ∈BX 0 i=1
ϕ∈BX 0 k∈N
i=1
∞
X n
X
= sup sup bk aik ϕ(xi )
ϕ∈BX 0 b=(bk )∞
k=1 ∈B`1 k=1 i=1
X∞ X n
= sup sup bk aik ϕ(xi )
ϕ∈BX 0 b∈B`1
k=1 i=1
n
X
= sup sup b(ai )ϕ(xi ) = ε(u),
b∈B`1 ϕ∈BX 0 i=1
73
3. Produto tensorial projetivo e injetivo
onde na última igualdade estamos usando (3.17). Segue que J é uma isometria de c0 ⊗ε X
ˆ ε X em c0 (X).
em c0 (X) e, portanto, contı́nua. Assim, J se estende a uma isometria de c0 ⊗
Como J(c0 ⊗ X) é denso em c0 (X) (todo (bj )∞
j=1 ∈ c0 (X) é aproximado pela imagem por
Pk
J da sequência uk = j=1 ej ⊗ bj ), segue que J é um isomorfismo isométrico.
ˆ ε X.
Exemplo 3.24. O produto tensorial injetivo `1 ⊗
Mostraremos nesse exemplo que `u1 (X) é isometricamente isomorfo ao produto tensorial
ˆ ε X. Iniciaremos com a aplicação canônica J : `1 ⊗ X −→ `u1 (X), que aplica
injetivo `1 ⊗
∞
o tensor u = ni=1 ai ⊗ xi , com ai = (aik )∞
P Pn
k=1 , na sequência J(u) = ( i=1 aik xi )k=1 . Note
que a boa definição e a linearidade de J parte do Exemplo 3.14. Calculando a norma de
J(u), temos
∞ n
!
X X
kJ(u)k1,w = sup ϕ aik xi
ϕ∈BX 0
k=1 i=1
X∞ n
X
= sup aik ϕ(xi )
ϕ∈BX 0
k=1 i=1
∞ n
!
X X
= sup sup bk aik ϕ(xi )
ϕ∈BX 0 b=(bk )∞
k=1 ∈B`∞ k=1 i=1
X∞ X n
= sup sup bk aik ϕ(xi )
ϕ∈BX 0 b∈B`∞
k=1 i=1
Xn
= sup sup b(ai )ϕ(xi ) = ε(u).
ϕ∈BX 0 b∈B`∞
i=1
ˆ εX e
Portanto, J é uma isometria e se estende isometricamente a uma aplicação entre `1 ⊗
`u1 (X). Como as sequências finitas são densas em `u1 (X) e como J(`1 ⊗ X) contém todas
essas sequências, segue que J é um isomorfismo isométrico.
74
Capı́tulo 4
Aplicações
75
4. Aplicações
Embora já tenhamos trabalhado com aplicações bilineares, isto é 2-lineares, vamos
definir formalmente o conceito de aplicação n-linear.
Definição 4.2. Sejam E1 , . . . , En e F espaços vetoriais sobre o corpo dos escalares K com
n ∈ N. Uma aplicação A : E1 × · · · × En −→ F é dita n-linear ou multilinear se é linear
em cada uma de suas variáveis, isto é,
para todos xi ∈ Ei , i = 1, . . . , n.
• Sejam E1 , . . . , En espaços vetoriais. Definimos o produto tensorial E1 ⊗· · ·⊗En , de forma
semelhante ao produto tensorial de dois espaços, como um subespaço de funcionais lineares
sobre B(E1 × · · · × En ) da seguinte maneira: dados xi ∈ Ei , i = 1, . . . , n, denotaremos
por x1 ⊗ · · · ⊗ xn o funcional dado pela avaliação de uma forma n-linear A no ponto
(x1 , . . . , xn ) ∈ E1 × · · · × En , isto é,
x1 ⊗ · · · ⊗ xn : B(E1 × · · · × En ) −→ K
A 7−→ (x1 ⊗ · · · ⊗ xn )(A) = A(x1 , . . . , xn ).
k
X
A(x1 , . . . , xn ) = ϕ1j (x1 ) · · · ϕnj (xn )bj ,
j=1
76
4. Aplicações
Agora apresentamos, de fato, a nossa aplicação. Dada uma aplicação n-linear contı́nua
A, nem sempre é uma tarefa fácil verificar pela definição se ela pertence ou não ao multi-
ideal I ◦ L. Essa tarefa envolve apresentar uma fatoração para A, o que pode ser penoso
de se obter. O próximo resultado mostra um método capaz de verificar de forma indireta,
e geralmente mais simples, se uma aplicação multilinear A pertence ou não ao multi-ideal
I ◦ L, fazendo o uso do produto tensorial projetivo.
Proposição 4.7. ([1, Proposition 3.2 (a)]). Sejam I um ideal de operadores lineares,
A ∈ L(E1 , · · · , En ; F ) uma aplicação n-linear contı́nua e AL a linearização de A com
respeito ao produto tensorial projetivo. São equivalentes:
(a) A ∈ I ◦ L(E1 , . . . , En ; F ).
77
4. Aplicações
ˆπ ···⊗
(b) AL ∈ I(E1 ⊗ ˆ π En ; F ).
Como (T ◦BL ) e AL são lineares, então (T ◦BL )(u) = AL (u) para todo u ∈ E1 ⊗π · · ·⊗π En .
Levando em consideração que (T ◦BL ) e AL são operadores lineares contı́nuos, da unicidade
da extensão ao fecho, segue que estes operadores coincidem também em E1 ⊗ ˆπ ···⊗
ˆ π En .
Como T ∈ I, a propriedade de ideal nos dá AL ∈ I(E1 ⊗ ˆπ ···⊗ ˆ π En ; F ).
ˆπ ···⊗
(b) ⇒ (a) Seja θ : E1 ×· · ·×En −→ E1 ⊗ ˆ π En a aplicação n-linear (contı́nua) universal
ˆπ ···⊗
associada ao produto tensorial. Temos que AL ∈ I(E1 ⊗ ˆ π En ; F ) por hipótese e que
A = AL ◦ θ. Portanto, A ∈ I ◦ L(E1 , . . . , En ; F ).
n
! p1 n
! p1
X X
(T (xj ))nj=1 p
= kT (xj )kp ≤ c (xj )nj=1 p,w
= c sup |ϕ(xj )|p . (4.1)
ϕ∈BE 0
j=1 j=1
78
4. Aplicações
Não é difı́cil verificar que πp (·) define uma norma para T ∈ Πp (E, F ) e que a desigual-
dade (4.1) da definição dos operadores absolutamente p-somantes também é válida para
sequências infinitas: T é um operador absolutamente p-somante se existe uma constante
c ≥ 0 tal que, se (xj )∞ w
j=1 ∈ `p (E), então
∞
! p1 ∞
! p1
X X
kT (xj )kp ≤ c sup |ϕ(xj )|p .
ϕ∈BE 0
j=1 j=1
79
4. Aplicações
Assim, a definição
n
! n
!∞
X X
∆p (u) = ∆p ai ⊗ x i := aik xi , (4.2)
i=1 i=1 k=1 p
Pn
para todo 1 ≤ p < ∞ e todo u = i=1 ai ⊗ xi ∈ `p ⊗ E, sugere uma norma para o produto
tensorial `p ⊗ E. Observe que (4.2) satisfaz as condições de norma, pois coincide com
a norma k·kp em `p (E). Note também que o último termo da expressão (4.2) pode ser
reescrita como k ni=1 (aik xi )∞
P
k=1 kp . De fato,
n
X n
X
∞
(aik xi )k=1 = (ai1 xi , ai2 xi , . . .)
i=1 i=1
n
! n n
X X X
∆p ai ⊗ x i = (aik xi )∞
k=1 ≤ k(aik xi )∞
k=1 kp
i=1 i=1 p i=1
n ∞
! p1 n ∞
! p1
X X X X
= kaik xi kp = |aik |p kxi kp (4.3)
i=1 k=1 i=1 k=1
n ∞
! p1 n
X X X
= kxi k |aik |p = kxi k k(aik )∞
k=1 kp .
i=1 k=1 i=1
80
4. Aplicações
temos
n
X X ∞
n X ∞ X
X n
b((aik )∞
k=1 )ϕ(xi ) = bk aik ϕ(xi ) = bk aik ϕ(xi )
i=1 i=1 k=1 k=1 i=1
∞ X ∞
n n
!
X X X
≤ bk aik ϕ(xi ) = ϕ bk aik xi
k=1 i=1 k=1 i=1
∞
X n
X ∞
X n
X
≤ kϕk bk aik xi = kϕk bk aik xi (4.4)
k=1 i=1 k=1 i=1
∞ n
!
X X
= kϕk bk aik xi
k=1 i=1
∞
! 10
p ∞ n p ! p1
p0
X X X
≤ kϕk |bk | · aik xi
k=1 k=1 i=1
n
X
= kϕk k(bk )∞
k=1 kp0 (aik xi )∞
k=1 .
i=1 p
n
! n n
!
X X X
ε aik ⊗ xi = sup b((aik )∞
k=1 )ϕ(xi ) ≤ ∆p aik ⊗ xi .
i=1 b∈B` 0 , ϕ∈BE 0 i=1 i=1
p
Segue nas duas proposições seguintes, caracterizações de um espaço cujo dual possui
propriedade de aproximação. As demonstrações, que fogem ao escopo de nosso trabalho,
podem ser vistas, respectivamente, em [17, Proposition 4.12 (b)] e em [5, Proposition 5.3
(2)].
81
4. Aplicações
Tx : E 0 −→ `p
ϕ 7−→ Tx (ϕ) := (ϕ(xj ))∞
j=1 .
∞
! p1
X p
kTx k = sup (ϕ(xj ))∞
j=1 `p
= sup |ϕ(xj )| = (xj )∞
j=1 p,w
.
ϕ∈BE 0 ϕ∈BE 0
j=1
P∞
Também são fatos que o operador Tx pode ser identificado como o tensor n=1 en ⊗ xn ,
1
onde en ∈ `p (ver [5, Chapter I, 8.1]), e segue que, na verdade, `w
p (E) = L(`p∗ ; E).
Proposição 4.14. Seja E um espaço de Banach. Então a relação K(`p∗ , E) = `up (E) =
ˆ ε E ocorre isometricamente.
`p ⊗
P∞
Demonstração: Considere o operador S := n=1 en ⊗ xn . Como `p0 tem a propriedade
de aproximação, pela Proposição 4.12, S é aproximável. Com isso, a relação entre S e a
norma k(xn )∞ ∞
n=1 kp,w nos diz que S é compacto se (xj )j=N p,w
−→ 0, quando N → ∞,
e então `up (E) ,→ K(`p∗ , E). Além disso, pela Proposição 4.13, temos que K(`p∗ , E) =
ˆ ε E. Portanto,
`p ⊗
A proposição anterior estabelece uma nova caracterização para a norma ε(·) no produto
1 u
ˆ ε E. Como `p ⊗
ˆ εE = `p (E), para u = nj=1 aj ⊗ xj ∈ `p ⊗ˆ ε E, temos
P
tensorial injetivo `p ⊗
n
! n
X X
ε(u) := ε ai ⊗ x i := (aik xi )∞
k=1 . (4.5)
i=1 i=1 p,w
82
4. Aplicações
Teorema 4.15. Sejam E e F espaços de Banach. Para cada operador linear contı́nuo
T ∈ L(E, F ) e 1 ≤ p < ∞ as seguintes afirmações são equivalentes:
(a) T ∈ Πp (E, F ).
e é linear. Como, por hipótese, T ∈ Πp (E, F ), então existe um c ≥ 0 tal que, para toda
sequência finita (xj )nj=1 em E, tem-se
n
! p1 n
! p1
X X
kT (xj )kp ≤ c sup |ϕ(xj )|p . (4.6)
ϕ∈BE 0
j=1 j=1
Usando as identificações (4.2) e (4.5) das normas ∆p (·) e ε(·), respectivamente, de (4.6)
temos
n
! n
!
X X
∆p ej ⊗ T (xj ) ≤c·ε ej ⊗ xj , (4.7)
j=1 j=1
Pn
para todo i=1 ei ⊗ xi ∈ `p ⊗ε E. Portanto, id`p ⊗ T é contı́nuo.
(b) ⇒ (c) Segue da desigualdade (4.7). Pn
e i ⊗ xi
(c) ⇒ (a) Seja u = ni=1 ei ⊗ xi ∈ `np ⊗ε E − {0} e v = Pi=1
P
n ∈ B`np ⊗ε E . Temos
ε ( i=1 ei ⊗ xi )
Pn
∆p ( ni=1 ei ⊗ T (xi ))
P
i=1 e i ⊗ xi
∆p (id`p ⊗ T (v)) = ∆p id`p ⊗ T = ≤ c.
ε ( ni=1 ei ⊗ xi ) ε ( ni=1 ei ⊗ xi )
P P
Pn
⊗ T (xi )) ≤ c · ε ( ni=1 ei ⊗ xi ), e portanto, pelas identificações (4.2) e
P
Daı́, ∆p ( i=1 ei
(4.5) temos que T ∈ Πp (E, F ).
83
Referências Bibliográficas
[3] G. Botelho e P. Rueda, The Schur property on projective and injective tensor
products, Proceedings of the American Mathematical Society, 137 (2009), 219-225.
[4] H. Brezis, Functional analysis, Sobolev spaces and partial differential equations,
Springer, 2011.
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1993.
[10] K. Hoffman e R. Kunze, Linear Algebra, 2nd ed., New Jersey, 1971.
84
Referências Bibliográficas
[16] G. Pisier, Factorization of linear operators and geometry of Banach spaces, Provi-
dence, 1986.
[18] R. Schatten, On the direct product of Banach spaces, Transactions of the American
Mathematical Society, 53 (1943), 195-217.
[19] R. Schatten, On reflexive norms for the direct product, Transactions of the Ame-
rican Mathematical Society, 54 (1943), 498-506.
85