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Câmpus de Dourados
PRÓ–REITORIA DE ENSINO - PROE
COORDENAÇÃO DO CURSO DE MATEMÁTICA
Dourados,
Dezembro – 2020
Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul – UEMS
Câmpus de Dourados
PRÓ–REITORIA DE ENSINO - PROE
COORDENAÇÃO DO CURSO DE MATEMÁTICA
Dourados,
Dezembro - 2020
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Agradecimentos
Dedico este trabalho a minha mãe,
mulher indescritı́vel que me faz
acreditar ainda, em pessoas.
Resumo
Escrever...
2 Curvas 32
2.1 Curvas Parametrizadas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32
2.2 Comprimento de Arco . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38
2.2.1 Justificativa Geométrica para a definição do comprimento de arco
de uma curva parametrizada regular . . . . . . . . . . . . . . . . . 39
2.3 Teoria Local das Curvas Parametrizadas pelo Comprimento de Arco . . . . 40
3 Superfı́cies 52
3.1 Superfı́cies Regulares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 52
3.2 Mudança de Parâmetros . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 64
3.3 Funções Diferenciáveis definidas em Superfı́cies . . . . . . . . . . . . . . . . 67
3.4 Plano Tangente e Diferencial de uma aplicação . . . . . . . . . . . . . . . . 70
3.5 Primeira forma fundamental e Área . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 75
3.6 Orientação de Superfı́cies e a aplicação Normal de Gauss . . . . . . . . . . 83
4 Considerações Finais 94
Referências 95
Lista de Figuras
1 Triângulo formado por Ou e Ov. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12
2 produto vetorial de u e v. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
3 Bola aberta no conjunto R. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
4 Bola aberta no conjunto R2 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
5 Bola aberta no conjunto R3 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
6 Aplicação contı́nua de U ⊂ R3 → R2 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20
7 Diferencial de uma aplicação. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26
8 Traço de α1 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33
9 Traço de α2 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34
10 Traço de α3 e α4 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34
11 Traço de α5 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34
12 Traço de α6 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35
13 Traço de α7 e o vetor α70 (t0 ). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36
14 Traço de α8 e o vetor α80 (t0 ). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36
15 Poligonal inscrita na curva α. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40
16 Vetores α0 e α00 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41
17 Vetores t, n e b . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42
18 Exemplo de superfı́cie regular. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53
19 Esfera e as parametrizações Xi . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 56
20 F alicada na superfı́cie f −1 (a) ∩ V é levada ao plano t = a. . . . . . . . . . 59
21 Toro. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 60
22 A aplicação π projeta os pontos (x, y, z) ∈ S ⊂ R3 no R2 . . . . . . . . . . . 62
23 Mundança de parâmetros h = X−1 ◦ Y. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 66
24 Aplicação X ◦ f diferenciável em X−1 (p). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 67
25 Aplicação X1 ◦ ϕ ◦ X−1
2 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 69
10
1 Preliminares
Nesta seção revisaremos alguns conceitos e assuntos muito importantes para o nosso
estudo, eles estão presentes na Álgebra Linear, Cálculo e Análise Real. Primeiramente
será abordado aqui a difinição de vetores e algumas de suas propriedades, além do pro-
duto escalar e o produto vetorial, esse assunto não só nos dá uma base para o espaço
vetorial como também serão um ponto de partida para a introdução do conceito de curvas
diferenciáveis no R3 , em seguida trataremos da continuidade de aplicações no espaço Rn
para o Rm , com m e n números naturais quaisquer, e por fim revisaremos a diferenciabili-
dade das aplicações, esses dois últimos temas são bastante relevantes, pois deles tiraremos
alguns dos principais resultados do cálculo e da análise real, dentro desse assunto res-
saltamos a definição de diferencial de uma aplicação, a qual será muito importante para
definir uma superfı́cie parametrizada e regular no capı́tulo 3.
1.1 Vetores
11
No olhar geométrico, |u| mede a distância de um ponto p = (u1 , . . . , un ) até a origem
0 = (0, . . . , 0). Também podemos definir o produto interno por
u · v = |u||v| cos θ,
ou seja, u é ortogonal a v;
(P2 ) u · v = v · u (comutativo);
(P4 ) u · (v + w) = u · v + u · w (distributivo) .
Essas propriedades e a próxima não demonstraremos aqui, mas são alguns resultados
vistos na álgebra linear. O leitor poderá encontrar em (...). Aqui vai uma referência.
Destacamos também algumas propriedades relacionadas as bases de um espaço veto-
rial. Sejam as bases ordenadas e = {e1 , · · · , en } e f = {f1 , · · · , fn }, de Rn ou em um
caso mais geral, de um espaço vetorial V qualquer. Elas têm a mesma orientação se a
matriz associada a transformação linear que muda a base, de e para f , tem o determinante
positivo, essa relação fica representada por e ∼ f , definindo uma relação de equivalência.
Dados e, f e g bases de Rn , ou V , seguem as seguintes propriedades:
12
(a) e ∼ e;
(b) se e ∼ f , então f ∼ e;
(c) se e ∼ f, f ∼ g então e ∼ g.
Essas propriedades dão sentido à orientação de um espaço vetorial, ou seja, uma base
ela é positiva ou negativa apenas, uma vez que o determinante que transforma uma base
em outra só assume esses valores. Assim, consideramos que a base canônica tem uma
orientação positiva, logo qualquer outra base cuja a matriz que tranforma ela na canônica
e tem o determinante possitivo, implicará que essa base será potiva, caso contrário, a
orientação será oposta, isto é, negativa.
A seguir, temos alguns resultados para o caso particular de n = 3, ou seja, R3 . Defi-
nimos assim o produto vetorial.
u1 u2 u3
det(u, v, w) = v1 v2 v3
w1 w2 w3
= (u1 v2 )w3 + (u2 v3 )w1 + (u3 v1 )w2 − (u3 v2 )w1 − (u1 v3 )w2 − (u2 v1 )w3
+w3 e3 ].
Consequentemente,
u2 u3 u1 u3 u1 u2
u∧v = e1 − e2 + e3 .
v2 v3 v1 v3 v1 v2
13
Alguns autores denotam o produto vetorial por u × v.
Sejam u, v, w ∈ R3 e α, β ∈ R. Seguem as seguintes propriedades quanto ao produto
vetorial.
(1) u ∧ v = −v ∧ u (anti-comutativa);
(4) (u ∧ v) · u = 0, (u ∧ v) · v = 0 (ortogonalidade).
A propriedade (4) nos mostra que o produto vetorial u ∧ v (quando não nulo) é ortogo-
nal ao plano gerado pelos vetores u e v. No geral, essas propriedades seguem da mesma
maneira que a dos determinantes e o leitor pode encontrar uma demonstração para ela
em (...). A seguir daremos uma compreensão geométrica para a norma e a direção do
produto vetorial.
Primeiramente vemos que
isto é, o determinante dos vetores u, v, u ∧ v é sempre positivo, ou seja {u, v, u ∧ v} é uma
base positiva.
u·x v·x
(u ∧ v) · (x ∧ y) = .
u·y v·y
Temos
u2 u3 u1 u3 u1 u2
u∧v = · e1 − · e2 + · e3
v2 v3 v1 v3 v1 v2
x2 x3 x1 x3 x1 x2
x∧y = · e1 − · e2 + · e3 .
y2 y3 y1 y3 y1 y2
14
Assim,
u2 u3 x2 x3 u1 u3 x1 x3 u1 u2 x1 x2
(u ∧ v) · (x ∧ y) = · + · + ·
v2 v3 y2 y3 v1 v3 y1 y3 v1 v2 y1 y2
u2 x2 + u3 y2 u2 x3 + u3 y3 u1 x1 + u3 y1 u1 x3 + u3 y3
= +
v 2 x2 + v 3 y 2 v2 x3 + v3 y3 v1 x1 + v3 y1 v 1 x3 + v 3 y 3
u1 x1 + u2 y1 u1 x2 + u2 y2
+ .
v 1 x1 + v 2 y 1 v1 x2 + v2 y2
Calculando os determinantes,
15
equação ficará,
+u3 y3 ) · (v1 x1 + v2 x2 + v3 x3 )
= (u · x) · (v · y) − (u · y) · (v · x)
u·x v·x
= .
u·y v·y
u·u v·u
|u ∧ v|2 =
u·v v·v
= |u|2 · |v|2 − (u · v)2
= A2 ,
(u ∧ v) ∧ w = (u · w) · v − (v · w) · u.
16
Figura 2: produto vetorial de u e v.
Além disto, conforme supomos, as coordenadas dos vetores u, v e w são descritas como
u = u1 fx = (u1 , 0, 0),
v = v1 fx + v2 fy = (v1 , v2 , 0),
w = w1 fx + w2 fy + w3 fz = (w1 , w3 , w3 ).
u1 0
u∧v = fz = u1 v2 fz = (0, 0, u1 v2 ),
v1 v2
0 u1 v2 0 u1 v2
(u ∧ v) ∧ w = fx − fy
w2 v3 w1 w3
= −u1 v2 w2 fx + u1 v2 w1 fy = (−u1 v2 w2 , u1 v2 w1 , 0) (1)
e também,
αu + βv = α(u1 , 0, 0) + β(v1 , v2 , 0) = (αu1 + βv1 , βv2 , 0) (2)
Logo
αu + βv = −u v w ,
1 1 1 2 2
βv2 = u1 v2 w1 .
17
Calculando o sistema para achar o valor dos coefcientes α e β, teremos
β = u1 w 1 ,
α = −(v1 w1 + v2 w2 ).
v1 w1 + v2 w2 = v · w.
(u ∧ v) ∧ w = (u · w) · v − (v · w) · u.
1.2 Continuidade
Definição 2. Uma bola aberta em Rn centrada em p0 = (x01 , . . . , x0n ) e com raio ε > 0 é
o seguinte conjunto
Exemplo 1. Podemos ver que uma bola aberta para o conjunto R, ou seja Bε (p) é um
intervalo aberto cujo centro é em p e possui comprimento 2ε, como vemos na Figura 3.
18
Figura 3: Bola aberta no conjunto R.
19
Agora, vamos dar uma definição do que é uma aplicação contı́nua.
y1 = f1 (x1 , . . . , xn ), . . . , ym = fm (x1 , . . . , xn ).
Exemplo 4. A rotação em torno do eixo z descrita como Rz,θ é dada através de uma
aplicação F : R3 → R3 que leva a cada ponto p ∈ R3 na rotação de um ângulo θ em torno
do eixo z. Essa aplicação pode ser escrita como
q q
2 2 2 2
F (x1 , x2 , x3 ) = x1 + x2 · cos(θ), x1 + x2 · sin(θ), x3 ,
20
onde as suas funções componentes são:
q q
y1 = x21 + x22 · cos(θ), y2 = x21 + x22 · sin(θ), y 3 = x3
em particular, cada (fi (q) − fi (p))2 < ε2 , i = 1, . . . , m, logo verificamos que dado ε > 0
existe δ > 0 tal que se q ∈ Bδ (p), implica em |fi (q) − fi (p)| < ε. Assim está provada a
continuidade de fi em p.
De forma recı́proca, supomos que fi , i = 1, . . . , m, são funções contı́nuas em p. Então
podemos dizer que dado ε > 0 existem δi > 0, tais que para q ∈ Bδi (p), implica em
|fi (q) − fi (p)| < ε, ou seja, como cada fi (p) = yi uma coordenada do espaço Rm da
aplicação F (p), então Bε (fi (p)) é dada por
√
onde são somados (fi (p)−fi (q))2 , m vezes. Assim, podemos ver que |fi (q)−fi (p)| < ε/ m.
Tomemos δ = min δi e seja q ∈ Bδ (p). Então para todo fi , i = 1, . . . , m verificamos
que
(f1 (q) − f1 (p))2 + . . . + (fm (q) − fm (p))2 < ε2 ,
21
Exemplo 5. Veremos no próximo capı́tulo, aplicações do tipo α : (a, b) ⊂ R → R3 que é
descrita por
α(t) = (x(t), y(t), z(t)),
essa aplicação é conhecida como função vetorial, em que para cada t no intervalo (a, b) é
associado um vetor (x, y, z), quando as funções componentes x(t), y(t), z(t) são contı́nuas,
ou que F é contı́nua, então F será uma curva contı́nua no R3 .
Logo uma vizinhaça de p após ser aplicado a F está de fato contido em uma vizinhança
de F (p), desta forma está provada a primeira parte da proposição.
Reciprocamente, supomos que a condição é válida. Considerando ε > 0 e seja agora o
conjunto V = Bε (F (p)). Pela hipótese, há uma vizinhança W de p em Rn de tal maneira
que F (W ) ⊂ V . Pelo qual W é aberto, é possı́vel obter uma bola Bδ (p) ⊂ W . Assim,
G ◦ F (X) ⊂ G(Y ) ⊂ W,
22
Portanto, concluı́mos que G ◦ F é contı́nua em U .
também é contı́nua.
Esse teorema é um caso particular do Teorema de Bolzano, o qual afirma-se que para
uma função contı́nua definida em um intervalo [a, b], existe d tal que f (a) ≤ d ≤ f (b) ou
f (a) ≥ d ≥ f (b), para pelo menos um valor c ∈ [a, b], f (c) = d.
Para demonstrar, supomos primeiramente que f (a) ≤ d ≤ f (b). O outro caso, a
demonstração é análoga.
23
Desta forma,
Pelo Teorema dos Intervalos Encaixados, que não o demonstraremos aqui, mas assu-
miremos sua veracidade, existe um ponto c que pertence a todos os intervalos. Por outro
lado, como o comprimento de cada intervalo mede a metade do anterior, o comprimento
dos intervalos tendem a 0. Logo, por esse fato e pela definição de c dada pelo teorema
que mencionamos, podemos ver que
c = lim an = lim bn .
n∈N n∈N
Portanto, f (c) = d. Como consequência, para o caso em que f (a)f (b) < 0 existirá um
valor f (c) = d = 0 para algum c ∈ [a, b].
Para que possamos dar continuidade ao estudo, não demonstraremos essas últimas
proposições, visto que são algumas decorrências de um curso de análise real, o leitor
poderá encontrar uma demonstração para essas proposições no livro de (...)
24
1.3 Diferenciabilidade em Rn
Esse exemplo pode ser encontrado no livro Geometria Diferencial de Curvas e Su-
perfı́cies, 3o edição, página 150, de Manfredo Carmo. Preciso pesquisar mais como fazer
uma citação correta.
Introduziremos neste momento um conceito que utilizaremos muito no estudo de su-
perfı́cies, a diferencial de uma aplicação diferenciável.
25
tal que α(0) = p e α0 (0) = w. Pela regra da cadeia, a curva β = F ◦ α : (−ε, ε) → Rm
também é diferenciável. Então
dFp (w) = β 0 (0).
Veja a Figura 7.
Proposição 9. A definição dada acima para dFp não depende da escolha da curva que
passa por p com vetor tangente w, e dFp é, de fato, uma aplicação linear.
e
β(t) = F ◦ α(t) = (y1 (x1 (t), . . . , xn (t)), . . . , ym (x1 (t), . . . , xn (t))).
26
Desta forma, utilizando a regra da cadeia e considerando derivadas em t = 0, obtere-
mos
0 ∂y1 dx1 ∂y1 dxn ∂ym dx1 ∂ym dxn
β (0) = + ··· + f1 + · · · + + ··· + fm
∂x1 dt ∂xn dt ∂x1 dt ∂xn dt
∂y1 ∂y1
dx1
···
∂x1 ∂xn dt
. . . .
.. .. .. .. = dFp (w).
=
∂y ∂ym dxn
m
···
∂x1 ∂xn dt
Dessa maneira, representamos dFp através das bases canônicas dos espaços Rn e Rm ,
por uma matriz dependente apenas das derivadas parciais em p das funções coordenadas
(y1 , . . . , ym ) de F . Portanto, a diferencial dFp é uma aplicação linear, cuja matriz
∂y1 ∂y1
···
∂x1 ∂xn
. .. ..
.. . .
∂y ∂ym
m
···
∂x1 ∂xn
é a matriz associada a tranformação linear, além disto, é notório que dFp é obtido apenas
pelo vetor w que é escolhido independentemente de α.
27
para p = (1, 1) e w = (0, 2) temos:
1 0 0
0
0 1 · = 2 ,
2
2 2 4
28
Exemplo 9. Dadas as aplicações diferenciáveis F : U ⊂ R2 → R3 e G : V ⊂ R3 → R2 ,
com U e V conjuntos abertos tal que F (U ) ⊂ V , denotamos
Assim,
F G
U ⊂ R2 → V ⊂ R3 → R2
(u,v) (x,y,z) (ξ,η)
G ◦ F (u, v) = (ξ(x(u, v), y(u, v), z(u, v)), η(x(u, v), y(u, v), z(u, v))).
Então, ao calcular as derivadas parciais das funções componentes, como por exemplo,
da função ξ em relação a variável u, usando a regra da cadeia obtemos
∂ξ ∂ξ ∂x ∂ξ ∂y ∂ξ ∂z
= + + ,
∂u ∂x ∂u ∂y ∂u ∂z ∂u
e procedemos da mesma forma para calcular as derivadas parciais das outras funções
componentes.
Dessa maneira podemos ver que a diferencial de G ◦ F , de acordo com a proposição
anterior d(G ◦ F )p = dGF (p) ◦ dFp e pelo que vimos da regra da cadeia, é equivalente ao
seguinte produto das matrizes Jacobianas:
∂x ∂x
∂ξ ∂ξ ∂ξ
∂ξ ∂ξ ∂u ∂v
∂u ∂v ∂x ∂y ∂z ∂y ∂y
∂η = ∂η
∂η .
∂η ∂η ∂u ∂v
∂z ∂z
∂u ∂v ∂x ∂y ∂z
∂u ∂v
Assim, podemos notar que a expressão simples da regra da cadeia para aplicações
possui grande quantidade de informações a respeito das derivadas parciais das funções
coordenadas.
Esse exemplo pode ser encontrado no livro Geometria Diferencial de Curvas e Su-
perfı́cies, 3o Edição de Manfredo Carmo. Capı́tulo 2, Apêndice, página 152. aqui também
vai uma coreção da citação!
29
Definição 8. Um congunto U ⊂ Rn é conexo se dados dois pontos p, q ∈ U existe uma
aplicação contı́nua em α : [a, b] → U tal que α(a) = p e α(b) = q. Isso significa que dois
pontos de U podem ser ligados por uma curva contı́nua de U , ou que U é constituı́do por
apenas um “pedaço”.
d
(f ◦ β) = 0
dt
∀t ∈ (0 − ε, 1 + ε),
e daı́ podemos afirmar que f ◦ β = const.. Então f (β(0)) = f (p) = f (β(1)) = f (q); isso
mostra que f é constante em Bδ (p).
Portanto, demonstramos que a proposição está correta localmente, ou seja, podemos
afirmar que a vizinhança de cada ponto p ∈ U é constante. Precisamos provar agora que
esta constante é a mesma para todo ponto de U , para isso, utilizaremos a conexidade de
U.
Supomos que existe um ponto arbitrário r ∈ U . Pela nossa hipótese, U é conexo e
podemos supor que existe uma curva α : [a, b] → U contı́nua e definiremos α(a) = p e
α(b) = r. Assim pela proposição 3 a função f ◦ α : [a, b] → R é contı́nua em [a, b]. Pelo
que mostramos até agora, para cada t ∈ [a, b], existe um intervalo It , aberto em [a, b], tal
30
que f ◦α é constante em It . Ao aplicar a união desses intervalos temos ∪t It = [a, b], assim,
aplicando o teorema de Heine-Borel(Propisição 6), podemos escolher um número finito
I1 , . . . , Ik de intervalos It tais que ∪i Ii = [a, b], i = 1, . . . , k. Desta maneira podemos
supor que dois intervalos consecutivos se intersectam, caso necessário renumerando os
intervalos. Decorre que f ◦ α é constante em [a, b], em outras palavras
Como supomos que r é arbitrário, podemos concluir que f é constante em todo seu
domı́nio U .
Novamente não iremos demonstrar esse teorema, pois não será o foco do nosso estudo,
no entanto pode ser visto geralmente em um curso de análise real, o leitor poderá encontrar
a demonstração em (Observação - aqui vai uma referência a alguma leitura para
a demonstração do teorema OK)
Desta maneira o teorema da função inversa afirma que se no ponto p ∈ U tem uma
diferencial dFp isomorfa, então F é um difeomorfismo em uma vizinhança de p. Ou seja,
a afirmação da diferencial de F em um ponto do seu domı́nio implica em uma afirmação
similar sobre o comportamento da vizinhança da imagem desse ponto.
31
2 Curvas
Neste capı́tulo, faremos uma breve introdução à teoria das curvas parametrizadas. As
curvas no espaço R3 são caracterizadas como subconjuntos (que podem ser imaginados
unidimensionais), que permitem o desenvolvimento do Cálculo Diferencial. Desta ma-
neira, as curvas admitem, localmente, entidades geométricas como a curvatura e a torção.
Na seção 2.1, introduziremos o que é uma curva regular diferenciável, elas também
são chamadas de funções vetoriais, trataremos principalmente essas curvas no R3 . Carac-
terizamos também o que é o vetor tangente, ou vetor velocidade da curva, e ainda nessa
seção mostraremos que o produto escalar e o produto vetorial aplicado à essas funções
são diferenciáveis e seguem à regra do pruduto para derivadas.
Na seção 2.2 definimos o comprimento de arco de uma curva parametrizada dife-
renciável e regular, e ainda na subseção 2.2.1 daremos a justificativa geométrica para essa
definição.
Para finalizar tratamos na seção 2.3 a teoria local das curvas parametrizadas pelo
comprimento de arco, aqui encontraremos o triedo de Frenet e os entes geométricos men-
sionados acima, com eles surgem o teorema fundamental da teoria local das curvas que
demonstraremos no final desse capı́tulo.
32
seja x(t), y(t) e z(t) são diferenciáveis. Também é importante mencionar que não serão
descartados os casos onde o domı́nio está definido em a = −∞, b = +∞. A imagem de
α(I) ∈ R3 é comumente chamada de traço da curva α.
Veja a seguir alguns exemplos de curvas parametrizadas no R2 e R3 :
Exemplo 10. Seja α1 : (−∞, ∞) → R2 dada por α1 (t) = (t3 , t2 ), é uma curva dife-
renciável parametrizada, veja na figura 8. Pois
x = t3
y = t2
Figura 8: Traço de α1 .
Exemplo 11. Seja α: (0, 2π) → R2 dada por α2 (t) = (a cos(t), b sin(t)), essa curva dife-
renciável parametrizada descreve uma elı́pse
x2 y 2
+ 2 = 1,
a2 b
veja na figura 9.
Exemplo 12. Seja α3 : (−∞, ∞) → R2 dada por α3 (t) = (t, |t|) é uma curva parametri-
zada porém essa curva não é difernciável no ponto (0, 0), pois não existe a derivada para
y = |t| = 0, veja na figura 10.
Exemplo 13. Seja α4 : (−∞, ∞) → R2 dada por α4 (t) = (t2 , t2 ) é uma curva dife-
renciável parametrizada, note que essa curva possui a mesma imagem que a curva do
exemplo anterior, porém a função x = y = t2 é diferenciável. veja na figura 10.
33
Figura 9: Traço de α2 .
Exemplo 14. Seja α5 : (−∞, ∞) → R3 dada por α5 (t) = (t, t, t), é uma curva dife-
renciável parametrizada que descreve uma reta no R3 , veja na figura 11.
Exemplo 15. Seja α6 : (0, ∞) → R3 dada por α6 (t) = (t cos(t), t sin(t), t), é uma curva
diferenciável parametrizada que descreve uma expiral no R3 , veja na figura 12.
Ao calcular as derivadas das funções x(t), y(t) e z(t) em um ponto t (denotando-as por
x0 (t), y 0 (t) e z 0 (t)), obtemos o vetor (x0 (t), y 0 (t), z 0 (t)) = α0 ∈ R3 que é denominado vetor
tangente (ou vetor velocidade) da curva α(t) em t.
34
Figura 12: Traço de α6 .
De fato, α0 é tangente à curva α, uma vez que suas funções coordenadas x(t), y(t) e
z(t) são diferenciáves, e podemos escrevê-las nas proximidades de um ponto t0 como
lim E(t) = 0.
t→t0
É fácil notar que a reta r(x(t0 ) + a(t − t0 ), y(t0 ) + b(t − t0 ), z(t0 ) + c(t − t0 )) é tangente
a α em t0 . Logo, o vetor diretor da reta (a, b, c) é tangente à curva, e da definição de
diferencial a = x0 (t), b = y 0 (t), c = z 0 (t). Portanto α0 é um vetor tangente a α.
Exemplo 16. Seja α7 : (−∞, ∞) → R3 dada por α7 (t) = (cos(t), sin(t), t), é uma curva
diferenciável parametrizada que descreve uma expiral no R3 , porém com o raio constante.
O vetor tangente de α7 é expresso por α70 (t) = (− sin(t), cos(t), 1), veja na figura 13 um
exemplo do vetor tangente calculado em t0 .
Exemplo 17. Seja α8 : (0, 2π) → R2 dada por α8 (t) = (cos(t), sin(t)), é uma curva
diferenciável parametrizada que descreve uma circunferência no R2 . O vetor tangente
de α8 é expresso por α80 (t) = (− sin(t), cos(t)), veja na figura 14 um exemplo do vetor
tangente calculado em t0 .
35
Figura 13: Traço de α7 e o vetor α70 (t0 ).
É importante ressaltar que para x0 (t) = y 0 (t) = z 0 (t) = 0 o vetor tangente à curva não
está bem definido, para os pontos em que α0 (t) = (0, 0, 0) chamamos de ponto singular.
Veja que nos exemplos 10 e 13, para t = 0 ⇒ α0 = (0, 0, 0), ou seja, essas curvas possuem
um ponto singular em t = 0.
Nas preliminares, definimos o produto interno e o produto vetorial de vetores no R3 .
Agora que definimos também as funções vetoriais, aplicando nelas o produto vetorial
obtemos novas funções, a proposição a seguir afirma que elas são diferenciáveis.
Proposição 12. Dado u(t) e v(t), t ∈ I curvas diferencáveis, as seguintes funções são
36
diferenciáveis
1. (u + v) ∗ w = u ∗ w + v ∗ w;
2. u ∗ (v + w) = u ∗ v + u ∗ w;
37
2.2 Comprimento de Arco
Focaremos o nosso estudo nas curvas diferenciáveis parametrizadas regulares (por con-
veniência, será omitido a palavra diferenciável).
onde
p
|α0 (t)| = (x0 (t))2 + (y 0 (t))2 + (z 0 (t))2
ds
= |α0 (t)|.
dt
ds
|α0 (t)| = 1 =
dt
38
Sempre podemos obter de uma curva qualquer α : I → R3 outra curva β : J → R3
parametrizada pelo comprimento de arco, cujo os traços são o mesmo. Com efeito, seja
Z t
s = s(t) = |α0 (t)|dt, t, t0 ∈ I.
t0
A função s = s(t) é sempre crescente, pois pela regularidade de α, ds/dt = |α0 (t)| 6= 0 e
|α0 (t)| > 0, assim s(t) tem uma inversa diferencável t = t(s), s ∈ s(I) = J que por abuso
de notação dizemos que a função t é a invesra s−1 da função s. Desta forma, podemos
fazer a composição β = α ◦ t : J → R3 . Assim, fica claro que β(J) = α(I), pois β(t)
descreve o mesmo conjunto de pontos de α, porém com uma “velocidade”t(s) e também
|β 0 (s)| = |α0 (t) · (dt/ds)| = 1, ou seja, β é parametrizada pelo comprimento de arco.
Geralmente, não é necessário mencionar a origem do comprimento de arco, uma vez
que a maioria dos conceitos são definidos apenas em termos das derivadas de α(s).
Também é importante ressaltar a mudança de orientação de uma curva α parametri-
zada pelo comprimento de arco, definida em s ∈ (a, b), basta considerar a curva β definida
em (−b, −a) por β(−s) = α(s), que possui o mesmo traço, mas é percorrida em sentido
oposto.
Seja α : I → R3 uma curva diferenciável e seja [a, b] ⊂ I um intervalo fechado. Para toda
partição a = t0 < t1 < . . . < tn = b de [a, b], considere a soma
n
X
|(α(ti )) − α(ti−1 ))| = l(α, P ),
i=0
39
Figura 15: Poligonal inscrita na curva α.
Enfim, chegamos na parte de maior relevância deste capı́tulo. Nesta seção falaremos
dos principais resultados sobre curvas a serem utilizados nesse trabalho.
Partindo de uma curva α : I → R3 parametrizada pelo comprimento de arco s, o vetor
tangente é sempre unitário, assim pode ser descrito como α0 (s) = (cos(θ(s)), sin(θ(s)))
40
onde θ(s) é uma função diferenciável. Logo α00 (s) = θ0 (s)(− sin(θ(s)), cos(θ(s))), ou seja,
|α00 (s)| = θ0 (s) mede a taxa de variação que o ângulo das tangentes vizinhas faz com
a tangente em s, ou o quão rapidamente a curva se afasta em uma vizinhança de s da
tangente de s. Chamaremos por conveniência θ0 de κ. Assim, definimos.
Note que ao mudar a orientação, o vetor tangente inverte o sentido, porém a curvatura
continua invariante, ou seja, se β(−s) = α(s), então
dβ dα
(−s) = − (s),
d(−s) ds
d2 β d2 α
(−s) = (s).
d(−s)2 ds2
Os pontos onde κ(s) 6= 0 estão bem definidos pela equação α00 (s) = κ(s)n(s), onde
n(s) = (− sin θ(s), cos θ(s)) é um vetor unitário (|n(s)| = 1), com a direção de α00 (s).
Podemos verificar que α00 é normal a α0 , derivando ambos membros da equação
α0 (s) · α0 (s) = 1
41
Por outro lado, pela derivada do produto, proposição 12, da função α0 (s) temos
d 0
(α (s) · α0 (s)) = 2(α00 (s) · α0 (s)). (4)
ds
Desta forma n(s) é normal a α0 (s) e é chamado de vetor normal em s. O plano formado
por α0 (s) e n(s) é chamado plano osculador em s. Certamente, nos casos onde κ(s) = 0
o vetor normal e consequentemente o plano osculador não estão definidos. Desta forma,
diremos que s ∈ I é um ponto singular de ordem 1 se α00 (s) = 0, (neste caso, quando
α0 (s) = 0, s é chamado de ponto singular de ordem 0).
Vamos nos restrigir às curvas parametrizadas pelo comprimento de arco de ordem 1,
e também indicaremos t(s) = α0 (s). Assim, t0 (s) = κ(s)n(s).
Agora definimos o vetor b por b(s) = t(s) ∧ n(s), assim ele é unitário e perpendicular
ao plano osculador, confira em preliminares (produto vetorial), e chamaremos de vetor
binormal em s. Como b(s) é unitário, |b0 (s)| mede a taxa de variação do ângulo que o
plano osculador faz em relação aos seus vizinhos em s, veja na figura 17.
Vamos determinar b0 (s). Para isso, obervamos que por um lado, b0 (s) é normal a b(s)
42
pelo mesmo argumento que usamos para α0 e n(s), por outro lado,
d(t(s) ∧ n(s))
b0 (s) =
ds
= t (s) ∧ n(s) + t(s) ∧ n0 (s)
0
= t(s) ∧ n0 (s),
pois t0 (s) ∧ n(s) = 0 devido a t0 (s) = κ(s)n(s). Assim, b0 (s) é normal a t(s). Por
conseguinte, b0 (s) é paralelo a n(s) e podemos escrever
b0 (s) = τ (s)n(s),
onde τ : R → R é uma função que mede a taxa de variação do ângulo do plano osculador,
observe que
(b0 )2 = |b0 |2 = |τ · n|2 = τ 2 .
Definição 14. Seja α : I → R3 uma curva parametrizada pelo comprimento de arco s tal
que α00 (s) 6= 0, s ∈ I. O número τ (s) definido por b0 (s) = τ (s)n(s), é chamado de torção
de α em s.
= −τ (s)b(s) − κ(s)t(s)
43
Resumindo, a cada valor do parâmetro s é possı́vel associar três vetores unitários e
ortogonais t(s), n(s), b(s). Esses vetores são denominadados Triedo de Frenet em s. Os
entes geométricos κ e τ são fornecidos pela base {t, n, b}, Isso informa o comportamento
de α nas vizinhanças de um ponto α(s0 ).
Agora frizamos o que os autores costumam chamar de fórmulas de Frenet (omitindo
o s por comodidade).
t0 = κn,
n0 = τ b − κt,
b0 = τ n.
Além do plano osculador formado por tn, é comum chamar o plano tb de plano retifi-
cante e o plano nb de plano normal, também, quanto a reta que passa por n(s) é chamada
de normal principal e a que passa por b(s) de binormal. O inverso R = 1/κ da curvatura
é chamado raio da curvatura em s.
A proposição a seguir mostra alguns resultados quanto aos entes geomtétricos κ e τ .
|α0 ∧ α00 |
κ(t) = ;
|α0 |3
4. A torção de α em t ∈ I é
44
(Observação Aqui vai uma citação da demonstração dessa proposição.)
Agora com os principais conceitos de curvas bem estabelecidos, nós podemos tratar
do teorema fundamental da teoria local das curvas.
Para demonstrar-mos esse teorema, veremos que ele é resultado do teorema sobre
existência e unicidade de soluções de equações ordinárias, e também da unicidade, a
menos de movimentos rı́gidos por transformações ortogonais.
45
no qual cada fi , i = 1, . . . , 9, é calculado em (s, α(s)) ∈ J × R9 . Além disto, se o sistema é
linear, então J = I, essa afirmação pode ser consultada em um curso de EDO ou Análise
Real, como por exemplo (...) aqui vai uma citação de um livro de EDO. (cf. S. Lang,
Analysis 1, Addison-Wesley, Reading, Mass, 1968, pp. 383-386).
(Observação - Peço que de uma boa olhada nessa demonstração, como
por exemplo esse trecho acima, não encontrei outras demonstrações, e não
tive total compreenção para que eu possa modificar a ponto de não ficar tão
parecida com o autor, se poder analisar e me sugerir uma demonstração mais
simples ou poder me explicar melhor a cada passo que o autor toma nela
agradeço.)
Logo, dado um triedo, ortonormal, orientado positivamente t0 , n0 , b0 em R3 e um valor
s0 ∈ I, com t(s0 ) = t0 , n(s0 ) = n0 , b(s0 ) = b0 .
precisamos mostrar que a famı́lia t(s), n(s), b(s) obitida daquela maneira permanece
ortogonal para todo s ∈ I. Faremos isso da seguinte maneira, sejam os produtos internos
ht, ni, ht, bi, hn, bi, ht, ti, hn, ni, hb, bi,
46
é uma solução do sistema acima, então o sistema tem condições iniciais 0, 0, 0, 1, 1, 1. Logo
pela unicidade, fica provado que a famı́lia {t(s), n(s), b(s)} é ortonormal para todo s ∈ I
conforme afirmamos.
Assim, a partir de t(s), n(s), b(s) é possı́vel obter uma curva, basta fazer
Z Z Z Z
α(s) = t(s)ds = ξ1 (s)ds, ξ2 (s)ds, ξ3 (s)ds , s ∈ I,
é evidente que α0 (s) = t(s) e também que α00 (s) = κ(s)n(s). Portanto, não há dúvidas
que κ(s) é a curvatura de α em s.
Além disto, para estabelecer a torção, vemos que
.
Primeiramente verificaremos que o comprimento de arco, a curvatura e a torção são
invariantes por movimentos rı́gidos
Seja uma curva α(t) : I → R3 uma curva parametrizada regular definida no intervalo
I = [a, b] e seja M ◦ α um movimento rı́gido de α, então
47
Z t
dα
s1 = dt
t dt
Z 0t
d(M ◦ α)
s2 = dt
t0 dt
Notemos que
d(M ◦ α) d(ρ ◦ α + c) d(ρ ◦ α)
= =
dt dt dt
pois c é constante.
Além disto, como ρ é uma transformação ortogonal, então
d(ρ ◦ α) dα
1. hρ ◦ α, i = hα, i;
dt dt
2. |ρ ◦ α| = |α|;
dα d(ρ◦α)
3. O ângulo θ entre α e dt
é o mesmo para ρ ◦ α e dt
.
dα dα
hα, i = |α| · · cos(θ)
dt dt
d(ρ ◦ α) d(ρ ◦ α)
h(ρ ◦ α), i = |(ρ ◦ α)| · · cos(θ).
dt dt
Implica que as equações acima são iguais pelo lado direito, e pelo item 3 o cos(θ)
também são iguais, desta forma concluı́mos que
dα d(ρ ◦ α)
= ,
dt dt
ou seja a norma das derivadas também são invariantes pela tranformação linear. Esse
argumento pode ser estendido para a derivada de qualquer ordem de α desde que seja
uma curva regular conforme nós definimos.
48
Portanto
t t t
d(ρ ◦ α) d(M ◦ α)
Z Z Z
dα
s1 = dt = dt = dt = s2
t0 dt t0 dt t0 dt
Provado que o comprimento de arco não varia por movimentos rı́gidos, falta mostrar
que a curvatura e a torção também não variam.
2 2 (M ◦α)
Como a curvatura é definida por | ddsα2 | = κ(s), então seja | d ds2
| = κ̃(s) a curvatura
de α após ser aplicado o movimento rı́gido. É fácil ver que
d2 (M ◦ α) d2 (ρ ◦ α) d2 α
κ̃(s) = = = = κ(s).
ds2 ds2 ds2
Pois como já mencionado na demonstração anterior, as normas das derivadas de α são
invariantes por movimentos rı́gidos.
Por fim a torção de α é dada por
como dissemos anteriormente, podemos observar que o produto interno é invariante pela
transformação ortogonal, por conseguinte a torção também é invariante por movimento
rı́gido.
(Observação - Essas últimas demonstrações eu havia feito baseando-se no
exercı́cio 6 da seção 1.5 do livro, queria que o sr desse uma olhada se está
correta pois não peguei de nenhum lugar, principalmente a torção, acho esse
argumento fraco, mas não consegui pensar em nenhum outro.)
Agora que mostramos que M ◦ α preserva o comprimento de arco, a curvatura e a
torção provaremos a unicidade de α a menos de movimentos rı́gidos.
Para isso, supomos primeiramente que, dadas as curvas α(s) e α̃(a) satisfazem as
condições κ(s) = κ̃(s) e τ (s) = τ̃ (s), s ∈ I. Também, sejam t0 , n0 , b0 e t˜0 , n˜0 , b˜0 os triedos
de Frenet em s = s0 ∈ I de α e α̃ respectivamente. Sabemos que existe um movimento
rı́gido que “leva”α̃(s0 ) em α(s0 ) e t˜0 , n˜0 , b˜0 em t0 , n0 , b0 .
Assim, aplicando o movimento rı́gido sobre α̃, ficará α̃(s) = α(s0 ) e os triedos de
49
Frenet t(s), n(s), b(s) e t̃(s), ñ(s), b̃(s) de α e α̃ satisfarão as equações de Frenet:
dt
= κn,
ds
dn
= τ b − κt,
ds
db
= τ n.
ds
dt̃
= κñ,
ds
dñ
= τ b̃ − κt̃,
ds
db̃
= τ ñ.
ds
1
{|t − t̃|2 + |n − ñ|2 + |b − b̃|2 },
2
pode-se observar que essa função calcula a metade do valor do quadrado da distância dos
vetores t(s), n(s), b(s) e t̃(s), ñ(s), b̃(s)
Se optassemos por definir apenas a distância, essa função não seria diferenciável em
s0 .
Agora, usando as equações de Frenet, calcularemos a derivada da função definida
acima
1 d
{|t − t̃|2 + |n − ñ|2 + |b − b̃|2 }
2 ds
= ht − t̃, t0 − t̃0 i + hb − b̃, b0 − b̃0 i + hn − ñ, n0 − ñ0 i
= κht − t̃, n − ñi + τ hb − b̃, n − ñi − κhn − ñ, t − t̃i − τ hn − ñ, b − b̃i = 0,
ou seja, é nula para todo s ∈ I. Por consequência, a função que definimos acima é
constante, e como é nula para s = s0 , é identicamente nula em todo o intervalo I. Ou
seja t(s) = t̃(s), n(s) = ñ(s), b(s) = b̃(s) para todo s ∈ I. Como
dα dα̃
= t = t̃ = ,
ds ds
50
d
resulta que ds
(α−α̃) = 0. Ocorre então que α(s) = α̃(s)+c, tal que c é um vetor constante.
Mas como definimos que α(s0 ) = α̃(s0 ), implica que c = 0; Portanto, α(s) = α̃(s) para
s ∈ I.
Concluı́mos assim a unicidade de α.
(Observação - Essa última parte foi tirada do livro, pg 25, minha dúvida
aqui é porque foi usado a derivada acima para provar que a metade da soma
dos quadrados das normas da diferença dos triedos de α e α̃ é igual a 0?
essa “fórmula”tem alguma motivação geométrica ou alguma outra coisa ou foi
apenas por conveniência? Esta correta a forma que eu mencionei acima, foi o
que eu conjecturei.)
É importante ressaltar que essa demonstração pode ser extendida para qualquer curva
que esteja bem definida, sem necessariamente estar parametrizada por comprimento de
arco, uma vez que, conforme mencionamos na subceção anterior, a curva poderá sempre
ser reparametrizada pelo comprimento de arco.
Uma última observação. Para o caso particular de uma curva plana α : I → R2 a
cuvatura κ possuı́ sinal, ou seja, partindo da base natural e1 , e2 de R2 e definindo o vetor
normal n(s), s ∈ I, tal que, as bases t(s), n(s) e e1 , e2 possuem a mesma orientação. Então
a curvatura ficará definida por
dt
= κn
ds
que pode ser tanto positiva quanto negativa. Lembrando que |κ| ainda coincide com a
definição que demos anteriormente e que κ muda de sinal quando a orientação de α ou
a de R2 é mudada. Também pode-se Observar que no caso das curvas planas (τ ≡ 0) a
prova do teorema fundamental é muito mais simples.
Para dar continuidade no nosso estudo, deixarei a demonstração dessas últimas ob-
servações para o leitor consultar no trabalho de (...). (Observação - Citarei aqui uma
refência de algum artigo ou livro que tenha essa demonstração)
51
3 Superfı́cies
Neste capı́tulo iniciaremos o estudo das Superfı́cies Regulares. Faremos a definição de
três critérios, que ao contrário das curvas, vão além de uma aplicação, afim de caracterizar
quando um subconjunto de R3 pode ser dita uma superfı́cie regular. Essa regularidade
garante que em uma vizinhança de um ponto que pertença à superfı́cie se assemelhará ao
R2 , da mesma forma que quando ampliamos uma superfı́cie curva em um microscópio,
ela aparecerá com um plano.
Na seção 3.1 criamos os critérios para obtermos uma superfı́cie regular e procedemos
com quatro proposições que nos auxiliam verificar se tal superfı́cie será de fato regular.
Na nossa definição permite que em um ponto da superfı́cie adimita mais de uma parame-
trização, assim na seção 3.2 mostraremos que é possı́vel fazer uma mudança de parâmetros
através de uma aplicação que muda as coordenadas de uma parametrização para outra.
Desta maneira, mostraremos que uma superfı́cie independe da sua parametrização,
e assim na seção 3.3 determinamos dois tipos de aplicações diferenciáveis definidas em
superfı́ceis. Já na seção 3.4 mostraremos que através da diferencial encontramos um
plano tangente à superfı́cie em um ponto p nela.
Trabalharemos na seção 3.5 a primeira forma fundamental e a partir dela poderemos
fazer cálculos geométricos, tais como medir áreas, comprimentos de curvas e ângulos nas
superfı́cies.
No final deste capı́tulo, veremos na seção 3.6 de que forma podemos orientar uma
superfı́cie regular, e a relação com a Aplicação Normal de Gauss.
A ideia para definir uma superfı́cie regular está em tomar conjuntos abertos (“pedaços”)
do plano, deformá-los no R3 para colá-los entre si, com a possibilidade de se utilizar mais de
uma parametrisação, tendo cuidado de não formar bicos, arestas e auto-interseções. Assim
teremos subconjuntos no R3 suaves, tal que essas superfı́cies admitem planos tangentes e
que possamos desenvolver a Geometria Diferencial. Segue-se então a definição.
52
vizinhança V de p em R3 e uma aplicação X : U → V ∩ S de um aberto U de R2 sobre
V ∩ S ⊂ R3 tal que
as funções x(u, v), y(u, v), z(u, v) têm derivadas parciais contı́nuas de todas as or-
dens em U .
53
possibilidade de auto interseções de superfı́cies regulares por causa de sua injetividade.
Já a condição 3, da diferencial, exclui a existência de bicos em uma superfı́cie regular e
assim garante que há um plano tangente em todo os pontos de S.
Explicitaremos a condição 3 em uma forma mais clara. Para isso faremos o calculo
para encontrar a matriz aplicação linear dXq nas bases canônicas de R2 descritas como
vetores ei e R3 descritas como fi (o leitor poderá encontrar a definição da diferencial de
aplicações nas nossas Prelininares, seção 1.3, definição 7).
Primeiramente tomamos q = (u0 , v0 ) e uma curva β(t) = (t, t0 ), onde u = t variável
e v = t0 constante, essa curva é uma reta paralela ao eixo u e com vetor tangente e1 ,
denotaremos ela por u → (u, v0 ). Assim aplicando X à β teremos a curva
A curva acima é chamada de curva coordenada v = v0 , é fácil notar que ela está
contida em S, então, no ponto X(q) = p o vetor tangente será dado por
∂x ∂y ∂z ∂X
, , = ,
∂u ∂u ∂u ∂u
∂x ∂x
∂u ∂v
∂y ∂y
dXq = ∂u ∂v
∂z ∂z
∂u ∂v
das bases consideradas de R2 para R3 .
54
Desta maneira é possı́vel ver que a condição 3 da definição 15,é descrita por dXq e que
será injetiva se ambos os vetores colunas desta matriz forem linearmente independentes,
podemos verificar isso calculando o produto vetorial ∂X/∂u ∧ ∂X/∂v 6= 0.
Ou ainda, para esta afirmação ser verdadeira basta apenas que um dos seguintes
determinantes Jacobianos das matrizes menores de posto 2
∂x ∂x
∂(x, y) ∂(y, z) ∂(x, z)
= ∂u
∂y
∂v
∂y , ∂(u, v) , ∂(u, v) ,
∂(u, v)
∂u ∂v
não seja igual a 0, quando calculada em q.
55
procedemos com as seguintes parametrizações:
p
X3 = (u, 1 − (v 2 + u2 ), v),
p
X4 = (u, − 1 − (v 2 + u2 ), v),
p
X5 = ( 1 − (v 2 + u2 , u, v),
p
X6 = (− 1 − (v 2 + u2 ), u, v).
Nem sempre é fácil verificar se uma superfı́cie é regular, para isso há alguns resultados
que podem nos auxiliar.
56
Note que X é uma vizinhança coordenada que cobre todo o gráfico. Como X é dife-
renciável, pois suas funções compontentes
Essa proposição nos garante que qualquer função bem definida em um conjunto aberto
f : U → R e diferenciável é uma superfı́cie regular.
Daremos uma definição da regularidade de uma superfı́cie (excluindo os pontos crı́ticos),
antes de prosseguiremos com a proposição 2.
(Observação - Essa definição não ficou bem clara pra mim, pois, a diferen-
cial é uma aplicação linear de um espaço a outro, e ela só será sobrejetiva se
n ≥ m, em outro caso a aplicação linear só será sobrejetiva a um subespaço
linear para n < m, a parte em que o caso dela não ser sobrejetiva quando
os vetores da base geradas pela diferencial são linearmente dependentes eu
consegui entender.)
57
Demonstração. Primeiramente definiremos uma aplicação
F : U ⊂ R3 → R3
1 0 0
det(dFp ) = 0 1 0 = fz
fx fy fz
e conforme supomos, fz 6= 0.
Agora aplicamos o Teorema da função inversa, confira as Preliminares, Seção 1.3, que
nos garante a existência de conjuntos abertos tal que W1 ⊆ V que contém p e W2 ⊆ F (V )
que contém F (p), de tal forma que F : W1 → W2 é inversı́vel e F −1 : W2 → W1 é
diferenciável. Logo as funções coordenadas de F −1 são diferenciáveis, essas funções são
dadas por x(u, v, t), y(u, v, t) e z(u, v, t). E assim
(u, v, t) = F ◦ F −1 (u, v, t) = F (x(u, v, t), y(u, v, t), z(u, v, t)) = (x, y, f (x, y, z)),
h(x, y) = z(u, v, a)
58
Figura 20: F alicada na superfı́cie f −1 (a) ∩ V é levada ao plano t = a.
Exemplo 19. Seja a superfı́cie gerada pela rotação de um cı́rculo S 1 e raio r em torno
de um eixo a uma distância a > r do centro do cı́rculo, formando uma figura que se
assemelha com uma rosquinha, veja na figura 21, essa superfı́cie é denominada Toro, ou
Toróide.
Tomando o cı́rculo S 1 contido no plano xz, cujo o centro está em (0, a, 0), então o
lugar geométrico de S 1 é dado por (y − a)2 + z 2 = r2 , assim o conjunto de pontos que
descreve o Toro em torno da rotação de S 1 em torno do eixo Oz é dada pela equação:
p
z 2 = r2 − ( x2 + y 2 − a)2 .
Definindo a função
p
f (x, y, z) = z 2 + ( x2 + y 2 − a)2 .
desta maneira é fácil ver que f é diferenciável para (x, y) 6= (0, 0), logo r2 é um valor
regular de f . Segue pela proposição 15 que o Toro é uma superfı́cie regular.
59
Figura 21: Toro.
A proposição seguinte é localmente uma recı́proca da proposição 14. Ela também serve
como uma ferramenta para mostrar quando uma superfı́cie não é regular.
Proposição 16. Seja S ⊂ R3 uma superfı́cie regular e p ∈ S. Então existe uma vizi-
nhança V de p em S tal que V é o gráfico de uma função diferenciável que tem umas das
seguintes formas: x = f (y, z), y = g(x, z), z = h(x, y).
Demonstração. Supomos então que existe uma superfı́cie regular S e uma parametrição
X : U ⊂ R2 → R3 dada por X = (x(u, v), y(u, v), z(u, v)) em um vizinhança de p ∈ S,
e também definimos q = X−1 (p). Assim pela condição 3 da definição 15, pelo menos um
dos determinantes Jacobianos
∂(x, y) ∂(y, z) ∂(x, z)
, , ,
∂(u, v) ∂(u, v) ∂(u, v)
não se anulará no ponto X−1 (p) = q.
∂(x,y)
Sem perder a generalidade, provaremos paro o caso em que ∂(u,v)
6= 0. Consideraremos
também a aplicação π ◦ X : U → R2 , onde π será a projeção π(x, y, z) = (x, y) no plano.
Logo a composição é descrita da forma
π ◦ X(u, v) = π(x(u, v), y(u, v), z(u, v)) = (x(u, v), y(u, v)).
∂(x,y)
Desta maneira, como ∂(u,v)
6= 0, aplicamos o teorema da função inversa, que nos
garante a existência das vizinhanças V1 ⊂ U de q e V2 ⊂ π ◦ X(U ) de π ◦ X(q), de tal
forma que a aplicação π ◦ X é um difeormorfismo entre as vizinhanças V1 e V2 . Ou seja,
60
(π ◦ X)−1 : V1 → V2
= (x(u(x, y), v(x, y)), y(u(x, y), v(x, y)), z(u(x, y), v(x, y))).
No entanto
por conseguinte, x = x(u(x, y), v(x, y)) e y = y(u(x, y), v(x, y))).
Desta maneira,
X ◦ (π ◦ X)−1 : V2 → V
p
Exemplo 20. Seja o cone de uma folha C dado por z = + x2 + y 2 com (x, y) ∈ R2 ,
provaremos que não é uma superfı́cie regular.
p
Note que a parametrização X = (x, y, x2 + y 2 ) não é diferenciável no ponto (0, 0, 0),
porém, não é possı́vel afirmar que a superfı́cie é irregular partindo desse argumento, pois
61
Figura 22: A aplicação π projeta os pontos (x, y, z) ∈ S ⊂ R3 no R2 .
pode haver outras parametrizações x = g(y, z), y = h(x, z) que sejam diferenciáveis. No
entanto, isso não ocorre nas vizinhança próximas ao (0, 0, 0), porque as projeções de g e
h no plano yz e xz não são injetivas, respectivamente. E qualquer outra função z teria
p
que coincidir com z(x, y) = + x2 + y 2 em uma vizinhança da origem. Entretanto é
impossı́vel, pois z não é diferenciável.
Demonstração. Seja X(u, v) = (x(u, v), y(u, v), z(u, v)), (u, v) ∈ U e q ∈ U um ponto ar-
∂(x,y)
bitrário. Afirmamos que ∂(u,v)
6= 0 pois a aplicação que nós definimos satisfaz as condições
1 e 3 da definição 15.
Consideraremos também a projeção π : R3 → R2 tal que π(x, y, z) = (x, y).
Desta maneira, pelo teorema da função inversa, existem vizinhanças V1 de q em U e
V2 de π ◦ X(q) em R2 tal que π ◦ X é uma aplicação difeomórfica entre V1 e V2 .
62
Supondo agora que X é bijetiva. Então a restrição X(V1 ),
X−1 = (π ◦ X)−1 ◦ π
Exemplo 21. Seja a esfera S 2 dada no exemplo 19, podemos parametrizá-la também por
X : U → R2
X = (sin(u) cos(v), sin(u) sin(v), cos(u))
com U = {(u, v) ∈ R2 : 0 < u < π, 0 < v < 2π}, é comum dizer que a esfera está
parametrizada por coordenadas geográficas, ou coordenadas esféricas, onde v é a latitude
e u a colatitude. Para mostrar que X de fato é uma parametrização pra S 2 verificamos
primeiramente que x = sin(u) cos(v), y = sin(u) cos(v), z = cos(u) são diferenciáveis,
satisfazendo a condição 1 da definição 15. Verificando agora a condição 3 calculamos os
determinantes:
que só se anulará quando a seguinte soma dos quadrados for zero:
cos2 (u) sin2 (u) + sin4 (u) cos2 (v) + sin4 (u) sin2 (v) = sin2 (u) = 0,
e como 0 < u < π isso nunca ocorre. Por conseguinte a condição 3 está satisfeita.
Por fim analisaremos a condição 2, tomando o conjunto S 2 − C tal que
63
partir de x = sin(u) cos(v), y = sin(u) sin(v). Desta maneira X tem uma inversa X−1 , a
verificação da continuidade de X−1 não é necessária pela proposição 17.
Vimos que a parametrização X cobre S 2 a menos do semicı́rculo C. Podemos cobri-lá
por mais duas prametrizações desse tipo.
No que diz a definição 15, uma vizinhança de um ponto p ∈ S está coberto por uma
parametrização X homeomórfica, no entanto nem sempre essa parametrização é única,
tendo a necessidade de outras parametrizações que possam cobrir toda a superfı́cie, e
ainda que esse ponto p poderá pertencer ou não à essas outras parametrizações.
No estudo da Geometria Diferencial, é importante entender como essas parametrizações
se relacionam, por exemplo, seja duas vizinhanças coordenadas de p, parametrizadas por
(u, v) e (ũ, ṽ) respectivamente, será possı́vel passar de uma para a outra garantindo a
generalidade das parametrizações quanto ao comportamento de uma dada superfı́cie. E
assim, no decorrer do capı́tulo, poderemos apresentar conceitos que não dependam do
sistemas de coordenadas escolhido.
Y(ũ, ṽ) = (x(ũ, ṽ), y(ũ, ṽ), z(ũ, ṽ)), (ũ, ṽ) ∈ V,
64
Primeiramente, seja r ∈ Y−1 (W ) e definindo q = h(r). Como X(u, v) = (x(u, v), y(u, v), z(u, v))
∂(x,y)
é uma parametrização, podemos supor, renomeando os eixos caso necessário, que ∂(u,v)
(q) 6=
0.
Estendemos X a uma aplicação F : U × R → R3 definida por
∂x ∂x
0
∂u ∂v
∂y ∂y ∂x ∂y ∂x ∂y ∂(x, y)
0 = − = .
∂u ∂v ∂u ∂v ∂v ∂u ∂(u, v)
∂z ∂z
1
∂u ∂v
em particular, se q = (q, 0) ∈ U × R então
∂(x, y)
6= 0
∂(u, v)
Exemplo 22. Dada a esfera unitária S 2 , vimos duas maneira de parametrizá-la, uma
pelas coordenadas esféricas (θ, ϕ), talque θ é a latitude e ϕ a colatitude. Assim X : U ⊂
R2 → R3 , fica
X(θ, ϕ) = (sin(θ) cos(ϕ), sin(θ) sin(ϕ), cos(θ)),
65
Figura 23: Mundança de parâmetros h = X−1 ◦ Y.
66
3.3 Funções Diferenciáveis definidas em Superfı́cies
d2 = (x − x0 )2 + (y − y0 )2 + (z − z0 )2 ,
67
consideraremos essa função pois d = |p − p0 | não é diferenciávem em p = p0 .
Desta maneira, seja a superfı́cie parabolóide hiperbólico definido por X(u, v) = (u, v, u2 −
v 2 ). Então
X1 : U1 ⊂ R2 → S1 , X2 : U2 ⊂ R2 → S2 ,
X−1
2 ◦ ϕ ◦ X1 : U1 → U2
é diferenciável em q = X−1
1 (p). A função ϕ será diferenciável em V1 se for diferenciável
em todos os pontos de V1 .
68
Figura 25: Aplicação X1 ◦ ϕ ◦ X−1
2 .
e U2 ≡ U1
Logo, a composição φ̃(θ, ϕ) = X−1 −1
2 ◦ φ ◦ X1 (θ, ϕ) = X2 ◦ X2 = (θ, ϕ), é uma aplicação
diferenciável.
X−1
2 ◦ ϕ ◦ X1
69
Provaremos inicialmente a segunda afirmação, então sejam S1 , S2 superfı́cies regulares
e ϕ : S1 → S2 uma aplicação diferenciável em um ponto p de S1 de acordo com as
parametrizações X1 de S1 e X2 de S2 .
Suponha que Y1 , Y2 sejam outras parametrizações de S1 , S2 respectivamente. Vamos
mostrar que, de acordo com estas parametrizações, ϕ também é diferenciável em p.
De fato, observe que Y−1 −1 −1 −1 −1
2 ◦ ϕ ◦ X2 = Y2 ◦ Y1 ◦ Y1 ◦ ϕ ◦ X1 ◦ X1 ◦ X2 = h2 ◦ Y1 ◦
ϕ ◦ X1 ◦ h1−1 .
−1
Como h−1
1 , h2 e Y1 ◦ ϕ ◦ X1 são diferenciáveis, sua composição também o é. Logo
Y−1
1 ◦ ϕ ◦ X1 é diferenciável em p com relação às parametrizações X2 e Y2 .
No caso das aplicações de uma superfı́cie regular para R, é análogo, basta ver que
para duas aplicações X1 e X2 , sendo h = X−1
1 ◦ X2 , então f ◦ X2 = f ◦ X1 ◦ h, que é a
Vale ressaltar que, se tratando de diferenciabilidade, dizer que duas superfı́cies são
equivalentes, ou difeomorfas se existir uma aplicação ϕ que aplique uma superfı́cie a
outra e tem uma inversa ϕ−1 diferenciável.
X−1
1 (W ) sendo W a interseção de U e V é diferenciável. Assim com esse exemplo,
podemos ver que qualquer superfı́cie regular é, localmente, difeormorfa a um subconjunto
aberto do plano.
70
um ponto p, é dado por α0 (0) onde α : (−ε, ε) → S e que α(0) = p.
dXq (R2 ) ⊂ R3 ,
β = X−1 ◦ α : (−ε, ε) → U
será, também diferenciável. Conforme supomos, temos que β(0) = q, desta maneira,
seja β 0 (0) = u e aplicando a diferencial (confira em Preliminares, definição 4), teremos
dXq (u) = w. Por conseguinte w ∈ dXq (R2 ) e a primeira parte está provada.
Agora, por outro lado, seja dXq (v) = w, sabendo que v ∈ R2 , existe um curva γ :
(−ε, ε) → U definida por
γ(t) = tv + q, t ∈ (−ε, ε).
α(0) = X ◦ γ(0)
d(X ◦ γ)
⇒ α0 (0) = (0) = dXγ(0) γ 0 (0)
dt
α0 (0) = dXq (v) = w
Denotamos o plano tangente citado acima por Tp S, ou seja dado um ponto p ∈ S e uma
parametrização X(q) = p, a transformação linear dXq (R2 ) constitui esse plano. Porém,
71
Figura 26: Aplicação diferencial e o plano Tp (S).
de acordo com a proposição anterior, o plano tangente não depende dessa parametrização.
Ao escolher uma parametrização para a superfı́cie, ela produzirá uma base para Tp S,
∂X ∂X
(q), (q) .
∂u ∂v
Esses vetores são chamados de base associada a X.
Desse modo, as coordenadas de um vetor w ∈ Tp S representado na base associada X
será determinado da seguinte maneira: definimos α = X ◦ β e β(t) = (u(t), v(t)), tal que
β : (−ε, ε) → U , β(0) = q = X−1 (p) e também α0 = w.
Então vamos expressar w com os vetores da base associada. Será conveniente escrever
∂X/∂u = Xu e ∂X/∂v = Xv .
d d
α0 (0) = (X ◦ β)(0) = (X(u(t), v(t)))(0)
dt dt
= Xu (q)u (0) + Xq v 0 (0) = w
0
Logo é evidente que w está sendo expressado pelas coordenadas (u0 (0), v 0 (0)) da base
associada {Xu , Xv }. Além de que, conforme nós dissemos anteriormente, w é o vetor
velocidade da curva α definida por X aplicada a β(t) = (u(t), v(t)).
Uma vez que a noção de plano tangente à uma superfı́cie está bem estabelecido, agora
é importante também definir a diferencial de aplicações do tipo f : V ⊂ S → R e
72
ϕ : V ⊂ S1 → S2 , faremos isso a partir de um vetor w tangente a uma curva contida em
V , e que se dá também através de uma aplicação linear. Essa definição será análoga para
as duas aplicações, desse modo faremos a demonstração que a diferencial é de fato linear
apenas para um caso, pois o racı́cionio é o mesmo para ambos. Veremos também que a
diferencial independe das curvas escolhidas.
dϕp : Tp S1 → Tϕ(p) S2
d
dϕp (wp ) = β 0 (0) = (ϕ ◦ α)(0),
dt
Proposição 21. A aplicação dϕp : Tp S1 → Tϕ(p) S2 definida por dϕp (w) = β 0 (0) é linear,
além disso o vetor tangente w não depende da escolha da curva α.
73
dϕα1 (0) (α10 (0)) = dϕp (α10 (0)) = dϕp (w)
Assim, podemos afirmar que dϕp não depende da curva α passando por p escolhida.
Agora mostraremos que dϕp é linear, para isso, reescrevemos a curva β = X2 ◦ X2−1 ◦
ϕ ◦ X1 ◦ X−1
1 ◦ α. Como vimos na subceção anterior, temos a mudança de parâmetros
h = X−1 −1 −1
2 ◦ ϕ ◦ X1 , desta maneira β = X2 ◦ h ◦ X1 ◦ α. Supomos ainda que q = X1 (p) e
que r = X−1
2 (ϕ(p)).
β como
d
β = X2 ◦ h ◦ γ(t) ⇒ β 0 (0) = (X2 ◦ h ◦ γ)(0) = dX2(r) dhq γ 0 (0).
dt
Assim sejam dois vetores w1 , w2 ∈ Tp S1 , k ∈ R e também as curvas
γ1 : (−ε, ε) → U,
γ2 : (−ε, ε) → U,
então
74
Exemplo 27. Seja a superfı́cie regular S1 e a aplicação ϕ : R3 → R3 dada por ϕ(x, y, z) =
(x, y, −z), ou seja a reflexão em relação ao plano xy. Então ϕ(S1 ) terá por imagem a
superfı́cie S2 simétrica à S1 , como vimos no exemplo anterior ϕ|S1 → S2 é uma aplicação
diferenciável. Tomando p ∈ S1 e a curva α(t) ⊂ V ⊂ S1 , onde α(0) = (x(0), y(0), z(0)) =
p e α0 (0) = (w1 , w2 , w3 ) ∈ Tp S1 . Logo dϕp (w) é linear pois
d(ϕ ◦ α) dx dy dz
dϕp (w) = (0) = ( (0), (0), − (0)) = (w1 , w2 , −w3 )
dt dt dt dt
Desta maneira Tϕ(p) S2 será a reflexão do plano Tp S1 no plano xy.
Uma vez que está definida a superfı́cie regular num olhar diferenciável, faremos um es-
tudo a partir de outra perspectiva afim de buscar novas estruturas geométricas, tais como
medidas de distâncias, ângulos entre curvas e áreas de regiões nas superfı́cies. Quando
pensamos em geometria, a primeira coisa que precisamos definir são as medidas, assim
nessa seção trataremos das medidas em superfı́cies sem fazer menção ao espaço R3 , onde
elas estão emergidas.
A primeira forma quadrática, surge do plano tangente Tp S de uma superfı́cie regular,
que conserva as mesmas propriedades do produto interno de R3 ⊃ S, ou seja, dado
w1 , w2 ∈ S ⊂ R3 , o produto hw1 , w2 ip é o produto interno de vetores w1 , w2 do R3 .
75
Definição 21. A forma quadrática Ip em Tp S é chamada a primeira forma fundamental,
da superfı́cie S ⊂ R3 em p ∈ S que fica definida por
Ip : Tp S → R3
= hXu u0 + Xv v 0 , Xu u0 + Xv v 0 ip
Exemplo 28. Seja um plano passando pelo ponto p ∈ R3 e que contém os vetores w1 ,
w2 ∈ R3 ortonormais entre si. Então podemos parametrizá-lo por X(u, v) = p0 +uw1 +vw2 ,
com (u, v) ∈ R2 . Por conseguinte Xu = w1 e Xv = w2 , desta maneira as funções E, F e G
76
será dado por
E = hXu , Xu i = 1,
F = hXu , Xv i = 0,
G = hXv , Xv i = 1.
Exemplo 29. Seja um cilı́ndro vertical sobre o cı́rculo x2 + y 2 = 1, dado pela parame-
trização
F = hXu , Xv i = 0,
G = hXv , Xv i = 1.
Logo,
E = hXu , Xu i = r2 ,
F = hXu , Xv i = 0,
77
Uma vez que está bem definida a primeira forma fundamental, vejamos como tratar
das questões métricas mencionadas anteriormente sobre superfı́cies. Seja α(t) uma curva
parametrizada no intervalo I e pertencente a S, o cálculo do comprimento de arco se dá
por Z t Z tp
0
s(t) = |α (t)|dt = I(α0 (t))dt.
t0 t0
Em um caso mais particular, quando a curva está contida em uma vizinhança co-
ordenada X(u, v) o comprimento de arco poderá ser escrito através dos coeficientes da
primeira forma fundamental. Seja X : U → S uma parametrização de S, com U ⊂ R2 ,
e seja também a curva β(t) ⊂ U , t ∈ I, tal que X ◦ β(t) = X(u(t), v(t)) = α(t), assim
α0 (t) = Xu u0 (t) + Xv v 0 (t). Desta maneira
p
|α0 (t)| = hα0 (t), α0 (t)i
q
= Iα(t) (α0 (t))
q
= hXu , Xu ip (u0 )2 + 2hXu , Xv ip u0 v 0 + hXv , Xv ip (v 0 )2
p
= E(u0 )2 + 2F u0 v 0 + G(v)2 .
Exemplo 31. Seja o cilindro vertical sobre o cı́rculo x2 + y 2 = r2 , dado pela parame-
trização
78
Como u(t) = t ⇒ u0 (t) = 1 e v(t) = t0 ⇒ v 0 (t) = 0. Então
Z 2π √
s(t) = r2 dt = rt|2π
0 = 2πr.
0
Observe que o plano (exemplo 28) e o cilindro (exemplo 29) são superfı́cies distintas,
no entanto os coeficientes da primeira forma fundamental são os mesmos. Esse assunto
será analisado com maior atenção mais a frente, na seção (...).
Vamos agora medir o ângulo entre duas curvas contidas na superfı́cie S e que se
intersectam.
Para isso seja α1 : I → S e α2 : J → S duas curvas que se cruzam em um ponto t = t0 ,
logo o ângulo θ (que fica entre 0 e 2π) dessas curvas é dado por
79
o ângulo θ será
hXu , Xv i F
cos(θ) = =√ .
|Xu ||Xv | EG
Falaremos agora de uma outra questão métrica tratada com a primeira forma funda-
mental, que é a área de uma região limeitada de uma superfı́cie regular S.
Seja S a superfı́cie regular, e X : U ⊂ R2 → S uma parametrização de S, seja também
R ⊂ S uma região limitada tal que R é a imagem por X(Q), ou seja uma região Q ⊂ U
limitada.
Agora, definimos um número finito de partições P , que divide Q em regiões Qij , por
conseguinte, X(Qij ) divide R em um número finito de regiões Rij . Fazemos então
∆ui = ui − ui−1
∆vj = vj − vj−1
w1 = ∆ui Xu
w2 = ∆vj Xv
Desta maneira, a área da região R é obtida quando somamos a área dos paralelogramos
e fazemos o número de partições Qij tenderem ao infinito, isto é, quando a norma delas
tendem a zero.
Assim,
80
n X
X n
A = lim Aij
(ui ,vj )→(ui−1 ,vj−1 )
i=0 j=0
Xn X n
= lim ∆ui ∆vj |Xu ∧ Xv |
(ui ,vj )→(ui−1 ,vj−1 )
i=0 j=0
Z Z
= |Xu ∧ Xv |dudv
Q
Figura 28: A área Rij é aproximada pela área do paralelogramo de lado w1 e w2 contido
em Tp S.
Teorema 3. Seja f uma aplicação integrável sobre Q, sendo Q uma região fechada e
limitada no plano uv. Seja Q̃ uma região limitada no plano ũṽ e uma aplicação h : Q̃ → Q.
(u,v)
Se h for uma bijeção com derivadas parciais contı́nuas em Q̃ e se (ũ,ṽ)
não se anula em
Q̃, então Z Z Z Z
∂(u, v)
f (u, v)dudv = f (u(ũ, ṽ), v(ũ, ṽ)) dũdṽ.
∂(ũ, ṽ)
Q Q
Uma demonstração desse teorema pode ser encontrado em (...). (Aqui vai uma citação)
81
Sabemos que
∂(u, v)
∂(ũ, ṽ)
é a matriz jacobiana da mudança de parâmetros h = X−1 ◦ X̃, de modo que h : Q̃ → Q.
Consequentemente
Z Z Z Z Z Z
∂(u, v)
|X̃u ∧ X̃v |dũdṽ = |Xu ∧ Xv | dũdṽ = |Xu ∧ Xv |dudv.
∂(ũ, ṽ)
Q̃ Q̃ Q
Assim, podemos afirmar que a integral acima não depende da parametrização tomada.
Definição 22. Seja R ⊂ S uma região limitada de uma superfı́cie regular, contida em
uma vizinhança coordenada de uma parametrização X : U ⊂ R2 → S. O número positivo
Z Z
|Xu ∧ Xv |dudv = A(R),
Q
|Xu ∧ Xv |2 + hXu ∧ Xv i2 = |Xu |2 |Xv |2 sin2 θ + |Xu |2 |Xv |2 cos2 θ = |Xu |2 |Xv |2
Assim
p √
|Xu ∧ Xv | = |Xu |2 |Xv |2 − hXu ∧ Xv i2 = EG − F 2 .
82
Exemplo 33. Seja a esfera S 2 de raio r parametrizada por
com 0 < θ < π e 0 < ϕ < 2π. Então podemos calcular sua área por
Z 2π Z π √
A(R) = EG − F 2 dθdϕ
Z0 2π Z0 π
= r2 sin θdθdϕ
0
Z 2π0 Z π
2
= r sin θdθ dϕ
0 0
Z 2π
2
= r (− cos π + cos 0) dϕ
0
Z 2π
2
= r 2dϕ = 4πr2
0
Note que a região R do exemplo acima cobria toda a esfera a menos de uma circun-
ferência no plano xy (o equador) e uma semicircunferência no plano xz com x > 0. Como
essas curvas não contribuem com a área na esfera, então podemos afirmar que A(R) é o
valor da área total da esfera. Na maioria dos exemplos podemos encontrar uma parame-
trização que cobre toda a superfı́cie a menos de algumas curvas, assim ao calcular a área
da região encontraremos a área total dessa superfı́cie.
Como mencionamos na seção 3.4, cada ponto p de uma superfı́cie regular, admite um
plano tangente com um vetor normal bem definido. Escolhendo a orientação do plano
isso induzirá uma orientação da superfı́cie nas proximidades de p, nessa seção falaremos
como e em que sentido é possı́vel orientar uma superfı́cie regular.
Sabemos que ao determinar uma parametrização X(u, v) para S resulta em uma base
{Xu , Xv } para os planos tangentes em uma vizinhança coordenada de p. Ao tomar uma
outra parametrização X̃(ũ, ṽ) que contém p, então podemos expressar a base {X̃ũ , X̃ṽ }
como uma combinação linear da primeira por
83
∂x(u, v) ∂x(u, v)
∂u
∂y(u, v) ∂v ∂u
∂y(u, v)
X̃ũ = ∂∂vũ ,
∂u ∂v
∂z(u, v) ∂z(u, v)
∂ ũ
∂u ∂v
∂x(u, v) ∂x(u, v)
∂u
∂y(u, v) ∂v ∂u
∂y(u, v)
X̃ṽ = ∂ṽ ,
∂u ∂v ∂v
∂z(u, v) ∂z(u, v)
∂ṽ
∂u ∂v
ou seja
∂u ∂v
X̃ũ = Xu + Xv , (7)
∂ ũ ∂ ũ
∂u ∂v
X̃ṽ = Xu + Xv . (8)
∂ṽ ∂ṽ
Lembrando que u = u(ũ, ṽ) e v = v(ũ, ṽ) são as funções que mudam as coordenadas (ũ, ṽ)
para (u, v) em uma vizinhança de p.
A mudança de orientação das bases {Xu , Xv } para {X̃ũ , X̃ṽ } só será positiva se, e
somente se a matriz Jacobiana
∂(u, v)
∂(ũ, ṽ)
tem o determinante positivo.
Definição 23. Uma superfı́cie regular S é orientável se for possı́vel cobrı́-la com uma
famı́lia de vizinhanças coordenadas, de tal modo que se um ponto p ∈ S pertence a duas
vizinhanças dessa famı́lia, então a mudança de coordenadas tem o Jacobiano positivo em
p. A escolha de uma tal famı́lia é chamada de uma orientação de S, e S neste caso,
diz-se orientada. Se uma tal escolha não é possı́vel, a superfı́cie é não orientável. Se S é
orientada, uma parametrização (local) X é compatı́vel com a orientação de S se, juntando
X à famı́lia de parametrizações dada pela orienção, obtém-se ainda uma (logo, a mesma)
orientação de S.
Nós destacamos na seção 3.4 que em uma superfı́cie regular com a parametrização
84
Figura 29: Plano Tp S orientado.
X(u, v) em p, o vetor normal e unitário nesse ponto pode ser dado por
Xu ∧ Xv
N (p) = (q). (9)
|Xu ∧ Xv |
Ao tomar outra parametrização X̃(ũ, ṽ), obtemos um vetor normal pelo produto ve-
torial acima, mas pela equação 7 e 8 pode-se ver que
∂u ∂v ∂u ∂v
X̃ũ ∧ X̃ṽ = (Xu + Xv ) ∧ (Xu + Xv )
∂ ũ ∂ ũ ∂ṽ ∂ṽ
∂u ∂u ∂v ∂v ∂u ∂v
= Xu ∧ (Xu + X v ) + Xv ∧ (Xu + Xv )
∂ ũ ∂ṽ ∂ṽ ∂ ũ ∂ṽ ∂ṽ
∂u ∂u ∂u ∂v ∂v ∂u ∂v ∂v
= Xu ∧ Xu + Xu ∧ Xv + Xv ∧ Xu + Xv ∧ Xv
∂ ũ ∂ṽ ∂ ũ ∂ṽ ∂ ũ ∂ṽ ∂ ũ ∂ṽ
∂u ∂v ∂v ∂u
= Xu ∧ Xv − Xu ∧ Xv
∂ ũ ∂ṽ ∂ ũ ∂ṽ
∂u ∂v ∂v ∂u
= X u ∧ Xu − .
∂ ũ ∂ṽ ∂ ũ ∂ṽ
Que reescrevemos como
∂(u, v)
X̃ũ ∧ X̃ṽ = (Xu ∧ Xv ) . (10)
∂(ũ, ṽ)
Fica evidente que o Jacobiano da mudança de coordenadas encontrado na equação
∂(u,v)
acima determina se o sinal do vetor N muda ou não, caso ∂(ũ,ṽ)
for positivo ou negativo.
85
Demonstração. Primeiramente supomos que a superfı́cie regular S é orientável, então
pela definição 23 a superfı́cie é coberta por vizinhanças coordenadas, de tal forma que na
interseção de qualquer uma delas com a mudança de parâmetros produzirá um determi-
nante da matriz Jacobiana positivo. Seja os pontos p = X(u, v) = X̃(ũ, ṽ) contidos nas
vizinhanças dessas interseções, e definimos a aplicação N (p) = N (u, v) pela equação 9.
Assim pela nossa hipótese N (p) fica bem definido, pois N (u, v) e N (ũ, ṽ) coincidem pela
equação 10. Ressaltamos também que a aplicação N (p) da equação 9 produzirá funções
coordenadas diferenciáveis de (u, v), porque a expressão é uma forma reduzida da soma
e produto das derivadas parciais de (u, v). Portanto está provado que N : S → R3 é
diferenciável.
Reciprocamente, sumpomos a aplicação diferenciável N : S → R3 de um campo de
vetores normais de S e tomamos uma famı́lia de vizinhanças coordenadas conexas cobrindo
S, desta maneira em cada ponto p = X(u, v) ∈ X(U ), com U ⊂ R2 pela continuidade de
N , intercambiando u e v caso necessário, é possı́vel escrever
Xu ∧ Xv
N (p) = (q).
|Xu ∧ Xv |
vemos que f é uma função contı́nua em X(U ), e como é conexa, então f não muda
de sinal, caso f = −1 é possı́vel intercambiar u e v na parametização para obter um
resultado positivo.
Assim, procedemos dessa maneira com todas as vizinhanças coordenadas, encontra-
mos na interseção de qualquer duas delas, como por exemplo X(u, v) e X̃(ũ, ṽ), então o
∂(u,v)
Jacobiano ∂(ũ,ṽ)
só poderá ser positivo. Pois, caso não seja, teremos
X̃ũ ∧ X̃ṽ Xu ∧ Xv
= N (p) = − = −N (p)
|X̃ũ ∧ X̃ṽ | |Xu ∧ Xv |
e isso é uma contradição. Concluı́mos que para cada famı́lia de vizinhanças coordenadas,
satisfarão as condições da definição 23, intercambiando u e v caso necessário. Logo S é
orientável.
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Exemplo 34. Seja o Parabolóide parametrizado por X(u, v) = (u, v, u2 + v 2 ), essa su-
perfı́cie é coberta por uma vizinhança coordenada apenas, assim obtemos o campo dife-
renciável de vetores normais por
Xu ∧ Xv
N (u, v) =
|Xu ∧ Xv |
(1, 0, 2u) ∧ (0, 1, 2v)
=
|(1, 0, 2u) ∧ (0, 1, 2v)|
(−2u, −2v, 1)
= p
(−2u)2 + (−2v)2 + 12
−2u −2v 1
= √ ,√ ,√
4u2 + 4v 2 + 1 4u2 + 4v 2 + 1 4u2 + 4v 2 + 1
Trivialmente, qualquer superfı́cie regular coberta por uma única vizinhança coorde-
nada é orientável.
Agora veremos um outro exemplo de uma superfı́cie que não é o gráfico de uma função
mas também é orientável.
Exemplo 35. Seja a esfera de raio r > 0 do exemplo 30, parametrizada por X(θ, ϕ) =
(r sin(θ) cos(ϕ), r sin(θ) sin(ϕ), r cos(θ)), com 0 < θ < π e 0 < ϕ < 2π. Vamos calcular a
aplicação normal N nesta vizinhança coordenada:
((r cos(θ) cos(ϕ), r cos(θ) sin(ϕ), −r sin(θ)) ∧ (−r sin(θ) sin(ϕ), r sin(θ) cos(ϕ), 0))
N (p) =
|(r cos(θ) cos(ϕ), r cos(θ) sin(ϕ), −r sin(θ)) ∧ (−r sin(θ) sin(ϕ), r sin(θ) cos(ϕ), 0)|
= (sin(θ) cos(ϕ), sin(θ) sin(ϕ), cos(θ))
Note que N (p) aplica a vizinhança coordenada da esfera de raio r na esfera unitária
S 2 , onde cada ponto p é associado ao vetor p/|p|, logo essa aplicação é diferenciável.
Para cobrir toda a esfera, como vimos anteriormente, basta outras duas parametrizações
semelhantes, que ao calcularmos N (p) chegaremos ao mesmo resultado. Portanto a esfera
é uma superfı́cie orientável, confira a figura 30.
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Figura 30: Aplicação da esfera para a esfera unitária.
suficiente, torcê-la e dobrá-la até que suas estremidades se concontrem porém invertidas,
confira a figura 31.
88
com U = Ũ , assim essa parametrização omite o intervalo u = π/2. Com essas duas
parametrizações cobrimos a faixa de Möbils, os criteı́rios da regularidade dessa superfı́cie
também é satizfeito. Agora note que a interseção das vizinhanças coordenadas obtida por
essas parametrizações não são conexas, mas sim formadas por duas partes conexas
π
V1 = {X(u, v) : < u < 2π},
2
π
V2 = {X(u, v) : 0 < u < }.
2
Para V1 obtemos a mudança de coordenadas por
π
ũ = u −
2
ṽ = v
e em V2
3π
ũ = u +
2
ṽ = −v.
X̃ũ ∧ X̃ṽ
N (p) = .
|X̃ũ ∧ X̃ṽ |
89
Figura 31: Faixa de Möbil.
Proposição 23. Se uma superfı́cie regular é dada por S = {(x, y, z) ∈ R3 ; f (x, y, z) = a},
onde f : U ⊂ R3 → R é diferenciável e a é um valor regular de f , então S é oritentável.
Demonstração. Seja α(t) = (x(t), y(t), z(t)) ⊂ S uma curva parametrizada, definida em
I e contida na superfı́cie regular S, tal que α(t0 ) = p é um ponto qualquer de S. Assim,
aplicando f à curva temos que
90
e podemos escrever (considerando a base canônica)
* !+
dx dy dz
(fx (p), fy (p), fz (p)) , , , = 0.
dt t0 dt t0 dt t0
assim fica evidente que o vetor (fx , fy , fz ) é perpendicular ao vetor tangente α0 de S, como
p é arbitrário, então é perpendicular a qualquer ponto da superfı́cie, assim seja aplicação
normal dada por
!
f fy fz
N (x, y, z) = p 2 x2 , p , p
fx + fy + fz2 fx2 + fy2 + fz2 fx2 + fy2 + fz2
S 2 = {(x, y, z) ∈ R3 : x2 + y 2 + z 2 = 1}.
91
Figura 32: Aplicação de Gauss.
que mede a taxa de variação dos vetores normais nas proximidades de N (p) restrito a
curva α. Vimos no capı́tulo anterior que o número dado por essa taxa de variação é a
curvatura da α, já em uma superfı́cie, esta medida é caracterizado por uma aplicação
linear. Veja na figura 33.
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Exemplo 37. Seja o cilindro {(x, y, z) ∈ R3 ; x2 +y 2 = 1} que parametrizamos da seguinte
forma, X : U ∈ R2 → R3 :
X(u, v) = (cos(u), sin(u), v)
Xu = (0, 0, 1)
Xv = (− sin(v), cos(u), 0)
Desta forma, obtemos a aplicação de Gauss após alguns cálculos pela seguinte equação
N (p) = (sin(u), cos(u), 0), isto é N (p) = (x, y, 0).
Seja então α(t) = (x(t), y(t), z(t)) uma curva qualquer contida no cilindro, então
α0 (t) = (x0 (t), y 0 (t), z 0 (t)) é o vetor tangente, assim restringindo a N (p) a α(t) teremos
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4 Considerações Finais
FAZER DEPOIS.....
O conjunto dos Números Complexos teve processo, como mencionado, não linear,
que se desenvolveu graças ao empenho de grandes matemáticos, que por sua vez pro-
porcionaram benefı́cios para a matemática, principalmente na resolução das equações,
mas não apenas nas equações: seus conceitos podem ser aplicados em diversos ramos da
matemática assim como em algumas ciências.
Mostramos como é trabalhado os números complexos no ensino básico chamando a
atenção pela pouca atenção que é dado a parte geométrica dos números complexos, o que
levaria uma visão superficial de seu compreendimento e aplicação.
Procuramos desenvolver a teoria, para que no final pudessemos resolver problemas de
circuitos elétricos e amortecimentos do sistema massa-mola. No entanto, sabemos que as
aplicações tem uma abrangência que vai muito além do exposto, como por exemplo no
estudo de: fractais, aerodinâmica e computação gráfica.
Também vale ressaltar que estudo dos números complexos se estende as integrais, o que
nos revelaria outras ferramentas matemáticas que com certeza teriam outras aplicações.
Nossa discussão se restringiu apenas sobre limites e derivadas, isto porque as aplicações
que propomos envolvem apenas esses conceitos.
Finalmente, podemos dizer que tais assuntos são de grande valor para serem discutidos
não apenas no ensino superior mas também no ensino médio. Ressaltamos o trabalho de
dissertação [5], que ao discutir tal assunto apontaram que: a falta ou o desconhecimento
de aplicações compreensı́veis para alunos do ensino médio é um dos principais fatores
considerados ao se julgar a relevância do ensino de números complexos. Esse mesmo
estudo aponta que uma grande parte dos professores considera inútil o estudo de números
complexos. Entretanto, podemos ver nesse trabalho que há aplicações envolvendo números
complexos, no estudo de fenômenos fı́sicos que fazem parte da nossa realidade. Além do
que essas aplicações podem servir de motivação para os alunos do ensino médio.
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COLOCAR AS REFERÊNCIAS E CITÁ-LAS NO TEXTO. CITAR TAM-
BEM AO FAZER A INTRODUÇÃO
Referências
[1] ÁVILA, G. Variáveis Complexas e Aplicações, 3.ed. Rio de Janeiro, LTC, 2008.
[3] ELON, L. L., Álgebra Linear, 8.ed. Rio de Janeiro, IMPA, 2011.
[6] MARTINEZ, F. B., Teoria dos números: um passeio com primos e outros números
familiares pelo mundo inteiro, 4.ed. Rio de Janeiro IMPA, 2010.
[7] SOARES, M. G., Cálculo em uma variável complexa, Rio de Janeiro, IMPA, 2007.
[8] SOUZA Jr, L. A. M., Introdução a Funções de Variáveis Complexas, 4.ed. Rio de
Janeiro: CECIERJ, 2015.
[9] STEWART, J., Cálculo, Vol II, 4.ed. São Paulo, Thomson, 2001.
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