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Curvas e Superfı́cies

António Salgueiro

Departamento de Matemática
Universidade de Coimbra
2023
Índice

1 Curvas 5
1.1 Definição . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5
1.2 Coordenadas polares, cilı́ndricas e esféricas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
1.3 Comprimento de arco . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18
1.4 O triedro de Frenet-Serret . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
1.5 O teorema fundamental das curvas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49
1.6 O hodógrafo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54
1.7 Curvas fechadas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57

2 Superfı́cies 61
2.1 Definição . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61
2.2 Espaço vetorial tangente . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 72
2.3 Aplicações diferenciáveis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 80
2.4 Primeira forma fundamental . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 83
2.5 Segunda forma fundamental . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 92
2.6 Geodésicas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 100
2.7 O Teorema Egregium de Gauss . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 115
2.8 O Teorema de Gauss-Bonnet . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 123

3
4
1

Curvas

1.1 Definição
Definição 1.1.1 Uma curva é uma aplicação α : I → Rn , onde I é um intervalo (de qual-
quer tipo), que tem derivadas de todas as ordens (ou seja, α é uma aplicação diferenciável
ou suave).

Nestas notas apenas consideraremos os casos n = 2 e n = 3. O conjunto I será inter-


pretado como um intervalo de tempo, e usaremos em geral a variável t ∈ I para indicar um
determinado instante. A curva α será interpretada como uma descrição do movimento de
uma partı́cula durante o intervalo de tempo I e o ponto α(t) ∈ Rn indica a posição dessa
partı́cula no instante t. Deste modo, distinguiremos a curva α da sua imagem α(I) em Rn .
Assim, se uma curva percorre um determinado subconjunto de Rn , existe uma infinidade de
curvas distintas que percorrem o mesmo conjunto, que correspondem às diversas formas que
uma partı́cula tem de percorrer esse conjunto. Por exemplo, as curvas α e β definidas na
animação seguinte são diferentes, mas têm a mesma imagem
y y

α(t)

β(t)

x x

Uma curva α : I → Rn é assim definida por três funções suaves x, y, z : I → R (no caso
de n = 2 basta definir x(t) e y(t)).

Exemplo 1.1.2

5
a) A curva α: R → R2 percorre uma reta.
t 7→ (t, 0)

b) As curvas α: R → R2 e β: R+ → R2 percor-
t 7→ (cos t, sin t) t 7→ (cos(log t), sin(log t))
rem a mesma circunferência.

c) A curva α: [0, +∞[ → R2 percorre uma espiral.


t 7→ (t cos t, t sin t)

d) A curva α: R → R3  percorre uma hélice.


t
t 7→ cos t, sin t, 3

6
z

x y

Quando se esboça uma curva α : I → R3 numa folha de papel ou num ecrã, torna-se por
vezes necessário escolher bem o ponto de onde estamos a olhar para a curva. Por exemplo,
a curva α: [−1, 1] → R3 pode ser esboçada de modo que quase não se vê,
2
t 7→ (t, t, t )
z

x y

ou, escolhendo outro ponto de vista, podemos esboçá-la de modo a ser mais fácil perceber a
forma do conjunto que esta percorre:
z

Definição 1.1.3 O vetor velocidade da curva α : I → Rn é a função vetorial de variável


real

7
α′ : I → Rn
t 7→ α′ (t)

e a velocidade (escalar) de α é a função real de variável real

v: I → R
t 7→ kα′ (t)k

Exemplo 1.1.4

a) As velocidades das duas curvas do exemplo 1.1.2b) são

vα : R → R e vβ : R+ → R
t 7→ 1 1
t 7→
t

b) A velocidade da curva α: R → R3 é nula.


t 7→ (1, 2, 3)
Este exemplo não corresponde à noção intuitiva de curva, uma vez que a imagem
de α só tem um ponto.

c) A curva

α: R → R2
 2 2
 (−e−1/t , e−1/t ) se t < 0
t 7→ (0, 0) se t = 0
 −1/t2 −1/t2
(e ,e ) se t > 0

(que é suave, mesmo em t = 0) tem velocidade

vα : R →  R .
√ −1/t2
 8e
t 7→ 3
se t 6= 0
 0 t se t = 0

8
Neste caso, a curva percorre um subconjunto que não corresponde ao que esperarı́amos
de uma curva suave, devido ao seu comportamento no instante t = 0, no qual a
velocidade se anula.

Os dois últimos exemplos aconselham a que não se admita a existência de pontos onde a
velocidade da curva é nula.

Definição 1.1.5 Uma curva α : I → Rn diz-se regular se α′ (t) 6= 0 em qualquer instante


t ∈ I.

A velocidade de uma curva regular é assim uma aplicação v : I → R+ .

Exercı́cio 1.1.1 Indique uma curva cuja imagem seja:

a) a parábola de equação y = x2 .

b) o gráfico de uma função suave f : R → R.

x2 y 2
c) a elipse de equação + 2 = 1.
a2 b

d) a interseção do cone de equação x2 + y 2 = z 2 com o plano de equação z = x + 4.

e) um ramo da hipérbole de equação y 2 − x2 = 1.

Exercı́cio 1.1.2 Mostre que a imagem da curva α: R → R3


cos t sin t, cos t, sin2 t

t 7→
está contida numa superfı́cie esférica.

Exercı́cio 1.1.3 Verifique se as curvas seguintes são regulares:

a) α: R → R2
t 7→ (t , t4 )
2

b) β: ]0, π[ → R2
t 7→ (3 cos t − cos(3t), 3 sin t − sin(3t))

Exercı́cio 1.1.4 Indique uma curva α : R → R3 que percorra a interseção do cilindro


parabólico de equação z = x2 com o cilindro de equação x2 + y 2 = 4.

9
z

Exercı́cio 1.1.5 Considere a curva plana


α : ]0, 2π[ → R2
t 7→ (cos(2t), sin t).
a) Indique, caso existam, os instantes onde a velocidade de α se anula.
b) Determine uma equação cartesiana da imagem de α.
c) Esboce a curva α.

Exercı́cio 1.1.6 Considere a curva deltoide


α : [0, 2π] → R2
t 7→ (2 cos t + cos(2t), 2 sin t − sin(2t)).
a) Indique todos os instantes onde a velocidade de α se anula.
b) Esboce a curva α.

Exercı́cio 1.1.7 Indique uma curva que percorra a interseção da esfera de equação x2 +
2 2
y + z = 16 com o plano de equação y = x.
z

y
x

10
Exercı́cio 1.1.8 Indique uma curva α que percorra a interseção das superfı́cies esféricas
de equação x + y + z 2 = 1 e x2 + (y − 1)2 + z 2 = 1.
2 2
z

Exercı́cio 1.1.9 Indique uma equação cartesiana da imagem da curva serpentina

α : ]0, π[ →  R2 
cos t
t 7→ , cos t sin t .
sin t

y
x

Exercı́cio 1.1.1
a) α(t) = (t, t2 ), t ∈ R.
b) α(t) = (t, f (t)), t ∈ R.
c) α(t) = (a cos t, b sin t), t ∈ R.
 2
t2

t
d) α(t) = − 2, t, + 2 , t ∈ R.
8 8
e) α(t) = (sinh t, cosh t), t ∈ R.

Exercı́cio 1.1.2 (cos t sin t)2 + (cos t)2 + (sin2 t)2 = 1, logo a curva está contida na superfı́cie esférica de
equação x2 + y 2 + z 2 = 1.

Exercı́cio 1.1.3
a) Não é regular, porque α′ (0) = (0, 0).
b) É regular, porque v(t) = 6 sin t > 0, ∀t ∈]0, π[.

11
Exercı́cio 1.1.4 α(t) = (2 cos t, 2 sin t, 4 cos2 t), t ∈ R.

Exercı́cio 1.1.5
π 3π
a) t = , .
2 2
b) y = 1 − 2x2 .

y
c)
x

Exercı́cio 1.1.6
2π 4π
a) t = 0, , , 2π.
3 3
y

b) x

√ √
Exercı́cio 1.1.7 α(t) = (2 2 cos t, 2 2 cos t, 4 sin t), t ∈ R.
√ √ !
3 1 3
Exercı́cio 1.1.8 α(t) = cos t, , sin t , t ∈ R.
2 2 2

x
Exercı́cio 1.1.9 y= .
1 + x2

12
1.2 Coordenadas polares, cilı́ndricas e esféricas
Para definir uma curva α : I → Rn é necessário conhecer as coordenadas cartesianas x, y, z :
I → R (no caso de n = 2, basta x e y). No entanto, certas curvas têm uma expressão
mais simples se usarmos outros sistemas de coordenadas. Vamos de seguida ver três desses
sistemas.
Definição 1.2.1 Uma curva α : I → R2 diz-se expressa em coordenadas polares se
forem dadas duas funções r, θ : I → R tais que
α(t) = (r(t) cos θ(t), r(t) sin θ(t)).

y α
r
θ
x

Não exigimos que r(t) ≥ 0 nem que θ(t) ∈ [0, 2π[, pelo que a mesma curva tem diversas
expressões em coordenadas polares. Por exemplo, o ponto (0, 1) de R2 correspondente quer
π 7π
a r = 1, θ = quer a r = −1, θ = .
2 2
Quando α : I → R2 está expressa em coordenadas polares (r, θ), ou seja, quando α =
(r cos θ, r sin θ), tem-se α′ = (r ′ cos θ − rθ′ sin θ, r ′ sin θ + rθ′ cos θ), pelo que
p p
vα = kα′ k = (r ′ cos θ − rθ′ sin θ)2 + (r ′ sin θ + rθ′ cos θ)2 = (r ′ )2 + (rθ′ )2

Exemplo 1.2.2
a) A curva α : R → R2 definida por r(t) = 1 e θ(t) = t é a primeira curva do exemplo
1.1.2b).
b) A curva α : R → R2 definida por r(t) = t e θ(t) = t é

13
p √
e tem velocidade v(t) = (r ′(t))2 + (r(t)θ′ (t))2 = 1 + t2

Definição 1.2.3 Uma curva α : I → R3 diz-se expressa em coordenadas cilı́ndricas


se forem dadas três funções r, θ, z : I → R tais que

α(t) = (r(t) cos θ(t), r(t) sin θ(t), z(t)).

z
α

θ r
x y

Quando α : I → R3 está expressa em coordenadas cilı́ndricas (r, θ, z), ou seja, quando


α = (r cos θ, r sin θ, z), tem-se α′ = (r ′ cos θ − rθ′ sin θ, r ′ sin θ + rθ′ cos θ, z ′ ), pelo que
p
v = kα′k = (r ′ )2 + (rθ′ )2 + (z ′ )2

Exemplo 1.2.4 A curva α : R → R2 definida por r(t) = t, θ(t) = t e z(t) = t é


z

x y

p √
e tem velocidade vα (t) = (r ′(t))2 + (r(t)θ′ (t))2 + (z ′ (t))2 = 2 + t2

14
Definição 1.2.5 Uma curva α : I → R3 diz-se expressa em coordenadas esféricas se
forem dadas três funções r, θ, φ : I → R tais que

α(t) = (r(t) cos θ(t) cos φ(t), r(t) sin θ(t) cos φ(t), r(t) sin φ(t)).

z
α

φ
θ
x y

Por vezes definem-se as coordenadas esféricas usando um ângulo φ que é o complementar


do usado nesta definição, ou seja, o ângulo que α(t) faz com o eixo OZ.

Quando α : I → R3 está expressa em coordenadas esféricas (r, θ, φ), ou seja, quando α =


(r cos θ cos φ, r sin θ cos φ, r sin φ), tem-se α′ = (r ′ cos θ cos φ−rθ′ sin θ cos φ−rφ′ cos θ sin φ, r ′ sin θ cos φ+
rθ′ cos θ cos φ − rφ′ sin θ sin φ, r ′ sin φ + rφ′ cos φ), pelo que
p
vα = kα′k = (r ′ )2 + (rφ′ )2 + (rθ′ cos φ)2

Exemplo 1.2.6 (Curva de Viviani) A curva α : R → R2 definida por r(t) = 1, θ(t) = t


e φ(t) = t está sobre uma esfera de raio 1

y
x

15
p √
e tem velocidade vα (t) = (r ′(t))2 + (r(t)φ′ (t))2 + (r(t)θ′ (t) cos φ(t))2 = 1 + cos2 t.

Exercı́cio 1.2.1 Esboce uma curva cuja imagem é dada pela equação em coordenadas
polares r = 1 + cos θ e determine a velocidade dessa curva.

Exercı́cio 1.2.2 Mostre que a curva definida em coordenadas cilı́ndricas por r(t) = sin t,
θ(t) = t e z(t) = cos t é regular e está contida numa superfı́cie esférica.

Exercı́cio 1.2.3 (Cissóide de Diocles) Determine a velocidade da curva definida em


sin2 t i π πh
coordenadas polares por θ(t) = t, r(t) = ,t∈ − , .
cos t 2 2
Exercı́cio 1.2.4 Determine a velocidade da curva α : R → R3 definida em coordenadas
esféricas por r(t) = et , θ(t) = t, ϕ(t) = arccos(t).
 
7π 7π
Exercı́cio 1.2.5 Considere a curva α : − , → R2 definida, em coordenadas po-
2 2
lares, por r(t) = t e θ(t) = sin t. Mostre que α é regular.
y

Exercı́cio 1.2.6 A loxodrómica é uma curva, primeiramente estudada por Pedro Nunes,
definida em coordenadas esféricas por r(t) = 1, θ(t) = t e φ(t) = arctan(at), t ∈ R, onde a é
um parâmetro real. Mostre que a loxodrómica é uma curva regular.

y
x

Exercı́cio 1.2.7 Considere a curva definida em coordenadas polares por r(t) = t3 , θ(t) =
2t, t ∈ R. Determine v(2).

16
Exercı́cio 1.2.1
√ Para a curva α(t) = ((1 + cos t) cos t, (1 + cos t) sin t), t ∈ R, a velocidade é v(t) =
2 + 2 cos t.
y

p
Exercı́cio 1.2.2 A curva é regular porque v(t) = 1 + sin2 t > 0, ∀t. Como (sin t cos t)2 + (sin2 t)2 +
(cos t)2 = 1, a curva está contida na superfı́cie esférica de equação x2 + y 2 + z 2 = 1.
q
sin2 t(1 + 3 cos2 t)
Exercı́cio 1.2.3 v(t) = .
cos2 t
r
t t4 − 2
Exercı́cio 1.2.4 v(t) = e .
t2 − 1


 
7π 7π
Exercı́cio 1.2.5 A curva é regular porque v(t) = 1 + t2 cos2 t > 0, ∀t ∈ − , .
2 2

Exercı́cio
√ 1.2.6 A curva é regular para qualquer a ∈ R, porque
1 + a 2 + a 2 t2
v(t) = > 0, ∀t ∈ R.
1 + a 2 t2

Exercı́cio 1.2.7 v(2) = 20.

17
1.3 Comprimento de arco
Definição 1.3.1 Seja α : I → Rn uma curva.
a) O comprimento de α entre os instantes t0 e t1 é o número (eventualmente infinito)
Zt1
v(t) dt.
t0

b) O comprimento de α é o número (eventualmente infinito)


Z
c(α) = v(t) dt.
I

c) O comprimento de arco de α, a partir do instante t0 ∈ I, é a função s : I → R dada


por
Zt
s(t) = v(u) du.
t0

Esta definição de comprimento corresponde à noção de espaço percorrido por uma partı́cula
ao longo do tempo. Se a partı́cula passar várias vezes no mesmo ponto, o comprimento obtido
por esta definição vai refletir isso mesmo, sendo maior do que o comprimento da imagem de
α. Por exemplo, o comprimento de qualquer uma das curvas do exemplo 1.1.2b) é infinito e
não 2π, uma vez que a partı́cula percorre a circunferência uma infinidade de vezes.

Definição 1.3.2 Se α : I → Rn é uma curva cuja velocidade é dada por v(t) = 1, para
qualquer t ∈ I, diz-se que α está parametrizada por comprimento de arco.

O cálculo do comprimento de uma curva parametrizada por comprimento de arco entre


os instantes t0 e t1 é muito simples, sendo dado por
Zt1 Zt1
vα (t) dt = 1 dt = t1 − t0 .
t0 t0

De igual modo, o comprimento de arco a partir de t0 de uma curva parametrizada por


comprimento de arco é dado por s(t) = t − t0 .

Como vimos, o mesmo conjunto pode ser percorrido por diversas curvas. No entanto,
algumas destas curvas apenas se distinguem pelo facto de percorrerem a curva com diferentes
velocidades. A seguinte definição traduz essa noção de semelhança entre curvas.

18
Definição 1.3.3 Sejam I e J intervalos, α : I → Rn uma curva e λ : J → I um
difeomorfismo (isto é, uma aplicação suave, bijetiva e com inversa suave). Então a curva
β: J → Rn chama-se uma reparametrização de α.
t 7→ α(λ(t))

É claro que β = α ◦ λ é suave, uma vez que é a composição de aplicações suaves.


1
Além disso, se α for uma curva regular, então, como λ′ (t) = 6= 0, tem-se
(λ )′ (λ(t))
−1

β ′ (t) = λ′ (t)α′ (λ(t)) 6= 0, ou seja, β é também uma curva regular.

Teorema 1.3.4 Seja α : I → Rn uma curva regular. Então existe um difeomorfismo


λ : J → I tal que β = α ◦ λ é uma curva parametrizada por comprimento de arco.

Demonstração. Sejam t0 ∈ I um instante qualquer e s : I → R o comprimento de arco


de α a partir de t0 . Como s′ = vα > 0, então s é uma função crescente, logo injetiva.
Então s : I → s(I) é bijetiva e como s′ não se anula, o Teorema da Função Inversa garante
que s−1 : s(I) → I é suave. Portanto s−1 é um difeomorfismo e β = α ◦ s−1 é uma
reparametrização de α. Para ver que β está parametrizada por comprimento de arco, basta
verificar que
vα (s−1 (t))
vβ (t) = kβ ′ (t)k = k(s−1 )′ (t)α′ (s−1 (t))k = ′ −1 =1
s (s (t))

Exemplo 1.3.5 Seja β a curva do 1.1.2b) dada por β(t) = (cos(log t), sin(log t)). A sua
1
velocidade é dada por vβ (t) = e tem-se
t
Zt Zt
1
s(t) = vβ (u) du = du = log(t).
u
1 1

Como s(R+ ) = R, então a inversa de s é s−1 : → R+ e uma reparametrização por


R
7→ et
t
comprimento de arco de β é β ◦ s−1 : R → R2 ou seja, é a curva α desse
t 7→ (cos t, sin t)
exemplo.

O teorema anterior afirma que qualquer curva regular pode ser reparametrizada por
comprimento de arco. No entanto, na prática, não é muitas vezes possı́vel determinar ex-
plicitamente qual é essa parametrização, uma vez que o seu cálculo envolve a primitivação
da função velocidade, seguida do cálculo da sua inversa.

19
Seja α : I → Rn uma curva e s : I → s(I) o comprimento de arco a partir de um
instante t0 ∈ I. Se f : I → Rm é uma função diferenciável qualquer, então define-se a função
df
: I → Rm por
ds
df d(f ◦ s−1 )
(t) = (s(t)).
ds dt
df
A partir da definição e da regra da derivada da função composta conclui-se que (t) =
ds
df
d(f ◦ s )−1 −1
d(s ) df −1 (t) df
(s(t)) = (s(t)) (s (s(t))) = dt , ou, dito de outra forma, que =
dt dt dt ds ds
(t)
dt
df
dt . A última igualdade pode escrever-se também na forma df = df ds . Portanto a
ds dt ds dt
dt
df df
relação entre as derivadas e é dada por
dt ds
df df
=v .
dt ds
df
A derivada quantifica a taxa de variação da função f ao longo do percurso da curva,
ds
sendo independente da velocidade da curva. Um caso particular importante é o de uma
reparametrização por comprimento de arco β = α ◦ s−1 de uma curva α, para a qual se tem
dα d(α ◦ s−1 ) dβ
α(t) = β(s(t)) e (t) = (s(t)) = (s(t)).
ds dt dt

Exercı́cio 1.3.1 Considere a aplicação

α: R → √ R3
2 t, et , e−t .

t 7→

a) Determine o comprimento de α entre os instantes t = 0 e t = 1.

b) Reparametrize α por comprimento de arco.

Exercı́cio 1.3.2

a) Indique uma curva regular cuja imagem seja o segmento definido pelos pontos (6, 5, 2)
e (8, 8, 8).

b) Reparametrize essa curva por comprimento de arco.

20
c) Determine o comprimento de α.

Exercı́cio 1.3.3 Determine o comprimento das curvas


a) α: [1, 4] → R3 .
t 7→ (2t, log t, t2 )

b) β: [3, 4] → R2 .
t 7→ (t cos t, t2 sin t)
2

c) γ: ]0, 2π[ → R2 .
t 7→ (2 sin t − sin(2t), 2 cos t − cos(2t))

d) δ: [0, π] → R2 .
t 7→ (2 sin(2t) − sin(4t), 2 cos(2t) − cos(4t))

Exercı́cio 1.3.4 Considere a curva


α : [0, π] → R3
t 7→ (e cos t, et sin t, et ).
t

a) Reparametrize α por comprimento de arco.

b) Determine o comprimento de α.

Exercı́cio 1.3.5 Considere a curva


α : [0, 1] → R3

t 7→ (3t sin t, t 8t, 3t cos t).

a) Mostre que α é regular.

b) Determine o comprimento de α.

c) Reparametrize α por comprimento de arco.

Exercı́cio 1.3.6 Reparametrize a curva

α: R →  R2 
2 2t
t 7→ 2
− 1, 2
t +1 t +1
por comprimento de arco.

Exercı́cio 1.3.7
a) Indique uma curva α cuja imagem é dada, em coordenadas polares, por r = e2θ .

21
b) Determine a velocidade de α.
c) Reparametrize α por comprimento de arco.
Exercı́cio 1.3.8 Uma curva plana, parametrizada por comprimento de arco, verifica, em
t
coordenadas polares, r(t) = . Determine uma expressão para θ(t).
2
Exercı́cio 1.3.9 A ciclóide é a curva definida por
α: R → R2
t 7→ (t − sin t, 1 − cos t).
a) Verifique se a ciclóide é uma curva regular.
b) Determine o comprimento de α entre os instantes t = 0 e t = π.
Exercı́cio 1.3.10 Determine o comprimento de arco da catenária α: R → R2 .
t 7→ (t, cosh t)
Exercı́cio 1.3.11 Considere a curva α : [0, 3π] → R2
2
t 7→ (cos (2t), sin(2t) cos(2t)).
a) Indique uma equação cartesiana da imagem de α.
b) Determine o comprimento de α.
c) Indique uma reparametrização de α por comprimento de arco.
Exercı́cio 1.3.12  Determine o comprimento da curva α : [0, π] → R2 dada em coorde-
r(t) = 1 + cos t
nadas polares por
θ(t) = t

z
+ 3
Exercı́cio 1.3.13 Mostre que a curva α : R → R dada em coordenadas esféricas por

 r(t) = t/2 √
θ(t) = 2 3 log t
φ(t) = π/3

x y

está parametrizada por comprimento de arco.

22
Exercı́cio 1.3.1
a) e − 1e .
  arcsenh t t
 ! !

√ t 2 ,e
− arcsenh
2 
b) β(t) =  2 arcsenh ,e  , t ∈ R.
2

Exercı́cio 1.3.2
a) α(t) = (6 + 2t, 5 + 3t, 2 + 6t), t ∈ [0, 1].
 
2t 3t 6t
b) β(t) = 6 + , 5 + , 2 + , t ∈ [0, 7].
7 7 7
c) 7.

Exercı́cio 1.3.3
a) 15 + log 4.
√ √
40 5 − 13 13
b) .
3
c) 16.
d) A curva é uma reparametrização de c), logo tem comprimento 16.

Exercı́cio 1.3.4
 √
          
t t t t t
, t ∈ 0, 3 (eπ − 1) .

a) β(t) = 1+ √ cos log 1 + √ , 1+ √ sin log √ ,1 + √
3 3 3 3 3
√ π
b) 3 (e − 1).

Exercı́cio 1.3.5
a) A curva é regular porque v(t) = 3(1 + t) > 0, ∀t ∈ [0, 1].
9
b) .
2
√  √ r √ 
√ 9 + 6t − 3 9 + 6t − 3 8 9 + 6t − 3
c) β(t) = ( 9 + 6t − 3) sin , ,
3 3 3
√

  
9 + 6t − 3 9
( 9 + 6t − 3) cos , t ∈ 0, .
3 2
i π πh
Exercı́cio 1.3.6 β(t) = (cos t, sin t), t ∈ − , .
2 2

Exercı́cio 1.3.7
a) α(t) = e2t cos t, e2t sin t , t ∈ R.


b) v(t) = 5e2t .

23
        
2t 2t 2t 2t
c) β(t) = √ cos log √ /2 , √ sin log √ /2 , t ∈]0, +∞[.
5 5 5 5

Exercı́cio 1.3.8 θ(t) = 3 log t.

Exercı́cio 1.3.9
a) A ciclóide não é regular porque v(0) = 0.
b) 4.

Exercı́cio 1.3.10 s(t) = sinh t, t ∈ R.

Exercı́cio 1.3.11
a) x2 + y 2 − x = 0
b) 6π
c) β : [0, 6π] → R2
2
t 7→ (cos t, sin t cos t).

Exercı́cio 1.3.12 4.

Exercı́cio 1.3.13 v(t) = 1, ∀t ∈ R+

24
1.4 O triedro de Frenet-Serret
Podemos medir a velocidade com que uma curva plana α está a virar, através da taxa de
variação do ângulo que α′ faz com o eixo Ox.

Definição 1.4.1 Seja α : I → R2 uma curva regular. A curvatura com sinal de α é a


função
ks : I →
R

t 7→ (t)
ds
onde θ(t) é o ângulo que α′ (t) faz com o eixo Ox.
α′
y θ
α

Se α(t) = (x(t), y(t)), ∀t ∈ I, podemos encontrar uma expressão para ks em termos das
funções x e y.
x′ y ′′ − x′′ y ′
Teorema 1.4.2 Se α(t) = (x(t), y(t)), ∀t ∈ I, então ks = .
((x′ )2 + (y ′)2 )3/2

′ ′ ′ y′
Demonstração. Como α = (x , y ), então tem-se tan θ = , ou seja,
x′
y′
θ = arctan ′ . Logo
x
′ x′ y ′′ −x′′ y ′
( xy ′ )′ (x′ )2 x′ y ′′ − x′′ y ′
dθ (x′ )2 +(y ′ )2
( xy ′ )2

dθ dt 1+ (x′ )2 (x′ )2 + (y ′)2 x′ y ′′ − x′′ y ′
ks = = = = = =
ds ((x′ )2 + (y ′)2 )3/2
p p
ds vα (x′ )2 + (y ′ )2 (x′ )2 + (y ′)2
dt

A curva α pode também ser vista como uma curva em R3 , escrevendo


α(t) = (x(t), y(t), 0). Usando esta nova expressão para a curva α, tem-se

x y′ 0

α′ ∧ α′′ = (x′ , y ′ , 0) ∧ (x′′ , y ′′, 0) = x′′ y ′′ 0 = (0, 0, x′ y ′′ − x′′ y ′)
e1 e2 e3

25
A comparação desta expressão com o numerador da expressão dada no teorema anterior
sugere dar a seguinte definição para curvas no espaço.

Definição 1.4.3 Seja α : I → R3 uma curva regular. A curvatura de α é a função

k: I → R
kα′ (t) ∧ α′′ (t)k
t →
7 .
kα′ (t)k3

Assim, no caso das curvas contidas no plano xOy, a curvatura é simplesmente o módulo
da curvatura com sinal.

Exemplo 1.4.4 Se α(t) = (r cos t, r sin t, 0), ∀t ∈ R, então α′ (t) = (−r sin t, r cos t, 0),
α′′ (t) = (−r cos t, −r sin t, 0) e a curvatura de α é

k(−r sin t, r cos t, 0) ∧ (−r cos t, −r sin t, 0)k r2 1


k(t) = 3
= 3
= .
k(−r sin t, r cos t, 0)k r r

Teorema 1.4.5 Seja f : I → Rn uma função vetorial tal que kf (t)k é constante. Então

f (t) e f (t) são ortogonais para qualquer instante t.

Demonstração. Como (f (t)|f (t)) é constante, derivando obtém-se


d
0 = ( f (t)| f (t)) = 2 (f (t)| f ′ (t)). Deste modo, conclui-se que f (t) e f ′ (t) são ortogo-
dt
nais, ∀t ∈ I.

Em particular, se α é uma curva parametrizada por comprimento de arco, tem-se que α′ (t)
′′
e α (t) são ortogonais para qualquer instante t. Logo, neste caso, a curvatura é simplesmente
dada por

kα′ (t) ∧ α′′ (t)k kα′ (t)kkα′′ (t)k sin ∠(α′ (t), α′′ (t))
k(t) = = = kα′′ (t)k.
kα′ (t)k3 kα′ (t)k3

Em geral, se α : I → Rn é uma curva qualquer e β = α ◦ s−1 : J → Rn é uma


reparametrização por comprimento de arco de α, tem-se que

kα (t) = kβ (s(t)) = kβ ′′(s(t))k.

Definição 1.4.6 Seja α : I → Rn uma curva. O vetor tangente a α no instante t é



α (t)
dado por T (t) = .
kα′ (t)k

dT
Teorema 1.4.7 ds .
A curvatura de uma curva α é dada por k =

26
Demonstração. Seja β = α ◦ s−1 uma reparametrização de α por comprimento de arco.

(t) dα dT d(T ◦ s−1 ) dβ ′
Tem-se T (t) = dt = ′
(t) = β (s(t)). Então (t) = (s(t)) = (s(t)) =
ds ds ds dt dt
(t)
dt
′′
dT
β (s(t)), pelo que (t)
= kβ ′′ (s(t))k = kα (t).
ds
Suponhamos agora que a curvatura de α no instante t não se anula. Podemos então obter
dT
um vetor de norma 1 a partir do vetor .
ds
Definição 1.4.8 Se k(t) 6= 0, define-se o vetor normal a α no instante t por
dT
(t)
N(t) = ds = 1 dT (t).
dT k(t) ds
(t)
ds

Pelo teorema 1.4.5, T (t) e N(t) são ortogonais e podemos obter uma base ortonormada
de R3 juntando a estes vetores o seu produto externo.

Definição 1.4.9 Se k(t) 6= 0, define-se o vetor binormal a α no instante t por B(t) =


T (t) ∧ N(t).

Definição 1.4.10 À base ortonormada {T (t), N(t), B(t)} chama-se o Triedro de Frenet-
Serret da curva no instante t.

A partir dos vetores T (t), N(t) e B(t) podemos definir três certas e três planos que
passam por α(t).

Definição 1.4.11
a) a certa tangente a α no instante t é a certa que passa por α(t) e tem a direção de
T (t);

b) a certa normal a α no instante t é a certa que passa por α(t) e tem a direção de N(t);

c) a certa binormal a α no instante t é a certa que passa por α(t) e tem a direção de
B(t);

d) o plano osculador a α no instante t é o plano que passa por α(t) e é paralelo a T (t)
e N(t);

e) o plano normal a α no instante t é o plano que passa por α(t) e é paralelo a N(t) e
B(t);

27
f) o plano retificante a α no instante t é o plano que passa por α(t) e é paralelo a T (t)
e B(t).

Exemplo 1.4.12 Para a curva α: R → R3 tem-se


t 7→ (cos t, sin t, t)

T (π) = (0, − √12 , √12 ) N(π) = (1, 0, 0) B(π) = (0, √12 , √12 )

reta
tang

te
an
ente

ific
ret
no
pla
l
scula
dor ma
o o or
pla n
a bin
z ret
T

bino rmal
plano N B

a l
norm
reta

x y

dT dN dB
Vamos agora encontrar expressões para , e na base ortonormada {T, N, B}.
ds ds ds
dT
Vimos já que, por definição, = kN.
ds
dN dN
Pelo Teorema 1.4.5, é ortogonal a N, logo = aT + bB, para alguns escalares a e
ds  ds 
dN
b. Efetuando o produto interno com T obtemos T = a.
ds

28
   
dT dN
Derivando a igualdade ( T | N) = 0 obtemos N + T
= 0, ou seja, a =
    ds ds
dN dT
T =− N = − ( kN| N) = −k.
ds ds
O escalar b é denominado de torção da curva.

Definição 1.4.13 Se k(t) 6= 0, a torção de α no instante t é o número real τ (t) tal que
dN
(t) = −k(t)T (t) + τ (t)B(t).
ds
dB
Passando agora ao vetor , concluı́mos que é ortogonal a B, novamente pelo Teorema
ds
dB
1.4.5, pelo que = cT + dN, para alguns escalares c e d. Temos
ds
   
dB dT
c= T = − B = − ( B| kN) = 0
ds ds
e    
dB dN
d= N = − B
= − ( B| − kT + τ B) = −τ
ds ds
Provámos assim o seguinte teorema.

Teorema 1.4.14 Se k 6= 0, então

dT
 
 ds 
    

 dN 
 0 k 0 T
 ds  = −k 0 τ
    N .



 0 −τ 0 B
 dB 
ds
dT
Como T ′ = v , e têm-se expressões análogas para N ′ e B ′ , então temos o seguinte
ds
corolário.

Corolário 1.4.15 Se k =
6 0, então
 ′    
T 0 k 0 T
 N ′  = v  −k 0 τ   N  .
B′ 0 −τ 0 B

29
A estas igualdades chamam-se as Fórmulas de Frenet-Serret.

Podemos também encontrar expressões para α′ , α′′ e α′′′ na base {T, N, B}.

α′
Temos T = , pelo que α′ = vT .
v
Então α′′ = v ′ T + vT ′ = v ′ T + v(kvN) = v ′ T + kv 2 N.
Definição 1.4.16 A v ′ chama-se a aceleração tangencial e a kv 2 chama-se a acel-
eração centrı́peta da curva.
Note-se que quando a curva percorre uma circunferência de raio r, a aceleração centrı́peta
2
v
é .
r
Derivando agora α′′ obtemos finalmente
α′′′ = (v ′ T + kv 2 N)′ = v ′′ T + v ′ T ′ + k ′ v 2 N + 2kvv ′ N + kv 2 N ′ =
= v ′′ T + v ′ (vkN) + k ′ v 2 N + 2kvv ′ N + kv 2 (−vkT + vτ B) =
= (v ′′ − k 2 v 3 )T + (k ′ v 2 + 3kvv ′)N + kv 3 τ B
Teorema 1.4.17 A torção de uma curva α é dada por
( α′ | α′′ ∧ α′′′ )
τ= .
kα′ ∧ α′′ k2
Demonstração. Temos
(α′ | α′′ ∧ α′′′ ) = ( vT | (v ′ T + kv 2 N) ∧ ((v ′′ − k 2 v 3 )T + (k ′ v 2 + 3kvv ′ )N + kv 3 τ B)) =
= ( vT | kv 2 N ∧ kv 3 τ B) = k 2 v 6 τ
( α′ | α′′ ∧ α′′′ ) kα′ ∧ α′′ k
logo τ = . Fazendo a substituição k = , obtém-se o resultado pre-
k2 v6 v3
tendido.

Vejamos agora qual o significado da curvatura ou da torção serem nulas.


Teorema 1.4.18 Seja α : I → Rn uma curva. Então a curvatura de α é nula se e só se
a imagem de α está contida uma reta.
Demonstração. Se k(t) = 0, ∀t ∈ I, então T ′ (t) = 0, ou seja, T (t) = c, onde c é um vetor
constante. Logo α′ (t) = v(t)c, ou seja, α(t) = s(t)c + d. Isto mostra que α está contida
numa reta paralela a c.
Reciprocamente, se a imagem de α está contida numa reta, então α′ e α′′ têm a mesma
kα′ ∧ α′′ k
direção, logo k = = 0.
kα′ k3

30
Teorema 1.4.19 Seja α : I → R3 uma curva. Então a torção de α é nula se e só se a
imagem de α está contida num plano.

Demonstração. Se τ (t) = 0, ∀t ∈ I, então B ′ (t) = 0, ou seja, B(t) = c, onde c é um


vetor constante. Logo T (t) ∧ N(t) = c, ou seja, T (t) e N(t) são ortogonais a c. Como
d
( α(t)| c) = ( v(t)T (t)| c) = 0, então ( α(t)| c) é constante, o que mostra que α(t) está num
dt
plano ortogonal a c.
Reciprocamente, se a imagem de α está contida num plano, então α′ , α′′ e α′′′ são paralelos
(α′ | α′′ ∧ α′′′ )
a esse plano, logo τ = = 0.
kα′ ∧ α′′ k2

Exercı́cio 1.4.1 Considere a curva


α : [1, 2π] →  R2 
3
t 1
t 7→ t, + .
6 2t

Determine:

a) o comprimento de α.

b) a curvatura com sinal de α.

Exercı́cio 1.4.2 Considere a aplicação

α: R → R2
t 7→ (t2 − 1, t(t2 − 1)).

a) Mostre que a velocidade de α não se anula.

b) Determine a curvatura com sinal de α.

c) Indique, justificando, em que sentido é percorrida a imagem de α, esboçada abaixo.


y

Exercı́cio 1.4.3 Considere uma curva α : I → R2 definida pelas suas coordenadas po-
lares r(t) e θ(t). Determine qual é a expressão da curvatura com sinal de α em termos das
funções r e θ.

31
Exercı́cio 1.4.4 Considere a aplicação
α: R → R3
t 7→ (t, cosh t, 0) .
a) Determine o triedro de Frenet-Serret de α.
b) Determine a curvatura e a torção de α.

Exercı́cio 1.4.5 Seja α : R → R3 a curva definida por α(t) = (et cos t, et sin t, et ).
a) Reparametrize α por comprimento de arco.
b) Mostre, como sugere a figura, que α não é plana.
z

x y

Exercı́cio 1.4.6 Considere a aplicação


α: I →  R3
t2

t
t 7→ t, , .
1 + t2 1 + t2
Determine uma equação cartesiana do plano osculador de α no instante t = 0.

Exercı́cio 1.4.7 Verifique se a curva


α : ]0, π2 [] → R3
cos3 t, sin3 t, cos(2t)

t 7→
é plana.

Exercı́cio 1.4.8 Seja α : I → R3 uma curva parametrizada por comprimento de arco,


cuja torção não se anula. Mostre que
 ′
k
′′ ′
( N | N ∧ N) τ
= 2
kN ′ k2
 
k
+1
τ

32
Exercı́cio 1.4.9 Seja α : I → R3 uma curva parametrizada por comprimento de arco
cujas retas tangentes passam todas pela origem. Mostre que a imagem de α está contida
numa reta que passa pela origem.

Exercı́cio 1.4.10 Seja α : R → R3 a curva definida por


 
3 8 sin(2t) 4
α(t) = cos(2t), + , − cos(2t) .
10 10 2 10
z

x y

a) Calcule a curvatura de α.

b) Determine o triedro de Frenet-Serret de α.

c) Verifique se a imagem de α está contida num plano.

Exercı́cio 1.4.11 Considere a curva


α: R → R3
t 7→ (cosh t, t, sinh t).

a) Determine a equação cartesiana do plano retificante de α no instante t.

b) Indique os instantes em que o plano retificante é vertical.

Exercı́cio 1.4.12 Considere a curva


α: R → R3
t 7→ (2t, t2 , (t − 1)2 ).

a) Prove que a curva é plana e indique uma equação do plano que contém a imagem da
curva.

b) Verifique se alguma reta binormal passa pela origem.

Exercı́cio 1.4.13 Seja α : I → R3 uma curva parametrizada por comprimento de arco,


com curvatura constante a e defina-se β(t) = α(t) + Tα (t).

33
a) Escreva o triedro de Frenet-Serret da curva β na base {Tα , Nα , Bα }.

b) Mostre que se α é plana, a curva β também é plana.

Exercı́cio 1.4.14 Seja α : R → R3 a curva definida por

α(t) = (3t − t3 , 3t2 , 3t + t3 ).

a) Determine o triedro de Frenet-Serret de α.

b) Mostre que a curvatura de α é igual à sua torção.

c) Verifique se a imagem de α está contida num plano.

d) Indique os instantes em que o plano retificante de α é paralelo ao plano yOz.

Exercı́cio 1.4.15 Considere a curva


α: R → R3
t 7→ (1, t3 , t).

a) Mostre que α é uma curva regular.

b) Determine uma equação cartesiana da reta normal a α no ponto (1, 1, 1).

c) Verifique se a curva α é plana.

Exercı́cio 1.4.16 Seja α : I → R3 uma curva plana, parametrizada por comprimento de


1
arco. Mostre que se a curvatura K de α for constante, então o vetor α + N também é
K
constante.

Exercı́cio 1.4.17 Seja α : R → R3 a curva definida por α(t) = (cosh t, et , sinh t).

a) Indique uma equação cartesiana da reta tangente a α no instante t.

b) Determine o triedro de Frenet-Serret de α no instante t = 0.

c) Prove que a imagem de α está contida num plano e indique uma equação cartesiana
desse plano.

Exercı́cio 1.4.18 Considere a curva


α : ]0, 1] → R3
t 7→ (t2 , 2, t3 ).

a) Mostre que α é uma curva regular.

34
b) Reparametrize α por comprimento de arco.

c) Determine o comprimento de α.

d) Determine a curvatura de α.

e) Determine o triedro de Frenet-Serret de α.

f) Verifique se a curva α é plana.

Exercı́cio 1.4.19 Determine o Triedro de Frenet-Serret da curva


 
t sin t + cos t t sin t − cos t t
α(t) = e ,e ,e .
2 2

Exercı́cio 1.4.20 Seja α : I → R3 uma curva tal que α′ (0) = (0, 1, 2), α′′ (0) = (1, 2, 3).
Determine v ′ (0).

Exercı́cio 1.4.21 Considere a curva


α: R → R3
t 7→ (cos t, sin t, t).

a) Reparametrize α por comprimento de arco.

b) Mostre que a curvatura e a torção de α são iguais.

c) Verifique se a curva α é plana.

Exercı́cio 1.4.22 Seja α : I → R3 uma curva tal que todos os planos osculadores passam
pela origem. Prove que α é planar.

Exercı́cio 1.4.23 Seja α : I → R3 uma curva cuja curvatura não se anula e {T, N, B}
o seu triedro de Frenet-Serret. Mostre que α é plana se e só se existe um vetor constante
a ∈ R3 , não nulo, tal que T (t) é ortogonal a a.

Exercı́cio 1.4.24 Seja α : I → R3 uma curva regular. Mostre que


( α′′ (t)| N(t))
k(t) = .
kα′ (t)k2

Exercı́cio 1.4.25 (Nó trevo) Verifique se a curva

α : [0, 2π] → R3
t 7→ (sin t + 2 sin(2t), cos t − 2 cos(2t), sin(3t)) .

é plana.

35
z

x y

Exercı́cio 1.4.26 Considere a curva


α : ]0, 1[ →  R3
(1 + t)3/2 (1 − t)3/2 t

t 7→ , ,√ .
3 3 2
a) Verifique se α está parametrizada por comprimento de arco.

b) Determine a curvatura, a torção e o triedro de Frenet-Serret de α.

c) Verifique se a curva α é plana.

Exercı́cio 1.4.27 Considere a curva


α: R → R3
t 7→ (5 cos(2t), 3 sin(2t), 4 sin(2t)).

a) Mostre que α é uma curva regular.

b) Reparametrize α por comprimento de arco.

c) Determine o comprimento de α entre os instantes t = 0 e t = 3.

d) Determine a curvatura de α.

e) Mostre que a curva α é plana e indique uma equação cartesiana do plano que a contém.

Exercı́cio 1.4.28 Seja α : I → R3 uma curva parametrizada por comprimento de arco,


cuja imagem está contida numa superfı́cie esférica centrada na origem. Mostre que se a
curvatura de α é constante, então α é plana.

Exercı́cio 1.4.29 Considere a curva


3
α : [0, 1] → √ √ R 2 √ 3
t 7→ 2t, 3t , 2t .

a) Determine o comprimento de α.

36
b) Calcule o triedro de Frenet-Serret no instante t = 0.

c) Indique uma equação cartesiana do plano normal no instante t = 1.

d) Mostre que a curvatura e a torção de α são iguais.

Exercı́cio 1.4.30 Considere a curva


α : [0, π] → R3
2
t 7→ (cos t, t, cos(2t)) .

Mostre que α é plana e determine uma equação cartesiana do plano que contém a imagem
de α.
z

x y

Exercı́cio 1.4.31 Esboce o gráfico da curvatura com sinal da curva representada na


figura.

x
Exercı́cio 1.4.32 Considere a curva α : [0, a] →  R3  .
4 3/2 t2
t 7→ 2t, t ,
3 2
a) Sabendo que o comprimento de α é 16, determine a.

b) Determine τ (t).

Exercı́cio 1.4.33 Considere a curva α : R → R2


t 7→ (2 sinh t, cosh t, t).
a) Determine a velocidade de α.

b) Calcule o triedro de Frenet-Serret no instante t = 0.

37
c) Determine uma equação cartesiana da reta tangente à curva no instante t = 1.

d) Determine a torção de α e conclua se a curva é plana.

Exercı́cio 1.4.34 Seja α : R → R3 uma curva tal que α′ (t0 ) = (1, 0, −4), T ′ (t0 ) =

(12, 0, 3) e B (t0 ) = (8, 0, 2).
Determine v(t0 ), k(t0 ) e τ (t0 ).

Exercı́cio 1.4.35 Considere a curva definida por α(t) = ((t + 1)2 , t2 , t − 1), t ∈ R.

a) A curva α é plana. Determine uma equação cartesiana do plano que contém a curva.

b) Determine o triedro de Frenet-Serret de α no instante t = 0.

Exercı́cio 1.4.36 Considere a curva


α: R → R3
t 7→ (et , cos t, sin t).

a) Verifique se α é uma curva regular.

b) Determine a curvatura de α.

c) Mostre que a curva não é plana.

d) Determine uma equação do plano osculador de α em t = 0.

e) Determine kB ′ (0)k.

Exercı́cio 1.4.37 Seja α : [a, b] → R3 uma curva regular plana, com curvatura kα e
comprimento de arco sα a partir de a. Defina-se a curva β(t) = α(t) − sα (t)Tα (t).
Mostre que a curvatura de β é dada por kβ = 1/sα .

Exercı́cio 1.4.38 Considere a curva (Curva de Agnesi)


i π πh
α: − , → R2
2 2
t 7→ (tan t, cos2 t) .

38
a) Mostre que a curva α é regular.

b) Determine os pontos onde a curvatura com sinal de α se anula.


z
Exercı́cio 1.4.39 Considere a curva
α : [0, 2π] →  R3 
2 sin(2t)
t 7→ sin t, ,t .
2

x y

a) Reparametrize α por comprimento de arco.

b) Determine o triedro de Frenet-Serret de α.

c) Indique uma equação cartesiana do plano normal a α no instante t = π.

d) Mostre que a torção de α é constante.

Exercı́cio 1.4.40 Mostre que a imagem da curva


h πi
α : 0, → R3
2
7→ cos2 t, sin2 t, cos(2t) .

t

está contida numa reta e determine uma equação cartesiana dessa reta.
z

x y

Exercı́cio 1.4.41 Considere duas curvas α, β : I → R3 tais que as retas normais a α


e β coincidem, para todos os instantes t. Mostre que β(t) = α(t) + cNα (t), onde c é uma
constante.
 t
et

2 e
Exercı́cio 1.4.42 Seja α : R → R a curva definida por α(t) = √ cos t, √ sin t .
2 2
Determine:
a) uma reparametrização de α por comprimento de arco.

39
b) a curvatura com sinal de α.

Exercı́cio 1.4.43 Considere a curva (costura de uma bola de ténis)

α : [0, 2π] → R3
√ !
3 cos t + cos(3t) 3 sin t − sin(3t) 3
t 7→ , , sin(2t) .
4 4 2

a) Mostre que a imagem da curva está contida na superfı́cie esférica de raio 1, centrada
na origem.

b) Verifique se α é uma curva regular.

c) Mostre que as retas binormais de α nos instantes t = 0 e t = π/2 não são paralelas.

d) Usando a alı́nea anterior, mostre que α não é uma curva plana.

Exercı́cio 1.4.44 Considere a curva (denominada tractriz)


α : ]0, π[ → R2 
7→ cos t + log tan 2t , sin t .

t y

a) Mostre que a curva α não é regular.


x
b) Determine a curvatura com sinal de α, onde estiver definida.

c) Mostre que a imagem da curva


 π
β: 0, 2 → R2
t 7→ α(t) − Tα (t).

está sobre o eixo Ox.


Exercı́cio 1.4.45 Considere a curva
α : [−1, 1] → R3
t 7→ (cos t, sin t, t4 ) .
z
a) Determine, para α, no instante t = 0,

i) o triedro de Frenet-Serret;
ii) a torção.
iii) uma equação cartesiana do plano osculador. y

b) Verifique se α é uma curva planar. x

40
Exercı́cio 1.4.46 Seja α : I → R3 uma curva regular, cuja curvatura não se anula e
cujas retas normais passam todas pela origem. Mostre que a imagem de α está contida
numa circunferência centrada na origem.

Exercı́cio 1.4.47 Seja α : [0, π] → R3 a curva definida por


r r r !
2 2 2
α(t) = cos t + sin t, cos t, cos t − sin t .
3 3 3

Determine relativamente a α:
a) uma reparametrização de por comprimento de arco;

b) o comprimento;

c) a curvatura.

Exercı́cio 1.4.48 Considere uma curva α : R → R3 cuja imagem seja um dos ramos da
intersecção do paraboloide x2 + 3y 2 = z 2 + 1 com o plano z = 2y.
a) Determine uma parametrização de α.

b) Para essa parametrização, determine o vetor binormal B(t).

Exercı́cio 1.4.49 Seja α : [a, b] → R2 uma curva regular plana, com curvatura kα e
comprimento de arco sα a partir de a. Definam-se as curvas β(t) = α(t) − sα (t)Tα (t) e
γ(t) = β(t) + sα (t)Nβ (t). Mostre que γ e α coincidem.

Exercı́cio 1.4.1
1 1 4π 3
a) − + .
3 4π 3
8t3
b) ks (t) = .
(1 + t4 )2

Exercı́cio 1.4.2
a) α′ (t) = (0, 0) sse 2t = 0 ∧ 3t2 − 1 = 0 (Impossı́vel).
6t2 + 2
b) ks (t) = 3/2
.
(9t4 − 2t2 + 1)
c) Como ks (t) > 0, ∀t ∈ R, a curva é percorrida no sentido direto.
3 2
r2 (θ′ ) + 2 (r′ ) θ′ − rr′′ θ′ + rr′ θ′′
Exercı́cio 1.4.3 ks =  3/2 .
2
(r′ ) + (rθ′ )2

41
Exercı́cio 1.4.4
   
1 1
a) T (t) = , tanh t, 0 , N (t) = − tanh t, , 0 , B(t) = (0, 0, 1).
cosh t cosh t
1
b) k(t) = , τ (t) = 0.
cosh2 t

Exercı́cio 1.4.5
       
t t t t t
a) β(t) = √ cos log √ , √ sin log √ ,√ , t ∈]0, +∞[.
3 3 3 3 3
1
b) A curva não é plana porque τ (t) = 6= 0.
3et

Exercı́cio 1.4.6 y = x.
 π  π   π  9
α′
′′
Exercı́cio 1.4.7 A curva não é plana porque α ∧ α′′′ = 6= 0.
4 4 4 2

Exercı́cio 1.4.8 Pelas fórmulas de Frenet, tem-se N ′ = −kT + τ B. Derivando, obtém-se N ′′ = −k ′ T −


kT + τ B + τ B = −k ′ T + (τ 2 − k 2 )N + τ ′ B.
′ ′ ′

−k ′ T + (τ 2 − k 2 )N + τ ′ B − kB − τ T

( N ′′ | N ′ ∧ N ) k ′ τ − kτ ′
Logo 2
= 2 2
= 2 .
kN k ′ k +τ k + τ2
 ′
k k ′ τ − kτ ′
τ 2 k ′ τ − kτ ′
Por outro lado,  2 = 2τ 2 = 2 .
k k +τ k + τ2
+1
τ τ2

Exercı́cio 1.4.9 Por hipótese, α e α′ são colineares, ou seja, α ∧ α′ = 0. Derivando, obtém-se α′ ∧ α′ +


α ∧ α = 0, pelo que α ∧ α′′ = 0. Logo α e α′′ são colineares. Assim, k = 0, ou seja, a imagem de α está
′′

contida numa reta (que passa pela origem).

Exercı́cio 1.4.10
a) k(t) = 2.
     
−3 4 −3 4 4 3
b) T (t) = sin(2t), cos(2t), sin(2t) , N (t) = cos(2t), − sin(2t), cos(2t) , B(t) = , 0, .
5 5 5 5 5 5
c) A curva está contida num plano, porque B é constante.

Exercı́cio 1.4.11
a) (x − cosh t) − sinh t(y − t) = 0.
b) O plano retificante é vertical em qualquer instante t ∈ R.

Exercı́cio 1.4.12
a) A curva é plana porque τ (t) = 0, ∀t ∈ R. A imagem da curva está contida no plano de equação
x − y + (z − 1) = 0.
b) Não.

42
Exercı́cio 1.4.13
1 a a2 a aτα a2 τα
a) Tβ = √ Tα + √ Nα , Nβ = − √ Tα + √ Nα + √ Bα , Bβ = Tα +
1 + a2 1 + a2 1 + a2 1 + a2 1 + a2 1 + a2
−aτα a + a3
2
Nα + Bα .
1+a 1 + a2
a + a3
b) Se α é plana, então τα = 0 e Bα é constante. Logo, Bβ = Bα é também constante. Portanto,
1 + a2
β é plana.

Exercı́cio 1.4.14
√ √ √ !
2(1 − t2 ) −2t 1 − t2
 
2t 2
a) T (t) = , , , N (t) = , , 0 ,
2(t2 + 1) t2 + 1 2 t2 + 1 t2 + 1
√ 2 √ √ !
2(t − 1) − 2t 2
B(t) = 2
, 2 , .
2(t + 1) t + 1 2
1
b) k(t) = τ (t) = .
3(1 + t2 )2
c) A curva não está contida num plano porque τ 6= 0.
d) t = −1, 1.

Exercı́cio 1.4.15

a) A curva é regular porque v(t) = 1 + 9t4 > 0, ∀t ∈ R.
b) x = 1 ∧ 3y + z = 4.
c) A curva é plana porque está contida no plano x = 1. Também se pode verificar que τ (t) = 0, ∀t ∈ R.
 ′
1 1 1 τ 1
Exercı́cio 1.4.16 α+ N = α′ + N ′ = T + (−KT + τ B) = B = 0, logo α + N é
K K K K K
constante.

Exercı́cio 1.4.17
x − cosh t y − et z − sinh t
a) = = .
sinh t et cosh t
     
1 1 2 1 1 1 1 1
b) T (0) = 0, √ , √ , N (0) = √ , √ , − √ , B(0) = − √ , √ , − √ .
2 2 6 6 6 3 3 3
c) A imagem da curva está contida num plano porque τ (t) = 0, ∀t ∈ R. O plano tem equação cartesiana
y = x + z.

Exercı́cio 1.4.18

a) É regular porque v(t) = t 4 + 9t2 > 0, ∀t ∈]0, 1].
 3/2 ! # √ #
2/3 4 2/3 4 8 13 13
b) β(t) = t − , 2, t − ,t ∈ , .
9 9 27 27

13 13 − 8
c) .
27

43
6
d) k(t) = .
t(4 + 9t2 )3/2
   
2 3t −3t 2
e) T (t) = √ , 0, √ , N (t) = √ , 0, √ , B(t) = (0, −1, 0).
4 + 9t2 4 + 9t2 4 + 9t2 4 + 9t2
f) A curva é plana porque B é constante.
   
cos t sin t 1 cos t sin t 1
Exercı́cio 1.4.19 T (t) = √ , √ ,√ , N (t) = (− sin t, cos t, 0), B(t) = − √ , − √ , √ .
2 2 2 2 2 2

8
Exercı́cio 1.4.20 v ′ (0) = √ .
5

Exercı́cio 1.4.21
 
t t t
a) β(t) = cos √ , sin √ , √ .
2 2 2
1
b) k(t) = τ (t) = .
2
c) A curva não é plana, porque τ 6= 0.

Exercı́cio 1.4.22 Como todos os planos osculadores passam pela origem, então existem funções escalares
a e b tais que α + aT + bN = 0.
Derivando, obtemos α′ + a′ T + aT ′ + b′ N + bN ′ = 0, ou seja, (v + a′ − bvk)T + (avk + b′ )N − bvτ B = 0.
Como T, N, B é uma base de R3 , então bvτ = 0.
Se tivéssemos b = 0, então α seria sempre colinear com T , logo a imagem de α estaria contida numa reta (e
o plano osculador não estaria definido). Assim, concluı́mos que τ = 0, logo a curva é planar.

Exercı́cio 1.4.23 (⇒) Se α é planar, B é constante e T é ortogonal a B.


(⇐) Se (T |a) = 0, derivando, obtemos kv(N |a) = 0, donde (N |a) = 0. Derivando novamente, obtemos
v(−kT + τ B|a) = 0, donde τ (B|a) = 0.
Como a 6= 0 e (T |a) = (N |a) = 0, então (B|a) 6= 0. Logo τ = 0, ou seja, α é plana.

( α′′ | N ) v ′ T + kv 2 N N kv 2
Exercı́cio 1.4.24 = = = k.
kα′ k2 v2 v2

6
Exercı́cio 1.4.25 A curva não é plana porque, por exemplo, τ (0) = − 6= 0.
17

Exercı́cio 1.4.26
a) A curva está parametrizada por comprimento de arco, porque v(t) = 1, ∀t ∈]0, 1[.
1
b) k(t) = τ (t) = √ ,
2 2 − 2t2 √ ! √ !
√ √ √ √  √ √
1+t 1−t 2 2 − 2t 2 + 2t 1+t 1−t 2
T (t) = ,− , , N (t) = , , 0 , B(t) = − , ,
2 2 2 2 2 2 2 2
c) A curva não é plana, porque B não é constante.

Exercı́cio 1.4.27

44
a) A curva é regular porque v(t) = 10 6= 0, ∀t ∈ R.
 
t t t
b) β(t) = 5 cos , 3 sin , 4 sin , t ∈ R.
5 5 5
c) 30.
1
d) k(t) = .
5
 
4 3
e) A curva é plana porque B(t) = 0, − , é constante. A imagem da curva está contida no plano
5 5
de equação 4y = 3z.

Exercı́cio 1.4.28 Como a imagem de α está contida numa superfı́cie esférica centrada na origem, então
( α| α) é constante. Derivando, obtemos ( α| T ) = 0.
1
Derivando novamente, obtemos ( T | T ) + ( α| kN ) = 0, ou seja, ( α| N ) = − .
k
Derivando uma vez mais, obtemos ( T | N ) + ( α| − kT + τ B) = 0, ou seja, τ ( α| B) = 0.
1 1
Se for ( α| B) = 0, então α = ( α| T ) T + ( α| N ) N + ( α| B) B = − N . Derivando, obtemos T = − (kT +
k k
τ
τ B) = −T − B, contradição.
k
Logo τ = 0, pelo que a curva é plana.

Exercı́cio 1.4.29

a) 2 2.
b) T (0) = (1, 0, 0), N (0) = (0, 1, 0), B(0) = (0, 0, 1).
√ √ √ √
c) (x − 2) + 6(y − 3) + 3(z − 2) = 0.

3
d) k(t) = τ (t) = .
(1 + 3t2 )2

Exercı́cio 1.4.30 A curva é plana porque τ (t) = 0, ∀t ∈ [0, π]. A imagem da curva está contida no
plano de equação z = 2x − 1.
ks

Exercı́cio 1.4.31

t
Exercı́cio 1.4.32
a) a = 4.
1
b) τ (t) = √ .
t(2 + t)2

Exercı́cio 1.4.33

a) v(t) = 5 cosh t.
   
2 1 1 2
b) T (0) = √ , 0, √ , N (0) = (0, 1, 0) , B(0) = − √ , 0, √ .
5 5 5 5

45
x − 2 sinh 1 y − cosh 1
c) = = z − 1.
2 cosh 1 sinh 1
2
d) τ (t) = − 6= 0, logo a curva não é plana.
5 cosh2 t

Exercı́cio 1.4.34 v(t0 ) = 17, k(t0 ) = 3, τ (t0 ) = −2.

Exercı́cio 1.4.35
a) x = y + 2z + 3.
     
2 1 1 5 2 1 1 2
b) T (0) = √ , 0, √ , N (0) = √ , √ , √ , B(0) = − √ , √ , √ .
5 5 30 30 30 6 6 6

Exercı́cio 1.4.36

a) A curva α é regular, porque v(t) = 1 + e2t > 0, ∀t ∈ R.
s
1 + 2e2t
b) k(t) = .
(1 + e2t )3
2e2t
c) A curva não é plana, porque τ (t) = 6= 0.
1 + 2e2t
d) x + y − z = 2.

′ 2 2
e) kB (0)k = .
3

Exercı́cio 1.4.37 Tem-se β ′ = α′ − s′α Tα − sα Tα′ = vα Tα − vα Tα − sα vα kα Nα = −sα vα kα Nα .


Logo β = −sα vα kα Nα − sα vα′ kα Nα − sα vα kα′ Nα − sα vα kα Nα′ =
′′ ′

= (s′α vα kα − sα vα′ kα − sα vα kα′ )Nα − sα vα kα (−vα kα Tα + vα τα Bα ).


Como τα = 0, então β ′′ = (s′α vα kα − sα vα′ kα − sα vα kα′ )Nα + sα vα2 kα2 Tα . Portanto,
β ′ ∧ β ′′ = (−sα vα kα Nα ) ∧ ((s′α vα kα − sα vα′ kα − sα vα kα′ )Nα + sα vα2 kα2 Tα ) = s2α vα3 kα3 Bα .
kβ ′ ∧ β ′′ k s2 vα3 kα3 1
Assim, kβ = 3
= α = .
kβ k′ s3α vα3 kα3 sα

Exercı́cio 1.4.38
1
a) α′ (t) = 0 ⇔ = 0 ∧ −2 cos t sin t = 0 (Condição impossı́vel)
cos2 t y
√ ! • •
3 3
b) ± , .
3 4 x

Exercı́cio 1.4.39
√ !

 
2 t
sin( 2t) t
a) β(t) = sin , √ ,√ , t ∈ [0, 2 2π].
2 2 2
√ ! √ !
sin(2t) cos(2t) 2 sin(2t) cos(2t) 2
b) T (t) = √ , √ , , N (t) = (cos(2t), − sin(2t), 0), B(t) = √ , √ ,− .
2 2 2 2 2 2
c) x = 0 ∧ y = z − π.

46
d) τ (t) = −1, ∀t ∈ [0, 2π].
r !
1 1 2
Exercı́cio 1.4.40 A imagem de α está contida numa reta porque T (t) = −√ , √ , − é con-
6 6 3
stante. A imagem de α está contida na reta de equação −2x = 2(y − 1) = −z.

Exercı́cio 1.4.41 Como as retas normais a α e β coincidem, então

β(t) = α(t) + c(t)Nα (t).

Falta mostrar que c(t) é uma função constante. Derivando, tem-se


( β ′ | Nβ ) = ± ( vα Tα + c′ Nα + cNα′ | Nα ), logo ( vβ Tβ | Nβ ) = ±c′ , ou seja, c′ = 0.

Exercı́cio 1.4.42
 
1+t 1+t
a) β(t) = √ cos(log(1 + t)), √ sin(log(1 + t)) , t ∈] − 1, +∞[.
2 2
b) ks (t) = e−t .

Exercı́cio 1.4.43
a) Tem-se x(t)2 + y(t)2 + z(t)2 = 1.
 √
3 2
 −3 cos2 t sin t  ± 4 =0 (C.Imp)
 
= 0 


b) α (t) = 0 ⇔ 3 cos t sin2 t = 0 ⇔ − logo α é regular.
 √
3 cos(2t) = 0  t = π ∨ t = 3π ∨ t = 5π ∨ t = 7π



4 4 4 4
c) B(0) = (0, −1, 0) não é paralelo a B(π/2) = (−1, 0, 0).
d) Como B(t) não é constante, α não é uma curva plana.

Exercı́cio 1.4.44
π
a) α′ = (0, 0), logo a curva não é regular.
2
b) ks (t) = | tan t|.
c) β(t) = (log tan 2t , 0).


Exercı́cio 1.4.45
a) i) T (0) = (0, 1, 0), N (0) = (−1, 0, 0), B(0) = (0, 0, 1);
ii) τ (0) = 0.
iii) z = 0.
b) Como ( α′ (t)| α′′ (t) ∧ α′′′ (t)) = 4t(6 + t2 ) não é a função nula, então α não é uma curva planar.

Exercı́cio 1.4.46 Como as retas normais a α passam pela origem, então α(t) = c(t)N (t), para alguma
função c : I → R.
Logo α′ = c′ N + cN ′ , ou seja, vT = c′ N + c(−vkT + vτ B). Como {T, N, B} é uma base de R3 , então
1
v + cvk = c′ = vτ = 0. Como v 6= 0, tem-se τ = 0 e c = − é constante.
k
Logo a curva é plana e como kαk = c, a sua imagem está sobre uma circunferência centrada na origem, de
raio c.

47
Exercı́cio 1.4.47
!

r     r   r   
2 t t 2 t 2 t t
a) β(t) = cos √ + sin √ , cos √ , cos √ − sin √ , t ∈ [0, 2π].
3 2 2 3 2 3 2 2

b) 2π.
1
c) √ .
2

Exercı́cio 1.4.48
a) α(t) = (cosh t, sinh t, 2 sinh t), t ∈ R.
 
2 1
b) 0, √ , − √ .
5 5

β′ Tα′
Exercı́cio 1.4.49 Tem-se β ′ = α′ − s′α Tα − sα Tα′ = −sα Tα′ , logo Tβ = = − = −Nα .
kβ ′ k kTα′ k


Portanto, Tβ′ = −Nα′ = −(−vα kα Tα + vα τα Bα ) = vα kα Tα , pelo que Nβ = = Tα .
kTβ′ k
Assim, γ = α − sα Tα + sα Nβ = α − sα Tα + sα Tα = α.

48
1.5 O teorema fundamental das curvas
Vimos que uma curva α dá origem a três funções reais diferenciáveis: a velocidade v, a
curvatura k e a torção τ . Vamos em seguida ver que estas funções determinam completamente
a forma da curva. Além disso, veremos que para qualquer escolha destas funções, existe uma
curva com essa velocidade, curvatura e torção.

A noção de ter a mesma forma é dada pelo conceito de isometria, definido a seguir.

Definição 1.5.1 Uma isometria de Rn é uma aplicação f : Rn → Rn tal que kf (y) −


f (x)k = ky − xk, ∀x, y ∈ Rn .

Pode-se mostrar que uma isometria de Rn é a composição f = t ◦ Φ de uma translação


t : Rn → Rn definida por t(x) = x + x0 , com uma isometria vetorial Φ : Rn → Rn , isto é,
uma aplicação linear com determinante det Φ = ±1.

Se α : I → Rn é uma curva e f : Rn → Rn é uma isometria, então β = f ◦ α é também


uma curva. Vamos em seguida analisar como se relacionam a velocidade, a curvatura, a
torção e os triedros de Frenet-Serret de α e β.

Teorema 1.5.2 Se α : I → Rn é uma curva regular com curvatura não nula e β = f ◦ α,


onde f = t ◦ Φ é uma isometria, então verificam-se as igualdades

vβ = vα Tβ = Φ ◦ Tα
kβ = kα Nβ = Φ ◦ Nα
τβ = ±τα Bβ = ±Φ ◦ Bα

onde det Φ = ±1.

Demonstração. Como f é uma aplicação afim, então β ′ = (f ◦ α)′ = Φ ◦ α′ . Analogamente,


obtém-se β ′′ = Φ ◦ α′′ e β ′′′ = Φ ◦ α′′′ .
Então vβ = kβ ′ k = kΦ ◦ α′ k = kα′ k = vα , uma vez que Φ é uma isometria.
β′ Φ ◦ α′ α′
Portanto, Tβ = = = Φ◦ = Φ◦Tα , uma vez que Φ é linear. Como anteriormente,
vβ vα vα
daqui conclui-se que Tβ′ = Φ ◦ Tα′ .
Logo vβ kβ = kTβ′ k = kΦ ◦ Tα′ k = kTα′ k = vα kα , donde

Tβ′ Φ ◦ Tα′ T′
Nβ = = = Φ ◦ α = Φ ◦ Nα .
vβ kβ vα kα vα kα

49
Finalmente, temos Bβ = Tβ ∧ Nβ = (Φ ◦ Tα ) ∧ (Φ ◦ Nα ) = (det Φ)Φ ◦ (Tα ∧ Nα ) = ±Φ ◦ Bα 1 ,
pelo que se conclui que Bβ′ = ±Φ ◦ Bα′ .
Assim, −τβ Nβ = ±Φ ◦ (−τα Nα ) = ±τα (−Nβ ), o que mostra que τβ = ±τα .

O próximo teorema garante que se para duas curvas α e β se verificam as igualdades


anteriores, então existe uma isometria que as relaciona.

Teorema 1.5.3 Sejam α, β : I → Rn duas curvas com curvatura não nula tais que
vβ = vα , kβ = kα e τβ = ±τα . Então existe uma isometria f : R3 → R3 tal que β = f ◦ α.

Demonstração. Seja t0 ∈ I qualquer. Como os triedros de Frenet-Serret de α e β são


bases ortonormadas de R3 , então existe uma isometria f : R3 → R3 tal que f (α(t0 )) = β(t0 ),
φ(Tα (t0 )) = Tβ (t0 ), φ(Nα (t0 )) = Nβ (t0 ) e φ(Bα (t0 )) = ±Bβ (t0 ), com det f = ±1.
Seja γ = f ◦ α. Então Tγ (t0 ) = Tβ (t0 ), Nγ (t0 ) = Nβ (t0 ), Bγ (t0 ) = Bβ (t0 ) e vγ = vβ , kγ = kβ
e τγ = τβ .
Defina-se a função g : I → R por g(t) = ( Tγ (t)| Tβ (t)) + ( Nγ (t)| Nβ (t)) + ( Bγ (t)| Bβ (t)).
Derivando e usando as fórmulas de Frenet-Serret, obtém-se
     
g′ = Tγ′ Tβ + Tγ Tβ′ + Nγ′ Nβ + Nγ Nβ′ + Bγ′ Bβ + Bγ Bβ′ =

= vγ kγ ( Nγ | Tβ ) + vβ kβ ( Tγ | Nβ ) −
− vγ kγ ( Tγ | Nβ ) + vγ τγ ( Bγ | Nβ ) − vβ kβ (Nγ | Tβ ) + vβ τβ ( Nγ | Bβ ) +
− vγ τγ (Nγ | Bβ ) − vβ τβ ( Bγ | Nβ ) =

= 0.
Isto mostra que g é constante, e como g(t0) = (Tγ (t0 )| Tβ (t0 ))+(Nγ (t0 )| Nβ (t0 ))+(Bγ (t0 )| Bβ (t0 )) =
1 + 1 + 1 = 3, então g(t) = 3, ∀t ∈ I.
Portanto Tγ (t) = Tβ (t), Nγ (t) = Nβ (t) e Bγ (t) = Bβ (t), ∀t ∈ I.
Então β ′ = vβ Tβ = vγ Tγ = γ ′ e como β(t0 ) = γ(t0 ), obtém-se β = γ = f ◦ α.

Para curvas planas temos um resultado análogo envolvendo a curvatura com sinal.

Teorema 1.5.4 Sejam α, β : I → R2 duas curvas tais que vβ = vα e ks,β = ks,α. Então
existe uma isometria f : R2 → R2 tal que β = f ◦ α.
1
Seja A3×3 a matriz que representa Φ em relação à base canónica {e1 , e2 , e3 } de R3 .
Como Φ é uma isometria, então A−1 = AT .
AAT ei
    T 
A ei
Temos (ei |Φ(x) ∧ Φ(y)) = (ei |Ax ∧ Ay) = AAT ei |Ax ∧ Ay = det  Ax  = det A  x  =


 T  Ay y
A ei
det(A) det  x  = det(A) AT ei |x ∧ y = det(A) (ei A|x ∧ y) = det(A) (ei |Φ(x ∧ y)). Como i é qual-

y
quer, então Φ(x) ∧ Φ(y) = (det Φ)Φ(x ∧ y).

50
Provemos agora o teorema fundamental das curvas.

Teorema 1.5.5 (Teorema fundamental das curvas) Sejam v : I → R+ , k : I → R+


e τ : I → R três funções suaves. Então existe uma única curva α : I → R3 , a menos de uma
isometria, cuja velocidade é v, cuja curvatura é k e cuja torção τ .

Demonstração. A unicidade foi provada no teorema anterior. Vejamos então a existência.


Dadas as funções v, k e τ , as fórmulas de Frenet-Serret são um sistema de nove equações
diferenciais com nove incógnitas T1 , T2 , T3 , N1 , N2 , N3 , B1 , B2 , B3 :
 ′    
T 0 k 0 T
 N ′  = v  −k 0 τ   N  ,
B′ 0 −τ 0 B

que tem uma solução única, uma vez fixadas as condições iniciais T1 (t0 ) = 1, T2 (t0 ) =
0, T3 (t0 ) = 0, N1 (t0 ) = 0, N2 (t0 ) = 1, N3 (t0 ) = 0, B1 (t0 ) = 0, B2 (t0 ) = 0, B3 (t0 ) = 1. Obtêm-
se assim três funções vetoriais, T, N, B : I → R3 que verificam as fórmulas anteriores e que
formam uma base ortonormada no instante t0 . Para mostrar que {T (t), N(t), B(t)} formam
uma base ortonormada para qualquer instante t, observamos que as funções g1 = ( T | T ),
g2 = ( N| N), g3 = ( B| B), g4 = ( T | N), g5 = ( T | B), g6 = ( N| B) verificam o sistema

g1′ = 2vkg4
g2′ = −2vkg4 + 2vτ g5
g3′ = −2vτ g6
g4′ = vkg2 − vkg1 + vτ g5
g5′ = vkg6 − vτ g4
g6′ = −vkg5 + vτ g3 − vτ g2

com a condição inicial g1 (t0 ) = 1, g2 (t0 ) = 1, g3 (t0 ) = 1, g4 (t0 ) = 0, g5 (t0 ) = 0, g6 (t0 ) = 0.


Como as funções constantes g1 (t) = 1, g2 (t) = 1, g3 (t) = 1, g4 (t) = 0, g5 (t) = 0, g6 (t) = 0
também verificam o mesmo sistema de equações diferenciais, então são iguais às anteriores.
Para encontrar a curva pretendida, basta agora definir α : I → R3 por
Zt
α(t) = v(u)T (u)du.
t0

Para curvas planas existe um resultado análogo.

Teorema 1.5.6 (Teorema fundamental das curvas planas) Sejam v : I → R+ ,


ks : I → R duas funções suaves. Então existe uma única curva α : I → R2 , a menos de uma
isometria, cuja velocidade é v e cuja curvatura com sinal é ks .

51

dθ dt θ′
Demonstração. Como queremos que ks = = = , defina-se
ds ds v
dt
Zt
θ(t) = v(u)ks(u)du,
t0

e considere-se o vetor unitário T (t) = (cos θ(t), sin θ(t)). Então podemos obter a curva
pretendida por  t 
Z Zt
α(t) =  v(u) cos θ(u)du, v(u) sin θ(u)du .
t0 t0

Em muitos casos apenas se consegue determinar as curvas dadas pelos dois teoremas
anteriores através de métodos numéricos, sendo impossı́vel obter uma expressão explı́cita da
curva em termos de funções elementares.

Exercı́cio 1.5.1 Determine uma curva plana tal que v = a e k = b, com a e b constantes.

Exercı́cio 1.5.2 Determine uma curva plana, parametrizada por comprimento de arco,
cuja curvatura é dada por k(t) = 1/t.

Exercı́cio 1.5.3 Determine uma curva α : U → R2 cuja velocidade e curvatura com sinal
são respetivamente
√ −2
v(t) = 1 + 4t2 , ks (t) = .
(1 + 4t2 )3/2

Exercı́cio 1.5.4 Determine uma curva plana, parametrizada por comprimento de arco,
1
cuja curvatura é dada por k(t) = .
1 + t2
Exercı́cio 1.5.5 Determine uma curva α : R → R2 tal que v(t) = t e a curvatura com
sinal é uma constante a não nula.
1
Exercı́cio 1.5.6 Determine uma curva α : R+ → R2 tal que v(t) = t e ks (t) = .
t
Exercı́cio 1.5.7 Indique uma curva plana tal que v(t) = t2 e ks (t) = 3.
1
Exercı́cio 1.5.8 Determine uma curva α : R → R2 tal que v(t) = e ks (t) = 1.
1 + t2

52
 
sin(abt) cos(abt)
Exercı́cio 1.5.1 α(t) = ,− , t ∈ R.
b b
 
t t
Exercı́cio 1.5.2 α(t) = (sin log t − cos log t), (sin log t + cos log t) , t ∈]0, +∞[.
2 2

Exercı́cio 1.5.3 α(t) = (t, −t2 ), t ∈ R.


√ √ 
Exercı́cio 1.5.4 α(t) = log(t + 1 + t2 ), 1 + t2 , t ∈ R.

at2 at2
    
1 1
Exercı́cio 1.5.5 α(t) = sin , − cos , t ∈ R.
a 2 a 2

Exercı́cio 1.5.6 α(t) = (cos t + t sin t, sin t − t cos t), t ∈ R+ .

sin(t3 ) cos(t3 )
 
Exercı́cio 1.5.7 α(t) = ,− , t ∈ R.
3 3
 
t 1
Exercı́cio 1.5.8 α(t) = √ , −√ , t ∈ R.
1 + t2 1 + t2

53
1.6 O hodógrafo
Nesta secção vamos definir uma ferramenta, descrita por Hamilton no século XIX, para
explicar o movimento planetário de uma forma simples.
Definição 1.6.1 Seja α : I → Rn uma curva regular. O hodógrafo de α é a curva
h : I → Rn definida por h(t) = α′ (t).
Como estamos a supor que α′ (t) 6= 0, o hodógrafo de um curva regular é assim uma curva
que não passa pela origem.
Exemplo 1.6.2 O hodógrafo da espiral α: [0, +∞[ → R2 (marcada com
t 7→ (t cos t, t sin t)
um traço fino) é outra espiral h: [0, +∞[ → R2 (marcada
t 7→ (cos t − t sin t, sin t + t cos t)
com um traço grosso).
y

Consideremos então uma curva α : I → R3 que descreve o movimento de um planeta à


volta do Sol. Consideraremos um referencial cuja origem está no Sol e que a única força F
exercida sobre o planeta é a da atração gravitacional em direção ao Sol. Como F = mα′′ ,
conclui-se que α′′ (t) é colinear com α(t), ou seja,
α(t) ∧ α′′ (t) = 0.
d
Como α ∧ α′′ = (α ∧ α′ ), então α(t) ∧ α′ (t) = A, onde A é um vetor constante. Logo α(t)
dt
está contida num plano ortogonal a A.

Então podemos escolher o referencial de modo que α(t) esteja contida no plano xOy,
A = (0, 0, a) e descrever a curva através das coordenadas polares r(t) e θ(t). Tem-se então
α ∧ α′ = A ⇔ (r cos θ, r sin θ, 0) ∧ (r ′ cos θ − rθ′ sin θ, r ′ sin θ + rθ′ cos θ, 0) = (0, 0, a) ⇔
⇔ r2 θ′ = a
Esta igualdade implica a chamada Segunda Lei de Kepler, que afirma que a área varrida
pelo vetor posição de um planeta por unidade de tempo é constante (recorde-se que a área
Rt1
varrida pelo vetor posição entre os instantes t0 e t1 é dada por r 2 (t)θ′ (t)dt).
t0

54
Note-se que a Segunda Lei de Kepler é consequência apenas da colinearidade de α′′ e α e
não da magnitude de α′′ . Para o que se segue, necessitamos agora de utilizar o facto de que
b
kα′′ k = 2 , onde b é uma constante.
r
Teorema 1.6.3 (Teorema de Hamilton) O hodógrafo de α percorre uma circun-
ferência.
b
Demonstração. Seja h : I → R2 o hodógrafo de α. Então h′ = α′′ = − 2 (cos θ, sin θ) =
r
dh
b dh b
− θ′ (cos θ, sin θ), pelo que = dt = − (cos θ, sen θ).
a dθ dθ a
dt
b
Logo h = − (sin θ, − cos θ) + C, onde C é um vetor constante de R2 .
a
Assim, h percorre uma circunferência de centro C e raio b/a.

Consideremos agora um referencial tal que C = (0, c). Então


b
h = α′ = (− sin θ, cos θ + e),
a
com e = ac/b. Logo
b a2
α ∧ α′ = A ⇔ (r cos θ, r sin θ, 0) ∧ (− sin θ, cos θ + e, 0) = (0, 0, a) ⇔ r(1 + e cos θ) = ,
a b
d
ou seja, α percorre uma elipse de equação r = , onde d = a2 /b. Fica assim provada
1 + e cos θ
a Primeira Lei de Kepler, que afirma que a órbita de um planeta é uma cónica.

No caso em que a órbita é uma elipse, então a distância máxima ao Sol é


d d
e a distância mı́nima é .
1−e 1+e
d d
+ d
Assim, o semieixo maior da elipse é u = 1 − e 1 + e = .
2 1 − e2
d sin θ
O semieixo menor da elipse é o valor máximo de y = r sin θ = . Temos y ′ =
1 + e cos θ
cos θ(1 + e cos θ) − sin θ(−e sin θ)
0 ⇔ d = 0 ⇔ e = − cos θ. Logo, o semieixo menor é
√ (1 + e cos θ)2
d 1 − e2 d
v= 2
=√ .
1−e 1 − e2
d d d2
Portanto, a área da elipse é πuv = π √ = π .
1 − e2 1 − e2 (1 − e2 )3/2

55
RT
Sendo T o perı́odo de rotação do planeta, temos, pela Segunda Lei de Kepler, a dt =
0
d2 d2
π , pelo que T = π .
(1 − e2 )3/2 a(1 − e2 )3/2
d4 d π
Finalmente, obtemos T 2 = π 2 2 2 3
= π 2 2 u3 = u3 . Isto prova a Terceira Lei de
a (1 − e ) a b
Kepler, que afirma que o quadrado do perı́odo da órbita de um planeta é proporcional ao
cubo do semieixo maior.

56
1.7 Curvas fechadas
Nesta secção vamos ver outras noções de curvatura para curvas fechadas.

Definição 1.7.1 Uma curva α : [a, b] → Rn diz-se fechada se α(a) coincide com α(b)
bem como todas as derivadas de α nestes pontos.

Rt1
Definição 1.7.2 A curvatura total de uma curva α : [a, b] → R2 é dada por ks (t)v(t)dt.
t0

No caso da curva estar parametrizada por comprimento de arco, a curvatura total é dada
Rt1
simplesmente por ks (t)dt.
t0

Teorema 1.7.3 A curvatura total de uma curva plana fechada é da forma 2nπ, onde n
é um inteiro.
Zt1 Zt1

Demonstração. Tem-se ks (t)v(t)dt = (t)dt = θ(t1 ) − θ(t0 ) = 2nπ, com n ∈ Z, uma
dt
t0 t0
vez que a curva é fechada.

Definição 1.7.4 Ao número n dado pelo teorema anterior chama-se o número de


rotação da curva α.

Zt1
1
O número de rotação de α é assim dado por r(α) = ks (t)v(t)dt e indica o número

t0
de voltas que o hodógrafo de α dá em torno da origem.

Para curvas no espaço podemos definir a curvatura total de forma análoga, integrando
a curvatura k em vez da curvatura com sinal ks . Pode-se provar que esta curvatura total é
no mı́nimo 2π, valor que ocorre exatamente para curvas fechadas no plano; para curvas no
espaço que formam um nó, a curvatura total é sempre superior a 4π.

Definição 1.7.5 Seja α uma curva fechada. A energia de α é o número real


Zt1
E(α) = c(α) k 2 (t)v(t)dt
t0

Rt1
Novamente, para curvas parametrizadas por comprimento de arco, tem-se E(α) = c(α) k 2 (t)dt.
t0

57
Teorema 1.7.6 Se α é uma curva fechada com número de rotação não nulo, então E(α) ≥
2
4π , com igualdade se e só α percorre uma circunferência uma vez.
!2
Rt1 Rt1 Rt1 Rt1
Demonstração. Tem-se E(α) = c(α) k 2 (t)v(t)dt = v(t)dt k 2 (t)v(t)dt ≥ k(t)v(t)dt =
t0 t0 t0 t0
(2πr(α))2 ≥ 4π 2 , pela desigualdade de Cauchy-Schwartz para integrais.
Por outro lado, se E(α) = 4π 2 , então r(α) = ±1. Além disso, tem-se

Zt1  2
2π Rt1 4πk(t)v(t) 4π 2 v(t)
k(t) − v(t)dt = k 2 (t)v(t) − + 2 dt =
c(α) t0 c(α) c (α)
t0
Zt1 Zt1
E(α) 4π 4π 2
= − k(t)v(t)dt + 2 v(t)dt =
c(α) c(α) c (α)
t0 t0
4π 2 8π 2 4π 2
= − + =
c(α) c(α) c(α)
= 0,


o que mostra que k(t) = , ∀t ∈ I. Como a curvatura é constante, α percorre uma
c(α)
circunferência, uma vez.

Exercı́cio 1.7.1 Determine a curvatura total da curva fechada

α : [0, 2π] → R2
t 7→ (cos t + cos(2t), sin t + sin(2t)).
y

Exercı́cio 1.7.2 Esboce a imagem de uma curva plana fechada cuja curvatura total seja
−6π.

Exercı́cio 1.7.3 Considere a curva

α : [0, 2π] → R2
t 7→ (3 cos t, sin(3t)).

58
y

a) Calcule a velocidade de α e indique se a curva é regular.


b) Determine a curvatura com sinal de α e indique se é sempre não nula.
c) Determine a curvatura total de α.

Exercı́cio 1.7.4 Considere as curvas α e β representadas nas figuras seguintes:


y y

x x

a) Determine a curvatura total das curvas α e β.


b) Indique, justificando, qual das curvas tem mais energia.

Exercı́cio 1.7.5 Considere a curva


α : [0, 2π] → R2
t 7→ (cos t, sin(2t)) .

a) Indique uma equação cartesiana da curva α.


b) Mostre que α tem curvatura total nula.

Exercı́cio 1.7.1 4π.

Exercı́cio 1.7.2
y

59
Exercı́cio 1.7.3
q
a) v(t) = 3 cos2 (3t) + sin2 t.
A curva é regular porque o sistema α′ (t) = (0, 0) ⇔ sin t = 0 ∧ cos(3t) = 0 é impossı́vel.
2 cos(2t) − cos(4t)
b) ks (t) = . A curvatura com sinal não é sempre não nula porque nalguns pontos
3(cos2 (3t) + sin2 t)3/2 )
a curva tem orientação positiva e noutros tem orientação negativa.
c) 2π.

Exercı́cio 1.7.4
a) 8π.
b) A curva β tem mais energia, porque é essencialmente a curva α, com mais oscilações.

Exercı́cio 1.7.5
a) 4x4 + y 2 = 4x2 .
b) O número de rotação de α é 0.

60
2

Superfı́cies

No capı́tulo anterior foi definido e estudado o conceito de curva, que é uma aplicação difer-
enciável de um subconjunto de R para R3 . Uma superfı́cie é o conceito análogo em dimensão
2, isto é, onde o domı́nio da aplicação diferenciável é agora um subconjunto de R2 .

2.1 Definição
Definição 2.1.1 Uma carta de um subconjunto S ⊂ R3 é uma aplicação bijetiva φ :
U → V diferenciável, onde U é um aberto de R2 e V é um aberto de S, tal que a matriz
jacobiana de φ,

∂φ1 ∂φ1
 
(t, u) (t, u)
 ∂t ∂u 
 
   
∂φ ∂φ  ∂φ 2 ∂φ 2

Jφ (t, u) = (t, u) (t, u) =  (t, u) (t, u) 
∂t ∂u  ∂t
 ∂u 

 
 ∂φ ∂φ3 
3
(t, u) (t, u)
∂t ∂u
tem caracterı́stica 2 em todos os pontos (t, u) ∈ U.

Alternativamente, podemos exigir apenas que φ : U → S seja injetiva, pois nesse caso
será bijetiva sobre a sua imagem.
A condição de que φ tem caracterı́stica 2 em (t, u) (dizemos que uma aplicação tem
caracterı́stica n num ponto quando a sua jacobiana tem caracterı́stica n nesse ponto) é
equivalente às condições

∂φ ∂φ
• os vetores (t, u) e (t, u) de R3 são linearmente independentes
∂t ∂u
61
∂φ ∂φ
• (t, u) ∧ (t, u) 6= 0
∂t ∂u

Definição 2.1.2 Uma superfı́cie é um subconjuntoSnão vazio S de R3 , munido de um


atlas, isto é, um conjunto {φi : Ui → Vi } de cartas tais Vi = S.
i

Uma superfı́cie é assim um subconjunto de R3 munido de um atlas tal que cada ponto
está no contradomı́nio de uma carta.
Exemplo 2.1.3 A aplicação
φ: R2 → S
(t, u) 7→ (cos(t + u2 ), sin(t + u2 ), t + u2 )
é diferenciável e tem jacobiana
− sin (t + u2 ) −2u sin (t + u2 )
 

Jφ (t, u) =  cos (t + u2 ) 2u cos (t + u2 ) 


1 2u
que caracterı́stica 1 em todos os pontos, logo não é uma carta. De facto, S é a imagem de
uma curva e não corresponde à noção intuitiva de superfı́cie:

x y

Exemplo 2.1.4 A aplicação


φ: R2 → S
(t, u) 7→ (t, u, 0)
é injetiva (e portanto, bijetiva sobre a sua imagem), diferenciável, com jacobiana
 
1 0
Jφ (t, u) =  0 1 
0 0

62
que tem caracterı́stica 2 em todos os pontos, logo é uma carta. O conjunto S = {(x, y, z) ∈
R3 : z = 0} é assim uma superfı́cie.

x y

Exemplo 2.1.5 Seja f : U → R diferenciável. Então a aplicação

φ: U → S
(t, u) 7→ (t, u, f (t, u))

é injetiva, diferenciável, com jacobiana

1 0
 

Jφ (t, u) = 
 0 1 
∂f ∂f

(t, u) (t, u)
∂t ∂u

que tem caracterı́stica 2 em todos os pontos, logo é uma carta. Então o gráfico da função
f (x, y), dado por S = Gf = {(x, y, z) ∈ R3 : (x, y) ∈ U ∧ z = f (x, y)} é uma superfı́cie.
Do mesmo modo se verifica que o gráfico de uma função diferenciável f (y, z), dado por
Gf = {(x, y, z) ∈ R3 : (y, z) ∈ U ∧ x = f (y, z)} e que o gráfico de uma função diferenciável
f (x, z), dado por Gf = {(x, y, z) ∈ R3 : (x, z) ∈ U ∧ y = f (x, z)} são superfı́cies. Na figura
seguinte está representado o gráfico da função f (x, y) = sin(x2 + y 2).

63
z

x y

Em todos os exemplos anteriores, a superfı́cie era definida por uma única carta. No
entanto, isto nem sempre é possı́vel. Por exemplo, uma superfı́cie esférica tem um atlas com
6 cartas dadas no exemplo seguinte.

Exemplo 2.1.6 Seja U = {(t, u) ∈ R2 : t2 + u2 < 1}. Então as aplicações

φ1 : U → √ S φ2 : U → √ S
(t, u) 7→ ( 1 − t − u2 , t, u)
2 (t, u) 7→ (− 1 − t − u2 , t, u)
2

φ3 : U → √ S φ4 : U → √ S
(t, u) 7→ (t, 1 − t2 − u2 , u) (t, u) 7→ (t, − 1 − t2 − u2 , u)

φ5 : U → √ S φ6 : U → √S
(t, u) 7→ (t, u, 1 − t2 − u2 ) (t, u) 7→ (t, u, − 1 − t2 − u2 )

formam um atlas de S = {(x, y, z) ∈ R3 : x2 + y 2 + z 2 = 1}.

64
φ5

z
φ4 φ2

x y
φ1 φ3

φ6

Este atlas não é mı́nimo. De facto, uma superfı́cie esférica tem também um atlas com
apenas duas cartas, definidas como as imagens inversas das projeções estereográficas.
Estas projeções obtém-se através da interseção das retas que unem o ponto (x, y, z) da
superfı́cie esférica e o polo norte (0, 0, 1) (respetivamente o polo sul (0,0,-1)) com o plano
z = −1 (respetivamente o plano z = 1).

Exemplo 2.1.7 As aplicações

φN : R2 → S φS : R2 → S
2 2 −4 2 −u2
4t
(t, u) 7→ ( t2 +u2 +4 , t2 +u2 +4 , tt2 +u
4u
+u2 +4
) (t, u) 7→ ( t2 +u2 +4 , t2 +u2 +4 , t4−t
4t 4u
2 +u2 +4 )

formam um atlas de S = {(x, y, z) ∈ R3 : x2 + y 2 + z 2 = 1}.

65
z

x y

φN

Vimos anteriormente que o gráfico de uma função diferenciável f : U ⊂ R2 → R (nas


variáveis (x, y), (y, z) ou (x, z)) é uma superfı́cie. O teorema seguinte mostra que o recı́proco
também é verdadeiro localmente.

Teorema 2.1.8 Seja S uma superfı́cie e p ∈ S um ponto qualquer. Então existe uma
carta φ : U → V ⊂ S, tal que p ∈ V e φ(t, u) é da forma φ(t, u) = (t, u, f (t, u)), φ(t, u) =
(t, f (t, u), u) ou φ(t, u) = (f (t, u), t, u).

Demonstração. Seja ψ : U1 → V1 uma carta qualquer de S tal que p ∈ V1 . Então


car Jψ (t, u) = 2, logo duas das linhas da matriz
∂ψ1 ∂ψ1
 
(t, u) (t, u)
 ∂t ∂u 
 
 
 ∂ψ2 ∂ψ2


 ∂t (t, u) (t, u) 
 ∂u 

 
 ∂ψ ∂ψ3 
3
(t, u) (t, u)
∂t ∂u
são linearmente independentes, para qualquer (t, u) ∈ U1 . Suponhamos que são as primeiras
duas (a prova é análoga nos outros casos) e defina-se a aplicação

f: U1 → R2
(t, u) 7→ (ψ1 (t, u), ψ2 (t, u)))

66
Como Jf (t, u) é invertı́vel, então, pelo teorema da função inversa, f é localmente invertı́vel,
isto é, existe um aberto U em R2 onde está definida e é diferenciável a aplicação f −1 . Então
a aplicação
φ: U → S
(t, u) 7→ ψ(f −1 (t, u)) = (t, u, ψ3 (f −1 (t, u)))
é uma carta de S, ou seja, S é localmente o gráfico da função ψ3 ◦ f −1 .

Muitas superfı́cies podem ser definidas como uma imagem inversa f −1 (a), onde f : R3 →
R é uma função. Um exemplo simples é a superfı́cie esférica S = {(x, y, z) ∈ R3 : x2 +y 2 +z 2 =
1} = f −1 (1), onde f (x, y, z) = x2 +y 2 +z 2 . O teorema seguinte diz em que condições podemos
garantir que f −1 (a) é de facto uma superfı́cie.

Definição 2.1.9 Seja f : R3 → R diferenciável. O gradiente de f no ponto p = (x, y, z)


é o vetor  
∂f ∂f ∂f
∇f (p) = (p), (p), (p) .
∂x ∂y ∂z

Teorema 2.1.10 Seja f : R3 → R diferenciável e a ∈ R um valor regular de f , isto é,


tal que ∇f (p) 6= 0, ∀p ∈ f −1 (a). Então f −1 (a) é uma superfı́cie.

Demonstração. Como ∇f (p) 6= 0, então uma das suas coordenadas é não nula. Supon-
hamos que é a terceira (a prova é análoga nos outros casos) e defina-se a aplicação

F : R3 → R3
(x, y, z) 7→ (x, y, f (x, y, z))

Então a jacobiana
 
1 0 0
 
 
 0 1 0 
JF (x, y, z) = 



 
 ∂f ∂f ∂f 
(x, y, z) (x, y, z) (x, y, z)
∂x ∂y ∂z

é invertı́vel. Logo, pelo teorema da função inversa, existe um aberto V de R3 onde está
definida e é diferenciável a aplicação F −1 . Então a aplicação

φ: U → S
(t, u) 7→ F −1 (t, u, a)

é uma carta de S (note-se que f (F −1(t, u, a)) = a, logo φ(t, u) ∈ S).

67
Como vimos anteriormente, dado um ponto p numa superfı́cie S, há diversas formas de
definir uma carta em p. Por exemplo, se φ : U → V é uma carta de S, e f : R2 → R2
é um difeomorfismo, isto é, uma aplicação diferenciável com inversa diferenciável, então
φ ◦ f : f −1 (U) → V também é uma carta de S. Suponhamos agora que temos duas cartas φ
e ψ de S no ponto p.

Definição 2.1.11 A aplicação φ−1 ◦ψ chama-se uma função de transição ou reparametrização.

Teorema 2.1.12 Uma função de transição é um difeomorfismo.

Demonstração. Seja π : R3 → R2 uma projeção tal que g = π ◦ φ é localmente um difeo-


morfismo.
S
ψ φ
π

U1 U2 U3
f g

A aplicação f = π ◦ ψ é também diferenciável, logo φ−1 ◦ ψ = g −1 ◦ f é diferenciável.


Do mesmo modo, ψ −1 ◦ φ é diferenciável.

Exercı́cio 2.1.1 Mostre que S = {(x, y, z) ∈ R3 : x2 − y + z 2 = 1} é uma superfı́cie,

a) determinando um atlas de S;

b) sem indicar um atlas de S.

Exercı́cio 2.1.2 Considere o subconjunto S = {(x, y, z) ∈ R3 : z 2 = 0}. Mostre que:

a) 0 não é um valor regular de f (x, y, z) = z 2 ;

b) S é uma superfı́cie.

Exercı́cio 2.1.3 Considere o conjunto S = {(x, y, z) ∈ R3 : z = x2 − y 2 } e a aplicação

φ : R+ × R → S
(u, v) 7→ (u cosh v, u sinh v, u2).

a) Mostre que φ é uma carta de S, mas cuja imagem não é todo o conjunto S.

b) Mostre que S é uma superfı́cie.

68
Exercı́cio 2.1.4 Verifique se as aplicações seguintes são cartas de uma superfı́cie.

a) φ: ]0, 2π[×]0, 2π[ → S


(x, y) 7→ (cos x cos y, cos x sin y, x)

b) ψ: R2 → S
(x, y) 7→ (x + y, x + y, xy)

Exercı́cio 2.1.5 Seja S = {(x, y, z) ∈ R3 : x2 + y 2 + z 2 = 1}. Mostre que a aplicação

φ: R2 →  S
x2 + y 2 − 1

2x 2y
(x, y) 7→ , , .
x2 + y 2 + 1 x2 + y 2 + 1 x2 + y 2 + 1

é uma carta de S.

Exercı́cio 2.1.6 Indique quais das seguintes aplicações são cartas de uma superfı́cie:

a) φ1 : R×]0, 2π[ → S
(x, y) 7→ (x cos y, x, x sin y)

b) φ2 : R × R → S
(x, y) 7→ (sin y, cos y, x)

c) φ3 : R × R → S
(x, y) 7→ (y, x cos y, x sin y)

Exercı́cio 2.1.7 Verifique se

φ: R2 → S
(x, y) 7→ (x , y 3, xy) .
3

é uma carta de uma superfı́cie.

Exercı́cio 2.1.1
a) Seja φ : R2 → S
(x, z) 7→ (x, x2 + z 2 − 1, z).
Temos φ(x1 , z1 ) = φ(x2 , z2 ) ⇔ (x1 , x21 + z12 − 1,z1 ) = (x2 , x22 + z22 − 1, z2 ) ⇔ (x1 , z1 ) = (x2 , z2 ), logo
1 0
φ é injetiva. Além disso, Jφ (x, z) =  2x 2z .
0 1
Logo car Jφ (x, z) = 2 (a 1ª e a 3ª linhas são linearmente independentes), ∀x, z ∈ R2 .
Portanto {φ} é um atlas de S.

69
b) Seja f : R3 → R Temos S = f −1 (1).
(x, y, z) 7→ x2 − y + z 2 .
∇f (x, y, z) = (2x, −1, 2z) 6= 0, ∀(x, y, z) ∈ R3 , logo todos os números reais são valores regulares de f .
Portanto S é uma superfı́cie.

Exercı́cio 2.1.2 Temos ∇f (x, y, z) = (0, 0, 2z).


Como (0, 0, 0) ∈ f −1 (0) e ∇f (0, 0, 0) = 0, então 0 não é valor regular de f .
No entanto, S = {(x, y, z) ∈ R2 : z = 0} é o gráfico de g(x, y) = 0. Logo S é uma superfı́cie.

Exercı́cio 2.1.3
a) A aplicação φ está bem definida porque (u cosh v)2 − (u sinh v)2 = u2 (cosh2 v − sinh2 v) = u2 .
Além disso, φ(u1 , v1 ) = φ(u2 , v2 ) ⇔ (u1 cosh v1 , u1 sinh v1 , u21 ) = (u2 cosh v2 , u2 sinh v2 , u22 ) ⇔ (u1 , v1 ) =
(u2 , v2 ), logo φ é injetiva.
∂φ ∂φ
Tem-se (u, v) = (cosh v, sinh v, 2u) e (u, v) = (u sinh v, u cosh v, 0), logo
∂u ∂v
∂φ ∂φ
∧ (u, v) = (−2u2 cosh v, 2u2 sinh v, u) 6= (0, 0, 0), ∀(u, v) ∈ R+ × R. Portanto, φ é uma carta de
∂u ∂v
S.
A imagem de φ não é todo o conjunto S porque, por exemplo, (0, 0, 0) ∈ S, mas (0, 0, 0) não pertence
à imagem de φ.
b) Como S é o gráfico da função g : R2 → R definida por g(x, y) = x2 − y 2 , então S é uma superfı́cie.

Exercı́cio 2.1.4
π   π
a) Tem-se φ , y = 0, 0, , logo φ não é injetiva. Portanto, φ não é uma carta.
2 2
b) Tem-se ψ(1, 0) = (1, 1, 0) = ψ(0, 1), logo ψ não é injetiva. Portanto, ψ não é uma carta.

Exercı́cio 2.1.5 A aplicação φ está bem definida porque


2  2 2
x + y2 − 1
  
2x 2y
+ + = 1.
x2 + y 2 + 1 x2 + y 2 + 1 x2 + y 2 + 1
Tem-se
 φ(x1 , y1 ) = φ(x2 , y2 ) ⇔ 2
x1 + y12 − 1 x22 + y22 − 1
  
2x1 2y1 2x2 2y2
⇔ , , = , , ⇔
x21 + y12 + 1 x21 + y12 + 1 x21 + y12 + 1 x22 + y22 + 1 x22 + y22 + 1 x22 + y22 + 1
⇔ (x1 , y1 ) =(x2 , y2 ), logo φ é injetiva. Além disso,
2(1 − x2 + y 2 )

∂φ −4xy 4x
(x, y) = 2 2 2
, 2 2 2
, 2 e
∂x  (x + y + 1) (x + y2 + 1)2 (x2 + y 2 + 1)2 
∂φ −4xy 2(1 + x − y ) 4y
(x, y) = , ,2 , logo
∂y (x2 + y 2 + 1)2 (x2 + y 2 + 1)2 (x2 + y 2 + 1)2
2 2

1−x +y −2xy 2x
∂φ ∂φ 4
∧ (x, y) = 2 −2xy 1 + x2 − y 2 2y =
∂x ∂y (x + y 2 + 1)4
e1 e2 e3
4
= 2 (−2t, −2u, 1 − t2 − u2 ) 6= (0, 0, 0), ∀(x, y) ∈ R2 .
(x + y 2 + 1)3
Logo φ é uma carta de S.

Exercı́cio 2.1.6
∂φ
a) Tem-se (0, π) = (0, 0, 0), logo φ não é uma carta.
∂y

70
b) Tem-se φ(0, 0) = φ(0, 2π), logo φ não é injetiva. Portanto, φ não é uma carta.
c) Tem-se φ(x1 , y1 ) = φ(x2 , y2 ) ⇔ (y1 , x1 cos y1 , x1 sin y1 ) = (y2 , x2 cos y2 , x2 sin y2 ) ⇔
⇔ (x1 , y1 ) = (x2 , y2 ), logo φ é injetiva. Além disso,
∂φ ∂φ
(x, y) = (0, cos y, sin y) e (x, y) = (1, −x sin y, x cos y), logo
∂x ∂y
0 cos y sin y
∂φ ∂φ
(x, y) = 1 −x sin y x cos y = (x, sin y, − cos y) 6= (0, 0, 0), ∀(x, y) ∈ R2 .


∂x ∂y e1 e2 e3
Portanto, φ é uma carta de uma superfı́cie.

∂φ
Exercı́cio 2.1.7 Tem-se (0, 0) = (0, 0, 0), logo φ não é uma carta.
∂x

71
2.2 Espaço vetorial tangente
Definição 2.2.1 Seja S uma superfı́cie e α : I → S uma curva tal que α(t0 ) = p.
Dizemos que a velocidade de α no ponto p ∈ S, dada por α′ (t0 ), é um vetor tangente a
S em p (neste contexto admitiremos curvas em que a velocidade se anula). O conjunto de
todos os vetores tangentes a S em p é designado de espaço vetorial tangente a S em p
e representa-se por Tp S. O plano tangente a S em p é o plano πp S, paralelo a Tp S, que
passa por p.
Teorema 2.2.2 O conjunto T p S é um espaçovetorial de dimensão 2 e, dada uma carta
∂φ ∂φ
φ de S em p, uma base de Tp S é (q), (q) , onde φ(q) = p.
∂x ∂y
Demonstração. Seja α : I → S uma curva tal que α(t0 ) = p = φ(q). Então existem
funções diferenciáveis x e y tais que α(t) = φ(x(t), y(t)). Portanto
∂φ ∂φ
α′ (t0 ) = x′ (t0 )
(q) + y ′(t0 ) (q)
∂x ∂y
 
∂φ ∂φ
pertence ao espaço vetorial gerado por (q), (q) .
∂x ∂y
∂φ ∂φ
Por outro lado, se v = a (q) + b (q), considere-se a curva
∂x ∂y
α: I → S
t 7→ φ(q + t(a, b))
onde I é um intervalo contendo 0.
∂φ ∂φ
Então α(0) = φ(q) = p e α′ (0) = a (q) + b (q) = v, ou seja, v é um vetor tangente a S
∂x ∂y
em p.
Quando a superfı́cie é definida como a imagem inversa de um valor regular de f , o espaço
vetorial tangente e o plano tangente a S em p podem ser descritos a partir do gradiente de
f.
Teorema 2.2.3 Seja S = f −1 (a), onde a é um valor regular de f . Então
Tp S = h∇f (p)i⊥ e πp S = {(x, y, z) ∈ R3 : ((x, y, z) − p|∇f (p)) = 0}
∂φ ∂φ
Demonstração. Basta mostrar que ∇f (p) é ortogonal a (q) e a (q), onde φ(q) = p.
∂x ∂y
De facto,
 tem-se que a aplicação
 f ◦ φ é constante (= a), logo 0 = Jf ◦φ (q) = Jf (p).Jφ (q) =
∂φ ∂φ
∇f (p). (q) (q) , pelo que
∂x ∂y
   
∂φ ∂φ
∇f (p) (q) = ∇f (p) (q) = 0.
∂x ∂y

72
Como foi feito para as curvas, também no estudo das superfı́cies é importante considerar
um vetor normal unitário.

Definição 2.2.4 Um vetor normal unitário a S em p é um vetor n(p) ortogonal a


Tp S, com norma 1. A reta normal a S em p é a reta que passa por p e é paralela a n(p).

Em cada ponto p há duas escolhas possı́veis para n(p), que dão origem à mesma reta
normal a S em p.

z
n(p)
p
πp S

Tp S

x y

Se φ é uma carta de S em p, com φ(q) = p, então um vetor normal unitário a S em p é


dado por
∂φ ∂φ
(q) ∧ (q)
∂x ∂y
n(p) =
∂φ
.
(q) ∧ ∂φ (q)

∂x ∂y
Se S = f −1 (a), onde a é um valor regular de f , então um vetor normal unitário a S em
p é dado por
∇f (p)
n(p) = .
k∇f (p)k

Definição 2.2.5 Um campo de vetores normais unitários a S em p é uma aplicação


diferenciável n : S → S2 ⊂ R3 . Se uma superfı́cie S possui um campo de vetores normais
unitários, diz-se que S é orientável.

73
Teorema 2.2.6 Seja S = f −1 (a), onde a é um valor regular de f . Então S é orientável.
Demonstração. Basta considerar o campo de vetores normais unitários definido por n(p) =
∇f (p)
.
k∇f (p)k
Teorema 2.2.7 Uma superfı́cie S é orientável se e só se possui um atlas tal que det Jψ−1 ◦φ (q) >
0 para quaisquer cartas φ : U → V, ψ : U ′ → V ′ e qualquer ponto q ∈ φ−1 (V ∩ V ′ ).
Demonstração.
(⇐) Basta observar que
∂φ ∂φ
(q) ∧ (q)
∂x ∂y
n(p) = ∂φ
(q) ∧ ∂φ (q)

∂x ∂y
onde φ(q) = p, define um campo de vetores normais unitários em S. De facto, a
aplicação n está bem definida, uma vez que, se considerarmos outra carta ψ em p,
∂φ ∂φ ∂ψ ∂ψ ′
então (q) ∧ (q) = det Jψ−1 ◦φ (q) (q ′ ) ∧ (q ), onde ψ(q ′ ) = p1 . Além disso,
∂x ∂y ∂x ∂y
como as cartas são difeomorfismos, a aplicação n é diferenciável.
(⇒) Seja n : S → R3 um campo de vetores normais unitários e consideremos um atlas
qualquer {ψi : Ui → Vi } de S. Então, para cada i, o vetor
∂ψ ∂ψ
(q) ∧ (q)
∂x ∂y
= ±n(p),
∂ψ ∂ψ
(q) ∧ (q)
∂x ∂y
onde ψi (q) = p. Se este vetor for igual a n(p), faça-se φi = ψi . Caso contrário, defina-se
φi = ψi ◦ f , onde f : R2 → R2 é definida por f (x, y) = (y, x). Então, para quaisquer i,
j, tem-se
∂φi ∂φi ∂φj ′ ∂φj ′ ∂φi ∂φi
(q) ∧ (q) (q ) ∧ (q ) (det Jφ−1 ◦φj (q ′ )) (q) ∧ (q)
∂x ∂y = n(p) = ∂x ∂y =
i ∂x ∂y ,
∂φi ∂φi ∂φj ′ ∂φj ′ (det J −1 (q ′ )) ∂φi (q) ∧ ∂φi

∂x (q) ∧ (q) ∂x (q ) ∧ (q ) (q)

φi ◦φj
∂y ∂y ∂x ∂y
   
1 ∂φ ∂φ ∂ψ ′ ∂ψ ′
Tanto (q), (q) como (q ), (q ) são bases de Tp S. A matriz de mudança de base da
∂x ∂x ∂x  ∂x 
a b
primeira para a segunda é Jψ−1 ◦φ (q) = . Então
c d
   
∂φ ∂φ ∂ψ ′ ∂ψ ′ ∂ψ ′ ∂ψ ′ ∂ψ ′ ∂ψ ′ ∂ψ ′ ∂ψ ′
(q)∧ (q) = a (q ) + c (q ) ∧ b (q ) + d (q ) = ad (q )∧ (q )+cb (q )∧ (q ) =
∂x ∂y ∂x ∂y ∂x ∂y ∂x ∂y ∂y ∂x
∂ψ ′ ∂ψ ′ ∂ψ ′ ∂ψ ′
(ad − bc) (q ) ∧ (q ) = det Jψ−1 ◦φ (q) (q ) ∧ (q ).
∂x ∂y ∂x ∂y

74
onde φi (q) = φj (q ′ ) = p. Assim conclui-se que det Jφ−1 ◦φi (q ′ ) > 0, para quaisquer
j
cartas.

Exercı́cio 2.2.1 Determine uma equação cartesiana do plano tangente à superfı́cie esférica
unitária centrada na origem, no ponto (1, 0, 0).

Exercı́cio 2.2.2 Seja S = {(x, y, z) ∈ R3 : (x4 − x2 + y 2 )2 + z 2 = a2 }, o toro duplo


representado na figura seguinte.
z

a) Mostre que S é uma superfı́cie (para um valor de a adequado).

b) Determine uma equação cartesiana do plano tangente a S no ponto (0, 0, a).

c) Indique, justificando, se o toro duplo é orientável.

Exercı́cio 2.2.3 Seja S uma superfı́cie tal que a reta normal a S no ponto p passa pela
origem, para qualquer p ∈ S. Mostre que S está contida numa superfı́cie esférica.
Sugestão: Mostre que se φ : U → V é uma carta de S, então a função f : U → R definida
por f (x, y) = ( φ(x, y)| φ(x, y)) é constante.

Exercı́cio 2.2.4 Determine os pontos da superfı́cie

S = {(x, y, z) ∈ R3 : x2 + y 2 + z 2 − 6y + 4z + 12 = 0}

onde o plano tangente é paralelo ao plano z = 0.

Exercı́cio 2.2.5 Determine um campo de vetores normais unitários das superfı́cies:


a) S = {(x, y, z) ∈ R3 : z = 0}

b) S = {(x, y, z) ∈ R3 : x2 + y 2 + z 2 = 1}

c) S = {(x, y, z) ∈ R3 : x2 + y 2 = 1}

75
Exercı́cio 2.2.6 Considere a aplicação

φ: R2 → S
(t, u) 7→ (t + u, t − u, 4 t u).

x
y

a) Mostre que φ é uma carta de uma superfı́cie S.

b) Determine uma equação cartesiana do plano tangente a S no ponto (2, 0, 4).

Exercı́cio 2.2.7 Mostre que o vetor (2, 1, 3) é tangente ao hiperboloide


S = {(x, y, z) ∈ R : x2 + y 2 = z 2 + 1} no ponto (1, 1, 1).
3

Exercı́cio 2.2.8 Considere o conjunto S = {(x, y, z) ∈ R3 : x2 − y 2 + z 3 − z = c}.

a) Determine os valores de c de modo que S seja uma superfı́cie.

b) Considere agora que c = 0. Determine uma equação cartesiana do plano tangente a S


no ponto (0, 0, 1).

Exercı́cio 2.2.9 Seja S a superfı́cie definida pela carta

φ: R2 → S
(t, u) 7→ (t, t + u, t2 ) .

Determine uma equação cartesiana do plano tangente a S no ponto (2, 3, 4).

Exercı́cio 2.2.10 Considere o toro


n p o
3 2 2 2 2 2
T = (x, y, z) ∈ R : (a − x + y ) + z = b ,

onde a > b > 0.

a) Mostre que T é uma superfı́cie.

b) Indique um vetor tangente e um vetor normal a T no ponto (a, 0, b).

76
Exercı́cio 2.2.11 Mostre que todos os planos tangentes à superfı́cie

S = {(x, y, z) ∈ R3 : xy = z 2 , x > 0, y > 0, z > 0}

passam pela origem.

Exercı́cio 2.2.12 Considere a aplicação

φ : (R+ )2 → R3
(x, y) 7→ (x , xy, y 2) .
2

a) Mostre que φ é uma carta de uma superfı́cie S.

b) Mostre que o vetor (2, 1, 2) não pertence a nenhum espaço vetorial tangente a S.

Exercı́cio 2.2.13 Considere a superfı́cie S = {(x, y, z) ∈ R3 : x2 − y 3 + z 5 = 1}.


Indique um vetor tangente e um vetor normal no ponto (−3, 2, 0).

Exercı́cio 2.2.14 Determine uma equação cartesiana do plano tangente à superfı́cie

S = {(x, y, z) ∈ R3 : 2y(y 2 − 3x2 )(1 − z 2 ) + (x2 + y 2 )2 − (9z 2 − 1)(1 − z 2 ) = 0}

no ponto (0, −1, 0).

Exercı́cio 2.2.1 É o plano de equação x = 1.

Exercı́cio 2.2.2
a) Seja f : R3 → R Temos S = f −1 (a2 ). Então
4 2 2 2 2
(x, y, z) 7→ (x − x + y ) + z . 
 (8x3 − 4x)(x4 − x2 + y 2 ) = 0  ±a(8x3 − 4x) = 0
4 2 2
  
∇f (x, y, z) = 0 4y(x − x + y ) = 0 ±4ay = 0
 
⇔ ⇔ ⇔
(x, y, z) ∈ S 
 2z = 0 
 z = 0
 4 2 2 2 2 2  4
 (x −
 x + y ) + z = a x − x2 + y 2 = ±a
 —
  8x3 − 4x = 0

a = 0 y = 0
 
⇔ ∨ ⇔
 z = 0  z = 0
 4
 2 2  4
 2
x −x +y = 0 x −x = ±a
   √

 — 
 x = 0 
 x = ± 22
a = 0 y = 0 y = 0
  
⇔ ∨ ∨ .

 4 z = 0 
 z = 0 
 z = 0
x − x2 + y 2 = 0 a = 0 a = ± 14
  
1 1
Este sistema é impossı́vel para a 6∈ {0, 4 , − 4 } e, para estes valores de a, S é uma superfı́cie.
b) É o plano de equação z = a.

77
c) Como S = f −1 (a2 ), com a2 valor regular de f , então S é orientável.

Exercı́cio 2.2.3 Sejam


 φ:U →  V uma
 carta de S e f : U → R definida por f (x, y) = ( φ(x, y)| φ(x, y)).
∂f ∂φ ∂f ∂φ
Então =2 φ e =2 φ .
∂x ∂x ∂y ∂y
∂φ ∂φ
Como a reta normal a S no ponto p passa pela origem, para qualquer p ∈ S, então φ é colinear com ∧ .
    ∂x ∂y
∂φ ∂φ
Logo φ = φ = 0, pelo que f é constante.
∂x ∂y
Assim kφ(x, y)k é constante, ou seja, S está contida numa superfı́cie esférica centrada na origem.

Exercı́cio 2.2.4 (0, 3, −1) e (0, 3, −3).

Exercı́cio 2.2.5
a) n: S → S2
(x, y, z) 7→ (0, 0, 1).
b) n: S → S2
(x, y, z) 7→ (x, y, z).
c) n: S → S2
(x, y, z) 7→ (x, y, 0).

Exercı́cio 2.2.6
a) Tem-se
 φ(t1 , u1 ) = φ(t2 , u2 ) ⇔  
 t1 + u 1 = t2 + u 2  u1 = t2 + u 2 − t1  u1 = u2
⇔ t1 − u 1 = t2 − u 2 ⇔ t1 − (t2 + u2 − t1 ) = t2 − u2 ⇔ t1 = t2 ,
t1 u 1 = t2 u 2 t1 u 1 = t2 u 2 —
  
∂φ ∂φ
logo φ é injetiva. Além disso, (t, u) = (1, 1, 4u) e (t, u) = (1, −1, 4t), logo
∂t ∂u
1 1 4u
∂φ ∂φ
(t, u) = 1 −1 4t = (4t + 4u, 4u − 4t, −2) 6= (0, 0, 0), ∀(t, u) ∈ R2 .


∂t ∂u e1 e2 e3
Logo φ é uma carta de S.
b) z = 4x − 4.

Exercı́cio 2.2.7 Seja f : R3 → R Temos S = f −1 (1).


2 2 2
(x, y, z) 7→ x + y − z .
Então ∇(x, y, z) = (2x, 2y, −2z), logo ∇(1, 1, 1) = (2, 2, −2).
Como ( (2, 2, −2)| (2, 1, 3)) = 0 e (2, 2, −2) é um vetor normal a S em (1, 1, 1), então (2, 1, 3) é tangente a S
no ponto (1, 1, 1).

Exercı́cio 2.2.8

a) c 6= ± 2 9 3 .
b) z = 1.

Exercı́cio 2.2.9 z = 4x − 4.

78
Exercı́cio 2.2.10

3 −1 2 ∇f (x, y, z) = 0
a) Seja f : R → p R Temos T = f (b ). Então ⇔
(x, y, z) ∈ T
(x, y, z) 7→ (a − x2 + y 2 )2 + z 2 .
 p
−2(a − x2 + y 2 ) √ 2x 2 = 0 −2b √ 2x 2 = 0
 
x = 0


 x +y 
 x +y 
 2b √ y
−2(a − x2 + y 2 ) √ 2y 2 = 0
 p  
 = 0 
y = 0
⇔ x +y ⇔ x2 +y 2 ⇔
z = 0 z = 0

 2z = 0 
 

a = ±b

 
 p 
a − x2 + y 2
p
(a − x2 + y 2 )2 + z 2 = b2 = ±b

Como a > b > 0, então este sistema é impossı́vel, logo T é uma superfı́cie.
b) Vetor tangente: (1, 0, 0); vetor normal: (0, 0, 1).

Exercı́cio 2.2.11 Seja f : R3 → R Temos S = f −1 (0). Então


2
(x, y, z) 7→ xy − z .
∇f (x, y, z) = (y, x, −2z) 6= (0, 0, 0), ∀x > 0, y > 0, z > 0, logo S é uma superfı́cie.
Então π(x0 ,y0 ,z0 ) S tem equação cartesiana

y0 (x − x0 ) + x0 (y − y0 ) − 2z0 (z − z0 ) = 0.

Como y0 (0 − x0 ) + x0 (0 − y0 ) − 2z0 (0 − z0 ) = −y0 x0 − x0 y0 + 2z02 = −2(x0 y0 − z02 ) = 0, então (0, 0, 0) ∈


π(x0 ,y0 ,z0 ) S.

Exercı́cio 2.2.12
a) Tem-se φ(x1 , y1 ) = φ(x2 , y2 ) ⇔ (x21 , x1 y1 , y12 ) = (x22 , x2 y2 , y22 ) ⇔ (x1 , y1 ) = (x2 , y2 ), logo φ é injetiva.
∂φ ∂φ
Além disso, (x, y) = (2x, y, 0) e (x, y) = (0, x, 2y), logo
∂x ∂y
2x y 0
∂φ ∂φ
(x, y) = 0 x 2y = (2y 2 , −4xy, 2x2 ) 6= (0, 0, 0), ∀(x, y) ∈ (R+ )2 .


∂x ∂y e1 e2 e3
Logo φ é uma carta de uma superfı́cie S.

b) Como (2, 1, 2) (2y 2 , −4xy, 2x2 ) = 4y 2 − 4xy + 4x2 = 4((x − y)2 + xy) > 0, ∀(x, y) ∈ (R+ )2 , então


(2, 1, 2) não é um vetor tangente a S no ponto φ(x, y).

Exercı́cio 2.2.13 Vetor tangente: (2, −1, 0); vetor normal: (−6, −12, 0).

Exercı́cio 2.2.14 y = 0.

79
2.3 Aplicações diferenciáveis
Até este momento falámos de aplicações diferenciáveis entre espaços da forma Rn . Em
seguida definiremos o conceito de aplicações diferenciáveis entre superfı́cies.

Definição 2.3.1 Uma aplicação f : S1 → S2 diz-se diferenciável (ou suave) no ponto


p ∈ S1 se, para quaisquer cartas φ de S1 em p e ψ de S2 em f (p) se tiver que a aplicação
F = ψ −1 ◦ f ◦ φ é diferenciável.

f
S1 S2

φ ψ
−1
ψ ◦f ◦φ
U1 U2

Esta definição não é prática, uma vez que para mostrar que uma dada aplicação f é difer-
enciável em p seria necessário considerar todas as cartas possı́veis em p e em f (p). O próximo
teorema torna a verificação de que uma dada aplicação é diferenciável muito mais simples.

Teorema 2.3.2 Uma aplicação f : S1 → S2 é diferenciável no ponto p ∈ S1 se e só se


existem cartas φ de S1 em p e ψ de S2 em f (p) tais que a aplicação ψ −1 ◦ f ◦ φ é diferenciável.

Demonstração. A primeira implicação é imediata.


Para provar a segunda implicação, consideremos cartas φ de S1 em p e ψ de S2 em f (p) tais
que a aplicação ψ −1 ◦ f ◦ φ é diferenciável. Sejam φ̃ uma carta qualquer de S1 em p e ψ̃ uma
carta qualquer de S2 em f (p).

f
S1 S2
φ̃ ψ̃
φ ψ

U˜1 U1 U2 U˜2
−1 −1 −1
φ ◦ φ̃ ψ ◦f ◦φ ψ̃ ◦ψ

Como as funções de transição φ−1 ◦ φ̃ e ψ̃ −1 ◦ ψ são difeomorfismos, então a aplicação

(ψ̃ −1 ◦ ψ) ◦ (ψ −1 ◦ f ◦ φ) ◦ (φ−1 ◦ φ̃)

é diferenciável. Mas esta aplicação é uma restrição de ψ̃ −1 ◦ f ◦ φ̃ a um aberto que contém


φ̃−1 (p), logo ψ̃ −1 ◦ f ◦ φ̃ é diferenciável em φ̃−1 (p).

80
Definição 2.3.3 O diferencial de uma aplicação diferenciável f : S1 → S2 no ponto
x ∈ S1 é a aplicação

dfx : Tx S1 → Tf (x) S2
v = α′ (t0 ) 7 → dfx (v) = (f ◦ α)′ (t0 )

onde α é uma curva em S1 tal que α(t0 ) = x.

Vimos anteriormente que se φ : U → V for uma carta em S1 tal que φ(q) = x e


∂φ ∂φ
α(t) = φ(x(t), y(t)), então v = α′ (t0 ) = x′ (t0 ) (q) + y ′(t0 ) (q). Do mesmo modo, se
∂x ∂y
ψ : U ′ → V ′ for uma carta em S2 tal que ψ(q̃) = f (x) e f (α(t)) = ψ(x̃(t), ỹ(t)), então
∂ψ ∂ψ
dfx (v) = (f ◦ α)′ (t0 ) = x̃′ (t0 ) (q̃) + ỹ ′ (t0 ) (q̃).
∂x ∂y
−1
Escrevendo F = ψ ◦ f ◦ φ, tem-se (x̃, ỹ) = F (x, y), pelo que

∂F ∂F
(x̃′ , ỹ ′) = x′ + y′ .
∂x ∂y

Portanto dfx (v) não depende da curva α escolhida.


 Além disso
 dfxé linear e a matriz
 que
∂φ ∂φ ∂ψ ∂ψ
representa esta aplicação relativamente às bases (q), (q) e (q̃), q̃) é JF .
∂x ∂y ∂x ∂y

Teorema 2.3.4 Se f : S1 → S2 é diferenciável em x ∈ S1 e g : S2 → S3 é diferenciável


em f (x), então g ◦ f é diferenciável em x e

d(g ◦ f )x = dgf (x) ◦ dfx

Demonstração. Se α é uma curva em S1 tal que α(t0 ) = x e v = α′ (t0 ), então

d(g ◦ f )x (v) = (g ◦ f ◦ α)′ (t0 ) = dgf (x) ((f ◦ α)′ (t0 )) = dgf (x) (dfx (v)).

Exercı́cio 2.3.1 Mostre que a aplicação

f: S2 → S2
(x, y, z) 7→ (−x, −y, −z)

é diferenciável no ponto (0, 0, 1).

81
Exercı́cio 2.3.2 Considere as superfı́cies U = S2 − {(0, 0, −1), (0, 0, 1)} e
3 2 2
C = {(x, y, z) ∈ R : x + y = 1}. Verifique se a aplicação

f: U → C !
x y
(x, y, z) 7→ p ,p ,z .
x2 + y 2 x2 + y 2

é diferenciável no ponto (1, 0, 0).

Exercı́cio 2.3.1 Temos f (0, 0, 1) = (0, 0, −1). Consideremos as aplicações


2 2
φ: U → p S e ψ: U → pS , onde
(x, y) 7→ (x, y, 1 − x2 − y 2 ) (x, y) 7→ (x, y, − 1 − x2 − y 2 )
U = {(x, y) ∈ R2 : x2 + y 2 < 1}. Então φ pé uma carta de S em (0, 0, 1) e p
ψ é uma carta de S em (0, 0, −1).
Como (ψ −1 ◦ f ◦ φ)(x, y) = ψ −1 (f (x, y, 1 − x2 − y 2 )) = ψ −1 (−x, −y, − 1 − x2 − y 2 ) = (−x, −y) é difer-
enciável, então f é diferenciável no ponto (0, 0, 1).

Exercı́cio 2.3.2 Temos f (1, 0, 0) = (1, 0, 0). Consideremos as aplicações


φ: U1 → p U e ψ: U2 → p C , onde
(y, z) 7→ ( 1 − y 2 − z 2 , y, z) (y, z) 7→ ( 1 − y 2 , y, z)
U1 = {(y, z) ∈ R2 : y 2 + z 2 < 1} e U2 = {(y, z) ∈ R2 : y 2 < 1}. Então φ é uma carta de U em (1, 0, 0) e ψ é
uma carta de C em (1, 0, 0). !
p
2 − z2
 
p
2 2
1 − y y y
−1 −1
Como (ψ ◦f ◦φ)(y, z) = ψ (f ( 1 − y − z , y, z)) = ψ −1 √ ,√ ,z = = √ ,z
1 − z2 1 − z2 1 − z2
é diferenciável, então f é diferenciável no ponto (1, 0, 0).

82
2.4 Primeira forma fundamental
Definição 2.4.1 A primeira forma fundamental de S em p é a aplicação bilinear

Ip : Tp S × Tp S → R
(v, w) 7→ (v|w)

Por vezes, define-se a primeira forma fundamental de S em p como sendo a aplicação


quadrática
Ip : Tp S → R
v 7→ (v|v)
Se φ é uma carta de S em p, com φ(q) = p, então quaisquer vetores v e w de Tp S se
∂φ ∂φ
podem escrever como combinação linear de (q) e (q):
∂x ∂y
∂φ ∂φ ∂φ ∂φ
v=a (q) + b (q), w=c (q) + d (q)
∂x ∂y ∂x ∂y
pelo que
 
∂φ ∂φ ∂φ ∂φ
Ip (v, w) = a (q) + b (q) c (q) + d (q) =
∂x ∂y ∂x ∂y
     
∂φ ∂φ ∂φ ∂φ
(q) (q) (q) (q)
  ∂x ∂x ∂x ∂y
  
  c
= a b        d = ,

 ∂φ ∂φ ∂φ ∂φ 
(q) (q) (q) (q)
∂y ∂x ∂y ∂y
 
E(q) F (q)  
  c
a b  
d
F (q) G(q)

onde E, F, G são funções do domı́nio de φ (⊂ R2 ) para R.

A primeira forma fundamental é útil na medição do comprimento de curvas e da área de


uma superfı́cie.

Teorema 2.4.2 Seja φ uma carta de S. O comprimento de uma curva α : I → S tal que
α(t) = φ(x(t), y(t)), entre os instantes t0 e t1 é dado por
Zt1 p
x′ (t)2 E(x(t), y(t)) + 2x′ (t)y ′(t)F (x(t), y(t)) + y ′(t)2 G(x(t), y(t)) dt
t0

83
Demonstração. O comprimento de α entre os instantes t0 e t1 é dado por

Zt1 Zt1 p Zt1 s  


′ ∂φ ′ ∂φ
kα (t)k dt = (α′ (t)|α′ (t)) dt = I x′ (t) (x(t), y(t)) + y (t) (x(t), y(t)) dt =
∂x ∂x
t0 t0 t0

Zt1 p
= x′ (t)2 E(x(t), y(t)) + 2x′ (t)y ′ (t)F (x(t), y(t)) + y ′(t)2 G(x(t), y(t)) dt
t0

Definição 2.4.3 Uma aplicação f : S1 → S2 diz-se uma isometria local no ponto


p ∈ S1 se Ip (v, w) = If (p) (dfp (v), dfp(w)), para quaisquer vetores v, w ∈ Tp S. Se f for uma
isometria local em todos os pontos, dizemos simplesmente que f é uma isometria local.

Seja f : S1 → S2 diferenciável. Sejam φ e ψ cartas em p e f (p), respectivamente, e


F = ψ −1 ◦ f ◦ φ.
 
∂φ ∂φ  
Se as coordenadas de v e w na base , são dadas pelos vectores a b e
  ∂x ∂y
c d , então
 
E φ Fφ
 
 c
 
Ip (v, w) = a b 
d
Fφ Gφ
 
∂ψ ∂ψ
Por outro lado, as coordenadas de dfp (v) e dfp (w) na base , são dadas pelos
  T   T ∂x ∂y
vectores a b .JF e c d .JF e
 
E ψ Fψ
 
 JF c
  T
If (p) (dfp (v), dfp(w)) = a b .JF 
d
Fψ Gψ
Se f é uma isometria local, então, por definição, tem-se

Ip (v, w) = If (p) (dfp (v), dfp (w))


ou seja,
   
Eφ Fφ Eψ Fψ
  = JFT   JF
Fφ Gφ Fψ Gψ

84
Daqui conclui-se que JF tem caracterı́stica 2, e, como f ◦ φ = ψ ◦ F , temos que Jf ◦φ =
Jψ .JF tem caracterı́stica 2, pelo que f ◦ φ é uma carta (no domı́nio adequado).
Considerando então a carta ψ = f ◦ φ, temos F = ψ −1 ◦ f ◦ φ = (f ◦ φ)−1 ◦ f ◦ φ = id,
logo
   
Eφ (q) Fφ (q) Eψ (q) Fψ (q)
 = 
Fφ (q) Gφ (q) Fψ (q) Gψ (q)

Teorema 2.4.4 Se f : S1 → S2 é uma isometria local e α : I → S1 é uma curva, então


α e f ◦ α têm o mesmo comprimento entre os instantes t0 e t1 .

Demonstração. Imediata.

Definição 2.4.5 A área de uma superfı́cie S definida por uma carta φ : U → V é


Z
∂φ ∂φ
∂x ∧ ∂y dx dy

U

Teorema
Z √ 2.4.6 A área de uma superfı́cie S definida por uma carta φ : U → V é dada
por EG − F 2 dx dy.
U

∂φ ∂φ
e , tem-se
Demonstração. Sendo θ o ângulo entre
∂x ∂y
r
√ √ √ 2 √

∂φ ∂φ ∂φ ∂φ
∧ = sin θ = E G 1 − cos2 θ = EG − EG F = EG − F 2 .
∂x ∂y ∂x ∂y EG

Exercı́cio 2.4.1 Determine a primeira forma fundamental das superfı́cies definidas pelas
cartas
a) φ(x, y) = (sin x cos y, sin x sin y, cos x)
b) φ(x, y) = ((a + b cos x) cos y, (a + b cos x) sin y, b sin x)

Exercı́cio 2.4.2 Determine a área de uma superfı́cie esférica de raio R.

Exercı́cio 2.4.3 Considere a aplicação


φ : R+ ×] − π, π[ → S
(u, v) 7→ (sinh u cos v, sinh u sin v, cosh u)

85
a) Mostre que φ é uma carta de uma superfı́cie S.

b) Determine a primeira forma fundamental de S no ponto φ(u, v).

c) Usando a alı́nea anterior, determine o comprimento da curva α(t) = φ(1, t), entre os
instantes t = 0 e t = π/2.

x y
p
Exercı́cio 2.4.4 Sejam S1 = {(x, y, z) ∈ R3 : z = x2 + y 2 > 0} um cone e S2 =
{(x, y, z) ∈ R3 : z = 0} um plano. Verifique se são isometrias locais:

a) a aplicação f : S1 → S2 definida por f (x, y, z) = (x, y, 0).


√ √
 
y y
b) a aplicação f : S1 → S2 definida por f (x cos y, x sin y, x) = x 2 cos √ , x 2 sin √ , 0
2 2

Exercı́cio 2.4.5 Verifique se é uma isometria local a aplicação

f: S1 → S2 !
x y
(x, y, z) 7→ p ,p ,z
x2 + y 2 x2 + y 2

onde S1 = {(x, y, z) ∈ R3 : x2 + y 2 + z 2 = 1, −1 < z < 1} é uma esfera sem os polos e


S2 = {(x, y, z) ∈ R3 : x2 + y 2 = 1} é um cilindro.

Exercı́cio 2.4.6 Sejam S1 a superfı́cie definida pela carta

φ : ]0, 2π[×R+ → S1
(t, u) 7→ (u cos t, u sin t, eu ),

S2 = {(x, y, z) ∈ R3 : z = 0} e f : S1 → S2 a aplicação definida por f (x, y, z) = (x, y, 0).

a) Determine a primeira forma fundamental de φ.

b) Mostre que f é diferenciável.

86
c) Verifique se f é uma isometria local.

Exercı́cio 2.4.7 Considere a aplicação

φ : R+ ×]0, 2π[ →  R3 
−u2
(u, v) 7→ u cos v, u sin v, e .

a) Mostre que φ é uma carta de uma superfı́cie S.

b) Determine a primeira forma fundamental de φ.

c) Usando a alı́nea anterior, calcule o comprimento da curva α(t) = φ(1, t) entre os


instantes t = 0 e t = π.

Exercı́cio 2.4.8 Considere as superfı́cies S = {(x, y, z) ∈ R3 : xyz = 1} e T = {(x, y, z) ∈


R3 : z = xy}.
a) Determine um vetor tangente e um vetor normal à superfı́cie S no ponto (1, 1, 1).

b) Mostre que a aplicação

f: S →  T 
1 1
(x, y, z) 7→ x, , .
xz z
é diferenciável.

c) Verifique se f é uma isometria local.

Exercı́cio 2.4.9 Determine a área da superfı́cie cónica S definida pela carta

φ : ]2, 10[×]0, 2π[ → S


.
(r, t) 7→ (r cos t, r sin t, r) .

Exercı́cio 2.4.10 Sejam S1 = {(x, y, z) ∈ R3 : x2 + y 2 + 4z 2 = 1} e S2 = {(x, y, z) ∈ R3 :


4x2 + 4y 2 + z 2 = 1} os elipsoides
z representados na figura seguinte.
z

x y x y

87
Considere-se a aplicação
f: S1 → S2
(x, y, z) 7→ ( x2 , y2 , 2z).
a) Indique uma carta de S1 no ponto (0, 0, 12 ) e uma carta de S2 no ponto (0, 0, 1).

b) Indique, para o ponto (0, 0, 12 ) de S1 , um vetor normal e um vetor tangente.


c) Mostre que f é diferenciável.
d) Verifique se f é uma isometria local no ponto (0, 0, 21 ).
e) Calcule a área de S1 .

Exercı́cio 2.4.11 Considere a superfı́cie S = {(x, y, z) ∈ R3 : z = xy} e a seguinte carta


de S:
φ: R2 → S
(x, y) 7→ (x − y, x + y, x2 − y 2 ).
Considere ainda a aplicação
f: S → S
(x, y, z) 7→ (x , y 2 , z 2 ) .
2

a) Determine a primeira forma fundamental de φ.


b) Mostre que f é diferenciável.
c) A aplicação f é uma isometria local?

Exercı́cio 2.4.12 Considere as superfı́cies S1 = {(x, y, z) ∈ R3 : 4x2 + 4y 2 = z 2 , z > 0} e


S2 = {(x, y, z) ∈ R3 : x2 + y 2 = z 4 , z > 0}. Indique os pontos onde a aplicação f : S1 → S2
definida por f (t cos u, t sin u, 2t) = (t2 cos u, t2 sin u, t) é uma isometria local.

Exercı́cio 2.4.13 Considere a superfı́cie S definida pela carta

φ : ]0, 2π[×]0, 4[ → S
(u, v) 7→ (2 cos u, 2 sin u, 5v).

a) Determine o comprimento da curva α(t) = φ(2t, t), t ∈]0, π[.


b) Determine a área de S.
c) Indique um campo de vetores normais unitários de S.

Exercı́cio 2.4.14 Considere a superfı́cie S definida pela carta

φ(t, u) = (t, cosh t, t + u), t ∈ (0, 2), u ∈ (0, 3).

88
a) Determine uma equação do plano tangente a S no ponto (1, cosh 1, 3).

b) Determine a área de S.
p
Exercı́cio 2.4.15 Determine a área do cone {(x, y, z) ∈ R3 : z = x2 + y 2 ∧ 0 < z < 1}.

Exercı́cio 2.4.1
a) Iφ(x,y) : Tφ(x,y) S × Tφ(x,y) S →  R 
  1 0  
∂φ ∂φ ∂φ ∂φ   c
a + b ,c +d 7→ a b  
∂x ∂y ∂x ∂y d
0 sin2 x
b) Iφ(x,y) : Tφ(x,y) S × Tφ(x,y)S →  2 R 
  b 0  
∂φ ∂φ ∂φ ∂φ   C
A + B ,C +D 7→ A B  
∂x ∂y ∂x ∂y D
0 (a + b cos x)2

Exercı́cio 2.4.2 4πR2 .

Exercı́cio 2.4.3
a) Tem-se φ(u1 , v1 ) = φ(u2 , v2 ) ⇔
⇔ (sinh u1 cos v1 , sinh u1 sin v1 , cosh u1 ) = (sinh u2 cos v2 , sinh u2 sin v2 , cosh u2 ) ⇔ (u1 , v1 ) = (u2 , v2 ),
logo φ é injetiva. Tem-se
∂φ ∂φ
(u, v) = (cosh u cos v, cosh u sin v, sinh u) e (u, v) = (− sinh u sin v, sinh u cos v, 0), logo
∂u ∂v
∂φ ∂φ
∧ (u, v) = sinh u(− sinh u cos v, − sinh u sin v, cosh u) 6= (0, 0, 0), ∀(u, v) ∈ R+ ×] − π, π[.
∂u ∂v
Portanto, φ é uma carta de S.

b) Iφ(u,v) : Tφ(u,v) S × Tφ(u,v) S →  R 


  cosh(2u) 0  
∂φ ∂φ ∂φ ∂φ   c
a + b ,c +d 7→ a b  
∂u ∂v ∂u ∂v d
0 sinh2 u
π sinh 1
c) .
2

Exercı́cio 2.4.4 Consideremos a carta φ : R+ ×]0, 2π[ → S1 de S1 .


(x, y) 7→ (x cos y, x sin y, x)
∂φ ∂φ
Tem-se (x, y) = (cos y, sin y, 1) e (x, y) = (−x sin y, x cos y, 0), logo
∂x ∂y
Eφ (x, y) = 2, Fφ (x, y) = 0, Gφ (x, y) = x2 .
∂(f ◦ φ)
a) Tem-se (f ◦ φ)(x, y) = (x cos y, x sin y, 0), logo (x, y) = (cos y, sin y, 0), pelo que
∂x
Ef ◦φ (x, y) = 1 6= 2 = Eφ (x, y). Portanto f não é uma isometria local.

89
√ √
 
y y
b) Tem-se (f ◦ φ)(x, y) = x 2 cos √ , x 2 sin √ , 0 , logo
2  2
√ y √
  
∂(f ◦ φ) y ∂(f ◦ φ) y y
(x, y) = 2 cos √ , 2 sin √ , 0 e (x, y) = −x sin √ , x cos √ , 0 , pelo que
∂x 2 2 ∂y 2 2
Ef ◦φ (x, y) = 2 = Eφ (x, y), Ff ◦φ (x, y) = 0 = Fφ (x, y) e Gf ◦φ (x, y) = x2 = Gφ (x, y).
Portanto f é uma isometria local.

Exercı́cio 2.4.5 Consideremos a carta φ : U → p S1 de S1 ,


2 2
(y, z) 7→ ( 1 − y − z , y, z)
onde U = {(y, z) ∈ R2 : y 2 + z 2 < 1}. !
∂φ −y 1 − z2
Tem-se (y, z) = p , 1, 0 , logo Eφ (y, z) = .
∂y 1 − y2 − z 2 1 − y2 − z 2
p !
1 − y2 − z 2 y
Por outro lado, (f ◦ φ)(y, z) = √ ,√ , z , pelo que
1−z 2 1 − z2
!
∂(f ◦ φ) −y 1
(y, z) = p ,√ ,0 .
∂y (1 − z 2 )(1 − y 2 − z 2 ) 1 − z2
1 1 − z2
Logo Ef ◦φ (y, z) = 2 2
6= = Eφ (y, z). Assim, f não é uma isometria local.
1−y −z 1 − y2 − z 2

Exercı́cio 2.4.6
a) Iφ(t,u) : Tφ(t,u) S1 × Tφ(t,u) S1 → R
u2
 
  0  
∂φ ∂φ ∂φ ∂φ   c
a + b ,c +d 7→ a b  
∂t ∂u ∂t ∂u d
0 1 + e2u
b) Consideremos a carta ψ : R2 → S2 de S2 .
(x, y) 7→ (x, y, 0)
Como (ψ −1 ◦ f ◦ φ)(t, u) = ψ −1 (f (u cos t, u sin t, eu )) = ψ −1 (u cos t, u sin t, 0) = (u cos t, u sin t) é
diferenciável, então f é diferenciável.
∂(f ◦ φ)
c) Tem-se (f ◦ φ)(t, u) = (u cos t, u sin t, 0), pelo que (t, u) = (cos t, sin t, 0).
∂u
Logo Gf ◦φ (t, u) = 1 6= 1 + e2u = Gφ (t, u). Assim, f não é uma isometria local.

Exercı́cio 2.4.7
2 2
a) Tem-se φ(u1 , v1 ) = φ(u2 , v2 ) ⇔ (u1 cos v1 , u1 sin v1 , e−u1 ) = (u2 cos v2 , u2 sin v2 , e−u2 ) ⇔ ⇔ (u1 , v1 ) =
(u2 , v2 ), logo φ é injetiva.
∂φ 2 ∂φ
Tem-se (u, v) = (cos v, sin v, −2ue−u ) e (u, v) = (−u sin v, u cos v, 0), logo
∂u ∂v
∂φ ∂φ 2 2
∧ (u, v) = (2u2 e−u cos v, 2u2 e−u sin v, u) 6= (0, 0, 0), ∀(u, v) ∈ R+ ×]0, 2π[.
∂u ∂v
Portanto, φ é uma carta de uma superfı́cie S.
b) Iφ(u,v) : Tφ(u,v) S × Tφ(u,v) S → R
2 −2u2
 

∂φ ∂φ ∂φ ∂φ
 1 + 4u e 0  
  c
a + b ,c +d 7→ a b  
∂u ∂v ∂u ∂v d
0 u2
c) π.

90
Exercı́cio 2.4.8
a) Vetor tangente: (1, 0, −1); vetor normal: (1, 1, 1).
b) Consideremos as cartas φ : (R+ )2 →  S  e ψ: R2 → T .
1 (x, y) 7→ (x, y, xy)
(x, y) 7→ x, y,
   xy
−1 −1 1
Como (ψ ◦ f ◦ φ)(x, y) = ψ f x, y, = ψ −1 (x, y, xy) = (x, y) é diferenciável, então f é
xy
diferenciável.
 
∂φ −1 1
c) Tem-se (x, y) = 1, 0, 2 , logo Eφ (x, y) = 1 + 4 2 .
∂x x y x y
∂(f ◦ φ)
Por outro lado, (f ◦ φ)(x, y) = (x, y, xy), logo (x, y) = (1, 0, y), pelo que
∂x
2
Ef ◦φ (x, y) = 1 + y 6= Eφ (x, y). Portanto, f não é uma isometria local.

Exercı́cio 2.4.9 96 2π.

Exercı́cio 2.4.10
a) φ: U1 →  S  e ψ: U2 →  S2  ,
1
p 1 p
(x, y) →
7 2
x, y, 2 1 − x − y 2 (x, y) 7→ 2
x, y, 1 − 4x − 4y 2

onde U1 = {(x, y) ∈ R2 : x2 + y 2 < 1} e U2 = {(x, y) ∈ R2 : 4x2 + 4y 2 < 1}.


b) Vetor tangente: (1, 0, 0); vetor normal: (0, 0, 1).
  p  x y p  x y 
c) Como (ψ −1 ◦ f ◦ φ)(x, y) = ψ −1 f x, y, 21 1 − x2 − y 2 = ψ −1 , , 1 − x2 − y 2 = , é
2 2 2 2
diferenciável, então f é diferenciável.
d) Tem-se φ(0, 0) = (0, 0, 12 ). !
∂φ −x ∂φ
Então (x, y) =1, 0, p , logo (0, 0) = (1, 0, 0) e Eφ (0, 0) = 1.
∂x 2 1−x −y 2 2 ∂x
!
x y p  ∂(f ◦ φ) 1 −x
Por outro lado, (f ◦ φ)(x, y) = 2 2
, , 1 − x − y , logo (x, y) = , 0, p .
2 2 ∂x 2 1 − x2 − y 2
 
∂(f ◦ φ) 1 1
Portanto, (0, 0) = , 0, 0 , pelo que Ef ◦φ (0, 0) = 6= Eφ (0, 0).
∂x 2 4
Logo f não é uma isometria local no ponto (0, 0, 12 ).
√ !
arcsinh( 3)
e) 2 + √ π.
3

Exercı́cio 2.4.11
a) Iφ(x,y) : Tφ(x,y) S × Tφ(x,y) S → R
2 + 4x2
 
  −4xy  
∂φ ∂φ ∂φ ∂φ   c
a + b ,c +d 7→ a b  
∂x ∂y ∂x ∂y d
−4xy 2 + 4y 2
b) Como (φ−1 ◦f ◦ φ)(x, y) = φ−1 f x − y, x + y, x2 − y 2 = φ−1 (x − y)2 , (x + y)2 , (x2 − y 2 )2 =
 

x2 + y 2 , 2xy é diferenciável, então f é diferenciável.

91
c) Temos (f ◦ φ)(x, y) = (x − y)2 , (x + y)2 , (x2 − y 2 )2 , logo


∂(f ◦ φ)
(x, y) = 2(x − y), 2(x + y), 4x(x2 − y 2 ) .

∂x
Portanto, Ef ◦φ (x, y) = 16x6 − 32x4 y 2 + 8x2 + 16x2 y 4 + 8y 2 6= 2 + 4x2 = Eφ (x, y).
Logo f não é uma isometria local.

Exercı́cio 2.4.12 Pontos da circunferência x2 + y 2 = 1 ∧ z = 2.

Exercı́cio 2.4.13

a) 41π.
b) 80π.
c) n: S →  S2 
x y
(x, y, z) 7→ , ,0 .
2 2

Exercı́cio 2.4.14
a) y = sinh 1(x − 1) + cosh 1.
b) 3 sinh 2.

Exercı́cio 2.4.15 2π.

92
2.5 Segunda forma fundamental
Vimos que quando S é uma superfı́cie orientável, existe uma aplicação diferenciável n : S →
R3 que a cada ponto p faz corresponder um vetor normal unitário n(p). Como n(p) tem norma
1, podemos ver n como uma aplicação n : S → S2 onde S2 = {(x, y, z) ∈ R3 : x2 +y 2 +z 2 = 1}
é a esfera unitária centrada na origem.

Definição 2.5.1 A uma tal aplicação diferenciável n : S → S2 chama-se a aplicação de


Gauss de S.

Note-se que em cada ponto p existem duas escolhas possı́veis para n(p) e, por con-
tinuidade, existem também apenas duas escolhas possı́veis para a aplicação global n (simétricas).

O diferencial de n é uma aplicação dnp : Tp S → Tn(p) S2 . Mas

Tn(p) S2 = {v ∈ R3 : (v|n(p)) = 0} = n(p)⊥ = Tp S,

ou seja, o diferencial de n é uma aplicação dnp : Tp S → Tp S.

Definição 2.5.2 A segunda forma fundamental de S em p é a aplicação bilinear


II : Tp S × Tp S → R
(v, w) 7→ (v|dnp (w))
 
∂φ ∂φ
Se φ : U → V é uma carta de S em p, então Tp S tem como base , . Tem-se
       ∂x ∂y  
∂φ ∂φ ∂φ ∂φ ∂φ ∂(n ◦ φ) ∂φ ∂φ
II , = dnp ∂y = e, do mesmo modo, tem-se II , =
 ∂x ∂y  ∂x ∂x ∂y ∂y ∂x
∂φ ∂(n ◦ φ)
.
∂y ∂x    
∂φ ∂φ
Como n(p) é um vetor normal a S, então n◦φ = n ◦ φ = 0. Derivando
∂x ∂y
estas igualdades, obtém-se

   2     2   
∂ ∂φ ∂ φ ∂φ ∂(n ◦ φ) ∂ φ ∂φ ∂φ
0 = n◦φ = n◦φ + = n ◦ φ + II ,
∂y ∂x ∂x∂y ∂x ∂y ∂x∂y ∂x ∂y
   2     2   
∂ ∂φ ∂ φ ∂φ ∂(n ◦ φ) ∂ φ ∂φ ∂φ
0 = n◦φ = n◦φ + = n ◦ φ + II ,
∂x ∂y ∂y∂x ∂y ∂x ∂y∂x ∂y ∂x
∂2φ ∂2φ
   
∂φ ∂φ ∂φ ∂φ
Como = , então II , = II , . Como II é linear conclui-se
∂y∂x ∂x∂y ∂x ∂y ∂y ∂x
que, para quaisquer v, w ∈ Tp S, se tem II (v, w) = II (w, v), ou seja, II é uma aplicação

93
bilinear simétrica. Isto significa que a segunda forma fundamental de S em p é representada
por uma matriz simétrica  
L M
,
M N
∂φ ∂φ ∂φ ∂φ
ou seja, se v = a (q) + b (q) e w = c (q) + d (q) são dois vetores quaisquer de Tp S,
∂x ∂y ∂x ∂y
onde φ(q) = p, então
  
  L(q) M(q) c
II(v, w) = a b
M(q) N(q) d

onde L, M e N são funções diferenciáveis U → R. Estas funções são dadas por


 
∂φ ∂φ
L = II ,
∂x ∂x
   
∂φ ∂φ ∂φ ∂φ
M = II , = II ,
∂x ∂y ∂y ∂x
 
∂φ ∂φ
N = II , ,
∂y ∂y

ou seja,    2 
∂φ ∂(n ◦ φ) ∂ φ
L = = − n◦φ
∂x ∂x ∂x2
   2 
∂φ ∂(n ◦ φ) ∂ φ
M = = − n◦φ
∂x ∂y ∂x∂y
   2 
∂φ ∂(n ◦ φ) ∂ φ
N = = − n◦φ
∂y ∂y ∂y 2

Teorema 2.5.3 O diferencial da aplicação de Gauss é representado pela matriz


 −1  
E F L M
F G M N
 
∂φ ∂φ
relativamente à base , .
∂x ∂y
 
a b
Demonstração. Seja a matriz que representa dnp : Tp S → Tp S relativamente à
c d

94
 
∂φ ∂φ
base , . Tem-se
∂x ∂y
       
∂φ ∂(n ◦ φ) ∂φ ∂φ ∂φ ∂φ ∂φ ∂φ ∂φ
L= = a +c =a +c = aE + cF
∂x ∂x ∂x ∂x ∂y ∂x ∂x ∂x ∂y
       
∂φ ∂(n ◦ φ) ∂φ ∂φ ∂φ ∂φ ∂φ ∂φ ∂φ
M= = b +d =b +d = bE + dF
 ∂x ∂y   ∂x ∂x ∂y   ∂x ∂x   ∂x ∂y 

∂φ ∂(n ◦ φ) ∂φ ∂φ ∂φ ∂φ ∂φ ∂φ ∂φ
= = a +c =a +c = aF + cG
∂y ∂x ∂y ∂x
∂y ∂y ∂x
∂y ∂y
       
∂φ ∂(n ◦ φ) ∂φ ∂φ ∂φ ∂φ ∂φ ∂φ ∂φ
N= = b +d =b +d = bF + dG.
∂y ∂y ∂y ∂x ∂y ∂y ∂x ∂y ∂y
    
L M E F a b
Logo =
M N F G c d

Definição 2.5.4 Os valores próprios da aplicação dnp : Tp → Tp S chamam-se as cur-


vaturas principais de S em p e os respetivos vetores próprios chamam-se as direções
principais de S em p.

Definição 2.5.5 O produto das curvaturas principais chama-se a curvatura gaussiana


de S em p e denota-se por K(p) e a média das curvaturas principais chama-se a curvatura
média de S em p e denota-se por H(p).

A curvatura gaussiana e a curvatura média podem


 sercalculadas a partir da matriz que
∂φ ∂φ
representa dnp : Tp S → Tp S em relação à base , . De facto o produto dos valores
∂x ∂y
próprios e a soma dos valores próprios podem ser obtidos a partir do determinante e do traço
dessa matriz. Assim, tem-se
 −1  !  −1  !
E F L M 1 E F L M
K = det , H = tr
F G M N 2 F G M N

Definição 2.5.6 O ponto p ∈ S diz-se:

• esférico ou elı́ptico se K(p) > 0;

• hiperbólico se K(p) < 0;

• euclidiano se K(p) = 0;

• parabólico se K(p) = 0 e H(p) 6= 0;

95
• planar se K(p) = 0 e H(p) = 0.

Exercı́cio 2.5.1 Seja S = {(x, y, z) ∈ R3 : z = x3 − 3xy 2 }.

x y

a) Determine a segunda forma fundamental de S no ponto (x, y, z).

b) Indique, justificando, quais são os pontos elı́pticos, hiperbólicos, parabólicos ou planares


de S.

Exercı́cio 2.5.2 Considere a carta de uma superfı́cie dada por

φ: U →  R3
u3 v3

2 2 2 2
(u, v) 7→ u− + uv , v − + vu , u − v .
3 3

Determine no ponto φ(u, v):


a) a primeira forma fundamental de S;

b) a segunda forma fundamental de S;

c) as curvaturas principais de S.

Exercı́cio 2.5.3 Classifique os pontos das superfı́cies definidas por


φ : ] − π/2, π/2[×] − π, π[ → S
a)
(t, u) 7→ (cos t cos u, cos t sin u, sin t) .

96
φ : R×] − π, π[ → S
b)
(t, u) 7→ (cosh t cos u, cosh t sin u, sinh t) .

Exercı́cio 2.5.4 Considere o conjunto S = {(x, y, z) ∈ R3 : z = xy 2 }.


a) Mostre que S é uma superfı́cie.

b) Determine uma equação cartesiana do plano tangente a S no ponto (1, 1, 1).

c) Seja P = {(x, y, z) ∈ R3 : x = 0}. Mostre que a aplicação f : S → P definida por


f (x, y, z) = (0, y, z) é diferenciável.

d) Determine a primeira e a segunda forma fundamental de S.

e) Determine a curvatura gaussiana e a curvatura média de S no ponto (0, 0, 0).

Exercı́cio 2.5.5 Considere a superfı́cie S definida pela carta

φ : R+ × R+ →  S 
1
(x, y) 7→ x, y, .
xy

a) Determine a segunda forma fundamental de φ.

b) Indique os pontos elı́pticos, euclidianos e hiperbólicos de S.

Exercı́cio 2.5.6 Considere uma cartaφ de


 uma superfı́cie,
 cujas formas fundamentais
E F L M
são representadas pelas matrizes e . Mostre que a curvatura média de
F G M N
φ é dada por
GL + EN − 2F M
H= .
2(EG − F 2 )

Exercı́cio 2.5.7 Seja S = {(x, y, z) ∈ R3 : z = f (x)}, onde f : R → R é suave.


Classifique os pontos de S.

Exercı́cio 2.5.8 Seja S uma superfı́cie com curvatura de Gauss K e curvatura média H.
2
Mostre que H ≥ K.

Exercı́cio 2.5.9 Considere a aplicação

φ : ] − 1, 1[×] − 1, 1[ →  R3 
tu + 1 t − u t + u
(t, u) 7→ , , .
tu − 1 tu − 1 tu − 1

a) Mostre que φ é uma carta de uma superfı́cie S.

97
b) Relativamente ao ponto (−1, 0, 0), determine:

i) um vetor tangente e um vetor normal;


ii) a primeira forma fundamental;
iii) se é hiperbólico, euclidiano ou esférico.

Exercı́cio 2.5.1
a) IIφ(x,y) : Tφ(x,y) S × Tφ(x,y) S → R
−6x 6y
 
p p

∂φ ∂φ ∂φ ∂φ



 1 + 9(x2 + y 2 )2 1 + 9(x2 + y 2 )2  
 c

a + b ,c +d 7→ a b 
 
 d
∂x ∂y ∂x ∂y  6y 6x 
p p
1 + 9(x2 + y 2 )2 2
1 + 9(x + y )2 2

b) O ponto (0, 0, 0) é planar e os restantes pontos são hiperbólicos.

Exercı́cio 2.5.2
a) Iφ(u,v) : Tφ(u,v) S × Tφ(u,v) S → R
(1 + u2 + v 2 )2
 
  0  
∂φ ∂φ ∂φ ∂φ   c
a + b ,c +d 7→ a b  
∂u ∂v ∂u ∂v d
0 (1 + u2 + v 2 )2

b) IIφ(u,v) : Tφ(u,v) S × Tφ(u,v) S →  R 


 −2 0
   
∂φ ∂φ ∂φ ∂φ 
 c
a + b ,c +d 7→ a b 
∂u ∂v ∂u ∂v d
0 2
2
c) ± .
(1 + u2 + v 2 )2

Exercı́cio 2.5.3
a) Todos os pontos são esféricos.
b) Todos os pontos são hiperbólicos.

Exercı́cio 2.5.4
a) Como S é o gráfico da função g : R2 → R definida por g(x, y) = xy 2 , então S é uma superfı́cie.
b) x + 2y = z + 2.
c) Consideremos as cartas φ : R2 → S e ψ: R2 → P .
2
(x, y) 7→ (x, y, xy ) (y, z) 7→ (0, y, z)
Como (ψ −1 ◦ f ◦ φ)(x, y) = ψ −1 (f (x, y, xy 2 )) = ψ −1 (0, y, xy 2 ) = (y, xy 2 ) é diferenciável, então f é
diferenciável.

98
d) Iφ(x,y) : Tφ(x,y) S × Tφ(x,y) S → R
1 + y4 2xy 3
 
   
∂φ ∂φ ∂φ ∂φ   c
a + b ,c +d 7→ a b  
∂x ∂y ∂x ∂y d
2xy 3 1 + 4x2 y 2
IIφ(x,y) : Tφ(x,y) S × Tφ(x,y) S → R
−2y
 
0 p

∂φ ∂φ ∂φ ∂φ



 1 + 4x2 y 2 + y 4  
 c

a + b ,c +d 7→ a b  
 d
∂x ∂y ∂x ∂y 
 −2y −2x 
p p
1 + 4x2 y 2 + y 4 2 2
1 + 4x y + y 4

e) K(0, 0, 0) = H(0, 0, 0) = 0.

Exercı́cio 2.5.5
a) IIφ(x,y) : Tφ(x,y) S × Tφ(x,y) S → R
−2y −1
 
p p
2 2 4 4 x2 + y 2 + x4 y 4 
 x x +y +x y
    
∂φ ∂φ ∂φ ∂φ   c
a + b ,c +d 7→ a b 
 
 d
∂x ∂y ∂x ∂y  −1 −2x 
p p
x + y 2 + x4 y 4
2 2 2
y x +y +x y 4 4

b) Todos os pontos são elı́pticos.


 −1  !   
1 E F L M1 G −F L M
Exercı́cio 2.5.6 Tem-se H = tr = tr =
2 F G M N
2(EG − F 2 ) −F E M N
 
1 GL − F M GM − F N GL + EN − 2F M
= tr = .
2(EG − F 2 ) −F L + EM −F M + EN 2(EG − F 2 )

Exercı́cio 2.5.7 O ponto (x, y, f (x)) é parabólico se f ′′ (x) 6= 0 e planar se f ′′ (x) = 0.


 −1  
E F L M
Exercı́cio 2.5.8 Sejam λ1 , λ2 os valores próprios da matriz .
F G M N
λ1 + λ2
Então K = λ1 λ2 e H = . Logo
2 2 2
λ2 + 2λ1 λ2 + λ22 λ2 − 2λ1 λ2 + λ22
 
λ1 + λ2 λ1 − λ2
H2 − K = − λ1 λ2 = 1 − λ1 λ2 = 1 = ≥ 0.
2 4 4 2

Exercı́cio 2.5.9
   
t1 u 1 + 1 t1 − u 1 t1 + u 1 t2 u 2 + 1 t2 − u 2 t2 + u 2
a) Tem-se φ(t1 , u1 ) = φ(t2 , u2 ) ⇔ , , = , , ⇔
t1 u 1 − 1 t1 u 1 − 1 t1 u 1 − 1 t2 u 2 − 1 t2 u 2 − 1 t2 u 2 − 1
⇔ (t1 , u1 ) =(t2 , u2 ), logo φ é injetiva. Além disso,
u2 − 1 1 + u2 1 − t2 1 + t2
  
∂φ 2u ∂φ 2t
(t, u) = − , ,− e (t, u) = − , ,− ,
∂t (tu − 1)2 (tu − 1)2 (tu − 1)2 ∂u (tu − 1)2 (tu − 1)2 (tu − 1)2
logo
−2u u2 − 1 −(1 + u2 )

∂φ ∂φ 1
−2t 1 − t2 −(1 + t2 ) =
2
∧ (t, u) = 4 3
(−1 − tu, u − t, t + u) 6= (0, 0, 0), ∀(t, u) ∈
∂t ∂u (tu − 1)
(tu − 1)

e1 e2 e3
] − 1, 1[2 .
Portanto, φ é uma carta de uma superfı́cie.

99
b) i) Vetor tangente: (0, −1, −1); vetor normal: (1, 0, 0).
ii) I(−1,0,0) : T(−1,0,0) S1 × T(−1,0,0) S1 →  R  .
  2 0  
∂φ ∂φ ∂φ ∂φ  
 c
a + b ,c +d 7→ a b 
∂t ∂u ∂t ∂u d
0 2
iii) Hiperbólico.

100
2.6 Geodésicas
Seja α : I → S uma curva parametrizada por comprimento de arco. Localmente, isto é, no
contradomı́nio de uma carta φ : U → V , a curva α pode ser definida por α(t) = φ(x(t), y(t))
∂φ
onde x e y são funções diferenciáveis. O vetor velocidade α′(t) = x′ (t) (x(t), y(t)) +
∂x
′ ∂φ
y (t) (x(t), y(t)) pertence a Tp S sendo assim ortogonal a n(α(t)). Logo α′ (t), n(α(t)) e
∂y
n(α(t)) ∧ α′ (t) formam uma base ortonormada de R3 .
Como α está parametrizada por comprimento de arco, então. pelo Teorema 1.4.5, α′′ (t)
é ortogonal a α′ (t). Assim, α′′ (t) pertence ao plano gerado por n(α(t)) e n(α(t)) ∧ α′ (t), ou
seja,
α′′ (t) = ( α′′ (t)| n(α(t))) n(α(t)) + ( α′′ (t)| n(α(t)) ∧ α′ (t)) n(α(t)) ∧ α′ (t)
Portanto, a curvatura de α é dada por
2 2
kα′′ (t)k2 = ( α′′ (t)| n(α(t))) + ( α′′ (t)| n(α(t)) ∧ α′ (t))

Definição 2.6.1 As funções

kn (t) = ( α′′ (t)| n(α(t))) e kg (t) = ( α′′ (t)| n(α(t)) ∧ α′ (t))

são chamadas respetivamente de curvatura normal e curvatura geodésica da curva α.

O próximo teorema afirma que a curvatura normal de uma curva parametrizada por
comprimento de arco num ponto apenas depende da velocidade da curva nesse ponto.

Teorema 2.6.2 (Teorema de Meusnier) Se duas curvas α, β : I → S, parametrizadas


por comprimento de arco, são tais que α(t0 ) = β(t0 ) e α′ (t0 ) = β ′ (t0 ), então knα (t0 ) = knβ (t0 ).

Demonstração. Como (α′ |n ◦ α) = 0, então derivando obtém-se

(α′′ |n ◦ α) + (α′ |(n ◦ α)′ ) = 0,

ou seja, (α′′ |n ◦ α) = − (α′ |(n ◦ α)′ ) = −II(α′ , α′ ).


Do mesmo modo, (β ′′ |n ◦ β) = −II(β ′ , β ′), e como α′ (t0 ) = β ′(t0 ), então knα (t0 ) = knβ (t0 ).

Definição 2.6.3 Uma curva α : I → S, parametrizada por comprimento de arco, diz-se


uma geodésica se a sua curvatura geodésica for nula.

Uma curva α é uma geodésica se a sua aceleração α′′ tiver a direção do vetor normal
unitário n, ou seja, se α′′ (t) ∧ n(α(t)) = 0, para qualquer instante t.

101
Vejamos como se podem determinar as geodésicas de uma superfı́cie S a partir de uma
∂φ ∂φ
carta φ : U → V . Tem-se α′ = x′ (x, y) + y ′ (x, y), pelo que
∂x ∂y
 2 2

′′ ′′ ∂φ ′∂ φ
′ ′ ∂ φ
α = x (x, y) + x x 2 (x, y) + y (x, y) +
∂x  ∂x2 ∂x∂y
2

∂φ ′ ′ ∂ φ ′ ∂ φ
y ′′ (x, y) + y x (x, y) + y 2 (x, y)
∂y ∂y∂x ∂y

Para verificar quando é que α′′ tem a 


direção do vetornormal unitário n, é necessário exprimir
∂φ ∂φ
as segundas derivadas de φ na base , , n ◦ φ . Tem-se
∂x ∂y

∂2φ ∂φ ∂φ
2
=a +b + c(n ◦ φ)
∂x ∂x ∂y

para algumas funções diferenciáveis a, b e c. Como n é unitário, então

∂ 2 φ
 
c= n ◦ φ = −L.
∂x2

Os outros dois coeficientes são chamados de sı́mbolos de Christoffel e representam-se por


Γxxx e Γyxx . Assim escrevemos

∂2φ ∂φ ∂φ
2
= Γxxx + Γyxx − L(n ◦ φ)
∂x ∂x ∂y

e, do mesmo modo,
∂2φ ∂φ ∂φ
= Γxxy + Γyxy − M(n ◦ φ)
∂x∂y ∂x ∂y

∂2φ ∂φ ∂φ
= Γxyx + Γyyx − M(n ◦ φ)
∂y∂x ∂x ∂y

∂2φ ∂φ ∂φ
= Γxyy + Γyyy − N(n ◦ φ)
∂y 2 ∂x ∂y

∂2φ ∂2φ
Note-se que, como = , então Γxxy = Γxyx e Γyxy = Γyyx . Podemos agora reescrever
∂x∂y ∂y∂x

102
a expressão que define α′′ , usando os sı́mbolos de Christoffel:
   
′′ ′′ ∂φ x ∂φ y ∂φ
′ 2 ′ ′ x ∂φ y ∂φ
α = x + (x ) Γxx + Γxx − L(n ◦ φ) + x y Γxy + Γxy − M(n ◦ φ) +
∂x ∂x ∂y ∂x ∂y
   
′′ ∂φ ∂φ ∂φ ∂φ ∂φ
y +yx ′ ′
Γxyx + Γyyx − M(n ◦ φ) + (y ) ′ 2
Γxyy + Γyyy − N(n ◦ φ) =
∂y ∂x ∂y ∂x ∂y
  ∂φ
= ′′
x + (x′ )2 Γxxx + 2x′ y ′Γxxy + (y ′)2 Γxyy +
∂x
  ∂φ
+ y ′′ + (x′ )2 Γyxx + 2x′ y ′ Γyxy + (y ′)2 Γyyy −
∂y
 
− (x′ )2 L + 2x′ y ′M + (y ′ )2 N (n ◦ φ)

Então α′′ é colinear com n se e só se


 ′′
 x + (x′ )2 Γxxx + 2x′ y ′Γxxy + (y ′ )2 Γxyy = 0

y ′′ + (x′ )2 Γyxx + 2x′ y ′Γyxy + (y ′ )2 Γyyy = 0


A estas equações chamam-se as equações geodésicas de S. Fixadas as condições iniciais


x(t0 ), y(t0 ), x′ (t0 ) e y ′ (t0 ), este sistema tem uma solução única numa vizinhança de t0 .

Os sı́mbolos de Christoffel podem ser obtidos a partir da primeira forma fundamental.


De facto, tem-se


  2 
∂E ∂ ∂φ ∂φ ∂ φ ∂φ
= =2 = 2 (Γxxx E + Γyxx F )
∂x ∂x ∂x ∂x ∂x2 ∂x
   2 
∂E ∂ ∂φ ∂φ ∂ φ ∂φ
= 2 Γxxy E + Γyxy F

= =2
∂y ∂y ∂x ∂x
∂x∂y ∂x
   2   2 
∂F ∂ ∂φ ∂φ ∂ φ ∂φ ∂φ ∂ φ
= = 2
+ = Γxxx F + Γyxx G + Γxxy E + Γyxy F
∂x ∂x ∂x ∂y
∂x ∂y ∂x ∂x∂y
   2   2 
∂F ∂ ∂φ ∂φ ∂ φ ∂φ ∂φ ∂ φ
= = + = Γxxy F + Γyxy G + Γxyy E + Γyyy F
∂y ∂y ∂x ∂y ∂x∂y ∂y ∂x ∂y 2

103
  2 
∂G ∂ ∂φ ∂φ ∂ φ ∂φ
= 2 Γxxy F + Γyxy G

= =2
∂x ∂x ∂y ∂y
∂x∂y ∂y

   2 
∂G ∂ ∂φ ∂φ ∂ φ ∂φ x y

= = 2 = 2 Γ yy F + Γ yy G
∂y ∂y ∂y ∂y ∂y∂y ∂y
Estas igualdades podem-se escrever na forma
1 ∂E
 

E F

Γxxx
  2 ∂x
=  ,
 
F G Γyxx  ∂F 1 ∂E 

∂x 2 ∂y

1 ∂E
 
 2 ∂y 
Γxxy
  
E F
= ,
 
F G Γyxy

 1 ∂G 
2 ∂x
 ∂F 1 ∂G 

 ∂y 2 ∂x 
Γxyy
  
E F
=  .
 
F G Γyyy  1 ∂G 
2 ∂y
 −1
E F
e multiplicando-as por obtêm-se expressões para os sı́mbolos Γkij em termos de
F G
E, F e G e das suas derivadas.

Exercı́cio 2.6.1 Verifique se a curva

α : [−π/2, π/2] → T
t 7→ (2 + cos t, 0, sin t)

é uma geodésica da região do toro T definida pela carta

φ(u, v) = ((2 + cos u) cos v, (2 + cos u) sin v, sin u), u ∈ (−π, π), v ∈ (−π, π).

Exercı́cio 2.6.2 Considere a curva definida por α(t) = (cos t, sin t, 1), para t ∈ R cuja
imagem está na superfı́cie S = {(x, y, z) ∈ R3 : z = x2 + y 2}.

a) Determine a curvatura normal e a curvatura geodésica de α.

104
b) Indique, justificando, se a curva α é uma geodésica de S.

Exercı́cio 2.6.3 Considere a carta de um toro T dada por

φ : ]0, 2π[×]0, 2π[ → T


(x, y) 7→ ((2 + cos x) cos y, (2 + cos x) sin y, sin x),

a) Encontre um campo de vetores normais unitários n de T .

b) Determine a segunda forma fundamental de φ.

c) Indique os pontos euclidianos de T .

d) Determine os sı́mbolos de Christoffel de T .

Exercı́cio 2.6.4 Considere a superfı́cie S definida pela carta

φ: R2 → R3
(u, v) 7→ (v cos u, v sin u, u) .
 
t
e a curva α(t) = φ √ , 3 .
10
a) Mostre que α está parametrizada por comprimento de arco.

b) Determine a segunda forma fundamental de φ.

c) Verifique se α é uma geodésica de S.

d) Determine as equações geodésicas de S.

Exercı́cio 2.6.5 Considere a superfı́cie S definida pela carta

φ: R2 → S
(x, y) 7→ (x, y, cos x) .

a) Determine a primeira forma fundamental de φ.

b) Determine a segunda forma fundamental de φ.

c) Indique quais são os pontos euclidianos, esféricos e hiperbólicos de S.

d) Calcule os sı́mbolos de Christoffel de φ.

e) Escreva as equações geodésicas da superfı́cie.

105
Exercı́cio 2.6.6 Considere a superfı́cie cilı́ndrica S definida pela carta
φ : ]0, 2π[×R → R3
(u, v) 7→ (cos u, sin u, v) .

a) Determine os sı́mbolos de Christoffel de φ.


b) Escreva as equações geodésicas de S.
c) Determine a expressão geral das geodésicas de S.

Exercı́cio 2.6.7 Determine as geodésicas da superfı́cie definida pela carta


φ : ]0, 2π[×(−1, 1) →  S 
4 cos x − 3y −3 cos x − 4y
(x, y) 7→ , 1 − sin x, .
5 5

Exercı́cio 2.6.8 Considere o conjunto S = {(x, y, sin x + cos y) : x, y ∈ R2 }.


a) Mostre que S é uma superfı́cie.
b) Determine uma equação cartesiana do plano tangente a S no ponto (0, 0, 1).
c) Determine a primeira e a segunda forma fundamental de S.
d) Indique se o ponto (0, 0, 1) é esférico, hiperbólico, parabólico ou planar.
e) Determine os sı́mbolos de Christoffel de S.
f) Escreva as equações geodésicas de S.

Exercı́cio 2.6.9 Seja S o gráfico da função f (x, y)!= sin(x2 + y 2 ) e considere a curva α
r r r r
π 2 π 2
em S dada por α(t) = cos t, sin t, 1 , representada na figura. Determine
2 π 2 π
se α é uma geodésica de S.

106
Exercı́cio 2.6.10 Considere a aplicação
φ : R+ × R+ → R3
(t, u) 7→ (t2 , t3 + u3 , u2 ).

a) Determine a primeira e a segunda forma fundamental de S.


b) Determine a curvatura gaussiana de S.

c) Calcule Γutt .

Exercı́cio 2.6.11 Seja S a superfı́cie definida pela carta


φ : ]0, 2π[×R →  S 
cos u sin u sinh v
(u, v) 7→ , , .
cosh v cosh v cosh v
a) Determine a curvatura gaussiana e a curvatura média de S no ponto φ(u, v).
b) Escreva as equações geodésicas de S.

Exercı́cio 2.6.12 Considere a superfı́cie S definida pela carta


φ : R+ ×]0, 2π[ → R3
1
(t, u) 7→ (t cosh t − sinh t, cos u, sin u).
cosh t
a) Determine a primeira e a segunda forma fundamental de φ.
b) Determine a curvatura gaussiana de S.

c) Calcule Γutu .

Exercı́cio 2.6.13 Considere a carta φ : R2 → S da superfı́cie


(t, u) 7→ (t, u, cos t + cos u).
S.
a) Determine a primeira e a segunda formas fundamentais de φ.

b) Indique um ponto esférico, um ponto hiperbólico, um ponto parabólico e um ponto


planar de S.

c) Determine Γutt .

Exercı́cio 2.6.14 Considere a aplicação


φ : R+ × R → R3
(t, u) 7→ (log t cos u, log t sin u, u).

107
a) Mostre que φ é uma carta de uma superfı́cie S.

b) Determine uma equação do plano tangente a S no ponto (0, 0, 1).

c) Determine a primeira forma fundamental de φ.

d) Calcule a curvatura gaussiana de φ.

e) Escreva as equações geodésicas de φ.

Exercı́cio 2.6.15 Considere a superfı́cie S definida pela carta

φ : ]0, 2π[×]1, +∞[ → R3 !


p
cos x sin x p y 2−1
(x, y) 7→ , , log(y + y 2 − 1) − .
y y y

a) Mostre que a primeira forma fundamental é dada, em relação a φ por


1 1
E(x, y) = , F (x, y) = 0, G(x, y) = .
y2 y2

b) Determine os sı́mbolos de Christoffel de φ.

c) Escreva as equações geodésicas de φ.


 
1
d) Utilizando a alı́nea anterior, verifique se a curva α(t) = φ tan t, é uma geodésica
cos t
de S.

Exercı́cio 2.6.16 Seja φ uma carta


 de uma superfı́cie S tal que a primeira forma fun-
∂φ ∂φ
damental de φ em relação a , é representada por uma matriz diagonal. Mostre
∂x ∂y
que
∂2φ 1 ∂E ∂φ 1 ∂G ∂φ
= + − M(n ◦ φ).
∂x∂y 2E ∂y ∂x 2G ∂x ∂y
Exercı́cio 2.6.17 Considere a aplicação

φ: R2 → R3
(t, u) 7→ (t, u, t2 + u3 ).

a) Mostre que φ é uma carta de uma superfı́cie S.

108
b) Verifique se a aplicação f : S → S definida por f (t, u, t2 + u3 ) = (u, t, u2 + t3 ) é uma
isometria local.

c) Determine um campo de vetores normais unitários de φ.

d) Mostre que S não tem pontos planares.

e) Determine Γtuu .

Exercı́cio 2.6.18 Considere duas superfı́cies S e S ′ , a seguinte carta de S:

φ : {(x, z) ∈ R2 : z > x2 } → √ S
(x, z) 7→ (x, z − x2 , z).

e a aplicação
f: S → S′
(x, y, z) 7→ (cos(πz), xz, y + z 2 ) .
a) Determine a primeira forma fundamental de φ.

b) Usando a alı́nea anterior, determine o comprimento da curva definida por α(t) =


(sin t, cos t, 1), com t ∈ [0, π/4].

c) Determine a curvatura gaussiana de S no ponto (0, 1, 1).

d) Verifique se a aplicação f é uma isometria local no ponto (0, 1, 1).

Exercı́cio 2.6.19 Seja S o plano z = 0 e f : S → T uma isometria local. Usando f ,


determine uma expressão para as geodésicas de T .

Exercı́cio 2.6.1 Tem-se α(t) = φ(t, 0).


∂φ ∂φ
Como (u, v) = (− sin u cos v, − sin u sin v, cos u) e (u, v) = (−(2 + cos u) sin v, (2 + cos u) cos v, 0), então
∂u ∂v
∂φ ∂φ
(t, 0) ∧ (t, 0) = (− sin t, 0, cos t) ∧ (0, 2 + cos t, 0) = (2 + cos t)(− cos t, 0, − sin t). Logo n(α(t)) =
∂u ∂v
(− cos t, 0 − sin t).
Como α′′ (t) = (− cos t, 0, − sin t), então α′′ e n ◦ α são colineares. Portanto, α é uma geodésica.

Exercı́cio 2.6.2
2 1
a) kn (t) = √ kg (t) = √
5 5
b) A curva α não é uma geodésica de S porque kg 6= 0.

Exercı́cio 2.6.3
a) n(φ(x, y)) = (− cos x cos y, − cos x sin y, − sin x)

109
b) IIφ(x,y) : Tφ(x,y) S × Tφ(x,y) S →  R 
  −1 0  
∂φ ∂φ ∂φ ∂φ   c
a + b ,c +d 7→ a b  
∂x ∂y ∂x ∂y d
0 − cos x(2 + cos x)
c) Pontos da forma (cos y, sin y, 1) e (cos y, sin y, −1), y ∈]0, 2π[.
sin x
d) Γxxx = Γyxx = Γxxy = Γyyy = 0, Γyxy = − , Γx = (2 + cos x) sin x
2 + cos x yy

Exercı́cio 2.6.4
   
t t t 3 t 3 t 1
a) Tem-se α(t) = 3 cos √ , 3 sin √ , √ ′
, logo α (t) = − √ sin √ , √ cos √ , √ ,
10 10 10 10 10 10 10 10

pelo que v(t) = kα (t)k = 1.
b) IIφ(u,v) : Tφ(u,v) S × Tφ(u,v) S → R
 −1 
0 √

∂φ ∂φ ∂φ ∂φ

  1 + v2  
 c

a + b ,c +d 7→ a b

∂u ∂v ∂u ∂v  d
 
 −1
√ 0
1 + v2
 
1 1 t t
c) Tem-se n(φ(u, v)) = √ (− sin u, cos u, −v), logo n(α(t)) = √ − sin √ , cos √ , −3 .
 1 + v2  10 10 10
3 t 3 t
Como α (t) = − cos √ , − sin √ , 0 , então α e n ◦ α não são colineares. Logo α não
′′ ′′
10 10 10 10
é uma geodésica de S.
 v
 u′′ + 2u′ v ′
 = 0
1 + v2
d)

v ′′ − v(u′ )2 = 0

Exercı́cio 2.6.5
a) Iφ(x,y) : Tφ(x,y) S × Tφ(x,y) S → R
1 + sin2 x
 
  0  
∂φ ∂φ ∂φ ∂φ   c
a + b ,c +d 7→ a b  
∂x ∂y ∂x ∂y d
0 1
b) IIφ(x,y) : Tφ(x,y) S × Tφ(x,y) S → R
 cos x 
0
   
∂φ ∂φ ∂φ ∂φ   p c
a + b ,c +d 7→ a b  1 + sin2 x 
d
∂x ∂y ∂x ∂y 0 0
c) Todos os pontos de S são euclidianos.
sin x cos x y
d) Γxxx = , Γxx = Γxxy = Γyxy = Γxyy = Γyyy = 0.
1 + sin2 x
 sin x cos x ′ 2
 x′′ +
 (x ) = 0
e) 1 + sin2 x


y ′′ = 0

Exercı́cio 2.6.6

110
a) Γuuu = Γvuu = Γuuv = Γvuv = Γuvv = Γvvv = 0.
 ′′
u = 0
b)
v ′′ = 0
c) α(t) = (cos(at + b), sin(at + b), ct + d).
 
4 cos(at + b) − 3(ct + d) −3 cos(at + b) − 4(ct + d)
Exercı́cio 2.6.7 α(t) = , 1 − sin(at + b),
5 5

Exercı́cio 2.6.8
a) Como S é o gráfico da função f : R2 → R definida por f (x, y) = sin x+cos y, então S é uma superfı́cie.
b) z = x + 1.

c) Seja φ : R2 → S
(x, y) 7→ (x, y, sin x + cos y).
Iφ(x,y) : Tφ(x,y) S × Tφ(x,y) S → R
2
 
  1 + cos x − cos x sin y  
∂φ ∂φ ∂φ ∂φ   c
a + b ,c +d 7→ ab  
∂x ∂y ∂x ∂y d
− cos x sin y 1 + sin2 y
IIφ(x,y) : Tφ(x,y) S × Tφ(x,y) S → R
sin x
 
  0  
∂φ ∂φ ∂φ ∂φ    p1 + cos2 x + sin2 y  c
a + b ,c +d 7→ a b  
cos y

∂x ∂y ∂x ∂y 0 p
 d
1 + cos2 x + sin2 y
d) Parabólico.
− sin x cos x sin x sin y − cos x cos y
e) Γxxx = y
2 , Γxx =
x y x
2 , Γxy = Γxy = 0, Γyy = ,
2
1 + cos x + sin y 2
1 + cos x + sin y 1 + cos2 x + sin2 y
cos y sin y
Γyyy = .
1 + cos2 x + sin2 y
− sin x cos x − cos x cos y

 x′′ + (x′ )2 2 + (y ′)2 = 0
2
1 + cos x + sin y 1 + cos2 x + sin2 y



f)
 sin x sin y ′ 2 cos y sin y
 y ′′ + (x′ )2


2 + (y ) = 0
1 + cos2 x + sin y 1 + cos2 x + sin2 y

Exercı́cio 2.6.9 Seja φ : R2 → S .


2 2
(x, y) 7→ (x, y, sin(x + y )).
r r r r !
π 2 π 2
Tem-se α(t) = φ cos t, sin t .
2 π 2 π
∂φ ∂φ
Como (x, y) = (1, 0, 2x cos(x2 + y 2 )) e (x, y) = (0, 1, 2y cos(x2 + y 2 )), então
∂x r r ! ∂y r r !
r r r r
∂φ π 2 π 2 ∂φ π 2 π 2
cos t, sin t ∧ cos t, sin t = (1, 0, 0) ∧ (0, 1, 0) = (0, 0, 1). Logo
∂x 2 π 2 π ∂v 2 π 2 π
n(α(t)) = (0, 0, 1).

111
r r r r !
′′ 2 2 2 2
Como α (t) = − cos t, − sin t, 0 , então α′′ e n ◦ α não são colineares. Portanto, α não é
π π π π
uma geodésica.

Exercı́cio 2.6.10

a) Iφ(t,u) : Tφ(t,u) S × Tφ(t,u) S → R


t2 (4 + 9t2 ) 9t2 u2
 
   
∂φ ∂φ ∂φ ∂φ   c
a + b ,c +d 7→ a b  
∂t ∂u ∂t ∂u d
9t2 u2 u2 (4 + 9u2 )
IIφ(t,u) : Tφ(t,u) S × Tφ(t,u) S → R
 6t 
  √ 0  
∂φ ∂φ ∂φ ∂φ   4 + 9t2 + 9u2 c
a + b ,c +d 7→ a b 

∂t ∂u ∂t ∂u 6u 
d
0 √
4 + 9t2 + 9u2
9
b) K = .
tu(4 + 9t2 + 9u2 )2
9t
c) Γutt = .
4 + 9t2 + 9u2

Exercı́cio 2.6.11

a) K = H = 1.

 u′′ − 2u′ v ′ tanh v = 0
b)
v + (u′ )2 tanh v − (v ′ )2 tanh v
 ′′
= 0

Exercı́cio 2.6.12

a) Iφ(t,u) : Tφ(t,u) S × Tφ(t,u) S → R


 2 
sinh t
2 0
cosh t
   
∂φ ∂φ ∂φ ∂φ    c
a + b ,c +d 7→ a b 

∂t ∂u ∂t ∂u  d

 1
0
cosh2 t
IIφ(t,u) : Tφ(t,u) S × Tφ(t,u) S → R
sinh t
 

∂φ ∂φ ∂φ ∂φ

2 0 
 c

b  cosh t
 
a + b ,c +d 7→ a sinh t  d
∂t ∂u ∂t ∂u 0 −
cosh2 t
b) K = −1.

c) Γutu = − tanh t.

Exercı́cio 2.6.13

112
a) Iφ(t,u) :  Tφ(t,u) S × Tφ(t,u) S  → R
2
  
∂φ ∂φ ∂φ ∂φ  1 + sin t sin t sin u
 c
a + b ,c +d 7→ a b
∂t ∂u ∂t ∂u sin t sin u 1 + sin2 u d
IIφ(t,u) : Tφ(t,u) S × Tφ(t,u) S → R
 cos t 
  0  
∂φ ∂φ ∂φ ∂φ
p
  1 + sin2 t + sin2 u  c
a + b ,c +d 7→ a b  cos u
∂t ∂u ∂t ∂u d

0 p
1 + sin2 t + sin2 u
 π 
b) (0, 0, 2) é um ponto esférico, (0, π, 0) é um ponto hiperbólico, 0, , 1 é um ponto parabólico e
π π  2
, , 0 é um ponto planar de S.
2 2
cos t cos u
c) Γutt = .
1 + sin2 t + sin2 u

Exercı́cio 2.6.14

a) Tem-se φ(t1 , u1 ) = φ(t2 , u2 ) ⇔ (log t1 cos u1 , log t1 sin u1 , u1 ) = (log t2 cos u2 , log t2 sin u2 , u2 ) ⇔
⇔ (t1 , u1 ) =(t2 , u2 ), logo φ é injetiva. Além disso,
∂φ cos u sin u ∂φ
(t, u) = , ,0 e (t, u) = (− log t sin u, log t cos u, 1), logo
∂t t t ∂u
cos u sin u 0  
∂φ ∂φ 1 sin u cos u log t
∧ (t, u) = − log t sin u log t cos u 1 = ,− , 6= (0, 0, 0), ∀(t, u) ∈ R+ ×
∂t ∂u t e1 e2 e3 t t t
R.
Portanto, φ é uma carta de uma superfı́cie.

b) y = x tan 1.

c) Iφ(t,u) : Tφ(t,u) S × Tφ(t,u) S → R


  " 1 # 
∂φ ∂φ ∂φ ∂φ   0 c
a + b ,c +d 7→ a b t2
∂t ∂u ∂t ∂u 0 1 + log2 t d

1
d) K = − .
(1 + log2 t)2

(t′ )2


 t′′ − − (u′ )2 t log t = 0

 t
e)
 log t
 u′′ + 2t′ u′ = 0


t(1 + log2 t)

Exercı́cio 2.6.15
 
∂φ sin x cos x ∂φ 1  p 
a) Tem-se (x, y) = − , ,0 e (x, y) = 2 − cos x, − sin x, y 2 − 1 .
∂x y y ∂y y
1 1
Logo E(x, y) = 2 , F (x, y) = 0, G(x, y) = 2 .
y y

113
−1  2 
E F y 0 ∂E ∂F ∂G ∂F
b) Tem-se = e = = = = 0,
F G 0 y2 ∂x ∂x ∂x ∂y
∂E ∂G 2
= = − 3 . Logo
∂y ∂y y
0 0
   
Γxxx 2
   
y 0
= =  1 ,
   
Γyxx y2
 1 
0
y3 y
 1   1 
− −
Γxxy 2
   
y 0 y3  y 
=  = ,
 
Γyxy 0 y2  
0 0

0 0
   
Γxyy 2
   
y 0
= 1  = 1 .
   
Γyyy 0 y2
 
− 3 −
y y

2x′ y ′

′′
 x − = 0
y



c)
′ 2 ′ 2
 y ′′ + (x ) − (y )


= 0

y y
1 1 sin t
d) Sendo x(t) = tan t, y(t) = , tem-se x′ (t) = 2
, y ′ (t) = ,
cos t cos t cos2 t
1 + sin2 t
y ′′ (t) = .
cos3 t 2
  2
1 sin t
(x′ )2 (y ′ )2 1 + sin2 t cos2 t cos2 t 2
Logo y ′′ + − = 3
+   −   = 6= 0,
y y cos t 1 1 cos3 t
cos t cos t
logo x e y não satisfazem
 as equações
 geodésicas.
1
Portanto, α(t) = φ tan t, não é uma geodésica de S.
cos t

∂2φ ∂φ ∂φ
Exercı́cio 2.6.16 Tem-se = Γxxy + Γyxy − M (n ◦ φ).
∂x∂y ∂x ∂y
1 ∂E
 
Γxxy
   x 
 −1  2 ∂y    Γxy
E F E F
Tem-se  =  e, como é diagonal, então F = 0. Logo,  =
 
F G F G

Γyxy Γyxy
 1 ∂G 
2 ∂x
1 ∂E 1 ∂E
   
 −1  2 ∂y   2E ∂y 
E 0
= . Portanto,
   
0 G

 1 ∂G   1 ∂E 
2 ∂x 2G ∂x
∂2φ 1 ∂E ∂φ 1 ∂G ∂φ
= + − M (n ◦ φ).
∂x∂y 2E ∂y ∂x 2G ∂x ∂y

114
Exercı́cio 2.6.17
a) Tem-se φ(t1 , u1 ) = φ(t2 , u2 ) ⇔ (t1 , u1 , t21 + u31 ) = (t2 , u2 , t22 + u32 ) ⇔
⇔ (t1 , u1 ) = (t2 , u2 ), logo φ é injetiva. Além disso,
∂φ ∂φ
(t, u) = 0, 1, 3u2 , logo

(t, u) = (1, 0, 2t) e
∂t ∂u
1 0 2t
∂φ ∂φ
(t, u) = 0 1 3u2 = −2t, −3u2, 1 6= (0, 0, 0), ∀(t, u) ∈ R2 .


∂t ∂u e e e
1 2 3
Portanto, φ é uma carta de uma superfı́cie.
b) Como Eφ (t, u) = 1 + 4t2 e Ef ◦φ (t, u) = 1 + 9t4 são diferentes, então f não é uma isometria local.
−3u2
 
−2t 1
c) (n ◦ φ)(t, u)) = √ ,√ ,√ .
4t2 + 9u4 + 1 4t2 + 9u4 + 1 4t2 + 9u4 + 1
1
d) Tem-se K(t, u) = 0 ⇔ 12u = 0 ⇔ u = 0. Mas H(t, 0) = − 6= 0, logo S não tem pontos
(1 + 4t2 )3/2
planares.
12tu
e) Γtuu = .
4t2 + 9u4 + 1

Exercı́cio 2.6.18
a) Iφ(x,z) : Tφ(x,z) S × Tφ(x,z) S → R
 z x 

  z − x2 2(z − x2 )  
∂φ ∂φ ∂φ ∂φ    c
a + b ,c +d 7→ a b

∂x ∂z ∂x ∂z 1 + 4(z − x2 )  d
 
 x

2(z − x2 ) 4(z − x2 )
b) π/4.
4
c) .
25
5 25
d) Fφ (0, 1) = 6= = Ff ◦φ (0, 1), logo f não é uma isometria local no ponto (0, 1, 1).
4 4

Exercı́cio 2.6.19 As geodésicas são γ : S → T com a, b, c, d ∈ R.


t 7→ f (at + b, ct + d, 0).

115
2.7 O Teorema Egregium de Gauss

Nestas duas últimas secções veremos dois importantes teoremas sobre a curvatura gaussiana.
O primeiro afirma que a curvatura gaussiana não é alterada por isometrias locais, ou seja,
apenas depende da primeira forma fundamental da superfı́cie. Gauss apelidou este teorema
de egrégio (notável), uma vez que a curvatura gaussiana K é definida a partir da primeira e
da segunda formas fundamentais, e a segunda forma fundamental não se obtém a partir da
primeira (isto é, existem superfı́cies com a mesma primeira forma fundamental mas segundas
formas fundamentais diferentes). Por outras palavras, embora L, M e N não se possam obter
a partir de E, F e G, o determinante LN − M 2 pode.

Teorema 2.7.1 (Teorema Egregium de Gauss) Se f : S1 → S2 é uma isometria


local, então a curvatura gaussiana em p e f (p) coincide, para qualquer p ∈ S1 .

Demonstração. Queremos mostrar que K apenas depende da primeira forma fundamental,


ou seja, das funções E, F e G. Como

 
L M
−1  ! det
M N

E F L M
K = det =
F G M N
 
E F
det
F G

basta mostrar que LN − M 2 se pode escrever em termos de E, F e G. Ora

∂2φ
∂ 2 φ
 
    2  2   
∂ ∂ ∂ φ ∂ φ ∂φ
− n ◦ φ (n ◦ φ) − − n ◦ φ (n ◦ φ) =
∂x ∂y 2
∂y 2 ∂y ∂x∂y ∂x∂y ∂x
 3  2   2 
∂ φ ∂ ∂ φ ∂ φ ∂
= 2
− 2
n ◦ φ (n ◦ φ) − 2
n◦φ (n ◦ φ)−
∂x∂y ∂x ∂y ∂y ∂x

∂3φ
 2   2  
∂ ∂ φ ∂ φ ∂ ∂φ
− + n ◦ φ (n ◦ φ) + n◦φ (n ◦ φ) =
∂y∂x∂y ∂y ∂x∂y ∂x∂y ∂y ∂x
 2    2  
∂ φ ∂ ∂φ ∂ φ ∂ ∂φ
= − n◦φ (n ◦ φ)
+ n◦φ (n ◦ φ) = NL − M 2
∂y 2 ∂x ∂x ∂x∂y ∂y ∂x

116
∂3φ ∂3φ
 
∂φ
uma vez que = e n ◦ φ
= 0. Por outro lado,
∂x∂y 2 ∂y∂x∂y ∂x
∂2φ
 2 
∂ φ
− n ◦ φ (n ◦ φ) =
∂y 2 ∂y 2
   
∂φ ∂φ x ∂φ y ∂φ
Γyyy

= Γxyy + − N(n ◦ φ) − Γyy + Γyy − N(n ◦ φ) n ◦ φ (n ◦ φ) =

∂x ∂y ∂x ∂y
 
x ∂φ y ∂φ
= Γyy + Γyy − N(n ◦ φ) + N(n ◦ φ) =
∂x ∂y

∂φ ∂φ
= Γxyy + Γyyy
∂x ∂y
e, do mesmo modo,
∂2φ ∂ 2 φ
 
∂φ ∂φ
− n ◦ φ (n ◦ φ) = Γxxy + Γyxy .
∂x∂y ∂x∂y ∂x ∂y
Assim, tem-se
     
∂ ∂φ ∂φ ∂ x ∂φ y ∂φ
∂φ
LN − M 2
= Γxyy + Γyyy − Γxy + Γxy =
∂x ∂x ∂y ∂y ∂x ∂y ∂x

∂Γxyy ∂φ ∂ 2 φ ∂Γyyy ∂φ ∂2φ



= + Γxyy 2 + + Γyyy −
∂x ∂x ∂x ∂x ∂y ∂x∂y

∂Γxxy ∂φ 2 ∂Γyxy ∂φ 2

x ∂ φ y ∂ φ ∂φ

− − Γxy − − Γxy 2 =
∂y ∂x ∂x∂y ∂y ∂y ∂y ∂x

∂Γxyy ∂φ ∂φ ∂Γyyy ∂φ ∂φ
   2     2 
x ∂ φ ∂φ y ∂ φ ∂φ
= + Γyy + + Γyy −
∂x ∂x ∂x ∂x2 ∂x ∂x ∂y ∂x ∂x∂y ∂x

∂Γxxy ∂φ ∂φ ∂Γyxy ∂φ ∂φ
   2     2 
x ∂ φ ∂φ y ∂ φ ∂φ
− − Γxy − − Γxy =
∂y ∂x ∂x ∂x∂y ∂x ∂y ∂y ∂x ∂y 2 ∂x

∂Γxyy x x y
∂Γyyy
= E + Γyy (Γxx E + Γxx F ) + F + Γyyy (Γxxy E + Γyxy F )−
∂x ∂x
∂Γxxy x x y
∂Γyxy
− E − Γxy (Γxy E + Γxy F ) − F − Γyxy (Γxyy E + Γyyy F ),
∂y ∂y
expressão que, como vimos, se pode escrever em termos de E, F e G e das suas derivadas.

117
Exercı́cio 2.7.1 Considere a superfı́cie S1 definida pela carta

φ : (−1, 1) × (0, 2π) → S1


(x, y) 7→ (cosh x cos y, cosh x sin y, x).

a) Determine a primeira forma fundamental de φ.

b) Calcule a área de S1 .

c) Mostre que a aplicação

f: S1 → S2
(cosh x cos y, cosh x sin y, x) 7→ (cos y, sin y, x).

não é uma isometria local.

d) Existe alguma isometria local de S1 para S2 ?

Exercı́cio 2.7.2

a) Determine a curvatura gaussiana de uma superfı́cie esférica Sr , de raio r, no ponto


(x, y, z).

b) Mostre que não existe nenhuma isometria local f : Sr → P , onde P é o plano de


equação z = 0.

Exercı́cio 2.7.3 Considere as superfı́cies S1 e S2 definidas pelas cartas φ(x, y) = (x, y, 0)


e ψ(x, y) = (cos x, sin x, y). Compare:

a) a primeira forma fundamental de S1 e S2 ;

b) a segunda forma fundamental de S1 e S2 .

Exercı́cio 2.7.4 Sejam S1 e S2 as superfı́cies definidas pelas cartas φ(x, y) = (y cos x, y sin x, log y)
e ψ(x, y) = (y cos x, y sin x, x).

a) Verifique se f : S1 → S2 definida por f (y cos x, y sin x, log y) = (y cos x, y sin x, x) é


uma isometria local.

b) Calcule as curvaturas gaussianas de S1 e S2 em φ(x, y) e ψ(x, y).

Exercı́cio 2.7.5 Considere o paraboloide S1 = {(x, y, z) ∈ R3 : y = x2 + z 2 }, o cilindro


parabólico S2 = {(x, y, z) ∈ R3 : y = x2 } e a aplicação

f: S1 → S2
(x, y, z) 7→ (x, x2 , z) .

118
a) Determine a primeira forma fundamental de S1 .

b) Mostre que f é diferenciável.

c) Mostre que todos os pontos de S2 são parabólicos.

d) Escreva as equações geodésicas de S2 .

e) Mostre que não existe nenhuma isometria local f : S1 → S2 .

Exercı́cio 2.7.6 Seja φ uma carta de uma superfı́cie tal que F = 0 e, para quaisquer
x0 , y0, as curvas α(t) = φ(x0 , t) e β(t) = φ(t, y0) são geodésicas. Mostre que a superfı́cie é
euclidiana.

Exercı́cio 2.7.7 Considere a superfı́cie S definida pela carta

φ(u, v) = (u + v, u − v, uv), u, v ∈ R.

a) Determine um vetor normal no ponto (3, −1, 2).

b) Determine a segunda forma fundamental de φ.

c) Justifique que não existe uma isometria local f : S → P , onde P = {(x, y, z) ∈ R3 :


z = 0}.

d) Determine Γuuv .

Exercı́cio 2.7.8 Sejam f, g : R → R3 duas funções suaves. Considere a superfı́cie S


definida pela carta φ(u, v) = f (u) + vg(u).
Mostre que o ponto φ(u, v) é euclidiano se e só se f ′ (u), g(u) e g ′ (u) são complanares.

Exercı́cio 2.7.9
Considere a superfı́cie S = {(x, y, z) ∈ R3 : z 2 = x2 + y 2 − 1}.

a) Mostre que

φ : R×] − π, π[ → R3
(t, u) 7→ (cosh t cos u, cosh t sin u, sinh t) .

é uma carta de S no ponto (1, 0, 0).

b) Indique um ponto onde o vetor (1, 0, 1) é tangente à superfı́cie.

c) Determine a segunda forma fundamental de S.

d) Calcule a curvatura gaussiana de S em (1, 0, 0)

119
e) Mostre que não existe nenhuma isometria local de S para um superfı́cie esférica.

Exercı́cio 2.7.1
a) Iφ(x,y) : Tφ(x,y) S × Tφ(x,y) S → R
cosh2 x
 
  0  
∂φ ∂φ ∂φ ∂φ   c
a + b ,c +d 7→ a b  
∂x ∂y ∂x ∂y d
0 cosh2 x
b) 2π(sinh 1 + cosh 1).
c) Tem-se Ef ◦φ (x, y) = 1 6= Eφ (x, y), logo f não é uma isometria local.
1
d) A curvatura de S1 é KS1 (x, y)) = − < 0 e a curvatura de S2 é KS2 (x, y) = 0, ∀(x, y). Logo,
cosh4 x
pelo Teorema Egregium de Gauss, não existe nenhuma isometria local de S1 para S2 .

Exercı́cio 2.7.2
1
a) K = 2 .
r
b) Como KSr (x, y) > 0 e KP (x, y) = 0, ∀(x, y), então, pelo Teorema Egregium de Gauss, não existe
nenhuma isometria local f : Sr → P .

Exercı́cio 2.7.3
a) São iguais.
b) São diferentes.
Nota: Este exercı́cio mostra que a segunda forma fundamental não pode ser obtida a partir da primeira.

Exercı́cio 2.7.4
∂φ
a) Tem-se (x, y) = (cos x, sin x, 1/y), logo Gφ (x, y) = 1 + y12 .
∂y
∂(f ◦ φ)
Por outro lado, (x, y) = (cos x, sin x, 0), pelo que Gf ◦φ (x, y) = 1 6= Gφ (x, y).
∂y
Logo f não é uma isometria local.
1
b) KS1 = KS2 = − .
(1 + y 2 )2

Nota: Este exercı́cio mostra que o recı́proco do Teorema Egregium de Gauss não é verdadeiro.

Exercı́cio 2.7.5
a) Considerando a carta φ : R2 → S1 temos
(x, z) 7→ (x, x2 + z 2 , z)
Iφ(x,z) : Tφ(x,z) S × Tφ(x,z) S → R
2
 
  1 + 4x 4xz  
∂φ ∂φ ∂φ ∂φ   c
a + b ,c +d 7→ a b  
∂x ∂z ∂x ∂z d
4xz 1 + 4z 2

120
b) Consideremos a carta de S2 , ψ : R2 → S2
(x, z) 7→ (x, x2 , z)
Como (ψ −1 ◦ f ◦ φ)(x, z) = ψ −1 (f (x, x2 + z 2 , z)) = ψ −1 (x, x2 , z) = (x, z) é diferenciável, então f é
diferenciável.
1
c) Tem-se K = 0 e H = 6= 0, logo todos os pontos de S2 são parabólicos.
(1 + 4x2 )3/2
4x

 x′′ + (x′ )2
 = 0
d) 1 + 4x2

y ′′ = 0

4
e) Tem-se KS1 = > 0 e KS2 = 0, logo, pelo Teorema Egregium de Gauss, não existe
(1 + 4x2 + y 2 )2
nenhuma isometria local f : S1 → S2 .

Exercı́cio  2.7.6 Como α(t) = φ(x0 , t) é uma geodésica, então x(t) = x0 , y(t) = t satisfazem as equações
 x′′ + (x′ )2 Γxxx + 2x′ y ′ Γxxy + (y ′ )2 Γxyy = 0
geodésicas
y + (x′ )2 Γyxx + 2x′ y ′ Γyxy + (y ′ )2 Γyyy = 0
 ′′
 x
 Γyy = 0
Como x′ = 0, x′′ = 0, y ′ = 1, y ′′ = 0, então obtemos
 y
Γyy = 0 
 Γxxx = 0
Como β(t) = φ(t, y0 ) é uma geodésica, então obtemos analogamente
 y
Γxx = 0
1 ∂E ∂F 1 ∂E ∂F 1 ∂G 1 ∂G
Logo temos = − = − = = 0.
2 ∂x ∂x 2 ∂y ∂y 2 ∂x 2 ∂y
∂E ∂E ∂G ∂G
Como F = 0, obtemos = = = = 0, pelo que também Γxxy = Γyxy = 0.
∂x ∂y ∂x ∂y
∂Γxyy ∂Γyyy
Como todos os sı́mbolos de Christoffel são nulos, então LN − M 2 = E + Γxyy (Γxxx E + Γyxx F ) + F+
x y
∂x ∂x
∂Γxy ∂Γxy
Γyyy (Γxxy E + Γyxy F ) − E − Γxxy (Γxxy E + Γyxy F ) − F − Γyxy (Γxyy E + Γyyy F ) = 0, ou seja, a superfı́cie
∂y ∂y
é euclidiana.

Exercı́cio 2.7.7
a) (3, 1, −2).
b) IIφ(u,v) : Tφ(u,v) S × Tφ(u,v) S →  R r 
2
0

∂φ ∂φ ∂φ ∂φ



 2 + u2 + v 2  
 c

a + b ,c +d 7→ a b  
 d
∂u ∂v ∂u ∂v  r
 2 
0
2 + u2 + v 2
1
c) Tem-se KS = − < 0 e KP = 0, logo, pelo Teorema Egregium de Gauss, não existe
(2 + t2 + u2 )2
nenhuma isometria local f : S → P .
v
d) Γuuv = .
2 + u2 + v 2

121
∂φ ∂φ
Exercı́cio 2.7.8 Tem-se = f ′ (u) + vg ′ (u) e = g(u), logo
∂u ∂v
2 2 2
∂ φ ∂ φ ∂ φ
= f ′′ (u) + vg ′′ (u), = g ′ (u) e = 0. Portanto N = 0.
∂u2 ∂u∂v ∂v 2  2 
∂ φ
Assim, φ(u, v) é euclidiano se e só se K = 0 ⇔ LN − M 2 = 0 ⇔ M = 0 ⇔ n ◦ φ = 0 ⇔
  ∂u∂v
∂φ ∂φ
g ′ (u) ∧ = 0 ⇔ ( g ′ (u)| (f ′ (u) + vg ′ (u)) ∧ g(u)) = 0 ⇔ ( g ′ (u)| f ′ (u) ∧ g(u)) = 0 ⇔ f ′ (u), g(u) e
∂u ∂v
g ′ (u) são complanares.

Exercı́cio 2.7.9
a) Tem-se φ(t1 , u1 ) = φ(t2 , u2 ) ⇔
⇔ (cosh t1 cos u1 , cosh t1 sin u1 , sinh t1 ) = (cosh t2 cos u2 , cosh t2 sin u2 , sinh t2 ) ⇔
 cos u1 = cos u2
⇔ sin u1 = sin u2 ⇔ (t1 , u1 ) = (t2 , u2 ), logo φ é injectiva. Além disso,
t1 = t2

∂φ ∂φ
(t, u) = (sinh t cos u, sinh t sin u, cosh t) e (t, u) = cosh t (− sin u, cos u, 0), logo
∂t ∂u
sinh t cos u sinh t sin u cosh t
∂φ ∂φ
∧ (t, u) = cosh t − sin u cos u 0 =
∂t ∂u e1 e2 e3
= cosh t (− cosh t cos u, − cosh t sin u, sinh t) 6= (0, 0, 0), ∀(t, u) ∈ R×] − π, π[.
Como (cosh t cos u)2 + (cosh t sin u)2 − 1 = cosh2 t − 1 = sinh2 t, então φ(t, u) ∈ S. Uma vez que
φ(0, 0) = (1, 0, 0), então φ é uma carta de S no ponto (1, 0, 0).
 
∂φ ∂φ
b) (1, 0, 1) é tangente a S no ponto φ(t, u) ⇔ (1, 0, 1) ∧ (t, u) = 0 ⇔
∂t ∂u
sinh t cos u sinh t sin u cosh t

⇔ cosh t − sin u cos u 0 ⇔ cosh t (− cosh t cos u + sinh t) = 0 ⇔
1 0 1
⇔ cos u = tanh t. Esta condição é verificada, por exemplo, no ponto φ(t, u) = φ(0, π/2) = (0, 1, 0).
∂φ ∂φ
∧ (t, u) (− cosh t cos u, − cosh t sin u, sinh t)
c) n(φ(t, u)) = ∂t ∂u = =
∂φ ∂φ k (− cosh t cos u, − cosh t sin u, sinh t) k
∂t ∧ ∂u (t, u)

(− cosh t cos u, − cosh t sin u, sinh t)


= p
cosh2 t + sinh2 t
2
∂ φ
(t, u) = (cosh t cos u, cosh t sin u, sinh t)
∂t2
2
∂ φ
(t, u) = sinh t (− sin u, cos u, 0)
∂t∂u
2
∂ φ
(t, u) = cosh t (− cos u, − sin u, 0)
∂u2  2 
∂ φ 1
L(t, u) = − (t, u) (n ◦ φ)(t, u) = p

∂t2 cosh t + sinh2 t
2
 2 
∂ φ
M (t, u) = − (t, u) (n ◦ φ)(t, u) = 0
∂t∂u
cosh2 t
 2 
∂ φ
N (t, u) = − (t, u) (n ◦ φ)(t, u) = −
∂u2
p
cosh2 t + sinh2 t

122
Logo tem-se
IIφ(t,u) :  Tφ(t,u) S × Tφ(t,u) S  → R   
∂φ ∂φ ∂φ ∂φ 1   1 0 c
a + b ,c +d 7→ a b
0 − cosh2 t d
p
∂t ∂u ∂t ∂u cosh2 t + sinh2 t
∂φ ∂φ
d) φ(0, 0) = (1, 0, 0). (0, 0) = (0, 0, 1) e (0, 9) = (0, 1, 0), logo E(0, 0) = 1, F (0, 0) = 0, G(0, 0) = 1.
∂t ∂u
Além disso, L(0, 0) = 1, M (0, 0) = 0, N (0, 0) = −1.
1 × (−1) − 02
Logo K(0, 0) = = −1.
1 × 1 − 02
1
e) Uma superfı́cie esférica de raio r tem curvatura gaussiana 2 > 0. Como a curvatura gaussiana de S
r
é sempre negativa, então pelo teorema Egregium de Gauss, não existe nenhuma isometria local de S
para um superfı́cie esférica.

123
2.8 O Teorema de Gauss-Bonnet
Na secção anterior vimos que uma isometria local não altera a curvatura gaussiana. O
teorema desta secção afirma que a curvatura gaussiana total (ou seja, o integral da curvatura
gaussiana) não é alterada mesmo que a superfı́cie seja deformada! Por exemplo, uma esfera
e um elipsoide têm a mesma curvatura total - as regiões menos curvas do elipsoide são
compensadas por regiões onde a curvatura é maior.

As demonstrações desta secção envolvem alguns detalhes técnicos que vão ser deliber-
adamente postos de lado, de modo a não ofuscar as ideias centrais envolvidas.

Teorema 2.8.1 (Teorema de Gauss-Bonnet - versão local) Seja D um disco no


domı́nio de uma carta φ : U → V de uma superfı́cie S, com fronteira ∂D e seja D = φ(D),
com fronteira ∂D. Então Z Z
kg ds = 2π − KdA
∂D D

Demonstração. Consideremos em Tp S uma base ortonormada {e1 , e2 }, que varia de forma


diferenciável (por exemplo,e1 e e2 
podem ser obtidos pelo método de ortogonalização de
∂φ ∂φ
Gram-Schmidt a partir de , ), e seja n = e1 ∧ e2 um vetor normal unitário.
∂x ∂y
Seja α : [a, b] → S uma curva parametrizada por comprimento de arco que percorre
∂D, definida por α(t) = φ(x(t), y(t)). Como kα′ (t)k = 1, existe uma função diferenciável
θ : [a, b] → R tal que
α′ (t) = cos θ(t)e1 (t) + sin θ(t)e2 (t).

Então,

kg = (α′′ |(n ◦ α) ∧ α′ ) =

= (−θ′ sin θe1 + cos θe′1 + θ′ cos θe2 + sin θe′2 | cos θe2 − sin θe1 ) =

= θ′ sin2 θ + cos2 θ (e′1 |e2 ) − sin θ cos θ (e′1 |e1 ) +

+θ′ cos2 θ + sin θ cos θ (e′2 |e2 ) − sin2 θ (e′2 |e1 ) =

= θ′ − (e1 |e′2 )

uma vez que (e′1 |e1 ) = (e′2 |e2 ) = 0 e (e′1 |e2 ) = − (e′2 |e1 ), já que {e1 , e2 } é ortonormada. Como

124
o vetor velocidade dá uma volta completa em torno da origem, tem-se

R Rb Rb
kg ds = θ′ (t) dt − (e1 (t)|e′2 (t)) dt =
∂D a a

Zb  
′ ∂e2 ′ ∂e2
= 2π − e1 (t) x (t) (t) + y (t) (t) dt
∂x ∂y
a

Z    
∂e2 ∂e2
= 2π − e1
dx + e1
dy.
∂x ∂y
∂D

Usando o teorema de Green, conclui-se então que


   
∂ ∂e2 ∂ ∂e2
Z
R
kg ds = 2π − e1
− e1
dx dy =
∂D
∂x ∂y ∂y ∂x
D

Z    2     2 
∂e1 ∂e2 ∂ e2 ∂e1 ∂e2 ∂ e2
= 2π − + e1
− − e1 ∂y∂x dx dy =

∂x ∂y ∂x∂y ∂y ∂x
D

Z    
∂e1 ∂e2 ∂e1 ∂e2
= 2π − − dx dy.
∂x ∂y ∂y ∂x
D

Ora
          
∂e1 ∂e2 ∂e1 ∂e1 ∂e2 ∂e2
= e2 e2 + n n
e1 e1 + n n =
∂x ∂y ∂x ∂x ∂y ∂y
        
∂e1 ∂e2 ∂n ∂n
= ( n n = − e1 − e2 =
∂x ∂y ∂x ∂y
      
∂n ∂n ∂φ ∂φ
= e1 e2 = II e1 , II e2 ,
∂x ∂y ∂x ∂y

e, analogamente,
     
∂e1 ∂e2 ∂φ ∂φ
= II e1 , II e2 , .
∂y ∂x ∂y ∂x

125
∂φ ∂φ ∂φ ∂φ
Se escrevermos e1 = a +c e e2 = b + d , então
∂x ∂y ∂x ∂y
           
∂e1 ∂e2 ∂e1 ∂e2 ∂φ ∂φ ∂φ ∂φ
− = II e1 , II e2 , − II e1 , II e2 ,
∂x ∂y ∂y ∂x ∂x ∂y ∂y ∂x

= (aL + cM)(bM + dN) − (aM + cN)(bL + dM) =

= (ad − bc)(LN − M 2 )
 −1
2 2 a b
Como K = (LN − M )/(EG − F ) e det é a área do paralelogramo gerado por
c d
∂e1 ∂e1
e , então
∂x ∂y
Z    
∂e1 ∂e2 ∂e1 ∂e2
Z
− dx dy = (ad − bc)(LN − M 2 )dx dy
∂x ∂y ∂y ∂x
D D

1
Z
= √ K(EG − F 2 ) dx dy =
EG − F 2
D
Z √
= K EG − F 2 dx dy =
D
Z
= K dA
D

O teorema de Gauss-Bonnet é também útil quando a curva α que percorre ∂D é apenas


seccionalmente diferenciável, virando segundo ângulos de amplitude α1 , . . . , αn em certos
pontos ao longo da curva. Neste caso, ao integrar θ′ não obtemos 2π, mas apenas a diferença
2π − α1 − · · · − αn , ou seja, tem-se
Z Z
kg ds = (2π − α1 − · · · − αn ) − KdA
∂D D

Este teorema tem várias aplicações. Vejamos alguns casos particulares.

Corolário 2.8.2 A soma dos ângulos externos de um polı́gono numa superfı́cie euclidiana
(em particular no plano) é 2π.

126
Demonstração. Seja D tal que ∂D é o polı́gono dado. Como K = 0 e os lados do polı́gono
são geodésicas (isto é, tem-se kg = 0), então o teorema de Gauss-Bonnet fica

0 = (2π − α1 − · · · − αn ) − 0,

ou seja,
α1 + · · · + αn = 2π

Corolário 2.8.3 A soma dos ângulos internos de um triângulo euclidiano é π.

Demonstração. Sejam β1 , β2 , β3 os ângulos internos do triângulo. Então βi = π − αi , pelo


que β1 + β2 + β3 = π.

Corolário 2.8.4 A área de um triângulo esférico (numa superfı́cie com K = 1) é igual à


soma dos ângulos internos do triângulo menos π. Portanto a soma dos ângulos internos do
triângulo é maior do que π.

Demonstração. Neste caso, como K = 1, a fórmula de Gauss-Bonnet fica

0 = (2π − α1 − α2 − α3 ) − area(D),

pelo que a área de D é

2π − α1 − α2 − α3 = β1 + β2 + β3 − π.

Corolário 2.8.5 A área de um triângulo hiperbólico (numa superfı́cie com K = −1) é


igual a π menos a soma dos ângulos internos do triângulo. Portanto a soma dos ângulos
internos do triângulo é menor do que π.

Demonstração. Neste caso, como K = −1, a fórmula de Gauss-Bonnet fica

0 = (2π − α1 − α2 − α3 ) + area(D),

pelo que a área de D é

α1 + α2 + α3 − 2π = π − β1 − β2 − β3 .

Vejamos uma última consequência do Teorema de Gauss-Bonnet, que nos dá informações
sobre a curvatura gaussiana total da superfı́cie.

127
Teorema 2.8.6 (Teorema de Gauss-Bonnet - versão global) Se uma superfı́cie S
pode ser decomposta em n regiões sobrepostas apenas nas fronteiras, contendo a arestas e v
vértices, então a sua curvatura total
Z
KdA = 2πχ(S),
S

onde χ(S) = n − a + v é a chamada caracterı́stica de S.

Demonstração. Aplicando a versão local do Teorema de Gauss-Bonnet a cada região e


somando as igualdades obtém-se:
n Z
X n
X Z
kg ds = (2π − α1i −···− αki i ) − KdA.
i=1 i=1 S
∂D i

n Z
X
Como cada aresta é percorrida duas vezes, em sentidos contrários, então kg ds = 0.
i=1
∂D i
n
X
Por outro lado, na soma (2π −α1i −· · ·−αki i ), os termos 2π aparecem n vezes, e os ângulos
i=1
αji = π − βji somam 2πa − 2πv, uma vez que os ângulos βji dão uma volta completa a cada
n
X
vértice. Logo tem-se (2π − α1i − · · · − αki i ) = 2π(n − a + v) o que demonstra o resultado.
i=1

Exercı́cio 2.8.1 Determine a curvatura total do toro T , isto é,


Z
KdA.
T

Exercı́cio 2.8.2 Considere o conjunto S = {(x, y, z) ∈ R3 : x2 + y 2 + z 2 = 4}.


a) Mostre que
i π πh
φ: − , ×]0, 2π[ → R3
2 2
(t, u) 7→ (2 cos t cos u, 2 cos t sin u, 2 sin t).

é uma carta de S.

b) Determine a primeira forma fundamental de φ.

c) Determine os sı́mbolos de Christoffel de φ.

128
d) Indique uma curva α : R → R3 que percorra a interseção de S com o plano z = 1.

e) Seja β uma reparametrização de α por comprimento de arco. Calcule a curvatura


normal e a curvatura geodésica de β em S.

f) Mostre que β não é uma geodésica de S.

g) Usando o Teorema de Gauss-Bonnet, determine a área de S.

Exercı́cio 2.8.3 Seja S uma superfı́cie tal que K(p) ≤ 0, em todos os pontos p. Considere
duas geodésicas γ1 e γ2 que se intersetam em dois pontos, delimitando uma região R. Mostre
que R não pode ser um disco.

Exercı́cio 2.8.1 Como T pode ser decomposto em 4 regiões, contendo 8 arestas e 4 vértices, então
χ(T ) = 4 − 8 + 4 = 0.

• • • •

R
Logo, pelo Teorema de Gauss-Bonnet, KdA = 2πχ(T ) = 0.
T

Exercı́cio 2.8.2
a) Tem-se φ(t1 , u1 ) = φ(t2 , u2 ) ⇔
⇔ (2 cos t1 cos u1 , 2 cos t1 sin u1 , 2 sin t1 ) = (2 cos t2 cos u2 , 2 cos t2 sin u2 , 2 sin t2 ) ⇔ (t1 , u1 ) = (t2 , u2 ),
logo φ é injetiva. Além disso,
∂φ ∂φ
(t, u) = (−2 sin t cos u, −2 sin t sin u, 2 cos t) e (t, u) = (−2 cos t sin u, 2 cos t cos u, 0), logo
∂t ∂u
∂φ ∂φ
∧ (t, u) = (−4 cos2 t cos u, −4 cos2 t sin u, −4 cos t sin t) 6= (0, 0, 0).
∂t ∂u
Portanto, φ é uma carta de S.
b) Iφ(t,u) : Tφ(t,u) S × Tφ(t,u) S →  R 
  4 0  
∂φ ∂φ ∂φ ∂φ   c
a + b ,c +d 7→ a b  
∂t ∂u ∂t ∂u d
0 4 cos2 t
c) Γttt = Γutt = Γttu = Γuuu = 0, Γutu = − tan t, Γtuu = cos t sin t.
d) α: R → √ R√3
t 7→ ( 3 cos t, 3 sin t, 1).
1 1
e) kn = , kg = − √ .
2 2 3

129
f) A curva β não é uma geodésica de S porque kg 6= 0.
g) Como S pode ser decomposto em 4 regiões, contendo 4 arestas e 2 vértices, então
χ(S) = 4 − 4 + 2 = 2.

1 área S
Z
dA = 2π × 2, ou seja, = 4π. Logo área S = 16π.
4 4
S

Exercı́cio 2.8.3 Suponhamos que R é um disco. Se γ1 e γ2 se intersetam segundo ângulos de amplitudes


α e β, então, pelo Teorema de Gauss-Bonnet,
Z
0 = (2π − (π − α) − (π − β)) − KdA > α + β > 0,
R

contradição.

130

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