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UERJ

Notas de Aula:

Equações Diferenciais Ordinárias


Sumário

1 Introdução 3
1.1 Modelos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3

2 Equações Diferenciais Ordinárias 5


2.1 Definições . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5
2.2 Problema de Valor Inicial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9

3 EDOs de primeira ordem 12


3.1 Existência e unicidade de soluções para EDOs de primeira ordem . . . . . . 12
3.2 EDOs de Variáveis Separáveis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
3.3 EDOs lineares de primeira ordem . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
3.4 EDO de Bernoulli . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22
3.5 EDO de Ricatti . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
3.6 EDOs exatas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
3.6.1 Fator Integrante . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28

2
Capı́tulo 1

Introdução

Equações diferenciais são ferramentas importantes para diversas áreas do conhecimento,


como Fı́sica, Quı́mica e Biologia. Com elas é possı́vel descrever e formular diversos fenômenos
fı́sicos numa linguagem matemática.

1.1 Modelos
Exemplo 1.1. (Lei de Resfriamento de Newton)

O problema da condução do calor tem um modelo simples, mas real, que trata da troca
de calor de um corpo com o meio ambiente, com as seguintes hipóteses:

1. A temperatura T = T (t) depende apenas do tempo t.

2. A temperatura do meio Tm é constante.

3. A lei de resfriamento de Newton: a taxa de variação temporal da temperatura T = T (t)


de um corpo é proporcional à diferença entre T e a temperatura Tm do ambiente em
volta. Isto é,
dT
= −k(T − Tm ), k > 0.
dt
dT
Se T > A, então dt
< 0, de modo que a temperatura T = T (t) é decrescente. Logo, se
a temperatura do corpo é maior que a do ambiente o corpo está resfriando.

3
dT
Se T < A, então dt
> 0, de modo que a temperatura T = T (t) é crescente. Logo, se a
temperatura do corpo é menor que a do ambiente o corpo está esquentando.
dT
Se T = A, então dt
= 0, de modo que a temperatura T é constante.

Exemplo 1.2. (Queda Livre de Corpos)

Considere o problema de um corpo que cai verticalmente sob a ação da gravidade.


Vamos supor que o corpo seja uma partı́cula de massa m, que o corpo despreza o ar, que o
movimento é regido pela Segunda Lei de Newton e que a gravidade é a única força atuante.
Seja y(t) a altura da partı́cula em relação ao solo no instante t.

Pela segunda lei de Newton, temos que

F = my ′′ (t) = −mg.

Integrando em ambos os lados, obtém-se


Z t Z t
′′
y (s) ds = − g ds ⇐⇒ y ′ (t) − y ′ (0) = −g(t − 0) ⇐⇒ y ′ (t) = y ′ (0) − gt
0 0

Integrando novamente em relação a t, obtemos


Z t Z t  2 t
′ ′ ′ s
y (s) ds = (y (0) − gs) ds ⇐⇒ y(t) − y(0) = y (0)t − g
0 0 2 0

Portanto,
1
y(t) = y(0) + y ′ (0)t − gt2
2
Capı́tulo 2

Equações Diferenciais Ordinárias

2.1 Definições
Recorde que
(a, b), (a, +∞), (−∞, b) e (−∞, +∞)

com a, b ∈ R e a < b, são chamados intervalos abertos de R.


Dada uma função y : I −→ R, em que I ⊆ R é um intervalo aberto, diferenciável pelo
menos até a ordem n, recorde que

(i) di y
y (x) = i (x), ∀ i = 1, , , , n.
dx

e
y (0) (x) = y(x).

Para as derivadas de ordem mais baixa será comum escrevermos

dy ′′ d2 y d3 y
y ′ (x) = , y (x) = 2 e y ′′′ (x) = .
dx dx dx3

Definição 2.1. Uma Equação Diferencial Ordinária (EDO) é uma equação envol-
vendo uma variável independente x ∈ R, uma variável dependente y e algumas de suas
derivadas y ′ , y ′′ , y ′′′ , ..., y (n) , n ∈ N.
d2 y
Por exemplo, as equações (x) + sen(x) = 0 e y ′′′ + ex y ′′ − yy ′ = y são EDO’s.
dx2

5
Observação 2.1. Em geral, uma EDO pode ser escrita na forma implı́cita:

F (x, y(x), y ′ (x), y ′′′ (x), .., y (n) (x)) = 0, n ∈ N. (2.1)

Exemplo 2.1.

d2 y
1. A EDO (x)+sen(x) = 0 pode ser escrita na forma F (x, y ′′ ) = 0, onde F (x, y ′′ (x)) =
dx2
d2 y
(x) + sen(x).
dx2
2. A EDO y ′′′ + ex y ′′ − yy ′ = y pode ser escrita na forma F (x, y, y ′ , y ′′ , y ′′′ ) = 0, onde
F (x, y, y ′ , y ′′ , y ′′′ ) = y ′′′ + ex y ′′ − yy ′ − y.

Definição 2.2. A ordem de uma EDO é o máximo das ordens das derivadas presente na
equação.

Exemplo 2.2.

d2 y
1. (x) + sen(x) = 0 é de ordem 2.
dx2
2. y ′′′ + ex y ′′ − yy ′ = y é uma EDO de ordem 3.

3. x(y ′ )3 − xy 5 = 1 é uma EDO de ordem 1.

4. A EDO em (2.1) é de ordem n.

Observação 2.2. Vamos supor que toda EDO de ordem n pode ser escrita na forma
explı́cita:
y (n) (x) = f (x, y(x), y ′ (x), y ′′ (x), ..., y (n−1) (x)), (2.2)

em que f é uma função real definida em algum conjunto aberto de Rn+1 . Isso evitará que a
EDO (2.1) represente mais de uma equação da forma (2.2). Por exemplo, a EDO (y ′ )2 = y

representa duas EDO’s, y ′ = ± y.

Exemplo 2.3.
A EDO de ordem 2
my ′′ + τ y ′ + ky = h(x)

pode ser escrita na forma:

F (x, y, y ′ , y ′′ ) = 0, onde F (x, y, y ′ , y ′′ ) = my ′′ + τ y ′ + ky − h(x)

e pode ser escrita na forma:


1
y ′′ = f (x, y, y ′ ), onde f (x, y, y ′ ) = (h(x) − τ y ′ − ky).
m
Esta edo descreve o oscilador harmônico amortecido, submetido a uma força h(x).

Definição 2.3. Seja y = Φ(x), com Φ : I ⊆ R −→ R onde I é um intervalo aberto, uma


função diferenciável pelo menos até a ordem n em I. Dizemos que Φ é uma solução da
EDO (2.2) se:

1. Para todo x ∈ I, o vetor (x, Φ(x), Φ′ (x), .., Φn−1 (x)) pertence ao domı́nio de f ;

2. Para todo x ∈ I, a função Φ satifaz a identidade (2.2), isto é,

Φn (x) = f (x, Φ(x), Φ′ (x), Φ′′ (x), ..., Φn−1 (x)), ∀x ∈ I.

Exemplo 2.4.

1. A função Φ(x) = e2x é uma solução da EDO y’=2y em R, pois, para todo x ∈ R,
tem-se Φ′ (x) = 2Φ(x).

2. As funções Φ1 (x) = sen(x) e Φ2 (x) = cos(x) são soluções da EDO y ′′ + y = 0 em R.

Observação 2.3. Note que as funções Φ(x) = ce2x e Φ(x) = c1 sen(x) + c2 cos(x), onde
c é uma constante real, também são soluções das EDO’s y ′ = 2y e y ′′ + y = 0 em R,
respectivamente.

Definição 2.4. Uma função y = Φc1 ,...,cn (x), com Φc1 ,...,cn : I ⊆ R −→ R onde I é um
intervalo aberto, dependendendo de n constantes arbitrárias c′i s indendependentes, é dita
ser uma solução geral da EDO de ordem n (2.2) em I se, para cada (c1 , ..., cn ) ∈ Rn em
que y = Φc1 ,...,cn (x) faça sentido, y = Φc1 ,...,cn (x) é uma solução da EDO (2.2) em I.
Observação 2.4.

1 .Na definição anterior, o termo independente significa que a solução geral da EDO
(2.2) não pode ser reduzida a uma expressão contendo menos que n constantes ar-
bitrárias.

2. Em geral, para evitarmos uma notação carregada, escreveremos apenas y = Φ(x) ao


invés de y = Φc1 ,...,cn (x).

Exemplo 2.5.
c
1. A função Φ(x) = x3 + é uma solução geral da EDO xy ′ + 3y = 6x3 em qualquer
x3
intervalo aberto I em que 0 ∈/ I, pois para qualquer c ∈ R, xΦ′ (x) + 3Φ(x) = 6x3 para
todo x ̸= 0.

2. A função Φ(x) = c1 x + c2 x3 é uma solução da EDO x2 y ′′ + 3y = 3xy ′ em R, pois, para


cada c ∈ R, x2 Φ′′ (x) + 3Φ(x) = 3xΦ′ (x).

3. A EDO |y| + |y ′ | = 0 não tem solução geral, pois Φ(x) = 0 é a sua única solução.

De modo análogo as definições 2.3 e 2.4, podemos definir solução implı́cita e solução
geral implı́cita da EDO (2.2).

Exemplo 2.6.

1. A equação x2 + y 2 = 25 é uma solução implı́cita da EDO yy ′ = −x em (−5, 5).


√ √
2. A equação x2 + y 2 = c é uma solução geral implı́cita da EDO yy ′ = −x em (− c, c).

Definição 2.5. As soluções da EDO (2.2) que podem ser deduzidas da solução geral atribuindo-
se às constantes arbitrárias valores reais são chamadas soluções particulares da EDO
(2.2).

Exemplo 2.7.

Vimos que Φ(x) = c1 x + c2 x3 é a solução geral da EDO x2 y ′′ + 3y = 3xy ′ em R. Assim,


a função Φ(x) = x3 é uma solução particular da EDO x2 y ′′ + 3y = 3xy ′ em R, pois pode ser
deduzida da solução geral considerando-se c1 = 0 e c2 = 1.
Observação 2.5. Nem todas as soluções de certas EDO’s podem ser deduzidas da solução
(x2 + c)
geral. Por exemplo, a função Φ(x) = + 1, com c > 0, é a solução geral da EDO
√ 4
y ′ = 2x y − 1 em R. Porém φ(x) = 1 é solução da EDO em R, mas ela não pode ser
deduzida da solução geral. Esse tipo de solução é chamada solução singular da EDO
(2.2).

Definição 2.6. Seja y = Φ(x) uma solução de uma EDO em um intervalo aberto I ⊆ R.
A curva α : I −→ R2 definida por α(x) = (x, Φ(x)) é chamada curva integral.

Há diferenças entre o gráfico da função Φ e a curva integral de uma edo. Considere a
1
função Φ(x) = . Esta função é uma solução da EDO y +xy ′ = 0 em cada um dos intervalos
x
1
abertos (−∞, 0) e (0, ∞). Contudo, o gráfico de Φ não é uma curva integral, pois Φ(x) =
x

não é uma solução da EDO y + xy = 0 em (−∞, 0) ∪ (0, +∞), pois (−∞, 0) ∪ (0, +∞) não
é um intervalo aberto.

2.2 Problema de Valor Inicial


Definição 2.7. Um sistema formado por uma edo de ordem n e pelas n condições comple-
mentares
y(x0 ) = y0 , y ′ (x0 ) = y1 , y ′′ (x0 ) = y2 , ... , y (n−1) (x0 ) = yn−1

em que x0 e y0 , y1 , ..., yn−1 são constantes reais dadas, é chamado problema de valor
inicial (PVI) ou problema de Cauchy. As condições complementares são chamadas
condicões iniciais.

Observação 2.6. Em geral, um problema de valor inicial para a EDO de ordem n se escreve
na forma 


 y (n) = f (x, y, y ′ , y ′′ , ..., y (n−1) )


y(x0 ) = y0






 y ′ (x ) = y

0 1
′′


 y (x0 ) = y2





 ...


 y (n−1) (x ) = y .

0 n−1
Por exemplo, 
 
 x2 y ′′ + 3y = 3xy ′
 y ′ = x2 

e y(3) = 0
 y(0) = 1 


 y(3) = 2021

Definição 2.8. Uma solução do problema de Valor Inicial em um intervalo aberto


I, com x0 ∈ I, é uma solução y = Φ(x) da EDO de ordem n em I que satisfaz as condições
complementares, isto é,

Φ(x0 ) = y0 , Φ′ (x0 ) = y1 , ..., Φ(n−1) (x0 ) = yn−1 .

Exemplo 2.8. Considere o PVI 


 y ′ = x2
 y(1) = 1

x3
A função Φ(x) = + c é a solução geral da EDO y ′ = x2 em R. Impondo a condição
3
1 2
inicial, temos Φ(1) = 1. Logo + c = 1 e então c = . Dessa forma,
3 3
x3 2
Φ(x) = +
3 3

é a solução do PVI em R.

Exemplo 2.9. Considere o PVI





 x2 y ′′ + 3y = 3xy ′

y(1) = 3 .


 y ′ (1) = 4

A função Φ(x) = c1 x + c2 x3 é a solução geral da EDO x2 y ′′ + 4y = 3xy ′ em R. Derivando


esta função temos Φ′ (x) = c1 + 3c2 x2 . Impondo as condições iniciais, temos Φ(1) = 3 e
Φ′ (1) = 4. Logo, 
 c +c =3
1 2
 c + 3c = 4
1 2

Resolvendo este sistema, obtemos c1 = 5/2 e c2 = 1/2.


Observação 2.7. Nem toda PVI possui solução. Por exemplo, considere a EDO xy ′ − 3y +
3 = 0, cuja solução geral é a função Φ(x) = 1 + cx3 . O PVI

 xy ′ − 3y + 3 = 0
 y(0) = 0

não tem solução, pois Φ(0) = 1 seja qual for a constante c ∈ R.


Capı́tulo 3

EDOs de primeira ordem

3.1 Existência e unicidade de soluções para EDOs de


primeira ordem
Teorema 3.1. Sejam f : Ω −→ R uma função contı́nua e Ω ⊂ R2 tal que fy : Ω −→ R é
contı́nua. Então, para cada (x0 , y0 ) ∈ Ω, existem um intervalo aberto I, com x0 ∈ I, e uma
função y = Φ(x), com (x, Φ(x)) ∈ Ω para todo x ∈ I, que é solução do PVI

 y ′ = f (x, y)
 y(x ) = y
0 0

em I. Além disso, se y = ψ(x) for uma outra solução do PVI em I, então Φ(x) = Ψ(x)
para todo x ∈ I.

Exemplo 3.2.

Considere o PVI 
 y ′ = p|y|
 y(0) = 0
p y
Note que f (x, y) = |y| é contı́nua em R2 , mas a função fy (x, y) = p não está
2|y| |y|
definida em (x, 0), com x ∈ R. A função nula Φ(x) = 0 é uma solução do PVI em R. Porém,

12
a função 
 1 x2 , se x ≥ 0

ψ(x) = 4
1
 − x2 se x < 0

4
é outra solução do PVI em R, com Φ(x) ̸= ψ(x) para todo x ̸= 0.

3.2 EDOs de Variáveis Separáveis


Exemplo 3.3. Encontre as soluções da EDO

y
y′ = − .
x

Solução:
Primeiro observe que Φ(x) = 0 é uma solução da EDO dada. Agora vamos procurar
soluções não constantes.
d y ′ (x)
Note que ln |y(x)| = . Então
dx y(x)

d y ′ (x) 1
ln |y(x)| = =− .
dx y(x) x

Integrando ambos os lados em relação a x, otemos:


Z Z
d 1
ln |y(x)|dx = − dx =⇒ ln |y(x)| = − ln |x| + c
dx x
=⇒ |y(x)| = e− ln |x|+c
−1
=⇒ |y(x)| = ec .eln |x|
ec
=⇒ |y(x)| =
|x|
c
=⇒ y(x) =
x
c
Então y(x) = é a solução geral da EDO em cada um dos intervalos (0, +∞) ou
x
(−∞, 0). Como Φ(x) = 0 é uma solução que não pode ser deduzida da solução geral, segue
que ela é uma solução singular.
Definição 3.1. Uma EDO de primeira ordem que pode ser escrita na forma

y ′ = f (x)g(y) (3.1)

em que f e g são funções reais, é chamada de EDO separável

Por exemplo,
x2 ex
y′ = , 9yy ′ + 7x = 0, y ′ = sen(x)cos(y) e y ′ =
y y2 + 1
são EDOs separáveis.

Observação 3.1. Se a é tal que g(a) = 0, então a função y(x) = a é solução da EDO (3.1)

Obtenção de Soluções não constantes:


Supomos que f e g são funções contı́nuas em intervalos abertos If e Ig , respectivamente.
Seja y = y(x) solução da EDO em I, tal que x ∈ I, y(x) ∈ Ig .
1. Reescrevemos a equação, ”separando as varáveis”:
1 dy
= f (x).
g(y) dx
2. Se G for uma primitiva de 1/g, então
d dy 1 dy
(G(y(x))) = G′ (y(x)). = ,
dx dx g(y) dx
portanto
d
(G(y(x))) = f (x).
dx
3. Integrando ambos os lados em relação a x, obtemos:
Z Z Z
d
(G(y(x)))dx = f (x)dx =⇒ G(y(x)) = f (x)dx.
dx
Então a solução geral da EDO é dada de forma implı́cita:

G(y(x)) = F (x) + c,

onde F é uma primitiva de f em If


4. Alternativamente, podemos escrever
Z Z
1
dy = f (x)dx
g(y)
(1 + x)y
Exemplo 3.4. Resolva a EDO y ′ = −
(1 − y)x

ln |y| − y = − ln |x| − x + c

é a solução geral implı́cita da EDO.


sen(x)
Exemplo 3.5. Resolva a EDO y ′ = −
2y

y 2 = cos(x) + c

é a solução geral implı́cita da EDO.

Exemplo 3.6. Resolva o pvI


 y′ = x

y
y(3) = 2

e determine um intervalo aberto em que a solução existe.

Solução:

y 2 = x2 + c

é a solução geral da EDO. Para x = 3 e y = 2, vê que 4 = 9 + c, isto é, c = −5. Substituindo
na equação, obtemos
y 2 = x2 − 5.

As funções
√ √
Φ(x) = x2 − 5 e ψ(x) = − x2 − 5
x √ √
são ambas soluões da EDO y = em I = ( 5, +∞), mas apenas Φ(x) = x2 − 5 é a
y
solução do PVI em I, pois ψ(3) = −2 ̸= 2.
3.3 EDOs lineares de primeira ordem
Definição 3.2. Uma EDO que pode ser escrita na forma

y ′ + p(x)y = q(x), (3.2)

em que p e q são funções reais, é chamada EDO linear de primeira ordem.

Por exemplo,

1
y ′ + (x2 + 1)y = 2x + 3, y ′ = sen(x)y − ex−1 , y ′ = −3xy e y ′ + xy =
x

são EDOs lineares de primeira ordem.

Exemplo 3.7. Encontre a solução geral da EDO y ′ = −3x2 .

Solução:
Integrando ambos os lados da equação, obtemos:
Z Z

y (x)dx = −3x2 dx =⇒ y(x) = −x3 + c.

Esta EDO foi resolvida facilmente porque p(x) = 0. Porém, de maneira geral, com a
ajuda de um fator integrante apropriado, há uma técnica padrão para resolver as chamadas
edo’s de primeira ordem lineares.

Exemplo 3.8. Encontre a solução geral da EDO y ′ + xy = −3x2 .

Seja y = ϕ(x) a solução da EDO dada. Vamos procurar um fator integrante que seja da
forma µ(x). Multiplicando a EDO dada por este fator, temos

y ′ µ(x) + xyµ(x) = −3xµ(x).

Gostarı́amos que o lado esquerdo fosse a derivada do produto yµ(x). Ou seja,

d
y ′ µ(x) + xyµ(x) = (yµ(x)) = y ′ µ(x) + yµ′ (x)
dx

Comparando termo a termo, o fator integrante, caso exista, deve satisfazer:

µ′ (x) = xµ(x)
d µ′ (x)
Sabemos que [ln(|µ(x)|)] = . Então
dx µ(x)
d
[ln(|µ(x)|)] = x,
dx

donde, integrando em ambos os lados com relação a x, obtemos

x2 2 2
ln |µ(x)| = + c =⇒ |µ(x)| = ex /2+c = ec .ex /2 .
2
2 /2
Portanto, µ(x) = cex . Como estamos multiplicando toda a equação por µ(x), vamos
2 /2
considerar apenas µ(x) = ex .
Por outro lado, da igualdade

d
(yµ(x)) = −3xµ(x),
dx

segue que
Z 
1 2
y = −3x µ(x) dx + c
µ(x)
Z 
−x2 /2 x2 /2
= e −3x.e dx + c
2 /2
h 2 /2
i
= e−x −3ex +c

ou seja, a solução geral da EDO linear dada é dada por

2 /2
ϕ(x) = ce−x − 3,

em R.
De maneira geral, se as funções p e q forem contı́nuas num intervalo aberto I , então é
possı́vel determinar a solução geral da EDO (3.2) em I por meio do uso de um fator µ(x),
chamado fator integrante. De fato, suponha que y = ϕ(x) seja uma solução da EDO (3.2)
em I. Ao multiplicar a equação Φ(x)′ + p(x)Φ(x) = q(x) por µ(x), obtemos

Φ′ (x)µ(x) + p(x)Φ(x)µ(x) = q(x)µ(x).

Supondo que o primeiro membro da equação anterior seja a derivada do produto de Φ por
µ , isto é,
Φ′ (x)µ(x) + p(x)Φ(x)µ(x) = (Φ(x)µ(x))′
temos que
Φ′ (x)µ(x) + p(x)Φ(x)µ(x) = Φ′ (x)µ(x) + Φ(x)µ′ (x).

Logo, ao simplificar a equação anterior, vê-se que

µ′ (x) = p(x)µ(x),

donde
R
p(x) dx
µ(x) = e .

Por outro lado, da igualdade

d
(Φ(x)µ(x)) = q(x)µ(x),
dx

segue que Z
ϕ(x)µ(x) = q(x)µ(x) dx + c,

portanto,
Solução geral de uma EDO linear de primeira ordem:
Se as funções p e q forem contı́nuas num intervalo aberto I, então a função
Z 
1
Φ(x) = q(x)µ(x) dx + c ,
µ(x)
R
onde µ(x) = e p(x) dx
, é a solução geral da EDO y ′ + p(x)y = q(x).

Observação 3.2. Cuidado, as fórmulas nessa seção foram feitas para EDOs lineares de
primeira ordem na forma y + p(x)y = q(x), chamada de forma padrão. Por exemplo, para
resolver a EDO
xy ′ − x2 y + 3x5 = 0,

antes devemos colocá-la na forma padrão

y − xy = 3x4 .

Feito isso, vê-se que p(x) = x e que q(x) = 3x4 .

Exemplo 3.9. Encontre a solução geral da EDO y ′ − tg(x)y = cos(x) e determine um


intervalo em que ela existe.
Solução:
Note que as funções p(x) = −tg(x) e q(x) = cos(x) são, em particular contı́nuas no
 π π
intervalo aberto − , . Temos que
2 2
Z Z Z
sen(x)
p(x) dx = − tgx dx = − dx = ln(cos(x)),
cos(x)

portanto
R
p(x) dx
µ(x) = e = eln(cos(x)) = cos(x).

Assim, Z Z Z
2 1 + cos(2x) x sen(2x)
q(x)µ(x) dx = cos (x) dx = dx = + ,
2 2 4
donde  
1 x sen(2x)
Φ(x) = + +c .
cos(x) 2 4
Definição 3.3. A EDO (3.2) com q(x) = 0, isto é, y ′ +p(x)y = 0, é chamada EDO linear
homogênea de primeira ordem.

Solução geral de uma EDO linear homogênea de primeira ordem:


Se a função p for contı́nua num intervalo aberto I, então a função
R
Φ(x) = ce− p(x) dx
,

é a solução geral da EDO y ′ + p(x)y = 0. em I.

Exemplo 3.10. Determine a solução geral da EDO y ′ = λy em que λ é uma constante


real.

Solução:
Note que p(x) = −λ e q(x) = 0 são ambas contı́nuas em R. Como
Z Z
p(x)dx = −λdx = −x + c,

segue que Φ(x) = ceλx é a solução geral da EDO y ′ = λy em R.


Naturalmente, para quaisquer x0 ∈ I e y0 ∈ R, a solução geral da EDO (3.2) em I nos
permite obter a solução do PVI

 y ′ + p(x)y = q(x)
 y(x ) = y
0 0

em I. Contudo, com o mesmo raciocı́nio de antes, podemos obter uma forma explı́cita para
solução.
Solução de um PVI com EDO linear de primeira ordem:
Se as funções p e q forem contı́nuas num intervalo aberto I, com x0 ∈ I, então a função
Z x 
1
Φ(x) = µ(t)q(t) dt + y0 ,
µ(x) x0
Rx
p(t)dt
com µ(x) = e x0
, é a solução do PVI em I.

Exemplo 3.11. Resolva o PVI



 y ′ + 2xy = −2x
 y(−1) = 0

Solução:
Note que as funções p(x) = 2x e q(x) = −2x são contı́nuas em R. Tem-se
Z x Z x
p(t) dt = 2t dt = x2 − 1
−1 −1
2 −1
e assim µ(x) = ex .
Portanto, Z x Z x
2 −1 2 −1
q(t)µ(t) dt = −2tet dt = −ex + 1.
−1 −1
Utilizando a condição inicial, y(−1) = 0, segue que
1 h 2
i 1
y(x) = x2 −1 −ex −1 + 1 + 0 = −1 + x2 −1 .
e e
Observação 3.3. Há algumas EDOs que a princı́pio não são lineares, porém fazendo uma
mudança variável elas se tornam lineares.

Exemplo 3.12. Resolva o PVI



 cos(y)y ′ + 2xsen(y) = −2x
 y(−1) = 0
Solução:
A EDO dada não é linear, mas é possı́vel transformá-la em uma EDO linear. Considere
a mudança de variável z = sen(y). Ao derivar a função z = sen(y) em relação a x, obtemos

z ′ = cos(y)y ′ .

Como z(−1) = sen(y(−1)) = sen(0) = 0, temos o PVI auxiliar



 z ′ + 2xz = −2x
 z(−1) = 0,

em que z ′ + 2xz = −2x é uma EDO linear de primeira ordem. Já sabemos que
1
z(x) = −1 +
ex2 −1
é a solução do PVI auxiliar em R.
Note que
z(x) = sen(y(x)) ⇐⇒ y(x) = arcsen(z(x))

A função arcsen(s) só está bem definida para valores s ∈ [−1, 1]. Como queremos que o
problema esteja bem definido para algum intervalo aberto de R contendo o ponto x = −1,
temos que
1 1
−1 < z(x) < 1 ⇐⇒ −1 < −1 + <1 ⇐⇒ 0< <2
ex2 −1 ex2 −1
2 −1)
⇐⇒ 0 < e−(x <2 ⇐⇒ −(x2 − 1) < ln(2)

⇐⇒ x2 − 1 > − ln(2) ⇐⇒ x2 > 1 − ln(2).

Então, como queremos que a função z(x) esteja bem definida para x = −1, temos que
p
−1 < z(x) < 1 ⇐⇒ x ∈ (−∞, − 1 − ln(2))

Logo, a função  
1
y(x) = arcsen 1 −
ex2 −1
é a solução do PVI 
 cos(y)y ′ + 2xsen(y) = −2x
 y(−1) = 0
p
em (−∞, − 1 − ln(2)).
3.4 EDO de Bernoulli
Considere a EDO
2xy y ′ = 4x2 + 3y 2 .

Façamos a mudança de variável z = y 2 (Lembre que y = y(x), então z = z(z)). Portanto,


derivadando em relação a x, obtemos:

z ′ = 2y y ′ .

Usando a mudança de variável na EDO, econtramos:

xz ′ = 4x2 + 3z.

Reescrevendo esta EDO, obtemos


3
z ′ − z = 4x,
x
que é uma EDO linear de primeira ordem com p(x) = − x3 e q(x) = 4x. Resolvendo esta
EDO, obtemos uma solução geral desta EDO que é dada por

z(x) = −4x2 + cx3 .

Assim, como z = y 2 , segue que

y 2 (x) + 4x2 + cx3 = 0

é uma solução geral implı́cita da EDO dada inicialmente.

Definição 3.4. Uma EDO de primeira ordem que pode ser escrita na forma

y ′ + p(x)y = q(x)y n , (3.3)

com n ∈ Z, é chamada uma EDO de Bernoulli. Observe que se n = 0 ou n = 1, a equação


de Bernoulli é uma EDO linear.

Solução Geral de uma EDO de Bernoulli:


Vamos considerar a seguinte mudança de variável:

z = y 1−n .
Derivando com relação a x, obtemos:

z ′ = (1 − n)y −n y ′ .

Multiplicando a EDO (3.3) por (1 − n)y −n , obtemos:

(1 − n)y −n y ′ + (1 − n)y −n p(x)y = (1 − n)y −n q(x)y n ,

ou seja,
(1 − n)y −n y ′ + (1 − n)p(x)y 1−n = (1 − n)q(x).

Na variável z, temos:
z ′ + (1 − n)p(x)z = q(x),

que é uma EDO linear.

3.5 EDO de Ricatti


Definição 3.5. Uma EDO de primeira ordem que pode ser escrita na forma

y ′ = q(x)y 2 + p(x)y + r(x) (3.4)

é chamada uma EDO de Ricatti. Note que quando q(x) = 0, temos uma EDO linear e
quando r(x) = 0, temos uma EDO de Bernoulli com n = 2.

Observação 3.4. Liouville, matemático francês, mostrou que uma solução geral da equação
de Ricatti (no caso em que ela não é linear e nem do tipo Bernoulli) só pode ser explicita-
mente obtida se já conhecermos uma solução.

Solução geral de uma EDO de Bernoulli:


Seja y1 uma solução particular da equação de Ricatti. Neste caso, a mudança de variável
z = y − y1 transforma a equação de Ricatti na variável y em uma equação de Bernoulli com
n na variável z. De fato, temos:
z ′ = y ′ − y1′ .
Assim y = y1 + z e y ′ = y1′ + z ′ , portanto, substituindo em (3.4), obtemos:

y1′ + z ′ = q(x)(y1 + z)2 + p(x)(y1 + z) + r(x)

= q(x)(y12 + 2y1 z + z 2 ) + p(x)(y1 + z) + r(x)

= q(x)y12 + 2q(x)y1 z + q(x)z 2 + p(x)y1 + p(x)z + r(x)

= (q(x)y12 + p(x)y1 + r(x)) + q(x)z 2 + (2q(x)y1 + p(x))z.

Como y1 é uma solução, ela satisfaz a EDO (3.4), ou seja, y1′ = q(x)y12 + p(x)y1 + r(x), logo,

z ′ = q(x)z 2 + (2q(x)y1 + p(x))z,

ou seja,
z − (2q(x)y1 + p(x))z = q(x)z 2 ,

que é uma EDO de Bernoulli com n = 2.


Vejamos um exemplo.

Exemplo 3.13. Resolva a EDO de Ricatti:


y2 y
y′ = − 2
− + 3, (3.5)
x x
sabendo que y1 (x) = x é uma solução.

Considere a seguinte mudança de variável

z = y − y1 = y − x.

Derivando em relação a x, obtemos:

z ′ = y ′ − 1.

Como y = x + z e y ′ = z ′ + 1, substituindo essas mudanças de variáveis na EDO (3.5),


obtemos:
′ (x + z)2 x + z
z +1=− − + 3.
x2 x
Simplificando,
1 1
z′ + z = − 2 z2
x x
que é uma EDO de Bernoulli.
3.6 EDOs exatas
Exemplo 3.14. Considere a seguinte edo:

dy
2x + y 2 + 2xy = 0.
dx

A equação não é linear e nem separável, de modo que não podemos aplicar aqui os
métodos adequados para esses tipos de equações. Entretando, note que a função ψ(x, y) =
x2 + xy 2 tem a propriedade que

∂ψ ∂ψ
= 2x + y 2 e = 2xy.
∂x ∂y

Portanto,
d ∂ψ ∂ψ dy dy
ψ(x, y(x)) = + = 2x + y 2 + 2xy = 0.
dx ∂x ∂y dx dx
Integrando em relação a x, obtemos:
Z Z
d
ψ(x, y(x)) dx = 0 dx = c,
dx

isto é, ψ(x, y(x)) = c, equivalentemente:

x2 + xy 2 = c.

Definição 3.6. Uma EDO de primeira ordem do tipo:

dy
M (x, y) + N (x, y) =0
dx

é dita exata se existe uma função ψ(x, y) tal que

∂ψ ∂ψ
= M (x, y) e = N (x, y).
∂x ∂y

Observação 3.5. Como uma EDO exata pode ser escrita na forma

∂ψ ∂ψ dy
+ = 0,
∂x ∂y dx

sua solução geral será dada implicitamente por ψ(x, y(x)) = c. Isto é, a solução geral de
uma EDO exata é formada pelas curvas de nı́vel da função ψ(x, y).

Agora é conveniente fazermos as seguintes perguntas:


1. Como identificar uma edo exata?

2. Se a EDO é exata, como determinar ψ?

Teorema 3.15. Sejam M, N : I1 × I2 −→ R funções de classe C 2 , onde Ii são intervalos


abertos. A EDO
dy
M (x, y) + N (x, y) =0
dx
é exata se e somente se:
∂M ∂N
= ,
∂y ∂x
para todo (x, y) ∈ I1 × I2 .

Agora vamos determinar a função ψ que satisfaz a EDO exata. Suponha que a EDO

dy
M (x, y) + N (x, y)
dx

é exata. Agora vamos determinar a função ψ(x, y) tal que

∂ψ ∂ψ
= M (x, y) e = N (x, y).
∂x dy

Integrando a primeira igualdade acima com respeito a x, obtemos:


Z
ψ(x, y) = M (x, y) dx + g(y).

Para determinarmos g(y), derivamos ψ com respeito a y e usaremos a segunda igualdade


acima: Z 
∂ψ ∂ dg
= M (x, y) dx + (y) = N (x, y).
∂y ∂y dy
Ou seja, Z 
dg ∂
(y) = N (x, y) − M (x, y) dx . (3.6)
dy ∂y
Note que g é uma função que não depende de x, então o lado direito desta equação não
pode depender de x. E isso acontece, de fato, derivando o lado direito com respeito a x,
obtemos:
 Z  Z 
∂ ∂ ∂N ∂ ∂
N (x, y) − M (x, y) dx = (x, y) − M (x, y) dx
∂x ∂y ∂x ∂x ∂y
Z 
∂N ∂ ∂
= (x, y) − M (x, y) dx
∂x ∂y ∂x
Z 
∂N ∂ ∂M
= (x, y) − (x, y) dx
∂x ∂y ∂x
∂N ∂M
= (x, y) − (x, y)
∂x ∂y
= 0,

já que a EDO é exata. Assim, g(y) está bem definida. Resolvendo a EDO (3.6), ou seja,
integrando ambos os lados em relação a y, obtemos:
Z  Z 

g(y) = N (x, y) − M (x, y) dx dy.
∂y
Portanto, ψ é dada por:
Z
ψ(x, y) = M (x, y) dx + g(y)
Z Z  Z 

= M (x, y) dx + N (x, y) − M (x, y) dx dy.
∂y
Exemplo 3.16. Determine a solução geral de
2x y 2 − 3x2 dy
+ = 0.
y3 y4 dx
Solução:
2x y 2 − 3x2
Denotamos M (x, y) = e N (x, y) = . Note que
y3 y4
∂M 6x ∂N
=− 4 = ,
∂y y ∂x
portanto, pelo teorema (3.15), a edo dada é exata. Logo, existe ψ(x, y) tal que
∂ψ 2x ∂ψ y 2 − 3x2
= M (x, y) = 3 e = N (x, y) =
∂x y ∂y y4
e ψ(x, y(x)) = c é a solução geral implı́cita da EDO dada. Agora vamos determinar ψ.
Integrando a primeira igualdade acima em relação a x, obtemos:
x2
Z
2x
ψ(x, y) = dx + g(y) = + g(y).
y3 y3
∂ψ
Derivando a expressão acima com respeito a y e usando que = N (x, y), temos:
∂y
x2 3x2 dg
 
∂ψ ∂
= + g(y) =− + = N (x, y)
dy ∂y y3 y4 dy
Logo,
dg 3x2 y 2 − 3x2 3x2 1
= N (x, y) + 4 = 4
+ 4 = 2.
dy y y y y
Uma solução acima é
1
g(y) = − .
y
x2 1
Portanto, ψ(x, y) = − e assim
y3 y
x2 1
− =c
y3 y
é a solução geral implı́cita de
2x y 2 − 3x2 dy
+ = 0.
y3 y4 dx

3.6.1 Fator Integrante

Algumas vezes é possı́vel converter uma equação diferencial que não é exata em uma exata
multiplicando-se a equação por um fator integrante apropriado. Lembre-se de que esse foi
o procedimento que usamos para resolver equações lineares.
Suponha que a EDO
dy
M (x, y) + N (x, y) =0
dx
não é exata. Queremos determinar um fator integrante µ(x, y) que a torne exata. Isto é,
procuramos µ = µ(x, y) tal que a EDO
dy
µ(x, y)M (x, y) + µ(x, y)N (x, y) =0
dx
seja exata. Pelo teorema (3.15), esta EDO é exata se
∂ ∂
(µ(x, y)M (x, y)) = (µ(x, y)N (x, y)) .
∂y ∂x
Aplicando a regra do produto, temos

µy M + µMy = µx N + µNx ,
isto é,
µy M − µx N = µ(Nx − My ).

A equação acima é uma equação diferecial parcial de primeira ordem que não sabemos
resolver. No entanto, se supusermos que µ é uma função apenas de uma variável, poderemos
achar a solução, de fato:

1. Se µ = µ(x), temos µy = 0. Portanto,

1
µx = − µ(Nx − My ). (3.7)
N

2. Se µ = µ(y), temos µx = 0. Portanto,

1
µy = µ(Nx − My ). (3.8)
M

Em cada um desses casos, teremos uma EDO de variáveis separáveis que pode ser resolvida
se

1. o lado direito de (3.7) depender somente de x.

2. o lado direito de (3.8) depender somente de y.

Exemplo 3.17. Considere a seguinte EDO

dy
x2 − y 2 + 2xy = 0.
dx
1 y2
Verifique que é fator integrante e que x + = c é a solução geral da EDO.
x2 x

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