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CÁLCULO II

Cristiane da Silva
Séries de potências
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

„„ Identificar a série de potências e seu raio de convergência.


„„ Desenvolver a série de potências para a série geométrica e funções
próximas a ela.
„„ Relacionar o raio de convergência da derivada e da integral da série
de potências ao raio da série primitiva.

Introdução
Uma série de potências é basicamente uma série do tipo ∑∞n=0 cnxn = c0 + c1x
+ c2 x2 + c3x3 ..., onde x é uma variável real e os cn são constantes, chamadas
de coeficientes. Além disso, pode ser vista como um polinômio infinito,
pois não tem um limite para a potência de x. Assim como qualquer tipo
de série, as séries de potências podem convergir ou divergir, de acordo
com os seus coeficientes e os valores de x. Uma série pode, por exemplo,
convergir para certos valores de x e divergir para outros. A expansão em
série de potências pode ser utilizada para deduzir expansões de outras
funções relacionadas, por meio de substituição, integração e derivação.
Neste capítulo, você estudará sobre a série de potências e seu raio
de convergência, bem como sobre as séries geométricas. Além disso,
conhecerá a relação entre o raio de convergência da derivada e da integral
da série de potência se o raio da série primitiva. Por fim, verá exemplos de
séries de potência para melhor compreensão do conteúdo em estudo.
2 Séries de potências

1 Séries de potências e raio de convergência


Uma série de potências centrada no ponto x = c é uma série infinita da forma:

Para usar uma série de potências, faz-se necessário determinar os valores


de x nos quais a série converge, de modo que é possível afirmar que ela con-
verge em seu centro x = c: F(c) = a0 + a1(c – c) + a2(c – c)2 + a3(c – c)3 + ⋯ = a0
(ROGAWSKI, 2009).
Rogawski (2009, p. 576) apresenta o teorema que afirma que toda série
de potências converge absolutamente em um intervalo simétrico em torno
do centro x = c:

Seja F(x) = ∑∞n=0 an (x – c) n. Existem três possibilidades: (i) F(x) converge


somente em x = c, ou (ii) F(x) converge em cada x, ou (iii) existe um número
R > 0 tal que F(x) converge absolutamente se |x – c| < R e diverge se |x – c| > R;
nas extremidades |x – c| = R a série pode convergir, ou não. No caso (i),
tomamos R = 0 e no caso (ii) tomamos R = ∞. Dizemos que R é o raio de
convergência de F(x).

O teorema mostra que, se o raio de convergência R for não nulo e finito,


então F(x) converge absolutamente em um intervalo centrado em c de raio
R. A Figura 1, a seguir, mostra a afirmação do teorema. Cabe destacar que,
em alguns casos, o teste da razão pode ser utilizado para encontrar o raio de
convergência (ROGAWSKI, 2009).

Diverge Converge absolutamente Diverge

x
c–R c c+R

Convergência possível nas extremidades

Figura 1. Intervalo de convergência de uma série de potências.


Fonte: Adaptada de Rogawski (2009).
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Anton, Bivens e Davis (2014) explicam que o teste da razão funciona exclusivamente
com os termos da série dada, sem a necessidade de haver uma conjectura inicial sobre
sua convergência. O teorema a seguir define o teste da razão.
Seja ∑uk uma série de termos positivos e suponhamos que .

a) Se ρ < 1, a série convergirá.


b) Se ρ > 1 ou ρ = +∞, a série divergirá.
c) Se ρ = 1, a série poderá convergir ou divergir, de modo que deve ser tentado
outro teste.

Agora, observe alguns exemplos de uso do teste da razão.


Cada uma das séries a seguir tem termos positivos, portanto o teste da razão é
aplicável. Em cada parte, utilize esse teste para determinar se as séries convergem
ou divergem.
a)
A série converge, pois:

b)

A série converge, pois:

c)
A série diverge, pois:

Fonte: Anton, Bivens e Davis (2014, p. 634–635).


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Observe, a seguir, um exemplo utilizando o teste da razão para encontrar


o raio de convergência.

Em quais valores de x converge ?

Solução:
Seja e calculemos a razão ρ do teste da razão:

Pelo teste da razão, F(x) converge se , ou seja, se |x| < 2. De modo


análogo, F(x) diverge se , ou se |x| > 2. Portanto, o raio de convergência
é R = 2. O teste da razão é inconclusivo em x = ±2, portanto é preciso conferir esses
casos diretamente. Ambas as séries divergem, pois:

Portanto, F(x) converge somente em |x| < 2, conforme a Figura 2.

Converge
Diverge Diverge
absolutamente

x
–2 0 2

Diverge Diverge

Figura 2. O intervalo de convergência de .


Fonte: Adaptada de Rogawski (2009).
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Rogawski (2009) explica que o teste da razão para encontrar o raio de con-
vergência, utilizado no exemplo anterior, é um método que pode ser aplicado
a qualquer série de potências F(x) = ∑bn(x – c)n para a qual exista o limite
. O autor mostra, ainda, o exemplo do cálculo do limite ρ do teste
da razão aplicado a F(x), observe:

Pelo teste da razão, F(x) converge se ρ = r|x – c| < 1, ao passo que diverge
se ρ = r|x – c| > 1. Assim, se r for finito e não nulo, então F(x) converge se
|x – c| < r–1, e o raio de convergência é R = r–1. Se r = 0, então F(x) converge
em cada x, e o raio de convergência é R = ∞. Se r = ∞, então F(x) diverge em
cada x ≠ c, e R = 0.
Rogawski (2009, p. 578) destaca o teorema para encontrar o raio de con-
vergência: “Seja F(x) =∑bn(x – c)n e suponha que exista o limite seguinte:
. Então F(x) tem raio de convergência R = r–1, onde tomamos
R = ∞ se r = 0 e R = 0 se r = ∞.”
Observe, a seguir, alguns exemplos do raio de convergência.

Exemplo 1
Determine o raio de convergência de .

Solução:
Seja , então:

Ou seja, o raio de convergência é R = r–1. Portanto, a série de potências converge


absolutamente se |x – 5| < 1 e diverge se |x – 5| > 1. Em outras palavras, F(x) converge
absolutamente no intervalo aberto (4,6). Nas extremidades, tem-se que:
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convergente pelo teste de Leibniz, e

divergente (série harmônica). Portanto, a série de potências converge no intervalo


semiaberto (4,6).

Exemplo 2
Mostre que converge em cada x.

Solução:
Seja , então:

Assim, R = r–1 = ∞, de modo que a série de potências converge em cada x.


Fonte: Rogawski (2009, p. 578–579).

Anton, Bivens e Davis (2014) explicam o teste de Leibniz, também conhecido como teste
da integral, para verificar convergências de séries. Os autores explicam que a relação
entre as expressões e é que o integrando da integral imprópria
resulta quando o índice k do termo geral da série for substituído por x e os limites do
somatório da série forem substituídos pelos limites de integração correspondentes.
O teorema a seguir evidencia que há uma relação entre a convergência da série e a
integral.
Seja ∑uk uma série com termos positivos. Se f for uma função decrescente e contínua
no intervalo [a, +∞) e tal que uk = f(k), com k ≥ a, então ambas as expressões —
e — convergirão ou divergirão.
De acordo com o teorema, se a integral divergir, a série também divergirá, ao passo
que se a integral convergir, a série também convergirá.

Observe, a seguir, alguns exemplos de uso do teste de Leibniz.


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Use o teste da integral (teste de Leibniz) para determinar se as seguintes séries con-
vergem ou divergem.
a)
Essa é a série harmônica divergente, então o teste da integral providenciará somente
uma outra maneira simples de se estabelecer a divergência. Observe, inicialmente,
que a série tem termos positivos, de modo que o teste é aplicável. Se substituirmos k
por x no termo geral 1/k, obteremos a função f(x) = 1/x, que é decrescente e contínua,
com x ≥ 1, conforme a seguir:

Assim, tanto a integral como a série divergem.

b)

Observe, inicialmente, que a série tem termos positivos, de modo que o teste é
aplicável. Se substituirmos k por x no termo geral 1/k2, obteremos a função f(x) = 1/x2,
que é decrescente e contínua, com x ≥ 1, conforme a seguir:

Assim, tanto a integral como a série convergem pelo teste da integral, com a = 1.
Fonte: Anton, Bivens e Davis (2014, p. 626–627).

Na próxima seção, será explicado como desenvolver a série de potências


para a série geométrica a as funções próximas a ela.

2 Série geométrica
A série geométrica oferece um exemplo importante de série de potências.
Primeiro, lembre-se de que, se |r| < 1, então . Ao escrever x em
vez de r, pode-se ver essa fórmula como uma expansão em série de potências:
, com |x| < 1.
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A seguir, são apresentados alguns exemplos que mostram que essa fórmula
pode ser adaptada para obter a representação em séries de potências de outras
funções (ROGAWSKI, 2009).

Exemplo 1
Prove que se .

Solução:
Ao substituir x por 2x na equação , obtém-se que:

A expansão é válida se |x| < 1, e, portanto, a expansão


é válida se |2x| < 1, ou .

Exemplo 2
Prove que:

Para quais x é válida essa fórmula?

Solução:
Inicialmente, reescreva no formato , para poder usar a equação
:

É possível substituir x por na equação , desde que se tenha


, para obter o seguinte:


Essa expansão é válida se |–x2/2| < 1, ou |x| < √2.
Fonte: Rogawski (2009, p. 579).
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Como será visto na seção a seguir, as séries de potências são funções


bem-comportadas, pois uma série de potências F(x) é derivável dentro de
seu intervalo de convergência, de modo que é possível derivar e integrar F(x)
como se fosse um polinômio (ROGAWSKI, 2009).

3 Derivação e integração
Existe uma relação entre o raio de convergência da derivada e da integral da
série de potências e o raio da série primitiva. Rogawski (2009, p. 580) apresenta
o teorema de derivação e integração termo a termo:

Suponha que F(x) = ∑∞n=0 an (x – c) n tenha um raio de convergência R > 0. Então


F(x) é derivável em (c – R, c + R) e sua derivada e antiderivada podem ser
calculadas termo a termo. Mais precisamente, para cada x ∈ (c – R, c + R),
temos F'(x) = ∑∞n=1 nan (x – c) n–1, em que
A é uma constante qualquer. Essas séries têm o mesmo raio de convergência R.

Observe, a seguir, alguns exemplos de derivação e integração das séries


de potências.

Exemplo 1
Prove que se

Solução:
Observando que:

obtém-se o resultado derivando a série geométrica termo a termo, com |x| < 1:
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Essa expansão é válida em |x| < 1, pois a série geométrica tem raio de convergência
R = 1.

Exemplo 2
Prove que, para –1 < x < 1,

Solução:
Inicialmente, substitui-se x por –x2 em para obter:

Como a série geométrica tem raio de convergência R = 1, essa expansão é válida


em |x2| < 1, ou seja, |x| < 1. Agora, integre essa série termo a termo [lembre-se de que
arc tg x é uma antiderivada de (1 + x2)–1]:

Para determinar a constante A, tome x = 0. Assim, arc tg 0 = 0 = A e, portanto, A = 0.


Isso prova a equação:

para –1 < x < 1.


Fonte: Rogawski (2009, p. 580–581).

ANTON, H.; BIVENS, I. C.; DAVIS, S. L. Cálculo. 10. ed. Porto Alegre: Bookman, 2014. v. 2.
ROGAWSKI, J. Cálculo. Porto Alegre: Bookman, 2009. 2 v.

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