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Aula 4 - Introdução ao Cálculo

Prof. Jáuber Cavalcante de Oliveira


Departamento de Matemática, UFSC,
CEP 88040-900 Florianópolis,
e-mail:j.c.oliveira@ufsc.br
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AULA 4

Assuntos:

• PRODUTO CARTESIANO, GRÁFICO DE UMA RELAÇÃO

• EXEMPLOS

• RELAÇÃO DE EQUIVALÊNCIA: definição e exemplos

• CLASSES DE EQUIVALÊNCIA

• RELAÇÕES DE EQUIVALÊNCIA E PARTIÇÕES DE UM CON-


JUNTO

• EXERCÍCIOS
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PRODUTO CARTESIANO, GRÁFICO DE UMA RELAÇÃO

Definição 0.1. Dados dois conjuntos X, Y , o produto cartesiano de X


por Y , denotado X × Y , é definido por

X × Y = {(x; y)|x ∈ X ∧ y ∈ Y }.

O produto cartesiano tem boas propriedades quando iterage com as operações


de união e interseção.

Proposição 0.1. Sejam A, B, C, D são conjuntos. Então:

(i) (A ∩ B) × (C ∩ D) = (A × C) ∩ (B × D).

(ii) (A ∩ B) × C = (A × B) ∩ (B × C).

(iii) A × (B ∩ C) = (A × B) ∩ (A × C).

(iv) (A ∪ B) × C = (A × B) ∪ (B × C).

(v) A × (B ∪ C) = (A × B) ∪ (A × C).

Demonstração. Provemos apenas a primeira identidade.


1) Se (A ∩ B) × (C ∩ D) = ∅, claramente temos
(A ∩ B) × (C ∩ D) ⊆ (A × C) ∩ (B × D).
Se w = (x; y) ∈ (A ∩ B) × (C ∩ D), então x ∈ A ∩ B e y ∈ C ∩ D, e logo
(x; y) ∈ A × C e (x; y) ∈ B × D. Isso mostra que (x; y) ∈ (A × C) ∩ (B × D),
e concluímos que (A ∩ B) × (C ∩ D) ⊆ (A × C) ∩ (B × D).
2) Se w = (x; y) ∈ (A × C) ∩ (B × D), então (x; y) ∈ A × C e (x; y) ∈ B × D.
Isso implica que x ∈ A ∩ B e y ∈ C ∩ D, ou seja, (x; y) ∈ (A ∩ B) × (C ∩ D),
mostrando a inclusão contrária.

* Claro que uma relação ρ é um subconjunto de qualquer produto cartesiano


X × Y tal que Dom(ρ) ⊆ X e Im(ρ) ⊆ Y .

* Se ρ é uma relação e ρ ⊆ X × Y , então dizemos que ρ é uma relação


de X em Y . Se ρ é uma relação de X em Y e X ∪ Y ⊆ Z 1 , então dizemos
que ρ é uma relação de Z em Z, também designada relação em Z.
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Note que o domínio e a imagem de ρ são subconjuntos de Z
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Definição 0.2. Se ρ é uma relação de X em Y e A ⊆ X, então ρ(A) é


definido por
{y| ∃x ∈ A ∧ xρy}.
* Claro que ρ(Dρ ) = Imρ , e ρ(A) ⊂ Imρ .
Exemplo 0.1. Seja X = Y = Z, ρ = {(x; y)|x < y}.
Consideremos A = Z+ e determinemos ρ(A).
Por definição, este é o conjunto dos números inteiros que são maiores do
que algum número inteiro positivo. Notamos que 1 ∈
/ ρ(A), mas cada inteiro
maior ou igual a 2 é maior do que algum número inteiro positivo. Logo,
ρ(A) = {y|2 ≤ y}. ⋄
Definição 0.3. Sejam X, Y conjuntos e ρ uma relação de X em Y . O
gráfico de ρ, denotado Gρ , coincide com o conjunto dos pares ordenados que
pertencem a ρ.

EXEMPLOS

Para relações em ρ, o conjunto dos pontos do plano cartesiano correspon-


dente aos membros da relação é o gráfico da relação.
Exemplo 0.2. (a) O gráfico da relação

ρ = {(x, y) ∈ R × R|x ≤ y}

é representado no plano cartesiano pelo conjunto dos pontos do plano


situados acima da reta que forma um ângulo de 45 graus com o eixo Ox.

(b)
ρ = {(x, y) ∈ R × 0 ≤ x ≤ 2 ∨ 0 ≤ y ≤ 1}
é representado no plano cartesiado pelo conjunto dos pontos do plano
situados na "faixa horizontal" dos pontos (x; y) em que 0 ≤ y ≤ 1,
juntamente com a "faixa vertical" dos pontos (x; y) em que 0 ≤ x ≤ 2.

(c)
ρ = {(x, y) ∈ R × 0 ≤ x ≤ 2 ∧ 0 ≤ y ≤ 1}
é representado no plano cartesiado pela interseção do conjunto dos pontos
do plano situados na "faixa horizontal" (dos pontos (x; y) em que) 0 ≤
y ≤ 1 com os pontos da "faixa vertical" (dos pontos (x; y) em que) 0 ≤
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x ≤ 2; ou seja, o gráfico é a região retangular em que cada ponto (x; y)


satisfaz 0 ≤ x ≤ 2 e 0 ≤ y ≤ 1.
O gráfico de relações satisfazem duas propriedades importantes:
Gρ∪σ = Gρ ∪ Gσ , Gρ∩σ = Gρ ∩ Gσ .
É um EXERCÍCIO provar estas identidades.
RELAÇÃO DE EQUIVALÊNCIA
Definição 0.4. Uma relação em um conjunto X é reflexiva (em X) sse
xρx para cada x em X. Se nenhum X é especificado, convencionamos que
X = Dρ ∪ Imρ .
Uma relação ρ é simétrica se xρy implica yρx, e ρ é transitiva sse xρy e
yρz implicam xρz.
Uma relação ρ em um conjunto X é uma relação de equivalência (em X)
se, e somente se, ρ é reflexiva (em X), simétrica e transitiva.
Observação 0.1. Se uma relação ρ em X é uma relação de equivalência em
X, então Dρ = X. Por isso, é frequente o uso da terminologia "uma relação
de equivalência sobre X" ao invés de "uma relação de equivalência em X".
Exemplo 0.3. (a) Seja X uma coleção de conjuntos. A igualdade entre
conjuntos é uma relação de equivalência sobre X.
(b) Seja X o conjunto formados por todos os triângulos (no âmbito da ge-
ometria plana). A noção geométrica de semelhança de triângulos é uma
relação de equivalência sobre X (mostre a transitividade apenas).
(c) Seja X = Z e n um número inteiro positivo. Seja
ρ = {(x; y)|n divide x − y}.
ρ é uma relação de equivalência sobre X, pois:
• Refleximo: x ∈ X, xρx (n divide 0).
• Simetria: xρy implica que existe p inteiro tal que x − y = pn, mas
então y − x = (−p) n e logo yρx.
• Transitivo: se xρy, ou seja, existe p inteiro tal que x − y = pn, e
yρz, ou seja, existe inteiro q tal que y − z = qn, então
x − y = (x − y) + (y − z) = p n + q n = (p + q) n
que implica em xρz.
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(d) Seja X = Z+ × Z+ . Considere

ρ = {((x, y); (u, v)) |xv = yu} .

ρ é uma relação de equivalência sobre X. Verifiquemos apenas a transi-


tividade (reflexividade e simetria são imediatas da definição de ρ):
Se (x; y)ρ(u; v) e (u; v)ρ(s; t), então temos que xv = yu e ut = vs, logo
 y u   vs 
xt = = ys,
v u

a assim (x; y)ρ(s; t). 

Definição 0.5. Se ρ é uma relação de equivalência sobre um conjunto X,


então um subconjunto A de X é uma classe de equivalência (classe de ρ-
equivalência) se, e somente se, existe um elemento x de A tal que A é igual
a conjunto de todos os elementos y tais que xρy. Assim, A é uma classe de
equivalência se, e somente se, ∃x ∈ X tal que A = ρ({x}).

* NOTAÇÃO: [x] denota o conjunto de todos os ρ-relativos de x em X,


sendo denominada a classe de equivalência gerada por x. O conjunto das
classes de equivalência de ρ (relação de equivalência sobre X) é denominado
de conjunto quociente de X pela relação ρ: X/rho.

Observação 0.2. Seja ρ uma relação de equivalência sobre X. As pro-


priedades básicas das classes de ρ-equivalência são as seguintes:

• x ∈ [x] (pela reflexividade de ρ)

• Se xρy, então [x] = [y].


(EXERCÍCIO: prove isso.)

RELAÇÕES DE EQUIVALÊNCIA E PARTIÇÕES DE UM CONJUNTO

Lembrando a definição de partição de um conjunto não-vazio, concluímos


que a coleção da ρ-equivalente classes distintas é uma partição de X. Isso
prova a primeira afirmação do seguinte teorema.
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Teorema 0.1. Seja ρ uma relação de equivalência sobre um conjunto X.


Então, a coleção de ρ-equivalências distintas é uma partição de X. Recipro-
camente, se P é uma partição de X, e uma relação ρ é definida por

aρb se, e somente se ∃A ∈ P ∧ a, b ∈ A

então ρ é uma relação de equivalência sobre X.


Além disso, se uma relação de equivalência ρ determina uma partição P
de X, então a relação a relação de equivalência definida por P é igual a ρ.
Reciprocamente, se uma partição P de X determina a relação de equivalência
ρ, então a partição de X definida por ρ é igual a P.
Demonstração. (da recíproca da primeira parte)
Seja P uma partição de X. Seja ρ a relação definida por aρb se, e somente
se, existe A ∈ P tal que a, b ∈ A. Então, ρ já é simétrica.
Se a ∈ X, então existe A ∈ P com a ∈ A (pois P é uma partição de X).
Logo, aρa, e ρ é reflexiva. Mostremos que ρ é transitiva. Supomos que aρb e
bρc. Então, existe A em P com a, b ∈ A e existe B em P com b, c ∈ B. Como
b ∈ A e b ∈ B, temos que A = B (afinal, membros distintos de uma partição
não podem ter elementos comuns). Então, existe A ∈ P com a, c ∈ A, logo
aρc.

EXERCÍCIOS

E1. Prove que os gráficos de duas relações ρ, σ satisfazem as seguintes pro-


priedades: (a) Gρ∪σ = Gρ ∪ Gσ ,
(b) Gρ∩σ = Gρ ∩ Gσ .

E2. Prove que se A, B, C, D são conjuntos, então:

(i) (A ∩ B) × (C ∩ D) = (A × C) ∩ (B × D).
(ii) (A ∩ B) × C = (A × B) ∩ (B × C).
(iii) A × (B ∩ C) = (A × B) ∩ (A × C).
(iv) (A ∪ B) × C = (A × B) ∪ (B × C).
(v) A × (B ∪ C) = (A × B) ∪ (A × C).

E3. Prove a segunda propriedade básica das classes de equivalência: Dada


uma relação de equivalência ρ sobre um conjunto X, se xρy, então [x] =
[y].
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E4. Sejam A = {1, 2, 3} e ρ = {(1; 1), (2; 2), (3; 3), (1; 2), (2; 1)}. Mostre que
ρ é uma relação de equivalência e determine as classes que equivalência.

E5. Seja A = {2, 3, 4, 5, 7, 9, 10, 13, 14, 15}. Determine o conjunto quociente
A/ρ em cada caso:
(a) aρb se, e somente se, a ≡ b (mod 5). (b) aρb se, e somente se, a ≡ b
(mod 3).

E6. Mostre que a relação (a; b)ρ(c; d) se, e somente se, a + d = b + c é uma
relação de equivalência em N × N. Determine a classe [(1; 2)].

E7. Prove a implicação direta da segunda parte do Teorema 0.1.


Sugestão: seja ρ uma dada relação de equivalência sobre X que (pela
primeira parte do Teorema 0.1) determina uma partição P de X. Seja
ρ∗ a relação de equivalência determinada pela partição P (segundo a
recíproca da primeira parte do Teorema 0.1).
Mostre que ρ = ρ∗ .

E8. Prove a implicação recíproca da segunda parte do Teorema 0.1.


Sugestão: Seja P uma partição de X e ρ a relação de equivalência deter-
minada por P (segundo a recíproca da primeira afirmação do Teorema
0.1). Seja P ∗ a partição de X determinada por ρ (segundo a implicação
direta da primeira parte do Teorema 0.1).
Mostre que P = P ∗ .

REFERÊNCIAS

1. Seymour Lipschutz, Teoria dos Conjuntos, Coleção Schaum, Editora McGraw-


Hill do Brasil, Ltda., 1976.
2. Paul R. Halmos, Teoria Ingênua dos Conjuntos, Editora Polígono, 1973.
3. Robert R. Stoll, Set Theory and Logic, Dover, Publications, 1963.

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