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Aula 7 - Introdução ao Cálculo

Prof. Jáuber Cavalcante de Oliveira


Departamento de Matemática, UFSC,
CEP 88040-900 Florianópolis,
e-mail:j.c.oliveira@ufsc.br
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AULA 7

Assuntos:

• COMPOSIÇÃO DE FUNÇÕES
associatividade
composição preserva injetividade e sobrejetividade

• FUNÇÃO INVERSA

• CARDINALIDADE

• EXERCÍCIOS
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COMPOSIÇÃO DE FUNÇÕES

Associatividade:

Sejam X, Y, Z, W conjuntos, e f : X → Y , g : Y → Z e h : Z → W
funções.

Proposição 0.1. A composição de funções é uma operação associativa:

f ◦ (g ◦ h) = (f ◦ g) ◦ h.

Demonstração. 1) Se (x; u) ∈ h ◦ (g ◦ f ), então existe z tal que (x; z) ∈ g ◦ f


e (z; u) ∈ h.
Como (x; z) ∈ g ◦ f , existe y tal que (x; y) ∈ f e (y; z) ∈ g.
Então, (y; z) ∈ g e (z; u) ∈ h implicam em (y; u) ∈ h ◦ g.
Além disso, (x; y) ∈ f e (y; u) ∈ h ◦ g implicam em (x; u) ∈ (h ◦ g) ◦ f .
Com isso provamos que h ◦ (g ◦ f ) ⊆ (h ◦ g) ◦ f .
2) Se (x; u) ∈ (h ◦ g) ◦ f , então existe y tal que (x; y) ∈ f e (y; u) ∈ h ◦ g.
Como (y; u) ∈ h ◦ g, existe z tal que (y; z) ∈ f e (z; u) ∈ h.
Então, (x; y) ∈ f e (y; z) ∈ g implicam em (x; z) ∈ g ◦ f .
Além disso, (x; z) ∈ g ◦ f e (z; u) ∈ h implicam em (x; u) ∈ h ◦ (g ◦ f ).
Com isso provamos que (h ◦ g) ◦ f ⊆ h ◦ (g ◦ f ) .
Por 1) e 2), a igualdade h ◦ (g ◦ f ) = (h ◦ g) ◦ f está provada.

Apresentamos a seguir uma outra forma de provar a parte 1) da demon-


stração anterior. A outra parte pode ser provada de forma similar.

Demonstração. Provemos que h ◦ (g ◦ f ) ⊆ (h ◦ g) ◦ f da seguinte forma:


mostraremos que Dh◦(g◦f ) ⊆ D(h◦g)◦f , e que para cada x ∈ Dh◦(g◦f ) , vale que
(h ◦ (g ◦ f )) (x) = ((h ◦ g) ◦ f ) (x).
Se x ∈ Dh◦(g◦f ) , então x ∈ Dg◦f e z = (g ◦ f )(x) ∈ Dh .
Então,
(x ∈ Df ∧ y = f (x) ∈ Dg ) ∧ z = g(y) ∈ Dh .
Então,
x ∈ Df ∧ (y := f (x) ∈ Dg ∧ z := g(y) ∈ Dh ) .
Logo,
x ∈ Df ∧ y := f (x) ∈ Dh◦g ∴ x ∈ D(h◦g)◦f .
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Com isso, mostramos que Df ◦(g◦h) ⊆ D(f ◦g)◦h .

Para concluir 1), ∀x ∈ Dh◦(g◦f ) ,

(h ◦ (g ◦ f )) (x) = h ((g ◦ f ) (x))


= h (g (f (x))) = (h ◦ g) (f (x))
= ((h ◦ g) ◦ f ) (x).

Composição preserva injetividade e sobrejetividade

Proposição 0.2. Sejam X, Y conjuntos, e f : X → Y , g : Y → Z funções.


Então:

(a) Se f e g são sobrejetoras, então g ◦ f é sobrejetora.

(b) Se f e g são injetoras, então g ◦ f é injetora.

(c) Se f e g são bijetoras, então g ◦ f é bijetora.

Demonstração. (c) é uma consequência imediata de (a) e (b).


Provemos apenas (b):
Supomos que (g ◦ f )(x1 ) = (g ◦ f )(x2 ), ou seja, g(f (x)) = g(f (x2 )), isto é,
g(y1 ) = g(y2 ) com y1 = f (x1 ) e y2 = f (x2 ). Como g é injetora, devemos ter
y1 = y2 , ou seja, f (x1 ) = f (x2 ). Mas f também é injetora, logo devemos ter
x1 = x2 .
Como (g◦f )(x1 ) = (g◦f )(x2 ) implica em x1 = x2 , a função g◦f é injetora.

FUNÇÃO INVERSA

Sejam X, Y conjuntos. Dada uma função f : X → Y , vimos como f de-


termina um relacionamento entre subconjuntos de Y e subconjuntos de X.
Dado ⊂ Y , f −1 (B) ⊂ X. Deseja-se estender esta idéia de modo que f −1
possa ser aplicado a um ponto em Y para obter um ponto em X. Ou seja,
suponha que B = {y}, onde y ∈ Y . Há duas maneiras com que f −1 (B) pode
não ser um único ponto de X:

• Pode ser que f −1 (B) seja vazio.

• Pode ser que f −1 (B) tenha vários pontos ao invés de apenas um ponto.
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A primeira situação indesejável não ocorretá se f for sobrejetora. A segunda


situação indesejável não ocorrerá se além de f ser sobrejetora, f também for
injetora.
Concluímos que devemos ter f bijetora para assegurar que para B = {y}
tenhamos um único ponto em f −1 (B).

Dada uma bijeção f : X → Y , para cada y ∈ Y , existe um único x ∈ X tal


que f (x) = y.
Esta correspondência define uma função de Y em X denominada a função
inversa de f , denotada f −1 .

Definição 0.1. Sejam X, Y conjuntos e f : X → Y uma função bijetora. A


função inversa de f é a função f −1 dada por

f −1 = {(y; x) ∈ Y × X| (x; y) ∈ f }

* É imediato que se f : X → Y é uma função bijetora, então sua função


inversa também é bijetora.

Exemplo 0.1. Considere a função f (x) = 2x + 1 para cada x ∈ R. O


domínio de f é R. Esta função é injetora, pois f (x1 ) = f (x2 ) implica em
2x1 + 1 = 2x2 + 1, e logo x1 = x2 . Esta função é sobrejetora, pois para cada
y ∈ R, f ((y − 1)/2) = 2 ((y − 2)/2) + 1 = y.
Logo, f é bijetora e sua função inversa é g : R → R dada por g(y) =
(y − 2) /2, ∀y ∈ R. ⋄

Exemplo 0.2. Considere as funções f : R → R dado por f (x) = x2 e



h : R+ +
0 → R0 dada por h(y) = y, ∀y ∈ R+
0.
1


• (f ◦ h)(y) = f ( y) = y, ∀y ∈ R+ 0 , ou seja, f ◦ h = idR+ , a função
0
+
identidade em R0 . Dizemos que f tem inversa à direita h, e que h tem
inversa à esquerda f .

• (h ◦ f )(x) = h(x2 ) = |x|, ∀x ∈ R


1
A raiz quadrada de um número aparece em exemplos mas a discussão detalhada que
estabelece a existência de solução para a equação x2 = 2 em R aparecerá mais adiante
neste Curso.
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Teorema 0.1. Sejam X, Y, Z conjuntos e f : X → Y , g : Y → Z funções


bijetoras. Então, a composição g ◦ f : X → Z é uma função bijetora e

(g ◦ f )−1 = f −1 ◦ g −1 .

Demonstração. Sabemos que g◦f é uma função bijetora (item (c) da Proposição
anterior). Logo, g ◦ f tem uma função inversa. Então,

(g ◦ g)−1 = {(z; x)|∃y ∈ Y ∧ (x; y) ∈ f ∧ (y; z) ∈ g}



= (z; x)|∃y ∈ Y ∧ (y; x) ∈ f −1 ∧ (z; y) ∈ g −1
= f −1 ◦ g −1 .

CARDINALIDADE

Definição 0.2. Dois conjuntos X, Y têm a mesma cardinalidade se existe


uma função bijetora ϕ : X → Y . Nesse caso, escrevemos X h Y .

* h é uma relação de equivalência sobre uma família2 de conjuntos qual-


quer F. Como h é uma relação de equivalência, ela particiona a família de
conjuntos em classes de equivalência disjuntas.

Definição 0.3. Um conjunto S é finito se S = ∅ ou se existe n ∈ N e uma


função bijetora f : Nn → S. Se S não é finito, dizemos que S é infinito.

Definição 0.4. • O número cardinal de ∅ é definido como 0.

• O número cardinal de Nn é definido como igual a n.

• Se S h Nn , dizemos que S tem n elementos (tem cardinalidade n).

• Se um número cardinal não é finito, diz-se que é transfinito.

Definição 0.5. Um conjunto infinito S é enumerável se existe uma bijeção


ϕ : N → S. Se um conjunto é finito ou enumerável, dizemos que é contável.
Se um conjunto não é contável, dizemos que é incontável.

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Dados conjunto não-vazios I (conjunto de índices), A. Uma família F de elementos
de A com índices em I é uma função ϕ : I → A.
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EXERCÍCIOS

E1. Seja f (x) = 1/(1 + x2 ). Determine (f ◦ f )(x).


Resposta:
1 + 2x2 + x4
2 + 2x2 + x4
E2. Sejam g = {(1; 2), (2; 2), (3; 1), (4; 4)}, f = {(1; 5), (2; 7), (3; 9), (4; 17)} e
A = {1; 2}.
Determine Dg , Img , g(A), g −1 (A), f ◦ g e f −1 .
Respostas: Dg = {1, 2, 3, 4}, Img = {1, 2, 4}, g(A) = {2}, g −1 (A) =
{1, 2, 3}, f ◦g = {(1; 7), (2; 7), (3; 5), (4; 17)} e f −1 = {(5; 1), (7; 2), (9; 3), (17; 4)}.

E3. Seja f : X → Y uma função e suponha que existe g : Y → X tal que


g ◦ f = idX e f ◦ g = idY .

(a) Prove que f é bijetora.


(b) Prove que g = f −1 .

E4. (a) Seja S o conjuntos de todos os círculos do plano. Seja f : T → R+ 0


definida por f (K) = A(K), ∀K ∈ T , onde A(·) associa um círculo à sua
área. f é injetora ? f é sobrejetora ? Justifique.
(b) Seja T o conjuntos de todos os círculos no plano que têm centro em
um ponto O. Seja g : T → R+ 0 definida por g(K) = A(K), ∀K ∈ T ,
onde A(·) associa um círculo à sua área. g é injetora ? g é sobrejetora
? Justifique.

E5. Seja f : X → Y uma função. Então, uma função g : Y → X é uma


inversa à esquerda de f se g(f (x)) = x, ∀x ∈ X, e g é uma inversa
à direita de f se f (g(y)) = y, ∀y ∈ Y .

(a) Prove que f tem uma inversa à esquerda se, e somente se, f é inje-
tora.
(b) Prove que f tem uma inversa à direita se, e somente se, f é sobre-
jetora.
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REFERÊNCIAS

1. Seymour Lipschutz, Teoria dos Conjuntos, Coleção Schaum, Editora McGraw-


Hill do Brasil, Ltda., 1976.
2. Paul R. Halmos, Teoria Ingênua dos Conjuntos, Editora Polígono, 1973.
3. Robert R. Stoll, Set Theory and Logic, Dover, Publications, 1963.
4. Hércules de Araújo Feitora, Mauri Cunha do Nascimento, Alexys Bruno
Allonso, Teoria dos Conjuntos. Sobre a Fundamentação Matemática e a
Construção de Conjuntos Numéricos, Editora Ciência Moderna, 2011.

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