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Aula 3 - Introdução ao Cálculo

Prof. Jáuber Cavalcante de Oliveira


Departamento de Matemática, UFSC,
CEP 88040-900 Florianópolis,
e-mail:j.c.oliveira@ufsc.br
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AULA 3

Assuntos:

• Álgebra de conjuntos (identidades), princípio de dualidade

• Par ordenado, terno ordenado, enuplos ordenados (listas)

• Relações: definição, domínio, imagem e exemplos

• Exercícios
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ÁLGEBRA DE CONJUNTOS

Teorema 0.1. Para subconjuntos quaisquer A, B, C de um conjunto U, valem


as seguintes identidades:

(i) Associatividade:
A ∪ (B ∪ C) = (A ∪ B) ∪ C
e
A ∩ (B ∩ C) = (A ∩ B) ∩ C,

(ii) Comutatividade
A∪B =B∪A
e
A ∩ B = B ∩ A,

(iii) Distributividade

A ∪ (B ∩ C) = (A ∪ B) ∩ (A ∪ C)

e
A ∩ (B ∪ C) = (A ∩ B) ∪ (A ∩ C) ,

(iv) Elemento neutro


A ∪ ∅ = A e A ∩ U = A,

(v) Elemento inverso

A∪A=∅ e A ∩ A = ∅.

Demonstração. Provemos apenas que

A ∪ (B ∩ C) = (A ∪ B) ∩ (A ∪ C) .

1) Mostremos primeiro que o conjunto da esquerda está contido no conjunto


da direita.
Se A ∪ (B ∩ C) for o conjunto vazio, então a inclusão é óbvia.
Se x ∈ A ∪ (B ∩ C), então x ∈ A ∨ x ∈ (B ∩ C).
* Se x ∈ A, então x ∈ A ∪ B e x ∈ A ∪ C, e logo x ∈ (A ∪ B) ∩ (A ∪ C).
* Se x ∈ (B ∩ C), então x ∈ B ∧ x ∈ C, e logo x ∈ (A ∪ B) ∧ x ∈ (A ∪ C),
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que por sua vez implicam que x ∈ (A ∪ B) ∩ (A ∪ C).


Concluímos a parte 1), mostrando que

A ∪ (B ∩ C) ⊆ (A ∪ B) ∩ (A ∪ C) .

2) Devemos mostrar aqora a outra inclusão para completar a prova da igual-


dade dos dois conjuntos.
Se y ∈ (A ∪ B) ∩ (A ∪ C), então y ∈ (A ∪ B) ∧ y ∈ (A ∪ C) .
Então, devemos ter

(x ∈ A ∨ x ∈ B) ∧ (x ∈ A ∨ x ∈ C).

Para satisfazer esta condição, devemos ter x ∈ A ou x ∈ B ∩ C (porque?).


Logo, x ∈ A ∪ (B ∩ C), e mostramos que

(A ∪ B) ∩ (A ∪ C) ⊆ A ∪ (B ∩ C).

Princípio de Dualidade (para Álgebra de Conjuntos):


"Se T é qualquer Teorema escrito em termos de ∪, ∩,(.), então o dual de T
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também é um Teorema."

Teorema 0.2. Para subconjuntos quaisquer A, B de um conjunto U, valem


as seguintes identidades:

(i) Se ∀A, A ∪ B = A, então B = ∅.

(ii) Se ∀A, A ∩ B = A, então B = U.

(iii) Se A ∪ B = U e A ∩ B = ∅, então B = A.

(iv) A = A, ∅ = U, U = ∅.

(v) A ∪ A = A, A ∩ A = A, A ∪ U = U e A ∩ ∅ = ∅.

(vi) A ∪ (A ∩ B) = A, A ∩ (A ∪ B) = A.
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obtido trocando todos os ∩ por ∪, todos os ∪ por ∩ e ( ) por (.).
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(vii) (De Morgan)


A∪B =A∩B
e
A ∩ B = A ∪ B.

Demonstração. Provemos apenas dois itens.


* Provemos (i):
Supondo que B não é vazio, seja b ∈ B e considere A = U − {b}. Então,
A ∪ B = U e como A 6= U , temos uma contradição. 

* Provemos a primeira identidade de De Morgan:


Se x pertence a A ∪ B = U −(A∪B), então x ∈ / A∪B, e logo x ∈ / A ∧x ∈/ B,
ou seja, x ∈ A ∩ B.
Note que a sequência acima pode ser percorrida no sentido contrário:
se x ∈ A∩B, então x ∈ A ∧x ∈ B, e logo x ∈/ A ∧x ∈ / B, ou seja, x ∈
/ A∪B;
isto é, x ∈ A ∪ B.

RELAÇÕES

Definição 0.1. Um par ordenado de x e y, denotado (x; y), é conjunto

(x; y) := {x, {x, y}}.

x é a primeira coordenada e y é a segunda coordenada do par ordenado


(x; y).

Teorema 0.3. O par ordenado de x e y está unicamente determinado por x


e y. Além disso, se (x; y) = (u; v), então x = u e y = v.

Demonstração. A unicidade segue do Axioma de que um conjunto é deter-


minado por seus membros. Para provar a segunda afirmação, é vantajoso
considerar dois casos:
* se u = v, então (u; v) = {{u}}, e assim {{x, {x, y}} = {{u}}.
Isso implica que {x} = {x, y} = {u}, e logo x = u e y = u = v.
* se u 6= v, então {u} 6= {u, v} e {x} 6= {u, v}.
Devemos ter {x} = {u} e {x, y} = {u, v}.
Então, x = u (da primeira igualdade) e y = v (da segunda igualdade).
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Definição 0.2. Uma terna ordenada de x, y, z (ou lista ordenada com 3 el-
ementos), denotada (x; y; z), é definida pelo par ordenado ((x; y); z).
Assumindo que uma lista ordenada com n − 1 elementos foi definida, defin-
imos uma lista ordenada com n elementos, denotada (x1 ; x2 ; · · · ; xn−1 ; xn ),
pelo par ordenado ((x1 ; x2 ; · · · ; xn−1 ) ; xn ).
As listas ordenadas com n elementos são algumas vezes denominadas sim-
plesmente n-listas.
Definição 0.3. Uma relação binária ρ é um conjunto de pares ordenados.
Escrevemos (x; y) ∈ ρ ou xρy para indicar que x é ρ-relacionado a y.
Uma generalização natural das relações binárias são as relações enárias.
Definição 0.4. Uma relação enária ρ é um conjunto de listas ordenadas
com n elementos. Escrevemos (x1 ; x2 ; · · · ; xn ) ∈ ρ para indicar que os ele-
mentos da lista xi (i = 1, 2, · · · , n) são ρ-relacionados.
Definição 0.5. Se ρ é uma relação binária, então o domínio de ρ, denotado
Dom(ρ), ou Dρ , é definido pelo conjunto
{x|∃y ∧ (x; y) ∈ ρ}.
A imagem de ρ, denotada Im(ρ), ou Imρ , é definida pelo conjunto
{y|∃x ∧ (x; y) ∈ ρ}.
Exemplo 0.1. A relação "menor do que" para inteiros é
ρ< = {(x; y)|∃z ∈ Z+ ∧ x + z = y}
Neste exemplo (2; 5) ∈ ρ< . O domínio e a imagem desta relação são iguais
a Z, pois todo número inteiro é menor que algum número inteiro (domínio)
e todo número inteiro é tal que existe outro número inteiro menor do que ele
(imagem).
Exemplo 0.2. No conjunto dos números reais (que estudaremos em mais
detalhes adiante) R, temos a relação binária ρc = {(x; y)|x2 + y 2 = 1}.
√ √
Note que (1; 0), (0; 1), (1/ 2; 1/ 2) pertencem a ρc , mas (1; 1) ∈/ ρc . O
domínio e a imagem desta relação são iguais ao conjunto
{z| − 1 ≤ z ∧ z ≤ 1} =: [−1, 1] .
("intervalo fechado" de −1 a +1)
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EXERCÍCIOS

E1. Prove (diretamente) a segunda identidade distributiva do Teorema 0.1.

E2. Prove: Dado um conjunto U e subconjuntos quaisquer A, B deste con-


junto. Se ∀A, A ∩ B = A, então B = U.

E3. Prove a segunda identidade de De Morgan do Teorema 0.2.

E4. Prove: se (x; y; z) = (u; v; w), então x = u, y = v e z = w.

E5. Considere U = R. Determine o domínio e a imagem das seguintes re-


lações, e depois esboce o gráfico.

(a)
{(x; y)|x2 + 4y 2 = 1}
(b)
{(x; y)|x2 = y 2 }
(c)
{(x; y)| |x| + 2|y| = 1}
(d)
{(x; y)|x2 + y 2 < 1 ∧ x > 0}
(e)
{(x; y)|y ≥ 0 ∧ y ≤ x ∧ x + y ≤ 1}

REFERÊNCIAS

1. Seymour Lipschutz, Teoria dos Conjuntos, Coleção Schaum, Editora McGraw-


Hill do Brasil, Ltda., 1976.
2. Paul R. Halmos, Teoria Ingênua dos Conjuntos, Editora Polígono, 1973.
3. Robert R. Stoll, Set Theory and Logic, Dover, Publications, 1963.

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