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1.

Noções Preliminares

Neste capı́tulo apresentaremos noções premilinares, que serão


necessarias para melhor entendimento da teoria apresentada nos próximos
capı́tulos.

1.1 Conjuntos

Designaremos por conjunto qualquer coleção de objetos os quais


chamaremos de elementos. O conjunto vazio é o conjunto que não
possui elementos e é simbolizado por ∅. Usaremos letras maiúsculas
para simbolizar conjuntos e minúsculas para simbolizar elementos. A
afirmação de que o elemento x pertence ao conjunto A é simbolizado
por x ∈ A, enquanto a sua negação, é simbolizada por x ∈
/ A.
Como principais exemplos, temos os conjuntos numéricos, para os
quais usaremos as seguintes nomenclaturas:

N = {0, 1, 2, 3, · · · , n, · · · } (conjunto dos números naturais).

Z = {· · · , −m, · · · , −1, 0, 1, · · · , n, · · · } (conjunto dos números inteiros).

m
Q={ | m, n ∈ Z com n 6= 0} (conjunto dos números racionais).
n

R = {números racionais e números irracionais} (conjunto dos números


reais).


C = {x + iy | x, y ∈ R com i = −1} (conjunto dos números com-
plexos).

9
10
√ √ √ √ √ √
Sabemos que 2 ∈ R mas 2∈
/Qe −2 = −1 2 = i 2 ∈ C mas

−2 ∈
/ R.
Quando todos os elementos de um conjunto A pertencerem a um
conjunto B dizemos que A está contido em B ou que B contém A,
ou ainda que A é subconjunto de B e denotaremos por A ⊂ B. Essa
relação é chamada de inclusão. Dizemos que dois conjuntos A e B
são iguais (A = B) se eles possuem os mesmo elementos.
Os conjuntos numéricos citados no exemplo acima satisfazem a
seguinte relação de inclusão

N ⊂ Z ⊂ Q ⊂ R ⊂ C.

Definição 1.1.1. O conjunto formado pelos elementos pertencentes a


um conjunto A ou a um conjunto B será denotado por

A ∪ B = {x | x ∈ A ou x ∈ B} e chamado de união de A e B

Definição 1.1.2. O conjunto formado pelos elementos pertencentes


simutalneamente a um conjunto A e a um conjunto B será denotado
por

A ∩ B = {x | x ∈ A e x ∈ B} e chamado de interseção de A e B
√ √
Exemplo 1.1.1. Sendo A = {0, 1, 2, 3} e B = {−2, 0, 2, 4}. Temos
que

A ∪ B = {−2, 0, 1, 2, 2, 3} e A ∩ B = {0, 2}.

Dados dois conjunto quaisquer A e B vale que

A ∩ ∅ = ∅, A ∪ ∅ = A, A ∩ B ⊂ A e A ∪ B ⊃ A.

Definição 1.1.3. O conjunto formado pelos elementos pertencentes a


um conjunto A e não pertecentes a um conjunto B será denotado por

A − B = {x | x ∈ A e x ∈
/ B} e chamado de diferença entre A e B.

Definição 1.1.4. O conjunto formado por todos os subconjuntos de


um conjunto A será denotado por

℘(A) = {X | X ⊂ A} e chamado de conjunto das partes de A.


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Exemplo 1.1.2. Sendo A = {x ∈ Z| x2 ≤ 4} e B = {−1, 0, i4 }. Temos


que

A−B = {−2, 2} e ℘(B) = {∅, {−1}, {0}, {1}, {−1, 0}, {−1, 1}, {0, 1}, {−1, 0, 1}}.

Definição 1.1.5. Sejam os conjuntos Ω e A tal que A ⊂ Ω. O conjunto


formado por todos os elementos pertencentes ao conjunto Ω que não
pertencem ao conjunto A, será denotado por

CΩ A = {x | x ∈ Ω e x ∈
/ A} e chamado de conjunto complemetar de A em Ω.

Saiba Mais: Para Exemplo 1.1.3. Sendo A = {m ∈ Z | m2 ≥ 10} e Ω = Z. Temos que

mais detalhes so-


CΩ A = {−3, −2, −1, 0, 1, 2, 3}.
bre a teoria de
conjunto, ver re-
ferência [6] 1.1.1 Exercı́cios

1. Sendo A = {x ∈ N | x2 < 9}, B = {−1, 0, 1} e C = {in | n ∈ N}.


Calcule:

(a) A ∪ B ∪ C

(b) A ∩ B ∩ C

(c) (A ∪ B) − C

(d) (A − B) ∪ C

(e) (A ∩ C) − (A ∪ B)

(f) ℘(A) ∪ ℘(B − C)

(g) ℘(A − B) ∩ ℘(B ∩ C)

(h) C − B

(i) (C − B) ∪ CN A

2. Prove que quaisquer que sejam os conjuntos A, B ⊂ Ω e C , tem


-se:

(a) A ⊂ A

(b) Se A ⊂ B e B ⊂ C então A ⊂ C
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(c) Se A ⊂ B e B ⊂ A então A = B

(d) (A ∪ B) ∩ C = (A ∩ C) ∪ (B ∪ C)

(e) (A ∩ B) ∪ C = (A ∪ C) ∩ (B ∪ C)

(f) A − (C ∪ B) = (A − C) ∩ (A − B)

(g) (C ∪ B) − A = (C − A) ∪ (B − A)

(h) CΩ (A ∪ B) = CΩ A ∩ CΩ B

(i) CΩ (A ∩ B) = CΩ A ∪ CΩ B

(j) A − B = A ∩ CΩ B

1.1.2 Algumas respostas, sugestões e soluções

1. (a) A ∪ B ∪ C = {−i, −1, 0, 1, 2, i}

(b) A ∩ B ∩ C = {1}

(c) (A ∪ B) − C = {0, 2}

(d) (A − B) ∪ C = {−i, −1, , 1, 2, i}

(e) (A ∩ C) − (A ∩ B) = ∅

(f) ℘(A)∪℘(B−C) = {∅, {0}, {1}, {2}, {0, 1}, {0, 2}, {1, 2}{0, 1, 2}}

(g) ℘(A − B) ∪ ℘(B ∩ C) = {∅, {0}, {2}}

(h) C − B = {−i, i}

(i) (C − B) ∪ CN A = {−i, i, 3, 4, 5, · · · }

2. (a)

(b)

(c)

(d) Seja x ∈ (A ∪ B) ∩ C então x ∈ A ∪ B e x ∈ C, daı́ x ∈ A


ou x ∈ B, e x ∈ C. Logo, x ∈ A e x ∈ C, ou x ∈ B e x ∈ C,
portanto x ∈ (A ∩ C) ∪ (B ∪ C).

Por outro lado, seja x ∈ (A ∩ C) ∪ (B ∪ C) então x ∈ A e


x ∈ C, ou x ∈ B e x ∈ C, daı́ x ∈ A ou x ∈ B, e x ∈ C,
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logo x ∈ A ∪ B e x ∈ C, portanto x ∈ (A ∪ B) ∩ C. Assim,


(A ∪ B) ∩ C = (A ∩ C) ∪ (B ∪ C).

(e)

(f)

(g)

(h)

(i)

(j) Seja x ∈ A − B então x ∈ A e x ∈


/ B, como A ⊂ Ω , daı́
x ∈ A, e x ∈ Ω e x ∈
/ B, portanto x ∈ A ∩ CΩ B.
Por outro lado, seja x ∈ A ∩ CΩ B então x ∈ A, e x ∈ Ω e
x ∈
/ B, daı́ x ∈ A e x ∈
/ B, portanto x ∈ A − B. Assim,
A − B = A ∩ CΩ B.

1.2 Relações Binárias

Definição 1.2.1. Dados dois conjuntos A e B, não vazios, chama-


se produto cartesiano de A por B o conjunto formados pelos “pares
ordenados” (a, b) com a ∈ A e b ∈ B e denotado por

A × B = {(a, b) | a ∈ A e b ∈ B}.

Definição 1.2.2. Chama-se relação binária de A por B qualquer sub-


conjunto R de A × B. Noutras palavras

R é uma relação de A em B ⇐⇒ R ⊂ A × B.

Para indicar que (a, b) ∈ R usaremos a notação a R b (lê-se: a se


relaciona com b segundo R). Do contrário, usaremos o notação a R b
(lê-se: a não se relaciona com b segundo R)

Exemplo 1.2.1. Se A = {0, 1} e B = {−1, 0, 1}, então:

A × B = {(0, −1), (0, 0), (0, 1), (1, −1), (1, 0), (1, 1)}.

Segue abaixo, alguns exemplos de relações binária de A em B:


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R1 = {(0, −1), (0, 1)}

R2 = {(0, −1), (1, −1), (1, 0), (1, 1)}

R3 = {(0, 1), (1, 0)}

R4 = ∅

Definição 1.2.3. Quando A = B diz-se que R é uma relação sobre A,


ou ainda, uma relação em A

Exemplo 1.2.2. Se A = {0, 1, 2} então:

A2 = A × A = {(0, 0), (0, 1), (0, 2), (1, 0), (1, 1), (1, 2), (2, 0), (2, 1), (2, 2)}.

Segue abaixo, alguns exemplos de relações binária em A:

R1 = {(0, 1), (0, 2)}

R2 = {(0, 0), (1, 1), (1, 2), (2, 2)}

R3 = {(0, 1), (1, 0)}

Citaremos a seguir as principais propriedades que uma relação R so-


bre um conjunto A pode satisfazer:

a) (Reflexiva) Dizemos R é reflexiva se:

∀ x ∈ A =⇒ x R x.

No exemplo 1.2.2 apenas R2 é reflexiva.

b) (Simétrica) Dizemos R é simétrica se:

∀ x, y ∈ A tal que x R y =⇒ y R x.

No exemplo 1.2.2 apenas R3 é simétrica.

c) (Transitiva) Dizemos R é transitiva se:

∀ x, y, z ∈ A tal que x R y e y R z =⇒ x R z.

No exemplo 1.2.2 R1 , R2 e R3 é transitiva.


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d) (Anti-simétrica) Dizemos R é anti-simétrica se:

∀ x, y ∈ A tal que x R y e y R x =⇒ x = y.

ou, a equivalente:

SAIBA MAIS: ∀ x, y ∈ A tal que x 6= y =⇒ x R y ou y R x.


Para mais de-
No exemplo 1.2.2 apenas R3 não é anti-simétrica.
talhes sobre a
relação binária, Exemplo 1.2.3. Considere A = N∗ = {1, 2, 3, · · · , n, · · · } e uma relação
ver referência [1]
em A definida por

n R m ⇐⇒ n|m } (lê-se: n divide m)

Vamos analisar quais propriedades a relação acima se verifica:

1. É reflexiva pois ∀ n ∈ N∗ =⇒ n R n pois n|n.

2. Não é simétrica, pois 2|4 ⇐⇒ 2 R 4 mas 4 não divide 2. Assim


4 R 2.

3. É transitiva pois ∀ n, m, p ∈ N∗ tal que n R m ⇐⇒ n|m e


m R p ⇐⇒ m|p então n R p ⇐⇒ n|p.

4. É anti-simétrica pois ∀ n, m ∈ N∗ tal que n R m ⇐⇒ n|m e


m R n ⇐⇒ m|n então n = m.

1.2.1 Exercı́cios

1. Considere A = {0, 2, 4, 6, 8} e B = {0, 1, 2}. Determine:

(a) A × B

(b) B × A

(c) R1 = {(a, b) ∈ A × B ; a = b + 2}

(d) R2 = {(a, b) ∈ A × B ; a ≤ b}

(e) R3 = {(a, b) ∈ B × B ; b = a2 }

2. Seja A = {1, 2, 3}. Considere as seguintes relações em A:


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R1 = {(1, 1), (1, 2), (1, 3)}

R2 = {(1, 2), (2, 1), (1, 3), (3, 1), (3, 2)(2, 3)}

R3 = {(3, 1), (3, 2), (1, 3)}

R4 = {(1, 1), (2, 2), (3, 3)}

R5 = A × A

Quais são reflexivas? simétricas? transitivas? anti-simétricas?

3. Considere A = Z∗ = {· · · , −2, −1, 1, 2, · · · } e uma relação em A


definida por

n R m ⇐⇒ n|m } (lê-se: n divide m.)

Podemos afirmar que a relação é: reflexiva? simétrica? transi-


tiva? anti-simétrica?

1.2.2 Algumas respostas, sugestões e soluções

1. (a) {(0, 0), (0, 1), (0, 2), (2, 0), (2, 1), (2, 2), (4, 0), (4, 1), (4, 2)}
∪ {(6, 0), (6, 1), (6, 2), (8, 0), (8, 1), (8, 2)}.

(b) {(0, 0), (0, 2), (0, 4), (0, 6), (0, 8), (1, 0), (1, 2), (1, 4)}
∪ {(1, 6), (1, 8), (2, 0), (2, 2), (2, 4), (2, 6), (2, 8)}.

(c) R1 = {2, 0), (4, 2)}

(d) R2 = {0, 0), (0, 1), (0, 2)(2, 2)}

(e) R3 = {0, 0), (1, 1)}

2. (a) Reflexivas: R4 e R5

(b) Simétricas: R2 , R4 e R5

(c) Transitivas: R2 , R4 e R5

(d) Anti-simétricas:R1 e R3

3. Reflexiva e transitiva.
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1.3 Relações de Equivalência e Relações de


Ordem

Definição 1.3.1. Uma relação R sobre o conjunto A 6= ∅ chama-


se relação de equivalência em A se, e somente se, R é reflexiva,
simétrica e transitiva, isto é, se vale as sentenças:

I) ∀ x ∈ A =⇒ x R x.

II) ∀ x, y ∈ A tal que x R y =⇒ y R x.

III) ∀ x, y, z ∈ A tal que x R y e y R z =⇒ x R z.

Quando R é uma relação de equivalência sobre A, para indicar


que (a, b) ∈ R usaremos a notação a ≡ b (R) (lê-se: a é equivalente
a b módulo R).

Exemplo 1.3.1. A relação R2 = {(0, 0), (1, 1), (1, 2), (2, 1), (2, 2)} so-
bre A = {0, 1, 2} é uma relação de equivalência, pois verifica-se as
sentenças I), II) e III).

Exemplo 1.3.2. A relação de igualdade em R dada por

x R y ⇐⇒ x = y

é um relação de equivalência pois:

I) ∀ x ∈ R =⇒ x R x ⇐⇒ x = x.

II) ∀ x, y ∈ R tal que x R y =⇒ x = y ⇐⇒ y = x ⇐⇒ y R x.

III) ∀ x, y, z ∈ R tal que x R y ⇐⇒ x = y e y R z ⇐⇒ y = z.


Asim x = z, e, portanto x R z.

Exemplo 1.3.3. Considere A = N∗ = {1, 2, 3, · · · , n, · · · } e relação em


A definida por

n R m ⇐⇒ n|m } (lê-se: n divide m)

não é relação de equivalência, pois a mesma não simétrica.


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Exemplo 1.3.4. Seja m um número inteiro positivo. A relação de con-


gruência módulo m sobre Z dada por:

x R y ⇐⇒ x ≡ y(mod m) ⇐⇒ x − y é múltiplo inteiro de m

é um relação de equivalência pois:

I) ∀ x ∈ Z =⇒ x ≡ x(mod m) ⇐⇒ x − x = 0 que múltiplo de m

II) ∀ x, y ∈ Z tal que x ≡ y(mod m) =⇒ x − y é múltiplo inteiro de


m, assim −(x − y) = y − x é múltiplo inteiro de m. Portanto
y ≡ x(mod m).

III) ∀ x, y, z ∈ Z tal que x ≡ y(mod m) =⇒ x − y é múltiplo inteiro


de m e y ≡ z(mod m) =⇒ y − z é múltiplo inteiro de m. Assim
x − z = (x − y) + (y − z) o qual é múltiplo inteiro de m. Portanto
x ≡ z(mod m).

Definição 1.3.2. Seja R relação de equivalência sobre o conjunto A.


Dado a ∈ A, chama-se classe de equivalência determinada por a,
módulo R, o subconjunto a de A constituı́do pelos elementos x ∈ A
tais que x R a, o qual denotaremos por:

a = {x ∈ A| x R a }

Definição 1.3.3. O conjunto das classes de equivalência módulo R


será denotado por A/R e chamado conjunto quociente de A por R.

Exemplo 1.3.5. Na relação R2 = {(0, 0), (1, 1), (1, 2), (2, 1), (2, 2)} so-
bre A = {0, 1, 2}, temos:

0 = {0}

1 = {1, 2}

2 = {2, 1}

A/R = {{0}, {1, 2}}.


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Exemplo 1.3.6. Na relação de igualdade em R dada por

x R y ⇐⇒ x = y.

Temos:
x = {x}

R/R = R

Exemplo 1.3.7. Considere relação de congruência módulo m sobre Z


dada por:

x R y ⇐⇒ x ≡ y(mod m) ⇐⇒ x − y é múltiplo inteiro de m.

Provaremos no próximo capı́tulo que o conjunto quociente Z/R que


será denotado por Zm tem exatamente m elementos, ou seja:

Zm = {0, 1, 2, · · · , m − 1}.

No caso em que m = 2 temos que

Z2 = {0, 1}.

Observação 1.3.1. Quando R for uma relação de equivalência em


geral usaremos a notaçaõ ∼ em vez de R.

Proposição 1.3.4. Seja ∼ uma relação de equivalência sobre A e


sejam x, y ∈ A. Então

1.) x = y ⇐⇒ x ∼ y.

2.) x 6= y ⇒ x ∩ y = ∅.
S
3.) x=A
x∈A

Prova. 1.)(=⇒): Sejam x, y ∈ A tal que x = y. Vamos provar que


x ∼ y. De fato, pela definição, temos que

x = {a ∈ A | a ∼ x} = y = {b ∈ A | b ∼ y}.
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Como x ∈ x = y =⇒ x ∼ y.
(⇐=): Sejam x, y ∈ A tal que x ∼ y. Vamos provar que x = y e para
isto vamos provar que x ⊂ y e y ⊂ x. De fato:
Seja a ∈ x =⇒ a ∼ x, como x ∼ y, então por transitividade, temos
que a ∼ y ⇒ a ∈ y e de modo análogo chegamos a inclusão y ⊂ x,
e daı́ segue que x = y.
2.) Suponha por absurdo que x ∩ y 6= ∅. Seja a ∈ x ∩ y, assim a ∼ x
e a ∼ y, por simétria x ∼ a e agora usando a transitividade temos
que x ∼ y. Portanto por 1.), nos garante que x = y, que é uma
contradição, e daı́ segue que x ∩ y = ∅.
x⊂AeA⊂
S S
3.) Vamos provar que x. De fato:
x∈A x∈A
Como x ⊂ A para todo x ∈ A segue que x ⊂ A. Agora, para
S
x∈A
qualquer x ∈ A temos que x ∈ x e portanto segue que A ⊂
S
xe
x∈A
com isto, segue o afirmado.

Definição 1.3.5. Uma relação R sobre o conjunto A 6= ∅ chama-se


relação de ordem parcial em A se, e somente se, R é reflexiva, anti-
simétrica e transitiva, isto é, se vale as sentenças:

i) ∀ x ∈ A =⇒ x R x.

ii) ∀ x, y ∈ A tal que x R y e y R x =⇒ x = y

iii) ∀ x, y, z ∈ A tal que x R y e y R z =⇒ x R z.

Quando R é uma relação de ordem parcial sobre A, para indicar-


mos que (a, b) ∈ R usaremos a notação a  b (R)(lê-se: a precede b
na relação R).
Para indicarmos que (a, b) ∈ R com a 6= b usaremos a notação
a ≺ b (R)(lê-se: a precede estritamente b na relação R).
Qaundo não houver dúvida quanto a relação de ordem parcial so-
bre A, para indicarmos que (a, b) ∈ R usaremos a notação a  b (lê-
se: a precede b), ou no caso em que a 6= b indicaremos simplesmente
a ≺ b (lê-se: a precede estritamente b).
21

Definição 1.3.6. Uma relação de ordem parcial R sobre o conjunto


A 6= ∅ diz-se relação de ordem total em A se, e somente se para todo
a, b ∈ A, a e b se dizem comparáveis, isto é,

a  b ou b  a.

Exemplo 1.3.8. A relação R = {(0, 0), (1, 1), (2, 2)} sobre A = {0, 1, 2}
é uma relação de ordem parcial, pois verifica-se as sentenças i), ii) e
iii).

Exemplo 1.3.9. A relação em R dada por

x R y ⇐⇒ x ≤ y

é um relação de ordem total pois:

i) ∀ x ∈ R =⇒ x R x pois x ≤ x.

ii) ∀ x, y ∈ R tal que x R y ⇐⇒ x ≤ y e y R x ⇐⇒ y ≤ x então x = y

III) ∀ x, y, z ∈ R tal que x R y ⇐⇒ x ≤ y e y R z ⇐⇒ y ≤ z.


Asim x ≤ z, e, portanto x R z.
Além disso, dados quaisquer x, y ∈ R tem-se que x ≤ y ou y ≤ x.

Observação 1.3.2. Prova-se com essa relação que os conjunto numéricos


N, Z, Q, R são totalmente ordenados, ou seja, a relação é de ordem to-
tal, mas o mesmo não ocorre para o conjunto numérico C.

Exemplo 1.3.10. Considere A = N∗ = {1, 2, 3, · · · , n, · · · } e uma relação


em A definida por

n R m ⇐⇒ n|m } (lê-se: n divide m).

Então R é relação de ordem parcial, pois vale i), ii) e iii). A relação
não é total pois, 2 não divide o 3 e nem 3 divide o 2.

1.3.1 Exercı́cios

1. Quais relações abaixo são de equivalência ou ordem parcial so-


bre A = {0, 2, 4, 6, 8}?
22

(a) R1 = {(a, b) ∈ A × A ; a = b + 2}

(b) R2 = {(0, 0), (0, 2), (2, 2), (2, 4), (4, 4), (4, 6), (6, 6), (6, 8)(8, 8)}

(c) R3 = {(a, b) ∈ A × A ; b = a2 }

(d) R4 = A × A

2. Seja A o conjunto de triângulos do espaço euclidiano. Seja R a


relação em A tal que:

xRy ⇐⇒ x é semelhante a y.

Mostre que R é uma relação de equivalencia.

3. Seja F a famı́lia de todos subconjuntos do conjunto A. Seja R a


relação inclusão em F definida por:

x R y ⇐⇒ x ⊂ y.

Mostre que R é uma relação de ordem parcial.

4. Seja A = {x ∈ N | 0 ≤ x ≤ 8} e relação de equivalência R em A


definida por

x R y ⇐⇒ ∃ k ∈ Z; x − y = 4k.

Determine A/R.

5. Seja R relação sobre Q definida por

x R y ⇐⇒ x − y ∈ Z.

Mostrar que R é uma relação de equivalência e determinar a


clase 1.

6. Seja R relação sobre C definida por

(x + iy) R (a + ib) ⇐⇒ x2 + y 2 = a2 + b2 .

Mostrar que R é uma relação de equivalência e determinar a


clase 1 + i.
23

7. Seja R relação sobre C definida por

(x + iy) R (a + ib) ⇐⇒ x < a ou (x = a e y ≤ b).

Mostrar que R é uma relação de ordem total.


Nota: esta relação é chamada de ordem lexicográfica.

1.3.2 Algumas respostas, sugestões e soluções

1. (a) R1 não é reflexiva, portanto não pode ser uma relação de


equivalência ou de ordem parcial.

(b) R2 não é transitiva, portanto não pode ser uma relação de


equivalência ou de ordem parcial.

(c) R3 não é reflexiva, portanto não pode ser uma relação de


equivalência ou de ordem parcial.

(d) R4 é uma relação de equivalência mas não de ordem par-


cial.

2.

3.

4. Temos que A = {0, 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8}. Assim,

0 = {0, 4, 8} = 4 = 8, 1 = {1, 5} = 5, 2 = {2, 6} = 6, 3 = {3, 7} = 7.

Portanto:

A/R = {{0, 4, 8}, {1, 5}, {2, 6}, {3, 7}}.

5. Vamos mostrar que as propriedades: reflexiva, simétrica e tran-


sitiva. De fato;

I) ∀ x ∈ Q =⇒ x R x pois x − x = 0 ∈ Z

II) ∀ x, y ∈ Q tal que x R y ⇐⇒ x − y ∈ Z, assim −(x − y) =


y − x ∈ Z. Portanto y R x.
24

III) ∀ x, y, z ∈ Q tal que x R y ⇐⇒ x−y ∈ Z e y R z ⇐⇒ y−z ∈ Z.


Assim x − z = (x − y) + (y − z) ∈ Z. Portanto x R z.

Logo R é uma relação de equivalência sobre Q.


Por definição, temos que

1 = {x ∈ Q | 1Rx ⇔ 1 − x ∈ Z ⇔ x ∈ Z} = Z.

6.

7.

1.4 Funções

Nesta seção trabalheremos com um tipo especial de relação entre


conjuntos não vazios.

Definição 1.4.1. Uma relação f de A em B diz-se função de A em B


se para cada x ∈ A existe único y ∈ B tal que x se relaciona com y e
denotaremos simbolicamente por:

f : A −→ B
x 7−→ y = f (x)

O conjunto A chama-se domı́nio de f , B chama-se contra-domı́nio Saiba Mais: Para


de f e f (A) = {y ∈ B | ∃ x ∈ A tal que y = f (x)} chama-se imagem e mais detalhes so-
denotaremos a imagem de f por Im(f ). bre a teoria de
funções, ver re-
Exemplo 1.4.1.
ferência [5]
Sejam A = {1, 4, 9} e B = {0, 1, 2, 3}. Considere as seguintes relações
de A em B

1. R1 = {(a, b) ∈ A × B | a = b + 3} = {(4, 1)}.

2. R2 = {(a, b) ∈ A × B | a − b é múltiplo de 2} donde

R2 = {(1, 1), (1, 3), (4, 0), (4, 2), (9, 1), (9, 3)}.

3. R3 = {(a, b) ∈ A × B ; a = b2 } = {(1, 1), (4, 2)(9, 3)}.


25

A relação R1 não é função, pois o elemento 1 ∈ A não possui um


elemento corresponde em B. A relação R2 não é função, pois o ele-
mento 4 ∈ A possuei dois elementos correspondentes em B, a saber
0 e 2. Agora,a relação R3 é função pois cada elemento de A possui
um único elemento correspondente em B.

Citaremos a seguir exemplos de algumas funções definidas nos


conjuntos numéricos:

Exemplo 1.4.2.

I.
f : N −→ Q
1
n 7−→
n+1
II.
f : R −→ R
x 7−→ y = ax + b com a, b ∈ R e a 6= 0

III.
f : R −→ R
x 7−→ y = x2

IV.
f : R −→ R
x 7−→ y = ex

V.
f : R −→ C
x 7−→ z = eix = cos x + i sen x

Seja X ⊂ A e a função f : A −→ B, denotaremos por:

a) f (X) = {f (x) |x ∈ X } ⊂ B o qual chamaremos de imagem de


X por f .

b) f |X : X −→ B a função cujo domı́nio é X contra-domı́nio é B e


cuja lei de formação é a mesma de f , isto é, f |X (x) = f (x) ∀ x ∈
X e chamaremos f |X de restrição de f em X.

Definição 1.4.2. Considere a função f : A −→ B.


26

1. Diz-se que f é injetiva se para todo x1 , x2 ∈ A com x1 6= x2 temos


que f (x1 ) 6= f (x2 ) ( ou equivalentemente, se f (x1 ) = f (x2 ) temos
que x1 = x2 ).

2. Diz-se que f é sobrejetiva se para todo y ∈ B existe x ∈ A tal


que y = f (x), noutras palavras Im(f ) = B.

3. Diz-se que f é bijetiva se, e somente se, f for simultaneamente


injetiva e sobrejetiva.

No exemplo (1.4.2) os itens I., II. e IV. são de funções injetivas e


apenas II. é de função sobrejetiva, o que nos garante que a função
do item II. é bijetiva.

Definição 1.4.3. Considere a função f : A −→ B e b ∈ Y ⊂ B.


Denotaremos por:

1. f −1 (b) = {a ∈ A |f (a) = b } a qual chamaremos de imagem


inversa de b ∈ B por f .

2. f −1 (Y ) = {a ∈ A |f (a) ∈ Y } a qual chamaremos de imagem


inversa de Y ⊂ B por f .

Observação 1.4.1. Se b ∈ Im(f ) então f −1 (b) ⊂ A e agora se b ∈


/
Im(f ) então f −1 (b) = ∅.

Exemplo 1.4.3. Seja a função f : R −→ R dada por f (x) = x2 , temos


que
√ √
f −1 (1) = {−1, 1}, f −1 (2) = {− 2, 2}, f −1 (−1) = ∅ e f −1 ([0, 1]) = [−1, 1].

Exemplo 1.4.4. Seja a função f : R −→ R dada por f (x) = sen x,


temos que

f −1 (0) = {x = kπ, com k ∈ Z} e f −1 ([−1, 1]) = R.

Definição 1.4.4. Considere a função f : A −→ B e g : B −→ C. Deno-


taremos por (g ◦ f )(a) = g(f (a)) para todo a ∈ A, a qual chamaremos
de função composta de g e f .
27

Exemplo 1.4.5. Seja a função f : R −→ R dada por f (x) = x + π e


g : R −→ R dada por f (x) = sen x então

(g ◦ f )(x) = g(f (x)) = g(x + π) = sen (x + π) = − sen x.

Definição 1.4.5. A função IA : A −→ A dada pela lei IA (x) = x para


qualquer que seja x ∈ A é chamada de função identidade de A e A.

Proposição 1.4.6. Seja a função f : A −→ B bijetiva. Então f admite


uma única função g : B −→ A denominada de função inversa de f tal
que
g ◦ f = IA e f ◦ g = IB e denotada por f −1 = g

Prova. Se f : A −→ B bijetiva, então uma função g : B −→ A tal


que para cada y ∈ B temos g(y) = x onde x é único tal que f (x) = y.
Assim para todo x ∈ temos (g ◦ f )(x) = g(f (x)) = g(y) = x e para todo
y ∈ B temos (f ◦ g)(y) = f (g(y)) = f (x) = y. Portanto

g ◦ f = IA e f ◦ g = IB .

Se tivessemos outra função h : B −→ A inversa de f , então da relação

f (g(y)) = y e f (h(y)) = y =⇒ g(y) = h(y) ∀y ∈ B pois f é injetiva.

Portanto h = g, como querı́amos demonstrar.

Observação 1.4.2. Não confundir a função inversa f −1 com a imagem


inversa de f .

Como vimos no exemplo (1.4.2) a função f : R −→ R definida por


f (x) = ax + b com a, b ∈ R e a 6= 0 é bijetiva, e portanto admite função
1 b
inversa f : R −→ R definida por f −1 (x) = x − .
a a
Ainda, no exemplo (1.4.2) a função f : R −→ R dada por f (x) = ex
é injetiva e sua imagem é dada por

Im(f ) = {y ∈ R | y > 0 } = R∗+ ,

assim se redifinirmos a função f : R −→ R∗+ dada por f (x) = ex temos


que a mesma é bijetiva e sua função inversa f −1 : R∗+ −→ R é dada
por f −1 (x) = ln x.
28

1.4.1 Exercı́cios

1. Sejam A = {0, 1, 4, 9} e B = {0, 1, 2, 3}. Considere as seguintes


relações de A em B:

(a) R1 = {(4, 1), (0, 1)(1, 1), (9, 3)}

(b) R2 = {(a, b) ∈ A × B | a − b é múltiplo de 2}

(c) R3 = {(0, 0), (1, 1), (4, 0)(9, 3)}


Quais das relações acima são funções? Caso positivo, classifique-
as em injetiva ou sobrejetiva.

2. Seja a função f : R −→ R definida por



 x − 1 se x > 0
f (x) =
 x2 se x ≤ 0

Determinar f (1)+f (−1), f ([−1, 1]) f −1 (−1)∪f −1 (1) e f −1 ([−1, 1]).

3. Seja a função f : R −→ R definida por f (x) = x2 − x


Calcule:

f −1 (−1) ∪ f −1 (1), f −1 ((−∞, 0]), f −1 ([0, 1]) e f −1 ([1, +∞))

4. Sejam a função f : A −→ B, os conjuntos X, Y ⊂ A e Z ⊂ B.


Provar que:

(a) se X ⊂ Y então f (X) ⊂ f (Y )

(b) f (X ∪ Y ) = f (X) ∪ f (Y )

(c) f (X ∩ Y ) ⊂ f (X) ∩ f (Y )

(d) X ⊃ f −1 (f (X)) e f (f −1(Z) ⊂ Z

(e) Se f é bijetiva f (CA X) = CB f (X).

5. Classificar (se possı́vel) em injetiva ou sobrejetiva as seguintes


funções de R em R

(a) f (x) = x + 2

(b) f (x) = x5
29

(c) f (x) = x2 + x
x + |x|
(d) f (x) =
2
(e) f (x) = π x .

6. Das funções anteriores que forem injetivas, exiba sua imagem e


calcule sua inversa sobre sua imagem.

7. Seja a função f : A −→ B e conjuntos X, Y ⊂ B. Provar que:

f −1 (X − Y ) = f −1 (X) − f −1 (Y ).

8. Seja f : A −→ B. Defina a relação R sobre A dada por: Dados


x, y ∈ A
xRy ⇐⇒ f (x) = f (y).

Prove que R é uma relação de equivalência.

9. Seja F = {f | f : R −→ R}. Defina a relação R sobre F dada


por: Dados f, g ∈ F

f Rg ⇐⇒ f (x) ≤ g(x) ∀ x ∈ R.

Prove que R é uma relação de ordem parcial.

1.4.2 Algumas respostas, sugestões e soluções

1. (a) R1 é função, mas não é injetiva e nem sobrejetiva.

(b) R2 não é função.

(c) R3 é função, mas não é injetiva e nem sobrejetiva.

2. f (1) + f (−1) = 1, f ([−1, 1]) = (−1, 1], f −1 (−1) ∪ f −1 (1) = {−1, 2}


e f −1 ([−1, 1]) = [−1, 2].

−1 −1 1± 5
3. f (−1) ∪ f (1) = { }, f −1 ((−∞, 0]) = [0, 1],
√ 2 √
−1 1− 5 1+ 5
f ([0, 1]) = [ , 0] ∪ [1, ]
2 √ 2 √
−1 1− 5 1+ 5
e f ([1, +∞)) = (−∞, ]∪[ , +∞]
2 2
30

4. (a) seja z ∈ f (X) então existe x ∈ X tal que z = f (x). Como


X ⊂ Y , assim x ∈ Y , daı́ z = f (x) ∈ f (Y ).

(b)

(c)

(d)

(e)

5. (a) f é injetiva e sobrejetiva

(b) f é injetiva e sobrejetiva

(c) f não é injetiva e nem sobrejetiva

(d) f não é injetiva e nem sobrejetiva

(e) f é injetiva.
√ √
6. (a) Im(f ) = R e f −1 (x) = x − 2, (b) Im(f ) = R e f −1 (x) = 5
x,
(e) Im(f ) = R∗+ e f −1 (x) = logπ x.

7.

8. Devemos mostrar que R é reflexiva, simétrica e transitiva. Com


efeito:

(a) Temos xRx, pois f (x) = f (x), logo R é reflexiva.

(b) Se xRy ⇐⇒ f (x) = f (y) ⇐⇒ f (y) = f (x) ⇐⇒ yRx, logo R


é simétrica

(c) Se xRy ⇐⇒ f (x) = f (y) e yRz ⇐⇒ f (y) = f (z), daı́ f (x) =


f (z) ⇐⇒ xRz, logo R é transitiva.

Portanto, R é uma relação de equivalência.

9.

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