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3.

Grupos

Neste capı́tulo apresentaremos os aspectos elementares da teoria


de grupo e alguns dos resultados importantes dessa teoria.

3.1 Definição e exemplos

Definição 3.1.1. Seja G um conjunto não vazio onde está definida


uma operação entre pares de G, denotada por:

⊕ : G × G −→ G
(x, y) 7−→ x ⊕ y.

Dizemos que o par (G, ⊕) é um grupo se são válidas as seguintes


propriedades: para todo x, y, z ∈ G temos que

G1 ) x ⊕ (y ⊕ z) = (x ⊕ y) ⊕ z (associativa).

G2 ) ∃ e ∈ G tal que x ⊕ e = e ⊕ x = x (existência do elemento neutro).

G3 ) ∃ a′ ∈ G tal que x ⊕ a′ = a′ ⊕ x = e ( existência do elemento


inverso).

Saiba Mais: O Além disso, se um grupo (G, ⊕) verifica a propriedade:

nome grupo
G4 ) x ⊕ y = y ⊕ x (comutativa).
abeliano é em
Dizemos que o par (G, ⊕) é um grupo abeliano ou comutativo.
honra ao grande
matemático Com o objetivo de simplificar notações, em alguns casos usare-

Norueguês N.H mos a notação G em vez de (G, ⊕) para denotar um grupo. Usaremos

Abel-1802-1829. 71
72

também, em alguns casos, a notação xy em vez de x ⊕ y para repre-


sentar o resultado de x operado com y.

Exemplo 3.1.1. Se a operação é dada por x ⊕ y = x + y então os


seguintes conjuntos

(Z, +), (Q, +), (R, +) e (C, +)

são grupos abelianos, chamados de grupos aditivos.

Exemplo 3.1.2. Se a operação é dada por x ⊕ y = x · y então os


seguintes conjuntos

(Q∗ , ·), (R∗, ·) e (C∗ , ·)

são grupos abelianos, chamados de grupos multiplicativos.

Exemplo 3.1.3. O conjunto (Zm , +) é grupo abeliano, onde a operação


+ foi definida no capı́tulo anterior.

Exemplo 3.1.4. Se a operação é dada por x ⊕ y = x + y − 1. Mostre


que (Z, ⊕) é grupo abeliano. De fato:

G1 ) Associativa: Temos que

x ⊕ (y ⊕ z) = x ⊕ (y + z − 1) = x + y + z − 1 − 1 = x + y + z − 2.

Por outro lado

(x ⊕ y) ⊕ z = (x + y − 1) ⊕ z = x + y − 1 + z − 1 = x + y + z − 2.

Portanto, é associativa.

G4 ) Comutativa: x ⊕ y = x + y − 1 = y + x − 1 = y ⊕ x. Portanto,é
comutativa.

G2 ) Existência do elemento neutro:

x ⊕ e = x =⇒ x + e − 1 = x =⇒ e = 1.

Portanto, e = 1 é o elemento neutro.


73

G3 ) Existência do elemento inverso:

x ⊕ a′ = e =⇒ x + a′ − 1 = 1 =⇒ a′ = 2 − x.

Portanto, dado x seu inverso é a′ = 2 − x.

Exemplo 3.1.5. Considere o conjunto das matrizes com m linhas e n


colunas com entradas reais, denotada por

Mm×n (R) = {a = (aij ) |aij ∈ R, i = 1, 2, · · · , m e j = 1, 2, · · · , n}.

Defina a operação em Mm×n (R) dada por a ⊕ b = a + b = (aij + bij ).


Mostre que (Mm×n (R), ⊕) é grupo abeliano. Com efeito:

G1 ) Associativa: Temos que

a ⊕ (b ⊕ c) = a ⊕ (bij + cij ) = (aij + bij + cij )

Por outro lado

(a ⊕ b) ⊕ c = (aij + bij +) ⊕ c = (aij + bij + cij ).

Portanto é associativa

G4 ) Comutativa: a ⊕ b = (aij + bij ) = (bij + aij ) = y ⊕ x, portanto é


comutativa.

G2 ) Existência do elemento neutro:

a ⊕ e = a =⇒ (aij + eij ) = (aij ) =⇒ aij + eij = aij =⇒ eij = 0 ∀ i, j.

Portanto,  
0 ··· 0
 
 .. 
 0 . 0 
e = (0) = 
 ..

.. 
 . ··· . 
 
0 ··· 0
(matriz nula) é o elemento neutro.

G3 ) Existência do elemento inverso

a⊕a′ = e =⇒ (aij +a′ ij ) = (0) =⇒ aij +a′ ij = 0 =⇒ a′ ij = −aij ∀ i, j.


74

Portanto, dado a seu inverso é


 
−a11 · · · −a1n
 
 .. 

 −a21 . −a2n 
(a ij ) =  .

..
.
 ..

··· . 
 
−am1 · · · −amn

Exemplo 3.1.6. Considere o conjunto das matrizes com n linhas e n


colunas com entradas reais e determinante não nulo, denotada por

GLn (R) = {a = (aij ) |aij ∈ R, i, j = 1, 2, · · · , n e det(a) 6= 0 }.

Defina a operação em GLn (R) dada por a ⊕ b = a · b = (cij ) onde


n
X
cij = aik bkj , (i, j = 1, 2, · · · , n).
k=1

Mostre que (GLn (R), ⊕) é grupo. Com efeito:

G1 ) Associativa: a ⊕ (b ⊕ c) = a(bc) = (ab)(c) = (a ⊕ b) ⊕ c. Portanto,


é associativa (caro leitor faça o detalhes da afirmação).

G2 ) Existência do elemento neutro: Defina e = In = (δij ) onde:



 1 se i = j
δij =
 0 se i = 6 j

A matriz In é chamada de matriz identidade e dada por:

 
1 0 ··· 0
 
 
 0 1 ··· 0 
In = 
 .. .. .. ..


 . . . . 
 
0 ··· 0 1 δij é conhecido
donde a ⊕ e = aIn = In a = e ⊕ a. como o delta de
Kronecker.
G2 ) Existência do elemento inverso:

a ⊕ a′ = e =⇒ aa′ = In =⇒ a′ = a−1

Portanto, dado a seu inverso é sua matriz inversa a−1 . É claro


que
1
det(a−1 ) = 6= 0.
det(a)
75

Observação 3.1.1. A exigência det(a) 6= 0 para todo a ∈ GLn (R) é


para garantir a existência do elemento inverso a−1 .

Observação 3.1.2. O grupo (GL2 (R), ·) não é abelino. De fato:


Sejam a, b ∈ GL2 (R) dadas por
   
1 0 1 0
a=  eb= ,
1 1 0 2

donde

   
1 0 1 0
ab =   6= ba =  
1 2 2 2

Exemplo 3.1.7. Seja S um conjunto não vazio e seja

G = {f : S −→ S |f é bijetiva }.

Defina a operação em G dada por f ⊕ g = f ◦ g (f composta com g).


Mostre que (G, ⊕) é grupo. Com efeito:

G1 ) Associativa: f ⊕ (g ⊕ h) = f ◦ (g ◦ h) = (f ◦ g) ◦ h = (f ⊕ g) ⊕ h.
Portanto, é associativa.

G2 ) Existência do elemento neutro: Defina e = IS onde IS é função


identidade de S donde f ⊕ e = f ◦ IS = IS ◦ f = e ⊕ f

G2 ) Existência do elemento inverso:

f ⊕ a′ = e =⇒ f ◦ a′ = IS =⇒ a′ = f −1

Portanto, dado f seu inverso é sua função inversa f −1 .

O grupo (G, ◦) é chamado grupo das permutações do conjunto S.


Quando S = {1, 2, 3, · · · , n} denotaremos esse grupo por Sn , e temos
que o número de elementos de Sn é n!.
Um elemento de Sn é um função bijetiva

f : {1, 2, 3, · · · , n} −→ {1, 2, 3, · · · , n},


76

a qual denotaremos por:


 
1 2 3 ··· n
f = 
f (1) f (2) f (3) · · · f (n)
.
Quando n = 3 temos que S3 é possui 6 elementos, os quais deno-
taremos da seguinte maneira:

     
1 2 3 1 2 3 1 2 3
e = f0 =   , f1 =  , f2 =  
1 2 3 1 3 2 2 1 3

     
1 2 3 1 2 3 1 2 3
f3 =   , f4 =   e f5 =  
2 3 1 3 1 2 3 2 1

Observação 3.1.3. O grupo (S3 , ·) não é abelino. De fato:


Tome f1 , f2 ∈ S2 , assim
     
1 2 3 1 2 3 1 2 3
f1 ◦ f2 =  ◦ =  = f4 .
1 3 2 2 1 3 3 1 2

Por outro lado


     
1 2 3 1 2 3 1 2 3
f2 ◦ f1 =  ◦ =  = f3 .
2 1 3 1 3 2 2 3 1

Portanto, S3 não éum grupo abeliano.

Observação 3.1.4. Seja f1 ∈ S3 , calcule f1−1 ∈ S3 (elemento inverso).


Temos que resolver a equação f1−1 ◦ f1 = e. Assim
     
1 2 3 1 2 3 1 2 3
f1−1 ◦ f1 =  ◦ =  =⇒
a b c 1 3 2 1 2 3
     
1 2 3 1 2 3 1 2 3
 =  =⇒ f1−1 =   = f1
a c b 1 2 3 1 3 2

Exemplo 3.1.8. Sejam (G1 , ⊕1 ) e (G2 , ⊕2 ) grupos. Sobre o produto


cartesiano

G = G1 × G2 = {(a, b) | a ∈ G1 , b ∈ G2 }
77

considere a operação ⋆ definida por: ∀(a, b), (x, y) ∈ G1 × G2

(a, b) ⋆ (x, y) = (a ⊕1 x, b ⊕2 y).

É facil ver que G = (G1 × G2 , ⋆) é grupo, o qual é chamado de produto


direto (externo) dos grupos G1 e G2 .

Definição 3.1.2. Seja (G, ⊕) um grupo. Um subconjunto não vazio


S ⊂ G é um subgrupo de G se, e somente se,

a) ∀ a, b ∈ S =⇒ a ⊕ b ∈ S (isto é, S é fechado em relação a operação


⊕).

b) (S, ⊕) é grupo.

Proposição 3.1.3. Seja (G, ⊕) um grupo. Um subconjunto não vazio


S ⊂ G é um subrupo de G se, e somente se,

∀ a, b ∈ S =⇒ a ⊕ b′ ∈ S

onde b′ é simétrico de b.

Prova.(=⇒) Sejam e e eS os elementos neutros de (G, ⊕) e (S, ⊕),


respectivamente. Assim, temos

eS ⊕ eS = eS = eS ⊕ e =⇒ eS = e.

Considere um elemento b ∈ S, e sejam b′ e b′ S os elementos simétricos


b e bS , respectivamente nos grupos (G, ⊕) e (S, ⊕). Assim, temos

b′ S ⊕ b = eS = e = b′ ⊕ b =⇒ b′ S = b′ .

Daı́, dados a, b ∈ S, temos que

a ⊕ b′ S ∈ S =⇒ a ⊕ b′ ∈ S.

(⇐=) Sendo S 6= ∅, existe a ∈ S =⇒ a ⊕ a′ = e ∈ S. Dado b ∈ S,


por hipótese e a pela conclusão anterior, segue-se que e ⊕ b′ = b′ ∈ S.
Agora, dados a, b ∈ S, temos que a, b′ ∈ S, daı́

a ⊕ b = a ⊕ (b′ )′ ∈ S.
78

Acabamos de provar que S é fechado em relação a operação ⊕.


Como já mostramos as existências do elemento neutro e do elemento
simétrico, nos resta provar a propriedade associativa. Com efeito, da-
dos

a, b, c ∈ S =⇒ a, b, c ∈ G =⇒ a ⊕ (b ⊕ c) = (a ⊕ b) ⊕ c ∈ S

Portanto (S, ⊕) é um grupo.

Exemplo 3.1.9. Mostremos que (Z, +) é um subgrupo de (R, +). De


fato:
∀ a, b ∈ Z =⇒ a + (−b) = a − b ∈ Z.

Exemplo 3.1.10. Mostremos que (R∗+ , ·) é um subgrupo de (R, ·) onde


R∗+ = {x ∈ R | x > 0 }. Com efeito: sejam a, b ∈ R∗+ , temos que
b′ = b−1 > 0. Assim

a · b′ = a · b−1 > 0 =⇒ a · b−1 ∈ R∗+ .

Exemplo 3.1.11. Mostremos que (S, +) é um subgrupo de (Z8 , +)


onde S = {0, 4}. Devemos mostrar que para todos a, b ∈ S =⇒
a − b = a − b ∈ S.
Vamos analisar todas as possibilidades:

a b a−b a−b
0 0 0−0 0−0 = 0∈ S
4 4 4−4 4−4 = 0∈ S
4 0 4−0 4−0 = 4∈ S
0 4 0−4 0−4 = 4∈ S

Portanto (S, +) é subgrupo de (Z8 , +).

3.1.1 Exercı́cios

1. Seja (G, ⊕) um grupo. Se a ⊕ θ = a e a ⊕ ϑ = e para todo a ∈ G.


Prove
79

(a) θ = e

(b) ϑ = a′ .

2. Seja (G, ⊕) um grupo. Então para todo a, b ∈ G, prove que:

(a) Seja x ∈ G tal que a ⊕ x = b então x = a′ ⊕ b.

(b) Se a 6= e tal que a ⊕ x = a ⊕ y com x, y ∈ G então x = y.


√ √
3. Mostre que o conjunto G = {a + b 2 | a, b ∈ Q e a + b 2 ∈ R∗ }
é um grupo multiplicativo abeliano.
p
4. Mostre que (R, ⊕) onde x ⊕ y = 3
x3 + y 3 para todo x, y ∈ R é
um grupo abeliano.
1
5. Mostre que (Q, ⊕) onde x ⊕ y = x + y − para todo x, y ∈ Q é
3
um grupo abeliano.

6. Seja conjunto G = {f : R −→ R | f (x) = ax+b, a, b ∈ R e a 6= 0}.


Defina sobre G a operação ⊕ dada por f ⊕ g = f ◦ g para todo
f, g ∈ G. Mostre que (G, ◦) é um grupo.

7. Defina sobre R2 = R × R a operação ⊕ dada por

(a, b) ⊕ (c, d) = (ac − bd, ad + bc) ∀ (a, b), (c, d) ∈ R2 .

Mostre que (R2 , ⊕) é um grupo.

8. Verifique se são subgrupos:

(a) S1 = {x ∈ Q |x > 0} de (Q∗ , ·);


1 + 2m
(b) S2 = { |m, n ∈ Z } de (Q∗ , ·);
1 + 2n
(c) S3 = {cos α + i sen α | α ∈ Z } de (C∗ , ·);
√ √
(d) S4 = {a + b 2 | a, b ∈ Q e a + b 2 ∈ R∗ } de (R∗ , ·).

9. Defina sobre Rn = {x = (x1 , x2 , · · · , xn ) |xi ∈ R, i = 1, 2, · · · , n }


com n ≥ 2 a operação “adição” dada por

(x1 , x2 , · · · , xn )+(y1 , y2, · · · , yn ) = (x1 +y1, x2 +y2 , · · · , xn +yn ) ∀ x, y ∈ Rn .

Mostre que (Rn , +) é um grupo abeliano.


80

10. Verifique se são subgrupos de (Rn , +):

(a) S1 = {x = (x1 , x2 , · · · , xn ) | x1 + x2 + · · · + xn = 0};

(b) S2 = {x = (x1 , x2 , · · · , xn ) | x1 ∈ Z };

(c) S3 = {x = (x1 , x2 , · · · , xn ) | x1 x2 · · · xn = 0}.

11. O conjunto S ⊂ Z é subgrupo de (Z, +) se, somente se, existe


m ∈ Z tal que S = {km | k ∈ Z}.

12. Se S1 e S2 são grupos de G então S1 ∩ S2 é subgrupo de G.

13. Se S1 e S2 são grupos de G, então S1 ∪ S2 é subgrupo de G se,


somente se, S1 ⊂ S2 ou S2 ⊂ S1 .

14. Seja G um grupo e a ∈ G. Mostre que N(a) = {x ∈ G | xa = ax }


é um subgrupo de G.

3.1.2 Algumas respostas, sugestões e soluções

1. (a) Temos que a⊕θ = a e por A3 ) a⊕e = a. Assim a⊕θ = a⊕e


daı́ (a′ ⊕ a) ⊕ θ = (a′ ⊕ a) ⊕ e =⇒ e ⊕ θ = e ⊕ e =⇒ θ = e.

(b) Análoga a demonstração anterior.

2. (a)

(b)

3.

4. G1 ) Associativa: Temos que


p q p p
3
x⊕(y⊕z) = x⊕( 3
y3 + z3) = ( x3 + [( 3 y 3 + z 3 ]3 = 3 x3 + y 3 + z 3 .

Por outro lado,


p qp p
3
(x⊕y)⊕z = ( 3
x3 + y 3)⊕z = [ 3 x3 + y 3]3 + z 3 = 3 x3 + y 3 + z 3 .

Portanto, é associativa.
p p
G4 ) Comutativa: x ⊕ y = 3 x3 + y 3 = 3 y 3 + x3 = y ⊕ x. Por-
tanto,é comutativa.
81

G2 ) Existência do elemento neutro:


3
x ⊕ e = x =⇒ x3 + e3 = x =⇒ e = 0.

Portanto, e = 0 é o elemento neutro.

G3 ) Existência do elemento inverso:

p
x ⊕ a′ = e =⇒ 3
x3 + [a′ ]3 = 0 =⇒ a′ = −x.

Portanto, dado x seu inverso é a′ = −x.

5.

6.

7.

8. (a) Sim;

(b) Sim;

(c) Sim;

(d) Sim.

9.

10. (a) Sim;

(b) Sim;

(c) Não.

11. Sugestão: Similar a demonstração de que S = {km | k ∈ Z} é


um ideal de Z (ver demonstração no capı́tulo 2).

12.

13.

14.
82

3.2 Homomorfismo e isomorfismo

Definição 3.2.1. Dados dois grupos (G, ⊕) e (H, ⊖). Dizemos que a
função f : G −→ H é homomorfismo do grupo G no grupo H se, e
somente se
f (x ⊕ y) = f (x) ⊖ f (y) ∀ x, y ∈ G

Exemplo 3.2.1. Sejam os grupos (G, ⊕) = (R, +) e (H, ⊖) = (R∗+ , ·).


Então a função f : R −→ R∗+ definida por f (x) = ex é um homomor-
fismo entre os grupos R e R∗+ . Com efeito:

∀ x, y ∈ R =⇒ f (x + y) = ex+y = ex · ey = f (x) · f (y).

Exemplo 3.2.2. A função f : Z −→ Zm definida por f (z) = z, é um


homomorfismo do grupo (Z, +) no grupo (Zm , +). De fato:

∀ x, y ∈ Z =⇒ f (x + y) = (x + y) = (x) + (y) = f (x) + f (y).

Exemplo 3.2.3. A função f : Z −→ C∗ definida por f (z) = iz , é um


homomorfismo do grupo (Z, +) no grupo (C∗ , ·). De fato:

∀ x, y ∈ Z =⇒ f (x + y) = i(x+y) = ix · iy = f (x) · f (y).

Mostraremos a seguir algumas propriedades que um homomor-


fismo satisfaz. Dados dois grupos (G, ⊕) e (H, ⊖), e um homomor-
fismo f : G −→ H de G e H. Sejam eG e eH os respectivos elementos
neutros de G e H.

Proposição 3.2.2. f (eG ) = eH .

Prova. Sendo f um homomorfimos então

eH ⊖ f (eG ) = f (eG ) = f (eG ⊕ eG ) = f (eG ) ⊖ f (eG ) =⇒ eH = f (eG ).

Proposição 3.2.3. Para todo a ∈ G temos f (a′ ) = [f (a)]′

Prova.Sendo f um homomorfimos então

f (a)⊖[f (a)]′ = eH = f (eG ) = f (a⊕a′ ) = f (a)⊖f (a′ ) =⇒ f (a′ ) = [f (a)]′ .


83

Proposição 3.2.4. Se S é um subgrupo de G então f (S) é um sub-


grupo de H

Prova. Sendo S um subgrupo de G, temos que eS = eG ∈ S, assim


f (eG ) = eH ∈ f (S) daı́ f (S) é não vazio. Sejam a, b, ∈ S =⇒ a ⊕ b′ ∈ S,
assim
f (a) ⊖ [f (b)]′ = f (a) ⊖ f (b′ ) = f (a ⊕ b′ ) ∈ f (S).

Portanto f (S) é um subgrupo de H.

Proposição 3.2.5. Sejam os grupos (G, ⊕), (H, ⊖) e (J, ⊗). Dados os
homomorfismos f : G −→ H e g : H −→ J. Então g ◦ f : G −→ J é
um homomorfismo de G em J.

Prova. A cargo do prezado leitor.

Definição 3.2.6. Sejam (G, ⊕), (H, ⊖) grupos, e f : G −→ H um


homomorfismo de G em H. Chama-se núcleo de f e denota-se por
N(f ) ou Ker(f ) o seguinte subconjunto de G dado por

N(f ) = {x ∈ G | f (x) = eH }

Exemplo 3.2.4. Sejam os grupos (G, ⊕) = (R, +) e (H, ⊖) = (R∗+ , ·).


Seja f : R −→ R∗+ definida por f (x) = ex um homomorfismo entre os
grupos R e R∗+ . Calcule o N(f ).

N(f ) = {x ∈ R | f (x) = 1 } =⇒ ex = 1 ⇔ x = 0.

Portanto N(f ) = {0}

Exemplo 3.2.5. Calcule o núcleo de f : Z −→ Zm definida por f (z) =


z, a qual é um homomorfismo do grupo (Z, +) no grupo (Zm , +).

N(f ) = {x ∈ Z | f (x) = 0 } =⇒ z = 0 ⇔ z ≡ 0 (mod m).

Portanto N(f ) = {km | k ∈ Z}

Exemplo 3.2.6. Seja o homomorfismo f : Z −→ C∗ definido por


f (z) = iz , do grupo (Z, +) no grupo (C∗ , ·). Calcule o N(f ).

N(f ) = {x ∈ Z | f (x) = 1 } =⇒ iz = 1 ⇔ z = 4k, k ∈ Z.

Portanto N(f ) = {4k | k ∈ Z}.


84

Proposição 3.2.7. Seja f : G −→ H um homomorfismo de (G, ⊕) em


(H, ⊖). Então:

a) N(f ) é um subgrupo de G.

b) f é injetiva se, e somente se, N(f ) = {eG }

Prova. a) Como f (eG ) = eH , então eG ∈ N(f ) logo N(f ) 6= ∅.


Sejam a, b ∈ N(f ), donde

f (a ⊕ b′ ) = f (a) ⊖ f (b)′ = eH ⊖ e′H = eH =⇒ a ⊕ b′ ∈ N(f ).

Portanto, N(f ) é subgrupo de G.


b) (=⇒) Seja a ∈ N(f ) então f (a) = f (eG ) = eH . Como f é injetiva,
temos que a = eG .
(⇐=) Sejam a, b ∈ G. Se

f (a) = f (b) =⇒ f (a) ⊖ f (b)′ = eH =⇒ f (a ⊕ b′ ) = eH =⇒ a ⊕ b′ ∈ N(f )

Sendo N(f ) = {eG }, temos que a ⊕ b′ = eG =⇒ a = b. Portanto, f é


injetiva.

Definição 3.2.8. Sejam (G, ⊕), (H, ⊖) grupos. A função f : G −→ H


chama-se isomorfimo de G em H se, e somente se,

a) f é um homomorfismo de G em H .

b) f é bijetiva.

Se G e H são isomorfos, denota-se por G ≈ H.


Se G = H o isomorfismo chama-se automorfimo de G.

Exemplo 3.2.7. A função f : R −→ R∗+ definida por f (x) = ex é um


isomorfismo entre os grupos R e R∗+ . Com efeito: Já provamos que f
é homomorfismo, e que N(f ) = {0}, logo f é injetiva. E fácil ver que
f é sobrejetiva, pois

∀ y ∈ R∗+ tal que f (x) = ex = y ⇐⇒ x = ln y.

Portanto R ≈ R∗+ .
85

Proposição 3.2.9. Sejam (G, ⊕), (H, ⊖) grupos. Se f : G −→ H um


isomorfimo de (G, ⊕) em (H, ⊖), então f −1 : H −→ G é um isomor-
fismo de (H, ⊖) em (G, ⊕).

Prova. Sendo f bijetiva então f −1 também o é. Agora, dados


y, z ∈ H existem a, b ∈ G tais que y = f (a) e z = f (b). Assim

f −1 (y ⊖z) = f −1 (f (a) ⊖f (b)) = f −1 (f (a⊕b)) = a⊕b = f −1 (y) ⊕f −1 (z).

Daı́ f −1 é um homomorfismo, e portanto um isomorfismo de (H, ⊖) em


(G, ⊕).

3.2.1 Exercı́cios

1. Verificar em cada caso abaixo, se f é um homorfismo.

(a) f : Z −→ Z dada por f (z) = az, sendo Z grupo aditivo e


a ∈ Z.

(b) f : R∗ −→ R∗ dada por f (x) = |x|, sendo R∗ grupo multi-


plicativo.

(c) f : R −→ C∗ dada por f (x) = eix = cos x + i sen x, sendo R


grupo aditivo e C∗ grupo multiplicativo.

(d) f : Z −→ Z × Z dada por f (z) = (z, 0), sendo Z e Z × Z


grupos aditivos.

(e) f : C∗ −→ C∗ dada por f (z) = z, sendo C∗ grupo multiplica-


tivo.

2. Quais homomorfismos acima são injetores? Quais são sobreje-


tores?

3. Prove que um grupo G é abeliano se, e somente se, f : G −→ G


definida por f (x) = x−1 é um isomorfismo.

4. Prove que f : Z −→ 2Z = {0, ±2, ±4, · · · } definida por f (m) =


2m para todo m ∈ Z, é um isomorfismo de (Z, +) em (2Z, +).
86

5. Mostre que G = {2m 3n | m, n ∈ Z} e H = {m + ni| m, n ∈ Z}


são subgrupos de (R∗+ , ·) e (C, +), respectivamente, e que são
isomorfos.

6. Denotando por Aut(G) o conjunto de todos automorfimos (iso-


morfismo) de um grupo G. Mostre que (Aut(G), ◦) é um grupo.

3.2.2 Algumas respostas, sugestões e soluções

1. (a) Sim;

(b) Sim;

(c) Sim;

(d) Sim;

(e) Sim.

2. Injetores: a) se a 6= 0, d) e e). Sobrejetores: a) se a = ±1 e e).

3.

4.

5. Sugestão: Defina a função f : H −→ G dada por


f (m + ni) = 2m 3n e mostre que f é um isomorfismo de H em G.

6.

3.3 Grupos cı́clicos

Seja (G, ⊕) grupo. Para facilitar a notação vamos denotar x ⊕ y


simplemente por xy; o elemento neutro de G por e, e simétrico de
x ∈ G por x−1 .

Definição 3.3.1. Seja G grupo multiplicativo . Dados a ∈ G e n ∈ Z


define-se potência de a da seguinte maneira:

n=0 n>0 n<0


a0 = e an = an−1 a an = [a−n ]−1
87

Exemplo 3.3.1. Seja (Q∗ , ·) grupo multiplicativo. Considere 2 ∈ Q∗ ,


assim temos que
1
20 = 1, 21 = 2, 22 = 2.2 = 4, 23 = 22 .2 = 8 e 2−2 = [22 ]−1 = .
4
Exemplo 3.3.2. Seja (GL2 (R), ·) grupo das matrizes inversı́veis 2 × 2
com “entradas” reais. Considere
 
1 2
a=  ∈ GL2 (R).
0 1

Temos que  
1 0
a0 =  
0 1
    
1 2 1 2 1 4
a2 = a.a =   = 
0 1 0 1 0 1
 
1 −4
a−2 = [a2 ]−1 =  
0 1
 
1 2 3
Exemplo 3.3.3. Seja f3 =   ∈ S3 grupo das permutações.
2 1 3
Assim  
1 2 3
[f3 ]0 = e =  
1 2 3
    
1 2 3 1 2 3 1 2 3
[f3 ]2 = f3 .f3   = 
2 3 1 2 3 1 3 1 2
 −1  
1 2 3 1 2 3
[f3 ]−2 = [f32 ]−1 =   =  
3 1 2 2 3 1
Definição 3.3.2. Seja G grupo aditivo . Dados a ∈ G e n ∈ Z define-
se múltiplo de a da seguinte maneira:

n=0 n>0 n<0


0a = e na = (n − 1)a + a na = −[(−n)a]

Exemplo 3.3.4. Seja (Z8 , +) grupo aditivo. Considere 3 ∈ Z8 , assim


temos que

0·3 = 0, 2·3 = 3+3 = 6, 3·3 = 2·3+3 = 1, e −2·3 = −[2·3] = −6 = −6 = 2.


88

Definição 3.3.3. Um grupo multiplicativo G é dito cı́clico se existe x ∈


G tal que
G = {xn | n ∈ Z} . Notação : G = hxi. Saiba Mais: Para
mais detalhes
O elemento x é dito gerador de G.
sobre a teoria de
grupos cı́clicos,
Exemplo 3.3.5. Seja G = {−i, −1, 1, i}. É fácil ver que (G, ·) é grupo
ver referência [1]
multiplicativo. Além disso, é cı́clico pois

G = {in | n ∈ Z} = hii.

Observação 3.3.1. No grupo cı́clico pode existir mais de um gerador.


Ver exemplo (3.3.5), onde o elemento −i é de gerador G.

Observação 3.3.2. Todo grupo cı́clico é abeliano, pois dados a, b ∈ G


existem n, m ∈ Z tais que a = xn e b = xm , daı́

ab = xn xm = xn+m = xm+n = xm xn = ba.

Observação 3.3.3. Um grupo aditivo G é dito cı́clico se existe x ∈ G


tal que
G = {nx | n ∈ Z}.

Proposição 3.3.4. Dado um grupo multiplicativo G e um elemento


x ∈ G então S = {xn | n ∈ Z} = hxi é subgrupo de G.

Prova. Temos x0 = e =⇒ e ∈ S, logo S é não vazio. Sejam a, b ∈ G


existem n, m ∈ Z tais que a = xn e b = xm , daı́

ab−1 = xn [xm ]−1 = xn x−m = xn−m ∈ S

Portanto, S é subgrupo de G.

Acabamos de provar que todo elemento x ∈ G gera um grupo


cı́clico, o qual denotaremos por hxi.

Exemplo 3.3.6. Seja i ∈ C∗ grupo multiplicativo. então

hii = {in | n ∈ Z} = {−i, −1, 1, i}.


89

Exemplo 3.3.7. Seja 2 ∈ Q∗ grupo multiplicativo. então

1 1
h2i = {2n | n ∈ Z} = {· · · , , , 1, 2, · · · }.
4 2

Exemplo 3.3.8. No grupo aditivo dos inteiros, temos que:

h1i = {n · 1 | n ∈ Z} = Z = h−1i.

Neste caso, (Z, +) é grupo cı́clico.

Definição 3.3.5. Dado x um elemento do grupo multiplicativo G, se

xn = e ⇐⇒ n = 0

dizemos que elemento x tem ordem (perı́odo) zero e que hxi grupo
cı́clico infinito.

Exemplo 3.3.9. O número 2 ∈ Q∗ grupo multiplicativo tem ordem zero


, pois
2n = 1 ⇐⇒ n = 0.

Proposição 3.3.6. Seja x ∈ G um elemento de perı́odo zero, sendo G


um grupo multiplicativo. A função f : Z −→ hxi definida por f (z) = xz
é um isormofismo de Z em G.

Prova.

i) (f é um homomorfismo). Para todo m, n ∈ Z, temos que

f (m + n) = xm+n = xm xn = f (m)f (n),

portanto f é um homomorfismo.

ii) (f é injetiva). Se f (z) = e = xz ⇐⇒ z = 0, daı́ N(f ) = {0}, portanto


f é injetiva.

iii) (f é sobrejetiva). Seja a ∈ hxi então existe n ∈ Z tal que a = xn =


f (n), portanto f é sobrejetiva.

Assim conclui-se que f é um isomorfismo de Z em hxi.


90

Definição 3.3.7. O menor inteiro h > 0 tal que xh = e chama-se ordem


ou perı́odo do elemento x, o qual denotaremos por O(x) = h.

Observação 3.3.4. Vimos anteriormente que se não existe h > 0 tal


que xh = e então o elemento x tem perı́odo zero e hxi é um conjunto
infinito.

Exemplo 3.3.10. O elemento i ∈ C∗ possui ordem 4, pois

i1 = 1, i2 = −1, i3 = −i, i4 = 1.

Exemplo 3.3.11. O elemento −1 ∈ R∗ possui ordem 2, pois

(−1)1 = −1, (−1)2 = 1.


 
1 2 3
Exemplo 3.3.12. Seja f2 =   ∈ S3 . Calcule a ordem de f2 .
1 3 2
 
1 2 3
[f2 ]1 = f2 =  
1 3 2
     
1 2 3 1 2 3 1 2 3
[f2 ]2 = f2 · f2 =  · =  = f1 = e.
1 3 2 1 3 2 1 2 3
Logo a ordem de f2 é 2,

Exemplo 3.3.13. Seja G um grupo e x ∈ G com x 6= e. Então O(x) = 2


se, e somente se, x = x−1 . De fato:

x2 = e ⇐⇒ x−1 x2 = x−1 e ⇐⇒ x = x−1 .

Proposição 3.3.8. Seja x ∈ G onde G é grupo multiplicativo. Se


O(x) = h > 0, então hxi é um grupo finito de ordem h dado por

hxi = {e, x, x2 , · · · , xh−1 }.

Prova. Mostraremos que {e, x, x2 , · · · , xh−1 } possui exatamente h


elementos. Com efeito: suponha por absurdo que existam m, n ∈ Z
tais que

0 ≤ m < n < h e xm = xn =⇒ 0 < n − m < h e xn−m = e.


91

Contradição, pois h é menor inteiro positivo tal que xh = e. Logo não


existe elementos iguais neste conjunto.
Para mostrar que hxi = {e, x, x2 , · · · , xh−1 }, é suficiente mostrar
que
hxi ⊂ {e, x, x2 , · · · , xh−1 }.

De fato: seja a ∈ hxi então existe n ∈ Z tal que a = xn . Agora, usando


o algoritmo da divisão existem q, r ∈ Z tais que

n = qh + r com 0 ≤ r < h.

Assim,
a = xn = xqh+r = (xh )q xr = eq xr = xr .

Sendo 0 ≤ r < h, segue-se que a ∈ {e, x, x2 , · · · , xh−1 }.

Definição 3.3.9. Seja G = hxi um grupo cı́clico. Dizemos que G é


grupo cı́clico finito se O(x) = h > 0.

Proposição 3.3.10. Seja h > 0 a ordem do elemento x do grupo G.


Então
xn = e ⇐⇒ h|n.

Prova.(=⇒) Dado n ∈ Z, então pelo algoritmo de Euclides existem


q, r ∈ Z tais que
n = qh + r com 0 ≤ r < h.

Assim
e = xn = xqh+r = (xh )q xr = eq xr = xr .

Como 0 ≤ r < h e h é o menor inteiro positivo tal que xh = e, segue-se


que r = 0 =⇒ h|n.
(⇐=) Como h|n existe m ∈ Z tal que n = mh, daı́

xn = xmh = [xh ]m = em = e.

Proposição 3.3.11. Seja G um grupo cı́clico multiplicativo de ordem


h > 0. Então existe um isormofismo de Zh em G.
92

Prova. Seja x um gerador de G, neste caso G = hxi = {e, x, x2 , · · · , xh−1 }.


Defina a função

f : Zh = {0, 1, 2, · · · , h − 1} −→ G = {e, x, x2 , · · · , xh−1 }


n 7−→ f (n) = xn .

Mostraremos que f é um isomorfismo de Zh em G. De fato:

i) (f é um homomorfismo). Para todo m, n ∈ Zh , temos que

f (m + n) = f (m + n) = xm+n = xm xn = f (m)f (n).

Portanto, f é um homomorfismo.

ii) (f é injetiva). Seja n ∈ Zh tal que

f (n) = e = xn ⇐⇒ h|n ⇐⇒ n ≡ 0 (mod h) ⇔ n = 0.

Assim N(f ) = {0}, e portanto f é injetiva.

iii) (f é sobrejetiva). Seja a ∈ hxi, então existe n ∈ Z tal que a = xn =


f (n), portanto f é sobretiva.

Assim conclui-se que f é um isomorfismo de Zh em G.

Exemplo 3.3.14. De acordo com a proposição acima o grupo aditivo


Z4 = {0, 1, 2, 3} é isomorfo ao grupo multiplicativo G = {1, i, −1, −i} =
hii.

3.3.1 Exercı́cios

1. Construa os seguintes subgrupos:


1
(a) h i em (Q∗ , ·).
3
(b) h−2i em (Q∗ , +).

(c) hii em (C∗ , ·).

(d) h4i em (Z12 , +).

2. Seja G um grupo finito e a ∈ G com a 6= e. Mostre que


93

(a) O(a) = O(a−1 ).

(b) Se O(a) = 2 ∀ a ∈ G com a 6= e, então G é abeliano.

(c) Se O(ab) = mn então O(am ) = n.

(d) ∀ b ∈ G temos O(bab−1 ) = O(a).

(e) Se am = e então O(a) | m

3. Prove que (Zm , +) para todo m > 1 é cı́clico.

4. Seja G um grupo abeliano. Para todos x, y ∈ G e m ∈ Z temos


que (xy)m = xm y m .

5. Seja G um grupo multiplicativo e a, b ∈ G. Se O(ab) = h > 0


então O(ba) = h > 0.

6. Mostre que todo subgrupo de um grupo cı́clico é cı́clico.

3.3.2 Algumas respostas, sugestões e soluções

1. Construa os seguintes subgrupos:

1 1 1
(a) h i = {· · · , , , 1, 3, 9, · · · }.
3 9 3
(b) h−2i = {· · · , −4, −2, 0, 2, 4, · · · }.

(c) hii = {1, −1, i, −i}.

(d) h4i = {0, 4, 8}.

2. Seja G um grupo finito e a ∈ G com a 6= e. Mostre que

(a) Seja h = O(a), assim

ah = e =⇒ (ah )−1 = e−1 =⇒ (a−1 )h = e.

Logo O(a−1 ) = h = O(a).

(b)

(c)

(d) Sugestão: Prove por indução sobre n que (bab−1 )n = ban b−1 .
94

(e)

3.

4. (xy)m = xy · yx · · · xy · xy = x · · x · x} · y · y · · · y · y = xm y m .
· x ·{z
| {z } | | {z }
m vezes m vezes m vezes

5.

6.

3.4 Classes Laterais e o Teorema de Lagrange

Definição 3.4.1. Seja S um subgrupo de G. Dado a ∈ G indicare-


mos por aS (respectivamente por Sa) e chamaremos de classe lateral
à esquerda (respectivamente à direita), módulo S, definida por a, o
seguinte subconjunto de G:

(i) aS = {as | s ∈ S} .

(ii) (respectivamente) Sa = {sa | s ∈ S}

Observação 3.4.1. Se G é abeliano, é claro que aS = Sa.

Exemplo 3.4.1. Seja S = {1, −1} subgrupo do grupo G = {1, −1, i, −i}.
Então suas classes laterais são:

1 · S = {1 · 1, 1 · (−1)} = {1, −1} = S · 1 = S.

(−1) · S = {(−1) · 1, (−1) · (−1)} = {−1, 1} = S · (−1) = S.

i · S = {i · 1, i · (−1)} = {i, −i} = S · i.

(−i) · S = {(−i) · 1, (−i) · (−1)} = {−i, i} = S · (−i) = i · S.

Exemplo 3.4.2. Considere S = {0, 2} subgrupo do grupo aditivo G =


Z4 = {0, 1, 2, 3}. Então suas classes laterais são:

0 + S = {0 + 0, 0 + 2} = {0, 2} = S + 0 = S.

1 + S = {1 + 0, 1 + 2} = {1, 3} = S + 1.

2 + S = {2 + 0, 2 + 2} = {2, 0} = S + 2 = S.

3 + S = {3 + 0, 3 + 2} = {3, 1} = S + 3 = 1 + S.
95

Exemplo 3.4.3. Seja S = {x ∈ R | x > 0} subgrupo do grupo multi-


plicativo G = R∗ . Então suas classes laterais são:

∀ a > 0 =⇒ a · S = S · a = S.

∀ a < 0 =⇒ a · S = S · a = {x ∈ R∗ | x < 0}.

Trabalharemos somente com as classes laterais à esquerda, pois


tanto faz trabalhar com as classes lateriais à esquerda ou à direita.
Inclusive as demonstrações seriam as mesma.

Proposição 3.4.2. Seja S um subgrupo do grupo G. Então

1.) ∀ a, b ∈ G temos que

aS = bS ⇐⇒ a−1 b ∈ S.

2.) ∀ a, b ∈ G temos que

aS 6= bS ⇒ aS ∩ bS = ∅.

S
3.) aS = G
a∈S

Prova. 1.)(=⇒): Sejam a, b ∈ G tal que aS = bS. Vamos provar


que a−1 b ∈ S. De fato: Como a ∈ aS = bS então existe n ∈ S tal que
a = bn. Donde a−1 b = n−1 ∈ S.
(⇐=): Se a−1 b ∈ S. Vamos provar que aS = bS, e para isto vamos
provar que aS ⊂ bS e bS ⊂ aS. De fato:
Seja x ∈ aS =⇒ x = am, com m ∈ S. Sendo que a−1 b ∈ S =⇒
a−1 b = k com k ∈ S. Assim a = bk −1 =⇒ x = bk −1 m =⇒ x ∈ bS.
x ∈ bS =⇒ x = bm, com m ∈ S. Sendo que a−1 b ∈ S =⇒ a−1 b = k
com k ∈ S. Logo b = ak, donde x = akm =⇒ x ∈ aS. Portanto
aS = bS.
2.) Suponha por absurdo que aS ∩ bS 6= ∅. Seja x ∈ aS ∩ bS,
assim x = bn com n ∈ S. Logo temos que x−1 b = n−1 b−1 b = n−1 ∈ S.
Portanto, 1.) nos garante que aS = bS, que é uma contradição, e daı́
segue que aS ∩ bS = ∅.
96
S S
3.) Vamos provar que aS ⊂ G e G ⊂aS. De fato:
a∈G Sa∈G
Como aS ⊂ G para todo a ∈ G segue que aS ⊂ G. Agora, para
a∈G S
qualquer a ∈ G temos que a ∈ aS e portanto segue que G ⊂ aS, e
a∈G
com isto, segue o afirmado.

Observação 3.4.2. Acabamos de provar que o conjunto G é união


disjunta das classes laterais à esquerda, módulo S. De modo análogo,
como união disjunta das classes laterais à direita, módulo S.

Definição 3.4.3. A cardinalidade do conjunto das classes laterais à


esquerda é o ı́ndice de S em G, o qual denotaremos por (G : S).

Proposição 3.4.4. O ı́ndice de H em G também é a cardinalidade do


conjunto das classes laterais à direita.

Prova. Seja f : aS −→ Sa−1 definida por f (as) = sa−1 ∀ s ∈ S.


Mostraremos que f é uma bijeção entre os conjuntos aS e Sa−1 . Com
efeito: sejam m, n ∈ aS tais que f (m) = f (n). Assim f (m) = ma−1 =
f (n) = na−1 =⇒ m = n, logo f é injetiva. Seja y ∈ Sa−1 , daı́ y = na−1
com n ∈ S, assim an = aya ∈ aS e f (an) = f (aya) = yaa−1 = y, logo
f é sobrejetiva. Portanto f é bijetiva.

Proposição 3.4.5. Todas as classes laterais de S em G têm a mesma


cardinalidade, que é igual à cardinalidade de S.

Prova. Seja f : S −→ aS definida por f (s) = as ∀ s ∈ S.


Mostraremos que f é uma bijeção entre os conjuntos S e aS. Com
efeito: sejam m, n ∈ S tal que f (m) = f (n). Assim f (m) = ms =
f (n) = ns =⇒ m = n, logo f é injetiva. Seja y ∈ aS, daı́ y = an com
n ∈ S, assim f (n) = an = y, logo f é sobrejetiva. Portanto bijetiva.

Observação 3.4.3. Da proposição acima que para todo a ∈ S, temos


aS = S.

Exemplo 3.4.4. Considere S = {0, 2} subgrupo do grupo aditivo G =


Z4 = {0, 1, 2, 3}. Vimos no exemplo (3.4.2) que ı́ndice de S em G é 2
97

((G : S) = 2) e que cada classe possui exatamente 2 elementos. Além


disso, Z4 é união disjunta das classes S = {0, 2} e 1 + S = {1, 3}.

Definição 3.4.6. Seja G um grupo finito. Denotaremos por O(G) a


cardinalidade de G, isto é, o número de elementos do grupo G.

Teorema 3.4.7 (Teorema de Lagrange). Seja S um subgrupo do grupo


finito G. Então

O(S)|O(G) e O(G) = O(S) · (G : S).

Prova. Seja k = (G : S) e seja {a1 S, a2 S, · · · , ak S} o conjunto das


classes laterais à esquerda, módulo S. Então pela proposição 3.4.2
segue-se que
a1 S ∪ a2 S ∪ · · · ∪ ak S = G.

Ainda pela proposição 3.4.2, temos que cada elemento de G está


numa e somente numa dessas classes citadas acima. Da proposição
3.4.5 temos que o número de elementos de cada classe é O(S), as-
sim, conclui-se que O(G) = O(S) · (G : S), e daı́ O(S)|O(G).

Corolário 3.4.1. Seja a ∈ G e S = hai. Então O(a)|O(G).

Prova. Temos que O(S) = O(a). Pelo Teorema de Lagrange


conclui-se que O(a)|O(G).

Corolário 3.4.2. Seja a ∈ G, então aO(G) = e.

Prova. Seja S = hai, daı́ O(S) = O(a). Assim

aO(G) = a[O(a)·(G:S)] = [aO(a) ](G:S) = e(G:S) = e.

Corolário 3.4.3. Seja G um grupo finito. Se a ordem de G for um


número primo, então G é cı́clico e seus únicos subgrupos são os trivi-
ais: {e} e G.
98

Prova. Sendo p > 1 então G possui pelos menos dois elementos.


Seja a ∈ G com a 6= e e S = hai. Como O(a)|O(G) e a ordem de G é
um número primo, segue-se que O(a) = p, daı́ G = S = hai. E é claro
que, os únicos subgrupos de G são os triviais.

Proposição 3.4.8. Seja G um grupo finito. Se a ordem de O(G) ≤ 5,


então G é abeliano.

Prova. Se O(G) = 1 então G = {e}, é óbvio que G é abelino. Se


O(G) = 2, O(G) = 3ou O(G) = 5, temos do resultado anterior que G é
cliclico, e portanto abeliano.
Agora, considere O(G) = 4. Então existe somente duas possibili-
dades para os elementos de G diferentes de e, há saber:

i) G possui um elemento de ordem 4.

ii) Todo elemento de G possui ordem 2.

Se ocorrer i), temos que G é cı́clico, e portanto é abeliano. Agora,


Se ocorrer ii), temos pelo exemplo (3.3.13) que todo elemento de G é
inverso dele mesmo. Assim, dados x, y ∈ G temos

xy = (xy)−1 = y −1x−1 = yx.

Portanto G é abeliano.

3.4.1 Exercı́cios

1. Determinar todas as classes laterais de S = {0, 4} do grupo adi-


tivo Z8 .

2. Determinar todas as classes laterais de S = 3Z do grupo aditivo


Z.

3. Seja G um grupo finito e a, b ∈ G com a, b 6= e. Se

a5 = e e aba−1 = b2 .

Mostre que O(b) = 31.


99

4. Seja S subgrupo de G. Se (G : S) = 2 então aS = Sa para todo


a ∈ G.

5. Sejam S e H subgrupos de G. Se O(S) = p e O(S) = q com p e


q primos distintos, então S ∩ H = {e}.

6. Mostre que se a ordem de G é pn , onde p é número primo positivo


e n > 1. Então a ordem de qualquer elemento de G é potência
de p.

7. Quais são os subgrupos de S3 ? E de Z8 ?

3.4.2 Algumas respostas, sugestões e soluções

1. S, 1 + S, 2 + S e 3 + S.

2. S, 1 + S e 2 + S.

3.

4. Se (G : S) = 2, então existe apenas duas classes distintas S e


G − S. Assim dado a ∈ G, temos apenas duas possibilidades:

(a) a ∈ S =⇒ aS = S = Sa;

(b) a ∈
/ S =⇒ aS = G − S = Sa.

5. Sugestão: Suponha por contradição e use o Teorema de La-


grange.

6. Dado a ∈ G, então pelo Teorema de Lagrange temos que


O(a)|O(G) = pn =⇒ O(a) = pm para algum m ≤ n.

7. De S3 : {f0 }, {f0 , f1 }, {f0 , f2 }, {f0 , f3 , f4 }, {f0, f5 } e S3 .


De Z8 : {0}, {0, 4}, {0, 2, 4, 6} e Z8 .

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