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Módulos sobre domínios de ideais principais

Lucas Hiroyuki Ragni Hamada


RA 182564

1 Introdução
Durante o curso de Grupos e representações utilizamos o teorema da estrutura dos
grupos abelianos finitos para caracterizar os grupos abelianos finitos mas não estudamos
sua demonstração, nesta monografia temos como objetivo final demonstrar tal teorema
que é um caso particular de um teorema mais geral, o teorema estrutural dos módulos
sobre PID finitamente gerados, onde um módulo é um espaço vetorial em que deixamos
o conjunto dos escalares ser um anel.

Nesta Monografia assumiremos que todo anel é associativo com unidade.

2 Introdução a Módulos sobre Aneis


Antes de demonstrar o teorema estrutural dos módulos sobre PID finitamente gerados
vamos estudar um pouco o que é um módulo (sobre um anel geral ) e ver suas principais
diferenças com os espaços vetoriais.

2.1 Módulos sobre Aneis


Definição 2.1. Sejam A um anel e M um grupo abeliano, dizemos que M junto com
uma ação de A em M

A×M →M
(a, x) 7→ a ? x

é um A-módulo à esquerda se:

(i) (a + b) ? x = a ? x + b ? x;

(ii) a ? (b ? x) = (ab) ? x;

(iii) 1 ? x = x;

(iv) a ? (x + y) = a ? x + a ? y;

para todos 1, a, b ∈ A e x, y ∈ M .
Dizemos que M é um A-módulo à direita se em vez de satisfazer o item (ii) acima
satisfaça

(ii’) a ? (b ? x) = (ba) ? x

1
que neste caso fica melhor denotando a ação de A em M por x ? a.
Quando A é comutativo os dois itens são equivalentes, dizemos nesse caso que M é
um A-módulo.

Exemplo 2.1. 1. Se tomarmos A um corpo vemos que um A-módulo é simplesmente


um A-espaço vetorial.

Q {Mi }i∈I uma família


2. Seja Lde A-módulos à esquerda(à direita), então o produto
L direto
Mi e a soma direta Mi são A-módulos à esquerda(à direita), onde Mi é o
i∈I Q i∈I i∈I
subgrupo de Mi dos elementos que possuem no máximo uma quantidade finita de
i∈I
componentes não nulas.
Quando I é finito o produto e a soma direta são iguais.
Q L
3. Se A é um anel então o produto direto i∈I A e a soma direta i∈I A são A-módulos
à esquerda e à direita, em particular A é um A-módulo à direita e à esquerda (As
ações podem ser distintas caso A é não comutativo).

4. Todo grupo abeliano G é um Z-módulo com a ação

Z×G→G
(k, g) 7→ |sign(k)|(g + g + · · · + g )
| {z }
|k|

5. O anel dos polinômios A[X] com coeficientes em A é um A-módulo à esquerda e à


direita.

Denotaremos a ação a ? x apenas por ax, e a partir daqui provaremos as proposições


apenas para A-módulos à esquerda( para A-módulos à direita é equivalente).

Proposição 2.1. Seja M um A-módulo á esquerda, então

(a) a0 = 0

(b) 0x = 0

(c) a(-x) = - (ax)

para todo a ∈ A.

Demonstração. (a) a0 = a(0 + 0) = a0 + a0 =⇒ a0 = 0

(b) 0x = (0 + 0)x = 0x + 0x =⇒ 0x = 0;

(c) ax + a(−x) = a(x − x) = a0 = 0 =⇒ a(−x) = −(ax).

Definição 2.2. Seja M um A-módulo , dizemos que um subgrupo não vazio N de M é


um A-submódulo de M (N ≤ M ) se é fechado pela ação de A, isto é, ax ∈ N para todo
x ∈ N.

Exemplo 2.2. se A é considerado como um A-módulo à esquerda então um A-submódulo


é simplesmente um ideal à esquerda de A.

2
Proposição 2.2. Seja M um A-móduloT à esquerda e {Mi }i∈I uma família de A-submódulos
à esquerda de M , temos então que Mi é um A-submódulo à esquerda de M .
i∈I
T T
Demonstração. Como 0 ∈ Mi para todo i ∈ I temos Mi 6= ∅. Se x, y ∈ Mi então
i∈I i∈I
x, y ∈ Mi para
T todo i ∈ I, logo x + y, ax ∈ Mi para todo i ∈ I e a ∈ A. Portanto
x + y, ax ∈ Mi e concluímos que é um A-submódulo à esquerda de M .
i∈I

Definição 2.3. Seja M um A-módulo à esquerda e S um subconjunto de M , definimos


o A-submódulo à esquerda gerado por S e denotamos por R[S]
\
R[S] = {N ⊃ A : N é A − submódulo à esquerda de M }

Se R[S] = M então dizemos que o subconjunto S é um gerador de M , além disso se S é


finito então dizemos que M é finitamente gerado.
Proposição 2.3. Seja M um A-módulo à esquerda e S um subconjunto de M , assim
temos que X
R[S] = { ai xi : ai ∈ A e xi ∈ S}
soma f inita
P
Por isso também denotamos R[S] por Rxi .
i∈I

Demonstração. Observe que todo A-submódulo à esquerda contendo S contém também


o conjunto do lado direito da igualdade, assim basta mostrar que tal conjunto é um
A-submódulo à esquerda de M que é fácil de ver pela definição.
Definição 2.4. Dado um A-módulo à esquerda M e um A-submódulo N temos o grupo
quociente M/N , pois M é um grupo comutativo e N um subgrupo normal, assim se
definirmos em M/N a ação de A por

A × M/N → M/N
(a, x + N ) 7→ ax + N

obtemos um A-módulo à esquerda M/N que chamaremos de A-módulo quociente de M


por N .
Observação 2.1. A ação de A sobre M/N está bem definida. Com efeito, se x − y ∈ N
então ax−ay = a(x−y) ∈ N pois N é fechado pela ação de A, portanto ax+N = ay +N .

2.2 Homomorfismos
Definição 2.5. Sejam M e N dois A-módulos à esquerda, dizemos que um homomorfismo
de grupos f : M → N é uma A-homomorfismo de módulos se f (ax) = af (x) para todo
a ∈ A e x ∈ M . Além disso se f é uma bijeção dizemos que é um A-isomorfismo entre os
módulos M e N e denotamos por M ∼ =A N .
Teorema 2.1. (Primeiro teorema dos isomorfismos de módulos)
Se M e N são A-módulos à esquerda e f : M → N um A-homomorfismo de módulos
então ker f e f (A) são A-submódulos de M e N , respectivamente, e
M ∼
=A f (A)
ker f

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Demonstração. Vamos mostrar por partes
f
M N
π
Φ
M
ker f

(a) Se x, y ∈ ker f e a ∈ A então temos que f (x + y) = f (x) + f (y) = 0 + 0 = 0 e


f (ax) = af (x) = a0 = 0 logo x + y, ax ∈ kerf e ker f é um A-submódulo à esquerda
de M ;
(b) Se f (x), f (y) ∈ f (A) e a ∈ A então f (x) + f (y) = f (x + y) ∈ f (A) e af (x) =
f (ax) ∈ f (A) logo f (A) é um A-submódulo à esquerda de N;
M
(c) Defina a seguinte função entre ker f
e f (A):
M
Φ: → f (A)
ker f
x + ker f 7→ f (x)
Vamos mostrar que Φ está bem definida e é um isomorfismo
(i) Se x + ker f = y + ker f então x − y ∈ ker f e f (x) − f (y) = f (x − y) = 0 logo
f (x) = f (y) e Φ está bem definida.
(ii) Φ((x + ker f ) + (y + ker f )) = Φ((x + y) + ker f ) = f (x + y) = f (x) + f (y) =
Φ(x + ker f ) + Φ(y + ker f ) e Φ(a(x + ker f )) = Φ((ax) + ker f ) = f (ax) =
af (x) = aΦ(x + ker f ) logo Φ é um A-homomorfismo de módulos.
(iii) ker Φ = {x + ker f : f (x) = 0} = {x + ker f : x ∈ ker f } = {ker f } logo Φ é
injetiva.
(iv) Dado f (x) ∈ f (A) temos que Φ(x + ker f ) = f (x) logo Φ é sobrejetiva.
Mostramos assim o teorema.
Utilizando o primeiro teorema dos isomorfismos provamos facilmente os seguintes te-
oremas
Teorema 2.2. (segundo teorema dos isomorfismos de módulos)
Se M e N são A-submódulos à esquerda de L, então temos que
M + N = {m + n : m ∈ M, n ∈ N }
e
M ∩N
são A-submódulos à esquerda de L e além disso
M +N ∼ M
=A
N M ∩N
Teorema 2.3. (Terceiro teorema dos isomorfismos de módulos)
Sejam N ≤ L ≤ M A-módulos. Então temos que
M ∼ (M )
=A NL
L (N )

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2.3 Módulos Livres
Definição 2.6. Seja M um A-módulo à esquerda e S um subconjunto de M , dizemos
que S é um P
subconjunto linearmente independente se para todo subconjunto B de S finito
temos que ci ai = 0 com ci ∈ A para todo i implica ci = 0 para todo i.
ai ∈B

Definição 2.7. Um A-módulo à esquerda M é dito livre se possui uma base: existe um
subconjunto gerador linearmente independente.
Proposição 2.4. Se M é um A-módulo livre à esquerda com B ⊂ M uma base então todo
elemento x ∈ M pode ser representado de forma única como uma A-combinação linear
de B(onde todos os termos são não nulos).
Demonstração. Suponha que existam I, J finito, ci , dj ∈ A para todo i ∈ I,j ∈ J tais que
X X
ci yi = x = dj y j
i∈I j∈J

assim temos que se H = I ∩ J então


X X X
0= ci y i + (ci − di )yi + di y i
i∈I\H i∈H i∈J\I

como B é linearmente independente segue que ci = dj = 0 para todo i ∈ I\J e j ∈ J\I


e além disso ci = di para todo i ∈ H, portanto a represenação é única.
Com a proposição acima temos que Lse {yi } é uma base do A-módulo à esquerda M
então temos o isomorfismo entre M e Ayi .
i∈I
P
Exemplo 2.3. (a) A soma direta i∈I A é um A-módulo livre Pà esquerda e à direita.
De fato, C = {(δi,n )P
i∈I : n ∈ I} é claramente uma base de i∈I A, diremos que C é
a base canônica de i∈I A.
(b) Diferente dos espaços vetoriais nem todos os módulos possuem bases, uma família
de exemplos são os grupos abelianos finitos considerados como Z-módulos. De fato,
seja G um grupos abeliano finito, para todo x ∈ G existe n ∈ Z\{0} tal que nx = 0,
isso implica que nenhum subconjunto não vazio pode ser linearmente independente,
daí não existe base.
Sabemos que no caso de espaços vetoriais, podemos ter varias bases para o mesmo
espaço porém todas elas tem a mesma cardinalidade, veremos no proximo exemplo que
isso não é verdade para módulos em geral.
Exemplo 2.4. (Eilenberg Swindle) Seja K um corpo e K N o K-espaço vetorial produto
direto. Considere o anel R = homK (K N , K N ) não comutativo como um módulo à esquerda
sobre si mesmo, assim temos que:
1. homK (K N , K N ) é isomorfo ao anel MN (K) das matrizes infinitas enumeráveis com
entradas em K onde cada coluna só possui um número finito de elementos não nulos.
De fato considere uma base C = {ai }i∈N de K N e defina o seguinte mapa:
Φ : homK (K N , K N ) → MN (K)
T 7→ (bi,j )i,j∈N
P
onde T (ai ) = j∈N bi,j aj para todo i ∈ N. É fácil ver que Φ é um ismorfismo.

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2. Sejam P, I subconjuntos de N, dos números pares e dos números ímpares, respecti-
vamente, assim P e I são infinitos enumeráveis e temos a seguinte função:
Ψ : MN (K) → MN (K) × MN (K)
T 7→ (T |P , T |I )
onde T |P e T |I são as matrizes formadas pelas colunas pares e as colunas ímpares
de T , respectivamente.Ψ está bem deinida e é de fato um isomorfismo de MN (K)-
módulos.
daí obtemos que R ∼ =K R2 ∼=K R3 ∼
=K · · · e portanto R tem bases de diferentes cardinali-
dades.
Proposição 2.5. Se num A-módulo livre à esquerda existir uma base infinita então todas
as bases tem a mesma cardinalidade.
Demonstração. Suponha que {xi }I e {yj }J sejam bases de M , assim M ∼ Axi ∼
L
=A =A
L P i∈I
Ayj . Vamos mostrar que ]I ≥ ]J. Para todo i ∈ I temos que xi = cj yj onde
j∈J
S j∈J(i)⊂J
J(i) é um subconjunto finito não vazio de J, daí temos que J = J(i), assim se J é
i∈I
infinito I deve ser infinito, pela aritimética dos cardináis temos
X
]J ≤ J(i) ≤ (]I)ℵ0 ≤ ]I
i∈I

mudando os papeis de I e J concluímos que ]I = ]J.


Teorema 2.4. Se A é um anel comutativo, quaisquer duas bases de um A-módulo livre
M possuem a mesma cardinalidade. Neste caso definimos o grau de M , rankA M , como
sendo tal cardinalidade.
Demonstração. Sejam {xi }i∈I , {yj }j∈J duas bases de M . assim temos que
M∼ Axi ∼
M M
=A =A Ayj
i∈I j∈J

A
Como A é comutativo com unidade existe um ideal maximal m ⊂ A, daí m
é corpo.
Considere o A-submódulo de M definido por
X
mM := { ak zk |ak ∈ m, zk ∈ M }
somaf inita

podemos ver que M


mM = mxi
i∈I
e obtemos o isomorfismo
M ∼ M Axi
=A
mM i∈I
mxi
M M
Como a ação de m em mM é nula podemos considerar mM como um Am
espaço vetorial,
que possui {xi }i∈I como base, utilizando o mesmo argumento vemos que {y j }j∈J também
M
é uma base de mM que é um espaço vetorial portanto
]I = ]J.

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3 Módulos sobre PIDs
Neste capítulo todo anel A é um PID, Domínio de ideais peincipais, a menos que for
dito o contrário.

3.1 Transformações elementares e Fatores invariantes


Definição 3.1. Uma matriz quadrada com entradas em A da forma
 
1 (i) (j)
..
.
 
 
1
 
 
 (i) α ... β
 


Ei,j (α, β, γ, δ) :=  .. . . .. 
(1)
 . . . 

(j) γ ... δ 
 

 1 

 .. 
 . 
1

onde αδ − βγ é unidade, é dita matriz elementar.

Observe que ∆ = det[Ei,j (α, β, γ, δ)] = αδ − βγ ∈ A? , logo Ei,j (α, β, γ, δ) é invertível


e sua inversa é
Ei,j (δ∆−1 , −β∆−1 , −γ∆−1 , α∆−1 ) (2)
ou seja, inversa de matriz elementar é uma matriz elementar.
Agora dadas duas matrizes F 0 , F ∈ Mk,l (A) dizemos que F 0 é equivalente a F e de-
notamos por F 0 ∼ F , se podemos obter F 0 a partir de F apenas com transformações
elementares, isto é, multiplicando matrizes elementares em ambos os lados de F sucessi-
vamente.

Proposição 3.1. ∼ é uma relação de equivalencia em Mk,l (A).

Demonstração. Segue direto do fato de toda matriz elementar ser invertível e sua inversa
também ser uma matriz elementar, e que a identidade é uma matriz elementar.

Teorema 3.1. Seja F uma matriz com entradas num domínio de ideais principais A,
assim F é equivalente a matriz diagonal
 
d1
 d2 
...
 
 
 
d
 
 r 
0
 
 
...

onde d1 |d2 | · · · |dr e dr 6= 0. Além disso a r-upla (d1 , · · · , dr ) é única a menos de multipli-
cação por unidade e dizemos que são os fatores elementares de F .

7
Demonstração. Fixe F ∈ Mn,m (A) e defina o seguinte subconjunto de Mn,m (A)
F := {F 0 ∈ Mn,m (A)|F ∼ F 0 }
quando F = 0 temos F = {0} e acabamos. Suponha que F 6= 0 e defina a seguinte família
de subconjuntos de A
J := {Ra ⊂ R|a é entrada de F 0 ∈ F}
mas como A é PID em particular é Noetheriano e toda família de ideais possui um
ideal maximal, seja Rd1 um ideal maximal de J . como F 6= 0 então d1 6= 0, e existe
algum F 0 ∈ F tal que d1 está na posição (1, 1). Agora vamos mostrar que todos os
elementos da primeira coluna e linha de F 0 são divisíveis por d1 . Com efeito, suponha que
d01 = mdc(d1 , a1,j ) (a demosntração é igual para os elementos da primeira coluna), assim
se d01 6= d1 então podemos encontrar uma matriz em F que possui d01 como entrada e
Ad1 ( Ad01 contradizendo a maximalidade de Ad1 . Assim por transformações elementares
temos que  
d1 0
∈F (3)
0 F1
assim aplicando a mesma ideia em F1 , F2 , · · · obtemos a matriz do enunciado, alem disso
como temos    
d1 d1 d2

 d2 ∼
  d2 ∈F

... ...

pelo mesmo argumento acima concluímos que d1 |d2 | · · · |dr .


Para mostrar a unicidade vamos definir os ideais de Fitting de uma matriz.
Definição 3.2. Dada uma matriz M , seu k-ésimo ideal de Fitting F itk (M ) é o ideal de
A gerado pelo conjunto dos determinantes das submatrizes de M de ordem k.
Observação 3.1. Também chamamos F itk (M ) de k-ésimo fator de determinante da
matriz M .
Lema 3.1. Se M e N são equivalentes então
F itk (M ) = F itk (N )
para todo k.
Demonstração. Como transformações elementares são invertíveis basta mostrar que
F itk (M 0 ) ⊂ F itk (M )
onde M 0 é obtido de M por uma única transfomação elementar. assim toda submatriz
de M 0 de ordem k é uma combinação linear de submatrizes de M de ordem k logo todo
(
elemento de F itk M 0 ) pertence a F itk (M ), o que queríamos mostrar.
Lema 3.2. Seja (d1 , · · · , dr ) os fatores invariantes da matriz F e (F it1 (F ), · · · , F itk (F ))
seus ideais de Fitting, então
d1 = F it1 (F ), d1 d2 = F it2 (F ), · · · , d1 d2 · · · dr = F itr (F ), F iti (F ) = 0(i > r)
Demonstração. A prova segue direto da parte da existência do teorema 3.1 e do lema
3.1.
Pela unicidade dos ideais de Fitting de F e pelo lema 3.2 concluímos que os fatores
invariantes são únicos a menos de mltiplicação por unidade.

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3.2 Estrutura de Módulos Finitamente Gerados
Lema 3.3. Seja A um anel Noetheriano e M um A-módulo finitamente gerado, se N é
um A-submódulo de M então também é finitamente gerado.

Demonstração. Como M é finitamente gerado temos que


n
X
M= Axi (4)
i=1

assim vamos mostrar por indução em n.


Para n = 1 temos que M = Ax e N = Ix para algum I ⊂ A, observe que I é um ideal
de A. De fato, dados a, b ∈ I e c ∈ A temos que (a+b)x = ax+bx ∈ N ; (ca)x = c(ax) ∈ N
logo a + b, ca ∈ I. Como A é noetheriano I é finitamente gerado assim N é finitamente
gerado.
Suponha que vale até n − 1. Tome Ax1 o submódulo de M gerado por x1Pe considere
M M n
a projeção natural f M  Rx 1
, assim como f é sobrejetiva temos Rx 1
= i=2 Af (xi )
M
e pela hipótese de indução todo A-submódulo de Ax1 é finitamente gerado. Se N é um
A-submódulo de M , assim pela restrição de f em N e pelo teorema dos isomerfismos
temos
N ∼ M
=A f (N ) ≤
N ∩ Ax1 Ax1
M
Como N ∩ Ax1 é A-submódulo de Ax1 e f (N ) é A-submódulo de Ax 1
ambos são
finitamente gerados e se y1 , · · · , yk geram N ∩ Ax1 e yk+1 , · · · , yn geram f (N ) concluímos
que y1 , · · · , yn geram N e portanto N é finitamente gerado.

Teorema 3.2. Seja M um módulo finitamente gerado sobre o domínio de ideais principais
A. Então existem d1 , · · · , dr ∈ A − A? , dr 6= 0 tal que
r
A
M∼
M
=A ⊕ Al (5)
i=1
Adi
d1 | · · · |dr (6)

onde l é único e (d1 , · · · , dr ) são únicos a menos de unidade.

Observação 3.2. Antes de começar a demosntração vamos definir a nomenclatura.


r
M A
é a torão de M (7)
i=1
Ad i

Rl é a parte livre de M (8)


(d1 , · · · , dr ) são os f atores invariantes de M (9)

Demonstração. Vamos provar primeiro que M pode ser escrito da forma do enunciado.
Sejam x1 , · · · , xm geradores de M e considere o epimorfismo de A-módulos

g : Am  M
m
X
(a1 , · · · , am ) 7→ ai x i
i=1

9
Pelo lema 3.3, o A-submódulo Ker(g) de Am é finitamente gerado, assim obtemos o
A-homomorfismo
f : An  Ker(g) ,→ Am ; Im(f ) = Ker(g).
Pelo teorema dos isomorfismos obtemos
Am
M∼
=A
Im(f )
Agora se F é a matriz do homomorfismo f entre A-módulos livres na base canônica
pelo teorema 3.1 podemos encontrar bases (y1 , · · · , yn ) de An e (z1 , · · · , zm ) de Am tal
que  
d1
 d2 
...
 
 
F ∼  , d1 | · · · |dk
 
 dr 
0
 
 
...

ou seja, f (yi ) = di zi para todo 1 ≤ i ≤ r e f (yi ) = 0 para todo r + 1 ≤ i ≤ n. Assim


usando essas bases temos
m
Lm r
A Azi ∼ M A
M∼ =A ∼
=A Lr i=1 =A ⊕ Am−r .
Im(f ) i=1 Ad z
i i i=1
Ad i

A
se di ∈ A? então di A
= {0} logo podemos ignorará-los.
Agora vamos mostrar a unicidade.
Seja M um A-módulo finitamente gerado, defina

T M := {x ∈ M | existe a 6= 0 tal que ax = 0}

Afirmação 3.1. TM é um A-submódulo de M .

Demonstração. Se x, y ∈ T M então existem a, b ∈ A tais que ax = 0 e by = 0 logo temos


que
ab(x + y) = b(ax) + a(by) = 0 + 0 = 0
e daí x + y ∈ T M . Agora suponha que c ∈ A então

a(cx) = c(ax) = c0 = 0

e logo cx ∈ T M , porntanto T M é um A-submódulo de M .


Como temos que
r
A
M∼
M
=A ⊕ Al
i=1
Ad i

e A é domínio podemos concluir que


r
M A M ∼
TM = ⊕ Al e =A Rl
i=1
Adi TM

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e TMM é livre e seu grau l é constante. Assim nos resta mostrar a unicidade do tipo da
torção T M para isso vamos fatorar cada di em elementos primos distintos pij :
di = pni1i1 · · · pnisis
e utilizar o teorema chinês dos restos
s
A ∼ M A
=A n
Adi j=1
Api1ij
Assim para certos elementos primos p1 , · · · , pt (distintos a menos de unidade) temos
t u
A
TM ∼
M M
=A ( m )
i=1 j=1
Api ij
Observe que se provarmos que os dados {(pi , mij )} são únicos provamos que o tipo dos
fatores invariantes é único. Para isso defina para cada elemento primo p de A
M (p) := {x ∈ M | existe m > 0 tal que pm x = 0}
assim M (p) é um A-módulo e
u
A
M (Pi ) ∼
M
=A
j=1
Apmj
logo basta mostrar a unicidade da fatoração de cada M (pi ).
Lema 3.4. Seja p um elemento primo de um domínio de ideais principais A, M um A-
módulo finitamente gerado tal que todo elemento x ∈ M é p-torção, isto é, existe m > 0
tal que pm x = 0. Neste caso podemos fatorar M na forma
u

M A
M =A
j=1
Apmj
Demonstração. Já mostramos a possibilidade da fatoração, basta mostrar sua unicidade.
Suponha que
1 ≤ m1 ≤ · · · ≤ mu
vamos mostrar que essa sequência é única. considere o A-submódulo pM de M , assim
u
M Ap
pM = (10)
j=1
Apmj
e pelo terceiro teorema dos isomorfismos
M ∼ A
=A ( )u (11)
pM Ap
logo como p é um elemento primo num domínio de fatoração única A segue que é um
M A
elemento irredutível e que M p
é um espaço vetorial sobre o corpo Ap e sua dimensão u é
única. Agora como temos uma sequência de A-módulos
pM ⊃ p2 M ⊃ · · · ⊃ pi M ⊃ · · ·
pi M
utilizando o mesmo argumento em pi+1 M
concluímos que
u2 := {mi ≥ 2}, u3 := {mi ≥ 3}, · · ·
são únicos e isso implica que 1 ≤ m1 ≤ · · · ≤ mu são único.
Com isso mostramos a unicidade do teorema 3.2.

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3.3 Teorema fundamental dos grupos abelianos
Como Z é um domínio de ideais principais e todo grupo abeliano é um Z-módulo
podemos utilizar o teorema 3.2 neste caso, daí

Teorema 3.3. (Teorema fundamental dos grupos abelianos)


Seja G um grupo abeliano finitamente gerado como Z-módulo, então existem (d1 , · · · , dr )
e l ∈ Z≥0 únicos a menos de sinal tal que
r
Z
G∼
M
=Z ⊕ Zl
d
i=1 i
Z

Em particular se G é um grupo abeliano finito então l = 0.

Referências
[1] hotta, Ryoshi Introducton to Algebra: Groups, Rings and Modules. Shokabo Tokyo,
1987 (Japonês)

[2] Lang, Serge. Algebra. Springer; 2005.

[3] Tengan, Eduardo. Álgebra Comutativa em quatro movimentos. Sociedade Brasileira


de Matemática, 2015.

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