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carlos augusto bassani varea

leithold louis aurazo alvarez


luis ernesto portilla paladines
luiz carlos da silva sobral

limite direto de módulos

CAMPINAS
2016

i
ii
Sumário

1 Limite direto 3
1.1 Definições preliminares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3
1.2 Limite direto de módulos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5
1.2.1 Caracterização dos elementos de 𝑀 “exercício 15” . . . . . . . . . . . . . . . 5
1.2.2 Caracterização de 𝑀 “exercício 16” . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6
1.2.3 Caracterização de 𝐴-módulo “exercício 17” . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8
1.3 Homomorfismo entre limites diretos “exercício 18” . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9
1.3.1 Sequências exatas em limites diretos “exercício 19” . . . . . . . . . . . . . . 10

2 13
2.1 Exemplos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
2.2 Exemplos de limites diretos de módulos em outras áreas da matemática . . . . . . . 14

Referências 14

iii
iv
RESUMO

Este trabalho está baseado principalmente nos exercícios 14-19 de [1] Cap. 2. Apresentamos a
definição de limite direto de módulos e algumas de suas propriedades. Apresentamos no Capítulo
2 alguns exemplos que aparecem em diferentes áreas da matemática.
2
Capítulo 1

Limite direto

1.1 Definições preliminares


Definição 1.1.1. Uma ordem parcial é uma relação binária ≺ sobre um conjunto 𝑋, tal que
para quaisquer 𝑎, 𝑏, 𝑐 ∈ 𝑋 tem-se:

1. Se 𝑎 ≺ 𝑏 e 𝑏 ≺ 𝑎, então 𝑎 = 𝑏 (Antissimetria)

2. 𝑎 ≺ 𝑎 (Reflexividade)

3. Se 𝑎 ≺ 𝑏 e 𝑏 ≺ 𝑐, então 𝑎 ≺ 𝑐 (Transitividade).

Esta relação formaliza o conceito intuitivo de ordem, sequência, ou arrumação dos elementos
do conjunto. Tal ordem não precisa necessariamente ser total, ou seja, não é necessário que todos
os elementos do conjunto possam ser comparados uns com os outros, a figura 1.1 ilustra isto.

Figura 1.1: Representação de uma ordem parcial em um conjunto de conjuntos.

3
Exemplos 1.1.2.

1. O conjunto dos números naturais N com a ordem “menor ou igual” ≤, usual é o exemplo
mais familiar.

2. O conjunto de subconjuntos de um conjunto 𝑋, denotado por 𝒫(𝑋) com a relação 𝐴 ≺ 𝐵


se, e somente se, 𝐴 ⊂ 𝐵 é um conjunto parcialmente ordenado.

Anotação 1.1.3. Em geral se usa a notação ≺ ou ⪯ para denotar ordenes parciais em conjuntos,
daqui em diante denotaremos, com abuso da notação, uma ordem parcial qualquer com a notação
usada em 1.1.2 item 1.

Definição 1.1.4. Um conjunto parcialmente ordenado 𝐼 é dito um conjunto dirigido se para


cada par 𝑖, 𝑗 ∈ 𝐼 existe um elemento 𝑘 ∈ 𝐼 tal que 𝑖 ≤ 𝑘 e 𝑗 ≤ 𝑘.

Anotação 1.1.5. Falaremos sempre de 𝐴-módulos sobre um anel 𝐴, o qual suporemos sempre
fixado, portanto quando dizemos simplesmente módulo sera entendido que é módulo sobre um anel
𝐴 subentendido.

Seja 𝐴 um anel e 𝐼 um conjunto dirigido, suponhamos que temos uma família de módulos
(𝑀𝑖 )𝑖∈𝐼 indexada pelo conjunto dirigido 𝐼. Suponha ademais que para cada 𝑖, 𝑗 ∈ 𝐼 tal que 𝑖 ≤ 𝑗
temos um homomorfismo de módulos 𝜇𝑖𝑗 : 𝑀𝑖 → 𝑀𝑗 que satisfazem os seguintes axiomas

1. 𝜇𝑖𝑖 : 𝑀𝑖 → 𝑀𝑖 é o homomorfismo identidade para todo 𝑖 ∈ 𝐼

2. Se 𝑖 ≤ 𝑗 ≤ 𝑘, então 𝜇𝑖𝑘 = 𝜇𝑗𝑘 ∘ 𝜇𝑖𝑗 , i.e., o diagrama embaixo é comutativo

𝜇𝑖𝑖 =1
𝑀𝑖 - 𝑀𝑖
@ 𝜇𝑖𝑘
𝜇𝑖𝑗 @
@
? R
@
𝑀𝑗 𝜇𝑗𝑘
- 𝑀𝑘

Definição 1.1.6. A família (𝑀𝑖 )𝑖∈𝐼 junto com os homomorfismos 𝜇𝑖𝑗 é chamada sistema dirigido
pelo conjunto dirigido 𝐼.

Anotação 1.1.7. Daqui em diante, dado um sistema dirigido (𝑀𝑖 )𝑖∈𝐼 , denotaremos o módulo
soma direta 𝑖∈𝐼 𝑀𝑖 simplesmente por 𝐶 e lembramos que 𝐶 é o módulo de uplas (𝑥𝑖 )𝑖∈𝐼 onde
⨁︀

𝑥𝑖 ∈ 𝑀𝑖 , ∀𝑖 ∈ 𝐼 e todos exceto um número finito de 𝑥𝑖 são iguais a 0 ∈ 𝑀𝑖 . Com esta anotação


podemos também fixar uma notação para os elementos de 𝐶, se 𝑥 ∈ 𝐶 então 𝑥 = (𝑥𝑖 )𝑖∈𝐼 , assim
denotamos por 𝑆 ⊂ 𝐼 o subconjunto de índices tal que 𝑥𝑖 ̸= 0.

4
1.2 Limite direto de módulos
O que queremos agora é definir um módulo 𝑀 , através de um sistema dirigido (𝑀𝑖 )𝑖∈𝐼 , podemos,
para cada 𝑖0 ∈ 𝐼 identificar 𝑀𝑖0 dentro de 𝐶, simplesmente por declarar que 𝑥𝑖0 = (𝑥𝑖 )𝑖∈𝐼 onde
𝑥𝑖 = 𝑥𝑖0 se 𝑖 = 𝑖0 e 𝑥𝑖 = 0 em outro caso. Com isto podemos identificar um elemento 𝑥 ∈ 𝐶 como
sendo (𝑥𝑖 )𝑖∈𝐼 ..= 𝑥 = 𝑖∈𝑆 𝑥𝑖 , onde 𝑆 ⊂ 𝐼 é o subconjunto finito onde 𝑥𝑖 ̸= 0.
∑︀

Definição 1.2.1. Definimos 𝐷 como sendo o submódulo de 𝐶, dado pelo gerado linear de elementos
da forma 𝑥𝑖 − 𝜇𝑖𝑗 (𝑥𝑖 ) tal que 𝑗 ≥ 𝑖 e 𝑥𝑖 ∈ 𝑀𝑖 .
Olhemos um pouco como são os elementos do submódulo 𝐷 definido acima, um elemento
de 𝐷 é uma combinação linear finita de elementos típicos 𝑥𝑖 − 𝜇𝑖𝑗 (𝑥𝑖 ), i.e., elementos da forma
(𝑖,𝑘) 𝑎𝑘 (𝑥𝑖 − 𝜇𝑖𝑘 (𝑥𝑖 )) onde (𝑖, 𝑘) percorre em um conjunto finito, 𝑖 ≤ 𝑘 e 𝑎𝑘 ∈ 𝐴, ∀𝑘.
∑︀

Observação 1.2.2. Observe que pelas propriedades de 𝐴-homomorfismo de 𝜇𝑖𝑗 temos que

𝑎𝑘 (𝑥𝑖 − 𝜇𝑖𝑘 (𝑥𝑖 )) = (𝑎𝑘 𝑥𝑖 − 𝜇𝑖𝑘 (𝑎𝑘 𝑥𝑖 ))


∑︁ ∑︁

(𝑖,𝑘) (𝑖,𝑘)

logo, renomeando 𝑎𝑘 𝑥𝑖 ∈ 𝑀𝑖 por 𝑥̃︀𝑖 podemos, sem perder generalidade, supor que 𝑎𝑘 = 1 ∈ 𝐴.
Definição 1.2.3. Definimos o módulo quociente 𝑀 ..= 𝐶/𝐷 e 𝜇 : 𝐶 → 𝑀 a projeção natural,
denotaremos a restrição 𝜇|𝑀𝑖 de 𝜇 a 𝑀𝑖 simplesmente por 𝜇𝑖 . O módulo 𝑀 juntamente com a
família de homomorfismos 𝜇𝑖 : 𝑀𝑖 → 𝑀 é chamado limite direto do sistema dirigido (𝑀𝑖 )𝑖∈𝐼 e é
usualmente denotado por lim
−→
𝑀𝑖 .

Observação 1.2.4. Observe que para cada 𝑥𝑖 ∈ 𝑀𝑖 e para cada 𝑗 ≥ 𝑖 temos que 𝑥𝑖 − 𝜇𝑖𝑗 (𝑥𝑖 ) ∈ 𝐷
e portanto

𝜇(𝑥𝑖 − 𝜇𝑖𝑗 (𝑥𝑖 )) = 𝜇𝑖 (𝑥𝑖 ) − 𝜇𝑗 (𝜇𝑖𝑗 (𝑥𝑖 ))


= 𝜇𝑖 (𝑥𝑖 ) − 𝜇𝑗 ∘ 𝜇𝑖𝑗 (𝑥𝑖 ) = 0 ∈ 𝑀

portanto 𝜇𝑖 = 𝜇𝑗 ∘ 𝜇𝑖𝑗 , i.e., o seguinte diagrama é comutativo


𝜇𝑖𝑗
𝑀𝑖 - 𝑀𝑗

𝜇𝑖
𝜇𝑗
?
𝑀

1.2.1 Caracterização dos elementos de 𝑀 “exercício 15”


Vejamos que podemos caracterizar os elementos do módulo livre 𝑀 , de uma maneira mais
comoda na hora de fazer contas de fato.
Proposição 1.2.5. Todo elemento de 𝑀 pode ser escrito da forma 𝜇𝑖 (𝑥𝑖 ) para algum 𝑖 ∈ 𝐼 e para
algum 𝑥𝑖 ∈ 𝑀𝑖 . Mais ainda se 𝜇𝑖 (𝑥𝑖 ) = 0, então existe um 𝑗 ≥ 𝑖 tal que 𝜇𝑖𝑗 (𝑥𝑖 ) = 0 em 𝑀𝑗 .

5
Demonstração. Para a primeira afirmação lembremos que 𝑀 ∋ 𝑥¯ = 𝜇((𝑥𝑖 )𝑖∈𝐼 ) onde 𝑥 = 𝑖∈𝑆 𝑥𝑖
∑︀

para um conjunto finito 𝑆 tal que 𝑥𝑖 ̸= 0 se, e somente se, 𝑖 ∈ 𝑆. Dados 𝑖, 𝑗 ∈ 𝑆 existe 𝑘1 ∈ 𝐼 tal
que 𝑖 ≤ 𝑘1 e 𝑗 ≤ 𝑘1 , então como 𝑆 é finito podemos continuar com o processo e achar um 𝑘 ∈ 𝐼
tal que ∀ 𝑖 ∈ 𝑆 tem-se que 𝑖 ≤ 𝑘. Observado isto e de acordo com 1.2.4 temos que
(︃ )︃
𝑥¯ = 𝜇 𝑥𝑖 = 𝜇(𝑥𝑖 ) ..= 𝜇𝑖 (𝑥𝑖 )
∑︁ ∑︁ ∑︁

𝑖∈𝑆 𝑖∈𝑆 𝑖∈𝑆

= 𝜇𝑗 ∘ 𝜇𝑖𝑗 (𝑥𝑖 ) Pela observação 1.2.4


∑︁

𝑖∈𝑆
(︃ )︃
= 𝜇𝑗 𝜇𝑖𝑗 (𝑥𝑖 ) ,
∑︁

𝑖∈𝑆

então observe que 𝑖∈𝑆 𝜇𝑖𝑗 (𝑥𝑖 ) ∈ 𝑀𝑗 , logo segue o resultado.


∑︀

Para a outra parte, observemos primeiramente que se 𝐶 ∋ 𝑥 = (𝑥𝑖 )𝑖∈𝐼 e tomamos 𝑗 ∈ 𝐼 tal que
𝑗 ≥ 𝑖 ∀𝑖 ∈ 𝑆, então 𝜇𝑖𝑗 (𝑥𝑖 ) ∈ 𝑀𝑗 ∀𝑖 ∈ 𝑆, segue daí que 𝑦 = ∈𝑆 𝑥𝑖 e 𝑥𝑗 = 𝑖∈𝑆 𝜇𝑖𝑗 (𝑥𝑖 ) pertencem
∑︀ ∑︀

à mesma classe de equivalência módulo 𝐷, além disso


(︃ )︃
𝜇𝑖𝑗 (𝑥𝑖 ) = 𝜇𝑗 ∘ 𝜇𝑖𝑗 (𝑥𝑖 ) = 𝜇𝑖 (𝑥𝑖 ).
∑︁ ∑︁ ∑︁
𝜇
𝑖∈𝑆 𝑖∈𝑆

Observe também que os elementos de 𝐷 podem ser considerados como na observação 1.2.2. Dito
isto suponha que 𝜇𝑖 (𝑥𝑖 ) = 0, então, 𝑥𝑖 ∈ 𝐷, logo, 𝑥𝑖 ∈ 𝑀𝑖 ∩ 𝐷 e assim ele pode ser escrito como

𝑥𝑖 = (𝑦𝑗 − 𝜇𝑗𝑘 (𝑦𝑗 )), 𝑇 finito e 𝑘 ≥ 𝑗 (1.2.1)


∑︁

(𝑖,𝑗)∈𝑇

por outro lado


𝑥𝑖 = 𝑧𝑗 , 𝑆 finito e 𝑧𝑗 ∈ 𝑀𝑗 (1.2.2)
∑︁

𝑗∈𝑆

logo, 𝑧𝑗 = 0 se 𝑗 ̸= 𝑖 e 𝑧𝑖 = 𝑥𝑖 , tomemos 𝑙 ∈ 𝐼 tal que 𝑙 ≥ 𝑘, ∀𝑘 ∈ 𝑆, o qual é possível pois 𝑆 é


finito, logo pelas propriedade de sistema dirigido, temos 𝜇𝑗𝑙 = 𝜇𝑘𝑙 ∘ 𝜇𝑗𝑘 , pois 𝑘 ≤ 𝑙 e 𝑗 ≤ 𝑙, então

𝜇𝑖𝑙 (𝑥𝑖 ) = 𝜇𝑗𝑙 (𝑧𝑗 ), substituindo o valor de 𝑧𝑗


∑︁

𝑗∈𝑆

= (𝜇𝑗𝑙 (𝑦𝑗 ) − 𝜇𝑗𝑙 (𝜇𝑗𝑘 (𝑦𝑗 )))


∑︁

(𝑗,𝑘)∈𝑇

= (𝜇𝑗𝑙 (𝑦𝑗 ) − 𝜇𝑗𝑙 (𝑦𝑗 )) = 0 ∈ 𝑀𝑙 .


∑︁

(𝑗,𝑘)∈𝑇

1.2.2 Caracterização de 𝑀 “exercício 16”


Daremos agora uma outra caracterização do limite direto de módulos na seguinte proposição

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Proposição 1.2.6. O limite direto é caraterizado a menos de isomorfismo, pela seguinte propri-
edade que chamaremos propriedade universal. Para fixar notação: Seja 𝑁 um módulo e para
cada 𝑖 ∈ 𝐼 seja, 𝛼𝑖 : 𝑀𝑖 → 𝑁 um homomorfismo de módulos tal que 𝛼𝑖 = 𝛼𝑗 ∘ 𝜇𝑖𝑗 sempre que 𝑖 ≤ 𝑗.
Então existe um único homomorfismo 𝛼 : 𝑀 → 𝑁 tal que, 𝛼𝑖 = 𝛼 ∘ 𝜇𝑖 para todo 𝑖 ∈ 𝐼.
Demonstração. Primeiramente vejamos que lim 𝑀𝑖 definido em 1.2.3 satisfaz a propriedade da
−→
proposição 1.2.6. De fato, suponha dadas 𝛼𝑖 : 𝑀𝑖 → 𝑁 tais que 𝛼𝑖 = 𝛼𝑗 ∘ 𝜇𝑖𝑗 , queremos definir
𝛼 : 𝑀 → 𝑁 tal que o seguinte diagrama seja comutativo
𝛼𝑖
𝑀𝑖 - 𝑁

𝜇𝑖
𝛼
?
𝑀
Para 𝜇(𝑥) ∈ 𝑀 temos que 𝑥 = 𝑥𝑖 , logo definimos 𝛼(𝜇(𝑥)) ..= 𝛼𝑖 (𝑥𝑖 ), i.e., definimos
∑︁ ∑︁

𝑖∈𝑆 𝑖∈𝐼
𝛼(𝜇𝑖 (𝑥𝑖 )) = 𝛼𝑖 (𝑥𝑖 ) e estendemos por linearidade. Vejamos que 𝛼 está bem definida, i.e., que
não depende da classe de equivalência, de fato, suponhamos que 𝜇(𝑥) = 𝜇(𝑦), logo 𝑥 − 𝑦 ∈ 𝐷,
suponhamos que 𝑥 − 𝑦 = 𝑥𝑖 − 𝜇𝑖𝑗 (𝑥𝑖 ) um elemento genérico de 𝐷, então
𝛼(𝜇(𝑥) − 𝜇(𝑦)) = 𝛼(𝑥𝑖 − 𝜇𝑖𝑗 (𝑥𝑖 ))
..= 𝛼 (𝑥 ) − 𝛼 (𝜇 (𝑥 ))
𝑖 𝑖 𝑗 𝑖𝑗 𝑖
= 𝛼𝑖 (𝑥𝑖 ) − 𝛼𝑖 (𝑥𝑖 ) = 0
logo, 𝛼 não depende da escolha do representante quando este difere por um elemento gerador em
𝐷. Por linearidade, 𝛼 está bem definida em todo 𝑀 , i.e., 𝑀 satisfaz a propriedade universal.
Suponha que 𝑀 ′ é um outro módulo que satisfaz a propriedade universal, então para 𝑁 = 𝑀
e 𝛼𝑖 = 𝜇𝑖 : 𝑀𝑖 → 𝑁 = 𝑀 temos, como visto na observação 1.2.4, que 𝛼𝑖 = 𝛼𝑗 ∘ 𝜇𝑖𝑗 , logo pela
propriedade universal temos que existe uma única 𝛼′ : 𝑀 ′ → 𝑀 tal que o seguinte diagrama é
comutativo
𝛼𝑖
𝑀𝑖 - 𝑀

𝜇′𝑖
𝛼′
?
𝑀′
i.e.,
𝛼′ ∘ 𝜇′𝑖 = 𝜇𝑖 . (1.2.3)
Agora, como 𝑀 também satisfaz a propriedade universal, podemos tomar 𝑁 = 𝑀 ′ e 𝛼𝑖 = 𝜇′𝑖 : 𝑀𝑖 →
𝑀 = 𝑁 , então existe um único 𝛼 : 𝑀 → 𝑀 ′ tal que o seguinte diagrama é comutativo
𝛼𝑖
𝑀𝑖 - 𝑀′

𝜇𝑖
𝛼
?
𝑀

7
i.e.,
𝛼 ∘ 𝜇𝑖 = 𝜇′𝑖 . (1.2.4)
Vejamos que 𝛼 é a inversa de 𝛼′ , de fato, se 𝑋 ∈ 𝑀 temos como visto antes que existe 𝑖 ∈ 𝐼, tal
que 𝜇𝑖 (𝑥𝑖 ) = 𝑋 logo, usando a equação (1.2.4)

𝛼′ (𝛼(𝑋)) = 𝛼′ (𝛼(𝜇𝑖 (𝑥𝑖 ))) = 𝛼′ (𝜇′𝑖 (𝑥𝑖 ))


= 𝜇𝑖 (𝑥𝑖 ) = 𝑋

logo, 𝛼′ ∘ 𝛼 = 1, analogamente usando a equação (1.2.3) concluímos que 𝛼 ∘ 𝛼′ = 1, logo 𝑀 é


isomorfo à 𝑀 ′ .

1.2.3 Caracterização de 𝐴-módulos “exercício 17”


Nesta seção mostraremos que um 𝐴-módulo é um limite direto de seus ideais finitamente
gerados, faremos isto depois de mostrar o seguinte

Proposição 1.2.7. Seja (𝑀𝑖 )𝑖∈𝐼 uma família de submódulos de um 𝐴-módulo, tal que para cada
par de índices 𝑖, 𝑗 ∈ 𝐼 existe 𝑘 ∈ 𝐼 tal que 𝑀𝑖 +𝑀𝑗 = 𝑀𝑘 . Defina 𝑖 ≤ 𝑗 se 𝑀𝑖 ⊂ 𝑀𝑗 e 𝜇𝑖𝑗 : 𝑀𝑖 → 𝑀𝑗
o mergulho de 𝑀𝑖 em 𝑀𝑗 , então

lim 𝑀𝑖 = 𝑀𝑖 =
∑︁ ⋃︁
−→
𝑀𝑖 .

Em particular, qualquer 𝐴-módulo é limite direto de seus submódulos finitamente gerados.

Demonstração. Vejamos primeiramente que 𝑀𝑖 = 𝑀𝑖 . Para cada 𝑖 ∈ 𝐼, temos que 𝑀𝑖 ⊂ 𝑀𝑖 ,


∑︀ ⋃︀ ∑︀

logo 𝑀𝑖 ⊂ 𝑀𝑖 .
⋃︀

.
Para ver a continência inversa observe primeiro que a hipótese que dados 𝑖, 𝑗 ∈ 𝐼 então existe
𝑘 ∈ 𝐼 tal que 𝑀𝑖 + 𝑀𝑗 ⊂ 𝑀𝑘 , estende-se indutivamente para um número finito de elementos de
𝐼, i.e., se {𝑖1 , · · · 𝑖𝑛 } ⊂ 𝐼 então existe 𝑘 ∈ 𝐼 tal que 𝑛𝑘=1 𝑀𝑖𝑘 . De fato, para 2 elementos é a
∑︀

hipótese, suponha que isto é válido para 𝑛 elementos e mostremos que vale para 𝑛 + 1. Sejam
{𝑖1 , · · · 𝑖𝑛 , 𝑖𝑛+1 } ⊂ 𝐼, pela
∑︁ hipótese de indução temos que existe um 𝑟1 ∈ 𝐼 tal que 𝑟1 ≥ 𝑖𝑘 para
𝑘 ∈ {𝑖1 , · · · 𝑖𝑛 } = 𝑆 e 𝑀𝑖 ⊂ 𝑀𝑟1 , como a propriedade vale para 2 elementos então para 𝑟1 , 𝑖𝑛+1
𝑖∈𝑆
existe um 𝑟2 ∈ 𝐼 tal que 𝑟2 ≥ 𝑟1 e 𝑟2 ≥ 𝑟1 ≥ 𝑖𝑘 ∀𝑘 ∈ 𝑆. Além disso 𝑀𝑖 + 𝑀𝑖𝑛+1 ⊂ 𝑀𝑟2 , como
∑︁

𝑖∈𝑆
queríamos demonstrar.
.
Observado isto, seja∑︁𝑦 ∈ 𝑀𝑖 , então = 𝑖∈𝑆 𝑥𝑖 , onde 𝑆 ⊂∑︀𝐼 é finito. Seja 𝑗 ∈ 𝐼, tal que
∑︀ ∑︀
𝑦
𝑗 ≥ 𝑖 ∀𝑖 ∈ 𝑆, então 𝑀𝑖 , mostrando assim que 𝑀𝑖 = 𝑀𝑖 .
⋃︁
𝑀𝑖 ⊂ 𝑀𝑗 ⊂
⋃︀

. 𝑖∈𝑆 𝑖∈𝐼

Vejamos agora que lim 𝑖 = 𝑀𝑖 . De fato, neste caso mostramos que 𝐷 = {0}. Para 𝑖 ≤ 𝑗,
⋃︁
−→
𝑀
𝜇𝑖𝑗 : 𝑀𝑖 → 𝑀𝑗 é a inclusão ou o mergulho com as operações do módulo que contém todos os
submódulos 𝑀𝑖 . Então para cada 𝑖 ∈ 𝐼 temos que os geradores 𝑥𝑖 − 𝜇𝑖𝑗 (𝑥𝑖 ) = 𝑥𝑖 − 𝑥𝑖 = 0, logo 𝐷

8
é gerado por zero. Daí 𝐷 é o módulo trivial, logo lim
−→
𝑀𝑖 ..= 𝐶/{0} ≃ 𝐶. Assim para a segunda
parte vamos mostrar que 𝑀𝑖 = 𝑀𝑖 .
⨁︁ ⋃︁

𝑖∈𝐼 𝑖∈𝐼
Seja 𝑥 = ∈ 𝐶 e seja 𝑗 ∈ 𝐼 tal que 𝑀𝑖 , portanto 𝐶 ⊂ 𝑀𝑖 .
⋃︁
𝑀𝑖 ⊂ 𝑀𝑖 ⊂ 𝑀𝑗 ⊂
∑︀ ∑︀ ⋃︀
𝑖∈𝑆 𝑖∈𝑆 𝑖∈𝐼
𝑖∈𝐼
Vejamos a continência inversa.
.
Seja 𝑥 ∈ 𝑖∈𝐼 𝑀𝑖 , logo 𝑥 ∈ 𝑀𝑗 para algum 𝑗 ∈ 𝐼, mas podemos identificar 𝑀𝑗 ˓→ 𝐶, portanto
⋃︀

𝑥 ∈ 𝐶 de onde segue a igualdade que queríamos mostrar.

É possível mostrar diretamente que neste caso 𝑀𝑖 é um módulo, pois não é verdade em geral
⋃︁

𝑖∈𝐼
que união de módulos é um módulo.
.
Para concluir defina
ℱ ..= {𝑀𝑖 ⊂ 𝑀 | 𝑀𝑖 é finitamente gerado}.
′ ′
Suponha que 𝑀𝑖 , 𝑀𝑗 ∈ ℱ, então 𝑀𝑖 = (𝑚𝑖 , · · · , 𝑚𝑛 ) e 𝑀𝑗 = (𝑚1 , · · · , 𝑚𝑗 ). Considere 𝑀𝑘 =
′ ′
(𝑚1 , · · · , 𝑚𝑛 , 𝑚1 , · · · , 𝑚𝑗 ), então 𝑀𝑘 ∈ ℱ e 𝑀𝑖 + 𝑀𝑗 ⊂ 𝑀𝑘 , pela proposição acima temos que

lim 𝑀𝑖 =
⋃︁
𝑀𝑖 .
−→
𝑖∈𝐼

Por outro lado, dado 𝑥 ∈ 𝑀 , temos que (𝑥) ∈ ℱ e 𝑀 ⊂ 𝑥∈𝑀 (𝑥) ⊂ 𝑀𝑖 , consequentemente
⋃︀ ⋃︀
𝑖∈𝐼
𝑀 = lim 𝑀𝑖 , como queríamos mostrar.
−→

1.3 Homomorfismo entre limites diretos “exercício 18”


Sejam 𝑀 = (𝑀𝑖 )𝑖𝑗 e 𝑁 = (𝑁𝑖 )𝑖𝑗 sistemas dirigidos sobre o mesmo conjunto dirigido 𝐼. Sejam
ademais 𝑀, 𝑁 os respectivos limites diretos com 𝜇𝑖 : 𝑀𝑖 → 𝑀 e 𝜈𝑖 : 𝑁𝑖 → 𝑁 os homomorfismos
associados.

Definição 1.3.1. Com as notações acima, um homomorfismo 𝜑 : 𝑀 → 𝑁 é uma família de


homomorfismos de 𝐴-módulos 𝜑𝑖 : 𝑀𝑖 → 𝑁𝑖 tais que

𝜑𝑗 ∘ 𝜇𝑖𝑗 = 𝜈𝑖𝑗 ∘ 𝜑𝑖 sempre que 𝑖 ≤ 𝑗. (1.3.1)

isto é, o seguinte diagrama é comutativo,


𝜇𝑖𝑗
𝑀𝑖 - 𝑀𝑗

𝜇𝑖 𝜈𝑖

? ?
𝑁𝑖 𝜈𝑖𝑗
- 𝑁𝑗

9
Proposição 1.3.2. Com as notações acima, mostre que 𝜑 define um único homomorfismo 𝜑 =
lim 𝜑𝑖 : 𝑀 → 𝑁 tal que 𝜑 ∘ 𝜇𝑖 = 𝜈𝑖 ∘ 𝜑𝑖 para todo 𝑖 ∈ 𝐼, i.e., o seguinte diagrama é comutativo
−→

𝜑𝑖
𝑀𝑖 - 𝑁𝑖

𝜇𝑖 𝜈𝑖

? ?
𝑀 ∃! 𝜑
- 𝑁

Demonstração. Sabemos que dado 𝑥 ∈ 𝑀 , então 𝑥 = 𝜇𝑖 (𝑥𝑖 ) para algum 𝑥𝑖 ∈ 𝑀𝑖 , (ver 1.2.5),
definamos então
𝜑(𝑥) ..= 𝜑(𝜇𝑖 (𝑥𝑖 )) = 𝜈𝑖 (𝜑𝑖 (𝑥𝑖 )).
Observe que 𝜑 está definida por avaliar o representante na composição dos homomorfismos 𝜑𝑖 e 𝜈𝑖 ,
logo é 𝐴-linear, o que resta mostrar é que não depende da escolha de um representante. Para isto,
suponha que 𝜇(𝑥) = 𝜇(𝑦) em 𝑀 , isto é, que 𝑥 − 𝑦 ∈ 𝐷. Suponhamos que 𝑥 − 𝑦 = 𝑥𝑖 − 𝜇𝑖𝑗 (𝑥𝑖 ) um
elemento genérico de 𝐷. Então

𝜑(𝜇(𝑥 − 𝑦)) = 𝜑(𝜇(𝑥𝑖 − 𝜇𝑖𝑗 (𝑥𝑖 ))) = 𝜑(𝜇𝑖 (𝑥𝑖 )) − 𝜑(𝜇𝑗 (𝜇𝑖𝑗 (𝑥𝑖 )))
= 𝜑(𝜇𝑖 (𝑥𝑖 )) − 𝜑(𝜇𝑖 (𝑥𝑖 )) = 0.

Logo, 𝜑 não depende da escolha de representantes nos geradores de 𝐷, por linearidade ela está bem
definida em qualquer elemento de 𝑀 . Por fim, resta mostrar que 𝜑 é única com estas propriedades,
de fato, se 𝜓 é um outro homomorfismo satisfazendo 𝜓 ∘ 𝜇𝑖 = 𝜈𝑖 ∘ 𝜑𝑖 , temos que

𝜑(𝑥) = 𝜑(𝜇𝑖 (𝑥𝑖 )) = 𝜈𝑖 ∘ 𝜑𝑖 = 𝜓 ∘ 𝜇𝑖 (𝑥𝑖 ) = 𝜓(𝑥).

Logo, 𝜑 é única.

1.3.1 Sequências exatas em limites diretos “exercício 19”


Definição 1.3.3. Uma sequência de sistemas diretos e homomorfismos
𝜑 𝜓
𝑀→
− 𝑁−
→𝑃 (1.3.2)

é exata se a sequência correspondente de módulos e homomorfismo de módulos é exata, i.e., se


para todo 𝑖 ∈ 𝐼 a sequência
𝜑 𝜓
𝑀𝑖 −
→𝑖 𝑖
𝑁𝑖 −→ 𝑃𝑖 (1.3.3)
satisfaz que Im(𝜑𝑖 ) = Nu(𝜓𝑖 ).

Proposição 1.3.4. Com as notações acima mostre que a sequência 𝑀 → 𝑁 → 𝑃 de limites


diretos é exata.

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Demonstração. Denotaremos por 𝑀 = (𝑀𝑖 , 𝜇𝑖𝑗 ), 𝑁 = (𝑁𝑖 , 𝜈𝑖𝑗 ) e 𝑃 = (𝑃𝑖 , 𝜆𝑖𝑗 ), os respectivos
sistemas diretos. Como 𝜑 : 𝑀 → 𝑁 é homomorfismo, temos que 𝜑𝑖 : 𝑀𝑖 → 𝑁𝑖 satisfaz

𝜑𝑗 ∘ 𝜇𝑖𝑗 = 𝜈𝑖𝑗 ∘ 𝜑𝑖 sempre que 𝑖 ≤ 𝑗, (1.3.4)

da mesma maneira 𝜓 : 𝑁 → 𝑃 é homomorfismo, logo 𝜓𝑖 : 𝑁𝑖 → 𝑃𝑖 satisfaz

𝜓𝑗 ∘ 𝜈𝑖𝑗 = 𝜆𝑖𝑗 ∘ 𝜓𝑖 sempre que 𝑖 ≤ 𝑗. (1.3.5)

Pela proposição 1.3.2, 𝜑 : 𝑀 → 𝑁 e 𝜓 : 𝑁 → 𝑃 definem únicos homomorfismos 𝜑 = lim 𝜑𝑖 : 𝑀 → 𝑁


−→
e 𝜓 = lim 𝜓𝑖 : 𝑁 → 𝑃 , tais que o seguinte diagrama é comutativo
−→

𝜑𝑖 𝜓𝑖
𝑀𝑖 - 𝑁𝑖 - 𝑃𝑖

𝜇𝑖 𝜈𝑖 𝜆𝑖
? ? ?
𝑀 𝜑
- 𝑁 𝜓
- 𝑃

Queremos mostrar que Im 𝜑 = Nu 𝜓

• Seja 𝑦 ∈ Im 𝜑, então existe 𝑥 ∈ 𝑀 tal que 𝜑(𝑥) = 𝑦, mas então 𝑥 = 𝜇𝑖 (𝑥𝑖 ), logo 𝑦 =
𝜑 ∘ 𝜇𝑖 (𝑥𝑖 ) = 𝜈𝑖 ∘ 𝜑𝑖 (𝑥𝑖 ), assim

𝜓(𝑦) = 𝜓(𝜈𝑖 𝜑𝑖 (𝑥𝑖 )) = 𝜆𝑖 (𝜓𝑖 (𝜑𝑖 (𝑥𝑖 ))) = 0,

a última igualdade vem do fato que 𝑀𝑖 → 𝑁𝑖 → 𝑃𝑖 é exata. Consequentemente temos que


Im 𝜑 ⊂ Nu 𝜓.

• Seja 𝑦 ∈ Nu 𝜓, então 𝜓(𝑦) = 0, como 𝑦 ∈ 𝑁 então 𝑦 = 𝜈𝑖 (𝑦𝑖 ) para algum 𝑖 ∈ 𝐼. Logo


0 = 𝜓(𝑦) = 𝜓(𝜈𝑖 (𝑦𝑖 )) = 𝜆𝑖 (𝜓𝑖 (𝑦𝑖 )), então por 1.2.5 existe 𝑗 ≥ 𝑖 tal que 𝜆𝑖𝑗 (𝜓𝑖 (𝑦𝑖 )) = 0, daí

0 = 𝜆𝑖𝑗 (𝜓𝑖 (𝑦𝑖 )) = 𝜓𝑗 (𝜈𝑖𝑗 (𝑦𝑗 ))

logo, 𝜈𝑖𝑗 (𝑦𝑖 ) ∈ Nu 𝜓𝑗 = Im 𝜑𝑗 , então existe 𝑥𝑗 ∈ 𝑀𝑗 tal que,

𝜑𝑗 (𝑥𝑗 ) = 𝜈𝑖𝑗 (𝑦𝑗 ). (1.3.6)

Considere 𝑥 = 𝜇𝑗 (𝑥𝑗 ), tem-se que

𝜑(𝑥) = 𝜑(𝜇𝑗 (𝑥𝑗 ))𝜈𝑗 (𝜑𝑗 (𝑥𝑗 ))𝜈𝑗 (𝜈𝑖𝑗 (𝑦𝑗 )) = 𝜈𝑖 (𝑦𝑖 ) = 𝑦,

portanto Nu 𝜓 ⊂ Im 𝜑, o que junto com o mostrado no item anterior mostra a igualdade


desses conjuntos.

11
12
Capítulo 2

2.1 Exemplos
Neste capítulo apresentamos alguns exemplos.

Exemplo 2.1.1. 1. Tome 𝐼 = N como conjunto dirigido, com ordem parcial definida por

𝑚 ≤ 𝑛 se, e somente se, 𝑚 | 𝑛 , 𝑖.𝑒, 𝑚 (divide a) 𝑛. (2.1.1)

• (Reflexividade) Claramente 𝑚 | 𝑚, logo 𝑚 ≤ 𝑚.


• (Antissimetria) Suponha 𝑚 ≤ 𝑛 e que 𝑛 ≤ 𝑚, então 𝑛 | 𝑚 e 𝑚 | 𝑛, logo 𝑚 = 𝑛.
• (Transitividade) Suponha que 𝑚 ≤ 𝑛 e que 𝑛 ≤ 𝑘, i.e., 𝑚 | 𝑛 e 𝑛 | 𝑘, segue das
propriedades da divisibilidade que 𝑚 | 𝑘, portanto 𝑚 ≤ 𝑘.

2. Vejamos que (𝐼, ≤) é um conjunto dirigido, se 𝑚, 𝑛 ∈ 𝐼 então existe 𝑀 = 𝑚𝑚𝑐(𝑚, 𝑛) o


mínimo múltiplo comum, de 𝑚 e 𝑛, tal que 𝑛 | 𝑀 e 𝑛 | 𝑀 , logo 𝑛 ≤ 𝑀 e 𝑚 ≤ 𝑀 .

3. Definamos o Z-módulo 𝑀𝑛 = Z/𝑛Z, a família (𝑀𝑛 )𝑛∈N é um sistema dirigido. De fato, para
𝑛 ≤ 𝑚 definimos 𝜇𝑛𝑚 : 𝑀𝑛 → 𝑀𝑚 por

⎨0 𝑛 ̸= 𝑚
𝜑𝑛𝑚 (𝑎 + 𝑛Z) = ⎩
𝑎 + 𝑛Z 𝑚 = 𝑛

• 𝜑𝑛𝑛 = 1 é dado por definição.


• Para mostrar 𝜇𝑗𝑘 ∘𝜇𝑖𝑗 = 𝜇𝑗𝑘 , note que se pelo menos um de 𝑖, 𝑗, 𝑘 é diferente dos outros a
igualdade se tem pois temos zero nos dois lados, e caso sejam iguais temos a identidade
nos dois lados.

Exemplo 2.1.2. Novamente, tome o conjunto dirigido 𝐼 = N com ordem parcial definida por
𝑚 ≤ 𝑛 se, e somente se, 𝑚 | 𝑛. Defina 𝑀𝑛 = Z/𝑛Z ∀𝑛 ∈ N, definimos

𝜇𝑛𝑚 : 𝑎 + 𝑛Z ∈ 𝑀𝑛 → 𝑎 + 𝑚Z ∈ 𝑀𝑚 ∀ 𝑛 ≤ 𝑚.

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No caso 𝑚 = 𝑛 definimos 𝜇𝑛𝑛 como sendo a identidade.
Para ver a condição 𝜇𝑗𝑘 ∘ 𝜇𝑖𝑗 = 𝜇𝑗𝑘 , seja 𝑎 + 𝑖Z ∈ 𝑀𝑖 , então
𝜇𝑗𝑘 ∘ 𝜇𝑖𝑗 (𝑎 + 𝑖Z) = 𝜇𝑗𝑘 (𝑎 + 𝑗Z) = 𝑎 + 𝑘Z
= 𝜇𝑖𝑘 (𝑎 + 𝑖Z),
para cada 𝑎 + 𝑖Z ∈ 𝑀𝑖 , logo (𝑀𝑛 , 𝜇𝑛 )𝑛∈N .

2.2 Exemplos de limites diretos de módulos em outras


áreas da matemática
Considere um espaço topológico de Hausdorff 𝑋, definamos uma ordem parcial na topologia
de 𝑋, isto é, para cada par 𝑉, 𝑈 ⊂ 𝑋 definimos
𝑈 ≤ 𝑉 se, e somente se, 𝑉 ⊂ 𝑈. (2.2.1)
Da definição da relação de ordem é claro que é simétrica, pois 𝑈 ⊂ 𝑈 , a antissimetria segue da
definição de igualdade de conjuntos e transitividade pela transitividade da relação de continência.
A topologia é um conjunto dirigido por esta relação, pois dados 𝑈 ≤ 𝑉 existe 𝑊 = 𝑈 ∩ 𝑉 tal que
𝑈 ⊂ 𝑈 ∩ 𝑉 e 𝑉 ⊂ 𝑈 ∩ 𝑉 , i.e., 𝑈 ≤ 𝑊 e 𝑉 ≤ 𝑊 .
Exemplo 2.2.1. Considere um espaço topológico de Hausdorff 𝑋, e para cada aberto 𝑈 ⊂ 𝑋
aberto, considere o módulo de funções contínuas sobre 𝑈 com valores em R, que denotaremos por
𝐶 0 (𝑈 ), onde 𝜇𝑈 𝑉 : 𝑓 ∈ 𝐶 0 (𝑈 ) → 𝑓 |𝑉 ∈ 𝐶 0 (𝑉 ) é dada por restringir a função 𝑓 ao subconjunto
aberto 𝑉 de 𝑈 .
• Claramente 𝜇𝑈 𝑈 = 1 pois 𝑓 |𝑈 = 𝑓 : 𝑈 → R.
• Se 𝑈 ≤ 𝑉 ≤ 𝑊 , i.e., 𝑊 ⊂ 𝑉 ⊂ 𝑈 , então 𝜇𝑉 𝑊 ∘ 𝜇𝑈 𝑉 = 𝜇𝑈 𝑊 , se tem por definição de
restrição de funções, pois do lado esquerdo da igualdade, restringimos de 𝑈 para 𝑉 seguido
por restringir de 𝑉 para 𝑊 , mas isto é o mesmo que restringir diretamente de 𝑈 para 𝑊 ,
que é o que faz a função do lado direito da igualdade acima.
O limite direto do exemplo acima pode ser aplicado naturalmente na seguinte definição.
Definição 2.2.2. Seja 𝑋 um espaço topológico. Um pré-feixe ℱ de módulos (sobre o anel R
geralmente) sobre 𝑋, é dado pela seguinte data
1. Para cada aberto 𝑈 ⊂ 𝑋 de 𝑋 um módulo ℱ(𝑈 ) (chamado o conjunto de seções de ℱ sobre
𝑈 ).
2. Para cada par de abertos 𝑉 ⊂ 𝑈 de 𝑋, um homomorfismo de módulos 𝜇𝑈 𝑉 : ℱ(𝑈 ) → ℱ(𝑉 )
satisfazendo:
(a) 𝜇𝑈 𝑈 = 1.
(b) Se 𝑊 ⊂ 𝑉 ⊂ 𝑈 , então 𝜇𝑉 𝑊 ∘ 𝜇𝑈 𝑉 = 𝜇𝑈 𝑊 .
Como vemos, nesta definição de um objeto muito importante na geometria algébrica aparece
naturalmente o limite direto de módulos, por isso a importância de estudá-los.

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Referências

[1] Michael Francis Atiyah e Ian Grant Macdonald. Introduction to commutative algebra. Vol. 2.
Addison-Wesley Reading, 1969.

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