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Aula TPrática A2

Título: Elementos finitos lineares.

Autor: Prof. Leonel Fernandes

Sumário

• Método de Galerkin
• Discretização do domínio em elementos finitos
• Interpolação polinomial de Lagrange
• Matriz de Rigidez e Vector de Forças
• Assemblagem de elementos finitos
• Condições de fronteira essenciais
• Sistema de equações final
• Resolução do Problema P7 com elementos lineares.
• Programa em Matlab para resolver o P7
Problema 7. Considere o problema clássico seguinte:

−𝑢′′ + 𝑢 = 1, 0<𝑥<1
{
𝑢(0) = 𝑢(1) = 0
o qual se pretende resolver pelo método dos elementos finitos.

a) Obtenha a respectiva formulação fraca simétrica.


b) Escreva as expressões para a matriz de rigidez e o vetor de forças e
explique como são obtidas.
c) Estabeleça o sistema de equações a resolver para uma malha de 4
elementos lineares.
d) Resolva-o e compare os resultados com a solução exata.
e) Resolva o mesmo problema utilizando dois elementos quadráticos.
Compare a solução obtida com as anteriores.

Resolução.
a) Seguindo a metodologia da aula anterior,
obteve-se a formulação fraca simétrica pedida no
enunciado:
Determinar a função contínua u(x), com u(0)=u(1)=0, tal que

1 1
∫ (𝑢′ 𝑣 ′ + 𝑢𝑣)𝑑𝑥 = ∫ 𝑣𝑑𝑥,
0 0

𝑝𝑎𝑟𝑎 ∀𝑣 𝑐𝑜𝑛𝑡í𝑛𝑢𝑎 𝑒 𝑐𝑜𝑚 𝑣(1) = 𝑣(0) = 0.


b) Nesta alínea temos de explorar da melhor
maneira a formulação fraca simétrica que
acabámos de rever. Precisamos de estabelecer um
modelo discreto com um certo número N de
incógnitas (𝛼𝑖 , chamados graus de liberdade).
A própria simetria da formulação sugere que as
aproximações de u(x) e v(x) sejam “construidas”
usando-se o mesmo conjunto de funções globais
que formam uma base N-dimensional – Método de
Galerkin. As aproximações são definidas como
uma combinação linear das funções de base:
𝑁 𝑁

𝑢𝑁 (𝑥 ) = ∑ 𝛷𝑖 (𝑥 )𝛼𝑖 , 𝑣𝑁 (𝑥 ) = ∑ 𝛷𝑖 (𝑥 )𝛽𝑖
𝑖=1 𝑖=1

As funções de base, por serem definidas em todo o


domínio são globais. Propriedades a que as
funções de base 𝛷𝑖 (𝑥 ) devem obedecer:
1-as funções devem ser contínuas;
2-devem ser linearmente independentes;
3-devem permitir impor as condições de fronteira
essenciais (se as houver).
O método de Galerkin permite uma vasta escolha
para as funções de base. É recorrente usar-se
funções trigonométricas (ver P5) e, mais ainda,
polinómios de baixo grau como neste P7 e
problemas seguintes.

Em problemas de segunda ordem usamos a


interpolação de Lagrange para gerar
aproximações por elementos finitos (ver P6). O
domínio é dividido em sub-intervalos (os
elementos) sem hiatos nem sobreposições. Os
elementos lineares ficam definidos por 2 nós
consecutivos e os elementos vizinhos estão
interligados por nós comuns. Ao conjunto de
elementos chamamos malha de elementos finitos.

1 2 3 4
1 2 3 4 5
(0,0) (1,0)
𝑥
Malha de 4 elementos lineares e 5 nós

Nos elementos, a aproximação local oferecida é


um polinómio de baixo grau, neste caso=1, que
interpola os valores nodais. Nesta alínea b) temos
uma malha de 4 elementos finitos lineares e uma
aproximação global de 5 valores nodais. Temos
uma função de base por cada nó e numerada com
o mesmo índice.
As funções de base das aproximações polinomiais
de elementos finitos:
1- Verificam a propriedade interpolatória
(Lagrange): o valor da função é 1 no próprio nó e
zero nos restantes nós;
2- Podem ser construidas localmente, troço a troço
(elemento a elemento), por polinómios de baixo
grau;
3- Proporcionam suporte local.

As funções de base ficam únicamente definidas


pela propriedade interpolatória e pelo grau do
polinómio em cada elemento. Devido a esta
propriedade, os parâmetros 𝛼𝑖 e 𝛽𝑖 passam agora
a ter o significado de valores nodais de u(x) e
v(x), respectivamente, 𝑢𝑖 e 𝑣𝑖 , no nó de abcissa 𝑥𝑖 .

𝛷𝑖 𝛷3
(0,1)

3
(0,0) (1,0) 𝑥
Uma Função de base típica numa malha de 4
elementos lineares – observar o suporte local

𝛷𝑖
𝛷1 𝛷2 𝛷3 𝛷4 𝛷5
(0,1)

(0,0) (1,0) 𝑥
Funções de base para uma malha de 4
elementos lineares
𝑁 𝑁

𝑢ℎ (𝑥 ) = ∑ 𝛷𝑗 (𝑥 )𝑢𝑗 , 𝑣ℎ (𝑥 ) = ∑ 𝛷𝑖 (𝑥 )𝑣𝑖
𝑗=1 𝑖=1

As derivadas calculam-se por


𝑁 𝑁

𝑢ℎ′ (𝑥 ) = ∑ 𝛷𝑗′ (𝑥 )𝑢𝑗 , 𝑣ℎ′ (𝑥 ) = ∑ 𝛷𝑖′ (𝑥 )𝑣𝑖


𝑗=1 𝑖=1

Substituindo na formulação fraca vem


𝑁 𝑁 1 1
∑ [∑ ∫ (𝛷𝑖′ 𝛷𝑗′ + 𝛷𝑖 𝛷𝑗 )𝑑𝑥 𝑢𝑗 − ∫ 𝛷𝑖 (𝑥 )𝑑𝑥 ] 𝑣𝑖 = 0
𝑖=1 𝑗=1 0 0

ou
𝑁 𝑁

∑ [∑ 𝐾𝑖𝑗𝐺 𝑢𝑗 − 𝑓𝑖𝐺 ] 𝑣𝑖 = 0, ∀𝑣𝑖


𝑖=1 𝑗=1
Ou ainda
𝑁 𝑁
𝐺 𝐺
(∑ 𝐾1𝑗 𝑢𝑗 − 𝑓1𝐺 ) 𝑣1 + ⋯ + (∑ 𝐾𝑁𝑗 𝑢𝑗 − 𝑓𝑁𝐺 ) 𝑣𝑁 = 0, ∀𝑣𝑖

𝑗=1 ⏟
𝑗=1

=0 … =0

Matriz de Rigidez global (simétrica)

1
𝐾𝑖𝑗𝐺 = ∫ (𝛷𝑖′ 𝛷𝑗′ + 𝛷𝑖 𝛷𝑗 )𝑑𝑥
0

Vector de forças global


1
𝑓𝑖𝐺 = ∫ 𝛷𝑖 (𝑥 )𝑑𝑥
0

Podem ser calculados à custa da soma das


contribuições dos elementos finitos. Por sua vez, os
cálculos ao nível do elemento podem e devem ser
feitos num referencial local cuja origem está no nó
mais á esquerda.

Matriz de Rigidez de um elemento (usando a


coordenada local 𝑥̅ ):


𝐾𝑖𝑗𝑒 = ∫ (𝜓𝑖′ 𝜓𝑗′ + 𝜓𝑖 𝜓𝑗 )𝑑𝑥̅
0

Vector de forças local


𝑓𝑖𝑒 = ∫ 𝜓𝑖 (𝑥̅ )𝑑𝑥̅
0

(0,1) (h,1)
𝛹1 (𝑥̅ )

𝛹2 (𝑥̅ )
1 2
(0,0) (h,0) 𝑥̅
Funções de forma para um elemento linear
As funções de forma de um elemento linear são as
seguintes
𝑥̅ 𝑥̅
𝜓1 (𝑥̅ ) = 1 − , 𝜓2 (𝑥̅ ) = .
ℎ ℎ
𝑒 𝑒
A matriz de rigidez é simétrica. Temos 𝑘12 = 𝑘21 ,
𝑒
𝑒
𝑘11 = 𝑘22 , e 𝑓1𝑒 = 𝑓2𝑒 . Por outro lado,

ℎ ℎ 2
𝑒
1 𝑥̅ 1 ℎ
𝑘22 = ∫ 2 𝑑𝑥̅ + ∫ 2 𝑑𝑥̅ = +
0 ℎ 0 ℎ ℎ 3
ℎ ℎ
𝑒
1 𝑥̅ 𝑥̅ 2 1 ℎ
𝑘12 = − ∫ 2 𝑑𝑥̅ + ∫ ( − 2 ) 𝑑𝑥̅ = − +
0 ℎ 0 ℎ ℎ ℎ 6



𝑓1𝑒 = 𝑓2𝑒 = ∫ 𝜓2 (𝑥̅ )𝑑𝑥̅ =
0 2

Em resumo, para um elemento linear típico vem

1 1 −1 ℎ 2 1 ℎ 1
𝐾𝑒 = ℎ [ ]+6[ ], 𝑓 𝑒 = 2 { }.
−1 1 1 2 1

Tendo em conta que os elementos possuem todos o


mesmo comprimento, h=1/4, vem

1 98 −95 1 1
𝐾 𝑒 = 24 [ ], 𝑓 𝑒 = 8 { }.
−95 98 1

A matriz de
rigidez global obtém-se por
assemblagem usando-se uma tabela de
conectividades (ou topologia) da malha.
Tabela de conectividades

Elemento 1º Nó 2ºNó
1 1 2
2 2 3
3 3 4
4 4 5
Padrão de coeficientes na matriz de rigidez
global
𝑥 𝑥 0 0 0 𝑢1 𝑥
𝑥 𝑥𝑥 𝑥 0 0 𝑢 2 𝑥𝑥
0 𝑥 𝑥𝑥 𝑥 0 𝑢 3 = 𝑥𝑥
0 0 𝑥 𝑥𝑥 𝑥 𝑢4 𝑥𝑥
[0 0 0 𝑥 𝑥 ] {𝑢5 } { 𝑥 }
Observe-se que é uma matriz tridiagonal.
Substituindo os coeficientes vem
1
+ 𝑅1
8
1 1
98 −95 0 0 0 𝑢1 +
𝑢2 8 8
1 −95 98 + 98 −95 0 0
0 −95 98 + 98 −95 0 𝑢3 = 1 + 1
24 8 8
0 0 −95 98 + 98 −95 𝑢4
1 1
[ 0 0 0 −95 98 ] {𝑢5 } +
8 8
1
{8 + 𝑅5 }
Onde R1 e R5 são as reacções nos apoios.
1
+ 𝑅1
98 −95 0 0 0 𝑢1 8
1 −95 196 −95 0 0 𝑢2 1⁄4
0 −95 196 −95 0 𝑢3 = 1⁄4
24 𝑢
0 0 −95 196 −95 4 1⁄4
[ 0 0 0 −95 𝑢
98 ] { 5 } 1
{8 + 𝑅5 }
c) As condições de fronteira essenciais permitem
eliminar duas incógnitas nos extremos do
intervalo já que 𝑢1 = 0 e 𝑢5 = 0. Então, o sistema
reduzido (3x3) com as incógnitas 𝑢2 , 𝑢3 , 𝑢4 ,
escreve-se
196 −95 0 𝑢2 6
[−95 196 −95] {𝑢3 } = {6}
0 −95 196 𝑢4 6

d) O sistema agora está pronto para ser resolvido.


A solução (em Matlab) dá u2=u4=0,08573112 e
u3=0,1137189.
A solução analítica exacta é
𝑒 𝑥 + 𝑒 1−𝑥
𝑢(𝑥 ) = 1 − .
1+𝑒
Calculando esta solução analítica nos nós da
malha, para comparar, obtém-se u2=u4=0,08532 e
u3=0,11318. Comentar !

Aspetos a destacar:
-A equação diferencial é de segunda ordem. A correspondente
formulação fraca, que é simétrica, obriga a usar funções tentativa (u) e
funções de teste (v) contínuas;
-As condições de fronteira são ambas essenciais e homogéneas;
-Os termos anulados quando se faz v(0)=v(1)=0 multiplicariam as
condições de fronteira naturais (reacções nos apoios ou fluxos nos
extremos) se aquelas existissem.
-A formulação fraca é o ponto de partida ideal para se obter soluções
pelo método dos elementos finitos.
-Podemos definir e calcular as matrizes de rigidez e os vetores de forças
dos elementos da malha usando coordenadas locais;
-Somando as contribuições de todos os elementos (assemblagem)
podemos formar o sistema final de equações;
-Para se poder efetuar a assemblagem é conveniente definir a tabela de
conectividades (ou topologia da malha) que é a correspondência entre
a numeração local de um elemento e a numeração global dos nós;
-A matriz de rigidez global é simétrica e tridiagonal;
-A imposição das condições de fronteira essenciais faz-se anulando o
primeiro e o último valores nodais, o que reduz em 2 o número de
incógnitas e a dimensão do sistema a resolver.
-As reacções nos apoios podem ser calculadas após a resolução do
sistema reduzido para os “deslocamentos” recuperando-se a primeira e
a última das equações do sistema original.

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