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Disciplina: Cálculo Diferencial e Integral I

Professora: Flávia Peixoto Faria

SEÇÃO 3: A DERIVADA DE UMA FUNÇÃO


– PARTE 4 –
Ao final desta seção, você será capaz de:
• Compreender as derivadas de funções inversas;
• Compreender a derivação logarítmica.

DERIVADAS DE FUNÇÕES INVERSAS:


Na seção 1.2, vimos como a inversa de uma função desfaz ou inverte o efeito dessa função. Aqui,
aprenderemos uma regra para derivar a inversa de uma função derivável.
Seja 𝑓 uma função inversível, com inversa 𝑔; assim,

𝑓(𝑔(𝑥 )) = 𝑥 para todo 𝑥 ∈ 𝐷𝑔

Segue que para todo 𝑥 ∈ 𝐷𝑔


[𝑓(𝑔(𝑥 ))] = 𝑥 ′


ou [𝑓(𝑔(𝑥 ))] = 1.
Se supusermos 𝑓 e 𝑔 diferenciáveis, podemos aplicar a regra da cadeia ao primeiro membro da equação
acima:

𝑓 ′(𝑔(𝑥 ))𝑔′(𝑥 ) = 1

ou

1
𝑔 ′ (𝑥 ) = para todo 𝑥 ∈ 𝐷𝑔
𝑓 ′(𝑔(𝑥 ))

que é a fórmula que nos permite calcular a derivada de 𝑔 conhecendo-se a derivada de 𝑓.

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OBSERVAÇÃO: Observe atentamente as notações


𝑓 ′(𝑔(𝑥 )) e [𝑓(𝑔(𝑥 ))] :


𝑓 ′(𝑔(𝑥 )) é o valor que a derivada de 𝑓 assume em 𝑔(𝑥 ), enquanto [𝑓(𝑔(𝑥 ))] = 𝑓 ′(𝑔(𝑥 ))𝑔′(𝑥 ).
O próximo teorema conta-nos que, se 𝑓 for inversível e derivável e se sua inversa 𝑔 for contínua, então
𝑔 será derivável em todo ponto 𝑎 de seu domínio em que 𝑓 ′(𝑔(𝑎)) ≠ 0.

TEOREMA 1:
Seja 𝑓 uma função inversível, com função inversa 𝑔. Se 𝑓 for derivável em 𝑝 = 𝑔(𝑎), com 𝑓 ′ (𝑝) ≠ 0,
e se 𝑔 for contínua em 𝑎, então 𝑔 será derivável em 𝑎.

Demonstração:

𝑔 (𝑥 ) − 𝑔 (𝑎 ) 𝑔 (𝑥 ) − 𝑔 (𝑎 ) 1
= = , 𝑥 ≠ 𝑎.
𝑥−𝑎 𝑓(𝑔(𝑥 )) − 𝑓(𝑔(𝑎)) 𝑓(𝑔(𝑥 )) − 𝑓(𝑔(𝑎))
𝑔 ( 𝑥 ) − 𝑔 (𝑎 )

Fazendo 𝑢 = 𝑔(𝑥 ), pela continuidade de 𝑔 em 𝑎, 𝑢 → 𝑝 para 𝑥 → 𝑎. Então

𝑔 (𝑥 ) − 𝑔 (𝑎 ) 1
lim = lim .
𝑥→𝑎 𝑥−𝑎 𝑢→𝑝 𝑓 (𝑢 ) − 𝑓 (𝑝)
𝑥−𝑝

𝑓(𝑢)−𝑓(𝑝)
Como lim𝑢→𝑝 = 𝑓 ′(𝑝) = 𝑓 ′ (𝑔(𝑎)), temos que
𝑥−𝑝

𝑔 (𝑥 ) − 𝑔 (𝑎 ) 1
𝑔′(𝑎) = lim = ′ .
𝑥→𝑎 𝑥−𝑎 𝑓 (𝑔(𝑎))

1
Portanto, 𝑔 é derivável em 𝑎 e 𝑔′(𝑎) = 𝑓′ (𝑔(𝑎)). ∎
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EXEMPLO 1:
Vamos calcular, usando a fórmula obtida anteriormente, a derivada da função 𝑔(𝑥 ) = arcsen 𝑥. Sabemos que
𝜋 𝜋
𝑔 é contínua e é a inversa de 𝑓(𝑥 ) = sen 𝑥, 𝑥 ∈ [− 2 , 2 ]. Temos, então, que

1 1
arcsen′ 𝑥 = = (1)
𝑓 ′ (arcsen 𝑥 ) cos(arcsen 𝑥 )

𝜋 𝜋
pois 𝑓 ′(𝑥 ) = cos 𝑥 em [− , ]. De
2 2

[cos(arcsen 𝑥 )]2 + [sen(arcsen 𝑥 )]2 = 1

𝑥
segue

[cos(arcsen 𝑥 )]2 = 1 − 𝑥 2

𝜋 𝜋
e, portanto, cos(arcsen 𝑥 ) = √1 − 𝑥 2 , uma vez que arcsen 𝑥 ∈ [− , ]. Substituindo em (1), resulta
2 2

1
arcsen′ 𝑥 = , − 1 < 𝑥 < 1.
√1 − 𝑥 2

Na discussão que se segue, apresentaremos a derivada de outras funções trigonométricas inversas por
um outro processo, envolvendo a derivação implícita.

DERIVADAS DAS FUNÇÕES TRIGONOMÉTRICAS INVERSAS:


As funções trigonométricas inversas foram revisadas na seção 1.10. Discutimos sua continuidade na
seção 2.3 e suas assíntotas na seção 2.2. Aqui, a derivação implícita (seção 3.3) será usada para determinar as
derivadas das funções trigonométricas inversas, supondo que essas funções sejam deriváveis.
Lembre-se de que a função inversa do seno foi definida por:

𝑦 = sen−1 𝑥 = arcsen 𝑥 significa sen 𝑦 = 𝑥 e − 𝜋/2 ≤ 𝑦 ≤ 𝜋/2


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Derivando sen 𝑦 = 𝑥 implicitamente em relação a 𝑥, obtemos

𝑑𝑦 𝑑𝑦 1
cos 𝑦 =1 ou =
𝑑𝑥 𝑑𝑥 cos 𝑦

𝜋
Agora, cos 𝑦 ≥ 0, uma vez que − 2 ≤ 𝑦 ≤ 𝜋/2. Utilizando a relação fundamental da trigonometria, vem

cos 𝑦 = √1 − sen2 𝑦 = √1 − 𝑥 2

Logo,

𝑑 1
(arcsen 𝑥 ) =
𝑑𝑥 √1 − 𝑥 2

Observe que chegamos ao mesmo resultado obtido no EXEMPLO 1.


A fórmula para a derivada da função arco tangente é deduzida de maneira análoga. Se 𝑦 = tg −1 𝑥 =
arctg 𝑥, então tg 𝑦 = 𝑥. Derivando essa última equação implicitamente em relação a 𝑥, temos:

𝑑𝑦
sec2 𝑦 =1
𝑑𝑥

𝑑𝑦 1 1 1
= = =
𝑑𝑥 sec2 𝑦 1 + tg 2 𝑦 1 + 𝑥 2

Logo,

𝑑 1
(arctg 𝑥 ) =
𝑑𝑥 1 + 𝑥2

Deixamos como exercício para o leitor deduzir a fórmula acima utilizando a regra geral da derivada de funções
inversas.

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As funções trigonométricas inversas que ocorrem com mais frequência são aquelas que acabamos de
discutir. As derivadas das quatro funções remanescentes estão dadas na tabela a seguir. As demonstrações
foram omitidas deste texto.

DERIVADAS DE FUNÇÕES TRIGONOMÉTRICAS INVERSAS:

𝑑 1 𝑑 1
(arcsen 𝑥 ) = (arccossec 𝑥 ) = −
𝑑𝑥 √1 − 𝑥 2 𝑑𝑥 𝑥√𝑥 2 − 1

𝑑 1 𝑑 1
(arccos 𝑥 ) = − (arcsec 𝑥 ) =
𝑑𝑥 √1 − 𝑥 2 𝑑𝑥 𝑥√𝑥 2 − 1

𝑑 1 𝑑 1
(arctan 𝑥 ) = (arccotg 𝑥 ) = −
𝑑𝑥 1 + 𝑥2 𝑑𝑥 1 + 𝑥2

DERIVADAS DE FUNÇÕES LOGARÍTMICAS:


Nesta seção, vamos usar a derivação implícita para achar as derivadas das funções logarítmicas 𝑦 =
log 𝑏 𝑥 e, em particular, da função logarítmica natural 𝑦 = ℓn 𝑥.

𝑑 1
(log 𝑏 𝑥 ) = (2)
𝑑𝑥 𝑥 ℓn 𝑏

Demonstração:
Seja 𝑦 = log 𝑏 𝑥. Então

𝑏𝑦 = 𝑥

Derivando essa equação implicitamente em relação a 𝑥, usando a fórmula de derivação para a função 𝑏 𝑦 ,
temos que

𝑑𝑦
𝑏 𝑦 (ℓn 𝑏) =1
𝑑𝑥

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𝑑𝑦 1 1
e assim = 𝑏𝑦 ℓn 𝑏 = 𝑥 ℓn 𝑏. ∎
𝑑𝑥

Se pusermos 𝑏 = 𝑒 na fórmula (2), então o fator ℓn 𝑏 no lado direito torna-se ℓn 𝑒 = 1, e obtemos a


fórmula para a derivada da função logarítmica natural log 𝑒 𝑥 = ℓn 𝑥:

𝑑 1
(ℓn 𝑥 ) = (3)
𝑑𝑥 𝑥

Comparando as fórmulas (2) e (3), vemos uma das principais razões para os logaritmos naturais serem
usados em cálculo. A fórmula de derivação é a mais simples quando 𝑏 = 𝑒 porque ℓn 𝑒 = 1.

EXEMPLO 2:
Derive:
a) 𝑦 = ℓn(𝑥 3 + 1) c) 𝑓 (𝑥 ) = √ℓn 𝑥

b) 𝑦 = ℓn(sen 𝑥 ) d) 𝑓 (𝑥 ) = log10(2 + sen 𝑥 )


SOLUÇÃO:
a) Para usarmos a regra da cadeia, vamos fazer 𝑢 = 𝑥 3 + 1. Então, 𝑦 = ℓn 𝑢, de modo que

𝑑𝑦 𝑑𝑦 𝑑𝑢 1 𝑑𝑢
= =
𝑑𝑥 𝑑𝑢 𝑑𝑥 𝑢 𝑑𝑥

1 2
3𝑥 2
= 3 (3𝑥 ) = 3
𝑥 +1 𝑥 +1

b) Novamente, vamos usar a regra da cadeia, onde 𝑢 = sen 𝑥. Então

𝑑𝑦 𝑑𝑢 1 𝑑
𝑦′ = = (sen 𝑥 )
𝑑𝑢 𝑑𝑥 𝑢 𝑑𝑥

1
= cos 𝑥 = cotg 𝑥
sen 𝑥

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Deixaremos os itens (c) e (d) como exercícios para o leitor!

DERIVAÇÃO LOGARÍTMICA:
Os cálculos de derivadas de funções complicadas envolvendo produtos, quocientes ou potências
podem muitas vezes ser simplificados tomando-se logaritmos. O método usado no exemplo a seguir é chamado
derivação logarítmica.

EXEMPLO 3:
𝑥 3/4 √𝑥 2 +1
Derive 𝑦 = (3𝑥+2)5
.

SOLUÇÃO:
Tome logaritmos em ambos os lados da equação e use as propriedades do logaritmo para simplificar:

3 1
ℓn 𝑦 = ℓn 𝑥 + ℓn(𝑥 2 + 1) − 5 ℓn(3𝑥 + 2)
4 2

Derivando implicitamente em relação a 𝑥, temos:

1 𝑑𝑦 3 1 1 2𝑥 3
= ∙ + ∙ 2 −5∙
𝑦 𝑑𝑥 4 𝑥 2 𝑥 + 1 3𝑥 + 2

Isolando 𝑑𝑦/𝑑𝑥, obtemos

𝑑𝑦 3 𝑥 15
= 𝑦( + 2 − )
𝑑𝑥 4𝑥 𝑥 + 1 3𝑥 + 2

Como temos uma expressão explícita para 𝑦, podemos substituí-lo por ela e escrever:

𝑑𝑦 𝑥 3/4 √𝑥 2 + 1 3 𝑥 15
= 5
( + 2 − )
𝑑𝑥 (3𝑥 + 2) 4𝑥 𝑥 + 1 3𝑥 + 2

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Se 𝑓 (𝑥 ) < 0, para algum valor de 𝑥, então ℓn 𝑓 (𝑥 ) não está definida, mas podemos escrever |𝑦| =
|𝑓 (𝑥 )| e usar o fato de que

𝑑 1
(ℓn|𝑥 |) =
𝑑𝑥 𝑥

Ilustramos esse procedimento demonstrando a versão geral da regra da potência, como foi mencionado na
seção 3.2.

A REGRA DA POTÊNCIA:
Se 𝑛 for qualquer número real e 𝑓 (𝑥 ) = 𝑥 𝑛 , então

𝑑 𝑛
(𝑥 ) = 𝑛𝑥 𝑛−1
𝑑𝑥

Demonstração:
Seja 𝑦 = 𝑥 𝑛 . Use derivação logarítmica em:

ℓn|𝑦| = ℓn|𝑥 𝑛 | = 𝑛 ℓn|𝑥 | , 𝑥≠0

𝑦′ 𝑛
Logo, = 𝑥.
𝑦

Daí,


𝑦 𝑥𝑛
𝑦 =𝑛 =𝑛 = 𝑥𝑛𝑛−1 ∎
𝑥 𝑥

EXEMPLO 4:

Derive 𝑦 = 𝑥 √𝑥 .
SOLUÇÃO:

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Uma vez que a base e o expoente são variáveis, usamos a derivação logarítmica:

ℓn 𝑦 = ℓn 𝑥 √𝑥 = √𝑥 ℓn 𝑥

𝑦′ 1 1
= √𝑥 + ℓn 𝑥
𝑦 𝑥 2√𝑥

1 ℓn 𝑥 2 + ℓn 𝑥
𝑦′ = 𝑦 ( + ) = 𝑥 √𝑥 ( )
√𝑥 2√𝑥 2√𝑥

O NÚMERO 𝑒 COMO UM LIMITE:


Já mostramos que se 𝑓 (𝑥 ) = ℓn 𝑥, então 𝑓 ′(𝑥 ) = 1/𝑥. Assim, 𝑓 ′(1) = 1. Agora, usamos esse fato
para expressar o número 𝑒 como um limite.
Da definição de derivada como um limite, temos

𝑓 (1 + ℎ) − 𝑓 (1) 𝑓 (1 + 𝑥 ) − 𝑓 (1)
𝑓 ′(1) = lim = lim
ℎ→0 ℎ 𝑥→0 𝑥

ℓn(1 + 𝑥 ) − ℓn 1 1
= lim = lim ℓn(1 + 𝑥 )
𝑥→0 𝑥 𝑥→0 𝑥

= lim ℓn(1 + 𝑥 )1/𝑥


𝑥→0

Por causa de 𝑓 ′ (1) = 1, temos

lim ℓn(1 + 𝑥 )1/𝑥 = 1


𝑥→0

Assim, pelo Teorema 3 da seção 2.3 e pela continuidade da função exponencial, temos

1 1 1
𝑒 = 𝑒 1 = 𝑒 lim𝑥→0 ℓn(1+𝑥)𝑥 = lim 𝑒 ℓn(1+𝑥)𝑥 = lim ℓn(1 + 𝑥 )𝑥
𝑥→0 𝑥→0

𝑒 = lim ℓn(1 + 𝑥 )1/𝑥 (4)


𝑥→0
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A fórmula acima está ilustrada na figura a seguir que apresenta parte do gráfico da função 𝑦 =
(1 + 𝑥 )1/𝑥 e na tabela para valores pequenos de 𝑥. Isso ilustra o fato de que, com precisão até a sétima casa
decimal,

𝑒 ≈ 2,7182818

Se colocarmos 𝑛 = 1/𝑥 na fórmula (4), então 𝑛 → ∞ quando 𝑥 → 0+ e uma expressão alternativa


para 𝑒 é

1 𝑛
𝑒 = lim (1 + )
𝑛→∞ 𝑛

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