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Mossoró - RN
2022
1. INTRODUÇÃO
Muitos alunos possuem dificuldades nos estudos de cálculo, e muitas
vezes incomodados com as notas baixas se perguntam sobre a real aplicação
destes conceitos em seu futuro como estudante de engenharia no segundo ciclo
de formação. No presente artigo, vamos buscar a demonstração de um destes
assuntos e explorar a sua utilidade em uma das engenharias a fim de
percebermos a sua real utilidade prática.
Será apresentado na seção 2, as definições formais, bem como as
deduções que serão necessárias para a convenção da regra geral de derivação,
necessária e útil para casos em que não temos conhecimento explícito da
função principal, mas apenas uma equação composta e misturada entre
domínio e imagem.
Um bom e simples exemplo a ser apresentado é o da função 𝒚𝟒 + 𝒚 − 𝒙𝟑 +
𝟑𝒙𝟐 = 𝟎. Não temos condições de precisar de forma explicita quem seria a
função 𝒚(𝒙), mas para casos práticos em que essa maneira explícita não seja
necessária, sendo importante apenas que seja verificada sua derivada em
algum ponto específico ao longo do domínio, temos totais condições de chegar
à função derivada de y proposta.
Após o conhecimento básico do assunto e suas demonstrações, será
apresentado um exemplo na área da macroeconomia, questão de valor para
engenheiros de produção que queiram fazer cálculos acerca da produção e
escolha dos consumidores em relação a determinado produto. O método de
encontrar a função de produção é pelo multiplicador de Lagrange, o qual
necessitamos de derivação implícita para encontrarmos a solução da equação
desejada, que são os máximos e mínimos.
2. DESENVOLVIMENTO
Por simplicidade, consideramos inicialmente funções de duas variáveis.
Dada 𝑓 ∶ 𝑈 → 𝑅, definida no aberto 𝑈 ⊂ 𝑅 2 , e fixado 𝑐 ∈ 𝑅, dizemos que a
equação 𝑓(𝑥, 𝑦) = 𝑐 definine y implicitamente como função de x quando existe
uma função 𝜉 ∶ 𝐼 → 𝑅, definida num intervalo 𝐼 ⊂ 𝑅, tal que 𝑓(𝑥, 𝑦) = 𝑐 ⇔
𝑦 = 𝜉(𝑥). Isto quer dizer que 𝑓 − 1 (𝑐) é o gráfico da função ξ.
Notemos que é bem possível a uma equação do tipo 𝑓(𝑥, 𝑦) = 𝑐 não
definir função alguma: basta que c não pertença à imagem de f. Por
exemplo, 𝑥 2 + 𝑦 2 + 1 = 0 não possui soluções reais (𝑥, 𝑦), logo não define y
como função de x nem x como função de y. Mesmo que a equação 𝑓(𝑥, 𝑦) = 𝑐
possua soluções, elas podem não definir funções, tal é o caso de 𝑥 2 + 𝑦 2 = 0:
a única solução é (0, 0), que obviamente não é gráfico de uma função definida
num intervalo não-degenerado.
É mais comum acontecer que uma equação do tipo 𝑓(𝑥, 𝑦) = 𝑐 (quando
define alguma coisa) defina y como função de x, ou x como função de y, apenas
localmente.
O teorema abaixo dá significado preciso a afirmação de que “a equação
𝑓(𝑥, 𝑦) = 𝑐 define implicitamente y como função de x” e estabelece uma
condição suficiente para que ela seja verdadeira. Tal resultado é uma aplicação
do Teorema do Valor Médio, o qual, por sua vez, segue da Regra da Cadeia.
Aqui, os pontos de 𝑅 𝑛+1 serão descritos bos a forma (𝑥, 𝑦), onde temos 𝑥 =
(𝑥1, . . . , 𝑥𝑛) ∈ 𝑅 𝑛 𝑒 𝑦 ∈ 𝑅.
2.1. Teorema Básico da Função Implícita
Teorema 1: Dada 𝑓 ∶ 𝑈 → 𝑅 de classe 𝐶 𝑘 (𝑘 ≥ 1) no aberto U ⊂ R n+1, seja
𝜕𝑓
(𝑥0 , 𝑦0 ) ∈ U tal que 𝑓(𝑥0 , 𝑦0 )𝑐 𝑒 𝜕𝑦 (𝑥0 , 𝑦0 ) ≠ 0. Existem uma bola 𝐵 =
𝝏𝑭 𝝏𝑭
Em forma matricial, escrevemos (𝒙, 𝒇(𝒙)) + 𝝏𝒚 (𝒙, 𝒇(𝒙))𝑱𝒇(𝒙) = 𝟎.
𝝏𝒙
2.3. Aplicação
Em problemas de maximização é muito comum que funções tenham que
ser derivadas para que seja encontrado esse valor máximo (ou mínimo), que
nada mais é do que aplicação dos conceitos estudados nas disciplinas de
cálculo. Um exemplo em que uma dessas funções práticas não possui a função
completamente definida em termos de imagem, é nos casos de maximização de
utilidade, onde os multiplicadores de Lagrange são as funções correspondentes.
No livro de Silveira [7], encontramos exemplos econômicos com essas
funções que para a solução do sistema a derivação implícita encontra sua
utilidade, vejamos a seguir:
Exemplo: Considere um consumidor cujas preferências sobre o conjunto
consumo 𝑀 = 𝑅 2 são representadas pela seguinte função utilidade:
𝑢(𝑥1 , 𝑥2 ) = 𝑥1 𝑥2 + 2𝑥1
sendo 𝑥1 a quantidade consumida do i-ésimo bem em um dado intervalo de
tempo.
Este consumidor defronta-se com os seguintes preços unitários exógenos
p1= 4 e p2 = 2 unidades monetárias dos bens 1 e 2, respectivamente, e aufere
uma renda exógena de 60 unidades monetárias. Logo, sua restrição
orçamentária é dada por:
4𝑥1 + 2𝑥2 = 60
O consumidor busca escolher uma cesta de consumo ( 𝑥1 , 𝑥2 ) ∈ 𝑀 mais
preferida entre aquelas cestas que pode comprar e esgotam seu orçamento. Em
outros termos, o consumidor resolve o seguinte problema de maximização de
utilidade:
𝑀𝑎𝑥 𝑥1 𝑥2 + 2𝑥1 𝑠𝑢𝑗𝑒𝑖𝑡𝑜 𝑎 4𝑥1 + 2𝑥2 = 60
Este problema de maximização de utilidade é um problema de otimização
estática condicionada com duas variáveis de escolha (as quantidades x 1 e x2) e
uma restrição de igualdade.
Para a resolução do sistema, aplicaremos a função de Lagrange, e logo
após a derivação implícita em relação a todas as variáveis da função:
[1] Bartle, R. G. – The Elements of Real Analysis. New York, J. Wiley, 1964.
[2] Lima, E. L. – Análise Real - Funções de n Variáveis.vol. 2. 3 ed. Rio de
Janeiro: IMPA, 2007.
[3] Lima, E. L. – Análise no Espaço Rn. Rio de Janeiro: IMPA, 2001.
[4] Flamming, D. M. e Gonçalves, M. B. – Cálculo B: Funções de Várias
Variáveis, Integrais Múltiplas, Integrais Curvilíneas e de Superfície.
2 ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2007.
[5] Guidorizzi, H. L. – Um Curso de Cálculo. vol. 2. 5 ed. Rio de Janeiro:LTC,
2008.
[6] Rudin, W. – Principles of Mathematical Analysis. 3 ed. McGraw-Hill
Kogakusha, 1976.
[7] Silveira, Jaylson Jair da. Elementos de economia matemática II. 1 ed.
Florianópolis: UFSC, 2011
[8] Oliveira, Oswaldo. The Implicit and the Inverse Function Theorems: Easy
Proofs,. Real Anal. Exchange 39 (2013), no. 1, 207–218.