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TEMA 3 – Aplicações das derivadas

Profª Ursula Tatiana Timm

Introdução
Vimos que a derivada é a inclinação da reta tangente ao gráfico de uma função em um
determinado ponto. Vamos, agora, utilizar a derivada para determinar e analisar o
comportamento de uma função, definindo os pontos onde a função atinge seu maior e seu menor
valor, bem como os pontos onde a mesma muda sua concavidade e sua inclinação. Esses pontos
são chamados de pontos críticos e pontos de inflexão. Este estudo vai nos auxiliar para fazer o
esboço de gráficos de funções.
Também serão estudadas, neste capítulo, aplicações práticas do cálculo de derivadas. Este estudo
fornecerá uma ideia da aplicabilidade do cálculo diferencial, estabelecendo uma relação com o
mundo real e suas experiências.

Pontos de Máximo e de Mínimo

DEFINIÇÃO 1
Uma função 𝑓 tem um valor máximo relativo ou local em 𝑐 se existir um intervalo aberto
contendo 𝑐 onde 𝑓 está definida, tal que 𝑓(𝑐) ≥ 𝑓(𝑥) para todo 𝑥 neste intervalo.

DEFINIÇÃO 2
Uma função 𝑓 tem um valor mínimo relativo ou local em 𝑐, se existir um intervalo aberto
contendo 𝑐, onde 𝑓 está definida, tal que 𝑓(𝑐) ≤ 𝑓(𝑥) para todo 𝑥 neste intervalo.

Exemplo:
A figura a seguir mostra parte do gráfico de uma função onde
temos um valor máximo relativo em 𝑐 = −1, isto é, no ponto (-1,
3) e mínimo relativo em 𝑐 = 1, ou seja, no ponto (1, -1).

Fonte: autora.
Se a função 𝑓 tem um valor máximo relativo ou um valor mínimo relativo em 𝑐, então dizemos que
𝑓 tem um extremo relativo em 𝑐.

TEOREMA DE FERMAT
Se 𝑓(𝑥) existe para todos os valores de 𝑥 no intervalo aberto (𝑎, 𝑏) e 𝑓 tem um extremo relativo
em 𝑐, onde 𝑎 < 𝑐 < 𝑏, então se 𝑓 ′(𝑐)existe, 𝑓 ′(𝑐) = 0.

Esse teorema nos permite localizar os possíveis valores de 𝑐 para os quais existe um extremo
relativo.
Geometricamente, esse teorema significa que se 𝑓 tem um extremo relativo em 𝑐 e se 𝑓 ′(𝑐)
existe, então o gráfico de 𝑦 = 𝑓(𝑥) deve ter uma tangente horizontal no ponto onde 𝑥 = 𝑐.

Se a função é diferenciável, então os únicos valores possíveis de 𝑥 para os quais 𝑓 pode ter um
extremo relativo serão aqueles para os quais 𝑓 ′(𝑐) = 0. Mas o contrário não é verdadeiro, isto é,
𝑓 ′(𝑐) pode ser igual a zero para um valor específico de 𝑥, e 𝑓 pode não ter um extremo relativo
nesse ponto. Veja um exemplo:

2 3
A imagem apresenta o gráfico da função 𝑓(𝑥) = (5 𝑥 + 1) − 3.

6 2 2
A derivada dessa função é 𝑓 ′(𝑥) = 5 ⋅ (5 𝑥 + 1) e

𝑓 ′(−2,5) = 0. Portanto, em 𝑥 = −2,5 a função possui uma


reta tangente horizontal, visto que a taxa de variação (derivada)
nesse ponto é nula. E, como podemos observar na representação
gráfica, nesse ponto não há um extremo relativo.

Fonte: autora.
Em alguns casos, a função possui um extremo relativo, porém a função não é diferenciável no
ponto em questão. Veja o gráfico da função

Fonte: autora.
Observe que a função possui um máximo relativo em x=3, isto é, no ponto (3, 5), mas a derivada
nesse ponto não existe. A derivada pela esquerda de 3 é 2 e a derivada pela direita de 3 é -1. Logo,
a derivada em x=3 não existe. Por isso, no teorema temos a hipótese “existe”.
Se uma função 𝒇 for definida em um número 𝒄, uma condição necessária para ter um extremo
relativo nesse ponto é que 𝒇 ′(𝒄) = 𝟎 ou 𝒇 ′(𝒙) não exista.

Quando uma das duas condições descritas ocorre, dizemos que existe um ponto crítico em 𝑥 = 𝑐.
Logo, uma condição necessária para que 𝑓 tenha um máximo ou mínimo relativo em um número
𝑐 é que 𝑐 seja um número crítico de 𝑓.

Consideremos a função 𝑓(𝑥) = 𝑥³ − 3𝑥, definida no intervalo fechado [-2, 2] e sua representação
gráfica, indicada a seguir.
Podemos observar que a função apresenta pontos
críticos em 𝑥 = −2, 𝑥 = −1, 𝑥 = 1 e 𝑥 = 2. Para
encontrar esses números críticos algebricamente,
devemos considerar que os números críticos são
aqueles onde
𝑓 ′(𝑥) = 0 ou 𝑓 ′(𝑥) não existe.
Então:
1º) 𝑓 ′(𝑥) = 0:
𝑓 ′(𝑥) = 3𝑥² − 3
3𝑥² − 3 = 0
Fonte: autora. 𝑥1 = −1 e 𝑥2 = 1
2º) 𝑓 ′(𝑥)não existe:
A derivada da função não existe nos extremos do
intervalo, ou seja, onde
𝑥 = −2 e 𝑥= 2
Logo, os números críticos são -2, - 1, 1 e 2.

DEFINIÇÃO 3
Seja 𝑐 um número no domínio D de uma função 𝑓. Então:
● 𝑓(𝑐) é o valor máximo absoluto de 𝑓 em D, se 𝑓(𝑐) ≥ 𝑓(𝑥) para todo 𝑥 do domínio D;
● 𝑓(𝑐) é o valor mínimo absoluto de 𝑓 em D, se 𝑓(𝑐) ≤ 𝑓(𝑥) para todo 𝑥 do domínio D.

Considerando a função apresentada no gráfico a seguir, o valor máximo absoluto 1,27 é e o valor
mínimo absoluto é -6.
Fonte: autora.

TEOREMA DO VALOR EXTREMO


Se a função 𝑓 for contínua em um intervalo fechado [𝑎, 𝑏], então 𝑓 assume um valor máximo
absoluto ou um valor mínimo absoluto em [𝑎, 𝑏].
Outro teorema importante foi provado pelo matemático Michel Rolle (1652-1719), e leva seu
nome:

TEOREMA DE ROLLE
Seja 𝑓 uma função que satisfaça as seguintes hipóteses:
1) 𝑓 é contínua no intervalo fechado [a, b].
2) 𝑓 é derivável no intervalo aberto (a, b).
3) 𝑓(𝑎) = 0 e 𝑓(𝑏) = 0.
Então, existe pelo menos um número 𝑐 entre 𝑎 e 𝑏 para o qual 𝑓 ′(𝑐) = 0.
Para demonstrar esse teorema, vamos considerar três situações:
1ª) Se 𝑓(𝑥) = 0 para todo 𝑥 em (𝑎, 𝑏), então 𝑓 ′(𝑐) = 0 em cada 𝑐 de (𝑎, 𝑏), pois 𝑓 é uma função
constante nesse intervalo.
2ª) Se 𝑓(𝑥) > 0 para algum 𝑥 em (𝑎, 𝑏). Como é contínua em [𝑎, 𝑏], pelo Teorema do Valor
Extremo a função tem um máximo absoluto em [𝑎, 𝑏]. O máximo absoluto não pode ocorrer nos
extremos de [𝑎, 𝑏] porque 𝑓(𝑎) = 𝑓(𝑏) = 0 e estamos supondo 𝑓(𝑥) > 0 para algum ponto de
(𝑎, 𝑏). Assim, o máximo absoluto precisa ocorrer em algum ponto 𝑐 de (𝑎, 𝑏). Como 𝑓 ′(𝑐) existe,
pela hipótese 2, resulta do Teorema de Fermat que 𝑓 ′(𝑐) = 0.
3ª) Se 𝑓(𝑥) < 0 para algum 𝑥 em (𝑎, 𝑏). Como é contínua em [𝑎, 𝑏], pelo Teorema do Valor
Extremo a função tem um mínimo absoluto em [𝑎, 𝑏]. O mínimo absoluto não pode ocorrer nos
extremos de [𝑎, 𝑏] porque 𝑓(𝑎) = 𝑓(𝑏) = 0 e estamos supondo 𝑓(𝑥) < 0 para algum ponto de
(𝑎, 𝑏). Assim, o mínimo absoluto precisa ocorrer em algum ponto 𝑐 de (𝑎, 𝑏). Como 𝑓 ′(𝑐) existe,
pela hipótese 2, resulta do Teorema de Fermat que 𝑓 ′(𝑐) = 0.
Esse teorema é utilizado para provar um dos teoremas mais importantes no Cálculo, conhecido
como Teorema do Valor Médio.

TEOREMA DO VALOR MÉDIO


Seja 𝑓 uma função contínua no intervalo fechado [𝑎, 𝑏] e derivável no intervalo aberto (𝑎, 𝑏).
Então, existe um número 𝑐 pertencente ao intervalo aberto (𝑎, 𝑏), tal que:
𝑓(𝑏) − 𝑓(𝑎)
𝑓′(𝑐) =
𝑏 − 𝑎

Interpretação geométrica desse teorema


Seja o gráfico de uma função 𝑓(𝑥) e sejam dois pontos 𝐴(𝑎, 𝑓(𝑎)) e 𝐵(𝑏, 𝑓(𝑏)) e uma reta que
passa por esses pontos. A declividade da reta secante que passa por A e B é dada por 𝑚𝑠 =
[𝑓(𝑏) − 𝑓(𝑎)]
. O Teorema do Valor Médio nos diz que existe algum ponto sobre a curva entre os
𝑏−𝑎
pontos A e B onde a reta tangente é paralela à reta secante que passa pelos pontos A e B, isto é,
𝑓(𝑏) − 𝑓(𝑎)
existe algum número 𝑐 em (𝑎, 𝑏) tal que: 𝑓′(𝑐) = .
𝑏−𝑎

Se o segmento AB estiver sobre o eixo 𝑥, então o teorema do valor médio será uma generalização
do teorema de Rolle. Veja a demonstração deste teorema, clicando aqui.

Veja alguns exemplos clicando aqui.

O que as derivadas informam sobre o comportamento de uma função?


Lembrando que a derivada primeira nos dá a taxa de variação, o que podemos dizer sobre a função
sabendo que sua taxa de variação em determinado ponto é positiva ou negativa?
Condição de crescimento ou decrescimento
a) Se 𝑓 ′(𝑥) > 0 sobre um intervalo, então 𝑓 é crescente nesse intervalo.
b) Se 𝑓 ′(𝑥) < 0 sobre um intervalo, então𝑓 é decrescente nesse intervalo.

Exemplo:
Verificar em qual(is) intervalo(s) a função 𝑓(𝑥) = 𝑥³ − 3𝑥 + 4 é crescente e em qual(is) é
decrescente.

Calculando a derivada da função, temos: 𝑓′(𝑥) = 3𝑥² − 3.


A função 𝑓(𝑥) é crescente quando 𝑓′(𝑥) > 0, então: 3𝑥² − 3 > 0 ⇒
𝑥 < −1 𝑜𝑢 𝑥 > 1.
A função 𝑓(𝑥) é decrescente quando 𝑓′(𝑥) < 0, então: 3𝑥² − 3 > 0 ⇒
−1 < 𝑥 < 1.

Para analisar a inclinação de uma função, em um determinado intervalo, utilizamos o teste da


derivada primeira.

Teste da derivada primeira


Suponha que 𝑐 seja um número crítico de uma função contínua 𝑓.
● Se o sinal de 𝑓 ′ mudar de positivo para negativo em 𝑐, então 𝑓 tem um máximo local em
𝑐.
● Se o sinal de 𝑓 ′ mudar de negativo para positivo em 𝑐, então 𝑓 tem um mínimo local em
𝑐.
● Se 𝑓 ′ não mudar de sinal em 𝑐, então não existe um máximo ou mínimo local em 𝑐.
Essas três situações estão representadas graficamente a seguir:

Portanto, utilizando o teste da derivada primeira, podemos classificar os pontos de extremo de


qualquer função.
Teste da derivada segunda (ou teste da concavidade)
Se a derivada segunda 𝑓 " da função 𝑓 existe em um intervalo aberto, então:
● Se 𝑓 "(𝑥) > 0 para todo 𝑥 no intervalo, então o gráfico de 𝑓 possui a concavidade voltada
para cima nesse intervalo.
● Se 𝑓 "(𝑥) < 0 para todo 𝑥 no intervalo, então o gráfico de 𝑓 possui a concavidade voltada
para baixo nesse intervalo.

DEFINIÇÃO
Um ponto I, sobre a curva 𝑓(𝑥), é chamado de ponto de inflexão se 𝑓 é contínua nesse ponto e a
curva muda sua concavidade em I.
Com os conceitos estudados, podemos construir o esboço do gráfico de uma função a partir das
informações dos testes das derivadas primeira e segunda. Veja:
Construindo o gráfico de uma função
DICA DE ESTUDO: resolver os exercícios da lista nº 7.

Aplicações das derivadas


Uma das aplicações práticas da derivada é a sua interpretação como uma taxa de variação. Esse
conceito é utilizado em diversas áreas, como a física e a economia.
Outra aplicação das derivadas é a resolução de situações problemas, nas quais é necessário
determinar os “valores ótimos”, que podem ser uma maximização ou uma minimização. A tarefa
de descobrir esses valores ótimos denomina-se problema de otimização.
Veja exemplos clicando aqui.
DICA DE ESTUDO: resolver os exercícios da lista nº 8.
REFERÊNCIAS
ANTON, Howard; BIVENS, Irl; DAVIS, Stephens. Cálculo, um novo horizonte. Vol. 1. 8ª Ed. Porto
Alegre: Bookman, 2007.
ÁVILA, Geraldo. Cálculo - Funções de uma variável. Vol. 1. Rio de Janeiro: Editora LTC – Livros
Técnicos e Científicos, 2002.
FLEMMING, D.M.; GONÇALVES, M.B., Cálculo A: funções, limite, derivação, integração. São Paulo:
Pearson Prentice Hall, 2006.
SIMONNS, George F. Cálculo com geometria analítica. Vol I. São Paulo: Pearson, 2010.
STEWART, James. Cálculo. Vol 1. 7ª Ed. São Paulo: Cengage Learning, 2013.
SWOKOWSKY, Earl William. Cálculo com geometria analítica. Vol 1. São Paulo: Makron, 1994.
THOMAS, George B. – Cálculo. Vol I. 10ª Ed. São Paulo. Addison Wesley, 2002.
UNIVERSIDADE LUTERANA DO BRASIL. Cálculo I. Canoas: ULBRA, 2017.

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