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Notas de Aula: Cálculo e Equações Diferenciais 9

1.3. DERIVADAS PARCIAIS


Vamos entender o conceito de derivação em funções com mais de uma variável através do
exemplo da função 𝑓(𝑥, 𝑦) = 9 − 𝑥 2 − 𝑦 2 no ponto (x,y)=(1,1). O gráfico desta função é um
paraboloide de revolução com concavidade para baixo
A primeira análise que vamos fazer será fixando a variável x = 1 e deixando y ainda como
variável. Ou seja, por um instante, vamos considerar x como sendo um valor constante igual a 1.
Desta forma, podemos escrever uma função g(y) que depende apenas da variável y:
𝑔(𝑦) = 𝑓(1, 𝑦) = 9 − 12 − 𝑦 2 ⇒ 𝑧 = 𝑔(𝑦) = 8 − 𝑦²
Note que o gráfico de g(y) é uma parábola com concavidade para baixo. Assim, vamos destacar
no gráfico de f(x,y) o gráfico de g(y):

Veja que a curva em destaque na figura descreve a variação do y na função f(x,y), porém no
plano x=1.
Invertendo este processo, podemos fixar a variável y=1 e deixar x como variável. Assim,
podemos escrever uma função h(x) que depende exclusivamente da variável x:
ℎ(𝑥) = 𝑓(𝑥, 1) = 9 − 𝑥 2 − 12 ⇒ 𝑧 = ℎ(𝑥) = 8 − 𝑥²
Agora temos uma curva pertencente ao paraboloide que descreve a variação de z em função
de y, mas apenas no plano x=1. Veja o gráfico com as duas curvas:

Desta forma, podemos observar individualmente o comportamento da função z em relação a


cada uma das variáveis independentes.
Se podemos observar o comportamento da variável z separadamente, podemos deduzir então
que é possível determinar a taxa de variação de z para cada uma das variáveis independentes, ou
seja, podemos derivar em função de x, para determinar a taxa de variação de z apenas em relação
ao x. E o mesmo procedimento pode ser feito em relação a y.
O nome desse procedimento de derivação individual em uma função de mais de uma variável
é Derivação Parcial.
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Voltando ao exemplo, vamos derivar as funções 𝑧 = 𝑔(𝑦) e 𝑧 = ℎ(𝑥) para obter as derivadas
parciais da função 𝑧 = 𝑓(𝑥, 𝑦).

𝑔(𝑦) = 8 − 𝑦 2 ⇒ 𝑔′ (𝑦) = −2𝑦

ℎ(𝑥) = 8 − 𝑥 2 ⇒ ℎ′(𝑥) = −2𝑥


Observe que independentemente do valor que atribuímos às variáveis x e y na hora de criar as
funções separadas g(y) e h(x), a mesma derivada parcial é obtida, por isso não é necessário ficar
atribuindo esses valores para x e y – basta tratá-las como constantes.
A notação de derivada parcial é feita com o símbolo “∂” (lê-se del ) no lugar de “d”:
𝜕𝑓 𝜕𝑓
(𝑥, 1) = −2𝑥 𝑒 (1, 𝑦) = −2𝑦
𝜕𝑥 𝜕𝑦
Assim, a função f(x,y) possui duas derivadas parciais. Para encontrá-las, basta considerar a
outra variável como constante:
𝑓(𝑥, 𝑦) = 9 − 𝑥 2 − 𝑦 2
𝜕𝑓(𝑥, 𝑦) 𝜕𝑓(𝑥, 𝑦)
= −2𝑥 𝑒 = −2𝑦
𝜕𝑥 𝜕𝑦
Portanto, a variável z tem uma taxa de variação em relação a x calculada por 𝑧 = −2𝑥 e em
relação a y calculada por 𝑧 = −2𝑦.
Exemplo 9
Encontre as derivadas parciais das seguintes funções
a) 𝑓(𝑥, 𝑦) = 3𝑥 4 𝑦 5
𝜕𝑓(𝑥,𝑦) 𝜕𝑓(𝑥,𝑦)
⇒ 𝜕𝑥
= 12𝑥 3 𝑦 5 e 𝜕𝑦
= 15𝑥 4 𝑦 4

b) 𝑧 = sen(𝑥 2 𝑦)
𝜕𝑧 𝜕𝑧
⇒ 𝜕𝑥
= 2𝑥𝑦 cos(𝑥 2 𝑦) e 𝜕𝑦
= 𝑥 2 cos(𝑥 2 𝑦)

Todas as regras de derivação usadas nas funções de uma variável são usadas para se obter
as derivadas parciais, apenas considerando a “outra”, ou “outras” variáveis como constantes.
Exercício
9) Dada a função 𝑓(𝑥, 𝑦) = 3𝑥 3 − 4𝑥 2 𝑦 + 3𝑥𝑦 2 + sin 𝑥𝑦², encontre as derivadas parciais de
primeira ordem.

1.3.1. Derivada de 2ª ordem


Assim como nas funções de uma variável, é possível fazer a derivação de uma função já
derivada, o que costumamos chamar de “derivada segunda”. O processo é o mesmo, basta apenas
escolher em qual derivada se deseja realizar a derivação novamente.
Exemplo 10
No item b) do Exemplo 9 temos a 1ª derivada. Assim vamos derivar novamente:
𝜕𝑧 𝜕²𝑧
𝜕𝑥
= 2𝑥𝑦 cos(𝑥 2 𝑦) derivando em x novamente ⇒ 𝜕𝑥²
= 2𝑦 cos(𝑥 2 𝑦) − 4𝑥 2 𝑦 2 sen(𝑥 2 𝑦)

𝜕𝑧 𝜕²𝑧
𝜕𝑦
= 𝑥 2 cos(𝑥 2 𝑦) derivando em y novamente ⇒ 𝜕𝑦²
= −𝑥 4 sen(𝑥 2 𝑦)
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1.3.2. Derivação mista


Ainda temos a derivação mista. É quando usamos uma derivada parcial em uma variável para
derivá-la novamente na outra.
Exemplo 11
Utilizando a derivada parcial do Exemplo 9 item b) temos:
𝜕𝑧 𝜕²𝑧
𝜕𝑥
= 2𝑥𝑦 cos(𝑥 2 𝑦) derivando em y temos ⇒ 𝜕𝑦𝜕𝑥
= 2𝑥 cos(𝑥 2 𝑦) − 2𝑥 3 𝑦 sen(𝑥 2 𝑦)

Invertendo a ordem temos:


𝜕𝑧 𝜕²𝑧
𝜕𝑦
= 𝑥 2 cos(𝑥 2 𝑦) derivando em x temos ⇒ 𝜕𝑥𝜕𝑦
= 2𝑥 cos(𝑥 2 𝑦) − 2𝑥 3 𝑦 sen(𝑥 2 𝑦)

Observe que as derivadas parciais mistas são iguais. Este é um fato que ocorrerá com qualquer
função de mais variáveis que for continua, assim podemos dizer que:
𝜕²𝑓(𝑥, 𝑦) 𝜕²𝑓(𝑥, 𝑦)
=
𝜕𝑥𝜕𝑦 𝜕𝑦𝜕𝑥
A proposição acima é conhecida como o Teorema de Clairaut-Schwartz.
As derivadas parciais de funções de três ou mais variáveis seguirão o mesmo padrão e lógica
da derivada parcial para funções de duas variáveis.
Exemplo 12

a) Dada a função de três variáveis 𝑓(𝑥, 𝑦, 𝑧) = 𝑥 2 𝑧 + 𝑦 𝑒 3𝑧 , encontre as derivadas parciais de


primeira ordem.
𝜕𝑓 𝜕𝑓 𝜕𝑓
(𝑥, 𝑦, 𝑧) = 2𝑥𝑧 ; (𝑥, 𝑦, 𝑧) = 𝑒 3𝑧 ; (𝑥, 𝑦, 𝑧) = 𝑥 2 + 3𝑦𝑒 3𝑧
𝜕𝑥 𝜕𝑦 𝜕𝑧

b) Agora determine as derivadas parciais de 2ª ordem:


𝜕²𝑓 𝜕²𝑓 𝜕²𝑓
𝜕𝑥𝜕𝑧
= 2𝑥 ; 𝜕𝑦𝜕𝑧
= 3𝑒 3𝑧 ; 𝜕𝑧²
= 9𝑦𝑒 3𝑧

c) Derivada de 3ª ordem:
𝜕³𝑓
𝜕𝑦𝜕𝑧²
= 9𝑒 3𝑧 , neste caso, não importa a ordem de derivação, se primeiro em y ou em z,
chegaremos à mesma derivada conforme o teorema de Clairaut-Schwartz.
Exercícios
10) Dada a função 𝑓(𝑥, 𝑦) = 3𝑥 3 − 4𝑥 2 𝑦 + 3𝑥𝑦 2 + sin 𝑥𝑦² , encontre:
a) As duas derivadas parciais de primeira ordem
b) As duas derivadas parciais de 2ª ordem.
c) A derivada parcial mista
11) Dada a função 𝑓(𝑥, 𝑦, 𝑧) = 𝑥 2 𝑦 + 𝑦𝑧 2 + 𝑧³, encontre:
a) As três derivadas parciais de primeira ordem
b) As três derivadas parciais de 2ª ordem.
c) Uma derivada parcial mista
12) Dada a função 𝑓(𝑥, 𝑦, 𝑧, 𝑟, 𝑡) = 𝑥𝑦𝑟 + 𝑦𝑧𝑡 + 𝑦𝑟𝑡 + 𝑧𝑟𝑡, encontre as 4 derivadas parciais.
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1.3.3. Extremos de funções (pontos de máximo e mínimo)


Sendo 𝑓: 𝐷 ⊆ ℝ2 → ℝ dizemos que o ponto (𝑎, 𝑏) ∈ 𝐷 é um ponto de máximo se:
𝑓(𝑎, 𝑏) ≥ 𝑓(𝑥, 𝑦), ∀(𝑥, 𝑦) ∈ 𝐷
Ou seja, para qualquer valor pertencente ao domínio da função, o ponto 𝑓(𝑎, 𝑏) será máximo
se todos os demais valores da função forem menores que 𝑓(𝑎, 𝑏).
Por outro lado, sendo 𝑓: 𝐷 ⊆ ℝ2 → ℝ dizemos que o ponto (𝑎, 𝑏) ∈ 𝐷 é um ponto de mínimo se:
𝑓(𝑎, 𝑏) ≤ 𝑓(𝑥, 𝑦), ∀(𝑥, 𝑦) ∈ 𝐷
Ou seja, para qualquer valor pertencente ao domínio da função, o ponto 𝑓(𝑎, 𝑏) será mínimo se
todos os demais valores da função forem maiores que 𝑓(𝑎, 𝑏).
Para se determinar se determinado ponto de uma função de duas variáveis é um ponto máximo
ou um ponto de mínimo, utilizaremos um método de análise através das derivadas parciais. Para
tanto, estudaremos o método através dos exemplos a seguir.
Exemplo 13:

Seja a função 𝑓(𝑥, 𝑦) = 9 − 𝑥 2 − 𝑦 2 . O ponto (𝑥, 𝑦) = (0,0) é um ponto de máximo da função.


Veja na figura o ponto máximo em destaque sobre o eixo z:

Ponto máximo
Curva em destaque

Note que este ponto também é o ponto máximo de todas as curvas que pertencem à função.
Condição necessária: se (𝑎, 𝑏) ∈ 𝐷 é ponto de máximo, ou mínimo, de f e está no interior de
D, então:
𝜕𝑓 𝜕𝑓
(𝑎, 𝑏) = 0 = (𝑎, 𝑏)
𝜕𝑥 𝜕𝑦
Assim, para que um ponto seja de máximo, ou mínimo, as derivdas parciais neste ponto devem
valer zero. Esta é uma condição necessária, contudo ela por si só não garante que este ponto será
máximo ou mínimo, pois pode ser apenas um ponto de inflexão (ponto de mudança de curvatura)
pertencente à função.
Desta forma, os pontos onde as derivadas parciais valem zero, são chamados de Pontos
Críticos.
Exemplo 14:
Seja a função 𝑓(𝑥, 𝑦) = 𝑥 2 + 𝑦 2 .
𝜕𝑓
Derivando em x temos: 𝜕𝑥 (𝑥, 𝑦) = −2𝑥 ⇒ −2𝑥 = 0 ⇒ 𝑥 = 0
𝜕𝑓
Derivando em y temos: 𝜕𝑦 (𝑥, 𝑦) = −2𝑦 ⇒ −2𝑦 = 0 ⇒ 𝑦 = 0

Portanto (𝑥, 𝑦) = (0,0) é o único ponto crítico da função z.


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Exemplo 15:
Seja a função 𝑓(𝑥, 𝑦) = 𝑥 2 − 𝑦 2 . Nesta função vamos observar um ponto crítico que não é um
ponto de máximo ou de mínimo. Vejamos as derivadas parciais:
𝜕𝑓
Derivando em x: 𝜕𝑥 (𝑥, 𝑦) = 2𝑥 ⇒ 2𝑥 = 0 ⇒ 𝑥 = 0
𝜕𝑓
Derivando em y: 𝜕𝑦 (𝑥, 𝑦) = −2𝑦 ⇒ −2𝑦 = 0 ⇒ 𝑦 = 0

Assim, o único ponto crítico é também o ponto (𝑥, 𝑦) = (0,0), mas ao


observamos o gráfico desta função, percebemos que o ponto (0,0) não é
nem ponto de máximo, nem ponto de mínimo.

Para determinar se um ponto crítico é máximo ou mínimo, é


necessário calcular o determinante da matriz a seguir no ponto (𝑎, 𝑏):
𝜕2𝑓 𝜕2𝑓
𝜕𝑥 2 𝜕𝑥𝜕𝑦|
𝐷 = || 2
𝜕 𝑓 𝜕2𝑓 |
𝜕𝑦𝜕𝑥 𝜕𝑦 2
𝜕2 𝑓 𝜕2 𝑓 𝜕2 𝑓 𝜕2 𝑓
Calculando o determinante 𝐷 = 𝜕𝑥 2 ∙ 𝜕𝑦2 − 𝜕𝑥𝜕𝑦 ∙ 𝜕𝑦𝜕𝑥 no ponto (𝑎, 𝑏), temos o teorema:

Se
𝜕2 𝑓
𝐷 > 0 e 𝜕𝑥 2 > 0, então (𝑎, 𝑏) é ponto de mínimo (local);

𝜕2 𝑓
𝐷 > 0 e 𝜕𝑥 2 < 0, então (𝑎, 𝑏) é ponto de máximo (local);

𝐷 < 0 então (𝑎, 𝑏) não é ponto de máximo nem de mínimo;


𝐷 = 0 não é possível concluir.

Exemplo 16:
1
Encontre os pontos críticos da função 𝑓(𝑥, 𝑦) = 4 𝑥 4 + 𝑦 2 + 𝑥 e determine se são pontos de
máximo ou de mínimo da função.
Para encontrar os pontos críticos, vamos determinar as derivadas parciais da função:
𝜕𝑓
(𝑥, 𝑦) = 𝑥 3 + 1
𝜕𝑥
𝜕𝑓
(𝑥, 𝑦) = 2𝑦
𝜕𝑦
De posse das derivadas parciais, vamos igualá-las a zero para determinar os pontos onde elas
possuem este valor:
𝜕𝑓 3
(𝑥, 𝑦) = 𝑥 3 + 1 = 0 ⇒ 𝑥 3 = −1 ⇒ 𝑥 = √−1 = −1
𝜕𝑥
𝜕𝑓 0
(𝑥, 𝑦) = 2𝑦 = 0 ⇒ 𝑦 = = 0
𝜕𝑦 2
Portanto, o ponto (𝑥, 𝑦) = (−1,0) é o único ponto crítico.
Notas de Aula: Cálculo e Equações Diferenciais 14

Para determinar se este ponto é máximo ou mínimo, é necessário encontrar as derivadas


parciais de segunda ordem da função 𝑓(𝑥, 𝑦), e calcular o valor destas derivadas no ponto crítico
encontrado (𝑥, 𝑦) = (−1,0)
𝜕2𝑓 2
𝜕2𝑓
(𝑥, 𝑦) = 3𝑥 ⇒ (−1,0) = 3(−1)2 = 3
𝜕𝑥 2 𝜕𝑥 2
𝜕2𝑓
(𝑥, 𝑦) = 0
𝜕𝑥𝜕𝑦
𝜕2𝑓
(𝑥, 𝑦) = 2
𝜕𝑦 2
𝜕2𝑓
(𝑥, 𝑦) = 0
𝜕𝑦𝜕𝑥

Substituindo os valores no determinante temos:


𝜕2𝑓 𝜕2𝑓
𝜕𝑥 2 𝜕𝑥𝜕𝑦| 3 0
𝐷 = || 2 2 | = |0 2| ⇒ 𝐷 = 3 ∙ 2 − 0 ∙ 0 = 6
𝜕 𝑓 𝜕 𝑓
𝜕𝑦𝜕𝑥 𝜕𝑦 2
Analisando as condições do teorema temos:
𝜕2 𝑓 𝜕2 𝑓
𝐷 = 6 ∴ 𝐷 > 0 e 𝜕𝑥 2 = 3 ∴ 𝜕𝑥 2
> 0 , assim podemos dizer que o ponto (𝑥, 𝑦) = (−1,0) se trata
de um ponto de mínimo da função 𝑓(𝑥, 𝑦). Observe o gráfico acima que mostra este ponto.
Exemplo 17:

Na função 𝑓(𝑥, 𝑦) = 𝑦 3 , observamos que os pontos críticos, não são pontos de máximo nem de
mínimo:

Exercícios:
13) Determine os pontos críticos das funções a seguir e avalie se são pontos de máximo ou de
mínimo:
a) 𝑓(𝑥, 𝑦) = 6𝑥 − 4𝑦 − 𝑥 2 − 2𝑦 2

b) 𝑓(𝑥, 𝑦) = −𝑥 4 − 2𝑦 2 − 4𝑥
c) 𝑓(𝑥, 𝑦) = 𝑥 2 + 2𝑦 2 + 𝑥 + 3

d) 𝑓(𝑥, 𝑦) = 2𝑥 4 + 𝑦 2 − 𝑥 2 − 2𝑦

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