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Referências - Boyce e DiPrima (2006); Simmons Krantz (2008); Zill e Cullen (2009)
Vamos estudar, agora, uma classe de equações diferenciais de primeira ordem que, assim como
as lineares e as separáveis, possui um método bem definido.
2𝑥 + 𝑦 2 + 2𝑥𝑦𝑦´ = 0
Não se trata de uma equação de variáveis separáveis, nem de uma equação linear de primeira
ordem. Mas, podemos notar que a função ℎ(𝑥, 𝑦) = 𝑥 2 + 𝑥𝑦 2 tem a propriedade:
𝜕ℎ 𝜕ℎ
= 2𝑥 + 𝑦 2 e = 2𝑥𝑦
𝜕𝑥 𝜕𝑦
Assumindo 𝑦 = 𝜙(𝑥):
𝜕ℎ 𝜕ℎ 𝑑𝑦
(2𝑥 + 𝑦 2 ) + (2𝑥𝑦)𝑦´ = + . =0
𝜕𝑥 𝜕𝑦 𝑑𝑥
𝑑ℎ 𝑑 2
= (𝑥 + 𝑥𝑦 2 ) = 0
𝑑𝑥 𝑑𝑥
Assim, integrando ambos os lados, temos:
𝑥 2 + 𝑥𝑦 2 = 𝐶
Onde 𝐶 é uma constante arbitrária e a equação acima é uma equação que define implicitamente
as soluções da equação diferencial 2𝑥 + 𝑦 2 + 2𝑥𝑦𝑦´ = 0.
O passo importante na discussão acima foi o reconhecimento de que existe uma função 𝜓(𝑥, 𝑦)
tal que, dada a equação diferencial,
1
Definição. Uma expressão diferencial 𝑀(𝑥, 𝑦)𝑑𝑥 + 𝑁 (𝑥, 𝑦)𝑑𝑦 é uma diferencial exata em
uma região 𝑅 do plano 𝑥𝑦 se ela corresponder ao diferencial de alguma função 𝑓(𝑥, 𝑦).
Uma equação diferencial de primeira ordem da forma
𝑀(𝑥, 𝑦)𝑑𝑥 + 𝑁(𝑥, 𝑦)𝑑𝑦 = 0
é dita ser uma equação exata se a expressão do lado esquerdo for uma diferencial exata.
O teorema a seguir nos fornece um critério para saber se a equação 𝑀(𝑥, 𝑦)𝑑𝑥 + 𝑁(𝑥, 𝑦)𝑑𝑦 =
0 é uma equação diferencial exata.
Teorema. Suponha que as funções 𝑀(𝑥, 𝑦), 𝑁(𝑥, 𝑦) e suas derivadas parciais de primeira
ordem são contínuas na região retangular 𝑅: 𝛼 < 𝑥 < 𝛽, 𝛾 < 𝑦 < 𝛿. Então, a equação
𝑀(𝑥, 𝑦) + 𝑁(𝑥, 𝑦)𝑦´ = 0 é uma equação diferencial exata em 𝑅 se, e somente se,
𝑀𝑦 (𝑥, 𝑦) = 𝑁𝑥 (𝑥, 𝑦)
Em cada ponto de 𝑅.
𝜕𝜓 𝜕𝜓
Isto é, existe uma função 𝜓 que satisfaz (𝑥, 𝑦) = 𝑀(𝑥, 𝑦) e (𝑥, 𝑦) = 𝑁(𝑥, 𝑦) se, e
𝜕𝑥 𝜕𝑦
somente se, 𝑀 e 𝑁 satisfazem 𝑀𝑦 (𝑥, 𝑦) = 𝑁𝑥 (𝑥, 𝑦).
Uma explicação para esse teorema. Considerando que 𝑀(𝑥, 𝑦) e 𝑁(𝑥, 𝑦) têm derivadas parciais
de primeira ordem contínuas para todo (𝑥, 𝑦).
Agora, se a expressão 𝑀(𝑥, 𝑦)𝑑𝑥 + 𝑁(𝑥, 𝑦)𝑑𝑦 = 0 for exata, existem funções 𝑓 de modo que,
para todo 𝑥 em 𝑅,
𝜕𝑓 𝜕𝑓
𝑀(𝑥, 𝑦)𝑑𝑥 + 𝑁 (𝑥, 𝑦)𝑑𝑦 = 𝑑𝑥 + 𝑑𝑦
𝜕𝑥 𝜕𝑦
𝜕𝑓 𝜕𝑓
Portanto, 𝑀(𝑥, 𝑦) = 𝜕𝑥 , 𝑁(𝑥, 𝑦) = 𝜕𝑦
𝜕𝑀 𝜕 𝜕𝑓 𝜕2𝑓 𝜕 𝜕𝑓 𝜕𝑁
= ( )= = ( )=
𝜕𝑦 𝜕𝑦 𝜕𝑥 𝜕𝑦𝜕𝑥 𝜕𝑥 𝜕𝑦 𝜕𝑥
Igualdade das derivadas parciais mistas é uma consequência da continuidade das derivadas
parciais de primeira ordem de 𝑀(𝑥, 𝑦) e 𝑁(𝑥, 𝑦).
A continuidade da demonstração do teorema consiste em mostrar que existe uma função 𝑓 para
𝜕𝑓 𝜕𝑓
a qual 𝑀(𝑥, 𝑦) = e 𝑁(𝑥, 𝑦) = sempre que a igualdade 𝑀𝑦 (𝑥, 𝑦) = 𝑁𝑥 (𝑥, 𝑦) for válida. A
𝜕𝑥 𝜕𝑦
construção dessa função 𝑓 na verdade reflete um procedimento básico para solucionar
equações exatas.
Exemplo. Use o método das equações exatas para resolver a equação diferencial
2
𝑑𝑦
𝑒 𝑦 + (𝑥𝑒 𝑦 + 2𝑦) =0
𝑑𝑥
Resolução.
𝜓(𝑥, 𝑦) = 𝑥𝑒 𝑦 + 𝜙(𝑦)
Mas, então,
𝜕𝜓
= 𝑥𝑒 𝑦 + 𝜙´(𝑦)
𝜕𝑦
𝜕𝜓
Comparando com 𝜕𝑦 = 𝑁 = 𝑥𝑒 𝑦 + 2𝑦, temos:
𝜙´(𝑦) = 2𝑦
𝜙(𝑦) = 𝑦 2 + 𝐶
Assim,
𝜓(𝑥, 𝑦) = 𝑥𝑒 𝑦 + 𝑦 2 + 𝐶
Assim, as soluções da equação diferencial são dadas implicitamente por:
𝑥𝑒 𝑦 + 𝑦 2 + 𝐶 = 𝑐
𝑥𝑒 𝑦 + 𝑦 2 = 𝐾
Exercícios.
2) Resolva o PVI:
𝑑𝑦 (𝑥𝑦 2 − 𝑐𝑜𝑠(𝑥)𝑠𝑒𝑛(𝑥))
=
{𝑑𝑥 𝑦(1 − 𝑥 2 )
𝑦(0) = 2
Resolução.
Nesse caso,
𝑀𝑦 (𝑥, 𝑦) = 3𝑥 + 2𝑦
3
𝑁𝑥 (𝑥, 𝑦) = 2𝑥 + 𝑦
Como 𝑀𝑦 ≠ 𝑁𝑥 , a equação diferencial não é exata. Vamos ver que ela não seria resolvida pelo
método acima. Vamos procurar uma função ℎ(𝑥, 𝑦) tal que:
ℎ𝑥 (𝑥, 𝑦) = 3𝑥𝑦 + 𝑦 2
ℎ𝑦 (𝑥, 𝑦) = 𝑥 2 + 𝑥𝑦
Como 𝑔´ depende tanto de x como de y, é impossível resolver essa equação para 𝑔(𝑦).
Por 𝑥, obtemos:
(3𝑥 2 𝑦 + 𝑥𝑦 2 ) + (𝑥 3 + 𝑥 2 𝑦)𝑦´ = 0
Essa última equação é exata, o que nos permite mostrar que suas soluções são dadas
implicitamente por
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𝑥3 𝑦 + 𝑥2 𝑦 2 = 𝐶
2
Mas, porque multiplicamos por 𝑥? Vejamos a explicação a seguir sobre fatores integrantes
especiais.
Fatores integrantes. Relembre que, para resolvermos uma equação linear 𝑦´ + 𝑝(𝑡)𝑦 = 𝑔(𝑡),
utilizamos a ideia de fator integrante para tornar o lado esquerdo mais facilmente integrável. A
ideia aqui será parecida, também utilizaremos um fator integrante para tornar uma equação
não-exata em uma equação exata (nem sempre isso será possível, às vezes apenas). Isto significa
que algumas vezes conseguiremos determinar 𝜇(𝑥, 𝑦) tal que, multiplicando a equação
𝑀(𝑥, 𝑦)𝑑𝑥 + 𝑁 (𝑥, 𝑦)𝑑𝑦 = 0, teremos que
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Bom, vamos verificar como faremos isso. Pelo critério da exatidão, temos que a equação (1)
acima é exata se, e somente se, (𝜇. 𝑀)𝑦 = (𝜇. 𝑁)𝑥
𝜇𝑀𝑦 + 𝜇𝑦 𝑀 = 𝜇𝑁𝑥 + 𝜇𝑥 𝑁
𝜇𝑦 𝑀 − 𝜇𝑥 𝑁 = 𝜇𝑁𝑥 − 𝜇𝑀𝑦
𝜇𝑦 𝑀 − 𝜇𝑥 𝑁 = (𝑁𝑥 − 𝑀𝑦 )𝜇
Se for possível encontrar um fator integrante 𝜇 que satisfaça a equação acima, então a equação
diferencial 𝜇(𝑥, 𝑦)𝑀(𝑥, 𝑦)𝑑𝑥 + 𝜇(𝑥, 𝑦)𝑁(𝑥, 𝑦)𝑑𝑦 = 0 será exata e sua solução poderá ser
obtida pelo método visto anteriormente.
𝑑𝜇
0. 𝑀 − 𝑁 = (𝑁𝑥 − 𝑀𝑦 )𝜇
𝑑𝑥
𝑑𝜇
𝑁 = (𝑀𝑦 − 𝑁𝑥 )𝜇
𝑑𝑥
𝑑𝜇 (𝑀𝑦 − 𝑁𝑥 )
= 𝜇
𝑑𝑥 𝑁
(𝑀𝑦 −𝑁𝑥 )
Porém, pode ser que o quociente 𝑁
dependa tanto de 𝑥 como de 𝑦. Se após serem feitas
(𝑀𝑦 −𝑁𝑥 )
todas as simplificações algébricas possíveis, o quociente se tornar dependente apenas
𝑁
da variável 𝑥, então
𝑑𝜇 (𝑀𝑦 − 𝑁𝑥 )
= 𝜇
𝑑𝑥 𝑁
é uma equação diferencial ordinária de primeira ordem. Neste caso, podemos encontrar 𝜇, pois
a equação acima é uma equação separável bem como uma equação linear.
𝑀𝑦 −𝑁𝑥
Disso, chegamos que: 𝜇(𝑥) = 𝑒 ∫ ( 𝑁
)𝑑𝑥
.
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𝑁𝑥 −𝑀𝑦 𝑑𝜇 𝑁𝑥 −𝑀𝑦
Se for uma função de 𝑦 sozinho, então um fator integrante 𝜇 para a equação = 𝜇
𝑀 𝑑𝑦 𝑀
será:
𝑁𝑥 −𝑀𝑦
∫( )𝑑𝑦
𝜇(𝑦) = 𝑒 𝑀
Exercício. Torne a equação não-exata abaixo em uma equação diferencial exata e resolva-a.