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Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Análise Matemática B
Filipe Duarte

Atividades - Lista 3

2. Seja 𝑀(3 × 3) o espaço vetorial das matrizes reais 3 × 3. O espaço 𝑀(3 × 3) pode ser identificado
a ℝ9 através do isomorfismo 𝑇 ∶ 𝑀(3 × 3) → ℝ9

⎛𝑎11 𝑎12 𝑎13 ⎞


⎜ ⎟
𝑇 ∶ ⎜𝑎21 𝑎22 𝑎23 ⎟ ⟼ (𝑎11 , 𝑎12 , 𝑎13 , 𝑎21 , 𝑎22 , 𝑎23 , 𝑎31 , 𝑎32 , 𝑎33 )
⎜𝑎 ⎟
⎝ 31 𝑎32 𝑎33 ⎠
Use em ℝ9 a norma euclidiana, e use o procedimento descrito no exercício anterior para definir uma
norma no espaço 𝑀(3 × 3). Em relação a esta norma prove as seguinte afirmações:

a) A função 𝑓 ∶ 𝑀(3 × 3) → ℝ, 𝑓 (𝐴) = det(𝐴), é contínua.


b) O conjunto das matrizes 3 × 3 invertíveis é aberto em 𝑀(3 × 3). Sugestão: Pense nele como
imagem inversa de um aberto por uma função contínua.
c) A norma de 𝑀(3 × 3) provém de um produto interno.
d) 𝑓 ∶ 𝑀(3 × 3) → ℝ, 𝑓 (𝐴) = 𝑡𝑟(𝐴) é um funcional linear, onde 𝑡𝑟(𝐴) indica o traço da matriz
(soma dos elementos da diagonal principal).
e) Combinando o item (d) com o teorema visto em aula sobre a representação dos funcionais
lineares em um espaço vetorial de dimensão finita com produto interno, deve existir uma única
𝐵 ∈ 𝑀(3 × 3) tal que 𝑡𝑟(𝐴) = ⟨𝐴, 𝐵⟩, ∀𝐴 ∈ 𝑀(3 × 3). Encontre essa matriz B.
f) Uma matriz 𝑛 × 𝑛 é dita ortogonal quando os vetores coluna formam uma base ortonormal
em ℝ𝑛 . Prove que 𝑂 = {𝐴 ∈ 𝑀(3 × 3) ∣ 𝐴 é ortogonal } é um subconjunto fechado e

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limitado (compacto) de 𝑀(3 × 3). Sugestão: Para provar que 𝑂 é fechado, tente enxergá-lo
como a imagem inversa de um fechado por uma aplicação contínua 𝑀(3 × 3) → ℝ𝑘 ,para um
𝑘 conveniente.
Demonstração: Justificando o exercício 1 (item anterior): Dado 𝑇 ∶ 𝑉 → 𝑊 , com uma norma em 𝑊 verifi-
camos que ‖𝑥‖𝑉 = ‖𝑇 (𝑥)‖𝑊 define uma norma em 𝑉 :
Positvidade:
‖𝑥‖𝑉 = ‖𝑇 (𝑥)‖𝑊 ≥ 0, pois, existe uma norma em 𝑊

Produto com escalar:

‖𝜆𝑥‖𝑉 = ‖𝜆𝑇 (𝑥)‖𝑊 = |𝜆| ⋅ ‖𝑇 (𝑥)‖𝑊 = |𝜆|‖𝑥‖𝑉

Desigualdade Triangular

‖𝑥 + 𝑦‖𝑉 = ‖𝑇 (𝑥 + 𝑦)‖𝑊 = ‖𝑇 (𝑥) + 𝑇 (𝑦)‖𝑊 ≤ ‖𝑇 (𝑥)‖𝑊 + ‖𝑇 (𝑦)‖𝑊 = ‖𝑥‖𝑉 + ‖𝑦‖𝑉

Logo ‖𝑥‖𝑉 = ‖𝑇 (𝑥)‖𝑊 define uma norma em 𝑉 .


a) Começamos com a definição de determinante: Dado uma matriz 𝐴 = [𝑎𝑖𝑗 ] quadrada, o
determinante é definido como

det(𝐴) = 𝜎(𝑝)𝑎1𝑝1 𝑎2𝑝2 ⋯ 𝑎𝑛𝑝𝑛
𝑝

onde 𝑝 = (𝑝1 , ⋯ , 𝑝𝑛 ) é uma permutação dos números (1, 2, ⋯ , 𝑛) e 𝜎 é definido por


{
+1, se a ordem natural em 𝑝 pode ser restaurado em um número par de trocas
𝜎=
−1, se a ordem natural em 𝑝 pode ser restaurado em um número ímpar de trocas

Logo é imediato ver que 𝑓 (𝐴) = det(𝐴) é uma função contínua, pois, é uma soma de
produtos de funções contínuas. Logo 𝑓 (𝐴) é contínua.

b) É conhecido que o determinante de matrizes invertíveis é não nulo e, considerando que


𝑓 ∶ 𝑀(3 × 3) → ℝ, 𝑓 (𝐴) = det(𝐴) é contínua, temos, portanto, Im(𝑓 ) = ℝ∖{0} = {0}∁ .
Mas {0} é aberto, portanto, {0}∁ é fechado. Logo 𝑓 −1 ({0}∁ ) = conjunto das matrizes
invertíveis é fechado.

c) A norma provém de um produto interno se, e somente se, a norma satisfaz a Identidade
do Paralelogramo (T. von Neumann).

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Assim, precisamos verificar que vale

‖𝑥 + 𝑦‖2 + ‖𝑥 − 𝑦‖ = 2‖𝑥‖2 + ‖𝑦‖2 , ∀𝑥, 𝑦 ∈ 𝑀(3 × 3)

Aqui tomamos a norma euclidiana, pelo fato de que 𝑀(3 × 3) e ℝ9 são isomorfos por
alguma T.L. 𝑇 , ou seja, ‖𝑣‖𝑀(3×3) = ‖𝑇 (𝑣)‖ℝ9 Agora veja que, dado 𝑣 e 𝑤 ∈ 𝑀(3 × 3),
temos
‖𝑣 + 𝑤‖2𝑀 + ‖𝑣 − 𝑤‖2𝑀 = ‖𝑇 (𝑣 + 𝑤)‖2ℝ9 + ‖𝑇 (𝑣 − 𝑤)‖2ℝ9
(3×3) (3×3)

= (𝑣11 + 𝑤11 )2 + (𝑣12 + 𝑤12 )2 + ⋯ + (𝑣𝑖𝑗 + 𝑤𝑖𝑗 )2 + ⋯ + (𝑣33 + 𝑤33 )2 +


+ (𝑣11 − 𝑤11 )2 + (𝑣12 − 𝑤12 )2 + ⋯ + (𝑣𝑖𝑗 − 𝑤𝑖𝑗 )2 + ⋯ + (𝑣33 − 𝑤33 )2 , ∀𝑖, 𝑗 ∈ {1, 2, 3}

= 𝑣211 + 2𝑣11 𝑤11 + 𝑤211 + ⋯ + 𝑣2𝑖𝑗 + 2𝑣𝑖𝑗 𝑤𝑖𝑗 + 𝑤2𝑖𝑗 + ⋯ + 𝑣233 + 2𝑣33 𝑤33 + 𝑤233 +
+ 𝑣211 − 2𝑣11 𝑤11 + 𝑤211 + ⋯ + 𝑣2𝑖𝑗 − 2𝑣𝑖𝑗 𝑤𝑖𝑗 + 𝑤2𝑖𝑗 + ⋯ + 𝑣233 − 2𝑣33 𝑤33 + 𝑤233

= 𝑣211 + 𝑤211 + ⋯ + 𝑣2𝑖𝑗 + 𝑤2𝑖𝑗 + ⋯ + 𝑣233 + 𝑤233 + 𝑣211 + 𝑤211 + ⋯ + 𝑣2𝑖𝑗 + 𝑤2𝑖𝑗 + ⋯ + 𝑣233 + 𝑤233

= 𝑣211 + 𝑣211 + ⋯ + 𝑣2𝑖𝑗 + 𝑣2𝑖𝑗 + ⋯ + 𝑣233 + 𝑣233 + 𝑤211 + 𝑤211 + ⋯ + 𝑤2𝑖𝑗 + 𝑤2𝑖𝑗 + ⋯ + 𝑤233 + 𝑤233

= 2𝑣211 + ⋯ + 2𝑣2𝑖𝑗 + ⋯ + 2𝑣233 + 2𝑤211 + ⋯ + 2𝑤2𝑖𝑗 + ⋯ + 2𝑤233

= 2(𝑣211 + ⋯ + 𝑣2𝑖𝑗 + ⋯ + 𝑣233 ) + 2(𝑤211 + ⋯ + 𝑤2𝑖𝑗 + ⋯ + 𝑤233 )

2‖𝑇 (𝑣)‖2ℝ9 + 2‖𝑇 (𝑤)‖2ℝ9 = 2‖𝑣‖2𝑀 + 2‖𝑤‖2𝑀


(3×3) (3×3)

Logo vale a Identidade do Paralelogramo. Logo a norma provém de um produto interno.

d) Funcional linear é uma T.L. que vai de um espaço vetorial (E.V.) para a reta real. Assim, é
imediato pela definição de traço 𝑡𝑟 de uma matriz 𝐴𝑛×𝑛 , que toma os elementos da diagonal
principal e leva na sua soma (que é um número real). Logo a função 𝑓 (𝐴) = 𝑡𝑟(𝐴) é um
funcional linear.

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4. Seja 𝑉 um espaço normado. Prove que duas bolas fechadas quaisquer em 𝑉 são homeomorfas.
Construa um homeomorfismo entre a bola aberta unitária e todo V.
Demonstração: Dado que estamos em um espaço normado, a propriedade de que uma bola fechada
𝐵[𝑎; 𝑟] é uma translação da bola fechada de mesmo raio centrada na origem, ou seja,

𝐵[𝑎; 𝑟] = 𝑎 + 𝐵[0; 𝑟]

é válida. Pondo
𝑓 (𝑥) = 𝑥 − 𝑎, ∀𝑥 ∈ 𝐵[𝑎; 𝑟]

𝑓 −1 (𝑥) = 𝑥 + 𝑎, ∀𝑥 ∈ 𝐵[0; 𝑟]

É fácil ver que 𝑓 é um homeomorfismo entre 𝐵[𝑎; 𝑟] e 𝐵[0; 𝑟].


Sejam 𝐵[𝑏; 𝑟′ ] a bola fechada de centro b com raio 𝑟′ e 𝑔(𝑥) uma função tal que

𝑟
𝑔(𝑥) = 𝑥 − 𝑏, ∀𝑥 ∈ 𝐵[𝑏; 𝑟′ ]
𝑟′

e sua inversa
𝑟′
𝑔 −1 (𝑥) = 𝑥 + 𝑏, ∀𝑥 ∈ 𝐵[0; 𝑟]
𝑟
Note que, quando ‖𝑥‖ = 𝑟, 𝑥 ∈ 𝐵[0; 𝑟] tem-se que

𝑟′ ‖ 𝑟′ ‖ | ′| | ′|
𝑥+𝑏 ⟹ ‖ 𝑥‖+𝑏 ⟹ | 𝑟 | ‖𝑥‖+𝑏 ⟹ | 𝑟 | 𝑟+𝑏 = 𝑟′ +𝑏 = {𝑥 ∈ 𝐵[𝑏; 𝑟′ ] ∣ ‖𝑥‖ = 𝑟′ } = 𝑆[𝑏; 𝑟′ ]
‖𝑟 ‖ |𝑟| |𝑟|
𝑟 ‖ ‖ | | | |

Desta forma, o homeomorfismo se dá pela composição

( −1 ) 𝑟′ 𝑟′ 𝑏𝑟 − 𝑎𝑟′
𝑔 ◦ 𝑓 (𝑥) = 𝑔 −1 (𝑓 (𝑥)) = 𝑔 −1 (𝑥 − 𝑎) = (𝑥 − 𝑎) + 𝑏 = 𝑥 + , ∀𝑥 ∈ 𝐵[𝑎; 𝑟]
𝑟 𝑟 𝑟

e sua inversa
( −1 ) ( )
𝑟 𝑟
𝑓 ◦ 𝑔 (𝑥) = 𝑓 −1 (𝑔(𝑥)) = 𝑓 −1 ′ 𝑥 − 𝑏 = ′ 𝑥 − 𝑏 + 𝑎, ∀𝑥 ∈ 𝐵[𝑏; 𝑟′ ]
𝑟 𝑟

Logo, encontramos um homeomorfismo entre duas bolas fechadas. Logo duas bolas fechadas são
homeomorfas.
Seja 𝐵(0; 1) a bola aberta de raio um centrada na origem. Quando estávamos no plano ℝ2 , a fun-
𝑥 − 1∕2
ção 𝑓 (𝑥) = definida em (0, 1) é uma bijeção entre o intervalo aberto (0, 1) e a reta real.
𝑥(𝑥 − 1)
Queremos função que seja análoga para a bola unitária e o espaço normado 𝑉 .

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Podemos pensar que dado 𝑣 ∈ 𝑉 e 𝑥 ∈ 𝐵(0; 1), queremos 𝑣 = 𝛼𝑥, ou seja,

(𝑣1 , … , 𝑣𝑛 ) = 𝛼(𝑥1 , … , 𝑥𝑛 )

Note que ‖𝑥‖ < 1. Assim, definindo

1
𝛼= e ℎ(𝑥) = 𝛼𝑥
1 − ‖𝑥‖

com inversa ( )
1
ℎ−1 (𝑣) = 1 − ‖𝑣‖ 𝑣 = 𝛽𝑣
𝑒
Assim, obtemos um homeomorfismo entre a bola unitária e o espaço normado V. ■

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