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Aula 9: Subespaços

Subespaços vectoriais

Definição 2.3. Um subconjunto 𝑊 de um espaço vectorial 𝑉 diz-se um


subespaço de 𝑉 se for, ele próprio, um espaço vectorial (relativamente
às operações definidas em 𝑉).

Para verificar que 𝑊 é subespaço de 𝑉, basta verificar os 2 axiomas de


fecho (axiomas 1 e 6):

Teorema 2.4
Seja 𝑊 ⊂ 𝑉 não vazio. Então W é subespaço de V se, e só se, verifica
os dois axiomas de fecho:
a) [fecho para a soma] ∀𝑢, 𝑣 ∈ 𝑊 𝑢 + 𝑣 ∈ 𝑊;
b) [fecho para a ME] ∀𝑢 ∈ 𝑊 ∀𝜆 ∈ 𝑲 𝜆𝑢 ∈ 𝑊.

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Exº 1: um plano que passa pela origem é um subespaço de ℝ3

Equação do plano P : 𝑎𝑥 + 𝑏𝑦 + 𝑐𝑧 = 0.
𝒖 = (𝑢1 , 𝑢2 , 𝑢3 ) ∈ 𝑃 ⇔ 𝑎𝑢1 + 𝑏𝑢2 + 𝑐𝑢3 = 0
𝒗 = (𝑣1 , 𝑣2 , 𝑣3 ) ∈ 𝑃 ⇔ 𝑎𝑣1 + 𝑏𝑣2 + 𝑐𝑣3 = 0
pelo que 𝒖 + 𝒗 = (𝑢1 + 𝑣1 , 𝑢2 + 𝑣2 , 𝑢3 + 𝑣3 ) verifica
𝑎(𝑢1 + 𝑣1 ) + 𝑏(𝑢2 + 𝑣2 ) + 𝑐(𝑢3 + 𝑣3 ) = 0 ⇔ 𝒖 + 𝒗 ∈ 𝑃.

Ou seja, W é fechado para a soma.


Analogamente, 𝜆𝑢 = 𝜆(𝑢1 , 𝑢2 , 𝑢3 ) = (𝜆𝑢1 , 𝜆𝑢2 , 𝜆𝑢3 ) verifica
𝑎𝜆𝑢1 + 𝑏𝜆𝑢2 + 𝑐𝜆𝑢3 = 0 ⇔ 𝜆𝒖 ∈ 𝑃.
Ou seja, W é fechado para a multiplicação escalar.
Conclusão: W é fechado para ambas as operações

 W é subespaço de ℝ3 .
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Exº 2: uma recta que passa pela origem é um subespaço de ℝ3

Raciocínio análogo: TPC


(Os vectores sobre uma recta que passa pela origem e tem
vector director 𝒖 = (𝑢1 , 𝑢2 , 𝑢3 ) são todos múltiplos de 𝒖).

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Rectas e planos que não passam pela origem


não são subespaços!

Exemplo: recta R: 𝑦 = −𝑥 + 1 no plano ℝ2

 𝒖 = (0,1) e 𝒗 = (1,0), p.ex., ∈ 𝑅. Mas


𝒖 + 𝒗 = (1,1) ∉ 𝑅 ⇒ 𝑅 não é fechado para a soma
 2𝒖 = (0,2) ∉ 𝑅 ⇒ 𝑅 também não é fechado para a ME
⇒ 𝑅 não é subespaço de ℝ2
Bastaria ter observado que, para ser subespaço, deve conter o vector nulo
𝟎 = (0,0) [Axioma 4], o que não se verifica pois a recta R por hipótese não
passa pela origem (que corresponde ao vector nulo).

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O núcleo de uma matriz 𝐴𝑚×𝑛 é


um subespaço de ℝ𝑛
Recordar: 𝒩 (𝐴) = {𝒙 ∈ ℝ𝑛 : 𝐴𝒙 = 0}
1. Fecho para a soma:
𝒙 ∈ 𝒩 (𝐴) ⇔ 𝐴𝒙 = 𝟎
𝒚 ∈ 𝒩 (𝐴) ⇔ 𝐴𝒚 = 𝟎
𝐴(𝒙 + 𝒚) = 𝐴𝒙 + 𝐴𝒚 = 𝟎 + 𝟎 = 𝟎 ,
pelo que 𝒩 (𝐴) é fechado para a soma.
2. Fecho para a ME:

𝒙 ∈ 𝒩 (𝐴) ⇔ 𝐴𝒙 = 𝟎

⇒ 𝐴(𝜆𝒙) = 𝜆 (𝐴𝒙
⏟ ) = 𝟎 ⇔ 𝜆𝒙 ∈ 𝒩 (𝐴)
𝟎

pelo que 𝒩 (𝐴) é fechado para a ME.

Na verdade, mostrar-se-á no cap. 4 que, reciprocamente,

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todos os subespaços de ℝ𝑛 são dados por


núcleos de matrizes adequadas.
Exº 4: Subespaços de ℳ𝑛×𝑛 (ℝ)

 𝒮𝑛 (ℝ) = {𝐴 ∈ ℳ𝑛×𝑛 (ℝ): 𝐴 = 𝐴𝑇 }


= {matrizes simétricas 𝑛 × 𝑛}
é um subespaço de ℳ𝑛×𝑛 (ℝ) pois verifica os fechos:

1. [fecho para a soma] a soma de matrizes simétricas é


simétrica [ (𝐴 + 𝐵)𝑇 = 𝐴𝑇 + 𝐵𝑇 = 𝐴 + 𝐵 ]
2. [fecho para ME] A multiplicação de uma matriz simétrica
por um escalar é simétrica [ (𝜆 𝐴)𝑇 = 𝜆𝐴𝑇 = 𝜆𝐴 ]
Assim, pelo Teorema 2.2 𝒮𝑛 (ℝ) é subespaço de
ℳ𝑛×𝑛 (ℝ).

Verificação concreta, para matrizes simétricas 2X2:


𝑎 𝑏 𝑒 𝑓 𝑎+𝑒 𝑏+𝑓
 [ ]+[ ]= [ ],
𝑏 𝑐 𝑓 𝑔 𝑏+𝑓 𝑐+𝑔
pelo que a soma de matrizes simétricas é simétrica.
𝑎 𝑏 𝜆𝑎 𝜆𝑏
 𝜆[ ]=[ ] ,
𝑏 𝑐 𝜆𝑏 𝜆𝑐
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pelo que a multiplicação de uma matriz simétrica por escalar
resulta numa matriz simétrica.

Exº 3: Subespaços de ℳ𝑛×𝑛 (ℝ) (cont.)


Analogamente, tem-se [verificar!] :

𝑠𝑢𝑝
 𝒯𝑛 = {𝐴 ∈ ℳ𝑛×𝑛 (ℝ): 𝐴 é triangular superior} é
um subespaço de ℳ𝑛×𝑛 (ℝ)

𝑎11 𝑎12 … 𝑎1𝑛


𝑠𝑢𝑝 0 𝑎22 … 𝑎2𝑛
elemento genérico de 𝒯𝑛 : [ … ]
⋮ ⋮ ⋮
0 ⋯ 0 𝑎𝑛𝑛

TPC: provar fechos do conjunto destas matrizes.

𝑖𝑛𝑓
 𝒯𝑛 = {𝐴 ∈ ℳ𝑛×𝑛 (ℝ): 𝐴 é triangular inferior}

𝑎11 0 … 0
𝑖𝑛𝑓 𝑎 𝑎22 … ⋮
elemento genérico de 𝒯𝑛 : [ 21 … ]
⋮ ⋮ 0
𝑎𝑛1 ⋯ 𝑎𝑛−1,𝑛 𝑎𝑛𝑛

TPC: provar fechos do conjunto destas matrizes.


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Subespaços de ℱ(ℝ):
funções contínuas e diferenciáveis

𝐶 0 (ℝ) = { 𝑓 ∈ ℱ(ℝ): 𝑓 é contínua em ℝ}

𝑓, 𝑔 ∈ 𝐶 0 (ℝ) ⇔ 𝑓(𝑥 ), 𝑔(𝑥) são contínuas ∀𝑥 ∈ ℝ.


Sabemos que a soma pontual de funções contínuas é contínua:
se f e g são contínuas em 𝑥, então 𝑓 + 𝑔 é contínua em 𝑥.

Assim, (𝑓 + 𝑔)(𝑥) é contínua ∀𝑥 ∈ ℝ, e portanto

𝑓, 𝑔 ∈ 𝐶 0 (ℝ) ⇒ 𝑓 + 𝑔 ∈ 𝐶 0 (ℝ) [fecho para a soma]

Analogamente, dado qualquer escalar 𝜆 ∈ ℝ


𝑓 ∈ 𝐶 0 (ℝ) ⇒ 𝜆 𝑓 ∈ 𝐶 0 (ℝ) [fecho para a ME]
Assim, 𝐶 0 (ℝ) é um subespaço linear de ℱ(ℝ)
(espaço das funções contínuas)
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Analogamente:

𝐶 1 (ℝ) = { 𝑓 ∈ ℱ(ℝ): 𝑓´ existe e é contínua em ℝ}


é um subespaço de ℱ(ℝ), uma vez que
 soma de funções com 1ª derivada contínua tem 1ª
derivada contínua [fecho para a soma];
 multiplicação de uma função com 1ª derivada
contínua resulta numa função com 1ª derivada
contínua [fecho para ME].

Estas funções designam-se por continuamente diferenciáveis.


Observe-se que 𝐶 1 (ℝ) ⊂ 𝐶 0 (ℝ), pois uma função diferenciável
é contínua!

Resumindo,

𝐶 1 (ℝ) é um subespaço de ℱ (ℝ)


 é também subespaço de 𝐶 0 (ℝ)!

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Os espaços 𝐶 𝑘 (ℝ)

𝐶 𝑘 (ℝ) = { 𝑓 ∈ ℱ(ℝ): 𝑓 (𝑘) existe e é contínua em ℝ}

Se 𝑓 ∈ 𝐶 𝑘 (ℝ), a derivada de ordem 𝑘 existe e é


contínua
⇒ todas as derivadas de 𝑓 de ordem 1, 2, … , 𝑘 − 1
existem e são contínuas

⇒ 𝐶 𝑘 (ℝ) ⊂ 𝐶 𝑘−1 (ℝ) ⊂ 𝐶 𝑘−2 (ℝ) ⊂ ⋯ ⊂ 𝐶 1 (ℝ) ⊂ 𝐶 0 (ℝ).

TPC: verificar que são fechados para as operações soma e


ME
Todos estes são subespaços de ℱ(ℝ) (e portanto
espaços vectoriais por direito próprio)
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𝐶 ∞ (ℝ) = { 𝑓 ∈ ℱ(ℝ): 𝑓 (𝑘) existe ∀ 𝑘 ∈ ℕ}

Funções indefinidamente diferenciáveis: possuem


derivadas de todas as ordens
Exº: 𝑓(𝑥 ) = sin(𝑥 ) ; 𝑔(𝑥 ) = 𝑒 𝑥 ; ℎ(𝑥 ) = 𝑥 5 + 𝑥 2 + 1; …

𝐶 ∞ (ℝ) forma um subespaço de ℱ(ℝ) (verificar),


contido em todos os espaços 𝐶 𝑘 (ℝ), 𝑘 ∈ ℕ.

𝒫𝑛 (ℝ) = { polinómios de grau ≤ 𝑛}


𝑝 ∈ 𝒫𝑛 (ℝ) ⇔ 𝑝(𝑥) = 𝑎0 + 𝑎1 𝑥 + 𝑎2 𝑥 2 + ⋯ + 𝑎𝑛 𝑥 𝑛

𝒫𝑛 (ℝ) forma um subespaço de 𝐶 ∞ (ℝ), pois


 𝒫𝑛 (ℝ) ⊂ 𝐶 ∞ (ℝ) (porquê?)
 Soma e ME de polinómios de grau ≤ 𝑛 continua
a ser um polinómio de grau ≤ 𝑛.
Obs.: {polinómios de grau = 𝑛} não é um subespaço!
Porquê?
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𝒫𝑛 (ℝ) ⊂ 𝐶 ∞ (ℝ) ⊂ 𝐶 𝑘 (ℝ) ⊂ 𝐶 𝑘−1 (ℝ) ⊂


𝐶 𝑘−2 (ℝ) ⊂ ⋯ ⊂ 𝐶 1 (ℝ) ⊂ 𝐶 0 (ℝ) ⊂ ℱ(ℝ)

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