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Cálculo Diferencial e Integral II (CDI2001)

Teorema do Valor Intermediário (TVI)


Teorema Fundamental do Cálculo (TFC)

Professor: Marnei Luis Mandler


Aula asíncrona de CDI-2 de 19 de outubro de 2021.
Teorema do Valor Intermediário (TVI)
• TEOREMA DO VALOR INTERMEDIÁRIO (TVI): Se 𝑓: [𝑎, 𝑏] → ℝ é uma função contínua,
então existe 𝑐 ∈ [𝑎, 𝑏] tal que
𝑏
න 𝑓 𝑥 𝑑𝑥 = 𝑓(𝑐)(𝑏
𝑓 𝑐 𝑏− − 𝑎)
𝑎 .
𝑎
• Interpretação Geométrica: O TVI indica que existe um único retângulo (que não é
necessariamente nem circunscrito nem inscrito), cuja área é exatamente igual à área da
região situada entre o gráfico de 𝑓 e o eixo 𝑥:

A ideia é de uma
compensação de
áreas: a região
em rosa, que
ficou de fora do
retângulo, é
compensada pela
área em branco,
que faz parte do
retângulo.
Observações e exemplo
• Observações:
• O TVI não garante a unicidade de c ∈ [𝑎, 𝑏], apenas sua existência.
• No caso em que 𝑎 ≠ 𝑏, o TVI garante que existe c ∈ [𝑎, 𝑏], tal que
𝑏
1
𝑓 𝑐 = න 𝑓 𝑥 𝑑𝑥 .
𝑏−𝑎 𝑎
Tal valor pode ser chamado de “média” de uma distribuição contínua 𝑓.
Por isso, o TVI também é chamado, na literatura, por Teorema do Valor Médio (TVM).
1
Exemplo 1: Aplique o TVI para 𝑓: [−1,2] → ℝ dada por 𝑓 𝑥 = − 𝑥 2 + 2𝑥 + 3.
2
Solução: Vamos mostrar que existe 𝑐 ∈ [−1,2] tal que
2
1 2
න − 𝑥 + 2𝑥 + 3 𝑑𝑥 = 𝑓 𝑐 . (2 − −1 = 3 𝑓 𝑐 .
−1 2
1
Como 𝑓 𝑐 = − 𝑐 2 + 2𝑐 + 3 e já obtivemos (no Exemplo 1 de uma aula anterior) que
2 2
1 2 21
න − 𝑥 + 2𝑥 + 3 𝑑𝑥 = .
−1 2 2
Exemplo
Substituindo o valor da integral em
2
1 2
න − 𝑥 + 2𝑥 + 3 𝑑𝑥 = 3𝑓 𝑐 ,
−1 2
obtemos que
21 7 1 2
= 𝑓 𝑐 .3 ⇒ = 𝑓 𝑐 = − 𝑐 + 2𝑐 + 3 ⇒ 7 = −𝑐 2 + 4𝑐 + 6
2 2 2
−4 ± 16 − 4 −4 ± 2 3
⇒ −𝑐 2 + 4𝑐 − 1 = 0 ⇒ 𝑐= = = 2 ∓ 3.
−2 −2
Assim, obtivemos 𝑐1 = 2 − 3 e 𝑐2 = 2 + 3.
Lembre que desejamos obter 𝑐 ∈ −1,2 .
Como 𝑐2 = 2 + 3 > 3, esse valor não pertence ao intervalo desejado.
Portanto,
𝑐 = 2 − 3 ∈ −1,2
é o valor (único nesse exemplo) que satisfaz o TVI.
Exemplo
Geometricamente, o retângulo com base sobre o eixo 𝑥 e com altura em
7
𝑓 𝑐 =𝑓 2− 3 =
2
possui exatamente a mesma área que a região situada entre o gráfico de 𝑓 e o eixo 𝑥:

Exercício: Aplique o TVI para 𝑓: 0,2 → ℝ dada por 𝑓 𝑥 = 𝑥 2 − 4𝑥 − 1.


Teorema Fundamental do Cálculo (TFC)
TEOREMA FUNDAMENTAL DO CÁLCULO (TFC):
Seja 𝑓: [𝑎, 𝑏] → ℝ uma função contínua e considere a função 𝐺: [𝑎, 𝑏] → ℝ dada por
𝑡
𝐺 𝑡 = න 𝑓 𝑥 𝑑𝑥 .
𝑎
Então:
PARTE 1: 𝐺 é uma primitiva (anti-derivada) de 𝑓.
PARTE 2: Se 𝐹 é uma primitiva qualquer de 𝑓, então
𝑏
න 𝑓 𝑥 𝑑𝑥 = 𝐹 𝑏 − 𝐹 𝑎 .
𝑎

• Justificativa da PARTE 1: Vamos verificar que


𝐺 ′ 𝑡 = 𝑓(𝑡) para todo 𝑡 ∈ 𝑎, 𝑏 ,
para provar que 𝐺 é uma primitiva de 𝑓. De fato, pela definição de derivada:
𝐺 𝑡 + ℎ − 𝐺(𝑡)
𝐺′ 𝑡 = lim .
ℎ→0 ℎ
Teorema Fundamental do Cálculo (TFC)
𝑡+ℎ
Logo:
𝐺 𝑡 + ℎ − 𝐺(𝑡) 𝐺 𝑡+ℎ =න 𝑓 𝑥 𝑑𝑥

𝐺 𝑡 = lim 𝑎
ℎ→0 ℎ
𝑡+ℎ 𝑡
1
= lim . න 𝑓 𝑥 𝑑𝑥 − න 𝑓 𝑥 𝑑𝑥
ℎ→0 ℎ 𝑎 𝑎
𝑡 𝑡+ℎ 𝑡
1
= lim . න 𝑓 𝑥 𝑑𝑥 + න 𝑓 𝑥 𝑑𝑥 − න 𝑓 𝑥 𝑑𝑥
ℎ→0 ℎ 𝑎 𝑡 𝑎
𝑡+ℎ
1
= lim . න 𝑓 𝑥 𝑑𝑥 .
ℎ→0 ℎ 𝑡

Aplicando o TVI para essa última integral obtemos que existe 𝑐 ∈ [𝑡, 𝑡 + ℎ] tal que
𝑡+ℎ
න 𝑓 𝑥 𝑑𝑥 = 𝑓𝑓 𝑐𝑐 . . 𝑡𝑡++ℎℎ−−𝑡𝑡 = = 𝑓 𝑐 . ℎ.
𝑡
Substituindo na expressão anterior, obtemos que
Teorema Fundamental do Cálculo (TFC)
Logo:
𝑡+ℎ

1 1
𝐺 𝑡 = lim . න 𝑓 𝑥 𝑑𝑥 = lim . 𝑓 𝑐 . ℎ
ℎ→0 ℎ 𝑡 ℎ→0 ℎ

= lim 𝑓 𝑐 .
ℎ→0

Como 𝑐 ∈ [𝑡, 𝑡 + ℎ], quando ℎ → 0 temos que 𝑐 → 𝑡..

Logo
𝐺 ′ 𝑡 = lim 𝑓 𝑐 = lim 𝑓 𝑐 = 𝑓 𝑡 ,
ℎ→0 𝑐→ 𝑡
pois 𝑓 é continua.
Portanto, demonstramos que 𝐺 (a integral definida de 𝑓) é uma primitiva de 𝑓, da mesma
forma que ocorria para uma integral indefinida em CDI-1!
• Justificativa PARTE 2: Seja 𝐹 uma primitiva qualquer de 𝑓.
Como acabamos de demonstrar que 𝐺 também é uma primitiva de 𝑓, e sabemos que
primitivas diferem apenas por constantes, temos que
𝐺 𝑡 − 𝐹 𝑡 = 𝑐𝑡𝑒 para todo 𝑡 ∈ [𝑎, 𝑏].
Teorema Fundamental do Cálculo (TFC)
Logo
𝐺 𝑡 = 𝐹 𝑡 + 𝑐𝑡𝑒 para todo 𝑡 ∈ [𝑎, 𝑏].
Assim, para todo 𝑡 ∈ 𝑎, 𝑏 :
𝑡
න 𝑓 𝑥 𝑑𝑥 = 𝐹 𝑡 + 𝑐𝑡𝑒.
𝑎
Aplicando em 𝑡 = 𝑎, obtemos, pela Propriedade 1, que:
𝑎
න 𝑓 𝑥 𝑑𝑥 = 𝐹 𝑎 + 𝑐𝑡𝑒 ⟹ 0 = 𝐹 𝑎 + 𝑐𝑡𝑒 ⟹ 𝑐𝑡𝑒 = −𝐹 𝑎 .
𝑎
Substituindo na expressão anterior, obtemos que
O resultado do TFC
𝑡 simplifica o cálculo de
න 𝑓 𝑥 𝑑𝑥 = 𝐹 𝑡 − 𝐹 𝑎 . uma integral definida.
𝑎 Se 𝑓 for contínua,
é válida para todo 𝑡 ∈ [𝑎, 𝑏]. basta obter sua
Aplicando em 𝑡 = 𝑏, obtemos primitiva 𝐹 e calcular
𝑏 a diferença
න 𝑓 𝑥 𝑑𝑥 = 𝐹 𝑏 − 𝐹 𝑎 . 𝐹 𝑏 −𝐹 𝑎 .
𝑎
Notação para TFC e exemplos
Para simplificar a utilização do TFC, se 𝑓 for contínua usamos a seguinte notação:
𝑏 𝑏
න 𝑓 𝑥 𝑑𝑥 = 𝐹(𝑥)ቚ = 𝐹 𝑏 − 𝐹 𝑎 ,
𝑎 𝑎

onde a barra vertical indica que deve ser efetuada uma diferença de valores funcionais na
primitiva 𝐹 : primeiro aplicamos a primitiva no limitante superior (em 𝑏) e depois
descontamos a primitiva aplicada no limitante inferior (em 𝑎).
Exemplo 1: Utilize o TFC, se possível, para resolver as integrais:
2
1 2
𝑎) 𝐼 = න − 𝑥 + 2𝑥 + 3 𝑑𝑥
−1 2
1 2
Como 𝑓 𝑥 = − 𝑥 + 2𝑥 + 3 é contínua no intervalo [−1,2], podemos aplicar o TFC.
2
Para usar o TFC, precisamos obter uma primitiva 𝐹 para 𝑓.
Para isso, aplicamos o conhecimento de CDI-1 referente à integração indefinida:
2 2
1 2 1 3
𝐼 = න − 𝑥 + 2𝑥 + 3 𝑑𝑥 = − 𝑥 + 𝑥 2 + 3𝑥 + 𝐶 ቤ
−1 2 6 −1
Exemplos - TFC
Aplicando 𝐹 no limitante superior e descontando 𝐹 aplicada no limitante inferior,
obtemos:
2 2
1 2 1 3
𝐼 = න − 𝑥 + 2𝑥 + 3 𝑑𝑥 = − 𝑥 + 𝑥 2 + 3𝑥 + 𝐶 ቤ
−1 2 6 −1
1 3 2
1 3 2
= − 2 + 2 + 3.2 + 𝐶 − − −1 + −1 + 3(−1) + 𝐶
6 6
4 1 3 21
=− +4+6+𝐶− −1+3−𝐶 = − + 12 = .
3 6 2 2
Veja que o uso do TFC simplificou bastante os cálculos, em relação à utilização da
definição de integral definida por Somas de Riemann, conforme calculado em aula
anterior.
Note também que a constante 𝐶 da integração indefinida não interfere no resultado da
integral definida, devido ao sinal negativo de −𝐹 𝑎 .
Por isso, nos próximos exemplos, vamos desconsiderar a constante de integração (ou
tomaremos 𝐶 = 0, o que é permitido pois o TFC indica que 𝐹 deve ser uma primitiva
qualquer de 𝑓).
Exercício Proposto
𝜋
6
𝑏) 𝐼 = න sin 2𝑥 + 𝑒 3𝑥 + 10𝑥 4 𝑑𝑥
0

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