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Equações diferenciais ordinárias de primeira ordem

31 de Março de 2022

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Métodos já estudados:
Integração simples;

Variáveis separáveis.

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Equações exatas

As equações exatas são do tipo M (x, y)dx + N (x, y)dy = 0, onde existe uma função f (x, y)
tal que
∂f ∂f
M (x, y) = e N (x, y) = .
∂x ∂y

∂f ∂f
Essa forma vem da diferencial exata ou total df = ∂x
dx + ∂y
dy.
∂f ∂f
Se f (x, y) = c, c constante, segue que ∂x
dx + ∂y
dy = 0.

Como saber a priori se a edo é exata ou não? Por exemplo,


(1) ydx + xdy = 0,
(2) 1dx + 2xdy = 0
Qual das edo’s acima é exata?
Existe uma maneira de testarmos isso!

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Vamos supor que a edo M (x, y)dx + N (x, y)dy = 0 é exata, o que implica que existe uma
famı́lia de soluções f (x, y) = c dessa edo, tal que M (x, y) = ∂f
∂x
e N (x, y) = ∂f
∂y
.

∂M ∂N
Além disso, supondo que M (x, y), N (x, y) e suas derivadas ∂y
e ∂x
são funções contı́nuas
em um domı́nio D,

∂f ∂f
M = ∂x
e N = ∂y
∂M ∂2f ∂N ∂2f
∂y
= ∂y∂x
e ∂x
= ∂x∂y

∂2f ∂2f
Como f é contı́nua em D, temos que ∂y∂x
= ∂x∂y
, portanto

∂M ∂N
= .
∂y ∂x

(1) ydx + xdy = 0, (2) 1dx + 2xdy = 0,


∂M ∂N
∂M
= 1, ∂N
= 1. ∂y
= 0, ∂x
= 2.
∂y ∂x
∂M ∂N
Portanto, ∂M
= ∂N
e a edo é exata. Portanto, ∂y
6= ∂x
e a edo não
∂y ∂x
é exata.

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(1) Resolver a equação diferencial ydx + xdy = 0.

Essa edo é exata, como já foi verificado.


Então, existe f (x, y) = c tal que ∂f
∂x
=M e ∂f
∂y
= N.

∂f

∂x
=y
∂f

∂y
=x
Integrar em relação a x.
R ∂f R
∂x
dx = ydx

f (x, y) = xy + k(y), sendo k(y) a constante de integração


∂f dk(y)
∂y
=x+ dy
dk(y)
x=x+ dy
dk(y) R R
dy
= 0, dk = 0dy

k(y) = c1 , sendo c1 constante


Portanto,
f (x, y) = xy + c1

c = xy + c1

Logo, xy = c0 , c0 = c − c1
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Como podemos verificar esse resultado?
Basta derivar a solução em relação a x e verificar se satisfaz a equação diferencial.
xy = c0
dy
1 · y + x · dx =0
ydx + xdy = 0,
que é exatamente a edo do enunciado.

Poderı́amos, também, verificar o resultado como segue:


y(x) = cx0 , x 6= 0
y 0 (x) = − xc02

Mas, c0 = xy, então

y 0 (x) = − xy
x2
y
= −x
dy y
dx
= − x
x dy = −y dx
y dx + x dy = 0

X As soluções de todas as edo’s podem ser verificadas como mostrado acima.

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(2) Resolver a equação diferencial (3x2 + 2y 2 )dx + 4xydy = 0.
(
∂M
M (x, y) = 3x2 + 2y 2

= 4y
, ∂y
∂N e temos que ∂M
∂y
= ∂N
∂x
. Portanto a edo é
N (x, y) = 4xy = 4y
∂x
exata. (
∂f
= 3x2 + 2y 2
Então, existe f (x, y) = c tal que ∂f
∂x
= M e ∂f
∂y
= N . Assim, ∂x
∂f
∂y
= 4xy

R ∂f R
∂y
dy = 4xy dy
f (x, y) = 2xy 2 + k(x)
∂f dk(x)
∂x
= 2y 2 + dx
dk(x)
3x2 + 2y 2 = 2y 2 + dx
dk(x)
dx
= 3x2
dk = 3x2 dx
R R

k(x) = x3 + c1

Portanto,
f (x, y) = 2xy 2 + x3 + c1
c = 2xy 2 + x3 + c1
2xy 2 + x3 = c0 , onde c0 = c − c1
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X Verificação da solução:

2xy 2 + x3 = c0

2y 2 + 2x · 2yy 0 + 3x2 = 0

dy
2y 2 + 4xy dx + 3x2 = 0

(3x2 + 2y 2 )dx + 4xydy = 0

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Já vimos que a edo 1 dx + 2x dy = 0 não é exata.

Mas, se multiplicarmos essa edo por uma função apropriada, ela se tornará exata.

Essa função apropriada é chamada de fator integrante (ou fator de integração).

Edo’s distintas podem ter diferentes fatores integrantes.

Existem edo’s que não são exatas e não possuem fatores integrantes e outras edo’s que
possuem mais de um.

Como determinar os fatores integrantes, caso existam?

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Fatores integrantes

∂P ∂Q
Seja a equação diferencial P (x, y)dx + Q(x, y)dy = 0 não exata. Então, ∂y
6= ∂x
.

Vamos supor que a edo pode ser tornada exata multiplicando-a por uma função adequada
F (x, y) 6= 0.

Esta função constitui um fator integrante. Assim,


F (x, y)P (x, y)dx + F (x, y)Q(x, y)dy = 0.

Devemos ter, então,


 
 ∂f = F (x, y)P (x, y) ∂2f ∂

= F (x, y)P (x, y)
 

∂x ∂y∂x ∂y
e
∂f ∂2f ∂

= F (x, y)Q(x, y) = F (x, y)Q(x, y)

 

∂y ∂x∂y ∂x

∂2f ∂2f
Para f contı́nua em uma região R, ∂y∂x
= ∂x∂y
, temos que
∂  ∂  ∂F ∂Q ∂F ∂P
F (x, y)P (x, y) = F (x, y)Q(x, y) ⇒ Q+F = P +F
∂y ∂x ∂x ∂x ∂y ∂y

Esta última equação é tão difı́cil de resolver quanto a primeira nessa página. Em princı́pio,
fatores integrantes são ferramentas poderosas para resolver edo’s, na prática podem
geralmente ser encontrados em casos especiais: quando F = F (x) ou F = F (y).
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∂F ∂Q ∂F ∂P
Q+F = P +F
∂x ∂x ∂y ∂y

Se F = F (x), então
dF ∂Q ∂P
dx
Q+F ∂x
=F ∂y
 
dF ∂P ∂Q
dx
Q=F ∂y
− ∂x
 
R 1
R 1 ∂P ∂Q
F
dF = Q ∂y
− ∂x
dx
 
R 1 ∂P ∂Q
ln |F (x)| = Q ∂y
− ∂x
dx
hR   i
1 ∂P ∂Q
F (x) = exp Q ∂y
− ∂x
dx

Um procedimento similar pode ser usado para determinar F quando F = F (y)


somente. Assim, Z   
1 ∂Q ∂P
F (y) = exp − dy
P ∂x ∂y

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Exemplos

(1) Resolver a equação diferencial (3x2 y + 2xy + y 3 )dx + (x2 + y 2 )dy = 0.

Verificar se a edo é exata. (


∂P
P (x, y) = 3x2 y + 2xy + y 3 = 3x2 + 2x + 3y 2

∂y ∂P ∂Q
, ⇒ 6= ,
Q(x, y) = x2 + y 2 ∂Q
= 2x ∂y ∂x
∂x
a edo não é exata.

Calcular um fator integrante, se existir.

hR   i
1 ∂P ∂Q
F (x) = exp Q ∂y
− ∂x
dx
hR  i
1
= exp 3x2 + 2x + 3y 2 − 2x dx
x2 +y 2

3x2 +3y 2
hR i
= exp x2 +y 2
dx
R
= e 3 dx = e3x

Portanto, a edo exata é


e3x (3x2 y + 2xy + y 3 )dx + e3x (x2 + y 2 )dy = 0.
Verifique!
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∂f ∂f
Da teoria sabemos que existe f (x, y) = c tal que ∂x
=M e ∂y
= N.
M (x, y) = e3x (3x2 y + 2xy + y 3 )

N (x, y) = e3x (x2 + y 2 )
(
∂f
∂x
= e3x (3x2 y + 2xy + y 3 )
∂f
∂y
= e3x (x2 + y 2 )

∂f
e3x (x2 + y 2 )dy
R R
∂y
dy =
3
 
f (x, y) = e3x x2 y + y3 + k(x)
3
 
∂f dk(x)
∂x
= 3e3x x2 y + y3 + e3x 2xy + dx
dk(x)
e3x (3x2 y + 2xy + y 3 ) = e3x (3x2 y + 2xy + y 3 ) + dx
dk(x)
dx
=0

k(x) = c1 , sendo c1 constante

Logo,
3
 
f (x, y) = e3x x2 y + y3 + c1
3
 
c = e3x x2 y + y3 + c1

e3x 3x2 y + y 3 = c0 , onde c0 = 3(c − c1 ).




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x
(2) Resolver a equação diferencial dx + y
− sen y dy = 0.

∂P
(
P (x, y) = 1, ∂y =0
A edo é exata?  
∂Q
Q(x, y) = x y − sen y , ∂x = 1
y.
∂P ∂Q
Então, ∂y
6= ∂x
e a edo não é exata.
Observe que não é necessário memorizar a expressão para o cálculo dos fatores integrantes,
caso existam. Basta seguir o procedimento mostrado no desenvolvimento da teoria, como
segue:
F (x) existe?
F (x)P (x, y) dx + F (x)Q(x, y) dy = 0
| {z } | {z }
M (x, y) N (x, y)
∂M ∂N
Se F (x) for um fator integrante então, ∂y
= ∂x
.

∂ ∂
∂y
[F (x)P (x, y)] = ∂x
[F (x)Q(x, y)]
dF (x)
F (x) ∂P
∂y
= dx Q(x, y) + F (x) ∂Q ∂x
 
dF (x) x 1
0 = dx y
− sen y + F (x) y
1 −1
F
dF = dx
x − y sen y
| {z }
depende de y

Portanto, não existe o fator integrante F (x).


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F (y) existe?

F (y)P (x, y) dx + F (y)Q(x, y) dy = 0


| {z } | {z }
M (x, y) N (x, y)
∂M ∂N
Se F (y) for um fator integrante então, ∂y
= ∂x
.

∂ ∂
∂y
[F (y)P (x, y)] = ∂x
[F (y)Q(x, y)]
dF (y)
dy
P (x, y) + F (y) ∂P
∂y
= F (y) ∂Q
∂x
dF (y)
dy
= F (y) y1
1
dF = y1 dy
R R
F
←− o integrando não depende de x

ln |F (y)| = ln |y|

Portanto, uma função que satisfaz a equação acima é F (y) = y.

Logo, a edo exata é ydx + (x − y sen y)dy = 0.

Agora, é só aplicar o método das edo’s exatas para encontrar a solução.

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ydx + (x − y sen y)dy = 0
Esta edo é, de fato, exata pois como M (x, y) = y e N (x, y) = x − y sen y, temos
∂M
∂y
= 1 e ∂N∂x
= 1. Ou seja, ∂M
∂y
= ∂N
∂x
.
∂f ∂f
Dessa forma, de acordo com a teoria, existe f (x, y) = c tal que ∂x
=M e ∂y
= N.
(
∂f
∂x
=y
∂f
∂y
= x − y sen y
A partir das duas equações acima obtemos a solução geral, como segue:
R ∂f R
∂x
dx = y dx
f (x, y) = xy + k(y), sendo k(y) é a constante de integração
∂f dk(y)
∂y
= x + dy
dk(y)
x − y sen y = x+ dy

dk(y)
= −y sen y
Rdy R
dk = (−y sen y)dy
k(y) = y cos y − sen y + c1 , obtido através de integração por partes
Logo,
f (x, y) = xy + y cos y − sen y + c1
c = xy + y cos y − sen y + c1

xy + y cos y − sen y = c − c1
xy + y cos y − sen y = c0 , sendo c0 = c − c1

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