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EXERCÍCIOS RESOLVIDOS

EQUAÇÕES DIFERENCIAIS ORDINÁRIAS DE PRIMEIRA ORDEM


MÉTODOS ELEMENTARES

PROF. FERNANDO REIS

dy
Questão 1. Resolva a equação (x2 − 9) dx + xy = 0 no intervalo I = (3, +∞).

Solução: A equação é de primeira ordem linear, ou seja, da forma y ′ + P (x)y = f (x).


De fato, dividindo por (x2 − 9), temos
dy x
+ 2 y = 0.
dx x − 9
Observe que a função P (x) = x2x−9 é contı́nua no intervalo de definição I dado no
enunciado. Prosseguindo, obtemos o fator integrante,
R x 1
R 2x
dx dx
p
e x2 −9 = e 2 x2 −9 = x2 − 9.

Escrevendo
d p 2 
x − 9y = 0
dx

2
obtemos x − 9y = C, e portanto
C
y=√
x2 − 9
é a solução geral da equação no intervalo I.

Questão 2. Resolva o problema de valor inicial (p.v.i.) dado por



 dy = xy2 −cos x sin x
dx y(1−x2 )
y(0) = 2.

Solução: Reordenando os termos da equação podemos escrevê-la como

(cos(x) sin(x) − xy 2 )dx + y(1 − x2 )dy = 0.

Denote M (x, y) = cos(x) sin(x) − xy 2 e N (x, y) = y(1 − x2 ). Então, ∂M


∂y (x, y) = −2xy =
∂N
∂x (x, y). Logo a equação é exata. Isso implica que existe uma função f tal que

∂f
= y(1 − x2 )
∂y
e
∂f
= cos(x) sin(x) − xy 2 .
∂x
1
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Então, integrando em y a primeira equação obtemos


y2
f (x, y) =(1 − x2 ) + h(x),
2
para alguma função h dependendo apenas de x. Derivando essa última equação em
relação a x, temos
∂f
= −xy 2 + h′ (x).
∂x
Também temos
∂f
= cos(x) sin(x) − xy 2 .
∂x
Logo, h′ (x) = cos(x) sin(x) e h(x) = − cos(x) sin(x)dx = − 21 cos2 (x). Portanto,
R

f (x, y) = y(1 − x2 ) − cos2 (x) = C.

A condição de contorno (ou valor inicial) y(0) = 2 nos fornece 22 (1 − 02 ) − cos2 (x) = C,
ou seja, C = 3. Portanto, a solução do p.v.i considerado é dada por
cos2 (x) + 3
y(x)2 = .
1 − x2

Questão 3. (x2 + y 2 )dx + (x2 − xy)dy = 0.

Solução: Denotando M (x, y) = x2 +y 2 e N (x, y) = x2 −xy, temos M (tx, ty) = (tx)2 +


(ty)2 = t2 (x2 + y 2 ) = t2 M (x, y), e N (tx, ty) = t2 x2 − xtyt = t2 (x2 − xy) = t2 N (x, y).
Isso mostra que a equação é homogênea de grau 2. Realizaremos a substituição y = ux.
Assim, dy = udx + xdu,

(x2 + u2 x2 )dx + (x2 − ux2 )(udx + xdu) = 0

e
x2 [(1 + u)dx + x(1 − u)du] = 0.
Desde que x ̸≡ 0, obtemos a equação separável,
1−u 1
du + dx = 0,
1+u x
cuja solução é dada por

−u + 2 ln |1 + u| + ln |x| = ln c.
y
Lembrando que u = x obtemos a solução geral da equação inicial,
y y
− + 2 ln 1 + + ln |x| = C.
x x
dy
Questão 4. x dx + y = x2 y 2 .

Solução: Primeiro, note que, dividindo toda a expressão por x, a equação pode ser
reescrita como
dy 1
+ y = xy 2 .
dx x
EXERCÍCIOS DE EQUAÇÕES DIFERENCIAIS: UMA INTRODUÇÃO 3

Essa é uma equação de Bernoulli. Assim, faremos a substituição u = y −1 . Temos,


dy dy du du
= = (−u−2 ) .
dx dx dx dx
Aplicando essas substituições na equação, podemos obter
du 1
(1) − u = −x.
dx x
Essa última equação é uma equação diferencial ordinária de primeira ordem linear (em
u). Então, calculando o fator integrante obtemos
1 −1
R
e− x = e− ln x = eln x = x−1 .
Assim, multiplicando a equação (1) pelo fator integrante x−1 , podemos reescrevê-la como
d(x−1 u) = −1,
obtendo x−1 u = −x + c, ou seja, u = −x2 + cx, para alguma constante c. Lembrando
que tomamos u = y −1 , concluı́mos que a solução da equação inicial é
1
y= .
cx − x2

dy
Questão 5. dx = 2 − 2xy + y 2 . Note que y1 (x) = 2x é uma solução particular dessa equação.

Solução: A equação
dy
(2) = 2 − 2xy + y 2
dx
é uma equação de Ricatti. Dada uma solução particular y1 de (2) e fazendo a substituição
y = y1 + w1 , obtemos a equação
dw
(3) + (−2x + 2y1 ) w = −1.
dx
Iremos verificar se y1 (x) = 2x é uma solução de (2). De fato, 2 − 2xy1 (x) + y1 (x)2 =
2 − 2x(2x) + (2x2 ) = 2 + 4x2 − 4x2 = 0. Além disso, dydx 1 (x)
= 2, ou seja, dydx
1 (x)
=
2 dw
2 − 2xy1 (x) + y1 (x) . Assim, podemos substituir o valor de y1 em (2) obtendo dx +
(−2x + 2(2x)) w = −1, ou seja,
dw
(4) + 2xw = −1.
dx
Essa última é uma equação linear. O fator integrante é dada por
2
R
2xdx
e = ex .
Assim, podemos reescrever (4) como
d  x2  2
e w = −ex .
dx
Integrando em x obtemos
R x t2

Z x
2 2 x0 e dt + c
ex w = − et dt + c ⇒ w = .
x0 e x2
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Lembrando que tomamos w = u1 , temos


2
ex
u= Rx .
c− x0 et2 dt
Portanto, uma solução para a equação de Ricatti dada é
2
ex
y = 2x + Rx .
c− x0 et2 dt

Questão 6. y = xy ′ + 12 (y ′ )2 .

Solução: A equação dada é uma equação de Clairaut da forma y = xy ′ + f (y ′ ), onde


f (y ′ ) = 12 (y ′ )2 . Assim, as soluções dessa equação é dada pela famı́lia de retas
1
y = cx + c2 ,
2
onde c é uma constante real.

Questão 7. (4y + x2 y)dy − (2x + xy 2 )dx = 0

Solução: Colocando os fatores comuns em evidência, e reordenando os termos, podemos


reescrever a equação como
y x
2
dy = dx.
2+y 4 + x2
Dessa forma, temos uma equação separável. Após um processo de integração obtemos
1 1
log(y 2 + 2) = log(x2 + 4) + C1 ⇒ y 2 + 2 = C(x2 + 4).
2 2
Portanto, a solução geral da equação inicial é dada implicitamente por

y 2 = C(x2 + 4) − 2.

Questão 8. (1 + x2 + y 2 + x2 y 2 )dy = y 2 dx

Solução: Primeiramente, observe que

1 + x2 + y 2 + x2 y 2 = x2 (1 + y 2 ) + 1 + y 2 = (1 + y 2 )(x2 + 1).

Assim,
(1 + x2 + y 2 + x2 y 2 )dy = y 2 dx ⇒ (1 + y 2 )(x2 + 1)dy = y 2 dx
(1 + y 2 ) 1
⇒ 2
dy = 2 dx.
y (x + 1)
Após um processo de integração obtemos
1
y− = arctan(x) + C.
y
EXERCÍCIOS DE EQUAÇÕES DIFERENCIAIS: UMA INTRODUÇÃO 5

dy 1 2x
Questão 9. 2 dx − y = y

Solução: Temos
2dy 2x 1 2x + 1
= + =
dx y y y
dy 2x + 1
⇒ =
dx 2y
⇒ 2ydy = (2x + 1)dx.
2y 2 2x2
Após um processo de integração obtemos 2 = 2 + x + C ⇒ y 2 = x2 + x + C.

dy xy+3x−y−3
Questão 10. dx = xy−2x+4y−8

Solução: Evidenciando os fatores comuns obtemos


dy x(y + 3) − (y + 3) (x − 1)(3 + y)
= =
dx x(y − 2) + 4(y − 2) (y − 2)(x + 4)
y−2 x−1
⇒ dy = dx.
y+3 x+4
Para facilitar o processo de integração, gostarı́amos de escrever
y−2 b
=a+
y+3 y+3
para constantes a, b ∈ R. Assim, y + 2 = a(y + 3) + b ⇒ y + 2 = ay + 3a + b ⇒ (1 − a)y =
3a + b − 2. Ou seja, temos a = 1 e b = −5. Logo, escrevemos
y−2 5
=1−
y+3 y+3
Analogamente, podemos fazer
x−1 B
=A+ ⇒ x − 1 = A(x + 4) + B
x+4 x+4
⇒ x − 1 = Ax + 4A + B
⇒ x = Ax + 4A + B − 1
⇒ A = 1, B = −5.
Assim,
x−1 5
=1− .
x+4 x+4
Desse maneira, a equação
y−2 x−1
dy = dx,
y+3 x+4
pode ser reescrita como
   
5 5
1− dy = 1− .dx
y+3 x+4
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Após um processo simples de integração, obtemos

y − 5 ln(|y + 3|) = x − 5 ln(|x + 4|) + C.


dy xy+2y−x−2
Question 11. dx = xy−3y+x−3

Solução:
dy y(x + 2) − (x + 2) (y − 1)(x + 2)
= =
dx y(x − 3) + (x − 3) (x − 3)(y + 1)
y+1 x+2
⇒ dy = dx.
y−1 x−3
Podemos escrever
y+1 b
=a+
y−1 y−1
Obtendo a = 1 e b = 2. Analogamente,
x+2 B
=A+
x−3 x−3
Obtendo, A = 1 e B = 5. Assim,
   
y+1 x+2 2 5
dy = dx ⇒ 1+ dy = 1 + dx
y−1 x−3 y−1 x−3
Após um processo de integração, obtemos

y + 2 ln(|y − 1|) = x + 5 ln(|x − 3|) + C


y 2 dx + (x2 + xy + y 2 )dy = 0,
Questão 12.
y(0) = 1.

Solução: Denotemos M (x, y) = y 2 e N (x, y) = x2 + xy + y 2 . Desde que M, N são


polinômios homogêneos de grau 2, é imediato concluı́rmos que a equação diferencial
em questão é uma equação diferencial ordinária de primeira ordem homogênea. (Po-
derı́amos também verificar que M e N são funções homogêneas utilizando a definição,
ou seja, M (tx, ty) = t2 M (x, y) e N (tx, ty) = t2 N (x, y) para todo t ∈ R). Agora, note
que o coeficiente M = y 2 é visualmente mais simples que N . Então, somos motivados a
realizar a substituição x = vy. Assim,
y 2 d(vy) + (vy)2 + (vy)y + y 2 dy = 0


⇒ y 2 (vdy + ydv) + (v 2 y 2 + vy 2 + y 2 )dy = 0


⇒ y 2 (vdy + ydv) + (v 2 + v + 1)dy = 0
 

⇒ ydv + (v 2 + 2v + 1)dy = 0
1 1
⇒ 2
dv = − dy.
(1 + v) y
EXERCÍCIOS DE EQUAÇÕES DIFERENCIAIS: UMA INTRODUÇÃO 7

A última equação obtida acima é uma equação diferencial ordinária de primeira ordem
separável. Logo, após um processo de integração, obtemos
1
− = − ln(|y|) + C.
1+v
Lembrando que x = vy, ou ainda v = xy , encontramos a solução geral dada por
y = (x + y)(ln(|y|) − C).
Utilizando o valor inicial (ou condição de contorno) y(0) = 1 temos
y(0) = (0 + y(0))(ln(|y(0)|) − C) ⇒ 1 = 1 ln(1) − C ⇒ C = −1.
Isso implica que a solução do problema de valor inicial é dada implicitamente por
y = (x + y)(ln(|y|) + 1).

Questão 13. Se M (x, y), N (x, y) são funções homogêneas de mesmo grau k, mostre que
M (x, y)dx + N (x, y)dy = 0
pode ser transformada em uma equação separável através da transformação x = vy.

Solução: Substituindo x = vy temos


M (vy, y)d(vy) + N (vy, y)dy = 0
⇒ y k M (v, 1)(ydv + vdy) + y k N (v, 1)dy = 0
⇒ y k [M (v, 1)ydv + M (v, 1)vdy + N (v, 1)dy] = 0
⇒ M (v, 1)ydv + (M (v, 1)v + N (v, 1)) dy = 0
1 M (v, 1)
⇒ dy = − dv.
y M (v, 1)v + N (v, 1)
Portanto, a afirmação é verdade, desde que a última equação obtida acima é uma equação
separável.

Questão 14. Considere a equação


(5) (x + y)dx + x ln xdy = 0,
no intervalo (0, ∞).

item (a) Verifique se essa equação é ou não exata.

Solução : Denotaremos M (x, y) = x + y e N (x, y) = x ln(x). Evidentemente, temos


∂M ∂N
= 1 ̸= (1 + ln x) = .
∂y ∂x
Logo, a equação não é exata.
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item (b) Calcule


 
∂N (x,y) ∂M (x,y)
Z
∂x − ∂y
µ(x, y) = exp − dx.
N (x, y)

Solução : Temos
 Z   Z 
(1 + ln x − 1) ln x
µ(x, y) = exp − dx = exp − dx
x ln x x ln x
 Z 
1
= exp − dx
x
1
⇒ µ(x, y) = .
x

item (c) Multiplique a equação (5) por µ(x, y) e verifique que essa nova equação
obtida é exata. Resolva essa equação.

Solução : Multiplicando a equação (5) temos


(x + y) x ln x
(x + y)dx + x ln xdy = 0 ⇒ dx + dy = 0
x x
 y 
⇒ 1+ dx + ln xdy = 0.
x
Denotemos m(x, y) = 1 + xy e n(x, y) = ln x. Claramente, temos


∂m 1 ∂n
= = .
∂y x ∂x
Isso mostra que a equação 1 + xy dx + ln xdy = 0 (obtida de (5) após a multiplicação


pelo fator µ ) é uma equação exata. Para resolvê-la, consideremos uma função f tal que
∂f y ∂f
∂x (x, y) = m(x, y) = 1 + x e ∂y (x, y) = n(x, y) = ln x. Integrando a primeira equação
em relação a x, obtemos
f (x, y) = x + y ln x + g(y),
para alguma função g dependendo apenas de y. Agora, derivamos em relação a y, a
expressão obtida para f , ou seja,
∂f
(x, y) = ln x + g ′ (y).
∂y
Lembrando que ∂f ′
∂y (x, y) = n(x, y), podemos concluir que g (y) = 0. Isso implica, g(y) =
c, para alguma constante c ∈ R. Então,
f (x, y) = y ln x + x + c.
Portanto, a solução geral da equação
 y
1+ dx + ln xdy = 0
x

x + y ln x + c = 0.
EXERCÍCIOS DE EQUAÇÕES DIFERENCIAIS: UMA INTRODUÇÃO 9

d) Conclua verificando que a solução da equação exata obtida no item c) é também


solução da equação inicial dada em (5).

Solução : Derivando a solução encontrada, x + y ln x + c = 0, implicitamente em


relação a x, temos
   
1 dy 1
1 + y + ln x = 0 ⇒ x 1 + y dx + x ln xdy = 0 ⇒ (x + y) dx + x ln xdy = 0.
x dx x
Isso mostra que x + y ln x + c = 0 é também solução da equação (5).

Questão 15. Considere a equação

(6) 6xydx + (4y + 9x2 )dy = 0.

a) Verifique se essa equação é ou não exata.

b) Denotando M (x, y) = 6xy e N (x, y) = 4y + 9x2 , calcule


 
Z ∂N (x,y) − ∂M (x,y)
∂x ∂y
µ(x, y) = exp  dy .
M (x, y)

c) Multiplique a equação (6) por µ(x, y) e verifique que essa nova equação obtida é
exata. Resolva essa equação.

d) Conclua verificando que a solução da equação exata obtida no item c) é também


solução da equação inicial dada em (6).

Questão 16. Encontre o valor de k para que a equação diferencial

(6xy 3 + cos y)dx + (kx2 y 2 − x sin y)dy = 0,

seja uma equação exata. Resolva a equação para o valor de k encontrado.

Solução: Denotamos M (x, y) = 6xy 3 − cos y e N (x, y) = kx2y 2 + x sin y. A fim de


que a equação seja exata, devemos ter
∂M ∂N
18xy 2 + sin y = = = 2kxy 2 + sin y.
∂y ∂x
Portanto, k = 9. Seja f uma função satisfazendo ∂f ∂x (x, y) = M (x, y) e
∂f
∂y (x, y) =
N (x, y). Integrando a primeira equação em relação a x temos

f (x, y) = 3x2 y 3 − x cos y + g(y),

para alguma função g dependendo apenas de y. Agora, derivamos em relação a y, a


expressão de f obtida acima:
∂f
(x, y) = 9x2 y 2 + x sin y + g ′ (y).
∂y
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Isso implica g ′ (y) = 0, e h(y) = C, para alguma constante C ∈ R. Portanto, a solução


da equação é dada implicitamente por

3x2 y 3 − x cos y = C.

dy
p
Questão 17. Resolva a equação x dx −y = x2 + y 2 .
p
Solução: Podemos reescrever a equação como (y + x2 + y 2 )dx − xdy = 0. Denotamos
p p
M (x, y) = y + x2 + y 2 e N (x, y) = −x. Note que M (tx, ty) = ty + (tx)2 + (ty)2 =
p
t(y + x2 + y 2 ) = tM (x, y) e N (tx, ty) = −tx = tN (x, y). Isso mostra que a equação é
homogênea. Realizamos a substituição y = ux na equação obtendo
p
(ux + (ux)2 + x2 )dx − xd(ux) = 0
p
⇒ (ux + x u2 + 1)dx − xudx − x2 du = 0
p
⇒ (u + u2 + 1 − u)dx − xdu = 0
p
⇒ ( u2 + 1)dx − xdu = 0
1 1
⇒ dx = √ du.
x 2
u +1
A última equação obtida é separável. Após um processo de integração, e lembrando que
u = xy , obtemos,
y y
ln x = sinh−1 (u) + C ⇒ ln x − C = sinh−1 ⇒ sinh(ln x − C) = .
x x
Portanto, a solução geral da equação é

y = x sinh(ln x − C).

Questão 18. Mostre que toda equação homogênea pode ser escrita na forma y ′ = F ( xy ), para alguma
função F .

Solução: Considere a equação M dx + N dy = 0, onde M, N são funções homogêneas de


grau k. Podemos reescrever
xk M 1, xy M 1, xy
 
dy M (x, y) dy
M (x, y)dx + N (x, y)dy = 0 ⇒ =− =− k  ⇒ =− .
dx N (x, y) x N 1, xy dx N 1, xy
y
y M (1, x )
Para concluir, basta definirmos F := − N .
x (1, xy )

y
Questão 19. Resolva a equação (x2 e− x + y 2 )dx = xydy.
EXERCÍCIOS DE EQUAÇÕES DIFERENCIAIS: UMA INTRODUÇÃO 11

y
Solução: Reescrevemos a equação como (x2 e− x + y 2 )dx − xydy = 0 e denotamos
y
M (x, y) = x2 e− x + y 2 e N (x, y) = −xy. Temos
ty y
M (tx, ty) = (tx)2 e− tx + (ty)2 = t2 x2 e− x + t2 y 2 = t2 M (x, y).

Analogamente,

N (tx, ty) = −txty = t2 (−xy) = t2 N (x, y).

Logo, M e N são funções homogêneas de grau 2. Realizamos a substituição y = ux


obtendo
(x2 e−u + (ux)2 )dx − x(ux)d(ux) = 0
⇒ x2 (e−u + u2 )dx − u2 dx − uxdu = 0
 

⇒ (e−u + u2 − u2 )dx − uxdu = 0


⇒ e−u dx − uxdu = 0
1
⇒ dx = ueu du.
x
A última equação é separável. Logo, após um processo de integração obtemos

ln x = eu (u − 1) + C,
y
onde C é uma constante. Portanto, lembrando que u = x , podemos obter a solução
y
geral da equação (x2 e− x + y 2 )dx = xydy dada por
y
x ln x = e x (y − x) + Cx.

Questão 20. Resolva o problema de valor de contorno


 
 1 2 + cos(x) − 2xy dy = y(y + sin(x))
1+y dx
y(0) = 1.

Solução: Reescrevemos a equação como


 
1
+ cos(x) − 2xy dy − y(y + sin(x))dx = 0.
1 + y2
 
1
Denotamos M (x, y) = −y(y + sin(x)) e N (x, y) = 1+y 2 + cos(x) − 2xy . Temos

∂M ∂N
(x, y) = − sin x − 2y = (x, y).
∂y ∂x
Isso mostra que a equação é exata. Buscamos por uma função f tal que ∂f
∂x = −y(y+sin x)
∂f 1
e ∂y = 1+y2 + cos(x) − 2xy. Integrando a primeira equação em x temos

f (x, y) = −y(xy − cos x) + g(y),


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para alguma função g dependendo apenas de y. Agora, derivamos a expressão de f


obtida acima, em relação a y, obtendo
∂f
= −2xy + cos x + g ′ (y).
∂y
Isso implica g ′ (y) = 1
1+y 2
, ou seja, g(y) = arctan(y). Então,

f (x, y) = −y(xy − cos x) + arctan(y).

Em particular, a solução geral da equação pode ser escrita como

−y(xy − cos x) + arctan(y) = C,

onde C é uma constante arbitrária. A fim de resolver o problema de valor inicial (P.V.I),
encontramos o valor da constante C no caso da condição inicial y(0) = 1. Ou seja,
π
−1(1.0 − cos(0)) + arctan(1) = C ⇒ C = 1 + .
4
Portanto, a solução do P.V.I é
π
−y(xy − cos x) + arctan(y) = 1 + .
4

dy
Questão 21. Resolva a equação dx + y cot(x) = 2 cos(x).

Solução: A equação é linear. Assim, iniciamos calculando o fator de integração:


R R
P (x)dx cot xdx
e =e = eln(| sin x|) = sin x.

Logo, podemos multiplicar a equação pelo fator de integração, obtendo


d
(y sin x) = 2 cos x sin x.
dx
Integrando em relação a x, concluı́mos com a solução geral
1 cos(2x) C
y=− + ,
2 sin x sin x
onde C é uma constante arbitrária.

Questão 22. Determine uma solução contı́nua para o problema de valor de contorno dado por

(1 + x2 ) dy + 2xy = f (x)
dx
y(0) = 0,

x, 0 ≤ x < 1
onde f (x) =
−x, x ≥ 1.

Solução: Desde que a equação é linear, encontramos o fator integrante dado por
2x
R
dx
µ=e 1+x2 = x2 + 1.
EXERCÍCIOS DE EQUAÇÕES DIFERENCIAIS: UMA INTRODUÇÃO 13

Apesar da equação ser linear, a função f possui uma descontinuidade em x = 1. Por


isso, resolveremos em dois casos.

Caso 1) 0 ≤ x < 1
Nesse caso, temos f (x) = x, ou seja a equação é da forma
dy
(1 + x2 ) + 2xy = x.
dx
Multiplicando a equação pelo fator integrante µ, temos

d x2
y(x2 + 1) = x ⇒ (x2 + 1)y =

+ C,
dx 2
para alguma constante arbitrária C (Observe que a partir da equação inicial já po-
derı́amos ter escrito a equação na forma acima, sem precisar calcular o fator integrante).
Dada a condição inicial y(0) = 0, encontramos C = 0. Assim, a solução para esse caso é

x2
y= .
2(x2 + 1)
Caso 2) x ≥ 1 Agora, temos f (x) = −x e a equação se torna
dy
(1 + x2 ) + 2xy = −x.
dx
Analogamente ao caso anterior, reescrevemos essa equação como
d
((x2 + 1)y) = −x.
dx
E, após um processo de integração obtemos

−x2
y= C
.
2(x2 + 1) + x2 +1

Dos casos 1 e 2 obtemos



x2

2(x2 +1)
,0 ≤ x < 1
y(x) = 2
 −x + x2C+1 , x ≥ 1.
2(x2 +1)

Para que a solução y(x) seja contı́nua em x = 1, devemos ter

lim y(x) = lim y(x) = y(1).


x→1− x→1+

Ou seja,

x2 −x2
   
C
lim = lim + 2
x→1− 2(x2 + 1) x→1+ 2
2(x + 1) x + 1
12 −12 C
⇒ = +
2(12 + 1) 2
2(1 + 1) 1 + 1
⇒ C = 1.
14 PROF. FERNANDO REIS

Observe que para C = 1, temos y(1) = 41 = limx→1− y(x) = limx→1+ y(x) = limx→1 y(x).
Portanto a solução

 x2 , 0 ≤ x < 1
2
y(x) = 2(x +1) 2
 −x 2 + 21 , x ≥ 1,
2(x +1) x +1

é uma solução contı́nua para o P.V.I.

dy
Questão 23. Resolva a equação dx = y(xy 3 − 1).

Solução:
Observe que a equação pode ser reescrita como
dy
(7) + y = xy 4 ,
dx
a qual é uma equação de Bernoulli

y ′ + P (x)y = f (x)y n

com P (x) ≡ 1, f (x) = x e n = 4. Dividindo a equação (7) por y 4 temos


dy
(8) y −4 + y −3 = x.
dx
Realizamos a substituição w = y −3 obtendo,
dw dy
= −3y −4
dx dx
e, aplicando em (8) temos
1 dw dw
(9) − +w =x⇒ − 3w = −3x
3 dx dx
R
A última equação em (9) é linear, com fator de integração e− exdx = e−3x . Assim,
d −3x 1
(e w) = −3xe−3x ⇒ w = x + + Ce3x .
dx 3
Lembrando que w = y −3 temos
1 1
3
= x + + Ce3x ,
y 3
e, portanto, obtemos a solução geral do problema dada por
s
1
y= 3 1 .
x + 3 + Ce3x

Questão 24. Resolva o problema de valor de contorno



x2 dy − 2xy = 3y 4
dx
y(1) = 1 .
2
EXERCÍCIOS DE EQUAÇÕES DIFERENCIAIS: UMA INTRODUÇÃO 15

Solução: A equação dada é da forma y ′ + P (x)y = f (x)y n , onde P (x) = −2x x2


=
−2 3
x , f (x) = x2 e n = 4. Logo, é uma equação de Bernoulli. Se y ̸= 0, podemos multiplicar
a equação por y −4 obtendo y −4 y ′ − x2 y −4 y = 3y −4 y 4 , ou seja,
2 −3
y −4 y ′ −y = 3.
x
Fazendo a substituição w = y 1−4 = y −3 nessa última equação obtemos
2 3 6 9
w′ − (−3) w = −3 2 ⇒ w′ + w = − 2 .
x x x x
A última equação é uma equação linear cujo fator integrante é dado por µ(x) = x6 .
−9x5
Logo, obtemos a solução geral w = 5c15x 6 . Lembrando que w = y13 , obtemos a solução
geral da equação de Bernoulli, dada implicitamente por
1 9 C
3
+ − 6.
y (x) 5x x
49
Utilizando a condição inicial y(1) = 1, podemos calcular a constante C = 5 , obtendo
1 9 49
+ − .
y 3 (x) 5x 5x6

2
Questão 25. Sabendo que y1 (x) = x é uma solução particular da equação
4 1
(10) y′ = − 2
− y + y2,
x x
encontre uma segunda solução.
Solução: A equação dada é uma equação de Ricatti
y ′ = P (x) + Q(x)y + R(x)y 2 ,
com P (x) = −4 x2
, Q(x) = −1
x e R(x) ≡ 1. Considere a função y = u + y1 , onde u é uma
função a determinar e y1 = x2 . Derivando y em relação a x obtemos
dy dy1 du −2 du
= + = 2 + .
dx dx dx x dx
Substituindo na equação (10) obtemos
   2
−2 du −4 1 2 2
+ = 2 − +u + +u ,
x2 dx x x x x
ou seja,  
du 4 1 du 3
= − u + u2 ⇒ = u + u2 .
dx x x dx x
Essa última equação é de Bernoulli, e através da substituição w = u−1 pode ser trans-
formada na equação linear
dw 3
=− w−1
dx x
cuja solução é w = −x3 (C − x4 ). Lembrando que w = u−1 e y = y1 + u, concluı́mos que
2
y = − x7 + Cx3 ,
x
é uma segunda solução para a equação (10).
16 PROF. FERNANDO REIS

Questão 26. Resolva a equação y = xy ′ + 1 − ln(y ′ ).

Solução: A equação dada é uma equação de Clairaut


y = xy ′ + f (y ′ )
onde f (y ′ ) = 1−ln(y ′ ). Portanto, as soluções são da forma y = cx+f (c) = cx+1−ln(c),
onde c > 0 é uma constante.

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