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Resumo - VC Cálculo III

Lucas Pinafi Carvalho

1 Equações diferenciais
1.1 Equações diferenciais lineares
São equações do tipo
y 0 (x) + p(x)y(x) = q(x)
Z 
Para resolver tal equação, basta multiplicar pelo fator integrante exp p(x) dx , já que:

d h R p(x) dx i R R
ye = y 0 e p(x) dx + yp(x)e p(x) dx
dx
Dessa maneira, segue que
R
Z R

− p(x) dx p(x) dx
y=e e q(x) dx + C

onde C é uma constante a ser determinada pelas condições iniciais.


Teorema 1 Sejam p(x) e q(x) funções contı́nuas no intervalo aberto (α, β). Então, a equação:
y 0 + p(x)y = q(x)
sujeita à condições inicial y(x0 ) = y0 , onde α < x0 < β, possui uma e apenas uma solução.

1.2 Equações separáveis


Uma equação é separável quando puder ser escrita da forma:
dy
=0
M (x) + N (y)
dx
A maneira mais rápida de resolver essas equações é a seguinte:
Z Z
M (x) dx + N (y) dy = 0 ⇒ M (x) dx + N (y) dy = C

onde C é uma constante a ser determinada pelas condições iniciais.

1.3 Equações (do tipo) homogênea


Uma equação do tipo homogênea pode ser escrita da forma
y
y0 = f
x
Para resolver tal equação, façamos a substituição u = y/x. Dessa forma, temos
dy du
y = ux ⇒ =x +u
dx dx
de modo que
du du
x + u = f (u) ⇒ = dx
dx f (u) − u
bastando integrar a equação acima.

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1.4 Equações de Bernoulli
São equações da forma
y 0 + p(x)y = q(x)y n
Note que tal equação não é exata, porém ela se torna exata se tomarmos a mudança de variável u = y 1−n .
De fato, temos
du dy dy y n du
= (1 − n)y −n ⇒ =
dx dx dx 1 − n dx
Substituindo na equação dada, temos que:
y n du du
+ p(x) · y = q(x)y n ⇒ + (1 − n)p(x) · y 1−n = (1 − n)q(x)
1 − n dx dx
logo, chegamos na equação linear:
du
+ (1 − n)p(x)u = (1 − n)q(x)
dx

1.5 Equações exatas


São equações da forma
M (x, y) dx + N (x, y) dy = 0
onde
∂M ∂N
=
∂y ∂x
Essa equação pode ser resolvida entrando uma função ψ tal que

∇ψ = M (x, y)x̂ + N (x, y)ŷ

1.6 fatores integrantes


∂M ∂N
Quando a equação M (x, y) dx + N (x, y) dy = 0 não é exata, ou seja, 6= , podemos multiplicar
∂y ∂x
a função por um fator µ = µ(x, y) que a transformará em uma equação exata. Existem alguns tipos
especiais de fatores integrantes:
(a) Fator integrante do tipo µ = µ(x). Dessa forma,
∂ ∂ ∂ ∂N
(M µ) = (N µ) ⇒ µ = µ0 (x)N + µ
∂y ∂x ∂y ∂x

∂M ∂N
∂y − ∂x
µ0 (x) = µ
N
Se essa fração depender apenas de x, então será possı́vel encontrar um fator integrante dessa forma.
Caso contrário, deverá procurar outro fator integrante.
(b) Fator integrante do tipo µ = µ(y). É muito parecido com acima.
(c) Fator integrante do tipo µ = µ(xy). Ou seja,
∂ ∂ ∂M ∂N
(M µ) = (N µ) ⇒ xµ0 M + µ = yµ0 N + µ
∂y ∂x ∂y ∂x
ou ainda,
∂M ∂N
0 ∂y − ∂x
µ (xy) = µ(xy)
yN − xM
Se essa fração depender apenas de xy então poderemos encontrar o fator integrante desejado.
Observação: O procedimento para encontrar fator integrante adequado é tentativa e erro.

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1.7 Equação de Ricatti
São equações do tipo
dy
= p1 (x) + p2 (x)y + p3 (x)y 2
dx
Para resolver essa equação, devemos encontrar uma solução particular dela. Digamos, y1 (x). A outra
solução será obtida fazendo
1
y2 = y1 +
v
onde v = v(x). Veja que
   2
dy1 1 dv 1 1
− 2 = p1 (x) + p2 y1 + + p3 y1 +
dx v dx v v
Desse modo, segue que:
 
dy1 1 dv 1 2y1 1
− 2 = p1 + p2 y1 + p3 y12 + p2 + p3 + 2
dx v dx v v v
dy1
como = p1 + p2 y1 + p3 y12 , a equação acima pode ser simplificada por:
dx
dv
+ (p2 + 2y1 p3 )v = −p3
dx
que é uma equação linear em v.

1.8 Equações de Clairout


São equações da forma
y = xy 0 + f (y 0 )
Essas equações são resolvidas derivando mais uma vez. Por exemplo, considere a equação

(y 0 )2 − xy 0 + y = 0

Veja que
y = xy 0 − (y 0 )2 ⇒ y 0 = y 0 + xy 00 − 2y 0 y 00 ∴ y 00 (x − 2y 0 ) = 0
essa equação possui as soluções y 00 = 0 ⇒ y = Ax + B e x − 2y 0 = 0 ⇒ x2 = 4y + C.

2 Equações lineares de segunda ordem


2.1 Existência das soluções
Uma equação linear de segunda ordem é uma equação do tipo

y 00 + p(x)y 0 + q(x)y = g(x)

Quando g(x) = 0, dizemos que a equação é homogênea.


Teorema 2 Sejam p, q, g funções definidas e contı́nuas em um aberto I. Sendo assim, a equação linear
y 00 + p(x)y 0 + q(x)y = g(x), sujeita às condições iniciais y(x0 ) = y0 , y 0 (x0 ) = y00 possui uma, e apenas
uma, solução definida em todo o intervalo I.
Teorema 3 Suponha que y1 e y2 são duas soluções da equação diferencial y 00 + p(x)y 0 + q(x)y = g(x).
Então,
y = c1 y1 + c2 y2
englobará todas as soluções da equação, se e somente se,
y1 y2
W (y1 , y2 ) = = y1 y20 − y10 y2 6= 0
y10 y20

3
No Teorema 3, W (y1 , y2 ) é denominado de Wronskiano de y1 e y2 . Basicamente, a função dele é verificar
se y1 e y2 são duas funções linearmente independente.
Teorema 4 O Wronskiano da equação y 00 + p(x)y 0 + q(x)y = 0 pode ser obtido através da equação linear
de primeira ordem separável W 0 (x) + p(x)W (x) = 0
A prova do Teorema 4 é a seguinte: se y1 e y2 são soluções, então
(
y100 + py10 + qy1 = 0
y200 + py20 + qy2 = 0

Multiplicando a primeira equação por −y2 e a segunda por y1 e somando, obtemos:

−y100 y2 + y200 y1 + p(−y10 y2 + y1 y20 ) = 0

Porém, como W (y1 , y2 ) = y20 y1 −y10 y2 , segue que W 0 (y1 , y2 ) = y200 y1 −y100 y2 , de modo que segue o teorema.

2.2 Equações diferenciais de segunda ordem com coeficientes constantes


São equações da forma,
y 00 + by 0 + cy = g(x)
onde b, c ∈ R. Vamos, inicialmente, estudar as soluções da equação quando g(x) = 0.

2.2.1 Soluções da equação homogênea


São obtidas supondo soluções do tipo y = Aerx . Note que:

y 00 + by 0 + cy = 0 ⇒ Aerx (r2 + br + c) = 0

Dessa forma, devemos considerar r2 + br + c = 0. Há alguns casos a considerar:


• ∆ = b2 − 4c > 0. Nesse caso, haverá duas soluções: y1 = er1 x e y2 = er2 x , onde r1 e r2 são raı́zes
de r2 + br + c = 0. Podemos mostrar que W (y1 , y2 ) 6= 0 de forma que a solução geral da equação
será dada por:
y(x) = c1 er1 x + c2 er2 x , c1 , c2 ∈ R

• ∆ = b2 − 4c = 0. Nesse caso, haverá uma única solução para a equação r2 + br + c = 0. Assim, uma
solução da equação diferencial é erx . Precisamos encontrar outra solução. Uma maneira de fazer
isso é supor uma segunda solução do tipo y2 = v(x)erx . Esse método é denominado de redução de
ordem. Veja:
y20 = (v 0 + rv)erx
y200 = (v 00 + 2rv 0 + r2 v)erx
Substituindo na equação original, ficamos com

y200 + by20 + cy2 = 0 ⇒ (v 00 + 2rv 0 + r2 v)erx + b(v 0 + rv)erx + cverx = 0

v 00 + (2r + b)v 0 + (r2 + br + c)v = 0 ⇒ v 00 + (2r + b)v 0 = 0


Lembrando que r = −b/2 (já que ∆ = 0) segue que temos v 00 = 0. Ou seja, v = x (veja que
ignoramos as constantes aqui, pois elas aparecerão no final de qualquer jeito). Logo, y2 = xerx .
Podemos, ainda, mostrar que W (y1 , y2 ) 6= 0 de modo que um conjunto solução da equação é:

y(x) = erx (c1 + c2 x), c1 , c2 ∈ R

4
• ∆ = b2 − 4c < 0. Nesse caso, não √ há raiz real para √a equação r2 + br + c = 0, porém existem duas
b ∆ b ∆
raı́zes complexas: r1 = − + i e r2 = − − i , onde i2 = −1. Assim, podemos dizer que
2 2 2 2
er1 x e er2 x são soluções da equação diferencial. O desconforto de trabalhar com raı́zes complexas
pode ser superado se fizermos: eα+iβ = eα (cos β + i sin β). Logo, temos

 √ √ 
y = e−bx/2 A cos( ∆/2) + B sin( ∆/2) , A, B ∈ R

2.2.2 Soluções da equação não homogênea


A solução da equação quando g(x) 6= 0 será obtida da seguinte maneira:

y = yh + yp

onde yh é a solução da homogênea associada e yp é uma solução particular da equação. Podemos obter
a solução da equação particular de duas formas.

2.2.3 Métodos dos coeficientes a determinar


Esse método funciona para poucas classes de funções g(x). Em especial, funciona se g(x) for exponencial,
cosseno/seno, polinômio.
1. Se g(x) = A0 + A1 x + · · · + An xn :
• Se c 6= 0, então yp será um polinômio de grau n;
• Se c = 0 e b 6= 0, então yp será um polinômio de grau n + 1;
• Se c = 0 e b = 0, então yp será um polinômio de grau n + 2.
2. Se g(x) = (A0 + A1 x + · · · + An xn )eαt
• Se α não é raiz da equação caracterı́stica, então yp = Pn · eαt , onde Pn é um polinômio de
grau n.
• Se α é raiz simples da equação caracterı́stica, então yp = Pn · x · eαx , onde Pn é um polinômio
de grau n;
• Se α é raiz dupla da equação caracterı́stica, então yp = Pn · x2 · eαx , onde Pn é um polinômio
de grau n.
3. Se g(x) = (A0 + A1 x + · · · + An xn )eαt cos(βx)
• Se r = α + βi não é raiz da equação caracterı́stica, então yph = Pn · eαx cos(βx) + Qn ·
eαx sin(βx), onde Pn e Qn são polinômios de grau n.
• Se r = α + βi são raı́zes da equação caracterı́stica, então yp = eαx · x[Pn cos(βx) + Qn sin(βx)]
onde Pn e Qn são polinômios de grau n.

2.2.4 Método da variação dos parâmetros


Esse método é muito mais geral. Suponha que as soluções da equação homogênea associada sejam y1 e
y2 . O método propõe procurar raı́zes do tipo

yp = u(x)y1 (x) + v(x)y2 (x)

Para isso, veja que


yp0 = y10 u + y20 v + (u0 y1 + v 0 y2 )
Como u e v, até esse ponto, são arbitrários, podemos escolher de maneira que

u0 y1 + v 0 y2 = 0

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Dessa maneira, segue que
yp00 = y100 u + y10 u0 + y200 v + y20 v 0
Logo,
yp00 + byh0 + cyh = g ⇒ u(y100 + by10 + cy1 ) + v(y200 + by20 + cy2 ) + u0 y10 + v 0 y20 = g
o que nos leva a:
u0 y10 + v 0 y20 = g
Assim, ficamos com um sistema algbébrico em u0 e v 0 . Veja:
(
u0 y10 + v 0 y20 = g
u0 y1 + v 0 y2 = 0

Pela regra de Cramer, segue que


g y20
0 y2 gy2
u0 = 0 0
=
y1 y2 W (y1 , y2 )
y1 y2
−gy1
e da mesma forma, v 0 = . Dessa maneira, segue que
W (y1 , y2 )
−gy1
Z Z
gy2
yp = y1 dx + y2 dx
W (y1 , y2 ) W (y1 , y2 )

2.3 Equações de Euler


Uma equação de Euler é uma equação diferencial de segunda ordem da forma:
d2 y dy
t2 + at + by = 0
dt2 dt
Essa equação é resolvida a partir da mudança da variável independente.

x = ln t ⇒ t = ex

Notemos que
dy dy dx dy 1
= =
dt dx dt dx t
d2 y 1 d2 y 1 d2 y
   
d 1 dy 1 dy 1 dy
= =− 2 + = 2 − +
dt2 dt t dx t dx t dx2 t t dx dx2
Dessa maneira, segue que
d2 y 1 d2 y
 
2 dy dy 1 dy
t · − + 2 2
+ at + by = 0 ⇒ 2
+ (a − 1) + by = 0
dx dx t dx t dx dx
que é uma equação de coeficientes constantes.

3 Equações diferenciais lineares de ordem n


3.1 Definição
São equações da forma

y (n) (x) + pn−1 (x)y (n−1) (x) + · · · + y(x)p(x) = g(x) (1)

Teorema 5 Se pn−1 (x), . . . , p(x), g(x) forem contı́nuas em um intervalo aberto I, contendo o ponto x =
(n−1)
x0 , então a equação diferencial 1, sujeita às condições y(x0 ) = y0 , y 0 (x0 ) = y00 , . . . , y (n−1) (x0 ) = y0
terá uma, e apenas uma solução definida em todo o intervalo I.

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Teorema 6 Se y1 , y2 , . . . , yn forem soluções da equação diferencial 1, e se

y1 y2 y3 ... yn
y10 y20 y30 ... yn0
W (y1 , y2 , . . . yn ) = y100 y200 y300 ... yn00 6= 0
.. .. .. .. ..
. . . . .
(n−1) (n−1) (n−1) (n−1)
y1 y2 y3 ... yn

então, toda solução da Equação 1 terá a forma:

y = c1 y1 + c2 y2 + · · · + cn yn , c1 , c2 , . . . , cn ∈ R

Teorema 7 O teorema de Abel continua válido para equação diferenciais de ordem superiores:

W 0 + pn−1 W = 0

Demonstração: a demonstração se baseia no fato de que a derivada de um determinante n × n é igual a


soma de n determinantes, onde o i-ésimo determinante possui a i-ésima linha diferenciada. O restante,
fica para o leitor...

3.2 Coeficientes constantes


Para equações de ordem superiores com coeficientes constantes, basta tomar procedimentos parecidos
com o que fizemos para ordem 2.

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