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CÁLCULO III

SÉRIES DE FUNÇÕES

Cel Reinaldo Teixeira DELFINO


Sequências e Séries de Funções
• Seja a sequência {fn} cujos termos são funções
reais ou complexas, as quais possuem um
domínio comum (real ou complexo). Para
cada x no domínio, podemos construir uma
nova sequência numérica {fn(x)} cujos termos
são os correspondentes valores das funções.
A sequência {fn(x)} é denominada sequência
de funções.
• Podemos também construir uma nova
sequência {Sn(x)}, tal que:
S1(x) = f1(x)
S2(x) = f1(x) + f2(x)
S3(x) = f1(x) + f2(x) + f3(x)
...............................................
Sn(x) = f1(x) + f2(x) + ... + fn(x)

• Quando n → , a soma  f k =1
k ( x) é denominada
série de funções.
Convergência Pontual e
Convergência Uniforme
⚫ DEFINIÇÃO: uma sequência de funções
{fn(x)} converge pontualmente para a
função f(x) se lim f n ( x ) = f(x)  x  S, onde S
n→
é o conjunto de pontos nos quais essa
sequência converge. Em outras palavras:

  > 0,  N(,x) tal que, se n > N, então |fn(x) – f(x)| < 


• DEFINIÇÃO: uma série de funções reais {sn(x)}
converge pontualmente para uma função S(x)
se lim sn ( x) = S(x)  x  I, onde I é o conjunto de
n →
pontos nos quais essa sequência converge e
sn(x) = f1(x) + f2(x) + ... + fn(x). Em outras
palavras:

  > 0,  N(,x) tal que, se n > N, então |sn(x) – S(x)| < 


• Exemplo: fn(x) = xn, 0  x  1
0, 0  x  1
lim f n ( x) = 
n →
1, x = 1
Observe que a função limite não é contínua
em 1, embora os termos da sequência o
sejam.
• Exemplo: fn(x) = nx(1 – x2)n, 0  x  1
lim f n ( x) = 0 . Como  f ( x)dx = n , temos:
1

2n + 1
n

lim  f ( x)dx =   lim f xdx = 0 


n → 0
1 1 1

n→ 0
n
2 0 n→
n o limite da
integral não é igual à integral do limite.

• Exemplo:  x converge para |x| < 1, e diverge


n =0
n

para |x|  1.


x2
• Exemplo:  converge pontualmente para
n =0 (1 + x )
2 n

1+x2 se x  0, pois é uma série geométrica com


razão 1/(1+x2), e converge pontualmente para
zero se x = 0.
• Os dois primeiros exemplos mostram que
propriedades como continuidade,
diferenciabilidade e integrabilidade não se
conservam obrigatoriamente na função limite.
• Exercício: Mostre que x + (x – 1)x + (x – 1)x2 +
+ ... + (x – 1)xn-1 + ... converge para S(x) = 0,
 x  [0,1).
• Resolução: |Sn(x) – S(x)| = |x + (x – 1)x + ... +
+ (x – 1)xn-1 – 0| = |x + x2 – x + x3 – x2 + ... +
+ xn – xn-1| = |xn|

|xn| < , x  [0,1)  xn <   n > (ln )/(ln x)

  > 0,  N(,x) tal que se n > N = (ln )/(ln x),


então Sn(x) – S(x) < 
• DEFINIÇÃO: uma sequência de funções {fn}
converge uniformemente para F(x) em um
conjunto S se:   > 0,  N() tal que, se n > N,
então |fn(x) – F(x)| < ,  x  S.

• DEFINIÇÃO: Uma série de funções reais {sn}


converge uniformemente para uma função
S(x) em um conjunto I se:   > 0,  N() tal
que, se n > N, então |sn(x) – S(x)| < ,  x  I.
• Exemplo: Apostol, Vol. 1, Fig. 11.3, pg. 424.

• Exercício: mostre que a sequência {x/n}


converge pontualmente, mas não
uniformemente, para a função f(x) = 0, para
todo x real.

• Resolução:
lim = 0  a sequência converge pontualmente
x
n →
n
para f(x) = 0.
Deve-se mostrar agora que, fixado um número
 > 0 qualquer, não existe N() tal que, se
n > N, então |x/n| <  para todo x real.

De fato, para qualquer x cujo módulo seja


superior a .n, a última desigualdade não é
atendida. Logo, a sequência não converge
uniformemente no domínio real.
• Exercício: mostre que a sequência {x/n}
converge uniformemente para a função f(x)= 0
em qualquer subconjunto limitado I  |R.

• Resolução: Como o subconjunto é limitado,


admita que |x|  D, D > 0,  x  I.
Então, dado um  > 0, considere N  |N tal
que N > D/ . Assim,  n > N, |x/n|  D/n < ,
 x  I. Logo, a sequência {x/n} converge
uniformemente para f(x) = 0 em I.
• Sequências uniformemente convergentes
apresentam as seguinte propriedades:

1) se {fn} converge uniformemente para F(x) e


se cada função fn é contínua em p, então F(x)
também é contínua em p (Teorema 11.1)

x x
2) lim f n (t )dt =  lim  f n (t )dt (Teorema 11.3)
n → n →
a a
• Para séries uniformemente convergentes:

 

1) lim  f k ( x) =  lim f k ( x) (Teorema 11.2)


x→ p x→ p
k =1 k =1

 

2)   f
k =1
k (t)dt =   f k (t)dt
k =1
(Teorema 11.4)

• Observe, porém, que o mesmo pode não


ocorrer com a derivação.
 sen(nx) 
• Exemplo: 
 n converge uniformemente


para 0 em todo o domínio real. Cada função
dessa sequência é derivável, mas a sequência
{cos(nx)}, obtida derivando-se cada função da
sequência original, diverge (faça, por
exemplo, x = ).

sen(kx)
• Exemplo:  k converge uniformemente
2
k =1 
cos(kx)
em todo o domínio real, mas  k (a série
k =1

obtida derivando-se a primeira termo a


termo) diverge em x = 0.
Assim, a derivação termo a termo pode
destruir a convergência, mesmo que a série
original seja uniformemente convergente.
Teste M de Weierstrass

• TEOREMA: Sejam  f ( x) uma série de funções


n =0
n

reais pontualmente convergente em um


conjunto E  |R, e  a uma série de números


n =0
n

reais positivos convergente tal que


|fn(x)|  an,

 x  E e  n  |N. Então,
 f ( x) converge uniformemente em E.
n =0
n
• Demonstração:

Pelo Teste da Comparação,  f ( x) converge


n =0
n

absolutamente para cada x ∈ E. Supondo que


essa série convirja para a função F(x), temos
que, para cada x no conjunto E:
𝑛 ∞

𝐹 𝑥 − ෍ 𝑓𝑘 (𝑥) = ෍ 𝑓𝑘 (𝑥) ≤
𝑘=1 𝑘=𝑛+1
∞ ∞

≤ ෍ 𝑓𝑘 (𝑥) ≤ ෍ 𝑎𝑘
𝑘=𝑛+1 𝑘=𝑛+1

Como  a é convergente, conclui-se que, para


n =0
n

todo ε > 0, ∃ 𝑁(𝜀) tal que, se 𝑛 ≥ 𝑁, então:


෍ 𝑎𝑘 < 𝜀
𝑘=𝑛+1

Portanto, para todo ε > 0, ∃ 𝑁(𝜀) tal que, se


𝑛 ≥ 𝑁, então:

𝐹 𝑥 − ෍ 𝑓𝑘 (𝑥) < 𝜀
𝑘=1
• Exemplos:


sen(nx)

n =1 n 3/ 2


cos(nx)

n =1 n n
Séries de Potências Reais

• Uma série do tipo  n


a
n =0
.( x − a ) n
, onde a e x são
reais, é denominada série de potências real.

• Toda série de potências real possui um


intervalo (a – r, a + r), chamado intervalo de
convergência. O número a é o centro do
intervalo, e r é o raio de convergência.
• TEOREMA:

considere que a série de potências
෍ 𝑎𝑛 𝑥 𝑛 converge em um ponto 𝑥1 ≠ 0. Então:
𝑛=0

a) a série converge absolutamente para todo


𝑥 no intervalo 𝑥 < 𝑥1 ; e

b) A série converge uniformemente em todo


intervalo com centro em 0 e raio 𝑅 < 𝑥1 .
• Demonstração:

Como ෍ 𝑎𝑛 𝑥1𝑛 converge:


𝑛=0

Em particular, existe N tal que, se 𝑛 ≥ 𝑁,


então 𝑎𝑛 𝑥1𝑛 < 1. Seja S um intervalo centrado
em 0 e de raio R, tal que 0 < 𝑅 < 𝑥1 . Se 𝑥 ∈ 𝑆
e 𝑛 ≥ 𝑁, temos que 𝑥 ≤ 𝑅 e:

𝑛 𝑛 𝑛
𝑥 𝑥 𝑅
𝑎𝑛 𝑥 𝑛
= 𝑎𝑛 𝑥1𝑛 < ≤
𝑥1 𝑥1 𝑥1
𝑅 ∞

Como 0 < < 1, ෍ 𝑎 𝑥 𝑛


𝑛
é dominada pela
𝑥1 𝑛=0

série geométrica convergente de termo geral


𝑅/𝑥1 . Conclui-se pelo Teste M de Weierstrass

que ෍ 𝑎 𝑥 converge absolutamente no intervalo


𝑛
𝑛

𝑛=0
S.
Além disso, o argumento mostra que essa
série converge absolutamente para cada 𝑥 ∈ S.
Como todo ponto 𝑥 que satisfaz 𝑥 < 𝑥1 está
em um intervalo centrado em 0 com raio
𝑅 < 𝑥1 , a demonstração fica completa.
• TEOREMA: considere que a série de potências

real ෍ 𝑎 𝑥 converge ao menos para o ponto


𝑛
𝑛

𝑛=0
𝑥1 ≠ 0, e diverge ao menos para o ponto 𝑥2 .
Então existe um número real positivo r tal que
a série converge absolutamente para 𝑥 < 𝑟 e
diverge para 𝑥 > 𝑟.
• Demonstração:
Seja A o conjunto de todos os números

positivos 𝑥 para os quais a série ෍ 𝑎 𝑥 converge.


𝑛
𝑛

𝑛=0
A não é um conjunto vazio, pois contém ao
menos o ponto 𝑥1 .
Pelo teorema anterior, nenhum elemento de
A pode ser maior do que 𝑥2 , de modo que esse
número é um limite superior de A.
Como A é um conjunto não vazio de números
positivos com limite superior, ele possui um
supremo r.
𝑟 ≥ 𝑥1 ⇒ 𝑟 > 0

Como r é o supremo de A, nenhum elemento


desse conjunto pode excedê-lo; portanto, a série
diverge para 𝑥 > 𝑟.

Se 𝑥 < 𝑟, existe um número positivo 𝑘 ∈ A


tal que 𝑥 < 𝑘 < 𝑟 (pois r é o supremo de A) ⇒

⇒ pelo teorema anterior, ෍ 𝑎 𝑥 converge absolu-


𝑛
𝑛

𝑛=0
tamente.
• OBS: os dois teoremas anteriores pode ser
generalizados para qualquer série de
potências com centro em 𝑎 ≠ 0, fazendo-se a
mudança de variável 𝑋 = 𝑥 − 𝑎.

• Para todo x dentro do intervalo, a série


converge absolutamente e uniformemente;
fora do intervalo, a série diverge.
• Para cada série de potências definimos uma
função soma cujo valor para cada x no
intervalo de convergência é dado por

f(x) =  a .(x − a) . Diz-se que essa série representa


n =0
n
n

a função f no intervalo de convergência, sendo


denominada expansão em série de potências
de f em torno de a.
• Exemplo: Determine o conjunto de todos os
reais para os quais a série  ( x + 3) converge.
 n

n =1 (n + 1).2 n

(x + 3)n+1 (n + 1).2n x+3 x+3


• Resolução: lim (n + 2).2
n → n +1
( x + 3) n
= lim
n → 2
=
2
Se o limite acima for inferior a 1, a série
converge: x + 3  1  – 5 < x < – 1
2

Analisando os extremos:

(−1) n

x = – 5:  n + 1 (converge, conforme o critério


n =0

de Leibniz)
x = – 1: (diverge, pois é assintoticamen-
te igual à série harmônica)

Logo, a série dada converge  x  [– 5, – 1), e


diverge para qualquer valor fora desse interva-
lo.

• Exercício: para as séries abaixo, determine o


conjunto de todos os reais nos quais cada uma
converge.

(−1) n 2 2 n 2 n 
(−1) n+1 n n
a) 
n =1 2n
x b) 
n =0 3 n
x

 
xn
c)  n
n =0
2 n
3 x n
d) 
n =1 n

Respostas:
a) Converge em [– 1/2, 1/2].
b) Converge em (– 3, 3).
c) Converge em (– 1/3, 1/3).
d) Converge em [– 1, 1).

• Dada uma série de potências f ( x) =  a .( x − a) que n
n

n =0
converge  x  (a – r, a + r), temos que:

a) f é contínua em (a – r, a + r);
b) a derivada f’(x) existe  x no intervalo de

convergência e é definida por f ' ( x) =  na ( x − a) ; n =1


n
n −1

c) a integral de f pode ser calculada


integrando-se a série termo a termo:

an .( x − a) n+1
f (t )dt = 
x
a
n =0 n +1

d) a série derivada e a série integrada têm o


mesmo raio de convergência r.
• Exemplo:
2 n
1 + x + x + ... + x + ... = 1/(1 – x), |x| < 1

1 + 2x + 3x2 + ... + nxn-1 + ... = 1/(1 – x)2, |x| < 1

1 – x + x2 – ... + (–1)nxn + ... = 1/(1 + x), |x| < 1


n +1
x 2 x3 x
x − + − ... + (−1) n +  = ln 1 + x , |x| < 1
2 3 n +1
Séries de Taylor e Maclaurin
• Seja f uma função tal que f’, f”, ..., f(n – 1)
existam em um intervalo aberto em torno do
 (k )
f (a)
ponto a pertencente a|R. A série  k! ( x − a) é k =0
k

denominada série de Taylor de f(x) no ponto


a. Quando a = 0, a série é chamada série de
Maclaurin.

n
f ( k ) (a)
• f(x) = 
k =0 k!
( x − a) k + En(x), onde En(x) = n1!  (x − t)
a
x
n
f ( n+1) (t )dt
• A soma finita é o polinômio de Taylor de grau
n gerado por f em a, e En(x) é o erro cometido
na aproximação de f pelo seu polinômio de
Taylor. Quando n → , a série de Taylor
convergirá para f(x) se En(x) → 0.

• Com a mudança de variável t = x + (a – x)u 


 dt = – (x – a)du, obtém-se:

( x − a) n +1 1
En(x) = n! 
0
u n f ( n +1) [ x + (a − x)u ]du (*)
• Condição suficiente para a convergência da
série de Taylor: se f é infinitamente derivável
em um intervalo I = (a – r, a + r) e se existe
uma constante positiva d tal que |f(n)(x)|  dn
para n  |N e para todo x em I, então a série
de Taylor gerada por f em a converge para f(x),
 x  I.

• Demonstração: Aplicando |f(n)(x)|  dn na


fórmula (*), obtém-se:
n +1 n +1
x−a x−a
0  E n ( x) 
n!
d n +1
1

u
n
du =
(n + 1)!
d n +1
=
B n+1
(n + 1)!
, onde B = d.|x – a|
0

Para cada B, B /n! → 0 quando n → . n

Assim, En(x) → 0  x  I.

• Exemplo: As funções sen x e cos x têm


derivadas de ordem n sempre menores ou
iguais a 1. Logo:

 
(−1) n −1 2 n −1
,  x  |R.
f ( k ) (0) k x3 x5
sen x = k =0 k!
x = x− +
3! 5!
− ... = 
n =1 ( 2 n − 1)!
x
• Séries de Maclaurin notáveis:
 2 n −1
x
sen x =  (−1) n −1 ,  x | R
n =1 (2n − 1)!
 2n
x
cos x =  (−1) n ,  x | R
n =0 (2n)!
 n
x
ex =  ,  x | R
n = 0 n!
 n +1
x
ln (1 + x) =  (−1) n , −1  x  1
n =0 n +1
 2 n +1
x
arctg x =  (−1) n , −1  x  1
n =0 2n + 1
• Exercício: Admitindo que cada uma das
funções a seguir possa ser desenvolvida em
uma série de potências de x, verifique que os
coeficientes têm a forma dada e mostre que
as séries convergem para os valores indicados
de x.


xn 
(−1) n x 2n
a) 1
=  n+1 , |x| < 2 b) e − x 2
= , x
2 − x n =0 2 n =0 n!

 2 n −1
c) sen2 x =  (−1) n+1
2
x 2n ,x
n =1 (2n)!
Exercícios
• 1) Prove que, se f tem uma representação
(expansão) em séries de potências em torno

de a, isto é, se f(x) =  c ( x − a) , |x-a| < R, então


n =0
n
n

seus coeficientes são dados pela fórmula:


f ( n ) (a)
cn =
n!
• 2) Expanda sen x em série de Maclaurin.

• 3) Expanda ln x em série de Taylor em torno


de x = 1.

• 4) Expanda ex em série de Maclaurin.

• 5) Expanda cos x em série de Maclaurin.

• 6) Expanda x.cosx em série de Maclaurin.


• 7) Calcule:
ex −1− x
a) lim
x →0 2
x
1
sen x
b) 0 x dx

• 8) Demonstre o teorema 7.7 do Volume 1 do


Apostol.
• 9) Utilize o Teorema do Valor Médio para
Integrais (teorema 3.16 do Volume 1 do
Apostol) para mostrar que En(x) (o erro na
fórmula de Taylor) pode ser escrito como:
f ( n+1) (c)
En ( x) = ( x − a) n+1
(n + 1)!

(Forma de Lagrange para o Resto).


• OBS: na prática, trabalhamos com um limite
superior para f(n+1)(t), estimando assim um
erro máximo:

En ( x)  M
( x − a)
n +1

(n + 1)!

onde M = Máx |f(n+1)(t)| em [a,x].


• 10) Determine o valor da constante
exponencial e, com erro inferior a 10-6.
1

• 11) Mostre que  e dx pode ser aproximada


− x2

1 1 0
pela soma 1 − 3 + 10 com erro inferior a 0,025.

• 12) Calcule  e − x2
dx com precisão de 0,001.
0

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