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AULA DO DIA 25 DE MARÇO - MAP-2313

A partir de agora vamos usar a seguinte notação.


A série de Fourier real é definida como a série

a0 X
+ an cos (nθ) + bn sen (nθ) ,
2 n=1

com os coeficientes an e bn definidos nas aulas anteriores.


A série de Fourier complexa é definida como a série

X
cn einθ ,
n=−∞

com os coeficientes cn definidos nas aulas anteriores.


Vimos que se permitirmos coeficientes an , bn e cn complexos, ambas as séries são equivalentes.

1. Comparação entre convergência pontual e uniforme


Definição 1. (Tipos de convergência) Seja S é um intervalo (finito ou infinito) de R. Sejam f : S → R uma
função e (fn )n∈N uma sequencia de funções, fn : S → R. Dizemos que:
1) (fn ) converge pontualmente a f , se limn→∞ fn (x) = f (x), ∀x ∈ S.
Note que (limn→∞ fn (x) = f (x) ⇐⇒ limn→∞ |fn (x) − f (x)| = 0)
2) (fn ) converge uniformemente a f , se limn→∞ (supx∈S |fn (x) − f (x)|) = 01
Observação 2. 1) Se (fn ) converge uniformemente a f , então converge pontualmente para f .
De fato, para x ∈ S, temos 0 ≤ |fn (x) − f (x)| ≤ supx∈S |fn (x) − f (x)|. Logo, se
lim (supx∈S |fn (x) − f (x)|) = 0,
n→∞

então limn→∞ |fn (x) − f (x)| = 0.


2) Poderı́amos considerar funções com valores complexos também. A definição de convergência pontual e
uniforme é igual a dada anteriormente.
3) Convergência pontual não implica convergência uniforme.
Seja fn : [0, 1] → R dado por f (x) = xn e fn : [0, 1] → R dado por

0, 0 ≤ x < 1
f (x) = .
1, x = 1
Logo para cada x ∈ [0, 1], temos
lim fn (x) = f (x) .
n→∞

No entanto, supx∈[0,1] |fn (x) − f (x)| ≥ |fn (y) − f (y)| para qualquer y ∈ [0, 1] pela definição de sup.
Mas |fn (y) − f (y)| = y n , se y < 1. Como y n se aproxima cada vez mais de 1, quando y → 1 (ou seja,
limy→1− y n = 1), concluı́mos que supx∈[0,1] |fn (x) − f (x)| = 1. Assim, não temos convergência uniforme.

1Para quem não conhece, sup indica supremo. É muito semelhante a o máximo. Para entender, consideremos I um
subconjunto de R (no caso acima I = {|fn (x) − f (x)| ; x ∈ S}. Se existe x0 ∈ I tal que x ≤ x0 para todo x ∈ I, então dizemos
que x0 é o máximo do conjunto I. Se existir um número real C > 0 tal que x ≤ C para todo x ∈ I, então dizemos que C é
um limitante superior de I. O supremo é definido como o menor limitante superior de I. Se existe um máximo x0 , então x0
também é o supremo de I. Pode ocorrer de existir o supremo sem existir o máximo. Por exemplo, seja I = [0, 1[. Logo I tem
um supremo, que é igual a 1. Mas I não tem um máximo. De fato, não existe x0 ∈ [0, 1[ tal que x ≤ x0 para todo x ∈ [0, 1[
(este x0 deveria ser igual a 1 que não pertence a [0, 1[).
Se tudo isso estiver muito confuso, pense no sup como sendo o máximo. Não é muito preciso, mas é semelhante.
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1.1. Séries. Vamos agora entender a convergência pontual e uniforme de séries.


Definição 3. Seja S é um intervalo (finito ou infinito) de R. Sejam g : S → R uma função e (gn )n∈N uma
sequência de funções gn : S → R. Dizemos que P 
P∞ n
1) A série j=1 gj converge pontualmente a g se a sequência j=1 gj converge pontualmente a g,
Pn n∈N
isto é, limn→∞ j=1 gj (x) = g (x) para todo x ∈ S.
P∞ P 
n
2) A série j=1 gj converge uniformemente a g se a sequência j=1 gj converge uniformemente a
  n∈N
Pn
g, isto é, limn→∞ supx∈S j=1 gj (x) − g (x) = 0.
P∞ Pn
3) A série j=1 gj converge absolutamente em x0 ∈ S se j=1 |gj (x0 )| < ∞.
Podemos enunciar então o seguinte critério de convergência de séries.
P∞
Proposição 4. Seja j=1 gj uma série de funções gj : S → R. Logo
1) Se para um certo x0 ∈ S a série converge absolutamente, então a série converge no ponto x0 , isto é,
X∞ Xn
|gj (x0 )| < ∞ =⇒ ∃ lim gj (x0 ) .
n→∞
j=1 j=1

P∞2) (Teste M de Weierstrass) Se existem constantesPMj > 0 tais que |gj (x)| ≤ Mj para todo x ∈ S e

j=1 Mj < ∞, então existe g : S → C tal que a série j=1 gj converge uniformemente a g.
P∞
Observação 5. Todos os resultados acima continuam valendo para séries do tipo j=0 gj (começando por zero)
P∞ Pn
e j=−∞ gj (indo de −∞ a ∞). A convergência neste último caso é definida pelo limite limn→∞ j=−n gj .
As definições e os resultados são os mesmos para funções com valores complexos.
Podemos provar agora o principal teorema.
Teorema 6. Seja f : R → C uma função contı́nua, suave por partes e 2π-periódica. Logo a série de Fourier
real e a série de Fourier complexa convergem uniformemente.
Demonstração. Basta aplicar o teste M de Weierstrass para essas séries.
Vamos começar com a série complexa. Neste caso, temos

X X∞
cn einθ ≤ |cn | .
n=−∞ n=−∞
P∞
Assim, basta provar que n=−∞ |cn | < ∞.
Porém sabemos que se f : R → C é uma função contı́nua e suave por partes, então f 0 é contı́nua por partes
e seus coeficientes são c0n = incn . Como f 0 é contı́nua por partes, sabemos pela desigualdade de Bessel que
∞ ∞ Z π
2 2
X 2
X
(1.1) |incn | = |c0n | ≤ |f 0 (x)| dx.
n=−∞ n=−∞ −π

Concluı́mos que para qualquer N ∈ N, temos


N N N
X X 1 X 1
|cn | = |c0 | + incn = |c0 | + ncn
in n
n=−N n=−N n6=0 n=−N, n6=0
  12 ! 12
(1) N N (2)
Z π
X 1 X 2 2
≤ |c0 | +  |ncn | ≤ |c0 | + C |f 0 (x)| dx.
n2 −π
n=−N n6=0 n=−N
2
Note que em (1) usamos a desigualdade de Cauchy-Schwartz:
  21   12
XM M
X XM
2 2
|aj bj | ≤  |aj |   |bj |  .
j=1 j=1 j=1

2Lembrando de álgebra linear que toda vez que temos um produto interno h., .i num espaço vetorial V , vale a desigualdade
de Cauchy-Shwartz: p p
|hu, vi| ≤ hu, ui hv, vi, ∀u, v ∈ V.
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PN 1
PN 1
R∞ 1
Na desigualdade (2), usamos que n=−N, n6=0 n2 = 2 n=1 n2 < ∞, já que 1 x2 dx < ∞, e também
usamos a desigualdade 1.1. 
Principais resultados e ideias dessa seção:
1) Definição de convergência pontual e uniforme.
2) Seja f : R → C uma função 2π-periódica suave por partes. Logo a série de Fourier converge pontualmente
a 12 (f (θ+ ) + f (θ− )). Em particular, converge para f (θ) quando f é contı́nua em θ.
3) Seja f : R → C uma função 2π-periódica suave por partes e contı́nua. Logo a série de Fourier converge
uniformemente a f .

Se V = RM , a = (a1 , ..., aM ) e b = (b1 , ..., bM ) e o produto interno é ha, bi = M


P
j=1 aj bj , então
 1  1
M M 2 M 2
X X X
aj bj ≤  |aj |2   |bj |2  .
j=1 j=1 j=1

Escolhendo a = (|a1 | , ..., |aM |) e b = (|b1 | , ..., |bM |), obtemos a desigualdade que queremos para usar na demonstração.

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