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Projeto de Plantação de uma Vinha

Rafael Tavares de Carvalho

Dissertação para obtenção de grau de mestre em


Engenharia da Viticultura e da Enologia

Orientador: Professor Doutor Carlos Manuel Lopes

Júri:
Presidente: Doutor Joaquim Miguel Rangel da Cunha Costa, Professor Auxiliar do
Instituto Superior de Agronomia da Universidade de Lisboa.
Vogais: Doutor Carlos Manuel Antunes Lopes, Professor Associado com Agregação
do Instituto Superior de Agronomia da Universidade de Lisboa;
Doutor Luís Manuel Bignolas Mira da Silva, Professor Associado do Instituto
Superior de Agronomia da Universidade de Lisboa.

2021
Resumo
Realizou-se um estudo sobre as variáveis que incorporam um projeto de plantação de uma vinha
e as respetivas atividades e planificações que antecedem a mesma. A parcela em estudo tem 1
hectare e situa-se em Arrifana, Azambuja, no centro de Portugal, Ribatejo, na região demarcada
Tejo. Foram escolhidas três castas para explorar sendo elas, as castas Aragonez ou Tinta Roriz,
Touriga Nacional e a casta Fernão Pires. As uvas produzidas na vinha serão para vinificação
própria, sendo também objetivo do início desta exploração, a criação de uma marca de vinhos.

A vinha terá um compasso de 1 metro entre cada cepa e 2,5 metros de entre linha, perfazendo
uma densidade de plantação de 4000 plantas por hectare.

A vinha não irá dispor de sistema de rega, mas irão ser realizada regas periódicas nos primeiros
anos, após a instalação da vinha, com o objetivo a combater eventuais stresses hídricos e
conferindo as melhores condições de desenvolvimento possíveis. A exploração tem ainda como
um dos principais objetivos, manter e aumentar a biodiversidade.

Palavras-Chave
Vinha de Sequeiro, Touriga Nacional, Aragonez, Fernão Pires, Tejo

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Abstract
An in-depth study was carried out on the variables that incorporate a vineyard planting project.
The plot under study has about 1 ha and is located in Arrifana, Azambuja, in central Portugal,
Ribatejo, in the Tejo demarcated region. Three varieties were chosen to explore, such as
Aragonez or Tinta Roriz, Touriga Nacional and Fernão Pires. The grapes produced in the vineyard
are for its own vinification to create a wine brand.

The vineyard will have a space of 1 meter between each vine and 2.5 meters between rows,
making a total of 4000.

The vineyard will not have an irrigation system, but periodic watering will be applied in the first
years, after the installation of the vineyard, in order to reduce the water stress, if this occurs.

As for the climate of the region, climatic needs of the varieties in question are satisfied, and there
are good conditions for the good growth and development of the plants.

A small table with the costs associated with planting the vineyard is also shown at the end.

Keywords
Rainfed vineyard, Touriga Nacional, Aragonez, Fernão Pires, Tejo

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Índice

Índice de Figuras ....................................................................................................................................... 5


Índice de quadros ...................................................................................................................................... 5
1. Introdução .......................................................................................................................................... 7
2. Objetivos............................................................................................................................................. 8
3. Projeto de instalação ........................................................................................................................ 9
3.1. Questões legais e apoios financeiros ........................................................................................ 9
3.2. Ecologia ....................................................................................................................................... 11
3.2.1. Caracterização da região ...................................................................................................... 11
3.2.2. Clima ....................................................................................................................................... 12
3.2.2.1. Índices Bioclimáticos ......................................................................................................... 14
3.2.3. Solo .......................................................................................................................................... 19
3.3. Parcela ......................................................................................................................................... 20
3.3.1. Caracterização da parcela .................................................................................................... 20
3.4. Preparação do solo .................................................................................................................... 21
3.4.1. Análises ao solo ..................................................................................................................... 21
3.4.2. Despedrega ............................................................................................................................. 22
3.4.3. Mobilizações Profundas ........................................................................................................ 22
3.4.4. Arruamento.............................................................................................................................. 23
3.4.5. Fertilização e correção de fundo .......................................................................................... 24
3.4.6. Drenagem ................................................................................................................................ 25
3.5. Opções técnicas ......................................................................................................................... 26
3.5.1. Castas ...................................................................................................................................... 26
3.5.2. Porta enxertos ........................................................................................................................ 27
3.5.3. Rega ......................................................................................................................................... 28
3.5.4. Certificação do material vegetativo ..................................................................................... 29
3.5.5. Sistema de condução ............................................................................................................ 30
3.5.6. Orientação das linhas ............................................................................................................ 31
3.5.7. Compasso e densidade de plantação ................................................................................. 32
4. Plantação ......................................................................................................................................... 33
4.1. Sistema de armação .................................................................................................................. 34
4.1.1. Postes internos e de cabeceiras .......................................................................................... 34
4.1.2. Arames ..................................................................................................................................... 35
5. Cuidados nos primeiros anos ........................................................................................................ 36
6. Custos de plantação ....................................................................................................................... 37

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7. Cronograma de atividades............................................................................................................. 38
8. Considerações Finais ..................................................................................................................... 39
9. Referências Bibliográficas ............................................................................................................. 40

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Índice de Figuras

Figura 1 - Mapa classificação de Koppen, fonte IPMA .............................................................. 15

Figura 2 - Mapa Índice de Winkler, Fonte IPMA ........................................................................ 16

Figura 3 - Mapa Índice Frescura Noturna, Fonte IPMA ............................................................. 17

Figura 4 - Mapa Índice Heliotérmico de Huglin, Fonte IPMA ..................................................... 18

Figura 5 - Imagem satélite do terreno em estudo, Fonte: CalcMaps ......................................... 20

Figura 6 – Arruamentos de acesso a máquinas ........................................................................ 23

Índice de quadros

Quadro 1 - Doses de referência kg/ha, para adubação de fundo em solos pobres ou argilosos,
fonte Nuno Magalhães, Tratado de Viticultura ............................................................................ 24

Quadro 2 – Vantagens e desvantagens porta enxertos, fonte E.Archer e D Saayman, Vine Root
..................................................................................................................................................... 27

Quadro 3 - Custos de plantação de uma vinha na região do Ribatejo ....................................... 37

Quadro 4 – Cronograma de Plantação Ano Zero ....................................................................... 38

Quadro 5 - Cronograma de Plantação Ano Um .......................................................................... 38

Quadro 6 - Cronograma de Plantação Ano Dois ........................................................................ 38

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1. Introdução
A vinha é uma cultura que se encontra no território ibérico, segundo a Bíblia, desde os anos 2000
a.C.. A origem da vinha, apesar de não ser ibérica, começou a instalar-se no nosso território com
o povo Tartesso, que utilizava o vinho como moeda de troca. Desde então a vinha nunca mais
deixou o nosso território. Ganhou uma enorme expressão na cultura e nos costumes dos povos
que habitaram a Península Ibérica, desde os referidos Tartessos (presumivelmente dos primeiros
povos a habitarem esta região) até aos dias de hoje (IVV, 2019).

Portugal foi e é um importante produtor e consumidor de produtos resultantes da cultura da vinha:


vinhos, uvas, passas e/ou qualquer outro produto que tenha origem a partir da uva.

No ramo agrícola, e num mundo cada vez mais competitivo e exigente a todos os níveis, é
imperativo um bom planeamento e a correta execução de projetos agrícolas, de forma que a
exploração e a cultura sejam o mais rentáveis possível. De importante realce são as culturas
perenes, como a vinha, que devem ter um planeamento rigoroso, de forma a que a exploração
da cultura seja o mais bem concebida possível. A vinha, sendo uma das culturas perenes com
maior expressão no mundo, não é exceção e carece de um minucioso planeamento, pois um
mau projeto pode levar a prejuízos avultados.

O que se pretende com este trabalho será, assim, elaborar um projeto de instalação de uma
vinha, no qual teremos de levar em conta as questões legais e aspetos financeiros, a ecologia
da região, a caracterização da parcela, a preparação do solo, as operações técnicas (rega,
escolha de castas, enxertos, entre outros), os custos de plantação e a programação das
atividades.

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2. Objetivos
Este projeto tem como objetivo principal dimensionar a plantação de uma nova vinha, que servirá
de base, de início, a uma exploração agrícola, onde a intenção será a exploração vitícola e
enológica, florestal, apícula (sendo que já se começou a atividade neste ramo) e, por fim,
pomares de citrinos. No entanto, o trabalho apresentado recairá apenas na parte da viticultura,
visando uma correta plantação.

A vinha a plantar terá como finalidade a obtenção de uva para vinificação. A vinificação pretende-
se fazer numa adega a construir futuramente no local, sendo que nos primeiros anos, a produção
de uvas obtida na nova vinha será vendida.

O objetivo na vinificação passará sempre por produzir vinhos de qualidade em detrimento da


quantidade, uma vez que o solo e o clima não permitem grandes produções. Na vinificação, o
propósito será a obtenção de vinhos de denominação de origem protegida (DOP), que integrará
as requisições necessárias pela sub-região do Cartaxo. Os vinhos brancos e tintos DOP serão a
principal produção, mas tenciona-se, também, obter uma pequena quantidade de um vinho de
qualidade superior, com garrafas numeradas com uvas provenientes de uma vinha octogenária.

Pretende-se ainda realizar um estudo no futuro, para verificar se as características do vinho se


alteram quando o mesmo estagia, no interior de colmeias. Quere-se com isto, verificar se a
qualidade dos vinhos, aumenta estando este em contacto com a atmosfera de uma colmeia.

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3. Projeto de instalação

3.1. Questões legais e apoios financeiros

A vinha é, desde 13 de abril de 1932, uma cultura condicionada, portanto para se proceder à sua
plantação devem-se respeitar certas e determinadas regras para que a lei seja cumprida. Para
que se possa iniciar o projeto de plantação, o candidato deve ser proprietário das parcelas de
terreno a ocupar com a vinha ou possuir documento válido para a utilização do mesmo terreno,
não sendo permitido que a área do terreno seja inferior à da superfície para a qual será solicitada
a autorização de plantação (Diário da república eletrónico, 2015). O período de candidatura à
plantação de uma nova vinha decorre entre as datas de 1 de abril e 15 de maio, porém em alguns
anos podem ser abertos novos períodos pelo Instituto da Vinha e do Vinho (IVV) fora do anterior
(Diário da república eletrónico, 2015).

O pedido de plantação enviado ao IVV deve conter a área de terreno que se irá plantar, bem
como a parcela da exploração agrícola que irá ser usada. Deve ser apresentado o comprovativo
de propriedade ou documento válido para a utilização da superfície a ocupar com a vinha assim
como ainda a especificação do produto que se pretende obter (Diário da república eletrónico,
2015).

A inscrição, para se exercer atividade no setor vitivinícola, é obrigatória para qualquer entidade
e deve ser solicitada ao Instituto da Vinha e do Vinho, caso a pessoa ou organização que
pretende plantar a vinha ainda não seja detentora da mesma (IVV, 2017).

Quando a autorização de plantação é concedida, o viticultor tem um prazo de três anos civis,
sem possibilidade de alargamento de prazo e a contar da data em que a autorização é concedida,
para realizar a plantação (IVV, 2016). Caso o interessado na plantação de uma nova vinha ainda
não esteja registado como viticultor terá de entregar a candidatura também, para que fique
registado no IVV (IVV, 2016).

Quando se começa a vinificar, assim que possível (+/- 3 anos após a plantação), é obrigatória a
apresentação de uma declaração anual de existência (DE), que obriga o vitivinicultor a manifestar
a quantidade de vinho que tem para venda (IVV, 2017).

O viticultor tem ainda outras comunicações obrigatórias a realizar ao IVV, tais como apresentar
a declaração de arranque e de plantação no prazo máximo de 30 dias seguidos, após o respetivo
arranque e a respetiva plantação, caso se aplique o respetivo arranque (Diário da república

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eletrónico, 2015). Esta comunicação difere da comunicação onde se efetua unicamente a
plantação.

Quanto aos apoios financeiros, segundo o Instituto Financeiro da Agricultura e Pesca (IFAP), a
ajuda à plantação de uma vinha é fixada por hectare, dependendo do material vegetativo
utilizado, sistematização do terreno e densidade de plantação (IFAP, 2018). Em média, as ajudas
estão no intervalo de valores entre os 6.550,00 euros/ha e os 14.100 euros/ha (IFAP, 2018).

O programa “Jovens Agricultores” pode, também, ser usado neste projeto, como forma de ajuda
à instalação da exploração. Para aceder a este programa de apoio, o candidato terá de ter entre
18 e 40 anos, que vá instalar pela primeira vez uma exploração agrícola, na qualidade de
responsável da exploração, e que cumpra com os critérios de competência e formação dispostos
no artigo 27.º da Portaria n.º 57/2015, republicada pela Portaria nº 33/202 (IFAP, 2021).

O apoio “Jovem Agricultor”, pode ir até a um total de 20.000,00 euros em investimentos iguais
ou superiores a 25.000.00 euros, com uma majoração de 5.000,00 euros, se o investimento for
maior ou igual a 100.000,00 euros. Se o agricultor se instalar em regime de exclusividade, poderá
ainda receber mais um prémio de 5.000,00 euros (AJAP, 2021).

Relativamente à legislação sobre a proteção integrada, o agricultor, para proceder à realização


desta, deve ser possuidor de formação superior em ciências agrárias, da qual tenha resultado a
aquisição de competências na área da proteção integrada ou formação superior em ciências
agrárias, complementada com ações de formação para técnicos, de que tenha resultado a
aquisição de competências na área da proteção integrada (DGADR, 2009).

Na vinificação, quando se pretende obter um vinho DOP existem várias exigências que temos
de cumprir se queremos ter um vinho com denominação de origem protegida (neste caso
DoTejo). A saber:

– A área de produção deve ser respeitada, sendo que para obter um vinho DOP o viticultor deve
ter os seus terrenos dentro dos limites das regiões demarcadas.

– Existem rendimentos máximos que não podem ser excedidos, que, no caso da sub-região do
Cartaxo, são de 80 hl/há, no vinho tinto, e, no branco, de 90 hl/ha (IVV, 2007).

– O teor alcoólico tem também intervalos entre os quais se deve encontrar para obter um produto
DOP de mesa: os tintos devem estar entre os 11,5 % de teor alcoólico e os 15% e os brancos
devem encontrar-se entre os 11% e os 15% (IVV, 2007).

– Os vinhos têm de seguir um protocolo de provas sensoriais às quais devem corresponder, bem
como devem ser seguidas regras especificas de engarrafamento (IVV, 2019).

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3.2. Ecologia

3.2.1. Caracterização da região

A região onde se pretende realizar o projeto denomina-se Ribatejo, e designa-se “Tejo”, como
região vitícola (Magalhães 2008). Situa-se no centro de Portugal. É uma região influenciada pelo
rio Tejo e pelos maciços de Porto Mós, Serra de Aire e Candeeiros e ainda pela Serra do
Montejunto (Magalhães, 2008). Há três sub-regiões de produção: Bairro, Charneca e Campo ou
Lezíria (Magalhães, 2008). O terreno em questão encontra-se na sub-região Bairro, que possui
um clima mediterrânico, sofrendo alguma influência marítima uma vez que se encontra mesmo
no limite fronteiriço da região demarcada de Lisboa (Magalhães, 2008).

Esta região foi durante muitos anos conhecida pela produção de vinhos a granel, com a finalidade
de abastecer a capital do país (Magalhães, 2008). No entanto nos anos 80 e 90, do século XX,
este panorama começa a mudar. Começa a criar vinhos de qualidade, reconvertendo um pouco
a viticultura, arrancando vinhas mal plantadas e plantando novas, em locais estratégicos e com
melhores aptidões de forma a mecanizar a cultura (Magalhães, 2008).

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3.2.2. Clima

O clima que prevalece na região é o mediterrânico, cuja sua classificação Koppen se define por
Csa (Figura 3). O clima, segundo esta classificação, considera-se temperado, com invernos
chuvosos e verões secos e quentes (IPMA, 2015). Mesmo fazendo parte da região Tejo, a
parcela em causa encontra-se na fronteira com a região de Lisboa, como foi anteriormente
referido, tendo, por isso, alguma influência marítima, especialmente durante a noite na qual as
humidades se tornam elevadas. Esta proximidade à fronteira com a região de Lisboa, faz com
que esta localidade tenha um clima peculiar, dentro da região Tejo, sendo por isso o seu clima
considerado temperado quente, de noites frias e de seca moderada, ao contrário do normal da
região do Tejo, que se classifica como quente de noites temperadas e seca moderada (Climaco
et al. 2012). Os valores anuais de precipitação encontram-se em valores médios de 750 mm
(IVV, 2009).

As intervenções do homem têm uma grande influência no rendimento da cultura e,


simultaneamente, todos os fatores climáticos podem afetar positiva e negativamente a cultura da
vinha. (Magalhães, 2008). A temperatura é um bom exemplo disso mesmo: quando as
temperaturas estão abaixo dos 0º C e os gomos começam a abrolhar, sobretudo no mês de
fevereiro, podemos ter morte dos gomos e, deste modo, afetar a produção de um ano. Ou, por
outro lado, quando temos temperaturas bastante elevadas, durante os meses de verão, podemos
ter perdas de produção associadas a escaldões (Climaco et al. 2012).

As temperaturas elevadas, capazes de prejudicar a cultura com escaldões, nunca tiveram


expressão na localidade onde a vinha vai ser plantada, a não ser em terrenos muito protegidos
do vento, onde não há fluxo de ar e as temperaturas atingem valores superiores expondo dessa
forma as uvas a temperaturas muito elevadas. O terreno em causa, durante os 20 anos que teve
vinha, nunca apresentou uma quebra de produção expressiva associada aos escaldões, isto
porque, a exposição do terreno para noroeste favorece a passagem dos ventos predominantes,
havendo sempre fluxo de ar continuo.

As geadas, temperaturas abaixo dos 0ºC, têm alguma expressão na região, mas apenas em
locais com reduzida altitude, durante os meses de outubro até maio. Contudo, o terreno onde se
pretende fazer a instalação da vinha, encontra-se a 130 metros de altura relativamente ao nível
médio da água do mar, fazendo com que a geada tenha pouca expressão na parcela em causa.
Este fenómeno é, portanto, raríssimo e foi registado apenas durante um ano em que se cultivou
vinha no terreno em estudo, porém não causou danos nas plantas. A ocorrência de granizo é
também reduzida na região (IPMA, 2009).

O vento, por seu lado, faz-se sentir durante quase todo o ano sendo muitas vezes prejudicial,
quando excessivo, nas fases mais precoces do crescimento da vegetação da cepa, causando

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danos em estados fenológicos entre o E e o G, com base na escala de Baggiolini. Quando não
excessivo, o vento é útil na diminuição da probabilidade de ocorrerem doenças como o oídio e
ou o míldio.

A instalação de uma estação meteorológica na parcela é de elevado interesse uma vez que a
escassez de dados meteorológicos da região e da localidade em específico é muito elevada. A
obtenção de dados climáticos, como a velocidade do vento, valores de humidade relativa,
precipitações, entre outros, traz vantagens a curto e longo prazo.

O conhecimento do perfil climático é algo de elevado valor visto que, com corretas interpretações,
podem-se poupar fundos e direcionar a exploração agrícola para culturas que estejam mais
adaptadas à evolução climática da região. A obtenção de informação climática ajuda na criação
de um perfil climático mais preciso e, desta forma, torna as tomadas de decisão mais
fundamentadas e corretas.

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3.2.2.1. Índices Bioclimáticos

A região caracteriza-se por ter índice bioclimático de Winkler (IW) =3, o que significa que a região
tem entre 1700 e 1900 horas com temperaturas acima dos 10º C, entre 1 de abril e 30
de setembro (figura ). As necessidades das três castas que se pretendem implantar,
segundo o índice bioclimático de Winkler, vêm descritas mais abaixo, no ponto castas
(IPMA, 2015).

Relativamente ao índice de noites frias temos IF=3, o que significa que a região tem noites
frescas com temperaturas entre os 12º C e os 14 ºC (figura 5) (IPMA, 2015). Este índice tem
como principal objetivo avaliar o potencial qualitativo de uma região, sendo que a qualidade da
uva está muito relacionada com o comportamento noturno das videiras, uma vez que estas têm
maior dificuldade em mobilizar fotoassimilados quando as noites são quentes, tendo assim uma
menor percentagem de síntese de fenóis voláteis (Magalhães, 2008).

Por último o índice heliotérmico de Huglin IH=4, que define o clima da região como temperado
quente, e com um intervalo de temperaturas de 1 de abril a 30 de setembro, considerado entre
2100 e os 2400ºC (figura 6) (Climaco, et al, 2012) e (IPMA, 2015). Segundo Huglin (1986), em
latitudes entre os 40º e os 50 N, a vinha só é viável em regiões que tenham um índice de Huglin
superior a 1400º, o que se verifica na região em causa, sendo que não há limitação à maturação
de qualquer casta.

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Figura 1 - Mapa classificação de Koppen, fonte IPMA

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Figura 2 - Mapa Índice de Winkler, Fonte IPMA

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Figura 3 - Mapa Índice Frescura Noturna, Fonte IPMA

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Figura 4 - Mapa Índice Heliotérmico de Huglin, Fonte IPMA

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3.2.3. Solo

Segundo a carta de solos portuguesa, a área é identificada como tendo origem proveniente de
cambissolos, de rochas sedimentares post-Paleozóicas (Comissão Nacional do Ambiente, 1971).
Os cambissolos caracterizam-se por fraca a moderada meteorização do material parental, sendo,
por isso, considerados solos jovens e, uma vez considerados como sedimentares, têm uma
percentagem de argila um pouco superior, comparativamente aos graníticos, xistosos ou
quartzíticos (FAO, 2006).

Os solos da região do Bairro podem ainda ser considerados argilo-calcários de média fertilidade
e relevo algo acidentado (Magalhães, 2008), como se pode verificar no terreno em causa.

A questão do encharcamento dos solos, que pode levar muitas vezes à morte de plantas por
asfixia, neste caso, devido ao declive elevado do terreno, não existe qualquer tipo de risco
associado a essa problemática.

Relativamente a doenças e pragas que possam estar presentes no solo e que tragam problemas
à cultura da vinha, no caso concreto sobre este terreno já passou o tempo de segurança em
pousio desde o arranque da vinha anterior. Será, por isso, pouco provável haver problemas com
nemátodos, doenças de lenho, entre outros problemas específicos da cultura da vinha que
podem comprometer o bom desenvolvimento da vinha jovem. No entanto, com as respetivas
análises verificaremos depois a condição sanitária do mesmo.

No entanto, será aberto um perfil de forma a ter um melhor conhecimento sobre o terreno. A
abertura de um perfil, permite conhecer melhor algumas características do solo, tais como a
capacidade de drenagem do terreno e a permeabilidade à penetração e desenvolvimento das
raízes das plantas (White, 2015).

Avaliações como a profundidade do solo, textura, estrutura e consistência, são alguns


parâmetros que são avaliados na abertura de um perfil de solo (White, 2015).

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3.3. Parcela

3.3.1. Caracterização da parcela

A parcela em projeto é retangular (apróx. 160 metros por 60 metros), tem pouco mais de 10000
m2, com exposição sudoeste-noroeste e declive acentuado. A diferença entre o ponto mais alto
e o ponto mais baixo, na parcela, é de aproximadamente 31 metros de altura, sendo que o declive
médio na totalidade é de aproximadamente 18%. A parcela tem como suas confrontações a
Norte, Sul e Oeste outros terrenos, maioritariamente baldios, onde há possibilidade de aumento
de área de produção por emparcelamento e a Este uma estrada de acesso.

Figura 5 - Imagem satélite do terreno em estudo, Fonte: CalcMaps

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3.4. Preparação do solo

3.4.1. Análises ao solo

O solo, antes de receber qualquer cultura, tem de passar por várias etapas de estudo e
preparação.

A primeira etapa é a elaboração de análises e a abertura de um perfil. As análises ao solo servem


para o viticultor ter a perceção sobre que tipo de porta enxertos deve usar consoante as
características do seu solo. Servem ainda para que o viticultor tenha noção se tem um solo
saudável, livre de doenças e pragas ou não, e que tipo de fertilizações e/ou correções vai ter de
realizar.

Estas análises são bastante importantes uma vez que estamos a falar de uma cultura que
permanece no solo durante muitos anos, por isso o viticultor tem de ter conhecimento pleno sobre
as características do seu solo, de forma a efetuar as melhores decisões possíveis com o objetivo
de ter uma esperança de vida elevada na sua vinha.

Pelos motivos atrás mencionados é essencial fazerem-se análises físico-químicas e biológicas


para que o planeamento das atividades a realizar (controlo de pragas e doenças correções e ou
adubações, escolha do porta enxerto), sejam o mais corretas possível de forma a criar as
melhores condições para que a vinha se desenvolva corretamente (White, 2015).

As análises químicas são o método de o viticultor obter conhecimento dos teores de matéria
orgânica, micro e macronutrientes que o solo tem disponível, de forma a programar uma correta
correção e fertilização, tanto de fundo quer de cobertura (White, 2015).

Neste caso, como o terreno não tem culturas precedentes que deixem detritos, como troncos e
ou raízes, a recolha de amostras de solo será feita de forma regular, seguindo um zig-zag, e
perfazendo uma amostra total de 50 recolhas por hectare: cada recolha deve ter um peso
aproximado das 100 gramas e deve ser recolhida entre 3 e 20 centímetros de profundidade
(Magalhães, 2008).

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3.4.2. Despedrega

Muitas vezes é necessária a despedrega do terreno, atividade desnecessária neste caso, uma
vez que o terreno é cultivado todos os anos e está limpo de pedras, troncos, ou outros objetos
passiveis de causar danos às máquinas que operarão no terreno.

3.4.3. Mobilizações Profundas

O processo de mobilização profunda tem como principais objetivos preparar o solo de forma aa
compactação, facilitar a infiltração de água, aumentar a capacidade de retenção da mesma e
melhorar o arejamento do solo (Carvalho, 2006).Esta mobilização profunda costuma ser uma
surriba usando uma charrua pesada acoplada a uma bulldozer ou uma subsolagem, onde a alfaia
que efetua a tarefa é um subsolador ou ripper. As alfais de mobilização em profundidade têm
normalmente uma profundidade de trabalho entre 0,8 metros e 1 metro (Magalhães, 2008).

Neste caso, em concreto, irá optar-se pela realização de uma surriba de forma a incorporar a
matéria orgânica no solo amentando assim a fertilidade do mesmo e disponibilizando mais
nutrientes para o correto desenvolvimento radicular das plantas (Carvalho, 2006)

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3.4.4. Arruamento

Em termos de arruamento, o terreno irá ter 5 vias de circulação. Uma em cada lateral, uma em
cada ponta e uma que passará no meio do terreno. Nas pontas do terreno, ou seja, tanto para
Este como para Oeste, as cabeceiras irão ter 6 metros de largura para facilitar manobras de
máquinas. Todas as outras estradas terão uma largura de 4 metros.

Com os arruamentos, a área útil de plantação irá ter uma perda de 1000 m2 o que corresponde
a uma perda teórica de 400 plantas.

A execução de um arruamento perpendicular aos apresentados na figura 6 não traria grandes


vantagens e iria apresentar uma redução no efetivo de plantas, por isso não será opção.

Figura 6 – Arruamentos de acesso a máquinas

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3.4.5. Fertilização e correção de fundo

A aplicação de fertilizantes e corretivos de fundo representa, no processo de plantação de uma


nova vinha, a melhor oportunidade de incorporar certos elementos minerais de fraca mobilidade,
tais como fósforo, potássio, cálcio e magnésio (Magalhães, 2008). Estes elementos são
essenciais ao correto desenvolvimento das cepas. Esta intervenção é feita com base nos
resultados obtidos nas análises físico-químicas realizadas. Neste caso, como ainda não existem
análises realizadas, iremos usar dados de referência de unidades fertilizantes em kg/ha para
adubação de fundo (Quadro 1) (Magalhães, 2008)

Quadro 1 - Doses de referência kg/ha, para adubação de fundo em solos pobres ou argilosos, fonte Nuno
Magalhães, Tratado de Viticultura

P2O5 650
K2O 1600
MgO 600
B 50

A incorporação de matéria orgânica de fundo é outra atividade bastante importante e que nos
ajuda a ter uma maior fertilidade, melhor capacidade de retenção de água, além de contribuir
para o controlo da erosão, fornecimento gradual de azoto e ainda para o aumento da capacidade
de troca catiónica (Magalhães, 2008).

Quanto à adição de matéria orgânica a opção mais fácil, no caso desta plantação, será o uso de
dejetos de bovinos, na ordem das 2 a 5 t/ha, uma vez que há uma exploração perto do local de
plantação de uma familiar que dispensa o material necessário à plantação.

24
3.4.6. Drenagem

Os sistemas de drenagem, quando instalados numa parcela têm como princípio facilitar o
movimento da água sobre a superfície do solo e/ou no próprio solo (Moreira, 2019). No terreno
em estudo, este planeamento é ainda mais importante dado que o terreno tem declive elevado,
e têm histórico erosão severa.

A drenagem do solo, significa um processo de remoção natural ou artificial, do excesso de


água que se encontra no solo ou sobre o solo, com o intuito de evitar a morte por asfixia radicular
e acidentes de erosão e meteorização (Moreira, 2019).

Pode-se considerar resultado da drenagem de um terreno a remoção da água gravitacional, o


aumento da quantidade de água capilar, o aumento do volume de solo explorado pelas raízes,
aumento da temperatura do solo, aumento do arejamento e ventilação do solo e a remoção de
excesso de sais (Moreira, 2019).

Podemos considerar dois tipos principais de drenagem: a superficial e a subterrânea.

O processo de drenagem subterrânea, consiste em escoar a água (retirar toda a água


gravitacional) presente nos terrenos agrícolas, ficando apenas a água capilar usada pela
planta. A drenagem subterrânea do solo pode ser feita através de tubos, canais, valas e túneis.
Podem também ser utilizados motores para auxiliar o escoamento, o que pode tornar todo o
processo mais dispendioso (Moreira, 2019).

O terreno em causa, já detém, em metade da sua área total, um sistema de drenagem


subterrânea, no entanto, o lençol freático encontra-se muito distante da zona que será povoada
pelas raízes, o que nos indica que não é necessário recorrer à elaboração de mais sistemas de
drenagem subterrânea, uma vez que as plantas não correrão risco de asfixia.

É imperativo que a drenagem superficial seja instalada, para que se evitem, meteorizações e
erosões excessivas, fenómeno que ocorre com frequência no terreno em estudo, desde que a
antiga vinha foi arrancada.

A drenagem superficial, faz ainda mais sentido, uma vez que que o terreno é argiloso, o que
significa que a percentagem de infiltração de água, será muito inferior comparativamente a
terrenos arenosos (Millar, 1988).

Esta drenagem superficial, vai recorrer aos arruamentos da vinha para guiar a água superficial
para fora da parcela.

25
3.5. Opções técnicas

3.5.1. Castas

As três castas referenciadas anteriormente, Aragonez, Touriga Nacional e Fernão Pires foram
escolhidas, essencialmente porque permitem que se produzam vinhos DOP na região Tejo e
porque as suas exigências climáticas, são asseguradas nesta região.

A escolha da casta é uma decisão importante e deve ser feita em conjunto com tipo de porta-
enxerto a usar. Esta relação é justificada pela compatibilidade, afinidade, longevidade, entre
outros parâmetros, que se devem verificar entre castas e porta enxertos, para que a plantação
seja o mais viável possível a todos os níveis (IVV, 2019).

Tendo por base os dados referenciados anteriormente no ponto dos índices bioclimáticos, mais
propriamente no índice bioclimático de Winkler, temos na região um somatório de horas acima
dos 10ºC, a partir do mês de abril até ao mês de setembro, superior a 1700 h, o que significa que
as castas escolhidas conseguem completar o seu ciclo vegetativo e que, segundo Böhm (2012),
têm as seguintes necessidades:

Aragonez: 1500h

Touriga Nacional: 1610h

Fernão Pires:1450h

26
3.5.2. Porta enxertos

A escolha dos porta enxertos estará dependente das análises ao solo. No entanto, uma vez que
o terreno não irá dispor de sistema de rega, em primeira instância a melhor opção será porta
enxertos originários de Vitis rupestris (Magalhães, 2008). Por outro lado, a região tem por vezes
solos com elevado teor em calcário, o que depois de analisar o solo, pode vir a ditar a
necessidade de um híbrido entre Vitis rupestris e Vitis berlandieri, que é característico por
apresentar maior resistência ao calcário (Magalhães, 2008).

O uso de híbridos tem como objetivo aproveitar as melhores características de ambos os porta-
enxertos de forma a que a planta tenha o melhor desenvolvimento possível (Quadro 2).

Estes porta enxertos, são por isso ideais, para locais onde a seca, o calor e a falta de fertilidade
do solo se façam sentir (Magalhães, 2008).

Desta forma, os porta-enxertos híbridos de Vitis rupestris e Vitis berlandieri candidatos a serem
usados na plantação serão 99R, 110R, 140Ru ou 1103P.

Quadro 2 -– Vantagens e desvantagens porta enxertos, fonte E.Archer e D Saayman, Vine Root

Vitis rupestris Vitis berlandieri


Vantagens - Tolerante à filoxera; - Tolerante à filoxera;
- Bom crescimento radicular; - Alta tolerância a solos
- Tolerância mediana a solos calcários;
calcários; - Tolerante a solos com alguma
- Boa tolerância à seca, em salinidade;
solos profundos - Mediana a boa tolerância à
seca;
Desvantagens - Vigor reduzido; - Fraco crescimento radicular;
- Abrolhamento precoce. - Amadurecimento tardio.

27
3.5.3. Rega

Não fará parte das opções técnicas a instalação de sistema de rega na vinha, uma vez que os
lençóis freáticos se encontram a mais de 450 metros de profundidade e a água existente a este
nível é de reduzida qualidade, porque acarreta problemas com metais pesados e com calcário.

O teor de metais pesados traria problemas ao nível da qualidade da uva e o elevado teor de
calcário traria problemas ao nível da manutenção do sistema de rega. É ainda de salientar que
o custo de um furo com estas dimensões (400 metros) seria um investimento muito caro
rondando os 30 000€. Com a área de vinha a plantar de apenas 1 ha, muito dificilmente se
conseguiria recuperar o investimento realizado num furo com estas características.

Regas periódicas, serão, no entanto, indispensáveis num estado inicial da cultura da vinha,
principalmente no verão do ano da plantação.

28
3.5.4. Certificação do material vegetativo

O material vegetativo a usar na plantação tem grande importância. Se a qualidade do material


vegetativo não for assegurada, o viticultor pode ter grandes perdas monetárias logo no início do
projeto.

O material vegetativo tem, na União Europeia, regras bastante rigorosas. As suas normas de
produção e comercialização regem-se por várias diretivas que têm como principal objetivo a
aplicação de sistemas de certificação que garantam, através de um controlo oficial de cada país,
a identidade e genuinidade das variedades, bem como o estado sanitário das mesmas,
nomeadamente no que respeita a viroses (DGAV, 2021).

O controlo sanitário do material vegetativo apresenta uma importância muito grande, uma vez
que se este não for feito a transmissão de doenças, por parte de material proveniente de viveiro,
é bastante elevada (IVV, 2008).

Quando se pretende obter material vegetativo devemos sempre optar pelo material base ou pelo
material certificado, visto que estes têm um controlo superior ao material standard (DGAV, 2021).

29
3.5.5. Sistema de condução

O planeamento da plantação de uma vinha tem de ser acompanhado de um bom planeamento


de sistema de condução, que irá recair sobre diversos parâmetros. A saber: a geometria e
densidade de plantação, disposição da plantação na parcela e orientações das linhas
(Carbonneau e Cargnello, 2001).

O sistema de condução irá ser planeado de forma a que a vinha possa ser compatível com
mecanização na colheita da uva bem como na pré poda das cepas.

O objetivo é ter uma vinha que siga um plano monovertical ascendente, com uma sebe contínua,
de forma a aproveitar o máximo de radiação possível. A utilização deste tipo de sistema de
condução facilita o uso de maquinaria durante todo o ciclo vegetativo da planta desde a poda,
mobilização do solo, tratamentos fitossanitários até à vindima (Magalhães, 2008).

A opção escolhida para sistema de poda será o sistema de poda curta ou talão, em cordão Royat
unilateral. Royat é um sistema de poda que está associado à poda curta, sendo que os talões se
deixam com 2 a 3 olhos. Este é um sistema de fácil implementação e que não exige sistemas de
armação muito complexos. Por outro lado, este sistema é exigente na poda de formação, além
de também ser demorada e de difícil equilíbrio da vegetação sobre a totalidade do cordão
(Magalhães, 2008).

A poda de formação será realizada por uma equipa especializada, de maneira, a que haja uma
boa uniformidade de formação.

A forma de condução, junto com a densidade de plantação, orientação das linhas e intervenções
em verde, tem uma enorme influência na produção final de uva, uma vez que estes fatores
influenciam todo o ciclo vegetativo da planta. O sistema de condução, ao condicionar a absorção
de radiação, o controlo de temperatura, a humidade relativa e ainda a velocidade do vento,
influencia o microclima da zona de frutificação as cepas, dado que a (Magalhães, 2008).

30
3.5.6. Orientação das linhas

As linhas, por norma, devem ter orientação Norte-Sul, de forma a maximizar a fotossíntese. No
entanto, este parâmetro de aproveitamento de radiação pode ser condicionado pela forma e
disposição da parcela.

O que acontece na maioria das vezes, tal como no terreno em causa, é que não se pode seguir
a orientação N-S, uma vez que esta reduziria fortemente a eficiência da mecanização da vinha
e traria um investimento muito elevado porque a vinha teria de ser plantada em socalcos. Quando
isto acontece planta-se a vinha segundo as linhas de maior comprimento da parcela tornando
assim possível a mecanização da mesma (IVV, 2014)

A orientação que será utilizada neste caso será NO-SE. Esta disposição acaba por ser favorável
à iluminação das plantas, uma vez que o declive do terreno é acentuado negativamente, para o
lado Oeste, o que faz com que as plantas façam sombra reduzida umas às outras e que durante
a tarde tenham uma elevada exposição ao sol, até ao pôr do sol (Magalhães, 2008).

31
3.5.7. Compasso e densidade de plantação

O compasso escolhido será o que melhor permite a mecanização completa da vinha em todos
os estados fenológicos, mas que, ao mesmo tempo, garanta um bom número de plantas por
hectare sem nunca sujeitar as cepas a microclimas que possam causar danos devido a pragas
e doenças.

Com base nestes princípios, a densidade de plantação será de 4000 plantas/ha, o que determina
que teria de ser usado o compasso de 1 metro, entre cada cepa, por 2,5 metros de entre linha.
Usando este compasso conseguiríamos atingir o objetivo de 4000 plantas/ha.

32
4. Plantação
A plantação será realizada a partir de Fevereiro e até Maio, sendo preferencialmente entre
Fevereiro e Março. A plantação pode, no entanto, ser condicionada pela precipitação,
condicionando esta a entrada de maquinaria no terreno atrasando, deste modo, todo o processo.

Plantações mais tardias fazem com que o ciclo de desenvolvimento das plantas seja mais
reduzido, e o seu êxito de pegamento devido aos valores mais altos de temperaturas seja mais
baixo uma vez que temos aumentos da transpiração em plantas com pouca capacidade de
absorção de água devido ao reduzido sistema radicular (Magalhães, 2008).

Por estas razões, o intervalo de oportunidade de plantação de uma vinha é bastante importante
para que as atividades sejam todas realizadas no devido tempo sem que haja gastos monetários
para além dos estipulados.

A plantação será efetuada por uma máquina e por um trator com GPS. Esta máquina tem ainda
a capacidade de regar o enxerto pronto assim que este é colocado na terra. Esta prática é cada
vez mais necessária no processo de plantação de uma nova vinha tendo em conta as alterações
climáticas.

33
4.1. Sistema de armação

4.1.1. Postes internos e de cabeceira

O sistema de armação é de elevada importância uma vez que os seus objetivos são o de fazer
a vinha crescer de uma forma correta e estruturada seguindo uma linha continua e direita, de
obter uma parede vegetativa o mais uniforme possível, o de captar uma maior quantidade de
energia luminosa e ainda conferir eficácia nas operações culturais mecanizadas (Magalhães,
2008)

Os postes a usar deverão ser de dois tipos: postes intermédios, onde serão usados postes
metálicos, e no fim das linhas, serão usados postes de cabeceira, em madeira, com dimensões
superiores aos intermédios. Os postes intermédios, deverão ter dimensões entre 2 e 2,2 metros
de altura e serem enterrados a 50 ou 60 centímetros de profundidade.

Inicialmente as plantas irão ser colocadas no terreno juntamente com tutores de bambu, servindo
estes de suporte e auxílio para um crescimento sustentado e correto até aos primeiros arames.

A utilização de dispositivos de proteção de vegetação estará condicionada ao número de


mamíferos herbívoros (coelhos/lebres) libertados no ano de plantação por parte das associações
de caçadores. Antes da plantação o contacto com estas entidades será indispensável.

Nas cabeceiras serão usados postes de maiores dimensões (comprimento e diâmetro), uma vez
que estes têm de suportar forças elevadas do sistema de armação. No caso desta plantação em
específico, a escolha irá recair sobre postes de madeira, que têm uma boa durabilidade, e
comparativamente aos postes metálicos aguentam maiores tensões.

A vinha terá um total de 25 linhas, portanto serão necessários 50 postes de madeira para as
cabeceiras. No caso de postes intermédios e tendo em conta um comprimento médio de linha
na casa dos 160 metros, sendo colocado um poste a cada 6 cepas, serão necessários
aproximadamente 27 postes metálicos em cada linha, uma vez que temos 25 linhas, o total de
675 postes intermédios.

A escolha dos postes pode vir a ser influenciada, aquando da plantação, pela escalada na subida
de preços das matérias-primas. Os postes metálicos têm sofrido um aumento brusco desde o
início da crise de matérias-primas. No início da pandemia do Covid-19 rondavam os 2,75 euros
a unidade e na data de realização deste trabalho têm um valor médio de 7 euros (preços obtidos
junto de empresas do ramo). Estes fatores terão de ser avaliados novamente quando se for
realizar a plantação.

34
4.1.2. Arames

Os arames são outro importante fator numa vinha, uma vez que servirão de tutor das cepas, mas
também como suporte para a vegetação. A melhor opção, hoje em dia, será os arames de aço
inox, com revestimento em zinco e alumínio, que apresentam maior resistência à corrosão, maior
durabilidade e ainda ausência de resíduos ferrosos, que poderiam causar casse férrica nos
vinhos. Como têm uma maior resistência à atração, estes arames são usados com diâmetros
inferiores às restantes opções disponíveis no mercado (Magalhães, 2008).

Assim, o diâmetro mais indicado será o de 2 milímetros de arame revestido, que deverá ser
colocado entre 0,6 e 0,8 metros de altura, relativamente ao chão, servindo este de suporte à
maior parte do peso da estrutura vegetativa e da produção (Magalhães, 2008). Um pouco acima,
entre 0,3 e 0,35 metros, do primeiro arame podemos usar arames de diâmetros menores, com
1,8 milímetros, de arame revestido. Neste patamar serão aplicados arames pareados de forma
a conter a vegetação (Magalhães, 2008).

A outra medida de arame colocado acima dos pareados, arame de topo, terá um diâmetro igual
ao dos pareados, mas será apenas um arame, perfazendo assim um total de três níveis de
arames. Este último servirá essencialmente de suporte à vegetação e aos cachos.

35
5. Cuidados nos primeiros anos
A vinha, tal como qualquer outra cultura, é sensível, em vários aspetos, nos primeiros anos
depois de ser plantada. Tendo isso em consideração devemos, caso a plantação seja efetuada
entre Fevereiro e Março, realizar uma fertilização azotada com início no mês de Maio. Esta
operação traz, normalmente, benefícios quando aplicadas 20 U/ha, fracionadas por diferentes
datas. De notar que as adubações, nos primeiros anos, são bastante importantes para a planta,
mas devem ser executadas corretamente e sempre com controlo de vigor, para evitar que a
planta se torne ainda mais sensível. O fósforo é também indispensável a um bom enraizamento,
podendo este ser aplicado antes da plantação e sem ser necessária a sua aplicação na adubação
de fundo (Magalhães, 2008).

De realçar também que, nos primeiros anos, deve ser realizada com frequência uma análise
minuciosa do estado de sanidade das videiras. Deve-se verificar o aparecimento de pragas e
doenças do lenho que em estados muito precoces, podem levar à morte rápida do material
vegetal, sendo esta perda de material vegetal traduzida em perdas monetárias (Magalhães,
2008).

As regas em períodos mais secos e o controlo de doenças, como o míldio e o oídio, são também
essenciais nos primeiros anos de vida da videira, quando a planta apresenta uma resiliência
ainda muito reduzida. Devem, por isso, ser feitos tratamentos fitossanitários, para que se evitem
doenças que possam prejudicar o correto crescimento das plantas (Magalhães, 2008).

Não esquecer ainda que devem ser feitos regularmente controlos das infestantes, de forma a
garantir que todas as operações realizadas com o objetivo de criar e manter as condições ideais
para as cepas são asseguradas (Magalhães, 2008).

36
6. Custos de plantação
De acordo com o quadro 2, os custos totais rondariam os 16000 euros. De notar que ainda falta
contabilizar o sistema de drenagem superficial, algumas pequenas peças que terão de ser
incluídas no sistema de armação, os tubos de proteção das plantas, caso sejam necessários, e
ainda o custo da poda de formação.

Para além disso falta ainda contabilizar a aquisição de algumas máquinas como
despampanadeira e intercepas, que vão aumentar o investimento.

Quadro 3 - Custos de plantação de uma vinha na região do Ribatejo

Operações Custos/ha (euros)


Subsolagem 800 (80 euros/hora)
Fertilizações 750 (adubos/corretivos)
Plantação 4500 (plantas)
1400 (serviço/ha)
Armação 360 (Bambu)
300 (Postes Cabeceiras)
4500 (Postes Intermédios)
1500 (Arame)
1500 (Serviço)

37
7. Cronograma de atividades

Quadro 4 – Cronograma de Plantação Ano Zero

Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez

Procedimentos. x x
Administrativos e
colheitas de
análises de solo

Selecção. e x x x x
encomenda
Material Vegetal.

Quadro 5 - Cronograma de Plantação Ano Um

Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
Surriba x x x

Fert. x x
Fundo

Inicio x
Drenagem

Quadro 6 - Cronograma de Plantação Ano Dois

Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
Arruamento x x
Finalização x
Drenagem
Plantação x
Regas x x x x x x
Adubação x x x
de cobertura

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8. Considerações Finais
A plantação de uma vinha é um processo que acarreta investimentos grandes por parte do
viticultor. Desta forma, a plantação de uma vinha deve ser bem ponderada e o projeto deve ser
rigoroso, de forma a que seja tudo muito bem planeado para que os recursos sejam aplicados
da melhor forma possível. Apesar de ser um investimento grande, tem a vantagem de atualmente
ser financiado, o que, de certa forma, ajuda o viticultor e alicia a que se façam projetos deste
tipo.

A plantação de uma vinha é um investimento de retorno monetário lento, mesmo com as ajudas
dos subsídios, tendo em conta que a cepas apenas entram em plena produção a partir do 4º ano
e que as perspetivas de mercado não se mantêm sempre constantes.

De realçar, ainda, que como indicado no ponto do sistema de armação, os custos das matérias-
primas estão em subida de preço sucessiva, o que faz com que os valores projetados durante a
realização deste projeto possam ser diferentes na altura da plantação efetiva.

Com base nos elementos apresentados ao longo deste trabalho, tanto tecnicamente como
financeiramente, a instalação da vinha é um projeto possível, na parcela estudada. Apesar de
ser uma parcela de pequenas dimensões, o objetivo principal é criar um produto de qualidade
elevada e de valor acrescentado.

A criação de marcas de qualidade está, nos dias de hoje, não só dependente da qualidade dos
produtos, como também do conceito que se forma em torno das mesmas, bem como da
publicidade que se cria para dinamizar e as dar a conhecer.

Por último, penso que seja importante referir que este trabalho serviu, entre outros, para a
aquisição de conhecimentos quer sobre a parte burocrática da instalação de uma nova vinha,
quer sobre dimensionamentos, tais como arruamentos, armações e ainda sobre os custos
associados à instalação de uma nova vinha.

39
9. Referências Bibliográficas
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Dunod.

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