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Instituto de Matemática - UFRJ

Análise Real / Cálculo Avançado I, 2023-2


Prof. Paulo Amorim
Lista 8 - gabarito

O espaço C 0[a, b]
1. (a) Mostre que o limite uniforme de uma sequência de funções contínuas fn : [a, b] → R
é uniformemente contínuo (sug.: use resultados já conhecidos para resolver em uma
linha).

(b) Mostre que o limite uniforme de uma sequência de funções uniformemente contínuas
fn : R → R é uniformemente contínuo (ou seja, o resultado anterior pode valer
mesmo quando o domínio não é um compacto).

(c) Verdadeiro ou falso: Seja fn : R → R uma sequência de funções uniformemente con-


tínuas. Suponha que fn converge uniformemente para f em cada intervalo limitado
[a, b]. Então, f é uniformemente contínua em R?
(d) Verdadeiro ou falso: Se cada fn : [0, 1] → R é (uniformemente) contínua, fn → f
pontualmente, e f é (uniformemente) contínua, então fn → f uniformemente?

(e) Verdadeiro ou falso: se fn → f uniformemente em [a, b], e se fn , f são diferenciáveis,


′ ′
então fn → f , pontualmente ou uniformemente?

Solução:

(a) Demos em aula que o limite uniforme de funções contínuas é contínuo; como
estamos no compacto [a, b], outro resultado diz que uma função contínua num
compacto é uniformemente contínua.

(b) Seja ϵ > 0. Pela convergência uniforme de fn para f, sabemos que a partir de
certo n, tem-se
|fn (x) − f (x)| < ϵ/3, ∀x ∈ R.
Mas fn é uniformemente contínua, logo conseguimos achar δ>0 tal que

x, y ∈ R, |x − y| < δ =⇒ |fn (x) − fn (y)| < ϵ/3.

Então, se x, y ∈ R, |x − y| < δ , teremos

|f (x) − f (y)| ≤ |f (x) − fn (x)| + |fn (x) − fn (y)| + |fn (y) − f (y)|
ϵ ϵ ϵ
< + + = ϵ.
3 3 3
Ou seja, f é uniformemente contínua em R.

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Lista 8 - gabarito (continuação)

(c) É falso. Contra-exemplo:

(
x2 , x ∈ [−n, n],
fn (x) = 2
2nx − n , x ∈
̸ [−n, n].

Ou seja, a partir de x = ±n, substituímos o gráco do x2 por sua reta tangente.

(d) Falso: considere as funções

 2
n x,
 x ∈ [0, 1/n],
2
fn (x) = 2n − n x, x ∈ [1/n, 2/n],

0, x ∈ [2/n, 1].

Convergem pontualmente para zero que é (uniformemente) contínua, cada uma


é (uniformemente) contínua, mas não convergem uniformemente.

O problema, tanto aqui quanto no ponto anterior, é que as fn não são uniforme-
mente uniformemente contínuas: cada fn é menos uniformemente contínua
que a anterior. Para resolver esse problema existe o conceito de equicontinui-
dade.

1
(e) Falso. Por exemplo, a sequência
n
sen(n2 x) em qualquer intervalo
fn (x) =
converge uniformemente para zero, mas suas derivadas (que existem para cada
n) são funcões ilimitadas altamente oscilantes que não convergem nem sequer
pontualmente.

2. Seja f :R→R uma função contínua tal que a sequência fn (x) = f (nx) é equicontínua.
O que podemos armar sobre f?

Solução:

Nesse caso, f
tem de ser constante. Suponhamos que não é. Então, existem dois
∗ ∗ ∗ ∗ ∗ ∗
pontos distintos x , y ∈ R e ϵ > 0 tais que |f (x ) − f (y )| > ϵ .

Se a sequência é equicontínua, então ∀ϵ > 0, ∃δ tal que, para todo x, y, n, se tem


|x − y| < δ =⇒ |f (nx) − f (ny)| < ϵ. Em particular, tomando ϵ = ϵ∗ , obtemos o δ ∗
correspondente.

x∗
Por outro lado, existe N sucientemente grande tal que |
N
− yN | ≤ δ ∗ . Assim, teremos
∗ ∗
|f (N xN ) − f (N xN )| = |f (x∗ ) − f (y ∗ )| < ϵ∗ , o que contradiz o início da reslolução.

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3. Mostre o seguinte corolário do Teorema de Arzelà-Ascoli: Seja fn : [a, b] → R tais que


suas derivadas são uniformemente limitadas. Se em um ponto x0 , a sequência (fn (x0 )) é
limitada, então a sequência fn tem uma subsequência que converge uniformemente em
[a, b].

Solução:

Temos que |fn′ (x)| ≤ M , para todo n e todo x ∈ [a, b]. Pelo TVM, vemos que

|s − t| < δ =⇒ |fn (t) − fn (s)| = |fn′ (θ)||s − t| ≤ M δ,

para algum θ entre s e t. Assim, dado ϵ > 0, se tomarmos δ = ϵ/(M + 1) acima, ca
mostrado que a sequência é equicontínua.

Para usar o teorema de Ascoli, temos de mostrar que a sequência é limitada em C 0.


Mas sabemos que |fn (x0 )| ≤ C , para todo n. Então, usando novamente o TVM,

|fn (x)| ≤ |fn (x) − fn (x0 )| + |fn (x0 )| ≤ M |x − x0 | + C ≤ M (b − a) + C,

logo fn é limitada em C 0, e podemos aplicar o teorema de Ascoli.

4. Seja fn uma sequência de funções integráveis em [0, 1] e seja


Z x
Fn (x) = fn (t) dt.
0

(a) Mostre que a sequência Fn possui uma subsequência convergente em C 0 [0, 1], desde
que exista uma constante M tal que ∥fn ∥ ≤ M para todo n.

(b) Mostre que o resultado ainda vale se, em vez da limitação uniforme por M , exigirmos
apenas a condição mais fraca

Z 1
|fn (t)|2 dt ≤ K, ∀n.
0

Solução:

(a) Fn é limitada em C 0 [0, 1], pois

Z x
|Fn (x)| ≤ |f | ≤ M x ≤ M, ∀x ∈ [0, 1].
0

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Além disso, a sequência Fn é equicontínua, pois


Z y
|Fn (x) − Fn (y)| ≤ |fn (t)| dt ≤ M |x − y|
x

ϵ
(logo se ϵ > 0, basta tomar
2M
δ=
na denição de equicontinuidade). Então, a
conclusão segue pelo Teorema de Arzelà-Ascoli.

(b) Agora, teremos

Z x Z x 12  Z x  21
2 2
|Fn (x)| ≤ |f (t)| dt ≤ 1 dt |f (t)| dt
0 0 0
Z 1  12  Z 1  12 √
≤ 1 dt |f (t)|2 dt ≤ K
0 0

o que mostra a limitação uniforme de Fn . Do mesmo modo, vemos que

Z y Z y  21  Z y  21
2
|Fn (x) − Fn (y)| ≤ |fn (t)| dt ≤ 1 dt |f (t)|2 dt
x x x
p Z 1  21 p
2
≤ |x − y| |f (t)| dt ≤ K|x − y|.
0

ϵ2
Nesse caso, para concluir a equicontinuidade, basta escolher δ= 2K
, por exem-
plo.

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