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Cartas do Alquimista
Aquele que acredita fielmente que tudo sabe, aquele que teme abandonar seu
velho conhecimento, suas ideias, é escravo de um espírito por demais maligno,
“O Medo”. Sendo o medo teu senhor, este nada pode fazer antes de se libertar
das amarras deste senhor. O temeroso, o medroso, sempre terá uma fuga, essa
fuga é a mentira, é mentir para si mesmo, é fechar os olhos para a realidade, e
para única certeza que aquele que trilha o caminho possui: Somos responsáveis
por nossos atos. E ficar culpando os outros por nosso fracasso, com qualquer
justificativa que seja, é exatamente a cegueira que venda os olhos dos sofistas,
que tateiam sem adentrar nos mistérios do espírito que anima e dá vida a tudo.
O espírito de Deus, o verbo, que anima e dá forma a todo o vivente, ou seja, a
todo o universo móvel, segundo o Torá e a Cabala, é dado ao homem para
sobrepujar a todos as criaturas, mas infelizmente o homem perdeu o manejo
desse verbo, simbolizado pela queda Edênica, e se tornou nas antigas escolas
a busca pela palavra perdida, e outras tradições mais ligadas à natureza, como
a busca de algum poder já esquecido pelo homem, ou até mesmo um objeto
sagrado que só era adquirido pelo mais nobre, e humilde herói.
Essa luta que o herói empreendia em sua aventura lhe dignificava, já que era
vencedor de provas que testavam sua moral e visavam extrair sua real
natureza que estava presa na tosca pedra, na lâmpada mágica, numa caverna
misteriosa, numa terra distante guardada por um feroz dragão. Aquele que
compreendia que essas eram batalhas internas era adotado por sábios ou por
escolas, e lhe era dada a iniciação, para que pudesse viver internamente, em
sua psique, esse drama.
E o primeiro passo que deveria ser dado por tradição é compreender sua
relação com o todo, ou como o ego individual nos dava a falsa sensação de
separatividade do todo. Como a matéria prima da grande obra que sendo uma
estava dispersa no todo. Como o neófito sairia de uma vida sensorial, ou seja,
regida pelos cinco sentidos vulgares, para uma vida interna e espiritual. De que
forma um homem sem domínio da razão conseguiria entender que a nada
dominava, e muito pelo contrário, era arrastado pelo todo e que não possuía
nenhum domínio sobre si, sobre sua natureza, sendo um total desconhecido de
si mesmo.
Para demonstrar a ignorância do neófito, nas antigas tradições lhe era instruído
inicialmente sobre a unidade, e para se conceber a ideia da unidade, o mestre,
conhecedor da natureza e da mente humana, pedia que o aprendiz fechasse os
olhos e imaginasse um ponto.