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PRANCHA DE ARQUITETURA

A.’.R.’.L.’.S.’. ACÁCIA CIANORTENSE Nº 151

Rogério do Nascimento
M.’.M.’.
Oriente de Cianorte, 31 de Janeiro de 2024

A.’.G.’.D.’.A.’.D.’.U.’.
A CURIOSIDADE EM LOJA

“Se a curiosidade aqui o conduz retira-te...”

Frase, que junto com outras, em nossa permanência na Câmara de Reflexões,


nos surpreende, psicologicamente, de maneira muito forte. Pois neste momento não temos
nenhuma interferência de qualquer pessoa, ou seja, neste momento de autorreflexão não
temos orientação; estamos isolados. Até mesmo o pensamento de nossa morte nos passa
a mente, ou pelo menos deveria; o que é aterrorizante. Rizzardo diz que ao contrário do
que se poderia pensar, não é a loja que prepara o candidato para a Iniciação; é ele que se
auto prepara. Desta forma, nas primeiras sessões, já como Neófito, nossa percepção está
aberta ao novo, e, a partir deste momento, será necessário direcionamento para que a
jornada seja profícua.

Portanto, voltando a frase sobre a curiosidade, vejo nela algo de profunda


necessidade de atenção; pois se olharmos de maneira pejorativa, do ponto de vista deste
único momento na ordem, tem muito sentido a força do aviso. Não venha com pouca
vontade, ou com interesses nefastos, pois este não é seu lugar. No entanto, o que move as
grandes descobertas científicas, ou não, é a curiosidade humana; grandes avanços são
alcançados quando este sentimento toma conta da alma e pensamento. Aqui há um ponto
de ruptura, que o neófito irá precisar do direcionamento dos M.’., para que entenda a
diferença de pontos de vistas deste sentimento; ou seja, entender que a curiosidade
mundana é maléfica, porém, há necessidade do uso daquela que o conduzirá durante sua
jornada na maçonaria; aquela curiosidade que nutre sua busca pela Verdade. Fritjof Capra
chama este fenômeno de ponto de mutação, em seu livro homônimo.

Temos que nos lembrar que os Maçons se reúnem em loja para aprender a
vencer suas paixões, a submeter sua vontade e a fazer novos progressos; direcionando o
ímpeto na direção menos danosa. O que lembra os membros da ordem maçônica, que seus
trabalhos devem expandir sobre o Mundo a maior Luz moral; para que assim sejam dignos
de merecer o título de “Filhos da Verdadeira Luz”.

Sendo assim, o neófito, com toda sua curiosidade, deve receber de seus
irmãos a orientação, e discernimento, para que sua evolução seja harmoniosa; pois o
Aprendiz deve ser o eixo em torno da qual a Loja gravita. Jean Ferré, em sua obra, discorre
sobre a importância do vínculo que deve ser estabelecido entre um Mestre e o seu
Aprendiz; no qual o Mestre acabava sofrendo retaliações por ter abandonado o seu
Aprendiz. Claro que devemos tomar as devidas proporções, pois nesta obra se fala da
Maçonaria Operativa, mas ainda assim, os paralelos com a ordem nestes novos tempos
são extremamente benéficos quando pensamos em transmitir nossos augustos mistérios,
ou melhor, o conhecimento.

Em Loja, em vários discursos, ouvimos a frase “Somos eternos Aprendizes”;


mas há algo que devemos ter em mente nestes momentos. Estamos, ao dizer esta frase,
mostrando que nossa evolução é contínua, ou apenas usando como figura de linguagem
para justificar nossas próprias negligências. Em seu trabalho, Alexandre Fortes, descreve
de maneira aforista, sobre isto; o que corrobora com outros autores, no que tange a
importância da tutela que deve ser desprendida aos Neófitos. Para que na busca, que é
colocada a sua frente, pela imensidão infinita do saber, não trilhem o caminho da vaidade
e arrogância; mas sim mantenha a curiosidade harmoniosa que levou grandes nomes da
história à brilhantes avanços.

Por exemplo, no salmo 133, o Neófito houve, em toda abertura de Loja, a


primeira frase “Oh, quão bom e quão suave é que os irmãos vivam em união...”, e
entendem facilmente seu significado; pois é direto e simples. Porém, nas seguintes, suas
interpretações se tornam mais simbólicas, metafísicas até, sendo assim necessário que os
M.’. forneçam a base do melhor caminho para o seu entendimento. Parafraseando o Ir.’.
Marcelo Negri, que em seu trabalho faz uma exegese sobre o Salmo 133, o monte maior
deve fornecer a umidade ao monte menor. Mas, não existe felicidade sozinho, não há
como atingir resultados mútuos sem a vontade recíproca; o querer deve estar presente em
ambos corações. Em toda pedra existe luz, mas sua estabilidade e solidez é mantida pela
constante vigilância das vontades interiores.

Dentro destas perspectivas, há outros dois fatores muito significantes para que
os bons resultados sejam alcançados, a humildade do que recebe e a tolerância daquele
que transmite. Em uma junção simples, a tolerância engloba as duas virtudes, pois ela
sendo mútua nesta simbiose temporária, fará atingir as necessidades. Portanto, a
tolerância sendo algo que não encontra limites no espaço e no tempo; o seu uso deve ser
exercido com dignidade, sabedoria, misericórdia, justiça e caridade. Religiosamente,
porém sem referência bíblica, se pode dizer que Deus odeia o pecado, mas ama o pecador.
Citando Vitor Hugo, “a tolerância é a melhor das religiões”.

Tanto Voltaire, quanto Descartes, discorriam muito sobre tolerância, o


primeiro com base humanista e iluministas, o segundo com abordagem mais racionalista
e metodicamente sistemática; ou seja, ambos propõem a busca por certezas indubitáveis.
E, para este que escreve, o caminho inicial será sempre a curiosidade.

Em síntese, na maçonaria, a curiosidade, inspirada por métodos cartesianos


de Descartes ou princípios humanistas de Voltaire, deve ser tolerada e compreendida,
desde que leve a busca constate pela verdade, guiada pela razão, mas permeada pela
aceitação e respeito à diversidade de ideias. Este pensamento contribuirá para a
construção de uma visão maçônica que valoriza a busca pela luz, o diálogo construtivo e
a promoção de homens melhores para a sociedade.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Alexandre Fortes – Sois realmente um eterno Aprendiz?; 2023

Alexandre Pereira dos Santos – Tolerância e Conivência; 2022

Bíblia Peshitta – Tradução dos Antigos Manuscritos Aramaicos


Elias Constantino – Tolerância; 2019

J.L. Figueiredo – Pensamentos, sensações e emoções de um Aprendiz; 2007

Marcelo Negri Soares – O significado do orvalho de Hermon, que desce sobre os


montes de Sião; 2020

Paulo Artur dos Anjos Monteiro da Silva – A pedra bruta e sua profundidade para
o espírito do homem Maçom; 2015

Paulo Ferraz de Camargo Oliveira – O aprendiz como elemento de análise histórica


sobre a Maçonaria: mudanças e permanências; 2021

Renato Basílio Rodrigues Junior – Tolerância Maçônica; 2021

Rizzardo do Caminho – O grau de Aprendiz

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