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Gr.·. Or.·. do Estado de Mato Grosso

A.·.R.·.L.·.S.·. RAZÃO E LEALDADE Nº 21

II Encontro Regional de AApr.·. e CComp.·. da 1ª Região

CÂMARA DAS REFLEXÕES


OS GRANDES DESAFIOS DA MAÇONARIA PARA MANTER O COMPROMISSO
E O COMPORTAMENTO DOS MAÇONS DENTRO DE SEUS PRINCÍPIOS

A.·.R.·.L.·.S.·. RAZÃO E LEALDADE Nº 21


Rito Escocês Antigo e Aceito, sito à Rua Val.·.
Razão e Lealdade, 693 – Jardim Califórnia, Oriente
de Cuiabá-MT, fone: (65) 9982-9697.
Venerável Mestre: Murilo Espicalquis Maschio.
1º Vigilante: Henrique Luis C. de Oliveira e Silva.
2º Vigilante: Fernando Costa Fernandes.
Autor do trabalho: Ir.·. Aluísio Sousa e Silva Junior,
Apr.·. M.·. - CIM Nº 4123.

ALUÍSIO SOUSA E SILVA JUNIOR


Apr.·. M.·.

Oriente de Cuiabá-MT
Julho/2015
SUMÁRIO

1. RESUMO E PALAVRA CHAVE ............................................................................... 1


2. INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 2
3. DESENVOLVIMENTO ............................................................................................... 3
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS ....................................................................................... 20
5. REFERÊNCIAS OU LITERATURA CONSULTADA ............................................ 22
CÂMARA DAS REFLEXÕES

1
Apr.·. M.·. Aluísio Sousa e Silva Junior

RESUMO

A peça de arquitetura a seguir apresentada tem como objetivo não somente descrever o simbolismo que a Câmara das
Reflexões possui mais também apresentar sobre uma ótica filosófica a transformação que proporciona ao candidato no ato
de sua iniciação. Um dos significados mais importantes é que durante a passagem pela Câmara de Reflexão ocorrerá o
alvorecer de uma nova existência, visto que o iniciante vai morrer para a vida profana e renascer para a vida maçônica. A
Câmara de Reflexões é a verdadeira chave da iniciação do neófito na Ordem Maçônica, tendo ela uma enorme importância
para o maçom futuramente, pois é justamente nesse momento que o neófito reflete sobre toda a sua vida profana e como
deverá segui-la após adentrar na Maçonaria. Um dos objetivos do trabalho é traçar um paralelo entre o simbolismo da
Câmara de Reflexões com as aspirações e metas da ordem maçônica em relação à própria ordem e o compromisso
individual do maçom em seu comportamento, dentro do principio de pugnar pela evolução do homem. Foram realizadas
pesquisas bibliográficas considerando as contribuições de autores como Camino (2004), Aslan (2006), Castelani (1987)
entre outros, além de sites de internet especializados em temas maçônicos, procurando enfatizar e enriquecer os
conhecimentos sobre o tema abordado.

Palavras-Chave: Câmara das Reflexões - Renascimento para vida maçônica - Metas, aspirações e
compromissos da Maçonaria.

1
Aluísio Sousa e Silva Junior, Apr.·. M.·. Iniciado em 20/09/2014 na A.·.R.·.L.·.S.·. RAZÃO E LEALDADE Nº21

1
Introdução

Segundo Rizzardo da Camino em seu livro Dicionário Maçônico a estada na Câmara das
Reflexões é o momento maior da iniciação, pois quando adentrar no Templo o fará como um recém-
nascido dependente de todos e de tudo.
A literatura especializada maçônica descreve com profundidade os efeitos exotéricos do
estágio na Câmara das Reflexões, a quem conduzimos os interessados que desejam adquirir maior
conhecimento.
Não é possível que uma iniciação maçônica atinja sua plenitude simbólica e filosófica, sem
que o neófito tenha contato com a Câmara de Reflexões.
Como todos sabem, nós, maçons, no dia da nossa recepção na Ordem, passamos por uma
série crescente de eventos durante a cerimônia de Iniciação, que têm por finalidade excitar nossa
imaginação e sentidos predispondo-os para a recepção de conhecimentos não acessíveis ao comum dos
homens. Para tanto, é necessário que nosso ser interior seja preparado adequadamente para poder
entrar em contato com outro nível de realidade. O primeiro passo dessa preparação é ser introduzido na
Câmara das Reflexões.
A presente peça de arquitetura tem como objetivo, ainda que de maneira sucinta, expor as
implicações e a importância desta prova no processo de iniciação do profano nos augustos mistérios
maçônicos.
Ao longo da exposição serão esclarecidos os significados simbólicos e filosóficos da Câmara
de Reflexões, com enfoque também na descrição deste local onde os neófitos são levados ao
recolhimento e a introspecção, para que depois de despojados de todos os apegos materiais, morrendo
simbolicamente, possam renascer para uma vida de progresso moral e intelectual aos influxos dos
ensinamentos maçônicos transmitidos desde os primeiros tempos.
O presente trabalho não pretende, de forma alguma, ter esgotado as informações sobre o tema.
Ao contrário, servem apenas como uma amostra do tanto que deverá ser pesquisado, lido e,
principalmente, entendido e intuído, por todo aquele que, real e sinceramente, deseje obter o
conhecimento esotérico.

2
Desenvolvimento

A Câmara, com seu isolamento, obscuridade e negras paredes, cercada de emblemas


representativos da morte, permite, a quem nela adentra uma pausa silenciosa no tumulto da vida e,
meditando sobre os símbolos ali expostos, dar-se conta da finitude da vida e como são sem sentido as
vaidades e as paixões humanas. É por esta razão que se encontram, em suas paredes, inscrições
destinadas a pôr à prova do postulante a sua firmeza de propósitos e a vontade de progredir, que têm de
ser seladas num testamento.
Ao ingressar nesse recinto, o candidato é despojado dos metais que porta consigo e que o
Irmão Experto recolhe cuidadosamente. Representa ao postulante o retorno ao seu estado de pureza
original - a nudez adâmica - despojando-se voluntariamente de todas aquelas aquisições que lhe foram
úteis para chegar até o seu estado atual, mas que constituem outros tantos obstáculos para seu
progresso interior.
É o cessar de depositar sua confiança e cobiça nos valores puramente exteriores do mundo,
para poder encontrar em si mesmo, realizar e tornar efetivos os verdadeiros valores, que são os morais
e espirituais. É o cessar de aceitar passivamente as falsas crenças e as opiniões exteriores, com o
objetivo de abrir seu próprio caminho para a verdade.
Isto não significa, absolutamente, que deva abrir mão de tudo o que lhe pertence e adquiriu
como resultado de seus esforços e prêmio de seu trabalho, mas, unicamente, que deve deixar de dar a
estas coisas a importância primária que pode torná-lo escravo ou servidor delas, e que deve pôr,
sempre em primeiro lugar, sobre toda a consideração material ou utilitária, a fidelidade aos Princípios
e às razões espirituais. Esse despojamento tem por objetivo tornar-nos livres dos laços que, de outra
forma, impediriam todo nosso progresso futuro.
A entrega dos metais simboliza, assim, o despojo voluntário das qualidades inferiores, dos
vícios e paixões, dos apegos materiais que turvam a pura Luz do Espírito. Isso é “ser livre e de bons
costumes”. Como o maçom deve aprender a pensar por si mesmo e, pelo seu esforço pessoal, ter a
certeza de ter atingindo o conhecimento direto da Verdade, o despojamento terá que ser total e,
portanto, deverá se estender às crenças, superstições, preconceitos e prejulgados, tanto científicos,
como filosóficos e religiosos, pois estes brilham com luz ilusória na inteligência e impede a visão da
Luz Maior, a Realidade que sustenta o Universo e o constrói incessantemente.

3
A Câmara das Reflexões constitui a prova da terra, a primeira das quatro provas simbólicas
dos elementos (terra, ar, fogo e água) e, por sua analogia, conduz-nos aos Mistérios das Iniciações
Antigas, fazendo destaque aos Elêusis2, nas quais o iniciado era simbolizado pelo grão de trigo, atirado
e sepultado no solo para que germinasse e abrisse, por seu próprio esforço, um caminho para luz.
Existe também a ideia de que esse simbolismo significa a posição de feto no ventre e constitui
o tempo da gestação que precede o novo nascimento. Esse ventre é comparado à Câmara de reflexão,
aonde o embrião se desenvolve. E pelo aspecto fúnebre entende-se como o significado da morte do
neófito na vida profana.
Pode-se entender, ainda, o aspecto de uma gruta ou de uma caverna sombria, por simbolizar o
centro da Terra, o seio da natureza material, de onde vimos e para onde voltaremos, com o nosso físico
dissolvido e transformado em pó, o que é lembrado ao neófito pelos despojos humanos nela contidos.
A finalidade da Câmara de Reflexões não é infundir terror físico aos neófitos, como
infelizmente ainda alguns supõem. Ao contrário, pretende-se criar um estado de espírito indispensável
à compreensão dos ensinamentos decorrentes do simbolismo e do esoterismo da Iniciação Maçônica.
A incompreensão dos elevados objetivos do processo iniciático por parte de muitos dos
maçons responsáveis pela cerimônia de iniciação, inviabiliza a constituição de um estado de
consciência pelo neófito, o qual deve se ver fechado em si mesmo, entregue a uma profunda
introspecção, meditação, a fim de encontrar com seus medos e anseios, forças e fraquezas,
contrabalanceando-os, para que em condição de equilíbrio de suas faculdades físicas e mentais possa
estar devidamente preparado para adentrar aos augustos mistérios maçônicos.
É necessário que na Câmara de Reflexões, o neófito esteja em acomodação apropriada para
uma meditação profunda e equilibrada frente aos símbolos que lá se encontram, dispondo de tempo
suficiente para que possa voltar-se a seu “eu interior”, reavaliando a jornada até então percorrida,

2
O ritual dos Mistérios de Elêusis encontrava expressão na lenda da deusa Deméter e sua filha Perséfone, raptada por Hades (Plutão), rei
do Mundo Inferior, quando colhia flores com suas amigas, as Oceânides, no vale de Nisa. Deméter, ao tomar conhecimento do rapto,
ficou tão amargurada que deixou de cuidar das plantações dos homens aos quais havia ensinado a agricultura. Os homens morriam de
fome, até que Zeus (Júpiter), que havia permitido a seu irmão Hades raptar Perséfone, resolveu encontrar uma forma de reparar o mal
cometido. Decidiu, então, que Perséfone deveria voltar à Terra durante seis meses para visitar sua mãe e outros seis meses passaria com
Hades. O mito simboliza o lançar sementes à terra e o brotar de novas colheitas, uma espécie de morte e ressurreição. No seu sentido
íntimo, é a representação simbólica da história da alma, de sua descida na matéria, de seus sofrimentos nas trevas do esquecimento e
depois sua re-ascensão e volta à vida divina. O mito de Elêusis ainda se encontra vivo hoje nas diversas escolas Iniciáticas que ainda
persistem: É a Doutrina da vida Universal, que se encerra no simbólico grão de trigo de Elêusis, que deve morrer e ser sepultado nas
entranhas da terra, para que possa renascer como planta, à luz do dia, depois de abrir caminho através da escuridão em que germina.
Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Mist%C3%A9rios_de_El%C3%AAusis. Acesso: 22/07/2015.

4
retificando seus propósitos de vida ao influxo da egrégora formada especialmente para esse momento,
devendo o 1º Experto guardar-lhe a salvo de quaisquer interferências externas.
Joseph Paul Oswald Wirth3, maçom, iniciado em 26 de janeiro de 1884, na Loja La
Bienfaisance Châlonnaise, do Grande Oriente de França, ao tratar do tema em questão na obra
intitulada “Livro do Aprendiz”, aduz com extrema propriedade que:

“Para aprender a pensar, é necessário que nos exercitemos a nos isolarmos e nos
abstrairmos. Isto é conseguido se reencontrarmos a nós mesmo, olhado para dentro, sem
deixar-nos distrair como o que se passa fora. Os antigos comparavam esta operação a uma
descida aos infernos. Trata-se para o pensador de penetrar até o centro das coisas, a fim de
conseguir conhecer-lhes a essência íntima (...)”.

De certo que todo este simbolismo exprime o esforço que o homem deve fazer, a um dado
momento de sua existência, para elevar-se acima de sua personalidade egoística, encontrar sabedoria e,
finalmente, participar da vida universal através do amor fraternal. Isto só é possível com
aperfeiçoamento constante do eu interior, num eterno desbaste da Pedra Bruta.

Segundo o Ritual do Aprendiz-Maçom do R.·.E.·.A.·.A Grande Oriente do Estado de Mato


Grosso, edição de 2006 o nome mais apropriado é realmente CÂMARA DE REFLEXÃO, tomada a
palavra reflexão no sentido de Meditação, recolhimento.

3
ASLAN, Nicola – Comentário ao Ritual de Aprendiz: Vade-mécum iniciático - 3 ed. “A Trolha”. Londrina: 2006, pág. 57.

5
CÂMARA DAS REFLEXÕES, que é o termo que geralmente é usado, fica mais de acordo
com uma câmara onde sejam estudados fenômenos físicos de reflexão (do som, da luz, etc.); além
disso, é desnecessário o plural para as palavras meditação e recolhimento, no caso.
A Câmara de Reflexão é o lugar onde o candidato é recolhido antes de ser introduzido no
Templo. De maneira geral, ela simboliza a masmorra, devendo, por isso, as suas paredes serem de
pedra (ou imitação de pedra). Esta Câmara não deve receber luz do exterior, sendo iluminada apenas
por uma lâmpada.
Nesta Câmara haverá um esqueleto humano, ou pelo menos um crânio, um pedaço de pão
e uma jarra com água, sal, enxofre, mercúrio, duas taças, sendo uma com líquido doce e outra
com líquido doce e outra com líquido amargo e material para escrita.
Nas paredes, encontram-se pinturas e frases: um galo em posição de canto (cabeça
levantada, bico aberto e asas ligeiramente abertas), sobre as palavras Vigilância e Perseverança; a
representação da morte, munida de alfanje, encimando a inscrição: "Lembra-te homem, que és pó e
ao pó retornarás". Finalmente, os seguintes conselhos ao candidato:

♦ Se a curiosidade aqui te conduz, retira-te.


♦ Se queres bem empregar a tua vida, pensa na morte.
♦ Se tens receio de que se descubram os teus defeitos, não estarás bem entre nós.
♦ Se és apegado às distinções mundanas, retira-te; nós, aqui, não as conhecemos.
♦ Se fores dissimulado, serás descoberto.
♦ Se tens medo, não vás adiante.

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Convém destacar, que algumas Lojas representam os objetos e dizeres que adornam a Câmara
de Reflexão sobre um painel ou quadro. Vejamos:

Ainda sobre o ato de preparação do candidato e entrada na câmara de reflexão, o mesmo


deverá ter o lado esq.·. do peit.·. e a per.·. dir.·. até ao joelh.·. nus, substituindo-se o sapato do p.·.
dir.·. por um chinelo. Depois de assim preparado, na Câm.·. de Refl.·., o Exp.·. tira-lhe a venda e diz-
lhe:
"Profano, eu vos deixo entregue às vossas reflexões; não estareis só, pois Deus que tudo
vê, será testemunha da sinceridade com que ides responder às nossas perguntas".
Voltando pouco depois, apresenta-lhe a folha do Testamento, dizendo:
"Profano, a Sociedade de que desejais fazer parte pede que respondais às perguntas que
vos apresento; de vossas respostas depende a vossa admissão no seu seio".
As perguntas, contidas no Testamento, devem obedecer a seguinte fórmula:
À GLÓRIA DO GRANDE ARQUITETO DO UNIVERO
SENHOR, RESPONDEI LIVREMENTE ÀS SEGUINTES PERGUNTAS:
♦ Quais são os vossos deveres para com Deus?
♦ Quais são os vossos deveres para com a humanidade?
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♦ Quais são os vossos deveres para com a pátria?
♦ Quais são os vossos deveres para com a família?
♦ Quais são os vossos deveres para com o vosso próximo?
♦ Quais são os vossos deveres para convosco?
Local e data
Assinatura do Candidato

As citações da Câmara de Reflexão:

Ao referir a tais inscrições, Joseph Paul Oswald Wirth, em sua obra “Les Mysteres de l’Art
Royal”4, observa que:
“As sentenças que (o Recipiendário) pode ler e os objetos que impressionam a sua
visão ao clarão de uma lâmpada funerária levam ao reconhecimento. Se o Recipiendário
entrar no espírito da encenação ritualística, ele esquecerá o mundo exterior para poder recuar
sobre si mesmo. Tudo o que for ilusório e vão há de se apagar diante da realidade viva que o
indivíduo traz em si. No fundo de cada um de nós reside a consciência. Ouçamo-la”.

Com seus símbolos, seus conselhos e suas advertências, a Câmara de Reflexão nos aparece
como um catalisador em sentido duplo, pois, ao mesmo tempo em que atrai o neófito imbuído de
propósitos dignos para o caminho do progresso moral e espiritual, repele aquele com sentimentos
egoísticos, nutridos na maioria dos casos por mera curiosidade, ou, do vislumbramento de obtenção de
privilégios a vista de achar-se num grupo formado por homens destacados na sociedade.

V.T.R.I.O.L

Sigla formada pelas iniciais da seguinte frase latina: “VISITA INTERIOREM TERRAE
RECTIFICANDO QUE INVENIES OCCULTUM LAPIDEM”, que significa “Visita o Interior da
Terra e, retificando, encontrarás a Pedra Oculta”.
Era a divisa dos antigos Rosacruzes e constitui uma sentença hermética.

4
ASLAN, Nicola. Op cit, pág. 61.

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A visita no interior da Terra significa a estada na caverna, ou seja, na Câmara das Reflexões;
retificando, significa ajustar à mente a nova situação de quem está por deixar a vida para renascer.
A Pedra Oculta é a PEDRA DO SÁBIO que se pode transformar na PEDRA FILOSOFAL, a
pérola da Filosofia Divina, e é esta que torna o homem em um ser sublime, mais evoluído, justo e
perfeito, no trajeto da vida infinita.

A VELA

A Câmara de reflexões é iluminada apenas pela luz de uma vela ou de uma lamparina. Há
várias interpretações sobre este símbolo. Pode ser a primeira luz da Maçonaria que o neófito recebe, de
início fraca, para que o neófito, através dos pensamentos que o ambiente lhe sugere, possa acostumar a
sua visão espiritual à luz deslumbrante das verdades que lhe serão reveladas.
Ao entrar no ambiente parcamente iluminado, o neófito entrevê despojos humanos, símbolo
da vida real, da verdade brutal, privados dos véus das ilusões.
A luz dessa vela é o reflexo e a representação da divindade no plano terrestre. É ela o único
asilo seguro contra as paixões e perigos do mundo e que proporciona o repouso, o discernimento e a
luz da inspiração, quando a ela se recorre.
A vela produz luz consumindo-se; nesse simbolismo está o maçom.

O GALO

O galo representa o Mercúrio, princípio da Inteligência e da Sabedoria. Essa ave é, também,


um símbolo de Pureza. A sua presença na Câmara das Reflexões simboliza o alvorecer de uma nova
existência, visto que o neófito vai morrer para a vida profana e renascer para a vida maçônica, sendo
ele o signo exotérico da luz que o neófito vai receber.
É, universalmente, símbolo solar, porque seu canto anuncia o nascimento do Sol e, por
extensão, do surgimento da Luz. Representa a vigilância, pois com seu canto avisa a todos a boa nova,
ou seja, que um novo dia está surgindo. Assim, todo o maçom, qual galo de vigília, deve estar atento
para perceber, na dissipação das trevas da noite que morre (as paixões e os vícios), os primeiros
clarões (as virtudes) do espírito que se levanta. O galo é, portanto, a representação esotérica do

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despertar da consciência e da ressurreição do candidato, que, devendo morrer para a vida “profana”,
ressurge num plano mais elevado de espiritualidade.

A BANDEIROLA

Colocada por baixo do Galo traz inscritas as palavras Vigilância e Perseverança. Consideradas
do ponto de vista etimológico, essas palavras podem significar “vigiar severamente”. Indicam ao
Futuro Maçom que deve, a partir daquele momento, prestar toda a atenção e investigar os vários
sentidos que podem oferecer os símbolos, os quais, só conseguirá entender completamente através de
uma paciente Perseverança. Assim como o dever moral, que o Maçom deve colocar em prática
dedicando-se a uma Vigilância constante. É também a difícil tarefa de desbastar a Pedra Bruta que só
alcança algum sucesso, quando realizada com a mais firme Perseverança.

O CRÂNIO

A presença de um Crânio pode despertar no neófito alguns pensamentos, através dos quais ele
poderá imaginar a representação, pela caixa óssea, da inteligência e Sabedoria, da qual ela é símbolo.
A Sabedoria é tão importante para o nosso cotidiano como o conjunto de nossa existência e para as
grandes decisões. Pode ser vista como a Razão governando a prática pela teoria.
O crânio é muitas vezes representado entre duas tíbias cruzadas em x, formando uma cruz de
Santo André, símbolo das oposições dentro da natureza sob a influência predominante do espírito.
Símbolo da morte física, o crânio corresponde à putrefação alquímica, assim como a tumba
corresponde à fornalha (atanor): o homem novo sai do cadinho onde o homem velho se extingue para
transformar-se.

A AMPULHETA

Simboliza o escoamento inexorável do tempo que se conclui, no ciclo humano, pela morte. A
forma da ampulheta, com os seus dois compartimentos, mostram a analogia entre o alto e o baixo,
assim como a necessidade, para que o escoamento se dê para cima, de virar a ampulheta. Assim, a
atração se exerce para baixo, a menos que mudemos a nossa maneira de ver e de agir. O vazio e o
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pleno devem suceder-se; há, portanto, uma passagem do superior ao inferior, isto é, do celeste ao
terrestre e, em seguida, através da inversão, do terrestre ao celeste. O filete de areia, que corre de um
para outro compartimento, representa as trocas entre o Céu e a Terra: a manifestação das
possibilidades celestes e a reintegração da manifestação na Fonte divina. O estrangulamento no meio é
a porta estreita por onde se efetuam as trocas.
A ampulheta está presente na Câmara como que sugerindo ao postulante, que não relegue para
o amanhã o abandono das paixões, nem a procura da virtude, pois talvez não venha há ter mais tempo,
já que o tempo é agora.

A FOICE

É símbolo da colheita. Trata-se de um instrumento de corte, em forma de meia-lua, colocado


na extremidade de um bastão e usado para colheita de trigo. Tem significado duplo, pois simboliza o
"ceifar de uma vida", ou seja, a morte, é a própria colheita. Em Maçonaria é símbolo do tempo e da
morte, sendo colocado na Câmara das Reflexões.

O PÃO E A ÁGUA

O pão é, evidentemente, símbolo do alimento essencial. Se for verdade que o homem não vive
só de pão, apesar disso, é o nome de pão que se dá à sua alimentação espiritual. Entre os cristãos, o
Cristo eucarístico é o pão da vida. Os pães da proposição dos hebreus também têm o mesmo
significado. É a saciedade permanente que produz a Palavra de Deus.
A água representa: fonte de vida; meio de purificação e centro de regeneração. As águas,
massa indiferenciada, representando a infinidade dos possíveis, contêm todo o virtual, todo o informal,
o germe dos germes, todas as promessas de desenvolvimento. Mergulhar nas águas para delas sair sem
se dissolver totalmente, salvo por uma morte simbólica, é retornar às origens, carregar-se de novo,
num imenso reservatório de energia e nele beber uma força nova. A água é símbolo da Mãe Natureza,
geradora de Vida material, mas, também, da vida espiritual e do Espírito, oferecidos por Deus e muitas
vezes recusados pelos homens.
No Templo de Salomão havia o Mar de Bronze para as abluções; os que entravam no Templo
necessitavam lavar-se para retirar o pó das viagens.
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Na maçonaria, é usada para a primeira purificação da matéria.

O ENXOFRE, O SAL E O MERCÚRIO

O hermetismo contribui com vários símbolos na Iniciação Maçônica, dentro dos quais
destacam-se os Quatro Elementos dos antigos, que presidem as várias provas, e os Três Princípios
Herméticos (sal, enxofre e mercúrio).
De acordo com a Alquimia espiritual, o Enxofre, o Mercúrio e o Sal são os elementos da
Pedra Filosofal, do Opus Magnus5, o qual, segundo os hermetistas, podia operar a transmutação de vis
metais em ouro puro. Este sistema filosófico tinha por objetivo o homem e seu adiantamento
intelectual, moral e espiritual, como a Iniciação Maçônica procura o aperfeiçoamento dos homens,
ajudando-os a construírem o seu Templo íntimo6.
Empregando a linguagem dos hermetistas, em sua obra “O Simbolismo Hermético”, Joseph
Paul Oswald Wirth, assevera que:

“A Pedra Filosofal é um Sal perfeitamente purificado, que coagula o Mercúrio a


fim de fixá-lo em um Enxofre extremamente ativo. Esta fórmula sintética resume a Grande
Obra em três operações que são: a purificação do sal, a coagulação do Mercúrio e a fixação
do Enxofre”.

Sem entrarmos em detalhes quanto a estas operações alquímicas, diremos apenas que, para os
alquimistas, estes três princípios encontravam-se em todos os corpos: o Enxofre é o princípio macho, o
Mercúrio, o princípio fêmea, e o Sal, o princípio neutro. O Enxofre, por exemplo, é o símbolo do
espírito e, por isso, simboliza o ardor. O Sal, símbolo da Sabedoria e Ciência, representa, ao contrário,

5
Numa alusão à obra divina da criação e ao projecto de redenção nela contido, o processo alquímico foi designado por "Grande Obra".
Nesse processo, uma matéria inicial, misteriosa e caótica, chamada matéria prima, em que os opostos se encontram ainda
inconciliáveis num conflito violento, deve ser transformada progressivamente num estado de libertação de harmonia perfeita, a "Pedra
Filosofal" redentora ou o lapis philosophorum: Primeiro, combinamos, em seguida decompomos, dissolvemos o decomposto,
depuramos o dividido, juntamos o purificado e solidificamo-lo. Deste modo, o homem e a mulher transformam-se num só.

Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Magnum_opus. Acesso: 22/07/2015

6
ASLAN, Nicola. Op cit, pág. 61/62.

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a ponderação. Estes dois princípios encontravam-se na Câmara de Reflexão para mostrar ao neófito
que não lhe deve faltar entusiasmo, mas que deve saber moderá-lo.
O Mercúrio representado pelo Galo é um símbolo de intrepidez e de vigilância, como também
de pureza. Consagrado a Mercúrio ou Hermes, guia das almas e iniciador por excelência, o Galo, em
Maçonaria, anuncia a Luz que o neófito vai receber e representa o signo exotérico desta luz.
Joseph Paul Oswald Wirth ainda na magistral obra “O Simbolismo Hermético”, acrescenta
que:
“O Enxofre corresponde à energia expansiva que parte do centro de todo o ser
(Col.´. J), a sua ação opõe-se à do Mercúrio que penetra todas as coisas por uma influência
vinda do exterior (Col.´. B). Estas duas forças antagônicas equilibram-se pelo Sal, princípio
de cristalização, que representa a parte estável do ser”.

Destaca-se, por conseguinte, as representações dos três princípios herméticos na Câmara de


Reflexões: Enxofre é um triângulo com o vértice para cima e uma pequena cruz grega embaixo; o Sal é
um círculo atravessado por uma diagonal horizontal; O Galo é o Mercúrio.

TESTAMENTO

Morte e nascimento são, na realidade, dois aspectos intimamente entrelaçados e inseparáveis


de toda mudança que se verifica na forma e na expressão, interior e exterior, da Vida Eterna do Ser. Na
economia cósmica, e da mesma forma na vida individual, a morte, cessação ou destruição de um
aspecto determinado da existência subjetiva e objetiva, é constantemente acompanhada de uma forma
de nascimento. Assim, pois, só em aparência os consideramos como aspectos opostos da Vida, ou
como seu princípio e fim, enquanto indicar simplesmente, uma alteração ou transformação, e o meio
no qual se efetua um progresso sempre necessário, ainda que a destruição da forma não seja sempre
sua condição indispensável.
Como emblema da morte do homem profano, indispensável para o nascimento do iniciado, o
testamento que faz o candidato é um testamento do qual ele mesmo será posteriormente chamado a
converter-se em executor, é um Programa de Vida que deverá realizar com uma compreensão mais
luminosa de suas relações com todas as coisas.

13
A primeira relação ou "dever" do testamento é a do próprio indivíduo com o Princípio
Universal da Vida, uma relação que tem de reconhecer-se e estabelecer-se interiormente, e não sobre a
base das crenças ou prejuízos, sejam positivos ou negativos. Não se pergunta ao candidato se crê ou
não em Deus, nem qual é seu credo religioso ou filosófico; para a Maçonaria todas as "crenças" são
equivalentes, como outras tantas máscaras da Verdade que se encontram atrás ou sob a superfície delas
e somente à qual aspira a conduzir-nos.
O que é de importância vital é nossa íntima e direta relação com o Princípio da Vida, qualquer
que seja o nome que lhe dê externamente, e o conceito mental que cada um possa ter formado ou dele
venha a formar, uma relação que é estabelecida na consciência, além do plano da inteligência ou
mentalidade ordinária.
A consciência desta relação, que é Unidade e Individualidade, traduz-se no sentido da
primeira pergunta do testamento: "Quais são os vossos deveres para com Deus?" A segunda: "Quais
são os vossos deveres para com vós mesmos?" nada mais é do que a consequência da primeira. Tendo-
se reconhecido, no íntimo de seu próprio ser, naquela solidão da consciência que está simbolizada pela
câmara de reflexões como uma manifestação ou expressão individual do Princípio Universal da Vida,
o candidato é chamado a reconhecer o modo pelo qual sua vida exterior se encontra intimamente
relacionada com o que ele mesmo é interiormente, e como a compreensão desta relação tem em si o
poder de dominá-la e dirigi-la construtivamente.
O homem é como manifestação concreta, o que ele mesmo se fez e faz constantemente, com
seus pensamentos conscientes e subconscientes, sua maneira de ser e sua atividade. Seu primeiro dever
para consigo mesmo é realizar-se e chegar sempre a ser a mais perfeita expressão do Princípio de Vida
que nele busca, e encontra uma especial, diferente e necessária manifestação, deduzindo ou fazendo
aflorar à luz do dia, as possibilidades latentes do Espírito, aquela Perfeição que existe imanente, mas
que só se manifesta no tempo e no espaço, na medida do íntimo reconhecimento individual.
Quanto aos deveres para com a humanidade, estes representam um sucessivo reconhecimento
íntimo que é complemento necessário dos dois primeiros: tendo-se reconhecido como a manifestação
individual do Princípio Único da Vida, e sabendo que ele é por fora o que realiza por dentro, deve
acostumar-se a ver em todos os seres outras tantas manifestações do próprio Princípio. Deste
reconhecimento, brota como consequência necessária o seu dever ou relação para com a humanidade,
que não pode ser outra coisa que a própria fraternidade.

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A compreensão desta tríplice relação é o princípio da iniciação, o início efetivo de uma nova
vida, o testamento ou doação que é feito para si próprio, preparando-se para executá-lo. É a preparação
necessária para as viagens ou etapas sucessivas do progresso que o aguardam.
Quando terminado e assinado o testamento filosófico, demonstra estar afirmando, ainda que
de forma implícita, sua preparação e disposição para enfrentar as provas dos caminhos da vida
maçônica e profana.

AS CITAÇÕES DA CÂMARA DE REFLEXÕES

Sobre as paredes da Câmara de Reflexões há inscrições, descritas abaixo, com a finalidade de


levar o profano a encarar o ato a que vai ser submetido, com a honestidade a que deve fazer jus.

SE A CURIOSIDADE AQUI TE CONDUZ, RETIRA-TE


A Maçonaria não pode servir de campo experimental para satisfação de uma simples
curiosidade. Inteiramente dedicada ao estudo de problemas fundamentais e de grandes ensinamentos,
todo elemento possuído por uma simples curiosidade, longe de lhe ser útil, seria um perigo. Sendo
manifesto o desejo da Maçonaria de participar ao mundo a sua utilidade por meio de sábios e discretos
ensinamentos e por elevados exemplos, ela reprime a louca afeição ao superficial, ao fútil,
engrandecendo no homem o desejo de instruir-se através de estudos sadios, sérios e proveitosos.

SE TENS RECEIO DE QUE SE DESCUBRAM OS TEUS DEFEITOS, NÃO ESTARÁS


BEM ENTRE NÓS
O ensinamento que essa frase encerra é fundamentalmente proveitoso. O homem não pode
alcançar um grau de elevada perfeição, senão pelo constante estudo de si mesmo e com o
conhecimento mais amplo de seus próprios defeitos, e, dessa forma, a Maçonaria exige de seus adeptos
uma recíproca advertência sobre si mesma.
O Maçom, para seguir o seu caminho de constante aprendizado, precisa transparecer, sem
receios, todos os seus defeitos, por mais amargo que isso venha a ser, pois é através desta
exteriorização que se pode lapidar a verdadeira pedra bruta.

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SE FORES DISSIMULADO, SERÁS DESCOBERTO
A hipocrisia é uma das causas principais que fazem progredir o mal no mundo, devendo o
Maçom fazer sempre o possível para desmascará-la, combatendo-a por toda a parte onde ela se
encontre. Todo aquele que finge, aquele que oculta, cedo ou tarde será desmascarado e seus vícios
expostos à luz do sol, à luz da verdade.

SE ÉS APEGADO ÀS DISTINÇÕES MUNDANAS, RETIRA-TE; NÓS AQUI, NÃO AS


CONHECEMOS
A Maçonaria respeita as hierarquias do mundo neófito e as distinções sociais exigidas pela
ordem social. No entanto, dentro de seus templos, isso é desprezado pelo princípio da igualdade que
deve reinar entre todos os seres, sem mais distinções que as merecidas pela virtude, nobreza e talento;
da mesma forma em que os trabalhos dos Aprendizes Maçons iniciam-se ao meio dia, fazendo com
que os irmãos trabalhem sem fazer sombra uns aos outros.
Esse sentimento de igualdade traz, por conseguinte, uma evolução em conjunto muito mais
forte e duradoura, fazendo com que o sentimento de desprezo ou o próprio individualismo não sejam
bem quistos na Ordem Maçônica.

SE TENS MEDO, NÃO VÁS ADIANTE


Embora a Maçonaria não pretenda despertar o terror ao neófito, essa inscrição existe para
indicar que no momento de perigo, o homem carente de fé e de valor, que se deixa dominar pelo terror
e a superstição, não consegue exteriorizar a sua pedra bruta.
O sentimento de medo faz com que o homem bloqueie seu caminho a ser triunfado, inibindo a
sua coragem, perseverança, autoestima, valor e fé, que é justamente o que o neófito está precisando
exteriorizar nesse momento.

SE QUERES BEM EMPREGAR A TUA VIDA, PENSA NA MORTE


Sendo a morte o fim de tudo, a sua aproximação será o castigo ou a recompensa da vida, de
acordo com o emprego que lhe foi dado e a direção que lhe foi impressa. O homem deve refletir sobre
a morte para assim valorizar e lapidar a sua vida. Sendo assim, o Maçom deve fazer de sua vida um
caminho laborioso, superando obstáculos, com a máxima valorização intrínseca de si mesmo.

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Pode-se entender, ainda, a morte, como sendo o fim da vida profana e o nascimento na vida
maçônica, na qual o iniciado começa a glorificar a verdade e a justiça, levantando templos à virtude e
cavando masmorras ao vício.

A CÂMARA DAS REFLEXÕES NOS RITOS MODERNO, ADONHIRAMITA, BRASILEIRO,


YORK E SCHROEDER

No Rito Moderno:
O candidato é também introduzido pelo 1º Experto e a Câmara de Reflexões, a qual é bastante
simples, pois possui uma cadeira e uma mesa, tendo, sobre esta, um foco de luz, material de escrita,
um crânio, uma ampulheta e uma campainha (que deve ser tocada pelo neófito, depois de preencher os
papéis necessários). Nas paredes encontram-se as mesmas frases de advertência, utilizadas no Rito
Escocês Antigo e Aceito.

No Rito Adonhiramita:
Da mesma maneira que nos dois ritos anteriores, aqui é também o 1º Experto que introduz o
candidato na Câmara. Esta possui uma cadeira e uma mesa, sobre a qual se encontram: um foco de luz,
material de escrita, um crânio, água, pão, sal, enxofre e mercúrio (todos com mesmo significado
simbólico do rito Escocês), além de uma campainha.
Nas paredes encontra-se a figura do galo cantando, tendo, sob si as palavras: Vigilância e
Perseverança, além das frases de advertência utilizadas nos ritos Escocês e Moderno.

No Rito Brasileiro:
Aqui, é também o 1º Experto que conduz o candidato à Câmara de Reflexões, a qual contém,
sobre a mesa, uma ampulheta, material para escrita, uma campainha e um crânio (caso não haja todo
um esqueleto, seria o mais correto). A ampulheta pode, também, ser representada na forma de pintura,
na parede a palavra Perseverança.
Na parede, também, é encontrado o galo e, sob ele, a palavra Vigilância, além das inscrições
contendo as advertências. Poderá existir, também, na Câmara, um impresso contendo as explicações
sobre as finalidades da Maçonaria.

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Nos Ritos de York e Schroeder:
O candidato é conduzido à Câmara de Reflexões e preparado por um irmão especialmente
designado, chamado de Preparador.
No York, havendo a Câmara de Reflexões, ela será extremamente simples, contendo, apenas,
material de escrita, uma campainha, um crânio e as frases de advertência.
No Rito Schroeder existem duas Câmaras: uma Sala de Preparação, muito simples, com uma
cadeira, uma mesa com material para escrita e um quadro com frases de advertência; e a Câmara
Escura, revestida de negro, onde sobre a mesa, encontram-se material de escrita, uma vela no castiçal,
uma campainha e um crânio, havendo, ainda, um painel, com as seguintes frases:

“Honra a Verdade, pois cada julgamento injusto é uma confissão deprimente da tua própria
indignidade”.
“Adquire a força de vontade necessária para que te tornes cuidadoso e consciencioso em
tuas ações e palavras”.
“Seja ativo, por necessidade íntima e por um sentimento de dever, mesmo que não tenhas a
segurança de uma recompensa material”.

OS GRANDES DESAFIOS DA MAÇONARIA PARA MANTER O COMPROMISSO E O


COMPORTAMENTO DOS MAÇONS, DENTRO DE SEUS PRINCÍPIOS

Ao longo de sua história, a Maçonaria, não aquela das lendas e tradições românticas, de
tempos imemoriais, das guildas de ofício que pretendiam manter uma reserva intelectual de mercado,
mas sim a Maçonaria como Instituição, fruto de um momento social iluminista originada ao longo do
final do século 17 e início do 18, sempre enfrentou oposição do chamado “mundo profano”,
principalmente por seu caráter sigiloso, reservado, secreto até.
A Maçonaria se deparou com fortes movimentos que pretenderam controlá-la e até mesmo
suprimi-la, com a eliminação de suas estruturas, a prisão e mesmo a condenação à morte de seus
integrantes. A Maçonaria sempre representou ao mesmo tempo um farol de conquistas sociais de
Liberdade e Igualdade entre os Homens e uma ameaça àqueles que pretendiam a perpetuação de um
status que baseado no controle do Estado e da Sociedade por poucos, uma elite perversa que visava ao
controle do conhecimento, aos meios de produção, às liberdades individuais.
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A Maçonaria abrigou líderes políticos, libertadores, intelectuais, filósofos, cientistas e artistas:
de Saint-Martin e Washington; de Voltaire a Franklin; de Mozart e Puccini a Montaigne e Fleming. A
Maçonaria sofreu e sobreviveu, sempre permanecendo imune aos ataques externos e internos à sua
estrutura globalizada, em uma época em que o termo ainda nem sequer havia sido cunhado.
Nestes 300 anos, lutou-se pela Liberdade social, pelo acesso universal à instrução, pelo direito
de acesso aos meios de produção, pela liberdade política, pela defesa dos Estados laicos e pela
comunhão entre os povos. Lutou-se pelo fim do Absolutismo; pelo fim da Escravidão; pela eliminação
das oligarquias na sociedade; pela eliminação do totalitarismo de Hitler, de Mussolini e de Franco;
lutou-se pelo fim da Ditadura do Proletariado nas quatro décadas após o término da Segunda Guerra
Mundial e tem se lutado ainda pela supressão das injustiças sociais e econômicas.
Agora nestas primeiras décadas do século 21, a Maçonaria, de uma maneira geral, enfrenta
um inimigo maior que todos aqueles que já a confrontaram: a indiferença. A indiferença por parte de
seus integrantes de que não há mais batalhas a serem vencidas; a indiferença e a acomodação por parte
de seus integrantes de que as grandes causas se resumem a encontros sociais e a discursos vazios
desassociados da realidade prática de um mundo em transformação, um mundo que exige respostas
rápidas para questões cada vez mais complexas; a indiferença por parte de seus integrantes com
relação aos equívocos internos e à luta insana por um poder sem poder algum; a indiferença diante de
grupos que simplesmente se esquecem dos compromissos assumidos no instante de suas iniciações.
Portanto, o maior inimigo da Maçonaria não está somente no crescimento de movimentos
antimaçônicos, no crescimento de teorias de conspirações, nos ataques de grupos extremistas que tem
se infiltrado dentro da Ordem, com o intuito de se valer da “proteção” de seus templos para fins
menores e escusos. O maior inimigo da Maçonaria está na constituição, internamente, em nossas
fileiras, de grupos de interesses particulares, na construção de uma oligarquia, de um governo de
poucos, por si só perverso, com pretensões de se perpetuar no poder da Instituição, transformando-se
numa autocracia ou mesmo numa plutocracia. O que se tem visto de uma forma generalizada é que os
interesses maiores, os interesses sociais e culturais de grande parte da sociedade profana e maçônica,
foram deixados de lado, em troca de uma política feita para se garantir regalias efêmeras e reuniões
festivas sem significados maiores.
Mas quais desafios a Maçonaria deve vencer?
Antes de qualquer ação concreta, antes de se voltar à sociedade profana, a Maçonaria deve se
reinventar, não no sentido de se criar um novo padrão de atuação, mas sim de se retornar aos princípios
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defendidos e elaborados por aqueles que “inventaram” a Instituição; uma reformulação da “ética
maçônica” com vias ao reexame dos hábitos dos maçons e do seu caráter em geral, de modo a se evitar
o desmoronamento dos pilares de sustentação da Instituição; um reexame das reais necessidades da
Maçonaria, principalmente com relação àqueles que pretendem ocupar a liderança e a representação de
nossa Ordem, guindando-se aos seus maiores postos, não só o mais carismático, mas também aquele
que seja mais preparado do ponto de vista ético, intelectual e moral.
Necessitamos de um novo padrão de comportamento, não o comportamento vigente, voltado
para a autopromoção e a perpetuação de privilégios, mas sim um novo padrão para se vencer os
desafios referentes à construção de uma sociedade profana baseada nos princípios fundamentais
defendidos pela Ordem, ou seja, a formação de Homens preparados para a diminuição das diferenças
existentes entre as classes, não somente sob a ótica econômica, mas também do ponto de vista cultural
e educacional.
O que devemos ter em mente e plenamente consciente é que a Maçonaria é a Instituição onde
o mundo deve se espelhar e não o contrário. Que os exemplos de valorização do Homem, da História e
da Cultura que sempre foram os grandes pilares da Maçonaria iluminem o mundo de trevas profano a
partir de nossas fileiras e não o oposto, pois não podemos permitir que as trevas desse mesmo mundo
obscureçam as Colunas de nossa Instituição.
Devemos ser vaidosos não por aquilo que pretendemos ser, mas sim, orgulhosos por toda ação
e comportamento que nos identifiquem e reconheçam como Homens preparados para transformar o
Mundo.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante do apresentado nesta peça de arquitetura, é possível concluir que a Câmara de


Reflexões tem como significado principal a transição da vida profana para a vida Maçônica, que usa de
seus elementos e simbolismos para preparar o neófito para essa nova e frutífera vida.
A Câmara de Reflexões é realmente o primeiro contato que nós postulantes, temos com a
Maçonaria. Para que melhor a compreendamos, se faz necessário conhecermos o significado da
palavra Iniciação, etimologicamente derivada do latim “Initiare – initium” representa “início ou
começo”, derivada de “in tere” “ir dentro ou ingressar”. Em outras palavras, Iniciação é a porta que

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nos conduz a um novo estado moral ou espiritual, a partir do qual se inicia ou começa uma nova
maneira de ser ou de viver.
O símbolo fundamental da Iniciação é a Morte, como estado preliminar à nova vida. Para tal,
a Maçonaria nos oferece a Câmara de Reflexões. Apartada como é do Templo, constitui a prova da
Terra, a primeira das quatro que simbolizam os elementos da natureza.
Encontramos um ambiente sombrio, com suas pretas paredes, figurando uma catacumba,
adornado de emblemas fúnebres, destacando frases marcantes e símbolos entre outros; revela-nos que
cada símbolo, cada frase tem sua própria explicação e importância isoladas, mas o conjunto é que nos
oferecerá a ideia e a sensação da transitoriedade e insignificância da vida. No entanto, devemos nos
apegar ao fato da Câmara de Reflexões possuir toda essa carregada simbologia, mas no intuito de
despertar a reflexão profunda ao profano.
Neste local, somos levados a conceber novas ideias, introspectar, examinar e comparar tudo o
que nos cerca. Isolados do mundo exterior para nos concentrarmos no estado íntimo do mundo interior,
aonde devemos dirigir nossos esforços para chegar à Realidade.
Devemos ingressar dentro da realidade do próprio mundo objetivo, não contentando-nos
apenas com o seu estudo ou exame puramente exterior: então, retificando constantemente nosso ponto
de vista, a nossa visão, e com os esforços da nossa inteligência (como o demonstra a cuidadosa retidão
dos três passos da marcha do Apr.·.), poderemos chegar ao uso do compasso junto com o esquadro,
isto é, o conhecimento da Verdade Livre da Ilusão.
Meus IIr.·., todos os dias, todo homem ao fechar os olhos, se acha em sua própria Câmara de
Reflexões, aproveitemos para usufruir desta dádiva do G.·.A.·.D.·.U.·. para concentrarmo-nos no
silêncio da alma, isolando todas as influencias exteriores; despojemo-nos dos nossos defeitos, erros,
vícios e ilusões de personalidade, para que possamos caminhar em direção a Luz, ir em busca da
verdade e estabelecer no seu domínio o Reino da Virtude, libertemo-nos cada vez mais de todas as
sombras que escurecem e impedem a manifestação desta Luz Interior, que deve brilhar sempre mais
clara e intensamente, raiando e destruindo as trevas.
Uma vez abertos nossos olhos, para esse estado superior de consciência, teremos reconhecido
também essa Luz que, presente em cada um de nós, manifestar-se-á espontaneamente nos diversos
empreendimentos de nossas vidas, nos nossos pensamentos, palavras e ações.

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BIBLIOGRAFIA

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Londrina: 2006.

ASLAN, Nicola - Grande Dicionário Enciclopédico de Maçonaria e Simbologia - 3 ed. “A Trolha”.


Londrina: 2012.

CAMINO, Rizzardo da. Rito Escocês Antigo e Aceito – Graus 1 ao 33. São Paulo: Madras Editora.
2004

CAMINO, Rizzardo da. Dicionário Maçônico - 3 ed. São Paulo: Madras Editora. 2010

CARVALHO, José. Símbolos Maçônicos e suas Origens. A Trolha, 1997.

CASTELANI, José. Liturgia e Ritualística Do Grau de Aprendiz Maçom, Nos Ritos: Escocês Antigo e
Aceito, Moderno, Adonhiramita, Brasileiro, York e Schroeder. A Gazeta Maçônica 1987.

_______________. A Cartilha do Aprendiz. 4ª edição, A Trolha, 2004.


PINTO, Moacir J. Oureiro. Do meio-dia à meia-noite: compêndios maçônicos do Primeiro Grau. São
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