Verdade e Fraternidade.
Uma reflexão necessária
f de FUSTEL DE COULANGES
(1), a afirmativa inspiradora de pen-
samentos à consciência interior:
"Felizmente, o passado nunca
morre totalmente para o ho-
mem. O Homem pode
esquecê-Io, mas continua
sempre a guardá-Io em seu inte-
rior, pois o seu estado, tal como
se apresenta em cada época, é o
produto e o resumo de todas as
suas épocas anteriores. E se
cada homem auscultar a sua
própria alma poderá encontrar
e distinguir as diferentes épocas
e o que cada uma dessas épocas
lhe legou".
Ressalte-se pois da necessidade de
encontrar as origens da nossa socie-
dade secreta não como forma de evi-
denciar os seus vultos ou feitos histó-
ricos, mas na convicção de que é
nesse passado, longínquo, que en-
contraremos o que deve ser no pre-
sente e o que poderemos construir
para os dias que virão.
Neste momento de intensa confra-
ternização, de união de mentes sadias
e inteligentes, a nossa pequena Loja
da maravilhosa ilha de Santa Cata-
rina, roga aos Irmãos um instante de
reflexão sobre um tema intensamente
valioso a todos nós: a busca da ver-
dade e a edificação de uma fratemi-
dade Universal.
Verdade e Fraternidade, expres-
sões que quaisquer que sejam as ori-
gens que acolhermos para a nossa
Ordem, estarão presentes no objetivo
maior, no fundamento, e na sua con-
ceituação descritiva ou prescritiva.
É preciso encontrar a Verdade, esta
inexorável torrente que serpenteia
nos rios caudalosos das existências,
transpondo obstáculos, não raros por
nós criados, deixando sementes de
1-
esperança nos emaranhados e tor-
tuosos caminhos da consciência.
E preciso que os meçons tenham a
compreensão de que seu tríplice'de-
ver, na expressão de RAGON (2), em
sua Ortodoxia Maçônica, "é estudar
de onde vem, quem é e para onde
vai" .
É necessário que assuma a verda-
deira condição de um iniciado, com a
clarividência dos que viram a luz no
meio das trevas da existência ter-
restre.
E fatal que, tendo o saber, impres-
cindível à compreensão do ciclo
eterno da vida, contribuía na edifica-
ção da nossa escola de virtudes na
eterna senda da Purificação.
Tenhamos em nossas mentes
sempre presente a certeza de que
somos neófítos ante a complexidade
do Universo que nos rodeia e, no
qual, nada, nenhuma informação
pode ser desprezada.
O conhecimento, Irmã menor da
verdade, destina-se, consoante a inte-
ligênciade HELENAP. BLAVATSKI,
"tão somente aos que,
Iibertando-se de todo o precon-
ceito, e vencendo sua auto-
suficiência e egoísmo, estão
dispostos a aceitar todas as ver-
dades, quando Ihes sejam de-
monstradas". (3)
Jamais esqueçamos que na sabe-
doria está impressa a verdade, ainda
que mutável aos átomos de tempo;
que a encontraremos na ilação con-
seqüente de uma análise serena,
isenta e, até mesmo eqüidistante, por
vezes, da própria ciência moderna,
que teima em manter-se alheia às
prescrições imutáveis do Grande Ar-
quiteto, procurando mostrar-se com
racionalidade e logicídade inconse-
qüentes, e que, infelizmente,
tomam-na um espectro da magnifi-
cênda real em que foi concebida. J
Ainda que não a conheçamos, (8
verdade), guardemos sua magia nas
mentes e nos corações como guia
orientador dos atos e palavras; mais
que isso, busquemo-Ia com amor, o
amor de quem anseia pelo conheci-
mento como fórmula de vida, o amor
de quem aspira à verdade como o
oxigênio que respira; busquemo-Ia
com o mesmo amor semeado pelas
lições eternas dos Grandes lnicíados,
Afinal, o que ela contém a impele
pela vertente do rio da existência, não
é a cólera, nem tampouco a maldade;
mas, nas palavras do rneçom e brasi-
leiro inigualável Ruí Barbosa, é:
"o poder do pensamento, a vi-
bração da fé, a energia motriz
das almas, esse fluído impal~
vel que se transporta nas ondas
invisíveis do ambiente, e vai,
por outras regiões arder nos es-
píritos, fulgurar nas trevas hu-
manas, abalar vontades, agitar
indivíduos e povos"." (4)
Nesta viagem do pensamento em
busca da luz é preciso construir as
pequenas verdades inseridas na ma-
téria para o alcance da grande ver-
dade, eterna, espiritual, maçônica.
Mas que isso, é necessário
transmiti-Ia às massas, orientando-as
através de uma constante revolução,
não de armas, mas de idéias, de ideais
a serem construídos por todos nós.
Não são simples e belos gestos de
filantropia.
Não são meras participações da
Instituição soerguendo Bandeiras,
pois ela - a instituição Maçônica -
não pode e não deve ser instrumento
de qualquer tentativa de alteração so-
dai ou política de um povo.
Os MAÇONS, sim. Nós, indepen-
 dentes, mas em harmonia, uníssonos
nos ideais, com o conheàmento, com
a sabedoria, com a Verdade, somos
os líderes que têm a obrigação de
transmitir ensinamentos a todos que
deles necessitam.
Somos nós, necessariamente livres
e de bons costumes, os impulsiona-
dores da transformação social e polí-
tica.
Se a Maçonaria nos aproxima do
Grande Arquiteto pelo seu místico e
esotérico simbolismo, devemos nós,
repassar aos que nos rodeiam, nos
lares, nas áreas de atuação profissio-
nal, aos amigos, sempre uma mensa-
gem nova, com compreensão e fra-
ternidade.
Se em nós fluiu a luz é nosso dever
para com a humanidade refleti-Iaaos
que vivem nas trevas da ignorânda
material e espiritual.
Se tivemos a graça de sermos aco-
lhidos nos pequenos mistérios, dos
quaís a Maçonaria é, certamente, o
mais belo, não é justo que nos reser-
vemos na mágica egrégora das Lojas,
no egoístico fortaledmento do nosso
Templo Interno, olvidando que o
Mundo e com ele a humanidade, ca-
minha nas cobiças furiosas, nas pai-
xões violentas em direção ao caos so-
cial e espiritual.
Mas, lembremo-nos que isto não
significa a vulgarização da nosa OR-
DEM, a sua transformação em mera
Entidade profana ou ainda a abstra-
ção do elemento fundamental: o seu
caráter secreto.
Ela foi nos primórdios, é no pre-
sente, e no futuro deverá continuar
sendo, eternamente, SECRETA.
Esta singularidade que a toma in-
fensa aos olhos do mundo, não se
vincula a perigos que daí possam
advir para seus membros, embora
fatos históricos demonstrem a ocor-
rênda de episódios em que foram
perseguidos e assassinados em nome
da preservação de dogmas que eles
possam ter ferido na concretização do
ideal de fraternidade.
Mais que isso. O seu isolamento, o
véu que paira sobre a Instituição Ma-
çônica não deve ser retirado, assim
como JESUS, o CRISTO, o maior
dos INICIADOS,Regente dos Regen-
tes, ensinava às massas com o verbo
distinto daquele que destinava aos
seus apóstolos; e, mesmo a estes ob-
servou certa vez:
,'Eu teria várias coisas para vos
dizer, mas elas não estão acírna
de vosso entendimento" (João,
XVI, 12).
Relembro, sobre isto, palavras do
prezado IRMÃO, fundador da nossa
Loja Simbólica Jerônimo Coelho 13,
Amaro Seixas Ribeiro Neto, que tam-
bém recordam o imperativo do se-
gredo maçônico:
"Deveis ser como o próprio Ar-
quiteto do Universo que ensina,
instrui, guarda, defende, mas
não se revela, nem deixa ser re-
velado. A sua imitação tem sido
a nossa força através dos sécu-
los. Deverá continuar assim".
(5)
Permaneçamos secretos, mas não
indiferentes, com os seres que sofrem
em derredor.
Não é somente o auxílio material.
Para tal, também existem grandes e
beneméritas entidades que bem
cumprem esta missão.
É, principalmente, com a transmis-
são da palavra, a orientação, a comu-
nicação da mensagem da vida.
Tenhamos consdênda que nossa
missão é eterna. Sempre haverá al-
guém que de nós necessitará.
Nesta missão está sintetizada a
razão maior da existênda da nossa
Ordem.
O querido Irmão Manoel Gomes,
autor de belas obras maçônicas, ao
ser indagado sobre o sentido maior da
Maçonaria, observava, com a sabe-
doria de quem galgou os degraus da
Escada de Jacó com pleno conheci-
mento:
"Sua doutrina condensa-se
nesta máxima: AMA TEU
PROXIMO", e, complemen-
tando, lembrava um pensa-
mento de autor desconhecido:
"Procurei Deus e não encon-
trei; procurei a mim mesmo e
não me achei; procurei o pró-
ximo e encontrei os três". (6)
É preciso, IRMAOS, encontrar os
três.
Épreciso lembrar que a Instituição
está representada em cada um de
nós do nosso íntimo aos nossos atos.
t:
preciso falarmos A RAZÃOe, so-
bretudo aos corações dos homens.
mister que façamos uma história,
É
não escrita nos livros, mas impressas
nas páginas do tempo com letras de
AMOR e de FRATERNIDADE.
A Maçonaria jamais fez.revoluções.
Os Maçons as fizeram. A Maçonaria
jamais entoou o cântico de guerras
mas os maçons, no passado, inspira-
dos nas premissas pungentes da li-
berdade, entoaram os versos doura-
dos e sangrentos de todos os movi-
mentos na face da TERRA.
Épreciso compreender que:
"Ser Maçon, parafraseando
Manoel Gomes (7), é aceitar
que não nos pertencemos, mas
à coletividade, e que por isso
mesmo sua inteligência e sua
vontade devem estar sempre a
serviço dessa coletividade. Ser
maçon é acender luzes pelo
caminho porque passa; luzes de
amizade e de sabedoria, de
bondade e de Justiça, de har-
monia e compreensão, de soli-
dariedade e de Fratemidade".
Agora é momento de, em unís-
sono, fazermos vibrar novos acordes.
Os acordes de transformação, do me-
tamorfoseamento das idéias, não
pelas armas, mas pela paz, pelo amor,
na construção do Templo do Cosmos
em que todos os homens se dêem as
mãos e sejam, simplesmente, Frater-
nos.
* Trabalho apresentado pela Loja Je-
rônimo Coelho nO /3, na lU CO/1fe-
rência Maçônica realiiada de 7 (/ <i
de Outubro nu Oriente de Araran-
guá.