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Paulo M
Liberdade da luta pela auto-suficiência. Para ser admitida na maçonaria, uma pessoa
tem que dispor dos meios económicos para se bastar a si mesma de modo que o
sustento diário não seja uma preocupação tal que se sobreponha a todo o resto. Não
está em causa a quantidade dos rendimentos, mas que este sejam suficientes e
adequados ao garante do sustento do próprio e daqueles que tenha a cargo –
descendentes ou ascendentes. Deve, ainda, permitir que os custos decorrentes da
pertença à maçonaria (quotas, material, etc.) não causem transtorno. Uma pessoa que
viva constantemente assoberbada com o que vai amanhã colocar na mesa para os
filhos, ou falte mesmo aos seus deveres familiares, não tem disponibilidade mental
para ser maçon – decorra essa carência económica ou não de deficiência mental.
Liberdade de pensamento. Uma pessoa que não seja livre de poder, voluntariamente,
alterar a sua forma de pensar não tem lugar na maçonaria, pois a maçonaria tem como
objetivo o aperfeiçoamento do Homem, e aperfeiçoar-se é, forçosamente, mudar. Ora,
procurar aperfeiçoar-se é sinal de que se admitiu já a própria imperfeição, e isto
só pode ter decorrido de uma auto-análise – que, por sua vez, só pode ter tido
lugar numa mente suficientemente ordenada para a ter efetuado. Por esta razão, quem
não tenha a capacidade de ver e aceitar como válido um ponto de vista distinto do
seu – o que sucede, por exemplo, com alguns fundamentalistas, cujas crenças podem
ser rígidas a ponto de que o impeçam de pensar por si mesmo – também não está apto,
independentemente da sua sanidade mental, a ser iniciado.
Uma pessoa dependente do álcool a ponto de que isso perturbe a sua vida quotidiana
está tão privada de liberdade de ação como uma pessoa que tenha o espírito
igualmente embotado mas sem que tal decorra da bebida. Ou um fanático religioso
pode ser tão inabalável e impermeável à mudança quanto um obsessivo-compulsivo. Não
é a deficiência mental, em si mesma, o obstáculo, mas as limitações – que podem ter
variadas origens para além da deficiência mental – a que a liberdade do indivíduo
esteja sujeita.
Pretender que apenas seres perfeitos e perfeitamente livres se tornem maçons seria
um contra senso. Por não existirem homens perfeitos, seria esta uma excelente
receita para se acabar com a maçonaria. Mas, acima de tudo, a maçonaria é um método
de aperfeiçoamento – e só se aperfeiçoa quem não é perfeito. Pedras polidas não
precisam de desbaste – e liberdade absoluta não existe. Como em tantas outras
coisas, aqui só podemos socorrer-nos das linhas gerais e, para cada caso
particular, aplicar uma das mais importantes regras: a do bom senso.