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LAMA YESHE
Introdução
Introdução 13
Talvez você imagine que não é o seu caso e que conseguiu
se afastar das tentações. Não se vanglorie: isso pode acontecer
com qualquer um. Quando entra na mente, o apego se instala,
e nem sempre é fácil detectá-lo. Muitas pessoas são dependen-
tes emocionais e não se dão conta disso. Estão sempre com uma
expressão sofredora e um sorriso forçado, mascarando uma au-
todestruição psicológica absurda e se deleitando com o autoen-
gano. Porém, não há remédio: o apego nos corrompe, afeta nossa
integridade e nos torna cada vez mais fracos.
Você pode alegar que é difícil se desapegar e/ou enfren-
tar os apegos. Isso é verdade. Entretanto, vale a pena tentar: é
possível adotar um estilo de vida inspirado no desapego e sofrer
menos. Não importa a que você esteja apegado, sempre poderá
se livrar daquilo que o incomoda psicologicamente e começar de
novo. Se fizer um esforço, conseguirá criar um estilo de vida
antiapego.
Não me refiro a cultivar uma autossuficiência radical ou
o isolamento, pois todos nós temos dependências obrigatórias.
Se você viaja de avião, depende do piloto; se está numa sala de
cirurgia, depende do cirurgião; se frequenta uma universidade,
precisa do professor e de um plano de estudo. Dependemos dos
adultos quando somos crianças e de um guia se nos perdemos.
Sempre haverá dependências razoáveis, úteis e saudáveis. O que
acho preocupante e prejudicial é a dependência irracional, supér-
flua e prescindível; aquela que não tem mais fundamento que seus
próprios medos, inseguranças e carências.
Vamos esclarecer: ser emocionalmente independente
(desapegado), no sentido que exponho aqui, não é cultivar uma
autonomia egoísta e supervalorizada, mas sim desenvolver a ca-
pacidade de ter consciência e prescindir daquilo que impede o
14 Desapegue-se
aprimoramento pessoal. Esse é o comportamento recomendado
por Buda e em grande parte pela psicologia cognitiva moderna:
você pode ser livre interiormente, se quiser. O desafio é este:
livrar-se das dependências que o impedem de ser você mesmo.
Contudo, esse processo de libertação interior não é indolor,
como às vezes se insinua. Desapegar-se é assustador e doloro-
so, porque, ao fazê-lo, você perde grande parte dos pontos de
referência com os quais se identificou durante anos. Se decidir
emancipar-se emocionalmente, os objetos, pessoas e ideias que
supostamente o definiam e lhe serviam de suporte deixarão de ter
importância para você. Será um “sofrimento útil” que lhe permi-
tirá olhar-se de frente, sem escudos defensivos nem tensões mus-
culares. E, por mais que procure, não encontrará analgésicos para
suavizar os efeitos de despertar para a realidade: o desapego abala
a ordem estabelecida e leva a um crescimento pós-traumático radi-
cal. Você pode alegar que é um simples mortal e não tem nada de
transcendental. Não se preocupe: o desapego não é restrito a pes-
soas especiais ou a um grupo seleto de super-heróis e iluminados;
qualquer indivíduo com convicção e motivação suficientes tem
acesso a ele. A poetisa escocesa Alice Mackenzie Swaim escreveu:
Introdução 15
energia vital, seu pensamento será tão simples quanto libertador:
“Não preciso mais de você, não me interessa mais!”. E curta a
vida!
16 Desapegue-se
primeira PARTE
Definindo conceitos
Converta-se em sua própria luz.
Confie em você mesmo:
não dependa de ninguém.
Mahaparinibbana sutta
Definindo conceitos 19