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O desejo de ajudar se fundamenta em muitas coisas.

Além da
valorização social da disponibilidade e da generosidade, existe, no nosso caso,
a questão da empatia. A capacidade que temos de estabelecer uma conexão
emocional profunda com outra pessoa (ou mesmo com um animal), pode nos
levar ao impulso de ajudar o outro, muitas vezes de forma irrefletida.
Começamos a dar conselhos ou a fazer coisas para a outra pessoa, sem parar
para pensar se ela realmente necessita dela, ou deseja, a nossa intervenção.
Este tipo de atitude (a ajuda muitas vezes indesejada) costuma ter como
resultado uma insatisfação por parte de todos os envolvidos. Assim, é preciso
desenvolver a habilidade de perceber a dor da outra pessoa, mantendo ao
mesmo tempo o próprio centro, para evitar sermos arrastados para dentro de
uma situação que não nos pertence.

Fronteiras existem, exatamente, para delimitar aquilo que nos


pertence e o que não. Também funcionam como uma porta, permitindo a
entrada daquilo que desejamos e mantendo do lado de fora aquilo que não
queremos. É por isso que a questão dos limites e das fronteiras está
diretamente relacionada à capacidade de dizer não. Seja no trabalho, seja
nas relações pessoais, é fundamental definir qual é seu ponto de saturação e
evitar ultrapassá-lo. Saber dizer não e cuidar do próprio repouso. Reservar
tempo suficiente para carregar suas baterias é tão importante para as PAS
como dormir oito horas por dia e ter uma vida com rotinas razoavelmente
estruturadas.

Se você não sabe dizer não, existem técnicas de comunicação que


podem ajudá-lo a se sentir mais à vontade negando um pedido. E eu apresento
algumas delas em um artigo do blog. Entretanto, mais importante que as
técnicas é a reflexão sobre os motivos pelos quais lhe custa dizer não: a
baixa autoestima e o medo de deixar de ser querido; a autodesvalorização, que
faz com que coloque as necessidades alheias à frente das suas, etc.

Vale lembrar, ainda, que fronteiras são um aprendizado e exigem


prática. Assim sendo, transforme a construção de boas fronteiras em um
objetivo. Elas constituem seu direito, sua responsabilidade e sua maior fonte de

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dignidade. Mas não fique perturbado, se fraquejar. Simplesmente, continue
praticando. Você só tem a ganhar com isso.

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VI. Aprenda a gerenciar o estresse

Também relacionado ao tema dos limites está o da hiperestimulação.


Para entender melhor do que se trata e como afeta a nós, PAS, vamos
começar definindo o que entendemos por estímulo. Como explica a Dra. Elaine
Aron, “estímulo” é qualquer coisa que desperta o sistema nervoso, quer
proceda do meio ambiente quer do nosso corpo (dor, tensão muscular, fome,
pensamentos, etc.). Geralmente, podemos nos habituar aos estímulos, mas
algumas vezes pensamos estar acostumados a aquilo não nos incomoda,
até ficarmos subitamente exaustos e percebermos que estávamos tolerando
no nível consciente, mas na verdade, aquilo nos exauria. No nosso caso, até
mesmo um estímulo moderado e costumeiro como um dia de trabalho, pode
nos levar a necessitar de quietude à noite. Neste ponto, qualquer “pequeno”
estímulo extra pode ser a gota d’água que faz transbordar o vaso.

Este é o ponto em que nos estressamos por saturação. Muitas vezes,


sequer temos consciência do que está nos agitando. Pode ser algo como
uma situação, um barulho inesperado, o mal humor do parceiro, o clima de
tensão entre colegas de trabalho, etc. Não chegamos a registrar
conscientemente esses estímulos, apenas nos damos conta da agitação, do
mal-estar e da sensação de crispação que são respostas ao estresse.

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Atenção. Um certo nível de estresse, não apenas faz parte da vida,
como também é parte integrante do processo de crescimento. Sair da zona de
conforto implica, necessariamente, expor-se a situações estressantes. E não
devemos usar a nossa sensibilidade como uma desculpa para nos
escondermos da vida e evitarmos o estresse. O que estou tentando deixar
claro é que devemos encarar os desafios da vida, levando em
consideração a nossa sensibilidade e atuando de forma consequente em
relação a ela. Ou seja, estando atentos aos nossos limites.

Caso não façamos isto, é bastante provável que esta predisposição ao


estresse por saturação nos leve a uma situação de estresse crônico. Lembre-
se de que uma PAS se torna hipersensível quando seu organismo chega a
um ponto no qual o estresse supera a sua capacidade de regeneração.
Quando isso ocorre e persiste, sem que a pessoa faça as mudanças
necessárias para reverter a situação, o corpo começa a produzir os chamados
hormônios do estresse (cortisol, adrenalina e noradrenalina). Como resultado,
passamos a ter cada vez mais dificuldade para desconectar, e o nível de
irritabilidade se faz cada vez mais alto. Isto quer dizer que a perturbação de
longo prazo nos torna ainda mais excitáveis, mais sensíveis do que antes.

Cria-se, assim, um círculo vicioso que costuma trazer muitas


consequências, tais como:

 Distúrbios do sono: pesadelos, insônia ou sono excessivo.


 Pressão arterial, açúcar, colesterol e peso acima dos níveis normais
causando riscos de diabetes e doença coronária.
 Perda de memória.
 Cólon irritado e dores abdominais frequentes
 Enxaquecas.
 Contraturas musculares.
 Queda das defesas do organismo.
 Mudanças repentinas de humor: irritabilidade, reações impulsivas e
desmedidas; agressividade

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 Depressão, adicções, alterações do comportamento alimentar e
diferentes desequilíbrios emocionais (perda da libido e uma
incapacidade de sentir prazer nas atividades diárias).

Há muitas estratégias para lidar com o estresse e evitar que se torne


crônico. Mas, sem dúvida, a primeira coisa a fazer é reconhecer o problema.
Evitar as desculpas do tipo: “É só uma fase. Ando muito ocupado nesse
momento”; “Sou muito nervoso/ansioso. Sempre fui assim. ”, etc. É importante
reconhecer que podemos estar indo além dos nossos limites e cruzando uma
linha perigosa.

Depois, é importante identificar seus estresses e como você lida com


eles. Se as notícias dos jornais e TV o deixam ansioso, desligue a TV ou feche
o jornal. O tráfego lhe deixa tenso, tente ir por um caminho com menos tráfego.
Procure, sempre que possível, descortinar uma alternativa que esteja sob o seu
controle, que você possa decidir e executar como parte da sua
responsabilidade diante de si mesmo. Se é algo que você não pode alterar
(como seu emprego ou uma pessoa próxima cuja convivência é difícil), pratique
a aceitação. Aceitar uma situação não significa acomodar-se e não
procurar mudanças. Significa, apenas, que você reconhece que existem
coisas que estão além do seu controle e aceita-as como parte do momento
presente. Quando você se revolta e sofre por conta dos problemas está apenas
tornando-os ainda maiores, agravados pela carga extra do seu sofrimento.
Quando decide aceitar o momento presente você libera as energias que
estavam sendo drenadas pela queixa e reclamação, para pensar com clareza e
identificar aqueles aspectos sobre os quais pode, efetivamente, atuar para
construir um futuro diferente. Falando em termos de coaching ontológico,
diríamos que se trata de diferenciar entre seu círculo de preocupação e seu
círculo de influência, concentrando-se neste último.

Cuidar melhor do seu tempo. Isto implica em dois movimentos. O


primeiro é o de identificar suas necessidades, prioridades e desejos (o já falado
trabalho de autoconhecimento). O segundo movimento é o atuar de acordo
com estes anseios. Delegar tarefas. Desistir de bancar o/a mártir. Dizer não
quando necessário. Reservar um tempo para estar a sós, a fim de assimilar os

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estímulos recebidos ao longo do dia. Estas são, apenas, algumas das atitudes
que devem ser incorporadas à sua rotina.

Como dissemos acima, exercitar o corpo é uma ótima maneira de


relaxar e esvaziar uma cabeça saturada de informação.

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VII. Tenha um (ou mais) espaço sagrado

Quando estamos realmente saturados e temos a impressão de que o


mundo inteiro está caindo sobre a nossa cabeça, precisamos urgentemente
nos desconectar. Às vezes, tudo que precisamos é de “um tempo” para rever o
dia. Pode ser enquanto estamos realizando alguma tarefa rotineira (lavar os
pratos, dirigir ou arrumar os armários). Pode ser ficando no nosso quarto com
as portas fechadas, a fim de diminuir ao mínimo possível o nível de informação
sensorial. O fato é que todas nós, PAS, necessitamos profundamente desse
refúgio onde possamos estar completamente à sós, para conseguir desligar.

Também podemos utilizar outras maneiras de criar esse espaço


dentro e fora de nós. Uma caminhada (ou melhor um passeio ao ar livre) é um
conforto básico. O ritmo dos passos é tranquilizador, assim como o ritmo da
respiração feita de forma lenta e suave. O contato com a natureza é
profundamente calmante para muitas PAS, ajudando a liberar as energias
alheias que vão sendo acumuladas ao longo do dia. A água também ajuda de
muitas maneiras. Um longo e demorado banho quente pode nos liberar de toda
a tensão acumulada. Ouvir música relaxante, contemplar a chama de uma vela
ou, simplesmente, prestar atenção à sua respiração, são outras formas que
podemos usar para acalmar o corpo e a mente.

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Penso, porém, que dentre todos os espaços sagrados que dispomos, o
mais importante é aquele criado dentro de nós mesmos através da prática
da meditação. Esvaziar a mente é uma necessidade vital para a maioria das
PAS. O motivo é claro: com um mundo interior tão rico aliado à capacidade
para absorver tantas informações, a mente vive num estado constante de
atividade. Existem muitas práticas de meditação disponíveis, envolvendo ou
não uma religião específica. Cabe a cada um de nós encontrar aquela que
melhor se adapta a nossa personalidade e estilo de vida.

Minha recomendação é que você procure sempre praticar algum tipo de


meditação de consciência pura, que não envolva nenhum tipo de atividade
física, concentração ou esforço. Este é indubitavelmente o que oferece o
descanso mais profundo com a mente alerta. Pesquisas a respeito da
meditação transcendental, que proporciona esse estado, revelam que aqueles
que a praticam de maneira consistente demonstram uma menor predisposição
a sofrer do estresse de longo prazo de que falamos no item anterior. Como se
a meditação nos pusesse em contato com os nossos recursos interiores nos
oferecendo mais segurança para enfrentar situações desafiadoras.

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VIII. Faça contato com outras PAS

O contato com outras PAS é muito importante. Conhecer outras


pessoas como você e compartilhar experiências é uma das melhores
maneiras de se trabalhar. Ajuda a perceber que você não é um bicho raro e
que muitas das coisas que faziam com que sentisse “estranho”, são normais
para a grande maioria das pessoas altamente sensíveis. Essa compreensão,
por si mesma, pode ter um profundo impacto sobre a sua autoestima. Um
grupo como esse é também um lugar de acolhimento, de apoio e de dicas
importantes para tornar a vida mais leve num mundo que pode ser difícil para
as PAS. Se você não conhece um grupo, pense na possibilidade de começar
um. Pode ser com seus amigos em casa, na Igreja que você frequenta, no seu
grupo de yoga ou de meditação, ou mesmo no facebook.

Apesar de considerar extremamente importante esta troca, reconheço


que existem PAS que se sentem pouco à vontade em compartilhar histórias
intimas em grupo. Se este for o seu caso, sugiro o trabalho com um terapeuta
ou com um coach e que dê especial atenção à dica seguinte.

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IX. Procure exemplos

Pode ser uma boa ideia buscar um pouco de inspiração em um ou mais


dos seus ídolos que também são PAS. Grandes músicos, pintores, artistas,
pessoas comprometidas com causas sociais ou com o meio ambiente
podem servir de modelos. Leia suas biografias, observe seu comportamento,
prestando atenção ao seu lado de pessoa sensível e à maneira como
aprenderam a lidar com suas dificuldades. Aprenda com eles.

Conhecer um pouco mais dessas PAS que correram o risco de se


destacar e lidar com a exposição e a visibilidade que isso acarreta, pode ser
profundamente inspirador. Essas histórias mostram que é possível superar os
aspectos mais difíceis da sensibilidade e vive-la efetivamente como um dom,
tanto para a pessoa como para o mundo. Um bom exemplo é o depoimento de
Alanis Morrisetti, no filme “Sensitive: the untold story”, disponível em DVD. A
própria Dra. Elaine Aron, voltando para a faculdade já na meia idade, e abrindo,
de forma pioneira, todo um novo campo de investigação psicológica com o
tema da alta sensibilidade, é sem dúvida um exemplo inspirador. Reproduzo
aqui a sua reflexão a esse respeito:

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