@camilagonzalespsi “Como videntes olhamos para o futuro e nos debruçamos sobre o passado, procurando por algo que possa ser o antídoto para o desconforto. E às vezes essa tendência fica tão desamarrada de qualquer resultado particular que nos ameace, que começamos a nos preocupar com a preocupação e a temer o medo. Ficamos ansiosos e para muitos de nós a ansiedade se torna um propósito. Entregamos tudo a esse sentimento, ele toma conta de nossas vidas. Não temos ansiedade, ela tem a nós.” Kelly G. Wilson Por Camila Gonzales Contin @camilagonzalespsi
SOBRE A autora Oi, meu nome é Camila. Seja muito bem vinda (o)!
Sou psicóloga, formada pela Universidade
Estadual Paulista (UNESP) e tenho especialização em Terapia Analítico Comportamental. Atendo na clínica desde 2014, antes disso atuei na área de Psicologia Organizacional. Quando pensei no tema para produzir conteúdo online, veio logo em minha mente, ansiedade.
Mas, por que ansiedade? Por dois motivos
principais: primeiro pela minha história pessoal com ela, segundo pelo crescente número de pessoas sofrendo e com dificuldades em manejá-la. Os transtornos de ansiedade estão entre os transtornos psicológicos mais comuns, afetando cerca de 30% da população em algum momento de suas vidas.
A ansiedade se manifesta de inúmeras
maneiras e meu objetivo aqui não é ficar presa a uma descrição de quadros psicopatológicos, mas de apresentar o que podemos aprender com Terapia de Aceitação e Compromisso (ACT) para alterar a relação que estabelecemos com nossos pensamentos, sentimentos e viver o que realmente importa. O que você verá por aqui: Minha história com a ansiedade
Mas afinal, o que é essa tal
ansiedade?
Como saber se tenho ansiedade?
Como melhorar minha relação com a
ansiedade?
Conclusões
Referências Minha história COM A ANSIEDADE
Desde muito pequena a preocupação sempre
esteve muito presente na minha vida. Preocupava-me com as notas do colégio, achava que o quanto estudava nunca era suficiente, tinha dificuldade para relaxar. Em alguns momentos era vista como alguém pessimista, que só enxergava o lado ruim das coisas. Eu achava que era só prevenção, queria estar preparada para tudo, como se isso fosse possível.
Ao longo dos anos esse padrão foi se
tornando exaustivo, era como se estivesse sempre em estado de alerta, esperando o pior. Em alguns momentos esse padrão de comportamento e pensamento transformou- se em crises mais intensas. Eu já estava cansada de lutar com essa que parecia ser uma grande inimiga, porém eu sabia que não precisava ser assim. A ACT (Terapia de Aceitação e Compromisso) e claro, minha formação como psicóloga, permitiu-me agir mesmo quando sentimentos de dúvida, medo e ansiedade estavam presentes, inclusive nesse momento em que escrevo esse e- book. Permitiu-me também ter mais compaixão por mim mesma e pelos outros ao longo do caminho. Espero que possa compartilhar um pouquinho disso com vocês.
Esse e-book tem a pretensão de te convidar
a conhecer um pouco mais sobre a lente pela qual a ACT (Terapia de Aceitação e Compromisso) olha para a ansiedade, e um pouco também sobre como praticar as habilidades que podem ajudá-lo a viver o que realmente importa. Essas habilidades fornecem um alívio para a luta que travamos com nossa própria mente e permite agir mesmo na presença de sentimentos desagradáveis, especialmente o de ansiedade. Mas afinal: o que é essa tal de ansiedade ? A ansiedade é uma resposta natural do nosso organismo e é parte da nossa herança biológica. Nossos ancestrais viviam em um mundo cercado de perigos que interferiam diretamente na sobrevivência como: predadores, fome, plantas tóxicas, vizinhos hostis, entre outros. Foi nesse cenário que nossa mente evoluiu, e a capacidade de prever o perigo garantiu nossa sobrevivência, ou seja, uma das principais ferramentas para sobreviver naquele ambiente hostil foi, de certo modo, a ansiedade.
Então, originalmente a ansiedade tinha uma
função adaptativa; o velho ditado: “é melhor prevenir do que remediar”. Nesse contexto, a ambiguidade por si só se tornou algo desagradável que deveria ser resolvido rapidamente. Isso estava intrínseco à nossa evolução e é parte do que somos feitos hoje. Contudo, os verdadeiros problemas de nossas vidas podem ser coisas que nunca passaram por nossa mente preocupada, e apesar de todo planejamento e esquiva contra a possibilidade de infortúnio, em muitos momentos em que esperamos alegria, encontramos dor e sofrimento.
Experimentar a ansiedade faz parte da nossa
condição humana, mas nossas reações a ela podem se tornar um problema. Cabe aqui ressaltar a palavra “parte”, ela não precisa tomar conta, mas você pode se perguntar como isso é possível. Te digo que podemos aprender a colocar nossos sentimentos e pensamentos desagradáveis em seu devido lugar, onde eles são “parte” da vida, mas não toda a vida.
O conjunto de habilidades que você verá
brevemente por aqui vão ajudá-lo a dedicar mais tempo e energia a aspectos de sua vida que realmente importam. Ficamos ansiosos e, para muitos de nós, a ansiedade se torna um propósito. Aqui vamos buscar alternativas para encontrar um caminho à liberdade das restrições que a ansiedade colocou em sua vida, é uma lente para que você enxergue seus problemas sob outra perspectiva.
Essa lente, baseada na ACT (Terapia de
Aceitação e Compromisso), vai te ajudar a permanecer mais flexível e propositalmente conectado ao momento presente. Ao invés de ser puxado para o passado imutável ou para o futuro desconhecido, manter seus pensamentos sobre o mundo e sobre você mesmo em perspectiva. Aceitar com equanimidade e relativo bom humor todos os aspectos da sua vida, sejam agradáveis ou dolorosos, dentro ou fora do seu controle e ser livre para escolher e articular o que você quer que seja sua vida, comprometendo-se a fazer coisas grandes e pequenas, que moldarão seu caminho em torno de suas esperanças, sonhos e valores. Reconhecer sua vida como um lugar de desdobramentos e possibilidades em vez de um conjunto de histórias confinantes e rigidamente definidas sobre quem você é e o que você pode se tornar. Apesar de ser um e-book sobre ansiedade, o foco não será muito nela, e a razão para isso é simples: não é a ausência de ansiedade, mas a presença de uma vida significativa que realmente importa.
Quando você se concentra em aprender
novas habilidades e cultivar uma relação mais gentil com sua mente e corpo ansiosos, poderá alcançar seus objetivos e se sentirá melhor.
Então, vem comigo nessa jornada!
Como saber SE EU TENHO ANSIEDADE?
Os problemas de saúde mental decorrem de
uma complicada interação de fatores cognitivos, comportamentais, biológicos e ambientais. Essa complexidade desafia a classificação diagnóstica, um rótulo não conta toda a história e talvez nem conte um pouco dela. Por isso, nosso objetivo aqui não é pensar na ansiedade em termos de ter ou não ter, mas a partir da aceitação do fato de que todos nós compartilhamos de um destino comum: o sofrimento. Esse será nosso primeiro passo para encontrar um caminho à liberdade nessa vida.
Se o sofrimento é onipresente na vida, a
tentativa de retirá-lo ou evitá-lo é, portanto, retirar e evitar a própria vida. Em um primeiro momento isso pode parecer estranho, mas se você olhar cuidadosamente vai perceber que quanto mais tentamos evitar o sofrimento, mais nos aproximamos dele. Vamos usar o exemplo da ansiedade: fugir dela te aproximou das pessoas ou de coisas que você considera importantes? Muito provavelmente sua resposta foi não. Na maioria das vezes que tentamos evitar a ansiedade deixamos de fazer coisas valiosas para nós.
Além disso, se você considerar as maneiras
que experimenta a ansiedade em sua vida, verá que elas estão intimamente ligadas a algo profundamente importante. Você estaria preocupado com seu desempenho profissional se isso não fosse importante para você? Então, apesar do sofrimento ser parte inerente da vida, outro grande fato é nossa capacidade de libertação. Isso significa que mesmo que você tenha lutado uma vida toda contra a preocupação, medo, pânico, ou qualquer outra forma de ansiedade, você pode encontrar através dessas experiências um caminho para uma vida de sua escolha. Como melhorar minha relação com a ansiedade?
01# Seu pensamento é apenas um
pensamento...
"Saúda os monstros na sua cabeça"
Comumente respondemos aos nossos pensamentos de maneira fixa, presa e literal, ou seja, nos comportamos como se eles fossem verdades absolutas. Quanto mais “colados” a esses pensamentos, menor a nossa capacidade de responder às situações como elas se apresentam no momento presente. Mas será que todo pensamento é disfuncional? A resposta é não. No entanto, quando não conseguimos discriminar sua utilidade, podemos nos comportar de uma maneira que nos afasta daquilo que valorizamos. Vou te dar um exemplo simples: Imagine que você decidiu se envolver em um projeto novo de trabalho, e para isso vai precisar desafiar-se e desenvolver novas habilidades. Diante de novos desafios é comum apresentarmos um certo nível de ansiedade e insegurança. Com isso sua mente te envia a seguinte mensagem: “Desista, você não vai conseguir. Isso é muito difícil para você.” No fundo sua mente está tentando te proteger de possíveis fracassos, mas esse projeto é muito importante e responder de maneira literal a esse tipo de pensamento pode fazer com que você desista de algo importante antes mesmo de começar.
Mas o que posso fazer então?
A alternativa é mudarmos a forma como nos relacionamos e interagimos com nossos pensamentos. Olhá-los com distanciamento, gentileza e flexibilidade. Por exemplo, trocar o “eu sou um fracasso” por “eu estou tendo um pensamento de que sou um fracasso”. Uma técnica simples mas que com treino leva a uma diminuição do impacto desses pensamentos em nossas vidas. É importante deixarmos claro que não se trata de pensar positivo ou de se livrar dos pensamentos, mas de observá-los como eles são, apenas pensamentos, que vem e vão e você não precisa responder a eles se isso te afastar da vida que você quer levar. Assim, a principal alternativa é aumentar nossa atenção para os pensamentos que estão coerentes com nossos valores e abrir espaço para os outros irem. Tentar controlá- los não funciona, alterar nossa relação com eles é a essência.
Algumas estratégias que nos ajudam
nesse processo:
Ver os pensamentos como transitórios.
Recordar quem nós queremos que mande:
nós ou nossos pensamentos.
Perseverar em fazer algo importante ou
valioso, mesmo quando os pensamentos nos incomodam.
Separar “pensamento de pensador”: trocar
“eu sou inútil" por “estou tendo um pensamento de que sou inútil”.
Avaliar se nos conectarmos com nossa
mente nos aproxima da pessoa que queremos ser ou do que realmente é importante. As situações em que você se sente ansioso podem ensiná-lo muito. Se continuamente você tem experiências dolorosas em uma determinada área da sua vida, o que essas experiências podem-lhe ensinar? Como você pode funcionar melhor nelas? É importante aprender a reconhecer seus pensamentos ansiosos como o que eles realmente são: Pensamentos; eventos que você pode reconhecer e deixar passar.
Para você que sempre sofreu com seus
pensamentos ansiosos pode parecer estranho estar com eles de propósito. Mas há uma sabedoria paradoxal nesse tipo de prática. Ao fazer amizade com seus pensamentos ansiosos, você fica menos propenso a ser incomodado por eles. Em vez de manifestações ameaçadoras ou assustadoras, eles podem começar a parecer crianças assustadas que precisam de ajuda. Ao tratá-los com bondade e compaixão é mais provável que você estenda o cuidado para si mesmo, comece a ser menos crítico e aceitar a si mesmo em momentos em que a ansiedade está incomodando. 02# Aprendendo com a dor Coragem, disposição e abertura...
Se o sofrimento é parte inerente da vida, fugir
dele não seria fugir da vida?
Desde muito cedo aprendemos que
podemos controlar nossas emoções. Nesse processo ouvimos muitas expressões do tipo: “não chore”, “fique tranquilo”, “não fique desanimado”, entre tantas outras. A constatação de que isso não é possível faz nos sentirmos ainda mais inadequados e o sofrimento só aumenta.
Quando tentamos controlar nossas emoções
o alívio é temporário, e quando o mal-estar retorna, se transforma em um obstáculo para nossas metas de vida.
A alternativa à luta é a aceitação.
É importante normalizar os sentimentos, afinal de contas você é um ser humano, que se importa e é super normal não querer sentir desconforto. Se está frio, você procura um abrigo, se um carro se aproxima, você desvia. Nossos cérebros foram desenvolvidos para nos ajudar a escapar da dor e do sofrimento. Mas quando se trata da dor psicológica, o tiro “sai pela culatra”. A evitação da dor e sofrimento restringe nossas vidas e bloqueia nossas oportunidades de crescimento, como por exemplo: você se sente ansioso com uma tarefa de trabalho, então procrastina para evitar o desconforto, mas isso só funciona a curto prazo, apenas aumenta a sua ansiedade. Você sente vergonha, então não fala em ambientes sociais, apenas para se sentir menos confiante e por aí vai.
Todos nós nos entorpecemos, distraímos ou
saímos da vida às vezes, e tudo bem, nem sempre as estratégias de evitação são prejudiciais, mas os problemas surgem quando elas nos afastam da vida valorosa. É importante estarmos cientes de nossas estratégias de evitação para reconhecermos quando elas são destrutivas. Maratonar uma série na Netflix para não pensar naquele trabalho que tenho para fazer pode ser uma boa estratégia, mas quando o trabalho é muito importante para mim e me aproxima da vida que quero levar, esse comportamento repetidamente pode me deixar ainda mais ansioso.
Pare um pouco para refletir:
Quais as principais estratégias de evitação
que costumo utilizar? Elas me ajudam? Alguma vez fizeram eu perder algo importante? Há benefícios de curto prazo? E os custos a longo prazo? Fique atento às suas maneiras de evitar pensamentos e emoções difíceis. Pense nas consequências a curto e longo prazo. Pergunte a si mesmo se há outra direção que você gostaria de seguir. Um exemplo de exercício de aceitação:
Pensamentos e sentimentos difíceis muitas
vezes nos impedem de fazer o que realmente é importante. Quando essa resistência interna ameaça assumir o controle, você pode tentar jogar o Jogo do Impossível. No momento em que você percebe uma resistência interna para realizar uma ação útil, o jogo começa.
Se pergunte: Do que essa ação me aproxima?
Você pode então decidir ceder à resistência ou pode escolher desafiar-se a fazer o que parece impossível, mas está conectado a algo importante.
Você avalia o que quer e faz a ação oposta do
que a emoção te “manda” fazer. Isso significa que você se permite sentir o desconforto, ouvir sua conversa interna negativa e reagir de qualquer maneira. Você faz exatamente o que sua mente diz que você não pode fazer, fazendo assim o "impossível." Isso é o que parece na prática. As oportunidades de jogar são infinitas e começa no momento em que você percebe uma resistência à ação útil. Ao jogar o jogo do impossível, você exercita seus músculos de aceitação e cria variação saudável. Você pratica sua habilidade de abrir espaço para pensamentos e sentimentos difíceis, enquanto aprende a agir de maneira que te seja valorosa. Fazer isso tira a vida da rotina, de hábitos bem enraizados de resistência.
O Jogo do Impossível é um desafio diário e
um lembrete frequente de que você pode ir além de seus limites autodefinidos sempre que fizer uma escolha. 03# "Eu sou..." A arte de tomar perspectiva Todo ser humano tem um anseio por pertencimento, por ser aceito. Pertencer a um grupo sempre foi uma questão de sobrevivência, logo, se preocupar com o julgamento do outro parece ser muito legítimo. No entanto, a maneira como buscamos satisfazer essa necessidade pode promover ainda mais sofrimento. O medo da rejeição muitas vezes produz um excesso de autoavaliação e comparação que só aumentam nosso medo da rejeição ou a sensação de não sermos bons o suficiente. As evidências mostram que quanto maior nossa preocupação em corrigir nossas falhas, menor é nossa criatividade e motivação. Aprendemos a criar histórias sobre nós mesmos, criamos conceitos acerca disso, tudo em função de satisfazer a necessidade de pertencimento. Entretanto, comparamos nossas histórias com as dos outros e nos sentimos ameaçados, isso nos afasta da possibilidade de criarmos conexões significativas e verdadeiras. Você já foi pego e ficou preso por essas auto-histórias? Você já acreditou que não é bom em alguma coisa e então nem tentou? Você já acreditou que é realmente bom em algo e então se criticou quando a coisa ficou desafiadora? Você já ficou tão preso em tentar causar uma boa impressão que não ouviu a pessoa com quem estava?
As consequências de ficar preso a essas
auto-histórias comumente são: Você perde o aqui e agora. Você não percebe como o contexto influencia o seu comportamento. Fica inflexível em seus comportamentos e crenças. Você procura evidências para confirmar suas crenças. Você tem dificuldade em aceitar as perspectivas dos outros e oferecer empatia. Você cria profecias autorrealizáveis e perde as oportunidades de aprender e crescer. Você se sente desconectado de um todo maior. Você é mais do que as histórias que sua mente cria. Todas suas experiências interiores, incluindo essas auto-histórias, são fenômenos que surgem no campo da sua atenção e eventualmente passam; assim como o clima, um dia pode estar mais ensolarado, nublado ou chuvoso. O céu permanece lá apesar do clima. O objetivo é você direcionar sua atenção para o céu em si. O céu é seu eu transcendente, aquele que que observa todos os seus pensamentos, emoções e histórias. Esse eu transcendente está atrás dos seus olhos. Você terá muitas experiências na vida, mas não pode ser completamente definida por qualquer uma delas.
É importante que você identifique essas auto-
histórias e as observe de um novo ponto de vista. Ir além do conteúdo dessas histórias para ter uma visão mais ampla de si mesmo como alguém que é modelado pelo contexto de sua história de aprendizagem e pelo mundo ao seu redor. Fazendo isso você pode responder de maneira mais flexível aos desafios da vida., ver sua experiência com maior clareza, conectar- se mais profundamente com os outros e imaginar novas possibilidades para si mesmo. Tente fazer o seguinte exercício: Escreva algumas crenças que você tem sobre si mesmo completando as frases:
Eu sou....
Eu nunca....
Eu sempre...
Não posso...
Agora dê uma olhada mais de perto para
essas histórias: são sempre verdadeiras? Escolha uma das declarações acima e escreva um exemplo em que essa história era verdadeira e um em que não era. Que situações ou contextos desencadeiam essa história? Como você age quando aparece? Como essa história te limita? Isso impede que você se conecte com os outros ou aja de maneira valorosa? Ao se conscientizar dessas histórias você pode notar como suas ações são influenciadas por elas. Entrar em contato com uma perspectiva mais ampla abre espaço para escolher suas ações, em vez de suas histórias escolherem por você.
04# Esteja aqui agora...
O poder da presença Diante dos desafios da vida tendemos a nos perdermos e olhar para o passado e o futuro em busca de orientação, mas o que realmente conseguimos com isso? Conseguimos apenas uma explanação mental do que já foi ou o que será, quando na verdade o que realmente existe apenas é. Uma atenção mais flexível e intencional nos possibilita entrar em contato com a experiência do momento, seja ela qual for, sem julgamentos. Essa é a sua única vida, portanto, viva o melhor possível. Se estiver apenas meio presente, está perdendo a metade. É como assistir a seu filme preferido de óculos escuros ou ouvir sua música favorita com protetores de ouvido. Para apreciar de verdade a riqueza e a totalidade da vida, você precisa estar aqui enquanto ela acontece!
Citando o grande romancista Tolstói: “Só um
tempo importa: o agora. É o tempo mais importante por ser o único sobre o qual temos algum poder.” Para criar uma vida significativa, precisamos agir, o poder de agir existe apenas nesse momento. O passado já aconteceu e o futuro ainda não chegou, só temos como agir aqui e agora. Mas no mundo em que vivemos hoje, a tecnologia, sobrecarga de informações e vida acelerada competem por um recurso limitado: nossa atenção. Rotineiramente vivemos em um estado de distração, nos afastando daquilo que estamos fazendo aqui e agora, gerando uma sensação de que a vida passa rápido demais e que estamos a perdendo. Nesse estado reagimos aos eventos sem prestar muita atenção. A boa notícia é que com a prática podemos dar um passo atrás, perceber o que está acontecendo e fazer escolhas mais intencionais e deliberadas. Estar focado no momento presente aumenta sua consciência de pensamentos, emoções e comportamento. Isso pode ajudá-lo a agir de maneira menos habitual e irracional e permitirá que você faça escolhas mais conscientes e intencionais. Pesquisas recentes mostram que estar mais presente pode nos ajudar:
Sermos mais resilientes em momentos
de estresse. Ter mais concentração. Ter mais compaixão pelos outros. Diminuir a inflamação e melhorar nossa saúde. Melhora dos marcadores de longevidade.
Mas como podemos colocar isso em prática?
A prática formal de meditação é uma ótima maneira de fortalecer nossas habilidades de atenção plena, mas não é a única maneira de praticar.
A ACT propõe trazer mais consciência para a
sua vida como ela está agora. Você pode praticar enquanto cozinha, come, toma um banho, entre várias outras atividades que acontecem no seu dia a dia. Faça uma pausa e se pergunte: Em que situações você tende a correr atrás de tarefas e viver no piloto automático? Com quais pessoas, atividades ou momentos você gostaria de estar mais presente e engajado?
Experimente isso agora: olhe para a sua
agenda, que eventos você gostaria de experimentar com toda a sua atenção e foco
Traga consciência para sua mente distraída,
tente se pegar desengajado, distraído ou disperso das atividades que você listou, tenha o compromisso de se pegar o máximo de vezes possíveis. Toda vez que você o faz, está fortalecendo o poderoso processo de estar presente. 05# Valores: Decidir o que importa
Nossos valores são como um guia eficaz para
nossas ações, quando conectadas a eles, são conscientes e propositais, quando desconectadas são impulsivas, reativas ou automáticas.
Os valores descrevem como queremos ser no
mundo. Segue algumas perguntas que podem te ajudar a se conectar com os seus:
1 Como você quer se comportar
2 Como você quer tratar a si mesmo e
aos outros
3 O que você quer defender?
4 Que tipo de qualidades gostaria de
desenvolver? É importante fazermos uma distinção entre metas/objetivos e valores: metas são coisas a serem alcançadas no futuro, o que você quer ter ou alcançar. Valores são como você quer se comportar agora e, de maneira contínua, como quer se comportar a cada passo do caminho para alcançar seus objetivos.
O que você quer fazer com seu tempo neste
planeta? Que tipo de pessoa você quer ser? Que qualidades pessoais você quer desenvolver? Como você quer ser lembrado? Mas na maioria das vezes ficamos esperando condições ideais para nos comprometermos com nossos valores. Por exemplo: quero dedicar mais tempo, começar um projeto novo de trabalho, mas não me sinto preparada. Quero praticar atividade física, mas espero me sentir mais motivada. O que a ACT nos ensina é que há sempre pequenos movimentos significativos disponíveis para todos nós e você pode começar a praticá-los hoje. Faça o seguinte exercício:
Escreva algo que te dê prazer, mas não seja
tão significativo. Agora anote sobre algo que faz com que você se sinta importante e gratificante, algo que te dê um senso maior de propósito, mas que nem sempre é agradável. O que esses momentos mostram sobre o que mais importa em sua vida agora?
06# Ação Comprometida com valores
e responsabilidade
É absolutamente humano ter anseios de
crescer, construir domínios e viver de maneiras que importam. Também é humano ser imperfeito, se atrapalhar e se perder. O progresso raramente é linear. Seguir perfeitamente um plano para um determinado dia não é o que realmente importa, mas sim a sua ação de pegá-lo volta e meia, e outra é mantê-lo. Essa é uma ação comprometida. A ação comprometida envolve três componentes:
Agir : engajar-se em um comportamento,
não apenas pensar ou falar sobre ele.
Conectar-se a seus valores : agir de maneiras
que são significativas para você.
Continuar diante dos obstáculos : voltar a agir
mesmo quando você tropeça. Descarrilar por pensamentos, impulsos ou emoções.
Para seguir comprometido com sua vida é
importante:
Explorar os obstáculos pessoais para a
mudança.
Usar os valores para orientar suas ações.
Aplicar a ciência do comportamento para
criar contextos que apoiem mudanças significativas.
Praticar flexibilidade consigo mesmo.
Faça o seguinte exercício: Anote três mudanças que gostaria de fazer.
Por que essas mudanças realmente
importam para você? Como elas melhorariam sua vida? O que as faria valer a pena mesmo quando se tornarem duras? Quais os valores subjacentes às mudanças que você quer fazer?
Traduza um deles para a menor ação que
você poderia tomar agora, por exemplo: se você valoriza cuidar do seu corpo e sua saúde, tire um momento para se esticar. Se você se importa com o meio ambiente, reutilize algo. Se você se importa em ser amoroso, ligue para alguém que você gosta ou dê um abraço.
Nesse contexto, precisamos desenvolver
uma força flexível que corresponda a nossa capacidade de persistir em nossa jornada quando está trazendo valor e vitalidade e mudar sua direção quando o que você está fazendo não traz esse valor. E ficamos por aqui... Para finalizar, gostaria de usar uma metáfora que compara o trabalho desenvolvido através da ACT como seguir em um labirinto, onde haverá momentos que parece que você está apenas deslizando a borda externa da espiral, longe do centro, não fazendo progressos. Em outros momentos você vai sentir como se estivesse no caminho certo à liberdade. Com certeza você experimentará ao longo da sua jornada, períodos de mudança positiva seguidos de estagnação e perda. Se você se sentir ansioso, triste, com raiva, eles voltarão. Sua luta para sustentar uma mudança aparecerá novamente e assim por diante. O que o labirinto da ACT nos ensina é que sempre é possível seguir em frente, respondendo os desafios de forma aberta, para receber todos os sentimentos, pensamentos e sensações, consciente do que mais importa para você agora e engajado. Vivendo seus valores através de suas ações neste momento.
Aproveite a viagem e até breve!
Referências
Things migth go terribly wrong
A guide to life liberated from anxiety - Kelly G Wilson
A liberated Mind - How to Pirot Toward What
Matters - Steven C. Hayes
ACT Daily Journal
- Diana Hill & Debbie Sorensen
Terapia de Aceitação e Compromisso
O processo e a prática da mudança consciente - Steven C. Hayes, Kirk D. Strosahl, Kelly G. Wilson