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Por uma vida onde a

ansiedade não prospere

por Camila Gonzales Contin


@camilagonzalespsi
“Como videntes olhamos para o futuro e nos
debruçamos sobre o passado, procurando
por algo que possa ser o antídoto para o
desconforto. E às vezes essa tendência fica
tão desamarrada de qualquer resultado
particular que nos ameace, que começamos
a nos preocupar com a preocupação e a
temer o medo. Ficamos ansiosos e para
muitos de nós a ansiedade se torna um
propósito. Entregamos tudo a esse
sentimento, ele toma conta de nossas vidas.
Não temos ansiedade, ela tem a nós.”
Kelly G. Wilson
Por Camila Gonzales Contin
@camilagonzalespsi

SOBRE A autora
Oi, meu nome é Camila. Seja muito bem
vinda (o)!

Sou psicóloga, formada pela Universidade


Estadual Paulista (UNESP) e tenho
especialização em Terapia Analítico
Comportamental. Atendo na clínica desde
2014, antes disso atuei na área de Psicologia
Organizacional.
Quando pensei no tema para produzir
conteúdo online, veio logo em minha mente,
ansiedade.

Mas, por que ansiedade? Por dois motivos


principais: primeiro pela minha história
pessoal com ela, segundo pelo crescente
número de pessoas sofrendo e com
dificuldades em manejá-la.
Os transtornos de ansiedade estão entre os
transtornos psicológicos mais comuns,
afetando cerca de 30% da população em
algum momento de suas vidas.

A ansiedade se manifesta de inúmeras


maneiras e meu objetivo aqui não é ficar
presa a uma descrição de quadros
psicopatológicos, mas de apresentar o que
podemos aprender com Terapia de Aceitação
e Compromisso (ACT) para alterar a relação
que estabelecemos com nossos
pensamentos, sentimentos e viver o que
realmente importa.
O que você verá por aqui:
Minha história com a ansiedade

Mas afinal, o que é essa tal


ansiedade?

Como saber se tenho ansiedade?

Como melhorar minha relação com a


ansiedade?

Conclusões

Referências
Minha história
COM A ANSIEDADE

Desde muito pequena a preocupação sempre


esteve muito presente na minha vida.
Preocupava-me com as notas do colégio,
achava que o quanto estudava nunca era
suficiente, tinha dificuldade para relaxar.
Em alguns momentos era vista como alguém
pessimista, que só enxergava o lado ruim das
coisas. Eu achava que era só prevenção,
queria estar preparada para tudo, como se
isso fosse possível.

Ao longo dos anos esse padrão foi se


tornando exaustivo, era como se estivesse
sempre em estado de alerta, esperando o
pior. Em alguns momentos esse padrão de
comportamento e pensamento transformou-
se em crises mais intensas. Eu já estava
cansada de lutar com essa que parecia ser
uma grande inimiga, porém eu sabia que não
precisava ser assim.
A ACT (Terapia de Aceitação e
Compromisso) e claro, minha formação
como psicóloga, permitiu-me agir mesmo
quando sentimentos de dúvida, medo e
ansiedade estavam presentes, inclusive
nesse momento em que escrevo esse e-
book. Permitiu-me também ter mais
compaixão por mim mesma e pelos outros
ao longo do caminho. Espero que possa
compartilhar um pouquinho disso com
vocês.

Esse e-book tem a pretensão de te convidar


a conhecer um pouco mais sobre a lente
pela qual a ACT (Terapia de Aceitação e
Compromisso) olha para a ansiedade, e um
pouco também sobre como praticar as
habilidades que podem ajudá-lo a viver o
que realmente importa.
Essas habilidades fornecem um alívio para a
luta que travamos com nossa própria mente
e permite agir mesmo na presença de
sentimentos desagradáveis, especialmente
o de ansiedade.
Mas afinal: o que é essa
tal de ansiedade ?
A ansiedade é uma resposta natural do
nosso organismo e é parte da nossa herança
biológica. Nossos ancestrais viviam em um
mundo cercado de perigos que interferiam
diretamente na sobrevivência como:
predadores, fome, plantas tóxicas, vizinhos
hostis, entre outros. Foi nesse cenário que
nossa mente evoluiu, e a capacidade de
prever o perigo garantiu nossa
sobrevivência, ou seja, uma das principais
ferramentas para sobreviver naquele
ambiente hostil foi, de certo modo, a
ansiedade.

Então, originalmente a ansiedade tinha uma


função adaptativa; o velho ditado: “é melhor
prevenir do que remediar”. Nesse contexto,
a ambiguidade por si só se tornou algo
desagradável que deveria ser resolvido
rapidamente. Isso estava intrínseco à nossa
evolução e é parte do que somos feitos hoje.
Contudo, os verdadeiros problemas de nossas
vidas podem ser coisas que nunca passaram
por nossa mente preocupada, e apesar de
todo planejamento e esquiva contra a
possibilidade de infortúnio, em muitos
momentos em que esperamos alegria,
encontramos dor e sofrimento.

Experimentar a ansiedade faz parte da nossa


condição humana, mas nossas reações a ela
podem se tornar um problema. Cabe aqui
ressaltar a palavra “parte”, ela não precisa
tomar conta, mas você pode se perguntar
como isso é possível. Te digo que podemos
aprender a colocar nossos sentimentos e
pensamentos desagradáveis em seu devido
lugar, onde eles são “parte” da vida, mas não
toda a vida.

O conjunto de habilidades que você verá


brevemente por aqui vão ajudá-lo a dedicar
mais tempo e energia a aspectos de sua vida
que realmente importam.
Ficamos ansiosos e, para muitos de nós, a
ansiedade se torna um propósito.
Aqui vamos buscar alternativas para encontrar
um caminho à liberdade das restrições que a
ansiedade colocou em sua vida, é uma lente
para que você enxergue seus problemas sob
outra perspectiva.

Essa lente, baseada na ACT (Terapia de


Aceitação e Compromisso), vai te ajudar a
permanecer mais flexível e propositalmente
conectado ao momento presente. Ao invés de
ser puxado para o passado imutável ou para o
futuro desconhecido, manter seus
pensamentos sobre o mundo e sobre você
mesmo em perspectiva. Aceitar com
equanimidade e relativo bom humor todos os
aspectos da sua vida, sejam agradáveis ou
dolorosos, dentro ou fora do seu controle e ser
livre para escolher e articular o que você quer
que seja sua vida, comprometendo-se a fazer
coisas grandes e pequenas, que moldarão seu
caminho em torno de suas esperanças, sonhos
e valores. Reconhecer sua vida como um lugar
de desdobramentos e possibilidades em vez de
um conjunto de histórias confinantes e
rigidamente definidas sobre quem você é e o
que você pode se tornar.
Apesar de ser um e-book sobre ansiedade, o
foco não será muito nela, e a razão para isso é
simples: não é a ausência de ansiedade, mas
a presença de uma vida significativa que
realmente importa.

Quando você se concentra em aprender


novas habilidades e cultivar uma relação mais
gentil com sua mente e corpo ansiosos,
poderá alcançar seus objetivos e se sentirá
melhor.

Então, vem comigo nessa jornada!


Como saber SE EU TENHO
ANSIEDADE?

Os problemas de saúde mental decorrem de


uma complicada interação de fatores
cognitivos, comportamentais, biológicos e
ambientais. Essa complexidade desafia a
classificação diagnóstica, um rótulo não conta
toda a história e talvez nem conte um pouco
dela. Por isso, nosso objetivo aqui não é
pensar na ansiedade em termos de ter ou
não ter, mas a partir da aceitação do fato de
que todos nós compartilhamos de um
destino comum: o sofrimento. Esse será
nosso primeiro passo para encontrar um
caminho à liberdade nessa vida.

Se o sofrimento é onipresente na vida, a


tentativa de retirá-lo ou evitá-lo é, portanto,
retirar e evitar a própria vida. Em um primeiro
momento isso pode parecer estranho, mas se
você olhar cuidadosamente vai perceber que
quanto mais tentamos evitar o sofrimento,
mais nos aproximamos dele.
Vamos usar o exemplo da ansiedade: fugir
dela te aproximou das pessoas ou de coisas
que você considera importantes? Muito
provavelmente sua resposta foi não. Na
maioria das vezes que tentamos evitar a
ansiedade deixamos de fazer coisas valiosas
para nós.

Além disso, se você considerar as maneiras


que experimenta a ansiedade em sua vida,
verá que elas estão intimamente ligadas a
algo profundamente importante. Você estaria
preocupado com seu desempenho
profissional se isso não fosse importante para
você?
Então, apesar do sofrimento ser parte
inerente da vida, outro grande fato é nossa
capacidade de libertação. Isso significa que
mesmo que você tenha lutado uma vida toda
contra a preocupação, medo, pânico, ou
qualquer outra forma de ansiedade, você
pode encontrar através dessas experiências
um caminho para uma vida de sua escolha.
Como melhorar minha relação
com a ansiedade?

01# Seu pensamento é apenas um


pensamento...

"Saúda os monstros na sua cabeça"


Comumente respondemos aos nossos
pensamentos de maneira fixa, presa e literal,
ou seja, nos comportamos como se eles
fossem verdades absolutas. Quanto mais
“colados” a esses pensamentos, menor a
nossa capacidade de responder às situações
como elas se apresentam no momento
presente. Mas será que todo pensamento é
disfuncional? A resposta é não. No entanto,
quando não conseguimos discriminar sua
utilidade, podemos nos comportar de uma
maneira que nos afasta daquilo que
valorizamos. Vou te dar um exemplo simples:
Imagine que você decidiu se envolver em um
projeto novo de trabalho, e para isso vai
precisar desafiar-se e desenvolver novas
habilidades.
Diante de novos desafios é comum
apresentarmos um certo nível de ansiedade e
insegurança. Com isso sua mente te envia a
seguinte mensagem: “Desista, você não vai
conseguir. Isso é muito difícil para você.” No
fundo sua mente está tentando te proteger
de possíveis fracassos, mas esse projeto é
muito importante e responder de maneira
literal a esse tipo de pensamento pode fazer
com que você desista de algo importante
antes mesmo de começar.

Mas o que posso fazer então?


A alternativa é mudarmos a forma como nos
relacionamos e interagimos com nossos
pensamentos. Olhá-los com distanciamento,
gentileza e flexibilidade. Por exemplo, trocar o
“eu sou um fracasso” por “eu estou tendo um
pensamento de que sou um fracasso”. Uma
técnica simples mas que com treino leva a
uma diminuição do impacto desses
pensamentos em nossas vidas. É importante
deixarmos claro que não se trata de pensar
positivo ou de se livrar dos pensamentos, mas
de observá-los como eles são, apenas
pensamentos, que vem e vão e você não
precisa responder a eles se isso te afastar da
vida que você quer levar.
Assim, a principal alternativa é aumentar
nossa atenção para os pensamentos que
estão coerentes com nossos valores e abrir
espaço para os outros irem. Tentar controlá-
los não funciona, alterar nossa relação com
eles é a essência.

Algumas estratégias que nos ajudam


nesse processo:

Ver os pensamentos como transitórios.

Recordar quem nós queremos que mande:


nós ou nossos pensamentos.

Perseverar em fazer algo importante ou


valioso, mesmo quando os pensamentos
nos incomodam.

Separar “pensamento de pensador”: trocar


“eu sou inútil" por “estou tendo um
pensamento de que sou inútil”.

Avaliar se nos conectarmos com nossa


mente nos aproxima da pessoa que
queremos ser ou do que realmente é
importante.
As situações em que você se sente ansioso
podem ensiná-lo muito. Se continuamente
você tem experiências dolorosas em uma
determinada área da sua vida, o que essas
experiências podem-lhe ensinar? Como você
pode funcionar melhor nelas?
É importante aprender a reconhecer seus
pensamentos ansiosos como o que eles
realmente são: Pensamentos; eventos que
você pode reconhecer e deixar passar.

Para você que sempre sofreu com seus


pensamentos ansiosos pode parecer
estranho estar com eles de propósito. Mas há
uma sabedoria paradoxal nesse tipo de
prática. Ao fazer amizade com seus
pensamentos ansiosos, você fica menos
propenso a ser incomodado por eles. Em vez
de manifestações ameaçadoras ou
assustadoras, eles podem começar a parecer
crianças assustadas que precisam de ajuda.
Ao tratá-los com bondade e compaixão é
mais provável que você estenda o cuidado
para si mesmo, comece a ser menos crítico e
aceitar a si mesmo em momentos em que a
ansiedade está incomodando.
02# Aprendendo com a dor
Coragem, disposição e abertura...

Se o sofrimento é parte inerente da vida, fugir


dele não seria fugir da vida?

Desde muito cedo aprendemos que


podemos controlar nossas emoções. Nesse
processo ouvimos muitas expressões do tipo:
“não chore”, “fique tranquilo”, “não fique
desanimado”, entre tantas outras. A
constatação de que isso não é possível faz nos
sentirmos ainda mais inadequados e o
sofrimento só aumenta.

Quando tentamos controlar nossas emoções


o alívio é temporário, e quando o mal-estar
retorna, se transforma em um obstáculo para
nossas metas de vida.

A alternativa à luta é a aceitação.


É importante normalizar os sentimentos,
afinal de contas você é um ser humano, que
se importa e é super normal não querer sentir
desconforto. Se está frio, você procura um
abrigo, se um carro se aproxima, você desvia.
Nossos cérebros foram desenvolvidos para
nos ajudar a escapar da dor e do sofrimento.
Mas quando se trata da dor psicológica, o tiro
“sai pela culatra”. A evitação da dor e
sofrimento restringe nossas vidas e bloqueia
nossas oportunidades de crescimento, como
por exemplo: você se sente ansioso com uma
tarefa de trabalho, então procrastina para
evitar o desconforto, mas isso só funciona a
curto prazo, apenas aumenta a sua
ansiedade. Você sente vergonha, então não
fala em ambientes sociais, apenas para se
sentir menos confiante e por aí vai.

Todos nós nos entorpecemos, distraímos ou


saímos da vida às vezes, e tudo bem, nem
sempre as estratégias de evitação são
prejudiciais, mas os problemas surgem
quando elas nos afastam da vida valorosa.
É importante estarmos cientes de nossas
estratégias de evitação para reconhecermos
quando elas são destrutivas. Maratonar uma
série na Netflix para não pensar naquele
trabalho que tenho para fazer pode ser uma
boa estratégia, mas quando o trabalho é
muito importante para mim e me aproxima
da vida que quero levar, esse comportamento
repetidamente pode me deixar ainda mais
ansioso.

Pare um pouco para refletir:

Quais as principais estratégias de evitação


que costumo utilizar?
Elas me ajudam?
Alguma vez fizeram eu perder algo
importante?
Há benefícios de curto prazo?
E os custos a longo prazo?
Fique atento às suas maneiras de evitar
pensamentos e emoções difíceis. Pense
nas consequências a curto e longo prazo.
Pergunte a si mesmo se há outra direção
que você gostaria de seguir.
Um exemplo de exercício de aceitação:

Pensamentos e sentimentos difíceis muitas


vezes nos impedem de fazer o que realmente
é importante. Quando essa resistência
interna ameaça assumir o controle, você
pode tentar jogar o Jogo do Impossível.
No momento em que você percebe uma
resistência interna para realizar uma ação útil,
o jogo começa.

Se pergunte: Do que essa ação me aproxima?


Você pode então decidir ceder à resistência
ou pode escolher desafiar-se a fazer o que
parece impossível, mas está conectado a algo
importante.

Você avalia o que quer e faz a ação oposta do


que a emoção te “manda” fazer.
Isso significa que você se permite sentir o
desconforto, ouvir sua conversa interna
negativa e reagir de qualquer maneira. Você
faz exatamente o que sua mente diz que você
não pode fazer, fazendo assim o "impossível."
Isso é o que parece na prática.
As oportunidades de jogar são infinitas e
começa no momento em que você percebe
uma resistência à ação útil. Ao jogar o jogo do
impossível, você exercita seus músculos de
aceitação e cria variação saudável. Você
pratica sua habilidade de abrir espaço para
pensamentos e sentimentos difíceis,
enquanto aprende a agir de maneira que te
seja valorosa. Fazer isso tira a vida da rotina,
de hábitos bem enraizados de resistência.

O Jogo do Impossível é um desafio diário e


um lembrete frequente de que você pode ir
além de seus limites autodefinidos sempre
que fizer uma escolha.
03# "Eu sou..."
A arte de tomar perspectiva
Todo ser humano tem um anseio por
pertencimento, por ser aceito. Pertencer a
um grupo sempre foi uma questão de
sobrevivência, logo, se preocupar com o
julgamento do outro parece ser muito
legítimo. No entanto, a maneira como
buscamos satisfazer essa necessidade pode
promover ainda mais sofrimento. O medo da
rejeição muitas vezes produz um excesso de
autoavaliação e comparação que só
aumentam nosso medo da rejeição ou a
sensação de não sermos bons o suficiente. As
evidências mostram que quanto maior nossa
preocupação em corrigir nossas falhas,
menor é nossa criatividade e motivação.
Aprendemos a criar histórias sobre nós
mesmos, criamos conceitos acerca disso,
tudo em função de satisfazer a necessidade
de pertencimento. Entretanto, comparamos
nossas histórias com as dos outros e nos
sentimos ameaçados, isso nos afasta da
possibilidade de criarmos conexões
significativas e verdadeiras.
Você já foi pego e ficou preso por essas
auto-histórias?
Você já acreditou que não é bom em
alguma coisa e então nem tentou?
Você já acreditou que é realmente bom
em algo e então se criticou quando a
coisa ficou desafiadora?
Você já ficou tão preso em tentar causar
uma boa impressão que não ouviu a
pessoa com quem estava?

As consequências de ficar preso a essas


auto-histórias comumente são:
Você perde o aqui e agora.
Você não percebe como o contexto influencia
o seu comportamento.
Fica inflexível em seus comportamentos e
crenças.
Você procura evidências para confirmar suas
crenças.
Você tem dificuldade em aceitar as
perspectivas dos outros e oferecer empatia.
Você cria profecias autorrealizáveis e perde as
oportunidades de aprender e crescer.
Você se sente desconectado de um todo maior.
Você é mais do que as histórias que sua
mente cria. Todas suas experiências
interiores, incluindo essas auto-histórias, são
fenômenos que surgem no campo da sua
atenção e eventualmente passam; assim
como o clima, um dia pode estar mais
ensolarado, nublado ou chuvoso.
O céu permanece lá apesar do clima.
O objetivo é você direcionar sua atenção para
o céu em si. O céu é seu eu transcendente,
aquele que que observa todos os seus
pensamentos, emoções e histórias. Esse eu
transcendente está atrás dos seus olhos. Você
terá muitas experiências na vida, mas não
pode ser completamente definida por
qualquer uma delas.

É importante que você identifique essas auto-


histórias e as observe de um novo ponto de
vista. Ir além do conteúdo dessas histórias
para ter uma visão mais ampla de si mesmo
como alguém que é modelado pelo contexto
de sua história de aprendizagem e pelo
mundo ao seu redor.
Fazendo isso você pode responder de
maneira mais flexível aos desafios da vida., ver
sua experiência com maior clareza, conectar-
se mais profundamente com os outros e
imaginar novas possibilidades para si mesmo.
Tente fazer o seguinte exercício:
Escreva algumas crenças que você tem sobre
si mesmo completando as frases:

Eu sou....

Eu nunca....

Eu sempre...

Não posso...

Agora dê uma olhada mais de perto para


essas histórias: são sempre verdadeiras?
Escolha uma das declarações acima e escreva
um exemplo em que essa história era
verdadeira e um em que não era.
Que situações ou contextos desencadeiam
essa história? Como você age quando
aparece? Como essa história te limita?
Isso impede que você se conecte com os
outros ou aja de maneira valorosa?
Ao se conscientizar dessas histórias você pode
notar como suas ações são influenciadas por
elas. Entrar em contato com uma perspectiva
mais ampla abre espaço para escolher suas
ações, em vez de suas histórias escolherem
por você.

04# Esteja aqui agora...


O poder da presença
Diante dos desafios da vida tendemos a nos
perdermos e olhar para o passado e o futuro
em busca de orientação, mas o que realmente
conseguimos com isso? Conseguimos apenas
uma explanação mental do que já foi ou o que
será, quando na verdade o que realmente
existe apenas é. Uma atenção mais flexível e
intencional nos possibilita entrar em contato
com a experiência do momento, seja ela qual
for, sem julgamentos.
Essa é a sua única vida, portanto, viva o
melhor possível. Se estiver apenas meio
presente, está perdendo a metade. É como
assistir a seu filme preferido de óculos escuros
ou ouvir sua música favorita com protetores
de ouvido.
Para apreciar de verdade a riqueza e a
totalidade da vida, você precisa estar aqui
enquanto ela acontece!

Citando o grande romancista Tolstói: “Só um


tempo importa: o agora. É o tempo mais
importante por ser o único sobre o qual
temos algum poder.”
Para criar uma vida significativa, precisamos
agir, o poder de agir existe apenas nesse
momento. O passado já aconteceu e o futuro
ainda não chegou, só temos como agir aqui e
agora.
Mas no mundo em que vivemos hoje, a
tecnologia, sobrecarga de informações e vida
acelerada competem por um recurso
limitado: nossa atenção.
Rotineiramente vivemos em um estado de
distração, nos afastando daquilo que estamos
fazendo aqui e agora, gerando uma sensação
de que a vida passa rápido demais e que
estamos a perdendo. Nesse estado reagimos
aos eventos sem prestar muita atenção.
A boa notícia é que com a prática podemos
dar um passo atrás, perceber o que está
acontecendo e fazer escolhas mais
intencionais e deliberadas.
Estar focado no momento presente aumenta
sua consciência de pensamentos, emoções e
comportamento. Isso pode ajudá-lo a agir de
maneira menos habitual e irracional e
permitirá que você faça escolhas mais
conscientes e intencionais.
Pesquisas recentes mostram que estar mais
presente pode nos ajudar:

Sermos mais resilientes em momentos


de estresse.
Ter mais concentração.
Ter mais compaixão pelos outros.
Diminuir a inflamação e melhorar
nossa saúde.
Melhora dos marcadores de
longevidade.

Mas como podemos colocar isso em prática?


A prática formal de meditação é uma ótima
maneira de fortalecer nossas habilidades de
atenção plena, mas não é a única maneira de
praticar.

A ACT propõe trazer mais consciência para a


sua vida como ela está agora. Você pode
praticar enquanto cozinha, come, toma um
banho, entre várias outras atividades que
acontecem no seu dia a dia.
Faça uma pausa e se pergunte:
Em que situações você tende a correr atrás de
tarefas e viver no piloto automático?
Com quais pessoas, atividades ou momentos
você gostaria de estar mais presente e
engajado?

Experimente isso agora: olhe para a sua


agenda, que eventos você gostaria de
experimentar com toda a sua atenção e foco

Traga consciência para sua mente distraída,


tente se pegar desengajado, distraído ou
disperso das atividades que você listou, tenha
o compromisso de se pegar o máximo de
vezes possíveis. Toda vez que você o faz, está
fortalecendo o poderoso processo de estar
presente.
05# Valores: Decidir o que importa

Nossos valores são como um guia eficaz para


nossas ações, quando conectadas a eles, são
conscientes e propositais, quando
desconectadas são impulsivas, reativas ou
automáticas.

Os valores descrevem como queremos ser no


mundo. Segue algumas perguntas que
podem te ajudar a se conectar com os seus:

1 Como você quer se comportar

2 Como você quer tratar a si mesmo e


aos outros

3 O que você quer defender?

4 Que tipo de qualidades gostaria de


desenvolver?
É importante fazermos uma distinção entre
metas/objetivos e valores: metas são coisas a
serem alcançadas no futuro, o que você quer
ter ou alcançar. Valores são como você quer
se comportar agora e, de maneira contínua,
como quer se comportar a cada passo do
caminho para alcançar seus objetivos.

O que você quer fazer com seu tempo neste


planeta?
Que tipo de pessoa você quer ser?
Que qualidades pessoais você quer
desenvolver?
Como você quer ser lembrado?
Mas na maioria das vezes ficamos esperando
condições ideais para nos comprometermos
com nossos valores.
Por exemplo: quero dedicar mais tempo,
começar um projeto novo de trabalho, mas
não me sinto preparada. Quero praticar
atividade física, mas espero me sentir mais
motivada. O que a ACT nos ensina é que há
sempre pequenos movimentos significativos
disponíveis para todos nós e você pode
começar a praticá-los hoje.
Faça o seguinte exercício:

Escreva algo que te dê prazer, mas não seja


tão significativo. Agora anote sobre algo que
faz com que você se sinta importante e
gratificante, algo que te dê um senso maior
de propósito, mas que nem sempre é
agradável.
O que esses momentos mostram sobre o que
mais importa em sua vida agora?

06# Ação Comprometida com valores


e responsabilidade

É absolutamente humano ter anseios de


crescer, construir domínios e viver de
maneiras que importam. Também é humano
ser imperfeito, se atrapalhar e se perder. O
progresso raramente é linear.
Seguir perfeitamente um plano para um
determinado dia não é o que realmente
importa, mas sim a sua ação de pegá-lo volta
e meia, e outra é mantê-lo. Essa é uma ação
comprometida.
A ação comprometida envolve três
componentes:

Agir : engajar-se em um comportamento,


não apenas pensar ou falar sobre ele.

Conectar-se a seus valores : agir de maneiras


que são significativas para você.

Continuar diante dos obstáculos : voltar a agir


mesmo quando você tropeça. Descarrilar por
pensamentos, impulsos ou emoções.

Para seguir comprometido com sua vida é


importante:

Explorar os obstáculos pessoais para a


mudança.

Usar os valores para orientar suas ações.

Aplicar a ciência do comportamento para


criar contextos que apoiem mudanças
significativas.

Praticar flexibilidade consigo mesmo.


Faça o seguinte exercício:
Anote três mudanças que gostaria de fazer.

Por que essas mudanças realmente


importam para você?
Como elas melhorariam sua vida?
O que as faria valer a pena mesmo
quando se tornarem duras?
Quais os valores subjacentes às mudanças
que você quer fazer?

Traduza um deles para a menor ação que


você poderia tomar agora, por exemplo: se
você valoriza cuidar do seu corpo e sua
saúde, tire um momento para se esticar. Se
você se importa com o meio ambiente,
reutilize algo. Se você se importa em ser
amoroso, ligue para alguém que você gosta
ou dê um abraço.

Nesse contexto, precisamos desenvolver


uma força flexível que corresponda a nossa
capacidade de persistir em nossa jornada
quando está trazendo valor e vitalidade e
mudar sua direção quando o que você está
fazendo não traz esse valor.
E ficamos por aqui...
Para finalizar, gostaria de usar uma metáfora
que compara o trabalho desenvolvido através
da ACT como seguir em um labirinto, onde
haverá momentos que parece que você está
apenas deslizando a borda externa da espiral,
longe do centro, não fazendo progressos. Em
outros momentos você vai sentir como se
estivesse no caminho certo à liberdade.
Com certeza você experimentará ao longo da
sua jornada, períodos de mudança positiva
seguidos de estagnação e perda. Se você se
sentir ansioso, triste, com raiva, eles voltarão.
Sua luta para sustentar uma mudança
aparecerá novamente e assim por diante. O
que o labirinto da ACT nos ensina é que
sempre é possível seguir em frente,
respondendo os desafios de forma aberta,
para receber todos os sentimentos,
pensamentos e sensações, consciente do que
mais importa para você agora e engajado.
Vivendo seus valores através de suas ações
neste momento.

Aproveite a viagem e até breve!


Referências

Things migth go terribly wrong


A guide to life liberated from anxiety
- Kelly G Wilson

A liberated Mind - How to Pirot Toward What


Matters
- Steven C. Hayes

ACT Daily Journal


- Diana Hill & Debbie
Sorensen

Terapia de Aceitação e Compromisso


O processo e a prática da mudança
consciente
- Steven C. Hayes, Kirk D.
Strosahl, Kelly G. Wilson

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