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Julio Parzianello

Psicólogo Clínico

Reflexões Terapêuticas
"Um lugar para ouvir a verdade"
& outros textos
03/2023
SUMÁRIO

Um lugar para ouvir a verdade ........... 03

Autoconhecimento ................................. 06

Ansiedade & Aceitação ........................... 09

Desenvolver habilidades ........................ 14

Conselhos & Regras ................................. 19

Conexão ...................................................... 23

Valores & Objetivos ................................ 27

02
UM LUGAR PARA OUVIR A VERDADE

Um paciente está sorrindo e conversando


com outras pessoas na sala de espera.
Chamo-o para iniciar a sessão. Ao sentar-se
na poltrona e dizer suas primeiras palavras,
ele começa a chorar.

Onde estava essa dor antes da sessão? De


quantas formas ele não teve de camuflar
seu sofrimento durante o dia? O que há em
uma sessão terapêutica que faz com que as
lágrimas possam vir à tona?

A terapia assemelha-se à oração.

Para ambas serem eficazes, deve-se abrir-se


à verdade. Quando o paciente fala, a
verdade ignorada começa a surgir. Talvez
não na primeira ou segunda sessão. Porém,
cedo ou tarde, uma outra voz começa a
falar em si, e o terapeuta acolhe essa voz
despercebida pelo paciente.

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UM LUGAR PARA OUVIR A VERDADE

O paciente pode se surpreender com o que


disse ou não lhe dar seu legítimo valor. O
terapeuta, todavia, não se pode deixar
enganar. Há algo importante ali. Uma dor
evitada, um sentimento desprezado, uma
força não percebida. Escutar é perceber a
voz que fala, mas, até então, não tinha
encontrado ouvidos para escutá-la.

De quais verdades você tem fugido?

O que aconteceria contigo se você


começasse a ouvir mais a si mesmo?
Quantas fraquezas descobriria?
E quantas forças seriam notadas?
Quais mudanças teria de fazer em sua vida,
em sua personalidade, em sua forma de se
relacionar?

O que significariam essas


descobertas?

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“UM LUGAR PARA OUVIR A VERDADE E
DECIDIR O QUE SERÁ FEITO COM ELA”.
Esta é uma boa definição
para terapia
AUTOCONHECIMENTO

Autoconhecimento não deve ser entendido


apenas como uma compreensão intelectual
de si, mas, também, como uma conexão
consigo mesmo. Não basta conhecer seus
desejos (bons ou ruins), emoções,
interesses, sonhos, valores, etc.

É necessário estabelecer um diálogo com


eles, pois diálogo gera conexão.

Autoconhecimento deve ser uma busca


espiritual e psicológica visando ampliar a
percepção e conexão consigo, com os
outros e com a vida. Se for mera
curiosidade, adiantará pouco. Sendo uma
busca espiritual e de amadurecimento da
personalidade, seu processo dura por toda
existência.

Não há ponto de parada. O sentido


percorrerá todo o caminho de quem se
arriscar a conhecer a verdade.

06
AUTOCONHECIMENTO

Abertura,
investigação, diálogo & ação.

São 04 etapas mínimas para o


autoconhecimento ganhar valor legítimo.
Alguns pulam a primeira etapa e
investigam suas vidas sem estarem
realmente abertos ao que pode aparecer.
Lutam contra os sentimentos despertados.
Fogem dos desejos percebidos.

Sem o desenvolvimento da capacidade de


abrir-se à experiência e o acolhimento das
verdades surgidas os próximos passos do
autoconhecimento tornam-se falsos.

A terapia tem a pretensão de colocar em


movimento a autodescoberta. O terapeuta
ajudará a desenvolver os processos
psicológicos que facilitarão o
autoconhecimento e a descoberta do
sentido em sua vida.

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O resultado será
uma pessoa mais conectada
consigo mesma,
com os outros e
com os seus objetivos.
ANSIEDADE & ACEITAÇÃO

Um recurso muito simples, e


frequentemente evitado, para lidar com a
ansiedade é a aceitação. Diria, na verdade,
que não há melhora para qualquer
desregulação emocional sem abertura e
aceitação. Se você já esteve em uma
situação de instabilidade emocional, deve
ter notado que há uma espécie de
fechamento psicológico.

É uma reação, em parte, natural. A mente


tenta nos proteger dos estímulos aversivos
e fecha-se em si. Entretanto, fechar-se em
demasia pode ser sufocante.

Tornamo-nos prisioneiros de nossos


pensamentos e fantasias. Perdemos contato
com o mundo e com os outros.

Sendo assim, aceitar a situação


desagradável é manter uma fresta
emocional aberta até o desconforto passar.

09
ANSIEDADE & ACEITAÇÃO

Aceitar, entretanto, não é se conformar ou


concordar com o acontecimento ruim. É
entender, antes de tudo, que ele faz parte
da realidade. E a negação da realidade é o
início do adoecimento mental/emocional.

“Eu não aceito essa situação”. “Eu não


aceito que o outro tenha feito isso comigo”.
“Eu não aceito ser assim”. São pensamentos
geradores de mais estresse e mais
ansiedade.

Pense na aceitação como uma


“abertura de espaço mental”

Se a ansiedade entulha sua mente com


preocupações, abrir espaço interior faz
com que os pensamentos não fiquem tão
exprimidos e sufocantes. Assim é mais fácil
raciocinar e decidir o que fazer.

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ANSIEDADE & ACEITAÇÃO

Há alguns passos para ter mais abertura em


momentos de estresse.

Um deles é alterar seus aspectos físicos. Se


você está carrancudo, sem sorrir, mudar
(aos poucos) para uma expressão mais
simpática pode ajudar. Ou mudar sua
postura de fechada e curvada para aberta e
ereta.

À nível dos pensamentos, ao invés de


brigar com a realidade, gerar pensamentos
de aceitação é uma estratégia útil. “Eu
aceito essa realidade apesar de incômoda”.
“Emoções fazem parte de mim, não posso
negar uma parte minha”.

Dar abertura é permitir-se sentir as


emoções atuais, de modo que elas tenham
começo, meio e fim. É não as apressar ou
apegar-se a elas.

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ANSIEDADE & ACEITAÇÃO

Emoções aceitas,
vivenciadas e compreendidas
SEMPRE passam.

Isso demanda prática. Todavia, com toda


certeza, aceitar a realidade desagradável e
dar abertura às emoções desconfortáveis
são reações muito mais saudáveis e
maduras do que brigar mentalmente com
elas.

As emoções se acalmam quando


acolhidas e aceitas.

A negação e a revolta, por outro lado,


geram mais estresse e te enfraquecem
psicologicamente.

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Emoções aceitas,
vivenciadas e
compreendidas
SEMPRE passam
DESENVOLVER HABILIDADES

Quando você tenta resolver um problema


por meio das suas capacidades atuais e não
tem êxito, há 03 possibilidades:

01, você desenvolve novas


competências.

02, você atualiza e melhora as


competências atuais.

03, você utiliza as mesmas estratégias só


que de forma mais intensa.

Esta última levará ao adoecimento.

Você se sente desvalorizado e tem


dificuldades de se comunicar com os
outros, porém, não sabe como desenvolver
novas habilidades sociais e nem como
refinar as suas habilidades atuais. Então, o
que faz para se comunicar?

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DESENVOLVER HABILIDADES

Exagera uma capacidade já existente.


Como, por exemplo, falar alto até o ponto
de gritar. Assim, os outros te ouvirão e te
darão atenção.

Este tipo de alternativa tem seus limites.


Haverá o dia em que falar alto ou gritar não
adiantará e, ao invés de gerar conexão com
as pessoas, as afastará. Compensar a
desvalorização com gritos levará a mais
sentimentos de desvalorização.

O correto seria aumentar o repertório


comportamental, mas para isso é
necessário renunciar ao velho método.

Neste caso, sem o aprendizado de novas


formas de comunicação, haverá um
excesso compensatório no método atual.

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DESENVOLVER HABILIDADES

Curiosamente, o ser humano é muito


teimoso e insiste em seus erros, até mesmo
quando as consequências dos seus atos o
leva, justamente, em direção de seus
medos.

Talvez, para alguém assim, gritar foi um


hábito útil no passado. Quando criança, ao
gritar, ganhava a atenção dos outros e
conseguia o que queria de seus pais. Ou a
ajudava a se proteger. Ao gritar, sinalizava
um perigo e alguém a resgatava. Isso a fez
sentir-se valorizada ou protegida.

Quando adulta, esse tipo de


comportamento não é mais eficaz. Adultos
gritões sofrem represálias e poucos
desejam se relacionar com alguém assim.

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DESENVOLVER HABILIDADES

Mudar a mentalidade e os
comportamentos, entender como eles
foram formados e desenvolver novas
formas de pensar e agir pode ser um
esforço muito difícil de se fazer sozinho.

Para auxiliar nesse processo, o psicólogo é


o profissional capacitado para acolher,
entender e promover, em conjunto com o
paciente, as mudanças necessárias para
uma vida com mais sentido.

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Não continue repetindo os mesmos
erros, caindo nos mesmos medos.

Procure um psicólogo para ajudá-lo.


CONSELHOS & REGRAS

“Torne-se sua melhor versão”


“Seja o protagonista de sua vida”
“Viva com sentido”

O problema dos conselhos que ouvimos e


lemos (eu mesmo escrevo alguns deles) é
que eles podem se tornar regras absolutas
não refletidas. Uma ideia só tem valor se
compreendida dentro de um contexto. Até
mesmo os 10 mandamentos, se não
compreendidos adequadamente, podem
gerar confusão e desorientar.

Por exemplo, “seja o protagonista de sua


vida”. Se alguém em terapia trouxesse essa
regra como importante para si, eu
levantaria algumas questões (não
necessariamente na mesma sessão):

O que é protagonismo para você?


Há descanso no seu protagonismo?
Com quem aprendeu essa ideia? Como
essa pessoa viveu essa regra?

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CONSELHOS & REGRAS

Ao longo do tempo, incorporamos regras e


não refletimos sobre elas. “Ame ao
próximo como a ti mesmo”.

Como amar ao próximo se nem sei o que é


amor? Amor é sentimento ou algo a mais?
Como posso amar ao próximo se não
conheço a mim mesmo e, portanto, não sei
o que amar em mim?

Sem compreender uma regra em sua


amplitude e profundidade,,
ela irá se tornar uma prisão
ao invés de um princípio orientador.

Este é um dos motivos pelos quais muitas


pessoas odeiam as religiões. Veem-nas
apenas como um conjunto de regrinhas
transmitidas por pessoas que não as
entende corretamente, mas cobram de
todos os outros para segui-las.

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CONSELHOS & REGRAS

O cristianismo é campeão nisso. Por muito


tempo fiquei distante do catolicismo, pois
me parecia chato pra caramba com seus
mandamentos e um Deus que, no final das
contas, morre.

Não só não entendia nada, como não


encontrava ninguém que realmente vivia
aqueles mandamentos. Regras e ideias
devem ser repensadas, analisadas,
entendidas de fato.

Deve-se procurar a verdade.

Quantas regras não há em ti que nunca


foram colocadas sob investigação e, assim,
você não sabe se elas são verdadeiras? E se
são, em que sentido? Como a vida será
própria, sua, pessoal, se você não ousa
olhar para si e entender as ideias pelas
quais vive?

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CONSELHOS & REGRAS

Deve-se procurar a
Verdade
CONEXÃO

O ser humano possui o desejo inato de se


conectar com as pessoas. O cérebro
entende a solidão crônica como algo
perigoso, geradora de desamparo (ou
resultado de um desamparado já
aprendido). O solitário não atende a
necessidade emocional básica de ligar-se
afetivamente, aumentado o estresse, os
níveis de cortisol – o hormônio
responsável por colocar-lhe em ação.

“Vá buscar companhias”, é como se o


cérebro estivesse lhe comunicando.
“Sozinho você está desprotegido e
desamparado”.

E o cérebro adora segurança


física e afetiva.

Curiosamente, a época mais conectada da


história é a época mais solitária. Não por
falta de pessoas nem oportunidades. Mas
por falta de vínculos significativos.

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CONEXÃO

A forma moderna de se relacionar é


superficial, rápida, pragmática. Não gera
intimidade. O aumento de pessoas
solitárias ou dependentes emocionalmente
é, ao meu ver, resultado de laços afetivos
insuficientes.

A visão moderna lhe oferece relações


prazerosas, mas não lhe entrega relações
íntimas. Uma garota e um garoto podem
“ficar”, “curtir”, transar sem compromisso
algum. O mundo ensina isso. Só não
ensina o preço de viver assim.

o vazio

A visão moderna confunde


hedonismo com intimidade.

A epidemia de solitários na atualidade é


consequência da incapacidade das pessoas
de serem íntimas umas das outras.

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CONEXÃO

Intimidade que demanda diálogo.

Dia-logos.

Dia = por meio de.


Logos = verdade ou sentido.

Só há intimidade SE entre eu e você


estiver a verdade. A superficialidade não
alcança a verdade. Ela apenas engana e,
com isso, instala uma falta.

Só há sentido se dialogarmos com a


verdade e se, frente a luz da verdade,
suportarmos perceber a quantidade de
mentiras que carregamos.

A sociedade atual não tem relações


íntimas, pois não suporta a verdade.
Poucos examinam suas próprias
consciências. É mais fácil viver na mentira,
o que já é uma grande mentira.

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Só há sentido se
dialogarmos com a
verdade
VALORES & OBJETIVOS

Objetivos por si só não trazem sentido de


vida. No início do ano, muitas pessoas
traçam objetivos acreditando que, caso os
conquiste, suas vidas serão melhores.
Porém, uma vida com sentido não é
baseada em objetivos, mas em valores.
Objetivos só trazem sentido se forem a
expressão de algum valor.

Explico melhor.

Você quer, por exemplo, ser um melhor


profissional este ano. Este é um dos seus
objetivos, mas ele não manifesta ainda o
valor subjacente. A pergunta necessária
aqui é: “ser melhor para quê?”. Uma
resposta possível seria: “para ganhar mais
dinheiro”. Entretanto, ganhar dinheiro não
é um valor ainda, pois dinheiro é um meio
não um fim em si.

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VALORES & OBJETIVOS

“Ganhar dinheiro para quê?”. Agora, alguns


valores começam a aparecer. “Para ter
minha independência financeira”. Ou seja,
um valor possível é a liberdade. “Para eu
poder viajar”. Valor: conhecimento de
culturas. "Crescer financeiramente seria um
sinal de que estou ajudando mais pessoas”.
Valor: serviço ao próximo, ser prestativo.

Um valor é o real porquê


de sua ação.

O sentido dela. Objetivos são alvos a serem


alcançados. Sendo assim, valores podem
ser alcançados de diversas maneiras, por
meio de vários objetivos.

O erro de muitos é fazer um valor


prisioneiro de apenas um objetivo.

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VALORES & OBJETIVOS

Se ganhar mais (objetivo) está relacionado


a ajudar mais pessoas (valor), você pode
encontrar outras formas de ajudar e não
depender apenas, para realizar este valor,
do sucesso profissional.

Se viajar (objetivo) está relacionado a


conhecer novas culturas (valor), você pode
encontrar outras formas de conhecer
diferentes culturas até ser possível, então,
realizar uma viagem.

Alinhar valores com objetivos é o que dá


sentido à vida.

Ficar apegado demais a certos objetivos


pode levá-lo a negligenciar uma vida
valorosa (principalmente se estes objetivos
são grandiosos e demandarão tempo para
serem atingidos). Valores abrem um leque
de objetivos possíveis.

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A pergunta a se fazer é :

Por quais valores eu percebo valer a pena


viver e por meio de quais objetivos e ações os
realizarei em minha vida?
Julio Parzianello
Psicólogo Clínico

Psicólogo na cidade de Cascavel-PR


graduado pela PUC-PR.

Atuo na área clínica tratando casos de


depressão, distúrbios de ansiedade e falta
de sentido de vida.

Possuo formação em Logoterapia – a


terapia centrada no sentido de vida - pela
IPLogo e a Certificação Ítalo Marsili.

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@julioparzianello

R. Presidente Kennedy, 481


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