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Artigo de Revisão

O LUTO MATERNO DIANTE DO DIAGNÓSTICO DE DEFI-


CIÊNCIA DO BEBÊ
JONNAS KALLITON SARAIVA RIBEIRO1; TATIANE HENRIQUES DOS SANTOS SALES2

1- Psicologista pela Universidade de Guarulhos.


2 -Docente da Universidade de Guarulhos.

Artigo submetido em: 03/12/2020.


Artigo aceito em: 10/12/2020.
Conflitos de interesse: não há.

E-mail para contato: jonnas.psico@gmail.com

Resumo
A notícia de um diagnóstico de deficiência gera um impacto emocional significativo aos pais, na medida em que
representa a perda do filho perfeito e saudável que idealizaram. Desta forma, este trabalho buscou entender os
processos psíquicos maternos e os recursos de enfrentamento envolvidos no processo de elaboração do luto do
filho idealizado e a ressignificação do bebê com deficiência, para isso foi realizada uma pesquisa bibliográfica, a
fim de levantar materiais relacionados ao tema que oferecesse sustentação teórica. A investigação realizada
mostrou que as reações maternas ao diagnóstico de deficiência são semelhantes às de um processo de luto, que
segue um caminho gradual, mas subjetivo de adaptação, o que geralmente tende a um equilíbrio emocional, que
favorece a vinculação e o desenvolvimento sadio da relação mãe-bebê e proporciona um desempenho satisfató-
rio de suas funções maternas. A partir do momento da notícia do diagnóstico, vários conteúdos internos são
mobilizados, dentre eles as experiências maternas infantis, os vínculos significativos e os recursos egóicos que
possui, o significado que atribui à maternidade e a deficiência, a sua capacidade de dedicar-se ao seu filho, etc.
Todos estes serão fatores importantes para que esta mãe alcance o equilíbrio e a reorganização, para que possa
assim, compreender as limitações e as potencialidades do seu filho.
Palavras-chave: Mãe. Bebê. Deficiência. Luto. Idealizado. Diagnóstico.

Abstract
The diagnosis of disability generates a significant emotional impact on the parents, as it represents the loss of
the perfect and healthy child they have conceived. This work sought to understand the maternal psychic pro-
cesses and the coping resources involved in the process of grieving the ideal child and the resignification of the
disabled baby. As a result, bibliographic research was carried out in order to raise materials related to theme
that offered theoretical support. The investigation carried out showed that maternal reactions to the diagnosis
of disability are similar to those of a grieving process, which follows a gradual but subjective path of adaptation,
that generally tends to an emotional balance, which favors the bonding and healthy development of the mother-
baby relationship and provides a satisfactory performance of their maternal functions. From the moment of the
diagnosis notice, various internal contents are mobilized, among them the maternal and child experiences, the
significant bonds and the ego resources that she has, the meaning she attributes to motherhood and disability,
her capacity to dedicate herself to her child, etc. All of these will be important factors for this mother to achieve
balance and reorganization, so that she can thus understand her child's limitations and potential.
Keywords: Mother. Baby. Deficiency. Mourning. Idealized. Diagnosis.

Introdução bebê começa a ser idealizado pelos genitores de


A descoberta da gravidez mobiliza nos pais forma a atender a suas demandas psíquicas, des-
várias emoções, sentimentos e expectativas. O ta forma, há inevitavelmente uma projeção (1).

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A idealização sobre esta criança permeia a A produção bibliográfica sobre o tema de-
subjetividade de seus pais e o significado que é senvolvido na área da psicologia é escassa, justifi-
atribuído por eles a este momento, este último cando também, o interesse e relevância acadêmi-
foi construído pelas oportunidades de aprendiza- ca pela busca de tais conhecimentos pouco ex-
gens, referências familiares e culturais em que plorados durante a graduação.
vivem, onde geralmente, convergem para uma A escolha deste tema está ligada também
imagem de “criança perfeita”, não havendo as- à atuação do pesquisador em uma instituição de
sim, espaço para a deficiência em seus diversos saúde mental, onde os pais e as crianças assisti-
aspectos (2). das recebem cuidados dos profissionais das áreas
Quando ocorre a surpresa do nascimento da psicologia, medicina, fonoaudiologia, odonto-
da criança com deficiência, há um impacto muito logia, nutrição, serviço social, etc.
grande nos pais, este pode ser reduzido depen-
dendo da forma como a família promove o supor- Metodologia
te necessário para a recepção deste bebê (1). Foi realizada uma pesquisa bibliográfica
Um estudo realizado por Oliveira e Polet- através de materiais relacionados ao tema. Este
to, aponta para a existência de um “luto” após o modelo de pesquisa consiste em proporcionar um
diagnóstico de deficiência do bebê que reflete a contato direto com todo material já produzido
perda do filho idealizado no imaginário dos geni- sobre o assunto pesquisado (4).
tores e de suas projeções, desta forma, este tra- Os principais mecanismos de busca foram
balho abordará essa temática pela ótica materna artigos publicados nos periódicos científicos co-
e as suas vicissitudes. Sob esta perspectiva, será mo o Scielo e Google Acadêmico, visto que é gra-
possível compreender os processos psíquicos ças a eles que é possível a comunicação formal
desta mãe, a construção do vínculo materno e os dos resultados das pesquisas originais e a manu-
recursos de enfrentamento envolvidos no proces- tenção das técnicas empregadas na investigação
so de ressignificação deste bebê, a fim de que científica (5).
esta consiga desempenhar a sua função materna Foram utilizadas também, bibliografias de
da melhor maneira possível (3). referência encontradas na biblioteca da universi-
É necessário compreender estes meca- dade e enciclopédia especializada, tendo uma
nismos, pois é através desta que os profissionais relevância significativa para os trabalhos científi-
da psicologia poderão atuar de maneira assertiva cos, pois seu âmbito é claramente específico e
no atendimento a esta população e garantir as- técnico, como é o caso da psicologia (5).
sim, o suporte psicológico necessário.
A proposta deste estudo consiste em re- Resultados e Discussão
fletir sobre o luto materno diante do diagnóstico Deficiente no decorrer da história e o conceito atual
de deficiência do bebê, seja este, durante a ges- de deficiência
tação ou após o seu nascimento, desta forma, Para compreender o significado que é
ampliará a compreensão dos pesquisadores e dado à pessoa com deficiência, a sua cidadania,
profissionais a respeito da temática, fornecendo papéis e funções sociais, é necessário fazer uma
subsídio teórico, a fim de garantir maior asserti- retrospectiva histórica.
vidade na compreensão das queixas destas pes- Apesar da dificuldade em estabelecer co-
soas e maior qualidade no trabalho terapêutico a mo as civilizações humanas tratavam as pessoas
ser desenvolvido. com deficiência, com base nos dados bibliográfi-

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cos é possível compreender a dificuldade de so- são de uma doutrina baseada na caridade, amor
brevivência e a aceitação social destas pessoas (6). ao próximo e humildade, pois entendia-se que
Segundo os relatos históricos, o tratamen- cada pessoa é um ser criado por Deus, reforçando
to dado às pessoas com deficiência na Antiguida- a importância do homem. Foram criados pela
de varia entre cada sociedade, podendo ir desde igreja neste período vários hospitais (7).
proteção, exclusão social e abandono até a mor- Já a Idade Moderna e Contemporânea, fo-
te. Prevalecia o preconceito e/ou crença em su- ram marcadas pelas transformações sociais sobre
perstições religiosas de que eram amaldiçoadas a maneira de compreender os deficientes. Na
ou, até mesmo abençoadas, mas de qualquer França de 1656, foram criados vários hospitais,
forma não deviam participar da vida social por abrigos e asilos, estes eram mantidos pelos se-
causa de suas limitações (7). nhores feudais e governantes com a ajuda da
Na civilização egípcia antiga os papiros en- igreja. Nestes hospitais as pessoas com deficiên-
contrados por historiadores, ressaltam importan- cia tinham abrigo, alimentação e assistência mé-
tes ensinamentos morais sobre as tratativas com dica (7).
as pessoas com nanismo, cegueira e outras defi- Na Idade Contemporânea, a criação de ar-
ciências. Estes possuíam uma participação social tefatos como bengalas, cadeiras de rodas, mule-
como dançarinos e músicos0 (6). tas, próteses, coletes, macas, bastões, e o sistema
Já na Grécia antiga, o tratamento era Braille favoreceram o acesso ao trabalho e a lo-
completamente diferente, aqueles que não aten- comoção destas pessoas, mas tais avanços não
diam às normas da sociedade, aos padrões de foram suficientes para acabar com o preconceito
beleza ou força física eram excluídas, utilizadas com quem possuía alguma deficiência (7).
como escudos humanos nas guerras e condena- A partir da Revolução Industrial, as epi-
das à morte (6). demias, as guerras e as alterações genéticas dei-
A Roma antiga considerava inútil a sua xaram de ser as únicas causas das deficiências. O
existência, desta forma os pais eram responsáveis trabalho em condições precárias, as jornadas de
por sacrificá-los ou abandoná-los à mercê da sor- trabalho extensas, a alimentação e os locais insa-
te. Os que sobreviviam trabalhavam em casas de lubres passaram a causar acidentes com mutila-
prostituição, circos e outras atividades que pu- ções e doenças profissionais. Nesta época o ho-
dessem ser formas de atração e diversão para o mem era parte de uma grande máquina, e aque-
público (6). les que não se ajustavam a esta grande engrena-
A Idade Média e o início do Cristianismo gem do sistema, eram excluídos e sofriam com o
foram responsáveis por trazer mudanças signifi- preconceito (7).
cativas no tocante às pessoas com deficiência, a Por outro lado, com a criação do Direito
sociedade com pouco conhecimento atribuía a do Trabalho, a questão da habilitação e reabilita-
elas as situações incomuns como maldições ou ção, seguridade social, atividades assistenciais,
castigos divinos. Os supersticiosos acreditavam previdenciárias e de acesso à saúde das pessoas
que estas pessoas eram dotadas de poderes es- com deficiência ganharam grandes propor-
peciais de feitiçaria e bruxaria, atribuindo a eles ções. Após a Primeira e a Segunda Guerra Mundi-
os acontecimentos ruins (6). al, com o surgimento de novos tipos de deficiên-
Com o surgimento do Cristianismo, a per- cia causadas pelas mutilações, o problema das
cepção sobre os deficientes foi um pouco altera- minorias passou a ser analisado de maneira mais
da, influenciando uma postura de acolhimento, humanizada, iniciando-se um processo de solidifi-
oferecendo abrigo e alimentação. Com a ascen- cação dos direitos humanos. Tema este que é

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presente nas legislações de diversos países e tra- ência, assinada pelo Brasil. Essa expressão é a
tados internacionais (7). mais adequada, pois não esconde a limitação
A história do sujeito com deficiência é existente e ao mesmo tempo não a associa a algo
marcada por preconceitos e lutas a favor do direi- que a pessoa carrega ou porta, podendo ser des-
to à cidadania, conforme a cultura na qual está ta maneira, deixada de lado (7).
inserido. A maneira como esta cultura surge e Há algumas formas de compreender a de-
evolui, definirão como será constituído o proces- ficiência seguindo um modelo internacional, sen-
so educacional de um povo, desta forma, estão do eles: o modelo caritativo, social, médico e o
intimamente ligadas (8). baseado em direitos.
No decorrer da história, vários termos fo- O modelo caritativo vê a pessoa com defi-
ram utilizados para se referir às pessoas com de- ciência como refém da sua incapacidade, com
ficiência até chegar a um que melhor se adéqua a uma vida trágica e sofrida e por isso, merecedora
tratativa com esta população, estas mudanças de caridade e ajuda. A deficiência é vista como
ocorreram em função dos avanços sociais, cultu- um déficit e desta forma as pessoas não seriam
rais e da conquista de direitos conforme descrito. capazes de ter uma vida independente, eram en-
Eram utilizadas expressões como manco, retar- tão, submetidos a atividades menos desafiadoras
dado, surdo-mudo, aleijado, deficiente, defeituo- intelectualmente, o que dificultava a sua inclusão
so, desvalidado, excepcional, incapacitado, defi- social (10).
ciente, anormal, dentre outras (7). O modelo social, critica a forma como a
Ainda hoje, há uma discussão sobre qual a sociedade se organiza, desconsiderando as plura-
melhor terminologia a ser utilizada, sendo co- lidades e a diversidade das pessoas, excluindo
mum o uso de expressões como “pessoa especi- assim, os deficientes. A pessoa com deficiência
al”, “pessoas portadoras de deficiência”, “pessoas enfrenta três grandes barreiras, sendo elas as de
portadoras de necessidades especiais”, “pessoas acessibilidade, institucional e atitudinais, e acre-
com necessidades especiais” e “pessoa com defi- dita-se que sendo superadas, haverá um impacto
ciência”. “Todas elas demonstram uma transfor- positivo em todo o contexto social. Este modelo
mação de tratamento que vai da invalidez e inca- ressalta que a deficiência é um produto resultan-
pacidade à tentativa de nominar a característica te da forma como a sociedade está organizada(10).
peculiar da pessoa, sem estigmatizá-la” (7). O modelo médico considera primariamen-
No Brasil, a Constituição Federal de 1988, te a patologia e visa estabelecer um padrão de
adota as terminologias “portador de deficiência” normalidade de funcionamento sensorial, físico e
e “pessoas portadoras de deficiência” conforme intelectual. A deficiência é restrita ao campo indi-
podemos verificar: vidual, desta forma é a pessoa com deficiência
Artigo 7º - (...) XXXI - proibição de qual- que deve ser tratada, por meio de procedimentos
quer discriminação no tocante a salário e critérios e cirurgias, é ela que precisa ser mudada e não a
de admissão do trabalhador portador de defici- sociedade. A maior crítica é porque este modelo
ência (9); busca apenas a cura, sem levar em consideração
Artigo 23 - (...) II - cuidar da saúde e assis- os aspectos emocionais e sociais (10).
tência pública, da proteção e garantia das pesso- Já o modelo baseado em direitos, entende
as portadoras de deficiência (9); que a sociedade precisa mudar para assegurar
O termo “pessoa com deficiência” é o que todas as pessoas tenham oportunidades
mais utilizado mundialmente e é validada pela iguais. É por meio das políticas públicas e da legis-
Convenção dos Direitos das Pessoas com Defici- lação que esta mudança vai ocorrer. Baseia-se em

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dois elementos principais que é o empoderamen- mento, pois é através da maternidade que as
to, que versa sobre a participação social efetiva, e gerações se produzem e reproduzem (11).
a responsabilidade que é atribuída às instituições O nascimento de um filho é uma experi-
públicas (7). ência familiar. Quando um bebê começa a ser
Sobre o conceito de deficiência autores gerado, há nos genitores um movimento de fan-
afirmam que “o que define a pessoa portadora de tasias ou expectativas ligadas à concepção e ao
deficiência não é a falta de um membro nem a desenvolvimento desta criança. A concepção ga-
visão ou audição reduzidas. O que caracteriza a rante um início biológico da gravidez, e psicologi-
pessoa portadora de deficiência é a dificuldade camente, há na história dos pais, vivências que
de se relacionar, de se integrar na sociedade. O proporcionarão padrões de relacionamentos a
grau de dificuldade de se relacionar, de se inte- serem desenvolvidos com o nascimento deste
grar na sociedade. O grau de dificuldade para bebê (12).
integração social é que definirá quem é ou não Gutierrez desenvolveu uma teoria conhe-
portador de deficiência” (7). cida como teoria do apego. Para ele, atitudes de
Entende-se que pessoa com deficiência é ligação são entendidas como qualquer forma de
aquela “incapaz de se desenvolver integralmente ação, que resulta no alcance de uma pessoa se
ou parcialmente, e de atender às exigências de manter próxima de outro sujeito diferenciado e
uma vida normal, por si mesma, em virtude de preferido, este é considerado mais forte ou mais
diminuição, congênita ou não, de suas faculdades instruído. Desta forma, a função principal de um
físicas ou mentais” (7). vínculo é a de garantir a sobrevivência deste indi-
No Brasil a lei nº 13.146/2015 - o Estatuto víduo contra ameaças externas de aniquilamen-
da Pessoa com Deficiência e a Convenção Inter- to(12).
nacional sobre os Direitos das Pessoas com Defi- Para Zimerman o vínculo possui uma ca-
ciência (promulgada em 2007), ressalta que a racterística relacional e de troca contínua entre
deficiência é um conceito em evolução e é resul- as pessoas, isso gera diferentes formas vincula-
tado das dificuldades ambientais e atitudinais que res, baseadas no amor, ódio, conhecimento e
impedem a sua participação social de maneira reconhecimento, além de possuir uma carga
efetiva e igualitária. Segundo a Classificação In- emocional que atribui um significado a esta rela-
ternacional de Funcionalidade, Incapacidade e ção. Sob esta perspectiva, o vínculo não acontece
Saúde (CIF/OMS), o conceito de pessoa com defi- apenas na realidade objetiva, mas também, na
ciência apresentado é: “[...] são aquelas que têm realidade subjetiva do sujeito, por isso é possível
impedimentos de natureza física, mental, intelec- que o vínculo primitivo esteja sempre presente
tual ou sensorial, os quais, em interações com na vida do indivíduo (13).
diversas barreiras, podem obstruir sua participa- Sobre o vínculo primitivo, Zimerman, de-
ção plena e efetiva na sociedade com as demais clara que o primeiro vínculo se dá “na inter-
pessoas” (9). relação do bebê recém-nascido com a sua mãe ou
com alguma figura substituta dela” (13).
Compreendendo a maternidade Gutierrez ressalta que as experiências in-
Falar sobre a maternidade e a relação fantis dos pais serão essenciais no processo de
mãe-bebê é importante para a expansão dos co- estabelecimento e configuração de vínculos afeti-
nhecimentos dentro da Psicologia, mais precisa- vos com este bebê. A experiência da maternidade
mente no campo da Psicologia do Desenvolvi- terá como fundo todos os outros vínculos que a
mãe estabeleceu no decorrer de sua vida, princi-

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palmente o vínculo primitivo, com seus próprios bebê e consequentemente para o desenvolvi-
pais (11). mento deste (13).
Na ótica psicanalítica, a experiência da Gutierrez usou a expressão “mãe devota-
gravidez provoca uma regressão, levando a mãe a da comum” para se referir a aquela mãe que, se
viver sentimentos de ansiedade e desamparo de ajusta de maneira sensível e ativa às necessida-
forma muito intensa, além disso, esta condição des do bebê, que neste primeiro momento são
demanda amparo e proteção das pessoas ao seu absolutas. O curso do desenvolvimento infantil
redor. Neste período, sobressaem as característi- deve passar de um estado de dependência abso-
cas da fase oral, vivenciadas por esta mãe duran- luta, em direção a uma dependência relativa e
te a sua infância, como voracidade, hipersonia, resultando na independência, que nunca será
náuseas, enjoos e dependência, o que sinaliza absoluta. Em um contexto saudável, a pessoa
uma identificação básica com o feto. Contudo, ela nunca está isolada, mas mantém uma interde-
passa a demandar cuidados de outras pessoas, pendência com o ambiente. O bebê na fase de
assim como o bebê. Esta regressão não é indica- dependência absoluta acredita que o mundo é
dor de patologia, pois faz parte do movimento uma invenção sua, mas ao avançar as outras fases
natural do processo de desenvolvimento, justifi- deve passar por um processo de “desilusiona-
cando-se assim, uma necessidade desta mãe de mento”, este é mediado pela mãe, à medida que
se identificar com o seu bebê (11,12). vai proporcionando a ele um contato cada vez
Na psicanálise Winnicottiniana, a vivência maior com a realidade. Contudo, este “desilusio-
inicial da maternidade, gera um aumento da sen- namento” deve acontecer apenas depois desta
sibilidade e um retraimento psicológico materno; mãe ter proporcionado ao bebê o desenvolvi-
esta passa a comprometer-se com o bebê cada mento de uma confiança básica nas pessoas e
vez mais, garantindo-lhe os cuidados básicos pos- coisas, que é o esperado em um desenvolvimento
síveis. Esta habilidade de se responsabilizar pelo saudável (11).
bebê, advém da profunda identificação que esta Para Zimerman a relação mãe-bebê tam-
mãe tem com ele, levando-a a entrar em um es- bém pode ser patológica, isso acontece quando a
tado de preocupação materna primária. O re- mãe é minimamente deprimida ou que tenha
traimento é essencial, pois é através dele que o medo da solidão, ela costuma desenvolver com o
desenvolvimento da relação mãe-bebê acontece- bebê um vínculo simbiótico, estruturado por cul-
rá de maneira saudável, uma vez que o bebê vi- pas de forma a garantir o seu “seguro-solidão”.
vencia nos estágios iniciais do desenvolvimento Uma mãe tem por função fornecer uma noção de
emocional angústias muito fortes. As condições tempo e espaço, isso acontece quando ela é ca-
regressivas podem também, gerar dificuldades paz de suprimir as necessidades básicas do bebê,
nesta relação de cuidado e dependência (12). quando feito rapidamente promove uma simbi-
Segundo Zimerman uma mãe suficiente- ose, quando feito lentamente gera protesto da
mente boa é aquela que não gratifica e não frus- criança porque esta demora é frustrante. Neste
tra de forma excessiva, e possibilita um desenvol- sentido, as frustrações são adequadas e estrutu-
vimento saudável do self do seu bebê. Para isso, é rantes, ou ainda desadequadas e desestruturan-
preciso de uma série de recursos e funções desta tes devido a sua importância para o desenvolvi-
mãe, que podem contribuir para uma normalida- mento (13).
de ou para o desenvolvimento de fatores patoló- Segundo Zimerman as frustrações inade-
gicos, devido a grande relevância da relação mãe- quadas podem ter origem quando a mãe antecipa
as necessidades da criança, não permitindo que

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ela entre em contato com as experiências corpo- figuras de apoio como cônjuge, pais, entre ou-
rais e pensamentos advindos delas. Pode ocorrer tros, a fim de garantir um suporte sempre que
também, quando tais frustrações são muito in- necessário.
tensas e demasiadas, pois gera na criança um
sentimento de ódio intenso que é acompanhado As vivências emocionais após o diagnóstico de
de uma “ansiedade de aniquilamento”, ou ainda deficiência do bebê
quando a mãe não é capaz de compreender as Em conjunção com as expectativas dos
necessidades do bebê, o que chamou de frustra- pais e familiares sobre o nascimento de um filho,
ções incoerentes, gerando no bebê uma confusão há também uma série de sonhos, esperanças e
e instabilidade diante da figura materna (13). fantasias elaboradas, sejam conscientes ou não,
A mãe tem por função a continência, que em relação a esse novo ser “o ser que traz consi-
consiste em acolher, transformar e devolver para go a felicidade”. O período de gravidez é vigoro-
o bebê as experiências, em outras palavras, atri- samente marcado por este pensamento “mági-
buir um significado e dar um nome a tais experi- co”. Contudo, é comum perceber na gestante, o
ências, quando isso não acontece a criança vê-se medo de que seus sentimentos e pensamentos
forçada a fazer uso das suas identificações proje- afetem o bebê. Este ainda desconhecido, mas
tivas, como um “grito” desesperado para ser que se encontra em formação em um espaço ma-
compreendido e contido. A mãe ainda, deve fun- terno fora do campo visual e tátil, ao mesmo
cionar como um espelho que tem três possibili- tempo em que é parte do seu corpo. Deste modo,
dades de reflexo, refletir o que a criança é, refle- a mãe constrói uma imagem do seu filho a partir
tir o que a mãe é, e ainda, pode não haver reflexo dela (14).
nenhum, nem de bom e nem de mau, o que é Segundo Bueno , os filhos reais são dife-
chamado de mãe distorcionadora (13). rentes dos idealizadores. Entre a imaginação e a
Em um extremo, a perda de interesse pelo realidade há certa distância, e os pais devem per-
bebê, prejudica a sua saúde emocional, aumen- corrê-la para chegar ao filho diferente, único e
tando a possibilidade de doenças, desnutrição e real. Os pais esperam que o bebê imaginado pos-
prejuízos em seu desenvolvimento. As dificulda- sua as qualidades que mais admiram, são canali-
des maternas, podem se dar pela existência de zados neles os desejos mais profundos, querem
algum transtorno, seja ansiedade ou depressão, que este filho seja algo que não conseguiram ser,
provocando no bebê o que Gutierrez chamou de e realizem tudo o que não puderam, seguindo o
experiência de desintegração. O bebê tende a modelo que eles são (15).
fugir destas experiências que a ausência materna A sociedade valoriza alguns padrões como
provoca, recolhendo em si mesmo, ou ainda, de- beleza, força, eficácia e perfeição. Quando os pais
senvolvendo um falso self que surge em decor- esperam uma criança, desejam que ela seja sau-
rência da necessidade de satisfazer a mãe, ao dável e eficiente. O nascimento de um filho com
invés de experimentar a criatividade e a esponta- deficiência faz com eles revejam os projetos, res-
neidade (13). significam os sonhos que foram interrompidos
Por fim, conclui-se que o estado psíquico pelos impasses e limites, além de exigir uma
materno é de fundamental importância para es- adaptação aos obstáculos que esta nova realida-
tabelecer a qualidade dos cuidados e da relação de os apresenta, o que pode ser um processo
vincular que vai desenvolver com o seu bebê. Por longo e dolorido (1).
ser, o nascimento de um bebê, uma experiência Além de alterar a rotina e o estilo de vida
familiar, é importante para a mãe, a presença das dos genitores, a presença de um filho com defici-

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ência, também pode ser vivenciada como um alizado e que causou uma ferida narcísica nos
evento confuso, traumático e sofrido, proporcio- genitores. Desta forma, faz-se necessário criar
nando conflitos internos e o surgimento de sen- novas idealizações, levando em conta as possibi-
timentos similares aos vivenciados em um pro- lidades que este bebê real apresenta (16).
cesso de luto (1,2).
Neste momento os pais precisam redefinir O luto do filho idealizado e a sua ressignificação
os papéis, definir quem cuidará da criança e se Depois de receber a notícia do diagnós-
serão omissos ou não diante desta realidade, pois tico de deficiência, uma das primeiras coisas que
alguns genitores não suportam e acabam por os pais deverão fazer é viver o luto pelo bebê
institucionalizar seus filhos, não conseguem man- idealizado, para então aceitar e acolher o bebê
ter uma vida saudável, surgem muitos conflitos real. O confronto entre o filho imaginário e o real,
conjugais e tendem a abandonar os amigos e ati- pode gerar sentimentos de estranheza. Por isso,
vidades de lazer (3). faz-se necessário que a mãe viva o luto, que se-
Segundo Oliveira & Poletto algumas rea- gundo Laplanche e Pontalis (1990) apud Andrade
ções podem ser vivenciadas pelos pais como a é aceitar a perda de um objeto investido de afeto,
negação da deficiência, ambivalência afetiva, pa- desapegando-se dele de forma gradativamen-
drões de mútua dependência até a não identifi- te(14).
cação de seus rostos no filho, negando-o como O maior problema causado pelo nasci-
pertencente à família (3). mento de um filho com deficiência é o declínio da
A partir de uma pesquisa realizada por autoestima da mãe, pois este é visto como o re-
Oliveira & Poletto com mães de bebês diagnosti- flexo do fracasso materno, o que ameaça o pro-
cados com deficiência, foi evidenciado que a mai- cesso de vinculação (14).
oria das genitoras manifestam sentimentos de O choque inicial que surge a partir da to-
choque, raiva, tristeza, dor, angústia, dúvida, me- mada de consciência da realidade, poderá des-
do, decepção, culpa e impotência ao serem co- pertar nos pais atitudes de revolta e desespero,
municadas. Apresentam ainda, dificuldade para diante do trauma que este cenário pode desen-
aceitar o diagnóstico e buscam entendimento na cadear. Um dos maiores medos que a mãe tem
sabedoria popular, na esperança de cura, ou na no período de gravidez é o de gerar um filho com
religião formas de lidar com esta realidade e só deficiência. Por isso, é compreensível este cho-
posteriormente que conseguem adaptar-se, mas que, não só na mãe, mas em toda a sua rede de
alguns sentimentos dos mencionados permeiam apoio (14).
a sua vida e procuram desenvolver e estimular Após os pais receberem a notícia do diag-
seus filhos de forma a incluí-los na sociedade (3). nóstico de deficiência, inicia-se então um proces-
A partir desta complexa realidade de so de luto pela perda das expectativas idealizadas
comportamentos inconscientes e afetos ambiva- e vivenciadas durante um longo período de tem-
lentes, a aceitação desse filho “estranho”, por po, ou seja, a perda do filho idealizado e a aceita-
meio da construção de novas representações ção do filho real (14).
psíquicas que abarcam esta nova realidade, pode Para Oliveira e Poletto, os sentimentos
surgir um “novo nascimento”, um encontro ver- experienciados por pais de filhos com deficiência
dadeiro entre os pais e o filho. Para isso, é neces- podem ser estruturados em cinco estágios emo-
sário que os genitores elaborem e superem o cionais, sendo eles choque, negação, tristeza e
grande estado de estranheza causado pelo bebê cólera, equilíbrio e reorganização. No primeiro
real, em função deste ser muito diferente do ide- estágio, ao receber a notícia do diagnóstico de

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deficiência de seu filho, os pais entram em cho- desta realidade e das demandas emocionais que
que, ficam paralisados e não compreendem os o processo de luto exige, o acompanhamento
acontecimentos de forma clara (3). psicológico pode oferecer uma melhor vivência
Já no segundo estágio, a negação é uma deste processo (3).
forma de não entrar em contato com o sofrimen-
to do qual acabara de dar-se conta, ainda recu- A relação mãe-bebê após o diagnóstico de defi-
sam e ignoram a existência do problema. Na tris- ciência e a ressignificação do luto
teza, deprimem-se, apresentam crise de choro, Como já foi dito, há uma importância
há a prevalência de sentimentos como culpa, de- significativa na relação mãe-bebê para um desen-
samparo, ansiedade e vergonha por exibir este volvimento sadio, a relevância da qualidade desta
filho a família e a sociedade. O estágio de cólera, interação é inerente a toda criança, seja ela com
é quando revoltam-se, ficam irritados e começam deficiência ou não. Desta forma, os primeiros
a se questionar o porquê disso estar acontecendo contatos entre o bebê com deficiência e a sua
com eles, buscam motivos e justificativas e come- mãe podem ficar prejudicados, pois apresentam
çam a atribuir culpa (3). uma dificuldade nesta relação (17).
No estágio de equilíbrio, apresentam-se Retomando um conceito winnicottiniano,
mais calmos e tentam aproximar-se do filho, bus- uma mãe devotada comum é aquela que é capaz
cam adaptar-se a este novo contexto com um de identificar-se com o seu bebê e a partir disso,
olhar mais realista e paciente, empenham-se na reconhecer e atender às suas necessidades. Co-
realização dos cuidados e responsabilidades, co- mo essa mãe nunca foi um bebê deficiente, há
meçam a prover um suporte na estimulação pre- uma dificuldade em reconhecer as necessidades
coce, orientação e desenvolvimento. Por meio deste filho, em decorrência de não conseguir
das atitudes de aceitação, demonstrações de afe- imaginar-se deficiente, e este filho manifestar-se
to, amor equilibrado, ensinamento de regras e de maneira desconhecida e incomum (17).
estabelecimento de vínculos, a convivência passa Para Amiralian, os movimentos do bebê
a ser mais harmoniosa e possibilita uma maior não irão consolidar a relação entre ele e a sua
inclusão deste filho (3). mãe, mas será um ponto de apoio para que ela
Na fase de reorganização, apresentam mantenha uma negociação contínua e entenda as
ajustes saudáveis nas relações, com compreensão suas necessidades psicossomáticas como a ali-
e respeito às diferenças, limites impostos pela mentação, o dormir, o brincar e o acalmar. Res-
deficiência e suas potencialidades. Estes estágios salta ainda que, quando há um desencontro entre
são melhor vivenciados por meio de tratamento os comportamentos e expressões manifestos
psicoterapêutico (3). pelo bebê e as respostas e cuidados que ela pro-
Com bases nos estudos, é importante res- vém, pode gerar uma ansiedade, confusão, sur-
saltar que as vivências destes estágios são subje- gem sentimentos como raiva, ressentimento,
tivos e particulares, o que não garante que todos impotência e ainda retaliações e negação da sua
os genitores consigam atingir o equilíbrio e a re- função materna como um mecanismo de defesa,
organização, mas ao ressignificar este filho, eles fazendo-o a recolher-se em seu mundo inter-
descobrem as possibilidades de produzir algo no(17).
bom, encontrando prazer, satisfação e orgulho Ainda sobre a relação mãe-bebê com defi-
neste filho. É importante destacar ainda que, o ciência, um estudo realizado por Falkenbach mos-
processo de luto parece ser uma vivência comum trou que as mães começam a demonstrar interes-
em pais de filho (s) com deficiência(s) e diante se e a buscar informações sobre a deficiência de

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O Luto Materno Diante do Diagnóstico de Deficiência do Bebê

seu filho, seja por meio de cursos, conversas com mento normal de uma criança deficiente antes de
profissionais e, até mesmo formação acadêmica; considerá-la patológica (17).
desta forma, surge um novo olhar sobre a defici- A normalidade para crianças com defor-
ência. Tais informações contribuem não apenas midades físicas é a sua própria maneira de existir,
para a melhora no cuidado, mas para a qualidade tanto no campo psíquico, quanto no somático,
desta interação mãe-bebê e o desenvolvimento pois há uma tendência a supor que o que existe é
do vincular, uma vez que busca se adaptar às no- o normal (17).
vas demandas do filho, a fim de garantir todo o O bebê só toma consciência de sua defici-
suporte necessário (2). ência a partir da percepção de fatores incompre-
A pesquisa de Falkenbach, evidenciou ensíveis, como as expressões e sentimentos das
também a importância da família neste contexto. pessoas ao seu redor, desta forma, tem origem
Aquela que busca apoio entre os membros e pro- no jeito de ser da mãe. Desta forma, a patologia
cura formas de suporte e amparo, é aquela que se concretiza quando esta mãe não aceita o mo-
melhor consegue suportar as dificuldades que são do de ser do seu filho, não souber identificar as
persistentes. Neste contexto, a mãe apresenta condições que lhe devem ser oferecidas e aten-
uma necessidade de estima e de confiança que der as necessidades apresentadas (17).
pode ser reforçada não apenas pelos familiares, Como já discutido, o desencontro entre a
mas amigos e profissionais que façam um deter- mãe e o bebê podem levá-lo a sofrer retaliações
minado acompanhamento. Neste sentido, Olivei- fazendo-o a recolher-se em seu mundo interno,
ra e Poletto dizem que a percepção de fragilidade não encontrando uma forma de acessar o mundo
e a noção da própria finitude, gera nos pais, a objetivo. Outro fator de grande importância é a
incerteza quanto a sua capacidade de promover forma que a mãe apresenta este mundo objetivo
conforto, proteção e bem-estar a este filho defi- ao bebê. A mãe tende a apresentar o mundo co-
ciente, e mesmo tendo um planejamento há um mo ela conhece e o bebê vai perceber este mun-
medo de deixá-lo vulnerável (2,3). do com os recursos e formas que a deficiência lhe
É possível que os pais aceitem a imagem permite, a partir das funções somáticas disponí-
que a sociedade produz do deficiente, como al- veis. Isso gera uma dificuldade a mais para o be-
guém improdutivo, dependente e apático. Desta bê, pois terão que buscar estabelecer um signifi-
forma, a criança pode enfrentar dificuldades de cado mais próximo possível do mundo auditiva-
aceitação pela família, que prejudicam o seu pro- mente e visualmente apresentado pela mãe e o
cesso de desenvolvimento, aprendizagem e inte- percebido pelas funções somáticas que possui.
gração social (3). Quando essa interação é muito penosa para a
Segundo Amiralian, o conceito de norma- criança, a integração e a personificação ficam
lização, remete a uma não aceitação da pessoa prejudicadas (17).
tal qual como ela é, despertando-lhe uma neces- A partir do exposto, é importante ter ciên-
sidade de construção de um falso self, que é um cia que as pessoas com deficiência desempenha-
comportamento padrão de defesa que o indiví- ram alguns papéis na história, estes papéis varia-
duo desenvolve para responder de forma satisfa- vam de acordo com a sociedade da qual faziam
tória às exigências dos contextos sociais em que parte, em sua maioria eram excluídos por serem
vive e que não favorece para o desenvolvimento considerados como inúteis, eram utilizados como
do seu verdadeiro self. A autora ressalta ainda escudo humano nas guerras, sacrificados ou
que, é preciso conhecer o padrão de desenvolvi- abandonados pelos pais à própria sorte quando
bebês, eram considerados ainda, como feiticeiros

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Ribeiro JKS, Sales THS

e bruxos, chegaram a ocupar posições como dan- o bebê. A vivência inicial da maternidade propor-
çarinos e músicos, trabalhavam em casas de pros- ciona um aumento da sensibilidade e favorece
tituição, circos ou qualquer outra atividade que um retraimento psicológico, onde esta mãe passa
era considerada atrativa e divertida para as pes- a dedicar-se cada vez mais ao bebê, assegurando
soas da época (6,7). os cuidados básicos possíveis. Este retraimento é
Ressalta-se ainda que, com o surgimento essencial, pois é através dele que a relação mãe-
do cristianismo, as mudanças sociais da Idade bebê ocorre de maneira saudável, uma vez que
Moderna e Contemporânea, a Revolução Indus- nos estágios iniciais do desenvolvimento emocio-
trial, a criação do Direito do Trabalho e após a nal, o bebê vivencia angústias muito fortes (11,12).
Primeira e Segunda Guerra Mundial, as pessoas Gutierrez usou a expressão “mãe devota-
com deficiência passaram a ser olhadas sobre da comum” para se referir àquela que se adapta
uma ótica mais humanizada, criou-se então, abri- de maneira sensível e ativa às necessidades do
gos, asilos, hospitais, artefatos como bengalas, seu bebê, que no primeiro momento são absolu-
cadeiras de rodas, muletas, o sistema Braille, polí- tas. Neste sentido, o também psicanalista David
ticas de seguridade social e previdenciárias, ativi- Zimerman diz que a mãe tem por função oferecer
dades assistenciais, etc. Todas estas transforma- uma noção de tempo e espaço, ressalta que isso
ções, segundo ela, contribuíram para que os pro- acontece quando esta mãe é capaz de suprir as
blemas das minorias fossem olhados de forma necessidades básicas do bebê, quando feito rapi-
mais humanizada e iniciou-se um processo de damente promove uma simbiose, isto é, quando
solidificação de direitos em legislações de vários a mãe antecipa as necessidades da criança, im-
países e pauta de discussão em vários tratados possibilitando que ela entre em contato com as
internacionais (7). sensações e pensamentos advindos dela; ou ain-
Sobre a terminologia utilizada para se re- da, quando feito lentamente gera protesto, pois
ferir a esta população, a Convenção dos Direitos esta demora é frustrante e quando estas frustra-
das Pessoas com Deficiência, também assinada ções são muito fortes, favorece o sentimento de
pelo Brasil, orienta que deve-se utilizar a expres- ódio intenso, acompanhado de uma “ansiedade
são “pessoa com deficiência”, uma vez que ela de aniquilamento”. A partir disto, é possível com-
não esconde a limitação existente e não faz alu- preender que as frustrações são adequadas e
são a algo que ela porta ou carrega, podendo estruturantes, ou ainda desadequadas e deses-
assim, ser deixada de lado (7). truturantes, devido a sua importância para o de-
Para compreender os recursos de enfren- senvolvimento do aparelho psíquico da criança.
tamento envolvidos na elaboração do luto, e na Segundo ele, a mãe tem ainda por função a con-
ressignificação do bebê com deficiência, é impor- tingência, que consiste em identificar, nomear e
tante refletir sobre os processos psíquicos mater- devolver ao bebê as experiências, ou seja, dar um
nos e seus atravessamentos, nesta ótica é impor- significado e um nome a estas vivências (11,13).
tante entender que a concepção assegura um Gutierrez diz que em alguns casos, a falta
início biológico da gravidez, e psicologicamente, de interesse pelo bebê, prejudica a sua saúde
há na história dos pais, vivências que possibilita- mental, aumenta a possibilidade de doenças, co-
ram alguns padrões de relacionamento a serem mo a desnutrição e acarreta prejuízos em seu
desenvolvidos com o nascimento da criança. Res- desenvolvimento, provocando no bebê, o que
salta-se que as experiências infantis dos pais são chamou de experiência de desintegração, isto é, o
imprescindíveis no estabelecimento, na configu- bebê tende a fugir das experiências que a falta da
ração e na manutenção dos vínculos afetivos com mãe provoca, recolhendo em si mesmo, ou ainda,

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O Luto Materno Diante do Diagnóstico de Deficiência do Bebê

desenvolvendo um falso self que visa atender a A partir do exposto, entende-se que se faz
necessidade de satisfazer a mãe, na tentativa de necessário que a mãe viva o luto do bebê ideali-
fazer com que ela desperte o interesse por ele, ao zado, o que segundo Andrade é aceitar a perda
invés de experimentar a criatividade e a esponta- de um objeto investido de afeto, desapegando-se
neidade, que entende ser fatores estruturantes dele de forma gradativa. No processo de elabora-
do aparelho psíquico infantil (11). ção do luto pelo filho idealizado, não há apenas a
A constituição do bebê fora do campo vi- morte da idealização, mas uma nova possibilida-
sual e tátil da mãe faz com que ela construa uma de de investir amor neste filho real, o que é evi-
imagem dele a partir de si mesma. Sob esta pers- denciado pelos cuidados específicos que passam
pectiva, os filhos idealizados são diferentes dos a ser dedicados, além dos novos investimentos
filhos reais, uma vez que os pais esperam que o afetivos que são feitos (4,14).
filho imaginado possua as qualidades que admi- Em congruência com os outros autores,
ram, que realize os sonhos e seja o que não con- Oliveira e Poletto organizaram em cinco estágios
seguiram, seguindo o modelo que eles são. Dito os sentimentos vivenciados pelos pais, sendo
isto, reforça-se que a sociedade também influen- eles, choque, negação, tristeza e cólera, equilíbrio
cia esta idealização, uma vez que valoriza alguns e reorganização. Segundo eles, no primeiro está-
padrões de beleza, força, eficácia e perfeição. gio, ao receberem a notícia do diagnóstico, os
Desta forma, os pais esperam que o bebê seja pais entram em choque, ficam paralisados e não
saudável e funcional e o nascimento de um filho entendem de forma clara o que está acontecen-
com deficiência, faz com que estes, revejam seus do. No segundo, a negação é interpretada como
projetos e ressignifique os sonhos que foram uma forma de não entrarem em contato com o
frustrados pelos impasses e limites, além de se sofrimento, recusam e ignoram a existência do
adaptarem aos obstáculos que esta nova realida- que julgam ser um problema. Já no terceiro está-
de os impõe, o que pode ser um processo longo e gio, segundo os autores, deprimem-se, têm crises
doloroso, segundo a autora (1,14,15). de choro, predominam os sentimentos de culpa,
O nascimento de um filho com deficiência desamparo, ansiedade e vergonha. Na cólera, há
altera a rotina e o estilo de vida dos pais, pode o sentimento de raiva, buscam justificativas e
ser vivenciado como um evento confuso e trau- motivos para a situação. Já no estágio de equilí-
mático, a notícia do diagnóstico favorece o sur- brio, tentam aproximar-se e adaptar-se ao filho,
gimento de conflitos internos e de sentimentos dedicam-se em atender as necessidades básicas,
semelhantes aos vivenciados em um processo de prover suporte na estimulação, orientação e de-
luto. Nesta perspectiva, destacam-se alguns des- senvolvimento. Demonstram também, atitudes
tes sentimentos, sendo eles, choque, raiva, triste- de aceitação, afeto, amor equilibrado, a convi-
za, dor, angústia, dúvida, medo, decepção, culpa vência começa a ser mais tranquila e harmoniosa.
e impotência, além da negação do diagnóstico, No estágio de reorganização, há a compreensão e
buscando entendimento nas crenças populares, respeito às diferenças e aos limites impostos pela
religiões, etc. Oliveira e Poletto complementam deficiência e suas potencialidades (3).
esta ideia, menciona ainda, uma ambivalência É importante ressaltar que para Oliveira e
afetiva (como o amor e o ódio) em relação ao Poletto, a vivência destes estágios é subjetiva,
bebê, padrões de mútua dependência, ou ainda, isto significa que não há garantias de que todos
pode haver uma não identificação dos pais no os pais consigam atingir o equilíbrio e a reorgani-
filho, negando-o como pertencente à família (3). zação, mas que ao ressignificar este filho, depa-
ram-se com a possibilidade de gerar algo bom,

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Ribeiro JKS, Sales THS

encontrando prazer, satisfação e orgulho neste dade, raiva, ressentimentos, etc. fazendo com
filho real (3). que se recolha em seu mundo interno (11,17).
Diante desta complexa realidade de afetos Algumas mães vão buscar informações
ambivalentes e comportamentos inconscientes, sobre a deficiência de seus filhos, por meio de
Goes afirma que a aceitação desse filho “estra- conversas com profissionais, cursos e graduação,
nho”, pode ocorrer por meio da construção de o que gera um novo olhar sobre a deficiência e
novas representações psíquicas que levem em contribui para uma melhora no cuidado, para a
consideração esta nova realidade, dando origem qualidade da relação mãe-bebê e o desenvolvi-
assim a um “novo nascimento”, um verdadeiro mento e manutenção do vínculo estabelecido.
encontro entre os pais e o filho. No entanto, Reforça ainda, a importância da família, dos ami-
afirma o autor, é fundamental que os pais elabo- gos e profissionais que a acompanham, uma vez
rem o grande estado de estranheza gerado pelo que esta mãe busca neles, suporte, amparo, con-
bebê real, em função da diferença entre o ideali- fiança e estima, que quando encontrados, favore-
zado, o que gerou uma ferida narcísica nos geni- cem uma maior tolerância às dificuldades e frus-
tores. Desta forma, segundo ele, é necessário trações que são persistentes (2).
criar novas representações, levando em conta as Os pais podem aceitar a imagem que a so-
possibilidades do bebê real (16). ciedade produz do deficiente, como alguém im-
É importante destacar ainda que, estas vi- produtivo e dependente, se isto acontecer a cri-
vências são comuns aos pais de filho(s) com defi- ança poderá enfrentar dificuldades de aceitação
ciência(s) e a partir das demandas emocionais por parte da família, o que pode vir a prejudicar o
que surgem, o acompanhamento psicológico po- seu processo de desenvolvimento, aprendizagem,
de oferecer uma melhor vivência destes proces- interação e inserção social (2).
sos (3). Complementando esta ideia, Amiralian
Como já discutido, há uma importância ressalta que a normalidade para as crianças com
significativa na relação mãe-bebê para um desen- deficiências físicas é a sua própria maneira de
volvimento sadio, a importância da qualidade existir, tanto no campo psíquico, quanto no so-
desta interação é inerente a qualquer criança, mático, pois há uma tendência a supor que a
seja ela com deficiência ou não. Os primeiros forma em que o que existe é o normal. De acordo
contatos entre o bebê com deficiência e a sua com isso, Amiralian ressalta que o bebê só toma
mãe podem ficar prejudicados, pois apresentam consciência de sua deficiência a partir dos fatores
um impasse nesta relação. Para a autora, como externos, como as expressões e sentimentos das
essa mãe nunca foi uma criança deficiente, é na- pessoas ao seu redor, sendo assim, têm origem
tural que tenha alguma dificuldade em reconhe- no jeito de ser de sua mãe. A patologia torna-se
cer e atender as necessidades deste filho, por real quando esta mãe não aceita o modo de exis-
manifestar-se de maneira diferente, desconheci- tir do seu filho, quando ela não sabe identificar e
da e incomum. Segundo ela, os movimentos do atender as necessidades apresentadas e nem
bebê não irão consolidar a relação entre ele e a oferecer as condições para o desenvolvimento
sua mãe, mas será um ponto de apoio para que que a sua deficiência exige (17).
esta consiga negociar e entender as necessidades Outro fator relevante destacado por Ami-
como, a alimentação, o brincar, o acalmar e o ralian é a forma como esta mãe apresenta o
dormir. Reforça ainda que, quando há um desen- mundo objetivo ao bebê, pois tende a apresentá-
contro entre a necessidade manifesta do bebê e lo como ela o conhece e o bebê vai percebê-lo
as respostas da mãe, pode gerar confusão, ansie- com os recursos e as formas que a sua deficiência

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O Luto Materno Diante do Diagnóstico de Deficiência do Bebê

lhe permite, a partir das funções somáticas possí- questão das mães que tem um segundo filho co-
veis. Isso gera uma dificuldade a mais para o be- mo reparação do primeiro que foi perdido, ou
bê, pois terá que buscar estabelecer um significa- ainda, àquelas que atribuem a este segundo filho
a função de cuidador do primeiro. Diante disto,
do mais próximo possível do mundo visual e audi-
cabe reforçar a necessidade de realizar pesquisas
tivo descrito pela mãe dentro das possibilidades que possam atender estas demandas e, desta
da sua deficiência (17). forma, contribuir para a solidificação da psicolo-
gia como ciência, assegurando a qualidade do seu
Conclusão exercício e o alívio do sofrimento humano. Vale
Frente às discussões propostas neste tra- ressaltar também, que tais pesquisas ajudam a
balho, conclui-se que a relação mãe-bebê possui desmistificar o estigma social em relação à pes-
um papel fundamental no processo de desenvol- soa com deficiência, uma vez que promove um
vimento da criança com deficiência e da consti- novo olhar sobre esta população, apresentando
tuição desse aparelho psíquico infantil, desta novas possibilidades de existência e infinitas for-
forma destaca-se também a importância de um mas de se relacionar com o mundo, partindo de
acompanhamento psicológico a esta mãe, uma um contexto individual, transitando pelo familiar
vez que vários sentimentos, fantasias e experiên- e indo em direção ao social.
cias são mobilizadas durante a gestação e com a
notícia do diagnóstico de alguma deficiência, tais Referências
questões são ainda mais potencializadas, o que 1. Souza AMC. A criança especial: temas médicos,
tende a aumentar o sofrimento psíquico e atrapa- educativos e sociais. 1. Ed. São Paulo: Roca, 2003.
lhar a forma como essa se vincula e relaciona com
o seu filho. 2. Falkenbach AP, Drexsler G & Werler V. A relação
Vale ressaltar ainda, que como recursos mãe/criança com deficiência: sentimentos e experiên-
de enfrentamento envolvidos no processo de cias. Ciênc. saúde coletiva, 2008; 13(2): 2065-2073.
elaboração do luto e na ressignificação do bebê
idealizado, destacam-se as experiências infantis 3. Oliveira IG & Poletto M. Vivências emocionais de
desta mãe, a estrutura do seu aparelho psíquico e mães e pais de filhos com deficiência. Revista SPA-
os recursos egóicos que dispõe, bem como a ca- GESP, 2015; 16(1): 102-119.
pacidade de estabelecer vínculos significativos, a
4. Prodanov CC & Freitas EC. Metodologia do Trabalho
capacidade de ser uma mãe “devotada comum” e
Científico: Métodos e Técnicas da Pesquisa e do Tra-
“suficientemente boa”, o significado que atribui à
maternidade, e a deficiência, a rede de apoio dis- balho Acadêmico. 2. ed. Nova Friburgo: Feevale, 2013.
ponível, as informações claras acerca da deficiên- 5. Gil AC. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. Ed.
cia do seu filho, como suas limitações e potencia-
São Paulo: Editora Atlas; 2002.
lidades, e uma boa relação com a equipe profissi-
onal que a acompanha, pois serão eles que a au- 6. Yaraian NG & Destro CRF. A jornada histórica da
xiliarão a alcançar o estágio de equilíbrio e reor- pessoa com deficiência: a importância da declaração
ganização, além de desempenhar a suas funções universal de 1948. ETIC 2018 - Encontro de Iniciação
de forma mais assertiva possível. Desta forma, é Científica, 2018; 14(1).
importante destacar também, que em um pro-
cesso de psicoterapia, deve-se refletir e levar em 7. Laraia MIF. A pessoa com deficiência e o direito ao
consideração todos os aspectos citados, além trabalho. Dissertação (Mestrado) - Pontifícia Univer-
daqueles que surgirem em análise. sidade Católica de São Paulo, 2009; 1(1).
É importante dizer, que nas pesquisas bi-
bliográficas realizadas não se encontrou referen- 8. Fernandes LB, Schlesener A & Mosquera C. Breve
cial teórico, no que tange às técnicas e métodos Histórico da Deficiência e seus Paradigmas. Revista
de intervenção que subsidie a atuação do psicó- InCantar, 2011; 1(1): 2317-2417.
logo frente a tais demandas, também não foi pos-
sível encontrar pesquisas que abordassem a
Arq. Bras. de Saúde Integrada. 2020; 1(2): 23-37
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Ribeiro JKS, Sales THS

9. Brasil. Constituição da República Federativa do Bra-


sil. Brasília, 1988.

10. Augustin I. Modelos de deficiência e suas implica-


ções na educação inclusiva. Trabalho apresentado ao
IX ANPED–Seminário de Pesquisa em Educação da
Região Sul, 2012.

11. Gutierrez DMD & Pontes KDS. Vínculos mãe-filho:


reflexões históricas e conceituais à luz da psicanálise e
da transmissão psíquica entre gerações. Revista NU-
FEN, 2011 3(2): 3-24

12. Simas FB. Significados da gravidez e da maternida-


de: discursos de prímaras e multíparas. Revista Psico-
logia - Teoria e Prática, 2013; 15(1): 19-34.

13. Zimerman DE. Os quatro vínculos: amor, ódio,


conhecimento, reconhecimento, na psicanálise e em
nossa vida.1. Ed. Porto Alegre: Artmed, 2010.

14. Andrade FMRR. O luto do filho idealizado: Pais da


criança com deficiência. 2015. Dissertação (Mestrado)
- ISPA - Instituto Universitário de Ciências Psicológicas,
Sociais e da Vida, 2015; 1(1).

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Clínica, 1997; 2(2): 96-102.

Arq. Bras. de Saúde Integrada. 2020; 1(2): 23-37


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