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SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ............................................................................................ 4
7.5 Sintetizando........................................................................................ 35
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9.3 Conflitos ............................................................................................. 41
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1 INTRODUÇÃO
Prezado aluno!
Bons estudos!
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2 FAMÍLIA PSICOSSOMÁTICA
Fonte: portaleducacao.com.br
Famílias psicossomáticas são famílias que dão uma ênfase excessiva nos
papéis de cuidado funcionando melhor quando alguém está doente (fisicamente).
Minuchin (1982) diz que famílias psicossomáticas são caracterizadas principalmente
pela falta de definições de limites, por fronteiras difusas e tendência a apoiar a
expressão somática dos conflitos.
No entanto a família é perfeita, sem problema, superprotetora, não percebe sua
disfunção, é difícil trabalhar, querem cooperar, não brigam, família ideal, porem as
famílias psicossomáticas apresentam uma vida de fantasia empobrecida, com maior
propensão ao raciocínio concreto, preocupação com o sucesso e disposição para falar
de sintomas corporais e e fantasia predominante nessas famílias é a de um corpo
único, portanto inseparável.
3 O SISTEMA FAMILIAR
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Cada indivíduo do grupo familiar desempenha um determinado papel, com
funções distintas e bem definidas. O filho deve agir como criança no sistema parental
para que o pai possa agir como adulto. Qualquer alteração a estas regras pode
significar a disfuncionalidade da família como um todo (CARVALHO,2017).
O subsistema conjugal constitui a referência base de cada criança fruto da
relação, sendo a forma ideal de demonstrar o afeto, de demonstrar como se relacionar
com um parceiro sem dificuldades, e de como lidar com o conflito entre iguais, levando
à preparação de cada descendente para o mundo exterior, através da imposição e
transferência dos seus valores morais e afetivos.
4 O LUGAR DO SUJEITO
Para Farias e Lima (2004) o sujeito se situa no seio familiar, e o seu papel em
função do outro que o leva a constituir como sujeito. Para isso, tornar-se necessário
inicialmente, compreender o que se passa na relação mãe e filho. A relação mãe-filho,
ocorre no momento da fecundação. A criança, enquanto objeto de desejo, é
representada no inconsciente materno não pelo que é na realidade, mais por um corpo
já completo e unificado.
A primeira inserção da criança no imaginário materno, segundo os autores
citados, enquanto corpo idealizado, permite a percepção do fato de que a mãe pode
simbolizar seu discurso em torno de um significado, correspondente à ordem do
humano onde ela se insere, mais que ela deve reconhecer como pré-existente
independente de sua própria existência.
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É essa “dimensão histórico- materna” que leva o sujeito a ser reconhecido como
“elo” a ser inserido na cadeia de significantes da qual ele é o fim, e cuja sequência
terá que garantir. A história do sujeito não se inicia com ele, a mesma o precede e
esse preceder é fortemente determinado por aquilo que será o seu futuro, todo sujeito
se situa em um contexto familiar, isso o leva a ocupar um papel que determina,
antecipadamente, as “réplicas do outro”, esse discurso que começa por ser dirigido
não para ele, mas para o personagem que ele se submete na cena familiar, é que o
constituirá como sujeito (FARIAS, LIMA, 2004).
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Por desempenhar papéis pré-estabelecidos as famílias demonstram sua
incapacidade de tolerar ambivalências ou padrões não estabelecidos nitidamente e o
mais curioso e estranho de tudo isso, é que aceitamos realizar o papel que nos é
atribuído, como se fosse parte do nosso dever de vida, ainda que nos faça sofrer.
5 FAMÍLIA DISFUNCIONAL
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Quando há falta de amor e respeito à criança que é dependente dos pais, e
estes sendo seus modelos primários, tendem a passar valores inadequados à
criança, impedindo assim, um desenvolvimento emocional saudável. Muitas vezes a
criança se considera um estorvo e instala-se já neste período um sentimento de culpa
e inadequação, como se ela, a criança, fosse também um dos responsáveis pela
problemática familiar.
Uma família disfuncional é reconhecida quando um ou ambos os pais são
mentalmente desequilibrados, frustrados, carecendo de uma visão realista do mundo,
com autoimagem distorcida, imaturos, ou ainda, quando um ou ambos os pais são
dependentes químicos, ou compulsivos por trabalho, alimentos, compras, afetos,
sexo, etc. (MANGUEIRA, LOPES, 2012).
Nas famílias disfuncionais os filhos crescem tendo raramente aprendido as
combinações de papéis que contribuem para moldar personalidades saudáveis,
condição que pode ser extrapolada para grupos. Não tendo vivenciado estas
combinações satisfatórias de papéis, necessitam criar outros padrões que trazem
alguma estabilidade em suas vidas.
Fonte: suliblet.wordpress.com
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Então a família disfuncional é aquela que, no lugar de uma família há um
conglomerado de pessoas cujo funcionamento é padronizada e relaciona-se da
mesma maneira, de forma rígida não permitindo possibilidades de alternativa (SILVA,
et al, 2008).
Ao invés dos membros controlarem a família, são controlados rigidamente por
seus papéis no sistema familiar, a diferença entre os membros da família fica
seriamente comprometida devido à união simbólica que se estabelece na família e a
comunicação, é indireta e confusa, podemos dizer que ocorre um bloqueio no
processo de comunicação familiar. Ainda que esse comportamento seja
compreendido como doentio, ele tem que ser mantido, mesmo que para isso um
membro da família seja o problema (SILVA, et al, 2008).
Nesse sentido, segundo os autores pode-se falar em dois modelos básicos de
desestruturação nas relações familiares, há as famílias cindidas, e as famílias
simbióticas. Nas famílias cindidas os membros não conseguem se relacionar entre si,
encontram-se divididos, dispersos, funcionam e se relacionam como se, ao ficarem
juntos, todos corressem riscos do ponto de vista emocional.
Assim, as pessoas não podem ter um relacionamento afetivo, são frias entre si.
A doença dessas famílias cindidas está na dificuldade de convívio, os membros
percebem que ao conviverem entre si eles se machucam e se afetam negativamente
uns aos outros (SILVA, et al, 2008).
Já no extremo oposto, temos as famílias simbióticas, aquelas em que os
membros da família vivem num estado de fusão e não há diferenciação entre os
papéis familiares, estes são confusos e não divididos onde as pessoas sentem
dificuldades em viver independente dos outros membros da família (ALMEIDA, 2011).
Em ambos os casos, estamos falando de doenças familiares do ponto de vista
do desenvolvimento afetivo, relacional e de ordem psíquica, as disfunções de
relacionamento de papéis dentro das famílias podem afetar seus membros
psicologicamente, tanto no contexto individual, quanto no familiar.
As famílias estão doentes e podem eleger um dos membros para representar
a doença familiar. Este “paciente identificado” ou “bode expiatório “familiar” é quem irá
assumir ou representar, consequentemente toda doença da família.
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5.1 A divisão de papéis dos membros de uma família disfuncional
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desconforto forem muito intensas e prolongadas poderá se instaurar na criança uma
insegurança profunda (CARVALHO, 2017).
Fonte: cinematographe.it
Por ser o primeiro contato do indivíduo com o meio externo, a primeira relação
tem um valor fundamental para o desenvolvimento da estrutura psíquica do indivíduo.
O ego para ser forte precisa ter passado por boas experiências com o materno a fim
de desenvolver um sentimento de confiança básica. O sentimento de valor próprio na
criança é decorrente da valorização e acolhimento fornecido pela mãe (SILVA, 2016).
Isso porque nesta relação inicial a criança não discrimina eu/outro e a
percepção que terá sobre si mesma, começa a ser desenhada pelo olhar e o desejo
dos pais, muitas vezes até mesmo antes do nascimento. É justamente pela
importância destas relações com as figuras parentais que torna-se necessário que os
pais estejam em contato com as próprias “sombras”, pois caso contrário terão
dificuldade em aceitar o lado escuro da criança e lidar com a sombra dos filhos.
(SANFORD, 1988).
Muitas vezes as questões não resolvidas pelos pais são passadas
inconscientemente para os filhos. E é nesse contexto que pode se estabelecer a
identificação com o material da sombra familiar, que caracteriza a vivência de adultos
identificados com o complexo de bode expiatório (CARVALHO,2017).
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É comum que as crianças identificadas com o bode expiatório sejam vistas
pelos pais como perigosos observadores porque captam inconscientemente
o conteúdo sombrio da família. Quando a criança sente que não consegue
corresponder às expectativas dos outros pode apresentar um comportamento
inaceitável e tornar-se um bode expiatório para a projeção da sombra alheia.
(PERERA, 1991, apud ZWEIG, ABRAMS, 1994, p.30).
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"A inabilidade do bode expiatório adulto em desenvolver uma autoconfiança
própria deve-se ao fato de ter sido sobrecarregado, desde muito cedo, com
aqueles elementos desvalorizados, negativos, reprimidos e dissociados pelos
pais, que, em primeira instância, representam o coletivo". (PERERA, 1991,
p.41).
6 A PSICODINÂMICA FAMILIAR
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o que proporcionou uma contribuição importante a percepção de funcionamento da
psicodinâmica familiar.
Para Dias (1990), isso significa que “os sentimentos e ideias derivadas do
mundo interno dos indivíduos são cindidos (divididos em pedaços) e projetados num
objeto externo. Dessa forma, o sujeito fica desprovido dessa parte do EU e vivencia o
objeto (a outra pessoa) como se fosse parte dela (como se ele possuísse a parte
projetada). Essas partes podem ser aspectos seus, que o indivíduo considere tanto
bons como ruins. Pela complementaridade, o outro recebe tais projeções e se
transforma em cúmplice da configuração, num processo conivente de interação (num
pacto inconsciente).
O entendimento desse conceito é bastante importante e útil para a prática
psicanalítica, na terapia familiar e em outras situações em que surja o fenômeno da
“identificação projetiva”. Nesses casos, poderá haver possibilidades de sucesso no
processo de cura do paciente “cindido” em seu Eu, e também do seu núcleo familiar.
Na dinâmica da “identificação projetiva”, não apenas o indivíduo “enfermo” é a única
pessoa doente, mas toda a família de que ele faz parte. (CAVALHIERI, 2017)
Nessa linha de raciocínio, o “bode expiatório” seria então a pessoa sobre a qual
convergem os depósitos de toda a família, passando a ser, portanto, o “porta-voz” da
enfermidade de toda família.
Toda essa interação acaba por produzir no núcleo familiar um “objeto interno
compartilhado” elaborado a partir da percepção e diferenciação de um conjunto de
relacionamentos formados pelos “intercâmbios familiares”. Esse objeto, formado pela
experiência de interação familiar, é denominado por Meyer de “familidade”.
Por sua vez, Soifer (1989) em uma linha de raciocínio semelhante, parte da
hipótese que a doença dos filhos obedece à impossibilidade dos pais em transmitir-
lhes certa aprendizagem psicológica por não terem conseguido, eles mesmos,
incorporá-las satisfatoriamente no momento histórico apropriado de suas vidas.
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Bowen (1959) denomina projeção ao mecanismo predominante na relação
mãe-filho, através do qual se dá o aparecimento da esquizofrenia a mãe nega seus
próprios desejos de ser protegida e sentimento de impotência, projetando – os no filho
e percebendo dessa forma como uma pessoa desprotegida e desemparada.
Essa percepção da mãe é tida por parte da família e pelo próprio filho como
sendo realidade. O filho introjeta então as inadequações projetadas pela mãe, ficando
mais preocupado em responder as exigências materna do que em manifestar suas
próprias demandas.
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Em relação a homeostase familiar, isto é, quando ocorre uma mudança um
sistema estável há uma desestabilização no sistema e esta procura restabelecer o
anterior. É também a homeostase familiar um mecanismo autoprotetor capaz de
manter o sistema em estado relativamente constante (BOUSSO, 2008).
Ainda de acordo com o autor é comum se observar em certas famílias que ao
mesmo tempo em que se fala do desejo de seu paciente melhorar, faz um esforço
enorme para que isso não ocorra, utilizando-se de mecanismos de “sabotagem” verbal
e não-verbal para impedir o processo terapêutico. Nesse sentido, a família que vai à
terapia parece solicitar: “ajude-nos a mudar o paciente sem interferir em nossas
relações”.
São muitas as “manobras” que a família, inconscientemente, recorre para
neutralizar a intervenção terapêutica pela utilização de mecanismos defensivos na
tentativa de retornar a sua homeostase ameaçada. Quanto mais impermeável for a
família maior será sua dificuldade em redefinir seu sistema disfuncional. Para se
alterar o significado da interação familiar disfuncional precisa-se redefinir sua matriz
direcionando para mudanças no sistema (BOUSSO, 2008).
Com intervenção terapêutica, a rigidez funcional original da família
gradualmente vai dando lugar a uma maior elasticidade, a estrutura familiar inicial
neuroticamente estabilizada (homeostase negativa), é gradualmente substituída por
uma nova organização.
De acordo com o autor o processo estará completo quando os membros da
família aprenderem a fazer suas próprias escolhas, livres de modelos rígidos, quando
são capazes de lidar com facilidade com o imprevisível, quando o inesperado, em si,
integrar-se ás suas regras, quando comunicam seus sentimentos (positivo e negativo)
suas necessidades e desejos ou quando se permitirem abrir seu sistema familiar ao
desenvolvimento de relacionamentos exteriores com outras pessoas, famílias e
instituições.
Quando solucionam de maneira mais construtiva os inevitáveis conflitos do
cotidiano reconhecendo que crescimento muitas vezes pode ser potencializado
precisamente nos pontos de estresse. É, pois a família, o centro estratégico para se
compreender as tramas e distúrbios emocionais bem como para intervir naquelas
forças psíquicas das suas reações e consequentemente com a saúde e/ou patologia.
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Em outras palavras, o grupo familiar pode gerar ou desestruturar a saúde
mental tendo esse poder na medida em que influência cada aspecto do
desenvolvimento humano e suas reações, uma vez que a família funciona como
organismo vivo de sistemas e subsistemas.
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lembradas como crianças perfeitas, que nunca enfrentaram os pais e com aparência
de serem especialmente dotadas. Com o passar dos anos, se tornam especialistas
em satisfazer os desejos parentais.
Desta forma, essas meninas não são preparadas para a separação e
individualização, de tarefas típicas da adolescência. A anorexia representa, segundo
a autora, uma busca desesperada de tomar possessão do próprio corpo e da
identidade, bem como uma tentativa de domínio de quem se sente bastante
desamparada.
Neste sentido, Falceto e colaboradores (1993) descrevem que, diante da
impossibilidade de conquistar a autonomia, essas jovens se definem e ganham
espaço dentro de suas famílias através da recusa em alimentar-se. Outros aspectos
precisam ser considerados como importantes em relação a enfermidade, como um
transtorno da imagem corporal, um defeito na interpretação dos estímulos corporais
(como os sinais de necessidade nutricional), além de figuras parentais muito
controladoras e intrusivas.
O funcionamento familiar é resistente a mudanças notáveis, gerando uma
elevação progressiva da preocupação, ansiedade, irritação e mágoa provocando
constantemente novos problemas. Devido a essa dificuldade de separação e
autonomia, os transtornos de alimentação em adolescentes podem ser considerados
como uma defesa contra o evento primordial desta etapa do desenvolvimento em
Mudar pode representar a perda ou ameaça da segurança e proteção
experimentadas somente dentro do ambiente familiar (BRUCH, 1973).
O sintoma de recusa da alimentação pode ser entendido como uma forma de
o adolescente manter sua identidade infantil, visto que o papel de paciente fortalece
ainda mais seus laços de dependência com os pais, evitando, assim, uma separação
ativa da família (ONNIS, 1994).
Neste sentido, segundo Abuchaim, Somenzi e Duchesne (1998), a anorexia
vem servir ou funcionar como uma espécie de padrão de contenção psicológica para
manter a homeostase adquirida, com o objetivo de preservar um estado psicológico
frágil. A natureza do transtorno visa à autopreservação, embora suas consequências
sejam autodestrutivas.
Paradoxalmente, a negação de comer consiste em uma tentativa desesperada
de individuação, que se apresenta sob a forma de um "protesto mudo" e visa também
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à introdução de conflitos em famílias que evitam qualquer situação que ameace o
status do núcleo familiar (ONNIS, 1994).
Desse modo, a anorexia pode ser compreendida como uma resposta à tensão
social e ao temor à definição sexual gerada pelas mudanças físicas da puberdade, o
que conduz a uma evitação fóbica dos alimentos e alguns traços da personalidade
típicos de meninas anoréxicas são descritos por Hercovici e Bay (1997), como grande
necessidade de aprovação externa e falta de respostas às necessidades internas,
conformismo, perfeccionismo e escrupulosidade.
Tais características correspondem a indivíduos com expectativas pessoais
elevadas e com extrema necessidade de agradar e satisfazer os desejos dos outros.
Segundo Falceto e colaboradores (1993), é característico que os pais considerem que
suas filhas sempre foram exemplos dóceis e colaboradoras até a instalação da
enfermidade.
Nunes e Ramos (1998) concordam com tais afirmações alegando que as
anoréxicas são vistas por suas famílias como ótimas filhas, meigas e obedientes.
Baseadas em sua experiência clínica, Fasolo e Diniz (1998) também percebem as
figuras parentais de adolescentes com anorexia como muito exigentes e com altas
expectativas em relação às filhas, esperando que sejam passivas, carinhosas e que
correspondam ao padrão estético vigente.
Os pais referem-se às meninas como inteligentes e bem-sucedidas, não
compreendendo como podem ter desenvolvido sintomas tão graves. Apresentam-se,
também, muito confusos e tomados por um sentimento de culpa e fracasso que os
paralisa, não permitindo que reajam frente à doença da filha.
Para Selvini e colaboradores (1998), o sintoma anoréxico só pode surgir da
confluência de uma série de fatores, reagrupados em duas categorias fundamentais:
fatores específicos da cultura ocidental e modalidade organizacional-evolutiva das
interações na família. Nos países em que a comida é abundante e até mesmo imposta
existe, paradoxalmente, uma imposição da magreza como ideal de beleza.
Em relação à modalidade interacional típica, os autores enfatizam um
subsistema parental confuso, com provocações mútuas contínuas, as quais
impossibilitam a solução dos problemas e nas quais a filha desde pequena é
envolvida. As exigências que cada uma das figuras parentais faz aos filhos são
opostas.
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No subsistema conjugal, a configuração mais comum é a do marido passivo,
silencioso, que aceita tudo e aparenta ser incapaz de impedir os comportamentos
invasivos, irritantes e controladores da esposa. Menos frequente é o caso do pai
centralizador e autoritário.
Neste caso, a esposa assume o papel de se apresentar ou ser percebida como
vítima, mas uma vítima provocadora na medida em que protesta contra a cruz que
carrega e reivindica seus direitos de mulher, apelando para o marido os deveres de
um bom pai.
A partir de sua prática clínica, Selvini Palazzoli (1990) desenvolveu um modelo
sistêmico de tratamento, chamado de comunicacional, e agrupou algumas
características típicas de famílias anoréxicas:
Comunicação:
• As famílias possuem uma boa capacidade de comunicação, de focalizar
a atenção e desenvolver temas complexos. Geralmente conseguem
expressar suas ideias tanto em nível verbal quanto não-verbal, mas a
dificuldade está em poder ouvir e aceitar as opiniões dos outros
membros. Cada um quer impor as suas regras na relação, não havendo,
assim, uma sintonia comunicacional.
Liderança:
• O sistema parental é confuso, devido à incapacidade dos pais em
assumir a liderança na família. Não existem normas e limites claros, pois
a mensagem que circula é de que os atos devem ser realizados em
consideração às exigências de um terceiro. Assim, o espaço para os
desejos individuais também fica reduzido.
Alianças:
• As famílias anoréxicas apresentam alianças encobertas e negadas entre
seus membros. O maior problema reside no fato de que a filha
sintomática encontra-se, triangulada com seus pais, satisfazendo
secretamente os desejos e carências de cada um em relação ao seu
cônjuge.
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Subsistema parental:
• Este parece ser o subsistema mais prejudicado e empobrecido em
termos afetivos e sexuais. Os pais possuem relacionamentos muito
insatisfatórios. A desilusão é mútua, mas a incapacidade de assumir os
conflitos e a necessidade de manter a aparência de um casal ideal
impede a promoção de mudanças significativas.
Famílias aglutinadas:
São aquelas cujos membros estão extremamente envolvidos uns com os
outros. Neste tipo de família, mudanças em um dos membros ou no relacionamento
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entre dois deles repercutem em todo o sistema. Os diálogos tornam-se rapidamente
difusos, pela interrupção de um ou mais membros.
A um nível individual, a diferenciação interpessoal num sistema aglutinado é
extremamente pobre. O indivíduo perde-se no sistema. Os membros da família
intrometem-se nos sentimentos e pensamentos do outro, existe excessiva união e
partilha, o que leva à ausência de privacidade, os membros de uma família aglutinada
desenvolvem identidade grupal e possuem, portanto, uma percepção diferente do
outro e de si mesmo. Sendo assim, refere a extremas formas de proximidade e
intensidade nas interações familiares. Tem implicações em todos os níveis: indivíduo,
família e subsistemas.
Em uma família totalmente enredada, as mudanças em um membro ou entre
dois membros reverberam para os membros da família e pode bloquear a
comunicação de um terceiro com o todo da família. Os limites subsistêmicos em
famílias enredadas são pobremente diferenciados e frágeis.
O aglutinamento ou emaranhamento é representado por uma proximidade
interacional intensa entre os membros da família. As fronteiras são difusas e há um
empobrecimento das percepções de si mesmo e dos outros membros.
A superproteção:
A superproteção das famílias psicossomáticas mostra-se com um alto grau de
preocupação com o bem-estar dos outros, onde respostas estão sempre sendo
pedidas. Os membros da família são hipersentivos a sinais de tensão como queixas e
aproximações de perigosos níveis de tensões ou conflitos. As famílias relacionada
com a superproteção dos pais retarda o desenvolvimento das criança, a autonomia,
a competência e os interesses fora da família.
A criança, por sua vez, principalmente se ela for uma criança psicossomática,
sente grande responsabilidade em proteger a família. Para ela a experiência de
proteger a família, usando seus sintomas, pode ser um reforço maior para a seu
desenvolvimento (tirania infantil). Sendo assim a superproteção refere-se a uma
preocupação exagerada com o bem-estar de todos os membros.
Á medida que interagem, as respostas de cuidado e proteção surgem
continuamente, interferindo assim, no desenvolvimento natural da autonomia e no
reconhecimento e expressão de outros interesses fora do ambiente familiar protetor.
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As famílias rígidas:
As famílias rígidas são altamente comprometidas em manter o status em que
fases de mudança e crescimento são necessários, elas experimentam grandes
dificuldades. Por exemplo, em fases em que uma criança ganha a adolescência, sua
família pode mudar seus papéis e regras transiocionais de um modo tal que não
permita uma autonomia apropriada á idade, embora ainda preservando uma
continuidade familiar.
Mais uma família de uma criança psicossomática doente insiste em reter os
métodos costumeiros de interação. Se a família não muda, há um acréscimo de
rigidez, tal sistema pode se tornar patológico, os membros do sistema não mais se
experimentam como apoiadores. Forma-se uma jaula, a exploração das alternativas
é diminuída e bloqueada.
Então a rigidez diz respeito a necessidade de manter o status e a harmonia
familiar estabelecida. Há uma grande resistência ás mudanças características da
adolescência. Permanece, então, o mesmo funcionamento de quando os filhos ainda
estavam na infância, o qual, com a chegada da puberdade, torna-se disfuncional. Para
este tipo de família, um filho doente pode servir como desculpa legítima para
permanência da união.
As familías que tedem as mudanças (conflitos):
Assim tais como as trocas sobre autonomias individuais, não se permitem vir á
superfície, quando as mundanças estão sendo negociadas. Mesmo quando vêm á
terapia, essas famílias se dizem sempre sem problemas, a não ser pelo fato de abrigar
um membro enfermo.
Tais famílias são altamente vulneráveis a eventos externos, tais como mudança
ocupacional e a perda de um parente. Quase todos os eventos externos podem
sobrecarregar seus mecanismos de copying disfuncionais, provocando doença. A
rigidez e a superproteção das famílias psicossomáticas, combinadas com as
constantes invasões mútuas características dos padrões de enredamento, tornam os
limiares de conflitos destas famílias muito baixo.
Usualmente um código religioso ou ético muito rudimentar é usado como uma
forma racional de evitar conflitos. Como um resultado, os problemas ficam não
resolvidos, tende a ameaçar sempre.
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Baixa tolerância:
Outra característica é a baixa tolerância e a falta de resolução de conflitos,
resultantes do aglutinamento, superproteção e rigidez. A estrutura familiar é
extremamente inflexível na resolução de problemas. Não há possibilidade de
negociação, o que contribui para o surgimento de sintomas em membros mais
fragilizados.
Paciente identificado:
A participação do paciente identificado nos conflitos parentais é referente à
tendência de evitar os problemas através da formação de uma tríade com o filho
sintomático. A doença do adolescente funciona como reguladora e mantenedora do
funcionamento familiar (MINUCHIN; ROSMAN; BAKER, 1978).
Contiamente ativando os circuitos de avoidance:
Cada estrutura idiossincrática de uma família psicossomática funciona em
termos de evitar conflito. Geralmente uma esposa é uma (avoider-evitar), quando o
não-avoider busca áreas de diferenciação, o avoider consegue o desvio (detour-
devedor) da confrontação impedindo a discussão e reconhecimento da situação (ou a
sua solução).
Muitas famílias psicossomáticas negam a existência de tais problemas, elas
acham que não necessitam de discórdias e que são altamente investidas em
consenso e harmonia. Outras famílias psicossomáticas discordam abertamente, as
frequentes interrupções e temas individuais obscurecem qualquer assunto antes que
este possa aparecer.
os membros da família se mobilizam rapidamente para manter um limiar
manuseável de conflito, eles adquirem este controle através de posições divididas ou
manobras de distração. Se as famílias com crianças psicossomáticas doente evitam
ou diluem os temas, uma incapacidade para confrontar diferenças ou negociar uma
resolução é então característica de todas as famílias.
As famílias normais são capazes de discordar. Estas são as estruturas gerais
e características funcionais que identificamos como típicas destas famílias com uma
criança enferma.
Foi a observação da circularidade do feedback que necessitou uma nova ordem
de explicação. Observando de um ponto de vista transacional, o sistema do paciente
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adquire uma nova signficação como um fator regulador do sistema familiar. Mais
especificamente, torna-se aparente que o fator principal suportando o sintoma familiar
é o envolvimento da criança no conflito parental.
Este fator, então, é mais uma característica da família psicossomática. Dentro
do conterxto de uma família psicossomática a criança é envolvida nos conflitos
parentais de muitos modos. Os pais são incapazes de lidar uns com outros em união
para cuidar da doença dos filhos, evitando conflitos por protetores.
Ou um conflito conjugal é transformado em parental, apesar do paciente e do
seu manjo. Em tais familías as crianças são recrutadas, tomando partidos pelos pais
ou se introduzem elas mesmas como mediadoras ou apoiadoras.
Há três padrões: Triangulação , Coalizão pai-filho e Desvio:
Nos dois primeiros padrões, os pais estão francamente separados ou em
conflito e a criança só pode expressar-se tomando partido de um pai contra o outro.
Frases que impõem uma escolha são usadas com este fim. Na colizão pai/criança ela
tem uma ligação estável com um dos pais.
No terceiro padrão:
O desvio, a (díade-grupo de dois par), está ostensivamente unida. Os pais
submergem seus conflitos numa postura de proteger ou lamentar o filho doente, o
único problema da família. Em algumas famílias, os pais reivindicam que os filhos
digam que eles são bons e que se preocupam com as familías. Os pais, por vezes
vacilam entre o cuidar dos filhos e o fardo que estes representam, deixando de cuidar
de si mesmos.
Estes padrões não são classificações, são sequências transicionais, em
resposta a conflitos familiares. Tais sequências estão dentro dos métodos que uma
família usa para lidar com conflitos.
Todavia, as famílias normais, usam outros métodos de confrontação e
negociação. As famílias psicossomáticas usam sequências mal-adaptativas sempre.
Fasolo e Diniz (1998) conduziram um estudo com 11 famílias anoréxicas e
constataram que toda a amostra podia ser incluída na descrição de Minuchin de
famílias psicossomáticas. As famílias passavam a imagem de um convívio
harmonioso, não expressando agressividade e hostilidade.
As dificuldades de trazer os conflitos à tona, de reconhecer e resolver
problemas também estavam presentes. Kaplan (1992) concorda que os vínculos
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familiares dos membros dessas famílias são emaranhados, embora elas se
apresentem como normais, bem organizadas e harmônicas.
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É importante para o terapeuta perceber que as palavras transmitem somente
como algo passageiro é como se fosse de curta duração para a família anoréxica a
representação da matéria e o desenvolvimento de temas concretos e de tarefas
claramente diferenciadas e são muito mais efetivos.
Para combater o enredamento, a superproteção, o conflito (avoidance, evitar)
e a rigidez, é necessário que o terapeuta seja capaz de trabalhar em momentos
altamente afetivos, que possa criar e estar confortável em momentos de intensidade
dramática e que possa manter sua intensidade sem ser “arrancado” em sua “ajuda”,
por meio disso, diluindo a intensidade.
A tarefa requer um terapeuta que possa se sentir confortável, aliando- se a um
membro da família contra o outro, sendo eticamente injusto terapeuticamente correto.
As matérias de ética e moralidade são importantes, mas elas devem diminuir, ou
prejudicar o processo de cura.
As evitações dos conflitos da família anoréxica não devem ser confundidas com
harmonia. Clínicos têm identificado luta e conflitos como patológicos, e terapeutas
estão acostumados a reconhecer seus efeitos doentios.
Em famílias anoréxicas o terapeuta é frequentemente convidado a tomar
posição de árbitro ou juiz, porque os membros em conflito tendem a usa- ló do mesmo
modo que eles usam outros membros da família para dissolver conflitos. É importante
para o terapeuta resistir a tais demandas, participando somente para aumentar ou
manter a intensidade do conflito.
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A qualidade do enredamento é usualmente apresentada pela família anoréxica
desde que eles se vejam como sendo leais, protetores, responsáveis e responsivos,
o que, com efeito, são. Logo o terapeuta pode encontrar meios de suportar a
individuação e de desafiar o enredamento, mas ele pode ajudar se fizer isso sem
desafiar o valor da família unida.
O terapeuta pode também sublinhar o direito de cada indivíduo e não somente
o da criança anoréxica, de ter e defender seu próprio espaço psicológico. Desta
maneira, os terapeutas geralmente insistem para que todos os membros da família
falem por si mesmos. Ele impede que um membro da família explique como o outro
sente e pensa. Dois membros da família não podem discutir sobre um terceiro membro
sem participação pessoal deste.
O encorajamento do terapeuta para cada indivíduo de falar e dar seu ponto de
vista reforça o direito ás operações individuais e tende a aumentar a diferenciação.
Do mesmo modo, o terapeuta pode encorajar um membro da família a não falar dos
territórios dos quais qualquer indivíduo tem direito a guardar em segredo.
Se um membro da familia começa a chorar, o terapeuta pode encorajá – lo ,
porém deve bloquear a tentativa de outros membros da familia tornarem – se
suportivos.O direito á individuação pode também ser acentuado por meios não verbais
tais como usar o espaço e a representação.
O terapeuta pode criar modificações especiais, separando as cadeiras
movendo um membro da família como se prevenisse um contágio verbal ou sentando
ele mesmo entre dois membros da família que habitualmente se obstaculizam uns
com os outros. O terapeuta pode usar suas mãos como um guarda de trânsito para
criar uma impressão física de separação.
Essas operações são necessárias ao longo da terapia, os membros da família
são consistentemente alertados para o fato de que eles não podem dizer “nós” sem
primeiro checar um ao outro, não podem falar pelo outro, revelar a história de outro,
terminar a frase de alguém.
Com frequência o terapeuta pode rastrear o conteúdo da comunicação familiar
para encontrar uma metáfora que comunica a sua carência de diferenciação. Essa é
uma família em que não se pode fechar as portas.
Nessa família, todo mundo observa todo mundo. Essa é uma família sem sinais
de trânsito. ”Se o terapeuta for consistente, os membros da família tornar-se
34
autoconscientes de suas manobras intrusivas, e a separação torna-se marcada como
uma operação para a saúde.
O terapeuta deve encontrar meios de bloquear a intrusão e realçar o desejo
de ter claros limites, mas sem ficar envolvido no conteúdo, na situação.
7.5 Sintetizando
35
Em outras vezes, o terapeuta usa a si mesmo, num estilo próximo do que
caracteriza a família, afiliando e interagindo em colisões contra alguns membros que
embalançam o sistema familiar. No processo de proteção (proteger um membro da
família triangular), o terapeuta pode afiliar-se com ele muito estreitamente. Os
trianguladores podem ser desafiados, mas eles também devem ser apoiados.
O terapeuta tem que trabalhar com ambos os lados, afiliando-se
simultaneamente com todos os membros da família de tal modo que eles se sintam
respeitados, ouvidos e afirmados.
Um dos problemas com os quais o terapeuta tropeça nessas famílias é apenas
seu personagem agradável. Seus membros parecem ansiosos sobre responder o
terapeuta que pode acreditar que eles cooperam com ele, apenas sentindo-se
novamente desapontado pelos problemas que o opõem, bem como a facilidade com
que o absorvem nas dobras sua política de paz a qualquer preço.
37
As mudanças são positivas para todos os membros da família, mas
principalmente para o paciente que pode ser liberado da triangulação com o casal.
Além disso, procura-se produzir alterações na estrutura de funcionamento familiar,
reforçando o exercício da função parental, validando a participação do pai e ajudando
a mãe a investir energia em si mesma e no casal, permitindo que a filha possa dirigir-
se no sentido de buscar autonomia.
A literatura existente a respeito dos TAs (Transtornos alimentares) é escassa
em relação ao papel do pai nestas famílias. Apesar disso, sabe-se que o pai costuma
exercer uma posição claramente passiva, ficando geralmente sobre a
responsabilidade da mãe as decisões familiares.
Mesmo que o pai esteja presente fisicamente, ele não costuma ter autonomia,
parece não exercer a função paterna. A relação com a filha costuma ser superficial,
pois o pai sendo uma figura apagada, não evidencia valor nas relações familiares
(DORFMAN; ROSSATO, 2016).
Nodin e Leal (2005), citando Marcelli e Braconnier (1989) referem-se ao pai da
anoréxica como sendo um sujeito fraco, passivo e de estrutura obsessiva. Geralmente
permissivo, pouco interferindo nas decisões familiares. Percebe-se que o pai tem sido
citado como tendo dificuldade em exercer sua função paterna, e se mantem à sombra
da mãe. A mãe não permite a entrada do pai, e este não se impõe para estabelecer
corte necessário na simbiose mãe-filha, processo importante para o início da vida
adulta.
Estes aspectos do funcionamento familiar, nos quais estão implicados pai, mãe
e filho sintomático, devem necessariamente receber atenção específica no tratamento
dos TAs. Ou seja, é importante que dentro de uma abordagem multidisciplinar, a
terapia familiar seja incluída com o objetivo de ajudar a família a redefinir seus papéis
e funções, favorecendo assim a autonomia do familiar sintomático (DORFMAN;
ROSSATO, 2016).
38
famílias alargadas. Estas coincidências surgem na maior parte das vezes pela
imitação dos modelos apreendidos do passado.
Se, por exemplo, uma mãe exerce uma atividade excessivamente protetora
para com seu filho, este terá uma tendência natural a imitar a sua mãe quando tiver
descendência. Se por outro lado um pai exerce uma atividade repressora sobre os
filhos, também estes terão uma tendência a fazer o mesmo. os modelos são imitados
de uma forma mais ou menos consciente; a resposta ativa-se quando a pessoa se
vê envolvida numa situação similar, (GIMENO 2001).
Sampaio e Gameiro (2004) acreditam que numa família é importante a lenda
dela própria, e que o papel que habitualmente têm os avós pode ser retomado pelos
pais numa situação de crise. Há uma transmissão da cultura familiar no seu sentido
lato de uma geração para outra, englobando padrões, estilos, acontecimentos,
segredos, mitos e problemas que determinam o carácter único de uma família
(LIEBERMAN, 1979).
Há uma necessidade de tentar integrar o presente, através do uso do passado,
de modo a definir padrões repetitivos disfuncionais que tenta alterar e construir um
futuro diferente O progresso do ser humano radica na transmissão às novas gerações
da bagagem de conhecimentos adquiridos pelas gerações anteriores.
39
9 CARACTERÍSTICAS DE UMA FAMÍLIA SAUDÁVEL (WHITAKER,1981)
9.3 Conflitos
41
Gimeno (2001) centra-se ainda no conflito, descrevendo-o como um confronto
interpessoal em que cada pessoa tenta manter o seu ponto de vista, a sua conduta,
os seus interesses. Implica tensão, angústia, sentimento de impotência, depressão,
rancor, raiva, hostilidade latente ou manifesta.
Os conflitos familiares acarretam inconvenientes e são um perigo constituindo-
se como um indicador de direcionalidade familiar e mesmo uma manifestação de falta
de apego ou de maturidade, entre os membros da família. O impacto na vida familiar
depende da sua intensidade, frequência e duração.
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É da opinião que a figura paterna dá uma nova dimensão ao funcionamento
psíquico e permite a sua inserção na sociedade. Juntando a estas
responsabilidades a necessidade de geração de sustento económico,
verifica-se que o pai é um pilar importante na vida familiar, dependendo dele,
em grande parte, o sucesso de cada indivíduo e, no seu conjunto, de todo um
modelo de sociedade construído tendo por base a família, (MALPIQUE;
1998).
Malpique (1999) aponta que a ausência de pai é um fator patogénico que pode
levar a psicoses, neuroses, tentativas de suicídio, deficiências intelectuais. A presença
do pai ou de um substituto é o agente fundamental da diferenciação, é a sua presença
que abre para a criança o caminho à identidade sexual, ou seja, à diferença.
Chouhy (2005) apresenta as conclusões de vários estudos sobre adolescentes
onde a figura paterna é presente ou ausente, referindo alguns dos aspectos relevantes
ao nível da personalidade e formação sociopsicológica. Assim, o risco da interrupção
dos estudos do ensino obrigatório é, para os filhos de pais ausentes, cerca de duas
vezes superior, em relação ao grupo de jovens em que o pai está presente.
Refere ainda que a ausência do pai provoca problemas emocionais e de
conduta na criança, referindo que neste grupo a probabilidade de enfermidade mental
é superior, havendo maior dificuldade no controlo dos impulsos e uma maior
vulnerabilidade à pressão exercida pelos seus pares.
Para além disso, a prevalência de problemas com a lei é também superior.
Angel e Angel (1993) citado por Chouhy (2005), afirmam que a falta do pai constitui
um fator de risco para a saúde mental da criança.
A perda do pai por falecimento gera uma depressão e uma idealização do pai
perdido. Se for por uma separação, é mais conflitual e pode gerar uma imagem
negativa do pai, dependendo tudo da relação que o pai e a criança tinham
estabelecido e da imagem que a mãe oferece à criança após a separação.
A estrutura monoparental é um fator de risco para o desenvolvimento
psicológico da criança. Neste tipo de família existe um sentimento de desamparo e de
abandono (MALPIQUE, 1999).
Mães que viveram sempre para os filhos, que não organizaram a vida,
que ficaram viúvas ou separadas recorrem ou regressam às suas famílias
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de origem, estreitando os laços com os seus pais e arrastam muitas vezes
os seus filhos na sua depressão, (MALPIQUE 1999).
A mãe deprimida tem um papel muito difícil: por um lado não pode corresponder
ao apelo do amor dos filhos, mas por outro lado não suporta o seu afastamento e a
sua necessidade de autonomia fazendo com que o seu desenvolvimento psicológico
fique bloqueado. A depressão da mãe parece ser a nota dominante deste tipo de
famílias, logo são incapazes de mudança, pouco aptas a promover o desenvolvimento
e saúde mental dos filhos (MALPIQUE, 1999).
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9.9 Instabilidade das díades conjugais
Minuchin e Fishman (2003) falam sobre o ninho vazio, que ocorre quando os
filhos crescem e saem de casa e a família tem de se reorganizar. A este período
chama-se de ninho vazio e normalmente vem associado à depressão da mulher.
Mas este período de perda pode tornar-se num período de grande
desenvolvimento se os cônjuges, como indivíduos e como casal, aproveitarem as
relações acumuladas, sonhos que agora podem atingir que até então não era
necessário por causa da educação dos filhos.
9.11 Segredo
Ausloos (2003) e Sampaio e Gameiro (2004) indicam que todas as famílias têm
as suas leis próprias e ela própria define aquilo que pode ou não ser feito ou dito.
Segundo este autor a culpabilidade que resulta da transgressão de uma dessas regras
que vai dar origem ao segredo. Os segredos e as regras que eles originam, contribuem
para manter a homeostasia da família e evitar as mudanças vividas como
ameaçadoras.
Segundo os mesmos autores, os segredos nos primeiros tempos podem ser
úteis, mas com o passar do tempo tornam-se prisões impedindo a evolução do sistema
familiar. Ele encerra-se em si próprio levando a um empobrecimento das suas
comunicações e uma rigidez progressiva das suas estruturas relacionais.
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Gimeno (2001) diz que todas as famílias têm os seus mitos que trazem
felicidade à família, onde se misturam simultaneamente todas as heranças próprias
da família de origem e um número não conhecido de desejos não satisfeitos.
Refere este autor que os mitos familiares pretendem encobrir as realidades
mais perturbadoras, daí que desmascarar o mito e construir um mapa familiar pode
muitas vezes ser uma tarefa muito dolorosa. Segue alguns exemplos de mitos
potencialmente existentes numa família: marido trair a mulher; conhecer o ódio entre
irmãos. O desmantelar desde segredo e a sua divulgação no seio da família, significa
para a díade parental, assumir o fracasso como pais.
9.12 Suicídio
9.13 Ciúme
Figueiredo (1985) diz que o homem sente humilhação quando a mulher que
lhe pertence é seduzida por outro o que pode ser compreendido a diversos níveis.
Um homem que fica sem a sua mulher revela a sua fraqueza, mas também o
homem que cede a sua mulher a outro, em particular a irmã ou a filha que lhe são
proibidas pelo tabu do incesto, pode também ter sentimentos de ciúme associados.
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10 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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