Você está na página 1de 17

Pós-Graduação em

Análise Existencial
e Logoterapia Frankliana

VAZIO EXISTENCIAL
E TRÍADE TRÁGICA
NEGATIVA
Revisão e Direção Geral
Luis Enrique Paulino Carmelo

Transcrição e Resumo
Filipe Italiano Leal
Bruno Afonso Alves da Silva

Revisão Ortográfica
Ana Carolina Cenedesi Machado Bertolini

Diagramação e Edição
Em Rota Produções

Material exclusivo para alunos do curso de Pós-Graduação em


Análise Existencial e Logoterapia Frankliana.
SUMÁRIO
VAZIO EXISTENCIAL | 7

SINTOMAS DO VAZIO EXISTENCIAL | 7

MANIFESTAÇÕES DO VAZIO EXISTENCIAL | 8

SUICÍDIO | 9

MANIFESTAÇÕES DO VAZIO EXISTENCIAL NA


NEUROSE COLETIVA | 10

SUPERAÇÃO DO VAZIO EXISTENCIAL | 14

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS E OUTROS | 16


Pós-Graduação em Logoterapia e Análise Existencial

A tragédia é algo que pode começar bem, mas sempre termina em queda.
Se fazíamos um caminho de ascensão quando falávamos da tríade trágica
positiva, agora faremos um caminho de descida, uma vez que falaremos
sobre a tragédia humana e o vazio existencial.
Nós somos, por excelência, seres que buscam o sentido da vida. Isso nos é
próprio. Inclusive, esse é um dos pilares da Logoterapia. Encontrar o sentido
da vida, muito embora seja próprio ao ser humano, não é algo espontâneo
e nem fácil. Não estamos determinados a encontrar o sentido. Para sermos
movidos pela vontade e caminharmos nessa direção - de experimentar
o sentido - faz-se necessário um empenho, uma escuta, uma resposta,
uma luta, uma decisão diária e resoluta; aquilo que Santa Teresa diz: “uma
determinada determinação”, aplica-se muito bem ao caminho que nos leva
ao sentido.
Muito embora seja claro que o homem busque o sentido e essa busca
se dê através de um esforço, cada vez mais parece que se tornou tabu falar
em busca de sentido, da mesma forma, diz Frankl, como outrora era tabu
falar sobre sexo. Os sofrimentos do homem moderno não são recorrentes de
uma repressão sexual - como nos tempos de Freud - ou de um complexo de
inferioridade - como em Adler. A questão central, que, de fato, nos incomoda
é a falta de sentido. O que fica muito claro é que a pessoa humana tem
sofrido porque não encontra o sentido de sua vida, mesmo tendo todo o
prazer e um sentimento de superioridade por ter conquistado muitas coisas
que queria. A pessoa humana experimenta o vazio e, inevitavelmente, uma
crise de sentido.
Frankl diz que o grande mal de nosso tempo é que as pessoas têm, cada
vez mais, com o que viver, mas já não sabem o porquê viver. Vivemos em uma
sociedade de hiper abundância, temos muito mais do que todas as outras
gerações já tiveram; nunca se teve tanto e nunca se sofreu tanto; nunca se
teve tantos meios para viver, mas, ao mesmo tempo, nunca se experimentou
uma sensação tão angustiante de não saber o porquê se vive. Frankl diz,
ainda, que possuímos os “comos” (os meios), mas já não sabemos o “porquê”.
Rafael Cifuentes, em seu livro “Insegurança, medo e coragem”, conta
que em uma das visitas de Frankl ao Brasil, um repórter entrevistou-o no
Copacabana Palace e perguntou-lhe por que os seus livros eram best sellers
em tantos países do mundo. Frankl respondeu:

“Porque falo do sentido da vida, porque através destes livros ajudo


as pessoas a recuperar o sentido da vida, que é a necessidade

5
Vazio Existencial e Tríade Trágica Negativa | Prof. Luis Enrique

primordial do ser humano. Está vendo essa juventude toda na


praia? Gente bonita, alegre, mas a sua alegria é tão superficial
como o seu bronzeado. Eu os conheço bem: uma contrariedade,
um fracasso, a perda de um ser querido e caem em depressão.
Falta-lhes um sentido fundamental para a vida e para a morte.
Eu curo um doente desse em três meses, fazendo-o encontrar o
sentido”.

Sem a realidade do sentido, tudo torna-se pessimismo; viver torna-se


desesperador. Sobre o niilismo (sentimento de vazio existencial, sentimento
de falta de sentido), Frankl vai dizer:

“O niilismo, o sentimento de falta de sentido, o produz


basicamente a própria pessoa.” (Viktor Frankl)

COMO PRODUZIMOS O NIILISMO, A FALTA DE


SENTIDO?

Para responder a essa pergunta é preciso resgatar a dinâmica própria


da pessoa, que é a dinâmica de um ser existencial, de alguém que se coloca
numa dinâmica de abertura, capaz de sair de si mesmo. A autotranscendência
é a essência da existência, diz Frankl. Se isso é o que é propriamente
humano, sempre que a pessoa vive num estado de ensimesmamento,
acaba adoecendo. Quando a pessoa tem como questão central da sua vida
a satisfação dos próprios interesses, a consequência é o adoecimento; é o
resultado natural da frustração da própria essência.

“O vazio existencial consiste em substituir a autotranscendência, a


busca pelo sentido e a saída de si mesmo, pela busca de si mesmo
e de suas próprias necessidades.” (Viktor Frankl)

Todo movimento egocêntrico e autorreferente frustra a dinâmica da


busca de sentido. A procura de si mesmo traz, inevitavelmente, a perda de si
próprio, diz Frankl.

“A felicidade está numa sala maravilhosa onde todos querem


entrar. Tentam abrir a porta para dentro, para si, mas, quanto
mais a querem abrir para si, mais a trancam, porque a porta se
abre para fora, para os outros.” (Kierkegaard)

Se o niilismo, como diz Frankl, somos nós que produzimos, então somos
também nós os responsáveis por não deixar que esse sentimento cresça em
nós.

6
Pós-Graduação em Logoterapia e Análise Existencial

VAZIO EXISTENCIAL
No que diz respeito ao vazio existencial (ou frustração existencial ou
vácuo existencial) e a sua superação, tudo depende da nossa atitude: ou nos
orientamos para além de nós mesmos ou nos orientamos para nós mesmos.
O vazio existencial não é uma enfermidade. Esse vazio só revela o fato de
que a pessoa humana é um ser espiritual e, portanto, autotranscendente.
Apesar de não ser em si uma patologia, o vazio existencial é perigoso e
precisa ser superado. A ausência de sentido é um aviso de que as coisas não
vão bem e podem ficar muito piores.
Para Freud, o simples fato da pessoa se perguntar sobre o sentido da vida
já é o sintoma de uma doença. “Se se pergunta pelo sentido da vida é porque
se está doente”, diz Freud. Já para Frankl, tanto o fato da pessoa se indagar,
quanto negar o sentido, não é patológico, mas somente uma capacidade
humana de buscar uma resposta.

“A preocupação ou mesmo o desespero da pessoa… de


crescimento e desenvolvimento.” (Em busca de sentido)

Se partirmos da premissa de que a frustração existencial é patológica,


então isso nos habilita a medicar o paciente, tratá-lo, no sentido de arrancar
essas vivências dele. Mas na medida em que fazemos isso, tiramos esse sinal
de alerta, que o faz perceber que as coisas não estão bem. A crítica de Viktor
Frankl é justamente essa: ao tirar as manifestações da frustração existencial
do paciente, dificulta-se também o caminho de superação e conhecimento
que poderia se ter a partir dessa vivência de angústia, tédio e apatia. Se a
produção do niilismo é produzida pela pessoa, ela mesma pode findar isso,
através de uma mudança de atitude.

“Não é raro se mostrar o fato de um médico confrontado com essa


tarefa desertar, seja porque ele se desvia para o âmbito somático,
seja porque encaminha para o psíquico. O primeiro … no âmbito
meramente psíquico.”
(Logoterapia e Análise Existencial - Textos de seis décadas)

SINTOMAS DO VAZIO EXISTENCIAL


Existem três sintomas que acusam o vazio existencial:
▶ Angústia (no encontrar-se só, consigo mesmo)
▶ Tédio (por não ter interesses)

7
Vazio Existencial e Tríade Trágica Negativa | Prof. Luis Enrique

▶ Apatia (por não ter iniciativas) – falta de vitalidade, de força


(noodinâmica)
Esse vazio existencial – que sou eu quem produzo – pode vir acompanhado
de alguns sintomas que, se não forem bem resolvidos e começarem a se
robustecer, podem levar a pessoa a cair numa realidade patológica - que são
as manifestações do vazio existencial.

MANIFESTAÇÕES DO VAZIO EXISTENCIAL


São três realidades que Viktor Frankl chama de tríade trágica negativa
(ou mal estar juvenil):
▶ Adicção (dependência de drogas) – estado de entorpecimento. A
pessoa busca o prazer nas substâncias alucinógenas → Realidades: uso de
drogas, hedonismo, pornografia, vida virtual (second life).
▶ Agressividade – é a vivência da violência a partir do confronto com os
outros → Realidades: criminalidade (Desvalorização total do outro, banalização
da violência)
▶ Depressão – é a auto-agressão ou suicídio; aaqui as ações são sempre
contra si mesmo → Realidades: distúrbios alimentares, depressão noogênica,
suicídio).

ADICÇÃO

A drogadição gera um rebaixamento da capacidade cognitiva e um


comprometimento bioquímico; inclui-se, além da drogadição clássica,
também a pornografia e a vida virtual (os games, por exemplo).

AGRESSIVIDADE

Não sabendo o valor que ela própria tem, não tendo ideia daquilo que ela -
enquanto ser humano - traz enquanto potência, chamado, a pessoa também
não compreende a dignidade do outro. Se eu não me valorizo, se não atribuo
valor à minha existência, não é possível valorar o outro. A desvalorização de si
próprio traz como consequência direta a desvalorização do outro. Aqui está
a raíz da agressividade. Vivemos um tempo de grande agressividade, numa
sociedade totalmente polarizada; agressividade na rua, nas redes sociais, na
família, no casamento. Há dificuldade de ouvir o que os outros estão falando.
Existe hoje uma banalização da violência. Tudo parece nos irritar um pouco.
Isso tudo é manifestação de vazio existencial

8
Pós-Graduação em Logoterapia e Análise Existencial

AUTO-AGRESSÃO

Não sabendo o seu valor, a pessoa também não se preocupa consigo


mesma. Tendo uma imagem deturpada de si mesma, ela adoece, pois
não se cuida, não se valoriza, mas se volta contra si mesma. A depressão
– enquanto depressão noogênica – é uma forma de auto-agressão. Outra
forma de auto-agressão são os distúrbios alimentares (anorexia, bulimia,
compulsão alimentar, etc.). Tudo isso são movimentos autodestrutivos, fruto
de uma visão equivocada de si mesmo.

SUICÍDIO
Quando se fala de auto-agressividade, evidencia-se o problema do
suicídio. Viktor Frankl fala com muita propriedade sobre isso - tendo, inclusive,
por quatro anos, se dedicado a atender pacientes com essa demanda de
suicídio. Viktor Frankl fala de quatro tipos de suicídio:
▶ Físico [origem biológica] – nesse grupo se incluem, por exmplo, os
casos em que alguém, a partir de uma indisposição anímica, de origem, em
última instância, corporal tenta se matar quase de modo quase compulsivo.
▶ Cálculo [origem psíquica] – existe aqui uma perversidade, uma maldade
ou uma patologia psíquica, a pessoa age por sede de vingança, para que
os outros sofram, carregando consigo por toda a vida uma consciência de
culpa.
▶ Cansaço [origem psíquica] – pessoas que fazem dos sentimentos
argumentos. Há aqui um empobrecimento intelectivo/imagético, uma vez
que a pessoa faz da sua fadiga um argumento para botar fim a vida, quando
na verdade o que ela deveria saber é que se pode continuar caminhando e
superar esse cansaço.
O antídoto para esse tipo de suicídio passa pela compreensão que chegou
Jerry Long, que após um acidente que o deixou paralisado do pescoço
para baixo, acabando com sua promissora carreira no beisebol, conheceu
Viktor Frankl e o livro “Man’s Search for Meaning” (“Em busca de sentido”,
na versão em português). Ele escreveu uma carta para Frankl e os dois logo
se tornaram bons amigos. Com respeito a sua condição de paralisia, ele
costumava dizer: “eu quebrei meu pescoço, ele não me quebrou.”
▶ Suicídio de balanço: decorre sempre do chamado balanço negativo da
vida. Nele a pessoa faz um balanço, compara o crédito (todo o sofrimento e
toda a dor) com o débito (toda a felicidade não alcançada), confronta o que

9
Vazio Existencial e Tríade Trágica Negativa | Prof. Luis Enrique

a vida lhe deve e o que ele acredita que ainda pode alcançar na vida, e o
balanço negativo que faz leva-a ao suicídio. Esse balanço está, porém, errado
na abordagem, pois a pessoa não está no mundo por prazer.
Somente o quarto tipo de suicídio é uma manifestação do vazio existencial,
que tem como motivação uma neurose noogênica.

MANIFESTAÇÕES DO VAZIO EXISTENCIAL NA


NEUROSE COLETIVA
As neuroses coletivas são atitudes inadequadas diante da vida que
podem ser identificadas na sociedade, principalmente na pós-moderna.
No livro “Viktor Frankl - Comunicação & Resistência” (p. 335, 4o parágrafo),
Guillermo Herrera fala sobre as neuroses coletivas:

“No nível sociológico, a desorientação e alienação do homem


contemporâneo são tais que a única coisa que importa é correr,
talvez sem reparar para onde. Por isso podemos citar uma
expressão de Goethe, que diz que os homens e mulheres do
nosso século quase não sabem de onde vieram e, menos ainda,
para onde vão. E quanto menos conhecimento tenham da meta
de seu caminho, mais aceleram o ritmo com que permanecem
e percorrem esse caminho. Há outros grupos de neuroses, as
paraclínicas, que formam parte das neuroses coletivas, em sentido
amplo ou figurado são quase-neuroses e apresentam quatro
sintomas básicos: atitude provisória, atitude fatalista, pensamento
coletivista e fanatismo.”

A manifestação do vazio existencial é tal que trará consequências para o


todo, para a sociedade. Isso nos colocará diante de atitudes que podemos
observar em grande quantidade de pessoas – são como comportamentos
padronizados dos que possuem o vazio existencial e não conseguiram
superá-lo.

ATITUDE FATALISTA:

“Toda a prática médico-psiquiátrica, em última análise, deve


ter por escopo educar o paciente para assumir com alegria e
responsabilidade. O que sempre de novo nos surpreende no
contato com nossos pacientes neuróticos, contudo, é precisamente
o oposto: os pacientes neuróticos apresentam uma repulsa da
responsabilidade e um temor desta mesma responsabilidade.”
(Psicoterapia para todos, pg. 38)

A repulsa e o temor que o neurótico tem diante da responsabilidade

10
Pós-Graduação em Logoterapia e Análise Existencial

surgem a partir da visão que o neurótico tem acerca do que é a vida. Essa
visão consiste em uma crença profundamente supersticiosa quanto ao
poder do destino. A irresponsabilidade do neurótico se alimenta da crença
de que tudo está determinado, como se tivesse um destino diante do qual
não se pode se posicionar. Ora, se há um destino que me determina, se não
há uma resposta adequada que eu posso dar diante das diversas situações,
logo não se faz necessário agir com responsabilidade, pois eu irei ser aquilo
que o meu destino me aponta.

ATITUDE PROVISÓRIA

Faz com que as pessoas vivam na superficialidade, sem grandes projetos,


metas ideais. Sem isso, se vive o presente de forma absurda, ansiosa,
buscando o prazer excessivamente no hoje, como se tudo tivesse que ser
consumido aqui e agora.
Frankl fala a respeito do homem que vivia o momento “entre guerras”. No
período “entre guerras”, devido às incertezas e inseguranças a respeito de
uma nova guerra – que poderia vir a qualquer momento –, os homens não
faziam grandes projeções para o futuro.

“Tenhamos presente apenas como o ser humano vivia de forma


provisória durante a guerra, como se interessava tão só pelo seu
dia a dia e pelo transcurso de um dia após outro. E que nunca
podia saber se nesse “dia seguinte” estaria ainda vivo. Disso não
estava ele seguro, nem na frente da guerra, nem nas crateras
abertas pelas bombas, nem na assim chamada hinterlândia,
nem nos abrigos antiaéreos, nem em território inimigo, nem
nos campos de prisioneiro ou nos campos de concentração. Em
parte alguma a certeza da sobrevivência estava-lhe assegurada
e afligia-o a incerteza se continuaria vivo. Vivia, conforme foi dito,
apenas o dia presente. Mas a pessoa que vive em função de um
único dia invariavelmente vive sujeita à dominação dos impulsos.
Compreende-se assim haver ela desistido de, também no que
respeita à vida amorosa, levar uma vida digna em dimensão
mais ampla, construir uma vida amorosa humanamente sadia,
limitando-se a usufruir o momento presente, de modo a que
nenhuma satisfação sensível lhe escapasse.” (Psicoterapia para
todos)

Essa atitude provisória mina os projetos, tira do horizonte de visão o fato


de que um dia irei prestar contas da minha vida, de que é preciso responder
ao chamado existencial e me tornar aquilo que tão somente eu posso ser. Isso
tudo some e o que fica é a gula, a embriaguez e as grandes preocupações.

11
Vazio Existencial e Tríade Trágica Negativa | Prof. Luis Enrique

“Não nos libertamos ainda da concepção existencial provisória.


Antes como depois, o indivíduo hodierno por ela é dominado.
Dele se apoderou uma espécie de fobia da bomba atômica.
Aparentemente vive de sentidos voltados para a expectativa de
que a bomba atômica virá. Espera por ela com ansiedade. Mas
essa ansiedade antecipatória, como nós clínicos a chamamos,
impede-o de levar uma vida consciente de objetivos. Com
efeito, o ser humano vai vivendo provisoriamente, sem perceber
o que perde, inconsciente de que, com isso, se priva de tudo.”
(Psicoterapia para todos)

▶ FATALISTA: nega a liberdade e, portanto, a responsabilidade.


▶ A pessoa que está na atitude fatalista não acredita ser possível agir.
▶ PROVISÓRIO: nega a responsabilidade e, portanto, faz da liberdade
mera libertinagem.
A pessoa que está na atitude provisória terá como mote a ação. Ela
acredita que tudo gira em torno da ação dela.

PENSAMENTO COLETIVISTA

Aqui a pessoa não tem opinião própria. Sendo assim, ela se deixa absorver
pela massa
▶ COMUNIDADE: local no qual as pessoas são vistas na sua unicidade e
na sua irrepetibilidade.
▶ Exemplo.: Analogia do mosaico (cada peça tem a sua função e sua
beleza consiste justamente na diferença que existe entre as peças). Para
Frankl, essa diferença seria o ser único e irrepetível de cada pessoa que
precisa se manifestar na comunidade.
▶ MASSA: não tolera diferença, tolera apenas uma ideia. As ideologias
constroem massa, fagocitam as consciências, castram a liberdade em prol
de uma igualdade. A igualdade não pode excluir a liberdade e as diferenças
ontológicas e vocacionais que existem. Na massa as individualidades são
aplainadas e as personalidades são sacrificadas, sempre pela tendência do
nivelamento.

“A diferença entre sociedade e comunidade de um lado, e, de


outro, massa, não pode ser bastante ressaltada. O discrime
aqui traçado concerne, sobretudo, ao que mais nos interessa no
desenvolvimento do tema, qual seja a relação entre comunidade
e massa com a personalidade do homem, com o ser pessoa.
Tal se deve ao fato de a comunidade necessitar da presença da
personalidade dela destacada e de, em contraposição, cada

12
Pós-Graduação em Logoterapia e Análise Existencial

personalidade precisar da comunidade em cujo seio – e somente


dentro dela – se poderá realizar e, pois, ser inteiramente pessoa.
Bem diferente porém é o que se sucede com a massa. Nesta,
nenhuma personalidade humana, nem sequer algo como a
pura individualidade de um sujeito, terá condições para fazer-
se valer e desenvolver-se. A massa, de preferência, prescinde
da personalidade, que para ela constitui um embaraço. Por
essa razão, combate as personalidades, reprime-as, priva-as da
liberdade, castrando essa liberdade da igualdade.” (Psicoterapia
para todos)
“Estamos vivendo em uma sociedade cada vez mais massificada,
em que o ambiente materializado e incrédulo que nos cerca
despersonaliza as pessoas; massificando-lhes a cabeça,
os costumes, os gostos e os vícios, até quase anular-lhes a
personalidade. Uma cultura global de massa, que robotiza
a juventude, criando uma série de adolescentes e jovens
consumistas, hedonistas, numa cultura materialista e pagã.”
(Francisco Faus)

FANATISMO

Trata-se de pessoas que são facilmente manipuladas e se tornam joguete


nas mãos de tiranos. De algum modo, a formação da massa proporciona
isso. O fenômeno da massa convoca o surgimento de um líder, um ídolo.
Esse líder não é virtuoso, mas tirânico e, aproveitando a formação das
massas, domina sobre elas. O homem fanático começa a viver de forma tal
esse fanatismo que as opiniões divergentes se tornam insuportáveis. Essas
pessoas se tornam intolerantes. Cresce o fundamentalismo.

“Assim como o indivíduo que pensa em moldes coletivistas olvida


a sua própria personalidade, o sujeito induzido pelo fanatismo não
enxerga o ser pessoal do outro, daquele que não sintoniza com o
seu pensamento. Não admite o pensar diferente do seu. Para ele é
válido não o entendimento de outrem, mas somente a sua própria
opinião. No entanto, o fanático nem sequer opinião própria possui.
Ele é possuído pela opinião pública. E é precisamente isso que
torna o fanatismo tão perigoso. A opinião pública se apodera tão
facilmente do fanático que, ao mesmo tempo, homens isolados,
com não menor facilidade, se apoderam da opinião pública.”
(Psicoterapia para todos)
“O homem não dispõe de um instinto que, como sucede aos
animais, lhe dite o que tem que fazer, e hoje em dia já não há
uma tradição que lhe diga o que deve fazer; em breve, também
não saberá o que quer propriamente e terá que estar preparado,
quanto antes, para fazer o que outros quiserem dele; por outras
palavras: tornar-se-á um joguete nas mãos de chefes e sedutores e

13
Vazio Existencial e Tríade Trágica Negativa | Prof. Luis Enrique

totalitários.” (Psicoterapia e Sentido da Vida)

O fanático ignora a liberdade de decisão dos outros e ignora também a


sua própria dignidade. Dentre as quatro neuroses coletivas, não só a nível
pessoal, mas também a nível social, o fanatismo é a atitude mais perigosa.
Sobre o fanatismo, no livro Logoterapia e Análise Existencial, Frankl diz:

“Todos os quatro sintomas da neurose coletiva, ou seja, a


postura existencial provisória, o posicionamento vital fatalista, o
pensamento coletivista e o fanatismo, podem ser reconduzidos
à fuga ante a responsabilidade e ao medo diante da liberdade.
Liberdade e responsabilidade, porém, constituem a espiritualidade
do homem. O homem atual, contudo, é espiritualmente enfadado
e esse enfado espiritual é a essência do niilismo.”

A logoterapia é a terapia específica, como diz Frankl, para combater o


niilismo e para ajudar o homem a se desenvolver a partir do espírito.

SUPERAÇÃO DO VAZIO EXISTENCIAL

“As coisas vão mal, mas se não fizermos o melhor que pudermos
para fazê-las progredir, tudo será ainda pior.” (Em Busca de
Sentido)

Para superar o vazio existencial é preciso:


[1] Corrigir a busca: se o vazio consiste na substituição da busca do
sentido pelo egocentrismo, logo a superação consiste em corrigir a busca,
em apelarmos para a mobilização da vontade de sentido e a afirmação do
sentido incondicional da vida. Para vivermos verdadeiramente como pessoas,
devemos afirmar o sentido incondicional da vida, o que significa afirmar que
a vida tem sentido sob quaisquer circunstâncias.
[2] Combater a visão hedonista: é preciso parar de ficar fazendo conta
do quanto as coisas que nos acontecem nos dão prazer e desprazer. Não é o
prazer nem o desprazer que deve nos mover.
[3] Cumprimento das nossas obrigações: só consegue cumprir as
obrigações aquele que for capaz de ouvir os questionamentos da vida. A vida
convoca, é preciso saber ouvir os chamados. Na medida em que se escuta o
chamado e se caminha em sua direção – através da realização de valores – se
entende que a vida é tarefa e nossa missão é cumprir essa tarefa.
Depois de sua soltura, Frank, experimenta um estado terrível de dor e
angústia (sintomas de vazio existencial). Foi o trabalho, o cumprimento das

14
Pós-Graduação em Logoterapia e Análise Existencial

suas tarefas, que preservou Viktor Frankl da morte depois dos campos de
concentração.
[4] Realização de valores: realizar valores (criativos, vivenciais e atitudinais)
deve ser o alvo das nossas intenções.
[5] Viver a autotranscendência: a autotranscendência é a essência da
nossa existência. O homem vive por seus ideais e valores e a existência
humana, diz Frankl, não é autêntica ao menos que seja vivida de maneira
autotranscendente. A autotranscendência é a capacidade que temos de
esquecer de nós mesmos e fazermos algo por alguém. Sempre que somos
solicitados, diante de uma situação que nos cabe, que nos convoca, devemos
ter uma atitude de prontidão, de serviço.
[6] Revitalização das instituições: vivemos uma crise institucional e, sem
boas instituições, não conseguimos manter e sustentar as boas tradições.
Eliminar as boas instituições é um passo fundamental para eliminar as
boas tradições, pois as instituições saudáveis fomentam as boas tradições,
propagando os bons ensinamentos. São Josémaria Escrivá diz que a crise
que vivemos é uma crise de santos, e os santos são formados nas instituições.
[7] Afinar as consciências: Frankl diz que uma consciência vívida e
ativa constitui também a única coisa que capacita o homem a resistir
às consequências de um vazio existencial, a saber o conformismo e o
totalitarismo.
[8] O suporte interior na eternidade: Se o nosso suporte estiver somente
nas realidades mais baixas, materiais e imanentes, se o nosso suporte não
estiver na eternidade, tudo se torna fugaz, tudo se perde.

15
Vazio Existencial e Tríade Trágica Negativa | Prof. Luis Enrique

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS E OUTROS

▶ Insegurança, medo e coragem (Rafael Cifuentes)


▶ Logoterapia e Análise Existencial - Textos de seis décadas
▶ Sede de Sentido (Viktor Frankl)
▶ Viktor Frankl - Comunicação & Resistência (Guillermo Pareja Herrera)
▶ Sobre o sentido da vida (Viktor Frankl)
▶ Psicoterapia para todos (Viktor Frankl)
▶ Evasivas admiráveis - Como a psicologia subverte a moralidade
(Theodore Dalrymple)
▶ Admirável mundo novo (Aldous Huxley)
▶ A rebelião das massas (Ortega y Gasset)
▶ Filme: O quarto sábio

16

Você também pode gostar