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INSTITUTO LUTERANO DE ENSINO SUPERIOR DE ITUMBIARA

CURSO DE BACHARELADO EM PSICOLOGIA

AMANDA CRISTINA DA SILVA


CIBELLY PEREIRA PIRES
GISELLE FERREIRA DE OLIVEIRA
ISABELA COSTA PIRES
IZABEL CRISTINA SILVA BELONI
LEIDIANE PATIELI TIAGO BEIRIGO
TALITA OLIVEIRA SILVA

PERDA GESTACIONAL – O PAPEL DO PSICÓLOGO NA MATERNIDADE

Itumbiara, 2020
AMANDA CRISTINA DA SILVA
CIBELLY PEREIRA PIRES
GISELLE FERREIRA DE OLIVEIRA
ISABELA COSTA PIRES
IZABEL CRISTINA SILVA BELONI
LEIDIANE PATIELI TIAGO BEIRIGO
TALITA OLIVEIRA SILVA

PERDA GESTACIONAL – O PAPEL DO PSICÓLOGO NA MATERNIDADE

Projeto de pesquisa submetido ao Curso de


Bacharelado em Psicologia do Instituto Luterano de
Ensino Superior de Itumbiara, Goiás.

Prof.ª, Dra. Orientadora Yasmin L. Queiroz Santos

Itumbiara, 2020
INTRODUÇÃO

A morte de um filho antes ou logo depois do nascimento rompe com a ordem


natural da vida, assim como interrompe os sonhos, as esperanças, as expectativas e as esperas
existenciais que normalmente são depositados na criança que está por vir.
A perda de um bebê ainda durante o período gestacional causa reações
diversas, comumente, muito sofridas. A morte do produto da gestação antes da expulsão ou de
sua extração completa do corpo materno, independentemente da duração da gravidez.
(Nazaré, Fonseca, Pedrosa & Canavarro, 2010).
O presente projeto pauta-se como tema do luto gestacional tendo sido
escolhido pelo grupo, devido a questões sociais que causam preocupação, e sempre é
conhecido como um problema na saúde pública, especificando e refletindo sobre a
importância do psicólogo no luto da maternidade e nas perdas gestacionais.
Ter um profissional de saúde atento e disponível para ouvir este tipo de relato,
permeado de medo e insegurança quanto à possibilidade de conseguir gerar um bebê,
caracteriza uma assistência humanizada. A assistência humanizada no contexto da perda
gestacional não deve se preocupar apenas com a expressão da dor física decorrente do
procedimento médico realizado, mas sim deve se fazer presente oferecendo escuta e
acolhendo também a dor psicológica, o que é essencial para a elaboração do luto, tanto para a
mãe quanto para a família que assim a acompanha.
Sendo assim, o presente projeto tem como objetivo, investigar as reações
psíquicas em mães após a perda gestacional e como o psicólogo pode contribuir para uma
vivência menos traumática nessa fase.
Ao analisar por meio de pesquisas, (1ISABELA) os diversos casos de situações
que levam a essas perdas gestacionais), o presente projeto tem como objetivos específicos:

 Identificar o papel do psicólogo na vida dessas mães, após a perda


gestacional;
 Verificar a importância do apoio social e familiar na perda gestacional;
 Conhecer e exemplificar as práticas integrativas, oferecidas pela rede
pública (SUS) da Secretaria da Saúde que auxiliam mulheres e a família a superar o luto
causado pelas perdas gestacionais.
REFERENCIAL TEÓRICO

PRINCIPAIS CAUSAS DE PERDA GESTACIONAL

Embora a perda gestacional seja considerada comum para a medicina, já que de


acordo com as estatísticas, 1 em cada 4 gestações não vão a diante, essas perdas deixam
muitas marcas na família que a sofre. Muitas são as causas dessas perdas, que nem sempre são
causadas por fatores naturais.
A perda gestacional é a complicação mais comum da gestação, definida como a
remoção do embrião ou do feto antes de atingir a viabilidade, com idade gestacional menor
que 20 semanas ou peso menor que 500 gramas. Dentre as causas mais comuns estão idade
materna avançada, alcoolismo, tabagismo, peso materno, aborto espontâneo prévio, fatores
genéticos. (Rev Med Minas Gerais 2018; 28: e-1930).
A ocorrência de uma perda gestacional espontânea antes da 20ª semana é
relativamente comum. Muitas vezes as mulheres que sofrem com essa permanecem um longo
tempo em busca de um melhor entendimento do que pode estar ocorrendo e quais são os
possíveis tratamentos.
Em 2008, a Sociedade Americana de Medicina Reprodutiva definiu a perda
gestacional recorrente como a ocorrência de 2 ou mais perdas da gestação com menos de 20
semanas. O que muitos não sabem é que duas ou mais perdas da gravidez consecutivas antes
de 20 semanas de gestação ocorrem em 2 a 4% dos casais em idade de reprodução. No Brasil,
em 2014, houve cerca de 3 milhões de nascimentos, com uma estimativa de cerca de 90.000
novos casais com quadro de perda gestacional recorrente.
Ao contrário do que se imagina, a ocorrência dessas anomalias é muito comum,
afetando cerca de 47% dos embriões gerados em mulheres de 30 anos de idade. Nessas
situações os casais tendem a produzir embriões com alterações cromossômicas numa taxa
maior do que a normal para a população geral na mesma faixa etária. Ainda em relação as
alterações genéticas, podemos citar as doenças monogênicas, nas quais o indivíduo apresenta
alterações em determinados genes, o que causa doenças específicas. Embora essas
modificações sejam compatíveis com a vida, a doença se manifesta em algum período,
podendo muitas vezes levar ao óbito precoce ou à uma qualidade de vida muito ruim.
Principais causas:

 Genéticas
 Endócrinas (Hormonais)
 Anatômicas
 Infecciosas
 Hematológicas (Trombofilias)
 Imunológicas
 Ambientais
 Estado nutricional
 Desconhecidas

O PAPEL DO PSICOLOGO APÓS A PERDA GESTACIONAL

De acordo com Carvalho e Meyer (2007), diante da perda gestacional, faz-se


necessário identificar as vulnerabilidades e riscos dos pais que perderam o filho, e
posteriormente dos familiares e até da equipe médica, que pouco viabiliza a expressão do
luto, o desamparo se inicia na própria instituição hospitalar, sendo assim para que se
apropriem da situação vivenciada, para posteriormente conseguirem falar e assimilar a
situação da perda e manifestações do luto partindo para a aceitação do ocorrido é
imprescindível e necessário a integração e o manejar do psicólogo nos momentos iniciais do
luto. “A psicologia entende que para dissipar a dor psíquica de uma perda, é necessário que
ela seja dita, vivida, sentida, refletida e elaborada, mas nunca negada” (Gesteira et al, 2006,
p.465)
Por ser um momento difícil e repleto de fortes emoções, a perda de um filho
exige dos pais e familiares bastante força e coragem, não sendo incomum a mãe passar pela
inadequação diante do seu papel feminino com fortes sentimentos de fracasso, incapacidade e
inferioridade que abalam sua autoestima, capacidade maternal e sua feminilidade. O pai
também é informado da morte do filho, normalmente de uma forma pouco cuidadosa, devido
ao gênero masculino, espera-se coragem e força do progenitor, que costuma não encontrar
acolhida para expressar a dor pela qual está passando. Bartilotti (2007).
Segundo Simonetti (2004), os estágios do luto descritos por Kluber-Ross:
negação, raiva, barganha, depressão e aceitação, não seguem uma ordem , porque o impacto
do luto na família depende de fatores como a cultura em que se está inserido, o ciclo de vida
familiar, as crenças religiosas entre outras questões que afetam a família. E se tratando de um
luto gestacional o reconhecimento social e a aceitação da dor familiar é geralmente negada e
desconsiderada. Carvalho e Meyer (2007) afirmam que os sentimentos mais presentes nessas
famílias são de culpa, tristeza e raiva.

De acordo com Duarte e Turato (2009):

A construção de vínculos afetivos fortes e de recordações de


convivência mútua fica impossibilitada, uma vez que lembranças não
podem ser evocadas posteriormente e a ausência da criança é
profundamente sentida, como se fosse retirada parte do corpo. Essa
ausência de lembranças também pode trazer a sensação de que a
criança foi alguém que não existiu. (p.487)

Cabe ao psicólogo facilitar o desenrolar dos fatos diante de uma escuta


sensível, sem constrangimentos e interpelações precipitadas, proporcionando a expressão das
emoções, no desenrolar progressivo do luto, respeitando o psiquismo da interpretação da
morte, ajudando os pais a nomearem a sua dor, evitando maiores sofrimentos para si mesmos
e para gerações futuras. Iaconelli (2007)
Conforme Carvalho e Meyer, (2007), os norteadores do atendimento
psicológico consiste em:

-Conhecer a história da gestação;


- Entender se houve ou não intercorrências durante a gestação;
- Identificar se há rede de apoio e auxiliar na construção de novas redes se necessário;
- Dar voz ao sofrimento quanto à dor dos pais e familiares que perderam a criança,
reconhecendo e valorizando o que está sendo vivenciado;
- Identificar e conhecer que planos, sonhos e projetos que já existia para essa criança, como
também, buscar novos planos, sonhos e projetos diante da realidade em que essas pessoas se
encontram;
- Compreender medos, preocupações e culpas que possam envolver os pais e familiares,
oferecendo suporte e apoio quando necessário;
- Proporcionar a despedida do bebê, favorecendo ver, nomear, vestir a criança, como também
organizar rituais fúnebres e momentos de despedida de acordo com as crenças da família;
- Não reforçar “a negação social” que existe diante da perda de um bebê;
- Cuidar para que não haja estímulo à pressa para uma nova gestação;
- Não incentivar o silêncio e o não dito;
- Garantir a essas famílias um espaço de expressão dos sentimentos, para que o luto possa ser
elaborado e cursar favoravelmente, sem deixar maiores sequelas emocionais nos pais,
familiares e bebês futuros;
- Inserir a equipe de saúde neste processo é uma ferramenta facilitadora para se oferecer uma
assistência mais humanizada;
- A marcação de atendimento ambulatorial para rastreamento de transtornos psicopatológicos;
-acompanhamento psicoterápico se houver necessidade;
- A elaboração do luto do bebê precisa ocorrer de forma a devolver a saúde mental e a
reestruturação psíquica a todos os que sofreram com essa perda.

A IMPORTÂCIA DO APOIO SOCIAL E FAMILIAR NA PERDA GESTACIONAL

O momento em que o apoio é dado também é importante. Um comportamento


de apoio dado precocemente pode evitar que o indivíduo desenvolva estratégias pessoais para
lidar com a situação, o que poderia reduzir a solicitação de ajuda no futuro. Por outro lado, o
apoio dado tardiamente pode levar o indivíduo a um sentimento de fracasso.
Além disso, o apoio social está relacionado ao estresse experienciado pelo
indivíduo, de modo que o impacto de um evento depende de como este é percebido por ele,
Por exemplo, um pequeno apoio social pode ter pouco impacto sobre mães que vivenciam
pouco estresse, enquanto um apoio social moderado pode ter um grande impacto se elas
estiverem sujeitas a um estresse elevado.

PERCEPÇÃO DO APOIO FAMILIAR E DA EQUIPE DE SAÚDE DIANTE DA


PERDA GESTACIONAL

De maneira geral, a presença dos familiares tem papel fundamental no suporte


fornecido à mulher que perdeu um filho. Ter uma pessoa próxima que demostre preocupação
e que forneça apoio neste momento de desamparo é fundamental para o equilíbrio emocional
da mulher (Carvalho & Meyer, 2007). Ao realizar as entrevistas, ficou bastante evidente o
quanto as mulheres valorizavam a presença e o apoio fornecido pelas pessoas próximas a ela.
Nos casos em que o óbito fetal ocorre num momento mais avançado da
gestação quando deve ser realizado o parto, seguido do sepultamento do bebê, existem,
objetivamente, decisões a serem tomadas, questões burocráticas a serem resolvidas e recursos
financeiros a serem dispendidos. Neste momento, geralmente, algum membro da família é
“eleito” para resolver estas questões, o que mais uma vez reafirma a importância da rede de
apoio nestas circunstâncias.
Não só no primeiro momento, mas também após a alta hospitalar, são os
familiares e/ou amigos que estão em contato direto com a mulher enlutada e que poderão
fazer toda diferença no processo de luto pela perda (Santos et al., 2012; Nazaré et al., 2010).
No relato abaixo a entrevistada fala sobre o momento seguinte a alta hospitalar: “[...] Acho
que vai ser tranquilo, até porque eu vou ficar uns dias com minhas tias, elas vão me dar uma
força” (Miriã, 28 anos, primigesta/ primeira perda gestacional).
Com a perda gestacional a mulher fica, comumente, fragilizada física e
emocionalmente. Tendo isso em vista, podemos perceber que a dor que incide no corpo
devido ao processo de perda e/ou procedimentos médicos realizados vai além da dor física,
como aponta a afirmativa de Isabel: “Eu chorei bastante porque dói na alma” (Isabel, 43 anos,
mãe de dois filhos). Assim, o acolhimento, a atenção e o suporte fornecido por toda rede de
apoio da mulher enlutada, bem como pelos profissionais de saúde, durante e após a alta
hospitalar, certamente auxiliam na elaboração da perda e ajuda na vivência simbólica do luto.
Exercitar uma visão mais holística acerca do paciente, evocando em si uma
preocupação com a assistência integral pautada em diferentes ações que demostrem atenção e
estima pode contribuir para que a paciente se sinta segura e bem assistida pela equipe. Logo
na assistência, é de fundamental importância não se considerar somente os cuidados com o
corpo que sofreu a perda, mas também com a mulher que sofre pela perda.
Assim, como a gente vê as pessoas tratando a gente como gente, como pessoa
que, de certa forma, teve um… algum tipo de sofrimento, embora, muitas vezes eles não
possam calcular, medir a proporção desse sofrimento, mas demostram atenção [...] aqui me
senti um ser humano mesmo. Sabe, é o que me ajudou muito mesmo, nesse momento, porque
está muito recente, a me sentir bem tranquila, porque faz uma diferença enorme o trato das
pessoas com a gente (Isabel, 43 anos, mãe de dois filhos).
Torna-se indispensável destacar a importância deste relato, pois indica a
necessidade de a equipe de saúde estar sensível às demandas físicas, emocionais e sociais das
pacientes, proporcionando, assim, uma assistência integral e de qualidade.

PRÁTICAS INTEGRATÍVAS OFERECIDAS PELA REDE PUBLICA DE SAÚDE


(SUS) QUE AUXILIAM MULHERES E SUAS FAMILIAS A SUPERAREM O LUTO
CAUSADO POR PERDAS GESTACIONAIS
Segundo o documento Politica Nacional de Atenção Integral a Saúde da
Mulher a saúde envolve muitos aspectos como meio ambiente, lazer, alimentação, condições
de trabalho, moradia e renda. As mulheres, em especial possuem esses problemas agravados
pela discriminação nas relações de trabalho e a sobrecarga com o trabalho doméstico, outras
questões como raça, etnia, e situação de pobreza destacam essas desigualdades. As mulheres
vivem mais que os homens porem adoecem mais, devido a vulnerabilidade a certas doenças e
a discriminação na sociedade, para tentar amenizar esses aspectos o governo cria as políticas
públicas para a proteção da mulher.
A definição de políticas públicas tem desencadeado uma série de discussões,
posto que ela expressa interesses antagônicos na relação entre Estado e sociedade, Segundo
Lima ( 2016) elas devem estar voltadas ao “ser humano, seja ele quem for, [pois] é um ser
social e, como tal, dotado de dimensões emocionais, cognitivas e de competência de
aprendizagem, isso deve ser ponderado pelas políticas públicas.
Segundo Lima (2016) A política de Saúde, garantida na Constituição Federal
(BRASIL, 1988) determinou a construção de um sistema organizado hierarquicamente,
denominado Sistema Único de Saúde (SUS). Esse sistema foi regulamentado na década de
1990, com a promulgação das Leis Orgânicas da Saúde (LOS) n.8.080 (BRASIL, 1990a) e
Lei n.8.142 (BRASIL, 1990b). Denota-se que estas Leis foram fundamentais nos
direcionamentos para a operacionalização do sistema de saúde, visto que definiram os
princípios, objetivos e diretrizes do SUS.
Segundo o Ministério da Saúde O Sistema Único de Saúde (SUS) é um dos
maiores e mais complexos sistemas de saúde pública do mundo, abrangendo desde o
simples atendimento para avaliação da pressão arterial, por meio da Atenção Primária, até o
transplante de órgãos, garantindo acesso integral, universal e gratuito para toda a população
do país. Com a sua criação, o SUS proporcionou o acesso universal ao sistema público de
saúde, sem discriminação. A atenção integral à saúde, e não somente aos cuidados
assistenciais, passou a ser um direito de todos os brasileiros, desde a gestação e por toda a
vida, com foco na saúde com qualidade de vida, visando a prevenção e a promoção da
saúde.

Segundo o documento Política Nacional de Atenção Integral á saúde da


Mulher- Princípios e Diretrizes (2004) Em 1984, o Ministério da Saúde elaborou o Programa
de Assistência Integral à Saúde da Mulher (PAISM), marcando, sobretudo, uma ruptura
conceitual com os princípios norteadores da política de saúde das mulheres e os critérios para
eleição de prioridades neste campo. O PAISM incorporou como princípios e diretrizes as
propostas de descentralização, hierarquização e regionalização dos serviços, bem como a
integralidade e a equidade da atenção, num período em que, paralelamente, no âmbito do
Movimento Sanitário, se concebia o arcabouço conceitual que embasaria a formulação do
Sistema Único de Saúde (SUS). O novo programa para a saúde da mulher incluía ações
educativas, preventivas, de diagnóstico, tratamento e recuperação, englobando a assistência à
mulher em clínica ginecológica, no pré-natal, parto e puerpério, no climatério, em
planejamento familiar, DST, câncer de colo de útero e de mama, além de outras necessidades
identificadas a partir do perfil populacional das mulheres.
Segundo a Cartilha de Orientação ao Luto Parental escrita pela ONG Maffini
(2013) Precisamos garantir que as equipes de saúde conheçam os preceitos básicos de conduta
nessas situações, capacitar e acompanhar os profissionais nos hospitais para que possam
sustentar e apoiar famílias nessa situação de crise; orientar para que tenham condutas
humanizadas não somente no papel, mas também no trato, no olhar e na escuta dessas
famílias. Atualmente há pouco ou nenhum apoio dos profissionais no atendimento hospitalar
inicial e, quando recebido, acontece apenas nos primeiros momentos após a perda. Em
contrapartida, a assistência profissional é um ponto importante relatado por muitas famílias
que perdem seus filhos, trazendo à reflexão o valor de um atendimento eficaz e acolhedor,
bem como as consequências da forma como a mulher enlutada vivencia a situação,
especialmente na perda perinatal, quando ela provavelmente permanecerá internada.
Segundo a Cartilha de Orientação ao Luto Parental escrita pela ONG Maffini
(2013) Há necessidade de a equipe de saúde estar sensível às demandas (não apenas físicas)
dessas pacientes, oferecendo assistência integral, humanizada e abrangente, contribuindo
assim para que a mulher se sinta segura e bem assistida. Os profissionais de saúde relatam
despreparo na formação para lidar com este tipo de luto e, devido à falta de conhecimento, se
envolvem pessoalmente na situação ou esquivam-se do atendimento. Já a psicologia, com
enfoque no luto, tem um longo caminho até estar devidamente inserida nos serviços de saúde.
Vale lembrar que, atualmente, não há nenhuma assistência específica para mulheres que
perdem filhos no Sistema Único de Saúde (SUS).
Segundo a Cartilha de Orientação ao Luto Parental escrita pela ONG Maffini
( 2013) Podemos citar aqui os grupos de apoio psicológico realizados nas Unidades Básicas
de Saúde (UBS), que reúnem pessoas com várias realidades (dependentes químicos, por
exemplo), fazendo as famílias vivenciarem toda a angústia do filho que morreu em
decorrência disso. Então fica a pergunta: a família, vulnerável socialmente, deve buscar ajuda
aonde? O acolhimento sensível a todas as famílias que perdem filhos é possível! Percorrendo
um longo caminho em direção à humanização do luto parental, por meio de conhecimento e
atualização de toda a rede de apoio e dos profissionais inseridos nesse contexto (enfermeiros,
médicos e até o serviço funerário), bem como da rede familiar e social que dará atenção
posterior.
Segundo Jessyca Lima (2017) apesar dos inúmeros avanços em prol
da melhor qualidade de vida da mulher na sociedade e dos muitos direitos que se pode
conquistar durante esse tempo a política de acolhimento a mulheres que sofrem a perda
gestacional ainda se encontra impensada e inexistente, pois segundo a Política Nacional de
Atenção Integral a Saúde Mulher ( PNAISM) não traz em sua maneira de atuar nenhum
serviço de apoio que possa atender mulheres diante do luto causado pela perda gestacional.
A política Nacional de Atenção Integral a Saúde da mulher é um órgão
que apresenta contribuições consistentes no apoio a uma melhor qualidade de vida e saúde
da mulher, não pensou-se em nenhuma maneira ação ou legitimação política por parte do
Sistema Único de Saúde (SUS) que pudesse proporcionar para essas mulheres que sofrem o
luto pela perda gestacional uma continuidade no atendimento pós perda que pudesse cobrir o
atendimento completo, ou seja, durante o seu estado gravídico-puerperal até a morte do seu
bebe no contexto hospitalar na maternidade. MINISTÉRIO DA SAÚDE (2011) apud Jessyca
Lima (2017)

Uma abordagem sobre esse aspecto do luto materno na PNAISM seria


relevante, pois a essa mesma política considera que o bem estar da
saúde da mulher perpassa, também, a questão de gênero e saúde
mental. Antes do processo de perda gestacional e/ou neonatal
acontecer, a mulher já estava inserida em um contexto
socioeconômico, cultural e afetivo específico, desempenhando papéis
nos mais variados contextos. Como ficam esses papéis após a perda do
filho? Essas são algumas questões que precisam ser colocadas como
reflexão para se pensar uma nova política de acolhimento das
pacientes em luto, a fim de que seja prestado um apoio profissional
necessário à mãe, e, se possível, também à família, a fim de que ela
possa retomar os seus espaços, tendo o apoio do seu meio social e de
trabalho. LIMA (2017 P.31)

Oferecer um serviço assistencial público nesse contexto de luto


materno e além disso discutir a perda gestacional e até mesmo neonatal para a vida das mães
como uma real demanda que exige a atuação dos profissionais de saúde que seria muito bem
executada se feita em parceria com as famílias e a sociedade em geral daria a essas mães a
oportunidade de um atendimento mais humanizado. Jessyca Lima (2017)
A humanização segundo o Ministério da Saúde (2013) apud Jessyca
Lima (2017) por meio do (PNAISM), vai muito mais além do que tratar bem o paciente, a
humanização por sua vez precisa de instrumentos e princípios que promovam a qualidade de
atenção á saúde, onde a saúde das mulheres seja reconhecida nos seguintes aspectos: o de bem
estar físico, o de bem estar psicológico e por último o de bem estar social. É necessário que se
priorize também uma organização de sistema de referência e de contrarreferência, para que se
possa dar continuidade nesse atendimento especifico inteiramente na rede pública de saúde e
que haja uma área de capacitação técnica dos profissionais e dos funcionários e que estes por
sua vez possam pactuar no acolhimento humanizado além de ações educativas que
contemplem de maneira completa as usuárias desse serviço de saúde e também a sua
comunidade.
Segundo Nakamura - Pereira (2013) existe algumas melhorias no registro e no
fluxo de informações do SIH-SUS que podem contribuir para melhorar o desempenho dessa
base de dados na vigilância epidemiológica. Por exemplo, é possível reduzir os obstáculos
relacionados a complicações dos partos. Os profissionais em tempo integral devem ser
encorajados a codificar quando tiverem alta do hospital e usar áreas de diagnóstico
secundárias para codificação, quando possível.
No entanto, a estratégia que visa evitar a ultrapassagem do limite de
ressarcimento do SIH-SUS para cesárea em função do hospital não omitir informações
visando evitar perdas, o que causará preocupação no âmbito do acompanhamento da saúde
materno-infantil. Da mesma forma, há relatos de que a recusa em aceitar a correspondente
AIH (autorização da internação hospitalar), como uma das motivações pode atingir o limite
máximo mensal recomendado para cesárea, útil para captar gestantes e complicações
maternas. No formato atual, não permitir auditorias de AIH com base no SIH-SUS é um
processo excessivamente caro e implica na escolha de métodos que podem comprometer a
validade das informações. A mesma AIH (envolvendo um único caso clínico) pode ser
rejeitada várias vezes até ser finalmente aceita, ou mesmo rejeitada definitivamente.
Considerando que o banco realmente tem todos os "itens" rejeitados da AIH,
cada uma dessas "rejeições" deve ser avaliada separadamente e a opção por incluir um desses
"itens" deve ser feita. Por exemplo, considerar a primeira apresentação pode causar
problemas, pois a rejeição pode ter ocorrido por falta de informações importantes levando a
criança à óbito.
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Encontro, 15, (22). Universidade Católica de Brasília – UCB

16. file:///C:/Users/Usu%C3%A1rio/Downloads/e1930%20(1).pdf
17. https://www.hospitalviladaserra.com.br/as-principais-causas-de-aborto/
18. http://g1.globo.com/sao-paulo/itapetininga-regiao/noticia/2013/05/aborto-espontaneo-
atinge-ate-20-das-gestacoes-ate-22-semana.html
19. https://doi.org/10.1590/S1413-73722008000400016 

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