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PERIGOSAS NACIONAIS

REDENÇÃO E
DESEJO
Ariela Pereira
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

Copyright© 2016 Ariela Pereira

Todos os direitos reservados de propriedade


desta edição e obra são da autora. É proibida a
cópia ou distribuição total ou de partes desta obra
sem o consentimento da autora.

A violação dos direitos autorais é crime


estabelecido na lei n°. 9.610/98 e punido pelo
artigo 184 do Código Penal.

1º Edição
2018

PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

PERIGOSAS ACHERON
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ÍNDICE

PRÓLOGO
CAPÍTULO I
CAPÍTULO II
CAPÍTULO III
CAPÍTULO IV
CAPÍTULO V
CAPÍTULO VI
CAPÍTULO VII
CAPÍTULO VIII
CAPÍTULO IX
CAPÍTULO X
CAPÍTULO XI
CAPÍTULO XII
Lowell
CAPÍTULO XIII
CAPÍTULO XIV
CAPÍTULO XVI
CAPÍTULO XVII
CAPÍTULO XVIII
CAPÍTULO XIX
CAPÍTULO XX

PERIGOSAS ACHERON
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CAPÍTULO XXI
CAPÍTULO XXII
CAPÍTULO XXIII
CAPÍTULO XXIV
CAPÍTULO XXV
CAPÍTULO XXVI
CAPÍTULO XXVII
CAPÍTULO XXVIII
EPÍLOGO
PROMOÇÃO
AGRADECIMENTOS

PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

PRÓLOGO

Lowell

Era um dia de sábado ensolarado, estávamos


no haras do meu pai, em Wellington. Eu gostava
dos finais de semana, passava os dias esperando por
ele. Gostava de ir para o haras, onde podíamos
aproveitar o ar puro, o silêncio gostoso e os banhos
no lago. Mas, principalmente, eu gostava de ter
mais tempo para ficar com Madison, sem as horas
na escola atrapalhando. Ela era filha da nossa
empregada Ivone, tinha onze anos, dois a menos
que eu e morava conosco desde que eu me
lembrava da minha existência.
A primeira vez que cuidei de Madison,
tínhamos cinco e sete anos de idade, na ocasião em
que o pai dela, nosso antigo motorista, morreu de
um derrame cerebral. Depois daquele dia, em que a
vi tão fragilizada, desolada, sofrendo sozinha,
prometi a mim mesmo que a protegeria de tudo que
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pudesse fazê-la sofrer novamente. Eu seria o seu


herói, não deixaria nada de mal acontecer a ela.
Eu não entendia porque não podíamos estudar
na mesma escola, para assim passarmos mais
tempo juntos. Madison estudava na escola pública,
enquanto eu frequentava a escola particular, de
modo que pouco nos víamos durante a semana e os
momentos mais especiais da minha vida eram os
que eu passava ao lado dela.
Eu gostava de tudo nela, da sua beleza exótica,
com a pele morena, herdada da mãe brasileira e os
olhos tão verdes que pareciam duas lâmpadas
acesas, herdados do pai americano. Sua voz era
linda, meio rouca, seus cabelos negros estavam
sempre soltos, meio bagunçados, só que era uma
bagunça bonita. Madison não era metida e vaidosa
como as outras meninas que eu conhecia, pelo
contrário, ela era simples, inteligente e perfeita, a
única pessoa no mundo que parecia me entender.
Era a minha melhor amiga, uma parceira para todas
as minhas aventuras.
Eu passava a semana esperando pelo sábado,
quando podíamos vir para o haras e ficarmos mais
tempo juntos, só que aquele sábado não estava
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sendo como os outros. Meu pai havia decidido


trazer seu filho mais velho, o filho que tivera com
outra mulher, antes de casar-se com minha mãe, o
causador de muitas brigas entre os meus pais,
aquele que fui ensinado, pela minha mãe, a odiar e
a chamar de bastardo. O nome dele era Edward,
tinha quatorze anos, era muito maior e mais forte
que eu e estava roubando toda a atenção de
Madison para ele, impressionando-a com os
cavalos, mostrando-lhe o quanto montava bem. Eu
nem sabia que Madison gostava de montaria.
Quando estávamos no haras geralmente nos
divertíamos fazendo outras coisas. Nadar era a
minha atividade preferida, porque eu podia vê-la
com pouquíssima roupa.
Quanto mais observava a forma como ela
sorria para o meu meio-irmão, admirando-o,
deixando de se divertir comigo para ficar com ele,
mais eu ficava furioso. Madison era minha amiga,
não dele. Aquele bastardo que fosse arranjar as suas
próprias companhias em outro lugar.
Depois do almoço meus pais saíram para
resolver alguns negócios, levando o meu irmão
mais novo, deixando nós três sob os cuidados de
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Ivone. O maldito bastardo continuava tendo mais a


atenção de Madison do que eu. Minha vontade era
de dar uma surra nele, para que ela percebesse o
quanto eu era melhor, mas o cara era enorme,
certamente me bateria mais. Eu precisava provar a
ela que era melhor de outra forma. Se ela o
admirava porque ele montava bem, eu precisava
montar melhor. Não tinha muita familiaridade com
os cavalos, como ele, mas eu a impressionaria se
montasse o puro sangue árabe que meu pai acabara
de adquirir, pois era o cavalo mais caro, maior e
mais bonito de todo o haras. Só que antes eu
precisava entrar na cocheira e apenas Ivone tinha a
chave.
Fui até a cozinha do casarão, onde a encontrei
lavando a louça do almoço e pedi que me desse a
chave.
— De jeito nenhum! Aquele cavalo é muito
valioso para o seu pai. De todas as recomendações
que ele me fez antes de sair, a primeira foi que eu
não deveria deixar vocês montá-lo. — Foi a
resposta dela.
— Mas você não precisa contar para ele. Darei
apenas uma cavalgada rápida e volto a acomodá-lo
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na cocheira. Meu pai não vai desconfiar de nada. —


Insisti.
— Arranje outra coisa para fazer, Lowell. Não
posso desobedecer a uma ordem do seu pai.
Olhei pela janela e enxerguei o maldito
bastardo montando um puro sangue inglês,
carregando Madison na garupa, agindo como se
fosse o dono dela, como se ela fosse a melhor
amiga dele e não a minha. Ambos sorriam,
pareciam tão íntimos que uma coisa ruim se
revirava dentro de mim. Era a primeira vez que ela
o via, por que estava agindo daquela forma? Por
que me deixava de lado por causa dele?
Voltei para a área externa da mansão, para
perto de onde os dois cavalgavam, tentei atrair a
atenção de Madison para mim, mas ela agia como
se eu não existisse, como se meu meio-irmão fosse
mais importante em sua vida do que eu.
Chamei-a mais uma vez, convidando-a para
jogarmos videogame na sala e mais uma vez ela
recusou, propôs que brincássemos os três com os
cavalos, mas eu não queria Edward metido nas
nossas brincadeiras, queria tê-la apenas para mim.
Percebi que a única forma de atraí-la seria
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provando que eu podia montar melhor que aquele


moleque e para isso precisava pegar o puro sangue
árabe, o melhor cavalo do haras. Então voltei para o
interior da residência, fingi puxar assunto com
Ivone, falando sobre as tarefas da escola, o assunto
preferido dela, apenas esperando que se distraísse e
quando o fez, peguei o molho de chaves que se
encontrava no bolso do seu avental, sem que ela
percebesse. Ali havia todas as chaves da casa,
inclusive a chave da cocheira que eu precisava.
Ótimo!
Eu não costumava desobedecer aos meus pais,
mas aquela situação requeria atitudes drásticas.
Além do mais, nada seria descoberto, eu daria
algumas voltas com o cavalo árabe, impressionaria
Madison e o colocaria de volta na cocheira antes
que meus pais voltassem, pelo menos foi assim que
planejei, só que nada aconteceu como deveria.
Na cocheira, encontrei o cavalo árabe, todo
branco. Era diferente dos outros cavalos devido ao
formato da cauda e da cabeça, ainda assim era só
um animal, eu não entendia o porquê de tanta
comoção em torno dele.
Relembrando as aulas de equitação que tivera
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há tanto tempo que mal conseguia me recordar,


equipei-o e o montei. Tão logo deixei a cocheira,
cavalgando o animal mais bonito do lugar, talvez
do país, não apenas Madison, mas também Edward
pararam para me observar, ambos admirados,
fascinados com a desenvoltura do puro sangue.
Acreditei, por um instante, que havia obtido êxito
em parecer melhor que o meu meio-irmão, aos
olhos de Madison, porque ela olhava para mim com
verdadeira devoção, mas de repente tudo desandou,
minha proeza se transformou em desastre, o cavalo
pareceu enfurecer-se, recusando-se a obedecer ao
meu comando. Balançou violentamente a cabeça,
várias vezes, tentando livrar-se das rédeas,
relinchou alto, sacudiu-se todo, me deixando meio
apavorado.
Madison foi a primeira a abandonar sua
montaria para vir correndo ao meu socorro. Edward
veio em seguida, mas nada pôde ser feito, a
proximidade de ambos só serviu para espantar
ainda mais o animal, que partiu em disparada,
comigo em cima, pegando uma das trilhas que
levava à imensidão do mar de grama verde, que se
estendia até onde as vistas podiam alcançar.
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Em uma velocidade absurda, passamos pela


pista de hipismo, pela pista de corrida, pela entrada
da estrada que levava ao lago, o cavalo correndo
desenfreadamente por onde a trilha larga se
estendia, cortando o verde da grama. Ciente de que
se caísse dali de cima a uma velocidade daquelas,
corria um sério risco de quebrar o pescoço, eu fazia
de tudo para me manter firme sobre a cela, o corpo
inclinado para frente, as mãos firmemente presas às
cordas das rédeas. Precisava fazer com que o
cavalo obedecesse ao meu comando e parasse, só
que o pânico dentro de mim era tão imenso que já
não conseguia direcionar as rédeas para parte
alguma, apenas me segurava para não cair.
Havia me afastado pelo menos uns quatro
quilômetros da sede do haras, quando Edward
emparelhou comigo, montando o puro sangue
inglês.
— Ei cara, precisa de ajuda aí? — Ele indagou,
alterando o tom da voz para que esta ultrapassasse
o vento que zunia em meus ouvidos.
Nada podia ser mais humilhante que depender
do cara a quem eu queria me sobressair. Pelo
menos Madison não estava por perto para assistir a
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minha derrota.
— O que você acha? Eu pareço precisar de
ajuda? — Ironizei, furioso e ao mesmo tempo com
medo.
— Puxa as rédeas. Você precisa mostrar a ele
quem manda. Faça-o parar agora mesmo.
— Ah, claro, como eu não pensei nisso antes?
Ele não está obedecendo ao comando. Se quer me
ajudar então faça alguma coisa antes que seja tarde.
Edward olhou para os dois lados, como se
procurasse uma alternativa. Nos aproximávamos
depressa dos limites da nossa propriedade, na
fronteira havia uma autoestrada pouco
movimentada, onde o cavalo só teria duas opções:
ou parava ou nos colocava em risco de sermos
atropelados.
— Pula agora! — Edward gritou, alarmado.
— Está louco? Não posso pular nessa
velocidade. Dá um jeito de parar essa fera. É você
quem entende como eles pensam.
Meu meio-irmão lançou um olhar para frente e
quando olhei novamente naquela direção
enxerguei, ao longe, a clareira que revelava a
autoestrada, na direção para a qual o cavalo seguia
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desenfreadamente.
Merda! Eu estava mesmo ferrado! Se o cavalo
não freasse, poderíamos bater em algum carro.
Maldito puro sangue árabe burro!
— Pula logo. Se não você vai morrer. —
Edward me alertou.
— Eu vou morrer se pular.
— Se pular você pode ter uma chance.
Não tive coragem de pular. Ainda fechei os
olhos e cogitei me atirar no chão, mas só conseguia
me imaginar com o pescoço quebrado, estendido
sobre o gramado. Foi então que Edward provou o
seu heroísmo, aproximou ainda mais o seu cavalo
do meu, e se jogou em cima de mim,
repentinamente, empurrando-me para o lado,
fazendo com que caíssemos juntos sobre o chão
forrado de grama, o impacto violento me deixando
meio zonzo, nos fazendo rolar bruscamente no
tapete verde imenso.
Sentei-me na grama completamente tonto pela
queda. Quando meus olhos buscaram os dois
cavalos, vi que ambos se aproximavam
rapidamente da autoestrada e não consegui
continuar olhando. Virei o rosto e no instante
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seguinte ouvi pneus cantando no asfalto, seguido


do baque violento. Mais pneus cantaram no asfalto,
sons de buzinas ressoaram freneticamente, até que
por fim tudo ficou silencioso.
Munindo-me de coragem, voltei a olhar e então
vi o puro sangue árabe estendido no meio da
estrada, uma poça de sangue se formando em torno
da sua cabeça. Ao lado dele havia um homem
examinando-o, aparentemente o motorista do
caminhão que se encontrava parado no
acostamento. Outros carros estavam estacionados
aos arredores, os motoristas saíram correndo para
ver de perto o animal estendido na pista. O outro
cavalo parecia ter dado mais sorte e conseguido
atravessar a estrada sem ser atingido, visto que não
havia nenhum sinal dele por perto.
— Será que ele morreu? — Indaguei, ao ver
Edward colocando-se em pé.
— Ele não é de ferro. Não sobreviveria a um
impacto tão forte. — Edward falou, com pesar,
como se sentisse pela vida do animal, enquanto que
eu só conseguia pensar na reação do meu pai
quando soubesse o que aconteceu.
No mínimo me puniria, não apenas por tê-lo
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desobedecido ao entrar na cocheira, mas


principalmente por ter acabado com a vida do seu
cavalo mais precioso.
Droga! Eu estava mesmo muito encrencado.
Edward me deu a mão para me ajudar a
levantar. Fiquei ali parado, observando-o enquanto
ele se aproximava do animal ferido e da pequena
multidão de pessoas que se formava em volta dele.
Após examiná-lo atentamente, olhou-me e meneou
negativamente a cabeça, confirmando que estava
mesmo morto.
Merda! Meu pai ia mesmo me castigar, das
piores formas que ele pudesse pensar, visto que
aquele cavalo era a sua aquisição mais preciosa. O
havia comprado em um leilão disputadíssimo, não
falava em outra coisa nos últimos dias a não ser
naquele maldito puro sangue árabe que havia
acabado de ser morto por minha causa.
Não demorou muito para que uma viatura da
polícia aparecesse e depois de fazerem algumas
perguntas a Edward, porque ele era o mais velho,
os policiais nos levaram de volta para o haras.
Minha nossa! As coisas não podiam ficar
piores.
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Ao chegarmos, meus pais já haviam retornado


e nos esperavam na área externa da casa. Pelo visto
Madison avisara sua mãe sobre o ocorrido e esta
ligara para eles. Ambos vieram nos encontrar assim
que a viatura estacionou e saímos. Minha mãe tinha
lágrimas nos olhos, a aflição evidente em seu
semblante enquanto me examinava,
minuciosamente, a procura de algum ferimento,
antes de me abraçar e balbuciar algumas palavras.
Ao nosso lado, meu pai ouvia atentamente o relato
de Edward sobre o que acontecera, junto com os
dois policias uniformizados. Minha punição estava
por vir.
— Você está bem moleque? — Meu pai
perguntou, seco como de costume.
— Só um pouco tonto. Acho que vou ficar
bem. — Respondi, sem conseguir encará-lo, ciente
de que estava com ódio pelo que fiz.
Naquele instante desejei ter me machucado de
verdade, só para evitar o ódio dele.
— Quem te deu autorização para entrar na
cocheira e pegar o cavalo?
Mesmo sem olhar em seu rosto eu sabia que
seus olhos duros me fuzilavam de maneira
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fulminante. Ele não estava verdadeiramente


preocupado comigo, apenas com a perda que
sofrera.
— Ninguém me deu permissão. Eu entrei lá
porque quis.
— Você não pode ter entrado lá sem ajuda de
alguém. — Minha mãe interveio, protetora como
sempre. — Você nem tem a chave da cocheira.
Diga a verdade logo. Ivone abriu a porta da
cocheira para você pegar o cavalo, não foi?
Minha mãe estava claramente me dando a
chance de me livrar da culpa por ter pego aquele
maldito cavalo. Se eu dissesse que foi Ivone quem
me deu permissão, ela seria punida, e não eu.
Receberia uma bronca do meu pai e nada mais, não
tinha nada a perder, enquanto que eu tinha muito.
— Sim ela me deu permissão. Abriu a cocheira
para mim. — Falei sem pensar direito e pela
primeira vez, desde que voltamos, meus olhos
buscaram o rosto do meu pai, procurando algum
tipo de absolvição, ou talvez aprovação.
Eu sempre tinha a impressão de que ele
admirava mais Edward do que eu, por isso quando
meu meio-irmão estava por perto a aprovação dele
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parecia mais importante que o habitual.


— Tem certeza disso, filho? O que você está
dizendo é muito grave. — Foi meu pai quem falou.
O fato de ele duvidar de mim me irritou. Se
fosse Edward, o seu precioso filho bastardo, ele não
estaria duvidando.
— Claro que tenho certeza. Eu pedi e ela abriu
a cocheira.
Foi então que percebi certa movimentação
diante da entrada da casa principal. Madison estava
lá o tempo todo, nos observando e nos ouvindo, e
acabava de correr para o interior da moradia,
obviamente muito decepcionada comigo, por
acusar sua mãe injustamente. Eu daria um jeito de
recompensá-la por colocar a mãe dela em apuros.
Daria um jeito de recompensar as duas. Faria
qualquer coisa para que Madison não me odiasse
pela minha canalhice.
Tentei ir até ela, me explicar, pedir desculpas,
olhar em seu rosto lindo e dizer que havia
sobrevivido para protegê-la de todas as maldades
do mundo, porém não tive a chance de me
aproximar, antes disso minha mãe segurou-me pela
mão e levou-me para o meu quarto, onde logo em
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seguida o médico da família apareceu para me


examinar. Por mais que eu insistisse em dizer que
estava bem, não me deixaram sair da cama.
Do meu quarto, pude ouvir a discussão entre
minha mãe e Ivone no andar de baixo. Era parecida
com as discussões que minha mãe tinha com meu
pai, por causa da mãe de Edward. Minha mãe
gritava e Ivone ficava calada, como meu pai. No
dia seguinte estaria tudo bem, como sempre. Todos
agiriam como se nada tivesse acontecido. Restava-
me pensar em uma forma de convencer Madison a
me desculpar por mentir sobre sua mãe. Ela parecia
bem chateada quando nos ouviu diante da casa.
Não me deixaram mais sair do meu quarto
naquele dia. No início da noite minha mãe trouxe o
meu jantar pessoalmente, junto com Jasper, o meu
irmão mais novo. Após me fazer comer tudo, abriu
um livro de histórias infantis e leu algumas para
nós dois, agindo como quando éramos quase bebês,
o que achei ridículo, mas que me ajudou a dormir
mais depressa, mesmo com aquele peso em meu
coração, por saber que a minha melhor amiga
estava com raiva de mim.
No dia seguinte, quando me levantei, fui direto
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para a área de serviço procurar Madison,


determinado a me desculpar. Fiquei surpreso ao ver
uma mulher desconhecida fazendo o serviço
doméstico na cozinha. Quando perguntei quem era
ela apresentou-se como Jude, a nova empregada.
Demorei um tempão para compreender que Ivone
havia sido demitida e isso não era o pior, ela tinha
ido embora e levado Madison junto, minha
Madison. Demorei outro longo tempo para
acreditar, para alcançar a compreensão de que
havia acabado de perder a minha melhor amiga, por
uma mentira que eu mesmo inventei.
Só para me certificar de que aquele pesadelo
estava realmente acontecendo, dispensei o café da
manhã e fui investigar a verdade, quando então
minha mãe confirmou que a havia demitido e que
as duas tinham partido ainda na noite anterior.
Um buraco parecia se abrir em meu peito. De
tudo o que já havia acontecido na minha vida, nada
tinha me doído mais que a possibilidade de nunca
mais voltar a ver Madison e por minha culpa, por
culpa da minha covardia.
— Mamãe, você precisa trazê-las de volta. —
Falei, com o coração apertado no peito.
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— Ivone desobedeceu a uma ordem direta do


seu pai. Não podemos ter uma funcionária assim.
Merda! Eu ia ter que falar a verdade, para não
ficar sem a minha Madison.
— Não foi ela quem abriu a cocheira, fui eu. —
Confessei cabisbaixo e envergonhado. — Eu
peguei a chave escondido no avental dela, a culpa
foi toda minha.
Muito mais calma do que eu esperava que
ficasse depois da minha confissão, minha mãe
segurou-me pela mão e me fez sentar em uma das
poltronas, acomodando-se diante de mim.
— Não repita uma coisa dessas. Você quer
mesmo que o seu pai ache que você é um
mentiroso? Quer que ele humilhe você na frente
daquele bastardo?
Se a minha mãe não fosse a mulher mais
certinha do mundo, eu acharia que ela sabia desde o
início que não fora Ivone a abrir aquela cocheira.
— Não, eu não quero, mas também não quero
ficar longe de Madison.
— Você vai conhecer pessoas melhores que
ela, filho. Pode ter certeza que daqui um mês nem
se lembrará mais que ela existe. Agora volte para a
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cozinha e tome seu café da manhã.


Ela me abraçou e depois me deixou. Cogitei
seriamente falar a verdade ao meu pai, mas não
queria ser punido e humilhado na frente do filho
que ele parecia gostar mais e perder ainda mais o
seu afeto. Então voltei para a solidão do meu
quarto, desolado, culpa e saudade recaindo sobre os
meus ombros. Ainda não podia acreditar que nunca
mais veria Madison, que não tinha mais como
protegê-la dos perigos desse mundo, ela agora
estava sozinha, sem um pai ou um irmão para
cuidar das duas e tudo por minha causa, pela minha
covardia.
Naquele dia, pela primeira vez desde que me
entendia por gente, eu chorei.

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CAPÍTULO I

Lowell, doze anos depois.

A tempestade não dava uma trégua. A chuva


estava tão grossa que eu podia ouvir os pingos
d’água batendo no vidro do carro com força.
Relâmpagos imensos cortavam o céu
esporadicamente, clareando tudo à minha volta,
permitindo-me enxergar as folhagens dos arbustos
balançando violentamente ao sabor do vento forte,
dos dois lados da estrada deserta e escura.
Obviamente fora dado um aviso de furacão, o
qual me passara despercebido e agora eu estava
correndo risco de vida por causa do meu pai,
porque desde que se divorciou da minha mãe ele
insistia em morar naquele maldito haras no fim do
mundo e eu tinha que dirigir até lá se quisesse me
reunir com ele. Embora tivesse me dado o controle
dos negócios da empresa da família — a qual eu
vinha presidindo desde que ele caíra de um de seus
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preciosos cavalos e ganhara uma lesão na coluna,


que o tornara paraplégico, prisioneiro em uma
cadeira de rodas —, exigia que eu o deixasse
inteirado de tudo.
Havíamos marcado aquela reunião para o início
da tarde, mas só consegui ter tempo de dirigir até
Wellington depois do expediente, quando já havia
anoitecido, afinal tinha muito que fazer, era
responsável por uma companhia multinacional,
praticamente sozinho. Jasper trabalhava comigo,
tecnicamente deveria me ajudar, já que era meu
irmão e tão herdeiro quanto eu, mas passava a
maior parte do seu tempo correndo atrás das
funcionárias bonitas, não tinha responsabilidade
alguma sobre os negócios. Quanto a Edward, era
como o meu pai, só queria saber de cavalos e mais
nada. Agia como se o mundo fora daquele haras
não existisse, ou não tivesse qualquer importância
para ele. Então toda a responsabilidade sobrava
para mim. Não que estivesse reclamando, pelo
contrário, eu era fascinado pelo mundo dos
negócios e definitivamente a cadeira da presidência
era o meu lugar.
A parte chata do meu mundo era aquela: ter
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que manter o meu pai atualizado de tudo. Esse era o


motivo pelo qual eu precisava ir a Wellington pelo
menos uma vez por mês, para uma fatigosa reunião
que se perdurava por horas a fio.
A tempestade se tornava mais intensa à medida
que eu me aproximava do meu destino. Faltava
cerca de quinze quilômetros para chegar ao haras
quando avistei, através do vidro embaçado, em
meio à negra penumbra que banhava a estrada, a
vaga silhueta de uma árvore caída no meio da pista,
tão perto que por pouco não consegui frear a
tempo.
— Droga! — Resmunguei entre dentes.
Ao examiná-la mais atentamente, constatei que
a árvore tomava a estrada de um lado ao outro. Não
havia por onde passar, não existia qualquer atalho
naquele trecho e eu não podia ficar parado ali,
correndo o risco de ser atingido por outro carro
com o motorista desavisado.
Minha única opção era voltar. Nem mesmo o
sinal do celular estava pegando para que eu
comunicasse à Defesa Civil sobre a estrada estar
bloqueada. E mesmo que os avisasse demoraria
horas para que a árvore fosse retirada.
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Então, dei meia volta e retornei pelo mesmo


caminho. Lembrei-me de que passara por um
hotelzinho pequeno na beira da estrada, a mais ou
menos uns dez quilômetros de distância, nas
proximidades de Palm Beach Garden. Poderia
passar algumas horas lá, pelo menos até que o
tempo melhorasse e a estrada fosse liberada. Seria
mais viável que voltar até Orlando e refazer todo o
percurso no dia seguinte.
Voltei os dez quilômetros e vi o pequeno hotel.
Era uma verdadeira espelunca, um desses
hoteizinhos típicos de beira de estrada, com um
andar apenas e uma varanda na frente da fileira das
portas dos quartos. Parecia perdido no meio do
nada. Eu só sabia que não estava abandonado
porque havia alguns carros estacionados na frente,
certamente de outros fugitivos da tempestade.
Na minúscula recepção, fui atendido por um
cara meio sinistro, magro e alto demais, com os
cabelos lisos caindo sobre os olhos e grandes
dentes que pareciam tentar saltar da sua boca. Foi
impossível olhar para ele e não me lembrar do
filme “Psicose”. O cenário era muito parecido.
Peguei o último quarto desocupado. De acordo
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com o “Norman” de plantão, estavam lotados


devido ao temporal. Muita gente fugindo da chuva
e da estrada bloqueada.
Se o lugar era feio por fora, o quarto então era
de sair correndo para nunca mais voltar. Era menor
que o banheiro do meu apartamento e não havia
nada nele além de uma cama de casal forrada com
lençóis encardidos, um abajur de cerâmica sobre o
único criado, uma poltrona velha diante da
televisão ainda mais antiga e um pequeno frigobar.
As paredes estavam horrivelmente manchadas; a
toalha dobrada sobre a cama parecia nunca ter sido
lavada e um cheiro de mofo pairava no ar. Era
arriscado inclusive se pegar alguma infecção em
um lugar como aquele. Mas eu não tinha escolha,
precisava de um lugar onde esperar a estrada ser
liberada.
Sem me arriscar a tomar um banho, para não
ter que usar a toalha mal lavada, apenas tirei o
paletó e os sapatos, puxei a barra da camisa para
fora da calça, afrouxei o nó da gravata e deitei-me
na cama desconfortável. Pela enésima vez
verifiquei o celular e descobri que ainda estava sem
sinal. Para um homem acostumado a estar sempre
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acompanhado de outras pessoas, mesmo quando


estava dormindo, ficar ali sozinho, sem celular e
sem internet, tornou-se extremamente tedioso.
Foi então que comecei a pensar no meu pai, no
quanto precisava ser rápido com ele no dia
seguinte, visto que minha agenda estava abarrotada
de compromissos de trabalho. Se dependesse de
mim, aquelas reuniões mensais não aconteceriam,
eram completamente desnecessárias, já que nada do
que ele opinava era de fato colocado em prática.
Mas ele insistia em ficar inteirado dos assuntos
relacionados aos nossos negócios, embora eu
desconfiasse que, no fundo, ele só exigia aqueles
encontros a fim de me obrigar a visitá-lo, pois do
contrário eu não o faria. Não via muito sentido em
procurar a proximidade de um sujeito com quem
não tinha qualquer afinidade. Nossa única ligação
eram os laços de sangue, os quais para mim pouco
significavam.
Eu estava lá parado, pensando no meu pai, sem
a interferência da tecnologia para me distrair, como
há muito não acontecia, quando subitamente ouvi
ruídos partindo da porta do quarto e levantei-me
sobressaltado. A maçaneta estava se movendo,
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alguém estava tentando abri-la pelo lado de fora,


um assaltante, certamente.
Era só o que me faltava.
Sem parar para pensar, procurei algo pelo
quarto com o que pudesse me defender e tudo o que
encontrei, pesado o bastante para golpear alguém,
foi o velho abajur sobre criado. Apressei-me em
desmontá-lo e segurar a peça principal, de
cerâmica, erguida no ar, pronto para me defender
de qualquer um que tentasse me atacar, embora não
seria grande coisa caso o assaltante estivesse
armado com um revólver.
Por fim, a porta foi aberta e alguém entrou,
fechando-a novamente por dentro.
Não era um assaltante, mas uma garota, que se
tremia dos pés à cabeça enquanto mantinha as
costas grudadas na porta fechada e os olhos,
carregados de súplica, cravados em seu rosto. E não
era qualquer garota, era simplesmente a mais bonita
que eu já havia visto na vida. Tinha a pele morena,
em contraste com os olhos de um verde tão claro e
translúcido que pareciam duas pedras preciosas. Os
lábios eram grossos, o nariz pequeno e arrebitado.
Os cabelos longos, ligeiramente ondulados, eram
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tão negros e brilhantes que lembravam uma cortina


de seda. Instintivamente, desci os meus olhos por
todo o seu corpo esguio, vislumbrando a silhueta
longa e as curvas bem desenhadas que ela parecia
deliberadamente tentar esconder dentro do
uniforme tosco de arrumadeira. Uma vestimenta
que nada combinava com sua aparência sofisticada.
— Quem é você e o que faz aqui? — Indaguei,
seco e firme, sem me desfazer da minha arma
improvisada.
Visivelmente apavorada, a garota esticou o
dedo indicador diante dos seus lábios, pedindo
silêncio, quando então pude ouvir a voz ríspida de
um homem partindo do corredor, do lado de fora.
— Onde está você docinho? Volte aqui! Não
adianta tentar fugir de mim. Eu vou te encontrar e
tomar o que quero. — Dizia ele.
Então, fui alcançado pela compreensão de que
ela entrara ali para se esconder de alguém que a
perseguia. Mas por que logo no meu quarto? Teria
sido escolhido por acaso, ou aqueles dois eram
cúmplices em uma tentativa de assalto?
O homem do lado de fora se aproximou tanto
da porta que nos foi possível ouvir os passos dele.
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Chamou pela garota mais algumas vezes, com a


voz rude e meio pastosa, como se estivesse
embriagado, até que por fim se afastou.
— Você ainda não respondeu às minhas
perguntas. — Exigi e só abaixei o pedaço do abajur
que segurava suspenso no ar porque o rosto dela
estava muito pálido, assustado e não quis deixá-la
ainda mais apavorada. Embora não tivesse
descartado a hipótese de que aquilo não passava de
uma armadilha, uma tentativa de assalto.
— Meu nome é Madison. Trabalho como
arrumadeira no hotel. Muito obrigada por não me
entregar, por me deixar ficar.
— Mas quem disse que eu te deixei ficar? O
cara que estava lá fora te procurando já foi. Você
pode ir também.
Seus olhos, naturalmente grandes, se tornaram
ainda maiores, surpresa e pânico refletindo-se na
sua expressão. Se ela realmente fosse cúmplice do
sujeito lá fora e tentava me comover para me
convencer a deixá-la ficar, eu tinha que admitir que
era uma excelente atriz, porque seu plano estava
quase dando certo.
— Por favor senhor, não me faça sair. Ele
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ainda pode estar lá fora.


— Para começar, quem é ele? E por que está te
perseguindo?
— É um dos hóspedes. Está completamente
bêbado e tentou me agarrar.
— E quem te garante que não vou tentar fazer
o mesmo? — Ela não disse nada, em vez disso seu
rosto ficou ainda mais pálido, o pavor se
intensificando na sua expressão, suas costas
grudando um pouco mais na porta. — Não precisa
ter medo. Não vou fazer isso. Não sou nenhum
tarado. Mas definitivamente não consigo entender
porque uma garota se arrisca a trabalhar em um
hotel de beira de estrada durante a noite, sem estar
preparada para se defender desse tipo de situação.
— Eu não trabalho durante a noite. Trabalho
no turno do dia. E recebemos poucos hóspedes
aqui. O hotel está lotado hoje por causa do
temporal e só estou trabalhando esta noite porque a
tempestade não me deixou ir para casa.
— E não tem seguranças aqui?
— Não. Como eu disse, o hotel não costuma
receber muitos hóspedes. Somos apenas Jack e eu.
Eu devia acreditar? Obviamente não. Aquela
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garota era bonita demais para ser apenas


arrumadeira de um hotel barato. Eu conhecia muito
bem mulheres como ela, lindas por fora e horríveis
por dentro. Loucas para encontrar um sujeito rico e
burro de quem arrancar o dinheiro. A única coisa
que mudava era a tática de cada uma. Algumas
preferiam se prostituir, ou fingir que estavam
apaixonadas, outras se juntavam a assaltantes, com
o intuito de atrair suas vítimas, como parecia ser o
caso daquela. Por outro lado, eu podia estar
enganado a seu respeito. Ela podia ser realmente
quem dizia ser e inocente e pura como a sua
fisionomia revelava que era. Foi levando essa
hipótese em consideração que falei:
— Não vou ficar no hotel até o dia amanhecer,
apenas até a estrada ser desbloqueada. Se quiser
pode ficar aqui. Garanto-lhe que comigo estará
segura, só não tenta nenhuma gracinha, porque
estarei preparado para me defender.
Vi os ombros dela relaxarem, como se tivesse
acabado de soltar o ar que prendia em seus
pulmões.
— Muito obrigada, senhor.
Gesticulei com pedaço de abajur na direção da
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poltrona perto da televisão, onde eu podia ficar de


olho nela.
— Sente-se. Fique à vontade.
Hesitantemente ela avançou pelo quarto — sem
que eu conseguisse desviar meu olhar da forma
como seus quadris se moviam dentro da saia tosca
do uniforme, tornando-a a saia mais interessante do
mundo da moda, pelo simples fato de estar em seu
corpo — e acomodou-se na poltrona,
obedientemente.
Sentei-me na cabeceira da cama, com as costas
apoiadas no espaldar, sem desviar os olhos dela.
Aquela garota não era apenas bonita, havia algo
mais nela, algo que eu não conseguia decifrar, certa
familiaridade talvez. Observando-a mais
atentamente, tive a impressão de que a conhecia de
algum lugar, embora não me recordasse de onde, o
que me despertou uma necessidade estranha de
saber mais sobre ela, embora esse fosse um
caminho perigoso a seguir, pois estaria caindo em
seu jogo, se aquilo fosse uma armação, e eu não
podia me distrair, afinal estava sozinho naquele fim
de mundo, sem qualquer segurança, sem sinal de
celular para pedir ajuda, com documentos
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importantes guardados no carro, dinheiro e vários


objetos de valor, o que não significava muito para
mim, mas que podia atrair a atenção de pessoas mal
intencionadas.
— Faz tempo que você trabalha aqui? —
Indaguei.
— Quase cinco anos. Não temos muitas opções
de emprego por aqui. Então peguei o que apareceu.
Sua voz era doce e calma, seu semblante
expressava inocência, mas também certa tristeza,
passando a impressão de que, apesar de não ter
mais que vinte e cinco anos, ela era uma pessoa
sofrida, algo que conseguia me afetar de forma
indesejada, o que era no mínimo surpreendente,
considerando o fato de que poucas pessoas nessa
vida eram capazes de me atingir. Menos ainda as
mulheres e suas artimanhas.
— Nunca pensou em se mudar para uma
cidade maior e tentar outra coisa?
— E quem em Palm Beach Garden nunca
pensou em se mudar para uma cidade maior? —
Ela deu de ombros, parecendo se tornar ainda mais
frágil. Assumiu um olhar meio pensativo,
desesperançoso, que me causou um desejo
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estranho, quase incontrolável, de confortá-la, tomá-


la em um abraço e dizer que no fim tudo acabaria
bem. O sentimento mais louco que já tive, afinal eu
não sabia nada sobre aquela mulher. — Todos nós
sonhamos em nos mudarmos daqui, fazermos uma
faculdade, arranjar emprego em uma companhia
multimilionária. Mas são apenas sonhos. Nem
todos têm a possibilidade de concretizá-los.
Eu seria capaz de realizar todos os seus
sonhos, baby.
Por Deus, Lowell! Mude a direção dos seus
pensamentos. Lembre-se das circunstâncias nas
quais se encontra, porra! Meu subconsciente me
alertou.
— Sempre há um jeito para tudo na vida, até
para realizarmos nossos sonhos. Se não há um
caminho até eles, deve-se buscar um atalho.
— É fácil pensar assim quando não se está
vivendo a situação, mas apenas observando-a de
longe. E você, o que faz da vida?
Sua pergunta me deixou em alerta. Estaria me
investigando para um hipotético sequestro? Ou
estaria tentando me seduzir para depois me roubar?
Examinei-a com mais atenção, procurando
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vestígios das artimanhas que as mulheres


costumavam usar para seduzir um homem. Eu as
conhecia bem, não eram poucas as mulheres que
tentavam me seduzir, porém não encontrei nada
parecido naquela garota. Ela não sentava com as
pernas cruzadas, dando um jeitinho de mostrar
parte da coxa; não mordia os lábios de vez em
quando, fingindo ser sem querer; não os umedecia
com a língua. Pelo contrário, aquela garota parecia
verdadeiramente inocente e recatada, desde a forma
como se sentava, até a fragilidade que transmitia na
maneira como falava e me olhava. Eu tinha que
admitir que ela me encarava fixamente, como se
estivesse afetava por mim, tanto quanto eu estava
por ela, mas eu já havia visto essa reação em muitas
mulheres antes, mesmo naquelas que não tentavam
se jogar para cima de mim, não era nenhuma
novidade.
— Digamos que tomo conta dos negócios da
minha família. Tem um frigobar aqui. Você aceita
beber alguma coisa?
O que pensa que está fazendo, Lowell?
— Um refrigerante, por favor.
Sem deixar de observá-la com o canto do olho,
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só por precaução, fui até o frigobar e fiquei


surpreso ao descobrir que, pelo nível do hotel, até
que estava bem abastecido. Havia algumas
garrafinhas em miniaturas com vodka, água,
refrigerantes, salgadinhos e chocolate. Peguei duas
das garrafinhas de vodka e ofereci uma a ela.
— Não prefere uma vodka? Você vai precisar
estar quentinha caso tenhamos que sair daqui
durante a madrugada.
Vi suas bochechas se tornarem subitamente
rosadas, certamente por ter captado o sentido dúbio
da minha frase e nada nunca me pareceu tão sexy e
espontâneo em uma mulher. Tive certeza de que
realmente a afetava, embora aquilo ainda pudesse
ser uma armadilha.
— Tudo bem, pode ser a vodka. Eu não
costumo beber, mas de vez em quando é bom sair
da rotina. Esquecer um pouco os problemas,
esvaziar um pouco a mente de tudo.
Quando lhe entreguei a miniatura com a
bebida, meu dedo roçou suavemente o dela e uma
corrente de calor desceu pelo meu corpo com a
intensidade de uma descarga elétrica, fazendo com
que meu pau desse sinal de vida dentro da calça.
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— Muitos problemas? — Indaguei, voltando a


sentar-me na cabeceira da cama, sem jamais parar
de observar aquela criatura tão fascinante.
— Você não imagina quantos. — Ela bebeu
um grande gole da vodka antes de continuar
falando. — Se eu começasse a falar sobre os meus
problemas, arruinaria ainda mais a sua noite.
Ingeri um gole da bebida também, apreciando
o líquido gelado e rascante descendo pela minha
garganta seca.
— Pode falar, minha noite já foi mesmo
arruinada pela chuva. Sou todo ouvidos.
Ela ficou pensativa por um instante.
— Não quero deixar você triste. Vamos falar
sobre coisas boas. Conte-me como é a vida na
cidade grande. O que as pessoas fazem lá para se
divertir?
Eu estava muito curioso para saber sobre ela,
sobre os problemas aos quais se referia. O que
havia lhe acontecido? Teria sido magoada por
algum canalha? Que espécie de homem se atrevia a
magoar uma mulher como aquela? Devia ser um
grande imbecil, merecedor de uma surra das boas.
Tudo em mim me ordenava a continuar
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perguntando, como se saber mais sobre ela tivesse


se tornado uma necessidade, entretanto percebi que
ela estava evitando falar sobre si mesma, como se
encontrasse em mim, naquela noite inusitada, na
vodka que bebíamos, uma oportunidade de
esquecer um pouco da sua realidade, de fugir de
uma vida da qual não gostava, ignorar tudo por
pelo menos algumas horas. Então, comecei a falar
sobre a vida agitada em Orlando, não a parte
fatigosa do meu trabalho, mas as partes divertidas,
quando saía para as noitadas em clubes
sofisticados, sobre as viagens para outros países, os
passeios de iate em praias exóticas e tudo que
pudesse deixá-la um pouco mais animada. E estava
dando certo, quanto mais eu falava, mais
empolgada ela parecia. Era como se o meu mundo
estivesse muito distante da realidade dela e de
repente me flagrei desejoso de levá-la para
conhecer esse mundo, os passeios de barco, as
noitadas nos clubes de Paris, os banhos de sol nas
praias do Caribe. Ela ficaria linda dentro de um
biquíni pequeno, com aquela pele morena exposta
ao sol, claro que comigo ao seu lado para protegê-
la de babacas como o sujeito de quem fugia há
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pouco.
Não se empolga, Lowell.
Fiquei surpreso ao descobrir que o interfone do
quarto funcionava e pedi mais vodka ao “Norman
Bates” da recepção, sem que ele soubesse que
Madison estava em meu quarto. Desta vez, veio
uma garrafa grande e passamos a consumir a
bebida com gelo e refrigerante, para amenizar o
gosto forte.
Talvez pelo efeito da vodka me deixar cada vez
mais solto, ou por ver a forma como Madison se
mostrava fascinada e feliz com as minhas histórias,
fui relaxando cada vez mais, me entregando a uma
rara espontaneidade. Quando dei por mim, ambos
estávamos quase que completamente bêbados,
rindo demais, de coisas bobas, de qualquer coisa.
Esqueci completamente que aquilo podia ser a
armadilha para um assalto e depositei toda a minha
confiança em Madison, como se fôssemos velhos
amigos e não duas pessoas que acabavam de se
conhecer.
Apesar da simplicidade do lugar, do
desconforto e das circunstâncias nas quais me
encontrava, eu estava me divertindo como há muito
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não me divertia. Sorrindo e fazendo a garota ao


meu lado sorrir, em um raro momento de
descontração.
Incapaz de resistir, convidei-a para ir até o
haras do meu pai comigo no dia seguinte e ela
concordou. Eu não tinha ideia do que estava
fazendo, só sabia que a queria por perto por mais
tempo e que esse era um caminho perigoso a
seguir.
Percebi que ela realmente não tinha o costume
de beber quando adormeceu de repente, estendida
sobre a cama, completamente à vontade. Sem que
se desse conta, a barra da sua saia foi parar lá em
cima, expondo suas coxas firmes e bem torneadas,
com a pele morena e lisinha. E não era só isso, na
posição em que estava deitada, meio de lado, eu
tinha uma visão parcial do início das curvas dos
seus seios pequenos e empinados, dentro da blusa,
tão convidativos que se tornava quase impossível
resistir. Não que eu tivesse o costume de espiar
uma garota enquanto dormia, o problema era que
essa garota, em especial, me atraía demais, de
forma quase incontrolável.
Permaneci ali parado, em pé ao lado da cama,
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observando-a por um longo tempo. Cada minúscula


célula do meu organismo me ordenava a tocar sua
pele, só para ter certeza de que era tão macia
quanto parecia, a beijar a curva dos seus seios, só
para me certificar de que eram tão doces quanto
anunciavam e a percorrer minhas mãos por entre os
fios de cabelos negros, que se espalhavam sobre o
colchão. Mas eu não podia fazer isso. Eu não era
um pervertido que se aproveitava do sono de uma
mulher. Naquele momento eu não tinha controle
algum sobre os meus impulsos, não confiaria em
mim mesmo se me deitasse ao lado dela na cama.
Não tinha certeza se conseguiria não tocá-la. Então,
acomodei-me na poltrona e continuei observando-a
até pegar no sono.

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CAPÍTULO II

Acordei com a claridade do sol penetrando o


quarto através de uma fresta aberta na cortina da
janela. O silêncio do lado de fora anunciava que a
tempestade já havia passado. O calor no aposento
era escaldante. Instintivamente, meus olhos
buscaram o relógio em meu pulso e levantei-me da
poltrona quase com um pulo ao constatar que
passava das oito horas da manhã. Uma fisgada na
cabeça lembrou-me da noite anterior. Havíamos
bebido quase uma garrafa inteira de vodka, a
ressaca era inevitável.
Madison continuava profundamente
adormecida na cama, na mesma posição em que
estava na noite anterior, com as coxas firmes à
mostra, o braço descansando sobre a silhueta fina,
os olhos fechados, o rosto completamente relaxado,
a curva dos seios aparecendo ligeiramente, o que
não me ajudava em nada a controlar a minha ereção
matinal, pelo contrário, me deixava ainda mais
duro, a ponto de me fazer sentir dor.
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Fiquei ali parado, paralisado, por um longo


momento, observando-a, lutando contra mim
mesmo, contra o impulso de tocá-la. Foi então que
cheguei à conclusão de que precisava vê-la de
novo, não podia deixá-la ir sem conhecê-la melhor.
Eu a queria, queria que fosse minha e a teria.
Mesmo que para isto precisasse fazer dela a minha
amante, alguém com quem me divertir durante as
fatigosas visitas ao meu pai. Pelo menos assim eu
me sentiria motivado a vir vê-lo com mais
frequência.
Não a levaria para o meu mundo, simplesmente
porque as mulheres tinham o péssimo hábito de
esperar um compromisso de todos os homens para
quem davam a boceta, todas elas queriam se casar,
como se uma união estável representasse a
realização de uma vida e eu não era o tipo de
homem que se casaria um dia. Não acreditava que
esse tipo de união trouxesse algum benefício a um
ser humano, pelo contrário, ela o destruía, como
destruíra meus pais. E uma menina do interior,
como aquela, certamente esperava encontrar um
príncipe encantado que a levaria ao altar. Eu não a
enganaria, a teria do meu jeito, deixando claro que
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não esperasse nada de mim além de algumas boas


trepadas.
Cogitei acordá-la porque na certa também tinha
passado da sua hora de voltar para casa e havia
pessoas preocupadas esperando-a, mas antes de
olhar novamente para aqueles olhos verdes
cristalinos e ouvir aquela voz doce e feminina eu
precisava tomar um banho frio para acalmar os
meus ânimos. Não tinha mais como evitar e me
arrisquei a pegar uma infecção ao usar a toalha
encardida, depois do banho demorado.
Estava terminando de me vestir quando a
chamei pelo nome, duas vezes antes que ela abrisse
seus olhos. Meio desnorteada, varreu os arredores
com o olhar, como se tentasse se localizar, até que
por fim sentou-se com um sobressalto e olhou para
mim espantada.
— Minha nossa! O que aconteceu? — Indagou,
meio espavorida.
Pensei seriamente em deixá-la continuar
acreditando no que certamente se passava em sua
mente, seria divertido, mas por outro lado também
seria indelicado da minha parte.
— Relaxa não aconteceu nada. Pelo menos
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nada do que você está pensando. Você bebeu todas


e acabou dormindo. Só isso.
— E você dormiu também?
Todo aquele temor em seu olhar e no tom da
sua voz me fazia querer sorrir.
— Dormi, mas se isso te faz sentir mais calma,
saiba que dormi na poltrona.
Ela soltou o ar dos seus pulmões, como se
minhas palavras a deixasse aliviada. Levantou-se e
ajeitou as roupas amarrotadas sobre o corpo,
passando as mãos também nos cabelos
emaranhados, tentando domar os fios rebeldes que
se espalhavam por sobre seus ombros, emoldurando
lindamente seu rosto perfeito.
Eu nunca tinha visto uma garota parecer tão
linda ao acordar, principalmente acordando de
ressaca.
— Ah, meu Deus! Eu não devia ter dormido
aqui. Você sabe que horas são?
— Nove horas. Estaremos no haras antes das
dez.
Ela encarou-me com um ponto de interrogação
estampado nos olhos verdes, como se não se
recordasse do que havíamos conversado na noite
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anterior.
— Fica em Wellington. Eu te convidei e você
aceitou. Estaremos de volta antes do final do dia.
— Eu não sei o que estava pensando quando
concordei em ir com você. Desculpe-me, mas não
posso. Tenho responsabilidades em casa e meu
turno começa ao meio-dia.
A decepção foi me tomando lenta e
amargamente. De súbito fui invadido por uma
insegurança estranha, um receio descabido de não
voltar a vê-la, algo completamente novo e
desconhecido para mim.
O que está acontecendo com você, cara? Ela é
só mais uma garota bonita.
— Me deixa pelo menos te levar em casa.
No caminho eu pego o seu telefone, gata.
Ela refletiu por um instante, como se hesitasse.
Será que tinha alguém em sua vida? Será que
era casada? Ela não mencionara nada sobre isso
durante a noite, até porque evitara ao máximo falar
sobre si mesma e agora eu estava me sentindo meio
tolo, interessado por uma mulher que podia ser
comprometida.
— Tudo bem. — Ela concordou e fiquei mais
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exultante que o necessário, embora nada deixasse


transparecer. — É até bom você me levar porque já
está tarde para esperar o ônibus. Só não se sinta mal
por eu não te convidar para entrar. O lugar onde
moro pode não estar à sua altura.
O lugar onde você mora é a última coisa na
qual estou interessado, gracinha.
— Não tem problema vamos lá.
Deixamos o quarto e nos aproximamos do meu
carro no estacionamento, onde os raios fortes do sol
se incumbiam de secar a lama que havia se
acumulado nas partes em que não tinha calçamento.
Uma pálida e cabisbaixa Madison caminhava atrás
de mim, com os braços envolvidos em volta do
corpo, em um gesto de resguardo. Parecia hesitante
e olhava para todos os lados, como se checasse se
alguém nos observava. Se fosse vista saindo dali
comigo certamente seria prejudicada, visto que
passar a noite em um quarto com um dos hóspedes
era contra as normas em qualquer hotel que se
prezasse, mesmo que não tivéssemos feito nada
além de conversar, beber e dormir.
Abri a porta do carona para que ela entrasse,
porém antes que ela se colocasse para dentro seus
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olhos se detiveram sobre uma pasta cheia de


documentos que se encontrava em cima do painel
do carro.
— Dixon? — Indagou ela, lendo o logo da
nossa empresa estampado na pasta, antes de recuar
um passo. — Você me disse que o seu nome é
Lowell. Você é Lowell Dixon? — Cravou seus
olhos lindos e alarmados em meu rosto,
acusadoramente, ao pronunciar a última frase, sua
voz assumindo o tom de quem acabava de ouvir
que o fim do mundo seria no dia seguinte e
precisava ter certeza.
— Sim. Sou eu. — Seu rosto, formado por
traços delicados, tornou-se subitamente pálido, seus
olhos assumiram uma expressão que parecia uma
profusão de ódio, medo e angústia, ao mesmo
tempo em que ela dava outro passo para trás, como
se de repente eu fosse portador de uma doença
contagiosa e perigosa. — Nos conhecemos de
algum lugar? — Eu sabia que sim, só não me
lembrava de onde. Desde o instante em que
coloquei os meus olhos nela percebi que havia certa
familiaridade em sua fisionomia.
— Nos conhecemos sim. Você é responsável
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por tudo de ruim que aconteceu na minha vida. —


Soltou, com uma amargura dolorosa no tom da voz.
— O quê? Como assim?
— Você não tem ideia do mal que fez a mim e
a minha mãe, Lowell Dixon. Eu teria sido feliz se
você não existisse. — Continuou, transtornada.
Uma lágrima solitária brotou do canto do seu
olho e escorreu pela sua face. Comecei a ficar
preocupado. Do que ela estava falando afinal?
— Eu não sei do que você está falando. De
onde você me conhece?
O brilho que se refletia em seu olhar beirava
um ódio quase mortal.
— Eu sou Madison Oliveira. Filha de Ivone
Oliveira. A empregada que você fez com que fosse
demitida da sua casa, quando era adolescente. —
Ela falava entre dentes, o olhar implacável
fuzilando o meu rosto.
Vasculhei minha mente por um instante,
tentando me lembrar do que ela falava, até que por
fim as recordações voltaram. Já fazia muito tempo,
eu mal me lembrava daquilo. Era apenas um garoto
quando peguei um dos cavalos do meu pai, sem
permissão, e acabei fazendo com que fosse morto
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em um acidente. Para não levar a culpa acabei


jogando-a para cima da nossa empregada. Não
imaginei que ela seria demitida por isso. Na época,
sofri por Madison ter ido embora, ela era a minha
melhor amiga, só que com o tempo aquela história
foi caindo no esquecimento. Apenas depois de
adulto, compreendi que fui manipulado pela minha
mãe a inventar aquela mentira, o que não reduzia
em nada a minha culpa e a minha covardia.
Era estranho olhar para Madison depois de
tanto tempo. Ela havia se tornado uma mulher linda
e só agora eu entendia porque me senti tão à
vontade na presença dela, porque fiquei tão atraído
e encantado. Ela fazia parte de uma das melhores
fases da minha vida. Havia sido uma pessoa
totalmente importante para mim. As melhores
lembranças que eu tinha da minha infância eram
com ela.
— Porra, você é Madison Oliveira?! — Eu
estava perplexo.
Por muito tempo, quando ainda era
adolescente, eu desejei reencontrá-la. Andava pelas
ruas buscando o rosto de cada garota morena que
passava por mim, cheguei a ligar para algumas
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escolas das regiões até que aos poucos fui me


ligando em outras coisas, em outras pessoas, fui
amadurecendo e a nossa amizade ficou esquecida
em algum canto da minha memória. — Você se
tornou uma linda mulher.
— Não seja cínico, Lowell. Você acabou com a
minha vida. Tem ideia de tudo pelo que passei por
sua causa?
Eu não sabia do que ela estava falando. Fazer
com que alguém fosse demitido era imoral e
inescrupuloso, mas não era como se eu tivesse dado
um tiro na mãe dela, que ainda era jovem e
saudável, poderia perfeitamente arranjar outro
emprego como o que tinha em nossa casa. Eu não
entendia o porquê de tanto ódio.
— Eu não sei do que você está falando,
Madison. Tudo bem que eu errei, não devia ter
mentido, mas eu era apenas um menino. E uma
demissão não é motivo para tantos anos remoendo
essa raiva. Você não acha que está exagerando?
— Exagerando?! Não houve sequer um só dia
nesses anos em que eu não tenha me lembrado do
que você fez. Minha vida teria sido completamente
diferente se você não existisse. — As lágrimas
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começaram a descer abundantes dos seus olhos, um


soluço escapou dos seus lábios e aquilo me fez
desmoronar. — Por sua causa, por causa da
acusação de insubordinação que sua mãe fez contra
a minha, ela nunca mais conseguiu arranjar outro
emprego. Nós não tínhamos nada, nem uma
moradia, meu pai havia perdido nossa casa em um
jogo. Sem emprego em outra residência, nós duas
tivemos que ir morar na casa do cara com quem
minha mãe saía de vez em quando. Você tem ideia
do que um homem sem escrúpulos pode fazer com
uma menina de onze anos que não tem para onde ir
e depende dele para ter um teto sobre a cabeça e um
prato de comida?
Puta merda! Então era isso! Ela havia sido
molestada por minha culpa.
Naquele momento, o remorso recaiu sobre os
meus ombros com o peso de milhares de toneladas.
Era terrível imaginar o que ela tinha passado. Não
havia nada pior que pudesse acontecer a um ser
humano, a uma criança, que ser violentada, dia
após dia, sem poder denunciar por medo de ficar
sem ter onde morar. Embora eu tivesse minha
parcela de culpa, ela não tinha o direito de jogar
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toda a responsabilidade sobre mim, eu era apenas


um garoto bobo e sem juízo quando inventei aquela
mentira.
— Eu sinto muito, Madison. Sinto tanto que
você tenha passado por isso, que se existisse uma
forma eu voltaria no tempo agora mesmo e faria
tudo diferente. Mas você não pode me
responsabilizar dessa forma. Eu admito que errei e
errei feio, só que eu era apenas uma criança. Não
posso ser julgado e condenado por algo que fiz
naquela idade.
Madison cobriu sua boca com dorso da mão,
como se tentasse sufocar o seu pranto. A dor em
seus olhos era tanta que eu quase podia senti-la,
porém o ódio e o desprezo contidos em sua
fisionomia eram ainda maiores. Se eu pudesse
voltar no tempo, se tivesse como desfazer aquela
tolice, eu desfaria. Só que isso era impossível.
— E pensar que eu confiei em você! Logo em
você! Alguém muito pior que aquele cara que
tentou me agarrar.
— Você está sendo injusta. Já falei que eu era
só uma criança. — Ela respirou fundo, como se
tentasse se acalmar e afastou as lágrimas da sua
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face com as duas mãos, sem deixar de me fitar com


seus olhos brilhantes, carregados de fúria e de dor.
— Me diz o que posso fazer para te ajudar a
superar isso. Eu faço qualquer coisa.
— Nada vai me ajudar a superar isso. Minha
vida já está arruinada. Não há mais conserto. O que
você fez, há doze anos, determinou o meu fim.
Ela estava pegando pesado, me usando como
uma válvula de escape, fazendo de mim o alvo de
todas as suas dores. Eu não a culpava, não devia ter
sido fácil passar por tudo o que passara, mas a
responsabilidade não era totalmente minha.
— Eu não fiz nada de tão grave. Eu era só um
garoto que inventou uma mentira idiota.
— Você arruinou a minha vida e a vida da
minha mãe, por causa da sua covardia! E se há uma
coisa que lamento foi ter entrado naquele seu
maldito quarto ontem à noite. E pensar que eu teria
me entregado a você.
— O quê? Sério?
Pela primeira vez, uma emoção diferente do
ódio se manifestou no seu semblante. Suas
bochechas ficaram vermelhas, demonstrando seu
tentador embaraço.
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Caramba! Ela teria transado comigo se eu


tivesse tentado. Mas que babaca eu fui em me
comportar como o cavalheiro que não costumava
ser, acreditando que ela estivesse abalada demais
com a perseguição daquele bêbado tarado, para
pensar em outra coisa.
— Esquece. Só some daqui e nunca mais
aparece na minha frente.
Ela me contornou e passou por mim, os passos
incertos, o corpo todo tenso, desolada.
— Espera. Deixa-me pelo menos te levar em
casa.
— Vai para o inferno, Lowell! — Esbravejou,
sem olhar para trás.
Fiquei lá parado observando-a enquanto ela se
dirigia na direção da autoestrada, onde obviamente
pegaria o seu ônibus. Antes de alcançar seu destino,
um homem com cerca de quarenta anos surgiu na
porta da recepção do hotel e a chamou de volta.
Continuei olhando até que ela o encontrasse, só
para ter certeza de que não se tratava do tarado que
a perseguira na noite anterior. Pela forma respeitosa
como ela o cumprimentou, deduzi que poderia ser o
seu chefe. Ambos entraram na recepção, quis ir
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atrás para saber do que se tratava, mas não era da


minha conta. Além do mais, ela tinha me mandado
ficar longe e eu já estava mais que atrasado para o
meu compromisso com o meu pai.
Durante o percurso até Wellington, telefonei
para minha secretária, instruindo-a a cancelar todas
as reuniões daquela manhã, sem dar muitas
explicações e recebi um telefonema de Meg, uma
das acionais da empresa com quem andava
transando ultimamente. Queria saber onde passei a
noite e quando sairíamos de novo. Ela era uma
delícia na cama, mas me ligava demais e isso já
estava começando a ficar enjoativo. Eu jamais
prometi nada a ela, justamente porque detestava
esse tipo de cobrança. Por mais diferentes que
fossem entre si, as mulheres sempre conseguiam
ser iguais no quesito cobrança. Se o meu corpo não
tivesse essa necessidade urgente de sexo, eu
desistiria delas.
O haras do meu pai era o maior e mais luxuoso
de toda Wellington. A casa principal tinha em torno
de novecentos metros quadrados, com a fachada em
estilo medieval, lembrava um castelo inglês antigo,
embora fosse toda restaurada, pintada de marrom
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com detalhes em diferentes tons de dourado. O luxo


também se refletia nas cocheiras, sempre muito
bem limpas e organizadas, nas duas pistas de
hipismo, na pista de corrida e no pequeno aeroporto
que ostentava.
Ao estacionar e saltar diante da moradia,
enxerguei Edward de longe, treinando um puro
sangue inglês em um dos currais. Como quase
sempre, ele estava sem camisa, usando um jeans
desbotado que caía em seus quadris, exibindo o
corpo grande e musculoso demais. Parecia um
selvagem com aquele comportamento, os cabelos
crescidos até altura dos ombros e a barba sempre
por fazer. Gesticulei na direção dele em
cumprimento e entrei na casa.
Encontrei o meu velho na sala principal, com
os cabelos ainda molhados do banho, sentado em
sua cadeira de rodas diante da pequena mesinha de
centro, onde uma empregada uniformizada servia
uma bandeja com chá e biscoito. O olhar malicioso
que ele lançava na direção da bunda dela, não me
passou despercebido. Meu pai sempre foi um
grande mulherengo. Quando éramos crianças ele e
minha mãe diziam que Edward era filho de uma ex-
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namorada que ele tivera antes de se casar, quando


na verdade a mulher ainda era sua amante, e
continuou sendo por muito tempo. Ela conseguiu
destruir o casamento dos meus pais, separando-os,
pouco antes do meu pai sofrer a queda do cavalo
que o deixara paraplégico, quando então ela o
abandonara e, como castigo, ele só tinha Edward, o
único que conseguiu permanecer ao seu lado, por
qual motivo eu nem desconfiava. Talvez não
tivesse outra opção. Não era um sujeito muito
sociável.
— Isso são horas? Achei que tivéssemos
marcado para ontem. — Meu pai não perdia
qualquer oportunidade de me repreender.
A empregada me lançou o mais cobiçoso dos
olhares, antes de perguntar o que eu gostaria de
beber. Pedi café com leite, o pão caseiro que eles
faziam lá e um comprimido para dor de cabeça.
— É, tínhamos marcado para ontem, mas
fiquei preso na estrada por causa de uma árvore
caída no meio do asfalto.
“Passei a noite em um hotel de quinta
categoria para fugir do temporal, mas estou bem,
não precisa ficar preocupado.” Completei,
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mentalmente.
— Custava ter dado um telefonema para
avisar?
— O celular estava sem sinal. Mas o
importante é que estou aqui agora. Então vamos ao
que interessa.
Tirei a papelada de dentro da pasta e mesmo
antes da empregada voltar com meu café
começamos a fatigosa discussão sobre os negócios.
Ele queria saber sobre todas as transações
realizadas e aquilo se perdurou por horas. Quando
por fim terminamos, estava tão tarde que acabei
concordando em ficar para o almoço.
Faltava meia hora para ser servido quando
deixei a residência para ir dar uma volta pelos
arredores, só para me livrar da companhia
sufocante do meu pai.
Observando a grandiosidade do lugar, com seu
imenso tapete de grama em vários tons de verde, o
cinturão de árvores bem podadas mais adiante, o
cheirinho de ar puro e o silêncio gostoso, lembrei-
me da época em que eu brincava por ali junto com
Madison. O quanto era feliz, o quanto gostava dela.
Os finais de semana, quando podia estar
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constantemente na sua companhia, eram os meus


melhores dias. Não havia nada que eu gostasse
mais que estar ao lado dela.
Fui até a cerca que separava a área externa da
casa da área onde ficavam as pistas e relembrei
claramente o dia em que fiz com que a mãe dela
fosse demitida. Naquela época eu não compreendia
o que se passava comigo, me sentia furioso porque
Edward estava roubando a atenção dela, só que na
verdade o que eu sentia era ciúmes. Eu queria
Madison só para mim e a ideia de dividi-la com
outro garoto me fez agir de forma impensada e
cometer uma asneira atrás da outra. Pegar aquele
cavalo árabe sem permissão foi a maior de todas as
loucuras.
Pensei também no que ela havia me falado
sobre o homem com quem foram morar depois da
demissão, no quanto devia ter sido horrível para
ela, uma menina tão linda, meiga e calma, ser
molestada por um pervertido fodido. Eu não podia
fazer nada para mudar o passado dela, mas ainda
podia fazer algo para mudar seu futuro. No quarto
do hotel, ela me dissera que sonhava em ir para
uma cidade grande, fazer uma faculdade, trabalhar
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em uma grande empresa. Eu podia dar isso a ela,


sem esforço algum. Podia levá-la para trabalhar
comigo, arranjar um apartamento onde ela pudesse
morar com sua mãe. Isso se ela ainda morasse com
a mãe. Não me falara a respeito de Ivone durante a
noite anterior, aliás, quase não falara sobre si
mesma.
A parte difícil desse processo seria controlar a
atração irresistível que ela exercia sobre mim. Eu
poderia saciar esse desejo tornando-a minha
amante, se ela continuasse vivendo em Palm Beach
Garden, onde poderíamos nos encontrar às
escondidas, sem que ela jamais fizesse parte do
meu mundo, porém se fosse trabalhar comigo, se
passasse a morar na mesma cidade que eu, as coisas
seriam diferentes, se tornaria mais difícil convencê-
la a ser minha sem que houvesse a maldita
promessa de um compromisso no meio,
atrapalhando tudo e eu não queria mentir para ter
que vê-la sofrendo depois, havia aprendido, com
experiências do passado, que não era muito
prazeroso fazer uma mulher sofrer só por causa de
sexo. Nesse caso, eu só teria duas opções: ou
ignoraria aquela atração absurda que sentia por ela,
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ou pararia de me importar com o que acontecesse


com ela depois que a tivesse em minha cama.
Imaginei-a deitada na cama do meu
apartamento, com aquela pele morena e lisinha toda
à mostra, à minha disposição, esperando pelas
carícias da minha boca e das minhas mãos, os
cabelos espalhados sobre o meu travesseiro, e algo
se revolveu dentro de mim. Eu precisaria ser muito
determinado para me conformar em não saciar esse
desejo. Não sabia se era capaz de resistir e, se não
fosse, não sabia se valeria à pena causar mais danos
à vida de uma criatura tão sofrida, por algumas
noites de prazer.
Nessa história toda, minha única certeza era de
que precisava fazer alguma coisa por Madison,
tentar me redimir pelo menos um pouco do meu
erro do passado, pois apesar de eu ser ainda apenas
um menino naquela época, se não tivesse mentido
nada de ruim teria acontecido a ela, sua vida não
teria sido arruinada. Eu não era totalmente culpado
por tudo o que ela passara, mas tinha sim a minha
parcela de responsabilidade. Quando garoto, o meu
objetivo de vida era protegê-la de todas as coisas
ruins e em vez disso eu a jogara na boca do leão, eu
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deixei que a sua inocência fosse tirada, a empurrei


para um abismo escuro, causando a ela um mal
irreparável.
Não apenas por obrigação, mas por que eu
queria fazer alguma coisa por ela, a levaria para
Orlando e lhe daria uma vida melhor, restava
apenas convencê-la a esquecer todo o ódio que
trazia em seu coração e aceitar a minha ajuda. Essa,
sem dúvida, seria a parte mais difícil da minha
insana tentativa de redenção.

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CAPÍTULO III

Madison

A raiva borbulhava em minhas veias, de


maneira tão fervorosa que eu mal conseguia conter
o tremor em minhas pernas enquanto caminhava,
com passos largos e incertos, em direção ao ponto
de ônibus. Não podia acreditar que havia passado a
noite inteira em um quarto do hotel com Lowell
Dixon, o sujeito que arruinou a minha vida de
forma irreparável. Pior que isso: não podia
acreditar que me senti atraída por ele, a ponto de
cogitar me entregar caso ele tivesse tentado alguma
coisa comigo.
Não que eu saísse por aí transando com
qualquer estranho que achasse bonito, eu só estava
carente, sem o amor de um homem e sem contato
físico masculino há muito tempo, desde que Jerry
fora preso. Na semana seguinte faria exatamente
seis meses que ele estava atrás das grades, por
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tentar cometer um assalto estúpido a uma joalheria,


em um momento de desespero, quando ambos
estávamos desempregados, vendo nosso filho de
cinco anos começando a passar necessidades.
Jerry podia ser todo errado, um verdadeiro
vagabundo, como todos diziam, mas era um pai
preocupado, capaz de qualquer coisa pelo nosso
pequeno Lucas, até de mentir na frente de um júri,
como fizera por mim, durante o seu julgamento,
garantindo que eu não estava lá durante aquele
assalto, só para que eu ficasse livre, cuidando do
nosso menino.
Na verdade, eu não deveria estar lá mesmo,
minha participação naquele assalto não foi
planejada. O problema era que o motorista que
tiraria todos de lá amarelou em cima da hora,
desistindo de participar. Sem opção, precisei
substituí-lo. Eu não era boa em muitas coisas, mas
era habilidosa com o volante. Jerry insistiu para que
eu não embarcasse naquela loucura, tentou de tudo
para arranjar outra pessoa, mas no último minuto
foi impossível. Então precisava ser eu.
Quando a polícia invadiu a loja, enquanto
todos os assaltantes ainda estavam lá dentro, não
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fui vista no carro do lado de fora e consegui


escapar. Jerry ameaçou todos os outros
participantes daquela fracassada tentativa de roubo,
forçando-os a esconder a minha participação, por
isso nenhuma acusação recaiu sobre mim e pude
ficar livre para cuidar de Lucas. Eu devia a minha
liberdade a Jerry. Se não fosse pelo amor imenso
que ele nutria por mim, e por nosso filho, eu estaria
presa e nosso pequeno Lucas certamente estaria
passando fome junto com minha mãe.
Jerry e eu nos conhecemos quando eu tinha
quatorze anos. Ele morava no mesmo bairro que
nós, em Palm Beach Gardens, e naquela época já
vivia envolvido com coisas erradas, fumava
maconha e fazia algumas entregas pequenas de
drogas. Tinha só dezessete anos. Um ano depois de
estarmos juntos, criei coragem e contei a ele que
vinha sendo molestada pelo meu padrasto desde
que minha mãe e eu fomos morar na casa dele. Foi
então que o fato de Jerry ser um cara envolvido
com paradas erradas serviu para alguma coisa. —
inclusive, depois que soube de toda a verdade,
quando já não morávamos mais com aquele homem
monstruoso, minha mãe dizia que eu havia me
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aproximado de Jerry por causa da conduta dele,


deliberadamente, para pedir socorro e não sei se ela
estava enganada, embora jamais fiz nada de caso
pensado —. Rapidinho Jerry conseguiu um
revólver no mercado negro, ameaçou o meu
padrasto de morte, caso ele voltasse a colocar as
mãos sujas dele em mim e arranjou um lugar para
morarmos, — um trailer antigo que fora do pai dele
— para onde eu, ele e minha mãe nos mudamos.
Eu tinha dezessete anos quando engravidei de
Lucas e se havia alguma chance de algum dia eu
me separar de Jerry, essa chance acabou ali. Pois
passei a precisar não apenas da proteção dele, mas
também do sustento para nosso filho. Sem
mencionar que, com a chegada do nosso bebê, ele
se tornou ainda mais possessivo.
A vida ao lado de Jerry nunca foi um mar de
rosas. Eu sequer o amava, só vivia com ele porque
lhe devia a minha liberdade, — afinal ele me
livrara do monstro que abusava de mim dia após
dia — e precisava da sua proteção contra o maldito
pedófilo, que jamais fora preso, embora tivesse
levado uma surra das grandes.
Aquela havia se tornado a minha vida, jamais
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tive um momento de tranquilidade. Consegui me


livrar daquele maldito, com quem minha mãe nos
levou para morar porque não tínhamos outro lugar
para onde ir, visto que, meu pai perdera nossa casa
e tudo mais que possuíamos, no seu vício em jogos,
antes de ter um derrame que matou, só que o preço
para essa liberdade foi me amarrar a um cara que
não tinha planos concretos para o futuro, vivia
colocando a própria vida em risco para garantir o
nosso sustento, enquanto esperava que alguma
oportunidade milagrosa caísse do céu. Uma
oportunidade que nunca cairia.
Por muitas vezes, a única renda que tínhamos
em casa era o salário que eu conseguia trabalhando
como garçonete, ou empregada doméstica. Quando
conseguia algum dinheiro, à sua maneira, Jerry
sempre me fazia abandonar o emprego, dizendo
que dali para frente, as coisas iriam melhorar, e eu
não precisava mais trabalhar, só que a verdade era
que as coisas nunca melhoravam. O dinheiro dele
acabava, voltávamos a passar necessidades e até
que ele arranjasse outra coisa, eu tinha que segurar
as pontas.
Por várias vezes cogitei deixá-lo, porém eu
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tinha motivos demais para continuar ao seu lado.


Para começar, ele me ameaçava todas as vezes que
eu insinuava que pretendia ir embora, nunca
chegara a encostar a mão em mim com violência,
mas isso porque eu jamais o contrariara. O outro
motivo era a segurança que ele garantia a mim, ao
nosso filho e à minha mãe. Ser um cara envolvido
com coisas erradas tinha essa vantagem, um babaca
como meu maldito ex-padrasto não se atrevia a
chegar perto, ninguém chegava. Essa segurança era
o que mais me prendia a Jerry, além do amor
imenso que ele demonstrava por mim e pelo nosso
filho.
Apesar de tudo, nunca tinha me passado pela
cabeça traí-lo com outro homem, pelo menos não
até a noite anterior, quando entrei por acaso no
quarto de Lowell Dixon, sem ter ideia de quem era
ele.
Caramba! Mas que coincidência infeliz!
Escolhi a porta do quarto dele aleatoriamente,
porque era a última e mais escondida do corredor e
porque a chave estava mais acessível no molho que
eu carregava. Quando olhei em seu rosto, senti um
baque por dentro, algo inesperado. Logo, fui
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envolvida por uma sensação estranha de segurança,


de confiança, talvez pela familiaridade que
encontrei em seu semblante, o semblante do sujeito
que se encarregou de arruinar minha vida há tantos
anos, sem que eu desconfiasse que fosse ele.
E não foi só isso, aqueles olhos negros
mexeram comigo de outra forma, da forma como
jamais outro homem havia mexido. Senti-me
incontrolavelmente atraída, pela sua pele morena,
pelo queixo másculo coberto pela barba espessa,
composto por uma boca ampla e um nariz muito
bem desenhado. Ele era alto — muito alto —, tinha
ombros largos e quadris estreitos e era dono de uma
beleza rústica, meio selvagem. Exalava uma
masculinidade crua, viril, capaz de mexer com os
hormônios de qualquer mulher com sangue nas
veias e mexera com os meus, de maneira tão
fervorosa que eu teria me entregado facilmente, se
ele tivesse tentado me levar para a cama. Aliás, eu
quis que ele tivesse tentado, quis tanto que cogitei
fazer a proposta, só não fiz porque não era mulher
de me oferecer a um homem.
Eu nunca havia traído Jerry, mas naquela noite
estava disposta a fazê-lo. Por carência, ou pelo
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magnetismo irresistível que Lowell exerceu sobre


mim, antes que eu soubesse quem era ele. Teria
sido apenas aquela noite e nada mais. Uma fuga de
todos os problemas. Jerry nunca saberia.
Entretanto, agora dava graças a Deus que ele
não tivesse tentado nada, ou eu teria me
arrependido pelo resto da vida. O que me restava
agora era ter vergonha de mim mesma, por me
sentir tão afetada pelo cara que jogou a mim e a
minha mãe na sarjeta, que nos forçou a irmos morar
com o monstro com quem minha mãe vinha
transando depois de alguns anos da morte do meu
pai, o sujeito que roubou a minha inocência, que
mesmo depois de tantos anos ainda me fazia ter
pesadelos à noite, que fez com que eu me tornasse
prisioneira de alguém como Jerry.
Pelo menos uma coisa boa havia surgido de
toda essa história: o meu pequeno Lucas.
Eu estava quase alcançando a estrada por onde
por onde o ônibus passava, quando ouvi a voz
estrondosa do Sr. Parker, o dono do hotel, me
chamando da entrada da recepção. Na mesma hora
eu soube que seria demitida e meu sangue fugiu da
minha face. Eu já estava de sobreaviso desde que a
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esposa de um dos hóspedes fizera um escândalo


bem grande, por ter flagrado o marido dela dando
em cima de mim no corredor, como se isso fosse
culpa minha. Se o Sr. Parker estivesse sabendo que
passei a noite no quarto com um dos hóspedes, não
me daria uma terceira chance. Essa era uma certeza
que eu tinha. Não que ele fosse um homem ruim,
eu compreendia que seria muito mais lucrativo para
ele ter apenas funcionários homens, já que isso
atrairia mais hóspedes que viajavam acompanhados
de suas esposas.
Quando passei diante do estacionamento onde
Lowell continuava parado, na frente do seu carro,
pude perceber, com o canto do olho, que ele me
observava fixamente e caminhei mecanicamente,
forçando-me a não olhar em sua direção. O que ele
ainda fazia ali? Não deixei claro o suficiente que
não o queria por perto?
O ódio que eu sentia por aquele sujeito era
indescritível. Ele dizia ser um garoto na época em
que fez com que minha mãe fosse demitida, mas já
tinha quase quatorze anos, sabia exatamente o que
estava fazendo. Por causa da covardia dele, por ser
um garoto mimado e mentiroso, a minha vida foi
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arruinada. Fui molestada por um bêbado fedorento


e nojento durante cinco longos e tortuosos anos;
engravidei antes de atingir a maioridade; sequer
tive a oportunidade de terminar o Ensino Médio e
agora vivia presa a um homem que não amava,
porque este homem me mantinha segura. Essas
foram as consequências da mentira que Lowell
inventara e ele ainda se atrevia a abrir a boca para
dizer que não tinha responsabilidade sobre o que
aconteceu. Sim, ele tinha. Ele e sua mãe. Por acusar
a minha de insubordinação e impossibilitar que ela
arranjasse outro emprego e outro lugar para
morarmos.
O Sr. Parker não estava com uma cara boa.
Não que a cara dele ficasse boa de vez em quando,
só que naquele momento estava pior. A constante
ruga que havia em sua testa estava mais profunda,
sua boca estava transformada em uma linha fina e
dura.
— Vou perguntar só uma vez. Por favor, não
minta para mim. — Disse ele, conduzindo-me para
dentro da pequena recepção. — Você passou a
noite com aquele hóspede com quem estava
discutindo?
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Droga! Eu estava mesmo perdida. Ia ficar


desempregada e com Jerry na cadeia as coisas se
tornariam bem difíceis. Cogitei seriamente mentir,
mas aparentemente Jack me vira entrando no quarto
durante a noite e contara tudo a ele, que queria
apenas confirmar algo que já sabia.
— Sim senhor, mas não aconteceu nada. Eu só
estava fugindo de um bêbado que me perseguiu
pelo corredor, tentando me violentar. Aquele
homem com quem eu estava discutindo me deixou
ficar escondida no quarto dele. Foi só isso, eu juro.
O Sr. Parker balançou a cabeça negativamente,
como se lamentasse pelo que diria em seguida,
embora eu soubesse que ele não lamentava nem um
pouco.
— Ponha-se no meu lugar, Madison. Se você
fosse dona de um hotel que já não tem muito
movimento, ia gostar que os seus hóspedes vissem
uma funcionária correndo por aí, fugindo de uma
tentativa de estupro e passando a noite no quarto de
outro hóspede? O que uma mulher casada, que se
hospeda aqui com seu marido, ia pensar de uma
situação dessas? — Sem esperar que eu
respondesse, ele continuou. — No mínimo ela ia
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sair daqui achando que se seu marido voltar


sozinho vai ter que acolher uma funcionária em
perigo. Entenda-me querida, eu não quero o seu
mal, mas uma garota bonita como você não pode
trabalhar em um lugar como esse. Você devia tentar
uma carreira de modelo, talvez. Esse lugar não é
para você.
Ele estendeu-me a mão com a qual segurava
um pequeno envelope branco, onde certamente
estava meu pagamento pelos dias trabalhados
naquele mês. Antes mesmo de falar comigo ele já
estava decidido a me mandar embora, devia ter
separado o meu pagamento enquanto me ouvia
discutindo com o maldito Dixon. Mesmo depois de
tantos anos, aquele sujeito ainda me prejudicava.
Maldita hora em que ele foi aparecer no meu
caminho de novo.
— Sr. Parker, não posso ficar desempregada
agora. O pai do meu filho está...
— Eu sei que ele está preso. — Ele me
interrompeu e continuou me encarando em silêncio,
com condenação, como se dissesse “esse é mais um
motivo pelo qual eu não quero você no meu hotel”.
Pensei em continuar tentando convencê-lo a me
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deixar ficar, mas seria perda de tempo. Ele estava


determinado a me demitir e eu podia apostar como
estava satisfeito por ter arranjado aquele pretexto
para me mandar embora. Então, apenas recebi o
envelope da sua mão, agradeci e voltei para o ponto
do ônibus.
Dei graças aos céus por não ver mais aquele
engodo parado no estacionamento.
No caminho de volta para casa, passei no
supermercado e comprei o básico para Lucas,
apenas algumas frutas, leite, iogurte e verduras.
Precisava fazer aquele dinheiro render o máximo
possível, pois não sabia quando conseguiria
arranjar outro emprego. Não era fácil conseguir
trabalho em Palm Beach Gardens, não apenas por
se tratar de uma cidade pequena, desprovida de
fábricas e indústrias, mas principalmente porque eu
era a mulher de um sujeito que todos sabiam que
era perigoso. As pessoas não acreditavam que eu
não era como ele, e eu nem podia tirar a razão delas
por pensarem assim.
Enquanto caminhava pela rua onde ficava o
trailer no qual morávamos, como sempre os
vizinhos me observavam de soslaio e cochichavam
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entre si, porque eu era a mulher do maior


vagabundo da cidade. Naquele dia olhavam e
cochichavam mais que o normal, certamente por eu
ter passado a noite fora, enquanto o vagabundo,
como eles diziam, estava na cadeia.
Eu não queria nem pensar no que estavam
falando de mim por não ter dormido em casa, sabia
boa coisa não era. Mas eu já estava acostumada
com o comportamento daquela gente. O que mais
me preocupava era que dali a alguns meses Lucas
iria para a escola e certamente receberia o mesmo
tratamento. Doía-me na alma imaginar que meu
pequenino seria discriminado pelos coleguinhas,
que sofria bullying e todos os tipos de preconceito
por causa da conduta dos seus pais, algo que não
era culpa dele. Era uma pena que a sociedade não
tivesse um coração, as pessoas que se diziam de
bem eram cruéis com as vítimas que escolhiam.
Quando entrei no pequeno trailer, no final da
rua, todas as dores e receios pareceram ter ficado
do lado de fora. Uma felicidade genuína encheu
meu peito quando o meu filho desceu do sofá, onde
se encontrava assistindo desenhos na televisão, e
veio correndo me encontrar ainda na porta.
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O segurei em meus braços, aspirando seu


cheirinho gostoso, colando sua pele delicada na
minha, enquanto ele me abraçava com braços e
pernas e me apertava forte.
Para ele não importava onde eu havia passado a
noite, só importava que estava de volta e estava
bem. Esse era o amor incondicional que unia mães
e filhos.
Lucas era muito parecido comigo, tinha a
mesma pele morena e os mesmos olhos verdes,
apenas os cabelos eram cor de trigo, como os de
Jerry.
— Mamãe, o motorista conseguiu consertar o
ônibus? — Ele perguntou, apalpando os dois lados
do meu rosto com as mãozinhas pequenas.
— O ônibus? Do que você está falando, meu
amor?
— A vovó disse que você demorou chegar
porque o ônibus tinha quebrado.
Nesse momento, minha mãe surgiu do outro
compartimento do trailer, que se resumia a três
pequenos cômodos: um deles servia como o quarto
onde Lucas, Jerry e eu dormimos; o outro era a sala
da televisão, onde minha mãe dormia no sofá-cama
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e o terceiro usávamos como a cozinha. Era um


trailer tão antigo que há muito tempo não saía mais
do lugar. Inclusive seu motor fora vendido por
Jerry em um ferro velho, durante um dos nossos
muitos momentos de sufoco.
— Eu contei a ele que aquele ônibus maldito
vive quebrando. Por isso você não conseguiu voltar
para casa ontem à noite. — Minha mãe me deu uma
piscadela.
Ela não era mais a mesma mulher fazia muito
tempo. Passou anos de sua vida aceitando os maus
tratos do seu ex-companheiro covarde e pervertido,
para que tivéssemos um teto sobre a cabeça e um
prato de comida na mesa e quando soube o que ele
fazia comigo, quase surtou de vez. Vivia meio
aérea pelos cantos, desnorteada, perturbada. Lucas
parecia ser sua melhor motivação para viver.
amava-o verdadeiramente e gostava de se sentir útil
cuidando dele.
— Foi isso mesmo querido. O ônibus quebrou
e tivemos que passar a noite toda esperando o
motorista consertar. — Falei.
— Mamãe, você passou a noite toda dentro do
ônibus? Como conseguiu dormir?
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— Dormi sentada no banco reclinável. Por isso


a mamãe está tão cansada agora.
Minha mãe tirou as sacolas de compra das
minhas mãos, de dentro de uma delas tirou um
pacote de salgadinhos, os preferidos de Lucas e
entregou a ele, deixando-o exultante com a
guloseima. Então o acomodei de volta no sofá.
— Por isso você agora vai ficar comportadinho
aí assistindo desenho, enquanto a mamãe vai
descansar um pouco.
Lucas concordou sem protestar. Era um
menino muito calmo e bom.
Minha mãe segurou-me pela mão e me puxou
para a cozinha. Queria saber porque eu não viera
para casa na noite anterior. Sentei-me a pequena
mesinha e servi-me de uma xícara de café puro,
minha primeira refeição daquele dia. Observando
os seus olhos cansados e preocupados, contei tudo a
ela, desde o momento em que me refugiei no quarto
de Lowell Dixon, sem saber que era ele, até o
momento em que fui demitida.
Ela se mostrou ainda mais preocupada, mas
também otimista. Já estava acostumada a
passarmos por momentos de sufoco, sabia que
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daríamos um jeito, sempre dávamos. Chegou a


mencionar que se fosse necessário pegaria algumas
roupas para lavar, mas eu não permitiria. Preferia
que ela tomasse conta de Lucas enquanto eu me
virasse. Era a única pessoa em quem eu confiava
totalmente em deixar o meu filho, além do mais, ela
não estava mais na idade de trabalhar fora.
Como ela mesma dissera, eu daria um jeito.
Fome não passaríamos.
Tomei um banho frio demorado, engoli um
comprimido para a dor de cabeça causada pela
ressaca, vesti um short jeans curto e uma blusinha
de malha de alças finas e fui até a banca de jornal
junto com Lucas. Nosso trailer ficava em um
terreno baldio da prefeitura no final da rua, de
frente para um antigo ferro velho abandonado, por
isso precisávamos caminhar alguns metros até ver
as primeiras casas. Nossos vizinhos não
disfarçavam a hostilidade quando nos observavam,
mas eu não ligava para eles. Por mais que nos
odiassem, não podiam fazer nada contra nós que
não nos observar e cochichar entre si. Sabiam que
se fossem além disso teriam que se entender com
Jerry.
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Comprei o jornal e voltamos para casa. Depois


do almoço, minha mãe e Lucas se recolheram ao
quarto para o rotineiro cochilo da tarde, enquanto
eu me acomodava a mesa que havia na frente do
trailer, o lugar mais ventilado e tranquilo da
modesta residência, onde ninguém da vizinhança
podia me enxergar, porque não estavam perto o
suficiente. Servi-me de um copo com refresco de
morango gelado, a fim amenizar o calor e abri o
jornal nas páginas dos classificados, onde havia as
poucas ofertas de emprego, já que a maioria eram
publicadas nos sites da internet e a nossa Internet
havia sido cortada, por falta de pagamento, fazia
alguns dias.
Fui circulando as vagas de garçonete, faxineira
e a empregada doméstica, aquelas que exigiam
pouca especialidade e não tinham muita procura.
Estava distraída com minha tarefa, sentada em
uma das cadeiras, com os pés pendurados em cima
de outra, quando um carro velho se aproximou,
lançando poeira para todos os lados e estacionou
diante do trailer. Era o carro de Jason Júnior, um
agiota para quem Jerry devia dinheiro desde que eu
podia me lembrar. Era um sujeito alto, parrudo e
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mal encarado.
Empertiguei-me na cadeira quando ele saltou e
se aproximou. Pelo menos desta vez estava
sozinho, sem os capangas que costumavam
acompanhá-lo.
— Boa tarde Madison. Tudo bem com você?
— Tudo bem, Jason. Quer se sentar?
Ele ocupou uma cadeira do outro lado da mesa.
— Fiquei sabendo que você foi demitida do
hotel e acredito que possa estar guardando o seu
pagamento para quitar parte da dívida que Jerry
tem comigo. Não que isso chegue a pelo menos dez
por cento do que ele me deve, mas ajuda.
Ele falava com tom firme e ligeiramente
ameaçador. Devia ser o jeito como costumava falar
com todos os seus devedores, já que emprestava
dinheiro para muita gente, para receber com juros
absurdos. Era a ele que Jerry recorria quando
estávamos nos maiores sufocos e não
encontrávamos outra saída. Sempre que participava
de alguma atividade ilegal e conseguia algum
dinheiro, grande parte desse dinheiro ia para as
mãos de Jason, só que devido aos juros, a dívida
nunca era totalmente quitada.
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Pensei em mentir, dizer que não tinha recebido


pelos dias trabalhados no mês, mas em uma cidade
pequena como aquela, onde todo mundo sabia de
tudo, as mentiras tinham pernas curtas.
— Desculpe Jason, mas o dinheiro que recebi
pelos dias desse mês foi pouco. Só deu para
comprar o básico para garantir alimentação de
Lucas até que eu consiga outro emprego.
O semblante de Jason se tornou obscuro, a ruga
em sua testa se aprofundou, seus olhos castanhos
claros assumiram uma expressão extremamente
ameaçadora. Na profissão dele, eu acreditava que
precisava amedrontar e afugentar as pessoas na
hora de cobrar e sabia fazer aquilo muito bem. Eu
estava bastante amedrontada. Sem a proteção de
Jerry, qualquer um podia me fazer mal. Eu não era
nenhum exemplo de coragem e valentia, pelo
contrário.

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CAPÍTULO IV

— Eu entendo que você tenha que alimentar o


seu bebê, mas eu também tenho filhos, Madison.
Como você espera que eu os alimente se meus
clientes não me pagam o que devem?
— E-eu vou dar um jeito, eu juro. Como pode
ver estou procurando emprego nos classificados.
Logo logo consigo alguma coisa e o primeiro
pagamento será seu.
Ele se levantou e aproximou-se de mim, me
fazendo estremecer dos pés à cabeça.
— Não há muitos empregos na cidade e
mesmo que haja, até você receber seu primeiro
pagamento vai demorar muito. Não posso esperar
tanto.
Levantei-me também, a fim de me afastar da
sua proximidade assustadora, só que ele se
aproximou mais um passo e fiquei meio
encurralada entre seu corpo grande e a parede do
trailer. Eu passara anos da minha vida sendo
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encurralada e abusada por um homem como aquele,


não era fácil esquecer esse tipo de trauma. Parecia
haver um mecanismo dentro de mim que, ao invés
de me fazer reagir, me tornava ainda mais
impotente, incapaz de enfrentar meu inimigo. Eu
queria poder desligar esse mecanismo e criar
coragem para erguer meu queixo em minha defesa
e enfrentar aquele babaca que me ameaçava, mas
eu não conseguia, aquela covardia estava gravada
em mim como se a ferro e fogo.
— Eu vou dar um jeito. Arranjo esse dinheiro
antes que você imagine. Posso vender alguma
coisa. Espera só mais um pouco.
A cabeça de Jason deitou para um lado,
enquanto seus olhos ameaçadores varriam o meu
corpo de cima a baixo.
— Uma mulher como você não merecia viver
nessa situação. Você é linda demais, podia arranjar
um homem que te desse no mínimo uma vida
digna. Aquele bosta do Jerry não é homem para
você. Eu podia te dar uma vida muito melhor que
isso. Podia te dar uma casa decente, se você fosse
minha.
Suas palavras atiçaram ainda mais o medo em
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minhas entranhas.
— Nós só estamos atravessando uma fase
difícil. As coisas vão melhorar. Sua dívida será
toda paga. Agora se puder me dar licença, preciso
continuar procurando um emprego.
— Está me dizendo que devo ir embora, gata?
Minha presença te incomoda?
Ele aproximou-se mais um passo, colocando-se
tão perto de mim que o fedor do seu suor alcançou
minhas narinas, causando-me náuseas.
“Reage, Madison. Dá um chute nas bolas
desse idiota!” Eu não conseguia.
— Não foi isso que eu quis dizer. Só quero
trabalhar para conseguir logo o dinheiro para pagar
você. — Minha voz saiu trêmula, revelando minha
covardia e ele sorriu satisfeito ao perceber o quanto
conseguia me intimidar.
Nesse momento, outro carro se aproximou do
trailer e estacionou em meio a uma cinzenta nuvem
de poeira, um carro luxuoso, caríssimo, desses que
nunca se via por ali. Era o carro que Lowell Dixon
dirigia quando deixou o hotel naquela manhã. Meu
coração deu um leve salto no peito quando o vi
abrindo a porta e saindo. Seus olhos negros
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assumiram uma expressão raivosa enquanto se


deslocavam entre mim e Jason, à medida em que
ele se aproximava de nós, alto, charmoso e elegante
dentro do terno caro preto, que caía tão bem em
seus ombros largos que parecia feito sobre medida.
— Boa tarde. Estou interrompendo alguma
coisa importante aqui? — Lowell indagou e o
simples som da sua voz disparou o ódio dentro de
mim.
Era a voz do homem responsável por tudo de
ruim que havia acontecido em minha vida. O que
ele estava fazendo ali?
— Quem é esse sujeito, mais um cobrador? —
Quando Jason indagou, afastando-se um passo,
Lowell novamente alternou seu olhar entre nós
dois, como se de súbito tivesse acabado de
compreender exatamente o que se passava ali.
— Ele não é ninguém. É só um intruso que não
devia estar aqui. Deve ter se perdido no caminho
entre uma de suas mansões e um dos seus
apartamentos de cobertura. — Disparei, sem
disfarçar o tom ríspido da minha voz.
— Se é um intruso que não deveria estar aqui,
acho que posso resolver isso.
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Jason deu um passo ameaçador na direção de


Lowell e temi pelo que pudesse acontecer. Lowell
era a escória da humanidade, mas ninguém merecia
levar um tiro no meio da testa, assim do nada e
Jason sempre andava armado.
— Acho que Madison não se expressou
corretamente. Nós nos conhecemos desde crianças.
E estou aqui para conversar com ela. — Lowell não
se deixou intimidar. — Quanto a você, pelo que
entendi, está aqui para cobrar uma dívida. De
quanto seria essa dívida?
Imediatamente Jason mudou de postura, seus
olhos interesseiros assumindo um brilho ambicioso
na direção do outro homem. O que não era por
menos, bastava olhar para o carro de Lowell, para
as suas roupas caras, para saber que ele tinha muito
dinheiro.
— Por que o interesse? Está disposto a quitar a
dívida? — Jason quis saber.
— Se eu quitar, você vai embora daqui?
Desta vez foi Jason quem alternou seu olhar
entre mim e Lowell, a malícia indisfarçável na sua
expressão.
— Não quero nada de você. Vai embora daqui.
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Não aceita o dinheiro dele Jason. — Protestei.


— É de dinheiro que estamos falando, gatinha.
Se ele está disposto a pagar a sua dívida, melhor
para você.
Droga! Agora eu ia ficar devendo favor àquele
traste.
— E de quanto estamos falando? — Lowell
dirigia-se a Jason com altivez, como se este fosse
inferior a ele, como se estivesse em um pedestal,
muito acima de nós dois. O que o tornava ainda
mais irritante e odioso.
— Bem, se considerando a quantidade de
tempo que emprestei o dinheiro, somando todos os
juros, isso dá em torno de quarenta mil.
— O quê?! Você não nos emprestou todo esse
dinheiro! — O maldito percebeu que Lowell era
rico e estava tirando proveito.
— Eu Pago cinquenta mil se você sair daqui
agora mesmo.
Os olhos de Jason se arregalaram e brilharam
ainda mais.
— Pague-me em dinheiro vivo e estarei longe
daqui antes que você tenha tempo de dar uma
piscadela.
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Sem hesitar, Lowell entrou em seu carro


luxuoso e quando saiu carregava um envelope
grosso, tamanho A quatro, o qual entregou a Jason,
que examinou o conteúdo com olhos incrédulos,
quando pude ver as notas de cem dólares
organizadas em várias pilhas.
Se se tratasse de qualquer outro ser humano, eu
teria me empenhado em impedir aquele golpe dado
pelo agiota, de cobrar muito acima do valor que
devíamos, mas era de Lowell Dixon que estávamos
falando, ele que desse todo o seu dinheiro a um
malandro, eu não me importava. Isso era pouco
perto de tudo o que fez a mim e à minha mãe. Além
do mais, eu podia apostar como não lhe faria falta
alguma. Aquela quantia era insignificante para ele.
Entusiasmado, Jason terminou de contar o
dinheiro mais fácil que já havia ganhado na vida,
em seguida, me lançou uma piscadela.
— Eu sabia que você não ia perder tempo,
gatinha. Pelo visto está muito bem arranjada.
— E você já deveria estar entrando em seu
carro e dando fora daqui. — Lowell o cortou,
asperamente.
— Você é quem manda, Sr...?
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— Senhor, não Interessa.


— Como queira.
Com isto, Jason entrou em seu carro e partiu
lançando poeira para todos os lados.
Apesar dos meios, não consegui evitar o alívio
por saber que havia um problema a menos na
minha vida. Pelo menos para alguma coisa Lowell
serviu.
— Se está aí esperando um agradecimento eu
agradeço. Pagarei você assim que possível. Agora
se puder me dar licença, estou meio ocupada aqui.
— Na verdade, eu estava aqui me perguntando
se algum dia vou te encontrar sem que você esteja
prestes a ser atacada por um homem. —
Empalideci, constrangida, sem saber o que dizer.
Pela segunda vez em dois dias ele me salvava de
ser atacada e eu não conseguia ser grata o bastante.
— Você e sua mãe moram aqui?
Ele observava o trailer quase chocado. Pelo que
eu me lembrava da mansão onde morava quando
éramos crianças, aquele trailer devia parecer o
cúmulo da miséria aos seus olhos, o que me
deixava ainda mais embaraçada.
— Pois é, nós moramos. Mas isso não é nada
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comparado às situações para as quais você nos


empurrou com a covardia que cometeu no passado.
— Exatamente por isso estou aqui. Precisamos
conversar sobre esse assunto. Esclarecer as coisas.
— Não tenho nada para conversar com você. O
que você fez não pode ser desfeito. Agora por
favor, vá embora.
Ele aproximou-se um passo de mim, seus olhos
escuros fitando-me profundamente, o que fez com
que algo se agitasse em meu interior, uma
inquietação inesperada, inexplicável.
— Eu sei que não pode ser reparado, nem
desfeito. Depois de pensar sobre o assunto cheguei
à conclusão de que errei feio e quero me redimir do
meu erro. Eu não posso mudar o passado, mas
posso fazer algo para te ajudar daqui em diante.
— Ah você chegou a essa conclusão? —
Cruzei os meus braços na frente do tórax, em um
gesto inconsciente de proteção, como se ele fosse
minha maior ameaça.
— Sim e vim te fazer uma proposta.
— Não estou interessada.
— Pelo menos me ouça antes de dizer que não
está interessada. — Cortou-me, curto e grosso.
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— Não quero nada que venha de você. Aliás,


como veio parar aqui? Como descobriu meu
endereço?
— Eu passei lá no hotel para te procurar e me
disseram onde você mora. Fiquei sabendo também
que foi demitida.
— O dono do hotel é um cretino desalmado. —
Dei de ombros.
— Talvez tenha sido melhor assim. Aquilo lá
não é lugar para você.
Cada palavra que saía da boca dele parecia um
sopro de vento no fogo da fúria que queimava em
minhas entranhas e o fazia crescer.
— E o que você sabe sobre a minha vida para
opinar? Você não sabe de nada!
— Sei o suficiente para ter certeza de que
precisa de ajuda e quero ajudar. Quero que venha
trabalhar comigo em Orlando, na minha empresa,
em um bom cargo. — Ele fez uma pausa,
esperando resposta, como não obteve, continuou.
— Tenho também alguns apartamentos na cidade
onde você pode morar sem ter que precisar ficar em
um buraco horrível como esse.
Eu observava, aturdida. Era realmente uma
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proposta irrecusável. Eu teria aceitado sem


pestanejar se tivesse partido de qualquer outro ser
humano na face da terra, mas daquele homem eu só
queria distância e mais nada.
— É uma boa proposta, mas realmente não
estou interessada. Agora entre no seu carro e vá
embora daqui.
— Você está sendo infantil e rancorosa,
Madison. Apegando-se a algo que aconteceu
quando éramos apenas duas crianças. Eu sei que eu
errei e estou aqui na sua frente admitindo isso. Se
eu pudesse voltar no tempo e mudar as coisas eu
faria, mas não posso. Além do mais, eu não tinha
ideia de que minha atitude geraria tantas
consequências ruins. Para falar a verdade nem me
passou pela cabeça que sua mãe seria demitida por
causa daquilo.
— Sempre inventando pretextos para se safar,
não é mesmo Lowell Dixon? Com aquela idade
você já sabia muito bem o que estava fazendo.
Sabia que sua mãe demitiria a minha e daria um
jeito de impossibilitá-la de arranjar outro emprego.
— Como assim?
— Ah, você não sabe? Sua mãe acusou a
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minha de insubordinação. Ela nunca mais


conseguiu outro trabalho.
— Eu não sabia disso e não estou inventando
nada. Se eu quisesse me safar de alguma coisa não
estaria aqui tentando me redimir.
— O seu problema é que você acha que seu
dinheiro pode resolver tudo. Aposto como você
subornou o dono do hotel para que dissesse onde
moro.
— Eu ouvi você dizendo Lowell Dixon? — A
voz da minha mãe partiu da porta de entrada do
trailer. Ela tinha o rosto ainda meio sonolento
quando se aproximou de Lowell, examinando-o
atentamente, como se o reconhecesse. Atrás dela
vinha Lucas, que se enroscou em minhas pernas,
observando o homem com timidez. — Minha
nossa! É você mesmo. Como está crescido e como
se tornou um homem tão bonito.
Minha mãe colocou-se diante dele,
observando-o de muito perto. Acariciou o seu rosto
moreno, carinhosamente, e passou as mãos pelos
seus cabelos curtos. Ela tinha o semblante
carregado de afeto, um sorriso genuíno brincando
em seus lábios, como se olhasse para um filho seu.
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— Olá, Ivone. Como você está?


— Você se lembra de mim! — Minha mãe
sorriu ainda mais amplamente.
— E como eu poderia me esquecer. Você
praticamente me criou.
— Sim, eu cuidei de você desde o dia em que
nasceu.
Diante dos meus olhos perplexos, os dois se
abraçaram. Minha mãe devia estar mais louca do
que eu imaginava, para acolher com tanto afeto o
sujeito responsável por toda a nossa desgraça.
— Quer entrar e tomar um café fresco, meu
filho?
— Mamãe o que você está fazendo? Esse cara
foi responsável pela sua demissão e por tudo de
ruim que aconteceu com a gente depois.
— Não seja rancorosa, Madison. Ele era só
uma criança. Não fez nada por maldade. — Ela
continuou encarando Lowell como um afeto de
mãe.
— Vou aceitar sim, por favor.
Os dois se dirigiram, lado a lado, para a entrada
do velho trailer, quando Lucas perguntou quem era
aquele homem e só então Lowell pareceu notar a
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presença dele.
— Não é ninguém, meu querido. Só um
homem mau que já vai embora. Não precisa ter
medo dele.
— Eu não estou com medo, mamãe.
Ao ouvi-lo me chamando de mamãe, Lowell
estacou, observando o rosto do garoto com olhos
chocados, abismados, como se assistisse o
aterrissar de uma nave alienígena no solo terrestre.
— Ele disse mamãe?
— É, ele disse. Eu tenho um filho e um marido
também. — Pronunciar aquela segunda frase me
proporcionou um tipo de prazer meio perverso.
Lowell ficou ligeiramente pálido com a minha
revelação.
— E onde está seu marido agora?
Foi a minha vez de ficar pálida, de puro
constrangimento, não apenas porque apesar de ser
uma mulher casada, estava tão indefesa que por
duas vezes ele precisou me salvar de ser atacada
por um tarado, mas por ser a mulher de um
presidiário, de um bandido de quinta categoria. Eu
não admitiria aquilo. Então, lembrei-me da mentira
que contava a todos que não me conheciam, quando
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era indaga a esse respeito.


— Ele está viajando. Trabalha com viagens. —
Não consegui encará-lo enquanto respondia. —
Não que isso seja da sua conta.
— Meu papai está viajando, eu sou o homem
da casa agora e não vou deixar você fazer mal a
minha mamãe. — Lucas disparou e como se não
bastasse, atacou a perna de Lowell, deferindo-lhe
um soco do seu punho cerrado, o rostinho vermelho
de raiva.
Esse era o meu garoto!
— Eu não vou fazer mal a sua mãe, garoto. —
Irritado, Lowell limpou o tecido da sua calça com
uma mão, como se tirasse algum vestígio de sujeira
deixada por Lucas, o que só serviu para atiçar ainda
mais a raiva dentro de mim.
Quem ele pensava que era?
Lucas fez menção de bater nele novamente e
precisei pegá-lo no colo, mas só para evitar que
machucasse seu pulso.
— Madison, você precisa ensinar esse garoto a
ter modos. — Minha mãe falou, enquanto conduzia
Lowell para o lado de dentro do trailer.
Mas que grande traíra era ela!
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Inconformada, fui atrás deles. Na minúscula


sala, onde havia apenas um sofá cama velho e a
televisão, Lowell percorreu os seus olhos por cada
detalhe, observando tudo, quando pude ver a
piedade se refletindo na expressão do seu olhar. Ele
estava com pena de nós, das condições miseráveis
em que vivíamos. Eu podia suportar tudo dele, mas
sua piedade já era demais. Queria poder expulsá-lo
e dizer que nunca mais voltasse, mas sabia que ele
não iria enquanto não quisesse ir, era um homem
impetuoso e arrogante, como quando garoto e tendo
o apoio da minha mãe, para ficar, isso só piorava.
Ainda assim, eu não era obrigada a ficar ali
olhando para a cara dele. Então os deixei e me
refugiei no quarto com Lucas no colo, de onde
podia ouvir toda a conversa dos dois partindo da
cozinha, enquanto tomavam café. Falavam sobre o
passado, sobre como se davam bem quando ele era
criança, sobre como ela gostava de cuidar dele e o
tinha como um filho. Certamente por causa da
consciência pesada, Lowell confessou que se
soubesse que ela seria demitida jamais a teria
acusado injustamente e chegou até a pedir
desculpas, algo memorável da parte dele, se
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considerando o boçal que era. Ouvi quando ele se


despediu e ao acreditar que estava livre da sua
insuportável presença, ele simplesmente invadiu o
quarto, sem sequer bater na porta, como se fosse o
dono do lugar.
Era mesmo muito folgado!
— O que pensa que está fazendo?! Você não
pode entrar aqui sem pedir licença! — Levantei-me
rapidamente da cama, Lucas se prontificando ao
meu lado, com seus pequenos punhos cerrados na
direção de Lowell, pronto para atacá-lo em minha
defesa caso fosse necessário.
Coitadinho do meu pequeno herói!
Minha face queimava de raiva, o que só piorou
quando Lowell vasculhou todo o minúsculo
cômodo com seus olhos carregados de compaixão e
perplexidade, me deixando extremamente
constrangida.
— Vim te entregar o meu cartão. Pense na
minha proposta, Madison. Tenho um bom emprego
para você, um bom apartamento onde você pode
morar com a sua mãe, seu filho e seu marido.
Apenas pense e quando perceber que se mudar para
Orlando será o melhor para você e sua família,
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basta me telefonar.
Como se ele me deixasse sempre na defensiva,
cruzei meus braços na frente do tórax antes de
responder.
— Não vou mudar de ideia. De você não quero
nada além de distância. Se era só isso, pode ir
embora.
A puxa-saco da minha mãe veio por trás dele e
pegou o cartão da sua mão, garantindo-lhe que ia
me fazer mudar de ideia e que em breve eu
telefonaria.
Lowell lançou mais um olhar de pena pelo
quarto, olhou rapidamente para Lucas, que o
encarava enfezado ao meu lado, observou
atentamente meu rosto e, por fim, deu meia volta e
se foi. De dentro do quarto ouvi quando seu carro
deu a partida e se afastou.
Como eu já esperava, minha mãe veio me
encontrar, me observando com aquela cara de
reprovação, como se eu fosse a errada na história,
como se aquele maldito não fosse o responsável por
toda a nossa desgraça, por todas as tragédias que
nos aconteceu. Se não fosse por ele, eu não teria
passado quatro anos da minha vida sendo
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violentada por um porco maldito e fedorento.


— Nem tente me convencer a aceitar a
proposta daquele imbecil. Trabalho como
arrumadeira de hotel, como garçonete, ou
empregada doméstica, mas não quero nada dele.
— Não seja tão rancorosa, Madison. Ele era só
um menino e era um menino muito bom. Aposto
como não imaginava a amplitude das
consequências quando inventou aquela mentira. E
se você o culpa por tudo o que nos aconteceu de
ruim, pelo que aquele maldito fez com você,
acredito que você me culpe também, porque fui eu
quem nos levou para debaixo do teto dele.
Suas palavras me causaram o efeito de um
punhal sendo encravado na boca do meu estômago.
Eu jamais a culparia por nada. Se por um minuto
ela tivesse imaginado que aquele monstro me
visitava em meu quarto durante as noites, teria nos
levado para morar debaixo de um viaduto, mas não
permitiria que aquilo continuasse acontecendo.
— Não foi culpa sua, mãe. Você não sabia que
ele ia fazer aquilo. Eu não te contei nada porque
não tínhamos mais para onde ir.
Já havíamos tido aquela conversa diversas
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vezes e mesmo assim o assunto ainda nos comovia,


deixando minha mãe com os olhos marejados de
lágrimas, meu coração apertado no peito.
Claramente emocionada, ela segurou minhas
mãos entre as suas, sentou-se na beirada da cama e
me fez sentar ao seu lado. Fitou-me diretamente
nos olhos antes falar:
— Eu sei que não foi culpa minha, sei disso
porque às vezes não medimos as consequências dos
nossos atos. Nunca passou pela minha cabeça que
aquele porco maldito fosse capaz de fazer o que fez
com você, quando concordei em ir morar com ele.
Da mesma forma, nunca passou pela cabeça de
Lowell que eu seria demitida quando ele inventou
aquela mentira. E olha que a diferença de idade
entre nós era exorbitante. Eu era uma mulher adulta
e ele quase uma criança.
— Você nos levou para morar com aquele
homem porque não tínhamos outra opção, Lowell
podia ter falado a verdade. Não dá para comparar
uma coisa com a outra.
— Ele agiu sem pensar, e até arrisco dizer que
foi manipulado pela mãe. E mesmo que ele esteja
errado, está tentando se redimir. Ele quer nos
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ajudar, Madison, imagina a vida que teríamos em


Orlando, as escolas maravilhosas que Lucas
poderia frequentar, sem sofrer a discriminação
dessa gente daqui, imagina todas as dificuldades
das quais o salário de uma grande empresa poderia
nos tirar. Pense nisso filha. O que Lowell está nos
oferecendo é a melhor oportunidade das nossas
vidas.
Ela colocou o cartão que havia pegado da mão
de Lowell sobre o colchão ao meu lado, antes de
chamar Lucas para ir até a cozinha fazer um lanche.
Minha mãe sabia exatamente como me
convencer, não tinha conseguido totalmente ainda,
mas suas palavras me fizeram pensar e cogitar
seriamente aceitar aquela proposta, principalmente
por Lucas, pela oportunidade que ele teria de se
tornar uma pessoa melhor que eu e que o seu pai.
Talvez a única oportunidade que o meu filho teria
de construir um futuro melhor que o nosso. Além
do mais, para trabalhar na empresa de Lowell eu
não precisava ser exatamente amiga dele, talvez
sequer o veria. Ele era o dono da empresa, nem
todos os funcionários teriam acesso a ele e eu seria
só mais uma funcionária insignificante lá dentro.
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Minha mãe estava certa, não em dizer que


aquele idiota não era totalmente culpado pelo que
nos aconteceu, porque ele era e nada me faria
pensar diferente, mas por acreditar que a proposta
dele podia ser a melhor oportunidade de nossas
vidas. Era praticamente a realização de um sonho,
me mudar para uma cidade grande, trabalhar em
uma grande empresa, talvez voltar para o colégio,
concluir o Ensino Médio e ingressar em uma
faculdade. Eu ainda tinha vinte e dois anos, não era
tarde demais para tentar um curso superior. E o
principal de tudo: teria condições de dar uma boa
educação para o meu filho.
Sim, realmente aquela era a oportunidade da
minha vida. Entretanto havia um empecilho ainda
maior que a minha resistência em aceitar, havia
Jerry. Ele precisava concordar com aquilo tudo
antes que eu tomasse qualquer decisão, eu não
podia fazer nada sem o consentimento dele. Talvez
o fato de que estando em Orlando, eu estaria mais
próxima dele, já que a prisão onde estava ficava em
Kissimmee, contribuísse para a sua decisão. Eu só
não podia fazer nada antes de falar com ele.

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CAPÍTULO V

Era uma noite quente de verão, eu e minha mãe


estávamos sentadas à mesa, com o jantar servido, a
espera do marido dela. Não podíamos começar a
refeição sem ele, porque a casa, a comida, e tudo
mais pertencia àquele homem. Como ele sempre
dizia: nós estávamos ali de favor.
Já era tarde e eu lutava contra o sono quando a
porta se abriu e o maldito entrou. Mesmo antes que
chegasse perto de nós, o fedor de álcool misturado
com cigarro, que partia dele me alcançou,
causando-me náuseas violentas, tirando todo o
apetite que eu vinha guardando desde que minha
mãe começara preparar o jantar.
Com aquele sorriso horrível, exibindo dentes
amarelados, em meio a uma barba mal aparada, ele
me estendeu um pacote embrulhado em papel de
presente e mandou que eu abrisse. Era uma boneca.
Eu devia ter ficado feliz porque, afinal, não tinha
brinquedos, mas fiquei angustiada, por saber que a
gentileza dele teria um preço. Naquela noite ele me
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visitaria em meu quarto, para cobrar esse preço e


não havia nada que eu pudesse fazer para evitar
isso. Se contasse para a minha mãe, ela nos levaria
embora e não tínhamos outro lugar para morarmos.
Ele mesmo fizera questão de me lembrar dessa
verdade diversas vezes.
Depois do jantar, fui direto para o meu quarto e
deitei-me sem sequer trocar de roupas. Estava lá
rolando de um lado para o outro da cama, com o
peito cheio de angústia, quando a porta se abriu e o
porco fedorento entrou, a imagem do seu corpo
grande e parrudo se projetando em meio à
penumbra do aposento.
Primeiro ele quis ver a boneca que me dera,
saber se eu tinha gostado do presente, depois
prometeu que me daria muito mais coisas se eu
fosse boazinha. Como já era esperado, me sufocou
na cama, fez tudo o que fazia comigo sempre que
me visitava durante a noite e então se foi. Esperei
que seus passos se afastassem pelo corredor do lado
de lá da porta e então parei de sufocar as lágrimas,
deixando que elas rolassem abundantes pelo meu
rosto.
Como sempre nesses momentos, lembrei-me
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de Lowell, do quanto me enganei achando que ele


fosse meu amigo, sem que ele jamais tivesse sido.
Na primeira oportunidade que teve de nos
prejudicar ele fez, inventando aquela mentira para
que minha mãe fosse demitida, sem se importar
nem um pouco com o que aconteceria conosco. Ele
que jurava que me protegeria de todos os males da
vida, me jogara naquele inferno. Tudo o que
acontecia comigo era culpa dele, da sua mentira, da
sua falta de capacidade de assumir a
responsabilidade pelos seus atos.
Como ele pôde fazer aquilo conosco? Como foi
capaz de me jogar naquela situação? Por que fingia
ser meu amigo se, na verdade, jamais se importou
comigo?
Durante muito tempo Lowell foi a minha
pessoa preferida no mundo, o meu melhor amigo,
alguém por quem eu era meio apaixonada, mas
agora o odiava com todas as minhas forças, pelo
que fez conosco. Por causa dele, a minha vida
agora era aquele inferno, do qual a única saída
parecia ser uma gilete amolada passando por cima
dos meus pulsos.
Despertei do pesadelo com um sobressalto.
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Mesmo com ventilador ligado em cima de mim e


de Lucas, que dormia profundamente ao meu lado,
havia uma camada generosa de suor cobrindo
minha pele, meu coração estava acelerado no peito,
as lágrimas haviam se tornado reais e ainda
cobriam meu rosto. Já fazia muito tempo que eu
não tinha aquele sonho, que as lembranças daqueles
malditos anos não voltavam como fantasmas para
atormentar minha mente, e agora estavam lá, tão
nítidas que pareciam ter acontecido há poucos dias
e não há tantos anos atrás.
Obviamente reencontrar Lowell trouxe de volta
as lembranças desse passado maldito que eu tanto
lutava para esquecer. Esperava realmente não ter
que me encontrar com ele enquanto trabalhasse em
sua empresa, pois sua presença me fazia mal, prova
disso fora aquele sonho ruim.
Não consegui mais pegar no sono. Então
apenas esperei que o dia clareasse e sai bem cedo
para visitar Jerry na penitenciária em Kissimmee.
Era uma penitenciária de segurança mínima e
as visitas eram realizadas três vezes por semana.
Nas primeiras semanas eu ia vê-lo em todos os dias
de visitações, mas a passagem de ônibus saía cara,
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então passei a ir revistá-lo apenas uma vez por


semana, ou em situações de emergência, como
aquela.
Na grande sala de visitas, mobiliada por mesas
redondas e cadeiras, vários familiares esperavam
para ver os presidiários, quando Jerry foi trazido
por um guarda uniformizado. Estava ainda mais
magro, pálido e abatido que da última vez em que o
vi, devido à má alimentação que recebia ali,
embora continuasse bonito como quando o conheci.
Era alto e magro, tinha olhos cor de mel, um rosto
muito bem esculpido e os cabelos loiros
acinzentados. Jerry representava para mim a
coragem que eu não tinha, ele me defendia como
jamais alguém me defendera na vida, me protegia
de todos os males que pudessem me atingir. Foi ele
quem expulsou aquele pedófilo maldito da cidade,
ameaçando matá-lo caso voltasse. Só isso era capaz
de me prender a ele, de fazer com que eu quase o
amasse.
Não podíamos nos abraçar ali, mas sempre
quebrávamos a regra e nos envolvíamos em um
abraço forte antes que o guarda tivesse tempo de
chegar até nós para nos separar.
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— Como é bom te ver, minha pequena. Tem


sido um inferno viver longe de você. — Disse ele,
enquanto nos acomodávamos um de cada lado da
mesa.
— Tem sido um inferno viver sem você lá fora
também. — Na verdade, as coisas eram mais
sossegadas sem ele, mas eu precisava dizer alguma
coisa para fazê-lo se sentir melhor.
— Como está nosso menino?
— Está crescido. Eu o teria trazido, mas temos
que conversar sobre algo importante. Não temos
muito tempo.
— Seja lá o que for que tenha a dizer, me diga
que arranjou um meio de me tirar desse buraco. Eu
não suporto mais isso aqui, Madison. Estou
enlouquecendo aos poucos.
Ele parecia mais angustiado que da última vez
e meu coração apertou dentro do peito, a piedade
me tomando dolorosamente.
— Talvez possamos contratar um advogado
com meu novo salário.
Seus olhos estreitaram-se sobre os meus,
interessados e curiosos.
— De que novo salário você está falando?
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Aumentaram seu salário no hotel?


— Não. Para falar a verdade fui demitida, mas
surgiu outra coisa. Ainda não é nada certo. Por isso
estou aqui, para pedir a sua orientação antes de
tomar qualquer decisão.
Sob a mira do seu olhar interessado, contei
tudo a ele, sobre quem era Lowell, sobre como o
reencontrei no hotel, sobre ele ter quitado a dívida
com o agiota e sobre a sua proposta.
— Esse cara está a fim de você. — Jerry
esbravejou, após me ouvir atentamente.
— Ele não está. E mesmo que esteja, não terá a
mínima chance, porque não tenho olhos para outro
homem além de você. Mas se você disser para eu
não aceitar esse emprego, eu não vou aceitar. Tudo
depende de você.
Em um gesto meio desesperado, Jerry enterrou
o rosto entre as duas mãos, para em seguida
deslizar os dedos entre seus cabelos emaranhados.
— Seria loucura recusar uma proposta dessas.
— Falou.
— É o que minha mãe acha também.
— Com esse dinheiro você pode contratar um
advogado e me tirar daqui. Eu não cheguei a
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concretizar aquele roubo na joalheria, não há


nenhum antecedente grave na minha ficha. Com a
atuação de um bom advogado eu saio daqui a
pouco tempo.
— Você está dizendo que devo aceitar esse
emprego então?
Jerry observou-me em silêncio por um instante,
como se me avaliasse.
— Só porque eu confio em você e sei que não
vai deixar esse sujeito chegar perto, porque é isso
que ele quer.
— Se for isso, ele está perdendo tempo. Eu o
odeio.
— Então aceita esse emprego, minha pequena.
Dê uma vida melhor para o nosso filho e não se
esqueça de arranjar um bom advogado para mim.
Minha liberdade agora está em suas mãos e confio
em você o bastante para saber que vai me tirar
daqui. De um jeito ou de outro.
Eu não entendi o que ele quis dizer com aquele
“de um jeito ou de outro”, mas certamente
contrataria o melhor advogado que o meu salário
pudesse pagar. Era o mínimo que eu podia fazer
por ele, depois de tudo o que ele fez por mim.
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De volta em casa, esperei o horário em que


Ivone e Lucas foram tirar o seu rotineiro cochilo da
tarde, para ir até um telefone público ligar para
Lowell. Com o cartão dele na mão, eu tinha as
minhas pernas ligeiramente trêmulas, uma
ansiedade estranha tomando conta de mim, pela
perspectiva de ouvir novamente sua voz. Só podia
ser uma ansiedade acarretada pelo ódio que me
encheria quando o ouvisse. Não havia outra
explicação para tanta agitação em meu íntimo.
Com os dedos trêmulos, digitei os números e
senti minha ansiedade crescendo à medida que o
telefone chamava e ninguém atendia.
— Telefone de Lowell Dixon, pois não? —
Uma voz feminina atendeu e não consegui evitar a
decepção inexplicável que recaiu sobre os meus
ombros.
— Boa tarde, eu gostaria de falar com o senhor
Dixon.
— Quem deseja?
— Diga a ele que é Madison Oliveira.
— Ah, sim. Ele já me falou sobre você. Sou
Jasmine, a secretária dele e estou incumbida de
encaminhá-la até o novo apartamento e mostrar-lhe
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o seu novo cargo na empresa.


Aquela decepção inevitável foi crescendo
dentro de mim, não apenas porque ele não me
atenderia pessoalmente, deixando claro o quanto eu
era insignificante, mas porque já tinha tanta certeza
de que eu aceitaria sua proposta, que instruíra sua
secretária a me encaminhar para Orlando, como se
não tivesse nenhuma dúvida de que eu aceitaria.
Não compreendi o motivo da minha decepção, se
era melhor que as coisas se desenrolassem assim,
sem que precisássemos nos encontrar, sem que sua
proximidade me fizesse recordar dos fantasmas do
meu passado.
— Basta você me dar o endereço e amanhã
cedo estaremos aí. — Falei.
— Na verdade, o Sr. Dixon me mandou
apanhá-los aí quando você telefonasse. Daqui a
umas duas horas está bom? É tempo suficiente
para que você arrume suas coisas?
Poxa, Lowell estava mesmo certo de que eu
aceitaria aquele emprego. Devia ter me achado uma
desesperada.
— É suficiente sim. Você quer anotar o
endereço?
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— Não precisa. Já temos o seu endereço. Até


daqui a pouco.
De volta ao trailer, peguei a velha bolsa de
viagem coloquei de debaixo da cama e a enchi com
o que tínhamos de maior valor, o que se resumia a
algumas peças de roupas antigas, um álbum de
fotografias e alguns outros poucos objetos pessoais.
Nenhum móvel ou utensílio doméstico seria
removido do trailer, já que eram tão antigos que
dificilmente sobreviveriam a uma viagem até
Orlando.
No horário combinado, uma limusine, tão
longa e luxuosa que mais parecia um carro fúnebre,
parou na frente do trailer, lançando poeira na rua
sem calçamento. Do interior dela, saltaram um
homem alto, com cabelos castanhos, usando
uniforme típico de motorista e uma mulher
elegante, alta magra, com cabelos negros lisos,
cortados na altura do queixo, vestida de forma tão
sofisticada que se parecia com uma modelo dessas
que se via nas capas das revistas.
Apresentou-se como Jasmine Welch, a
secretária de Dixon. Embora ela não tivesse feito
nenhum comentário a respeito, mostrando-se
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discreta, não pude deixar de notar o quanto estava


chocada ao observar a precariedade do lugar onde
vivíamos.
Não me senti nem um pouco triste ao me
despedir do lugar onde morei durante os últimos
seis anos da minha vida. Não sentiria saudade nada,
principalmente daquela vizinhança, que insistia em
me julgar pelos atos de Jerry, embora não pudesse
culpá-los por isso. Eu vivia com o cara, quem não
me julgaria igual a ele?
Apesar do seu nariz empinado e da sua postura
ereta demais, traços que pareciam característicos à
sua personalidade, Jasmine se mostrou totalmente
prestativa e gentil durante todo o percurso até
Orlando. Ao avançarmos pela grande metrópole,
Lucas se mostrou abismado com a imponência dos
edifícios, com a grande movimentação de carros e
pessoas nas ruas e com os outdoors luminosos para
todos os lados. E ele não era o único a se
impressionar, aquele mundo me fascinava também.
Parecia-me a promessa de um futuro melhor, um
mar gigantesco de possibilidades no qual eu
poderia mergulhar e nadar livremente, fazer
qualquer coisa do meu futuro, me tornar qualquer
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coisa. Essa era uma sensação que eu jamais havia


experimentado antes, pois sempre estive presa em
uma bolha, todos os meus passos sempre foram
programados, agora eu parecia ter um mundo de
possibilidade aos meus pés.
Fiquei impressionada com a suntuosidade do
prédio no qual entramos e ainda mais admirada
com o apartamento para o qual fomos
encaminhados no quinto andar. Era simplesmente
deslumbrante, sofisticado demais para uma pessoa
como eu, que viveu metade da sua vida em uma
casa caindo os pedaços e a outra metade em um
trailer ainda mais arruinado. Era composto por duas
salas grandes, uma delas mobiliada com os mais
modernos aparelhos eletrônicos, um jogo de
estofado branquíssimo e alguns objetos de
decoração, que de longe se percebia que eram
caros. A outra sala possuía uma mesa com cadeiras,
sob um lustre encantador. Havia mais quatro
quartos, uma biblioteca e uma cozinha tão espaçosa
que caberia pelo menos uma dúzia de pessoas.
Todos os cômodos estavam devidamente
decorados, com a mobília tão sofisticada que dava
medo de tocar e quebrar.
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— Mamãe de quem é essa casa? — Lucas


parecia tão assustado que não largava da barra da
minha saia. Estava abismado, por nunca ter visto
em um lugar tão bonito e organizado como aquele
fora da televisão.
— Nós vamos morar aqui por um tempo, meu
querido. — Respondi. — Não é maravilhoso? Você
vai ter um quarto só seu, com todos os brinquedos
que você quiser.
— O meu papai vem morar aqui também?
— Claro que vem. Assim que voltar de
viagem, ele estará aqui conosco.
Jasmine entregou-me uma pasta cheia de
documentos e disse:
— Aqui tem algum dinheiro para o caso de
uma emergência, embora não seja muito. Tem
também o endereço de uma escola para o garoto,
que fica aqui perto e algumas instruções sobre o
cargo que você ocupará na Dixon Enterprise. Esteja
pronta amanhã às sete horas. Eu virei te buscar. —
Disse ela, com aquela firmeza que parecia inerente
a si.
— Não precisa vir me buscar. Não é porque
sou do interior que não sei me locomover em uma
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grande cidade. Eu posso encontrar a empresa


sozinha.
— Eu cumpro ordens. Se o Sr. Dixon me
mandou vir te apanhar, eu virei. Se precisar de
alguma coisa até lá, ligue para o mesmo número
que está no cartão. Tenha uma boa noite.
Com isto, a mulher elegante girou sobre os
saltos do seu scarpin e deixou o apartamento.
Parecia ser uma funcionária muito eficiente, do tipo
que jamais questionava as ordens do chefe.
Sozinhos e a vontade em nossa nova casa,
exploramos cada detalhe, maravilhados. Nem em
meus sonhos mais secretos eu cogitei algum dia
viver em um lugar como aquele. Uma pena que o
tivéssemos conseguidos pelos meios errados, pela
caridade do homem que nos arruinou no passado.
Talvez Jerry estivesse certo sobre ele estar fazendo
tudo aquilo por nós com segundas intenções, talvez
o fato de passarmos uma noite toda batendo papo e
bebendo vodca naquele quarto de hotel, — em um
momento em que eu estava frágil, carente e
vulnerável —tivesse levado-o a acreditar que eu era
uma mulher fácil e que poderia ter alguma coisa
comigo. Por isso havia a necessidade de que eu
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esclarecesse as coisas. Precisava sondar suas


verdadeiras intenções, descobrir o que ele queria de
fato e deixar claro que nada obteria de mim, antes
que Lucas se acostumasse demais com aquele lugar
para que depois tivéssemos que deixá-lo de uma
hora para outra, quando Lowell percebesse que não
teria que o que supostamente queria.
Eu precisava falar com ele o quanto antes,
deixar claro que se a sua intenção fosse me levar
para a cama em troca de tudo o que estava nos
dando, podia ir tirando seu cavalinho da chuva,
porque não ia acontecer.
Naquela noite, Ivone, Lucas e eu fizemos uma
verdadeira farra no novo apartamento. Sem a
necessidade de economizarmos nos mantimentos da
cozinha, preparamos uma pizza gigante, fizemos
brigadeiro e colocamos um DVD com desenho
animado na sala para assistirmos enquanto
fazíamos a refeição. Ainda ali na sala, Lucas
adormeceu, parecendo tão confortável no sofá
branco e macio que não tive coragem de mexer
com ele e deixei que ficasse até a hora em que a
Ivone e eu nos recolhemos para os nossos
aposentos, quando o levei para dormir comigo, pelo
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menos naquela primeira noite, ou até que se


acostumasse com o novo ambiente.
Meu quarto era um verdadeiro sonho. Não
tinha muita mobília, apenas a cama king size, uma
escrivaninha com computador e o closet, mas
possuía uma janela ampla, cuja vista revelava o
lençol de luzes brilhantes dos edifícios do centro da
cidade, em uma vista de tirar o fôlego.
Aquilo tudo parecia um sonho, o melhor sonho
que já tive, do qual eu jamais queria despertar.
Acordar cedo nunca foi problema para mim. As
seis horas da manhã seguinte já estava de pé, com o
café da manhã de Lucas pronto e de banho tomado.
Meu único problema era encontrar uma roupa
adequada para usar no meu primeiro dia de
trabalho. Se pelo menos metade dos funcionários
daquela empresa se vestissem com a mesma
elegância que Jasmine, eu estava ferrada, porque só
tinha trapos, roupas antigas e molambentas. Fazia
mais de ano que não comprava nada novo para
vestir, o dinheiro nunca dava.
O socorro partiu da minha mãe, que me
ofereceu um dos seus vestidos antigos para que eu
estivesse minimamente apresentável. Era um
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vestido fora de moda, meio no estilo dos anos


oitenta florido, longo e um pouco folgado. Não
ficou bem em mim, mas como eu não tinha outra
opção, fui com ele mesmo. Para quebrar um pouco
a formalidade da roupa, prendi os cabelos em um
rabo de cavalo e passei um pouco de maquiagem.
No horário combinado, Jasmine estava me
esperando diante do prédio, com a limusine
conduzida pelo motorista. Ela não se deu o trabalho
de disfarçar a abominação quando seus olhos me
varreram de cima a baixo, na certa escandalizada
com o vestido ridículo que eu usava. Mas não disse
nada a respeito.
— Seu trabalho lá dentro será basicamente
servir chá e café. Você servirá os executivos
durante as reuniões, ou quando solicitada. Não é
um trabalho difícil. — Explicou ela, enquanto
trafegávamos através das ruas movimentadas da
cidade.
Fiquei impressionada com o edifício diante do
qual a limusine nos deixou. Era um dos mais
modernos e suntuosos da grande metrópole. Com a
fachada toda espelhada e o pequeno logo prateado,
esculpido a ferro, com as iniciais DE (Dixon
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Enterprise) diante das portas em vidro fumê, que se


abriam e fechavam freneticamente com o entra e
sai de pessoas.
Após me fazer assinar uma pilha documentos,
referentes à minha admissão, em uma sala próxima
à recepção, Jasmine me conduziu até o oitavo
andar, onde me apresentou a copa, uma sala
enorme, toda branca e bem equipada, na qual outra
funcionária, uma mulher de origem latina, com
cerca de cinquenta anos, trabalhava preparando as
bebidas.
— É aqui. — Jasmine informou — Atenda o
interfone quando tocar e use o carrinho para levar o
café e o chá onde forem solicitados. Acho que é só
isso.
Ela estava fazendo menção de se afastar,
quando a chamei.
— Preciso falar com Lowell. Onde o encontro?
Eu precisava ter aquela conversa com ele,
esclarecer as coisas, conhecer suas intenções e
deixar claro que eu era uma mulher comprometida,
que não me envolveria com outro homem, caso
fosse essa a intenção dele ao me dar aquele
apartamento tão caro e aquele emprego com um
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salário tão alto. Muito alto para o que eu faria.


— Não é adequado que você o chame de
Lowell. Lembre-se que ele é o seu chefe agora.
Trate-o como Sr. Dixon. Eu direi a ele que você
deseja vê-lo. Se ele concordar em te receber,
interformarei pelo interfone e você sobe. A sala
dele fica no último andar. — Falou com firmeza,
empinando ainda mais o nariz, antes de dar meia
volta e ir embora.
— Não liga pra ela, garota. Ela acha que
manda aqui, mas é só uma secretária, tão
subordinada quanto todos nós. — A outra copeira
deixou o fogão de lado e aproximou-se de mim,
examinando-me dos pés à cabeça. — O que é isso
que você está usando, meu bem? Voltou a moda
dos anos oitenta?
Fiquei vermelha de vergonha. Mas isso durou
pouco, logo Consuelo — como ela se apresentou —
conseguiu me fazer relaxar com seu jeito
espontâneo e receptivo. Disse ter dado graças a
Deus que arranjaram alguém para ajudá-la, pois a
artrite já quase não a permitia se locomover pelo
edifício distribuindo o café onde era solicitado.
A princípio me senti meio inútil ali, sem nada
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para fazer, conversando com a simpática Consuelo,


que me aconselhou, logo de cara, a arranjar algo
melhor para vestir no dia seguinte, visto que a
aparência era algo supervalorizado por ali. E ela
estava certa, todas as pessoas por quem passei
naquela manhã pareciam sofisticadas e elegantes
demais.
Por volta das nove horas o interfone começou a
tocar e não parou mais. As pessoas queriam tomar
café puro, com leite, sem leite, com açúcar, sem
açúcar, com canela e sem canela. Isso sem
mencionar a quantidade água e variedade de chás
que pediam. Pareciam umas viciadas movidas a
cafeína e camellia.
Arrastando o carrinho através dos elevadores,
percorri praticamente todos os andares do edifício,
servindo pessoas em diferentes setores, quando
pude perceber que os funcionários trabalhavam
como robôs programados, apressados,
concentrados. Alguns deles olhavam horrorizados
para o meu vestido, outros mal notavam a minha
presença. Alguns executivos, os mais saidinhos, me
lançavam olhares cheios de insinuações, os quais
eu ignorava.
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Não vi Lowell nenhuma vez durante toda a


manhã e temi que, se demorasse muito para ter
aquela conversa com ele, eu, minha mãe e Lucas
pudéssemos nos acostumar demais com aquela vida
boa, para ter que deixar tudo para trás, caso as
intenções dele fossem mesmo as que Jerry falou.
Ao meio dia, ali mesmo na copa, comi o
sanduíche que havia trazido de casa para o almoço,
na companhia agradável de Consuelo. No início da
tarde, finalmente me mandaram servir café no
último andar, onde ficava a sala da presidência,
quando tive certeza de que veria Lowell e poderia
ter a conversa que precisava com ele.
Repassei mentalmente tudo o que pretendia
dizer e subi, obstinada, empurrando o carrinho com
vários copos de café, água e uma xícara de chá. O
elevador se abriu em uma antessala pequena, onde
Jasmine encontrava-se sentada, ereta demais, atrás
de uma mesa de madeira polida. Ela gesticulou para
que eu a seguisse e me conduziu para outra sala,
um escritório grande, mobiliado com requinte e
sobriedade, completamente deserto, de onde
partimos para uma terceira sala. Esta se encontrava
abarrotada de gente, executivos engravatados e
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mulheres usando terninhos caros, acomodados em


torno de uma mesa com tampo de vidro retangular
enorme. Pareciam todos muito sérios e
compenetrados.
Na cabeceira da mesa estava Lowell, a pessoa
que meus olhos buscaram durante todo o dia.
Parecia uma miragem, alto, lindo e charmoso,
usando um terno escuro feito sob medida, com a
paisagem do centro de Orlando as suas costas.
Tinha uma postura altiva, imponente, que lhe
conferia um aspecto de poder e soberania
irresistível, capaz de despertar os mais pecaminosos
pensamentos na mente de uma mulher. Bastou que
eu olhasse para ele para que algo se agitasse em
meu íntimo, uma inquietação descabida,
incompreensível, que conseguiu fazer com que
minhas pernas ficassem trêmulas e moles, as
palmas das minhas mãos se tornando geladas.
“Controle-se, Madison. É só um homem
bonito, como tantos outros por aí”.
Como se não me conhecesse de outro lugar, ele
apenas lançou um olhar rápido, indiferente, para o
meu rosto e voltou a se concentrar na fala de um
homem de meia idade que se encontrava sentado à
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sua direita.
Como era de se esperar, vários olhares se
voltaram em minha direção e desceram pelo meu
corpo, escandalizados. Eu ia atear fogo naquele
vestido quando chegasse a casa e no dia seguinte
viria trabalhar com jeans e camiseta.
À medida que eu avançava pela sala grande, o
rangido do carrinho parecia ter se tornado mais
barulhento que o normal e a atenção das pessoas
parecia se voltar cada vez mais para mim, o que me
fez caminhar como um robô, toda dura e
embaraçada.
Seguindo a etiqueta, servi cada um dos
executivos pelo lado direito, deixando Lowell por
último. Ao me aproximar dele, com a xícara de café
puro nas mãos, constatei mais uma vez o quanto era
bonito, de um jeito másculo, quase bruto. Tinha o
maxilar forte, coberto pela barba bem aparada, os
olhos eram negros, brilhantes e a pele morena. Seus
cabelos negros eram espessos e estavam bem
organizados em um topete no alto da cabeça.
A proximidade dele me perturbava demais,
mais do que eu me lembrava e minhas mãos
tremeram mais o que eu pudesse controlar. Foi
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então que o pior aconteceu: quando me inclinei


para acomodar a xícara na mesa, diante dele, perdi
o controle sobre meus movimentos,
desastrosamente, e esta voou de cima do pires, indo
parar bem em cima do colo dele, o líquido escuro e
fumegante se derramando sobre o seu colo,
encharcando o tecido da sua calça, fazendo-o
levantar-se da cadeira com um pulo.
— Porra, Madison! O que você está fazendo?
— Sua voz áspera e estrondosa irrompeu pela sala,
fazendo eco, enquanto ele passava a mão
freneticamente sobre a mancha que descia pela
perna da sua calça.
Aquilo devia estar queimando sua pele, pois o
café estava quente demais.
— Minha nossa! Desculpe-me. A xícara
escorregou da minha mão. Não foi de propósito. Eu
juro.
Apressadamente, peguei uma flanela e tentei
remediar a situação, ajoelhando-me à sua frente
para esfregar o pano sobre a mancha na sua calça,
mas isso só fez com que as coisas piorassem.
Digamos que não ficou muito bem, aos olhos das
demais pessoas na sala, estar naquela posição,
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ajoelhada aos pés do meu chefe, esfregando aquela


parte do seu corpo. Quando percebi que todos
estavam nos observando e sorrindo, desejei
desesperadamente que um abismo se abrisse sob
mim, me engolisse e nunca mais me devolvesse.
— Levante-se daí! — Lowell esbravejou com a
ferocidade de um animal sedento por sangue.
Tomou o pano da minha mão e passou a esfregar
ele próprio o local onde estava a mancha. — Mas
você só faz merda! Como conseguiu derramar esse
café em cima de mim?
A fúria no tom da sua voz era quase palpável e
tive certeza de que me demitiria.
Droga! Estava bom demais para ser verdade.
— Eu já disse que foi sem querer e já pedi
desculpas. — Insisti. — Eu não ia fazer uma coisa
dessas deliberadamente.
Embora você mereça. Completei, mentalmente.
— Vê se vai embora daqui e não aparece de
novo na minha frente! Mas que droga! Você acha
que estamos aqui de brincadeira?! Não entende a
seriedade do que fazemos aqui? Ou será que é cega
e descoordenada?
Ele estava exagerando. Foi apenas um acidente
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e eu já havia pedido desculpas.


— Eu sei que vocês provavelmente estão aqui
tentando salvar o futuro do planeta, ou fazendo algo
com a mesma grandeza, mas eu já pedi desculpas e
já disse que foi um acidente. Isso não é o fim do
mundo.
— Quer que eu chame um médico, Sr. Dixon?
— Uma das integrantes da reunião, uma loira muito
bonita, perguntou.
— Que porra de médico! Eu preciso é de calças
limpas.
— Providenciarei. — A loira levantou-se e
deixou a sala, rebolando dentro da sua saia lápis
impecável.
Lowell voltou-se novamente para mim, os
olhos faiscando de raiva.
— O que você ainda está fazendo aí parada?
Saia daqui. Agora!
— Na verdade, preciso falar com você. Sua
secretária não te deu o recado?
Uma sutil onda de balbucios perplexos partiu
dos executivos à mesa.
— É claro que ela me deu o recado! Eu só não
tive tempo de te receber ainda. Como você
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certamente ainda não se deu conta, temos muito


trabalho para fazer aqui. Agora saia.
Cogitei insistir até convencê-lo a me ouvir,
mas ele estava furioso demais. Seria melhor não
provocá-lo ainda mais.
Derrotada, peguei o carrinho e deixei a sala sob
o olhar meio aturdido dos executivos. Eu não fazia
ideia do que se passava pela cabeça deles, mas
sabia que boa coisa não era. Na certa estavam
debochando da nova e estabanada garota do café. E
quem podia tirar a razão deles? Só eu mesmo para
pagar um mico daquele tamanho logo no primeiro
dia de trabalho.
Depois daquele episódio, fiquei nervosa, com
tanto medo de ser demitida e perder aquela
oportunidade de ouro, que acabei derramando mais
café sem querer e até quebrando uma xícara. Por
sorte não derramei em cima de mais ninguém.
No final da tarde, descobri que havia me
tornado conhecida por quase todos os funcionários
do edifício como a garota que derramou café no
presidente da empresa. Pelo menos aquilo não
virou motivo de deboche, nem de hostilidades, ao
contrário do que eu esperava, as pessoas me
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cumprimentavam com bom humor, me saudando


pelo grande feito de jogar café quente nas calças de
Dixon, o que me levou a desconfiar que ele não era
muito popular por ali.

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CAPÍTULO VI

O expediente estava quase encerrando quando


um dos executivos apareceu diante do balcão da
copa, aparentemente para pegar o seu próprio café.
Alguns deles faziam isso.
— Vim conhecer a garota que jogou o café
quente no meu irmão. Já fazia um bocado de tempo
que ele estava precisando disso. — Disse ele.
— Aquilo foi um lastimável acidente. —
Detive-me em minha fala, refletindo sobre o que
ele disse. — Espera, você disse irmão?
Examinei o seu rosto atentamente e só então
reconheci Jasper, o irmão mais novo de Lowell.
Lembrava-me que ele tinha mais ou menos a minha
idade e quando éramos crianças possuía o hábito de
arrancar as cabeças das minhas bonecas, a fim de
simular filmes de terror, o que fazia com que
Lowell desse uma surra nele de vez em quando, em
minha defesa. Diferente do irmão, ele tinha a pele
bem clara, cabelos loiros escuros e olhos cor de
mel. Era mais parecido com o pai, enquanto que
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Lowell herdara os traços dos antepassados italianos


da mãe.
— Sim sou irmão dele. É um prazer te
conhecer. Chamo-me Jasper. — Ele me estendeu
sua mão em cumprimento.
— Eu já conheço você. Sou Madison, filha de
Ivone Oliveira, uma antiga empregada da sua casa.
— Enquanto apertávamos as mãos, Jasper estreitou
os seus olhos, como se tentasse se recordar. —
Você não vai se lembrar, éramos crianças. Isso faz
mais ou menos uns doze anos. Minha mãe foi
demitida da sua casa quando estávamos no haras e
Lowell pegou um dos cavalos do seu pai sem
permissão, para depois acusar minha mãe de ter
aberto a cocheira.
— Ah, minha nossa! Eu me lembro disso.
Lembro que gostava de implicar com suas bonecas.
— Seus olhos dourados varreram-me de cima a
baixo e meu rosto ficou vermelho de
constrangimento por causado vestido que usava —
Uau! Você está crescida e se tornou uma mulher
linda.
Jasper contornou o balcão, adentrando a copa e
me envolveu em um abraço inesperado, me
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deixando meio desconcertada, visto que não


tínhamos qualquer intimidade.
— Você também está enorme. — Me
desvencilhei dos braços dele.
— Como Lowell te encontrou? Como você
veio parar aqui? Ele sabe que você é você?
— É uma longa história. Mas ele sabe que sou
eu. Aparentemente me deu esse emprego para
tentar se redimir por ter feito minha mãe ser
demitida injustamente.
— Quer dizer então que vocês já se
conheciam? — Indagou Consuelo, que nos
observava silenciosa até então.
— Sim. Quando crianças éramos todos amigos.
— Jasper se encarregou de responder. — Lowell
era meio apaixonado por essa garota, não deixava
ninguém chegar perto dela. Apanhei muito por
causa disso.
Novamente, senti minha face enrubescendo. Eu
não sabia de onde ele tinha tirado aquilo. Lowell e
eu éramos apenas bons amigos, pelo menos eu era
amiga dele.
— Isso não é verdade. Você apanhava dele
porque implicava demais comigo.
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Jasper sorriu amplamente, revelando dentes


brancos e perfeitos. Não era nem um pouco
parecido com o irmão, mas era quase tão bonito
quanto.
— O que você vai fazer esta noite? Está a fim
de sair para jantar e colocar os assuntos em dia?
Não seria nada mal sair para jantar e de quebra
conhecer a cidade na companhia de uma pessoa que
parecia ser tão agradável, relembrar a época da
infância, sorrir e relaxar um pouco, mas eu
precisava aproveitar o meu tempo livre para ficar
com meu filho, para que ele soubesse o quanto era
amado e para que Ivone pudesse descansar depois
de cuidar dele durante o horário em que não estava
mais na escola.
— Seria ótimo, mas não vou poder. Tenho
outra coisa para fazer esta noite.
Percebi que ele ficou claramente desapontado.
— Podemos almoçar juntos amanhã então. O
que acha?
— Almoçar está bom.
— Te pego ao meio-dia. Não coma nada até eu
chegar. Vamos a um restaurante que tem aqui
perto. Você vai gostar de lá.
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De forma inesperada, Jasper passou um braço


em torno da minha cintura e inclinou-se
ligeiramente para beijar a minha testa,
surpreendendo-me mais uma vez. Fitou-me
profundamente nos olhos, por um longo momento
de silêncio e só então se afastou, deixando a copa
para desaparecer ao longo corredor.
— Toma cuidado com esse aí, garota. Ele é o
mais mulherengo da família. Já transou com todas
as funcionárias desse prédio e se bobear com as dos
prédios ao lado também e nunca levou nenhuma
delas a sério. Trata todas como se nem conhecesse,
depois que consegue o que quer. — Alertou
Consuelo.
— Não é o que está acontecendo aqui,
Consuelo. Nós apenas vamos colocar as fofocas em
dia. Além do mais, eu sou casada.
— Ele já transou com as mulheres casadas
daqui também. Só estou te avisando para você ficar
de olho aberto.
Meneei a cabeça negativamente e sorri do
comentário da mulher. Diferente de Lowell, que
arruinou a minha vida e a vida da minha mãe,
Jasper era considerado por mim como quase um
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irmão, já que havíamos crescido juntos, sob o


mesmo teto. E eu podia apostar como ele me
considerava da mesma forma. Não havia qualquer
segunda intenção por trás daquele inocente convite
para almoçarmos.
Ainda tentei ter aquela conversa com Lowell
antes de ir para casa, mas fui informada por
Jasmine que ele estava ocupado e não poderia me
receber mais naquele dia.
No dia seguinte, voltei a insistir, deixando
vários recados com ela durante toda a manhã, sem
que ele concordasse em falar comigo e não tive
mais dúvidas de que sua relutância em me receber
não tinha nada a ver com a falta de tempo, ele
simplesmente estava me evitando, por qual motivo
eu nem desconfiava. Se alguém nessa história tinha
o direito de estar magoada, esse alguém era eu,
afinal foi ele quem atirou a mim e a minha mãe na
sarjeta, com seu mau-caratismo.
A rotina transcorreu-se como no dia anterior,
com muitas pessoas tomando café, chá e água.
Como desta vez fui trabalhar usando minhas
próprias roupas — um jeans desbotado e uma
camiseta de malha — não houve mais tantos
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olhares escandalizados direcionados a mim, pelo


contrário, eu havia conquistado a simpatia das
pessoas por ter derramado o café quente no chefe.
Faltava pouco para o horário do almoço
quando Jasmine me interfonou solicitando água e
café na sala de Lowell. Dessa vez eu insistiria para
que ele me ouvisse, não sairia da sua sala sem ter
aquela conversa com ele.
Subi os andares arrastando o carrinho
abastecido com água e café puro. Passei pela
antessala de Jasmine, onde não havia ninguém e na
sala de Lowell encontrei cerca de meia dúzia de
pessoas acomodadas no jogo de estofados que
ficava no centro do cômodo enorme. Entre elas
estava Jasmine, com um notebook sobre as pernas,
fazendo anotações e ao seu lado o nosso chefe.
Bastou que eu olhasse para ele para que meu corpo
reagisse de forma inexplicável, um frio se
manifestando na boca do meu estômago, minhas
pernas ficando ligeiramente trêmulas.
Eu queria entender o poder que aquele homem
exercia sobre mim. Talvez fosse reflexo do ódio
imenso que eu nutria por ele, embora fosse
completamente diferente do ódio que eu sentia
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quando via o maldito pedófilo com quem minha


mãe nos levou para morar, a única pessoa que eu
detestava mais do que ele.
O pequeno grupo de executivos no centro da
sala era formado pelo chefe do setor dos Recursos
Humanos e sua equipe. Pude reconhecê-los das
vezes em que fui servir bebidas a eles. Estavam
todos de orelhas murchas, concentrados no que
Lowell dizia, ou melhor, esbravejava de forma
furiosa.
Pelo que entendi, parecia que havia ocorrido
algum problema com a contratação de modelos
fotográficos para uma campanha de marketing da
empresa. Continuei prestando atenção na conversa,
enquanto servia as bebidas, e descobri que haviam
contratado modelos menores de idade, de uma
agência suspeita de praticar tráfico de garotas.
Realmente, aquele assunto deixaria qualquer
ser humano estressado. Esperaria para ter a minha
conversa com Lowell em outro momento.
Definitivamente a hora não era propícia.
Então, terminei de servir as bebidas na mesinha
de centro, como mandava a etiqueta e fiz menção
de me retirar, quando a voz do meu chefe alcançou-
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me, ainda mais alta e estrondosa.


— Fique aqui Madison. Pelo visto vamos
demorar ainda com esse assunto e precisamos de
alguém para trazer o nosso almoço.
Lembrei-me de que havia marcado de almoçar
com Jasper.
— Não posso. Tenho um compromisso.
Lowell me encarou com um olhar tão
fulminante que tive a impressão de que poderia me
incendiar viva.
— Está me dizendo que não pode obedecer a
uma ordem simples porque tem um compromisso?
— O tom da sua voz lembrava o esturro de um
touro violento.
— Achei que tivéssemos a hora do almoço
livre.
— Isso é relativo. Você não leu o contrato
empregatício antes de assinar? Você por acaso sabe
ler?
Mas que imbecil! Estava tentando me insultar a
fim de me enfurecer a qualquer custo, talvez para
me coagir a pedir demissão e se livrar da
responsabilidade de se redimir do erro que cometeu
no passado. Se eu caísse em seu joguinho, ele teria
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o pretexto de dizer que havia tentado se retratar,


mas que não consegui me adaptar. Só que eu não ia
dar esse gostinho a ele. Apenas uma coisa me faria
desistir daquele emprego e essa coisa era se eu
descobrisse que havia qualquer segunda intenção
por parte dele, por trás daquela proposta. Caso
contrário, ele teria que me aturar por muito tempo.
— Se assim deseja, majestade, eu ficarei. Diga-
me o que devo fazer e eu farei. — Falei, com
sarcasmo, e houve um sutil murmúrio pela sala,
com a risada de alguns dos caras do RH, o qual se
cessou no instante em que Lowell direcionou seu
olhar raivoso para eles.
— Por enquanto apenas sente-se e fique quieta
esperando.
Se existisse um meio de ele saber que eu
almoçaria com Jasper, eu podia jurar que estava
fazendo aquilo de propósito para estragar minha
única hora de lazer durante o expediente, mas não
tinha como ele saber de nada, a menos que Jasper
tivesse falado e eu não acreditava que um almoço
entre velhos conhecidos fosse assunto para se tratar
com um irmão.
Preocupada, sem ter como avisar Jasper, já que
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não tinha o número dele e mesmo que tivesse, não


dispunha de um aparelho celular para ligar,
acomodei-me em um canto do cômodo e permaneci
em silêncio, prestando atenção no assunto que era
tratado na pequena reunião, quando descobri que
além de terem contratado garotas com menos de
vinte e um anos de idade para tirarem fotografias
sensuais, poderiam ter manchado a imagem da
empresa de forma irreversível, por causa da
suspeita de tráfico da agência, algo que me causou
calafrios. Eu podia imaginar o quanto era terrível
para essas garotas serem vendidas a todo tipo de
homens, como prostitutas. Nem mesmo a minha
experiência mais traumática parecia tão terrível
quanto esse destino.
Lowell continuou discutindo energicamente
com seus funcionários, exigindo uma forma de
desfazer aquele erro. Deixou claro que eles só
sairiam daquela sala quando esse equívoco fosse
devidamente reparado e pelo visto eu havia me
tornado tão prisioneira daquela reunião quanto
todos os demais ali presentes.
Com seu humor enfezado, Lowell me ordenou
que eu fosse comprar almoço para todos, inclusive
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para mim. Com apenas um gesto de cabeça, deu


uma ordem silenciosa a Jasmine, que foi até a
gaveta de sua mesa, de onde tirou um cartão de
crédito e me entregou, junto com um pequeno
pedaço de papel onde se encontrava anotado a
senha. Explicou-me onde ficava um restaurante
japonês, a duas quadras dali e me disse o que eu
devia trazer.
Fiquei me perguntando por que ela mesma não
ia comprar esse bendito almoço.
Durante o percurso até o estabelecimento,
percorri os olhos por todos os outros restaurantes
pelos quais passava, esperando ver Jasper por ali,
eventualmente, e ter a oportunidade de explicar o
porquê de eu não tê-lo esperado como havíamos
combinado. Mas não o vi em parte alguma. Em
uma rua com uma movimentação tão grande de
pessoas, seria o mesmo que encontrar uma agulha
no palheiro.
Voltei com o almoço e servi os integrantes da
reunião, antes de me apossar do meu próprio prato
e me acomodar em uma poltrona a um canto,
destacada das demais.
A discussão continuava fervorosa, Lowell se
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mostrava Implacável com os funcionários.


Provavelmente demitiria a maioria deles, o que era
uma pena, visto que todos tinham idade o bastante
para terem filhos para sustentar.
Entre outras exigências, ele queria que se
reunissem com o pessoal do Marketing e se
empenhassem em trabalhar em uma campanha
decente, dentro de uma semana. O que se seguiu
depois disso, foram discussões sobre possíveis
estratégias de marketing, as quais, a meu ver, não
faziam muito sentido, se considerando que a equipe
de marketing não estava presente e se considerando
que se tratava de uma empresa de
telecomunicações. Eu não via muito sentido
também em investir na sensualidade para esse tipo
de propaganda, apesar de a sensualidade estar na
moda.
— Por que vocês não contratam estudantes de
verdade, ao invés de modelos fotográficos, para
essa campanha? Eles representariam melhor as
telecomunicações. — Deixei escapar o pensamento
em voz alta e todos na sala olharam para mim ao
mesmo tempo.
O silêncio que se seguiu pesou sobre os meus
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ombros como se eu estivesse em uma academia me


exercitando com alteres de cem quilos.
— O que foi? Ninguém assiste Gossip Girl
aqui? — Emendei, roxa de vergonha.
— Ninguém pediu sua opinião aqui. — Lowell
não perdia uma oportunidade de ser insuportável.
Outra coisa que não fazia muito sentido para
mim era a exigência da minha presença naquela
sala. Eu poderia ter ido comprar o almoço deles e
depois ter sido liberada, pois não estava fazendo
nada, entretanto Lowell se recusou a me deixar ir,
argumentando que poderiam precisar de alguma
bebida.
Eram quase duas horas da tarde quando fomos
todos liberados pelo nosso ditador, que parecia
mais calmo e aproveitei para tentar ter a conversa
que precisava com ele. Esperei que todos saíssem e
me aproximei de sua mesa, atrás da qual ele se
encontrava acomodado, sua aparência rústica
combinando com a decoração sóbria do ambiente,
sua postura altiva exalando charme e poder, de uma
forma quase irresistível.
— Desde ontem estou tentando conversar com
você. É impressão minha ou você está com algum
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problema em me receber? — Fui direto ao ponto,


sem fazer rodeios.
— Que problemas eu poderia ter em te
receber? — Seu tom de voz era frio, carregado de
desprezo, assim como a forma como ele me
encarava, enquanto mantinha os cotovelos na mesa,
o queixo apoiado sobre os dois polegares. — Se
está se referindo ao seu trabalho, além de ter
derramado café quente em mim, não recebi
nenhuma outra reclamação.
— Podemos conversar agora? Vai ser rápido e
o que preciso falar é importante.
É que o pai do meu filho acha que você quer
transar comigo, e preciso deixar claro que não sou
a garota que você conheceu naquele quarto de
hotel.
— Não sei se você percebeu, mas estou com
um problema grande aqui. Não tenho tempo de me
distrair com coisas sem importância.
Ele estava dizendo que eu era uma coisa sem
importância? Mas que cretino!
Mais uma vez, me recusei a permitir que a
provocação dele me afetasse, esperaria até que
concordasse em me receber. Em algum momento
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ele teria que me atender.


— Eu entendo. Por favor, me avise quando
tiver tempo.
Com isto, dei meia volta, peguei o carrinho
com xícaras, copos e as embalagens do almoço que
havia recolhido e deixei a sala.
Ao chegar à copa, Consuelo me falou que
Jasper esteve lá duas vezes procurando por mim, no
horário em que combinamos e meia hora depois. Eu
daria um jeito de me desculpar com ele, bastava
que o visse de novo.
O movimento da tarde foi agitado. Problemas a
serem resolvidos pareciam pipocar por todos os
setores da empresa e quanto mais estressadas as
pessoas se tornavam, mais chá e café elas
tomavam. O interfone não parou de tocar nem um
minuto, não tive tempo de me sentar nenhuma vez.
No dia seguinte, passei as horas solicitando a
Jasmine que avisasse Lowell que eu precisava falar
com ele e novamente ele se recusou a me receber,
nem mesmo explicava o motivo, apenas ignorava o
meu pedido. No final da tarde, a minha paciência
foi para as cucuias e subi até o último andar
determinada a ter aquela conversa com ele, mesmo
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que para isto precisasse invadir sua sala, afinal não


podia continuar trabalhando ali nem mais um dia
sem esclarecer as coisas. Era importante para mim
que ele me ouvisse. Além do mais, ele precisava
saber que, apesar de eu ter aceitado aquele
emprego, o passado ainda não havia sido apagado
da minha memória.
Jasmine estava sentada atrás da sua mesa na
antessala quando as portas do elevador se abriram,
mas não pedi que ela me anunciasse, pois sabia que
não seria recebida. Então, apenas ignorei os
protestos dela e passei direto. Abri a porta da sala
de Lowell e entrei. A princípio, o cômodo amplo e
sofisticado parecia completamente deserto, porém
logo ouvi ruídos partindo da sala de reuniões e me
dirigi naquela direção. Encontrei a porta entreaberta
e congelei no lugar ao me deparar com a cena que
se revelou bem diante dos meus olhos. Dentro da
sala de reuniões, a alguns metros de distância de
onde eu me encontrava estática, Lowell estava
sentado em uma poltrona de couro, de lado para a
minha direção, completamente relaxado, sem seu
paletó, com o nó da gravata desfeito, a cabeça
ligeiramente inclinada para trás. Seu rosto lindo
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estava contorcido do mais extremo prazer, as


sobrancelhas unidas, os olhos semicerrados, a boca
entreaberta. Ajoelhada diante dele, havia uma
mulher, cujo rosto estava oculto pelos seus cabelos
densos e loiros, enquanto sua cabeça se movia para
cima e para baixo, na altura do colo dele. Embora a
cabeleira dourada dela não me permitisse enxergar
os detalhes, dava para saber que estava fazendo
sexo oral nele.
Eu sabia que devia dar meia volta e sair dali o
mais depressa possível, porém algo parecia ter se
travado dentro de mim, minha capacidade de me
mover parecia ter me abandonado. Minhas pernas
simplesmente se recusavam a obedecer às ordens
da minha mente e me tirar do lugar, era como se eu
tivesse congelada ali.
O rosto másculo de Lowell, sua fisionomia
contorcida de prazer, o fogo do tesão refletido em
seu olhar, tornaram-se o foco da minha atenção. Só
consegui desviar os olhos dele quando suas mãos
grandes foram para os cabelos da mulher, os
juntaram atrás da cabeça dela e o seguraram,
firmemente, fazendo com que ela movesse a cabeça
mais depressa, ao mesmo tempo em que me
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permitia ver o membro enorme, entrando e saindo


da boca dela.
Minha nossa! Eu nunca tinha visto um pênis
tão grande e grosso. Como podia ser tão enorme?
De súbito, o ambiente à minha volta se tornou
mais quente, extremamente escaldante. Uma
excitação gostosa se formou na altura do meu
ventre e se espalhou depressa pelo meu sangue, me
forçando a abrir a boca para puxar o ar para os
meus pulmões.
Quando os meus olhos voltaram a fitar o rosto
de Lowell, surpreendi-me ao encontrar o olhar dele
cravado em mim. Havia me flagrado bisbilhotando
e quase morri de vergonha. Mais uma vez tentei
sair correndo dali, só que minhas pernas não
entendiam isso e continuavam se recusando a me
tirar do lugar.
Apesar de estar me vendo ali em pé, parada,
Lowell não interrompeu o que a garota fazia,
sequer a alertou sobre a minha presença. Em vez
disso, seus olhos se prenderam aos meus, uma
expressão meio safada, maliciosa, se refletiu no
negro do seu olhar, ao mesmo tempo em que seus
lábios se curvavam, ligeiramente, no mais cafajeste
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dos sorrisos. Ele estava se divertindo às minhas


custas, e o pior nisso era que eu não estava fazendo
nada para impedi-lo.
Eu parecia ter virado uma estátua de sal, ali
petrificada, sem conseguir me afastar, quando vi o
corpo de Lowell se contraindo todo, anunciando a
sua libertação. A garota também percebeu e tentou
de esquivar, mas ele não deixou. Segurou
firmemente dos dois lados da cabeça dela,
forçando-a a permanecer no lugar. Arqueou seus
quadris no estofado, dando a entender que se
enterrava mais fundo na garganta dela e sem
desviar seus olhos do meu rosto, começou a
ondular por inteiro, revelando o seu orgasmo.
Seus olhos lindos se fecharam, a medida que
sua cabeça era lançada para trás, um único e rouco
gemido escapando de entre seus lábios, enquanto
ele gozava demoradamente.
Cacete! O que eu ainda estava fazendo ali?
Quando Lowell finalmente soltou a cabeça da
garota, ela me viu e se levantou num rompante,
cravando seu olhar furioso em meu rosto. Era a
mesma loira que estava na reunião de executivos,
naquela mesma sala, dois dias atrás. A diferença
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era que agora ela tinha a face vermelha, o batom


borrado, os cabelos desgrenhados e as roupas
amarrotadas, com alguns botões da blusa de seda
branca abertos.
Fiquei impressionada que uma executiva de
alto calão estivesse pagando um boquete no chefe,
na sala de reuniões, em pleno horário de
expediente. Eu estava mesmo muito desatualizada
nas questões de relacionamentos entre homens e
mulheres.
— O que ela está fazendo aqui?! — Indagou a
loira, enfurecida, enquanto fechava os botões da
sua blusa, apressadamente.
Lowell se levantou e consegui ter um rápido
vislumbre do seu pau enorme, de frente, antes que
ele fechasse o zíper da calça.
Caralho! Era muito grande, grosso e ainda
estava completamente duro, apontando para cima.
— O que faz aqui Madison? — Sua voz
estrondosa me deu um susto e me arrancou daquele
estado de torpor, o constrangimento se tornando
quase insuportável em mim.
Os dois me encaravam de forma inquiridora,
esperando por uma explicação, sem que eu
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soubesse o que dizer. Não havia nada que pudesse


justificar o fato de eu não ter saído correndo ao
flagrar os dois naquela situação.
— B-Bem, E-Eu, Q-Que-queria... — Eu
tropeçava em minhas palavras.
— Queria o quê?!
— F-Falar C-Com V-você.
— Não me lembro de você ter sido anunciada.
— N-Na verdade eu não fui. Passei direto por
Jasmine na antessala.
— Essa é uma situação muito constrangedora.
— A loira acabava de ajeitar suas roupas sobre o
corpo e tentava domar as ondas rebeldes dos
cabelos com as mãos. — Por acaso você é
retardada, garota?
— Eu não sou.
— Por que então fica aí parada espiando a
intimidade dos outros?
— B-Bem F-foi um a-acidente...
Quando pensei que as coisas não podiam ficar
piores, Lowell soltou:
— Talvez ela tenha se cansado de servir o café
e queira tomar um pouco de leite também.
— Não gosto de leite. — Deixei escapar, meu
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rosto quase tão enrubescido quanto o da loira.


Calmamente, Lowell deixou a sala de reuniões,
carregando o seu paletó na mão, foi até um bar de
madeira polido que havia a um canto e serviu-se de
uma dose de uísque com gelo. Deslocou-se até o
centro da sala e se acomodou em uma das
poltronas, com as pernas meio abertas, parecendo
estar completamente relaxado.
— Se invadiu minha sala para falar comigo,
suponho que seja algo urgente. Nesse caso,
desembucha logo, pois tenho mais o que fazer. —
Ele não economizava na rispidez.
— Tipo continuar com o sexo oral? Ou partir
para o anal para variar? — Falei, sem pensar.
Cacete! O que você está fazendo, Madison?
Pedindo para ser demitida?
— Isso não é da sua conta, Madison. Não sei se
notou, mas está sendo inconveniente.
— É da minha conta quando o meu chefe diz
estar ocupado demais para me receber e na verdade
está fazendo sexo com uma de suas funcionárias.
Meu Deus! O que estava acontecendo comigo?
Meu bom senso parecia ter me abandonado por
completo.
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A loira parecia desapontada ao observar nossa


discussão. Talvez esperasse que Lowell me tirasse
da sala dele a pontapés, que era realmente o que eu
realmente merecia. Forçando-se a baixar a guarda,
ela deixou que seus ombros relaxassem e um
sorriso discreto se manifestasse em seus lábios.
— Bem, não vou ficar aqui atrapalhando a
conversa. Nos vemos depois, Sr. Dixon? — Disse a
garota.
Sr. Dixon?! Minha filha, você acabou de
chupar o pau dele! Tinha que ter no mínimo o
direito de tratá-lo pelo primeiro nome.
— Claro. — Foi a vaga e seca resposta dele.
Ela colocou-se diante dele e inclinou-se para
dar-lhe um beijo na boca, só que Lowell esquivou-
se e plantou um rápido beijo na testa dela,
deixando-a completamente sem graça.
Se eu estivesse no lugar dela, teria cavado um
buraco e me enterrado, tamanha foi aquela
humilhação. Como um cara se recusava a beijar a
boca de uma mulher que acabava de chupar o pau
dele? Tinha que ser mesmo um cretino.
Fingindo não ter se abalado com atitude dele, a
loira despediu-se de mim com um breve aceno de
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cabeça e deixou a sala, os saltos altos e finos das


suas sandálias tintilando no piso maciço.
Relaxado como eu ainda não o havia visto ali
na empresa, mais lindo que nunca com os cabelos
emaranhados, a face ainda avermelhada pelo
orgasmo, Lowell cruzou uma perna sobre a outra e
voltou a me encarar.
Minha nossa! Eu queria ter sido a responsável
por ter dado aquele orgasmo a ele!
Afasta esse pensamento, Madison.
— Vai falar o que quer ou vai passar o resto do
dia aí me olhando? — Ele não fazia questão de ser
delicado.

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CAPÍTULO VII

De repente, o que eu tinha ido dizer a ele


parecia não fazer o menor sentido. Senti-me
patética de súbito, por estar prestes falar para um
cara que tinha sexo a hora que quisesse, com as
mais lindas mulheres, que eu não queria nada com
ele, que se sua intenção fosse me levar para a cama,
eu preferia desistir do emprego, quando estava
claro como a luz do dia que a intenção dele não era
aquela, porque afinal não precisava de mim, ele
tinha mulheres lindas e bem sucedidas como aquela
executiva à sua disposição. Realmente eu faria
papel de palhaça se abrisse a boca para abordar
aquele assunto.
Cogitei seriamente desistir de ter aquela
conversa, mas eu não tinha uma desculpa para ter
ido até sua sala. Além do mais, só me sentiria
completamente à vontade no meu ambiente de
trabalho depois que as coisas fossem esclarecidas.
Por mais constrangedor que fosse parecer, era
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necessário falar.
— Eu sei que isso vai parecer ridículo, ou
quem sabe impertinente, mas preciso deixar claro
que talvez você tenha tido uma impressão errada de
mim naquela noite durante a tempestade, no hotel
onde eu trabalhava. — Esperei que ele me desse
uma de suas respostas grosseiras, porém ele apenas
continuou me observando silenciosamente, uma
ruga profunda se pronunciando entre suas
sobrancelhas grossas, o que só serviu para me
deixar ainda mais nervosa e me fazer sentir ainda
mais inconveniente — Aquela noite eu estava
meio... entediada, cansada e com medo do sujeito
que tentou me agarrar. Só quero esclarecer que não
sou o tipo de garota que sai por aí bebendo vodka e
dormindo no quarto de um estranho. Então, se você
me deu esse emprego e aquele apartamento caro,
esperando algo em troca, só quero dizer que não vai
acontecer.
— Deixa eu ver se entendi. Você acha que te
dei esse emprego, que deixei você e sua mãe
morarem naquele apartamento, esperando algo em
troca? — Ele parecia escandalizado e me senti
menor que um grão de areia. — Entenda uma coisa,
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Madison, quando eu quero uma mulher eu não dou


coisas a ela em troca de sexo, eu vou lá e a
conquisto. Alguma vez eu dei em cima de você?
Uma única vez dei a entender que queria alguma
coisa contigo? Se eu bem me lembro, foi você
quem disse que teria transado comigo naquela
noite.
Senhor! Aquilo estava sendo mais humilhante
do que eu esperava. Ele estava coberto de razão,
jamais deu em cima de mim, era eu quem estava
louca naquela noite, carente e solitária a ponto de
quase ter me oferecido a ele.
Apesar de estar errada, eu me recusava a
admitir.
— Só para deixar as coisas claras, para o caso
de você ter algo em mente. — Forcei o meu queixo
a se erguer, antes de continuar falando. — Não é
porque eu aceitei esse emprego e aquele
apartamento que você está perdoado pelo que fez.
Eu aceitei por necessidade, e quero deixar bem
claro que nem amigos nós seremos um dia.
Dizer isso me trouxe certo alívio, como se um
peso fosse tirado do meu coração. Eu queria não ser
uma pessoa que guardava rancor, mas era difícil dar
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o perdão a alguém que eu odiei durante tantos anos


da minha vida, alguém a quem eu responsabilizava
todas as vezes que aquele maldito pedófilo
colocava as mãos imundas dele em mim.
No fim das contas, aquela conversa revelava a
sua necessidade, Lowell precisava saber que não
bastava apenas consertar minha vida para que os
traumas aos quais o erro dele me levara fossem
apagados da minha memória.
— E quem te disse que eu quero sua amizade?
— A voz dele soou ainda mais ríspida, sua
fisionomia se contraindo um pouco mais. — Tudo
o que fiz por você até agora, esse emprego, aquele
apartamento, foi o que julguei suficiente para me
redimir de um erro que cometi quando era quase
uma criança e não sabia de porra nenhuma da vida.
Mas é só isso mesmo, eu não quero mais nada de
você, não faço questão de ter a sua amizade, apenas
me trate com respeito, já que sou o seu chefe. A
começar por não invadir a minha sala e ficar
espiando a minha intimidade.
Novamente, minha face queimou, como se
estivesse ficando vermelha.
— Bem, sobre isso, eu gostaria de me
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desculpar.
— Está desculpada. Viu como é fácil perdoar?
Só não permita que se repita. E já que faz tanta
questão que sejamos apenas patrão e empregada,
como eu também faço questão, passe a me tratar
como tal e me chame de Sr. Dixon.
— Muito justo, Sr. Dixon. Espero que
tenhamos ficado esclarecidos.
— Ficamos. Se era só isso, já pode sair.
Parecia haver uma força sobrenatural que me
prendia naquela sala, ou àquele homem. Por mais
que eu soubesse que precisava odiá-lo, no fundo do
meu âmago havia uma necessidade latente de estar
próximo a ele e essa força me fazia relutar a deixar
aquela sala.
— Era só isso. Tenha uma boa noite.
Obriguei minhas pernas teimosas a darem meia
volta e me levarem para fora.
Como era horário de encerramento do
expediente, fui direto para a saída. O hall do
edifício estava lotado de pessoas, funcionários indo
para suas casas depois de um dia de trabalho.
Tão logo atravessei as portas e comecei a
caminhar pela calçada, em direção ao apartamento,
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um Aston Martin Vanquish esportivo azul, lindo de


morrer, estacionou no acostamento ao meu lado e o
vidro se abriu. Era Jasper. Eu ainda não havia
conseguido falar com ele desde que faltei ao nosso
almoço no dia anterior.
— Oi furona. Quer uma carona até em casa?
— Oi Jasper. Eu estava mesmo querendo falar
com você. Desculpe-me por não ter te esperado
para almoçarmos ontem. Infelizmente fiquei presa
no trabalho. Em uma reunião na sala do presidente.
— Na sala do presidente? — O olhar dele se
perdeu no vazio à sua frente por um instante, à
medida que seus lábios se dobravam em um sorriso
muito sutil. — Eu já imaginava que algo devia ter
acontecido. Você não me daria um bolo assim sem
mais nem menos. Entra aí, eu te levo.
O apartamento ficava a apenas duas quadras de
distância, perto o suficiente para que eu fosse a pé
sem me cansar. Porém Jasper merecia no mínimo
um pouco da minha atenção depois de eu ter faltado
ao nosso compromisso.
— O apartamento fica aqui pertinho, mas que
garota resistiria a entrar em um carro tão bonito,
não é mesmo? — Brinquei.
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Estava contornando a frente do Aston, para


entrar pela porta do carona, quando ele saltou e foi
atrás de mim, abrindo a porta para me dar
passagem antes que eu tivesse tempo de alcançá-la.
— O que está achando do novo emprego? —
Jasper indagou, ao entrar no carro e dar a partida,
seguindo em baixa velocidade através das ruas
movimentadas.
— Estou gostando bastante. As pessoas são
muito amistosas quando recebem o café.
— Não consigo entender porque Lowell não te
deu um cargo mais elevado. Se o intuito dele era
reparar o erro que cometeu com vocês no passado,
ele te devia muito mais que isso. Além do mais,
crescemos juntos, somos quase irmãos.
— Servir o café está bom para mim. É
suficiente para sustentar o meu filho. Sem
mencionar que não tenho estudos para ocupar um
cargo mais elevado.
— Uau! Você tem um filho tão nova? Não
sabia que era casada.
— Não sou casada oficialmente com pai do
meu filho, mas vivemos juntos.
— Ele mora no apartamento com vocês?
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— Tecnicamente sim. Vai morar quando


chegar de viagem.
Fiquei nervosa como em todas as vezes que
precisava mencionar onde estava o pai do meu
filho. Mentir estava se tornando algo natural para
mim.
— Talvez eu possa te dar um cargo mais alto
dentro da empresa. O que acha de ser minha
assistente pessoal?
Fiquei surpresa com aquela proposta repentina
e inesperada. Certamente o salário seria muito mais
alto, só que eu não tinha concluído nem mesmo o
Ensino Médio, não entendia absolutamente nada de
informática ou administração de empresas, o
mínimo de conhecimento necessário que uma
pessoa precisava para exercer um cargo como
aquele.
— Agradeço pelo convite, mas não posso
aceitar. Não tenho estudos suficientes para exercer
uma função com tanta responsabilidade.
— Não precisa ter estudos para atender ao
telefone e agendar os meus compromissos.
Lembrei-me do que Consuelo me dissera sobre
ele ser um galinha e transar com todo mundo. Eu
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não podia acreditar que estava interessado em mim,


embora a hipótese não merecesse ser totalmente
descartada.
— E por que você faria isso por mim? —
Perguntei, desconfiada.
— Porque você é nossa amiga de infância. É
como uma irmã para nós dois. Lowell deveria ter te
dado um cargo melhor.
Suas palavras me fizeram respirar aliviada. Era
bom saber que eu tinha pessoas amigas, como ele,
no meu local de trabalho.
— Você me dá um tempo para pensar sobre
isso?
— Claro, quanto tempo quiser.
Mostrei a ele onde ficava o prédio em que
estava morando e ao estacionar na frente ele
perguntou:
— Já que não deu certo hoje, podemos almoçar
amanhã?
— Com certeza. Você passa na copa ao meio-
dia?
— Passo sim. Só me espera.
— Quer subir? Minha mãe está em casa e
tenho certeza que vai gostar de ver você.
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— Eu também adoraria revê-la, mas estou meio


apressado agora. Em outro momento a encontrarei.
Despedimo-nos e subi. Ao entrar no
apartamento, deixei meu corpo cansado despencar
sobre o sofá da sala, para que logo em seguida
Lucas pulasse em cima de mim, eufórico com a
minha chegada e quando olhei em seu rostinho feliz
e infantil meu coração transbordou de afeto e todo
o cansaço se esvaiu repentinamente do meu corpo.
Quem acha que dor de dente é a pior coisa do
mundo, definitivamente nunca trabalhou para
Lowell Dixon. Se ele já era insuportável, no dia
seguinte estava ainda pior. Logo cedo da manhã
mandou Jasmine me interfonar e me ordenar a
servir vários cafés e petiscos na sala de reuniões,
que se encontrava lotada. Todos os executivos
estavam lá, inclusive a loira do boquete, assistindo
a apresentação da equipe de marketing. Como
sempre, Lowell se encontrava acomodado na
cabeceira da grande mesa, parecendo um rei sendo
bajulado por seus súditos.
Tentei não olhar para ele, ignorá-lo como se
fosse apenas mais um naquela sala, mas foi para
sua direção que meus olhos pareceram ser puxados,
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como se tivessem vida própria. Como eu já


esperava, sua imagem imponente, máscula e
poderosa, causou um baque dentro de mim, seu
olhar duro fuzilando o meu rosto fez com que
minhas pernas ficassem trêmulas, de modo que tive
dificuldades em servir todos à mesa.
Ao me aproximar para servi-lo, fui alcançada
pelo cheiro gostoso do seu perfume, uma mistura
de frescor com limpeza e masculinidade que me
deixou um pouco mais afetada, minha mente
invadida por uma profusão de pensamentos
luxuriosos.
— Esse café está gelado! — Sua voz
estrondosa ressoou pela sala, tão logo ele bebeu o
primeiro gole.
— Mas Consuelo acabou de prepa...
— Traga outro! Agora mesmo! —
Praticamente gritou, interrompendo-me, atraindo a
atenção de todos para mim.
Fiz questão de tocar o líquido fumegante com a
ponta do meu mindinho, só para comprovar o que
já sabia: o café estava quente, a atitude dele não
passava de implicância. Porém, como eu era uma
pessoa sensata e muito calma, não deixaria que ele
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concretizasse seu objetivo de me aborrecer. Então,


tranquilamente, pousei o copo de volta na bandeja
do carrinho.
— Desculpe-me, Sr. Dixon. Trarei outro agora
mesmo.
Sob o olhar perplexo de todos, deixei a sala,
para voltar minutos depois, com outro café para o
presidente, que desta vez inventou estar muito doce
só para me fazer descer novamente até a copa e
voltar.
E assim se foi a manhã daquele dia. Lowell
decidiu me infernizar e conseguiu. O café, a água,
os petiscos, nada nunca estava bom para ele e eu
precisei perambular entre o último andar e a copa
várias vezes. Talvez tivesse ficado puto com nossa
conversa da tarde anterior, ou talvez estivesse
apenas me coagindo a pedir demissão, o que eu
estava determinada a não fazer. Ele que me
demitisse se não me quisesse por perto.
Eu podia aceitar a oferta de Jasper e me tornar
sua assistente, mas foi Lowell quem me deu a vaga
na empresa e o apartamento. Pelo pouco que o
conhecia, sabia que seria demitida se fizesse isso e
perderia tudo.
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Quando minha paciência esgotou, coloquei a


pimenta mexicana que Consuelo havia comprado
para levar para a casa, no café dele, e como
retaliação, ele me fez ir até o outro lado da cidade,
de metrô, comprar uma marca diferente de café,
vendida exclusivamente em uma loja de grãos que
pertencia a uma família brasileira. Por sorte, Jasper
estava entrando no prédio, momento em que eu ia
saindo e se ofereceu para me levar até lá no seu
carro esportivo. No final das contas, o que seria
uma longa viagem que se perduraria por horas,
acabou se tornando um passeio agradável, afinal
não era todo dia que se tinha a chance de percorrer
as ruas de Orlando em um carro tão lindo e
luxuoso, na companhia de um cara tão
descontraído.
Como Lowell não sabia que eu não estava indo
de metrô e que, portanto, poderia ter voltado mais
depressa, não me apressei em retornar e Jasper e eu
acabamos almoçando no estabelecimento dos
brasileiros, quando tive a oportunidade rara de
saborear uma feijoada típica do país onde minha
mãe nasceu.
Pelo visto as fofocas corriam soltas na Dixon
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Enterprise, pois Jasper não se encontrava presente


na reunião daquela manhã e mesmo assim já sabia
que Lowell estava sendo bastante criativo em tornar
a minha existência um tanto quanto insuportável lá
dentro. Mais uma vez insistiu para que eu aceitasse
ser sua assistente, mas tive que recusar, não apenas
porque não tinha estudos, ou pelo risco de ser
demitida, mas porque se aceitasse estaria admitindo
que Lowell havia me derrotado e aí estava uma
coisa que eu não podia aceitar, afinal tinha meu
orgulho a zelar.
De volta à empresa, depois do agradável
almoço, flagrei meu chefe observando atentamente
o meu rosto, em busca de algum vestígio de raiva
ou frustração, só que para a sua decepção, não
havia nada, eu estava completamente leve e
descontraída, trazendo a marca de café que ele
exigira.
Infelizmente a perseguição dele não parou por
ali. No dia seguinte pediu que Jasmine me
mandasse lavar toda a copa, sem a ajuda de
Consuelo, já que isso poderia prejudicar a artrite
dela e no horário do almoço, quando eu sairia
novamente com Jasper, fez questão de me manter
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prisioneira em uma reunião em sua sala, sem que


eu sequer pudesse me justificar. E foi assim durante
toda a semana. Passava o dia todo inventando
pretextos para me atormentar. Quando Jasper
estava por perto, ainda tentava me defender, só que
isso parecia deixá-lo ainda mais furioso e a
retaliação vinha pior na armação seguinte.
O pior momento foi na manhã de sexta-feira,
quando ele derrubou um copo de café cheio no
chão da sala de reuniões lotada de pessoas,
deliberadamente, para em seguida me culpar e me
mandar limpar tudo, com aquele jeito impetuoso de
ser, fazendo com que eu me sentisse humilhada e
constrangida, ao me fazer passar por desastrada e
ainda ter que me dobrar no chão, diante de toda
aquela gente, para limpar a sujeira que fizera.
Foi então que Jasper, que também participava
daquela reunião, perdeu de vez as estribeiras com o
irmão mais velho.
— O que você está fazendo, cara?! —
Esbravejou Jasper. Levantando-se de seu lugar à
mesa. Veio até mim e segurou-me pelo braço, me
forçando a levantar do chão, contra a minha
vontade, diante do olhar atônito de todos. — Essa
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perseguição com Madison já está indo longe


demais.
— Não sei do que você está falando. — Lowell
rebateu.
— Mas é claro que sabe. Todos aqui já
perceberam que você não a deixa em paz. A está
torturando e para quê? Satisfazer o seu ego ferido
por ter tido que admitir um erro que cometeu
quando era adolescente? Ela cresceu junto com a
gente, cara, é quase da família. Já não basta o que
fez no passado?
Lowell deixou o seu lugar e avançou para cima
de Jasper com os punhos cerrados, os olhos negros
faiscando de raiva.
Ai, meu Deus! Os dois estavam prestes a
brigarem por minha causa. Eu não podia permitir
uma coisa dessas. Então, me coloquei entre os dois,
de frente para Jasper.
— Não foi nada, Jasper. Está tudo bem. Ele
não consegue me afetar com essas baixarias. É
sério.
— Não está nada bem, Madison. Ele está te
humilhando.
— Então você acha que quando reclamo pelo
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seu trabalho mal feito, estou sendo baixo? — A voz


de Lowell ressoou atrás de mim, tão estrondosa que
me fez virar em sua direção com um sobressalto,
quando então me deparei com os olhos negros,
brilhantes de fúria, cravados em meu rosto.
Dependendo do que eu dissesse, ele me
demitiria naquele momento.
— Não foi isso que eu quis dizer, foi só...
— Foi exatamente o que você disse. — Ele me
interrompeu.
— Ela não tem que tolerar isso. — Jasper
interveio. — Vou levá-la para trabalhar comigo.
Ela será minha assistente pessoal.
Aquelas palavras pareceram acertar Lowell
como um golpe físico violento que o fez recuar o
corpo. A fúria em sua fisionomia se multiplicou, a
ponto de uma veia latejar em sua têmpora.
— E com qual objetivo? Por acaso ela anda
traindo o marido com você?
Disse olhando direto para mim e foi então que
o sangue ferveu em minhas veias, a raiva me
assolando. Meu primeiro impulso naquele
momento foi dar-lhe um tapa na cara, para que
aprendesse a me respeitar, mas eu precisava manter
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a calma. Nada na minha vida era fácil e com aquela


oportunidade única não podia ser diferente.
— Não é o caso, Sr. Dixon, mas se fosse, não
seria da sua conta. Agora se puderem me dar
licença, tenho mais o que fazer. — Falei, afastando-
me dos dois homens.
— A partir de agora ela trabalha comigo,
Lowell. — Ouvi Jasper dizendo, às minhas costas,
quando eu já me dirigia para a porta de saída,
empurrando o carrinho.
— Eu ainda sou o presidente dessa companhia.
Ela continua onde está ou será demitida.
Não fiquei para presenciar o resto da discussão,
embora pudesse ouvir os dois esbravejando com o
mesmo tom, até entrar no elevador e descer.
O comentário de Lowell sobre mim e Jasper
me deixou tão constrangida que tive que recusar o
convite dele para almoçar naquele dia e acabei
comendo um sanduíche ali mesmo na copa. Não
que aquele comentário idiota tivesse algum
fundamento, mas as fofocas corriam depressa por
ali e eu não queria que algo sobre isso chegasse aos
ouvidos de Jerry quando ele saísse da cadeia e
voltasse para casa. Isso seria extremamente
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perigoso para Jasper, visto que o ciúme do pai do


meu filho não tinha limites, assim como a
violência, se suscitada nele.
Eu não havia ido visitá-lo na cadeia nenhuma
vez durante aquela semana, simplesmente porque
não tive coragem de pedir a Lowell para me deixar
sair durante o expediente. Se ele já me perseguia
sem motivo algum, podia imaginar se desse
motivos. Deixaria para ir vê-lo no domingo, assim
poderíamos inclusive passar mais tempo juntos.
Ainda naquela tarde, pouco depois do almoço,
o funcionário da recepção me interfonou para
avisar que havia uma ligação da escola de Lucas
para mim e como nunca tinham me ligado no
trabalho, logo imaginei que pudesse ter acontecido
alguma coisa com meu filho. Desci aquele elevador
com as minhas entranhas se revirando de angústia,
temendo que pudesse ter acontecido algo grave
com meu pequenino e ao mesmo tempo me
sentindo culpada por ainda não ter ido conhecer sua
nova escola. Minha mãe ficara incumbida de
matriculá-lo e de providenciar o uniforme e o
material escolar. Era ela também que o levava e o
apanhava todos os dias.
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Cinco minutos depois de chegar à recepção, o


telefone tocou e ao atender o recepcionista avisou
que era para mim.
Meu coração batia muito vagarosamente
quando peguei aquele telefone. Tudo em mim
tomado por um mau pressentimento.
— Como vai Srta. Oliveira. Meu nome é
Melanie, sou professora de Lucas. Estou ligando
para avisar que ele sofreu um pequeno acidente no
parquinho da escola. — Disse a mulher do outro
lado da linha e um frio apavorante atravessou meu
estômago, fazendo com que todo o meu corpo
estremecesse de medo.
— Ah, meu Deus. Como ele está?
— Não se preocupe, ele está bem, não foi nada
grave. Ele apenas torceu o tornozelo, mas já foi
medicado e está em observação no hospital. Tentei
ligar para a sua mãe, mas o telefone não está
chamando. Esse foi o segundo número que
encontrei na ficha dele.
— Obrigada por ligar. Estou indo agora mesmo
apanhá-lo no hospital. Você poderia me informar o
endereço?
Aflita, com o peito cheio de angústia, gesticulei
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para que o recepcionista me emprestasse uma


caneta e um pedaço de papel, onde anotei o
endereço do hospital. Ao encerrar o telefonema,
deixei o prédio quase correndo, tão cega de
preocupação que ao alcançar a calçada do lado de
fora, acabei esbarrando violentamente de frente a
um homem que estava entrando no edifício, um
choque abrupto que me fez perder o equilíbrio e só
não caí no chão porque as mãos enormes dele me
seguraram.
Estava começando a formular um pedido de
desculpas, quando só então vi que era Lowell e
cheguei até a cogitar que fizera de propósito, pelo
menos até ele abrir a boca.
— Além de sair sem permissão na hora do
expediente, ainda não olha por onde anda? —
Esbravejou, rispidamente, enquanto eu lutava para
me equilibrar sobre os meus pés e me livrar das
mãos dele em mim.
Se confrontá-lo significaria a minha demissão,
eu seria demitida naquele momento, pois nada do
que ele dissesse ou fizesse me impediria de ir ver o
meu filho.
— Não estou com tempo e nem paciência para
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sua perseguição agora, Lowell. Meu filho sofreu


um acidente na escola. Se quiser me demitir, vá em
frente. Não vou deixar de ir vê-lo por sua causa.
— Como assim um acidente?
— Eu não sei. Aparentemente ele caiu de
algum brinquedo no parquinho. Com licença,
preciso ir.
Sem mais, o deixei ali parado e segui
apressadamente pela calçada. Precisava quase
correr, visto que o hospital não ficava tão perto
quanto a escola e como eu ainda não havia recebido
o meu primeiro salário, não tinha dinheiro para o
metrô.
Havia caminhado alguns metros quando uma
mão forte agarrou o meu braço, por trás,
firmemente, causando-me um susto e algo mais que
não consegui identificar, uma espécie de aperto
abaixo do meu umbigo.
— Eu te levo. Entre no carro. — Lowell não
convidou, ordenou.
Se fosse em qualquer outra situação, eu jamais
teria aceitado, mas pelo meu filho eu era capaz de
qualquer coisa, até de entrar no carro dele.
Sem esperar resposta, ele saiu me puxando de
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volta para a frente do edifício, onde sua limusine


estava estacionada e me conduziu para o interior do
luxuoso e espaçoso veículo, o mesmo com o qual
Jasmine fora me apanhar no primeiro dia de
trabalho. Acomodei-me em um dos assentos de
couro, enquanto ele se acomodava diante de mim e
dava as instruções ao motorista, antes de fechar o
vidro que nos separava dele.

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CAPÍTULO VIII

— Como você sabe onde fica o hospital em


que Lucas está? — Indaguei, cruzando os braços
diante do meu corpo, como sempre fazia quando
me sentia intimidada por aquele homem.
— É para onde levam os alunos da escola em
que ele estuda.
— E como você sabe onde ele estuda?
— Eu sei de muitas coisas, Madison.
Vagarosamente, processei aquela informação e
fiquei imaginando se ele havia mandado investigar
a minha vida e a vida da minha mãe. Seria loucura,
mas partindo de Lowell nada parecia impossível. E
se ele realmente fizera isso, provavelmente sabia
sobre Jerry estar preso, sobre o fato de ele ter
praticado vários delitos antes daquela maldita
tentativa de assalto que o levara para a cadeia.
Nada podia ser mais constrangedor que ele saber
que eu vivia com um homem que era um
criminoso.
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— Você por acaso mandou investigar a minha


vida? — Instintivamente, estreitei mais os meus
braços em volta do meu próprio corpo, como se
aquele homem me fizesse ter necessidade de
proteção.
— Eu faço questão de saber quem são as
pessoas que me rodeiam. Não se sinta privilegiada
por isso, você não foi a única a ser investigada.
— Então isso que quer dizer que você sabe
sobre…
— Eu sei tudo sobre você. — Ele me
interrompeu, abruptamente. — Sei que o pai do seu
filho não trabalha com vendas e nem está viajando.
Ele está preso em Kissimmee e sei que vocês não
são casados legalmente.
Cacetada! Que vergonha! Talvez isso
explicasse porque ele me tratava tão mal, embora
não justificasse.
Como era de se esperar, havia julgamento no
tom da sua voz, assim como na forma como ele me
encarava e meu desconcerto foi tão imenso que tive
vontade de saltar pela janela daquela limusine e
desaparecer da vida dele.
— Não fala nada para o meu filho sobre o pai
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dele. — Praticamente implorei.


— Não vejo razão para falar. — Ele continuou
me encarando com julgamento.
— Não me julgue Lowell. Eu tive razões para
me prender a um homem como Jerry. Razões estas
que você jamais compreenderia, sabe por quê?
Porque a sua vida é perfeita, você nunca sofreu, não
sabe o que é passar necessidade, não sabe o que é
se deixar ser molestada por um verme nojento, dia
após dia, só para ter um prato de comida na mesa e
um teto sobre a cabeça. E sabe o que é pior nisso?
Foi você quem me empurrou para essa situação. Se
você tivesse um pingo de caráter, nada disso teria
acontecido comigo.
Sem que eu pudesse evitar, as lágrimas
encheram os meus olhos e precisei de um esforço
absurdo para não deixá-las escorrer pelo meu rosto.
Já bastava tudo o que eu havia passado e que estava
passando por causa de Lowell, ele não precisava
me ver chorando.
— Vai passar quanto tempo tocando nessa
tecla? Lamentando o quanto foi vítima da vida,
quanto mal eu te fiz ao causar a demissão de Ivone?
Você precisa ter mais atitude, parar de se fazer de
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vítima. A vida não é fácil para ninguém. A


diferença está na forma como cada um age diante
das suas dificuldades.
— O que você está querendo dizer com isso?
Que a culpa de tudo o que me aconteceu foi o fato
de eu ser uma pessoa sem atitude?
— Estou tentando te dizer que se eu fosse uma
garota de onze ou doze anos e um cara tentasse
passar a mão em mim, eu esperaria ele dormir,
pegaria a faca da cozinha e cortaria a garganta dele.
Simples assim.
Definitivamente aquilo me deixou sem
palavras. Talvez pelo fato de ele falar com tanta
segurança, suas palavras pareciam fazer todo o
sentido. De repente tive a impressão de que me
deixei ser feita de vítima durante toda a minha vida
e de que continuava deixando, ao permitir que ele
me humilhasse dentro da empresa.
— É muito fácil falar quando se está de fora da
situação. Eu era só uma menina inocente, que
cresceu acreditando que todas as pessoas são boas.
Eu não fui preparada para lidar com gente ruim.
Virei-me como pude. Então vê se cala a sua boca e
para de falar sobre o que não sabe.
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— Claro, se juntando a um bandido para se


livrar de outro. Bela forma de se virar. E o pior
nisso é que você está colocando meu irmão na mira
desse bandido, ao se envolver com ele.
— Não sei do que você está falando, não me
envolvi com Jasper. Somos apenas amigos.
— Jasper não tem amigas mulheres. De vocês,
ele só quer uma coisa.
— Mas comigo é diferente. Ele me trata como
se fôssemos irmãos.
— Puta merda! Como você é ingênua. Não me
admira que tenha tido um filho de um sujeito que
não vale nada.
— Não me julgue Lowell. O fato de eu ter
acreditado que você era a pessoa mais importante
da minha vida, quando éramos criança, para que
depois você fizesse o que fez, me tornou a pessoa
fraca que sou. Então, tecnicamente, a culpa é sua.
Fiquei satisfeita ao ver o remorso surgindo,
muito sutilmente, na expressão do olhar dele, antes
que se calasse.
No hospital, mesmo sem que eu o convidasse,
Lowell me seguiu até o andar onde ficava a
enfermaria em que Lucas estava internado.
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Encontrei o meu príncipe sentado na cabeceira do


leito, com um pé enfaixado, ainda usando o
uniforme da escola. Uma mulher com cerca de
trinta anos e aparência sóbria, estava em pé ao lado
dele.
— Mamãe! Eu caí do escorregador, mas foi só
para não deixar a Chloe despencar lá de cima. —
Disse Lucas, ao me ver entrar e corri para abraçá-
lo.
Minha alma transbordou de afeto e alívio
quando estreitei seu corpinho pequeno em meus
braços, apertando-o tão forte que quase o impedi de
respirar.
— Você caiu para não deixar a Chloe cair?
Estou tão orgulhosa de você.
— Eu não podia deixar ela cair mamãe. Ela é
menor e mais fraquinha do que eu. Ia se machucar
muito mais.
— E quem é Chloe, sua coleguinha?
— Ela é minha melhor amiga. — Vi os
olhinhos verdes dele brilharem e fiquei cheia de
orgulho por ser mãe de alguém capaz de amar uma
garota que acabara de conhecer, mesmo sendo tão
jovem.
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— Você fez o certo, meu bem. Só tem que


tomar cuidado para não cair de novo. Isso é tão
perigoso.
Quando o soltei para examiná-lo mais
cuidadosamente, a mulher que se encontrava ao
lado aproximou-se mais e estendeu-me a mão em
cumprimento.
— Olá. Eu sou Melanie, professora dele. Seu
filho agiu como um verdadeiro herói hoje. Ele está
de parabéns. Se deixou cair do brinquedo para
salvar a coleguinha.
— É um prazer conhecer você Melanie. E
desde já peço desculpas por não ter tido tempo de ir
à escola ainda. Estou começando em um novo
trabalho e você sabe como é, não se pode sair no
meio do expediente.
— Tudo bem, eu entendo. É assim mesmo. —
O olhar dela passou por mim e se fixou em Lowell,
que se encontrava parado perto da porta.
Ela o examinou dos pés à cabeça, com cobiça e
seus olhos castanhos assumiram um brilho meio
luxurioso quando voltou a fitá-lo no rosto.
Eu sei exatamente como você se sente,
Melanie, mas não se deixe enganar pelas
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aparências, no fundo ele é só um cretino casca


grossa.
— Mamãe o que o homem mau está fazendo
aqui? — Lucas perguntou.
— Ele deu uma carona para a mamãe, meu
querido. — Percebendo o interesse de Melanie,
virei-me novamente para ela e fiz as apresentações.
— Melanie esse é o meu chefe, Lowell Dixon.
Ela não se deu o trabalho de disfarçar o quanto
estava deslumbrada, passou direto por mim, com
um largo sorriso no rosto, e aproximou-se dele,
com a mão estendida. Lowell apertou rapidamente
a mão dela, balbuciou algumas palavras em
cumprimento e aproximou-se do leito de Lucas.
— Já podemos ir? O garoto está liberado? —
Indagou ele.
— Sim, ele acabou de receber alta. — Foi
Melanie quem respondeu e entregou-me um pedaço
de papel com algumas palavras rabiscadas com
caneta. — Esses são os medicamentos receitados
pelo médico. Nada de mais, só alguma coisa para a
dor. Ele vai precisar ficar de repouso por alguns
dias, mas sobre a frequência na escola você não
precisa se preocupar. Já recebi o atestado médico e
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o anexarei na ficha de Lucas.


— Muito obrigada por tudo. Nem sei como
agradecer.
— Imagina. Você já está agradecendo. — Ela
deu uma risadinha. — Se quiser falar com o
médico, só para confirmar o que eu já disse, basta ir
até a sala dele no final do corredor. Se não estiver
lá, é porque está atendendo outro paciente. Bem,
agora que minha presença aqui não é mais
necessária, acho que vou indo. Até mais. Melhoras
para você, Lucas.
Ela lançou um olhar demorado na direção de
Lowell e em seguida deixou a enfermaria.
— Você fica aqui com Lucas enquanto vou
procurar o médico? — Perguntei, olhando para um
entediado Lowell.
— Ela já não disse que o garoto está bem? Para
que ir incomodar o médico? Ele deve ter outros
pacientes para tratar.
— Tudo bem. Esquece que pedi. Eu o levo
comigo enquanto procuro o médico.
Fui na direção do leito e estendi os braços para
pegar Lucas no colo, quando Lowell nos
interrompeu, colocando-se entre nós.
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— Como você é teimosa. Vai lá atrás do


médico. Eu fico aqui com o moleque.
— Mamãe, não quero ficar com esse homem
mau. — Lucas tentou levantar-se do leito e tive que
segurá-lo no lugar, antes que machucasse o
tornozelo torcido.
— Eu não sou um homem mau, garoto. Sua
mãe inventou essa mentira. — Lowell disse,
rispidamente.
Em resposta, Lucas atirou o travesseiro sobre
ele, abruptamente.
— Minha mãe não é mentirosa, seu feio. —
Esbravejou o meu filho, esticando o lábio inferior
para frente e senti vontade de sorrir, ao mesmo
tempo em que ficava orgulhosa por ele enfrentar
Lowell, uma atitude que eu não tinha coragem de
tomar.
— Não me chama de feio garoto! Olha o
respeito!
— Chamo sim! Seu feio barbudo!
— É essa a educação que você dá pro seu
filho? — Lowell me fulminou com o olhar.
— Ah, pelo amor de Deus. Ele tem só cinco
anos. Vou procurar o doutor. Vocês dois se
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comportem. Não vou demorar.


Deixei a enfermaria sorrindo, mas preocupada.
Lucas tinha a personalidade forte e difícil do pai,
mas era só uma criança. Lowell não seria capaz de
fazer mal a ele. Pelo menos eu esperava que não.
Percorri o corredor o mais depressa possível,
em direção à última sala, onde uma placa indicava
ser a sala do médico que atendeu Lucas. Bati e
como não obtive resposta, fui entrando. Estava
vazia, ele devia estar atendendo outro paciente.
Então voltei pelo corredor e fui procurando em
todas as enfermarias. O encontrei ao lado do leito
de uma menina loirinha, examinando um exame de
raio X. Era um homem calvo, bastante simpático,
com cerca de cinquenta anos, que usava um jaleco
branco. Sob os protestos de uma enfermeira, que
dizia que eu não podia entrar ali, me apresentei e
me certifiquei de que realmente era o médico
responsável por Lucas, antes de falar rapidamente
com ele, obtendo a certeza de que meu filho ficaria
bem.
De volta à enfermaria, fiquei espantada com o
caos que encontrei. Em pé ao lado do seu leito,
Lucas atirava tudo o que suas mãos alcançavam —
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um abajur que havia sobre o criado, o prontuário


médico, seus sapatos, — contra Lowell, enquanto
meu chefe se mantinha semioculto atrás da porta
estreita de um pequeno armário embutido.
— O que está acontecendo aqui? Por que você
deixou ele se levantar? — Temendo que Lucas
pudesse machucar seu tornozelo ferido, corri ao
encontro dele e o segurei em meus braços, quando
só então Lowell deixou o seu esconderijo. Uma
cena inesperada e ao mesmo tempo tão engraçada
que precisei me segurar para não cair na risada. —
O que o Sr. Dixon fez com você, meu bem?
— O que eu fiz com ele?! Esse menino está
possuído. Ele desceu da cama sozinho e começou a
me arremessar as coisas e você pergunta o que fiz
com ele? — Esbravejou Lowell e eu não sabia se
continuava segurando o riso, ou se ficava orgulhosa
do meu garoto.
— Eu não estou possuído, seu barbudo feio! —
Lucas rebateu.
— Você já se olhou no espelho para ficar me
chamando de feio, seu pirralho desengonçado?
— Faça-me o favor, Lowell. Ele é só uma
criança. Você está sendo infantil com essa
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discussão.
Com Lucas no colo e a minha bolsa pendurada
no outro ombro, deixei a enfermaria e parti pelo
corredor, com Lowell me seguindo de perto.
— Discussão! Esse menino podia ter me
machucado ali dentro.
— Ah, minha nossa! Lowell Dixon ferido por
um garoto de cinco anos. Já posso até ver as
manchetes nos jornais. — Falei, com sarcasmo.
— Você está debochando de mim?
— Para falar a verdade, estou sim.
— Vou me lembrar disso no seu próximo
expediente.
Droga! Para quê fui abrir a boca?
— Mamãe, o que é expediente?
— É o tempo que as pessoas passam
trabalhando, meu bem.
— Por que o homem mau está seguindo a gente
mamãe?
Lucas parecia tão cansado, que deitou a cabeça
em meu ombro e começou a chupar seu dedinho
polegar, como costumava fazer sempre que ia
dormir.
— Ele trouxe a mamãe até aqui querido. Acho
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que vai nos levar de volta.


— Não quero voltar com ele.
— Tudo bem. A gente vai caminhando.
— Ah, é assim?! Seu filho manda e você
obedece? — Lowell esturrou atrás de mim. — E
você tira esse dedo da boca, menino. Estava em
uma enfermaria por onde passam várias pessoas
doentes e sequer lavou as mãos. Dê-me aqui esse
dedo.
Sem que eu esperasse, meu chefe tirou um
lenço de algodão branco e delicado, com as iniciais
do seu nome bordado em marfim, de dentro do seu
paletó, pegou a mãozinha de Lucas e limpou o seu
dedinho com o tecido macio, antes que meu filho
enfiasse o dedo na boca de novo. O que mais me
surpreendeu, foi que Lucas deixou.
— Não interfira na forma como educo o meu
filho, Sr. Dixon. — Falei, entrando no elevador.
— Não estou interferindo. Isso foi só uma
crítica construtiva. Para falar a verdade, acho que o
seu filho tem a personalidade certa para uma mãe
como você.
— O que você quer dizer com isso?
— O tempo vai te mostrar, Madison.
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Saímos do elevador, envolvidos naquela


discussão boba e sem sentido. Na calçada diante do
edifício, o motorista uniformizado de Lowell abriu
a porta da limusine para que entrássemos e
enquanto eu decidia se entrava ou não, Lucas
levantou a cabeça e se mostrou fascinado ao
observar o veículo longo e luxuoso.
— Esse é o carro do homem malvado, mamãe?
— É sim querido. Não é bonito? — Eu queria
que ele concordasse entrar, porque não tinha ideia
de como ia conseguir carregá-lo até em casa a pé.
— Podemos ir para casa com ele? Ele não é tão
mau assim. Talvez a mamãe tenha exagerado
quando disse isso.
— Você pede para ele deixar eu dirigir um
pouquinho?
— Se eu pedir você promete entrar e se
comportar?
Lucas fez que sim com a cabeça e entramos na
limusine. Acomodamos-nos em um dos assentos,
enquanto Lowell se sentava em outro diante de nós.
— A resposta é não, menino. Você não vai
dirigir o meu carro. — Soltou o meu chefe, tão logo
o motorista deu a partida e nos inseriu no trânsito
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movimentado.
— Eu não queria mesmo, seu feio! — Lucas
não dava o braço a torcer e por mais inesperado que
pudesse parecer, um sorriso muito suave se
manifestou no canto esquerdo da boca de Lowell.
— Para de chamá-lo de menino. O nome dele é
Lucas. — Protestei.
— Eu achei que sua mãe estivesse incumbida
de cuidar dele enquanto você trabalha.
— Seus detetives investigaram isso também?
— Ele continuou me encarando de um jeito
inquiridor, esperando a resposta para a sua
colocação. — E está. A professora disse que o
telefone do apartamento não chamou, por isso ligou
para a recepção da empresa.
— Por que para a recepção, e não direto para o
seu celular?
Senti minha face enrubescendo de
constrangimento. Era o cúmulo da miséria em
pleno século vinte e um, a pessoa não ter sequer um
celular.
— Não tenho celular. — Respondi depressa,
desviando o rosto para não ter que encará-lo.
— Como a mãe de um menino de cinco anos
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pode não ter um celular? E se acontecerem outras


emergências como essa?
— Não que isso seja da sua conta, mas é a
primeira coisa que vou comprar quando receber
meu pagamento.
Lowell permaneceu em silêncio e não olhei em
seu rosto para tentar decifrar o que se passava em
sua mente.
Quando a limusine parou diante do prédio onde
eu morava, Lucas já estava adormecido em meu
colo e mesmo sem ser convidado, Lowell seguiu-
me elevador acima quando subi.
Ivone levou um susto ao nos ver entrar. Estava
sentada no sofá da sala, diante da televisão ligada e
seus olhos se arregalaram sobre Lucas adormecido
em meus braços.
— Aconteceu alguma coisa com Lucas? —
Indagou ela, séria demais, seu rosto enrugado
empalidecendo.
— Ele caiu de um brinquedo na escola, mas
não foi nada grave. A professora ligou para cá, mas
disse que o telefone não está chamando, então ligou
para a empresa. Está tudo bem agora. Não há nada
com o que se preocupar.
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Sem fazer cerimônia, agindo como se fosse o


dono do apartamento, como de fato era, Lowell foi
até o telefone fixo da sala e examinou o fio que
ligava ao plug na parede, constatando que estava
desconectado.
— Acho que isso explica porque o telefone não
está chamando. — Disse ele, erguendo a ponta
solta do fio para nos mostrar.
— Minha nossa! Eu devo ter desconectado sem
querer, enquanto estava fazendo a limpeza. Como
pude ter sido tão descuidada?
— Não foi culpa sua, Ivone. Foi só um
acidente. — Foi Lowell quem disse e fiquei
perplexa.
Desde quando ele era tão compassivo?
Bastou isso para que minha mãe se derretesse
toda e fosse até ele de braços abertos, estreitando-o
em um abraço afetuoso.
Grande traidora era ela! Agia assim, mesmo
sabendo a forma como ele me tratava no trabalho!
— Como você está, meu querido? Ainda não
tivemos a oportunidade de nos falar, mas gostaria
de agradecer por tudo o que está fazendo por nós.
Esse apartamento é lindo, muito mais do que nós já
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tivemos um dia. Obrigada por tudo.


— Não precisa agradecer. Isso não é nada
comparado ao que eu devo a vocês. — Dessa vez
tive que concordar com ele.
— Você aceita uma xícara de chá, ou café?
— Feito por você eu aceito e sei que vou
gostar. — Ele lançou um olhar rápido em minha
direção, enquanto pronunciava a frase e pude
perceber a sua provocação.
Eu não ia ficar ali olhando para a cara dele, já
bastava ter que tolerá-lo no trabalho durante toda a
semana, então fui para o quarto com Lucas no colo
e o acomodei confortavelmente em sua cama,
cobrindo-o com o lençol cheio de desenhos do
Batman e seus automóveis. Observei seu rostinho
infantil, adormecido, por um longo momento,
agradecendo à vida por tê-lo, por sua queda não ter
sido grave, por ele ter uma personalidade tão forte e
maravilhosa e pelo simples fato de ele existir.
Estava ali maravilhada, sentada na beirada da
sua cama, completamente apaixonada, quando
Lowell invadiu o quarto, inesperadamente, agindo
como um intruso, embora o apartamento fosse dele.
Como sempre, a proximidade daquele homem
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despertou-me emoções confusas, um misto de ódio


e desejo.
— O que você está fazendo aqui? — Indaguei,
sussurrando para não acordar Lucas.
— Vim ver como ficou o quarto do garoto.
Parece que vocês se arranjaram bem por aqui. Está
tudo muito bem organizado. — Ele também
sussurrava e percorria os olhos pelo cômodo
enquanto falava.
— Não fizemos nada. O apartamento já estava
todo mobiliado e decorado quando chegamos e com
certeza você já sabe disso. Aposto como
providenciou tudo antes mesmo que eu desse a
minha resposta à sua proposta. Como se não tivesse
a mínima dúvida de que eu aceitaria.
— Era uma proposta boa demais para ser
recusada.
— Principalmente por alguém como eu, que
vivia na miséria, fugindo dos tarados daquele hotel.
— Não foi isso que eu disse, mas foi bom você
mencionar a questão de fugir de tarados. Preciso
falar com você sobre isso.
— Acho que não entendi.
— Gostaria que você se afastasse de Jasper.
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Não que eu me importe com o que ele pretende


fazer com você, mas eu me importo com o que o
seu namorado pode querer fazer com ele, se souber
disso quando sair da cadeia.
A raiva se inflamou em minhas veias de
maneira quase inacreditável, rápida e amargamente.
Com que direito ele se julgava apto a interferir em
minha vida? Pior ainda, com que direito vinha me
falar aquelas coisas, se eu não tinha nada com
Jasper e nem pretendia ter?
— E o que você acha que ele pretende fazer
comigo? — Indaguei, com dentes e punhos
cerrados, fitando-o fixamente nos olhos.
— Você já deve ter ouvido falar sobre a
reputação dele. Jasper é o tipo de homem que não
dá ponto sem nó. Se está aproximando-se de você é
porque pretende te levar para a cama dele e depois
esquecer até o seu nome, exatamente como faz com
todas as outras.
Levantei-me da cama e aproximei-me um
pouco mais, colocando-me diante dele, a fim de
encará-lo ainda mais fixamente.
— Acontece que eu não sou como as outras
mulheres que vocês conhecem. Eu jurei fidelidade
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ao pai do meu filho e jamais o trairei.


Lowell lançou um olhar rápido na direção de
Lucas, que dormia profundamente na cama.
— Não vou falar aqui onde o garoto pode
ouvir, mas nós dois sabemos que não é bem assim.
Você deixou isso claro naquela noite, quando
estava comigo no hotel e Jasper pode ser bastante
persuasivo quando quer algo.
A fúria dentro de mim alcançou níveis
alarmantes, fazendo meu sangue ferver. Minha
vontade era de erguer a mão e plantar uma bofetada
no rosto daquele maldito, exatamente como ele
merecia. Só que eu havia jurado a mim mesma que
jamais permitiria que ele me fizesse perder as
estribeiras e continuaria mantendo essa promessa,
não apenas por mim mesma, mas por Ivone e
principalmente por Lucas.
— Se já viu o apartamento como queria, pode
sair daqui. Eu não quero você debaixo do mesmo
teto que a minha família.
— Eu já estava indo mesmo tomar o café de
Ivone. E só para constar, não precisa mais voltar ao
escritório hoje. Tire o resto do dia de folga para
cuidar do seu filho.
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Com isto ele se foi, deixando-me uma pilha de


nervos e ao mesmo tempo surpresa pela atitude de
me deixar tirar o resto do dia de folga.
Aquele era Lowell, detestável e surpreendente
na mesma medida.
As surpresas partidas dele não pararam por ali.
No dia seguinte, no sábado de folga para todos os
funcionários, mandou entregar três celulares de
última geração em nosso apartamento, um para
mim, outro para Ivone e para Lucas. Eu não teria
aceitado se tivesse tido tempo de escondê-los de
Ivone, mas ela estava na sala quando abri a porta
para o entregador e acabou me convencendo a ficar
com os dois aparelhos, argumentando que assim eu
e Lucas poderíamos estar em contato durante todo
o dia, e o que aconteceu na sexta-feira não se
repetiria, já que meu filho poderia me contatar a
qualquer momento. Por fim, dei razão a ela e fiquei
com os aparelhos, dando um deles a Lucas, que se
mostrou exultante, feliz demais, porque todos os
seus coleguinhas já tinham celular, menos ele e
agora teria o modelo mais caro de todos.
Na segunda-feira, eu teria uma conversa séria
com meu chefe, isso se ele concordasse em me
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receber sem que eu precisasse invadir sua sala de


novo e perguntaria quais eram exatamente suas
intenções ao enviar aqueles presentes tão caros. Eu
queria realmente acreditar que ele só pretendia
ajudar, sem interesse algum, mas quando se perdia
a confiança em uma pessoa e passava a odiá-la e
responsabilizá-la por tudo de ruim que nos
acontecia na vida, nada de bom se esperava dessa
pessoa.
No sábado, me dediquei a dar uma faxina
profunda no apartamento e passei o máximo de
tempo possível na companhia de Lucas, para suprir
as horas que ficava longe dele no trabalho, durante
a semana. No domingo, fui visitar Jerry na cadeia.
O encontrei abatido, desanimado e deprimido. Sem
ânimo sequer para falar e não consegui impedir que
a piedade me invadisse.
Para piorar ainda mais o seu estado, caí na
bobagem de falar que agora ele podia me ligar no
trabalho, já que tinha ganhado um celular, mas
quando disse que o presente foi do meu chefe, Jerry
ficou transtornado.
— Esse cara está afim de você! — Esbravejou
ele, o corpo trêmulo de raiva. — Acho melhor
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vocês largaram tudo, esse emprego, aquele maldito


apartamento e voltarem para Palm Beach Gardens.
— Você só pode estar brincando! — Falei. —
Nunca mais teremos uma oportunidade como essa,
se largarmos tudo assim, sem mais nem menos. E o
Sr. Dixon não está afim de mim. Ele nunca se
insinuou ou disse algo a respeito, pelo contrário,
me trata como uma escrava dentro daquela
empresa. Os celulares foram para que eu possa me
comunicar mais rapidamente com Lucas e assim
passar menos tempo fora do trabalho quando
houver outra emergência.
Agindo como se estivesse desesperado, Jerry
afundou a cabeça entre suas duas mãos, inclinado
sobre a mesa na sala de visitas. Permaneceu
naquela posição por um longo momento de silêncio
e então voltou a me encarar.
— Ele quer você. Um homem não dá tanto a
uma mulher sem esperar nada em troca. Mas confio
em você, sei que é incapaz de me trair. Além do
mais, você está certa sobre não se poder largar uma
oportunidade dessas. Desculpe-me pelo que eu
disse, acho que estou ficando louco aqui dentro.
Preciso que você arranje um bom advogado para
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me tirar daqui. Preciso estar lá fora para cuidar de


vocês dois.
— Um advogado custa caro, mas como eu já te
disse, no instante em que receber o meu primeiro
salário, vou ver se consigo contratar alguém. O que
o meu dinheiro der para pagar.
— Eu sei que você vai conseguir. Estou
contando com você, Madison.
Quando deixei a prisão naquele fim de tarde, o
peso da responsabilidade de tirar Jerry da cadeia
parecia ainda mais pesado sobre os meus ombros.
Eu precisava dar um jeito de arranjar um advogado.
Quando chegasse a casa iria direto para o
computador procurar alguém na internet, para que
quando recebesse meu salário já tivesse uma pessoa
em vista.

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CAPÍTULO IX

Lowell

Era plena manhã de segunda-feira, minha mesa


estava abarrotada de trabalho, na minha agenda os
compromissos se acumulavam, o telefone não
parava de tocar, com chamadas de Jasmine e eu não
conseguia fazer nada além de manter os meus olhos
vidrados na tela do computador à minha frente,
onde podia ver Madison trabalhando na copa,
através da câmera escondida que mandei instalar no
dia em que ela ingressou na empresa.
Embora não apreciasse essa coisa de
compromisso sério, eu estava acostumado a ter
todos os tipos de mulheres, das mais exóticas às
mais humildes, das mais inteligentes às mais
ingênuas, das mais devassas às mais puritanas e
nenhuma se igualava a Madison. Ela estava me
deixando simplesmente louco. A ambiguidade de
sentimentos que me despertava era algo que eu não
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conseguia compreender.
Eu tinha tantas razões para detestá-la, que
sequer conseguia enumerar. Ela era frágil demais,
desastrada e estabanada demais, exatamente como
quando era criança e eu precisava estar sempre por
perto para protegê-la de tudo. Além disso, era mãe
do filho de um bandidinho de quinta categoria, a
quem não sabia educar. Como se não bastasse, me
culpava por toda a desgraça que aconteceu em sua
vida, por algo que fiz quando ainda era quase uma
criança e era inconsequente o bastante para não ser
responsabilizado por algo tão grave. Para completar
sua imensa lista de atitudes odiosas, ela estava
saindo por aí com o meu irmão, colocando-o na
mira do seu companheiro bandido.
Se eu tivesse mandando investigá-la e ficado
sabendo que ela era mãe do filho de um criminoso,
antes de lhe fazer aquela proposta, talvez sequer
tivesse ido procurá-la naquele trailer horrível, onde
vivia no subúrbio da cidade. Ou talvez tivesse ido
mesmo assim, porque quando se tratava de
Madison, eu não mais ditava as ordens dentro de
mim.
Por mais que eu tentasse odiá-la, tudo o que
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conseguia era desejá-la, de maneira tão fervorosa


que chegava a doer em minhas entranhas olhar para
ela e saber que não poderia possuía-la, porque ela
já pertencia a outro homem. Por mais que eu
tentasse afastá-la dos meus pensamentos, a todo
custo, não conseguia. Todas as vezes que ela
aparecia em minha frente, segurando a xícara de
café com aquelas mãos trêmulas, meu corpo reagia
de forma descontrolada, uma fome luxuriosa
brotava dentro de mim. A fome de tê-la em minha
cama tornava-se cada dia maior e apenas
aumentava quando ela me olhava daquele jeito só
dela, como se quisesse fazer um filme pornográfico
comigo.
Por mais que Madison se mostrasse fraca,
indefesa e desajeitada — como sempre foi —, eu
não conseguia parar de cobiçá-la, pelo contrário, a
sua fragilidade, a sua falta de jeito, a sua falta de
atitude em me confrontar quando eu agia como um
homem das cavernas, — e eu quase sempre agia —
só me fazia querer tê-la ainda mais em meus
braços, suscitava em mim uma necessidade urgente
de protegê-la, de cuidar dela, como fazia quando
éramos crianças. Parecia que nada havia mudado
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durante todos esses anos, além, é claro de ela ter se


tornado uma mulher linda, capaz de despertar todos
os meus instintos sexuais.
Como na infância, Madison ainda tinha
necessidade de que alguém cuidasse dela e foi
buscar esse cuidado nos braços de um criminoso, o
lugar mais errado que poderia ter encontrado. A
sorte dela era que tinha um filho valente, que a
defenderia e a protegeria quando crescesse, só que
isso ainda ia demorar muito tempo e por hora ela
não tinha ninguém. Se aquele bandido saísse da
cadeia e um dia se voltasse contra ela, ela estaria
completamente indefesa.
Como você é estúpida, Madison. Por que foi se
amarrar a um cara assim?
Através da tela do computador, eu a assistia
tentando usar a nova máquina de cappuccino que
comprei com o objetivo único de infernizar a sua
existência, só pelo prazer de torturá-la, por ela ter
optado por ser mãe do filho de um vagabundo, por
ela jamais ter me procurado durante todos aqueles
anos em que esteve em perigo, por ter me
abandonado depois que causei a demissão da mãe
dela. Tudo bem que o maior responsável por todas
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essas desgraças era eu, entretanto, ela podia ter me


telefonado, podia ter me procurado na escola, podia
ter ignorado todo aquele rancor que trazia consigo e
me pedido ajuda quando mais precisou. Eu jamais
teria deixado que ela fosse molestada por aquele
maldito tarado, jamais a teria abandonado ao acaso,
nas mãos de um bandidinho fodido como aquele
com quem ela vivia.
Madison dizia que eu a havia jogado na sarjeta,
ao causar a demissão de Ivone, mas a verdade é que
foi ela quem me abandonou, quem nunca me
procurou depois de ter ido embora da casa dos
meus pais. Eu não fazia nem ideia do que ela estava
passando durante todos esses anos, acreditei
piamente que estivesse muito bem de vida, para que
me esquecesse tão depressa.
Além de comprar a complexa máquina de fazer
cappuccino, mandei que Jasmine desse folga a
Consuelo naquela manhã e o resultado estava sendo
ainda mais desastroso que o esperado. Madison
simplesmente encheu a máquina com creme de
leite, chocolate e café demais e a ligou na
programação errada, de modo que esta estava
espirrando a consistência marrom para todos os
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lados, desgovernadamente, banhando toda a copa,


sujando suas roupas e seus cabelos, enquanto ela
lutava desesperadamente para tentar desligar o
equipamento, sem conseguir encontrar o botão.
Desliga da tomada, garota. Deixa de ser
desatenta.
O que começara como uma brincadeira, estava
quase se tornando uma morte por choque elétrico e
isso era preocupante.
Eu podia mandar a pessoa mais fofoqueira do
edifício ir lá socorrê-la, só para que todos
soubessem sobre seu desastre e ela virasse motivo
de deboche depois, mas não havia tempo para isso,
além do risco de eletrocussão, a máquina podia
fazer o creme esquentar e a estabanada acabaria se
queimando e se machucando de verdade e não era
isso que eu queria.
Sem compreender a razão da minha decisão,
deixei minha sala apressadamente, sem dar
satisfação a uma Jasmine que desde cedo tentava
me fazer atender ao telefone e segui direto para a
copa. Precisava socorrer aquela desastrada antes
que ela se ferisse gravemente. Exatamente como
fazia no passado. Se eu não estivesse sempre
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atento, talvez ela sequer tivesse sobrevivido à sua


infância.
Eu teria sorrido da expressão de susto com que
Madison me encarou quando me viu entrando na
copa, do seu rosto lindo ficando vermelho de
vergonha, se o seu olhar não tivesse me afetado de
forma tão arrebatadora, despertando um turbilhão
de sentimentos contraditórios dentro de mim. Como
sempre acontecia quando eu me aproximava dela,
meu corpo reagiu de imediato, cada mínima parte
do meu organismo suplicando para que eu tocasse
aquela pele morena e sedosa; para que acariciasse
os cabelos negros reluzentes, que caíram em ondas
rebeldes sobre os seus ombros, emoldurando seu
rosto perfeito; para que beijasse aquela boca
carnuda, que parecia suplicar pela minha. Como em
todas as vezes que a via, precisei sufocar cada
emoção dentro de mim e demonstrar uma frieza
que não existia. O que existia era uma revolta
descabida, por ela pertencer a outro homem, um
homem que nem de longe a merecia.
— Eu tenho tudo sob controle aqui. Daqui a
pouco levo o cappuccino. — Disse ela, enquanto
lutava com a máquina desgovernada e mais uma
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vez precisei me esforçar para conter o riso.


Como quase todos os dias, ela usava uma calça
jeans velha e surrada e uma camiseta de malha
desbotada, um traje ridículo, mas que conseguia
deixá-la mais linda que a mais elegante das
mulheres.
— Madison, todos os dias me pergunto por que
te contratei. Você é muito desastrada. O que pensa
que está fazendo?
Mesmo estando em apuros, com a máquina
espirrando o creme marrom contra ela, seus olhos
verdes claros e brilhantes se prenderam aos meus
durante um breve momento em que o ar quase me
faltou.
Ela também quer você, Lowell. Tome uma
atitude de homem e a faça sua. O bandidinho
nunca vai saber.
— Você me conhece desde que nasci, já sabia
que sou desastrada. Contratou-me porque quis. —
Disse ela, irritada e quase aplaudi sua atitude de me
confrontar.
Avancei pela copa, apressando-me em socorrê-
la antes que algo mais grave acontecesse. Coloquei-
me entre seu corpo e a moderna máquina de
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cappuccino, tentei alcançar a tomada na parede,


porém o chão estava escorregadio demais e não
consegui obter êxito, de modo que a maldita
máquina continuou espirrando creme para todos os
lados, inclusive em cima de mim, manchando o
meu terno de cima à baixo.
— Que porra é essa? Essa máquina parece seu
filho! Parece que está possuída!
— Para de falar mal do meu filho. Ele é um
doce de menino.
— Não vi nada de doce naquele pestinha.
— Isso porque ele sabe tratar as pessoas
exatamente como elas merecem.
— Que nada. Isso é porque você falou mal de
mim para ele.
Como não consegui alcançar a tomada, passei a
tentar desligar a maldita máquina em seus botões,
mas esta continuou espirrando cappuccino para
todos os lados, fazendo uma barulheira terrível.
Tentei limpar o creme do meu terno,
imaginando como trabalharia o dia inteiro com as
roupas sujas, mas isso só serviu para piorar as
coisas, já que espalhava ainda mais a sujeira em
cima de mim.
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— Poxa vida... Sujei o terno do presidente. —


Madison falou, com sarcasmo e ao mesmo tempo
com um cruel tom de satisfação pelo infortúnio
alheio.
Maldita! Estava se divertindo com a situação.
— Como se desliga essa tralha? — Indaguei,
verdadeiramente irritado.
— Era o que eu estava tentando descobrir
quando você chegou.
— O que mais você jogou aqui dentro além dos
ingredientes do café?
— Nada. Só tem um pouco de café, creme e
chocolate aí.
— Com certeza pouco não é.
Quando minha paciência esgotou, desferi um
soco do meu punho cerrado na maldita máquina de
metal e esta pareceu revidar, jogando ainda mais
creme em cima de mim e de Madison. Foi então
que ela escorregou no chão lambuzado e perdeu o
equilíbrio. Estava caindo quando corri em seu
socorro e a segurei em meus braços, mas então
acabei perdendo o equilíbrio também, deslizando
no chão escorregadio, e caímos juntos, sentados,
embolados um no outro, lambuzados de creme dos
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pés à cabeça.
Subitamente, a máquina parou de funcionar e o
silêncio reinou entre as paredes brancas, manchadas
de marrom, da copa enorme, ao passo em que
Madison e eu caíamos na gargalhada sem sabermos
exatamente do que estávamos sorrindo. Por mais
inusitada que parecesse, a situação não deixava de
ser engraçada e de repente tive a sensação de que o
tempo não havia passado, de que tantas desgraças
não havia nos separado, de que ainda éramos duas
crianças despreocupadas, sorrindo do nada, felizes
pelo simples fato de estarmos juntos.
Mas o tempo tinha passado, ela era uma mulher
agora e eu um homem. Dois adultos que se
desejavam. O que aconteceu em seguida deixou
essa certeza ainda mais clara.
Ainda estávamos sentados no chão, eu
mantinha minhas costas apoiadas na parede
enquanto Madison permanecia toda desajeitada
entre os meus braços, sentada sobre minhas pernas,
com seu corpo colado ao meu. Tão repentinamente
quanto a máquina cessou seu barulho, o calor do
corpo dela pareceu atravessar suas roupas e as
minhas e me atingiu de forma avassaladora,
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despertando o mais primitivo dos desejos dentro de


mim, me deixando tão duro que minhas bolas
chegaram a doer. Foi então que me silenciei e
quando os meus olhos buscaram os seus descobri,
na expressão do seu olhar, que o mesmo acontecia
com ela.
Durante o momento de silêncio que se seguiu,
não consegui desviar meus olhos dos dela,
fascinado com a forma cobiçosa como ela me
encarava, com o tom rosado que suas bochechas
assumiam, com a rigidez do seu corpo se fazendo
sobre a minha ereção, deixando claro que sabia o
quanto também me afetava.
Eu não tinha ideia do que estava fazendo, sabia
apenas que não podia me refrear, quando levei
minha mão à sua nuca, a segurei firmemente e a
puxei para mim, tomando sua boca com a minha,
de forma exigente, pressionando meus lábios nos
seus, tentando infiltrar minha língua entre eles,
enquanto Madison os mantinha cerrados, relutante,
hesitante.
Pressionei minha boca contra a sua com ainda
mais ênfase, como se o ar nos meus pulmões
dependesse da resposta dela àquele beijo e foi então
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que, timidamente, sua boca se abriu, me provando,


permitindo que minha língua alcançasse a sua, em
uma carícia que a princípio era suave, mas que logo
se tornou tão selvagem e descontrolada quanto a
luxúria que borbulhava dentro de mim.
A lascívia me percorreu de forma tão intensa
que parecia queimar em minhas veias, como uma
droga que se espalhava depressa pelo meu sangue,
tornando-me um viciado, alheio a tudo mais à
minha volta que não àquela mulher. Minhas mãos
imploravam por percorrer sua pele macia, o tesão
ordenava-me a torná-la minha ali naquele chão,
mesmo que ela pertencesse a outro homem. Mas
que se fodesse esse homem. Eu a queria e a teria
para mim, mesmo que apenas uma vez, para saciar
meu desejo desenfreado.
Então, fechei minha mão em torno dos seus
cabelos densos e os puxei para trás, fazendo com
que sua face se erguesse e a pele do seu pescoço
ficasse exposta para mim. Deslizei minha boca
através daquela pele macia, provando cada
centímetro com a ponta da minha língua, ao mesmo
tempo em que percorria minhas mãos ao longo da
sua silhueta, fazendo o contorno da sua cintura bem
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desenhada, tocando levemente a curva do seu seio,


pequeno e firme, por sobre o tecido da sua
camiseta, quando a senti arfando de encontro ao
meu corpo.
Entretanto, quando tentei enfiar minha mão por
sob o tecido da sua camiseta, tomado por uma ânsia
quase desesperada de tocá-la mais intimamente, de
sentir seus mamilos enrijecendo sob o meu toque,
Madison subitamente ficou toda tensa, seus
músculos enrijecendo. Foi então que ela espalmou
suas duas mãos em meu peito e me empurrou,
indicando-me que eu devia me afastar e precisei de
um esforço quase inumano para fazê-lo.
— O que estamos fazendo, Lowell? —
Indagou Madison, com seus olhos verdes,
brilhantes de desejo, cravados em meu rosto, sua
boca carnuda entreaberta para puxar o ar.
— Eu não tenho ideia. Só sei que não quero
parar.
— Eu... Também não quero, mas precisamos.
Ela não precisou dizer mais nada para que eu
compreendesse que se referia ao fato de ser uma
mulher comprometida com um vagabundo qualquer
que não a merecia. Foi então que uma fúria
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descomedida correu solta em minhas veias, de


forma tão absurda que desejei esmurrar a parede de
concreto atrás de mim. A sensação que eu tinha era
de que ela estava me trocando por outro homem, só
que isso não fazia o menor sentido. Ele era o
companheiro dela, o pai do seu filho, o sujeito a
quem ela chamava de marido. Quanto a mim, não
era ninguém em sua vida, além de alguém que ela
julgava tê-la arruinado de maneira irreparável e eu
tinha que aprender a conviver com isso.
Lutando contra o desejo de agarrá-la e tomá-la,
nem que fosse à força, levantei-me do chão e
estendi a mão para ajudá-la a ficar de pé também.
Aproveitei que a máquina de cappuccino havia
parado de espirrar creme e praticamente deslizei até
o canto da parede onde estava ligada na tomada e
puxei o fio.
— Vou mandar devolver essa coisa. Ela pode
ser mortal para uma pessoa estabanada como você.
— Talvez Consuelo saiba como usá-la.
— Acho melhor devolver. É mais seguro.
Eu estava deixando a copa, quando Madison
falou atrás de mim.
— Lowell, sobre o que aconteceu aqui, eu…
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— Não vai se repetir. — A interrompi, furioso.


— Vamos esquecer isso e fazer de conta que não
aconteceu. Foi só um deslize bobo. Não significa
nada. Agora vá para casa e troque essas roupas
sujas.
Não esperei que ela dissesse mais nada. Com
isto, deixei a copa e fui direto para a minha sala no
último andar.
— Vá até o meu apartamento e me traga roupas
limpas. — Ordenei à Jasmine, que me examinava
dos pés à cabeça, boquiaberta, enquanto eu passava
pela antessala.
— Sr, tem uma reunião agendada para daqui a
dez minutos, e a...
— Cancele a porra da reunião! E todos os
outros compromissos. E traga roupas limpas o mais
depressa possível!
Entrei em minha sala batendo a porta com
força atrás de mim. Uma profusão de sentimentos
se misturava em meu íntimo, perturbando-me,
desejo e fúria disputando espaço. Tudo o que foi
despertado em meu ser, quando beijei Madison,
ainda estava lá. O gosto da boca dela ainda estava
na minha, o contorno da sua cintura bem
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emoldurada parecia ter ficado gravado na palma da


minha mão, o desejo ainda fervia em minhas veias,
de maneira implacável, como jamais foi com
qualquer outra mulher. Sensações tórridas que me
abalavam. Geralmente eu tinha o controle sobre
esse tipo de situação e agora me percebia quase
descontrolado.
Eu precisava de uma válvula de escape, ou
acabaria voltando naquela copa e fazendo uma
besteira, algo do que me arrependeria depois.
Então, telefonei para Meg, uma das acionistas da
empresa, com quem transava de vez em quando.
Ela não me despertava tanto tesão quanto Madison,
mas gostava de me dar a boceta na sala de reuniões.
Além do mais, era bonita e fogosa, capaz de aplacar
a loucura que me tomava naquele momento. Era a
única forma que eu tinha de tirar Madison da minha
cabeça, satisfazendo-mecom outra mulher. Parecia
inescrupuloso, mas era necessário.
Como eu já esperava, Meg concordou em adiar
seus compromissos daquela manhã para vir me
encontrar, mostrando-se exultante com a ideia. No
fundo, ela só queria o que todas as mulheres
querem: um relacionamento sério. E o que existia
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entre nós acabaria no instante em que ela


percebesse que esse relacionamento não
aconteceria.
Deixei a porta destrancada para que Meg
entrasse, servi-me de uma dose de uísque com gelo
e fui para a sala de reuniões, onde me livrei de
todas as roupas sujas, ficando só de cueca. Tirei um
pacote de preservativos da carteira, depositei sobre
a mesa, sentei-me e esperei.
Não demorou muito para que o tintilar dos
sapatos de salto alto de Meg se fizesse ouvir sobre
o piso maciço do cômodo ao lado e logo ela
adentrou a sala de reuniões, com um sorriso largo
no rosto.
Não havia dúvidas de que ela era uma mulher
linda, tinha densos cabelos dourados, a pele rosada,
tão perfeita e delicada que parecia feita de
porcelana. Seus lhos eram de um azul claro
reluzente e seu corpo era esbelto e escultural.
Porém, parecia haver algo nela que era exagerado,
algo que eu não conseguia decifrar e que a tornava
enjoativa. Talvez fosse perfeita demais, ou
sofisticada demais.
— Minha nossa! Essa está sendo a melhor
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visão do meu dia. — Disse ela, percorrendo os seus


olhos pela minha seminudez, examinando cada
detalhe, com luxúria e cobiça, sem que meu corpo
reagisse minimamente.
— Tira essa roupa e venha aqui. — Ordenei.
Ela cruzou os braços diante do seu corpo e
permaneceu onde estava, empinando o nariz,
visivelmente emburrada.
— Então é assim? Você só me chama quando
quer transar e nem sequer me dá direito a uma
conversa? Não vai me dizer onde passou todo o
final de semana?
Que saco! Para que tanta cobrança se no final
das contas terminaríamos pelados em cima daquela
maldita mesa? Será que nem por uma vez podíamos
pular essa parte?
— Fiquei em casa trabalhando. Só isso. Vem
aqui docinho. Eu preciso de você e preciso agora.
— Falei, forçando minha voz a assumir um tom
rouco que jamais falhava no que se referia a fazer
uma mulher tirar a calcinha para mim.
Toda derretida, Meg aproximou-se, colocou-se
diante de mim e começou a despir-se,
vagarosamente, tentando parecer sensual. Uma
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tentativa completamente desnecessária, já que eu


sequer a enxergava direito. Via outra mulher
quando olhava para ela. A mulher que eu realmente
queria.
Quando Meg estava completamente nua,
usando apenas os sapatos de saltos finos e altos,
puxei-a ao meu encontro, abruptamente, fazendo
com que montasse sobre minhas coxas, uma perna
de cada lado e afastei mais um pouco minhas
pernas, deixando-a completamente aberta para
mim. Segurei seus cabelos atrás da cabeça e os
puxei, fazendo com que suas costas arqueassem e
coloquei um dos seus seios na boca. Eram
pequenos e firmes, com os mamilos rosados, só que
naquele momento o meu desejo estava todo
concentrado em como seriam os seios de Madison.
Certamente tinha mamilos morenos, como toda a
sua pele, inclusive sua bocetinha devia possuir
aquela cor exótica e linda.
Ah, caralho! Eu daria cinco anos da minha vida
para ver Madison completamente nua, para prová-
la inteira e descobrir o gosto que ela tinha.
Fechei os meus olhos e imaginei que eram os
seios dela que eu mordiscava e chupava e apenas
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assim consegui ter uma ereção. Levei minha mão


ao sexo de Meg e o massageei suavemente, quando
pude constatar que ela já estava toda molhada,
preparada para me receber. Então, nos coloquei de
pé e a virei de costas, debruçando-a sobre a mesa.
Livrei-me da cueca, cobri meu membro com um
preservativo, a fiz abrir mais as pernas e me
enterrei nela, por trás, com força, tentando saciar o
desejo que me consumia.
A penetrei de todas as formas possíveis, em
diferentes posições, dei a ela vários orgasmos e,
para mim, era como se nada estivesse acontecendo,
porque não era Meg a mulher por quem meu corpo
clamava. Por mais que ela fosse gostosa, por mais
que fizesse de tudo comigo e gemesse meu nome
baixinho, enquanto estava gozando, não consegui
satisfazer-me. Por mais que tentasse, não conseguia
alcançar o clímax. Aquela foda já estava se
tornando cansativa, sem que eu conseguisse gozar.
Porra! Daqui a pouco Jasmine aparece com
minhas roupas limpas e eu ainda estou aqui
fodendo. Que merda está acontecendo comigo?
Meg estava deitada de costas sobre a mesa,
enquanto eu me mantinha em pé entre suas pernas
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abertas, segurando suas panturrilhas com os meus


braços e a penetrava com força e depressa, tentando
alcançar o orgasmo que nunca vinha, quando ouvi
passos femininos avançando pela minha sala e nem
me preocupei em parar, pois acreditei que fosse
Jasmine com as minhas roupas e se ela ouvisse os
gemidos partindo da sala de reuniões, jamais
chegaria perto, tampouco se importaria, visto que,
ela própria já estivera no lugar de Meg, há alguns
anos atrás, antes que eu descobrisse que ela era
uma excelente profissional e parasse de comê-la, a
fim de mantê-la como minha secretária.
Mas não era Jasmine. Era Madison. Estava
parada no meio da outra sala, observando-nos
através da porta entreaberta. Pela segunda vez. Seus
cabelos molhados caindo sobre seus ombros e o
vestido florido simples que usava, indicavam que
ela já havia ido ao apartamento tomar banho e
trocar-se.
Como da outra vez em que me flagrou
transando naquela sala, ficou petrificada diante da
porta, sem desviar seus olhos de nós. Só que desta
vez não havia espanto nem vergonha na expressão
do seu olhar e sim dor. Seus olhos encheram-se de
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lágrimas e só então percebi que a havia magoado e


decepcionado e não entendi por que isso me afetou
de forma tão absurda, se eu não tinha nada com ela.
Não lhe devia satisfação alguma. Tampouco ela
tinha o direito de sentir-se ferida.
Achei que ficaria lá plantada, me vendo gozar,
como da outra vez, quando imaginei que era sua
boca carnuda mamando meu pau e gozei como um
alucinado. Mas desta vez foi diferente. Com a
fisionomia carregada de mágoa, ela saiu correndo,
o som dos seus passos desaparecendo logo depois
que a porta foi batida com força.
Mas que merda! Eu a havia chateado de
verdade e não entendia por que essa porra me
preocupava. Eu não devia satisfação nenhuma a ela
e ela não tinha nada a ver com o fato de eu comer
quem eu quisesse dentro da empresa da qual eu era
dono. Porém, o baque dentro de mim foi inevitável,
era como se eu pudesse sentir a dor dela e me
culpasse por essa dor, o que me fez broxar de vez.
— Vai embora daqui Meg. Terminamos isso
em outro momento. — Falei, afastando-me de uma
Meg que me encarava com olhos quase chocados.
— O quê?! Como assim?! Mas você ainda nem
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gozou. — Ela sentou-se na borda da mesa, com as


pernas ainda abertas. Tinha o corpo salpicado de
suor, os lábios vaginais, depilados e rosados,
banhados com sua lubrificação. Uma imagem tão
excitante e feminina que mal pude acreditar que
estava negando fogo diante dela. — É por causa
daquela garota? O que ela veio fazer aqui de novo,
sem ser anunciada? Parece que está virando hábito
ela nos ver transando. Acho bom você dar um jeito
nisso e demiti-la antes que grave alguma coisa e
coloque na internet. Eu nunca vi uma coisa dessas.
Uma copeira invadindo a sala do presidente na hora
que bem quer.
— Jasmine não está na antessala. Foi ao meu
apartamento buscar roupas limpas. Por isso
Madison entrou sem ser anunciada.
— Ah, e agora você está defendendo ela!
Meg desceu da mesa e começou a se vestir,
furiosa, enquanto eu me livrava do preservativo
usado e bebia mais um gole do uísque.
Quando ela percebeu que minhas roupas
estavam sujas, jogadas a um canto da sala,
mostrou-se horrorizada e para que não implicasse
ainda mais com Madison, inventei que me sujei
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sozinho, em um momento em que fui até a copa e


não encontrei ninguém. Só que Meg era uma
mulher esperta e entendeu que eu não estava
falando a verdade.
Precisei de muita insistência para que ela fosse
embora. Minha paciência já estava quase esgotando
quando por fim Jasmine chegou com as roupas
limpas e finalmente pude voltar ao trabalho,
enquanto tentava esquecer tudo mais que havia
acontecido naquela manhã.

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CAPÍTULO X

Madison

Deixei a sala de Lowell quase correndo. Não


compreendia por que um buraco parecia ter sido
aberto em meu peito no instante em que o vi
novamente com aquela mulher. Tampouco entendia
por que as lágrimas insistiam em tentar brotar dos
meus olhos, uma dor lancinante invadindo minha
alma. Eu não tinha absolutamente nada com
Lowell, pelo contrário, ele era só alguém que eu
odiava, ou pelo menos deveria odiar.
Como ele mesmo dissera, aquele beijo na copa
foi um erro, nada significava. Eu tomei a decisão
certa quando nos interrompi. Porém, fui estúpida o
bastante para subir até a sala dele, disposta a dizer-
lhe o quanto ele estava errado, o quanto aquele
beijo tinha significado para mim, que não foi erro
algum, que ainda podia sentir o gosto da sua boca
na minha e queria experimentar novamente o calor
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do seu corpo de encontro ao meu.


Onde eu estava com a cabeça para cogitar dizer
algo assim a um homem que era cafajeste o
bastante para transar com outra mulher pouco
depois de ter me beijado de forma tão inesquecível?
Pelo menos foi inesquecível para mim. Para ele não
devia ter representado nada. Como ele mesmo
dissera, foi um erro.
Parecia loucura que um simples beijo tivesse
mexido comigo de forma tão abrasadora. Mas o
fato era que meu coração insistia em bater
descompassado por aquele homem, um homem que
além de ter arruinado a minha vida com seu mau-
caratismo, me tratava com desdém todos os dias
dentro da sua empresa.
Caramba! Como pude ter sido tão vulnerável, a
ponto de me deixar abalar por alguém para quem
nada representava? Como eu podia continuar
atraída por alguém que tratava uma mulher como
um objeto, transando com ela em cima de sua
mesa? Eu podia apostar como Jasmine os via todos
os dias e talvez até participasse daquela sem-
vergonhice também.
Provavelmente ele teria feito o mesmo comigo,
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se eu concordasse e o pior era que se o tivesse


encontrado sozinho, teria concordado. Na verdade,
eu queria estar no lugar daquela loira e isso
envergonhava-me profundamente. Não apenas
porque eu era uma mulher comprometida, mas
porque Lowell não me merecia.
Eu devia estar muito carente, afetiva e
sexualmente. Essa era a única explicação para que
meu corpo fervesse inteiro quando eu pensava
naquele cafajeste, para que aquela excitação tivesse
se espalhado pelo meu sangue tão fervorosamente
quando o vi tendo relações sexuais com aquela
mulher, pela segunda vez, quando meus olhos
vagaram pelo seu corpo nu.
Meu Deus! Que corpo era aquele? Ele
simplesmente era a personificação da perfeição
masculina. Mesmo olhando rapidamente, meus
olhos conseguiram capturar cada detalhe dele.
Tinha os braços e o tórax musculosos, o peito
coberto por uma espessa camada de pelos negros.
Seu abdômen era sarado, as coxas eram grossas e
peludas e o pau... Ah, minha nossa! Como alguém
podia ter um pau tão grande?
Fechei os meus olhos repassei mentalmente
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aquela cena, quando então um fervor abaixo do


meu umbigo me fez estremecer. Eu realmente
queria estar no lugar daquela mulher, toda aberta na
frente de Lowell, envolvido pelos braços dele,
sendo penetrada por ele.
Isso parecia tão errado e tão sujo, mas ao
mesmo tempo parecia tão certo e tão desejável.
No fundo, eu sabia que o desejei no instante
em que o vi, quando entrei em seu quarto enquanto
fugia daquele tarado no hotel, porém, em minha
sanidade, eu sabia que precisava manter distância,
por tantas razões que sequer conseguia enumerar.
Eu estava saindo do elevador, no andar onde
ficava a copa, quando praticamente esbarrei em
Jasper, que vinha pelo corredor, da direção da área
de trabalho.
— Oi. Eu estava te procurando. Está tudo bem
com você? — Indagou ele, examinando
atentamente o meu rosto e me perguntei se não
havia deixado as lágrimas caírem sem perceber.
Instintivamente, passei os meus dedos no
contorno abaixo dos meus olhos, a fim de afastar
qualquer resquício de um pranto indesejado e sem
motivo.
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— Está tudo sim. Acho que deve ter caído um


cisco no meu olho.
— Fui até a copa tomar um café, mas está uma
bagunça. Parece que alguma coisa explodiu lá
dentro. Fiquei preocupado com você.
— Não precisa se preocupar. Foi só aquela
máquina nova de fazer cappuccino que não
funcionou como esperado.
— Lowell devia ter mandado um profissional
instalar antes do uso. Ele foi muito irresponsável
em deixar que você a usasse sem treinamento. É
uma máquina profissional e requer mão de obra
profissional.
— Pois é, mas acho que a estima do Sr. Dixon
por mim não é das melhores.
— Eu já te disse e repito. Você só está nessa
copa, tolerando as humilhações dele, porque quer.
Vem trabalhar comigo. Eu também sou dono dessa
empresa. Não tanto quanto ele, mas tenho o poder
de readmitir um funcionário caso ele a demita
como ameaçou.
Cogitei seriamente aceitar a proposta dele.
Seria uma forma de me livrar não apenas da
perseguição de Lowell, mas também de todo esse
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desejo que ele despertava dentro de mim. Porém,


alguma coisa me impedia de me afastar, talvez o
sentimento de gratidão pela oportunidade que ele
estava me dando de ter um bom lugar para morar,
por ter me tirado daquele trailer onde vivíamos em
Palm Beach Gardens. Talvez eu apenas quisesse
vê-lo todos os dias e continuar alimentando aquela
atração incontrolável e descabida que ele exercia
sobre mim. Ou mais provavelmente, eu estava
precisando que alguém me colocasse uma camisa
de força e me internasse no hospício mais próximo.
— Eu agradeço imensamente pelo convite, mas
apesar de ser um casca grossa, foi Lowell quem me
estendeu a mão quando eu mais precisei, embora a
motivação dele não tenha sido apenas me ajudar e
sim reparar o mal que me causou no passado e não
quero parecer tão ingrata.
— Eu entendo. Em todo caso, se você mudar
de ideia a proposta estará de pé. Basta me avisar.
— Pode deixar.
— Almoçamos hoje?
O convite dele soou como uma música em
meus ouvidos. Seria reconfortante sair um pouco
daquele edifício e respirar.
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— Claro. Você passa aqui para me apanhar?


— Ao meio-dia em ponto. Espere-me.
Graças aos céus o meu chefe tirano,
desavergonhado e gostoso teve o bom senso de
mandar uma equipe levar a máquina de cappuccino
embora e limpar a bagunça que ela deixou na copa.
Depois disso, a manhã se seguiu com muito
trabalho, muitos chás, cafés e água para serem
distribuídos entre os funcionários que trabalhavam
a todo vapor.
Esperei ansiosamente pelo momento em que
iria servir as bebidas na sala do presidente, mas não
aconteceu. Não pediram nada no último andar,
nenhuma vez.
Ao meio-dia, como combinado, Jasper
apareceu para me apanhar e pela primeira vez —
desde que fomos ao subúrbio e comemos uma
feijoada — conseguimos almoçar juntos fora do
edifício, sem que Lowell inventasse um pretexto
para manter-me presa no trabalho durante o horário
do almoço.
Às vezes eu tinha a impressão de que ele
vigiava os meus passos e deliberadamente impedia-
me de sair com o irmão dele, por temer que Jerry
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pudesse se voltar contra ele quando saísse da


cadeia, mas devia ser só impressão minha. Eu não
era tão significante assim para que ele se desse o
trabalho de me observar.
Fomos a um restaurante a duas quadras dali,
um lugar pequeno, porém agradável, onde eram
servidos sanduíches naturais e diversos tipos de
sucos. Foi o melhor momento do meu dia. A
companhia de Jasper era descontraída e nem por
um momento ele se insinuou para mim, como
Lowell disse que faria. Não havia outro interesse da
parte dele, que não a minha amizade.
Durante a tarde, Consuelo apareceu para
trabalhar e o serviço tornou-se menos exaustivo
com a ajuda dela. Novamente senti falta de ir levar
bebidas no último andar. Por alguma razão
desconhecida eu queria ver Lowell, queria olhar
para ele e relembrar aquele beijo. Talvez estivesse
ficando louca, mas era como eu me sentia. Só que
nem morta eu voltaria à sala dele sem ser chamada.
Parecia que todas as vezes que eu entrava lá ele
estava transando. Era melhor não arriscar de novo.
No final da tarde, eu havia acabado de voltar de
um dos setores, empurrando o carrinho com as
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bebidas, quando a namorada de Lowell


aproximou-se do balcão que separava a copa do
corredor. Vestida, ela era ainda mais bonita e
deslumbrante, tinha os cabelos loiros, sedosos,
cortados na altura dos ombros e impecavelmente
escovados, a pele parecia de porcelana, as feições
eram delicadas, o nariz naturalmente arrebitado. O
vestido cor de creme, colado e sofisticado, que
usava, valorizava as curvas bem delineadas do seu
corpo e as sandálias de salto alto a deixavam ainda
mais feminina e elegante. Não era à toa que Lowell
tinha relações com ela no horário do trabalho. Que
homem resistiria a uma mulher como aquela?
— Preciso falar com você, Madison. É esse
mesmo seu nome? — Disse ela, encarando-me com
altivez, me fazendo perceber exatamente qual era o
meu lugar e qual era o dela.
— Pois não. É esse mesmo o meu nome. —
Falei, envergonhada, já prevendo o que ela diria.
— Esta manhã foi a última vez que você
invadiu a sala do meu namorado para espiar a nossa
intimidade.
Subitamente, meu sangue se esvaiu da minha
face.
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— Ah, me desculpe. Não fiz de proposi...


— Não me interessa o motivo que a levou a
fazer isso. — Ela me interrompeu, abruptamente,
sua fisionomia se tornando ainda mais dura. —
Lowell tem um coração muito grande, por isso
ainda não a demitiu. Mas eu conheço tipinhos de
pessoas como você, que espiam a intimidade dos
outros, como se não quisessem nada, para depois
fazerem fama postando esse tipo de vídeo na
internet. Então acho melhor você tomar bastante
cuidado comigo, pois posso te demitir e dar um
jeito de você nunca mais arranjar outro emprego na
vida. Será que fui pouco clara?
— Clara como a luz do dia. Aquele incidente
não vai se repetir. Desculpe-me.
— Assim espero. — Ela lançou um olhar de
desprezo para a copa, depois na direção de
Consuelo e finalmente deu meia volta e afastou-se,
seguindo pelo corredor.
Fiquei perplexa que ela não soubesse que eu
conhecia Lowell desde criança, ou pelo menos eu
achava que não sabia. Se soubesse, ele teria dito a
ela que eu não era o tipo de pessoa que postaria
vídeos com as intimidades dos outros na internet.
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Ou Lowell era um namorado muito omisso, que


não tinha diálogo com a sua companheira, ou sentia
tanta vergonha de mim que não falava para
ninguém que já nos conhecíamos antes de eu ser
admitida.
Eu preferia acreditar nessa segunda hipótese.
— Não liga para ela. É só uma metida que acha
que manda aqui porque está transando com o
presidente da empresa. — Foi Consuelo quem
falou. — Daqui uns dias ele arranja outra foda e ela
abaixa essa crista.
Fitei-a confusa.
— Mas não era de Jasper quem transava com
todo mundo aqui dentro?
— Ah, minha filha, os dois não são muito
diferentes. São dois galinhas que não levam as
mulheres a sério. Mas todas já sabem como eles
são. Cai na armadilha quem quer.
Consuelo olhou-me de um jeito estranho e tive
a impressão de que estava me jogando uma
indireta, porque me via saindo para almoçar com
Jasper.
No dia seguinte, novamente ninguém pediu
nada no último andar e comecei a acreditar que
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Lowell estava me evitando, talvez por exigência da


namorada. E embora não concordasse com isso,
cheguei à conclusão de que era melhor assim. Eu
era comprometida com Jerry, seria muita
sacanagem trair a confiança dele, embora não o
amasse, ele era o pai do meu filho e havia me
livrado daquele pedófilo maldito. No mínimo
lealdade eu devia a ele.
Novamente almocei na companhia agradável
de Jasper, que desta vez me fez o mais inesperado
dos convites.
— Sexta-feira daremos uma festa no clube da
nossa família, em comemoração ao aniversário de
Edward, o nosso irmão mais velho. Você deve se
lembrar dele. Gostaria muito que você fosse
comigo. Não vai ser nenhum festão, só uma
comemoração simples. Isso se o aniversariante
aparecer. Porque é mais fácil achar uma agulha
num palheiro do que convencê-lo a sair daquele
haras.
Eu me lembrava claramente de Edward. Era
muito quieto e calado, rejeitado pela mãe de
Lowell, por ser filho da amante do marido dela.
lLembrava-me que ia visitar o pai, geralmente nos
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finais de semana, e a Sra. Dixon sempre dava um


jeito de maltratá-lo e de jogar o Sr. Dixon contra
ele, discretamente claro, para não se passar por uma
pessoa ruim. Eu sentia muita pena dele, por isso
acabei me aproximando, fazendo amizade, para não
ter que vê-lo sozinho, isolado dos irmãos, durante
essas visitas. Inclusive eu estava com ele, no dia em
que Lowell fez com que minha mãe fosse demitida.
— Minha nossa! Eu havia me esquecido de
Edward. Como ele está?
— Do mesmo jeito. Parece um selvagem
morando naquele haras isolado do resto do mundo.
Depois que meu pai se separou da minha mãe foi
morar com ele. Acho que meu velho é a única
pessoa na face da terra que o suporta.
— Ah, não fala assim. Lembro-me que ele era
um cara legal.
— Foi por causa dele que Lowell inventou
aquela mentira que fez com que sua mãe fosse
demitida. Mas não vamos falar de coisas tristes.
dDiga-me, você quer ir comigo nessa festa?
Eu queria e queria muito. Rever Edward e ao
mesmo tempo me divertir um pouco, sair daquela
rotina exaustiva, beber, dançar e conversar, como
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há muito tempo não fazia. Entretanto, eu não teria o


que vestir em uma festa realizada por pessoas ricas.
— Você se importa se eu pensar um pouco
antes de te dizer se posso ir ou não?
Eu tentaria arranjar uma roupa adequada, se
não conseguisse teria que recusar o convite. O que
seria uma pena.
— O tempo que você precisar. A festa será só
na sexta. Você tem bastante tempo para se decidir,
mas espero sinceramente que concorde em ir.
E eu esperava sinceramente conseguir uma
roupa, embora nem soubesse por onde começar a
procurar. Comprar um traje adequado sairia caro,
portanto estava fora de cogitação.
De volta ao trabalho, comentei com Consuelo
sobre o convite feito por Jasper e sobre o quanto
gostaria de ir, mas não tinha condições de comprar
uma roupa adequada. Foi então que ela me trouxe
uma solução, dizendo que sua filha trabalhava
como costureira em um atelier de alta costura e que
poderia arranjar um vestido emprestado, por pelo
menos uma noite. Relutei em aceitar, afinal não
sabia como funcionava esse mundo da alta costura,
se a filha dela teria problemas ao pedir um vestido
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emprestado, mas Consuelo me garantiu que ela


fazia isso com frequência e fiquei exultante pela
oportunidade de ir aquela festa.
Durante toda a tarde, não fui servir café
nenhuma vez na sala de Lowell. O vi apenas muito
rapidamente, quando peguei o elevador junto com
ele e mais cerca de meia dúzia de pessoas. Bastou
que eu olhasse em seu rosto para que o meu
coração se agitasse no peito. Estava mais lindo que
nunca, usando seu terno escuro, feito sob medida,
com a barba bem aparada e os cabelos bem
penteados. Encarou-me por um breve instante, de
forma tão árdua e fervorosa que me arrepiei inteira.
Na manhã seguinte, poucas horas depois do
início do expediente, Jasmine interfonou para a
copa avisando que ele queria falar comigo em sua
sala e não consegui evitar o tremor que se instalou
em meu corpo, enquanto subia pelo elevador. Só
conseguia imaginar que ele me demitiria, afinal
havia parado com suas grosserias, como se tivesse
desistido de tentar me coagir a pedir as contas.
Minhas pernas estavam moles quando entrei na
sala ampla e bem mobiliada. Encontrei-o sentado
atrás da sua mesa, exalando uma aura de poder
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meio intimidadora e ao mesmo tempo


irresistivelmente atraente, com sua postura altiva e
a paisagem do centro da cidade as suas costas. Ao
verme aproximar, ele desviou sua atenção da tela
do computador à sua frente, examinou-me dos pés à
cabeça e cravou o seu olhar em meu rosto, uma
expressão indecifrável se refletindo no negro dos
seus olhos.
— O senhor quer falar comigo? — Tentei
parecer o mais formal possível, morrendo de medo
de ser demitida.
— Sim. Sente-se. — Ordenou, com autoridade
e obedeci, acomodando-me na cadeira do lado de
cá da mesa. — Não quero que você vá à festa de
aniversário de Edward com Jasper.
Demorei alguns instantes para processar
aquelas palavras, me perguntando se porventura
não havia compreendido errado.
— O quê? Como assim? Por que não, se Jasper
me convidou para acompanhá-lo?
— Como já te falei mais de uma vez, não quero
você andando por aí com o meu irmão, para que
quando o seu marido criminoso sair da cadeia tente
fazer algum mal a ele.
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Ah, então era isso. Ele era covarde o bastante


para sentir medo do que Jerry pudesse fazer, não
sabia que, apesar de ter cometido muitos erros, o
pai do meu filho não era uma pessoa violenta.
Eu não sabia se sua atitude me deixava
enraivecida ou enojada.
— E como eu já te disse, também mais de uma
vez, não há razão para que Jerry faça mal a Jasper.
Não há absolutamente nada entre nós. Somos
apenas bons amigos. Mas eu duvido que você
reconheça o significado da palavra amizade.
A fisionomia de Lowell tornou-se ainda mais
dura, uma ruga se pronunciando no centro da sua
testa. Tive a impressão de que me acusava
silenciosamente de estar mentindo, o que me
deixou ainda mais enraivecida.
— Eu aposto como Jasper não sabe que o pai
do seu filho é um criminoso perigoso. Se soubesse
não estaria dando em cima de você.
Ele falava com condenação, passando a
impressão de que eu estava enganando Jasper a fim
de mantê-lo por perto. Só faltou dizer que eu estava
dando abertura ao seu irmão com a intenção de me
dar bem financeiramente. Pela forma como falava,
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eu não duvidava nada que me julgasse uma


oportunista. Era realmente um cretino
inescrupuloso. Eu não entendia como conseguia me
sentir atraída por alguém como ele.
— Na verdade, ele não sabe, mas não porque
estou escondendo isso deliberadamente e sim
porque ele não tem nada a ver com a minha vida
pessoal.
— Então quer dizer que duas pessoas que saem
para almoçar juntas quase todos os dias não têm
nada a ver com a vida pessoal uma da outra? Meu
conceito de amizade é bem diferente desse.
A sua acusação continuava implícita nas
entrelinhas.
— Se você acha que Jasper vai desistir da
minha amizade quando souber que o pai do meu
filho está preso, vamos fazer o seguinte. Eu conto
tudo a ele e se ele ainda quiser me levar àquela
festa eu vou sem que você intervenha. Embora você
não tenha o direito de intervir de forma alguma, já
que essa comemoração não está relacionada com
meu trabalho aqui dentro.
— Concordo. Conte tudo a Jasper e se ele
insistir em continuar dando em cima de você é
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porque merece levar um tiro na testa do seu marido.


— Nesse caso, estamos entendidos. Se era só
isso, tenho muito que fazer. Com licença.
Estava me levantando para ir embora quando
ele me deteve, dizendo:
— Não é só isso. Margareth está intrigada com
o fato de você nos observar todas as vezes que
trepamos na minha sala. Ela acha que você quer
gravar um vídeo e colocar na internet. Por acaso é
essa a sua intenção?
Nesse instante, desejei que um buraco se
abrisse sob os meus pés e me engolisse, tamanho
foi o constrangimento que recaiu sobre os meus
ombros. Senti minha face queimando e tive certeza
de que estava tão vermelha quanto um tomate.
— Claro que não. Eu jamais faria uma coisa
dessas. Não estava espiando vocês
intencionalmente. Eu não sabia o que vocês
estavam fazendo quando vim falar com você. Não é
o que se espera encontrar na sala do presidente de
uma empresa.
— E o que tanto você queria falar comigo?
Ah, merda! O que eu ia dizer agora? Na
ocasião em que o flagrei pela segunda vez com sua
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namorada eu estava disposta a dizer que o beijo que


me deu não foi um erro, que gostaria que se
repetisse e que significou muito para mim,
entretanto, agora, diante da frieza com que ele me
tratava, insinuando que eu estava enganando Jasper
para me aproximar dele, e diante do fato de ele ter
permitido que sua namorada me fizesse falsas
acusações, eu não me sentia encorajada a falar.
Embora o desejo ainda estivesse enraizado em
mim, embora eu ainda o quisesse como jamais quis
outro homem, não me sentia encorajada a revelar
meus sentimentos, simplesmente porque ele não me
merecia.
— Nada importante. Só que depois que você
me beijou tive a necessidade de reafirmar o que
falei em nossa primeira conversa. Que nada pode
acontecer entre nós, já que sou uma mulher
comprometida. Como você mesmo disse, o que
aconteceu aquele dia, na copa, não pode se repetir.
— Forcei o tom da minha voz a soar firme, mesmo
que minhas palavras contradissessem tudo o que eu
sentia.
A expressão no rosto de Lowell mudou
repentinamente, a frieza deu lugar a uma fúria
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quase assustadora.
— Você não me parecia nem um pouco
insatisfeita quando a beijei, Srta. Oliveira, muito
pelo contrário.
— Talvez a sua capacidade de julgar os
sentidos de uma mulher esteja comprometida.
Ele continuou encarando-me com seus olhos
reluzentes de ira, por um longo momento de
silêncio.
— É verdade. Talvez esteja. Agora que
estamos conversados pode ir.
Vasculhei minha mente em busca de algo mais
que pudesse dizer, apenas para ter um pretexto para
ficar mais um pouco em sua sala, em sua
companhia, como se uma força magnética,
desconhecida, me puxasse para aquele homem,
como se uma âncora pesada me prendesse perto
dele. Só que nenhuma palavra mais precisava ser
dita. Tudo estava claro entre nós. Ele me
desprezava e eu precisava ignorar o turbilhão de
sentimentos dentro de mim e desprezá-lo de volta.
Então, sem mais nada dizer, levantei-me e
deixei a sala.
Naquele mesmo dia, enquanto almoçávamos,
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contei a Jasper sobre o pai do meu filho ser um


presidiário. Deixei minha conversa com Lowell
fora disso e afirmei que se ele não quisesse mais a
minha amizade eu ia entender. Ao contrário do
preconceituoso irmão dele, Jasper não se abalou
nem um pouco com a descoberta e disse que nada
mudaria entre nós. Continuaríamos sendo bons
amigos.

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CAPÍTULO XI

Na manhã de sexta-feira, Consuelo trouxe o


vestido que sua filha pegara emprestado no ateliê
onde trabalhava. Mal pude acreditar no quanto era
lindo. Era nude, de tecido leve e macio,
transpassado na cintura, onde se colava, deixando a
silhueta bem marcada, tinha apenas um ombro e a
saia se estendia até altura dos tornozelos, com uma
fenda que subia ao ápice da coxa. Era quase sensual
demais, apesar de ser deslumbrante e ao mesmo
tempo sofisticado. Junto com o vestido veio um par
de sandálias de salto alto, delicadas e lindas
demais.
Ao encerrar o expediente, fui direto para casa,
quando Ivone fez questão de gastar quase duas
horas do seu tempo fazendo escova em meus
cabelos, deixando os fios retos e brilhantes, caindo
pelos ombros. Fez também uma limpeza de pele
caseira e por fim a maquiagem. Eu estava ansiosa
pela chegada da noite, já fazia muito tempo que não
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saía para me divertir.


À medida que o horário de sair se aproximava,
meu peito ia ficando pesado por ter que deixar
Lucas, já que tínhamos tão pouco tempo para
estarmos juntos. Era a primeira vez que eu saía sem
ele. Seu rostinho feliz, infantil, já estava quase me
fazendo desistir de ir, quando Ivone me deu a ideia
de colocá-lo na cama mais cedo e sair apenas
depois que ele estivesse dormindo, para que não
percebesse a minha ausência. Então, assim fiz.
No horário combinado, Jasper pediu que o
porteiro me interfonasse e desci. Era estranha a
relutância dele em subir até o apartamento. Talvez
não gostasse de crianças e como eu tinha Lucas não
queria estabelecer uma convivência com ele.
— Minha nossa! Você está verdadeiramente
linda! — Disse Jasper, varrendo-me de cima a
baixo com olhos cobiçosos, quando deixei o
edifício e avancei pela calçada.
Ele estava recostado em seu carro esportivo,
lindo de viver e segurava um buquê de rosas
vermelhas. Se me conhecesse melhor, saberia o
quanto eu preferia as flores do campo. Usava um
terno escuro por sobre a camisa branca sem gravata
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e calça social.
— Você também não está nada mal. São para
mim? — Falei, recebendo as flores da mão dele.
— São sim. Embora não seja nada perto do que
você mereça.
Ai, minha nossa! Aquilo soou quase como uma
cantada e eu só esperava que Lowell não estivesse
certo sobre Jasper estar dando em cima de mim.
Pedi que o porteiro guardasse minhas rosas e
avançamos pelas ruas da cidade, mais
movimentadas que o habitual, àquela hora da noite,
devido ao início do final de semana. No interior do
carro tocava Halo da Beyoncé, em volume
confortável.
Fiquei deslumbrada quando entramos no clube
onde acontecia a comemoração. Parecia uma dessas
boates noturnas que se via em filmes e séries na
televisão, só que muito mais sofisticada. O salão
era enorme, com um lustre gigantesco ao centro, o
qual espalhava luzes azuladas por todo o ambiente
e embora não iluminasse muita coisa, deixava-o
com um aspecto meio exótico. Havia mesas com
assentos estofados espalhadas por todos os lugares;
de um dos lados, estava o bar muito bem abastecido
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e ao centro ficava a gigantesca pista de dança. Do


fundo do salão partiam duas escadarias, uma de
cada lado, que levavam a mesma área vip no
segundo piso, onde se podia ver mais de mesas e
assentos. A música eletrônica dançante tocava alta
e animada.
Eu nunca havia estado em um lugar como
aquele, nem em meus sonhos mais secretos. No
máximo fui até um barzinho no subúrbio, onde
Jerry costumava me levar quando namorávamos.
Não estava muito lotado como os clubes que se
via na TV. Na verdade, havia poucas pessoas, se
considerando o tamanho do lugar.
— Minha nossa! Isso aqui é muito lindo?
Pertence mesmo à sua família?
— Sim, na verdade foi passado para o meu
nome recentemente. Meu pai é assim. Distribui os
bens dele entre os filhos, dando a cada um aquilo
que acha que cada um merece.
— Por isso Lowell é o presidente da empresa?
Seu pai passou para o nome dele?
— Passou sim. Pelo menos a maioria das
ações. Ele acha que Lowell é o mais responsável de
nós três. Os outros bens ele distribuiu em partes
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iguais. Como Edward sempre gostou muito do


haras, ficou sendo dono do lugar e desde então
passou a morar lá.
À medida que avançávamos pelo salão, tive a
impressão de que as pessoas estavam me olhando
demais e só consegui relaxar um pouco depois que
nos acomodamos a uma das mesas. Logo uma
garçonete, elegantemente uniformizada,
aproximou-se para nos atender e pedi vodka com
gelo, enquanto Jasper pedia uísque.
Percorri os olhos em volta tentando localizar
Edward em meio aos convidados, mas havia se
passado muitos anos, seria impossível reconhecê-lo
sem que alguém o apontasse.
— Ele está aqui? Quero dizer, Edward está
aqui?
— Acho que não. Ele não é muito chegado a
badalações. Vai ser um milagre se vier ao próprio
aniversário.
Mas não era apenas Edward que os meus olhos
buscavam entre as pessoas que iam e vinham,
sorriam, dançavam, conversavam e se divertiam
animadas. Sem que eu compreendesse a razão,
tentava também localizar Lowell, mas ele não
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estava em parte alguma. Já tinha visto o rosto de


alguns dos acionistas, e outros funcionários da
empresa, inclusive o da namorada dele — que
chegara junto com outras duas garotas, tão
elegantes e bonitas quanto ela, as quais não tiravam
os olhos de Jasper, insinuando-se descaradamente,
sem que ele desse a mínima —, sem que nosso
chefe aparecesse. Eu não duvidava nada de que
estivesse em algum canto escondido com alguma
mulher.
Quanto mais bebíamos, mais o comportamento
de Jasper mudava. Agora ele me encarava com
olhos cheios de insinuações, jogava indiretas
românticas, da forma como certamente um homem
age quando está interessado em uma mulher e eu já
estava começando a ficar sem jeito, por fingir que
não estava percebendo.
Eu começava também a ficar tonta, pelo efeito
da vodka, quando ele segurou minhas mãos entre as
suas, olhou dentro dos meus olhos e falou.
— Eu não sei se você já percebeu, mas eu
gosto muito de você, Madison.
— Eu também gosto muito de você. — Falei,
puxando minhas mãos das suas, ao mesmo tempo
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em que fingia que não o havia entendido.


— Não é apenas um gostar de amigos. Eu
desejo você como um homem deseja uma mulher.
Nunca imaginei que um dia dissesse isso a uma
garota, mas gostaria de ter um relacionamento sério
com você.
Ah, minha nossa! Então Lowell estava certo o
tempo todo, Jasper estava mesmo se aproximando
de mim para tentar me seduzir e isso já nem me
surpreendia tanto, no fundo talvez eu já esperasse.
Eu podia cogitar acreditar que ele realmente queria
algo sério comigo, mas estava muito evidente que
não era verdade. Em todas as vezes que foi me
levar ou apanhar em casa, jamais quis subir para
conhecer o meu filho e a minha mãe. Nem fingir
que queria uma mulher de verdade ele sabia. Para
ele, eu não passava de mais uma transa, como
tantas outras foram, de acordo com o que Consuelo
me falou. Só que comigo não ia rolar.
— Fico lisonjeada que você esteja interessado
em uma garota como eu, mas como você bem sabe,
sou comprometida. Desculpe-me.
— Comprometida com um homem que não te
merece. Larga esse vagabundo e fica comigo. Eu
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posso dar uma vida muito melhor para você e seu


filho do que ele jamais deu.
Eu estava perplexa. Até que ponto ele podia
chegar para tentar levar uma mulher para a cama?
— Estou falando sério, Jasper. E não é só por
causa de Jerry. Eu não sinto nada por você além de
amizade.
Com isto, ele recuou, apoiando as costas no
espaldar do assento, visivelmente irritado,
desapontado. Eu podia apostar como nunca havia
sido dispensado por uma mulher antes, afinal era
lindo, inteligente e rico.
— Pelo menos me dá a chance de tentar te
conquistar. Não se afaste de mim por causa do que
sinto por você.
— Não vou me afastar, podemos continuar
sendo amigos, mas tenha em mente que nunca vai
passar disso.
Foi impressionante a mudança na postura e no
comportamento dele. Passou a se mostrar meio
distante, muito menos atencioso que antes, o que
significava que estivera fingindo durante todo o
tempo e isso era realmente uma pena.
Logo, ele passou a corresponder aos olhares
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demorados das amigas da namorada de Lowell e


não demorou muito para que me deixasse sozinha
na mesa e fosse se juntar a elas na pista de dança.
Abraçava e se esfregava nas duas ao mesmo tempo
e olhava para verificar se eu estava observando,
como se tentasse me mostrar o quanto era cobiçado
e que podia ter a mulher que quisesse. Uma atitude
extremamente infantil.
Continuei bebendo a vodka que a garçonete me
servia, só que quanto mais a boate enchia, mais
triste eu ficava, sentindo-me deslocada,
abandonada, sem conversar com ninguém, sem
conhecer quase ninguém. Não era todo mundo que
se prestava à humildade de vir falar com a garota
que servia o café.
O clube estava quase lotado de gente quando
um grupo de pessoas se colocou em pé próximo a
minha mesa e tive a impressão de que queriam
ocupá-la, já que não havia mais lugares disponíveis
e como eu estava sozinha, podia ficar no bar. Então
me levantei e me dirigi para lá, só então percebi
que estava mais tonta, pelo efeito da bebida, do que
havia suposto.
Sentei-me ao balcão, arrependida por ter saído
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de casa, visto que não estava me divertindo como


esperava e pedi mais uma dose de vodka. Estava
ingerindo o primeiro gole quando, pelo canto do
olho, vi um homem sentando-se ao meu lado e meu
coração bateu descompassado no peito quando
olhei em sua direção e descobri que era Lowell.
Ele jamais me pareceu tão bonito e tão
Irresistível quanto naquele momento. Usava uma
camisa de seda cor de beterraba, com as mangas
compridas enroladas até a altura dos cotovelos e os
primeiros botões abertos, deixando à mostra o
início da sua espessa camada de pelos negros, uma
imagem que me fez arrepiar inteira. Seus cabelos
estavam ligeiramente desorganizados e a barba bem
aparada como sempre. Um cheiro delicioso de
perfume masculino partia de sua direção,
inebriando-me, deixando-me enfeitiçada, tomada
por um desejo latente de me aconchegar ao seu
corpo e morder aquele queixo forte e cheiroso.
— Vai devagar com essa bebida aí. Da última
vez que a vi bebendo tanto, você caiu em um sono
tão profundo que mais parecia um estado de coma.
— Disse ele, tirando o copo da minha mão, agindo
como o troglodita de sempre.
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— Aqui não, Lowell! Não estamos na sua


empresa e não estou sendo sua funcionária agora.
Então vê se não me enche o saco. — Disparei,
pegando novamente o copo e bebendo um grande
gole da vodka.
— Onde está o seu acompanhante que te deixa
ficar aqui sozinha, usando esse vestido, no meio de
tantos lobos famintos?
— O que há de errado com o meu vestido?
— De errado nada, mas merecia ser usado
entre quatro paredes para um homem apenas. —
Ele suspirou fundo antes de proferir a pergunta. —
Onde está o irresponsável do meu irmão que te
deixou aqui sozinha?
— Não que isso seja da sua conta, mas eu
gosto de ficar sozinha. Estou me divertindo
bastante. — Menti, apenas para não dar o braço a
torcer. — E quanto a você? Estava se divertindo em
cima da sua mesa na sala de reuniões antes de vir
para festa?
— Infelizmente não. Na verdade fui até
Wellington buscar o aniversariante, ou ele não teria
vindo.
— Isso significa que Edward está aqui? Onde?
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— Percorri os olhos em volta à procura do irmão


mais velho dele, mas não consegui reconhecê-lo em
nenhum dos convidados.
— Ele deve estar por aí. Mas por que o
interesse?
— Porque não o vejo há muito tempo, é óbvio.
E por que ele não teria vindo se você não tivesse
ido buscá-lo?
— Porque é um caipira antissocial, que gosta
mais de cavalos do que de pessoas.
Lowell ainda não havia concluído a sua frase,
quando um homem muito alto, com cerca de um
metro e noventa, cabelos crescidos até altura dos
ombros, pele morena e uma fisionomia tão dura que
se eu o visse durante a noite na rua sairia correndo
com medo, aproximou-se de nós. Imediatamente
reconheci Edward. Não havia mudado tanto,
embora seu semblante estivesse muito mais
carrancudo, exprimindo um aspecto meio
intimidador, quase assustador. Seu porte atlético,
com ombros largos e braços musculosos,
continuava o mesmo.
— É impressão minha ou você está falando
mal de mim? — Indagou ele, a voz grossa e tão
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dura quanto seu semblante.


— Falar a verdade não significa falar mal. Não
tenho culpa se você se comporta como um
fazendeiro que prefere a companhia dos animais.
— Olá Edward. Você não mudou quase nada.
— Tive que intervir, ciente de que Lowell não me
apresentaria a ele.
Edward observou-me em silêncio por um longo
momento, analisando-me, como se tentasse me
reconhecer, até que por fim perguntou.
— Desculpe a minha ignorância, mas quem é
você?
— Sou Madison Oliveira, filha de Ivone
Oliveira, uma antiga empregada da casa do senhor
Dixon. Talvez você não se lembre de mim.
Víamos-nos apenas em alguns finais de semana,
quando você ia visitar seu pai no haras.
— Madison? Claro que me lembro, ou pelo
menos me lembrei agora. Eu jamais a teria
reconhecido, você está muito diferente. Tornou-se
uma mulher linda.
Encarando-me com surpresa e ao mesmo
tempo admiração, ele se aproximou de mim com
os braços abertos e quando desci do assento para ir
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abraçá-lo, minhas pernas quase falharam, tão moles


estavam pelo efeito da vodka. Ainda assim,
consegui alcançá-lo e nos abraçamos como velhos
amigos. Um abraço que durou pouco, já que logo
fomos interrompidos por Lowell, que além de nos
afastar ainda se colocou entre nós.
— Ficou linda, né? Tão linda que já até se
casou? — Disse o meu insuportável chefe.
— É sério, Madison?
— Sim, é verdade. Tenho um filho de cinco
anos.
— Mas você é ainda tão jovem. Onde está o
seu marido? Gostaria de conhecê-lo.
Merda! Não havia como evitar, todas as vezes
que meu marido era mencionado em uma conversa,
minha face queimava de vergonha. Por isso eu
preferia me abster de falar que era casada.
— Ele está viajando. Trabalha com vendas e
Madison é a minha funcionária. — Fiquei surpresa
e ao mesmo tempo agradecida por Lowell ter
mentido antes de mim, dando a resposta que eu
buscava em minha mente.
— Ah, ela é sua funcionária? — Eduard
deslocou o seu olhar entre o meu rosto e o de
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Lowell, várias vezes, uma expressão indecifrável se


refletindo no brilho do seu olhar. — Seja bem-
vinda aos negócios da família, Madison.
Atualmente estou vivendo no haras em Wellington.
Gostaria que você fosse me visitar qualquer dia
desses. Pode levar seu filho e seu marido, se ele já
tiver voltado de viagem. As coisas continuam
muito boas por lá. Muitos cavalos habilidosos a
serem montados.
— Só que Madison nunca gostou de montar. —
Foi Lowell quem disse.
— Isso não é verdade. Eu gosto da montaria,
ou pelo menos gostava quando era criança. Além
do mais, aprecio muito aquele lugar, gosto do
silêncio, do cheiro de ar puro, da natureza por toda
parte. Pode ter certeza que irei passear por lá sim.
Talvez no próximo final de semana.
— Vai ser uma honra receber você e sua
família. — Edward falou, sem desviar seu olhar do
meu rosto. — Está gostando da festa?
— Estou gostando muito, apesar de ter sido
abandonada pelo meu acompanhante.
— Devia ser um grande idiota para abandonar
uma garota tão linda. Mas nem por isso você vai
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ficar sozinha. Gostaria de dançar comigo?


Antes que eu tivesse tempo de abrir a boca para
responder, Lowell interveio, dizendo:
— Na verdade, o grande idiota é nosso irmão
Jasper e eu tinha acabado de convidá-la para uma
dança e ela tinha aceitado. Com licença.
Sem que eu esperasse, ele segurou-me pela
mão e saiu me puxando para a pista de dança.
Desde o momento em que cheguei ao clube, eu
estava louca para dançar, pois há muito tempo que
não fazia isso, desde a época da adolescência,
quando ainda namorava Jerry. Só que Jasper não
me convidou nenhuma vez e o que eu não esperava
era que logo Lowell convidasse.
No instante em que colocamos nossos pés na
pista, a música eletrônica agitada se cessou e
começou a tocar Thinking Out Loud, de Ed
Sheeran, aquele tipo de música que toca no fundo
da alma, quando então o meu chefe passou um
braço em volta da minha cintura e me puxou para
ele, aconchegando o meu corpo ao seu, da maneira
como desejei que fizesse desde o momento em que
ele sentou-se ao meu lado no bar.
De imediato, seu calor gostoso me alcançou,
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através do tecido das nossas roupas, o cheiro do seu


perfume se tornou ainda mais próximo, mais
inebriante. Fechei os meus olhos e tentei ignorar o
temporal de sensações que emergia em meu íntimo,
mas foi impossível. O poder que aquele homem
exercia sobre mim era descontrolado demais,
intenso demais, fazia com que tudo em mim se
agitasse, meu coração batendo descompassado no
peito, um fervor gostoso se fazendo na altura do
meu ventre.
— Que espécie de feitiço é esse que você
exerce sobre os meus irmãos? Primeiro foi com
Jasper, agora Edward. — Lowell indagou, sua boca
tão próxima do meu ouvido que o acariciar do seu
hálito quente em minha orelha me fez arrepiar dos
pés à cabeça.
— Não sei do que você está falando. Quanto a
Jasper, eu detesto admitir, mas você estava certo o
tempo todo. Ele só queria se divertir comigo, como
faz com todas as mulheres e quando deixei claro
que não o queria, ele simplesmente me abandonou
sozinha. E quanto a Edward, ele só me convidou
para visitar o haras. Não vejo nada de mal nisso.
— Do mesmo jeito que não viu nada de mal
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quando Jasper se aproximou. Eu não queria dizer


isso, mas você foi avisada. E sobre o Edward, ele
não convida ninguém para visitá-lo naquele fim de
mundo. Para falar a verdade, ele mal abre a boca
para falar com as pessoas.
— Percebo que ele não mudou muito. Já era
assim na época da adolescência. Eu me lembro
bem.
— É uma pena para você que ele não tenha
tantas lembranças também. Nem mesmo a
reconheceu quando a viu.
— Você também não me reconheceu. Isso não
quer dizer nada.
— E você passou uma noite inteira
conversando comigo sem ter ideia de quem eu era.
As lembranças daquela noite no hotel voltaram
nítidas em minha mente. Foi o nosso melhor
momento juntos depois de adultos, quando eu ainda
não sabia que ele era o sujeito que arruinou a minha
vida.
— Foi uma das melhores noites que eu tive,
porque você ainda não me odiava. — Ele falou,
como se fosse capaz de ler os meus pensamentos e
me silenciei, apenas apreciando o calor do seu
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corpo envolvendo o meu, me perguntando como


podia me sentir tão arrebatada por alguém de quem
deveria sentir ódio. — Você nunca vai me perdoar
por ter causado a demissão de Ivone, não é mesmo?
— Eu já não tenho certeza de nada.
Nem mesmo se ainda te odeio
Minha nossa! O que eu estava dizendo para
mim mesma? Eu não podia perdoá-lo. Não podia
esquecer tudo o que me aconteceu por causa do
mau-caratismo dele. Tê-lo como inimigo era uma
necessidade minha, só que havia outros
sentimentos, muito maiores e mais intensos,
ganhando espaço dentro de mim. O que eu ia fazer
com eles?
A música encerrou e começou a tocar All of
Me, de John Legend. Quando então Lowell me
apertou ainda mais forte de encontro ao seu corpo,
me deixando quase sem ar. Sem aviso prévio,
aproximou o seu rosto da pele do meu pescoço, me
fazendo experimentar o acariciar quente da sua
respiração, dali até o meu ombro nu, o que causou
um latejar inquietante entre as minhas pernas.
Tentei lutar contra essas sensações, contra a
força magnética que parecia me puxar para ele, mas
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eu estava fraca pelo efeito da vodka, ou talvez


aniquilada pelo desejo pulsante de me entregar, o
que já não era nenhuma novidade quando o assunto
era Lowell. Então apenas fechei os meus olhos e
me entreguei, me derretendo toda dentro do abraço
dele.
A letra da música falava sobre a atração
irresistível entre um homem e uma mulher e cada
palavra parecia se referir a mim e a ele. O
compositor daquela canção parecia estar traduzindo
em palavras o que jazia em meu íntimo. Foi
impossível não me identificar.
— Se eu pudesse voltar ao passado, faria tudo
diferente. Não deixaria minha mãe me manipular a
inventar aquela mentira. — Ele disse, sua boca
muito próxima ao meu ouvido, me fazendo tremer.
Ergui o rosto para fritar os seus olhos, quando
pude ver o ardor na sua expressão.
— Por que Lowell? Por que você queria mudar
as coisas se as prejudicadas fui eu e minha mãe e
não você?
— Eu fui prejudicado também, quando fiquei
sem você e mudaria tudo só para não ter que te
perder. Se nada daquilo tivesse acontecido, hoje em
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dia você seria minha, somente minha, sem que


existisse outro homem entre nós.
— Nós éramos crianças. Mesmo que aquele
episódio não tivesse acontecido, a vida teria nos
afastado.
— Eu não teria permitido. Jamais deixaria que
qualquer coisa tirasse você de mim. Eu te amava
Madison. Se tivesse passado pela minha cabeça que
você estava sofrendo, eu teria te encontrado, teria
dado um jeito de te fazer feliz. Só que agora é tarde
e eu tenho tentado não te odiar por isso. Diga-me
por que você não me procurou, por que não me
telefonou quando aquele maldito pedófilo colocou
as mãos em você. Por que não pediu socorro a mim
quando precisou?
— Porque eu te responsabilizava por tudo.
Cada vez que ele entrava em meu quarto, eu me
lembrava de você, do quanto te odiava por ter me
colocado naquela situação.
—Perdoe-me , Madison. De todo o meu
coração, eu te peço que me perdoe. Se eu tivesse
noção de que Ivone seria demitida por causa
daquela mentira, teria desfeito tudo. Eu era só um
garoto inconsequente e imaturo, e agora sou um
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homem que precisa do seu perdão.


Suas palavras me fizeram amolecer. Por mais
que ele parecesse merecer meu perdão, por mais
que fizesse todo sentido ele dizer que era só um
garoto inconsequente e imaturo quando cometeu
aquela burrice, eu não tinha certeza se estava
preparada para perdoar, para esquecer todo o mal
que me aconteceu depois daquela demissão, depois
da impossibilidade de Ivone arranjar outro emprego
e outro lugar para morarmos.
— Eu te perdoo, Lowell. — As palavras
atravessaram a minha garganta sem que eu pudesse
evitar e no instante em que me calei, a boca de
Lowell alcançou a minha, seus lábios pressionando
os meus, sua língua acariciando a minha,
avidamente, em um beijo apaixonado e sôfrego,
que intensificou o desejo escaldante que já
fervilhava em minhas entranhas.
— Eu quero você para mim, Madison. Não me
interessa se você tem outra pessoa. — Lowell
falou, com a respiração ofegante, enquanto
separava a sua boca da minha e deslizava seus
lábios, úmidos e quentes, através da pele do meu
pescoço e do meu ombro desnudo, me causando
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uma corrente inquietante de tesão.


Quando ele ergue-se para fritar o meu rosto, na
certa esperando por uma resposta, minha cabeça
girou, talvez pelo efeito da vodka, talvez pela
intensidade dos meus sentimentos, talvez pelo
medo de dizer o quanto também o desejava e
minhas pernas fraquejaram, de modo que Lowell
precisou me segurar para que eu não caísse no
chão.
— Acho que bebi demais. — Balbuciei, tonta.
— Não era exatamente isso que eu esperava
ouvir, mas já conheço a sua fragilidade para o
álcool. Vem comigo, você precisa se sentar um
pouco.
Abraçando-me pela cintura e me equilibrando
de encontro ao seu corpo grande, ele me conduziu
até uma das mesas, acomodou-me no confortável
assento estofado e sentou-se ao meu lado, sem
jamais desfazer o contato do seu corpo com o meu,
o que não me ajudava muito a voltar a respirar
normalmente. Chamou uma garçonete e pediu que
trouxesse um copo com água.

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CAPÍTULO XII

— Você vai melhorar com a água, ela vai


ajudar a limpar o seu organismo do álcool.
— Eu sinto muito por isso. Nem me dei conta
de que estava exagerando na vodka. Não queria te
fazer passar vergonha na frente de toda essa gente.
— Vergonha?! — Ele disse sorrindo. — Você
está de brincadeira? Não há vergonha nenhuma em
se ter uma garota linda quase desmaiada nos braços
depois de beijá-la e se alguém te disser algo que te
destratar, ou pelo menos olhar para você de cara
feia, vai ter que se entender comigo.
Não consegui conter o riso, lembrando-me da
época da nossa infância, quando ele agia
exatamente assim, como se fosse o meu guardião,
me protegendo de tudo, ameaçando fazer picadinho
de todos que me desagradassem. Estava repetindo
essa atitude e nem se dava conta.
— Você sempre gostou de cuidar de mim.
Nesse ponto parece que não mudou muito.
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— Isso porque você continua a mesma


estabanada de sempre. Para sua sorte tem um filho
valente, que vai te defender das maldades do
mundo quando crescer.
Tive certeza de que meus olhos se iluminaram
naquele momento.
— Achei que você não tivesse gostado de
Lucas.
— E não gostei, o garoto é uma peste, mas não
posso negar que ele tem a valentia que precisa para
cuidar de você.
A garçonete trouxe o copo com a água gelada e
Lowell me fez beber até a última gota, o que
realmente ajudou para que a tontura melhorasse. E
quando achei que aproveitaria o resto da festa para
me divertir, a namorada dele aproximou-se da
nossa mesa, bufando como um touro furioso,
fulminando-me com olhos faiscando de raiva.
— Posso saber o que está acontecendo aqui?
Por que você estava beijando essa garota na pista
de dança? — Indagou ela, rispidamente, colocando-
se em pé diante da mesa, com os braços cruzados
na frente do tórax, em uma postura de
superioridade, enquanto eu estremecia com medo
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de que fizesse um escândalo e todos pensassem que


eu estava me metendo entre ela e seu namorado,
uma mulher casada e com filho pequeno.
— Para falar a verdade não, você não pode
saber o que está acontecendo aqui, porque eu não
me lembro de ter te dado o direito de se intrometer
na minha vida. — Foi Lowell quem respondeu,
com uma aspereza tão intimidante que deixou
Margareth sem reação.
— Podemos conversar em particular? —
Perguntou ela.
— Não há necessidade disso. Não tenho
segredos com Madison. Somos amigos desde
crianças. Seja o que você tenha para falar pode
falar na frente dela. Acho que o pior de nós ela já
viu.
Cacete! Que vergonha! Por que ele tinha que
tocar nesse assunto tão embaraçoso?
Constrangida, percorri os olhos em volta,
averiguando se alguém podia nos ouvir, só que as
pessoas estavam ocupadas demais se divertindo.
Meg abriu a boca para falar, mas a fechou,
desistindo do que pretendia dizer.
— A gente conversa depois. — Finalizou ela,
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completamente sem graça e furiosa, antes de me


lançar um olhar fulminante e se afastar.
— Acho que você acaba de perder sua
namorada. — Falei.
— Ela não é minha namorada. É só alguém
com quem transo de vez em quando.
— Para se divertir?
— Não me julgue, Madison. Todo homem faz
isso. E toda mulher tem a obrigação de saber
quando está sendo amada e quando está sendo
usada. Sem mencionar que ela também estava se
divertindo.
— Isso é uma daquelas coisas bizarras que
fazem parte do seu mundo e que eu ainda não
consigo entender.
— Mas você assiste filmes e novelas. Não pode
ser tão ingênua assim no que se refere a
relacionamentos entre homens e mulheres. Mas
vamos esquecer esse assunto e falar de nós dois.
Sobre o que acabou de acontecer.
E o que eu ia dizer? Que também o queria em
minha vida? Que o desejei no instante em que
coloquei os meus olhos nele, naquele quarto de
hotel, para depois assumir que não podíamos ficar
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juntos, já que eu era comprometida com outra


pessoa e não podia abandonar Jerry quando ele
mais precisava de mim?
— Na verdade, eu gostaria de dançar um
pouco. Você se importa?
— Não me importo se for comigo.
Sorri para ele, de puro contentamento, e fomos
para pista de dança.
Agora tocava um remix eletrônico de World
Hold On e deixei que meu corpo fosse guiado pelo
ritmo agitado da música, dançando freneticamente,
enquanto Lowell fazia o mesmo, bem diante de
mim, me agraciando com seu charme irresistível,
presente em cada minúsculo movimento que ele
fazia, atraindo a atenção de outras mulheres na
pista e me perguntei como conseguia ser tão
irresistível e gostoso.
Enquanto dançávamos, algumas pessoas se
aproximavam para cumprimentá-lo. A algumas
delas eu era apresentada e pela primeira vez, desde
que cheguei ao clube, realmente estava me
divertindo, me sentindo totalmente relaxada e a
vontade, sem aquela sensação de que as pessoas
estavam me observando de soslaio.
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Dançamos até que eu estivesse coberta de suor,


com a garganta seca, quando então voltamos a nos
acomodar a nossa mesa e pedimos coquetéis sem
álcool para refrescar.
Lowell devia ser um sujeito muito popular,
pois logo estávamos rodeados por pessoas que
disputavam a atenção dele e até se mostraram
interessadas em mim, talvez só para agradá-lo.
Como foi o caso de um homem, com gestos
afeminados, que me foi apresentado como sendo
dono de uma agência de modelos. Estava entre
aqueles que eu tinha a impressão de que me olhava
desde o momento em que cheguei.
— Você é muito bonita. Estou reparando isso
desde que chegou. Já pensou em se tornar modelo
fotográfico? — Indagou ele, com sua voz
afeminada.
— Eu?! Acho que não levo muito jeito. —
Respondi, sem graça.
— Ela é realmente linda. Tem traços latinos,
misturados com europeus e com esses olhos verdes
e essa boca carnuda, faria muito sucesso na frente
das câmeras. — Completou a mulher, com
aparência gótica, que o acompanhava.
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— Só que Madison já tem um emprego. Ela é


minha funcionária e não está disponível para tirar
fotos. — Lowell respondeu, asperamente e passou
um braço em torno dos meus ombros, como se
marcasse território.
— Em todo caso, aqui está o meu cartão. Se
você decidir fazer um teste, telefone-me a qualquer
momento, em qualquer dia da semana. — O sujeito
entregou-me um cartão e afastou-se ao lado da
mulher.
Eu não acreditava que poderia me tornar uma
modelo, mas já que fui convidada, não custava
nada tentar. Então guardei o número dele no decote
do vestido.
Quando finalmente ficamos sozinhos, sem
tanta gente a nossa volta, foi a vez de Jasper se
aproximar.
— Está ficando tarde, Madison. Venha comigo.
Vou te levar em casa. — Ele disse e fiquei
incrédula.
Será que acreditava mesmo que eu voltaria
com ele depois de ter me deixado sozinha?
— Ela não vai com você. Eu a levarei. —
Lowell interveio curto e grosso.
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— Ela veio comigo e volta comigo.


— Isso é o que vamos ver.
— Parem de falar de mim como se eu não
estivesse aqui. — Protestei, antes de encarar Jasper
diretamente. — Não vou voltar com você, Jasper.
Você me deixou sozinha em um lugar onde eu não
conheço quase ninguém. O que você fez não se faz.
— Poxa Madison, eu só…
— Ela já disse que não vai com você, cara. Se
toca e sai logo daqui. — Lowell o interrompeu e
Jasper afastou-se, visivelmente frustrado.
Finalmente sozinhos à mesa, voltamos a falar
sobre o passado, sobre como éramos unidos quando
crianças, sobre as aventuras pelas quais passamos,
sobre o quanto nos dávamos bem, uma conversa tão
interessante, tão gostosa, que nem vi o tempo
passando. Esqueci-me de tudo mais a minha volta,
as pessoas, o clube, a música, tudo pareceu deixar
de existir e o meu mundo passou a se resumir à voz
grossa, aos olhos negros, ao cheiro gostoso do
perfume do homem sentado ao meu lado, tocando o
seu ombro no meu de vez em quando, roçando sua
perna na minha, como se fosse sem querer, me
fazendo desejá-lo mais a cada instante que passava.
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Eu não fazia ideia de que horas eram, quando


Jasper pegou o microfone e, com sua voz embolada
pelo efeito do álcool, fez um discurso terno e alegre
para o aniversariante, declarando que, apesar dos
pesares, era o seu irmão e o amava. Ao final de sua
fala, convidou todos nós para cantarmos parabéns e
nos colocamos de pé para fazê-lo, enquanto
Edward se mostrava quieto e sério como sempre, ao
lado de uma garota morena, baixinha e novinha,
que aparentemente conheceu ali mesmo.
Ele era um Dixon, não ficaria sozinho a noite
toda.
Depois dos parabéns, a festa continuou cada
vez mais animada. Cansada e com sono, pedi que
Lowell me levasse em casa, só que antes precisei ir
ao banheiro esvaziar a bexiga de tantos copos
d’água e coquetéis.
Eu havia acabado de sair do box luxuoso,
estava lavando as mãos diante da enorme pia de
mármore, observando o meu reflexo no espelho,
percebendo o quanto meu rosto estava corado e os
meus cabelos pareciam mais brilhantes, mas devia
ser impressão minha, eu apenas estava tendo um
raro momento de felicidade, por isso minha
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aparência parecia radiante. Mas para alguns a


felicidade dura pouco e para mim sempre foi assim.
Enquanto eu estava ali, três mulheres entraram
juntas no banheiro, Margareth e as duas garotas que
estavam na festa com ela.
— Então era isso que você queria o tempo
todo, roubar o meu namorado! Por isso ia à sala
dele sem pedir permissão! — Margareth afirmava
cada frase com uma certeza indubitável, ao mesmo
tempo em que me encarava de forma ameaçadora.
— Eu não estou roubando o namorado de
ninguém. Primeiro porque Lowell e eu somos
apenas amigos. Segundo porque ele me disse que
não é seu namorado, apenas transa com você de vez
em quando e eu só lamento se você nunca percebeu
isso.
— Além de galinha e vagabunda ainda é
folgada. Como se atreve a falar comigo nesse tom?!
Eu sou sua superiora dentro daquela empresa,
sabia?
— Dentro da empresa pode até ser, mas não
estamos lá, não é mesmo? Então vê se me poupa da
sua chateação que eu te poupo da minha grosseria.
Dei meia volta e tentei me afastar do lugar, mas
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então as outras duas mulheres correram ao meu


encontro e me seguraram pelos braços, uma de cada
lado, firmemente, aprisionando-me, de modo que
por mais que eu lutasse não conseguia me libertar.
Pensei em gritar por socorro, mas antes de abrir a
boca cheguei à conclusão de que ninguém me
ouviria do outro lado da porta fechada, visto que a
música continuava tocando alta e frenética. Não
tive medo, eram apenas mulheres frustradas,
somente a raiva pela covardia delas corria solta em
minhas veias.
— O que vocês pensam que estão fazendo?!
Soltem-me agora mesmo, ou isso vai ter graves
consequências. — Falei.
— Está me ameaçando, coisinha
insignificante? — Meg indagou e sem esperar
resposta, continuou. — Você é só uma Joana
ninguém que serve o café, uma empregadinha de
quinta categoria. Acha mesmo que Lowell te
levaria a sério? Que pelo menos te levaria para
cama dele?
— Foda-se o que você pensa de mim! Eu não
ligo! E se quer brigar por causa de homem, por que
não vem e me encara sozinha?
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— Não quero brigar por causa de homem. Só


quero te mostrar onde é o seu lugar e te fazer
entender que não deve nunca mais se meter em meu
caminho.
Com isto, ela avançou para mim, fitando-me
furiosamente, segurou dos dois lados do meu
vestido e puxou com um safanão, fazendo com que
o tecido delicado se rasgasse de cima até embaixo,
se abrindo todo, os trapos caindo no chão, me
deixando só de calcinha. Em seguida, foi até a
lixeira, de onde pegou uma garrafinha de água
mineral vazia, encheu-a de água na torneira da pia e
derramou o líquido gelado sobre mim, encharcando
meus cabelos, meu rosto e salpicando meu corpo,
borrando minha maquiagem toda, enquanto suas
amigas me seguravam e sorriam, parecendo hienas
esganiçadas.
— Filha de uma puta! Você vai se arrepender
por isso! — Ameacei furiosa, sentindo-me indefesa
e humilhada.
— E isso é só um aviso, sua empregadinha
safada. Se chegar perto de Lowell de novo, as
coisas vão ficar bem piores para você.
Com isto, as duas me soltaram e recuaram até a
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porta, prontas para se defenderem caso eu atacasse,


só que eu estava me sentindo tão rebaixada, tão
humilhada, que sequer consegui me mover do
lugar, apenas fiquei ali parada, observando
enquanto elas saíam, deixando-me sozinha, sem
saber como sairia daquele banheiro toda molhada,
usando apenas uma calcinha e sem saber como
pagaria por aquele vestido que não era meu e devia
custar uma fortuna. Restava-me torcer para que
uma mulher muito boa entrasse lá e me emprestasse
alguma roupa. Então apenas me encolhi a um
canto, abraçando o meu próprio corpo para me
proteger do frio e da nudez, esforçando-me para
não permitir que as lágrimas caíssem.

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Lowell

Tão logo deixei Madison na porta do banheiro,


Jasper me chamou para uma conversa. Estava
irritado porque ela estava comigo e não com ele, só
que a culpa era dele mesmo, por tê-la deixado
sozinha.
— Não estou entendendo porque tanto
nervosismo. É só mais uma garota. Tem muitas
como ela por aí. — Falei, rebatendo as acusações
dele.
— Não é só mais uma garota, Madison é
importante para mim.
— Tão importante que você a deixou sozinha.
— Eu só queria que ela se sentisse especial,
percebendo que eu podia estar com qualquer uma
que quisesse, mas que escolhi estar com ela.
Que tática de conquista mais furada.
— Por acaso você pretende assumir um
relacionamento sério com ela?
— Mas é claro que não! Até porque ela é
comprometida com outro sujeito. Mas você
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também não pretende, então estamos empatados.


Madison devia significar alguma coisa para ele,
já que era a primeira vez que vinha discutir comigo
por causa de mulher e considerando que havíamos
nos relacionado com algumas garotas em comum,
— claro que eu pegava primeiro, já que preferia
fazer as coisas às escondidas, enquanto que ele
fazia tudo às claras —, isso era algo inesperado, até
surpreendente.
— Não é o que você está pensando. Não quero
nada com Madison. Nós somos apenas amigos.
— Fala sério cara! Todo mundo viu vocês dois
se beijando na pista de dança.
Eu podia incentivá-lo a ir em frente, a se
reaproximar de Madison, mas não o faria e isso não
tinha nada a ver com o fato de o marido dela ser
uma pessoa perigosa, eu só não queria que ela fosse
usada pelo meu irmão, como tantas outras mulheres
foram.
Não seja cínico, Lowell. Se você quisesse
protegê-la de ser usada por um homem, a
protegeria de si mesmo, pois é exatamente o que
pretende fazer com ela.
Quando Jasper desistiu de discutir comigo e se
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afastou, percebi que Madison estava demorando


demais para sair do banheiro, devia ter se metido
em algum de seus desastres por lá, talvez ficado
trancada do lado de dentro. Começava a cogitar ir
bater na porta, só para ter certeza de que estava
tudo bem, quando Meg apareceu de repente, por
trás de mim, pousando sua mão em meu ombro,
colando o seu corpo esguio no meu.
— Agora que a garota do café foi embora, será
que posso ter a honra de dançar pelo menos uma
vez com o presidente, antes do encerramento da
festa?
Observei-a surpreso.
— Madison foi embora? Do que você está
falando?
— Ela não te disse nada? Faz uns vinte
minutos que passou por mim ali na saída.
Minha primeira reação foi ficar irritado, por ter
sido enganado, mas logo me ocorreu que Madison
jamais faria uma coisa dessas. Ela podia ser odiosa,
por ter se envolvido com um criminoso, por ter
desaparecido da minha vida sem jamais me
procurar, mas nem de longe era uma pessoa sem
caráter. Meg devia ter aprontado alguma coisa.
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Dessa sim, eu esperava de tudo.


— Não acredito em você. Ela não iria embora
sem me avisar.
Apressadamente, tirei as mãos dela de cima de
mim e, ignorando sua voz me chamando, fui direto
para a entrada do banheiro feminino. Encontrei a
porta destrancada e quando bati e chamei, a voz de
Madison partiu aflita do lado de dentro.
— Lowell, estou aqui. Preciso de ajuda. — Foi
o que ela disse.
Uma espécie de agonia desconhecida tomou
conta de mim, repentinamente, mexendo com cada
uma das minhas terminações nervosas, fazendo-me
entrar naquele banheiro quase sem ver nada diante
à minha frente. Madison estava encolhida em um
canto, com os cabelos molhados, a maquiagem
borrada, usando apenas uma calcinha, os trapos do
que antes foi seu vestido, estavam jogados no chão.
— Por Deus! O que aconteceu com você? —
Aproximei-me a fim de verificar se ela estava
machucada e Madison se encolheu um pouco mais,
abraçando os próprios joelhos para ocultar sua
nudez.
— Ainda bem que você apareceu. Fui atacada
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pela sua namorada e as amigas dela. Por favor, me


tira daqui. — Ela parecia fazer um esforço imenso
para não chorar e tive a sensação de que alguém
enfiava a mão em meu peito e rasgava meu coração
em mil pedaços, ao mesmo tempo em que uma
espécie de instinto assassino aflorava dentro de
mim.
Meg e as amigas dela estavam muito ferradas.
— Você está bem? Elas te machucaram?
— Não machucaram, só humilharam. E me
deixaram assim para eu não poder sair.
Imediatamente tirei minha camisa e pousei
sobre os seus ombros. Atendendo ao seu gesto de
mão, virei-me de costas, esperando que se vestisse
e quando ouvi novamente sua voz e me virei,
minha camisa já cobria as curvas perfeitas do seu
corpo, até a altura dos quadris, deixando as pernas
longas e bem delineadas à mostra.
Vendo-a ali, fragilizada e vulnerável, me senti
terrivelmente culpado, afinal devia ter previsto que
Meg aprontaria.
—Desculpe-me por isso. — Falei, com pesar,
antes de envolver o seu corpo esguio com um
abraço, quando percebi que ela estava toda trêmula,
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ainda mais abalada do que demonstrava.


— A culpa não é sua. — Madison sussurrou,
afundando o rosto em meu ombro desnudo,
inspirando fundo, como se puxasse o meu cheiro.
— De certa forma não deixa de ser minha. Eu
devia ter previsto que aquela louca faria alguma
coisa assim.
Eu queria tirá-la dali, mas não queria me
afastar do abraço. Tê-la entre os meus braços era
como me transportar para um tipo de paraíso
particular, do qual relutava em me retirar. E não era
só isso, o desejo que eu nutria por aquela mulher
não tinha limites. Bastou que eu sentisse o calor do
seu corpo, a maciez dos seus mamilos através do
tecido fino da camisa para que eu ficasse duro, o
tesão fervendo em cada parte de mim.
Não é hora pra isso, Lowell.
— Ainda tem muita gente lá fora? Estou com
tanta vergonha. — Sua respiração pesada me
indicava que eu não era o único afetado ali.
— Não precisa se envergonhar de nada. A
maioria das pessoas lá fora trabalha para mim. Se
algum deles zombar de você perderá o emprego e
não arranjará outro tão facilmente.
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Com muita relutância, consegui me afastar do


abraço. Puxei-a para frente do espelho e usei os
lencinhos de papel molhados para limpar a
maquiagem borrada do seu rosto. Passei as mãos
molhadas em seus cabelos macios e negros,
ajeitando um pouco os fios no lugar e então passei
um braço em torno da sua cintura, para em seguida
deixarmos o banheiro.
Como já era esperado, tão logo avançamos
pelo salão da festa todos os olhares se voltaram
para a nossa direção, algumas pessoas mostravam-
se curiosas, outras escandalizadas. Uma ou outra
tentava esboçar um sorriso, mas então se deparava
com o meu olhar feroz e desistia na hora.
Fiz questão de conduzir Madison até próximo
ao bar, onde Meg ainda tinha a ousadia de se
encontrar, cercada por suas duas cúmplices.
Sem que eu esperasse, Madison desvencilhou-
se de mim e com uma agilidade surpreendente
avançou para cima dela, desferindo-lhe uma
bofetada estalada e merecida no rosto.
— Vagabunda! Nunca mais chegue perto de
mim! — Disse uma indignada Madison, mostrando
que não era tão frágil quanto parecia.
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As pessoas pareciam tão concentradas em nós


que até a música havia sido cessada, de modo que
sua frase se fez audível a todos.
— Limpe a sua mesa amanhã e nunca mais
ponha os pés na minha empresa. Você está
demitida. — Falei firme e seco, e murmúrios de
pessoas atônitas partiram de todos os lados.
— Você não pode me demitir. Eu sou acionista
daquela empresa.
— O fato de você ter algumas ações não me dá
a obrigação de mantê-la como funcionário. Espero
não ter que repetir isso.
Sem mais, passei por ela em direção à saída,
sem tirar o braço da cintura de Meg.
Mais adiante, encontrei com Jasper, que tirou o
seu paletó e me ofereceu, o qual aceitei de bom
grado, já que não usava nada da cintura para cima e
devia estar frio lá fora.
— Você vai se arrepender por isso, Dixon. —
Meg disse às minhas costas, só que não me virei
mais para ela.
Voltei a passar o meu braço em torno da
cintura de Madison e a conduzir para o lado de fora
do clube, direto para o meu carro.
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CAPÍTULO XIII

As ruas da cidade estavam praticamente


desertas, devido ao horário e a chuva fina que caía
constantemente desde o início da noite, tornando o
clima ainda mais quente e úmido.
Madison se mantinha muito quieta, encolhida
no assento de passageiros, enquanto eu dirigia. Tão
quieta que eu estava começando a ficar
preocupado.
— Você está bem? — Indaguei.
— Eu não devia ter ido a essa festa. — Ela
disse e subitamente começou a chorar, como se não
conseguisse mais segurar o pranto que vinha
refreando.
Eu devia ter imaginado que ela não era tão
forte assim.
— Não diga tolices. Quem não devia ter sido
convidada era Meg. Você não fez nada.
— Não se trata apenas de Meg. Jasper foi o
primeiro a me magoar, quando me deixou sozinha.
Talvez estivesse envergonhado de ser visto ao lado
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da garota que serve o café.


— Besteira. Foi ele quem te convidou e te
deixou sozinha para te provocar ciúmes com outras
garotas. Ele mesmo me confessou isso.
— Não tem lugar para uma pessoa como eu no
seu mundo. Foi loucura ter tentado me inserir entre
vocês.
O pranto dela se intensificou, seu corpo todo
sacudindo com os seus soluços, da forma como ela
fazia quando era criança. Lembrei-me da ocasião
em que seu gatinho de estimação morreu
atropelado. Ela chorou como naquele momento,
soluçando e se sacudindo toda.
Aflito, parei o carro no acostamento e a
estreitei em meus braços, acolhendo o tremor do
seu corpo de encontro ao meu a cada soluço que ela
dava.
— Não diga tolices. O nosso mundo que não é
digno de você.
Percorri meus dedos através dos seus cabelos
ainda úmidos e em resposta sua pele se arrepiou,
causando-me uma violenta corrente de excitação.
— Obrigada por ficar do meu lado. Aliás,
obrigada por tudo o que está fazendo por mim. Por
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me dar aquele emprego, um apartamento


confortável para morar. Por me acolher mesmo
sabendo que estou envolvida com um criminoso.
Obrigada por tudo Lowell.
Na verdade, quando dei aquele emprego e o
apartamento a ela, eu ainda não sabia que ela era
envolvida com Jerry, embora se soubesse não teria
mudado nada, eu a teria ajudado de qualquer forma.
— Você não precisa me agradecer. Eu te devia
isso pelo mal que causei a você quando provoquei a
demissão de Ivone da nossa casa.
— Você era só um garoto. Eu não devia ter te
culpado durante todos esses anos.
Apertei-a ainda mais forte de encontro a mim.
— Devia ter culpado sim e fico feliz que tenha
me perdoado e que possamos deixar tudo isso para
trás.
Continuamos ali abraçados por um longo
momento. Madison chorou até que sua dor parecia
ter se esvaído do seu corpo em forma de lágrimas e
por fim se recompôs, limpando o rosto com o dorso
da sua mão, ajeitando se de volta sobre o assento.
— Não quero nem ver a cara da minha mãe
quando eu chegar a casa nesse estado. — falou,
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consternada, enquanto eu ligava o carro e voltava a


nos inserir na rua pouco movimentada.
— Você não precisa acordá-la. Basta entrar na
ponta dos pés.
— Vou ter que tocar a campainha para que ela
abra a porta. A chave que eu trouxe estava no
decote do vestido e deve ter caído no chão do
banheiro quando Meg o rasgou.
Refleti por um instante sobre aquilo. Não sobre
a situação, mas sobre o decote dela, onde a vi
guardando também o cartão com o contato do dono
da agência de modelos.
— Você guarda tudo no decote? — De certa
forma, eu estava aliviado por ela ter perdido
também aquele cartão. Eu não queria que ela se
tornasse o tipo de mulher que fica seminua fazendo
poses na frente de uma câmera e de meia dúzia de
tarados.
— Não seja debochado, Lowell. Eu não tinha
uma bolsa que combinasse com aquele vestido. —
A fisionomia dela se contraiu subitamente, como se
relembrasse algo extremamente horrível. —
Cacete! Onde vou arranjar dinheiro para pagar um
vestido tão caro?
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— Como assim? Você comprou fiado?


Vi a face dela corando lindamente, o que só
serviu para intensificar a corrente de excitação que
passeava pelas minhas veias, tornando o meu
sangue mais quente.
— Eu não o comprei. A filha de Consuelo
pegou emprestado no atelier onde trabalha. Nem
que eu trabalhasse por dois anos conseguiria
dinheiro suficiente para pagar uma roupa tão cara.
— Ela parecia quase desesperada.
— Não se preocupe com isso. Eu pago pelo
vestido. E para que Ivone não fique preocupada
com o que aconteceu com você, te levo para o meu
apartamento. Minha governanta deve ter algo que
te sirva. Aí você só inventa que manchou o vestido
de vinho e precisou trocar.
Ela me olhou com aquele jeito só seu, como se
soubesse que, em meu apartamento, eu podia tomá-
la e beijá-la dos pés à cabeça e como se me desse
consentimento para isto.
Porra, Madison! Você não sabe onde está se
metendo e devia tomar cuidado para não se tornar
apenas mais uma Meg na vida de um homem.
— Se eu chegar a casa só de manhã, vai ser
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ainda pior.
— Eu te levo antes do dia clarear. Não tem
problema.
— Obrigada por tudo. Vou aceitar que você
pague o vestido também, mas será apenas um
empréstimo. Assim que tiver condições eu
devolverei o dinheiro a você.
— Não se preocupe com nada.
Ao chegarmos ao meu apartamento, em
Windermere, Madison se mostrava deslumbrada
com tudo, desde a decoração até o tamanho do
lugar.
— Quer dar uma olhada por aí? — Perguntei,
ao perceber a admiração com que ela observava
tudo.
— É lindo aqui, mas acho melhor eu trocar
logo de roupa e ir para casa, antes que o dia
amanheça Ivone perceba que eu ainda não cheguei.
— Espera aqui que vou procurar uma roupa de
Rose no quarto dela.
Ainda bem que era a noite de folga da minha
governanta e ela não se encontrava em casa. Ao
entrar em seu pequeno quarto, fui direto para o
armário embutido na parede, fuçando tudo à
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procura de algo que servisse em Madison, só que


Rose pesava oitenta quilos e seus vestidos eram
enormes, caberia umas cinco Madison dentro de
cada um. Continuei procurando até encontrar
alguns poucos vestidos bastante pequenos, deviam
ser da filha adolescente dela, que vinha passar o dia
no apartamento de vez em quando. Escolhi um
modelo florido, soltinho.
Encontrei minha amiga de infância na cozinha,
bebendo água na torneira da pia, de costas para
mim. Observei seus pés descalços, as pernas longas
e firmes, as curvas perfeitas do seu corpo,
salientadas pelo tecido macio da minha camisa, os
cabelos negros caindo em suas costas, até a altura
da cintura, o bumbum empinado, salientando no
tecido e aquela onda de excitação descontrolada se
intensificou em meu interior, deixando-me duro
dentro das calças.
— Estava com sede. Espero que não se
importe. — Madison virou-se de frente para mim,
fixando seus olhos lindos nos meus e tive a
impressão de que podia enxergar o temporal de
emoções que jazia dentro de mim.
— Encontrei um vestido da filha de Rose.
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Acho que vai servir em você.


Entreguei-lhe a peça florida e a conduzi até o
meu quarto, onde mais uma vez ela observava tudo
detalhadamente, parecendo deslumbrada com o
ambiente sóbrio e ao mesmo tempo luxuoso.
— O banheiro fica ali. Naquela gaveta tem
toalhas limpas. Vou preparar um café para nós.
Chame-me se precisar de qualquer coisa.
— Obrigada.
Deixei o quarto com a imagem do corpo dela
completamente nu, sob os jatos de água do meu
chuveiro, projetada em minha mente. Pude
imaginar claramente sua mão delicada espalhando a
espuma do sabonete sobre sua pele morena e
precisei de um esforço absurdo para não voltar lá e
invadir aquele banheiro. Eu tinha quase certeza de
que ela não me impediria, afinal deixava claro, na
forma como me olhava, que me desejava tanto
quanto eu a ela, mas era comprometida com outro
homem e embora esse homem não a merecesse era
o pai do seu filho. Eu não podia pedir a ela que o
deixasse, pois não tinha nada a lhe oferecer que não
alguns momentos de prazer. Eu não acreditava no
relacionamento entre um homem e uma mulher e
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não queria essa mentira para mim. Aprendi bem


como isso funciona, observando meus pais durante
toda a minha vida.
Na cozinha, caminhei de um lado para outro
por alguns momentos, impaciente, desejoso do
corpo de Madison de encontro ao meu, do sabor da
sua boca na minha. Comecei a preparar o café e
enquanto procurava os utensílios no armário,
lembrei-me novamente da nossa infância, de
quando acordávamos no meio da noite e
preparávamos brigadeiro de panela, para comermos
enquanto assistíamos filmes de terror na televisão.
Deixei o café de lado e preparei a guloseima.
Estava quase pronto quando ouvi os passos dela
avançando pela cozinha.
— Eu conheço esse cheiro. — Disse Madison.
Quando me virei em sua direção, deparei-me
com o mais lindo e genuíno dos sorrisos brincando
em seus lábios. E não foi só isso que me deixou
hipnotizado, mas também as curvas bem
desenhadas do seu corpo dentro do vestido
pequeno, que se coloca à sua pele, revelando o
contorno perfeito da sua cintura, dos seios
pequenos e empinados e dos quadris redondos.
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— O vestido ficou lindo em você.


— Ficou minúsculo. Quase não entra. Quantos
anos a sua governanta tem? Doze?
Sorri para ela antes de falar.
— Acho que esse vestido é da filha dela, uma
adolescente que vem aqui de vez em quando. Estou
fazendo brigadeiro de panela. Você lembra?
— E como eu poderia esquecer? A gente
costumava ficar a noite toda acordado comendo
isso e assistindo televisão.
Madison acomodou-se em uma das banquetas
na ilha da cozinha e logo me sentei ao lado dela,
usando um pano de prato para segurar o cabo da
panela quente, com o brigadeiro. Pousei-a sobre a
ilha e ofereci-lhe uma colher, enquanto me servia
com outra, direto da panela, exatamente como
fazíamos antigamente.
— Há muito tempo que eu não faço isso. —
Provei do brigadeiro quente, relembrando o sabor
da minha infância, de momentos felizes e
tranquilos como aquele.
— Então aproveita para matar a saudade. Pena
que não temos tempo de assistir um daqueles filmes
bons de terror.
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— Não temos hoje, mas podemos marcar para


outro dia. O que você acha de amanhã à noite?
Ela ficou pensativa por um momento, como se
avaliasse o convite.
— Seria ótimo, mas já deixei Lucas hoje, não
quero deixá-lo de novo amanhã.
— Traga ele. Colocamos filmes infantis antes
do terror.
Madison sorriu gargalhadamente, me deixando
ainda mais encantado.
Ficamos ali papeando, sobre o passado e sobre
o presente, trocando olhares de cumplicidade, que
evidenciavam o quanto desejávamos um ao outro,
até que não houvesse mais nenhum resquício de
brigadeiro dentro da panela, quando então Madison
levantou-se e levou a panela até a pia, enchendo-a
de água para deixar de molho.
Como se uma força muito maior do que eu
pudesse controlar me puxasse para ela, levantei-me
e aproximei-me por trás, colocando-me muito
próximo dela, quase encostando o meu corpo no
seu, quando pude vê-la ficando toda tensa, os pelos
dos seus braços se arrepiando e fui inundado pela
certeza de que não podíamos adiar o inevitável.
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Éramos dois adultos que se desejavam, em algum


momento não conseguiríamos mais resistir a esse
desejo e eu não via motivo para continuar tardando
esse momento.
— Madison, isso não vai durar muito tempo.
— Falei, com minha boca próxima ao ouvido dela.
— O que?
— A gente ficar longe um do outro. —
Aproximei-me um pouco mais, tocando o meu
corpo no seu, por trás, quando um incêndio pareceu
acontecer dentro de mim. Pousei minhas mãos
sobre seus ombros e as desci através da pele macia
dos seus braços. — Eu sei que devia fingir que não
estou sentindo o que sinto, pois você é uma mulher
comprometida, mas não consigo mais ficar
afastado.
Ela se virou para me encarar, o desejo evidente
na sua expressão.
— Eu também não consigo mais fingir que não
sinto nada, mas…
— Não diga isso. Não coloca aquele cara entre
a gente de novo.
— Você tinha medo que ele fizesse alguma
coisa com Jasper. Não tem medo por você também?
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— Eu nunca tive medo por Jasper. Tudo o que


eu tinha era ciúmes, de ver vocês dois juntos, de
vê-lo tentando ficar com a pessoa que eu quero.
Neste momento, seu lábio inferior tremeu e não
consegui mais me controlar. Inclinei-me e o
coloquei na boca, sugando suavemente,
provocando-a, antes de pressionar minha boca na
sua, ferozmente, e acariciar sua língua com a
minha, ao mesmo tempo em que contornava sua
cintura com os meus braços e apertava o meu corpo
no seu, empurrando minha ereção de encontro ao
seu abdômen, uma excitação tórrida demais se
espalhando pelo meu organismo, quase me fazendo
perder a razão.
Em resposta, Madison enlaçou meu pescoço
com os seus braços, enfiando os dedos entre os
meus cabelos, empurrando-me mais para ela, ao
mesmo tempo em que se colocava na ponta dos pés
e movia seus quadris de um lado para o outro,
esfregando-se na minha ereção, arrancando-me um
gemido de tesão, que partiu da minha boca e
morreu na sua.
Espalmei minhas mãos sob suas nádegas e
ergui-a do chão, fazendo com que se sentasse na
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pia, quando então ela abraçou meus quadris com


suas pernas e se esfregou bem ali onde eu estava
fervendo, quase me enlouquecendo de desejo.
— Porra, Madison! Eu sabia que você seria a
minha perdição. — Sussurrei de encontro à sua
boca, antes que meus lábios descessem através da
pele macia do seu pescoço, impacientes, ansiosos
por saboreá-la inteira.
Sem condições de esperar nem mais um
segundo, segurei dos dois lados do decote do
pequeno vestido e puxei com força, rasgando o
tecido com facilidade, de cima a baixo, desnudando
seu corpo gostoso, com o qual eu vinha tendo
tórridas fantasias nas últimas semanas. Afastei-me
alguns centímetros, apenas bastante para
contemplar a sua nudez. Ela era ainda mais linda do
que supus nos meus sonhos mais secretos. Tinha os
seios redondos, empinados e pequenos, com
mamilos morenos, que se encontravam
completamente intumescidos; sua barriga era lisa,
sem qualquer vestígio de musculatura adquirida
com exercícios e a cintura era fina e bem
desenhada.
O tecido delicado da calcinha escondia
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parcialmente a sua intimidade, mas isso não durou


muito, logo minhas mãos a atacaram e a tiraram
pelos pés, quando pude contemplar o seu sexo
canudo, coberto por uma camada bem aparada de
pelos negros.
— Você é ainda mais linda do que eu sonhei.
— Murmurei, a excitação quase me impedindo de
puxar o ar para os meus pulmões.
—Faça-me sua, Lowell. Eu quero você esta
noite. — Havia um tom de súplica em sua voz, tão
excitante que eu poderia ir ao clímax apenas
ouvindo-a.
Imediatamente, voltei para ela, tomando-a,
colocando um dos seus seios pequenos na minha
boca, mordiscando suavemente o mamilo,
circulando-o com a ponta da minha língua, antes de
sugá-lo com força, quando então Madison inclinou-
se para trás, apoiando as mãos na parede atrás da
pia para se equilibrar, um gemido rouco e dengoso
escapando da sua boca, ecoando pela cozinha.
Percorri minhas mãos através da sua pele
macia, enquanto mudava a boca para o outro seio,
mordendo, lambendo, chupando, fartando o meu
tesão enlouquecido. Usei as duas mãos para fazê-la
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abrir mais as pernas e introduzi um dedo entre os


seus grandes lábios, mergulhando-o na a sua
umidade, antes de começar a massagear seu clitóris
inchado, quando fui recompensado pelo seu gemido
alto e pelo contorcer do seu corpo de encontro à
minha mão.
— Caralho... Como você está molhadinha... —
Sibilei.
Levei minha boca novamente para sua e fiz
com que ela chupasse minha língua enquanto
introduzia um dedo em seu canal lubrificado, quase
morrendo de tanto tesão ao constatar o quanto era
quente e apertadinha e como pulsava em volta do
meu dedo, em uma súplica silenciosa por ter-me
por inteiro. Era o que eu queria também, me
enterrar todo nela e não sair até que a exaustão me
tomasse, queria tanto que meu pau estava
começando a doer de tão duro, mas a necessidade
de sentir seu gosto parecia ainda maior dentro de
mim e desci minha boca através da sua pele
morena, incomparavelmente macia, provando cada
centímetro dela com a ponta da minha língua, até
alcançar a sua intimidade pulsante. Abaixei-me
entre suas pernas, segurei seus dois pés e apoiei
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seus tornozelos na borda da pia, deixando-a


completamente aberta diante do meu rosto. Parei
por um instante para contemplar sua boceta morena
e carnuda, completamente banhada com os líquidos
do seu desejo, o clitóris intumescido parecendo
implorar pelo toque da minha língua.
Em busca de satisfazer minha fome insaciável
e a dela, usei meus dois polegares para afastar os
seus lábios vaginais e mergulhei minha língua entre
eles, contornando a entrada da sua vagina, várias
vezes, experimentando o sabor da sua excitação
antes de subir até o seu ponto mais sensível e
mover minha língua sobre ele, freneticamente,
fazendo com que seus gemidos se tornassem ainda
mais altos, mais roucos, descontrolados.
Madison abriu ainda mais as pernas e
empurrou os seus quadris de encontro ao meu rosto,
dando-se mais a mim, ao mesmo tempo em que
enterrava seus dedos delicados em meus cabelos e
puxava, evidenciando o seu enlouquecedor
descontrole.
Continuei estimulando seu clitóris com a ponta
da minha língua, ciente de que ela estava muito
perto do êxtase. Então fechei meus lábios sobre o
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delicioso feixe de nervos e suguei suavemente,


permitindo que ela alcançasse a libertação.
Ouvi-la gritando em cima daquela pia, vê-la se
contorcendo inteira na minha boca, enquanto
clamava o meu nome, repetidamente, foi o
espetáculo mais fascinante que assisti na minha
vida.
Quando seu corpo ficou lânguido e suas pernas
caíram, coloquei-me novamente em pé, segurei-a
pela cintura, dos dois lados, e enfiei minha língua
em sua boca, exigindo que ela experimentasse o
próprio gosto, o verdadeiro sabor da luxuria.
— Lowell... — Madison murmurou o meu
nome, ao mesmo tempo em que suas mãos
impacientes tentavam abrir o fecho da minha calça.
— Me diz o que você quer, Madison, e eu te
darei.
— Quero você inteiro. Quero esse pau grande e
gostoso dentro de mim.
Ela enfiou uma mão dentro da minha cueca e
segurou o meu membro, todo melado do meu tesão,
masturbando-me. Não se mostrou surpresa com o
tamanho, como a maioria das mulheres com quem
eu transava pela primeira vez se mostrava, afinal
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ela já tinha visto, já sabia o que a esperava.


Apressadamente, afastei-me e livrei-me do
paletó, da calça e da cueca, sentindo-me satisfeito
ao ver seus olhos, lindamente verdes, vagarem pela
minha nudez, examinando os meus ombros, meus
braços, meu peito e por fim o meu sexo, onde se
detiveram.
Voltei para ela e me acomodei entre suas
pernas, tomando sua boca como um faminto que
encontrava um banquete. Madison fechou suas
mãos em torno do meu membro e esfregou a glande
melada na sua abertura, para cima e para baixo,
misturando os nossos líquidos, deixando-me quase
louco.
— Você tem camisinha? — Ela indagou na
minha boca, com a respiração muito pesada.
Eu devia estar muito perdido por aquela
mulher, pois geralmente quem se lembrava do
preservativo nesses momentos era eu.
— Está na minha calça.
Mais uma vez a deixei, trêmula de desejo em
cima da pia, meu organismo fervendo ainda mais
ao constatar que ela tremia por mim, que me
desejava a ponto se entregar sem frescuras. Tirei o
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pacote de preservativos no bolso da calça, abri a


embalagem e me cobri rapidamente. Percebi que
Madison não estava muito confortável ali, então a
peguei em meus braços e a carreguei pelo
apartamento, em busca da minha cama, só que o
meu quarto estava longe demais para a minha
ansiedade, então a deitei sobre a chaise do sofá da
sala e estendi-me sobre o seu corpo, novamente
beijando sua boca gostosa, como se isso nunca me
fartasse. As mãos dela exploravam meu corpo todo,
a ponta dos seus dedos fazendo o contorno dos
meus músculos, quando pendurei suas panturrilhas
em meus ombros e me encaixei na sua entrada,
pronto para penetrá-la.
— Por favor, devagar, você é muito grande. —
Madison parecia ligeiramente assustada, só que era
um pouco tarde para isto.
— Eu não sei foder devagar, Madison. Mas se
eu te machucar, avise-me que paro.
Vi seus olhos se arregalaram de medo não
consegui me deter, com um movimento preciso dos
meus quadris entrei nela, extasiado ao sentir seu
canal pequeno me apertando forte, enquanto um
grito agudo saltava da sua garganta.
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— Te machuquei?
— Não... Me fode gostoso... Sou toda sua…
As palavras escapavam desconexas dos seus
lábios, incentivando-me a continuar. Então puxei
meus quadris e novamente me arremeti contra os
dela, firmemente, alcançando-a muito fundo,
enquanto mais uma vez ela gritava, em um misto de
prazer e medo. Mas eu não a machucaria, ela estava
tão excitada quanto eu e isso era o bastante para
que o meu tamanho apenas a satisfizesse sem
causar qualquer dor.
Continuei me movendo entre suas pernas,
entrando e saindo, chocando minha pélvis contra
seu corpo, sem em nenhum momento conseguir
desviar os meus olhos dos seus, tudo em mim
fascinado com o prazer estampado em seu
semblante, com a forma como ela gemia e gritava,
com suas unhas crescidas enterrando-se em minha
pele, de maneira desgovernada e principalmente
com as contrações da sua vagina apertando
deliciosamente o meu pau.
— Puta merda, Madison... Você é gostosa
demais... Já estou viciado nessa bocetinha...
Sem sair de dentro dela, inverti nossas posições
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sobre a chaise, deitando-me de costas, colocando-a


em cima de mim, montada, quando então ela
espalmou suas mãos sobre meu peito e começou a
rebolar os quadris, em círculos, depois para cima e
para baixo, cada vez mais freneticamente, fazendo
com que meu pau se movesse em seu interior,
massageando cada centímetro do seu canal
lubrificado, deixando-me ainda mais perdido,
extasiado.
Madison estendeu o seu corpo sobre o meu,
movendo os quadris um pouco mais devagar.
Percorreu a ponta da sua língua no contorno dos
meus lábios e desceu, mordendo meu queixo, meu
pescoço e meu peito, provando minha pele com sua
língua gostosa. Depois ergueu-se novamente e
voltou a rebolar em cima de mim, gemendo e
gritando, se fartando com o deslizar da minha
rigidez na sua vagina molhada.
Eu estava muito perto de gozar, mas não queria
que acabasse ainda. Então novamente troquei
nossas posições. Desta vez me retirei do seu
interior, por um breve momento, somente enquanto
a virava de bruços na chaise. Fiz com que abrisse as
pernas até o limite, apoiando um pé de cada lado da
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chaise, usei minhas duas mãos para fazê-la erguer


bem a bunda redonda e firme, posicionei-me atrás
dela e a penetrei, com toda a força, seu canal
quente e gostoso me acolhendo com perfeição, suas
paredes úmidas me apertando de forma
enlouquecedora.
Inclinei-me sobre ela e fechei minha mão nos
seus cabelos densos, fazendo com que virasse o
rosto para um lado e capturei e sua boca com a
minha, sugando sua língua com toda a fome que
ardia em minhas entranhas, enquanto continuava
entrando e saindo dela, meus quadris assumindo
um ritmo cada vez mais acelerado, os movimentos
se tornando mais bruscos, sem que isso dependesse
da minha vontade.
— Goza para mim, Madison... goza no meu
pau... — Minha voz soou como uma súplica.
Afastei minha boca da sua e fixei meus olhos
nos seus, para logo ver a sua face se contraindo, do
mais insano prazer, as lágrimas fugindo do canto
dos seus olhos, ao passo em que ela gemia mais
alto e sem controle, arremetendo a bunda de
encontro aos meus quadris, se entregando mais,
buscando-me mais, levando-me ainda mais fundo,
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enquanto gozava, seu corpo todo vibrando sob o


meu, convidando-me à perdição que logo veio,
quando me esvaí em gozo também, jorrando dentro
dela, meus espasmos se unindo aos seus, até que
meus braços estivessem fracos demais para segurar
o meu corpo e desabei sobre ela, conseguindo me
apoiar ainda nos cotovelos para não esmagá-la.
Permanecemos em silêncio por um longo
momento, nossos corpos suados, colados um no
outro, os sons frenéticos da nossa respiração
tornando-se audível na sala imensa.
— Estou sentindo as batidas do seu coração. —
Madison falou, rouca e ofegante.
— O quê?
— Seu coração está batendo agitado de
encontro às minhas costas.
Sorri do seu comentário, o mais perfeito júbilo
me enchendo a alma. Realmente meu coração batia
aceleradamente dentro do peito.
Quando a tempestade dentro de nós amenizou e
nossos corpos se acalmaram, me retirei do seu
interior e escorreguei de cima dela, deitando-me de
lado, com a cabeça apoiada sobre um cotovelo,
observando-a enquanto ela se deitava na mesma
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posição, de frente para mim, seus olhos lindos,


mais brilhantes que nunca, fixos em meu rosto.
Acariciei seus cabelos macios e soltei um longo
suspiro, perguntando-me por que não a fiz minha
antes, por que esperei tanto tempo por algo tão
magnífico.
— Preciso ir para casa antes que Ivone acorde
e se dê conta da minha ausência.
— Shhhhh, esquece o mundo lá fora, faz de
conta que apenas nós dois existimos. Ainda falta
muito para o amanhecer e Ivone acordar.
— Não falta tanto assim.
— Fica só mais um pouco comigo. Se Ivone
estiver acordada, eu prometo que converso com ela
e a convenço de que estava te obrigando a trabalhar
até agora.
Madison sorriu lindamente, seu rosto se
iluminando ainda mais.
Por Deus! Como ela era linda! A perfeição em
forma de mulher, a personificação dos meus
desejos mais secretos.
Como se ela tivesse dupla personalidade, a
mulher sensual que acabara de chorar enquanto
gozava no meu pau, por um breve instante pareceu
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dar lugar à menina tímida que eu conhecia bem,


quando ela olhou para o meu membro, de um jeito
meio acanhado e ao mesmo tempo travesso. Levou
a mão até ele, tirou o preservativo usado, jogando
para o lado e voltou a fechar sua mão pequena a sua
volta, acariciando, fazendo com que passasse de
semiereto para completamente duro.
— Já te disseram que você tem o pau maior do
que os atores dos filmes pornôs?
Soltei uma gargalhada daquele comentário.
— Como você sabe disso? Já assistiu a muitos
filmes pornôs?
Vi sua face linda enrubescendo de vergonha e
fiquei ainda mais maravilhado.
— Eu tenho vinte e três anos. Que mulher na
minha idade nunca assistiu a um filme pornô?
Novamente, acariciei seus cabelos lindos,
apreciando sua maciez escorregando entre os meus
dedos.
— Você gosta desse gênero de filme?
— Não são os meus preferidos, mas não vou
negar que gosto.
— O que você aprendeu vendo eles?
Ela sorriu para mim, olhando-me de um jeito
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safado, e a corrente de excitação se intensificou em


minhas veias, me deixando ainda mais duro entre
os seus dedos delicados.
— Eu vou te mostrar.
Com isto, Madison colou sua boca na minha,
acariciando a minha língua com a sua, de forma
lasciva, do jeito que deixaria qualquer homem
perdido de tesão. Colou seu corpo no meu e me
empurrou até que eu estivesse deitado de costas,
colocou-se em cima de mim e desceu aquela boca
insaciável pela minha pele, mordicando, lambendo
e beijando o contorno dos meus músculos, até
alcançar o meu sexo, quando então o segurou pelo
meio e passou sua língua atrevida em torno da
glande, depois por toda a sua extensão. Sem deixar
de me masturbar, colocou meu saco na boca e
sugou-o, como se estivesse esfomeada.
— Porra, Madison! Assim você vai acabar me
deixando maluco. — Gemi alto.
Ela voltou para a minha glande, novamente a
contornou com a ponta da sua língua e então
colocou o meu pau em sua boca, descendo a cabeça
para que eu a penetrasse até a sua garganta. Passou
a mover a cabeça para cima e para baixo, cada vez
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mais depressa, me chupando macio e gostoso, sem


jamais tocar seus dentes em meu membro, ao
mesmo tempo em que me masturbava no mesmo
ritmo acelerado e o que parecia impossível
aconteceu, eu gozei novamente, pela primeira vez
de forma consecutiva, enchendo sua boquinha
deliciosa com o meu leite, fascinado ao vê-la
engolindo até a última gota, enquanto erguia o
olhar para observar o meu rosto, com aquele seu
jeitinho safado.
Caralho, Madison. Mesmo que eu viva por cem
anos, nunca mais vou deixar você.

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CAPÍTULO XIV

Madison

Quando acordei encontrava-me em um colchão


macio, confortável e cheiroso, sobre o qual o meu
corpo relaxado parecia flutuar, mas então abri os
olhos e descobri que ainda estava no apartamento
de Lowell, no quarto dele, na cama dele e sentei-me
com um sobressalto, percorrendo os olhos ao redor,
só para ter certeza de que realmente havia cometido
a irresponsabilidade de dormir fora de casa, sem ao
menos telefonar para avisar a minha mãe.
Minha nossa! Onde eu estava com a cabeça? A
essa altura Ivone já devia ter chamado até a polícia.
E, pior do que dormir fora de casa, foi ter
traído o pai do meu filho com outro homem.
Cacete! Isso sim era muito grave. Não que eu
estivesse arrependida, pelo contrário, os momentos
vividos nos braços de Lowell foram únicos,
verdadeiramente inesquecíveis, como jamais foi
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com Jerry, porém eu não devia ter feito isso sem


pelo menos conversar com ele antes e terminar tudo
entre a gente. Precisava ter essa conversa com Jerry
o mais depressa possível, logo no dia seguinte,
quando seria o dia de visita ao presídio.
Não que eu estivesse esperando que Lowell
assumisse um relacionamento sério comigo, não
acreditava que ele faria isso, mas depois do que fiz,
depois de ter traído o homem que vinha sendo o
meu companheiro por mais de sete anos, o homem
que era o pai do meu filho, eu precisava no mínimo
ser honesta com ele e terminar nossa relação. Eu
conseguiria viver minha vida com meu filho e
minha mãe sem passar fome, afinal um emprego eu
já tinha.
Eu estava ali sentada, mergulhada em meus
pensamentos, quando subitamente a luz do quarto
foi acesa e só então consegui enxergar Lowell
sentado em uma poltrona próxima aos pés da cama,
observando-me atentamente, parecendo mais lindo
que nunca, usando uma calça de moletom folgada e
nada mais, exibindo o corpo delicioso, do qual
agora eu conhecia cada pedacinho, distraindo-me
de todo qualquer outro pensamento.
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— O que você está fazendo? — Indaguei,


corando violentamente ao relembrar nossa
movimentada madrugada.
— Observando você dormir. Estava tão linda e
tão tranquila que não tive coragem de acordá-la
para tomar o seu café.
Apenas quando ele falou vi a farta bandeja com
o café da manhã sobre a mesinha ao lado e senti o
aroma gostoso se espalhando pelo quarto.
As grossas cortinas nas janelas não permitiam a
entrada da luz solar, o que tornava impossível
determinar se era noite ou dia.
— Que horas são? — Indaguei.
— São nove horas.
— Minha Nossa! Ivone deve estar preocupada
comigo. Como pude ter sido tão irresponsável a
ponto de deixá-la sem notícias até uma hora
dessas? E meu filho, coitado, deve estar agoniado.
Posso usar seu telefone?
Aflita, levantei-me. Só então percebi que ainda
estava completamente nua e fiquei embaraçada.
Não fazia o menor sentido sentir-me envergonha da
minha nudez, na frente de Lowell, depois da noite
que tivemos, mas ainda assim estiquei a mão até
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um hobby que se encontrava pendurado em um


cabide e me vesti, apressadamente, sob o olhar
atento dele.
— Não precisa esconder seu corpo de mim. Eu
o conheço muito bem agora. Talvez melhor que
você. — Suas palavras só conseguiram me deixar
ainda mais constrangida. — E não se preocupe com
Ivone. Já telefonei para ela e avisei que você está
comigo. — fitei-o atônita e, percebendo, ele
continuou. — Fica tranquila. Eu disse que surgiu
uma emergência no escritório e que precisei de
você lá a noite toda. Ela acha que nós ainda
estamos na empresa, trabalhando.
Suas palavras me permitiram respirar aliviada.
Ivone era uma boa mãe e eu a amava, mas ela
andava muito fora de órbita desde que descobriu
que seu marido me molestava, quando ainda
morávamos com ele. Se soubesse sobre mim e
Lowell, podia contar tudo a Jerry, sem nem
perceber e embora eu estivesse determinada a
terminar tudo com o pai do meu filho, visto que não
era despudorada o bastante para continuar com ele
depois de tê-lo traído, queria que ele soubesse a
verdade através de mim e não de outra pessoa. Nem
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mesmo por meio de Ivone.


— Obrigada por ligar. Agora preciso ir. Tenho
que ver meu filho.
— Seu filho está muito bem com a avó. Então
por que não se acalma, se senta e toma o seu café
da manhã?
E era possível resistir a um convite feito com
tanto charme? Nem mesmo a mais inabalável das
mulheres conseguiria.
Lowell abriu as grossas cortinas das janelas,
que davam vista para o bairro elegante no qual nos
encontrávamos, permitindo que a luz do sol
penetrasse o ambiente, para em seguida puxar uma
cadeira para mim, na qual me acomodei.
Na mesinha lindamente posta, havia de tudo
um pouco: café fresco, torradas, leite, frutas e até
croissants. Distraidamente, servi-me de torradas
com geleia e café puro, enquanto Lowell sentava-se
diante de mim e servia-se também. O silêncio que
nos envolvia começou a se tornar pesado demais,
um clima de tensão instaurando-se no ar.
Minha cabeça girava com os pensamentos.
Apesar de não me arrepender pelo que havia
acontecido entre nós, eu não conseguia evitar a
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culpa que recaia sobre os meus ombros, pela traição


cometida. Jerry não era nenhum santo, mas não
merecia ser apunhalado pelas costas. Eu devia ter
conversado com ele antes, ter terminado o nosso
relacionamento antes de trair sua confiança, afinal,
desde que reencontrei Lowell, eu sabia que em
algum momento o desejo desenfreado que existia
entre nós não poderia mais ser contido.
— Que ruguinha de preocupação é essa na
testa? Eu já disse que Ivone foi avisada sobre você
estar comigo e que Lucas está bem. Por que ainda
está aflita?
— Não estou mais preocupada com eles, é
outra coisa.
— E o que está tirando o seu sossego?
— Eu devia ter terminado com Jerry antes que
alguma coisa acontecesse entre nós.
Neste momento, Lowell abandonou o garfo
sobre o prato e deixou suas costas caírem para trás,
apoiando-as no espaldar da cadeira, visivelmente
consternado.
— Não está muito cedo para falar sobre esse
cara?
— Esse cara é o pai do meu filho. Se eu devo
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fidelidade a alguém, esse alguém é ele, apesar de


não me arrepender do que aconteceu entre nós. Foi
incrível. Jamais me arrependerei, mas eu o traí.
Você entende a gravidade disso? — Minha voz
soou mais alta e mais ríspida do que eu pretendia.
Lowell suspirou profundamente, antes de falar.
— Não se culpe. Você não fez nada errado. O
que aconteceu entre nós não foi planejado. Nenhum
de nós dois seria capaz de evitar. Então,
tecnicamente, você não o magoou de propósito. —
Ele observou-me em silêncio por um instante,
como se me analisasse. — Pretende contar para
ele?
— Ainda não sei, mas sei que preciso dar um
basta na nossa relação. Não posso continuar com
ele depois do que fiz. — Lowell continuou me
encarando em silêncio, um brilho indecifrável se
refletindo na expressão do seu olhar. — Não vou
terminar com ele esperando um relacionamento de
você. Eu sei que você não quer isso para a sua vida
e nem estou te cobrando nada. Vou terminar porque
já faz muito tempo que não tem mais nada a ver
entre mim e ele. Além do mais, já tenho um
emprego e um lugar para morar. Sou perfeitamente
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capaz de criar o meu filho sozinha.


— Tem todo o meu apoio nessa decisão. Você
não precisa desse cara para nada. É uma mulher
forte e pode se tornar independente. Você vai ver o
quanto a sua vida vai melhorar sem ele.
Apesar de suas palavras me fazerem bem,
incentivando-me, no fundo eu queria ouvi-lo
dizendo que eu estava enganada sobre ele não
querer um relacionamento sério, queria ouvi-lo
afirmando que estava preparado para assumir esse
relacionamento comigo, porque é isso que toda
mulher espera ouvir de um homem após uma noite
de paixão, só que Lowell já havia deixado claro,
mais de uma vez, que não era o tipo de homem que
se envolvia seriamente com uma mulher. Seria
perda de tempo de minha parte ficar me iludindo,
acreditando que seria diferente comigo, que eu era
diferente de todas as outras mulheres com quem ele
já estivera. Considerar-me especial, considerar-me
mais importante para ele do que tantas outras, mais
do que a própria Meg, seria o mesmo que dar
murros em pontas de facas, só serviria para me
magoar mais.
Minha vida estava praticamente toda decidida.
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Eu terminaria a minha relação com Jerry, porém


jamais o abandonaria naquela cadeia. Se ele ainda
quisesse a minha amizade, eu continuaria sendo
amiga dele. Só que não iria esperar nada de Lowell,
porque ele não tinha nada a oferecer a uma mulher
além do que já estávamos tendo.
— Meu pai vai oferecer um almoço para a
família hoje lá no haras, em comemoração ao
aniversário de Edward. Você gostaria de ir comigo?
Não é nada grandioso. Apenas nossa família
reunida, se engalfinhando, como sempre.
Fiquei surpresa por ele me convidar.
— Eu adoraria rever o haras. Você sabe o
quanto gosto daquele lugar, mas já deixei Lucas
sozinho por tempo demais. Preciso ficar na
companhia do meu filho para que ele saiba o
quanto é amado e o quanto é importante para mim.
— Mas você não precisa deixar a companhia
do seu filho para vir comigo. Leve-o junto e leve
também Ivone. Eles vão gostar de respirar um
pouco de ar puro. E eu aposto como Lucas vai
querer montar um dos cavalos.
Era sério aquilo? Lowell estava realmente me
convidando para ir ao haras com minha mãe e meu
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filho? Quase me belisquei só para ter certeza de que


não estava vivendo um sonho irreal.
— Nesse caso, eu aceito e vou gostar muito de
rever aquele lugar.
— Ótimo. Agora que estamos conversados
termine o seu café para que eu possa te dar um
banho. Estou fantasiando com isso desde a hora em
que acordei.
Suas palavras me fizeram corar, ao mesmo
tempo em que me causavam uma intensa onda de
excitação. Diante de tal perspectiva, apressei-me
em terminar a refeição.

***
— Mamãe, não quero entrar no carro do
homem mau. — Lucas falou emburrado,
encarando, com uma carranca, a limusine de
Lowell, estacionada no acostamento diante da
calçada do prédio onde morávamos.
Ao seu lado, Ivone só tinha olhos para Lowell.
Gostava tanto dele que ficava deslumbrada na sua
presença. Um afeto descomedido, originado pelo
fato de que o vira nascer e acompanhara o seu
crescimento até os seus doze anos, quando foi
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demitida da residência dos seus pais. Ela o


considerava como um filho. O amava tanto que
jamais o culpou por sua demissão. Apenas agora eu
compreendia isso.
— Talvez eu tenha exagerado quando disse que
ele é um homem mau, querido. Entre no carro. Ele
vai nos levar para um haras onde tem muitos
cavalos. Você pode montar um deles.
Lucas me encarou com seus olhinhos
interessados. Estava louco para conhecer os
cavalos, mas era teimoso demais, dono de uma
personalidade forte demais, de modo que não daria
o braço a torcer tão facilmente.
— Ele não me deixou dirigir o carro da outra
vez. Ele é mau sim. — Lucas lançou um olhar
fulminante na direção de Lowell, que o olhava de
volta desafiadoramente, como se Lucas fosse um
adulto que o ameaçava de verdade e não um
menino de cinco anos.
— Ele pode deixar você dirigir um pouco hoje.
Não pode, Lowell? — Tentei.
— Ah, então é assim que funciona? Ele diz que
não vai fazer o que você manda e você não exige
que te obedeça? Que educação é essa que você está
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dando para o seu filho? — Lowell falou e Lucas


fechou ainda mais a cara.
Que saco! Pareciam dois galos de briga
ameaçando se atracarem a qualquer momento. Pelo
menos Lucas tinha o pretexto de ser apenas uma
criança.
— Nesse caso, vamos cancelar esse passeio.
Ficaremos em casa. Dê lembranças aos seus pais
por mim. — Declarei.
Lowell fitou-me incrédulo. Abriu a boca para
dizer alguma coisa e fechou-a novamente, como se
tivesse mudado de ideia, respirou profundamente e
por fim declarou.
— Não que eu concorde com esse tipo de
comportamento por parte de uma criança, mas se
essa é a condição tudo bem, eu deixo o pirralho
dirigir a limusine, mas não aqui na rua
movimentada. Quando estivermos na tranquilidade
do haras ele dirige.
— Está bom assim para você, Lucas? —
Indaguei e Lowell revirou os olhos.
— Lowell está certo, você precisa ter mais
pulso firme com esse menino. — Ivone falou e a
fitei perplexa.
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Desde quando ela pensava assim? Não


pensava, estava apenas tentando agradar Lowell.
Eu sabia disso porque mimava Lucas muito mais
que eu.
O emburrado Lucas concordou em entrar na
limusine e por fim partimos em direção a
Wellington.
No interior do luxuoso veículo Lucas e Lowell
não paravam de trocar farpas e embora eu estivesse
ciente de que o meu filho tinha um gênio terrível,
acreditava que sendo o adulto entre os dois, Lowell
deveria se esforçar pelo menos um pouco para se
dar bem com ele.
— Meu pai é mais bonito do que você. —
Lucas falou emburrado, encarando Lowell de forma
desafiadora e senti vontade de sorrir.
— E daí, garoto? Eu não estou em um
concurso de beleza com o seu pai.
— Sua barba é muito feia e você tem cara de
pirata.
— Olha só quem fala, o garoto que tem cara de
joelho.
— Mamãe! Ele disse que eu tenho cara de
joelho.
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— Foi você quem começou Lucas, agora


aguenta. — Falei e Lowell sorriu para mim. — E
você não me olha como se eu estivesse te
defendendo. Eu não estou nem aí. Vocês dois que
fazem xixi em pé, que se entendam.
Como se fizessem um acordo de cavalheiros,
ambos finalmente se calaram.
Durante o percurso, pedi que Lowell solicitasse
ao motorista que parasse em uma lojinha de
variedades e comprei um pingente em formato de
cavalo para dar de presente de aniversário a
Edward. Algo muito simples, mas era o que meu
dinheiro podia pagar.
Três horas depois, deixamos a autoestrada e
adentramos uma estradinha sem asfalto que dava
acesso ao haras, quando tudo começou a parecer
muito familiar, as lembranças da minha infância
voltando-me à mente. Passamos pelo lago de águas
tranquilas, onde Lowell e eu costumávamos tomar
banho quando éramos crianças e as lembranças
daquela época tornaram-se ainda mais vívidas,
como se tudo tivesse acontecido há apenas alguns
meses e não há doze anos.
Olhando toda a beleza que me cercava,
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revivendo mentalmente os momentos de felicidade,


imaginei o quanto seria bom se aqueles doze anos
pudessem ser apagados, o quanto seria magnífico
se minha vida tivesse tomado um rumo diferente.
Pelo menos eu tinha Lucas e ele fazia com que todo
o sofrimento pelo qual passei valesse a pena.
Ao atravessarmos os portões da sede principal,
as lembranças tornaram-se ainda mais nítidas. Vi as
luxuosas cocheiras, as pistas de corrida e de
hipismo, a fachada da imponente mansão e tive a
impressão de que o tempo não havia passado, de
que Lowell e eu ainda éramos duas crianças
despreocupadas que corriam livremente por ali.
Embora fôssemos ao haras apenas nos finais de
semanas, nas férias e nos feriados, as lembranças
daquele lugar estavam mais vívidas em minha
cabeça do que as demais recordações da minha
infância, talvez por terem sido os momentos mais
marcantes, quando tínhamos tempo de estarmos
juntos durante todo o dia, sem nenhuma tarefa da
escola ou qualquer outra coisa para nos atrapalhar.
Quando olhei para o rosto de Lowell, flagrei-o
observando-me fixamente, com uma expressão
pensativa e tive a impressão de que também se
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recordava do passado e de que também sentia


saudade daquela época tão feliz.
O motorista estacionou diante da casa principal
e saltamos. Lucas parecia impressionado com tudo,
olhando em volta, perguntando se podia nadar no
Lago e cavalgar nos cavalos que avistava.
Antes mesmo que entrássemos na casa, uma
mulher morena, alta e sofisticada, saiu para nos
recepcionar na varanda e imediatamente reconheci
a mãe de Lowell. Muito parecida com ele, tinha os
mesmos traços italianos, a pele naturalmente
bronzeada e os olhos profundamente negros. Não
havia mudado muito, continuava linda e elegante
como sempre, com uma pele muito bem cuidada
por cremes caros e talvez algumas cirurgias
plásticas.
— Finalmente você chegou. Não estou mais
aguentando o tédio desse lugar. Até agora estou me
perguntando o que vim fazer aqui. — Disse ela,
com aspereza e autoritarismo, direcionando-se
unicamente a Lowell, como se não nos enxergasse
ao lado dele.
— Você veio porque prometeu a todos nós que
tentaria melhorar sua convivência com Edward e
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nosso pai. Espero que esteja realmente tentando. —


Lowell falou.
— Tentando eu estou, só não me culpe se
aqueles dois desconhecem o conceito da palavra
educação.
— Pelo visto não está tentando o suficiente,
mamãe. — Havia repreensão no tom da voz de
Lowell.
Por fim a Sra. Dixon olhou em nossa direção,
como se só então tivesse se dado conta da nossa
presença e indagou.
— E quem são essas pessoas? Você não avisou
que traria alguém.
Nossa! Quanta delicadeza!
— Talvez a senhora não se lembre, essa é
Ivone, sua antiga empregada. Essa é Madison, a
filha dela e esse pirralho aqui é o filho de Madison.
— Pirralho não, seu feio, meu nome é Lucas.
— Lucas se defendeu.
A Sra. Dixon nos observou atentamente e
embora parecesse finalmente nos reconhecer, em
nenhum momento a expressão de desprezo se
desprendeu do seu olhar, o que me fez querer dar
meia volta e sair dali correndo. Nem todos da
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família eram como Lowell, que aceitava a presença


de empregados entre eles como se fossem amigos.
Percebendo o que acontecia, Lowell passou um
braço em torno dos meus ombros, a fim de mostrar
alguma coisa à mãe, talvez que éramos mais que
amigos. Entretanto, a sua atitude pareceu enfurecer
ainda mais a mulher. Um misto de perplexidade e
ódio refletiu-se no brilho dos seus olhos negros,
enquanto registrava o movimento do filho.
— Claro que me lembro. Ivone foi mandada
embora por insubordinação, aqui mesmo nesse
haras.
Minha mãe abaixou o seu olhar para os seus
pés, visivelmente constrangida com as palavras
ríspidas da mulher.
— Só que hoje sabemos que minha mãe não
fez nada. Lowell inventou aquela mentira e ela foi
demitida injustamente. — Disparei, encarando a
Sra. Dixon com o queixo erguido,
desafiadoramente, enquanto ela me fitava de volta,
com a raiva e o desprezo de quem observava um
inseto pegajoso que precisava ser esmagado.
— Não fale nesse tom com a Sra. Dixon. Ela
não sabia que Lowell estava mentindo. — Minha
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mãe a defendeu, submissa e acuada como sempre.


— Mas acontece que hoje vocês são minhas
convidadas e minha mãe não tem o direito de tratá-
las como se ainda fossem empregadas. Portanto, se
alguém aqui tem que calar a boca, esse alguém é
ela. — Para a minha mais completa surpresa,
Lowell nos defendeu, desafiando a mãe, que se
mostrava mais espantada e contrariada a cada
palavra que saía da boca dele.
Lowell segurou minha mão e nos conduziu
para dentro da residência, passando direto pela mãe
dele.
Na sala principal — um cômodo tão grande
que seria possível jogar uma partida de futebol
dentro dela —, encontramos Edward acomodado
em um dos sofás, parecendo muito pouco à
vontade, como se nem morasse ali. Junto com ele
estava o Sr. Dixon, com os doze anos que se
passaram, desde a última vez em que o vi,
evidentes em sua aparência, nas rugas profundas
em seu rosto, nos seus cabelos grisalhos.
Encontrava-se sentado em uma cadeira de rodas.
Em outro sofá, estava Jasper, ao lado de uma garota
loira de olhos azuis, cuja mão ele segurava.
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— Finalmente a família está completa. —


Disse o Sr. Dixon, enquanto Lowell o
cumprimentava com um seco e impessoal aperto de
mão. — E quem são suas convidadas?
— Pai, esta é Madison, ela trabalha comigo na
empresa. Esta é a mãe dela Ivone, antiga
funcionária da nossa casa. E esse é o filho Lucas.
O Sr. Dixon observou atentamente o rosto da
minha mãe, como se tentasse reconhecê-la.
— Há quanto tempo, Ivone. Como você está?
— Ele a cumprimentou- com um sorriso amistoso,
bem diferente da Sra. Dixon.
— Estou bem, Sr. Dixon. — Ivone respondeu,
timidamente.
— E você se tornou uma mulher linda,
Madison. Não é à toa que se tornou mãe tão cedo.
Como foi que vocês se reencontraram?
— É uma longa história, pai. Falaremos sobre
isso outra hora. Agora será que dá para irmos
almoçar? Estou morrendo de fome. — Foi Lowell
quem falou.
— Vou mandar a empregada servir. — A Sra.
Dixon anunciou, seguindo para outro cômodo da
casa enorme.
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— Desculpe-me por ter te deixado sozinha


ontem à noite, Madison. Às vezes eu ajo como um
idiota. — Jasper falou.
— Imagina, está tudo bem. — Falei.
— Nisso eu tenho que concordar. Você age
mesmo como um idiota. — Lowell completou, com
irreverência.
— Vê se não enche o saco, cara. Você já ficou
com a garota. Não precisa tripudiar. — Me
perguntei se o que aconteceu entre mim e Lowell
estava assim tão evidente e meu rosto corou de
vergonha. — Aliás, esta é Suzy. — Jasper
completou e Lowell e eu apertamos a mão da
garota.
— Isso é para você. Edward. Feliz aniversário.
— Entreguei o pingente, embrulhado em um papel
de presente, ao irmão mais velho.
— Não precisava se incomodar. — Edward
ainda estava abrindo a caixinha com o presente,
quando Lowell passou um braço em torno da minha
cintura e me puxou para sentar-me ao seu lado em
outro sofá, uma proximidade que durou pouco, só
até Lucas se acomodar entre nós dois, com aquela
carranca que não o deixava.
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— É muito lindo, Madison. Obrigado. —


Edward agradeceu. — Vou guardá-lo para sempre.
— Sua última frase propagou um silêncio estranho
na sala, que pareceu deixar o ar mais pesado.
— E então, me contem como se reencontraram.
— O Sr. Dixon falou, interrompendo o longo
momento de silêncio.
Lowell começou a contar a história sobre o
tarado me perseguindo nos corredores do hotel em
que eu trabalhava e eu entrando de repente em seu
quarto, enquanto que, com o canto do olho, eu
percebia que Edward me olhava fixamente,
fazendo-me desejar que um buraco se abrisse sob
os meus pés e me engolisse. Do outro lado da sala,
quem não tirava os olhos de mim era Jasper e eu
podia apostar que ambos estavam especulando
internamente se eu e Lowell estávamos juntos
desde aquela desastrosa noite.
O clima de tensão deu uma amenizada, pelo
menos até que estivéssemos todos reunidos em
torno da grande mesa, na outra sala, com o almoço
servido e a Sra. Dixon disparasse:
— Lowell, você é mesmo um enigma. Jamais
trouxe uma garota para casa e quando traz é
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justamente a filha da empregada.


Suas palavras conseguiram fazer com que
todos se calassem, a atmosfera de tensão voltando a
pairar no ambiente e só então compreendi o motivo
pelo qual as pessoas estavam me olhando demais.
Na opinião delas, eu e minha mãe não tínhamos o
direito de estarmos ali, duas reles empregadas não
podiam sentar-se à mesa com os patrões. Uma
constatação dolorosa, que conseguiu fazer com que
meus olhos se enchessem de lágrimas e só não sai
correndo dali porque não quis tornar a situação
ainda mais constrangedora.
— Acontece que ela não é mais a filha da
empregada. Isso porque Ivone não é mais
empregada doméstica e tampouco empregada desta
casa. As duas estão aqui como minhas convidadas e
espero que sejam tratados como tal. — Lowell foi
firme ao afirmar.
— Mas ninguém as está tratando como
empregadas. Eu fiz apenas um comentário. — A
Sra. Dixon se defendeu, para em seguida me lançar
aquele olhar mortífero, como se quisesse passar por
cima de mim com um trator, sem que eu
compreendesse o motivo de tanta hostilidade. Era
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como se eu pretendesse me casar com filho dela.


— Um comentário de mau gosto, como
sempre. Você sempre teve o hábito de dizer as
coisas erradas nas horas erradas. — O Sr. Dixon
também se manifestou em minha defesa e aquele
foi o estopim para que os dois — ele e a Sra. Dixon
— começassem a discutir, o que perdurou durante
todo o almoço.
Após a refeição, Jasper saiu para cavalgar com
sua amiga, Edward deslocou-se para a direção das
cocheiras, Ivone foi ajudar a empregada a lavar a
louça, enquanto que o restante de nós nos
reuníamos na varanda da frente, tentando
estabelecer um diálogo civilizado, embora a Sra.
Dixon insistisse em atacar o ex-marido, com
colocações hostis disfarçadas de conversa.
— O que há entre os seus pais? Por que eles se
separaram? — Perguntei, enquanto Lowell e eu
fazíamos uma caminhada pelos arredores da
propriedade, com Lucas caminhando entre nós
dois, como se fosse capaz de perceber o que
sentíamos um pelo outro e deixasse claro que não
concordava com isso.
E quem podia tirar a razão do meu pequenino?
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Era a relação entre mim e o pai dele que estava em


jogo, pelo menos na cabecinha dele ainda era
assim. O que ele não sabia era que nada mais
aconteceria entre mim e Jerry. Nosso
relacionamento estava encerrado, esta decisão já
estava tomada, faltava apenas que eu comunicasse
a todos.
— Se separaram porque o meu pai preferiu
ficar com a amante e eu nem posso culpá-lo. Minha
mãe é uma pessoa insuportável. Quem aguentaria
passar a vida inteira ao lado dela?
— E onde está a mulher que foi a amante dele?
— O abandonou depois que ele sofreu o
acidente e se tornou paraplégico.
— Meu Deus! Que coisa horrível. A Sra.
Dixon deve ter comemorado muito.
— É o que todos acham, mas é onde todos se
enganam. Apesar desse jeito frio e arrogante da
minha mãe, ela ainda ama meu pai, apenas o
orgulho ferido a impede de voltar para ele. A
capacidade de perdoar é algo que não faz parte da
personalidade dela. Prefere viver de migalhas.
— Como assim viver de migalhas?
— Elaborando situações para estar com ele,
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sem que ele saiba que foi ela que as elaborou. A


ideia desse almoço, por exemplo, foi dela. Mandou
que Jasper dissesse que foi ideia dele e que fazia
questão da presença dela. Tudo isso para passar um
dia ao lado do meu pai. Depois ela inventa outra
coisa.
Mas que situação! Seria até engraçado, se não
fosse tão trágico.
— E ele, será que a aceitaria de volta se ela
pedisse?
— Eu não sei. Mas vamos parar de falar sobre
eles e falar de nós dois. Você se lembra de quando
subiu nessa árvore e não conseguiu mais descer? —
Paramos sob a sombra de uma árvore gigantesca,
próxima à cerca que separava o terreno em que
ficava a casa, do grande tapete gramado que se
estendia até onde as vistas alcançavam. — Eu tive
que subir para tirar você de lá.
A recordação voltou-me à mente e tudo o que
consegui foi sorrir. Tivemos muitos momentos
como aquele, quando éramos crianças. Eu era
muito magrinha, inclusive tinha o apelido de Olívia
Palito, era muito frágil e desastrada, vivia me
colocando em apuros. Ainda bem que tinha Lowell
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para me salvar sempre que eu precisava. Ele jamais


me abandonou. Era o meu príncipe encantado que
aparecia no cavalo branco quando eu estava em
apuros.
Quanto mais eu me recordava do passado, mais
ficava difícil acreditar que ele mentira por maldade
quando causou a demissão de Ivone. A cada passo
que dávamos naquele lugar, eu tinha mais certeza
de que não fazia ideia que uma mentira inocente
faria com que Ivone fosse mandada embora.
— Mamãe, se você quiser subir na árvore,
pode subir. Se ficar presa lá em cima de novo, eu
resgato você. — Lucas falou, como se estivesse em
meio a uma competição com Lowell e eu fosse o
prêmio do vencedor, o que me fez sorrir com ainda
mais vontade.
Continuamos nossa caminhada, passando por
lugares onde brincávamos quando crianças,
revivendo lembranças há muito deixadas para trás,
sorrindo e nos sentindo felizes e despreocupados,
exatamente como quando éramos crianças. Ali o
sol parecia ainda mais quente, amenizado pela brisa
fresca que soprava constantemente, trazendo o
cheirinho gostoso e familiar do ar puro, ao mesmo
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tempo em que amenizava o calor. Durante todo o


tempo uma atmosfera gostosa de paz e
tranquilidade nos envolvia, pela qual até Lucas
parecia contagiado, a ponto de deixar a hostilidade
de lado e conversar um pouco com Lowell.
Nosso momento foi interrompido pela Sra.
Dixon, quando ela apareceu na porta da casa e
chamou Lowell para uma conversa.
— Vou ver o que ela quer e não demoro. Você
me espera aqui?
— Claro. — Concordei, embora desconfiasse
que ele não voltaria tão cedo.
Eu podia apostar como o objetivo daquela
conversa era convencê-lo a manter-se longe de
mim. A Sra. Dixon não permitiria que seu filho
mais querido, o principal herdeiro das empresas
Dixon, se envolvesse com alguém como eu, que
pertencia a um nível social tão inferior. Mal
imaginava ela que seu filho jamais me levaria a
sério, que o que estávamos vivendo era apenas uma
aventura incentivada pelas lembranças boas de uma
infância feliz.
De onde estava, consegui avistar Edward em
um dos currais, escovando a crina de um cavalo,
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excluído e solitário, exatamente como era no


passado e como fazia antigamente, corri para me
juntar a ele, porque ninguém merecia ficar sozinho
no dia do próprio aniversário.

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CAPÍTULO XVI

Lowell

— Se eu não estivesse vendo com meus


próprios olhos, nem acreditaria! Um homem na sua
posição, andando por aí ao lado de uma
empregadinha! — Minha mãe vociferou, pelo que
me parecia a décima vez desde que me intimou
para aquela conversa.
Estávamos no meu antigo quarto, no segundo
andar da casa do haras, onde ninguém podia nos
ouvir.
— Quantas vezes vou ter que repetir que não
estou saindo com Madison? E mesmo que
estivesse, esse lance de empregada não tem nada a
ver. Ela é minha amiga.
— Como assim esse lance de empregada não
tem nada a ver? Você sabe que essa gente só quer
uma coisa e você é um homem importante demais
para se deixar ser explorado. Você é o presidente
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das nossas empresas, meu filho, qualquer uma ia


querer dar um golpe para ficar rica. E nem venha
me dizer que não está saindo com ela, porque eu
percebo a forma como vocês se olham.
— Não tem nada a ver, mãe. Mesmo que
estivéssemos saindo, eu não pretendo me casar com
ela, se é com isso que está preocupada. Aliás, eu
não pretendo me casar com ninguém. Você e o meu
pai deixam bem claro, dia após dia, o que significa
o casamento.
— Não mude de assunto! Não estamos falando
do seu pai e eu. — Ela fez uma pausa, a angústia
dolorosa atravessando o brilho do seu olhar. — Não
é apenas por ela ser uma empregadinha. A situação
é muito mais grave.
— Como assim mais grave?
— Você nunca ia entender. Só escuta a sua
mãe e se afasta dessa garota.
Fitei-a muito desconfiado. Do que ela estava
falando? Será que mandara investigar a vida de
Madison também e descobrira que o pai de Lucas
era um criminoso? Isso não era possível, porém,
partindo da minha mãe, nada me surpreendia, nem
mesmo descobrir que ela já sabia sobre meu
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reencontro com Madison.


Conversamos por mais algum tempo, até que
por fim consegui me livrar dela e voltar para a área
externa da mansão. Ao avançar pela varanda,
avistei de longe Madison e Edward conversando,
em um dos currais, muito próximos um do outro,
aliás, próximos demais. Ambos acariciavam a crina
de um puro sangue árabe negro e suas mãos
estavam quase se tocando. Por um breve instante,
tive a sensação de que voltava ao passado e tudo se
repetia. Madison deixava de ficar comigo, para ir
ficar com o filho bastardo do meu pai, o filho da
mulher que destruiu o casamento das pessoas que
me trouxeram ao mundo. Tudo acontecia
exatamente como há doze anos, — pelo menos em
meu íntimo — e a raiva que tomou conta de mim
alcançou níveis alarmantes, levando-me finalmente
a compreender que o sentimento que me motivara a
mentir, há doze anos, foi o mesmo ciúme que
perfurava a minha alma nesse momento. Naquela
época eu amava Madison e tive a impressão de que
esse amor não havia se apagado com o tempo.
Mas como isso era possível? Como era
imaginável que eu estivesse apaixonado por alguém
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que tomara tantas decisões erradas em sua vida?


Por alguém que mal conhecia? Eu sequer
acreditava no amor, como podia acreditar que
estava apaixonado por Madison?
Isso não tinha tanta relevância. O importante
agora era afastá-la de perto do meu irmão, só que
desta vez eu agiria como o adulto que era e não
como o garoto inconsequente que causou a
demissão e a desgraça de duas mulheres.
No canto do curral, avistei Lucas brincando
com uma corda, sozinho e excluído, quando então
minha boca se dobrou em um sorriso de satisfação,
ao perceber que o meu irmão estava agindo como
idiota, sem dar atenção ao garoto, afinal que
homem não saberia que o caminho mais rápido
para se conquistar uma mulher era conquistando
primeiro o filho dela?
Você não sabia, Lowell.
Agindo como deveria ter agido no passado,
aproximei-me tranquilamente do curral e me juntei
aos dois. Quando os alcancei, Madison ergueu seu
olhar para o meu rosto e seus olhos brilharam como
duas joias preciosas, refletindo o desejo que ela
sentia por mim, o que foi suficiente para que meu
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coração se agitasse como um louco no peito.


Se essa agitação toda fosse o amor, eu estava
perdido por aquela mulher e minha mãe ia surtar se
soubesse disso.
— Vai dar uma cavalgada? — Indaguei,
passando a mão na crina do cavalo, como quem não
queria nada.
Está vendo, Madison? Também gosto de
animais, sou tão sensível quanto ele.
— Não sou corajosa o bastante. — Madison
respondeu, sem desviar seus olhos lindos do meu
rosto, o desejo evidente na sua expressão, um
desejo que me puxava para ela, como um ímã e
teria me feito tomá-la em meus braços e beijá-la até
deixá-la sem fôlego, ali mesmo, se estivéssemos
sozinhos.
Você está ferrado, Lowell.
— Não precisa de coragem, basta um pouco de
determinação. O cavalo é mansinho. Não vai te
deixar cair. — Foi Edward quem falou.
Desde quando ele era tão articulado?
— Bem, não quero atrapalhar. Só vim buscar
Lucas para dar uma volta de pônei. Ainda tem
pôneis aqui, não é Edward?
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— Sim, nas cocheiras.


Enquanto andava na direção do garoto, que já
erguia seu olhar hostil para mim, ouvi Madison
dizer ás minhas costas, preocupada.
— Tem certeza que isso é seguro?
— Claro que sim. O pônei é baixinho. E aí
Lucas, está a fim de trocar a direção do carro por
uma volta de cavalo?
O que você está fazendo Lowell? Madison
nunca mais vai olhar na sua cara se você deixar
esse pestinha cair.
A hostilidade deu lugar à euforia na expressão
do garoto.
— Quero sim. — Respondeu ele, exultante.
Puta merda! Ele devia ter recusado. Agora se
cair do cavalo, vou estar ferrado.
— Acho que não é uma boa ideia, Lowell. —
Madison disse.
— Deixa o garoto se divertir um pouco.
— Ele nunca cavalgou.
— Os pôneis são pequenos. Não tem perigo. —
Edward tinha que se meter.
— Viu só? Vou selar um para Lucas. — Falei.
— Venha comigo Lucas, é hoje que você vai
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aprender a cavalgar.
Estendi a mão para o garoto e fiquei surpreso
quando ele a segurou. Apesar de pequena, a mão
dele tinha um aperto firme. Além do mais, sua
atitude provava que não era um garoto tão terrível
assim. Sabia desculpar, mesmo sem que eu tivesse
pedido desculpas, por ainda não ter tentado me
tornar seu amigo.
Ao conduzi-lo para a cocheira, onde ficavam os
pôneis, Madison veio conosco e o meu objetivo de
tê-la apenas para mim, bem longe do meu meio
irmão, estava cumprido, sem que o preço a pagar
fosse tão alto assim.
Na cocheira selei um dos pôneis e ajudei Lucas
a montar. Surpreendi-me ao me flagrar invadido
por uma imensa satisfação ao ver o rosto infantil
dele se iluminando de alegria, pela primeira vez
desde que o conheci e cheguei à conclusão de que
talvez ele fosse um garoto triste, que não se divertia
tanto quanto um menino na sua idade deveria. Algo
em que eu poderia dar um jeito. Podia aproveitar o
próximo final de semana para levá-lo à
Disneylândia, ou para dar uma volta de iate nas
praias de Miami. Ver aquele seu sorriso de
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felicidade e ter a mãe dele ao meu lado, também


sorrindo para mim, faria com que tudo valesse a
pena.
Eu estava mesmo muito ferrado, me sentindo
quase o pai de um filho que não era meu.
Começava a anoitecer quando deixamos o
haras. Pela primeira vez desde que me tornei adulto
eu havia me divertido de verdade naquele lugar.
Não havia ido lá simplesmente para mais uma
reunião fatigosa com o meu pai, estava tranquilo e
relaxado, na companhia de pessoas que me faziam
bem.
Tudo o que eu queria naquela noite era ficar
sozinho com Madison em meu apartamento.
Entretanto, quando o motorista estacionou diante
do prédio em que ela morava, a mesma fez menção
de se retirar do veículo junto com o filho e com a
mãe.
— Ivone, você poderia, por favor, subir na
frente com Lucas? Eu gostaria de conversar um
pouco com Madison. — Pedi.
— Tudo bem. Boa noite senhor Dixon. —
Ivone falou.
— Chame-me de Lowell. Até outro dia Lucas.
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— Até mais, Lowell.


Avó e neto deixaram o carro de mãos dadas e
adentraram o edifício, enquanto que Madison
permanecia acomodada no assento diante de mim,
encarando-me com timidez.
Eu não conseguia entender por que ela ainda se
portava com timidez na minha presença, depois de
tudo o que aconteceu entre nós.
— Quero que passe essa noite comigo, em meu
apartamento. — Falei.
— Não vai dar. Foi um erro termos ido até
onde fomos ontem, sem que eu tivesse conversado
com Jerry antes. Não vamos repetir esse erro.
Um gosto amargo se fez em minha boca ao
ouvi-la pronunciar o nome do homem com quem
vivia há tantos anos, o único empecilho para que
ela fosse minha. Embora Madison estivesse
determinada a terminar a sua relação com ele, eu
não acreditava que ele aceitaria as coisas assim tão
facilmente. Poderia ser contido enquanto estivesse
na cadeia, o que, de acordo com o meus
investigadores, ainda duraria dois anos. Porém
quando saísse de lá ele não sossegaria até afastá-la
de mim. Essa era uma certeza que eu tinha.
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Madison não era uma mulher de quem um homem


abria mão tão facilmente.
— O que você está me dizendo? Que não
vamos mais ficar juntos? Está arrependida pelo que
aconteceu ontem à noite? — Eu temia pela sua
resposta.
— Claro que não. Não é nada disso. Não estou
arrependida e todo o meu corpo me diz que quero
você de novo, mas antes preciso encerrar o que
existe entre mim e Jerry. Para não ter que cometer
adultério de novo.
— Não é adultério, vocês não são casados
oficialmente.
— Só que ele é o pai do meu filho e estamos
juntos há muitos anos. Isso é mais que um
casamento.
Mas que merda! Mesmo que ela se tornasse só
minha, esse cara sempre estaria entre a gente, por
causa de Lucas.
— Eu não quero mais esse cara entre nós.
— Ele vai deixar de fazer parte da minha vida
depois que conversarmos amanhã. Você pode
entender isso?
Eu entendia, ela estava me dizendo que após
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conversar com o presidiário, no dia seguinte, estaria


liberada para mim, só que o meu pau não era assim
tão paciente a ponto de esperar por vinte e quatro
horas. Eu a queria naquele momento e já que ela
dissera que todo o seu corpo também me queria,
não havia nada que pudesse nos impedir.
— Que se foda o adultério. Eu quero você,
você me quer, e isso é só o que importa.
Seguindo a um impulso incontrolável, segurei
em seu pulso e a puxei para mim, fazendo com que
caísse sentada em meu colo, segurei firmemente em
seus cabelos, atrás da cabeça, para que não tivesse a
mínima chance de escapar, e enlacei sua cintura
com o outro braço, para no instante seguinte
apossar-me de sua boca, pressionando os meus
lábios nos seus, impetuosamente, enquanto ela
lutava, esmurrando o meu peito com os punhos
cerrados, na fracassada tentativa de se libertar.
Segurei seu lábio inferior entre os meus e
suguei suavemente, antes de introduzir minha
língua entre eles, acariciando a sua, uma luxúria
fervorosa ganhando vida dentro de mim e foi então
que Madison se rendeu, amolecendo toda em meus
braços, enterrando seus dedos longos e delicados
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em meus cabelos, ao mesmo tempo em que movia a


sua língua de encontro à minha, suscitando o mais
selvagem dos desejos em meu interior, deixando-
me duro como uma pedra.
Sem soltar os seus cabelos, só para o caso de
ela tentar fugir de novo, arrastei minha boca através
da pele macia do seu pescoço, extasiado com o seu
sabor, com o cheiro gostoso do seu perfume,
magnificamente feminino.
— Vamos para o meu apartamento, Madison.
Eu quero ter você esta noite e quero demais.
Consegue perceber isso? — Empurrei-a
ligeiramente para baixo, pressionando mais sua
bunda de encontro à minha ereção, quando então
ela arfou em cima de mim.
— Eu não posso fazer isso. É tão errado... —
Sua voz soou arrastada, por causa da respiração
pesada. — Mas ao mesmo tempo é tão tentador...
Você é a minha perdição, Lowell...
Sem aviso prévio, ela mudou de posição sobre
mim, montando em meu colo, os joelhos apoiados
no estofado, uma perna de cada lado. Posicionou o
seu sexo bem em cima da minha ereção e moveu
seus quadris para frente para trás, o calor da sua
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excitação atravessando o tecido das roupas,


fazendo-me soltar um gemido, o mais fervoroso
tesão invadindo-me.
— Porra... Assim você me deixa louco…
Novamente, me apossei da boca dela, segurei
seu lábio inferior entre os meus dentes, sem fazer
pressão e suguei-o, uma fome descomedida
gritando dentro de mim. Em seguida, infiltrei
novamente minha língua entre os seus lábios e ela a
chupou, voluptuosa e deliciosamente.
Puta merda! Como uma garota tão tímida
conseguia ser ao meso tempo quente e gostosa a
ponto de quase me levar à loucura?
Perdido de desejo,enfiei minhas duas mãos sob
sua camiseta, suspendi o sutiã pequeno e as
espalmei sobre seus seios empinados, minha pele
ardendo em brasas ao acariciar os mamilos duros e
delicados. Com uma pressa absurda, arranquei a
camiseta pela cabeça dela e coloquei um dos
mamilos na boca, pressionando-o entre meus dentes
superiores e inferiores, para em seguida sugá-lo
com fome, seus gemidos dengosos se fazendo no
interior da limusine, enquanto sua cabeça era
arremetida para trás.
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— Lowell... precisamos sair daqui... Lucas


pode entrar a qualquer momento...
Foi então que me dei conta de que estávamos
parados diante do prédio dela. Realmente havia o
risco de o garoto descer e entrar na limusine. Então,
abri uma brecha no vidro que nos separava do
motorista e ordenei que ele circulasse pela cidade
até que eu mandasse parar. No instante seguinte,
estávamos em movimento pelas ruas de Orlando, a
película no vidro ocultando nossa intimidade das
pessoas lá fora.
Madison continuava movendo seus quadris em
cima de mim, esfregando-se na minha ereção,
quando enfiou suas mãos delicadas sob minha
camisa e a tirou pela cabeça, percorrendo seus
dedos pelos contornos dos meus músculos, ao
mesmo tempo em que eu levava minha boca para o
seu outro peito e circulava o seu mamilo moreno,
com a ponta da minha língua, antes de abocanhar e
chupar.
Segurei dos dois lados da sua cintura e a tirei
de cima de mim, fazendo com que se deitasse no
assento. Apressadamente, abri o fecho dos seus
jeans eu tirei pelos pés, junto com a calcinha,
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recuando alguns centímetros para contemplar a sua


enlouquecedora nudez.
Puta merda! Como era linda! Tinha a silhueta
longa, a cintura bem desenhada, aquela pele
morena que dava água na boca, as pernas firmes e
longas.
Tomado por uma ânsia quase obsessiva de me
enterrar todo naquela bocetinha peluda, livrei-me
rapidamente das minhas roupas, tirei um
preservativo da carteira no bolso da calça e me
cobri, para em seguida voltar a me sentar e a puxar
para cima de mim.
— Senta no meu pau, Madison. Deixe-me
sentir essa boceta quente me apertando. — Minha
voz saiu arrastada, devido à respiração ofegante.
Sem hesitar, Madison montou em meu colo,
um joelho de cada lado. Encaixou sua entrada
lambuzada na minha glande e foi descendo
devagar, hesitantemente. Só que eu tinha pressa,
estava excitado demais para esperar, então segurei
dos dois lados dos seus quadris e fiz com que
descesse com o único movimento, enterrando-me
nela até o fundo, quando pude sentir seus lábios
lambuzados tocando minha pélvis e sua vagina
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quente, úmida e apertada, latejando em volta do


meu pau, o que quase me levou à loucura.
Caralho! Como ela era gostosa! Tão quente e
tão feminina.
Madison soltou um gemido alto e pendeu seus
quadris para um lado, tentando escapar da minha
ereção, mas ela precisava se acostumar com o meu
tamanho, já que eu não pretendia deixá-la tão cedo.
Então, segurei novamente seus quadris e voltei a
firma-lá em cima de mim, alcançando-a ainda mais
fundo.
— Rebola no meu pau, Madison. — Ordenei.
Com um gemido rouco, ela apoiou as duas
mãos em meus ombros e começou a mover seus
quadris, para cima e para baixo, depois em círculos,
enquanto eu mantinha meus olhos fixos nos dela,
extasiado com a expressão de prazer que se refletia
em seu olhar à medida que ela ia perdendo o medo,
ao mesmo tempo em que acelerava os movimentos.
Agindo como um faminto, levei minha boca
novamente a um dos seus seios, circulando o
mamilo com a ponta da minha língua, antes de
mamar forte e demoradamente, enquanto minhas
mãos passeavam livremente pelo seu corpo,
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acariciando sua pele deliciosamente macia.


Acariciei sua bunda e a apertei dos dois lados, com
força, para em seguida desferir-lhe uma palmada
estalada e Madison soltou um gritinho.
Passei os dedos na fenda entre suas nádegas e
todo o meu corpo vibrou de tesão quando o toquei
o ânus pequeno. Guiado por esse tesão insano,
lambuzei o meu dedo do meio na sua lubrificação e
o pressionei de encontro ao seu orifício menor,
buscando passagem, tentando entrar. Quando
inserir o primeiro centímetro, o corpo dela
estremeceu todo e tive certeza de que comeria
aquele cuzinho, quando estivéssemos mais
confortáveis.
Sem que Madison deixasse de se mover em
cima de mim, fazendo com que meu pau dançasse
dentro do seu canal apertado, lambuzei outro dedo
com os seus líquidos e enterrei os dois ali atrás, ao
mesmo tempo, dando início ao movimento de vai e
vem no seu orifício menor, ao entra e sai, quando
os seus gemidos tornaram-se ainda mais altos,
palavras desconexas escapando da sua garganta.
— Ah, Lowell, eu vou... eu vou... gozar... —
balbuciou ela, seu corpo todo se retesando. —
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Ainda não. Espera por mim.


Segurei firmemente em seus quadris, forçando-
a a ficar imóvel, com meu pau enterrado nela até a
raiz, enquanto as paredes do seu canal pulsavam em
volta da minha rigidez, quase me levando à
loucura.
— Caralho! Assim você me deixa louco.
— Lowell... Por favor... Lowell... — Não havia
nada mais prazeroso do que o meu nome sendo
pronunciado por sua voz linda, implorando pelo
orgasmo que ameaçava explodir em suas entranhas
a qualquer momento.
Eu também estava muito perto de gozar, mas
queria mais, precisava de mais. Estar dentro dela
nunca parecia o suficiente. Então, modifiquei nossa
posição no assento, deitando-a de costas e me
colocando inteiro sobre ela, apoiando o peso do
meu corpo nos cotovelos, experimentando o
acariciar dos seus mamilos duros em meu tórax
rijo. Capturei novamente sua boca com a minha,
fazendo com que ela chupasse minha língua,
enquanto movia meus quadris vagarosamente,
entrando e saindo do seu interior, alcançando-a
fundo, retirando-me e entrando de novo, apreciando
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a forma como ela movia seus quadris ansiosamente


sob mim, tentando acelerar os movimentos sem que
eu permitisse.
— Queria passar a noite toda dentro de você.
— Praticamente gemi na boca dela.
— Eu queria também. Hoje não vai dar, mas
temos o amanhã e talvez o depois de manhã.
— E se aquele sujeito não permitir que você o
deixe.
Senti-a estremecer ligeiramente sob mim e
amaldiçoei a mim mesmo por ter tocado naquele
assunto.
Porra! Onde eu estava com a cabeça para
lembrá-la que ela tinha outra pessoa?
— Ele não tem esse direito. Eu quero ser sua e
somente sua. Por quanto tempo você me quiser.
Suas palavras foram o estopim, não consegui
mais me segurar e movi meus quadris mais
depressa, penetrando-a mais fundo e mais forte,
permitindo que o orgasmo me engolfasse e me
esvaí dentro dela, jorrando forte, com abundância,
ao mesmo tempo em que a observava gozando
debaixo de mim, seu corpo todo se contorcendo e
vibrando, seus gemidos se transformando em
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gritos, as lágrimas fugindo dos seus olhos, sem que


eu conseguisse deixar de registrar cada instante.
Por fim, ficamos imóveis, nossos corpos
suados, grudados um no outro, o som da nossa
respiração audível dentro do automóvel. Madison
fechou os seus olhos e os manteve assim por um
longo momento, sem que em nenhum instante eu
conseguisse desviar meu olhar do seu rosto,
fascinado, hipnotizado por sua beleza e pela sua
feminilidade. Quando os abriu novamente, sua boca
linda se curvou em sorriso largo, que me deixou
ainda mais encantado.
— Será que o motorista nos ouviu? — Indagou
ela, sua face linda assumindo um tom avermelhado,
ao mesmo tempo em que suas mãos passeavam
pelas minhas costas, preguiçosamente.
— Ele não é nenhuma criança, mesmo que não
tivesse nos ouvido, deve ter deduzido o que
estamos fazendo.
A face dela corou ainda mais, ao passo em que
seu queixo caía e tudo o que consegui foi me
entregar a um sorriso.
— Você sempre faz isso dentro do carro? —
Perguntou ela.
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— Nem sempre, mas pretendo fazer com mais


frequência. Pelo menos todas as vezes que você
estiver aqui.
Ela sorriu mais amplamente e então ficou séria.
— Preciso voltar para casa.
Com relutância eu a deixei. Tirei o preservativo
usado, dispensando-o em uma pequena lixeira e nos
vestimos, para que em seguida eu pedisse que o
motorista nos levasse de volta.

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CAPÍTULO XVII

Madison

Errar é humano, permanecer no erro é tolice.


Era o que eu vinha repetindo para mim mesma
desde a noite anterior, quando tive relações sexuais
com Lowell na limusine. Ter transado com ele
antes de terminar tudo com Jerry foi um erro
absurdo, repetir esse erro, sem antes conversar com
pai do meu filho, foi uma tolice sem tamanho. Não
que eu estivesse arrependida, ou que não tivesse
gostado, pelo contrário, foi simplesmente perfeito e
inesquecível. O problema era que eu havia me
tornado uma adúltera de carteirinha, uma pessoa do
tipo que sempre condenei, do tipo que trai alguém
pelas costas. E o pior nessa história, era que eu não
conseguia me sentir assim, não conseguia sentir
que havia feito algo errado, não em meu coração.
Pela primeira vez na vida eu fazia exatamente o que
queria, pela primeira vez, desde que me tornei
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adulta, eu ousava seguir o meu coração e não agir


pela obrigação de ter alguém ao meu lado.
O fato de eu não me sentir mal por trair Jerry,
era imperdoável.
Acordei cedo naquele domingo, decidida a ir
falar com ele no primeiro horário de visitas do
presídio. Enquanto pensava sobre o que diria, tomei
um banho frio demorado, sequei os cabelos e me
vesti. Durante o café da manhã, tomado junto com
Lucas e Ivone na cozinha, comuniquei aos dois que
faria a visita sozinha naquele dia e Lucas ficou
indignado. Queria ver o pai de qualquer jeito e
presumi o quanto ele se sentiria afetado quando
soubesse sobre a separação. Seria um choque a
princípio, porém eu sabia que também seria o
melhor para o meu filho, pois Jerry jamais mudaria
o seu jeito torto de viver e se Lucas crescesse sob
sua proteção certamente se tornaria um ser humano
desprovido de responsabilidades e compromissos,
com tendência a cometer delitos para conseguir o
próprio sustento e eu não queria isso para o meu
filho. Criá-lo sozinha certamente seria a melhor
opção.
Deixei o prédio com meu estômago revirando,
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tremendo por dentro ao imaginar a reação de Jerry,


o sofrimento que eu o infringiria ao terminar nossa
relação. No mínimo ele ia querer saber o motivo da
minha decisão e eu não tinha certeza se estava
preparada para falar sobre minha história com
Lowell, até porque ele não era o único motivo pelo
qual eu pretendia me separar, o desejo de tornar-me
independente, de livrar-me de alguém que tomava
tantas decisões erradas, que colocava a minha
segurança e a do meu filho em risco todos os dias,
também falava alto dentro de mim. Isso tudo sem
mencionar que se algum dia existiu amor entre mim
e Jerry, esse amor havia acabado.
Fiquei surpresa ao encontrar a limusine de
Lowell parada na frente do prédio quando saí, o
motorista dele ao lado da porta, esperando por
mim.
— Srta. Oliveira, o senhor Dixon mandou-me
vir levá-la até Kissimmee. — Anunciou o
motorista, abrindo a porta para que eu entrasse.
Imediatamente pensei em recusar, afinal seria
muita crueldade da minha parte aparecer no
presídio para visitar meu marido usando o carro de
outro homem, do homem com quem eu o havia
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traído, porém logo me ocorreu que ele jamais


saberia, visto que a limusine ficaria do lado de fora.
— Obrigada. Foi muita gentileza de Lowell. —
Agradeci e entrei rapidamente, para que em seguida
o homem fechasse a porta pelo lado de fora e nos
colocasse em movimento, através das ruas
movimentadas da cidade.
Sobre um dos assentos, no interior do veículo,
o mesmo no qual eu estivera com Lowell na noite
anterior, havia um buquê de rosas vermelhas lindo
de viver e dentro dele um bilhetinho. Peguei
primeiro o bilhete, só para ter certeza de que as
flores eram mesmo para mim.
Foi maravilhoso estar com você
ontem. Espero que se repita muitas
outras vezes. Tenha um ótimo domingo.
Lowell.
Era o que estava escrito no bilhete e,
involuntariamente, os meus lábios dobraram-se em
um sorriso, um punhado de pensamentos eróticos
invadindo a minha mente.
Fui uma das primeiras a entrar na grande sala
de visitas do presídio de segurança mínima. Fiquei
chocada quando avistei Jerry se aproximando,
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sendo escoltado por um dos guardas. O rosto dele


estava completamente desfigurado, quase
irreconhecível. Havia hematomas roxos em torno
dos seus olhos, suas bochechas estavam inchadas,
um corte, com alguns pontos, dividia sua testa ao
meio, e pela forma incerta como ele caminhava,
constatei que não era apenas o seu rosto que estava
machucado.
— Por Deus! O que aconteceu com você?! —
Fui encontrá-lo antes mesmo que alcançasse a mesa
a qual eu estava, minha cabeça girando, mil
possibilidades se passando pelos meus
pensamentos.
Mesmo burlando as normas, Jerry me abraçou
apertado, um abraço que durou pouco, apenas até
que o guarda nos separasse.
— Nada de abraços. — Vociferou o guarda.
— Você precisa me tirar daqui, Madison, não
dá mais para ficar. — Havia angústia no tom da sua
voz, assim como na expressão do seu olhar.
— Diga-me quem fez isso com você. — A
aflição encheu o meu peito, enquanto eu o
observava de perto.
Jerry sempre foi bom de briga. Para que
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estivesse naquele estado provavelmente fora


atacado por mais de uma pessoa ao mesmo tempo.
— Conversem sentados a uma das mesas. — O
guarda falou rispidamente e nos acomodamos na
mesa mais próxima, um de cada lado, de frente um
para o outro.
— Chegaram uns caras novos aqui. Eles fazem
parte de uma quadrilha de traficantes para a qual
trabalhei há muitos anos. Para conseguir me
desligar dessa quadrilha, eu precisei negociar com
um policial e entreguei alguns nomes em troca da
minha liberdade. Agora que estão aqui, eles querem
acabar comigo. Estão me chamando de X9 e vão
me matar se eu não sair daqui. Por favor, Madison,
me ajude. Minha vida agora está em suas mãos.
Vagarosamente, processei suas palavras e
fiquei aflita, sobressaltada. O assunto que eu viera
tratar com ele subitamente deixou de ter qualquer
relevância.
— Como eu posso tirar você daqui? O
advogado quer dez mil. Não tenho todo esse
dinheiro. Diz-me o que posso fazer e eu farei.
Eu devia isso a Jerry, não apenas porque ele era
o pai do meu filho, mas também porque quando
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precisei de proteção e de liberdade, ele foi o único


que me estendeu a mão. Fora ele quem me livrara
daquele maldito pedófilo, sem ele eu poderia ter me
tornado qualquer coisa, até uma prostituta, afinal
quando o conheci estava disposta a tudo para sair
daquela maldita casa, até de me prostituir para dar
o sustento a mim e a minha mãe.
— Eu andei pensando bastante. Acho que esse
seu chefe está afim de você. Ele tem muito
dinheiro. Eu podia dizer para você pedir
emprestado, mas quando um homem deseja uma
mulher ele não empresta dinheiro para que o
marido dessa mulher saia da cadeia, então você
precisa ser esperta e tirar esse dinheiro dele, sem
que ele saiba o motivo.
Suas palavras me fizeram ficar gelada, o
sangue fugindo da minha face, sem que eu tivesse
certeza se conseguia esconder essa reação dos seus
olhos atentos.
— Como eu posso tirar esse dinheiro dele?
Jerry observou-me em silêncio por um longo
momento e tive a impressão de que podia enxergar
dentro de mim, de que sabia sobre o que acontecera
entre mim e Lowell, o que me fez ficar ainda mais
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gelada e só então percebi que eu jamais seria capaz


de confessar o que havia feito, mesmo que não o
tivesse encontrado naquele estado, teria terminado
nossa relação sem mencionar a traição que havia
cometido.
— Você é mulher, Madison. É uma mulher
linda, pode levar qualquer homem à perdição. Finja
que está afim dele, que está correspondendo ao que
ele quer e peça o dinheiro. Ele não vai nem
perguntar para que tanta grana.
Eu ficava mais perplexa a cada palavra que saía
de sua boca. Ele realmente estava me mandando
correr para os braços de outro homem? O cara com
quem vivi por mais de sete anos, com quem tive um
filho, estava realmente mandando eu me vender a
outro em troca da sua liberdade? Parecia mentira,
mas era pura realidade e naquele instante entendi
que Jerry jamais me amou verdadeiramente, pois
quem ama de verdade não concorda em dividir e
embora me dissesse para apenas me insinuar a
Lowell, ele sabia que o meu chefe jamais me daria
todo esse dinheiro sem ter nada comigo.
Instintivamente abracei o meu próprio corpo,
um embrulho incômodo se fazendo na boca do meu
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estômago. De súbito eu já não me sentia mais tão


culpada por tê-lo traído.
— Não posso fazer isso. E nem acredito que
você está me pedindo para dar mole para outro
homem.
Nesse instante, a expressão nos olhos dele
mudou, a angústia deu lugar a uma raiva absurda.
— Você pode e vai fazer sim! Você me deve
isso, Madison. Eu concordei em não contar à
polícia que você participou daquele assalto, para
que você ficasse lá fora cuidando do nosso filho,
mas não te garanto que vou continuar de boca
fechada se você se recusar a me tirar daqui. Então
se você tem um pouco de amor por Lucas, vai dar
um jeito de arrancar o dinheiro do seu chefe, e se
for necessário que você vá para a cama com ele,
para conseguir esse dinheiro, você irá.
Suas palavras me deixaram chocada. Jerry não
estava apenas me mandando dormir com outro
homem, estava também me chantageando. Como
podia fazer isso? Ele era o pai do meu filho. Como
podia ter vivido todo esse tempo ao meu lado sem
jamais ter me amado? E quanto a mim, como fui
capaz de viver todos esses anos ao seu lado sem
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jamais conhecê-lo realmente? Sem jamais ver esse


lado que ele acabava de revelar?
Minha nossa! Como consegui conviver por
tantos anos com Jerry sem saber quem ele
realmente era?
Se existia algum vestígio de remorso, ou culpa,
por ter dormido com Lowell, sem antes terminar o
nosso relacionamento, essa culpa acabava de ser
dissipada.
— Eu não acredito! Você está realmente me
ameaçando? Está realmente me dizendo que vai me
colocar na cadeia se eu não tirar você daqui?
Jerry abaixou a cabeça, afundando o rosto entre
as mãos, em um gesto de desespero. A angústia
estava novamente refletida em seus olhos castanhos
quando ele voltou a me encarar.
— Acredite, eu não queria fazer isso, tampouco
queria te mandar dormir com outro homem, porque
eu amo você. Acredite Madison, você e Lucas são
as pessoas mais importantes da minha vida, mas eu
estou desesperado. Não tenho outra forma de sair
daqui a não ser desse jeito. Basta que você peça o
dinheiro a ele, diga que é para pagar uma dívida.
Não fale sobre mim, ou ele não te dará. Se ele
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exigir, você dorme com ele, depois fazemos de


conta que isso não aconteceu e seguimos nossa vida
como antes.
Puta merda! Eu não tinha nem palavras para
responder àquilo. Apesar do receio de ser privada
da minha liberdade, de ficar longe do meu filho,
caso ele decidisse abrir a boca sobre eu ter
participado daquele assalto, eu não conseguia
afastar o fato de que ele me empurrava para os
braços de outro homem, como se eu fosse um
objeto, como se jamais tivesse significado algo em
sua vida. Por outro lado, a forma como ele agia me
fazia sentir menos culpada por tê-lo traído e me
incentivava ainda mais a terminar tudo entre nós.
— Eu vou ver o que posso fazer, Jerry. Não
diga à polícia que eu estava no volante do carro que
tiraria vocês da joalheria no dia daquele assalto.
Nosso filho precisa de mim lá fora para cuidar dele.
Eu vou dar um jeito. Vou tirar você daqui, de um
jeito ou de outro.
— Eu sabia que podia contar com você.
Quando sair daqui, eu prometo que tudo voltará a
ser como antes. Vou levar vocês dois de volta para
Palm Beach Gardens. Seremos uma família de
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novo e tudo será esquecido. Vai ser como se esse


cara nunca tivesse chegado perto de você.
Permaneci em silêncio, segurando-me para não
falar a verdade, para não dizer a ele que não éramos
mais uma família, que eu o visitava com a intenção
de acabar com a nossa relação. No fim das contas,
preferi adiar essa conversa, visto que ele já estava
abalado demais com toda aquela situação, eu não
podia pisoteá-lo ainda mais. Isso só serviria para
atiçar ainda mais sua fúria. Daria um jeito de
conseguir aquele dinheiro, sem precisar pedir a
Lowell, e depois que o tirasse da cadeia diria a ele
que não estávamos mais juntos e não éramos mais
uma família.
Quando deixei o presídio, pedi que o motorista
me levasse direto para o apartamento de Lowell. Eu
só queria estar nos braços dele, experimentar o
sabor da sua boca, sentir o seu cheiro gostoso, com
a certeza de que estava livre para ser sua, sem que
estivesse traindo ninguém, porque afinal o
relacionamento que eu tinha há sete anos sempre
foi uma farsa. Jerry jamais me amou ou sequer me
respeitava e de alguma forma, isso me deixava
aliviada, com uma compensadora sensação de
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liberdade, a liberdade de viver outra paixão.


Outra certeza que eu tinha era que não pediria
dinheiro nenhum a Lowell, para tirar Jerry da
cadeia. Primeiro porque não queria que ele
soubesse o motivo pelo qual eu estava sendo
chantageada, não queria que soubesse que eu
também era uma criminosa que participou daquele
assalto, mesmo que não tivesse sido algo planejado.
Lowell não me aceitaria em sua vida se a verdade
viesse à tona e perdê-lo era algo que eu sequer
podia cogitar. Segundo, porque se eu dissesse a
Lowell que pretendia usar esse dinheiro para tirar
Jerry da cadeia, sem ter terminado nossa relação,
ele jamais acreditaria que eu não amava o pai do
meu filho e que nada mais existia entre nós.
Certamente duvidaria dos meus sentimentos.
Daria um jeito de conseguir esse dinheiro de
outra forma. Podia procurar o dono da agência de
modelos que falara comigo durante a festa de
aniversário de Edward. Havia perdido o cartão dele
no banheiro naquela noite, mas bastava que
perguntasse a Lowell, ou a qualquer outra pessoa
que o conhecia, sobre onde ficava sua agência e o
procurasse. Não seriam necessárias muitas fotos
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para que se conseguisse dez mil dólares nesse


ramo. Talvez apenas algumas poucas sessões.
À medida que nos aproximávamos do
apartamento de Lowell, eu começava a me
arrepender de ter ido até lá sem avisar. E se ele
estivesse com outra mulher? Eu não teria o direito
de reclamar, afinal ele jamais me prometeu nada,
jamais disse que queria um relacionamento sério,
nunca tocou no assunto.
Mesmo com as mãos trêmulas e o estômago
revirando de nervosismo, muni-me de toda a minha
coragem, saltei da limusine, subi e toquei na
campainha do apartamento dele. Esperei um pouco
e nada. Já estava cogitando dar meia volta e ir
embora, quando por fim a porta abriu-se e a visão
mais bela que uma mulher podia ter, revelou-se
diante dos meus olhos. Lowell usava apenas uma
calça de moletom folgada, exibindo o corpo
atlético, formado por músculos bem definidos.
Uma camada de pelos negros cobria o seu tórax e
descia pelo abdômen, desaparecendo no cós da
calça, despertando-me um desejo quase insano de
puxar os cordões daquele cós e abaixar aquela
calça, só para dar uma olhadinha em onde aqueles
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pelos terminavam.
O pensamento me causou um formigamento
abaixo do umbigo.
O rosto de Lowell estava inchado, como se ele
tivesse acabado de acordar e seus cabelos estavam
completamente emaranhados.
— Estou atrapalhando você? — Indaguei, com
o coração na mão, temendo que ele estivesse
acompanhado.
— Claro que não. Você nunca atrapalha. Vem
aqui.
Ele fechou sua mão sobre meu pulso e me
puxou de encontro ao seu corpo masculino, fechou
a porta atrás das minhas costas e me estreitou em
seus braços fortes, apertando-me, fazendo-me sentir
ao mesmo tempo acolhida e excitada.
— Como foi lá? Tudo resolvido? — Lowell
indagou.
— Tudo resolvido. — Soltei, sem pensar,
encontrando dificuldade em fitá-lo no rosto, quando
ele afastou-se para me encarar. — Não existe mais
nada entre mim e Jerry.
Eu não queria mentir, mas não tive coragem de
dizer que não havia terminado com Jerry.
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Madison. Você é uma covarde.


A desconfiança se estampou na expressão do
seu olhar e senti minha face enrubescendo.
Fala a verdade pra ele. Ele vai entender.
— Mas foi assim tão fácil? Ele aceitou numa
boa?
— Não havia motivo para que não aceitasse. —
Sem conseguir mais fitá-lo no rosto, passei por ele,
avançando pela sala enorme, mobiliário de forma
tão sofisticada que dava medo de tocar em alguma
coisa e quebrar algo que poderia valer cinquenta
anos do meu salário. — Você está sozinho?
— Mas é claro que estou. Acordei cedo para
uma reunião e acabei pegando no sono de novo.
Você quer beber alguma coisa?
Ainda não era nem meio dia. Estava cedo
demais para beber.
— Não. Eu só quero ficar com você.
Lowell me encarou em silêncio por um
instante, como se me analisasse, até que por fim
eliminou a distância entre nós, com apenas dois
passos. Abraçou-me novamente pela cintura,
pressionando seu corpo grande e másculo no meu,
para que no instante seguinte sua boca tomasse a
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minha, em um beijo ávido, apaixonado e


arrebatador, que conseguiu despertar o mais
fervoroso desejo dentro de mim. O centro das
minhas pernas pulsou de ansiedade, a umidade
alcançou rapidamente o tecido da minha calcinha,
meus seios se tornaram tão sensíveis que meus
mamilos chegaram a ficar doloridos, da forma
como jamais foi com outro homem.
Percebendo a urgência do meu corpo pelo dele,
Lowell empurrou-me até a parede mais próxima,
enfiou a mão sob a saia rodada do meu vestido,
afastou o tecido delicado da calcinha para o lado e
mergulhou seus dedos entre os meus lábios
vaginais, fazendo movimentos circulares na minha
entrada lambuzada, para depois massagear meu
clitóris, enviando ondas de tesão que se alastravam
por todo o meu corpo, tão ardentes que chegavam a
ser dolorosas.
Com experiência, ele desceu sua boca gostosa
através da pele do meu pescoço, mordeu o bico dos
meus seios por sobre o tecido do vestido, fazendo-
me soltar um gemido e continuou descendo, até
nivelar o seu rosto com o meu sexo, quando então
usou seus dois polegares para afastar meus grandes
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lábios e passou sua língua, quente e úmida, direto


na fenda entre eles, me causando a sensação de que
todo o meu corpo estava em chamas, fazendo-me
gritar do mais insano prazer.
Da mesma forma que fez com os dedos, ele
circulou a entrada da minha vagina com a ponta da
sua língua, para em seguida movê-la freneticamente
sobre o meu ponto sensível, quase me tirando a
sanidade.
Tomada pelo mais primitivo dos desejos,
enterrei meus dedos em seus cabelos curtos, apoiei
minhas costas na parede e movi meus quadris para
a frente, esfregando o meu sexo na boca dele, de
forma desavergonhada, meu corpo todo tremendo,
ameaçando explodir no gozo a qualquer momento.
Quando todos os meus músculos se retesaram,
anunciando a chegada do orgasmo, Lowell afastou
parcialmente sua boca, como se a intenção fosse me
torturar com a espera. Introduziu dois dedos na
minha vagina lubrificada e passou a movê-los em
vai e vem dentro de mim, vagarosamente,
tortuosamente, até me fazer implorar.
— Lowell... Por favor... Por favor... Por favor...
— As palavras saltavam desconectas da minha
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garganta.
Então, ele trouxe sua boca novamente para a
minha intimidade, fechou os lábios sobre o meu
clitóris e sugou suavemente, ao mesmo tempo em
que continuava penetrando-me com os dedos,
movendo-os cada vez mais depressa, levando-os
muito fundo em meu canal e foi assim que alcancei
a libertação, gozando , gritando e chamando pelo
nome dele, pela primeira vez sem culpa e sem
remorso.
Quando me aquietei, Lowell trouxe sua boca
para a minha e me beijou com uma fome absurda,
chupando minha língua, me fazendo chupar a dele.
— Não há nada que eu possa apreciar mais que
o seu sabor. — Sussurrou, na minha boca,
reacendendo o tesão dentro de mim.
— Lowell... Quero você inteiro...
— Então peça.
— Faça-me sua hoje.
— O dia inteiro?
— Sim... O dia inteiro.
Com isto, ele ergueu-me em seus braços fortes
e carregou-me para o seu quarto, onde me entreguei
sem reservas, com a certeza de que não estava
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cometendo adultério, porque afinal não era traição


quando o homem que deveria ser o meu
companheiro me empurrava para os braços de
outro.
Não saímos do apartamento naquele dia.
Quando a fome e o cansaço nos venceram, lá pelo
meio da tarde, Lowell pediu comida em um
restaurante francês e fizemos a refeição no terraço,
onde havia uma piscina enorme e várias plantas
exóticas sob os raios quentes do sol, com a brisa
fresca nos acariciando e o pico dos edifícios
luxuosos aos nossos pés.
— A partir de amanhã você não servirá mais
café. Será a minha assistente pessoal, dentro da
empresa. — Lowell disse, subitamente, enquanto
saboreávamos o coq au vin e fiquei surpresa.
Havíamos acabado de sair de uma sessão
intensa de sexo na hidromassagem, ainda tínhamos
os cabelos molhados e usávamos roupões
atoalhados e mais nada.
— Se você me der um cargo tão alto e as
pessoas descobrirem que estamos dormindo juntos,
vão achar que é por interesse. Melhor continuar
servindo o café mesmo.
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— E você se importa com que as pessoas


pensam? Deixe que falem o que quiserem e que
pensem o que quiserem. Eu não ligo a mínima. E se
alguém te disser algo sobre isso, ou pelo menos te
olhar de cara feia, será demitido na mesma hora.
Ele deu de ombros e sorriu. Apesar do dia
incrível que estava tendo, eu não conseguia relaxar
por completo, preocupada por ter mentido para ele,
com o que estava acontecendo com Jerry, com o
fato de que o pai do meu filho podia ser
assassinado na cadeia a qualquer momento. Eu
precisava dar um jeito de conseguir o dinheiro de
pagar o advogado sem ter que pedir a Lowell. Ele
jamais acreditaria que eu estava com ele porque
queria e não por interesse, se eu pedisse dinheiro
para tirar o pai do meu filho da cadeia e se havia
uma coisa que eu me recusava fazer, essa coisa era
magoá-lo.
— Na verdade, estou pensando em procurar o
dono daquela agência de modelos que falou comigo
durante a festa de aniversário de Edward. Quero
fazer algumas fotos, mas perdi o cartão que ele me
deu. Você sabe onde posso encontrá-lo?
— Saber eu sei, mas não quero fotos suas em
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uma revista para que um bando de tarados se


masturbe olhando para você.
Não consegui me conter e gargalhei alto.
— Não seja antiquado. Não vou posar nua em
hipótese alguma. Posarei apenas para revistas de
moda.
— Fora de cogitação. Você está comigo agora
e mulher minha não posa para revista nenhuma. —
Cacete! O que eu ia fazer agora? — Mas por que o
interesse, você está precisando de dinheiro?
Subitamente, o sangue fugiu da minha face, um
bolo incômodo se formando na altura do meu
estômago.
— Não é pelo dinheiro. É pela satisfação
pessoal mesmo. Que garota nunca sonhou em se
tornar modelo? — Menti, desviando o meu olhar
para a comida sobre a mesa.
— Nesse caso, vou comprar uma revista para
que você seja a modelo oficial. Mas como o
proprietário da revista, me reservo o direito de
decidir cada modelo de roupa que você vai usar na
frente das câmeras.
Apesar de ele estar se mostrando um grande
machista e ao mesmo tempo dificultando as coisas
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para o meu lado, novamente não consegui conter o


sorriso.

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CAPÍTULO XVIII

— Mesmo assim, eu não posso ser sua


assistente pessoal. As pessoas são tão bem vestidas
naquela empresa que eu me sentiria mal com
minhas roupas de mendiga entre elas. De jeito
nenhum vou embarcar nessa. Deixe-me continuar
servindo o café, onde ninguém vai me notar.
— Roupas não será um problema. Amanhã de
manhã trarei as melhores lojas da cidade até aqui
para que você escolha tudo o que precisa.
— Não seja exagerado, Lowell.
— Não estou sendo exagerado. Você merece
tudo do bom e do melhor. Além do mais, já faz um
tempo que estou querendo reformar esse seu visual
de gata borralheira. Não que você não fique bem,
você fica linda com tudo o que usa e
principalmente quando não está usando nada, mas a
namorada de um empresário precisa estar à altura
dele, em todos os aspectos.
Quanto mais ele falava, mais surpresa eu
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ficava.
— Namorada? Achei que você não quisesse
um relacionamento sério.
— Eu nunca disse isso. Foi você quem colocou
essas palavras na minha boca.
— Então agora somos oficialmente
namorados?
— Oficialmente namorados. Você é somente
minha e eu sou todo seu.
Minha nossa! Ele estava sendo um fofo, mais
que isso, estava se mostrando apaixonante,
enquanto que eu me comportava como uma
verdadeira megera, inventando mentiras, me
acovardando em romper minha relação com Jerry.
Se essa mentira algum dia fizesse com que Lowell
me deixasse, eu jamais me perdoaria. Mas eu não
permitiria que isso acontecesse, assim que criasse
coragem, diria a verdade, não deixaria que nada nos
separasse.
— Confesso que estou surpresa. Não achei que
você fosse o tipo de homem que assume um
compromisso sério.
— Na verdade, eu não era até conhecer você.
— Ele soltou o garfo sobre o prato com a comida,
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segurou minhas mãos entre as suas e olhou dentro


dos meus olhos. — Eu não sei como definir meus
sentimentos com palavras, mas sei que quero estar
com você todos os dias, durante as vinte e quatro
horas do dia e se isso for amor, então eu estou
completamente apaixonado.
Nesse momento, meu coração disparou como
um louco no peito.
— Eu estou apaixonada também, Lowell. Acho
que sempre estive, desde quando era criança,
embora agora seja completamente diferente.
Seus lábios se curvaram em um sorriso tão
magnífico que me coloquei na ponta dos pés e
inclinei-me sobre a mesa para alcançar sua boca
com a minha. Lowell me puxou por cima da mesa,
pratos e talheres caindo para todos os lados e me
fez sentar em seu colo, sem apartar sua boca da
minha.
Minha mão insaciável se infiltrou sob o tecido
do roupão dele e desceu pelos músculos do seu
corpo delicioso, a caminho da sua masculinidade,
quando de súbito ele me interrompeu.
— É realmente uma pena, mas acho que isso
vai ter que ficar para depois. Tenho uma surpresa
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para você e ela deve estar chegando.


— Que surpresa?
— Enquanto você cochilava, mandei que o
motorista fosse até seu apartamento buscar Lucas
para ficar com a gente. — Dessa vez o meu queixo
caiu de perplexidade.
— É sério isso? Eu achei que você não
gostasse de Lucas.
— Mas é claro que eu gosto. Ele é um garoto
tão... tão... — Lowell não conseguia encontrar o
adjetivo e só consegui sorrir da sua tentativa. No
fundo eu sabia que algum dia eles dois se tornariam
amigos. — Além do mais, não quero que você me
diga que precisa ir embora porque quer ficar com
seu filho.
— Obrigada. Você é maravilhoso. — Falei e
plantei uma trilha de beijos da sua orelha até a
altura da sua clavícula, esforçando-me para sufocar
a excitação que o contato com seu corpo e com o
seu cheiro me despertava.
— Tentei convencer Ivone a vir também, mas
ela disse que gosta de assistir séries na Netflix e
não se sente à vontade fazendo isso nas casas
alheias.
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Dessa vez eu gargalhei alto. Desde que nos


mudamos para o apartamento que Lowell nos
cedeu, Ivone havia se viciado nas séries da Netflix
e às vezes ficava até altas horas da madrugada
maratonando-as.
Só tivemos tempo de nos vestirmos e a
campainha tocou. Era o motorista, acompanhado
por Lucas. Ao me enxergar dentro do apartamento,
meu pequenino correu para mim e o segurei em
meus braços, beijando e cheirando sua face infantil,
o afeto transbordando em meu interior.
— Por que você está na casa do cara mau? —
Perguntou ele, fazendo uma carranca ao olhar para
Lowell.
— Ele não é mais um cara mau, meu querido.
Agora é nosso amigo.
Lucas fechou ainda mais a cara, cruzando os
braços na frente do corpo, fazendo beicinho.
— Você acha que vou ser seu amigo só porque
me levou para cavalgar, seu barbudo feio? — Lucas
não era fácil.
— Vamos fazer um acordo, Lucas? — Lowell
propôs.
— O que é um acordo?
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— Eu tenho um jogo de vídeo game com


corrida de carros, muito maneiro. Se você
conseguir me vencer eu deixo você dirigir a minha
limusine todos os dias. Mas se eu vencer, você
nunca mais me chama de cara mau e nem feio. O
que acha?
Lucas olhou para mim como se pedisse a
minha opinião e apenas dei de ombros.
— Mas nada de enfiar cavalos na frente do
nosso acordo. Eu quero dirigir a limusine de
verdade todos os dias. — Lucas falou sério e firme.
— Combinado. — Lowell concordou e os dois
acomodaram-se na frente da televisão, na sala,
dando início ao jogo de carros no videogame,
quando percebi que Lowell estava deixando Lucas
vencer todas as partidas, deliberadamente,
certamente para que aprendesse a jogar antes de
vencê-lo e mais uma vez constatei o quanto aquele
homem era apaixonante.
Qualquer outro no lugar dele teria tentado
comprar o garoto com presentes caros, com
passeios para a Disney, ao invés de simplesmente
tentar conquistar o seu respeito e a sua amizade.
Enquanto ambos se divertiam com o jogo,
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preparei sanduíches e achocolatado para o lanche.


No final do jogo, Lowell venceu apenas para que
Lucas cumprisse a sua parte no acordo e fiquei feliz
ao perceber que meu filho se tornava um pouco
menos hostil com ele, mostrando-se mais à vontade
em sua presença. O que se tornou ainda melhor
quando Lowell o levou para conhecer a piscina no
terraço e mostrou-lhe sua coleção de carrinhos.
Enfim, eu tinha certeza de que em pouco tempo
ambos se tornariam grandes amigos.
Quando a noite caiu, telefonei para Ivone para
avisar que dormiria no apartamento de Lowell.
Acomodei Lucas na cama confortável em um dos
quartos de hóspedes, esperei que ele adormecesse e
voltei para os braços do homem por quem estava
me apaixonando.
Mesmo depois que Lowell adormeceu ao meu
lado na cama, não consegui pegar no sono. Sentia-
me tomada pela sensação de que o estava
enganando, por ter me negado a falar a verdade
sobre ainda não ter rompido minha relação com
Jerry e sobre estar precisando de dinheiro para tirá-
lo da cadeia. Eu nunca fui uma pessoa muito boa
em mentir e minha consciência estava pesada.
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Acabaria com isso no dia seguinte, estava decidida.


Contaria toda a verdade a Lowell, inclusive sobre
ter participado daquele maldito assalto. Se ele
realmente me quisesse em sua vida, teria que
entender. Se não me aceitasse, eu sofreria, mas
entenderia e seguiria em frente, sozinha.
Já estava quase amanhecendo quando consegui
finalmente adormecer e quando acordei, levei um
susto ao constatar que estava sozinha na cama. Na
mesma hora meus pensamentos foram até Lucas,
no quarto ao lado, no quanto devia estar perdido
por acordar em um lugar desconhecido e deixei a
cama com um sobressalto. Só então vi o sobre o
criado mudo o lado da cama, o bilhete com a
caligrafia marcante de Lowell:
Precisei sair cedo para uma
reunião. Você estava adormecida tão
linda e tranquila que não tive coragem
de lhe acordar. Tomei café com Lucas e
agora o levarei na escola. Orientei a
governanta a preparar o que você quiser
para o café da manhã. Às oito horas o
pessoal das lojas de roupas estará aqui
para atendê-la. Divirta-se ;)
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Eu não sabia o que me preocupava mais, se


Lowell ter ido levar Lucas na escola, ou se Lucas
ter ido com ele assim numa boa, sem antes falar
comigo para chamá-lo de cara mau. Por via das
dúvidas, achei melhor telefonar para o meu filho,
só para ter certeza de que estava bem e acabei
interrompendo uma aula de leitura.
Mais tranquila, tomei um banho demorado,
imaginando como seria a minha conversa com
Lowell, como ele reagiria quando eu dissesse que
não havia encontrado coragem para terminar meu
relacionamento com Jerry, que precisava de
dinheiro emprestado para tirá-lo da cadeia e o que
era pior: que havia participado do assalto que o
levara a ser preso. Ia ser uma conversa difícil,
talvez arruinasse as coisas entre nós. Eu realmente
gostaria de poder continuar mentindo, apenas para
não perdê-lo, mas era incapaz continuar
enganando-o.
Vestida com as mesmas roupas que usava no
dia anterior, deixei o quarto e encontrei uma mulher
de cabelos ruivos, gordinha e baixinha, preparando
algo na cozinha. Ao ver-me, ela mostrou-se muito
simpática e apresentou-se como Rose, a governanta
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de Lowell.
— O que você quer para o café da manhã? —
Perguntou, após me cumprimentar.
— Não precisa se incomodar. Eu preparo
alguma coisa, rapidinho.
— Imagina, não é incômodo algum. Esse é o
meu trabalho só diga o que quer e eu preparo.
— Você prepararia qualquer coisa que eu
pedisse? — Eu estava estupefata com tantas
regalias.
— Desde que você não peça alguma coisa cujo
ingrediente não existe nesse país, eu dou conta de
tudo.
Sorri para ela, contagiada com seu bom humor.
Pedi que preparasse apenas algumas panquecas
e café fresco. Estava na metade da refeição quando
a campainha tocou e Rose foi atender a porta.
Quando voltou, informou-me que as pessoas das
lojas de roupas haviam chegado. Minha surpresa
foi colossal quando adentrei a sala e encontrei um
verdadeiro shopping Center montado ali. Estava
abarrotada de pessoas que arrastavam carros-
cabides triplos, cheios de roupas, de diferentes
modelos e estilos. Traziam também acessório,
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calçados, maquiagem e joias. Peças muito lindas e


elegantes. Colocaram tudo à minha disposição, para
que eu escolhesse o que quisesse. Só que eu não
estava com cabeça para nada daquilo. Precisava
conversar com Lowell o mais depressa possível.
Desfazer a mentira que inventei no dia anterior,
falar abertamente com ele e descobrir se ainda ia
me querer em sua vida depois de saber de tudo.
Então, escolhi apenas um vestido para usar
naquele dia, um modelo branco, com gola alta, todo
colado, cuja saia se estendia até a altura dos
joelhos. Peguei as sandálias que mais combinavam
e fui orientada a escolher uma bolsa da mesma cor.
Disse aos vendedores quais eram as minhas
medidas e pedi que Rose escolhesse mais algumas
peças, não muitas, apenas a quantidade que eu
conseguiria levar para o meu apartamento. Prendi
os cabelos em um rabo de cavalo impecável, fiz
uma maquiagem discreta para combinar e saí.
Do lado de fora do prédio, fui recebida pelo
motorista de Lowell, que me esperava com a porta
da limusine aberta e não recusei a carona, deixando
que ele me conduzisse pelas ruas movimentadas e
ensolaradas de Orlando até a Dixon Enterprise.
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Durante todo o tempo havia um frio estranho


em meu estômago, uma espécie de mau
pressentimento e tive quase certeza de que Lowell
não ia mais querer saber de mim após aquela
conversa. Eu poderia continuar mentindo, apenas
para não ter que perdê-lo, mas seria incapaz de
continuar enganando-o.
Ao entrar no edifício suntuoso e sofisticado, fui
abordada pelo rapaz que ficava na recepção.
— Bom dia Sta. Oliveira. Há uma moça aqui
esperando para conversar com você desde cedo.
Ele gesticulou na direção de um dos estofados,
nos fundos hall do prédio, e não consegui
reconhecer a mulher afrodescendente,
elegantemente vestida, que levantou-se e veio em
minha direção, assim que me enxergou.
— Bom dia Sta. Oliveira. Sou Amber
Chapman. Trabalho na agência de modelos de
Donald Parkinson. Acredito que vocês tenham se
conhecido na festa de sábado, no clube da família
Dixon. — Disse a mulher, esboçando um sorriso
simpático, enquanto estendia a mão em
cumprimento.
— Pode me chamar de Madison. — Falei,
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apertando a mão dela. — O que a traz aqui?


— Bem, meu chefe gostaria de fazer alguns
testes fotográficos com você. Como ouvi um boato
na festa de que você havia perdido o nosso cartão,
ele me mandou vir convidá-la pessoalmente.
Espero não estar incomodando.
Processei suas palavras e mil possibilidades se
passaram em minha mente. De repente eu não
precisava mais pedir dinheiro emprestado a Lowell,
podia fazer algumas fotos, conseguir esse dinheiro,
tirar Jerry da cadeia e finalmente encerrar aquela
relação, sem que Lowell soubesse de nada. Para
que tudo desse certo, eu precisava ser discreta e
pensar rápido, elaborar uma forma de deixar o
prédio antes que ele soubesse que eu havia
chegado. Depois telefonaria e inventaria uma
desculpa para não ir trabalhar naquela manhã. Essa
parte seria fácil, bastava que eu dissesse que ainda
estava no apartamento dele, escolhendo roupas.
— E quando o dono da agência gostaria de
fazer esses testes? — Indaguei esperançosa.
— Ele está disponível o dia todo hoje. Que
horas você pode ir?
— Agora mesmo, se não tiver problema.
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O sorriso da mulher se ampliou.


— Perfeito. Quanto antes melhor.
Deixamos o prédio juntas. Do lado de fora, ela
me conduziu até um Mercedes que se encontrava
estacionado do outro lado da rua. Indicou que eu
ocupasse o assento do carona e tomou o volante,
nos conduzindo através do tráfego intenso daquela
manhã de segunda-feira.
Durante o percurso, estabelecemos uma
conversa agradável e descontraída sobre o mundo
da moda. Amber acreditava que eu podia me tornar
uma grande modelo, que devido à minha aparência
exótica, nada vulgar e comum, eu poderia desfilar
nas melhores passarelas, fazer parte de grandes
campanhas publicitárias e quem sabe até me tornar
famosa. Segundo ela, esse era o sonho de toda
garota bonita. Mas não era o meu, eu só queria
conseguir os dez mil, o mais depressa possível e
depois viver minha vida sossegada ao lado do
homem por quem o meu coração clamava.
Atravessamos toda a cidade envolvidas naquele
assunto, sem que eu visse o tempo passar. Quando
Lowell me telefonou, inventei que ainda estava
experimentando as roupas e que talvez à tarde não
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fosse trabalhar porque precisava tratar de alguns


assuntos com Ivone. Assim eu teria o dia inteiro
para fazer os tais testes e quem sabe em poucos
dias alcançaria o meu objetivo.
Fiquei surpresa quando deixamos a rua
principal e avançamos pela estrada que levava ao
aeroporto.
— Estamos indo para o aeroporto? —
Indaguei, observando as placas de trânsito que
indicavam o nosso destino.
— Sim, o teste é em Miami. Será um voo
rápido. No início da tarde estaremos de volta.
— Você não me disse que seria em Miami. —
Será que eu devia ficar preocupada?
— Todos os testes são realizados lá. Por que,
isso é um problema?
Mas era claro que isso era um problema. Eu
estava indo para outra cidade sem sequer avisar
minha mãe e o meu filho. Entretanto, esse tipo de
evento fazia parte da vida de modelo, se eu
quisesse conseguir aquele dinheiro precisava perder
o medo e encarar tudo numa boa.
— Imagina, problema nenhum. Mas não trouxe
todos os meus documentos. Só a carteira de
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motorista.
— Não precisa de nada. O voo é particular. O
avião é propriedade da agência.
Nossa! A agência deles devia ser ainda maior
do que eu havia imaginado, para que tivesse
inclusive avião particular para transportar uma
modelo que ainda nem havia feito os testes.
Sinceramente eu esperava não desapontá-los.
No aeroporto, passamos por alguns setores e
seguimos para uma pista de pouso destacada da
pista convencional, onde havia vários aviões de
porte pequeno e apenas um de porte grande, para o
qual nos dirigimos. Diante da gigantesca aeronave,
havia um grupo de homens reunidos, os quais
pareciam nos esperar.
— Madison, esses são Larry, Jordan e Bradley.
Eles vão te acompanhar até Miami. Rapazes, essa é
a garota nova de quem falei.
— A garota do Dixon? — Um dos homens
perguntou, um sujeito com cerca de trinta e poucos
anos, com os cabelos lambuzados de gel e um
bigode escuro que marcava seu rosto rechonchudo.
As palavras dele despertaram-me um tipo de
mau pressentimento que não consegui decifrar. Era
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como se uma voz dentro de mim me dissesse para


não entrar naquele avião.
— A garota do Dixon. — Amber repetiu.
— Você estava certa. Ela é realmente linda. —
Outro homem disse.
— Só uma pergunta. Você também não vai,
Amber? — Indaguei, uma aflição inesperada
tomando conta de mim, fazendo com que meu
coração apertasse no peito.
Instintivamente, olhei para os dois lados, sem
saber exatamente o que meus olhos buscavam.
— Não. Eu só venho até aqui. Mas os rapazes
vão cuidar bem de você. Não se preocupe com
nada. — Amber disse e foi se afastando.
Antes que eu tivesse tempo de segui-la, um dos
homens segurou-me firmemente pelo pulso e saiu
me puxando escada acima, enquanto que os outros
dois nos seguiam de perto e por alguma razão que
eu desconhecia o pânico se espalhou dentro de
mim, fazendo com que meu coração batesse
acelerado no peito. Não era apenas medo de viajar
sozinha para outra cidade, havia algo errado ali,
algo que eu não conseguia identificar. Sabia apenas
que não podia entrar naquele avião.
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— Pensando bem, acho que não quero ir. —


Vasculhei minha mente em busca de uma mentira
convincente o bastante para não pegar aquele avião,
só que eu nunca fui muito boa em inventar
mentiras. — Esqueci que tenho uma reunião na
escola do meu filho hoje, se eu não comparecer vão
ligar para empresa e incomodar o Sr. Dixon.
Vamos deixar essa viagem para outro dia.
Tentei desvencilhar o meu pulso da mão forte
daquele homem e como já desconfiava ele não
permitiu, em vez disso apertou com ainda mais
firmeza e puxou-me bem mais depressa para cima.
— Não vai amarelar agora não, gatinha. A
gente ainda nem começou. — Disse ele, o tom de
ameaça em sua voz confirmando as minhas
suspeitas.
— Não estou amarelando, só quero ir para
reunião na escola do meu filho. Será que você pode
me soltar?
Puxei meu pulso com um safanão e ainda
assim ele não me soltou. Continuou me segurando
com facilidade e me puxando para cima, até que
atravessássemos a porta e estivéssemos no interior
da aeronave. Tratava-se de um avião de luxo, com
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assentos espaçosos, onde havia pelo menos mais


uma dúzia de garotas, todas com o pavor
estampado em sua fisionomia, algumas com os
olhos marejados de lágrimas, o que fez com que o
pânico crescesse ainda mais em minhas entranhas.
— Por favor, me solte! Eu não quero mais ir
nessa viagem. Deixe-me sair desse avião agora
mesmo. — Exigi, com o tom de voz mais firme que
consegui.
O medo aterrador tomou conta de mim, medo
de não voltar a ver o meu filho, de ele e Ivone
ficarem sozinhos, desamparados, sem ninguém para
cuidar deles.
Meu Deus! O que estava acontecendo? Em que
espécie de armadilha eu estava caindo?
O homem me arrastou até uma poltrona vazia e
me atirou sobre ela, bruscamente.
— Senta aí, coloca o cinto e cala essa boquinha
bonita.
Apesar do pavor, pelo meu filho busquei
coragem dentro de mim e levantei-me, colocando-
me diante daquele homem, pronta para confrontá-
lo.
— Não vou a lugar nenhum com vocês! Deixe-
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me sair daqui imediatamente!


— Eu sabia! Na hora que coloquei os olhos em
você eu soube que era dessas que dão trabalho. —
Inesperadamente, o sujeito desferiu-me uma
bofetada no rosto, com tanta força e violência que
vi as paredes do avião girando a minha volta. —
Agora vê se senta aí e coloca o cinto!
De súbito, minhas pernas pareceram deixar de
existir e forcei-me a voltar a sentar para não
despencar ali mesmo, no chão. Não havia mais
dúvidas de que eu havia me envolvido em uma
grande encrenca. Não fazia ideia do que se tratava,
mas tinha quase certeza de que não sairia dela com
vida.

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CAPÍTULO XIX

Eu havia perdido a noção de quanto tempo


estávamos voando. No interior da aeronave, uma
atmosfera de terror parecia impregnada no ar. Em
meio à penumbra, o silêncio era profundo e
aterrador, quebrado de vez em quando pelo soluço
de alguma das garotas, que tentavam chorar sem
atrair a atenção daquelas pessoas. Mas quem eram
aqueles homens? Por que estavam nos
sequestrando?
Durante longas horas permaneci quase em
estado de catatonia, minha mente e minha alma
completamente absortas pelo medo de não voltar a
ver as pessoas que eu amava, pelo pavor do que
pudesse me acontecer.
Depois de um longo momento, houve alguma
movimentação no corredor da aeronave. Um dos
malditos sequestradores apareceu empurrando um
carrinho com sanduíches e refrigerantes,
distribuindo entre as garotas, que aceitavam a
comida, mais por medo que por necessidade de se
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alimentar. Quando chegou a minha vez, olhei


dentro dos olhos dele e tive quase certeza de que
não sairia viva daquela situação, afinal um bandido
jamais permitiria que sua vítima visse o seu rosto se
pretendesse deixá-la sair com vida.
Minha nossa! Havia chegado o meu fim, sem
que eu sequer soubesse o motivo.
Depois que o homem desapareceu para o outro
compartimento, toquei no ombro da garota que se
encontrava acomodado no assento à minha frente.
— Você sabe o que está acontecendo? Para
onde estamos sendo levadas? — Indaguei, com um
sussurro.
Temerosamente a garota se virou para me
encarar. Era muito jovem, mais que eu, tinha
cabelos loiros, olhos azuis e o terror estampado na
sua expressão.
Ela balbuciou algumas palavras em um idioma
incompreensível, russo, talvez alemão. Foi então
que a garota da poltrona ao lado se manifestou.
— Eu também não faço ideia do que esteja
acontecendo. Acho que ninguém aqui faz.
— Como você veio parar aqui?
— Provavelmente da mesma forma que você.
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Prometeram-me um trabalho de modelo. Mas isso


está mais com cara de sequestro. Talvez pretendam
nos vender como escravas, ou vender nossos
órgãos. — Ela estremeceu ao falar.
Cada célula do meu corpo estremeceu com
aquelas palavras. Eu já havia lido um livro sobre
tráfico de mulheres, podia acontecer com qualquer
uma que fosse ingênua o bastante para cair em
armadilhas como aquela. Essas mulheres eram
drogadas, prostituídas e ameaçadas até que sua
personalidade estivesse completamente destruída.
Se esse fosse o meu destino, eu preferia me matar
antes.
Depois das longas horas de viagem finalmente
aterrissamos, sem que eu fizesse a mínima ideia de
onde estávamos. Pelo tempo de voo podia ser
qualquer lugar do mundo e como eu havia saído
sem avisar ninguém, dificilmente seria procurada.
Era noite e estava frio no aeroporto que parecia
clandestino. Sob as ameaças dos homens, fomos
conduzidas até uma van escura que nos aguardava.
O tempo todo eu tentava não entrar em pânico,
manter a calma e registrar tudo o que os meus olhos
podiam alcançar.
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Ao deixarmos o aeroporto, percorremos alguns


quilômetros de uma autoestrada e logo avançamos
por uma região metropolitana, com ruas largas,
edifícios baixos, largos e meio antiquados. Passei a
prestar atenção nos letreiros em lojas e outdoor,
tentando decifrar que língua se falava ali e
descobrir em que lugar do mundo estávamos.
Parecia francês, eu só não tinha certeza. Talvez
estivéssemos em Paris. Minha única certeza era de
que não estávamos mais em solo americano.
Percorremos mais alguns quarteirões, até que
por fim a van adentrou a garagem de um edifício
antigo, localizado em uma esquina, no qual parecia
haver um ponto comercial. Um restaurante, ou
talvez um bar, fechado àquela hora.
No interior do edifício, fomos conduzidas por
nossos raptores a um andar abaixo do térreo, talvez
um porão, um lugar banhado pela penumbra,
impregnado por um cheiro fétido de urina
misturado com vômito, com grandes manchas de
infiltração nas paredes e no teto, cujo chão era
forrado por alguns colchonetes e cobertores
encardidos e ali fomos deixadas, como animais
enjaulados esperando pelo abate.
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Sentei-me encolhida sobre um dos colchonetes,


com as costas apoiadas na parede, tentando conter o
pavor que invadia minhas entranhas, perguntando-
me o que havia feito de errado para que algo tão
terrível estivesse acontecendo comigo, desejando
poder voltar no tempo e não entrar no carro daquela
mulher. Quem eram eles e o que queriam de nós?
Mil possibilidades se passavam em minha
mente. Imaginava se tirariam nossos órgãos para
venda, se nos obrigariam a nos prostituirmos, ou se
nos entregariam a assassinos cruéis, que nos
matariam lentamente, como no filme “O
Albergue”.
Uma das garotas, uma ruiva mais nova que eu,
que vinha chorando baixinho no avião, começou a
soluçar alto, entrando em desespero, proferindo
palavras em um idioma incompreensível. Logo um
dos raptores apareceu, gritou com ela no mesmo
idioma e deu-lhe uma bofetada no rosto, com tanta
violência que a deixou quase desacordada no chão.
A garota que falava inglês sentou-se perto de
mim, tão trêmula e apavorada quanto todas nós.
— O que você acha que vai acontecer conosco?
— Indagou ela.
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— Era o que eu queria saber. Tenho a


impressão de que não sairemos dessa com vida.
Estamos nas mãos desses caras.
A garota afundou o rosto entre os braços e
chorou ainda mais, seu corpo sacudindo todo e me
arrependi por não ter dito algo mais otimista a ela.
Infelizmente eu não estava muito otimista, pelo
contrário.
Algum tempo depois, uma luz mais forte foi
acesa no cômodo onde estávamos, e um quarto
homem entrou seguido por aqueles que haviam nos
trazido. Era um homem de aparência comum, com
cabelos loiros escuros, olhos cor de mel, com cerca
de quarenta anos. O que o diferenciava dos outros
era a frieza na expressão do seu olhar e aquela
postura altiva, que de longe indicava que ele era o
líder do bando.
— Levantem-se, suas preguiçosas. — Um dos
capangas esbravejou, e imediatamente nos
colocamos todas de pé, cabisbaixas, com as costas
apoiadas na parede, como se aquela parede de
concreto pudesse nos oferecer alguma segurança.
O homem, que parecia ser o líder, examinou
atentamente cada uma de nós, sem que seu olhar
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frio refletisse qualquer emoção. Parou bem diante


de mim, segurou o meu queixo para me fazer
erguer o rosto e olhou dentro dos meus olhos.
— Qual é o seu nome? — Perguntou ele.
Sua voz tinha um timbre tão suave, que se não
estivéssemos naquela situação eu até o consideraria
um homem charmoso.
— Madison. — Minha voz saiu em um
murmúrio, denunciando o meu estado de horror.
— Não precisa ter medo, Madison. Não vamos
fazer mal a nenhuma de vocês, desde que façam
exatamente o que mandarmos.
Eu ia perguntar o que eles nos mandariam
fazer, mas preferi manter minha boca fechada, pois
temia pela resposta.
O sujeito acariciou minha face com o dorso da
mão, enquanto eu me encolhia de repulsa, depois
passou a mão nos meus cabelos e por fim se
afastou. Colocou-se onde todas nós podíamos vê-lo
e começou a falar.
— Cada uma de vocês nos seguiu por motivos
diferentes. Algumas acharam que se tornariam
modelos fotográficas, outras foram atrás de um
casamento com um homem que conheceu na
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internet, outras seguiram alguém que conheceu em


um bar, então no fim das contas nenhuma é tão
inocente assim. O que queremos de vocês é
colaboração. Sejam prestativas, obedientes, e no
final das contas ninguém vai se machucar. Vocês
sairão daqui com algum dinheiro e com a vida de
vocês.
Ele falava inglês, com sotaque francês, quando
se calou o outro sujeito traduziu para o idioma
incompreensível das outras garotas. Antes de se
retirar, ele mandou que eu fosse a primeira a ser
levada à sua sala e quando um dos capangas
segurou em meu braço e começou a me conduzir
para fora, tive quase certeza de que não sairia dali
com vida. Ainda assim, me esforcei para não me
entregar o tremor em meu corpo e permanecer
lúcida, sem desfalecer. Eu precisava ser forte, lutar
pela minha vida, se era que ainda havia esperança.
Fui levada para alguma sala no segundo andar
do prédio, que se revelava mais habitável e menos
sujo à medida que subíamos. Atrás de uma mesa se
encontrava sentado o líder do bando, enquanto que
o capanga que me trouxera permanecia em pé ao
lado da porta, como se fizesse a segurança dele.
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— Sente-se. — Disse ele, gesticulando para a


cadeira do outro lado da sua mesa.
Com meu corpo tomado pelo mais intenso
pavor, ordenei minhas pernas trêmulas a me
levarem para frente e acomodei-me na cadeira,
obedientemente.
— Não é sempre que temos uma garota bonita
como você por aqui, Madison. Saiba que você é
muito especial e pode sair desse lugar com
condições financeiras de sustentar sua família sem
precisar trabalhar para o resto da vida. Basta
colaborar conosco e ser prestativa.
Minha nossa! Ele sabia sobre Lucas e minha
mãe?
— Quem são vocês e o que querem de nós? —
Consegui perguntar, forçando minha voz a assumir
um tom mais firme.
O canto da boca dele se dobrou em um meio
sorriso sinistro, sem que sua expressão imitasse o
gesto.
— Tão linda e tão ingênua. Realmente não
sabe o que queremos de garotas bonitas como
vocês?
— Vocês querem que nos tornemos
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prostitutas? É isso?
— Eu sabia que você era esperta. Mas não
precisa usar esse termo chulo. Chame de
acompanhante de luxo, ou garota de programas.
Eu preferia uma morte rápida, a me tornar
prostituta de qualquer homem que ele escolhesse.
Simples assim.
— Não vou fazer isso. Então se minha punição
for a morte, pode cortar minha garganta ou enfiar
uma bala na minha cabeça agora mesmo.
Novamente ele sorriu daquele jeito macabro
que fazia os pelos da minha nuca se arrepiarem.
— Se você se recusar a colaborar, não
tiraremos a sua vida, nós vamos atrás de Lucas e de
Ivone.
Processei suas palavras e tive a impressão de
que um abismo se abria sob mim e me engolia,
levando-me a um escuro poço de agonia. Eu podia
suportar tudo nessa vida, só não podia suportar que
meu filho e minha mãe fossem machucados por
causa da minha estupidez.
— O que foi que você disse? — Minhas
palavras saíram concomitantes as lágrimas que
brotavam dos meus olhos.
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Meu destino estava selado, eu seria obrigada a


me prostituir, a sair com vários homens todos os
dias, para manter as pessoas que mais amava vivas.
O homem tirou uma fotografia de uma gaveta e
a depositou sobre a mesa. Na imagem, vi Lucas e
Ivone de mãos dadas, caminhando na rua perto da
escola. Era uma fotografia recente, talvez tirada no
dia anterior. Peguei-a e a aproximei do meu rosto,
beijei a imagem da face do meu filho e as lágrimas
correram ainda mais abundantes pela minha face.
— Isso mesmo que você ouviu. Se se recusar a
colaborar, Lucas vai levar uma bala na cabeça e
Ivone pode ser torturada antes de morrer. Por outro
lado, se comportar-se como uma boa garota pode
sair daqui com dinheiro suficiente para dar uma
vida melhor aos dois. Tudo depende de você.
— Eu tenho um namorado e ele vai me
procurar.
— Você deve estar falando de Lowell Dixon.
Ele pode até te procurar, mas não vai encontrar.
Eu ficava cada vez mais atônita.
— Como vocês sabem sobre Lowell? Como
sabem sobre o meu filho a minha mãe? Por que me
escolheram para isso? Havia tantas garotas naquela
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festa. Por que logo eu?


— Aí é que está a questão. Nós não a
escolhemos, alguém me deu muito dinheiro para
que eu ficasse com você. E agora percebo que fiz
um negócio melhor do que imaginava.
— Quem te deu dinheiro para que você me
raptasse?
— Isso são segredos do ofício. Mas lembre-se
bem de quem são os seus inimigos e você
encontrará a resposta sozinha.
Minha nossa! Quem poderia ter feito isso
comigo? Eu não fazia ideia, pois não tinha inimigo
algum. Pelo menos não que eu soubesse.
Ele continuou falando, mas eu já não o ouvia,
tudo em mim transformado em aflição e agonia, a
certeza de que minha vida havia acabado me
enchia. Mesmo que eu conseguisse escapar com
vida daquela situação, não teria coragem de voltar
para o meu filho depois de tudo, até porque eu não
seria mais a mesma pessoa, minha alma estaria
morta. Entretanto, eu precisava manter Lucas vivo
e não podia fazer nada até que aquele pesadelo
acabasse, nem mesmo tirar a minha própria vida.
Depois daquela conversa, sob as ordens do
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líder, o capanga me levou para o andar mais acima


e deixou-me em um quarto mobiliado com duas
camas de solteiro e um armário antigo, onde havia
um banheiro. Provavelmente era ali que eu deveria
receber os homens de quem me tornaria prostituta e
o mais inacreditável nessa história era que a janela
estava destrancada, dava vista para um beco sujo,
totalmente deserto. Aquela quadrilha era realmente
muito bem organizada. Tinham tanta confiança de
que seguiríamos as ordens deles, a fim de
mantermos nossos familiares vivos, que sequer se
preocupavam em trancar a janela para que não
fugíssemos. Eu duvidava que uma daquelas garotas
tentasse a fuga, se o preço a pagar fosse colocar em
risco a vida de um filho, ou de uma mãe.
Sentei-me na beirada da cama e voltei àquele
estado de quase catatonia, uma depressão tão
grande me tomava que eu sequer conseguia mais
pensar com clareza. Estava lá imóvel como uma
estátua, quando outra garota foi trazida, a loira que
falava o meu idioma. Parecia em estado de choque
tanto quanto eu e sentou-se cabisbaixa na outra
cama.
— Qual o seu nome? — Indagou ela, depois de
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um longo momento de silêncio.


— Madison. E o seu?
— Donna.
— Quem da sua família ele ameaçou? —
Perguntei, tomada por um desânimo aterrador.
— Os meus pais. Eles me deram tanto conselho
para que eu não tentasse a carreira de modelo e
agora estou aqui desse jeito. Se acontecesse alguma
coisa com eles eu jamais me perdoaria.
— Parece que não temos outra saída que não
fazer o que eles querem, não é?
— Quem da sua família ele ameaçou?
— Meu filho e minha mãe.
Continuamos ali estáticas, mergulhadas n no
mais profundo silêncio, compartilhando da mesma
agonia, uma agonia para qual nem a morte era uma
opção de saída.
Pouco tempo depois, a porta do quarto se abriu
e uma mulher alta, de cabelos curtos e escuros
entrou, trazendo dois quites com toalha de banho,
sabonete, lençol, escova e pasta de dentes, perfume,
escova de cabelos e sanduíches, os quais depositou
sobre os pés das camas.
— É melhor vocês se lavarem e se trocarem.
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No armário tem roupas limpas e adequadas. Daqui


a pouco os clientes começam a chegar. — Disse
ela.
Nesse momento, Donna se descontrolou, saltou
da cama com um pulo e avançou para cima da
mulher, como uma fera violenta determinada a
exterminá-la.
— Sua maldita! Eu vou te matar! Vou acabar
com todos vocês. — Gritou.
Mas não teve a mínima chance. A mulher
parecia ser treinada para praticar artes marciais e
com um golpe simples e rápido a nocauteou,
deixando-a estendida no chão, quase desacordada.
Antes de sair olhou para mim e falou:
— Que sirva de exemplo para que nenhuma
outra tente uma gracinha parecida.
Donna ainda estava meio tonta quando voltou
para a cama e deitou-se. Depois de muito chorar,
conseguiu pegar no sono, enquanto que eu não
conseguia pregar os olhos. O tempo todo pensava
em meu filho, no risco de vida no qual o havia
colocado e pensava em Lowell, no quanto devia
estar e preocupado comigo. A essa altura já havia
chamado a polícia e contatado seus detetives
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particulares na tentativa de me encontrar. Porém


aquela gente era poderosa demais e sabia
exatamente o que fazia. Não seria fácil me
localizar, embora também não custasse ter
esperanças.
Pouco depois de o dia ter amanhecido, um dos
capangas apareceu para levar Donna. Segundo ele,
ela tinha um cliente para atender e fiquei quase
passando mal, com o estômago revirando, a mente
em turbilhão, esperando que chegasse a minha vez.
Ao retornar, horas depois, Donna estava ainda
mais destruída, abalada e deprimida. Tomei-aem
meus braços e ofereci o meu ombro para que ela
chorasse e ela o fez, embora nem todas as lágrimas
produzidas por seu corpo fossem suficientes para
expulsar aquela dor, a dor de ser violentada sem
sequer ter o direito de reclamar ou revidar.
Ainda naquele dia, após trazerem o nosso
almoço, novamente vieram apanhá-la para atender
outro homem e novamente fiquei em frangalhos,
esperando que a qualquer momento chegasse a
minha vez de ir para a cama com um velhote,
banguela e fedido, mas novamente não aconteceu,
nem naquele dia e nem nos três dias que se
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seguiram. Donna era levada duas, ou três vezes por


dia, enquanto que eu não fui levada nenhuma vez e
embora eu devesse estar aliviada, aquilo me parecia
o anúncio de um mau presságio. Era como se
estivessem me guardando e me preparando para
algo pior.
Nos momentos em que Donna estava menos
abatida, eu conversava com ela e fazia com que me
contasse, detalhadamente, como era o lugar para
onde era levada quando ia ficar com os homens, de
que forma os seguranças e os próprios homens
agiam, quanto tempo demoravam lá, como era
trazida de volta e absorvi cada informação como se
fosse o meu alimento diário, porque no dia em que
eu fosse levada tentaria escapar, mesmo que isso
colocasse a minha vida em risco.
Por fim, no quarto dia, a mulher que trazia as
refeições e os produtos higiênicos me trouxe um
vestido diferente das outras roupas que havia no
armário, muito mais caro e sofisticado. Mandou
que eu me vestisse e me maquiasse e disse que viria
me apanhar depois.
Sem opção, obedeci-a, colocando aquele
vestido como se vestisse uma mortalha para o meu
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enterro, porque depois do que aconteceria comigo


eu estaria morta por dentro.
Faltava pouco para o horário do almoço
quando ela voltou e mandou que eu a seguisse.
Levou-me para o andar abaixo e me mandou entrar
em uma sala cuja porta se encontrava entreaberta,
enquanto eu me esforçava para continuar
respirando, porque se desfalecesse ou morresse,
quem pagaria o preço seria o meu filho.
Fiquei surpresa ao entrar na sala e encontrar o
líder da quadrilha, acomodado na cabeceira de uma
mesa sobre a qual havia uma refeição servida com
requinte, com pratos e talheres caros e uma garrafa
de champanhe em um balde com gelo.
— Finalmente chegou. — Disse ele. — Valeu
à pena esperar. Você está muito linda. Quero que
almoce comigo hoje. Como minha convidada.
Ele puxou uma cadeira e sem uma palavra
sentei-me. Esperei que ele se acomodasse de volta
em seu lugar e quase chorei ao me servir do coq au
vin, o mesmo prato que havia comido com Lowell,
há poucos dias, no apartamento dele.
— Normalmente não costumo me envolver
com as mulheres com quem trabalho. Acredite, se
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você está aqui é porque a considero muito especial.


Você é a garota mais deslumbrante que já conheci.
— Se quer que eu me sinta especial, então me
deixe livre para ir embora.
— Essa não é uma opção, mas eu posso te dar
uma vida melhor do que essas garotas têm aqui.
Posso te dar privilégios, talvez me torne o seu
único amante, por um tempo.
Até se cansar de mim e me jogar na cova dos
leões. Nota-se o quanto você está interessado.
Ele continuou falando, mas parei de prestar
atenção, todos os meus pensamentos concentrados
na quantidade de seguranças que vi nos corredores.
Havia pelo menos meia dúzia deles em cada andar
e eu podia apostar como estavam todos armados.
Eu ainda não sabia em que andar e em que tipo de
aposento as garotas atendiam os homens, mas sabia
que se algum deles entrasse lá com um celular,
dando-me a oportunidade de telefonar para que
Lowell protegesse Lucas daqueles malditos
assassinos, eu conseguiria escapar. Ia precisar de
muita sorte e principalmente de muita coragem para
tomar o celular de um homem, mas ainda assim
estava determinada a tentar. Tudo o que eu
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precisava era de uma oportunidade.


— Em que lugar do mundo nós estamos? —
Indaguei, interrompendo a fala do maldito líder da
quadrilha.
— Tinha me esquecido que você é uma garota
do interior. Não reconheceria Paris mesmo que eu a
levasse á torre Eiffel, não é mesmo?
— É verdade. Sou bem caipira e do interior.
Ele continuou falando enquanto comíamos o
frango e bebíamos vinho, sem que eu ouvisse suas
palavras, minha mente trabalhando em um plano de
fuga. Contra ele eu não podia tentar nada, pois
certamente estava armado e a uma mínima ordem
sua os seguranças invadiriam a sala. Eu teria que
esperar pela oportunidade certa. Poderia seduzi-lo e
convencê-lo a me levar para um passeio, durante o
qual tentaria escapar, mas um homem poderoso
como aquele devia estar preparado para esse tipo de
situação. Não seria possível enganá-lo.
Havíamos terminado a refeição quando de
repente ele se levantou, segurou-me pelo pulso e
me puxou da cadeira com um safanão, fazendo com
que meu corpo se chocasse contra o seu, seus
braços contornando minha cintura, seus olhos fixos
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nos meus.
— Seja minha e eu colocarei o mundo a seus
pés. Te darei uma boa casa, roupas caras e tudo
mais que você desejar.
— A única coisa que eu quero de você é
justamente o que você está me tirando.
Nesse momento, ouvi a voz de Lowell em
minha cabeça:
Estou tentando te dizer que se eu
fosse uma garota de onze ou doze anos e
um cara tentasse passar a mão em mim,
eu esperaria ele dormir, pegaria a faca
da cozinha e cortaria a garganta dele.
Simples assim.
Foi o que ele disse sobre eu ter sido molestada
pelo meu maldito padrasto. Eu precisava ser forte,
reagir como devia ter reagido naquela época.
Lowell estava certo, eu não podia permitir que me
fizessem mal e deixar por isso mesmo. Então,
seguindo a um impulso incontrolável, peguei o
garfo de sobre o meu prato, segurei firmemente em
seu cabo e fiz uso de todas as forças físicas que
havia em meu corpo para cravá-lo na coxa daquele
maldito, quando então ele me soltou e levou as
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duas mãos à sua perna ferida.


— Maldita! Eu devia te dar uma surra até te
deixar desacordada. — Um palavrão escapou de
entre os seus dentes cerrados, enquanto ele puxava
o garfo da sua carne ensanguentada. — Eu podia te
comer à força se quisesse, só que em vez disso te
ofereci uma vida boa.
— Eu não quero nada de você a não ser que me
deixe ir embora daqui, seu verme!
Minha nossa! Onde eu estava com a cabeça
para falar com ele daquele jeito? O cara podia
enfiar uma bala em meu peito a qualquer momento.
— Você nunca vai sair daqui. Coloca isso na
sua cabeça.
Ele puxou o garfo e uma mancha de sangue se
fez rápido na perna da sua calça.
— Nesse caso, eu prefiro ser uma prostitua a
ser sua mulher.
Ele parecia atônito e furioso ao me encarar.
— Então é isso que você será. Vou me
certificar de que você pegue o porco mais fedorento
que aparecer por aqui. Agora some da minha frente,
vagabunda!
Sem uma palavra, dei meia volta e deixei a
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sala. No corredor, o segurança se incumbiu de


segurar em meu braço e me conduzir de volta até o
quarto que eu ocupava. Apenas ao encontrar-me
sozinha me dei conta de que havia feito uma grande
burrice. Se tivesse dado mole para aquele imbecil
talvez tivesse mais chances de escapar, se tivesse
feito com que ele me levasse para jantar fora, ou
dançar, poderia fugir.
Cacete! Eu só fazia merda mesmo! Por que não
aceitei a maldita proposta dele? Agora ao invés de
ser violentada apenas por um, seria violentada por
vários e como ele mesmo dissera, pelo porco mais
fedorento que aparecesse ali.
Definitivamente eu estava ferrada.
Donna havia acabado de voltar da sua terceira
saída naquele dia. Estava deitada de lado na cama,
deprimida como todos os dias, quando a porta se
abriu e o que eu mais temia aconteceu. Um dos
seguranças mandou que eu o acompanhasse e o fiz.
Da forma como Donna já havia me contado, fui
levada para um quarto no último andar, um cômodo
mais amplo e bem mobiliado do que aquele onde
dormíamos, no qual o segurança mandou que eu
esperasse.
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Cacete! Eu precisava pensar rápido. Encontrar


uma forma de derrubar o homem que entrasse ali,
pegar o celular dele — isso se ele tivesse um
celular — ligar para Lowell e pedir que protegesse
Lucas enquanto eu dava um jeito de fugir e chamar
a polícia. Eu ia precisar de muita coragem e de
muita sorte.
Passados alguns minutos, a porta do quarto se
abriu e o porco entrou. Era realmente fedorento,
alto, barrigudo, mal vestido, com uma barba que
parecia não ser aparada há milênios. O cheiro fétido
de whisky e cigarros partia de sua direção,
causando-me náuseas. Enquanto os olhos dele
devoravam o meu corpo, os meus buscavam
qualquer indício de que ele tivesse um celular e
agradeci aos céus quando vi a silhueta de um
aparelho no bolso da calça bege dele.
O homem balbuciou algumas palavras em
francês, as quais não compreendi e respirei
profundamente, várias vezes, tentando me acalmar
e alcançar a frieza e a coragem de que necessitava
para colocar o meu plano em prática.
Forçando meus lábios a se curvarem em um
largo sorriso e fazendo gestos com as mãos, pedi
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que ele se deitasse na cama e comecei a tirar


vagarosamente o vestido vermelho e barato que se
colava em meu corpo.
Animado por ver o showzinho ao qual eu dava
início, o homem deitou-se de costas na cama,
revelando os dentes amarelados do cigarro, com um
sorriso ridículo, sem desviar os olhos de mim.
Eu inspirava e expirava demorada e lentamente
a fim de conseguir a frieza e a coragem necessárias
para levar aquilo adiante. Depois de tirar o vestido,
movendo o meu corpo com sensualidade e ficando
com apenas a calcinha e o sutiã, subi em cima do
porco, quase morrendo de nojo, abri o zíper da
calça dele e puxei a peça pelos pés, fingindo ter
jogado aleatoriamente no chão, quando na verdade
jogava estrategicamente na porta do banheiro.
Quase vomitei quando vi a ereção dele saltando da
cueca branca, encardida, mas ainda assim voltei a
me colocar em cima dele. Tirei sua camisa e
esfreguei meu corpo no dele, só para ter certeza de
que ele estava excitado o bastante para não
conseguir pensar direito com a cabeça de cima.
Com gestos de mãos, avisei que precisava ir ao
banheiro, mas que não demoraria. Foi então que
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chegou o momento crucial do meu plano, quando


arrastei a calça dele para dentro do banheiro, com
os pés, sem que ele percebesse e fechei a porta as
minhas costas. Agradeci novamente aos céus
quando constatei que realmente havia um celular no
bolso da calça, um desses modelos antigos, sem
senha e imediatamente digitei os números do
telefone de Lowell, torcendo internamente para que
ele atendesse.
— Alô. — Lowell atendeu no terceiro toque e
quase desmoronei quando ouvi sua voz, tão querida
e familiar.
— Sou eu, Madison.
— Por Deus, Madison! Onde você está? Estou
enlouquecendo sem saber da sua localização. O
que aconteceu com você?
— Por favor, não diga nada e me ouça. — Eu
falava o mais baixo possível, para que o porco no
quarto não me escutasse. — Eu fui sequestrada.
Estou em Paris. Estou bem, mas preciso que você
me prometa que vai tirar Lucas e minha mãe do
apartamento e dar toda proteção a eles.
— Em Paris?! Diga-me em que lugar em
Paris. Estou indo te buscar agora mesmo.
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— Será que você não me ouviu? Lucas e Ivone


estão correndo risco de vida. Por favor, prometa-me
que vai cercá-los com seguranças. Que vai tirá-los
do apartamento e levá-los para um lugar seguro,
onde não haja a mínima possibilidade de ninguém
chegar perto deles, nem o mais treinando dos
matadores.
— Por Deus, Madison! É claro, que eu
prometo. Vou cuidar disso agora mesmo. Agora me
diga quem te sequestrou e por que você está em
Paris? — Neste momento, o porco no quarto
balbuciou algumas palavras em francês, certamente
reclamando da minha demora, e o respondi dizendo
que já estava indo, embora desconfiasse de que ele
também não podia me compreender. — Quem está
aí com você? Pelo amor de Deus, me diz agora o
que está acontecendo.
— Eu cai em uma armadilha. Querem me
transformar em prostituta, em uma escrava sexual,
mas eu vou escapar daqui, não vou deixar aquele
porco colocar as mãos sujas dele em cima de mim.
— Diga-me a sua localização em Paris. Estou
indo agora mesmo te buscar.
— Não Lowell, você precisa proteger Lucas e
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Ivone. Você me prometeu que faria isso. Cumpra a


sua promessa.
— Eu vou cumprir, eu prometo. Mas depois eu
vou atrás de você, pode ter certeza. Vá para a
Embaixada Americana, mesmo que haja um
exército te perseguindo, lá você estará protegida.
Por favor, Madison, me diz que vai para a
embaixada.
Antes que eu tivesse tempo de responder, a
porta do banheiro se abriu e o velhote entrou.
Esbravejou algumas palavras em francês e tomou o
celular da minha mão, interrompendo a ligação. O
que aconteceu em seguida foi muito rápido e sem
planejamento. Agi unicamente por instinto, talvez o
instinto da sobrevivência. Peguei a tampa da
privada com as duas mãos e golpeei com toda força
a cabeça dele, deixando-o bambo, desnorteado.
Quase fiquei com pena, mas então me lembrei de
que era um estuprador — porque fazer sexo com
uma pessoa contra a vontade dela não deixa de ser
estupro só porque o sujeito está pagando — e bati
novamente, com ainda mais força, quando então ele
desabou no chão, como um boi abatido, um lago de
sangue se formando sob sua cabeça. Se estivesse
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morto, eu diria que foi em legítima defesa, mas me


recusava a sentir pena de um maldito estuprador.
Você ficaria orgulhoso de mim, Lowell.
Então, saí do banheiro e usei uma cadeira para
travar a fechadura da porta pelo lado de fora, só
para o caso do verme acordar. Coloquei meu
vestido e forcei minha mente a trabalhar depressa
em busca de uma forma de escapar daquele quarto,
sem ter que passar pelos seguranças no corredor.

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CAPÍTULO XX

A janela dava para a rua larga e movimentada


lá embaixo, diante da qual havia um aglomerado de
mesas e cadeiras repletas de pessoas no bar de
esquina que fazia parte do prédio. Eu devia estar no
quinto ou sexto andar, se pulasse, não sobreviveria.
Olhei em volta e a mais maluca das ideias surgiu
em minha mente. Arriscadamente, voltei ao
banheiro e, com muito nojo, peguei a calça do
gorducho e vesti, depois fiz o mesmo com a
camisa. Prendi os cabelos em um coque e enrolei
uma fronha, fazendo com que tomasse a forma de
um turbante. Com a minha alta estatura eu poderia
facilmente me passar por um homem. Agora
restava descobrir como sair daquele quarto sem
atrair a atenção dos seguranças, que certamente
deviam vigiar a rua também.
Minha mente trabalhava depressa, o medo fazia
com que o meu sangue ficasse o tempo todo
gelado. Eu olhava para os lados e parecia não haver
saída. Talvez fosse melhor desistir de tudo, talvez
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fosse melhor ficar ali mesmo. Só que eu não


conseguiria, havia passado quatro longos anos da
minha vida sendo violentada por um maldito porco
como aquele. Eu preferia a morte a ter que passar
por isso de novo.
Olhei para os lençóis e cogitei amarrá-los um
no outro para fazer uma corda, mas isso não daria
certo, não havia lençóis suficientes para me
levarem até lá embaixo. Então olhei para os fios da
rede elétrica e cogitei me atirar sobre eles, para em
seguida descer escalando um dos postes, porém se
houvesse o mínimo descascado naqueles fios eu
morreria eletrocutada. Parecia realmente não haver
saída. Estava me afastando da janela para ir pegar
os lençóis e fazer uma corda que me levasse pelo
menos até a metade do caminho, quando avistei um
caminhão de lixo aproximando-se devagar. Aquela
era a chance que eu precisava, podia me atirar lá de
cima e, se tivesse sorte, cairia sobre a caçamba
aberta do caminhão, para que o lixo amortecesse
minha queda.
Com o coração na mão, posicionei-me na
janela, pronta para saltar. Esperei que o caminhão
se aproximasse do prédio, torcendo para que
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parasse para apanhar o lixo das latas que estavam


logo abaixo da janela. Eu não me lembrava da
última vez que havia rezado, mas naquele instante
fiz uma oração, afinal somente um milagre seria
capaz de fazer com que aquele plano maluco desse
certo.
Como se minha prece fosse atendida o
caminhão parou diante das latas de lixo, bem
debaixo da janela na qual eu me encontrava. Eu
tinha apenas alguns segundos para saltar, então
nem parei para pensar, simplesmente dei o impulso
com minhas pernas e me atirei lá de cima. O
milésimo de segundos que demorei despencando
pareceu se transformar em uma eternidade, pude
ver toda a minha vida se passando diante dos meus
olhos, até que, por fim, houve o impacto do meu
corpo com o lixo, tão brusco e violento que a
princípio me deixou sem fôlego, com uma
dificuldade absurda de conseguir puxar o ar para os
meus pulmões.
Enquanto o caminhão colocava-se novamente
em movimento, tateei meu corpo todo, a procura de
alguma fratura ou outro machucado. Não havia
nada, eu ainda estava inteira. Um milagre realmente
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havia acontecido.
À medida que o caminhão se movimentava, o
vento batia em meu rosto, me ajudando a voltar a
respirar normalmente.
Eu estava livre, mal podia acreditar que
realmente havia conseguido. Mas ainda faltava
muito, eu precisava me afastar o mais depressa
possível daquele lugar, desaparecer do alcance das
vistas daquele bando de bandidos e o caminhão de
lixo era lento demais, parava a cada cinco metros
rodados. Eu precisava sair dali. Então, em uma de
suas paradas, escalei a lateral da caçamba e saltei,
quando vários olhares curiosos, de pedestres,
voltaram-se em minha direção, o que me fez checar
se o turbante feito com a fronha ainda estava no
lugar e respirei aliviada ao constatar que sim. As
pessoas podiam dizer aos sequestradores que
tinham visto alguém saindo da caçamba de um
caminhão de lixo, mas esse alguém era um homem,
portanto, por enquanto, eu ainda estava segura,
restava saber para onde ir agora.
Vá para a Embaixada Americana, mesmo que
haja um exército te perseguindo, lá você estará
protegida. Por favor, Madison, me diz que vai para
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a embaixada. — A voz de Lowell ressoou em


minha mente e eu soube para onde precisava seguir,
mas como? Como eu pegaria um táxi sem ter um
centavo no bolso e como diria ao motorista para
onde me levar se não falava francês?
Enquanto pensava em uma solução, eu
caminhava depressa pela calçada da rua
movimentada, com meus braços cruzados na frente
do corpo, mantendo os olhos o máximo de tempo
possível voltados para o chão, virando em todas as
esquinas pelas quais passava.
A essa altura o porco já devia ter acordado e
avisado aos sequestradores que eu havia fugido.
Deviam estar todos me procurando, com carros e
armas. Eu me parecia com um homem, mas seria
reconhecida facilmente se algum deles olhasse bem
em meu rosto.
Com isto em mente, apressei o passo e abracei
meu corpo com ainda mais força.
Um carro branco parou bruscamente no
acostamento ao meu lado, dando-me um susto tão
grande que deixei escapar um grito agudo, o que só
serviu para atrair a atenção de algumas pessoas que
passavam. Não eram eles, havia um francês de
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terno e gravata ao volante, o qual saiu do veículo e


entrou no prédio em frente, quase correndo,
carregando uma valise de couro. Era apenas um
executivo que tinha chegado atrasado a seu local de
trabalho.
Ainda assim, eu não podia continuar ali, estava
perto demais dos raptores e a pé não conseguiria
me afastar o suficiente. Então, seguindo a um
impulso impensado, gesticulei para o primeiro táxi
que passou na rua, sem ter ideia de como explicar
ao motorista para onde precisava ir, ou de como
pagaria pela corrida.
Entrei e antes de dar novamente a partida, o
motorista se virou para mim, proferindo, com um
sorriso simpático, algumas palavras em francês.
— Preciso ir para a Embaixada Americana.
Emmmbaaaaiiixaaadaaa Americaaana. Você pode
me entender?
— Claramente. Eu falo inglês. Não precisa
falar assiiiiiiimmm. — Disse ele, com um
carregado sotaque francês, colocando bom humor
no tom de sua voz ao imitar a forma como eu
esticava as sílabas.
— Ah, graças a Deus. Por favor, me leve para a
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Embaixada Americana o mais depressa possível.


Chegando lá, os funcionários do governo que
se virassem para pagar a corrida.
O homem colocou o carro em movimento, nos
inserindo no trânsito pouco movimentado, me
permitindo ser tomada pela mais indescritível
sensação de segurança, à medida que nos
afastávamos dali.
Percebi que o motorista me olhava pelo
espelho retrovisor e me encolhi ainda mais no
assento traseiro, tentando não olhar de volta para
ele. Uma quadrilha tão bem organizada quanto
àquela, devia ter cúmplices espalhados por todos os
lados. E se aquele fosse mais um?
— Algum problema? — Indagou ele e gelei.
— Nenhum. Só me leve até lá, por favor.
Ele continuou me observando com uma atitude
suspeita, mas decidi respirar, afinal, se fosse amigo
dos sequestradores, não adiantaria mais lutar contra
o meu destino. Eu não ia saltar de um carro em
movimento.
Depois de percorrermos quilômetros e mais
quilômetros da cidade linda, com ruas largas e
arborizadas, finalmente ele parou em frente ao
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prédio de três andares, com belas árvores na frente,


onde um policial uniformizado se aproximou do
carro. Vi a bandeira americana pendurada em uma
pilastra, com a bandeira francesa do outro lado e
soube que ali era a embaixada. Não esperei por
mais nada, saltei daquele carro com uma pressa
absurda e fiz uso de toda a agilidade das minhas
pernas para correr para o lado de dentro, onde
finalmente estaria segura.
Devido à pressa, tropecei nos largos degraus da
porta de entrada e despenquei no chão, pelo menos
era o chão de dentro do prédio, onde meu turbante
improvisado com uma fronha finalmente caiu e
meus cabelos se espalharam pelos meus ombros, de
forma desgovernada.
Um homem muito alto, usando terno e gravata,
segurou-me pelo braço e me ajudou a ficar de pé.
— Deixe-me adivinhar, você é Madison
Oliveira. — Disse ele e o fitei surpresa.
— Como você sabe quem sou?
— O Sr. Dixon telefonou para nós, dezenove
vezes, para ser mais exato. Está preocupado com a
senhorita e disse que já está a caminho.
Um bolo fez com que meu estômago revirasse.
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— Como assim? Ele não pode estar a caminho!


Eu pedi que tomasse conta de Lucas e da minha
mãe.
— E ele está cuidando dos dois. Disse-me que
os deixou em seu apartamento, cercados por
seguranças.
— Muitos seguranças? — Ouvir aquilo me
deixou mais aliviada.
— Muitos e todos eles armados e bem
treinados. Agora venha. Você precisa se acalmar e
contar para os detetives onde está a quadrilha que a
sequestrou.
— Tem um taxista lá fora querendo receber
pela corrida dele.
— Não se preocupe com nada disso. Nós
pagaremos o taxista.
Bendito seja a pessoa que teve a ideia de
implementar as embaixadas!
Algumas horas depois, eu estava alojada em
uma das divisões da embaixada, um quarto
pequeno, com cama, banheiro, um jogo de
poltronas de couro e armário, situado em um prédio
menor, atrás da construção principal, esperando
pela chegada de Lowell. Havia tomado um banho
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quente demorado e vestido roupas limpas — um


jeans e um suéter trazidos por uma das funcionárias
—, isso depois de passar horas conversando com
um detetive francês, explicando-lhe,
detalhadamente, tudo o que havia acontecido
comigo, desde o instante em que deixei a sede da
Dixon enterprise, até quando fugi do cativeiro.
Antes mesmo de encerramos a nossa conversa, ele
me pediu que explicasse onde ficava o cativeiro e
enviou alguns homens até lá, porém logo nos foi
informado que os sequestradores haviam deixado o
local e levado todas as garotas, apesar de terem
deixado várias provas para trás, com as quais a
polícia poderia trabalhar para encontrá-los.
Eu havia ligado para o celular de Lucas
também e conversado demoradamente com ele.
Felizmente parecia bem. Estava no apartamento de
Lowell, com Ivone, jogando videogame com um
cara parrudão, amigo dos outros caras que ficavam
na porta do apartamento e nos corredores do prédio.
Ele não fazia ideia de que eram seguranças que
estavam lá para proteger sua vida e seria bom
continuar sem saber que corria perigo. Conversei
também com Ivone, que, com seu jeito aéreo de ser,
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não entendeu direito o que se passava e preferi


deixar que a ignorância continuasse poupando-a de
maiores preocupações.
Só não consegui falar com Lowell, porque
certamente estava voando a caminho da França ao
meu encontro. Tentei comer e dormir um pouco
enquanto o esperava, mas não consegui. Apenas
caminhava no quarto, de um lado para o outro,
tomada pela ansiedade de revê-lo.
Amanheceu e chegou um novo entardecer,
junto com uma chuva forte que caía concomitante a
relâmpagos e trovões. Pela janela, eu observava
uma parte da rua que passava na lateral da sede da
embaixada, quando pude ver pessoas correndo para
fugir da água, buscando refúgio sob a lona de um
barzinho que ficava na esquina mais adiante e me
perguntei qual seria a história de cada uma delas,
com o que trabalhavam, como eram suas vidas
amorosas, quais dramas enfrentavam, quais eram
felizes e quais sofriam.
Estava ali absorta por pensamentos, quando
finalmente a porta se abriu e a visão mais magnífica
que tive naqueles dias se revelou diante dos meus
olhos. Lowell se manteve ali parado, com a porta
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aberta às suas costas, observando-me fixamente,


com um misto de paixão e angústia refletido em
seus olhos negros. Estava todo molhado, usando
um sobretudo preto, que pingava de tão
encharcado, os cabelos, da mesma cor, caíam em
seu rosto.
— Você veio na chuva? — Indaguei, com o
meu coração agitado no peito.
— Foi só um pouco. Da limusine na rua até a
entrada do prédio. — Com um passo largo, ele se
colocou para dentro do aposento e fechou a porta
atrás de si. — Você está bem?
— Acho que sim.
Ele examinou-me atentamente com o olhar, de
cima abaixo, como se procurasse algum ferimento.
Depois, deu mais alguns passos largos e apressados
em minha direção e me estreitou em seus braços,
puxando-me para junto do seu corpo, apertando-me
pela cintura, enquanto eu me aconchegava nele
como uma sedenta que acabava de encontrar um
oásis no deserto, quando pude sentir seu coração
pulsando depressa de encontro a mim.
— Fiquei tão preocupado. — Lowell afundou
seu rosto molhado em meus cabelos, no alto da
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minha cabeça. — Me perdoe por isso. Me perdoe


por tudo. Eu descobri que não suporto que você
esteja sofrendo e me sinto um rato por ter feito
você sofrer tanto quando era criança.
— Não foi culpa sua. Você não podia adivinhar
o que ia acontecer. E dessa vez não foi culpa de
ninguém, além da minha estupidez.
— Me perdoa… me perdoa… — Ele me
apertava tão forte que eu tinha dificuldade em
puxar o ar para os meus pulmões.
— Não foi culpa sua. Você não fez nada. —
Desvencilhei-me do abraço para fitá-lo no rosto,
quando pude ver seus olhos marejados de lágrimas.
— Diga-me o que aqueles malditos fizeram
com você. Eles te violentaram? — Havia angústia
no tom de sua voz.
— Não. Um deles tentou, mas me lembrei da
sua voz, me mandando reagir e reagi. Você me
salvou, Lowell.
— Eu não fiz nada. Você estava lá correndo
risco de vida e eu sem fazer nada.
— Não havia nada que você pudesse fazer.
— Eu devia ter acionado a CIA, o FBI, a
NASA. Não fiz o suficiente. — Ele me abraçou de
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novo, apertando-me com tanta força que tive a


impressão de que me partiria ao meio.
— Não se torture assim.
— Eu tive tanto medo de te perder. Achei que a
perderia. Mas me serviu de lição para que eu
percebesse o quanto te amo. — Suas palavras me
fizeram estremecer brevemente, de pura emoção.
Percebendo minha reação, Lowell afastou-se do
abraço, apenas o suficiente para cravar seu olhar no
meu. — Eu te amo, Madison. Desculpe-me por ter
sido estúpido o suficiente para não perceber isso
antes. Agora eu vejo que você é a mulher da minha
vida, com quem quero envelhecer. — Ele se
silenciou e continuou me encarando, como se
esperasse uma resposta, enquanto eu só conseguia
ficar muda, emocionada, processando aquela
declaração tão inesperada. — Eu sempre te amei,
Madison. Desde que éramos crianças e preciso
saber se sou correspondido. Se você quer ser minha
mulher para o resto de nossas vidas.
— Mas é claro que eu quero. Eu também te
amo como jamais amei alguém. Acho que me
apaixonei por você no dia em que minha mãe me
levou da maternidade para a sua casa.
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Lowell sorriu lindamente, expondo os dentes


brancos e perfeitos. Em seguida, inclinou-se e
atacou minha boca com a sua, sugando meus
lábios, mordiscando, lambendo, com uma fome
descomedida e deliciosa, que fez com que meu
sangue fervesse nas veias, o desejo ardendo em
minhas entranhas, minha intimidade pulsando.
Teríamos nos entregado um ao outro naquele
momento, se não houvesse tanto ainda a ser dito.
Eu me recusava a continuar mentindo para ele.
Havia chegado o momento de falar toda a verdade
sobre Jerry, sobre a necessidade do dinheiro para
tirá-lo da cadeia, que me levou a tudo aquilo, sobre
ter mentido em relação a terminar meu
relacionamento com ele e o que era pior: sobre ter
participado daquele assalto. Ou talvez eu pudesse
pular essa parte. Era grave demais. Lowell
certamente me excluiria da sua vida.
Eu queria poder adiar aquela conversa, mas
queria também falar logo tudo e limpar minha
consciência.
— Preciso saber de Lucas. Como ele está? —
Interrompi o beijo e me afastei para desfazer o
contato físico, puxando o ar com dificuldade para
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meus pulmões.
— Está em meu apartamento, cercado por
seguranças como te prometi.
— Ele disse que está jogando videogame com
o parrudão.
O canto da boca de Lowell se dobrou em um
sorriso torto e precisei de muito esforço para conter
o impulso de me atirar nos braços dele de novo e
morder aqueles lábios deliciosos.
— Deve ser o Josh. Ele gosta de crianças, mas
é muito bem treinado para proteger. Pode confiar.
— Lowell observou-me em silêncio por um longo
momento, antes de perguntar. — Não quero te
chatear, mas preciso saber. Por que você saiu da
empresa com aquela mulher? Por que não me disse
que o trabalho de modelo é importante para você?
Eu teria entendido e dado todo o meu apoio.
— Como você sabe que deixei o prédio com
uma mulher, para seguir a carreira de modelo?
— Há câmeras na recepção e nas proximidades
do edifício. Foi a primeira coisa que averiguamos
quando você sumiu. Sem mencionar que o
recepcionista ouviu toda a conversa de vocês. Por
que fazer isso escondido de mim, Madison? Será
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que você pode me explicar?


— Posso. — Sentei-me em uma poltrona,
tensa, sobressaltada, e gesticulei para que ele se
acomodasse em outra. — Eu preciso de dinheiro
para tirar Jerry da cadeia.
— O quê?! — Lowell fitou-me atônito.
— Apareceram uns caras lá no presídio que
querem matá-lo. Deram uma surra violenta nele. O
advogado quer dez mil para tirá-lo de lá. Eu
pretendia fazer algumas fotos para arrecadar esse
dinheiro.
Lowell me observava cada vez mais incrédulo.
— Por que você não me falou nada? Eu teria te
dado esse dinheiro.
— Não é tão simples assim. — Sem mais
conseguir encará-lo, desviei meu olhar para o chão.
O silêncio que se seguiu foi tão profundo que
quase pude sentir a tensão que partia dele.
— Você não terminou com ele, não foi?
— Não, mas isso não tem nada a ver com nós
dois. Não tive coragem de terminar uma relação de
sete anos com ele naquele estado, todo machucado.
Lowell deu um sorriso amargo, sem que seu
olhar acompanhasse o gesto. Fitou o vazio à sua
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frente durante um momento de silêncio, antes de


voltar a me encarar.
— Você ainda o ama?
— Mas é claro que não. Eu só não queria
pisotear em alguém que já está no chão.
— Não entendo porque tanta preocupação com
alguém que você não ama. E entendo menos ainda
porque mentiu para mim. — Sua voz soou ríspida e
alterada.
O que eu podia dizer em minha defesa, se ele
estava coberto de razão?
— Eu não quis te envolver nessa história. O
plano era conversar com ele depois que estivesse
fora da cadeia.
— Mais alguma mentira que eu deva saber? —
Lowell me encarava de forma acusadora e percebi
que precisava dizer toda a verdade a ele, mesmo
que o perdesse depois.
— Tem uma coisa. — Tremi por dentro,
temendo que ele não me quisesse mais em sua vida
depois de me ouvir. — Eu participei do assalto pelo
qual ele está preso. — O queixo de Lowell caiu, o
doloroso julgamento se refletindo em sua
expressão.
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Naquele instante, tive certeza de que o


perderia.
— O sujeito que ia dirigir o carro que os tiraria
da joalheria depois do roubo, desistiu na última
hora e não tinha outro motorista, então tomei o
lugar dele. Não cheguei a entrar na joalheria, mas
estava esperando no carro do lado de fora e fugi
quando a polícia chegou. — Lowell continuava me
encarando daquele jeito acusador, sem dizer uma
palavra. — Jerry e seus comparsas nunca contaram
isso para a polícia, mas ele ameaçou contar caso eu
não o tirasse da cadeia. Ele também me mandou
dormir com você para conseguir os dez mil. —
Nesse momento, uma lágrima solitária escorreu do
canto do meu olho. — Eu vou entender se você não
me quiser mais em sua vida.
Lowell continuou me observando por um longo
momento de silêncio, sem que eu visse nada além
de julgamento em sua fisionomia. Por fim,
percorreu os dedos entre seus cabelos molhados,
em um gesto de impaciência e levantou-se.
— Preciso me livrar dessas roupas molhadas.
— Você não vai dizer nada sobre nós dois?
— Não há nada para dizer. Temos coisas mais
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importantes para pensar agora. O detetive me disse


que você contou a ele que o sequestrador confessou
ter sido pago para te pegar. É verdade isso?
— Sim.
— E você tem ideia de quem possa tê-lo
contratado?
— Não.
— Acha que Jerry pode estar por trás disso?
— Ele não teria como contatar essas pessoas de
dentro da cadeia e nem motivos para fazer isso.
— E quem pode ter sido, então?
Pela forma como ele pronunciou as palavras,
percebi que estava acusando Jerry. Só que o pai do
meu filho podia ser um bandido miserável, mas não
me faria um mal tão grande. Eu o conhecia como
acreditava, mas conhecia o bastante para ter certeza
de que não faria aquilo.
— Não faço ideia.
Pensei em Meg, ou na mãe dele, ambas me
detestavam, mas não podia acusar ninguém sem ter
provas.
— Precisamos ficar aqui e acompanhar as
investigações da polícia francesa.
— De jeito nenhum. Não posso ficar aqui.
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Preciso ver meu filho. — Levantei-me do sofá com


um sobressalto.
Lowell respirou fundo, impaciente, resignado.
Percorreu os olhos pelo quarto, detendo seu olhar
na comida intacta que me foi trazida mais cedo.
— Você precisa comer, não pode ficar sem se
alimentar. Vou arranjar roupas secas e pedir que a
tripulação se prepare para voarmos de volta para
casa. Já volto.
Com isto, ele abriu a porta e deixou o aposento,
mostrando-se frio e mais distante de mim que antes
de chegar, o que me parecia ainda pior do que se
ele estivesse brigando comigo por mentir. Se
brigasse, pelo menos eu saberia o que estava
sentindo e pensando.

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CAPÍTULO XXI

Lowell não voltou a falar comigo, que não o


essencial, até que estivéssemos em seu avião
particular, horas depois, voltando para casa. Após a
decolagem, me abriguei em uma das cabines — a
qual imitava um quarto pequeno, com cama,
banheiro, uma mesinha para refeições e armário —,
porque não era obrigada a ficar ali no
compartimento principal, olhando para a carranca
dele. Eu estava errada por ter mentido, mas ele
também estava por se recusar a me perdoar depois
de dizer que me amava.
Na cabine, não consegui ficar deitada. Sentia-
me tensa, preocupada, com saudade do meu filho e
ao mesmo tempo tomada pela falta absurda que
Lowell me fazia. Não era fácil tê-lo tão perto e não
poder tocá-lo. Saber que estava no compartimento
ao lado e mesmo assim ter a sensação de que um
oceano inteiro nos separava. Eu precisava dar um
jeito de reconquistar a confiança dele e acabar com
aquela distância insuportável.
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Impaciente e afadigada pelo cansaço, caminhei


de um lado para o outro da cabine durante quase
meia hora, até que por fim, fui vencida pelo sono e
decidi tomar um banho quente para relaxar e tentar
dormir uma pouco. Eu ia precisar de energias para
ficar o máximo de tempo possível com Lucas
quando chegássemos, podia recuperá-las durante as
horas de voo.
Estava debaixo da água do chuveiro,
apreciando os jatos quentes escorrendo pelo meu
corpo tenso, me fazendo relaxar aos poucos,
quando de súbito a porta do banheiro se abriu e
Lowell entrou, agraciando-me com a visão do seu
corpo perfeito, másculo, completamente nu.
Minha nossa! Como ele conseguia ser tão
lindo?
Não havia nada nele que não me atraísse de
maneira fervorosa. Eu me via fascinada pelos
músculos bem definidos dos seus braços e do peito
largo, coberto por pelos negros e curtos, os quais
desciam através da sua barriga sarada, onde havia a
forma de um V e terminavam na pélvis bem
depilada. O pau, mesmo semiereto, conseguia ser
enorme.
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— Posso tomar banho com você? — Indagou


ele, com um sussurro rouco.
Quando busquei seu olhar com o meu, o flagrei
devorando, com olhos esfomeados, cada detalhe da
minha nudez, à medida que sua ereção ia se
formando, até que seu membro estivesse
completamente inchado, deliciosamente maior e
mais duro.
— Claro. — Respondi, sem fôlego, a excitação
se fazendo na altura do meu ventre, se espalhando
depressa pelo meu sangue, de forma tão fervorosa
que precisei abrir a boca para puxar o ar.
— Por que você tinha que ser tão linda? —
Lowell se aproximou e colou seu corpo forte no
meu, empurrando-me até que minhas costas
encontrassem a parede e eu estivesse encurralada.
Colocou o seu rosto a centímetros de distância
do meu, deslocando seu olhar lindo, carregado de
luxúria, dos meus olhos para a minha boca, ao
mesmo tempo em que acomodava seu pau, grosso e
rijo, entre minhas pernas, de encontro ao meu sexo
lambuzado, de modo que fiquei quase montada
nele, sua rigidez afastando meus lábios vaginas,
aconchegando-se entre eles, fazendo minha vagina
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pulsar descontroladamente, tomada pela mais


absurda ansiedade em tê-lo todo dentro de mim.
— Você que é todo lindo. — Murmurei, minha
voz arrastada pela respiração pesada.
Necessitada dele, aproximei meu rosto do seu
peito musculoso e mordi com força, com fome de
sua pele.
— Eu tenho agido como uma idiota. — Ele
falou e moveu seus quadris em um lento e tortuoso
vai e vem, fazendo com que seu pau deslizasse em
toda a extensão do meu sexo, massageado
gostosamente o meu clitóris e o centro dos meus
grandes lábios.
Puta merda! Eu seria capaz de gozar assim.
— É… você tem…
— Desculpe-me por isso. Não sei como lidar
com esse ciúme louco que sinto de você. — Ele
moveu novamente seus quadris, fazendo seu pau
percorrer o centro das minhas pernas e soltei um
gemido alto, totalmente entregue ao tesão que me
consumia. — Foi esse mesmo ciúme que me fez
mentir há doze anos, quando causei a demissão de
Ivone. — Seus quadris continuaram se movendo
para frente e para trás, seu pau tornado-se cada vez
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mais duro de encontro à minha entrada. — Eu não


suportei ver você dando mais atenção para Edward
do que para mim, naquela tarde no haras, da mesma
forma que não suporto imaginar que você ainda
sente alguma coisa por aquele sujeito. Eu quero
você só pra mim, Madison. Não tolero a ideia de te
dividir com outro homem.
Olhei dentro dos olhos dele antes de falar.
— Não existe a mínima possibilidade de você
me dividir com outro homem, porque o único que
quero é você. Não tenho olhos para outro e nunca
terei. Eu te amo, Lowell. Você é o homem da
minha vida.
Senti o corpo grande dele estremecendo de
encontro ao meu, ao mesmo tempo em que sua mão
segurava firmemente em meus cabelos, atrás da
cabeça.
— Eu te amo. Madison. Sempre amei e sempre
vou amar.
No instante seguinte, sua boca deliciosa tomou
a minha, sugando e mordiscando meus lábios, antes
de inserir sua língua entre eles, com uma lascívia
gostosa, movendo-a em vai e vem dentro da minha
boca, no mesmo ritmo em que seus quadris se
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moviam de encontro aos meus e sua masculinidade


se esfregava na maciez da minha umidade.
Descontrolada de desejo, enterrei meus dedos
em seus cabelos curtos e montei em seus quadris,
abraçando-o com minhas pernas, encaixando minha
entrada na cabeça do seu pau, quando então o golpe
veio rápido e preciso, sua rigidez deslizando para
dentro de mim, com uma perfeição absurda,
fazendo-me soltar um grito alto, porque não havia
sensação mais prazerosa no mundo que senti-lo se
acomodando em meu interior, seu tamanho
esticando as paredes do meu canal, quase me
levando à uma deliciosa insanidade.
Lowell puxou seus quadris e os arremeteu
contra mim novamente, com força e firmeza,
abrindo-me um pouco mais, alcançando-me tão
fundo que pude senti-lo me empurrando lá dentro e
lembrei-me das primeiras vezes em que me
entreguei a ele, do medo que tinha do seu tamanho
me penetrando tão profundamente. Agora, o medo
havia dado lugar ao prazer descontrolado e gostoso
que me fazia gritar e me contorcer em seus braços,
enquanto ele entrava e saía de mim em um ritmo
acelerado, estocando forte e firme,
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incessantemente, seu corpo sólido e rochoso se


chocando contra a minha fragilidade.
Perdida naquele mar de luxúria, percorri os
meus dentes na pele do seu pescoço, mordendo-o
forte, para em seguida buscar sua boca com a
minha, quando fui recebida por lábios famintos,
que sugaram minha língua avidamente, levando-me
à mais magnífica perdição, ao clímax do prazer.
Lowell pressionou seu corpo ao meu com ainda
mais força, aprisionando-me contra a parede,
sufocando meus gritos com sua boca ávida,
enquanto eu gozava gostoso no pau dele, me
acabando, me perdendo. Esperou que eu estivesse
satisfeita e parou de se mover, completamente
enterrado em mim, deixando que seu leite jorrasse
quente e abundante em meu interior, seus espasmos
me causando uma nova e violenta corrente de tesão,
que correu solta pelas minhas veias.
Por fim, ficamos imóveis, apenas ouvindo o
som da nossa respiração se misturando ao barulho
da água que caía do chuveiro.
— Esquecemos o preservativo. — Falei, depois
do longo silêncio.
— Já está na hora de Lucas ter um irmãozinho.
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— Ainda me segurando de encontro à parede, ele


se moveu novamente dentro de mim, deslizando na
sua umidade e na minha, fazendo com que minha
vagina sensível desse um longo espasmo. — Porra!
Você aperta o meu pau gostoso demais.
— Ainda não estou pronta para me tonar mãe
outra vez. — Ardendo de tesão, percorri a ponta da
minha língua em sua clavícula até seu queixo
coberto pela barba bem aparada, quando novamente
ele se moveu dentro de mim, suscitando os
espasmos acarretados pela minha sensibilidade pós
orgasmo.
— O que faço com você, Madison? Já estou
duro de novo. Não consigo mais sair de dentro de
você.
— Então não saia. — Movida pelo desejo,
remexi meus quadris contra os dele, quando tive a
sensação de que meu corpo incendiava de dentro
para fora.
— Mas eu ainda nem beijei você todinha. —
Lowell contornou meus lábios com a ponta de sua
língua, em uma promessa erótica, para em seguida
sair de mim e colocar-me no chão. — Vou dar um
jeito nisso, mas não com toda essa água.
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Ele desligou o chuveiro e voltou para mim,


beijou-me demoradamente e deixou minha boca
para deslizar os seus lábios através da pele do meu
pescoço e colo. Ao alcançar um dos meus seios,
colocou o mamilo entre seus dentes superiores e os
inferires e fez uma leve pressão, puxando-o, me
fazendo arquear as costas, gemer e me contorcer
com as sensações libidinosas que pareciam me
incendiar viva. Meu mamilo estava completamente
esticado para a frente quando Lowell o soltou.
Observou-o por um instante, com olhos luxuriosos
e então voltou a cobri-lo com sua boca, desta vez
com mais suavidade, sugando-o docemente, para
em seguida partir para o outro peito e repetir a
proeza, como se meu corpo fosse o seu alimento
mais indispensável.
Continuou descendo sua boca através da minha
pele molhada, até nivelar seu rosto com o meu
sexo. Afastou meus lábios vaginais com seus
polegares e passou a língua da entrada da minha
vagina até meu clitóris, me fazendo gemer alto.
— Quero te beijar aqui, mas todo esse pelo está
me atrapalhando.
Diante do meu olhar aturdido, Lowell
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levantou-se e abriu o armário atrás do espelho, de


onde tirou um aparelho de barbear.
— O que você vai fazer? — Embora eu já
desconfiasse do que ele tinha em mente, precisava
ter certeza.
— Vou depilar você.
Instintivamente, fechei minhas pernas e me
encolhi mais de encontro à parede.
— Tem certeza que isso é seguro?
— E por que não seria? Eu tenho prática. Fiz
isso todos os dias durante vários anos. — Minha
mente projetou a imagem dele depilando suas
várias namoradas e foi como se alguém me jogasse
em balde de água fria. — Não faça essa cara. Estou
falando da minha barba. Antes de deixá-la crescer
eu a tirava todos os dias.
Sua revelação me fez sorrir alto e, mais
relaxada, abri novamente as pernas.
— Tudo bem, vá em frente. Mas lembre-se de
que isso não é um queixo a ser barbeado.
— Não tem nem como confundir uma coisa
com a outra.
Lowell usou um pouco de xampu para fazer
espuma e ajoelhou-se novamente diante de mim,
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espalhando-a sobre meus pelos púbicos, com


movimentos muito suaves e circulares da sua mão,
enquanto que eu só coseguia captar o erotismo da
coisa e ficava cada vez mais excitada. Depois, abriu
a torneira da pia e passou o barbeador na minha
pélvis, com muita habilidade, colocando-o sob os
jatos da água da torneira em seguida, por um breve
instante, para depois raspar outra fileira de pelos,
enquanto eu permanecia o mais imóvel possível,
temendo que a qualquer movimento ele pudesse
perder a firmeza da mão e cortar minha pele.
Eu já havia me depilado ali embaixo antes, mas
com cera quente, a fim de fazer uma surpresa para
Jerry no dia do aniversário dele. Não era uma
atividade que me agradava muito, pelo menos não
até aquele momento.
Lowell continuou fazendo aquilo até que
minha boceta estivesse lisinha, sem qualquer
vestígio de pelos. Foi então que ele abandonou o
barbeador de lado, contemplou sua obra de arte,
com olhos brilhantes de luxuria e trouxe novamente
sua boca para mim. Passou a ponta da sua língua
sobre o lábio esquerdo, depois sobre o direito.
Voltou para o esquerdo e o sugou, suavemente,
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causando-me uma corrente de tesão tão insana que


lancei a cabeça para trás e gemi alto. Só que o
melhor ainda estava por vir. Foi quando sua língua
habilidosa se infiltrou entre meus lábios depilados,
moveu-se em círculos na entrada da minha vagina e
foi para o meu clitóris, movendo-se tão macio e
gostoso sobre ele que quase perdi o controle sobre
mim mesma, tudo em mim se transformado em
tesão e luxúria.
Perdida, segurei-me em seus cabelos curtos e
pendurei uma perna sobre o seu ombro, abrindo-me
mais para ele antes de começar a rebolar os quadris,
esfregando minha boceta em sua boca,
desavergonhadamente.
Lowell inseriu dois dedos na minha vagina,
movendo-os em um delicioso vai e vem, sem deixar
de me chupar gostoso e logo meu corpo todo se
retesou, anunciando a chegada do gozo, quando
então ele segurou meu clitóris inchado entre seus
lábios e sugou suavemente, levando-me à mais
deliciosa perdição.
Ali, perdida, com as costas apoiadas na parede,
gozei e gritei, clamando pelo nome dele,
ensandecida, maravilhada.
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Orlando nos recebeu com um belo dia de sol e


calor. No apartamento de Lowell, não consegui
conter as lágrimas quando tomei Lucas em meus
braços e o apertei com tanta força que quase o fiz
pedir socorro à Ivone. Era a primeira vez que eu
ficava longe do meu filho e sinceramente esperava
que fosse a última. Poupei Ivone dos detalhes
sórdidos do que havia acontecido, contando a ela a
história apenas por alto, afinal não via necessidade
de fazê-la se preocupar e sofrer mais do que já
havia sofrido na vida. Deixei que acreditasse que
aquele sequestro não foi nada grave.
Como era sábado, Lowell não foi trabalhar e
recebemos a visita do detetive particular que ele
havia contratado para descobrir quem estava por
trás daquele sequestro, segundo Lowell, o melhor
investigador do país, para quem repeti, com
detalhes, tudo o que havia acontecido, desde o
instante em que deixei a sede da empresa, até
quando consegui fugir. A única informação que ele
tinha sobre o caso até o momento, era que a mulher
com quem saí do prédio não trabalhava na agência
de modelos do sujeito que me deu seu cartão na
festa. Ia começar suas investigações tentando
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descobrir quem de fato era ela, para então chegar


ao mandante do crime.
Depois que o homem magrinho e franzino se
foi, Lowell nos convidou para irmos passar o final
de semana em sua casa de praia em Miami, mas
tive que recusar, estava cansada demais, só queria
ficar em casa, no aconchego do apartamento
cercado por seguranças armados, tomada pela
certeza de que nenhum mal voltaria a me acontecer,
curtindo meu filho, minha mãe e Lowell. Então
assim fizemos, passamos os dois dias seguintes
aproveitando o sol na piscina do terraço, assistindo
séries na televisão, e desfrutando da companhia um
do outro, sem que nada na vida jamais tivesse me
parecido tão agradável, sem que jamais antes eu
tivesse me sentido tão realizada e plenamente feliz.
Naqueles dias, pedi que Lowell dispensasse sua
governanta e passei a fazer nossas refeições, com a
ajuda de Ivone e até de Lucas, isso nos raros
momentos em que ele não estava grudado no vídeo
game, às vezes competindo com Lowell,outras
vezes jogando sozinho. Foi maravilhoso perceber o
quanto eles se tornavam mais amigos a cada
instante, embora eu ainda não tivesse ideia de qual
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seria a reação de Lucas quando soubesse que o pai


dele e eu não estávamos mais juntos e que eu era
namorada de Lowell agora. No mínimo ele sofreria,
visto que era louco pelo pai, mas com o tempo
aprenderia a aceitar. Se Lowell conseguiu
conquistar a amizade e a confiança dele em tão
pouco tempo, logo o ensinaria amá-lo também.
Mas eu não queria pensar em Jerry ainda, não
naqueles dias que havíamos reservado somente
para nós. Deixaria para me desgastar com ele
depois de tirá-lo da cadeia.
Quando a segunda-feira chegou, tive a
sensação de que meu sonho de felicidade estava
sendo interrompido, de que precisávamos voltar à
nossa realidade. Lowell insistiu para que eu fosse à
empresa junto com ele, mas eu precisava resolver
logo as coisas com Jerry, já havia adiado demais
aquela situação, tinha que dar um fim naquilo o
quanto antes, para só então viver minha vida em
paz com o meu verdadeiro amor.
Antes de sair para uma reunião importante,
cedo da manhã, ele me deu o cheque com os dez
mil dólares para pagar o advogado.
— Você devia deixar esse sujeito apodrecer na
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cadeia. — Disparou Lowell, enquanto tomávamos


o café da manhã na cozinha, quando Lucas e Ivone
ainda dormiam.
— Eu não faria questão de tirá-lo de lá se ele
não estivesse sendo ameaçando de morte.
— Esse cara te chantageou, te mandou dormir
com outro homem por dinheiro. Você devia deixá-
lo morrer lá dentro.
— Não fala assim. Por mais errado que Jerry
seja, ainda é o pai do meu filho.
— É só por isso mesmo que você quer tirar ele
de lá?
— Vou fazer de conta que você não me
perguntou isso, só para não estragar o meu dia.
Lowell respirou fundo, em um gesto de
resignação.
— Pelo menos me promete que vai tomar
cuidado. Que não vai se afastar nem por um
segundo dos seguranças e que não vai cair na lábia
dele quando ele tentar te fazer mudar de ideia sobre
deixá-lo. Porque eu tenho certeza de que ele vai
tentar impedir que você o deixe.
Sorri com carinho para ele. Quem podia
imaginar que Lowell Dixon, presidente de uma das
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maiores companhias multinacionais do mundo, era


um homem inseguro.
— Eu prometo tudo isso e muito mais. Prometo
que estarei aqui antes de anoitecer, que vou te
esperar, linda e morena, na sua cama.
— Isso parece tentador. — Ele segurou minha
mão entre as suas e levou-a até seu rosto, aspirou o
cheiro da minha pele e então a beijou, suavemente.
— Não quero apenas hoje. Quero que você esteja
aqui me esperando todas as noites. Para o resto de
nossas vidas.
Processei suas palavras e meu coração se
agitou no peito.
— Você está me convidando para morar aqui?
— Sim. Você, Lucas e Ivone. Aceita?
Não parecia haver nada que eu pudesse desejar
mais, mas havia. Eu queria que fosse diferente com
ele, queria uma aliança e um pedido romântico de
casamento. Se fosse morar com ele agora, talvez
isso o impedisse de pedir minha mão formalmente,
da forma como aconteceu com Jerry, embora a
situação fosse completamente diferente.
— Posso pensar um pouco?
Ele pareceu desapontado.
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— Claro. Quanto tempo precisar. — Ele


verificou o relógio em seu pulso antes de ingerir o
último gole de café puro da xícara. — Infelizmente
preciso ir, essa reunião é inadiável. Vou deixar a
limusine e os seguranças à sua disposição. Não se
distancie deles em hipótese alguma. Ainda não
sabemos com que tipo de pessoa estamos lidando.
— Havia gravidade no tom de sua voz e um
calafrio desceu pela minha espinha.
Havia meia dúzia de seguranças para ficar na
escola de Lucas também, mas nem assim eu tinha
certeza se conseguiria deixá-lo lá, longe de mim.
Havia um louco, ou uma louca, por aí tentando me
fazer mal e o caminho mais rápido para me atingir
era meu filho.
O pensamento me causou um calafrio na
espinha.
— Cuide-se! — Lowell plantou um selinho em
meus lábios, pegou sua valise de couro e se foi,
deixando um vazio absurdo em seu lugar.
Quando Lucas acordou, fiz questão de levá-lo
pessoalmente na escola, quando me certifiquei de
que ficariam vários seguranças armados vigiando-
o, alguns na porta da sala de aula, outros pelos
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corredores e alguns do lado de fora. Eles usavam


terno, gravata e óculos escuros e pareciam muito
bem treinados, de modo que não me restaram
dúvidas de que Lucas estava seguro.
Da escola, pedi ao motorista da limusine que
me levasse até o escritório do advogado. Era um
advogado de porta de cadeia, acostumado a
barganhar com juízes e promotores para tirar
bandidos da prisão. Na limusine, havia um
segurança ao lado do motorista e mais dois
sentados diante de mim, o que me deixava pouco à
vontade, mas que era indispensável.
Durante o percurso, comecei a pensar em toda
aquela situação, no que Lowell dissera sobre Jerry
recusar-se a aceitar o fim do nosso relacionamento.
Ele estava certo, Jerry não aceitaria assim
facilmente, não que fosse apaixonado por mim, eu
não acreditava mais no amor dele depois que me
mandou dormir com Lowell para conseguir o
dinheiro, mas porque era um homem orgulhoso, do
tipo que se recusava a perder. Na certa faria da
minha vida e da de Lowell um inferno, não nos
deixaria vivermos nosso amor em paz e eu nem
poderia fazer muita coisa para mantê-lo afastado, já
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que havia o laço de sangue entre ele e Lucas.


Quanto mais eu pensava em tudo aquilo, mais
me sentia desencorajada a tirá-lo da prisão. Se o
deixasse lá, Lowell e eu ainda teríamos algum
tempo para vivermos nossa história em paz, até ele
cumprir sua pena toda e ser solto. Se me
denunciasse à polícia, sobre eu ter participado
daquele assalto, Lowell contrataria o melhor
advogado do país para me defender. Mas eu
conseguiria viver com isso? Seguir em frente com
minha vida, sabendo que o deixei para trás? E se
ele fosse morto pelos traficantes?
Quando a limusine estacionou diante do prédio
precário, em um bairro barra pesada da cidade,
onde ficava o escritório do advogado, eu ainda não
havia decidido o que fazer. Não sabia se ia em
frente com aquilo, ou se deixava Jerry exatamente
onde estava, bem longe da minha vida e da do meu
filho, então pedi ao motorista que desse mais
algumas voltas pela cidade, enquanto pensava e
algumas horas depois pedi que ele me levasse para
o apartamento onde morava com Ivone.
Minha decisão havia sido tomada. Eu não
tiraria Jerry da cadeia. Mesmo sabendo que dali a
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alguns anos, quando ele saísse de lá, após cumprir


sua pena, as consequências seriam ainda piores, eu
optava por ter mais tempo de paz e felicidade ao
lado do homem que amava verdadeiramente,
deixaria para lutar contra a ira de Jerry depois de
viver meus momentos de felicidade, raros demais
na minha vida conturbada.
No prédio onde ficava o apartamento, um dos
seguranças ficou para trás, vigiando o hall,
enquanto que os outros dois subiam comigo.
— Por favor, rapazes, fiquem aqui no corredor.
Uma garota precisa de privacidade. — Falei,
pegando a chave na bolsa para destrancar a porta.
Ivone ainda estava no apartamento de Lowell,
mas eu ligaria para que ela viesse. Por mais que
amasse aquele homem, eu ainda não estava
preparada para ir morar com ele. Queria que as
coisas fossem tradicionais desta vez, queria ser
pedida em casamento, ficar noiva, planejar uma
grande cerimônia e até fazer uma despedida de
solteira, como toda mulher tinha o direito.
Os dois seguranças entreolharam-se e, com um
gesto de cabeça, concordaram em ficar do lado de
fora.
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Abri a porta e entrei. Ao avançar pela sala, um


calafrio desceu pela minha nuca, como o anúncio
de um mau presságio. Logo vi a mochila com a
estampa do exército em cima do sofá e de imediato
a reconheci. Era a mochila de Jerry, mas como ela
foi para ali?
Mil possibilidades se passavam em minha
cabeça e a resposta veio junto com o terror que
tomou conta de cada uma das células do meu
corpo, quando Jerry surgiu da direção da cozinha,
usando um jeans desbotado, folgado e camiseta de
malha. Diferente da última vez em que o vi, tinha
os cabelos cortados e a barba bem feita. Os
hematomas causados pela surra que havia levado
ainda estavam em seu rosto, menos nítidos, porém
ainda bastante visíveis. Em uma de suas mãos,
tinha um pacote de biscoitos pela metade e na outra
o pedaço de biscoito mordido.
Precisei piscar várias vezes só para certeza de
que não estava tendo uma alucinação, em seguida
repassei, mentalmente, todos os acontecimentos
daquela manhã, só para me certificar de que,
porventura, não havia levado o cheque com os dez
mil para o advogado e apagado essa lembrança da
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minha memória.

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CAPÍTULO XXII

— Saiu mais cedo do trabalho? — Jerry


indagou, com a casualidade de quem não havia
passado anos na cadeia e aparecido de repente, sem
avisar, na casa da namorada.
— C-como…? O que você está fazendo aqui?
C-como saiu da cadeia?
— Não faz essa cara. Parece até que não está
feliz em me ver.
Com alguns passos, ele eliminou a distância
entre nós e me estreitou em seus braços, enquanto
eu me mantinha imóvel, toda dura, ainda chocada
com a presença dele ali.
— Senti saudade de abraçar você assim, sem
nenhum guarda abelhudo para me mandar te soltar.
Ele buscou minha boca com a sua e virei o
rosto, esquivando-me do beijo. Jerry se afastou e
observou-me com desconfiança.
— Me responde, Jerry. Você por acaso fugiu
do presídio?
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— Mas é claro que não. Tá doida? Uma mulher


contratou um advogado ainda melhor e ele me tirou
de lá esta manhã. Estou em liberdade condicional.
Só não posso deixar Orlando.
— Uma mulher? Que mulher?
— Eu não sei. Ela não quis se identificar para
mim. Só sei que foi uma mulher porque o advogado
falou. Deve ser alguma admiradora secreta. — Um
sorriso presunçoso se manifestou em seus lábios.
De súbito, ouvi em minha mente a voz do
chefe da quadrilha de tráfico de mulheres dizendo
que alguém o pagara para que fizesse aquilo.
Apenas uma pessoa que queria me fazer mal tiraria
Jerry da cadeia e obviamente era a mesma pessoa
que contratou o sequestrador. Eu não fazia ideia de
quem podia ser, mas agora sabia que se tratava de
uma mulher. Talvez Meg, por ciúmes de Lowell, ou
a Sra. Dixon, para evitar que o filho se envolvesse
com alguém de uma classe social inferior. Eram
motivos muito banais para que alguém me causasse
um mal tão grande quanto tentar me transformar
em uma escrava sexual, mas eu simplesmente não
conseguia pensar em outra pessoa. Não havia
ninguém que me odiasse tanto assim.
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— Como você entrou aqui? — Indaguei.


— A minha salvadora me mandou a chave e
me disse para vir procurar minha mulher.
Eu sabia! Isso era coisa de mulher obsessiva,
de paixão ou ambição.
Jerry se deixou afundar no sofá, cruzando uma
perna sobre a outra, à vontade como se estivesse
em sua própria casa.
— Agora me conta o que está acontecendo
com você. Começando por me dizer por que não
arrancou o dinheiro daquele idiota para me tirar da
cadeia. — Seu tom de voz era ríspido e seco.
— Ele não é um idiota. — Murmurei, entre
dentes.
Lentamente, a expressão de desconfiança deu
lugar a um brilho furioso em seus olhos castanhos
claros e no mesmo instante eu soube que ele
acabava de perceber o que estava acontecendo entre
mim e Lowell.
— Você está dormindo com ele, não é?
Cogitei seriamente mentir, negar tudo, só para
não ter que enfrentar sua reação, quando então me
dei conta de que o tempo todo eu vinha temendo
por essa reação, por isso havia adiado aquela
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conversa. Mas não adiantaria mentir, em algum


momento a verdade viria à tona. Além do mais, eu
estava apaixonada por Lowell e para construir uma
vida com ele, precisava encerrar a minha história
com Jerry. Aquele era o momento certo de
esclarecer as cosas, não havia mais como adiar.
— Sim, estou. — Confessei, desviando meu
olhar para o chão.
— Me diz que você está fazendo isso para
conseguir os dez mil para o advogado. — Sua voz
assumiu uma calma que me aterrorizou muito mais
do que se ele estivesse gritando.
Engoli em seco, nervosa, amedrontada,
pensando em voltar atrás, mas eu queria ser feliz
com Lowell, não podia permitir que Jerry tirasse
isso de mim. Então, encarei-o diretamente antes de
responder.
— Não, Jerry. Eu estou apaixonada por ele. Eu
ia te falar na última visita, mas você estava mal e…
— Cala a boca! — Dessa vez Jerry gritou,
abruptamente, ao mesmo tempo em que dava um
chute violento na mesinha de centro, atirando-a
contra o outro sofá, fazendo com que o tampo de
vidro se estilhaçasse, os cacos voando para todos os
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lados, um barulho ensurdecedor enchendo a sala.


Com meu coração disparado de medo, esperei
que os seguranças invadissem o apartamento a
qualquer momento, só que eles não apareceram.
Talvez não estivessem nos ouvindo.
Jerry levantou-se com punhos cerrados e veio
em minha direção, uma veia pulsava em sua
têmpora, sua fisionomia estava tão contraída que
chegava a dar medo. Tentei me mover do lugar,
obrigar minhas pernas a me levarem para fora dali
para pedir ajuda, mas o pânico me paralisou.
Esperei que o próximo chute dele fosse desferido
em mim, mas Jerry apenas se colocou à minha
frente, tão perto que pude sentir seu hálito quente
batendo em meu rosto.
— Nunca mais repita isso! Nem de
brincadeira! Você é minha mulher e aquele babaca
nunca mais vai chegar perto de você. Entendeu? —
Ele se silenciou, aguardando resposta, como não
obteve, gritou: — Entendeu, Madison?! — Fiz que
sim com a cabeça, petrificada de medo. — Se você
falar nesse cara de novo, eu o mato, sem nem
pestanejar. Fui claro?
— Sim.
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Ele ficou em silêncio por um instante, fitando-


me de muito perto, com a fúria evidente em cada
detalhe do seu semblante, enquanto eu só conseguia
esperar pelo pior, que me agredisse fisicamente a
qualquer momento.
— Nós vamos ser uma família de novo. Eu,
você e Lucas. Como sempre foi e como planejamos
que seria quando eu saísse daquele inferno. O que
aconteceu entre você e aquele cara vai ficar no
passado. Você nunca mais vai abrir a boca para
falar sobre ele, se fizer isso, eu o mato.
— Jerry, tente entender…
— Não! — Ele me interrompeu, bruscamente.
— Não diga mais nada sobe isso. Nem mesmo
volte a pensar nesse cara. Você é a minha mulher, é
a mãe do meu filho. Você e Lucas são a minha
vida. Se ele tirar a minha vida de mim, eu tiro a
dele. Você está me entendendo, Madison?
— Sim.
Então era isso, eu não viveria o amor imenso
que sentia por Lowell. Se ousasse pelo menos
sonhar em ficar com ele, Jerry o mataria e isso eu
não podia permitir. Nem sabia onde estava com a
cabeça quando acreditei que podia ser feliz, que
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podia ficar com o homem que meu coração


escolheu. A felicidade não foi feita para mim. Ser a
mulher de Jerry, mãe do filho dele, era o mais perto
de uma vida normal que eu chegaria. Só que isso
não era suficiente, eu queria tão mais, queria
Lowell, queria ser a mãe de Lucas e a esposa de
Lowell. Era pedir muito? Para mim, certamente era.
Por mais que Jerry não fosse capaz de matar
alguém pessoalmente, conhecia muita gente ruim e
poderia mandar uma dessas pessoas acabar com a
vida de Lowell. Eu não podia deixar que algo assim
acontecesse. Se perdê-lo para a vida já estava sendo
difícil, imaginava perdê-lo para a morte.
Estava acabado, meu sonho de felicidade havia
chegado ao fim e tudo o que eu queria era
desmoronar, cair naquele sofá e chorar até que
aquela dor maldita se esvaísse do meu coração.
— Agora me leve até a escola de Lucas. Quero
ver meu filho.
Lembrei-me dos seguranças lá fora e imaginei
a reação de Jerry ao vê-los.
— Aconteceu uma coisa comigo, que você
precisa saber.
— O quê?
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Contei tudo a ele sobre o sequestro, sobre ter


caído naquela enrascada quando tentava conseguir
o dinheiro para tirá-lo da cadeia, sobre a pessoa que
armou tudo aquilo supostamente ser a mesma que o
tirou da cadeia. Ao final da minha narrativa, Jerry
se mostrou chocado, preocupado, porém nada disse
sobre tentar descobrir quem era essa pessoa
misteriosa que tanto queria me fazer mal, o que me
levou a desconfiar, seriamente, de que talvez ele
pudesse estar por trás daquilo, não sozinho, já que
não tinha dinheiro para pagar o advogado que o
tirou da cadeia, mas era suspeita sua falta de
interesse em relacionar os dois acontecimentos à
mesma pessoa, em tentar se lembrar de algo, de
qualquer pista que nos levasse a descobrir quem era
essa pessoa.
Os seguranças ainda estavam no corredor
quando saímos e cheguei à conclusão de que o
apartamento devia ter isolamento acústico, para que
não tivessem ouvido os gritos de Jerry e a mesinha
de centro sendo quebrada. Ou então eram muito
mal treinados.
Com a maior cara de pau, Jerry apresentou-se a
eles como meu marido e fez questão de deixar o
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prédio com o braço passado em torno dos meus


ombros, enquanto eu só queria chorar e me
descabelar.
A felicidade que se estampou no rosto de
Lucas quando viu o pai tornou aquele pesadelo
todo um pouco mais suportável. Pelo menos algo
de bom se podia extrair de toda essa história. Pai e
filho se abraçaram e se emocionaram. Pelo menos,
Lucas se emocionou, quanto a Jerry, eu não tinha
certeza de que alguém que ameaçava outro ser
humano de morte, como ele ameaçara Lowell, era
capaz de amar verdadeiramente.
Da escola, fomos direto para o supermercado
fazer compras, quando fiquei pasma ao ouvi-lo
fazendo planos para a nossa vida, sem sequer me
consultar a respeito de nada. Segundo seus
planejamentos, continuaríamos morando em
Orlando, no apartamento de Lowell. Primeiro
porque não podia sair da cidade, segundo porque
havia gostado muito do apartamento e já que
Lowell o cedera a mim, agora pertencia à nossa
família. Era mesmo um folgado sem noção.
Seus objetivos iam além disso. Segundo ele,
pretendia arranjar um emprego fixo e tornar-se um
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pai de família sério e “careta”, do tipo que usava


terno e gravata e carregava uma valise de couro
cara por aí, como se fosse fácil se tornar um
executivo, ou algo do tipo, assim do dia para a
noite, sem sequer ter concluído o Ensino Médio na
escola.
No meio da tarde, meu celular começou a tocar
insistentemente com as chamadas de Lowell, de
modo que precisei desligar o aparelho antes que
Jerry percebesse que era ele e atendesse a chamada
em meu lugar, porque ele era petulante assim e,
embora não admitisse, no fundo estava remoendo o
orgulho ferido porque sua mulher havia dormido
com outro homem, o que o tornava uma bomba
relógio ambulante.
No final da tarde, telefonei para Ivone e, sem
dar-lhe muita explicação, pedi que voltasse para
casa. Pouco antes do anoitecer, Jerry, Lucas e eu
estávamos sentados à bancada da cozinha, comendo
o macarrão com queijo que Jerry havia preparado,
quando o inevitável aconteceu: a porta da sala foi
aberta por fora, para que logo em seguida a voz de
Lowell partisse da sala, me chamando e gelei dos
pés à cabeça.
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Naquele instante, pude ver claramente, em


minha mente, Jerry cravando a faca da cozinha no
peito dele, várias vezes, até que estivesse imóvel,
caído no chão em meio a uma poça de sangue e
tudo se revirou dentro de mim, terror e aflição me
tomando com uma intensidade absurda, me fazendo
tremer como se estivesse exposta a uma
temperatura de zero graus.
Sem parar para pensar, levantei-me com um
sobressalto, determinada a alcançá-lo e fazê-lo ir
embora antes que entrasse na cozinha e o pior
acontecesse.
Antes que eu tivesse a chance de me afastar,
Jerry fechou firmemente sua mão em torno do meu
pulso e sussurrou baixo o bastante para que Lucas
não ouvisse.
— Seja lá o que aconteceu entre você e esse
cara, acabe com tudo agora. Faça com que ele vá
embora imediatamente, pra nunca mais voltar, ou
não sairá desse apartamento com vida. — Suas
palavras conseguiram intensificar o horror dentro
de mim.
Se Lowell fosse morto por minha causa, eu
jamais me perdoaria.
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No exato instante em que eu alcançava a porta


da cozinha, esta se abriu e Lowell entrou, seus
olhos correndo ferozes direto para Jerry, que
permanecia sentado à bancada ao lado de Lucas.
Estava tão lindo, que quase fui às lágrimas por
lembrar-me que ele não era mais meu, que nunca
mais o teria, que não viveria aquele amor absurdo
que fazia meu coração agitar-se contra as costelas
quando eu o olhava.
— O que ele está fazendo aqui? — Lowell
esbravejou, fuzilando Jerry com olhos mortais.
Jerry virou-se para ele, fitando-o com um ódio
quase palpável, deixando claro que era capaz de
tudo, enquanto eu me transformava em uma pilha
de nervos.
— Estou cuidando do meu filho e da minha
mulher. Algum problema com isso?
— Lowell esse é o meu papai. Ele já chegou de
viagem. — Lucas interveio, antes que Lowell
tivesse a chance de abrir a boca.
— Lowell, vamos conversar lá fora. — Falei
nervosa e apavorada com o que poderia acontecer.
Segurei em seu braço e tentei puxá-lo para fora da
cozinha. — Vem comigo, por favor. Precisamos
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falar.
Lowell deslocou seu olhar feroz para o rosto de
Lucas, depois de Lucas para Jerry, até que por fim
respirou fundo e cedeu, acompanhando-me para a
sala.
— Eu ia te perguntar por que não está
atendendo às minhas ligações, mas acho que já
tenho a resposta. — Disse ele, com amargura.
— Vem comigo. Precisamos conversar em
outro lugar.
Com o coração apertado de medo, continuei
puxando-o, tentando persuadi-lo a me seguir para
fora do apartamento, para o mais longe possível de
Jerry.
— Por que não podemos conversar aqui?
— Lá fora eu te explico. Confia em mim e vem
comigo. — Eu começava a me desesperar e,
percebendo o meu estado, Lowell por fim me
seguiu.
Levei-o para o mais longe que pude do
apartamento, até a recepção do prédio, onde ele nos
fez parar.
— Já chega. Você vai me dizer o que está
acontecendo, agora mesmo. Por que esse cara está
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aqui?
Respirei profundamente, devagar e várias
vezes, fazendo um esforço quase inumano para
sufocar a paixão voraz que eu nutria por aquele
homem e ao mesmo tempo demonstrar uma frieza
que não existia. Eu precisava de muito sangue frio
para proferir aquelas palavras sem que elas
parecessem tão cruéis quanto eram.
— Eu decidi continuar com Jerry. — Comecei,
forçando meu olhar a manter-se fixo no dele. — Eu
realmente queria terminar tudo, quando disse a
você que o faria, mas mudei de ideia. Jerry me fez
perceber que ainda o amo e que será melhor para
mim e Lucas se ficarmos todos juntos.
Lowell fitou-me em silêncio por um instante
durante o qual quase parei de respirar, esperando
pela sua reação.
— Não acredito em você. — Disse ele.
— O quê?
— Olha pra você. Está nervosa, se tremendo
toda. Eu te conheço, Madison, sei quando está
apavorada. O que esse cara fez com você? Ele te
ameaçou?
— Claro que não. — Minha nossa! De onde eu
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ia tirar forças para continuar com aquilo? — Ele é o


pai do meu filho e é com ele que preciso ficar. Não
só por isso, hoje percebo que sempre o amei. O que
aconteceu entre nós foi bom, não posso negar, mas
só aconteceu porque eu estava carente, longe do
meu marido. Agora que ele está aqui, eu sei
exatamente que o que quero e é ele. Acho que no
fundo eu sempre soube. Foi por isso que não
terminei com ele antes, quando o visitei no
presídio.
— Minta melhor, Madison. Não está sendo
convincente. — Suas palavras disseram uma coisa,
mas a expressão em seus olhos mudou. Pela
angústia que neles se refletiu, eu soube que ele
começava a acreditar.
Embora fosse doloroso, era necessário que nos
afastássemos. Era a única forma de salvar a sua
vida da ira de Jerry. Eu sofreria sem ele, mas
suportaria a dor se tivesse a certeza de que estava
bem, sem correr risco de vida.
— É sério, Lowell. Desculpe-me. Eu achei
realmente que estivesse apaixonada por você, mas
era só solidão. Jerry é o homem da minha vida.
Lowell deu um sorriso amargo, sem que os
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demais traços da sua fisionomia esboçassem o


gesto.
— Solidão?! Isso é tudo o que fui para você?
Minha nossa! Ele havia acreditado! Embora
fosse esse o objetivo, quase desmoronei e neguei
tudo quando seus olhos lindos se encheram de
lágrimas, seu semblante se contraindo de dor.
— Foi. Eu sinto muito. — Forcei a minha voz
a sair firme, embora por dentro eu queimasse, de
dor e de tristeza, por estar ferindo o homem que eu
amava, pela certeza de que jamais viveria aquele
amor, o amor da minha vida.
— Ele jamais foi ameaçado na cadeia, não é?
Você apenas queria tirá-lo de lá, não é mesmo?
— Eu sinto muito.
— Para de repetir isso! — Dessa vez ele gritou,
dor e amargura visíveis em seu semblante. — Todo
esse tempo, você só me usou! Mulheres como você
fazem isso. Usam os homens para conseguirem o
que querem e depois os descartam.
— Lowell, eu…
— Cala essa boca, eu ainda não terminei. —
Ele me interrompeu, bruscamente. — Só que você
fez uma burrada das grandes, Madison. Esse cara é
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um bandido e todo bandido, seja ele qual for, acaba


se dando mal na vida e levando junto quem estiver
com ele. Eu só lamento por Lucas, que não teve
escolha. De você não tenho pena, porque você
acaba de fazer a sua.
— É, eu fiz. Desculpe não ter sido você.
— Foi só pelo dinheiro, não é? Você ficou
comigo, disse que me amava, só para que eu te
desse os dez mil de tirar ele da cadeia, não foi?
— Não foi só por isso.
— Mas esse foi um dos motivos!
— Desculpe, Lowell.
— Eu queria te dizer que você pode me
procurar quando precisar de alguma coisa, porque
você vai precisar de ajuda e nem vai demorar
muito, mas não quero mais olhar em sua cara. —
Fitou-me em silencio por um instante, como se se
despedisse e então me deu as costas e se foi.
Consegui manter-me firme no lugar até que
enxergasse o carro dele desaparecendo da frente do
prédio, quando então me deixei cair ali mesmo, no
chão, uma enxurrada de lágrimas banhando meu
rosto, abundantemente, exprimindo a dor absurda
que queimava em minhas entranhas, a pior dor que
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já havia experimentado em minha vida.

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CAPÍTULO XXIII

Lowell

— Sr. Dixon! Sr. Dixon! Sr. Dixon!


Ouvi, ao longe, a voz chamando o meu nome
repetidamente. Era uma voz grossa, masculina.
Tentei abrir os meus olhos, mas tive minhas vistas
ofuscadas por um clarão luminoso que parecia
partir de algum lugar que se movia, aliás, o quarto
todo parecia estar se movendo, causando-me
náuseas violentas. Esfreguei os olhos com as mãos
e parti para uma nova tentativa de abri-los,
conseguindo, desta vez. Encontrava-me deitado na
cama da cabine do meu iate, o cômodo pequeno
banhado pela luz do sol que penetrava as janelas de
vidro. Estava completamente nu, com um lençol
jogado sobre os quadris, ocultando minhas partes
íntimas, agarrado a duas mulheres, cujo nome não
me recordava. Ambas me abraçavam, uma de cada
lado e estavam adormecidas.
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Com muito esforço, consegui focar o rosto do


comandante da embarcação, o mesmo que me
acordara e ao sentar-me na cama, quase fui
nocauteado pela dor aguda que se fez em minha
cabeça, causada pela ressaca de uma noite inteira
de bebedeira e muito sexo.
— O que você quer, Paul? — Indaguei,
irritado, ansioso pela primeira dose de uísque do
dia.
— Sr. estamos nos aproximando das Bahamas,
devemos atracar?
Ele disse Bahamas? Eu jurava que estava em
Miami quando comecei a beber, há tantos dias que
já havia perdido as contas. O que raios estávamos
fazendo nas Bahamas?
— O que estamos fazendo nas Bahamas. Você
por acaso ficou louco?
Ele me olhou de um jeito estranho, quase
desrespeitoso, como se quisesse dizer que o louco
ali era eu.
— Não senhor, eu não fiquei louco. O senhor
me mandou navegar mar adentro até segunda
ordem. É o que estou fazendo.
— Vasculhei minha mente tentando me
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lembrar de em que momento havia dado uma


ordem estapafúrdia daquela. Fazia alguns dias, não
me lembrava de exatamente quantos. Tampouco me
lembrava de quando comecei a beber sem me
permitir ficar sóbrio nem por meia hora seguida.
Porém, lembrava-me claramente do motivo que me
levara a encher a cara, Madison. Bastou que o
nome dela ressoasse em minha mente, que seu rosto
lindo se projetasse em minha memória, que suas
palavras enchessem meus pensamentos, de novo,
de novo e de novo, para que a dor me tomasse,
latejando dento de mim de forma quase
enlouquecedora, a dor mais tortuosa que eu já havia
experimentado na vida.
Eu devia ter continuado tendo como exemplo a
vida dos meus pais, ter continuado acreditando que
o amor é só uma coisa que se inventa para dar um
nome mais elegante à lascívia, mas, em vez disso,
eu me perdi no meio do caminho. Entreguei meu
coração a uma mulher que o apunhalou e destroçou,
destruindo o que existia de melhor em mim.
Eu sempre soube que se um dia entregasse a
porra dos meus sentimentos a uma mulher, as
coisas acabariam assim, tinha a vida dos meus pais
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como exemplo, por isso havia me preservado,


levava muitas mulheres para a minha cama, sem
jamais me envolver sentimentalmente com
nenhuma. Só que com Madison foi diferente, por
mais que eu tivesse tentado, não consegui me
impedir de me apaixonar por ela, não consegui
evitar essa merda toda que as pessoas chamam de
amor, a ruína de qualquer ser humano. Tudo para
que no final das contas ela me trocasse pelo
bandidinho com quem teve um filho. Durante todo
o tempo em que estivemos juntos, ela jamais sentiu
nada, jamais teve dúvidas se o deixaria ou não.
Enquanto eu me iludia acreditando que passaríamos
a vida juntos, ela já tinha certeza de que ficaria com
ele, estava apenas me usando para não ficar
sozinha, ou sem sexo, da forma como fiz com
tantas mulheres.
A dor em meu peito disputava lugar com a dor
em minha cabeça, quando me levantei da cama com
um gesto ágil, indo direto para a garrafa de uísque
quase vazia, em cima de uma mesinha.
— E então, senhor, devemos atracar em Alice
Town? — Insistiu o comandante.
O que ele ainda estava fazendo em minha
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cabine? E o que era pior, o que estava fazendo


olhando para a porra das mulheres nuas na cama?
— Nada de parar. Vamos continuar. — Eu só
queria desaparecer para o mais distante possível.
— Mas precisamos reabastecer com
combustível, água e suprimentos.
Mas que cara chato! Por que não parava de me
encher com coisas sem importância?
— Faça o que for necessário. — Resmunguei
mal humorado, enquanto enchia meu copo.
Finalmente Paul deixou a cabine e fui para o
banheiro. Lembraria-me de reprojetar aquela merda
de iate com um banheiro maior. Ao observar o meu
reflexo no espelho, levei um susto, quase sem
reconhecer o homem na imagem à minha frente.
Estava muito mais magro, com grandes olheiras
sombreando meus olhos, tinha a barba crescida e
sem aparar, como a de um mendigo. Não era à toa
que Paul havia me olhado como se eu fosse um
maluco, era exatamente isso que eu estava
parecendo. Um bêbado maluco. Não, pior que isso,
eu me parecia um mendigo bêbado e maluco.
Meu Deus! A que ponto havia chegado? E tudo
por causa de uma mulher. Será que eu era tão fraco
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assim? A ponto de me entregar, de me deixar


destruir por uma decepção amorosa? Não era
possível. Eu era o presidente de uma empresa
multinacional, o filho a quem meu pai confiara todo
o seu império, o escolhido para liderar. Eu não
podia abrir mão de todas as minhas
responsabilidades por causa da porra do meu
coração. Minha família precisava de mim, centenas
de empregados dependiam do meu empenho. A
essa altura deviam estar todos loucos à minha
procura, meus pais e meus irmãos. Eu não fazia
ideia de há quanto tempo havia me livrado do meu
celular e nem telefonava para ninguém. Precisava
voltar, precisava ter o mínimo de dignidade e
retornar para o meu lugar. Não podia ser tão fraco e
me entregar.
Mas que porra, Lowell! Você não é o primeiro
homem a ser ferido por uma mulher e todos os
outros sobreviveram. Disse para mim mesmo.
Determinado a voltar e a nunca mais me
permitir perder o equilíbrio, joguei um roupão por
cima do corpo e fui até a cabine de comando avisar
ao comandante que devíamos retornar.

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(***)

Eu podia ouvir os burburinhos dos funcionários


da Dixon Enterprise por onde eu passava. Já fazia
dois dias que eu havia voltado ao trabalho e eles
continuavam cochichando às minhas costas. Na
certa falando sobre o quanto eu havia perdido peso,
sobre eu ter sido chutado pela garota
descoordenada que servia o café, sobre ter passado
quinze dias enchendo a cara ininterruptamente.
Assunto não faltaria até que eu me irritasse e
demitisse um deles só para dar o exemplo. Faria
isso quando tivesse tempo, por hora, havia quinze
dias de trabalho acumulado para atualizar.
Naquela manhã eu tinha uma reunião
importante com a equipe de marketing, que me
dava mais dor de cabeça do que me trazia lucros e
já estava atrasado. Peguei o elevador junto com
Diana, a jovem chefe do setor administrativo.
Enquanto subíamos, envolvidos em uma conversa
meio tensa — porque todo mundo parecia meio
tenso por ali ultimamente —, o elevador deu um
solavanco violento e parou. Na mesma hora Diana
começou a passar mal, seu rosto assumindo um tom
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esverdeado, sua respiração tornando-se mais lenta e


profunda.
Caralho! Era só o que me faltava, ficar preso
no elevador com uma garota passando mal. Liguei
para a emergência avisando o que estava
acontecendo e fiz com que ela deixasse sua bolsa
pesada de lado e se recostasse em meu ombro, para
não despencar no chão, caso chegasse a desmaiar.
Poucos segundos se passaram até que o elevador se
colocasse em movimento de novo e apertei o botão
do andar seguinte. Precisava tirar Diana de lá
imediatamente, para que voltasse a respirar
normalmente.
— Por que paramos aqui? — Ela indagou
alarmada, quando as portas se abriram.
Estávamos no oitavo andar, onde ficava a copa.
— Você não está bem. Precisa tomar um pouco
de água ou fazer seja lá o que faça quando está
assim.
Fiquei surpreso quando ela se recusou a sair do
elevador.
— Não podemos ficar aqui. Quer dizer, o
senhor não pode ficar neste andar.
Agora eu estava intrigado.
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— E posso saber o motivo pelo qual eu não


posso ficar nesse andar?
— Bem, é que, bom. — Diana tropeçava em
suas palavras e antes que conseguisse concluir a
frase, seu olhar passou direto por mim e se cravou
em alguém que estava às minhas costas. — Agora
ferrou.
Intrigado, me virei naquela direção e tive a
sensação de que o mundo à minha volta parava.
Tudo mais pareceu deixar de existir. Eu só
conseguia enxergar a garota de cabelos negros e
longos presos em uma única trança, vestida com
um jeans antigo desbotado e uma blusa florida,
empurrando o carrinho com as bebidas, para fora da
copa, de forma descoordenada, com dificuldade em
atravessar as portas largas. Seria uma miragem? Se
não fosse, o que ela ainda estava fazendo ali?
Sem conseguir desviar o olhar, dei um passo
em sua direção, quando só então Madison me
avistou. Como se tivesse levado um susto, soltou o
carrinho tão de repente, que algumas xícaras que se
encontravam em uma pilha caíram no chão, sem
que ela desviasse seu olhar de mim, ou fizesse
qualquer outro movimento para ir juntar os cacos.
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Apenas ao chegar perto o bastante para sentir o


cheiro gostoso do seu perfume frutal, tive certeza
de que não era uma alucinação, Madison estava ali
realmente, bem diante dos meus olhos, a mulher
que arrancou meu coração do peito e o fez em
picadinho. Tinha o rosto abatido, com grandes
olheiras, certamente por passar as noites acordada,
trepando com aquele marginal.
Naquele instante fui tomado por um ódio cego,
tão descomunal, que, no lugar dela, eu teria saído
correndo de perto de mim.
— O que você está fazendo aqui? — Indaguei,
fuzilando-a com toda a minha fúria, fazendo com
que recuasse um passo, meio cambaleante.
Seja esperta pelo menos uma vez na vida e
desapareça da minha frente.
— Estou trabalhando. — Murmurou,
alternando seu olhar arredio entre o meu rosto e o
chão.
Em minha mente, me imaginei jogando-a em
cima daquele carrinho, arrancando seu jeans fora de
moda, sem gentileza alguma e lhe dando uma surra
que a deixaria sem conseguir se sentar e sem trepar
com aquele bandidinho por um longo tempo.
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Isso não era nada perto do que ela merecia, por


me enganar, por fingir que me amava, quando nada
sentia.
— Na minha empresa?! Como se atreve?!
— Você não me demitiu.
O quê?! Como assim eu não a havia demitido?
Como pude deixar passar algo tão importante?
Talvez por acreditar que ela fosse embora por si
própria, ou por exigência do criminoso com quem
dividia sua vida.
Olhei na direção do elevador e vi Diana nos
observando sobressaltada. Ela tentara me impedir
de entrar naquele andar, obviamente a fim de evitar
que eu encontrasse Madison. Todos na empresa
sabiam que ela ainda estava lá e que este fato me
era desconhecido. Esse era o motivo pelo qual
todos estavam cochichando às minhas costas. Na
certa, zombando do cara que levou um chute de sua
funcionária e nem assim a demitiu, como se a
mantivesse por perto, deliberadamente, a espera de
uma reconciliação.
Mas que merda! Quantas vezes uma mesma
mulher era capaz de fazer um homem de idiota?
Com um gesto de cabeça, ordenei que Diana se
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fosse. Depois puxei Madison pelo braço para


dentro da copa e a encurralei na parede, antes de
me certificar de que não havia ninguém por perto
para nos ouvir. Consuelo não estava lá.
— Agora me fala o que você está fazendo
aqui?! — Esbravejei, a raiva correndo solta em
minhas veias. — Foi aquele marginal que te
mandou ficar aqui para me extorquir mais dinheiro?
A face de Madison ficou pálida, seu queixo
caindo de horror. Se eu não soubesse o quanto era
dissimulada, acreditaria que estava realmente
ofendida com a minha acusação.
— Mas é claro que não! Ficou louco? Ele nem
queria que eu continuasse trabalhando aqui.
Acontece que estamos passando por dificuldades.
— Ela desviou seu olhar para o chão, constrangida.
— Lucas pegou uma gripe forte e precisamos de
dinheiro para pagar os medicamentos e o hospital.
Ficarei só até Jerry arranjar um emprego. Ele está
procurando.
— Eu conheço bem tipinhos como ele. Vai
viver às suas custas pelo resto da vida. Mas toda
mulher tem o relacionamento que merece.
Ela engoliu em seco, hesitando antes de falar.
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— Caso você não se lembre disso também,


ainda estamos morando em seu apartamento e os
homens que você contratou ainda estão lá, fazendo
a minha segurança.
Quando ela me trocou por aquele marginal,
fiquei tão impactado que não lembrei sequer se
demitir os seguranças. Era uma surpresa que ainda
estivessem morando em meu apartamento e que ela
ainda trabalhasse na minha empresa. Se ela fosse
minha eu jamais a deixaria que chegasse perto de
um homem com quem havia tido um caso. Aquele
bandidinho devia ser um tremendo gigolô. Não me
surpreenderia se ela voltasse a tentar me seduzir
para me extorquir, a mando dele.
Naquele instante, cogitei seriamente demiti-la e
exigir que deixasse o meu apartamento, mas que
outra oportunidade eu teria fazê-la se arrepender
amargamente por ter brincado com os meus
sentimentos? Não que eu fosse um homem
vingativo, aliás, isso era coisa de mulher, todavia,
naquele momento, nada parecia ser mais prazeroso
que fazê-la sofrer, fazê-la pagar por tudo, porque
nenhum castigo que a vida ao lado daquele projeto
de bandido lhe desse seria suficiente. Eu a manteria
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exatamente onde estava e a faria sofrer muito mais


do que ela me fez.
— Vou demitir os seguranças. Mas pode ficar
com o apartamento e o emprego, como esmola. De
vez em quando é bom fazer caridade.
— Obrigada. Eu sabia que você não nos
expulsaria.
— Aposto como sabia.
Ela abriu a boca para falar, hesitou, depois
continuou.
— Onde você estava durante todos esses dias?
— Ela devia fazer teste para ser atriz, pois parecia
realmente preocupada.
— Em primeiro lugar, isso não é da sua conta.
Em segundo, dirija-se a mim com formalidade,
você é só uma empregada, então me chame de
senhor.
Ela desviou seu olhar para o chão.
— Sim, senhor. Desculpe-me.
— E não me peça desculpas. Não sou um
vagabundo que faz parte do seu ciclo de amigos. Se
cometer qualquer outro erro, será demitida. Fui
claro?
— Sim, senhor.
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Vê-la ali acuada, amedrontada, trouxe-me


certa satisfação, só que isso ainda não era nada
comparado ao que eu pretendia fazer com ela.
Vou te fazer implorar para ser demitida,
Madison. Você brincou com o cara errado.
— Ótimo. Agora tira essa bunda do lugar e vá
trabalhar. — Não economizei na rispidez ao dizer,
para em seguida dar meia volta e ir para o elevador.
Era impressionante como os sentimentos de um
homem podiam mudar sem perder a intensidade.
Da mesma forma que amei Madison, ou pelo
menos acreditei amar, eu a odiava. Odiava tanto
que podia sentir a ira correndo-me meus ossos.
Durante a fatigosa reunião com a equipe de
marketing, a qual contava com a presença pelo
menos uma dúzia de profissionais, mandei que
minha secretária solicitasse que a copa servisse
capuccino para todos antes do final do encontro. Eu
sabia que a moderna máquina de capuccino que eu
havia comprado para infernizar a vida de Madison
havia sido devolvida, ela ia ter que se virar para
arranjar uma dúzia da bebida antes do fim da
reunião e só queria estar lá para me divertir com o
desespero dela.
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Estávamos quase finalizando a apresentação


das novas propostas quando finamente houve uma
batida na porta e ela entrou empurrando o carrinho.
Pela sua face avermelhada de sol e os cabelos
desgrenhados, deduzi que saiu às pressas para
comprar o capuccino e isso seria ainda mais
divertido se tivesse comprado com seu próprio
dinheiro. Nada mais justo depois de ela ter mentido
que me amava a fim de me arrancar dez mil para
tirar aquele marginal da cadeia.
Serviu cada um dos presentes e suas mãos
assumiram um tremor incontrolável quando chegou
a minha vez, na certa pela consciência pesada pelo
que me fez, o que tornou bem fácil minha façanha
de esbarrar o braço, falsamente sem quer, na mão
dela forçando-a a derrubar o copo chão, fazendo
com que a bebida se derramasse, espirrando para
todos os lados.
— O que pensa que está fazendo? Será que
você enche a cara antes de vir pro trabalho? —
Esbravejei, abruptamente, fazendo com que alguns
integrantes da reunião sorrissem, enquanto que
alguns poucos observavam Madison com cara de
pena.
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— Ah, me desculpe senhor, como sou


desastrada. Vou limpar isso agora mesmo.
Ela pegou uma flanela no carrinho e me
apressei em sair do meu lugar antes que ela tivesse
a chance de se ajoelhar diante de mim.
— Talvez você devesse procurar ajuda para
trabalhar essa sua coordenação motora. Jamais vi
alguém tão descoordenada.
Sem erguer seu olhar do chão, ela recolheu o
copo e limpou tudo. Minha maior satisfação foi ver
que tinha os olhos marejados de lágrimas quando
deixou a sala. Só que aquilo era apenas o começo.
No final da reunião, fui direto para a minha
mesa, decidido a pedir que Jasmine me colocasse
em contato com a agência de seguranças na qual
contratei os homens que faziam a segurança de
Madison, Ia demiti-los. Se ela escolheu ficar com
aquele marginal, ele que a protegesse.
Jasmine me passou a ligação, estava abrindo a
boca para falar quando me ocorreu que um
assaltantezinho de quinta categoria, como Jerry,
não seria páreo para a pessoa que havia planejado o
sequestro de Madison, tampouco ia conseguir
proteger ela e o garoto ao mesmo tempo. Eu queria
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que Madison se ferrasse, que se arrependesse por


ter nascido, mas deixá-la a mercê de alguém que
poderia assassiná-la estava além do meu alcance.
Num impulso, desliguei o telefone. Eu não
podia fazer isso, não podia deixá-la desprotegida.
Então decidi telefonar para o detetive particular que
havia contratado para investigar o caso. Procurar
saber como andavam as investigações sobre aquele
sequestro. Foi mais uma das coisas que me esqueci
de fazer antes de começar a beber por quinze dias
seguidos.
— Olá, Sr. Dixon. — Ele atendeu no segundo
toque.
Segundo recomendações, era o melhor detetive
particular do país.
— Olá. Estou ligando para saber se você tem
alguma informação sobre o caso do rapto de
Madison Oliveira.
— Na verdade, tenho sim. Estou tentando
entrar em contato com o senhor há dias, mas me
disseram que estava viajando.
— O que você descobriu?
— A mulher com quem Madison deixou o
prédio aquele dia se chama Emma Parker,
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trabalhava em uma falsa agência de modelos que


tinha o objetivo de atrair mulheres jovens a bonitas
para serem escravizadas. Trabalhava diretamente
com os raptores, uma quadrilha muito poderosa.
Quando a encontrei, entreguei a identidade dela e
as verdadeiras atividades da agência para a
polícia e por meio do depoimento dela, já
conseguiram prender quase todos os membros da
quadrilha.
— O chefe da quadrilha disse a Madison que
alguém os contratou para sequestrá-la. Você sabe
quem fez isso?
— A garota que a levou me disse isso, mas não
sabe o nome da pessoa que a contratou. O que se
sabe até agora é que se tratava de uma mulher,
bonita, jovem, loira de olhos azuis. Tem ideia de
quem possa ser?
— Não tenho. Mas comece procurando por
parentes, amigos e ex-namoradas do pai do filho de
Madison. Acho que pode ser alguém relacionada a
ele. Você devia ter continuado investigando mesmo
sem o meu aval. Tem mais alguma pista? Algum
pagamento feito com cheque.
— Não senhor. Essas pessoas nunca deixam
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esse tipo de rastro. Mas agora que o senhor está


aqui, darei continuidade ao caso. Se suspeitar de
alguém, me mande fotos para que eu leve para que
a garota possa fazer o reconhecimento. Diga o
mesmo a Madison.
— Está certo. Vou tentar me lembrar de
alguém que poderia ter feito uma coisa dessas e
providenciar uma foto. Quanto às suspeitas de
Madison, você mesmo fala com ela e não diga que
voltamos a conversar. Invente que está dando
continuidade às investigações iniciais, mesmo sem
falar comigo.
— Entendi.
— Qualquer novidade me telefona.
— Sim senhor.
Com isto, encerramos a ligação.
Esperaria que ele descobrisse quem era essa
mulher antes de demitir os seguranças. Não que
Madison merecesse a minha proteção, pelo
contrário, só que se algo acontecesse com ela por
falta dessa proteção, eu me sentiria parte disso e
não queria arranjar um peso desnecessário para a
minha consciência.
Nos dias que se seguiram torturei Madison de
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todas as formas possíveis dentro daquela empresa.


Todos os dias inventava algo diferente para fazê-la
passar apuros, embora nada fosse suficiente para
fazê-la pagar pelo que me fez. Tornar a fazer da
vida dela um inferno tornou-se a minha maior
satisfação.

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CAPÍTULO XXIV

Minha criatividade estava a mil no que se


referia a elaborar armadilhas para que a pequena
Madison sofresse. Na noite de terça-feira, mandei
que o pessoal da manutenção desse um jeitinho de
fazer com que a porta da copa emperrasse no
instante em que fosse aberta e fechada novamente
por dentro na manhã seguinte e dei folga à
Consuelo. Queria ver a reação de Madison quando
estivesse trancada lá dentro, sozinha.
Para que as coisas ficassem ainda mais
divertidas, mandei que desligassem o interfone da
copa, para que ela não pudesse pedir ajuda. Não a
deixaria lá por muito tempo, só até que estivesse
desesperada a ponto de se arrepender
profundamente por suas escolhas erradas.
Na manhã seguinte — uma manhã de chuva
forte — cheguei cedo à empresa, mesmo tendo
prometido à minha mãe que naquele dia iria até
Wellington ver meu pai. Ela vinha insistindo para
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que eu fosse até lá desde que voltei, alegando que


ele estava doente de tanta preocupação, como se eu
não tivesse mais nada para fazer. Só que deixaria
isso para mais tarde, por hora, queria ter a
satisfação de ver Madison sofrendo, como me
fizera sofrer.
Ao entrar na minha sala, mandei que Jasmine
cancelasse todos os meus compromissos das
próximas horas e liguei meu computador, focando
na câmera que havia instalado na copa. Era hora da
diversão.
Poucos minutos depois, Madison chegou,
carregando uma capa de chuva preta e antiga que
respigava o chão por onde ela passava. Usava um
de seus jeans fora de moda, e tinha os cabelos
soltos, caindo em suas costas. Eu não entendia por
que não levara as roupas novas que lhe comprei. Já
que ficara com o apartamento e o emprego, deveria
ter ficado com as roupas também.
Tão logo entrou, a porta se fechou às suas
costas, sem que ela percebesse que aquela porta não
se fechava sozinha. Simplesmente ignorou aquele
detalhe. Estabanada como sempre, foi pendurar a
capa de chuva no alto da parede e escorregou na
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água que pingava no chão, o que quase a fez cair.


Depois, recostou-se de costas na pia e ficou lá,
imóvel como uma estátua, fitando fixamente o
vazio à sua frente, como se mergulhasse dentro de
si mesma e não conseguisse mais sair.
No que será que estava pensando? Eu pagaria
um milhão de dólares para saber.
De súbito, lágrimas começaram a brotar dos
seus olhos e o que parecia não ser nada, logo se
transformou em um pranto irrefreável, que em
outras épocas teria cortado o meu coração, mas que
agora nada me fazia sentir que não curiosidade.
O que será que estava acontecendo com ela?
Teria levado um chifre do marginalzinho? Será que
ele a havia machucado? Isso eu não podia
comemorar, pois era muita covardia machucar
fisicamente uma mulher.
Tentei me desligar daquela imagem e me
concentrar no trabalho, mas não consegui. Olhar
para Madison me distraía mais. Não que naquela
manhã estivesse divertido como nos outros dias, eu
só queria olhar para ela e remoer o ódio dentro de
mim.
Por fim, ela secou as lágrimas com um avental
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e se recompôs. Preparou o café e abasteceu o


carrinho. Estava empurrando-o na direção da porta
quando, só então, se deu conta de que esta estava
fechada.
Como você consegue ser tão distraída,
Madison?
Deixou o carrinho de lado e tentou abrir a
porta, deliberadamente emperrada. Como não
conseguiu, foi direto para o interfone e o bateu com
força de volta no gancho ao constatar que não havia
linha. O pessoal da manutenção tinha feito em
ótimo trabalho.
Ela caminhou de um lado para o outro por um
instante, claramente nervosa, proporcionando-me
uma satisfação quase prazerosa, por me permitir
apreciar seu sofrimento causado por mim. Então,
foi até o armário e pegou uma faca, voltando na
direção da porta.
Porra! Com a faca não, garota, você é capaz
de cortar um braço sem querer.
Tentou arrebentar a fechadura da porta com a
ponta da faca e quando por fim percebeu que aquilo
não daria certo, chutou-a com uma fúria absurda,
proferindo um punhado de palavrões, até que por
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fim desistiu e voltou para perto da pia, recostou-se


e recomeçou a chorar, com desespero.
Caralho, Madison. Você só sabe chorar? Isso
nunca resolve nada. Aprenda a reagir, garota.
Lucas ainda vai demorar para se tornar um homem
e você só tem ele para te proteger.
Tentei me manter indiferente e deixar que ela
chorasse até que ficasse desidratada, mas não
consegui. Não que estivesse mudando de ideia
sobre torturá-la, ou abdicando da ira que ela me
despertava, apenas era doloroso demais ver uma
mulher chorando, principalmente se fosse por
minha causa.
Cansado de assistir àquilo, liguei para o chefe
da manutenção e mandei que ele fosse abrir a porta
da copa. A reação de Madison não havia sido
exatamente a que eu esperava. Achei que ela ficaria
furiosa, que esmurraria as paredes e amaldiçoaria a
própria vida antes de começar a chorar, mas chorar
era tudo o que ela sabia.
Madison ficou surpresa quando o cara da
manutenção entrou. Perguntou a ele como soube
que a porta havia emperrado e como ele não tinha
uma resposta na ponta da língua, ela compreendeu
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tudo e deixou a copa quase correndo, abandonando


o carrinho para trás.
Invadiu minha sala mais depressa do que o
esperado, como se tivesse vindo correndo pelas
escadas para chegar mais rápido. Tinha o rosto
vermelho de raiva, a fisionomia contraída, os olhos
ainda inchados pelo pranto e mais verdes pela fúria
que neles se refletia.
— Já chega! Hoje você foi longe demais! —
Vociferou ela, colocando-se em pé do outro lado da
minha mesa, fuzilando-me com olhos mortais.
— Não sei do que você está falando. — Me fiz
de rogado.
— Sabe sim! Você está fazendo de tudo pra
infernizar minha vida aqui dentro, pela segunda
vez, com suas atitudes infantis! Se quer que eu vá
embora desta merda de empresa, por que
simplesmente não me demite e para de encher a
porra do meu saco?!
A pequena Madison estava mostrando suas
garras. Que ótimo. Pena que não fazia isso com as
pessoas certas.
— Em primeiro lugar, cuidado com essa boca
suja, em segundo, não me culpe se você é uma
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estabanada que vive por aí tropeçando nos próprios


pés e derramando café no chão e nas pessoas.
Além do mais você já estava chorando antes de
descobrir que a porta estava emperrada.
— Além de imaturo ainda é covarde. Pelo
menos assume o que está fazendo!
— Não estou fazendo nada. Talvez a vida de
esposa de bandido, convivendo, ou talvez usando,
algumas drogas, possa estar te fazendo ver o que
não existe.
Madison colocou as duas mãos na cintura e me
deu um sorriso amargo, seu olhar refletindo uma
angústia quase papável, o que me fez duvidar de
que ela vivia bem com aquele marginal. Mas não
era ele que ela queria? Não foi por ele que me
trocou?
— Então é disso que se trata? Você está me
torturando porque decidi ficar com Jerry e não com
você?
— Não seja pretensiosa. Há muitas outras
mulheres no mundo.
— Eu esperava uma atitude mais madura da
sua parte. Como te falei antes, ele é o pai do meu…
— Não quero saber! — A interrompi,
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abruptamente, o ódio queimando dentro de mim


com força total. — Some da minha frente, eu
preciso trabalhar.
— Quer saber? Eu preciso desse emprego e
preciso demais, por Lucas, mas estou cansada de
ser maltratada. Eu me demito!
Ela girou sobre os calcanhares a saiu em
disparada em direção à porta.
Seguindo a um impulso inesperado, levantei-
me e corri atrás dela, segurando firmemente em seu
antebraço para detê-la.
— Onde pensa que vai?! Eu não te dei
permissão para se demitir!
— Ninguém precisa de permissão para se
demitir, seu idiota! — Ela puxou o braço com um
safanão, mas ainda assim não soltei.
Eu não podia deixá-la ir ainda, não a havia
feito sofrer o bastante para que pagasse por ter me
usado, por mentir dizendo que me amava, para
depois escolher ficar com aquele merdinha depois
de tirá-lo da cadeia com o meu dinheiro, depois de
prometer que terminaria tudo com ele. Uma pessoa
falsa e dissimulada como Madison tinha que ser
torturada todos os dias. O que eu fazia com ela no
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trabalho não era nada perto do que ela merecia.


— Você precisa. Eu digo que você continua
trabalhando e você obedece.
— Não! Recuso-me a olhar para sua cara todos
os dias.
Ela tentou se soltar novamente. Se eu apertasse
mais um pouco o seu braço acabaria machucando-
a. Mas não podia deixá-la ir, pelo menos não até
que tivesse acabado com sua raça.
— Então não olhe. Trabalhe olhando para o
chão.
— Por que tanta insistência para que eu fique?
Você pode arranjar outra pessoa para servir o café
com a mesma rapidez que arrumou outra para
aquecer sua cama.
— Eu não quero outra. Tem que ser você.
Talvez eu tivesse me expressado mal, pois a
expressão nos olhos dela mudou, a raiva deu lugar
a um brilho de ardor, que deixava o verde do seu
olhar ainda mais reluzente.
— Por que eu, Lowell?
Foi então que me ocorreu a mais brilhante e ao
mesmo tempo bizarra das ideais. De uma só vez, eu
poderia magoá-la, jogando aquele projeto de
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marginal contra ela e ainda causar a separação dos


dois, isso se ele fosse realmente homem e não
aceitasse que a mulher dele transasse com outro.
— Por isso. — Falei e, antes que ela tivesse
tempo de se esquivar do meu ataque, segurei
firmemente em seus dois braços, imobilizando-a e
grudei minha boca na sua, sugando seus lábios
carnudos, o desejo se fazendo fervoroso em minhas
entranhas, me causando uma ereção.
Embora ela conseguisse me deixar duro, era só
tesão, como seria com qualquer vadia sem
importância. A paixão de antes já não existia mais.
— O que você está fazendo? — Indagou ela,
ofegante, separando sua boca da minha.
— Isso mesmo que você está pensando.
Antes que ela tivesse tempo de se soltar de
mim, empurrei-a para a parede mais próxima e a
encurralei, pressionando o meu corpo no dela.
Segurei seus pulsos acima da sua cabeça com uma
mão e imobilizei o seu rosto com a outra, enquanto
ela se debatia, tentando libertar-se.
— Não faz isso, Lowell. Não podemos. Sou
uma mulher comprometida.
— Podemos sim. Eu conheci você antes dele.
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Então, ataquei a sua boca novamente,


chupando e mordiscando seus lábios cerrados, ao
mesmo tempo em que pressionava minha ereção
firme em seu abdômen, enquanto ela se mantinha
toda dura, tentando se esquivar a todo custo, o que
só servia para atiçar ainda mais a raiva que
queimava em minhas entranhas.
Continuei tentando, até que, derrotada, ela
cedeu, entreabrindo os lábios para receber a minha
língua, que se moveu de encontro à dela
avidamente, em carícias carregadas de lascívia.
Entregue, Madison deixou que se corpo relaxasse e
moveu os quadris de um lado para o outro,
apertando-se mais na minha ereção, um gemido
escapando da sua boca e morrendo na minha.
Quando soltei os seus pulsos, ela tirou
rapidamente o meu paletó, para em seguida levar
suas mãos à barra da minha camisa, tentando puxá-
la do cós da calça. Só que eu não queria fazer amor,
queria fodê-la, em todos os sentidos da palavra,
para que ela aprendesse a nunca mais brincar com
os sentimentos de um homem.
Então, arranquei-a da parede, conduzi-a pela
sala e a debrucei sobre a minha mesa, seus pés
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apoiados no chão, a bunda empinada, sem me


preocupar em ser minimamente gentil com meus
movimentos. Passei as mãos pelas laterais dos seus
quadris, abri o zíper do seu jeans antigo e o tirei
pelos pés, junto com a calcinha. Fiz com que
abrisse mais as pernas e fiquei ainda mais duro
quando a vi ali toda aberta diante de mim, a boceta
depilada como eu havia deixado, o ânus pequeno
parecendo implorar por ser penetrado.
Quis passar minha língua naquele cuzinho
moreno, depois lamber toda a sua abertura, mas eu
não a estava amando e sim prejudicando. Com tais
pensamentos, inclinei-me e dei uma mordida em
sua nádega, forte o bastante para que as marcas dos
meus dentes ficassem gravadas em sua pele, depois
chupei o local, só para ter certeza de que o
marginalzinho não duvidaria de que ela estivera
com outro homem. Dei um tapa estalado em sua
bunda e ela gemeu, seu corpo todo vibrando. Levei
minha boca para a outra nádega e deixei outra
prova do seu adultério, mas ainda não era
suficiente. Eu queria que aquele merdinha com
quem ela morava soubesse que, embora fosse o
escolhido, eu podia tê-la quando quisesse.
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Quando percorri meus dedos entre seus lábios


vaginais, fiquei surpreso ao constatar o quanto ela
estava molhadinha. Era mesmo uma vadia, do tipo
que vivia com um homem e sentia tesão por outro.
Eu daria o que ela queria. Então, tirei um pacote de
preservativos da gaveta ao lado do rosto dela, desci
minha calça até a altura dos joelhos e me cobri.
Afastei suas nádegas com as duas mãos, apertando
suas carnes com força e entrei nela, com um golpe
brusco, tão forte quanto a raiva que vagava em
minhas veias.
Gemendo alto, ela esticou os braços para frente
e segurou nas laterais da mesa com as duas mãos,
com tanta força que as juntas dos seus dedos
ficaram embranquecidos.
Puxei meus quadris e a presenteei com outra
estocada brusca, e outra, e mais outra, até que não
consegui mais parar, ensandecido com a forma
magnífica como seu canal apertava-me, suas
paredes pulsando em torno da minha rigidez,
enquanto seus gemidos ecoavam altos pela sala. Se
ela fosse minha, como há poucos dias acreditei que
fosse, eu a comeria todos os dias. Não passaria nem
vinte e quatro horas sem me enterrar todo naquela
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bocetinha apertada e quente. Mas ela não era.


Pertencia a um marginal de quinta categoria.
Pensar naquilo atiçou ainda mais minha fúria.
Então, subi a camiseta de Madison até o pescoço,
inclinei-me sobre ela e plantei várias marcas de
mordidas e chupões em suas costas, para que
aquele bandidinho soubesse que ela foi fodida por
trás. Mas ainda faltava carimbá-la na frente.
Então, sem deixar de penetrá-la, virei-a e me
surpreendi ao perceber que havia lágrimas em seus
olhos.
— Por que está chorando, Madison? Estou
sendo bruto demais com você?
— Lowell… beije-me… por favor… esse não é
você...
Aproximei minha boca da dela, até que ela
fechasse os olhos a espera do beijo, mas então me
afastei, negando-lhe aquilo que ela negara a mim.
Depois, levei meus lábios para perto de um dos
seus seios, perto o bastante para que ela sentisse
meu hálito quente acariciando seu mamilo, mas não
o toquei, negando mais uma vez o que ela queria.
Em vez disso, plantei alguns chupões na lateral dos
seus seios e no colo, deixando várias marcas roxas
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espalhadas por ali. Eram suficientes para que o


marginal soubesse o quanto ela foi fodida no
trabalho.
Depois, olhei direto em seus olhos, engolfado
por uma saudade dolorosa, mas que não conseguia
se sobrepor à ira que me movia.
— Goza pra mim, Madison. — Ordenei, com
autoridade.
Achei que ela não conseguiria, devido à forma
animalesca com que eu a fodia, mas ela
surpreendeu-me ao arquear as costas sobre a mesa e
começar a convulsionar, gemendo e gritando, se
sacudindo toda, sem jamais desviar seus olhos
lindos dos meus.
Era ali que eu devia ter parado, mas meu corpo
me traiu e acabei gozando também, me esvaindo
dentro dela com abundância, me acabando, perdido
de prazer.
Meus espasmos mal haviam cessado, quando
me retirei dela e me afastei, livrando-me do
preservativo usado, vestindo-me da calça e do
paletó, enquanto Madison sentava-se na beirada da
mesa e permanecia imóvel, cabisbaixa e silenciosa.
Na certa se sentindo usada, achando que só transei
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com ela para dar uma rapidinha e me aliviar. Ainda


não tinha visto as marcas dos chupões.
Ruim se sentir usada, não é Madison?
— Acho melhor você ir. Tenho que ir a
Wellington. — Falei seco e firme.
— Claro. — Sua voz era um murmúrio.
Ela desceu da mesa e antes de abaixar a
camiseta, viu as marcas roxas espalhadas sobre
seus seios e colo, seus olhos verdes se arregalando
de susto.
— Por Deus! O que você fez? — Indagou,
sobressaltada.
— Tem algumas nas costas e no bumbum
também.
Naquele momento, ela me encarou de uma
forma que nunca havia encarado antes, com um
misto de mágoa e desprezo que por um breve
instante quase me fez me arrepender pelo que lhe
fiz.
— Foi por isso que você transou comigo? Para
me marcar e Jerry ver?
— Eu queria dizer que não, mas você brincou
comigo, Madison. Disse que me amava só para tirar
meu dinheiro e soltar aquele marginal da cadeia.
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Vocês dois não têm o direito de ser felizes.


— Você tem ideia do que ele vai fazer comigo
quando vir isso?
Droga! Por que havia tanta angústia e medo em
seu olhar? Por que tanto desespero em sua voz?
Não era bem isso que eu esperava e sim um ataque
de fúria que a fizesse jogar os jarros da sala na
minha cabeça.
Talvez eu tivesse ido longe demais.
— Eu não ligo para o que ele vai fazer. Quando
se escolhe viver ao lado de um bandido, tem-se que
arcar com o destino que ele pode te oferecer.
— Tudo isso é ódio porque você acha que o
escolhi? Você não entende nada!
Ela começou a chorar, um pranto desenfreado
que a fazia soluçar, enquanto seu corpo todo se
sacudia. Desceu da mesa, pegou seu jeans do chão
e começou a vestir rapidamente.
Mas que merda! Por que ela tinha que ser tão
chorona? Isso não me trazia satisfação alguma, pelo
contrário, minha consciência começava a pesar.
— Então me fala o que não entendo, para que
eu possa compreender.
— Você não merece saber! — Gritou, entre um
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soluço e outro.
Foi então que desconfiei de que ela estava me
escondendo algo.
— O que eu não mereço saber? Fala Madison!
— Exigi.
Ela limpou o rosto com o torso da mão, antes
de tirar um pedaço de papel, completamente
amassado, do bolso da sua calça e o atirar com fúria
em cima de mim.
— Eu não tirei Jerry da cadeia e tampouco
escolhi ficar com ele.
Abri o papel embolado e quase tive um mini-
infarto ao ver o cheque de dez mil dólares que
havia lhe dado para tirar o marginal da cadeia. Ela
não precisou dizer mais nada para que eu
entendesse tudo e naquele instante me senti o mais
baixo e vil do seres, um verdadeiro verme
rastejante, por tê-la tratado daquela forma, sem que
ela merecesse.
— Eu fiquei com ele porque ele ameaçou te
matar caso eu não te deixasse. Eu sacrifiquei a
minha felicidade para salvar a sua vida. — Ela
soltou um soluço alto, as lágrimas correndo soltas
pelo seu rosto.
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— E quem o tirou da cadeia?


— Eu não sei. Ele não sabe. O advogado disse
apenas que era uma mulher. Provavelmente a
mesma que mandou me raptar.
— Madison, eu…
Eu não sabia nem o que dizer, não havia
palavras que pudessem descrever a minha covardia,
a minha total falta de percepção. Eu devia ter
percebido que ela não falava a verdade quando
disse que queria ficar com ele, eu devia ter
entendido que estava sendo ameaçada. Como pude
ter sido tão cego? E como se não bastasse, ainda a
submetia a uma vingança estúpida que ela sequer
merecia. Minha nossa! No lugar de Madison, eu
jamais me perdoaria e só podia esperar que ela
fosse diferente de mim.
— Madison, eu sinto tanto. — Aproximei-me e
tentei tocá-la, mas ela se afastou de supetão, como
seu eu tivesse uma doença contagiosa grave.
— Não toque em mim! — Gritou, com fúria e
dor. — Você nunca mais vai colocar suas mãos em
mim Lowell. Você tem noção do que fez? Me
marcou toda, como se eu fosse um animal, sabendo
que Jerry podia me matar se visse isso.
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— Madison, me perdoa. — O pedido partiu do


fundo da minha alma. — Não estou me abstendo da
minha culpa, eu fui um completo idiota com você,
mas preciso que me perdoe.
— Dessa vez não, Lowell. Você arruinou
minha vida quando era adolescente e eu perdoei.
Desta vez quase acabou comigo. Não posso
perdoar. Não trabalharei mais para você e vou dar
um jeito de desocupar seu apartamento. Nunca
mais quero ter que olhar para a sua cara. — Ela
observou-me em silêncio por um instante, como se
esperasse que eu dissesse alguma coisa, mas eu não
sabia o que dizer. Ela tinha toda razão, eu não
merecia ser perdoado uma segunda vez, embora
quisesse muito. — Adeus, Lowell.
Com essas duas palavrinhas, ela deu-me as
costas e se foi, deixando-me com a sensação de que
alguém cravava um punhal em meio peito e
retorcia, retorcia, retorcia. Parecia que minha vida
havia acabado, que eu tinha destruído a mim
mesmo, e qualquer chance de ter a mulher que eu
amava. Só que eu me recusava a desistir tão
depressa. Esperaria que Madison se acalmasse e a
convenceria a me perdoar, se não conseguisse, me
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recusava a viver em um mundo onde ela não fosse


minha.

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CAPÍTULO XXV

Fiquei ali sentado em uma poltrona, imóvel,


abalado, pensando em uma forma de conseguir o
perdão de Madison, por tanto tempo que não
consegui contar. Mandei que Jasmine ligasse para o
meu pai e avisasse que eu não iria mais e que não
me passasse nenhuma ligação, até que minha
secretária me desobedeceu para avisar que havia
uma ligação de emergência, do detetive particular
que contratei e concordei em atender.
— E então, descobriu alguma coisa? — Fui
direto ao ponto, quando atendi ao telefone.
— Descobri. A sequestradora reconheceu, em
uma fotografia que Madison me entregou, a mulher
que a contratou.
— E quem é?
— Margareth Drew, acionista da sua empresa.
Demorei alguns segundos para processar
aquela informação. Como assim Meg mandou que
sequestrassem Madison? Que motivos ela teria para
fazer algo tão horrível? Meg era só uma garota que
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eu comia de vez em quando em cima da minha


mesa, se estivesse com ódio de alguém, esse
alguém deveria ser eu, já que fui eu quem a demitiu
e a expulsou da minha vida. Estava certo que tudo
fora desencadeado pelo fato de ela ter atacado
Madison no banheiro durante a festa de aniversário
de Edward, mas mandar sequestrar era demais. Será
que o detetive não havia se enganado?
— Tem certeza que é ela? A sequestradora não
está mentindo?
— Foi o que pensei também, a princípio. Por
isso investiguei Meg e você não vai acreditar no
que descobri.
— Diz logo, cara.
— Ela é filha de Bernard Smith, o sujeito com
quem Madison e a mãe dela foram morar depois
que foram demitidas da casa dos seus pais, há doze
anos. Parece que Smith ainda era casado com a
mãe de Meg quando começou a ter um caso com
Ivone e abandonou as duas para ir morar com a
amante. Quando Madison saiu da casa dele para ir
morar com Jerry, surgiu o escândalo de que o
padrasto a molestava. Foi então que Meg trocou de
sobrenome e saiu da cidade. Aposto como foi
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trabalhar para você com a intenção de afetar


Madison de alguma forma, mas sobre isso não
tenho provas.
Meu Deus! Eu estava perplexo. Como podia ter
convivido com uma pessoa durante tanto tempo, de
forma tão íntima, sem saber absolutamente nada
sobre essa pessoa?
— Confesso que estou surpreso com tudo isso.
E Meg já foi presa?
— Ainda não. O juiz expediu um mandato de
prisão esta manhã, mas ainda não conseguiram
encontrá-la. Se eu fosse você e Madison tomaria
cuidado.
Suas palavras me deixaram em alerta total.
Imediatamente me ocorreu que Madison já podia
ter deixado o prédio e estava por aí, talvez sem a
proteção dos seguranças, já que eu não me
lembrava de ter pago a agência para que
continuassem protegendo-a, correndo o risco de
cair na mira de Meg de novo. Se ela fora capaz de
contratar uma quadrilha de tráfico de mulheres para
raptá-la, seria capaz de qualquer coisa e eu não
queria nem pensar nisso.
— Obrigado cara. Ajude a polícia a encontrar
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aquela louca que depois acerto com você.


— Está bem.
Encerrei a ligação e em seguida telefonei para
o celular de Madison. Tocou até cair na caixa de
mensagens e ela não atendeu. Então interfonei para
Jasmine.
— Localize Madison no edifício agora mesmo.
— Ordenei. — Se ainda estiver aqui, não a deixe
sair. Se já tiver saído, ligue para os seguranças dela,
ou para a agência na qual eles trabalham, se for
necessário. Coloque-os em contanto comigo
imediatamente.
— Sim senhor.
Desliguei e disquei os números da recepção.
Os segundos que se seguiram antes que o garoto
atendesse, pareceram se arrastar em horas.
— Madison passou por aí saindo do prédio? —
Perguntei agoniado, tão logo ele atendeu.
— Não tenho certeza, senhor, o prédio está
movimentado hoje.
— O que você faz o dia todo nessa maldita
recepção que não registra quem entra e quem sai?
— Irado, bati o telefone com força.
Merda! Eu havia demorado tempo demais
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pensando em uma forma de conseguir o perdão de


Madison. Agora ela estava lá fora, talvez sozinha,
correndo risco de vida. Com Meg acuada, sendo
procurada pela polícia, esse risco era ainda maior,
visto que ela já não tinha mais nada a perder.
Continuei tentando o celular de Madison, sem
que ela atendesse. Logo o interfone tocou com uma
chamada de Jasmine.
— Liguei para a agência onde os seguranças
foram contratados. Disseram-me que vão se
informar sobre quais seguranças foram designados
para Madison hoje e em breve retornam o contato.
— Disse ela.
— Mas que merda! Eu não tenho tempo para
isto!
Saber que os seguranças estavam com ela não
me deixava menos preocupado, pois nem mesmo
seguranças bem treinados detectariam o perigo que
Meg representava, caso ela tentasse se aproximar
de Madison.
Aflito, com um bolo formado na boca do meu
estômago, desliguei o telefone e deixei minha sala
quase correndo, indo direto para a saída do edifício.
Na recepção, tentei descobrir se alguém havia visto
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Madison passando, mas ninguém sabia de nada,


ninguém reparava nas pessoas por causa da
correria.
Então, peguei a limusine e fui direto para o
apartamento onde ela morava. Ao chegar lá, não vi
os seguranças em seus postos e fiquei ainda mais
sobressaltado. Ao tocar a campainha, a porta foi
aberta pelo projeto de marginal, que parecia muito
à vontade, usando apenas uma bermuda, sem
camisa, com os pés descalços e um cigarro aceso
entre os dedos. Era o típico vagabundo que ficava
em casa sem fazer nada em plena manhã de quarta-
feira.
— Onde está Madison? — Indaguei,
abruptamente e fui entrando, quase batendo a porta
na cara feia dele ao abrir passagem para mim.
— Não interessa a você onde está a minha
mulher. O que quer com ela? Será que ela não foi
clara o bastante quando disse que não quer mais
nada com você?
Enquanto ele falava, dei-lhe as costas e avancei
pelo apartamento, vasculhando tudo, procurando-a
nos quartos, na outra sala e na cozinha. Não estava
em parte alguma.
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— Ei cara, você não pode entrar aqui desse


jeito.
De volta à sala, eu o observei com sangue nos
olhos, uma fúria jamais antes sentida correndo em
minhas veias. Se eu tivesse uma arma, daria um tiro
na cara daquele maldito sem nem pestanejar.
— No meu apartamento? Mas é claro que eu
posso. Entro e saio quando bem entender.
— Escuta aqui…
— Escuta aqui você. — O interrompi, fitando-
o de perto, diretamente nos olhos. — Já estou
sabendo que você obrigou Madison a me deixar,
ameaçando me matar caso ela não concordasse em
voltar para você. Só que isso acabou, você não
chegará mais perto dela. E quanto a me assassinar,
você vê a quantidade de seguranças que fica aqui
todos os dias? São homens bem treinados,
preparados para tirar a vida de qualquer um e
esconder o corpo sem deixar pistas. Se algo me
acontecer, se um fio de cabelo cair da minha
cabeça, o primeiro deles que acabar com você,
receberá cinco milhões de dólares. Você acha que
eles dispensariam essa quantia para não acabar com
a raça de um vagabundo que vive à custa da
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mulher? Se você acredita realmente nisso, então


tente algo contra mim.
— Madison é a minha mulher, é a mãe do meu
filho. Você não pode tirá-la assim de mim. O
garoto precisa de um pai.
— Mas é claro que eu posso. Eu sou o homem
que ela ama, com quem estaria se aquela maluca
não tivesse te tirado de trás das grades, onde é o seu
lugar e se você não a tivesse chantageado. E
acredite, eu serei um pai muito melhor para Lucas
do que um vagabundo como você.
Nesse momento, ele se descontrolou e avançou
para cima de mim, com punhos cerrados,
determinado a me atacar. Precisei lembrar-me
depressa das aulas de karatê que fiz quando tinha
quinze anos e consegui golpeá-lo de forma certeira
e eficiente, na altura do esôfago, deixando-o
desnorteado e sem fôlego, completamente
impotente.
— Agora me fala onde está Madison e Ivone.
— Exigi, enquanto ele cambaleava entre os móveis.
— Não sei de nada cara e mesmo que soubesse
não falaria. — Ele falava ao mesmo tempo em que
tossia e se esforçava para respirar.
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— Vou atrás delas e quando voltar não quero


encontrar você aqui. Arrume sua mala e
desapareça. Se eu te ver rondando Madison, mesmo
que seja de longe, vou negociar aqueles cinco
milhões com um dos seguranças, mesmo sem que
nada me aconteça e você já era. E se você se
atrever a abrir a boca sobre Madison ter participado
daquele assalto, eu dobro a oferta para dez milhões
pela sua cabeça. Desapareça da vida de Lucas
também. Você não é um bom exemplo para uma
criança. Espero ter sido claro.
Sem mais qualquer palavra, deixei o
apartamento e fui direto para a escola de Lucas.
Fiquei surpreso ao chegar lá e encontrar Ivone na
calçada do prédio, sob a sombra de uma árvore
frondosa, de mãos dadas com Lucas, com uma
mala grande ao seu lado e os seguranças por perto.
Suspirei aliviado ao vê-los ali.
— Oi Lucas, como está? — Cumprimentei o
garoto.
— Ei, você sumiu Lowell. — Lucas disse
animado. — Aposto que é medo de apanhar na
corrida de carros do videogame.
— Verdade, cara. Mas logo vamos tirar isso a
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limpo. O que vocês estão fazendo aqui fora, Ivone.


Onde está Madison?
— Não sei se devo falar.
— Mas é claro que deve, criatura. Descobrimos
quem foi a mulher que mandou sequestrá-la. Agora
que está sendo procurada pela polícia, ela não tem
mais nada a perder e Madison pode estar correndo
perigo.
Os olhos escuros de Ivone se arregalaram.
— Nós marcamos de nos encontrar aqui há
mais de uma hora. Mas ela nem aparece e nem
atende ao telefone.
Processei suas palavras e o ar quase me faltou,
meu coração apertando no peito.
— Por favor, me diz que os seguranças estão
com ela.
— Sim, estão.
— Por que vocês iam se encontrar aqui a essa
hora?
— Lucas, por favor, pegue um copo d’água
para a vovó.
Lucas correu para o interior do prédio da escola
e Ivone voltou a me encarar.
— Nós vamos sair da cidade. Estamos
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planejando isso há dias.


— Sair da cidade por quê? E pra onde?
— Ainda não temos um destino certo. Vamos
para o mais longe que nosso dinheiro der. Madison
ficou de descontar o cheque, aquele que você deu a
ela para tirar Jerry da cadeia e me encontrar aqui,
há uma hora. Ela teve que ir trabalhar antes porque
talvez Jerry a esteja seguido. Ele anda meio
desequilibrado ultimamente, porque Madison não o
aceita mais como marido e é por isso que temos
que fugir, antes que o pior aconteça.
Por Deus! Madison passando por todo esse
inferno enquanto eu a torturava. Eu não devia ter
feito isso, devia ter percebido que ela estava sendo
ameaçada, devia ter me detido quando a vi
chorando na copa naquela manhã, antes mesmo de
descobrir que a porta havia emperrado. Eu devia ter
notado o quanto ela estava sofrendo. Que espécie
de homem era eu? Que me deixava cegar pelo
orgulho, pelo ciúme e pela raiva?
Se algum dia Madison me perdoasse, e eu
esperava sinceramente que esse dia chegasse, eu
colocaria o mundo aos pés dela, dedicaria cada um
dos meus dias a fazê-la feliz.
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— Eu preciso encontrá-la. Você tem ideia de


por onde começo a procurar?
— Não. Ela disse que sairia da empresa,
descontaria o cheque e viria direto para cá.
Um frio estranho insistia em permanecer em
meu estômago, como se anunciasse um mau
presságio.
— Ivone, pegue um táxi, vá direto para o meu
apartamento, com Lucas e os seguranças e fique lá.
Aqui está a chave. Não saia por nada e me ligue se
Madison aparecer.
— Mas por que você está tão nervoso?
Aconteceu alguma coisa com minha filha?
— É o que estou tentando descobrir. Se você
sabe rezar, faça isso e peça para que ela esteja bem.
Lucas apareceu com água bem na hora certa e
esperei que Ivone bebesse até o último gole antes
de chamar um táxi e mandá-los para o meu
apartamento junto com os três seguranças que os
acompanhavam. Em seguida, liguei para ao
detetive particular.
— Preciso que você localize Madison de
qualquer jeito. Ela deixou a sede da empresa há
mais ou menos duas horas. Verifique câmeras de
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seguranças de todos os prédios pelas redondezas e


as câmeras de trânsito. Me informe assim que
souber de algo.
— Sim senhor.
Encerrei a ligação, entrei em meu carro e
passei a circular pela cidade. Se Madison estivesse
em Orlando, eu a encontraria.

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CAPÍTULO XXVI

Madison.

Algumas horas antes.

Deixei o edifício da empresa com a cabeça a


mil, o peito angustiado, a alma dilacerada de dor.
De todos os erros que já cometi em minha vida, os
quais não foram poucos, nenhum foi mais grave
que ter me apaixonado por Lowell Dixon. Ele não
era apenas arrogante e prepotente, era um ser
humano podre de alma e de espírito. Como se não
bastasse deixar de perceber o quanto eu o amava,
deixar de ter certeza de que eu jamais o trocaria por
Jerry se não estivesse sendo ameaçada, ainda
armava aquela vingancinha ridícula e infantil
contra mim, infernizando-me dia após dia, como
fizera na época em que comecei a trabalhar para
ele.
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Só que dessa vez ele havia ido longe demais.


Marcar o meu corpo com chupões, para que Jerry
visse, era o mesmo que enfiar uma bala na minha
cabeça, afinal se Jerry soubesse que eu havia
transado com outro homem, na certa me mataria. Já
bastava todos aqueles dias sem aceitá-lo em minha
cama, todos aqueles dias negando-me a ele por
repulsa, por amar o outro homem, um homem que
não merecia o meu amor.
Eu não aguentava mais tanta pressão. Se de um
lado Lowell me fuzilava com o seu ódio mortal, do
outro lado Jerry ameaçava me obrigar a ir para a
cama com ele a qualquer momento. Estava cada dia
mais difícil evitar que isso acontecesse, já que eu
era a mulher dele.
Como se não bastasse, minha saúde parecia
debilitada, meu estômago arruinado por enjoos
constantes. Era demais para que eu suportasse.
Tudo o que eu precisava nesse momento era fugir,
ir para o mais longe possível daqueles dois. Eu
havia planejado deixar a cidade naquele dia, usando
os dez mil que Lowell me dera para tirar Jerry da
cadeia, só que agora eu não tinha mais esse
dinheiro, havia atirado o cheque na cara dele e não
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sabia mais o que fazer, não sabia como deixar a


cidade sem ter nenhum centavo no bolso.
A essa hora Ivone já estava me esperando na
escola de Lucas, como havíamos combinado. Tinha
saído do apartamento com a mala escondida de
Jerry. Se tivéssemos que voltar, precisaríamos de
outro plano para que ele não a visse.
A chuva forte que caía cedo da manhã havia
cessado, deixando um frescor gostoso no ar. Ao
avançar pela calçada, os dois seguranças que me
seguiam para onde eu ia, começaram a me
acompanhar. Um deles abriu a porta da limousine
para que eu entrasse, mas eu não queria me enfiar
em um ambiente fechado naquele momento,
precisava espairecer, caminhar um pouco, esfriar a
cabeça, pensar sobre o que ia fazer agora. Então,
segui pela calçada na direção da escola de Lucas,
enquanto eles me seguiam de perto. Ambos já
faziam parte do meu cotidiano, de forma que os
conhecia bem. Vinham dia sim e dia não,
alternando com outros dois colegas que também já
considerava da família.
Eu caminhava pela calçada quase sem ver a
agitação da cidade à minha volta, alheia ao barulho
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frenético do trânsito movimentado, minha mente


absorta, concentrada em encontrar uma forma de
sair da cidade. Eu não podia voltar para o
apartamento. Se Jerry visse as marcas em meu
corpo, não pouparia a minha vida. Tampouco podia
continuar trabalhando na empresa de Lowell.
Recusava-me a olhar para a cara dele de novo.
O banco no qual eu descontaria o maldito
cheque ficava no caminho da escola de Lucas.
Decidi passar por lá a fim de verificar se tinha pelo
menos alguns poucos dólares que nos garantisse
uma refeição até que eu pensasse em outra coisa.
Estava me encaminhando naquela direção,
quando uma luxuosa limousine branca parou no
acostamento, ao meu lado e gelei dos pés à cabeça,
temendo que pudesse ser a pessoa que armara o
meu sequestro.
Imediatamente, os seguranças colocaram-se
entre mim e o sofisticado veículo e empunharam
suas armas, prontos para me defenderem.
Entretanto, quando o vidro do se abriu, foi o rosto
da mãe de Lowell que apareceu na janela.
— Minha nossa! O que é tudo isso?! Abaixem
essas armas. Eu só quero conversar. — Disse ela e
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gesticulei para que os seguranças abaixassem as


armas.
— No momento, estou com pressa. Deixa essa
conversa para outro dia. — Falei.
— Por favor, Madison. É importante.
Havia gravidade no tom da voz dela e de
repente fiquei curiosa.
— Apenas alguns minutos. Eu realmente estou
com pressa.
Sob sua ordem, o motorista saltou e abriu a
porta para que eu entrasse. Tão logo passei para o
lado de dentro, meus seguranças me seguiram,
acomodando-se um de cada lado no assento.
— Não precisa trazer os seguranças juntos. O
assunto é particular.
— Não vou a lugar nenhum sem eles.
Principalmente porque você é minha suspeita
número dois como mandante daquele sequestro.
— Para te provar que você está segura aqui,
meu motorista ficará lá fora com os seus homens e
dará a chave da limusine para que um deles segure.
Está bem assim?
— Pode ser.
Assim fizemos, meus seguranças saíram,
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colocando-se ao lado do veículo, próximos ao


motorista, que entregou as chaves a um deles, de
modo que fiquei sozinha com a Sra. Dixon no
interior da limusine, sem me sentir ameaçada.
— Quer beber alguma coisa? — Perguntou ela.
— Não, obrigada. Se a senhora puder ir direto
ao assunto, ficarei grata
— Bem, como estão as coisas entre você e o
meu filho?
Por que será que aquela pergunta não me
surpreendia? Desde o início eu sabia que o assunto
era esse. Ela não suportava que o filho se
relacionasse com a filha de uma empregada.
— Não existe mais nada entre nós dois. Na
verdade, nunca existiu. Foi só uma aventura
passageira. Se essa era a sua preocupação, pode
ficar tranquila.
— Uma aventura passageira não faz um
homem como Lowell beber por quinze dias
seguidos e sumir no mundo, sem dar notícias a
ninguém. Eu conheço bem o filho que tenho. Ele
jamais agiu assim por causa de uma mulher.
— Não tenho nada a ver com isso. O que havia
entre nós acabou e não vai voltar a acontecer. Se
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era só isso, preciso ir.


— Esse tipo de coisa que há entre vocês nunca
acaba. Falo por experiência própria. Elas só esfriam
por um tempo, até que algo acontece e tudo volta a
ser como antes.
— Não é o nosso caso. Mas que insistência. Eu
já disse que não tenho mais nada com ele.
— Não seja grossa com uma senhora, querida,
tenho idade para ser sua mãe.
— Desculpe-me. Eu não queria ser grossa, mas
realmente tenho pressa.
— Há coisas sobre Lowell que você ainda não
sabe. Eu devia ter falado sobre isso antes, mas não
é um assunto fácil para mim. — O olhar dela
assumiu um ar pensativo, enquanto a curiosidade
crescia dentro de mim. — Aconteceu quando eu
ainda era jovem e não tinha juízo algum. —
Continuou ela. — Eu havia acabado de me casar,
estava apaixonada, quando descobri que o meu
marido tinha um caso antigo com outra mulher, a
mãe de Edward. Tentei de todas as formas
convencê-lo a deixá-la, mas ele se recusou, mesmo
quando ameacei abandoná-lo. Disse-me para não
fazê-lo escolher. Fiquei sem chão, meu mundo
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parecia que estava desmoronando. Ponha-se no


meu lugar, como você se sentiria?
— Eu o teria deixado na mesma hora. Mas
onde a senhora está querendo chegar com essa
história?
— Não é fácil abandonar quando se está
apaixonada. Então eu arranjei uma forma de dar o
troco, ao mesmo tempo em que me consolava nos
braços de outro homem. — Dar o troco? Lowell
tinha mesmo a quem puxar. — O homem mais
próximo a mim, naquela época, era o nosso
motorista. Seu pai — Continuei observando-a,
paralisada, o sangue fugindo da minha face. — Não
foi um caso de amor, foi mais uma vingança, unida
à carência afetiva. Mas então eu fiquei grávida. A
princípio não sabia qual dos dois era o pai. Se meu
marido, ou meu amante. Só depois que Lowell
nasceu fiz um teste de paternidade e descobri que
ele é filho do seu pai.
Neste momento, meu estômago embrulhou
com tanta violência que não consegui me segurar,
peguei a lixeira pequena que havia ao lado e
vomitei todo o café da manhã dentro dela. E
mesmo quando não havia mais nada, continuei
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vomitando.
— Oh, querida você está bem? — A senhora
Dixon perguntou.
— É claro que não estou bem. A senhora acaba
de me dizer que Lowell é meu irmão?
Minha cabeça girava, o ar ameaçando me
faltar. Como assim eu havia tido um caso com o
meu próprio irmão?
Peguei a lixeirinha e vomitei de novo.
— E esses enjoos. Por acaso você está grávida?
Ah, minha nossa! Eu andava com a cabeça tão
cheia ultimamente, com sumiço de Lowell, depois
sua vingança patética e com as ameaças de Jerry,
que nem me dei conta de que estava com os
mesmos sintomas de quando engravidei de Lucas.
Meus enjoos eram constantes, meus seios estavam
maiores e doloridos e meu apetite estava estranho.
Já fazia quase um mês que Lowell e eu tivemos
relações sexuais sem proteção, no banheiro do
avião. Sem dúvidas eu havia engravidado, meu
corpo todo dizia isso.
E o mais terrível nessa história, era que, pelo
que a Sra. Dixon acabara de falar, estava esperando
um filho do meu próprio irmão.
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Cacete! O que mais me faltava acontecer nessa


vida?
— Quer dizer então que Lowell é filho do meu
pai? Nós somos irmãos? É isso mesmo?
Eu estava impactada.
— Sim, vocês são irmãos, por parte de pai.
Ninguém mais sabe disso, nem o seu pai soube
antes de morrer, nem o meu marido soube e
tampouco Lowell sabe. Eles ficariam todos
arrasados. Você é a primeira pessoa para quem
estou contando e estou fazendo isso para que você
entenda a importância e se afaste dele de vez.
Minha cabeça girava, um turbilhão de
pensamentos invadindo minha mente.
— E para que não ficássemos juntos, a senhora
mandou me sequestrar, e como não deu certo, tirou
Jerry da cadeia. Estou certa?
— Claro que não. Eu jamais faria algo tão
terrível quanto mandar sequestrar uma pessoa. Mas
quanto a tirar Jerry da cadeia sim, fui eu. Achei que
se ele estivesse livre continuaria com você e a
impediria de ficar com Lowell, mas depois que
fiquei sabendo que você continua trabalhando na
Dixon Enterprise percebi que não seria tão fácil
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separar vocês dois. Acredite, eu já vi meu filho com


muitas garotas, mas jamais o vi tão afetado por
nenhuma delas quanto está por você. Se continuar
trabalhando com ele, o inevitável vai acontecer.
Vocês estão apaixonados. Acho que sempre
estiveram.
Caramba! Aquela história era tão absurda que
eu nem sabia o que pensar. Como assim Lowell era
meu irmão? Tudo bem que nos dávamos bem desde
crianças, éramos muito próximos e apegados, mas
jamais se tratou de amor fraternal, eu sempre o
amei profundamente, mas como uma mulher ama
um homem e depois de consumado esse amor, ele
só cresceu dentro de mim. Foi uma pena que
Lowell conseguiu destruir esse sentimento.
— Eu realmente o amava, só que não existe
mais nada entre mim e ele e jamais existirá. Eu ia
deixar a cidade hoje, mas acabei perdendo o único
dinheiro que tinha para comprar as passagens.
Ainda não sei o que fazer, mas sei que quero ir
embora daqui para o mais longe possível. Eu amei
muito o seu filho. Meu Deus! Eu amei o meu
próprio irmão! Mas ele conseguiu fazer com que eu
o odiasse e tudo que quero dele agora é distância.
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— Com isso posso te ajudar. Posso te dar o


dinheiro para viajar para qualquer lugar do mundo
e se manter por lá até arranjar um emprego.
— Sério? Isso seria ótimo.
— E esse filho que supostamente você está
carregando? É de Jerry ou de Lowell.
— Se eu estiver grávida é de Lowell. Não tive
relações sexuais com Jerry desde que ele saiu da
cadeia. — Novamente pensei no absurdo daquela
situação. — Ai, meu Deus! Estou grávida do meu
próprio irmão!
— Não se desespere. Para ter certeza
precisamos fazer uma ultrassonografia.
— Eu faço isso quando chegar lá.
— Minha ginecologista pode te atender lá em
casa. Não vai demorar nada. De um jeito meio
estranho, essa criança é minha neta. Eu preciso
saber se está bem. E você pode levar seus
seguranças junto, se não confiar em mim.
Até que seria uma boa fazer um exame e ter
logo certeza se estava mesmo grávida, só me
preocupava que havia saído da empresa tão
atarantada que deixei a bolsa com o celular para
trás e a essa altura Ivone já devia estar surtando
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pela minha demora e por não conseguir falar


comigo. Por outro lado, seria rapidinho. Valeria a
pena deixá-la esperar só mais um pouco, para
depois surpreendê-la com a quantia em dinheiro
que a Sra. Dixon nos daria para deixarmos o país e
vivermos em paz em um lugar distante, longe de
Lowell, de Jerry e da possibilidade de alguém saber
que eu tinha um filho do meu próprio irmão.
— Eu topo. Mas tem que ser o mais depressa
possível.
Em questão de minutos, estávamos adentrando
os portões suntuosos da mansão Dixon, a casa onde
nasci e cresci, em um bairro nobre da cidade. Quem
podia imaginar que durante todo aquele tempo,
enquanto morávamos na casa de empregados nos
fundos, a Sra. Dixon tinha um caso com o meu pai.
Será que Ivone nunca desconfiou de nada? Se
desconfiou, guardou tudo para si mesma, pois
jamais os vi brigando ou de cara virada um para o
outro.
Durante o percurso até lá, a Sra. Dixon
telefonou para a sua ginecologista e foi enérgica ao
solicitar a presença dela em sua residencia
imediatamente, com um aparelho de ultrassom.
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Deu outro telefonema, durante o qual falou em um


idioma que eu não compreendia. Depois disse que
era um telefonema de negócios e só não fiquei
preocupada porque meus dois seguranças se
encontravam ao meu lado, estavam armados e eram
muito bem treinados.
Do lado de dentro, a mansão era tão suntuosa
que chegava a ser exagerada. Lembrava tanto a
minha infância que até o cheiro me pareceu
familiar. Tinha as paredes altas como as de um
palácio e fazia ecos que chegavam a dar calafrios.
Parecia muito mais triste e sem vida sem Lowell e
Jasper correndo e fazendo bagunça por lá.
Encontramos a ginecologista na sala. Uma
mulher de cabelos ruivos e cacheados, que se
mostrou bastante receptiva e disse já ter instalado o
ultrassom no segundo andar. Sem que os
seguranças saíssem de perto de mim, subimos as
escadarias largas e lembrei-me de quando Lowell e
eu éramos crianças e brincávamos naquele lugar.
Éramos tão felizes, tão soltos, que eu nunca havia
percebido o quanto ali era sinistro.
No corredor largo do segundo andar, paramos
diante de uma das portas.
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— Os rapazes ficam aqui. É um exame


ginecológico. Não é elegante que homens fiquem
olhando. — Foi a Sra. Dixon quem disse.
Nesse momento, desconfiei que ela pudesse
estar armando algo e tive medo, mas eu já havia ido
até ali, não recuaria agora. Os seguranças
entreolharam-se, depois me encararam em busca de
consentimento e assenti, permitindo que ficassem
no corredor.
Meu alívio foi colossal quando entramos no
quarto e vi um aparelho ultrassom moderno ao lado
da cama enorme. As intenções dela realmente eram
boas.
Envolvidas em uma conversa descontraída, a
médica me pediu que deitasse e iniciou o
procedimento, com a sonda que eu já conhecia.
Logo ouvimos os sons frenéticos do coraçãozinho
de outro ser humano batendo dentro de mim e não
consegui evitar a emoção. Eu ia ser mãe de novo,
mãe do filho do homem que amei durante toda a
minha vida, mãe do filho do meu irmão.
Apesar da bizarrice da situação, eu só
conseguia sentir amor. Já amava aquele serzinho
minúsculo, de quatro semanas de existência, que se
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desenvolvia dentro de mim. Não importava que


fosse filho de dois irmãos, eu o teria e o criaria com
dedicação.
— Precisamos fazer uma curetagem. Você faz,
Linda? — A Sra. Dixon indagou, dirigindo-se à
médica, enquanto eu ainda estava lá em cima da
cama, de pernas abertas e imediatamente puxei a
sonda de dentro de mim e me levantei.
— De jeito nenhum! Ninguém vai fazer
curetagem nenhuma. Eu vou ter o meu filho. —
Protestei.
A Sra. Dixon pediu que a médica deixasse o
quarto por um momento e me olhou com
reprovação, antes de começar a falar.
— Você não pode ter um filho do seu irmão,
querida. Isso é contra todas as normas da
procriação. Melhor fazer um aborto enquanto está
de poucas semanas.
— Que se fodam as normas da procriação. Eu
vou ter o meu filho e ponto final.
A expressão no rosto dela se contraiu, a
serenidade dando lugar a uma frieza cortante.
— Vai ser melhor para todo mundo fazer esse
aborto, inclusive para você. Depois é só pegar o
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dinheiro que vou te dar, sair do país e reconstruir


sua vida em outro lugar. Do contrário não te darei
um centavo.
— Não preciso do seu dinheiro. Posso me virar
sozinha.
Dirigi-me para a porta, determinada a ir
embora dali, mas levei um susto quando ela tomou-
me a frente, trancou a porta por dentro e enfiou a
chave no bolso do seu vestido.
Será que acreditava que eu não a arrancaria
dela?
— Eu sempre soube que era isso que você
queria. Arranjar uma gravidez para se dar bem na
vida. Mas não vou permitir que Lowell seja pai de
um filho da sua própria irmã. — Ela pegou um
celular de sobre uma mesinha e digitou alguns
números. — Você pode vir até aqui? — Perguntou,
para a pessoa do outro lado da linha.
— Só para lembrá-la, meus seguranças estão aí
fora. Basta um grito meu e eles arrombam a porta.
— Acredite, eu queria evitar tudo isso. Ia te dar
o dinheiro para que você desaparecesse da vida de
Lowell. Mas você é impetuosa, teimosa,
exatamente como ele.
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— Evitar o quê?
Eu havia acabado de proferir a pergunta,
quando uma porta no lado oposto do quarto, que até
então parecia ser de um closet, se abriu e para a
minha mais completa perplexidade, Meg passou
por ela, como se estivesse escondida no quarto ao
lado.
Minha mente se anuviou com os pensamentos,
um calafrio na espinha alertando-me do perigo.
— Eu queria dizer que é bom te ver de novo,
mas estaria mentindo. — Meg falou, fuzilando-me
com olhos frios e mortais.
Naquele instante, tive quase certeza de que
havia sido ela quem mandou me sequestrar, só
ainda não sabia até aonde a mãe de Lowell tinha
participado disso.
— O que está acontecendo aqui? — Indaguei,
sobressaltada, enquanto alternava meu olhar entre
as duas mulheres.
— Está acontecendo que você pediu pra morrer
quando se meteu entre mim e Lowell. — Disse
Sara.
— Se existisse algo entre vocês ele não teria
ficado comigo. — Rebati.
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— Quando tem uma galinha fácil se


oferecendo, qualquer um cai em cima. Foi assim
com meu pai também.
— O quê?!
— Você não sabe não é? Bernard Smith é meu
pai biológico. Por causa da puta da sua mãe ele
abandonou a mim e a minha mãe. Quando começou
aquele boato de que ele havia te molestado, precisei
deixar a cidade e quando comecei a reconstruir
minha vida com um cara bacana, você aparece de
novo e estraga tudo. Só que essa foi a última vez,
Madison. Você nunca mais vai atravessar o meu
caminho. — Eu não sabia o que me deixava mais
impactada, se o ódio contido em sua voz e no seu
olhar, ou se as revelações que ela fazia.
Como assim aquele verme era pai dela?
— Foi você quem mandou me raptar, não foi?
— Sim. Pena que aqueles bandidinhos idiotas
não fizeram o serviço direito. Era pra você estar
exatamente onde é o seu lugar. Sendo fodida por
todo tipo de gente.
— Antes que você pergunte, eu não tive nada
com isso. — A Sra. Dixon interveio. — Apenas
emprestei o dinheiro a ela e a acolhi aqui depois
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que Lowell a demitiu. Ela sim é a mulher ideal para


o meu filho. Pelo menos não é irmã dele.
— A mulher que manda raptar alguém, para
que se esse alguém seja transformada em escrava
sexual, é a mulher ideal para o seu filho? — Eu
estava atônita.
— Pelo menos ela tem atitude, diferente de
você. Bem, é uma pena que as coisas tenham que
ser assim. Eu realmente não queria o seu mal. Ia te
dar o dinheiro para ir embora, mas não quero um
neto filho de dois irmãos.
A Sra. Dixon aproximou-se da porta geminada,
fazendo menção de passar por ela.
— Aonde a senhora vai? — Perguntei, às suas
costas.
Ela não respondeu, tampouco olhou para trás.
Simplesmente abriu a porta e desapareceu através
dela, deixando-me sozinha com aquela psicopata.
— Agora somos só eu e você. — Abri a boca
para gritar pelos seguranças, mas antes que minha
voz tivesse a chance de atravessar minha garganta,
Meg sacou um pequeno revolver do cós do seu
jeans e o apontou direto para mim.
— Pelo amor de Deus, abaixa essa arma. —
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Falei trêmula e apavorada.


— Se gritar, você morre. — Foi tudo o que ela
disse.
Continuou segurando o revólver com uma mão,
enquanto que com a outra, tirou uma seringa do
bolso da sua calça. Arrancou a tampa da agulha
com os dentes e se aproximou de mim, cravando a
agulha em meu pescoço, tão depressa e com tanta
agilidade, que não tive tempo de me defender.
Logo, vi o quarto todo girar à minha volta, à
medida que minhas vistas escureciam, um pavor
intenso ia tomando conta de cada uma das células
do meu corpo.
— O que você vai fazer comigo? — Tive a
sensação de que minha voz saía em câmera lenta.
— Daqui a pouco você vai saber.
Lutei bravamente contra a escuridão que
tentava me engolir, mas foi em vão. Logo, tudo se
perdeu e minha última lembrança foi do rostinho de
Lucas sorrindo para mim.

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CAPÍTULO XXVII

Lowell.

Eu havia perdido a noção de quanto tempo


estava vagando pelas ruas da cidade, dirigindo o
meu Audi, atento a tudo e a todos por quem
passava, à procura de Madison. Todas as vezes que
via uma garota morena, de cabelos compridos, me
enchia de esperanças, achando que era ela, mas não
era e a cada instante que passava o meu coração
sufocava mais de angústia, algo me dizendo que ela
estava em perigo e se estivesse, a culpa seria
minha, por fazê-la deixar a empresa tão
desnorteada.
Continuei tentando o celular dela, ninguém
atendia, o que só servia para me deixar ainda mais
apreensivo. De vez em quando, ligava também para
o detetive, mas ele ainda não tinha nenhuma pista
sobre o paradeiro de Meg.
Por fim, Jasmine me ligou para informar o
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telefone do celular de um dos seguranças que


estava com Madison e digitei o nos números com
as mãos trêmulas de ansiedade.
— Travis falando — Disse o segurança ao
atender.
— Aqui é Lowell Dixon. Preciso saber onde
está Madison. Você está com ela?
— Positivo. Estamos com ela na casa da sua
mãe.
Precisei de um momento para processar aquela
informação, perguntando me se porventura não
havia entendido errado.
— Você disse na casa da mina mãe?
— Isso mesmo, Sr.
— E o que estão fazendo aí? — Ao mesmo
tempo em que indagava, eu dobrava a esquina para
voltar naquela direção.
— Eu não tenho ideia, Sr. As duas
conversaram em particular por um tempo, depois
viemos para cá. Mas tudo com o consentimento da
Srta. Oliveira. Agora estão trancadas em um
quarto, junto com outra mulher e nós estamos no
corredor, atentos.
— Ótimo. Não saiam daí. Já estou chegando.
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Encerrei a ligação e pisei fundo no acelerador,


ultrapassando os veículos que estavam na minha
frente. Não que minha mãe fosse uma pessoa ruim,
mas havia alguma coisa errada nessa história.
Primeiro ela insistiu demais para que eu fosse até o
haras ver meu pai e no dia em que concordei, levou
Madison para a sua casa, talvez achando que eu não
estivesse na cidade. Podia até ser coincidência, mas
que era estranho, isso não se podia negar. De uma
coisa eu tinha certeza: ela não aprovava meu
relacionamento com Madison, deixara isso claro
durante nossa conversa no haras, quando insistira
em dizer que eu não podia me envolver com uma
mulher de uma classe social tão inferior à minha e
ainda acrescentara que havia coisas que eu
desconhecia, o que era bastante suspeito. Eu só
esperava que ela não fizesse mal à mulher que eu
amava, ou eu jamais a perdoaria.
Chegando à mansão onde nasci e cresci, saltei
do Audi e atravessei o jardim quase correndo.
Avancei pela sala imensa e subi os degraus de dois
em dois, para o segundo andar. No corredor,
encontrei os seguranças parados na frente da porta
de um dos quartos de hóspedes
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— Elas estão aí dentro? — Perguntei.


— Sim, senhor
— Há quanto tempo?
— Mais ou menos uma
hora.
Tentei abrir a porta e constatei que estava
trancada. Então, tomado por um mau
pressentimento que me enchia de pânico, cerrei
meu punho e bati com toda força, chamando pela
minha mãe e por Madison. Como não obtive
qualquer resposta, entreguei-me ao mais absurdo
dois impulsos e afastei-me alguns centímetros para
arremessar-me de encontro à porta, com toda a
força, determinado a derrubá-la.
Percebendo a minha intenção, um dos
seguranças, maior e mais forte que eu, tomou-me a
frente e se atirou contra a porta, uma, duas, três
vezes, na quarta tentativa esta cedeu e se abriu.
Fiquei impactado com a cena com a qual me
deparei. Madison estava deitado na cama, nua da
cintura para baixo, com as pernas abertas,
penduradas sobre duas pilhas de travesseiros,
completamente imóvel, com os olhos fechados.
Tomado por uma agonia que parecia se infiltrar
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em meus ossos, temi que estivesse morta e corri ao


seu encontro, checando seu pulso e as batidas do
seu coração, uma onda de alívio me engolfando ao
perceber que havia vida em seu corpo.
Ao lado da cama, havia uma mulher de cabelos
ruivos, cacheados, nos observando com cara de
pavor, enquanto que a porta que dava para o quarto
ao lado acabava de ser batida, bem a tempo de eu
ver a mecha de cabelo loiro passando rapidamente
por ela, em fuga. Sem que eu precisasse ordenar, o
segurança partiu atrás dela, agilmente e mandei que
o outro imobilizasse a ruiva. Ninguém saía daquele
quarto até que eu soubesse exatamente o que havia
acontecido com Madison.
Comovido por seu estado, tão frágil e indefesa,
abaixei suas pernas e ocultei sua nudez com o
lençol. Depois, acariciei o seu rosto relaxado, com
os olhos fechados, chamei pelo seu nome, várias
vezes, e ela não acordou.
— O que vocês fizeram com ela? Por que não
acorda? — Esbravejei, virando-me para a ruiva,
que se tremia dos pés à cabeça.
— Anestesia geral. Ela vai demorar mais ou
menos duas horas para acordar.
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— Por que anestesia geral? O que vocês


estavam fazendo com ela, suas malditas?!
— Eu sou médica. Íamos fazer uma curetagem,
mas ainda não tínhamos começado. O embrião está
intacto.
— Como assim embrião?
— Ela está grávida, de quatro semanas. Íamos
fazer um aborto.
Fiz as contas mentalmente e quase entrei em
desespero. Madison e eu havíamos tido relações
sexuais, sem proteção, no banheiro da cabine do
avião, enquanto voltávamos de Paris, portanto,
havia uma grande chance daquele filho ser meu,
embora também pudesse ser de Jerry. Todavia, se
fosse dele, talvez ela não estaria fazendo um
aborto, na certa essa decisão partira da forma como
eu a vinha tratando ultimamente, ou seja, ela ia se
livrar do nosso filho por minha causa, porque
consegui ser estúpido o bastante para fazer com que
me odiasse.
Por Deus! O que eu havia feito com minha
Madison? Como consegui ser tão nocivo à mulher
que eu amava, a ponto de ela querer matar o nosso
filho?
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— Por que aqui? Minha mãe a está ajudando


com isso? — Eu podia apostar que sim.
Ela não permitiria que existisse um vínculo de
sangue entre mim e a filha da empregada.
— Na verdade. — A médica parecia hesitante
ao falar. — A ideia foi da sua mãe. Madison não
concordou. Outra moça a imobilizou para que eu
aplicasse a anestesia.
Fitei o rosto daquela estranha, completamente
desnorteado.
— Vocês iam matar essa criança sem o
consentimento dela?! — Até que ponto as pessoas
podiam chegar? — Por quê?
— Eu não sei de nada. Sua mãe me mandou
apenas fazer o procedimento.
Me virei para aquela ruiva com os punhos
cerrados. Teria partido a cara dela no meio, se neste
momento a porta que dava para o outro quarto não
tivesse se aberto, para que o segurança a
atravessasse, trazendo Meg com os pulsos
algemados para trás. Havia um ferimento na cabeça
dele e um hematoma roxo em torno do olho dela,
evidenciando que ambos haviam lutado.
— E essa é a outra moça que a imobilizou. —
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Afirmei, pouco surpreso, observando o rosto odioso


de Meg.
A fúria que queimava em minhas entranhas
chegava a ser descomunal. Levantei-me da cama e
aproximei-me de Meg, fazendo uso de todo o meu
autocontrole para não avançar no pescoço dela e
apertá-lo até que a vida se esvaísse do seu corpo. Se
eu colocasse minhas mãos naquela imunda, a
deixaria em picadinhos.
— Por que tudo isso, sua maldita?! Como se
não bastasse contratar uma quadrilha de sádicos
para sequestrá-la, agora tenta matar o filho que ela
espera? O que ela fez a você?!
— Você jamais entenderia. Essa vadia tirou
tudo de mim. Primeiro tirou o meu pai, depois o
meu lar e por fim me tirou você. Nenhum mal que
eu faça a ela vai ser suficiente para apagar o mal
que ela me causou.
— Você é completamente louca! Ela jamais me
tirou de você, porque eu nunca fui seu! O que
aconteceu entre nós foi só sexo e nem foi um sexo
tão bom assim.
Um ódio quase palpável se refletiu nos olhos
azuis dela.
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— Embora eu tenha me apaixonado por você,


não foi só porque ela o tirou de mim. O homem
com quem a mãe dela foi morar, depois que saiu da
sua casa, há doze anos, é o meu pai. Ele abandonou
a mim e a minha mãe por aquela vadia. Depois que
saiu o boato de que ele a havia molestado desde
que ela era criança, eu precisei sair da cidade, para
fugir dos ataques hostis da população, como se eu
tivesse culpa pelo que meu pai fez. — Os olhos
dela marejaram de lágrimas. — Você entende o que
é deixar tudo para trás? Minha mãe, minha vida,
meus amigos, por causa de duas vadias?
Tentei compreender a dor dela, mas só
conseguia pensar que Madison não tinha culpa de
nada, portanto não merecia o que estava passando.
O tempo todo, ela foi vítima. Primeiro da minha
covardia, por não ter ido procura-la para saber
como estava, depois que saiu da nossa casa. Depois
foi vítima daquele maldito pedófilo. E, como se não
bastasse, novamente eu a tornava vítima da minha
crueldade, da minha vingança idiota, acarretada
pelo ciúme que me corroía a alma, por acreditar
que ela havia me trocado por outro homem, quando
na verdade ela jamais deixou de me amar.
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Pensar nisso, me doía por dentro como se


alguém enfiasse a mão em meu peito e apertasse o
meu coração até me sufocar.
— Você sabia que eu conhecia Madison
quando foi trabalhar para mim?
— Claro que sabia. Todo mundo sabe que você
era a pessoa da vida dela. Eu me aproximei para te
destruir, para que ela te perdesse, mas cometi a
burrice de me apaixonar por você.
— Se você queria se vingar de alguém, devia
ter feito isso com seu pai. Madison foi apenas uma
vítima dele. Agora você vai passar o resto da vida
na cadeia, por atentar contra a vida de uma
inocente. — Virei-me para o segurança que a
imobilizava e completei: — Pode levá-la para a
delegacia e conte tudo o que presenciou aqui.
— A polícia não vai me manter presa por
muito tempo, Lowell e quando eu sair da cadeia,
vou atrás de você e não se esqueça de que sua mãe
participou de tudo isso também. Quem você acha
que me deu o dinheiro para pagar os
sequestradores? Quem me acolheu quando eu
precisei me esconder da polícia? De quem foi a
ideia de fazer esse aborto? Foi tudo ela! Você vai
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mandar prendê-la também?


— Leva logo essa maldita daqui! —
Esbravejei, puto da vida.
Mesmo que eu não denunciasse minha mãe,
Meg o faria e eu sequer lamentava por ela. Se
realmente fez tudo o que Meg disse, tinha que
pagar.
— E o que eu faço com essa aqui, senhor? —
Indagou o outro segurança.
— Leve para delegacia também. Ela ia fazer
um aborto sem o consentimento da paciente. Isso
também é crime.
A médica começou a falar sem parar, nervosa,
proferindo argumentos em sua defesa, mas eu não
queria saber, nem prestei atenção no que ela dizia,
apenas gesticulei para que o segurança a tirasse dali
e voltei a sentar-me na cama ao lado de Madison,
observando o seu rosto tão inocente, tão sofrido,
tão lindo e tão sereno. Depois, enrolei-a em um
lençol e a ergui em meus braços, carregando-a para
fora do quarto.
Ao descer a escadaria, com Madison no colo,
ainda desacordada, encontrei minha mãe na sala e
evitei até de olhar para o rosto dela, tão grande era
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o ódio que havia dentro de mim, por tudo o que ela


fez.
— É melhor a senhora sair do meu caminho,
ou não responderei por mim. — Falei e segui na
direção da porta de saída, sem olhar para ela.
— Lowell, por favor, me ouça. Não me julgue
sem conhecer os fatos. Há coisas que você não
sabe. Por favor, não me condene.
— Não cabe mais a mim julgá-la e condená-la
e sim ao sistema judiciário. Mas de uma coisa a
senhora pode ter certeza, para mim a senhora está
morta, já não existe mais. Então esqueça que sou
seu filho. Adeus.
Ouvi quando ela soluçou às minhas costas e
balbuciou mais algumas palavras, com tom de
súplica, as quais ignorei e continuei carregando
Madison através do jardim até alcançar o meu
carro. A acomodei confortavelmente no banco
traseiro e tomei o volante, tirando-nos dali.
Ela ainda estava desacordado quando
chegamos ao meu prédio. A levei no colo elevador
acima e direto para o meu quarto, enquanto Ivone e
Lucas nos seguiam pelo apartamento, aflitos,
preocupados.
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— O que houve com ela? — Ivone indagou,


enquanto eu acomodava Madison em minha cama.
— Não se preocupe, não é nada muito grave,
apenas uma anestesia geral. O efeito vai passar
daqui a algumas horas.
— O que é uma anestesia geral? A mamãe vai
morrer? — Lucas quis saber.
— Claro que não, cara. Ela só está dormindo.
Daqui a pouco ela acorda.
— Por que ela está dormindo na hora do
almoço?
— Por falar em almoço, vocês já almoçaram?
— Ainda não. Estávamos esperando por vocês.
— Foi Ivone quem respondeu.
— Podem ir agora. Peçam que Rose prepare o
que quiserem comer. Eu fico aqui com Madison.
Assim que ela acordar eu aviso.
— Eu quero ficar aqui com a mamãe. — Lucas
protestou
— Ela não vai acordar agora e você precisa se
alimentar, Lucas. Pode ir. Se ela se mexer, ou abrir
os olhos, eu chamo você. — Falei.
— Ele está certo, querido. Você precisa comer
alguma coisa. Venha. Eu vou com você.
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Ivone segurou na mãozinha dele e ambos


deixaram o quarto.
Puxei uma poltrona para junto da cama e me
acomodei, sem desviar meu olhar do rosto amado
de Madison, comovido, penalizado, o remorso
pesando como mil toneladas sobre meus ombros.
Segurei a mão dela, estava gelada, então a
massageei entre as minhas. Esperei, ansioso, aflito,
até que por fim um gemido muito fraco partiu dos
seus lábios e lentamente ela abriu os olhos.
Percorreu o olhar à sua volta, como se tentasse
reconhecer onde estava. Piscou algumas vezes,
confusa, desnorteada, até que por fim focou o meu
rosto e uma tristeza profunda refletiu-se na sua
expressão.
— Olá. Como você está se sentindo? —
Perguntei e na mesma hora ela puxou sua mão da
minha, abruptamente.
— O que elas fizeram comigo? Mataram o meu
bebê? — Sua voz soou carregada de desespero, ao
mesmo tempo em que seus olhos marejavam de
lágrimas e suas mãos cobriam o seu ventre.
— Fica calma. Elas não o tiraram de você. Eu
cheguei a tempo de impedir. Ele ainda está aí
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dentro.
Madison lançou a cabeça para trás, com os
olhos fechados e soltou um profundo suspiro de
alívio, as lágrimas banhando seu rosto, lágrimas de
emoção. Quando voltou a me encarar, havia uma
frieza dolorosa, misturada à tristeza em sua
expressão, o que contribuiu para que o medo de
perdê-la aumentasse dentro de mim.
— O que estou fazendo aqui? Por que me
trouxe para o seu apartamento?
— Lucas e Ivone também estão aqui. Estão
almoçando. Mas não foi só por eles que eu a
trouxe. Nós precisamos conversar, Madison. Eu
preciso do seu perdão. Eu sei que não mereço, sei
que errei feio com você, sei que agi como o pior
verme rastejante da face da terra, mas ainda assim,
imploro que você me perdoe, por tudo o que te fiz,
por mentir quando era adolescente e causar a
demissão da sua mãe, por maltratar você dentro da
empresa, por marcar o seu corpo daquela forma.
Tudo o que fiz foi por causa desse ciúme que me
deixa louco quando outro homem chega perto de
você, mas posso mudar isso, só preciso de uma
chance.
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Ela me fitava sem qualquer expressão em seu


olhar, além daquela frieza que a tornava tão
distante.
— Não posso te perdoar, Lowell. Eu te perdoei
uma vez e olha o que você fez. Me atirou nos
braços da morte quando me marcou daquele jeito,
me tratou como se eu fosse um animal. Você não
merece o meu perdão. Eu não vou odiar você para o
resto da minha vida, porque agora eu terei dois
filhos para criar e não vou permitir espaço para
ódio no meu cotidiano, mas eu vou esquecer que
você existe, vou viver minha vida como se jamais
tivesse te conhecido.
Cada palavra que saía da boca dela tinha o
efeito da ponta aguda de um punhal sendo cravado
em meu peito. A dor era lancinante, o medo de
perdê-la era aterrador. Eu precisava fazê-la mudar
de ideia, pois sem ela minha vida não faria sentido
algum. Os dias que passei enchendo a cara, por
acreditar que a havia perdido, me serviram de
experiência.
— Não fala assim. Me deixa te amar. Eu fui
um imbecil, mas posso mudar. Me deixa cuidar de
você e dos seus filhos, mesmo que eles não sejam
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meus, mesmo que sejam de Jerry, eu cuidarei dos


dois, como se fosse pai deles e cuidarei de você. Te
farei a mulher mais feliz desse mundo.
— Esse filho que carrego em meu ventre não é
de Jerry, é seu, mas vai crescer bem longe de você.
Digeri lentamente aquela informação e meu
coração falhou uma batida.
— Como você sabe que não é dele?
— Não que seja da sua conta, mas não tive
relações sexuais com ele depois que saiu da cadeia.
— Você não teve relações sexuais com ele sem
proteção?
— Não Lowell, eu não tive relações com ele de
jeito nenhum, porque estava apaixonada por você,
só que isso acabou, você conseguiu destruir
qualquer sentimento que eu tinha por você.
— Meu Deus! Eu vou ser pai! — Movido por
uma emoção desconhecida, levei minha mão ao
ventre dela, porém antes que tivesse a chance de
tocá-lo, Madison se esquivou na cama, afastando-se
do contato. — Não faz assim. É o meu filho
também. E vou fazer com que você se apaixone por
mim de novo, para que possamos criá-lo juntos.
— Não Lowell. Você teve a sua chance. A
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única coisa que quero de você agora é distância.


Vou sair da cidade, seguir com minha vida em
outro lugar. Por favor, não tente me impedir,
porque não vai dar certo.
— Mas nem por cima do meu cadáver você vai
sair da cidade com o meu filho.
— Até você provar a alguém que ele é seu, já
estarei bem longe daqui.
Ela falava com tanta certeza, que por um
instante me desesperei e, movido por esse
sentimento, ajoelhei-me ao lado da cama e inclinei-
me sobre o colchão.
— Por favor, Madison me perdoe. Eu estou te
implorando. Me dá a chance de te amar, de cuidar
de você e do nosso filho. Não faz isso com a gente.
Por fim, o olhar dela mudou, a frieza dando
lugar à mesma tristeza de antes.
— Se levanta daí, Lowell. Não é só questão de
te perdoar. Nós não podemos ficar juntos. Há uma
coisa que você não sabe. — Ela engoliu em seco.
— Claro que podemos. Nada nesse mundo
pode me separar de você, se me aceitar de volta em
sua vida.
Neste momento, as lágrimas voltaram a brotar
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dos olhos dela, deslizando através da sua face


morena, a tristeza se transformando quase em
angústia, na expressão do seu olhar.
— Nós somos irmãos, Lowell. A sua mãe teve
um caso com o meu pai, logo depois que se casou e
você é fruto desse relacionamento. Ela me contou
isso hoje. Você entende porque não podemos
jamais ficar juntos?
Demorei um longo momento para processar
aquelas palavras. Será que a anestesia geral havia
causado-lhe danos cerebrais que a faziam dizer
coisas sem sentido?
— Você deve estar tendo alucinações por causa
da anestesia. Descanse um pouco, depois
conversamos melhor.
— Não é alucinação. Eu sei que é difícil saber
disso assim de repente, mas é verdade. Você não se
lembra das brigas constantes entre seu pai e sua
mãe quando éramos crianças? O nome do meu pai
era sempre mencionado durante essas brigas. Agora
podemos entender o porquê.
Puxei pela memória. Realmente meus pais
brigavam muito quando eu era criança. Viviam aos
gritos pela casa, sem que eu jamais entendesse a
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razão. E o pior era que Madison estava certa, o


nome do pai dela era mencionado, de vez em
quando, sempre antes da minha mãe começar a
chorar. Meu pai sabia sobre aquele caso, agora eu
me lembrava. Ele exigia que ela o deixasse e ela
afirmava que só deixaria quando ele abandonasse a
mãe de Edward. Na época eu não entendia, mas
agora tudo fazia sentido.
Meu Deus! Então era verdade! Madison e eu
éramos meio-irmãos. Eu estava apaixonado pela
minha irmã e teria um filho com ela. Não conseguia
nem imaginar o quanto absurda era essa situação.
Era como se de repente o chão desabasse sob os
meus pés. Isso sem mencionar que meu pai, mesmo
sabendo que eu não era filho biológico dele, sempre
me considerou o mais apto para assumir as suas
empresas. Ele jamais fez essa diferenciação entre
mim e os meus irmãos. Jamais me tratou com
desigualdade porque eu não tinha o sangue dele
correndo em minhas veias, jamais me amou menos
que aos meus irmãos, por isso confiou a mim, o
filho do motorista, a presidência de todo o seu
império.
Minha nossa! Eu não sabia nem o que pensar
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sobre tudo isso. Não havia um adjetivo que pudesse


descrever a atitude do meu pai. Por mais que eu
soubesse que o sangue dele não corria em minhas
veias, ele sempre seria o meu pai.
— Ainda precisamos fazer um teste de DNA,
só para ter certeza. — Falei, mas já quase
convencido de que aquele absurdo era verdade.
Eu não sabia o que era pior, se não ter o sangue
do meu pai correndo em minhas veias, ou se estar
prestes a me tornar pai do filho da minha irmã. Era
muita bizarrice para se descobrir em um mesmo
dia.
— Podemos fazer, mas não acredito que a sua
mãe esteja mentindo.
— Sobre o nosso filho…
— O ‘meu’ filho. — Madison me interrompeu
— Você não vai participar da educação dessa
criança. Ela é só minha.
— Ela é minha também. Você pode até se
negar a mim, por enquanto, mas não pode me negar
a paternidade dessa criança. É o meu sangue
correndo nas veias dela. Você vai ficar neste
apartamento, sob os meus cuidados e daqui você
não sai nem que chova canivetes.
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— Nem morta você vai me fazer de prisioneira.


Aliás, vou embora daqui agora mesmo.
Ela tentou se levantar, mas aparentemente
ficou tonta e acomodou-se no travesseiro de novo.
— Você está bem?
— Sim. Só uma tontura boba. Daqui a pouco
passa e vou embora. Se você tentar me impedir
chamarei a polícia.
— Cacete! Como você é teimosa! Nós somos
irmãos, não vejo porque não podemos morar sob o
mesmo teto.
— Porque não quero olhar para a sua cara
todos os dias.
Eu poderia continuar falando até convencê-la a
ficar, mas aquela discussão podia fazer mal ao
bebê. Então, derrotado, cedi.
— Já que você faz tanta questão assim de ir
embora, o que eu acho completamente
desnecessário, volte para o apartamento onde
estava. Jerry não vai mais aparecer por lá,
tampouco vai chegar perto de você ou de Lucas de
novo. Pode ficar tranquila.
— Como você tem tanta certeza disso?
— Eu tive uma conversinha com ele, de
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homem para homem. Ele não vai voltar a te


perturbar.
— Mesmo assim, não quero voltar a morar
naquele apartamento. Não quero mais nada que me
ligue a você. Nem aquele emprego maldito na sua
empresa eu quero mais. Sou perfeitamente capaz de
me virar sozinha, de criar o meu filho sem precisar
da sua ajuda.
— Madison, você não consegue nem ir até a
esquina sem tropeçar em alguma coisa, ou esbarrar
em alguém. Como espera conseguir criar dois
filhos sozinha e ainda cuidar da sua mãe?
— Eu me viro. Você está me subestimando.
Neste momento, a porta do quarto se abriu e
Ivone entrou, tão sorrateiramente que mal
ouvíamos os seus passos. Tinha o semblante
carregado, a fisionomia contraída, o olhar aflito.
Parou diante da cama e ficou mexendo com as
mãos, como se estivesse nervosa.
— Aconteceu alguma coisa, mãe? — Madison
indagou.
— Não. Eu só vim avisar que Lucas adormeceu
depois do almoço e ver como ver como você está.
— Ela hesitou antes de continuar — Eu não queria
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ouvir a conversa de vocês, mas acabei escutando


uma parte, sem querer.
— E que parte você escutou? — Foi Madison
quem perguntou.
— A parte em que a Sra. Dixon teve um caso
com meu marido.
— Isso já faz muito tempo mãe, não é hora de
se abalar com essa história.
— Não estou abalada. Eu sabia de tudo. Fingia
que não sabia para não brigar com seu pai. Ele
nunca conseguiu esconder que amava aquela
mulher.
— Então é mesmo tudo verdade? — Indaguei.
Se havia algum vestígio de esperança de que
Madison e eu não fôssemos irmãos, esta acabava de
se dissipar com as palavras dela.
— Sim, é verdade que o caso aconteceu e que
Lowell é filho dele, mas, não é verdade que vocês
são irmãos.
Ivone remexeu ainda mais suas mãos,
esfregando uma na outra, se mostrando cada vez
mais nervosa. Parecia prestes a sair correndo dali,
enquanto Madison e eu nos entreolhávamos
confusos.
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— Como assim, mãe? Se ele é filho do meu


pai, claro que somos irmãos. — Cravamos nosso
olhar em Ivone, esperando por uma explicação,
porém, ela continuou cabisbaixa, nervosa, até que
chegamos à conclusão óbvia. — Pelo amor de
Deus, mãe. Não me diga que sou filha de outro
homem. Não me diga que você também teve um
caso extraconjugal. Não faz isso comigo.
Ivone começou a chorar de repente, as lágrimas
rolando desenfreadas através do seu rosto
enrugado.
— Me desculpa, filha. Eu estava muito carente
e solitária. Seu pai não me tocava mais. Ele só
queria saber da Sra. Dixon e depois que Lowell
nasceu, ficou ainda mais apaixonado pelos dois.
Para ele, era como se eu não existisse mais. — Ela
falava e chorava ao mesmo tempo.
— Então me diz logo quem é o meu pai
biológico.
— Bernard Smith. — O queixo de Madison
caiu. — Nós começamos a nos relacionar muito
antes do seu pai morrer, quando ele ainda era
casado. Depois que fui demitida, ele abandonou a
mulher para viver conosco. Essa é a história.
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Madison ficou muda, o rosto empalidecendo


muito rápido. Eu sabia exatamente como ela estava
se sentindo e comecei a me preocupar com o risco
de seu estado prejudicar o bebê.
— Fica calma, Madison. Isso é só um primeiro
impacto, logo vai passar.
— Isso quer dizer que eu fui molestada pelo
meu próprio pai? — A voz de Madison saiu
trêmula, junto ao mar de lágrimas que começou a
fluir dos seus olhos.
— Ele nunca soube que é o seu pai. Não contei
a princípio, logo que você nasceu, por medo de que
ele exigisse assumir a paternidade e depois deixei
de contar por medo de que ele me punisse por ter
mentido inicialmente. Uma mentira levou à outra.
Mas juro que se eu soubesse o que ele fazia com
você, eu a teria tirado de lá.
— Você mentiu pra mim durante todos esses
anos.
— Me perdoe filha. Por favor não me odeie.
— Acho que já podemos fundar um grupo de
apoio para filhos enganados — Comentei.
— Você acha que isso é brincadeira? —
Madison indagou, entre lágrimas.
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— Fala sério. Eu também acabei de saber que


não sou filho do meu pai e nem por isso estou
chorando.
— Será que vocês dois podem me deixar
sozinha?
— Me diz que você não vai me odiar, filha. Me
diz que vai me perdoar. — Ivone parecia
desesperada e tão frágil quanto a filha.
— Depois a gente conversa, mãe. Agora eu só
quero ficar sozinha.
Evitando contrariá-la por causa da gravidez, a
atendemos e deixamos o quarto.
Madison estava abalada demais e isso poderia
prejudicar o bebê. Insistir para que ela ficasse
morando em meu apartamento, ou no apartamento
onde estava antes, ou mesmo oferecer-lhe qualquer
tipo de ajuda, só geraria mais discussão naquele
momento e aumentaria esse risco, portanto, eu
precisava esperar que ela se acalmasse, que
aprendesse a aceitar as coisas como elas se
revelavam naquele dia e deixá-la partir, como
queria. Só que nem morto eu a deixaria sozinha,
sem proteção, sem cuidados, sem emprego e sem
ter onde morar. Deixar de fazer parte da vida dela,
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não estava nos meus planos, nem nunca estaria.


Precisava apenas pensar em uma forma de
ajudá-la sem que ela soubesse de nada, ou ela não
aceitaria. Cogitei ligar para Jasper e pedir a ele que
a levasse para algum lugar seguro, mas Jasper era
um mulherengo e já havia crescido o olho para
cima dela uma vez, certamente daria em cima dela
de novo. Depois pensei em falar com Edward, mas
ele também não era de confiança, gostava de
impressionar Madison com aqueles malditos
cavalos. Então lembrei-me de Consuelo. Ela era
uma pessoa em quem Madison confiava, se lhe
oferecesse ajuda, sem dúvida, ela aceitaria.
Entretanto, para que Madison aceitasse a ajuda de
Consuelo, sem desconfiar que eu estava por trás
disso, eu precisava ter Ivone como minha cúmplice.
Então fui falar com ela.

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CAPÍTULO XXVIII

Madison.

Sozinha no quarto de Lowell, deitada na cama,


chorei até que minhas lágrimas pareciam ter
secado. Aquele tinha sido um dos piores dias da
minha vida. Primeiro Lowell me tratou como se eu
fosse um animal, me deixando toda marcada,
correndo risco de ser agredida, ou até mesmo morta
por Jerry. Depois, quase tiraram o meu bebê contra
a minha vontade. Como se não bastasse, passei
horas acreditando que era irmã do homem de quem
esperava um filho e, para fechar com chave de
ouro, fiquei sabendo que não era filha do homem
que durante toda a minha vida acreditei ser meu
pai.
Eu não me recordava muito bem dele, já que
havia morrido quando eu tinha cinco anos, de um
derrame cerebral. Lembrava apenas que tinha
sofrido bastante, quando ele partira, certamente por
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tê-lo amado, embora os momentos com ele


tivessem sido apagados da minha memória, ou
simplesmente não existiram. A segunda hipótese
era mais plausível, considerando o que minha mãe
disse sobre ele não ligar para nós duas depois do
nascimento de Lowell. Nesse caso, ele jamais ligou
para mim, visto que eu era mais nova que Lowell.
Saber que eu tinha o sangue daquele pedófilo
correndo em minhas veias não mudava o nojo e o
ódio que e tinha dele. Para mim, isso nada
representava. O mais impactante nessa história foi
saber que minha mãe mentiu para mim durante
todos esses anos.
Mas eu não podia gastar minhas energias
mentais pensando nisso, precisava deixar o passado
enterrado e seguir em frente, encontrar uma forma
de viver minha vida sem mais depender de
ninguém, principalmente de Lowell. Ele me pediu
perdão, jurou que ia mudar, que cuidaria de mim e
do nosso filho, mas se algum dia eu chegasse a
perdoá-lo, tudo se repetiria. Bastava que ele
sentisse ciúmes de mim com outro homem, para
que o ogro que existia dentro dele se exteriorizasse,
porque ele era assim, impulsivo e impetuoso. Não
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media as consequências dos seus atos e eu não era


obrigada a conviver com isso, já havia cometido
erros demais em minha vida. O primeiro deles, foi
ter me calado quando aquele monstro invadiu o
meu quarto no meio da noite e tocou em meu
corpo. Depois continuei errando ao ir morar com
uma pessoa sem futuro como Jerry. Já estava na
hora de amadurecer, de começar a tomar as
decisões certas e me afastar de Lowell era a
primeira dessas decisões.
Entretanto, eu precisava descobrir como seguir
adiante sem ter de onde começar. Pensando nisso,
levantei-me, vesti meu jeans, que se encontrava ao
lado da cama e me aproximei da janela, observando
o sol do meio-dia banhando os picos dos edifícios
suntuosos à minha frente. Cada janelinha deles
guardava uma história, abrigava uma família. Então
me ocorreu que eu podia trabalhar como empregada
doméstica, assim teria um teto e um prato de
comida para mim, Lucas e Ivone, como fazíamos
quando eu era criança, na residência dos Dixon.
Mais para frente, arranjaria outra coisa, por hora,
essa parecia a única saída.
Não seria tão difícil arranjar um emprego assim
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se tivesse uma boa carta de recomendação e isso


Lowell tinha a obrigação de me dar, sem que
estivesse me fazendo favor algum, já que fui uma
boa funcionária na sua empresa.
Estava lá imaginando por onde começar a
procurar, quando a porta se abriu e Lucas entrou,
carregando uma bandeja com comida, o aroma
saboroso da sopa tomando o ambiente, causando-
me enjoos. O ajudei a depositar a bandeja sobre
uma mesinha e o peguei em meus braços, sentando-
me na cama com ele no colo, apaixonada,
fascinada, beijando seu rostinho infantil, cheirando
seus cabelos macios.
– Mamãe, a anestesia geral já passou?
– Sim, meu amor. A mamãe vai ficar bem
agora e nós vamos ficar juntos. Isso não é
maravilhoso?
– A vovó disse que vou ter um irmãozinho. É
verdade?
– É verdade sim. O que você acha disso? Está
preparado para ser um bom irmão mais velho?
– E quando ele vai chegar?
– Daqui a alguns meses. Até lá você estará
maior e mais forte.
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– Você deixa eu segurar ele no colo?


– Claro que sim, mas você precisa tomar
bastante cuidado, porque ele é pequenininho e
frágil.
– Tudo bem, mamãe. Eu vou cuidar dele
direitinho. Agora come a sopinha. A vovó disse que
você precisa se alimentar. Ela falou também pra
você ligar pro seu celular e descobrir onde o deixou
e se ninguém ainda o roubou. Se você quiser pode
ligar do meu.
Eu já tinha até me esquecido que deixara o
celular na copa da empresa, junto com minha bolsa.
Duvidava que alguém tivesse roubado, mas Ivone
tinha razão, eu precisava ligar e, se possível, pedir
que alguém mandasse um taxista me entregar.
Então, primeiro comi a sopa, com muito esforço
para conter os enjoos, enquanto Lucas me fazia
companhia, todo empolgado, falando sobre o bebê
que chegaria. Perguntou também pelo pai e tive que
mentir, dizendo que ele havia viajado e que dessa
vez demoraria muito para voltar. Eu só esperava
que, com o passar do tempo, Lucas o esquecesse.
Depois da refeição, usei o celular dele para
ligar para o meu e fui atendida por Consuelo.
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– Oi Madison. Seu celular está comigo.


Encontrei a sua bolsa lá na copa e a guardei, só
por segurança. Mas foi bom você ligar, estou
precisando falar com você. – Consuelo disse, ao
atender, animada como sempre.
– Nem sei como te agradecer, Consuelo. Você
é sempre tão atenciosa. Se não for pedir muito,
você pode pedir para entregar ele aqui no
apartamento de Lowell?
– No apartamento do chefe? Trocou o marido
por ele de novo?
– Desta vez não, mas me separei de Jerry.
– Não posso nem dizer que sinto muito. Aquele
cara nunca fez bem a você. Foi uma benção se
livrar dele.
– Mas o que você queria falar comigo?
– Preciso te pedir um favor. E agora que você
se separou, acho que vai ser bom para você
também.
– Pode falar.
– Bem, é que tenho um primo que morava aqui
em Orlando e acabou de se mudar para Los
Angeles, por causa do trabalho. Foi uma promoção
repentina que ele recebeu, tão de última hora que
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não teve tempo de vender, nem alugar, a casa em


que morava. É uma casa grande demais para ficar
fechada e para vender ou alugar assim de última
hora, então ele me pediu para que arranjasse
alguém de confiança para ficar por lá, tomando
conta, até ele pensar sobreo o que vai fazer. Como
sei que você ainda não tem casa própria, achei que
gostaria de tomar conta da casa dele para mim por
algum tempo. Para Lucas vai ser ótimo, porque
tem bastante verde por lá.
Demorei alguns minutos para processar suas
palavras, me perguntando se porventura não tinha
ouvido errado. Era tão maravilhosa aquela
proposta, que eu mal podia acreditar. Uma casa na
qual podia morar com meu filho e minha mãe, era
tudo que eu precisava naquele momento, mesmo
que só por algum tempo, até arranjar outra coisa.
– Mas é claro que eu posso, Consuelo. Aliás,
estou precisando muito nesse momento. Você não
imagina o quanto isto vai me ajudar.
– Mas por quê? Aconteceu alguma coisa?
– Lowell aprontou, como sempre. Só que dessa
vez ele foi longe demais e me recuso a continuar no
apartamento dele, tanto quanto trabalhando para
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ele. Desse homem agora eu só quero distância.


– Eu sinto muito que você esteja passando por
tudo isso. Se precisar de alguma coisa, de um
ombro para chorar, saiba que pode sempre contar
comigo.
– Você não sabe o quanto agradeço. Quando
posso me mudar para essa casa?
– Quando você quiser. Já está desocupada há
uns três dias. Levo a chave para você quando for
levar a sua bolsa.
– Obrigada. Nesse caso, vou esperar você no
apartamento onde estava, enquanto arrumo as
minhas coisas.
– Estarei lá no final da tarde. Até mais.
Quando cerramos a ligação, eu ainda não tinha
acreditado que havia conseguido um lugar para
morar. Precisei me beliscar só para ter certeza de
que não estava sonhando. Parecia que finalmente a
sorte estava do meu lado, pela primeira vez na vida.
Fiquei trancada no quarto, com Lucas, fazendo
hora, sem vontade nenhuma de sair e ter que olhar
para a cara de Lowell e da minha mãe. Esperava
que pelo menos ele tivesse saído para o trabalho, já
que não faltava nem um dia na empresa. Quanto à
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minha mãe, talvez nossa relação jamais voltasse a


ser a mesma, mas era inevitável que convivêssemos
da melhor maneira possível, afinal tínhamos apenas
uma a outra, e Lucas só tinha nós duas.
Quando percebi que não dava mais para
continuar enrolando, acabei saindo e para meu mais
completo desgosto, me deparei com os dois na sala
de estar, acomodados no sofá, como se me
esperassem.
– Vamos indo mãe. Arranjei um lugar para
gente ficar. Só temos que passar no apartamento
para pegar nossas coisas.
– Que lugar foi esse que você arranjou? –
Lowell indagou, tranquilo demais para um sujeito
que há pouco estava implorando pelo meu perdão.
– Isso não é da sua conta. Só te interessa saber
que iremos desocupar o seu apartamento esta tarde.
Quando tiver tempo, envio minha carta de
demissão para a empresa. Não trabalharei mais para
você. – Fui firme ao falar.
Esperei que ele fizesse um barraco, que
tentasse me fazer ficar, que trancasse a porta para
que eu não saísse, porém, tudo o que ele fez foi
continuar sentado, observando-me com a maior
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serenidade.
– Eu só quero que saiba que se você precisar de
qualquer coisa, de um médico para fazer pré-natal,
de remédios para enjoo, de dinheiro para qualquer
coisa, não hesite em me procurar. Não pense na sua
raiva agora, e sim na criança que você está
carregando. Pelo bem dela, você precisa deixar as
mágoas e as picuinhas de lado.
Então era assim que ele chamava tudo que
tinha me feito? De mágoas e picuinhas? Era mesmo
um imbecil!
– Ele está certo, filha. Não é hora de pensar nas
mágoas e sim nessa criança.
– Já entendi. – Rebati, sem conseguir encarar
minha mãe.
– Os seguranças já foram dispensados, pois não
são mais necessários, mas a limusine continua aí na
porta, à sua disposição. Use-a para fazer a
mudança, se assim desejar.
Não respondi, apenas abri a porta, esperei que
Lucas se despedisse dele e saí, junto com minha
mãe e meu filho. Eu não teria aceitado a limusine,
mas como não tinha dinheiro nem para o táxi, pedi
que o motorista parasse no banco e saquei algum
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dinheiro, parte do meu salário que vinha guardando


para uma emergência.
Ao chegar ao apartamento, a primeira coisa que
fiz foi verificar se as roupas de Jerry ainda estavam
no armário e como Lowell me garantira, não havia
mais nada dele lá, nem uma bilhete de adeus.
Realmente havia ido embora e eu só esperava que
fosse para sempre, que nunca mais aparecesse na
minha frente.
Com a ajuda de Ivone – sem que trocássemos
mais palavras que o estritamente necessário –
esvaziamos os armários de roupas e embalamos
nossas poucas coisas. Estávamos prontas para ir
quando Consuelo chegou, animada por ter
conseguido alguém para tomar conta da casa do
primo. Então, dispensei a limusine e fomos de táxi.
Eu não queria que o motorista de Lowell soubesse
onde eu estava morando, para que não contasse a
ele.
Fiquei impressionada com a suntuosidade da
casa do primo de Consuelo. Ficava em um dos
melhores bairros residenciais da cidade e era
enorme, com dois andares, a fachada toda cor de
rosa e um jardim muito bem cuidado na frente. De
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acordo com Consuelo, o primo dela era jornalista e


havia conseguido um cargo de âncora em Los
Angeles. Era um dos membros mais bem-sucedido
da família, por isso a casa tão luxuosa. Na garagem
havia um carro de modelo esportivo, cuja chave ela
me deu, alegando que eu precisaria para procurar
um emprego. No jardim dos fundos havia uma
piscina rodeada de plantas e por dentro estava toda
mobiliada, limpinha, decorada com muito bom
gosto. Até os armários da cozinha e a geladeira
estavam bem abastecidos.
Eu não tinha nem palavras para agradecer à
Consuelo por tudo aquilo. Era um grande começo e
com o pouco dinheiro que havia guardado no
banco, podia nos manter até conseguir um
emprego.
Na manhã do dia seguinte, matriculei Lucas em
uma escola que havia a uma quadra dali e já o
deixei em sala de aula para partir à procura de um
emprego, no carro do primo de Consuelo. Não
havia dirigido nem dois quarteirões, quando Ivone
me telefonou para avisar que haviam acabado de
colocar uma placa, oferecendo uma vaga de
recepcionista, em uma pequena agência imobiliária
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que havia em frente a casa, logo do outro lado da


rua e eu preenchia todos os requisitos do cargo.
Devia ser uma imobiliária muito pequena, já que
passei por lá e não a vi.
Imediatamente voltei e me dirigi à recepção do
estabelecimento, que funcionava em uma casa
residencial e não se parecia em nada com uma
agencia imobiliária, se não fosse pela pequena
placa na fachada, eu diria que era uma moradia.
Aparentemente, os cômodos eram improvisados
para o funcionamento das salas dos funcionários.
Fui atendida por um homem baixinho,
rechonchudo, com bochechas vermelhas e óculos
de graus quadrados, tão grandes que ocultavam
quase todo o seu rosto.
– Vim pela vaga de recepcionista. Ainda estão
precisando? – Perguntei, após os cumprimentos.
– Estamos sim. Acabamos de colocar a placa.
Você tem experiência?
– Na verdade não, mas aprendo depressa. Basta
que me dê a oportunidade. Além do mais, estou
morando na casa em frente, isso garante que nunca
chegarei atrasada no trabalho e nem demorarei
muito no horário do almoço.
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– Estamos contratando só para o período da


tarde. Minha esposa me ajuda pela manhã. Vamos
fazer assim: você faz um teste de três dias, se
conseguir se sair bem a vaga é sua. Você trabalhará
de segunda a quita, com folga nas sextas, sábados e
domingos e receberá setenta dólares por hora. Sua
função será basicamente atender ao telefone, anotar
recados, receber os clientes e encaminhá-los para as
salas dos agentes de acordo com o que procuram.
Observei a recepção, em busca do que podia
haver de errado ali, mas aparentemente não tinha
nada. Era uma sala grande, com um estofado
confortável atrás de um balcão, outro jogo de sofás
do lado de cá e uma tevê de plasma tão grande que
ocupava quase toda a parede. Devia ter alguma
coisa que eu não estava percebendo, pois ninguém
pagaria setenta dólares por hora para que se ficasse
a tarde toda sentada atrás de um balcão, sem fazer
quase nada.
– O senhor vai me pagar setenta dólares por
hora só para que eu fique aqui sentada durante a
tarde toda, atendendo o telefone e recebendo
visitas?
Foi nesse instante que fiquei desconfiada.
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Aquilo tudo era bom demais para ser verdade.


Aquela casa luxuosa, toda mobiliada, aparecer
assim de repente, o carro à minha disposição, o
emprego tão perto e com tantas facilidades.
Cheguei a imaginar que Lowell poderia estar por
trás disso tudo, mas nesse caso Consuelo e Ivone
estariam sendo cúmplices dele. Quanto à Consuelo,
eu até acreditava que ela poderia ajuda-lo, a fim de
agradar o patrão, mas não Ivone. Não depois de
tudo o que aconteceu. Ela não se atreveria a mentir
para mim de novo. Então, afastei o pensamento e
aceitei o emprego, começando no mesmo dia.
Como eu já esperava, não havia muito o que
fazer. Era uma imobiliária pequena, o telefone
quase não tocava e os clientes pouco apareciam, de
modo que eu passava praticamente a tarde toda
assistindo séries na Netiflix, ou jogando no celular,
acomodada em uma confortável poltrona de couro.
Na manhã seguinte, fui intimada a depor sobre
a prisão da Sra. Dixon e de Meg. Cheguei a sentir
pena ao imaginar a Sra. Dixon na cadeia, na idade
dela, mas me recusei a mentir e contei à polícia
tudo o que aconteceu naquele dia, quando ela
tentou tirar o meu bebê. Falei também sobre Meg
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ter confessado que ela deu o dinheiro para que


pagasse os sequestradores para me raptarem,
embora sua participação nesse caso tivesse se
limitado a isso. Mais uma vez, repeti tudo o que
aconteceu quando fui sequestrada e depois das
longas e cansativas horas de depoimento,
finalmente fui liberada.
Da delegacia, fui direto para o consultório do
obstetra que uma das agentes da imobiliária me
indicara para fazer o pré-natal e fiquei aliviada por
saber que meu bebê estava bem e se desenvolvendo
normalmente.
No dia seguinte, a notícia sobre a prisão da Sra.
Dixon estava em todos os noticiários, afinal ela era
uma das milionárias mais poderosas da cidade. Foi
então que os jornalistas trouxeram a público e
história sobre Lowell não ser filho biológico do Sr.
Dixon e não se falava em outra coisa nos jornais.
Dois dias depois, vi Lowell dando uma
entrevista sobre o assunto, na televisão. Estava
muito abatido, com o rosto cansado, os olhos
tristes. Tentei não ligar, afinal ele não merecia a
minha compaixão, mas quando olhei em sua face,
tudo o que quis foi entrar naquela televisão e me
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atirar nos braços dele, afagar sua face e dizer-lhe


que no final tudo acabaria bem.
Cogitei seriamente telefonar para ele, mas não
tive coragem. Não podia perdoá-lo depois do que
fez e dar a chance de aprontar novamente.
Então, segui com minha rotina, ficando em
casa pela manhã e indo para o meu trabalho, do
outro lado da rua, durante a tarde, estabelecendo
um cotidiano tranquilo e sossegado, enquanto meu
filho crescia em meu ventre.
Durante dias, os jornais falaram sobre a família
de Lowell, houve até declaração pública do Sr.
Dixon afirmando que Lowell não deixava de ser o
seu filho e herdeiro das suas empresas por não ter
seu sangue correndo nas veias, os laços afetivos
eram os únicos que importavam para ele. Até que
aos poucos, a poeira foi baixando e o assunto foi
sendo esquecido.
Durante aqueles dias, eu tentava não pensar em
Lowell, mas não foi o que aconteceu. A cada dia
sem vê-lo, eu sentia mais sua falta, a saudade dele
crescia em meu peito, a ponto de doer dentro de
mim. Era para a minha vida estar perfeita, afinal eu
tinha tudo o que queria, uma casa, um carro, um
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excelente emprego, mas sem ele, nada nunca seria


perfeito e o meu maior medo era que um dia ele
aparecesse nos noticiários ao lado de outra mulher,
que se apaixonasse e se casasse. Por mais que eu
não quisesse admitir, ainda o amava e se ele
arranjasse outra, isso acabaria comigo.
Havia se passado mais de dois meses que eu
não o via e nem falava com ele, quando em uma
tarde de quinta feira chuvosa, o Audi branco
estacionou diante da imobiliária e ele avançou pela
recepção, tão lindo que parecia uma miragem,
usando calça jeans e camisa preta com as mangas
enroladas até os cotovelos. Tinha os cabelos bem
penteados, a barba bem aparada e usava óculos
escuros. Exprimia uma energia tão poderosa, um
charme e um carisma tão irresistíveis, que minhas
pernas ficaram bambas. Quando tirou os óculos e
olhou dentro dos meus olhos, fiquei quase sem
fôlego, meu coração batendo tão agitado no peito
que achei que teria um ataque cardíaco.
— Olá. Que coincidência encontrar você aqui.
— Disse ele, a voz grossa enchendo o ambiente,
causando-me arrepios por todo o corpo.
— O que você faz aqui? — Perguntei.
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— Estou procurando uma casa de campo para


comprar. Me disseram que essa imobiliária é muito
boa.
Ele pegou o catálogo de amostras e debruçou-
se sobre o balcão com tampo de vidro, se
aproximando tanto de mim que pude sentir o cheiro
gostoso do seu perfume e um formigamento
aconteceu bem abaixo do meu umbigo, algo que me
fez sentir viva, como há muito não me sentia.
Eu devia tê-lo encaminhado para o sujeito que
vendia casas de campo, na última sala, mas não
resisti em ficar perto dele mais um pouquinho.
— Bem, nós temos ótimas casas de campo.
Entre Orlando e Daytona Beach estão as melhores,
como você pode ver na página três. — Passei as
páginas do catálogo que ele segurava e, sem querer,
rocei minha mão na sua, o que desencadeou um
verdadeiro temporal dentro de mim, meu sangue
fervendo de desejo.
Quando voltei a fitá-lo no rosto, me deparei
com seus olhos cálidos cravados nos meus e,
institivamente, umedeci meus lábios com a ponta
da língua.
— Como está o nosso bebê? — Indagou ele,
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em um sussurro quase inaudível.


— Está ótimo. Ainda não dá para saber o sexo,
mas estou fazendo pré-natal todos os meses.
— Isso é ótimo. Fico feliz em saber. E Lucas e
Ivone, como estão?
— Todos ótimos. Adorando a casa nova.
— Vocês arranjaram um bom lugar aqui.
— É verdade. E sua família, como está?
— Bem, dentro do possível.
— Fiquei sabendo o que aconteceu com a Sra.
Dixon. Eu sinto muito.
— Não sinta. Ela tentou matar o próprio neto.
Tem que pagar.
Continuamos nos encarando por um longo
momento, mergulhados em um silencio tão
profundo que eu podia ouvir as batidas acelerada
do meu coração.
— Senti saudade. — Falei, o peito carregado
de paixão.
Vi um misto de surpresa e emoção se refletindo
no brilho dos seus olhos negros e desejei
ardentemente sentir o gosto da sua boca na minha.
— Eu também senti.
Com toda a sua impetuosidade, e como se fosse
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capaz de ler os meus pensamentos, ele inclinou-se


mais para mim, segurou meus cabelos na altura da
nuca e puxou-me para si, tomando minha boca com
a sua, de forma enlouquecedora, pressionando seus
lábios nos meus, com força, para depois introduzir
sua língua entre eles e movê-la de encontro à
minha, com lascívia, fazendo meu sangue arder de
tesão, minha intimidade latejando, com uma
intensidade absurda e só então me dei conta de que
senti mais falta dele do que havia imaginado. Na
verdade, eu já não entendia como consegui viver
todas aquelas semanas sem ele. O que aconteceu
entre nós, tudo o que ele me fez, de repente parecia
tão irrelevante, tão sem importância diante da
grandiosidade do desejo que tomava minha alma e
incendiava meu corpo.
— Lowell... quero você... — Murmurei, o
tesão borbulhando nas veias, de forma exagerada,
talvez por causa da gravidez.
Sem que eu esperasse, ele pulou por cima do
balcão, passando para o lado em que eu estava,
agarrou-me pela cintura e me encurralou na parede,
pressionando seu corpo grande, sólido e cheiroso
do meu. Inclinou seus joelhos e empurrou sua
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ereção firme bem em cima do meu sexo, me


fazendo arquejar, perdida, molhada.
— Tem algum lugar por aqui onde possamos
ficar mais à vontade?
— Sim. O banheiro.
Segurei em sua mão e saí puxando-o pelo
corredor, parecendo uma ninfomaníaca desesperada
por sexo. Ainda bem que eu podia culpar os
hormônios da gravidez pelo meu despautério.
No banheiro, limpo, grande e arejado,
praticamente o empurrei até que ele estivesse
sentado sobre a tampa do vaso sanitário e montei
em seu colo, uma perna de cada lado, incendiando
por dentro enquanto esfregava meu sexo no dele,
por sob o tecido dos nossos jeans, ao mesmo tempo
em que apreciava o percurso da sua boca deliciosa
através da pele do meu pescoço, e percorria a ponta
dos meus dedos nos músculos perfeitos das suas
costas.
Com pressa, levantei-me e me livrei das
minhas roupas, enquanto ele fazia o mesmo. Voltei
a empurrá-lo para que se sentasse e dei uma boa
olhada em seu pau, longo, grosso, completamente
duro, tão convidativo que senti as paredes da minha
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vagina palpitarem e escorrerem com aquela visão.


Então, voltei a montá-lo, encaixando minha entrada
na sua glande, quando então, ele segurou dos dois
lados dos meus quadris e me puxou para baixo,
penetrando-me com um gesto brusco e rápido, que
me fez gritar tão alto que ele precisou tapar minha
boca com sua mão, para que eu não fosse ouvida
pelos ouros funcionários. Ergui meus quadris e os
desci com força, maravilhada, extasiada com a
forma como sua rigidez pressionava as paredes do
meu canal, com o quanto ele me alcançava fundo,
me levando a um delicioso delírio.
Lowell fechou sua boca sobre um dos meus
seios, sugando-o firmemente, para depois
pressionar meu mamilo entre os dentes, enquanto
eu continuava me movendo sobre ele, cada vez
mais freneticamente, fazendo com que seu pau se
movesse em um delicioso vai e vem dentro de mim,
até que encontrei a minha perdição, gozando e me
contorcendo em cima dele, sua mão abafando os
meus gemidos descontrolados, para que aos poucos
fosse ficando imóvel, meu corpo todo lânguido.
— Isso foi incrível. — Comentei,
preguiçosamente.
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Como Lowell não havia gozado, voltei a me


mover sobre ele, lentamente, experimentando a
sensação indescritível do seu membro grosso
deslizando na minha umidade, fazendo minhas
paredes contraíram em relaxarem.
— Ainda está sendo incrível e a última coisa
que eu queria era interromper, mas preciso te falar
uma coisa importante.
Cacete! Lá vinha bomba.
Sobressaltada, levantei-me depressa de cima
dele.
— Seja o que for, fala logo.
Lowell levantou-se também, colocando-se tão
perto de mim que eu podia sentir o calor gostoso do
seu corpo alcançando o meu.
— Fica calma. Toda essa agitação não vai fazer
bem para o bebê.
Ele passou a palma da sua mão sobre o meu
ventre, que começava a tomar a forma arredondada
e me senti arrebatada pelo amor mais perfeito que
já havia experimentado.
— Estou calma. Pode falar.
Lowell espalmou suas mãos na parede, dos
dois lados do meu rosto, como se para me impedir
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de fugir.
— Por favor, não fique agitada. Tudo o que fiz
foi por amor a você e ao nosso filho. Eu não podia
te deixar desamparada então subornei Consuelo
para mentir para você, dizendo que a casa onde
você está morando é do primo dela, mas na verdade
é minha. O carro e esta imobiliária também.
Arranjei tudo para que você ficasse bem.
No fundo, eu já desconfiava disso, aliás tinha
quase certeza, apenas me neguei a admitir.
— Lowell, Lowell. O que faço com você?
— Me diz que não está com raiva.
Eu deveria estar, afinal ele havia mentido e me
enganado, mas como afastá-lo de novo se meus
dias sem ele foram uma verdadeira tortura?
— Não estou com raiva.
Um sorriso largo se abriu no rosto dele, seus
olhos negros brilhando ainda mais.
— Sério?
— Você não acreditou realmente que me
enganaria com um emprego que paga setenta
dólares por hora para não fazer quase nada, além de
uma casa enorme e um carro de luxo, não é?
Ela deslizou os seus lábios da minha orelha até
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minha clavícula, de forma provocante, me fazendo


arquejar.
— Então você sabia de tudo desde o inicio?
Levou a boca para a minha outra orelha e
mordiscou o meu lóbulo, me causando arrepios.
— Eu desconfiava, mas não tinha certeza.
Minha única certeza nessa vida é que jamais deixei
te amar.
— Isso significa que agora podemos ficar
juntos?
— Sim, mas dentro dos meus termos.
— E quais são os seus termos?
— Não vamos morar juntos, por enquanto.
Quero ser independente por um tempo. E de jeito
nenhum, em hipótese alguma, voltarei a trabalhar
para você.
— Termos aceitos e, a propósito, eu também te
amo.
Com isto, ele beijou-me na boca, de forma tão
fogosa, que me deixou completamente sem fôlego.
Depois, deslizou seus lábios gostosos através da
minha pele, percorrendo todo o meu corpo.
Ajoelhou-se diante de mim e beijou minha barriga,
várias vezes, quando pude novamente sentir o amor
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em sua forma mais pura e perfeita.

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EPÍLOGO

Lowell

Era aniversário de um ano de Ava, nossa


pequena princesa, de cabelos negros e olhos verdes,
como Madison e minha esposa decidiu que queria
comemorar a data no haras da minha família. Eu
não entendia que fixação era aquela que todo
mundo tinha por aquele haras, era só um lugar com
muito mato e vários cavalos, mas Madison quis que
fosse lá, então concordei e a ajudei a preparar tudo.
O lugar estava lindo como nunca, todo
enfeitado com balões coloridos, com brinquedos
espalhados para todos os lados, muita comida
sendo servida pelos garçons e crianças correndo por
todos os lugares. Porém de tudo ali, nada me
agradava mais que o fato de Edward ter uma
convidada de honra para distraí-lo e impedi-lo de
crescer os olhos para cima da minha mulher. Era
uma escritora, linda e charmosa, que se mudara
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para a fazenda ao lado, em busca de paz e


tranquilidade para escrever. Pela forma cálida como
ela olhava para o meu irmão, eu podia apostar
como as coisas entre eles estavam bem quentes.
Jasper também estava presente, dividindo sua
atenção entre as adolescentes e as mães solteiras
convidadas. Para esse, não tinha jeito mesmo, seria
eternamente um galinha.
Meu pai era um dos mais animados da festa.
Me impressionava o quanto era apegado com Ava e
gostava de estar com ela no colo, mostrando-se um
vovô coruja. Desde que nos casamos, Madison e eu
passamos a visita-lo com mais frequência,
incluindo-o mais em nossas vidas e talvez isso o
tenha aproximado mais de nossa filha mais nova.
Quanto à minha mãe, já havia saído da cadeia e
embora a tivéssemos convidado, preferiu não
aparecer.
Por volta das duas da tarde, era chegada a hora
de cantar os parabéns e foi Madison quem trouxe o
bolo, enfeitado com um laço cor de rosa. Ela estava
mais linda que nunca, usando um vestido branco de
tecido leve, com os cabelos soltos caindo sobre os
ombros e mesmo sem usar maquiagem alguma,
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parecia tão deslumbrante que eu não conseguia


parar de admirá-la. Quanto mais a observava, mais
eu a amava.
Ela depositou o bolo sobre uma mesa, atrás da
qual nos colocamos, com Ava e Lucas entre nós,
enquanto os convidados se reuniam do outro lado e
cantamos os parabéns animdamente. Ava ainda não
conseguia apagar a velinha em formato do número
um, então, como o bom irmão que era, Lucas fez o
trabalho por ela e todos o aplaudiram.
Depois, a festa continuou rolando solta, muito
animada, com gincanas para a criançada e muitas
brincadeiras. Até que aos poucos os convidados
foram se despedindo e indo embora, cada um com
um sorriso mais largo no rosto, porque essa era a
atmosfera do lugar, não havia como não se sentir
feliz.
Restavam poucas pessoas na área externa da
propriedade, quando de repente Madison saiu de
dentro da casa alarmada, perguntando por Ava.
— Ela estava bem do meu lado e quando me
virei não a vi mais lá. Já procurei em todos os
lugares e não a encontro. — Disse ela, aflita,
sobressaltada.
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Imediatamente meus olhos buscaram pelo meu


pai, afinal ele gostava de segurar Ava no colo, mas
não estava com ele.
— Fica calma. Ela deve estar em algum lugar
por aqui. Nós já vamos encontra-la. — Falei, mais
para acalmá-la, enquanto um frio invadia meu
estômago.
Há uma semana fui informado, pelo meu
detetive particular, que Meg havia saído da cadeia,
por bom comportamento. Não acreditei que ela
faria alguma coisa, mas não deixei de me lembrar
da promessa que ela me fizera de que voltaria para
se vingar.
Imediatamente, alertei todos os convidados
sobre não estarmos encontrando minha filha,
pedindo que ajudassem a procurar, e foi um garoto
ruivinho, cheio de sardas, que me deu a notícia que
eu mais temia. Segundo ele, uma mulher loira a
havia levado na direção da estrada que dava para o
lago e não precisei ouvir mais nada para saber que
se tratava de Meg.
Todos nós fomos naquela direção, eu, meus
irmãos, Madison e os demais convidados. Ao nos
aproximarmos do lado de águas escuras nos
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deparamos com o horror em sua verdadeira forma.


Meg estava lá, submersa nas águas até a cintura,
segurando Ava em uma posição perigosa,
ameaçando afundá-la, de modo que se seu objetivo
fosse afogar minha filha, não teríamos tempo de
impedi-la.
— Nãããooo!! — O grito estrangulado partiu de
Madison, ao passo em que suas pernas pareciam
falhar e só não caiu no chão porque a segurei.
— Não deem mais nem um passo, ou afogarei
a garota. — Meg ameaçou.
Parecia uma louca, com os olhos virados nas
órbitas, sombreados por olheiras profundas, os
cabelos afarofados. Eu sempre desconfiei que ela
não era normal, agora tinha certeza.
— Não faça nada do que possa se arrepender
depois, Meg. Ela é só uma criança. Se quer se
vingar de alguém, vingue-se de mim. — Falei, sem
desviar os olhos dela, tentando elaborar uma
estratégia segura de tirar minha filha da água antes
que fosse tarde.
— Não vou me arrepender de nada. Vocês dois
arruinaram minha vida. Agora vou tirar o que vocês
têm de mais precioso.
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— Não faz isso, ela é só um bebê. Por favor,


solta a minha filha. — Madison tinha a voz
trêmula.
— Sabe que era exatamente isso o que eu ia
fazer? Soltá-la.
Ela segurou Ava por debaixo dos braços e nos
lançou um sorriso bizarro, pronta para afogar nossa
menina, quando do nada, uma faca voou bem na
altura do peito dela e sua face mortificou. Antes
que perdesse a consciência e mergulhasse com Ava
nos braços, avancei em sua direção, com Jasper e
Edward atrás de mim e a peguei, segundos antes de
Meg afundar.
Saímos da água sem olhar para trás, deixando
aquela maldita afundar e morrer de vez.
Com Ava nos braços, eu tremia dos pés à
cabeça, o coração acelerado de susto. Aproximei-
me de Madison, que ainda parecia meio em estado
de choque e abraçamos juntos a nossa menina, que
mantinha um sorrisinho no rosto, sem entender
nada do que havia acontecido.
Depois do abraço demorado e de trocarmos
palavras tranquilizadoras com Ava, garantindo-lhe
que tudo ficaria bem, me perguntei quem havia
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atirado a faca e quando vire-me em busca de


resposta, um círculo de pessoas havia e formado em
torno da escritora que morava na fazenda ao lado.
A proeza tinha partido dela, e embora estivesse
meio chocado, eu só tinha a agradecer.
—Mas você não é escritora? Como conseguiu
fazer isso? — O sem noção do Jasper perguntou,
estupefato como todos ali, só que os outros pelo
menos disfarçavam a perplexidade.
— Meus pais eram atiradores de facas em um
circo. Foi nesse meio que cresci. Só que depois
decidi mudar de profissão.
— Acho que isso explica tudo. — Foi Edward
quem falou, embora ainda olhasse para a moça
desconfiado, enquanto todos a aplaudiam.
Depois de quase meia hora, meu irmão mais
velho entrou no lago e tirou o corpo de Meg de lá,
sem que ninguém lamentasse por estar morta. Eu
pelo menos não lamentava nem um pouco.
Depois disso, a festa foi encerrada. A polícia
apareceu para levar o corpo e colher depoimentos,
de modo que já era noite quando voltamos para
casa. Bastou que atravessámos a porta do nosso lar,
a mesma casa que comprei para Madison e pedi que
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Consuelo dissesse que era do primo dela, onde


minha esposa escolheu morar, junto com Ivone e
Lucas, para que tudo fosse deixado para trás e a paz
na qual vivíamos mergulhados voltasse reinar entre
nossa família, uma família de verdade, muito mais
unida e feliz que aquela em meio à qual nasci e
cresci.
Logo eu, que jamais acreditei em
relacionamentos desse tipo, que passei grande parte
da minha vida jurando que nunca me casaria, havia
encontrado a felicidade no casamento com
Madison. Nossa vida juntos era perfeita, sem que o
amor e o companheirismo jamais nos faltasse. Ela
era a minha melhor amiga, minha confidente,
minha companheira para todas as horas e a minha
amante fogosa para todas as noites. Não havia nada
mais que um homem precisasse para ser feliz.

FIM

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus pela oportunidade de estar


fazendo o que amo, que é escrever.
Agradeço à equipe de profissionais de Centro
de Reabilitação Sarah, de São Luiz, onde passei os
últimos quinze dias, pelo carinho e dedicação. Lá
fui cuidada, tratada e até um pouco mimada, como
fazem com todos os pacientes.
Agradeço também à minha família pelo apoio
de sempre e às minhas leitoras queridas, por
estarem sempre ao meu lado. Amo muito todas
vocês.

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