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Calmamente,

cuidadosamente,
completamente.
(Os irmãos Reed – Livro 03)

Tammy Falkner
Tradução: Andréia Barboza
Copyright © 2015 por Tammy Falkner
Copyright da tradução © 2015 por Andreia Barboza

Todos os direitos reservados e protegidos pela Lei


nº 9.610, de 19/02/1998. Nenhuma parte deste livro, sem
autorização prévia por escrito da autora, poderá ser
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na Lei n° 9.610/98 e punido pelo artigo 184 do Código
Penal.
Sinopse:

*** Este é um livro New Adult que se destina ao


público com mais de 18 anos, devido à linguagem
adulta, conteúdo sexual e situações adultas ***

Este é o livro três da série Irmãos Reed, mas pode


ser lido separadamente dos demais.

Pete
Eu a conheci na pior noite da sua vida. Ela estava
quebrada, arrasada e à espera de alguém para salvá-la.
Sou grato por ter tido a oportunidade de conhecê-la. Seu
pai me ajudou com alguns problemas legais em que me
envolvi, e eu me ofereci para ajudar em seu
acampamento para crianças com necessidades especiais.
Cavalos, piscinas e uma pulseira de rastreamento em
meu tornozelo. Soa como uma semana divertida, não é?
Ela estava lá e queria agradecer-me pela minha
bondade naquela noite terrível. Mas eu a quero. Eu a
quero mais do que qualquer coisa. Acho que ela me quer
também, mas ela precisa de calma e cuidado, e não sei
se posso oferecer isso.

Reagan
Pete me salvou. Mas agora é a minha vez de
retribuir o favor. Ele é sensual, com aquelas tatuagens e
piercings, mas, por baixo de tudo, ele está implorando
para que alguém o salve também.
Será que ele pode me amar completamente?
Pete

Ninguém se mete com você na prisão quando você


é todo tatuado.
Nem uma única alma solitária.
Pode ter algo a ver com o fato de eu ser fortão
também. Eu não pedi isso, mas eu gostei.
Em casa, a história é completamente diferente. Lá,
todo mundo fode comigo. Eu sou o mais novo de cinco
irmãos, todos homens. Todos eles são grandes como eu,
se não maiores, e ainda têm mais tatuagens do que eu.
Você não ganha pontos por ser adorável. Na minha casa,
você ganha pontos por ser uma boa pessoa, contribuindo
para a união familiar e apoiando a família em todos os
sentidos.
Foi péssimo eu tê-los decepcionado em todos os
requisitos. Eu fodi com tudo há dois anos.
Jamais deveria ter feito o que fiz. Mas errei e paguei
minha dívida com a sociedade, passando um bom tempo
atrás das grades. Só espero que eles possam me perdoar
em casa e não usar isso sempre contra mim.
Uma mão bateu no meu ombro, interrompendo meu
diálogo interno. Olho para cima e vejo meu advogado, o
Sr. Caster.
― É bom ver você novamente, filho ― ele fala,
sentando na minha frente. Ele abre uma pasta de
arquivos.
― Por que você está aqui? ― deixo escapar.
Estremeço imediatamente, percebendo como isso foi
rude. Mas sua testa apenas franze quando ele balança a
cabeça. ― Quero dizer, é bom vê-lo, senhor.
Ele ri.
― É bom ver você também, Pete ― diz ele,
pegando um folheto da pasta e empurrando-o para que
eu possa ler. ― Tenho uma oportunidade para você.
Meu irmão mais velho, Paul, diz que oportunidades
são problemas de outras pessoas.
― Que tipo de oportunidade? ― pergunto,
hesitante. Abro o folheto. Há fotos de cavalos, crianças,
estruturas de escaladas e uma piscina. Olho para ele.
― Este é um catálogo da Fazenda Cast-A-Way ―
ele fala.
― E? ― pergunto.
― A oportunidade ― diz ele. ― Conversei com o
juiz e disse a ele que esse programa seria bom para você.
― Espero não estar errado.
Odeio parecer um idiota, mas...
― Não estou entendendo, Sr. Caster.
― Preciso de bons homens para ajudar no Cast-A-
Way por cinco dias, durante o verão. ― Ele pega a sua
pasta e fecha. ― Li seu arquivo e gostei do que vi. Acho
que você tem potencial. Além de ter o conjunto de
habilidades que preciso para este acampamento
particular.
Conjunto de habilidades? Tudo o que posso fazer é
tatuar as pessoas. Eu trabalho no estúdio de tatuagem
dos meus irmãos quando não estou atrás das grades.
Não sei como fazer muito mais.
― Você quer que eu tatue o pessoal?
Ele ri novamente.
― Preciso da sua habilidade com linguagem dos
sinais ― ele admite. ― Temos um grupo de crianças
com necessidades especiais, a cada ano. E, desta vez,
temos um menino muito especial, que tem esclerose
múltipla e um tubo de traqueostomia. Ele não pode falar,
apenas se comunicar por sinais. Sua mãe estará junto,
mas ela não pode estar com ele vinte e quatro horas por
dia, sete dias por semana. Então, achei que você poderia
vir e ajudar. ― Ele dá de ombros. ― Além disso, haverá
um grupo de meninos que são deficientes auditivos. Você
pode trabalhar com alguns deles também.
Olho para os antebraços do Sr. Caster e acho que
vejo uma tatuagem aparecendo na manga da sua camisa.
Ele segue meu olhar e encolhe os ombros.
― Acha que é o único que gosta de uma certa
rebeldia, Sr. Reed? ― ele pergunta, mas sorri.
Balanço minha cabeça.
― Sua oportunidade parece interessante ― eu falo
―, mas estou em prisão domiciliar por um ano. Só
posso ir para o trabalho e atividades pré-aprovadas.
― Já conversei com seu agente da condicional ―
ele fala. ― Ele é a favor. ― Ele cruza os braços sobre a
mesa e se inclina sobre os cotovelos. ― Mas é só se
você quiser. Ninguém vai forçá-lo.
Pego o folheto e começo a ler. Parece realmente
muito interessante.
― Você estaria me fazendo um grande favor ― ele
fala. ― Preciso de outro homem presente, que possa ser
um bom modelo para o pessoal que vamos receber,
vindos do centro de detenção juvenil. Eles estarão lá
trabalhando, recebendo horas de serviço. Preciso de
alguém para me ajudar com eles. É por isso que preciso
de você. ― Ele aperta os olhos. ― Você é grande e
assustador o suficiente. ― Ele sorri.
― Você vai ter jovens infratores em seu
acampamento? Trabalhando com as crianças?
Ele balança a cabeça rapidamente.
― Eles vão interagir só um pouco com as crianças.
A ajuda deles será mais nas tarefas do dia a dia,
alimentando os cavalos, empilhando caixas, fazendo
quebra-galhos, ajudando com as refeições...
Nunca tive medo de trabalho braçal. Meus irmãos
sempre disseram que devemos trabalhar duro. Eu
suspiro.
― Há uma vantagem ― diz ele, sorrindo.
― Não me diga ― eu falo. Sento e cruzo os braços
na minha frente.
― Se o tempo que você ajudar no acampamento
for tranquilo, posso pedir clemência em relação a sua
prisão domiciliar, com base no mérito. ― Ele olha em
meus olhos. ― Seria bom, não é?
Uau. Eu poderia receber clemência?
― São só cinco dias? ― pergunto.
Ele balança a cabeça.
― De segunda a sexta.
Solto um suspiro.
― Quando partimos?
Ele sorri e estende a mão para apertar a minha.
Coloco a minha mão na sua e ele a aperta com força.
― Vamos amanhã.
― Amanhã? ― Suspiro. Nem sequer fui para casa
ainda. Nem consegui ver meus irmãos.
Ele balança a cabeça.
― Ao raiar do dia. ― Ele sorri novamente. ― Você
ainda quer ir?
― Isso pode realmente encurtar minha detenção?
Ele balança a cabeça.
― Pode. Mas a decisão final é do juiz. E dependerá
de como as coisas forem no acampamento. ― Ele fica
sério e olha diretamente em meus olhos. ― Pete, eu
realmente acho que você pode ajudar com os meninos
com deficiência auditiva, aqueles que não podem falar e
os do programa. Acho que você pode fazer coisas
brilhantes. Eu acredito em você, Pete, e quero lhe dar
uma oportunidade para provar que você é melhor do que
isso. ― Ele faz um gesto amplo, abrangendo a sala.
Melhor que um prisioneiro? Sou melhor do que o
que me tornei? Não tenho tanta certeza.
― Temos um acordo? ― ele pergunta.
Aceno e estendo minha mão para ele novamente.
― Temos um acordo.
― Você precisa que alguém busque você, amanhã
de manhã?
Balanço a cabeça.
― Posso vir sozinho.
― Te vejo às seis da manhã. ― Ele bate a mão em
meu ombro e aponta para a porta. ― Acho que sua
família está esperando lá fora.
Meu coração bate com mais força. Faz tanto tempo.
Não consigo sequer pensar no quanto quero estar com
eles novamente. E me sentir normal.
Aceno e mordo meu lábio inferior. Estico a coluna e
saio pela porta. Os guardas me levam pelo corredor até
uma bancada, onde eles entregam meus pertences e
pedem que eu os verifique. Coloco minha carteira no
bolso de trás da calça jeans, meu relógio de volta no meu
pulso e os piercings no bolso. Mais tarde eu tentaria
colocar pelo menos alguns de volta.
― Pronto? ― o Sr. Caster pergunta. Não havia
notado que ele estava bem ao meu lado até que olhei em
seus olhos. Muito suavemente, ele fala.: ― Pare de se
preocupar tanto. Eles são a mesma família que você
deixou há dois anos.
Eles podem ser, mas eu estou diferente. Aceno com
a cabeça. Não consigo falar por causa do nó em minha
garganta.
Empurro a porta, fazendo pressão sobre a barra, e,
então, me encontro fora dos muros da prisão pela
primeira vez em dois anos. Respiro fundo e olho para o
céu. Então, vejo meus irmãos me esperando no final do
caminho e o nó em minha garganta duplica de tamanho.
Pisco com força, tentando conter a emoção.
Paul, meu irmão mais velho, está de pé ao lado de
Matt, que tem um enorme sorriso no rosto. Seu cabelo
cresceu novamente e está maior do que já tinha visto
alguma vez. Ele disse, numa carta, que havia decidido
deixá-lo crescer, agora que ele sabia como era perder
tudo para o câncer. Ele está se recuperando. Eu perdi
tudo isso porque estava atrás das grades. Mas essa era
uma das razões por eu estar lá. Achei que poderia ajudá-
lo e acabei me colocando em apuros.
Logan está de pé, com o braço sobre o ombro de
sua namorada, Emily. Ela olha para ele como se ele
tivesse lhe dado a lua e as estrelas. Ele aponta e sorri
para mim, e ela olha e grita. Então, ela se solta dos
braços de Logan e corre em minha direção com força
total. Ela me bate forte no peito, os braços envolvendo
meu pescoço. Levanto-a do chão e a faço girar enquanto
ela me aperta e murmura em meu ouvido.
― Estou tão feliz que você está voltando. Sentimos
tanto a sua falta.
Olho ao redor. Falta alguém.
― Onde está Sam? ― pergunto. Seu rosto
demonstra constrangimento e ela olha para todos os
lugares, menos para mim. Sam é meu irmão gêmeo, mas
ele não está aqui. Meu instinto soa um alerta. Eu
realmente esperava que ele estivesse.
― Ele teve aula. Você sabe como os horários
escolares são rigorosos. ― Ela não me olha, então, sei
que está mentindo. Coloco meu braço sobre seu ombro
por um segundo e caminhamos em direção aos meus
irmãos, mas só dou alguns passos até que Paul afaste
Emily e me envolva num grande abraço de urso. Ele me
aperta com tanta força que minha respiração chega a
falhar.
― Deixe-me ir, seu grande touro ― resmungo,
mas, quando consigo me soltar, ele agarra minha cabeça
entre as mãos e passa os dedos pelo corte de cabelo feito
na prisão. Meu cabelo está tão curto que não é muito
mais do que um penacho em minha cabeça.
Logan me dá um soco no braço, e me viro para
olhar para ele. Logan é deficiente auditivo e usa a
linguagem de sinais. Mas, depois de oito anos de
silêncio, ele começou a falar bem antes de eu ir para a
prisão. Ele faz os sinais enquanto fala.
― Alguém te escalpelou enquanto você estava
dormindo? ― ele pergunta, apontando para o seu cabelo.
É estranho ver Logan falar, após tanto tempo. Mas Emily
traz o melhor dele, inclusive a sua voz. ― Parece que
você lutou três rounds com um cortador de ervas
daninhas. E perdeu.
Antes que eu possa responder, ele me puxa para um
abraço. Logan é especial. Ele é inteligente demais e muito
talentoso. Além disso, Emily o ama e todos sabem disso.
Eles estão destinados a ficar juntos para sempre e
ninguém duvidava disso desde a primeira noite em que
ele a levou para casa, jogada por cima do seu ombro,
com a calcinha da Betty Boop aparecendo.
Logan me solta e eu olho para Matt. Ele parece tão
saudável que chega a brilhar.
― Falando em cortes de cabelo ― eu digo,
puxando uma mecha do seu. ― Quando você acha que
pode fazer um?
Ele coloca as mãos sobre minha cabeça e me puxa
para seu ombro. Deus, como senti sua falta.
― Vou começar a chamá-lo de cachinhos dourados
― eu aviso. Somos todos loiros, uns mais que os
outros.
― Experimente, babaca ― ele brinca enquanto bate
no meu ombro. ― Faz muito tempo que não temos uma
boa discussão.
Emily envolve seu braço no meu e me aperta.
― Acho que você está mais forte do que quando
entrou.
― Não há muito o que fazer além de trabalhar e ler.
― Dou de ombros.
― Ainda ganho dele ― Logan fala e flexiona os
músculos. É tão bom ouvi-lo falar.
Logan sofreu um acidente de carro, logo depois que
fui para a cadeia, e quase morreu. Eu queria tanto ter
estado com ele, mas não me deixaram sair.
― Ouvi dizer que você é um coroa mole agora ―
falo rindo e ele tenta agarrar minha cabeça para me dar
um cascudo, mas eu pulo para longe dele.
― Nada em mim é mole ― ele fala com uma
risada. ― Certo, Emily? ― ele pergunta e ela lhe dá um
soco no braço. Ele a pega pela cintura e a joga por cima
do ombro. Ela grita e bate em suas costas, mas ele não
lhe dá confiança. Ele nunca dá, quando faz isso. Logan
começa a seguir na direção do metrô, para que possamos
ir para casa. Meus irmãos e eu o seguimos.
Emily desiste e se remexe sobre o ombro de Logan.
Ela levanta o rosto e eu me inclino e beijo sua bochecha.
― Você está bem? ― ela pergunta, em voz baixa.
― É bom estar indo para casa ― eu admito. ―
Estranho, mas bom.
Ela coloca as mãos sobre a boca e sussurra
dramaticamente.
― Temos cerveja no apartamento. Pelo seu
aniversário!
Eu sorrio. Passei meu vigésimo primeiro aniversário
atrás das grades. Mas eu tinha a sensação de que eles
não iriam deixá-lo passar sem algum tipo de celebração.
― Apenas cerveja? ― sussurro de volta de
brincadeira.
Ela pisca.
― Pode ter algumas outras coisas também. Como
vinho.
Meus irmãos só bebem ocasionalmente.
― Tem bolo? ― pergunto.
Ela balança a cabeça.
― Sam fez. ― Sam é o confeiteiro da família. É
uma pena que ele tenha que ter investido no futebol para
poder ir para a faculdade, porque ele teria sido um chef
excelente. E seria muito mais feliz.
― Então ele estava em casa, no fim de semana? ―
Saber que ele passou o fim de semana em casa, mas não
está lá agora é como se estivessem enfiando uma faca
em meu estômago. Essa merda dói, mas não posso
culpá-lo.
Ela balança a cabeça e faz aquela coisa de não me
olhar. Ela seria terrível no pôquer porque não sabe
mentir.
― Quanto tempo mais você acha que ele vai me
evitar? ― pergunto.
Matt olha para mim, mas não responde a minha
pergunta.
Reagan

Sento-me na caminhonete do meu pai e tamborilo


meu polegar no volante, no ritmo da música. Deixei meu
pai há uma hora e ele me deu uma tarefa para fazer,
porque ele odeia a ideia de que eu esteja do lado de fora
de uma prisão aguardando por ele. Terminei a tarefa e
agora estou esperando. Ele não pode me culpar por isso,
não é?
Eu congelo quando vejo três homens tatuados
caminharem por onde estou estacionada. Eles são loiros
e enormes e um deles está de mãos dadas com uma
garota, uma bela moça de cabelo loiro escuro. Ajeito-me
no banco para vê-los melhor. Eles são carinhosos uns
com os outros e é possível perceber como eles estão
felizes por estarem juntos. O que está de mãos dadas
com a menina dá um tapinha em seu traseiro e a puxa
em sua direção. Ela se inclina para frente e o beija no
rosto. Ele a vira porque ela está fazendo sinais para ele.
Sinto meu ritmo cardíaco acelerar. É a família dele.
Tenho quase certeza disso. Eles são irmãos de Peter
Reed.
Peter Reed é alguém que eu quis encontrar durante
dois anos e meio. Ele me salvou uma noite, quando eu
realmente precisava ser salva. Ele me encontrou
encolhida, num quarto nos fundos de uma casa de
fraternidade, após o impensável ter acontecido.

Estou encolhida perto da parede, ainda tremendo


pelo o que aconteceu. Ele apagou a luz do quarto ao
sair, então me sentei no escuro, com meus dentes batendo
com tanta força que meu queixo dói. Minha calcinha
ainda está arriada ao redor do meu tornozelo,
pendurada como o inútil pedaço de pano que ela é. Um
lado está arrebentado, onde ele rasgou-a de mim, mas
não consigo soltar meus braços do meu redor para puxá-
la para cima. Minha saia está enrolada em minha
cintura. Ele nem mesmo se incomodou de puxá-la para
baixo quando acabou. Ele só sussurrou em meu ouvido
sobre como ninguém jamais acreditaria em mim se eu
dissesse o que tinha acontecido e que era melhor que eu
guardasse para mim mesma, se eu soubesse o que era
bom para mim.
O alerta do meu celular soa ao meu lado, a luz da
tela brilhando com um farol na escuridão. Quero pegá-
lo. Provavelmente deve ser algum dos meus amigos
querendo saber onde estou. Mas não consigo afastar
meus braços de mim o suficiente para alcançá-lo. Se eu
me soltar, vou desmoronar. Não posso desmoronar,
simplesmente não posso.
A porta se abre e uma faixa de luz entra no quarto.
Um jovem ri de alguém enquanto fecha a porta na cara
de uma menina. Ele acende a luz e se inclina para trás,
contra a porta, xingando e brincando. Rastejo minhas
mãos em direção à sombra no canto. Talvez ele não me
veja. Mas ele vê. E posso dizer que ele congela e fala
uma série de xingamentos.
Meus dentes ainda estão batendo e mal consigo
respirar direito. Ele se agacha na minha frente.
― Ei, você está bem? ― ele pergunta e leva a mão
em minha direção. Um som animalesco sai da minha
garganta. Até eu me assusto e ele afasta sua mão, como
se eu fosse um cão raivoso e ele estivesse com medo de
que eu o mordesse. O cara que tinha acabado de sair,
porém, não sentiu medo de mim. Depois de alguns
minutos me beijando, quando eu estava pronta para
parar, ele me empurrou, arrancou minha calcinha, me
segurou com força e me estuprou.
Olho para os olhos azul-céu deste homem, e eles
são muito diferentes dos marrons que me feriram. Abro a
boca para falar, mas apenas um grito sai. O alerta do
celular soa de novo e eu olho para ele.
― Você quer que eu o pegue para você? ― ele
pergunta baixinho. Então, ele aproxima-se do aparelho,
pega e coloca-o ao meu alcance. Eu o pego, tirando da
sua mão, e me enfio mais no canto. Ele salta para trás,
como se eu o tivesse assustado. Olho para a tela.

Rachel: Onde você está, cachorra? Vi você


beijando aquele babaca. Você queria ficar com ele?

Preciso responder, mas meus dedos estão tremendo


muito.
― Você quer que eu responda? ― o homem
pergunta. Ele pega o telefone suavemente da minha mão
com um leve puxão e eu o solto. Não tem nenhuma
utilidade para mim. Estou tremendo demais para usá-lo.
― O que você quer que eu diga? ― ele pergunta.
Engulo em seco. Eu gritei quando começou, antes
que ele cobrisse minha boca com a mão, bem antes de
ele bater minha cabeça na bancada do banheiro, e agora
minha garganta está doendo.
― Ajude-me. ― As palavras saem num sussurro e
ele se inclina mais para perto porque não consegue ouvir
o que estou dizendo.
― O quê? ― ele pergunta baixinho.
― Ajude-me ― eu falo. Ele olha para mim. Não
para o meu corpo exposto. Ele só olha para o meu rosto,
como se eu não estivesse sentada aqui, com minha saia
levantada acima dos meus quadris, como se minha
camiseta não estivesse rasgada. Como se eu não tivesse
sido estuprada. Contaminada. Usada. Puxo minha saia e
ele olha ao redor do quarto, abre um armário e coloca
uma tolha sobre mim. Eu começo a ajeitar minhas
roupas por baixo. Ele olha para baixo e pega meus
sapatos, que eu devo ter chutado para longe enquanto
estava me debatendo. Ele os coloca ao lado dos meus
pés. Então, ele vê minha calcinha pendurada em meu
tornozelo e ele a pega, levantando minha perna
suavemente para que ele possa retirá-la.
― Eu preciso disso ― eu falo. Eu realmente
precisava.
― Está rasgada ― ele fala.
― Eu preciso disso ― falo novamente. Uma
lágrima rola pela minha bochecha, e seu rosto suaviza.
Ele encontra os pedaços de tecido que o homem que me
machucou rasgou e dá um nó. Ele segura, como se eu
fosse frágil e precisasse de sua ajuda para me vestir. Ele
estende a mão para me apoiar. Minhas mãos estão
tremendo tanto que não consigo puxá-la para cima. Ele
me ajuda e sussurra algo quando puxa a calcinha e vê
sangue na parte interna da minha coxa. Ele levanta o
olhar, observando o meu rosto enquanto ele a puxa por
sobre meus quadris, e então abaixa minha saia para
cobri-la. Abaixo a toalha, e ele fecha a minha camisa
com dedos gentis. Ele se inclina e pega meu telefone
onde eu deixei cair.
― Posso chamar alguém para você? ― ele
pergunta.
Eu concordo. Mas não consigo pensar em quem.
Não posso ligar para os meus pais. Eu nem deveria estar
nessa festa. Era para eu estar em meu dormitório,
estudando.
― Chame Rachel ― eu falo e me inclino contra o
balcão, sentindo como se eu não pudesse mais me
segurar.
Ele percorre meus contatos até encontrar seu nome.
Ele liga, e eu posso ouvir o barulho fraco da chamada
através do telefone.
― Alô, Rachel? ― ele pergunta.
― Quem é você e por que você está com o telefone
dessa vadia? ― Ouço Rachel perguntar.
Ele olha para mim.
― Você quer falar com ela? ― ele me pergunta
sobre o telefone.
Balanço minha cabeça.
Ele fecha os olhos e fala:
― Meu nome é Peter Reed, e estou aqui com a sua
amiga... ― Ele para e olha para mim, arqueando as
sobrancelhas. ― Qual o seu nome?
― Reagan ― eu sussurro.
― Sinto muito ― diz ele. E ele realmente parece
sentir. ― Eu não posso ouvi-la. ― Seu tom é suave e
muito mais simpático do que mereço.
― Reagan. ― Minha voz parece um grunhido e eu
fico constrangida pela forma como falo isso. Mas ele
ouviu, e é isso que importa.
― Estou aqui com sua amiga, Reagan. Ela precisa
de você.
― Onde? ― Ouço Rachel perguntar.
― Fale que estou na festa. No banheiro principal,
eu acho. ― Olho em volta.
― Quer que eu vá encontrá-la? ― ele pergunta
olhando para mim, ainda segurando o telefone.
― Não me deixe ― eu sussurro. Meu queixo treme
e eu odeio isso. Mas este homem me faz sentir segura.
Ele estende a mão e muito gentilmente coloca a
mão sobre o lado da minha cabeça. Eu o empurro e ele
percebe que me tocar é um erro.
― Eu não vou embora. Eu prometo ― ele fala e se
volta para o telefone. ― Estamos no quarto dos fundos,
no banheiro. Ela está ferida. ― Ele olha para mim
enquanto fala. Não para o meu corpo abusado. Seus
olhos encaram os meus. ― Ela é forte ― ele fala. ―
Mas acho que ela precisa de você. ― Ele olha para o
telefone. ― Acho que ela desligou na minha cara.
Eu concordo.
― Obrigada ― eu digo.
― Vou ficar com você ― diz ele para assegurar-
me. ― Não vou embora. Eu prometo.
Concordo com a cabeça e me inclino contra o
balcão, cruzando os braços sob meus seios.
― Eu vou com você para ter certeza de que você
vai para o hospital ― diz ele.
Balanço a minha cabeça.
― Isso não é necessário.
Ele olha nos meus olhos.
― Um kit de estupro é necessário.
Oh, vou ter que ir para o hospital. Eu preciso fazer
os exames para doenças sexualmente transmissíveis. E
conseguir uma pílula do dia seguinte. E fazer todas as
coisas que eu nunca pensei que eu teria que pensar,
muito menos fazer.
― Eu sei. Eu irei.
― Eu irei com você.
Balanço a minha cabeça. Ele já viu o suficiente da
minha vergonha.
― Eu não posso ir embora e deixá-la assim.
Ouvimos uma batida rápida na porta, e ele grita:
― Quem está aí?
― É Rachel ― diz uma voz abafada. Minha alma
grita por ela. Eu aceno, e ele abre a porta. Ela corre,
mas para no caminho. Seu rosto se contorce, mas ela
disfarça rapidamente ao ver uma lágrima rolar pelo meu
rosto. ― O que aconteceu? ― ela pergunta e envolve
seus braços ao meu redor e me puxa com força. Choro
em seu ombro enquanto ela me segura. Olho para ele
através dos seus cabelos e vejo que ele está piscando
furiosamente. Ele funga e endireita sua postura quando
me vê olhando para ele.
― Ela precisa ir para o hospital ― diz ele em voz
baixa.
― Vou levá-la. ― Ela olha em volta. ― Como
podemos tirá-la daqui sem que as pessoas a vejam? ―
ela pergunta.
Ele puxa seu moletom de capuz por sobre a sua
cabeça e caminha até mim. Ele o enrola como se
quisesse colocá-lo sobre a minha cabeça, mas antes,
pede permissão para fazê-lo, com os olhos. Eu aceno, e
ele o coloca sobre mim, e o seu cheiro me envolve. É um
cheiro cítrico e de ar livre. O casaco ainda está quente
do seu corpo. Puxo-o para baixo, até meus quadris.
Rachel molha um canto da toalha que ele me deu
anteriormente e limpa debaixo dos meus olhos.
― Você tem arranhões em seu rosto ― diz ela.
Então, ela vê meu pescoço. ― Ele tentou sufocar você?
― Ela suspira, mas se recupera rapidamente. Eu cubro
meu pescoço com a mão. Essa não é a pior coisa que ele
fez.
Um rosnado baixo parece sair de Peter, mas eu
posso ouvi-lo. Ele está com raiva por mim.
― Obrigada ― eu sussurro para ele quando ela me
leva até a porta, sua mão segurando firmemente a
minha.
― Posso ir com você? ― ele pergunta.
Rachel olha para mim, mas eu balanço a cabeça.
― Posso, pelo menos, ver você mais tarde? ― ele
pergunta. ― Como eu posso encontrá-la de novo?
― Precisamos ir ― diz Rachel.
Ele nos segue pelo corredor, através da cozinha
barulhenta e pela ruidosa sala de estar. Ele protege meu
corpo com a largura do seu e abre a porta para nós,
para que possamos andar na frente dele. A mão de
Rachel está na minha, mas eu sinto a necessidade de
segurar a dele, porque ele representa a força para mim.
― Obrigada, Peter Reed ― eu sussurro.
― Por nada ― ele sussurra de volta.
Peter abre a porta do carro para mim e eu sento
cautelosamente. Estou tão dolorida que solto um
gemido. Ele enrijece.
― Tem certeza de que não posso ir?
Eu concordo. Coloco minha cabeça para trás e
fecho os olhos, enquanto Rachel me conduz ao hospital.

Um grito me afasta das minhas memórias. Vejo


quando um homem loiro sai da frente da cadeia, e a
garota que estava com os três homens lança-se para
Peter Reed. Sei que é ele. Não o vejo desde aquela noite,
mas estou completamente certa de que meu salvador
acabou de sair da prisão.
Ouço uma batida na janela do passageiro e dou um
pulo. Olho para o meu pai, que faz uma careta para mim
através do vidro. Abro a porta e ele entra. Ele olha para a
cena à nossa frente.
― Está feliz agora? ― ele pergunta.
Meu pai é advogado e assumiu o caso de Pete
quando eu descobri onde ele estava. Fui procurá-lo
algumas semanas depois do ataque. Perguntei por todo o
campus até que finalmente encontrei alguém que
conhecia um dos seus irmãos. Pete estava na cadeia por
um erro tolo. Então, pedi ao meu pai para ajudá-lo e,
desde então, ele está fazendo o que pode para libertá-lo.
Meu pai é muito conhecido na cidade por seu
trabalho com o programa de detenção juvenil e faz muito
trabalho para pessoas que não podem pagar por
representação. Meu pai descobriu que Pete conseguiu
assessoria jurídica de algum conhecido e, então, pediu
para ajudar no caso. Ele teve que ir para a cadeia, mas
recebeu uma sentença mais leve, devido à ajuda do meu
pai. Pete não merecia estar na cadeia. Ele merecia ganhar
uma medalha de honra.
Olho para meu pai e sorrio.
― Sim, estou feliz agora. Você chegou a perguntar
a ele sobre a sua ida para o acampamento? ― pergunto
muito timidamente, porque meu pai me lê como se eu
fosse um livro.
Ele balança a cabeça.
― E? ― Meu estômago retorce e meu coração está
acelerado.
― Ele vai.
Coloco a mão sobre meu peito e me forço a respirar
fundo.
― O que você espera deste menino? ― papai
pergunta.
― Só quero agradecer a ele, pai.
Ele revira os olhos e sorri.
― Achei que você estava querendo ter seus bebês.
Eu dou uma risada.
― Ainda não.
Vou ver Pete amanhã. Mal posso esperar.
― Ei, garota ― ele diz em voz baixa. ― Ele tem
estado na prisão pelos últimos dois anos. Ele pode ser
um pouco mais duro do que o menino que você
conheceu naquela noite, há muito tempo.
Papai fala como se isso tivesse acontecido há anos
atrás. Mas acontece todas as noites na minha cabeça.
― Ele me salvou, pai ― eu digo em voz baixa.
Pete

Eu não queria estar aqui. Não que eu tenha sentido


falta da prisão na noite passada. Nem por um minuto.
Nem pretendo estar do lado errado das barras
novamente. Nunca mais. Mas, aqui estou, de volta onde
eu não gostaria de estar. Estou fora da prisão, mas
ainda... estou usando jeans, tênis, camiseta e uma
tornozeleira de rastreamento. Os meninos que estão na
fila ainda usam o uniforme da prisão. Eles não estavam
oficialmente no programa de recuperação ainda, mas este
voluntariado é o primeiro passo em direção a isso.
As portas se abrem na minha frente e eu entro no
ônibus, sentando no banco da frente, perto da janela.
Coloco minha mochila com meus poucos pertences no
assento ao meu lado, esperando que o ônibus não fique
tão lotado a ponto de alguém ter que sentar-se comigo.
Um homem jovem senta-se atrás de mim, na
beirada do seu assento.
― Vai para o acampamento também? ― pergunta
ele. Sua respiração cheira como se ele tivesse comido o
rabo de uma mula.
― Cara, sente-se ― eu resmungo.
Admito. Estou com um pouco de ressaca.
Ele se inclina para trás e eu encosto minha cabeça
contra a janela e estico as pernas sobre o assento. Mas,
então, o nariz dele surge na fenda entre o assento e a
janela, junto ao meu rosto.
― Você vai para o acampamento, certo?
Ele respira pesadamente, bem no meu ouvido. E
foram duas mulas, não apenas uma que ele comeu. Meu
Deus, acho melhor alguém dar um Tic Tac para ele.
Abro minha mochila, tiro um drops e passo uma bala
para ele. Ele a coloca na boca e sorri.
― Sim, vou para o acampamento ― falo em voz
baixa.
― Eu também. Legal, não é? ― Ele sorri. Ele é
ainda mais jovem do que eu. Acho que ele tem dezoito
anos, em comparação com meus vinte e um.
― Sim, legal ― murmuro.
― Onde você estava?
Será que eles sabem que eu estava na prisão? Por
alguma razão, achei que eu estava vindo para ser uma
espécie de mentor e não um ex-presidiário.
― Deite-se e durma um pouco ― eu falo, fechando
os olhos.
Eu realmente quero saber de onde é esse garoto,
mas jamais perguntaria isso. Isso seria rude.
― Eu matei alguém ― ele fala. Abro os olhos e
vejo que ele está sorrindo. Seus olhos parecem um
pouco maníacos e eles observam tudo ao redor.
― Claro que sim ― murmuro. Foda-se, agora
estou intrigado.
― Não, realmente ― ele fala. O rapaz fica animado
de repente, e esfrega as mãos. ― Ele está mortinho da
Silva. ― Ele levanta um dedo como se fosse uma arma e
aponta, fazendo, em seguida, um som de powww com a
boca.
― Hum-hum ― eu murmuro, fechando os olhos
novamente.
― Você já esteve lá? ― ele pergunta, parecendo
uma espécie de filhote de cachorro. O tipo de filhote que
pode matar alguém. Talvez um Cocker Spaniel. Essa raça
de cachorro é foda. Minha vizinha, a Sra. Connelly, tinha
um e eu costumava levá-lo para passear. Aquela coisa
podia morder rapidamente.
― Onde? ― pergunto.
― No acampamento ― ele responde, parecendo
todo animado novamente. Ouço-o mover-se em seu
assento, como se ele não conseguisse ficar parado.
O local realmente se chama Cast-A-Way, de acordo
com os folhetos que eu vi ontem. Tento forçar meus
olhos abertos.
― Não, nunca fui.
― Eu também não. Mas conheço uma pessoa que
foi no ano passado. Ele disse que era bom. Exceto pelas
crianças doentes e retardadas.
Odeio essa palavra.
― Eles não são retardados ― eu falo. ― São
surdos. E alguns tem esclerose múltipla, autismo e
muitas outras coisas que os tornam especiais. Mas não
são retardados.
Odeio essa porra de rótulo. Meu irmão, Logan, o
que é deficiente auditivo, tem sido chamado de mais
nomes do que posso contar.
― Ah, tudo bem. ― Ele balança a cabeça. ― Certo
― ele fala consigo mesmo.
― Não use essa palavra de novo ― advirto.
― Tudo bem ― ele fala e balança a cabeça, como
um cachorrinho.
O motorista do ônibus entra no veículo, seguido do
meu agente da condicional, carregando sua prancheta.
Ele senta-se no banco à minha frente e vira a papelada.
Ele é alto e musculoso e está armado. O homem usa uma
camisa com gola V e calça cáqui. Ele olha para mim e
arqueia as sobrancelhas.
― Você é Reed? ― ele pergunta.
Abro os olhos.
― Sim, senhor ― respondo. Nós, na verdade, já
nos encontramos antes na prisão, mas ele não deve se
lembrar.
― Como você entrou neste programa? ― ele
pergunta.
Dou de ombros.
― Não faço ideia. ― Sei que tinha algo a ver com o
Sr. Caster, mas não sei o que aconteceu. Ele age como
se isso fosse importante para ele ou algo assim.
As sobrancelhas do meu agente da condicional
arqueiam novamente e ele pega sua prancheta.
― Você é o cara que tem um irmão surdo.
Eu olho para ele.
― Sim.
Ele balança a cabeça e coloca sua prancheta de lado.
― Vai ter algumas crianças com deficiência auditiva
no acampamento. E um menino tem esclerose múltipla,
ele usa um tubo de traqueostomia, logo, não pode falar.
Você vai trabalhar com ele como um tradutor.
Eu concordo.
― Parece bom.
― Há quanto tempo você sabe usar a linguagem
dos sinais?
Meu irmão perdeu a audição quando tinha treze
anos; já fazia dez anos.
― Quase dez anos ― eu falo, mas não estou muito
certo. Uso a linguagem dos sinais há tanto tempo que
nem sequer percebo que faço isso, na maioria das vezes.
Ele se vira, de forma que seus joelhos fiquem de
frente para mim.
― Por que você foi preso? ― ele pergunta
baixinho.
Aceno em direção à prancheta.
― Você já sabe ― eu respondo. Fecho os olhos
novamente.
Ele agarra meu pé e o sacode. Empurro minha
perna de volta. Isso é algo que um dos meus irmãos
faria.
― Prefiro que você me fale.
― Posse com intenção ― eu murmuro. Não quero
que o Tic Tac atrás de mim ouça.
Ele estende a mão para mim.
― Meu nome é Phil.
Eu aperto sua mão na minha.
― Pete.
― Não vai ser um problema para você, certo, Pete?
― Não, senhor ― eu respondo. Não vou criar
problemas. Quero ir para casa quando tudo estiver
acabado.
Ele balança a cabeça.
― Certo. Posso precisar que você me ajude com
alguns dos garotos mais jovens. ― Ele sacode o polegar
em direção à parte de trás do ônibus.
Eu concordo. Eu sou a pessoa mais velha aqui,
além de Phil.
Phil se levanta e senta-se em frente ao Tic Tac e faz
a mesma coisa. Eu o vejo fazer isso com todos. Há
cerca de dez jovens no ônibus, acho que todos com
idade inferior a dezoito anos. Há um rapaz mais jovem
que não parece ter mais do que dezesseis anos.
Dou um suspiro e fecho os olhos. Cruzo meus
braços sobre o peito e tento dormir. Se eu estiver certo,
levaremos algumas horas até chegarmos ao Cast-A-Way
Farms.
Reagan

A piscina é maravilhosa. Pena que está repleta de


idiotas. Eu grito e cubro minha cabeça quando outro pula
na água bem ao meu lado, me encharcando, apesar do
fato de eu ter dito especificamente que não queria me
molhar. Tenho um lugar para ir quando sair daqui.
Chase levanta a cabeça para fora da água e repousa
sobre os cotovelos ao lado da minha cabeça, o nariz
quase tocando o meu.
― Deixei você molhada? ― ele pergunta.
Chase olha para mim por tempo suficiente para me
deixar desconfortável. Ou me fazer querer dar um soco
em seu nariz. Dou de ombros. Ele vem dando essas
sugestões sensuais desde que saí para jantar com ele há
duas semanas. Se eu pudesse escolher qualquer um, não
escolheria Chase Gerald. Além disso, ele não sabe o que
aconteceu comigo no primeiro semestre da faculdade.
Ninguém sabe, exceto minha família, Peter Reed, Rachel
e o homem que me desligou do sexo para sempre.
Gostaria de mandar Chase ir se foder, dizer a ele
que ele podia simplesmente parar de tentar porque eu
jamais seria uma garota fácil que iria para a cama com
ele. Mas não posso dizer-lhe que fui estuprada, senão ele
irá me olha com pena. E essa é a última coisa que eu
quero.
Finjo que não ouvi seu comentário sobre me
molhar. O tipo de molhado que ele está falando não é o
mesmo que tem no meu vocabulário. Chase grunhe e se
joga na água novamente. Não sei por que o convidei. Ele
trouxe seus amigos e não sei qual deles me dá mais
arrepios. E pior, eles trouxeram suas namoradas. Estas
são as mesmas meninas que olham para o meu pequeno
irmão como se ele fosse algum tipo de carro alegórico de
uma escola de samba.
Chase permanece ao meu lado e sacode a água do
seu cabelo. Sua rótula está diretamente ao lado da minha
cabeça. Com um golpe de perna, eu poderia derrubá-lo.
Seus olhos se estreitam e eu ouço o estrondo de um
ônibus estacionando na calçada. Levanto-me e pego
minha toalha, seco meu corpo muito rapidamente e,
então, visto a roupa por cima do meu maiô.
― Desculpe-me, Chase. Preciso ir.
― É o acampamento das crianças? ― ele pergunta.
Prendo meu cabelo num rabo de cavalo bagunçado.
― Sim.
Este é o meu momento favorito do verão. Meu pai
vem mantendo o acampamento desde que meu irmão
tinha três anos, quando minha família percebeu que não
era seguro mandá-lo para um acampamento onde ele não
poderia ser quem ele é – um menino normal, com
autismo.
No primeiro ano, convidamos apenas crianças com
autismo. Com o passar dos anos, ampliamos. Agora,
temos crianças com Down, distúrbios de processamento
e, este ano, temos um grupo de meninos deficientes
auditivos. Estou animada. Esses meninos precisam de
mim. E eles não me ameaçam. Não tenho pesadelo com
eles me machucando... eles não são como os outros.
― Esse é um micro-ônibus da prisão? ― Chase
pergunta.
― Sim ― respondo.
Todo ano meu pai convida jovens do centro de
detenção juvenil local para serem voluntários no
acampamento. Eles não são jovens violentos e são
selecionados cuidadosamente, além de virem com o
diretor. Mas todos eles possuem um histórico criminal.
Eles recebem horas pelo serviço comunitário.
― Tem certeza de que é seguro? ― Chase
pergunta.
― Sim ― respondo. Eu me preocupo mais com
Chase do que com eles.
― Vocês podem cuidar de si mesmos? ― pergunto
por sobre meu ombro, sem me preocupar com suas
respostas.
Calço meus chinelos e, ao chegar no portão, vejo
meu pai vindo em minha direção.
― Está pronta para receber os novos campistas? ―
ele pergunta, passando o braço em volta dos meus
ombros. Ele é uma das poucas pessoas que permito que
me toque. Se alguém me agarrar como ele faz, eu tenho
que afastar a pessoa. Papai sorri e beija minha testa.
Minha mãe se aproxima, trazendo meu irmão. Link
não gosta de segurar na mão de ninguém, e raramente
olha nos olhos das pessoas, mas, no geral, ele parece um
menino normal. Só que ele não é normal. Ele tem
autismo. Ele fala quando quer e quando não quer... bem,
não há muita chance de conseguir qualquer coisa com
ele. Nós tivemos muitas crianças com autismo no
acampamento, e todas elas têm diferentes desafios, que
não são iguais. Estendo minha mão para Link. Ele sorri
de lado, do jeito que ele faz sempre e que faz meu
coração acelerar, mesmo depois de todos esses anos.
― O ônibus da prisão está aqui ― minha mãe
adverte.
― Vou falar com eles ― diz meu pai. ― Vai
descarregando as crianças e ajudando-as a se instalarem.
Eu gostaria de encontrar Pete, mas, em vez disso,
tenho que ajudar as crianças. Alguns deles têm
cuidadores, outros não. Alguns vêm com os pais. Os
que não têm, terão um conselheiro do acampamento
designado para cuidar deles. Eles vão dormir com os
meninos e sair com eles, certificando-se de que eles
comam, bebam, tomem banho e remédios. Os
conselheiros são todos do hospital local. Alguns são
estudantes de medicina. Os jovens infratores não serão
responsáveis pelos cuidados com as crianças. Eles até
vão interagir com eles, mas muito pouco.
Minha mãe me dá uma prancheta, e nós fixamos
etiquetas de nome com código de cores para todas as
camisas, assim vamos saber quem são os não-verbais
em todos os momentos. Eu leio as descrições, vejo quais
são seus desafios, e faço notas mentais sobre cada uma
de suas necessidades especiais.
Os meninos são sempre divertidos. Tivemos
meninas aqui no mês passado, e as meninas são mais
desafiadoras. Elas sempre têm drama. Os meninos são
apenas garotos, e querem montar nos cavalos e nadar na
piscina, além de se divertirem. Eles querem ser meninos
no sentido mais básico da palavra. E este é o lugar onde
eles podem fazê-lo.
Quando as crianças estão acomodadas, vou
encontrar meu pai. Ele está sentado no topo de uma
mesa de piquenique com os cotovelos sobre os joelhos,
as mãos pendendo para baixo entre as coxas. Ele está
fazendo o discurso que ouço todos os anos desde que eu
tinha onze anos.
― Vocês estão recebendo uma grande
responsabilidade e espero que vocês correspondam ―
ele fala e levanta um dedo. Estou atrás de uma árvore e
sorrio, porque sei de cor esta parte do discurso. ― Eu
tenho uma regra ― ele fala. ― Se algum de vocês
quebrá-la, vou mandá-los imediatamente de volta para o
centro.
Todos os jovens olham para ele com rostos
expectantes.
― Minha filha está em casa por causa das férias de
verão da faculdade. Se alguém tocá-la, olhar para ela, ou
falar com ela, se tiver pensamentos inapropriados sobre
ela, vou cortar seu pinto enquanto estiver dormindo. ―
Ele pega um machado que tem sobre a mesa de
piquenique e, para manter o efeito dramático, bate com
ele na madeira. Ele espera por um minuto, e eu vejo os
jovens olharem de um para o outro. Eu cubro minha
boca para segurar uma risada. É sempre a mesma rotina.
Ele ameaça, e, então, eles passam a semana me evitando.
Fico ali por mais um tempo, até que ele termina e eu
me preparo para falar com meu pai. Ele está com o
agente da condicional, então eu espero. Viro-me e
levanto o pé para dar um passo, mas a ponta do meu
chinelo prende em uma raiz da árvore e eu tropeço,
minhas mãos se debatendo enquanto eu vou em direção
ao chão. Mas, antes que isso aconteça, braços fortes me
pegam e eu caio sobre algo sólido.
Olho para baixo e tiro meu cabelo do rosto. Estou
quase deitada sobre Pete e ele está levantando as mãos
para não me tocar. Apresso-me para me afastar dele.
― Merda ― ele resmunga e se levanta. ― Aposto
dez dólares que você é a filha.
Fecho meus olhos por um segundo e tento
controlar minha respiração. Eu quis falar com este
homem por quase dois anos e meio. Mas ele olha para
mim como se não me conhecesse.
― E lá se vai meu pinto.
Meu olhar levanta para encontrar o seu. Seus olhos
brilham.
Ele acena em direção ao meu pai.
― Ele estava falando sério sobre o machado, não
estava?
Ele parece tão preocupado que sinto a risada se
formar, substituindo a dor por ele não me reconhecer.
― Receio que sim ― eu digo, reprimindo um
sorriso.
― Droga ― ele murmura e vai em direção ao seu
alojamento, balançando a cabeça. Fico observando-o ir
embora. Ele não lembra de mim.
Pete

Reagan. Porra, como ela é linda. Na verdade, ela é a


primeira garota que eu tive em minhas mãos em quase
dois anos. Ela ficou sobre mim por um segundo, me
olhando, e eu soube quem ela era. Nunca vou esquecê-
la. Mas na última vez que nos encontramos... não foi
uma boa noite para ela. E ela, provavelmente, ficaria
desconfortável se eu falasse algo. Não quero ser
mandado de volta para a cidade. Quero estar aqui. Quero
trabalhar com essas crianças. Quero que tirem essa
maldita tornozeleira de monitoramento da minha perna,
para que eu possa voltar a ter uma aparência de vida
normal. Só quero ser Pete.
Eu gostaria de saber quem diabos Pete é. Eu tinha
uma boa ideia de como seria minha vida até que meu
irmão Matt ficou doente. Então, as coisas ficaram
totalmente fodidas.
Fiz o que fiz e acabei na cadeia. Foi tudo culpa
minha e eu assumi a responsabilidade, mas isso não
significa que não seja uma bosta.
Ela tem olhos verdes e sardas em seu nariz,
exatamente como eu me lembrava. Não posso sequer
pensar nisso. Se eu estivesse em casa, gostaria de
convidá-la para jantar. Eu diria a ela sobre como eu a
conheço. Gostaria de saber se ela está bem. Então,
gostaria de ter um encontro com ela. Mas, aqui, não sou
nada. Não tenho dúvidas de que seu pai falou sério.
Ajusto minha calça e sigo em frente.
Mas então ela olha para mim por cima do ombro.
As cores em seu rosto fazem meu coração tamborilar em
meu peito. Sou um ex-presidiário que ainda está em
prisão domiciliar, e ela está olhando para mim como se
eu fosse um homem de verdade? Ela lambe os lábios e se
vira para falar com alguém. Quero que ela olhe para mim
novamente.
Seu cabelo loiro está úmido e enrolado em um nó
bagunçado no alto da cabeça. Ela não está usando
maquiagem. As mulheres que conheço pintam seus
rostos até que eles estejam quase irreconhecíveis quando
saem do chuveiro. Ela é toda natural. E eu gosto. Não
deveria. Mas gosto. Eu podia olhar para ela durante todo
o dia.
Durante poucos segundos, quando ela caiu sobre
mim, ela pareceu estar com medo. Será que era por
causa do que aconteceu com ela? Será que ela ainda se
lembra de mim?
Mas, em seguida, uma cadeira de rodas motorizada
quase passa por cima de mim.
― Espere aí, Ligeirinho ― eu digo, dando um
passo à frente dele. ― Aonde você vai com tanta
pressa?
O jovem é loiro e branco, e tem um pedaço de
plástico furando seu pescoço. Ele faz sinais para mim,
mas seus movimentos são espasmódicos e sem
equilíbrio. Eles não são fluidos como a linguagem de
sinais geralmente é.
“Marshmallows”, ele explica com os dedos. Ele
empurra o dedo torto para onde alguém está acendendo
uma fogueira.
Gostaria de saber se este é o garoto com quem vou
trabalhar. Uma mulher mais velha corre atrás dele, sua
respiração ofegante.
― Desculpe ― ela fala, parando ao seu lado. ―
Não tenho resistência com ele nesta cadeira. ― Ela
estende a mão. ― Sou Andrea. E este é o meu filho,
Karl. Karl está animado para ser um campista este ano.
― Aperto a mão dela e paro na frente de Karl.
― Você pode me ouvir, certo, Karl? ― pergunto e
faço sinais ao mesmo tempo. Ele balança a cabeça e
sorri, mas é desengonçado. Ele está tão animado que mal
consegue ficar quieto em sua cadeira.
“Eu posso ouvir”, ele faz os sinais. “Só não posso
falar”.
Eu concordo. Entendi.
"Quantos anos você tem?", pergunto.
“Quinze”.
Ele olha em direção à fogueira. Acho que ele
realmente quer chegar ao local onde as outras crianças
estão.
"Um encantador adolescente", sua mãe diz,
revirando os olhos.
Ele tem quinze anos? Ele não deve pesar mais do
que quarenta e cinco quilos. Saio do seu caminho.
"Vá pegá-los, Ligeirinho," eu digo, balançando a
cabeça em direção ao fogo. Ele sorri e rola a cadeira para
longe de mim, parando ao lado de onde Reagan está
agora.
― Acho que ele já tem uma queda por Reagan ―
admite ela.
― Reagan? ― pergunto. Minha Reagan?
Reagan desperta mais emoção em mim do que eu
posso lidar. Balanço a cabeça e olho para a mãe de
Gonzo.
― Você pode me falar um pouco sobre seus
desafios, para que eu saiba com o que vou lidar? ―
pergunto.
― Não é com o que você vai lidar, mas com quem
― ela corrige. ― Quem você vai lidar.
― Não foi isso que eu quis dizer ― falo.
Ela coloca a mão no meu braço.
― Onde você aprendeu a linguagem dos sinais?
― Meu irmão é deficiente auditivo ― eu digo. Ela
balança a cabeça, observando minhas tatuagens e
piercings, que não pude deixar de colocar de volta,
depois que saí da prisão. Eu tinha me reperfurado na
noite passada, e eles ainda estavam doloridos. Pelo
menos eu não me sinto mais nu. ― Não tive a intenção
de insultar o seu filho ― eu digo. Agora me sinto mal.
― As únicas limitações de Karl são que ele está em
um corpo que não faz o que ele quer fazer, e ele não
pode falar. ― Ela olha para ele na direção da clareira,
com os olhos cheios de amor por seu filho. E exaustão.
― Ele ainda tem todos os desejos e impulsos de um
menino de quinze anos de idade. Há apenas algumas
coisas que ele não pode fazer. ― Ela solta um suspiro.
― Ele fica frustrado facilmente. Isso é a coisa mais
difícil para ele. Sua mente é sólida, mas seu corpo não
coopera.
Eu concordo. Eu sei o que é se sentir fora de
controle.
― Por que você não faz uma pausa de uma meia
hora ou algo assim? ― eu falo. ― Eu fico com Karl.
Seus olhos se arregalaram, e ela parece tão animada
que eu gostaria de ter feito a oferta antes.
― Sério? ― ela pergunta.
Eu concordo.
― Divirta-se. Eu vou cuidar dele.
Seus olhos se enchem de lágrimas, e eu percebo o
quanto essa mulher precisa desesperadamente de uma
pausa.
― Vejo você em trinta minutos ― eu digo.
Ela balança a cabeça e caminha em direção ao seu
alojamento. Ela está cansada, é nítido.
Ando para a fogueira. Há apenas algumas crianças
aqui fora.
― Ei, Gonzo ― eu chamo Karl. Ele se vira e olha
para mim, seu sorriso grande, pateta e tão adorável que
eu já amo esse garoto. ― Você está dando trabalho a
Reagan? ― Sento próximo a ele.
“Ela é muito bonita”, ele fala por sinais e olha para
ela, piscando os olhos azuis, o rosto inclinado na direção
dela. Ela sorri para ele.
― O que ele disse? ― ela pergunta.
― Que você é muito bonita ― eu traduzo.
Ele levanta as mãos em sinal de protesto.
“Você não deveria dizer a ela!”
“Desculpe, cara”, eu falo, tentando não sorrir. “Se
você for falar sobre ela, vou ter que contar a ela o que
você disse”. Agarro seu ombro e o balanço. “Essa é uma
regra dos meus irmãos. Você não pode usar a linguagem
dos sinais para falar sobre os outros. É para se
comunicar. Então, a menos que você queira que ela
saiba, é melhor que você guarde para si”.
“Traidor”, ele fala. Mas está sorrindo.
Reagan está corada, mas ela diz:
― Obrigada, Karl. Eu acho que você é bonito
também.
Eu nunca vi um sorriso tão grande. Ela olha para
ele.
― Você quer ir comigo buscar alguns gravetos para
o fogo?
Ele balança a cabeça e já está em movimento antes
que ela esteja pronta para ir.
― Você acha que devemos trazer o seu porta-voz?
― ela pergunta, balançando a cabeça em minha direção.
Ele faz sinal para mim.
“Eu cuido disso. Você fica aqui”. Ele balança as
sobrancelhas para mim.
“Sem chance, idiota”, eu falo. Ele ri. É o primeiro
som que eu ouço-o fazer. “Ela é muito velha para
você”.
“Talvez ela goste de homens mais jovens”.
Olho ao redor, como se eu tivesse perdido alguma
coisa.
“Não vejo nenhum homem aqui. Vejo uma bela
moça e um menino que está na expectativa de alguma
ação”.
Ele sorri e acena com a cabeça.
Eu rio.
“Ela é muito velha para você. Então pode se
despedir. Vamos encontrar alguém diferente. Algo mais
na sua velocidade”.
“Sou mais rápido do que você pensa”.
Aparentemente.
Ela se vira de volta para nós.
― Vocês estão falando sobre a minha bunda? ― ela
pergunta. E nem sequer abre um sorriso.
Gonzo aponta para mim como se dissesse: "Ele
estava."
Ela ri e cora novamente.
“Traidor”, eu falo por sinais quando ela vira.
Ele ri, pulando um pouco em sua cadeira.
Agora, tudo o que posso fazer é olhar para sua
bunda. Ela é bonita. Como uma princesa na floresta,
pegando pedaços de madeira. Quando seus braços estão
cheios, ela olha para Gonzo e pergunta:
― Você poderia ser meu herói e levar isso de volta?
Ele balança a cabeça e permite que ela encha seu
colo com gravetos. Ele se vira para levá-los para o fogo
e deixa-nos ali de pé, pegando mais.
"Volte depressa," falo para ele. Ele se vira para trás e
fala com sinais:
“Mantenha as mãos longe da minha garota”.
Levanto as mãos e coloco os polegares para cima.
Ela se vira para mim e estende a mão.
― Sou Reagan.
Ela não se lembra de mim. Devo lembrá-la quem eu
sou? Ela provavelmente se esforça diariamente para
esquecer aquela noite.
Tomo sua mão na minha e sinto o calor invadir meu
corpo. E não é porque se passaram dois anos desde que
eu tive uma mulher em meus braços. Há algo sobre essa
garota. Ela afasta as mãos e olha em meus olhos. Quero
perguntar se ela sentiu isso. Ela limpa as mãos em suas
calças jeans, e eu percebo que ela fez isso porque as
minhas mãos estão suando. Eu sou um idiota.
― Pete ― eu digo.
― Por que você o chama de Gonzo? ― ela
pergunta.
― Por que não? ― Eu continuo a pegar gravetos.
― Ele é um menino doce ― diz ela.
― Ele é um hormônio sobre rodas ― eu corrijo.
Ela ri.
― Pelo menos você o trata como um jovem
normal. A maioria das pessoas vê apenas a cadeira. ―
Ela balança a cabeça e olha para mim. Sinto como se ela
estivesse olhando diretamente em minha alma. ― O que
te faz diferente? ― ela pergunta.
Você quer dizer além das tatuagens, piercings, e o
fato de que eu vim da prisão? Eu dou de ombros e olho
em sua direção. Ele já está em seu caminho de volta.
― Eu só vejo um menino que quer ser tratado
como um. Ei, Gonzo ― eu digo. ― Você pode levar um
pouco mais? ― Ele sorri e acena com a cabeça. Nós
damos a ele os gravetos, e ele sai novamente. Dirijo-me a
ela.
― Então, o que te faz diferente, Reagan? ―
pergunto. Eu quero tocá-la, mas não me atrevo. Então,
eu só olho para ela, em vez disso. Observo seus lábios e
espero que ela explique o sentido da vida para mim.
Reagan

Ele tem os olhos mais azuis que eu já vi. É um


pouco perturbador porque seus piercings chamam
atenção para longe dos seus olhos, então é preciso focar
a atenção. Ele tem tatuagens em todo o braço,
começando no pulso, passando pela parte coberta pela
camiseta, chegando ao pescoço. Ele é forte e alto e um
pouco intimidante, mas ao mesmo tempo não é. Ele me
viu no meu momento mais vulnerável e fez exatamente o
que eu precisava.
― Não acho que sou diferente ― eu respondo. ―
Sou exatamente como cada uma daquelas crianças. Nem
melhor, nem pior. Mesmos medos, mesmos caminhos.
― Dou de ombros.
Ele balança a cabeça novamente e recomeça a pegar
gravetos. Ele tem uma tatuagem na parte de trás do
pescoço. O nome Sam está escrito em letras góticas e
robustas.
― Sam é sua namorada? ― deixo escapar.
Imediatamente, quero engolir as palavras, mas agora já
era.
― Sam? ― ele pergunta.
Esfrego a parte de trás do meu pescoço e aponto
para o dele.
― A tatuagem.
Ele sorri.
― Ah, isso.
Mas ele não responde. Sinto-me como uma idiota
por ter perguntado. Mas não vou perguntar novamente.
― Então, você está de férias da faculdade? ― ele
pergunta. Não posso acreditar que ele não se lembra de
mim.
Eu concordo.
― Qual a instituição? ― ele pergunta e olha para
mim, esperando por minha resposta.
― Universidade de Nova York ― respondo. ― Sou
caloura este ano.
― Meu irmão também estuda lá. ― Ele sorri. ―
Logan Reed, conhece? ― ele pergunta, mas é uma
faculdade muito grande. A chance de conhecer seu
irmão é pequena. Mas eu sei sobre todos os seus irmãos,
porque fiz um monte de perguntas enquanto estava
procurando por ele.
Balanço minha cabeça.
― Ele é surdo.
Balanço minha cabeça novamente. A única vez que
eu o vi foi fora da prisão ontem, não na faculdade.
― Todo tatuado como eu. ― Ele olha para os
braços, e eu aproveito a oportunidade para olhar suas
tatuagens.
― Posso ver? ― pergunto. Eu não quero ser rude,
mas eu realmente quero olhar para ele. Não quero tocá-
lo, mas eu quero olhar.
Ele sorri.
― Você pode olhar, mas não pode tocar ― ele
brinca. É como se ele lesse a minha mente. Meu coração
começa a bater mais forte. Eu sou a última pessoa que
ele tem que se preocupar em tocá-lo. ― Porque eu gosto
do meu pinto exatamente onde ele está.
Meu rosto cora, mas não deixo a oportunidade de
estudar os desenhos em sua pele passar. Olho para a
cruz que tem a palavra mamãe escrita dentro dela.
― O que essa significa?
― Minha mãe morreu há alguns anos.
Ele também tem a palavra pai com asas.
― Seu pai morreu também? ― pergunto.
― Ele foi embora logo após a nossa mãe morrer ―
ele fala, ficando subitamente tenso, e eu odeio o fato de
ter perguntado.
― Sinto muito ― eu digo.
― Não quero sua simpatia, princesa ― diz ele.
― Princesa?
Ele balança a cabeça, seu olhar focado em meus
olhos, então ele desvia para meus lábios. Ele lambe o seu
e brinca com o anel preso em seu lábio com a língua.
― Princesa ― diz ele lentamente.
― Você não poderia estar mais longe da verdade ―
eu digo.
― Eu duvido. ― Ele olha para mim por um minuto
muito longo. Meu estômago revira.
De repente, ouço o barulho de botas pisando sobre
as madeiras. Olho para trás e vejo o meu pai caminhando
em direção a nós, uma carranca em seu rosto, e ele está
com o machado na mão. Pete cruza imediatamente as
mãos na frente do seu colo e dá vários passos de
distância de mim.
― Vá ajudar com o jantar ― meu pai fala para mim
e olha para Pete.
― Sim, senhor ― eu digo. Pego os gravetos que
Pete tem em seus braços e sorrio para ele. ― Vejo você
mais tarde ― eu sussurro.
― Não vá ― ele sussurra de volta. ― Quem vai
proteger meu pinto?
― As princesas não fazem isso. ― Eu sorrio para
ele e vou embora. É, mas eu nem sequer olho para trás
por cima do meu ombro.
Pete

Merda. Agora estou em apuros.


― Você só tinha uma regra ― o pai de Reagan
reclama e levanta um dedo. ― Uma regra!
― Sim, senhor ― eu respondo. ― Eu lembro.
Eu não ficaria surpreso se ele lançasse fogo pela
boca e arregalasse ainda mais os olhos.
― Se você se lembra, então por que estava sozinho
na floresta com a minha filha, Sr. Reed? ― ele pergunta.
Ele está muito perto de dar na minha cara, mas meus
irmãos teriam feito pior. Isso não é nada em comparação
com quando eles tentam me estrangular.
― Pete ― eu digo.
― O quê? ― Ele olha para mim.
― Meu nome é Pete ― eu respondo. ― Nós,
provavelmente, deveríamos estar nos tratando pelo
primeiro nome, se você vai querer ser íntimo o suficiente
para cortar meu pinto. ― Faço um movimento na
direção da sua machadinha.
Ele suspira, sorri e balança a cabeça.
― Nós estávamos apanhando lenha, senhor ― eu
digo.
Ele aperta os olhos e me olha.
― Posso confiar em você? ― ele pergunta.
― Quero ir para casa quando terminar aqui, senhor
― eu digo. ― Quero essa porra de tornozeleira fora da
minha perna.
― Ótimas maneiras ― resmunga. ― Quem
ensinou isso a você? O sistema?
― Não, senhor ― eu digo. ― Eu tenho quatro
irmãos.
― Onde estão seus pais?
― Se foram.
― Eu sei a sua história, mas por que você foi parar
na prisão? ― Ele é direto. Eu meio que gosto disso.
― Por escolhas estúpidas que eu fiz. ― Eu chuto
em uma pedra no caminho para não ter que olhar para
ele.
Ele balança a cabeça.
― Pelo menos você sabe que elas eram estúpidas.
Eu dou um suspiro.
― Senhor, eu cumpri minha pena. Não me mande
de volta. Prometo que não vou incomodar a sua filha, e
não vou deixar ninguém a incomodar também.
Ele olha em meus olhos.
― Eu acredito em você. ― Ele começa a puxar
uma folha pendurada perto da sua cabeça. ― Minha filha
... ela é especial.
Eu não respondo, porque eu não acho que ele
queira. Concordo com ele, no entanto. Ela é muito
especial para alguém como eu.
Ele faz um gesto para eu segui-lo e caminha na
direção do fogo, onde Reagan está sentada em um
tronco, ao lado da cadeira de Gonzo. Ele está olhando
para ela como se ela fosse a primeira garota que ele pôs
os olhos na vida, e ela está olhando para ele, como se ele
fosse um verdadeiro menino de quinze anos. Quero
dizer, ele é um verdadeiro menino de quinze anos, mas
eu duvido que ele seja tratado assim frequentemente. Ela
olha para o pai dela e sorri.
― Pai, este é Gonzo ― diz ela. Ela sorri, mas Karl
não a corrige. Acho que ele gosta do apelido.
Seu pai estende a mão, e Gonzo a aperta. Não acho
que a criança recebe este tipo de cumprimento também.
Ele parece quase honrado, e eu decido que vou fazer o
que for preciso para que ele se divirta no acampamento.
Ele merece. Cinco dias para viver como um menino
normal.
― Reagan ― o pai dela chama. Ela olha para ele
com expectativa. ― Você conheceu Pete?
Ela balança a cabeça e mordisca seu lábio inferior.
― Brevemente.
― Não me deixe pegar você na floresta com ele
novamente ― diz ele.
― Papai ― ela reclama.
― E não vá para a floresta com Gonzo também. Ele
parece ainda mais perigoso do que Pete. ― O pai dela
faz uma carranca.
Gonzo sorri.
O pai dela aponta um dedo para ele.
― Você pode me ouvir, meu jovem? ― ele
pergunta. ― Tire as mãos da minha filha. ― Ele se
inclina e beija sua testa. ― Eu sei que ela é bonita, mas
ela está fora dos limites. ― Ele aponta para mim e de
volta para Gonzo, indo e voltando algumas vezes. ―
Estou de olho em vocês dois.
― Sim, senhor ― eu digo, tentando parecer sério.
Seu pai vai embora. Sento-me na tora ao seu lado e
olho para as chamas. O sol já tinha se escondido
completamente, e os roxos e dourados tinham
desaparecido em um céu escuro cheio de estrelas.
― Você quer um marshmallow? ― Reagan
pergunta.
― Eu sou um garoto da cidade. Nós não fazemos
marshmallows assados. ― Balanço minha cabeça.
― Gonzo? ― ela pergunta. Ele balança a cabeça e
esfrega o peito, dizendo ‘por favor’ em linguagem de
sinais.
― Ele disse por favor ― eu digo a ela. Ele sorri.
Ela coloca um marshmallow em uma vara para ele e
o prende de forma que ele possa segurá-lo. Sua cadeira o
impede de ficar muito perto, e sua vara não é longa o
suficiente. Ele visivelmente suspira. Então, pego duas
varas e prendo-as juntas, fazendo um longa. Entrego a
ele.
― Você quer que eu faça isso para você? ― ela
pergunta.
Ele balança a cabeça.
“Eu posso fazer”.
Coloco minha cabeça para trás e olho para as
estrelas. Mas, em seguida, um outro grupo de crianças
chega, e alguns deles são surdos. Fico ocupado pela
próxima hora, apenas tentando traduzir para todos eles.
O tempo voa, e é mais tarde do que eu pensava que era.
― Gonzo, você vai se transformar em um
marshmallow se você comer mais um ― eu advirto. Ou
ele vai passar mal.
“Só mais um?”, ele pergunta, levantando um dedo.
"Se você passar mal, eu não vou limpá-lo," eu
aviso com uma risada. Reagan coloca outro
marshmallow em sua vara. Ele se recusou a desistir,
mesmo quando as outras crianças estavam esperando
para brindar os marshmallows. Eu não tenho o coração
duro para tirar isso dele.
O resto das crianças foram para a cama. Gonzo é
um dos poucos que ainda está aqui. Vejo sua mãe se
aproximar. Ela veio vê-lo após a meia hora que tinha ido
descansar, mas ele estava se divertindo tanto que eu
mandei-a ir descansar um pouco mais. Seu cabelo está
solto agora, e seu rosto parece relaxado. Ela está com as
mãos enfiadas nos bolsos. Está ficando frio.
― Pronto para ir para a cama, Karl? ― ela
pergunta.
“G-O-N-Z-O”, ele sinaliza. Eu rio e balanço minha
cabeça.
― Ah, é Gonzo agora, não é? ― Ela coloca as
mãos nos quadris. ― Você tem um ótimo nome. Não sei
por que você quer ser chamado assim.
Eu soco seu ombro.
"Cara, esse era o nosso segredo", sinalizo para ele.
“Você não deveria dizer a sua mãe”. Ergo minhas mãos
como se para dizer, que merda é essa. Eu sei muito bem
que sua mãe sabe a linguagem dos sinais.
Ele ri.
“Obrigado por esta noite”. Ele olha diretamente em
meus olhos. Ele é animado o tempo todo, mas agora, ele
está me dizendo algo, sem usar palavras ou a linguagem
dos sinais, e ele está muito quieto e sério.
Eu olho para Reagan.
― Ele disse obrigado por esta noite.
Ela sorri e acena com a cabeça.
― Por nada.
Ele aponta para mim.
“Não faça nada com a minha garota quando eu
sair.”
Eu mantenho minhas mãos para cima.
― Eu prometo não fazer nada com Reagan depois
que você for. Só vou dar em cima dela quando você
voltar ― eu falo e ele faz uma careta.
“Traidor”, ele diz.
― Cara, eu avisei. ― Mas eu rio. Reagan abaixa a
cabeça e não olha para ninguém.
― Boa noite, vocês dois ― diz a mãe de Gonzo,
que vai embora a toda velocidade.
― Você é realmente bom com ele ― Reagan diz
calmamente.
― Ele é fácil de se gostar.
Ela pega a vara que ele deixou e enfia um
marshmallow nela. Ela aponta-o para mim.
― Aqui está, garoto da cidade. Seu primeiro
marshmallow assado.
― Eu não acredito ― falo, pegando a vara da sua
mão. ― Você tirou uma virgindade minha.
Ela congela.
Merda. Cometi um erro.
― Eu só estava brincando ― me apresso a falar.
Olho para seu rosto e ela olha para todos os lugares,
menos para mim. ― Eu não deveria ter dito isso.
Eu não tinha levado o marshmallow ao fogo ainda.
Ela estende a mão timidamente e segura a minha. Ela vira
seu pulso e move minha mão para mais perto das
chamas.
― Assim ― ela sussurra. Ela está tremendo, mas
não fala nada.
― Você está bem? ― pergunto baixinho.
Ela sorri para mim na escuridão.
― Estou bem.
Suspiro. Não sei como falar.
― Não ― eu digo. Ela olha para mim. ― Depois
daquela noite. Você ficou bem depois do que aconteceu
naquela noite?
Ela endurece ao meu lado.
― Você se lembra de mim ― ela sussurra.
― Eu penso em você o tempo todo, querendo saber
o que aconteceu naquela noite depois que você foi
embora.
Ela exala lentamente, como se estivesse
fortalecendo a si mesma.
― Obrigada pelo que você fez.
― Sem problemas.
Eu não preciso dos seus agradecimentos, mas sinto
que ela estava esperando para me dizer isso. Observo o
marshmallow assar, a massa cremosa ficando marrom.
A chama roxa o envolve, e ela sacode as mãos, elevando
o marshmallow até os lábios para que ela possa soprar o
fogo.
Ela faz um biquinho e sopra, e eu sinto meu
estômago apertar. Quero tanto beijá-la que quase posso
sentir seu sabor.
― Eu sei que não conheço você, mas sinto como
se conhecesse. Desde aquela noite, sinto como se você
fosse uma parte de mim. ― Minhas palavras são tão
insensatas que eu tento segurar qualquer outra estupidez
que possa sair da minha boca.
― Eu me sinto da mesma maneira ― diz ela. ―
Não sei se isso faz você se sentir mais normal.
Pelo menos não sou só eu que penso assim.
― Eu daria qualquer coisa para te beijar agora ― eu
digo em voz baixa. Merda. Eu disse isso em voz alta
também?
Ela sorri, mas não olha para mim. Ela parece quase
arrependida...?
― Eu daria qualquer coisa para você não me beijar
― ela diz baixinho. Ela inclina a vara para que o
marshmallow fique próximo de mim.
Ela poderia muito bem ter me dado um soco no
estômago. Já se passaram dois anos e meio.
― Você não permitiu que ele roubasse tudo de
você, não é? ― Espero que não. Senão, ele ganharia. Ele
a estuprou, e tomou ainda mais do que isso.
― Procurei por você, depois daquela noite ― diz
ela.
― Pedi aos meus irmãos que ficassem de olho em
você, quando fui para a prisão ― eu admito. Olho em
seus olhos quando eles encontram os meus. ― Mas não
como um perseguidor.
Ela ri.
― Você vai comer isso? ― ela pergunta, apontando
para o marshmallow.
― Está queimado. ― Ela não quer falar sobre
aquela noite e por mim tudo bem.
― Algumas pessoas gostam deles assim. ― Eu vi
uma boa quantidade de crianças comendo marshmallows
carbonizados para saber que ela está dizendo a verdade.
― Se você não vai comer, eu vou. ― Ela levanta uma
sobrancelha para mim.
― Vá em frente, princesa ― eu digo. Ela tira o
doce da vara, retira metade da casquinha de fora e passa
o resto para mim.
― Experimente ― diz ela.
Eu faria qualquer coisa que ela me pedisse.
Como o marshmallow.
― Não entendo por que pessoas comem essas
coisas. Não é grande coisa.
― Amanhã à noite, vamos fazer s’mores. ― Ela
esfrega as mãos uma na outra, como se estivesse
animada.
― Que porra é um s'more? ― pergunto.
Ela ri, jogando a cabeça para trás. Seu cabelo cai
pelas costas, e eu quero segurá-lo e envolvê-lo em minha
mão, para ver se é tão macio quanto parece.
― S'more é um marshmallow cozido, com um
tabletinho de chocolate, e um biscoito maizena,
prensados como um sanduíche.
― Qualquer coisa é melhor com chocolate ― eu
digo. Minha mãe costumava dizer isso. Não sei por que
eu senti a necessidade de fazer esse comentário em voz
alta.
― Verdade.
Estamos quietos, as chamas crepitando é o único
som, além dos grilos ocasionais. Antes, quando eu ficava
com uma menina, tudo que eu pensava era em tirar sua
roupa. Já faz dois anos desde que estive com uma
mulher e, neste exato momento, não posso imaginar uma
forma de desfrutar mais do que estou fazendo agora.
― Desculpe-me se deixei você desconfortável
pedindo um beijo ― finalmente falo.
Ela suspira.
― Pelo menos, você pediu.
― Que bom que você pensa assim, porque eu
poderia continuar pedindo até você aceitar. ― Ela ri e
balança a cabeça.
― Você prometeu a Gonzo que só daria em cima de
mim quando ele estivesse por perto.
― Vamos acordá-lo, então. ― Finjo que vou me
levantar e ela segura minha mão para me impedir. Sinto
sua mão tremer novamente. Sento-me, mas, desta vez,
estou um pouco mais perto dela.
Ela fica quieta por um momento.
― Isso é bom ― ela fala.
Aproximo-me dela e coloco uma mecha do seu
cabelo atrás da sua orelha; ela recua.
― Eu te assusto? ― pergunto. Sei que eu tinha
acabado de sair da prisão, mas é mais do que isso, tenho
certeza. Com o que aconteceu com ela, ela
provavelmente tem um monte de merda na cabeça.
Ela balança a cabeça.
― Não. Você não iria me machucar.
Ela pega um pedaço de pau e começa a desenhar no
chão, envolvendo seu braço ao redor dos seus joelhos
até que ela esteja enrolada como uma bola.
Ela olha para cima, seus olhos verdes brilhantes à
luz do fogo.
― Só não gosto de ser tocada. ― Ela encolhe os
ombros.
― Podemos trabalhar para contornar isso,
princesa? ― Minha voz é quase um sussurro.
Seus olhos se enchem de lágrimas, e ela pisca-os
furiosamente. Quero tocá-la, mas sinto que seria a coisa
errada a fazer.
― Sou eu ― diz ela. ― Não é você. ― Ela silencia
um pouco. ― Tenho certeza de que você é um beijador
incrível. E que estou perdendo uma das melhores
experiências da vida. ― Ela coloca a mão em seu peito.
Ela está me provocando agora. Assim é melhor. É mais
fácil de lidar. ― Você já beijou muitas mulheres? ― ela
pergunta.
Opa! Tenho certeza de que ela não quer a verdade.
― Algumas.
― Algumas centenas? Algumas milhares? ― Ela ri.
É um som metálico, oco.
― Algumas ― repito.
― Será que isso vira um sentimento mais comum,
depois de um tempo? Você para de sentir como se o seu
coração estivesse batendo fora do peito depois de fazer
isso milhares de vezes?
Eu rio.
― Não se você estiver fazendo a coisa certa. ―
Ajusto meu corpo, curvando meu colo um pouco. Suas
palavras sussurradas e olhares cheios de calor estão me
afetando, e não quero que ela perceba.
― Você sente como se o seu coração fosse bater
fora do seu peito quando beija um homem?
Ela balança a cabeça.
― Não.
― Então, por que você está me perguntando isso?
― pergunto.
― Eu me sinto assim agora ― diz ela.
Reagan se levanta, e eu quero agarrá-la e puxá-la
para mim.
― É melhor eu ir para a cama. ― Ela se estica, e
eu posso ver a pequena faixa de pele entre a parte
inferior de sua camisa e calça jeans. Puxo sua camisa
para baixo. Ela cobre a barriga com a mão, como se
quisesse bloquear meu toque.
Ela olha em meus olhos, sem dizer uma palavra.
― Posso beijar você? ― eu deixo escapar. Deus,
parecia que eu nunca tinha visto uma garota antes.
― Não. ― Ela ri.
― Posso continuar perguntando?
Ela balança a cabeça. É um aceno rápido, quase
imperceptível, mas ela está mordendo o lábio inferior e
sorrindo.
― Boa noite ― diz ela.
― Boa noite ― eu falo. Ela caminha na escuridão
até sumir.
Reagan

Meus joelhos ainda estão bambos quando chego a


casa. Entro pela porta da cozinha e encontro meus pais
sentados à mesa, com xícaras de café. Eles estão
falando em voz baixa.
― Divertiu-se? ― minha mãe pergunta. Ela olha
para mim por cima da borda da sua xícara de café. Eu
pareço muito com ela. Ela tem os cabelos loiro-escuros e
sua pele parece ter sido beijada pelo sol. Meu pai diz que
ela parecia comigo quando eles se conheceram. Seus
cabelos continuam compridos como o meu e ela é alta e
esbelta como eu, mesmo após todos esses anos.
Concordo com a cabeça em resposta à sua
pergunta.
― Estávamos assando marshmallows.
Ela levanta uma sobrancelha para mim.
― É assim que eles chamam isso, agora? Quando
eu era jovem, chamávamos de flertar.
Sinto meu rosto esquentar.
― Eu não estava flertando.
― Hum-hum ― ela murmura, mas está sorrindo.
― Acho bom mesmo ― meu pai rosna, brincando.
― Qual o nome dele? ― ela pergunta.
Sou propositadamente obtusa.
― Gonzo.
Meu pai bufa.
― Gonzo é o de quinze anos de idade, que estava
com Pete, o mentor dos garotos do centro de detenção.
― Pete, hein? ― mamãe fala. Ela sabe que Pete é
quem me encontrou. ― Como ele é?
Eu dou de ombros.
Suas sobrancelhas se erguem.
― Você sentiu alguma vibração estranha vinda dele?
― Mãe ― eu advirto. ― Deixa isso quieto.
― Pete é um mentor? Ou um ex-presidiário? ―
Mamãe olha com curiosidade para o papai.
Papai acena.
― Ele está fora da prisão em liberdade condicional.
Mamãe suspira rapidamente. Papai olha para ela.
― Ele não fez nada violento, não é? ― minha mãe
pergunta e sinto meu coração quase parar. Não me
atrevo nem mesmo a respirar até que eu ouça a resposta.
― Eu não o teria admitido se ele fosse violento ―
meu pai fala. Ele aponta para uma pilha de pastas. ―
Acabei de reler seu arquivo, para ver se há algo mais que
eu possa fazer para ajudá-lo. ― Ele sacode a cabeça em
direção a ela. ― Quer que eu lhe dê uma visão geral?
Balanço minha cabeça.
― Eu não preciso saber. ― Prefiro ouvir isso de
Pete. ― Ele parece bom. ― Olho para o meu pai. ― Até
porque, meu pai ameaçou cortar o pinto dele fora.
Minha mãe engasga com seu café.
― Ei, isso funciona ― ele fala e sorri.
― Como vão as coisas com Chase?
Balanço minha cabeça.
― Ele não é meu tipo.
Meu pai diz em uma voz melodiosa:
― Mas Pete é.
Pego um papel que ele descartou sobre a mesa e
jogo sobre ele, mas abro um sorriso.
― Ele é bem legal. Prometo não engravidar. ―
Levanto-me rapidamente. ― Boa noite.
Ouço-o falar, enquanto começo a subir as escadas.
― Seria difícil engravidar dele se eu cortasse seu
pinto fora ― papai grita para mim.
Eu rio e balanço a cabeça.
Paro no topo da escada e ouço:
― Eles estavam muito perto lá fora, no fogo ―
minha mãe fala. ― Estava vendo pela janela. ― Ela faz
uma pausa. ― Será que ela permitiu que ele a tocasse?
― Não, mas ela o tocou. ― Ele solta um suspiro.
― Ela nem sequer tentou dar um soco na garganta dele.
Bem, eu posso ser um pouco agressiva. Tudo
começou após o meu ataque, quando tive aulas de
autodefesa. Então, percebi que sou boa em artes
marciais. E não posso fazer nada se alguém me faz
desejar chutá-lo.
― Isso é um começo ― mamãe comenta.
Balanço minha cabeça. Eu não vou começar
qualquer coisa. Ele é apenas um cara que não me faz
querer correr em outra direção. Isso é tudo o que ele é.
Ele não é nada mais do que isso.
É estranho, porque, se eu o julgasse baseada
unicamente por sua aparência, eu estaria correndo o
mais rápido que posso.
― Ele é um bom garoto ― papai fala, com um
suspiro pesado ―, apenas cometeu um erro estúpido.
― Ele é gato com todas aquelas tatuagens ―
mamãe fala. Ela ri e ouço meu pai rosnar. Ela grita e eu
vou embora. Eles não precisam de público para a
intimidade deles.
Paro no quarto de Lincoln e bato em sua porta.
― Entre ― ele fala, mesmo que a porta esteja
aberta. Ele está sentado no chão, empilhando seus blocos
para fazer uma torre. Mas as torres de Link não são
como outras torres. São complicadas obras de arte,
baseadas em teorias e coisas que eu não entendo.
― Divertiu-se hoje no acampamento? ― pergunto.
Hoje era só para boas-vindas. O acampamento começa
oficialmente amanhã. Caminho pelo seu quarto e sento
cautelosamente na beira de uma cadeira.
Link balança a cabeça. Ele olha na minha direção,
mas não faz contato visual. Ele não olha as pessoas nos
olhos com frequência. Quando ele faz, normalmente é
um erro. E, muitas vezes, termina em um colapso.
― Você encontrou alguém legal?
Ele balança a cabeça novamente. Ele só fala quando
quer.
― Eu te amo ― eu digo. Ele olha para cima, quase
encontrando o meu olhar. Em vez disso, seus olhos
viram na direção do meu ouvido.
― Eu também te amo ― diz ele em voz baixa.
Pete

Sinto o fogo quente contra minhas pernas, me


fazendo coçar, e minhas unhas aliviam um pouco o
desconforto. Estou sentado aqui desde que ela saiu, e já
faz um tempo. Por alguns minutos, pensei que ela
poderia voltar. Droga, provavelmente isso é coisa da
minha cabeça; ela não está a fim de mim. Olho para a
grande casa branca onde ela mora. É perfeita. Cerca
branca. Acres de terra. É quase a casa de Anne, de
Green Gables. Eu não li o livro, que conta a história de
uma menina órfã que foi viver numa fazenda, mas assisti
a série de TV, junto com a minha mãe. Ela era exibida
antes da Vila Sésamo. Eu não tinha outra alternativa a
não ser sentar com ela e assistir. Meus irmãos me
sacaneavam por causa disso, mas eu não ligava.
A tora em que estou sentado balança, quando
alguém senta ao meu lado. Meu coração acelera, mas,
então, percebo que é Phil. Ele passa a mão pelo seu
longo cabelo e geme.
― Como vão as coisas, Pete? ― ele pergunta.
O fogo é quase brasa, agora. Ainda está quente,
mas não em chamas.
― Tudo bem.
― Você fez um bom trabalho hoje à noite. ― Ele
olha para mim com o canto do olho.
― Não fiz nada.
― O acampamento começa efetivamente amanhã.
― Ele olha para mim. ― Está pronto?
― Acho que sim. ― Dou de ombros e chuto uma
pedra com meu dedo do pé.
― Vi você conversando com Bob.
Olho para ele.
― Quem é esse?
Ele aponta para a casa grande.
― Bob Caster. O proprietário da fazenda.
― Ah, sim. ― Não sabia que ele se chamava Bob.
― Ele me pegou conversando com Reagan. ― Eu
sorrio. Só de pensar nela, eu sorrio. E nem coloquei um
dedo nela.
Phil assovia.
― Tenha cuidado. Já o vi derrubar meninos muito
maiores que você.
Franzo a testa. Não consigo imaginar a cena.
― Você me faz lembrar dele, quando ele era mais
jovem. Ele era um rapaz forte, assustador e cheio de
atitudes.
― Você o conhece há muito tempo?
― Há vinte e cinco anos, ele era você. ― Ele
balança a cabeça quando olho para ele.
― Eu?
― Recém-saído da prisão, cheio de ressentimentos
e pronto para uma luta. Ele era o cara mais marrento que
já conheci. ― Ele ri. ― Eu era o seu oficial de
condicional.
― Uau ― eu falo. ― O que ele fez para parar na
prisão?
Ele dá de ombros.
― Um erro estúpido, como o seu.
― Eu não sou marrento ― eu falo. Eu me
comporto bem. Meus irmãos vão chutar minha bunda se
eu fizer qualquer coisa errada. Principalmente Paul.
― Você é realmente talentoso com crianças,
principalmente com as que têm necessidades especiais.
Já considerou trabalho social? Você poderia ajudar muita
gente.
Eu nunca tinha pensado nisso. Sinto medo de
planejar o futuro, e algo ou alguém entrar em meu
caminho antes que eu tenha a chance de fazer qualquer
coisa.
― Não sei ― murmuro.
― Pense nisso. Você tem tempo. ― Ele faz uma
pausa, por um tempo, mas não ficamos desconfortáveis.
― Quais são seus planos depois do acampamento? ―
ele pergunta.
Eu dou de ombros.
― Talvez faculdade. Não sei. ― Terminei o ensino
médio na prisão, mas faculdade é caro e eu não tenho
dinheiro. ― Eu trabalho com meus irmãos num estúdio
de tatuagem.
Olho para a casa grande. A luz está acesa apenas
em uma janela do andar de cima. Me pergunto se é o
quarto de Reagan. Phil sorri quando vê a direção do meu
olhar.
― O que está acontecendo com Reagan? ― ele
pergunta.
― Nada ainda.
― Você gosta dela? ― Ele é como um cachorro
com um osso.
Dou de ombros.
― Tenha cuidado com ela, certo? ― ele pergunta.
― Por quê? O que há de errado com ela? ― Será
que todo mundo sabe o que aconteceu com ela?
― Ela é cautelosa com os homens.
― Então, ela está na porra do lugar perfeito para
ficar longe deles. ― Um acampamento cheio de homens
e meninos. Que esperto.
― Ela está aqui pelas crianças.
― Também estou aqui pelas crianças ― eu o
lembro.
Ele balança a cabeça.
― É só ter cuidado.
Eu pretendo.
Ele se levanta.
― É uma sensação estranha estar aqui ― eu digo
em voz baixa. Por dois anos, eu estive trancado em uma
cela. ― Eu não sei bem o que fazer comigo mesmo. ―
Olho ao redor. ― Particularmente com todo este espaço
aberto.
Por dois anos, eu não tive escolhas. Eu comi
quando as pessoas me disseram para comer e tomei
banho quando as pessoas me disseram para tomar
banho. Este lugar é o oposto do confinamento, e estou
me sentindo um pouco confuso sobre como agir.
Phil se senta novamente.
― Diga-me o que você está sentindo.
― Você vai fingir ser o Dr. Phil agora? ― falo, mas
evito outra gracinha ao ver seu rosto.
― Como está o relacionamento com seus irmãos?
― ele pergunta. Droga. Prefiro falar sobre os malditos
sentimentos.
― Tudo bem ― eu resmungo.
― São quatro, certo?
Eu concordo.
― Três mais velhos: Paul, Matt e Logan. E um da
minha idade, Sam. Meu gêmeo. Mas, agora, ele está na
faculdade. Ele ganhou uma bolsa de estudos para jogar
futebol. E eu estou aqui.
― Por que você não soa amargo sobre isso? ― ele
pergunta.
Sam estava comigo quando fui pego descarregando
o caminhão. Nós dois estávamos lá. Nós fizemos alguns
bicos com um cara da nossa vizinhança. Sim, era ilegal,
e sim, fui pego. Mas Sam estava comigo. Eu disse a ele
para fugir. Eu fui pego. Eu fui para a cadeia. E Sam não.
Ele estava jogando futebol e tendo a vida que eu gostaria
de ter.
― Não sinto amargura por nada. ― Não é culpa de
Sam que eu estava carregando comigo uma mochila
cheia de drogas. Fui preso por posse com intenção de
vender. Vou ser um criminoso pelo resto da minha vida.
Phil concorda. O silêncio de repente é opressivo.
Não foi assim quando Reagan estava aqui fora.
― Matt é o que estava doente? ― ele pergunta.
Eu não gosto de falar sobre Matt. Ele quase morreu,
e seu tratamento foi muito caro. Ele está bem, pelo
menos por agora. No futuro, ele pode precisar se tratar
de novo. Era por isso que eu estava trabalhando com
Bone, o cara que era dono da carga que eu estava
descarregando. Ele também era o cara que me deu as
drogas para vender. Ele é o culpado por eu estar aqui.
Bem, eu sou o culpado, mas por causa da influência
dele.
― Sim, Matt estava doente.
― Como ele está agora?
Matt me escreveu toda semana. Ele contava
histórias sobre meus irmãos e Emily e dizia que estava
tudo bem. Mas eu não tinha como saber se as coisas
estavam realmente bem. Quando cheguei em casa,
ontem à noite, parecia que estava tudo bem. E Sam
estava na faculdade.
― Melhor ― respondo.
― E os outros?
― Tudo bem. ― Respiro fundo, porque ele está me
olhando como se estivesse esperando que eu contasse a
história da minha vida.
― Logan vai casar. ― Abro um sorriso. ― Eu amo
a sua noiva. Ela é linda e muito legal. O nome dela é
Emily e ela toca guitarra. Ela é boa para ele.
― A vida deles continuou sem você ― ele fala, sem
me olhar ou mudar sua expressão.
― Será que eles deveriam esperar que eu saísse da
prisão para viverem suas vidas? ― pergunto, sabendo
que meu tom é cáustico, mas não consigo evitar.
― Eles deveriam?
Solto um grunhido.
― Eu os amo demais para pedir a eles algo assim.
― Engulo o nó em minha garganta.
― E Sam? ― ele pergunta, sua voz suave.
Só de falar no nome dele, meu estômago dói. Ele é
minha outra metade. Estamos juntos desde que
nascemos. Nós compartilhamos um quarto até que fui
preso. Perdê-lo foi como perder uma parte de mim.
― Não vejo Sam desde a audiência da sentença ―
eu falo em voz baixa.
― Ele estava lá.
Eu concordo. Ele estava lá para tudo. Mas me
recusei a falar com ele. Recusei-me a responder suas
cartas, até que ele finalmente parou de escrevê-las.
Recusei-me a vê-lo quando ele veio me visitar, até que
ele parou de vir.
― Por que você está com raiva dele? ― Ele faz um
tsk, tsk, tsk com a boca. ― Você está amargo por ter
sido único a ser preso.
Balanço minha cabeça.
― Não, não estou.
― Então o que é?
Eu nunca disse isso em voz alta.
― Estou com inveja, certo? ― eu grunho. Ele
levanta uma sobrancelha para mim, mas não se mexe.
Solto um suspiro e me forço a abrir os punhos. ―
Porra, eu fui pego. Idiota, idiota, idiota ― murmuro para
mim mesmo.
― Ele sabia com o que estava lidando? ― ele
pergunta.
Balanço a cabeça. Ninguém sabia. Só peguei a
mochila naquela noite. Ainda não tenha vendido nada. Eu
tinha acabado de me convencer a devolver aquilo para
Bone, quando fui preso.
― Por que você fez isso?
Respiro fundo.
― O tratamento de Matt era caro. Eu não
conseguia pensar em outra maneira de ajudá-lo.
Ele balança a cabeça. É um movimento lento para
cima e para baixo. Ele não olha para mim ou diz qualquer
coisa.
― Você não sabe o que é saber que seu irmão vai
morrer e não há nada que você possa fazer para ajudá-lo.
― Eu me forço a abrir os punhos novamente.
― Não, não sei ― ele admite. ― Você usou drogas
também? Ou apenas pegou para vender?
― Paul me mataria se eu usasse drogas. Você não
faz ideia de como ele é.
― Acho que gosto de Paul ― ele fala e finalmente
olha para mim e sorri. ― Parece que você tem um bom
sistema de apoio para quando voltar para casa. ― Ele
esfrega as mãos rapidamente. ― Só mais cinco dias!
Eu sorrio.
― Cinco dias ― repito.
― Posso fazer uma sugestão? ― ele pergunta.
― E eu tenho como impedi-lo? ― eu murmuro.
Ele sorri.
― Não mesmo. ― Ele faz uma pausa por um
minuto. ― Não tenha medo de fazer planos, Pete ― diz
ele. ― Faça muitos planos. Porque só quando você não
tem planos você esquece de onde deve ir. Anote-os,
torne-os reais. Então, corra atrás deles. Siga adiante.
Eu concordo.
― Tudo bem. ― Olho para a tornozeleira de
rastreamento presa em mim. ― Enquanto estamos aqui,
sou livre para andar por aí?
Ele balança a cabeça.
― Eu vou saber onde você está, se eu precisar te
encontrar. Mas sim, você pode considerar-se livre. ―
Ele tosse em seu punho fechado. ― Tenha cuidado com
Reagan ― ele adverte e levanta a mão quando eu
começo a protestar. ― Você tem vinte e um anos. E
esteve na prisão por dois. E estou supondo que você já
não é mais virgem há muito tempo. ― Ele limpa a
garganta. ― Não esqueça que há mais do que o prazer
do momento.
Agora eu quero foder com ele.
― Não me diga, Dr. Phil.
― O bom da vida não são os momentos de prazer
que você pode experimentar, mas sim os bons
momentos que você pode compartilhar com alguém que
realmente importa.
Merda. Isso foi muito profundo.
― Sim, senhor ― eu digo.
― O que aconteceu com o seu pai, Pete? ― ele
pergunta.
― Ele foi embora depois que a nossa mãe morreu.
― Ele perdeu algo bonito pra caralho com você,
garoto ― ele fala. ― Ele poderia ter ficado e aproveitado
bons momentos com você e seus irmãos e a vida teria
sido mais rica para ele.
― Minha vida foi boa. ― Duvido que tenha sido
diferente se ele tivesse ficado. Paul ainda teria cuidado de
nós. Ele sempre cuidou.
― Não deixe de se perguntar, antes de fazer algo,
quem vai se beneficiar.
― Sim, senhor.
Ele aponta para a casa grande.
― Falando de momentos ― diz ele, sorrindo. ―
Neste momento, alguém está esgueirando-se para o
celeiro. ― Ele aperta meu joelho enquanto se levanta. ―
De nada ― diz ele com uma risada, enquanto se afasta.
Olho para o celeiro e vejo uma forma feminina
caminhando rapidamente em direção à grande construção
ao longe. Olho ao redor. O acampamento está em
silêncio e todo mundo está na cama. Vejo quando ela
entra por uma porta aberta e a fecha atrás dela.
Me pergunto se ela poderia querer companhia.
Reagan

Tento não olhar em direção à fogueira quando corro


para o celeiro. Sei que Pete ainda está sentado lá e não
está sozinho. Há dois homens e não sei quem é o
segundo. Bato minha perna levemente para que minha
Maggie me siga. Ela é velha e não enxerga tão bem
quanto antes, mas me sinto segura com ela. Ela não
deixa ninguém me machucar e eu adoro isso nela. Eu
não precisava me preocupar que ninguém se aproximaria
sem que eu soubesse.
Entro no celeiro e fecho a porta atrás de nós.
Maggie corre ao meu redor, salto na direção dela, que
pula de volta, brincando. Mesmo tão velha como ela é,
ainda pode correr em círculos ao meu redor.
Vou até a porta da baia e me inclino sobre o cabo
que está bloqueando a abertura. Minha égua deve parir a
qualquer momento. Seu nome é Tequila e ela é a minha
favorita.
Ela não está deitada, nem suando ainda, o que me
leva a crer que não será essa noite que o potro nascerá.
Aproximo-me dela e esfrego suavemente atrás de suas
orelhas. Ela empurra o rosto em minha mão e eu rio.
De repente, Maggie estremece ao meu lado e os
pelos na parte de trás do seu pescoço ficam de pé. Um
rosnado baixo sai da sua garganta e eu paro de acariciar
Tequila, me aproximando mais da égua. Meu coração
bate acelerado.
― Olá ― uma voz chama. Maggie se agita e seu
rosnado fica mais alto. Deus, eu amo essa cadela. A
sombra se aproxima, e Maggie late em advertência. ―
Oh, merda ― diz alguém, e a sombra se move para trás.
― Quem está aí? ― pergunto.
― É Pete ― diz a voz.
Meus ombros caem e eu me forço a respirar fundo.
Não solto Tequila nem me afasto dela.
― Você não deveria estar aqui ― eu falo.
― Bom, eu não me importo de sair, se você segurar
sua besta ― ele fala. Maggie se agacha e rosna para
frente e os sons que saem da sua garganta assustam até
a mim. ― Por favor ― ele fala. Sua voz está trêmula.
― Maggs ― eu falo. Ela se vira e olha para mim.
Eu bato levemente em minha perna, e ela corre para
mim. Eu acaricio seu pelo macio. ― Boa menina ― eu
sussurro. Maggie aceita meu carinho. Apesar de estar
cautelosa, ela não quer matar ninguém.
― Lembre-me de não me aproximar de você no
escuro de novo ― diz Pete. Ele limpa a testa com a mão.
Eu rio.
― Duvido que você vá precisar de um lembrete. ―
Balanço o polegar na direção do banheiro que fica nos
fundos do celeiro. ― Você precisa ir até lá, ver se está
tudo bem nas suas calças? ― Um sorriso surge em
meus lábios. Tento segurá-lo, mas é quase impossível.
Pete olha para baixo, observando sua bermuda.
― Acho que estou bem agora. ― Ele dobra os
joelhos, se agacha no chão e estende a mão para que
Maggie possa cheirá-lo. ― Agora, se ela fizer qualquer
outra coisa, vou cantar uma música diferente. ― Ele ri.
Maggie inclina-se lentamente na direção dele. Ela
ainda está cautelosa, mas calma. Não tenho certeza se
gosto da ideia de a minha cadela ser amiga de um
estranho.
― Mags ― eu a chamo e ela corre de volta para
mim. ― Não tente me enrolar para que ela goste de
você.
Ele levanta a sobrancelha.
― Ela foi treinada para me proteger ― explico
rapidamente. Ela volta para o meu apartamento na cidade
comigo, embora eu tenha certeza de que ela gosta mais
daqui, da fazenda. Mas preciso dela. Em mais de um
sentido.
Ele balança a cabeça, inclinando-se contra a porta
da baia. Ele coloca as mãos nos bolsos.
― Eu vi você e achei que você poderia querer
companhia.
― Eu já tenho companhia ― eu digo. Eu
provavelmente soo como uma megera, mas nós ficamos
um pouco perto demais e estou sentindo os efeitos disso
agora.
― Qual é o seu nome? ― ele pergunta, apontando
para a égua.
Abro um sorriso completamente espontâneo.
― O nome dela é Tequila ― eu digo, acariciando-a.
Pete se aproxima e Tequila abana a cauda em seu
rosto. Ele a afasta, cuspindo, enquanto limpa a boca. Eu
rio.
― Você não está acostumado com cavalos, não é?
― Não posso dizer que já estive com um antes ―
diz ele, pegando na sua língua com o polegar e o dedo
indicador. Ele cospe novamente e, finalmente, parece
satisfeito, depois de limpar a boca com o antebraço.
― Consegui outra primeira vez sua ― eu falo.
Imediatamente, percebo meu erro e tento consertar. ―
Quero dizer...
Ele levanta a mão e sorri.
― Ei, se eu pudesse, deixaria que todas as minhas
primeiras vezes fossem com você. ― Seus olhos
encontram os meus e uma faísca surge entre nós.
― Você está bem? ― ele pergunta, franzindo a
testa.
Eu concordo.
― Sim.
Saio de trás de Tequila. Maggie ainda está entre nós
e sei que ela jamais deixaria que nada me machucasse.
Pego a mangueira para molhar Tequila. Pete salta quando
eu, acidentalmente, molho seus sapatos.
― Desculpe ― eu falo. Eu realmente não queria
fazer isso. Mordo meu lábio e evito o seu olhar.
― Um pouco de água não faz mal a ninguém ― ele
fala, encolhendo os ombros. Acho que o ouvi murmurar
algo como “eu poderia aproveitar para me refrescar”,
mas acho que pode ter sido só ilusão. Ele sorri para
mim. Ele é tão bonito. Seus olhos azuis brilhantes na luz
baixa do celeiro parecem quase safira. Eles são
margeados por cílios escuros tão espessos que são
quase femininos, mas não há nada feminino nele. Ele é
todo homem, desde a largura dos seus ombros até seu
charmoso sorriso. Ele é bem mais alto do que eu, mas,
por alguma razão, não me sinto intimidada. Acho que é
porque ele não me tocou.
― Você deveria tirar uma foto, princesa ― ele fala,
com um sorriso. ― Teria mais tempo para me observar.
Sinto o calor aquecer meu rosto.
― Ei ― ele fala em voz baixa ―, eu só estava
brincando. ― Ele dá um passo em minha direção, as
sobrancelhas arqueadas.
Respiro fundo. Sinto que há uma bola de pingue
pongue na minha barriga. Geralmente, bom humor
funciona em situações assim, então, eu resolvo tentar.
― Não tenho culpa se você é bom de olhar. ―
Sorrio.
Desta vez, seu rosto é que fica corado.
― Você me acha bonito ― ele fala, sorrindo. Ele,
de repente, está todo metido.
― Bonito não é uma palavra que eu usaria para
descrevê-lo ― respondo, rindo.
Ele se inclina casualmente contra a porta da baia
novamente.
― Então, qual você usaria?
― Cheio de si ― eu falo, fingindo tossir.
Ele ri.
Respiro fundo.
― Por que você está aqui? ― pergunto.
Ele dá de ombros.
― Achei que você poderia querer um pouco de
companhia. ― Seu olhar encontra o meu e é tão intenso
que preciso desviar.
― Achei que você estaria muito preocupado com
seu pinto para se aproximar de mim novamente ― eu
provoco. O riso parece ser a melhor maneira de lidar
com este homem.
― Você me deixou preocupado com meu pinto. ―
Ele ri e olha para baixo. ― Bem, você pode se preocupar
com ele também, mas eu assumo total responsabilidade
pela sua segurança.
Eu rio. Ele é muito engraçado.
― Nós dois podemos nos preocupar com ele ― eu
falo com um sorriso. Arrisco um olhar para ele, e ele
está me olhando atentamente. Muito de perto. Preciso
dizer algo engraçado, mas nada me vem à cabeça. Tento
segurar minha língua, porque não quero dizer a coisa
errada.
― Quer sair comigo? ― ele pergunta, parecendo
surpreso com sua própria pergunta e me dá a impressão
de que ele gostaria de desfazer o convite. Mas ele não o
faz. Apenas olha para mim com expectativa.
― Sair? ― pergunto.
Ele sorri.
― Você e eu. Num encontro.
Ele não tem carro e acabou de sair da prisão. Um
encontro pode ser meio difícil. Mas não posso falar isso.
Vou ferir seus sentimentos.
― Que tipo de encontro?
― O tipo no qual você e eu passamos algum tempo
juntos ― ele diz com um encolher de ombros.
― Estamos fazendo isso agora ― eu falo.
― Bem, caramba. ― Ele sorri. ― Você está certa.
― Ele olha para os cavalos. ― Da próxima vez, lembre-
me de levá-la em algum lugar mais agradável.
Eu rio. Ele sorri para mim.
― Esse é um belo som ― ele fala em voz baixa.
Olho para Tequila e a acaricio.
― Você está soltando gases, garota? ― pergunto e
sorrio para ele. ― Desculpe, ela pode ser meio
barulhenta.
Ele sorri e esfrega o queixo. Aposto que a sombra
de barba arranha a ponta dos seus dedos e, se eu fosse
outra pessoa, iria querer tocá-lo para descobrir.
― E ela também é engraçada ― ele fala em voz
baixa.
Eu sorrio e faço um movimento em direção à porta.
― Acho melhor sair daqui antes que meu pai venha
atrás de você ― eu falo, mas não estou preocupada com
meu pai. Estou preocupada comigo. Porque eu gosto
deste homem. Muito.
― Posso acompanhar você de volta para casa? ―
ele pergunta, inclinando a cabeça para o lado. Ele é tão
bonitinho. E faz meu interior tremer. Não tenho certeza
se isso é uma coisa boa.
Eu aceno, e ele vem para o meu lado e, em seguida,
abre a porta do celeiro para mim. Ele segura a porta
aberta e eu e Maggie passamos. Seu ombro encosta no
meu, e eu me afasto dele. Ele inclina a cabeça para baixo,
perto de mim.
― Estou cheirando mal? ― ele pergunta.
Eu me inclino para perto dele e cheiro.
― Não que eu esteja sentindo ― eu respondo em
voz baixa. Ele tem um cheiro cítrico e de ar livre,
exatamente como eu me lembro daquela noite. E eu
quero enterrar meu rosto em seu peito e deixá-lo entrar.
Mas eu não posso.
― Apenas verificando ― diz ele com uma risada.
― Toda vez que eu chego perto de você, você se afasta
― diz ele casualmente. Mas não há nada de casual em
seu comentário. Nada mesmo.
Eu aponto para o meu peito.
― Eu estive trabalhando o dia todo... e brincando
com os cavalos. Fiquei preocupada que eu estivesse
cheirando mal.
Ele olha para o meu rosto, e eu não posso afastar
meus olhos.
― Você cheira como limões e pingos de chuva. ―
Ele fecha os olhos e inala. ― E todas as coisas
inocentes.
Eu congelo.
― Você está totalmente errado ― eu digo.
― Você se sente culpada? ― ele pergunta. ― De
quê? ― Seus olhos azuis se estreitam.
― Por confiar na pessoa errada ― eu digo em voz
baixa.
― Eu não quero que você confie em mim ― diz
ele. ― Eu quero que você fique muito, muito
desconfiada de mim. E de todos os outros homens que
encontrar.
Eu inspiro profundamente pelo nariz.
― Sem problemas ― eu finalmente digo. A maioria
dos homens luta comigo para me fazer confiar neles.
― Eu não confio em mim mesmo quase todos os
dias ― diz ele. Acho que ele está brincando no início,
mas ele está muito sério.
― Por que não? ― eu sussurro.
― Não sou digno de confiança ― diz ele em voz
baixa.
Eu puxo uma mecha de cabelo que está preso na
minha boca e lambo os lábios. Ele me observa de perto.
― Eu prometo não confiar em você ― eu
sussurro.
― Bom ― ele sussurra de volta, muito
dramaticamente.
Ao chegarmos na minha porta, e eu me viro para
encará-lo.
― Obrigada por me acompanhar ― eu digo e
coloco a mão sobre meu peito. ― Foi um longo caminho
― eu digo, tentando soar como Scarlett O'Hara. ― Eu
nunca teria conseguido sozinha.
Ele sorri.
― Meu trabalho aqui está feito.
― Boa noite ― eu digo.
Ele fecha um olho e olha para mim com o outro,
por um momento.
― Posso beijar você? ― ele pergunta.
Balanço minha cabeça e sinto meu estômago em
nós.
― Não ― eu sussurro. ― Receio que não.
Ele sussurra novamente:
― Posso continuar perguntando? ― Ele sorri.
― Eu ficaria decepcionada se você não perguntasse
― eu admito. Ele sorri. Desta vez, não é brincalhão. Eu
acho que é um sorriso típico de Pete. Metido e cheio de
confiança.
Ele se vira para ir embora, falando por cima do
ombro:
― Boa noite, princesa..
― Boa noite ― eu respondo. Olho para cima e vejo
meu pai me olhando pela janela da cozinha. ― Pai ― eu
sussurro quando ele abre a porta para mim.
― Esse era Pete? ― ele pergunta. Maggie deita em
seus pés.
Eu concordo.
― Sim.
Ele mordisca uma unha.
― Eu deveria estar preocupado? ― ele pergunta.
Balanço minha cabeça.
― Acho que não.
― Ok. ― Ele respira, e esvazia como um balão
relaxado. Ele se inclina para frente, puxando minha
cabeça para si, com o braço musculoso. ― Boa noite ―
diz ele, beijando minha têmpora.
― Boa noite, pai ― eu digo. Ele se vira e sobe as
escadas. Eu olho para fora, pela janela da cozinha, para o
primeiro homem que eu já quis beijar. Mas eu não posso.
Eu simplesmente não posso. E sei que isto vai acabar
mal.
Reagan

Às vezes, acordo com o peso das minhas memórias


sobre mim, como um pesado cobertor de lã molhada.
Um que me puxa para baixo e torna impossível sair da
cama. Mas hoje, abro os olhos e não há sangue pegajoso
na ponta dos meus dedos, e meus cílios não estão
colados de acordar com o grito preso em minha
garganta.
Hoje, eu acordei... esperançosa. Nem sei se essa é a
palavra certa para isso. É meio como a gente se sente
numa manhã de Natal. Aquele mesmo sentimento que se
experimenta, mesmo depois de saber que o Papai Noel
não é real, mas você antecipa os sentimentos
acolhedores e felizes que vêm com o feriado. Você rasga
os papéis ao abrir os presentes e vê que os presentes que
deu para seus pais têm um significado para eles. É assim
que estou me sentindo hoje. E não estou tão certa se
gosto disso.
As meninas estiveram aqui, para o acampamento no
mês passado, e não senti essa euforia por causa delas,
então acho que não é o acampamento que me faz desejar
correr até lá fora hoje. É Pete. E tenho certeza de que
não deveria gostar tanto dele como gosto.
Em um mundo perfeito, eu poderia sair com ele.
Mas meu mundo não é perfeito. E não é há algum
tempo.
Visto minha roupa e prendo o cabelo num rabo de
cavalo. Vamos trabalhar com os cavalos hoje, antes que
fique muito quente. Os meninos gostam de fazer
passeios curtos em torno do paddock. Algumas dessas
crianças nunca montaram em um cavalo antes.
Caminhando lá fora, consigo sentir o aromo do
bacon na frigideira. Meu pai tentou contratar uma
empresa que presta serviço de buffet, mas ele realmente
gosta de cozinhar para as crianças e ele parece ficar mais
satisfeito ao jogar um pouco de bacon na frigideira,
mexer os ovos e oferecer frutas frescas, iogurte, leite e
cereais para todos. Há algo para cada criança, mesmo
com algumas das bizarras restrições dietéticas dos
meninos.
Os rapazes da prisão estão atuando como garçons,
agora, e eles estão fazendo um bom trabalho. Pete está
trabalhando em duas mesas. Ele faz a linguagem de
sinais para algumas crianças e brinca com outras. Ele é
muito bom com adolescentes. Gonzo fala algo para ele e
vejo quando Pete levanta a mão para não permitir que os
outros vejam quando ele levanta o dedo médio para
Gonzo. Ele ri e eu me esforço para fechar minha boca.
Pete olha e me chama a atenção. Meu coração bate
descompassado.
― Bom dia, princesa ― ele diz calmamente, sua
voz preguiçosa e sem complicações. Mas isso é uma
mentira. Tudo nesse homem é complexo. Não há nada
que não seja complicado nele.
― Bom dia ― eu respondo. Aperto o ombro de
Gonzo ao passar por ele e ele sorri para mim. ― Dormiu
bem, Gonzo? ― pergunto.
Ele sorri e sinaliza algo para Pete.
― O que ele disse? ― pergunto a Pete.
― Você não iria querer saber ― Pete responde,
com uma careta. Ele olha para Gonzo. ― Cuidado com
suas maneiras, Karl ― adverte. Sua voz é severa e
Gonzo abaixa a cabeça. É a primeira vez que ouço Pete
chamá-lo pelo seu nome real. Pete se levanta e vai ajudar
outro menino. Ele ainda está olhando para Gonzo e estou
morrendo de vontade de saber o que ele disse para
ganhar tal tratamento de Pete.
― O que eu perdi? ― pergunto olhando de um para
o outro.
― Humor adolescente ― Pete resmunga, olhando
para Gonzo. Pete entrega um saleiro para outro menino.
― Do tipo que não é divertido.
Gonzo faz sinais para Pete.
― Eu sei que era para mim ― Pete fala baixinho,
olhando nos olhos de Gonzo. ― Mas ela está sentada
bem aqui, e é rude falar na frente dela, a menos que eu
possa lhe dizer o que você falou ― ele resmunga algo e
depois continua: ― E eu não gostaria de repetir o que
você disse nem por um milhão de dólares. ― Ele levanta
as mãos como se estivesse dizendo “Que merda!”. ―
Não fale assim na frente das meninas, cara. ― Ele
espeta um garfo em Gonzo. ― Quando estivermos
sozinhos, você pode falar toda a merda que quiser. E
pode até ser engraçado.
Gonzo bate no ombro, para que eu olhe para ele. Ele
faz sinais, dizendo alguma coisa.
― Ele pediu desculpas ― Pete resmunga. Gonzo
faz outros sinais e, em seguida, pisca os olhos para mim,
piscando os cílios grossos. ― Ele quer saber se você
pode perdoá-lo.
― Vou pensar sobre isso ― eu falo. Ainda não sei o
que ele disse, então não sei pelo que eu deveria ficar
ofendida. Mas Pete pareceu tão sério sobre isso, que
sinto que devo jogar junto.
― Gonzo, vá em frente e faça o que precisa para
que possamos fazer a primeira atividade ― Pete fala.
Gonzo sorri e sinaliza algo. Pete balança a cabeça.
Mais humor adolescente?
Um dos cuidadores vai até as mesas que Pete estava
cuidando para aprontar as crianças para as atividades da
manhã. Pete se senta e solta um suspiro.
― Aquele garoto me faz lembrar dos meus irmãos
― diz ele, mas um sorriso surge no canto dos lábios.
― Você é quem dá esporro em seus irmãos? ―
pergunto.
Ele ri.
― Sou o caçula. Então, geralmente eu sou aquele
que fala algo inadequado e eles tentam me fazer calar a
boca.
― O que ele disse? ― pergunto. Estou morrendo
de vontade de saber, mas algo me diz que ele não dirá.
Seu olhar está caloroso, os olhos nublados ao
encontrarem os meus.
― Se você quer saber, tem algo a ver com madeira
de manhã. ― Ele levanta uma sobrancelha e eu engasgo.
Ele ri e levanta uma sobrancelha. ― Devo continuar?
Seguro sua mão para detê-lo.
― Eu poderia viver o resto da minha vida sem
precisar saber dessa conversa. ― Porém, eu penso nisso
por um minuto. ― Isso é algo que os meninos falam? ―
pergunto, curiosa.
Ele abaixa o queixo e olha para mim.
― Não siga por esse caminho, princesa ― ele
avisa, com a voz rouca.
― Eu só estava curiosa ― sussurro, mas sinto
necessidade de me explicar. ― Meu irmão é autista e
quase não fala, então, não sei como os meninos se
comportam. ― Coloco a mão sobre o peito,
constrangida com o que estou prestes a admitir. ―
Quando as meninas se juntam, falamos de tudo. ― Olho
em seus olhos, e, de repente, eles estão entreabertos.
Meu coração acelera. ― Sobre os homens,
principalmente. ― Meu rosto esquenta.
Sua voz é quase um sussurro quando ele diz:
― Continue, princesa. ― Seus olhos brilham.
― Bem, aparentemente, Gonzo quer falar com você
como eu falaria com as minhas amigas.
― E ele pode, quando estivermos sozinhos, como
eu falei a ele. ― Ele não está mais sorrindo. ― Não vou
machucar o menino, nem ferir seus sentimentos. Mas
também não vou tratá-lo como se ele fosse feito de
vidro. Ele já teve o suficiente disso.
― Certo ― eu digo em voz baixa. Vou deixar
passar. Pelo menos, por enquanto.
Pete sorri. Ele acena com a cabeça na direção de
onde meu pai está fritando o último pedaço de bacon.
― Café da manhã? ― ele pergunta.
― Você já comeu? ― pergunto-lhe.
Ele balança a cabeça.
― Fiquei muito ocupado até agora. ― Ele olha para
mim. ― Quer se juntar a mim? ― Ele se inclina e
sussurra: ― Este seria o nosso segundo encontro.
Reviro meus olhos e caminho em direção ao meu
pai, que me dá uma bela porção.
― Eu não posso comer tudo isso, pai ― eu
reclamo.
Pete olha para o prato, lambendo os lábios, e meu
pai empurra-o em sua direção. Eu pego um bagel, cream
cheese e leite com chocolate. Pete senta na minha frente.
Ele olha para o meu leite com chocolate.
― Você quer um? ― pergunto e dou um gole no
meu leite, olhando-o por cima da embalagem.
Ele espera até que eu o coloque sobre a mesa e
estende a mão para o meu leite. Ele agradece e dá um
gole. Seus lábios pressionam onde os meus estiveram e
meu estômago se aperta. Olho para longe, porque sinto
medo do que vou ver se olhar em seus olhos azuis agora.
― Desculpe ― ele murmura. ― Não quis deixar
você desconfortável ― ele fala.
Então, ele se levanta e pega outro leite, abre-o e me
dá. Olho diretamente em seus olhos e estendo o braço
para pegar meu leite original, levando-o aos meus lábios.
― Jesus Cristo. ― Ele inspira pesadamente. Pete
olha por cima do ombro, onde meu pai está conversando
com alguns dos homens do programa da prisão.
― Se o seu pai tiver alguma ideia do que está
passando na minha cabeça, ele vai cortar meu pinto fora,
com certeza.
Limpo minha garganta, tentando afastar o nó dentro
dela.
― O que está passando na sua cabeça? ― pergunto
baixinho.
Ele olha para mim e balança a cabeça.
― Não importa. ― Ele olha para o prato e respira
profundamente, e, em seguida, começa a comer. Ele
mastiga por um minuto e depois se inclina para a frente
como se quisesse me contar um segredo. Ele desiste e
balança a cabeça.
― O quê? ― pergunto.
― Nada. ― Ele continua comendo.
― Eu odeio quando as pessoas fazem isso ― eu
digo, mais para mim do que para ele.
Ele solta um suspiro.
― O que está acontecendo na minha cabeça é ainda
mais fodido do que o que está acontecendo na minha
calça, se você quer saber meus pensamentos mais
íntimos, princesa. ― Ele bate na testa com os dentes de
seu garfo de plástico. ― Fodido.
Eu engulo com tanta força que posso ouvir.
― Fodido como?
Ele fecha os olhos e respira fundo.
Eu me repito, no caso de ele não ter me ouvido.
― Fodido como? ― Coloco meu pão sobre a mesa.
Ele se inclina para perto de mim e acena com um
dedo, me convidando a fazer o mesmo. Eu me inclino
para ele.
― Você me deixou ligar pra caralho e eu não
poderia me levantar daqui, nem que a porra do lugar
estivesse pegando fogo, princesa. ― Ele aponta para o
leite. ― E tudo o que você fez foi tocar seus lábios na
porra de uma caixa de leite. ― Ele esfrega a testa como
se quisesse afastar os pensamentos. Ele olha nos meus
olhos. ― Sei que se você me tocasse com a sua boca eu
explodiria como um canhão, princesa. Eu seria o homem
mais feliz do mundo, mas, ao mesmo tempo, me sentiria
constrangido, porque, aparentemente, não tenho nenhum
controle quando se trata de você. ― Ele faz uma careta
e olha para baixo, na direção do seu colo, ajeitando a
calça enquanto mexe os quadris. ― Nossa situação é
complicada por tantos motivos que não posso sequer
pensar em fazer nada com você. Mas só consigo pensar
é em fazer algo com você. ― Ele geme e enfia um
pedaço de bacon em sua boca. Seus olhos não deixam os
meus, no entanto. ― Planejei cuidadosamente como eu
iria ignorá-la hoje. Mas, então, lá estava você, sorrindo
para mim. ― Ele olha para a minha boca. ― Eu não
podia ignorá-la, nem se eu quisesse.
Respiro fundo, tentando racionalizar os meus
pensamentos. Mas não posso. Eu nunca, nunca mesmo,
me senti assim antes. As minhas amigas já conversaram
sobre isso, mas eu nunca senti isso. Mesmo quando vou
a algum encontro, é como se uma parte de mim
estivesse desligada. Mas, com Pete, nada está
adormecido. Tudo fica em alerta.
Ele continua a dizer:
― Eu não quero querer você.
Meu coração quase sai pela boca. Eu entendo. Não
gosto disso. Mas entendo. Eu concordo. Ninguém gosta
de bens danificados.
Levanto-me da mesa e pego o meu prato.
― Espere ― ele chama.
Eu não posso esperar. Se eu esperar, ele pode ver as
lágrimas que estão enchendo meus olhos.
― Princesa ― ele chama novamente. De repente,
me sinto presa e não consigo mais andar. Olho para
baixo e vejo sua mão segurando a bainha da minha blusa.
Ele se inclina sobre a mesa e murmura: ― Não vá
embora ― diz ele.
Mas tudo o que eu vejo é a mão segurando minha
camisa. Meu coração acelera e minha respiração congela
em meu peito. Eu não posso fugir. Dou um passo trás e
soco diretamente o rosto dele, com toda a força da
minha mão. Ele balança, seus olhos fechando enquanto
ele se encolhe e sua cabeça vai para trás. Primeiro, dou
um jeito no pulso dele. Em seguida, eu vou para os
olhos.
― Reagan! ― papai grita, deixando cair o que ele
está segurando e corre em minha direção. Ele vai até
Pete, que ainda está atordoado do meu soco no rosto.
Eles caem no chão. Papai vira-o. ― Reagan ― meu pai
grunhe. ― O que aconteceu?
Pete fica no chão. Ele nem sequer está em posição
de luta. Ele só se encolhe, seus olhos bem fechados,
enquanto o sangue escorre de seu nariz.
― Fique aí ― meu pai adverte.
Pete balança a cabeça e não se move. Seus olhos
finalmente abrem e eles encontram os meus. Não sei
interpretar o que esse olhar quer dizer. Então, viro e
corro para casa. Ajo como a menina apavorada que sou.
Irrompo pela porta de trás e vou direto para os
braços da minha mãe. Ela resmunga quando bato no seu
peito, mas isso não a impede de me abraçar com força.
― O que houve? ― ela murmura, enquanto me
abraça com força. Ela me segura, acariciando meu
cabelo até que consigo respirar. Então, ela se afasta,
segura meu rosto em suas mãos e me obriga a olhar para
ela. ― Diga-me o que houve de errado ― ela pede.
― Acho que cometi um erro ― eu soluço.
― O que aconteceu? ― ela pergunta e me leva para
a cozinha. Ela aponta para uma cadeira e eu afundo nela.
― Nada ― eu finalmente murmuro, após recuperar
o fôlego.
Não posso acreditar que fiz isso. Eu, simplesmente,
agredi um pobre homem que nada mais fez do que flertar
comigo e depois me disse que não queria me querer. Não
posso falar isso para a minha mãe.
Ela coloca as mãos nos quadris.
― Não creio que seja nada ― ela insiste.
A porta dos fundos se abre, e a prova da minha
vergonha vem atrás do meu pai e Link. Eu estremeço e
desvio o olhar de Pete.
― Você pode conseguir um pouco de gele para Pete
colocar sobre o olho? ― meu pai pergunta a minha mãe.
Ela arqueia a sobrancelha para mim e me lança um olhar
que faria um homem adulto fugir para as colinas.
Ela começa a encher um saco com zíper com gelo.
― E por que Pete precisa de gelo para seu olho? ―
ela pergunta levianamente.
Papai aponta para mim.
― Sua filha bateu-lhe na cara.
Minha mãe suspira.
― Reagan!
Minha mãe cruza a cozinha, indo até Pete. Ela o
observa e pressiona o osso debaixo do seu olho com o
polegar. Ele geme baixinho. Um lado do rosto está sujo,
provavelmente da hora que meu pai o rolou no chão.
Minha mãe lhe entrega um pano úmido e ele limpa
delicadamente a sua face. Quando ele está limpo, minha
mãe pressiona o gelo no olho dele, com a ponta do
polegar. Ele estremece e sacode a cabeça para trás.
― Acho que Reagan já fez bastante dano ― meu
pai adverte. ― Pare de torturar o garoto. ― Ele olha
para mim. Quero esconder meu rosto, de vergonha.
Então, percebo a maneira como Pete está segurando
seu pulso esquerdo em sua mão. Meu olhar vai de
encontro ao seu, e não vejo nada além de curiosidade.
Ele deveria estar furioso. Ele tem todo o direito de estar.
― Seu braço está machucado? ― pergunto
baixinho.
Os cantos dos lábios de Pete inclinam-se em um
pequeno sorriso.
― Está tudo bem.
― Não está não ― meu pai resmunga. ― Pode
estar quebrado.
― Ah, merda ― eu murmuro.
― Reagan ― minha mãe adverte.
― Ah, merda ― Link repete igual a um papagaio.
Enterro meu rosto em minhas mãos. Meus pais vão
me matar quando eu estiver sozinha.
― Reagan, quero que você pegue a caminhonete e
leve Pete até a cidade, para a emergência ― meu pai
fala.
Eu ergo minha cabeça. Ele não pode estar falando
sério.
― Ah, merda ― Link entra na conversa. Minha
mãe range os dentes.
Meu pai levanta e joga as chaves da caminhonete na
minha direção e eu tenho que pegá-las.
― Pai ― eu reclamo.
― Se isso faz você se sentir melhor, eu
particularmente não quero estar em um espaço fechado
com você mais do que você quer estar em um comigo
― diz Pete. Ele cautelosamente toca seus olhos, seu
rosto se contorcendo de dor.
Eu mereço isso. Eu realmente mereço. Dou um
suspiro.
― Vamos lá.
Pete me segue até a caminhonete do meu pai e abre
a porta do motorista para que eu possa entrar.
― Obrigada ― eu resmungo. Ele dá a volta na
caminhonete e entra no lado do passageiro. ― Tem
certeza de que você está machucado?
― Meu coração está quebrado ― ele fala.
Levanto a minha cabeça.
― O quê?
Sua voz é baixa.
― Me mata saber que você acha que eu tentaria
machucá-la. ― Ele vira de frente para mim. ― Lembro
do jeito que você parecia naquela noite. Eu nunca, nunca
mesmo faria nada para prejudicá-la assim.
Ligo a caminhonete. É mais fácil evitar a conversa
se eu tiver algo para ocupar minhas mãos e uma razão
para não olhar para ele.
― Esquece ― Pete grunhe, afastando-se de mim.
Ele vira para a janela e encosta a testa contra ela. Ele
envolve o pulso em sua mão e nem sequer olha para o
meu lado.
Pete

Não sei o que dizer a ela. Nem faço ideia de como


resolver esta questão. Só sei que meu pulso dói, mas
também sei que ele não está quebrado. Seu pai foi
insistente com essa coisa de ir à Emergência, e eu
permiti que ela me levasse. Ela está sentada em silêncio
no banco do motorista, enquanto descemos a estrada há
quase dez minutos. De vez em quando, ela abre a boca
como se fosse dizer algo, mas então a fecha.
De repente, ela joga a caminhonete para a direita,
encostando num recuo. Eu levanto as mãos para me
defender, mas me arrependo imediatamente quando a dor
toma meu pulso.
― Merda ― eu murmuro.
Ela solta um suspiro e coloca as mãos no rosto.
Depois de um momento, ela olha para cima, seus olhos
verdes brilhando.
― Sinto muito ― ela fala calmamente.
Estou sentindo dor como um filho da puta e me
sinto irritado o suficiente para querer que ela sofra por
um minuto.
― Pelo quê? ― eu grito, puxo meu pulso para junto
do meu corpo e o seguro com a outra mão.
― Por tudo isso. ― Ela respira fundo e lágrimas
surgem em seus olhos. Ela pisca, tentando afastá-las,
mas elas voltam rapidamente. Toda a minha raiva derrete
com a visão de suas lágrimas.
― Tudo bem ― eu resmungo. ― Não preocupe
sua linda cabecinha com isso. ― Sim, eu fui irônico e
um pouco humilhante, mas ainda estou dolorido.
― Você não está bem ― ela exclama. ― Eu bati
em você. ― Ela range os dentes. ― Na cara.
O silêncio cai pesado entre nós como um cobertor
molhado.
― Ainda tenho alguns problemas daquela noite ―
ela finalmente diz, colocando a cabeça para trás contra o
encosto de cabeça e olha para o teto.
― Onde você aprendeu artes marciais?
― Meu pai me ensinou. ― Ela olha para mim. Ela
parece tão vulnerável, de repente. ― Depois do que
aconteceu na faculdade, eu fiz uma aula de autodefesa.
Percebi que era realmente boa, então eu continuei e me
aperfeiçoei.
Eu pressiono suavemente minha cavidade ocular.
Ela parece tão triste... mas ela soltou o comentário e eu
sinto que preciso aproveitar a oportunidade para saber
mais sobre ela.
― Você se sente mais segura sabendo que pode
derrubar um homem? ― eu pergunto.
Seu rosto empalidece, e ela desvia o olhar.
― Não neste exato momento.
― Mas normalmente? ― pergunto. Seu rosto ainda
está pálido, e ela não me encara.
― Gosto de saber que posso fugir do perigo ― diz
ela calmamente.
― Você acha que sou perigoso? ― Minta para
mim, princesa. Porque meu estômago já está torcendo só
de pensar que ela pode estar com medo de mim.
― Naquele momento, sim ― ela murmura ―
Podemos não falar sobre isso?
Precisamos conversar sobre isso. Mas posso dizer
que ela realmente não quer.
― Certo ― respondo triste. ― Quando eu toco em
você, eu desperto algo? ― deixo escapar. Preciso saber
o que ela sente.
Ela balança a cabeça e inala profundamente, agindo
como se eu tivesse jogado uma tábua de salvação.
― Você faz meu coração bater mais rápido, de um
jeito realmente bom. ― Ela finalmente me olha. ― Sei
que você não pode me perdoar, mas eu realmente sinto
muito.
Me aproximo para tocar em seu rosto, mas ela
recua e eu deixo minha mão cair sobre meu colo.
― Eu não deveria ter segurado você. A culpa foi
minha. ― Não sei o que dizer, nem como fazer o que é
certo para ela. Se fosse qualquer outro cara, eu estaria
puto por que ela me bateu por não me deixar tocá-la.
― A culpa não é sua ― ela protesta. ― É minha.
― Quase consigo ouvi-la dizer baixinho algo que soa
como a culpa é dele.
― Só não queria que você fosse embora antes que
eu tivesse a chance de me explicar ― eu falo. ― Eu
segurei sua camiseta.
― E eu senti como se eu não fosse conseguir sair
de lá. E sei que não era a sua intenção.
Balanço minha cabeça.
― Não, essa era a minha intenção. Eu não quero
que você fique longe. Seus instintos estavam certos.
― Mas você não tinha a intenção de me machucar.
― Você não tinha como saber disso. ― Deus,
como sou estúpido. Estou discutindo com ela sobre
todas as razões por que ela me bateu.
― Então, meu pai empurrou você no chão. ― Ela
parece um pouco irritada com isso.
― Porra, princesa, se eu visse minha filha socando
um idiota, eu imediatamente assumiria que a culpa era
dele. Seu pai fez a coisa certa. ― Eu acredito nisso. Isso
é o que os pais costumam fazer. Bem, o meu não, mas
eu tenho Paul e meus irmãos. Eles iriam me proteger
com suas vidas. O pai dela não fez nada além do que eles
fazem por mim. ― Seu pai sabe o que aconteceu?
Ela balança a cabeça, mordendo o lábio inferior
entre os dentes.
― Você pode me perdoar? ― ela pergunta.
― Não há nada a perdoar ― eu digo. Ela olha para
mim. ― Está perdoada ― eu falo. ― Eu juro.
Ela respira fundo.
― Obrigada.
― Eu não devia ter feito você se sentir como se
precisasse fugir de mim ― eu admito. Poderíamos ter
evitado todo o fiasco se eu tivesse mantido minha boca
fechada e não falado sobre o meu pau e o que ela me
fazia sentir. Sinto meu corpo se agitar só de pensar
nisso. Eu gemo baixinho.
― O que foi? ― ela pergunta. ― Está sentindo
dor?
Sim. Estou sofrendo. Mas não do jeito que ela
pensa.
― Um pouco ― eu admito. Meu pulso dói.
― Eu gosto do jeito que você gosta de mim ― diz
ela. Sua voz é tão baixa que mal posso ouvi-la.
― O quê? ― pergunto. Eu me inclino mais para
perto dela, mas ela se afasta.
Ela sorri e balança a cabeça.
― Eu gosto do jeito que você gosta de mim ― diz
ela novamente, desta vez um pouco mais alto.
Um sorriso aparece em meus lábios.
― Você me faz sentir coisas ― ela admite. Seu
rosto, antes pálido, não está mais. Suas bochechas estão
rosadas. ― Você pode parar de sorrir agora ― ela fala,
mas está sorrindo. Isso é bom.
― Você me diz que gosta de mim e espera que eu
pare de sorrir? ― Coloco minha mão sobre meu peito.
― Você só pode estar brincando comigo. Eu poderia dar
cambalhotas.
― Eu não gosto de homens ― diz ela calmamente.
― Oh. ― Não tinha notado um indício de que ela
fosse lésbica. Não mesmo. Mas eu posso ter errado. ―
Você gosta de mulheres?
Ela esconde o rosto entre as mãos e levanta a
cabeça, rindo.
― Não! ― ela grita. ― Eu não gosto de mulheres.
― Ela desvia o olhar de novo. ― Eu gosto de homens.
Mas você é o único homem que eu já gostei. ― Ela
fecha os olhos e atira a cabeça para trás, gemendo. ―
Ser normal não deveria ser tão difícil! ― ela grita.
― Princesa, você é tudo, menos normal ― eu digo,
o riso borbulhando dentro de mim.
Ela encolhe os ombros, parecendo um pouco
envergonhada.
― Eu não sei como mudar.
Eu rio.
― Eu não mudaria nada em você.
Seus olhos encontram os meus. Há uma
vulnerabilidade lá, e eu vejo uma outra coisa. Esperança?
― Sinto como se te conhecesse há muito tempo ―
diz ela.
― Sim. ― Ela gosta de mim. Ela gosta muito de
mim. De repente, estou cheio de confiança, muito mais
do que tenho estado há um longo tempo. ― Se você
quiser que eu me mantenha longe de você, enquanto
estiver no acampamento, você só precisa falar. ― Faço
uma pausa. Ela não diz nada. ― Mas, se você não me
mandar ficar longe de você, vou continuar tentando
conhecê-la. E então, quando você voltar para a
faculdade, vou levá-la para jantar.
Sua testa franze.
― Um encontro?
― Sim.
― Você é meio arrogante, não é? ― ela pergunta.
― Sim.
― Por que você estava na prisão? ― ela deixa
escapar.
Desta vez sou eu que congelo.
― Achei que você sabia sobre tudo isso.
Ela balança a cabeça.
― Eu sabia que você estava lá, mas eu não sei por
quê.
― Você se importa?
Ela encolhe os ombros.
― O que isso significa?
― Meu pai já foi preso ― ela admite. ― E muitas
pessoas não sabem, então eu agradeceria se você não
espalhasse isso.
― Foi preso por quê?
― As pessoas fazem coisas estúpidas quando estão
desesperadas ― diz ela.
Sim, elas fazem.
― Eu cometi um erro ― eu tento explicar. Mas é
difícil falar porque fiz algo estúpido tentando proteger
um dos meus irmãos. Eu não sei nem como começar a
explicar.
― Você não fez mal a ninguém, não é? ― ela
pergunta e olha para mim com o canto do olho.
― Não ― eu admito. ― Só para mim. E para meus
irmãos, quando fui preso. ― Eu dou um suspiro. ― Eu
decepcionei a todos, inclusive a mim mesmo.
Ela sorri e diz:
― Então, o que nós aprendemos hoje? ― Ela
parece brilhar como um raio de sol e me faz lembrar da
minha professora de ciências da oitava série, aquela pela
qual eu tinha uma paixão enorme.
― Aprendi a nunca segurar você quando você
estiver tentando se afastar de mim.
Ela balança a cabeça e fala muito calmamente:
― Aprendi que eu realmente gosto de partilhar o
meu leite com chocolate com você.
Sinto um nó no estômago.
― Gosto de falar com você ― eu admito.
― Eu também ― ela sussurra.
Eu toco no meu olho novamente.
― Você tem um bom soco. Lembre-me de nunca
me aproximar de você num beco escuro. ― Penso nisso
por um minuto. ― Ou num celeiro escuro.
― Ou numa área de piquenique ensolarada ― ela
resmunga alegremente.
Eu rio.
― Espere até meus irmãos descobrirem que você
me deu um soco.
― Eles vão achar engraçado?
― Quando meu irmão Logan conheceu sua noiva,
Emily, ela lhe deu um soco na cara.
Ela cobre a boca com a ponta dos dedos.
― Oh ― ela respira.
― Ele disse que, se algum dia, um de nós
encontrasse uma garota que nos desse um soco na cara
quando nós merecêssemos, deveríamos nos casar com
ela. ― Eu rio. Eu ainda amo essa história. ― Logan deu
em cima de Emily segundos após conhecê-la, e ela
quebrou seu nariz. ― Eu levanto o meu braço ferido. ―
Você só quebrou o meu braço. Não é exatamente a
mesma coisa.
― Bem, você não estava dando em cima de mim ―
ela diz com uma risada.
― Ah, eu estava ― eu admito. ― Só que sou mais
sutil do que Logan.
― Graças a Deus ― ela sussurra. Levanto minhas
sobrancelhas, o que faz com que ela se apresse em dizer:
― Se você fosse menos sutil, você provavelmente iria
assustar-me à morte. ― Ela sorri. ― Eu gosto do seu
jeito.
― Você quer que eu pare de tentar dar em cima de
você? ― pergunto e espero ansiosamente.
Ela solta um suspiro.
― Não.
― Não fique tão animada com isso ― eu falo.
― Eu não sei o que fazer com todos esses
sentimentos ― ela admite.
― Eu também não.
― Então, o que vamos fazer agora? ― ela
pergunta.
Eu ergo meu braço ferido.
― Acho que preciso de um médico.
Ela corre para colocar a caminhonete de volta na
estrada.
― Eu quase me esqueci que você está ferido!
Eu não esqueci. E eu não vou esquecer de ter
cuidado com ela a partir de agora. Mas ela gosta do jeito
que eu a faço sentir. Isso é um bom começo.
Reagan

O médico diz que seu pulso não está quebrado,


graças a Deus. Só destroncado. Não está nem mesmo
torcido. Ele recomenda que Pete tome um anti-
inflamatório e descanse. Pete parece ficar satisfeito com
isso.
― Você tem certeza de que não quer que eu chame
a polícia para que eles possam prender a pessoa que
agrediu você? ― a enfermeira pergunta. Ela está
flertando com ele desde que passamos pela porta.
― Tenho certeza. Não foi intencional. ― Seus
olhos encontram os meus sobre a cabeça dela, enquanto
ela envolve seu pulso. Suas mãos demoram um pouco
demais na sua, e vejo os olhos dela se estreitarem sobre
seu peito.
― Você é novo na cidade? ― ela pergunta. ― Não
acho que já tenha te visto por aqui antes. ― Ela olha-o
nos olhos e sorri. ― Tenho certeza de que eu iria me
lembrar de você.
Pete sorri para mim e revira os olhos.
― Sou da capital ― ele fala e brinca com seu
piercing. Não consigo tirar meus olhos dos seus lábios,
observando-o enquanto ele brinca com o aro com a
ponta da língua.
― Bem, se você quiser dar um passeio em nossa
cidade pequena, é só me avisar.
― Acho que não vamos precisar ― eu deixo
escapar.
Pete levanta a sobrancelha para mim, mas seus
olhos estão brilhando tanto que posso dizer que ele está
se divertindo.
Corro para continuar. Diminuo o tom da minha voz
para o que eu espero que seja um ronronar sensual.
― Eu realmente não pretendo deixá-lo fora da cama
por tempo suficiente para ver os pontos turísticos. ―
Dou uma risada.
Ela congela.
― Oh, eu não percebi... ― diz ela.
― Eu percebi ― eu atiro de volta. Olho para ela, e
ela tem a decência de corar.
― Eu já volto ― ela murmura e sai correndo do
quarto.
Um ruído borbulha de dentro de Pete. Acho que ele
está segurando o riso. Mas, se for, acho que vou matá-
lo. Então, ele começa a rir, sacudindo os ombros até que
ele cai para trás, deitando na mesa de exames, a barriga
balançando enquanto ele gargalha alto. Levanto-me, sigo
para o seu lado, e olho para ele.
― O que você está achando tão divertido? ―
pergunto.
Ele enxuga as lágrimas dos seus olhos com os nós
dos dedos.
― Por você ter que me salvar da enfermeira ― ele
cacareja. ― Essa merda foi muito engraçada ― ele diz.
Ele ainda está enxugando os olhos, o riso começando a
diminuir. ― Por que você fez isso? ― ele pergunta. ―
Ela era inofensiva.
Olho para a porta, lembrando-me do seu belo
sorriso, cabelos longos e escuros e a personalidade toda
cheia de toques. Eu nunca poderia competir com ela,
pelo menos não com a última parte.
― Ela era tão inofensiva como uma piranha em um
tanque cheio de peixinhos.
Ele ri de novo, soltando uma enorme gargalhada.
Quando ele para, eu percebo o quão perto estou dele. Ele
levanta a mão e aproxima-a para colocá-la em meu
quadril. Mas, faltando poucos centímetros para chegar
lá, ele diz:
― Eu vou tocar em você. ― Sua voz soa muito
suavemente. Meu coração salta. ― Estou te avisando
para você não me bater.
― Onde? ― eu sussurro. Sua mão está realmente
perto do meu quadril, mas eu quero ter certeza. Meu
pulso dispara.
― Não me bata em qualquer lugar ― ele sussurra
de volta, de brincadeira.
Eu reviro meus olhos para ele, mas minhas
entranhas estão em nós.
Sua mão pousa no meu quadril, quente e forte. Não
é intrusiva. Mas eu fecho meus olhos, porque a
sensualidade de seu toque combinado com o calor nos
olhos dele me faz querer correr para longe, muito longe.
Mas não corro, no entanto. Eu o deixo tocar meu
quadril.
― Isso não é tão ruim, não é? ― ele pergunta
baixinho.
Balanço minha cabeça.
― Acho que está tudo bem ― falo em voz baixa.
Eu mal posso respirar, muito menos falar. Ele senta-se e
muito gentilmente me leva para ficar entre as pernas dele
com uma leve pressão na minha cintura.
― Você quer me bater? ― ele pergunta.
Eu balanço minha cabeça e, finalmente, deixo o meu
olhar encontrar o seu.
― Não ― eu digo em voz baixa.
― Se você me batesse, ainda assim teria valido a
pena ― ele fala em voz baixa. Seu nariz toca o meu e
seus lábios estão a poucos centímetros de distância. Eu
coloco minha mão em seu estômago e sinto os músculos
se contraírem. Eu empurro minha mão para trás, mas ele
coloca a sua sobre a minha e pressiona suavemente
contra seu corpo. ― Eu gosto quando você me toca ―
ele diz. ― Você pode fazer isso a hora que quiser.
Ele roça seu nariz delicadamente contra o meu,
dando beijinhos de esquimó. Seus lábios pairam sobre os
meus, mas eles não se aproximam, e eu sinto que eu
poderia afastar o medo de tanto que eu quero que ele me
beije.
― Beije-me ― eu digo.
Ele congela e aperta a mão no meu quadril.
― Não. ― Ele balança a cabeça.
Eu levanto a cabeça e olho em seus olhos.
― Está tudo bem ― eu digo. ― Eu quero tentar.
Ele me coloca de volta na posição de antes.
― Não ― diz ele novamente. Ele balança a cabeça
com ainda mais veemência.
― Por que não? ― Eu não posso acreditar que
estou implorando a este homem para me beijar. Foi a isso
que eu me reduzi?
Ele solta um suspiro.
― Eu não vou te beijar, porque não sei ainda se
você realmente me quer ou se quer beijar alguém que
você acha que não é uma ameaça, para praticar beijos.
― E se for um pouco de ambos?
Ele balança a cabeça, e acho que ele pode estar um
pouco chateado.
― Quando você sentir um desejo irresistível de me
beijar. ― Ele para e dá um tapinha no peito. ― Quando
você quiser beijar Pete ― ele fala. ― Eu vou te beijar. Se
você quiser praticar, você pode encontrar alguém para
ajudá-la.
Não estou entendendo.
― É apenas um beijo.
Ele levanta meu queixo em um aperto suave e me
obriga a olhar em seus olhos.
― Quando eu finalmente beijá-la, vai ser porque
você quer me beijar, Pete, o homem, aquele que olha
para você com olhos de admiração, aquele que tem tanto
medo desses sentimentos tão novos por você, que, às
vezes, ele não consegue respirar; a pessoa que está
morrendo de vontade de te provar. Eu tenho pensado
sobre você quase todos os dias desde que te conheci,
princesa, e não quero tirar você da minha mente. ― Ele
beija a ponta do meu nariz e rapidamente se afasta. ―
Mas, quando eu te beijar, vai ser porque você sente algo
tão grande por mim quanto o que sinto por você.
Não consigo evitar e olho para o seu colo. Ele ri.
― Sim, isso também ― ele diz com uma risada.
― Então, o que vamos fazer agora? ― pergunto.
Eu não posso acreditar. É a primeira vez que eu quis
beijar alguém desde o ataque e ele é muito cavalheiro
para me agarrar.
― Vamos às compras ― diz ele. Ele balança a
cabeça, como se estivesse pensando sobre isso. ―
Temos pressa para voltar para o acampamento?
Eu dou de ombros. Nós provavelmente deveríamos.
― Papai vai ligar para o meu telefone se eu não
voltar em uma ou duas horas.
Ele balança a cabeça e olha para o relógio.
― Está quase na hora do almoço. ― Ele sorri. ―
Acho que está na hora do nosso terceiro encontro.
Reviro os olhos e o sigo para fora da sala de
exames. Meus joelhos ainda estão bambos do nosso
quase beijo. Se ele realmente tivesse me beijado, eu
provavelmente me transformaria em uma poça no chão.
Pete

Eu quero beijá-la. Eu realmente quero muito beijá-la.


Mas não vou. Não até que ela esteja pronta. Não porque
eu acho que ela vai chutar minha bunda, mas porque eu
realmente me preocupo com ela. Na verdade, me
preocupo há muito tempo, mas os últimos dias ao seu
lado só me fizeram desejar conhecê-la ainda mais.
Lembro quando Logan levou Emily para casa, pela
primeira vez. Rimos dele porque ela passou a noite, e ele
sempre tinha muitas mulheres em sua cama, mas ele
nunca, nunca dormia muito. Ele nem sequer fez sexo
com ela, não até semanas mais tarde, e ela dormiu em
sua cama todas as noites. Ele se apaixonou perdidamente
por ela. Imediatamente. Olhando para trás, eu me lembro
de tentar descobrir o que diabos ele estava pensando.
Agora eu entendia. Há algumas meninas com quem você
transa. E há garotas que você deseja tanto, que chega a
doer, mas você se controla porque elas são especiais.
Saímos da caminhonete ao chegar na farmácia e eu
seguro sua mão na minha enquanto caminhamos em
direção à porta. Ela tenta afastar a mão, mas eu não
deixo. Seguro-a firmemente, mas com cuidado. Ela se
assusta e eu sinto medo, por um segundo, de que ela vá
me dar um soco novamente. Mas ela respira fundo, se
acalma e seu aperto relaxa.
― O que vamos comprar? ― ela pergunta e olha
para cima, seus olhos verdes brilhando. Mas eles
parecem cautelosos.
― Preservativos ― eu digo, inexpressivo. Sua boca
abre. Eu me inclino para perto de seu rosto e sussurro:
― Estou brincando. ― Eu ergo meu pulso, a mão que
não está segurando a dela, e digo: ― Eu preciso de
algum tipo de anti-inflamatório.
― Oh ― ela fala, parecendo relaxar. Então, ela
sorri e balança a cabeça.
― Algo errado? ― pergunto. Eu já sei que ela não
tem certeza de como me responder. Quero que ela seja
ela mesma. Não a que foi criada pelo trauma do seu
ataque. Só quero ver a verdadeira Reagan.
Ela balança a cabeça e mordisca o lábio inferior.
― Você tem que parar de fazer isso, princesa ― eu
digo. ― Você está me matando aqui.
Ela fica tensa.
― O quê?
Me aproximo e toco seu lábio inferior com a ponta
do meu polegar. Eu meio que espero que ela vá me
empurrar, mas ela não o faz. Ela sorri e abaixa a cabeça,
o cabelo caindo em seu rosto. Muito lentamente, eu o
afasto e coloco uma mecha atrás de sua orelha. Ela sorri
e desvia o olhar.
― Que tipo de analgésico você quer? ― ela
pergunta, seguindo na direção do corredor, mas eu não
solto sua mão. Eu a sigo para qualquer lugar que ela
queira ir, desde que possa continuar segurando-a.
Eu flexiono a minha mão.
― Eu duvido que alguma coisa vá fazer diferença.
― Amanhã vou me sentir melhor, mas ela já está
olhando a prateleira, procurando o remédio certo. Dou a
volta e colocou um braço em volta da sua cintura. Ela
olha para mim, suas bochechas corando. ― Eu adoro
poder fazer isso com você ― eu falo em voz baixa.
Ela balança a cabeça e morde o lábio inferior
novamente.
― Eu também ― diz ela.
Afasto-me por um minuto e vou até o outro
corredor, para recuperar o fôlego. Tic Tac tem sérias
necessidades de ter um pequeno estoque de pastilhas de
hortelã. Preciso descobrir o nome desse menino, não
posso continuar chamando-o de Tic Tac em minha
cabeça. Pego algumas balas para ele e volto para onde
deixei Reagan. Só que ela não está sozinha quando volto.
Reagan

Quero voltar para o momento tranquilo e calmo que


tive com Pete, mas ele estava em outro corredor quando
Chase me viu debruçada sobre os analgésicos. Ele chama
meu nome e segue em minha direção.
― Reagan ― Chase fala, como se não tivesse me
visto ontem mesmo. ― Estava mesmo pensando em
você.
Ele está sempre cheio de gracinhas. Não consigo
saber se ele está sendo sincero ou não, e essa é uma das
coisas que não gosto nele.
― Oi, Chase ― eu murmuro. Olho para os lados e
não vejo Pete. ― E aí?
― Eu estava prestes a ligar para você. Meu pai tem
ingressos para a festa no clube de campo. Quer ir
comigo?
― Ela estará ocupada amanhã ― alguém fala dos
fundos do corredor. Pete vem em nossa direção, seu
andar lento. Seu corpo parece relaxado, mas sei que não
está. Não de verdade.
― Quem é ele? ― Chase pergunta.
Pete estende a mão para cumprimentá-lo. Chase
olha para ele como se Pete estivesse sujo. Pete afasta a
mão e segura a minha. Eu solto-a e cruzo os braços sob
meus seios.
― Chase, este é o Pete. ― Eu inclino a cabeça em
direção a Chase. ― Pete, este é Chase.
― Prazer em conhecê-lo ― diz Pete.
― Chase e eu fazemos faculdade juntos ― eu falo
rápido.
Pete sorri.
― Sortudo ― diz ele.
As sobrancelhas de Chase levantam. Ele olha para
mim.
― Então, você estará ocupada amanhã à noite? ―
ele pergunta e ignora Pete, o que me irrita. Pete foi
agradável, até agora.
Mas há aço na voz de Pete quando ele responde.
― Eu disse que ela estará ocupada.
Chase flexiona a mão, cerrando-a em punho. Pete
ainda parece relaxado. Mas ele não está. Ele não precisa
de postura para parecer ameaçador da maneira que
Chase precisa. Ele simplesmente é. E é muito mais do
que Chase.
― Eu gostaria de ouvir isso dela.
― Eu... ― começo a dizer.
Mas Pete coloca o braço em volta do meu corpo e
fala:
― Estou tomando a liberdade de falar por ela.
Eu olho para ele.
― Não fale por mim ― eu digo e afasto o braço ao
redor dos meus ombros. ― Você conseguiu tudo que
precisava? ― pergunto.
― Ainda não ― diz ele lentamente. Seus olhos
focam no meu rosto. ― Por que não vou terminar
minhas compras? ― ele pergunta e levanta uma
sobrancelha para mim. Eu concordo. Ele enfia uma
mecha de cabelo atrás da minha orelha antes de se
afastar.
― Quem diabos é ele? ― Chase grunhe. Ele
observa a arrogância orgulhosa de Pete caminhando pelo
corredor até que ele desaparece de vista. Chase olha para
mim.
Eu dou de ombros.
― Ele é um amigo.
― Desde quando você tem amigos assim? ― ele
pergunta, dando um passo em minha direção, e eu dou
um passo para trás, até que minhas costas estão contra
as prateleiras atrás de mim. Eu não gosto de ser
encurralada, mas Chase não sabe disso. Me afasto para o
lado em que não estou cercada.
― Assim como? ― pergunto. Eu sei que ele está se
referindo às tatuagens. Pete caminha até o final do
corredor e acena para nós e, então, pisca para mim. Um
sorriso surge em meus lábios. Dou de ombros
novamente. ― Ele é muito legal.
― Onde você o conheceu?
Eu posso dizer a verdade ou posso mentir. Mas,
então, ouço Pete, que está em outro corredor, começar a
cantar a letra de Jailhouse Rock, de Elvis Presley. Eu
sorrio. Não consigo evitar.
― Ele está ajudando no acampamento esta semana
― eu digo, em vez da verdade. Bem, é uma espécie de
verdade.
― De onde ele é? ― Chase pergunta.
― Nova York ― eu digo.
Pete muda a música de Elvis para AC/DC,
Jailbreak. Solto uma risada alta. Não consigo segurar.
― Seu pai não se incomodou de você sair com ele?
Meu pai também é coberto de tatuagens, mas a
maioria fica oculta por suas roupas.
― Ele gosta de Pete ― eu digo. ― Eu também. ―
Chase coloca um braço na prateleira atrás de mim e
inclina-se para o meu corpo. Eu evito-o de novo, e ele
olha zangado para mim. ― Não me prenda ― advirto.
Ele levanta as duas mãos como se estivesse se
rendendo aos policiais. Mas ele ainda parece curioso.
― Então, amanhã ― diz ele.
― Eu não posso ― eu deixo escapar.
Acho que ouvi uma vaia rápida, seguida de um
"Sim!", do outro lado do corredor, mas não tenho
certeza.
Chase toca meu cotovelo, e faz minha pele arrepiar.
Puxo meu cotovelo para trás.
― Não me toque ― eu digo.
De repente, Pete caminha pelo corredor em direção
a nós. Sua expressão é estrondosa, e eu passo na frente
dele para que ele tenha que passar por mim, antes de
chegar a Chase e esmurrá-lo, como estou supondo que
ele quer fazer. Coloco a mão em seu peito.
― Você está pronto para ir? ― pergunto.
Ele olha para mim, seus olhos perguntando se estou
bem. Sinto suas mãos na minha cintura, deslizando para
as minhas costas e puxando-me para ele. Ele está me
testando. Não quero lutar com ele. Eu admito. Chase faz
minha pele arrepiar, e Pete faz minha pele formigar. Não
é uma sensação totalmente agradável, mas só porque não
posso controlá-la. Ele está muito perto, uma mão no
centro das minhas costas, e outra cheia de balas. Ele dá
um passo em direção a Chase, e Pete e eu estamos tão
próximos que tenho que recuar quando ele dá um passo
à frente.
Repito a minha pergunta.
― Você está pronto para ir?
Ele finalmente olha para mim.
― Já tenho tudo que preciso ― diz ele. Seu tom é
educado.
Limpo minha garganta e viro Pete em direção à
frente da loja, para que possamos pagar os itens que ele
pegou.
― Nos vemos por aí, Chase ― eu falo. Ele acena
para mim. Eu me sinto mal por Chase parecer confuso.
Ele está pegando o seu telefone, enquanto Pete e eu
estamos andando, e já estou esperando que meu pai
receba uma chamada do seu pai. Mas não me importo.
Se meu pai tivesse problemas com Pete, ele certamente
não teria me mandado sair com ele.
Pete vai até o balcão e coloca seus itens ao lado do
caixa. Ele puxa a carteira do bolso de trás e abre-a. Eu
vejo duas embalagens laminadas ali dentro, junto com
seu dinheiro. Meu rosto esquenta. Ele paga e, em
seguida, fecha a carteira, empurrando-a de volta no
bolso de trás. Ele pega a sacola da mão da funcionária e
agradece a ela.
À medida que caminhamos para fora pela porta da
frente, ele entrelaça os dedos nos meus. Eu olho para ele,
piscando por causa do brilho do sol.
― Você realmente precisa aprender a se comportar
― eu digo. Mas não consigo disfarçar uma risada. Eu
simplesmente não posso.
― Jailhouse Rock? Sério?
Ele dá de ombros, mas está sorrindo também.
― Pareceu apropriado.
Dou uma risada tão alta que cubro minha boca,
constrangida.
― Foi muito inadequado ― eu digo.
Ele fica sério e olha para mim depois de entrar na
caminhonete.
― Quem é esse cara? ― ele pergunta.
― Ele é um amigo ― eu digo com um encolher de
ombros. ― Só isso.
― Por que você não disse a ele de onde eu sou? ―
ele pergunta. Ele está esperando com a respiração
suspensa, eu acho.
― Eu disse.
Ele balança a cabeça.
― Você sabe o que eu quero dizer.
― Ele perguntou de onde você é. Eu disse Nova
York. O que mais você queria que eu dissesse a ele?
― A verdade seria um bom começo ― ele
murmura.
― A cadeia é um lugar que você ficou por um
tempo, Pete. Não é de onde você é.
Ele bufa.
― Isso seria algo como os rapazes dizerem que
moram na Cast-A-Way Farms, após ficarem lá por uma
semana.
― Isso não é totalmente certo. ― Ele balança a
cabeça para trás e para a frente como se estivesse
pesando minhas palavras. Em seguida, seus olhos se
estreitam. ― Você não o permitiu tocar você.
― Eu sei ― eu digo em voz baixa. ― Eu não deixo
muitas pessoas me tocarem. ― É melhor eu lhe contar a
verdade. ― Saímos em um encontro. Uma ou duas
vezes ― eu falo.
― Você teve um encontro com ele e não deixa que
ele te toque? ― Ele levanta a sobrancelha para mim.
Eu aceno, perturbada por sua pergunta.
― Bom ― diz ele. Ele sorri.
Eu ligo a caminhonete e coloco minha mão direita
no console entre nós, dirigindo com a esquerda. Seu
braço ferido surge para encostar ao meu lado e seu dedo
mindinho cruza sobre o meu, envolvendo-o. É
confortável. É bom. É inquietante de um jeito estranho e
não sei o que fazer com ele.
― Pare de pensar sobre isso ― ele diz, sorrindo,
enquanto olha para fora da janela. Ele não está nem
olhando para mim.
― Ok ― eu digo em voz baixa. Resolvo colocar
minha mão de volta no lugar.
Meus nervos estão uma bagunça no momento em
que voltamos para o acampamento. Pete olha para mim e
sorri.
― Querida, chegamos! ― ele canta, sorrindo. Mas,
em seguida, rapidamente fica sério. Ele abaixa a cabeça,
arqueando o pescoço, para que possa olhar para o meu
rosto. ― Você ainda está pensando demais, não é? ― ele
pergunta baixinho.
Eu concordo. Pisco furiosamente para afastar as
lágrimas. Ele é tão gentil e tão doce, mas eu pensei sobre
isso por todo o caminho de casa.
― Eu tenho medo que eu não possa ser o que você
precisa que eu seja ― eu digo em voz baixa. ― Eu
simplesmente não posso. ― Eu nunca vou ser normal.
Nunca.
― Você acabou de me conhecer ― diz ele. ―
Como no mundo você pode saber o que eu preciso?
Ele solta minha mão. Sinto-me de repente mais
sozinha do que nunca. Eu olho em seus olhos.
― Eu realmente, realmente quero te beijar ― eu
digo.
Ele sorri.
― Bom.
― Mas e se eu nunca puder fazer isso? ― Nunca
puder beijá-lo vendo o rosto de Pete e não dele.
Pete envolve seus dedos nos meus.
― Isso parece bom? ― ele pergunta.
Não teria parecido bom ontem, mas de repente tudo
parece certo hoje.
― Não.
Ele sacode a mão para trás, como se eu o tivesse
escaldado.
― Espere. ― Eu preciso explicar. ― Não parece
bom. É uma sensação fabulosa.
Sua postura relaxa.
― Você me assustou por um segundo.
Eu procuro sua mão e seguro-a com força.
― Para mim, isso pode ser o mais próximo que
consigo ter no que se refere a relações sexuais, ou aquele
beijo que acho que quero de você.
― Tudo bem ― ele diz, sorrindo. Eu reviro meus
olhos para ele. Seu rosto suaviza. ― Acontece que eu
gosto de ficar de mãos dadas com você, sua boba ― diz
ele. ― Eu gosto muito. ― Ele esfrega a mão pelo rosto.
― Provavelmente, mais do que eu deveria. ― Ele aperta
minha mão. ― Então, se isso é tudo o que você está
preparada para fazer, eu fico feliz. E só isso. ― Ele se
inclina de novo, olhando para o meu rosto. ― Nos
encontramos ontem. A maioria dos homens quer entrar
nas suas calças no prazo de vinte e quatro horas?
Eu dou um suspiro. Ele encontrou-me muito antes
disso, mas, tecnicamente, ele está certo.
― Se for assim, você tem saído com o tipo errado
de homem. ― Ele deixa a minha mão e vira-se para abrir
a porta da caminhonete.
― Pete ― eu chamo.
Ele olha por cima do ombro para mim, sorrindo.
― Reagan ― diz ele, seu tom de voz imitando o
meu. Mas ele levanta a mão. ― Eu sei que você já quer
dormir comigo, Reagan ― diz ele sorrindo. ― Mas, pelo
amor de Deus, eu só te conheci ontem. Dê-me algum
tempo para que eu possa conhecê-la, certo? ― Ele ajusta
sua roupa como se eu estivesse despindo-o com os
meus olhos. ― Eu sou mais do que um pedaço de carne.
Ele ainda está sorrindo, e eu sei que ele está
brincando, mas, de repente, me dou conta do quão tola
estou sendo. Estou deixando minha atração por este
homem ditar minhas ações, e estou levantando paredes.
A semana mal começou e, se continuar assim, vou virar
uma fortaleza. Mas uma coisa é certa: se há alguém que
consegue ultrapassar minhas paredes e me fazer querer
que ele entre, esse alguém é Pete. Porque eu já estou no
meio do caminho.
Pete

O Sr. Caster nos encontra na caminhonete quando


saímos e ele olha meu pulso imobilizado com uma
expressão solene. Mas ele observa a forma como Reagan
olha para mim com uma expressão ainda mais solene.
― Foi tudo bem? ― ele pergunta, seu olhar
passando entre nós dois.
― Só uma entorse ― eu falo, segurando meu braço
para que eu possa flexionar meus dedos. Olho ao redor.
Não vejo nenhuma criança.
― Onde estão todos? ― pergunto.
Ele balança o polegar em direção à piscina.
― Metade das crianças está na piscina. A outra
metade, no estábulo.
― Link ainda está xingando? ― Reagan pergunta,
tenho certeza de que está estremecendo por dentro.
― Sua mãe te salvou quando ela soltou a bomba F
na frente dele. ― Ele sorri. É nítido que ele não está
zangado.
Reagan ri.
― Que bom, fico feliz que posso contar com ela
para salvar o dia.
― Você sempre pode contar com a sua mãe para
xingar mais do que você. ― Ele olha para mim. ― Onde
você deve ficar hoje? Com Gonzo?
Eu não faço nenhuma ideia de onde eu deveria estar.
― Onde você quiser que eu esteja.
Ele acena com a cabeça em direção às cabines dos
conselheiros, que é onde eu vou ficar.
― Confirme com Phil. Acho que ele está com um
grupo de jovens, e pode estar precisando de um adulto
para ajudá-lo. ― Eu aceno com a cabeça. Eu nunca me
considerei um adulto, mas me sinto orgulhoso ao pensar
que ele o faz.
Eu olho para Reagan e viro a minha cabeça para o
lado. Espero que eu pareça um cachorro curioso.
Provavelmente não.
― Te vejo mais tarde? ― pergunto.
A testa do seu pai franze e ele parece quase...
divertido?
Ela acena para mim, corando um pouco enquanto
olha para seu pai.
Sigo na direção das cabines dos conselheiros. Phil
se levanta e pega uma cadeira para mim, me colocando à
sua frente.
― Como está o pulso? ― ele pergunta quando eu
sento e inclino-me para a frente, balançando as mãos
entre os joelhos.
― Só uma entorse ― eu digo. Eu não gosto que
toda a atenção esteja de repente em mim.
Ele sorri e pisca para mim.
― Como você levou um soco no rosto de uma
menina ― ele olha para o grupo ―, estávamos
conversando sobre quantos dos jovens do programa vêm
de lares onde a violência doméstica é algo comum.
― Certo ― eu digo lentamente. Eu não sei como
ele quer que eu contribua com isso.
― Gostaria de saber quantos? ― ele pergunta e
sorri para mim, em encorajamento.
― Eu adoraria saber ― eu respondo, porque
suponho que é o que ele quer ouvir.
Phil comanda o grupo.
― Por favor, levante a mão quem já sofreu
violência doméstica em sua casa. ― Seis em cada dez
mãos sobem. ― Isso pode incluir violência contra sua
mãe, seu pai, seus irmãos. Ou até mesmo seus avós ou
pais adotivos.
Outra mão sobe. Esses meninos não têm famílias
como a minha. Longe disso. Eu estava impregnado de
amor e compaixão, e eles foram criados em meio a
tumulto e raiva.
― Uau ― eu digo. ― Isso é mais do que eu
esperava. ― Eu não sei o que Phil queria que eu fizesse.
Então, só faço perguntas.
― Os seus amigos sabiam sobre a situação de
vocês? Ou vocês os mantiveram afastados disso?
Um dos meninos dá um suspiro.
― Eu não deixaria os meus amigos a cinquenta
metros do meu apartamento.
― Você vai para a casa deles, em vez disso? ―
pergunto.
Ele balança a cabeça.
― Alguns. Há outros que têm famílias como a
minha, por isso, frequentamos muito o parque.
― Você tem amigos com famílias normais, certo?
― pergunto.
Tic Tac zomba.
― A briga é normal ― diz ele. ― Se eu estivesse
em uma casa e não houvesse luta, eu provavelmente
fugiria com medo.
Os meninos riem dele, mas posso dizer pelo jeito
que eles evitam o meu olhar que isso é verdade. Os
problemas é o “normal” deles.
― Quantos de vocês querem ser diferentes quando
crescerem? ― Quatro deles levantam as mãos. ― E
quando tiverem seus próprios filhos? ― pergunto. ―
Vocês gostariam de dar uma vida melhor para os seus
filhos? ― Desta vez, mais quatro mãos sobem.
Phil pergunta:
― Então, vocês acham que seus filhos merecem
mais do que vocês têm? ― Ele se volta para o grupo. ―
O que vocês podem fazer para se certificarem de que
isso aconteça?
― Não engravidar uma cadela, então não precisar
casar com ela ― um deles solta.
― Essa é uma palavra que você usa para descrever
as mulheres? ― pergunto. Olho para ele. Eu não deveria,
mas ele tem que saber isso não é certo.
Ele dá de ombros.
― É isso que elas são.
― Sua mãe é uma puta?
Ele dá de ombros novamente e evita meus olhos.
― Sua filha vai ser uma cadela?
Ele senta-se, neste momento. Ele está ficando na
defensiva, posso dizer. Eu ergo minha mão para detê-lo.
― Toda mulher é filha de alguém. Alguém em casa
a ama. E você desvaloriza a ela e todas as outras do sexo
feminino referindo-se às mulheres como cadelas e putas.
Toda menina é filha de alguém. Você precisa lembrar
disso ao tratar mal uma mulher.
O mesmo garoto sacode a cabeça.
― Algumas bo... ― Ele para e se corrige. ―
Algumas mulheres não querem ser tratadas como a filha
de alguém ― diz ele. ― Se seus pais não são bons, elas
nem sabem como é isso.
Aceno minha cabeça.
― Quando uma mulher cresce, ela aceita o amor
que acha que merece. Você acha que isso é justo? É isso
que você quer para suas próprias filhas? ― Eu olho em
volta.
Um dos rapazes se inclina para frente. Eu tenho sua
atenção, eu acho. Ele me olha diretamente no olho
quando fala:
― Eu vou tratar a minha filha como uma princesa.
Porque, se eu não fizer isso, ela vai agarrar-se ao
primeiro homem que encontrar, mesmo que ele não seja
bom. Minha avó me disse isso. ― Ele enfia a mão no
bolso de trás e tira uma foto. ― Essa é a minha garota
― diz ele. Ele estufa o peito, com orgulho.
Eu me inclino para mais perto, para que eu possa
ver a foto dele. Então, eu estendo a mão e aperto a sua.
― Sua filha agradece. Bem como o homem que se
casar com ela, algum dia.
― Você tem namorada? ― um deles pergunta. Eu
sou, de repente, o centro de sua atenção.
Balanço minha cabeça.
― Não. Acabei de sair da prisão há alguns dias.
― Ele não teve tempo de pegar ninguém ainda ―
diz um menino, e outro bate a mão na dele, como se
estivessem comemorando.
― Eu já peguei o suficiente. ― Faço aspas ao falar
em pegar. ― Pegar não é o que eu quero para mim.
Quero um relacionamento. Quero alguém para
compartilhar minha vida. Alguém para cuidar de mim e
que vai me deixar cuidar dela. Mas, mesmo antes de
tudo isso, eu quero melhorar a mim mesmo, para que eu
seja digno dela.
― Merda ― um deles grunhe. ― Você nem sabe
quem ela é e já está tentando mudar a si mesmo por ela.
Porra. ― Ele acena com as mãos para baixo, como se
quisesse afastar meus pensamentos.
Balanço minha cabeça.
― Eu quero ser melhor para mim. Mas não tenho
nenhuma dúvida de que serei melhor para quem quer que
seja a mulher que vai casar comigo. ― Eu começo a
enumerar em meus dedos. ― Quero ir para a faculdade.
Arranjar um bom trabalho. Quero uma casa. Pode ser
uma casa humilde, mas que seja minha. ― Bato
levemente em meu peito. ― Quero crianças correndo
pela casa, ir para o treino de futebol e, quem sabe, ser o
treinador da liga infantil. Quero segurar a mão de uma
garotinha enquanto ela dança na ponta dos pés em um
tutu. Quero ver meus filhos indo para a faculdade e vê-
los serem melhores do que eu. ― Olho para Phil. ―
Esses são os meus planos.
Ele sorri para mim e balança a cabeça.
― Quantos de vocês têm planos sólidos para
quando saírem? ― pergunta ele.
Os meninos olham uns para os outros.
― Quantos de vocês planejam se formar? ― ele
pergunta.
Só metade deles levanta a mão.
― Quantos de vocês planejam trabalhar?
Todos eles levantam suas mãos.
― Quantos de vocês planejam ter filhos e cuidar
deles?
Só o menino com a imagem em seu bolso levanta a
mão.
― Quantos de vocês usam preservativos quando
estão com alguém? ― Phil pergunta.
Os meninos riem.
Phil ri.
― Então, tem muito mais gente planejando ter
filhos do que eu pensava.
Phil pega uma pilha de cadernos e passa-os ao redor
do círculo. Ele me dá um também, e uma caneta.
― Para o grupo, amanhã, quero que vocês anotem
um plano sólido para quando voltarem para casa.
― Quer dizer, como faculdade e a merda toda? ―
um menino pergunta.
Phil balança a cabeça.
― A faculdade, comprar um peixinho dourado,
casar, conseguir um emprego... escreva sobre algo que
você possa realizar. E diga-me, em uma página ou
menos, o que você pretende fazer para chegar lá.
― Nós temos que compartilhar com o grupo? ―
alguém pergunta.
Phil dá de ombros.
― Só se vocês quiserem.
Os meninos pegam seus cadernos e os guardam em
suas cabines. Paul encerra o grupo, mandando os jovens
para suas tarefas. Ele me impede, porém, com uma mão
no meu ombro.
― Você foi muito bem falando com eles.
Eu dou de ombros.
― Eu tenho vários irmãos. É o que fazemos.
― Alguns desses meninos nunca tiveram uma
presença masculina para ouvi-los.
Eu concordo.
― Imagino.
Olho para o grupo enquanto eles se espalham, indo
fazer suas tarefas.
― Mas eu posso tanto aprender quanto ensiná-los.
Ele aperta meu ombro.
― Sem dúvidas.
― Aonde quer que eu vá agora? ― pergunto.
― Dê uma olhada em Karl. Acho que ele está na
piscina. ― Ele olha para mim.
Eu levanto a perna da minha calça jeans e olho para
a tornozeleira de rastreamento.
― Essa coisa pode ser molhada?
Ele balança a cabeça.
― Esse modelo pode ser submerso, sim. Portanto,
sinta-se livre para mergulhar em qualquer momento. ―
Ele sorri para mim. ― Ei, Pete ― diz ele. ― Hoje à
noite, nós vamos deixar os rapazes utilizarem a piscina.
Eu gostaria que você estivesse lá, no caso de algum
deles querer conversar. Após o jantar, pode tentar ficar
livre?
― Sim, senhor ― eu digo.
Sigo para a piscina. Mas, no último minuto, eu volto
e coloco uma sunga. Não posso evitar de olhar ao redor,
procurando por Reagan, mas ela não está lá. Então,
finalmente a encontro: ela está vestindo um traje de
banho e sentada em uma cadeira de salva-vidas com um
apito entre os lábios.
Não consigo tirar os olhos dela. Ela está observando
a piscina, como uma treinadora profissional. Então, ela
me vê e seu rosto cora.
Deus, como ela é bonita. Eu sou só um cara, então
observo o maiô que ela está usando. É vermelho e cobre
tudo o que deve estar coberto. Mas meus nervos ficam
loucos como se ela estivesse nua. Além do meu pau. Eu
mencionei que sou um cara, certo?
Ela está com as pernas cruzadas e usa um grande
chapéu de palha com abas em sua cabeça, óculos
escuros com armação branca, e seu nariz está coberto
com uma pasta branca. Ela está adorável. Reagan apita e
um dos meninos corre pela lateral da piscina mais
devagar, olhando para ela timidamente.
Algo bate com força em minhas pernas,
machucando meu joelho direto. Olho para trás e vejo
Gonzo sorrindo para mim.
“Você parece como se tivesse estado no lado errado
de uma briga de gangues”, ele fala para mim, por sinais,
e aponta para o meu olho.
Eu dou de ombros.
“Isso é o que acontece quando você agarra uma
menina da maneira errada. Tome nota: algumas delas
podem chutar o seu traseiro”.
“Achei que os meninos estavam mentindo”, diz ele.
Em seguida, ele ri. “Ela realmente bateu em você?”. Ele
olha para Reagan e sorri. “Isso é o que você mereceu por
dar em cima da minha garota. Não diga que não
avisei”. Ele aponta o dedo para mim em sinal de
advertência.
― Por que você não está nadando? ― pergunto,
usando minha voz.
Ele aponta para o pedaço de plástico.
“É meio difícil de respirar quando isso está cheio
de água”.
― Você não pode nadar com essa coisa? Sério?
Seu rosto fica triste. Eu deveria tê-lo deixado
sozinho.
― Então, o que você está fazendo aqui? ―
pergunto. ― Você poderia estar andando a cavalo ou
fazendo algo divertido.
Ele olha para Reagan.
“E deixar de ver suas pernas? Absolutamente não.
Eu vou ficar aqui mesmo”.
Eu rio e balanço a cabeça. O menino é engraçado.
Tenho que dar meu braço a torcer. Puxo uma cadeira
para perto dele e sento.
― Só para você saber ― eu digo. ― Apostei uma
grana nisso. Então, pode parar de sonhar.
“Cara, ela te deu um soco na cara”. Ele ri.
Eu bato levemente em meu peito.
― Eu posso ser encantador quando quero.
“Quando vai começar?”. Ele sorri.
Dou um soco no seu ombro.
― Você tem irmãos? ― pergunto.
Ele balança a cabeça.
“Você deseja o cargo?”
Esse garoto é muito mais espirituoso do que eu teria
imaginado.
― Eu já tenho quatro irmãos, muito obrigado. E,
particularmente, não quero mais.
“Como é ter que muitas pessoas na mesma casa?
Deve ser uma casa grande.”
Balanço minha cabeça.
― Não, na verdade é um pequeno apartamento. ―
Eu dou de ombros. ― Mas cabe todos nós.
“Você sente falta deles?”
Eu concordo. Particularmente de Sam.
― Sim, sinto falta deles. Eu só passei uma noite
com eles antes de ter sido convocado para ser seu porta-
voz.
“Pelo menos eu só falo coisas brilhantes”. Ele dá
um tapinha no peito. “Eu poderia ser chato. O que seria
de você, então?”.
― Minha vida poderia ser pior. Estou sentado perto
de uma enorme piscina, olhando para uma menina bonita
e com um menino que é muito inteligente.
“Cuidado ou vou ficar me achando”. Ele olha para
Reagan. É desejo que vejo em seus olhos?
― Pare de paquerar a minha garota ― advirto.
Ele não afasta o olhar dela, mas agora parece menos
lascivo e mais... necessitado.
“Você acha que...” Suas mãos param de se mover.
― O quê? Fale agora!
“Esquece”.
― O que você estava prestes a dizer? ― pergunto,
virando-me para encará-lo completamente. ― Pergunte.
Eu não vou ser capaz de dormir esta noite a menos que
eu saiba o que está acontecendo na sua cabeça ― eu
provoco.
“Eu estava pensando...” Ele olha para Reagan
novamente. “Você acha que algum dia alguma garota
vai olhar para mim como ela olha para você?”
Eu olho para a cadeira de salva-vidas.
― Como é que ela olha para mim? ― pergunto.
“Como se ela quisesse pular em você”. Ele ri. Mas
posso dizer que isso é sério para ele. Mais sério do que
ele quer que eu saiba.
Toco em sua perna com o meu pé para chamar sua
atenção.
― Essa não é a pergunta que você deveria estar se
fazendo, idiota.
“Estou em uma cadeira, Sr. Mentor. Você acha que
é uma boa ideia me chamar de idiota? Você pode afetar
a minha autoestima”.
Reviro meus olhos.
― Se você tivesse quaisquer problemas de ego, eu
já saberia.
“Esqueça o que perguntei”, ele diz. Ele desvia o
olhar.
― Há uma tampa para cada panela, Karl. Algumas
se encaixam melhor do que outras, mas há uma feita
especialmente para você. Você deve perguntar se ela
será boa o suficiente para você. A cada momento. Não
pergunte a si mesmo se você é bom o suficiente para ela,
porque, quando você encontrar a garota certa, você não
vai duvidar.
Ele sorri. Acho que ele gosta da resposta. De
verdade.
“Então, você acha que ela existe?”
Eu concordo.
― Acho que ela está apenas esperando para
encontrá-lo. Portanto, não estrague tudo por ser um
espertinho.
Ele aponta para si mesmo.
“Eu? Nunca!”
A mãe de Karl se aproxima pelo outro lado da
piscina. Ela está com um balde cheio de água na mão e
está na ponta dos pés, então eu tento não sorrir. Mas não
consigo evitar quando ela despeja a água em suas costas.
Ele se inclina para a frente, fazendo uma careta, mas
também está rindo.
― Isso é o que você ganha por ter sido um merda
esta manhã ― diz ela, com um sorriso. Ah, é dela que
ele puxou o jeito de ser. Gosto ainda mais dela agora. Ela
tira uma pistola de água de trás das suas costas. Ela a
entrega para Gonzo. ― Reagan parece precisar se
refrescar, você não acha? ― Ela pisca para mim.
Gonzo é, de repente, um homem em uma missão.
Ele esconde a arma embaixo da sua perna e vai até onde
Reagan está sentada. Ele para abaixo dela e bate palmas.
Ela olha para ele, sorri e diz algo, mas não posso ouvir o
que ela está dizendo. Ele sorri, tira a pistola de água e
começa a espirrar nela. Ele não atinge seu rosto, mas sua
mira é ótima. Ela coloca as mãos para frente, para se
proteger, e é realmente muito divertido. De repente, a
pistola fica sem água e ela desce a escada da sua cadeira.
Ela tem uma toalha molhada em sua mão, que passa a
bater levemente nele, até que ele empurra a cadeira
contra seu joelho.
― Ai! ― sussurro para mim mesmo, fazendo uma
careta. Mas ele adora. Ele sorri e joga sua arma para
alguém na piscina encher. O tempo todo, ela está
perseguindo-o ao redor da borda da piscina com a
toalha, até que o pai dela aparece e a manda de volta para
a posição. O Sr. Caster aponta seu dedo, e ela finge fazer
beicinho. Então, ela estala a toalha na bunda dele. Ele se
vira, a pega, e joga-a na água. Ela afunda, volta à
superfície e reclama. Seu grande chapéu de palha flutua
ao seu lado e seus óculos afundam.
Isso é engraçado demais. Não consigo parar de rir.
Gargalho até meu estômago doer. Ela olha na minha
direção e estreita os olhos. Ela nada até onde ainda estou
sentado, completamente seco.
― Você está parecendo se divertir, Pete ― diz ela,
que enche a boca com água da piscina e cospe-a no meu
pé. Porra, isso é sexy. Mas, novamente, eu sou um cara.
Nós tendemos a ficar um pouco obcecados com a via
oral. Ela poderia cuspir qualquer outra coisa e eu, ainda
assim, provavelmente acharia sexy.
― O que você vai fazer sobre isso? ― eu pergunto,
inclinando-me para a frente com os cotovelos sobre os
joelhos. Ela parece assustada por um segundo. Então, eu
percebo que ela está tramando. Eu quase posso sentir o
cheiro de queimado em sua cabeça, com suas
engrenagens funcionando a todo vapor. Gonzo se
aproxima do meu lado. Todo mundo deve ter sido
alertado sobre o tubo de traqueostomia de Gonzo porque
ninguém tenta deixá-lo molhado e ele é cuidadoso na
borda da piscina. A próxima coisa que vejo é que ele se
aproxima, mas não é tão cuidadoso como quando foi
com Reagan. Uma explosão de água me bate no rosto.
Coloco minhas mãos para cima, para atrapalhá-lo,
mas ele está se divertindo tanto que não quero detê-lo.
Em vez disso, eu o deixo espirrar a água até esvaziar a
arma. Então, eu enxugo a água dos meus lábios e abro
os olhos. Ela está sorrindo, e Gonzo está quase tão feliz
quanto ela.
― Você mereceu isso ― diz ela.
Eu me levanto e aponto para ela.
― Vou atrás de você, Reagan ― ameaço. Ela grita e
se afasta. Ela parece um pouco em pânico, mas então eu
percebo que ela está se divertindo e ela está em pânico
porque vou afundá-la e não porque vou tocá-la.
Esta merda é como preliminares. Do tipo realmente
boa. Vou até a parte rasa e a persigo até o meio da
piscina. Quero tanto tocá-la que quase não consigo me
segurar.
― Venha aqui, garotinha ― implico. ― Deixe-me
mostrar o que acontece quando você mexe com um
homem de verdade.
Ela ri e afunda. Quando menos espero, ela surge
sorrindo. Vou em sua direção e a alcanço. Ela quase foge
pela direita, mas eu a agarro no último segundo.
Lentamente, puxo-a contra mim. Estamos tão próximos
que posso sentir seu coração batendo contra o meu
peito. Ela olha em meus olhos, e, em seguida, seu olhar
cai para os meus lábios.
― Pete ― ela murmura e balança os pés para se
manter à tona.
― Reagan ― eu zombo.
― Não foi minha culpa ― diz ela, um pouco sem
fôlego. ― Foi Gonzo. Ele planejou a coisa toda.
― Mentirosa ― eu sussurro. Ela ri. Bato na água
com uma mão e a seguro contra mim com a outra. Isto
é tão bom que eu não quero deixá-la ir.
― Reagan ― seu pai grita.
Ela olha para ele, como se estivesse sendo tirada de
um transe. Eu a deixo ir, mas ela não se move para longe
de mim. Seu braço toca o meu.
― Eu quero te beijar ― eu digo impulsivamente, ao
lado da sua orelha. Ela treme levemente.
― É melhor fazer isso em breve ― ela avisa. ―
Ou vou ter que substituí-lo por alguém mais disposto. ―
Ela afasta-se de mim e vai para o lado da piscina, sai e
volta para sua cadeira. Ela cruza suas longas pernas e
seus pés provocam pequenas ondas. Então, ela olha para
mim e fala em voz alta: ― É melhor ser épico, Pete.
Estou te avisando. ― Ela aponta para um lugar ao meu
lado. ― E me jogue meu chapéu.
Pego seu chapéu molhado e o coloco ao lado da
piscina. Mergulho, pego seus óculos e os coloco ao lado
do chapéu. Estou contente por ter algo para fazer porque
não estou pronto para sair da piscina ainda.
Nosso beijo será aquele que acabará com todos os
primeiros beijos para mim. Tenho certeza disso. Só
espero que ela se sinta da mesma maneira.
Reagan

Meu pai está com raiva de mim, tenho certeza. Ele


ficou me olhando a tarde inteira. Pete também, mas de
uma forma completamente diferente. Ele tirou sua
camisa há duas horas mais ou menos e veio em minha
direção com um tubo de protetor solar que a mãe de
Gonzo lhe deu. Papai o interceptou, porém, e o fez virar
para que ele mesmo aplicasse o protetor solar em seus
ombros. Pete deixou. Foi a coisa mais engraçada que já
vi em muito tempo. Quando meu pai terminou, ele deu
um tapa realmente forte no ombro de Pete e empurrou-o
de volta para o grupo de crianças com deficiência
auditiva que tinha acabado de chegar na piscina.
Pete organizou vôlei e basquete aquático, e
observou os meninos jogarem. Minha boca ficou seca
quando ele cortou por fora da água para bater a bola,
saltando bem alto para proteger a bola com seu braço
bom. Seu corpo é incrível e, finalmente, consigo
começar a observar suas tatuagens. Quero tocá-las e ver
até onde elas vão por baixo da sunga que está ao redor
dos seus quadris, e ele tem aqueles gominhos e o
caminho da felicidade que faria qualquer garota esperta
transformar-se em estúpida. Como agora. Não consigo
desviar meus olhos. Quero seguir aquele caminho como
se fosse a estrada de tijolos amarelos. Meu pai é o leão
covarde, porque acho que ele tem muito mais medo dos
meus sentimentos por Pete do que eu. E eu... sou a
bruxa má.
Pete nada e vai para o lado da piscina em frente a
mim.
― Venha nadar comigo ― diz ele, jogando água em
minhas pernas.
― Estou de plantão ― eu falo e apito para um dos
meninos.
Ele balança um polegar por cima do ombro em
direção ao grupo e diz:
― Eles são surdos, sabe? ― Ele ri. ― Seu apito é
bastante ineficaz.
― Então vamos esperar que eles possam nadar.
― Eles estão confinados à parte rasa. ― Ele sorri
para mim.
Eu olho para os meninos. Eles estão olhando para
Pete de onde eles ainda estão jogando a bola.
― Eles gostam de você ― eu digo. Claro que eles
gostam. Todo mundo gosta de Pete. Até mesmo meu pai
gosta dele, embora eu não tenha certeza se ele gosta da
crescente relação entre nós.
― Eles gostam mais de você ― diz ele. ― Eu disse
a eles que estava vindo paquerar a salva-vidas bonita.
Um sorriso surge em meus lábios. Ele acha que eu
sou bonita.
― Você não disse.
― Oh, sim, eu disse. ― Ele sorri, e meu coração
acelera. ― Prepare-se para ser paquerada, salva-vidas.
― Ele ergue-se para fora da piscina, tomando cuidado
com seu pulso ferido quando sobe a escada, e segue em
direção a mim, água escorrendo por seu corpo. Quando
chega perto, ele para e coloca os braços cruzados sobre
meu colo, e olha para mim. ― Você não se importa que
eu te toque, não é? ― ele pergunta.
Meu coração está batendo tão rápido que mal
consigo respirar, mas não é porque sinto medo dele. Ele
me faz sentir coisas que nunca senti antes.
― Aparentemente, minha deusa interior é uma
vagabunda. Sim, eu li Cinquenta tons.
Ele encosta a testa em seus braços dobrados e ri,
seus ombros tremendo. Eu bato no alto da sua cabeça
raspada.
Ele cobre sua cabeça com a mão e olha para cima,
franzindo o cenho para mim.
― Por que fez isso?
― Você riu de mim.
Ele bufa.
― Você estava falando sobre Cinquenta tons. Claro
que eu ri.
Estreito meus olhos para ele.
― Você sabe mesmo de qual livro estou falando?
― Anastasia e qual é o nome dele? ― ele pergunta
com um aceno alegre. ― Eu leio.
Minha boca se abre.
― O último foi o melhor. ― Ele sorri. ― Sua
rendição foi meio que doce.
― Ele não se rende.
― Do que você chama aquilo, então? ― Ele ri. ―
Ele mudou totalmente por ela. E ele a amou
completamente.
Encosto na cadeira e observo o brilho vívido em
seus olhos.
― Você pulou o texto e só leu as partes boas, não
é?
Ele parece ofendido.
― Só porque eu sou bonito não significa que não
sou inteligente. ― Ele ri e levanta minha mão,
entrelaçando os dedos nos meus.
Pete salta quando meu pai entra pelo portão da
piscina. Papai olha para ele, mas ele não afasta sua mão
da minha.
― Reagan ― meu pai grita.
― Sim, papai.
― O pai de Chase acabou de ligar. ― Ele olha para
minha mão entrelaçada com a de Pete e, se raios de
morte disparassem de seus olhos, Pete seria um monte
de cinzas no chão.
― É o cara da farmácia? ― Pete sussurra.
Concordo com a cabeça, desviando meus olhos
para Pete por um segundo.
― O que ele queria? ― Eu já posso adivinhar, e
meu coração afunda.
― Ele disse que Chase chegou em casa falando que
você estava na farmácia com um bandido. ― Ele olha
para Pete, que endurece, a mão apertando a minha.
― Você explicou quem Pete é? ― pergunto. Eu não
quero deixar ninguém equivocado sobre Pete.
― Eu disse a ele que Pete é um carinha que minha
filha está dando em cima, mas que eu não estava
preocupado com isso porque ela é uma garota inteligente
e de respeito. ― Sua voz se eleva nas últimas palavras e
seu olhar é ainda mais feroz para Pete.
― Não estou dando em cima de ninguém ― eu
protesto. Mas estou sim.
Papai me enfrenta.
― Então, do que você chamaria isso?
Eu não sei como chamar, porque não sei o que é.
Dou de ombros. Pete endurece mais quando faço isso do
que desde que meu pai surgiu pelo portão.
― Chase queria saber se você não queria ir à festa
do clube de campo amanhã.
― Eu já lhe disse que não ― respondo. Mas posso
ver o olhar no rosto do meu pai. Isso não vai funcionar.
― Eu disse a ele que você adoraria. ― Ele abre a
porta e para, olhando para mim de cima de seu ombro.
― Ele vai te pegar às seis.
Respiro fundo. Principalmente porque não há muito
mais que eu possa fazer, já que meu pai foi embora. A
porta fecha atrás dele. Puxo minha mão de Pete.
― Aonde você está indo?
― Atrás do meu pai, para dizer a ele que eu não
vou.
― Você quer ir? ― ele pergunta. Ele me observa de
perto, seus olhos azuis piscando lentamente.
― Se eu quisesse ir, não teria dito não. ― Dou um
suspiro.
Ele dá um passo para trás de mim e leva todo o
calor que estava aquecendo-me.
― Acho que você deve ir ― diz ele em voz baixa.
― Por quê? ― pergunto baixinho. Algo está muito,
muito errado. Ele não costuma distanciar-se assim.
― Seu pai quer que você vá ― ele diz com um
encolher de ombros. ― Você não quer irritá-lo.
Ele começa a caminhar em direção ao outro lado da
piscina. Ele fala por sinais com os meninos, e todos eles
começam a arrumar as bolas e se alinham ao lado da
porta.
― Eu te vejo mais tarde ― ele fala em voz baixa.
Em seguida, leva os meninos da área da piscina de volta
para seus alojamentos.
O que fiz de errado? Não faço ideia.
Vejo meu pai entrar pela porta de trás da casa, e
corro para segui-lo. Eu não sei por que ele fez isso, mas
o que ele disse fez Pete sentir raiva de mim, por isso ele
precisa pedir desculpas.
― Papai! ― eu chamo. Ele não se vira para falar
comigo. Apenas continua andando.
Ele está me ignorando agora? Que diabos?
Sigo-o até a cozinha e o vejo olhando para minha
mãe, que parece um pouco confusa.
― Como você pôde fazer isso? ― pergunto. Meu
coração está batendo como um louco, e mal consigo
recuperar o fôlego.
― O que você fez? ― minha mãe pergunta.
Papai dá de ombros e lava as mãos na pia. Ele me
ignora completamente. Mamãe levanta a sobrancelha
para mim.
― Ele chamou Pete de bandido, e, então, disse que
tenho que ir a um encontro com Chase só porque seu pai
ligou e estalou os dedos.
O sorriso curioso de minha mãe se transforma em
uma carranca.
― O quê? ― ela pergunta. Ela agarra o ombro do
meu pai e vira-o para encará-la. ― Você, de todas as
pessoas, chamado Pete de bandido?
― Na cara dele ― grito. ― Então, Pete foi embora.
Nem sei o que ele está pensando.
― Eu sei o que ele está pensando ― murmura meu
pai. Minha mãe faz uma carranca.
― Ele está pensando que você não gosta dele!
Papai faz um zumbido evasivo.
O rosto da mamãe amolece. Ela pode ler papai
como um livro. Eu queria poder fazer isso.
― O quê? ― pergunto olhando de um para o outro.
― Seu pai tem medo que Pete esteja tentando entrar
em suas calças ― diz minha mãe. Ela levanta a
sobrancelha para o papai. Ele apenas olha para ela, sem
um olhar para mim.
Balanço minhas mãos.
― É sério isso? ― eu grito. ― Ele não está
tentando entrar em minhas calças. Ele nem mesmo me
beijou!
― Oh ― minha mãe murmura.
Papai murmura algo, e mamãe esfrega seu ombro,
seus olhos suaves quando olha para ele.
― O quê? ― eu pergunto novamente.
― Seu pai tem medo que seu coração seja partido
― ela diz baixinho e olha com simpatia para o meu pai.
Eu respiro fundo e falo.
― A maioria das meninas começa a ter seu coração
quebrado quando está com dezoito anos mais ou menos.
Às vezes, até aos dezesseis anos ou quando arrumam o
seu primeiro namorado. ― Aponto um dedo em direção
ao meu peito. ― Eu nunca tive um namorado, pai ― eu
falo. Meus olhos se enchem de lágrimas, mas eu pisco,
tentando afastá-las. ― Eu gosto de Pete, e ele é alguém
que você poderia gostar também. Então qual o
problema? Nós nem sequer saímos num encontro!
― Eu o vi olhando para você na piscina. ― Meu
pai solta um suspiro. ― Ele olha para você como eu olho
para a sua mãe. ― Ele ergue o queixo, de modo que
seus olhos encontram os meus. ― Eu a vi e sabia que
ela estava completamente fora do meu alcance, mas eu a
queria mais do que qualquer coisa no mundo. ― Ele olha
para mim. ― E é assim que Pete olha para você. Isso é
o que me assusta, Reagan. Não porque ele é um bandido
ou pobre, ou porque ele esteve na prisão. Ele olha para
você como se ele nunca mais quisesse parar de te olhar.
Eu provavelmente iria preferir que ele estivesse apenas
tentando entrar em suas calças, porque isso é algo que
você pode superar. Mas um homem te amar, isso é
completamente diferente. Você não está pronta para isso.
― Ele encolhe os ombros. ― Você não está.
Sinto como se ele tivesse enfiado uma faca no meu
peito.
― Como você sabe que não estou pronta?
― Eu vi o que aquele idiota fez com você, Reagan
― diz ele. Ele bate com o punho no balcão da cozinha,
fazendo os pratos saltarem. E eu também. ― Vi você
pelos cantos, envolvendo-se em uma bolha protetora
para que ninguém mais pudesse te machucar. Você
aprendeu a proteger o seu corpo, mas ninguém nunca te
ensinou a proteger o seu coração. ― Ele bate seu punho
contra seu peito. ― Você está despreparada para o que
Pete quer. Completamente despreparada.
― O que você quer que eu faça? ― pergunto. Eu
mal posso me ouvir, mas meu pai me ouve.
― Pare com isso antes que seja tarde demais ― ele
grunhe. ― Apenas pare.
― Tudo bem ― eu murmuro ― Você venceu. ―
Viro e saio.
Eu só o conheço há dois dias. Então, por que sinto
como se minha alma já o conhecesse intimamente? Eu
não entendo isso. Talvez meu pai esteja certo.
Pete

Tento não olhar para ela durante todo o jantar. Ela


senta-se com seu irmão e sua mãe, e seu pai não está
aqui. Sua mãe faz sinal para que eu me junte a eles, mas
eu balanço a minha cabeça e me concentro em minha
refeição.
― Por que não está com a Reagan? ― Tic Tac
pergunta ao sentar ao meu lado.
Encolho os ombros. Nem sequer tenho palavras
para descrever.
― Qual é seu nome, cara? ― pergunto.
Ele sorri.
― Edward.
― As pessoas te chamam de Eddie? ― pergunto.
Ele balança a cabeça.
― Só um homem me chamava de Eddie e eu atirei
nele quando o peguei estuprando minha irmãzinha. ― Ele
evita meu olhar. ― Me chame de idiota ou do que você
quiser, mas não me chame de Eddie.
― Ele era o seu pai? ― pergunto.
Ele balança a cabeça.
― Era só um homem que a minha mãe se casou.
― Ele olha para o longe, como se estivesse vendo algo
em sua mente, em vez do que está ao nosso redor.
― Atirei nele ― ele fala e faz um powww com a
boca, como ele fez no ônibus, na primeira vez que
conversamos.
Uau. Nem sei como responder a isso.
― Como está a sua irmã? ― pergunto.
Penso sobre Reagan e em como eu a encontrei.
Nem quero pensar sobre a irmã dele.
― Ela só tinha onze anos ― ele sussurra. ― Onze
malditos anos.
Eu não deveria ter julgado esse garoto quando o
conheci.
― Sinto muito ― eu falo.
― O que me irrita é que ele roubou o que ela
poderia ter sido, sabe?
Eu aceno, mas não, eu não sei.
― Ela vive com sua mãe agora? ― pergunto.
― Não ― ele responde. ― Ela está no sistema.
Minha mãe foi presa também. Drogas, eu acho; foi logo
depois que aconteceu. ― Ele dá de ombros. ― Ela está
em melhor situação, com uma boa família. ― Seus olhos
ficam brilhantes. ― Disseram que eu poderia visitá-la
quando sair. Só uma hora por visita e não posso ficar
sozinho com ela, mas tudo bem. Só preciso ter certeza
de que ela está bem.
Eu concordo.
― Eu não tenho irmãs.
― Sua garota, Reagan ― ele fala. ― Ela parece
conseguir cuidar de si mesma.
― Ela pode chutar minha bunda.
― Você acha que ela me ensinaria alguns desses
movimentos de caratê? ― ele pergunta.
Eu sorrio.
― Você poderia perguntar a ela.
― Eu gostaria que alguém tivesse ensinado a minha
irmã a fazer algo assim. ― Ele afasta o olhar novamente.
Não tenho certeza se teria mudado sua situação,
mas aceno de qualquer maneira.
Edward levanta-se para tirar seu prato e vira para
mim.
― Quando eu sair, você acha que eu poderia
encontrar você e seus irmãos? Phil estava me dizendo
que vocês moram perto de mim.
Eu concordo.
― Não vejo por que não. ― Não conheço bem o
garoto, mas sei que ele esteve em uma situação ruim e
não foi por culpa sua. ― Podemos bater uma bola.
Ele sorri.
― Ok. ― Ele sai para vestir uma sunga. Os rapazes
do programa ganharam a noite de folga. Eles vão usar a
piscina, brincar e ter a chance de serem meninos pelo
resto da noite.
Eu me concentro no meu jantar. Agora que Edward
não está aqui, é mais fácil de engolir. Eu não tenho irmã,
mas tenho uma sobrinha chamada Hayley, e não sou o
único Reed que mataria qualquer um que tentasse
machucá-la. Ela tem cinco anos, e eu não a vejo há
muito tempo. Droga, ela provavelmente nem sequer se
lembra de mim. Mas eu poderia sair daqui hoje e dar a
minha vida pela dela, sem arrependimentos.
A área do jantar começou a esvaziar e percebo que
devo ter estado me lamentando sobre a situação de
Edward por um tempo longo demais. O Sr. Caster senta
na minha frente e descansa os cotovelos sobre a mesa.
Ele solta um suspiro.
― Minha filha não está mais falando comigo.
Não respondo e enfio uma garfada de espaguete na
boca para ter uma desculpa para não o fazer.
― Aparentemente, ela gosta muito de você.
Dou uma mordida no pão. Ainda não falo. A comida
é difícil de engolir.
― A mãe dela também não está falando comigo ―
ele fala e abre um sorriso meio de lado. ― Eu meio que
gosto de fazer sexo com a minha esposa, então achei
melhor vir e desanuviar o ambiente.
Engasgo com o espaguete. Olho para ele enquanto
tento normalizar minha respiração, tossindo em meu
punho fechado.
― As mulheres têm seu próprio jeito de conseguir o
que querem, Pete ― diz ele. ― E minha esposa quer que
Reagan faça suas próprias escolhas. ― Ele inspira e
expira profundamente. ― Acho que ela fez sua escolha.
― Ele aponta o dedo para mim. ― Mas, se você
machucá-la, que Deus me ajude, mas vou te caçar e
fazer coisas que você sequer pode imaginar.
― Sim, senhor ― eu resmungo e limpo minha
garganta.
― Eu acabei de conhecê-la ― eu o lembro.
Ele balança a cabeça.
― Ela o tem na cabeça há dois anos e meio, filho.
Você não acabou de conhecê-la. Você tornou-se seu
herói desde a noite em que cuidou dela. Ela sente uma
conexão com você e você é o único cara que ela
permitiu se aproximar. Então, tudo bem, você tem a
minha benção.
Eu sorrio.
― Obrigado, senhor.
Olho para onde Reagan está, mas ela não está
olhando para mim. Ela está olhando para a mesa.
Termino de comer e me preparo para ir de encontro a
ela, mas, na hora em que chego lá, ela está se levantando
para ir embora.
― Reagan ― eu a chamo.
Ela solta um suspiro e se vira para mim, chutando
uma pedra com a ponta de seu chinelo.
― Posso te ver mais tarde? ― pergunto.
― Por quê? ― ela pergunta e não me olha nos
olhos.
― Ah, que aflição ― murmuro.
Seu olhar encontra o meu.
― Devo implorar seu perdão? ― ela pergunta.
Enfiando os dedos no bolso de trás, ela pega seu
telefone e olha para a tela. Vejo o nome de Chase antes
que ela o leve até sua orelha e diga alô. Ela levanta um
dedo para indicar que eu espere.
Cerro os dentes e espero.
― Vejo você amanhã, Chase ― ela finalmente diz.
Sua voz é baixa, mas eu a ouço.
Ela vai sair com ele? Sério? Eu sei que eu disse a
ela, mas... Deus. Fodi tudo.
― O que você precisa? ― ela pergunta enquanto
enfia seu telefone de volta no bolso traseiro.
Sinto como se ela tivesse me dado um soco no
estômago. Eu não deveria me sentir assim, mas não
consigo evitar.
― Você vai sair com aquele idiota? ― pergunto.
Ela inala profundamente com os olhos fechados,
como se estivesse fortalecendo-se antes de falar.
― Você me disse para sair com ele, Pete ― diz ela.
Eu concordo.
― Sim. ― Ela está certa. Eu sou um idiota. ―
Você pretende seguir tudo o que eu disser?
Ela revira os olhos para mim. Eu nunca vi ninguém
revirar os olhos e parecer tão irritantemente adorável. Eu
sorrio, não consigo evitar.
― O que é tão engraçado? ― ela pergunta,
apoiando os punhos em seus quadris enquanto olha pra
mim.
― Isto é tão fodido ― murmuro, mais para mim do
que para ela.
Mas ela me ouve, e parece magoada. Posso ver em
seu rosto.
― Eu não quis dizer isso de você ― eu falo.
Ela inclina a cabeça para o lado, estreitando os olhos
para mim.
― Então, o que você quis dizer, Pete?
― Eu quis dizer esta situação. ― Faço um gesto de
mim para ela e vice-versa. ― Essa coisa toda teve um
timing terrível.
Ela segue até o lixo e joga o prato fora. Eu a sigo.
Ela para e gira em minha direção muito rapidamente,
tropeçando e quase caindo sobre mim. Ela dá um passo
para trás quando me aproximo para estabilizá-la. Ela sorri
e balança a cabeça.
― Isso realmente é fodido ― ela fala e solta um
risinho.
― Então, Chase é o cara, não é? ― eu falo. Sou
um idiota, eu sei.
― Ele é o cara que eu tenho que sair ― diz ela,
soprando a franja da testa.
― Você pode cancelar? ― pergunto. A esperança
floresce em mim.
Ela balança a cabeça.
― Tentei não cancelar, mas você me disse que não
― ela me lembra.
― Eu estava com raiva. Sinto muito. ― Se há uma
coisa que posso fazer bem, é pedir desculpas. ― Seu pai
fez um ótimo trabalho, dizendo-lhe que não sou bom o
suficiente para você, e, por um minuto, concordei com
ele. ― Desta vez, sou eu que chuto uma pedrinha.
Tenho medo do que vou ver se olhar para ela.
― Eu quero tentar algo com você ― diz ela
calmamente. Ela está tão, mas tão perto, que posso
sentir sua respiração contra a minha camisa. É quente e
úmida. Meu coração começa a bater forte. ― Posso
tocar em você? ― ela pergunta e coloca a mão no meu
estômago.
― Sim, por favor ― eu grunho. Limpo minha
garganta, e ela ri.
A outra mão para ao lado da primeira e, em seguida,
vai para o leste, enquanto a outra para o oeste, até que
suas mãos envolvem minhas costas. Ela prende as mãos
atrás de mim e coloca o rosto dela contra minha camisa,
esfregando o rosto no meu peitoral esquerdo.
― Abrace-me também ― diz ela, calmamente.
Passo meus braços ao seu redor, com cuidado para
ser suave, lento, com calma e cuidado. Ela exala
pesadamente e eu descanso meu queixo no alto da sua
cabeça. Nesse segundo, sei que meu coração é dela.
Digo a mim mesmo que ela só está pegando um pequeno
pedaço, mas essa é uma porra de uma mentira. Ela terá
pego a coisa toda até que eu volte para Nova York. Ela
me desfaz com seu afeto simples. E não sei como me
comportar, então eu só a abraço. Eu a seguro e deixo-a
respirar, enquanto aproveito a sensação de tê-la em meus
braços. Quero levantar seu rosto e pressionar meus
lábios nos dela, mas não tenho certeza de que seria mais
gratificante do que esse silêncio. Ele é cheio de
possibilidades. Para mim, é cheio de saudades, e para
ela, provavelmente, é diferente. Abro os olhos e olho
para cima. Sua mãe está ali, com a boca aberta. Ela a
fecha e sorri, levantando um polegar. Sorrio de volta,
não consigo evitar.
Ponho a mão na parte de trás da sua cabeça e
acaricio o comprimento do cabelo de Reagan.
― Você não faz ideia de há quanto tempo desejo
tocar você ― eu digo em voz baixa.
― Você não tem ideia de há quanto tempo eu desejo
ser tocada ― diz ela. Posso sentir as palavras contra o
meu peito.
Ela inala profundamente e se afasta. O ar frio sopra
onde seu calor estava, e eu quero puxá-la de volta para
mim.
― Eu te vejo mais tarde, Pete ― diz ela.
― Você está bem? ― pergunto.
― Honestamente, estou um pouco sobrecarregada,
e tenho algumas coisas para pensar. ― Ela olha para
mim, mas seus olhos estão obscurecidos por algo que
não entendo. ― Eu preciso de algum tempo para mim.
Eu concordo. Não sei por quê.
― Posso fazer alguma coisa por você? ― pergunto
e enfio seu cabelo atrás da orelha.
Ela balança a cabeça.
― Acho que não. Vou fazer uma pausa.
Ela dá um tapinha no meu peito, e então vai embora.
Ela vai para dentro da casa, e não sai mais. Ela não volta
para ficar de salva-vidas para o grupo de jovens
infratores na piscina. Não volta para assar
marshmallows. Não vai ver seu cavalo, nem na manhã
seguinte participa dos eventos com os campistas. Ela
não sai mais até a noite seguinte, quando um Mustang
amarelo para na frente da casa. Chase Gerald sai e vai
buscar minha garota. Então, ela finalmente sai. Na porra
do seu braço.
Reagan

Eu precisava de tempo para colocar minha cabeça


no lugar. Ainda estou confusa, mas me sinto um pouco
melhor do que antes. Calço minhas sandálias e puxo o
vestido para baixo. Eu não costumo usar vestido, mas
esta noite é chique. É um jantar no clube de campo. Não
é black-tie, mas é realmente arrumado. Estou usando um
vestido que envolve meu corpo, principalmente nos
quadris. É justo, mas não muito. Viro-me e observo
minha bunda no espelho. Pareço bem. Arrumo meu
cabelo em um coque bagunçado, de modo que ele está
preso e algumas mechas caem no meu pescoço. Pinto
meus olhos com delineador e máscara de cílios e aplico
um pouco de blush. Passei o verão no sol, então tenho
certeza de que não preciso de muito mais do que isso.
Uma batida soa na minha porta, e minha mãe enfia a
cabeça para dentro. Ela está enxugando as mãos em um
pano de prato e assovia para mim.
― Você está bonita ― diz ela, balançando a cabeça
em apreciação. Ela caminha até a minha caixa de joias e
abre-a. ― Quer usar o pingente da sua avó? ― ela
pergunta. Eu ainda não tinha pensado sobre a joia.
Eu me viro, e ela coloca o colar em volta do meu
pescoço. Inclino-me e deixo-o oscilar. Coloco umas
pulseiras, empurrando-as por meu braço. Elas vão cair
em um segundo, mas deixam a minha aparência bonita.
Eu afasto minhas mãos para o lado.
― Eu pareço uma garota normal? ― pergunto.
Seu rosto suaviza.
― Querida, você é uma menina normal ― ela diz
suavemente e estreita os olhos para mim. ― Por que
você está saindo com ele? ― ela pergunta.
― Porque eu não pude cancelar ― admito. ― E
agora não quero dar o bolo em Chase.
Ela balança a cabeça.
― Não é dele que você gosta, não é? ― ela
pergunta.
Eu dou de ombros.
― Eu não sei. Nunca lhe dei uma chance para que
eu pudesse descobrir.
Ela não diz nada. Minha mãe é assim. Ela é calma
quando a situação pede calma, e ela tem muito a dizer
quando a situação pede por isso, também.
― Seu pai não deveria ter obrigado você a ir neste
encontro.
Balanço minha cabeça.
― E se ele estiver certo? E se Chase for o cara
certo para mim? Não vou saber até me dar a chance de
descobrir. ― Eu dou um suspiro.
― O coração quer o que o coração quer, Reagan ―
diz ela.
Eu rio, mas não há nenhum humor no som.
― O que isso significa exatamente?
― Acho que você já sabe o que significa. ― Ela se
senta na beira da minha cama. ― Este Pete ― diz ela ―,
você confia nele, certo?
― Tanto quanto eu posso confiar em alguém que
conheci há três dias ― eu digo levianamente. Mas Pete é
mais do que isso, e eu sei.
― Seu coração o conhece há muito tempo ― diz
ela.
― Meu coração não funciona como o coração de
todo mundo ― resmungo. ― Não posso confiar nele
para me levar a lugar algum.
― Oh, Reagan. ― Ela respira suavemente. ―
Odeio o que esse homem fez com você. Já se passaram
mais de dois anos e você ainda não confia em si mesma
para seguir em frente com sua vida. É como se você
estivesse presa naquele momento, quando ele te
machucou.
― Você não sabe o que sinto, mãe ― eu digo em
voz baixa, em sinal de advertência. Ela não pode falar
sobre isso. Ela não passou por isso.
― Você sabia que uma em cada cinco meninas em
idade universitária é violentada durante a sua jornada
universitária? ― ela pergunta. ― Uma em cada cinco,
Reagan! ― ela grita.
― E? ― pergunto. ― A vida continua, é que o que
você está dizendo? ― Minha vida não foi em frente.
Fiquei presa naquele momento. Até Pete. ― Pete me faz
querer coisas que me assustam ― eu admito.
― Isso é o que o amor faz, Reagan. É emocionante
e assustador pra caramba e faz o seu coração bater forte
e seu interior doer. ― Ela para e olha para mim. ―
Esses sentimentos são normais. O que não é normal é o
que aconteceu com você e como você fechou-se para
proteger o seu coração.
― Bem, meu coração está oficialmente em perigo.
― Então, é ele ― ela me lembra.
Em nenhum momento, parei para considerar meus
sentimentos por Pete. Considerei apenas meus
sentimentos. Minhas necessidades e desejos. Mas não
considerei os dele. E se ele não me beijou porque tem
medo de que eu o magoe? E se ele não me quiser da
mesma forma que eu o quero? E se ele me quiser, mas
tem medo de me tocar porque posso ficar louca? E se? E
se? E se?
― O coração de Pete é bom e gentil ― falo. ― É
só isso que eu sei.
Ela sorri.
― Já é um começo.
Meu pai grita para mim, do andar de baixo.
― Reagan! Chase está aqui!
Mamãe se levanta.
― Confie em seu coração, Reagan ― diz ela.
Ela me beija na testa e caminha na minha frente. Na
parte de baixo da escada, vejo Chase olhando para mim.
Seus olhos verdes não são os que quero ver, mas preciso
tentar, certo? Preciso dar uma chance.
― Oi, Chase ― murmuro.
― Reagan ― diz ele. Ele é todo sorrisos e requebra
os quadris. ― Você está pronta para uma dança?
― Claro ― eu digo com um sorriso. ― Parece
divertido.
Seguro em seu braço à medida que caminhamos
para fora. Ele abre a porta do seu desagradável carro
amarelo e eu entro. Seu olhar vagueia pela minha coxa
onde meu vestido termina e eu o puxo para baixo. Ele
sorri e fecha a porta. Em seguida, ele senta no banco do
motorista e sai da garagem, levantando as pedrinhas no
caminho.
Pete

Olho para o meu relógio novamente e, então, para a


calçada. Reagan ainda não está em casa e já se passaram
quatro horas. Isso é muito tempo para jantar e dançar,
não é? Por que ela não está em casa ainda?
Ouço o barulho do motor do Mustang, em alto e
bom som, e meu corpo estremece. Levanto-me de onde
estava sentado conversando com alguns dos rapazes do
programa e começo a andar. Está escuro lá fora e as
luzes estão acesas na frente da casa. Posso ver o carro,
mas não muito claramente.
― Volto já ― falo em voz baixa. Os meninos
sorriem e um balança a cabeça. ― O quê? ― pergunto.
― Nada ― diz ele, sorrindo. ― Você é um filho da
puta apaixonado, sabe disso?
Sim, eu sei e não me importo. Ando devagar em
direção à frente da casa e paro junto aos arbustos,
escondido nas sombras. O carro para, mas não é o
babaca que sai do banco do motorista. É Reagan. Seu
cabelo está uma bagunça, caindo por suas costas em
ondas emaranhadas. Quando ela saiu, ele estava preso
num nó chique. Seu vestido está caído no ombro e ela
arruma a alça antes de entrar em casa. Ela para e arruma
o cabelo também e carrega as sandálias pelas tiras.
Que porra é essa?
De repente, um segundo carro para na frente do
primeiro e Reagan vira. Ela coloca as mãos sobre os
olhos e olha em direção à luz do farol. Ela vira e eu vejo
Chase sair do lado do passageiro do outro carro. Reagan
nem sequer para para falar com ele. Ela entra em casa e
bate a porta. O ruído reverbera ao redor do pátio.
Chase manca até seu carro. Onde estou, a
escuridão é grande e mal consigo pensar, muito menos
ver. Ele fez algo com ela, ou ela não estaria tão irritada.
Avanço sobre ele e o assusto quando o empurro para a
lateral do carro e ameaço bater com meu punho em seu
rosto.
― Que porra é essa que você fez com ela? ―
pergunto, meu rosto a poucos centímetros do seu.
― Não fiz nada para ela ― ele protesta.
― Você fez alguma coisa ou ela não estaria tão
irritada. ― Eu o seguro contra o carro. Se eu não fizer
isso, vou ter que bater nele, e eu realmente quero ouvir a
história antes de bater nele. Eu quero ouvi-lo dizer que
está arrependido, antes de matá-lo.
― Eu não fiz nada ― ele jura, estendendo as mãos
como se estivesse se rendendo. É quando noto que ele
tem uma mancha de sangue sob o nariz. Eu puxo-o em
direção à luz. Seu nariz estava definitivamente sangrando
porque há sangue em sua camisa. Meu coração
estremece ao pensar nisso.
― Você tem até eu contar até três ― eu digo. Mas
antes que eu possa sequer começar a contagem
regressiva, ele deixa escapar a verdade. ― Estávamos
dançando, e eu estava tocando-a...
― Tocando-a onde? ― eu rosno. Juro por Deus,
vou matar esse merda.
― Apenas segurando-a enquanto nós dançávamos
― diz ele. Mas ele não olha nos meus olhos.
― E?
― E ― diz ele lentamente. ― Talvez eu tenha
encostado em seu seio uma ou duas vezes. Então, a
próxima coisa que eu vi foi quando ela me deu um soco
na cara. Aí, ela deu uma joelhada no meu saco e, quando
me inclinei para protegê-los, ela bateu meu queixo em
seu joelho. ― Ele imita seus movimentos, e posso
imaginar exatamente o que ela fez com ele. O riso
borbulha dentro de mim. Mas ele não terminou ainda. ―
Então, ela apertou o salto do sapato em minhas bolas
enquanto eu estava deitado no chão e apertou com força
até que eu lhe dei as chaves do carro. Aí, ela roubou
meu carro. ― Ele aponta para a estrada para o outro
carro que o largou ali e foi embora. ― Tive que buscar o
meu amigo para me trazer aqui.
Ela roubou a porra do carro depois de ela bater nele.
Eu começo a rir. Não consigo evitar. Rio na cara dele.
Não preciso fazer nada, ela já fez o suficiente. Ela
castrou-o completamente.
― Tem certeza de que tudo o que você fez foi
tocar seu seio? ― pergunto.
― Isso é tudo. Eu juro. ― O imbecil ainda está
agarrando suas bolas e me olhando como se estivesse
pensando quando eu o deixaria ir. ― Essa merda dói,
cara.
Eu rio ainda mais.
― Tenho certeza de que sim.
― Essa cadela é louca ― ele fala, olhando para a
casa.
― Vou dizer a ela que você disse isso. ― Rio ainda
mais. Não posso nem o repreender por chamá-la de
cadela, não depois de tudo o que ela fez com ele.
― Por favor, não ― ele implora. ― Meu pai vai me
matar se seu pai ficar com raiva de mim.
― Tarde demais ― uma voz chama da porta da
frente. Seu pai surge na direção da luz. ― Oi, Pete ―
diz ele, sorrindo para mim.
― Oi, Sr. Caster ― eu digo, acenando para ele
alegremente.
― Oi, Chase ― diz ele.
Chase é inteligente o suficiente para pressionar os
lábios e não dizer uma palavra.
― Você pode ir agora, Chase ― o Sr. Caster
instrui, e Chase luta para entrar no carro. Ele levanta o
cascalho ao se afastar.
O Sr. Caster sorri para mim.
― Eu não podia sequer bater no pobre bastardo
depois do que ela fez com ele ― admite ele com uma
risada.
― Nem eu ― eu falo. Não teria sido justo. ―
Reagan está bem? ― pergunto. Eu realmente quero vê-
la.
― Ela está puta ― ele fala e balança o polegar em
direção ao celeiro.
Olho ansiosamente em direção à área em que ele
apontou.
― O que você está esperando, meu filho? ―
pergunta ele. ― Vá!
Eu sorrio e alcanço sua mão. Ele aperta a minha e
sorri.
― Obrigado, Sr. Caster ― eu digo, e corro para o
celeiro.
Abro a porta e encontro-a de pé, no meio do
corredor. Ela ainda está usando o belo vestido, mas
trocou as sandálias de tiras por botas e seu cabelo está
solto sobre os ombros. Seu cão rosna ao me ver, então,
quando me aproximo, ela chama Maggie, que se deita a
seus pés.
― O que você quer? ― Reagan grunhe para mim.
― Você quis beijá-lo? ― pergunto. Eu espero,
incapaz de respirar até ouvir sua resposta.
Ela olha para mim por um momento e, em seguida,
balança a cabeça, e isso é tudo o que eu preciso ver.
Reagan

Estou tão chateada que mal consigo enxergar


direito, e Pete quer saber se eu beijei Chase Gerald? É
sério?
Ele corre em minha direção e me segura em seus
braços, puxando-me contra ele. Ele olha para o meu
rosto.
― Eu vou te beijar ― ele adverte.
Empurro-o, mas é como empurrar uma parede de
tijolos.
― Pare com isso, Pete ― eu falo. ― Você está
sendo ridículo.
Ele me segura firmemente, porém, e coloca as
mãos no meu traseiro, levantando-me contra ele. Então,
ele me empurra contra a parede da baia. Pete desliza um
joelho entre minhas pernas para me segurar, seu pé
descansa ao lado de um saco de ração e ele toma meu
rosto em suas mãos. Sua respiração cheira a bala e a
Pete e faz cócegas em meus lábios.
― Reagan. ― Ele respira suavemente. Não é mais
do que um murmúrio, mas ele poderia muito bem ter
gritado. Meu coração bate tão alto que posso ouvi-lo e
sei que ele pode sentir.
― Pete ― eu falo. Suas mãos tocam os cabelos em
minhas têmporas e seus polegares inclinam meu rosto
para que seus lábios se aproximem dos meus. ― Por
favor, me beije.
Seus lábios finalmente encostam nos meus,
delicadamente, no início. Sua boca está fechada e ele
espera, com olhos abertos e encarando os meus,
enquanto testa minha boca timidamente. Ela é macia e
suave, mas eu não quero suavidade. Lambo seus lábios,
que se abrem para mim. Sua língua invade a minha boca
e se enrola na minha. Suas mãos seguram meu rosto,
enquanto ele assume o beijo, gemendo baixo enquanto
me toca. Oh, meu Deus, ele está me tocando. Ele me
lambe, sua língua deslizando na minha, saindo e entrando
da minha boca. Minha respiração fica acelerada, como a
dele. Encaixo meu corpo em sua perna, pressionando
minha feminilidade coberta pelo vestido e pela calcinha
contra ele. Meu clitóris estremece como louco e não
consigo sequer pensar em outra coisa além de aliviar esta
sensação que ele desperta em mim. Sua língua sai de
dentro da minha boca, mas não quero que ele vá.
Um gemido que nem parece um som humano sai da
minha boca e eu puxo-o de volta para que eu possa
sugar seu lábio inferior. Passo a língua em seu piercing e
ele grunhe baixinho. Balanço contra sua coxa e ele afasta
as mãos do meu rosto e coloca-as sobre meus quadris,
para que ele possa me puxar para frente. Ele pressiona o
ponto certo e eu levanto meu rosto para suspirar,
tentando encentrar fôlego suficiente para manter meu
coração batendo, enquanto minha cabeça apoia contra a
porta da baia. Ele está suportando todo o meu peso, já
que minhas pernas não são capazes de me apoiar. Seus
lábios acariciam meu queixo, seguindo para o meu
pescoço, e ele olha em meus olhos ao segurar meus
quadris com força. Suas mãos são quentes e firmes
quando ele chega à minha cintura, apertando-a
suavemente, sem nem pedir permissão, mas ele a tem.
Não há nenhuma dúvida sobre isso.
Ele me encara enquanto levanta as mãos em direção
ao meu sutiã, seu polegar acariciando meu mamilo.
Tomo sua mão na minha e pressiono-a com mais firmeza
contra meu peito. Ele geme e congela, então, para,
inspirando e expirando. Seguro seu rosto com minhas
mãos e o puxo de volta para mim, mas ele afasta.
― Só um segundo ― ele implora. ― Só preciso de
um segundo. ― Sua respiração está tão acelerada quanto
a minha.
Mas eu não quero dar-lhe um segundo. Puxo a taça
do meu sutiã para baixo e meu seio fica de fora, exposto
para ele. Pete inclina a cabeça e coloca o meu mamilo em
sua boca. Ele geme enquanto o suga, seus lábios firmes
contra a carne sensível. Não consigo pensar. Não
consigo nem mesmo parar os gemidos que saem da
minha garganta.
― Pete ― eu sussurro. Ele agarra minha bunda e
me puxa mais para frente, enquanto empurra a minha
barriga para que eu me apoie contra a porta da baia. Ele
olha para a minha calcinha, e eu posso ver a mancha
molhada sobre o tecido rosa. Eu fecho meus olhos.
Ele segura meu queixo com sua mão esquerda e faz
com que eu olhe para ele.
― Abra os olhos ― diz ele.
Balanço minha cabeça.
Ele se afasta de mim.
― Não! Não ― eu choro. Preciso dele e não sei o
que fazer com essa necessidade. ― Estou com medo ―
eu digo em voz baixa. Não tenho medo de Pete. Tenho
medo de mim mesma. Porque eu faria qualquer coisa
que ele me pedisse para fazer agora.
Seu polegar acaricia a frente da minha calcinha, e
minha boca abre com a sensação. Ninguém jamais me
tocou assim antes. Nunca com mãos tão
pecaminosamente macias e doces. Seu polegar pressiona
minha calcinha em minha abertura e ele acaricia meu
clitóris. Ele me beija, e eu respiro contra seus lábios.
― Posso colocar minha mão dentro de sua
calcinha? ― ele pergunta e mordisca minha orelha.
Quando ele faz isso, eu grito. Concordo com a cabeça
em seu pescoço, o mais colada nele que eu consigo.
Sinto sua mão deslizar dentro da minha calcinha,
tocando minha pele, e eu pressiono meu corpo contra o
dele, dando-lhe mais acesso. ― Tão molhada ― ele fala.
Fecho meus olhos, enquanto seus dedos trilham
minha umidade, e, em seguida, ele acha o botão do
prazer que está trêmulo desde o momento em que seus
lábios tocaram os meus.
Ele pressiona a ponta do seu dedo médio contra
mim, seu toque suave, mas insistente.
― Pete ― eu murmuro.
― Reagan ― ele sussurra e me beija de novo. Eu
não posso pensar. Não posso falar. Só posso sentir o
prazer que ele me dá. ― Goza para mim, Reagan. ― Ele
respira contra os meus lábios.
Então, quebro em milhões de pedaços. Mordisco o
lábio inferior quando gozo, e ele rosna, enfiando a língua
na minha boca enquanto absorve o meu tremor, cada
suspiro meu. Balanço contra sua mão, pressionando
contra ele enquanto ele me acaricia. Enfio minha cabeça
em seu ombro, meus braços em volta do seu pescoço,
enquanto ele arranca a última gota de prazer do meu
corpo até que eu estou exausta contra ele, ainda trêmula,
ainda fraca, ainda... apaixonada por ele. Suspiro em seu
pescoço, e ele geme. Quando meu corpo se firma, ele
puxa a mão da minha calcinha, me levanta para que
minhas pernas envolvam seus quadris, e se levanta. Em
seguida, ele se senta em um fardo de feno comigo
montada em seu colo.
Ele me segura firmemente contra ele enquanto volto
a mim. Quando consigo levantar a cabeça, sento e olho
em seus olhos azuis.
― Que diabos foi isso? ― pergunto e rio. Não
consigo segurar, mas jamais pensei que me sentiria livre
assim.
Ele me puxa para ele e me envolve em um abraço
apertado.
― Isso, minha querida Reagan, foi um puta de um
primeiro beijo.
― Épico ― murmuro. E então, eu rio. Só porque
eu posso.
Pete

Jesus Cristo, essa foi a coisa mais sexy que já vi,


fiz ou até mesmo imaginei. Estive com várias garotas,
mas nunca fiz uma garota chegar ao auge como Reagan.
Puxei-a contra mim, sua pele contra a minha camisa. Ela
é quente e macia e é tão gostoso senti-la sobre mim que
corro risco de gozar nas calças. Seguro-a contra mim,
mas então ela senta, me encara e diz:
― Que diabos foi isso?
Isso foi um orgasmo. Um muito, muito bom, se
seus gritos, o modo como ela chamou meu nome várias
e várias vezes e o modo como ela tremeu em meus
braços servem de indicação.
― Isso, minha querida Reagan ― eu falo, tentando
bancar o irreverente, mas estou emocionado como
jamais estive. ― Foi um puta de um primeiro beijo.
Seu corpo estremece e me preocupo que ela esteja
chorando, mas ela não está. Ela está rindo. Gargalhando,
na verdade.
― Épico! ― ela grita. Então, ela ri novamente.
Joga a cabeça para trás, seus cabelos caindo na altura da
sua bunda. Olho para baixo, para os seus seios que ainda
estão descobertos, seus mamilos atrevidos, eriçados e...
nus. Deus, seus seios são lindos. Olho para o rosto dela,
porque não posso mais olhar para seus seios. Eu a
quero. Quero muito. Mas ela não está pronta para o que
eu quero. Tenho certeza disso. Ela não está. Deslizo o
dedo para a borda do sutiã e levanto-o para cobri-la. Ela
olha para baixo e ruboriza. Ela simplesmente gozou na
minha mão e agora está tímida?
― Você está bem? ― pergunto, afastando o cabelo
suado da testa.
Ela balança a cabeça, mordendo o lábio inferior. Não
consigo me segurar, eu sou um cara. E estou tão duro
que poderia martelar pregos com meu pau.
― Estou muito bem ― ela diz baixinho. Uma
lágrima se forma no canto dos seus olhos, mas ela pisca
para afastá-las. ― Pete ― ela me chama. ― Posso te
perguntar algo?
― Qualquer coisa ― sussurro. Puxo-a para baixo
contra meu peito e acaricio o comprimento do seu
cabelo.
― Você gostaria de sair comigo quando voltarmos
para a cidade? ― ela pergunta.
O riso borbulha dentro de mim. Ela gozou sentada
na minha perna, com a minha mão dentro da sua
calcinha e está preocupada se vou levá-la para sair.
― É claro ― eu falo. ― É tudo o que eu quero. ―
Bem, eu também gostaria de gozar dentro dela, mas
posso esperar. Posso esperar para quando ela estiver
pronta.
― Isso foi um orgasmo? ― ela sussurra. Imagino
que ela esteja sorrindo contra meu peito, porque posso
ouvi-lo em sua voz. Ela vira a cabeça e esconde o rosto
em minha camisa.
― Um bem forte ― eu digo, com uma risada. ―
Realmente forte. ― Eu sou o cara. Sim, eu sou.
Ela ri, balançando os ombros e a bunda contra meu
pau. Merda. Preciso que ela pare com isso.
― Achei que sim ― ela sussurra.
Bato levemente em seu bumbum.
― Precisamos vesti-la novamente ― eu falo,
incentivando-a a levantar.
Ela se levanta, e eu a ajudo a arrumar suas roupas.
Seu cavalo faz um barulho, ela olha para a porta da baia
e solta um suspiro.
― Vai demorar algumas horas ainda ― ela fala,
fazendo um barulho com a boca, que pode ser uma
risada, e evita meu olhar. Será que ela está arrependida?
Esfrego uma mão em minha nuca e me forço a não
pensar sobre a forma como ela fica em meus braços. Já
estou sentindo a perda dela e ela só está a poucos
centímetros de distância.
― O quê? ― pergunto.
― Tequila vai parir esta noite.
Ela está falando uma língua que eu não conheço.
― Ela vai ter seu bebê ― ela esclarece.
― Oh. ― Não sei o que dizer sobre isso. ― Você
precisa chamar um veterinário?
― Não, vou dormir aqui com ela. ― Ela aponta
para uma pilha de cobertores no canto. ― Ela faz a
maior parte do trabalho. Só estou aqui para dar apoio
moral e ajudar, caso algo dê errado.
Coço a cabeça, sem saber o que fazer.
― Devo ir?
Ela mordisca o lábio inferior.
― Quer ficar comigo? ― ela pergunta em voz
baixa.
Deus, não há nada que eu queira mais. Quero
dormir com ela e segurá-la contra mim. Sim, quero fazer
sexo com ela também, mas esse é o menor dos meus
desejos.
Eu concordo.
Ela espalha cobertores em cima dos fardos de feno
onde estávamos sentados, faz um gesto para que eu deite
e, em seguida, se encaixa em meus braços. Deixo
escapar um suspiro de satisfação.
― Que horas são? ― ela pergunta.
Olho para o meu relógio e bocejo.
― Onze e meia.
― Tarde ― ela sussurra.
Ela deita a cabeça no meu peito e passa o braço em
volta da minha cintura.
― Deixe-me segurar você ― eu digo, e pressiono
meus lábios em sua testa.
Sua respiração acaricia os pelos que saem do decote
da minha camisa, e eu fico instantaneamente duro
novamente. Puxo a perna dela em meu colo, e ela se
aconchega ainda mais perto de mim.
― Ei, Pete ― ela sussurra.
― Sim? ― sussurro de volta.
― Eu quero te beijar de novo amanhã ― ela diz
baixinho. Ela ri, e isso sacode meu peito. Esse é o som
mais bonito que já ouvi.
Quero beijá-la novamente amanhã também. Quero
muito.

***

Em meu sonho, estou correndo em direção à voz de


Reagan. Posso ouvi-la claramente, mas não consigo vê-
la. Sei que é um sonho e sonhos podem ser uma merda,
então não me sinto em pânico. Mas ela está. Ela está
claramente chateada e eu a procuro por entre a névoa.
Não consigo encontrá-la. De repente, acordo do meu
sonho e me vejo deitado ao lado de Reagan, no celeiro
onde adormecemos. Ela está dando gritos abafados.
Olho para ela. Ela está sonhando. Seus olhos estão
fechados com força e ela se enrolou numa bola. Quando
adormecemos, ela estava enrolada em mim. Quando ela
fugiu para longe?
― Reagan ― eu falo suavemente. Ela se encolhe e
afasta minha mão. Ela ainda está sonhando e não sei
como ajudá-la. ― Reagan ― digo com mais força. Seus
olhos piscam e ela acorda lentamente. Ela passa a mão
nos olhos enquanto eu olho para o rosto dela. Sua
respiração está acelerada, mas ela se acalma
rapidamente.
― Sonho ruim? ― pergunto.
Ela balança a cabeça. Rolo para o lado e apoio a
cabeça em minha mão, para que eu possa olhar para ela.
Reagan se aproxima de mim e eu passo meu braço ao
redor da sua cintura.
― Desculpe ― ela murmura.
Seguro sua cintura, puxando-a para mim.
― Sem problema ― eu digo.
― Eu costumava tomar um remédio que me
ajudava com os sonhos, mas eles deixavam minha mente
turva, então eu parei de tomá-lo. ― Ela olha para mim,
seus olhos verdes piscando lentamente. ― Às vezes, eu
não durmo bem.
Afasto o cabelo do seu rosto.
― Você sonha com o que aconteceu naquela noite?
― pergunto.
― Às vezes. ― Ela olha para o lado e evita o meu
olhar. Ela não quer falar sobre isso, aparentemente.
Quero fazer perguntas, mas não quero trazer tudo
de volta.
― Você revive aquilo em seus sonhos? ―
pergunto.
Ela balança a cabeça.
― Não o estupro, especificamente ― diz ela. Ela
fala como se aquela fosse uma palavra tão comum. Meu
coração aperta. ― Eu sonho mais sobre os sentimentos.
Arrependimento, principalmente.
― Do que você se arrepende? ― pergunto.
Ela olha para mim, quase como se estivesse
buscando uma conexão comigo, e eu gosto disso. Porra,
eu adoro isso.
― Eu me arrependo de ter ido àquela festa ― diz
ela. ― Eu deveria ter ficado no meu dormitório
estudando.
― Você o conhece? ― pergunto. ― Ou ele era um
estranho?
― Eu nunca o tinha encontrado. É por isso que me
sinto tão estúpida sobre ele. Eu nunca deveria ter estado
a sós com ele no banheiro. Sozinha com um homem que
eu não conhecia. ― Ela solta um suspiro. ― Num
minuto, ele estava me beijando, e, em seguida, eu estava
pedindo que ele parasse, porque não estava gostando.
Mas ele não parou.
Ela treme, e quero trazê-la para dentro de mim e
protegê-la. Uma lágrima desliza no canto do seu olho e
escorre por seu rosto.
Ela funga.
― Desculpe, eu não queria chorar em você. ― Ela
ri, mas é um som aquoso.
― Você gozou montada no meu joelho, princesa ―
eu digo em voz baixa. ― Acho que você pode chorar
sobre mim também.
Seu rosto ruboriza, mas ela sorri.
― Eu nunca fiz isso antes.
― Ninguém jamais fez você gozar? ― pergunto.
Eu sei a resposta para isso, mas quero ouvi-la dizer. Não
sei por que, mas preciso. Deslizo minha perna por entre
suas coxas e coloco um pouco do meu peso sobre ela,
mas ela não parece se importar. Eu realmente quero abrir
seu vestido para que eu possa colocar minha mão em
sua barriga. Mas acho melhor parar, por enquanto.
Ela balança a cabeça.
Toco seu nariz.
― Você nunca fez isso para si mesma? ―
pergunto.
Ela balança a cabeça.
― Não. ― Ela olha nos meus olhos. ― Obrigada
― diz ela.
― A qualquer hora, princesa ― eu digo, com uma
risada. ― Estou à sua disposição.
― Você é muito bondoso ― ela provoca,
empurrando meu ombro.
― Estou aqui para servi-la. ― Eu rio. Deus, ela me
faz sentir tão leve e livre. ― Acho que eu posso
realmente estar gostando de você ― deixo escapar.
Quero engolir as palavras de volta assim que falo.
― Que bom ― diz ela, que sorri, rolando em meu
peito e passando o braço em volta de mim. Ela esconde o
rosto em minha camisa. Acho que ela pode estar
constrangida.
― Eu abro meu coração e tudo o que você me diz é
que bom? ― Dou uma cotovelada nela.
― Hum-hum ― ela concorda. Sinto seus lábios na
minha camisa, sua respiração aquecendo o tecido. Ela ri.
― Você não pode chamar isso de abrir seu coração, Pete
― ela zomba de mim. ― Acho que posso estar gostando
muito de você. ― Ela ri e, Deus me ajude, é um som tão
lindo.
Ela levanta a barra da minha camisa, e seus dedos
deslizam por cima do meu estômago. Cubro sua mão
com a minha para impedir a exploração. Estou muito
ligado. Minha ereção não me deu trégua e está duramente
pressionada contra o meu zíper.
― Por que eu não posso te tocar? ― ela sussurra.
― Porque eu estou muito ligado agora ― eu
sussurro de volta.
Ela se senta para que possa olhar para o meu rosto.
― O que isso quer dizer?
Eu pressiono meus lábios em sua testa, me
demorando lá.
― Isso significa que eu sou um cara. E o vento
está soprando.
Suas sobrancelhas arqueiam.
― O quê?
Eu rio.
― Nada. ― Mas agora não consigo parar de rir. Ela
dá um tapa em meu peito.
― Não é engraçado, a menos que mais de uma
pessoa esteja rindo. ― Ela fica em silêncio por um
minuto, e então pergunta ― Com quantas mulheres você
já dormiu?
Eu fecho meus olhos e estremeço.
― Parei de contar há um bom tempo, quando meus
dedos acabaram.
― Mais de dez? ― Sua voz é baixa.
― Sim ― eu grunho. Não gosto das minhas
próprias respostas, então não posso esperar que ela
goste também.
― Mais do que os dedos das mãos e dos pés? ―
ela pergunta.
― Provavelmente. ― Eu inspiro. ― Inferno, eu
não sei.
― Você sabe seus nomes? ― Ela se senta na minha
frente e cruza as pernas, puxando seu vestido para baixo
para cobrir os joelhos.
Sento-me também, para que eu possa encará-la.
Coloco minha mão em seu joelho e desenho círculos
sobre ele com o meu polegar.
― De algumas delas. ― Ergo um dedo quando ela
começa a me perguntar outra coisa. ― Mas não tenho
ninguém há muito tempo. Desde antes de eu ter sido
preso. ― Olho para ela. ― Isso conta para alguma
coisa?
Seu rosto suaviza, e ela inspira.
― Eu não estava julgando você, Pete. Só estou
querendo conhecê-lo.
Concordo com a cabeça, incapaz de olhar nos olhos
dela.
― Alguma vez você já se apaixonou? ― ela
pergunta, mas está sorrindo para mim, e essa questão
parece mais benigna do que a última.
Não até agora. Mas eu não digo isso, porque, se eu
o fizer, eu vou assustá-la com a profundidade dos meus
sentimentos.
― Talvez.
― O que significa isso? ― ela pergunta. ― Talvez?
― Ela estreita os olhos.
― Eu não sei ― eu digo. Sinto coisas por ela que
nunca senti por ninguém. Isso é amor? Eu não sei. É
muito novo para saber. Preciso de algum tempo para
avaliar meus sentimentos antes de explicá-los. ― E
você? ― pergunto. ― Já se apaixonou alguma vez?
Ela balança a cabeça.
― Não. ― Ela sorri.
― O quê? ― pergunto e esfrego meu nariz. ―
Estou com o nariz sujo?
Ela ri.
― Não. ― Ela empurra minha mão para baixo. ―
Nunca me apaixonei. ― Seus olhos verdes olham ao
redor e depois pousam em mim. ― Você saberia
identificar se estivesse apaixonado? ― ela pergunta.
Inclino minha cabeça como se eu estivesse pesando
suas palavras.
― Acho que sim.
Ela sorri.
― Posso continuar a fazer perguntas ou estou
deixando você nervoso? ― ela pergunta.
― Pergunte-me qualquer coisa. ― Honestamente,
estive preso por muito tempo. Estar na cadeia é solitário,
e eu preciso de uma conexão. E quero essa conexão
com ela. Só com ela. ― Mas vou começar a fazer-lhe
perguntas também.
― É justo ― diz ela, parecendo pensar muito sobre
sua próxima pergunta. ― Nosso primeiro beijo ― ela
sussurra. ― Foi épico.
― Sim, foi ― eu concordo.
― É sempre assim? Com as outras meninas
também foi assim?
― A maioria das garotas não chega ao orgasmo
quando eu as beijo. ― Dou uma risada. ― É isso o que
você quer saber?
Ela balança a cabeça.
― Não. Quero dizer... ― Seu rosto ruboriza. ― Sei
que não foi tão bom para você, mas foi maravilhoso para
mim.
Eu me inclino para mais perto e pressiono meus
lábios nos dela.
― Eu sei. Eu quase gozei em minha calça apenas
observando você. ― Eu a beijo novamente, e ela geme
em minha boca. É um som feliz. Mas então ela cobre o
rosto quando eu olho nos olhos dela.
― Você fala sobre isso como se não fosse nada. ―
Ela está envergonhada.
Levanto seu queixo.
― O que fiz no passado com outras garotas não foi
nada. O que fizemos hoje à noite? Foi tudo. ― Faço um
carinho em seu nariz, porque estou prestes a balançar
meu próprio mundo e quero aliviar o golpe se ela me
rejeitar. ― Eu realmente gosto de você, Reagan ― falo
em voz baixa. ― Não sei como explicar. E não quero.
Mas não tente dizer que o que tivemos essa noite foi algo
comum, porque não foi. Foi algo especial. E eu quero
continuar fazendo isso. Quero saber tudo sobre você e
que você aprenda tudo sobre mim. Quero que você
conheça minha família. Quero ter um encontro com
você. ― Olho em volta. ― Este lugar é legal, mas...
sério?
Ela ri.
― Você quer que eu conheça sua família?
― Se você puder aguentar. Somos cinco. Todos
homens.
― Eu não tenho medo dos homens em geral ― ela
explica.
― Apenas dos que tocam em você. ― Passo meu
dedo por sua bochecha, e ela segura minha mão e a
beija.
― Seus irmãos parecem com você ― ela diz.
― Como você sabe?
― Eu os vi quando você saiu da prisão ― diz ela,
calmamente.
― Você estava lá?
Ela balança a cabeça.
― Meu pai me fez ficar sentada na caminhonete
enquanto falava com você sobre o acampamento. ― Ela
morde o lábio inferior. ― Desculpe, eu deveria ter falado
sobre isso antes. ― Ela geme. ― Eu meio que pedi que
você fosse chamado para vir para cá. Para que eu
pudesse vê-lo.
― Estou feliz por você ter pedido. ― Nunca me
senti mais feliz do que agora.
― Seus irmãos, todos têm tatuagens também ― diz
ela. Ela olha para a tatuagem que fiz em homenagem à
minha mãe. Ela segura minha mão e traça as tatuagens
que vão do meu antebraço em direção à minha manga.
― Quero olhar todas elas para que eu possa
descobrir o significado de cada coisa para você. ― Ela
desenha um círculo em torno da bandeira americana.
― Essa é para um amigo que morreu no
Afeganistão.
As pontas dos seus dedos me tocando parecem
seda, deslizando sobre meu dragão.
― E esta? ― ela pergunta em voz baixa.
― Essa foi por uma noite de bravura ― eu digo
com uma risada.
Sua mão desliza pela bainha da manga.
― Acho que não consigo ir mais longe.
Puxo a camiseta sobre minha cabeça. Ela sorri e
vejo um brilho malicioso em seus olhos, mas deixo
passar. Encosto-me de volta na porta da baia e puxo-a
para o meu colo.
― Se você começar a me explorar, eu começo a
explorar você ― aviso e faço cócegas na sua perna.
Em seguida, ela pressiona os lábios contra as
palavras alinhadas em minha clavícula. Ela suga
delicadamente a minha pele. Solto um gemido baixinho e
movo minha mão para sua coxa. Sua pele é macia e
sedosa, e sei que vou precisar dar um basta nisso em
breve. Tenho um limite. Ela inclina a cabeça para ler as
palavras gravadas.
― Um por todos, todos por um ― ela lê em voz
baixa. ― É para os seus irmãos?
Eu concordo.
― Eles são a razão da minha vida. Quando pensei
que Matt estava morrendo, quis morrer com ele.
― Seu irmão estava morrendo? ― ela pergunta.
Suas mãos param de explorar meu corpo, e ela me
encara.
― Matt teve câncer. O tratamento foi muito caro, e
Logan teve que voltar para casa e abandonar a faculdade.
Estávamos sem dinheiro, e todos nós ficamos com medo
de que ele fosse morrer. ― Eu olho para o rosto dela. ―
Você quer ouvir sobre isso? ― pergunto.
Ela balança a cabeça e se encaixa em meus braços.
― Eu quero ouvir tudo.
― Sam e eu fizemos alguns bicos para um
malandro do nosso bairro, para ganhar uma grana extra.
― Não posso mentir para ela. ― Sabíamos que era
ilegal, mas precisávamos de dinheiro para Matt. Foi
assim que fui preso. ― Não tenho orgulho disso, mas
não posso desfazer meu passado. Isso seria como tentar
colocar pasta de dente de volta no tubo.
― O desespero pode fazer uma pessoa fazer coisas
que normalmente não faria ― diz ela suavemente. ―
Como está Matt agora?
Eu sorrio.
― Ele está em remissão.
― Oh, que bom. ― Ela suspira. ― Conte-me sobre
os outros.
― Paul é o mais velho. Ele tem uma filha chamada
Hayley, e ela mora com a gente metade do tempo. E
Logan é quem eu disse a você que estuda na
Universidade de NY.
Ela conta com os dedos.
― Há mais um, certo?
Eu concordo.
― Sim.
― Onde ele está?
― Na faculdade; ele ganhou uma bolsa para jogar
futebol. ― Ele está vivendo o meu sonho. O sonho de
Sam é trabalhar assando bolos, mas Paul diz que todos
nós precisamos fazer faculdade.
― Vocês são próximos? ― ela pergunta.
― Não tanto quanto costumávamos ser.
― Você pode resolver isso?
Eu posso?
― Eu vou tentar. ― E vou mesmo. Assim que eu
voltar para casa.
Ela se aproxima ainda mais. Depois de alguns
minutos, sua respiração estabiliza e ela fica mole em
meus braços. Olho para ela. Ela está dormindo em meus
braços e eu não quero nunca mais soltá-la. Então, puxo o
cobertor sobre nós e seguro-a perto de mim, o mais
próximo que consigo.
Reagan

Acordo com um barulho metálico. Sento-me,


sentindo o ombro de Pete melado, onde eu estava
deitada. Nós dois estavam suados, nossa pele colada
uma na outra. Acho que babei nele também. Que nojo.
Limpo o canto da minha boca e sento. Pete se agita
debaixo de mim e, em seguida, congela. Ele levanta a
cabeça e olha ao redor.
― Merda, eu fodi tudo ― ele resmunga.
― É melhor não ter ― meu pai fala. ― Ele bate a
tampa da caçamba de ração enquanto retira uma porção
para os cavalos. Link o ajuda, mas papai faz muito mais
barulho que ele.
Fecho meus olhos. Dormi no celeiro com Pete e
meu pai sabe disso.
― Oh, merda ― eu falo.
― Oh, merda ― Link repete como um papagaio.
Pete fecha seus olhos e sorri.
― É melhor você parar enquanto é tempo ― ele
sussurra com uma risada.
― Bom dia, Pete ― meu pai fala, fingindo
jovialidade enquanto caminha por nós carregando baldes.
Eu começo a sentar, mas, quando puxo o cobertor de
Pete, percebo que ele ainda não está de camiseta. Ele
tirou-a ontem à noite para que eu pudesse explorar suas
tatuagens. Isso parece muito ruim.
― Onde está sua camiseta? ― sussurro. Olho em
volta, mas não a vejo.
― Oh, merda ― Link fala novamente. Ele enfia a
cabeça ao meu lado e segura a camiseta azul de Pete.
― Ah, a camiseta azul ― Pete fala.
― Ah, a camiseta azul ― Link repete.
Pete puxa a camiseta sobre a cabeça. Ele estende a
mão para despentear os cabelos de Link, mas ele dá um
passo para o lado. ― Pelo menos ele não está mais
falando merda.
― Merda ― diz Link.
Eu gemo e passo a mão pelo meu cabelo.
― Lincoln! ― meu pai chama. ― Traga-me esse
balde.
― Traga-me esse balde ― diz Link. Ele corre para
levar o balde até papai.
― Bom dia ― Pete diz calmamente. Ele se vira para
apoiar os pés no chão e se levanta, alongando o corpo.
Ele mostra uma pequena faixa de seu abdômen, e eu
quero inclinar-me para frente e lambê-lo. Deus, de onde
veio isso?
― Bom dia ― murmuro. Lambo meus lábios.
― Pare de me olhar assim ― Pete sussurra.
― Assim como? ― sussurro de volta. Mas um
sorriso aparece nos cantos dos meus lábios. Não
consigo segurar.
― Como se você quisesse me lamber como um
pirulito ― diz ele. Ele ajusta a frente de suas calças, e eu
não posso deixar de notar a protuberância lá. ― Pare de
olhar para cá ― ele sibila.
Olho na direção onde meu pai tinha foi, mas ele já
está do lado de fora do celeiro.
― Eu nem ao menos sei o que estou olhando! ―
reclamo. Pete pega a minha mão e pressiona meus dedos
contra a protuberância da sua ereção. Ele arfa quando
meus dedos exploram os cumes do seu corpo.
― Reagan ― ele geme. Ele vira seu quadril e
levanta um joelho para me bloquear. ― Pode parar com
isso? Eu gostaria de sair daqui ainda hoje.
― Lambê-lo como se fosse um pirulito? ―
pergunto, incapaz de tirar essa ideia da cabeça. ― Você
pode fazer isso?
Ele sorri e passa a mão na parte de trás de sua
cabeça.
― Bem, eu não posso. Mas você podia. ― Sua voz
é grave e rouca, já que ele acabou de acordar. ― Não
importa ― diz ele. Ele me faz levantar e pressiona um
beijo rápido nos meus lábios.
― Uh ― eu resmungo, empurrando-o. ― Bafo
matinal.
― Eu não me importo ― diz ele, inclinando-se para
beijar-me rapidamente. Dou-lhe a minha bochecha. ―
Me dá ― diz ele. Faço um bico e toco rapidamente seus
lábios, tomando cuidado para não respirar sobre ele. ―
Assim é melhor ― ele murmura. ― Devo falar com seu
pai? ― pergunta ele.
Acho doce o fato de ele se preocupar com isso.
― Duvido que seja uma boa ideia.
Ouço um cavalo e lembro do motivo pelo qual
dormimos no celeiro. Passo por cima de um fardo de
feno e olho para Tequila. Ela está de pé e, aparentemente,
eu estava errada. Alarme falso.
Pete passa o braço em volta dos meus ombros e me
puxa para perto dele. Papai volta para o celeiro e bate
uma porta. Eu pulo. Pete não me deixa ir.
― Pete, você não tem algum lugar para ir? ― meu
pai pergunta. ― Tipo o seu próprio alojamento, dormir
na sua própria cama?
Pete acena com a cabeça.
― Sim, senhor ― diz ele. Ele se vira para mim. ―
Vejo você mais tarde?
Eu concordo. Sinto um frio em minha barriga e ele
toca seus lábios nos meus.
― Vejo você mais tarde, Sr. Caster ― ele fala.
― Não se eu o vir primeiro ― papai responde.
Meu pai zanza pelo celeiro por mais alguns minutos,
enquanto alimento Tequila com uma cenoura.
― Teve uma boa noite? ― papai rosna, mas não
olha para mim.
Eu sorrio. Minha barriga desce em direção aos
meus dedos dos pés.
― Tive sim.
― Reagan ― papai murmura.
― Sim, papai? ― eu digo docemente. Ele está com
raiva, mas não tenho o que fazer para acalmá-lo. E,
provavelmente, eu mereço por passar a noite toda no
celeiro com Pete.
― Não me faça ter que matar aquele garoto ―
papai adverte.
― Sim, senhor ― eu digo, abaixando minha cabeça
para que ele não possa ver o meu sorriso. ― Você
precisa saber que não fiz nada de errado. Ele foi um
perfeito cavalheiro. Ele só... ― Dou de ombros. ― Ele
apenas me segurou.
A respiração de meu pai acelera. Eu não deixo que
ninguém me toque e meu pai sabe disso. Assim, nesse
caso, eu poderia muito bem ter dito: ele transou comigo
a noite toda. O nível de intimidade é quase o mesmo na
cabeça do meu pai. Tenho certeza disso.
― Tudo bem ― ele murmura.
― Pai ― eu o chamo. Ele para e olha para mim. ―
Está tudo bem o fato de que eu posso estar me
apaixonando por ele?
Meu pai arregala os olhos e solta um suspiro.
― Reagan ― diz ele em voz baixa. ― Você deve
falar com sua mãe sobre isso.
― Tudo bem ― respondo.
― Se você quiser falar sobre a melhor maneira de
dar uma joelhada nas bolas ― diz ele, apontando para
seu peito ―, então eu sou o cara. Mas, se você quiser
falar sobre sentimentos, emoções e anticoncepcionais,
entre outras coisas, é melhor falar com sua mãe.
― Por que você pulou de sentimentos para
anticoncepcionais? ― Eu tenho que perguntar.
― Porque é isso que acontece, Reagan. Você pula
de sentimentos fortes para anticoncepcionais. É a ordem
natural das coisas para os homens. ― Ele tira o boné e
passa a mão pelo cabelo. ― Eu era um rapaz de vinte e
um anos, tendo que me virar sozinho.
― Foi quando você conheceu minha mãe ― eu falo
e começo a sorrir. Ele parece desconfortável, mas
preciso pressioná-lo. ― Então, você e mamãe passaram
de sentimentos fortes para anticoncepcionais? ―
pergunto e estalo os dedos. ― Assim?
― Não ― diz ele, parando para olhar nos meus
olhos. ― Como você acha que tivemos filhos? ― Ele
sorri neste momento. Então, acena com a cabeça em
direção à casa. ― Vá falar com sua mãe.
― Informação demais, papai ― eu falo. ―
Informação demais! ― Sigo para casa.
― Reagan ― meu pai chama. Viro para encará-lo.
― Pete é um bom rapaz ― ele fala. ― Mas ele ainda é
um cara.
― Estamos indo devagar, pai ― falo. Sinto meu
rosto esquentar.
― Hum-hum ― ele murmura e volta a trabalhar.
― Vá devagar ― diz Link.
― Amo você, Link ― eu falo.
― Também te amo.
Entro pela porta de trás e encontro minha mãe
enchendo uma xícara de café.
― Pete ainda está vivo? ― ela me pergunta e senta-
se à mesa.
― Por enquanto. ― Suspiro. ― Nós
adormecemos. Nada aconteceu, eu juro. ― Bem, quase
nada. Mas não fizemos nada de efetivo.
― É por isso que você está brilhando? ― ela
pergunta. ― Porque nada aconteceu? ― Ela dá um
tapinha na mesa. ― Venha sentar aqui ― diz ela.
― Mãe ― eu falo, parecendo uma criança, eu sei.
― Sente-se ― diz ela com mais força. Eu me deixo
cair em uma cadeira.
― Ele foi gentil? ― ela pergunta.
Eu concordo.
― Ele foi atencioso?
Concordo com a cabeça e mordisco meus lábios.
― Ele teve cuidado? ― Ela arqueia a sobrancelha
na última pergunta.
― Deus, mãe ― eu reclamo. ― Nós não fizemos
nada. Ele só me beijou.
― Vou levar você ao ginecologista para que ele
possa prescrever anticoncepcionais ― diz ela me
encarando.
Balanço a cabeça e minha mãe sorri, dando um
tapinha em minha mão.
― Boa menina ― diz ela com um suspiro.
Pete

Estou com o grupo de meninos com deficiência


auditiva, e eles estão se revezando montando os cavalos.
As crianças surdas tendem a fazer um grupo entre si e
quase não interagem com alguns dos outros meninos.
Vou ter que ver o que posso fazer sobre isso. Aprendi
com meu irmão que as crianças surdas não se veem
como deficientes. Elas têm uma cultura própria a seu
respeito e podem conviver em sociedade com pouca ou
nenhuma intervenção. Mas tendem a se unir a outras
pessoas que fala a língua de sinais.
Nunca passei muito tempo com cavalos. Ou
qualquer outro animal do mesmo tipo, para dizer a
verdade. Eles são grandes, robustos, pesados, e o que
estou guiando fica me cutucando com o nariz no meu
ombro.
― Quer algo? ― pergunto, mas ela só faz um ruído
ofegante e fuça a parte de trás da minha cabeça. Ela joga
meu boné de beisebol para longe e, quando eu me curvo
para pegá-lo, ela bate em minha bunda e eu caio com a
mão no chão.
Limpo a poeira das minhas mãos e olho ao redor.
Edward, que já não posso mais chamar de Tic Tac desde
que ouvi sua história, está conduzindo um dos outros
cavalos. Ele bufa para mim.
― Acho que levou um chute no traseiro. De novo.
― Ele dá uma risadinha e eu faço uma careta. Edward
olha por cima do meu ombro, assovia baixo, e eu me
viro para encontrar Reagan caminhando em nossa
direção. Ela deve ter ido tomar banho, porque seu cabelo
ainda está úmido e ela fez duas tranças que pendem
sobre seus ombros. Ela usa uma camiseta, um jeans
justo, e um par de botas marrons envolvem sua
panturrilha. Porra, ela é linda.
Ela dá um tapinha no cavalo que estou levando
quando se aproxima.
― Juliette está lhe dando trabalho? ― ela pergunta,
se inclina para perto da orelha dela e sussurra. O pelo em
meus braços se levanta, e não é nem mesmo em meu
ouvido que ela está sussurrando. Juliette balança a
cabeça, e Reagan ri. Porra, que som bonito.
Ela passa por mim carregando um balde.
― Aonde você vai? ― pergunto a ela.
Ela se volta, sorrindo por cima do ombro.
― Tenho que buscar Romeo para Juliette ― diz ela.
― É por isso que ela está tão chateada. O namorado dela
está saindo com as vacas. ― Ela balança a cabeça em
direção ao pasto. ― Quer me ajudar? ― ela pergunta.
Link está com ela e ele a segue quase tão de perto
quanto Maggie, seu cão. Duvido que ela deixe seu cão de
lado em algum momento. Merda, quero ser um filhote de
cachorro e segui-la também. Lanço a rédea do cavalo
para um dos rapazes, que sorri e balança a cabeça. É o
cara que me sacaneou dizendo que eu estava apaixonado.
Sim, acho que estou. E isso não me incomoda nem um
pouco.
Corro até Reagan, que ri quando eu a alcanço.
― Você está muito bonita hoje ― falo. Quero tanto
beijá-la que quase consigo sentir seu gosto.
Ela cora.
― Obrigada ― ela responde, olhando para baixo
em direção a seus pés.
― Senti sua falta ― eu digo.
Ela sorri.
― Você me viu há uma hora ― ela me lembra.
Como se eu precisasse. Tudo o que posso pensar é na
forma como ela se encaixou em meus braços.
― Seu pai ficou irado? ― pergunto. Isso me
preocupa. De verdade. Quero que seus pais gostem de
mim e sinto medo que esteja fazendo tudo errado. Jamais
conheci os pais de uma menina antes. Nunca tive
necessidade. Mas com Reagan... tudo é diferente.
Ela encolhe os ombros.
― Um pouco. ― Ela ri. ― Nós tivemos uma
conversa sobre qual a melhor maneira de dar uma
joelhada nas bolas, o fato de que os homens só querem
uma coisa e, então, ele acabou me dando informação
demais sobre métodos anticoncepcionais.
Eu paro de andar. Uau. Essa é uma responsabilidade
muito grande.
― Você fala com seu pai sobre essas coisas?
Ela encolhe os ombros.
― Algumas delas. Ele me mandou falar com minha
mãe sobre o resto.
― Que resto?
Suas bochechas ficam ainda mais coradas.
― A conversa sobre métodos anticoncepcionais e
todas essas coisas.
― Oh ― eu digo. Pareço um idiota. Mas ela me
deu um susto. Ela caminha em direção a uma cerca e se
inclina. Eu a sigo, assim como Link. Ele está em seu
próprio mundo, e acho que ele está cantando uma
canção. Mas é tão suave, que não posso dizer com
certeza. ― Então, você é... hum... está pensando sobre
esse tipo de coisa, hein?
Ela morde o lábio inferior e acena.
― Sim.
― Eu... ah... não sei o que dizer sobre isso. ―
Levanto meu boné e coço a nuca.
― Você não precisa dizer nada ― diz ela com um
encolher de ombros. ― Eu só queria que você soubesse
que estou pensando sobre isso.
Oh, Jesus Cristo. Meu coração bate em meu peito
como um louco. Essa merda é real.
Ela estreita os olhos para mim.
― Você pode me dizer se não tiver nenhum
interesse romântico em mim, Pete. ― Ela solta um
suspiro. ― Eu vou ficar bem com isso.
Ela se vira e coloca dois dedos nos lábios. Um apito
estridente soa no ar, fazendo Link cobrir suas orelhas e
sorrir. De repente, um cavalo galopa em nossa direção
como um raio de luz preto e branco. Reagan grita
quando eu a empurro para atrás de mim, mas ela está
rindo também. O cavalo para a um passo de mim e bufa
na minha cara.
― Filho da puta ― eu resmungo.
― Filho da puta ― Link repete.
Ah, merda, isso é ruim. Tenho que aprender a
travar minha boca quando estiver próximo ao garoto.
― Cavalo bonito ― falo e observo Link.
― Cavalo bonito ― ele repete.
― Assim é melhor ― eu digo em voz baixa. Aceno
para Link, e ele segura o balde para que o cavalo possa
enfiar seu focinho nele.
― Este é Romeo ― Reagan diz enquanto desliza
um cabresto sobre sua cabeça. Ela dá um tapinha em sua
lateral. ― Ele foge o tempo todo e vai se engraçar com
as vacas. Então, Juliette fica chateada e desconta em
todo mundo. ― Ela acaricia o cavalo, mas tudo o que ele
quer é manter a cabeça no balde. Ela começa a caminhar
de volta para o celeiro.
Sigo-a, com cuidado onde piso, à medida que
caminhamos juntos. Ela parece tranquila. Talvez esteja
pensando sobre anticoncepcionais. Não sei. Estou
preparado. Estou sempre preparado, mas ela não está
pronta para o que eu quero. Nem mesmo perto.
Quando chegamos ao celeiro, Reagan joga a corda
para Link e diz:
― Pode levá-lo para Juliette, Link? ― Ele balança a
cabeça e segura o cavalo, e Reagan faz um sinal para que
eu a siga. Andamos até os fundos do celeiro e não posso
evitar de imaginar que seu pai teria inúmeras formas de
me castrar se ele nos encontrasse aqui de novo.
Ela estreita os olhos para mim e o canto de seu lábio
se ergue.
― Você lembra da noite passada, quando você disse
que gostava mesmo de mim? ― ela pergunta em voz
baixa.
Eu concordo.
Ela limpa a garganta e seu desconforto é tão
bonitinho que quero beijá-la imediatamente.
― Bem, quero que você saiba que eu sei que eu
realmente gosto de você, Pete. Não há nenhuma dúvida
sobre isso. Então, sim, eu estou com medo. Estou com
medo desses sentimentos, e minha mãe estava agindo
como mãe e meu pai agindo como pai e seu primeiro
pensamento foi que eu deveria me precaver para não
engravidar.
Porra, quero dormir com essa garota, mas quero
muito mais do que apenas dormir com ela.
― Reagan ― eu digo. Estendo a mão para ela, e,
pela primeira vez, ela não se mexe. Ela me deixa cobrir
seus quadris com as mãos e puxá-la contra mim. ― Eu
sou o cara ― eu digo, tentando não rir. ― Vou cuidar de
tudo o que diz respeito a sexo seguro, quando for a hora
certa.
Ela balança a cabeça.
― Eu sei que você vai. ― Ela coloca a testa contra
meu peito, e posso sentir a respiração dela contra a
minha pele, quente e aconchegante. ― Você perguntou o
que meus pais falaram sobre isso. Essa era a
preocupação deles. ― Ela encolhe os ombros, dá um
passo na ponta dos pés e pressiona os lábios contra
minha bochecha, demorando o tempo suficiente para que
eu possa sentir o cheiro do seu creme dental mentolado.
― Não se preocupe, Pete. Prometo não contaminar
você. ― Ela sorri. Mas, com o que aconteceu com ela,
isso não é divertido.
Eu gemo e coloco minha cabeça para trás, fechando
os olhos. Eu não posso pensar enquanto ela está olhando
para mim.
― O que há de errado? ― ela pergunta, dando um
passo para trás, e sinto sua perda imediatamente. ― A
ideia de fazer sexo comigo deixa você em pânico, não é?
― ela sussurra e eu balanço a cabeça. ― Eu deveria
saber.
― Não ― eu começo, mas não sei o que dizer. Ela
se afasta, mas eu a toco com a ponta dos dedos. Ela se
vira, e eu agarro sua camisa. Ela gira, mas desta vez não
deixo que ela se mexa. Ela olha para minha mão e sorri.
Mas é um sorriso triste. Não é o que eu quero ver no
rosto da minha garota. ― Eu te quero.
― Está tudo bem, Pete ― diz ela calmamente. ―
Talvez eu tenha entendido tudo errado. ― Ela acena
entre nós dois. ― Achei que estávamos no mesmo
barco.
― Estou muito mais do que você pensa ― deixo
escapar.
Ela para de andar e me olha nos olhos.
― O quê? ― Seus olhos verdes piscam lentamente.
― Sim. Muito mais. Mergulhei de cabeça nisso.
Não consigo parar de pensar em você. Quero estar com
você o tempo todo. Posso sentir você contra a minha
pele, mesmo quando você não está comigo.
Sua respiração acelera.
― Oh ― diz ela. Suas mãos se apoiam em meu
peito.
― Mas acho que estou mais ligado que você. ― Eu
me inclino baixo para olhar em seus olhos. ― Você vai
quebrar meu coração, Reagan? ― pergunto. ― Você já
está pensando em métodos anticoncepcionais e sim, me
assusta só de pensar em conseguir estar dentro de você.
Porque eu quero você, Reagan. Quero cada pedaço seu.
― Até mesmo os pedaços quebrados? ― ela
pergunta.
Coloco as mãos sobre seu rosto e a puxo para mim.
― Vou ser a cola que vai consertar você ―
murmuro. ― Estive preso por muito tempo, Reagan ―
eu digo.
― Eu estive presa até mais do que você, Pete ―
diz ela, com a voz carregada de emoção.
― Não me dê esperanças a não ser que você esteja
certa do que quer ― eu imploro.
― Eu nunca tive mais certeza em minha vida ― diz
ela. Ela envolve as mãos ao redor do meu pescoço, puxa
minha cabeça para a dela e me beija. Seus lábios são
suaves, quentes e insistentes, e, quando sua língua toca a
minha, quase gozo em minhas calças. Afasto-me dela
porque não posso suportar muito mais. Ela olha nos
meus olhos. ― Eu não estou pronta para o sexo ainda,
Pete ― diz ela. ― Mas estou mais perto do que antes.
Sinto que você abriu a porta para o meu futuro. Agora
eu só preciso que você a atravesse comigo. Assim, vou
conseguir perder o medo de que você vá me machucar,
Pete. E você perderá o medo de que eu vá machucá-lo.
E então, um dia, talvez você vá me amar.
Rio baixinho.
― Que bom que você teve a conversa sobre
métodos anticoncepcionais com sua mãe ― eu falo. ―
Meu irmão Paul empurrou preservativos na minha mão
quando eu estava saindo para vir para cá. Não sei quem
ele pensou que eu iria comer enquanto estivesse num
acampamento para meninos.
Seu rosto fica vermelho rosado.
― Quero dizer, não comer. Bem, se não fosse
você, seria comer. ― Merda. Estou fodendo com tudo.
Com ela vai ser muito mais do que uma transa. ― Isso é
o que me assusta, princesa. Eu nunca fiz o que eu quero
fazer com você.
― Você já fez isso muitas vezes ― diz ela com um
aceno alegre.
Balanço minha cabeça.
― Não, não fiz. ― Olho nos olhos dela. ― Agora,
pense sobre isso e certifique-se de que está pronta.
Viro-me, volto para Juliette e puxo-a pela corda, que
parece de chumbo. Minhas pernas estão tremendo, e eu
mal posso respirar. Se é assim que a gente se sente
quando ama, estou feliz por ter esperado até que eu
tivesse idade suficiente para compreendê-lo.
Reagan

Maggie não está se sentindo bem novamente e a


ouço reclamar pelo quarto.
― Mags ― eu chamo, mas é tarde demais. Ela
vomita no chão do quarto. Esfrego sua cabeça. Ela ainda
é ágil para sua idade, mas tem vomitado nas últimas
semanas. Vou ter que levá-la ao veterinário para
descobrir o que está acontecendo. Limpo sua bagunça e
me ajoelho com um pano úmido para esfregar o tapete,
quando ouço uma batida na porta.
― Entre ― falo distraidamente.
A porta se abre, e meu coração pula na minha
garganta quando vejo Pete parado lá. Está tarde.
― Pete ― eu falo enquanto olho para cima, do
local do vômito. ― Eu estava apenas... ― Devo falar
sobre vômito com um homem? Provavelmente não. ―
Maggie passou mal ― finalmente falo.
― Precisa de ajuda? ― ele pergunta, caminha em
minha direção e se abaixa.
― Acho que tenho tudo sob controle. Só estou
limpando o chão. ― Olho para o meu pijama e cruzo os
braços na frente do peito. Eu nem sequer estava usando
sutiã.
Pete sorri e olha para o lado como um cavalheiro.
Estou usando um top e short minúsculos que meu pai
iria pirar se visse. Não posso sequer deixar meu quarto
quando uso essa roupa. Vou até o banheiro e lavo minhas
mãos rapidamente. Volto e encontro Pete olhando ao
redor do meu quarto. Ele toca a caixa de música que fica
sobre minha cômoda, abrindo a tampa. Uma bailarina se
levanta e gira enquanto a melodia toca. Ele sorri e olha
para mim, por cima do ombro.
― É lindo ― ele fala. ― Assim como você. ―
Seus olhos vagueiam pelo meu corpo, e ele lambe os
lábios.
― O que você está fazendo aqui? ― pergunto.
Ele se assusta por um segundo.
― Eu queria ver você. Sua mãe disse que eu
poderia subir.
Isso me faz sorrir.
― Meu pai sabe que você está aqui?
Ele balança a cabeça.
― Ele não estava lá embaixo.
Tenho a sensação de que meu pai não iria gostar do
fato de Pete estar no meu quarto. Particularmente por
causa da maneira que estou vestida.
― Se eu soubesse que era você, teria me vestido ―
tento explicar. Meu olhar recai sobre a cama, onde um
moletom de capuz está dobrado. Eu costumo dormir
com ele e o puxo sobre minha cabeça até meus quadris.
Os olhos de Pete estreitam para mim.
― Esse moletom me parece familiar ― diz ele.
Seus olhos se arregalam. ― É aquele que eu te dei
naquela noite? ― ele pergunta.
Eu concordo.
― Sim. ― Eu o mantive. E eu o amo. ― Você o
quer de volta?
Ele sorri.
― Se isso significa que você vai tirá-lo agora,
inferno, sim, eu o quero de volta.
Sinto meu rosto esquentar. Começo a puxá-lo sobre
a minha cabeça e fecho os olhos, mas, de repente, Pete
para meu movimento com as mãos.
― Eu só estava brincando ― diz ele. ― Fique com
ele.
Concordo com a cabeça e o puxo de volta para
baixo, sobre meus quadris.
― Estou surpreso que você ainda o guarde,
considerando o motivo pelo qual você ficou com ele. ―
Ele franze a testa.
― Você é a única coisa boa que aconteceu comigo
naquela noite, Pete ― eu digo.
Ele abre a boca para dizer algo, mas a fecha
rapidamente.
― Eu durmo com ele. ― Levanto meu decote até o
nariz. ― Ele costumava cheirar como você, até que
minha mãe me fez lavá-lo. ― Eu tenho um pequeno
futon no meu quarto, e faço um movimento em direção a
ele. ― Você quer sentar? ― pergunto.
Ele balança a cabeça, mas volta a avaliar o meu
quarto. Ele passa a ponta dos dedos sobre as fitas dos
prêmios de competições de cavalgada que revestem meu
espelho. Sento-me e cruzo os pés debaixo de mim. Pego
um travesseiro e o coloco sobre meu colo, para apoiar
os cotovelos nele. Pete segue em direção ao banheiro e
coloca a cabeça para dentro.
― Acho que seu quarto é maior do que todo o
nosso apartamento ― diz ele.
Não sei o que dizer sobre isso, então eu não digo
nada.
― Quando você voltar para a faculdade, vai ficar
no alojamento? ― Ele se senta do outro lado do futon e
se vira para mim, seu joelho encostando no meu. Gosto
da sensação, então me aproximo um pouco mais.
― Tenho um apartamento em frente do campus ―
eu digo. ― Papai não quis que eu ficasse no alojamento
e eu queria levar Maggie comigo, depois do que
aconteceu. ― Maggie ouve seu nome e vagueia em
direção a mim, deslizando seu nariz debaixo da minha
mão. Eu distraidamente esfrego sua cabeça. ― Eu não
gosto de ficar sozinha à noite.
Pete faz um barulho com a boca, e Maggie anda em
direção a ele. Ela é cautelosa, mas não tem medo. Ele
permite que ela cheire sua mão e ele toca o alto da sua
cabeça cautelosamente. Ela empurra-se contra ele, que
coça atrás das orelhas dela.
― Você está tentando conquistar meu cão? ―
pergunto. Mas, secretamente, eu amo o fato de que
Maggie confia nele. Ela tem bons instintos, muito
melhores do que os meus.
― Tentando? ― ele zomba. ― Já tive êxito ― ele
diz com um sorriso. Maggie pula em suas pernas
traseiras para colocar-se em seu colo. Ele se inclina para
trás e dá um tapinha na perna, e ela pula para sentar-se
sobre ele, entre nós. Ele acaricia sua cabeça. ― Você
fica bem no meu moletom ― ele diz para mim.
Meu rosto está provavelmente escarlate.
― Obrigada ― eu sussurro.
― Gosto da ideia de que meu moletom fica sobre o
seu corpo enquanto você dorme ― ele fala. Sua voz está
rouca de repente. Seu olhar está grudado em minhas
pernas, mas ele não se aproxima de mim ou tenta me
fazer chegar mais perto. Ele apenas continua a acariciar
meu cão, que virou de cabeça para baixo, tentando
oferecer-lhe a barriga.
Eu engulo em seco, meus batimentos cardíacos
acelerados. Eu limpo minha garganta, e ele só olha para
mim.
― Então, o que você quer fazer? ― ele pergunta.
Honestamente, quero beijá-lo.
― Trata-se de um encontro? ― pergunto.
Ele balança a cabeça.
― Só vim visitá-la por alguns instantes, porque eu
queria vê-la e ficar um pouco com você. ― Maggie vira,
e Pete ri. ― Você é uma garota simples ― diz ele para o
meu cão.
― Ela é um animal perigoso ― eu digo, com uma
risada.
― Enquanto ela protege você, ela pode ser tão
bestial quanto quiser.
― Belo trabalho ela está fazendo agora ― eu
resmungo.
― Os cães gostam de mim. Porque sou uma boa
pessoa. ― Suas pálpebras abaixam e ele lambe os lábios
novamente.
Puxo o moletom sobre meus quadris.
― Pare de olhar para mim desse jeito ― eu
sussurro, minha voz embargada.
― Eu pararia, se achasse que você realmente quer
isso ― ele responde e sacode a cabeça. ― Venha aqui ―
diz ele em voz baixa.
Balanço minha cabeça, mas um sorriso surge em
meus lábios.
― Não ― eu digo.
Ele sacode a cabeça.
― Venha aqui ― diz ele novamente. ― Por favor?
Sorrio para ele.
― O que eu ganho se eu for até aí? ― pergunto.
― Venha aqui e descubra ― diz ele.
Meu coração dispara. O que devo fazer? Devo
ficar? Devo ir? Sinto que há uma corda invisível entre
nós, e ele dá um puxão nela, ao levantar a mão e balançar
os dedos para mim, me chamando para ir até ele.
Dou um leve empurrão em Maggie, para que ela
saia do seu colo. Porque, de repente, tudo o que eu
quero é estar lá. Quero me aconchegar contra ele e me
enrolar em seu calor. Maggie vai para o chão e
resmunga. E eu vou em sua direção, engatinhando para
ele.
Pete

Num minuto, o cão está no meu colo, no seguinte,


Reagan está engatinhando em direção a mim. Ela é tão
linda que tira meu fôlego. Uma palma de sua mão se
apoia em meu joelho e a outra em minha coxa. Ela morde
o lábio inferior enquanto olha para mim. Tiro seu cabelo
da testa e olho para ela. Realmente a observo. Ela está
tremendo. Sua mão treme contra meu joelho, então eu a
cubro com a minha. Seus olhos encontram os meus.
― Estou bem ― ela sussurra.
― Sei que está ― eu falo, e, devagar e com
cuidado, puxo-a, de modo que ela fica em meu colo.
Tento não me mover muito rápido, porque sei que isso
tudo é muito novo para ela. ― Acho que eu é que estou
com medo ― eu admito, com a voz trêmula. Eu limpo
minha garganta.
Sua testa franze.
― Por quê? ― ela sussurra e apoia o antebraço em
meu ombro, seus dedos acariciando distraidamente
minha nuca. Mal consigo pensar quando ela me toca.
― Não achei que você chegaria lá ― eu falo.
Seu rosto resplandece e tenho certeza de que ela me
entendeu mal. Uma risada irrompe da minha garganta.
― Estava falando de sair do seu lugar para o meu
colo, palhacinha ― eu falo e encosto o nariz no seu,
inclinando-me e beijando-a rapidamente na bochecha. ―
Embora ― eu começo, mas preciso parar e limpar minha
garganta novamente. Minha voz sai como um sussurro.
― Quando você gozou com minha mão dentro da sua
calcinha, me surpreendeu também.
Sua respiração não é tranquila agora. Ela está
acelerada e suas bochechas estão rosadas. Passo a mão
da parte externa da coxa por toda sua perna, já que ela
está usando esse short absurdamente curto.
― O que você acha que eu senti? ― ela pergunta e
ri, e é o som mais bonito que já ouvi. Posso sentir suas
palavras contra a minha bochecha; ela está tão perto de
mim.
― Diga-me como você se sentiu ― eu peço. Quero
saber de tudo.
Sua testa franze.
― Você quer dizer, quando estávamos fazendo
isso? ― ela pergunta.
Eu aceno e deslizo minha mão para o alto da sua
coxa, traçando a linha daquele short, o que significa dizer
que estou traçando o vinco da sua coxa. Suas pernas se
abrem muito levemente e meu coração vibra com a
forma como ela responde a mim.
Ela hesita por não mais que um segundo. Então,
começa a falar.
― Eu estava com raiva ― diz ela. ― Chase agiu
como um idiota a noite toda e, então, ele me tocou, e eu
realmente pensei em me afastar dele, mas ele foi tão
irritantemente presunçoso. Não foi só uma reação
instintiva quando bati nele. Eu estava chateada e o acertei
porque eu podia. Só porque ele merecia. Então, roubei o
carro dele e voltei para casa, e ele apareceu. Mas, então,
você estava lá. Eu sabia que você estava no mato e sabia
que você me viu voltar para casa com minha roupa toda
desarrumada e eu fiquei com medo de que você achasse
que tinha acontecido o pior.
― O pior? ― pergunto. Suas pernas se abrem um
pouco mais, e sua boca solta um suspiro pesado
enquanto traço sua coxa. Quero tirar seu short e puxar a
calcinha por suas pernas. Então, quero colocar minha
boca na sua parte feminina molhada e lamber até que ela
goze em meu rosto. Mas seus pais estão lá embaixo.
― Você ficou com medo que eu tivesse beijado
Chase? ― ela pergunta.
Eu não respondo, porque estou muito ocupado
deslizando meus dedos debaixo do seu short, para traçar
a linha da sua calcinha.
― Hum-hum ― eu murmuro.
― Eu pensei nisso ― ela fala. ― Eu queria resolver
isso de uma vez.
Olho para cima. Será que ela realmente disse isso?
― Resolver isso de uma vez?
Ela estremece.
― Você me provoca esses sentimentos, Pete. Não
sei o que fazer com eles, nem de onde vêm. E me
assusta muito saber que posso ficar assim com você
sem ter que me acalmar ou me esforçar para afastar o
medo. Então, eu pensei em testar com Chase. Mas,
quando ele me tocou, não senti nada.
― Ele assusta você?
Ela balança a cabeça.
― Na verdade, não. Ele é um idiota. E eu sabia
disso desde antes de sair com ele. Mas, então, ele roçou
no meu seio e minha pele arrepiou, mas não do jeito
como fica quando você me toca. Então, isso me fez
pensar e me fez querer voltar aqui para você. Mas achei
que deveria encerrar a noite. Aí, ele tocou em meu seio
novamente, nós discutimos e eu bati nele. Não foi uma
reação instintiva, eu quis bater nele. ― Ela estremece
novamente. ― Eu meio que me sinto mal com isso.
Percebi que parei de traçar sua calcinha quando ela
começou a falar sobre isso e olhei em seus olhos.
― Então, você não surtou. Você o acertou de
propósito? ― Ela não faz ideia de como isso me faz
feliz.
― Sim ― ela admite. Mas não está sorrindo. Ela
está pensando nisso ainda. ― Aí, você foi até o celeiro e
me perguntou se eu o beijei e eu não podia mentir para
você. ― Ela vira o rosto e olha em meus olhos. ― Só
quero beijar você, Pete. Você é o único cara com quem
quero estar. Quero que só você me abrace e me toque.
― Ela balança uma mão na frente do rosto. ― Deus,
está ficando quente aqui ― diz ela.
Então, seguro Reagan novamente e seus olhos se
arregalam quando a deito no futon. Separo seus joelhos
muito lentamente e levo minhas mãos até o interior das
suas coxas, abrindo-as, para que eu possa deitar sobre
ela.
Quando sinto seu calor, percebo que ela está
tremendo novamente.
― Está tudo bem? ― pergunto.
― Sim ― ela sussurra e envolve seus braços em
volta do meu pescoço e me puxa para baixo contra seu
peito, onde eu coloco minha cabeça. Viro meu rosto e a
acaricio, percebendo que o bico do seu seio está
exatamente na direção da minha boca. Suas mãos
acariciam meus cabelos curtos e ela continua a falar.
― Então, ontem à noite ― ela fala e espera.
Levanto minha cabeça para que eu possa olhá-la. Seu
lábio inferior está firmemente preso entre seus dentes e
ela se apressa em continuar. ― Eu realmente gostei do
que fizemos na noite passada.
Eu rio.
― Tenho certeza de que sim. ― Deus, me sinto tão
leve e tão pesado ao mesmo tempo. Balanço meus
quadris contra ela e levanto seu traseiro, empurrando sua
parte macia, quente, e provavelmente rosada e bonita
para o meu pau. Merda. ― Eu gostei também.
Ela puxa meu cabelo até que eu olho para seu rosto
novamente.
― Estamos indo muito rápido? ― ela sussurra.
Olho para baixo em direção a onde meu pau está
separado do seu calor pelo meu jeans e por essa pequena
coisa que ela chama de short.
― Vou continuar com minhas calças. Eu juro.
Ela geme.
― Não estou falando sobre isso. ― Ela aponta de
mim para ela. ― Eu e você. Estamos indo muito rápido?
― ela pergunta.
Minha respiração fala.
― Eu não sei ― respondo. ― É muito rápido para
você?
Ela balança a cabeça.
― Nós só nos conhecemos há alguns dias ― ela
fala, como se precisasse me lembrar.
Então, por que eu sinto como se meu coração
tivesse esperado por ela a vida inteira?
― Hum-hum ― eu murmuro enquanto meu corpo
se inclina para que meus lábios possam tocar os dela. Ela
me beija de volta, sua boca suave e insistente contra a
minha. Eu me afasto e ela sorri.
― O quê? ― eu pergunto, seu sorriso contagiante
aparece, fazendo com que eu sinta o meu próprio sorriso
surgir no canto dos meus lábios.
― Esse beijo não foi tão épico quanto aquele ― ela
fala.
Encosto meus lábios nos seus novamente, de forma
lenta e suave, minha língua deslizando em sua boca, meu
coração se regozijando quando ela geme contra mim, seu
toque aveludado e quente.
― Vamos ter que dar um jeito nisso ― eu respondo
quando finalmente levanto a cabeça.
Ela balança a cabeça concordando. Sua boca está
perto do meu ouvido quando ela fala.
― Quero que seja tão épico para você quanto foi
para mim. ― Um arrepio percorre minha espinha e eu
balanço meus quadris, empurrando contra seu calor. Não
consigo me segurar. Merda. ― Deixa-me fazer isso por
você? ― ela pede.
Ela parece tão insegura que percebo o quanto isso é
difícil para ela. Ela não gosta de perguntar, mas não
estaria perguntando se não fosse importante para ela.
― Não com seus pais no andar de baixo ―
murmuro.
― Não quis dizer agora ― ela fala, a respiração
ofegante.
― Oh. ― Graças a Deus.
― Numa outra vez? ― ela pergunta. ― Quando
meus pais não estiverem a poucos metros de nós?
Eu concordo. Merda. No que acabei de me meter?
Ouço uma porta bater e me levanto de cima dela.
Ela fecha as pernas e se senta, puxando o moletom para
baixo. Mas tudo que consigo pensar é no quanto sua pele
é suave e no quanto quero tocá-la. Mais passos soam
pelas escadas. Eu chamo o cão, que pula no meu colo.
Graças a Deus.
O som abafado de passos contra o tapete é o único
aviso antes de seu pai entrar.
― O que vocês estão fazendo? ― ele pergunta.
Seus olhos pousam em mim e, em seguida, no cão.
Sorrio para ele, mas preciso quebrar o contato visual
depois de um tempo. Eu tinha acabado de sair de cima
da filha dele, pelo amor de Deus.
― Conversando ― Reagan responde. ― Precisa de
algo?
― Sua mãe e eu vamos alugar um filme. Quer
assistir?
― Pete também pode? ― ela pergunta e olha para
mim, enquanto eu concentro minha atenção no cão.
Ele balança a cabeça.
― Se ele quiser ― ele responde. Tenho que admitir
que, se eu tivesse um pai, gostaria que ele agisse como o
Sr. Caster. Queria que ele me protegesse de tudo e se
preocupasse comigo. Eu não tenho isso, não de um pai.
Tenho dos meus irmãos, mas não é igual.
― Quer assistir a um filme? ― Reagan pergunta
baixinho, mas ela está sorrindo. Percebo que ela não se
levanta.
Eu concordo.
― Claro.
Ela olha para o pai.
― Daqui a dez minutos? ― ela pergunta.
Ele balança a cabeça, olha para mim por um
segundo a mais, e depois sai.
― Seu pai é bastante impressionante, sabia? ―
pergunto a ela.
Ela revira os olhos.
― Se eu tivesse um pai, gostaria que ele agisse
assim. ― Eu evito o olhar desta vez. Porque não quero
que ela veja muito. Ela já vê o suficiente.
― Seu irmão, o que você não tem falado ― ela
começa. ― Ele tem telefone em seu dormitório?
Eu concordo. Ele tem um telefone celular que Paul
deu a ele quando ele foi embora. Paul também tem um.
Sei o número de Sam de cor, mesmo que eu nunca tenha
ligado para ele. Digito o número um milhão de vezes, e,
então, desligo o telefone porque sou um covarde. Ela
segura o telefone dela em minha direção.
― Está na hora de ligar para ele, Pete ― ela fala.
Em seguida, pega um par de jeans e o puxa por suas
pernas, enquanto eu a observo. É tão sexy observá-la se
vestir, que fico ligado novamente. Ela se inclina e me
beija muito rapidamente.
― Vou fazer pipoca. Desça quando estiver pronto.
Ela sai e fecha a porta. Olho para o telefone.
Quando parei de falar com Sam, senti como se tivesse
perdido um pedaço de mim. Talvez seja a hora de
encontrá-lo. Digito o número e coloco o aparelha na
orelha, sentindo meu coração bater mais rápido agora do
que quando estava sobre Reagan.
Trim.
Trim.
Trim.
Trim.
Ouço sua voz:
“Aqui é Sam. Estou ocupado, então deixe uma
mensagem que eu ligo de volta assim que puder”.
Ouço o sinal sonoro e hesito. Então, limpo minha
garganta. Esse é um momento de recomeços. E não
posso descobrir se ele quer um ou não, a menos que eu
fale com ele.
― Sam, é Pete. ― Paro e penso, apoiando a testa
em minha mão. ― Só queria conversar com você e ter
certeza de que você está fazendo tudo certo. Sinto sua
falta, Sam. É isso. Sinto sua falta. ― Dou um suspiro,
sem saber o que dizer. ― Sam, você acha que pode
voltar para casa neste fim de semana? Quero ver você.
Estou no telefone de uma amiga, então você não vai ter
como me ligar de volta, mas eu gostaria que você
pudesse... eu realmente gostaria. Amo você, Sam. Só
queria dizer isso.
Pressiono o botão para desligar a chamada e olho
para o telefone. Quase estraguei tudo, mas me sinto mais
leve agora. Estou feliz por ter ligado para ele. Sinto muito
a falta dele. Como louco.
Enfio o celular de Reagan no bolso e desço.
Encontro-a na cozinha, despejando a pipoca em uma
tigela. Ela joga uma em mim quando me aproximo e eu a
pego com a boca. Ela ri e apoia o quadril no balcão.
― Conseguiu fazer sua ligação? ― ela pergunta.
Seu telefone vibra em meu bolso.
― Acho que chegou uma mensagem de texto ― eu
falo e devolvo o telefone pra ela. Quero ser intrometido e
olhar para a tela. Ela olha e sorri.
― Acho que é para você ― ela fala. ― Esse é o
número que você ligou?
Eu te amo mais.
Eu sorrio.
― Sim. É de Sam.
― Sam? ― ela pergunta. Sua testa franze e ela
aponta para a parte de trás do seu pescoço. ― O Sam
em seu pescoço? É para o seu irmão?
― Sim. Nosso pai fez as tatuagens porque ele não
conseguia nos diferenciar.
Ela franze a testa.
― Então, por que na sua está escrito Sam?
Eu sorrio e encolho de ombros.
― Como ele não sabia quem era quem, quando ele
colocou Sam sentado para fazer a tatuagem, Sam disse
que era Pete e eu disse que era Sam. Então, nós temos
os nomes um do outro em nossos pescoços.
― Ele não conseguia diferenciar vocês? ― Ela não
está mais rindo e parece um pouco triste.
Balanço a cabeça.
― Somos gêmeos idênticos.
― Uau.
― Nossa mãe ficou louca ― falo com uma risada.
― Ela sabia quem era quem?
Dou de ombros.
― Qualquer um que nos conhece, sabe. ― Isso
não fala bem a respeito do nosso pai, mas é o que é.
Eu a puxo para mim, pelas presilhas da sua calça
jeans, e ela encosta em mim e levanta os braços para
envolver meu pescoço. Eu a beijo rapidamente, mas seu
pai grita.
― Pete, quando você terminar de fazer sexo com
minha filha na cozinha, venham assistir ao filme!
Reagan ri.
Ela balança a cabeça e me toma pela mão, a outra
segurando a pipoca. Sento-me na borda do sofá, e ela se
acomoda ao meu lado, perto, mas não nos tocamos. Seu
pai olha para nós, de onde está sentado ao lado da
esposa, no sofá oposto.
― É bom ver você, Pete ― diz ele.
― Você também, Sr. Caster ― eu digo. ―
Obrigado por me convidar.
Abro um pouco a perna para que a perna de Reagan
toque a minha e ela segura minha mão quando o filme
começa. Droga, isso é tão bom. Amanhã é sexta-feira, e
amanhã à noite é quando vou ter que ir para casa. Eu não
quero ir. Quero ficar ao seu lado para sempre. Desse
jeito.
Reagan

Hoje é o dia em que Pete vai para casa. Fiquei


acordada a maior parte da noite de ontem, pensando
nisso. Não quero que ele vá embora. Meu estômago
retorce em nós com o pensamento de ele ir, e eu olho
para a minha mãe.
― Aborrecida com algo? ― ela pergunta.
Balanço a cabeça.
― Não quer falar, né? ― ela pergunta. Sua voz é
suave, mas ela não está curiosa. Está apenas agindo
como mãe.
― Pete vai embora hoje ― falo em voz baixa.
― Hum ― ela murmura.
― Então, eu estava pensando... ― eu começo
lentamente.
Ela sorri e inclina a cabeça para mim, como um
filhote de cachorro curioso.
― No que você estava pensando?
― Eu estava pensando em voltar para a cidade uma
semana mais cedo ― respondo com a voz hesitante e
calma. Minhas aulas só começam na próxima semana.
Ela leva a xícara de café aos lábios e fala por sobre
a borda, enquanto toma um gole.
― Isso tem algo a ver com Pete? ― ela pergunta.
Não posso mentir para minha mãe. Seria péssimo
para ele se eu tentasse.
― Tudo a ver. ― Sorrio ao ver sua expressão. Ela
está sorrindo também, e é quase contagiante. ― Quero
voltar e passar um tempo com ele. ― Dou de ombros.
― Ver aonde as coisas vão.
― Ele é o cara, hein? ― ela pergunta.
Aceno com a cabeça.
― Sim, acho que sim. ― Minha voz é calma e me
sinto mais leve do que tenho me sentido há muito tempo.
― Quer que eu veja se o médico pode atendê-la
hoje? ― ela pergunta. Médico? Por que preciso de um
médico? ― Você precisa resolver a questão dos métodos
anticoncepcionais.
― Ah. ― Esqueci completamente disso. Sinto
minhas bochechas corarem. ― Você acha que
consegue? ― pergunto e estremeço por dentro. Isso é
tão estranho. Mas com quem eu poderia falar sobre isso
se não pudesse falar com a minha mãe?
Ela pega o telefone.
― Vou ver o que consigo.
― Vou subir e arrumar minhas coisas ― eu falo. A
sensação que tenho é quase vertiginosa. Essa é uma
grande decisão. Só espero que, quando voltarmos para a
cidade, as coisas continuem iguais entre Pete e mim. E
se a gente voltar e a vida real não for boa? E se a magia
não existir? E se ele não gostar tanto de mim quanto eu
gosto dele?
Não consigo encontrar meus chinelos, então vou
até o topo da escada para chamar minha mãe, mas ela
está falando com meu pai. Posso ouvir sua voz, suave e
hesitante. Então, meu pai fala:
― Que porra é essa que você está pensando,
incentivando isso?
Eu congelo. Eu nem deveria estar ouvindo isso, mas
não posso evitar.
― Estou incentivando-a a crescer, querido ― ela
fala. ― Só isso.
― Ela não vai voltar para a cidade. Ainda não.
Absolutamente não. ― Ouço alguns pratos batendo e
estremeço com cada um deles.
― Ela vai. Está arrumando a mala. ― Minha mãe
está tranquila, mas firme.
― Por que isso não te incomoda? Ela precisa mais
da família dela do que de um cara qualquer.
Minha mãe aparece em minha linha de visão, e eu
posso vê-la colocar uma mão calmante sobre o peito do
meu pai.
― Ela não precisa da gente nesta fase da vida dela,
querido ― diz ela. ― Ela precisa dele.
― Por que ele? ― ele rosna.
― Pete é um bom rapaz ― ela responde. ― Você
sabe disso.
Papai reclama de novo e minha mãe ri.
― Não posso gostar de alguém que quer entrar nas
calças da minha filha ― ele resmunga.
― Você pode ver como ela despertou desde que ele
chegou aqui, Bob? ― ela pergunta. Sua voz é firme. ―
Ela não está se escondendo nas sombras e está
permitindo que as pessoas a toquem. Ela está rindo. Está
pensando em outras coisas que não seja se esconder em
seu quarto. Ela está vivendo novamente, Bob. Então,
pare com isso. Ele é bom para ela. ― Ela aponta o dedo
para ele em advertência. ― E você não vai falar nada
disso com ela.
Volto para o meu quarto e recomeço a fazer a mala.
Sinto-me mal pelo meu pai, mas sinto que estou
esperançosa. E eu gosto. Não quero mudar isso. Quero
ir com ele para Nova York e não posso deixá-lo longe de
mim. Não estou correndo atrás apenas de Pete. Essa é a
promessa de um futuro, que vai acontecer com ou sem
ele, mas estou esperançosa pela primeira vez em muito
tempo.
Pete

Está na hora de começar a arrumar as coisas e


colocar no ônibus, mesmo que os campistas ainda não
tenham terminado suas atividades ainda. Mas precisamos
ir embora assim que escurecer, para que possamos
chegar à cidade por volta da meia-noite. Olho ao redor e
sinto raiva por ter que ir. Quando voltar para a cidade,
voltarei para a prisão domiciliar e estarei com meus
irmãos. Gostei da liberdade que tive aqui, embora agora
eu saiba o que desejo conquistar. Não sei como vai estar
a agenda de Reagan, mas espero que ela ainda queira me
ver quando ela voltar para a cidade.
Gonzo aproxima-se e para na minha frente, me
cortando na passarela em direção ao celeiro. Estava
esperando encontrar Reagan lá. Quero falar com ela
antes de ir. Não quero deixá-la, mas não vejo como isso
pode ser evitado. Essa é a primeira vez que Gonzo não
sorri para mim desde que o conheci. Ele parece quase
tão rabugento como me sinto.
― O que houve? ― pergunto.
“O céu”, diz ele apontando para o alto.
― Haha, muito engraçado ― eu digo, mas ele não
ri. ― Tem algo te incomodando? ― pergunto.
“Você”, diz ele.
― Eu? O que fiz para incomodá-lo? ― Volto a
empilhar cadeiras, que é o que eu preciso fazer antes de
ir embora. Ele me segue. Depois, tenho que ajudar a
todos os rapazes do programa a carregar suas malas
para o ônibus.
“Você ia embora sem se despedir?”. Ele olha para
mim.
― Ainda temos algumas horas antes de irmos ― eu
o lembro, olhando para o relógio. ― Estava esperando
que eu não esquecesse de te dar um beijinho de
despedida? ― Vou até ele, passo o braço em sua cabeça
e dou um cascudinho. Ele empurra o braço, afastando-
me. Ele está mesmo irritado? ― Você está falando sério,
não está?
“Pensei que éramos amigos, mas você meio que
despareceu nos últimos dias”, diz ele.
Olho para a casa. Passei um tempo com Reagan,
mas não deixei Gonzo de fora. Além disso, sei que ele
tinha outros garotos para interagir.
― Você chegou a fazer amizade enquanto ficou
aqui? ― pergunto, enfio a mão no bolso e tiro um papel
dobrado. ― Eu ia te dar isso mais tarde, mas acho que
posso fazer isso agora ― eu falo e entrego a ele. ― É
meu telefone e endereço. Espero que você faça contato.
Ele sorri.
“Você me ama”, ele fala por sinais.
Porra, eu amo o merdinha. É difícil não gostar dele.
― Amor é uma palavra muito forte ― eu falo. ―
Tolerar seria uma palavra melhor.
Ele sorri.
“Tolero você também”, ele responde, fazendo aspas
na palavra tolerar. “Se é assim que você fala com as
pessoas que você ama”. Ele me olha nos olhos.
― Obrigado por tudo, esta semana ― agradeço.
“Gostei muito”.
― Também gostei, garoto ― eu falo. ― Quero que
você entre em contato comigo se precisar de mim. Para
qualquer coisa, certo?
Seus olhos brilham e ele sinaliza a palavra sim. Sua
mãe o chama e ele se volta para ir de encontro a ela.
― Ei, Gonzo ― eu chamo.
Ele olha para mim.
― Você é um garoto e fiquei feliz em conhecê-lo ―
eu falo.
“Sim, sim”, ele responde. “Assim você vai me fazer
acreditar que você tem uma queda por mim”. Ele olha
para além do meu ombro. “Por falar em paixões”, ele
sinaliza, aponta e pisca. “Te vejo por aí”.
― Não se eu o vir primeiro ― grito de volta
enquanto ele segue.
Eu rio e viro para onde ele tinha apontado. Mas não
é Reagan. É seu pai e ele vem na minha direção com a
porra do machado. Cruzo minhas mãos na frente do meu
colo e dou um passo para o lado.
― Pete ― ele fala. Ele parece sem fôlego e tenho a
impressão de que ele correu para me encontrar.
― Sr. Caster ― eu falo e olho para o machado de
guerra. Ele o levanta, avaliando-o com avidez, como se
estivesse apreciando meu desconforto. ― Está tudo
bem? ― pergunto.
― Não tem porra nenhuma bem ― ele fala e
esfrega a mão pelo rosto. Então, ele aponta um dedo na
minha cara. ― Brinquei com você a semana inteira, mas
agora estou falando sério.
― Não sabia que estávamos brincando, senhor ―
eu falo.
Ele levanta a mão para me impedir.
― Minha filha gosta muito de você, e essa é a única
razão pela qual eu tenho tolerado você esta semana.
― Hum ― eu começo, mas ele me impede
novamente, com um suspiro abafado.
Ele levanta o machado e eu vou mais para o lado.
― Mas, eu juro por Deus, que, se você fizer
alguma coisa para machucar minha filha, vou cortar sua
cabeça logo após cortar seu pinto.
― Não vou machucá-la, senhor ― eu falo.
Mas ele me corta novamente.
― Quando você voltar para a cidade e não houver
um pai com um machado à espera para castrá-lo,
lembre-se que estou a um telefonema de distância.
Entendeu?
― Claramente.
― Isso é tudo que eu queria dizer. ― Ele suspira.
― Foi bom conhecer você, Pete. Espero que você tenha
uma boa vida se eu não o vir nunca mais.
Ele vai embora, balançando o machado. Merda. Eu
não estava esperando por isso.
Phil assovia quando ele sai de trás de uma árvore.
― Achei, por um minuto, que ele iria te matar ―
ele fala sorrindo e balança a cabeça.
― Você sabe do que se trata isso? ― pergunto,
balançando o polegar na direção do Sr. Caster.
― Hum ― ele murmura. ― Talvez.
― Pode compartilhar?
― Ele é um pai e você é um jovem que gosta da
filha dele. Ele sabe disso e é difícil quando um pai tem
que compartilhar o afeto da filha. Ele foi seu protetor por
toda a vida, e agora, ela vai buscar alguém para
preencher esse papel. Talvez até seja você. ― Ele aperta
os olhos na minha direção. ― Como você se sentiria se
fosse você? ― ele pergunta, fingindo empilhar as
cadeiras comigo, mas ele é astuto e sei disso.
― Eu ficaria em êxtase ― eu digo.
― Você vai vê-la quando voltar para a cidade? ―
ele pergunta. Eu levanto a perna da calça para lembrá-lo
da tornozeleira que estou usando. Ele sorri. ― Tenho a
sensação de que isso não vai detê-la.
― Espero que não. ― Eu respiro fundo. ― Eu
gosto dela, Phil ― eu admito. ― Acho até que estou
apaixonado.
Ele para, mas não esboça expressão.
― Isso assusta você? ― ele pergunta.
Eu rio.
― Muito pelo contrário, na verdade ― eu admito.
Eu me sinto esperançoso. E faz muito tempo desde que
me senti assim.
― Qual é o seu plano para quando você voltar,
Pete? ― ele pergunta.
Eu puxo um pedaço de papel do bolso. Ele me disse
para escrever meus planos. Torná-los reais. E foi o que
eu fiz. Eu começo a ler.
― Um: resolver as coisas com Sam. Dois: decidir o
que quero para o meu futuro. Será que vou querer fazer
faculdade? Será que vou conseguir um emprego? Será
que vou decidir o que eu quero ser quando crescer?
Eu fecho o papel e o coloco de volta no bolso.
― Muito bom ― diz ele, acenando com a cabeça.
― Você acha que eu poderia fazer o que você faz?
― pergunto. ― Você ajuda vários garotos.
Ele balança a cabeça.
― Acho que você seria realmente bom no que faço.
― Talvez eu conseguisse evitar que alguns meninos
acabassem na minha situação.
Ele balança a cabeça.
― Isso é um bom objetivo para se ter. Eu ficaria
feliz em ajudá-lo a decidir se é isso que você quer. Você
poderia até mesmo vir trabalhar comigo por alguns dias e
ver se lhe interessa. ― Ele olha ao redor do
acampamento. ― A maior parte do meu trabalho não é
bem esse glamour, infelizmente. É muito trabalho na
prisão e centro de detenção juvenil.
Eu concordo. Eu ia gostar disso.
― Você sabe onde me encontrar quando chegar em
casa.
Eu sei. E eu vou.
Volto a empilhar as cadeiras até que vejo Reagan
caminhando em minha direção. Ela está sorrindo, e seu
cabelo está solto e balançando em seu rosto. Ela o afasta
com as mãos e sorri para mim.
― Oi, Pete ― diz ela. Ela remexe os seus pés e
olha para baixo, nervosa. ― Meu pai veio? ― ela
pergunta. ― Com um machado?
Aperto meus lábios e tento não sorrir, mas ela é tão
bonita que é difícil.
― Seu pai me assusta pra caralho ― eu admito.
Ela ri.
― Acho que é a intenção dele. ― Ela estreita os
olhos para mim. ― Ele falou com você sobre mim? ―
ela pergunta.
Eu concordo.
― Ele se ofereceu alegremente para cortar fora
certas partes da minha anatomia.
Ela parece desconfortável.
― Não, ele falou com você sobre os planos para
Nova York?
Balanço minha cabeça.
― Quais são os planos? ― Paro de empilhar as
cadeiras e viro o rosto para ela.
Ela remexe os dedos, mas não levanta o olhar para
mim. Ela parece tão desconfortável que eu
imediatamente me sinto mal por ela. Eu me aproximo e
levanto seu rosto.
― Quais são os planos? ― pergunto novamente.
Ela coloca as mãos no meu peito e olha nos meus
olhos.
― Pete ― ela começa. Mas, então, ela para e
balança a cabeça, em seguida, esconde o rosto em minha
camisa e geme. ― Eu me sinto tão estúpida ― diz ela
em meu peito. Eu mal posso ouvi-la. Eu puxo-a contra
mim e a abraço, entrelaçando os dedos atrás das suas
costas. Levanto a barra da sua camisa e coloco minhas
mãos contra sua pele. E ela me permite. Esta parte ainda
me surpreende e me faz derreter cada vez que eu a toco.
Finalmente, ela olha para mim. ― Então, você vai voltar
para a cidade hoje.
Concordo com a cabeça e mantenho meus olhos
fechados. Eu não quero nem pensar em deixá-la. Mas
acho que não tem outro jeito.
― Sim ― eu digo com um suspiro.
― Então ― diz ela, hesitante, inclinando o rosto
para olhar para o meu. Seus olhos verdes piscam para
mim lentamente ―, eu estava pensando em voltar para a
cidade hoje também.
Meu coração pula em meu peito. Seguro-a pelos
ombros.
― Você está falando sério? ― pergunto. Eu mal
posso respirar.
Seu rosto fica triste.
― Você não quer que eu vá ― ela diz baixinho.
Começo a rir e puxo-a contra mim, envolvendo
meus braços firmemente em torno dela e começo a girá-
la tão rapidamente que ela tem que agarrar meus ombros.
― Claro que eu quero que você vá! Você está
brincando? Eu estava preocupado pra caralho que eu não
a veria novamente ou que, se ficássemos algumas
semanas longe um do outro, perderíamos o que temos.
― O que nós temos, Pete? ― ela pergunta
sorrindo.
― Você não sabe? ― pergunto.
Ela balança a cabeça.
― Eu não sou muito boa em ler as pessoas, Pete ―
ela admite, corando.
Eu dou uma batidinha em seu nariz.
― Acho que estou me apaixonando por você,
Reagan ― eu digo. Engulo em seco, porque há de
repente um caroço na minha garganta. Não sei de onde
veio, e não importa o quanto tente engoli-lo, não vai
embora. Espero. Ela tem que dizer alguma coisa, certo?
― Que bom ― ela finalmente diz.
Que bom? É isso?
― Obrigada por me contar. ― Ela sorri e gira para
andar em outra direção.
Eu agarro seu braço e puxo-a de volta para mim, e
meu coração acelera porque ela não me soca, nem me dá
uma joelhada ou me empurra. Encosto-a contra uma
árvore.
― É só isso? ― Meu coração está batendo como
louco. Talvez ela não sinta o mesmo. Talvez eu tenha
falado cedo demais. Talvez eu seja um idiota.
― O que você quer? ― ela sussurra.
Coloco a palma da minha mão em seu rosto e olho
para ela. Reagan é tão linda que mal posso pensar
quando estou tão perto dela.
― Quero que você me ame ― admito.
― Tudo bem ― ela fala. Suas bochechas
ruborizam e achei que ela não poderia parecer mais
bonita do que há um minuto. Mas eu estava errado.
― Tudo bem? ― repito. Deus, agora eu soo como
Link.
Ela solta um suspiro.
― Tudo bem. Certo. Não quero ficar longe de
você. Não posso respirar quando eu penso que você vai
embora. Quero estar com você o tempo todo. Tudo
certo. ― Ela pisca, e então diz: ― Você está dentro de
mim, Pete. E eu quero mantê-lo lá.
Porra. Essa é a melhor merda que já ouvi na minha
vida. Não consigo nem formar um pensamento.
De repente, ouço botas pisando em minha direção, e
eu salto para longe de Reagan quando vejo seu pai
caminhando em nossa direção com aquele machado. Ele
para e olha para mim.
― Pete, você pode me fazer um favor? ― ele
pergunta. Ele não parece muito feliz, mas ele nunca
parece quando está perto de mim.
― O que você precisa, senhor? ― pergunto.
― Reagan está determinada a dirigir de volta para a
cidade esta noite, e será tarde quando ela chegar lá. ―
Ele sacode o polegar na direção em que Phil está de pé.
― Então, perguntei a Phil se você poderia ir com ela em
vez de no ônibus, no caso de ela precisar ou algo assim.
Reagan sorri, e eu quero também, mas me forço a
não fazer.
― Phil disse que está tudo bem? ― pergunto. Olho
para onde Phil está de pé, e ele caminha.
― Você teria que estar em seu apartamento até a
meia-noite ― diz Phil. ― Eu vou saber se você não
estiver. ― Ele faz um gesto em direção à minha
tornozeleira de monitoramento.
― Vou levá-lo direto para casa ― Reagan
resmunga. Ela está sorrindo, e eu quero sorrir com ela.
― E os rapazes? ― pergunto.
― Você pode vê-los no dia seguinte, no grupo. Às
onze, se você quiser ir lá. ― Ele arqueia a sobrancelha
para mim.
― Eu estarei lá ― eu digo. Quero ver esses
meninos. Se eu puder ajudar ainda que seja apenas um
deles, vou me sentir melhor sobre o meu próprio
passado.
― Obrigado, Pete ― diz o Sr. Caster. Ele bate em
meu ombro e aperta um pouco demais, como se
estivesse me dando um aviso. Ele vai embora, deixando-
me com Reagan.
― Vai ser muito tarde quando você me deixar ― eu
digo.
Ela balança a cabeça.
― Eu sei.
― Não quero que você vá para casa, para um
apartamento vazio, sozinha. Vou mandar um dos meus
irmãos com você quando você me deixar. ― Eu gostaria
de poder ir com ela e levá-la até a porta e fazer todas as
coisas cavalheirescas que eu nunca quis fazer antes.
― Vou estar com Maggie ― ela me lembra.
― Ainda assim ― eu digo. Coloco uma mecha do
seu cabelo atrás da orelha. ― Quer fazer uma festa do
pijama na minha casa? ― pergunto.
Seus olhos se arregalaram, e ela lambe os lábios. Ela
está interessada. Eu posso dizer.
― Vou dormir no sofá ― eu digo. ― Vai me matar,
mas vou fazer.
Ela balança a cabeça.
― Eu não vou ficar se você vai dormir no sofá.
Meu coração parece que vai sair pela boca.
― Eu não vou tirar você da sua própria cama ―
diz ela, rindo nervosamente. Seus olhos procuram os
meus, e espero que ela não me observe muito
profundamente porque não sei o que ela vai encontrar.
― Eu vou ficar se você dormir lá comigo ― diz ela. Sua
voz treme.
― Tudo bem ― eu digo em voz baixa. Mas meu
estômago está fazendo cambalhotas. Ela dá um passo na
ponta dos pés e me beija rapidamente.
― Eu tenho que ir cuidar de algumas coisas ― ela
sussurra. Ela me beija de novo, um pouco mais lento
neste momento. Nós vamos fazer uma festa do pijama.
Ela, eu e seu cão.
― Maggie pode ficar também ― eu digo. Eu sou
um idiota, mas eu não consigo nem pensar no momento.
― Vou dizer a ela ― ela sussurra de brincadeira. ―
Ela vai ficar tão animada.
Não tão animada quanto eu.
Reagan

Pete parece ansioso no caminho para casa. Ele


brinca com o rádio e com Maggie. Às vezes, sua mão
segura a minha e ele a aperta como se quisesse me
tranquilizar.
― Tem certeza de que sua família não vai se
incomodar se eu ficar com vocês esta noite? ―
pergunto.
Ele balança a cabeça.
― Tenho certeza. Sam está na faculdade e Emily e
Logan estão morando no apartamento dela, não sei
porque se eles vivem mais no nosso do que no dela,
segundo Matt. Sam e eu dividimos um quarto, e, como
ele não vai estar, você pode dormir na minha cama e eu
durmo na dele.
Merda. Estava esperando que pudéssemos dormir
juntos.
― Ou, talvez, nós poderíamos dormir no quarto de
Logan, já que há uma cama de casal. Só não quis
presumir que você iria querer dormir comigo. ― Ele
presta muita atenção às orelhas de Maggie em vez de
olhar para mim quando diz isso.
― Gosto da segunda opção ― eu falo em voz
baixa. Jogo água no para-brisa, mesmo que ele não
precise ser lavado.
― Ah, é? ― ele pergunta em voz baixa e sorri. ―
Eu estava esperando que você dissesse isso. ― Ele
estremece um pouco. ― Preciso avisá-la de que nosso
apartamento não é nada como a sua casa. Não é em uma
área boa da cidade e é bem pequeno.
― Nada disso importa para mim, Pete ― respondo.
E estou dizendo a verdade. Só quero estar com ele. Ele
poderia viver em uma caixa de papelão que eu não me
importaria. Balanço meu polegar em direção a Maggie. ―
Mas Maggie pode ser um pouco esnobe, no entanto.
Então, talvez você precise ter que mimá-la muito para
mantê-la feliz.
― Maggie é fácil de satisfazer ― ele fala. Ela
passou mal no carro e tivemos que parar por um
momento para limpá-lo. Pete foi ótimo com ela. ― Acho
que ela me ama.
Ele é fácil de amar. Ele sorri para mim.
― Então, você dorme nua? ― ele pergunta. Seus
olhos brilham.
Sinto meu rosto esquentar.
― Não! ― protesto. ― Claro que não.
Ele encosta a cabeça contra o assento, inclinando-a
como um cachorrinho curioso.
― Então, você acha que eu poderia convencê-la a
isso? ― Ele ri da cara engraçada que devo estar fazendo.
― Talvez ― eu digo em voz baixa.
Ele respira fundo. Está surpreso.
― Não tenho certeza se posso manter minhas mãos
longe de você a noite toda ― ele avisa, com a voz
calma, mas forte. Sua voz é mais profunda e mais rouca
do que há um minuto.
― Quem disse que eu quero que você mantenha as
mãos longe de mim?
Ele coloca a cabeça para trás e geme, colocando a
mão em seu peito e respirando fundo.
― Minha virtude está em perigo, Srta. Caster? ―
ele pergunta.
― Se eu tivesse que falar algo sobre o perigo de
manter sua virtude, eu diria que sim ― eu resmungo,
mas ele é tão engraçado que não consigo deixar de sorrir.
― Chegamos ― ele fala e aponta para uma vaga do
outro lado da rua. Eu estaciono e respiro fundo. Não sei
o que fazer, agora que estamos aqui.
― Tem certeza de que quer que eu fique? ―
pergunto.
Ele balança a cabeça.
― É melhor você mandar uma mensagem para o
seu pai e avisar que chegamos na cidade. ― Ele coloca a
coleira em Maggie e a ajuda a sair do carro. ― Enquanto
você faz isso, vou dar uma volta rápida com Maggie e,
então, pego suas malas.
Concordo com a cabeça e digito a mensagem de
texto para o meu pai. Pete faz sons de beijos para
Maggie até que ela o segue.
Eu: Chegamos!
Pai: Já está no seu apartamento? Está tudo certo?
Não quero mentir.
Eu: Não, estou no Pete. Vou conhecer sua família.
Pai: São onze e meia da noite, Reagan.
Eu: Está tudo bem, pai.
Pai: Tenho que dirigir até aí e matar esse garoto?
Eu: Hoje não.
Pai: Me avise quando for preciso.
Eu rio.
Eu: Ok.
Pai: Mande uma mensagem de texto amanhã, para
me avisar que você está viva.
Eu: Amo você!
Pai: Também te amo.
Pete abre a minha porta e se inclina.
― Oi ― ele fala. ― Está pronta para subir?
Abro um sorriso, não consigo evitar. Me movo para
sair, mas Pete me impede.
― Você sabe que não tenho qualquer expectativa
sobre esta noite, certo? ― ele pergunta.
― Eu sei. ― E realmente sei. Ele nunca faria
qualquer coisa que não fosse da minha vontade. ―
Ainda posso ficar?
Ele me puxa do carro e vai para o porta-malas para
pegar minha bolsa. Mas é um grande saco. Eu estava
indo para casa, afinal de contas.
― Só essa ― eu falo, pegando minha bolsa menor.
― Posso passar a noite sem o resto das coisas. Não tem
porque arrastar tudo isso pelo elevador.
Ele ri.
― Você é muito mal-acostumada, não é? ― ele
pergunta.
― O que eu fiz? ― Não entendo.
Ele coloca minha bolsa no ombro, junto com sua
mochila e pega minha mão.
― Moramos no quarto andar. Sem elevador.
― Ah. Sou resistente. Aguento subir.
Ele aponta na direção do prédio.
― Tem certeza de que vai ficar bem com os meus
irmãos? ― ele pergunta. Ele parece mais desconfortável
do que nunca.
― Pare de se preocupar ― eu falo. ― Não sou
feita de vidro, Pete.
Este lugar não é nada como estou acostumada e eu
pulo quando alguém passa por nós. Ele me puxa para o
seu lado.
― Estou com você ― ele fala, em voz baixa. Ele
fala com tanta segurança e eu me sinto completamente
segura com ele. O muro ao lado do seu prédio é
grafitado e eu paro para olhar.
― Vamos lá ― ele fala. ― Quero que você conheça
a minha família.
Subimos quatro lances de escadas e andamos por
um longo corredor. Pete gira a maçaneta e indica que eu
entre na sua frente. Eu entro, com Maggie logo atrás, e
imediatamente ouço a TV. Há homens empilhados como
madeira por todos os lados. Alguém aperta o botão de
pause na TV e todos se voltam para nos encarar.
― Oi ― Pete fala. Ele coloca minha bolsa no chão,
ao lado da dele, e caminhamos juntos para a sala. Os
rapazes se levantam e o maior deles caminha em nossa
direção.
― Achei que você só chegaria mais tarde ― ele
fala e me olha de cima a baixo, mas não de um modo
assustador. ― Quem é sua amiga? ― ele pergunta e
estende a mão para que eu a aperte e eu o cumprimento.
― Sou Paul ― ele fala. Ele é enorme e tem muito mais
tatuagens do que Pete.
Há um outro cara atrás dele. Ele é magro e tem o
cabelo comprido e loiro, que está preso com um elástico
em sua nuca.
― Matt ― ele fala, estendendo a mão para mim.
Então, vejo um cara e uma menina sentados no
sofá. Ela é a loira que vi na prisão e me observa com o
olhar de um negociante de antiguidades, como se ela
estivesse procurando todas as minhas imperfeições.
― Emily ― ela fala com um aceno. ― Logan ―
ela fala, dando um tapinha no peito de Logan. Ele estende
a mão e eu a aperto.
Mas há mais um, e minha respiração falha quando
ele sai de trás de Logan. Ele parece muito com Pete,
deve ser Sam. Olho de um para o outro.
― Eu sou o mais bonito ― Sam fala. Ele estica o
braço como se quisesse me abraçar, mas eu recuo. Não
consigo evitar. Já percorri um longo caminho, mas não
fui tão longe. ― É bom conhecê-la.
Estendo a mão, mas, em vez de apertá-la, ele leva-a
aos lábios. Seu bigodinho curto toca a minha mão.
Remexo os dedos para sair do seu controle, e Pete olha
para ele.
― Mantenha suas mãos longe da minha garota ―
ele rosna. Mas, em seguida, ele abre os braços e Sam o
envolve. Eles se abraçam da forma como os homens
fazem, com muitos tapinhas e palavras murmuradas.
― Estou feliz por você estar aqui ― Pete fala.
― Você me chamou, eu vim. Como um bom irmão
mais velho.
― Oito minutos ― Pete grunhe de brincadeira. Ele
passa um braço em volta dos meus ombros. ― Ele
nasceu oito minutos antes de mim e acha que é o fodão
porque é mais velho.
Ele tosse em seu punho.
― Desculpe. Sou o fodão. ― Ele sorri. Ele parece
tanto com Pete que é quase perturbador.
― Eu acho que vocês são dois merdas ― Paul fala,
vai para a geladeira e pega uma cerveja.
― Você quer algo para beber? ― Pete me pergunta
baixinho.
Balanço minha cabeça.
Ele coloca as mãos em cada lado do meu rosto.
― Você parece um pouco cansada. Quer ir para a
cama?
Eu concordo.
― Nós provavelmente deveríamos.
Ele sorri. Acho que ele gosta da parte do nós.
― Posso tomar um banho antes? ― pergunto.
Ficamos horas no carro, e me sinto meio encardida. E eu
gostaria de estar limpa quando me aconchegasse nua a
Pete, pela primeira vez.
Ele balança a cabeça e me leva até o banheiro, onde
ele acende a luz. Ele pega toalhas e as coloca sobre o
balcão para mim.
― Você precisa de ajuda para tirar a roupa? ― ele
pergunta e balança as sobrancelhas para mim, brincando.
― Sim ― eu falo e fecho a porta atrás de nós.
Pete

Merda. Ela disse que sim.


Ela empurra a porta, que se fecha atrás de mim, e
eu congelo. Quero tocar nela, mas minha família está do
outro lado da porta.
― Você precisa de shampoo ou algo assim? ―
pergunto novamente. Passo por trás dela e abro a cortina
do box. Ainda tem coisas perfumadas de menina, de
quando Emily vivia conosco.
― Gosto da sua família ― ela fala e envolve os
braços ao redor da minha cintura. Ela deita a cabeça em
meu peito e me cheira, fazendo meu coração derreter
como toda vez que ela me toca.
― Estou feliz. ― Eu a abraço. Tinha estado
preocupado que ela ficasse assustada. É muita
testosterona numa casa só. Por sorte, Emily estava aqui
também.
Finalmente, ela se afasta de mim.
― Ok ― ela sussurra. ― Você pode ir. ― Ela
acena em direção à porta.
Eu a beijo, demorando um pouco mais em seus
lábios, mas ela não se afasta de mim. Eu gemo,
empurro-a levemente para trás e ajusto minha calça. Saio
do banheiro e fecho a porta atrás de mim, ouvindo o
som da tranca. Inclino minha cabeça contra a porta e
respiro por um momento. Mas, então, viro e vejo Sam
parado lá.
― Ela é quem eu acho que é? ― ele pergunta
baixinho, com o ombro encostado na parede e os pés
cruzados.
― Quem você acha que ela é? ― eu pergunto,
seguindo para o armário e retirando lençóis limpos para
colocar na cama de casal do antigo quarto de Logan.
― A garota daquela noite ― diz ele em voz baixa.
Ele, obviamente, não quer que mais ninguém ouça. Pedi
aos meus irmãos para ficarem de olho nela. Claro que ele
sabe quem ela é. Paul ou Matt devem ter dito a ele.
Eu concordo. Ele me segue para o quarto e me
ajuda a tirar a roupa de cama, e começamos a colocar os
lençóis limpos.
― Como você acabou ficando com ela? ―
pergunta ele.
― Ela veio me procurar, quando saí ― eu digo.
Não posso explicar mais do que isso. Ela é a razão pela
qual eu estava no acampamento. Não deixa de ser
verdade.
― Você gosta dela? ― ele pergunta enquanto enfia
a ponta do lençol no colchão.
Eu concordo.
― Muito ― eu admito.
― Uau. ― Ele suspira. Sua testa franze. ― Você
está apaixonado por ela.
Aceno, sorrio e sinto meu rosto esquentar.
― Muito ― falo novamente.
Maggie entra no quarto e deita-se aos meus pés.
― Belo cão ― diz ele.
― Ela é uma assassina treinada ― eu falo.
Ele ri.
― Até parece.
― Tente chegar perto de Reagan e veja o que
acontece ― eu aviso. Não estou brincando. Essa cadela
quase me fez mijar nas calças naquela noite.
― Acho melhor não ― ele fala. ― Então, você está
bem? ― ele pergunta.
― Desculpe-me ― eu deixo escapar. Ele olha para
cima, chocado.
― Por quê? ― Sua testa franze.
― Por ter te ignorado. Por não responder suas
cartas. Por ter sido bruto com você quando lhe disse
para correr.
Ele abre a boca espantado, como se não soubesse o
que dizer.
― Eu deveria ter ficado.
― Não quis que você ficasse. ― Dou um suspiro
profundo. ― Eu estava com inveja ― admito. Dói pra
cacete, mas é a verdade. ― Você foi para a faculdade e
começou a viver o meu sonho. E eu não estava lá. ―
Nós nunca, nunca mesmo, nos separamos antes disso.
Ele senta na beira da cama.
― Fomos muito estúpidos em trabalhar com Bones,
mesmo sabendo que era errado.
Eu concordo.
― Dois idiotas.
― Nós deveríamos ter pensado melhor.
― Sim. ― Sento-me ao lado dele.
― Você quer me beijar e fazer as pazes agora? ―
ele pergunta, sorrindo.
Aproximo-me mais e o abraço, puxando-o para a
cama no processo e ele envolve seu braço em volta de
mim. Começamos a lutar e ele me vira na cama. Tento
escapar do seu abraço e é minha vez de estar no topo.
Ele faz um barulho, porque sabe que vou afrouxar o
aperto e, então, ele me vira novamente. Estou prestes a
empurrá-lo quando ouço Maggie. Sam congela em cima
de mim e olha para baixo.
Merda. Maggie está com os dentes à mostra para
ele e está rosnando.
― Acho que você vai querer me soltar ― falo.
― Ela vai me morder? ― ele pergunta.
― Porra, não sei. ― Ele levanta as mãos e vai para
o outro lado do quarto. Maggie pula em cima da cama,
ficando entre nós dois e rosna.
― Mags ― eu a chamo, como Reagan. Maggie vira
e desliza a cabeça para debaixo da minha mão. Solto uma
risadinha. ― Essa merda é engraçada.
Sam parece não concordar, se sua carranca é uma
indicação.
― Você me trocou por um cão de merda ― ele
fala, mas um sorriso aparece em seu rosto.
Acaricio Maggie atrás das orelhas. Ela me ama.
― Está tudo bem, garota ― falo para ela. Ela cheira
minhas mãos, os olhos indo e voltando entre Sam e mim.
― Ela pode nos diferenciar. Que coisa!
Sam sai do quarto e eu o sigo, com Maggie logo
atrás de mim. Sento-me no sofá, e ela cai aos meus pés,
colocando a cabeça em suas patas.
Eles ainda estão com o filme desligado, e posso
dizer que eles estão esperando para me enquadrar.
― Vocês dois já fizeram a maquiagem? ― Paul fala
nos sacaneando, enquanto cruza um pé sobre sua perna.
Ele está tentando parecer casual, mas nós sabemos que
não há nada de casual quando ele fala sério sobre algo. E
ele está falando sério sobre isso.
― Nós tentamos, mas Pete mandou seu cachorro
me atacar ― Sam implica. Ele senta-se no braço do
sofá. Emily está no colo de Logan na cadeira do papai, e
Matt e Paul estão no outro sofá.
― Quem é a garota? ― Paul pergunta, apontando o
polegar na direção do banheiro.
Olho para lá e sinto meu coração apertar só de
pensar nela.
― O nome dela é Reagan. Você não se importa que
ela passe a noite, né?
Sam levanta a mão como se estivesse pedindo para
fazer uma pergunta.
― Ela pode dormir no meu quarto.
Lanço uma almofada em sua cabeça, mas ele desvia
e a segura.
― Aquela Reagan? ― Matt pergunta. Ele pega uma
lata de nozes da mesa de centro e coloca um punhado na
boca.
― Sim ― respondo. ― Mas não toque nesse
assunto com ela, tá? ― Eles sabem sobre o estupro. ―
E não aja como se sentisse pena dela, quando ela estiver
por perto, tudo bem? Ela é muito fechada sobre isso.
― Não tenho pena dela ― Emily fala. ― Eu a
admiro muito.
Ela rouba as nozes de Matt. Ele tenta pegar de volta,
mas está brincando. Ele adora Emily. Todos nós
adoramos.
― Bom, eu a adoro, então, por favor, sejam legais
com ela.
Meus irmãos congelam. Todos, menos Sam, que
está ocupado tentando roubar as nozes de Emily. Ela dá
um tapa em sua cabeça e ele desiste, mal-humorado.
― Você a ama? ― Paul pergunta baixinho.
Não consigo tirar o sorriso do rosto.
― Sim.
― Ele está enfeitiçado ― Sam fala. ― Sabe,
daquele jeito que o cara transa com uma garota pela
primeira vez e não consegue parar de pensar em fazer
mais e mais.
Jogo outra almofada em sua direção.
― Nós não fizemos isso ― falo em voz baixa. Olho
para a porta, não quero que ela me ouça.
― Não? ― Matt pergunta. Ele se aproxima e senta
em cima de Emily, que ainda está no colo de Logan, e
rouba as nozes dela. Ela se contorce e, finalmente,
desiste. Ele estende uma para ela, que abre a boca como
um pássaro para que ele possa colocar. Então, ele sai de
cima dela.
― Não. ― Deus, eles são intrometidos. ― Ela tem
um apartamento na cidade, mais perto de onde Emily
mora.
― Ah, então podemos levá-la para casa ― Emily
fala, mas já está assediando Matt com a lata de nozes
novamente. Ele vira para o outro lado do sofá,
protegendo-se com o cotovelo e come enquanto se
recusa a deixá-la pegar. ― Logan! ― ela chama, mas
está rindo.
Logan apenas sorri.
― Quero que ela fique aqui ― eu digo, balançando
a cabeça para Emily. Matt permite que ela pegue, ela
então se inclina contra ele, com a cabeça em seu ombro.
Ele gosta de ficar abraçado com ela. Ela é como uma
irmã para todos nós, e espero que Reagan se encaixe
como Emily, um dia. Mas eu realmente não consigo
imaginá-la lutando com eles do jeito que Emily faz.
― O que aconteceu com seu olho? ― Paul
pergunta. Meu olho ainda está um pouco azulado, de
quando ela me bateu.
― Reagan me bateu ― eu admito. Logan sorri.
― Case com ela ― diz Logan. ― Case com ela
imediatamente.
Eu concordo.
― Acho que sim ― eu digo em voz baixa e vejo
seus rostos. Todos olham para mim, e, em seguida,
Logan começa a rir. Ele se levanta e bate a palma da sua
mão na minha.
― Graças a Deus ― diz ele. ― Achei que Emily
seria a única garota da família para sempre.
― Emily não é uma garota ― Matt fala, fazendo
uma careta com o pensamento dele. Ela sorri. Mas ela
realmente não é. Não para qualquer um de nós.
― Então, vocês vão ser legais com ela, certo? ―
pergunto.
― Dã ― Sam fala, rolando os olhos, enquanto vai
na cozinha pegar uma cerveja. Ele traz uma para mim,
mas eu balanço a cabeça. Vou ter Reagan pela primeira
vez em meus braços, esta noite, e quero manter minha
cabeça limpa.
Ouço a porta do banheiro abrir e levanto. Reagan
caminha até o meu lado e sussurra:
― Qual é o nosso quarto? ― Seu cabelo está solto
e úmido, pendendo sobre os ombros. Seu rosto está sem
maquiagem, e ela cheira tão bem que quero lambê-la.
Ajeito minha calça e Matt dá uma risadinha. Olho feio
para ele, que acena em direção ao quarto. É um aviso
sutil, mas eu entendo.
― Foi bom conhecer você, Reagan― diz ele.
― Igualmente ― ela responde, mas já estou
conduzindo-a para o nosso quarto. Eu espero Maggie
entrar no quarto com a gente e, em seguida, fecho e
tranco a porta. Ela olha em volta.
― Estou nervosa ― diz ela rapidamente. Ela segura
sua bolsa, e percebo que está vestindo as mesmas
roupas de antes.
― Você precisa de algo para dormir? ― pergunto.
Ela balança a cabeça e sorri timidamente para mim,
evitando o meu olhar.
― Você poderia virar-se por um segundo? ― ela
pergunta.
Eu sorrio e fico feliz pra caramba que ela pediu.
Ouço um farfalhar de roupas e lençóis atrás de mim e,
quando olho para trás, ela está deslizando entre os
lençóis da cama que vamos compartilhar. E ela está
completamente nua.
― O que você está fazendo? ― pergunto.
― Indo para a cama ― diz ela, olhando para mim
como se eu tivesse louco. Ela rola para o lado dela da
cama e descansa a cabeça na palma da sua mão, o
cotovelo apontado para a cabeceira da cama. Ela dá um
tapinha no espaço ao lado dela. ― Você vem?
Sua voz está tremendo, então eu sei que ela não está
tão tranquila quanto ela quer que eu pense.
Aponto para seu corpo debaixo das cobertas.
― Você está sua sob isso?
Ela levanta a ponta do cobertor e olha para baixo.
― Ainda estou de calcinha ― ela sussurra.
Jesus Cristo. Passo a mão pelo meu cabelo.
― Ok ― eu digo lentamente.
Tiro meus sapatos e sento-me à beira da cama para
tirar as meias. Tido os jeans e puxo a camiseta sobre a
cabeça. Deslizo por entre os lençóis, ainda usando a
boxer, tentando ficar longe dela, para que ela não veja o
quanto meu pau está duro. A última coisa que quero é
assustá-la.
Sinto a ponta dos dedos no meu braço e solto um
suspiro.
― Jesus ― eu digo.
Seus dedos ainda estão em mim.
― O que há de errado? ― ela pergunta.
― Nada ― murmuro.
Ela se senta.
― Você tem certeza? ― Ela agarra a colcha contra
o peito.
― Sim ― falo. Seus dedos começam a traçar
minhas tatuagens novamente.
― Você acha que você poderia fazer uma tatuagem
em mim? ― ela pergunta.
Finalmente, um tema seguro.
― O que você quer? ― pergunto e rolo para
encará-la.
Ela encolhe os ombros.
― Eu não sei.
Viro em direção à mesa de cabeceira e abro a
gaveta. Esse costumava ser o quarto de Logan e ele é
um artista, por isso há uma gaveta cheia de canetas e
marcadores. Pego algumas e coloco-as na cama.
― Vire-se ― eu digo.
― Por quê? ― Sua testa franze.
― Apenas confie em mim ― eu digo, e faço um
movimento para ela rolar, novamente. Ela faz, olhando
para mim por cima do ombro enquanto se vira. Ela está
enrolada no cobertor quase até os ombros. ― Posso
abaixar isso um pouco? ― pergunto.
Ela balança a cabeça e passa o braço ao redor do
travesseiro, então descansa seu rosto nele. Ela sorri
suavemente.
― Tudo bem ― diz ela calmamente, mas sua
respiração parece mais acelerada agora. Seu braço está
arrepiado, assim como a parte de trás do seu pescoço.
Abro a caneta e toco-a em suas costas, desenhando
rapidamente uma borboleta.
― Podemos fazer uma borboleta como esta.
Ela olha para trás, virando um pouco para olhar
para o que eu desenhei, e eu vejo o lado de seu peito nu.
Bom Deus. Esfrego uma mão pelo meu rosto.
― Eu gosto dela, mas eu estava pensando numa
mais delicada, com videiras. Talvez aqui do lado. ― Ela
abaixa a coberta, e posso ver o topo da sua bunda e o
elástico da calcinha.
― Você quer espinhos? ― pergunto quando
começo a desenhar.
Ela balança a cabeça, rindo enquanto eu me movo
para o seu lado.
― Isso faz cócegas ― ela ri.
― O que você escolher, vamos pedir a Logan para
desenhar, então com certeza vai ficar espetacular. Aí, eu
posso tatuar em você. ― Desenho por toda a sua lateral
e, em seguida, coloco uma flor no lado do seu peito. Sou
um cara. Não tenho como não tocá-la. Sim. Eu quero.
― Vire só um pouco.
― Por quê? ― ela pergunta, mas já está cobrindo
os seios com as mãos enquanto vira. Apoio as pontas
dos dedos sobre seu seio esquerdo para que eu possa
terminar meu desenho. Acho que pego um flash de seu
mamilo, e minha respiração falha.
― Lindo ― murmuro.
― Posso ver? ― ela pergunta em voz baixa.
― Não até que eu termine. ― Ela relaxa enquanto
eu continuo desenhando pelo seu estômago. Então, eu a
viro de costas novamente. ― Podíamos fazer uma tramp
stamp ― eu falo.
― O que é isso?
― Uma tatuagem sobre o seu bumbum. São muito
populares. ― Começo a escrever algumas palavras sobre
seu bumbum, mas o elástico da sua roupa fica no meu
caminho. ― Posso abaixar um pouco? ― pergunto.
Estou em território perigoso e sei disso.
― Sim ― ela respira fundo.
Dobro sua calcinha mais para baixo, para que eu
possa ver o topo das suas nádegas. Sorrio enquanto
desenho. Porra, eu amo que ela confie tanto em mim.
― Você definitivamente precisa de uma tatuagem
aqui ― eu digo. Balanço meus quadris contra o colchão,
tentando ajustar e aliviar um pouco a dor em minhas
bolas. Não funciona.
Dou-lhe a minha camisa para cobrir seus peitos
porque não aguento ficar olhando para eles escaparem
por entre seus dedos, quando ela rola. Eu gentilmente
viro-a e coloco minha camisa sobre seus seios, para que
eu possa ver a sua barriga. É plana, e os quadris são
curvos. Puxo a calcinha para baixo um pouco para que
eu possa desenhar no lado de seu quadril.
― Você pode tirá-la ― ela sussurra. Suas palavras
são suaves, mas caem como uma bomba em meus
ouvidos. Estou de joelhos entre suas pernas dobradas, e
olho para o rosto dela.
― Tem certeza? ― pergunto.
Não consigo evitar de lembrar da última vez que a
ajudei com a calcinha, mas eu afasto essas memórias e
beijo o interior da sua coxa antes de puxar sua roupa
íntima para baixo e atirá-la para o lado. Tiro-a, mas
continuo com os cobertores amontoados sobre a área
em que não estou trabalhando. Beijo seu umbigo e
mergulho minha língua nele. Ela se contorce.
― Deveríamos perfurar aqui ― falo. ― Você tem
uma barriga perfeita para isso.
― Onde mais você colocaria um piercing em mim?
― ela pergunta. Sua voz está trêmula e eu adoro isso,
porra. Ela está tão ligada que ergue seus quadris na
direção do meu rosto, enquanto desenho a parte que fica
logo acima dos seus pelos encaracolados e curtos, que
cobrem seu monte. Puxo os cobertores e passo os
dedos, mergulhando-os em sua fenda molhada.
― Aqui ― eu digo.
― Aí? ― Ela suspira, mas se contorce contra
minha mão, então eu empurro meus dedos um pouco
mais. Abro muito suavemente suas pernas e coloco as
canetas para o lado. ― Acabou de me tatuar? ― ela
pergunta, respirando como se tivesse corrido dez
quilômetros em cinco minutos.
― Posso te beijar? ― pergunto. Eu não quero fazer
nada que ela não queira.
― Você teria que vir até aqui para isso ― diz ela.
Passo meu polegar em seu clitóris, espalhando-a
para que eu possa ver o que estou fazendo.
― Não ― eu digo. ― Eu quero dizer aqui embaixo.
Sua respiração falha.
― Você quer? ― ela pergunta e ajusta os
travesseiros atrás dela para que fique mais elevada, numa
posição em que ela possa me assistir.
Eu rio.
― Oh, sim, eu quero ― eu digo. O clitóris está
inchado, e eu o empurro com o polegar. Inclino-me e a
lambo. Quero deslizar o dedo para dentro dela, mas
tenho medo que ela não esteja pronta para isso. Tenho
medo de tudo, no que se refere a ela, porque não quero
estragar o que temos. ― Quero lamber você até que
você goze em meu rosto.
Ela geme quando baixo a cabeça e chupo seu
clitóris. Seus joelhos levantam para que ela possa
balançar contra a minha boca. Olho para cima e vejo-a
morder os lábios, enquanto seus olhos se fecham.
― Pete ― ela geme. Aceno, mas continuo a
chupar. Ela está tão molhada e aberta para mim, além do
fato de ela confiar em mim, faz com que essa seja a
coisa mais perfeita que já fiz na vida. ― Pete ― ela
geme novamente. Seus dedos deslizam por meus cabelos
e ela me empurra para a esquerda. Eu permito que ela
controle um pouco, mas, então, assumo novamente o
domínio sobre seu clitóris. Ela grita quando eu o chupo
novamente, sua respiração irregular e instável. ― Pete
― ela geme novamente. ― Pete, Pete, Pete ― ela geme.
Seus olhos se fecham e sua cabeça cai para trás, e então
ela chega ao clímax. Seguro sua mão e entrelaço meus
dedos nos dela quando ela tenta empurrar minha cabeça.
Os movimentos da minha língua ficam mais gentis e ela
relaxa, seu corpo pulsando enquanto ela faz isso. Ela
goza no meu rosto e eu amo o que a faço sentir. Ela
treme e balança, fazendo todos aqueles ruídos que me
deixam louco. Ela empurra minha testa e sussurra: ― Eu
não aguento mais. Por favor, Pete. ― Mas ela ainda está
estremecendo e eu continuo a estimulá-la. Então, abro-a
com meus polegares e a lambo de cima para baixo, mais
e mais. Ela está tão molhada e tem um gosto tão bom,
além desses pequenos tremores que ainda tomam seu
corpo. Limpo meu rosto na parte interna da sua coxa e
subo por seu corpo. ― Oh, meu Deus ― ela geme. Seu
corpo macio está relaxado debaixo de mim. Eu a beijo e
espero que ela possa notar que estou feliz pra caramba
pelo que ela me deixou fazer. Ela levanta a cabeça. ―
Você faz alguma coisa que não seja épica? ― Ela ri. É
um som feliz, e eu quero ser o responsável por ele mais
e mais.
― Eu sou o cara ― eu digo e a beijo, mordiscando
seu lábio inferior. Estou muito duro contra sua barriga e
tenho medo de assustá-la.
― E quanto a você, Pete? ― ela pergunta e desliza
os dedos pela minha barriga, seus olhos bem abertos
enquanto ela alcança meu membro e envolve seus dedos
ao meu redor e me segura com firmeza.
Enterro meu rosto em seu pescoço. Eu só vou
deixá-la me tocar por um segundo. Mas um segundo é
tudo o que preciso.
― Oh, merda ― eu gemo, sentindo seu toque e
gozo em sua mão. Fecho os olhos enquanto ela faz um
som feliz e me seguro com mais firmeza ainda. Empurro
em seu punho, que agora está molhado com meu prazer.
Ela passa o polegar na ponta a cada impulso do meu
quadril. Ela está me tocando e vejo que fiz uma sujeira
enorme na sua barriga. Olho para cima e vejo seu rosto.
Ela está rindo. Acho que nunca vi seu olhar tão feliz. Ela
me abraça com a mão limpa e me mantém apertado
contra ela. Sua outra mão ainda está presa entre nós e ela
ainda está segurando meu pau. Puxo meus quadris para
trás, tentando sair do seu aperto, e gemo quando ela me
aperta com mais força. Jogo a camisa que está sobre
seus seios para o lado e coloco minha testa contra a sua
pele nua, tentando recuperar o fôlego. ― Sinto muito ―
eu falo. Eu não queria fazer isso.
Ela segura meu rosto e o levanta para que eu possa
olhar para ela. Ela está sorrindo.
― Você está brincando? ― Ela ri. ― Isso foi
incrível.
― Sim, foi mesmo ― eu falo e a beijo. Não
consigo parar. ― Estamos uma bagunça ― advirto.
― Eu não me importo. ― Ela ri, e eu nunca, nunca
ouvi um som mais feliz.
― Você está bem? ― pergunto. E se ela estiver
delirando do stress pós-clímax?
Ela coloca a cabeça para trás contra o travesseiro, o
peito tremendo de tanto rir.
― Acho que gozei no seu rosto ― ela responde e ri
novamente.
Eu rio também. Não consigo evitar. Sua felicidade é
contagiosa. Ela está loucamente feliz. Assim como eu.
Reagan

Acordo nos braços de Pete, nossos membros nus e


entrelaçados. Pete tinha tirado sua cueca samba canção
para limpar a bagunça entre nós e, então, deitou nu na
cama, assim como eu. Ele me puxou contra seu peito e
beijou minha testa, murmurando baixinho sobre como eu
era incrível. Não acho que foi tão surpreendente para ele
quanto foi para mim. Ele teve que trabalhar para me
fazer chegar lá, e tudo o que precisei fazer foi tocá-lo
muito rapidamente. Sorrio contra meu travesseiro ao
pensar nele. Perfeito. Era isso. Perfeito.
Ele se mexe quando eu começo a me mover e seus
braços me puxam para ele. Mas agora sei o que me
acordou. Maggie está pedindo atenção ao lado da cama e
preciso me levantar. Vou ter que ligar para o veterinário.
Isso não é normal para ela, de jeito nenhum. Acho que
ele pode esperar até o sol raiar. Olho para o relógio na
mesa de cabeceira, ainda nem é de manhã.
― Já volto ― sussurro para Pete. Ele rola em seu
travesseiro e nem tenho certeza de que está acordado.
Ele faz um som baixo, mas é mais um murmúrio. Puxo a
camiseta de Pete sobre a cabeça e visto minha calça
jeans. Calço o chinelo de Pete. Ele não vai se importar.
Não estou usando calcinha, mas só preciso ir ao
banheiro e encontrar algo para limpar a bagunça de
Maggie. Faço um carinho em sua cabeça e ela me olha
como se estivesse arrependida. O corredor está escuro
quando saio, e levo um minuto para me orientar.
Volto, limpo o chão e vou fazer xixi rapidamente,
mas, quando volto, Maggie está em pé na porta da
frente, arranhando-a. Ela precisa sair. É meio da noite e
não estamos numa boa parte da cidade.
― Oh, Mags ― falo. ― Não pode esperar? ―
Jogo a cabeça para trás e solto um gemido. Acho que
vou acordar Pete. Eu realmente não quero ir lá fora
sozinha. Então, de toda forma, lembro que vou estar
com Maggie.
Papéis farfalham na mesa da cozinha e eu levo um
susto. Um dos irmãos está sentado lá, e ele fecha um
livro que está na sua frente. É aquele com rabo de cavalo
– Matt? Ele coloca a caneta sobre a mesa e pergunta
baixinho.
― Ela precisa sair? ― Ele se levanta e calça os
sapatos. ― Vou levá-la. ― Ele caminha em minha
direção.
― Você não precisa se incomodar ― falo. Dou um
passo para trás e Maggie rosna para ele. Ele afasta as
mãos. ― Mags ― eu a repreendo. Ela enterra a cabeça
em minha mão e, então, corre de volta para a porta,
voltando a arranhá-la. ― Vou levá-la lá fora rapidinho ―
falo e volto para o quarto, pegando a coleira de Maggie e
prendendo-a em seu pescoço.
Abro a porta e saio, mas, antes que eu consiga
fechá-la atrás de mim, Matt se junta a mim.
― Você não tem a obrigação de ir ― falo.
Ele coloca as mãos nos bolsos e passa por mim,
abrindo a porta em direção à escada. Ele não dá uma
palavra. Só caminha conosco para fora, em direção à
rua, nos levando a uma área gramada e com árvores. É
pequeno, mas vai servir. Maggie imediatamente faz xixi e
volta a andar em círculos ao redor das minhas pernas.
― Pronto? ― ele pergunta, enquanto afasta os
cabelos que escaparam do elástico. Ele não se parece
muito com Pete, não é tão largo quanto ele, mas posso
dizer que ele é magro e forte. Ele não me faz sentir
ameaçada, e isso me surpreende. Os homens, em geral,
costumam me apavorar.
― Sim ― eu falo e começamos a voltar para o
apartamento.
A cidade não está dormindo. Eu duvido que ela
durma, e alguns homens a pé passam por nós usando
bonés e camisas de futebol. Eu aperto o passo e fico ao
lado de Matt. Ele coloca as mãos nos meus ombros e
diz:
― Cuidado. ― Ele aperta meus ombros
suavemente, e, em seguida, recua. Ele segura a porta, e
eu passo por ela sem tocá-lo. Mas, lá no meu íntimo,
fiquei pensando que ele não fez minha pele arrepiar. ―
Você está bem? ― ele pergunta quando nós começamos
a subir as escadas.
Eu concordo, mas estou com um grande nó na
garganta. Tenho oficialmente três homens em minha vida
que não me assustam: meu pai, Pete e esse cara que nem
conheço. E o fato de que não o conheço, mas não me
sinto mal por ele me tocar, me espanta.
― Obrigada por me acompanhar ― eu falo.
― Eu não podia deixar a garota de Pete sair
sozinha, no escuro. Ele nunca me perdoaria. ― Meu
estômago dá um nó com sua escolha de palavras. A
garota de Pete.
― Eu acabaria acordando-o. Acho que ele não se
importaria.
Ele bufa.
― Você nunca viu Pete na parte da manhã, né?
Acho que não. Não quando ele sai da cama.
― Não ― admito. Mas, até hoje, ele nunca havia
gozado em minha mão, então acho que estou começando
a aprender as coisas sobre ele; como ele fica de manhã é
só uma delas.
Estamos no meio das escadas quando percebo que
Maggie não está nos acompanhando. Eu a tirei da coleira
ao passarmos pela porta, porque ela sempre me segue
muito de perto. Olho para baixo e a vejo no andar de
baixo, deitada no chão, ofegante.
― Maggs? ― chamo. Ando em direção a ela, que
se arrasta até meus pés. Mas ela está exausta e se recusa
a subir as escadas,
― Será que ela me deixaria levá-la?
Eu duvido. Eu mesma posso carregá-la, mas, antes
que eu possa dizer isso, ele vai até ela, permite que ela
cheire sua mão e acaricia sua cabeça e suas costas.
Então, ele a ergue nos braços e a leva até as escadas. Ela
não se queixa, nem tenta mordê-lo.
Ele espera que eu entre no apartamento, coloca-a
para baixo e, então, se senta no chão, deixando-a ficar
em seu colo.
― Ela não costuma gostar de pessoas ― eu digo.
Ele sorri.
― Eles podem dizer quando somos inofensivos ―
diz ele em voz baixa. ― Você quer que eu encontre um
veterinário, hoje à noite? ― ele pergunta.
― Acho que ela vai ficar bem até de manhã, não é?
― Eu nunca sei o que fazer em emergências. Eu nunca
tive de lidar com uma sozinha.
― Provavelmente ― diz ele, que se levanta e eu
percebo como ele é grande. Ele não é tão alto quanto
Pete, mas tem tantas tatuagens quanto ele, mas Matt é...
diferente. É difícil de explicar. ― Quer beber alguma
coisa? ― ele pergunta baixinho enquanto vai para a
geladeira.
Eu aceno e ele me entrega uma garrafa de água.
Vejo-o tirar um pote de sorvete da geladeira. É Rocky
Road, meu favorito.
― Quer um pouco? ― ele sussurra e pega duas
taças, colocando sorvete em cada uma delas.
― Nós acordamos você? ― pergunto, sentando à
mesa, quando ele me dá uma tigela e uma colher.
― Não. ― Ele balança a cabeça. ― Às vezes, eu
não durmo bem, então eu levanto e escrevo. ― Ele dá de
ombros. ― Isso ajuda a arejar minha mente.
― O que você escreve? ― pergunto.
― É uma espécie de diário ― ele fala. ― Eles me
fizeram começar a fazer isso quando acharam que eu iria
morrer. ― Ele ri, mas não há humor na sua risada.
Tiro a colher da boca. Este sorvete é muito bom
mesmo.
― Você está melhor agora, não é?
― Acho que sim ― ele fala. ― Tenho que voltar
semana que vem para refazer os exames.
― Oh. ― Não sei o que dizer.
― Posso te perguntar uma coisa? ― ele pede.
― Acho que sim.
― O que você sente por Pete ― diz ele ― é afeição
verdadeira? Ou gratidão?
Engasgo com meu sorvete. Ele não desce. Quando
finalmente consigo engolir, respondo:
― Não consigo definir tão facilmente.
― Experimente ― ele fala. ― Ele é meu irmão.
Estou preocupado.
Aponto a colher em direção ao meu peito.
― Comigo?
― Sim ― ele resmunga. ― Meu irmão mais novo
está apaixonado ― ele fala e sorri suavemente. ― Estou
feliz por ele, mas, ainda assim, não quero vê-lo se
machucar.
― Também não quero isso. ― O sorvete gela meu
corpo. ― Nós ainda estamos vendo aonde isso vai dar.
Ele sorri.
― Fico feliz em ouvir isso. ― Ele limpa a garganta.
― Já vi Pete com várias mulheres, mas ele nunca olhou
para nenhuma como olha para você.
Uau. Não sei como responder.
― Só tenha cuidado com ele, está bem? ― ele fala.
A porta do corredor faz barulho e eu ouço rápidos
passos. Uma menina loira está no corredor e olha de
longe para mim. Ela usa uma camisola da Sininho.
― Oi ― eu falo e olho para Matt, mas ele apenas ri.
― Você não deveria estar aqui ― ele fala e faz um
gesto para ela se aproximar. Então, ela se instala em seu
colo. ― Acho que ela consegue sentir o cheiro de
sorvete a quilômetros de distância. ― Ele ri e afasta os
cabelos do rosto dela com delicadeza.
― Ela é sua?
Ele ri.
― De Paul. Ela fica aqui a cada duas semanas.
Quando você chegou, ela já estava na cama. ― Ele
volta-se para ela. ― Fale seu nome para ela.
― Meu nome é Hayley ― diz ela, lambendo os
lábios e olhando para a tigela dele. Ele solta um suspiro e
entrega a colher, mas está sorrindo.
― Hayley, esta é Reagan. Ela é a namorada do Pete.
Meu coração incha com suas palavras.
― É muito bom conhecer você ― eu falo.
Ela não afasta os olhos do sorvete até que a colher
caia na tigela vazia.
― Acho bom você voltar para a cama, antes que
seu pai descubra que você fugiu ― ele fala e a coloca no
chão. Ela o beija no rosto e corre de volta para o
corredor, seguindo para o quarto.
― Ela é adorável ― eu digo.
― Acho que adorável não é bem a palavra certa
para descrever Hayley ― ele fala com uma risada. ― Ela
vai fazer cinco anos.
― Você tem filhos? ― pergunto.
Seus olhos azuis encontraram os meus, e eles estão
cheios de tristeza.
― Crianças não estão no meu futuro. Eu adoraria
ter filhos, mas, depois do tratamento, há uma boa
chance de não acontecer. ― Ele afasta o cabelo do rosto
e os prende novamente com o elástico. ― Então, preciso
mimar Hayley. Paul me mataria se descobrisse que ela
estava tomando sorvete no meio da noite.
Levo nossas tigelas até a pia e as lavo.
― Obrigada pelo sorvete e por me ajudar com
Maggie ― eu falo.
― Tem uma mulher que conheci na quimioterapia.
Ela está morrendo. ― Ele olha ao redor, como se não
soubesse para onde olhar. ― Seu filho me ligou hoje e
perguntou se eu queria visitá-la.
― Você vai? ― pergunto
― Estou com muito medo de ver a morte na minha
frente ― ele fala. ― Poderia ser eu. ― Ele tamborila o
polegar sobre a mesa. ― Sou um covarde e um amigo
terrível. ― Ele balança a cabeça.
― Você quer companhia para ir lá? ― pergunto. ―
Posso ir com você.
Ele olha em meus olhos.
― Bom, posso esperar na sala de espera.
Ele balança a cabeça.
― Talvez. ― Um sorriso surge em seu rosto. ―
Obrigado pela oferta.
Ele passa por mim e segura meu braço, apertando-o
suavemente. Eu não piro nem sinto como se precisasse
acertá-lo. Talvez seja só ele. Ele parece ser um cara
legal. Um dos melhores, provavelmente. E passou por
muita coisa.
― Boa noite ― diz ele em voz baixa.
― Boa noite ― respondo.
Estalo a língua para Maggie, que me segue para o
quarto, onde eu entro, fecho e tranco a porta. Tiro as
roupas e entro na cama ao lado de Pete. Ele me puxa
para ele imediatamente, e eu rolo para a frente,
colocando o meu rosto contra o pouquinho de cabelos
em seu peito.
― Você está com frio ― diz ele.
― Maggie precisava sair ― eu explico.
Ele levanta a cabeça.
― Você não saiu sozinha, não é? ― ele pergunta.
― Matt foi comigo. ― Eu bocejo.
― Ah, bom ― ele sussurra e agarra minha perna,
puxando-a sobre seu quadril, o que faz com que as
minhas partes de menina estejam quase coladas às suas
partes de menino. E, apesar de ambos estarmos nus, não
me sinto preocupada, nem mesmo quando percebo que
ele está muito, mas muito próximo. Ele beija a minha
testa e murmura: ― Volte a dormir.
Fecho meus olhos e me aconchego nele. Ele está
quieto quando falo:
― Eu amo você, Pete.
― Eu também te amo ― ele responde com a voz
rouca de sono, mas clara. Eu sorrio e encontro o ponto
ideal onde minha cabeça se encaixa melhor.
Pete

Sento-me no sofá com Maggie aos meus pés. Ela


não está bem. Ela não foi capaz de se levantar esta
manhã, e então eu apenas sentei e comecei a acariciá-la e
falar com ela sobre Reagan.
― Ela não parece bem ― Paul fala, olhando para
Maggie. Ele está preocupado, já que Hayley está aqui e
ele não quer que ela incomode Maggie. É difícil dizer a
uma garotinha de cinco anos para deixar o cão quieto.
― Eu sei, marquei uma consulta para as nove ― eu
falo. ― Só preciso acordar Reagan.
― Ela sabe o quanto é grave? ― ele pergunta. Paul
está fazendo o café da manhã para Hayley e ele para a
cada poucos minutos para dançar ao redor da cozinha
com ela.
― Duvido ― respondo. ― Ela estava andando
bem, ontem.
― É melhor você acordá-la ou pode ser tarde
demais ― Paul adverte. Ele é o cronometrista da família.
Sam começa a colocar seus sapatos.
― Eu vou com você ― diz ele.
― Você quer que eu vá também? ― Matt pergunta.
― Nenhum de vocês precisa ir ― eu falo. ― Por
que você não fica aqui e faz um bolo ou algo assim,
Sam? ― pergunto. ― Ela pode precisar de algo para se
animar quando voltar.
Ele dá de ombros.
― Ok.
Mas Matt se prepara para ir com a gente, e ele toma
o meu lugar acariciando Maggie enquanto vou chamar
Reagan. Entro no quarto e fecho a porta atrás de mim.
Ela chutou as cobertas para baixo, o que fez com que
um de seus peitos esteja exposto. Sua pele é pálida e ela
tem linhas que desejo traçar com a língua. Mas não
agora.
Sento-me ao seu lado na cama e agito seu ombro
suavemente.
― Reagan ― eu digo em voz baixa. Seus olhos
abrem lentamente, e ela se estica, seus lábios se abrindo
em um sorriso. ― Bom dia ― eu falo. Estou duro,
admito. Sou um cara e ela está nua, além de ter gozado
no meu rosto, na noite passada. Então, sim, preciso
tentar me controlar, já que este não é o momento.
― Bom dia ― ela responde, com a voz rouca de
sono.
― Você precisa se levantar ― eu digo. ― Marquei
uma consulta para Maggie, às nove, no veterinário.
― Ela ainda está cansada? ― ela pergunta,
sentando-se na cama, segurando as cobertas sobre os
seios.
É pior do que ela estar cansada. Tenho certeza
disso.
― Sim.
― Tudo bem ― diz ela, disfarçando um bocejo. Ela
olha para a roupa que está espalhada pelo quarto.
― Você precisa de alguma roupa que esteja no
carro? ― pergunto.
Ela balança a cabeça.
― Só preciso me vestir e escovar os dentes.
― Vou dar-lhe alguns minutos ― eu digo. Mas o
que eu realmente quero fazer é ficar e assisti-la se vestir.
E, então, despi-la novamente.
Eu saio e Matt está com Maggie em seu colo. Ela
não parece tão ruim, mas está cansada. Isso é bem sério,
tenho certeza. Ela vomitou várias vezes ontem, mais do
que Reagan provavelmente imagina. Poucos minutos
depois, Reagan sai do quarto com o cabelo preso num
rabo de cavalo e entra no banheiro.
Ela sai, e eu me levanto com Maggie em meus
braços.
― Vou levá-la para baixo ― eu digo.
― Ela pode andar, não pode?
Balanço minha cabeça, e vejo a expressão
preocupada de Reagan. Vou em direção à porta e ela me
segue. Matt vai com a gente. Reagan senta no banco de
trás do seu Camry e eu coloco Maggie em seu colo.
Lanço as chaves para Matt, para que ele dirija e eu possa
ir sentado com Reagan. Ela acaricia a cabeça de Maggie,
conversando com ela suavemente, dizendo que ela vai
conseguir vitaminas e, então, voltaremos para casa. Mas
duvido que é o que acontecerá.
Chegamos ao consultório do veterinário, e eles nos
colocam em uma sala de exames. A veterinária vem e a
examina rapidamente. Ela leva Maggie para a parte de
trás para fazer mais exames. Quando ela volta, está
sozinha.
― Sinto muito. Eu não tenho boas notícias ― ela
diz baixinho.
Reagan cobre a boca com a mão, e um som escapa
de seus lábios. Eu a puxo para o meu lado. Eu tinha a
sensação de que isso ia acontecer.
― Maggie tem quinze anos. Isso é muito velho para
a raça dela.
― Ela estava bem ontem ― Reagan protesta.
― Ela não estava ― a veterinária diz, balançando a
cabeça. ― Ela tem uma massa no abdome. É realmente
grande, tão grande que se rompeu, o que ocasionou um
sangramento em sua barriga. Sinto muito.
Reagan olha para mim, com os olhos brilhando de
esperança.
― Então, você pode tirar essa massa, certo?
A veterinária balança a cabeça.
― Eu sinto muito, mas isso não é algo que
podemos curar. Recomendo que você a deixe partir.
― Quando? ― Reagan pergunta. Ela acha que
Maggie ainda tem tempo.
― Agora ― ela diz. ― Fazê-la esperar mais não é
humano.
Um ruído estrangulado sai da boca de Reagan, e eu
puxo-a para mim, mas ela me empurra para longe e
caminha para o canto da sala. Ela anda de um lado para
outro. Em seguida, ela para.
― Não há nada que você possa fazer? ― ela
pergunta, sua voz baixa.
― Sinto muito. Não há nada. ― A veterinária está
sendo tão simpática quanto possível. ― Você quer que
eu a traga de volta, de modo que você possa dizer
adeus?
Lágrimas rolam pelo rosto de Reagan, e eu vejo
Matt limpando as suas próprias. Ele mal conhecia o cão
e Reagan e está chorando por elas. Esse é Matt.
― Sim, por favor ― sussurra Reagan.
Poucos minutos depois, eles trazem Maggie de
volta, amarrada a uma espécie de maca, e ela está lá
deitada tranquilamente. Ela não parece infeliz, mas as
aparências podem enganar.
― Posso ter um minuto com ela? ― Reagan pede.
Vamos todos para o corredor e esperamos. Após
cerca de cinco minutos murmurando atrás da porta
fechada, Reagan sai e acena. Ela está pronta.
A veterinária e um assistente entram na sala.
― Nós vamos lhe dar um sedativo, e depois uma
dose direta no coração.
Os olhos de Reagan estão inchados e vermelhos, e
suas bochechas, molhadas. A veterinária dá o sedativo e
Maggie deita a cabeça. Seus olhos estão bem abertos e
sua respiração é suave,
― Agora, vamos lhe dar a dose ― a veterinária
adverte.
Reagan coloca a mão ao lado de Maggie, mas ela
não se aproxima. Ela já se despediu, eu aposto. Maggie
se contrai quando a agulha entra em sua perna e Reagan
começa a soluçar. Matt se aproxima e segura a mão de
Reagan, e eu me inclino para perto da cabeça de Maggie.
Ela tenta resistir, então inclino-me para frente e sussurro
em seu ouvido. Os olhos de Maggie se arregalam e, em
seguida, ela relaxa. Sua respiração é lenta e depois para.
Olho seu peito e meu estômago aperta quando percebo
que ela não está se movendo. Reagan parece destruída.
Eu me levanto, seguro Reagan e puxo-a para mim. Ela
envolve meu corpo e me permite absorver seus soluços
em minha camiseta. Continuo a abraçá-la, sem saber o
que fazer. Ouço Matt fazendo arranjos para a cremação e
eles tiram a coleira de Maggie e entregam a Reagan,
antes de levá-la da sala.
Reagan soluça quando Maggie parte e ela chora em
meus braços até que seus soluços fiquem mais suaves.
Eu apenas a abraço. Não há mais nada que eu possa
fazer.
― Melhor agora? ― pergunto.
Ela balança a cabeça.
― Achei que nós só viríamos buscar umas
vitaminas.
Afasto o cabelo de seu rosto.
― Sinto muito ― eu digo.
Reagan segura minha camisa e olha em meus olhos.
― O que você sussurrou para ela? ― ela pergunta.
Tusso em meu punho, sentindo como se tivesse um
grande caroço em minha garganta.
― Não importa ― eu digo.
― Diga-me ― ela protesta.
Respiro fundo e limpo minha garganta.
― Agradeci-lhe por protegê-la por todos estes anos
e disse a ela o quanto eu aprecio isso. Mas que ela
poderia ir em frente e partir tranquila porque vou cuidar
de você, de agora em diante. Disse a ela que iria assumir
o lugar dela, agora.
Reagan cai contra mim e chora ainda mais. Matt me
passa um lenço de papel para que eu possa secar seus
olhos, balança a cabeça sutilmente e bate a mão no meu
ombro. Ele aperta minha nuca com força, e eu sinto o
seu carinho me envolver, porque é isso que meus irmãos
fazem por mim. O tempo todo. Reagan me solta e abraça
Matt rapidamente. Ele a aperta, e acho que ele beijou
seus cabelos. Ela é parte da família agora. Sem dúvida.
Reagan

Pete deu minhas chaves a Matt, que deve ter


guardado em seu bolso quando saímos do consultório.
Não me queixo. Mal consigo colocar um pé na frente do
outro, quanto mais dirigir. Pete senta atrás do volante,
ajusta o banco e os retrovisores, e olha para mim.
― Quer que eu ligue para seu pai?
Balanço a cabeça.
― Posso fazer isso. ― Preciso ligar para meus
pais, mas sei que vou ficar aos prantos se fizer isso
agora. Pete olha para o relógio e resmunga algo. ― O
que houve? ― pergunto.
― Tinha que estar no centro juvenil às onze, para o
grupo ― ele fala, segurando minha mão e a aperta. ―
Vou ligar para eles e avisar que não posso ir.
― Não ― eu protesto. Não quero que ele mude
seus planos. Maggie está morta. Ele não ir ajudar os
rapazes não a trará de volta. ― Você deve ir. ― Viro e
olho para Matt. ― Quer ir ao hospital visitar sua amiga?
Ele olha em meus olhos.
― Você já teve tristeza demais por hoje. ― Seus
olhos não me encaram e posso dizer que ele está
chateado.
― Ela vai morrer, Matt ― eu digo em voz baixa. ―
Você precisa vê-la.
Pete ajeita-se no banco para que ele possa olhar
para Matt no espelho retrovisor. Ele está curioso sobre o
porquê de eu saber tanto sobre Matt. Eu deveria ter dito
a ele que conversamos ontem à noite, mas eu meio que
sinto como se isso fosse algo entre Matt e mim.
― Quem está morrendo? ― Pete pergunta.
― Kendra ― diz ele em voz baixa.
― Oh, não ― Pete murmura. Ele balança a cabeça.
― Você precisa ir, Matt. Nós vamos com você.
Matt solta um suspiro e aponta para mim.
― Ela pode ir. Você não.
A testa de Pete enruga.
― Por que eu não posso ir? ― ele pergunta.
― Porque você tem que ver os meninos no centro.
― Ele olha nos meus olhos. ― Nós podemos ir hoje? ―
ele pergunta.
Eu concordo.
― Eu adoraria. ― Vai ser melhor do que ficar
sentada sentindo falta de Maggie.
Nós dirigimos pela cidade e deixamos Pete no
centro de juventude. Ele sai, ajusta seu jeans, e me puxa
para ele. Estamos de pé, na frente do carro, e Matt senta
no banco do motorista. Limpo a camisa de Pete. Ele tem
pelo de Maggie preso nela.
― Você vai ficar bem com Matt? ― ele pergunta.
― Eu posso ir com você. Não quero deixá-la hoje.
― Preciso fazer algo. ― É verdade. Se ficar em
casa, vou pensar em Maggie durante todo o dia. E Matt
precisa fazer isso. Eu posso sentir dentro de mim. Além
disso, Matt não me assusta. O olhar em seu rosto me faz
querer abraçá-lo e segurá-lo. Ele está lutando, e sei como
é isso. Pete bate no capô do carro, e Matt coloca a
cabeça para fora.
― Que porra é essa? ― Matt fala. Mas seu tom de
voz é brincalhão. Eu adoro a forma como eles interagem
uns com os outros.
― Você vai levá-la para casa depois, certo?
Ele dá de ombros.
― Se for para lá que ela quiser ir.
Pete aproxima-se e enfia uma mecha de cabelo atrás
da minha orelha.
― Quero que você durma na minha cama.
Borboletas voam em meu estômago.
― Ok ― eu sussurro.
― Pode me fazer um favor? ― ele pergunta.
Eu faria qualquer coisa por ele.
― Do que você precisa?
― Cuide de Matt. Ele não é tão forte quanto parece.
Eu discordo, aposto que ele é muito mais forte do
que parece.
― Vou ficar de olho nele.
Seus lábios tocam os meus, mas não é um beijinho.
Ele assalta minha boca e, quando estou sem fôlego, ele
me afasta levemente com um gemido e as mãos sobre
meus ombros.
― Não se esqueça de ligar para seus pais ― ele fala
e segue para o centro de detenção juvenil. Observo-o
caminhar, admirando seu traseiro. Ele se vira para trás e
coloca as mãos ao redor da boca. ― Eu te amo ― ele
fala.
Balanço minha cabeça e repito as palavras para ele.
Então, entro no carro, onde Matt está batendo os
polegares enquanto canta uma música que toca no rádio.
Ele age como se estivesse enfiando o dedo na garganta e
faz um ruído de engasgo.
― Vocês vão me fazer vomitar se continuarem com
isso. ― Ele sorri.
Dou um soquinho em seu ombro.
― Isso não é engraçado.
― Não, não vai ser engraçado mesmo quando eu
vomitar. Vomitei muito durante a quimioterapia. Eu sou
bom nisso. ― Ele ri, estende a mão e aperta meu joelho.
― Ligue para o seu pai enquanto estamos no caminho.
Nós temos cerca de uma hora para matar.
Pego o telefone e ligo para os meus pais, e eles me
colocam no viva-voz. Não posso falar sobre isso por
muito tempo sem quebrar. Mamãe está visivelmente
chateada, e papai quer vir para a cidade para ter certeza
de que eu estou bem.
― Estou bem ― eu lhes digo. ― Vou sair com o
irmão de Pete, hoje. Então, não estou sozinha.
Meu pai grunhe.
― Pai ― advirto.
― Tudo bem ― ele responde. Posso dizer que ele
está mordendo a língua.
― Já sinto falta dela ― falo.
― Eu sei ― diz ele em voz baixa. ― Ela está com
você há muito tempo.
Posso ouvir minha mãe chorando baixinho no
fundo.
― Quem vai protegê-la? ― ele pergunta. ― Talvez
você devesse voltar para casa.
― Pai, estou bem.
Matt sorri para mim e pisca. Sinto que tenho todo o
clã Reed para cuidar de mim, se eu precisar. Desligo
antes que meu pai proteste um pouco mais e encosto no
assento. Matt aumenta o som e seguimos até o centro de
câncer sem falar.
Ao chegarmos, ele desliga o carro e respira fundo.
― É agora ou nunca ― diz ele.
Saio do carro e caminho com ele. A equipe
cumprimenta-o pelo nome na recepção.
― Estou aqui para ver Kendra.
Ela aponta por sobre o ombro de Matt, e eu vejo
três crianças sentadas na sala de espera. O menino mais
velho deve ter dezesseis anos. Ele tem uma menina
pequena em seu colo. Ela não deve ter mais do que três.
Há uma menina da idade de Hayley na cadeira ao lado
deles. Ele lê um livro para as duas.
― Seth? ― Matt chama. O menino olha para cima,
confuso. Então, ele coloca a menina que está em seu
colo no chão e se levanta. Matt estende a mão e eles
falam em voz baixa. Vou para a máquina de venda
automática e compro um pacote de chicletes. Em
seguida, volto e ofereço às meninas. Eu sei como
conquistar crianças pequenas.
― Não engula ― diz a menina mais velha.
A menor sorri.
― Oops ― diz ela, colocando a língua para fora
para que eu possa ver a boca vazia.
― Oops ― repito, e pego o livro que eles estavam
lendo.
― Posso ler o seu livro? ― pergunto.
Elas acenam e cada uma senta em uma cadeira ao
meu lado.
― Reagan ― Matt me chama. ― Você pode ficar
aqui por alguns minutos?
Concordo com a cabeça e sorrio.
― Posso ir? ― a pequena pergunta.
― Agora não ― diz Seth. Ele se senta e solta um
suspiro.
Ele parece muito mais velho do que realmente é.
Vejo Matt entrar em um quarto. Ele para na porta,
assustado, e vejo-o abaixar a cabeça. Ele caminha até a
cabeceira, e, enquanto anda, a porta se fecha lentamente
atrás dele, deixando uma visão dele andando ao lado da
cama, onde ele cai e apoia a testa contra o joelho da
mulher. A porta se fecha e não consigo ver mais.
― Como vão as coisas? ― pergunto a Seth.
― Estão indo ― diz. Ele acena para as menores e
vejo que elas estão nos observando de perto. Entendi. Ele
não quer falar sobre sua mãe agora.
De repente, vejo uma movimentação na porta, e
uma mulher entra. Ela está usando uma saia lápis de
tecido fino e um casaco, e está segurando uma bolsa que
deve custar mais do que essas crianças comem durante
um ano. Ela segue na direção da mesa da recepcionista
com seus Louboutin de quase dez centímetros que
fazem barulho contra o chão. Ela para, levanta os óculos
de sol incrustrados de strass no alto da sua cabeça,
empurrando os cabelos loiros para trás, e pergunta sobre
o quarto de Kendra. Ela corre até lá, entra e a porta se
fecha atrás dela também.
― Quem é? ― pergunto.
― Provavelmente nossa tia ― diz Seth com um
encolher de ombros.
― Você não sabe?
Ele balança a cabeça.
― Nunca a conheci.
Ela não se parece nada com eles. Essas crianças
têm a pele escura. Ela é tão branca quanto seus cabelos
loiros claríssimos que caem sobre os ombros. A mulher
que vi na cama tem a pele escura também.
― Eu sei. ― Ele ri. ― Eu também não entendo
isso...
Após cerca de meia hora, Matt sai com a mulher.
Ele olha para mim.
― Reagan ― ele fala e passa a mão na parte de trás
de sua cabeça. ― Preciso de um favor.
Levanto e caminho pelo corredor com ele.
― Kendra quer que as crianças vão para casa. Ou,
pelo menos, as menores. Ela quer que Seth fique, se ele
quiser. Mas sua tia vai levá-las para casa. Você acha que
poderia pegar uma carona com ela e deixar seu carro
comigo, para que eu possa voltar para casa depois?
― Você não vem com a gente?
― Eu vou ficar ― diz ele. ― Até o fim. Eu prometi
― ele sussurra. ― Eu preciso.
Ele ainda está com as chaves. Eu concordo.
― Devo ficar com as crianças?
A moça está de joelhos na frente das duas meninas e
fala suavemente com elas. Elas levantam e seguram a
mão da tia.
― Pronto? ― ela pergunta.
― Posso ficar? ― Seth pergunta. Ele olha para
Matt e para sua tia. Sua voz é profunda e, de repente,
ouço-o limpar a garganta. Ele quer ficar. Quer estar lá
com sua mãe.
― É claro que você pode ficar ― diz a tia. Ela olha
para Matt. ― Você o leva para casa? Depois?
Matt concorda. Ele bate a mão no ombro de Seth e
olha para ele, piscando com força.
Eu saio com a tia e as meninas.
― Meu nome é Skylar ― diz ela ―, mas todo
mundo me chama de Sky.
― Reagan ― eu digo.
Ela abre as portas do carro e fala:
― Comprei um assento de carro no caminho para
cá, mas não tenho certeza de como usá-lo.
Eu a ajudo a instalá-lo, e nós acomodamos as
crianças no banco traseiro de seu pequeno carro
esportivo. Ela suspira pesadamente e liga o carro.
― Se você quiser ficar, eu posso levar as crianças
comigo e tomar conta delas ― eu ofereço.
― Eu não quero ficar ― diz ela secamente.
― Kendra é a sua irmã? ― pergunto.
― Meia-irmã ― diz ela, fazendo um barulho com
sua garganta. ― Só a conheci hoje.
Então, que diabos ela está fazendo com as crianças?
― Kendra não tem mais ninguém ― ela explica. ―
Então, eles me chamaram. ― Ela bufa. ― Fui ensinada a
odiá-la por toda a minha vida ― diz ela tão baixinho que
as crianças não podem ouvi-la, mas eu posso. ― E
agora eles querem me dar seus filhos. ― Ela balança um
polegar na direção da pequena. ― Eu nunca troquei uma
fralda na minha vida.
― Eu posso ir com você.
Ela balança a cabeça.
― Acho que vou precisar aprender.
― Você vai para a casa delas? ― pergunto.
Ela olha para mim.
― Acho que elas vão ficar mais confortáveis lá,
não é? Suas próprias camas. Seus brinquedos.
― Eu posso ajudar.
Ela balança a cabeça novamente.
― Eles disseram que não vai demorar, coisa de
mais algumas horas. Então, Matt vai trazer Seth para
casa, e ele pode me ajudar.
Eu concordo.
― Eu posso dar um jeito até lá. ― Ela olha para as
meninas no espelho retrovisor. ― Quem quer sorvete?
― ela pergunta.
― Eu! ― as duas meninas gritam.
Depois do sorvete e de uma rápida parada na loja de
fraldas e comidas para crianças, ela para em um
semáforo.
― Tem certeza de que não quer que eu vá com
você? ― Eu realmente não me importaria.
Ela balança a cabeça e puxa seus óculos de sol
caros para baixo para esconder os olhos.
― Obrigada, Reagan ― diz ela. ― Acho que
consigo me virar.
Não acredito nela. De modo algum.
Pete

Estou preocupado com Reagan, então ligo para ela


da Reed, o estúdio de tatuagem que trabalho com meus
irmãos. Como não tinha ninguém em casa, fui trabalhar
com eles. Desligo o telefone e respiro fundo. Alguém a
deixa na frente do estúdio em cinco minutos. Não faço
ideia do que aconteceu com Matt, mas ele ficou com o
carro de Reagan e ela voltou para casa com algum
desconhecido.
Finalmente, ela entra pela porta. Queria poder fazer
uma pausa do esboço que estou fazendo num cliente. Ela
solta um suspiro frustrado.
― Tudo bem? ― pergunto. Não posso parar o que
estou fazendo. Agora não.
― Tudo bem ― diz ela. ― Isso foi muito estranho.
Emily está empoleirada em cima de uma mesa
balançando os pés e chupando um pirulito.
― O que foi estranho? ― ela pergunta.
― Essas crianças ― disse Reagan. ― Estou
preocupada com elas.
Ela nos conta a história e tudo sobre a tia que nunca
tinha visto as crianças antes.
― Talvez Matt descubra mais sobre isso e nos
conte mais tarde? ― sugiro.
― Estou feliz que ele foi ― diz Reagan. ― Ele teria
se odiado se não fosse.
Uma mulher entra pela porta da frente, e cada
homem no estúdio para o que está fazendo para olhá-la.
Ela está usando um short curto e um top frente única.
― Em que posso ajudar? ― Friday, a nossa
recepcionista, pergunta.
― Eu gostaria de fazer um piercing ― diz ela,
mordendo o lábio inferior.
― Algum de vocês está livre para fazer um
piercing? ― Friday pergunta. Ela é bem bonita, tipo a
Katy Perry. Ela tem tatuagens em seus ombros, nas
costas e nas pernas. Sei das pernas, pois fui eu que fiz.
São desenhos de crânios, ossos cruzados, tartarugas e
outras merdas muito estranhas. Ela se veste como uma
pin up dos anos sessenta.
― Que tipo de piercing? ― pergunto.
Cada olhar no lugar vira-se para a mulher, e ela fala.
― Um daqueles piercings! ― Friday grita
dramaticamente.
― Pete pode fazer ― diz Paul.
A boca de Reagan se abre. Ela caminha até perto de
mim.
― Você não vai fazer um piercing íntimo ― ela
sussurra. Sempre fiz, mas não quero mais fazer. Ela
coloca as mãos em minha orelha e fala em meu ouvido.
― O único lugar íntimo que você vai tocar é o meu.
Meu coração acelera. Gosto disso. Gosto muito.
― Desculpe ― eu digo. ― A minha garota não
deixa. ― Levanto meu rosto, e ela se inclina para me
beijar.
Paul olha para Logan, mas Emily faz sinal para ele
muito rapidamente e ele sorri e balança a cabeça.
― Não posso fazer ― diz ele.
― Por que não? ― Paul respira pesadamente.
― Porque eu quero fazer sexo hoje à noite ― diz
Logan. ― E amanhã à noite. E na noite seguinte.
Sam não está aqui. Ele provavelmente está fazendo
um bolo em algum lugar. E todos nós sabemos onde
Matt está. Paul joga o lápis sobre a mesa onde ele estava
desenhando uma tatuagem.
― Vocês são inúteis ― ele reclama. ― E mandados
pelas mulheres.
Sou feliz por ser mandado pela minha garota. Logan
se aproxima, bate a mão na minha, e Emily sorri para
Reagan.
― Obrigado por fazer um esforço pela equipe ― eu
digo a Paul.
Não vai ser difícil para ele. A menina é linda.
― As coisas que tenho que fazer para que vocês
possam transar. ― Ele ajeita sua calça e vai ajudá-la a
escolher um piercing. Ele leva Friday com ele, porque
aprendemos ao longo dos anos que não podemos fazer
um trabalho nas partes íntimas femininas sem uma
garota presente. É tipo um ginecologista homem que
sempre tem que ter uma enfermeira na sala.
Ele sai, alguns minutos depois, e a menina está
andando engraçado.
Ela vai embora. Paul senta-se e, em seguida,
começa a rir. Ele joga um guardanapo na minha cabeça.
― Seus idiotas ― diz ele.
Friday se levanta e diz:
― Vamos pegar um cachorro-quente.
― Eu tenho um cachorro-quente para você ― diz
Paul.
― Promessas, promessas ― Friday brinca.
Ele a segura e esfrega o alto da sua cabeça com os
nós dos dedos.
― Eu pegava você se você gostasse de pau.
Friday faz uma cara feia, como se estivesse
sentindo um cheiro ruim.
Ela não é lésbica, mas Paul acha que é. Quando ela
começou a trabalhar aqui, ele deu em cima dela direto,
mas ela começou a falar sobre uma de suas amigas, uma
noite. Ele assumiu que ela é gay. Mas, num dia, ela e eu
estávamos trabalhando até tarde da noite, e ela admitiu
para mim que não é. Ela gosta de homens. Só é mais
fácil trabalhar com vários caras se eles acharem que ela
é lésbica. Não contei a verdade a Paul. É muito
engraçado observá-lo com ela. Ela é como um dos caras,
e gosto dela desse jeito. Jamais consegui pensar nela
como uma garota.
Friday leva Emily e Reagan com ela até a esquina,
para pegar um cachorro-quente. Quando elas saem, não
consigo segurar a risada enquanto Paul observa o
balanço da bunda de Friday. Ele sorri para mim e encolhe
os ombros.
― Cara, você não vai conseguir entrar nas calças
dela ― eu falo.
― Mas eu posso olhar ― ele responde, sorrindo.
Um menino corre até a porta carregando uma caixa.
Isso acontece muito no nosso bairro. As crianças
precisam comer, e eles pegam qualquer oportunidade que
puderem para fazer um dinheirinho.
― Você quer comprar um? ― pergunta ele, me
mostrando o que há na caixa.
― Quanto é? ― pergunto.
― Cinco dólares ― diz ele.
Dou-lhe dez e pego minha compra na caixa.
― Você não vai levar essa coisa para casa com
você ― adverte Paul. ― E se estiver doente?
Ah, merda. E se ele estiver doente? Coloco-o em
meu bolso, certificando-me de que ele possa respirar.
― Vou levá-lo ao veterinário.
― É melhor você fazer isso antes de dar a ela. Seu
cão morreu, idiota.
― Certo. Volto já. ― Viro para Paul. ― Você tem
algum dinheiro? ― Sorrio para ele.
― Porra, era mais barato para mim quando você
estava na prisão ― ele resmunga, mas enfia a mão no
bolso e tira sua carteira.
― Diga a Reagan que volto já ― eu falo. Saio do
estúdio, mantendo uma mão suave ao redor da
protuberância em meu bolso. A que está ronronando, não
a outra.
Reagan

Sinto-me um pouco estranha saindo pela porta com


Emily e Friday, mas as duas fazem parte da família Reed,
e quero fazer parte dela também.
― Acho que Paul estava olhando sua bunda de
novo ― Emily fala para Friday, que contrai os quadris na
saia curta ao redor de seus quadris. É bem Marilyn
Monroe, com os laços ao redor da sua cintura e a curta
saia em forma de A.
Friday balança a cabeça.
― Paul pensa em mim como um dos rapazes, não
importa o que eu use para o trabalho.
Emily levanta os dedos e leva-os aos lábios, fazendo
um V e fingindo lamber entre eles.
― Isso é porque ele acha que é isso o que você faz.
― Ela ri e Friday lhe dá um empurrão no ombro.
Emily ri e olha para mim.
― Como você quer seu cachorro-quente?
― Completo. ― Eu me pergunto se deveria levar
um para Pete, mas nem sei do que ele gosta. ― Como
Pete gosta? ― pergunto. ― Você sabe?
― Com cebola e mostarda ― Friday e Emily falam
ao mesmo tempo.
Friday segura quarenta dólares.
― Paul me deu dinheiro para comprar cachorro-
quente para todo mundo ― ela fala. ― Alguém esbarra
nela e ela derruba vinte. Curvo-me para pegar.
Ouço um assovio atrás de mim e fico imediatamente
tensa. Mas é apenas Emily. Ela levanta a bainha da minha
camiseta com os dedos delicados. ― Alguém se divertiu
com o marcador permanente, na noite passada ― ela
fala, mas está sorrindo. Sinto meu rosto esquentar e
puxo a camiseta para baixo. ― E alguém não quer falar
sobre isso. ― Ela ri.
Emily e Friday se aproximam, seus ombros quase
se tocando. As duas estreitam os olhos para mim.
― Até que ponto você acha que esses marcadores
subiram? ― ela pergunta a Friday, mas ela sabe que
posso ouvi-la.
― Prefiro saber o quanto eles desceram ― Friday
fala.
As duas riem. Um sorriso surge em meus lábios,
apesar de sentir meu rosto esquentar.
― Longe o suficiente ― eu respondo, em voz
baixa.
Os olhos de Emily se estreitam novamente.
― Eles ainda não fizeram aquilo ― ela fala e se vira
para fazer os pedidos.
― Ela está certa, não está? ― Friday pergunta.
Concordo com a cabeça, e ela amaldiçoa, puxando uma
nota de cinco do seu bolso. Ela enfia no bolso de trás de
Emily. ― E não vai acontecer essa noite porque ele ainda
vai se sentir mal por causa do seu cão. ― Ela coloca a
mão em meu ombro e o esfrega com carinho. ― Eu
realmente sinto muito sobre isso ― Friday fala.
Eu não pensava em Mags há horas, e agora me
sinto mal por ter esquecido dela. Lágrimas surgem em
meus olhos, mas eu tento afastá-las.
― Oh, merda ― Emily fala. ― O que você fez?
― Mencionei seu cachorro ― Friday responde.
― Eu lhe disse para não fazer isso ― Emily sibila.
― Pete disse para não tocar no assunto.
Ele disse?
― Tudo bem. Eu não me importo ― eu falo. Quero
sentir falta dela. Quero lembrar dela e falar sobre ela.
Alguém bate no meu ombro, e eu fico tensa
novamente. Não gosto desta rua movimentada. De modo
algum. Me aproximo ainda mais de Friday.
Ela olha para mim enquanto o vendedor embrulha
nossos cachorros-quentes.
― Eu quero gostar de você, Reagan ― Friday fala.
― Eu... quero... gostar de você também ― eu digo
lentamente.
― Esses garotos são como minha família ― diz
ela.
― Friday ― adverte Emily.
Mas ela levanta a mão.
― Esses garotos são como minha família. Quando
eu não tinha ninguém, eles estavam lá. ― Há uma
história aqui, e eu realmente quero saber qual é. ― Você
tem uma família ― diz ela. ― Então, se você foder com
a minha, vou cortá-la. ― Ela empunha o garfo de
plástico na minha direção, mas, então, começa a rir. ―
Eu só estou brincando ― diz ela. ― Bem, mais ou
menos.
― Eu entendo ― eu digo.
― Ela não está nem dormindo com ele ainda ― diz
Emily. ― Deixe-a em paz.
Friday bufa.
― Eu não deixei você em paz.
― Você nos disse para usar spray desinfetante se
fizéssemos sexo no estúdio. ― Emily balança a cabeça e
sorri. ― Por isso, compramos desinfetante extra.
― Eca ― Friday fala.
Eu rio. Acho que posso gostar dessas mulheres.
Pegamos nossos cachorros-quentes e voltamos
para o estúdio de tatuagem. Mas Pete não está lá quando
voltamos.
― Para onde ele foi? ― pergunto.
― Enviei-lhe em uma missão ― diz Paul. Ele está
fazendo uma tatuagem e parece um pouco distraído.
― Ele vai voltar? ― pergunto. Não estou muito
feliz por estar presa aqui, particularmente já que Matt
está com o meu carro.
― Eventualmente ― diz Paul.
Eu sento e como o meu cachorro-quente, mas, em
seguida, a loja enche. Um grupo de fuzileiros navais
entra pela porta. É um grupo de cinco, e, de repente, me
sinto encurralada. Vou para os fundos do estúdio, mas
isso não diminui minha sensação de mal-estar em nada.
Paul olha para cima da tatuagem que ele está fazendo e
aperta os olhos.
― Você está bem, Reagan? ― ele pergunta.
Não. Não estou nada bem. Achei que tinha
superado isso, mas não. Aparentemente, só consigo lidar
com isso quando Pete está comigo, e isso me deixa tão
inquieta quanto ter que enfrentar esses homens.
Concordo com a cabeça, mas eu realmente não
estou bem.
Paul abaixa o aparelho de fazer a tatuagem e
caminha até os fundos do estúdio comigo. Ele puxa a
cortina em torno da área privada. Dou um breve suspiro,
finalmente capaz de encher meus pulmões de ar, desde
que esses homens entraram na sala.
― Melhor? ― ele pergunta.
Ele se senta em uma mesa, abre uma caixa de
canetas e começa a desenhar distraidamente em um
pedaço de papel.
― Não fique aí ― diz ele. ― Sente-se. ― Ele dá
um tapinha na mesa à sua frente. ― As pessoas me
deixam nervosas quando andam assim de um lado para o
outro ― ele fala, mas nem sequer olha para mim. Ele
está apenas desenhando calmamente.
― Paul ― eu começo. ― Acho que eu deveria ir.
Ele balança a cabeça, mas não olha para cima.
― Deixe-me saber quando você estiver pronta, para
que eu possa arrumar minhas coisas.
― O quê? ― Por que ele precisa arrumar alguma
coisa?
Ele finalmente olha para cima, e seus olhos azuis
encontram os meus.
― Eu mandei Pete em uma missão. E ele foi,
sabendo que eu iria cuidar da sua namorada. Então, se
você for sair, eu tenho que sair. Apenas deixe-me saber
quando você estiver pronta.
― Eu não preciso de uma babá ― eu resmungo.
Mas meus olhos estão cheios de lágrimas. Pisco
furiosamente para controlá-las.
― Eu não disse que você precisava de uma babá ―
ele responde, e posso dizer que ele está irritado. Ele ainda
é gentil e carinhoso, mas há algo turvo abaixo da
superfície também. ― Esses caras fazem você se sentir
desconfortável, não é? ― ele pergunta e olha para o seu
papel novamente. Ele parece não estar me dando muita
atenção, mas eu tenho a nítida sensação de que ele está.
Eu aceno e mordo a pele que envolve minha unha,
puxando-a com tanta força que arrebento a cutícula.
Limpo o sangue no meu jeans.
― Merda ― diz Paul. Ele vai até uma gaveta e tira
um Band-Aid. ― Se Pete voltar e ver que você está
sangrando, eu não vou viver até o final da semana. ―
Ele rasga o pacote com os dentes e puxa as abas. Então,
ele a segura como se quisesse envolvê-lo ao redor dos
meus dedos. Estendo a mão, porque tenho a sensação de
que ele não vai desistir. Mas a minha mão não para de
tremer e odeio isso. Ele envolve o curativo e então me dá
um leve aperto.
Ele volta a sentar e começa a desenhar novamente.
Sento-me em frente a ele, que me passa o papel, onde
está desenhada uma margarida simples atrás das grades.
A margarida parece estar se inclinando na direção de um
raio de sol.
― Faça sombra aqui para mim ― ele fala.
― Não sei desenhar ― eu respondo, mas sento-me
em frente a ele.
― Todo mundo sabe pintar ― ele diz, com uma
risada. ― Basta escolher uma cor e se manter entre as
linhas. Ou ir para fora das linhas com um propósito. ―
Ele dá de ombros. ― Eu não me importo.
Pego um marcador e começo a preencher as linhas.
Pinto do lado de fora das linhas, com uma finalidade.
Sorrio para Paul, que sorri de volta e pisca.
Quando termino, observo o desenho. A margarida
está colorida e é bonita, mas suas pétalas estão presas,
inclinadas em direção ao eixo da luz solar.
― Esta sou eu, não é? ― pergunto baixinho.
― É? ― ele responde com outra pergunta, mas não
olha para mim. Ele continua desenhando.
― Sim. ― Sou eu. Eu bato em seu braço, e ele olha
para os meus dedos, sua sobrancelha se arqueando
como se ele estivesse se divertindo. ― Você pode fazer
isso em mim? ― pergunto. Estou quase sem fôlego de
tão animada.
― Você quer algum tempo para pensar sobre isso?
― ele pergunta.
― Você costuma falar isso para seus clientes?
― Só quando acho que é preciso. ― Ele ainda
parece divertido, mas sério ao mesmo tempo. Ele solta
um suspiro. ― Onde você quer?
― Onde você sugere? ― pergunto.
― Talvez em seu ombro? ― diz ele enquanto
desliza luvas de látex sobre os dedos e as encaixa em
seus pulsos. ― Você não acha que Pete vai se importar
se eu fizer isso, não é? ― ele pergunta. Eu não tenho
certeza se ele realmente vai se importar, mas estou feliz
por ele ter perguntado.
― Bem, se você fosse fazer na minha coxa, acho
que ele não iria gostar ― eu falo e rio com o
pensamento.
― Ah, essa era a minha próxima sugestão. ― Ele
estala os dedos cobertos pela luva, mas elas não fazem
barulho.
Sinto vontade de rir. Paul começa a despejar tintas
coloridas em pequenos potes.
― Você vai ter que tirar isso ― ele fala, indicando o
braço da minha camiseta.
Uh oh. Não tinha pensado nisso. Ele puxa uma
camiseta do armário e usa uma tesoura para cortar a
parte de trás. Eu a pego, agradecida por ele ter pensado
nisso. Ele vira de costas enquanto tiro minha camisa e
coloco a rasgada. Ela fica aberta na parte de trás, mas
não me importo. Estou de sutiã. Ele disse que seria no
meu ombro.
― Uau ― ele murmura ao ver minhas costas. ―
Você se divertiram bastante na noite passada, não é? ―
Ele ri. Olho por cima do meu ombro e tenho um
vislumbre de toda a tinta em minhas costas que não
consegui lavar. Não fiquei muito tempo em casa.
― Nós estávamos testando alguns projetos ―
murmuro.
― Humm humm ― ele murmura. ― Claro que
sim. ― Ele ri e um sorriso surge em meus lábios. ― O
tramp stamp que ele fez foi muito criativo.
Eu não tinha visto.
― O que está escrito? ― Olho para trás, por cima
do meu ombro.
Ele aponta para um espelho atrás de mim, vou para
a frente dele e olho por cima do meu ombro. Eu coro
quando vejo escrito: A garota do Pete, em uma letra
gótica, com flores e videiras descendo pela cintura do
meu jeans.
Paul abre a cortina e chama Logan por sinais. Ele
vem para a parte de trás e sinaliza algo para Paul. Paul
mostra-lhe o design e Logan pega um lápis, começando a
acrescentar algo a ele.
― Não se preocupe ― Paul diz para mim. ― Você
vai amar.
― O que foi? ― pergunto.
― Confie em mim ― diz ele. Ele me vira, e eu
sento na mesa de tatuagem. ― Pronta? ― ele pergunta.
Eu concordo.
Ele transfere o esboço do projeto para a minha pele.
O motor silencioso do aparelho de tatuagem começa a
soar, e eu sinto-o tocar o meu ombro. É como uma
picada de formiga. Não dói. E quando ele começa a se
mover, a dor desaparece completamente. Sento lá,
calmamente. Às vezes, Logan fala comigo. Respondo a
ele, tendo o cuidado de olhar para ele quando falo, mas
ele não tem qualquer problema em conversar comigo,
ainda que eu não saiba a linguagem de sinais. Ele é
realmente muito inteligente. Um tempo depois, Emily
enfia a cabeça por trás da cortina.
― Todos os fuzileiros já foram? ― Paul pergunta e
me olha, sondando minha reação, eu acho.
― Sim, só um deles queria fazer tatuagem ― ela
responde e vem olhar meu ombro. Ouço-a suspirar.
― Shh ― Paul faz para ela.
― O quê? ― pergunto.
― Nada ― diz ela, mas sua voz está trêmula e ela
enxuga uma lágrima de seu olho.
― Ele colocou algo bizarro em mim? ― pergunto.
Agora eu estou realmente preocupada.
― Você que desenhou isso? ― ela pergunta a
Logan e envolve os braços ao redor dele. Ele balança a
cabeça e beija sua testa. ― Você fez um trabalho muito
bom ― diz ela.
― Ei, eu que pintei ― eu falo.
― Prontinho. ― Ele coloca o aparelho no lugar, me
ajuda a sentar, pega um espelho e aponta para ele. ― O
que você acha?
Ele observa meu rosto de perto. Paul faz muito isso.
Você não precisa falar para ele saber como você está se
sentindo.
Olho para o espelho e vejo a obra de arte que ele
criou. Ele fez a margarida e a coloriu com as cores que
eu usei. Ela está inclinando-se para um raio de sol, atrás
das grades. Essa parte é exatamente o que eu esperava.
Mas, na base da margarida, Maggie está parada com a
cabeça equilibrada sobre as pétalas menores, assim como
ela costumava ficar em meu joelho. Ela está perfeita, em
toda sua glória em preto-e-branco, e o brilho nos olhos
exatamente como ela tinha. Sinto um soluço se formar
em minha garganta.
― Amei ― murmuro. ― Está perfeita.
Paul se aproxima de mim lentamente, com cuidado
para não me assustar e me puxa em direção ao seu peito.
Envolvo meus braços ao seu redor e ele fecha minha
camisa e me aproxima dele, acariciando a parte de trás
da minha cabeça.
― Que bom que gostou ― ele fala e vejo Logan
levantar um polegar para cima.
― Obrigada, Logan ― eu digo. Olho no espelho
novamente. É realmente perfeita.
― Da próxima vez, vamos fazer uma sem grades
― diz Paul quando ele se afasta e olha nos meus olhos.
Eu concordo.
― Da próxima vez ― eu digo. Pela primeira vez
desde o ataque, sinto que minha gaiola está lentamente
sendo aberta.
Paul ainda está com os braços em volta de mim
quando a cortina se abre e Pete enfia a cabeça. Ele está
sorrindo, até que ele me vê nos braços de Paul.
― Vocês deveriam colocar um sinal para que possa
saber que há algo íntimo acontecendo aqui atrás ― diz
ele. Então, ele me olha de perto e faz uma carranca
quando me vê limpar os olhos. ― Que porra você fez
com ela? ― pergunta ele.
Ele vem em minha direção e Paul se afasta. Pete
segura meu queixo.
― Você está bem? ― ele pergunta preocupado, e
eu odeio e amo que ele o esteja.
― Estou bem ― eu respondo. Logan, Emily e Paul
deixam a área e fecham a cortina. Viro as costas para
que Pete possa ver a minha nova tatuagem. ― Veja o que
eu tenho agora. ― Puxo meu rabo de cavalo para o lado
para que sua visão fique livre.
― Uau ― diz ele. ― Que fantástico. ― A ponta
dos seus dedos tocam muito suavemente minha pele,
delineando a área onde Maggie foi imortalizada. ― Foi
Logan que fez, não foi?
― Sim, mas eu fiz o sombreado e Paul fez a flor e
as outras coisas.
― Conheço seu trabalho de longe ― Pete fala.
De repente, sinto um movimento em minha barriga.
Olho para baixo. O colo de Pete está se movendo?
― Sério, Pete ― eu digo. ― Este não é o lugar. ―
Ele ri e cai sobre um sofá. A mão no bolso do seu
casaco de moletom está se mexendo, movendo-se para
cima e para baixo.
― Por que você não vem e vê o que eu tenho para
você? ― ele diz, balançando as sobrancelhas.
Uma risada escapa da minha garganta, apesar de eu
dizer:
― Isso não é tão engraçado.
― Vamos, menina ― ele provoca. ― Venha ver o
que tem no meu bolso.
Seu casaco está, definitivamente, balançando, e há
algo lá dentro. Sento ao lado dele, que arqueia seus
quadris para mim quando eu me aproximo e pressiono
suavemente sobre a massa.
― Continue ― diz ele. Sua voz fica rouca de
repente.
Enfio a mão no bolso e sinto um nariz frio cheirar
minha mão. Levanto o pano e olho para baixo.
― O que é isso? ― pergunto, mas já estou
sorrindo.
― Esse é o seu presente ― diz ele. Ele ainda está
sorrindo. ― Acabei de voltar do veterinário com ela. Ela
foi vacinada, teve suas orelhas limpas e fizeram todos os
exames. Ela está saudável. ― Ele a puxa para fora, e ela
é tão pequena que cabe na palma da sua mão. ― Eu
tenho uma caixa de areia e um pouco de comida, entre
outras coisas ― diz ele. Ele está me observando, quase
como se estivesse esperando que eu o empurre e
comece a gritar.
Ela é minúscula e tem o pelo laranja.
― Qual é seu nome? ― pergunto.
Ele dá de ombros.
― Isso é com você.
― Ginger ― eu digo. ― Ela é uma Ginger. ―
Levo-a até minha bochecha e ela me cheira. ― Ela é
realmente minha?
― Bem ― ele fala ―, se eu quisesse alguma
gatinha, só precisaria estalar os dedos.
Eu me assusto. Mas, então, percebo que o que ele
disse é tão estupidamente ridículo que eu começo a rir. É
uma gargalhada profunda e mal consigo recuperar o
fôlego. Inclino-me para beijá-lo.
― Se você quer algo, só tem que pedir ― eu falo.
Ele geme e me puxa para me beijar. Afasto-me
quando estou sem fôlego.
― Mais tarde? ― pergunto.
Sua testa franze. Ele balança a cabeça, mas evita
meu olhar. O que será que está acontecendo?
Pete

É nítido que Reagan gosta da gatinha. Ela adorou e


não parou de brincar com ela desde que chegou em
casa. Ela deixou-a comigo apenas tempo suficiente para
tomar um banho e agora está deitada em minha cama,
com o cabelo úmido e a gatinha no colo. A coisa me
custou dez dólares, mas eu teria pago muito mais só para
ver seu sorriso.
Saio do banheiro com uma toalha enrolada na
cintura e fecho a porta atrás de mim. Ela me olha com
os olhos entreabertos, e eles vagueiam pelo meu corpo.
Meu pau fica duro imediatamente e eu me afasto dela
para vestir a boxer e secar meu cabelo curto com a
toalha.
― Obrigada pelo gatinho ― diz ela calmamente.
Então, ouço o ranger da cama enquanto ela se levanta e
vem em minha direção. As pontas dos seus dedos tocam
minhas costas. ― Você acha que um de seus irmãos
pode tomar conta dela para que possamos passar algum
tempo juntos? ― Sua voz é suave e doce, assim como
seus passos e o toque dos seus dedos. Sua voz é
trêmula, assim como suas mãos.
― Eu posso esperar ― eu deixo escapar. Eu sou
um idiota, sei disso. Mas não quero que ela se sinta
obrigada a fazer qualquer coisa. E, honestamente, tenho
medo de que isso mude as coisas entre nós. E se eu não
puder satisfazer suas necessidades? Ela precisa ser
amada com calma e cuidado. E se eu não puder fazer
isso? E se eu ficar muito preso ao momento e esquecer
suas necessidades. E se eu fizer tudo errado? E se ela me
odiar? E se ela abominar a ideia de fazer amor comigo
novamente depois disso?
Ela pega o gatinho e coloca em meus braços.
― Não quero esperar ― diz ela, puxando a
camiseta sobre a cabeça. Ela não está usando sutiã. Sinto
minha respiração falhar. Tudo que posso ver são seus
seios perfeitos e os mamilos cor-de-rosa, eriçados em
minha direção. Ginger reclama quando a aperto com
muita força. Olho para baixo e me forço a abrir as mãos.
Reagan coloca os polegares no cós do short de
dormir e o puxa para baixo, junto com a calcinha. Oh,
meu Deus.
― Volto já ― resmungo. Viro e saio do quarto,
parando para pressionar as costas contra a porta e
respirar profundamente até que meu pau perceba que
não estou mais no quarto com ela.
Quando finalmente consigo respirar, ando para a
sala de estar e vejo Paul e Matt sentados, assistindo a um
filme. Matt chegou em casa há uma hora, com os olhos
vermelhos. Ele ficou quieto, mas, quando fui falar com
ele, Paul balançou a cabeça para mim em sinal de
advertência. Então, não falei nada. Caminho pela sala e
aperto o botão de pause na TV. Os dois olham para cima,
franzindo a testa. Devo tê-los assustado porque eles
estão me encarando.
― O que houve? ― Paul pergunta.
― Nada. ― Eu suspiro. Caio sobre o sofá e coloco
Ginger no colo de Matt. Ele sorri e deixa o gatinho tocar
seu pescoço. Ele sorri e acaricia seu rosto. Apoio o rosto
em minhas mãos.
― Ela não está pronta, está? ― pergunta Paul. Eu
odeio quando ele faz isso. É como se ele pudesse ler o
que se passa dentro de nós. Ele sabe o que estamos
pensando antes mesmo que a gente fale qualquer coisa.
Nós não conseguimos esconder nada dele.
― Ela está pronta. ― Eu suspiro. ― Mas... Mas...
Mas... Mas... ― Calo a boca porque não consigo
encontrar as palavras certas. Gemo e caio contra o sofá.
― E se eu foder com tudo?
― Como você acha que faria isso? ― Matt
pergunta. O gatinho se aninhou na gola de sua camisa e
está sentado lá, absorvendo seu calor. ― Não é como se
você fosse um babaca virgem, idiota.
Nem sei como articular o que estou sentindo. De
modo algum.
― Eu nunca amei nenhuma dessas outras garotas.
Matt toma um gole da sua cerveja e olha para mim.
― Mas você ama esta. ― Não é uma pergunta. É
uma declaração. E isso é um fato.
― Sim.
― Você precisa de uma lição sobre os pássaros e as
abelhas? ― pergunta Paul. ― Você coloca o separador A
na ranhura B. ― Ele faz um gesto bruto com os dedos.
― Ou a aba A na ranhura C. ― Ele sorri. ― Ou a aba A
na ranhura D. Mas algumas meninas não gostam disso,
então não comece por aí. Você pode até guardar isso
para um aniversário ou ocasião especial. Seu. Não dela.
Pego uma almofada e jogo em sua cabeça. Ele ri e a
pega.
Finalmente, ele fala suavemente.
― Pare de tentar racionalizar isso.
― Ela passou por tanta coisa ― eu falo e olho para
a porta fechada.
― Você não teve nenhum problema em ser o que
ela precisa, Pete. Ela não precisa de muito. Só que você
a ame. Deixe-a liderar isso. Deixe-a mostrar-lhe o que ela
quer ― Paul fala em voz baixa.
Ela está nua no meu quarto. Eu já sei o que ela quer.
― Ok ― eu digo e olho para Matt, que está
esfregando o nariz no gatinho. ― Você pode ficar com o
gato?
― Vou manter Ginger Von Bundafedida comigo.
Não há problema ― diz ele rindo. Ele está tão tranquilo,
e sei que ele teve um dia difícil, mas não sei o que dizer a
ele.
Aperto seu joelho e caminho em direção ao quarto.
Paul chama meu nome e balança o polegar em direção à
gaveta da cozinha, onde ficam os preservativos. Eu
sorrio e pego alguns.
― Não se pode dizer que o rapaz não está
preparado ― Matt fala brincando, levanta o polegar e
abre um sorriso estúpido.
Abro a porta do quarto, mas Reagan apagou a luz.
Há um tênue brilho da lâmpada ao lado da cama, mas
isso é tudo. Reagan está deitada de bruços, com os
braços cruzados debaixo do travesseiro. Sua tatuagem
está brilhante e um pouco inchada. Ainda não consigo
acreditar que ela fez uma tatuagem. Seu pai vai me
matar. E depois, a ela. Seu corpo está nu.
Vou para o meu lado da cama e coloco os
preservativos sobre a mesa de cabeceira. Então, deito
entre os lençóis e fico de costas, olhando para o teto. Ela
não se move, e acho que ela já poderia estar dormindo.
Mas, quando eu rolo na direção dela para puxá-la para
meus braços, ela vem até mim, sua pele macia, nua e
maravilhosa. Os seios nus ficam contra o meu peito, e
seus mamilos se projetam contra a minha pele. Ela
encaixa o rosto no meu ombro.
― Ei, Pete ― diz ela.
― Sim ― grunho. Nem consigo formar uma frase.
― Se você não me quer por causa do que
aconteceu, você deve me dizer agora. ― Ela parece
tranquila, mas suas palavras são fortes. O problema é
que eu não sei ao que ela está se referindo. Ela está se
referindo a Maggie? Ou ao estupro?
A única coisa que posso fazer é ser honesto.
― Eu não quero tirar vantagem de você ― eu digo.
― E eu meio que sinto que estou.
Ela ri contra o meu peito.
― Eu diria que é, na verdade, o contrário. Eu sinto
que estou tirando vantagem de você. ― Ela beija meu
peito. ― Vamos apenas dormir.
Afasto seus cabelos da testa e dou um beijo.
― Ok. ― Suspiro. Graças a Deus. Porque eu sou
um covarde. Um grande, gordo, velho covarde e inútil.
Ela rola em suas costas e olha para o teto. Posso
ver seu perfil no escuro. Seguro a mão dela com força
na minha. Estou suando, então não a puxo de volta
contra mim.
Sua respiração se equilibra, então, posso relaxar um
pouco. Acomodo minha cabeça mais pesadamente no
travesseiro. Mas, quinze minutos mais tarde, ainda estou
olhando para a escuridão. Seu corpo nu está a poucos
centímetros do meu.
Lentamente, ela solta a mão da minha. Eu deixo
porque meio que quero que ela pense que estou
dormindo.
Ouço um pequeno suspiro e olho em sua direção,
sem mover a cabeça. Ela empurra as cobertas para
baixo, descobrindo os seios, e eu vejo a ponta dos dedos
tocá-los. Ela traça um círculo ao redor dos mamilos, e
então os aperta suavemente. Ouço-a inspirar; se eu antes
não era forte o suficiente para tê-la ao meu lado, eu sou
agora.
Sua mão desliza para baixo da sua barriga e imagino
que ela está indo para sua fenda. Ela provavelmente deve
estar quente, molhada e necessitada. Seus joelhos
levantam e ela começa a se tocar. Sua respiração
entrecorta novamente. Eu realmente deveria dizer a ela
que não estou dormindo, mas não posso. Não quero
estragar isso.
― Oh, Pete ― ela geme.
Eu não aguento mais. Eu simplesmente não posso.
― Reagan ― eu digo. Minha voz soa como um tiro
de canhão na escuridão.
Ela congela.
― Pete ― diz ela. ― Eu não tive a intenção de
acordá-lo. ― A mão dela ainda está entre as pernas. Ela
para de movê-la e a apoia em sua barriga. ― Que
vergonha ― ela sussurra e sua voz é trêmula.
― Reagan, vem aqui ― eu digo.
Ela inclina-se em um cotovelo e pergunta:
― Onde?
― Se estiver tudo bem para você, quero que você
venha aqui comigo.
Ela fica de joelhos e coloca uma mão em meu peito.
― Assim?
Tomo sua mão na minha e levo-a para os meus
lábios.
― Reagan, estou com medo ― eu admito.
― Eu também ― diz ela.
― Quero tanto estar dentro de você que chega a
doer. ― Fecho meus olhos com força.
Sinto a ponta dos dedos de Reagan no cós da minha
cueca e sinto-a levantá-la sobre meu pau. Levanto o
quadril para que ela possa puxá-la para baixo. Agora
estou nu como ela.
― Posso? ― ela pergunta. ― Posso tentar algumas
coisas?
― Você pode tentar o que quiser ― eu digo e
levanto os meus braços para que as palmas das minhas
mãos fiquem por trás de minha cabeça. Se eu tocá-la,
vou ter que deitar sobre ela e deslizar para dentro dela. E
sei que isso precisa ser feito em seu ritmo.
Seus dedos envolvem meu pau, e ela geme.
― Eu não tenho certeza se isso pode caber dentro
de mim.
― Ele vai se encaixar ― eu digo.
Reagan se estica e percebo que ela está tentando
pegar um preservativo. Ainda não estou pronto para isso,
então o pego enquanto ela está em cima de mim, com as
minhas mãos ao redor da sua cintura. Levanto-a para
que seus seios fiquem na altura do meu rosto. Beijo seu
mamilo esquerdo até que ele esteja enrugado em minha
boca. Ela geme e eu passo para o outro seio. Dou-lhe a
mesma atenção e ela treme em meus braços.
― Pete ― Reagan geme.
Coloco minha mão entre as pernas dela para ver se
ela está molhada. Porra, ela está encharcada, quase
pingando.
― Deus, Reagan ― eu falo e paro meu dedo sobre
o clitóris.
Ouço o invólucro do preservativo rasgar e sinto-a
pressioná-lo na cabeça do meu pau. Ela quer colocá-lo
em mim. Puta merda! Mas eu seguro a mão dela.
― Reagan.
― O quê?
― Eu sou apenas um cara.
― O que significa isso? ― ela sussurra.
― Significa que, se você colocar isso no meu pau,
a próxima coisa que vai passar sobre ele é você. ― Ela
congela por um momento, e ouço sua respiração
acelerar.
Mas ela começa a rolar o preservativo para baixo
em meu eixo e, quando ela chega à base, puxo-o um
pouco mais apertado. Ela está sendo muito gentil
comigo.
― Vamos lá ― eu digo em voz baixa. ― Venha e
me monte. Mostre-me como você quer.
Ela joga uma perna em cima de mim e atravessa
meus quadris, e sua intimidade molhada está tocando a
minha rígida e viril. Ela desce lentamente, cavalgando em
mim, até que meu pau está em sua fenda.
― Coloque a mão entre nós e me leve para dentro
― eu falo. Minha voz é tão baixa que eu mal consigo
entender. Mas ela me ouve e obedece, colocando a
cabeça do meu pau em sua abertura. Então, ela para. ―
Está tudo bem? ― Mordo o lábio inferior para não gritar.
Ela não responde, mas começa a afundar em cima
de mim. Seus braços e pernas estão tremendo, e eu elevo
os quadris para ajudar a guiá-la. Ela é gostosa, e desliza
em mim como uma luva de veludo apertada.
― Merda ― eu digo. Eu desejo não ter falado
porque ela para de se mover.
― O que há de errado? ― ela pergunta.
― Nada ― eu respondo ― Você está perfeita.
Continue.
Ela afunda um pouco mais e diz:
― Você está.
Deus, sim, estou.
― Sim ― respondo e cerro os dentes para não
gozar.
― Você está dentro de mim, Pete ― diz ela.
Sinto algo molhado em meu peito.
― Você está chorando? ― pergunto.
― Talvez ― diz ela.
Ela está muito quieta.
― Estou te machucando? ― pergunto, passando as
mãos em suas coxas nuas.
― Não ― ela diz. ― Eu estava tão preocupada em
como seria. Eu só... ― Ela funga. ― Eu só não quero
que isso acabe, Pete ― diz ela. ― Quero ficar assim
para sempre.
Dou uma risada e meu pau se move dentro dela.
― Oh ― ela fala e ajusta seu corpo. Estou só na
metade do caminho, mas queria que ela fizesse isso à sua
maneira. Meu pau pulsa e abaixo seu corpo contra mim,
meus quadris empurrando contra ela ao mesmo tempo.
Ela grita. ― Oh!
Puxo-a para mim e a beijo, para que ela fique quieta.
Meus irmãos estão na sala de estar.
― Shh.
Arqueio meu quadril e enrosco minha língua na sua.
― Jesus ― eu murmuro quando ela levanta a
cabeça. Suas pernas estão tremendo, e ela equilibra-se
em meu peito.
― Você pode? ― ela pergunta.
― Posso o quê? ― Posso ficar assim para sempre?
Não. Porque eu vou gozar e deixá-la insatisfeita.
― Você pode fazer isso? ― pergunta ela, com a
voz hesitante.
Sento-me e envolvo meu braço em torno dela, e em
seguida passo muito lentamente sobre suas costas. Suas
pernas levantam e envolvem meus quadris. Empurro
dentro dela, ainda mais do que antes, mas ainda não todo
o caminho.
― Oh, isso é bom ― diz ela.
Eu rio e enterro minha cabeça em seu pescoço.
― Está tudo bem? ― sussurro. Empurro um pouco
mais e, em seguida, puxo de volta para fora. Então,
afundo nela o máximo que posso. Ela é tão apertada que
eu mal consigo respirar.
― Sim. ― Ela geme quando me inclino e entro
mais fundo.
Estou quase gozando e ela não. Assim que consigo
um espaço entre nós, minha mão procura por seu calor,
esfregando seu clitóris. Eu tomo o mamilo entre os
dentes e mordisco-o com cuidado, e ela começa a se
contorcer debaixo de mim. Seus quadris arqueiam para
atender minhas estocadas, e seus gritos são pequenos
ruídos em minha orelha. Sua respiração sopra na minha
bochecha, tão úmida quanto seu lugar privado onde
estou enterrado e adorando.
De repente, ela agarra meus ombros e endurece
debaixo de mim. Seu corpo treme, e ela começa a gozar.
Continuo acariciando-a e é muito difícil não empurrar
entre suas pernas para atingir meu próprio orgasmo. Mas
eu me esforço para manter isso devagar. Ela treme em
meus braços e não a solto até que ela está lânguida em
meus braços, e eu busco meu próprio prazer. Envolvo
meus braços ao redor dela e enterro o rosto em seu
pescoço, empurrando uma, duas, três vezes. Então,
derramo meu gozo nela. Sinto meu corpo estremecer e
ela envolve seus braços ao meu redor e me segura,
enquanto me perco nela.
Afasto o cabelo do seu rosto e seu corpo estremece
no meu. Ela está chorando? Oh, merda. Mas, então, ela
bufa e percebo que ela está rindo. Quase que
histericamente. Seu corpo estremece mais e aperta meu
pau. Puxo-o para fora dela, porque preciso, não porque
eu quero. Meu pau está tão sensível que mal posso
suportar;
Ela ri e eu olho para ela. Seus olhos são escuros na
penumbra do quarto, e estão brilhantes. Mas não de
lágrimas. Mas sim de felicidade.
― Como foi? ― pergunto.
Beijo sua boca rapidamente. Ela ri de novo.
― Esse foi um teste prático ― diz ela. ― Quando
podemos fazer o exame final?
Respiro fundo.
― Quando você quiser, princesa. Eu vivo para
servir.
Ela ri de novo, e eu nunca, nunca ouvi um som
mais bonito. Nunca.
Reagan

Acordei com meu traseiro aninhado no colo de


Pete, sua dureza pressionada contra minha bunda. Ele se
move contra mim e eu me encaixo lentamente. Ele
empurra o cabelo da minha nuca e seus lábios tocam o
lugar sensível onde meu pescoço encontra o ombro.
Seus dedos seguram meu seio e ele não se move. Ele não
move um centímetro em direção ao meu mamilo.
Simplesmente acaricia os dedos preguiçosamente na área
sensível dos meus seios.
― Pete ― eu sussurro.
― Oi? ― ele sussurra de volta e posso ouvir o
sorriso em sua voz.
― Você está tentando dar em cima de mim? ―
pergunto.
Ele ri.
― Se você precisa perguntar isso, estou fazendo
algo de muito errado. ― Ele me vira e levanta minha
perna, apoiando-a em seu ombro, seu hálito quente
contra minha fenda úmida.
― Vou precisar me esforçar mais. ― Ele sorri.
Eu suspiro quando ele me abre com os polegares e
inclina a cabeça, sua língua tocando meu clitóris mais e
mais.
― Acho que você vai precisar treinar muito ― eu
falo, mas mal consigo respirar. Entrelaço a mão em seus
cabelos, segurando-o com força e empurrando-o para
onde preciso que ele me toque. Ele agarra meu clitóris
enquanto enfia o dedo dentro de mim. Ele é menos
cuidadoso do que no passado. Parece ter menos medo
de tentar algo novo comigo, mas ainda é calmo e suave.
Sei que ele vai devagar por minha causa e me pergunto
quanto tempo ainda ele sentirá necessidade de fazer as
coisas assim. Para sempre?
Não tenho medo dele ou do que ele faz comigo,
nunca tive. Aperto os lençóis com força, enquanto ele
gira o dedo dentro de mim, alcançando um ponto que eu
não sabia que existia. Eu grito e ele gentilmente e
ritmicamente suga meu clitóris ao mesmo tempo em que
movimenta seus dedos, me fazendo perder o controle.
Eu atinjo o clímax com tanta força que mal consigo
respirar. Empurro a cabeça para trás quando chego ao
ponto mais sensível e ele diminui a pressão sobre meu
clitóris e o lambe. Tremores secundários me atingem.
Pete limpa o rosto em minha coxa e se arrasta por
meu corpo. Ele se inclina e pega uma camisinha,
colocando-a rapidamente. Quando acho que ele vai me
tomar, ele não o faz. Ele vira meu corpo lentamente e
coloca um travesseiro embaixo dos meus quadris.
― Tudo bem? ― ele pergunta, colocando o peso
em minhas costas e seus lábios tocando meu ombro
novamente, como fez ainda há pouco. ― Preciso de
você ― ele fala.
Eu concordo.
― Está tudo bem.
Ele afunda em mim por trás. Seu impulso é lento até
que ele está totalmente encaixado dentro de mim.
― Você está dolorida?
― Um pouco ― eu admito. Estou um pouco
dolorida, mas fico satisfeita por ele estar dentro de mim,
que é exatamente onde quero que ele esteja.
― Eu vou ter cuidado ― ele sussurra. Eu sei que
ele vai. Não quero cautela. Quero Pete.
Ele faz amor comigo, com movimentos
preguiçosos, entrando e saindo, com cuidado e cautela.
Gozei com sua boca entre minhas pernas, mas sinto a
excitação me tomar novamente. É uma sensação
completamente diferente. É uma onda quente de calor
que vai tomando meu corpo e me conduzindo ao
orgasmo. Eu gozo e ele geme, empurrando seu corpo
mais e mais contra o meu, até que ele estremece e goza
comigo. Ele grunhe e faz um ruído baixo com a
garganta. É um ruído de conclusão. Em seguida, ele
puxa seu pau para fora, levanta-se, retira o preservativo
e se limpa. Então, ele me entrega uma tolha e vira de
costas. Eu me limpo e, a seguir, ele volta para a cama,
me abraçando.
― Você está bem? ― ele pergunta, me puxando
para deitar na curva onde seu braço se liga ao ombro.
― Eu não vou quebrar, Pete ― eu digo em voz
baixa. ― Você não tem que me tratar como se eu fosse
feita de vidro.
Ele se assusta e olha para mim.
― Não estou.
― Está sim ― eu respondo baixinho. Odeio ter que
fazer isso, mas não posso ter um relacionamento
baseado em medos que ele acha que pode evitar.
Meu telefone faz barulho e eu o procuro no bolso
da minha calça, que está no chão.
É uma mensagem do meu pai.
Pai: Onde você está?
Eu: Com Pete.
Pai: Por quê?
Merda. O que eu disse?
Eu: Podemos falar sobre isso depois?
Pai: Claro, podemos sim. Assim que você chegar ao
seu apartamento onde nós estamos esperando desde
ontem à noite.
Merda, merda, merda, merda.
Eu: Estarei aí em poucos minutos.
Dou um suspiro e coloco minha cabeça sobre a
cama. Meu pai vai me matar. Ou matar Pete.
― Meus pais estão no meu apartamento ― eu digo.
― Oh, não. ― Ele geme, rola para a beira da cama
e começa a se vestir.
― Para onde você está indo? ― pergunto.
Ele olha para cima, com a sobrancelha arqueada.
― Eu vou com você.
― Isso não é necessário ― eu digo. Na verdade,
prefiro que ele não vá. Papai deve estar puto e ver Pete
só vai piorar a situação.
― Eu não me importo ― diz ele, e continua a se
vestir.
― Pete ― eu chamo. Ele finalmente olha para mim.
― O quê?
― Eu prefiro que você fique aqui.
― Por quê? ― Ele parece confuso.
― É domingo de manhã. Meus pais provavelmente
vão ficar o dia todo. Eu preciso passar algum tempo
com eles. ― Eu só quero poupá-lo da ira do meu pai.
Ele balança a cabeça.
― Tudo bem ― diz ele lentamente. Ele chuta os
sapatos.
Eu me visto e lhe dou um beijo.
― Te ligo mais tarde.
Ele balança a cabeça.
― Certo.
Eu preciso lidar com essa situação com meu pai
para que eu nunca mais tenha que lidar com isso de
novo.
Pete

O telefone toca e dou um pulo para pegá-lo. São


seis da tarde de domingo e Reagan saiu cedo e não me
ligou uma vez sequer.
― Alô? ― eu falo e Sam ri. Ele vai pegar o ônibus
de volta para a faculdade hoje ainda, então ele vai ficar
aqui até umas onze horas. Ele diz algo sobre eu estar
com as bolas amarradas e eu jogo uma almofada nele.
― Pete? ― uma voz masculina soa do outro lado
da linha.
― Sim.
― Pete, é o Phil. ― Devo estar muito tranquilo
porque ele continua a falar. ― Seu agente da
condicional.
― Sim, senhor ― eu digo e sento-me para que eu
possa prestar muita atenção.
― Pete, posso buscá-lo para que você vá a um
lugar comigo? É importante.
― Claro ― eu nem sequer hesito. ― Posso
perguntar para onde vamos?
― Vou te falar mais tarde, quando eu for buscá-lo
― ele fala, soando chateado, e eu quero saber o que está
acontecendo. ― Posso passar aí em dez minutos?
Desligo e vou me vestir. Fico me perguntando o que
pode ser tão importante para que Phil venha me ver num
domingo. Mas acho que vou descobrir.
Phil para na frente do meu prédio em um Ford preto
e faz um gesto para que eu entre.
― Tenho más notícias, Pete ― ele fala e não olha
para mim.
― Que notícias?
― Edward, um dos rapazes do programa juvenil,
recebeu a visita da irmã ontem, depois do grupo. Ele
estava indo tão bem, senti que ele estava pronto,
especialmente depois de ter passado tanto tempo com
você no acampamento. Mas houve uma briga e o pai
adotivo da irmã foi gravemente ferido. Edward foi
esfaqueado e acabou de sair da cirurgia. O pai adotivo
morreu na luta.
― O quê? Como isso pode acontecer?
― Aparentemente, a irmã de Edward lhe disse que
o pai adotivo não estava tratando-a bem. Edward perdeu
a cabeça, e ele retrucou. Ele atacou-o, e os dois
brigaram. O pai tinha uma lâmina no bolso. Edward
passou toda a manhã na cirurgia.
― Ele está bem?
Phil balança a cabeça.
― Eu não tenho certeza. É por isso que vou vê-lo.
Ele não quer ver ninguém, e você parecia ter uma
conexão real com ele no acampamento e até mesmo no
grupo ontem. Então, achei que você conseguiria
conversar com ele.
― O que vai acontecer com ele? ― pergunto.
― Espero que este seja um caso de legítima defesa.
Da última vez que ficou em apuros, ele era um
delinquente juvenil. Ele tem dezoito anos agora. Será
julgado como adulto, se houver acusações criminais. ―
Ele balança a cabeça e respira fundo. ― Preciso que
alguém consiga ouvir dele a história. Assim, Caster pode
ajudar a preparar a sua defesa, mas ele não quer falar
com ninguém. Já falei com Bob Caster, e ele está vindo
para falar com ele também.
― Ele está na casa de Reagan ― eu respondo.
Ele me olha, colocando a caminhonete em marcha.
― Sim, eu sei.
Passo a mão na parte de trás da minha cabeça.
― Eu lhe disse para ter cuidado com ela ― Phil me
lembra.
― Eu tenho sido ― eu falo. ― Muito cuidadoso.
― Ele está muito chateado ― ele me diz. Estou
certo que sim.
― Eu a amo como um louco, Phil ― eu digo.
Seu polegar tamborila no volante, mas ele não fala
mais nada. Ao chegarmos no hospital, permitem que a
gente entre no quarto, após Phil exibir sua identificação.
Ele entra e eu vejo Tic Tac, não Edward, na cama. Fios e
tubos estão em seu corpo e ele parece muito frágil. Uma
moça está sentada ao seu lado, segurando sua mão, e
acho que é sua irmã. Ela fica de pé quando entramos no
quarto.
― Eu nunca deveria ter dito a ele ― diz ela. ― Eu
nunca deveria ter dito a ele, e então isso não teria
acontecido.
Phil entrega a ela um lenço de papel, e eu coloco
minhas mãos nos bolsos. Não tenho certeza do que fazer
com elas.
― Olá ― eu digo quando ela olha para mim.
― Você deve ser Pete ― diz ela e sorri. ― Edward
me contou tudo sobre você.
― O que aconteceu? ― pergunto, apontando para a
cama.
Suas sobrancelhas arqueiam.
― Ele deu a sua vida por mim. Mais uma vez. Ele
fez isso antes, quando foi para o centro de detenção, e
fez novamente hoje.
Phil coloca a mão em seu ombro.
― Eu gostaria de tomar um café ― ele fala. ―
Pode ir comigo?
Acho que ela sabe que eu quero falar com Edward.
Ela balança a cabeça e olha com tristeza para a cama.
― Por favor, faça com que ele não desista de lutar
― ela sussurra. ― Não deixe que ele desista.
Ela sai do quarto com Phil, e eu sento na cadeira em
que ela estava. Roo distraidamente a unha, me
perguntando se eu deveria acordá-lo.
― Eu sou tão lindo que você mal consegue
recuperar o fôlego, não é? ― ele pergunta, sua voz
calma. Eu nem sabia que ele estava acordado. ― Respire
fundo, cara ― ele fala.
― Como você está? ― Tento falar com jovialidade.
― Você parece uma merda.
― Obrigado. ― Ele geme enquanto se acomoda
melhor. ― Eles dizem que eu vou viver. ― Seu olhar
vagueia ao redor do quarto, e me pergunto se ele está
pensando no homem que ele matou.
― Fico feliz ― eu digo. Não sei como falar com
esse garoto. Eu realmente não sei. ― Quer me dizer o
que aconteceu?
Ele balança a cabeça.
― Por que não?
― Ele está morto, certo? ― ele pergunta. Uma
lágrima rola em sua bochecha, e ele a enxuga.
― Sim.
― Algumas pessoas precisam ser mortas ― ele
fala. Ele não esboça um sorriso e sua voz é pausada. Ele
está sofrendo, tenho certeza.
― Ele precisava morrer? ― pergunto.
― Ele estava machucando minha irmã ― ele fala.
― Soube disso no momento em que entrei na sala. ―
Ele aperta a grade da cama até os nós dos seus dedos
ficarem brancos. ― Ela nem sequer precisava falar.
Pude ver em seus olhos, assim como antes.
― Havia uma faca? ― pergunto. Tento gravar tudo
o que ele está me contando, e me pergunto se não
deveria estar anotando.
Seu olhar se prende ao meu.
― Não era minha ― diz ele. ― Era dele. Ele me
ameaçou com ela e não pude detê-lo. ― Ele coloca a
mão sobre o estômago. ― Ele enfiou-a em mim. Puxei-a
para fora e ele pulou na minha direção e se lançou sobre
ela. ― Ele está chorando abertamente agora. ― Juro por
Deus que eu não queria matá-lo.
Estendo a mão para apertar a dele, nossos polegares
se cruzando da forma como homens costumam apertar
as mãos.
― Foi um acidente.
― Você acha que eles vão acreditar? ― ele
pergunta.
― Eu não sei ― digo em voz baixa. Não quero dar-
lhe esperança, se não houver nenhuma.
― Eu tinha planos, sabe? ― diz ele, fungando. ―
Eu os escrevi.
Jesus Cristo. Esse garoto tinha planos.
― Eu queria ser alguém de quem minha irmã
pudesse se orgulhar. Eu queria ser para ela o que
ninguém foi para mim.
― Você ainda pode ter essas coisas, Edward ― eu
digo.
Ele balança a cabeça.
― Será que eu vou para a prisão? ― ele pergunta.
― Eu não sei ― eu digo novamente.
― Eu não quero ir para a prisão ― diz ele.
― Precisamos fazer algumas tatuagens em você ―
eu digo. ― Ninguém se mete com você na prisão se
você for todo tatuado. ― Aperto sua mão. ― Preciso
que você me faça um favor ― eu digo.
― O quê? ― ele pergunta, seus olhos cautelosos.
― Preciso que você se lembre que você é tão
importante quanto a sua irmã.
― Eu não sou ― ele protesta.
Observo seu rosto, neste momento. Só consigo me
lembrar de quando costumava chamá-lo de Tic Tac em
minha cabeça e percebo que fiz um desserviço a esse
garoto. Ele é muito melhor que isso. Ele é um bom
rapaz, e eu poderia tentar ser como ele, mas o julguei por
sua aparência, e me sinto mal por isso.
― Você é tão importante quanto ela, só não teve
ninguém que lutasse por você. ― Sinto meus olhos se
encherem de lágrimas, e pisco para afastá-las. ― Mas
você tem alguém agora, idiota. Estou aqui. Não vou a
lugar algum.
― Sempre me disseram durante toda a minha vida
que eu não valho nada.
― Eles mentiram ― eu resmungo. ― Mentiram
para se sentirem melhor do que você. ― Encolho os
ombros. ― Cabe a você acreditar ou não. ― Solto a
mão que estava segurando. ― Você é um cara incrível.
― Minha irmã precisa ir para um lar até que eu
possa tirá-la da assistência social ― diz ele.
― Vamos falar com Phil e ver se ele pode ajudar. ―
Solto um suspiro profundo. ― Não desista, está bem?
Ele não diz nada.
― Olha o que você passou, Edward ― eu digo. ―
Quantas pessoas poderiam ter sobrevivido? Você
conseguiu. Portanto, não jogue tudo fora agora. Tenha
esperança.
― Não posso pagar pela esperança. ― Ele bufa. ―
Essa merda é cara demais.
― Então, eu posso te dar um pouco da minha.
Porra, você pode ficar com toda a esperança que tenho
por você.
― Eu nunca tive ninguém ao meu lado antes ― diz
ele.
Phil e Sr. Caster entram na sala. O Sr. Caster olha
para mim, e Phil parece curioso.
― O cara caiu sobre a faca ― eu digo. ― Edward
não fez isso de propósito.
O Sr. Caster puxa um bloco de notas e começa a
escrever. Ele faz um gesto para Edward continuar, e ele
conta novamente toda a história, enquanto o Sr. Caster
toma notas.
Phil bate a mão no meu ombro.
― Obrigado ― diz ele. ― Eu realmente acho que
você poderia ser bem-sucedido nesta linha de trabalho.
― Não sei se consigo lidar com toda a dor ― eu
admito.
― Ele chorou como um bebê ― Edward fala. Ele ri
e então agarra o lado do seu corpo que dói.
― Não chorei ― resmungo e aponto para o lado
onde ele colocou a mão. ― É isso que você recebe por
ser um espertinho.
― Melhor um espertinho que um idiota ― diz ele
rindo.
― Preciso te levar para casa ― diz Phil. ― São
quase nove horas.
Merda. Eu quase esqueci. Concordo com a cabeça
e aperto a mão de Edward.
― Vejo você amanhã ― eu digo. Ele sorri e acena
com a cabeça. Ele me faz lembrar a tatuagem de Reagan.
A flor dirigindo-se para o sol.
― Sr. Caster ― eu digo, e estendo minha mão. Ele
a aperta, embora com relutância. ― Foi bom vê-lo
novamente.
― Você vai me ver muitas outras vezes, Pete ― diz
ele e sorri. Mas não há alegria nele. É um aviso.
― Claro, senhor.
Phil acena para mim, e saímos para a caminhonete.
Minhas emoções estão à flor da pele e sinto vontade de
bater em alguma coisa.
― O que aconteceu com Edward acontece com
muitos garotos?
― Mais do que você poderia imaginar ― diz ele. ―
Todas as variações da mesma cena. ― Ele olha para
mim. ― Eu não estava brincando quando disse que você
seria bom neste tipo de trabalho.
― Eu sei. Estou pensando sobre isso. ― Não sei se
quero estar na linha de frente como ele. Ou se quero ser
um advogado, como o Sr. Caster. Ainda estou decidindo.
― Obrigado por me acompanhar ― diz ele.
― A qualquer hora.
A caminhonete para e eu saio. Eu queria muito ir até
a casa de Reagan, mas, com a tornozeleira de
monitoramento, não posso. Não poderia ir até ela de
forma alguma. Estou emocional demais. Jamais poderia
ser o que ela precisa, neste estado.
Corro até as escadas. Eu realmente preciso de um
bom treino para me livrar dessa energia. Sinto que estou
a dois passos de perder o controle de mim mesmo.
Estou com fome. Estou com raiva de mim por não ter
dado valor à minha vida. Estou bravo pelo câncer ter
deixado Matt doente. Estou louco comigo mesmo. Com
raiva de mim. Irado porque o sistema não protegeu
Edward ou sua irmã. Irritado com tudo.
Entro no apartamento e as luzes estão apagadas.
Graças a Deus não tem ninguém em casa. Vejo um fio de
luz saindo por baixo da minha porta. Abro-a e vejo
Reagan deitada sobre a minha cama, lendo um livro. Ela
senta e afasta o cabelo do rosto.
― Você chegou ― ela fala e sorri para mim. É tão
belo e doce e é por isso que não posso vê-la agora.
― Você não deveria estar aqui agora ― eu digo.
― O quê? ― Ela arqueia as sobrancelhas.
― Você deve voltar para o seu apartamento ― eu
digo e mexo nas coisas da cômoda para não ter que
olhar para ela.
― Não ― ela diz. ― O que há de errado?
― Eu tive um longo dia. E, particularmente, não
quero companhia. ― Sei que estou machucando-a, mas,
se ela ficar aqui, não vou ser o que ela precisa.
― Pete ― ela insiste. ― Diga-me o que aconteceu
hoje.
― O que aconteceu com você? ― pergunto. ―
Seu pai ficou chateado porque você passou a noite aqui?
― Com o ex-presidiário. Não digo que a última parte,
mas penso.
― Ficou ― diz ela com um aceno de cabeça. Ela
está escolhendo as palavras com cuidado. ― Mas ele é
meu pai. É seu papel agir assim.
Sua mão segura meu ombro, mas eu recuo. Ela
recua também, mas não vai embora. Fecho meus olhos
com força e apoio as mãos na cômoda. Quero rastejar
como uma bola num canto e me balançar até dormir.
Não, não quero. Quero ficar nos braços de Reagan, me
afundar dentro dela, torná-la uma parte de mim e
permitir que ela afaste a dor. Mas ela não pode. Não foi
feita para isso.
― Você deve ir embora, Reagan ― falo novamente.
― Não ― ela responde e tenta me virar para
encará-la, mas não vou ceder. Ela solta um suspiro e se
abaixa para deslizar por baixo do meu braço, ficando
entre mim e a cômoda. Eu me afasto. Não posso estar
tão perto dela. Não posso. Não está tudo bem.
― Eu não posso ser o que você precisa agora ― eu
digo em voz baixa. Minha voz treme.
― O que você acha que eu preciso? ― ela
sussurra.
Engulo o nó em minha garganta e flexiono os dedos
e os punhos.
― Você acha que eu preciso ser amada calma e
cuidadosamente ― ela fala devagar.
Concordo com a cabeça, brincando com o piercing
em minha boca.
― Você quer saber o que eu acho? ― ela pergunta.
― O quê? ― eu resmungo. Aparentemente, me
transformei em um homem das cavernas que só
consegue falar monossílabos.
― Acho que preciso ser amada... completamente.
Encaro-a. Seus olhos são suaves e um sorriso surge
em seus lábios.
Ela caminha até mim e segura meu rosto com as
mãos.
― Eu te amo completamente ― eu digo. ― Mas...
Ela balança a cabeça.
― Não, não ama. Você se segura porque tem medo
de me machucar. ― Então, ela envolve seus braços ao
redor do meu pescoço e seus lábios pairam a poucos
centímetros dos meus. Ela sussurra: ― Me ame
completamente, Pete.
Eu grunho e puxo sua camiseta para cima e sua
calça para baixo, sua calcinha caindo com ela. Ela não
parece sentir medo, então, puxo-a para a cama. Ela dá
um passo atrás cada vez que dou um para frente, até que
ela não tenha escolha a não ser sentar-se na cama. Ela
vai para o centro da cama e eu admiro-a, olhando seu
perfeito corpo nu.
― Não posso ser calmo ou cuidadoso ― advirto.
― Mas vou parar se você me pedir. Basta falar.
― Eu sei ― ela responde e balança um dedo para
mim, mas não vou deixá-la assumir o comando. Pego
seu pé e puxo-a para mim. Imediatamente, fico
preocupado se fui bruto demais, mas ela apenas ri.
― Preciso estar dentro de você ― eu digo
enquanto pego um preservativo e o coloco em meu pau.
― Acho que não posso esperar.
Ela não diz uma palavra.
Cuspo na minha mão, com medo de que ela não
esteja molhada o suficiente. Esfrego meu pau e arrasto-o
por sua entrada. Seguro seus quadris com força e entro
nela. Balanço dentro dela com força e ela grita. Mas não
de dor.
― Não pare ― ela fala e puxa meus cabelos, me
obrigando a olhar em seus olhos. ― Deixe-me ser o que
você precisa, assim você será o que eu preciso também.
― Sua respiração acelera enquanto eu golpeio dentro
dela. Não me canso de amá-la. Não consigo chegar a
uma profundidade suficiente. Levanto suas pernas,
deixando a sua parte inferior inclinada. Suas mãos
seguram minha bunda, me puxando com mais força e
mais profundamente a cada estocada. Estou
completamente dentro dela, tomando cada centímetro do
seu corpo de seda enquanto ela me recebe. Ela aceita
minha raiva, minha impotência e meu amor por ela.
― Pete ― ela geme e repete meu nome mais e
mais. Sinto a contração de sua boceta ao redor do meu
pau, me ordenhando quando ela goza. Mas não estou
pronto para terminar. Puxo-a e entro nela novamente.
Seguro suas coxas com força e ela parece ainda mais
apertada, se é que isso é possível. Ela deita com o rosto
contra os lençóis e a bunda para o ar. Ela me deixa
comê-la por trás. Sou duro e áspero e a amo tanto.
Seguro seu cabelo com força, para que eu possa virar
sua cabeça e beijá-la. Sua língua toca a minha e seus
lábios tremem. Alcanço seu centro e encontro seu
clitóris, acariciando-o da maneira como sei que ela gosta.
Retardo meus movimentos e provoco seu orgasmo, até
que ela está tremendo em meus braços.
Viro e puxo-a para sentar sobre mim.
― Não sei quantas vezes mais consigo gozar, Pete
― ela fala e morde o lábio inferior.
― Me toque ― eu falo e ela segura meu pau,
bombeando lentamente. Ele está molhado da sua
umidade. Paro a mão dela e ela segura a cabeça do meu
pau. Seguro seus quadris e a puxo para baixo, até que ela
me toma por inteiro. Então, viro-a e deito sobre ela,
fodendo com força.
Ela grita meu nome entre gemidos, e eu amo o fato
de que ela me deixa fodê-la dessa forma. Sua respiração
toca minha orelha e ela geme:
― Eu te amo, Pete ― repetindo mais e mais e não
consigo acreditar em como sou sortudo.
Ela goza novamente e eu finalmente gozo com ela.
Deito sobre ela e sinto meu amor transbordar do meu
coração. Envolvo seu corpo com meu braço e sinto-a
ainda tremendo. Enfio uma mecha de cabelo, que está
suado, atrás de sua orelha.
― Você está bem? ― ela pergunta, apoia o queixo
em meu peito e olha para mim. Escapo de dentro dela e
não consigo segurar um gemido quando nos separamos.
― Estou bem ― eu digo. Olho-a e me sinto triste
por ter feito isso com ela. ― E você? ― pergunto. ―
Por favor, diga que eu não te machuquei.
― Pete ― ela sussurra. ― Você tem que superar
seu medo de me machucar.
Ela está abraçada comigo e nunca me senti tão bem.
Desenho pequenos círculos em suas costas.
― Eu te amo completamente, princesa ― eu digo.
Ela me aceita como ninguém nunca aceitou. Ela me
aceita como Pete. Ela me aceita como ex-presidiário. Ela
me aceita como o irmão de quatro homens que vai amá-
la. E espero que, um dia, ela me aceite como seu marido,
porque acho que não conseguiria viver sem ela.
Ela ri, e sua alegria me toma.
― Acho que vou estar muito dolorida para você me
amar assim completamente outra vez, esta noite.
― Posso pensar em algumas maneiras de contornar
isso.
Ouço um miado lamentoso do outro lado da porta e
vejo uma pata arranhando para trás e para frente o
espaço onde a porta não toca o chão.
― Vá pegar meu gato ― diz ela, empurrando meu
ombro. ― Você me esgotou. Não posso me mexer.
Eu rio e deixo sua gatinha entrar.
Epílogo: Matt

Reagan está dando uma aula de autodefesa no


centro de recreação, e todos nós, irmãos Reed, dissemos
que estaríamos lá. O que nenhum de nós sabia era que
ela queria nos usar como isca.
― Não deveríamos estar usando capacetes e
roupas estofadas para isso? ― Paul pergunta quando
tenta bloquear um chute na virilha de Friday. Ele
consegue, mas por pouco.
― Eu precisava de um boneco para treinar, então
escolhi você ― Friday grita e balança seu punho no ar, e
Paul envolve um braço ao redor de sua cintura e oscila
ao redor dela brincando. Ela grita e balança as mãos, mas
ele não a solta.
Reagan olha para Pete e pisca. Ela não tem mais
medo que qualquer um de nós a toque. Ela jamais sentiu
medo de Pete, mas agora ela fica calma perto de todos
nós e, às vezes, eu a abraço só porque posso. Ela faz
Pete feliz pra caralho.
― Venha me atacar ― ela fala. ― Devagar, por
favor ― ela acrescenta, quando ele hesita.
Ele geme e vai. Ele ainda se lembra da última vez
que ele fingiu que ia atacá-la. Então, quando ele se
aproxima, ela gira e derruba-o no chão. Ele geme e rola
numa bola.
― Chega ― ele geme. ― Alguém precisa assumir
meu lugar.
O pai de Reagan ri. Seus pais estão aqui para passar
o fim de semana. Pete está meio chateado porque
precisou voltar para casa, enquanto eles estão em seu
apartamento. Ele vive com ela quase o tempo todo, agora
que ele não está mais em prisão domiciliar. O pai de
Reagan parece apreciar demais o desconforto de Pete.
Seu irmão mais novo, Link, também é muito bom em
artes marciais. Ele pratica isso como tudo o que ele faz:
com paixão, premeditação e cautela. Ele não fala muito,
mas todos nós o respeitamos. Ele é quem é, assim como
o resto de nós.
Sam intensifica e Reagan trabalha alguns
movimentos com uma das garotas que estão treinando.
Sam recebe o golpe de Reagan e a menina se torna mais
confiante. É bom ver isso. É bom ver Reagan à vontade,
e sei que ela está fazendo um bom trabalho com essas
meninas.
Um dos amigos de Pete do programa de
recuperação juvenil, Edward, veio com sua irmã. Ele não
foi acusado por sua participação na morte do homem, e
está passando muito tempo com sua irmã, mesmo que
ela não possa viver com ele. Ele mantém um olho nela.
Ela é tímida como um ratinho, mas é uma menina doce,
e sinto que vai conseguir passar por isso. Ela não está
participando das aulas ainda. Está sentada na ponta da
arquibancada ao lado de um menino em uma cadeira de
rodas. Acho que o nome dele é Gonzo. Ele é outro dos
enjeitados de Pete. Eles ficam em torno dele como se
precisassem dele. Talvez eles precisem. Sei que eu
preciso. Pete tornou-se o homem que ele sempre deveria
ter sido, agora que ele tem Reagan. Eu nunca estive tão
orgulhoso dele.
Gonzo ri, e sei que o menino não pode falar por
causa da sua traqueostomia. Então, Gonzo está usando
um computador para que ele possa se comunicar com a
irmã de Edward. Queria poder lembrar seu nome. Ela
fala com ele e ele sorri, muito rapidamente. Seu rosto
enrubesce. Eles são da mesma idade e há,
definitivamente, uma faísca aí. Há uma tampa para cada
panela, Pete diz sempre. Eu dou de ombros mentalmente.
Reagan faz um gesto para eu me aproximar. Vejo
Sam caído. Merda. Ela vai castrar todos nós.
― Eu tive câncer ― eu gemo enquanto ela sorri
para mim. ― Eu quase morri ― lembro-a.
Ela ri e me usa para mostrar alguns movimentos.
Ela parece me dar uma colher de chá, mas, em poucos
minutos, estou com minhas costas no chão também. Ela
coloca as mãos nos quadris e sorri para mim.
― Você realmente não achou que eu iria pegar leve
com você, não é? ― ela pergunta.
Logan joga Emily por cima do ombro e começa a
correr em torno do ginásio com ela gritando. Paul faz o
mesmo com Friday, e Sam para ao meu lado.
― Tem alguma coisa acontecendo com Paul e
Friday? ― ele pergunta.
― Paul ainda acha que ela é lésbica ― eu respondo.
― Devemos dizer a ele que ela não é? ― Sam
pergunta.
― Nãooo! ― Eu sorrio. É mais divertido dessa
forma.
Olho para a porta e vejo Skylar, a mulher que está
cuidando dos filhos de Kendra. Ela prometeu trazer Seth
e estou contente em vê-la. Meu coração acelera. Ela está
usando roupas de ginástica e posso ver sua barriga.
Quero lambê-la. Ou fazer um piercing lá. Ou ficar sobre
ela. Meu pau contrai e vou até ela.
― Oi ― eu digo.
Ela sorri e parece estar com a respiração acelerada.
― Oi ― ela responde.
― Está tudo bem? ― pergunto.
Ela lança um olhar em direção a Seth.
― Não realmente ― ela responde com um suspiro
pesado.
― Estava esperando poder pedir sua ajuda.
― Para as crianças? ― pergunto, apontando na
direção deles. ― Qualquer coisa.
Olho ao redor do ginásio. Esta é a minha vida. E eu
a adoro.
Caros leitores,

Este livro foi uma jornada, mas espero que você


não esqueça que esta foi a jornada de Reagan, e que cada
vítima de agressão sexual terá uma jornada diferente.
Não importa a história, todos nós devemos estar
cientes dos fatos:
• Uma em cada quatro meninas em idade
universitária é agredida sexualmente durante a sua
carreira universitária;
• 20% das mulheres, quando perguntadas se já
foram forçadas a praticar atos sexuais, dizem que sim.
Se você foi agredida ou conhece alguém que foi,
existem recursos que você pode usar para obter ajuda.
No Brasil, em boa parte dos estados, você pode
contar com a Delegacia de Atendimento à Mulher
(DEAM).
Lembre-se, mesmo que você nunca tenha sido
violentada, pode oferecer ajuda a alguém que tenha sido.
O centro de atendimento a vítimas de estupro da sua
região pode dar mais detalhes.
Espero que tenham gostado história de Reagan e
Pete.
Por favor, lembre-se que o silêncio não muda nada.
Abraços,
Tammy
Não deixe de conferir os demais
livros da Série Os irmãos Reed:

Tatuagem, toque e tentação – Livro 01


Ela está fortemente fechada. Mas ele pode ser a
chave. Logan Reed é alto, tatuado e tentador. Kit é uma
mulher com um forte gancho de direita e um segredo.
Kit quer uma tatuagem, mas Logan vê mais do que ela
pretende compartilhar no desenho de sua tatuagem. Ele a
vê como ninguém jamais o fez. Logan não é inválido,
mas não fala há oito anos. Ele não precisou, até
conhecer Kit. Logan não sabe tudo sobre Kit. Kit não
sabe nada sobre si mesma, até ter que sacrificar tudo
que sempre quis para salvar o que é mais importante
para ele.

Sagaz, sexy e secreto – Livro 02


Emily
Voltei para Nova York pronta para começar minha
nova vida com Logan. As coisas ainda estão no ar entre
nós, e já se passaram três meses desde a última vez que
falei com ele. Mas tem uma coisa da qual tenho certeza:
não posso viver sem ele.
Logan
Preciso dela como preciso de ar.Mas agora ela está
de volta, e seu pai e seu ex-namorado estão conspirando
para nos manter separados. Sei que podemos superar
isso. Não podemos? Será que podemos fazer nossa
relação dar certo? Temos que conseguir porque não
posso imaginar minha vida sem ela.

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