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AS CORES

DO MEU
AMOR

PALOMA MAZZON
Sumário
NOTA DA AUTORA:
PRÓLOGO
01. Henry
02. Luana
03. Luana
04. Luana
05. Henry
06. Luana
07. Henry
08. Luana
09. Luana
10. Luana
11. Luana
12. Henry
13. Luana
14. Luana
15. Henry
16. Luana
17. Henry
NOTA DA
AUTORA:
Antes que questionem sobre o
tamanho, esse livro é apenas um
pequeno bônus da Luana e do Henry, que
são filhos dos herdeiros Lazzari.
Luana — Filha da Pérola Lazzari.
Henry — Filho adotivo de
Benton Lazzari.

Eu amei demais escrever esse


livro e espero que vocês amem lê-lo
também.
PRÓLOGO

Observei a pista de gelo na LA


Kings Holiday Ice, várias pessoas
patinando de um lado para o outro, ao
redor da enorme árvore de Natal que há
no centro da pista. Era lindo, com as
luzes natalinas misturadas com a típicas
luzes noturnas da cidade iluminando
tudo.
Eu estava sentada em um dos
bancos circundantes, dando um tempo
antes de ir lá e patinar junto com as
pessoas. Patinar era uma das minhas
paixões, e eu sempre vinha aqui com os
meus pais e minha irmã, desde pequena.
Era uma das várias coisas que eu fazia
quando estava agitada.
Hoje, eu estava muito agitada,
estressada, querendo estrangular alguém.
E tudo isso só porque eu não era capaz
de manter meus sentimentos em seu
devido lugar: dentro de mim. Daqui a
dois dias era Natal, e como sempre,
haverá o jantar na casa do meu bisavô.
Eu estava feliz, realmente estava, porque
já tinha escolhido meu vestido e fiz toda
uma preparação para àquela noite, só
para descobrir pela minha Tetê, que
Henry estaria sim de volta a LA, só que
acompanhado.
Ele estava namorando, e o que eu
poderia fazer? Henry Montgomery-
Lazzari era um homem magnífico de
vinte e sete anos, com uma beleza
impressionante, uma inteligência
extraordinária, um sorriso
calorosamente irresistível e foi
considerado a pessoa mais jovem a se
tornar um bilionário. Ele tem todas as
mulheres — bem adultas — que desejar
ao seu dispor, com apenas um simples e
leve piscar de olhos. O cara é
completamente perfeito, com isso não
tem como discutir.
E o que eu sou? Ah, eu sou uma
garota bonita. Eu tenho olhos escuros —
o que é uma coisa considerada atraente
na escola, já que sou uma das poucas
que não tem olhos claros —, tenho
longos cabelos castanhos e tenho um
corpo muito bom para uma garota de
dezessete anos. Mas essa é questão: a
minha idade. Para Henry, eu não passo
de sua menininha fofa, que ele protege
desde os meus quatro anos. E estava
tudo bem, eu ainda tinha esperanças,
porque ele nunca havia aparecido com
uma namorada; eram sempre
acompanhantes de uma noite, no máximo
duas.
O que eu iria fazer agora?
— Achei você!
Sobressaltei com a voz grossa e
ao mesmo tempo suave, tão familiar, que
eu tenho vontade de gemer, mas me
controlo. Olhei para cima e o vi, tão
lindo com jeans preto, camisa branca e
casaco de couro preto.
Henry sentou ao meu lado, com
aquele sorriso calorosamente
irresistível do qual falei e começou a
retirar seus sapatos para colocar os
patins.
— Pensei que fosse chegar só
depois de amanhã. — comentei, minha
voz baixa, hesitante. A presença dele
costumava causar isso em mim, e seu
cheiro perfeito não ajudava muito a
minha sanidade.
Enquanto enfiava um skate no pé
direito, ele anuiu.
— É, mas minha mãe pediu para
chegar mais cedo, então eu vim. — Ele
colocou o outro skate, então esticou a
coluna e olhou para mim. — Fui
procurar por você, e o Kent me disse
que você estava aqui.
Merda. Não deveria contar tudo
para meu pai assim. Quase tudo, na
verdade, porque ele não sabe ainda
sobre meus sentimentos por Henry.
Olhei ao redor, franzindo o
cenho.
— E cadê sua namorada? Annika,
não é? — questionei. Na verdade, eu já
sabia quem era sua namorada, mas que
se dane, não daria o braço a torcer.
— Sim, Annika Popov. Ela vai
chegar depois de amanhã, tinha uns
trabalhos para fazer em Nova York.
— Hum. — Olhei para baixo,
para meus pés. Minhas mãos estavam
segurando a beirada do banco.
— Você vai gostar dela. — ele
disse.
Eu me levantei, suspirando ao me
equilibrar sobre os patins.
— Claro. Se é sua namorada,
alguma coisa de especial ela tem, não é?
— Abri meu melhor sorriso adorável e
estendi a mão para ele. — Vamos lá?
Enquanto deslizávamos de mãos
dadas pela pista de gelo, desviando das
pessoas, eu não conseguia parar de
sorrir. Eu amava patinar e amava mais
ainda fazer isso com Henry.
— Já decidiu qual faculdade vai
fazer? — ele me perguntou.
Deslizei para o lado, fazendo
uma dancinha enquanto sacudia a cabeça
em negativa.
— Eu tenho até agosto do ano
que vem para decidir.
— Mas não há nada em especial?
Os cantos dos meus lábios se
curvaram para baixo e dei de ombros.
— Talvez moda, ou design de
interiores como minha avó, ou
fisioterapia como a Tetê, ou... Sei lá —
dei de ombros, oferecendo um sorriso
sapeca para ele. —, talvez eu seja uma
patinadora profissional, o que acha? —
Para dar ênfase, eu deslizei mais,
fazendo uma pirueta e parando com os
meus braços abertos em sua frente.
Ele sorriu para mim.
— Bom, eu seria seu primeiro
patrocinador.
Isso me fez dissolver
internamente. Desmanchei em um
sorriso.
— Mas também possa ser que
queira ser uma artista plástica como
Picasso, van Gogh...
— Sem dúvidas seria um
sucesso. Eu compraria seus quadros.
— Sei disso, eu sei usar meus
dedos, Heny. — Falei seu nome da
forma que eu costumava chama-lo
quando era criança, porque ainda era
incapaz de encaixar o r nas palavras.
Ele sorriu, e eu escorreguei para mais
perto. — Só estou tentando dizer que
não faço ideia do que quero ainda e que
tenho oito meses para me preocupar com
isso. Quando souber ao certo, prometo
te avisar, ok?
— Ok, Moranguinha.
Escorregando para longe, aponto
para ele, sorrindo largamente e aviso:
— Esse apelido é da Tetê, nem
comece!

•••

Quando saímos da pista de gelo,


entregamos os patins para a mulher que
estava os recuperando na saída.
— Você veio de carro? — Henry
perguntou.
Neguei com a cabeça.
— É inverno, papai não gosta
que eu dirija quando as pistas estão
escorregadias. Eu vim de Uber.
Ele anuiu.
— Vamos, eu te dou carona.
— Está de carro?
— Sim, peguei um dos carros do
Lucca para te encontrar aqui.
Por todo caminho, não podia
parar de pensar em como Henry se
tornou meu melhor amigo. Mesmo com
toda diferença de idade, nós temos essa
coisa, essa união. Ele costumava dizer
que eu o forcei a isso, mas é uma
amizade fantástica. Daquela amizade
que um aceita o outro do jeitinho que é;
que te encoraja e a crescer como pessoa
e aprender cada dia mais; que te deixa
confortável, independentemente da
situação; que se esforça e gostar de estar
junto com você, não há dificuldades
para conversar; que acorda no meio da
madrugada, se você precisa conversar
sobre alguma coisa; bem no estilo de
amizade do meu pai, Kent com sua mãe,
Stacy.
Um estilo de amizade que não
importa o quê, você quer ver a pessoa
feliz, mesmo que isso te magoe.
Quando ele estacionou em frente
ao prédio onde eu vivia, retirei meu
cinto e me virei para ele. Enfim,
perguntei o que estava martelando em
minha cabeça:
— Você a ama?
Surpreso, ele desligou o carro e
me olhou nos olhos. Eu gostava muito
disso com o Henry: se faço uma
pergunta, ele é sempre sincero e sempre
me olha nos olhos para mostrar a
sinceridade.
— Sim, eu amo a Annika. Ela é
uma pessoa incrível, gentil, adora se
envolver com ONGs de animais e
crianças órfãs... Eu disse que você vai
gostar dela, não se preocupe. E ela já
sabe muita coisa sobre você, também.
Mesmo que o interior da minha
garganta esteja queimando, eu dou um
sorriso amarelo e faço que sim com a
cabeça. Estendendo minha mão toco em
seu braço e me inclino para beijar sua
bochecha.
— Estou feliz por você, tá? —
Eu me virei e abri a porta do carro. Não
menti, eu realmente estava feliz por ele;
estava triste por mim.
— Ei, podemos almoçar amanhã?
— ele questiona antes quando pulei para
fora do carro.
Assenti.
— Claro. Passa aqui para me
buscar?
Ele pisca para mim, e eu bato a
porta do carro. Henry espera até que eu
esteja sob a proteção do prédio antes de
dar partida no carro.
Em todo caminho do elevador, eu
fiquei pensativa. Eu pensei que não
sabia o que queria fazer, mas sabia. Eu
precisava fazer o melhor para mim e
isso significava ficar o mais longe
possível de tudo que estava me fazendo
mal.
As pessoas costumam dizer que
tenho a aparência do meu pai, mas minha
personalidade é da minha mãe, e elas
não estão erradas. Eu sinto muito ciúme
e eu sofro pra cacete com isso.
Quando entrei no apartamento,
encontrei meus pais no sofá, ambos
concentrados em seus devidos laptops.
Não havia sinal da minha irmã caçula,
então ela devia estar em seu quarto.
Olhei para eles, tentando ser o mais
forte possível, concentrada, mas quando
as palavras saíram da minha boca, eu
soube que eles foram capazes de
detectar o tremer na minha voz e viram
meus olhos nublados com as lágrimas
que me neguei a derramar:
— Eu vou para Royal College of
Art no ano que vem.
01. Henry

Nada melhor que um banho gelado,


de cabeça, e uma noite tranquila após
um dia inteiro de trabalho.
As pessoas dizem que ser o chefe não
se cansam e elas podem ter razão. Mas
eu não sou qualquer chefe; eu sou do
tipo que rala, que corre atrás, que fica
encharcado de suor e não senta nem por
um segundo.
Eu tenho muito funcionários, mas
minha empresa não seria o que é hoje, se
eu simplesmente me sentasse em meu
escritório e esperasse as pessoas
fazerem meu trabalho. Não é assim que
funciona comigo. Se eu quero perfeição,
eu vou atrás dela.
Tenho uma rotina programada todos
os dias, sequer me sento na hora do
almoço; meu sanduíche é ingerido
enquanto estou andando de um lado para
outro, buscando uma nova ideia. Afinal,
o que adianta ter um QI de 152, se eu
ficar apenas assistindo as pessoas
trabalharem por mim? Não tem nem
lógica.
Por isso, quando chego em casa, meu
corpo está implorando por um descanso.
Termino o banho, enrolo uma toalha
ao redor da minha cintura e saio do
banheiro. Sorrio ao ver Annika, minha
linda namorada, que está sentada na
beira da cama, com as pernas cruzadas e
me olhando com seu típico olhar de que
quer me devorar. Passo a mão pelos
cabelos molhados, balançando a cabeça,
percebendo que não tem cansaço no
universo que me faça negar essa mulher.
Annika é uma modelo russa, que tem
longos cabelos louros, grandes olhos
azuis e um corpo perfeito. Estamos
namorando há mais de quatro anos e ela
sempre foi incrível. Viaja bastante por
conta do trabalho, mas isso nunca
interferiu no nosso relacionamento.
— Está muito cansado? — pergunta,
inclinando a cabeça para o lado, me
observando.
— Depende.
— De quê?
Ela se levantou, os movimentos do
corpo todos calculados para seduzirem.
Passou a língua nos lábios, para
umedece-los. Os cílios pesados, o corpo
esbelto vestido apenas por uma
camisola minúscula, que eu ainda não
tinha visto.
Olho para as pernas nuas e longas e
meu membro fica rígido rapidamente,
formando um arco na toalha.
— Foda-se o depende. Vem aqui.
Ela solta uma risadinha satisfeita e
pula em cima de mim. A pego no colo,
suas pernas abraçando minha cintura,
sua boca logo buscando a minha, os
braços ao redor do meu pescoço, os
dedos mergulhando em meus cabelos
molhados.
— Baby... — ela chia quando, ainda
de pé, aperto sua bunda e pressiono-a
contra mim. Seus lábios roçando nos
meus, a respiração forte e quente. — Por
favor, me leve para cama e me foda
como se sua vida dependesse disso...
Como se fosse a última vez.
Nem precisou dizer mais nada; a
levei para cama e fiz o que me pediu.
Foi com força, rápido, preciso. De
várias posições diferentes: de quatro,
por cima, ela por cima, de ladinho,
contra a parede. Fizemos isso por três
vezes antes de cairmos na cama,
exaustos, ambos nus e sem se importar
com isso.
Annika deitou no meu peito e ficamos
em silêncio por um tempo, apenas
apreciando o momento. Seus dedos
acariciavam meu peito, e os meus, as
suas costas.
— Henry? — ela chama, baixinho,
quase amedrontada.
— Hum?
Eu estava quase dormindo, mas fiquei
curioso.
— Recebi um convite de trabalho na
Rússia.
Abri os olhos, encarando o teto.
Sorrio.
— Isso é bom, baby. Fico feliz por
você.
De uma forma estranha, ela deslizou
para longe de mim, deitando de barriga
para cima, assim como eu. Não olhou
para mim quando falou:
— Não é um trabalho como os
outros, Henry.
Franzi o cenho, me levantando para
olha-la, confuso.
— Como assim?
— Henry — ela suspira e se senta,
finalmente encarando meu rosto. —, eu
vou morar na Rússia, por pelo menos,
dois anos.
— Oh. — Os cantos dos meus lábios
se curvaram para baixo com a surpresa.
Meu coração doeu com o aperto, a
sensação ruim se apossou de mim.
Ela deve ter visto minha careta, pois
se ergueu, ficando sentada e se
aproximou.
— Ei, eu sinto muito, baby. Apenas...
Eu esperei tanto por essa oportunidade,
você sabe disso. Não posso deixar
passar simplesmente.
— Eu sei, é o seu trabalho. — eu
digo, anuindo com firmeza, apesar do nó
na minha garganta.
— Não vou dizer para tentarmos a
distância, porque são dois anos e eu não
acredito nisso. Eu não quero que você se
prenda a mim por tanto tempo.
Fiquei em silêncio. O que eu deveria
dizer? Nunca abriria minha boca para
lhe dizer para ficar. É o seu trabalho e
isso é uma realização de um sonho.
Annika sempre quis uma
oportunidade de emprego em seu país de
origem, porque lá, ela estaria perto da
sua família. Agora, provavelmente pela
expansão de seu trabalho, ela conseguiu.
Eu entendo. Não ficaria bem longe
dos meus pais e dos meus irmãos.
— Henry...
— Está tudo bem. — garanti, ouvindo
a súplica na sua voz. — Falei sério
quando disse que estava feliz por você,
mesmo que isso resume em não ter você
mais aqui.
Seus olhos se encheram de lágrimas.
Ela fez um beicinho de choro e se jogou
em, para um abraço.
A abracei de volta, forte.
Sua despedida foi dentro de uma
semana. Ela chorou bastante no
aeroporto, pediu para que eu ficasse
bem, então se foi.
Da Califórnia.
Dos Estados Unidos.
Da minha vida.
Quatro meses depois...
Luana

Eu não podia dizer o que estava


sentindo no momento em que abri a
porta do apartamento em que cresci.
Foram cinco anos distante; cinco anos
morrendo de saudades.
Espiando dentro, não vejo ninguém.
Bem, é de se esperar que não tenha
ninguém no meio da sala às cinco da
manhã. Minha família ainda deve estar
dormindo. Entro com cuidado para não
fazer zoada, com um sorrisinho
esticando meus lábios.
A minha volta para casa foi uma
surpresa. Eu tinha dito a todos que só
voltaria em dois meses, quando na
verdade, a passagem já estava
comprada. Programei tudo para chegar
cedo e pegar todos dormindo. Dessa
forma, a surpresa seria bem melhor e
maior.
Tentando não fazer zoada, deixei
minha mala em um canto da sala, sem
conseguir parar de rir. Sonhei tantas
vezes em chegar aqui, respirar esse ar
maravilhoso, esse clima leve que só
minha família consegue formar. Fui
direto para a cozinha. Para melhorar
ainda mais a surpresa, irei preparar o
café da manhã de todos.
Separo todos os ingredientes das
panquecas e os deixo sobre a ilha da
cozinha. Depois, puxo meus cabelos
para cima, prendendo-os em um rabo de
cavalo meio folgado e vou atrás dos
meus airpods dentro da minha bolsa.
Seleciono minha playlist do Maroon 5,
coloco o avental que Zuri, a mulher que
foi contratada para cuidar da minha irmã
e acabou se tornando parte da família,
adora usar para cozinhar, e coloquei a
mão na massa.
Enquanto misturo as coisas e faço as
panquecas, canto baixinho e mexo os
quadris de acordo com seus ritmos
envolventes. A música Memories
começou e eu parou por um segundo,
escutando Adam cantando sobre não ter
coragem de ligar para alguém e em
seguida fazendo um brinde pelas
pessoas que temos.
Engoli a saliva com dificuldade,
meus olhos arderam um pouco.
Todos esses anos, eu mal consegui
falar com Henry. Quando ele ligava,
tudo doía para atender, para conversar,
fingir que tudo estava bem.
Principalmente quando ele não parava
de falar na sua namorada, incrivelmente
linda, inteligente e famosa.
Há cinco anos, eu fugi disso, de tudo.
Sabia que não aguentaria ficar e ver a
felicidade dele com outra pessoa. Quer
dizer, eu tinha dezessete anos, Henry
nunca havia me olhado como mulher,
sempre foi como uma irmãzinha. E eu
não podia o culpar por isso. Enquanto eu
ainda era considerada uma criança, ele
era um homem feito, dez anos mais
velho e já extremamente poderoso.
Annika era a mulher certa para ele.
Tão linda quanto ele, já adulta, boa com
as pessoas ao seu redor. Me lembro de
quando a conheci naquele jantar de
natal, todos ficaram encantados com sua
gentileza e educação. Até eu mesma me
apaixonei!
Só que eu não podia mais fugir. Não
estava só longe de Henry e de sua
namorada; tinha minha família, que
morria de saudades. Por isso, resolvi
amadurecer e aceitar a derrota, voltando
para casa. Brindar as pessoas que
ainda tenho na minha vida.
Tudo pronto, arrumei na ilha de
forma bonitinha e me sentei em uma das
banquetas para esperar as pessoas
despertarem. Já ia dar seis horas e todos
tinham a mania de acordar às seis e dez
para se organizarem e começarem o dia.
Mexi no celular enquanto esperava. A
minha barriga roncava, mas aguentei,
esperei. Estava tão ansiosa, que precisei
baixar um app de joguinho no celular
para poder ficar calma.
As seis e dez em ponto, escuto os
despertadores soando pela casa. Sorrio
em meu lugar, balançando as pernas no
ar. Demorou só o tempo de todos
fazerem suas higienes matinais antes de
começarem a aparecer.
Primeiro, veio minha mãe, tão linda
quanto me lembrava, em seu robe de
seda roxo e os cabelos já bem
penteados.
A felicidade de vê-la foi tanta, que
meus olhos lacrimejaram e eu pulei da
banqueta.
Ainda estava um pouco sonolenta,
mas quando me viu, seus lindos olhos
azuis se arregalaram em surpresa,
saudades e confusão:
— Lua? — Ela murmurou, sem
acreditar, seus lábios querendo formar
um sorriso. — Ah, meu Deus! Filha!
Kent, nossa bebê está em casa! — gritou
e correu logo, me abraçando com força.
Desabei em seus braços, chorando de
saudades. Ela me encheu de beijos,
tateou meus braços, rosto, procurando se
havia algum sinal ruim no meu corpo.
— Ah, filha, que saudades, meu
amor!
Nos abraçamos de novo. Mesmo com
os olhos nublados, pude ver meu pai
entrando na cozinha com uma calça de
moletom e camisa preta.
Quando me viu e entendeu, a
confusão escapou do seu rosto e também
veio me abraçar. Minha mãe deu espaço,
com muita dificuldade, para que
possamos nos falar.
Eu apenas chorava e abraçava, e
aceitava o carinho que eles estavam me
dando. Não conseguia explicar com
palavras a falta que senti deles.
Não é como se eu tivesse passado
cinco anos sem vê-los — eles chegaram
a me visitar lá várias vezes, mas estar
em casa sempre seria diferente, melhor.
— Também estava morrendo de
saudades de vocês!
— Por que não nos avisou? — Papai
perguntou. — Iríamos buscar você no
aeroporto.
Sorri.
— Eu sei que iam, mas eu quis fazer
surpresa. — Acenei para as panquecas e
o café que preparei. Abri os braços e
anunciei: — Surpresa!
Ambos sorriram. Minha mãe juntou
as mãos em frente a boca, encantada.
Meu pai começou a alisar a barriga e
lamber os lábios de brincadeira.
— Eu sonhei com isso. — Ele falou,
fazendo-nos rir. Beijou meu rosto e se
sentou em uma banqueta.
Quando estávamos todos sentados
para comer, senti falta da minha irmã.
Franzi o cenho, despejando calda de
chocolate na minha panqueca:
— Cadê a Luna?
— Foi dormir na casa da Sarah hoje.
— Minha mãe quem respondeu. — Elas
estão organizando coisas para o final
das aulas.
— Ah. Que legal!
— Hum, espero que seja só isso
mesmo. — Papai disse, erguendo uma
sobrancelha como quem dizia: conheço
bem esse tipo de desculpa.
Eu sorri com a boca cheia.
— Luna é tranquila, você sabe disso,
Kent. Enquanto nossa mais velha puxou
a mim, a Luna é você todinha.
— Não é mentira, não. — Concordei,
movendo a cabeça.
Luna é o tipo de adolescente que
prefere mil vezes passar a madrugada
lendo seus livros do que trocando
mensagens com alguém. Na verdade, ela
nem é muito fã de socializar. Essa
amiga, Sarah, é a única que consegue
arrancar alguma conversa com ela,
porque é igualzinha.
Tomamos café da manhã juntos,
conversando sobre algumas coisas. Eu
falei bastante sobre os últimos meses em
Londres, em como eu queria continuar
meu trabalho aqui. Eles ficaram
empolgados, me fazendo várias
perguntas.
Quando terminamos, meu pai se
levantou e levou seus pratos para a pia:
— Eu preciso passar para ver como
está o treino de hoje. O campeonato tá
chegando e quero que tudo ocorra bem.
Mamãe e eu concordamos.
Na casa dos quarenta, meu pai já era
um jogador aposentado, conhecido como
uma lenda do futebol americano. Ele se
aposentou há uns três anos e, não
satisfeito com tudo que já tinha
conquistado, ele simplesmente comprou
o time em que jogou nos últimos anos.
— Querida, quer que eu leve suas
malas para seu quarto? — Ele me
perguntou.
— Ah, não, pai. Obrigada. — disse,
enquanto enxugava minhas mãos em um
pano de prato.
Confusa, minha mãe questionou:
— Por quê?
Meio que encolhi os ombros.
— Porque não vou ficar aqui.
— Não? — Eles perguntaram em
uníssono.
— Não. — Deixei claro, com
cuidado. — Antes de vim, aluguei um
lugar. E antes que você comece a falar,
mãe: é um lugar ótimo, onde posso
morar em cima e fazer minha galeria em
baixo. E eu já tenho vinte e dois anos,
morei em Londres sozinha por cinco
anos.
— Mas agora está em casa, filha! —
Ela reclamou. — Voltou e vai morar em
outro lugar?
— Vou, mas é pertinho. Não é nem
quinze minutos de carro daqui para lá.
Notei as lágrimas em seus olhos, as
mesmas lágrimas que nublaram seus
lindos olhos quando eu estava no
aeroporto, pronta para embarcar e
depois, do mesmo jeito as vezes em que
ela se despediu de mim em Londres.
Chego perto e seguro sua mão com
carinho:
— Mãe, eu só... Só me acostumei a
ficar sozinha. É só isso. — Assegurei.
— Mas eu não estou mais em Londres e
não vamos nos falar apenas por chamada
de vídeo e celular. São só quinze
minutos! Você pode ir lá sempre que
quiser, do mesmo jeito que vou estar
sempre aqui.
Foi preciso vários abraços e
garantias de que viria todos os dias para
que ela me deixasse ir.
Depois que meu pai saiu para
resolver as coisas de seu time, pedi que
minha mãe me levasse até o lugar que
aluguei. Enquanto estávamos no
caminho, peguei meu celular, abrir o app
que organiza minhas tarefas diárias e
acrescentei comprar um carro na lista
de amanhã. Hoje eu tinha prioridades.
O lugar era perfeito, assim como nas
fotos que vi no site de alugueis. A
localização era ótima, perto do centro
de Los Angeles. Se tratava de um
primeiro andar branco, com uma sacada
linda e, na parte de baixo, haviam
janelões de vidros fumês por toda parte.
— Você está com as chaves? —
Minha mãe perguntou quando abriu a
mala do seu carro para pegar minhas
malas.
Balancei a cabeça em negativa.
— A dona falou que deixaria nas
plantas.
Nós duas olhamos para um pequeno
jardim de frente a casa. Tinha muitas
plantas, diversas flores de vários tipos.
— Acho que seria óbvio colocar o
mais perto da porta, não?
— Tente a sorte! — Mamãe acenou
para a planta mais próxima da porta de
entrada.
Fingindo cansaço, fui até lá, batendo
os pés e me acocorei, enfiando minha
mão na terra ao redor da planta. A areia
úmida me deixou em alerta, se tivesse
qualquer coisa rastejante por ali... Algo
gelado como metal foi tocado pelos
meus dedos quentes e ao puxar, dei de
cara com um molho de três chaves.
— Achei!
Fui logo achando a chave da porta de
entrada, muito empolgada para ver do
lado de dentro.
— Você não deveria ter marcado uma
visita antes de alugar?
Dei de ombros, arrastando uma das
malas enquanto minha mãe arrastava a
outra. Falei ao fechar a porta:
— Gostei das fotos e peguei. Sou
prática, mãe. Não gosto de enrolações.
— Claro que não gosta, é minha filha.
Suspiramos juntas quando fechei a
porta. As luzes estavam apagadas, mas,
por conta dos janelões de vidro, a luz
natural do sol adentrava, iluminando
todo o ambiente.
A galeria era gigante, muito maior
que a que eu tinha lá em Londres.
Rapidamente, uma imagem de como ela
ficará em alguns dias, com minhas artes
penduradas nas paredes brancas, o chão
todo coberto de plásticos sujos de tintas.
Perfeito.
— Bem, é um espaço grande. — Mãe
comentou.
Nós subimos a escada em espiral que
dava acesso a parte de cima. Abri a
porta, muito ansiosa para ver tudo
dentro. Deixei a mala de lado ao entrar,
admirando o local.
Era um apartamento pequeno,
comparado ao apartamento dos meus
pais. Tinha a sala, já toda mobiliada
com um sofá, mesinha de centro de
madeira, um abajur de chão ao lado e
uma tv em frente. De lado, uma mesa de
madeira de quatro cadeiras e uma típica
cozinha americana, com uma ilha de
granito e banquetas. O piso era madeira
clara — foi uma opção minha. Odeio
piso escuro. Empolgada, caminhei pelo
lugar, olhando cada detalhe. Fui até
pequena varanda, que é separada da sala
apenas por uma porta de vidro
deslizante. Havia uma mesa ali também,
menor que a da sala. Também havia
plantinhas penduradas e que,
definitivamente, precisavam de água.
Em seguida, fui até o único quarto do
lugar.
Era perfeito. Uma cama,
aparentemente, confortável bem no
centro, mesinha de cabeceira ao lado
com um abajur em cima. Na parede do
canto, haviam prateleiras com alguns
livros. Ao me aproximar, percebi que
eram livros de romance, de autores
mortos que nunca tive curiosidade de
ler. Quem sabe não tenha essa
curiosidade agora? Não havia closet no
quarto, apenas um armário do tamanho
perfeito para guardar minhas coisas.
Do lado de fora, de frente para o
quarto, era o banheiro. Também
pequeno, mas o suficiente.
Quando voltei para sala, minha mãe
olhava na varanda para fora.
— O que achou? — perguntei.
Ela se virou para mim, sorrindo:
— Olha, filha, tirando o fato de que
ninguém mais usa aquele tipo de escada
e que, se eu fosse a arquiteta desse
lugar, ele seria um pouco diferente...
Você sabe, mais janelas, a ilha mais
centralizada... — Ela acaba rindo,
quando me ver revirar os olhos para sua
mania de arquiteta de querer modificar
todos os lugares. Se aproxima de mim,
segurando minhas mãos, então suspira e
diz: — É ótimo para mim, porque
obviamente é ótimo para você, querida.
Venha cá!
Nos abraçamos mais, ela me encheu
de carinho de mãe por um tempo, até seu
celular começar a tocar, nos avisando
que ela precisa ir para a empresa.
Com o celular em uma mão, a bolsa
pendurada em seu antebraço, óculos
escuros no alto de sua cabeça, um salto
de matar e calças apertadas, minha mãe
parecia uma miss universo em seus trinta
anos de idade, quando ela já passava
dos quarenta.
— Preciso ir, meu amor. Mas é sério,
pelo menos pinte essas paredes! — Ela
acenou para as paredes cinzas. — Se
você mostrar isso para sua avó, ela tem
um ataque cardíaco.
Eu rio.
— Tá bem, mãe. Vou dar um jeito
nisso.
— Sei que vai. — Ela me enche de
beijos de novo. — Vejo você mais
tarde?
— Claro.
— Ótimo! Te amo, querida. Estou
feliz que voltou para casa.
— Também amo! — Grito, porque
ela já está descendo as escadas.
Sozinha no meu novo lugar, inalo
profundamente e sorrio. Vou logo
escancarar a porta de vidro, deixando o
ar fresco da Califórnia adentrar na casa,
em seguida, levo as malas para o quarto,
na intenção de arrumar as roupas no
armário, mas meu celular apita, me
avisando. O retiro do bolso e dou uma
olhada. É o app de organização diária,
ele está avisando que há uma tarefa a ser
feita.
Mordo o lábio inferior e tento
respirar com tranquilidade. É a tarefa
mais difícil do meu dia, a que eu evitei
durantes esses cincos anos:
Ir ver o Henry.
02. Luana

Não é necessário que eu diga que a


MTech é uma das empresas de
tecnologias mais bem visualizadas no
país. Tampouco dizer que Henry
Montgomery-Lazzari é o cara por trás de
todo o império, porque ele é e isso é
óbvio.
Quando desci do Uber, observei o
prédio de cinco andares, com design
moderno e todo envidraçado que obriga
a Montgomery Technology. Sim, depois
que me mudei para Londres, fiquei
sabendo — pela mãe dele — que Henry
havia se mudado de volta para casa e
que ele comprou um prédio para sua
empresa.
Claro, fiquei muito orgulhosa e disse
isso para eles em uma das vezes que nos
falamos por telefone. Mesmo morrendo
de saudades de vê-lo pessoalmente, eu
proibi sua visita. Na verdade, toda vez,
eu meio que inventava uma desculpa
ridícula para que ele não fosse até lá.
Sabia que não resistiria e acabaria
desabafando tudo.
Só que, agora eu não tinha para onde
correr. Eu estava de volta para Los
Angeles e eu já sou adulta o suficiente
para entender que não posso mais fugir
dos problemas da minha vida. Preciso
enfrenta-lo. Soube disse no momento em
que descobri sobre sua separação.
Muito nervosa, mas pouco me
importando com isso, entrei no prédio.
A recepção era ocupada por três
mulheres lindas. Uma delas, a do meio,
uma preta maravilhosa, com lindos
cabelos black, me cumprimentou com
um sorriso largo de dentes muito
brancos.
— Olá. Bem-vinda a Montgomery
Global Technology.
— Obrigada. — Sorrio de volta, com
a mesma gentileza. — Ãhn... Estou aqui
para falar com Henry Montgomery.
Ela anuiu.
— Certo. É sobre alguma de nossas
vagas de emprego? Porque, se for, posso
te enviar para nossa chefe do RH, é ela
quem está fazendo as entrevistas...
— Não! — Me apresso a dizer. —
Na verdade, é assunto particular. Eu sou
uma... — Fiz uma pausa, torcendo um
pouco nariz porque eu tinha que falar:
— prima. Do Henry, quero dizer.
A expressão de surpresa que ela fez
foi a até engraçada.
— Ah, claro. Desculpe por...
— Não há problemas. — garanti. —
Será que ele está disponível para me
atender?
Ela foi logo pegando o telefone:
— Vou procurar saber agora mesmo.
— Levou o telefone ao ouvido e, dois
segundos depois, voltou a falar com
alguém do outro lado da linha: —
Emma? É a Jessica. Olha, o sr.
Montgomery está livre?... Há uma prima
dele aqui embaixo. Ela quer muito falar
com ele... Certo, claro. Obrigada,
querida. — Desligou o telefone e seu
sorriso estava de volta. — Você pode
subir. Ele fica no último andar. Ah, e —
ela pega um crachá com o nome
visitante e me entrega com um encolher
de ombros, se desculpando. — É um
padrão e a Emma é paranoica em seguir
as regras da empresa, então...
— Claro. — Eu pego o crachá e o
penduro em meu pescoço, dando uma
tapinha nele. Sorrio para ela: — Não
vamos deixar a Emma mais paranoica,
certo?
Ela sorri.
— Obrigada.
Eu subo de elevador para o quinto
andar junto com três pessoas que não
pararam de conversar sobre o novo
sistema de segurança que o sr.
Montgomey criou. Meu estômago
apertando de uma forma que chega a
doer de tão ansiosa, nervosa. Repassei
na minha cabeça tudo que treinei no
avião para cá. Eu precisava agir como
uma mulher, não como uma adolescente
apaixonada. Quem sabe assim, ele não
me veria como uma mulher boa o
suficiente? Certo?
Argh, meu Deus! Eu quero vomitar!
As portas se abriram e a zoada
invadiu meus ouvidos. Olhei ao redor,
havia muitas pessoas, andando de um
lado para o outro, trabalhando em seus
computadores, tablets e celulares. Todos
eles vestidos de forma informal, calças
jeans e camisetas confortáveis.
Acabo sorrindo para o tumulto. Não
era assim que eu imaginava uma
empresa tão poderosa e multibilionária
funcionando.
— Você é a prima?
Me assustei com a voz feminina
muito dura ao meu lado. O rosto
desconhecido e bonito parecia
desgostoso por me ver. A mulher era a
única que usava uma saia lápis creme,
blusa ensacada e saltos altos, seus
cabelos presos em um rabo-de-cavalo
elegante. Usava airpods nas orelhas e
óculos de grau e realçavam seus grandes
olhos verdes. Na mão, um tablet.
— Sou eu. — respondi.
— Posso saber seu nome ou se chama
Prima?
Alço uma sobrancelha, surpresa com
a frieza das suas palavras.
— Você deve ser a Emma, acertei?
— Forcei um sorriso amarelo, e foi sua
vez de ficar surpresa. Ótimo. A mulher
nem me conhece! — Onde está o Henry?
Ela limpou a garganta e endireitou os
ombros:
— Bem, sou Emma Forbes, a
secretária do Henry. Pode me dizer qual
seu nome?
— Prima dele. Cadê ele?
Não foi preciso que ela responda,
porque meus olhos pousaram sobre ele,
de costas para mim, do outro lado do
lugar, falando alguma coisa com um
grupo de funcionários. Reconheceria
aquelas costas em qualquer lugar, até no
escuro. Deixei Emma Forbes falando
sozinha sobre como é importante saber
meu nome e segui em direção ao meu
alvo.
Emma Forbes não me deixou, no
entanto, tagarelando como uma matraca:
— Querida
Eu senti a dor dela quando
pronunciou essa palavra.
—, você não pode entrar assim!
Quem são seus pais? Não te deram
educação.
Ri um pouco enquanto andava,
odiando o som dos seus saltos contra o
piso de mármore. Fiz a pergunta sem
olhar para ela:
— Conhece Kent McGregor e a
esposa dele, Pérola Lazzari?
— Claro! Kent McGregor é uma
lenda no futebol americano! E a esposa
dele, é tia do Henry.
Dessa vez, olhei na direção dela e
abri um sorriso satisfeito:
— E é por isso que sou a prima dele.
Ela parou abruptamente, olhos
arregalados e queixo caído.
Ignorei e segui em frente, parando só
quando eu já podia sentir o cheiro
incrível do perfume de Henry. Cutuquei
seu ombro e quando ele se virou e me
viu, ficando muito chocado, abri os
braços, sorrindo e disse:
— Surpresa!
— O quê!? Como assim?
Gargalhei quando ele me pegou,
abraçando-me apertado e tirando meus
pés do chão.
— Por que não me disse que viria?
Ele me apertou mais um pouco antes
de me colocar de volta no chão. Dei de
ombros:
— Ah, eu queria fazer surpresa para
todo mundo.
— Quer dizer que ninguém sabia?
— Isso aí!
Ele não parava de rir, e eu também
não. Doía olhar pra ele, ver o quanto ele
se tornou ainda mais lindo. Sei lá, é
como um bom vinho: quanto mais velho
fica, melhor. Seus olhos azuis estavam
ainda mais incríveis; seus cabelos
castanhos estavam um pouco longos,
roçando a gola de sua camisa branca
leve; os traços de seu rosto estavam
mais duros, mais maduros. Seu sorriso
ainda tinha um efeito de me derreter
inteira e fazer as borboletas em minha
barriga se agitarem.
— Falo com vocês mais tardes,
garotos. — Ele disse para os
funcionários antes de virar para mim de
novo: — Vem, vamos para minha sala.
A sala dele é grande e bem
organizada, com uma vista muito bonita
da cidade. Mas não foi essa vista, nem a
enorme mesa de vidro que chamou
minha atenção quando pisei lá dentro.
Foi o que tinha na parede de frente para
porta. Era impossível não olhar.
Eu tinha pintado esse quadro há um
ano. Foi um trabalho de conclusão do
curso e eu lembro o quanto eu estava
nervosa antes de começar a pintá-lo. Na
tela, a pintura tinha sido feita a óleo e
demorou mais do que o desejado, já que
esse tipo de pintura demorava mais para
secar. Era uma imagem de um casal, de
mãos dadas, em uma pista de gelo. Eles
estavam patinando com as luzes de natal
dando um clima mais romântico.
Lembro de ter ficado muito surpresa
quando minha professora falou sobre o
desejo que alguém expressão para
compra-lo quando foram expostos no
site da Escola. Não era minha intenção
vender, mas foi satisfatório saber que
existia alguém interessado na minha
obra. Depois de vender por um preço,
surpreendentemente, alto para um
primeiro trabalho, criei coragem e criei
meu próprio site de obras de artes.
Também deixava as telas em uma galeria
em Londres.
Chocada, meus olhos presos na tela
na minha frente, gaguejei:
— Vo-você... — Apontei, sem saber
como falar. Sorri, nervosa: — Foi você?
Henry olhou para meu dedo e seguiu
para o lugar apontado. Ele sorriu e
encolheu os ombros:
— Pois é. Tenho mais três em casa.
— Você comprou mais três?
— Comprei. Você não falou nada
sobre me dar um de presente ou me
enviar um, então fui lá e comprei.
Lembra que te falei que compraria seus
quadros, caso decidisse ser a nova
Picasso?
Ele meio que se sentou em cima da
sua mesa, os braços cruzados enquanto
olha para mim, me movendo em sua
sala.
Eu chego perto da tela, levanto minha
mão e toco nela, traçando os detalhes,
como se tivesse desenhando novamente.
— Não sabia que era tão interessado
em obras de artes.
— Não sou. — Ele fez uma careta
engraçada. — Sou interessado nas suas
obras de artes. Na verdade, em tudo que
você faz, sabe disso.
Bufando de brincadeira, reviro os
olhos.
Ele sorri mais, observando-me.
— E aí, quanto tempo vai passar
aqui? — perguntou.
Enfiei as mãos nos meus bolsos
traseiros, erguendo levemente os ombros
em um encolher.
— Eu voltei, não estou aqui apenas
para o feriado.
Seus olhos se iluminaram e eu vi um
brilho de felicidade realçar em suas íris
azuis.
— Sério?
— Aham. — Anuí, balançando a
cabeça para baixo e para cima.
Soltando uma gargalhada inesperada
e muito animada, ele se levanta e enrola
seus braços fortes ao meu redor
novamente, em um abraço apertado e
aconchegante.
Um dos meus abraços favoritos.
— Nem acredito que minha
bebezinha vai ficar por perto agora!
Isso me causou um mal-estar. Como
sempre faz quando ele fala coisas do
tipo, se referendo a mim como se eu
fosse sua irmãzinha. Limpei a garganta
quando ele me colocou no chão, me
afastando um pouco, precisando de
espaço para respirar. Foi necessário dar
tudo de mim, usar toda minha força, para
não encher os olhos de lágrimas. Então
olhei para todos os lugares ao meu redor
e me sentei no sofá confortável que
havia ali, quando falei:
— Soube sobre você e Annika. Sinto
muito.
Eu menti? Talvez sim, talvez não.
Não fazia ideia. Comemorei quando
descobri, mas depois fiquei pensando
sobre como ele deveria ter ficado
arrasado com tudo.
Henry se sentou ao meu lado de modo
desleixado:
— Não sinta, foi o melhor para ela.
— E pra você?
— Eu estou feliz por ela. — Foi o
que ele respondeu, com seu sorriso meio
de lado.
Me virei para ele, colocando as
pernas um pouco para cima do sofá.
— Ok, acho lindo da sua parte ser
sempre tão... você. — meneei a cabeça
devagar. — Mas, o que perguntei foi se
era o melhor para você, não se estava
feliz por ela.
Ele me olhou com tédio, sabendo
bem do meu jeito insistente. Quando
chegou à conclusão de que eu não
desistiria, suspirou de brincadeira:
— Pra falar a verdade — começou,
coçando a cabeça. —, eu não sei ao
certo.
— Como assim?
— Foi ruim, eu me senti muito mal no
começo. Não nos víamos todos os dias.
Ela tinha as viagens de trabalho, e eu
tinha a empresa. Vivíamos ocupados
com o trabalho, mas sempre
arrumávamos um tempo para nós, um
final de semana, uma semana...
Isso me incomodava, doía, me
corroía de ciúmes por dentro, mas
aguentei e escutei, como a boa amiga,
que sempre fui para ele. Só amiga.
Ele encolhei os ombros, meio
cansado e continuou:
— Não vou mentir, senti saudades
por meses, mas resolvi focar no
trabalho. Mergulhei nele e é assim que
estou até hoje.
Finalizou a conversa, pousando as
mãos em suas pernas.
— E você?
— O que tem eu?
— Por que resolveu voltar? Lembro
de perguntar isso pra você no mês
passado, e me respondeu que não tinha
planos para voltar tão cedo.
— E não tinha mesmo.
Não era mentira.
— Mas, notei que estava morrendo
de saudades dos meus pais, da Luna,
desse clima maravilhoso e quente! —
Sorrimos com minha forma exagerada,
abrindo os braços. Então olhei para seu
rosto, tão incrivelmente maduro e lindo.
Eu quase suspirei. Quase. — E de você,
claro.
O seu sorriso foi deslumbrante. Com
um movimento rápido, me pegou e
puxou, deixando-me meio deitada em
seu colo enquanto me abraçava:
— Disso eu sabia, porque também
estava morrendo de saudades de você,
Moranguinha.
Resmunguei, me sentindo muito feliz
de ouvir isso:
— Vou dizer a Tetê que você continua
usando o apelido que ela me deu.
Ele colocou a cabeça para trás, para
me olhar, sorrindo.
— Em falar nela, minha mãe vai ficar
muito feliz em te ver.
— Eu também. Estou com muita
saudade de todos.
Não saí do conforto de seu abraço
enquanto conversávamos da minha
viagem para cá. No final, ele perguntou:
— Está nos seus pais?
Sacudi a cabeça em negativa:
— Não. Aluguei um lugar para mim.
Ele ficou surpreso.
— Mesmo? Onde fica?
— Perto da casa dos meus pais. Vou
te passar o endereço depois. É muito
bom lá e ainda terei uma galeria em
baixo, para que eu possa pintar à
vontade.
Cutucou minha barriga.
— Amanhã passo por lá, para visitar
minha artista plástica favorita.
Bufei.
— Conhece mais alguma?
— Algumas, talvez. — Ele fingiu
estar sério. — Sabe, nesse mundo de
pessoas ricas sempre aparecem alguns
artistas, querendo vender seu trabalho.
— Ah, claro. — Cruzei os braços. —
E por que nunca vi nenhum quadro com
você, a não ser estes agora? — acenei
para minha pintura de encerramento.
Ele riu, sabendo que tinha sido pego,
e beijou minha bochecha:
— Porque nunca, nenhum deles me
interessou como o seu.
03. Luana

No dia seguinte, acordei cedo, como


sempre faço, me arrumei, tomei meu
café da manhã — que foi comprado na
Starbucks da esquina — e fui em busca
de telas e tintas novas. Tinha despertado
com inspiração e precisava urgente
começar a pintar.
Talvez tenha sido a cidade, o clima, o
cheiro familiar de brisa do mar. Ou,
talvez, tenha sido meu reencontro com
Henry. Ele sempre fora minha maior
inspiração.
Agradeci ao motorista do Uber antes
de descer em uma loja conhecida por
vender coisas de artes. Dentro da loja,
abri o app que tinha para fazer listas e
comecei a procurar pelos itens listados.
Quando achava um e colocava no
carrinho, marcava como feito no app.
Havia acabado de marcar um item
quando chegou uma mensagem de Tulip,
minha assistente de Londres.

Tulip: Tudo está pronto! As telas


compradas já foram enviadas para os
seus respectivos donos e as que
restaram já estão indo para você!

Luana: Ok. Muito obrigada, Tulip.

Tulip: Está precisando de alguma


coisa por aí? Minha passagem está
comprada para o começo de dezembro,
mas posso adiantar, se quiser.

Sorrio. Eu a adorava, porque estava


sempre disponível para qualquer coisa.
Não era minha intenção contratar uma
assistente, mas, de uma hora pra outra,
as vendas dos quadros começaram a
crescer, foi preciso fazer mais
exposições, então ela surgiu,
oferecendo-me sua ajuda como
assistente. Eu aceitei na mesma hora.
Enquanto eu me preocupava apenas com
as tintas e as telas em minha frente,
Tulip atendia telefonemas, fechava as
compras, cuidava da contabilidade.
Acabou salvando minha vida e ela
não pensou duas vezes antes de dizer
que me seguiria até aqui.

Luana: Não estou precisando de


nada profissional, não se preocupe.

Tulip: Já pegou um carro?

Luana: Isso está na lista de hoje.

Tulip: Ótimo. Ah, Thomas


Hendrick ligou hoje. Ele queria saber
de você.

Fiz uma careta e voltei a empurrar o


carrinho devagar, enquanto olhava para
mensagem.
Thomas era um cara que conheci em
Londres. O típico homem inglês, sempre
bem vestido, com uma postura de dar
inveja, cabelos bem penteados e quietos.
Tinha olhos azuis penetrantes e um
sotaque lindo. Saímos algumas vezes,
mas nada muito sério. Ou, pelo menos,
era o que eu acreditava. Até o dia que
ele queria me levar para jantar com seus
pais.
Foi como um banho de água fria
porque, por mais que ele fosse lindo,
sexy e bom de cama, eu não estava
pronta para um relacionamento.
Não um com um cara que não seja
Henry Montgomery-Lazzari.
Acabei terminando o que tínhamos,
mas, como podem ver, ele não desistiu.
Enquanto estava em Londres, me ligou
quase todos os dias, bateu em minha
porta, me mandou flores. Já estava me
acostumando em ignorá-lo.

Luana: Ele não desistiu ainda?

Tulip: Você é uma gata! Ele nunca


vai desistir. A não ser, claro, que
apareça namorando alguém. Pelo
menos, eu acho que é uma forma.

Luana: O que você disse?

Eu ignorei a mensagem com sucesso.

Tulip: Que você tinha viajado para


a casa dos seus pais.

Luana: Certo. Obrigada. Agora


preciso ir.

Tulip: Disponha. Qualquer coisa, só


gritar.

Voltei a tela da lista e terminei de


fazer as compras. Depois, encontrei
minha mãe em um restaurante e
almoçamos. O tempo todo, me perguntou
sobre Londres e as coisas que
aconteceram por lá nos últimos meses.
Nós rimos, conversamos e até
fofocamos sobre algumas coisas, como
por exemplo, a forma que ela foi até a
escola da minha irmã e pediu, por
gentileza, que a professora de história
do segundo ano de Luna parasse de
perguntar sobre nosso pai.
— Ela ficou pálida e ainda teve a
audácia de negar, gaguejando, dizendo
que só queria garantir a presença dos
pais na festa de encerramento do ano! —
Mamãe fez uma careta furiosa. —
Imagina? Eu quase joguei fora todos os
anos de terapia para arrancar aquele
cabelo dela!
Eu ri.
— Lembra quando vocês foram para
a festa beneficente que a escola estava
dando, para as crianças sem lares? —
perguntei, e ela anuiu. — E lembra que
você ficou muito puta quando as
professoras e até as mães de outros
alunos começaram a se insinuar na frente
do papai, tentando chamar a atenção
dele?
— Claro que lembro! Passei por
muita dor de cabeça com seu pai.
Ninguém mandou ele ser tão... gato e
gostoso, e jogador de futebol americano!
Todo mundo baba por um atleta.
— Mas, nesse caso, o atleta é todo
seu e você sabe disso, mãe. — afirmei.
— Sem contar que não foi a única a ter
dor de cabeça. Também lembro do papai
possesso da vida com os homens caindo
em cima de você. — Sorri um pouco. —
Ninguém te mandou ser linda, gostosa e
uma arquiteta renomada!
Cerrando os olhos para mim, ela riu
junto, apontando como se dissesse “você
me pegou”. Levou mais uma garfada à
boca, mastigou, engoliu e só então
perguntou:
— Você viu o Henry?
Parei de mastigar por um instante, o
frio se estabelecendo no meu estômago
ao ouvir o seu nome ser pronunciado.
— Aham. — resmunguei, terminando
de engolir. — Ontem, eu fui lá na
MTech.
— Ele ficou surpreso?
— Muito.
Foi tudo que respondi, sem tirar o
olho da minha salada. Eu não queria que
ela visse como me afetava, falar sobre
ele. Tudo doía por dentro só de imagina-
lo, quem dirá conversar sobre ele.
A minha mãe ficou em silêncio por
um tempo, mas eu podia sentir seus
olhos me analisando. Nunca tinha falado
a ninguém sobre meu amor platônico por
Henry, no entanto, desconfiada de que
ela sabia. Tirei minha dúvida quando ele
voltou a fazer perguntas:
— Como se sentiu ao vê-lo de novo?
— Como assim? — Eu juro que
tentei me manter tranquilo e dar uma de
desentendida, só que não funcionou
muito bem.
Ela balançou a cabeça, seu sorriso
era conhecedor:
— Filha, te conheço há vinte e dois
anos. Você saiu de dentro de mim, então
eu posso me dar ao luxo de dizer que te
conheço com a palma da minha mão. —
Ela me mostrou a palma. — Não é de
agora que sei que você é caidinha por
Henry. Seus olhos meio que sempre
entregaram você.
— Mãe, eu...
Eu estava queimando agora. Soltei os
talheres, sem saber o que dizer ou fazer.
— Você é apaixonada por ele. —
disse ela, devagar. — O que tem de tão
ruim nisso, que você não consegue nem
conversar com sua mãe sobre isso?
— Vejamos — Levando minha mão e
abaixo um dedo para cada coisa que
falo: — ele sempre me viu como uma
irmã mais nova; é filho adotivo do tio
Ben; tem dez anos a mais que eu; esteve
namorando uma mulher perfeita por
quatro anos, e eu nem sei se ele a
esqueceu ainda; E, só para resumir tudo:
com certeza, vai surtar quando souber
dos meus sentimentos. — Eu já estava
quase chorando quando olhei para minha
mãe, meus ombros caídos. — Isso tudo é
bem ruim, mãe. Por isso sempre fiquei
na minha.
Ela me olhou com solidariedade,
para não ter que dizer com pena. Por
cima da mesa, pegou minha mão.
— Meu amor, não diga isso. Ninguém
é perfeito e se houvesse alguém perfeito,
sem dúvidas, você seria muito mais que
ela. Quer saber se ele já esqueceu ela?
Isso só o tempo vai dizer, mas, saiba que
não amamos apenas uma vez na vida.
Podemos amar muito mais que isso. Tem
o tio Enzo para provar.
— Não tem como comparar, mãe. A
Raquel morreu e a Annika está logo ali,
do outro lado do mundo.
— Tem razão, mas ele se apaixonou
de novo, certo? Não importa as
circunstâncias.
Anuí, meio incerta por nunca ter
pensado assim. Ela continuou:
— E se você está com medo pela
diferença de idade e por ele te ver como
uma irmãzinha, tem a tia Alessa e o tio
Ethan como o exemplo perfeito. Você
acha que ela não teve o mesmo medo
que você? Se se sentar e escutar a
história deles, verá que nada foi fácil, e,
mesmo com tantos altos e baixo,
separação e tudo o mais, eles não
desistiram. Tio Enzo até deu um soco na
cara dele, por estar com sua irmãzinha.
Nós duas rimos, porque era claro que
isso seria uma reação esperada do meu
avô, Giovanni, não do seu irmão mais
velho, que estava sempre calmo e
observando.
— Mas, mãe, é complicado demais.
— Confessei com um suspiro quando a
risada sumiu e uma bola pesada se
apossou do meu peito de novo. Apertei
mais sua mão. — Quando decidi voltar,
tinha na cabeça que faria de tudo para
que ele visse que eu valo a pena, só que
ontem, quando fiquei de frente com ele,
toda a coragem foi por água abaixo. Eu
tenho muito medo de ele me dizer que
não. Nem sei como vou olhar pra ele de
novo, se isso acontecer.
— Você só saberá se arriscar,
querida. — Ela me disse. — Sempre
soube que tinha minha personalidade,
então use-a. Quem você acha que deu o
primeiro passo, eu ou seu pai?
Sorri.
— É meio óbvio que foi você.
— Exato. Ele me olhava, me
desejava, mas tinha medo por conta da
situação financeira dele naquela época.
Não aguentei esperar e exigi que me
ligasse, já que ele já tinha meu número.
Dali em diante, saímos, nos beijamos,
tivemos nossa primeira vez em uma
linda cabana na Itália...
Ela falava de forma sonhadora, toda
derretida com as lembranças, e eu
queria isso também com o Henry. Queria
parar para pensar por um minuto e ter
essas lembranças com ele.
— Claro — ela tornou a falar,
meneando a cabeça. —, tivemos brigas
por ciúmes, chegamos a ficar separados
por um longo tempo. Voltei para LA,
enquanto ele arrasa na carreira em outro
lugar, comecei na terapia, porque sabia
que aquele ciúme todo não era saudável
para ninguém. Mas quando ele voltou e
procurou a empresa, exigindo que eu
fizesse a reforma em seu apartamento
novo, tudo mudou. Eu o amava,
desejava, e não queria passar mais um
dia sem ele. Não voltamos de cara, ele
estava muito magoado por eu ter o
deixado, mas, com um tempo fomos nos
envolvendo e tudo se resolveu no final.
Sorrio, mas é tudo sentimental. Já
tinha escutado sobre a história dos meus
pais, só que nunca me atentei aos
detalhes.
— Só estou te falando essas coisas,
filha — mamãe continuou, fazendo
carinho na minha mão. —, porque quero
entenda que é normal sentir medo
quando o assunto é magoar nosso
coração, tá bem? Mas, também quero
que saiba que pode se arriscar. Você
precisa se arriscar, se quer ter uma
chance, porque ela não vai simplesmente
cair do céu e bater na sua porta. Homens
são um pouco lentos, às vezes eles não
entendem o que está bem na cara, então,
é nossa função mostrar pra eles. Abrir
seus olhos.
— Acha que devo falar com Henry?
Ela abriu seu sorriso carinhoso e
assentiu.
— Você é livre, ele também. Não há
nenhum laço sanguíneo que os impeça de
algo. Por isso, sim, deveria.
Aquilo ficou na minha cabeça pelo
resto do meu dia. Eu precisava me
expressar de alguma forma, então
mergulhei em minhas tintas ao som de
Ariana Grande.
Eu estava terminando uma pétala
caindo quando alguém empurrou a porta
de entrada. Me virei, retirando o airpod
de uma orelha e dando pausa na música.
A figura grande e linda de Henry
adentrou o lugar, vestido com um jeans,
tênis e camisa lisa branca. Os braços
fortes trabalharam quando ele ergueu a
mão e retirou o óculos ray-ban e sorriu
para mim.
Ofeguei com um sorriso trêmulo, me
sentindo uma porcaria por estar com
meu macacão de jardineira, que costumo
usar com uma blusinha por dentro
quando pinto. Meus cabelos estão
presos em um rabo-de-cavalo frouxo e,
provavelmente, tenho tinta em tudo
quanto é canto.
Enquanto ele parece um astro de
cinema, eu pareço uma moradora de rua.
Que legal.
— Então é aqui que você está se
escondendo? — Ele fez a pergunta,
olhando o espaço ao redor.
Eu não tinha feito muita coisa ainda.
Havia só uma única tela, que era a que
estava pintando, plásticos espalhados
pelo chão para não sujar de tinta. Anuí
pra ele:
— Não estou me escondendo. Te dei
meu endereço, lembra?
Ele aponta para a porta, o semblante
sério:
— Você não deveria ter um sistema
de segurança aqui?
— Eu acabei de me mudar, Henry.
Abandonei o pincel, limpando minhas
mãos no macacão, já tão manchado, com
várias marcas de tintas. Fui andando até
encontra-lo no meio do caminho,
tentando de tudo para não rir da sua cara
de preocupação, como nos velhos
tempos.
— Se tivesse me dito que viria para
cá, eu teria arrumado isso antes. — ele
disse, o tom sério.
Prendi os lábios entre os dentes,
prendendo a risada. Ele fez uma
carranca. Lindo!
— Estou falando sério. É perigoso e
você sabe disso.
Acabei sorrindo. Lembro de amar
quando ele demonstrava preocupação
comigo. Fiquei de ponta de pé e beijei
seu rosto. Cedi:
— Se quiser colocar algum sistema
de segurança, fique à vontade. Não
pensei nisso ainda, pra falar a verdade.
— Mas deveria.
— Agora você vai fazer e não
aconteceu nada comigo, como pode ver.
— Abri os braços para comprovar. —
Deixa eu te mostrar lá em cima, vem.
O guiei pela escada, me sentindo um
pouco estranha. Acredito que foi por
contra da conversa com minha mãe,
sobre eu falar o que sinto pra ele. Nós
entramos no apartamento e eu sorrio,
meio nervosa:
— O que acha?
Ele olhou tudo com cuidado, depois
assentiu com um sorriso:
— Parece aconchegante. É a sua
cara, Lua. Gostei.
— É bem aconchegante mesmo. —
falei, animada. — Falta fazer algumas
coisas. Minha mãe falou pra pintar a
parede de branco, e eu vou fazer isso
amanhã. Você quer alguma coisa? Água,
suco, vinho?
— Água, por favor. — Alçou a
sobrancelha. — Você tem vinho em
casa?
Dei um sorriso amarelo.
— Claro. Não tenho comida, porque,
você sabe, sou péssima na cozinha e
compro tudo fora, mas líquidos não
faltam, não.
Ele ainda me olha com insegurança,
então, acrescento:
— Ah, e eu já tenho vinte e dois
anos. Já posso ter bebidas alcoólicas em
casa.
Seu sorriso rendido é a coisa mais
linda do mundo. Ele se apoia no balcão
da ilha da cozinha enquanto eu abro a
geladeira pra pegar duas garrafinhas de
água. Entrego uma a ele e abro a outra
para mim.
— Eu vim para perguntar se você
quer almoçar comigo. — disse ele, antes
de beber um pouco de sua água.
Apoiei a minha garrafinha sobre o
balcão.
— Tipo, como nos velhos tempos?
— Se você está falando de pedirmos
cheeseburguers com fritas, sim, como
nos velhos tempos.
— Com bastante fritas, por favor!
Nós rimos juntos e ele sacou o
telefone para fazer o pedido.
04. Luana

Um dos motivos pelo qual é


maravilhoso morar perto do centro da
cidade é que tudo fica próximo o
suficiente para que as entregas demorem
o mínimo de tempo possível.
Cerca de vinte minutos depois de
Henry ter feito o pedido, nosso almoço
chegou: x-burguers e duas poções
gigantes de batatas fritas.
Peguei as sacolas para colocar tudo
em pratos, dando espaço para ele falar
no telefone.
— Quero que traga todo o
equipamento de segurança... Isso, o
equipamento novo...
Enquanto separava tudo, me dei a
chance de observa-lo um pouco. Ele
estava de pé, no meio da minha sala,
andando de um lado para o outro. Seus
bíceps eram uma coisa para loucos! O
peito forte podia ser reparado mesmo
sob a camisa; A calça jeans caía bem em
seus quadris estreitos e delineava
perfeitamente a bundinha redonda e
aparente.
Coloquei uma batata na ponta, quase
babando na visão do homem na minha
frente. Quantas vezes eu tinha sonhado
com minhas pernas circulando seus
quadris e minhas unhas afundando
naquelas costas largas e musculosas,
depois naquela bunda perfeita? Várias
vezes.
Puta merda! Eu já gozei imaginando
isso!
— Certo, George. — O som da sua
voz me tirou do transe, e eu limpei a
garganta, voltando a fazer o que estava
fazendo. — Estarei esperando... Vou
enviar o endereço para você. Obrigado.
— E desligou. Guardou o celular de
volta no bolso e sorriu para mim. —
Pronto. Só saio daqui hoje quando
souber que você está em segurança.
Anuí, meio sem jeito por saber que
meu rosto poderia estar avermelhado, já
que as maçãs do meu rosto estão
queimando. Virei-me para geladeira e
tirei o vinho de lá, apontando para ele:
— Topa? Não tenho refrigerantes.
Ele encolhe os ombros, divertido:
— Vamos ver se você sabe escolher
bem um vinho.
Cerrei meus olhos de brincadeira pra
ele:
— Meu filho, eu sou uma Lazzari! É
claro que eu sei escolher um vinho!
Henry me ajudou, levando os pratos
para a mesinha de centro, e eu levei o
vinho e duas taças, que comprei quando
fui comprar o vinho. Nos sentamos no
carpete, nossas costas contra o sofá. A
garrafa de vinho já estava aberta, então
só servi as taças e a deixei de lado.
Enquanto comíamos, eu e Henry
conversamos um pouco sobre a casa e
os dispositivos de segurança que ele
colocaria nesse dia. Era tipo uma
inteligência artificial, que vigiaria cada
passo meu dentro de casa. Ele me diria
se houvesse uma ligação, se alguém
chegasse no portão, se alguém tentasse
invadir, entre outras inúmeras coisas.
Reclamei, argumentando sobre minha
privacidade, mas ele garantiu que não
seria um problema, que esse dispositivo
me manteria segura porque era o
dispositivo mais potente do mercado de
hoje.
— Se tiver com dúvidas, ligue para o
seu avô e pergunte. Ele e o Lucca me
deram a ideia e estão sempre usando nos
projetos deles.
Suspirei, rendida, pendendo a cabeça
para trás no sofá:
— Tá bom. Vou fazer o quê?
— Aceitar. — Ele respondeu
simplesmente, levantando a mão e
apertando a ponta do meu nariz.
Apoiei o braço no sofá e meu rosto
em meu punho, virando um pouco para
ele. Sorri:
— É, pois é.
Observei-o pegar sua taça e beber um
pouco mais de vinho. Depois de lamber
os lábios para retirar os resquícios da
bebida, ele desabafou:
— Sempre me perguntei como era
possível que, sempre que queria ir te
ver, acontecia alguma coisa para não
rolar. Tipo, toda vez era uma coisa:
você tinha que viajar, trabalhar, tinha
coisas pra fazer no curso, tinha
compromissos... — Ele virou para mim,
o cenho franzido, e eu me senti culpada:
— Tinha a impressão de que você
estava me evitando.
Paralisei. Circulei a boca da taça que
estava no carpete ao meu lado, como se
tivesse desenhando com a ponta do
dedo. Não respondi logo, foquei apenas
no meu movimento e em manter minha
respiração sob controle.
— Era só impressão ou você estava
mesmo me evitando, Lua? — ele
perguntou, baixinho.
Engoli a saliva com dificuldade,
morrendo de medo de encarar seus
olhos. As palavras da minha mãe vieram
com tudo na minha memória:
“Se você está com medo pela
diferença de idade e por ele te ver
como uma irmãzinha, tem a tia Alessa e
o tio Ethan como o exemplo perfeito.
Você acha que ela não teve o mesmo
medo que você? Se você sentar e
escutar a história deles, verá que nada
foi fácil e, mesmo com tantos altos e
baixo, separação e tudo o mais, eles
não desistiram.“
Só que tinha uma grande diferença,
tia Alessa e Ethan não eram tão
próximos como eu e Henry. Eu não sabia
se poderia viver sabendo que ele me
renegou.
“Você precisa se arriscar, se quer
ter uma chance, porque ela não vai
simplesmente cair do céu e bater na
sua porta.” Minha mãe também falou
isso. E ela tinha toda e total razão.
Ninguém vai à lugar algum sem se
arriscar, eu sabia disso.
Se eu não tivesse me arriscado, meu
trabalho não estaria fazendo o sucesso
que está fazendo hoje e eu não estaria
aqui agora. Tudo que eu fiz e quem sou
hoje, foi devido a muito trabalho duro e
riscos que precisaram ser corridos. Em
Londres eu não era uma herdeira Lazzari
e McGregor; meu pai era apenas o
“jogador de futebol americano famoso”
porque lá o futebol americano é apenas
uma coisa de gente maluca.
Eu era apenas uma estudante de uma
escola de artes pública — opção minha
—, que precisava se virar para
sobreviver no meio social. Meus cartões
de créditos com limites que são capazes
de comprar um Bugatti La Voiture Noire
à vista não compensaram nada disso.
Respirando fundo e com um medo tão
grande que podia sentir meu corpo
inteiro tremer, confessei:
— Não foi impressão sua. Eu estava
tentando te evitar porque eu não iria
conseguir te ver e fingir que tudo estava
bem quando não estava.
Agora eu tinha toda a atenção dele.
Sem entender nada, procurou saber:
— O que não estava bem? Você
estava passando por alguma coisa e não
queria que eu soubesse?
Trêmula, levei a taça à boca e virei o
líquido todo de uma vez, como se aquilo
fosse a dose de coragem que eu
precisava para desabafar de vez. Eu
precisava lembrar que era uma mulher
agora — uma mulher independente,
aparentemente bonita e que sabe o que
quer. E eu queria Henry para mim;
sempre quis.
— Eu sempre passei por algo que
não queria que soubesse, Henry.
— E o que é?
— Você. — Falei simplesmente,
pegando seus olhos com os meus,
sentindo meu rosto arder com a
constrangimento. — Eu sempre amei
você, mas não do jeito que você acha
que é. Eu sempre quis você pra mim. Eu
odiei a Annika e todas as outras porque
elas tinham o que eu queria ter e não
podia. — Parei por um segundo só para
tentar respirar um pouco, o nó doendo
no interior da minha garganta, quase me
sufocando. — Foi por isso que eu te
evitei todo esse tempo, Henry. Não
poderia te ouvir falar sobre como você e
Annika estavam bem. — Ri, mas foi
totalmente sem graça. — Na verdade,
foi por isso que decidi ir para Londres.
A expressão assustada que apareceu
no lindo rosto de Henry me matou por
dentro. Eu percebi, no mesmo momento,
que ele se afastou de mim, não de uma
forma literal, mas de uma forma
sentimental.
Parecia aturdido, confuso e até um
tanto chateado. Não. Ele não estava
chateado, estava decepcionado comigo.
Isso foi como uma morte lenta e
dolorida pra mim.
— Sinto muito. — Sussurrei, quase
inaudível.
Eu estava tão envergonhada agora,
querendo enfiar minha cara em algum
buraco.
Com horror, vi a cena se formando
diante dos meus olhos.
Henry se levantou, a ruga entre as
sobrancelhas mostrando o quanto ele
não estava bem com minhas palavras.
— Eu vou... — Ele nem olhava mais
para mim! Limpou as mãos no jeans que
vestia. — Vou pedir para o George se
apressar.
— Henry...
Ele abriu a porta e se foi, apressado.
Uma lágrima escorreu pelo meu
rosto, o medo de ter perdido o meu
melhor amigo, a pessoa que mais confio
no mundo.
05. Henry
Havia uma sensação muito estranha
apertando ao redor do meu estômago.
Isso não podia estar acontecendo —
todas aquelas palavras não saíram da
boca da minha menininha, da pessoa que
eu vi crescer e tentei proteger como uma
irmãzinha.
Olhei para cima, para o céu azul e
limpo de nuvens, e respirei fundo.
Era um sonho. Tinha de ser.
Mas por que eu teria um sonho como
esse?
Não, não, não!
Luana sempre foi como uma bebê
para mim. Ela é dez anos mais nova, é
da família.
Jesus, isso é insano! Um verdadeiro
absurdo.
E eu pensava que ela me via do
mesmo jeito. Como a porra de um irmão
mais velho.
Só que não.
A vontade de rir me fez tremer, mas
segurei. Não era engraçado, era
assustador demais.
O carro SUV de George estacionou
na minha frente. Ele saiu, batendo a
porta e me olhou quando estava dando a
volta no carro:
— Vamos começar?
Anuí.
Acabei focando em todo material de
segurança da casa de Luana para não
pensar na própria Luana.
Ajudei George na instalação de toda
a segurança. Colocamos câmeras do
lado de fora e dentro. Levamos algumas
horas para tudo, e mesmo muito confuso
e cheio de pensamentos sobre o que
havia acontecido, eu não queria sair sem
antes ter certeza de que ela ficaria
segura.
No final, pedi seu celular, e ela me
deu com a mão trêmula e o corpo meio
encolhido. Sabia que estava com
vergonha. Tentei não olhar para seu
rosto enquanto explicava:
— Esse app que estou baixando aqui
no celular serve para você controlar
tudo. É um software novo, que criei e
está indo para o mercado agora. Nele,
você pode ver quem está do lado de fora
— Estava exibindo para ela como tudo
funcionava. —, e do lado de
dentro. Também tem como você abrir e
fechar os portões — Eu apertei para
abrir, numa demonstração. — E eu
coloquei um sistema de segurança da
MTech, que você pode ativar a qualquer
momento. Basta você pedir para a Dixie
e ela fará.
— Dixie? — questionou.
— Sim, uma inteligência artificial
que coloquei pra você. É tipo Alexa da
Amazon, só que está mais para Jarvis do
Homem de Ferro. Está vendo a luz
vermelha ali? — Apontei para o lugar
onde havia instalado.
Ela fez que sim com a cabeça.
— Dixie, programe uma voz nova,
por favor.
— Programação ativa.
A inteligência artificial respondeu
com sua voz robótica, fazendo Luana se
sobressaltar. Ela pulou para trás e
segurou meu braço de forma
automática. Prendi a respiração e meu
corpo se enrijeceu. Ela deve ter
percebido, pois tirou a não com rapidez
e se recompôs.
Dixie continuou:
— Por favor, repita comigo: Olá,
Dixie.
Limpando a garganta, ela fez o que
foi pedido.
— Olá, Dixie!
— Mais alto, por favor. Olá, Dixie.
— Olá, Dixie! - falou mais alto, sem
jeito, as maçãs do rosto avermelhadas.
— Nova voz programada! Seja bem-
vinda! Deseja alguma coisa?
Fiz um movimento para Luana
responder. Ela balançou a cabeça de
forma lenta, podia ver seu peito subindo
e descendo com força, como se ela
estivesse tentando manter a calma.
— Não, obrigada.
— Tudo bem. Se precisar, é só
chamar o meu nome e eu lhe atenderei.
Tenha um ótimo final de dia.
Olhou para mim, a sobrancelha
erguida, impressionada.
Sorri sem jeito e lhe entreguei o
celular. Apontei para o aparelho em sua
mão:
— Qualquer coisa, me manda uma
mensagem.
— Mando. — respondeu de pressa.
George já estava colocando as coisas
em seu carro para ir embora, então fui
ajuda-lo só para disfarçar meu mal-
estar.
Eu tinha um QI bastante elevado e
isso sempre me ajudou em todas as
coisas que eu já fiz na minha vida; em
todas as decisões que tomei. Não sou um
cara de pensar muito em uma coisa.
Se me der um algoritmo dado como
impossível, eu vou te mostrar que não é
tão impossível assim.
Se me der um código estranho de
computador, posso transformar ele em
um app ou site novo.
Tudo é prático e fácil na minha mão e
cabeça. Tudo, menos isso.
Não acho que posso lidar com o fato
de que a menina que eu sempre
enxerguei como irmã e alguém que
deveria proteger acabou de me dizer que
gosta de mim. Que é apaixonada.
Na minha cabeça é tão errado, tão
surreal.
— Henry?
Sua voz doce e suave, que sempre me
encheu de alegria, fez meu estômago
apertar.
Agradeci a George antes de ele entrar
em seu carro e ir embora. Depois, me
voltei para ela, pequena e... Porra, me
dói olhar seu rosto bonito, com os olhos
grandes e expressão envergonhada.
Se tinha uma coisa que eu não podia
negar, é que Luana Lazzari-McGregor é
linda. Ela, facilmente, conseguiria
qualquer homem que apenas olhasse
para ela.
Não sou hipócrita. É claro que eu
notei como ela tinha mudado durante
esses anos em Londres.
Seu corpo estava mais evoluído,
moldado, com curvas chamativas, assim
como os seios que, apesar de pequenos,
atraía atenção. Os cabelos, castanhos e
escorridos, eram perfeitos, longos. Isso
sem contar o seu bumbum, que mesmo
sob um macacão velho, sujo e folgado
conseguia ser notado.
Merda.
Com esse pensamento, algo dentro da
minha calça sacudiu.
Não. Não, não.
Ela é minha bebê.
Dez anos mais nova.
É da família.
A vi crescer.
— Podemos conversar? — Ela
perguntou, seus olhos implorando.
Sacudi a cabeça, dando um passo
para trás.
— Não agora. Tenho uma reunião em
meia hora.
Mentira.
Eu não tinha, mas não podia falar
com ela agora sobre o que ela queria.
Sobre nada, na verdade.
A careta que ela fez pareceu que
alguém tinha lhe dado um tapa. Mas ela
assentiu mesmo assim, dando um sorriso
amarelo.
— Ok. — Sua voz falhou um pouco.
— Obrigada por tudo.
Anuí, me virei, entrei no meu carro e
saí. Eu precisava estar o mais distante
possível nesse momento.
06. Luana

— Olha só quem está aqui!


Meu sorriso foi de orelha a orelha
quando Stacy Montgomery, mais
conhecida como minha Tetê e madrinha,
me deu um abraço apertado, enchendo
meu rosto de beijos.
— Não acredito que minha
Moranguinha voltou!
Mais beijos.
— Pois é. — Eu disse, animada. —
Estava com saudades.
— E eu de você, minha linda. — Ela
garantiu, me soltando. — Seu pai disse
que estava de volta, mas não deu para ir
te ver logo.
— Não tem problemas, Tetê. Sei que
é uma mulher ocupada. E eu também
tinha coisas para resolver.
— Mas não tão ocupada para você.
— Ela apertou meu nariz de brincadeira
e me levou para sentar com ela no sofá
de sua casa. — Me conte, como você
está? Está uma mulher tão linda! Uma
mistura perfeita dos seus pais.
Sorri para ela, em agradecimento, só
que o sorriso não chegou nos olhos. Sua
pergunta me pegou de jeito. Eu não
estava nada bem e já fazia dois dias.
— Ei, o que houve?
Como sempre, ela percebeu e
questionou. Ela sempre sabia quando
algo estava errado.
Encolhi os ombros:
— Nada, só que... — Suspirei. —
Você falou com o Henry esses últimos
dias?
— Ah, só por telefone. Ele disse que
estava trabalhando em um app novo para
o mês que vem. Por que?
Olhei em seus olhos. Eu sabia que
podia contar o que quer que fosse para
ela, assim como para meus pais, por
isso, desabafei:
— Falei com ele há dois dias.
O reconhecimento estampou seus
olhos. Logo, ela levantou a mão e
segurou a minha, apertando de leve, com
carinho.
— Sobre o que estou pensando?
Suspirei, cheia de frustração:
— Será possível que todos já
sabiam?
— Que você é apaixonada pelo
Henry? — Stacy riu na minha cara, mas
do seu jeito lindo e fofo. — Querida,
acho que ele foi o único que não
percebeu. Bastava ver a forma como
você o olhava, como se ele fosse o
homem mais lindo do universo.
Gemi, tapando o rosto com as mãos:
— Pior que, para mim, ele é.
— Ah, ele é meu filhote, é claro que
para mim também!
Nós duas rimos. Ela tocou uma
mecha do meu cabelo, olhando-me com
o amor materno que ela sempre teve por
mim. Seu sorriso foi desmanchando até
ela voltar a falar:
— Meu amor, me conta o que ele
falou?
Isso me deu um embrulho no
estômago só de lembrar da reação dele.
— Nada. — respondi. Os cantos da
minha boca se curvaram para baixo e a
vontade e chorar veio com tudo. — Ele
não disse nada. A decepção estampou a
cara dele, depois se levantou e foi
ajudar um tal de George a instalar as
coisas de segurança lá. Quando pedi
para conversar, ele disse que tinha uma
reunião e foi embora. Ele só... foi
embora!
— Ah, minha Moranguinha!
Chegou mais perto e logo me
abraçou, consolando-me com carinhos
na cabeça. Como sempre acontecia, me
senti protegida no meio dos seus braços,
como se eu estivesse abraçada com a
minha mãe.
— Acredito que até você já esperava
essa reação dele, certo?
Funguei, anuindo, mas fui incapaz de
pronunciar qualquer palavra.
— Era de se esperar porque Henry
sempre viu você como a menininha que
o intimou a ir para sua festinha de
aniversário. A mesma menininha que
ganhou o coração dele quando disse na
cara dele que a Tetê era sua e não dele.
Caímos na risada — a minha um tanto
chorosa —, porque isso foi literalmente
a primeira coisa que falei para ele
quando o conheci. Quando a risada foi
morrendo, as lágrimas voltaram a
queimar o interior da minha garganta:
— Mas eu não tenho culpa, Tetê. Não
pedi para gostar dele, até tentei evitar,
eu juro!
— E eu acredito em você, minha
bebê. — garantiu, me abraçando com
mais força. — Sei disso, porque
aconteceu a mesma coisa comigo. Tentei
evitar de todas as maneiras me
apaixonar pelo seu tio, e olhe só onde
estou agora! Se aquele homem me
pedisse para ir até a lua por ele, eu
daria um jeito de entrar para uma equipe
da Nasa. — Rimos um pouco. Ela
começou a massagear meu braço
devagar, enquanto falava: — Nós não
escolhemos esse tipo de coisa, Lua.
Apenas acontece e pronto, todo mundo
acaba se fodendo.
— É uma merda.
— É sim. — Ela concorda. — Mas
quem liga quando, no final, é tudo
perfeito, gostoso, como um sonho?
Cruzei os braços e torci meu nariz em
uma careta sofrida:
— Eu estou é em um pesadelo...
Ela riu e beijou o lado da minha
cabeça:
— Lua, dê um tempo para ele. Não
corra atrás, apenas espere. —
aconselhou. — Ele vai acabar indo falar
com você, e possa ser que você não
goste do que ele tenha para falar, mas
ele vai falar. Conhecemos ele o
suficiente para sabermos que ele não
consegue ficar segurando alguma coisa
por muito tempo. Principalmente se
tratando de você, a princesa dele.
Uma lágrima escorreu pela minha
bochecha e deslizou pelo meu pescoço,
se perdendo dentro da minha blusa:
— Acho que vou comprar uma
passagem só de ida para Tuvalu, para
quando isso acontecer.
— Tuvalu? — perguntou ela,
franzindo o cenho.
Dei de ombros.
— É um país na Oceania que tem
pouco mais de onze mil habitantes e a
renda dele é equivalente a essa casa
mais a dos meus pais mais a do meu
avô. É tão pequeno e insignificante que é
o lugar perfeito para me esconder e
nunca mais precisar olhar na cara do
Henry, depois da vergonha que eu vou
passar.
Stacy jogou a cabeça para trás e riu
com gosto:
— Que isso, Lua! — ela soltou após
parar de rir. — Meu Deus, não pode
fazer isso! cadê o espírito Pérola
Lazzari que habita em você? Não estou
te reconhecendo, Moranguinha!
— Eu também não encontro ele em
lugar nenhum! — Gesticulo, já muito
nervosa. — Pensei que ele estava
sempre comigo, mas, pelo visto, só
tenho o ciúme excessivo da minha mãe,
já que até fico com falta de ar só em
pensar em Henry com outra mulher.
— Ei, não, se acalma!
Ela pega meus ombros e me faz olhar
em seus olhos cinzas e chamativos.
Stacy Montgomery era uma mulher
deslumbrante, e por mais que o tio Ben
seja um homem de arrancar suspiros das
mulheres, ele tem muita sorte em tê-la
como esposa.
— Querida, eu sei que não é fácil. Já
contei para você sobre minha vida,
sobre como foi difícil amar o Benton e
ser negada por ele durante anos. Isso
quase me matou por dentro. Mas eu
quero que você me prometa que,
independente de qualquer coisa, você
vai ser forte. Prometa que vai achar o
instinto da sua mãe e vai usá-lo.
— Ok...
— Eu odiei sua mãe quando ela foi
embora e deixou o Kent sofrendo, mas
depois eu entendi. Ela precisava de um
tempo, precisava da saúde mental dela.
Ela foi forte, no meu ponto de vista,
então faça a mesma coisa. Se a resposta
dele não for boa para você, se afaste um
pouco, permita-se viver um tempo só
seu, conheça outras pessoas, distraia a
sua cabecinha linda. Se for para os dois
terminarem juntos, vai acontecer mesmo
que ele lute contra isso. Mas, se for para
terminarem separados, vai aparecer
alguém que vai roubar esse
coraçãozinho lindo, você querendo ou
não. Só me prometa que será a mulher
linda e foda, que eu sei que é, tá bom?
— Talvez eu não seja tão foda
assim...
Ela apontou para meu peito:
— Você é uma Lazzari-McGregor e é
minha afilhada, mais foda que isso não
existe, Moranguinha.

Quando voltei para casa, pintei pelo


resto do dia. Só parei para jantar e
depois caí na cama.

•••

A semana passou como em um passe


de mágica.
Pintei três telas nesse tempo e,
finalmente, comprei um carro. Na
verdade, estava sem cabeça para isso e
Tulip acabou fazendo isso para mim,
mesmo estando longe.
Também passei um tempo com meus
pais e irmã, e fui ver o resto da minha
família gigante. Pintei as paredes da
minha casa de branco, sozinha.
Pensei que ocupar a cabeça me faria
esquecer um pouco sobre como fui
totalmente ignorada por Henry durante
dias. Não houve nem uma mensagem
simples de boa noite. Eu desejei nunca
ter aberto a boca.
Agora eu estava na casa dos meus
avós, onde a família toda se reuniriam
para o almoço de aniversário da minha
avó. Inclusive ele.
Era uma festa na piscina, então eu
vesti algo simples, já que usaria mais o
biquíni: só shorts jeans e uma blusinha
solta. Nos meus pés, chinelos e meus
cabelos estavam soltos.
— Olha só quem veio! — Minha avó
foi logo abrindo os braços para me
abraçar.
A abracei de volta, forte, sorrindo.
— Tão linda, minha netinha!
— Olha quem fala, né, vó? Meu
sonho de princesa chegar a sua idade
dessa forma. — Acenei para ela, que
estava com tudo em cima. — É muito
gata mesmo.
Ela riu em deleite, me dando outro
abraço.
— Trouxe isso para a senhora. —
Entreguei uma tela que havia pintado
essa semana exclusivamente para ela.
Seus olhos se iluminaram. Assim
como na casa dos meus pais, meus avós
tinham um estoque de telas minhas
espalhadas pela casa.
— Você pintou para mim?
— Claro que sim!
Ela rasgou a embalagem, nem
conseguia parar de sorrir. Na tela, uma
ilustração da vista maravilhosa do
apartamento dela em Marseille, que,
segundo a mesma, era seu lugar favorito
no mundo inteiro. Minha avó não
sossegou até levar eu e Luna para
conhecer o lugar.
— Agora a senhora não precisa ficar
chateada por não poder ver essa vista
todos os dias. Ela estará bem aqui, só
para você e o vovô.
— Oh, minha querida, eu amei! —
Ela me abraçou de novo. — Vou
pendurar em cima da minha cama para
poder olhar todos os dias ao acordar.
Ficou lindo! Olha, amor! Veja o que
nossa neta me deu de presente!
Meu avô chegou perto de nós,
sorrindo. Primeiro, ele me abraçou e
beijou meu rosto; depois, ele pegou a
tela grande e deu uma olhada:
— Minha nossa, parece que estamos
na varanda do apartamento, encarando a
vista!
Sorri.
— Não é? — Minha vó concordou.
— O talento dela é incrível!
— É mesmo. — Ele beijou o topo da
minha cabeça. Como sempre, estava
lindo e cheiroso. O homem mesmo
passando dos sessenta ainda arranca
deixa qualquer uma com água na boca.
Todos os homens da família deixam,
na verdade.
— Parabéns, querida. — ele me
disse, cheio de orgulho. — Estou muito
feliz de tê-la aqui conosco novamente.
— Eu também fico, vô. — Sorri para
eles. — Minha mãe chegou?
— Sim, todos já estão lá na piscina.
— Obrigada.
Corri para fora e a família já estava
praticamente todos reunidos. Falei com
todos, abraçando-os até chegar na minha
mãe, que estava conversando com tia
Mia e Tetê, enquanto meu pai, tio Ryle e
o tio Ben estavam na churrasqueira.
Todas as três nem pareciam estar na
casa dos quarenta. Principalmente tia
Mia, que era uma modelo reconhecida
mundialmente e seu corpo magro era
incrível. Elas vestiam roupas de banho e
conversavam sobre algo divertido.
— Oi, filha! — Minha mãe foi a
primeira a me ver. Me deu um beijo, que
retribuí.
Cumprimentei elas, mas meus olhos
estavam inquietos, assim como as
borboletas em meu estômago.
No momento em que passei das
portas de vidro para cá, soube que
Henry não estava aqui. Só que meus
olhos ainda não entenderam e continuou
em busca dele. Olhei todos os lados, na
piscina, nos sofás, perto dos jardins...
Nada.
Ele não vem?
Será que por minha causa?
— Meu anjo, ele vem. — Como se
lesse meus pensamentos, Tetê falou,
acariciando meus cabelos, seu
sorrisinho conhecedor igual o da minha
mãe e o da tia Mia.
Até ela já sabia!
Anuí sem jeito, engolindo o caroço
na minha garganta. Eu não queria pensar
sobre isso, nem falar, então aproveitei
quando Riley e Rowan, as gêmeas da tia
Mia, me chamaram para piscina e corri
pra lá.
Já estava perto do almoço ser
servido, então saí da piscina para me
secar. Peguei uma toalha que meu pai me
ofereceu, fui logo secando meu cabelo.
— Sabe, você está linda, mana. —
Minha irmã, Luna, me estendeu uma
saída de banho dela, já que ela ainda
estava de shorts. Ela sorriu: — Quero
muito ser uma mulher assim, que chama
atenção.
Olhei para ela, sorrindo, enquanto
vestia a saída de banho preta longa e
transparente. Era aberta na frente, o que
eu amava, porque dessa forma eu podia
ficar com o corpo exposto ao sol.
— Está brincando? Você já é
maravilhosa, Luna!
Eu falei para ela e não estava
exagerando.
Luna era linda demais, com o corpo
perfeito e grandes olhos expressivos,
seus cabelos tinham cachos grossos e
longos. Ela parecia muito comigo, só
que, enquanto eu era a cara do nosso
pai, Luna era a mistura dele com a
mamãe. As pessoas estão sempre
comentando como ela era linda de uma
forma natural.
Ela me ofereceu seu sorriso lindo e
doce:
— É muito bom ter você de volta. —
ela me disse, com seu jeitinho tímido.
E a embalei entre meus braços e
apertei. Eu amava minha irmãzinha e
estava morrendo de saudades, mesmo
vendo-a tão pouco por conta da sua
personalidade antissocial.
— É bom estar de volta, Luna. —
falei pra ela antes de soltá-la. — Agora,
me deixa ir ao banheiro antes que o
almoço seja servido.
Ela sorriu:
— Tá bem, mas vai no de cima. O
Sammy está usando o de baixo.
— Ok.
Enxuguei meus pés antes de pisar no
porcelanato do chão da cozinha, pra não
escorregar. Ainda com a toalha em
mãos, continuei secando meus cabelos
enquanto andava pela casa, em direção à
sala. Cantarolava a música da JLo que
soava pelos alto-falantes em volume
baixo, só para animar um pouco a
reunião da família, mas perdi a voz
quando meus olhos captaram o corpo
grande e bem malhado de Henry,
entrando pela porta da frente.
Como sempre, ele parecia esculpido
a mão por Deus. Sua roupa era casual,
como a ocasião pedia: bermuda cargo e
camisa branca, com as mangas curtas
apertando envolta de seus bíceps
volumosos. O corriqueiro óculos escuro
estavam sobre sua cabeça, e meu corpo
pôde sentir o impacto dos seus incríveis
olhos azuis, quando eles pousaram sobre
mim, surpresos e abalados.
Mas, por incrível que pareça, não foi
ele que me fez engolir minha voz; foi a
figura esbelta e loira ao seu lado.
Emma Forbes.
A secretária paranoica.
Ao contrário da última vez que nos
vimos, ela parecia mais à vontade, com
um vestidinho de verão e sandálias
plataforma. Os cabelos dourados
estavam soltos e bonitos.
Ela era muito bonita.
Foi involuntário quando minha
mandíbula cerrou.
07. Henry

— Você acha que eles vão ficar


conosco? — Emma me pergunta.
Havíamos acabado de sair de uma
reunião online com os donos de uma
empresa de imóveis no Brasil. Emma foi
até minha casa para me ajudar a
organizar as coisas para essa reunião e
depois teríamos outra, mais tarde, por
isso, agora eu estava a levando comigo
para almoçar na casa do Giovanni e da
Aurora.
Antes de tudo, isso era apenas mais
uma forma de sair de lá o mais rápido
possível. Os últimos dias tem sido uma
tortura para mim.
Como alguém pode ver uma pessoa
como uma irmã e um minuto depois
começar a essa mesma pessoa como uma
mulher linda e atraente?
Eu não pude nem fechar os olhos
direito, porque sempre que fazia, a
imagem de Luana vinha na minha
cabeça.
Ela dizendo tudo aquilo sobre gostar
de mim.
Seus olhos escuros me encarando
como se eu fosse o homem mais
fascinante do mundo.
A forma que ela sempre me olhou.
Saber que ela gostava de mim dessa
forma tirou meu chão.
Cheguei a stalkear sua página no
Instagram, reparando na mulher adulta e
encantadora que se tornou. Cada
movimento nos vídeos de seus
Destaques pareciam mais sensuais,
agora que parei e me permitir reparar.
Percebi, com muita revolta, que olhar
pra ela me deixou excitado.
Porra, eu tenho dormido e acordado
de pau duro porque eu nunca que iria
bater punheta pensando nela!
Parecia sujo e errado.
Eu nem sequer sabia como iria
encara-la no almoço. Duvido que ela
perderia, já que era aniversário de sua
avó.
— Se querem qualidade, sim. —
respondi, mas sem muito ânimo, meio
perdido. Meus pensamentos estavam em
Luana e em o que fazer pra colocar
todos esses pensamentos de lado.
Já passamos tanto tempo longe, eu
estava com tanta saudade. Tentar evitar
sua presença só pioraria as coisas. Uma
hora ou outra precisaríamos nos sentar e
conversar sobre isso. Colocar um ponto
final, deixar as coisas claras.
Ao estacionar em uma vaga,
expliquei para Emma que não
passaríamos muito tempo. Só
almoçaremos e vamos embora. Ainda
tinha muito trabalho pra fazer e
precisava para o próximo app em que
estou trabalhando.
Por todo o caminho até a casa, me
preparei psicologicamente, respirando
fundo com calma para poder olhar para
Luana de novo. As coisas precisavam
voltar a ser como sempre foi.
Sem essa coisa esmagando meu
coração.
Sem esses pensamentos vergonhosos.
Só que toda preparação foi por água
abaixo quando abri a porta e entrei.
Ela estava lá. Um biquíni minúsculo
cobrindo o corpo bem feito, junto com
uma saída de banho transparente, que me
deixaria ver tudo que eu não queria.
Cerrei os dentes. Já tinha visto Luana
várias vezes de biquíni, mas ela só era
uma adolescente na época.
Agora ela não era mais a menininha
abusada e ciumenta. Era uma mulher
adulta, com um corpo de matar, que me
deixou maluco com uma confissão que
eu não esperava.
Emma veio logo atrás de mim, e eu
pude ver o momento exato que sua
mandíbula contraiu.
Essa reação eu conhecia bem.
Ciúmes. Só faltava cruzar os braços e
começar a bater o pé no chão.
Quase sorri. Quase.
— Ah, oi, Prima dele! — Emma
cumprimentou, acenando com a mão.
Os olhos escuros fuzilaram a mulher
ao meu lado:
— Ei.
Era possível ver os espinhos
atravessando a sala para serem cravados
na minha assistente.
Toquei o cotovelo de Emma,
pedindo:
— Minha mãe está lá fora. É por ali.
— Apontei. — Pode ir. Já chego por lá.
— Ok. — Ela anuiu e fez o que eu
pedi, me deixando a sós com a segunda
mulher mais importante da minha vida.
Quando voltei meu olhar para Luana,
nem consegui pronunciar uma palavra
porque ela foi logo estourando:
— Está de brincadeira com a minha
cara?
— Como? — Atordoado, perguntei.
— Nem vem com essa cara de
inocente, Henry! — Ela apontou o dedo
para mim, estava bastante chateada.
Sem entender, acabei com o espaço
que estava entre nós, chegando bem
perto. Abaixei a cabeça para olhar ela
nos olhos:
— Do que você está falando?
— Eu estou falando — Enfiou um
dedo no meu peito. — do fato de que a
idiota aqui te falou que era apaixonada
por você, e o que você faz? Corre para a
assistente e ainda traz ela para o almoço
de aniversário da minha avó? Ok,
Henry! — Ela jogou as mãos para o alto,
exasperada. — Sempre soube que você
tinha a mulher que quisesse, não
precisava passar isso na minha cara!
— Não estou passando nada na sua
cara! Está enlouquecendo? Eu nunca
peguei a Emma e nunca vou pegar. Ela é
minha funcionária e isso violaria todos
os códigos de éticas que minha empresa
segue. Você me conhece, Lua. Eu nunca
faria nada que magoasse você!
Ela riu, mas a risada foi totalmente
sem graça, chateada, incrédula:
— Tarde demais. Você fez isso
passando todos esses dias sem falar
comigo.
Ela já estava virando as coisas para
mim, então eu fui mais rápido e a
segurei pelo pulso:
— O que você queria que eu fizesse?
— inqueri. — Precisava de espaço para
pensar. Sozinho. — Foi minha vez de
demonstrar minha chateação: — Não é
muito normal saber que a menina que
você tem como irmã é apaixonada por
você...
— E você acha que eu gosto disso?
— ela rebateu, puxando o pulso do meu
aperto. Cerrou os dentes e as pálpebras
quando voltou a falar: — Eu odeio isso,
Henry! Acha mesmo que eu queria isso?
— Acenei entre nós dois. — Acha que
se eu pudesse, não arrancaria esse
sentimento de dentro de mim?
Todas as perguntas eram retóricas.
Seus olhos se encheram de lágrimas e
sua voz embargou.
Isso acabou comigo.
— Eu arrancaria porque eu só queria
viver tranquilamente, ter nossa relação
de sempre, sem dramas de sentimentos.
Mas, sinto muito se eu te amo de outra
forma, Henry! Eu simplesmente odeio a
forma como você está me olhando agora,
e saber que você não sente o mesmo e
que prefere se afastar de mim, me fere
como a porra de uma faca sendo enfiada
no meu coração.
A vontade de abraça-la foi tão
grande, que todo meu corpo formigou.
Dei um passo para frente, mas parei
quando ela deu um passo para trás:
— Não por pena, por favor. —
Implorou, uma lágrima rolando pelo seu
rosto lindo. — Eu não vou aguentar.
— Meus amores?
Minha mãe entrou na sala junto com
Pérola.
Luana se afastou, enxugando o rosto,
tentando fingir que nada aconteceu. Não
funcionou, porque a cara feia que as
duas mulheres me enviaram foi ridículo.
Até parece que eu não era um homem
de trinta e dois anos!
— Vamos almoçar e depois — A
minha mãe enfatizou, me enfiando farpas
com o olhar — vocês podem conversar.
— Tudo bem. — Eu me rendi,
enfiando as mãos nos bolsos.
A minha princesa nem olhou direito
para mim antes de passar na frente de
nós e sair.
As duas mulheres me encararam
como se eu tivesse acabado de fazer a
maior cagada da minha vida. Ambas
colocaram as mãos nas cinturas.
— O quê? — perguntei.
Foi minha mãe quem falou primeiro:
— Quando Emma veio falar comigo,
eu sabia que alguma coisa estava
acontecendo.
— Sério que você trouxe uma
acompanhante? — Pérola questionou.
Joguei os braços para cima e os
deixei cair de volta em cada lado do
meu corpo, muito chateado:
— Ela é minha assistente, pelo amor
de Deus! Quando foi que vocês me
viram sair por aí com alguém da minha
empresa ou trazer alguém pra perto da
família?
— Trouxe a russa lá.
— Ela era minha namorada, mãe!
— Sim, mas agora você sabe dos
sentimentos da Luana! — Ela apontou
para o lugar por onde a Lua saiu. — Não
a faça chorar!
— Acha que eu quero? — Eu apontei
para meu próprio peito.
Pérola chegou mais perto, segurando
meu rosto entre as mãos:
— Sei que não, querido. Sei o quanto
deve está sendo difícil para você tudo
isso. Mas, por favor, se esforce para
entender. Ela estava com muito medo de
te contar tudo, então pegue leve, para e
pense direito em tudo. Preste atenção em
tudo que você está sentindo agora. Se
pergunte o que você quer. No final, se
sua resposta ainda for a mesma, sente
com ela e converse de forma madura. Se
magoar ela de novo, eu mesma arranco
suas bolas, então?
— Eu ajudo. — Mãe ofereceu.
Olhei para ela, exasperado, e ela só
encolheu os ombros. Voltei minha
atenção para Pérola e assenti com um
suspiro cansado:
—Prometo que farei de tudo para não
a magoar. — garanti. — Eu iria preferir
arrancar um braço do que fazê-la chorar,
você sabe disso.
— Eu sei, sim. — Pérola disse,
finalmente abrindo seu sorriso carinhoso
para mim. — E, por Deus, ore aos céus
para o pai e o avô dela não ver que ela
chorou!
— Eles matariam quem fez isso. — A
outra (minha mãe) lembrou, zombando
de mim. Colocou uma mão sobre o
coração e fingiu lamentar: — Vou ficar
arrasada, mas, claro, entenderia.
— Quem é que precisa de inimigo
com uma mãe assim? — Questionei.
Ela soltou uma gargalhada e veio me
abraçar, apertando minhas bochechas:
— Eu te amo, filho, sabe disso, mas
não faça a Moranguinha chorar, tá bom?

•••

Saí de lá logo após o almoço.


Durante esse tempo, meus olhos estavam
sempre atentos aos movimentos de
Luana, que se sentou bem longe de mim,
mas na minha linha de visão.
Ela tentou me evitar a todo custo,
dando toda sua atenção as primas, que
conversavam sobre alguma coisa dos
seus trabalhos.
As gêmeas Riley e Rowan, assim
como a mãe, seguiram a carreira de
modelo. Atualmente elas eram as caras
da marca de sandálias de luxo de seu
pai, a Fontaine, e eram a sensação do
Instagram, conhecidas como as gêmeas
mais lindas do mundo.
Como todo o resto da família, elas
eram humildes e gentis e também
estavam à frente de grandes projetos
como por exemplo o que fundamos
juntos: Todos Contra Fome. É um
projeto que cobre países com muita
dificuldade na África. Anualmente,
fazemos um evento para que as pessoas
possam doar quantias de dinheiro ou
comprar itens no leilão beneficente.
Todo o dinheiro arrecadado vai direto
para esses países e ficam nas mãos de
pessoas confiáveis que faz realmente
algo pelas pessoas. Também estamos
indo por lá sempre que podemos. Como
uma garantia de que estão usando o
dinheiro de forma correta.
Quando me despedi de todos, queria
ir até lá e abraçar ela, dizer que nós
iriamos superar tudo isso, arrumar uma
forma de conviver com isso, mas me
segurei. Prometi para Pérola que
pensaria a respeito e é o que farei. De
novo.
Depois da última reunião do dia,
voltei para minha casa sozinho e fui
direto para o banheiro. Precisava de
uma ducha longa para esfriar o corpo e a
cabeça.
Debaixo do chuveiro, inclinei a
cabeça e deixei a água cair direto no
meu rosto. Era uma tentativa de limpar
as memórias que me atormentaram
durante todo o dia.
Luana com aquele biquíni, o corpo
perfeito.
Luana com raiva de mim por causa de
Emma.
Luana chorando por minha causa.
Luana me evitando.
Foi como uma tortura. Alguém havia
me amarrado em uma cadeira e estava
perfurando meu corpo em diversos
lugares.
Não é possível. Eu tinha uma vida
normal, sem nenhum drama, apenas
prática. Meu trabalho era tudo que me
preocupava nesses últimos meses. Ele e
saber que Luana estava em segurança em
Londres.
Até Annika não era mais um
problema, porque meu coração
simplesmente aceitou tudo que
aconteceu.
Mas isso?
Eu não estava preparado para o
impacto que o retorno da minha
menininha me causou; ela simplesmente
mudou pra caralho e isso me afeta de
todas as formas possíveis.
Suspiro pelo nariz, passando as mãos
pelo rosto. Ao abaixar a cabeça, vejo o
maior pesadelo desses últimos dias: a
porra de uma ereção. Dói. Todo o
comprimento dói, implora por um alívio.
E eu começo a sentir nojo de mim
mesmo.
De alguma forma, saber o que Luana
sente por mim, desencadeou um desejo,
uma atração que eu não fazia ideia de
que existia. Fecho as mãos em punhos,
lutando para não tocar no meu pau
pervertido. Não vou me masturbar
pensando nela!
Pelo amor de Deus, eu a tinha como
uma irmã não faz nem duas semanas!
Que tipo de maníaco eu sou?
Fechei os olhos com força e pensei
na minha irmã de verdade, Malu. Pensei
no sorriso doce, bochechas rosadas e
olhos cinzas, como a nossa mãe. Pensei
na nossa semelhança; nela pequena,
correndo pela praia...
Ajudou. Meu pau começou a murchar
e eu respirei aliviado, porém, meio
frustrado. Sentindo que venci uma
batalha, desligo o chuveiro, agarro a
toalha e começo a me enxugar.
Meu celular começa a tocar. Eu
enrolo a toalha na cintura:
— Dixie, quem está me ligando? —
pergunto para minha inteligência
artificial.
Ela responde imediatamente:
— Riley, sua prima.
— Pode atender, por favor.
— Com prazer, Henry.
Segundos depois, a voz animada da
Riley soa no ambiente enquanto pego
outra toalha para secar o rosto e cabelo:
— Ei, priminho!
— Ei, Riley. Aconteceu alguma
coisa?
— Aconteceu! — Sua empolgação
era palpável, mesmo através de uma
ligação. — Sabe o evento beneficente da
semana que vem?
Sorri.
— Claro que sei.
— Bom. Ganhamos mais um item
para o leilão... — cantarolou.
Alcei uma sobrancelha:
— Mesmo? Que item?
— Uma obra assinada pela
maravilhosa L.L.M! — Ela e sua irmã,
Rowan, gritaram em uníssono.
Parei a meio caminho do closet.
L.L.M: Luana Lazzari-McGregor. É
como ela assina as telas. Mais uma
forma das pessoas não saberem quem
ela é ou quem é sua família.
E lá vem ela de novo pra minha
cabeça!
— Sério? — Quase gaguejei.
— Sério! Não é maravilhoso? —
Riley ri. — Nossa prima tem telas
avaliadas em milhões de dólares! E ela
nos garantiu que fará uma exclusiva,
nunca vista antes, só para nosso leilão!
— Ah... Isso é muito bom!
Eu nem estava raciocinando mais.
— Eu coloquei essa novidade nas
nossas redes sociais e advinha? — Foi
Rowan quem falou: — Acho que
precisaremos fazer esse leilão online
também, porque há pessoas do mundo
inteiro querendo participar por conta da
tela dela, mas não poderão comparecer.
Os cantos da minha boca se curvaram
para baixo, impressionado. E orgulhoso.
— Então vamos fazer isso!
— É aí que está! — Ela falou. —
Você pode ficar responsável por isso?
Afinal, você é fera nessas coisas de
internet.
Acabei sorrindo.
— Claro. Pode deixar comigo.
— Você é o melhor, primo!
Elas desligaram e eu troquei de
roupa.
Com Luana na minha cabeça.
08. Luana

Já passava das três da manhã quando


me acordei do nada. Ao abrir os olhos e
encarar o teto, percebi que não havia
mais sono algum em mim, apesar de
sentir todo meu corpo enfadado depois
de passar o dia na piscina.
Após algum tempo só olhando para o
nada, resolvi levantar e lavar o rosto.
Estava muito cedo para sair para correr,
então eu precisava fazer algo para me
distrair. Então, coloquei meu macacão
jeans de pintura, peguei uma taça e uma
garrafa de vinho e desci para minha
galeria.
Riley e Rowan haviam me pedido
para doar uma tela para o evento
beneficente que elas e o Henry
organizam todos os anos, para ajudar
pessoas que vivem nos países mais
pobres do mundo. Minha tela será
leiloada juntamente com vários outros
itens importantes, por isso, eu prometi
que faria algo exclusivo, nunca visto por
ninguém.
E eu nem precisei pensar muito para
saber o que eu iria pintar.
Sabia qual desenho seria perfeito.
Me servi de uma taça, bebi um gole
longo e comecei a trabalhar com meu
pincel.
Trabalhei o resto da madrugada
inteira, nem percebi quando o sol
começou a clarear no céu, e ainda falta
muitas coisas que precisavam estar
ilustrada nesse quadro.
— Bom dia, senhorita. — A voz
artificial de Dixie puxou toda minha
atenção. — Seu celular está tocando.
Tem interesse em saber quem é?
Sorri, meio incrédula.
— Claro, por favor.
— Mamãe.
— Você pode atender para mim?
— Com certeza, senhorita.
E a voz da minha mãe surgiu:
— Filha, só estou ligando para
lembrar que amanhã vamos comprar
nossos vestidos para o evento. Você vai,
não é?
— Estarei lá, mãe.
— Ok. Me conte como você está?
Torci os lábios, sabendo exatamente
do que ela estava falando. Ela queria
saber como eu estava em relação ao que
aconteceu ontem, entre Henry e eu.
Como eu estava? Arrasada, destruída
e me sentindo muito envergonhada.
Era por isso que estava de pé tão
cedo. Minha insônia estava relacionada
a isso, porque o pouco que dormi,
sonhei com ele. Mas não foi um sonho
como costumava ser, cheio de cenas
bonitas e românticas; dessa vez foi algo
ruim, com sensações ruins, com ele se
afastando de mim, rindo dos meus
sentimentos.
Meus olhos nublaram com as
lágrimas de novo e minha garganta deu
um nó, mas eu consegui responder:
— Eu vou superar, mãe, não se
preocupe.
Foi obvio que ela percebeu minha
voz embargada:
— Meu amor, acredite em mim:
quando o amor é verdadeiro, não
superamos, apenas tentamos nos
acostumar. E nem sempre funciona. Olhe
meu exemplo, tá bem? Quando deixei
seu pai, tentei de tudo para esquecer ou
superar, como você diz. Foquei na
minha terapia, no meu trabalho, fiquei
com outros caras...
— Oush! — Ouço a voz do papai. —
Oh, Pérola!
— Calma, amor. Estou falando com
nossa filha.
— Mas eu estou aqui!
— Enfim, filha — Minha mãe volta
sua atenção para mim depois de bufar:
—, o que estou querendo dizer é que,
nada importou, porque, mesmo de longe,
eu não o esquecia. Imagina ver a pessoa
em todo lugar, em cada reunião de
família?
— Quem ela vai ver nas reuniões de
família?
Eu podia ver minha mãe revirando os
olhos.
— Amor, se concentre em fazer
minhas panquecas, tá bom? — Ela pediu
a ele e voltou pra mim: — Esqueça o
seu pai. Eu precisei dar o primeiro
passo na nossa relação ou não
estaríamos aqui hoje.
Sorri e ela continuou:
— Filha, eu te amo e não quero que
você sofra. Henry também não, por isso
tenho certeza que ele vai pensar bastante
sobre isso.
— Eu só sei que eu não quero mais
pensar nisso. Quanto mais eu penso, mas
eu morro de vergonha.
— Vergonha de amar? — Ela
pergunta retoricamente. — Meu amor,
não devemos ter esse tipo de vergonha
porque amar é o sentimento mais lindo
que o ser humano pode ter.
— E o mais dolorido também. —
rebati.

Quando ela desligou, subi para um


banho, para retirar todas as tintas que
grudaram nos meus braços e rosto. Em
seguida, caí na cama apenas de roupão,
com braços abertos. O cansaço estava
começando a fazer efeito junto com
todas as taças de vinho que havia
tomado enquanto pintava.
— Ei, Dixie.
— Senhorita?
— Me chama de Lua, Dixie.
— Ok, Lua. O que deseja?
— Por que o amor dói tanto?
— Eu não sei, mas, permita que eu
faça uma breve pesquisa para poder lhe
responder.
Sorri, ainda de olhos fechados e
esperei.
Instantes depois, ela retornou:
— Uma vez um menino perguntou:
Hugo, por que amar dói? E Hugo
respondeu: Porque se não doer, não é
amor.
Abri meus olhos.
— Nossa. Profundo. Tem mais?
— Um autor desconhecido disse:
“Amar dói; mas tudo que faz doer, cura.”
Pensei um pouco a respeito.
— Você acha que ele está certo,
Dixie?
— Eu não posso saber porque eu não
posso amar. Mas, segundo minhas
pesquisas, muitas pessoas concordam
esse pensamento. Outras, nem tanto.
— Mesmo? E o que as pessoas estão
dizendo sobre isso?
— A Maiara diz que não é amar que
dói, e sim amar sem ser amado. Você
concorda ou devo procurar mais?
Essa frase da Maiara foi como uma
punhalada no meu coração. Me encolhi
de lado na cama, abraçando meu próprio
corpo com meus braços.
— Eu concordo com Maiara.
Obrigada, Dixie.
— Não precisa agradecer. Estou
sempre aqui para ajuda-la.
Com um sorriso meio choroso
deslizando em meus lábios, adormeci.

•••

Eu só acordei com a Dixie me


chamando.
— Lua, você tem visita.
— O quê? — Respondi, meio grogue.
— Você tem uma visita. — repetiu
ela. — Deseja recebe-la ou devo
acionar o sistema de segurança e pedi-
la, com educação, que vá embora?
Fiz uma careta, minha cabeça
pulsando de dor, me sentei na cama.
— Quem é?
— Ele disse que se chama Thomas
Hendrick. Tem um sotaque britânico e
uma boa aparência.
Acordei de vez na mesma hora. Mas
logo franzi o cenho, olhando pro nada:
— Você entende de sotaques, Dixie?
— Claro. Henry me deu essa e muitas
outras habilidades.
— Como o que, por exemplo?
Sim, eu estava curiosa.
— Eu posso falar com você em todas
as línguas que existem.
— Uau. — Eu realmente estava
impressionada.
— Devo pedir para o senhor
Hendrick entrar?
Eu joguei as pernas para fora e me
levantei da cama, já correndo para pegar
uma roupa descente no armário.
— Pode, mas me dê um minuto para
trocar de roupa!
— Tudo bem.
Vesti o short jeans e a blusa que
estavam mais fáceis de pegar, depois
corri no banheiro e passei as mãos pelos
meus cabelos. Graças ao Senhor, eu não
estava parecendo uma bruxa ou algo do
tipo. Peguei minha escova de dentes e
fiz minha higiene.
Eram onze e vinte da manhã, eu ainda
me sentia esgotada pela falta de sono
durante a noite. Mas, o mais importante:
O que diabos Thomas estava fazendo
aqui em LA?
Pronta, permiti que Dixie o deixasse
entrar, mas eu peguei minhas chaves e
desci antes que ele subisse.
Eu fiquei feliz e aliviada por ter
coberto minhas novas telas, porque não
queria que ninguém as vissem antes do
próximo evento. Queria menos ainda que
ele visse o que preparei para o leilão
beneficente.
Lá embaixo, olhando tudo ao redor,
muito impressionado, estava Thomas.
Lindo e elegante como sempre foi. Os
cabelos loiros estavam bem penteados e
quietos. Ao contrário dos sobretudos
chiques que costuma usar em Londres
por conta do frio, estava apenas de calça
jeans e camisa de mangas curtas, da cor
de seus olhos, e tênis.
— Ei. — Ele chamou quando me viu,
abrindo seu sorriso gracioso.
Ofereci meu sorriso mais simpático,
sem me importar com a surpresa
estampada no meu rosto:
— Ei, Thomas. O que faz aqui?
Ele encolheu os ombros, como se não
fosse grande coisa:
— Sempre quis conhecer Los
Angeles, então, juntei o útil ao
agradável. — disse ele, e ainda
acrescentou: — O agradável é você,
claro.
— Ah. Obrigada.
Eu estava muito sem graça, sem
entender nada. Continuei olhando para
ele, tentando descobrir alguma coisa,
mas ele era só... lindo. Não tinha nada
demais, nada que eu deva desconfiar.
Afinal, fui eu quem surtou e disse que
não queria mais por conta de um jantar!
Thomas finalmente se move e vem
para mim, me abraçando forte:
— Estava com saudades de você,
Lua!
Devolvi o abraço.
— Eu também estava.
Não estava, não. Eu me senti mal por
mentir, mas eu odiava magoar as
pessoas, e ele voou tantas horas para me
ver, então eu devia pelo menos isso a
ele.
— Que tal sairmos para almoçar?
Fiz a pergunta, já me separando,
mantando uma distancia segura.
Ele concordou na hora:
— Só se você me levar no melhor
restaurante que existe nessa cidade.
Sorri, tentando me manter leve e
tranquila. Era só um amigo me visitando,
certo?
Enquanto íamos para meu carro,
enviei uma mensagem para Tulip sem
que ele veja.
Luana: O que Thomas está fazendo
em Los Angeles?

Mandei junto com vários olhinhos.


Em seguida, guardei o celular no bolso
do meu short e entrei no carro.
Por todo o caminho, ele conversou
sobre seu trabalho em Londres. Thomas
é filho do dono de algumas farmácias
espalhadas por toda Inglaterra. Ele
acabou de assumir a empresa e, pelo que
entendi, tem muito trabalho a fazer. A
verdade, é que está em LA para uma
reunião de uma possível expansão das
farmácias. Eles querem vir para a
América também.
Foi um percurso tranquilo e cedendo,
rindo em algumas ocasiões. Quando
chegamos no restaurante que eu gostava,
pedi por uma mesa.
Ele me contava sobre como sua
alergia a gatos o colocou em uma fria
quando foi na casa de uma mulher com
quem estava saindo, e eu estava
morrendo de rir, mas meu sorriso
desapareceu quando meus olhos
encontraram Henry.
Ele estava lá, do outro lado do
restaurante, cercado por homens de
terno, destorcendo completamente seu
jeans e camisa casuais, provavelmente
em uma reunião de negócios.
Seus olhos também estavam sobre
mim. E sua expressão... Ah, ela não
estava boa não.
Ele parecia... irritado, inquieto.
Inclinei a cabeça de leve para o lado,
meu coração batendo forte demais em
minha caixa torácica. Eu não conseguia
entender o que eu estava sentindo no
momento, além, é claro, da excitação de
vê-lo de novo.
Alegria, talvez, por entender que ele
está irritado pelo fato de eu estar
acompanhada?
Quase sorri, mas me controlei.
Principalmente quando ele falou
alguma coisa para os homens, arrastou a
cadeira para trás e se levantou, seu
corpo grande fazendo movimentos
graciosos, perfeitos.
Mas meu coração deu uma pausa
quando percebi que esses movimentos
estavam vindo em minha direção.
09. Luana
— Boa tarde.
A voz rouca, grossa e levemente rude
de Henry me fez tremer. Seu corpo
grande e poderoso estava diante da mesa
em que eu e Thomas estávamos
sentados.
Thomas levantou a cabeça para olhar
o homem em sua frente. Não entendeu,
então o seu cenho franziu.
Mas Henry não estava olhando para
ele — nem estava dando importância —,
seus incríveis olhos azuis estavam sobre
mim, me deixando quente nos lugares
certos.
— Boa tarde. — Soei com educação
e calma, totalmente o contrário do que
eu sentia por dentro. Limpei a garganta:
— Thomas, esse é Henry Montgomery-
Lazzari, meu... — Meus olhos
encontraram os azuis perfeitos — primo.
Eu vi sua mandíbula contrair e isso
me deixou curiosa, mas apenas me
empertiguei e terminei a apresentação:
— Henry, esse é Thomas Hendrik, um
amigo de Londres. Ele veio a trabalho e
resolveu passar lá em casa.
Foi interessante ver a relutância que
tomou conta do homem quando Thomas
se levantou e estendeu a mão para um
cumprimento. Ele apertou a mão, sem
muita demora:
— Sabia onde ela morava? —
indagou ele.
Eu queria interromper, perguntar o
que isso importa pra ele, mas acontece
que eu também queria saber. Ainda não
tinha passado pela minha cabeça o fato
de que ele sabia onde eu morava.
Thomas sorriu, educado:
— Não sabia, mas falei com a Tulip
antes de vir.
Com uma sobrancelha arqueada,
Henry se virou para mim:
— Tulip?
— Minha assistente. — respondi e
olhei para Thomas. — Tulip quem te deu
meu endereço?
— Foi.
— Ah.
— Não foi permitido? — Henry me
perguntou.
Eu encarei seus olhos e não sabia se
queria beijar ou gritar com ele, por tudo
que está acontecendo. Optei por manter
a tranquilidade que emanava do meu
corpo... Ou nem tanto.
— Não, não há problema. Como eu
disse, Thomas é um amigo e estou feliz
que esteja aqui.
Totalmente mentira. Havia um grande
problema porque eu não queria que ele
viesse. Não por ele ser um cara ruim —
ele não era —, mas porque eu
praticamente fugi dele. Não sei se tenho
coragem de fazer de novo.
— Tudo bem.
Henry não estava convencido, puto.
Sua fisionomia ainda era de quem queria
matar um, seu olhar era como pedras
ralando pelo meu corpo.
E toda minha calma se foi como um
foguete quando ele se inclinou, tocou em
meu braço e beijou o meu rosto.
Juro por Deus que, se fosse possível,
eu seria apenas uma poça de liquido!
Ele se endireitou, se voltou para
Thomas e bateu — muito forte, por sinal
— no ombro dele.
— Qualquer coisa, estou logo ali. —
disse, apontando. Voltou para seu lugar,
mas eu ainda podia sentir seus olhos
sobre mim.
Eu queria gritar, mostrar o dedo do
meio pra ele, chorar, fazer um
escândalo. Queria falar o quanto essa
palhaçada toda estava confusa para mim,
como está me machucando; queria falar
que não importava o quanto ele se
afastasse, se andasse com Emma ou
qualquer outra, eu continuaria o amando,
porque é assim como eu me sinto.
O mais importante: queria falar que
não precisava se preocupar, porque eu
já havia vivido todos esses anos sem
ele, sobreviveria mais outros. Ou todos,
até o resto da minha vida.
No entanto, respirei fundo e foquei na
minha conversa com Thomas, que agora
era sobre como ele era fã do meu pai.
Fizemos o pedido e eu tentei interagir
normalmente, como uma pessoa não
afetada pelo olhar e atenção do outro.
Até sorri, conversei e, para meu total
orgulho, não olhei mais na direção de
Henry.
•••

HENRY

Jura?
Olhei para cima, para o céu
estrelado, que podia ser visto com
clareza da varanda da minha casa.
É sério que vai me fazer sentir essas
coisas por ela?
Nunca fui um cara que se sentava
para falar com Deus ou algo do tipo.
Não me levam a mal, eu acredito Nele e
confio também, só não sou de orar, nem
conversar sobre isso.
Talvez porque estou sempre de um
lado para o outro e quando tenho um
momento tranquilo, meu corpo capota
com o cansaço. Mas agora eu precisava
desabafar com alguém, sem receber
criticas; alguém que me entenda de
verdade, que saiba o que está no meu
coração.
— Você sabe o que eu sinto por ela.
— eu falei para Ele.
Se alguém que trabalha na minha casa
me visse falando assim, provavelmente
pensaria que fiquei maluco. Só que não
me importo e continuo:
— Sabe que eu não quis magoa-la.
Ver aquela mulher chorar me deixou
completamente insano. Se existe alguém
no mundo que não poderia chorar por
nada, esse alguém é ela. — Procurei
respirar profundamente quando senti
minha garganta arder, assim como meus
olhos. — Ela é tudo pra mim. Eu sempre
quis protege-la das coisas ruins, sempre
quis estar ao seu lado. Eu prometi que
apoiaria todas e qualquer decisões que
ela tomasse. Eu prometi que nunca a
deixaria se sentir só...
Uma risada incrédula escapou.
— E olha só o que estou fazendo! Ela
chorou por minha causa. Eu não estou lá
com ela, não tenho condições de estar
agora. E tudo por quê? Porque eu não
consigo mais me segurar quando fico ao
seu lado, todo meu corpo reage como a
porra de um imã... Opa, foi mal o
palavrão.
Eu fecho minhas mãos com força no
parapeito e abaixo a cabeça quando as
lágrimas começam a transbordar.
— Eu só... Estou ficando louco! Hoje
eu queria matar aquele tal de Thomas só
por estar perto dela. Ele estava ali com
ela. E olhar para ele, bem mais novo
que eu, bonito, aparentemente bem-
educado, o cara ideal para ela, me
deixou doente.
Funguei quando não pude mais
segurar e tornei a olhar para o céu:
— Por que eu estou sentindo isso?
Por que ela gosta de mim, se há caras
por aí, bem melhores que eu, prontos
para dar a ela tudo que ela deseja? E,
caramba, por que eu fico irritado só com
esse pensamento?
Eu gritei essa última parte.
Sentei em uma espreguiçadeira,
apoiei os tornozelos nos joelhos e tapei
o rosto com as mãos. Meu peito doía,
como se alguém tivesse apertando-o
com força. Eu me sentia imundo, nojento
demais com tudo que estava sentindo.
As perguntas não paravam de circular
na minha cabeça.
Isso é certo?
Por que isso está acontecendo?
Porra.
Trinta e dois anos, um QI
elevadíssimo, mas eu não sabia como
controlar isso, esses sentimentos, essa
culpa.
10. Luana
— Ele não disse nada além de
“Qualquer coisa, estou ali”? — Minha
irmã fez a pergunta, usando os dedos
para formar as aspas, assim que
entramos na loja de vestidos.
Minha madrinha suspirou:
— Esse é o meu filho. — falou ela.
— Tão inteligente para tudo que faz no
seu trabalho, mas nem tanto quando se
trata de sentimentos. Ele deve ter
puxado isso do pai verdadeiro. — Ela
fez uma careta ao citar isso.
A história da Stacy era de fazer
qualquer um chorar por horas. Quando
tinha apenas quatorze anos, foi abusada
por um amigo de seu pai, engravidou e o
pai colocou a toda a culpa nela. Ele a
levou para casa de uma irmã, onde ela
ficou escondida durante toda a gestação.
Quando Henry nasceu, o filho da puta do
seu pai o deu para um casal de
estranhos.
Os anos se passaram, mas ela nunca
perdeu a esperança de reencontrar seu
filho. Foi quando ela e meu tio Ben se
entenderam, e ele a ajudou na busca.
Quando o encontraram, Henry era só um
garoto de quatorze anos, que estava
pronto para entrar na faculdade, graças a
seu QI bastante elevado.
O casal que o pegou eram dois
drogados, que tinham muitas dividas e
Henry, mesmo sendo uma criança,
precisava se virar para conseguir
dinheiro e pagar os traficantes.
A Tetê nunca fala sobre o homem que
a violou e é totalmente compreensível.
— Pode ser — Malu, a irmã mais
nova de Henry começou, encolhendo os
ombros enquanto dava uma olhada nos
vestidos para garotas de sua idade. —,
mas podemos dizer com total certeza
que o beijo no rosto dela foi um sinal de
ciúmes. Tipo, marcando território.
— Com minha experiência, posso
concordar com a Malu. — Minha mãe
disse.
Bufei e sentei em um sofá reservado
para clientes.
— Vocês estão me fazendo criar
expectativas e isso é muito cruel,
considerando o fato de que, muito
provavelmente, ele só estava
preocupado, como sempre foi.
— É verdade. — Luna concordou. —
Quem em sã consciência aparece na
casa da ex assim, do nada? Estranho,
principalmente porque ele veio de outro
país, não é?
— Falando nisso, filha, conseguiu
perguntar para sua assistente o motivo
de ela ter dado seu endereço a um
estranho?
Me encostei, relaxando o corpo:
— Ainda não. Tulip tinha dito que
ficaria sem celular por uns dias. Ela tem
uma mania de ir para esses
acampamentos zen, onde celulares é uma
forma de distração proibida.
— Que legal! — minha irmã se
animou. — Meu sonho não precisar me
comunicar com ninguém por dias, só
com os personagens dos meus livros e
pronto.
Mamãe olhou para ela:
— Você já faz isso muito bem,
querida. Nós morremos de ligar para
você, e você nem aí, nem pra responder
uma mensagem. Não sei que milagre está
aqui hoje.
— Por conta da minha irmã. Ela
passou muito tempo longe e eu estava
com saudades.
— Ownnn — Eu a abraço de lado,
enchendo seu rosto de beijos.
Ela fica vermelha, mas sorri:
— Sem contar que eu trouxe isso —
Acena com seu Kindle na mão. — E
enquanto vocês quebram a cabeça aí em
busca do vestido perfeito, eu vou
mergulhar aqui um pouquinho nas
palavras magníficas de Shakespeare.
Todas nós rimos com seu entusiasmo
e com a forma que ela quase se deitou
no sofá e começou a ler.
Uma vendedora sorridente e educada
se aproximou de nós:
— Desculpem a demora para atende-
las. Tivemos um probleminha, mas,
enfim, me chamo Alice e ficarei feliz em
ajuda-las. As senhoras gostaram de
alguma de nossas peças?
— Eu amei esse! — Malu gritou, ela
já estava agarrada com um vestido de
seda rosa.
— Ótima escolha! — Alice bateu
uma palma na outra.
A minha mãe colocou as mãos na
cintura, olhando ao redor:
— Gostaria de algo vermelho. Seda
vermelho, na verdade. — Ela olhou para
mim e para Stacy, que estava ao meu
lado e sorriu, toda cumplice: — Kent
adora quando eu uso vermelho.
— Eu vou ficar alguma cor escura.
— Tetê falou.
E eu não fazia ideia do que eu queria.
Me levantei e fui dar uma voltinha na
loja, olhar as peças que elas tinham.
Todos os vestidos eram lindos,
elegantes, perfeitos para ocasião, mas
tinha que ser algo que mexesse comigo.
Eu precisava me sentir bem usando-o.
E, pela razão que eu já conhecia,
precisava ter certeza que Henry ficaria
mexido também.
Já tinha visto e tocado em alguns
vestidos, mas nenhum deles me
impressionou. Comecei a pensar nos
vestidos que eu tinha no armário e se
algum deles serviria para o evento, só
que eu esqueci todos eles quando
coloquei meus olhos sobre o vestido
mais lindo que eu já vi.
Era perfeito. Ele era preto e
brilhante, com alças fininhas, a saia com
pregas na cintura e uma lasca bem alta
na perna direita. O decote ver faz tudo
parecer mais atraente.
Imediatamente, chamei a vendedora e
disse o que eu queria.
— Maravilha! Esse é um vestido
Gian Valentin, um novo estilista que está
ganhando as passarelas da Europa.
— Então será ele mesmo. — Sorri.
A porta da loja se abriu, chamando a
atenção de todos que estavam dentro, e
meu coração errou uma batida quando eu
me virei e dei de cara com o amor da
minha vida.
Pisquei algumas vezes, tentando fazer
meu cérebro entender que não era uma
visão, que era real.
Henry usava jeans e uma camisa
branca de botões, com as mangas
dobradas em seus cotovelos. Ele retirou
os óculos escuro e seus olhos trancaram
com os meus.
Eu, literalmente, tremi.
O homem era lindo demais. Meu
raciocínio não dava conta de tanta
beleza.
Os ombros largos chamavam tanta
atenção quando o resto dele. E eu sei
disse porque as mulheres na loja não
disfarçaram quando admiraram ele.
Uma delas até abaixou os óculos para
dar uma olhada melhor.
O sentimento de ciúmes foi enorme, a
ponto de me fazer fechar as mãos em
punhos para não fazer alguma coisa
idiota.
Continuei olhando em seus olhos, não
desviei. Chega de fugir disso tudo.
Precisamos lidar com o fato de que sou
apaixonada por ele e ponto final.
Ele inclinou a cabeça levemente, seus
olhos gritavam coisas que eu não
conseguia decifrar. Parecia abalado,
sentimental, mas... quente. Ele nunca
havia me olhado dessa forma.
Todo meu corpo se acendeu, meus
mamilos cutucaram o tecido macio da
blusa e o calor entre minhas pernas era
desconcertante de se sentir no meio de
uma loja.
— Filho, o que faz aqui? — Minha
madrinha perguntou, chamando sua
atenção para ela.
Ele enfiou as mãos nos bolsos, meio
sem jeito:
— Precisava falar com você.
— Tá bom, mas como sabia que eu
estava aqui?
— A Dixie me avisou.
Claro.
É claro que a Dixie monitora nossos
passos através do celular.
Henry não é um Lazzari legitimo, mas
se fosse, não parecia tanto com um como
já se parece!
— Ah, sim! — Tetê sorriu. —
Esqueci da Dixie. O que você quer falar
comigo?
— Pode ser lá fora?
Ele fez essa pergunta e olhou de
soslaio para mim, como se estivesse
envergonhado.
Quando eles saíram da loja, eu olhei
para minha mãe, minha irmã e minha
prima, as sobrancelhas erguidas em
surpresa.
Luna comentou, olhando para porta:
— Imagina se o vô Giovanni tivesse
um deles na época dele? Coitada da vó,
ia surtar. Toda vez que se movesse, o vô
estaria respirando na nuca dela.
— Ele iria adorar. — Mamãe riu.

HENRY

Minha mãe colocou as mãos na


cintura, cerrando as pálpebras para me
olhar por conta do sol:
— Querido, vocês precisam
conversar.
Ela estava se referindo à Luana e eu.
Não iria desistir até nos acertarmos, se
eu bem conheço minha mãe.
— Eu sei, só não sei o que falar ou
como falar.
— Vocês sempre conversaram sobre
tudo, amor. Não deve ser tão difícil.
Apenas se sente com ela e converse.
Fale para ela o que está sentindo com
tudo isso.
— Mãe...
— Filho — ela me interrompeu,
tocando meus braços com carinho. —, a
única forma de vocês se resolverem é
você sendo sincero com a Lua.
Independente de qualquer sentimento
seu, ela merece saber. Não jogue fora o
que vocês dois têm, tá bom?
Como sempre acontecia, ela estava
certa.
Eu acabei me rendendo, suspirando
pelo nariz. Olhei para dentro da loja
através das vidraças da vitrine e meu
coração disparou quando peguei Luana
lá dentro, sorrindo para um vestido
preto que uma vendedora segurava pra
ela.
Por um segundo, ela franziu o cenho,
então olhou na minha direção,
respirando profundamente, com cuidado.
Estava linda com um short cintura alta,
uma blusa preta por dentro e sandálias
plataforma. Seus cabelos estavam
soltos, caídos em seus ombros e costas,
parecendo tão suaves quanto sua pele.
Isso me fez imaginar como seria tocar
sua pele, só que não em um abraçou ou
um simples toque; eu gostaria de
explorar ela por inteiro com a minha
mão, minha boca...
Fechei os olhos, bloqueando minha
mente. Doía pensar assim e doía mais
ainda saber que não conseguia mais
controlar esse tipo de pensamento.
— Henry, por favor, filho.
Eu anuí para minha mãe, sabendo
exatamente o que precisava fazer.
Inspirei devagar, antes de colocar a mão
no meio das costas dela e a guiar de
volta para dentro da loja.
Enquanto entrávamos, ela ergueu um
dedo em riste para mim:
— Não avise ao Ben que a Dixie
pode dizer minha localização, por favor.
Ele nem parece ser filho do Lucca, às
vezes.
Sorri.
— Por quê? O Lucca também é
ciumento.
— É, mas ele é do tipo mais calmo,
compreensível. Seu pai é meio
esquentadinho.
Isso era verdade.
Balançando a cabeça, sem conseguir
evitar a risada, garanti:
— Prometo que não vou contar.
— Obrigada. — Ela beijou meu rosto
e deu duas batidinhas antes de me deixar
e ir para perto de Pérola.
Sorvi um pouco de ar, tentando me
acalmar um pouco antes de me virar na
direção de Luana. Eu estava parecendo
um adolescente virgem de novo, aquele
de quinze anos, que já estava na
universidade, cercado por pessoas
adultas e, claro, mulheres desfilando de
um lado para o outro.
Eu estava, de uma forma bem literal,
tremendo. Meu corpo inteiro parecia que
iria entrar em colapso a qualquer
momento.
Cheguei perto dela, inalando seu
perfume doce. Limpei a garganta,
chamando sua atenção.
Enfiando uma mecha de cabelo atrás
da orelha e engoliu a saliva, piscando
para mim. Ela também estava nervosa.
— Lua, você pode tomar um sorvete
comigo?
11. Luana

Isso era uma coisa que fazíamos


sempre antes de eu ir para Londres.
Quando ele estava na cidade, íamos
tomar sorvete todos os dias. Ele colocou
esse costume em mim quando eu ainda
tinha oito anos.
— Morango com calda de chocolate
pra você — Henry colocou o pote de
vidro cheio de sorvete em minha frente.
Se sentou na cadeira livre do outro lado
da mesa com o seu pote de sorvete de
chocolate com calda de chocolate.
— Obrigada. — agradeci,
oferecendo um sorriso leve, agradecido.
Seus olhos bateram nos meus, os
azuis sensuais, o sorriso ladino e
inquietante.
— Nós podemos conversar?
Suspirei.
— Vai me dizer que sou louca?
— Você não é louca, Lua.
O clima de repente ficou ainda mais
quente, a minha pele pinicava.
Enfiei uma colherada grande de
sorvete na boca e acenei para que ele
começasse a falar.
— Olha, eu não queria fazer você
chorar, e me odeio por isso. Eu só... Isso
tudo é muito novo para mim. Há duas
semanas, você era apenas a menininha
que eu fiz de tudo para fazer feliz. Você
não pode me culpar por não te ver da
forma que você quer. Quando te conheci,
você só tinha cinco anos, eu tinha
quinze. Quando você completou quinze,
eu já tinha vinte e cinco. Eu não podia
olhar pra você de outra forma que não
fosse como minha priminha. — Ele fez
uma careta, como se sentisse dor. —
Nunca nem passou pela minha cabeça te
ver de outro jeito.
— Eu sei. — murmurei,
compreendendo. — Mas eu não sou
mais essa menininha, Henry. Tenho vinte
e dois agora. Sou uma mulher adulta,
que sabe o que quer.
Sacudindo a cabeça, ele passa as
mãos pelo rosto, ponderando um pouco.
Ele não estava mais chateado, mas
confuso, perdido.
— Ainda assim, é difícil pra mim.
Eu não respondi nada porque, mais
uma vez, estava com vontade de chorar.
Então ele continuou:
— Sabe o que é pior?
Neguei com a cabeça.
— Não sei se vamos poder voltar a
sermos como antes.
Dessa vez, eu concordei. Empurrei o
sorvete de lado e me concentrei só nele,
juntando minhas mãos sobre a mesa:
— Henry, eu também não queria te
magoar, tá bem? Eu amo você, da forma
que você já sabe e é de verdade. —
disse, e ele fechou os olhos
rapidamente. Não me importei e só
continuei: — Eu só não conseguia mais
guardar para mim. Já guardei por anos,
pra não acontecer isso que está
acontecendo agora.
Ele abaixou a cabeça, mexendo com
a colher em seu sorvete, que já estava
começando a derreter.
— Me desculpa. — pedi, baixinho, o
nó na garganta apertando. — Eu não
queria amar você assim, Henry, mas eu
amo.
— Tudo bem. — Sua mão veio sobre
a mesa e pegou a minha, estava gelada,
mas o simples toque fez meu corpo todo
se acender. — Está tudo bem.
— Está? — perguntei, tentando evitar
que as lágrimas escorressem.
— Sim. Você sabe que eu amo você,
Lua, mas preciso me acostumar com
isso.
— Eu sei que ama, mas não da forma
como eu gostaria que amasse.
Ele meneou a cabeça, exasperado,
puxando sua mão do meu aperto.
— Lua...
— Não. — interrompi, chateada. —
Não vem com essa carinha e essa voz
que me deixa toda derretida. — Entendo
que deve ser difícil. Ainda é um pouco
difícil para mim, mesmo depois de anos.
Mas por que me chamou aqui, afinal?
Aonde essa conversa vai nos levar?
Encolheu os ombros:
— Não faço ideia. Pensei que
pudéssemos conversar e entender tudo.
— Mas eu entendo! Já pedi desculpas
por sentir o que eu sinto, só que não vai
dar pra mudar isso. Você quer se
acostumar? Vai em frente! Só que eu sei
que não vou me acostumar mais vendo
você com uma namorada nova, ou seja
lá o que você queira fazer.
Eu me levantei, pegando minha bolsa.
— Mas não se preocupe. Eu não vou
ficar no seu pé com isso, nem fazer um
clima chato nos lugares. Até mais,
Henry.

•••

O dia do evento chegou e eu ainda


não tinha conseguido falar com Tulip.
Não estava preocupada, porque sabia
como era quando ela ia para esses
acampamentos.
— Meu Deus, você está linda
demais! — O sotaque britânico de
Thomas chamou minha atenção com o
elogio, quando saí do meu quarto.
Depois de comprar o vestido,
cheguei em casa e convidei ele para ir
comigo ao evento. O homem aceitou na
mesma hora, principalmente quando
confirmei que meu pai estaria lá.
— Obrigada.
Eu não era de me achar, mas
realmente, o vestido ficou perfeito,
super combinando com minhas sandálias
prateadas e exclusivas, de saltos
altíssimos da Fontaine, que tio Ryle
tinha me presenteado hoje mais cedo.
Meus cabelos estavam soltos e bem
trabalhados com cachos grossos que eu
mesma fiz. Assim como a maquiagem,
não há nada muito pesado.
Mais cedo, Riley veio aqui para
levar a tela. Toda sentimental como ela
era, quase chorou ao vê-lo, dizendo que
iria fazer seu pai oferecer um valor por
ele na hora do leilão. Ela em contou que
o valor de inicio seria de meio milhão
de dólares e que as pessoas estavam
ansiosas para essa peça. Sendo assim, o
quadro será o ultimo item leiloado da
noite.
— Vamos? — Thomas ofereceu seu
braço, e eu aceitei de bom grado.
Nós fomos em uma limusine que meu
pai mandou para nos buscar. No
caminho, Thomas não parava de
tagarelar sobre coisas aleatórias ou
sobre como ele tinha adorado o país e
até citou que ficaria feliz em se mudar
para cá.
Ignorei, olhando para fora através da
janela, pensando em Henry e em quem
ele iria levar para esse evento porque é
isso que as pessoas estão especulando.
Com a ida de Annika para Rússia,
quem será que acompanhará nosso
gatíssimo bilionário para o evento
beneficente mais aguardado do ano?
Foi o título da matéria de um blog de
fofocas que Malu me mandou hoje de
manhã. Na matéria, eles também falavam
sobre como Henry era lindo e estava
solteiro, e mostraram todas as modelos
que estavam investindo pesado para
serem notadas por ele.
Tudo isso já estava me deixando
incomodada. Seria difícil agir como se
nada tivesse acontecido hoje a noite.
Eu tirei minhas dúvidas sobre isso
quando pisei dentro do salão escolhido
para sediar o evento.
As pessoas elegantes faziam filas
para cumprimentar a neta mais velha de
Giovanni e Aurora Lazzari; eles faziam
questão de enfatizar isso. Esse era o
peso mais pesado para se carregar
quando se é uma Lazzari. Sem contar
que eu também era uma McGregor.
Cumprimentei todos de forma
educada, mas meus olhos estavam em
busca de outra coisa. Fiz a limpa em
todo o salão até que o achei.
Ao lado da mãe e do pai. E de
Kayla Lopez também, uma das modelos
mais bem pagas do momento e ainda
próxima dele.
Tentei manter a calma, afinal, eu
também estava acompanhada. Não
conseguia evitar o ciúme roendo meu
estômago, mas podia controlar minha
expressão. E foi o que eu fiz quando me
aproximei para falar com eles.
Os olhos de Henry se
concentraram em Thomas primeiro,
como uma encarada mortal. Em seguida,
ele se virou para mim, tocando minha
cintura quando fui beijar seu rosto em
um cumprimento.
Ele estava de tirar o fôlego,
como sempre, só que dessa vez um
smoking perfeito escondia seu corpo
poderoso e másculo. Seu perfume
masculino me deixou tonta de tão
excitada que fiquei. Minha boca chega
salivou com sua visão.
Falei educadamente com Kayla
também, mesmo querendo fazê-la
desmanchar o sorrisinho gentil que
esbouçava no seu rosto bonito.
— Ficou realmente incrível,
Moranguinha! — Tetê elogiou meu
vestido, então alfinetou, cutucando o
filho: — Não está, querido?
Perdi o fôlego quando ele me
olhou dos pés a cabeça, devagar,
analisando cada pedacinho do vestido,
parando por alguns segundos na lasca
que deixava minha perna direita à vista
e no decote, que deixava amostra a
marca do meu biquíni.
— Não acredito que incrível seja
a palavra correta. — Seus olhos vieram
para os meus, fazendo-me ofegar. —
Parece uma deusa.
Corei com violência. Droga.
— Obrigada. — Quase que a voz
não saía, de tão afetada que eu tinha
ficado.
— Ele tem razão. — Kayla disse,
com sua voz doce. — E me conta de
onde é essas sandálias, por favor! É
perfeita!
Eu sorri pra ela, com
sinceridade, meu ciúme aliviando por
um momento. Levantei um pouco a
perna, mostrando a sandália melhor:
— É linda, não é? É
uma Fontaine exclusiva.
— Meu sonho ter uma dessas!
— Sua oportunidade pode ser
hoje. — Tetê falou, com um sorriso
forçado. — Ryle desenhou uma
magnífica para o leilão hoje.
Kayla se animou, agarrando os
braços de Henry, praticamente
implorando como uma criança no meio
de uma loja de brinquedos:
— Bem que você podia
arrematar ela para mim, não é, querido?
Seus olhos brilhavam para ele, a
mão pousada no peito largo, com posse.
Mas logo foram retiradas pelo próprio
Henry, que se afastou com educação.
Tremi de raiva, trinquei os
dentes. As palavras "Deixa eu arremato
só pra tacar na sua cara depois" estava
na ponta da minha língua, mas a minha
madrinha se ligou rápido e puxou o
assunto para outro lado:
— Lua, você não apresentou seu
amigo. — Ela lembrou, indicando o
homem ao meu lado, que estava um
pouco perdido com a conversa.
Desculpei-me com eles pela gafe
e fiz as apresentações:
— Esse é Thomas Hendrick, um
amigo de Londres. — sorri. — Thomas,
Henry você já conhece, então essa é
minha madrinha, Stacy, e esse é Benton
Lazzari...
— O melhor piloto do Moto GP!
— Thomas completou, completamente
encantado em conhecer meu tio.
— É... meu tio.
Mas ele já estava apertando a
mão do tio Ben, com um sorriso muito
largo.
— Prazer em conhecê-lo, senhor!
— O prazer é meu. — Tio Ben
falou, simpático. — E me chame de Ben.
Depois, Thomás pegou a mão de
Tetê, beijando o dorso e oferecendo
para ela sua expressão sedutora:
— É um prazer conhecer uma
mulher tão linda.
E lá se foi toda simpatia do meu
tio. Ele fechou a cara, encarando a mão
de Thomas que ainda não tinha soltado a
de sua esposa. Então ele mesmo foi lá e
soltou, puxando a mão dela para ele.
Henry colocou as mãos nos
bolsos da calça feita sob medida para
ele, os ombros erguidos, observando a
cena com cara séria.
— Stacy Lazzari. — Ele deixou
claro, sua voz dura dessa vez. — Minha
esposa.
— Ah, claro. — Sem uma
risadinha sem graça, Thomas se afastou,
olhando-me como se pedisse ajuda. Ele
enxuga as palmas na calça, como se elas
estivessem suadas com a atenção dos
homens sobre ele. Me disse baixinho: —
Vou pegar uma bebida. Quer alguma
coisa?
Sacudi a cabeça.
— Não, obrigada.
Eu queria, só que não confiava
em todo mundo para pegar minha
bebida.
Meu primo-barra- amor da minha
vida sabia disso e pude ver seus olhos
sorrindo com a compreensão. Mal pude
evitar meus olhos de se revirarem para
ele.
Quando Thomas saiu de perto, eu
e Tetê trocamos olhares cúmplices.
Meu Deus! Era o que os olhares
diziam.
Toda minha família estava no
evento e eu falei com todos eles e dessa
vez não esqueci de apresentar Thomas
para eles.
Deixei meu acompanhante
conversando com alguns empresários
que se interessaram pela sua conversa e,
de braços dados com Riley, fui até a
mesa de doações.
— Eu já fiz minha doação. — Ela
me contou.
— Vou fazer isso agora mesmo.
Precisa compensar os cinco anos que
não estive presente, não é?
— Então capricha, prima! — Ela
bate na minha bunda de brincadeira,
então fez sinal para o lado. — Aposto
que ele vai fazer a maior doação da
noite. É sempre assim. Nem parece que
ele passa o ano doando e ajudando.
Henry estava assinando o cheque
da doação, inclinado graciosamente
sobre a mesa.
— Ele tem um coração
maravilhoso.
— Aham e é todo seu.
Eu ri, bufando. Nem me atrevi em
perguntar se ela sabia de tudo, porque
estava na cara que todo mundo já sabia.
— Essa parte, eu acho que ele
não concorda, não.
Foi a vez dela bufar, soprando a
mecha loira de seu cabelo. Minha prima
estava linda demais, em um vestido que
foi feito especialmente para ela, assim
como sua irmã, Rowan. Ambas tinham
um contrato com um estilista renomado e
só usavam vestidos assinados por ele. O
seu era rosa claro, enquanto o de Rowan
era azul piscina. Perfeitos

— Não liga para o que ele acha, não! Se


tem uma coisa que eu aprendi com
homens, é que não importa o QI, eles
sempre vão ser meios lerdos pra
entender o que realmente sentem. — Ela
aponta para uma parte do salão, onde
seu noivo, que é um famoso ator de
Hollywood, está conversando com
algumas pessoas conhecidas. —
Experiência próprio.
— Ah, Riley! — zombei. — O
Taylor praticamente deitou nos seus pés
e implorou pela sua atenção. É bem
diferente do meu caso com o Henry.
— Implorou depois de fazer
merda, prima. São homens, e eles
precisam de nós para abrir aqueles
lindos olhinhos.
Alguém chamou por ela, que
acenou, pedindo um minuto. Ela beijou
meu rosto com carinho e disse:
— A propósito, sua tela ficou tão
linda! Já falei, certo?
Eu ri.
— Já sim. O que tio Ryle disse?
Ela revirou os olhos.
— Que vai arrematar, só que pra
ele. Acredita?
Devolvo o beijo em seu rosto:
— Prometo criar algo só pra
você, tá?
— Eu vou cobrar, ein?
Sozinha, fiz minha doação da
noite enquanto falava com alguns dos
convidados que estavam ao redor da
mesa. Só que, mesmo tentando evitar,
minha atenção sempre voltava para
Henry e sua acompanhante
empolgandinha.
Eu estava tentando entender o que
Daisy Anderson, uma magnata do mundo
dos cosméticos, quando eu vi a cena que
doeu não só meu coração, mas minha
alma também.
Kayla deslizou as mãos finas
pelo peito sob o paletó de Henry, bem
devagar, sinuosa, o sorriso malvado. Era
nítido que ela o queria.
Jesus! Quem não o queria?!
Apertei meus dedos ao redor da
haste da taça, meu peito subia e descia
com violência; uma violência ruim,
angustiante.
Quando ela inclinou a cabeça
para sussurrar algo em seu ouvido, ele
fez menção para ouvir, mas ela o pegou
desprevenido e virou o rosto, raspando
os lábios nos deles.
Minha visão nublou ali, não
consegui ver mais nada. O ar escapou
dos meus pulmões e eu sabia que
desabaria ali mesmo. Tentando evitar
que isso acontecesse, corri em busca de
um banheiro vazio.
12. Henry
Com toda educação que me
restava, segurei Kayla pelos pulsos e a
afastei de mim. Cerrando os dentes,
pedi:
— Fique quieta, por favor!
As pessoas estavam olhando e
questionando seu comportamento. E eu
podia sentir o olhar de Luana sobre nós
também. Me deixou chateado saber que
ela pode estar vendo o show que minha
acompanhante está dando.
— Ah, qual é! — Ela reclamou,
fazendo biquinho. — Podemos ir para
um lugar mais reservado, se prefere
assim. Quer dizer, dizem por aí que você
não tem ninguém desde que Annika se
foi... Posso mudar o quadro rapidinho.
— Obrigado, mas não. A única
razão pelo qual trouxe você, é
considerava você uma amiga.
Eu ignorei a forma safada como
ela estava me olhando.
Levantou as mãos e as deslizou
em meu peito, de um jeito sensual.
— Uma amiga, é? — questionou,
sua voz melosa. Ficou na ponta dos pés
— Deixe-me te dizer uma coisa, então?
Respirando fundo, abaixei a
cabeça para facilitar. Tinha pessoas ao
meu redor, observando, inclusive minha
mãe, com olhos apertados e uma
expressão que me mataria fácil. Eu
estava um pouco distraído quando Kayla
virou a cabeça para me beijar, mas fui
capaz de impedir antes de tudo.
Só não consegui impedir que seus
lábios raspassem nos meus.
Isso gelou meu corpo inteiro. Foi
como um filme passando diante dos
meus olhos.
Minha mãe resfolegou, mas Ben
segurou seu pulso.
Os olhos grandes da minha irmã
se abriram bastante, olhando entre mim e
um ponto atrás de mim.
Eu não precisava me virar para
saber quem estava ali. Eu podia sentir.
E então, ela passou por nós,
apressada, pisando duro, em direção ao
local onde ficam os banheiros.
Eu permaneci paralisado, minhas
mãos mantinham Kayla afastada de mim,
enquanto meus olhos seguiam Luana até
seu brilhante vestido desaparecer do
meu ponto de vista. Movi eles para
minha mãe, que fez sinal para que eu
fosse atrás dela. Mas eu tinha medo de ir
e estragar tudo de novo. Está sendo
minha especialidade ultimamente,
parece.
— Henry...
— Com licença, Kayla. —
Deixei ele sozinha, provavelmente
confusa, quando abri caminho no meio
das pessoas.
Alguns tentaram puxar conversa,
acenando para mim, mas ignorei todos,
deixando-os frustrados. Estava com
pressa agora.
Depois de um tempo vivendo no
meio dessa gente, percebi que falar
comigo é tão importante quanto falar
com um Lazzari. As pessoas gostam de
saber que estão criando uma certa
intimidade conosco, como se isso fosse
ajudar eles em alguma coisa. Apesar de
não gostar de ter meu saco puxado,
sempre paro e converso tranquilamente.
Aguento os homens importantes falando
sobre seus negócios que, muitas vezes,
não aguentarão nem mais dois anos por
conta de sua mentalidade pequena;
aguento as mulheres desses homens se
insinuando para mim, piscando ou
bebericando sua bebida enquanto me
encara sensualmente. Chega a ser
irritante, mas eu aguento.
Só que não hoje, tampouco agora.
Havia algo mais importante do
que qualquer coisa para resolver agora.
Algo que era mais importante até mesmo
da minha empresa.
Na ala dos banheiros haviam
mais de um banheiro feminino. Segundo
Riley e Rowan é uma ideia maravilhosa,
já que as mulheres usam mais os
banheiros para retocar maquiagem ou
qualquer outra coisa que só elas são
capazes de fazer.
"Mulheres andam em bando,
priminho." disse Rowan. "Se um dia
você ver uma mulher indo ao banheiro
sozinha, ela está com algum problema."
E eu acreditei.
Conhecendo Luana do jeito que
conheço, ela escolheu o mais vazio,
considerando o estado atual dela.
Eu estava meio sem jeito em um
corredor com várias mulheres, mas Luna
me salvou quando tocou no meu braço:
— Ela está lá no último. — Ela
apontou pro final do corredor. — Tem
uma placa de ocupado na maçaneta, mas
você pode entrar.
— Obrigado. — Beijei sua testa.
Ela sorriu pra mim, da sua forma
doce e tímida.
— Henry, ela ama você. De
verdade. E, de acordo com minhas
experiências literárias — ergueu um
dedo em riste —, não importa o quanto
ela diga que não vai se importar, ela vai
continuar se importando. Tentar não
sentir magoa mais do que sentir. Por
favor, se entendam logo!
Eu amava que ela era toda
apaixonada por livros de romances.
Ficava preocupado com o fato de que
um dia ela descobrirá que nada é tão
simples como nas histórias que lê, mas,
tinha certeza de que, se um cara tentar
machucar ela, eu mesmo o matarei.
— Prometo que vou tentar ajeitar
as coisas.
— Certo. — Ela anuiu, sorrindo
largo. — Vou procurar minha mãe e tia
Stacy pra dizer que está tudo bem.
Quando ela se virou para ir, eu
virei para o final do corredor e caminhei
com o coração na mão, pedindo a Deus
para me ajudar com as palavras e
sentimentos. Ele precisava guiar essa
conversa porque eu sozinho não seria
coisa boa.
Bati na porta antes de abri-la.
Entrei devagar, buscando por ela com os
olhos, e a encontrei diante da grande
pia, de costas pra mim.
Nossos olhos se chocaram
através do espelho e eu paralisei de
novo, um calafrio circulando dentre de
um.
Porra, tão linda!
Ela sentiu a mesma coisa, eu vi
seu queixo tremer. Sua boquinha se
entreabriu, em surpresa. Em seus olhos,
as lágrimas só esperavam uma
oportunidade para descerem.
Eu me odiava por causar tudo
isso nela.
Fechei a porta atrás de mim e
tranquei para não sermos interrompidos.
Já havíamos tentado conversar no
sorvete e não funcionou. Isso tinha que
ser resolvido de uma vez por todas
porque eu não aguentaria mais vê-la
dessa forma.
— Lua, aquilo que você viu...
— Não precisa, Henry. — falou,
firme, se virando para me encarar de
frente. Estava orgulhoso por ela tentar
ser segura, direta. Os ombros retos e
elevados em modo defesa: — Não quero
que tente se explicar porque não é sua
culpa. Ela é sua acompanhante e você é
um cara livre; tem o direito de ficar com
quem você quiser.
— E por que eu sinto outra coisa
toda vez que olho pra você?
Ela arfou, fazendo de tudo para
impedir que as lágrimas caíssem.
Forçou uma risada, claramente sem
graça.
— Do que você está falando?
Pisei mais perto, e ela agarrou a
quina do balcão atrás dela.
— Estou falando que não importa
o que eu faça, te magoa. — expliquei,
baixinho, chegando mais perto, seu
perfume me deixou embriagado. A porra
do seu perfume de sempre. — Estou
falando que quanto mais eu tente não
pensar em você, eu penso. E não vou
mentir, me sinto culpado por isso. Para
todo lugar que eu olho, as pessoas me
dizem que vai ficar tudo bem, que é
normal, mas eu não sei como fazer isso
ser normal aqui — Eu toco minha
própria cabeça. — Dói me afastar de
você, mas dói mais ainda ver você
chorar. Dói saber que aqui — Foi a vez
de tocar no peito. As palavras que
saíram da minha boca foram de forma
automática, eu fiquei atordoado, mas não
podia pará-las: — eu já estou nas suas
mãos, que talvez nem tenha outro jeito.
Mal posso olhar pra você sem senti-la
sob a minha carne. E talvez seja só
porque eu sempre amei você, mas é
intenso demais para um amor de irmãos
ou primos. A merda do meu corpo
traiçoeiro entra em combustão sempre
que você chega perto ou apenas aparece
na minha memória.
Uma lágrima rolou para baixo no
meu rosto e no dela também, que estava
com os olhos arregalados, sem acreditar
no que estava ouvindo.
Nem eu estava acreditando no
que estava falando.
— É insano, Lua. Por isso eu me
afastei. Por isso eu me sinto culpado de
olhar você dessa forma. E se as pessoas
pensarem que eu já olhava assim quando
você era uma criança?
Ela sacudiu a cabeça
rapidamente:
— Nossa família te conhece.
Eles sabem que você não é assim.
— Será? — O interior da minha
garganta doeu. — Porque eu estou
duvidando de mim mesmo agora. Não
estou me reconhecendo.
— Não, para com isso. — Ela se
apressou a dizer, levantando as mãos e
segurando meu rosto entre elas, tão
suaves, que fechei os olhos com o toque.
— Você não tem culpa, Henry. Ninguém
tem, na verdade. — assegurou. — Não é
como se tivéssemos pedido para sentir
isso. Eu sei que dói porque isso me
mata, mas não é nossa culpa.
Os meus ombros caíram, me
sentindo como um idiota, filho da puta.
Apoiei as mãos no balcão, em cada lado
do corpo pequeno de Lua. Estávamos
muito próximos agora, seu rosto quase
encostando seu.
Ela ficou em alerta, respirando
com dificuldade, mas não tirou os olhos
dos meus.
— Você voltou para me
enlouquecer. — murmurei. — Para me
fazer duvidar de tudo que eu sinto. Não
é justo.
Inclinou a cabeça de leve,
respondendo:
— Não seria justo também eu
continuar amando você em silêncio. Eu
morria por dentro cada vez que uma via
uma foto sua com Annika. Era tortura
demais.
— Lua, essa porra está ficando
séria demais.
— Eu sei. — Ela assentiu, seus
olhos bonitos escorregando para meus
lábios. Arfou baixinho: — E eu acho
que estou gostando disso.
Eu ri um pouco, bem nervoso:
— Para com isso.
Seus dedos começaram a fazer
um arco em minhas bochechas, bem
devagar, carinhosamente...
Eu fiquei duro por antecedência
porque sabia o que ela estava prestes a
fazer. Minha consciência gritava para
me afastar, impedir, mas meu corpo não
obedeceu. Meu coração acelerado
basicamente mostrou o dedo do meio
para meu cérebro e permaneceu no
mesmo lugar, desafiando tudo que eu
acreditava.
— Quer mesmo que eu pare? —
sussurrou, quase inaudível.
Sem conseguir evitar, minha
cabeça sacudiu negativamente, de um
jeito bem lento. Eu estava hipnotizado
pela sua boca.
Então ela aproveitou e seus
lábios pegaram os meus. No contato,
ambos trememos literalmente.
As mãos que estavam no balcão
foram para a cintura fina e curvilínea.
Forcei minhas funções motoras a
começarem a se mover. Me ajeitei,
começando a beijar sua boca de
verdade, pegando sua nuca para
melhorar a posição.
Ela gemeu não porra da minha
boca, se derretendo, empurrando seu
corpo para o meu.
Eu estava com tato desejo nela,
que tive medo de machucá-la, então fui
lento, experimentando e a deixando fazer
o mesmo. Meus lábios exploraram os
delas, o de cima, depois o de baixo.
Quando ela arfou, minha língua
adentrou sua boca deliciosa, o gosto de
champanhe combinando bem com seu
beijo.
Por um segundo, quis me afastar,
mas foda-se, já começou agora vou
aproveitar!
Apertei de leve sua nuca,
aprofundando o beijo, levando-a para
mim. Era o melhor beijo da minha vida;
todo meu corpo em alerta, meu pau
doendo nas calças, pressionando nela,
implorando para um pouco de atenção. E
eu percebi o mesmo de seus peitos,
tirando minhas dúvidas de que ela
estava com ou sem sutiã.
Imaginar que por baixo daquele
vestido ela estava só de calcinha me
deixou revoltado de tesão. Estava tão
duro, que doía! Uma punheta não
resolveria o problema, nem se que
quisesse. Nunca estive assim antes, tão
desejoso, tão completamente fora de
mim.
Voltei minhas mãos para sua
cintura e a levantei, fazendo-a se sentar
sobre a pia do banheiro. Com
dificuldades por conta do vestido, ela
conseguiu me laçar com as pernas,
voltando a me beijar rapidamente, com
desespero. Suas mãos estavam em todo
lugar, em meu rosto, ombros, peitos,
abdômen.
"Poderia descer mais" meu pau
implorou.
Eu rosnei em sua boca, descendo
pela sua mandíbula maravilhosa,
mordendo de leve seu pescoço.
— Henry...
Sua voz era um convite sacana,
miando pra mim, querendo ir mais além.
Abaixei a cabeça e lambi o vão
entre seus seios, ainda cobertos pelo
vestido.
Ela gemeu.
Se eu tocasse entre suas pernas
agora, tudo mudaria de rumo. Faria sexo
com ela aqui mesmo, sobre essa pia,
forte e duro, da forma como nós dois
queremos. E eu não iria me perdoar. Eu
precisava parar, mas eu não queria;
queria experimentar cada centímetro do
seu corpo, saber como é estar dentro
dela, tomá-la só pra mim e que se dane o
inglês animadinho lá fora!
Estava abaixando a alça do
vestido quando alguém bateu na porta:
— Tem gente aí? Os outros
banheiros estão todos lotados e eu
realmente preciso usar esse aqui!
13. Luana
— Meu Deus, você parece que
acabou de acordar! — Riley riu, quando
ela, Rowan e minha irmã entraram no
banheiro comigo. — Olha seu cabelo, o
batom todo borrado!
Eu nem conseguia evitar meus
lábios de se desmancharem em um
sorriso realizado.
— Quem liga!? — Rowan estava
bastante animada. — Eles se beijaram!
Cadê minha blusa com a frase "Eu
shippo Luanry" nessas horas?
Todo mundo riu.
Eu olhei pra ela enquanto sua
irmã mexia em meus cabelos para
arruma-los:
— Você tem uma blusa assim?
— Talvez... — Ela buscou por
seus lencinhos de retirar maquiagens
dentro de seu estojo. — Ah, Lua, vocês
sempre foram fofos juntos. Quando eu vi
que você tinha voltado, eu já sabia que
isso ia acontecer.
— Todo mundo sabia. — Minha
irmã comentou, mexendo em seu celular.
— É verdade. — Riley
concordou. — Até o tio Lucca já falou
sobre isso. Ele foi o primeiro a falar,
pra ser sincera.
— O tio Lucca? — Eu me
assustei.
Elas riram, mas foi a própria
Riley que respondeu:
— Claro. O homem capta tudo
antes de qualquer pessoa. Queria eu que
todos os homens fossem assim.
Concordei com a cabeça, mas
esperei para falar alguma coisa porque
Rowan estava ajeitando minha
maquiagem, passando seu batom nos
meus lábios. Só quando ela terminou, eu
falei:
— Sim, mas não podemos nos
animar muito. Nos beijamos, mas dava
pra ver que Henry estava quase saindo
correndo. Ele está com medo e eu não o
culpo.
— Ninguém vai poder culpa-lo
ou culpar você por sentir o que sente. —
Riley me falou. — Se vocês se gostam e
querem ficar juntos ou, sei lá, só
foderem bem muito e gostoso, fiquem,
fodam e sejam felizes! Não são do
mesmo sangue e, mesmo se fosse, já vi
vários casais que são primos e se
pegam, até casam!
Gemi, imaginando como seria
fazer sexo com Henry. Só nosso beijo
foi capaz de me deixar tremendo,
ofegando, necessitada. Meus mamilos
endureceram ao ponto de ficarem
doloridos, minha calcinha estava a até
esse momento completamente arrasada.
Imagina se chegássemos a fazer sexo!
Estaria morrendo agora por ter sido
interrompida.
— Riley tem razão. — Luna
comentou novamente. Ela tirou os olhos
do celular por um minuto só pra
completar: — Fodam e sejam felizes! A
história de vocês parece até coisa de
livro. Eu estou amando fazer parte do
plot, sabe? Continuem, por favor!
Nós sorrimos, e eu avisei:
— Deixa o papai ouvir você
falando isso...
Ela encolheu os ombros:
— Ele pode ficar sossegado.
Daqui que eu encontre um cara que
corresponde as minhas expectativas, que
no caso é um estilo Gideon Cross, no
mínimo, eu já estarei o quê? Idosa ou
muito provavelmente morta.
— Continue pensando assim,
coisa linda — Rowan pediu pra ela. —
E quando encontrar seu príncipe, veja se
ele não tem um amigo ou amiga pra me
apresentar, tá?
— Pode deixar. — Luna sorriu,
tímida. Ela ainda ficava toda sem jeito
falando com a família.
— Pronto! — Minha prima
anunciou, se afastando um pouco para
checar seu trabalho. — Está
maravilhosa, como sempre de novo, sem
nenhum rastro de que quase fodeu com o
homem mais gato da festa dentro do
banheiro.
Corei, mas dei uma risadinha.
Puta merda! Eu realmente tinha beijado
o Henry! Queria gritar de felicidade,
mas só me olhei no espelho pra ver que
estava tudo bem.
— Obrigada, Rowan.
— Não tem de quê! Você já é
linda, então o mérito é todo seu. Agora,
vamos voltar para o salão porque o
leilão já vai começar!
A parte mais difícil da noite foi
voltar para o evento e ver Henry de
longe, não poder ficar perto dele.
Para meu alívio, a mulher que
estava o acompanhando não ficou do seu
lado; ela sentou perto de algumas amigas
do seu ramo de trabalho.
Estávamos na mesma mesa — a
mesa enorme com a família toda —, só
que em extremos diferentes, porém
praticamente de frente um para o outro,
o que facilitava bastante nossas visões.
Ao meu lado esquerdo estava Thomas e
no direito, minha mãe. O tempo inteiro,
seus olhos não saiam de mim,
observando cada movimento meu e do
meu acompanhante, como se a qualquer
momento Thomas fosse me sequestrar.
Ainda trêmula, beberiquei um
pouco do meu champanhe, ouvindo
Riley e Rowan anunciar o início do
leilão.
Elas se despediram e voltaram
para a mesa da família, deixando o
leilão nas mãos de um apresentador
famoso.
Os primeiros itens foram
leiloados com sucesso. Os empresários
presentes estavam animados com isso. E
algumas esposas também.
O penúltimo item era a sandália
Fontaine, criada exclusivamente para
esse leilão. Há meses a equipe de
marketing do tio Ryle vinha trabalhando
com o marketing do evento para
divulgação desse pedacinho do paraíso.
Apenas uma parte da sandália foi
mostrada, o que, estrategicamente,
trouxe a curiosidade de milhares de
pessoas, principalmente mulheres. Ela
foi revestida com diamantes raros e é
tão incrível, que eu, assim como todo
mundo, fiquei de queixo caído.
A sandália foi muito disputada e
acabou nas mãos de uma modelo, que
faz parte de uma família famosa no
mundo, com um sobrenome muito
poderoso no meio das celebridades, por
quase dois milhões de dólares.
Todos aplaudiram e tio Ryle
parecia orgulhoso com o sucesso que
sua criação fez.
— E agora vamos para o
próximo e último item que será leiloado!
— Charlie, o apresentador, chamou de
volta a atenção do público. — Assim
como nosso último item, esse foi criado
especialmente para esse evento e,
particularmente, eu já coloquei meus
olhos nessa belezinha e fiquei chocado
com o que vi!
Ele fez suspense enquanto a tela
era levada para o palco.
Eu estava sorrindo de orelha a
orelha, nervosa para saber o que as
pessoas iriam achar. Minha família me
olhava com orgulhoso brilhando em seus
olhos, tão animados quanto eu. Até
minha mãe apertou minha mão, excitada.
Quando o pano foi tirado da
frente, eu pude ouvir a exclamação em
uníssono, logo depois os murmúrios
encantados das pessoas.
— Eu não falei? — Charlie
brincou. — É uma imagem de chocar
qualquer um, senhoras e senhores!
As pessoas aplaudiram, e eu
corei um pouco olhando ao redor.
Se tratava de uma imagem
simples, mas com o significado
importante. Na tela, uma mulher estava
sentada no chão, com as pernas
encostadas no meio e a cabeça baixa.
Em sua mão, um coração partido ao
meio. Ele era a única parte que estava
colorida, todo o resto era preto e
branco.
— Essa é mais uma pintura
brilhante e tocante da artista plástica
L.L.M e o valor inicial é de quinhentos
mil dólares! Quem vai levar essa obra
prima para casa hoje?...
E as tentativas começaram. Era
uma atrás da outra, Charlie mal
conseguia falar tudo.
Tio Ryle deu um milhão e meio.
Meu avô deu dois milhões.
Tio Lucca dois e meio.
Tio Enzo, três.
Um empresário chamado
Jonathan Martin deu três e meio.
E assim foi. De rodada em
rodada, o valor chegou a dez milhões de
dólares.
Eu estava perdida, querendo
chorar de alegria e choque. Existiam
quadros meus que tinham sido vendidos
por um preço alto, mas nada que
passasse dos dois milhões.
Dez milhões era muita coisa para
uma coisa que foi criada em uma
madrugada com ajuda de uma garrafa de
vinho e um coração dolorido.
Charlie estava prestes a bater o
martelo em dez milhões e duzentos para
tio Ryle quando Henry levantou sua mão
e gritou:
— Eu dou doze!
Mais exclamações. Minha cabeça
serpenteou para ele, os olhos
arregalados. Ninguém estava
acreditando, tampouco eu.
— Você disse doze milhões? —
Charlie perguntou.
E ele repetiu com firmeza:
— Doze milhões.
Impressionado, Charlie olhou
para todo o público:
— Pois é, pessoal! Alguém dá
mais? Três, dois... um! Vendido para
nosso querido Henry Montgomery-
Lazzari por doze milhões de dólares.
Os aplausos me ensurdeceram.
Eu estava encantada com a atitude dele.
Realmente impressionada, encarava-o,
batendo palmas, sem conseguir parar de
sorrir.
Nossa família o parabenizava.
Tio Ryle se inclinou sobre a mesa para
apertar a sua mão, como um bom
perdedor.
No final do evento, comecei a me
despedir de todos. Deixei Henry por
último porque ainda estava abalada e
excitada pelo nosso beijo; minha boca
ainda formigava, meu clitóris vibrava.
Ele abaixou e me abraçou, mais
demorado que o normal.
Vi que Thomas nos encarava de
onde ele estava, perto da nossa limusine,
mas ignorei e me concentrei no homem
que tinha os braços ao meu redor.
— Você vai voltar pra casa com
aquele cara? — perguntou, parecendo
chateado.
Anuí.
— E você vai levar Kayla pra
casa, não vai?
— Eu vou. — ele concordou,
dando uma olhada em Thomas, coçando
a cabeça. — De lá vou passar na casa
dos meus pais. Conversar um pouco com
o Ben sobre tudo isso. Podemos nos ver
amanhã e falar sobre o que aconteceu?
Meu coração pulou mais forte:
— Você vai me dizer que
devemos esquecer o que aconteceu?
Ele segurou o sorriso. Caramba,
ele estava lindo demais!
— Nem se eu quisesse, eu
esqueceria, Lua. — seus olhos pegaram
os meus e lá estava claro tudo que ele
sente. Era um olhar quente, que aqueceu
todo o meu corpo. — Foi o melhor beijo
da minha vida e não vai mudar. Nunca.
Eu só preciso de um tempo sozinho para
fazer meu cérebro entender isso.
— Ok. — anuí de novo, querendo
aumentar meu sorriso e pular nos seus
ombros, beijar ele.
Mas me mantive firme. Acenei
para o carro e falei:
— Então eu estarei esperando
você me ligar, está bem?
— Certo. Prometo que vamos
resolver essa coisa. — Mais uma vez,
olhou na direção de Thomas. — Eu não
gosto desse cara.
Dessa vez, sorri:
— Ciúmes?
Ele ficou sério, a mandíbula
contraída:
— Preocupação, Lua. Não
conheço ele e, depois de pesquisar
sobre ele, percebi que ele é muito
bonzinho pra não conseguir ter uma
namorada a longo prazo.
— Você pesquisou sobre ele?
— Essa é minha segunda
especialidade, sabe disso.
Suspirei. Assim como era com
todos os homens da minha família, era
impossível discutir com Henry sobre
precações.
— Não se preocupe. Vou
conversar com ele hoje. Mesmo não
tendo mais nada, sei que é errado mantê-
lo por perto. Ele pode ter esperanças.
— Faça isso. — ele pediu. — E
ligue pra mim quando tiver segura e
dentro de casa.
Fiquei na ponta dos pés e beijei
seu rosto suavemente, levando só a
ponta da minha língua, tocando sua pele.
Ele gemeu, e eu sorri,
sussurrando só para que ele escutasse:
— E só para constar, foi o
melhor beijo da minha vida, também.
Você sabe, o mais aguardado.
Henry apertou minha cintura em
resposta, e eu imaginei ele fazendo isso
com meu corpo nu, estando dentro de
mim.
— Vai ser uma longa noite de
tortura, porra... — rosnou e se afastou.
14. Luana
O caminho para casa foi
estranho.
Eu estava excitada com o fato de
ter beijado Henry e de ele ter gostado.
Mas eu também estava cautelosa,
tentando ver como eu iria contar para
Thomas que não podemos ser nada além
que amigos.
Vocês devem pensar que eu sou
uma idiota, que estava usando-o de
alguma forma para me sentir bem e,
agora que finalmente as coisas devem
andar com o homem que realmente
gosto, vou chutá-lo pela bunda sem dó
nem piedade.
Claro que não.
Primeiro que eu nem o chamei
aqui, para inicio de conversa. Thomas
simplesmente surgiu na minha porta, sem
nenhuma explicação e depois veio dizer
que foi minha assistente que lhe deu o
endereço. Mesmo não certa disto,
permiti que continuasse me vendo. Seria
rude dizer que não queria vê-lo.
Só que é óbvio que ele tem
esperança em algo a mais pela forma
como ele olha para mim. E mesmo que
Henry não quisesse nada comigo, eu
sabia que nós não daríamos certo.
A limusine estacionou na frente
da minha casa, e eu desci, arrumando
meu vestido quando fiquei de pé.
Ele veio logo atrás para se
despedir. Sorriu e colocou a mão no meu
rosto, gentilmente:
— Obrigada por me deixar ir ao
evento. Nunca estive em um lugar
daqueles, com tantas pessoas
importantes.
— Sem problemas. — garanti. —
Você se saiu muito bem lá.
— E você — ele vem mais para
perto, ocupando um espaço que não
deveria. —, estava linda!
— Obrigada.
— E seu quadro foi muito
tocante. Eu adorei. — A sua voz se
tornou mais baixa e ele se aproximou
mais.
Eu me senti claustrofóbica. Dei
um passo para trás.
— Fico feliz que tenha gostado,
mas, Thomas...
Ele me interrompeu, muito perto:
— Sabe, Lua — começou. —,
quando você acabou nosso
relacionamento lá em Londres, eu fiquei
arrasado. Pensei em vários motivos que
me fizessem entender.
Franzi o cenho, levantando a mão
para nos afastar um pouco. Eu precisava
respirar.
— Não tínhamos um
relacionamento, Thomas. Saímos por
três vezes, e não me leve a mal, você é
muito legal e tudo o mais, mas não
chegamos a ter um relacionamento.
— É claro que tivemos. — ele
insistiu. — Lembra, fizemos sexo e você
gostou.
Chocada, pisei mais pra trás,
sacudindo a cabeça:
— É, mas isso não significa
nada.
Foi então que liguei as coisas.
Nosso primeiro encontro foi em um
restaurante e ele tinha uma reunião no
dia seguinte bem cedo, então me levou
para casa e depois foi embora. Mas no
segundo, nós fomos para sua casa e
transamos. Ambos éramos solteiros,
nada nos atrapalhava. E foi bom. Ele
soube conduzir tudo, apesar de parecer
um pouco como um ator pornô em um
filme pornográfico. E no nosso terceiro
encontro, ele já queria que eu
conhecesse seus pais.
Tudo faz sentido agora.
Nós transamos e, para ele, já
estávamos namorando.
— Significa sim, querida. Nós
temos um entrosamento bom, tudo que
um casamento precisa para dar certo.
— Casamento!?
Eu me assustei, saindo de perto.
— Thomas, você está brincando,
né?
Ele sorriu como um predador:
— Eu nunca brincaria com seus
sentimentos, querida. — Ele garantiu,
quase uma forma doentia. — Só não
falei nada antes porque queria que você
desse o primeiro passo, e fiquei feliz
por ter dado.
Sem acreditar, sacudi a cabeça,
tentando manter a calma que já nem
existia mais no meu corpo:
— Como é que é? Que primeiro
passo?
— Me levou para conhecer sua
família.
Oh, puta merda!
— Você é maluco?
— Por que eu seria?
Olhei em seu rosto, estudando-o
por um momento. Foi desesperador
perceber que ele parecia mesmo estar
confuso com minha pergunta. Ele estava
sendo sincero, realmente pensava que
estava rolando alguma coisa entre nós
dois.
Eu me afastei mais ainda,
buscando uma distância mais segura —
o que seria dentro da minha casa, mas eu
não sabia como fazer isso sem parecer
estar fugindo. A minha consciência me
avisou que eu não deveria me importar
com isso, mas eu só não conseguia fazer
isso.
— Thomas, me escuta, ok? Não
te levei pra conhecer minha família. Foi
só um evento e você foi meu
acompanhante. As pessoas fazem isso o
tempo inteiro sem precisar de um
relacionamento pra isso. Sinto muito se
pareceu que era um, mas não era minha
intenção.
— Do que você está falando? —
Ele riu, como se a conversa fosse sobre
um assunto que eu tinha simplesmente
esquecido. — Espere só um segundo,
Lua. Vou pegar minhas coisas no carro e
pedir para o motorista ir embora. Não é
justo deixar o coitado aqui, me
esperando. Assim podemos entrar e
conversar melhor.
— Não! — Eu me apressei para
andar até meu portão. — Não precisa,
você vai para o seu hotel, tá bom?
Ele já estava se virando para
fazer o que disse.
— Por quê? Eu posso dormir
aqui, Lua. Espera só um minuto.
— Thomas, tchau! Eu vou entrar
em casa. Vá para seu hotel!
Ele nem me deu ouvido, entrou na
parte de trás da limusine para pegar suas
coisas que ficaram lá.
Aproveitando a deixa, meu corpo
inteiro tremendo de terror, eu me virei
para a entrada de casa. Não tinha cabeça
para procurar pela minha chave, então
torci para que funcionasse quando pedi:
— Dixie, abre o portão, por
favor!
Funcionou. Para meu alívio, a
voz de Dixie soou com um "Claro, Lua."
e o portão destrancou.
Olhando por cima do ombro, vi,
com horror, Thomas saindo do carro,
com um sorrisinho sinistro no rosto,
então corri para dentro e bati o portão.
— Dixie, tranca! Aciona toda a
segurança.
— A segurança da casa está
ativada. Deseja mais alguma coisa?
A companhia começa a tocar.
— Lua? — Thomas grita lá de
fora. — Lua, eu fiquei aqui fora! Abra o
portão, por favor!
Meu coração batia em um
descompasso gigante. Ele começou a
socar o portão:
— Você não vai desistir da nossa
relação de novo não, certo?
— Não temos uma relação,
Thomas! — respondi, horrorizada. —
Nunca tivemos uma!
— Claro que temos! Deixe de ser
boba!
Mais batidas fortes contra o
portão.
— Lua — a voz de Dixie me faz
sobressaltar. —, no meu sistema de
segurança há choques que podem ser
usados em momentos de invasões. Você
quer que o intruso leve um choque?
— Não! — respondi
prontamente, estremecendo. — Não
quero que ele morra, só que vá embora.
— Ele não vai morrer.
— Qual é, Lua! Abre aqui vai,
para de brincadeira! — Mais batidas
violentas.
Eu não sabia o que fazer, o medo
e a confusão estavam me deixando
paralisadas, sem ação.
— Vai embora, Thomas! Não
somos namorados, não temos uma
relação!
Suas batidas aumentaram,
estrondando tudo dentro.
Cogitei deixar que Dixie desse o
choque que ela propôs; talvez faça ele ir
embora, mas não queria arriscar.
Lua falou novamente:
— Seu sistema de segurança tem
a opção de ligar para o Henry, em
estado de perigo. Você quer que eu ligue
para ele?
Ah, Jesus!
— Sim, sim! Por favor, Dixie! —
gritei para ser escutada através das
batidas.
Lá fora, escutei alguém pedindo
para parar de bater, mas obviamente,
Thomas ignorou tudo que a pessoa disse
e continuou batendo com força, sem
parar.
Busquei pelo meu celular na
bolsa e entrei no aplicativo que Henry
instalou, abrindo as câmeras para ver lá
fora. A limusine tinha ido embora, havia
algumas pessoas olhando para cá, mas
ele não parava.
A voz de Henry me trouxe um
alívio repentino quando soou para mim:
— Lua, o que houve? — sua voz
era preocupada. — Dixie acionou o
sinal de perigo.
— Henry — minha voz era
trêmula assim como o resto de mim.
Sabia que as batidas podiam ser ouvidas
na ligação, então corri escada acima e
tranquei a porta também antes de voltar
a falar: —, é o Thomas, ele...
— O que diabos está
acontecendo? Ele está batendo no
portão?
— Ele quer entrar! Ele acha que
somos namorados ou alguma coisa e está
agindo como um louco!
— Dixie acionou o sistema de
segurança?
Anuí, mesmo sabendo que ele
não poderia ver.
— Sim, ela já fez isso, mas eu
estou com medo! Ele não vai embora,
Henry... ele... — me interrompi quando a
batida soou mais forte. Olhei a tela do
celular e vi que ele estava batendo com
um pedaço de pau agora.
— Luana — Henry me chamou,
sua voz dura, séria: — Não saia daí, não
abra a porta. Ele não vai conseguir
entrar. Eu estou na casa dos meus pais,
são cinco minutos até aí, eu já estou
chegando.
Engoli a saliva com dificuldades.
— Tá bom.
Ele desligou, só que eu estava
agitada demais. Não sabia o que fazer,
então me livrei no meu vestido longo
porque, caso ele consiga de alguma
forma entrar, uma roupa mais
confortável seria melhor para tentar me
defender ou até mesmo correr.
No quarto, troquei o vestido por
uma calça de moletom e uma blusinha
com mangas finas. Estava frio, mas eu
não estava me importando ainda.
Sem saber o que fazer, comecei a
andar de um lado para o outro, sem tirar
os olhos do celular, dos movimentos de
Thomas lá fora.
Meu coração estava acelerado e
meu cérebro me perguntava o motivo de
eu nunca ver o quanto esse homem tinha
problemas. Agora me questiono se a
história de Tulip era verdadeira?
Será que ela deu mesmo meu
endereço pra ele?
Duvidava muito depois disso.
Após tentar derrubar o portão
várias vezes com um porrote de pau,
Thomas acabou desistindo. Ele olhou
para as pessoas que estavam assistindo
ao seu pequeno show, colocou as mãos
na cintura, balançou a cabeça e
simplesmente saiu andando, como se
nada tivesse acontecido.
Eu o vi estender a mão e um táxi
parar. Então ele entrou e se foi.
Silêncio.
Era tudo silêncio e alívio agora.
— Ele realmente foi embora,
Dixie?
— Sim. O intruso se foi e o
Henry está há um minuto de distância.
— Ok, obrigada.
Havia algo ruim no meu
estômago, ainda estava bastante nervosa.
Eu podia até esperar uma reação ruim de
Thomas, mas não essa reação.
Que tipo de doente ele é?
Ele realmente acreditava que
tínhamos algo?
Meu Deus...
— Henry está no portão. Posso
abrir para ele?
— Isso, pode! — Eu nem esperei
que ele subisse, corri pelas escadas e o
portão se abriu quando já estava
chegando perto.
Meu corpo inteiro sacudiu de
alívio com a visão perfeita do homem na
minha frente.
O seu rosto estava retorcido de
preocupação quando eu pulei nele,
enrolando meus braços envolta de seu
pescoço, abraçando-o forte.
— Onde ele está? — perguntou,
apertando-me nele em uma forma
protetora.
— Não sei! Não faço ideia. Ele
só pegou um táxi e se foi!
Dei permissão a mim mesma para
desabar, sabendo que estava protegida
agora. Comecei a chorar, ainda agarrada
nele, não conseguia soltar. Eu
não queria.
Sempre soube que Henry era meu
porto seguro e isso só confirma. Eu me
sinto bem quando ele está por perto,
como se nada de ruim pudesse me afetar.
— O que porra ele queria? —
Ele se afastou só o suficiente para me
analisar, me olhando por completo, se
certificando que eu estava inteira.
— Ele... ele achou que estávamos
namorando só porque o levei como
acompanhante no evento. Disse que eu
tinha o apresentado pra minha família e
tudo o mais... Henry — apertei minha
mão em seu antebraço, tentando me
acalmar. —, ele é maluco!
— Ele tentou alguma coisa com
você? — inquiriu entredentes. —
Ele tocou em você de forma errada?
Sacudi a cabeça em negativo:
— Não, não. Só queria entrar e
quando eu me tranquei, tentou derrubar o
portão com um pedaço de pau. Ao ver
que eu não iria abrir, ele só foi embora.
— Filho da puta! — rosnou de
uma forma tão dura, que eu estremeci.
— Por isso o portão está amassado.
Vamos, pegue um casaco e uma roupa.
Você vai dormir na minha casa hoje.
Surpresa, perguntei:
— Eu vou?
Ele me olhou, parecendo com
raiva:
— Ah, você vai! Eu não quero
você aqui sozinha. — disse, já sacando
o celular.
E só agora eu parei para olhá-lo
de verdade. Ele estava tão lindo, só com
a camisa branca que foi usada por
dentro do smoking. Ela estava com os
botões de cima abertos, a gravata
borboleta pendurada em seu pescoço, os
cabelos bagunçados mostrando que ele
deve ter passado as mãos várias vezes.
Uma verdadeira delícia.
— Espero você aqui. — ele
apontou e levou o celular ao ouvido.
Eu corri para dentro e fiz o que
ele pediu.
15. Henry
Juro que eu me senti como um
leão furioso ao receber a ligação de
Luana.
Estava conversando com o Ben
sobre tudo que estava acontecendo e
nem consegui explicar direito porque
quando ouvi o medo em sua voz,
enlouqueci e já fui saindo da casa.
Para meu alívio, eram só cinco
minutos de carro e Arthur, meu
motorista, estava à minha espera, já que
eu tinha bebido hoje no evento.
Pedi para que ele corresse o
máximo possível, todo o caminho eu
tinha Dixie me informando sobre tudo
que estava acontecendo lá.
Eu nunca senti tanto medo na
minha vida inteira. Nem quando eu era
uma criança e precisava tratar sobre as
dívidas dos meus pais adotivos com
seus agiotas.
Se eu fechasse os olhos, imagina
o filho da puta tocando nela, tentando
fazer alguma coisa pra machucá-la.
Ah, merda, eu o mataria se
tentasse! Não me importaria se isso
resultasse na minha vida dentro de uma
prisão. Eu o mataria bem devagar, para
ele sentir toda a dor que eu estava
sentindo naquele momento por
antecipação.
Foi como se tivessem tirado o
mundo das minhas costas quando
cheguei lá e ela estava bem, inteira,
apenas assustada.
A trouxe para minha casa, porque
não confiaria nela sozinha lá. Aqui, pelo
menos, eu tinha meus olhos sobre ela. Só
que, no momento em que ela saiu do
banho, vestida com uma pequena
camisola de seda preta, eu me
questionei: está arrependido, não está?
Parei um segundo no tempo,
olhando para a forma como ela se
movimentava, toda sensual de uma
forma natural. Não estava forçando
nada, era só sua forma de ser.
— A minha mãe ligou. — ela me
disse, andando descalça na minha
direção. — Ela estava preocupada com
o que aconteceu.
— No caminho da sua casa,
tentei ligar pra ela e pro Kent, mas eles
não atenderam. Deixei Dixie
responsável por avisa-los quando
vissem as ligações.
— Ah, obrigada. — Ela veio,
uma porra de tão linda, e se sentou em
uma banqueta da ilha da minha cozinha.
Olhei em seus olhos, ainda
amedrontados e nervosos. Não julgo,
porque também estava nervoso por tê-la
aqui, na minha casa, em uma camisola
minúscula.
Peguei a sacola que estava de
lado e abri a embalagem que havia
pedido para ela comer.
— Sushi?
— Com certeza! — Pisquei, o
sorriso ladino. — E é todo seu.
Seus cílios pareciam pesados
quando me encarou, a boquinha
entreaberta:
— Só eles?
Puta que pariu.
Eu não tinha condições de manter
a calma mais perto dessa mulher. Eu só
queria que ela esquecesse tudo que
aconteceu, que eu resolveria tudo com o
filho da puta assim que amanhecesse,
mas é muito difícil com ela me dizendo
essas coisas.
— Lua...
Ela se levantou, dando a volta na
ilha, chegando bem ao meu lado, tão
próxima que eu podia ver seus peitos
com tranquilidade no decote da
camisola.
Sim, porra. Eu tinha um pau e ele
estava duro, todo pra ela, por ela. A
cabeça dele não tinha um QI elevado pra
raciocinar, ele só necessitava dela.
Assim como eu.
— Por favor, vamos acabar com
isso, tá bom? — Ela praticamente
implorou baixinho. Sem esperar uma
resposta, segurou em minha mão e me
puxou, levando-me pelas escadas, em
passos calmos, calculados.
Meu coração estava prestes a
sair pela boca e meu cérebro
simplesmente se desligou. Ele desistiu
da luta contra meu coração. Eu o
entendia, era difícil não desistir. Já
estava todo rendido.
Luana me levou direto para o
lugar que eu já esperava: meu quarto. As
luzes estavam apagadas, mas a claridade
lá de fora adentrava pelas grandes
janelas abertas.
Quando chegou na beira da cama,
ela ergueu o queixo para me olhar nos
olhos — tão linda com as sombras a
tomando:
— Faça amor comigo. —
sussurrou — Eu preciso disso e eu sei
que você também precisa.
Eu não tinha mais o que dizer,
nem uma desculpa para dar. Queria isso.
Seu corpo, sua boca, seus gemidos...
queria tudo só pra mim.
Perdi todo o resto do controle
que ainda tinha sobre meu corpo e
aproveitei o momento. Agarrei seu rosto
entre as mãos e mergulhei na sua boca
carnuda.
Nós dois gememos no beijo,
insanos de tesão. Eu tinha adorado
beijar ela no evento hoje, mas beija-la
aqui, no meu quarto, a sós e com apenas
uma peça pequena de tecido cobrindo
seu corpo perfeito, era magnífico.
Pressionei contra ela, deixando-a
louca, se agarrando mais em mim. Suas
mãos desceram pelo meu peito,
arranhando-o, descontando minha
provocação. Eu não queria esperar mais
um segundo.
Foda-se se ela era como uma
irmã pra mim!
Foda-se minha consciência!
— Foda-se — rosnei em sua
boca —, quero você agora! Mais tarde,
faremos isso de forma lenta, só pra você
aproveitar.
Ela sorriu contra meus lábios:
— Eu concordo com você.
Retirei sua camisola com pressa
e a empurrei sobre a cama, subindo logo
em cima dela. Peguei sua boca
novamente. Beijar ela, com certeza,
virará um hobby. É bom demais.
— Precisamos de camisinhas. —
eu disse, sugando a pele de seu pescoço.
Ela levantou o tronco, empinando
os peitos nus, tão lindos, tamanho
perfeito, tornando-os proeminentes para
mim, para minha boca:
— Você tem aqui?
Parei para pensar e xinguei todos
os palavrões. Levantei a cabeça,
olhando pra ela, frustrado:
— Não estive com ninguém
desde que Annika se foi, então não achei
a necessidade de comprar.
Ela meio que se levantou, se
apoiando nos braços:
— Você é o homem mais gato que
já coloquei meus olhos e tenho certeza
de que noventa e nove por cento das
mulheres dessa cidade acha a mesma
coisa, e está me dizendo que, durante
todos esses meses, não cogitou sair com
uma mulher?
— Eu saí com mulheres, só não
estava afim de transar com elas.
Seu sorriso escorregou em seus
lábios com facilidade. Sabe aqueles
sorrisinhos satisfeitos?
Ela balançou a cabeça, pegando
meu rosto com uma mão, puxando-me
para alcançar minha boca:
— Não tem problema. Se não se
importar, eu tomo injeção todo mês.
— Quer fazer sexo sem
camisinha?
Perguntei, mas para mim, seria
uma honra. Eu estava com tanto tesão
nela, que fazer isso sem a merda de um
plástico no meio, seria delirante.
— Quero fazer amor com você.
Não me importo com a camisinha se é
você que vai estar dentro de mim.
Oh, porra!
Eu me importava com isso?
Provavelmente. Acredito que
depois que o tesão passar, vou me
castigar por isso, mas agora, nesse
momento, tudo que eu vejo é ela e a
necessidade de estar nela. Sem nenhuma
barreira para atrapalhar.
Com um movimento rápido, me
livrei da calça de moletom que eu estava
usando, livrando a parte que tanto sofria
em mim. Estava mais sofrido que o meu
coração agora.
Pairei sobre ela, apoiando meu
braço ao lado de sua cabeça para me
sustentar e não apoiar todo meu peso
sobre ela. Abaixei a cabeça e beijei sua
mandíbula, deslizando a língua até seu
ouvido:
— Então vamos fazer isso, baby.
— Chupei seu lóbulo. — Vamos deixar
as preliminares para depois, mais tarde.
Eu não estou aguentando mais esperar...
Ela assentiu, parecendo
embriagada:
— Tudo bem, só... faça amor
comigo.
E, mais uma vez, fiz o que ela
pediu. Tomando todo o cuidado
possível, deslizei para dentro de sua
boceta e, putaquepariu!, era tão quente,
apertada, deliciosa.
— Assim...
Trinquei a mandíbula, e ela
arquejou, gemendo, agarrando meus
braços e se abrindo mais pra mim. Seus
olhos, em momento algum, deixaram os
meus, excitados demais. Ela estava tão
molhada, que entrei com facilidade.
Molhada para mim.
Abaixei e peguei sua boca
novamente, entrando bem fundo nela,
devagarzinho, deixando-nos apreciar o
momento.
Seus braços subiram e viram ao
redor do meu pescoço, abraçando-me
junto com as pernas envolta da minha
cintura. Estávamos conectados, era
gostoso demais.
Eu nunca senti essa sensação com
ninguém!
Luana era maravilhosa! Cem por
cento!
Eu meti nela, fundo, firme.
Nossos gemidos sendo engolidos um
pelo outro. Estávamos indo à loucura de
tão perfeito.
Ela me apertada, me arranhada,
eu rosnava em sua boca. Desci uma mão
livre e apertei sua bunda, impulsionando
mais duro.
— Isso é tão bom! — Ela
resfolegou na minha boca.
— Ah, é gostoso demais! —
respondi, concordando com ela. — Não
vou aguentar tanto tempo. Não na
primeira vez.
— Nem eu...
Comecei a entrar e a sair com
mais rapidez, com mais dureza. Era
insano a sensação deliciosa que estava
tomando conta de mim.
Era insano saber que, mesmo
lutando tanto para não acabar onde
estava, aconteceu.
Era insano descobrir que a
pessoa que eu menos esperava, era
justamente a que se encaixava com
perfeição.
E, mais insano ainda, foi o
orgasmo que atravessou meu corpo no
mesmo tempo que fez no dela.
Nós dois estremecemos
violentamente na cama, abraçados,
conectados.
— Caralho! — uivei, cheio de
prazer.
— Minha nossa! — Ela arfou,
buscando o ar para respirar melhor. —
Você é... Isso foi... perfeito, Henry!
Anuí, embriagado, sorrindo:
— Sim. Foi perfeito. — Beijei
sua boca. — Você é perfeita!
Caí ao seu lado, levando-a junto
comigo, segurando-a em meu peito.
Ela se aconchegou, suspirando,
delirante:
— Eu acabei de realizar meu
segundo sonho. — ela disse.
— E qual é o primeiro? — Tive
curiosidade.
Ela sorriu:
— Foi beijar você.
Movendo-me para abraçar seu
corpo melhor, beijei sua testa. Eu nem
conseguia parar de sorrir.
— E eu estou achando que você
era meu sonho. — confessei pra ela. —
Só não sabia antes de você me falar.
16. Luana
Estávamos todos na sala de estar
da casa dos meus avôs.
Henry havia marcado essa
reunião de família para o dia seguinte
em que tivemos nossa primeira noite, e é
claro que todos estavam bem curiosos.
Nossos pais, nossos avôs, nossos
irmãos... Todos estavam presentes,
espalhados pelo lugar, esperando-o
começar a falar.
Sentada entre minha mãe e
madrinha, notei uma mulher que estava
um pouco atrás da poltrona do meu avô.
Franzi o cenho e me inclinei levemente
para cochichar com minha mãe:
— Quem é ela? — acenei,
disfarçando.
— É uma enfermeira. — mamãe
cochicha de volta. — Não queremos que
seu avô tenha um infarto. Nessa idade
em que ele está, é uma situação bastante
perigosa.
Segurei a risada. Meu avô
sempre foi muito dramático.
Minha mãe uma vez me contou
sobre como ele quase enfartou no dia em
que meu pai foi falar com ele pela
primeira vez. Não consegui parar de rir
por um longo tempo.
O vô Giovanni sempre foi
extremamente possessivo e o drama
fazia parte do charme dele. Apesar
disso, ele é um homem incrivelmente
maravilhoso, com um coração muito
bom.
Uma garganta foi limpa, e eu vi
Henry enfiar as mãos nos bolsos. Ele
deu um passo para frente quando a
atenção de todos se voltou para ele:
— Então, pessoal — Inquieto,
retirou as mãos dos bolsos e as uniu, se
inclinando levemente para frente. —,
acredito que a maioria das pessoas
saibam sobre o que é essa reunião.
— É, sabemos, sim. — Sua irmã,
Malu, sorriu, toda maliciosa.
A minha irmã cutucou ela,
fazendo-a se calar.
— Pérola, Kent — Ele continuou,
acenando para minha mãe e meu pai: —,
quero pedi suas permissões para
namorar sua filha.
— Eva, querida, será que você
pode ver a pressão do meu marido, por
favor? — Vovó brincou, acenando para
meu avô, que estava vermelho, com
olhos arregalados, encarando Henry com
um olhar mortal.
Malu riu:
— O tio Kent, também. Ele não
parece tão bem.
Olhei para meu pai e ele parecia
que queria respirar direito. Prendi o
sorriso, mordendo o interior das minhas
bochechas e pressionando os lábios.
Ele se inclinou para frente,
apoiando os cotovelos nos joelhos.
Inspirou e expirou bem devagar, o cenho
meio franzido como se estivesse
ponderando.
— Minha permissão já está dada
há muito tempo. — Minha mãe ergueu a
mão, sorrindo alegremente para mim.
Henry se virou para meu pai,
esperando uma resposta.
Depois de uns segundos, meu
estômago revirando de ansiedade, papai
se levantou, esticou as costas e, para
surpresa de todos na sala (que pensaram
que ele surtaria como meu avô), ele
ergueu a mão para Henry, que aceitou
sem hesitar. Papai deu uma risadinha:
— Eu já desconfiava, só queria
saber até que ponto vocês iriam ficar
fugindo um do outro. — ele disse para
Henry, em seguida, piscou para mim: —
Finalmente, né?
Me desmanchei com um sorriso
cheio de alivio e emoção. Sem dizer
nada, apenas com um enorme sorriso no
rosto, me levantei de braços abertos e o
abracei forte.
Ele beijou minha testa:
— Eu te amo, querida. Fico feliz
com a sua felicidade.
— Também te amo, pai.
Quando me soltei dele, uma mão
grande tomou posse da minha cintura e
todo meu corpo se arrepiou. Henry
abaixou a cabeça, pressionando os
lábios em meu ombro, em seguida, na
minha têmpora.
As pessoas presentes vieram nos
abraçar — menos meu avô, que estava
sendo atendido pela enfermeira. Mas,
acabei indo até lá falar com ele. Com o
tempo, ele foi melhorando, sua pressão
diminuindo, os batimentos
normalizando.
Ele até nos chamou para jantar
depois de tudo e deu tapinhas nas costas
do meu namorado.
Meu "namorado".
Eu mordi o lábio inferior,
olhando Henry, que falava com sua mãe,
percebendo que era real. Não era um
sonho, que eu acordaria a qualquer
instante.
Era de verdade. Eu e ele. Nós
dois estávamos juntos.
Puta merda!
Esse era meu sonho sendo
realizado depois de anos de sofrimento
e "pequenos" surtos de ciúmes.
Depois que terminamos de jantar,
nos despedimos de todos e Henry disse
que queria me levar em um lugar
especial.
Ele dirigiu o tempo inteiro
segurando minha mão, como se eu
pudesse, a qualquer momento, saltar do
carro e desaparecer.
Eu gostei disso.
Eu estava amando tudo isso.
No caminho, olhei para fora
através das janelas fechadas de seu
carro e ponderei sobre tudo que eu
passei nos últimos dias.
Eu peguei um voo de volta para
casa, na esperança de conquistar o amor
da minha vida.
Eu desisti depois de perceber
que ele estava surtando por saber que eu
era afim dele.
Então, um conhecido de Londres
bateu na minha porta, do nada, e depois
do primeiro encontro com minha família,
já achou que estava me namorando. De
novo.
Falando sobre isso, Tulip ligou
para mim logo quando acordei hoje. Ela
tinha acabado de sair do acampamento
silencioso e, para minha total surpresa,
me pediu para enviar o endereço da
minha casa para que ela pudesse pegar
um táxi ou uber quando chegasse em
LA.
Eu comentei sobre Thomas e o
que ele disse sobre ela, e ela me jurou
que não tinha nada a ver com isso,
afinal, ela nem sabia minha localização.
Henry, meu pai e o tio Ben
acabaram descobrindo que ele rastreou
meu celular e antes da reunião em
família, eles basicamente deportaram o
homem de volta para Londres sob a
ameaça de morte, caso ele decidisse
voltar para o país.
Estacionamos e eu olhei em
volta, logo reconhecendo o LA Kings
Holiday Ice. A de gelo que eu amava
visitar nessa época do ano quando era
mais nova.
Sorri, praticamente pulando para
fora do carro. Batendo a porta atrás de
mim, me encolhi dentro do casaco,
admirando a pista com as pessoas de um
lado para o outro.
— Nem tinha passado pela minha
cabeça vir aqui esse ano! — falei
quando ele se aproximou.
ELe segurou minha mão, sorrindo
para mim:
— Ainda bem que eu pensei,
então.
Enquanto calçavamos os patins,
fiquei surpresa quando Henry parou e
questionou:
— Você nunca me contou o
motivo que te levou a se tornar uma
artista plástica. Quer dizer, você tinha
vários outros talentos, como patinação
mesmo — ele apontou para a pista de
forma desleixada —, e mesmo assim,
optou por pintar.
Suspirei, vendo todas aquelas
pessoas felizes patinando:
— Tem razão — concordei,
balançando a cabeça para cima e para
baixo. —, eu tinha muitas outras coisas
para fazer, mas eu sempre gostei do
lance de psicologia das cores, de
misturar elas, criar... Sempre amei
ilustrar os sentimentos que eu não
conseguia expressar.
Estávamos sentados no banco
circundante e eu me virei para encará-
lo:
— Sabe todas aquelas telas
minhas que você tem pelo seu local de
trabalho e em sua casa? Todos eles
mostram, de alguma forma, meus
sentimentos por você. Aquele que você
resolveu pagar doze milhões de dólares,
também.
Ele riu um pouco, e eu fiz o
mesmo antes de continuar:
— Quer saber meu maior motivo
de ter se tornado uma artista
plástica? — perguntei e eu mesma
respondi: — Foi você, Henry. Você
pintou as paredes do meu coração com
as cores do seu sorriso. Com seu
carinho por mim. Esse foi meu maior
motivo. Você é minha maior inspiração.
E eu te amo com todas as cores do meu
amor.
Claramente emocionado, se
aproximou mais, capturando meu rosto
com suas mãos grandes e geladas, mas
eu não me importava com isso agora.
Olhou dentro dos meus olhos e
confessou:
— Eu também te amo, Lua. Com
todas as cores, todas as certezas. Não
tenho mais dúvidas disso.
E então me beijou. Como numa
magia de natal, cercados com pessoas
patinando no gelo e iluminados por
decorações natalinas.
17. Henry
TRÊS ANOS DEPOIS

Essa noite é especial.


Finalmente, depois de três anos,
Luana resolveu mostrar seu rosto para
os admiradores de seu trabalho.
Uma vez, logo após nos casarmos
— o que aconteceu apenas um ano após
ficarmos juntos —, perguntei o motivo
de ela não querer se revelar, uma vez
que as pessoas na internet estavam
sempre especulando, insistindo, ainda
mais depois que souberam que eu
arrematei uma de suas obras por doze
milhões no leilão beneficente.
Sua resposta foi “O anonimato
atrai pessoas curiosas, amor. E a arte se
alimenta da curiosidade.”
Eu concordei. Talvez, por conta
desse detalhe, nenhuma de suas telas
foram vendidas por menos de um
milhão. E só subia!
Só que, agora, depois de dois
anos, ela criou uma tela magnifica, com
um significa tão brilhante, que as
pessoas começaram a insistir mais,
querendo vê-la fazendo um discurso
sobre seu trabalho, suas telas, suas
inspirações. Principalmente, sobre essa
tela em particular.
Então, após várias reuniões com
sua equipe de marketing, ela aceitou a
proposta de uma galeria famosa de Los
Angeles, para se revelar lá, em um
evento que iria expor todas suas telas
novas.
— É normal estar tão nervosa?
— Ela me perguntou, pressionando as
mãos sobre seu estômago, como se
estivesse enjoada. Estava perfeita com
um longo vestido azul, elegante, que me
deixava ciente de todas as curvas
maravilhosas que existiam no corpinho
lindo. Seus cabelos estavam soltos, mas
com um penteado que os jogavam todos
para cima de um dos seus ombros.
O gesto chamou minha atenção
para o ventre crescido de cinco meses.
Ela estava esperando nosso segundo
filho.
— Claro que é, baby. — Cheguei
perto e a segurei pelos ombros,
abaixando a cabeça para olhar em seus
olhos, tentando acalmá-la. — É sua
primeira vez com todos sabendo quem
você é. Isso faz todo esse nervosismo
ser uma coisa bem normal.
Ela anuiu devagar, lambendo os
lábios deliciosos:
— Certo. Você tem razão.
Segurei seu rosto já bem
maquiado e pressionei meus lábios nos
seus, gemendo com seu gosto incrível.
Depois que deixei meu coração assumir
que a amava como mulher, se tornou
impossível me manter longe.
A nossa vida sexual é bastante
ativa e é perfeito.
— Papai!
E falando em vida sexual ativa,
aí está nosso primeiro fruto: nossa filha
de dois anos, Giovanna, em homenagem
ao seu bisavô, que precisa andar com
um babador quando está perto dela. O
que está por vir, será nosso pequeno
Lucca.
Ela correu para mim, os
bracinhos abertos para ser pega.
Eu me separo de Lua a tempo de
me virar e a pegar nos braços, todo
bobo com seu sorrisinho sapeca:
— Ei, meu amor. — Cutuquei sua
barriga, e se contorceu dando
risadinhas. — Está pronta?
— Sim! — deu gritinho, animada.
E ela estava linda com o
vestidinho que as avós — tão babonas
quanto todos os outros — escolheram
para ela. Os cabelos de cor castanhos
estavam soltos, mas com um lacinho de
lado. Ela me encarou com seus lindos e
doces olhos azuis e sorriu.
Era meu mundo inteiro aqui.
— Está linda, minha bebê. —
Lua elogiou, beijando seu rostinho.
De forma muito doce, ela sorriu
para mãe e deixou a cabeça no meu
ombro, como ela sempre fazia quando
estava tímida.
Nós rimos e eu dei um último
beijo rápido nos lábios da minha esposa
antes de sairmos.

A galeria era incrível e estava


lotada de convidados famosos e com a
imprensa.
Pousamos para algumas fotos
antes de entrarmos e lá dentro fomos
rendidos por muitas pessoas, falando
sobre o quão lindos eram os quadros,
mas que ainda nem faziam ideia de que
Luana era a responsável de tudo. Eles
pensavam que éramos apenas
convidados, como todos eles.
Quando achamos uma brecha,
paramos perto de nossa família. Todos
estavam aqui para prestigiar Lua. Até
mesmo primas que moravam fora do
país, como as gêmeas, por exemplo,
estavam aqui.
Falamos com todos, conversamos
e tentamos acalmar ela, que estava muito
nervosa.
Eu precisei entregar Giovanna
nas mãos de todas as pessoas babonas
da família, que disputavam quem era que
iria pegar ela, para poder ficar um
pouco com ela, antes que a chamassem
no palco para começar a falar. Ela
acabou nos braços de Lucca, o outro
bisavô, que conseguiu driblar todo
mundo.
— Meu amor — chamei sua
atenção. —, respire devagar.
Ela engoliu com um pouco de
dificuldade, assentindo para mim e
começou o exercício de respiração bem
devagar.
— Isso... — incentivei. — Você
vai arrasar lá em cima!
— Ok. Eu vou! Estou bem...
— E linda pra caralho! —
elogiei, falando nada além que a mais
pura verdade.
Ela sorriu.
— Obrigada, amor.
Toquei sua barriga com carinho e
beijei sua boca quando o dono da
galeria apresentou o “rosto por trás das
magnificas telas”.
— Vai lá, amor. Boa sorte!
Ela subiu no palco e era possível
ouvir a exclamação de todos no local.
Todas essas pessoas conheciam
Luana e nossa família, mas eles nunca
imaginaram quem ela era realmente. Até
hoje, minha esposa era só a filha da
arquiteta renomada Pérola Lazzari e do
grande jogador de futebol americano
Kent McGregor; isso sem contar o peso
de seu sobrenome e que ela se tornou
minha esposa.
Era óbvio que ela não precisava
fazer mais nada na vida, porque tinha o
suficiente para sustentar sua décima
geração e muito mais.
Os flashs explodiram sobre ela,
fazendo-a piscar e cerrar os olhos para
o ataque.
Estávamos todos tão orgulhosos,
sorrindo como bobos.
Ela se aproximou do microfone e
cumprimentou todos com um boa noite.
Em seguida, começou seu discurso:
— Como podem ver, eu sou a L.
L. M. — ela encolheu os ombros
levemente. — Pois é, eu não sou apenas
esse rostinho bonito que vocês são
acostumados a ver. — disse, e todos no
local sorriram. — Comecei a vender
minhas telas após o encerramento do
meu curso em Londres e aqui estou eu,
depois de anos, me mostrando para
vocês pela primeira vez. Acreditem,
estou tão nervosa quanto vocês agora,
olhando para mim com esses olhinhos
arregalados.
Todos riram de novo.
Lucca veio para o meu lado, e
minha filha aproveitou para se jogar nos
meus braços.
A peguei, dando um beijinho no
seu rosto. Ela deitou de novo sua cabeça
no meu ombro e ficou quietinha,
assistindo a mãe em cima do palco.
Um dos caras da imprensa ergueu
a mão para fazer uma pergunta, e ela
permitiu:
— Luana, por quê não se mostrou
antes? Você pode nos dizer?
— Claro. — ela sorriu. — O
principal motivo era porque eu não
queria que as pessoas comprassem
minhas telas ou avaliassem ela de
acordo com o fato dos meus
sobrenomes. Gostaria de ter um
feedback bom, sem essa influência.
Garanto que, se as pessoas soubessem
quem era L. L. M e minhas telas não
fossem boas, mesmo assim elas
comprariam e diriam na minha cara que
eram lindas!
As pessoas concordaram,
acenando para ela.
O repórter agradeceu, e outro fez
uma pergunta:
— Vendo agora, claramente, que
suas obras são um sucesso imenso, pode
nos dizer de onde tira suas inspirações?
Seu sorriso foi automático, assim
como seus olhos que vieram direto para
mim:
— Eu sempre tive uma
inspiração para todos eles.
As pessoas viraram para mim,
sabendo exatamente de quem ela estava
falando.
Balancei a cabeça, sorrindo de
volta para ela, e pisquei.
— Agora — ela continuou — eu
tenho mais duas inspirações. Nossa
filha, Giovanna e esse bebê que estamos
esperando. — Ela tocou o próprio
ventre, seus olhos e sua voz cheios de
carinho.
Foi a vez de outro repórter:
— Luana, pode nos explicar o
significado da sua nova obra, a principal
atração da noite?
Ela anuiu rapidamente:
— Ela tem vários significados,
mas o principal é a família. Dessa vez,
eu resolvi ilustrar o sentimento que eu
tenho por ter tido a oportunidade de
nascer em uma família tão especial e
grande como essa. A tela ilustra o amor,
a compreensão, o aprendizado, o
carinho, a cumplicidade... É, sem
dúvidas, a tela que mais amei criar. É
perfeita e estou orgulhosa por ela.
Depois disso, várias outras
perguntas vieram. As pessoas não
queriam deixar que ela descesse de lá,
mas Tulip conseguiu salvá-la,
prometendo organizar uma entrevista
coletiva com todos os repórteres
presentes.
As pessoas falavam, comentavam
sobre Luana ao meu redor, mas eu não
estava nem prestando atenção nisso.
Enquanto ela descia do palco,
cercada de pessoas curiosas, querendo
sua atenção, eu estava hipnotizado com
sua graça e beleza. O orgulho dessa
mulher enchia meu coração de um jeito
que chegava a doer.
Eu pensei sobre como e por que
demorei tanto para perceber que ela era
a mulher da minha vida. E o que seria de
mim se não a tivesse agora.
Provavelmente estaria sozinho e,
com certeza, não estava feliz do jeito
que estou agora.
Ela não me deu apenas seu amor.
Me deu o meu mundo todo: ela e nossos
filhos.
Ela trouxe as cores que faltava na
minha vida.
E eu nunca iria larga-las.

FIM!
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