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Jéssica Macedo

Trilogia Desejos Sombrios


Vol. I
Copyright ©2017 by Jéssica Macedo

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desta obra - física ou eletrônica -, sem autorização prévia do autor. A violação dos direitos
autorais é crime estabelecido na Lei nº 9.610/98 e punido pelo artigo 184 do Código Penal.

Leitores Beta
Gabriel Marquezini e Fernanda Soares

Projeto Gráfico de Capa e Miolo


Jéssica Macedo

Revisão
Thais Lopes
Para Gabriel, meu amor imortal.
Sumário

Nota da autora
Glossário
Prólogo
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capitulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capitulo 29
Capitulo 30
Epílogo
Bônus
Leia o início de Do Inferno À Luxúria – vol 2
Prólogo
Capítulo 1
Capítulo 2
Nota da autora

Esta é uma obra de ficção. Nomes de pessoas e locais que existam ou que tenham
verdadeiramente existido em algum período da história foram usados para ambientar o enredo.
As situações aqui narradas não descrevem nenhum trecho da verdadeira história da Inglaterra ou
da Irlanda. No entanto, alguns detalhes históricos, principalmente como lugares, sobre história
dos costumes e outros detalhes relevantes, foram pesquisados com o intuito de dar veracidade à
história. A linguagem utilizada é a segunda pessoa do singular (tu) para diálogos diretos, uma
vez que é mais condizente com a época em que a história se passa. Ainda pode haver algum erro,
pequeno ou grande, mas esse terá sido cometido no afã de criar tempo e espaço.
Glossário
Para muitos, os termos abaixo descritos são familiares, entretanto no intuito de que fosse claro
para todos, decidi colocar este glossário.

Íncubo é um demônio na forma masculina que se encontra com seres humanos a fim de ter
uma relação sexual com eles. O íncubo drena a energia da pessoa para se alimentar, e na maioria
das vezes mata ou deixa em condições muito frágeis. A versão feminina desse demônio é
chamada de súcubo.

Vampiro é um ser morto-vivo, de pele fria, que se alimenta de sangue a fim de manter suas
funções. Rápido, forte, é uma criatura de hábitos noturnos e morre se exposta ao sol.

Eunuco é um homem castrado que tinha a função de empregados domésticos, responsáveis


por guardar e servir as mulheres.
Prólogo
Apesar de ter repetido a si mesmo que aproximar-se, poderia ser perigoso, fatal, ainda sim o
desejo falou mais alto. O destino costumava ser traiçoeiro, e ele nunca esperou que um dia
conhecesse uma mulher como ela: capaz de mudar inclusive sua forma de viver.
Ele deveria ser apenas um predador, saciar os seus desejos mais profundos. Certamente,
envolver-se com aquela mulher não estava nas regras do jogo. Ela não era como as donzelas
ingênuas que enganava e atraía para a morte. Porém, nem mesmo seu ímpeto mais profundo seria
capaz de evitar a atração quase magnética que os unia.
Ela era fria, mas despertava nele um calor inumano. A ideia de entregar-se ao prazer mais
profundo sem matá-la era excitante. Contudo, não era tão fácil seduzir alguém que também não
era humano.
Capítulo 1
Londres – outono de 1872

A cidade estava toda iluminada, a luz elétrica já havia chegado a boa parte das casas. As
poucas árvores pela cidade estavam secas e já haviam perdido todas as suas folhas. Com a
chegada das fábricas, que inundavam os céus com fumaça e fuligem, Londres se transformava a
cada dia, renovando-se, dando às pessoas que caminhavam nas ruas um novo fôlego. A era que
se estendia desde o início do século, trazia empregos, prosperidade e os habitantes sentiam-se
felizes e seguros. Tolos, mal sabiam os perigos que os rondavam, escondidos nas sombras ou em
plena luz do dia.
Graças à cultura que tornara as pessoas reservadas, Londres era um belo lugar para viver
quando se tinha segredos a esconder.
Sentado na cadeira de um pequeno café na movimentada e recente estação de trem Vitória.
Aron observava o vai e vem de pessoas chegando e partindo. O lugar estava repleto de barulho,
do falatório das pessoas e dos trens movidos a vapor. Ele riu, como se toda aquela pressa que
tinham de chegar a algum lugar fosse engraçada. No entanto, surpreendeu-se ao pegar o relógio
de bolso em seu casaco e notar que também estava preocupado com o tempo.
Ela estava atrasada. Mas não deveria se importar, pois tinha pouco menos do que a
eternidade pela frente. Ainda assim, sentiu-se angustiado. Cortejava a moça há alguns dias e
haviam combinado um local público para o encontro. Porém, arrependeu-se por não ter sido mais
enfático e tê-la convencido a irem a um lugar mais reservado.
Logo uma moça apareceu no horizonte. Ela era pequena e delicada. Aron riu quando a jovem
esbarrou em uma velhinha que carregava malas pesadas. Como os humanos eram desastrados.
A saia bufante e cheia de camadas dela só atrapalhava ainda mais os seus movimentos. O
vestido que usava era de um tom púrpura vibrante, com uma sobressaia creme, e o espartilho
parecia extremamente apertado. As mangas do vestido eram longas. Os cabelos loiros dela
estavam presos em um coque no alto da cabeça e seus olhos azuis gentis se sobressaíam na pele
ligeiramente rosada pela vergonha. Logo ela viu Aron e tentou não correr desesperada em sua
direção, só tentou.
– Olá. – Sorriu ao ficar ainda mais corada quando finalmente chegou diante dele. – Desculpe,
estou atrasada.
– Não tem problema. Tudo bem. – Aron tirou seu chapéu e o colocou sobre a mesa, antes de
levantar-se e puxar uma cadeira para a jovem.
– Obrigada. – Ela sorriu ao encará-lo.
Era quase um pecado ele ser tão bonito, pensou. Era uma mulher de muita sorte por ter
aquele nobre cortejando-a. Observou-o por alguns segundos. Ele tinha cabelos negros, curtos e
os olhos de um tom azul esbranquiçado. Ela já tinha por volta dos dezoito anos, sentia que já
estava ficando velha e não queria se casar com o homem nojento a quem seu pai a prometera em
casamento. Aquele belo e nobre cavaleiro sentado à sua frente lhe parecia um pretendente bem
mais à sua altura.
Um garçom veio até a mesa onde o casal se sentava e serviu à jovem uma xícara de chá.
– Tomei a liberdade de pedir algo para que a senhorita bebesse. – Aron fitou os olhos dela.
Pobre garota, era tão inocente.
– Ah, obrigada. – Emily tirou as luvas de renda que lhe cobriam as mãos delicadas, antes de
pegar a xícara. – O senhor é tão atencioso.
– Por favor. – Ele tocou gentilmente a mão livre dela. – Chame-me apenas de Aron.
A jovem corou com o calor incomum que invadiu seu corpo quando sentiu a pele dele sobre a
sua. Era um tipo de febre que a fazia arder por dentro...
Corada, puxou a mão de volta, tentando recuperar a compostura. Lembrou-se do que a sua
mãe lhe repetira durante toda a vida, uma mulher deve manter intacta a sua reputação.
Emily desviou o olhar para que não se perdesse encarando-o. Fitou momentaneamente um
garoto que, de mãos dadas com os pais, tomava o trem rumo a Windsor. Respirou fundo,
tentando estabilizar seu peito que subia e descia sem controle. Deveria estar parecendo uma tola,
quase brigou consigo mesma. Era só um segundo encontro e já estava daquele jeito.
Aron abriu um leve sorriso. Achou de certa forma fofa a maneira como ela se desesperava.
– Não se preocupe. – Ele pegou a mão dela novamente e a levou até os lábios, beijando com
carinho a superfície macia. – Não precisa ter medo ou ficar afobada em minha presença.
Emily sorriu ao fechar os olhos sentindo o calor que ele provocara nela aumentar ainda mais
quando os lábios a tocaram.
– O que acha de irmos a um lugar mais calmo? – Aron a encarou, de maneira que Emily não
conseguiu desviar o olhar.
– Um lugar mais calmo? – Ela engasgou ao pensar nas possíveis implicações daquilo. –
Podemos. – Sorriu. Não queria dizer que não e assustá-lo, foi o que jurou a si mesma. Contudo,
aquilo era apenas uma parte da verdade. A jovem não sabia dizer como, mas aquele simples
toque arrancara-lhe todo pudor, deixando-a à mercê de seus desejos mais profundos.
Aron se colocou de pé e estendeu o braço para a moça, que não hesitou em segurá-lo. Deixou
algumas moedas sobre a mesa para pagar pelo café e o chá, e então guiou-a para longe daquele
lugar barulhento.
Emily o observou durante todo o caminho para fora da estação, até pegarem uma carruagem.
Até onde ela sabia, Lorde Donovan, Aron, era um duque Irlandês com boas posses, o suficiente
para que seu pai mudasse de ideia quanto ao casamento dela com o banqueiro burguês, sem
sangue nobre e que tinha o dobro de sua idade.
Aron sussurrou algo no ouvido do cocheiro, ajudou-a subir na carruagem e sentou-se diante
dela, pois o vestido volumoso ocupava todo o assento.
– Para onde vamos? – Emily o fitou em busca de algo que respondesse sua pergunta, mas a
expressão de Aron era indecifrável. Questionou-se se realmente gostava de surpresas como
pensava.
Aron, sem dizer nada, apenas sorriu, o que foi o bastante para deixar a garota mais calma.
A carruagem procurou pelos caminhos mais discretos. O cocheiro sabia bem que lorde Aron
não gostava de murmúrios. Deram algumas voltas pelo trajeto mais vazio até a propriedade dos
Donovans, que ficava a alguns minutos de Londres.
Emily observava o caminho com um misto de curiosidade e aflição. Por alguns minutos,
estavam em uma estrada de terra com alguns pedregulhos que fazia a carruagem dar pulinhos, e a
jovem não conseguia ver nada além de árvores. Pensou em perguntar a Aron para qual lugar
estava a levando, no entanto não quis parecer insegura. Logo saberia, disse a si mesma. Não
havia por que se preocupar.
Quando a carruagem parou, Emily colocou a cabeça para fora para ver onde estavam. Viu um
enorme portão de ferro se abrir para dar passagem a eles, e além deste havia um belo jardim com
uma enorme casa ao fundo. Admirou a bela visão por longos minutos até se dar conta de onde
estava.
– Trouxeste-me até a tua casa? – Voltou-se para Aron, encarando-o profundamente. Não sabia
se deveria o recriminar.
– Trouxe.
– Mas o que vão pensar? – Emily estava um pouco angustiada, suas mãos tremiam levemente,
ainda que gostasse de estar ali com ele. – E quanto à minha reputação?
– Não te preocupes, ninguém nos viu chegar aqui. – Aron pousou sua mão sobre a dela. O
calor invadiu o corpo da jovem e fez com que se esquecesse de qualquer preocupação.
O lorde sorriu ao colocar uma mecha do cabelo loiro da garota atrás da orelha. Pobre moça,
mal sabe que sua reputação deveria ser a menor de suas preocupações no momento, pensou ao
estender a mão a fim de ajudá-la a descer da carruagem.
Emily encarou, admirada, o belo jardim da propriedade dos Donovans. Era início da tarde e os
raios de sol batiam na fonte que ficava bem ao centro, fazendo com que as gotículas de água que
se espalhavam brilhassem como cristais. Aquele lugar era belíssimo. A família de Aron
realmente tinha muitos bens. Seria um bom casamento, seu pai não lhe negaria tal pedido. Os
olhos da donzela brilharam tanto quanto a água quando encarou o lorde.
– Segue-me. – Aron estendeu a mão para ela.
A jovem não pensou duas vezes antes de aceitar a mão estendida e deixar que ele a guiasse.
Estava curiosa, o que mais encontraria naquele lugar? Ouvia o som dos pássaros que se
escondiam nos galhos das árvores baixas e bem podadas que compunham o jardim e o vento a
assobiar por entre as folhas. Deveriam ter um ótimo jardineiro para cuidar tão bem de tudo
aquilo.
Andaram por cerca de dez minutos até se aproximarem de um pequeno lago que ficava aos
fundos da propriedade, numa região onde quem olhasse de longe não os veria.
Emily se perdeu observando as águas esverdeadas, provavelmente pela presença das vitórias
régias sobre sua superfície...
Aron a despertou de seu devaneio quando a puxou para junto da toalha que havia estendido no
chão.
– Um piquenique! – Ela vibrou ao olhar para o que havia sido preparado. – É tão cavalheiro,
meu lorde.
– Já disse, chame-me apenas de Aron. – Ele tomou a liberdade de acariciá-la no rosto.
– Claro. – Ela balbuciou quase sem folego.
Aron permaneceu com uma das mãos sobre o rosto delicado, a pele alva, macia ao toque,
dava-lhe prazer. O calor do toque fez com que os olhos da jovem se arregalassem, deixando o
azul deles ainda mais vívido. Apesar de saber que não deveria, ansiou para que ele a tocasse
mais. Aquele desejo crescia de uma forma que ela não sabia explicar. Talvez devesse pedir
gentilmente que se afastasse, mas este pensamento não estava em suas prioridades no momento.
O lorde levou sua boca até a dela, havia esperado demais para prová-la. Ela tinha um sabor
doce, quase infantil, de pura inocência. Não parecia ter feito aquilo muitas vezes, e quando Aron
invadiu a boca delicada com a língua a surpresa dela só confirmou sua suposição. A ingenuidade
atiçou-o ainda mais.
Emily lutou contra o impulso de ceder às investidas dele, contudo nada em sua vida havia sido
tão inútil. Era tarde demais para pensar nas possíveis consequências daquilo. Talvez devesse ter
refletido antes de aceitar o convite, agora simplesmente já era impossível dizer não. Não sabia
qual magnetismo ele tinha, apenas que era o suficiente para mantê-la bem ali.
Ele não pensou duas vezes antes de puxá-la para mais perto. Sabia que a donzela não iria mais
a lugar algum. Se ele se sentia mal pelo que estava prestes a fazer? Bom, um leão não se julgaria
errado antes de sair à caça.
Minha família vai me matar, pensou Emily quando sentiu seu corpo ser deitado ali mesmo,
sobre a grama. No entanto, isso nem de longe foi o bastante para fazê-la mudar de ideia. A
possibilidade de passar o resto de seus dias servindo a um barqueiro asqueroso e velho pareceu
uma boa justificativa que cedesse, ainda que a vida inteira lhe dissessem que não deveria fazê-lo
antes do matrimônio.
– Aron... – tremeu ao sussurrar o nome dele, o que o fez encará-la surpreso. Emily poderia ser
ingênua, mas já haviam lhe dito muitas vezes como era a primeira vez de uma donzela.
O lorde afastou-se um pouco e olhou-a nos olhos. Entendendo seu temor, acariciou-a no rosto.
– Farei de tudo para que sinta o mínimo de dor. – Ele voltou a beijá-la de forma provocativa e
o toque inapropriado dele em suas nádegas, ainda que estivesse vestida, a fez esquecer-se de
qualquer preocupação. Sim, aquilo era bom, melhor do que era capaz de admitir em voz alta.
Aron foi extremamente ágil ao enfiar uma das mãos pelas camadas e camadas da saia dela e
retirar a ceroula que vestia, deslizando-a pelas pernas finas e frágeis. Emily corou imediatamente
ao sentir as mãos dele deslizarem por uma parte tão intima de suas coxas.
– Suas pernas são macias. – Aron murmurou, enquanto as acariciava, deslizando suas mãos
compridas e firmes por toda a extensão.
– São fracas, mal me sustentam em pé.
Quando Aron riu, Emily percebeu a besteira que havia dito.
– São deliciosas. – Ele curvou-se para beijar a superfície macia da parte interna das coxas
dela.
Uma sensação nova e estranha tomou conta da moça, uma mistura de surpresa e prazer.
Nunca imaginou ser tocada daquela forma. Algo que a fazia sentir um ardor entre as pernas que
só parecia crescer, insaciável. Institivamente, levou a mão nos sedosos cabelos negros dele,
acariciando-os.
O lorde curvou-se novamente sobre ela e pousou os lábios no pescoço da jovem, deslizando-
os ao longo de sua extensão até o contorno dos seios, levemente à mostra, deixando beijos que se
confundiam com leves chupadas e mordidinhas. O gosto de pureza dela era tão bom.
Emily ofegou em meio às caricias, quase engasgando com tantas sensações desconhecidas que
invadiam seu corpo de uma única vez. Tinha tantas coisas para perguntar, mas julgou que aquele
não seria o momento mais apropriado... Logo parou de pensar nelas quando os lábios dele
renderam os seus novamente.
Aron percorreu outra vez o pescoço dela com beijos, indo até a região quente entre os seios
pequenos. Afrouxou um pouco as cordas do espartilho que a jovem vestia para que tivesse a
liberdade de colocar seus seios para fora e logo envolvê-los com as mãos. Ela inclinou a cabeça
para trás em um gesto de permissão. Os dedos cumpridos e macios, sem a presença de um único
calo, contornaram seus mamilos, acariciando-os e lembrando-a de que ele era um nobre e não
estava acostumado a pegar no pesado assim como ela. Então os lábios úmidos e quentes tomaram
o lugar das mãos e o desejo a consumiu por completo. Seu corpo vibrava, desejava mais toques,
mais beijos...
– Aron... – murmurou o nome dele, tentando se prender ao último resquício de sanidade. –
Não deveríamos fazer isso tão cedo.
– Quer parar? – Ele abocanhou um dos mamilos e chupou com força, a fazendo arfar. Aquilo
não era justo, sabia disso, entretanto pouco se importava. Todos os pensamentos que a
atormentavam foram dispersados à medida que ele sugava com força o mamilo enrijecido.
Com a boca ainda sobre o pequeno seio, proporcional ao corpo frágil dela, Aron tirou seu
casaco, colete e começou a desabotoar a camisa branca, logo deixando à mostra seu abdômen.
Adorou como a curiosidade dela fez com que levasse as mãos pequenas até seu corpo.
Ele era ainda mais bonito despido, Emily suspirou ao refazer o contorno dos músculos com
os dedos. A ânsia crescia ainda mais na região pulsante entre as pernas dela. Somente um anjo
como aquele para levá-la a um pecado tão grave.
Aron foi incrivelmente rápido ao despi-la de todas aquelas camadas de tecido. Foi apenas
quando ele deslizou a mão sobre o seu ventre que Emily percebeu que estava completamente
nua, deitada na grama próxima ao lago, coberta apenas pelos pequenos raios de sol que
ultrapassavam as nuvens do céu londrino.
– Não! – Aron a impediu de se cobrir com os braços. – Seu corpo é lindo, não precisa
escondê-lo.
De fato, ela era belíssima, com uma pele alva que ficava levemente vermelha onde ele tocava;
seios rígidos, pequenos, mas não menos deliciosos. Uma singela camada de cachos loiros, que
ele desejava logo poder explorar, escondiam sua intimidade entre as pernas.
Rapidamente, ele se desfez de sua calça, o que a fez arregalar os olhos. Pelas figuras nos
livros na biblioteca de seu pai, que lia escondida, não julgava que o membro masculino pudesse
ter aquele tamanho. A ideia de tê-lo introduzido dentro de seu corpo assuntou-a. No entanto, o
temor desapareceu quando ele acomodou seu corpo quente sobre o seu, encaixando-se entre as
pernas involuntariamente distanciadas. Ele apoiou-se sobre os cotovelos, distanciando o corpo,
contudo isso pouco contribuiu para apagar o calor crescente que corria dentro das veias de
Emily.
Fechou os olhos ao sentir os lábios dele pousarem em seu pescoço; as mãos que exploravam
suas partes mais íntimas sem compostura alguma. Talvez devesse se envergonhar, mas em seus
sonhos era exatamente assim que desejava ser tocada, com mãos firmes que deixavam a região
por onde passavam ardendo. Embora tivesse se contido o máximo que pode, tentando se manter
intacta, aquele homem exigia mais do que as forças que tinha à disposição. Aquele desejo já
havia vencido.
Sentiu o pênis rígido dele roçar entre suas pernas, deixando o lugar que já ardia ainda mais
cheio de desejos. Remexia-se debaixo dele, quase implorando para que ele fizesse logo. Não
sabia o que era aquilo que o lorde havia provocado nela, só que precisava ser saciado não
importasse as consequências.
Aron não esperou mais para penetrá-la. A dor aguda quando ele rompeu de uma vez o escudo
que protegia sua virgindade a fez arquejar e agarrá-lo. O gritinho que soltou foi capturado por
um beijo, onde ele adentrou com a língua a boca dela com a mesma ferocidade. Esperou que a
moça se acostumasse com a presença dele antes de começar a se mover para dentro e para fora.
Não esperou que a dor voltasse a atormentá-la para colocar sua mão entre os corpos e estimulá-la
com os dedos, o que a fez soltar gemidos de prazer. Emily tremia e se contorcia em meio aos
impulsos que tomavam conta do seu corpo, em meio ao verdadeiro prazer, mal conseguia
raciocinar. O grito alto que ela soltou fez Aron abrir um leve sorriso em meio ao beijo.
Aquilo era muito mais que a imaginação fértil de Emily fora capaz de criar. O ato
aterrorizante vivido pelas mulheres mais velhas que conhecia estava sendo o melhor momento de
sua vida. Os dedos de Aron se moviam com agilidade, fazendo com que a jovem se contorcesse
debaixo dele, agarrando com força o chão ao ponto de arrancar parte da grama. O modo como a
estimulava havia feito a penetração deixar de ser um incômodo ao ponto de fazê-la pensar que já
não conseguiria mais viver sem ele a preenchendo.
Emily largou a grama e passou as mãos pelas costas dele, agora sem receio algum de tocá-lo
como lhe dava vontade. Uma investida mais forte do membro pulsante dele para dentro do seu
corpo a fez soltar um gemido mais alto e cravar as unhas nos ombros largos.
O estímulo logo a levou ao ápice, fazendo seu corpo ser tomado por uma explosão elétrica
que deixou-a formigando. Com o peito subindo e descendo rápido, ela permitiu que seu corpo
trêmulo pousasse sobre o chão.
Ainda inebriada pelo orgasmo que Aron lhe proporcionara, Emily mal sentiu as investidas
dele aumentarem o ritmo. Com ambas as mãos apoiadas no chão, ele já não se preocupava mais
em ser delicado, agora era a vez de ter seu próprio prazer, saciar seus desejos vorazes.
Logo Emily sentiu um líquido quente tomar conta do seu ventre e corou ao perceber o que
aquilo significava. Aron colocou as duas mãos ao redor do rosto dela e a puxou para mais um
beijo. Ela amou aquele carinho a mais e correspondeu sem o menor pudor. Subiu e desceu com
as mãos delicadas pelas costas largas do homem que havia lhe roubado a inocência, mas ao invés
de preocupar-se com aquilo, apenas quis aproveitar o momento que não sabia se iria se repetir.
Começou a sentir-se cansada, talvez aquilo ainda fosse efeito colateral do momento de prazer
que desfrutara. Contudo, ao invés desse cansaço se dissipar, ele crescia à medida que Aron a
beijava. Sentia sua energia se esvaindo em meio àquele beijo. Quis gritar, mas não conseguiu, já
não lhe restavam mais forças.
Aron sentiu a aura azul adentrar por completo em sua boca, enquanto ouvia os últimos
suspiros de vida da jovem.
Com o braço apoiado na grama, ele observou o corpo imóvel que jazia ao seu lado. Toda vez
que ele se alimentava elas morriam, já estava acostumado com isso, embora lá no fundo sentisse
uma pontada de dor no peito. Pobre jovem, além de ter roubado sua inocência havia lhe roubado
a vida, pensou o lorde ao acariciar o rosto mumificado, não mais tão macio como costumava ser.
Ficou por mais alguns minutos a admirando, guardando em sua mente a imagem daquela que
por um breve momento havia sido sua amante. Então, levantou-se, sentindo-se saciado e cheio de
energia. Vestiu suas roupas e tomou o corpo dela nos braços, assim como as peças que a jovem
vestia. Caminhou até um carvalho que ficava numa região ainda mais distante da propriedade,
onde com uma pá fez uma cova para depositar o pequeno corpo. Jogou terra por cima até que a
imagem dela desaparecesse por completo.
Capítulo 2
Um homem andava calmamente em uma ruela da periferia de Londres. O caminho estava bem
iluminado, as lâmpadas já eram presentes nos belos postes desde o início do século, e se
modernizavam cada vez mais com as novas invenções. Assobiando uma música instrumental que
não saia de seus pensamentos, ele rodava nos dedos um relógio antigo de pouco valor que havia
herdado de seu pai.
Embora não houvesse ninguém, tinha a terrível sensação de estar sendo seguido. A cada passo
olhava para trás, ainda que fosse inútil. Pegou o chapéu velho que usava, colocou-o contra o
peito e apertou o passo: queria chegar logo em casa e dar um fim àquela estranha sensação.
As folhas caídas das árvores se moviam na rua com o vento que sussurrava ao passar pelas
construções. As janelas fechadas eram um sinal de que a noite já havia chegado e as pessoas se
recolhido ao conforto de suas camas. Cada barulho, por menor que fosse, o deixava em alerta.
Estava tão focado em olhar para trás que só percebeu o obstáculo à sua frente quando se chocou
com ele. O impacto contra o poste deixaria um galo feio em sua testa. Oh, Deus! Precisava sair
dali logo.
Seu sangue gelou quando ouviu som de passos, engoliu em seco. No fim das contas seus
sentidos não estavam tão errados como parecia. Uma gota de suor frio escorreu pelo seu rosto,
pálido pelo susto, quando viu alguém se aproximar, usando uma capa preta. Não dava saber
quem era, mas pelo volume do corpo decerto não era mulher. Olhou ao redor e viu um banco
velho e os postes, não havia para quem gritar. Só tinha aquele relógio do pai e nenhum dinheiro,
pensou em deixá-lo para trás e sair correndo, talvez isso despistasse o possível ladrão.
Encarou seu perseguidor novamente, mas ele não estava mais lá. Como diabos alguém
poderia se mover tão rápido? Mal teve tempo de se virar para trás antes de ser atingido com um
golpe forte que o fez cair ao chão, desacordado.

O homem foi jogado de joelhos no chão e o forte impacto fez com que acordasse. Ainda
zonzo pelo golpe, mal conseguia se manter ereto. Onde estava? Não possuía dinheiro para ser
dado em seu resgate. Será que seu raptor ainda não percebera isso?, pensou em meio ao puro
desespero.
Abriu os olhos de repente e sua agonia aumentou quando se deu conta do saco de algodão
preto que lhe cobria a cabeça. Quis arrancá-lo logo, contudo com os braços amarrados era
impossível fazê-lo.
Sentiu um alívio tremendo quando alguém tirou o saco. O ar encheu seus pulmões como se
tivesse ficado horas sem respirar, ainda que o tecido não o sufocasse. Quando suas pupilas se
retraíram o suficiente para que pudesse enxergar, ele observou o lugar onde estava. Embora sua
mente cogitasse os lugares mais imundos de Londres, certamente não era onde estava no
momento. Nunca teria imaginado que a coisa macia sob os seus joelhos fosse um tapete oriental.
Pesadas cortinas vermelhas cobriam as janelas. A luz produzida por velas em belos castiçais
de prata tremulava, dando ao ambiente um ar sombrio e causando sombras marcadas nos poucos
móveis que compunham a decoração do lugar.
Um sapato sendo colocado contra o seu rosto forçou o homem a olhar para frente e encarar a
bela mulher sentada em uma cadeira de veludo, bem adornada ao ponto de se assemelhar ao
trono da rainha Vitória. Ao lado dela havia duas outras mulheres usando vestidos provocantes
nada dignos de donzelas. Mas o que lhe chamou mesmo a atenção foi aquela que abaixava e
virava o seu rosto com o sapato preto e pontiagudo. Ela era jovem, jovem até demais para
alguém sentada naquela posição de comando. Com uma beleza capaz de fazer homens
cometerem loucuras, tinha longos cabelos ruivos que caiam ao redor do seu rosto pálido em
formato de coração, sobrancelhas finas e delicadas em um tom castanho claro e cílios negros
enormes que só destacavam mais seus olhos...
O homem engoliu em seco, olhos vermelhos. As mãos dele começaram a suar frio e sentiu
cada parte de seu ser tremer com uma sensação de medo terrível, ainda maior do que a vez em
que fora seguido e trazido para cá. Algo na presença dela fazia seu sangue gelar: ainda que
parecesse apenas uma mulher frágil, não se portava como uma.
Ela ergueu seu queixo com a ponta do pé e o fez encará-la. Olhar diretamente para aqueles
olhos, ainda que por um breve segundo, o fez esquecer-se de qualquer medo que o afligia.
– Olá, qual o seu nome? – Ela sorriu ao curvar seu corpo na direção dele.
Aquela voz era a música mais bela que havia ouvido.
– Tho-Thomas, Piter Thomas. – O pobre mal conseguia falar ou mesmo desviar o olhar.
Ela o fitava profundamente, como uma serpente se preparando para o bote, e Piter,
hipnotizado por seus olhos, não conseguia mover um único músculo, respirando com
dificuldade. A presença dela conseguia ser extasiante e sufocante.
Sem mexer a cabeça tentou olhar ao redor. Uma porta de madeira trancada, uma mesa ao
canto com alguns castiçais sobre ela, as janelas obstruídas; duas mulheres e um homem,
provavelmente seu raptor, que não pareciam dispostos a ajudá-lo. Não havia para onde ir, mas a
cada vez que encarava aqueles olhos menos tinha vontade de partir.
– Bom, acho que fez uma boa escolha, Elzor. – Disse ao homem, ainda encapuzado, parado
atrás de Piter.
– Tudo para servi-la, Dária. – A voz do homem era grave e ecoava como um tambor enchendo
todo o ambiente, e serviu para lembrar Piter o quão assustador tudo aquilo era.
Viu Dária se levantar com a enorme saia negra do vestido e vir na direção dele, em uma
velocidade tão inacreditável que mal teve tempo de gritar antes de sentir presas pontiagudas lhe
rasgarem a pele fina do pescoço e sentir seu sangue se esvair por onde ela sugava.
Instantes depois já não queria mais gritar, ou mesmo fugir. Sentia seu sangue começar a ferver
e mal notou sua ereção involuntária. Queria agarrar aquela mulher e despi-la ali mesmo, contudo
as amarras em seu braço o impediram de fazer qualquer movimento.
Embora estivesse louco de desejo pela desconhecida, sua virilidade não durou muito tempo,
pois à medida que seu sangue era sugado sua visão ficava mais escura e sua força se esvaía... Até
que Dária largou o corpo, que tombou caindo de lado no chão.
– Livre-se disso, Elzor. – Apontou para morto, como se este não passasse de nada, e sentou-se
novamente em seu trono, limpando o filete de sangue que escorreu de seus lábios carnudos.
Capítulo 3
Aron ergueu os olhos do livro que lia e encarou a mulher que entrou rodopiando na biblioteca.
As pequenas pedras no vestido dela cintilavam sob a luz do sol que entrava pela janela, criando
um jogo de pequenos raios que se espalhavam por todo o ambiente, iluminando os cantos mais
escuros das enormes estantes. Aron sorriu ao perceber o quão vívida Isabel conseguia ser, ainda
que sua família só conseguisse levar morte por onde quer que passasse.
Fechou o livro e o colocou sobre uma mesa de canto, ao lado da poltrona onde estava sentado,
aguardando pelo abraço quando sua irmã correu em sua direção.
– Aron! – Ela envolveu o pescoço do homem com seus braços finos e delicados. – Feliz
aniversário!
Ele sorriu ao corresponder o abraço e sentou-a em seu colo. Mesmo que Isabel já fosse uma
mulher com belas curvas, longos cabelos loiros e olhos de um azul esbranquiçado, Aron ainda a
via como sua irmãzinha, aquela que sempre trouxe alegria, não importava onde estivessem.
– Obrigado. – Sorriu ao abraçá-la mais apertado.
Admirou por longos segundos o sorriso que ela lhe deu em resposta. Ainda se impressionava
com a capacidade dela de sorrir. Isabel encontrava felicidade nas coisas mais simples e isso o
encantava.
– Trouxe um presente para ti. – Ela estendeu uma pequena caixa de veludo com uma fita
vermelha amarrando.
A encarou com um ar de não precisava. Entretanto, expressão dela continuou a mesma.
– Em quase um século eu nunca esqueci. – Lembrou-lhe empurrando a caixinha, insistindo
para que ele a abrisse logo. – Vamos! Quero saber se gostou.
Aron riu.
– Sempre gosto.
– Então abre logo.
A ansiedade da irmã era tão grande que ele não pode esperar mais para abrir o presente.
Dentro da pequena caixa havia um belo anel masculino, uma joia digna de um nobre com muitas
posses.
– Um lindo presente, Isa. – a voz chamou a atenção dos dois e fez com que se virassem em
busca da dona.
Uma mulher estava parada junto à porta da biblioteca e observa os dois como se já estivesse
ali há mais tempo, apenas esperando o momento mais oportuno para dizer algo. Ela usava um
vestido vermelho, com uma sobressaia preta, chamativo demais para uma dama. Tinha os
cabelos negros presos em um coque feito de tranças no alto da cabeça. Seus olhos eram de um
azul esbranquiçado assim como dos outros dois, e usava um conjunto de colar e brincos de rubis.
– Natasha! – Isabel ergueu os olhos a encarando. – Não sabia que estavas em casa.
– Acabei de chegar.
– Onde estavas? – A voz de Aron se tornou mais dura. Ergueu Isabel com cuidado antes que
pudesse se colocar de pé.
Natasha arqueou as sobrancelhas e o encarou com ar de quase deboche, como se aquela
pergunta fosse ridícula.
– Alimentando-me. – Ergueu a mão para impedir que Aron dissesse qualquer coisa. – Sim, eu
fui cuidadosa.
Isabel deu alguns passos, ficando entre os dois, e cruzou os braços com uma expressão séria
no rosto.
– Hoje não é dia para ficarem se alfinetando.
– Não vamos. – Natasha sorriu ao caminhar na direção do irmão e abraçá-lo.
– Ás vezes nem parece que és a mais nova. – Aron fez um cafuné em Isabel.
Os três se abraçaram por um longo momento.
– Sabem do jardineiro? – Perguntou Isabel ao se afastar dos irmãos.
– Dissestes que não era para brigarmos hoje. – Natasha comentou com um risinho.
– Como vamos manter essa casa se ficam matando os empregados? – Isabel cruzou os braços
e fechou a cara.
Aron apenas riu de tudo. Desde que fossem cuidadosos pouco importava de quem eles se
alimentavam.
– Bom, eu não trouxe um presente como a Isabel, no entanto, tenho uma surpresa. – Natasha
mudou de assunto, chamando a atenção dos outros dois. – Arrume-te, à noite o levarei a um
lugar.
– Está bem. – Aron encarou a irmã, curioso. Natasha não era de fazer surpresas, na verdade
ela era menos discreta do que ele gostaria. O que ela estaria aprontando a final? Coçou a barba
que já lhe cobria o rosto. Perguntou-se se ver o que iria acontecer não seria perigoso demais,
conhecendo a irmã tão bem. Entretanto, não custava dar a ela um voto de confiança.
– Vejo-lhe mais tarde. – Natasha deu um beijo na bochecha do irmão e deixou a biblioteca.
Isabel o encarou por alguns momentos. Ela tinha as sobrancelhas arqueadas, os olhos
arregalados e a boca semiaberta, surpresa pela atitude da irmã.
– Não será nada demais. – A promessa de Aron foi mais para ele mesmo.

A lua, que já estava imponente no céu, entrava pelas grandes janelas e refletia-se no espelho
no qual Aron se observava. Ele estendeu a mão e pegou uma abotoadura que estava sobre a
cômoda ao lado, onde ficavam suas joias e alguns lenços.
O quarto do duque era espaçoso e com grandes janelas. Uma cama grande ficava junto a uma
das paredes, coberta com uma colcha azul e com almofadas douradas. Essa tinha um belo dossel
com o mesmo tecido azul da colcha e franjas douradas. Ao lado da cama ficavam dois criados-
mudos com um abajur em cada, e num deles havia uma foto dos três irmãos. À frente dela havia
um tapete de pele de urso e uma mesa redonda com duas cadeiras, espaço para Aron tomar seu
café da manhã. Na outra extremidade do quarto, onde o homem encontrava-se de pé, ficava o
grande espelho, a cômoda e uma porta que dava para um closet.
Aron ajeitou o colarinho da camisa, vestiu o colete, o casaco; colocou o chapéu e olhou para o
seu reflexo mais uma vez. Era bonito, precisava ser, contudo era mais vaidoso do que o
necessário. Colocou o anel dado por Isabel, então deixou o quarto à procura de Natasha.
– Aron! – Assim que ele colocou o pé para fora do quarto, Natasha veio em sua direção.
Ele a encarou sob a luz amarelada do lustre do corredor. Uma armadilha perfeita, pensou ao
abrir um leve sorriso. Natasha era o uma mulher que possuía as armas certas para levar qualquer
homem a cometer os piores pecados, e sabia bem como usá-las.
– Vamos? – Ele estendeu o braço para ela.
Natasha sorriu e entrelaçou seu braço no do irmão. Juntos, caminharam até o jardim do
casarão, onde o cocheiro aguardava por eles junto à carruagem. Assim que seus senhores
estavam devidamente acomodados, ele rumou de volta à estrada.
Apesar do destino incomum, o cocheiro não fez pergunta alguma. Os Donovans eram uma
família estranha, pensou enquanto mexia nas rédeas dos cavalos. Corriam boatos entre os
empregados que eles eram possuídos por demônios, pessoas entravam naquela propriedade e
nunca mais eram vistas. Contudo, tratavam bem seus empregados e eram generosos em seus
pagamentos, desde que aqueles que os servissem fossem discretos, e que nada visto entre aquelas
paredes fosse comentado fora delas. Sua família vivia bem desde que começara a trabalhar ali,
portanto para o cocheiro era tudo que importava. Se as duas moças eram solteiras apesar da
idade e tinham comportamento leviano, não era da sua conta. Então lá estava ele levando os
irmãos para um bairro de má reputação, pois tudo que tinha a fazer era cumprir ordens.
– A fumaça das fábricas está acabando com as estrelas. – Comentou Natasha ao olhar para o
céu pela janela da carruagem. – É uma pena, eu adorava observá-las.
Aron nada disse quanto à observação da irmã. No fundo estava preocupado, deveria tê-la
perguntado para onde iriam.
Quando a carruagem parou, o lorde instintivamente colocou a cabeça para fora da janela para
ver onde estavam. Não havia uma alma viva andando na rua e a luz dos postes era mais fraca do
que deveria ser, talvez estivessem com defeito. Havia uma porta discreta e nenhuma janela.
Certamente um lugar repleto de segredos.
O cocheiro ajudou Natasha a descer e Aron pulou da carruagem logo atrás dela. Sentiu-se um
garoto por estar tão ansioso, algo que não costumava ser de seu feitio.
Sua irmã tinha os lábios levemente curvados em um sorriso e olhos que transmitiam uma
segurança que o deixava temeroso. Natasha tinha o costume de não ser nem um pouco cuidadosa
com o que fazia, o que levara a Aron se sentir inseguro quando era ela quem tinha o controle da
situação.
Com passos calmos, logo ele chegou à pequena porta. Seguiu Natasha através de um corredor
escuro, iluminado por pequenas velas de luz amarelada que serviam apenas para que as pessoas
não tropeçassem nos próprios pés.
À medida que se aproximava, ouviu uma música e algumas vozes, na maioria risos e
pequenos gemidos femininos. Naquele momento entendeu aonde estava. Ainda que o prazer o
mantivesse vivo, não frequentava lugares como aquele com frequência. Tinha preferência por
garotas mais ingênuas. Entretanto ficou feliz por estar ali. Natasha podia ser irresponsável,
importar-se menos com os riscos, no entanto, divertia-se mais do que ele.
Quando chegaram ao enorme salão, os olhos de Aron se perderam observando o local. Uma
luz avermelhada e com pouca força iluminava como podia. Havia pequenas mesas circulares
com algumas cadeiras ao redor, e namoradeiras mais espaçosas encostadas nos cantos das
paredes. O bordel estava lotado, tanto de clientes, homens nobres ou burgueses ricos, quanto de
moças que estavam apenas com uma saia fina usada como roupa íntima por donzelas mais
distintas. Algumas usavam um espartilho e outras tinham os seios à mostra.
Um barulho chamou a atenção do lorde e o fez olhar para uma das namoradeiras a poucos
metros de onde estava. Um homem gordo, com cabelo e barba branca, rosto enrugado, que
deveria ter por volta dos 40 anos estava debruçado sobre uma das moças. Entre as pernas dela, o
velho não tinha o menor pudor ou hesitação antes de penetrá-la. As sobrancelhas baixas e o olhar
distante no rosto da moça deixavam claro que ela só estava esperando que ele terminasse.
– Aron. – Natasha chamou por ele atraindo de volta sua atenção.
Quando desviou o olhar em busca da irmã, Aron viu de relance a imagem de uma mulher que
observava tudo de pé em uma sacada no alto do salão. Ainda que por uma fração de segundo, ele
a admirou como se fosse por horas. Debruçada sobre os balaústres que serviam de proteção, a
bela ruiva observava o que se passava embaixo. Possuía uma pele branca, quase translúcida,
mãos delicadas e um rosto angelical. Os longos cabelos ruivos pareciam sedosos e Aron se
encheu de desejo de tocá-los.
– Venha logo. – Natasha o puxou.
Ainda num misto de vislumbre e curiosidade pela mulher misteriosa, Aron mal notou ser
arrastado para longe, só se deu conta quando ela saiu de seu campo de visão.
– Quem é ela? – Foi impossível conter a pergunta.
– Ela quem? – Natasha procurou por alguém na direção dos olhos do irmão, mas já não havia
mais ninguém lá. Então puxou-o na direção de um dos quartos em um dos corredores laterais ao
salão.
Ela levou o irmão até a porta do quarto combinado.
– Divirta-se, querido. – Abriu a porta para que Aron entrasse, deu um beijo no rosto dele e
saiu, deixando-o sozinho.

As moças aguardavam sentadas na cama macia e espaçosa. Uma olhava para a outra e,
embora não verbalizassem nada, a troca de olhares já dizia muito. Mordiam os lábios e torciam
os dedos, estavam nervosas e não esperavam algo bom daquilo. Estarem no melhor quarto da
casa e sob total sigilo era sinal de que o cliente da noite era um homem poderoso, provavelmente
um velho porco casado. Isso as enojava.
Alexia relaxou os ombros e olhou para o belo abajur ao lado da cama. Já deveria ter se
acostumado com aquela vida, pensou mordendo os lábios. Costumava ser apenas uma
camponesa pobre do interior da Inglaterra, contudo a vida fez com que se mudasse para Londres
em busca de um emprego honesto. Embora tivesse procurado em todos os cantos por algum, para
não passar fome acabou tendo que se vender.
Para Chloe, ainda que a vida como prostituta fosse uma escolha para fugir da casa dos pais
controladores, vivê-la não era mais fácil. Principalmente em dias como aqueles. Seu estômago
estava embrulhado, como odiava os velhos asquerosos que traíam suas esposas.
Quando a porta foi aberta, a atenção das duas se voltou imediatamente para ela. Um homem
entrou e trancou-a atrás de si. Ambas as moças ficaram boquiabertas ao perceberem que suas
conjecturas a respeito do amante daquela noite estavam erradas. Sentiram uma sensação que se
comparava a um chute forte no peito, que as deixou sem ar. Ele estava mais para o príncipe de
seus sonhos esperançosos do que para os ogros com os quais estavam acostumadas a se deitar.
Viram-no colocar o chapéu sobre uma pequena mesa ao lado da porta e percorreram com os
olhos cada centímetro do corpo daquele homem. Abriram a boca várias vezes, mas estavam
chocadas para dizer qualquer coisa. Ele tinha pele clara, olhos azuis levemente esbranquiçados,
cabelo negro e curto, barba para fazer. Os lábios eram carnudos e desejaram poder beijá-los.
Isso era um sonho, Alexia suspirou. Somente sua mente fantasiosa lhe proporcionaria tal
visão.
Chloe se levantou e puxou a colega junto.
– Vamos ajudá-lo a se despir. – Não escondia o sorriso em sem seus lábios. Ainda que por
apenas uma noite, desejou o homem diante de si.
Aron observou as duas moças que estavam no quarto levantarem-se e irem em sua direção.
Deveria ter esperado algo assim de sua irmã do meio. Mas pensaria em Natasha depois.
Abriu um leve sorriso ao encarar o presente. Natasha tinha um bom gosto, admitiu.
Com o canto do olho, Chloe se certificou de que a porta estava realmente fechada, então se
aproximou o suficiente do homem para poder tocar seu ombro. Suas mãos tremiam e as sentia
molhadas com um suor frio. Abriu um sorriso, tentando em vão disfarçar o quanto se sentia
nervosa e insegura. Seu corpo tendia para trás, encolhendo involuntariamente, envergonhado. Já
havia feito aquilo dezenas de vezes não precisava ficar assim, disse a si mesma, ainda que
parecesse inútil.
– Não tenhas medo de mim. – Aron tocou a mão dela com a sua ao notar o quanto a garota
tremia.
Chloe sentiu um calor subir da região onde ele tocou até todas as partes do seu corpo. Suas
pernas ficaram ainda mais bambas, no entanto, no momento em que achou que iria ao chão os
braços firmes dele seguram-na pela cintura.
– Não te deixarei cair.
Ela quase teria rido daquilo se Aron não tivesse sussurrado tão perto da sua orelha, ao ponto
de fazê-la se arrepiar toda.
Com a jovem em seus braços, o lorde não conteve os olhos, deixando-os passear livremente
pelo corpo dela. Chloe vestia uma camisola semitransparente que o permitia vislumbrá-la quase
por completo. Ela possuía cabelos castanhos, encaracoladas e cheios; um corpo com curvas bem
ressaltadas, quadris largos e seios fartos. Aron mal via a hora de poder tocá-la melhor, com a
língua de preferência.
Chloe tentava se controlar. O perfume e a beleza daquele homem estavam embriagando-a.
Olhou para a Alexia, ainda sentada na cama, tímida, como um motivo para motivá-la, mesmo
que não passasse de uma desculpa para desviar o olhar e manter seu autocontrole.
Alexia olhou para os dois, ainda envergonhada. Sua respiração estava descompassada. Jamais
havia feito aquilo antes, com outra garota. Geralmente só se deitava e esperava que o homem
terminasse.
– Vem. – Chloe tentou encorajá-la.
Aron olhou para a segunda garota quando esta caminhou em sua direção. Mesmo com curvas
menos acentuadas, era igualmente bonita. Ela possuía longos cabelos negros, enormes olhos
verdes que o fitavam em um misto de deslumbre e medo, e lábios carnudos que o duque mal via
a hora de beijar.
Quando essa chegou perto o bastante, Aron a envolveu com o braço livre.
Então Chloe começou a deslizar levemente o casaco dele, até tirá-lo por completo e o jogar
em uma mesa no canto do quarto que ele estava ocupado demais para notar antes.
Alexia sentiu a mão do lorde subir por suas costas até a nunca, onde segurou com firmeza os
cabelos dela, e quando se deu conta ele estava puxando seu rosto para mais perto, o suficiente
para que os lábios dela roçassem nos dele. Se não estivesse sentindo um enorme calor tomar
conta do seu corpo ela não acreditaria no que ele estava fazendo. Nobres não costumavam beijar
prostitutas. Desde que sua virgindade fora leiloada o sonho de ser beijada por um belo homem
havia sido tirado dela naquela mesma noite.
Aron percebeu o choque da garota e afastou-se um pouco, apenas para poder olhá-la nos
olhos.
– Nunca fostes beijada?
– Não, senhor. – Alexia curvou o rosto, num intuito de esconder as maçãs do rosto que
ficaram avermelhadas.
– É uma pena, os outros homens não sabem o que perderam. – Aron tirou o braço que
mantinha Chloe junto ao seu corpo e levou as duas mãos até o rosto de Alexia. Segurando firme,
fez com que ela voltasse a encará-lo. Então puxou o rosto dela para que seus lábios voltassem a
se tocar.
Alexia sentiu uma onda de energia, que se equiparou ao choque que havia tomado certa vez,
quando a língua dele invadiu sua boca. Ainda trêmula em meio à sensação intensa, se permitiu
levar as mãos até o cabelo sedoso dele. Teve medo que o lorde a recriminasse pelo toque, no
entanto, ao invés disso, ele desceu uma das mãos até a sua cintura e a puxou para mais perto,
espremendo o corpo da moça contra o dele.
Chloe assistia a forma calorosa como o homem beijava Alexia, sentindo uma pontada de
inveja. Ele era tão lindo. Desejou poder prová-lo também. Não era de se esperar que alguém
como ele fosse a um bordel. Com aquele charme e pelo luxo das roupas e joias que usava, Chloe
era capaz de apostar que ele poderia ter a mulher que desejasse.
– Não iam começar a me despir? – Aron afastou-se de Alexia o suficiente para poder olhar
bem as duas.
Chloe que estava levemente emburrada abriu um largo sorriso, e logo aproximou-se dele para
desabotoar o colete.
Alexia apoiou-se na mesa ao lado da porta, ainda zonza pelo beijo. Aquilo havia sido incrível.
Olhou para o lorde sorrindo, e pela primeira vez desejou fazer aquilo que fazia todas as noites.
Que perfume, Chloe suspirou ao sentir o cheiro que emanava da pele dele. Queria poder ver
mais, senti-lo melhor. Sua ânsia era tanta que os botões do colete pareciam se multiplicar.
Quando Alexia finalmente sentiu suas pernas firmes, voltou-se para Aron e ajudou Chloe a
tirar a camisa dele, a jogando sobre a cama. Sua curiosidade, somada com o sorriso inspirador
dele, a fez levar as mãos até o peito do homem, contornando os músculos bem definidos com os
dedos pequenos e delicados.
Com a bela visão do lorde sem camisa, Chloe se ajoelhou a fim de livrá-lo do restante das
roupas. Deslizou as mãos, trêmulas pelo misto nervosismo e desejo, até o fecho da calça e foi
inevitável não perceber o volume que o pênis rígido fazia no tecido. Logo livrou-se da calça,
precisava tocá-lo.
Pela primeira vez a visão do órgão masculino a encheu de desejos e pensamentos. Sem
hesitar, envolveu-o com as mãos e levou até a boca, experimentando o sabor dele.
Aron gemeu com o toque inesperado, e acariciou o cabelo dela. Nenhuma mulher com a qual
tinha estado havia feito algo sequer parecido com aquilo. Era muito bom a experiência delas ter
lhes ensinado uma coisa ou outra.
Chloe sempre tinha nojo quando os outros clientes a pediam para fazer aquilo. Contudo,
daquela vez sua boca salivava com o desejo que tomava conta do seu corpo. Chupar o membro
rígido dele fazia seu sangue ferver.
Aron mordeu o lábio inferior, contendo o gemido quando os lábios dela o apertaram com
força. Acariciou o cabelo da moça, incentivando-a a continuar.
Alexia viu os olhos de Aron se revirarem. Parecia delicioso. Acariciou o rosto dele com as
mãos, a pele era suave. Contornou os lábios macios dele com a posta dos dedos. Queria mais,
aquele beijo havia sido tão bom. No entanto, não sabia se podia, estava ali para servi-lo e teve
medo de que ele a recriminasse. Não sabia o que estava acontecendo consigo mesma, era como
se o beijo que ele havia lhe dado fosse uma fagulha que despertasse um fogo que nunca havia
sentido.
Aron percebeu a insegurança em Alexia, o receio de tocá-lo. Ainda delirando de prazer com
Chloe chupando seu membro, ele envolveu Alexia com os braços, trouxe-a para perto de novo e
a beijou mais uma vez. Ela teria soltado um gritinho de comemoração se a língua dele não
obstruísse sua boca.
Completamente entregue ao beijo, sentiu as mãos do lorde percorrem seu corpo, logo tirando
a camisola fina que vestia. O toque dele deixava formigamentos e pequenos choques na pele de
Alexia, por onde seus dedos passaram. A onda de sensações que o beijo e os toques lhe
proporcionava deixou suas pernas bambas outra vez, e se não fosse por Aron a estar segurando
firme, elas não bastariam para mantê-la de pé.
Com uma das mãos, Aron ergueu o rosto de Chloe, fazendo com que o encarasse. Estava
maravilhoso, mas se não quisesse acabar com tudo aquilo rápido demais era melhor que parasse.
Ela se distanciou, com medo de estar fazendo algo errado, mas a forma como ele lhe acariciou
o rosto mostrou-a que estava tudo bem.
Aron pegou Alexia no colo, e ainda a beijando, levou-a até a cama. Deslizou os lábios até a
base do pescoço dela, fazendo com que um calafrio percorresse o corpo da moça e deixando os
pelos do seu corpo eriçados.
– Já volto. – Mordeu de leve a orelha dela em meio ao sussurro, arrancando-lhe um gemido
involuntário.
Chloe não conteve o sorriso quando o viu caminhar em sua direção. Agarra-me, se conteve
para não gritar. Encarou o homem nu que parecia ter sido pintado de tão belo, nunca havia tido
um cliente que se equiparasse a ele.
Fechou os olhos quando sentiu ele vagarosamente desamarrar a fita de cetim que fechava sua
camisola e a deslizar pelos ombros até que caísse ao chão. Seu corpo vibrou quando o lorde
finalmente a envolveu com os braços e a colou junto à sua pele quente. Os lábios que tanto
desejava logo tomaram os seus. Sim, era tão bom quanto pareceu ser quando ele beijou Alexia.
Aron também a levou até a cama e ficou de joelhos entre as duas, bonitas em sua
singularidade. Acariciou o rosto de cada uma delas, queria proporcionar prazer a elas também,
mesmo que por uma única noite.
Chloe e Alexia trocaram olhares, então sentaram-se na cama o suficiente para puxá-lo para
que se deitasse. Aron se ajeitou e, sorrindo, esperou pelo que elas pretendiam fazer. Ambas
beijavam o pescoço do lorde, uma de cada lado. Ambas se embriagaram com o perfume doce que
a pele dele tinha. Desceram os beijos pelo peito másculo, o abdômen, até o quadril de Aron. Ele
sorriu pensado no que as duas poderiam fazer ali. Acariciou o cabelo delas quando Chloe
segurou firme seu pênis ereto e Alexia curvou-se para passar a língua em toda sua extensão.
Um gemido escapou por entre os dentes cerrados de Aron e ele apertou com força a colcha da
cama debaixo de si. Sentia elas gostando daquilo, o que o fazia se sentir ainda melhor.
A boca de Alexia se encheu de saliva em meio ao desejo. Nunca havia beijado a parte íntima
de um homem antes, mas pela forma como viu Chloe se contorcer minutos atrás deveria ser
muito bom. Abocanhou-o com vontade. A leve mordida que ela deu fez Aron se assustar a
princípio, porém o estímulo logo o fez esquecer.
Aron olhou para as duas intuitivamente, quando Chloe colocou um de seus testículos na boca
e passou a chupar também. A empolgação delas só lhe arrancava mais gemidos.
O lorde acariciou o cabelo de Alexia e o segurou atrás para que pudesse ter uma visão perfeita
dos lábios dela subindo e descendo em seu membro.
Os gemidos dele apenas deixavam a região entre as pernas delas cada vez mais pulsante de
desejo. Ansiavam por tê-lo dentro, preenchendo-as.
Alexia fechava os olhos e chupava com mais afinco à medida que o desejo crescia dentro de
si. Sentia que não era a sua boca a única parte de seu corpo a ficar cada vez mais úmida. Aron
enrolou o cabelo dela na mão e puxou sua cabeça delicadamente para cima, forçando-a a parar.
Alexia resmungou algo, nada satisfeita com a interrupção, estava adorando aquilo, por que
parar?
Aron viu os dentes dela cerrarem-se levemente e os olhos afunilados o encararem, um pouco
brava por ele tê-la forçado a parar. Foi inevitável não soltar um risinho com aquilo.
– Acalme-se, é a minha vez agora. – Puxou-a para mais perto e ajeitou-a para que sentasse
sobre seu rosto, com a vagina bem em cima da sua boca.
Alexia corou ao ver o que ele pretendia fazer. Pensou em perguntá-lo se tinha certeza, mas
aquilo lhe pareceu ridículo, e iria contra tudo o que ela desejava no momento. E pela forma como
o homem a tratava, parecia claro que seus desejos importavam. Gemeu e deu um pulinho
involuntário quando ele agarrou com força as suas nádegas, antes de cutucar sua região pulsante
com a língua. Oh, sim! Por favor, meu lorde, se conteve para não implorar. O toque provocativo
dele parecia apenas ter atiçado mais o fogo que a consumia, tão intenso que a fazia se contorcer
involuntariamente.
– Gostas? – Aron passou a língua numa lentidão que para Alexia a mataria.
– Sim, meu Lorde. – Ela gemia tanto que mal conseguiu dizer aquelas poucas palavras.
Aron apertou com força as nádegas dela e a penetrou com a língua, depois passou a leves
lambidas e beijos. Alexia sentiu uma onda de prazer tão grande invadir seu corpo que teve que
curvar para frente e apoiar suas mãos na cama. Sentiu-se tremer em meio a espasmos
involuntários.
O lorde subiu as mãos e agarrou os pequenos seios enrijecidos dela. Os mamilos eriçados e a
forma como reagia bem aos seus estímulos deixavam claro que os homens que se deitaram com
ela pouco se importaram em lhe dar prazer. Quando sentiu a respiração ofegante de Alexia
denunciar que estava perto do clímax ele parou.
A jovem soltou gritinhos quando seu prazer foi interrompido.
– Tenha calma. – Aron colocou Alexia um pouco para o lado e fez um gesto para que Chloe
viesse tomar seu lugar.
Alexia ficou emburrada quando viu a colega roubar-lhe a posição de poucos minutos atrás. No
entanto, logo voltou a sorrir quando ele a puxou para perto e a fez se sentar sobre o pênis dele.
Gemeu alto ao ser penetrada, estava tão excitada que se sentiu deliciosamente preenchida, ao
invés do habitual desconforto.
Chloe rebolou no rosto de Aron para que ele desse atenção a ela. O lorde deu um tapa em sua
bunda, fazendo-a dar um pulinho pelo susto. Mas ela logo se esqueceu disso quando ele sugou de
leve seu clitóris. Nem se preocupou em conter os gemidos, não sabia quando um cliente a
proporcionaria tal prazer novamente.
Alexia se apoiou no peito de Aron e começou a mover-se devagar. A cada vez que se
movimentava a sensação proporcionada em seu corpo a fazia se contorcer ainda mais. O que
tinha de especial naquele homem para deixá-la daquele jeito? E por que alguém como ele se
deitaria com prostitutas?, perguntava-se em meio a gemidos. Percorreu com os dedos o
abdômen bem definido dele. Era forte e viril, decerto poderia ter a mulher que quisesse.
Contudo sentiu-se com sorte. Não importavam os motivos que o haviam trazido até ali, apenas o
fato de estar dentro dela no momento.
Chloe se curvou para apoiar as mãos na cabeceira da cama, quando seus joelhos trêmulos já
eram incapazes de sustentar seu peso sozinhos. Aron arranhava devagar suas nádegas, o que
fazia calafrios percorrerem seu corpo, o tornando ainda mais sensível aos estímulos que ele lhe
fazia com a língua. Temerosa para que aquilo não acabasse logo, ela respirou fundo, tentando
manter o controle sobre si mesma, ainda que não estivesse acostumada com um homem lhe
dando prazer.
Aron as tirou com cuidado de cima de si e ajoelhou-se na cama. Colocou Chloe de quatro e
beijou-a no pescoço, deixando um caminho de calafrios por onde seus lábios passaram, fazendo-
a apertar com força a cabeceira da cama. Encaixou-se entre as pernas dela e esfregou seu pênis
na região úmida e pulsante dela. Chloe contorceu-se. Tê-lo ali tão próximo a fazia querer
implorar para que a penetrasse logo. Nunca sentiu tamanho desejo, precisava do lorde dentro
dela ou enlouqueceria.
– Queres? – Aron a provocou, passando seu pênis, mas sem a penetrar.
– Sim, meu lorde, por favor. – A voz de Chloe era pura súplica.
Então, finalmente Aron deslizou para dentro dela, dando um fim àquela sensação angustiante.
Percebeu que ela estava molhada o suficiente para que não precisasse se preocupar em machucá-
la. Deslizou para fora bem devagar, arrancando um choramingo, para logo em seguida investir
com mais força e velocidade. Os movimentos dele ficaram cada vez menos delicados e mais
urgentes.
Com uma mão segurando firme a cintura de Chloe, Aron usou a outra para trazer Alexia perto
o bastante para beijá-la. A jovem não teve mais receios ao enroscar seus dedos no cabelo do
homem e pressionar seu rosto mais contra o dele. Em meio ao beijo o lorde deslizou a mão até o
meio das pernas dela e a penetrou com um dedo, fazendo-a arfar. Com Aron a estimulando,
Alexia jogou a cabeça para trás e soltou um grito. Acabou puxando o cabelo do lorde, mas esse
não pareceu se importar, ao contrário disso enfiou mais um dedo na moça e os moveu com
agilidade.
O orgasmo veio quando ela pensava que nada seria mais prazeroso. Alexia sentiu uma
sensação de puro êxtase tomar conta do seu corpo, algo que compararia a todos os melhores
momentos de sua vida a invadindo de uma única vez, num golpe tão forte que a deixou sem ar
por alguns segundos. Suas pernas estavam tão bambas e tremiam tanto que não aguentaram, se
não fosse pelo braço ágil de Aron segurá-la a tempo, talvez tivesse caído da cama. Puxou o rosto
dele para mais um beijo, enquanto ainda experimentava a sensação que se esvaía aos poucos, e
sentiu-o corresponder àquele beijo com ainda mais desejo do que antes. Alexia esperava se
recuperar daquele cansaço momentâneo logo, quem sabe ainda tivesse a oportunidade de fazerem
mais antes que ele fosse embora. Talvez fosse mera impressão sua, mas ao invés do cansaço ir
embora ele apenas aumentava. Tentou afastar-se do beijo para poder deitar-se um pouco, no
entanto Aron a segurou firme, impedindo-a de se mexer. Gritou, mas os lábios do lorde contra os
seus abafaram qualquer som que produzia, até não ser mais capaz de se mover. Encarou os olhos
dele, tornando-se um azul brilhante, quase fantasmagórico, e essa foi a última coisa que viu antes
de suas forças se esvaírem por completo e seu corpo pousar sem vida no braço de Aron.
O lorde deitou o corpo de Alexia na cama em um ângulo onde Chloe não podia vê-lo, para em
seguida voltar sua atenção completamente para ela. Aron apoiou suas duas mãos na cintura da
moça e investiu com força, arrancando-lhe um gemido alto. Ela nem esperou para que ele se
movesse novamente e empurrou sua bunda contra o corpo dele, fazendo-o entrar fundo.
Aron saiu de dentro dela e a virou na cama, colocando-a deitada de frente para ele. Chloe nem
teve tempo de reclamar por ele ter saído de dentro dela, pois sem hesitar o homem a penetrou
novamente. Pegou as duas mãos dela e segurou com as suas, mantendo-as firmes, apertadas
contra a cama. Investiu com força, sem se preocupar em ter cuidado, a mulher não era como as
virgens de porcelana que ele seduzia fácil.
Chloe o abraçou com as pernas, prendendo-o junto ao seu corpo e o fazendo entrar ainda mais
fundo. Soltava gemidos incontroláveis enquanto Aron mordiscava e assoprava sua orelha, a
fazendo se arrepiar toda. Respirou fundo, ainda não, ainda não... Mas foi impossível, soltou um
grito alto quando as sensações explodiram dentro dela. Sua respiração ficou mais urgente,
fazendo seu peito subir e descer freneticamente. Ainda estava extasiada e pouco se deu conta de
que Aron ainda continuava os movimentos, dessa vez mais rápido, preocupado com o próprio
prazer.
O lorde soltou as mãos dela e segurou firme o seu rosto, rendendo-a em um beijo cheio de
urgência. Chole adorou quando a língua dele invadiu sua boca novamente e entrelaçou suas mãos
ainda tremulas no pescoço dele. Aron acariciava o cabelo dela enquanto intensificava o beijo.
Sentiu seu orgasmo começar a chegar e não se conteve em começar a sugá-la, ainda que a
essência de Alexia o tivesse saciado.
Chloe estava tão extasiada que nem seu deu conta do que acontecia até sua visão ficar turva.
Pensou em empurrá-lo para longe, mas não teve forças nem mesmo para levantar os braços.
Aron soltou um gemido alto quando seu líquido quente tomou conta do corpo já imóvel de
Chloe e os últimos vestígios de uma aura azul foram da boca dela para a sua. Ele suspirou,
deixando seu corpo cair ao lado do dela. Nossa! Aquilo havia sido incrível. Talvez agradecesse
Natasha pelo presente mais tarde.
Esperou sua respiração se estabilizar um pouco antes de colocar-se de pé. Ajeitou o corpo das
duas mulheres sobre a cama, uma ao lado da outra. Não iriam atrás dele pela morte de duas
prostitutas, no entanto, sentiu um pouco de pena delas. Ele as matava, esse era o destino de
qualquer mulher que fosse para a cama com ele.
Aron vestiu suas roupas e olhou para os corpos imóveis na cama mais uma vez, antes de
apagar a luz e deixar o quarto.
Capítulo 4
Dária jogou a cabeça para trás, batendo contra a parede atrás de si. A ligeira dor pouco a
incomodou. Um gritinho escapou de sua boca e ela mordeu os lábios, cortando-os. Sentiu o gosto
agridoce do seu próprio sangue nas gotas que caíram em sua língua. Agarrou com força os
braços da cadeira, deixando a marca de seus dedos na madeira.
Sentiu a língua roçar em seu clitóris e estremeceu com o toque. Abriu mais as pernas por
reflexo, para que a cabeça da mulher entre elas se ajeitasse melhor.
Com uma das mãos, puxou as camadas de tecido da sua saia para cima, a fim de poder ver
Anne melhor. Com a outra, puxou para trás os cabelos cacheados que caíam sobre suas coxas.
A mulher ergueu o rosto e sorriu o ver a boca semiaberta e os olhos virados para cima de sua
senhora, que logo soltou um resmungo pelo beijo íntimo ter parado. Então, curvou-se novamente
e soprou um ar quente que fez Dária se contorcer. Passou um dos dedos sobre a região úmida,
antes de deslizá-lo para dentro. Tão molhada.
O dedo entrava e saía rapidamente, fazendo Dária mexer os quadris, rebolando na cadeira.
Gemidos escapavam por seus lábios entreabertos.
Anne sentia-se tão feliz em poder servi-la, tocá-la. Sempre gostara mais de mulheres e,
quando sua família a deserdou por isso, acreditava que sua vida estava acabada, até a bela dama
salvá-la. Como teve sorte.
Deslizou a mão livre pela parte interna da coxa de Dária, que possuía uma pele sedosa apesar
de fria. Então curvou-se a fim de retomar de onde havia parado...
O som singelo de algo caindo chamou atenção de Dária devido à sua audição aguçada. Mas
logo seria ignorado caso não viesse seguido de um grito estridente.
Ela se levantou e no instante seguinte Anne não viu mais a sua senhora. Se não fosse pelo
gosto dela ainda em sua boca, juraria que estivera sozinha o tempo todo. Não havia como alguém
se mover tão rápido assim. Por mais que amasse, não duvidava dos boatos que diziam que a bela
dama não era humana. Anos se passaram desde o dia em que se conheceram e Anne podia jurar
que sua senhora não havia envelhecido um único dia.

Cassandra estava com os olhos arregalados, as mãos tremendo e algo parecia ter bloqueado a
sua garganta, tornando o ato respirar algo custoso. A bandeja que carregava há poucos segundos
encontrava-se no chão, a comida havia se espalhado e as taças para o vinho quebraram-se em mil
pedaços.
Ainda que sob a luz propositalmente fraca do quarto, ela podia ver os corpos das garotas que
conhecia bem, estirados sobre a cama, nuas. Chloe e Alexia eram boas garotas, apesar da vida
que levavam. O que diabos havia acontecido com elas, pareciam múmias, com a pele seca. O
peito delas não subia e descia, sinal que não respiravam mais.
– O que está acontecendo aqui?! – Dária entrou no quarto como um furacão, sem que
Cassandra notasse sua presença. E o grito que soltou foi suficiente para fazer a pobre senhora
pular.
A dama encarou a mulher tão pálida quanto a saia branca que usava. Não entendeu o motivo
de tudo aquilo até que seus olhos buscaram a direção dos de Cassandra, e se deparou com duas
de suas garotas. Morte era algo que conhecia bem.
Deu passos lentos até a cama e avaliou bem os corpos. Tirou o próprio cabelo ao redor do
rosto e jogou-o para trás, para ver melhor o estado delas. Não havia sangue em nenhuma parte,
nenhuma gota sequer. Mesmo que não estivesse visível não passaria despercebido por seu olfato.
Passou a mão pelo braço de Chloe: estava seco, as bochechas do rosto da garota antes fartas
haviam encolhido para dentro. Quem fez isso não era humano, Dária logo concluiu. Mas seja lá o
que fosse não era como ela, pois aqueles corpos não pareciam estar sem sangue, mas sim sem
alma.
– Qual cliente esteve com elas? – Dária se dirigiu a Cassandra. A forma como falou foi baixa
e pausada, contudo os dentes cerrados e a forma triangular da linha de seus olhos demonstravam
uma leoa prestes a rugir.
– Eu não sei, minha senhora. – Num gesto involuntário, Cassandra se encolheu e abraçou-se
como se tentasse de alguma forma se proteger da fúria iminente.
– Vou perguntar de novo e espero uma reposta melhor. – Dessa vez Daria não soou tão calma.
– Quem esteve com elas?
Cassandra engoliu em seco ao encarar os olhos vermelhos de sua senhora, que pareciam
explodir como um vulcão em fúria. Nunca se preocupou muito com as conjecturas que todos
faziam a respeito da dama, porém, naquele momento juraria que ela era um demônio.
– Eu não sei, minha senhora. – Uma lágrima escorreu de seus olhos já acinzentados pela
velhice, suas mãos tremiam e o coração batia rápido em meio ao puro desespero. – Eu juro pela
devoção que tenho a ti. Eu não sei. Um mensageiro deixou o pagamento, o nome das garotas que
queria e um bilhete, pediu extremo sigilo. Suponho que seja um nobre casado.
Daria encarou a mulher, ouviu o som acelerado do batimento cardíaco e a respiração pesada.
Está apenas com medo de mim, nada sabe sobre o que aconteceu.
– Saia – apontou para a porta. – E chame Elzor para mim.
Cassandra a encarou e não pensou duas vezes antes de deixar o lugar. Saiu tão apavorada que
pouco se lembrou da bandeja caída e da bagunça que havia feito no quarto.
Assim que Dária ficou sozinha, encarou os corpos novamente. Sabia bem o quanto a vida
daquelas mulheres era difícil, assim como a sua fora. Esforçava-se ao máximo para dar a elas o
mínimo de segurança. Não podia admitir que algo como aquilo acontecesse.

– PROSTITUTA! – O homem desferiu um tapa contra o rosto de Dária, fazendo sua cabeça
virar para o lado e gotas do seu sangue caírem sobre o chão de terra onde estava ajoelhada. – Não
me serves nem mesmo como escrava. – Grunhiu entredentes, fitando-a. Como aquela vadia
havia ousado desafiá-lo?
– A criança que carrego é tua. – Ergueu os olhos ao encarar o homem de pé à sua frente. Ele
não era muito alto, e o sol atrás dele ofuscava seu rosto, mas não precisava enxergá-lo para ter
certeza da expressão de ódio que ele exibia.
– Oras! Achas que sou algum idiota que não sabe que dormistes com outros homens?
– Eu juro, meu Lorde. – Dária apoiou as mãos no chão e seus olhos verdes encheram-se de
lágrimas. Fingira toda a sua vida o mínimo de sentimento por aquela criatura desprezível, e
continuava a fazê-lo naquele momento.
– Ninguém acredita em tuas palavras, mulher. – Ele a acertou outra vez, com um chute forte
em seu ventre, fazendo-a cair para trás, sem ar devido ao golpe.
Uma dor intensa irradiou do local atingido até o restante de seu corpo. Tentou por instinto
levar as mãos até a região, como se aquilo de alguma forma a aliviasse. Seu porco imundo!, quis
gritar, porém o impacto roubou-lhe toda a força.
– Traías-me diante dos meus olhos. Quem és para falar de fidelidade? – Juntou todo gás que
lhe restava para cuspir aquelas poucas palavras.
Seu estômago embrulhava só de pensar que um dia fora obrigada a satisfazer os desejos dele,
e o bárbaro a possuíra como um animal.
– Eu sou um homem – segurou-a pelo queixo forçando-a a encará-lo. – Faço o que bem quero,
mas tens que me satisfazer, apenas a mim. – Segurou-a pelo cabelo, puxando-o com força, para
então empurrar a cabeça dela contra o chão.
O impacto a fez perder os sentidos por alguns minutos e foi suficiente para causar um
ferimento, escorrendo sangue pelo chão. Dária estava tão debilitada que já era incapaz de se
colocar de pé novamente. Encolheu-se em posição fetal, numa tola tentativa de proteger-se do
próximo golpe. Porém o homem a chutou forte outra vez.
– Julga-te muito esperta e bonita, mas se não sabes respeitar a mim de nada vale. – Ele pisou
nela, apoiando todo o seu peso de ogro, sem dar a mínima para o quão frágil o corpo da moça
podia ser.
Dária ouviu o som do creck do seu osso da costela quebrar quando o pé atingiu suas costas. O
fragmento de osso atingiu seu pulmão, perfurando-o tornando a respiração ainda mais difícil.
DEITEI-ME COM OUTROS MESMO!, seu grito ficou apenas como um pensamento
agonizante. Deitara-se por revolta, raiva de um marido asqueroso que não se dava ao trabalho de
fingir o mínimo de respeito.
Tentou gritar outra vez, berrar as verdades que nunca disse. Contudo, só o que conseguiu foi
cuspir um pouco de sangue que se acumulava em sua garganta.
A dor já era tanta que os chutes seguintes mal foram notados. O homem só parou quando se
cansou de espancá-la. A pobre ainda tinha uma respiração fraca, mas ainda estava viva, não por
muito tempo.
O lorde a encarou, agonizando e não sentiu o mínimo de remorso. Casaram-se para que ela
fosse apenas sua, que estivesse pronta quando ele a procurasse. Se não era para ser assim, ela não
seria de mais ninguém.
Com os olhos semiabertos, Dária encarou seu marido se afastando, deixando-a para morrer
naquele beco imundo. Sentiu raiva, furiosa por seus pais a terem obrigado a se casar com um
homem que possuía três vezes a idade dela. Por fortuna, venderam-na como objeto a um porco
imundo.
Engasgou com o próprio sangue, que se acumulava em sua boca. Remexia-se no chão de terra
embaixo de si. Sabia que não duraria muito e torcia para que sua morte fosse rápida e a livrasse
de toda a dor.
Os minutos pareciam horas e a jovem ainda agonizava. Leve-me logo! Dária implorou ao anjo
da morte. O Inferno não poderia ser pior do que seu tempo na Terra.
Com os olhos entreabertos, ela viu um par de pernas finas virem em sua direção. Torceu para
que fosse alguém para enfiar uma faca em seu peito e terminar logo com aquela morte lenta.
– Não te preocupes, cuidarei de ti.
Quando Dária se deu conta, a pessoa a havia tomado nos braços e caminhava para longe.
Tentou soltar um grito de protesto, mas tudo que soltou foi um grunhido abafado. Será que era
um anjo levando sua alma? Não tinha mais forças para lutar e entregou-se à morte...

Dária balançou a cabeça, saindo da terrível lembrança e voltando ao presente. O anjo daquela
noite, Arthia, sua criadora, a havia salvo dos braços da morte e lhe dado forças para se vingar.
Não podia permitir que um homem machucasse suas garotas debaixo de seus olhos e saísse
impune...
– Minha senhora?
Dária ergueu os olhos e encarou Elzor, que entrava no quarto. Ele tinha os ombros curvados
para frete e os olhos arregalados, observadores. Pelo desespero de Cassandra ao chamá-lo às
pressas, algo muito sério deveria ter acontecido, o suficiente para deixar sua senhora furiosa.
Viu os olhos vermelhos dela queimarem quando o encarou. Esperava que o causador de tanto
ódio não fosse ele.
– Quero que descubra quem fez isso, – Dária apontou para as garotas na cama. – E dê a ele
uma morte lenta e dolorosa.
Elzor respirou aliviado.
– Como desejar, minha senhora. – Caminhou em direção à porta.
– Elzor... – Dária o fez encará-la novamente.
– Sim?
– Tenha cuidado! Esse homem talvez não seja humano.
– Serei cauteloso. – Ele desapareceu logo em seguida.
Elzor era um servo fiel. Um pequeno sorriso se formou nos lábios de Dária. Apesar de
homem, seu eunuco a servia bem desde o tempo como humanos.
Capítulo 5
Aron ergueu a xícara de chá e levou-a até os lábios. Olhou além da vitrine de vidro do café
para a chuva fina que caía lá fora, molhando a calçada e aqueles que passavam por ela. As
pequenas gotículas de água pareciam brilhos nos casacos negros dos homens. O clima
frequentemente nublado e chuvoso de Londres o agradava. Era bom sentir a brisa úmida e fria no
rosto. Ter se mudado para lá fora uma boa escolha.
– Aquele é o tal Duque da Irlanda? – Aron ouviu uma mulher comentar.
Com o canto de olho, sem mover a cabeça, olhou para ela de forma discreta, para que não
percebesse que ele a havia escutado. A senhora que já apresentava uma idade avançada estava
sentada ao lado de outra mais nova, talvez sua filha. Ambas usavam vestidos claros e
sofisticados; tinham cabelos loiros cacheados, presos em coque no alto da cabeça; e grandes
olhos azuis que encaravam Aron sem a menor discrição.
O lorde continuou a beber seu chá, fingindo não as ter notado. Riu por dentro do quanto as
mulheres pareciam curiosas sobre sua presença.
– Ele é ainda mais bonito pessoalmente do que ouvi comentarem. – As bochechas da mulher
mais jovem ficaram rubras quando ela disse aquilo à mãe. Para Loreley, não o olhar se tornava
uma tarefa mais difícil a cada segundo que se passava. Várias mulheres da corte haviam
comentado com ela sobre o duque recém-chegado, mas imaginara que estavam sendo exageradas
demais quanto à beleza do homem. Contudo, diante dele, achou os boatos um tanto modestos. Se
a perfeição existia, ela era encontrada nas linhas que traçavam o corpo daquele homem...
– Será que ele deixou a esposa na Irlanda? – Loreley ouviu sua mãe perguntar e foi sugada
para fora de seu devaneio.
– Até onde sei ele ainda é solteiro. – Virou-se para a mãe em meio a um longo suspiro.
SOLTEIRO, aquela simples palavra ecoou em sua mente por longos segundos.
Anastácia encarou o homem causador dos delírios da filha. Até mesmo ela, uma mulher de
idade, casada e já sem esperanças de viver uma aventura, precisou que se conter quando um leve
calor percorreu seu corpo. Ele realmente era muito belo, belo até demais para um homem cheio
de posses e solteiro. Coçou o queixo. Algo de muito errado teria de haver. Em seus tempos de
donzela mataria para ter o coração daquele homem e juraria não ser a única.
– Ele deve ter um defeito terrível. – Encarou os olhos da filha, tentando de alguma forma
alertá-la. Já vivera muito tempo para saber que as pessoas, principalmente os homens, não eram
perfeitos.
– Ou talvez só não encontrou a moça certa. – Suspirou com os olhos brilhando.
Aron parou de prestar atenção na conversa e voltou a encarar a rua, onde uma senhora gritava
furiosa com a carruagem que quase a atropelou. Pensativo, ele encarava o horizonte e nada ao
mesmo tempo. Um defeito terrível, um defeito mortal.
Vagando em sua própria mente, ele lembrou-se da mulher misteriosa na sacada do bordel.
Ainda que a tivesse visto apenas por uma fração de segundos, nenhuma lembrança lhe era tão
forte. Com os ombros para trás, o peito levemente estufado e cabeça em pé, ela não tinha o medo
e pudor das mulheres que conhecia. Aron viu nela a mesma força e poder que só reconhecia em
suas irmãs.
Quem és, bela dama?, pensou como se talvez ela fosse capaz de respondê-lo.
Os devaneios a respeito dela só atiçaram ainda mais sua curiosidade. Voltaria a vê-la?, torcia
para que, caso sim, isso acontecesse logo.
– Uma moeda por teus pensamentos. – Isabel se aproximou da mesa e sentou-se em uma
cadeira diante do irmão.
– Nada importante. – Aron desconversou ao erguer a cabeça para encarar a irmã.
Isabel o encarou com os olhos fixos, curiosos, vasculhando cada curva na expressão do irmão
em busca de uma pista. No entanto, ele era mais misterioso do que gostaria
Ajeitou-se na cadeira e cruzou os braços, fazendo bico. Aron apenas riu da irmã.
Um jovem engraxate passou na rua, molhado pela chuva e carregando um caixote de madeira.
Corou ao ver a dama dentro do estabelecimento sofisticado, porém não conteve um aceno sem
graça.
A Isabel abriu um largo sorriso e acenou de volta.
– Saindo com plebeus agora? – Aron a fitou, curioso apesar de Isabel claramente não se
importar com títulos.
– Ele é bonito e gentil. – Pensativa, ela mexia em suas luvas. – Além disso, a sociedade não
chora a morte dos mais humildes.
Aron riu. A mais jovem e mais prudente de nós.
– Mas não uses isso como subterfúgio para tua fuga de nosso assunto. – Isabel apoiou os
braços sobre a mesa e curvou-se para cima do irmão, forçando-o a encará-la. – Andas distante e
pensativo desde que voltastes da surpresa de Natasha, o que houve? Ela aprontou algo?
– Não. Foi apenas um bordel com algumas prostitutas. Nada imprudente, mas...
– Mas? – Isabel se curvou ainda mais, forçando-o a falar.
– Bom já disse não foi nada demais. – Aron deu outra golada no chá. – Apenas uma mulher
que mal vi, mas que de alguma forma instiga meus pensamentos e minha curiosidade.
O lorde soube no momento em que disse aquilo que só deixou a sua irmã ainda mais curiosa.
Para ele sempre fora claro que o que Isabel e Natasha mais tinham em comum era a habilidade
de enchê-lo de perguntas. Porém, aquilo era tudo, não havia mais o que ser dito porque ele não a
conhecia, não sabia nem mesmo seu nome, apenas que ela possuía uma presença tão marcante a
ponto de fixar-se em sua memória.
– Quando a verás de novo?
– Eu não sei.
– Mas sabes onde encontrá-la.
– Talvez.
Isabel arqueou as sobrancelhas e cerrou os dentes. Sabia bem que para seu irmão era fácil ter
a mulher que quisesse; vê-lo daquela forma, curioso, não era algo comum. Isso fez com que
quisesse ainda mais ver onde tudo aquilo iria.
– Procure por ela. – Isabel encarou o irmão, instigando-o.
Aron riu da irmã, aquilo lhe pareceu ridículo, perder seu tempo tentando descobrir quem era
uma mulher que certamente mataria em uma única noite.
– Querido, não esqueças que somos imortais, temos tempo para perder.

Aron desceu da carruagem, tirou o relógio do bolso. Respirou fundo e riu da forma com que
hesitava a fazer aquilo. Ao mesmo tempo em que estava ansioso, achava tudo uma perda de
tempo. Porém havia dado ouvidos à insistência de Isabel e estava ali, em frente ao mesmo bordel
da noite passada.
Guardou o relógio de volta no bolso do casaco e ergueu os olhos. A noite havia chegado há
pouco, contudo a pequena porta parecia destrancada. Entrou logo, aquela hesitação o fazia não
reconhecer a si mesmo.
Caminhou pelo corredor de pequenas luzes vermelhas com passos firmes, lembrando-se do
que era. Quando chegou ao salão os olhos, inclusive masculinos, voltaram-se para ele. Como era
lindo.
Vasculhou cada pedaço do local em busca da mulher misteriosa. Uma das prostitutas que
estava sentada sobre uma das namoradeiras chamou sua atenção, ela era alta, com volumosos
cabelos cacheados e loiros e abriu um largo sorriso para ele. Contudo, não era quem procurava.

Esse cheiro...
Dária ergueu a cabeça e um rosnado escapou entre seus dentes. Soltou um corpo imóvel no
chão. O cadáver caiu sobre o carpete de sua sala com um saco pesado, causando um estrondo.
Mesmo que o salão estivesse cheio, os sentidos dela ainda eram capazes de distinguir cada som
ou cheiro vindo daquele ambiente. Encarou a penumbra do ambiente ao seu redor antes de se
mover tão velozmente que pareceu ter desaparecido.
Parou na sacada de onde podia ver todo o salão. Aquele cheiro... Era o mesmo deixado no
quarto onde encontrou as garotas mortas. Não imaginava que o assassino tivesse a audácia de
voltar tão cedo. Com os olhos vasculhou cada detalhe do salão, de suas garotas sentadas no colo
de clientes, algumas felizes, outras nem tanto, até um homem sentado em um canto, apenas
observando sem querer a atenção de algumas das moças. ELE!
O cheiro que vinha do homem era inconfundível. Um aroma doce, natural e ao mesmo tempo
único, inebriante como o de uma flor rara. Algo incrível demais para ser humano.
Os clientes, com seus sentidos alterados demais pela bebida em seu sangue e distraídos com
as moças, mal viram um borrão passar por eles. Aron, que observava tudo à procura da mulher
misteriosa, foi pego de surpresa e só se deu conta do que havia acontecido quando suas costas
bateram contra a superfície de uma parede fria.
O lorde fora levado para um beco atrás do bordel. Um lugar preenchido por um silêncio
agonizante e longe das vistas de todos. Confuso, encarou o que ou quem havia o levado tão
rápido. Ainda com as mãos dela empurrando seus ombros e prendendo-o contra a parede fria, viu
a bela dama que procurava. Os lábios dele se curvaram em um leve sorriso. Encontrei-te!
Arregalou os olhos e encarou-a bem, era ainda mais bonita de perto. Com volumosos cabelos
levemente cacheados e ruivos, olhos vermelhos emoldurados por cílios negros e grossos, um
rosto pálido e lábios carnudos e vermelhos, que mal via a hora de tocar com os seus.
Embora Aron estivesse deslumbrando-se com a beleza de Dária, ela não tinha uma expressão
tão contente. Com as sobrancelhas curvadas como um triângulo, olhos afunilados e dentes
cerrados, a fúria emanava dela.
Um rosnado escapou por entre suas presas.
– Vampira!
– Íncubo! – Ela cuspiu as palavras o fitando com ódio.
– Ei! Por que estás me tratando assim? Qual o motivo de tanta raiva? Nada fiz a ti.
– Como tens a ousadia de dizer isso?! – Dária apertou ainda mais os ombros dele contra a
parede, forçando-os para trás.
Como é forte, Aron pensou ao sentir seus ossos doerem levemente e estalarem diante da
pressão das mãos dela.
– Matastes duas de minhas garotas. –Os olhos vermelhos dela queimavam em fúria. – Eu
deveria matar-te de forma lenta e dolorosa.
Aron riu. Então era aquilo, estava furiosa por causa das moças das quais se alimentara noite
passada.
Puxou-a para si e girou o corpo dos dois, dessa vez segurando-a contra a parede.
– Matar-me? – Um sorriso se formou nos lábios do lorde. – Eu adoraria ver-te tentar.
Dária empurrou-o, fazendo-o cambalear para trás.
– Não ouse tocar-me!
A dama encarou os olhos esbranquiçados do homem. Nos dois séculos em que andara pela
terra já ouvira falar sobre tal demônio, porém era a primeira vez que se via diante de um íncubo.
– Eu não sou o único assassino aqui. – Aron retrucou ao encarar os olhos vermelhos e
vibrantes dela, sinal que havia se alimentado a pouco de sangue humano.
– Isso não justifica o que fizestes. – O que Aron disse apenas a deixou mais irritada. – Fique
longe de mim, longe das minhas garotas, ou não terei misericórdia. – O tom severo de sua voz
deixava claro o quão serio estava falando.
O lorde a viu desaparecer com a mesma velocidade em que surgiu. A chuva começou a cair
sobre ele, e se deu conta de que estava sozinho no beco escuro.
Com as gotas, cada vez mais grossas, escorrendo sobre seu casaco e a brisa fria da madrugada
soprando em seu rosto, tomou o caminho de volta para a sua carruagem.
Aquele certamente não era o encontro que esperava. Contudo, como sua irmã havia lhe dito
tinham tempo para perder e não desistiria assim tão fácil. Às vezes um desafio era excitante.
Capítulo 6
– Soaria mesmo ridículo sem a parte em que ela o botou para correr.
Aron virou a cabeça e viu Natasha entrar na sala. Estava contando a Isabel o que havia acontecido na noite
passada e não sabia que a sua outra irmã estava por perto.
Isabel arqueou as sobrancelhas e encarou Natasha com o canto do olho, balançando a cabeça negativamente.
Quis brigar com ela, por que era sempre tão indelicada?
– Desculpem-me se eu fui a única aqui que achou isso no mínimo hilário. – A súcubo caminhou até eles e
sentou-se no sofá ao lado da irmã. – Um íncubo correndo de uma dama.
– Não sejas ridícula! – Isabel se irritou e algo começou a crescer em suas costas, forçando o tecido do
espartilho ao ponto de quase rasgá-lo.
– Aqui não, acalme-se. – Aron segurou a mão dela.
– Desculpe-me. – Natasha tentou sorrir para a irmã. – Talvez eu tenha exagerado um pouco.
Isabel revirou os olhos e respirou fundo. Um pouco?
– Uma vampira? Interessante, nunca conheci um antes.
Aron encarou a irmã pensativa e não disse nada. A vampira já estava irritada com ele, não precisava da mais
desequilibrada dos Donovans piorando a situação. Além disso, não estava em seus planos desistir facilmente. Tê-
la visto de perto só o fez se encantar ainda mais pela beleza dela, e se precisasse ser paciente ele seria.
– Boa sorte, querido irmão. – Natasha se levantou e deu alguns tapinhas nas costas de Aron, que buscou a
ignorar.
– Não dê importância para o que ela fala. – Isabel se voltou para o irmão. – Não pensa muito no que diz.
Aron sorriu.
– Não te preocupes, sei lidar com ela.
– E quanto à vampira, desistirás?
– Não me disseste que temos tempo?
Isabel curvou os lábios em um singelo sorriso. Era a primeira vez que via seu irmão tão interessado em uma
mulher, antes disso os casos de Aron, assim como os dela, eram breves. Seduziam suas presas, satisfaziam seus
desejos, alimentavam-se e nunca além disso. Elas não resistiam ou mesmo duravam até a próxima vez.

Eu deveria matar-te de forma lenta e dolorosa, a bela voz da vampira ecoava na cabeça do lorde. Quanta
audácia! A forma com que ela se impôs apenas deixou Aron ainda mais fascinado. Se o simples vislumbre de sua
beleza o encantara, a força e coragem na voz dela haviam tido quase o efeito contrário do que ela provavelmente
queria causar. Se ele se afastaria? Claro que não, mas sabia que precisava ser paciente. Sem querer havia
começado a relação dos dois da pior forma possível, porém isso só significava mais algumas rodadas no jogo.
Aron sentiu uma navalha passar pelo seu rosto, e num deslize provocar um pequeno corte em sua pele. Abriu
os olhos e encarou o jovem barbeiro que, ao ver a pequena gota de sangue, empalideceu.
– Desculpe-me, meu senhor. Por favor, desculpe-me. – O rapaz tremia muito, apavorado acabou trombando na
bacia com água ao seu lado e jogando-a no chão.
Maldição! Começara a trabalhar há pouco, o mais longe do que qualquer um de sua humilde família chegara,
servir os nobres, e já estava fazendo tudo errado. Acabara de ferir o rosto mais belo que já contemplara.
O lorde observou o desespero do rapaz. Teve pena, o pobre parecia um tanto desorientado. Seus olhos verdes
eram pura angústia.
– Não te preocupes. – Aron sorriu ao acariciar de leve a mão do jovem, fazendo com que esse ficasse mais
calmo de imediato. – Foi um simples acidente, nenhum mal fez a mim.
O toque do lorde fez um súbito calor correr pelo seu corpo. Foi inevitável conter um breve sorriso e o rubor em
suas bochechas. Acabou deixando a lamina cair no chão, e por pouco ela não cortou o couro fraco de seu sapato.
– Preste atenção, garoto! – O dono da barbearia, atendendo outro cliente a poucos metros, reprendeu o jovem.
Aron tirou a toalha que envolvia seu pescoço e girou na cadeira para fitar o homem atrás de si. Ele tinha uma
estatura mediana, usava um terno surrado por baixo de um avental encardido, possuía olhos azuis contornados por
fortes linhas de expressão, uma barriga saliente, e um cabelo grisalho que havia quase caído por completo no alto
da cabeça.
Os olhos do homem se arregalaram quando encontraram os esbranquiçados de Aron, e ele ficou boquiaberto.
– Não há por que brigar com o rapaz.
– Desculpe-me, meu lorde. – O barbeiro curvou-se. – Ele é apenas um aprendiz.
– Eu já disse, está tudo bem. – Aron ajeitou-se na cadeira e voltou-se para o espelho, a fim de que o rapaz
terminasse de fazer sua barba.
Encarou sua imagem refletida, o corte recente na linha do seu queixo já nem estava mais lá.
Deixou seus olhos vagarem, observando o local no belo fim de tarde. Pela vitrine podia ver as nuvens cinzas se
tornando cada vez mais escuras. As pessoas que passavam na rua já usavam casacos mais pesados, indicando que
o inverno estava próximo.
– Terminei, senhor. – O rapaz passou uma toalha no rosto de Aron, tirando o resto da loção de barbear.
– Não me chames de senhor. – Aron riu. – Isso me faz parecer um velho.
– O que certamente não és.
– Qual é o teu nome, rapaz?
– Elliot, senh... Elliot.
– E quantos anos tens?
– Vinte e dois.
Elliot encarou o nobre. Não entendeu o motivo das perguntas, nem mesmo por que um homem como aquele
estaria lhe dando o mínimo de atenção. Sempre o admirara de longe e sentia-se feliz por ter ganhado a chance de
ao menos tocá-lo. A troca de poucas palavras e a gentileza do lorde eram muito mais do que poderia imaginava
um dia receber, porém seus pensamentos naquele momento foram além, ainda que fossem ridículos, não tinha
chances nem mesmo com os rapazes de sua classe social.
– A que horas sai daqui?
Elliot ergueu a cabeça, arqueou as sobrancelhas e encarou o duque como se não acreditasse no que acabara de
ouvir.
– Eras meu último cliente, meu lorde. – Respirou fundo para não gaguejar.
– O que achas de irmos tomar uma cerveja juntos? Relaxarmos um pouco. Pareces tão nervoso.
– Tens certeza?
– É claro.
Aron se levantou, tirou as toalhas sobre seu colo e as colocou no balcão, e então caminhou até a porta.
Elliot nem disse nada ao seu patrão antes de tirar o avental e sair porta fora atrás de Aron. Pouco importava se
fosse repreendido, ou mesmo mandado embora. Ainda que fossem apenas algumas cervejas, aquele não era o tipo
de oportunidade que tinha sempre.
Observou o lorde caminhar até um pub numa região mais afastada de Londres e o seguiu de perto. Era de se
esperar, para um nobre como aquele, não seria bom ser visto com um plebeu por aí. Porém pouco se importava,
estava feliz apenas pelo convite.
Quando chegaram às portas do pub a noite já havia tomado conta do céu. Com inverno se aproximando, ela
chegava cada vez mais cedo e era ainda mais fria.
Eles entraram e colocarem seus casacos no suporte de madeira junto à porta. Os homens, em sua maioria
pequenos burgueses em ascensão, mal perceberam a entrada dos dois, concentrados demais em seus assuntos ou
em copos de bebidas. Aron gostava muito de ambientes como aquele, discretos, onde as pessoas não comentariam
sobre ele, ou mesmo o reconheciam.
Fez um sinal para que Elliot se juntasse a ele em uma mesa mais afastada, então pediu a um garçom que
trouxesse dois copos da melhor cerveja artesanal da casa.
O rapaz sentou um tanto encolhido na cadeira com encosto macio. Com os braços cruzados ao redor do corpo,
tentava se proteger, porém só deixa claro o quão tímido era.
Aron o encarou, e Elliot desviou o olhar, fitando uma pequena formiga que subia na parede de madeira. Não
deixes que ele perceba, não deixes!, gritava desesperado em seus pensamentos.
– Estás bem? – O lorde tentou quebrar o clima pesado de desconforto que havia se estabelecido.
– Sim, senhor.
– Chame-me de Aron.
– Está bem, Aron.
Elliot não conteve o sorriso ao perceber a maneira casual como o lorde conversava com ele. Encarou-o, desta
vez sem desviar o olhar, permitindo se perder nas belas formas que compunham o rosto másculo do duque.
Aquele momento decerto não se repetiria, dessa forma se convenceu de que podia degustá-lo um pouco.
O garçom trouxe as canecas com a cerveja e serviu os dois. Aron o pagou com uma generosa gorjeta e o
homem se afastou cantarolando, feliz.
– Então, Elliot, há quanto tempo trabalhas naquela barbearia? Não me lembro de ver-te antes. – O lorde tinha a
atenção do rapaz para si. O pobre já estava hipnotizado pela beleza do íncubo.
– Eu cheguei há pouco do interior, minha família está toda lá. Hoje era meu primeiro dia no emprego. – Elliot
tomou um gole da cerveja e fez uma leve careta ao perceber o quanto era amarga.
Aron riu da expressão dele.
– O lúpulo possui um amargor característico. Prefere algo mais suave, como um vinho?
– Não. – Elliot tomou outra golada. – Eu o acompanharei.
O lorde não insistiu, sabia que aquele era o tipo de bebida que o jovem aprenderia a apreciar, caso tivesse
tempo.
– És casado?
Elliot arregalou os olhos e engoliu em seco com a pergunta. Essa, por um momento lhe pareceu um tanto
indelicada, ainda que estivesse óbvio que a intenção fosse apenas puxar assunto. O jovem abaixou a cabeça,
mordendo o lábio inferior, inquieto, e ficou olhando para o copo em suas mãos e a tonalidade escura da cerveja.
Mentiria para não deixar transparecer nada ou falaria a verdade?
– Se fui indelicado, desculpe-me. – Aron estendeu a mão e tocou gentilmente a do rapaz que corou quase de
imediato.
Elliot ergueu a cabeça e encarou os olhos azuis esbranquiçados e o belo rosto do homem à sua frente.
– É tão bonito, meu senhor. – Não conseguiu conter o comentário, por mais que esperasse ver o duque se
afastar.
Aron abriu um largo sorriso, fazendo os olhos esverdeados de Elliot se perderem nas curvas de seus lábios. O
lorde parecia uma pintura, porém nem mesmo mais habilidoso artista seria capaz de representar tamanha beleza
com algumas pinceladas.
– Agradeço o elogio. – O duque colocou sua mão gentilmente sobre a do rapaz, fazendo as bochechas brancas
ganharem um rubor quase que instantâneo.
A pureza quase angelical do plebeu, de bochechas rosadas e cachos dourados, encantou Aron. Não era comum
encontrar homens como aquele, que pela simples inocência deixavam transparecer todo o desejo que a presença
do íncubo lhe causava.
Elliot respirou fundo, com o peito subindo e descendo pelo coração acelerado. Aquela proximidade com a pele
do duque estava exigindo demais do seu autocontrole.
– Sua mão está suando frio. – Aron observou ao sentir a pele ficar úmida por baixo da sua.
– Desculpe-me, meu senhor. – Elliot tentou puxar a mão de volta, entretanto Aron impediu.
– Não precisas ficar assim em minha presença. Parece que temes algo, ou escondes algo. – O duque o fitou
profundamente, fazendo o plebeu arregalar os olhos e curvar os ombros em um misto de timidez e susto.
– Perdão, senhor, mas nada tenho a esconder de ti. – Elliot tentou se esquivar, contudo suas mãos tremendo e as
pupilas dilatadas o denunciaram.
– Tens certeza? – Aron apoiou os braços sobre a mesa e se curvou na direção do rapaz, que por pouco não
sentiu o coração saltar do peito. – Não me desejas?
Elliot engoliu em seco ao perceber que para o duque estava bem claro o que ele tentara esconder desde a
barbearia, a sua atração por homens. Por isso não se casara ainda, enganava sempre sua família com rodeios e
fugia do compromisso com uma mulher que certamente não o agradaria. Porém perceber que o homem a sua
frente notara o que se esforçou a vida inteira para esconder o deixou desesperado. Se desejava o lorde? Era óbvio!
À sua frente estava o homem mais belo que seus olhos tiveram o privilégio de ver.
– Também és muito belo. – Aron acariciou o rosto do rapaz.
O plebeu ficou sem ação, inebriado pelo toque que irradiou um calor incomum pelo seu corpo. O mundo ao seu
redor desapareceu, assim como os homens no bar. Perdeu-se na sensação por alguns minutos até lembrar-se da
plateia e esquivar-se do toque.
– Desculpe-me, meu senhor. O que pensarão de um nobre flertando com um plebeu? – Elliot estava relutante.
Não que não quisesse, porém aquilo parecia impossível.
– Eu não me importo. – Aron arqueou ainda mais o corpo na direção do rapaz, mantendo claro o seu desejo. –
Além disso, os cavalheiros desse local estão embriagados demais para prestar atenção em nós. Contudo, se for de
tua vontade podemos ir a um local mais reservado.
Sozinhos? Os lábios finos de Elliot se curvaram em um largo sorriso. Adorou poder apenas pensar naquela
possibilidade.
Ao perceber a evidente alegria nos olhos do plebeu, Aron se levantou, deixou mais uma gorjeta para o garçom
sobre a mesa e caminhou até a saída do pub. O jovem, ainda que desconcertado pela situação, não hesitou em
seguir o lorde.
Andaram até os fundos do pub, em um beco sem movimento. Era noite de lua nova e a região possuía poucos
postes, mergulhando tudo numa penumbra. Assim que Elliot percebeu que não havia ninguém, aproximou-se do
lorde sem pensar muito, nada tinha a perder. Com a pouca luz, permitiu que suas mãos trêmulas tocassem o rosto
macio, sem a barba que ele mesmo acabara de tirar, revelando com o toque o que seus olhos mal podiam ver.
Aquilo ainda lhe parecia uma completa loucura, um belo nobre com o mundo aos seus pés compartilhar de seus
desejos proibidos.
Aron o segurou pelo colarinho da camisa e empurrou-o contra a parede gelada devido ao clima. Um calafrio
percorreu o corpo de Elliot, fazendo-o tremer, não pela superfície atrás de si, mas pela ação inesperada do lorde.
Um gemido abafado escapou pelos dentes cerrados do homem quando os lábios macios e provocantes do duque
tocaram seu pescoço. Colocou as mãos sobre a parede, de alguma forma tentando se agarrar a ela, a coisa mais
real ao seu redor. Suas pernas tremeram, ameaçando abandoná-lo quando a língua do lorde o acariciou de maneira
provocante. Esse é o melhor sonho que poderia ter, suspirou ao levar suas mãos até os negros cabelos macios.
Quando a boca que tanto o enchera de desejos finalmente encontrou a sua, Elliot se apoiou com uma das mãos
no ombro de Aron, temendo que em algum momento perderia o controle de seu próprio corpo e cairia ao chão. A
língua do duque era a coisa mais saborosa que já havia provado, e duvidava que algo pudesse superar tal gosto.
Ela tocava a sua em uma dança sensual, livre de qualquer pudor e com a ferocidade de um animal faminto. Sentiu
que o lorde não se continha, e isso o fez vibrar por dentro. Ser desejado por um homem como aquele, que poderia
ter a mulher que quisesse, era muito mais do que se permitira sonhar.
Aron pressionou seu corpo contra o de Elliot, ainda o beijando e começou a desabotoar o colete do rapaz.
Sentiu-o hesitar, contudo logo estava entregue ao desejo novamente. O colete, assim como a camisa do plebeu,
logo foi ao chão.
A brisa gelada da noite mal incomodou o peito nu de Elliot. Seus sentidos estavam focados demais nas
sensações causadas pelo lorde para perderem tempo com estímulos tão pouco significantes.
O pênis dele pulsou involuntariamente sob a calça quando sentiu as mãos do duque tocarem a região em busca
do fecho para livrarem-se também daquela peça.
Quando a calça do plebeu caiu ao chão, Aron desceu os lábios pelo pescoço do rapaz, deixando no caminho
leves beijos e mordidas que arrancavam gemidos impossíveis de conter.
Elliot mordeu o lábio inferior e respirou fundo, tentando manter o controle quando a mão macia do duque
envolveu seu pênis rígido. Não era de tudo inexperiente, já tivera algumas mulheres ao longo da vida, em sua
maioria prostitutas baratas a fim de provar sua masculinidade ao pai. Entretanto, nunca esteve com um homem,
nunca alguém tão viril e capaz de despertar sensações que até o momento ele desconhecia. Sempre desejou
homens, atraía-se por eles desde pequeno, contudo nunca seus sentimentos foram recíprocos, até aquele
momento...
Um gemido alto escapou por entre seus lábios e tentou agarrar ainda mais a parede atrás de si, quando a mão do
lorde começou a mover-se por toda a extensão do seu membro. A pressão era ainda melhor do que quando fazia
em si mesmo.
Elliot puxou o rosto do duque de volta ao seu, a fim de beijá-lo novamente, enquanto tratou de tocar o corpo
dele numa desculpa para despi-lo. Logo livrou-se das roupas do nobre, forçando-o a parar de estimulá-lo.
Assim que estava nu, Aron girou Elliot, deixando-o virado para a parede e posicionou-se em meio às pernas do
rapaz, esfregando seu pênis entre as nádegas do plebeu, mas sem penetrá-lo.
Elliot gemeu, quase em súplica. A proximidade do membro do nobre o fez arder.
– Eu posso? – O sussurro da voz doce e o pedido ousado do duque o fizeram corar.
Nunca havia feito daquela forma, no entanto a proximidade do membro de Aron daquela região a fazia pulsar,
ansiar por ser preenchida. Elliot se assustou com o quanto desejava aquilo, ter prazer daquela forma.
– Sim, meu lorde. – Ele se conteve para não implorar. Faça logo!
Era tudo o que Aron precisava ouvir. Curvou-se para puxar um pequeno vidrinho guardado no bolso do casaco,
virou um pouco do óleo em seu pênis e jogou o recipiente de volta. Então, apoiou as mãos na parede e deslizou
para dentro de Elliot. Um grito escapou por entre os lábios do plebeu, que sentiu um leve ardor. O lorde esperou
até que o jovem se acostumasse.
Instantes depois, ele arfou, revirando os olhos. Aquilo era melhor do que esperava. Involuntariamente rebolou
contra o corpo do duque. Estava se deliciando tanto que nem parecia nunca ter feito aquilo.
Aron mordiscou a orelha de Elliot antes de aumentar o ritmo. Podia sentir o desejo na forma como o plebeu o
apertava. Surpreendeu-se com a maneira em que o jovem acompanhava suas investidas.
Os gemidos eram altos o bastante para chamar atenção caso alguém passasse por perto. Felizmente aquele não
era um bairro muito movimentado.
Elliot rebolava contra o copo do duque, empolgado, com cada parte do seu corpo tremendo em meio ao êxtase.
Aron segurou suas nádegas e entrou fundo, arrancando um gemido ainda mais alto.
A cada investida do duque, Elliot raspava ainda mais as unhas na parede, de alguma forma tentando apertá-la.
Os lábios de Aron deslizando pelo seu pescoço até a orelha, beijando e dando leves mordidas faziam o plebeu se
arrepiar e aumentavam ainda mais seu prazer.
Aron também soltava leves gemidos a cada vez que deslizava para fora e enfiava fundo outra vez. Estava feliz
por aquilo não estar machucando Elliot. Fazer sexo com um homem era diferente, mas não menos delicioso. Por
mais que para um íncubo ambos os gêneros o atraíssem, com as mulheres era sempre mais fácil, elas se atiravam
nele sem esforço algum, já os homens eram mais contidos, evitavam a aproximação. Para a sociedade da época
aquela prática era abominável e poucos se permitiam ceder a tal pecado.
Não bastasse o lorde estar se movendo dentro do seu corpo; o toque das mãos macias e firmes que seguravam
com força suas nádegas, os lábios e a língua que saboreavam sem pudor algum seu pescoço, orelhas e ombros,
levavam o plebeu a loucura. Aquilo era demais para que Elliot segurasse os gemidos. Nunca uma mulher lhe
proporcionara prazer similar àquele.
Foi em meio a um gemido abafado pelo pescoço de Elliot que Aron gozou. Aquela sensação deliciosa deixava
seu corpo trêmulo, cansado e faminto.
O plebeu corou quando sentiu um líquido quente tomar conta do seu corpo. Entretanto, não teve tempo de
perder-se em meio à vergonha, pois Aron saiu de dentro dele e o virou de frente. O sorriso e a expressão de prazer
ainda presentes no rosto do lorde fizeram Elliot se esquecer de qualquer receio momentâneo. Como ele era lindo.
O Duque apoiou uma das mãos na parede atrás do plebeu e com a outra segurou o pênis do rapaz, que pulsava.
Roçou seus lábios suaves nos ressecados pelo sol antes de beijá-lo mais uma vez. Elliot evolveu o pescoço do
lorde com os braços, buscando apoio para o próprio corpo. A mão habilidosa do lorde logo tomou ritmo
deslizando com rapidez e pressão. Elliot que já estava excitado por tê-lo tido dentro de si, não levou mais do que
alguns minutos para chegar ao orgasmo. Teria gemido alto se não fosse pela boca do lorde na sua.
Aron envolveu a cintura do rapaz com seus braços firmes e não afastou os lábios ainda o beijando com desejo.
Elliot tinha a respiração ofegante, o peito descia e subia rápido. Ainda estava perdido em meio à sensação.
Sentiu o lorde pressioná-lo ainda mais contra a parede, intensificando o beijo.
Aron estava tão faminto que não se conteve, sugou-o de uma única vez, rapidamente, não dando tempo nem
mesmo para o plebeu perceber. Quando o restante da aura azul terminou de adentrar sua boca, o corpo inerte do
jovem caiu nos seus braços.
O duque deitou o corpo no chão e olhou para ele por alguns minutos. Era um jovem bonito e correspondia bem
aos seus desejos, sentiu pena por tê-lo matado. Seria difícil encontrar alguém como ele outra vez.
Vestiu suas roupas e tomou o corpo nos braços. Olhou ao redor para se certificar que estava sozinho e notou
que, pela noite escura e cheia de névoa, seria difícil vê-lo de longe. Caminhou acompanhando por um silêncio
sepulcral até as margens do rio Tâmisa. Até a luz quebrada do poste parecia estar ao seu lado.
Acariciou rosto do rapaz pela última vez antes de antes de deixar o corpo cair sobre a água.
Capítulo 7
O lorde de Piemonte estava sentado junto a sua mesa, sob a luz fraca e tremulante das velas.
O escritório do castelo ecoava o silêncio. Jogou para o lado os papéis que tinha nas mãos,
bufando. Passou a mão pala cabeça coberta com poucos fios de um cabelo grisalho e olhou para
a lua cheia que parecia estar ao lado da janela.
Sabia que precisava concentrar-se nos problemas do feudo, havia constantes conflitos com os
burgueses, que lhe tiravam o sono. Entretanto, no momento, não conseguia dar a menor atenção
a isso. Na noite anterior, tomado pela fúria por ter sido traído, espancara sua mulher até a morte e
a deixara em um beco entre as vielas do local onde moravam seus servos. Pela manhã, mandara
seus homens de confiança em busca do corpo, contudo nada encontraram. Quem roubaria um
corpo moribundo? Ou reconheceram-na como a dama daquele castelo e julgaram-na digna de um
enterro descente? Aquela prostituta, como tivera a ousadia de desafiá-lo! Bateu com força na
mesa de madeira.
Ela era linda, porém tanta beleza só lhe trouxe infortúnios. Era mal-educada, não se curvava a
ele como uma boa esposa. Para piorar, tivera a ousadia de engravidar de outro homem e não
fizera o menor esforço para esconder.
Tal morte ainda lhe fora pouco castigo.
Uma brisa fria entrou assobiando ao preencher todo o cômodo. O homem se escolheu com o
repentino arrepio que lhe percorreu a espinha. Pensou em gritar aos servos para que fechassem as
cortinas. Contudo, um vulto passou como um borrão fazendo-o pular em sua cadeira pelo susto.
Ora, não tinha mais a mente fértil de uma criança para ver tal coisa.
Tentou voltar sua atenção para os papéis, tinha trabalho a fazer. Mesmo que se arrependesse,
algo longe da verdade, não poderia voltar atrás no que havia feito.
Uma silhueta entre as sombras formadas pelas altas estantes chamou-lhe a atenção. O que
diabos seria aquilo? Sentiu outro calafrio lhe percorrer o corpo. Seus pelos se erriçaram.
Postura, homem! És o senhor dessas terras, nada é mais temido do que ti, gritou para si mesmo
em pensamentos.
Puxou um candelabro de prata que estava a poucos metros de sua mão e levantou-se. Aquela
estranha forma o perturbaria até que tivesse a certeza de que nada era.
Em passos lentos, caminhou na direção até iluminá-la. Quando pode ver bem a criatura
escondida nas sombras, engoliu em seco. Pai nosso, tendes de piedade de mim. O choque fez o
homem deixar o candelabro cair no chão, as velas rolaram pela superfície de mármore até
apagarem-se.
– Dária? – Trémulo, ele deu alguns passos para trás.
De os olhos arregalados e boca semiaberta com um grito entalado em sua garganta, encarou-a.
Aquilo que deveria ser sua esposa por um momento lhe pareceu a pior reapresentação de seus
pesadelos. Os olhos dela estavam fundos e enormes, e o antigo verde que lembrava belos campos
havia dado lugar a um vermelho sangue, tão vibrante quanto o que derramara espancando-a. A
pele clara estava mais pálida do que nunca. Seu vestido havia sido trocado por uma camisola
branca, limpa. Talvez fosse um fantasma vindo atormentá-lo.
Dária abriu levemente os lábios exibindo presas pontiagudas que não costumava ter, e
caminhou na direção do homem.
– Saía daqui, fantasma! Volte para o inferno.
– Estou bem aqui, querido, e não vou a lugar algum até que tenhas o castigo que merece. – A
voz dela, que costumava ser calma e gentil, ecoou como uma música fúnebre assustadora,
fazendo o homem se encolher.
– O que fizeram a ti? – O lorde dava passos lentos para trás, calculando quanto tempo levaria
para chegar até a porta onde os soldados estavam de guarda.
Em um breve piscar de olhos ela desapareceu. Ele olhou ao redor à procura dela, deveria
sentir-se aliviado, entretanto uma crescente angústia lhe preenchia o peito, fazendo-o levar a mão
até o coração palpitante. Um suor frio escorreu do seu rosto quando um sopro gelado lhe tocou a
orelha.
– Pensas que vais a algum lugar?
Engoliu em seco, perguntando-se como ela havia parado atrás dele. Deveria ser um pesadelo
o atormentando, não havia outra justificativa.
– Deixastes-me para morrer, contudo salvaram-me e fizeram-me mais forte. – A voz sempre
doce dela nunca soou tão firme e cruel.
– SAÍAS DAQUI AGORA, EU ORDENO! – Tentou soar ameaçador como sempre fizera, no
entanto, não pareceu nada além de um de um garoto assustado.
Dária riu, uma gargalhada alta e aguda. Em que tipo de monstro a doce dama havia se
transformado?
– Não obedecia a ti antes. Que tolo e ingênuo pensamento o leva a crer que o farei agora? –
Segurou firme os ombros dele, puxando-os, com uma incrível força, para trás.
O lorde tentou se soltar, debatendo-se, porém ela estava mais forte do que o seu melhor
soldado. Como aquilo era possível? Um urro de dor saiu do fundo de sua garganta quando Dária
puxou tanto os ombros para trás ao posto dos ossos estalarem ao serem deslocados.
A dama ouviu o som dos nervos e tendões dos ombros do homem se romperem e o grito
agonizante de dor a fez vibrar de excitação. SOFRA, DESGRAÇADO!
O lorde não sentiu mais seus braços. Contudo, por um instante respirou aliviado pela dor ter
parado, não se importando com as implicações daquilo.
Sua paz não durou, pois logo sentiu as unhas pontiagudas dela adentrarem a pele de suas
costas. O grito seguinte tinha pouca força e estava carregado de desespero. Todo seu poder de
nada lhe valia nesse momento, não passava de uma pobre criatura assustada.
O som de seus ossos sendo partidos foi audível inclusive para ele. A dor alucinante dessa vez
o fez desmaiar. Isso o poupou de ver seu coração ainda pulsante ser arrancado do peito.
Dária espremeu o órgão, sujando de sangue sua camisola branca, então o jogou sobre o corpo
caído no chão. Sentia sua garganta arder de sede, mas daquele sangue sujo ela não provaria.

Pela janela de seu quarto, com a pesada cortina escura levemente afastada, Dária observava a
rua. Estava tudo quieto e silencioso, até mesmo o vento havia se acalmado naquela noite, a não
ser por um casal que passava na rua, estragando a harmonia de tudo. A mulher usava um vestido
de segunda mão, com saia pouco volumosa, feito sem dúvidas por uma costureira barata. O
homem, melhor vestido, talvez um burguês de classe média, arrastava a pobre e brigava com ela,
como se fosse um animal que lhe devesse obediência.
Dária respirou fundo, largou a cortina e retornou ao interior de seus aposentos. Não importava
que duzentos anos houvessem se passado desde o ocorrido que lhe assombrava a memória,
homens como seu marido continuavam a existir. Por mais forte que fosse não conseguia acabar
com todos, apenas chamar atenção para si mesma...
Foi sugada para fora de seus pensamentos quando mãos suaves e pequenas tocaram-na nos
ombros. Seus lábios se curvaram em um largo sorriso e seus olhos vermelhos como duas poças
de sangue iluminaram-se.
– Melinda. – Afirmou mantendo-se onde estava, sem voltar-se para a intrusa a fim de
confirmar sua suposição. – Ainda és a única que consegue se aproximar de mim sem que eu
perceba.
– Eu sou uma bruxa, querida. Não és a única com alguns truques. – A fala da mulher foi quase
um sussurro próximo à orelha de Dária. A leve mordida e o sopro de ar quente fizeram a dama se
arrepiar.
A vampira raspou as presas nos lábios inferiores antes de virar-se para a bruxa. Seu sorriso
alargou-se ainda mais quando, ainda que sob a pouca luz, pode ver a mulher que não encontrava
há uns cinquenta anos. Seus olhos atentos percorreram todo o corpo da visitante e seu coração
encheu-se de alegria ao perceber que ela não havia envelhecido um único dia desde que se viram
pela última vez.
Melinda se portava como a rainha que era. Não a simples comandante de um país, mas
alguém que tinha domínio sobre todo o mundo. A soberana das bruxas usava um vestido púrpura
com uma sobressaia preta; o espartilho negro apertado realçava ainda mais seus belos e redondos
seios, o tecido de renda bordado à mão sob o espartilho formava mangas que deixavam seus
ombros rosados provocativamente a mostra. Os olhos prateados dela tinham uma aura e brilho
únicos. Os cabelos negros estavam presos em um coque no alto da cabeça, e pequenos fios caiam
formando cachos que lhe emolduravam o rosto.
Dária a abraçou com força ao ponto de ouvir pequenos cracks e a respiração da bruxa se
tornar mais aflita, até que a mulher desse leves tapinhas no braço da dama para que fosse solta. A
vampira finalmente a soltou e deu um passo para trás, com os braços caídos e as sobrancelhas
curvadas. Suas bochechas estariam coradas de vergonha caso fosse possível.
– Eu senti muito a tua falta. – Melinda sorriu fazendo com que Dária se esquecesse da
vergonha. – Faz muito tempo desde que nos encontrámos pela última vez na França.
– E o que a trouxe aqui? – Dária ergueu a cabeça e a olhou de maneira mais dura e enfática. –
Não creio que a saudade bastasse para traze-la de tão longe.
– Querida Dária, sempre tão direta. – A bruxa a acariciou no rosto deslizando seus dedos
macios devagar por toda a extensão. – Eu vim para a cidade resolver alguns assuntos. Entretanto
não foram eles que me trouxeram até a ti. Gostaria mesmo de poder vê-la. Embora breves, meus
momentos ao teu lado foram memoráveis.
Melinda deslizou a mão até a nuca de Dária, fazendo a vampira fechar os olhos ao sentir a
sensação do toque da pele cálida. Enrolou os dedos nos longos cabelos ruivos e puxou o rosto
para mais perto. Os lábios se tocaram, roçando devagar. O que se tornou quase uma tortura para
as duas, não demorou para que a ânsia por um beijo mais intenso as vencesse, e quando as
línguas finalmente se tocaram, seus corpos vibraram em êxtase pelo desejo concedido.
Com seus dedos ágeis, Dária começou a puxar as amarras que prendiam o espartilho da bruxa,
logo livrando-se da peça e jogando-a ao chão. Mordeu de leve o lábio inferior dela, provando o
sangue peculiar e único que bruxas tinham. A rainha suspirou e apertou Dária ainda mais contra
seu corpo. Sentiu falta daquela pele fria e rígida, da mulher forte e ao mesmo tempo tão delicada.
Ela era sem dúvidas um de seus melhores casos...
Arrepiou-se quando os lábios foram levados até a sua orelha e um sopro de ar gélido a fez
tremer. Melinda sabia que seu tempo em Londres era curto e que muito tinha a fazer, contudo, no
momento em que as presas afiadas perfuraram seu pescoço soube que não se preocuparia com
isso tão cedo. Sentiu a região entre as suas pernas aquecer-se no mesmo instante em que seu
sangue começou a ser sugado. Conteve o desejo de fazer as roupas que vestiam desaparecerem.
Ainda que por um breve instante quisesse sair dali, o magnetismo de Dária não a permitiria. A
magia de sedução contida no veneno dela era tão forte quantos seus poderes. Resistir para que?
Jogou a cabeça para trás, encostando-a na parede e permitiu a vampira tivesse acesso total ao seu
pescoço. Suspirou ao sentir seu corpo desejá-la ainda mais.
Em um sussurro, começou a recitar um feitiço que desfez o laço do espartilho de Dária e
afrouxou as amarras. Por mais que ter o sangue drenado a estivesse deixando fraca, Melinda
choramingou quando a vampira se afastou, não queria que aquele afrodisíaco parasse.
Dária passou a língua nos lábios engolindo os últimos vestígios do sangue em sua boca. Além
do sabor, a energia presente no sangue de uma bruxa o tornava inigualável. O tomaria até a
última gota caso se permitisse, porém aquela era a quantidade que podia beber sem deixar
Melinda fraca. Furou um de seus dedos com a pronta da presa e usou a pequena gota de sangue
que se formou para curar o ferimento pelo qual se alimentara.
– Minha vez de mordê-la. – Se o desejo não estivesse tomado conta de seus sentidos a rainha
teria rido de sua própria piada.
Puxou a vampira até a cama que conhecia bem. Entre beijos calorosos, tentava se livrar das
camadas de tecidos que as cobriam. Como odiou aquelas roupas que a impediam de se tocar.
Eram panos demais, se não desaparecessem logo, apelaria para a magia.
Quando finalmente todas as saias e demais tecidos que as cobriam foram jogados ao chão,
Melinda suspirou aliviada e empurrou Dária sobre a cama, deitando-se por cima dela.
Que pele quente, a vampira suspirou com o contado do corpo nu dela no seu. Um gemido
escapou por entre seus dentes, e a fez se remexer sobre a cama, quando Melinda mordeu a base
do seu pescoço. Embrenhou os dedos no cabelo dela, atrapalhando seu belo penteado, a rainha
daria um jeito nisso depois.
A bruxa desceu os lábios até um dos seios da vampira e o contornou com a língua, fazendo
Dária arfar. Apesar de fria, a forma como reagia aos seus estímulos mostravam a Melinda que ela
estava bem viva.
Percorreu com a língua a pele sedosa por entre os seios até a base da barriga lisinha. A
vampira arqueou o corpo em meio a suaves gemidos, mexendo-se na cama. Ergueu os quadris
quando a boca de Melinda se aproximou o suficiente para fazê-la conter-se para não implorar por
um toque mais íntimo.
A rainha sorriu ao encarar o rosto de Dária, com os olhos com os olhos vermelhos a fitando, e
a boca semiaberta por onde escapavam gemidos cada vez que a tocava. Colocou uma mecha de
seu cabelo, que havia sido bagunçado, atrás da orelha e curvou-se para lamber o clitóris da
vampira. Passou a língua com pressão, em uma velocidade agonizante, o mais lento que pode.
Dária agarrou a cocha da cama e soube, quando ouviu o som de algo se rasgando, que a culpa
era sua. Soltou um gritinho em meio a carícia lenta. Aquilo era uma tortura, mas a mais
deliciosa pela qual já havia passado. Sentiu a língua a percorrer ainda devagar. Rebolou
involuntariamente e deixou escapar um gemido de súplica.
– Melinda... – A palavra saiu pelos lábios da vampira quase como um choro.
– Seja paciente. – A bruxa percorreu com a ponta dos dedos delicados a junção entre as
pernas dela e a virilha, porém sem tocar a região tão desejada.
– Essa não é uma virtude que desejo ter agora. – Dária mal conseguiu pronunciar aquelas
poucas palavras. Gemia em meio à pressão que os dedos faziam ao redor de sua virilha. Abriu as
pernas o máximo que pode, deixando-se ao total alcance da rainha. Sentia-se ardendo por dentro
e a região pulsante entre as suas pernas a enlouquecia a cada provocação, ansiando por mais do
que aqueles poucos toques. Arqueou o corpo quando Melinda se curvou novamente e voltou a
lambê-la, desta vez com mais pressa.
A vampira passou a soltar gemidos mais altos, sem a menor preocupação em retê-los, e
começou a mexer os quadris involuntariamente acompanhando os movimentos da língua que a
tocava. Um gritinho alto escapou por entre seus dentes e ela terminou de rasgar a colcha da cama
quando sentiu a boca da rainha envolver seu clitóris e começar a chupá-lo. Por um momento
havia se esquecido de quão boa Melinda era naquilo.
Com uma das mãos, a bruxa segurou as nádegas de Dária, contendo um pouco seu rebolado, e
com a outra penetrou-a com um dedo. A forma como estava molhada mostrou-lhe que estava
fazendo um bom trabalho.
A última coisa que a vampira desejava naquele momento era que aquilo parasse. Entretanto,
não era a única que queria gemendo de prazer. Puxou a bruxa de volta pelo cabelo, para poder
beijá-la na boca. Em meio à troca de carícias com a língua soltava gemidos abafados, provocados
pelo vai e vem do dedo de Melinda dentro de si.
A rainha retirou a mão e apoiou-se com os cotovelos ao lado da cabeça de Dária, arrancando
dela um gritinho de protesto. Ajeitou-se entre as pernas distanciadas da vampira e deslizou os
lábios até a orelha dela sobrando de leve fazendo-a encolher-se, arrepiada.
– Uma imortal deveria ser mais paciente.
– Não fales de paciência agora. – Dária desceu as mãos até as nádegas e apertou-as,
arrancando dela um gemido. Segurando-a firme, a posicionou para que o clitóris da rainha
ficasse sobre o seu.
Ambas gemeram juntas e começaram a rebolar, esfregando-se. A vampira segurava firme as
nádegas de bruxa, ditando os movimentos. A medida que a fricção ente as duas aumentava, os
gemidos se tornavam cada vez mais altos.
Melinda beijava o pescoço da vampira e aproveitava as mãos livres para poder tocá-la. Ainda
que Dária a segurasse, movia-se o mais rápido que podia. Subiu os lábios até os dela e esfregou-
os nos seus. Suspirou, estar com ela era incrível, as humanas não tinham todo aquele fôlego. A
fricção entre elas a estava levando rápido ao ápice.
Dária a girou na cama, sentando-a e passou uma das pernas sobre a dela, encaixando-se
novamente, e voltando a se movimentar. Aquela posição deu mais liberdade a Melinda, deixando
os seios da vampira ao alcance da sua boca. Abocanhou um deles sem hesitar, o que fez com que
Dária apertasse a sua cintura com força em meio a um gritinho, aquilo deixaria alguns
hematomas depois, contudo ambas pouco se importavam com isso no momento.
A vampira a puxou pelo cabelo, a tomando de volta em um beijo. As línguas mal se tocavam
em meio a tantos gemidos.
Dária apoiou suas mãos na cama e jogou a cabeça para trás quando sentiu a sensação do
orgasmo tomar conta do seu corpo. Tremendo, continuou a se mover por mais algum tempo, até
que sensação inebriante parasse.
– Uau! – Sorrindo, deitou Melinda na cama e apoiou seus seios, que subiam e desciam em
meio a uma respiração ofegante, sobre os dela. – Agora é a minha vez de servi-la, minha rainha.
– Beijou-a no pescoço e começou a deslizar seus lábios frios pela região estre os seios até a base
da barriga.
A rainha se arrepiou, fechando os olhos, entregue às sensações que a vampira lhe
proporcionava. Sentiu-a posicionar a cabeça entre as suas pernas e levou as mãos até os cabelos
dela, jogando-os para trás a fim de que pudesse ver melhor seu rosto. Soltou um gemido longo
quando sentiu a língua de Dária tocá-la, com pressão e ritmo. Quando o orgasmo chegou, junto
com o grito, os móveis e objetos ao redor delas tremeram, sinal de que por alguns segundos a
bruxa perdeu o controle de si mesma.
Dária se deitou na cama ao lado dela e puxou-a para junto de si. Abraçadas, trocando algumas
carícias gentis, fecharam os olhos...

Melinda acordou com Dária percorrendo as curvas de seu corpo com suas mãos geladas.
Ergueu a cabeça e virou-se para ela, sorrindo.
– Adoraria ficar contigo para sempre. – Acariciou o rosto da vampira.
– É agora que me diz que vais embora? – Dária beijava o ombro dela.
– Sabes que preciso ir. – Melinda lhe deu um selinho carinhoso. – Eu tenho algo para ti. – Em
um sussurro, fez um envelope sair do meio de suas roupas e voar até suas mãos. – A rainha
Vitória dará um baile em Windsor. Esse é um dos motivos pelos quais eu vim, e espero vê-la lá.
Dária engoliu em seco. Tumultos de humanos não eram os locais que mais gostava de ir.
Tinha bons motivos para viver nas sombras.
– Não há com que te preocupar. – Melinda acariciou os ombros de Dária ao ver uma
expressão de dúvida tomar conta do seu rosto. – Será um baile de máscaras. Ninguém a
reconhecerá, e pode levar suas garotas, se assim desejar.
– Pensarei a respeito. – Dária encarou Melinda, enrolando uma mecha dos cabelos negros
dela.
– Espero vê-la lá. – A bruxa deu um rápido selinho nela e levantou-se.
– Já vais?
– Lamento ter que partir, contudo já me conheces bem. – Andou até suas roupas e no instante
seguinte estava vestida e arrumada outra vez. Por mais veloz que Dária pudesse ser, jamais se
igualaria aos poderes de Melinda. – Até breve, minha querida.
A vampira piscou os olhos e no instante seguinte a bruxa não estava mais lá. A rainha, como
ninguém, sabia como chegar sem ser vista e desaparecer da mesma forma. Suspirou, revirando-se
na cama. Sabia que precisava levantar-se, entretanto, não faria aquilo pelos próximos minutos.
A vida nos últimos duzentos anos havia lhe mostrado ser bastante generosa. Foi salva pela
morte por sua criadora, que deu a ela a força para se vingar daquele que havia a subjugado por
anos. Melinda, assim como outras mulheres, lhe mostrara prazeres até então desconhecidos.
Dária se julgava feliz no momento. Era livre, dona de si mesma e protegia outras garotas da
forma que podia.
– Minha dama? – A voz de Elzor, ainda que atrás da porta, era inconfundível. O eunuco, servo
fiel durante sua vida como humana, continuava a fazê-lo durante a imortalidade, e em momento
algum arrependera-se de tê-lo transformado.
– Sim? – Levantou-se e começou a se vestir.
– Alguém lhe enviou flores.
Capítulo 8
– Temos um convite da própria rainha para um baile. – Natasha entrou na sala rodopiando e
sacudindo um papel em suas mãos. Os olhos dela brilhavam com uma excitação pouco comum.
Seus cabelos negros estavam soltos e balançavam no ar.
– Um convite? – Isabel ergueu os olhos a fim de fitar a irmã e deixou sua xicara de chá sobre
a mesa de centro à sua frente.
– A RAINHA! – Natasha deixou seu corpo cair sobre o sofá em meio a um suspiro. –
Deverias ser o rei, Aron, e eu princesa da Irlanda.
– Rei? – O lorde fechou o livro em suas mãos e encarou-a, como se o que ela tivesse acabado
de dizer fosse uma grande piada. – Somos bastardos. Nossa mãe seduziu o rei. Tivemos sorte
por ganharmos um bom título e posses. Deixamos a Irlanda por chamarmos atenção demais.
Imaginem só quantos questionamentos fariam a respeito de um rei que não envelhece ou mesmo
morre.
Natasha curvou os lábios em meio a uma careta.
– És TÃO sem graça, Aron.
– Quando é o baile? – Isabel se aproximou da irmã.
– Amanhã à noite...
Um grito agudo interrompeu a conversa dos irmãos e os fez pular de susto. Natasha levantou
às pressas e foi até a porta da frente do casarão.
Uma das criadas estava lá, boquiaberta, com olhos arregalados e pálida. A pobre tremia
muito, parecia ter visto um fantasma.
– Anisha, o que aconteceu?
A jovem estendeu a mão trêmula e apontou para algo na entrada, deixado ali durante a noite.
Natasha levou a mão até a boca a fim de conter um grito de espanto. Aron e Isabel se
aproximaram.
– Saia daqui agora, tudo ficará bem. – O lorde acariciou os ombros expostos da serviçal,
fazendo um calor tomar conta dela. Anisha se sentiu calma e relaxada de imediato, quis abraçar o
Duque, mas conteve-se e seguiu as ordens que lhe foram dadas, deixando o lugar.
– Eu amo essa mulher!
Aron observou a empolgação de Natasha, em seguida voltou-se para a cabeça jogada ao chão.
Pobre entregador. O homem que havia pagado para levar um buquê à bela vampira que
inundava seus pensamentos agora tinha as mesmas rosas enfiadas em sua boca junto a um bilhete
que dizia: A próxima cabeça que arrancarei será a tua.
– Como podes gostar de tamanha crueldade? – Isabel olhou para a irmã com o canto do olho.
– Precisas tirar logo isso daqui antes que mais criados o vejam.
– Podem ir, darei um jeito nisso. – Aron gesticulou com a mão para que as irmãs o deixassem
sozinho, e em seguida abaixou-se próximo à cabeça e a observou por alguns minutos.
Decerto a ideia de agradá-la com flores não fora bem-sucedida. Se a vampira parecia odiá-lo
no último encontro, a reação dela apenas deixava isso mais evidente.
Aron pegou a cabeça e vagarosamente caminhou até onde enterrava alguns dos corpos de suas
vítimas, uma região discreta e afastada da propriedade dos Donovans.
A chuva caía fina e molhava as roupas do lorde, mas esse, pisando firme sobre a grama, mal
parecia notá-la.
Mulheres gostavam de flores, entretanto, ainda que esse não fosse o caso. A reação dela lhe
parecera mais pessoal. Embora estivesse claro o quanto a vampira o odiava, o Lorde parecia
apenas se excitar com isso. Deveria haver alguma forma de chegar até aquele coração frio, tudo o
que precisava era descobrir qual.

Aron estava de pé, diante do espelho abotoava o casaco de seu terno, feito com a mais alta
costura, pelo próprio alfaiate que confeccionava as roupas da realeza. Pensou sobre o que
Natasha havia lhe dito: Sim, poderia ser rei. Entretanto nunca possuiu tamanha ambição, a vida
de nobre sem muitas preocupações lhe era muito mais conveniente.
Estendeu a mão para pegar a máscara que deixara sobre sua cômoda, ao lado de algumas
joias. Amarrou-a junto à face e observou-se no espelho mais uma vez. Mesmo com a máscara
cobrindo boa parte do seu rosto, o lorde ainda era um homem muito bonito, com ombros largos,
um maxilar quadrado e bem definido, mãos grandes e suaves, com dedos cumpridos. Nenhuma
mulher havia resistido ao seu charme, até agora.
Àquela altura, pela forma como ela o tratara, deveria estar no mínimo irritado, contudo nunca
tivera um bom desafio. De certa forma aquilo o excitava. Voltaria a vê-la em breve, as ameaças
que ela fizera não o assustavam nem um pouco. Para a vampira deveria ser fácil botar humanos
para correr, mas ele era um demônio.
– Vamos, Aron? – Natasha surgiu na porta do quarto chamando por ele. – Não quero me
atrasar.
Sem dizer nada, o duque a seguiu. A súcubo estava deslumbrante, Aron não esperava algo
diferente da menos contida de suas irmãs. Com um vestido vermelho e espartilho apertado que
cobria até metade de seus seios, deixando o restante à mostra. Seus longos cabelos negros
estavam soltos e balançavam com a brisa da noite.
– Não mate ninguém essa noite. – Aron pediu ao segurar o braço da irmã assim que chegaram
na entrada do casarão.
Natasha se voltou para o irmão com um largo sorriso nos lábios vermelhos.
– Te preocupas demais, querido.
– Vamos logo! – Isabel gritou ao acenar para os dois de dentro da carruagem.
– Não chamarei atenção demasiada para nós, não te preocupes. – Natasha olhou para Aron
uma última vez antes de segurar seu vestido e caminhar a passos largos até o transporte que
esperava por eles.
O lorde balançou a cabeça, tentando afastar alguns pensamentos. Gostaria de se sentir mais
seguro quanto às palavras da irmã, porém discrição nunca lhe fora algo importante.
Aron se sentou ao lado de Isabel na carruagem e fez um gesto para que o cocheiro iniciasse a
viagem.
O baile seria em Windsor, um grande castelo que ficava a pouco mais de uma hora da
propriedade dos Donovans. Os três irmãos seguiram a viagem em silêncio.
Isabel, dependurada sobre a janela, observava as estrelas que brilhavam no céu, elas estavam
sempre deslumbrantes, não importava onde fosse, ainda que a fumaça das fabricas teimasse em
encobri-las. A lua cheia, que iluminava o céu, seguia seu olhar. A loira se voltou para o irmão
com o olhar sem foco, olhando para frente e ao mesmo tempo para lugar algum. Estava distante,
com seu corpo ali, mas a mente em outro lugar. Decerto a tal mulher que ele conhecera havia
tomado conta de seus pensamentos. O incentivou a investir naquilo, entretanto não imaginava se
deparar com a cabeça de um entregador de flores na entrada de sua casa. Talvez aquilo estivesse
indo longe demais.
Um pulo da carruagem ao passar por uma pedra a fez sair de seus pensamentos e olhar para
fora. Viu os muros de pedra do castelo e várias outras carruagens se aproximando.
O cocheiro estacionou próximo à entrada e desceu rapidamente, passando as mãos suadas no
casaco, antes de abrir a porta para que seus senhores saíssem. O sorriso que Isabel lhe dirigiu fez
seus olhos se iluminarem.
Os três caminharam até a entrada do palácio, onde uma multidão de plebeus curiosos se
aglomerava para ver o que podiam. Um garotinho conseguiu se aproximar o bastante a ponto de
tocar o vestido de Isabel, que não o recriminou. Entretanto, os guardas com altos chapéus
peludos e pretos, vestindo um uniforme vermelho, logo o tiraram dali.
Passaram pela entrada assim que Natasha apresentou o convite. O lugar estava ainda mais
cheio por dentro. Toda a nobreza inglesa estava lá, além de diplomatas e outros nobres de países
próximos. Ainda que os rostos estivessem cobertos por máscaras, era bem fácil distinguir os
estrangeiros pelas vestimentas características.
Aron nunca estivera ali antes e não conteve os olhos que passearam por todo lugar. O salão
era amplo, bem iluminado com lustres luxuosos, que bem distribuídos no teto não deixavam um
pedaço se quer do salão nas sombras, e havia, nas paredes, pinturas da família real. Grandes
mesas se estendiam pelas laterais e sobre elas um banquete digno dos deuses. Quando se deu
conta, percebeu que suas irmãs haviam se perdido em meio à multidão. No entanto, isso não o
preocupou, não esperava reação diferente vindo daquela duas.
Observou a rainha sentada em seu trono. Esta parecia pouco animada com a festa, estava
fazendo aquilo para agradar mais aos outros do que a si mesma. Depois da morte de seu filho
pouco ânimo tinha para tal tipo de comemoração.
Os músicos parados poucos metros ao leste do trono, tocavam uma música instrumental
dançante, que embalava os movimentos graciosos dos nobres que dançavam ao centro.
Aron era observador e, mesmo com as máscaras, era capaz de reconhecer boa parte daquelas
pessoas ali presentes. A poucos passos dele, com um copo de vinho nas mãos, estava o marquês
de Tortherght cuja filha mais nova o duque seduzira há pouco mais de um ano, e desde então
nunca mais fora vista. Era uma jovem bonita, uma pena tê-la matado.
Aproximou-se da mesa e pegou um petisco. Tentou ficar o mais discreto possível, pois sua
presença já chamava atenção por si só. Acabou encontrando Natasha flertando com um jovem
conde, que tinha as bochechas coradas e estava nitidamente oprimido pela presença da dama.
Aron riu sozinho, ela não conseguia se conter.
O duque virou os olhos em direção a entrada a tempo de ver uma mulher chegar. Ela não
atraiu apenas o seu olhar, mas também, o de todos os homens ainda sóbrios. Ela usava uma
máscara preta, adornada por pequenos cristais, que cobria metade de seu rosto, deixando de fora
apenas seu nariz triangular e a boca carnuda e vermelha. A dama usava luvas negras até os
cotovelos. Seu vestido era vermelho vinho, rodado, decorado com pedras preciosas, justo na
cintura de onde subia um espartilho preto que ia até metade de seus seios, em um decote
provocante. Seus cabelos ruivos estavam presos no alto da cabeça de onde caiam cachos finos e
delicados. As mulheres presentes na festa sentiram-se ofendidas com tamanha beleza. Com a
cabeça em pé, ela dava passos confiantes.
Um singelo sorriso surgiu nos lábios do duque. Não esperava vê-la tão cedo. Sentiu que sua
noite poderia ser melhor do que esperava. Enquanto os homens ao seu redor ainda estavam
boquiabertos, tentando adivinhar quem era a mulher por debaixo daquela máscara, Aron
caminhou até ela e lhe estendeu a mão.
– Concedes-me a honra desta dança, vampira? – A última palavra soou como um sussurro,
como se fosse um segredo apenas dos dois.
Dária arregalou os olhos, surpresa ao reconhecê-lo, pelo aroma doce que emanava de sua pele.
– Como me reconheceu?
– És a única mulher que anda como se fosse capaz de subjugar o mundo à tua vontade.
– Pensei que meu último recado lhe tivesse bastado. – Dária abriu um sorriso forçado e
estendeu a mão, aceitando o convite após perceber que todos olhavam para ela.
– A cabeça? – Aron riu como se tal acontecimento trágico não tivesse passado de uma piada.
– Não desistirei tão fácil de ti.
– Pois deverias fazê-lo enquanto ainda permito que respires. – A vampira o cumprimentou no
centro do salão, segurando a saia do vestido e curvando levemente o corpo.
– As tuas ameaças não me amedrontam, se és o que pensas. – Aron olhou fundo nos olhos
dela quando suas mãos se tocaram no ar acima de suas cabeças.
Todos os olhares presentes no salão observaram a sintonia do casal e a graciosidade com que
dançavam. Era como se um holofote estivesse voltado para os dois, mesmo que a luz ambiente
fosse uniforme. Havia beleza e delicadeza nos movimentos sutis e naturais. Aos olhos de muitos,
que não conseguiam ouvir o diálogo do casal, eles pareciam parceiros de longa data.
– O último homem que tentou subjugar-me teve o coração, ainda batendo, arrancado do peito.
Os dois giraram pelo salão em sincronia com os demais casais.
– Então é isso. – Aron percebeu ao fitar o olhar carregado de ódio que ela lhe dirigia. – Tua
ira por mim vai além do ressentimento pelas garotas que matei. É algo mais pessoal, entretanto
nada fiz a ti.
– Homens já fizeram o bastante.
– Se tem algo que não quero é subjugar-te. – O lorde a puxou pela cintura para junto do seu
corpo.
– Teus truques não funcionam comigo. – Ela o empurrou e saiu rodopiando para longe até ser
interceptada por outro cavaleiro.
Uma outra dama veio até Aron e ele continuou a dança, furioso por ter a vampira longe de
seus braços. Durante toda a dança não conseguiu tirar os olhos dela, a cada movimento mais
distante.
Quando a música parou, a dama parecia ter desaparecido da maneira mágica em que surgira.
Para Aron, foi como um fantasma que apareceu apenas para atormentá-lo. Cogitou procurar por
ela, contudo lembrou-se da velocidade que os vampiros tinham e que se ela quisesse já estaria
bem longe dali.
Dária estava de pé em frete a uma pequena fonte, onde a água brotava no meio, a grama ao
redor estava um pouco marrom e as plantas não tinham flores. A aparência da natureza, somada à
brisa gelada da noite indicavam que o inverno estava próximo. A dama se virou e encarou a
vista, uma torre alta grossa se erguia sobre uma pequena colina, onde, daquele ângulo, ela era
tudo o que se podia ver do castelo, pois ela tampava todo o restante.
Em passos lentos, Dária foi até um banco preto de ferro que ficava a alguns metros da fonte, e
sentou-se.
Olhou para frente e para lugar algum. Irritou-se e optou por sair da festa. Passara séculos
fugindo das garras dos homens, porém mesmo sob avisos aquele íncubo não recuava. Que
petulância! Já deveria tê-lo matado e não correria o risco de encontrar-se com ele novamente.
Ouviu passos ágeis fazendo um som suave quase imperceptível sobre a grama, e virou-se por
reflexo na direção. Suas pupilas se dilataram e as presas pontiagudas cutucaram sua língua.
Firmou as mãos sobre o branco frio de ferro e preparou-se para atacar. Entretanto, seus ombros
relaxaram quando, sob a luz cálida da lua minguante, reconheceu quem era.
– Elzor, o que fazes aqui? – Dária encarou o homem com a cabeça careca coberta por um
capuz negro que formava uma forte sombra sobre seus olhos, encobrindo-os.
– Estou sempre próximo a ti, minha senhora. – Sua voz era calma e soou com alguém que
falava o óbvio.
Os lábios da dama se curvaram levemente em um breve sorriso e ela quase soltou um risinho.
Sentiu uma enorme alegria em tê-lo ali, interrompendo seus pensamentos.
– Desististes do baile?
– Não encontrei Melinda. Suponho que ela estava tratando de assunto das bruxas. Então não
vi motivos para continuar lá.
– Do que foges, minha senhora? – Elzor sentou ao lado dela e fitou seus olhos vermelhos,
com as pupilas dilatadas. A conhecia bem o suficiente para saber que ela não estava contando
tudo.
– O íncubo.
– Ele está aqui?
– Sim. Parece uma sombra a perseguir-me.
– Ele está realmente interessado em ti.
– Besteira! – Dária virou o rosto. – Conheces criaturas como ele, só se preocupam em seduzir
suas presas.
– Construístes um muro ao redor de ti nos últimos séculos. Tratastes os homens como ratos, e
mesmo as mulheres com as quais se envolvestes não deixastes que realmente se aproximassem
de ti. Estás sozinha, minha senhora. Talvez seja a hora de dar a ti mesma uma nova
oportunidade.
– Eu tenho a ti. – Encarou-o com o canto de olho.
– Sou apenas um servo.
O breve discurso de Elzor deixou Dária sem palavras. Abriu os lábios várias vezes, porém
nenhum som escapou por eles.
– Raiva é o único sentimento que ti permites desde que se casou.
– Meu marido era um bárbaro, assim como todos os outros homens! – A frase saiu como um
rosnado de fúria por entre suas presas pontiagudas.
– Ele foi a pior pessoa que conheci. Porém não deixes que o Lorde continue lhe atormentando
pela eternidade...
Capítulo 9
De pé, parada junto à sacada que lhe permitia ver o salão do bordel. Com os olhos sem foco,
Dária fitava o nada. Mesmo com o barulho ambiente alto vindo do salão, e a atitude bárbara de
um dos clientes brigando com uma de suas garotas, ela nem piscou.
Apertou o parapeito de pedra e respirou fundo, fazendo seu peito encolher dentro do
espartilho apertado. Por que aquele íncubo estava bagunçando a sua vida? Tudo parecia bem até
ele aparecer, nunca antes nada a fizera questionar se o fantasma de seu marido ainda interferia
em seus atos. Contudo, depois do que ouvira de Elzor, ainda que odiasse admitir, seu passado a
mantinha sim distante das pessoas, dos homens principalmente...
Porém não permitiria que outro tomasse as rédeas de sua vida outra vez! Deu um soco no
parapeito de pedra, fazendo rachar e formar um buraco onde sua mão o atingiu. Talvez Elzor
estivesse certo e nem todos fossem como seu ex-marido, entretanto... NÃO correrei o risco outra
vez!
Daria ergueu a cabeça e fitou o salão lotado. Aqueles porcos lá embaixo representavam bem
tudo o que os homens significavam para ela.
Por fim, irritou-se de ficar ali e caminhou para longe, de volta à uma de suas salas. Passou
pelo corredor vazio, iluminado por pequenas lâmpadas presas à parede, até chegar a uma pesada
porta de madeira. As sobrancelhas dela se ergueram, junto ao estranhamento por encontrar a
porta semiaberta. Poderia jurar que a deixara trancada. Empurrou-a levemente, entretanto o
movimento sútil não evitou o ranger.
A dama enrijeceu o corpo e afunilou os olhos, a fim de enxergar melhor sob a pouca luz. Seja
lá quem estivesse ali, ela estaria pronta para enfrentá-lo. Assim que entrou na sala viu uma
silhueta escura, que se destacava na escuridão. Estava prestes a atacar seja lá quem fosse o
infeliz que tivera a ousadia de invadir aquele lugar, quando o ar do ambiente tomou conta de seu
nariz, trazendo consigo o cheiro do invasor.
– O que fazes aqui?! – O rosado que escapou por entre as presas de Dária fez as paredes do
local tremerem.
Aron acendeu uma vela que estava ao seu lado em um castiçal cumprido. E a pouca luz
trêmula foi o bastante para dar forma ao seu belo rosto. Ele exibia um sorriso sutil na curva de
seus lábios.
– Tuas garotas foram bem gentis comigo ao me trazerem até aqui.
A calma na voz dele apenas deixou Dária ainda mais furiosa. Como ele ousara invadir sua
casa?!
Atravessou a distância entre os dois em uma fração de segundo e arrancou-o da cadeira,
puxando-o pela gola do casaco, e pressionou o duque contra a parede. O choque de suas costas
contra a superfície fria causou um forte estrondo pela força e fúria com que foi jogado.
Aron observou a forma como ela lhe encarou, com os olhos afunilados as pupilas dilatadas,
tornando negro o vermelho vivo dos olhos dela; a boca semiaberta com as presas a mostra. Os
dedos logos e delicados puxando com força a gola do seu casaco, ao ponto de ouvir o tecido se
rasgando aos poucos. Não havia calma nem mesmo em sua respiração, que fazia subir e descer,
em movimentos nada sutis, os seios fartos da dama.
– POR QUE NÃO ME DEIXAS EM PAZ?! – Ela gritou por entre as presas, com o rosto a
poucos centímetros do dele.
Aron correspondeu ao olhar penetrante dela, mas com uma serenidade que a surpreendeu. O
lorde realmente não temia nem um pouco as ameaças, apesar da vampira pressioná-lo, o corpo
dele estava relaxado.
– Por que eu te quero, e desistir não é uma opção. A princípio eras apenas a mais bela das
mulheres que já vi, porém quanto mais tentas me afastar mais eu lhe desejo. Podes tentar manter-
me longe de ti, mas jogarei teu jogo até que eu o vença. – Aron envolveu um dos braços na
cintura dela e o manteve firme.
Os dedos de Dária se afrouxaram devagar, até que ela o soltou. Com os olhos ainda fixos no
do íncubo, buscou palavras para repudiá-lo, mas não encontrou.
O duque percebeu que havia a deixado sem reação, e aproveitou para aproximar-se mais, ao
ponto de seus lábios quase se tocaram. Quando Dária se deu conta do que ele estava prestes a
fazer, empurrou-o para longe a fim de se libertar. A força foi tanta que a cabeça do lorde se
chocou contra a parede outra vez, e o estrondo foi ainda mais alto.
– Deixe-me em paz!
– O que há de tão errado, por que tens tanta raiva? – Deu um passo na direção dela.
Entretanto, assim que os seus olhos se cruzaram, Aron entendeu que o melhor era manter
distância.
– Não me curvarei diante de ti, se és o que pensas! – Com os olhos em um formato triangular,
as narinas afastadas, ela bufava como um animal em fúria. – Eu não deixarei um homem me
subjugar novamente, tratar-me feito escrava.
Aron a encarou e não conseguiu conter a gargalhada, forçando-a a encará-lo, confusa.
– Eu não sei o que aconteceu a ti, de certo algo terrível para alimentar tamanho ódio. Mas
tentar domá-la seria tolice. – Ele a encarou com um ar de deboche, como se aquilo fosse óbvio.
Se quisesse alguém fácil de controlar estaria com uma humana ingênua.
– Saia daqui! – Ela bufava menos, mas seus olhos desconfiados demonstravam que não estava
nem perto de ser convencida.
– Está bem. – Aron respirou fundo. – Eu a deixarei em paz por hora. Porém, saibas que esse é
um jogo que eu me recuso a perder ou sequer desistir.
Dária o assistiu caminhar até a porta com passos firmes e confiantes. A forma como ele lhe
deu as costas sem medo algum de que ela o atacasse deixou bem claro que ela não o manteria
longe com ameaças. Nunca tentara matar um demônio antes, contudo, a forma como ele agia
demonstrou que tal investida não seria tarefa fácil.
Caminhou até a poltrona, onde há poucos instantes ele estava sentado. Como ele ousara
invadir meu lugar, sentar-se em meu trono?
A vampira permitiu que seu corpo caísse sobre o assento. Com a respiração urgente e mãos
trêmulas, ela sentia um misto de ódio e uma ponta de desejo que se recusou a admitir. A
incessante ira era reprimida por um sentimento de quase curiosidade. Não podia negar o quão
belo e sedutor era o homem, e que a determinação dele a instigava. Entretanto, lembrou-se de
que ele era um íncubo. Seduzia e matava suas presas...
Dária sacudiu a cabeça, tentando colocar os pensamentos em ordem. Estralou os dedos sob as
luvas de renda e respirou fundo. Riu baixinho, chegando a quase admitir que era irônico o
motivo pelo qual ela o julgava. Seduzir e matar para alimentar-se fazia parte de sua própria
natureza. Quem era ela para recriminar o íncubo por isso?
Ele era um homem, agiria exatamente como os outros, tal afirmação feita em seus
pensamentos pareceu menos verdadeira quando as palavras de Aron ecoaram em sua mente:
Tentar domá-la seria tolice.
Um fato que Dária teimava em desconsiderar é que ela não era mais a jovem perdida e frágil
dada em casamento há mais de duzentos anos. O homem, ainda que ousasse desafiá-la, não
parecia ser tão bárbaro quanto seu marido fora. Talvez fosse a hora de se dar uma segunda
chance?
Besteira.
Capítulo 10
Aron se virou na cama, sabia que já passara da hora do almoço. Contudo a neve fina que caía
lá fora era um motivo a mais para permanecer ali, ou apenas uma desculpa.
Chegara em casa tarde. Andou pelas ruas da capital inglesa durante horas a fim de evitar o
interrogatório das irmãs. Natasha riria dele, contudo no fundo ela tinha um pouco de razão.
Nunca precisou se esforçar demais, vencer gritos ou ameaças. No entanto, o que sua irmã do
meio jamais entenderia era que Aron estava instigado com aquilo. A teria, não importava o
esforço que tivesse de fazer...
O duque estava tão perdido em pensamentos que mal notou a presença de uma criada no
quarto, apenas se deu conta quando essa deixou cair um garfo de prata. Ela logo se ajoelhou para
pegá-lo às pressas, o barulho fez Aron erguer a cabeça. A garota se virou para ele com os olhos
arregalados, estava prestes a pedir desculpas quando os lábios do lorde se curvaram em um gentil
sorriso. Fosse lá o que havia de errado com aquele homem e o restante de sua família, encará-lo
tornava qualquer preocupação insignificante.
Ela levou as mãos até a boca para conter um gritinho quando ele se levantou da cama. Nada
cobria o corpo do homem, que parecia ter sido pintado. Os olhos da moça se perderam em cada
curva que o desenhava. Ela suspirou, alguém tão belo deveria ser divino.
Suas bochechas se coraram de imediato e ela desviou o olhar, tentando focar na mesa que
punha para ele. A visão do pênis ereto a deixou sem fôlego, tornando sua respiração mais
urgente.
Aron observou o desconforto da criada e abriu mais o sorriso, achando um pouco de graça
naquilo. Caminhou até a pequena mesa e apoiou-se nela, ficando bem próximo da jovem. Tal
atitude a deixou ainda mais desconcertada.
– Ele fica assim pelas manhãs. – O duque lançou um olhar travesso ao pegar um dos
morangos em uma travessa e levá-lo a boca. Anisha estava tão hipnotizada que desejou ser
aquela fruta.
Olhando fixamente para ele, a criada movimentou o braço sem querer, esbarrando em um pote
de geleia e fazendo-o ir ao chão. Mas por sorte Aron o pegou em pleno ar. Ele era tão ágil.
Anisha respirou fundo, tentando recobrar o pouco de juízo que ainda lhe restava. Estava tão
deslumbrada pelo duque que não conseguia ao menos disfarçar. Precisa deste emprego,
contenha-te! Tentou se concentrar em outra coisa, desviou o olhar em direção a uma das grandes
janelas que havia aberto há pouco. Lá fora a neve caía fina, tingindo a grama de branco. Será que
o lorde não estava com frio?
– Estás bem?
O corpo da moça se enrijeceu quando sentiu a mão cálida dele sobre a sua. Bem?! Se estava
antes, agora definitivamente não mais. Seus olhos voltaram a fitar os do lorde, dessa vez pareceu
impossível fugir deles. Agarre-me! Ela se conteve para não implorar.
Sempre o observara de longe, era o homem mais belo que já vira na vida e era nobre. Decerto
enchia os pensamentos fantasiosos de qualquer camponesa. Entretanto, Anisha sabia que ele não
era um possível pretendente para ela, por mais gentil e simpático que o duque parecesse ser, ela
não passava de uma criada...
– Estás pálida. – O toque dele interrompeu os pensamentos da moça.
– Perdão senhor, acho que preciso ir, depois volto para recolher o café. – Anisha, suando frio,
tirou a sua mão de baixo da dele, e fez um enorme esforço para que sua voz não saísse tremida.
– E se eu não quiser que saias? – Aron envolveu-a pela cintura e pressionou-a contra seu
corpo nu.
– Meu senhor... – Anisha engoliu em seco. Seu coração disparou no peito. Sempre desejou um
momento como aquele, mas nunca esteve preparada para tal. – Talvez devesse se vestir...
– E queres mesmo que eu me vista? – O tom da voz de Aron era sedutor demais para que a
criada resistisse.
– Talvez não...
O bom senso pareceu a coisa mais tola naquele momento, e a moça simplesmente ignorou-o.
Aron abriu um leve sorriso quando sentiu os dedos dela percorrerem a curva abaixo de seu
pescoço de um ombro ao outro. As mãos dela eram pequenas e delicadas, contudo possuíam
alguns calos devido ao trabalho pesado na casa. Porém, isso não incomodou o lorde nem um
pouco, apenas excitou-o mais.
O duque desceu os lábios pelo pescoço de Anisha, com beijos demorados e suaves mordidas.
Sentiu-a vibrar a cada toque, como se ansiasse por isso há muito tempo.
A criada fechou os olhos e soltou um gemido baixo. Ter ele tão próximo, tocando-a, era muito
melhor do que fantasiara por todos esses anos. Talvez tudo aquilo não passasse do sonho mais
real que já tivera, e se fosse, rezou para que ele não acabasse tão cedo.
Sentiu-o deslizar as mãos até as amarras que prendiam seu espartilho e não protestou contra o
movimento ousado. Se ele estava nu, o mais justo é que ela ficasse também. Anisha mordeu os
lábios e apertou o ombro do lorde tentando reprimir um gemido quando ele beijou a parte
exposta dos seus seios, no pequeno decote.
O tempo que ele demorou para desamarrar as fitas que prendiam seu espartilho pareceu uma
eternidade. Ela sentia um nó na garganta, aquilo parecia tão errado, ele um nobre e ela nada...
Anisha arfou, jogando a cabeça para trás quando ele abocanhou o mamilo enrijecido de um dos
seus seios, foi impossível conter o gemido que a deixou corada. O desejo que varreu seu corpo
fez com que ela parasse de se preocupar, no pior dos casos acordaria de seu melhor sonho, e no
melhor realmente teria feito amor com o lorde Donovan.
Aron a tomou nos braços e levou até a cama, mantendo seus olhos fixos nos da moça.
A criada jurou que não havia algo melhor do que o toque da pele dele na sua. Sentiu-o
retomar o caminho de beijos pelo pescoço até os lábios dele encontrarem os seus. Jurava que as
chances de ele beijá-la seriam nulas, porém logo ele cutucou sua boca com a língua, roçando
devagar, pedindo passagem, e ela o envolveu com os braços. Anisha descreveria aquele
momento como mágico.
O duque deslizou as mãos pelas coxas macias da moça, subindo a saia do vestido, tirando-o
do caminho. Ela estremeceu, gemendo de leve com o toque que deixou uma onda de calor e
formigamento.
Com uma das mãos no quadril da criada e outra apoiada na cama, Aron acomodou seu corpo
sobre o dela, encaixando-se entre as pernas distanciadas. Anisha gemeu, ficando ainda mais
vermelha quando o pênis dele a cutucou na região que a enlouquecia.
– Não precisa ficar envergonhada. – Aron lhe dirigiu um sorriso gentil ao acariciá-la no rosto.
– Desculpe, senhor, é que nunca fiz isso. – Ela encolheu o rosto, enrolando uma mecha do
cabelo dele nos dedos.
– Não te preocupes, apenas aproveite. – Aron deslizou a mão pelo corpo da criada até tocar
com um de seus dedos longos ao clitóris da moça, começando a fazer uma pressão leve e
contínua.
Anisha não conseguiu conter o grito.
– Meu senhor...
Aron sorriu ao vê-la se contorcer de prazer a cada estímulo. Anisha arfava, agarrada ao lençol
desarrumado da cama do duque. A onda de sensações que a invadiam deixavam-na tonta,
delirando. Em todas as suas conjecturas jamais previra o que invadia seu corpo naquele
momento. Sua pele nunca fora tão sensível ao toque, podia experimentar numa intensidade
alucinante cada parte do homem.
O lorde capturou um dos gemidos altos dela com a boca, mordendo de leve o lábio inferior da
moça, que tinha os olhos revirados de prazer. Aumentou a velocidade do movimento circular
com o dedo, fazendo-a cravar as unhas em suas costas.
A porta do quarto se abriu sem fazer muito barulho e os dois estavam ocupados demais para
prestar atenção nela.
– Aron, eu quero encomendar alguns vestidos e gostaria que fosses comigo. Sabe, a Natasha
costuma estragar alguns programas... Aron!!!
Isabel encarou boquiaberta o irmão e a criada sobre a cama. Não adiantava pedir! Cerrou os
dentes furiosa.
– Com os empregados não, nós precisamos deles!
O duque nem se deu o trabalho de virar-se na direção da irmã, ignorando sua presença.
Entretanto, Anisha saiu de debaixo dele, apavorada. O olhar cerrado e cheio de fúria que a sua
senhora exibia deixou-a com um aperto no peito. Isabel sempre fora tão bondosa com a criada
que ela nem sabia onde se esconder de tamanha vergonha.
– Por favor me desculpe, minha senhora. – A pobre moça tremia muito, escondendo os seios
com uma das mãos enquanto com a outra tentava recolher o espartilho jogado.
Isabel deu alguns passos na direção dela e tocou-lhe um dos ombros. O calor do gesto e a
calma na forma como sua senhora a encarou fizeram com que a moça se aclamasse de imediato.
– Não te preocupes, Anisha. – Isabel acariciou o rosto da moça. – Está tudo bem, apenas
vista-te e retorne à cozinha.
– Sim, minha senhora. – A jovem abaixou o rosto e colocou o espartilho sobre os seios.
Isabel esperou até Anisha deixar o quarto e bateu a porta com fúria, voltando-se para o irmão
com os dentes cerrados.
– Aron! Sabes muito bem que não devemos nos alimentar dos empregados, precisamos deles.
– Eu estava apenas aproveitando a minha condição matinal e ela estava ali me observando,
tão interessada, e acabastes com o momento de prazer da garota. – O lorde zombou da situação. –
Além disto, podemos facilmente contratar uma nova empregada...
– Não sejas tolo, irmão! Não queremos chamar atenção indevida para o fato de empregados
desaparecerem da noite para o dia... – A dama gritava com ele, gesticulando.
Aron a encarava com o canto do olho, não lhe dando a menor atenção.
O lorde foi até o closet, deixando-a falar sozinha. Percorreu as araras com os dedos longos,
enquanto os sermões de Isabel não passavam de um chiado ao fundo. Ele vestiu uma camisa
branca, abotoando-a devagar. Uma fita vermelha perdida em meio as suas roupas o fez se
recordar da vampira que perseguia seus pensamentos. Seduzir alguém nunca havia sido tão
difícil...
– Aron! – O grito de Isabel o fez pular. – Estás a me ouvir?
Ele apenas virou a cabeça na direção da irmã, contudo nada disse. Isso foi suficiente para que
ela soubesse a resposta.
Depois de se irritar o bastante, Isabel lhe deu as costas.
– Esperarei por ti na sala. Não demores.

Após tomar um café da manhã tardio, Isabel levou Aron para lhe ajudar com a compra de
alguns vestidos.
O lorde, sentado em uma poltrona no fundo do ateliê da melhor costureira de Londres, mal
demonstrava reação às peças e tecidos que a irmã lhe mostrava. Ocupado em sua mente, não
notou as moças no local que se deslumbravam e suspiravam com a beleza estonteante do nobre.
Isabel deixou um luxuoso tecido de seda sobre uma mesa à sua frente, e da pequena elevação
de madeira onde uma mulher tirava suas medidas, encarou o irmão que fitava o vazio. Não se
lembrava de tê-lo visto tão aéreo em todos esses anos. Duvidava que fosse o incidente com
Anisha a causa de tudo aquilo...
– Ai! – Isabel soltou um gritinho quando a mulher sem querer a fincou com um alfinete.
– Fique imóvel, senhora, por favor.
– Está bem...

– O que está acontecendo, Aron? Ter saído com Natasha seria menos tedioso. – Isabel
encarou o irmão, quando já estavam de volta a carruagem. Com os olhos afunilados e focados no
rosto de Aron, estava claro que ela não desistiria fácil de uma resposta clara.
– Não queiras que eu me empolgue contigo escolhendo vestidos. – O duque coçou a barba já
por fazer e não tirou os olhos da janela, onde via a neve fina cair na rua por onde passavam.
– Achas mesmo que eu acreditarei que esse é todo o motivo? – A dama cruzou os braços e o
encarou de forma ainda mais ameaçadora.
– A vampira... – ele confessou jogando os braços para cima, rendendo-se.
– Ainda ela... – Isabel torceu os lábios, resmungando baixinho.
Aron se virou outra vez para fora da carruagem e passou a fitar as árvores com suas folhas
tingidas de branco que passavam. Queria fugir dos olhos cheios de julgamento da irmã.
– Bem, Aron, sei que apoiei que fosses atrás dela. Contudo, agora acho que já foistes longe
demais por uma única noite.
– Nunca estive com outra criatura sobrenatural. Ela é mais forte do que os humanos, pode não
morrer...
– E por que te preocupas com isso agora? – A resposta que chegou aos pensamentos de Isabel
assustou-a, e a fez ficar em silêncio por alguns segundos. – Está apaixonado por ela? – A dama
arregalou os olhos, boquiaberta.
– Não digas tolices, irmã. – Aron gargalhou alto, no entanto, ainda desviava o olhar. –
Íncubos não se apaixonam, menos ainda, são monogâmicos.
– Tens tanta certeza?
O lorde deixou que a pergunta pairasse no ar, recolhendo-se ao silêncio. Se tinha certeza? A
resposta era clara, não. Havia mergulhado tanto naquela obsessão, que não sabia onde termina tal
sentimento e começava algo mais...

Quando a carruagem parou diante do casarão, já era tarde, e nos dias frios de inverno as noites
se prolongavam, começando mais cedo e estendendo-se além da manhã.
O duque ignorou o falatório da irmã e rumou para os seus aposentos. Já havia passado tempo
demais com Isabel e decidiu ficar um pouco sozinho. Odiava cogitar a ideia de que talvez ela
estivesse certa.
Hesitou diante da porta por um instante, passou a mão nos curtos cabelos negros e respirou
fundo. Esperava que Isabel e Natasha lhe dessem paz, com sorte até o dia seguinte.
Quando finalmente entrou em seu quarto, arregalou os olhos e ficou boquiaberto. Por alguns
segundos questionou o que via.
– Dária...
Capítulo 11
Sob a luz sutil e amarelada de um pequeno abajur, a dama estava sentada na poltrona de
leitura do duque, ao lado de uma pequena estante onde o lorde deixava seus títulos favoritos. Ela
usava um volumoso vestido de cor púrpura, com uma sobressaia de renda negra e um espartilho
apertado da mesma cor, que deixava uma sensação de que, a qualquer momento, seus seios
escapariam para fora do decote.
Dária ergueu os olhos e o encarou enquanto entrava no quarto.
– Os sentimentos verdadeiros se manifestam mais por atos que por palavras.
– Shakespeare. – Aron sussurrou ao fitar os olhos vermelhos dela.
– Tens livros interessantes aqui. – A vampira fechou o que estava em suas mãos e o devolveu
à estante. – Duque Aron Donovan, é mais fácil encontrá-lo do que imaginei. Todos falam sobre
ti. Discrição, de fato, não é um de teus pontos fortes.
A expressão de surpresa no rosto do lorde aumentou ainda mais, não esperava vê-la ali, menos
ainda sem rosnar para ele como um animal feroz.
– E por que procurastes por mim? Pela forma que me tratastes, pensei que não me quisestes
por perto.
– E não quero. – O olhar dela se afunilou um pouco. – Mas a tua insistência, confesso,
deixou-me um tanto intrigada.
Os lábios de Aron se curvaram em um singelo e quase imperceptível sorriso. Sabia que a
dama jamais admitiria, contudo, a presença dela ali, demonstrava que ele havia fragilizado o
escudo que ela tentava manter.
Dária manteve os olhos fixos no homem, atenta a qualquer reação. Questionou-se se havia
tomado a decisão certa indo procurá-lo, entretanto era tarde demais para tal pensamento:
imprudente ou não, ela já estava ali.
Decerto era fácil perceber como o lorde seduzia as mulheres. De uma beleza pouco sutil e
presença marcante, até mesmo as mais distraídas o notariam e sonhariam com uma migalha de
sua atenção. Com traços masculinos fortes, sobrancelhas grossas, ombros largos e mãos grandes,
era difícil não suspirar diante dele.
– Pensas que a tua beleza me basta, Duque?
– Nunca quis que bastasse. – A voz dele era firme.
Com alguns passos Aron diminuiu a distância entre os dois, ficando a poucos centímetros
dela.
– Sou um íncubo, fui feito para ser belo. – Aron pousou os dedos nos lábios carnudos e
vermelhos dela, mas Dária o mordeu, irritada pela ousadia. – Não quero que isso baste. – Deixou
que a gota de seu sangue sujasse os lábios da vampira. – Quero que o meu desejo por ti, baste.
Que a minha vontade de a ter ao meu lado baste. Que ter a mim ao teu lado baste para fazê-la
esquecer o que quer que tenha acontecido ao ponto de fechar-te tanto.
Dária passou a língua pelos lábios, sentindo o gosto do sangue do íncubo. Ele tinha um sabor
distinto, afrodisíaco, mais amargo e forte do que o sangue humano. Desejou poder tomar mais,
pois o sangue dele tinha uma energia gigantesca.
– Não sabes de nada. – Dária se colocou de pé e empurrou-o para trás. – Não sabes o que um
homem já me fez passar quando eu era humana.
– Não, eu não sei. Porém, engana-te se acreditas que tudo será da mesma forma. Apenas priva
a ti mesma de viver melhores momentos.
– Falas como se fosse tão simples. – A dama respirou fundo, hesitante. As palavras de Aron a
estavam deixando confusa. Pareciam tolice, entretanto Dária ainda se questionava, tentar se
proteger por todos esses anos a havia privado de ter alguém que realmente a quisesse?
– É mais simples do que pensas. – O lorde se aproximou outra vez, acariciando o rosto gélido
dela.
Por alguns segundos, Aron se deliciou com o simples toque na pele fria e rígida, e ao mesmo
tempo aveludada. Não soube dizer se era pela ânsia em se aproximar da dama, mas nunca
desfrutara tanto de uma carícia tão singela.
Logo percebeu que ela não recuou e aproveitou para acabar de vez com a pouca distância
entre seus corpos. Abaixou a cabeça gradativamente até que seus lábios roçassem nos dela. Seu
corpo quase vibrou por finalmente perder beijá-la. Em meio à urgência que o beijo despertou
nele, Aron a envolveu com os braços e trouxe para bem junto ao seu corpo. Logo sua língua
forçou passagem por entre as presas pontiagudas e explorou a boca dela sem nenhum pudor. Não
era apenas pela dificuldade em tê-la, mas nunca beijara alguém de forma tão calorosa.
Dária sentiu o ardor dele invadir seu corpo, numa onda tão intensa que a deixou sem ar.
Chocada e pega de surpresa, ela não teve tempo de reagir e apenas deixou que prosseguisse. Não
se lembrava de ser beijada por um homem com tanto desejo. Durante o tempo em que fora
casada, seu marido a tratara como um bicho, com raras trocas de carinho apenas para se
satisfizer. Pela ânsia com que os lábios do lorde tocavam os seus e a força com que ele a
mantinha junto ao corpo, a dama não podia mais duvidar do quanto ele a queria. Corresponder ao
beijo foi inevitável, assim como subir as mãos ao rosto quente de Aron, acariciando-o. A pele era
tão macia que jurava ser impossível ele ser um demônio.
Uma parte de si lembrava-se de todos os motivos pelos quais ela se afastara dos homens, da
ganância, da prepotência e do egoísmo deles. Porém outra parte, adormecida por séculos, aquela
jovem antes de ser dada em casamento que imaginava encontrar o príncipe dos seus sonhos, a
humana sonhadora, a que Dária jurava ter sido suprimida e morta, impediu-a de sair correndo e a
fez desfrutar do beijo tão ardente. Essa parte foi forte o bastante para privá-la de pensar por
alguns minutos, que brigasse e se arrependesse depois.
Aron se sentia extremamente aliviado e feliz, enquanto sua língua dançava com a dela. Talvez
Isabel estivesse certa, e ele cego demais para admitir algo que jurava ser impossível. Um íncubo
se apaixonar era uma completa tolice, até aquele momento.
Subiu as mãos pela nuca dela e embrenhou os dedos compridos no suave cabelo ruivo. Deu
alguns beijos suaves, antes de mordiscar o lábio inferior da vampira, soltando um leve gemido.
A dama sentiu um calafrio percorrer seu corpo e instintivamente jogou a cabeça para trás
quando a boca do duque foi levada até o seu pescoço, deixando mordidas e beijos pelo caminho.
Recusou-se a abrir os olhos, inebriada pelas carícias, pelo perfume másculo do íncubo e os
braços fortes que a envolviam.
O lorde a soltou e começou a desamarrar as fitas que prendiam o espartilho apertado, numa
ânsia por tê-la. Foi quando Dária se deu conta do que estava prestes a fazer. Aron havia matado
duas de suas garotas e ela havia se afastado dos homens por um bom motivo, não poderia
simplesmente colocar tudo aquilo a perder.
A vampira o empurrou para trás, fazendo-o cambalear e a encarar confuso.
– O que estás fazendo?
– Fique longe de mim!
O duque sentiu uma brisa forte fazer as coisas no quarto voarem, e no instante seguinte ela
não estava mais lá. Odiou a maldita velocidade que os vampiros tinham. Pensou em talvez ir
atrás dela, mas se desse tempo sabia que voltaria.

Dária só parou de correr quando já estava de volta aos seus aposentos.


Apoiou-se no dossel de sua cama com a respiração ofegante, cansada como nunca ficara
depois de sua transformação. Pegou os cabelos caídos ao redor do rosto e os enrolou, colocando-
os atrás da cabeça. Sentou-se sobre a colcha macia, mexendo no bordado de sua saia. Pegou o
abajur ao lado da cama e jogou-o contra a parede, causando um alto estrondo e espalhando cacos
da porcelana por todo o quanto. Estava ficando fraca! Não podia ter cedido a ele, não.
Aron era um homem, não seria diferente dos outros. Do monstro que foi seu marido, ou
mesmo do homem com o qual ela se deitava na época em busca de vingança. Eles eram egoístas.
Não deveria colocar à prova a escolha de se afastar deles.
– Minha senhora? – Elzor entrou no quarto, assustado com o barulho. Poucas foram as vezes
em que vira sua senhora perder o controle. Entretanto, encontrou-a encarando o nada, sentada,
tremendo, à beira do colapso.
– Estou bem, Elzor. Podes me deixar sozinha.
– A conheço, minha senhora, e sei quando não estás bem. – O servo caminhou até ela e
sentou-se ao seu lado, encarando-a com um sorriso gentil, paciente.
– Cometi a estupidez de ir atrás dele. – Dária passou as unhas pela armação de madeira,
deixando a marca de seus dedos. De alguma forma, tentava se acalmar.
– Por que é um erro? – A voz de Elzor era calma, e ele encarava cada traço da expressão dela,
tentando entendê-la.
– Ele não é confiável, como os todos os outros homens.
– Confias em mim.
Dária torceu os lábios e virou-se para ele.
– Não és como eles.
– Posso ser um eunuco, minha dama. Criado para servir às mulheres nobres. Contudo ainda
sou um homem.
– Mas...
– Confiar é difícil. Mentir, trair, manipular e machucar não é algo que apenas os homens
fazem. – Ele sorriu gentilmente, acalmando-a. – Se estás tão furiosa é porque alguma parte de ti
sente-se atraída por este homem. Se as minhas palavras lhe servem de algum conselho, não tens
nada a perder, senhora. Arrependeras-te de não ter tentado. Dê a ele uma chance, dê a ti mesma.
A chance que não deu nem mesmo às mulheres que permitiu aproximarem-se de ti.
Dária engoliu em seco, sem saber o que dizer. Elzor tinha o costume de lhe deixar daquele
jeito às vezes.
– Deixe-me sozinha.
– Sim, minha senhora.
Elzor se curvou e deixou o quarto. A amou e venerou por todos esses anos, era eternamente
grato pela chance de servi-la pela eternidade. Assisti-la se isolar cada vez mais na parte mais
escura de si mesma era uma das coisas que mais odiava. A dama já havia sido bastante solitária
durante sua vida como humana e era algo que do qual transformação parecia não tê-la libertado.
Dária o viu fechar a porta do quarto e deixou que seu corpo caísse sobre a cama e sua cabeça
afundasse nas almofadas.
Observou o corvo que havia entrado pela sua janela, afastando um pouco a cortina, deixando a
luz do amanhecer entrar no quarto. Logo o sol estaria alto no céu e ela não poderia ir a lugar
algum. Sua maldição a manteria quieta e pensando. Odiava as conversas com Elzor,
principalmente por ele sempre parecer tão sábio e certo.
Podia sentir o cheiro do íncubo em suas roupas, forte como se ele ainda estivesse ali.
Suspirando, ajeitou os laços de seu espartilho. Tocou os lábios, lembrando-se da forma como ele
a beijara e o gosto excêntrico do sangue, e desejou mais.
Não faria juras de amor a ele, como não fez a nenhuma das mulheres com as quais se
envolveu. Entretanto, poderia provar dele só mais um pouco.
Capítulo 12
Aron acordou pela manhã sentindo-se leve. Levantou-se da cama com um pulo e, ainda nu,
caminhou até a janela do quarto. Afastou para o lado a cortina e passou a observar o tempo lá
fora. Não conseguia ver muito além de alguns metros, pois a neve que caía sem descanso cobria
todo o céu de branco.
As lembranças da noite passada voltaram com força para sua mente. Ao fechar os olhos ainda
podia sentir a pele sedosa e fria de Dária em contato com o seu corpo. A forma como ela cedia
cada vez que o beijo se tornava mais intenso. O duque não tinha dúvidas de que aquela mulher já
era muito mais do que um alvo a ser alcançado. Ele sorriu ao saber que estava mais próximo do
seu objetivo, mais perto de tê-la.
Assoviando, caminhou até o closet. Com os dedos longos, deslizou os cabides pelas araras em
busca de uma roupa para vestir. Não sentia frio, não como os humanos, no entanto escolheu um
casaco. Os empregados da casa já tinham coisas estranhas o suficiente para lidar.
Era mais cedo do que acostumava sair da cama, porém estava inquieto demais para continuar
deitado. Sentiu-se um garoto diante da primeira conquista. Riu de si mesmo, por mais tolo que
aquilo fosse não conseguia evitar tal sentimento.

Isabel estava sentada em uma bela cadeira de madeira clara, cheia de entalhos circulares que
lembravam florais, e com um estofado de veludo vermelho. Com os olhos vazios, ela fitava a
grande lareira à sua frente, onde as chamas vermelhas tremulavam em valsa. Com um bastidor
em suas mãos, onde o tecido branco ficava esticado, ela tentava bordar um lençol. Irritada por ter
espetado os dedos várias vezes, ela jogou as coisas no chão ao seu lado. Bufando, colocou atrás
da orelha uma mecha do cabelo que se desprendeu do coque.
– Ainda tentando aprender a bordar? – Aron perguntou ao chegar atrás dela.
A dama pulou com o susto da surpresa, de dentes cerrados virou-se para o irmão.
– Sabes que odeio quando chegas como um fantasma.
– Se não estivesses tão distraída terias ouvido o som dos meus passos. – Calmo e com um
discreto sorriso, ele sentou-se ao lado da irmã em uma segunda cadeira igual a dela.
Isabel, com o canto dos olhos, observou o irmão, as curvas formadas no rosto dele que
demonstravam sua discreta alegria.
– O que aconteceu? – Ela virou-se para ele encarando-o tanto, que quase o fez curvar-se para
trás.
– Nada. – Aron desconversou, fugindo do olhar dela.
– Como nada? Como se conseguisses enganar a mim. – Isabel cruzou os braços e torceu os
lábios. – Ontem estavas perdido em pensamentos, distante, e agora parece um menino que
ganhou o presente que esperava de são Nicolau.
– Não é para tanto, Isabel...
– Aron!
– Ela será minha!
– Como tens tanta certeza? – Em um misto de surpresa e estranhamento, Isabel cruzou as
pernas e curvou ainda mais seu corpo na direção do irmão, para observá-lo bem.
Aron já havia perdido o total controle da situação.
– Ela veio até mim na noite passada e nos beijamos.
– Apenas a beijaste?! – Isabel resmungou baixinho e fez uma careta de decepção. Não
reconheceu o irmão. O lorde era um conquistador, não um garotinho apaixonado. – Há quanto
tempo não te alimentas? – A dama mudou de assunto fechando a expressão.
– E por que isso importa? – Aron coçou a barba rala crescendo no rosto.
– Há quanto tempo?
– Alguns dias, talvez umas duas semanas. Mas... Interrompeu-me da última vez. – O duque
deu logo um jeito de evitar que Isabel brigasse com ele.
– Como se os empregados desta casa fossem suas únicas presas disponíveis. – A dama deu de
ombros e virou o rosto para o outro lado.
– Isabel...
– Não o reconheço mais, irmão. Juraria que nunca o veria tão fascinado por uma mulher.
– Há algo especial nela. – O lorde encarou as chamas da lareira.
– Disso não tenho dúvidas. – Isabel soltou um risinho. – Só espero que não percas a cabeça.
Aron a ignorou, prestando atenção no silêncio da casa. Fora os barulhos vindos da cozinha e
um empregado arrastando uma pá para remover a neve na estrada, o único barulho era o som do
vento, que empurrava os flocos de gelo, formando uma nevasca.
– Onde está Natasha? – Mudou de assunto, balançando a cabeça como se a procurasse pelos
cantos da sala.
– Eu não sei. Não a vejo há uns dois dias. – A resposta tão natural da dama não expressava o
mínimo de preocupação. Conhecendo bem a irmã mais velha, não havia surpresa alguma em seu
sumiço.
Isabel recolheu os instrumentos de bordado do chão e tentou retomar a atividade. Aron
permaneceu ao lado da irmã observando a empreitada, em silêncio.

No fim da tarde, quando a neve se reduziu a pequenos flocos que enchiam de pontinhos cinzas
os casacos dos cavalheiros, Aron decidiu sair de casa. O duque não aguentava mais algumas
horas sob o olhar cheio de julgamento de sua irmã caçula. Além disso, precisava se alimentar.
O cocheiro o deixou diante do Princess Louise, um pub inaugurado naquele mesmo ano.
Lugares novos sempre estavam cheios de pessoas da alta sociedade, nobres. Aron fechou a porta
da carruagem e ouviu o trotar dos cavalos pela rua de pedregulhos, quando esses seguiram para
longe.
O lorde passou pela porta de madeira e deixou o chapéu e o casaco sobre o suporte próximo à
ela. O lugar estava bem cheio, como ele supunha. Inclusive com algumas damas, o que não era
algo comum na época. Sem preocupação alguma em ser discreto, ele sentou-se junto a uma mesa
no centro do estabelecimento. Com os olhos atentos, vasculhava cada centímetro do local. Os
vitrais nas janelas eram feitos de vidros coloridos e armações de metal, com desenhos de folhas,
frutos e flores. O teto amarelo era cheio de entalhes e decorações em gesso. O balcão e os móveis
eram feitos em uma madeira escura, avermelhada e cheia de entalhes. O requinte beirando o
exagero característico da época.
Todos no local olhavam para ele, alguns de maneira mais discreta, com o canto de olho,
outros viravam o rosto sem pudor algum. Uma jovem dama estava sentada a duas mesas de
distância, usando um vestido rosa, com uma sobressaia rendada branca, bordada a mão, nada
discreta, e um chapéu pequeno. A moça quase deixou a xícara em suas mãos cair quando seus
olhos focaram a imagem do duque. Aron abriu um ligeiro sorriso e deu um risinho.
– Em que posso ajudá-lo, senhor? – Um garçom se aproximou sem que Aron percebesse.
– Oh, sim, uma cerveja por favor.
– A trarei em breve.
Aron agradeceu com um aceno de cabeça e voltou-se para os demais clientes do bar.
Estava bem frio, a ponto de uma fumaça úmida sair da boca dos clientes do pub. A neblina
densa na rua impedia de ver as pessoas e carruagens que passavam por ela. A neve havia cessado
e os londrinos aproveitavam o breve período para resolverem suas pendências fora de casa.
– Senhor... – o garçom chamou por Aron.
– Obrigado. – O lorde se voltou para o jovem com um caloroso sorriso.
Os olhos azuis do garçom se iluminaram involuntariamente. Encarar aquele homem foi como
tomar uma pancada forte na boca do estômago, que o deixou sem ar.
– Se precisar de mim apenas chame. – O jovem estava tão abobado que foi difícil falar
aquelas poucas palavras.
O duque apenas acenou a cabeça e agradeceu com um olhar singelo. Quando o garçom já
havia se afastado, Aron balançou a caneca em suas mãos, antes de tomar um bom gole da cerveja
escura e de forte amargor. Por mais que o teor alcoólico da bebida fosse alto, o lorde precisaria
de algumas dezenas de canecas iguais àquela antes de ficar embriagado.
Com os olhos atentos e observadores, Aron viu um cavalheiro se levantar de uma mesa ao
canto e caminhar em sua direção. Ele aparentava ser talvez uns dez anos mais velho do que o
íncubo, com cabelos grisalhos, algumas leves marcas de expressão ao redor dos olhos verdes; era
alto e ainda apresentava braços fortes. Suas vestimentas tinham o requinte do melhor alfaiate de
Londres, estavam bem passadas e alinhadas, as abotoaduras de seu casaco valiam mais do que o
salário do mês do pobre garçom. Sem dúvidas, um homem de muitas posses.
– Olá, – o cavalheiro estendeu a mão para Aron, a fim de cumprimenta-lo. – Meu nome é
Richard, marquês de Westminster. – Ele deu uma breve pausa ao apertar a mão do lorde. –
Confesso que tua presença é algo difícil de não se notar. Ouvi boatos a respeito da tua chegada,
Duque de Abercorn, da Irlanda?
– Sim, Aron Donovan. Muito prazer.
– Posso sentar-me?
– Claro. – O lorde estendeu a mão para a cadeira ao seu lado.
– É sempre uma honra conhecer alguém de tão boa linhagem. – O homem passou a mão pelos
cabelos grisalhos e sorriu. Naquela sociedade era sempre de extrema importância ter bons
aliados.
– É uma grande honra para mim também. – Aron buscou ser gentil e gesticulou para o garçom
que trouxesse mais cervejas para os dois.
Conversaram por longos minutos, como se fossem amigos de infância. O marquês estava
curioso a respeito da vida do duque e os motivos pelos quais esse se mudara para a Inglaterra,
alguém com tão boas terras e forte candidato à sucessão do trono irlandês.
– Tenho irmãs que se cansam facilmente de um lugar. – Aron comentou rindo.
– Talvez devestes as domar melhor, meu caro amigo.
– Não seria tão audacioso, colocar coleiras nelas é tolice.
O marquês gargalhou. Achou estranho, duas mulheres com tanta liberdade. Entretanto, buscou
não se perturbar com algo de tão pouca importância, os futuros maridos que dessem um jeito
nelas.
– Eu e alguns amigos temos um encontro num clube privado esta noite. Talvez querias vir
conosco.
– Um clube? – Aron tombou a cabeça e torceu os lábios, pensativo.
– Sim, um lugar discreto, com boa música e belas mulheres.
– Belas mulheres? – Um generoso sorriso surgiu do duque. – Parece-me um convite bastante
tentador.
– Então venhas comigo. – O marquês se colocou de pé e fez um gesto para que fosse seguido.
Aron se levantou e seguiu o homem. Nada tinha a perder, ainda que fosse uma boa conversa e
alguns drinks. Caminharam até a carruagem do marquês, parada do lado de fora do pub. O pobre
do cocheiro tremia por ter estado no frio congelante todo aquele tempo.
Depois de acomodado, Aron passou a observar a névoa densa nas ruas, que tornava a luz dos
postes um clarão desfoque, uma elipse de bordas borradas, em meio à escuridão.
– És sempre tão calado?
– Sou apenas observador. – Aron se virou para o marquês.
– É uma virtude admirável. – O homem pegou seu chapéu sobre o banco de couro quando a
carruagem parou. – Chegamos!
Os dois nobres caminharam pela rua até uma pequena porta de madeira. O marquês bateu nela
duas vezes até que uma portinhola fosse aberta, por onde era possível ver apenas um par de olhos
castanhos, envoltos por algumas marcas de expressão. Richard entregou a ele um pequeno papel
escuro com um símbolo em vermelho e o homem abriu a porta para que os cavalheiros
entrassem.
Aron caminhou para dentro, cauteloso. Observou as paredes de madeira e o senhor que havia
lhes dado passagem. Esse tinha cabelos brancos e, apesar da idade, estava muito bem vestido,
com uma gravata borboleta alinhada, abotoaduras caras e botões finos no casaco. Certamente as
pessoas que mantinham aquele lugar eram bem afortunadas.
Antes mesmo de chegar ao salão, Aron ouviu risadas e o som de uma música alegre. Contudo,
antes que desse seu próximo passo, o marquês o segurou pelo pulso.
– Ouça, Aron. Os pecados e segredos vistos por estas paredes permanecem nelas. – A voz do
marquês era suave, mas não deixou de transparecer rigidez.
– Não te preocupes, meu caro. Sigilo é uma das coisas pelas quais mais tenho apreço.
– Ótimo! – Richard deu um leve sorriso e soltou a mão de Aron.
Logo que chegaram ao salão, o lorde Donovan olhou tudo com extrema cautela. Logo
entendeu o motivo de tanto segredo. Em algumas mesas próximas ao fim do salão, homens
nobres se reuniam jogando cartas, pôquer, e a julgar pelo amontoado de fichas sobre as mesas,
faziam apostas altas. Boa parte deles fumava muito, e Aron segurou a tosse quando o cheiro dos
charutos chegou até seu olfato sensível. Havia muitas prostitutas, nada que o surpreendesse: uma
delas fazia um pequeno show em um palco na outra extremidade do salão. Diante dela havia
várias cadeiras ocupadas por homens e alguns trocaram carícias que manchariam o nome de um
nobre cavalheiro. Nas laterais havia quartos sem portas ou sequer restritos a um único casal.
Aron riu consigo mesmo, e lamentou por não ter tido a oportunidade de conhecer aquele lugar
antes.
Richard o cutucou para que o seguisse até uma mesa onde estavam alguns cavalheiros, e o
apresentou. O duque observou o rosto de cada um deles. Alguns já conhecidos enrubesceram ao
se darem conta de que o lorde já havia os vistos em eventos públicos. Contudo, Aron os
cumprimentou, um a um, e sorriu gentilmente, deixando claro que pouco se importava com o que
faziam ali, deixando os homens aliviados.
– Sente-se conosco. – Um homem alto e magro, com cabelos acobreados apontou para uma
cadeira ao seu lado.
– Obrigado, lorde Philip. – O duque reconheceu o cavalheiro de um baile beneficente ao qual
comparecera nos seus primeiros dias na cidade.
– Notei que não trouxe uma esposa para Londres. – O marquês se sentou do outro lado de
Philip e lhe deu a mão, antes de voltar-se para Aron, que por delicadeza fingiu nem notar.
– Eu não tenho esposa. – O duque mexeu no cabelo e respondeu com a naturalidade de algo
trivial. Aquela era uma pergunta recorrente.
– Não gostas de mulheres ou apenas quer aproveitar mais da vida como solteiro? – Philip se
inclinou para observá-lo melhor.
– Um pouco dos dois. – Rindo, Aron colocou as mãos sobre a mesa e aprumou o corpo. –
Ainda não encontrei homem ou mulher que me faça jurar fidelidade. Começo a pensar que não
nasci para a monogamia.
– Ninguém?
– Talvez uma mulher. – Aron coçou a barba e olhou para cima, lembrando-se de Dária. – Mas
ela pouco corresponde aos meus galanteios.
– Uma pena, pois és um homem incrivelmente belo.
– Obrigado.
Aron sorriu pelo sutil galanteio.
O marquês acenou para uma mulher que carregava uma bandeja com canecas de bebidas, que
se aproximou dos cavalheiros para servi-los.
Aron pegou um copo de uísque e deu algumas goladas, observando a bela garota que os
servia. Ela usava uma saia discreta, pouco rodada, cheia de pregas, de cor creme e feita de um
tecido de segunda mão. O espatilho branco, apertado, ressaltava os seios redondos. Quando os
pequenos olhos castanhos dela cruzaram com os de Aron, seu rosto enrubesceu e se não fosse
pelo duque teria deixado que uma jarra cheia de cerveja ir ao chão.
– Cuidado, senhorita, podes fazer uma grande bagunça, ou pior, acabar machucando-te. – O
duque pegou a jarra e colocou sobre a mesa.
– Obrigada. – A jovem abriu um sorriso de orelha a orelha.
– Gostastes dela? – O marquês perguntou enquanto Aron a segurava.
Aron arqueou as sobrancelhas e encarou o homem. Levou alguns segundos para entender o
verdadeiro significado da pergunta.
– Sim, claro, ela é muito bela. – O íncubo a observou da cabeça aos pés de novo. Entretanto,
dessa vez com mais atenção, dos cabelos castanhos presos em um coque estufado e ligeiramente
bagunçado de onde escapavam alguns cachos finos; o rosto vermelho por saber que era encarado,
até as curvas provocantes, escondidas por debaixo daquela roupa pouco nobre.
– Ela é sua por essa noite. – Richard estendeu a mão ao oferecer o pequeno presente.
– Apenas ela? – Aron olhou ao redor para tantas opções e riu brincalhão.
– O que queres dizer com isso, duque?
– Comentei sobre não ser bom monogâmico.
Os cavalheiros na mesa riram com ele.
– E quem mais queres?
– Bom, existem tantas pessoas interessantes aqui. – Aron se curvou na direção do casal de
cavalheiros, e passou a língua nos lábios, molhando-os.
Richard e Philip abriram um largo sorriso e em seguida colocaram-se de pé.
– Siga-nos, duque.
A moça, ainda presa junto ao corpo de Aron por seu braço firme, pensou em deixá-los a sós,
entretanto o lorde impediu que saísse.
– Venha conosco.
Ela sorriu involuntariamente com o convite. Sentiu uma estranha felicidade. Aquele homem
que nunca havia estado ali antes tinha uma beleza encantadora e uma presença tão forte.
Com os braços ainda envoltos na cintura da jovem, Aron seguiu os cavalheiros por um
corredor estreito na lateral do salão, com pequenas luminárias de luzes amarelas presas às
paredes decoradas por papeis adornados, até um quarto mais discreto.
Quando abriram as portas, viram um belo quarto com uma colcha vermelha sobre uma grande
cama e, ao lado dela, almofadas da mesma cor. Um grande e belo lustre de cristal estava
suspenso por uma corrente no teto. Duas garotas estavam sobre a cama, beijando-se de maneira
voraz, e pularam de susto ao ouvirem o som da porta se abrindo.
– Saiam daqui! – O marquês fez um gesto para que elas se retirassem.
– Não. – Aron colocou a mão sobre o ombro de Richard. – Deixe-as ficar.
Com as sobrancelhas arqueadas, virou-se para o duque, com uma interrogação estampada em
seu rosto.
– Não são pessoas demais?
– Quanto mais, melhor.
– Está bem. – O marquês voltou-se para as garotas. – Fiquem.
Elas ergueram os olhos, encararam o homem novo e contiveram uma exclamação de surpresa.
Nossa! Iria ser um enorme prazer ficar.
Aron viu as duas morenas caminharem na direção dele. Usavam uma saia fina e estavam nuas
da cintura para cima. Ambas tinham longos cabelos cacheados e escuros e uma pele bronzeada,
nada comum entre as inglesas, decerto deveriam ser imigrantes. A beleza exótica fez o íncubo as
querer ainda mais.
Elas se aproximaram até ficaram ao lado dele e apoiaram-se em seus ombros. Uma delas refez
com os dedos o contorno do rosto do lorde. Ainda que os pequenos cabelos da barba rala
espetassem um pouco, a pele dele era incrivelmente macia. Estando tão perto podia sentir um
perfume doce e inebriante. Uma delas aproximou-se ainda mais, a fim de provar o sabor da pele
dele e beijou de leve a região do meio do pescoço, onde a gola da camisa não cobria. Deslizou
com os lábios até a base da orelha e assoprou devagar antes de dar uma leve mordida,
saboreando-o. O duque sentiu seus pelos se eriçarem e se encolheu um pouco com o toque.
A outra garota e a mulher que servia as bebidas deslizaram o casaco do lorde pelos ombros,
aproveitando cada segundo.
Philip se cansou de apenas de observar e agarrou o marquês pela gola do casaco, empurrou-o
contra a parede, fazendo-o bater de leve com a cabeça, então o beijou sem pudor algum. Cheio
de urgência, deslizava as mãos à procura dos botões do casaco, a fim de tirá-lo o mais rápido
possível.
Aron agarrou a mulher que mordia sua orelha e a levou até a cama, fazendo com que as outras
duas o seguissem. Esticou os braços para trás, para que elas retirassem seu colete e a camisa
branca. Soltou um leve gemido quando duas morderam seu pescoço, uma de cada lado e a
terceira, sobre a cama, desabotoava a calça do nobre.
Com tantas mãos, o duque logo estava nu diante delas. A bela visão dos perfeitos traços que o
compunham, da boca vermelha e suntuosa, o abdômen bem definido, até o pênis ereto que se
erguia de um amontoado de pelos negros, as deixou sem ar por alguns instantes. Até mesmo
Philip e Richard pararam de se beijar para encará-lo por alguns minutos. Era impossível não
prender os olhos do mundo com tamanha beleza.
Os cavalheiros se encararam e, mesmo sem dizer uma única palavra, chegaram à conclusão
que poderiam se curtir em outro momento. Então, caminharam até a cama juntando-se as
mulheres.
Philip não se conteve ao tocar o peito nu, quente, com poucos pelos e macio do duque. E o
sorriso que Aron lhe dirigiu o incentivou a continuar. Contornou com os dedos logos e magros a
linha dos ossos a baixo do pescoço.
O íncubo, ajoelhado sobre a cama, tinha a total atenção dos outros cinco presentes no quarto,
que o admiravam. Se Aron medisse sua vaidade pelos olhares de completo fascínio, certamente
seria um dos homens mais convencidos do mundo.
Philip se curvou e pegou o pênis de Aron com as mãos, deu um beijo passando os lábios
devagar, antes de abocanhá-lo e começar a chupar. O duque jogou a cabeça para trás, fechando
os olhos, e um leve gemido escapou por seus lábios cerrados.
Richard se posicionou atrás de Philip e acariciou o parceiro que estava de quatro sobre a
cama. Passou a língua, contornando a boca, quando essa salivou com a visão excitante. Em
seguida, curvou-se beijando o meio das costas de seu parceiro, subindo até o pescoço, fazendo
Philip se arrepiar e ter o gemido abafado pelo membro de Aron dentro de sua boca.
O duque olhou para as três garotas ao seu redor, encarando-o com os olhos brilhando e os
lábios úmidos. Ansiosas por poderem participar.
Evelyn, a jovem que servia as bebidas, vibrou quando aquele estranho a envolveu com os
braços firmes e a puxou para mais perto. O ciúme que, sem explicação, sentiu pelos cavalheiros
que o tocavam logo passou, quando os lábios a renderam em um beijo quente, e a língua dele
invadiu sua boca sem hesitar. Envolveu os dedos no cabelo negro e curto, completamente
entregue. Suspirou ao senti-lo desamarrar as fitas que prendiam seu espartilho, logo a deixando
nua da cintura para cima assim como as outras mulheres.
Aron jogou a cabeça para trás, interrompendo o beijo, e soltou um gemido alto, por ter Philip
o chupando com vontade, os lábios subindo e descendo por toda a extensão de seu pênis. O
duque mordeu os lábios, saboreando a sensação, antes de curvar-se e abocanhar um dos seios
roliços de Evelyn.
As outras duas garotas, deixadas um pouco de lado, retomaram de onde haviam parado.
Diana, a mais baixa, com cabelos pouco volumosos e olhos finos, puxou Cecília pela nuca,
beijando-a novamente. Ainda que adorassem estar juntas, em meio aos toques e carícias era
impossível não desviar o olhar algumas vezes para admirar o duque.
O íncubo sugava o mamilo enrijecido de Evelyn, fazendo-a jogar a cabeça para trás, revirando
os olhos e perdendo a completa noção de que havia outras pessoas no local. Então, ele deslizou
uma das mãos firmes pelo ventre, fazendo a pele quente ferver ainda mais, deixando um
formigamento por onde tocava, até arrancar a saia que ela vestia com um único puxão. Isso a fez
arregalar os olhos e dar um pulinho de susto, mas logo ignorou por completo, quando ele
penetrou com o dedo a região molhada entre as suas pernas. O gemido alto, quase um grito,
deixou claro que pouco se importava com discrição.
Aron mordeu de leve o mamilo dela para reprimir seu próprio grito quando Philip o chupou
com ainda mais força.
Richard abriu as pernas do parceiro e se encaixou entre elas, por pouco não choramingou por
atenção. Mordendo os lábios, estava enciumado pela maneira indecorosa que seu parceiro tocava
o duque. Deslizou a mão sobre as nádegas de Philip e, quando esse nem mesmo virou os olhos,
esfregou seu membro e penetrou-o sem hesitar, ou mesmo tomar cuidado algum.
Philip parou, por pouco não mordeu Aron, quando sentiu a dor da entrada abrupta em seu
corpo. Mordeu a língua para tentar amenizá-la.
– Ai! Cuidado! – Virou-se para Richard a fim de recriminá-lo. – Sabes que precisa passar um
óleo antes.
– Isso é para lembrar de que ainda estou aqui. – Ele tinha o rosto franzido, pela expressão
fechada.
O íncubo teria rido daquilo se não tivesse a boca tão ocupada.
Depois de sentir-se um pouco culpado, molhou-se com a própria saliva para então penetrá-lo
outra vez. Philip gritou de novo, mas dessa vez pela sensação de prazer que o invadiu. Rebolou
involuntariamente contra o corpo de seu parceiro, fazendo-o entrar mais fundo. Sentindo o calor
da pele do marquês roçando na sua e deixando a região suada. As mãos de Richard apertavam
seus quadris quase de maneira dolorosa, enquanto ele dava estocadas cada vez mais fortes.
Aron aproveitou a distração dos dois para voltar-se para as garotas. O duque deitou Evelyn
sobre a cama, ainda de joelhos, colocou as pernas dela sobre seus quadris e puxou-a para frente,
penetrando-a. O corpo desejoso da moça pouco se importou com a velocidade com que ele a
invadiu, apenas a sentiu-se grato por ele tê-lo feito. Seu corpo arqueou-se e agarrou a colcha da
cama quando Aron começou a se mover.
Diana parou o que estava fazendo assim que a mão dele deslizou pela curva de suas costas,
fazendo um arrepio percorrer seu corpo, como uma corrente elétrica. O íncubo puxou cada uma
delas para a lateral de seu corpo, tocando-as, explorando cada parte de seus corpos.
Cecília tirou a saia para que ele pudesse tocar onde tanto pulsava, e a cada vez que os dedos
dele brincavam pela região ela choramingava baixinho. E quando finalmente alcançou seu
objetivo ela estremeceu, gemendo tanto quanto Evelyn, que se contorcia a cada vez que ele
vagarosamente deslizava para fora e enfiava fundo outra vez.
Diana puxou o rosto dele para si, provando a boca que tanto a seduzia e o gosto dele superou
todas as suas expectativas. O calor, a intensidade daquele homem a fez entender bem porque as
outras duas estavam tão alucinadas.
Aron estava faminto, havia um bom tempo desde que se alimentara pela última vez. E a
energia, o prazer delas fluindo para ele, o deixava ainda mais. Talvez só um pouquinho...
Começou a estimular Diana com os dedos também, enquanto ainda a beijava. Ela soltava leves
gemidos e se contorcia em seus braços. Com o íncubo se empenhando tanto, ela logo chegou ao
orgasmo, ofegante e trêmula. Ele aproveitou o momento do ápice de prazer dela para servir-se
um pouco, com os lábios grudados nos dela, a impediu que visse a aura azul que ele drenava.
Não mate, não mate..., repetiu para si mesmo uma centena de vezes antes de parar quando julgou
que ela não aguentaria mais.
Deitou-a sobre a cama, com o peito subindo e descendo rápido, cansada demais para dizer
uma única palavra. Entretanto, ainda viva, iria se recuperar logo. O íncubo não se sentiu
completamente saciado, contudo sorriu ao lembrar-se dos outros presentes no quarto.
– Divirta-te com eles um pouco, logo voltarei para ti. – Aron sussurrou ao pé do ouvido de
Cecília, antes de Evelyn ter sua completa atenção.
O duque se deitou sobre o corpo da moça, que abriu um leve sorriso em meio aos gemidos,
quando pode abraçá-lo com os braços, assim como fazia com as pernas. Ele começou a mover-se
dentro dela ainda mais rápido. Evelyn, extasiada, mal acreditou quando seus gemidos se
tornaram incontroláveis ao atingir o orgasmo apenas com ele a penetrando, algo que jurava ser
impossível. Cravou as unhas nos ombros dele quando foi beijada. O íncubo capturou os seus
suspiros de prazer, alimentando-se um pouco mais. E no fim, a pobre moça só achou que todo
aquele cansaço fora causado pelo orgasmo maravilhoso.
Despois de deixar Evelyn entorpecida na cama, Aron voltou-se para Cecília, que beijava
Philip, o cavalheiro que ainda estava de quatro na cama sendo penetrado por seu parceiro.
Percorria com as mãos as curvas suntuosas do corpo da mulher.
Cecília se encolheu toda quando o íncubo se colocou atrás dela e mordeu de leve sua orelha.
Sentiu-o envolvê-la com os braços firmes e agarrar os seios expostos. Com o corpo quente
encostado em suas costas, ela tratou logo de retirar a saia que ainda vestia, empinando a bunda
contra o pênis rígido do duque.
Aron sorriu com o evidente desejo da moça por ele e trouxe-a para si, tirando-a dos braços de
Philip. Deitou-se na cama e puxou-a pelas coxas grossas, sentando-a sobre seu quadril.
Cecília fechou os olhos e mordeu o lábio inferior quando ele deslizou para dentro de seu
corpo. Nossa! Suspirou em meio a um gemido abafado. Encarou os olhos dele e a leve curva de
um sorriso em seus lábios ao apoiar suas mãos sobre o peito do lorde. Ele a segurou pela cintura,
ajudando-a a se mover. As sensações que tomaram o corpo da moça foram tão intensas e foi
impossível conter o grito, mas não se preocupou nem um pouco com isso, autocontrole e decoro
não importavam naquele momento. Movia seu corpo contra o dele e a intensidade causava
alguns estalos. Montada em cima do duque, Cecília delirava. Às vezes jogava a cabeça para trás
e mordia os lábios, brigando contra a impossível tarefa de conter gemidos tão altos.
Aron subiu as mãos e agarrou com força os seios fartos da mulher, deixando que essa tivesse
o total controle da situação. Fitá-la e ver seus olhos castanhos revirando, fora de órbita, o corpo
se contorcendo, ela cravando as unhas em seu peito, expressava claramente o prazer que o
íncubo sentia fluir dela. Sentiu o corpo dela se enrijecer, e então com a respiração ofegante cair
sobre o dele.
Fez carinho no cabelo da moça, fazendo-a erguer a cabeça e encará-lo. Então a puxou para
mais perto e a beijou, sugando um pouco de sua energia também, para em seguida sair debaixo
dela, colocando-a sobre a cama.
– És insaciável. – Philip comentou com Aron quando o viu engatinhar na cama em sua
direção.
– Talvez. – Com os olhos semiabertos e um sutil sorriso, o duque agarrou o marquês que
acabava de se limpar após ter chegado ao orgasmo. – Bom, eu me segurei para não terminar e
aproveitar um pouco de cada uma delas e pensei que talvez quisessem dar um fim a essa espera
para mim.
Philip aprumou o corpo, e quando ia até Aron sem hesitar, Richard o segurou pelo ombro,
impedindo-o.
– É a minha vez agora.
A contragosto, o homem não discutiu, apesar de já ter provado um pouco do duque, a simples
possibilidade de poder ter mais o excitava mais do que muitas situações pelas quais já passara.
Richard foi até Aron, roçou seus lábios de leve nos dele, antes de virar-se de costas. O íncubo
logo entendeu a deixa e com o pênis ainda molhado pelas garotas, apoiou os braços no ombro do
cavalheiro e penetrou-o.
O marquês mordeu os lábios para evitar o gemido alto, de certa forma envergonhando-se de
tamanho prazer. Philip ter se curvado para beijá-lo ajudou a disfarçar um pouco.
Aron não se preocupou em conter-se mais, por hora estava saciado. Deslizou as mãos pelas
costas de Richard e o segurou pelos quadris. Deu mais cinco estocadas fortes até se explodir de
prazer dentro do corpo do marquês, que ficou rubro de imediato. Entretanto, choramingou
baixinho por ter acabado, teve que se conter para não rebolar contra o corpo do íncubo,
implorando por mais.
– Acho que preciso ir agora. – Aron viu um pequeno raio de sol modesto entrar por uma das
fendas das cortinas do quarto. Mal se deu conta de que havia amanhecido.
– Pode ficar mais caso queiras. – Richard se recompôs.
– Tenho duas senhoras loucas em casa. – O duque riu ao se lembrar das irmãs. – Então é
melhor ir.
– Peças ao meu cocheiro que lhe deixe em casa.
– Fico grato. – O lorde se vestiu e deixou o quarto.
Capítulo 13
– Aron... – a voz de Dária soava baixa e um tanto rouca.
A dama passara o dia e parte da noite pensando sobre o que havia acontecido. O tempo fora
suficiente para aceitar e recusar a ideia uma centena de vezes. Odiava admitir que queria, e ir
contra todas as escolhas que fizera depois que se transformou, mesmo assim estava ali,
questionando-se.
Caminhando de um lado ao outro, passou os dedos pálidos e delicados sobre uma cômoda ao
lado de um espelho, no quarto de Aron. O móvel não tinha uma migalha sequer de poeira, sinal
de que tinha ótimos criados.
Despois de alguns minutos, talvez horas, esperando com uma ansiedade que a consumia por
dentro deixando-a com o peito pesado e respiração difícil, Dária desistiu. O sol já estava prestes
a raiar e se deu conta de que ele não apareceria para dormir em casa.
Furiosa, derrubou os vidros de perfumes e loções sobre a cômoda e pouco se importou com o
barulho que fizeram ao cair no chão. Não deveria ter ido ali, ainda que ansiasse em repetir o
beijo. A possibilidade de se arrepender amargamente de ter cedido ainda a assombrava.
Sob os últimos instantes do manto da noite ela deixou o quarto.

Algumas horas depois, de volta ao bordel, a vampira ainda estava imersa em seus próprios
pensamentos. O que aquele íncubo queria? Enlouquecer-me.
– Dária? – Anne retirava poeira de alguns livros na estante do escritório e perdeu-se
observando a sua senhora sentada atrás da escrivaninha. Não entendeu o motivo de encontrá-la
fitando o vazio, olhando para a frente e para lugar algum.
– Sim...? – A dama balançou a cabeça ao ser sugada de seus pensamentos e folheou um livro
diante de si.
– Há algo acontecendo?
– Não.
– Olha... – Anne desceu do banco e caminhou na direção da vampira. – Sabes que faço
qualquer coisa por ti.
– Eu fico grata. – Dária abriu um leve sorriso. – Mas não é nada com que devas te preocupar...
A porta se abriu num rompante e as duas se viraram na direção dela de imediato. Elzor entrou
de repente, o homem alto, grande e careca tinha a expressão fechada e a testa franzida.
– Anne, deixe-nos a sós. – A voz dele era tensa e severa, ao ponto de fazer um arrepio subir
pela espinha da garota.
– Está bem. – A moça deixou o lugar sem hesitar.
Assim que ela saiu, Elzor fechou a porta e Dária se levantou para encará-lo, à espera do que
ele diria.
– Temos grandes problemas.
– O que queres dizer com isso? – A ruiva passou a mão pelos cabelos antes de avaliar o
homem com o olhar.
– Um ninho foi estourado na noite passada. Jovens vampiros foram mortos e o símbolo
deixado na porta do covil.
– A ordem está em Londres? – A dama engoliu em seco. – E sabem que estamos aqui?
– Creio que não, contudo é uma questão de tempo.
– Maldição! – Dária deu um soco na mesa, fazendo com que a madeira cedesse e quebrasse
no meio.
– Não te preocupes, minha senhora. – Elzor tentou parecer mais calmo a fim de tranquilizá-la.
– Darei um jeito de mantê-los longe.
– Tenhas cuidado, eles possuem caçadores experientes, podem matar-te, matar à nós dois.
– Não os enfrentarei, ou mesmo permitirei que me vejam.
– Devo ter cuidado com meus hábitos de caça. – A dama falou mais para si mesma. Andava
de um lado para o outro da sala, passando a mão cabelos e resmungando baixinho.
– Talvez possas pedir proteção a Melinda.
– Não! – Dária balançou a cabeça em negativa – Não quero recorrer a ela.
A vampira detestava a ideia de implorar pela proteção de alguém.
Um arrepio varreu o corpo da vampira quando se lembrou da primeira vez que soube da
existência da ordem.

– Corra, Dária!!!
Sem reação, a ruiva viu a fúria tomar conta do rosto de sua criadora. A saia do vestido e o
cabelo negro rodando no ar enquanto a mulher se colocava em posição de ataque, com o corpo
arqueado e as unhas afiadas como garras.
– Arthia... – Ainda em choque, Dária não conseguiu mover um único músculo. Não entendeu
a reação de sua criadora, nunca havia a visto tão brava e amedrontada.
– Eu disse para correr, Dária! Saia antes que eles cheguem aqui.
Sem realmente entender a gravidade daquilo ou o medo que a consumia, com um aperto no
peito pela terrível ideia de deixar Arthia para trás, a jovem vampira correu noite adentro,
encoberta pelas sombras, fugindo de algo que desconhecia.

– Eles a mataram, Elzor. – De volta ao presente, Dária arfava com o medo que tomou suas
veias outras vez.
– Não se aproximarão de ti, minha senhora.
– Ela tinha seiscentos anos, a vampira a mais antiga que conheci. Após aquela noite aprendi
que ser imortal era muito mais complicado do que parecia ser.
– Após aquela noite transformaste a mim.
Dária, de braços cruzados, virou-se para o eunuco e um sorriso sutil se formou entre a curva
de seus lábios. Encarou as sombras do cômodo atrás dele e a expressão no rosto do homem, que
apesar de na maioria das vezes severa, deixava-a mais calma.
– Para sempre é muito tempo para se estar sozinha, meu caro.
– Deverias ouvir o que fala. – Elzor deu um risinho.
– Vais falar sobre o íncubo outa vez?
– São tuas palavras, senhora. – Ele jogou as mãos para o alto, em um gesto de inocência.
Dária torceu os lábios e afunilou os olhos ao lembrar-se de que fora até o lorde mais não o
encontrara.
– Deixe-me. – Ela apontou para a porta.
Capítulo 14
Aron chegou em casa e o dia já havia raiado, passava das oito da manhã. Assobiava a quinta
sinfonia de Beethoven, ao abrir a porta encontrou Natasha sentada sobre o sofá. A morena
ergueu a cabeça do catálogo de moda parisiense que folheava nas mãos e encarou o irmão.
– Olá, Aron, pelo visto tua noite foi ótima. – Ela virou uma página. – Penso que pela
quantidade de energia que emana de ti, teve que esconder alguns corpos.
– Eu não matei ninguém. – O duque suspirou aliviado ao se lembrar daquilo.
– Uau! Quanto autocontrole. – Natasha deu um risinho sarcástica. – Eu nem mesmo tento não
matar.
O lorde deu as costas ignorando sua irmã. Como era inconveniente, bufou.
– A propósito, senti uma presença estranha, forte, nessa casa ontem, e a julgar pelo barulho e
a brisa incomum, acredito que a tua garota veio vê-lo.
– O que?! – Aron saiu correndo.
Quando o duque chegou ao seu quarto, o aroma inconfundível da vampira ainda estava por
todo o lugar e as coisas sobre sua cômoda estavam reviradas. Socou a parede, sentindo uma
enorme raiva de si mesmo. Estava tão faminto e de certa forma decepcionado, que saíra sem
pensar muito. Não esperava que ela retornasse, pelo menos não tão cedo. Torceu para que ela
não estivesse furiosa demais.
– Quer que eu prepare teu café, meu lorde? – Anisha perguntou quando Aron passou por ela
no corredor.
– Obrigado, mas já estou de saída. – O íncubo nem mesmo virou-se para ela e continuou
andando.
– Acabastes de chegar... – a moça ergueu os braços para o ar e balançou a cabeça confusa.

Dária estava de pé, protegida sobre a sombra das pesadas cortinas. Ainda estava com medo.
Passou a mão pelo peito, sentindo um aperto e um nó na garganta. Aquela era a sensação que
mais odiava sentir, medo. Acreditava que depois da imortalidade estaria livre disso, entretanto,
na noite em que Arthia morreu, soube que não importava o quão forte estivesse, seus demônios
estariam à sua altura.
– O que fazes aqui?! – Dária se virou para o intruso que adentrou o quarto. – Quem pensas
que és para entrar em meus aposentos sem ser anunciado? – De braços cruzados e dentes
cerrados fitou os olhos do íncubo.
– Duas vezes fostes ao meu quarto. Acredito que seja no mínimo justo eu estar aqui. – O
duque se escorou no batente da porta.
Aron observou a bela mulher com um vestido negro, e espartilho apertado que jurava ser
impossível respirar com ele. O cabelo ruivo estava preso no alto da cabeça, e adoraria poder
bagunçá-lo. Sentiu-a tensa, apertando com força os dedos contra o antebraço.
– Já se esquivou demais, Dária. – Ele caminhou na direção dela com passos firmes e
confiantes. – Não precisa temer isso.
– Não sabes nada sobre mim.
– Saberei se me permitir.
Quando Dária se deu conta, ele já estava próximo o suficiente para envolvê-la pela cintura.
Um calafrio percorreu o seu corpo fazendo-a se encolher. Sabia que o certo seria afastá-lo como
sempre fez, contudo não queria isso. A presença da ordem na cidade talvez a tivesse deixando
mais suscetível à ideia de ceder.
– Meus problemas não são contigo.
– Então, permita-me ajudá-la. – O lorde deslizou as mãos pelo rosto dela, acariciando a pele
alva e fria.
Dária fechou os olhos e perdeu-se na sensação. De alguma forma a presença dele fez com que
a angústia sumisse. Se permitisse aquilo, seria algo do qual não poderia esquecer ou mesmo
voltar atrás.
– Aron...
– Pare de fugir! – Ele a pressionou contra a parede. – Fostes atrás de mim noite passada e sei
que queres isso tanto quanto eu.
– Matastes duas das minhas garotas. – A vampira tentou empurrá-lo, contudo não fez a real
força para isso.
– Ambos sabemos que esse nunca foi o real problema. – O íncubo apoiou sua testa contra a
dela, forçando-a a encará-lo.
Permita-se. Dária envolveu os dedos pelo cabelo negro dele e o puxou para um beijo.
O íncubo a sentiu pressionar os lábios contra os seus, e invadir sua boca com a língua. Não
sabia se era apenas pela ânsia em tê-la, mas cada parte de seu ser vibrou em êxtase. Riria de si
mesmo por parecer um menino, caso não estivesse tão ocupado. Segurou-a pela cintura com
ainda mais firmeza. Ele estremeceu com o desejo que ardia dentro de si. Sabia que negaria aquilo
em voz alta, mas a resposta era SIM, obviamente Dária não era uma presa como as demais e
odiaria que aquilo durasse apenas uma noite. Foi mais fácil admitir a si mesmo que estava
apaixonado do que jurava ser. Aron mordiscou o lábio inferior dela, então invadiu sua boca
novamente com a língua, roubando o último resquício de resistência. Dessa vez não fugirás de
mim.
Dária soube naquele momento que lutar contra aquilo era tolice. Elzor estava certo, ela não
podia permitir que o seu passado a assombrasse para o resto da eternidade. Ela ofegou pelo calor
que se permitiu sentir.
O duque a pressionou ainda mais contra a parede, e a troca de carícias sensual se tornou algo
menos gentil e delicado, com mais urgência, quase como se estivessem famintos por aquilo. A
dama deslizou as mãos até o peito dele e começou a desabotoar o paletó. Aron soltou um gemido
abafado pelo beijo quando se deu conta de que ela havia começado a despi-lo. Finalmente
saciaria o desejo que rugia dentro dele.
Em um movimento veloz, Dária os girou e bateu com as costas dele contra a parede. A força
dela nem mesmo incomodou Aron, ainda que o golpe tivesse doído, seus sentidos estavam
dispersos demais em outras sensações.
Dária sentia a necessidade de fazer aquilo fluir por todo o seu corpo, e logo jogou o paletó
dele ao chão. Ser uma vampira a permitia senti-lo mais intensamente a cada toque. A
sensibilidade elevada tornou o cheiro dele ainda mais embriagante. Não queria mais cumprir a
difícil tarefa de resistir a ele.
A dama soltou um gemido de protesto quando os lábios dele se afastaram dos seus. No
entanto, logo seu corpo se arrepiou quando ele mordiscou de leve a sua orelha. Um calor a
invadiu numa ânsia por mais. Segurou a camisa dele pelo colarinho e puxou de uma vez,
arrancando os botões da peça e do colete, fazendo-os voar por todo o quarto.
– Desculpe pela roupa. – Dária se envergonhou ao se dar conta do que havia feito.
– Não te preocupes com isso agora. – Aron acabou de tirar as peças rasgadas e as jogou ao
chão.
Daria se perdeu por alguns segundos observando o peito dele. Sem hesitar, tocou-o, sentindo
o calor da pele, a perfeição dos músculos. A forma como ela o olhou e tocou facilmente fizeram
de Aron o homem mais vaidoso do mundo.
O duque começou a desamarrar as fitas que prendiam o espartilho dela. Mordeu o lábio,
enfurecido com o quanto aquelas roupas femininas eram difíceis de retirar. Contudo a forma
como ela permaneceu o tocando tranquilizou-o. Finalmente o espartilho foi jogado de lado e ele
pode agarrar os seios firmes. Os mamilos se enrijeceram em suas mãos e o fizeram soltar um
gemido. Ela era ainda mais bela seminua.
Com as mãos dele a tocando intensamente, Dária sentia o desejo que aquele homem
provocava nela crescer ainda mais. Aproveitou o espaço que ele havia tomado em relação a
parede, para deslizar as mãos sobre as costas largas, refazendo com a ponta dos dedos toda a
linha da coluna. Estava prestes a apalpar a bunda dele, ainda sob o tecido da calça, quando o
lorde se abaixou a fim de retirar as numerosas camadas da saia que a dama usava.
A pele dela era alva e gélida, Aron se enchia de prazer por poder acariciá-la. O vermelho dos
olhos de Dária se tornou ainda mais intenso e ela mordeu os lábios, provando do seu próprio
sangue, quando o íncubo abaixou a cabeça e tocou com a língua seu sexo feminino. Inebriada
pela sensação, ela abriu as pernas mais, permitindo que ele encaixasse a cabeça melhor.
Dária tinha um sabor agridoce, gélido e sedutor, e Aron a saboreou, enquanto deslizava as
mãos pelas suntuosas curvas da cintura arredondada dela. O modo como o corpo dela
correspondia às suas carícias despertou nele os desejos mais profundos. Teve que lutar contra a
vontade de deitá-la no tapete e penetrá-la logo. Aron deslizou o dedo para dentro da vampira e a
umidade dela fez com que cerrasse os dentes para não gemer. O estímulo a fez gemer e dar leves
reboladas.
– Agora, Aron! – Ela gritou com a voz trêmula. Todo o seu corpo ansiava com a vontade de
tê-lo dentro de si.
– Estás me dando ordens?
– Algumas vezes o farei, a partir deste momento, principalmente se demorar tanto.
Um sorriso nada discreto surgiu nos lábios do íncubo quando ela implorou por aquilo. Logo
ele se livrou da calça, a envolveu pela cintura e levou até a cama.
Duzentos anos haviam se passado desde a última vez em que Dária havia se deitado com um
homem. Fugira deles, os odiava, saciava seus desejos apenas com mulheres, adorava estar com
elas. Entretanto, ao ceder às investidas do íncubo, apenas os dedos não lhe pareciam mais o
bastante. Com o canto dos olhos encarou o pênis rígido dele e passou a língua pelos lábios coma
boca salivando de desejo.
Aron a fitou sobre a cama, a bela ruiva que tomara seus pensamentos por meses, finalmente
ao alcance dele. Não precisava mais se conter. Afastou as pernas delgadas dela observando os
olhos que tanto o encantaram e sem hesitar mais a penetrou.
Quando Dária o sentiu invadir seu corpo, ela ficou tensa. As lembranças de sua vida como
humana tomaram a sua mente como uma névoa e a fizeram esquecer-se do desejo. Ela cerrou os
dentes e pressionou uma mão contra o peito de Aron, tentando afastá-lo.
– Ei – com uma mão o íncubo segurou o pulso dela e com a outra tocou-lhe o rosto. – Eu não
sei o que lhe aconteceu, mas se me permitir eu posso ajudá-la.
– Não sabes de nada sobre mim. – A voz dela ainda era relutante.
– Para, Dária, chega! – Aron balançou a cabeça. Então, curvou-se para beijá-la. Roçou os
lábios nos dela. Girou-os na cama e a deixou por cima, no controle como ela parecia gostar de
estar, contudo recusou-se a sair dela.
– Homens são...
– Eu não sei o que fizeram... – ele pousou dedo sobre a boca dela, fazendo-a parar. – Mas
olhe, definitivamente não será como antes. – Envolveu os cabelos ruivos e volumosos dela e a
puxou de volta para um beijo.
Não permitas que o seu ex-marido lhe assombre pelo resto da eternidade, a voz de Elzor
ecoou na cabeça dela. Em seguida, Aron a beijou novamente e fez a névoa de recordações
desaparecerem.
– Não és um homem. – Ela segurou os braços dele pelo pulso e os segurou contra a cama, no
alto da cabeça.
– Não, eu sou um íncubo. – Aron riu e um gemido escapou pelos lábios dele quando a sentiu
começar a se mover.
A habitual dor e o desconforto que Dária sentiu todas as vezes que fizera aquilo antes, deram
lugar a uma sensação de imenso prazer, enquanto ela se movia livremente sobre o quadril do
lorde.
Aron mordeu os lábios e soltou um gritinho de protesto quando a visão dos seios dela, de
tamanho moderado e roliços, balançando junto com o movimento de seu corpo, foi demais para
que ele resistisse a tocá-los. Porém ela ainda segurava seus braços e mesmo que o íncubo tivesse
força o bastante para se soltar, não o fez. Além de excitante, dar a ela o total controle da situação
parecia a deixar mais calma. Mas era uma tortura não poder tocá-los.
Dária via os olhos do lorde se contorcerem cada vez que ela se movia contra seu corpo,
permitindo que ele a adentrasse por completo. A vampira mordia os lábios com força, fazendo-os
sangrar numa tentativa tola de tentar conter os próprios gemidos. Embora boa parte de si, a que
ainda era assombrada pelo passado, não quisesse admitir, aquilo estava delicioso. O duque se
deleitava com cada gemido e suspiro que ela teimava em reprimir, entretanto quanto mais ela
brigava com isso, mais seu rosto denunciava o prazer. Ela já se mexia incontrolavelmente,
rebolando nele.
A dama sentia seu corpo arder em meio àquela dança erótica. Com o prazer tomando conta
de todos os seus sentidos, ela finalmente aceitou que já fora longe demais para permitir que seus
demônios a assombrassem. Qualquer consequência que aquilo pudesse vir a ter, a vampira se
preocuparia com ela depois.
Lembrou-se da pequena prova que tivera do sangue dele e desejou mais daquela bebida
exótica. Quando Dária finalmente soltou-lhe os braços, Aron se assustou com ela cortando com a
unha uma linha pelo seu peito, por onde o sangue fluiu. Contudo, logo que ela se curvou,
lambendo-o, ele gemeu alto, alucinado pelo prazer que tal ato lhe proporcionou. Sabia que a
saliva de um vampiro era afrodisíaca, porém não pensou que fosse tanto.
Com as mãos livres, Aron segurou a bunda arredondada dela e a fez se mover mais rápido.
Sentia-se deslizar com afinco para dentro do corpo úmido. O desejo que nutria por ela e a forma
alucinante como seu sangue era sugado, tornou aquele ato o mais prazeroso que já tivera. Dária
arranhou ainda mais o peito dele quando um rugido de prazer escapou do fundo da sua garganta.
Suas pernas tremiam e seu corpo estava à beira do colapso, pelo prazer ardente que ela não
estava preparada para sentir.
O íncubo respirava fundo, ainda com as mãos firmes agarradas à bela bunda dela. Se segurar
não estava tão fácil como costumava ser. A vampira era mais ágil e tinha mais fôlego do que as
damas com que havia se deitado.
– Aron! – Dária gritou o nome dele quando uma onda de prazer tomou seu corpo, banhando
cada uma de suas veias. Atingir o orgasmo sendo penetrada era um prazer diferente que, jamais
havia experimentado antes. Surpreendeu-se ao cair sobre o peito dele, bamba, tremendo, mal
podendo se sustentar.
O lorde logo se deu conta de que ela havia atingido o ápice e a puxou para um beijo, podendo
sentir o sabor do seu sangue ainda na boca dela. Então a penetrou com mais afinco, a língua
imitando os movimentos do pênis, feroz.
Depois de mais algumas estocadas, Dária sentiu o corpo dele se contrair debaixo do seu, os
músculos ficarem tensos, até que ele relaxou e um jato quente lhe banhou o ventre.
Ainda entorpecido pelo orgasmo, Aron retirou os cabelos que cobriam o rosto pálido dela, e a
observou sobre seu peito. Mesmo tendo seu sangue sugado e perdendo parte de sua energia, não
ousou se alimentar, a noite anterior fora o suficiente para mantê-lo por alguns dias, e não queria
nem correr o risco de perdê-la.
– És tão linda. – Acariciou-a.
Dária o observou em silêncio. Ele tinha uma suave expressão de alegria estampada nas curvas
de seu rosto. Isso a deixou confusa, não entendeu a fixação do íncubo ou a forma carinhosa que a
tocava. Homens não eram carinhosos.

– Ei, por favor, fique! – Aron sussurrou sonolento quando a viu se levantar e segurou o braço
dela.
– Eu só vou me limpar.
– Está bem. – Relutante, ele a soltou.
Esparramado na cama, a viu caminhar nua até um pequeno banheiro no quarto. Jurou que
poderia assistir para sempre o movimento das curvas do corpo da vampira se mexendo à medida
que ela andava. Dária era suntuosa e roliça nas partes certas, foi fácil entender por que se
encantara desde o breve vislumbre dela.
Logo a vampira retornou e entregou a ele uma toalha úmida para que também pudesse se
limpar.
O íncubo a puxou para cama, a queria de volta em seus braços, porém Dária se desvencilhou.
– Deves ir agora.
– Não vais me expulsar. – Aron se sentou na cama um tanto irritado.
– Ficas aconchegado com todas as suas presas?
– Na verdade elas nunca sobreviveram até esse momento. Mas porque te importas? Não és
uma presa, assim como não sou um dos humanos dos quais se alimenta.
– Falas demais. – Ela torceu os lábios.
– Eu estou apenas dizendo a verdade. – O íncubo se colocou de pé e a envolveu pela cintura.
Dária sabia que deveria afastá-lo, mas no momento em que os lábios dele tocaram a base de
seu pescoço ela jogou a cabeça para trás, gemendo levemente. O toque provocante dele trouxe de
volta a febre do desejo. Vibrar tão energicamente a cada carícia era uma péssima ideia ao tentar
resistir a ele.
– Saía daqui. – A voz dela saiu trêmula e nem de perto intimidadora.
– Vou embora daqui a pouco, eu prometo. – O duque a deslizou a mão até a nuca dela e
enrolou os dedos em seus cabelos. – E, de qualquer forma, ainda está de dia e não há nada que
possa fazer por enquanto. – Mordiscou de leve a orelha da vampira, sentindo-a se contorcer em
seus braços.
A dama cravou as unhas no ombro dele, deixando marcas vermelhas na pele clara, mas ele
nem protestou contra a leve dor. Uma força enorme manteve as pernas bambas dela imóveis.
Dária praguejou baixinho e por um segundo mandou para o inferno tudo que a fazia resistir e
agarrou com foça os cabelos negros dele, puxando-os até poder roçar seus lábios nos do íncubo,
mordiscando o inferior. O beijo que veio em seguida foi feroz, as línguas se tocando de modo
selvagem.
Aron a segurou e ergueu, puxando-a consigo de volta para a cama. Sentou-se e colocou-a
sobre sua cintura, encaixando-se no meio das pernas da vampira, cujos joelhos se apoiavam na
cama.
– Não te cansas? – Ela deu um risinho ao passar as mãos pelo peito dele.
– De ti? – Aron a admirou a ruiva de beleza estonteante por alguns segundos, com os olhos
curiosos o percorrendo. – Poderia passar a eternidade assim. – Curvou-se e lambeu o mamilo
enrijecido.
Dária sentiu seu corpo queimar e um alto gemido escapou por entre suas presas. Olhou-o nos
olhos: eles eram penetrantes, arrebatadores, e tinha toda a atenção deles. Sentia o pênis do lorde
pulsar sob o seu corpo, e moveu-se lentamente conta ele, aquela fricção era deliciosa. Contudo
não era mais o bastante apenas se esfregar, queria, precisava dele a preenchendo outra vez.
Enfiou a mão entre os seus corpos e agarrou o membro rígido, pulsante. Aron gemeu e
agarrou as coxas, pressionando-as, firme. Dária se ergueu um pouco, com a mão livre apoiada no
ombro esquerdo do duque, antes de sentar nele. Dessa vez ela não se preocupou em conter o
grito. O prazer da penetração a fez perder por completo qualquer resquício do seu autocontrole.
Escorada nos ombros dele, se movia de forma frenética. O calor do corpo do íncubo e a forma
como a respondia como iguais, a faria jurar que ele era algo improvável caso não o tivesse ali.
Aron deslizava as mãos pela cintura dela, apalpando, acariciando sua bunda. Tocava-a inteira,
explorando cada pedaço do seu corpo. O desejo do lorde aumentava a cada curva. Ela podia ser
fria, mas despertava nele um calor incomum.
Quando o prazer explodiu dentro do seu corpo, Dária arfou. Abraçou-o, numa tentativa de
manter os corpos mais próximos. Aron logo a acompanhou, banhando-a outra vez. Tomado pelo
prazer, apoiou o queixo sobre o ombro da vampira e retribuiu o abraço. Permaneceram assim por
alguns até que suas respirações se normalizassem.
– Agora eu vou. – Aron se curvou e beijou-a antes que Dária pudesse fazer qualquer protesto.
Levantou-se e começou a se vestir. Ainda admirava com o canto do olho a bela mulher sobre
a cama. A ideia de sair dali o afligia, mesmo que soubesse que precisava ir. Teve que se conter
para não se atirar sobre ela e possui-la outra vez. Se apenas seus instintos estivessem no controle,
o duque não sabia quando pararia, ou se pararia.
Dária se conteve para não lhe pedir para ficar. Embora sentisse que precisava afastá-lo, não
sabia mais se queria fazer isso.
– A vejo em breve. – O íncubo a beijou de forma demorada. Dessa vez como se quisesse
registrar cada segundo daquilo, para jamais esquecer a sensação. Quando se deu conta de que
acabaria arrancando as roupas novamente, ele deixou o quarto.
Capítulo 15
– Onde esteves durante todo o dia? – Isabel perguntou assim que Aron colocou os pés na sala.
Ela tinha os braços cruzados e batia o delicado sapato contra o assoalho de madeira. – Pensei que
havíamos combinado de irmos juntos à chapelaria.
– Não sejas ingênua, irmã. Olhe só para o brilho nos olhos dele. – Natasha comia uvas sentada
no sofá e nem mesmo o encarava.
– Estava se alimentando?
– Não.
– Ele fez amor, que gracinha! – Natasha conteve o riso.
Aron estava tão feliz que nem mesmo as provocações de sua irmã o tirariam do sério.
– Sabes de algo que eu não sei? – Isabel se virou para a morena, encarando os olhos azuis
esbranquiçados dela em busca de respostas.
– Parece que a vampira finalmente cedeu. – Natasha jogou as sementes da uva na lareira.
Aron ignorou as irmãs e caminhou até o seu quarto. Que pensassem o que quisessem, não se
preocuparia com elas no momento.
– Anisha! – Ele gritou a criada. – Prepare um banho para mim.
A voz grave dele ecoou por toda a casa e a moça foi capaz de ouvi-la da cozinha.
Enquanto esperava, Aron se debruçou sobre o parapeito de uma das janelas de seu quarto. O
sol de fim de tarde aparecia modesto entre as nuvens, e algumas flores já se formavam no jardim,
sinal de que o inverno gélido já se despedia.
Por alguns segundos, o duque fechou os olhos e se concentrou no cheiro dela, ainda
impregnado por todo o seu corpo. O aroma o preencheu de desejo por poder tocá-la outra vez, e
teve que se conter para não sair correndo. Riu sozinho, deveria ser paciente. Já havia vencido
algumas das inúmeras barreiras dela, contudo outras claramente ainda estavam ali, fazendo-a
relutar e esquivar-se. Dária ainda não confiava nele, e se a quisesse por completo precisava
mudar isso.
– Meu lorde... – Anisha cutucou o ombro dele, que estava tão perdido em pensamentos que se
assustou.
– Sim... – Aron se virou para ela e encarou o rosto enrubescido. A pobre moça ainda deveria
estar desconcertada pelo incidente em que, se não fosse por Isabel, sua pureza teria sido roubada
pelo duque.
– Seu banho está pronto, senhor. E chegou essa carta para ti.
Aron pegou o envelope das mãos dela e sorriu.
– Obrigado, Anisha. Caso precise de algo eu a chamo.
– Está bem. – A criada curvou-se e deixou o quarto o mais rápido que pode, e por pouco não
tropeçou nos próprios pés. O íncubo riu, a coitada estava tão desconcertada que não conseguia
ficar em minha presença.
Olhou para o envelope em suas mãos com o selo do marquês de Westminster e o abriu.

Querido Aron,

Depois daquela noite memorável, creio que possa chamá-lo dessa forma. Philip e eu
adoramos conhecê-lo. Confesso que mal vejo a hora de revê-lo, e quem sabe repetirmos aquele
momento.
Sem mais delongas, escrevo-lhe esta carta para um convite mais formal, eu e alguns amigos
da corte de Londres estamos organizando um torneio de esgrima em minha propriedade e
adoraria tê-lo entre os competidores.
Infelizmente nossas esposas e outras pessoas da sociedade estarão presentes. Será um evento
de aparências e Philip e eu não poderemos lhe dar a atenção que gostaríamos. De qualquer
forma, ficaria muito feliz com a tua presença.
O torneio será na próxima semana no fim da tarde. Traga os convidados que desejar.

Com carinho, Richard.

Será que Dária iria? Foi o primeiro pensamento do lorde quando terminou de ler, esperava
conseguir convencê-la. Gostaria de poder exibi-la a todos.
Colocou a carta sobre a mesa e caminhou até o banheiro antes que a água esfriasse. Retirou as
roupas, dobrou-as e colocou-as sobre uma bancada de madeira escorada na parede. Passou os
dedos longos pela borda da banheira branca. O vapor quente havia tomado conta de todo o lugar.
Com um pé de cada vez, ele entrou; a água morna era reconfortante. Submergiu por completo, e
ficou por baixo da água até que não fosse mais possível respirar. Tocou-se, limpando-se.

Horas depois Aron saiu do pequeno banheiro, coberto por um roupão, com os cabelos negros
molhados, pingando sobre o pano branco.
– Isabel! – O duque arregalou os olhos ao dar de cara com sua irmã mais nova sentada sobre a
cama perfeitamente arrumada, sinal de que o lorde não se deitava nela há um bom tempo.
A caçula estava com os braços cruzados sobre o joelho, a cabeça erguida fitando-o. Os olhos
azuis esbranquiçados estavam arregalados e atentos.
– Achei que não sairias de lá nunca. – Ela bufou jogando uma mecha do cabelo loiro para trás.
– E porque estás aqui?
– Oh, Aron, por favor, és meu irmão, somos cheios de segredos. Apenas podemos ser sinceros
uns com os outros.
– Sabes que esse papo é patético, não é?
Isabel torceu os lábios, fechando o rosto, numa fingida expressão de tristeza.
– Mas é a verdade.
– És intrometida demais.
– Aron... – inquieta, ela dava pulinhos na cama. – Estou apenas curiosa, é a primeira vez que
vejo alguém como nós apaixonado.
– Isso é tolice, Isabel. – Aron andou até a mesa no centro do quarto e pegou uma framboesa
da travessa deixada lá.
– Tolice? – Ela arqueou as sobrancelhas e ergueu os braços, revoltada. – A única pessoa para
a qual conseguirá mentir é para si próprio. Parecia pisar nas nuvens quando chegastes aqui mais
cedo...
– Saias daqui, pestinha bisbilhoteira! – Aron apontou para a porta com a expressão fechada.
– Vais mesmo esquivar-se de mim, e negar a verdade a ti mesmo?
– Agora!
– Aron...
Isabel se levantou de cara amarrada e deixou o quarto. Soube que naquele momento ele não
diria nada, pelo menos não por enquanto.
O duque cerrou as portas duplas assim que a sua irmã caçula passou por elas. Riu baixinho.
Sabia que ela não desistiria, porém iria a enrolar enquanto pudesse.
Sentou na cadeira confortável, ao lado da mesa no centro do quarto, e voltou a mordiscar as
frutas deixadas ali. Pouco se importava com qual nome deveria dar a tal sentimento, apenas a
queria por perto, em seus braços, ao alcance do seu toque. Mal via a hora de tê-la outra vez.
Capítulo 16
Estava escuro. A não ser pela porta arrombada, não havia o menor sinal de qualquer criatura
viva. Dária entrou, e assim que o seu sapato tocou o assoalho um rangido ecoou por toda a
superfície. A casa velha era de madeira, o ar estava pesado de tanta poeira.
– Não deveria ter vindo aqui, minha senhora. – Elzor parou por um momento, ponderando a
gravidade de estarem ali.
– Precisamos de respostas, meu caro. Sou alguns anos mais velha do que ti, portanto mais
forte.
– Mas sou dispensável.
– Para quem? – Dária o encarnou. – Pois para mim não és. Sabes bem que és mais do que um
servo, que o considero como um amigo.
– É uma honra.
Dária ergueu a mão para que ele se calasse ao ouvir um leve ranger distante. Temeu sentir a
presença de alguém. Em posição de ataque, esperou que seja lá quem fosse vir em sua direção.
Rosnou quando algo se aproximou o bastante para que pudesse vê-lo. Entretanto, não passava de
um pequeno rato. A vampira respirou fundo e praguejou contra si mesma por estar tão assustada.
Continuaram a caminhar para dentro da casa, que sob o profundo silêncio da noite tudo
parecia fazer ainda mais barulho. Estava escuro, e a lua minguante no céu pouco ajudava a
iluminar, contudo nenhum dos dois se atreveu a acender uma única vela. O vento entrava pela
porta deixada entreaberta e assobiava em cada um dos cômodos da velha casa. A dama sentiu um
arrepio varrer-lhe o corpo e levou as mãos aos braços, como se sentisse frio.
– Está tudo bem, minha senhora? – Elzor a encarou, preocupado com o perceptível temor nos
olhos dela.
Dária nada respondeu e continuou andando com passos cautelosos. Assim que passaram do
hall e chegaram à sala, foram capazes de enxergar corpos no chão: uma dama vampira tivera a
cabeça separada do corpo por uma espada afiada e os outros dois cavalheiros possuíam estacas
enfiadas em seus corações. Pela forma como foram mortos, haviam sido pegos de surpresa e mal
souberam quem ou o que os matou. Dária fitou o símbolo da ordem da cruz desenhado ao lado
dos corpos, haviam deixado a sua assinatura para reivindicar o feito e deixar sob aviso os
vampiros ainda vivos na cidade. Tremeu ao se lembrar do quanto eram bem treinados e
incrivelmente rápidos para meros humanos; eram bons o bastante para pegar sem aviso vampiros
jovens.
– Dária! – Elzor mal teve tempo de gritar quando um homem surgiu das sombras e partiu para
cima deles. Fora ingenuidade pensar que já haviam deixado o local do ataque.
A vampira se assustou, cambaleando para trás, mas ainda assim foi rápida o bastante para se
esquivar de uma lâmina afiada que cortou o ar no local onde estava há poucos segundos. Suas
presas cutucaram sua língua e um rugido feroz saiu de sua boca.
Com os olhos vermelhos arregalados e as pupilas dilatas, ela olhou bem para o caçador. Ele
usava uma roupa preta com colarinho branco que se assemelhava a de um padre, tinha o cabelo
completamente raspado e uma tatuagem em forma de cruz, vermelha e branca, que cortava de
uma ponta a outra a metade direita de seu rosto, encobrindo seu olho.
– Mais vampiros? – Ele gargalhou, fazendo seu riso ecoar por toda a casa numa sinfonia
assustadora. – Olhem só o quão sortudo eu sou.
– Arrependeras-te de ter dito isto. – Dária rosnou por entre as presas e retirou uma adaga que
estava presa em sua canela, sob a saia do vestido.
O caçador se esquivou do movimento veloz da vampira. Era bem treinado e preparado para
lidar com tais criaturas da noite. Porém, não deixou que sua autoestima subjugasse suas ações,
claramente estava diante de dois vampiros com pelo menos um século, nem de longe seriam tão
fáceis de derrotar quanto os que habitavam aquela casa abandonada. Quem sabe não estivesse
com sorte e aqueles dois fossem os antigos que o seu senhor o mandara caçar em Londres. Logo
teria a cabeça daquela vampira e poderia retornar ao Vaticano.
Lançou do casaco uma pequena adaga em formato de cruz, que passou de raspão pelo braço
de Dária, queimando a região. Maldição, ela era rápida.
Dária berrou de dor e num movimento rápido Elzor a tirou do caminho e colocou-se entre o
caçador e sua senhora. Morreria antes de permitir que a dama fosse ferida outra vez.
– Saias daqui antes que te arrependas de ter vivido!
O caçador gargalhou, achando ridícula tal ameaça, eram eles que deveriam temer. Viu o
vampiro partir para cima dele e preparou-se para ser atacado, esquivou-se das garras que
passaram próximas ao seu rosto. Sorriu ao perceber que ele não era tão leve e ágil quanto a
mulher. Deu um soco contra a barriga de Elzor e o fez cambalear para trás.
O vampiro tossiu com o golpe, que irradiou uma forte dor por toda a sua barriga e o deixou
sem ar. Levou alguns segundos para recobrar o total controle de seu corpo e tais segundos
poderiam ter sido fatais. O caçador tirou de suas roupas um pequeno vidro e atirou contra Elzor.
Assim que este se quebrou molhou as vestes negras do vampiro, e a água escorreu por seu rosto.
Ele urrou de dor, o líquido era quente e queimava a sua pele como ácido, corroendo,
transformando-a em carne viva. O cheiro de queimado era tão forte que até mesmo o homem
sem sentidos aguçados teve o estômago revirado pelo odor.
Dária surgiu atrás do caçador e, com a adaga em suas mãos decepou a cabeça do homem. O
corpo dele caiu para um lado e a cabeça para o outro, de olhos arregalados, pupilas dilatadas,
teve dois segundos para se dar conta de que estava morto.
A dama segurou o corpo pelos ombros e o arrastou, pingando sangue pelo pescoço, até Elzor,
que ainda jogado no chão, urrava de dor.
– Beba!
O criado agarrou o corpo sem vida e, como uma fera, cravou as presas na veia do pescoço que
jorrava sangue. O líquido vermelho sujou toda a roupa do vampiro e tingiu seus lábios. À medida
que ele se alimentava a queimação em sua pele diminuía, os vestígios do machucado iam
vagarosamente dando lugar à pele original.
– Obrigado, minha senhora. – Elzor agradeceu ao jogar o corpo para o lado e encarar a dama
de pé diante dele.
– Já disse que é mais do que apenas um criado para mim. – Dária estendeu a mão para ajudá-
lo a se levantar. – Agora vamos sair daqui, antes que outros venham atrás dele. Se não sabiam
que havia vampiros antigos em Londres, agora eles sabem.
– Precisamos ser mais cautelosos. – Elzor caminhou até a porta. – Lidamos bem com um
caçador, contudo, não sei como sairemos contra dez iguais a ele.
– Não te preocupes demais. – Dária tentou esconder a tensão em sua voz.
– Por favor, senhora, é hora de sermos cautelosos. – O leve ardor em sua pele deixava fresco
em sua memória o quão arriscado isso era. – Peça ajuda a Melinda. Com os poderes dela serão
incapazes de tocar-te.
– Podemos lidar com isso sozinhos. – O tom de voz dela ficou severo, claramente irritada com
a insistência dele. Não iria rastejar até a rainha das bruxas pedindo que a protegesse de meros
caçadores, isso era ridículo. – Apenas vamos sair daqui.
Elzor assentiu, a seguindo para longe. Sabia bem o quanto a sua senhora era orgulhosa,
contudo torcia para que tal defeito não colocasse em risco a vida dela.
Capítulo 17
Um lampião a óleo de luz amarela e tremulante estava sobre uma pequena mesa num canto
junto à parede feita de tijolos de barro. O duque estava perdido em meio às grandes prateleiras de
carvalho e mal se dera conta que a poeira do lugar havia impregnando seu fino paletó.
Aron estava há alguns minutos lendo os rótulos das garrafas de vinho na adega do casarão.
Procurava pelo melhor, o mais velho, de sabor mais apurado. Em meio à poeira e algumas teias
de aranha, num local mais alto da prateleira, encontrou um vinho do início do século XIV, vindo
da região da Lombardia na Itália. Este deveria estar ali desde a o tempo dos antigos moradores
do lugar. Parece perfeito!
Bateu um pouco da poeira de suas roupas, soprou o lampião para apagar a chama e deixou o
local. Quando subia a escada de madeira para deixar o subsolo, Natasha bloqueou seu caminho.
Aron encarou a irmã andando pela casa ainda de conjugado.
– Olá, irmão!
– O que ainda fazes vestida assim?
– Acordei agora e estava com preguiça de vestir-me. Sabes bem o quanto detesto tal volume
de roupa. – Ela penteava o cabelo com os dedos, como se estar apenas com um fino tecido
cobrindo as suntuosas curvas de seu corpo não fosse nada demais.
– Depois Isabel nos enlouquece por dizer que estamos tirando a paz dos criados.
– Parei de matá-los, eu juro. – Ela levou os dedos aos lábios e os beijou em cruz, como se
fizesse uma promessa. – Posso beber contigo? – Apontou para a garrafa de vinho nas mãos do
irmão.
– Não a beberei aqui. – Aron a escondeu de baixo do casaco.
– Irás vê-la outra vez? – Os olhos da súcubo brilharam de curiosidade.
– Por que isso interessa a ti? – O duque tentou se esquivar, entretanto a irmã continuava a
bloquear a pequena passagem na escada estreita de madeira velha, que rangia um pouco por mal
sustentar o peso dos dois.
– Ah, Aron, eu sou sua irmã, preocupo-me contigo.
– Sério?! – O íncubo riu.
Natasha cruzou os braços, fechando a cara, e subiu a escada, deixando o caminho livre para
que o duque passasse. Se ele não havia conversado nem mesmo com Isabel, não o faria com
Natasha. A última coisa que desejava naquele momento era que sua irmã do meio fizesse daquilo
um estardalhaço. A Donovan sabia bem como ser inconveniente e indelicada, e Aron não a
perdoaria se colocasse tudo a perder. Antes de dizer qualquer coisa as suas irmãs, precisava da
certeza de que Dária não correria dele na primeira oportunidade.

– O que fazes aqui? – A dama conteve o berro ao voltar para o quarto e deparar-se com o
íncubo.
– Queria vê-la. – Aron respondeu naturalmente, enquanto enchia duas taças de vinho.
– Não significa que temos qualquer relacionamento por eu ter deitado contigo uma única vez.
– Ela estava claramente irritada.
– Não, nós não temos. Entretanto, não significa que eu não adoraria que tivéssemos. – O
duque ergueu os olhos para encará-la. O vestido negro da dama estava repleto de respingos
vermelhos que não pareciam uma simples tinta. – Alimentando-te?
Dária não o respondeu, deixou que o silêncio o fizesse. Não contaria a ele o que realmente
acontecera. Por mais que sentisse que o íncubo fosse confiável, uma parte de si ainda relutava. E
se realmente fosse, não queria que ele, Melinda, ou qualquer outro se envolvesse nisso.
Aron caminhou até ela e entregou uma taça de vinho.
– Como não gostastes das flores, – o lorde se lembrou do infeliz incidente com o entregador,
pobre garoto. – Trouxe um bom vinho e chocolate.
Dária olhou bem para o seu quarto. O íncubo parecia bem à-vontade em um espaço que não
era dele e isso a incomodou. Anne, Melinda ou qualquer outra mulher nunca tiveram tanta
audácia. Por um momento pensou em expulsá-lo dali, jogá-lo janela abaixo, pela ousadia. Cerrou
os dentes, apertando com força as unhas contra as palmas das mãos. Porém, uma troca de olhares
fez com que os seus músculos relaxassem, e teve que conter o desejo de ir até os braços dele.
– Tudo bem, aceito uma taça de vinho.
Aron sorriu ao observar a tensão no corpo dela se dissolver: os ombros caíram, levemente
relaxados, e as leves linhas no rosto jovem desaparecerem. Entregou a ela uma das taças e tomou
um leve gole da sua.
– Pensei que não houvessem segundos encontros. – Dária pegou um dos bombons e levou-o
até os lábios carnudos e vermelhos.
– Quantas vezes precisarei lembrá-la que não és como uma das minhas presas? – A voz dele
era firme, ainda que estivesse perdido na simples visão da boca dela partindo a superfície do
chocolate. Conteve-se para não a tomar nos braços, e virou-se para observar as chamas na lareira,
que dançavam em meio às toras de madeira.
– Imagino que isso seja um sacrifício.
– Não é. – Aron se cansou de hesitar e foi até ela, deslizou a mão pelo seu ombro direito.
Dária fechou olhos e se permitiu sentir o toque. A pele dele era quente como a de um humano,
prazerosa, embora tivesse um aroma menos doce.
Aron aproveitou a falta de resistência dela para beijar-lhe a base do pescoço. Segurou-a firme
pelos ombros, a mantendo bem ali, o mais próximo possível. Por um momento nem mesmo o
som do fogo pareceu existir.
A batalha interna que Dária travava para resistir a ele estava perdida por hora. Ter cedido uma
única vez parecia ter tornado a tarefa de mantê-lo longe algo que beirava o impossível. Virou-se
para ele e empurrou-o contra a parede fria de tijolos, o que o fez vibrar por dentro. A vampira
mordiscou a base do pescoço do íncubo, o fazendo arfar, batendo a cabeça na superfície trás de
si. Aron agarrou-a pela cintura, apertando firme, pressionando-a o máximo que pode contra o seu
corpo, enquanto se deliciava com os beijos e leves mordidas em seu pescoço.
Começou a desabotoar as fitas que amarravam o espartilho da dama, porém ela o interrompeu.
– Não!
– Por quê? – Aron choramingou, irritado por não poder despi-la. Não, ela definitivamente não
era como as suas presas.
– Apenas não.
Em um caminho de beijos e mordidas pouco delicadas, Dária chegou até a boca dele e
mordiscou seu lábio inferior, cortando a pele frágil e bebendo do sangue que escorreu pelo
ferimento. Era bom!
Um gemido escapou pela garganta de Aron ao senti-la alimentar-se dele. O afrodisíaco da
mordida dela o fez urrar por dentro. Queria poder despi-la logo, porém teve que se contentar em
abraçá-la, sentir seu perfume.
– Dária, por favor...
A dama apenas riu da agonia dele e voltou a beijar-lhe o pescoço, podendo ouvir o coração
bater acelerado, a pele suar frio por causa da ansiedade. Começou a desabotoar o paletó, mas
recriminou-o ao simples gesto do íncubo tentar despi-la. Aron gemia aflito a cada toque. Deixa-
me.
Dária sabia bem que fazer aquilo o torturava. Embora o íncubo tivesse uma força semelhante
à sua, e pudesse arrancar o vestido caso quisesse. A forma como ele respeitara sua vontade a
deixou mais intrigada. Ele era um mestre da sedução e talvez o modo como agia com ela talvez
fosse apenas mais um de seus truques. Para a vampira, a ideia de que ele não quisesse apenas
manipulá-la chegava a ser assustadora, pois ia contra a tudo que forçara a si mesma a acreditar
por todos esses anos...
Sentiu-o mordiscar sua orelha, e em meio a um gemido permitiu que todos os pensamentos
ruins fossem dissipados. Não conteve a vontade de deixá-lo nu, no entanto respirou fundo para
aguentar a tarefa agonizante que era abrir cada um dos milhares de botões das roupas que ele
vestia. Por pouco não lhe arrancou a camisa outra vez.
Dária mordeu os lábios quando finalmente jogou ao chão o colete e a camisa branca. Sem
hesitar, deslizou os dedos por todo o peito nu, contornando as curvas de cada músculo que lhe
saltava aos olhos. A beleza dele podia não lhe bastar, mas negar que era um aperitivo e tanto era
mentir para si mesma.
De olhos fechados, resistindo como podia, Aron sentiu o toque gélido da vampira em sua pele
e apertou-a ainda mais contra seu corpo quando um calafrio o percorreu.
– Dária...
– Ainda não. – Puxou-o até a cama.
O lorde pensou que finalmente poderia livrar-se do vestido dela. Porém, quando ergueu as
mãos a fim de tocá-la, Dária rapidamente rasgou uma tira do tecido de sua saia e amarrou uma
das mãos dele junto à armação de madeira do dossel, e fez o mesmo com a outra.
– Para que isso? – Aron puxou os braços de volta, contudo eles estavam bem amarrados.
– Estou divertindo-me um pouco. – Dária não conteve o risinho.
– Divertindo-se ou me torturando?
– Um pouco de ambos.
– É cruel.
– Deverias saber disso antes de assombrar-me.
– Está bem, faças o que tiver de fazer. – Aron entrou no jogo, que estava apenas o excitando
ainda mais. – E as minhas calças, não irás tirá-las?
– Neste momento não.
A vampira se curvou como um gato sobre ele, e o rosto de Aron levantou-se na direção dela,
louco para poder beijá-la outra vez. Estar preso o deixava sem fôlego: geralmente era ele quem
tinha o controle da situação e não o contrário. Entretanto, soubera no momento em que a dama
rosnou para ele pela primeira vez, que ela possuía um espirito difícil de ser domado.
Os lábios de Dária finalmente tocaram os seus, concedendo o beijo pelo qual tanto ansiava.
Uma leve mordida foi o bastante para que as bocas se abrissem a fim de que as línguas
finalmente pudessem se tocar. Aron sentiu um desejo furioso percorrer suas veias e por pouco
não arrancou a estrutura de madeira na qual estava amarrado.
Ainda o beijando, a dama abriu os botões da caça do íncubo. O que foi inevitável tocar no
volume nada discreto sob o tecido. Havia coisas que ela não entendia, ou teimava em não aceitar,
uma delas era por que ele se esforçava tanto para tê-la, mesmo que as demais mulheres se
atirassem aos seus pés. Contudo, não podia negar que o íncubo sentia por ela um desejo
profundo, impossível de se esconder ou reprimir. Bastava fitar aqueles profundos olhos azuis
esbranquiçados para notar isso.
Dária desatou as amaras, libertando-o. Aron se conteve para não se comportar como um
animal selvagem, entregue aos seus instintos mais profundos. Ainda assim, a girou sobre a cama,
ficando sobre ela. Lentamente, deslizou as mãos pela lateral do corpo curvilíneo, traçando uma
linha dos seios até a base da cintura e subindo novamente até os seios, apertando-os com força
ainda sob a armação do espartilho. A vampira soltou um gemido abafado, arqueando o corpo. A
expressão de prazer no rosto dela o encorajou a continuar.
Aron desamarrou o espartilho e o retirou, finalmente deixando os seios expostos. Ter sido
amarrado apenas o deixou ainda mais louco para tê-la.
– Querias me matar de desejo? – O íncubo mordeu de leve a orelha dela.
– Matá-lo? Não seria uma má ideia. – Ela deu uma risada ao passar a unha pela linha do
pescoço dele.
– Ainda não desististes dessa ideia? – Aron apertou ainda mais os seios. Os mamilos
enrijecidos pressionavam as palmas das mãos e o íncubo quis beijá-los.
– Diga-me se essa não é uma ótima forma de morrer? – Dária lambeu o pescoço dele,
fazendo-o gemer baixo.
– Prefiro a ideia de tocá-la pela eternidade. – O lorde traçou um caminho de beijos até os seios
dela e envolveu um dos mamilos com os lábios, enquanto se desfazia das saias dela.
Quando a boca de Aron sugou a ponta de seu seio, Dária arregalou os olhos e rugiu com o
desejo banhando seu corpo. Assim que a boca tomou o caminho de volta até a sua, o ar frio
chocou-se contra a umidade deixada para trás e Dária gemeu com a sensação. O beijo não foi
nem um pouco gentil e estava carregado de urgência. Seus corpos já estavam cansados de tantos
jogos. O íncubo se encaixou entre as penas dela, esfregando seu pênis rígido contra a vagina e o
fogo entre os dois queimou ainda mais intensamente.
– Amarre-me, castigue-me, podes fazer o que quiser depois. – Aron sussurrou ao pé do
ouvido da vampira, antes de deslizar para dentro de Dária, finalmente os unindo.
A dama o abraçou com as pernas, permitindo que ele fosse o mais fundo possível. Deixou um
gemido alto escapar quando seus corpos retomaram aquela dança sexual envolvente. Aron
apoiou os braços na lateral do corpo de Dária para mover-se mais rápido, com mais afinco,
gemendo e se contorcendo a cada estocada. Entrava e saía apenas o suficiente para penetrá-la
outra vez.
Dária o acompanhava, moviam-se em perfeita sincronia. Em meio a gemidos alucinados,
cravou as unhas nos ombros largos e deslizou-as até a base das costas, deixando um arranhão
profundo e uma linha de sangue. Com ele não precisava se preocupar ou mesmo se conter, podia
ouvi-lo gemer em meio aos beijos. Encaixavam-se com perfeição, e a cada vez que ele a
penetrava uma onda de prazer tomava conta do seu ventre. Homem algum havia lhe
proporcionado algo similar àquilo antes. Não havia dor, desprezo ou qualquer sentimento de
superioridade, apenas um desejo ardente, insaciável, ao qual agora era incapaz de resistir.
Sem sair de dentro dela, Aron deitou de lado na cama, puxando-a consigo, e com uma das
mãos puxou a coxa roliça dela para cima de sua cintura. Daquela forma tinha acesso a cada
pedaço do corpo da dama e não hesitou em tocá-la. Com um dos braços sob o pescoço de Dária,
entrelaçou os dedos no cabelo ruivo e puxou-a de volta para um beijo. A estocadas com a língua
imitavam os movimentos pouco mais abaixo.
A vampira mordeu os lábios dele numa tola tentativa de conter o grito, quando Aron deslizou
seus os dedos compridos e quentes pelo ventre dela, até a junção dos copos e tocou seu clitóris,
elevando seu prazer ainda mais. A sensação que a preencheu era desconhecida, por mais que já
tivesse duzentos anos, e perdeu-se nela. Nunca havia sido estimulada e penetrada ao mesmo
tempo.
Logo explodiu em êxtase, sentindo espasmos de calor por seu corpo, não se lembrava de ter se
sentido tão quente. Dária ofegava, ainda inebriada pela sensação que levou um tempo para
passar. Entorpecida, mal percebeu Aron se mover com mais rapidez e logo ser tomado pelo
orgasmo também.
O íncubo deixou que o peso do seu corpo cansado e ofegante caísse sobre a cama e a puxou
para mais perto, em um abraço apertado. Desfrutou do modo como o corpo gélido dela ainda
estremecia em contato com o seu.
Dária se permitiu aconchegar nele, sentindo o calor de seu corpo, o peito subindo e descendo
rápido. Fechou os olhos quando ele lhe acariciou o rosto e deu um beijo gentil. Estava feliz por
tê-lo ali.
– Aron... – ela começou a sussurrar, mas o lorde a impediu.
– Não me mandes embora agora, por favor. – Protestou colocando os dedos sobre os lábios
dela.
– Não. – Dária o encarou, fitando o fundo de seus olhos. – Ainda temos vinho e chocolate que
não terminamos. – Deslizou os dedos delicados pelas linhas do peito dele. – É sempre tão bom?
– A dama sentiu uma ponta de vergonha ao admitir aquilo.
– Farei o que estiver ao meu alcance para que seja. – Aron se conteve para não inflar com o
comentário. Podia senti-la ceder a ele a cada momento que passavam juntos, não apenas
sexualmente, almejava um espaço naquele coração gélido.
– Por que não te curastes ainda? – A vampira se assustou ao deslizar as mãos pelas costas
largas dele e se dar conta que os cortes feitos com as unhas ainda estavam lá.
– Não me alimento há alguns dias. – O íncubo desviou o olhar.
– Ei, eu não vou quebrar. – Dária colocou as mãos ao redor do rosto dele e forçou-o a encará-
la.
– Não me perdoaria se a perdesse, ou mesmo a machucasse. – O rosto dele encheu-se de
linhas severas de preocupação. Poucas vezes deixara suas presas vivas, e ainda assim elas mal
conseguiam manter-se de pé.
A dama arregalou brevemente os olhos, não esperava isso dele, como nunca esperou tal ação
de ninguém. Nem mesmo os seus pais se preocuparam com ela ao entregá-la a um casamento
arranjado.
– Não sou humana, Aron. Não sou fraca como eles.
– Digas-me quando parar.
Ela assentiu.
O lorde gentilmente a deitou sobre a cama e traçou uma linha de beijos calorosos pelo seu
ventre, até encaixar a cabeça entre as pernas distanciadas da ruiva. Dária arqueou o corpo,
gemendo, e agarrou com força a colcha sob seu corpo quando ele a acariciou de leve com a
língua.
– Achei que fostes se alimentar. – Com os olhos revirados, Dária remexeu o quadril.
– Eu vou. – Aron tornou as carícias com a língua mais intensas, fazendo Dária se contorcer na
cama. Agarrou-a pelas nádegas e apertou firme, arrancando o um gritinho. Chupou de leve o
clitóris da vampira e deslizou um dedo para dentro dela, que já estava deliciosamente molhada
outra vez.
– Se eu soubesse que é assim que se alimenta teria pedido para fazer isso antes. – Dária
sussurrou em meio a gemidos alucinados.
– Tenha calma, alimento-me do teu prazer. – A voz de Aron saiu abafada pelo clitóris dela
ainda em sua boca.
A dama embolou ainda mais a colcha da cama em suas mãos e arqueou o corpo quando o
orgasmo a atingiu outra vez. Gritou, agarrando o cabelo do lorde.
Quando a viu entorpecida, virando os olhos, o íncubo refez o caminho até seus lábios e
capturou os gemidos dela em meio a um beijo intenso. Não se contendo mais, começou a
alimentar-se dela. De imediato, as marcas deixadas em suas costas desapareceram. Nunca havia
se alimentado de outra criatura mística antes, e era energizante.
Dária viu uma aura azul deixar a sua boca e a sua força sair com ela. Permitiu que ele
continuasse por mais alguns minutos até começar a sentir-se fraca, com o corpo dormente,
formigando.
– Isso é o bastante. – Com a força restante, a vampira empurrou-o para trás.
Aron sentiu um forte golpe em seu peito e por pouco não voou para fora da cama. Ela era
forte, forte o bastante para fazê-lo parar quando necessário. Abriu um sorriso enorme, com a
energia intensa fluindo por seu corpo. Não havia ficado assim nem mesmo na noite em que
matara as duas garotas.
– Isso foi incrível!
– Entendi porque as mata. – Dária respirava fundo, ofegante, enquanto se recuperava.
– Perdoe-me fui longe demais. – O rosto de Aron se fechou quando a possibilidade de ter feito
algo o afligiu.
– Ficarei bem. – O sorriso dela foi acolhedor e o íncubo não conteve a vontade de curvar-se
para beijá-la de forma carinhosa. Sentiu o coração disparar no peito, aquela não era uma relação
com a qual estava acostumado, mas a ideia o excitava. Desejou cada parte das possibilidades que
passaram pela sua mente.
Voltou para a cama e a puxou para os seus braços.
– Gostas de ficar assim? – Dária perguntou quando ele a aninhou, acariciando-a.
– Sim. – Beijou-a na testa. – Isso a incomoda?
A vampira o encarou em silêncio, deixando que a pergunta se perdesse no vazio, e logo
desviou o olhar, fitando as chamas da lareira a alguns metros. Talvez devesse.
Aron mordiscou a orelha dela ao deslizar as mãos pelas costas delgadas. A beleza da vampira
ainda o deslumbrava. Encará-la era como estar diante de uma donzela de vinte anos, mas a força
de uma mulher madura o enlouquecia.
– Dária, tenho um campeonato de esgrima e adoraria levá-la comigo. – Sussurrou enquanto
beijava os ombros dela.
Os músculos de Dária ficaram tensos e ela apertou os dentes com tamanha força que foi
possível ouvi-los ranger. Estava bom demais para ser verdade.
– Achas que sou um animalzinho para exibir-me? Ou nem mesmo pensou que perceberão que
não sou humana? – Ela o empurrou de novo, mas desta vez sem delicadeza ou cuidado algum.
– Ei. – Aron segurou o rosto dela com uma das mãos, acariciando-o. – Quero que entendas
uma coisa de uma vez por todas, não quero diminuí-la, subjugá-la, ou mesmo tirar a liberdade
que possuis. Foi apenas um convite, espero que o aceite, mas jamais a obrigarei a qualquer coisa.
E quanto a descobrirem sobre ti, não irão. Sou um íncubo e sempre estive em meio à alta
sociedade. Sou um ótimo mentiroso. Tudo que precisas é confiar em mim, por favor.
Capítulo 18
Dária se matinha afastada da janela aberta por onde um raio de sol do fim de tarde entrava,
carregando consigo partículas de poeira. Aguardava aflita pela chegada da noite. Aquilo era
estupidez. Não deveria, não podia se expor tanto, ainda mais com caçadores na cidade. Como
permitira que ele a convencesse disso? O baile de máscaras já havia se mostrado uma péssima
ideia.
– Esperando por alguém, minha senhora?
A dama tomou um pequeno susto. Estava tão perdida divagando em seus pensamentos que
nem percebeu a aproximação do servo. Passando os dedos pela luva em seus braços, ela virou-se
para encarar o eunuco. Fitou os olhos vermelhos dele, que brilhavam sob a pouca luz, assim
como a cabeça raspada.
– Aceitei a péssima ideia de ir a um evento da sociedade com Aron. – A voz dela soou baixa e
carregada de aflição.
– Aron? – Elzor arregalou os olhos surpreso com a naturalidade em que ela pronunciou o
nome do íncubo. – Bom, pelo tempo que passou com ele em teu quarto, creio que tenham se
tornado bem íntimos.
– Não me julgues. – Dária quase rasgou a luva de tanto puxá-la.
– Tenhas calma, sabes bem que a última coisa que farei é julgá-la. – O criado exibia um gentil
sorriso nos lábios finos. – E saibas que estou contente com isso. Ele parece fazer mais bem a ti
do que se permites perceber.
– Espero que estejas certo, Elzor. – Dária voltou a fitar a janela, por onde uma brisa fria
entrou e preencheu todo o quarto. – Se ele me decepcionar, descontarei toda a minha raiva em ti.
– Ela riu.
– Torço para que ele seja esperto o bastante para jamais se atrever a algo assim.
– O que seria de mim sem ti. – A vampira respirou fundo. – Certamente, dá-lo a mim como
criado foi a única coisa boa que meu marido me fez.
– Sabes que sou horado em servi-la, e farei isso de bom grado.
– Realmente achas isso uma boa ideia? – Dária levou a mão ao pescoço ao sentir um nó
enorme se formar nele.
– Mereces ser feliz, minha senhora. Entretanto, para tal precisas te permitir.
A vampira permaneceu em silêncio. Elzor parecia confiar em Aron, ainda que pouco o
conhecesse. Jamais admitiria aquilo em voz alta, mas teve medo. Depois de tudo o que passara, o
criado era a única pessoa em que verdadeiramente confiava, o único que esteve ao seu lado na
vida como humana e permanecia na eternidade. Confiar no íncubo poderia ter um preço alto e
Dária odiava a possibilidade de perder tudo o que conquistara.
Uma carruagem parou na rua e a dama pode ouvir seu som. Ainda que estivesse longe da
janela para ver qualquer coisa lá embaixo, sabia bem quem era. Respirou fundo e tentou espantar
os pensamentos que a afligiam. Com passos calmos, deixou o quarto, desceu a modesta escada
no fim do corredor que levava até o salão do bordel, onde os risos e gritos de suas garotas eram
embalados por uma música calma.
Ao chegar à porta, ela hesitou. Olhou para a rua calma, por onde nenhum cavalheiro honrado
se arriscaria a passar. Seus olhos seguiram a linha da calçada até encontrar o lorde de pé ao lado
da carruagem. Ele estava todo de branco, vestido a caráter para o campeonato de esgrima, apenas
a máscara protetora estava em uma de suas mãos. Com os cabelos perfeitamente penteados e um
sorriso gentil, aguardava Dária ir até ele.
Aron ficou um tanto boquiaberto, a vampira estava deslumbrante demais para quem desejava
não chamar atenção. Duvidava que aqueles nobres não grudassem os olhos nela assim que a
vissem. Com os cabelos ruivos soltos ao redor do rosto angelical, a boca vermelha destacando
sobre a pele pálida; os olhos do mesmo tom emoldurados por cílios grandes e grossos. O corpo
esguio e roliço nas partes certas estava provocativamente coberto por um vestido preto, com uma
sobressaia azul-marinho e um espartilho apertado, que fazia os seios saltarem aos olhos. Nossa!
– Serei o homem mais sortudo dessa festa. – Aron lhe estendeu a mão – Estás deslumbrante.
– Obrigada. – Dária sorriu ao estender-lhe a mão.
O lorde se curvou e tocou os lábios dela com os seus, e roçando-os carinhosamente. Dária se
afastou com a surpresa. Ele estava indo longe demais com aquilo, e todo o seu ódio pelo que
passara com o marido tentava convencê-la de que tal coisa era terrível. Contudo, uma parte cada
vez maior gostava e muito de tamanha atenção.
– Aron, ainda não acho conveniente ir a algo assim. – Dária hesitou quando ele a puxou em
direção à carruagem.
O íncubo respirou fundo e a fitou de forma profunda. A vampira não conseguiu desviar o
olhar. Por um segundo tudo congelou e a respiração de ambos se cessou. A energia entre os dois
era tão intensa que os deixava sem ar.
– Confie em mim. – O duque a acariciou no rosto, gentil. – Apenas permitas-te relaxar,
prometo cuidar de tudo.
Dária assentiu e entrou com ele para dentro da carruagem. Aron acenou para que o cocheiro
os levasse ao destino, a propriedade do marquês de Winchester.
O íncubo segurou a mão dela com carinho e a admirou durante toda a viagem. Se visse aquilo
Natasha o diria que estava abobado, tornando-se fraco, entretanto quem sabe não fosse mesmo
verdade. Porém, ele não via mal algum naquilo. Sentir tal coisa o estava deixando mais feliz do
que estivera por todo o último século. Ter algo concreto, além dos relacionamentos vazios para
se alimentar, fazia-o sentir-se vivo, humano.
A vampira percebeu os olhos vidrados nela e envergonhou-se. Ainda estava arredia, refutava a
ideia de entregar-se e ir tão fundo por crer ser incapaz de voltar atrás sem algo cruel ou doloroso.
Quando a carruagem parou, Dária olhou para fora, avaliando bem a situação na qual se metera.
Dezenas de carruagens luxuosas, adornadas com ouro e pedras. Ainda que sempre estivesse
vivido em meio ao poder e riqueza, sentiu-se sufocada.
Aron desceu da carruagem e deu a mão para sua bela dama. Assim que pisaram sobre o
terreno de terra, o duque percebeu os músculos dela tensos e sua relutância em descer.
– Para quem me ameaçava de morte, estás com muito medo.
Dária cerrou os dentes e levantou-se.
– É assim que pretendes me convencer?
– Já lhe disse inúmeras vezes para não te preocupar. No entanto, o que posso fazer se ainda te
recursas a confiar em mim?
– Está bem, perdoa-me. – Dária enroscou seu braço no dele e permitiu que a levasse.
Atravessaram o belo jardim, repleto de pequenos botões de flores se preparando para
desabrochar, além de arbustos muito bem podados, alguns em formas de animais ou esculturas.
Caminharam até a entrada do enorme casarão. Aron entregou o convite a um dos cavalheiros e
entraram.
O enorme salão estava lotado. Um pequeno palco havia sido montado ao centro e dezenas de
mesas, bem decoradas com toalhas de seda e arranjos de flores exóticas, foram montadas ao
redor. As lâmpadas bem distribuídas pelas paredes mantinham o local iluminado. E ao fundo, o
falatório das pessoas, rindo e conversando alto, deixavam o ambiente à beira do caótico.
Dária sentiu sua garganta arder e prendeu a respiração por alguns minutos. Se não tivesse
alimentando-se do poderoso sangue do íncubo na noite passada, estar próxima a tantos corpos
quentes e corações palpitantes poderia significar uma grande tragédia.
– Estás atrasado, meu amigo.
Aron sentiu uma mão tocar-lhe o ombro.
– Richard! – O duque sorriu e cumprimentou o marquês com um aperto de mão. – Desculpe-
me, mas compreende que às vezes as senhoras levam um tempo demasiado para se arrumarem.
– É ela? – O homem percorreu com os olhos cada centímetro do corpo de Dária, o que a
deixou um tanto desconfortável. A verdade é que Richard não conseguiu conter a curiosidade a
respeito da mulher que roubava os pensamentos de alguém tão belo como o duque irlandês. –
Encantado. – Ele segurou a mão da dama e a beijou.
– Obrigada, marquês. – A vampira lhe dirigiu um sorriso amarelo.
Um arrepio percorreu a espinha de Richard quando ele reparou bem nos olhos da dama, de um
vermelho vivo, algo que nunca havia antes.
– Seus olhos. – Ele por pouco não gaguejou.
Aron percebeu os músculos de Dária ficarem tensos de imediato. Sabia que aquilo não daria
certo, ela pensou ao cerrar os dentes. Pensou em sair correndo, no entanto, o íncubo segurou
gentilmente a sua mão.
– Dária possui uma rara doença genética em seu sangue, que torna sua pele mais frágil e os
olhos vermelhos. – O duque respondeu naturalmente, como se tal coisa fosse verdade. – Mas não
se preocupe, não é contagioso. – Aron riu a fim de dar um ar descontraído à conversa.
– Ah, desculpe-me pela indelicadeza. – Richard ficou ligeiramente envergonhado pela
pergunta inapropriada. Decerto não queria assustar a moça, apesar de sentir uma pontada de
inveja dela. –Dária, certo? De onde és? Creio que me lembraria de uma ruiva de beleza tão
acentuada na sociedade de
Londres.
– Ela é irlandesa. – Aron tomou a palavra outra vez. – Filha de um barão, que vive ao sul
numa pequena cidade do país. A conheci quando estava em uma breve viagem com o meu pai, e
após um longo período trocando cartas a convenci a passar alguns dias aqui em Londres.
– E estão noivos?
– Não! – Dária se precipitou em responder.
– Ainda não. – O íncubo foi incisivo ao corrigi-la e a beijou por um breve segundo.
– Desejo sorte ao casal. Decerto és uma mulher de muita sorte por não apenas ter conseguido
um belo partido, mas um casamento por amor, algo muito raro. – Richard sorriu para ambos.
Ainda com a tal doença, não esperava alguém menos bela para o duque. – Se não se importam,
esse campeonato precisa começar. Estávamos apenas esperando por ti, Aron.
– Mais uma vez peço desculpas pelo meu atraso.
– Desculpas aceitas. O campeonato funcionará em chaves e sua primeira luta será a segunda
da noite. Separei aquela mesa para ti. – O marquês apontou para uma, ainda vazia, bem próxima
ao palco. – Podem esperar lá e eu o chamarei.
Aron e Dária assentiram com um breve aceno de cabeça e caminharam até o local indicado.
Ele puxou a cadeira para ela e esperou que a dama se sentasse antes de acomodar ao lado dela.
– Eu disse que tenho tudo sobre controle. – O íncubo sussurrou ao fitá-la.
– Achas mesmo que irão acreditar nisso? – A vampira ainda estava tensa e o bater de seus
dedos contra a toalha branca da mesa a denunciava.
– Por que não acreditariam? Existem dezenas de doenças ainda desconhecidas que causam
coisas piores do que apenas olhos vermelhos. E quanto à Irlanda, poucos conhecem sobre a
nobreza de lá, ainda mais um mero barão. – Aron contornou a face dela com os dedos, sentindo-a
relaxar em meio ao toque. – Acredites, aquelas senhoras são mais estranhas do que teus belos
olhos. – Riu ao apontar para duas mulheres sentadas em uma mesa mais afastada. Elas eram
velhas, deveriam ter algo em torno dos sessenta anos, a pele do rosto e braços cheios de rugas e
linhas de expressão. Contudo, teimavam em usar vestidos apertados e decotes provocantes como
se fossem donzelas virgens à procura de um bom marido.
O marquês subiu ao palco, atraindo para si atenção de todos os presentes em seu evento. O
cavalheiro estava acompanhado de uma bela e jovem mulher de cabelos castanhos, presos em
uma trança embutida jogada sobre um de seus ombros. A dama aparentava ter pelo menos dez
anos a menos do que Richard, e ainda que tivesse uma beleza e classe admirável, a breve troca de
olhares e o sorriso discreto entre seu marido e o lorde Philip, deixava claro que o coração do
nobre não a pertencia.
– Estou imensamente grato por tê-los aqui esta noite. – A voz do marquês ecoou por todo o
grande salão, dando um fim aos murmúrios paralelos. – Peço minhas mais humildes desculpas
pela demora, mas não poderíamos começar sem que todos os participantes estivessem presentes.
– Ele foi saudado com palmas, o que o impediu de continuar a falar por alguns minutos. Um
tanto acanhando, virou-se de um lado para o outro, curvando o corpo levemente. – Hoje é um dia
especial, pois tenho a honra de receber o Duque de Abercorn, da Irlanda, Aron Donovan, e sua
bela dama Dária.
– Agora todos estão nos encarando. – Dária bufou ao sentir os olhares curiosos pesarem sobre
ela. A sensação de desconforto voltou a tomar-lhe o corpo. Ela apertou a toalha da mesa,
embolando um pouco do tecido sob suas mãos. Se Aron não tivesse segurado o arranjo de flores,
esse teria ido ao chão.
– Tua beleza é o bastante para chamar a atenção de todos para ti. – O íncubo pousou sua mão
sobre a da vampira, fazendo com que os dedos dela relaxassem sob o toque e assim soltarem a
toalha. – Não te preocupes, tudo está sob controle. – Ele a beijou numa parte exposta do ombro,
fazendo com que um leve formigamento irradiasse do local como uma onda elétrica.
– Queres mesmo que eu me comporte desta forma? – Dária riu, empurrando-o para o lado.
– Eu disse que é difícil resistir à tua beleza. – Aron mordeu os lábios e riu, numa tentativa de
conter o desejo que inflamou seu corpo. A breve visão das curvas dela sob o espartilho fez sua
mente viajar sobre as inúmeras coisas que ainda poderiam experimentar.
Richard chamou os dois primeiros competidores, que subiram ao palco, o que desviou a
atenção de muitos, embora outros tantos ainda tivessem os olhos fixos no casal irlandês. Os dois
cavalheiros se cumprimentaram com um leve curvar de seus corpos e sacaram seus floretes.
– Que pouca vergonha! Trocarem um carinho tão íntimo na frente de tantos. – Uma das damas
sentadas junto à mesa dos anfitriões resmungou no ouvido da marquesa.
– Foi apenas um beijo no ombro, Joliet. – A esposa de Richard tomou um gole de sua taça de
vinho e virou-se, tentando ser discreta. Era apenas um beijo, repetiu a si mesma, mas no fundo
sentiu uma pontada de inveja da mulher pálida e de olhos inusitados. Além da beleza inigualável
do duque, ele a tocava com um carinho... E os olhos dele brilhavam a encará-la, atitude que seu
marido nunca teve com ela.
– Eles são ao menos casados? – A dama preocupada em fazer intrigas no fundo não conseguia
tirar os olhos daquele homem. Era viúva, entretanto seu marido morrera cedo e lhe deixara uma
bela fortuna e propriedades. Imaginou-se beijada da forma como aquela mulher foi, e por pouco
não deixou que sua taça caísse com o calafrio que lhe percorreu o corpo.
– Ela não possui anel algum, entretanto talvez sejam.
– Parem de fofocas! – Richard recriminou as duas ao aproximar-se da mesa. – Não quero que
meu amigo saia daqui irritado com as damas que não conseguem manter a própria língua dentro
da boca.
A marquesa sentiu suas bochechas arderem com a vergonha e encolheu-se um pouco na
cadeira. Ainda tinha esperanças de salvar seu próprio casamento, e irritar Richard não lhe parecia
algo que facilitaria isso. Contudo o que a pobre mulher nem ao menos suspeitava que o
casamento já estava perdido pelo simples fato de seu marido preferir homens e estar com ela
apenas mantinha as aparências diante de uma sociedade venenosa e repleta de julgamentos.
Quando a primeira luta acabou, o marquês retornou ao palco e chamou por Aron e seu
adversário. Quando o duque estava prestes a se levantar, Dária segurou-o pelo braço forçando-o
a encará-la.
– Eu volto logo, prometo.
Aron pensou que a atitude dela fosse medo de que ele a deixasse sozinha em meio a tantas
pessoas que a avaliavam e julgavam o tempo todo. Porém a dama apenas retirou uma fita
vermelha da região entre seus seios.
– Ainda me lembro como eram essas exibições de masculinidade no século em que nasci. –
Amarrou a fita no braço do íncubo com um laço.
– Escolhendo-me como teu campeão, minha doce dama. – Aron a beijou brevemente. –
Adoraria saber quantas fitas ainda escondes. – Sussurrou ao pé do ouvido dela.
– Estás atrasado. – Dária sorriu ao empurrá-lo na direção do palco.
O íncubo não escondeu o sorriso ao pegar sua máscara sobre a mesa e caminhar na direção de
seu oponente.
– Boa sorte. – Richard o cumprimentou com tapinhas nas costas.
Aron subiu ao palco com todos os olhos grudados nele, no entanto estava acostumado a ser
amado e odiado em um simples olhar, mas naquela noite a opinião de Dária era a única que lhe
importava... Seu oponente cutucou-o com o florete, forçando-o a encará-lo. O cavalheiro já tinha
o rosto coberto pela máscara de proteção, e a grade fina impedia que fosse possível ver até
mesmo seus olhos.
– Uma bela dama não será o bastante para que venças.
– Entretanto, é toda a motivação da qual preciso. – O duque colocou sua máscara, preparando-
se para a luta.
– Lorde Evans, Lorde Donovan, prontos? – Richard olhou para ambos esperando por um
sinal.
Quando os cavalheiros assentiram com um balançar de cabeça, o marquês fez um gesto para
que começassem. O oponente de Aron deu passos largos, distanciando-se até o limite do pequeno
palco, para que pudesse analisar os movimentos do íncubo.
Aron manteve seu florete bem à frente, esticado para protegê-lo de qualquer ataque direto.
Não praticava há um bom tempo, contudo, os pulinhos do homem andando de um lado para o
outro lembraram de que era mais ágil do que os humanos.
Lorde Evans ficou um tanto intrigado com o homem parado apenas o analisando. Não
passava de um amador!
– Não terei piedade de ti apenas por ser um estrangeiro.
– Ótimo, pois também não terei. – O duque partiu para cima dele com movimentos ágeis e
precisos. O florete cortava o ar tão rápido, que era mais fácil ouvir seu barulho do que
acompanhá-lo com os olhos.
O oponente de Aron era ágil, porém não conseguiu se desviar de mais algumas investidas e
logo teve o peito cutucado pela ponta do florete, o que o fez cambalear para trás e acabar caindo
de bunda contra o palco de madeira. Os presentes riram dele, o que tornou sua derrota ainda mais
humilhante.
– Não precisavas preocupar-te em ter piedade de mim. – Aron conteve o tom de chacota ao
estender-lhe a mão para ajudá-lo a se levantar.
O lorde Evans recusou a mão amiga e levantou-se por conta própria. Saiu resmungando
palavras de afronta, irritado com aquele homem desaforado e chutando o chão em seu caminho.
Talvez Aron estivesse exagerando um pouco, contudo nunca se sentira tão vaidoso e teve de se
conter para não acabar exibindo-se como um pavão.
Capítulo 19
– O importante é que ganhei. – Aron riu alto ao ajeitar-se sobre o macio banco de couro da
carruagem.
– Eles são humanos.
– Confesso, foi fácil. Mas não via a hora de sair contigo de lá. – O íncubo pulou para o
pequeno espaço ao lado dela no banco, espremendo o volumoso vestido. – Precisava que
acabasse rápido. – Curvou-se sobre ela o bastante para beijar-lhe o pescoço.
– Estamos na carruagem, Aron... – Dária relutou ao perceber as intenções dele.
– E quem se importa? – O lorde começou a subir as camadas de tecido da saia pelas coxas
roliças da vampira.
A dama soltou um risinho. Se ele são se importava, por que deveria? Com uma velocidade
que ainda o surpreendia, Dária o empurrou contra a parede de madeira atrás deles. O movimento
e a força fizeram com que a carruagem sacolejasse, deixando o cocheiro confuso. Não havia
tantas pedras pelo caminho.
Um largo sorriso se formou nos lábios do íncubo ao senti-la mordiscar sua orelha e deslizar
com um caminho de beijos e leve mordidas até a base de seu pescoço. Quando as presas
pontudas lhe perfuraram a pele, Aron cerrou os dentes e apertou com força as coxas de Dária a
fim de conter o gemido que teria sido ouvido do lado de fora. A saliva da vampira banhou suas
veias e o fez ficar duro de imediato, como se a vontade de tê-la já não fosse grande sem aquele
afrodisíaco.
O lorde enfiou as mãos dentro das inúmeras saias até chegar a uma pequena calça bufante,
enfeitada com rendas, e retirá-la, deslizando a vestimenta pelas pernas delgadas e frias. Dária
jogou a cabeça para trás, lambendo os lábios, tomando as últimas gotas do sangue exótico que
haviam se perdido neles. O gosto era tão bom que caso não se contivesse o tomaria até o último
gole.
O íncubo a segurou pelos quadris e sentou-a de volta sobre o banco, permitindo-se ficar entre
as pernas distanciadas. Sentiu-a remexer levemente sob suas mãos. O toque quente e firme de
Aron fazia Dária estremecer. Apertava-a com força, sem hesitar, pois não havia a possibilidade
de machucá-la.
O lorde traçou um caminho de leves mordidas e chupões da base exposta dos seios de Dária
até mordiscar seu lábio inferior. A vampira soltou um gritinho e agarrou-o pelos ombros,
cravando as unhas com tamanha força que furou o grosso uniforme de esgrima. Aron adorava a
ferocidade dela. Como a dama havia tomado de seu sangue, sentiu-se no direito de alimentar-se
um pouco também. Dária arregalou os olhos quando viu uma sutil aura azul deixar sua boca
rumo à dele. Antes que pensasse em empurrá-lo o íncubo parou e invadiu sua boca com a língua.
Em meio ao beijo lascivo, quase faminto de tão voraz, o leve cansaço que havia tomado conta do
corpo da vampira logo passou. As mãos do lorde quase que por vontade própria começaram a
afrouxar as amarras do corpete.
Tomada pela urgência, com um fogo queimando seu ventre, Dária apertou mais forte,
chegando a feri-lo com suas unhas, porém o machucado não durou mais do que alguns segundos.
Estava rendida, ainda que relutasse em confiar nele. Por um segundo, admitiu o temor que tinha
de que ele se transformasse em todos os seus medos... Uma mordida leve e molhada sobre a
curva de um dos seus seios fez Dária se esquecer dos pensamentos que a atormentavam. Estou
apenas me divertindo, prometeu a si mesma, logo eu me enjoarei e darei um fim a isso.
Mal se deram conta quando a carruagem parou diante do casarão dos Donovans. Aron estava
prestes a se livrar do corpete, quando o cocheiro bateu na porta, avisando-os que haviam
chegado. Dária praguejou algumas coisas contra a boca do lorde, dando-se conta de que estava
tão entorpecida a ponto de perder a real dimensão de todos os seus sentidos.
O duque desceu da carruagem e tomou-a nos braços, bem junto ao seu peito, disfarçando um
pouco o espartilho semiaberto e o cabelo bagunçado. Foi um movimento tão repentino que Dária
nem teve tempo de protestar, então permitiu-se ser embalada pelas batidas urgentes do coração
do íncubo enquanto ele a levava.
O cocheiro observou a cena sem nem mesmo um resmungo. Pelo bairro em que a buscara,
acreditava que a tal mulher não passasse de mais uma prostituta, entretanto, pela forma como seu
senhor a tratava, estava bem claro que ela era muito mais do que isso. Com o canto de olho, o
criado viu a ceroula da mulher deixada sobre um dos bancos e pensou em gritar por eles, avisá-
los. Contudo logo lhe pareceu indelicado, pediria alguém da criadagem para colocar no quarto do
lorde em um momento mais oportuno.

Isabel e Natasha estavam empoleiradas sobre o sofá da sala, atentas ao menor sinal de
barulho. Com as luzes apagadas, toda a iluminação do cômodo se resumia à lareira acesa em uma
das extremidades. No momento em que a carruagem parou do lado de fora. Isabel subiu ainda
mais sobre sua irmã, na esperança de que suas perguntas fossem as primeiras a serem
respondidas. No entanto, quando o Aron abriu a porta um aroma doce preencheu todo o lugar, e
as duas damas puderam ver uma distinta silhueta feminina nos braços da sombra que sabiam ser
o irmão.
Natasa logo cobriu a boca de Isabel com as mãos.
– Não diga nada agora caso não queira que ele nos mate. – O sussurro foi tão baixo que
apenas a irmã pode ouvi-la.

Aron atravessou a sala e carregou Dária em seus braços escada acima até o seu quarto. A
vampira apenas ouviu a porta bater atrás de si, e logo seu corpo foi pousado com delicadeza
sobre uma cama macia e perfumada.
O íncubo ficou de pé ao lado da cama, e em momento algum desviou o olhar daqueles
profundos e penetrantes olhos vermelhos. Desamarrou a fita que ela havia amarrado em seu
braço e curvou-se sobre Dária.
– O que pretendes fazer? – A vampira ergueu a mão a fim de impedi-lo quando o íncubo
levou a fita em sua direção.
– Lembras-te que me amarrastes na última noite?
– Mas não vais me amarrar, não! – Dária sentou-se na cama em protesto.
– Não irei amarrá-la, contudo se me recordo bem, se bloquearmos um sentido os demais se
amplificam.
– Desde quando estudas medicina? – A dama curvou a cabeça permitindo que ele a vendasse.
– Tenho bons livros. – Aron amarrou a fita ao redor dos olhos dela e então puxou-a pelos
quadris, até que tivesse bem encaixado entre suas pernas.
Dária soltou um gritinho ao se dar conta de que com a privação da visão, todos os seus outros
sentidos pareciam estar dez vezes mais sensíveis. Contorceu-se e todo seu corpo se arrepiou
quando o íncubo soprou um ar quente contra a sua orelha. Aron aos poucos retomou a tarefa de
despi-la, beijando cada parte que ficava à mostra. Com as sensações intensificadas, ela gemia a
cada carícia. Quando o corpete finalmente foi removido o íncubo agarrou os seios expostos,
arrancando dela um grito.
Dária ofegou, com sua pele mais sensível do que nunca. A sensação das pontas dos dedos de
Aron apertando e contornando seus seios a fazia arder. Todo esse fogo se tornou ainda mais
intenso quando o íncubo se curvou e abocanhou um dos seios dela, chupando com vontade o
mamilo enrijecido.
O lorde estava faminto, e parecia que cada vez que a provava essa fome só se tornava ainda
maior. O desejo voraz que banhava cada parte de seu ser parecia longe de estar saciado.
Aron gemeu, indo à loucura com os dedos ágeis e delicados dela percorrendo seu corpo a fim
de tirar-lhe a calça.
– Estás com pressa? – Ele a provocou ao deslizar as mãos pelas pernas delgadas.
– Não estás? – Ela se livrou da calça.
– Ainda quero que experimentes algumas coisas. – Aron retirou as saias até que ela ficasse
gloriosamente nua. – Vire-te de bruços.
Dária ficou um pouco tensa e estava prestes a protestar. Aquela posição que os homens tanto
gostavam a privava de qualquer controle. Por um momento um nó se formou em sua garganta ao
recordar a maneira como o marido a molestava.
O íncubo percebeu os músculos dela se contraírem, então tirou o cabelo ruivo ao redor do
pescoço e começou a beijá-lo.
– Confie em mim. – Repetiu aquela frase ao mordiscar a orelha da dama, fazendo-a se
contorcer, gemendo levemente.
Aron retirou a parte de cima de suas vestimentas e subiu na cama, com ela entre suas pernas.
Então pousou as mãos grandes e firmes sobre os ombros delicados e começou a massageá-los
com a pressão exata. Dária aos poucos relaxou e se envolveu outra vez com a deliciosa
brincadeira. O duque massageou toda a extensão das costas até chegar à bunda perfeitamente
redonda e pálida.
A vampira agarrou a colcha da cama, gemendo quando o duque agarrou suas nádegas e
apertou com força. Ele era habilidoso, não podia negar. A chama queimou como se a devorasse,
seu sexo feminino úmido e pulsante já não aguentava mais esperar.
– ARON!
Fazê-la gritar por ele o tornava o mais vaidoso dos homens. A fim de acabar com a espera, o
lorde deslizou as pernas da ruiva até dobrar os seus joelhos, empinando bastante a bunda dela em
sua direção e colocando-se no espaço entre as pernas.
Desta vez Dária não esboçou protesto algum contra a posição. A ânsia em tê-lo era maior do
que qualquer um de seus fantasmas do passado. Com Aron não havia dor, subjugação ou raiva,
apenas um desejo ardente mais intenso do que qualquer coisa que já sentira antes. Quando o
duque esfregou o pênis rígido em sua vagina úmida e pulsante, mas sem penetrá-la, a vampira
empinou ainda mais a bunda e mordeu uma das almofadas sobre a cama a fim de conter o
gemido.
– Não me faça implorar! – O grito saiu abafado.
Aron se conteve para não prolongar mais a ânsia dela. Estava amando tê-la assim, suplicante
por ele. E quando se deu conta de que se demorasse mais um segundo que fosse Dária se
levantaria e tomaria de volta as rédeas da situação, o íncubo a penetrou, agarrando a cintura da
ruiva, sem conter o gemido alto. Estava tão deliciosamente molhada.
A vampira gritou alto quando o sentiu deslizar para dentro do seu corpo. Desejava-o tanto que
a cada movimento do vai e vem iniciado, ela apertava ainda mais a almofada na tola tarefa de
conter os gemidos. O deslizar das mãos firmes sobre seu quadril e a forma como o lorde
apalpava suas nádegas a mergulhava num prazer cada vez mais intenso.
O íncubo mordeu a língua, na vã esperança de que a dor amenizasse tamanho prazer e ele não
se esvaísse antes da hora. A dama chegava a espremê-lo, tamanha força com que apertava seu
pênis. A sensação o elevava a um tipo de prazer ainda mais intenso. E imaginava já ter
experimentado de tudo.
– Dária, assim eu não aguento.
– Não ouses parar agora! – Ela rosnou em meio a gemidos alucinados.
O íncubo costumava ser bom em se conter, suprimia o orgasmo até quando não era mais
necessário. Contudo, estar com Dária colocava a prova tudo o que julgava saber. No momento
em que percebeu que não aguentaria mais, parou, respirando fundo, ofegante. A ruiva
definitivamente o levava à loucura.
Instintivamente, Dária moveu seu corpo contra o dele. O choque frenético dos corpos
provocava estalos. O prazer explodiu dentro de si e ela aproximou-se mais, tendo ele o mais
fundo possível. Estraçalhou a almofada de tanto mordê-la e espremê-la, e penas de ganso voaram
por todo o quarto. Rebolou contra ele com toda a agilidade que seus poderes como vampira a
permitiram. Enquanto se mexia, o orgasmo a tomava várias e várias vezes. Em meio a gritos
intensos, a dama imaginou que não aguentaria tamanho prazer. Já ouvira alguma de suas garotas
comentar sobre algo como aquilo, mas achava que não passava de mero exagero.
As mãos de Aron apertaram quase que de maneira dolorida os quadris de Dária. Praguejou
baixinho, se dando conta de que havia sido impossível se conter por mais alguns minutos. Foi
arrebatador e intenso. Permitiu seu corpo relaxar, abraçando-a pela cintura.
Com o peso do corpo quente do íncubo ainda sobre o seu, a ruiva se moveu enquanto pode,
aproveitando ao máximo a ereção dele. Contudo, aos poucos o prazer foi se esvaindo e deixando
em seu lugar um pesado cansaço. Mole, Dária permitiu que seu corpo trêmulo caísse sobre a
cama.
Aron rolou para o lado, deitando-se, e puxou-a para o seu peito. Sorrindo, tirou uma pena que
havia se emaranhado nos belos cabelos ruivos. Podia ver a curva dos seios dela subindo e
descendo com urgência em meio à respiração ofegante. Foi bom perceber que não era o único
exausto ali.
– Isso foi...
– Incrível! – Dária completou ao recostar a cabeça sobre o coração que batia acelerado.
Capítulo 20
– Bom dia, meu senhor! – Anisha entrou no quarto saltitando.
Aron dormia profundamente e Dária, de olhos fechados, concentrada nos sons e aromas dele,
mal notou a presença da criada.
– Está um dia lindo de início primavera lá fora. – Acanhada pelo incidente, a moça se
recusava olhar na direção da cama e correr o risco de voltar a vê-lo nu, por isso nem percebeu
que ele estava acompanhado. – Levante-se, lorde, venha ver! – Ela não hesitou em abrir a
cortina, banhando o cômodo com a luz cálida do sol.
O movimento arisco de Dária, encolhendo-se como um gato, fez Aron acordar assustado. O
barulho e cheiro de carne queimada logo chegou ao seu nariz e, às pressas, ele levantou-se e
jogou um dos cobertores sobre a vampira e correu até a janela o mais rápido que pode a fim de
fechar a cortina.
– Saía, Anisha, agora!
A criada se encolheu, assustada com os gritos que ele nunca lhe dirigira. Ergueu a cabeça e
encontrou olhos ferozes, fulminando-a.
– Agora!
O grito seguinte a fez pular e deixar o quarto correndo. Assim que a criada fechou a porta
atrás de si, Aron voltou-se para Dária, desesperado. Um nó havia se formado em sua garganta,
impedindo-o de respirar, tamanha a aflição.
– Como estás? – Tirou o cobertor assim que se deu conta de que o quarto estava escuro o
bastante.
– Um pouco machucada. – Dária disse de maneira gentil, sentando-se na cama. Ao perceber o
desespero que carregava a voz do duque ela não gritou, ou mesmo rosnou para ele. Apenas quis
tranquilizá-lo quando era impossível negar o quanto Aron se preocupava com ela.
Aflito, o íncubo percorreu-a com o olhar. Havia queimaduras profundas no lado direito da
bela face, em um dos braços e num pedaço da coxa. Os machucados estavam vermelhos, em
carne viva e com algumas bolhas. Cortou-lhe o coração o quanto pareciam doer.
– Acalma-te. – Dária tocou o rosto do íncubo, acariciando-o. Pode sentir os músculos dele
relaxarem um pouco sob o toque, porém os profundos olhos azuis esbranquiçados ainda estavam
carregados de angústia. Era possível vê-lo tremer.
– Jamais me perdoaria caso algo lhe acontecesse. – Aron segurou as mãos dela e a beijou na
testa.
A vampira estava prestes a repetir que ficaria bem quando o viu ajeitar-se na cama, tombando
a cabeça para o lado, deixando o pescoço exposto.
– Beba.
– Aron...
– Irá se curar mais rápido.
– Vou precisar de muito. – Dária relutou com a possibilidade de deixá-lo bastante
enfraquecido.
– Apenas te alimentes, por favor. – Aron acariciou o rosto dela e colocou cabelo atrás da
orelha antes de beijá-la com carinho.
De olhos fechados, a vampira se entregou ao calor do toque e à delicadeza de um beijo
preocupado. Depois, deslizou os lábios com suavidade até a base macia do pescoço e cravou-lhe
as presas, fazendo com que o sangue quente fosse derramado em sua boca. Começou a sugar
devagar até que a necessidade do seu corpo falasse mais alto. Cravou as unhas nos ombros dele,
provocando pequenos cortes, e subiu sobre o colo do íncubo, bebendo dele com toda a sua sede.
À medida em que os ferimentos no corpo de Dária iam sumindo, Aron respirava cada vez
mais aliviado, o bastante para que ficasse rígido com a mordida deliciosa. Envolveu-a com os
braços, acariciando-a. A saliva dela era tão afrodisíaca que o lorde gemia levemente à medida
que seu sangue era sugado. Deslizava as mãos por toda as costas delgadas da vampira até a
bunda redonda, tocando-a onde podia alcançar. O corpo gélido e firme fazia-o arder. Mal via a
hora de poderem retomar a dança erótica que os preenchia de prazer.
Estava tão inebriado pela presença dela, que o íncubo mal se deu conta de suas forças
esvaindo de seu corpo, e quando Dária percebeu que deveria parar já havia ido longe demais.
Aron ficou mole, os braços ao redor da vampira afrouxaram-se e o duque caiu praticamente
desacordado sobre a cama.
– Aron?! – Dária gritou quando ele caiu sobre a cama. A angústia a atingiu num rompante,
deixando seu peito apertado e ela compreendeu o desesperou que ele havia sentido há pouco.
– Ficarei bem. – O lorde tinha um sorriso travesso nos lábios e abriu um pouco os olhos.
Obviamente não apresentava controle algum sobre o próprio corpo.
– Eu fui longe demais, deveria ter parado antes, desculpe-me.
Havia valido a pena, apenas por vê-la preocupada. Os olhos vermelhos espremidos, atentos,
sem se desviarem dos seus, o carinho da pele fria o acariciando. Entregue aos toques e cuidados,
ele desejou poder congelar aquele momento pela eternidade.
– Queres alimentar-te de mim?
– Não preciso, creio que apenas comendo algo eu vou me sentir melhor.
– Alimentas-te de comida humana? – Dária arregalou os olhos com a surpresa.
– Sim, a energia me mantém jovem e saudável, mas preciso comer para manter as demais
funções do meu corpo. Porém, se viver como um homem comum, envelheço e morro como um.
Com uma das mãos apoiada sobre o peito de Aron e a outra acariciando o macio cabelo negro,
Dária ainda o encarava, estudando-o. Realmente pouco sabia sobre os íncubos.
O duque já se sentia melhor, ter alimentado-se dela antes o manteria bem por alguns dias.
Entretanto, recusou-se a levantar-se de imediato. Permaneceu admirando-a, da perfeição dos
ondulados cabelos ruivos ao rosto delicado quase angelical. O toque, ainda que gélido, fazia sua
pele formigar por onde os dedos pequenos e finos deslizavam. Sorriu ao se lembrar que era dia e
ainda a teria ali pelo menos até o cair da noite.
– Fique aqui. – Pediu ao começar a se levantar.
Dária o acompanhou com os olhos pelo quarto, até ele entrar em uma pequena porta, de onde
minutos depois retornou perfeitamente vestido, fazendo jus ao título de nobre.
– Já retorno para buscá-la – o íncubo roçou seus lábios nos vermelhos e carnudos da dama. –
Vou garantir que o restante da casa esteja seguro.
Ela assentiu com o olhar e também foi se vestir, procurando as peças do vestido que haviam
sido jogadas pelo quarto.
Assim que Aron abriu a porta, Anisha quase caiu quarto adentro. A criada estava prestes a
bater, porém antes havia escorado a cabeça na fria superfície de madeira coberta por entalhos, a
fim de escutar o que acontecia dentro do cômodo. Não queria ser repreendida como da última
vez.
– Senhor. – A moça se levantou às pressas e por pouco não tropeçou nas próprias pernas. –
Desculpe-me, não sabia que estavas acompanhado. A dama deixou isso na carruagem. – Anisha
estendeu os braços trêmulos, com a ceroula que haviam esquecido.
– Está tudo bem, obrigado.
O sorriso terno nos lábios do homem a acalmou, fazendo-a respirar com mais facilidade.
– Por favor, fecha todas as cortinas da casa. Minha dama tem a pele muito sensível.
Minha dama. Aquelas palavras entalaram na garganta da criada como uma bola de pelos,
forçando-a a engolir em seco. Fechou as mãos, espremendo os dedos com força e cerrou os
dentes. Sabia que, mesmo que tarde, o duque acabaria por ter uma esposa de sangue nobre como
ele. Não passava de uma plebeia, não havia motivos para encher seus sonhos com imagens do
lorde...
– Anisha?
A criada deu um pulinho, assustando-se ao ser sugada para fora de seus pensamentos
fantasiosos.
– Estou indo, senhor. – A moça deu as costas para o lorde e saiu caminhando pelo extenso
corredor.
– Estava mesmo procurando por isso. – Dária retirou a parte íntima de suas vestimentas do
braço de Aron quando este retornou ao quarto.

– O que estás fazendo? – Natasha desviou o olhar da pequena prancheta em seu colo, onde
esboçava um desenho do vaso com tulipas vermelhas sobre a mesa de centro da sala, para fitar a
criada que chegou toda atrapalhada tentando fechar as cortinas. – O sol está tão belo lá fora.
– Teu irmão pediu para que eu o fizesse. A mulher com ele parece ter alguma alergia ao sol.
Alergia ao sol? A súcubo riu baixinho. A vampira! Seus olhos brilharam com possibilidade de
conhecer a dama que havia tomado os pensamentos de seu irmão. Colocou as coisas de lado,
sobre o sofá e correu até a janela mais próxima, puxando a pesada cortina verde-musgo,
encobrindo a entrada do sol.
– Pode deixar, minha senhora, eu faço. – Anisha se assustou com a iniciativa da dama.
Natasha costumava ser a menos prestativa dos três irmãos.
– Se eu ajudá-la terminaremos mais rápido. – Ela caminhou até a próxima janela.
– Ei, deixem as cortinas abertas! O dia está tão lindo. – Isabel protestou ao entrar pela porta
da sala. A dama tinha o vestido completamente sujo e um pouco rasgado, havia alguns pedaços
de feno agarrados na renda verde; os cabelos loiros estavam completamente bagunçados.
– Deitando-te com plebeus em estábulos outra vez. – Natasha torceu os lábios e uma
expressão de deboche formou-se em seu rosto ao reparar o estado de sua irmã.
Isabel a ignorou. Pensou em respondê-la que, além dos estábulos serem um lugar exótico,
ninguém dava falta dos corpos que ela deixaria para trás. No entanto, a criada ainda estava na
sala e não seria nem um pouco sensato fazer tal tipo de comentário.
Quando estava prestes a perguntar novamente o motivo de estarem fechando as cortinas, Aron
apareceu no topo da escada e ao seu lado estava uma bela mulher.
Uau! Nossa! As três arregalaram os olhos, boquiabertas.
Anisha por pouco não derrubou o quadro que estava na parede onde ela se escorou. O golpe
que levou ao ver a mulher pôde ser comparado ao coice que levara quando criança, um impacto
tremendo que a deixou sem ar e a fez perder o equilíbrio, e uma dor dilacerante se irradiou por
todo o seu peito. Realmente seu senhor era digno de tamanha beleza.
Isabel e Natasha não notaram a reação da criada pois também estavam estupefatas. Se a
tivessem visto antes, em qualquer outro momento, certamente a desejariam tanto quanto o irmão.
A beleza notória era rara, exótica. Percorreram com os olhos cada curva que compunha o rosto e
o corpo da vampira. Tiveram certeza de que as súcubos não eram as únicas com tal arma de
sedução.
– Dária! – Isabel sacolejou o vestido, tentando remover um pouco da sujeira, antes de
caminhar até a ruiva. – É um enorme prazer conhecê-la.
– Não te comportes como um bobo da corte. – Natasha a cutucou.
– Iria apresentar-me às tuas irmãs e não me contou. – A vampira virou os olhos na direção de
Aron, fitando-o em represália. Conhecer a família dele formalizava mais a relação dos dois do
que ela gostaria.
– Eu não posso evitá-las. – Ele ergueu as mãos na direção dela, numa tentativa de se
desculpar.
– Sabes sobre nós? – Os olhos de Isabel brilharam com a possibilidade de que seu irmão
houvesse falado sobre elas.
– Creio que todos nessa cidade já tenham ouvido falar sobre vós. – Dária buscou se conter, a
fim de ser o mais gentil que pode.
– Estávamos ansiosas para conhecer a mulher que roubou o coração do meu irmão. – Natasha
curvou-se, segurando as pontas do vestido azul claro, cumprimentando-a.
Como sempre indelicada! As bochechas de Aron se coraram imediatamente. Achou aquilo um
tanto exagerado, mesmo que seu coração batesse mais rápido quando estava ao lado da vampira.
– Não é para tanto Natasha. – O duque a olhou com o canto de olho e dentes cerrados,
recriminando-a.
– Não? – A súcubo, apoiou-se no encosto do comprido sofá e se conteve para não gargalhar.
– Assim irás espantá-la. – Isabel resmungou entre dentes.
– Basta. – Aron balançou a cabeça ao resmungar mais para si próprio. – Anisha, peça para
que preparem o café na sala de jantar. Iremos esperar lá. – Ao dar a ordem à criada, o duque
conduziu Dária pelos degraus restantes da escada, passando por suas irmãs, até um corredor em
uma das laterais que levava até uma enorme porta adornada semiaberta, por onde ele passou
primeiro para se certificar de que as janelas estavam cobertas.
O íncubo respirou fundo, reprimindo a raiva crescente pela indelicadeza de suas irmãs.
Caminhou até uma das extremidades da sala para acender o belo lustre de cristais, que se
destacava imponente, pendendo do teto, para que não ficassem no completo escuro
– Desculpe-me por aquilo. – Observou-a entrar.
– Posso lidar com elas. – Dária desliou as pontas dos dedos sobre a grande mesa de carvalho
enquanto, a passos lentos, diminuía a distância entre os dois.
– Elas são terríveis, impulsivas, insistentes...
– Acho que as reconheço como tuas irmãs. – Dária riu ao contornar a face dele com as costas
das mãos. – És mais do que insistente.
– A meu ver tal insistência é uma qualidade. – Aron a envolveu com os braços, puxando-a
para junto do seu corpo pela cintura. – Se não fosse por ela não a teria aqui comigo agora.
O ar quente que o íncubo soprou contra sua orelha fez com que Dária se encolhesse e cada um
dos pelos de seu corpo se eriçasse. Fechou os olhos ao jogar a cabeça para trás, rendida ao
caminho voraz de beijos que ele começou a traçar em seu pescoço.
– Meu senhor... – Anisha teve que conter o tom de choro em sua voz ao deparar-se com a
cena. Decerto, deveria se acostumar a presenciá-las.
– Deixem as coisas sobre a mesa. – Aron gesticulou com uma das mãos, mantendo a outra
firme na cintura de Dária, recusando-se a soltá-la ainda que por uma fração de segundo.
– Não precisavas alimentar-te? – Dária mordeu os lábios do lorde, provocando-o.
– Acho que vou optar pela outra forma. – Riu ao beijá-la.
– Precisas comer. – A vampira empurrou-o para longe, e sua força foi o bastante para separá-
los.
– Está bem. – Aron riu, dando alguns passos cambaleantes para trás. Por pouco ele não bateu
contra cristaleira que estava encostada na parede a poucos centímetros.
Dária se sentou em uma das pesadas cadeiras com o estofado vermelho de veludo e bateu na
outra ao seu lado esperando que o duque se juntasse a ela.
A mesa estava farta até demais, considerando que Aron comeria sozinho. O lorde pegou um
grande pedaço de bolo, e o levou a boca e depois serviu seu copo com leite e chá.
Com as mãos apoiadas em cruz sobre as pernas, a vampira o observava. Riria de si mesma se
em algum momento do passado lhe dissessem que estaria assim, sentada ao lado de um homem,
tranquila, e por que não dizer feliz. ERA INACREDITÁVEL! Ainda estava convencida de que
algo de muito errado iria acontecer e a faria se arrepender de tão tolo deslize. Entretanto, quanto
mais tempo passava ao lado dele, mais difícil ficava manter tal teoria. Lembrou-se de como o
íncubo se esquivara bem das perguntas feitas pelos humanos curiosos no evento da noite
anterior. Ele era um bom mentiroso, um excelente. No entanto, precisava de mais do que grandes
mentiras para sustentar o que estavam tendo.
Aron mordeu o último pedaço da deliciosa torta de cereja antes de colocar a travessa de lado e
voltar-se para Dária. No momento em que seus olhos encontraram os vermelhos dela teve certeza
de que era impossível conter seus desejos mais primitivos quando a ruiva estava por perto. Ele
deslizou as mãos, tocando com a ponta dos dedos a elevação dos seios acima do decote do
espartilho. Sentiu-a estremecer levemente.
Talvez a sala de jantar não fosse o melhor para fazerem aquilo, porém sua boca salivava tanto
que não quis perder tempo até encontrarem o caminho de volta para o quarto. Aron passou a mão
sobre a mesa, empurrando as coisas para o lado, então envolveu Dária pela cintura fina e
delicada, erguendo-a no ar até poder sentá-la sobre a escura superfície de madeira.
– Pensei que fosse se alimentar. – A dama enfiou as mãos dentro do colete para acariciar as
laterais do corpo forte, ainda que sob a camisa branca de algodão.
– Pretendo continuar. – Ele tirou lentamente os cabelos dela que estavam ao redor do pescoço,
os jogou para trás e beijou a região onde seus seios se encontravam.
O calor do beijo quase gentil fez a pele de Dária arder. Sim, aquela era uma ótima hora para
ele se alimentar. Podiam ter passado a noite inteira juntos, mas parecia já ter passado tanto
tempo.
– Prometo não a torturar dessa vez. – Aron riu ao agarrar os cabelos dela, segurando-os firme
com uma das mãos, enquanto apoiava-se com a outra na mesa.
– Só não rasgues meu vestido, precisarei dele depois.
Dária estava preparada para o banho de sensações quando ele a beijou com urgência.
Correspondeu-o na mesma intensidade, não hesitando em adentrar a boca do duque com a língua.
Puxou as próprias saias para cima quando o íncubo se encaixou em meio às suas pernas.
– Talvez não devestes ter colocado isso. – Aron protestou ao encontrar o tecido da ceroula
entre ele e seu objetivo.
– Não imaginei que faríamos de novo. Ainda mais aqui. – A vampira olhou com o canto do
olho se certificando de que a porta da sala de jantar estava fechada.
– Sempre imagine. – O lorde mordeu de leve a orelha de Dária, fazendo-a gemer, enquanto
deslizava a peça pelas longas e perfeitas pernas.
Dária retribuiu, levando as mãos até a braguilha da calça do íncubo, onde encontrou um
volume rígido e pulsante esperando por ela. Não pensou duas vezes antes de colocá-lo para fora
e segurou-o firme, acariciando toda a sua extensão. Não havia tocado em um órgão masculino
antes, e jamais imaginou que o faria. Contudo a forma como Aron estremeceu com suas carícias
lhe mostrou um estimulante a mais, que só fez crescer o seu desejo.
Aron retribuiu a carícia, tocando-a por completo em meio ao gosto dos beijos calorosos. Uma
chama intensa queimava dentro do corpo dele, causando um formigamento em cada parte que
tocava a pele fria da vampira. O íncubo estava à beira da loucura com a sensação dos dedos
pequenos e delicados dela percorrendo a extensão de seu pênis. Com os olhos fechados, mordeu
os lábios dela e gemeu contra a boca vermelha e carnuda. Queria tomá-la sem pressa,
proporcionar a ela todas as sensações e prazeres que merecia. Contudo seu corpo urrava numa
ânsia em tê-la que Aron não conseguia mais controlar.
– Da próxima vez eu vou devagar. – Ele prometeu ao puxar os cabelos ruivos com ainda mais
força e espremer a mesa onde se apoiava.
– Preocupas-te demais. – Dária o encaixou dentro de si, gemendo alto ao ser penetrada. Não
se importando nem um pouco com a possibilidade de que as irmãs dele ou mesmo os criados
pudessem ouvi-la.
Aron ofegou ao adentrar o sexo úmido. A vampira era tudo que ele precisava no momento, e
logo se entregou à intensa sensação do prazer que um podia proporcionar ao outro.
Dária agarrou-se a ele, remexendo os quadris, rebolando sobre a mesa enquanto encontravam
seu próprio ritmo. Nem mesmo a quantidade de tecidos das saias que se acumulava acima de sua
cintura lhe pareceram um empecilho para que o íncubo a penetrasse fundo. Percebeu-o sussurrar
algo enquanto beijava-lhe o pescoço, mas estava perdida demais em seu desejo para
compreender qualquer coisa. Mal acreditava como toque dele era capaz de atiçar todos os seus
sentidos. O modo como Aron brincava com sua língua dentro da boca dela e a penetrava mais
abaixo, com movimentos intensos e precisos, fazia-a delirar.
Nem mesmo a pele fria da vampira era capaz de diminuir o fogo do encontro dos corpos, que
chegava a aquecer o sangue que pulsava nas veias da dama. Aron podia ouvi-la arfar, gemendo
mais alto a cada estocada. Seus corpos se moviam em um ritmo perfeito, quase sincrônico. A
cada vez que o lorde deslizava vagarosamente para fora, Dária se remexia sobre a mesa, levando-
se até ele, fazendo-o entrar fundo outra vez.
A vigorosa sensação de prazer os tomava como um furacão, intenso e nada silencioso.
Quando o orgasmo a invadiu, Dária agarrou os ombros do duque e gritou, sem conter uma gota
da deliciosa e formigante onda que a tomou da região onde se tornavam um até as pontas dos
dedos.
Não demorou para que Aron a acompanhasse, atingindo o clímax também e banhando a
vampira ainda entorpecida. Com a respiração ofegante, o íncubo apoiou a cabeça sobre os seios
que subiam e desciam rapidamente, enquanto tentava recuperar o ar.
Capítulo 21
Aron apontou para um dos colares que reluzia sob o balcão de vidro. Ele era feito com uma
renda preta, de onde pendiam algumas pedras delicadas e de brilho intenso, pérolas negras
talvez. Sentiu na joia a impetuosidade que Dária costumava ter e teve certeza de que ficaria linda
naquele pescoço fino e pálido.
– Sim, eu quero esse. – Pediu para que o joalheiro o pegasse.
O homem parado de pé atrás do balcão tinha um pano nas mãos, que deveria usar para limpar
as peças do mostruário, mas estava estupefato demais com a presença do duque para fazê-lo. Era
um senhor de meia idade, entretanto pode compreender bem o motivo daquele lorde ter
preenchido os sonhos fantasiosos de sua esposa: ele parecia exatamente como os príncipes com
quem suas irmãs um dia sonharam em se casar, até que a cruel realidade caísse sobre elas.
– Por favor, aquele. – Aron insistiu batendo os dedos contra a superfície de vidro.
– Sim, meu senhor, desculpe-me. – O joalheiro balançou a cabeça, saindo do transe. Ele tirou
a chave que estava presa junto à cintura e abriu a vitrine para retirar o colar solicitado. – A dama
que receber este colar é de muita sorte. – Comentou ao embrulhar a joia.
– Apenas espero que ela goste. – Aron pensou alto.
– Pode ter certeza, meu senhor. – O joalheiro sorriu ao entregar a caixa ao duque.
O lorde pagou-lhe e deixou a loja sem conversar muito. Não conseguira parar de pensar em
Dária por um único instante depois que ela o deixara assim que a noite caiu. Se não fosse por
suas irmãs o abordarem com perguntas que beiravam o irritante, teria saído logo atrás dela. De
todo modo não fora tão ruim, pois evitara que ele se comportasse como um garoto.
Já era fim de tarde do dia seguinte e, ao caminhar pelas ruas movimentadas de Londres,
observa o sol atrás do palácio de Westminster, cada vez mais abaixo da grande torre do Big Ben.
Ansiava para que seus raios logo se findassem, dando lugar à noite, para que pudesse ir até ela e
convidá-la para um passeio de barco ao longo do rio Tâmisa.
Perdido em pensamentos, Aron tropeçou num desnível da calçada e começou a rir de si
mesmo, enquanto se equilibrava para não cair. Estava tão encantado por aquela mulher que nem
mesmo prestava atenção por onde andava.
– Te machucastes? – Uma mulher de meia idade, sentada em um pequeno banco de madeira
ao lado de sua banca de flores, perguntou ao duque. Ela estava a poucos metros, admirando-o, e
foi impossível não ver o quase tombo que serviu de desculpa para que pudesse puxar assunto
com tão belo homem.
– Não, foi apenas um susto. – Aron lhe dirigiu um terno sorriso. – Fico grato por tua
preocupação.
– Que tal levares flores para tua dama? – A senhora apontou para a sua banca de flores, cheia
com uma inúmera variedade delas.
– Infelizmente ela não gosta de flores.
– Uma pena. – A mulher torceu os lábios, fechando o rosto. Que espécie de dama não gostava
de flores?
Aron se despediu com um aceno e continuou a caminhar rumo ao bairro onde ficava o bordel
de Dária. Suas irmãs estavam com a carruagem naquele dia, porém ele não se importava de
caminhar.
Ver as pessoas que perambulavam pelas ruas, a reação de surpresa ao se darem conta da
presença do íncubo, era um tanto divertido. O duque estava na cidade há quase um ano, e ainda
assim era o assunto principal de muitas conversas, dos plebeus à mais alta nobreza. Embora no
fundo não desse a mínima para tudo aquilo, ser o centro das atenções o lembrava de como era na
época em que vivia com o pai. Apesar de serem bastardos, Natasha e ele eram muito bem
tratados pelo rei. Não sabia se isso se devia ao sentimento paterno ou se resumia ao
encantamento que ele ainda tinha pela súcubo Beatrice, a mãe deles. Aron e a irmã dificilmente
falavam sobre a aquela época, talvez pelo fato de terem saído fugidos da corte quando a rainha
deu um jeito de acusar e condenar Beatrice de bruxaria, e o rei sem muito o que fazer deu ao
filho um ducado distante no interior. Ou talvez por Isabel, que nasceu de outra aventura de
Beatrice anos depois. Um fato é que de certa forma se sentira feliz quando a mãe optara por ficar
na Irlanda quando o tempo os forçou a se mudarem, pois sabia bem de onde Natasha havia
puxado o gênio terrível.
Ao virar a esquina da rua que o levaria a Dária, Aron ouviu um barulho estridente perturbar o
constante silêncio do bairro calmo. O som de vidro quebrando o fez sair correndo sem pensar
muito no que poderia ter causado aquilo. O coração do íncubo disparou quando ele foi rápido o
bastante para chegar a tempo de ver um corpo ser arremessado da janela do escritório da
vampira. A força havia sido tão grande que fizera quem quer que houvesse caído arrancar a
cortina e levá-la consigo.
Assim que o indivíduo se chocou contra o chão, como um saco pesado, o lorde correu até ele
a tempo de ver um homem com os cabelos raspados e uma cruz tatuada sobre seu olho esquerdo
cobrindo metade da face, dar seus últimos suspiros de vida. Tentava, já sem forças, arrancar uma
adaga cravado abaixo das costelas. Com o ultimo sopro que ainda lhe restava, o sujeito,
contorcendo-se, tentou dizer algo para Aron, entretanto, de sua boca saiu apenas uma golfada de
sangue, e de olhos arregalados ele parou de se mover.
A agonia tomou o coração de Aron de assalto, mas antes de pensar em levar a mão ao peito o
íncubo saiu correndo bordel adentro. As piores coisas inundaram sua mente enquanto passava,
sem sequer olhar para trás, pelo salão lotado de mulheres e homens embriagados, que estavam
dispersos demais para notarem o que estava acontecendo.
Aron chegou o mais rápido que pode até a porta do escritório dela, brigando consigo mesmo
por não ter o achado rápido o bastante. Contudo, antes de perguntar o que estava havendo, notou
a porta entreaberta e barulhos de luta vindo lá de dentro.

Dária e Elzor ergueram a cabeça, fitando cada um dos cinco caçadores que estavam ao redor
deles. Maldição! Como os haviam encontrado? Mesmo tendo derrotado um deles, não pareciam
menos assustadores ou em menor número. Nunca havia visto tantos juntos antes, sinal de que em
momento algum ousaram subestimar a força dos dois vampiros.
– Seguro eles para que corras. – Elzor olhou com o canto de olho para Dária, murmurando
baixinho para que apenas a aguçada audição dela o ouvisse. Com o olhar, mediu a sala e a
agilidade dos oponentes a fim de calcular o quão rápido precisaria ser para parar os cinco por
tempo o bastante para que a sua senhora estivesse bem longe.
– E deixar a ti e as minhas garotas para trás? Nunca!
– Minha senhora, por favor.
– Cala-te, daremos um jeito nisso juntos!
Um dos cinco caçadores, o único com um bracelete reluzente de prata com uma cruz e uma
espada cruzando-se, aquele que parecia ser o líder, cansou-se de aguardar o movimento dos
vampiros e sacou uma espada que tinha na bainha presa junto à sua cintura. O metal reluzente
estava tão afiado que seria capaz de partir um carvalho ao meio com um único golpe.
– Este será teu último dia andando sobre a terra, criatura. – O caçador ameaçou, partindo para
cima de Dária, e os outros quatro o imitaram, prontos para atacarem.
Assim que a lâmina passou de raspão pelo ombro de Dária, arrancando consigo uma fina
camada da renda que envolvia o braço da vampira, Aron surgiu atrás do homem e lhe perfurou o
peito com a ponta da asa. O movimento foi tão ágil e silencioso que o caçador nem se deu conta
de por onde o seu assassino havia chegado, e muito menos o que diabos era aquilo cravado
contra o seu peito.
Aron recolheu a asa pingando sangue e assistiu o homem cair de joelhos sobre o chão do
quarto, de olhos arregalados e as mãos contra o ferimento, ainda surpreso pelo golpe. Com os
lábios semiabertos, o caçador tentou praguejar algo, no entanto já era tarde, seu corpo já havia se
dado conta de que o coração fora atingido com um golpe fatal. Nem mesmo os joelhos puderam
o suportar mais e ele foi ao chão, caindo de olhos abertos.
O que diabos era aquilo?! Os demais caçadores ficaram pasmos, imóveis por alguns
segundos, diante da criatura que viram. Estavam ali para caçar vampiros e nunca haviam visto
algum daquela forma. Aquilo tinha asas negras e sem penas que saíam do meio das contas, por
onde foi feito um rasgo no paletó, e dois chifres pontudos se destacavam no alto da cabeça, em
meio ao cabelo negro. Os caçadores tremeram diante de tão nefasta visão e cambalearam para
trás sem conseguir esconder o medo, não estavam preparados para aquilo.
O íncubo não hesitou em mostrar sua verdadeira forma diante da menor ameaça à vida da
vampira. Sentia-se assustador daquele jeito, contudo era assim que ficava mais forte. E perante a
inimigos, ser ameaçador não era algo ruim.
Um dos caçadores procurou desesperadamente na bolsa que tinha a tiracolo por um frasco de
água benta e destampou-o, jogando na direção do íncubo. Esperava assim enfraquecê-lo.
– Sério? – Aron gargalhou ao se dar conta de que suas roupas estavam molhadas. – Acham
mesmo que isto me faz algum mal?
Os quatro arregalaram os olhos. NÃO ERA POSSÍVEL!
Elzor aproveitou-se do alvoroço causado pela entrada heroica de Aron e usou toda a sua
velocidade para chegar atrás do caçador mais próximo e torcer-lhe a cabeça, quebrando o
pescoço num movimento tão ágil que o homem nem mesmo notou que estava morrendo. Assim
que o vampiro o soltou o corpo foi a chão como um boneco. Ainda faltavam três!
Ao ouvirem o barulho de mais um de seus companheiros caindo morto, os caçadores notaram
que a presença daquela estranha criatura havia virado o jogo a favor dos vampiros e que
enquanto não soubessem como derrotar aquilo, morreriam como seus companheiros.
Dária os viu olharem para a janela quebrada. Podia ouvir o coração de cada um deles bater
mais acelerado, em meio a uma respiração urgente suavam frio. Nunca viu um caçador com
medo como daquela vez. Ao perceber que tentariam fugir, a vampira posicionou-se entre eles e a
janela, bloqueando a única saída mais próxima.
– Lutem por suas vidas, caçadores. – A gargalhada sombria da dela fez com que eles se
amedrontassem ainda mais.
Os caçadores sacaram suas armas e estacas, e esperaram que as bestas viessem para cima
deles. Seguiram o conselho da vampira e lutaram, lutaram não só por suas vidas, mas pela causa
na qual acreditavam. Em meio à dança mortal, esquivavam-se como podiam dos movimentos
ágeis dos vampiros e, ainda que a terceira criatura fosse um pouco mais lenta, suas asas o
protegiam bem.
Aron deu uma rasteira em um deles com a cauda, jogando-o ao chão, e pisou com toda a sua
força contra a caixa torácica do homem. O som dos ossos das costelas se partindo foi tão alto que
mesmo em meio ao caos foi capaz de ouvi-lo. Queria-o morrendo de forma lenta e dolorosa
apenas por ter ameaçado a vida de Dária. Ouviu o caçador urrar à medida que afundava o pé em
seu abdômen. A dor foi tão intensa que o indivíduo desmaiou antes mesmo de vir a falecer. O
íncubo o chutou para garantir que ele estava mesmo morto.
Elzor atingiu o caçador que brigava com ele no rosto, com força suficiente para fazê-lo voar
contra uma das paredes e cair ao chão, desorientado. Então o vampiro aproveitou o instante de
guarda baixa e apunhalou o homem com sua própria estaca, vendo a vida dele se esvair em
segundos.
O último dos caçadores ainda lutava com Dária, o líder deles.
– Não aches que estará livre, pois, o meu senhor, virá atrás de ti e tua morte será ainda mais
dolorosa do que seria pelas minhas mãos. – O homem ameaçou-a antes de levar a espada até o
pescoço e cortar a própria garganta.
Bastardo esperto! Dária praguejou, cerrando os dentes ao vê-lo cair morto, sujando de sangue
o seu chão. Sabia que ela o torturaria em busca de respostas e suicidou-se antes que a vampira
tivesse a chance de fazê-lo.
– Quem eram eles? – Aron correu até Dária. O íncubo já havia voltado ao normal, sem asas
ou chifres. Ele tremia de preocupação. Percorreu com os olhos cada parte do corpo da dama em
busca do menor machucado que fosse.
– O QUE FAZES AQUI?! – A vampira o empurrou para longe.
– Eu vim vê-la, e quando cheguei aqui os encontrei... – o lorde balançou a cabeça anda
confuso. – Quem eram eles?
– Não são assunto teu. – Ela foi ríspida. – Eu tinha a situação sob controle.
– Não foi o que me pareceu.
– Escuta, íncubo! – Dária rosnou. – Não sou uma donzela em perigo e não preciso de um
cavaleiro em armadura brilhante para salvar-me do monstro. – Ela deu as costas para o duque. –
Por que simplesmente não vais embora?
– Por que eu te amo! – Aron puxou-a pelo braço forçando-a a encará-lo. – E a possibilidade
de uma eternidade sem ti me assusta.
Dária engoliu em seco, sem conseguir desviar o olhar.
– Não sabes do que estás falando...
– NÃO?! – Aron teria gargalhado se um aperto tão grande não tivesse lhe preenchido o peito.
– Francamente, Dária, eu sou um íncubo, posso ter qualquer outra mulher. Por que ainda achas
que estou aqui? – Estava cansado dela se esquivar sempre que possível e não conteve tudo que
estava entalado em sua garganta precisando sair. – Isso não é mais um jogo de sedução. Eu lutei
por ti e continuarei a fazê-lo, acredites em mim ou não. O que não posso é tê-la nos meus braços
e no momento seguinte vê-la me desprezar como se eu não significasse nada.
O íncubo estava nitidamente irritado, e dessa vez não se preocupou apenas em agradá-la. Sim
a queria, e muito. Entretanto, sentiu-se cansado. Mesmo com um grande aperto no seu peito e
lutando contra todo o desejo que o berrava para que ficasse, Aron soltou o braço da vampira,
ainda olhando fundo nos penetrantes olhos vermelhos. Abriu os lábios algumas vezes, porém
desistiu de pronunciar mais qualquer outra palavra, no estado em que estava a chance era de
piorar tudo. Deu as costas à ruiva e com passos calmos caminhou em direção à porta. Ele tentou
parecer confiante, ao menos parecer, porque dentro de sua cabeça tudo parecia um caos. Queria
entendê-la, ajudá-la, todavia nada poderia fazer se ela não o permitisse. Sabia que aquele breve
adeus não seria definitivo, que não aguentaria, mas por hora era o melhor que poderia fazer a si
mesmo.
Capítulo 22
– Aron, espere! – O grito saiu do fundo da garganta de Dária, e quando se deu conta já havia
ido atrás dele.
Parou de pé em meio ao corredor, com o coração na boca e a respiração ofegante. Olhou-o
parar com o grito e virar-se para ela. Com os olhos arregalados, atentos, as sobrancelhas
arqueadas e a boca semiaberta, o duque a estudou.
– Apenas peça, e eu fico. – Ele sussurrou, com o coração batendo acelerado ao abrir os
braços, aguardando ansioso.
Dária não hesitou. Parar poderia fazê-la pensar nas implicações daquilo e talvez recuar.
Correu até ele, acabando com a distância em milésimos de segundos. Pode ouvir o coração
acelerado do íncubo quando ele a envolveu em seus braços.
– Desculpe-me, eu não deveria ter feito aquilo. Por favor, fica. – Admitir foi menos penoso do
que a vampira poderia imaginar, um enorme alívio a preencheu ao sentir que um peso fora tirado
de suas costas. Pela primeira vez agiu contra o que seu passado e o medo a mandavam fazer.
Com os braços apoiados sobre o peito de Aron, ela estava trêmula, assustada, ao se dar conta de
que sem querer havia permitido que aquilo que possuía com o íncubo fosse mais do que um
simples caso.
Aron a segurou pelo queixo, fazendo com que erguesse a cabeça e voltasse a fitá-lo. Seu
corpo estremeceu de felicidade por tê-la ali. Refez o contorno do rosto gélido da vampira com a
ponta dos dedos.
Com os olhos ainda fixos nos dele, Dária o agarrou pelos cabelos negros e puxou o rosto do
lorde mais perto. O que veio em seguida foi intenso.
Toda a delicadeza foi subjugada pela fome. Dária o empurrou contra a parede, batendo-o com
força. A leve dor em suas costas fez Aron abrir um largo sorriso, aquela força intensa era sinal de
que a vampira não estava se contendo nem um pouco. O íncubo ouviu o som de tecido sendo
rasgado quando a dama acabou de vez com o paletó que já estava surrado por causa da luta.
Dária mordeu os lábios de Aron com força, fazendo-o sangrar o suficiente para que ambos
provassem do líquido exótico. Puxando os curtos cabelos negros, a vampira o beijou, sentindo-o
estremecer. Assim que suas línguas se tocaram a certeza a atingiu como um chute no peito,
fazendo-a arfar. Ele não era só mais um caso.
Com os braços ao redor do pescoço do íncubo, ainda segurando firme os cabelos sedosos,
Dária sentiu Aron passar os braços ao redor da cintura fina. Seus corpos só não estavam mais
juntos por causa das malditas roupas. Correspondiam ao beijo um do outro com o mesmo fogo
ardente, a carícia despertava seus instintos mais selvagens.
Em meio à chama voraz que fazia suas veias ferverem, Dária finalmente admitiu que se
existia alguém, era ele. Confiar era difícil, entretanto aquele era um passo importante para que
enfim deixasse que as feridas do passado cicatrizassem... Gritou quando Aron mordeu de leve a
base de seu pescoço, provando o gosto doce de sua pele de mármore. A vampira tremeu com o
arrepio que varreu seu corpo. Ela se livrou da camisa branca com um puxão, deixando-o
gloriosamente nu da cintura para cima.
Aron gemeu, delirando ao sentir os dedos delicados da dama percorrem o contorno dos
músculos bem definidos de seu peito. Entretanto se conteve o bastante para afastá-la o suficiente
para que seus olhos se encontrassem outra vez.
– Chega de me afastar?
– Chega. – Dária assentiu ao cravar as presas no pescoço quente e pulsante. A vampira o
sugou com vontade, se deliciando com o sangue de um sabor um tanto ácido.
Aron não precisava daquilo para ficar excitado, contudo seu corpo ficou hipersensível ao
toque da dama. Seu pênis começou a pulsar dentro da calça, com a necessidade de tê-la. Com
urgência, ergueu-a, colocando as pernas dela ao redor de sua cintura e foi a vez do lorde de
chocá-la contra a parede.
Um grito forçou Dária a parar de se alimentar, ela jogou a cabeça para trás o máximo que
pode até ser parada pelo obstáculo atrás de si. Revirando os olhos, lambeu os lábios banhados de
sangue. Agarrou os ombros do íncubo, cravando as unhas fundo, fazendo com que mais do
líquido vermelho fluísse por alguns instantes, e o gemido dele, abafado pelo beijo em seu
pescoço, a deixou ainda mais alucinada.
Estavam no meio do corredor. Aron se deu conta disso ao lembrar-se de que o servo dela
ainda estava na sala ao lado. Dane-se, o pensamento lhe tomou a cabeça assim que a sentiu
arranhando suas costas da base da cintura até os ombros, tornando ainda mais intensa a leve e
deliciosa sensação de dor.
Por instinto, o lorde passou as mãos pela frente do espartilho, rasgando as fitas que o
amarravam contra o corpo da vampira. Rapidamente, jogou-o contra o chão, para em seguida,
contornar com os dedos os seios dela, fazendo os mamilos rosados se enrijecerem com o toque.
A forma como ela gemia e se contorcia a cada carícia o instigou a afagá-la ainda mais. Aron
deslizou com uma trilha de beijos até a elevação dos seios e os contornou com a língua,
saboreando cada pedacinho de forma demorada.
Dária arqueou o corpo, empurrando a parede atrás de si com a cabeça. Sua pele formigava em
cada local em que Aron a tocava com a língua. Quando retomou o controle por alguns segundos
ela desceu para o chão, dando espaço para que o íncubo pudesse retirar suas saias. Ele lhe dirigiu
um sorriso sensual antes de curvar-se para retirar o restante das roupas dela, ansiando por tocar
as coxas nuas.
Os olhos de Dária brilharam quando finalmente ficou nua diante dele. Permitiu-o que a fitasse
por alguns minutos, antes de curvar-se para deixá-los como iguais. Abriu lentamente a braguilha
da calça, deleitando-se com a agonia que tomava conta da expressão de Aron. Os olhos dele,
com as pupilas dilatadas, a encararam semiabertos, quase em súplica. Porém ela estava tão
trêmula de desejo que torturá-lo era torturar a si mesma. Quando finalmente retirou as calças, ela
segurou o pênis rígido com as mãos, sua boca salivou com a proximidade. Antes achava aquilo
asqueroso, entre outras coisas. Porém quando o desejo falou mais alto todo o seu desprezo contra
o ato lhe pareceu tolice. Aron já havia feito aquilo com ela algumas vezes, e sentiu-se no direito
de retribuir.
A sensação fez com o íncubo cerrasse os dentes. Ele apertou a parede à sua frente e revirou os
olhos ao gemer intensamente. Ter a boca de Dária o beijando de maneira tão íntima era mágico.
Mordeu a língua para conter o gemido e cravou ainda mais as unhas no papel de parede ao sentir
a deliciosa língua dela lamber seu pênis em toda a extensão, antes de acolhê-lo com a boca.
Era saboroso. A vampira se deu conta de que à medida que deslizava os lábios por toda a
extensão, chupando-o, lambendo-o, mais sua boca salivava mais de vontade, assim como a sua
vagina que ardia e formigava, precisando dele.
O íncubo acariciou seus cabelos e segurou-os atrás da cabeça, não se privando da melhor
visão que já tivera na vida. Já havia sido estimulado daquela forma por mulheres e homens,
contudo com Dária era diferente. A paixão que sentia por ela, somada à bela visão da boca
carnuda e vermelha deslizando pelo seu membro o fazia enlouquecer, era bom, INCRÍVEL!
Quando percebeu que ele não aguentaria mais, Dária parou. Ofegava como se tivesse acabado
de sair de uma batalha. Ergueu-se e colocou os braços ao redor do pescoço de Aron, e ele a
ergueu outra vez, encaixando-se entre as pernas que abraçavam seus quadris. A vampira sentiu
seu corpo bater contra a parede quando foi penetrada sem hesitação alguma. Gemeram juntos. A
fome foi quem ditou os movimentos que vieram em seguida, intensos e vorazes.
As mãos de Aron apertavam de um modo quase dolorido as redondas nádegas de Dária,
segurando-a firme, enquanto se movia para dentro e para fora do acolhedor corpo úmido, com
urgência. Os movimentos faziam com que ela se chocasse contra a parede repetidas vezes, mas a
forma como ela revirava de prazer deixou o íncubo feliz por não estar causando desconforto
algum.
A dama perdeu por completo a clareza, imersa em um prazer que se tornava mais profundo a
cada estocada. Quando orgasmo veio Dária gritou pelo nome de Aron, mordendo-o no ombro,
em meio a espasmos. Ofegante, quase sem ar, apoiou a cabeça sobre a dele, enquanto se
recuperava.
O modo como ela gritara o seu nome foi música para os ouvidos do lorde, e quando o êxtase o
tomou, sentiu-se o homem mais feliz do mundo. Ela era tudo que não sabia precisar.
Aron a colocou no chão e segurou-a por alguns minutos, até ter certeza de que já era capaz de
sustentar o próprio peso. Rindo, beijou-a com carinho. Admitir que a amava lhe pareceu a
melhor coisa que já fizera a si mesmo.
– As garotas podem nos ver. – Dária gelou ao se dar conta de onde estavam.
– Isso é um bordel.
Ela não disse nada, apenas torceu os lábios.
– Está bem. – Aron a pegou no colo.

O íncubo estava apoiado sobre os cotovelos, observando o belo corpo nu da ruiva. Ela possuía
sardinhas por toda a pele que ele adoraria contar, com a língua. Dária estava imóvel e o encarava
de volta. A cama exibia sinais de haviam continuado com o sexo voraz por mais algumas horas.
Havia almofadas jogadas por todo o quarto e a colcha da cama estava em frangalhos.
– Quem eram aqueles homens e por que queriam matá-la? – Aron finalmente a perguntou, ao
deslizar os dedos pelo ventre lisinho.
Dária estava prestes a repudiá-lo quando encontrou os olhos dele, fixos nela, atentos, e
lembrou-se do que havia acabado de prometer.
– Eles são caçadores de vampiros, vieram para Londres há alguns dias e agora estão atrás de
mim e Elzor.
– Por que não me dissestes antes? – O rosto do íncubo empalideceu e ele percorreu-a com os
olhos para se certificar de que não estava ferida. – São apenas aquele ou há mais?
– Já disse que não preciso que me ajudes. – Dária virou-se de lado na cama, dando as costas
para ele, buscando fugir do olhar preocupado e julgador.
– Queres que eu retome o assunto sobre confiar? – Ele a puxou pelo ombro, não permitindo
que se esquivasse daquela forma. – Foi tolice minha acreditar que aquilo no corredor significou
alguma coisa?
– Não. – A vampira engoliu em seco. O queria por perto, não havia mais com o negar aquilo,
então PRECISAVA confiar. – Tem uma coisa sobre o meu passado. Algo que me fez deixar de
acreditar nas pessoas, nos homens principalmente. Mas é uma longa história.
– Eu sou imortal, tenho todo o tempo que precisares para ouvi-la. – Aron se deitou de lado na
cama, ainda a encarando, mas de uma forma que o deixasse mais confortável.
Dária respirou fundo e olhou para o quarto. Era capaz de sentir a luz lutar para passar através
da cortina. A noite já havia se esvaído e não haveria como fugir daquele assunto, então fitou
Aron de volta. Em meio ao aconchegante carinho que ele lhe fazia com as costas das mãos,
contou sobre o casamente arranjado, terríveis anos que se seguiram depois, até a noite em que
Arthia a havia salvado da beira da morte.
Aron abriu a boca por várias vezes, em busca das palavras exatas que nunca parecia encontrar.
Ouvi-la contar aquilo o fez sofrer como se estivesse na pele da bela dama durante todo esse
tormento. Jamais imaginara que aquela mulher forte, que andava como se fosse capaz de domar
o mundo, tivesse passado por algo assim. Não conteve a vontade de abraçá-la, em meio à
angústia que lhe tomou o peito.
– Dária... – o duque a segurou em ambos os lados da face, tornando impossível ela se esquivar
ou mesmo virar o rosto. – Vamos resolver o problema dos caçadores juntos, eu não permitirei
que eles a machuquem. – Roçou os lábios nos carnudos e vermelhos da vampira, que apenas o
encarava. – Quanto ao teu passado, infelizmente nada posso fazer para mudá-lo, porém posso
garantir um futuro em que seja amada e respeitada. – Beijou-a rapidamente. – Não a quero como
a minha senhora que espera por mim na casa vazia, colocar em ti um anel ou uma coleira. Quero
que sejas a amante de povoa meus pensamentos e para quem eu possa correr sempre que sentir
saudades. Eu a amo e apenas preciso que estejas comigo, que farei tudo por.
Dária o encarou em completo silêncio. Seus olhos estavam marejados num misto de dor pelo
passado e de uma certa emoção. Se tudo o que Aron estivesse falando fosse mesmo verdade, ele
era o homem que havia jurado nunca existir. Seu peito apertado implorava para que acreditasse
nele, pois já havia provas o suficiente para tal.
– Não me faças arrepender-me.
– Eu não vou. – Aron puxou-a de volta para um beijo.
Capítulo 23
Dária abriu os olhos. Ainda estava envolta pelos gentis e termos braços de Aron. Não
conseguia mais negar o quanto se sentia segura e confortável neles. Estar com um homem não
lhe parecia mais uma ideia terrível. O íncubo havia provando o quanto esteve errada por todos
esses anos. Ele tinha conseguido fazê-la entregar-se àquilo sem que se desse conta. Entretanto,
não estava arrependida, e se ele honrasse a palavra, nunca iria estar.
Observá-lo dormir a deixava calma, ainda que a presença dos caçadores fosse aterrorizante.
Aron havia revelado sua verdadeira forma para protegê-la, e tê-lo lutando ao seu lado não era
algo tão terrível assim.
A cabeça de Dária ainda estava confusa. Não era tão simples passar uma borracha sobre tudo
o que viveu e se convenceu nos anos que passaram, porém, pela primeira vez, teve a real vontade
de tentar. A possibilidade de superar todos os seus fantasmas a animou. Quem sabe Aron fosse
tudo aquilo que desejou, mas nunca soube. Riu baixinho, sentindo-se tão esperançosa como
costumava ser antes terem-na arrancado do seu quarto de menina e a jogado na cama de um
monstro.
Aron era gentil, pelo menos na medida que podiam quando se entregavam aos seus desejos.
Não a amava apenas nas palavras, a amava na cama. Permita-te amá-lo de volta, corra o risco,
pensou ao acariciar o rosto macio com a barba para fazer.
Levantou-se da cama com todo o cuidado para não acordá-lo. Haviam deixado corpos por
todo o seu escritório e precisaria dar um jeito neles. Bateu uma das pernas contra a armação da
cama e praguejou baixinho, aquela era uma péssima forma de sair sem fazer barulho. Mas
quando ele apenas girou para se ajeitar, Dária respirou aliviado. Ainda tinha esperanças de
retornar e encontrá-lo ali.
Havia deixado suas roupas no corredor. Acabou indo até seu closet e pegando outro vestido.
Depois, com sua velocidade, catou as roupas jogadas pelo corredor como se um furacão
houvesse passado por ali. Pegou a camisa do lorde, partida ao meio e com os buracos das asas
nas costas. Ele iria precisar de uma nova.
A vampira se enrijeceu ao ouvir passos vindo em sua direção, mas eles eram pesados e se
moviam de forma veloz, e logo os reconheceu como de Elzor. O ataque inesperado dos
caçadores na noite anterior havia a deixado arredia quanto a qualquer barulho.
– Minha senhora. – Elzor curvou a cabeça raspada quando a viu.
– Precisamos nos livrar dos corpos, antes que alguma das garotas os vejam. – A voz dela soou
firme, parando de suspirar e dando a devida atenção a algo tão grave.
– Eu já o fiz, enquanto bem... se reconciliava.
– Desculpe-me – Daria se encolheu envergonhada.
– Não precisas te justificar a mim, minha senhora. Entretanto, torcia para que o fizesse. Ele é
a tua chance de ser feliz. Perdoa-me a palavra, mas seria tolice deixá-lo ir. – Ele curvou-se e
pegou uma caixa de veludo no chão. – A propósito, creio que isto pertença a ti.
Dária pegou o objeto nas mãos e o fitou por alguns segundos, sem reconhecê-lo.
– Não, isto não é meu.
– Caiu do casaco do íncubo e está embalado para presente, portanto, acho que ele trouxe para
ti. – Elzor a fitou com seus olhos vermelhos e respirou fundo, avaliando se ela não brigaria com
ele pelo conselho que daria a seguir. – Para de repreendê-lo, apenas aceita. Ele tem boas
intenções.
– Contei ao Aron sobre meu passado, – Dária murmurou ao desviar o olhar para o presente e
passou os dedos por toda superfície macia e levemente peluda. – E aceitei a ajuda dele para lidar
com os caçadores.
– Isso é ótimo! – Elzor tentou conter a alegria em sua voz ao perceber que, finalmente, depois
de todos esses anos, a sua senhora estava seguindo em frente. – Os caçadores estão preparados
para lidar conosco, mas nunca viram alguém como ele antes, será uma ótima arma.
– Sim, será. – A vampira admitiu ao abrir a caixa e se deparar com o belo colar de renda e
pérolas. Ele era exatamente como ela gostava de usar. Abriu um leve sorriso ao perceber o
quanto ele era observador àquele ponto. Tirou a peça da caixa e a colocou no pescoço,
acariciando de leve, com os olhos fechados. Tudo que ele fizera até o momento era exatamente o
que precisava para chegar ao coração frio da vampira, paciente e atencioso na medida certa.
– Peça Anne para levar alguma comida para o meu quarto, creio que ele acordará faminto.
– Sim, senhora. – Elzor se curvou e desapareceu do corredor logo em seguida.
Dária ficou sozinha no corredor. Levou as mãos até o pescoço outra vez, acariciando a peça,
pensando em quão séria a relação deles havia se tornado. Contudo, não estava mais com medo.
Elzor sempre fora muito sensato e se ele estava feliz com aquilo, não havia mal algum em
permitir-se estar também.
Com sua audição aguçada, ouviu o íncubo se mexer na cama e dar sinais de que estava
levantando e quis estar lá quando ele abrisse os olhos. Parou junto ao batente da porta e
observou-o sentar-se na cama.
– Olá. – Aron sorriu ao vê-la ali e perceber que ela parecia feliz. Ameaçar se afastar foi a
coisa mais difícil que já fizera, temeu a possibilidade de jamais vê-la. Entretanto, finalmente
havia transposto a barreira que a bela dama havia colocado ao seu redor. Amar era uma coisa
engraçada, pois apenas observá-la lá, de pé, com um vestido deslumbrante, a ligeira curva em
seus carnudos lábios vermelhos formando um terno sorriso, os sedosos cabelos ruivos ainda um
tanto desalinhados, a firmeza do olhar, o deixava estupefato, sem ar, sem palavras.
– Estás com o colar que comprei. – O observador duque não deixou aquilo passar
despercebido.
– Achei que fosse para mim. – Dária ergueu a peça com suas pequenas mãos delicadas. –
Espero não estar errada.
– Estás ainda mais bela, ele parece ter sido feito para ti.
A vampira se encolheu um pouco, envergonhada. Ainda se surpreendia com o quanto ele era
capaz de ser gentil.
– Preciso encontrar minhas roupas. – Aron ergueu-se da cama gloriosamente nu.
Dária se perdeu por alguns instantes observando o copo másculo, bem delineado, os ombros
largos e a bunda, que bela bunda!
– Bom, eu as encontrei, mas lamento, apenas as calças estão em condições de uso. – Dária se
empolgou com a possibilidade do íncubo continuar assim, enquanto percorria as curvas do corpo
másculo com os olhos.
– Culpa tua. – Aron se lembrou da forma lasciva com que ela havia lhe rasgado a camisa.
– Tuas asas rasgaram um pouco. – Dária riu, ao defender-se.
– Não tivestes medo de mim? – Aron engoliu em seco ao lembrar-se de ela o havia visto
como demônio, decerto não era como ele gostava de se apresentar.
– Existem coisas mais assustadores do que um par de chifres, asas e uma cauda. – A forma
brincalhona como ela se referiu ao assunto o fez respirar aliviado. – Como não teremos mais
segredos, creio ter sido bom eu vê-lo daquela forma.
Aron percorreu a distância que havia entre os dois e a envolveu com seus braços firmes,
fazendo Dária suspirar com o calor da pele do lorde.
– Eu preciso voltar para casa antes que as histéricas das minhas irmãs venham até aqui. –
Aron soprou um ar cálido contra a orelha da dama, fazendo-a encolher-se, arrepiada.
– Tens certeza? – Dária suspirou ao contornar o peito dele com os dedos em um movimento
lento, aproveitando cada sensação que o toque podia lhe proporcionar.
– Estás jogando sujo. – O duque gemeu.
– Estou? – A vampira passou a língua pela base do pescoço dele, saboreando o gosto
agridoce. – Pensei que quisesse ficar comigo.
– E como quero... – Aron se perdeu no olhar da vampira.
– Então fique! Esperes pelo menos até que o sol se ponha, pedirei a Elzor que vá até a tua casa
e traga roupas. – A dama deslizou uma das mãos por entre os corpos deles e tocou o pênis do
íncubo, que ficou rígido na hora.
– Por hora, estás muito bem nu.
Aron mordeu os lábios para conter um gemido. O toque dela era delicioso. Os pequenos
dedos ágeis o levavam a loucura.
– Vais me atormentar?
– Isso é ruim? – Dária arqueou as sobrancelhas e lançou para ele um sorriso lascivo.
Aron adorou a forma como ela o provocava, o levando fácil além da linha do perfeito juízo. O
espírito independente e selvagem da vampira a induzia a atiçá-lo com entusiasmo, sem se conter
como as damas de bom nome faziam, suprimindo suas vontades com medo de que o desejo
sexual fosse algo errado. Ela deslizou os dedos gelados por toda extensão do membro firme e
pulsante, tocando-o com curiosidade. A temperatura baixa dela provocava uma sensação
refrescante gerando deliciosos calafrios.
Dária nunca havia tocado um homem daquela forma antes, toda sua curiosidade havia sido
suprimida pela terrível noite de núpcias, onde havia sido jogada em uma cama, molestada e
deixada sangrando. E toda as suas tentativas de tocar o marido haviam sido suprimidas por
violência tanto física como verbal. Contudo Aron era gentil, e a forma como ele girava os olhos
nas órbitas e gemia com a carícia deixava claro que ele estava amando aquilo.
Aron percebeu uma ruga formando-se na testa dela, quando seus belos olhos vermelhos
ficaram distantes e seus músculos ficaram tensos a ponto de apertá-lo um pouco.
– Esqueça o passado. – O íncubo a beijou na testa e o carinho fez a ruga de preocupação
desaparecer do lindo rosto angelical. – Estás aqui agora, estás comigo. – Puxou-a para um beijou
gentil e delicado, carregado de todo amor que sentia pela vampira.
Os músculos de Dária se relaxaram quando seus lábios se uniram e ela ergueu os braços para
envolver o pescoço de Aron, intensificando um pouco mais o beijo. O fogo queimou dentro de
seu corpo, lembrando-a do desejo faminto que sentia por ele. Assim que sua boca se abriu,
permitindo que a língua dele entrasse, o beijo deixou de ser gentil para se tornar mais urgente.
Dária sentiu seu corpo se chocar contra o batente da porta quando ele a empurrou para trás.
– Tens um gosto tão bom. – Aron mordeu o lábio inferir da dama, arrancando-lhe um gemido.
Nem mesmo a temperatura gélida dela era capaz de amenizar todo aquele calor.
– Minha senhora, um homem. – A voz atrás deles saiu tremida e assustada.
Anne encarou o que presenciava em completo choque, para não dizer um tanto furiosa. Teve
que exigir muito do seu autocontrole para não jogar a bandeja que carregava no chão. Sabia que
a sua senhora tinha vários casos e que não era a única a compartilhar da cama dela, no entanto,
acreditava que suas concorrentes fossem apenas mulheres. Como as pessoas eram voláteis, dama
Dária parecia bem à-vontade nos braços de um homem NU!
Aron e Dária ouviram um coração próximo começar a bater acelerado e interromperam o
beijo. O íncubo logo percebeu a tensão e raiva expressada pelos olhos afunilados e dentes
cerrados da jovem mulher.
– Tens algo com ela? – O lorde perguntou em um sussurro tão baixo ao pé do ouvido da
vampira que apenas ela foi capaz de ouvi-lo.
– Algumas vezes. – Dária confessou com um pouco de receio que ele a recriminasse.
– Então acalme-a – O sorriso gentil fez qualquer preocupação no rosto da dama desaparecer.
– Não há problema?
– Nenhum. – Aron acariciou o rosto suave e gélido com as pontas dos dedos. – Já disse que
não tenho intenção alguma de colocar-lhe uma coleira ou mesmo reprimi-la. Se isso a faz feliz,
sinta-te à vontade. Embora não nego que adoraria participar.
Dária sorriu e seus olhos brilharam, decerto ele havia a surpreendido mais uma vez. Sentiu
vontade de cobri-lo de beijos, entretanto, os suspiros quase chorosos da criada a lembraram de
que a moça precisava de mais atenção no momento.
– Agradecido. – Aron retirou a bandeja dos braços de Anne, antes que essa a deixasse cair no
chão. O íncubo retornou para o interior do quarto com passos calmos, saboreando o chá.
– Estás com ele? – A moça tremia, apoiada contra a parede. Tinha os olhos caídos, quase sem
vida, lacrimejantes, e a boca espremida, contendo o choro.
– Não sei ao certo o que temos, mas estar com ele é uma boa definição.
– Achei que não te envolvesses com homens. – Uma lágrima escorreu dos olhos da criada.
– Eu nunca lhe prometi nada, Anne. – Dária colocou uma mecha do cabelo cacheado da moça
atrás da orelha e acariciou o rosto gentilmente, limpando a lágrima e fazendo com que a jovem
erguesse os olhos castanhos e marejados para fitá-la.
– Me destes tudo. – Anne gaguejou enrolando uma mecha do cabelo ruivo em um dos dedos
trêmulos.
– A presença de Aron aqui não mudará isso.
– Tens certeza? – Ainda que o toque gélido a deixasse mais calma, a criada ainda estava
relutante.
– Sim. Não tenhas medo. A posição que tens aqui será mantida.
Anne pode ver a sinceridade nos olhos vermelhos de sua senhora. Levou uma das mãos ao
peito, com o ritmo de seu coração batendo apertado.
– Queres vir comigo? – Dária estendeu a mão para ela ao olhar para o quarto.
– Eu posso? – Os olhos da jovem se iluminaram com a possibilidade de retornar à cama de
sua senhora. – O lorde não se incomodará?
– Aposto que não.
Aron estava sentado sobre a cama com a badeja no colo, comendo vagarosamente um biscoito
enquanto observava a serena luz cálida do lustre no teto do quarto, quando viu Dária entrar
acompanhada pela criada.
Anne estava visivelmente mais calma. Com os olhos castanhos arregalados e as pupilas
dilatadas, tornando-os ainda mais escuros, havia deixado a raiva de lado e agora fitava o homem
na cama com curiosidade. Era a primeira vez que via sua senhora com um lorde e decerto esse
deveria ser especial. Percorreu cada centímetro dele com o olhar curioso e conteve um suspiro.
Ele é lindo!, exclamou em pensamentos. Ainda que se sentisse atraída por mulheres, as curvas e
as retas perfeitamente harmônicas que compunham o corpo, alguns detalhes sutis como os cílios
grossos e cumpridos, quase femininos, e os lábios carnudos, que ela sentiu vontade de morder, e
os ombros largos juntamente com as mãos grandes dando o toque másculo certo, tornavam-no
uma das criaturas mais belas que a moça já havia visto na vida.
– Não ouses machucá-la. – Dária lançou um olhar sério para Aron em meio a um sutil
sussurro.
– Eu não vou. – O íncubo abriu um largo sorriso ao se dar conta do que a vampira pretendia.
Não conteve alegria por ela permitir a participação dele. Às pressas, tirou a badeja do colo e a
colocou ao lado da cama, sobre o rústico criado mudo cheio de entalhes comuns na moda da
época, afastando o abajur vermelho sobre ele para o lado.
A criada assistiu Dária se ajoelhar sobre a cama, ainda com o volumoso vestido de saia preta
rendada, e engatinhar na direção do belo homem, a fim de retomar o beijo que Anne havia
interrompido instantes atrás, e dessa vez não sentiu raiva ou um aperto no peito, apenas uma
pontada de inveja: gostaria de poder beijar a dama também. Ainda tremendo um pouco, com um
misto de nervosismo e receio de ser recriminada, segurou a barra da saia creme, um pouco mais
modesta do que a da vampira, mais ainda assim feita com tecidos finos, embolando-a nos dedos
úmidos pelo suor frio e então subiu na cama, atraindo o olhar de ambos para ela.
Aron estendeu uma das mãos, a fim de tocar o rosto macio da moça. Anne arregalou os olhos
e curvou o corpo para trás em reflexo pelo susto. Mas logo cedeu ao toque cálido e gentil. A mão
macia, delicada, sem calo algum, percorria seu rosto de uma extremidade a outra, provocando
um calor incomum, sedutor, fazendo com que a jovem fechasse os olhos, entregando-se à
deliciosa sensação. Pela primeira vez seu corpo ardeu de desejo por um homem, o que foi
inesperado. Com o canto de olho observou se a sua senhora não estava incomodada com aquilo,
entretanto Daria abriu um sorriso que fez com que a criada perdesse completamente qualquer
inibição.
Com a mão livre, Aron puxou o cabelo ruivo da vampira para trás, deixando exposto o pálido
pescoço esguio, para em seguida beijá-lo e mordiscá-lo com todo o desejo.
Dária gemeu, suspirando. Fechou os olhos e mordeu o lábio inferior ao sentir a saborosa
sensação dos beijos e mordidas em seu pescoço. As carícias de Aron a levaram à loucura, porém
teve que se conter para não o arranhar ou mordê-lo e não expor a si mesma para a criada.
Os beijos cessaram e Dária abriu os olhos a tempo de ver o íncubo girar a cabeça na direção
de Anne. Resmungou baixinho, sentindo uma pontada de ciúmes, mas se conteve. A criada
estava ali a convite dela.
A mão do lorde deslizou por seu rosto, dos seios até a base da cintura pequena e frágil. Anne
arregalou os olhos quando o homem a puxou para junto dele e beijou de maneira inapropriada a
elevação dos seios sobre o decote. Entretanto, foi tão bom que ao invés de reprimi-lo a moça
suspirou. Curiosa, levou as mãos até os sedosos cabelos negros, eles eram tão bem cuidados...
Gemeu de leve quando os dedos ágeis do homem começaram a desamarrar seu espartilho, logo a
deixando nua da cintura para cima. Ela arqueou o corpo, jogando a cabeça para trás,
enrubescendo levemente quando a ponta de seus seios enrijeceu com a brisa fresca da noite
chocando contra eles. Foi como se uma corrente elétrica percorresse cada parte do seu ser,
fazendo-a vibrar. Quando Aron abocanhou com vontade um dos mamilos, o gemido alto da
criada foi capturado pelos lábios suculentos da vampira.
Anne não se permitiu fechar os olhos, não queria perder de vista um único segundo daquilo.
Fitava o belo casal com ela, enquanto era elevada a um novo patamar de prazer. Sentia-se
queimar, o fogo que Dária provocava nela se tornando mais intenso a cada toque das línguas. No
momento em que sentiu o homem chupar com vontade um dos seus seios e cobrir o outro com a
mão grande, apertando-o, nem mesmo o intenso beijo trocado entre ela e Dária foi capaz de
reprimir o grito que saiu do fundo de sua garganta.
Dária agarrou o cabelo castanho e cacheado da jovem, embrenhando seus dedos finos e
delicados em meio aos cachos cumpridos e perfeitos. A forma como Anne gemia e se contorcia
em meio aos beijos e carícias feitas por Aron deixou a vampira feliz.
A criada tremeu quando o lorde deslizou as mãos até a sua cintura e começou a remover as
saias. Nunca fizera aquilo antes, no entanto, assim que ele sugou outra vez o mamilo sensível,
Anne arfou. Já que Dária a estava incentivando, não ia fazer mal algum experimentar.
A vampira empurrou Aron contra a cama, fazendo-o se deitar sobre a almofada vermelha e
confortável. Então retirou as saias de Anne, que resmungava baixinho pelo estímulo em seus
seios ter parado, mas logo gemeu com a dama jogando os cabelos ruivos para trás e curvando-se
para beijá-la no pescoço.
De olhos fechados, entregue ao delicioso caminho de beijos que lhe provocava gemidos e
calafrios, Anne acariciou os ombros delicados de Dária, que ficavam expostos pelo espartilho.
Seu corpo estava tão em chamas que nem mesmo notou a pele fria, ou mesmo se questionou
sobre ela como costumava fazer.
Deitado sobre a cama, Aron observou as duas belas mulheres se tocando. Ainda que seu corpo
ardesse de vontade e seu pênis visivelmente pulsasse com uma vontade própria, ele esperou
pacientemente até que elas o convidassem outra vez. Com o olhar atento, observou Anne, com a
lenta velocidade humana, desamarrar as fitas que prendiam o espartilho de Dária. Contorceu-se
na cama em agonia, a demora era angustiante. Quando finalmente os lindos mamilos rosados
ficaram à mostra, sua boca salivou, enchendo-se de vontade.
– Espera! – Dária fez um gesto, quando com o canto de olho, observou Aron insinuar que se
levantaria.
A contragosto, o íncubo permaneceu imóvel. As duas voltaram a se beijar e o lorde pensou
que não se aguentaria. Dária é excelente em me torturar, praguejou em meio a um suspiro,
quando desejou que suas mãos estivessem no lugar das da criada, percorrendo cada centímetro
daquele sedutor corpo pálido. Logo ambas estavam nuas, tocando uma a outra, visivelmente
excitadas, gemendo, e Aron agarrou a cama, torcendo os lábios para conter o protesto.
Dária gritou alto, arfando, quando Anne levou as mãos até meio de seus corpos, deslizando-a
pelo ventre, até penetrá-la com um dedo. Estava tão molhada. Foi inevitável não rebolar em
meio ao estimulo íntimo. De olhos fechados, a ruiva sentiu seu cabelo ser colocado para o lado e
os lábios quentes do íncubo beijarem a base de seu pescoço. Ele não resistiu, Dária pensou assim
que o corpo másculo encostou em suas costas.
Com os três de joelhos sobre a cama. Anne observou a dama pender a cabeça para trás,
apoiando-a sobre o ombro do homem atrás de si, enquanto seus olhos estranhamente vermelhos
giravam na órbita em meio a gemidos cada vez mais intensos.
Aron enfiou uma de suas mãos frias por entre as pernas distanciadas de Dária e gentilmente
tirou o dedo de Anne que penetrava a vampira para então esfregar seu pênis rígido na vagina da
vampira, ainda sem penetrá-la. Agarrou os quadris dela fazendo um esforço tremendo para não
se enfiar de uma vez.
– Faça logo! – Dária ordenou, sentindo a inebriante presença do membro rígido entre suas
nádegas, na região pulsante e formigante entre as suas pernas.
O pedido ensandecido foi tudo que o íncubo precisava para deslizar para dentro dela. Mordeu
o pescoço de Dária, a fim de conter o gemido quando a umidade dela o envolveu. Entretanto,
quando a vampira rebolou contra o seu corpo, esfregando a bunda redonda contra sua pélvis
fazendo-o entrar ainda mais fundo, os músculos fortes de Aron se contraíram e foi impossível
conter o gemido. A vampira era a sua perfeita definição de céu e inferno, pois nada poderia pegar
tanto fogo e ser tão glorificante ao mesmo tempo.
O prazer evidente nos olhos de sua senhora fez a curiosidade de Anne sobre o que o homem
poderia proporcionar se tornar ainda maior. Mas teria que ser paciente, pois agora ele estava
ocupado. Deslizou as pontas dos dedos pela pele de Dária, da base do pescoço, contornando os
seios fartos. À medida que a acariciava via o prazer ditado pelo movimento de vai e vem feito
pelo homem se tornar ainda mais intenso.
– Contenha-te. – Aron segurou firme os quadris da vampira reduzindo a velocidade de seus
movimentos. – Não podemos ir tão rápido com ela aqui. – Sussurrou ao pé do ouvido antes de
morder de leve a orelha dela.
– Achas que assim fica mais fácil? – Dária murmurou em meio a um gemido ensandecido.
Lembrá-la de que Anne não podia ver o quanto eram sobrenaturais juntos não ajudava a se
conter. Era uma tarefa penosa conter o rebolado ou se mover mais devagar à medida que o
membro do íncubo a estocava.
Ao perceber que não conseguiria mais se conter, a vampira o empurrou para longe, forçando-
o a sair dela. Com a respiração ofegante, apertando as próprias coxas, convenceu-se de que Anne
também precisava de sua atenção.
– Deita-te. – Dária pediu à moça.
– Eu posso? – Hesitante, Anne apontou para Aron.
O íncubo e a vampira trocaram olhares. Então Dária sorriu, fazendo a moça respirar aliviada.
Tinha muito medo de ser recriminada. Afinal, o homem era da sua senhora.
– Sejas gentil. – A dama acariciou o rosto dele.
Aron de imediato entendeu o que aquilo significava. A moça ainda era de certo modo virgem.
Não deveria se vender como as demais no salão abaixo deles, era claro o apreço que a vampira
tinha por ela. Gentilmente ele a tomou nos braços e deitou-a sobre a cama.
– Tens certeza? – Com os olhos fixos nos profundos amendoados dela, quis se certificar antes
que fosse tarde demais para voltar atrás.
Anne apenas balançou a cabeça, surpresa com o quanto estava à vontade perante ele, os
homens lhe causavam repulsa até aquele momento. Mas a beleza, a serenidade e o calor
presentes nele haviam lhe despertado desejos desconhecidos. Abriu as pernas devagar, sem
desviar o olhar do rosto do íncubo, o suficiente para que ele pudesse se encaixar entre elas.
Com um tapa sobre a cama, Aron convidou Dária a se deitar ao lado de Anne. Daquela forma
poderia dar atenção às duas. Então, curvou-se sobre a moça, deixando seu membro roçando a
entrada da vagina coberta por cachinhos. Ela era tão delicada, nem de perto o espirito selvagem
de Dária. Lembrou-se das virgens puras de quem costumava se alimentar e se esforçaria para
fazer daquele um momento memorável.
O beijo cálido com qual ele a rendeu aumentou ainda mais o desejo. Anne gemeu quando o
corpo pesado pousou sobre o seu. Em meio a toques intensos, em todas as partes do corpo dela,
até as mais inapropriadas, Aron se esforçou para deixá-la tão louca de desejo que romper a
barreira dela fosse a coisa menos dolorosa possível.
Anne tremia de prazer, sabia que estava se abrindo sem pudor para aquele homem que vira
poucas vezes. Buscou os olhos de Dária, querendo se certificar de que ela ainda aprovava aquilo,
e o sorriso gentil que recebeu em reposta fez seus temores parecerem tolice. O homem a beijou
na base do pescoço antes de apoiar uma das mãos sobre a cama e entrar no corpo dela. Ao
encontrar a barreira que a protegia, penetrou com ainda mais afinco, roubando o gritinho de dor
com um beijo.
De repente, Anne se esqueceu de qualquer dor, pois esta deu lugar a uma intensa enxurrada de
prazer maravilhoso correndo pelas suas veias. Uma sensação que a fazia gemer sem parar. O
íncubo se mexeu de dentro para fora, enquanto instintivamente a criada agarrava a cintura dele
com as pernas.
Os gemidos altos e incontroláveis de Anne que tomaram o quarto fizeram Dária rebolar
inquieta na cama, e a forma como ela quase implorou pela sua atenção fez Aron se inflar,
vaidoso. Com uma das mãos servindo de apoio, o lorde levou a outra até o meio das pernas de
Dária e, sem hesitar, penetrou-a com dois dedos, fazendo-a arfar e se remexer de prazer sobre a
cama.
A presença dos dedos do íncubo não se comparava à deliciosa sensação de preenchimento
pelo pênis dele, mas Dária se contentaria por hora. Haviam se esvaído nessa dança erótica boa
parte da noite passada. Contudo, depois que havia cedido, bastava olhar para ele para se sentir
úmida. Maldito íncubo, por ser um deus do sexo.
Aron se movia com a rapidez de precisão, suspirando a fim de se conter até que Anne pudesse
experimentar seu primeiro orgasmo daquela forma. Beijava e mordiscava o pescoço e os lábios
da moça a cada vez que deslizava para fora e investia outra vez, arrancando gemidos altos que
intensificavam ainda mais o prazer do íncubo.
Quando os estímulos e carícias provocaram uma deliciosa sensação de prazer formigante que
correu pelas veias da moça, ela apertou ainda mais as pernas contra a cintura do homem, e
inebriada, gritou alto.
Assim que Dária se deu conta que Anne havia terminado por hora, revogou o direto ao
íncubo. Com um olhar lascivo e o cabelo ruivo bagunçado por tanto se contorcer na cama, ela
empurrou Aron forçando-o a se deitar na cama outra vez.
Anne estava tão entorpecida que nem se deu conta do lorde ter sido arrancado dela.
– Vais montar em mim? – Aron sorriu ao acariciar os seios de Dária enquanto ela subia sobre
seus quadris.
Dária nada disse, apenas gemeu, passando as unhas sobre o peito másculo de Aron no
momento em que seus corpos se uniram outra vez.
– Tenhas calma. – O lorde gemeu enquanto ela começava a ditar o ritmo.
– Anne está dormindo. – Dária rebolou de forma mais intensa contra os quadris dele,
arrancando um gemido alto e fazendo com que o íncubo agarrasse suas nádegas, apertando com
força.
Num ritmo acelerado, só deles, a vampira não tinha mais porque se conter. Em meio a gritos e
gemidos, atingiram o orgasmo juntos. Dária sentiu os músculos de Aron contraírem e relaxarem,
mas perdida em seu próprio prazer pouco notou o líquido dele a banhando. Caiu exausta sobre o
peito másculo, embalada pela respiração urgente do íncubo.

– Preciso ir agora. – Aron acariciou o cabelo de Dária ao sair de baixo dela.


– Fica! – Ela choramingou ao segurar com a mão gélida o braço do íncubo, forçando-o a
encará-la.
– Eu prometi ajudá-la com os caçadores. – O lorde notou a brisa fresca da noite passando por
entre as pesadas cortinas que cobriam as janelas, sinal de que o tempo já havia avançado
madrugada adentro.
– Eles são perigosos. – Dária tremeu ao constatar a preocupação que sentiu com a
possibilidade do íncubo sair ferido.
– Eu posso lidar com isso. Como Elzor disse, eles não estão preparados para lidar comigo. E
não os enfrentarei por hora, apenas descobrirei onde se escondem para juntos darmos um fim
neles.
– Está bem. – Dária assentiu, deixando-o ir. A possibilidade de Aron se ferir a assustou mais
do pode imaginar. No entanto, buscou respirar fundo, ele não faria nada estúpido. Esperava que
não...
Capitulo 24
– Aron! Esteves por dois dias fora de casa, eu estava preocupada. – Isabel estava de pé no
meio da sala, com os braços erguidos, gesticulando como uma aranha furiosa, o que fez o lorde
conter o riso.
– Menos, pequena irmã. Nem mesmo Beatrice se preocupa tanto.
– E desde quando nossa mãe se preocupou com algo? – Natasha apontou a cabeça do
emaranhado de cobertores num dos sofás da sala.
Aron riu baixinho. Suas irmãs não se continham.
– Vão encontrar alguém também.
– Minha última conquista jaz no nosso quintal. – Natasha deu de ombros.
– Qual a última vez que treinaram? – O olhar do íncubo agora era sério.
– Como assim? – Isabel arqueou as sobrancelhas, sem entender a pergunta do irmão.
– Precisarei de ajuda...

O duque estava de pé junto ao batente da porta da sala. Ansioso, olhou para o refinado relógio
de bolso em suas mãos. Eu mesmo deveria ter ido. Deixar nas mãos de suas irmãs uma tarefa tão
importante quanto descobrir o paradeiro dos caçadores que ameaçavam a vida de sua amada no
momento lhe pareceu uma péssima ideia.
No momento em que a carruagem foi vista ao longe, adentrando os portões de ferro da
propriedade, sob os sutis raios de sol da primavera, o coração de Aron disparou no peito.
Ansiedade era algo terrível e por um momento morreu daquele mal.
Assim que o transporte parou, o íncubo não esperou que o cocheiro descesse e abrisse a
portinhola de madeira para as damas, fazendo isso ele mesmo.
Isabel percebeu o olhar de quase desespero no rosto do irmão e acabou sentindo-se agoniada
também. Decerto a ameaça a vida da vampira parecia ter roubado o sossego do nobre.
– Tenhas calma. – A súcubo tentou amenizar a expressão dele.
– Nós os encontramos. – Natasha saiu logo atrás da loira.
– Como?
– Nada que um charme feminino não faça. – A morena sorriu, jogando o cabelo para o lado.
Aron torceu os lábios com o convencimento da irmã.
– Onde estão?
– Espalhados pela cidade, mas à noite eles se reúnem nas catacumbas abaixo da catedral de
São Paulo.
– Solo sagrado. – O íncubo praguejou baixinho.
– E qual o problema? – Isabel curvou as sobrancelhas e estreitou os olhos, confusa. – Nós não
somos amaldiçoados.
– Nós não, mas os vampiros são, Dária é.
– Ah, Aron! – A voz de Isabel soou trêmula. – Tem uma coisa, que talvez não saibas. Eles
estão aqui atrás dela.
– Mas é claro. – O duque gargalhou.
– Não, irmão, não entendestes. Eles possuem ordens expressas para capturar ELA. – A loira
foi mais incisiva. – Os caçadores não sabem ao certo quem está no comando, entretanto é alguém
da alta cúpula da ordem.
– Não fazia ideia que existissem caçadores tão bem coordenados atrás de vampiros pelo
mundo. – Natasha pensou alto. – Ainda bem que não estão atrás de nós.
– Quantos eles são? – Com a ameaça indiscutível à vida de Dária, Aron estava ainda mais
convicto a dar um fim naquilo. Só de lembrar do temor nos olhos dela diante daqueles caçadores,
um arrepio percorreu sua espinha.
– Depois de alguns abates, uns trinta.
– Vamos invadir a reunião deles à noite. – A voz do íncubo era firme.
– O QUÊ?! – Natasha arregalou os olhos, incrédula. – Estás perdendo a cabeça, meu irmão?
– Irão me ajudar ou não? – Ele cruzou os braços ao redor do corpo, irredutível.
– Trinta contra três, a desvantagem sempre me excitou. – A morena gargalhou, debochada.
– Nós vamos, Aron. Apesar de eu achar isso doentio e suicida. – Isabel se voltou para o irmão
ciente de que ele não mudaria de ideia. – Além disso, ela pode ficar furiosa contigo.
– Estou tentando protegê-la. – O íncubo deu de ombros. Por mais claro que Dária já tivesse
deixado que tinha autonomia para fazer as coisas por ela mesma, aquela situação não era algo
onde Aron poderia lhe dar esse luxo. Qualquer deslize poderia fazê-lo perdê-la e não conseguiria
passar a eternidade com aquilo.

A noite já havia caído sobre Londres e a névoa densa, costumeira na cidade, se acumulava na
distância de um metro até o chão. Aron estava de pé diante da carruagem, colocando algumas
espadas e garruchas para dentro. Seria uma tarefa fácil: entrar lá, matar os caçadores e retornar
para os braços de sua vampira. Ou assim pensava.
– Estavas pensando em fazer isso sem mim? – A voz suave e musical da vampira cortou o
silêncio da noite.
– Dária! – O íncubo a buscou com o olhar até fitá-la, escorada sobre a estrutura de madeira da
carruagem, com os olhos vermelhos fixos nele, os braços cruzados, apertando os seios roliços.
Aron passou a língua sobre os lábios, saboreando a visão. Concentra-te, esse não é um
momento apropriado.
– Onde eles estão? Por que não contastes a mim? – A vampira não estava mais tão gentil
como quando rebolava sobre ele.
– Estou tentando protegê-la. – Aron deslizou os dedos pela superfície fria do sedoso rosto
pálido.
– Eu não preciso disso. – Dária puxou a mão dele para longe de maneira grosseira. – Os
homens, como sempre tentando controlar tudo.
– Eles estão na Catedral de São Paulo, nãos podes entrar lá. – Aron mordeu os lábios para não
rosnar para ela. – Cinco caçadores quase a machucaram. Imagine só dezenas deles! Dária... – o
lorde a envolveu com os braços firmes, tendo menos resistência ao toque desta vez. – Eu a amo,
não vou permitir que a machuquem. – Dizer aquilo ficava mais fácil a cada vez e fazia-o ter mais
certeza. – Isabel disse que estão atrás de ti. Tens alguma ideia?
– Por eu ser um dos antigos. – A dama ajeitou o colarinho do casaco dele, ficando mais calma.
Mesmo que ficar fora de algo estritamente ligado a ela a deixasse irritada pelo sentimento de
impotência, diante de Aron sentia como se tudo fosse diferente. Confiar nele já não era mais tão
difícil assim.
– Creio que seja algo além disso. Mas elas, assim como eu, não fazemos ideia. Apenas
mantenha-se segura. – O íncubo beijou-a no pescoço, fazendo-a curvar a cabeça para trás,
completamente entregue ao toque.
– Vamos, Aron. – Isabel e Natasha passaram por ele e entraram na carruagem. – Não temos a
noite toda.
Dária segurou o braço do duque, forçando-o a fitá-la outra vez. A troca de olhares foi tão
intensa que fez as súcubos se arrepiarem.
– Tomes cuidado! Também me preocupo contigo.
– Irei. – O lorde a beijou rapidamente, apenas o breve toque dos lábios foi capaz de carregar
todo o sentimento de aflição e ambos. – Fiques segura até que eu retorne.
A vampira assentiu, soltando o braço dele e permitindo que ele entrasse na carruagem. Com o
peito apertado, assistiu-o dar um sinal para que o cocheiro os levasse até o local indicado. Deixar
parte do seu destino nas mãos daquele homem foi mais fácil do que imaginava ser. Ainda que
tremesse de preocupação, esta se devia mais a segurança do íncubo do que a sua própria.

Olhando para fora da carruagem, Aron observava a rua, com as pessoas transitando por ela a
pé, em carruagens, ou nos poucos carros que começavam a surgir na capital britânica. Perdido
em si mesmo, em sua própria caixa de pensamentos, nem notou que suas irmãs estavam usando
uniformes de esgrima, uma roupa que as permitiria lutar melhor do que os volumosos vestidos
ditados pela moda.
Logo o fim do trotar dos cavalos o despertou. Em meio ao badalar dos sinos marcando onze
da noite, o lorde pulou da carruagem e sacudiu a roupa. Aron estava de pé diante da estátua da
rainha Anne, na frente da bela catedral, um dos orgulhos da capital britânica, feita aos moldes da
Basílica de São Pedro em Roma, num estilo predominantemente barroco e renascentista.
– Que belo lugar para se esconder, não é? – Natasha comentou, rompendo o silêncio e
lembrando o íncubo de que não estava sozinho.
– Não sei se gostaria de ficar aí não, lugares como esse me dão arrepios. – Isabel tremeu o
corpo fechando a cara.
– Vamos fazer logo o que viemos fazer e sair daqui. – A voz de Aron era firme e distante. Ele
caminhou para a entrada da igreja. Subiu a passos rápidos a escadaria, passando por uma das
entradas laterais, deixada semiaberta, talvez por um dos caçadores. Não se perdeu observando a
bela arquitetura do local, assim como fizeram as suas irmãs. Nunca estiveram ali, ainda que por
terem pai humano não fossem amaldiçoados como os demais demônios, não se posicionavam de
lado algum naquela causa. Entretanto, pela quantidade de mortos em suas listas, não deveriam
ser bem-vindos numa igreja.
O duque desceu por uma escada na lateral de um corredor comprido. Com uma placa
indicando a proibição da entrada de turistas, era a passagem para as tumbas da igreja. Tudo
estava em completo silêncio, se não fosse pelo som dos passos dele e de suas irmãs pisando no
chão. Lá o piso de terra não possuía o mesmo acabamento sofisticado do interior da igreja.
Passaram pela cripta de Christopher Wren, a primeira pessoa enterrada na igreja, em 1723.
Isabel, ainda hipnotizada pelo lugar, contornou com os dedos a escrita acima dela: LECTOR,
si monumentum requiris, circumspice. Quando a dama se deu conta, seu irmão já havia
desaparecido de sua vista e logo correu até ele, pela forma como Aron estava lhe pareceu uma
péssima ideia deixá-lo sozinho. Ainda mais quando iam para aquela missão suicida.
Logo observaram uma luz vindo de alguns metros à frente e os três irmãos se esconderam nas
sombras a tempo de ver um caçador passar por eles. As súcubos estavam certas, era aqui que se
reuniam. À medida que se aproximavam, andando junto à parede fria que lembrava a de uma
caverna, o silêncio mortal deu lugar a uma enxurrada de murmúrios. Permaneceram quietos, o
elemento surpresa era a melhor arma que possuíam no momento. Escondido atrás de uma parede,
Aron se aproximou o bastante para ver o que acontecia lá.
Num pequeno salão repleto de túmulos requintados, destinados a personalidades importantes
na história inglesa, dezenas de homens se reuniram sob a cálida luz de tochas. Eles usam as
mesmas roupas brancas e tinham a mesma tatuagem de cruz no rosto que os que Aron enfrentara
com Dária. Estavam ali, eram eles, bastava ser ágil e rápido, que o íncubo logo poderia voltar
para os braços da vampira.
– Sejam cuidadosas. – Aron olhou para as irmãs ao sacar a espada que estava em uma bainha
presa junto às suas costas. Pela primeira vez o íncubo viu algo de útil nos treinamentos que fazia
com o pai quando era menino.
Isabel e Natasha não estavam tão confiantes quanto o irmão. Eles eram humanos, mas ainda
assim estavam em um número esmagadoramente maior. Assistiram Aron caminhar na direção
dos alvos e surgir atrás de um caçador, cortando-lhe a cabeça com a espada afiada sem que esse
se desse conta do que havia acontecido.
O som abafado e grave da cabeça caindo ao chão e rolando por alguns metros até parar junto
ao pé de outro caçador, fez com que os demais homens se virassem na direção dos intrusos. Com
os olhos arregalados e a boca aberta, surpresos por terem sido encontrados ali, sacaram
rapidamente suas armas. Diante do corpo de seu companheiro, os caçadores não se deram ao
trabalho de perguntar quem eram aqueles três antes de investirem contra eles.
Com uma pequena arma nas mãos, de cano curto e um único tiro, Isabel atirou no primeiro
homem que partiu para cima dela. Com as mãos trêmulas a dama deixou a arma cair no chão em
reflexo ao coice causado pelo disparo. O som ofuscou os gritos, enquanto o homem atingido caia
de joelhos no chão e uma mancha vermelha se formava no peito da túnica branca. Pela pouca
experiência com armas, a súcubo não havia ido tão mal.
Aron se desviou de uma adaga com punho em forma de cruz lançada em sua direção. No
entanto, foi atingido de raspão no braço pela espada de outro caçador que investia contra ele.
Quando o íncubo percebeu a manga rasgada do paletó, esse era seu menor problema: havia cerca
de doze homens cercando o íncubo. Ao fitar os olhos de cada um deles, Aron viu a vontade de
matar que o próprio lorde possuía ao entrar ali. Com o ar pesado do ambiente sem janelas, Aron
revelou-se outra vez, no tempo exato para que suas asas o protegessem das espadas afiadas de
seus inimigos. Furioso, abriu-as, jogando todos eles para longe.
Os caçadores ficaram estupefatos diante da monstruosa imagem de três demônios. Ó meu
Deus! Como entraram aqui? Todos deram um passo para trás em um misto de surpresa e
choque. Nunca haviam visto algo como os três irmãos diante deles. O corpo deles tremeu diante
do horror.
A breve baixa na guarda provocada pelo susto lhes custou a vida, pois Aron e suas irmãs não
perdoaram o descuido, e quando os caçadores perceberam, mais três deles foram decapitados por
Natasha e as pontas das asas de Isabel empalaram outros dois.
Os homens restantes ainda eram muitos e o juramento feito a Deus, de proteger o mundo dos
demônios, deu-lhes uma força inimaginável para contra-atacar. Com as espadas em punho e
cantando cantos de louvor como um coral, fazendo com que suas vozes ecoassem opressivas
pelas paredes da tumba, investiram todos de uma vez contra os três irmãos.
– Adoro uma desvantagem. – Natasha caçoou ao dar um tiro, atingindo um dos caçadores.
Empolgada, balançou suas asas ao redor de seu corpo esguio. A sutil brincadeira a deixou mais
calma diante de tantas armas e inimigos.
Aron se desviou de um golpe de espada, curvando seu corpo para trás, e fez com que o
caçador atingisse a parede. Em contrapartida, ergueu a ponta da asa esquerda, atingindo o
homem no peito com um golpe certeiro.
O íncubo não teve tempo de comemorar o abate, pois logo foi golpeado com uma estaca no
peito. Uma dor aguda, inegável, irradiou do lugar atingido e o fez urrar. Entretanto, Aron
arrancou a estaca em um único movimento e a jogou longe. Não era um vampiro, tal golpe não o
mataria. Em seguida, agarrou aquele que o havia o atingido pelo pescoço, com sua força sobre-
humana bateu a cabeça do homem contra a parede, ouvindo o som dos ossos do crânio sendo
estraçalhados.
Os demais olharam estupefatos para o buraco no peito do homem, vendo que ele se fechava
instantes. Como diabos matariam aquela coisa? Naquela altura eles eram apenas dez e os corpos
de duas dezenas jaziam brutalmente massacrados jogados pelo chão.
Isabel torceu a cabeça de um deles com a sua cauda, fazendo com que o pescoço quebrasse
em um golpe rápido. Estar ali fora uma péssima ideia, contudo a chacina tinha se mostrado algo
um tanto divertido. A forma desesperada como os caçadores tentavam lutar contra os irmãos
deixava claro que aqueles coitados homens nunca haviam ouvido falar de criaturas como
aquelas.
Natasha estava cercada por três, avaliando-a, buscavam uma forma de parar aquela mulher
demoníaca. A súcubo gargalhou ao limpar uma gota de sangue em seu belo rosto parcialmente
encoberto pelas sombras densas formadas pela pouca luz das tochas. A dama, que sempre gostara
de se sentir poderosa, estava adorando aquilo, vibrando com o medo e o desespero deles. Poderia
ter acabado com os caçadores que a cercavam com apenas um movimento, mas os esperou
pacientemente, para mutilar e matar de forma dolorosa cada um deles.
– Isso é engraçado. – Natasha gargalhou.
Minutos depois só restava um caçador de pé, com a espada em punho e coberto pelo sangue
dos outros, assim como suas roupas. A morena partiu para cima dele, porém foi interceptada pelo
irmão. Aron segurou a espada no ar, impedindo que ela atingisse o caçador.
Natasha rosnou a contragosto, irritada.
– Eu iria matá-lo.
– Preciso de algumas respostas. – Aron segurou o homem pelo pescoço e o arremessou contra
a parede atrás dele. – Queres morrer rápido ou sentir toda a dor que posso lhe proporcionar? – O
olhar do íncubo coberto de sangue era ameaçador como o de uma besta.
O caçador engoliu em seco, tremendo, amedrontado. Olhou da cabeça aos pés o terrível
demônio com chifres pontudos e asas saindo das costas. Soube quando fitou os olhos
esbranquiçados que aquela criatura não teria pena de sua pobre alma.
– Onde está o teu mestre? – Aron rosnou ao furar um dos ombros do homem com a ponta da
asa direita, que o atravessou até fincá-lo na parede. – O que eles querem com a Dária?
– Eu não sei.
– Natasha, me dê a arma. – Aron estendeu a mão para a irmã, que atendeu ao pedido, tirando a
última arma carregada que tinha junto ao corpo. – Perguntarei outra vez, posso ficar aqui a noite
inteira se assim quiseres. Onde está o teu mestre? – O íncubo disse pausadamente a última frase,
tomado pelo ódio. Não iria permitir que se aproximassem de Dária outra vez.
O homem balançou a cabeça em negativa e sem pensar duas vezes o duque atirou contra o pé
do caçador, fazendo-o urrar de dor. As balas daquela época provocavam uma dor lacerante que
deixou o homem gemendo, sufocado.
– Aron... – Isabel tocou o ombro do irmão, sentindo-se agoniada com aquilo. Uma coisa era
terem matado aqueles homens, outra era assistir um deles ser brutalmente torturado. – Por favor,
deixes que eu arranco as informações dele de uma forma mais gentil.
O íncubo olhou com o canto do olho para a irmã e não se opôs a atitude dela, permitindo que
tentasse. Isabel ajoelhou-se ao lado do homem, havia deixado sua forma de demônio e agora não
parecia nada além de uma bela e doce mulher. Ela tocou gentilmente o rosto do caçador,
forçando-o a encará-la.
– Querido, onde podemos encontrar teu mestre?
O caçador sentiu um calor incomum irradiar da região tocada e dominar todo o seu corpo,
levando consigo a dor insuportável. Logo ele se deu conta de que faria qualquer coisa por aquela
mulher.
– Ele veio da Itália e está hospedado na casa do lorde Cooper, o quinto marquês de Humber.
– Obrigada, querido. – Isabel tocou o homem nos lábios por um breve instante, tomando toda
a sua atenção, e quebrou o pescoço dele em um movimento rápido para que esse nem mesmo se
notasse o que havia acontecido.
– Isabel tão sem graça. – Natasha torceu os lábios ao cruzar os braços. – Estava adorando ver
Aron bancar o Jack estripador. A propósito, ele era um vampiro, não é? – Ela franziu as
sobrancelhas, pensativa.
– Vamos embora. – Aron não deu a mínima atenção para os questionamentos tolos da irmã e
virou as costas para ela.
Capítulo 25
– Todos os caçadores estão mortos.
A aurora já tingia o céu de alaranjado quando Aron abriu a porta do escritório de Dária de
uma vez, fazendo com que a vampira que jazia perdida em seus pensamentos tomasse um leve
susto.
– Estás bem? – A ruiva se atirou nos braços de Aron, para só depois perceber o cheiro do
sangue que banhava a roupas dele.
Os lábios do íncubo se curvaram em um sutil sorriso quando ele percebeu toda a preocupação
que vinha dos olhos vermelhos de Dária.
– Ficarei bem. – Riu. – Preciso de apenas um bom banho e algumas horas de descanso.
– Eles te machucaram? – Dária abria o paletó do nobre em busca de qualquer ferimento.
Havia algumas vermelhidões na pele dele, talvez sinais de machucados se cicatrizando e um
ainda bem evidente no peito, ainda em carne viva, fora muito profundo. A vampira se sentia
agoniada, suas mãos pequenas e pálidas visivelmente tremiam pelo desespero. ERA MINHA
CULPA!, brigou consigo mesma em pensamentos, tê-lo deixado ir sem ela no momento lhe
pareceu um erro.
– Enfiaram uma estaca no meu peito, mas eu estou bem. – Aron segurou o rosto dela com as
duas mãos, forçando-a a encará-lo sem desviar o olhar.
– Alimentes-te de mim.
– Estou coberto de sangue, preciso de um banho. Depois disso adoraria fazer amor contigo. –
O lorde roçou seus lábios nos da ruiva, deliciando-se com a suave sensação da pele fria dela. Foi
a primeira vez que Aron se referiu ao sexo daquela forma.
– Vou providenciar um banho para ti. – Dária passou os dedos pelo rosto dele e desapareceu
como uma brisa.
O duque esperou escorado na parede por alguns minutos até que ela retornasse. A vampira
estava lhe dirigindo um carinho e atenção que, na primeira vez que olhou nos olhos dela, jurou
ser impossível. Entretanto, as vezes em que ficou furioso pelo desprezo lhe pareceram valer a
pena. Batendo os dedos contra o seu antebraço um tanto dolorido, riu das peças que a vida era
capaz de pregar. Quem diria que a simples visão de uma mulher mudaria todos os seus
propósitos. Antes de Dária, dar a vida por alguém que não fosse as suas irmãs o faria gargalhar e
a possibilidade de abandonar o estilo boêmio seria vista como um ultraje. O engraçado era que o
íncubo se sentia mais feliz do que nunca...
Em meio a um arrepio, Aron abriu os olhos e o fato de que alguém ainda a caçava emergiu em
sua mente. O íncubo estalou os dedos das mãos, apertando-os. Seja lá quem fosse, faria questão
de dar a ele uma morte lenta e dolorosa.
Dária retornou ao quarto e com um sorriso nos lábios puxou-o na direção do banheiro,
despindo-o durante o caminho. Boa parte do sangue ficou nas roupas deixadas pelo corredor.
Felizmente, após rasgar uma meia dúzia delas, a vampira havia providenciado algumas para
substitui-las e deixando-as em seu closet.
– Não preciso me preocupar mais com os caçadores? – A dama perguntou quando já estava no
banheiro diante do homem nu.
– Matei todos eles. – Aron a garantiu. – E sei onde o mandante se esconde.
– Sabes quem ele é?
– Não, apenas que é italiano.
– Italiano?! – Os olhos vermelhos da vampira se arregalaram, arqueando as sobrancelhas, e o
sangue dela ficou ainda mais gelado quando começou a soar frio.
– Qual o problema? – Aron tocou o rosto dela por instinto quando a expressão de susto o fez
ficar preocupado.
– Eu nasci na Itália. Meu antigo marido era lorde de Piemonte. – A voz dela soou trêmula e
fraca.
– Dária, não permitas que isso a assombre. Esse homem deve ser alguém de Roma, do
Vaticano, apenas um enviado da igreja atrás de vampiros antigos.
– Tens razão. – Os músculos da dama relaxaram um pouco.
– Assim que a noite cair iremos atrás dele e daremos um fim nisso juntos. – Aron enrolou os
dedos no cabelo ruivo ondulado e a puxou para um beijo, desta vez mais cálido do que o anterior.
O vermelho dos olhos de Dária se intensificou quando o desejo ardente dentro dela urrou mais
forte do que nunca. Enquanto ajudava-o a tirar suas próprias roupas, deu-se conta do medo de
que ele se machucasse, ou pior, a possibilidade perdê-lo para sempre a deixou apavorada. Aron a
surpreendia cada vez mais, pois antes que ele tomasse tal decisão, juraria que fora Elzor, nenhum
outro homem arriscaria sua vida por ela.
Dária começou a traçar um caminho de beijos pelo pescoço de Aron. A pele macia e quente
dava prazer em tocar. Deixando de lado todas as possíveis preocupações e ignorando qualquer
medo. Ela só queria comemorar o fato dele ter voltado bem.
– Eu estou coberto de sangue. – O íncubo murmurou com a cabeça levemente curvada para
trás e olhos fechados, entregue à deliciosa sensação dos lábios dela percorrendo o seu pescoço.
– Realmente pensas que uma vampira achará isso ruim? – Dária lambeu o sangue nele, ainda
úmido, acumulado ao redor do machucado no peito. Era o sangue do íncubo, de sabor ácido,
agridoce e intenso, e a dama se conteve para não cravar as presas na pele branca. Ele já perdeu
sangue demais.
Aron a puxou com ele. Seu corpo formigava, quase implorando por mais toques da dama.
Logo sentaram-se na banheira branca, envoltos por uma água quente e relaxante misturada a sais
de banho. Puxou-a para mais perto, sentando-a sobre seus quadris, de joelhos, de tal forma que
poderiam continuar o beijo de onde haviam parado. Com a mão molhada, o lorde envolveu o
cabelo ruivo, enrolando-o e puxando-o para trás, deixando o belo pescoço pálido exposto que ele
não hesitou em beijar.
Em meio a um delicioso calafrio, Dária soltou um gemido. A pele estava em chamas no local
onde o duque a saboreava. O pênis rígido do dele roçava a entrada de sua vagina, mas sem
penetrá-la, apenas causando um ardor e pulsação ainda mais intenso. A ruiva sentiu o desejo
varrer seu corpo com toda a fome voraz que possuía quando ela estava nos braços de Aron. Ela
arqueou o corpo, num pedido mudo, entretanto as mãos do íncubo firmes em sua cintura
impediram-na de se mover.
– Tenhas calma. –Aron sussurrou ao morder a orelha dela, levando-a à beira da loucura. –
Quero saboreá-la por completo.
– Precisas se alimentar. – A vampira protestou, com o seu corpo se contorcendo sobre o dele
pelo delicioso calafrio provocado pela carícia, que varreu seu corpo.
– Esse tipo de fome pode esperar. – Aron lambeu a ponta do mamilo rígido, que pela posição
estava bem próximo ao seu rosto, para então abocanhá-lo com força, começando a sugá-lo.
Quando o lorde finalmente parou de brincar com os seios macios, Dária estava arfando.
Naquele momento tê-lo era uma necessidade.
– Aron... – o nome dele escapou em meio a um gritinho agudo. – Por favor...
A vaidade do duque se inflou no momento em que ela implorou por ele. Implorou por tê-lo a
preenchendo. Sem mais delongas ele a ergueu pelos quadris, o suficiente para sentá-la em seu
pênis rígido que também pulsava com a vontade de tê-la. A água ao redor deles não impediu que
deslizasse facilmente para dentro do corpo gélido, ao contrário, tornou tudo ainda mais
prazeroso.
Em meio a um gemido de prazer, Dária mordeu os lábios, enchendo a boca com o próprio
sangue, e agarrou-se ao corpo másculo, enquanto rebolava e dava leves quicadas contra os
quadris do lorde.
Aron agarrou as belas nádegas e ajudou-a com os movimentos quando a dama se curvou para
beijá-lo. O toque dos lábios abafou um pouco os gemidos intensos causados pela inebriante
fricção dos corpos.
Quando o prazer inundou seu corpo, Dária gritou contra a boca de Aron e acabou morrendo
de leve a língua dele. A saliva dela era tão afrodisíaca que o íncubo nem sentiu dor. Ele apertou
os quadris dela e entrou ainda mais fundo quando, numa explosão de êxtase, preencheu-a com
seu líquido quente.
Aron deslizou as mãos até o rosto suave dela e, em meio ao beijo intenso, capturou o ofegante
prazer que a envolvia, alimentando-se. A vampira abriu os olhos a tempo de ver uma aura azul
deixar sua boca, indo em direção a dele, contudo não precisou repreendê-lo, Aron já tinha mais
controle sobre aquilo, e quando a sentiu um pouco mais fraca ele parou.
Ofegante, Dária nem mesmo se moveu. Mantendo-os unidos, pousou a cabeça sobre o ombro
do íncubo, feliz ao tocar o peito dele, onde estavam os machucados, e notar que desapareceram
por completo.
Capítulo 26
Logo a noite caiu, findando os poucos raios de sol que transpassavam o céu cinzento, e
mergulhou Londres em um mar de neblina, muito conveniente a criaturas da noite como Dária. A
vampira estava de pé observando a rua e os homens que passavam por ela a fim de entrar no
bordel, em sua maioria casados. Quando uma carruagem parou, Dária observou o lorde que
descia dela, olhando para todos os lados com medo de ser visto ali, para então entrar. Homens...
Aron a abraçou por trás, beijando a base do seu pescoço, o que a fez esquecer-se dos humanos
lá embaixo. Bem, um homem em particular havia mudado muitas de suas convicções.
– Vamos? Meu cocheiro nos espera lá embaixo.
– Sim. – Ela disse convicta. Naquela noite colocaria um fim em mais uma parte de seus
pesadelos. Mataria o enviado do vaticano que estava caçando-a e mandaria um recado claro para
que o restante deles mantivesse distância.
– Minha senhora. – Elzor surgiu no quarto como um fantasma vindo do nada, o que fez com
que Aron desse um discreto pulinho de susto.
Dária sinalizou para ambos e caminhou para fora do quarto. Com passos confiantes e cabeça
de pé, ela atravessou o corredor e desceu as escadas, ignorando qualquer distração que pudesse
haver em seu caminho. Um homem bêbado no salão do bordel cogitou aproximar-se dela,
contudo o olhar feroz de Aron o fez mudar de ideia.

Em completo silêncio, o cocheiro deixou os três diante da mansão do marquês Humber. Ainda
que a primavera já tivesse tomado lugar do inverno, a neve se derretendo com a chegada das
flores, o vento cortante da noite ainda era gélido, mas o íncubo foi o único que pareceu notar.
A saia menos volumosa que Dária havia escolhido naquela noite voava em sincronia com as
folhas enquanto a vampira observava o local diante dos seus olhos. Além do portão de ferro que
bloqueava a entrada, um jardim bem cuidado e no fundo um enorme casarão. Seu perseguidor
estava muito bem hospedado.
– Vamos acabar logo com isso. – Aron deu um passo à frente, entretanto Dária o segurou pelo
pulso.
– Quero que fiques aqui. – A voz dela era gentil e calma, entretanto manteve o tom firme.
– Eu não vou deixá-la sozinha! – Aron protestou ao olhar fundo nos olhos da vampira. – Não
viemos até aqui para que eu simplesmente a abandone.
– Sou grata a ti, porém ele está atrás dos vampiros. Não pretendo continuar envolvendo-o e
tuas irmãs nisso. E, por favor, entendas, eu PRECISO fazer por mim mesma.
– Desde que estejamos juntos, Dária, eu farei qualquer coisa por ti. – Aron olhou fundo nos
olhos vermelhos com as pupilas dilatadas pela pouca luz.
– Eu sei. – A dama soltou o braço dele e desviou o olhar.
– Caso precises da minha ajuda saibas que estarei aqui. – Aron disse num murmuro solitário
ao observá-la se distanciar.
– Eu cuidarei dela. – Elzor prometeu ao íncubo antes de seguir sua senhora.
Apoiado na lateral da carruagem, junto ao cocheiro que já havia visto coisas demais a ponto
de tentar convencer a si mesmo que tudo não passava de alucinações, o duque assistiu aos dois
vampiros desaparecerem na noite. Num movimento involuntário, levou a mão ao peito, sentiu
uma angústia pior que a dor quando teve o peito empalado. A vontade era de ir atrás dela,
todavia precisava respeitar a decisão tomada pela dama.
Dária atravessou o belo jardim em um salto, sem nem parar para observar as flores
desabrochadas que coloriam o local, sob a penumbra da lua e alguns poucos postes espalhados.
Assim que chegou diante da bela porta de madeira, concluiu que: ou ele não estava ou esperava
por ela, porque fora os batimentos cardíacos que vinham de um cômodo no primeiro andar com
um cheiro carregado de temperos e ervas, que a levou à certeza de pertencerem a criados, havia
apenas um vindo de outro cômodo da casa. Estas batidas eram urgentes, o que levou a vampira a
perceber que o dono delas estava um tanto ansioso.
De olhos quase fechados, Dária focou-se apenas em sua audição, excluindo qualquer som
derivado do ambiente e deixou-se guiar pela palpitação. Passou pelo hall de entrada, uma grande
sala e subiu escada acima, parando apenas junto à uma porta quando um cheiro familiar foi
levado até seu nariz.
– Querida Dária, perguntava-me quando finalmente viria até mim. – A voz que veio da sala a
trouxe recordações e a fez tremer.
Era apenas uma coincidência, disse a si mesma ao dar um passo à frente, a fim de encarar
fosse lá quem fosse.
Sob a luz cálida de um belo lustre de cristal, a vampira entrou em uma biblioteca, onde um
homem, rodando um amuleto nas mãos, sentava-se atrás de uma escrivaninha em uma cadeira de
couro preta.
Encarar os olhos dele fez Dária dar dois passos para trás e respirar ofegante, como se o ar
houvesse sido sugado de seus pulmões.
– Não é possível. – Elzor ficou em choque. – Deverias estar morto.
– Assim como vós. No entanto, séculos depois, estamos todos aqui, não é?
O homem sentado atrás da mesa não parecia ter mais que vinte e poucos anos. Entretanto, a
vampira era capaz de reconhecer aquele olhar branco e gélido, não importava quanto tempo
passara desde a última vez que o vira. Mas ele tinha treze, quatorze anos na época? Não era
possível!
– O tempo não foi bom apenas para ti. – O homem disse ao rodar o amuleto em suas mãos.
Ele tinha um belo anel com uma pedra branca, que brilhava assim como os seus olhos. – Minha
mãe era uma bruxa, uma negra, chamada de cheren por seus iguais, antes de ser queimada viva
em uma fogueira. E eu herdei as habilidades dela...
– O que queres, Enzo? – Dária o interrompeu com um grito.
– Vingança! – O bruxo se colocou de pé e bateu com as mãos na mesa com força, fazendo
com que os livros trepidassem nas estantes. – Passei anos tentando rastreá-la para finalmente
poder vingar a morte do meu pai. Confesso que foi difícil encontrá-la, creio que alguma bruxa
poderosa tenha a protegido de qualquer ritual localizador.
Melinda... o nome soou claro na mente da vampira.
– Então decidi que a melhor forma de encontrá-la seria fazendo-a vir até mim. – Ele
prosseguiu. – Decerto, amedrontá-la com caçadores funcionou muito bem.
– Teu pai jamais foi digno de vingança. – Elzor falou, fazendo o bruxo notar sua presença.
– Cale a boca, servo! – Enzo urrou ao fazer um gesto com as mãos, arremessando o vampiro
contra a parede atrás dele. – Isso explica teu desaparecimento, preferiu ela ao seu senhor.
– Eu sempre a servi, e o farei até o último dia da minha eternidade. – O criado tentou manter
sua voz firme, ainda que estivesse tonto pelo forte golpe.
– Escolheu o lado errado, eunuco. Mas será a última vez que o fará.
– NÃO!!!
O grito desesperado de Dária não impediu que o bruxo erguesse a mão na direção de Elzor.
Nem mesmo sua velocidade o impediu de dizer aquela simples e tão poderosa palavra.
– Smŭrt.
– Confie nele, ele a protegerá. – Elzor disse antes de cair ao chão, com os olhos vermelhos
abertos, imóvel. Aquelas palavras só fizeram sentido para Dária.
– Elzor, Elzor, Elzor! – Desesperada, a vampira correu até o servo e o tomou nos braços.
Faltaram-lhe lágrimas, mas angústia que a tomou a fez ter certeza de que encheria um rio. Nem
com toda eternidade haveria tempo o bastante para agradecer tudo o que o servo havia feito por
ela.
– O QUE FIZESTES?! – A dama voou para cima do bruxo, mas foi impedida por uma parede
invisível.
– Meu assunto com ele está acabado. Fica feliz, porque o traidor teve uma morte rápida e
indolor. – A gargalhada de Enzo fez Dária tremer. – Já não poderei dizer o mesmo da tua. Bolka!
Um grito agudo escapou da garganta de Dária quando ela caiu de joelhos. Uma dor lacerante
tomou conta de seu peito, como se duas garras a furassem de dentro para fora, rasgando-a. Era
tão intensa que fez a vampira levar as mãos ao peito, numa luta desesperada para fazer parar.
Ofegava, mas era como se nem uma lufada de ar passasse. A cada movimento do diafragma
pensou que seu peito explodiria com tamanha pressão.
– O que... o que... garante... que teu pai não... matou tua mãe assim como fez comigo? – Dária
tentou dizer, ainda que sua voz fosse suprimida pela dor.
– NÃO DIGAS BESTEIRA! – A ira dele tornou o sofrimento da vampira ainda mais intenso.
– Dizes isto porque nunca fostes capaz de substituí-la.
Dária era incapaz de se mover, atacá-lo era impossível ou mesmo fugir. Mais uma vez um
maldito da família Borromeo a mataria. Talvez seu destino fosse mesmo perecer daquela forma.
Ao erguer a cabeça, viu o desejo de vingança nos olhos de Enzo ser alimentado a cada grito de
dor. Todo o seu sofrimento fazia-o vibrar.
– Acaba... acaba logo com isso! – A tortura fez com que a vampira implorasse por sua morte.
Entretanto aquilo apenas deixou Enzo ainda mais excitado, tudo que queria era vê-la desfrutando
de todo sofrimento que era capaz de provocar.
– Ainda não sofrestes um terço do que eu passei como órfão e sozinho. Se não fosse os
cherens, eu teria sido entregue aos corvos da regência.
Inebriada pela dor lacerante, Dária mal ouviu o som da janela da biblioteca sendo quebrada. E
Enzo cego pela sede de vingança, culpando Dária por tudo, só se deu conta do intruso quando
uma asa o empalou por trás. O bruxo levou as mãos ao peito ao olhar para ele e se dar conta da
precisão do golpe. A magia poderia ser forte o bastante para mantê-lo jovem e saudável por
séculos, mas não bastava para salvá-lo no momento, pois antes de poder recitar qualquer feitiço
de cura já havia perdido completamente os sentidos.
– DÁRIA! – Aron correu até ela assim que jogou o corpo do bruxo para longe, fazendo-o
parar apenas quando se chocou contra uma estante. – Sei que me pedistes para ficar fora disso,
porém quando ouvi os seus gritos...
A vampira ergueu os dedos trêmulos e tocou os lábios do íncubo, fazendo-o se calar.
– Obrigada, salvastes a minha vida... – a voz soou abafada e fraca, a dama mal tinha forças
para falar e desmoronou nos braços dele.
Capítulo 27
– Estás se sentindo melhor? – Aron acariciou o rosto de Dária enquanto ela se aconchegava
nos braços dele.
Estavam deitados sobre a cama do íncubo. A vampira estava em choque, passara todo o
restante da noite sem dizer uma palavra sequer. A morte de Elzor a havia devastado. Aron não a
deixaria só, e no momento sua casa era o local mais seguro que conhecia. Depois de tudo que
haviam passado, a dama nem mesmo ousou protestar.
– Ele está morto, Dária, acabou. – O duque ficou brincando com a renda preta da sobressaia
dela.
– Achei que tivesse acabado dois séculos atrás. – Os olhos da vampira estavam apertados,
curvados para baixo, como se tentasse reter as lágrimas que era impossível derramar.
– Escuta. – Aron ergueu o rosto dela, pelo queixo fino e delicado, para poder fitar os mares de
sangue que brilhavam sob a tênue luz do lustre. – Não precisas ter mais medo. Se o seu antigo
marido, o filho dele, ou qualquer outro parente retornar dos mortos eu os matarei de novo, e
quantas vezes preciso for.
Dária riu, apertando os lábios, com os olhos marejados, o que fez o íncubo arregalar os olhos,
surpreso.
– O destino é engraçado. Matteo me mostrou a pior face do ser humano, e quando a minha
família aprovou o maldito casamento perdi a fé em qualquer forma de amor. No entanto, um
íncubo, um demônio, me fez acreditar outra vez.
Aron abriu um enorme sorriso, não conseguindo conter a alegria que tomou seu peito por
aquelas palavras.
– Eu te amo. – Acariciou o suave rosto gélido com as costas das mãos, fazendo-a fechar os
olhos, deliciando-se com o toque. – Tudo por ti valeu a pena.
Ainda emocionada, com as mãos um tanto trêmulas, Dária lhe acariciou o rosto e roçou seus
lábios nos dele. Num beijo carinhoso, suave e repleto de toda a segurança.
– Também o amo. – Sussurrou contra a boca do íncubo.
– Sério?! – Aron afastou-se um pouco para poder olhá-la nos olhos. Foi inevitável não
suspirar e sorrir ainda mais.
– Sim, meu senhor. – Dária riu ao enrolar uma mecha do curto cabelo negro em seu dedo
curto e delicado. – Isso seria perfeito se Elzor não estivesse morto.
– Ele estava apenas tentando salvá-la.
– Eu o arrastei para tudo isso quando o transformei em alguém igual a mim.
– Ei! – Aron a interrompeu beijando-a brevemente. – Elzor era feliz em servi-la, qualquer um
poderia ver isso. Ele viveu séculos e morreu fazendo isso. Imagine a vida que ele teria levado se
não fosse por ti e não te culpes.
Em silêncio, Dária abraçou o íncubo. Não era tão simples: havia perdido não apenas um
servo, mas um grande amigo e a culpa ainda a torturaria por um bom tempo. Contudo, algo que
sua vida como imortal havia lhe mostrado é que a morte era inegável, irreversível.
– Eu não quero vê-la sofrer mais, e posso apostar que Elzor compartilhava desse mesmo
desejo. – Acariciando os cabelos ruivos, Aron beijou-a na testa. – Esta noite a levarei à ópera.
– Ópera?! – A vampira se sentou na cama, torcendo os lábios. – Sabes que não gosto de
ambientes lotados de humanos.
– Amor, nada de ruim aconteceu no campeonato de esgrima.
– Eu sei, mas...
– Deixe-me diverti-la. Além disso, ficaremos em camarote particular.
– Está bem. – Dária sorriu. – Nunca fui à ópera.
– Vai ser ótimo. – O íncubo a beijou brevemente.

Assim que a carruagem se aproximou do destino, Aron e Dária já podiam ouvir o falatório dos
espectadores da noite. Embora o grande acúmulo de pessoas atiçasse a sede da vampira, fazendo
sua garganta arder, pela primeira vez ela se sentiu bem; a presença de Aron decerto a acalmava
muito. Apesar da morte de Elzor tê-la devastando, nem tentou reprimir a felicidade que a
preenchia. Não desviou o olhar do íncubo enquanto caminhavam de braços dados dentro do
prédio lotado. As pessoas nem mesmo disfarçavam acompanhá-los com o olhar, entretanto isso
nem a incomodou. Era como se apenas os dois existissem. Sem pudor algum, beijou-o de língua
diante de todos.
– Que indecoroso, minha senhora. – Aron riu ao envolvê-la com os braços, suspirando.
– Achas? – Dária mordeu o lábio inferior dele e o sentiu estremecer.
– Se é ou não, não me preocupo. – Aron beijou-a outras vez.
Os indivíduos ao redor, nobres e altos burgueses, arregalaram os olhos, algumas mulheres
viraram o rosto e uma mãe parada a alguns metros cobriu os olhos da filha moça. Aquilo era
extremamente inapropriado, não tinham moral?
– Vamos – rindo, Aron deu as mãos para ela e a levou até o camarote destinado a eles naquela
noite, fechado por algumas cortinas vermelhas e com uma visão privilegiada do palco. Ali
nenhum dos olhares curiosos e cheios de julgamentos tinha acesso a eles.
– Acho que não sou uma dama, como gostariam. – Dária sussurrou ao sentar-se em uma das
duas belas cadeiras de estofado vermelho.
– És a dama perfeita para mim. – Aron apoiou uma das mãos no encosto e com a outra tirou o
cabelo ruivo do caminho para poder beijar o pescoço pálido.
Dária agarrou os braços aveludados da cadeira e gemeu, fechando os olhos por alguns
segundos com o delicioso calafrio que percorreu seu corpo.
– Achei que fôssemos assistir à ópera. – A vampira involuntariamente abriu um pouco as
pernas.
– Eu já vi essa peça. – O íncubo sentou-se ao lado dela e puxou a saia vermelha para cima, o
suficiente para que pudesse levar as mãos até virilha a fim de tirar a ceroula que ela costumava
usar, contudo não a encontrou, apenas a sedosa pele de mármore. O fato dela estar sem roupas
íntimas o deixou extremamente excitado.
– Deveria haver algo aqui. – Aron sussurrou ao pé do ouvido de Dária, com a mão na parte
interna das coxas dela, quase roçando em sua vagina.
– Da última vez eu a deixei na carruagem e queria evitar que isso acontecesse outra vez. – A
vampira virou o rosto e, sorrindo, se fez de inocente.
– Isso é mesmo muito prático. – O íncubo deslizou os dedos pelo sexo molhado dela até tocar
o clitóris com o indicador, pressionando-o com um movimento circular.
Dária mordeu o lábio inferior e agarrou com ainda mais força os braços da cadeira a fim de
conter o grito provocado pelo toque. Sem dúvidas Aron era e extremamente habilidoso. Ainda
que com os dentes cerrados, alguns gemidos foram impossíveis de conter enquanto ele a
estimulava. Felizmente, a voz do tenor, vinda do palco, bastava para tornar o prazer da vampira
imperceptível aos demais espectadores.
Aron se ajoelhou no chão entre o pequeno espaço do parapeito do camarote e os joelhos da
dama.
– O que vais fazer? – Dária ajeitou os cabelos e observou o íncubo segurar com uma das mãos
as saias dela, enrolando-as próximo a cintura. Dessa forma, deixou toda a parte inferior do corpo
dama exposta para ele.
– Adivinha? – Com um sorriso malicioso, o duque curvou a cabeça e a tocou de maneira
lasciva com a língua.
A vampira puxou de leve o cabelo dele e, em meio a um gemido, remexeu os quadris sobre a
cadeira. Quando o íncubo lambeu seu clitóris devagar, Dária gemeu e se contorceu toda com o
calafrio que percorreu seu corpo. Fechou os olhos, acariciando a cabeça do lorde entre as suas
pernas, completamente entregue à deliciosa sensação. Os lábios envolvendo seu clitóris e
chupando devagar e carícias feitas pela língua o íncubo levaram a ruiva rapidamente à beira da
loucura. Mordendo com força a própria boca, tentava fazer com que seus gritos e gemidos não se
sobressaíssem ao som da ópera, porém a cada estímulo do íncubo isso se tornava mais difícil. A
vampira arfou, jogando a cabeça para trás no momento em que Aron assoprou um ar quente na
região pulsante e hipersensibilizada entre suas pernas e, em seguida, penetrou-a com a língua.
– Se queres que eu perca o juízo, saibas que estás bem perto. – A vampira puxou o cabelo
sedoso do lorde com força, arrancando alguns fios, mas a cabeça dele nem mesmo se moveu.
Com as duas mãos, Aron apertou a parte interna das coxas da dama, e o toque quente e firme
arrancou dela ainda mais gemidos. Estar beijando-a tão intimamente e os gemidos ensandecidos
que provocava nela, deixaram o íncubo ainda mais excitado. Se fosse apenas pelo desejo que
urrava em seu corpo e fazia seu pênis quase arrebentar o fecho de suas calças, o duque teria a
penetrado naquele mesmo instante. Contudo, usou todo o seu autocontrole para degustá-la como
um vinho fino, saboreando cada gole do saboroso e belo corpo dela.
Era inútil, Dária quase choramingou quando seu próprio sangue escorreu pelos lábios de tanto
mordê-los. Era inútil tentar conter os gemidos em meio a tanto prazer. As mãos quentes do
íncubo apertando suas coxas de forma intensa e quase dolorida, tamanha a força que ele não se
preocupava em conter, tornava o fogo de prazer que queimava em seu ventre ainda mais intenso.
Ao se dar conta de que estava perto do ápice, tremendo e ofegante empurrou o lorde pelos
ombros para trás, a fim de fazê-lo parar.
– Não está bom? – Aron choramingou quando foi interrompido abruptamente.
– Maravilhoso. – Dária sorriu ofegante. – Esse é o problema, quero divertir-me mais contigo
antes o prazer intenso me faça desmoronar.
– Está bem. – Aron se sentou outra vez na cadeira e a encarou, ansioso pelo próximo
movimento da dama.
Dária passou os dedos delicados e gélidos sobre a elevação na calça do duque. Aron sorriu e
gemeu baixinho. O íncubo ainda se surpreendia com a forma com que a vampira era capaz de
despertar um desejo ardente dentro dele. Já havia feito amor com ela inúmeras vezes a mais do
que com qualquer outra mulher anterior, e ainda sim ficava tão excitado como da primeira vez, e
sem dúvidas muito satisfeito. Caso fosse uma simples atração louca, essa teria passado, e já era
óbvio que não.
Aron adorou a forma como a impetuosidade da vampira a deixava tão à vontade com tudo
aquilo. As demais mulheres que seduziu ao ponto de conhecê-las na intimidade, adoravam as
carícias mais inapropriadas, mas nem as prostitutas o correspondiam da mesma forma.
Entretanto, Dária deixava claro todas as suas preferencias e vontades e não se continha em tocá-
lo.
Com a mão muito hábil, ela abriu a braguilha da calça do lorde e colocou o pênis dele para
fora. Com uma das mãos segurando o cabelo e a outra ainda firme no membro, Dária se curvou
na direção de Aron e então deslizou a língua gélida por toda a extensão do membro. O íncubo
nem mesmo se preocupou em conter o gemido.
O duque segurou os cabelos ruivos dela, acariciando-os, para que as duas mãos da vampira
estivessem nele. Ela o atormentou e enlouqueceu com uma língua muito ágil e dedos
extremamente habilidosos ao ponto de Aron se contorcer e revirar os olhos. Quando Dária
finalmente o acolheu em sua boca úmida e gélida, o lorde pensou estar perto de enlouquecer.
– Ah, minha ardente vampira. – Aron gemeu ao fitar o rosto dela. A expressão nos olhos
maliciosos cheios de desejo e a forma sedutora como os carnudos lábios deslizavam pelo seu
pênis, fizeram com que o seu prazer fosse elevado ainda mais.
No momento em que Aron se deu conta de que daquela forma ele não suportaria por muito
mais. Sentou na beirada da cadeira, agarrou Dária pela cintura e puxou-a para cima do seu colo,
de frente para ele.
– Odeio essas saias. – Aron praguejou, rindo, ao notar o amontoado de tecido entre seus
corpos.
– Elas nem me mesmo me incomodam. – Dária beijou o pescoço do íncubo, fazendo-o se
arrepiar e agarrá-la pelos quadris, em seguida esfregou seu sexo feminino contra o dele. – Acho
que não veremos mesmo a peça.
– Ver-te é mais interessante. – O íncubo enfiou a mão entre os corpos, erguendo a dama um
pouco com a outra, e penetrou-a finalmente, unindo os corpos.
Dária arfou, jogando a cabeça para trás, e segurou nos ombros dele ao senti-lo preenchê-la.
Aron pressionou seus quadris para controlar os movimentos, e rapidamente ela acompanhou o
ritmo. Quando somente o prazer que os governava assumiu o controle de seus corpos, pouco se
importaram com os demais espectadores da peça e com certeza os camarotes vizinhos os
ouviram. Aron embrenhou seus dedos no cabelo ruivo e puxou a cabeça dela para o lado a fim de
ter todo o acesso ao belo pescoço, beijando-o e mordiscando-o.
Dária puxou o rosto dele de volta para beijá-lo nos lábios, mordiscando-os, gemia contra a
boca dele, enquanto subia vagarosamente para em seguida sentar no pênis de Aron, enfiando-o
fundo. O prazer foi se tornando ainda mais intenso, pulsando daquela parte unida dos corpos
para as demais e uma onda de intensa e formigante começou a varrê-la. Dária cravou as unhas
nos ombros do lorde e gritou contra os lábios dele, abafando um pouco o som. Em uma parte
remota de sua mente entorpecida pelo delicioso orgasmo, ela notou os músculos do íncubo se
contraírem e logo Aron se juntar a ela no momento de clímax, apenas alguns segundos depois.
– Uma verdadeira dama não faz amor em locais públicos, muito menos com alguém que não é
seu marido. – Dária gargalhou ao deixarem a ópera sob olhares pesados e cheios de julgamentos.
– A parte do marido pode ser facilmente resolvida. – Aron segurou a mão direita dela. –
Compro-lhe para um anel e podemos dizer que nos casamos na Irlanda. Ou podemos fazer algo
real se preferir.
– Estava apenas brincando. – Dária puxou a mão de volta e desviou o olhar, ficando tensa.
– Ei. – Aron segurou o rosto dela, tornando impossível fugir de seus olhos azuis
esbranquiçados. – Não me importo com o que essa sociedade pensa sobre nós. Apenas a quero
até o último dia da minha imortalidade, da forma que melhor lhe convir. Se sentir-se à vontade e
quiser ser minha esposa segundo as regras, no entanto, passar as noites na tua cama no bordel me
deixaria feliz da mesma forma.
– Não quero casar-me outra vez.
– Como quiser. – O íncubo sorriu ao beijá-la com carinho. – Posso pelo menos levá-la para a
minha cama pelo resto desta noite?
– Bom, não vejo problema algum nisso. – Dária estendeu a mão para ele outra vez ao
caminharem juntos até a carruagem.
Capítulo 28
Aron acordou com o rosto pressionado contra os seios redondos e branquinhos de Dária. E
que seios maravilhosos. Com um sorriso malicioso, beijou cada um dos mamilos, demorando-se
mais um pouco no segundo, chupando-o como se ele fosse um oásis e o lorde estivesse sedento.
Dária se contorceu de prazer ao acariciar os cabelos negros dele e o íncubo se enrijeceu outra
vez.
Com os cotovelos apoiados ao redor do corpo da vampira, Aron a beijou, roçando seu
membro rígido contra a abertura úmida e pulsante dela, arrancando leves gemidos e fazendo-a se
contorcer abaixo dele. Quando a dama abraçou seu pescoço, de olhos fechados, e estavam
prestes a retomar aquela deliciosa dança outra vez, eles ouviram o som alto de portas sendo
abertas de forma violenta, como um vento forte na velocidade de um furacão.
Dária abriu a boca para dizer alguma coisa, porém Aron pousou os dedos sobre os lábios
rubros e inclinou a cabeça para ouvir. Sentiu-se feliz quando Dária assentiu ao compreender seu
recado.
Um grito estridente preencheu a casa e ardeu fundo no ouvido dos dois. Aron se levantou às
pressas, vestiu apenas o calção e correu na direção do barulho.
Ao passar pelo corredor e descer as escadas o mais rápido que pode, o íncubo chegou a sala e
se deparou com Natasha erguida no ar, com as mãos contra o pescoço, e o olhar em profunda
agonia como se algo a sufocasse. A súcubo balançava no ar, com suas pernas se movendo
freneticamente como as de um inseto em seus últimos suspiros de vida.
O duque olhou na direção dos olhos aflitos e opacos da irmã e encontrou uma mulher com o
braço erguido, próxima à porta que ela mesma deveria ter aberto. Ela usava um vestido luxuoso,
em cor púrpura, com sobressaia negra. A intrusa tinha os cabelos negros voando com a violência
do vento que soprava toda a sala, fazendo os móveis tremerem. Objetos mais leves como porta
retratos e quadros foram ao chão. Seus olhos, de uma cor prata digna dos melhores ourives,
quase queimavam de tamanha ferocidade. Fita-los era capaz de cegar qualquer um.
– Fica longe da minha irmã! – Aron ordenou ao correr na direção da mulher misteriosa.
Ela nem mesmo desviou o olhar ao estender a mão na direção dele e fazer um movimento de
empurrar. Aron sentiu um golpe forte contra o peito, como se um coice houvesse lhe atingido
com a força de uns três cavalos, e foi arremessado conta a parede atrás dele, fazendo-o bater com
força suficiente para deixar o demônio zonzo. Um quadro ao lado dele caiu do prego e bateu
contra o chão, quebrando a moldura de madeira.
– Fica longe! – A voz da mulher soou amedrontadora. – Meu problema é apenas com ela.
– Aron... ajuda-me. – Natasha implorou com a voz baixa, sinal de que ela estava perto de
perder os sentidos.
Isabel cortou a sala num voo de rasante, no entanto, antes que a ponta de suas asas pudesse se
aproximar da mulher misteriosa, foi impedida assim como Aron.
Os sons fizeram Dária deixar o quarto e descer as pressas ao encontro do íncubo, visivelmente
preocupada. Assim que parou ao lado dele para ver se estava bem, o cheiro de ervas misturado a
um perfume fino fez com que se virasse.
– Melinda...
– Dária?! – A bruxa arregalou os olhos tão surpresa quanto a vampira. – O que diabos fazes
aqui... – ela parou no meio da pergunta, ao olhar da cabeça aos pés a vampira somente em roupas
íntimas e parada próxima a um homem que instantes atrás havia demonstrado bastante carinho. –
Estás com um homem?!!!
– Isso não importa. – Gesticulou os braços, numa tentativa tola de soltar Natasha. Dária havia
se envolvido tanto com Aron que, mesmo conhecendo pouco das irmãs dele, compartilhou da
aflição do lorde. – Estás matando-a!
– Ela merece! – A bruxa voltou a pressionar com força o pescoço da súcubo que estava a uns
cinco metros dela.
– Por favor, solta ela! Seja lá o que Natasha tenha feito, pode ser resolvido de outra forma.
Melinda olhou nos olhos de Dária por alguns segundos. Se a vampira não estivesse ali,
provavelmente teria matado a súcubo da forma mais dolorosa que pudesse, no entanto a presença
de Dária foi o suficiente para fazer a bruxa refletir e deixar que Natasha caísse ao chão.
Isabel correu até a irmã para acudi-la, enquanto a morena respirava ofegante, buscando o ar
que lhe fora privado de forma tão bruta.
– Ela matou uma das minhas protegidas. – Melinda explicou a Dária. – Não permitirei que
saia impune disto. Nas minhas regras ela morre também.
– E se exilá-la da Europa? – A vampira disse a primeira coisa que lhe passou pela cabeça. –
Natasha nunca mais poderá colocar os pés aqui, sob pena de morte.
– Eu não... – A súcubo começou a protestar, entretanto sua irmã a impediu, cobrindo-lhe a
boca e dirigindo um olhar severo, com dentes cerrados.
Melinda olhou para Natasha, o que fez com que as lâmpadas da sala explodissem, deixando-
os no escuro da madrugada. A raiva era evidente em cada curva do rosto da rainha. O
sobrenatural reivindicava humanos com o único intuito de protegê-los, e tratavam cada
reivindicado como um pertence, sobre os quais apenas o seu detentor possuía qualquer poder de
vida ou morte. Quebrar aquela regra sempre acabava em mais sangue.
– Ouça, súcubo! – A voz da bruxa saiu entredentes. – És alguém de muita sorte por Dária ter
intercedido por ti. Tens um dia para deixar Londres. Se na próxima aurora eu ainda encontrá-la
em qualquer parte da Europa, não haverá uma segunda chance.
– Obrigada. – Dária sussurrou quando a bruxa se virou em sua direção pouco antes de
desaparecer.
Capitulo 29
– Obrigado por ter salvo Natasha. Ela sempre foi tão imprudente. – Aron acariciou o rosto de
Dária quando já estavam de volta ao quarto do lorde.
– Era o mínimo que eu poderia fazer, bem... Depois de tudo que fizestes por mim.
– Quem era aquela mulher?
– Melinda. – A vampira sentou-se sobre a cama, ainda com roupas intimas. – Ela é a rainha
das bruxas. – Ao fitar o olhar arregalado e cheio de questionamentos do íncubo, prosseguiu. –
Sim, nós tivemos... Temos um caso, ficamos juntas algumas vezes no último século.
– Ela é bonita. – O duque sorriu deixando claro que não se importava com aquilo. –
Extremamente poderosa, mas linda.
Depois de alguns risos, a situação deixou de ser divertida e Aron desviou o olhar, afastando-se
de Dária, e apoiou as mãos sobre a mesa no centro do quarto. Respirou fundo ao fitar a janela
coberta por uma densa cortina, para proteger a vampira do sol.
– Natasha está salva por hora, graças a ti. Porém, estou me sentindo perdido. – Aron abaixou a
cabeça ao fechar os olhos. – Isabel e ela são a minha família, prometi cuidar dela para nosso pai
quando deixamos a corte irlandesa. Por mais irritante e irresponsável que seja, ainda é minha
irmã. Mas... – o íncubo se aproximou de Dária outra vez e tocou-lhe o rosto. – Deixar-te me
mataria.
Os lábios carnudos e vermelhos da vampira curvaram-se em um sorriso gentil. Então, pousou
sua mão sobre a de Aron, o que fez o íncubo arregalar os olhos surpreso.
– E se eu for contigo?
– Farias isso por mim? – A simples possibilidade fez os olhos dele brilharem.
– Perdi Elzor e meu passado ainda me persegue estando aqui. Talvez deixar a Europa seja
uma oportunidade para mim, um recomeço.
Aron não se conteve e a tomou nos braços, erguendo-a no ar. Durante todo o movimento os
olhos dos dois ficaram fixos uns nos outros.
Com os pés balançando, ainda suspensa no ar pelas mãos firmes do íncubo, Dária acariciou o
rosto dele e o beijou, roçando os lábios de maneira gentil e carinhosa, até pressionar a língua
contra a boca do lorde, pedindo passagem, o que Aron não hesitou em conceder.
Quando estavam prestes a intensificar as carícias. Dária se afastou e pousou no chão com a
graciosidade de um felino.
– Temos coisas para preparar. – A vampira lutou contra a vontade de despi-lo outra vez.
Aron a olhou dos pés à cabeça, pensado no fato de ainda ser dia e que devido aos raios de sol
a dama não iria a lugar algum. Entretanto, precisava decidir com suas irmãs para onde iriam e
preparar as coisas antes que o tempo dado pela bruxa se findasse.
– Fique aqui. Retorno assim que possível.
Dária assentiu ao caminhar na direção da estante de livros a fim de pegar um deles para passar
o tempo.
Ao parar junto ao batente da porta de sua irmã mais nova, Aron observou-a sentada sobre a
cama, com as mãos sobre os joelhos, os olhos afunilados e lábios torcidos, numa clara expressão
de descontentamento. Enquanto isso o íncubo pode ouvir os movimentos de Isabel e Anisha
vindo do closet.
– Irmão, eu não quero ir a lugar algum. – Natasha se levantou e veio chorosa na direção do
duque assim que o viu.
– Preferes ficar aqui e morrer? – O lorde esquivou-se dela com alguns passos para o lado.
– Podes pedir à tua vampira que a faça mudar de ideia.
– Dária já fez o bastante por ti.
– Com tantas mulheres em Londres vais escolher logo uma das pertencentes à rainha das
bruxas. Natasha, A RAINHA DAS BRUXAS! – Isabel saiu do closet resmungando baixinho
para não chamar a atenção da criada que não sabia o real motivo da mudança às pressas.
– Então é isso? – A morena cruzou os braços. – Irão mesmo me exilar?
– Irei contigo. – Aron e Isabel disseram juntos o que fez Natasha arregalar os olhos. Não
esperava por aquilo.
– Depois de tudo irás abandonar a vampira por mim? – Olhou fundo nos olhos do irmão.
Sabia que mesmo sendo mais irmã, as preferências do íncubo sempre estiveram claras, e tendiam
mais à loira do que a ela. Além disso, Isabel sempre fora a mais cautelosa e familiar de todos
eles. Contudo, depois que a ruiva havia surgido Aron só pensava nela, e a pouca atenção com as
irmãs havia desaparecido.
– Prometemos nos manter unidos quando deixamos a Irlanda. Mesmo que tenhas feito
burrada, espero manter tal promessa. Quanto à Dária, ela virá conosco.
– Agora tudo está bem claro.
– Então para onde vamos? – Isabel acenou para atrair a atenção dos outros dois. – Estados
Unidos, acho que é o mais próximo que teremos daqui.
– Ainda sabem falar português? – Pensativo, Aron coçou o queixo.
– Estivemos em Lisboa apenas por alguns dias, no entanto conseguimos nos sair bem. Mas,
irmão, Portugal ainda é Europa.
– Estava pensando em um lugar mais tropical.
– Brasil?! – A ideia surpreendeu as duas, fazendo-as das um passo para trás.
– Bom, ouvi algumas ideias interessantes sobre lá.
– Índios, escravos e florestas, Aron. Tens certeza? – Isabel estava relutante quanto à sugestão
do irmão. Por um momento, olhou para o luxo do qual desfrutavam em Londres. Da bela e
sofisticada colcha sobre a cama de Natasha, aos vestidos e criados. – Bailes, boas costureiras,
bons serviçais. Não creio que encontraremos isso numa colônia.
– Pensei que gostastes da simplicidade dos estábulos. – O lorde não conseguiu conter a
gargalha ao lembrar-se das frequentes vezes em que ela havia chegado coberta de feno.
Isabel cruzou os braços e afunilou o olhar, visivelmente ofendida com a provocação de Aron.
– Parece um bom lugar para começarmos de novo.
– Sério, Natasha?! Achas mesmo que podes viver sem tudo isso? – A loira abriu os braços,
apontado para todas as direções do belo quarto.
– Nós temos riquezas o suficiente para comprar tudo isso lá outra vez. Se preciso deixar esse
lugar quero ir para um onde as mesmas regras que estão me mandando embora não valham.
Penso que podemos criar nossas próprias regras lá.
– Então sou voto vencido? – Isabel resmungou ainda de cara fechada.
– Caso não nos acostumemos dentro de alguns meses vamos para o Estados Unidos, eu
prometo. – Aron apoiou uma das mãos sobre o ombro da irmã.
– Anotarei isso. – Isabel deu as costas e caminhou em direção à porta. – Vou preparar as
minhas coisas. Gostaria de ser uma bruxa para guardar dezenas de vestidos em tão pouco tempo.
– Resmungou quando já estava longe no corredor.
– Espero que isso lhe sirva de alguma lição. – Aron olhou fundo nos olhos da irmã, antes de
virar a costas deixando-a apenas com a criada.
– Adianta dizer que eu não sabia quem era aquela mulher? – Natasha resmungou mais para si
mesma ao bater o pé contra ao chão. Como se eles perguntassem às suas presas se elas
pertenciam a uma bruxa antes de matá-las.
Capitulo 30
Dária entrou em um quarto grande, porém mais modesto do que o da vampira, o único lugar
no bordel que não possuía pesadas cortinas, pois havia permitido que a dona dele o mantivesse
da forma que desejasse. Ao lado de um pequeno abajur com uma cúpula vinho que dava à luz um
tom avermelhado, pousado em cima de uma mesinha circular, Anne estava sentada em uma
poltrona confortável, concentrada na leitura do livro que tinha nas mãos. Os movimentos da
dama foram tão sutis que, quando a moça se deu conta, Dária já estava diante dela.
– Há quanto tempo estás aí? – Anne tomou um susto e deixou o livro em suas mãos cair ao
chão.
– Há pouco. – Dária sorriu ao curvar-se para pegar o livro e o entregou a jovem. – Preciso
conversar contigo.
– Sobre o que, minha senhora? – Ela pousou o livro sobre a mesinha e dirigiu toda a sua
atenção para Dária.
– Deixarei Londres esta noite e quero que cuides daqui, cuides das demais garotas.
– Por quê? – Anne abriu a boca supressa. Tentou várias vezes dizer qualquer outra coisa,
porém o choque e o espanto a mantiveram congelada.
– Os motivos não importam, apenas quero saber se posso contar contigo. – Com a voz firme,
Dária fitou de maneira profunda os olhos castanhos da moça, que estavam lacrimejando.
– Não podes nos deixar, Dária, por favor. – Anne se levantou e segurou a mão fria da
vampira.
– São fortes o bastante sem mim. Além disso, creio que possas cuidar bem de tudo por aqui. –
A ruiva se manteve firme, mesmo quando uma lágrima escorreu do rosto de Anne.
– Vais para a Irlanda com aquele homem? – A moça engoliu em seco quando a dama soltou a
sua mão.
– Talvez. – Por mais que aquela não fosse a verdade, essa não era necessária no momento.
Dária precisava apenas se garantir de que tudo estaria bem quando fosse embora.
– Quando irás? – Anne perguntou ao se dar conta de que não a faria mudar de ideia.
– Nesta noite.
– Mas já? Não conseguirás nem mesmo despedir-te das outras garotas.
– Não tenho a intenção de fazer isso. És a única da qual me despedirei. – Dária a entregou um
envelope. – Esta carta servirá de prova contra quem duvidar de que deixei este lugar para ti.
– Voltarás algum dia?
– Não.
– Há algo que eu possa fazer para que voltes atrás?
Dária balançou a cabeça negativamente antes de virar as costas para sair do quarto.
– Espera! – Anne a segurou pelo pulso, fazendo-a virar em sua direção e beijou-a brevemente
nos lábios antes de permitir que fosse. – Obrigada por tudo que fizestes por mim.
A vampira não era muito boa com despedidas e buscou tornar aquela a mais breve. Ao
contrário de instantes depois de decidir ir com Aron, sentia-se leve, como se pisasse em nuvens.
Deixaria de uma vez por todas tudo que a prendia ao passado enterrado em Londres. Começaria
de novo, com ele, e tal fato não a assustava mais como há alguns meses.
Quando retornou ao quarto, Aron estava sentado sobre o sofá da antessala, ao lado das malas
da vampira, aguardava por ela, sorrindo paciente. Dária se aproximou dele e o beijou
rapidamente.
– Estava acertando as coisas por aqui.
– Imaginei. – Aron fitou os densos olhos vermelhos dela antes de prosseguir. – Tens mesmo
certeza de que quer deixar tudo isso para trás?
– Esperas que eu mude de ideia, íncubo?
– Do fundo do meu coração espero que estejas certa disso. Porém, quero que estejas feliz.
– Me fazes feliz, Aron. – Dária se sentou no colo dele ao constatar a verdade de suas palavras.
A vampira mordiscou o lábio inferior do lorde, tomando a gota de sangue que escorreu. Então
embrenhou seus dedos nos cabelos negros e macios e puxou a cabeça dele para trás, trançando
um caminho de beijos por todo o pescoço de pele macia e saborosa, até acravar as presas
pontiagudas, fazendo com que o sangue escorresse para dentro de sua boca.
Aron agarrou Dária pelos quadris e os apertou com força ao ficar rígido de imediato. A
mordida fez o íncubo arfar.
– Quanto tempo nós temos? – Dária sussurrou ao pé do ouvido dele ao lamber o sague sobre
seus lábios.
– Não o bastante. – Aron praguejou baixinho. – Infelizmente o navio parte do porto de
Gateway em uma hora.
– Aron... – Dária se levantou, recompondo-se. – Não pensei em como vou resistir ao sol em
uma viagem de dias num navio.
– Bem, eu sim. – Aron ajeitou o casaco e pegou um dos baús dela para levá-lo até a
carruagem que os esperava na rua. – Comprei para ti um caixão.
– Estás brincando comigo! – Dária arregalou os olhos ao ser pega de surpresa.
– Bem, estás tecnicamente morta e esta foi a melhor forma que encontrei para mantê-la
protegida do sol.
Dária assentiu com a cabeça, rindo. Um caixão.
Após Aron descer com todos os seus pertences para a carruagem, a vampira o seguiu. Passou
os dedos pelo papel de parede adornado ao andar pelo corredor. Nunca observara com tanta
precisão a luz cálida do lugar, mas acreditava que aquela fosse a última vez que estaria ali. Ao
descer as escadas e atravessar o salão repleto de clientes e garotas, com um cheiro forte de
bebida impregnando o ar, ela nem mesmo virou a cabeça para olhar em direção alguma. Não
queria questionamentos, as explicações seriam dadas posteriormente por Anne.

A lua ainda estava alta no céu quando a fumaça do navio a vapor tomou o alto mar. Os
passageiros já estavam acomodados em suas cabines quando Aron deu duas batidas na tampa do
caixão negro e refinado que havia sido colocado sobre o sofá da cabine reservada ao íncubo.
– Ainda é noite ou estou há muito tempo aqui. – Dária perguntou ao abrir a tampa e constatar
que estavam imersos na escuridão, a não ser pela luz da lua e das estrelas que entrava pela
pequena janela arredondada.
– Acabamos de deixar Londres. – Aron sorriu ao dar um tapinha sobre a cama ao lado de onde
estava sentado.
Ainda que aquela fosse uma cabine de primeira classe, havia apenas uma pequena cama, um
guarda-roupas modesto e sofá onde pousava o caixão.
– Como estás te sentindo? – Aron perguntou assim que Dária se sentou ao seu lado.
– Passar horas em um caixão não é tão ruim quanto eu imaginei.
– Foi o mais confortável que encontrei em tão pouco tempo.
– Eu estou bem, Aron. – A vampira sorriu gentilmente ao envolver o pescoço do íncubo com
os braços finos e de aparência delicada. A forma como ele se preocupava com ela ainda a
deixava surpresa. Era tanto cuidado.
O lorde a tomou nos braços e puxou-a para seu colo. Passou a mão pela lateral do corpo
esguio delineada pelo espartilho apertado. Como ela é linda, Aron pensou ao começar a
desamarrar as fitas enquanto beijava o pescoço gélido.
Dária estremeceu com as carícias que despertaram o fogo dentro dela, e deixou-se afogar no
calor que o íncubo provocava. Com os dedos pequenos e ágeis, deslizou o paletó pelos ombros
largos do lorde até retirá-lo por completo, jogando-o ao chão. Logo o colete e a camisa branca
também foram deixados como testemunhas. Admirada, a vampira perdeu alguns segundos
contornando os músculos do peitoral dele, mas desta vez com a língua.
Aron arfou com o toque gélido e provocante e cada parte do seu ser implorou por ela. Estava
trêmulo de desejo e a forma como Dária o mordiscava e beijava deixava claro que ela sentia o
mesmo. Em meio à troca de carinhos provocantes, o duque a despiu, e quando finalmente deitou-
a sobre a cama pequena, a dama não tinha nada além de finas meias brancas que iam até o meio
das coxas roliças.
Aron fitou por completo a deslumbrante dama de pele alva, pálida, com sedutores lábios
vermelhos assim como os olhos, que semiabertos percorriam e encaravam o íncubo, aguardando
por ele. Sorrindo, livrou-se de suas calças e acomodou seu corpo quente sobre o dela.
Em um movimento ágil, que pegou o íncubo de surpresa, Dária os girou na cama, ficando por
cima, sentada sobre os quadris do lorde. Com uma das mãos, segurou os pulsos dele sobre a
cama no alto da cabeça. Mesmo parecendo frágil e delicada, a vampira tinha força mais do que
suficiente para mantê-lo ali. Sob seu domínio.
Um gemido escapou pelos lábios de Aron quando, contorcendo-se debaixo dela, cerrou os
dentes de tamanha vontade. O desejo selvagem estava ali e o fez querer lutar para se libertar e
então poder tocar cada curva do corpo sedutor sobre o seu.
– Vais ficar me torturando? – Aron choramingou ao tentar erguer a cabeça para abocanhar um
dos belos seios.
– Gosto de ser cruel algumas vezes. – Dária deu um risinho antes de lamber a base do pescoço
do íncubo, provocando um calafrio que o fez se contorcer embaixo dela. A vampira deslizou as
unhas pelo peito firme, deixando um vergão vermelho por onde elas passaram.
– Dária, para de brincar comigo! – Aron estremeceu e gotas de suor brotaram de sua testa
demostrando o quanto estava ansioso. Queria, precisava possuí-la com fogo e voracidade,
entregue ao desejo cego.
– É divertido provocar-te. – A vampira passou um dos pés pela panturrilha do lorde e cravou
as unhas em seu peito, lambendo o sangue que brotou pelo ferimento superficial.
Aron ofegou e estremeceu. Ela bebendo seu sangue só elevava ainda mais a sua ânsia por tê-
la. Finalmente Dária o libertou, e com as mãos livres Aron sentou-se na cama com Dária ainda
enganchada em seus quadris. Em seguida, agarrou os seios dela, apertando com força, fazendo-a
soltar um gritinho que talvez alertasse os demais tripulantes do navio. Em uma parte distante de
sua mente, ele pensou em ir devagar, ela era saborosa demais para que devorasse de maneira tão
afoita. Entretanto foi impossível não ceder à ferocidade que comandava seus instintos. Ergueu-a
apenas o suficiente para sentá-la outra vez, penetrando-a fundo.
Dária estremeceu ao senti-lo preenchendo-a. Agarrada ao cabelo de Aron, apoiou a testa
contra a dele, mantendo seus olhos fixos nos do íncubo, de forma que ambos podiam observar as
expressões de prazer um do outro. Seu corpo subia e descia em movimentos cada vez menos
sutis, a fricção onde se uniam a imergia em sensações cada vez mais deliciosas. Uma parte dela
lembrou-a de que deveria se preocupar com os gemidos, afinal a tripulação acreditava que ela
estava morta. Entretanto, quando Aron deslizou para fora apenas para investir contra ela outra
vez, perdeu o último fio de seu bom senso.
Com as mãos ainda firmes na cintura de Dária, Aron desviou o olhar para beijá-la na boca.
Sua língua roçou nos lábios dela, pedindo a passagem que logo foi concedida. O beijo voraz
abafou parte do gemido de ambos, enquanto se uniam em perfeita sincronia. Aron delirava, não
existia nada melhor do que estar dentro do corpo dela.
Dária o empurrou contra a cama, forçando-o a se deitar. Sem que a penetração fosse
interrompida, apoiou as mãos sobre o peito do lorde. Assim que começou a ditar os movimentos,
rebolou contra a pélvis dele, arrancando um gemido alucinado de Aron, fazendo-o revirar os
olhos e agarrar a cama embaixo de si. Soltou um risinho ao ver o quanto o íncubo enlouquecia.
Aron agarrou os seios dela, que pulavam um pouco, implorando por serem tocados, fazendo-a
soltar um gritinho e arquear o corpo. Ele mordeu os lábios quando o toque fez com que Dária
intensificasse ainda mais os movimentos. A região onde se tornavam um pulsava de forma
frenética. Estar dentro dela era mágico, indescritível, nenhuma mulher havia lhe proporcionado
tanto prazer antes. O êxtase o invadiu quando ele achava que nada mais poderia ser tão delicioso,
ainda agarrado aos seios da bela dama, soltou um alto gemido ao banhar-lhe o ventre.
Dária sentiu o calor dele a envolver, aquecendo seu corpo por dentro, e não levou mais do que
alguns segundos para que ela o acompanhasse. Gritou quando uma onda de prazer intenso e
formigante varreu suas veias e deixou seu corpo trêmulo, sem forças. Sua respiração ficou
ofegante, como se estivesse corrido em alta velocidade por horas.
Em meio a um beijo carinhoso, Aron sugou-lhe um pouco da energia ao capturar os últimos
suspiros de prazer. Então aconchegou-a sobre seu peito que ainda subia e descia em meio à
respiração urgente.
– Eu te amo, Dária! – Aron sussurrou ao recuperar o fôlego. Com uma das mãos, traçou a
curva que compunha a silhueta dela.
– Eu te amo também. – Com um sorriso que não cabia no rosto, a dama enrolou uma mecha
do curto cabelo negro nos dedos. – Mudastes tudo, Aron. Fizestes com que eu acreditasse no
amor outra vez, algo que jurava não passar de um mero conto de fadas para ludibriar moças
inocentes.
– Faria tudo outra vez para tê-la em meus braços.
– Não precisarás – Dária riu ao dar um tapinha sobre o peito dele. – Já estou convencida.
Com uma felicidade que chegava a transbordar do peito, Aron a beijou, ávido por fazer amor
outra vez. Ele acreditava que não importava os anos que se passassem, aquilo que sentia por ela
cresceria ainda mais. Era um íncubo, convencido de que sua vida se resumiria a seduzir e matar,
entretanto agora era um homem que havia ganhado um propósito, uma companheira eterna, algo
que nem mesmo o dinheiro em seus bolsos ou sua extrema beleza era capaz de comprar.
Agradeceu ao destino por tomar as decisões mais inesperadas, fazendo com que uma simples
troca de olhares TRANSFORMASSE TUDO. Logo se entregou de novo ao desejo selvagem que
ele e Dária compartilhavam de maneira tão intensa. Nos próximos dias o navio aportaria em um
novo continente e começariam uma ETERNIDADE JUNTOS.
Epílogo
– Onde estás me levando, Aron? – Dária perguntou com os olhos vendados, deixando-se guiar
pela audição. Se não fosse pelos seus sentidos de morcego, seria difícil se equilibrar com o salto
alto em um terreno tão irregular.
– Tenhas calma, meu amor. – Ele a guiava, segurando-a firme pela cintura. – Pronto. –
Sussurrou ao tirar a venda.
– Onde estamos? – Dária olhou em volta sem entender todo aquele mistério.
O sol havia acabado de se pôr, e dali era possível ver as estrelas numa quantidade nunca
imaginada quando estavam em Londres e a poluição das fábricas a vapor obscurecia boa parte
delas. Aron e Dária estavam num lugar deserto, cortado por uma pequena estrada sem
pavimentação. A vampira não viu nada além do canteiro de obras e os operários que trabalhavam
nele. Nada lhe chamou atenção além de um pequeno garotinho brincando com um barquinho de
papel em um tonel de água talvez usado para fazer o cimento.
– O que é isso? – A vampira arqueou as sobrancelhas.
– Nosso futuro lar, e um lugar onde cada sobrenatural como nós possa ser ele mesmo e
encontrar refúgio.
– Vais construir outro bordel?
– Não, um bar talvez. – Aron sorriu a colocar uma mecha do cabelo ruivo dela atrás da orelha
delicada. – Preferes continuar naquele hotel?
– Parece-me uma ideia incrível, amor. – Sorrindo, Dária roçou seus lábios brevemente nos
dele. – Então é para cá que vens quando sais durante o dia desde que chegamos.
O íncubo fez que sim com a cabeça.
– Pelo menos não é outra mulher.
– Outra mulher? – O lorde segurou a risada. – Estás com ciúmes de mim agora?
– Não... talvez. – Dária virou de costas para ele.
– Por que faria isso se possuo a mais bela delas aqui nos meus braços. – Aron a empurrou
contra uma árvore atrás dele. – Além disso, podemos escolher uma juntos. – O íncubo deslizou
as mãos pelas laterais do corpo esguio e agarrou os seios que saltavam aos olhos no generoso
decote do espartilho. – Foi deliciosa a experiência com a Anne.
– E quanto a um homem? – Dária o fitou ao contornar com a ponta da unha vermelha o
queixo macio de barba recém-feita.
– Um homem? – O íncubo arregalou os olhos, surpreso. – Achei que nãos gostasse de
homens.
– Bem, já que me fizestes mudar de ideia, pensei que talvez pudéssemos nos alimentar de um
juntos. – A ruiva abriu um sorriso malicioso.
– Ah minha vampira, eu a amo! – Aron a abraçou e beijou.
– E como será mesmo o nome deste lugar? – Dária se esquivou das carícias quando os olhares
curiosos dos trabalhadores caíram sob eles.
– Santuário.
Bônus
São Paulo – primavera de 2017

Do alto, numa pequena sacada particular, Aron e Natasha assistiam ao show no centro do
salão do Santuário, a música alta reverberava em cada canto do lugar. O bar estava lotado
naquela noite. Depois do último século aquele ambiente havia se tornado um importante local de
encontro de criaturas sobrenaturais do país e do mundo. As luzes coloridas brilhavam contra os
olhos amarelados dos lobisomens sentados junto ao balcão, que acenavam para uma nefilim. Esta
fingia prestar atenção na banda, mas com o canto de olho os estudava.
Aron respirou fundo e desviou o olhar para encarar a irmã ao seu lado, e fez um
questionamento que o angustiou durante todo o dia.
– Onde foi na noite passada? – O íncubo se apoiou sobre os balaústres.
Poderia ter passado dezenas de anos, mas ele ainda se lembrava bem do acontecimento que os
fez deixar a Europa. Estava verdadeiramente feliz ali e não queria que sua irmã botasse tudo a
perder outra vez.
– Por aí. – Olhando para o longe ela escondeu seu rosto nas sombras.
– Você se alimentou?
– Talvez.
O íncubo balançou a cabeça em negativa. Não se importava com quantos humanos Natasha se
envolvesse, desde que ela não trouxesse problemas outra vez.
– Qual é irmão! Quantos corpos você deixou para trás antes de ficar com a sua querida
vampira? E será que parou de matar?
Aron deixou Natasha lá falando sozinha, e voltou para dentro do escritório. Sabia que render
aquela história apenas deixaria ambos irritados. Tentou se convencer de ela já tinha mais de
trezentos anos e era velha o bastante para lidar com seus próprios problemas.
Fechou a porta atrás de si e sentou em uma cadeira de frente para uma grande janela de vidro
revestida, impedindo que quem estivesse fora visse dentro.
Em silêncio, sob a penumbra com nenhuma luz acesa, observava aqueles que passavam nas
ruas. Orgulhava-se por ter constituído um lugar onde as criaturas do submundo podiam estar em
paz, e tentou se convencer de que a rebeldia de Natasha não colocaria tudo a perder...
Sentiu mãos suaves e frias tocarem seu peito e uma presença feminina atrás de si. Segurou
uma das mãos com as suas e sorriu.
– Dária! – Puxou-a e fez com que se sentasse em seu colo.
Aron acariciou o rosto da bela mulher de pele gélida, com longos cabelos ruivos ondulados,
que emolduravam o rosto branco e delicado e o fazia lembrar uma boneca de porcelana. Os olhos
grandes e vermelhos o estudavam com atenção.
– O que foi, amor? – Dária lhe acariciou o rosto, notando o quanto estava calado e pensativo.
– Natasha andou sumida noite passada.
– Você se preocupa como um pai, Aron. – Daria riu. – Natasha é um súcubo. Ela pode tomar
conta de si mesma.
– Da última vez foi você quem salvou o pescoço dela.
Daria se curvou e cobriu os lábios dele com os seus, impedindo que ele continuasse a falar.
– Apenas relaxe. – Sussurrou ao pé do ouvido, antes de percorrer com a língua toda a
extensão do pescoço de Aron. – Graças a isso estamos juntos há um século.
Ele apertou com força o apoio da cadeira quando sentiu os dentes pontiagudos perfurarem a
sua pele. Gemeu levemente quando sentiu a substância afrodisíaca, contida na saliva, começar a
agir em seu corpo. Uma febre ardente tomou conta de cada parte do seu ser. Era por isso que as
vítimas não gritavam ao serem atacadas por um vampiro, pois segundos depois de serem
mordidas estavam excitadas demais para tal.
A ereção de Aron foi quase instantânea. Enquanto ela sugava seu sangue, o íncubo aproveitou
para tocá-la, percorrendo com as mãos as sinuosas curvas, apertando e agarrando as regiões que
mais o excitavam.
Para Daria o pênis rígido e pulsante debaixo dela talvez fosse culpa da mordida. Mas Aron
não precisava daquilo para desejá-la, a sanção que a mordia os proporcionava apenas deixava
tudo ainda mais delicioso.
Aron passou a mão pela lateral do vestido da vampira e sentiu que não havia mais nada ali
além do frágil tecido negro. O fato de Daria estar sem calcinha o fez abrir um sorriso malicioso
nos lábios. Ela sabia como provocar e já se continha para não a deixar nua logo.
Ela tirou os lábios do pescoço de Aron e tocou novamente os dele. O íncubo sentiu o gosto
agridoce do próprio sangue e beijou-a mais intensamente. Sua língua encostou nas presas dela e
sofreu um pequeno corte, enchendo a boca de Daria com sangue exótico mais uma vez. O gosto
dele era tão bom... A vampira estava louca de desejo, com a região entre as suas pernas úmida o
suficiente para lhe molhar as coxas.
Minha vez, Aron pensou ao subir com as mãos pela nunca dela e embrenhar seus dedos
naquele cabelo macio. Em meio ao beijo quente ele se deliciou quando uma aura azul começou a
invadir sua boca, alimentando-o. Os furos deixados por Daria em seu pescoço curaram-se
imediatamente, deixando apenas sangue seco no lugar.
Dária se sentiu um pouco fraca por alguns segundos, mas logo o sangue do íncubo em seu
corpo a fez se recuperar. Com as mãos trêmulas, embora ágeis, ela começou a desabotoar a
camisa social que Aron vestida, ainda o beijando com urgência. Estar com ele era como se seu
sangue fosse quente de novo, e no último século nunca se sentiu tão viva. E como ele me fazia
quente!, a vampira quase riu para si mesma. Mordeu o lábio inferior dele ao arrancar sua camisa
e jogá-la longe.
Naquele momento Aron se esqueceu das preocupações com a Natasha ou com qualquer outra
coisa que o perturbasse. Adorava estar com Daria... amava.
Ainda a beijando, sentiu seus lábios sangrarem e ela se deliciar com isso. Correspondeu
drenando dela um pouco de sua essência em meio ao beijo. Eles eram um casal perfeito,
sobreviviam bem e se deliciavam com as investidas mortais um do outro.
Aron a segurou no ar e sentou-a sobre sua mesa. Encaixou-se por entre as pernas distanciadas
e começou a deslizar o vestido pelas coxas, oh, como essas eram surpreendentemente macias.
Separou-se do beijo e encarou a região entre as pernas dela. Estava visivelmente inchada e
molhada. Mal via a hora de tocá-la. Então, acariciou-a antes de enfiar um dedo.
Dária arqueou seu corpo e soltou um gemido quando o sentiu estimulá-la. Acabou esbarrando
uma das mãos em uma agenda sobre a mesa e jogou-a no chão, mas nem se importou. Sussurrou
o nome dele, contorcendo-se um pouco. Aquele toque acendeu-a ainda mais e alimentou sua
ânsia por Aron. Os dedos dele movendo-se em seu corpo estavam longe de ser o bastante.
Ergueu um pouco o corpo para conseguir desabotoar a calça que estava entre ela e a parte do
corpo de Aron que almejava tanto. Mesmo com todo a sua agilidade de vampira não lhe pareceu
o bastante. Estava afoita e por pouco não lhe rasgou a calça.
Quando ela finalmente livrou-se da peça, Aron sorriu malicioso e esfregou-se nela. Aquilo era
maldade, ele sabia, mas levá-la a um tesão tão grande ao ponto de fazê-la implorar era excitante.
Ser um íncubo o permitia sentir o quanto ela queria, o quanto Daria vibrava por ele.
Curvou-se sobre a mesa, apoiando as mãos ao lado do corpo da vampira, e beijou-a,
saboreando um pouco mais de sua essência antes de deslizar para dentro dela.
Seus lábios sobre os de Dária abafaram os gemidos quando Aron começou a se mover.
Ela entrelaçou seus dedos no cabelo negro e macio e puxou a cabeça de Aron para o lado.
Respirou o doce aroma da pele do íncubo antes de cravar seus dentes no pescoço, voltando a
sugar-lhe o sangue.
Ele estremeceu e nem tentou conter o gemido. A vampira bebendo dele o fez se mover ainda
mais rápido. O desejo despertado pela saliva dela tornava o ato ainda mais prazeroso. Todo a
fogo que alimentava o desejo deles desde a primeira vez que se uniram ainda estava ali e ardia
com a mesma intensidade.
Aron se apoiou com apenas umas das mãos e com a outra puxou-a pelo cabelo, fazendo com
que a vampira parasse de chupar seu sangue, e voltou a beijá-la. Dária sentiu sua energia fluir
para ele e fechou suas pernas ao redor da cintura de Aron, fazendo-o penetrá-la mais fundo. Em
meio a gritinhos, ela delirava com o vai e vem dentro de sim.
Os beijos quentes abafavam um pouco os gemidos dos dois, porém, se não fosse pelo som alto
da boate, muitos ouviriam o que estavam fazendo ali. Entretanto ambos não davam a mínima,
aquele lugar era deles.
Aron deslizou a mão que estava nos sedosos cabelos de Daria até um dos seios roliços e
rígidos. Mesmo cobertos pelo vestido, era uma delícia poder tocá-los. Deslizando-se dentro dela,
não conseguiu conter a onda deliciosa e intensa que o banhou num êxtase que o deixou sem
fôlego. Ele permaneceu imóvel por alguns segundos, apenas beijando-a. Quando seu corpo se
estabilizou, Aron se livrou do vestido e começou a deslizar os lábios pelo pescoço de Dária até a
base de seus seios. Contornou-os com a língua e lambeu os mamilos eriçados antes de abocanhar
um deles.
A vampira se contorceu na mesa, gemendo. Apoiou as mãos sobre a superfície de madeira e
ergueu um pouco os quadris, rebolando no ar. Aron bateu na bunda dela, fazendo estalar, e
agarrou com força as nádegas, apertando de forma dolorida ao atender ao pedido silencioso.
Dária soltou um gritinho em meio a um sorriso. Aquilo era delicioso, pensou ao se remexer nas
mãos dele. A boca do íncubo deslizou até o meio de suas pernas e a fez deperder o último fio de
seus pensamentos. Ele a soprou levemente fazendo-a se arquear. Não me torture, amor, Daria se
conteve para não dizer. Quando o sentiu finalmente tocá-la com a língua ela soltou um gemido
longo e agudo e agarrou a mesa embaixo de seu corpo. A força da vampira era tão grande que
marcou seus dedos na madeira, por pouco não a quebrou. Dária se contorcia cada vez que Aron
passava a língua em seu clitóris. Sentia cada parte do seu corpo vibrar num frenesi delicioso a
cada estímulo que ele lhe dava. Quando o íncubo fechou os lábios em seu clitóris e sugou
levemente ela não conseguiu conter os gemidos cada vez mais altos e frequentes que deram lugar
a uma respiração pesada e ofegante. Exausta, deixou seu corpo cair sobre a mesa.
Aron sorriu ao sentar-se na cadeira outra vez e puxá-la para os seus braços. Acariciou o gélido
rosto dela, sorrindo, simplesmente hipnotizado pelos olhos vermelhos brilhantes ainda que sob a
pouca luz.
– Talvez mais de um século desfrutando do seu amor já seja o suficiente para dizer e foram
felizes para sempre.
Dária riu com o trocadilho dele e cruzou os braços ao redor do pescoço do íncubo. Lembrar-
se de que eram imortais a deixou ainda mais feliz, por saber que o para sempre realmente duraria
para sempre.
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O Próximo volume, do Inferno à Luxuria nos trará um pouco mais da impetuosa Natasha.

Sinopse:

Ela é um espirito indomável, não se dobra a nada além de suas próprias regras, e não faz a
menor questão de esconder os corpos que deixa para trás. No entanto, ele só quer passar
despercebido. Disfarçado como um simples policial, tenta não ser notado por seus verdadeiros
inimigos, mas as vítimas da assassina em série acabarão entre seus casos.
Natasha Donovan está em São Paulo com seus irmãos, e ter sido expulsa de Londres não a
tornou mais responsável. Com toda a sedução que possui, não medirá as consequências,
entretanto, Dante entrará em seu caminho e fará de tudo para impedi-la de expor todos eles.
O homem gostoso tentando impedi-la só tornará tudo ainda mais divertido. Natasha se
excitará com ele se esforçando para mantê-la sobre controle. A ideia dele prendendo-a de
algumas formas era deliciosa.
Na tentativa de domá-la, o detetive acabará a arrastando para o centro de seus problemas, e
após colocar um alvo nas costas dela será inevitável revelar quem verdadeiramente é. A
adrenalina no momento a seduzirá e após descobrir o quão são semelhantes, será impossível não
ceder à tentação que os atrai.

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Leia o início de Do Inferno À Luxúria – vol 2


Prólogo
Ela era uma chama que queimava mais que o inferno, mais perigosa do que o pior de seus
inimigos. Quis repreendê-la por tamanha ousadia, entretanto, aproximar-se dela se mostrou um
grande erro.
Ele deveria apenas manter-se escondido, proteger a todo custo seu disfarce se quisesse
permanecer entre os humanos. Certamente, não esperava que aquela mulher colocasse tudo a
perder. Os sermões que havia planejado e a raiva que permeava seu sangue, pareciam
insignificantes diante da presença dela.
No momento em que se tocavam, até mesmo o breve deslizar dos dedos, continha-se para não
perder o controle e cair na perigosa armadilha que era ceder ao pecado. Contudo, a lembrança
dela, de sua ousadia, e de sua beleza pareciam assombrá-lo como pesadelos. O ardor da luxúria o
consumia enquanto teimava em lutar para não ceder aos seus desejos.
Capítulo 1
São Paulo – primavera de 2017

Em um bar lotado, na Vila Madalena, um tradicional bairro boêmio da cidade, estava Jorge:
um homem jovem, com uma carreira em ascensão e previsões de futuro que muitos desejavam
ter. Sentado à mesa, numa sexta-feira agitada, não queria se preocupar com muita coisa, além de
se divertir e relaxar com os amigos, que ao seu lado riam alto e jogavam conversa fora.
Depois de uma ou duas cervejas, o grupo de homens já perdera boa parte do bom senso e a
conversa havia tomado um rumo indecoroso sobre como era gostosa a nova secretária do vice-
presidente. Com o nível de álcool subindo em seus sangues, falavam num tom mais elevado do
que deveriam e chamavam a atenção de todos no bar, deixando alguns curiosos e outros
incomodados.
Uma jovem entrou e com um caminhar marcante. O salto alto da bota de cano comprido fazia
barulho ao se chocar contra o chão de porcelanato. Ela rebolava a cada passo, destacando ainda
mais a sua bunda na calça preta apertada. Ela se sentou junto ao balcão de madeira e ajeitou a
franja do cabelo negro bem arrumado.
Estava desacompanhada e isso chamou a atenção de todos no bar, que a encaravam sem
pudor. Jorge, o único que estava disperso, mexendo no telefone, levou um cutucão do amigo ao
lado e foi obrigado a olhá-la e por um instante ele se sentiu sem ar. Era sem dúvida a mulher
mais bela que já havia visto em toda a vida. Se acreditava em amor à primeira vista? É claro que
não! Mas por alguns segundos ele duvidou de si mesmo. Seus olhos se perderam nas curvas
daquele corpo, perfeitamente delineadas pela roupa de couro apertada e o corpete justo que dava
a sensação de que deixaria aqueles seios redondos à mostra a qualquer instante.
Tivera fama de garanhão durante todo o tempo da faculdade até encontrar uma mulher quem
jurou passar o resto da vida, mas diante daquele troféu no bar, as palavras ditas no pedido de
noivado pouco importavam. Não podia se comprometer para o resto da vida sem uma última
conquista.
– Eu duvido que leve essa para cama. – Foi desafiado por um amigo. Como se precisasse
daquele incentivo.
Quando Jorge se deu conta já havia cruzado os poucos metros em meio ao mar de mesas e ido
sentar-se ao lado da estranha. De perto ela parecia ainda mais incrível: com olhos azuis quase
brancos e uma pele clara. Tentou parecer delicado e não ficar encarando a curva dos seios no
espartilho apertado, mas estava sendo uma das tarefas mais difíceis que enfrentara na vida.
Jorge se ajeitou na banqueta e respirou fundo. Era tão seguro de si que nem precisou tomar
coragem.
– O que uma mulher tão bonita faz sozinha em um lugar como esse? – Aproximou-se um
pouco mais e puxou assusto.
– É porque ainda não encontrei companhia. – Ela se virou para ele e sorriu.
Algo dentro de Jorge quis pular. Foi como se ele já tivesse ganhado a noite, e essa mal havia
começado.
– Aceita uma bebida? – Ofereceu e já pediu ao barman antes mesmo de obter uma resposta. –
É uma cantora? Porque tem uma das vozes mais belas que já ouvi.
Ela deu uma leve risada e Jorge teve certeza de que já estava no papo.
O barman colocou as bebidas sobre o balcão enquanto os dois conversavam. Além de bonita
ela era divertida e parecia atenta as bobagens sobre o trabalho que ele dizia.
– Então trabalha numa grande empresa? – Bebericando a sua caipirinha, Natasha fingia
interesse. A cada vez que a ela mexia nos cabelos sedosos ou passava os dedos ao redor dos
lábios para arrumar o batom o homem parecia cada vez mais hipnotizado.
– Sim, em breve serei diretor executivo.
– Interessante... – Ela deslizou uma das mãos pelo balcão até poder roçar seus dedos no braço
do homem.
Ele sentiu um enorme calor invadir seu corpo pelo simples toque. Que mulher era aquela?
– O que acha de continuarmos essa conversa no meu apartamento? – Jorge sussurrou ao pé do
ouvido, ao pousar uma de suas mãos sobre a coxa dela.
– Eu adoraria. – A morena sorriu e acariciou o rosto dele, raspando sua pele suave na barba
malfeita.
Jorge não precisou de muito mais para colocar-se de pé e estender a mão para que ela o
seguisse. Achava mesmo que seu charme era irresistível para que uma mulher tão linda topasse
fácil sair dali com ele.
Como um perfeito cavaleiro, abriu a porta do carona para que a moça se sentasse. E então
assumiu o volante. Esperava que o seu carro a impressionasse, mas ter os olhos dela fixos nos
seus foi melhor ainda.
Já era tarde, e com as ruas sem congestionamentos não levou mais do que alguns minutos para
estacionar em frente ao seu apartamento.
O porteiro quase não ouviu o som do portão da garagem sendo aberto. Não deu muita atenção
e logo voltou a folhear o jornal do dia anterior para disfarçar que estava dormindo. A maioria dos
homens donos de apartamentos ali eram jovens, solteiros, chegavam tarde e traziam companhia
com frequência.
Desceram do carro numa garagem grande e escura. Sem dizer nada, ela o seguiu até um
elevador. O barulho de seus passos ecoava no ambiente cavernoso. Jorge apertou o botão para o
seu andar e a mulher nem mesmo esperou a pesada porta de metal se fechar para empurrá-lo
contra a parede. Natasha começou a beijar e mordiscar o pescoço dele, isso o fez se acender
ainda mais.
– Sabe não costumo fazer isso... – Apoiada com as mãos na parede de metal do elevador, ela
começou a sussurrar passando os lábios pela base da orelha, fazendo-o se arrepiar todo. – Sair
assim com um completo estranho...
Ele pousou os dedos sobre os lábios dela fazendo com que se calasse. Olhou mais uma vez
para o corpo curvilíneo e não queria que tal pensamento colocasse tudo a perder. Não podia
desperdiçar a oportunidade...
– Prometo que essa será uma das melhores noites que já teve. – Abraçou-a sentindo o doce
aroma que sua pele exalava. Mal via a hora de vê-la nua.
A mulher se conteve para não rir. Não era o primeiro homem como ele com quem saía, nem
mesmo o mais convencido. Entretanto, isso pouco importava no momento.
– Qual é mesmo seu nome? – Jorge se deu conta do quanto fora idiota. Estava prestes a levá-
la para cama deveria ter perguntado aquilo antes. A mancada poderia custar sua noite.
– Natasha. – Ela riu como se não estivesse ofendida o que o deixou aliviado. Brincando com o
colarinho da camisa social dele, mordeu sua orelha e outra vez. – Natasha...
Jorge se encolheu com o arrepio que varreu sua espinha. Que mulher gostosa! Mal via a hora
de poder agarrar a bunda roliça que se destacava pela calça apertada.
Quando o elevador abriu, ele já tinha as chaves para abrir a porta nas mãos. Sentiu-se um
maratonista por ter feito aquilo tão rápido. Em seguida, puxou Natasha para dentro do seu
apartamento e trancou a porta. Escorou-se na parede, acendendo a luz às pressas e puxou-a
consigo.
Finalmente pousou suas mãos sobre as curvas do corpo tão sedutor, que sob a luz forte do
lustre da sua sala de estar, parecia ainda mais bonito. Refez os contornos que a delineavam com a
palma das mãos, tocando-a toda e ficou feliz por ela não o ter impedido. Pousou seus lábios
sobre o pescoço de Natasha, provando seu gosto suave e excêntrico. Deslizou as mãos pela
lateral do corpete apertado, até finamente poder agarrar os seios que saltavam tanto aos seus
olhos. Àquela altura, se ainda existia dentro dele um pouco de controle ou bom senso, ambos
foram perdidos. Como uma mulher poderia ser tão irresistível? Era incapaz de pensar em outra
coisa além de tocá-la ou despi-la.
Jorge enrolou os longos cabelos negros em uma das mãos e com a outra puxou o rosto dela
para mais perto. Não se deu ao trabalho de pedir autorização antes de invadir a boca dela com a
língua, explorando-a.
Natasha não se importou, ao contrário disso, envolveu o pescoço do homem com os braços,
pressionando seu corpo ainda mais contra o dele.
Nossa! Raras foram as ocasiões na vida de Jorge que um beijo havia sido tão intenso. A cada
toque das línguas ele sentia seu sangue ferver nas veias e cada parte do seu ser desejava mais
daquilo. A ânsia era tanta que sentia suas mãos tremerem. O membro, já há muito tempo rígido
dentro da calça, pulsava com uma vontade insana, que crescia a cada estocada da língua de
Natasha em sua boca.
Jorge forçou as mãos pela lateral da calça dela, querendo sentir sua pele por debaixo do
tecido. Assim que suas mãos tocaram as nádegas sob a calcinha, ela soltou um leve gemido. A
pele dela era tão macia, a bunda era um convite para o pecado que não podia recusar.
Natasha mordeu o lábio inferior dele em meio ao beijo cada vez mais quente. O corpo dela já
pulsava de desejo. Não podia negar: o homem era atraente, escolhera bem. Com as mãos
urgentes, ela começou a desabotoar a camisa social. Uma ânsia, um desejo voraz crescia cada
vez mais dentro dela. Estava faminta por aquilo.
Deslizou a camisa pelos ombros de Jorge e a jogou no chão. Parou de beijá-lo e começou a
mordiscar e dar leves chupões em seu pescoço, isso o fez soltar um gemido. Estava ainda mais
excitado. A cada mordida, o corpo de Jorge se contorcia com o calafrio provocado, o que eriçou
todos os pelos.
Ele a sentiu deslizar uma das mãos delicadas pelo seu peito nu e chegar até à base da sua
calça. Revirou os olhos ao cerrar os dentes, ainda assim foi impossível conter o gemido quando
ela tocou seu membro rígido, mesmo por cima do tecido da calça. Teve que se segurar para não a
suplicar que o tocasse logo.
Abriu o zíper do corpete de Natasha e o jogou no chão. Agarrou os seios outra vez. Eles eram
macios e rosados, não muito grandes, mas o suficiente para encher a suas mãos. Não via a hora
de tocá-los com a língua. Os mamilos rígidos eram um convite silencioso. Então o homem se
curvou e lambeu um deles, fazendo-a contorcer-se ligeiramente, logo depois o abocanhou e
começou a chupar. O gosto dela era viciante e melhor do que o de muitas mulheres havia
provado. Poderia passar a eternidade lambendo, beijando e chupando os seios dela.
O desejo entre suas pernas pulsava a cada toque pelo corpo sedutor e feminino, sentia-o
enorme, tanto que Jorge temeu que estourasse o zíper da calça. Ainda chupando um dos seios
saborosos da mulher, ele deslizou as mãos ao longo do corpo dela até a base da calça dela. A
pressa era tanta que se livrar da peça pareceu uma eternidade, mas logo pôde tocá-la outra vez. A
frente da calcinha dela estava úmida e isso aumentou ainda mais o seu desejo.
Estava ali com uma estranha, mas quem se importava? Ela era deslumbrante e sexo casual não
fazia mal a ninguém. Em dois meses estaria casado e não poderia mais sair para a farra.
Natasha o empurrou pelos ombros e fez com que ele tirasse a boca de seus seios. Porém,
quando os lábios carnudos tocaram outra vez seu pescoço, Jorge não quis mais protestar. Fechou
os olhos e se entregou a sensação da língua dela descendo até o início do seu tórax. Contorcia-se
em meio a chupões e leves mordidas que ela deixava pelo caminho. Queria agarrá-la, porém a
vontade de saber até onde aquilo iria o manteve imóvel. Os lábios continuaram a descer pelo
peito dele. As unhas de Natasha acompanharam seu rosto deixando ainda mais marcas.
Ela se ajoelhou e Jorge delirou ao senti-la começar a desabotoar sua calça. Ainda beijando seu
abdômen, ela abriu o zíper numa vagareza que o mataria. Jorge enlouqueceu durante aqueles
poucos segundos. Respirou aliviado quando ela finalmente tirou sua calça e a cueca junto. Seu
pênis rígido exposto, deixou-o orgulhoso.
Natasha passou suas mãos suaves ao redor do sexo dele o que o fez cerrar os punhos,
espremendo os dedos e conter um gemido. Aquilo era tortura.
– Não faça isso. – Ele se contorceu.
– E por que não? – Ela sorriu fazendo de novo. – E isso? – Segurou o pênis com as mãos e
deu uma leve lambida.
Jorge gemeu ao assentir com a cabeça. Faça logo! Conteve-se para não gritar.
Aquilo foi suficiente para que Natasha o envolvesse com os lábios. Jorge tentou conter o
gemido, mas foi inútil. Aquilo era muito bom. Logo deixou-se levar pela sensação maravilhosa.
Acariciava os longos cabelos negros, enquanto gemia a cada vez que os lábios dela deslizavam
por toda a extensão do seu pênis ou revezavam com a língua, lambendo-o, explorando-o,
provocando-o, enlouquecendo-o. Ela o chupava sem pudor algum, tornando aquele o melhor oral
que Jorge já recebera na vida. Acariciava o cabelo de Natasha em meio a leves espasmos de
prazer, desfrutando da bela visão que era ter aquela linda mulher de joelhos diante de si.
Talvez fosse culpa da bebida e isso o deixasse ainda mais sensível, porém no fundo pouco
importava, Natasha estava alimentando bem o desejo que ela mesma havia atiçado. A cada
gemido que ouvia podia sentir o prazer dele fluir.
O coração de Jorge palpitava. Sorriu ao pensar nas inúmeras possibilidades do que poderia
fazer com aquela mulher. Colocou uma mexa do cabelo atrás da orelha e acariciou-a. O olhar
sexy que Natasha lançou para ele deixou-o ainda mais alucinado.
Por mais prazeroso que aquele oral estivesse sendo. Jorge sabia que precisava parar, caso
contrário se esvaziaria ali mesmo, e acabaria com tudo cedo demais.
Puxou-a para cima, fazendo-a ficar de pé e beijou-a mais uma vez. Ela tinha um gosto tão
bom que poderia ficar ali para sempre. Enquanto a língua de Natasha brincava com a sua, Jorge a
tocava. Deslizou a calcinha minúscula pelas pernas longas e roliças e a jogou longe.
Natasha o puxou consigo até um sofá que ficava no centro da sala razoavelmente espaçosa.
Jorge encarou aqueles belos olhos quando ela se apoiou sobre seus ombros e sentou em seu colo.
– Não prefere ir para cama? – Ele a perguntou tentando soar educado. Mas não via a hora de
tomá-la logo, não importasse o lugar.
– Não. – Ela murmurou ao pé do ouvido dele e deu uma leve mordida em sua orelha. – Gosto
do sofá. – Esfregou-se no membro rígido, deixando-o sentir o quanto estava molhada, o que o fez
soltar um gemido involuntário e agarrar a bunda dela.
Jorge a apertou com força, com seu membro pulsando. Não conseguia conter mais seus
desejos. A mulher o deixava louco como nunca estivera antes. Não via a hora de penetrá-la, seu
corpo gritava desesperadamente por isso. Tateou uma mesa redonda que ficava ao lado do sofá e
tirou do cinzeiro a camisinha que deixara ali. Rasgou o pacote com o dente e vestiu-se.
Natasha sorriu para ele antes de segurar seu pênis e começar a encaixá-lo dentro de si. Jorge
apertou ainda mais as nádegas da mulher em suas mãos e delirou de prazer ao sentir seu membro
deslizar para dentro dela. Estava deliciosamente molhada e apertada.
Natasha se curvou e começou a mordicar e assoprar a orelha dele, fazendo-o se desligar de
qualquer pensamento racional que estivesse tendo naquele momento. Tudo o que importava era
estar ali, fazendo sexo com aquela mulher maravilhosa. Ela se apoiou em seus ombros,
começando a rebolar contra os quadris dele.
Jorge a beijou, abafando o gemido que não conseguiu conter. Apertou ainda mais as nádegas
dela quando a sentiu a vagina abraçar seu pênis, espremendo-o. Teve que respirar fundo e pensar
em algo que não fosse aquelas belas curvas em suas mãos, caso contrário gozaria rápido e todo
que queria era aproveitá-la ao máximo.
– Assim é bom? – Sussurrou Natasha ao pé do ouvido dele ao subir um pouco, deslizando-o
para fora dela para logo em seguida sentar nele outra vez.
– Oh, sim. – Jorge apertou com força a cintura fina. Já havia aceitado que era impossível não
se contorcer no sofá ou soltar gemidos cada vez mais altos.
Natasha voltou a beijar o pescoço dele deixando leves chupões, enquanto se movia,
rebolando com o pênis dentro de si. Subindo e descendo no colo de Jorge, sentia-se
deliciosamente preenchida. Aquele homem era forte e viril, exatamente como gostava, e estava
servindo bem ao propósito de saciá-la. Apoiada nos ombros dele, ela se movimentava com
extrema maestria, jogando a cabeça para trás, com os cabelos balançado no ar, permitia-se
gemer.
Jorge a segurou pela cintura e a deitou no sofá. Recusando-se a sair de dentro, ficou por cima.
Era sua vez de ditar o ritmo.
Observou mais uma vez a bela mulher de olhos e pele clara, curvas perfeitas e volumosos
cabelos negros. Como ela era linda e dava para ele melhor do que as muitas prostitutas com as
quais já estivera. Sentiu-se o homem com mais sorte no mundo.
Retomou os movimentos. Oh, como ela o apertava. Ele gemia de prazer como não se
lembrava de ter gemido antes. Aquela com certeza estava sendo a melhor noite de sexo da sua
vida.
Natasha o arranhou com força, deixando um vergão por onde suas unhas negras passaram no
decorrer das costas largas. Mas Jorge não se importou, a dor naquele ponto serviu para aumentar
ainda mais seu prazer.
Ainda apoiado sobre o sofá, ele curvou-se para lamber os seios rosados. Como era deliciosa.
Tentava se conter ao máximo para não acabar com seu prazer, porém se tornava uma tarefa cada
vez mais difícil.
A bela mulher sorria para ele e soltava gemidos cada vez mais longos e prazerosos. Natasha
estava se deliciando com aquilo. Quanto mais prazer o proporcionava mais forte ela se sentia.
O homem a levantou novamente e estava prestes a colocá-la de quatro quando ela o impediu.
– Gosto de olhar nos seus olhos. – Natasha o empurrou de volta contra o encosto do sofá e
sentou-se novamente sobre seu colo. Jorge não se importou com a advertência, apenas ficou feliz
por penetrá-la outra vez.
Ela voltou a rebolar, ele agarrou seus seios e deu leves chupões e mordidas, que deixariam
marcas na pele tão branquinha.
Tentou não prestar atenção nas curvas do corpo em suas mãos ou em quanto seu membro era
estimulado. Jorge fez o que pode para conter seu orgasmo, no entanto, foi inútil. Aquela mulher
ia muito além do que estava acostumado a lidar.
Natasha se curvou para beijá-lo quando o sentiu se contrair em leves espasmos. Jorge a
abraçou e correspondeu ao beijo em meio a quase gritos de prazer, enquanto a maravilhosa
sensação do orgasmo, que banhara seu sangue de forma tão intensa e inacreditável, aos poucos se
esvaia. Precisava de alguns minutos para se recuperar, porém prometeu a si mesmo que logo
recomeçariam.
Durante o beijo ele começou a se sentir cada vez mais fraco, achou que fosse pelo orgasmo.
Então continuou a passar suas mãos trêmulas pelo corpo macio dela, até que mal tinha forças
para mantê-las em movimento e as deixou cair sobre o sofá. Foi quando viu uma aura azulada
sair de sua boca e ir para a de Natasha. Seus olhos se arregalaram, quis gritar, mas era tarde, nada
pode fazer antes que perdesse completamente os sentidos...
Quando Natasha havia ser alimentado de toda força vital e sexual dele, ela levantou-se e
largou o corpo imóvel sobre o sofá. Sentia-se saciada por hora. Lamentou por tê-lo matado tão
rápido, talvez pudesse tê-lo proporcionado mais um orgasmo. Mas no fundo não se importava, só
teria prolongado ainda mais seu próprio prazer, só que estava faminta demais para esperar.
Caminhou até o banheiro requintado do apartamento de sua presa e tomou um banho
demorado, limpando os vestígios do sexo que ainda haviam dentro do seu corpo. Depois disso
ela recolheu suas roupas, vestiu-se e deixou o lugar.

Na manhã seguinte uma jovem chegou à porta do apartamento. Com os olhos irritados pela
lente de contato, ela enxergava pouco. Havia passado no salão, arrumado o cabelo e feito as
unhas. Queria estar bonita quando encontrasse com o seu noivo. Com os braços cheios de sacolas
com coisas para preparar um café da manhã perfeito, ela abriu a porta...
Praguejava consigo mesma sobre aquela maldita lente, que a fazia sentir como se houvesse
areia nos olhos. Mas ficou feliz ao lembrar-se de que com elas ficava bem mais bonita do que
com os enormes óculos que costumava usar.
Depois que finalmente venceu a disputa com as chaves, decidiu chamar pelo seu noivo. No
entanto, lembrou que era cedo e que ele provavelmente ainda estaria dormindo.
Olhou para a sala e pensou se conseguiria preparar o café sem acordá-lo... Mas ficou
paralisada quando seus olhos sem foco encontraram sobre o sofá uma silhueta que distinguiria
em qualquer lugar. Porém ele não se movia, nem mesmo respirava.
Aproximou-se para enxergar melhor e o grito agudo que soltou, junto com o barulho das
coisas caindo no chão, acordou todos no prédio.

A polícia, chamada pela vizinha enxerida, levou pouco mais de dez minutos para chegar. A
mulher que havia encontrado o noivo morto, estava no saguão do prédio. Em completo choque,
pálida, com mãos e pés tremendo, e envolta por um cobertor cinza. Mal conseguindo dizer o seu
próprio nome, ela não ajudou nem um pouco a policial que lhe fazia perguntas.
O detetive Afonso se aproximou do corpo. Enquanto seu parceiro verificava se havia indícios
de arrombamento no apartamento. Fora o homem morto, tudo parecia no seu devido lugar.
– Dante, meu amigo, seja lá o que esse cara usou deve ser das brabas, porque nunca topei com
algo assim nem na época que trabalhava na narcóticos. – Afonso se virou para o seu parceiro a
fim de chamar sua atenção.
Dante coçou a barba loira e aproximou-se da vítima. Não havia corte ou buracos de bala
visíveis no corpo, que estava nu e parecia seco, mumificado. O cara morto era jovem e Afonso
estava certo, não havia droga conhecida que causasse tal tipo de efeito. Mas o que Dante sabia e
Afonso não, é que existiam criaturas capazes de causar uma morte assim.
Capítulo 2
Era fim de tarde, e a luz, já quase escassa do sol, entrava fraca pelas janelas de vidro de uma
pequena lanchonete, deixando o lugar na penumbra. Crianças corriam de um lado para o outro,
esbarrando nas mesas e fazendo bagunça. Uma jovem garçonete olhava aquilo desorientada, já
não aguentava mais gritar para que parassem.
Dante estava sentado em um banco alto de plástico junto ao balcão. Rodando uma colher
dentro de seu copo de café com leite, ele ignorava o escarcéu ao seu redor. Humanos são assim,
barulhentos. Riu consigo mesmo.
Afrouxou a gravata que lhe apertava o pescoço e tomou um gole de sua bebida. O gosto não
era dos melhores, porém nem se importou. No fundo não precisava tomar aquilo, embora fosse
bom manter as aparências.
Parado, olhando para o nada, pensou em quando decidiu se tornar um detetive, o que era
interessante e um tanto engraçado, pois antes nunca havia pensado em se ver desse lado da lei.
Mas era um bom passatempo e um tanto divertido, como se atreveria a dizer.
Sentiu uma mão tocar seu ombro e saltou do banco em posição de ataque. Estava distraído, e
só ele sabia o quanto não poderia deixar que aquilo acontecesse.
– Ei, cara, calma! – O detetive Afonso se assustou com a reação do parceiro.
Dante olhou o colega de cima abaixo, dos seus sapatos pretos sociais até os cabelos
cacheados, passando da hora de cortar, parcialmente escondidos sob um chapéu. Encarou os
olhos castanhos e levou alguns segundos para se certificar que era mesmo o Afonso. Para o
parceiro foi um ato estranho, mas para Dante cuidado nunca era demais.
– Não é nada. – Ele finalmente sorriu. – Foi apenas um susto.
– Você é estranho cara. – Afonso riu e puxou um banco ao lado do de Dante para que pudesse
se sentar.
– Aceita algo? – Perguntou a garçonete a ele.
– Sim um café. – Afonso mal olhou para ela. Nem se deu conta de como o encarava. Ele se
arrependeria depois.
Encarou o saleiro e o vidro de pimenta no balcão antes de voltar-se para Dante.
– Alguma novidade sobre o caso do cara encontrado morto essa manhã?
Dante balançou a cabeça em negativa e Afonso prosseguiu.
– Estive com o legista há pouco e ele me disse que não encontrou nenhuma droga pesada ou
desconhecia no corpo da vítima, nada além de álcool e que não possuiu nenhuma justificativa
para o estado mumificado em que o encontramos.
– O melhor é começarmos interrogando as últimas pessoas que estiveram com ele. – Dante
tomou o restante de seu café com leite.
– Vamos até a delegacia então. – Afonso se levantou num salto e tomou seu café em um único
gole. – Deixei meu carro estacionado no beco. – Jogou sobre o balcão algumas moedas.
Dante seguiu o parceiro até a entrada da lanchonete, mas então parou e olhou ao redor. As
pessoas pareciam felizes, um casal sentado em uma mesa próxima dividia uma porção de batatas,
colocando um na boca do outro. As crianças ainda riam e corriam para todo lado. Tudo parecia
bem, então por que estava tão desconfiado?
Caminharam até o beco em silêncio. Àquela altura, o Sol já havia se escondido quase por
completo atrás dos prédios altos e deixava o lugar na penumbra. Dante observou alguns ratos
correram para trás de uma grade caçamba de lixo. Ah Afonso, que ótimo lugar para deixar o
carro!
Tudo estava silencioso, silencioso demais...
– Ah, qual é?! Lá na frente estava cheio. – Balbuciou Afonso ao perceber como o amigo o
encarava.
Ele caminhava sorrateiramente até o carro quando algo surgiu do nada e puxou-o pelos
ombros para cima. Não conseguiu ver o que era, apenas gritou por Dante que nada pode fazer.
Segundos depois ele caiu, feito um saco pesado. Degolado, com os olhos arregalados. O corpo
caiu sobre o capô do carro popular e a cabeça rolou espirrando sangue pelo chão até parar junto
ao pé de seu parceiro.
Dante engoliu em seco. Olhou ao redor em busca do assassino. O beco parecia
assustadoramente vazio a não ser pelo carro, o homem morto e as caçambas.
Outro rato correu indo se esconder atrás da roda do carro. Porém um homem pousou sobre o
capô. O som alto do choque que amassou o metal ecoou por todo o beco, e o barulho assustou o
roedor.
O detive encarou-o. O sujeito parado sobre o carro era alto usava uma um sobretudo branco.
Ele era negro e tinha o rosto repleto de runas. Os olhos dele eram brancos e pareciam vazios,
implacáveis.
– Dante? – O homem riu alto, como se aquela fosse uma piada. – É assim que o chamam
agora? Que irônico ao considerar que esse é um nome de um cara que atravessou o inferno.
Era isso que sempre temia, que eles o encontrassem. Contudo sabia que era algo que não
tardaria a acontecer.
O homem sacou uma espada que estava na bainha junto a cintura. A lâmina reluzente, cegava
os olhos. Com um grito, o cara partiu para cima do detetive.
Dante se curvou e levou a mão às costas, na junção entre o pescoço e o tronco. Ao enfiar as
unhas na própria pele ele arrancou de sua espinha uma espada feita de seus próprios ossos que
ainda pingava sangue. Seu movimento foi ágil o bastante para interceptar o ataque. Girando o
braço no ar, com sua espada Dante segurou a do inimigo, ambas bem rentes ao seu rosto. Cerrou
os dentes com a força que precisou usar para impedir que a lâmina brilhante cortasse sua cabeça
ao meio.
Ágil como um gato, curvou o corpo e rolou para o lado, permitindo que a espada cortasse o ar
onde ele estava há poucos segundos. Em seguida, acertou o estranho com um soco na boca do
estômago o que o fez cambalear para trás, sentindo uma dor forte irradiar por todo o seu corpo. O
agressor ficou sem fôlego por alguns segundos. Aquele maldito era muito forte! Cuspiu um
pouco de sangue no chão de asfalto. Mal teve tempo de se recuperar antes de desviar de um
chute de Dante que passou ao lado de sua orelha acertando a parede do beco atrás de si.
Enfurecido, o homem revidou, acertando e cheio um chute no peito de Dante, fazendo-o voar
até a parede na outra extremidade do beco.
Dante apoiou as mãos no chão e levantou-se, balançando a cabeça um tanto atordoado. Uhm,
aquilo doeu! Mas estava longe de ser o suficiente para nocauteá-lo. Apoiando no muro
chapiscado, levou a mão ao rosto e limpou o filete de sangue que escorreu de seus lábios. Ergueu
os olhos e encarou outra vez seu agressor, mais forte do que o anterior.
– Vou enviá-lo de volta ao inferno.
– Só voltarei quando eu quiser, e ainda não quero. – Dante se desviou de mais uma investida
do sujeito.
Rodopiando no ar, segurando firme com as duas mãos o punho da espada sangrenta, o
detetive investiu contra as pernas de seu inimigo e acabou por cortar o ar quando o alvo saltou
saindo do alcance. Ele era bom... Esperava que não bom o bastante.
Colocou-se de pé e interceptou mais um golpe. Segurou firme sua espada, rente ao próprio
rosto outra vez, evitando que fosse atingido.
Uma gota de suor escorreu de sua testa e caiu ao chão no momento em que se desviou.
Podendo se mover novamente, livre da pressão, Dante deu alguns passos para trás e girou sua
espada no ar. Fitou novamente os olhos de seu agressor, eles tinham sede de sangue, sede por seu
sangue.
Deferiu um mais um golpe contra o sujeito, tentando atingir seu rosto com o punho da espada,
mas esse era extremamente veloz e se desviou com facilidade. Droga! Estava enferrujado,
praguejou Dante em pensamentos.
Curvou o corpo para trás pouco antes da espada brilhante cortar o lugar onde estava seu
pescoço. Em seguida, foi rápido o suficiente para acertar um chute no joelho e derrubar o homem
no chão e não hesitou em perfurá-lo no peito com sua espada. O cara virou cinzas que se
desfizeram no ar levadas pela leve brisa.
Assim que Dante respirou aliviado, sentiu uma dor aguda irradiar de sua coxa. O maldito
havia o atingido. O detetive levou a mão ao ferimento, sujando seus dedos com o sangue negro
que escorria. Gemeu um pouco com a dor que varria seus nervos e o fazia se contorcer. Era forte,
porém aquele não era um ferimento qualquer. Armas celestiais dificultavam sua regeneração.
Olhou ao redor e viu o corpo de seu companheiro que ainda jazia imóvel ainda sobre o capô
do carro. Precisava limpar aquela bagunça. Pegou o celular do bolso, e com as mãos cheias de
sangue, sujou a tela de vidro ao discar o número da polícia.
– Alô, aqui é o detetive Dante Vargas da homicídios, distintivo 5809-2. Afonso e eu sofremos
uma emboscada. Ele foi assassinado e eu estou ferido, mas vou ficar bem. Os bandidos fugiram.

Lá fora quase não havia mais carros passando na rua. Com a madrugada a caminho tudo
tendia ao silêncio. A lua estava cheia e era a única luz no apartamento pequeno onde Dante vivia.
Ele estava em um cômodo, com as paredes cobertas por prateleiras de livros, com uma única
janela pequena, o que deixava o ambiente um tanto quanto claustrofóbico. Mas aquilo, nem a
poeira dos livros pareciam incomodá-lo.
Sentado em uma poltrona confortável, com estampa floral, feita de madeira antiga, assim
como a mesa onde ele apoiava a perna. Sobre a mesa estavam alguns papeis um tinteiro, uma
pena e uma maleta, cujo interior continha linhas, agulhas e um pedaço de madeira, que ele pegou
e levou a boca, antes de enfiar a agulha numa das extremidades do seu ferimento. Seu grito de
dor foi abafado.
Depois que a polícia havia chegado ao beco, Dante os convencera de que foram atacados por
bandidos procurando retaliação por amigos presos. O corpo de Afonso foi levado para necrotério
e Dante os convenceu a que ele mesmo cuidaria de seus ferimentos. Eles o acharam maluco, no
entanto, não o questionaram.
Agora ele estava ali, costurando o corte profundo. Logo se curaria, contudo, explicar seu
sangue negro e porque sua pele não se perfurava por agulhas comuns, era outra história.

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