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profundas do que se pode ver a olho nu. No entanto, será a mão direita
drogas e traficar mulheres, mas colocar o mundo inteiro sob controle. Ela
ligou o iPad e entrou no banheiro para tomar um banho, esta noite precisava
realmente de um. Com raiva retirou toda a roupa, até ficar completamente nua e
poder limpar sua mente sob a água, que desejava que estivesse ainda mais
quente, mas não era muito mais o que podia pedir, não naquele lugar, não
do Maroon 5, tentava não pensar no que acabava de fazer, e no que poderia ter
lhe acontecido se não estivesse preparada. Não quis analisar mais a situação,
Apesar do frio que fazia, saiu do banheiro envolta em sua toalha azul. Sua
roupa, claramente suja com sangue, já não poderia mais usar e nem sequer se
Assim que entrou no quarto, notou algo estranho, então ligou novamente o
chuveiro e, antes de que o indivíduo pudesse reagir, lançou-se sobre ele com um
fazer?
inocente.
inconsciente.
— Pobre homem? — Perguntou, ajustando a toalha para sair de cima de
Brad. — Esse homem não tem nada de inocente, passou a mão na minha bunda e
tentou me agarrar.
Brad a olhou atônito, ela parecia estar totalmente tranquila e sem um pingo
de culpa depois de deixar um homem de uns trinta e cinco anos, com o dobro de
seu tamanho, inconsciente e sangrando no chão, mas a verdade é que não devia
Ira era uma agente, e uma das boas, prática, versátil e muito disciplinada, o
que a tornou uma das melhores de sua turma e agora, com seus trinta e um anos
que não aparentava, estava em uma das missões mais importantes de sua vida,
que a promoveria se tudo corresse bem, caso contrário, nem ela nem seus
parceiros sobreviveriam. Sem dúvidas era a missão mais perigosa de toda sua
vida.
Por isso, quando o FBI lhe atribuiu o caso e sabendo que seu oficial
responsável seria Brad Cambell, ela não hesitou nem por um segundo, e agora
levavam dois árduos meses em um dos países mais perigosos do Leste Europeu.
— Não, não está tudo bem, não posso continuar encobrindo seus acessos
de raiva, ou está preparada ou não para seguir neste caso. Eu sei que é difícil, e
— Chega! — Deteve-o séria, já não como Irina, mas sim como agente. Uma
das coisas que levava muito a sério e não admitia enganos nem questionamentos
era seu trabalho. — Minha permanência neste caso não está em discussão, porque
que vocês da van. — Levantou a mão lhe lançando um olhar furioso para sossegá-
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Política de reforma governamental e reorganização do sistema econômico iniciada por Mikhail
Gorbatchov, em 1985, na União Soviética.
lo quando seu superior ia protestar. — E não me arrependo de nada do que
aconteceu, não só porque ele agarrou a minha bunda sem meu consentimento,
mas sim porque esse filho da... esse diplomata que você fala como se fosse uma
uma menor — comentou colocando a calcinha sob seu olhar atento. Quando Ira
palavras de baixo calão, e ele, que a conhecia há mais de dez anos, comprovou em
primeira mão. — E o que acontecerá? Nada! Ou vai negar isso? Então não venha
porta para abri-la — que fique bem claro que embora vocês tenham olhos e
ouvidos — falou indicando o colar que não tirava nunca por precaução e para
deixá-los cientes de tudo — não têm a mínima ideia do que acontece a cada noite!
um santo.
isso não importava, tinha uma rotina e diariamente tentava superar a si mesma.
correr, somente seus pés e sua rapidez a salvariam de alguma situação extrema.
tanto odiava. O verde era sem igual, exuberante e totalmente diferente de tudo o
que já conheceu.
água, que ela a princípio ignorou. Continuou correndo por vários minutos mais, e
correr. O agente estava esgotado, claramente sua condição física era deplorável.
Claro que se arriscou! Mas com ela não podia ficar zangado, e ter aparecido ali,
diretamente escreveu:
TE PERDOO VOYEUR.
engasgou com o café que estava bebendo, mas também soube que tudo estava
bem.
Aproximou-se do monitor que lhe mostrava todos os movimentos de Ira, e
a tela estava escura, isso significava que tirou o colar. Somente o fazia para dormir
Para Ira não importava se era terça-feira ou domingo, para ela cada jornada
noturna era igual, começava a ação e foi para isso que treinou durante anos.
Um dia mais para chegar à verdade, um dia menos para chegar ao final.
com um copo de vodca na mão, o único que lhe permitia tomar durante a noite
— Se apresse, hoje teremos visitas muito importantes e tudo tem que estar
perfeito.
— Menina, não seja curiosa, somente mova essa bunda o melhor que
puder, que hoje o vor2 descerá dos céus para nos honrar com sua presença.
Isso alertou não só a Ira, mas também a Brad, que estava escutando tudo
Porra, vor estará aqui, pensou Ira lambendo os lábios, essa era uma
oportunidade única, uma que estavam esperando fazia muito tempo. Tinha que
homem pelo qual estava nessa missão teria um rosto, e com muita sorte, uma
identificação positiva.
com as mãos, não podiam fazer barulho e a van que estava camuflada como
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Vor. Senhor da máfia russa.
totalmente tranquilo, sabia como era Vadik e o que o chefe da máfia russa era
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mudança que ainda não era capaz de acostumar-se, apesar do tempo que estava
que lhes faziam. Naquele lugar, tudo era permitido, todo o tipo de sexo que
corpo quando escutou como um homem falava todo tipo de obscenidades a uma
Imbecil, como se uma mulher quisesse escutar esse tipo de… vulgaridades, pensou
enquanto virava o rosto para não ver como o homem urinava em cima dela e
dizia que adorava fazer isso. Mas o pior não era isso, era que a garota gostava e
estava extasiada.
uma vez vomitou, mas como tudo, inexoravelmente com o passar do tempo se
acostumou.
diferentes shows, nos quais ela participava dançando e mostrando… seu corpo.
adolescência, para acalmar seu desejo de ser bailarina, a ajudaria tanto em sua
verdadeira vocação.
Não quis distrair-se mais e rapidamente caminhou até o camarim. As
grande chefe estaria presente esta noite. Queriam ser escolhidas, vistas, e talvez
converter-se em parte de seu harém e sair daquele lugar, trocá-lo por um que lhes
nas mãos.
— O quê?
fazendo um beicinho.
Ira tirou suas roupas para vestir o que deixaram naquele dia, era diferente
espartilho transparente, preto, que realçava seus seios de uma maneira espantosa,
esta noite lhe traria muitos problemas, para terminar colocou as ligas, e saltos, que
impressionantes olhos claros, mas o que mais chamava atenção em seu corpo era
sua bunda, que em algumas ocasiões amava e em outras, como esta noite, odiava.
Deixou o cabelo solto e bagunçado, já que isso lhe ajudava a esconder seu rosto.
informação para seus colegas. Não estava nesse caso pela prostituição, nem pelo
tráfico de mulheres, infelizmente, mas por algo muito maior, porém quanto mais
tivessem para culpá-lo, melhor seria, e um leilão como o que se faria hoje, e com
pagavam para fodê-las, usar e abusar, sem importar seus sentimentos, inclusive
muitas vezes eram drogadas para que seus corpos fossem imunes à dor e assim
homens tiravam suas roupas para que uma mulher gorda as vestisse com algo
Ira não se zangou, nem se sentiu humilhada por aquele sujeito, e não
precisou se virar para saber que estava olhando sua bunda. A isso, mesmo que
corpo dele, e a girando para colocar as costas dela em seu torso e passar os dedos
disso, assentiu com um falso sorriso e tentou separar-se para romper o contato.
— Não quero ver você por aqui novamente, e não vou falar de novo, —
cabeça, coisa que não acontecia com muita frequência, e muito menos sobre esses
maior tempo possível, para estudar suas tatuagens e para saber que lugar
o homem à sua frente era alguém importante, mas principalmente perigoso. Para
saber, só precisava ver a quantidade de caveiras que tinha tatuado, tanto nos
Quando Ira recuou, ele estendeu sua mão para tocá-la, sua expressão
mudou, e com um rápido movimento a atraiu para si. Seu braço musculoso a
rodeou pelo pescoço, fazendo pressão, mas sem força suficiente para estrangulá-
la, somente com a pressão adequada que lhe indicava quem tinha o poder e quem
provocando um arrepio que não soube como decifrar, mas antes que aproximasse
sua boca, sentiu como os homens o chamavam, com muito respeito para seu
gosto.
Um dos homens que Ira tinha visto injetando droga às meninas era o que
— Acredito que são todas virgens, foi uma boa pesca — brincou o outro.
“Filhos da puta, logo eu vou pescar vocês”, pensou Ira ocultando um arrepio.
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Bratvas. Irmandades.
— Vou me certificar disso, não quero enganos como a vez anterior.
— Misha, eu…
— Não quero ouvir, Blasko, já sabe como os erros são pagos — falou
sussurrou. — Vá embora.
Ira apertou os lábios com tanta força que sentiu seus próprios dentes
chiarem enquanto saía do quarto, e antes de dar o primeiro passo sentiu como o
tal Misha lhe dava uma palmada na bunda. Ela não se virou e agiu como se fosse
Ao sair finalmente pôde respirar, mas agora seu coração pulsava acelerado
dela com essa expressão indecifrável que sempre tinha no rosto. Ira a tentou
decifrar muitas vezes, e a única conclusão que chegou era que sua cara era de
aborrecimento com a vida e com tudo o que uma mulher dessa idade tinha visto,
— Ira — a deteve com sua voz rouca de fumante. — A vodca é para o vor.
— Ela agiu como se não importasse, não podia mostrar sentimentos. — Não
arruíne o que será possivelmente a única oportunidade que tem para sair daqui.
garota, apesar do pouco tempo que a conhecia, embora não deixasse de pensar
Enquanto Ira caminhava até o bar tirava suas próprias conclusões, e não
Também pensava que sua apreciação de “nem melhor, nem pior” era muito
sua vontade, sem se importar com sentimentos, e o que era muito pior, sem
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Dentro da van, Brad estava nervoso, embora não quisesse que seus
companheiros notassem, era evidente. Seus olhos estavam colados na tela e nem
sequer havia piscado uma só vez, que sua parceira estivesse sozinha com o vor e
estaríamos aqui.
— Volte a fita! — Cortou-os Brad, vendo algo que chamou sua atenção.
Peter rapidamente obedeceu e notou o que seu chefe queria ver. Ira
embaçou um copo para desenhar uma carinha feliz, isso significava que ela estava
bem e tranquila e isso, especialmente para Brad, devolvia a alma ao corpo. Eles
podiam ver e escutar, ela não estava sozinha naquele antro de vaidades.
tranquilizando-se também.
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que eles carregavam. Pensou que somente com uma dessas poderia acabar com
e dando um profundo suspiro, girou o trinco, que com certeza era banhado em
passar.
Seu olhar se dirigiu direto à uma mulher, que nesse momento estava
fazendo sexo oral em um homem que estava sentado em uma grande poltrona
várias fotografias dispersas sobre uma mesa, era como uma espécie de catálogo
nada, mas quando ficou em frente à janela, viu como uma jovem de não mais de
interior. A jovem subiu a uma espécie de palco e girou para mostrar seu corpo em
todo seu esplendor. Viu como várias luzes vermelhas se acenderam e como um
homem apareceu de repente para tirá-la do lugar. Ela baixou o olhar e escutou
— Separa as pernas.
— Vadik…
— Sei, sei, só quero ver até onde a puta está disposta a chegar para agradar
a seu vor. E sua bunda parece deliciosa, se não tivéssemos conversado, estaria
encantado de fodê-la tão forte por trás que não duraria mais do que alguns meses
ao meu serviço.
era um homem, era um porco que estaria imensamente feliz de levar a prisão para
que ele fosse fodido em todos os lugares até que suplicasse clemência.
Isso era a única coisa que lhe dava forças para continuar, queria acabar
janela. — Puta, roçou-me com os dentes! — Exclamou para depois dar um golpe à
ajudou à moça a se levantar. Então, Ira viu que era uma de suas companheiras a
— Me traga uma que valha a pena, Misha, antes de que quebre a promessa
que te fiz.
frente à janela, mas quando virou ficou olhando alguns segundos ao homem que
“Porco asqueroso.”
Misha agarrou a ambas pelo braço para as tirar dali, Ira segurou pela
— Esse homem é o vor, e eu já estou morta, é você que não entende! Levo
minha vida toda nisto e esse homem, qualquer um dos dois, é a única saída que
— Por que… por que está me dizendo isso? O que escutou, Erika?
— Nada — respondeu e virou o rosto para o outro lado, com isso Ira soube
que já não diria mais nada. Seguiu caminhando com ela até levá-la ao camarim
para que descansasse, mas antes de chegar escutou como detrás de uma porta
Deixou Erika sentada e voltou a sair para dirigir-se para onde vinha o
— O que acontece? Estão bem? — Sabia que a pergunta era estúpida, mas
apontando para outra porta, — preparando outras garotas, o homem disse que as
foderia por trás para deixar o hímen intacto… — Não conseguiu terminar quando
Ira já não conseguiu escutar mais e, embora arriscada, tomou uma decisão.
Agarrou às meninas pela mão, saiu e começou a caminhar para chegar às escadas
de emergência.
Utilizando toda a sua força conseguiu abrir a pesada porta. O frio que a
recebeu a fez tremer, agora sim estava nevando, e nenhuma das três usava mais
que roupa íntima, agarrou a jovem que estava mais lúcida e sacudindo-a pelos
— Vão descer pelas escadas de emergência sem olhar para cima ou parar,
para essa esquina, um amigo meu estará esperando e as levará de volta para casa.
— Sou ucraniana — sussurrou a menor, que até então não tinha falado. Ira
assegurar-se que seus amigos a entendessem, o vento soprava muito forte e não
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— Brad! — Gritou Blake, que neste momento não podia acreditar em tudo
quando leu o que Ira escreveu no chão soube o que deviam fazer.
alguns segundos a entender o que seu parceiro lhe dizia, mas quando olhou o
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e, apesar de estar a vários metros, era capaz de ver sua cara de irritação naquela
noite de nevasca.
Quando voltou para a porta, notou que estava mais difícil abri-la. Claro, já
quase nem sentia os dedos, inclusive era doloroso caminhar, mas uma vez que
entrou, sentiu como o calor proveniente do interior invadia seu corpo, apoiou-se
mas ainda estava gelada. Começou a descer pelas escadas até que chegou ao piso
Aproximou-se de uma mesa e viu a única coisa que com certeza poderia
sua garganta, esôfago, até alojar-se em seu estômago. Então fez o mesmo com
outro copo que estava também sobre a mesa. Quando acabou, em agradecimento
e para não levantar suspeitas, pegou o homem mais velho pela cara gorda e o
beijou nos lábios, repetindo a operação com seu competidor no jogo. Ambos
E ao fazê-lo, o viu.
O russo tatuado.
O musculoso.
Ira o olhou e sorriu antes de se virar para sair deste lugar e para parar de
olhar para as novas tatuagens que agora estavam expostas, já que estava somente
de calça preta apertada. Em seu braço esquerdo tinha um arame tatuado que lhe
rodeava o bíceps. Este tinha cinco farpas, isso significava que passou cinco anos
Finalmente, saiu de sua visão e alcance. Não gostava desse homem, algo
acontecia quando estava junto a ele, e essa noite já o tinha visto demais, inclusive
Finalmente saiu da boate na qual trabalha todas as noites, mas esta vez
tinha em mente uma rota muito diferente. Fechou sua jaqueta e apressada
começou a caminhar. Quando estava distante do clube, fez parar um táxi para que
— Boa noite, Jeff, eu também estou muito feliz de ver você — saudou com
sarcasmo.
avisando.
distraindo-os.
Fazia dois meses que não escutava seu nome verdadeiro, isso só podia
— Caralho, quando vai meter nessa cabecinha sua que não está aqui para
nos tranquilizar?
Ira virou de costas, necessitava urgentemente se acalmar. Não porque não
soubesse o que dizer, porque sabia claramente, mas isso não dizia respeito a
nenhum deles.
volta ao seu país. E espero… — parou para ver se Ira iria se virar, mas nada —
— Faço meu trabalho, embora alguns acreditem que não tenho nada na
cabeça!
— Ira…
importantes desta bratva — reconheceu Jeff tocando seu queixo. — Sim, você
férias, e cada um deles tinha um lugar atribuído naquela investigação. Jeff era
informações criptografadas; Ira, além de ser uma hacker muito boa, era a agente
de campo, todos comandados por Brad Cambell, um dos melhores agentes que a
agência possuía. Em todos os seus anos de serviço não houve nenhuma operação
em que não tivesse saído vitorioso, inclusive obteve grandes conquistas com o
Oriente Médio, mas sobre isso Brad não falava. Nessa ocasião, ele tinha sido o
agente de campo.
não podia esquentar-se totalmente, o que não passou despercebido por Jeff, que
estendeu a mão e a levou até a parte de trás, onde estavam os quartos que usavam
para descansar.
uma careta apareceu em seu rosto. — Não pense besteira, trabalhar na noite está
— Deus! — murmurou.
— Isso é o que Annie diz, só que você não vai me pagar como ela faz.
— Mmm! — Respondeu querendo lhe dizer que não, que somente sua
mas…
— Mas? — Perguntou tentando levantar a cabeça, algo que Jeff não lhe
permitiu.
coisa certa, não tinha duvidado nem por um minuto, mas que sua equipe a
informação do colar de sua parceira e amiga. Ela estava tão cansada que nem
em seu campo, além de ter estudado psicologia, por isso todo mundo lhe dizia
Vadik e o Misha eu não gostei nem um pouco. Sobre o que eles falavam? Que
— Quando ela foi à cabine, Misha lhe disse algo, por isso o vor não
continuou.
— Eu também não.
— Ele não existe, nem sequer suas impressões digitais estão registradas.
— De Ira.
Não era necessário dar mais explicações, esses quatro homens viram o
— Agora está dormindo, eu precisava fazer isso. Isto é mais difícil do que
— É uma agente, está preparada para isso — afirmou Brad, incômodo pela
conversa.
— Sim — falou Jeff baixinho, olhando-os, — mas quando isto acabar, sua
— Tolices, Jeff.
— Não Brad, não são, ou acaso você não tem pesadelos com a missão do
ainda dormiam, então decidiu sair e comprar algumas coisas para acordá-los com
com sua boxer. Coçando a cabeça, e ainda com os olhos fechados, caminhou
direto até a cafeteira de última geração. Esse era o único luxo que se permitiam,
mais que um luxo era necessidade, principalmente para aguentar as últimas horas
do dia. Mas antes de ligá-la, Ira estendeu seu braço com uma xícara de café
acordado. — Tem toda a razão, o sono não me deixa pensar direito — reconheceu,
da manhã que Ira preparou para eles com muito carinho. Tudo era paz e
alertou.
— Caralho! Porra!
aproximando-se dele.
fantasma.
Ira não demorou nem dois segundos para sair disparada da sala e ir para a
para prendê-lo, não tem família, e está mais limpo que um menino de três anos.
pessoa escolhida para ser o vor, deve cumprir certas normas: não pode ter
problemas com a lei, nem participar diretamente das atividades ilegais, deve
manter em segredo os nomes de seus cúmplices, clubes, lugares… mas deve ter
informações das outras máfias, e embora não trabalhe de forma ilegal, sempre
— Com certeza, — riu Blake — mas com muito poder e vontade de foder
com o mundo.
companheiros.
Enquanto caminhava pela rua viu quão bela era a paisagem. Gostava dos
edifícios com cúpulas sobre seus telhados coloridos, inclusive o verde dava ao
local uma fachada de cartão postal muito bonita. Sorriu com o pensamento, não
Quando chegou em casa, a primeira coisa que fez foi entrar no banheiro e
tão desagradável ter que ir trabalhar, estava tão tranquila que tinha vontade de
dançar.
sempre. Na verdade, não lhe disse nem uma palavra, pediu para a seguir até um
dos escritórios. Dentro estava o chefe, ou aquele que ela devia respeitar como tal.
Não era o dono, porque esse era o Vadik, embora não estivesse escrito em
nenhum lugar.
— Sim, senhor.
— Como?
— Não tente me enganar, puta! — Ira reprimiu o desejo de bater nele com a
estátua de leão que estava em sua mesa, como a incomodava que a chamassem
assim... — Ontem à noite não dormiu em seu apartamento, e nem sequer tente
negar.
um pingo de culpa.
— Não queira me enganar, Ira. Sabe as regras e o que acontece quando não
compromisso neste momento, eu mesmo lhe daria uma surra que a deixaria sem
trabalhar, — riu com malícia, percorrendo-a com o olhar — mas sei quem vai te
— disse gesticulando ao redor do lugar — não acontece nada sem que eu saiba,
garota estúpida, não é a primeira que se acha uma heroína. Mas deixe te dizer
uma coisa, as heroínas só existem nos filmes da Marvel, assim como as princesas
só existem nos contos da Disney, então faça um favor a si mesma, não tente ser
Ira rapidamente começou a analisar o que ela havia dito. Sabia o que
aconteceu ontem à noite com as meninas? Se sim, por que não a delatou?
— Não está feliz? Estou super animada, vamos para a casa do Misha!
Como ele é gostoso, sua barba por fazer, seus olhos, suas mãos, mmm! Seu corpo,
tudo!
— Dos melhores.
Ira olhava tudo ao seu redor, e apesar de que ria igual a suas amigas,
estava observando tudo e enviando informações. Ela até incentivou duas das
garotas para que levantassem e olhassem pela abertura do teto para aproveitar o
duzentos metros de largura por três metros de altura. A primeira vista não se via
parede, por onde saíam pontas do que com certeza seriam metralhadoras
Agora sim entraram, e como se fossem transportadas para outro planeta, tudo o
que viam era diferente. Uma mansão de três andares apareceu, era como um
castelo russo, com suas cúpulas, e parados em cada lado da escada curva, vários
As garotas entraram sem perder tempo, mas Ira ficou para trás, e caminhou
dourados e uma grande mesa redonda no centro. Mas não foi o luxo o que
chamou sua atenção, mas a garotinha com cara de anjo que a olhava escondida
entre as grades da escada, e Ira não pôde evitar caminhar até ela.
fadas.
— Ah…— Ira segurou a risada e entendeu a que se referia a menina, ela
acreditava que as pessoas que entravam, que certamente estariam muito bem
vestidas, seriam fadas, então continuou com o jogo. — E como sabe que são fadas?
novamente, quando as pedras refletiam a luz elas brilhavam, por isso pensou que
fossem fadas.
manchando de chocolate. Ira sorriu pensando na cara dos agentes, com certeza
inocente nesse mundo turvo e escuro a comoveu até os ossos. Sem pensar duas
vezes, como muitas das coisas que fazia, tirou os sapatos de salto e a pegou no
Ira parecia a fada madrinha da garotinha com camisola rosa, que nesse
pescoço.
— Muito bem, então, agora você vai para a cama e sonhará com ela — disse
enquanto a garotinha a guiava pela mansão, até que chegaram a uma porta. Ao
entrar, percebeu que era o seu quarto. E entendeu por que a garotinha acreditava
em fadas, entrar nesse quarto era como ingressar em uma estória, um universo
paralelo.
— Agora deve ficar aqui, me prometa que não descerá, as fadas estarão
tempo que escutou como uma voz masculina e forte falava, a deixando nervosa,
— Você não pode ver? — Disse com raiva, sem perceber o que seu
ao pecado e tornava insignificante a muitas das mulheres que utilizavam sua voz
para seduzir.
Essa era a mulher que ele estava esperando, a mesma da noite anterior, e
que não conseguia parar de pensar, mesmo sabendo o quanto era arriscado.
“Idiota”.
Ira arregalou os olhos para que ele soubesse o quanto foi inapropriado o
Ficou de pé, e sem sapatos mal chegava ao seu ombro, mas nem por isso se
intimidou, nem desviou o olhar. Saiu do quarto jogando um beijo, que a garotinha
apanhou encantada.
monstro.
“Como você”.
Misha não estava acostumado que alguém falasse assim com ele, nem que
o olhassem daquela maneira. Agarrou seu braço para tirá-la dali e, quando o fez,
sentiu seu corpo aquecer. Quando ela se virou para se soltar, seu rosto suave e o
sorriso angélico de segundos atrás se transformaram em um penetrante olhar
de… ódio?
Desceram em silêncio até que ele a deixou com suas companheiras, que
cama.
— Alguém sabe o que estamos fazendo aqui? Para que nos trouxeram?
atendê-los, e se por acaso suas cabeças ocas não entenderem o conceito de “servir”
proposta será fiscalizada pelo vor. Não tentem bancar as espertas, desta vez não
Sem mais preâmbulos, as mulheres saíram para fazer seu trabalho. Ira
recebeu uma bandeja que continha o que Zhenya chamou “coquetéis”, nada
poderia estar mais longe do que ela entendia por esse conceito. Sobre a bandeja
que carregava estavam diversos tipos de pílulas e garrafinhas com um líquido
transparente, mas não eram essas drogas as que chamaram sua atenção. Podia
distinguir claramente o que eram, mas havia algumas que jamais tinha visto, e
que pareciam bastante desejáveis. Sem que ninguém percebesse, pegou uma e a
vários deles para a prisão, mas é claro, não chegariam a colocar um pé na prisão
seriam do Oriente Médio, subiam por uma escada que até então ela não percebeu
que existia.
Esse era seu objetivo agora, mas como poderia entrar nesse lugar? Seguiu
caminhando sem perceber que a bandeja estava esvaziando, até que de repente
— Estive observando você a noite toda. O que preciso fazer para que me
sorriso que Ira foi incapaz de não devolver, afinal, esse homem era um dos mais
desejados. Quando contasse a sua melhor amiga Annie, esposa do Jeff, que
— Que porra pensa que está fazendo? — Perguntou o russo, mais irritado
Ira se virou, nervosa, por que esse homem tinha a capacidade de deixá-la
estava desaparecendo diante de seus olhos, e tudo por culpa do russo. Aquilo não
podia estar acontecendo, tanto tempo esperando a oportunidade para saber quem
eram os contatos do vor para que agora, por uma estupidez, colocasse tudo a
perder.
alternativas para salvar a situação, ainda não podia acreditar que perdeu essa
oportunidade.
— Nem perdão, nem esquecimento, vadia, essas quatro palavras são as que
deveria gravar para continuar viva, e desde ontem à noite não as está cumprindo.
Entendeu?
Ira suspirou algumas vezes para engolir a raiva que sentia nesse momento,
e então poder responder com uma amabilidade que, é obvio, não sentia.
e não demorou para perceber o grande erro que cometeu. Não estava prestando
atenção, estava muito longe, junto com os árabes, mas pensou que seria melhor
não corrigir. “Trabalho” para ele era muito diferente do que para ela.
— Fora! — Foi a única coisa que ele disse. Cozinheiros e empregados, que
questão de segundos. Esse homem era perigoso. O que Misha pretendia fazer com
ela? Também sabia que desta vez estava sozinha. Por mais protegida que estivesse
por seus parceiros, eles não poderiam entrar, não em cento e vinte segundos, não
em uma hora, essa era sua propriedade e nem mesmo com um pequeno exército,
ela não morreria sem se defender, inclusive já sabia onde estavam as facas e tinha
uma frigideira por perto, para se defender se fosse necessário. Era uma agente
treinada, lutou corpo a corpo várias vezes, e embora esse homem cheio de
ao lugar mais afastado e infelizmente longe do que ela queria usar como armas de
defesas.
— Esta será a última vez que vou explicar isso e, para o seu próprio bem,
*************
Brad, que ouviu e viu tudo pela tela, não estava gostando nem um pouco
computador.
*************
Quando ela não respondeu, ele a pegou pelo pescoço, cobrindo o visor do
— Perguntou entre dentes aprisionando-a contra a parede, agora com mais força.
— Entendi, e assim como disse a Zhenya esta tarde, não fui para minha
casa, mas não sai com um cliente. Aprecio minha vida e entendo as regras —
fechou os olhos para continuar falando e assim poder se acalmar, mas quando os
abriu se encontrou com um olhar cinza que emitia um brilho diferente, e em seus
Ira tentou se afastar um pouco mais, mas era impossível, já que o russo
começou a se aproximar. Misha soltou seu pescoço e pôs uma mão em sua nuca e
ela voltava a fechar os olhos. De repente, seus lábios úmidos e quentes estavam
sobre os dela, a devorando. Sentiu como se estivessem queimando-a e uma
O braço de Misha a apertava contra ele. Seus seios colidiram com seu tórax
duro e definido. Ira abriu a boca para falar, mas ele aproveitou esse momento
para introduzir a língua, que deslizou como seda entre seus lábios. Foi então que
se esqueceu de Brad e da festa e se deixou levar pelo prazer que seu corpo estava
daqueles beijos podia sequer se comparar com esse que estava nublando sua
o lembrou usando suas próprias palavras para sair dali o mais rápido possível.
Mas em vez disso, irritado, Misha a olhou nos olhos por um momento,
pegou sua mão e a puxou para fora, guiando-a pela mesma escada que os tinha
comprido corredor que os levava direto até uma última porta, onde outro guarda
primeira vez que precisava fazer sexo com alguém por causa de alguma missão.
muito boa.
era importante colaborar, embora fosse com um grão de areia, para acabar com a
escravidão sexual.
Caminhou decidida até que Misha pegou sua mão, para colocá-la no meio
da sala.
os olhos enquanto Misha estava de costas para ela digitando um novo código,
impossível de ver.
Sem mais demora, Misha tirou a camisa, ficando nu da cintura para acima.
Ira se virou. Sabia que precisava se despir, mas primeiro devia tirar a droga
que escondia entre seus seios, e quando levava a mão ao decote, sentiu a mão dele
a segurar.
escondia.
uma adrenalina que a deixou nas nuvens era ver um tesouro a poucos metros
deles: um computador.
Sua voz, seu tato… tudo a estava excitando, mesmo sabendo que dizia isso
não pudessem ver nem ouvir nada, pois ela já estava totalmente imersa no papel
de Ira, uma prostituta croata. À medida que ele a tocava ia dizendo palavras
sujas, que sabia que seduziam a qualquer homem, além disso, assim a ensinaram.
— Não fale.
Misha não respondeu, não era isso, mas justamente o contrário, sua voz
sim era um problema, chegaria ao clímax antes do que ele esperava, e isso não
permitiria.
— Não está aqui para falar, nem para pensar, somente para servir —
murmurou virando-a para que o olhasse. Ela, corajosamente, sustentou seu olhar
tatuagem. Agora o estava gravando, mas em sua mente, já que a câmara não
estava funcionando.
grande, em seu peitoral direito, uma insígnia militar com um SS dentro. Ou seja,
nunca na vida traiu alguém. Esse homem não era apenas um fantasma para o
Misha a percorreu com o olhar, deleitando-se com seu corpo bem definido.
Tinha as pernas torneadas e músculos que a faziam uma mulher muito sexy, até
que notou uma pequena marca que quis examinar mais de perto. ajoelhou-se e
passou um de seus dedos pela cicatriz. Ira rezou para que ele não percebesse o
que era, mas incrivelmente isso lhe deu mais força para se concentrar em sua
missão.
coxas, beijando-as e cada vez que o fazia sentia como seu corpo correspondia
arrepiando sua pele. Mas quando acariciou seus mamilos, mordeu o lábio para
não gemer. Ira o rodeou com suas pernas ao redor de sua cintura, fazendo com
que sua ereção crescesse mais a cada segundo. Quando o russo respirou
profundamente, embriagou-se com seu cheiro, um aroma muito peculiar que ele
nunca tinha sentido, mas gostou, e não seria difícil convertê-lo em seu vício.
Enquanto Ira o beijava e acariciava, ele entrava em seu corpo com seus
dedos, e com cada centímetro que entrava o calor que sentia ficava mais
insuportável. Ele nunca se perdeu tanto com uma mulher, como com ela, por quê?
de seus seios ao alcance de seus lábios, oportunidade que ele não desperdiçou.
descobrir todos os pontos sensíveis dessa mulher, enquanto ela baixava o zíper da
sua calça pondo sua mão dentro. Quando seus dedos se fecharam na ereção
pulsante, Misha ficou sem respiração. Esqueceu o que estava fazendo, soltou seus
seios para se afastar dela e tirar a calça, os sapatos e se livrar de sua boxer,
— Estou limpo. — Foi a única coisa que disse com uma voz tão rouca que
até ele teve dificuldade em reconhecê-la. Quando se virou novamente para olhá-
la, ela tinha as pernas abertas em um claro convite. Agora era Ira que se entregava
pau em sua boceta, e com um único impulso a penetrou até o fundo, fazendo-a
gemer.
estava muito ocupado para entendê-la. Ele tinha a respiração acelerada e se movia
entregar-se por completo, mas embora estivesse no sétimo céu, ela tinha um
propósito, e quem deveria ficar totalmente esgotado naquela equação não era
exatamente ela.
com tanta paixão que Misha não conseguiu continuar se segurando e terminou
por render-se, caindo no precipício, enquanto Ira escondia uma risada triunfal a
suas costas.
Muito tempo depois, quando ambos saciaram seus instintos mais básicos
massagem de relaxamento. Ela olhava seu rosto e o percorria com a ponta de seus
dedos, até que de repente sua respiração compassada lhe indicou que estava
profundamente adormecido.
deixando a tela abaixada para não emitir luz. Pegou o colar, e tirou de debaixo da
Não tinha tempo para organizá-la, não, tudo o que se pudesse gravar
serviria. O que conseguiu ver foi que se copiavam arquivos criptografados. Peter
ficaria feliz. Decidiu deixar de lado esses pensamentos, olhando ao homem que
quando viu que o russo se moveu a adrenalina lhe subiu à cabeça. Sem querer
Assim que saísse daquela sala, o colar começaria a dar a seus parceiros toda a
começou a brincar com uma mecha rebelde de seu cabelo, bocejando como se
estivesse entediada.
Irritado porque era ela quem queria ir e não desejasse ficar um pouco mais,
calmamente o vestiu diante de seus olhos. Quando estava pronta, ele se levantou
despedida.
Ao chegar ao primeiro andar respirou mais calma, mas com uma dor no
peito que nunca havia sentido. Devia sair dali o mais rápido possível, tinha que
Com um copo de vodca nas mãos, Misha viu da janela como a limusine
levava de volta as mulheres ao clube, e por mais que pensasse, não entendia como
adormeceu e o que aquela mulher o fez sentir. Não era um menino, e muito
controlar.
Ouviu que a porta se abria atrás dele. Nem sequer se incomodou em ver
quem era, havia apenas uma pessoa que sabia aquela combinação, e precisamente
— Imagino que a puta valeu a pena, esteve mais de duas horas trancado
com ela, e embora eu goste das garotas jovens, quero foder esta.
— Não.
— Não?
— O quê? Vai me dizer que essa mulher tem droga entre suas pernas e
— Que porra está acontecendo com você? Temos que celebrar o negócio
Com resignação, Ira teve que ir para sua casa. Sabia que de alguma forma a
NOTÍCIAS!!
cheiro de Misha, esse que ficou sob sua pele. Vestiu-se com o roupão, e com o
pessoas? A visibilidade da câmera estava boa? Por que Brad não veio?
perguntas, sim, estamos trabalhando, e no que diz respeito a Brad, não sei se devo
comentar…
— Vimos tudo e mais do que nós gostaríamos de ter visto. Está claro
assim?
— Exatamente, a única coisa que vou dizer é que se não quer nos matar de
um ataque cardíaco, tente se afastar do russo, cada vez eu gosto menos dele. Os
— Nada de nada.
costas.
sobrancelhas.
Essa foi toda a comunicação que tiveram e Ira foi dormir, esta noite tinha
muito no que pensar. Não demorou muito para que lembranças ardentes da noite
viessem à sua mente. Foi a primeira vez que se envolveu dessa maneira. Não
importa o quanto dissesse e mentisse para si mesma dizendo que foi por causa da
missão, também o fez por ela. O encontro foi rápido, direto, frio e sem
preliminares, deixando-a querendo mais. A única coisa boa foi ter alcançado o seu
objetivo.
O que não estava claro era onde se encaixava Katiuska na equação. Como
ele poderia ser o próximo vor se tinha uma filha? E se tinha uma festa privada em
sua casa, com todos os excessos que ela viu, onde estavam as menores? Não
conseguia resolver essas duas questões, e as duas coisas não poderiam existir ao
mesmo tempo.
Apesar de estar muito cansada não conseguia dormir, dava voltas na cama,
e pela primeira vez sentiu calor, muito calor, embora a noite estivesse
extremamente fria.
possível, mas não podia se arriscar. Manter sua vida, concentrar-se em seu
trabalho, parar de pensar, era o que devia fazer e como se o universo resolvesse
lembrá-la que era uma pessoa e não a garota superpoderosa que pensava ser, de
fizesse esquecer tudo, junto com um par de pílulas para dormir era o que
precisava. A ordem, o cálculo e ter o dia planejado era o que sempre a ajudava a
lidar com sua vida, isso lhe dava estabilidade e agora era a única coisa que
biológico, despertou uma hora antes da reunião. vestiu-se com uma calça preta e
bem quente começou a ler o jornal. Foi direto para a parte de “Lazer e
Entretenimento”, queria ver se havia alguma coisa sobre a festa da noite anterior,
mas nada.
Brad a olhou com o cenho franzido sem dizer nada, até que Blake chegou
junto a eles.
— Como diria minha irmã caçula, a noite está cobrando seu preço, tem um
mensagem.
— Isto é pior do que pensávamos, os árabes já fecharam o acordo, e não é a
— O quê?!
— Caralho!
— Então, pode não ser para uma bomba? — Ira perguntou intrigada.
diretamente para ela. — Ou você acha que para fazer pão não precisa de farinha?
para ele. — Não questione meus métodos. Eu não questiono os seus, e estou
— Sim? Como? Vamos, quero escutar sua teoria para saber como entraria
nessa sala, que se você não percebeu tem leitor de impressão digital, e se por
acaso isso parece pouco, está guardada por dois homens armados com
que tudo saiu melhor do que o esperado. Não foi você quem me ensinou que
neste trabalho se separa a vida pessoal do dever? Senão como consegue conviver
consigo mesmo cada vez que se olha no espelho pela manhã? Ou quando olha a
Mary? Porque ela não tem ideia de sua vida dupla, ou contou a ela e eu não
soube? — Respondeu irritada. — Porque se for assim, me avise para deixar de ser
superpoderes era acabar com a paciência de Brad, e quando a briga começava era
melhor não estar por perto, as balas sempre disparavam em todas direções.
entender?
máximo. Ou acredita que não quero ir embora? Quero que toda essa merda
termine para que possa voltar para casa, tirar umas férias no campo e esquecer de
tudo, e de todos!
— Mentira.
— Tudo o que você quer é vingar a morte de Elisa! Por isso se interessou
por esta missão. Você acha que pode acabar com todos os estupradores deste
mundo? Não! Até quando tenho que repetir isso. Aceite isso de uma vez para que
arrependo cada maldito dia por não ter estado, mas sigo em frente e não tento me
matar para vingar Elisa, e você deve fazer o mesmo, já faz três anos!
— E mesmo que passe cem anos, Brad. Sempre vou lembrar que não pude
fazer nada.
O agente suspirou pegando suas mãos, ela estava tremendo e tinha o olhar
perdido.
— Escute, Ems. Naquele dia estávamos todos juntos, era impossível saber
— Devia ter ido com ela, não ficar no bar com vocês.
— E o que teria feito?
— Matá-lo! Sim, já disse isso, e daí! Se eu estivesse com ela o teria matado
com minhas próprias mãos. Do que me serve que esse filho da puta esteja na
— Essa não é a melhor resposta para uma agente que trabalha para o
departamento de justiça.
conhecimentos faria o que eu quis fazer. E se não for assim, é porque já perderam
seu coração e são apenas robôs servindo seu país. Você já se tornou um?
— Você acha que não tenho coração por querer fazer o que é certo e levá-lo
a justiça? Somos agentes, não super-heróis que fazem justiça com suas próprias
mãos.
— Não sei, estou lhe perguntando isso — falou, desviando o olhar, estava
com tanta raiva que não conseguia esconder. — Mas o que eu sei é que se
estivesse ao meu alcance, não teria esperado que outros com suas leis tenham
vingado a minha irmã, e se não o matasse, pelo menos o teria deixado todo
machucado, e depois o teria mandado para a prisão com uma tatuagem escrita
de seu ser, ainda com raiva e dor porque um sádico filho da puta estuprou sua
irmã mais nova no mesmo dia que celebravam seu aniversário e ela, apesar de ser
— Não, Emily, já te disse o que penso e o que faria, e não posso acreditar
pensando.
— Não sou — disse entre dentes, limpando rapidamente uma lágrima que
escapava pelo canto do olho. — E agora, por favor, peço que me deixe fazer o meu
discussão, ou escreverei um relatório dizendo que não está apta para nenhuma
outra missão.
trabalhar, tinham muitas coisas para fazer, e muitas outras para analisar.
carregamento e o que continha, mas não sabiam a data nem o local, isso teriam
que descobrir, e embora não gostassem, Ira era a única que poderia descobrir, e
— Não acredito que seja tão complicado voltar para aquela sala.
— Ele não vai voltar a dormir, e mesmo assim, nada nos assegura que
voltem para o mesmo lugar, tendo o clube ou qualquer outro maldito hotel nesta
trabalho. Um dia mais para descobrir, um dia menos para o final da missão.
***************
dançar, Zhenya como incentivo, lhe deu um segundo copo de vodca. A mulher
estava falando sobre o quão bem ela dançou, mas Ira não estava prestando
russo.
ele levava algumas meninas para sua cabine, mas agia como se não se importasse,
acontecia diversas vezes, mas sabia que isso o atraía. Ela o pegou olhando para
ela, mas ele não disse nada. O que estava passando pela cabeça daquele russo?
Como ela poderia fazer para se aproximar dele? Ela tinha que chamar sua atenção
irritada. Pegou a bandeja e caminhou diretamente até onde ela estava sentada.
minutos.
— Vocês farão que fique velha antes do tempo. — Deu algo parecido a um
mesmos?
— Bom, árabes, muçulmanos, iraquianos, iranianos, não sei de onde são
— Bom, então não vou fazê-los esperar mais — disse, e decidida caminhou
BIOMÉTRICO
Misha sorriu, era típico do vor acreditar que o sexo era tudo, isso seria sua
ruína, no entanto, para Misha só existia uma coisa importante: ele e somente ele.
Estava excitado assistindo, não podia negar. Vadik estava fodendo uma
Isso foi tudo o que precisou dizer, e a garota começou a fazer o que sabia.
Durante vários minutos ele se esqueceu do mundo, caindo naquele jogo mórbido
de desejo e sedução.
*************
Uma, duas, três vezes Ira bateu na porta da cabine, que era uma pequena
sala com jacuzzi e cama incluída, e ao ver que ninguém atendia, decidiu entrar.
Deixou a bandeja em um dos lados, mas ao ver o vor e o árabe não podia
de visão, tinha que gravá-lo, mas algo chamou sua atenção, e sem virar seu corpo,
Essa voz, esse gemido eram inconfundíveis para ela, rouca, masculina e
concentrar e gozar, abriu os olhos e viu-a. Seus olhares se fixaram e ele sorriu com
Ira sentiu um pulsar de prazer se alojar entre suas pernas quando Misha
pegou a mulher e sentou-a de costas sobre ele, segurando-a pelos cabelos para
mulher sentia, ela sentia também. Um calor intenso se apoderou de seu corpo.
Misha entrava e saía do corpo da mulher enquanto ela ofegava de puro prazer.
— Ei… você, puta — disse o árabe, chamando sua atenção. — Entre aqui.
com Misha e outra muito diferente com algum deles. Deu mais um passo
desobedecendo a ordem e colidiu com um corpo duro como uma parede, que a
Ela não conseguiu responder. Quando ouviu esse homem, muitas imagens
— Vamos — falou, movendo-a ainda mais para frente para que a vissem.
— Responda.
Surpreso ao escutar a fragilidade dessa resposta e que foi difícil até mesmo
falar, mas especialmente irritado porque essa idiota chamou a atenção do Ahmed,
ele perguntou:
— Que porra faz você aqui, puta? Você está sempre em lugares que não lhe
diz respeito. Sabe que eu poderia fazer que fosse expulsa agora mesmo, não é?
— Zhenya me enviou, mas…, mas não diga a ela que fiquei… por favor.
— Por que não quer que eu conte a ela? Você não faz o mesmo que elas?
Agora estava realmente nervosa, precisava sair desse lugar, mas não podia,
Inclusive poderia contar para suas companheiras que você fodeu o árabe mais
importante deste país. Não é isso o que vocês fazem? Você já não contou a Zhenya
— Não?
É claro que não o fez, desejava despi-la, levá-la a alguma sala privada e
usá-la até se cansar. Desejava-a mais que qualquer coisa nesse momento, e sem
hesitar, pegou sua mão e a levou até sua ereção. Ao sentir seu toque, sussurrou
— Não… — gaguejou, uma coisa era foder com o russo por um propósito
em seu escritório, e outra muito diferente era fazer isso naquele lugar onde não
Misha aproximou sua boca da dela, e depois de passar sua língua por seus
lábios falou:
Essa voz… Essa entonação não a deixava pensar direito. Uma parte dela
queria dizer que sim e se entregar ao prazer que sabia que obteria, o mesmo que
tinha sentido em sua casa. Deus… desejava senti-lo, e antes que pudesse
responder, sentiu como encontrava seus lábios e a beijava. Colocou a língua com
tal intensidade que foi impossível recusar, o sabor de Misha era cativante e,
pegando-se mais a seu corpo, aproximou-se dele para lhe devolver o beijo com a
mesma intensidade.
Misha soltou um gemido de puro prazer enquanto sentia como cada parte
do seu corpo reagia a esse beijo arrebatador que agora estava retribuindo.
Quando Ira sentiu que lhe faltava o ar, e ele baixava toda a guarda, se
hora, se quer ter seu orgasmo, peça a alguém que esteja trabalhando a esta hora.
Surpresa pelo que acabava de fazer, e antes de que o musculoso pudesse
reagir, correu pelo corredor que levava à saída. Foi direto para o vestiário, pegou
****************
golpeou a parede com força. Algumas mulheres que passavam se assustaram, não
da ereção que ainda possuía, e que agora chegava a doer, voltou a entrar na sala
Ele saberia esperar, se a puta queria jogar, ele iria mostrar quem sairia
vencedor.
*************
No dia seguinte, bem cedo, antes das sete da manhã, alguém bateu na
debaixo da cama e caminhou decidida para olhar pelo visor. Quando viu quem
era, relaxou.
— Preciso repetir?
importa se estiver de calcinha e congelar sua bunda — afirmou, e saiu dando uma
Vestida como se estivesse no polo norte, Ira saiu para se encontrar com o
agente, que esperava-a na esquina, assim como ele havia dito. Começaram a
correr pelo parque, até que quase uma hora depois Ira, exausta, incapaz de dar
Jeff desacelerou, mas não parou de correr até que chegaram a uma
cafeteria.
— O que deseja?
isso significa?
— Não, que seu povo o considera um deus, então ouça bem. Cenário
e você sabe, mas ao contrário desta missão, lá fui agente de campo, e jamais temi
por minha vida, porque o único lado perigoso tínhamos coberto, mas aqui não é
assim. Não temos nem um caralho de lado coberto, porque cada dia aparecem
mais. Um é este terrorista, outro é a máfia vermelha, nem sequer o pacto entre
eles é confiável, pode quebrar a qualquer momento, ou pior ainda, se outra bratva
atenção.
— Sei que não importa o que eu diga não fará com que abandone essa
missão, que se falharmos ou não, ninguém saberá. Mas eu quero que se cuide
— E quero que fique com isto — lhe disse entregando um telefone celular
de última geração.
— Um celular?
e…
disse era realmente perturbador, mas agora não podia deixar que o medo
interferisse.
— Misha menos ainda, acredito que quando voltarmos ao nosso país vou
homem, um normal com nome e sobrenome, quem sabe um rapaz certinho, que
tenha um trabalho comum em um escritório e que seu horário seja das nove a
cinco.
— Está louca, não quero que a levem para a prisão por assassinato.
começaram a rir.
amigos íntimos, inclusive lhe apresentou sua melhor amiga, que hoje era sua
esposa, Annie. Entre eles não havia segredos. Para a equipe era um dos principais
com os rapazes, Ira voltou para o seu apartamento, vestiu um short de látex preto
e um Top que mostrava seus seios. Esta noite se promovia uma festa BDSM.
Quando entrou no clube, viu que predominava as cores preta e vermelha, o
mulheres e homens.
Ira gostava de sexo, não podia negar, mas não conseguia entender o gosto
dela. Esta noite teria uma rotina diferente, mas sabia que os casais estariam
concentrados em si mesmos.
interagindo com alguns clientes, aguentando com seu melhor sorriso algumas
palmadas na bunda, mas o que não foi capaz de tolerar foi uma chicotada na
açoitou o corpo do homem, que o recebeu com prazer, inclusive pedindo mais,
***********
Misha esteve reunido com Vadik grande parte da noite e estava impaciente
para descer e poder vê-la, mas a reunião demorou além do esperado. Quando
finalmente conseguiu descer, sabia exatamente o que queria fazer, desta vez nem
A primeira coisa que fez foi procurá-la, e como se tivesse um radar, antes
Misha caminhou entre as pessoas com um sorriso triunfal. Com o ego sobre
as nuvens, ele foi até onde ela estava, pegou o chicote do chão e pegou sua mão.
Entraram em uma sala, e com um olhar que não admitia desafio, ordenou:
— Tire a roupa e nem pense em me dizer que não está em horário de
trabalho.
estava batendo o chicote em sua mão, fazendo com que sua pele arrepiasse.
Enquanto estava tirando suas roupas, Misha olhava seu corpo. Não podia
negar que essa mulher o enlouquecia e era tremendamente tentadora, até mesmo
para um homem como ele. Quando terminou de olhá-la, deixou seus olhos
Ira estava parada como uma estaca, nem um músculo se movia, mas todo o
seu corpo tremeu quando passou o chicote pelas costas, mal a tocou e ela pulou:
— Pensei que fosse muitas coisas, mas não um covarde que gosta de bater
Esse orgulho e segurança que possuía era o que adorava nela. Sorriu, e
ansioso para entrar em seu jogo, tirou a camiseta com movimentos lentos e
Claro que gostava, ele era gostoso e, apesar de estar coberto por tatuagens,
que foram feitas principalmente na prisão, ele parecia sexy e másculo, mas não
protestasse, mas não faria isso. Ela se cuidava e estava claro que ele também, ou
seu corpo, e esta vez queria desfrutá-la. Era linda, tudo nela era perfeito, até
mesmo os músculos que formavam suas coxas e o pequeno tremor que tinha em
seus pés.
— Você vai ficar me olhando o tempo todo? Isso não funciona assim, —
protestou — não tenho a noite toda para você — falou. Precisava sair dali o mais
rápido possível.
“Puta é a sua mãe, idiota”, pensou fechando os olhos, um sinal que não
um pouco mais, e quando ela, cansada de esperar, já ia abrir os olhos, sentiu como
Vários segundos depois, excitada por tudo o que o russo dizia, obedeceu a
Se seu cheiro era incrível, seu sabor terminaria por deixá-lo viciado. Era
Esta noite e todas as da semana seguinte, Misha fez tudo o que quis com
cada vez que Misha esperava-a depois de dançar, ela tirava o colar e só voltava a
colocar quando ele saía pela porta do quarto, deixando-a completamente sozinha.
Desejo, paixão, desafio, mas acima de tudo contradição era o que cada
noite passava pela mente da agente, e embora não houvesse noite em que a
Depois de vários dias de ausência, Misha voltou para o clube. Desta vez,
conversando com um cliente, olhou-a com desejo. Não conseguiu tirá-la de sua
mente, a imaginava olhando em seus olhos desse jeito tão especial… que o
fascinava completamente.
Como ele esperava, quando Ira o viu sorriu, e não demorou nem dois
segundos para que ela se despedisse e caminhasse para a cabine onde sempre se
encontravam.
— Perfeito, — e olhando para Misha continuou — tem meia hora com sua
puta, então tem trabalho, estarei na cabine de sempre. Desta vez vou deixar você
Misha apenas o olhou, e assentiu com a cabeça então partiu até onde sabia
Quando dois homens se aproximaram para falar com ele, apenas levantou
a mão, e os silenciou com um olhar e continuou caminhando até onde estava ela.
O tesão por não foder com ela há alguns dias o estava matando.
Ao entrar a viu de costas olhando pela janela, olhou seu relógio e depois
falou.
4
Devochki: Garotas
O coração de Ira começou a bater acelerado. Não queria nada além de fazer
isso, adorava a ideia e o que certamente viria a seguir, mas não gostou da maneira
como ele falou, e quando ia protestar, Misha passou ao seu lado e lhe deu um
tempo que dizia palavras sujas em seu ouvido. Como a enlouquecia esse russo!
sua mão sentiu o colar. Isso trouxe de volta sua sensatez, e com toda a força de
— Acredito que é melhor deixarmos para outra ocasião, você tem que
Irritado e muito chateado porque ela não continuava com o que estava
“Idiota! Vou te dizer onde enfiar esse maldito dinheiro”, pensou enquanto sentia
como Misha se acomodava atrás de seu corpo, tocando seus mamilos com os
— Eu pago por sua bunda, assim não seja puritana, porque freira você não
é.
— olhando para o relógio continuou, — você tem que ir, passou sua meia hora, se
Misha a olhou com raiva, ela tinha razão, seu tempo acabou.
Quase correndo, foi em busca de alguém que pudesse lhe dar mais
etiquete a mercadoria.
— Cale a boca, Rachel — a cortou Zhenya com raiva olhando como Ira ia
embora — há convidados importantes esta noite, não quero que faça nenhum
estivesse certa, esta noite estaria mais ocupada do que de costume, e uma das
se acalmar e pensar muito bem, não tinha tempo nem para avisar a sua equipe,
apenas confiava que eles estivessem vendo e ouvindo o mesmo que ela.
Sem perder mais tempo, dirigiu-se para onde tinha certeza de que estariam
as meninas, naquele lugar onde a música clássica reinava, mas agora não podia e
meninas da outra vez, mas desta vez não ouviu ruído algum. Por um momento
seu coração acelerou, pensando que chegou muito tarde, lentamente girou o
trinco e sua alma voltou ao corpo quando viu uma das garotas enrolada sobre
uma poltrona.
Ira caminhou apressadamente para ela e a levantou para ver como ela
estava, mas essa não era uma garota, era um zumbi de tantas drogas.
outra porta, uma que ela jamais tinha reparado. — Está… está com o russo.
O russo só podia ser Misha, ela sabia, não negaria isso e não negaria a si
mesma, só que não conseguia entender. Sem pensar em nada, e com um único
objetivo, dirigiu-se à porta. Uma parte dela desejava encontrá-lo ali e pegá-lo em
flagrante, mas por outro lado rezava para que não fosse assim. O que estava
Uma garota sentada, com os olhos fechados e os pés amarrados, mas o que a
paralisou foi vê-la nua, tremendo. Era difícil para ela respirar, estava até
enjoando. Tudo estava acontecendo de novo, estava recordando tudo, mas não
era Lisa quem estava naquela sala. Tudo passou diante de seus olhos. O que
aconteceu com Lisa a machucou como pessoa e como irmã, e a marcou como
veias, estava disposta a arruinar a missão para salvar a essas garotas, disposta a
enfrentar tudo.
A angústia que a menina viu no rosto de Ira foi tão grande que, apesar de
novamente.
— Você está bem? Ele te… tocou? — Até mesmo a machucava fazer essa
pergunta.
ver que o rosto de sua salvadora voltava a ser o mesmo. — Apenas estou enjoada
— Me escute, vou tirar você daqui, mas preciso que me ajude, pode
caminhar?
sentadas enquanto a agente verificava se a saída estava segura, uma vez que o
comprovou voltou para ajudar as menores. Pegou a de cabelo azulado, que era a
que estava mais dopada, ajudando-a a caminhar, mas quando abriu a porta se
encontrou com seu pior pesadelo e antes de que pudesse falar ou reagir, levantou
5
Ne, ne: Não, não.
— Filha da puta! — Foi a única coisa que conseguiu falar antes de desabar,
enquanto escutava ao longe o grito de terror das garotas que tentava salvar.
Não soube quanto tempo esteve dormindo, até que sentiu uma dor no
olhos se deu conta de que eles estavam vendados. Seu primeiro instinto foi mover
até que de repente sentiu que caminhavam em sua direção, e com um único
perdão, nem esquecimento”, essa frase foi a primeira coisa que lhe veio à mente.
que é a única puta que quer salvar essas vadias? Acha mesmo que são umas
santas?
— Meninas! Elas sabem mais do que você certamente sabia nessa idade —
sua reação e além disso, sair dali antes que os rapazes viessem atrás dela.
intrometer, senão eu mesma vou apagar você deste mundo, e se você não fosse
importante para Misha, acabaria contigo agora mesmo. Agora suma daqui —
disse com desprezo, ao mesmo tempo que a soltava com uma navalha que não
acontecer ficará somente entre nós, espero por seu próprio bem que saiba
entender. Agora saia daqui — a apressou levando-a até a porta, e antes de abri-la
— O que é isto?
caminhou sem olhar para nada ou para ninguém. Correu ao camarim para
procurar suas coisas, nem sequer se trocou, apenas queria sair dali e avisar que
estava bem.
Peter e Jeff, entravam correndo. Ira começou a correr, e sem poder evitar,
procurou Brad com o olhar, sabia que se eles estavam entrando, o agente
encarregado já estava aqui, e o que menos queria nesse momento era problemas
ou um confronto.
sobre ele quando o viu. — Mas vamos sair daqui, por favor.
tirava sua jaqueta para verificar seu pescoço, e quando notou o ponto que estava
ficando roxo, exclamou com raiva e desespero. — Que porra tem na cabeça?
— Vamos, estão nos olhando — falou Jeff, que tinha chegado junto a eles,
Não conseguiram dar nem cinco passos quando dois homens, mostrando
— Aonde você pensa que está indo? — Ira ouviu o que eles falaram para
ela com total clareza, enquanto seus amigos e companheiros ficaram na frente
“Duas horas! Por isso todos estavam tão nervosos, caralho, agora sim que ocorreria
Sem muita vontade e dispostos a brigar, eles assentiram com algo parecido
a uma afirmação, e foi ela quem deu o primeiro passo para se soltar e ir embora.
Mas Misha não estava disposto a deixá-la ir, não assim tão fácil, então sem
se preocupar com esses homens, a puxou entre seus braços, notando também a
marca em seu pescoço, mas não disse nada, embora achasse mais do que suspeito.
— Não, eu lembro, e se você não está por perto para me recordar, Zhenya
— Só eu pago para ter você. Escutou bem? Entendeu bem? Não quero que
Ira não sabia o que dizer, o que responder, realmente esse homem tirava
sua razão e perturbava seus pensamentos. Horas antes estava disposta a enfrentá-
dentro de mim — falou, e depois de olhá-la fixamente nos olhos, fez um sinal a
um de seus homens para que a acompanhasse, e apesar de Ira ter protestado, foi
impossível persuadi-lo.
desconhecido.
que Ira fez foi procurar o telefone que Jeff lhe deu e ligar para o Brad. Não
— Onde está?!
— Calma? Calma?! Como quer que esteja calmo? Perdemos você por quase
duas horas, e sabe por quê?! Porque você insiste em fazer coisas estúpidas. Até
sinal, agora Jeff está investigando essa tal Zhenya, logo saberemos mais sobre ela.
— Brad, eu…
— Não quero escutar, a única coisa que vou dizer é que na próxima vez
que tirar o maldito colar, estará fora da missão e não irá trabalhar novamente na
— Sim.
— Sim o quê?!
Ela desligou o telefone e ligou para Jeff. Ele, igual ao seu parceiro, atendeu
— Estou ocupado, acima de tudo irritado, não quero falar com você,
colocou em risco a missão e só pensou em você, acho que não entende o conceito
dentro do armário a única coisa que podia acalmá-la nesse momento. Tirou o
saco de boxe sobre um gancho que utilizava para treinar, tinha que extravasar de
alguma forma.
Quando estava pronta, nem mesmo olhou as luvas brancas e roxas que
costumava usar.
O primeiro soco sentiu em todo seu corpo, foi tanta a força que o saco
começasse a percorrer suas veias. Um soco abaixo! Um acima! Estava usando suas
pernas e punhos.
Que porra Zhenya quis dizer? Sabia que via algo estranho em seus olhos,
mas até que ponto ela estava envolvida com o tráfico de mulheres? As ajudava ou
seu estômago aumentava, e por isso chutava e chutava cada vez com mais força,
repetidas vezes.
Onde estavam essas meninas agora? E o que era isso de que o russo não a
Grito, soco e chute foi o que nasceu agora das profundezas de seu ser ao
la? Se inclusive Jeff havia dito que faria o mesmo a vez anterior, por que agora
reagia assim? Além disso, se estavam escutando tudo, por que tanto alarme? Ela
se perguntava tantas coisas, e para nenhuma delas tinha resposta, ou pelo menos
não a encontrou.
Que porra todos tinham nas suas cabeças? Ninguém queria fazer nada?
Enquanto batia no saco, a imagem de Lisa passou por sua mente. Voltou a vê-la,
agora como se fosse uma mera espectadora, via como ela se aproximava de sua
irmã, pegando-a entre seus braços para que dissesse algo. Nesse momento Lisa
tinha a roupa rasgada e seu rosto estava desfigurado. Recordou também o cheiro
que emanava do corpo de sua irmã, mas quando baixou seu olhar até suas pernas,
seu estômago não aguentou mais e teve que correr ao banheiro para vomitar.
Vomitou até esvaziar seu estômago. Como pôde, depois de muito tempo
mulher que devolvia o olhar era outra, não era Emily, muito menos Ira, era
Agora estava esgotada, tanto, que nem sequer foi capaz de atender ao telefone,
— Vá se foder — foi a única coisa que ela disse quando desabou na cama,
*******************
Misha, desde que tinha visto Ira com esses homens, começou a se sentir
possessivo, o que jamais sentiu por nada, nem por ninguém. E ele, que era um
inclusive sabia que havia sido mal-educado quando respondeu as duas únicas
perguntas que ele tinha feito, mas quando tudo acabou, já não pôde mais
aguentar, foi até onde seus homens estavam para que lhe dessem a direção de
Quando entrou, a primeira coisa que viu foi um saco de boxe, que
rapidamente segurou para que a corrente não soasse. Então viu pela extremidade
do olho como sua devochka7 dormia sobre a cama. Ficou totalmente hipnotizado
por sua bunda. Além de fazer alguém ter um enfarte, a calcinha preta que a cobria
era minúscula.
em sua bunda.
Ira pulou na cama, e quase ao mesmo tempo que ele retirava a mão, graças
a seus hábeis reflexos, ela levava a sua para sua arma, mas em uma fração de
— Quem lhe deu o direito de entrar sem bater? — Lutou com ele, mas
Ele aproximou seu rosto do dela inalando esse aroma que o embriagava, e
embora! Esta é minha casa, e não é o maldito clube. Você não manda aqui, russo.
6
To, chto, chert voz´meu, ty delayesh´mne, Devochka: Que porra está fazendo comigo, garota?
7
Devochka: Garota.
Misha começou a gargalhar, como gostava desse temperamento e dessa
coragem, foi isso que o cativou. Mas a cada momento mais irritada Ira ficava, sem
pensar nas consequências, em um rápido movimento passou uma perna sobre sua
cabeça e depois deu um salto, apesar de estar presa por suas mãos para que não
— Quero foder você — ele respondeu sem se importar com sua pergunta.
— E não estou mandando, estou pedindo, sei que este não é o clube, é seu… lar?
Ira não soube o que responder diante dessas palavras sinceras. Com o
sua boca para retornar o beijo que estava lhe dando. Fazendo-o com carinho, com
amor e sem pressa alguma, ambos se esquecendo de tudo o que carregavam nas
enquanto o russo não parou de beijá-la em nenhum momento. Sem saber como ou
por que aquele homem a completava e apesar de tudo não queria se separar dele,
e ele queria protegê-la do mundo no qual ele vivia, inclusive se assustava de seus
próprios pensamentos.
clímax chegou para ambos, enquanto se perdiam em um dos beijos mais intensos
que já compartilharam.
Misha, com cuidado para não a esmagar, beijou sua testa, colocando-a
sobre seu peito, e acariciando suas costas enquanto Ira estremecia entre seus
braços. Respirou algumas vezes e com cuidado se virou para olhar em seus olhos
— Esteve no leilão?
— Sempre estou no leilão — respondeu olhando-a nos olhos, mas o que viu
nessas safiras o fez estremecer, nunca sentiu culpa por nada do que fez em sua
vida, mas nesse momento algo mudou, sentiu algo diferente. Vergonha?
Com esse sentimento e com muito cuidado, mas sem dizer nada, ele a
colocou de lado e se vestiu. Agora nem mesmo podia olhar para ela, não depois
do que ocorreu.
lençóis e se cobriu até o pescoço virando-se para não olhar para ele, mas apesar
Sem ser capaz de falar, Ira apenas balançou a mão para que soubesse que
sim.
Com os olhos tristes e pensando em tudo o que ocorreu aquela noite, mas
principalmente com mais incerteza que antes, decidiu dormir, e desta vez
Colocou uma calça e foi abrir a porta. Não se incomodou em ver quem era,
Quando abriu a porta com calma, Jeff entrou com um sorriso fingido.
precisamos correr mil quilômetros para que o faça. Além disso, estou exausta e
— Vejo que você gosta que repitam as coisas. Cinco minutos, Ira e
contando.
— Ela não tem que me suportar neste estado. Ela faz as coisas direito — a
repreendeu.
nada de bom aconteceria mais tarde, se era um presságio do que viria, tudo iria
de mal a pior.
Graças à neve que caía, misturada com diminutas gotas de chuva, não
correram muito, apenas algumas quadras até que chegassem a uma cafeteria. Ira
Uma vez acomodados e sem poder aguentar mais a incerteza ela rompeu o
silêncio.
— Não.
— Não?
— Não. Agora se cale e escute que não tenho muito tempo, seu colar está
sentiu insegura.
— Porque o que eu vou dizer é somente entre nós, assim faz o favor de se
agente se apaixona pelo russo. Russo, que não é idiota, em algum momento
percebe quem você é. O vor descobre, e o que ele faz? Se vinga da única maneira
que a máfia russa faz — levantou a mão quando Ira ia protestar e ela se calou. —
Eu vou te lembrar que Vadik não vai matá-la, você é problema do russo, mas se
vingará em sua família, ou seja, com seus pais. Quer que eu fale o que fazem às
mulheres?
— Isso não faz sentido, está criando um filme do Quentin Tarantino em sua
mente.
clientes. — Faz dias que escondo informações dos outros agentes, cobrindo suas
costas. Vemos e ouvimos tudo, Ira, não se esqueça — recordou tocando o colar.
Ira abriu a boca, uma, duas e três vezes, mas não tinha nada para dizer, e
tudo o que diria seria mentira e não poderia mentir para ele.
— Ontem à noite falei com Annie, — ele disse muito tempo depois
coisas que não podiam fazer quando estavam em missão era falar com seus
familiares, acima de tudo, era para a segurança deles. Ser agente secreto ou de
mantinha em completo segredo, mas neste caso, Annie sempre soube quem era e
— Ou seja, não sou a única que faço coisas erradas — murmurou dando
voltas ao líquido que estava a ponto de acabar, mas em vez de responder alguma
coisa, Jeff olhou para o seu relógio e com os dedos indicou silêncio e depois
apontou para o seu colar, isso significava que agora a conversa era entre três
pessoas.
Seguiram conversando mais meia hora até que voltaram caminhando. Era
cidade. Um que para qualquer pessoa seria considerado apenas elegante, refinado
e seleto, mas para eles, que investigaram tudo, não era assim. “Tuchska” era um
restaurante distinto, sim, isso não podia se negar, destilava opulência, mas o mais
importante era que esse lugar era um ponto neutro onde diferentes personagens
da máfia russa frequentavam. Nesse lugar as brigas ficavam de fora, mas também
arma ou não, mas depois de muito pensar, rejeitou a ideia e agora caminhava com
um vestido preto colado ao corpo sem qualquer meio para se defender até o
O mais provável é que assim que entrasse pela porta qualquer tipo de
comunicação entre ela e seus companheiros fosse totalmente cortada. Com certeza
existiam dispositivos internos que fariam interferências no sinal, ela sabia disso e
os agentes que a protegiam também. O menos satisfeito era Brad, mas ele
Ao chegar à porta dois homens a olharam dos pés à cabeça, e ela com seu
— Misha me convidou.
retornou e deu a entender que podia passar. Mas depois de alguns passos, outro
Agora estava parada na frente de uma parede sendo revistada por uma
mulher, que mais parecia um robô, já que não possuía nenhuma expressão em seu
rosto. Agradeceu em silêncio a decisão de ter ido desarmada, senão,
Um homem com um traje preto se aproximou dela para solicitar seu casaco
estavam reunidos. Não foi difícil identificar que havia vários grupos de máfias
diferentes. Mas por que estavam todas reunidas? Isso só podia significar algo
começaria a enviar os dados, é claro, se ela fosse embora e tudo transcorresse sem
qualquer problema.
sua atenção. Acreditava-se que estava morto, mas se seus olhos não a enganavam
e ele não era um fantasma, Yuri Antonov estava vivinho e abanando o rabo diante
de seus olhos. Quando se virou para captar mais alguma coisa, a suas costas
escutou:
Não precisou ver para saber a quem pertencia essa voz tão especial, que
tule.
que a vez anterior quando a conheceu e estava usando um vestido de látex, e ela
agradecia imensamente por isso. Acariciando sua cabeça se levantou para ser
guiada pela menina, mas não pôde dar dois passos quando viu Misha, que
— Mas…
Ele não gostou disso, nem sequer quis pensar o motivo de demorarem
tanto, embora é claro, vendo-a vestida assim não era difícil imaginar. Além de
estar linda, porque realmente estava, ela era totalmente impressionante. Nada
nela era exagerado, apesar de usar um vestido simples, nela fica estonteante,
— Vamos.
mesmo.
— E isso, — respondeu no mesmo modo — você sabe muito bem moy
dorogoy drug.8
O vor não pôde evitar gargalhar quando o ouviu dizer “meu querido
amigo” dando um golpe na mesa, demonstrando sua felicidade. É por isso que o
russo que não temia nada era sua mão direita, era capaz de enfrentar qualquer
Os convidados à mesa reagiram alegremente, por que o que o vor dizia era
lei, Ira no entanto, olhava tudo tirando suas próprias conclusões, até que de
repente apareceu com uma jovem que não devia ter mais de quinze anos, Ahmed,
Ira, por debaixo da mesa, apertou os punhos quando aquele filho da puta a
Queria saltar sobre ele e enterrar em seu pescoço a faca que agora segurava
em suas mãos.
qual Ira lhe deu de presente um maravilhoso sorriso e então levantou sua mão
para acariciar sua cabeça, produzindo algo que ele jamais havia sentido. Algo tão
forte que inclusive fechou os olhos engolindo um suspiro, mas não gostava do
para olhar para Misha, que permanecia corajoso ao seu lado. Se antes o olhava
8
Moy dorogoy drug. Meu querido, amigo.
estranho, agora era pior. O pouco que tinha comido lhe estava subindo pela
— Preciso ir ao banheiro.
— Agora?
Misha resmungou e sem dizer nada se levantou para dar permissão para
lei seria eleito. Ira ficou surpresa por alguns segundos, teve que disfarçar muito
bem para não ser descoberta, agora não só ia ao banheiro para remover a sensação
de nojo que sentia, mas também precisava avisar aos seus companheiros o que
porta travando-a com a cadeira, que estava ao lado, tinha apenas alguns segundos
para os avisar.
o espelho, e quando estava pronto escreveu, rezando para que pudessem lê-lo.
escolheriam o próximo chefe da máfia ou ladrão de lei, o que significava que não
9
Vor zakone: Ladrão procurado pela lei.
Agitada saiu do banheiro, e como não poderia ser de outra maneira,
pensando que o destino sempre a colocava a prova. A mesma garota que tinha
visto com Ahmed esperava com a cabeça abaixada que o banheiro desocupasse.
Ela apenas assentiu, mas isso não era nem remotamente o suficiente para
Ira.
— Ele… ele é meu dono, sou de sua propriedade e, além disso, ele protege
a minha família.
quatro horas por dia, os sete dias da semana. Enquanto estiver em Moscou posso
te ajudar.
— Obrigada — disse a garota com seus olhos brilhantes e Ira não pôde
evitar lhe dar um abraço antes de voltar para a mesa, bem no momento que todos
aplaudiam.
dando as boas-vindas à família a um novo vor que não pertencia à capital, era de
não conseguiu parar de pensar que logo Misha também estaria lá, mas… o que
deixando-a um pouco mais livre, ela só queria se afastar, assim não duvidou em
descobria uma nova informação. Essa noite seria longa, muito longa.
Não conseguiu terminar quando ele cravou seus lábios sobre os seus, sem
se importar que seus dentes se chocassem, então enfiou a língua em sua boca e
provou o sabor que desejava por horas. Continuou beijando-a enquanto ela lutava
para afastá-lo com as mãos, mas a força de Misha não permitia, e quando ele
— É um porco.
— Mas este porco é o que paga por você. Mova sua bunda e me
acompanhe.
Por que ela veio? Ela não sabia responder. Estava trabalhando? Sem nada
para objetar, seguiu-o. Permaneceu ao seu lado todo o tempo que ele determinou.
estava irritada, quando Misha não a deixou tomar um copo de vodca, respondeu:
dilatavam pela força que utilizava. Não respondeu nada, apenas o olhou
onde não pudesse falar nada. Porque conhecendo-se sabia que ia gritar, que
sentir por ela estava nublando seu juízo, um que ele jamais poderia perder, não
levando a vida que ele levava, então olhou-a com a mesma raiva que ela o olhava,
e antes que desse o primeiro passo, a pegou pelo braço com o desejo de carregá-la
em seu ombro, mas com tantas pessoas importantes não podia, por isso, teve que
— O quê? Está latindo para mim? Não entendo o idioma dos animais —
quase nem sentiu, e se o fez disfarçou muito bem, porque nenhum músculo de
entrar, mas com o que não contava era sentir a mão de Ira batendo em sua
bochecha. Ela tinha muita força para a diferença de tamanho que possuíam. E isso
— Me solte!
— Não!
— É um…
Ele estava gostando tanto que não se lembrava de ter disfrutado dessa maneira
antes. Ela tentava se soltar, mas como ele a imobilizou não tinha forças para
soltar-se.
Não falaria mais nada, não daria o gosto a ele, precisava se controlar e isso
era exatamente o que estava fazendo, apenas olhando para ele sem falar.
— Agora podemos conversar. Não sabe o quanto desejava ter você assim,
entre meus braços outra vez — resmungou sobre seus lábios. — Não suporto que
me olhe como fez na mesa ou ontem à noite em sua casa. Não permito que você
— Não me faça dizer o porquê — soltou com raiva — olho como você
merece.
— Não.
Pegou seu braço para sair do quarto, mas para uma direção muito
diferente. Estavam quase correndo pelo corredor que os levava à entrada. Apenas
os seguranças os olhavam, mas não se atreveriam a parar o temível Misha, ainda
colocou-a em seu ombro para levá-la mais rápido, e quando gritou a silenciou,
Do lado de fora, o frio penetrava até os ossos, agora nevava e ela estava
apenas com um vestido sem mangas, e parecia que o russo também não se
Caminhou quase dois quarteirões com ela sobre seu ombro até que,
— E não é isso o que você faz com as meninas dos leilões? — Perguntou
com uma voz chorosa, se esquecendo de tudo, inclusive de que estava do lado de
fora e que o colar voltava a emitir sinal. — Para isso Zhenya estava procurando
por você ontem à noite e faz isso cada vez que há um leilão. Eu vi, Misha, e você
— Eu não toquei nelas, Ira… — disse sem rodeios, mas com uma
Entendeu?
— Você acha que eu sou estúpida? Pensa que vou acreditar em você
porque está mandando? Ou porque sou uma puta e tenho que achar normal.
Zhenya? Para o vor? Você sabe o que, Misha? Tanto faz! Depois do que eu vi, e
— Não sou idiota, — se retratou — e não sou cega, sei o que eu vi.
tudo, eu tento.
seu olhar.
seu controle.
— Não é? O que pensa que eu sou? Imbecil? Você acha que não sei o que vi
ontem, você e aqueles homens! Eles não eram clientes? Vi como comiam você com
os olhos.
— Não são meus clientes, expliquei isso ontem à noite. Mas se não quer
acreditar…
fechando os olhos para depois apoiar o queixo em seu ombro — não era a
— Você mesmo me repete isso sempre. Sou uma puta! De onde você acha
que os conheço? São clientes do clube! E… eu também não gosto de pensar que
algum dia terei que ir com algum deles — respondeu envergonhada. Ela não era
uma puta apesar do que ele acreditava. — Sei que é meu trabalho…
chateado, eu também não gosto quando uma das minhas companheiras falam
sobre você ou o quanto é bom amante. Ou acredita que não falam? Ou que não
me importo? Todas falam sobre suas qualidades… — Mas nesse momento uma
pergunta cruzou sua mente e não podia deixar de fazê-la. — Misha... por que diz
O russo ficou tenso, mas negou com a cabeça e erguendo-se diante dela
respondeu:
— Conheço as regras de cor, não preciso que você cuide de mim para que
Ira balançou a cabeça, ela estava errada, sua proximidade a estava afetando
muito.
— Não fale — a silenciou com um beijo intenso que fez os dois tremerem,
apaixonadamente.
— Mas…
— Olhe nos meus olhos e me diga que não me deseja — falou enquanto
levantava sua perna, expondo sua pele nua ao vento gelado, que não esfriava seus
corpos. Firmou seu joelho em seu quadril enquanto baixava sua mão, e em um
único movimento, abriu sua calça e baixou sua boxer, liberando sua ereção,
esfregando-a contra sua pélvis. Agora tinha a calça à altura dos quadris e de longe
longe da realidade, Misha estava a ponto de fodê-la diante de quem passasse por
esse lugar.
uma ordem. Levantou sua outra perna apoiando suas costas contra os tijolos e
depois de alguns segundos, movendo sua calcinha para o lado, a penetrou com
seu corpo, terminando em seu ventre, com tanta força que teve que silenciar um
O som gutural que emanou da garganta de Ira deu a entender que ela
de Ira era estranha, nem bom, nem ruim, inclusive estava entre o limite da dor e
do prazer. Cada impulso a jogava para outra dimensão e Misha sabia, porque ele
estava gostando tanto quanto ela, até que não conseguiu aguentar mais, e com um
grito, arremetendo com toda sua força, beirando a dor, meteu mais rápido,
você entrar… a desejei com todo meu corpo. Quero você por inteira, de todas as
desconcerta e não posso decifrar seu… — teve que se calar de repente, o que
estava confessando era mais do que Ira devia saber, ou o que qualquer ser
para ele, para depois de alguns minutos se separar e baixar suas pernas ao chão
com cuidado.
— Vá embora!
mudança de humor, mas o homem que tinha na frente dela, já não era o de
colocasse, ficando totalmente nu da cintura para acima, pegou sua mão sem dizer
nada e caminhando com decisão à rua fez parar um táxi, pegou dinheiro em seu
Sem beijo, sem despedida, e sem olhá-la, Misha bateu no teto do carro e
chegou ao prédio sujo onde viviam seus parceiros. Não chegou a bater na porta
grande abraço. Ira seguiu até onde estavam seus companheiros, concentrados
recebendo dados e enviando relatórios. Jeff não a olhou e Brad, com um rosto
indecifrável, foi o primeiro a falar com ela, enquanto segurava com força alguns
atualizar suas informações, para que possam começar a capturá-los com suas
próprias estratégias. Não nos corresponde essa missão. A CIA também começou
parabenizar pelo rumo que está tomando esta missão, e me pediu que a coloque
entregando um telefone via satélite — é uma pena que eu não possa dizer o
mesmo — disse com arrependimento e Ira entendeu tudo. Mas não conseguiu
o que o subdiretor dizia. Ele se derretia em elogios. Isso significava que, além de
estar muito bem posicionada na agência, isso com certeza, serviria para uma
futura promoção.
passando do seu lado, mas antes de sair da cozinha voltou a falar. — Os rapazes
não sabem, consegui remover do áudio para que não tivesse mais problemas.
— Obrigada.
resmungou deixando-a sozinha, mas se Ira pensava que agora poderia trabalhar,
estava muito enganada. Passando pela porta com cara de poucos amigos apareceu
Brad.
— Está me dizendo tudo isto porque fiz sexo com o russo? — Não podia
— Não — falou entre dentes. — Eu faço isso porque não quero ver você,
porque o que tenho frente a meus olhos é algo que jamais esperei de você. Está se
a tratassem como tal não podia tolerar, que o russo a lembrasse a cada momento
podia aguentar, mas que ele, seu amigo, companheiro e superior a ofendesse
Brad nem sequer foi capaz de reagir quando de repente sentiu a mão de Ira
acertar seu rosto em uma bofetada e sentir o corpo dela sobre o seu,
desestabilizando-o, fazendo com que ambos caíssem no chão, levando com eles
vários utensílios.
— Não vou permitir que volte a me insultar! — Gritou enquanto caía sobre
ficando em cima dela, ao que Ira respondeu levantando sua perna com força para
Jeff agarrou Ira pela cintura para separá-la enquanto ela esperneava e
Gritou de volta.
para quem eu quiser! — Falou com raiva enquanto Jeff implorava em seu ouvido
que se acalmasse.
companheiro, e como se fosse um cão com raiva, veio até ela tão rápido que Jeff
Peter não sabia o que fazer, jamais tinha visto Brad descontrolado dessa
maneira e com cuidado entregou a Ira um copo com água que ela não aceitou.
irônica — vocês são amigos, passam o dia todo juntos, e se isso não for suficiente,
— O que você está querendo dizer? Você acha que eu sei de algo que você
não sabe?
Jeff a olhou furioso, apertando os dentes. Não podia trair Brad, porque ele
não havia confessado nada, mas realmente sabia o que estava acontecendo, sabia
como homem e como amigo. A único coisa ruim é que se sentia desleal a sua
amiga.
— Você vai atrás dele para não falar comigo, não é? — Afirmou com tanta
— Perfeito, se for isso o que você quer, vá atrás do seu amigo — disse,
sabiam que isso seria pior. A única coisa que Peter fez foi entregar uma jaqueta a
ela, estava nevando e ela estava usando somente um vestido e uma camisa.
passava pelo lugar. Estava perto de sua casa, então decidiu caminhar. Abraçou a
Como o vestido era tão colado ao corpo que lhe incomodava, sem duvidar, o
Ao sair se sentia um pouco mais calma, mas não totalmente relaxada, e sem
Do outro lado da linha estavam demorando muito, ela sabia que era por
— Alô?
— Mãe!
alguma coisa…?
apenas sua família a chamava assim, por causa de seus olhos e porque quando era
— Sim, — mentiu de novo — eu disse que era muito fácil, apenas seguir
alguns traficantes para a América Central. — Se fosse Pinóquio, seu nariz mediria
quilômetros. Sua mãe sabia que era uma agente, mas não estava ciente da
— Aqui estão todos muito bem, sentindo muitas saudades, quando voltar
— Eu também estou ansiosa para isso. Não posso falar muito, o pai está?
— Eu mais ainda.
— Gatinha! — Falou seu pai e ela teve que morder o punho para que não a
ouvisse chorar. — Como você está suportando o calor? Brad está cuidando bem
de você? Está tudo certo com a missão? Por que está nos ligando? Não é perigoso
para você?
— Vou te responder por partes, pai — sorriu para mentir outra vez. —
Com o calor tudo bem, suportável. Brad sempre cuida de mim, é um grande
Pelo menos isso era verdade. — Estou ligando porque precisava falar com vocês,
dizer que eu amo vocês e não, não há perigo algum, apenas vigio de longe.
— Emily, sabe que eu conheço você como se fosse seu pai — ironizou,
— É meu pai — sorriu, fungando o nariz, antes que o líquido que emanava
caísse.
— Eu também te amo, lave o seu rosto e sorria, é muito bonita para ficar
triste.
— Pai, não…
“Deus, não posso esconder nada dele, é como se tivesse um radar detector de
— Sim, pai. — Foi a resposta mais sincera que ela deu. — Agora preciso
desligar.
— Te amo…
Por que entrou sem bater? Jeff está procurando por você.
o fizesse, você não iria abrir, e com o Jeff não se preocupe, já disse que viria falar
contigo.
ofender novamente!
chamou de puta e você sabe que não sou. Mas sabe o quê?
— Não me importa porra nenhuma o que pensa de mim, espero que esta
— Não. Prometi a seu pai que cuidaria de você e farei isso enquanto estiver
no serviço, já perdi uma de suas filhas, não deixarei nada acontecer com você.
— Emily…
— Você sabe que não estou entendendo nada? Se estou metida nisso até o
Este é o meu espaço, meu lugar e não aceito que esteja aqui, agente Cambell.
— Você é impossível.
— Não confunda as coisas, Emily. Eu não sou Jeff, não vai me manipular
encarregado desta missão e sou responsável por você porque prometi a seu pai.
— É um mentiroso.
— Como queira — falou afastando-se dela com as mãos dentro dos bolsos.
— Prefiro que sejam os meus neurônios do que o meu coração, não quero
ser um robô, não quero que a vida passe e não me importe com mais nada —
disse com raiva, mas com a calma incomum que vem com a derrota.
Brad olhou para ela, admirando-a ainda mais do que já fazia… entre outras
coisas. Emily era uma das agentes mais corajosas com quem já trabalhou, mas
inclusive agora, até o último minuto tentava resolver o problema e encontrar uma
solução. A questão era que não tinha solução e o problema era ele.
convertia quando era Ira, nem a garota superpoderosa Emily. Era uma agente de
campo pronta para a ação. Vestia uma calça e uma camiseta preta. Sem vergonha,
tirou sua arma do esconderijo, levantou a camiseta e colocou sua arma, completou
com um casaco de pele preto que tinha um gorro que só deixava seus olhos livres.
— Estou pronta.
— Eu não tenho um e você sabe, mas você também não está usando, e
realmente não estou usando nada escrito “estou aqui”, “me vejam”.
— E isso, de acordo com você, seria bom ou ruim? Porque se o antigo Brad
me dissesse isso, acreditaria que é bom, mas você… — respondeu com desdém.
passando as mãos sobre seu corpo. Brad a olhou, vestida assim não passaria
A duas quadras a van estava esperando por eles. Todos vestidos iguais, de
preto. Assim que o oficial responsável chegou, ele jogou um colete à prova de
entre Lastinni e um dos convidados da cerimônia de hoje, onde ele dizia a hora e
local da troca.
escutou nada.
Blake, que era o perito em comunicações. — Enquanto falava com seu russo, nós
carregamento.
— Não?
10
Mira telescópica: é um instrumento óptico, parecido com um pequeno monóculo, utilizado em armas de
fogo. Sua principal utilização é para tiros a longa distância. Algumas dessas miras vêm acompanhadas de
lasers e lanternas e/ou possuem visão noturna.
— Não — respondeu Brad tomando conta da situação. — Não temos
— Agora?
objetivo não é esse, se estamos aqui hoje é porque estamos em missão conjunta e o
cavalheiros.
*****************
Essas eram suas ordens e as seguiriam. Trinta minutos depois, a van foi
estacionada e seus cinco integrantes desceram. Jeff, Emily e Peter com um único
as mãos e ele voltou para onde estava sua equipe, conduzindo-os até o teto, esse
que se situaram sobre as vigas de ferro. Mas Ira, que era muito mais magra,
— Aonde você pensa que vai? — Falou Brad quando Ira pegou a câmera e
a pôs no cinto.
pode acontecer?
— Blake, — ele falou devagar, mas enérgico — você é mais magro, vá com
ela.
rastejar sobre as vigas. Não eram muitos metros que os separavam dos outros, só
— Não ofego por causa da minha condição física, é culpa da Emily e suas
calças — riu e teve apenas dois segundos para desviar de um chute que sua
Sabia que era tudo uma brincadeira, e como tal, só estava brincando, mas Brad
não.
— Você queria que eu viesse com uma saia para que pudesse ver…
— Emily! — Cortou-a seu amigo Jeff, que já imaginava o que viria a seguir.
— É claro, Jeff.
uma mensagem que leu em voz alta para que toda sua equipe escutasse.
hangar.
Isso foi tudo o que precisaram para ficar em alerta. Finalmente começava a
ação.
absoluto. — Me responda.
um…
parceiro agarrou seu pé e fez que não com a cabeça. Então ela abriu a jaqueta e
veemente, seu parceiro disse que não, mas já era tarde, Emily se soltou e
superpoderosa não acreditou no que viu. O vor que coroaram essa mesma tarde
era quem fazia negócios com Lastinni, que pertencia à bratva do Vadik. Isso era
traição!
De sua posição privilegiada podia gravar tudo, mas não escutar, e isso a
estava deixando louca. Sabia que mesmo que eles falassem muito baixo, o colar
captaria tudo, não podia ficar de braços cruzados, olhou para frente e viu a
todo o protocolo, tanto que Jeff, que estava ao seu lado, lhe deu uma cotovelada
para que se calasse, não porque o escutariam, mas sim porque podiam escutar a
ela.
Brad ficou pálido quando seus olhares se cruzaram e então, como a gata
que seu pai dizia que era, descia por um pilar que estava mais ou menos a doze
O protocolo não importava mais, nem o que ele havia dito, agora tirou a
ele ligou o botão do amplificador para captar o máximo que pudesse e todos
começaram a escutar:
novo brinquedo?
baixaram uma caixa de metal que devia pesar vários quilos, mesmo esses dois
abriram, nenhum dos agentes podia acreditar no que viam seus olhos. Frente a
SUV e agora trazia em suas mãos uma pequena mala prata, que cuidadosamente
11
É uma aeronave desenvolvida pela empresa americana General Atomics, e é usada principalmente pela
Força Aérea Americana (USAF) e pela CIA nos ataques a alvos terroristas em países árabes.
ativado. De cima, o agente lhe fez um sinal, mostrando a metralhadora com mira
telescópica para que entendesse que ele atiraria, que agora devia se esconder.
O vor mostrou cinco malas cheias de dinheiro. Lastinni passou por sobre
comprovou que não, fez um gesto a seus homens para que se aproximassem e as
apressadamente.
dê os códigos de acesso.
Lastinni respondeu com um sorriso e caminhou direto até ele para digitar a
— Bem, coloque o código e terminemos com isto de uma vez por todas — o
apressou.
Emily foi ouvido, mas antes que qualquer um pudesse perceber, uma bala atingiu
homens de Lastinni.
enxergar e assim se proteger. Não estava entre o fogo cruzado, mas perto de onde
tentou matá-la quando ela o golpeou com a perna e depois atirou nele, e em
novo vor. Saiu de seu esconderijo e matou mais um, precisava sair rapidamente,
mas por onde? Estava presa, até que viu a solução. Começou a subir por um
poste, se chegasse à rua poderia sair ilesa do lugar. Com a arma entre os dentes
começou a subir.
Enquanto ia subindo, viu o SVR aparecer. Odiou-os com toda sua alma,
apontava e disparava contra ele, perdendo por um segundo seu objetivo, mas ela
Somente Emily, que vinha por trás, podia fazer alguma coisa. Não pensou duas
vezes e, balançando-se na viga, impulsionou-se com todas as suas forças para cair
O golpe foi seco e muito forte para não ter consequências. Caiu rodando
— Eu os cubro daqui — gritou Jeff, que tentava dar a eles uma saída
analisava em todos os lugares. Como não respirava, e ao ver uma bala incrustada
em seu peito, não teve mais opções que remover seu colete e tentar reanimá-lo,
— Pode andar?
O agente olhou sua perna. Estava quebrada, mas caminharia mesmo assim.
Assentiu com a cabeça, enquanto ela o agarrava pela cintura e com muita
protegendo-os.
Ela assentiu com a cabeça. Estava bem, o ferido era Peter. Agora estavam
caminhar. Enquanto estavam correndo, ela conseguiu ver como seu objetivo
anterior lutava corpo a corpo com um dos gorilas, então por detrás se aproximava
outro, ficando em posição para atirar. Seu estômago se contraiu ao saber o que ia
imediatamente.
milhares de sensações. Ele tentava descobrir através desses visores quem era, mas
era impossível.
Emily reagiu rapidamente e voltou junto aos seus parceiros para continuar
seu caminho em meio as balas e o fogo cruzado, até que de repente uma grande
explosão fez com que os agentes saíssem voando. Brad manobrou como se fosse
um jogador de rugby, Peter fez o mesmo, mas ela não conseguiu se proteger e foi
procurando-a.
Deixou de avançar para a saída, precisava encontrá-la e a tirar daí. Mais calmo
não a deixava pensar direito. O calor era sufocante. Tirou a jaqueta, precisava
baixar sua temperatura corporal e sair do lugar, sabia que quanto mais perto do
chão, mais oxigênio encontraria, mas suas forças acabavam, até que de repente
sentiu como alguém a jogava sobre o ombro, tirando-a do lugar. Com a cabeça
para o chão e os óculos de visão noturna quebrados não podia ver nada, não sabia
quem era, até que viu seus dedos e finalmente confirmou tudo. Não podia ser!
O homem que ela salvou, e que nesse momento a estava salvando, era nada
mais e nada menos, que o russo. Um calafrio percorreu seu corpo. Agora estava
segura, mas se a reconhecia estaria perdida, a mataria a sangue frio, assim como
O som gutural vindo do interior de Misha a fez tremer, mas caiu no chão
junto com ele, afastando-a também. Apesar de estar mancando, correu com todas
as suas forças até o que ela acreditava ser a saída, encontrando-se com Jeff, que a
— Acabei de dar uma ordem, agente, não fale até que cheguemos em casa
agente responsável do SVR. A cada segundo sua voz subia de tom. O inegável era
com certeza chegaria a níveis superiores, mas não os afetaria, apenas aos russos,
machucava sua presa antes de matá-la, inclusive de longe ela pôde sentir a raiva
com a qual ele lutava. Esse homem era mais perigoso do que ela pensava.
Ao chegar, foi Brad quem a carregou e disse ao Blake para levar Peter ao
cama, literalmente, mas inclusive essa pequena queda doeu, tinha contusões por
todo o corpo.
Minutos depois, Jeff saiu revigorado depois de um banho com água quente
e era a vez de Brad, que desde que entrou estava taciturno, nenhum deles quis
perguntar o porquê.
Imaginavam.
pela impotência, esteve a ponto de perder algo muito importante para ele. No
começo, queria matá-la por ser imprudente, mas não porque não trabalhasse bem,
era excelente, mas sempre corria riscos desnecessários. E desta vez, a única coisa
que não podia controlar era a outra equipe, falhou com seus homens, deixando-os
sozinhos. Isso era algo que ele resolveria no dia seguinte, apresentando-se
formalmente ao serviço secreto russo. Quando saiu, viu que a agente dormia. Não
— Emily dormiu.
amiga. Ela com preguiça entrou no banheiro. Agora que tinha os músculos
relaxados, tudo doía muito mais, e teve que pedir ajuda para tirar o colete à prova
de balas.
chuveiro.
— Duvido disso, termina o banho e verei o que posso fazer por você.
com vergonha por estar no banheiro com ele, sabia que não havia motivo para
protestar, ele não a olhava com luxúria. Ele entregou a calcinha e, ao passar o
— Para que você não diga que não sou um cavalheiro — falou, mas o
objeto não servia, então ela teve que se conformar em ficar na frente dele apenas
inspecionar suas costas primeiro, enquanto ela cobria seus seios como podia.
do corpo também.
— Preciso que abaixe os braços, não vou ver nada que Annie não tenha.
amiga louca, está aqui do outro lado do mundo sendo socorrida por seu
maravilhoso marido — zombou pegando seu braço para que relaxasse. — Vamos,
quanto mais rápido começarmos, mais rápido terminaremos, não seja criança.
Sem outra opção, deixou de se cobrir para que Jeff pudesse cuidar de seus
ferimentos enquanto fechava os olhos como se com isso sentisse menos vergonha.
— Não!
a para que ele pudesse ver do que falava. A ferida estava em um dos lados de seu
corpo.
frente dela.
camiseta para vestir, que se manchou de iodo instantaneamente, já que ela estava
ela.
— Zhenya?
Resmungou.
— Zhenya, sou eu, Ira, estou ligando por que… — Nesse momento Jeff se
sentou ao seu lado e apertou sua ferida causando dor real, e sua voz mudou —
minha… mãe faleceu, acabaram de me avisar. Tenho… tenho que ir vê-la… por
favor.
— Acalme-se, garota, pare de chorar, tire alguns dias de folga, é claro, sem
— Vem aqui — disse Brad triste, oferecendo seus braços de uma maneira
paterna.
se de tudo. Não sabia se era produto dos analgésicos ou do cansaço, sabia apenas
Os dias após a explosão, Emily passou junto com seus parceiros, supunha-
se que assistiu ao funeral de sua mãe, então não podia estar visível para ninguém.
os russos estavam dentro das bratvas, mas também pessoas muito influentes de
outros países.
desta vez quisesse, não conseguiu parar de pensar em Misha, claro, era seu
segredo mais bem guardado, mas o único que não podia enganar era ao Jeff, que a
surpreendeu várias vezes olhando para o nada. Ele não precisava falar com ela
Compartilhar vinte e quatro horas diárias os ajudou enormemente, foi assim que
***************
para o clube e não podia negar que estava ansiosa para chegar lá.
olhos.
12
Depuravam: Procurar, encontrar e corrigir, pela examinação do código de um programa, as falhas ou
erros de um computador.
13
Desencriptavam: Decifrar dados que estão em código.
— Quem é?
— Você vai me deixar passar ou não? Se perder meu trabalho será sua
culpa — os repreendeu irritada, precisava entrar, não era apenas seu trabalho que
— Entre — disse um deles sério, então a pegou pelo braço e a pôs de frente
para a parede.
seu corpo ficaram olhando, essa parte do trabalho seria muito agradável,
Ira sentiu como lentamente passavam as mãos por seu braço, para depois
Para aplacar sua raiva começou a contar, tinha a mandíbula apertada e seu
suas costas para que não se movesse, continuou com a outra até chegar à sua
dobrou em dois.
— Eu disse que deveria tê-la escutado, ela disse que se a tocasse te mataria,
agarrava pelo cabelo e o dobrava para trás, agarrando-o pelo pescoço com um
jamais temeu à morte, mas nunca em seus anos tinha visto esse olhar, era insano.
Buscando suas forças de dentro levantou sua perna e golpeou onde Misha estava
ferido, fazendo-o cair, mas com um movimento que Ira em todos os seus anos
como uma agente jamais viu, ele se virou e com um golpe sem violência, cravou
respirar, mas era inútil, apenas um mísero som emanava de sua boca.
mas o russo nem se alterou, pegou sua mão com força e a puxou para que
— Silêncio.
O olhou com tanta intensidade que o russo bufou, grunhiu, mas apesar
disso se virou e foi até onde o homem se contorcia no chão, enquanto seus
— Obrigada — disse sorrindo. — Sei que você não se importa com o que eu
fixamente arregalando os olhos, até que um som gutural emanou de seu interior.
Ira assustada tentou se afastar um pouco dele. Nunca o viu assim antes.
— O que está…?
sobre ela, agarrava-a pela nuca e a beijava sem compaixão alguma, com um desejo
Tentou se separar no início, não estava preparada para isso, mas ele era
mais forte e mesmo tentando resistir, ele a imobilizou cobrindo-a com todo seu
corpo. Então segurou suas mãos por cima de sua cabeça e começou a tocá-la como
tanto desejava.
deixando-o incapaz de pensar e agir. Não entendia o que sentia, mas sabia que
esse instinto de possuir, era apenas com ela. Sabia que essa podia ser sua queda,
mas desde que a deixou algumas noites atrás não conseguiu parar de pensar nela,
dia e noite, mas agora era o momento de pôr fim a sua agonia. Definitivamente,
O que ela estava fazendo com ele? O que significava para ele? Pensava enquanto
introduzia a mão por debaixo de seu vestido e finalmente tocava sua pele nua.
Por que se desesperou por não poder vê-la nesses últimos dias? Isso jamais
aconteceu antes, mas com ela não podia resistir, já teve que suportar o suficiente e
agora não podia possui-la da maneira como pretendia, e como se tudo isso não
fosse suficiente, precisaria se controlar quando ela fosse dançar. Não, dessa vez
tinha certeza de que não poderia suportar. Mas o que poderia fazer? Nada.
Pensou em mim?
boca com a mão, batendo seu corpo contra o dela. Seus dedos desfrutavam do
contato de seus lábios enquanto seu braço exercia pressão em seu pescoço sem
chegar a machucá-la, mas com a clara intenção de mostrar quem era seu superior,
Ira não se sentiu degradada, por alguma estranha razão, precisava dele
tanto quanto ele precisava dela e se nesse momento não o olhasse nos olhos…
melhor.
Ela estava feliz por sentir seu corpo e seu desespero em possuí-la, porque
era isso o que estava fazendo na escuridão do corredor que levava ao salão
momento estava lhe dando a excitação necessária para não pensar e apenas se
pôde, puxou seu cabelo forçando-a para que o olhasse, sabendo imediatamente o
O calor que provinha de seus corpos era capaz de incendiar Moscou e seus
A cada investida que o russo dava, Ira sentia que a dividia em duas,
tentava escapar, mas nada, até que sentiu como um tremor se apoderava de seu
corpo.
não voltará a partir sem que eu saiba. Entendeu? — Disse parando de repente,
deixando-a querendo mais. Mas ela não iria ficar assim, não senhor, jogou seus
mordeu seu ombro lhe causando dor para que esquecesse sua excitação, e com
Misha estava suando e seu coração acelerado não o deixava nem pensar,
tudo nessa mulher o enchia: seu corpo, seu aroma, sua voz… tudo penetrava em
seu interior.
— Se você acha que vou ficar assim, está muito enganado — falou
Misha ficou surpreso por sua coragem e bravura, realmente era uma
mulher única. Sem querer revelar sua vulnerabilidade, começou a rir alto, faz
anos que não se soltava assim e com um gesto com a mão indicou que partisse. E
quando a viu ir embora, não perdeu nem dois segundos para ir procurar a
Zhenya.
Amaldiçoando em silêncio, Ira foi embora. Não era seu costume ser mal-
educada, mas passou ao lado de alguns clientes sem sequer olhá-los. Nesse
“Então é isso que você quer? O que mais quer de mim, russo do caralho? Bem,
foda-se!”
Enquanto falava sozinha, olhou a folha onde estava seu nome e a posição
em que saía para dançar. Não o encontrou, leu várias vezes para se certificar e
nada.
Agora realmente não estava entendendo nada e grunhiu com raiva, trocou
de roupa e com a folha na mão foi procurar a Zhenya. Não foi difícil localizá-la,
de luto. — Obrigada, mas não é sobre isso que quero falar. Por que não apareço
na lista?
— Não?! E o que farei então? Eu não sairei com nenhum cliente — afirmou.
Zhenya riu abruptamente, qualquer uma das outras garotas estaria feliz,
— Bem, você também não fará isso esta noite, é para isso que serve o
barman, você apenas ... mova seus peitos e sorria, isso não é tão difícil, certo?
atrás do bar.
Dito isso, Ira foi até onde estava o barman. Ela gostava de fazer as coisas
A noite estava passando rapidamente, igual a sua enorme raiva com Misha,
mas estava agradecida por não o ver. Quem ela viu foi o vor, estava sentado com
Estava muito intrigada. A ordem que todos receberam era que deviam
atendê-lo muito bem, como se fosse um czar russo. Mas quem era?
— Este pedido é para o vor — anunciou uma das garotas, e foi nesse
prontos, ela mesma caminhou em direção à mesa do vor com a bandeja em suas
mãos.
olhassem, parou de caminhar a poucos passos de onde o vor estava, e seus olhos
alguma coisa, então usando todo seu poder feminino e utilizando a voz ainda
deixou de abraçar à garota que tinha ao seu lado para se sentar na ponta do sofá, e
respondeu estendendo sua mão para que se sentasse em sua perna. Ira hesitou
por alguns segundos, mas vendo que era a única possibilidade de permanecer ali,
aceitou.
— Eu a quero.
— Bom, — aceitou o vor levantando as mãos — depois não diga que não
avisei. Vamos continuar o que estávamos fazendo. O que dizia sobre o hangar?
— Que com essa explosão tenho a Assuntos Internos presos aos meus
calcanhares, não pode usar o porto por esses dias — comentou sério, acomodando
Ira melhor em sua perna e de passagem aproveitando para passar a mão em sua
bunda.
Ilenko assentiu com a cabeça, isso dava tempo para que as coisas se
acalmassem um pouco. Então pegou um gelo do copo que tinha sobre a mesa e
Ela não moveu um músculo, mas estava apertando os dentes tão forte que
chegava a doer.
O vor sorriu com petulância, pegando uma maleta que estava do seu lado.
Ira nem sequer tinha notado e quando a abriu um grande sorriso apareceu em seu
rosto.
— Pode contar.
maço de dinheiro, e colocando entre os seios de Ira. — Você nunca viu tanto
— Essas que escolhe esse homem? Sua mão direita? — O vor assentiu. —
Dizem que as prepara bem, é um dos melhores, faz que… durem. Escutei vários
de seus clientes elogiá-lo. — O vor assentiu. — E ele poderia preparar uma para
mim? Para que tenha resistência, não quero ter que encobrir nada depois, e se for
— Misha pode fazer isso e muito mais, jamais tivemos queixas sobre ele,
Misha respirou fundo e puxou Ira de Ilenko, pegou-a pelo braço e a sentou
— Não preciso de mais informações, sei quem é, e por ser quem diz que é,
O vor começou a explicar no que consistia a ajuda que Ilenko lhes daria,
enquanto Ira tentava ouvir e prestar atenção, já que Misha agora tinha o braço em
— Devia ficar no bar… não devia estar aqui e menos ainda sentada na
perna dele — grunhiu apertando-a mais. Ira tentava se mover, mas era
impossível, de repente com a mão que tinha livre agarrou seu cabelo e puxou sua
cabeça para trás, beijou sua bochecha e passou seus dentes pelo seu pescoço. Ela
respirou fundo porque agora voltava a apertar seu pescoço. — Você quer que
Ilenko a foda? Quer que a prepare para ele? — Perguntou apertando-a um pouco
mais. — Você não tem o suficiente comigo, por isso está flertando com ele?
— Estava sim, eu vi, disse que não trabalharia enquanto estivesse comigo.
Não me faça ficar com raiva, Ira, não sou um homem paciente, sou um assassino,
um mercenário e não vou duvidar em matá-la por me trair, porque isso é o que eu
faço com os que me traem… — Ira fechou os olhos recordando o que tinha visto
— Vá se foder, Misha…
— Farei o que eu quiser e quando quiser — bufou lambendo sua orelha, até
— Se continuar fazendo isso com a puta vou gozar aqui mesmo — brincou,
ajustando as calças.
chefe de polícia, vou asfixiar você e não precisamente para dar prazer. A asfixia
desviar o olhar.
pediu enquanto se aproximava da mesa e aspirava uma linha branca que a garota
que estava com ele espalhava. Eram pequenos cristais que inclusive brilhavam,
— Prepare uma das meninas do próximo leilão, temos que mantê-lo feliz.
Misha só assentiu.
14
Asfixia auto-erótica: ou “scarfing”, é o processo de cortar a alimentação de ar para aumentar a
intensidade do orgasmo durante o prazer. A teoria é que o seu cérebro, faltando o oxigênio, ficaria
desorientado, quando confrontado, criando um clímax, ao mesmo tempo.
Ira estava escutando tudo e analisando, algo realmente aconteceu para que
aproximaram.
— Senhor.
— Mas…
Escoltada por dois gorilas Ira era levada para sua casa, pensando no que
essa atitude da Misha denotava. Ele tentava se mostrar como um verdadeiro filho
da puta, mas algo lhe dizia que não era assim. Tinha atitudes que demonstravam
o contrário, mas quanto mais sabia sobre ele, mais confusa ficava. Do que ela
realmente estava com medo? Ela tentou esquecê-lo, inclusive não pensava em ter
alguma coisa com ele novamente, mas foi preciso apenas vê-lo e esquecer de tudo,
precisa se afastar, a missão tinha que acabar, cada segundo que passava ficava
mais claro que desta vez haveria feridos, e esse seria, para seu pesar, o seu
coração.
*************
Misha por outro lado, tinha sido blindado por muitos anos e esperava
continuar assim, mas cada vez que a via ou estava com ela algo rachava em sua
blindagem, precisava que ela o desprezasse, mas apesar de suas palavras havia
algo em seu olhar que o atraía como um ímã e fazia que seu corpo começasse a se
Moveu a cabeça descartando todo tipo de ideias irreais que ele não podia
nem se permitiria sentir, talvez deveria deixar que outro a usasse para tirá-la da
cabeça.
— O caralho! Sobre o meu cadáver! — Exclamou chamando a atenção do
desaprovação o vor.
seguir. Deixaram uma caixa na porta da casa do vor, e dentro dela estava a cabeça
de um de seus homens de confiança com uma nota que dizia que Vadik seria o
próximo.
*****************
Quando chegou em sua casa Ira começou a enviar todos os dados a seus
parceiros, esta vez não queria conversar, não queria escutar nenhuma repreensão
da parte deles embora a merecesse, afinal ela sabia que estava fazendo bem seu
Essa foi a última mensagem que recebeu, mas ficou mais calma, pelo
menos eles não estavam em seu apartamento. Ela gostava de trabalhar em equipe,
conversavam.
a ouvir ruídos. A princípio não soube identificar o que eram ou de onde vinham,
mas cada vez aumentavam mais, não queria levantar, então os ignorou, sabia que
eram seus companheiros, mas… por que não entravam? Eles sempre faziam isso.
continuar dormindo. Ela tinha ido dormir quase às seis da manhã, desobedecendo
Morfeu, um novo golpe a assustou. Desta vez foi duro e seco, quase derrubou a
porta.
Com raiva por essa atitude de alguém que não podia ser outro além de
Brad, e sem entender o porquê, levantou-se furiosa e foi até a porta para abrir,
quando a porta se abriu de repente e atrás dela aparecia Misha como um touro a
ponto de atacar. Ira recuou dois passos instintivamente pensando em todo o
— Com quem falava com tanta intimidade? — Bufou entrando, mas ela o
deteve com seu corpo, o impedindo de avançar. Como estavam, ela descalça,
Ante a veemência de suas palavras, ele pela primeira vez em sua vida
— Saia daqui e bata na porta como deve ser, sou uma puta, mas decente,
fora, fechou a porta com um grande golpe, deixando-o do lado de fora atordoado.
Por fim, respirou mais aliviada. Correu para tirar os papéis que tinha sobre
mais idiota do mundo. Melhor que seus homens estavam esperando-o lá embaixo,
porque realmente sentia que estava fazendo uma enorme besteira, mas deixou de
— Entre.
— Está nua! — Foi a primeira coisa que ele disse respirando com
trabalho até daqui algumas horas e gostaria de descansar, não sei o que Zhenya
Ira lhe deu as costas e se sentou em sua cama como se ele falasse com
vento, enquanto rapidamente procurava o colar para colocar. Porra! Ele estava na
a outra mão embaixo do travesseiro, com suavidade, o desconectava sem que ele
notasse.
— Não sem saber aonde vou, trabalho de noite, sou puta — falou,
lembrando-o.
— Para alguém que não gosta que a chamem assim, você lembra disso
Isso a irritou, incomodou e a humilhou, era verdade que ele pagava, mas
suéter vermelho e uma jaqueta escura. Colocou em sua carteira o telefone via
— Brad, não é isso, vou sair e não sei para onde, o russo veio me buscar,
Ira simplesmente o olhou sem dizer nada. Desta vez ele tinha razão, mas
— Ao clube.
responder uma simples pergunta, quem tem o déficit aqui não sou eu.
— Haverá um almoço.
Ira não respondeu, estava olhando pela janela. Como estava chateada,
certamente, nesse momento estava muito feliz com seu pai, eles tinham um
casamento exemplar.
explicou:
— É por segurança.
— Vocês, não. O vor, sim — falou saindo do carro e pegando sua mão. Ao
nada era diferente do normal, mas esta vez era diferente. Estava decorado com
roxos e muito branco, mas o que a perturbou foi ver mulheres, algumas muito
diferentes cores. Elas dançavam, enquanto homens vestidos com túnicas brancas
nenhum detalhe e percebeu que ao fundo estava a mesma menina que tinha visto
na coroação, mas o maldito porco não estava prestando atenção a ela, estava com
outra garota que devia ser pelo menos alguns anos mais velha.
— Uma celebração para Ahmed. Nosso vor o está agradando com o melhor
que possui.
agradando com o melhor que possui, não podia significar outra coisa além de que
estava lhe dando de presente escravas, e que todas as garotas que estavam nesse
Deu uma volta de cento e oitenta graus esperando que o colar gravasse
tudo e depois o programa de identificação do Jeff pudesse fazer seu trabalho. Nos
negativamente e sorrindo.
— Vamos, homem, muda essa cara, sente-se conosco e aprecie o show que
Ahmed olhou para Ira como tinha feito antes, e se aproveitando de seu
Vadik que conhecia Misha, colocou sua pesada mão sobre seu ombro e
— Acredito que seria uma boa ideia — disse, e sussurrou em seu ouvido.
— De qualquer forma, estará com mais roupa do que usa sempre, não irrite ao
Ahmed.
15
Bedlah: O termo bedlah refere-se ao traje que uma dançarina árabe usa.
Misha respirou fundo, mas sabia que ele tinha razão e falou diretamente
mas teve que se conter para não dar um grande show e pôr em risco a missão.
— Amira, — falou Ahmed e uma mulher mais ou menos de sua idade com
em seu idioma pensando que os russos não entenderiam, mas ela entendia
estendeu a mão a Ira, e ela antes de segui-la olhou para os escuros olhos de Misha
Com essas palavras sinceras, Ira encontrou calma para a ansiedade que
estava sentindo. Afinal, colocar esse traje não podia ser tão terrível.
Sim, precisava se concentrar nisso, ela não podia esquecer que era uma
agente infiltrada que devia observar e enviar informações. Logo tudo terminaria e
de todas, mas pelo que pôde notar, elas pertenciam ao harém pessoal do Ahmed,
eram mulheres leais e muito importantes para aquele árabe. Eram suas esposas.
Estavam em um dos quartos que ela já havia visitado. Sobre a cama havia
Enquanto uma das garotas pintava suas mãos com desenhos de henna.
Outra garota, a que ela tentou ajudar, aproximou-se com algo entre as mãos e
Ira arregalou os olhos, mas claro, por isso pareciam distraídas, estavam
todas drogadas.
— E então?
— Minha família nunca esteve melhor que agora e… estou feliz por eles —
nada pudesse ser mais irreal, viu como várias crianças pequenas entravam
— Fada! — Gritou a garotinha que corria para ela no meio das outras.
Parecia como se voasse com aquele vestido de gaze lilás e enfeites brilhantes, que
garotas ficaram olhando. Então a apertou contra seu corpo como se a estivesse
protegendo.
longos cílios que possuía. — Elas, — apontou com seu dedo — estão nos
ensinando a dançar.
Como podia negar alguma coisa a essa garotinha? Então, sem mais
remédio, e apesar das negativas das demais mulheres, caminhou com Katiuska
pela mão.
ensinavam.
centro do salão.
— Não…! Não sei como dançar esse tipo de dança — encolheu os ombros.
as crianças possuíam. Ira começou a rir esquecendo-se de tudo, estar com ela lhe
— Sim, ela é incrível, mas não deveria estar em um lugar como este.
— Por quê? Este é tanto o mundo dela quanto o seu, passou toda sua vida
nele.
princesas, fadas… — sorriu com amargura, — não neste onde o sexo é vendido
— O que você vê aqui é família, essas meninas são filhas dos mesmos
fazem, drogar as garotas para utilizá-las a seu desejo e ter várias mulheres ao
— É a cultura deles, foi assim por gerações, você não vai mudar isso e
pensar assim também não ajudará Katiuska. Nunca viu “A vida é bela”?
— Pensei que fosse mais inteligente, Ira. O que quero dizer é que a melhor
maneira para que Katiuska tenha uma infância normal, feliz, é fazê-la acreditar
nela assim, maquiar a realidade e contar uma ficção. Nem tudo é ruim, nem tudo
— Agora vá, não quer que os verdadeiros monstros que estão do outro
mas Zhenya a deteve olhando-a com cara feia e ela entendeu que devia ir em
silêncio.
Enquanto caminhava de volta pensava no que ela havia dito, tinha razão,
mas por que o dizia? Quem era Zhenya realmente? Agora sim estava totalmente
intrigada.
verdade não estava, vestia um sutiã com uma espécie de medalhas penduradas
que balançavam ao ritmo de cada passo que dava, e uma saia de tule vermelha
que a cobria mais do que sua roupa de trabalho, mas mesmo assim se sentia
teria dado qualquer coisa para estar ali com ela. O que estava acontecendo com a
Ira estava angustiada, não podia negar, a situação era maior do que
conseguia enfrentar, uma coisa era ver mulheres e outra muito diferente menores,
principalmente tão pequenas como Katiuska. Porra! Havia tantas coisas que a
distraiam do seu objetivo que sentia que estava perdendo as forças e era difícil
assimilar tudo. Estava em um momento no qual queria apenas ler seus direitos e
prendê-los, mas sabia que essa não era a missão, não, era algo muito maior. Tinha
que se concentrar e descobrir o máximo possível. Sim, ela estava lá para isso e
nada mais.
Vadik fez o mesmo assombrado pelo resultado, mas o que Misha pensava era
Misha pegou sua mão, imerso em uma conversa importante onde estavam
como escravas sexuais? O que fazia exatamente o árabe com elas? E o mais
que o colar estivesse transmitindo tudo, porque sua mente estava cheia de
perguntas.
fazia saber que ele estava ali com ela, ao menos era assim que Ira sentia cada vez
que ele apertava sua mão e a olhava. Talvez fosse apenas sua imaginação, afinal
era o russo quem as preparava e as entregava. Era, como ele mesmo havia dito,
origem do universo.
respondeu:
A agente o olhou com raiva, mas engoliu seu desconforto junto com o
Misha, para irritá-la ainda mais do que estava, segurou seu pescoço
aproximando-a mais e passou a língua pelos seus lábios, não tinha deixado de
Ira ficou atordoada, mas nem por isso submissa como ele estava dizendo
que que ela deveria ser. Assim que o russo introduziu a língua em sua boca, ela a
olhar triunfante de Ira. Para ele, bastaria apenas um ágil movimento e ela estaria
Sem pensar duas vezes Ira se levantou para ajudar e ver o que podia fazer.
O fogo começou a arder com fúria e quando Ira se levantou viu uma das
meninas do árabe sangrando no chão enquanto ele era escoltado por seus
respirava, mas já era tarde, a garota já estava morta. Nesse momento pensou em
— Ira! — Gritou quando percebeu que ela não estava ao seu lado.
incendiando.
— É uma ordem!
Quando chegou ao outro salão, o sangue de Ira gelou, estava tudo sendo
quando viu uma das crianças no chão, enquanto nesse mesmo instante outro
bombardeio em grande escala e seu instinto lhe dizia que se não fosse embora,
ninguém sobreviveria.
Ela a viu de longe, encolhida atrás de uma cadeira. Foram seus cabelos
— Não se mova!
Correu por entre as cadeiras, pisando em cristais. Quando chegou até ela, a
conseguia parar de chorar e Ira precisava pensar. Precisava de sua bolsa, nela
estava seu telefone. Como pôde, chegou ao quarto onde se trocou, finalmente
encontrou sua bolsa e a cruzou pelas costas. Tinha que sair dali, e encontrar uma
saída. Já!
— Meu filho... meu filho! — Gritava uma mulher com seu bebê nos braços.
Ira não podia ignorá-los, com a menina agarrada ao seu pescoço foi ajudá-la, foi
— Sim!
ajudá-la.
— Você vai me ouvir, mesmo que seja a última coisa que eu faça. Caralho!
O russo pensou por um segundo, até que finalmente cedeu, e entregou sua
makarov16.
— Isso não é como nos filmes, as balas acabam — falou. — Apenas atire
— O quê?!
— Aponte…
— Não quero que veja um homem morrer, isso… isso nunca esquecerá —
reconheceu com dor sem soltá-la ainda. Apesar de que as explosões e as balas se
aproximavam cada vez mais e os gritos se mesclavam com prantos, eles não se
Misha não demorou nem dois segundos para reagir. Atacou-a com sua
língua fazendo o mesmo ela, precisava senti-la, marcá-la, possuí-la. Não entendia,
Saiu abraçada com Katiuska, que depois de ser beijada por Misha deixou
de chorar. Ao atravessar a porta Ira mudou de direção, sair pela cozinha era
porta, pegou seu telefone e discou. Não terminou o primeiro toque quando
Então se agachou para deixar Katiuska no chão, tirou algo de sua bolsa e o
entregou.
— Me escute bem, vai colocar esses fones de ouvido e vai fechar os olhos,
— Mas… — choramingou.
fones de ouvido e pegou uma parte do tule rasgado e amarrou ao redor dos seus
finalmente abriu a porta, pôde respirar. A menina fez o mesmo. Levou um minuto
para respirar grandes baforadas de ar, nem o frio espantoso a fez tremer. O que
percorria suas veias não era sangue, era adrenalina pura. Caminhou até o
cabeça com as duas mãos. Do quarto andar para baixo tudo estava destruído e o
fogo estava consumindo rapidamente os três pisos que faltavam até o telhado.
Essa informação não era nova para Jeff, esse era o problema que Brad via
na tela, eram quase cinco. E o pior era que sabiam que também não havia tempo
coragem — não me diga que não pode, porque até mesmo Annie consegue.
— Jeff…
— Caralho! Estou dizendo que você consegue! Não queria ser agente?! Se
não saltar juro por Deus que eu mesmo vou chamar Annie para lhe dizer que é
uma completa covarde e que não será capaz de cumprir a promessa a sua irmã.
Anda, me diga o que vai fazer? Deixará que esse sunita filho da puta continue
abusando de menores? Você vai levar isso em sua consciência? — Brad o olhava
horrorizado pelo que estava dizendo, mas quando ia pegar o telefone, Jeff
levantou a mão, precisava aumentar sua adrenalina ainda mais, já que misturada
com a raiva era capaz de produzir forças impensáveis. Essa era a única saída para
a agente, agora sim tinha que se tornar a garota superpoderosa, sabia disso como
psicólogo, mas principalmente como amigo, porque se ela tivesse medo, ele tinha
ainda mais. — Me ouviu?! — Voltou a falar. — Sua irmã deve estar revirando no
Quanto mais Ira escutava, mais seu corpo começava a tremer. Retrocedeu
afastada, enquanto Jeff continuava dizendo coisas cada vez piores, deu um beijo
começou a correr alcançando uma grande velocidade até que chegou à borda e
sem fechar os olhos em nenhum momento, saltou. Como se estivesse em câmera
lenta viu como voava entre um prédio e outro até que de repente sentiu um golpe
seco ao cair de bruços sobre o telhado. Seus reflexos rapidamente a fizeram rodar
E então começou a rir como uma louca, até que sentiu a menina se
— Sim, linda, sempre estivemos, agora não devemos fazer barulho, fecha
os olhos.
— Mas…
— Shhh… está tudo bem, logo vamos para casa. — Voltou a pegá-la em
estavam escutando — vai me pagar por isso, no entanto… obrigada, já não precisa
— Você nunca ligou a música — respondeu como desculpa e isso a fez rir,
ambulâncias, mas elas tinham que descer, sabia que Misha a estava procurando,
pelo menos seus parceiros sabiam que estava bem, e embora soubesse que a única
coisa que eles queriam era levá-la para casa, não podiam, estava com a garotinha.
Voltou a pegá-la em seus braços, mas desta vez foi um pouco mais difícil,
seu ombro doía e claro, tinha uma ferida grande aberta que, além disso, sangrava
em seu pescoço.
***************
restava da construção, as esperando, mas estava claro que Ira não tinha saído.
mas nem sequer o cobria já que levava em sua mão direita uma metralhadora
conseguia imaginar isso, apesar das advertências que tinham deixado. Sentia que
estava falhando e sabia a razão, era a mesma pela qual nesse momento parecia um
a situação era caótica, a polícia tinha vários árabes e russos algemados enquanto
vários corpos estavam sendo carregados em furgões especiais. A polícia não sabia
o que fazer com tantos presos, então os colocou em fila esperando a van que os
levaria à prisão. Misha olhava a vários de seus homens, que baixavam a cabeça
quando passava. Eles não sabiam o que era pior, se estarem detidos ou que seu
chefe olhasse para eles dessa maneira. Definitivamente, a segunda opção era a
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pior, já que o russo logo se encarregaria deles, inclusive alguns teriam preferido
Alguns corpos estavam cobertos, eram pequenos, mas ele não olhava para
nenhum. Algo dentro dele, que se supunha que era seu coração, lhe dizia que
estavam vivas. Não era um homem de crenças, mas desta vez estava acreditando.
ficou perto do capitão dos bombeiros para poder escutar o que estavam falando e
Apertou mais a metralhadora contra seu corpo, queria agarrar esse homem
com suas próprias mãos e obrigá-lo a entrar no prédio, era um bombeiro! Não
podia desistir.
uma entrada, se o ataque ocorreu pela porta principal, a parte traseira devia lhe
ser útil. Precisava manter a cabeça fria e seus pensamentos em ordem, não podia
perder o controle e repetia para si mesmo que Ira era uma mulher esperta, que
provavelmente encontrou uma saída, mas como? Qual? Se não a encontrasse com
Sabia perfeitamente como as bratvas agiam e que isto era uma vingança de
pleno direito, sua mente já estava idealizando vários planos para atacá-los. Já
entrou em contato com alguns de seus homens, que o esperavam no lugar secreto,
que de repente ao longe escutou o grito de um velho que pedia ajuda para uma
mulher e sua filha. Não provinha do lugar do caos, mas alguma coisa o fez se
notava como Ira tentava se afastar do velho, mas com cada passo que dava perdia
Ela tentava caminhar o mais reta possível para não chamar atenção, mas
agora era difícil até mesmo olhar para cima enquanto procurava seus parceiros
para fazer contato visual e dizer que estava bem, estava fazendo um esforço
gritos, e tudo fosse irreal, viu como agilmente Misha, o russo, caminhava em
direção a ela com uma metralhadora na mão, semblante sério e um rosto que não
Ambos se olharam e nunca se sentiu tão calma, até que Misha a abraçou
— E você ainda não entendeu que não me dá ordens — foi a última coisa
*************
Em frente à calçada, Brad apertava tão forte o volante da van que inclusive
apesar de xingar mil vezes, nada o acalmou, era ele quem deveria encontrá-la,
protegê-la e… cuidá-la.
sentia, eles sentiam o mesmo, queriam sua parceira com eles, mas entendiam que
sentia e a verdadeira impotência que estava sentindo, era Jeff, que também não
desviava a vista de sua amiga, que agora era carregada nos braços pelo russo para
um carro, partindo para um rumo desconhecido. Não podiam segui-lo, esse russo
era uma máquina de guerra, e se antes tinha os cinco sentidos aguçados, agora
certamente estava muito mais atento a tudo e a todos que se aproximassem, por
menor que fosse, ele saberia, e para piorar, o colar só tinha bateria para mais duas
horas, mas isso ele ainda não havia contado para seus parceiros.
A única coisa que tranquilizava Jeff era que sua amiga estava viva, e
mesmo não querendo admitir, não poderia estar mais segura do que com o russo.
e, apesar de que estava sumida como em uma espécie de nebulosa, tentava abrir
os olhos.
O primeiro que sentiu foi aroma de fumaça. Isso lhe apertou a garganta e a
fez respirar com muita força, fazendo-a tossir. Sentia que se afogava e, apesar de
estar quase acordada, via-se envolta em chamas, rodeada por essa fumaça negra
cama. Atirou da colcha a um lado para ficar de pé e averiguar onde estava e, ante
o primeiro passo que deu, caiu violentamente sentindo uma dor que jamais antes
havia sentido.
— Ai! — chiou levando as mãos à planta dos pés, olhando com horror que
usava um moletom e nada mais. Também percebeu que tinha os pés enfaixados e
as feridas cuidadas, mas seu corpo estava sujo, a fuligem cobria grande parte dele.
palavras.
— Tinha vidro e alguns metais cravados, tirei-os e curei seu ombro — explicou
feridos.
— Várias horas…
— Quanto tempo?
O médico se assustou e decidiu sair por ajuda, era claro que ela não ia
raciocinar com ele. Deixou-a sozinha e minutos depois a porta voltou a se abrir.
Com um suspiro que não soube de que parte de seu ser vinha, agachou
nervosa.
Misha sorriu e sem falar se aproximou até uma cômoda que estava ao
fundo, abriu uma gaveta e o entregou. Ira, em um ato reflexo, o atou ao pescoço e
— Obrigada…
— Ir para minha casa, tomar um banho… preciso tirar este cheiro de mim.
— Como não?! Claro que sim! — chiou e tentou levantar-se de novo. Esteve
a ponto de cair, se não tivesse sido pelos braços fortes do russo, que a retiveram.
madrugada e…
— Não pode me manter aqui! Não sou de sua propriedade! E muito menos
sua…
— Cale-se, Ira — a cortou enérgico. Por que tudo lhe resultava tão difícil
com ela? Por que não só acatava a ordem e pronto? Qualquer mulher teria estado
feliz, exceto… ela. — Se não puder dormir, direi ao médico que te sedar outra vez.
homem que lhe injetasse um sonífero, e em coisa de segundos ela dormiu. Logo
O que tinha essa mulher que não a podia tirar da cabeça? Não quis pensar muito
mais, se não aumentaria o saco descomunal já cheio que possuía, como se isso
fosse possível.
sua perna, mas uma lhe chamou poderosamente a atenção. Era maior e estava em
sua panturrilha, parecia uma ferida de bala e isso sim achou estranho.
Decidiu deixar de olhá-la e voltar para o seu quarto. Ao sair, Joshua, o
definitivamente, essa mulher tinha algo que atraía aos homens como abelhas ao
mel.
enfaixados, com cuidado os tocou e notou que a dor era bastante suportável, e
isso a alegrou.
cenho, agora estava totalmente limpa e com uma camiseta folgada que claramente
não era dela. Imediatamente pensou que o mais provável era que Misha a tinha
trocado e sentiu um grande calafrio. Que mais tinha acontecido enquanto dormia?
Não se podia confiar nele, e menos depois de havê-la sedado sem nenhuma
explicação.
estava. Tinha que sair daí, com certeza os moços a estariam procurando e
Com cuidado ficou de pé e foi então quando escutou o chiar de uns passos
fora do quarto.
respiração para que parecesse que ainda estava sob o efeito do tranquilizador.
Pelo modo de caminhar soube que não era o russo, ele pisava forte e
seguro, em troca os passos que escutava eram lentos, inclusive podia dizer que
inseguros, e o comprovou quando este lhe falou. Era a voz do médico. Sentou-se
seu pulso e enquanto a revisava tentou mentalizar-se para controlar seu estado,
mas…
De repente sentiu como a mão do Joshua começava a descer por seu
pescoço até alojar-se em seu peito direito. A única coisa que tinha vontade era de
lhe tirar a mão de um só tapa. Sabia que não podia, inclusive esteve a ponto de
— Agora sei por que Misha cuida tanto de você, puta, vale seu peso em
rublos.
Emily sentiu que seu estômago se revolvia quando sua mão seguiu
Misha o necessitava, devia ir, a ele não podia fazê-lo esperar, menos depois do
que tinha acontecido a noite anterior; vários homens tinham pago caro o engano
definitivamente do quarto.
grito de raiva que começou a emanar desde seu interior. Agora sim que tinha que
ir embora, não só por seus amigos, mas sim por sua própria segurança.
toda sua potência e nada. Estava tentando com todas suas forças quando viu
carros blindados do lado de fora e logo vários homens entraram, para segundos
depois perdê-los de vista no caminho nevado que descia a colina. Não sabia se
Misha estava com eles, pois todos estavam vestidos de negro, o que sim sabia era
coração estava a ponto de sair pela boca. Em qualquer momento ele poderia
entrar e, embora lutaria até o final, sabia que bastava uma só espetada para deixá-
golpear com todas as suas forças ao vidro, mas nada aconteceu. Uma, duas e três
vezes tentou, mas o único que conseguiu foi quebrar as juntas dos dedos.
Frustrada, deixou-se cair sobre seus calcanhares e por uns minutos tentou
ocultando. Nisso estava quando sentiu que a porta voltava a abrir-se, tomando-a
por surpresa. Sentiu que devia defender-se, mas como?! De repente viu que quão
único a poderia ajudar era a pequena mesinha de cabeceira. Tomou com força ao
Emily, ao notar seu grave engano, não esperou que ele entrasse
e, girando sobre seu corpo, em um movimento ágil agarrou-a pelo braço com
homem rapidamente tampasse sua boca. Ela em resposta o mordeu, mas não
contava que, embora sabia que estava deixando uma marca, inclusive podia
chegar a lhe tirar um pedaço de pele. Este a empurrou contra a parede, exercendo
— Está bem, estamos a salvo — disse com a voz muito doce para um
homem como ele, — nada passará aqui. Devo ir à cidade, deixarei Joshua
Misha, ao vê-la assim, entendeu imediatamente que algo acontecia, ela não
era covarde e jamais a tinha visto tremer. Sem sequer lhe perguntar a deixou na
cama e rapidamente desceu em busca de alguém que sabia que sim lhe daria uma
explicação.
Joshua, que estava sentado no salão, apenas o viu baixar e soube que algo
acontecia, não necessitou palavras para entendê-lo, já que via a fúria em seus
Essa era a última confirmação que necessitava para saber que sim, havia
acontecido algo. Abriu e fechou sua mão algumas vezes antes de bater com tudo
— Essa puta como você diz… — bufou Misha baixando a voz até convertê-
— Eu só a toquei, pensei que estava dormindo, mas não lhe fiz nada!
— Sabendo que essa mulher me pertence, desobedeceu-me! — Grunhiu
momento.
— Nada! E devo acreditar que você está tremendo por nada? Quer que eu
Misha não lhe respondeu nada e, com uma calma incomum, deu dois
passos para trás. O silêncio no salão foi sepulcral. Parecia que não havia ninguém
— apenas te autorizei a se encarregar das feridas dessa mulher. Mas em vez disso
falar, atropelando-se com suas palavras, — nunca mais voltarei a tocá-la, nem
fazendo-o calar com apenas um gesto. Ele já tinha ouvido muito, e se não
acreditando que ela dormia, você se aproveitou. Passou sobre mim e nem sequer
mão direita do vor, não titubeava ante nada e parecia como se fora uma máquina
— Isso é verdade? — Perguntou a seu amigo, que tinha tanta raiva que
traição, sentindo-se vencedor ante a mão direita de seu vor, — que eu era o único
se esboça a existência deles, mas como em meu caso quero que este siga sendo
fielmente todos estes anos, mereço uma oportunidade! — Pediu dando-se conta
não te confunda, eu não sou ele — comentou enquanto com o olhar ordenava a
— Sempre estive às suas ordens, sem minha ajuda Anastasia não teria
morrido! Isto é injusto! Tudo isto é por uma puta! Que vale uma puta comparado
cabeça de um lado a outro, — assim, além de ser um imbecil, está enganado, isto é
— Não sei o que significa essa palavra — disse e se volteou para olhar a
seus homens e deteve o olhar uns segundos em Misha, queria assegurar-se que
sussurrou:
imediatamente, com cara de asco, dirigiu-se a seus homens. — Vocês limpem este
primeiro em falar foi o vor, com um tom de advertência que não admitia
discussão.
— Espero que saiba o que está fazendo com essa mulher, ou será sua
perdição.
— E é por isso que estou perdoando sua vida Misha, mas não te confunda.
— Vadik…
— Silêncio, agora temos que trabalhar e ver como caralhos fomos atacados
em terreno neutro.
poucas horas tinha descoberto. Agora eles dois se entrelaçavam em uma animada
*************
Uns metros mais à frente, Emily tampava a própria boca com o punho.
Ante os gritos tinha decidido sair, e ao fazê-lo ficou paralisada com a frieza desses
homens. Sabia que eram perigosos e que tomavam represálias se se rompiam seus
códigos, mas jamais imaginou até que ponto. Voltou em completo sigilo ao quarto
sobrevivência lhe gritava que tinha que sair dali, enquanto sua veia de polícia lhe
exigia chegar ao final do caso. Qual era o segredo pelo qual o vor tinha matado a
Eram uns olhos inertes, sem expressão, nada se podia ler neles. Quando
— Está louco!
— exclamou com tanta força que conseguiu separar alguns centímetros do russo.
sedar a qualquer momento e eu teria ficado à mercê dele, como queria que me
defendesse?! Com o que?! Esse desgraçado já tinha me cravado por tua ordem, ou
não o recorda?
palavras.
— Por acaso acredita que eu queria que me tocasse? — alegou com raiva
me passasse nada!
— Eu não gosto do que acontece aqui, não quero estar aqui, não sei nem
onde estou…
— Shhh, calma, tudo está bem — sussurrou lhe acariciando o rosto. Não
recordava quando havia tocado a uma mulher assim, com tanta ternura. A
verdade é que nunca havia sentido nada parecido, não era apenas desejo, era
muito mais e isso, apesar de ser um homem forte, aterrorizava lhe. — Aqui não
— Não quero estar aqui! Quero ir para a minha casa — suplicou do mais
profundo de seu coração. Era a absoluta verdade, não queria seguir na Rússia,
queria voltar com seus pais, estava totalmente ultrapassada nesse momento.
— Não! Maldição! Não! Você precisamente não pode dizer isso a mim!
— Claro que pode, se para ti sou uma puta pela qual pode pagar! E… e o
pior é que, apesar disso, quero que seja o único homem que me toque —
desejos.
sorriso malévolo, — não te fodo porque é uma puta, faço porque eu gosto e não
razão, essa mulher seria sua perdição, mas nesse momento não lhe importava
nada, só queria possui-la como homem, ele já tinha decidido que Ira era sua desde
apenas a sentir como o russo fazia mil e uma coisas de uma vez, apenas era
consciente da realidade já que estava sentindo coisas que antes jamais havia
sentido. Suas mãos eram exigentes, igual a suas carícias, tocavam cada lugar de
seu corpo sem sequer lhe pedir permissão, com tal intensidade que embora
Em um rápido movimento, Ira ficou sobre ele e foi o instante em que pôde
estimulavam e quando este já não pôde mais a tomou pelos quadris, baixando-a
Era tanto o calor que emanava desses dois corpos nus que eram capazes de
A situação era irreal. A noite anterior tinham estado a ponto de morrer pela
pessoas normais, sem nada a perder. Que equivocados estavam! Embora de todas
as formas, e como se fora um radar, Misha tinha tudo controlado, sabia e era
consciente de cada palavra que lhe dizia, porque se tinha certeza de algo, era que
— O mesmo que você faz comigo — respondeu enquanto tomava ar, sentia
que lhe escapava dos pulmões, — mas agora não é importante, quero que me foda
como só você sabe fazer — pediu sossegando-o com um beijo. Não queria falar,
esquecer.
que essa voz rouca, como o mesmo diabo lhe nublava até o pensamento.
Ante essas palavras se transformou na besta que ela queria ter. Abriu-lhe as
pernas e colocou suas mãos sob seu traseiro, aproximando-a ainda mais, para
como uma guerra em que ambos queriam sair vitoriosos. Quando Misha
finalmente ejaculou seguiu investindo algumas vezes mais, até cair exausto sobre
ela.
—Você se rende? — Afastou-lhe o cabelo, mas o que não esperava era que,
— Não conheço essa palavra — lhe respondeu e com sua mão esquerda
investi-la até o fundo, de tal maneira que seus testículos ficaram pegos ao traseiro
dela.
Ira ao senti-lo tentou endireitar-se, mas foi impossível. A mão da Misha
pressionava suas costas, enquanto com a outra começava a lhe acariciar o clitóris,
para frente e para trás. Enquanto Ira sentia que se partia literalmente em duas,
estrelas.
Misha estava desfrutando como nunca, tudo o que sentia ela o estava
fazendo sentir também, tinha estado muito tempo atormentado esperando algo
como aquilo, assim agora não ficaria satisfeito facilmente. A cada queixa ou
suspiro dela ele recuperava ainda mais as forças, não a deixaria até conseguir que
ela explodisse como nunca tinha feito em sua vida. Ambos sabiam.
convulsões ainda lhe percorriam o corpo de forma lenta, como se fora uma
agradável tortura.
Durante um momento ficaram olhando aos olhos, até que ele a empurrou
batalha interior. Ira sentiu que devia falar algo, lhe perguntar algo, mas não se
sua prudência. Ela sabia perfeitamente o que tinha feito, tinha entregado algo que
jamais deveria entregar. Era o princípio básico de uma missão encoberta, mas o
que tinha feito estava acima de todos os limites. Agora sim necessitaria um cão,
beijou no ombro. Como o russo não se moveu, a agente seguiu descendo por seu
peito nu, beijando cada uma de suas tatuagens, memorizando cada uma delas.
Beijá-lo não era apenas um prazer para a vista, também para seus lábios. Misha
possuía um tórax esculpido à mão, sem pelos nem marcas. Tudo nesse corpo era
duro, parecia uma estátua. Enquanto descia para sua cintura, sentiu como seu
membro se agitava sob os lençóis. Longe de deter seu percurso, prosseguiu com
«Se for ter que comprar um cão, que valha o esforço», pensou e com uma mão
tomou seu pênis já ereto. Sem apartar o olhar dele, e sem esperar uma
autorização, beijou-o da ponta até a base. Logo seguiu com seu testículo, e quando
ele gemeu sentiu que chegava à glória, sentia-se poderosa, e como não se sentiria?
ligeiramente as pernas para lhe dar livre acesso a tudo o que ela quisesse. De
repente sentiu como essa boca carnuda começava a sugá-lo de uma maneira
sentir.
Ira lentamente se deslizou por cima dele com a suavidade de um gato até
— Pode possuir cada parte de meu corpo e eu não saberia como te deter,
Ira.
paralisava ao momento.
— Misha…
Em resposta a isso o russo, com um sorriso doce, acariciou sua cara com
ternura, ajudando-a a acomodar-se, para que finalmente fora ela a que com
lentidão descesse por seu membro até o ter completamente dentro, como se
fossem um só ser.
nessa posição. Seu pênis era muito grande e sua vagina muito estreita e deliciosa
para ele.
mãos se agarrou a seu peito e começou a cavalgar, enquanto ele a ajudava com as
mãos nos quadris e começou a entregar-se, enquanto sentia como em cada salto se
introduzia um pouco mais, entre gemidos e sons de prazer, até que o escutou
Mas essa vez Misha o fez olhando-a aos olhos, beijando-a com sentimentos,
e quando a tombou a seu lado, ela soube que dormiriam. Doíam-lhe os joelhos,
sentia cada parte de seu corpo, mas estava satisfeita, feliz e, embora estivesse
cansada, notou como ele subia a colcha e depois de um quente beijo sussurrava
em sua fronte:
paciência.
— Não! Nem ele, nem você, nem ninguém, eu sou livre! Livre!
— Misha, eu…
— Não te dei permissão para falar — espetou com essa voz que não
admitia discussão alguma, e nesse momento, Emily Claxon soube que estava em
em sua vida, saltando-se assim todas e cada uma das regras que lhe tinham
ensinado. Talvez estivesse sendo egoísta pensando apenas nele, mas tinha uma
ilusão. Se tudo saía bem ele teria uma esperança, porque ao fim e ao cabo, a
Sim, agora se sentia em paz. Nem sequer pensou em seu vor, em suas
obrigações, nem muito menos no massacre que poucas horas atrás tinha
acontecido no salão, já não lhe importava. Era tanto assim que nem sequer lhe
interessava o que a pobre de Ira havia feito para sobreviver. Talvez ela já tivesse
tido muitos homens, mas se de algo estava seguro era de que com ele desfrutava
ver nem a cinco centímetros de distância, mesmo assim dentro dessa habitação ela
plano de ação. Recordou o que seu grande amigo lhe dizia de sua mulher, da paz
que sempre experimentava com ela e desse sentimento tão atordoado do que ela
sempre se burlava. Mas agora sentia coisas, coisas que jamais antes experimentou.
Toda sua vida tinha lutado para ser uma agente reconhecida e salvar o mundo da
até se imaginava caminhando de mãos dadas pela Praça Vermelha. Não, isso
estava mal, devia centrar-se na missão, no urânio e em descobrir o lugar exato da
entrega, mas… não queria que Misha saísse prejudicado, não queria traí-lo, mas
tampouco podia trair a sua equipe, seus princípios… Deus! O que ia fazer agora?
se com eles.
sua mão sobre a dele que se tranquilizou como se fora um gato procurando calor.
Quando se assegurou de que podia caminhar e já não lhe doía tanto, saiu do
Teve que abrir três antes de encontrar um quarto com um computador. Vigiou
código que a conectava à rede de uma IP fantasma, uma que apenas os agentes
Ao terminar, tão silenciosa como entrou, saiu, mas uma porta entreaberta
Caminhou sem deter-se até chegar à soleira e o que viu lhe enterneceu
tanto que correu sem olhar nada ao pequeno vulto que descansava sobre a cama.
Antes de que chegasse à cama sentiu uma voz dura que a repreendia.
Ira se girou com uma falsa careta de desculpa na cara. Diante dela tinha ao
— Não tem nada que fazer aqui — espetou tomando-a pelo braço, tirando-
daqui.
Nesse momento sua risada retumbou por todo o lugar, atraindo o olhar de
seus homens.
— Vadik — Misha falou alto e claro, que vinha saindo do quarto somente
— Vigia que não esteja rondando pela casa. Se você não fizer, farei eu da
minha forma e com meus métodos — advertiu, — e eu gostaria mais que nada
atar uma coleira em seu pescoço e vê-la arrastar-se como a cadela que é.
«Babaca sádico!», gritou Ira em seu interior, sentindo medo de suas palavras,
surpreendeu, mas não disse nada e, como ficou calado, ela seguiu falando. — Não
sabia nada dela e quando a vi quis ver como estava, não estava pululando por
nenhum lugar.
— Se não quiser usar uma coleira como disse o vor, será melhor que não
porque não sou nem sua prisioneira nem sua escrava. Você não manda em mim!
E me importa uma merda o que você queira acreditar, quero ir para a minha casa,
o olhar, falou-lhe.
Sem dizer nada mais saiu, deixando-a só para que se trocasse. Se em algo
ela tinha razão era que devia tirá-la dali, mas por seu próprio bem.
Capítulo 08
entrou não teve a mesma noção, já que agora tinha luz do dia. Realmente sair ou
entrar sem autorização dessa mansão, com cúpulas douradas no teto, era
Não disse nem olhou nada enquanto seguia a Misha. Ele em seu tom
habitual lhe tinha ordenado que o seguisse e ela, que estava irritada, nem sequer
lhe dirigiu a palavra, embora esteve tentada em fazê-lo quando duas mulheres
vestidas com quase nada de roupa saíram a seu encontro, derretendo-se ante ele
— Elas são Keyla e Anika, pode pedir o que necessite que elas trarão.
pensamentos.
As garotas o seguiram imediatamente. Para elas parecia que ele era seu
czar. Ira não se preocupou já que em seguida vários homens armados se uniram a
ele.
pouco, se no outro dia voltava para seu lar devia aproveitar e tirar o máximo de
informação, de dia todo se via diferente. Ao subir ao segundo andar se deu conta
que por cima dos muito altos muros podia distinguir um edifício em particular.
Tinha estado tão preocupada por todo que se esqueceu até de sua própria
dor. Apoiou a cabeça entre suas pernas e ficou assim até que a única voz que lhe
— Está chorando?
verdadeiramente em paz.
— Quando chegou?
— Obrigada.
Pode caminhar?
Ira afirmou com a cabeça e com uma careta de dor começou a dar passos
sobre a água e levava umas almofadas. Minutos depois Ira tinha os pés no quente
respondeu:
— Estou bem.
Misha a tomou entre seus braços e a embalou contra ele para tirá-la do
banheiro da pequena.
— Durma, é tarde.
— Mas…
como tratava a sua filha, — um dia terá quinze anos com os cabelos verdes e um
— Você fez isso com seu pai? — Riu divertido diante da situação, que é
Dando-se conta de seu grande engano, como se não lhe importasse nada
— Não sou filha do ar tenho um pai, um biológico que nem sequer sei se
existe, mas minha mãe nunca falou mal dele, assim em minha cabeça é o melhor
dos homens.
— Disse que não voltaria a acontecer nada com você. Disso me assegurarei.
a levava até seu quarto, um que ela jamais havia visto, e o que viu estava longe do
Ela apenas encolheu os ombros, não lhe daria o gosto, porque ao menos
com uma grande cama no meio, uma escrivaninha, uma chaminé e uma poltrona
muito cômoda aonde sua imaginação imediatamente lhe jogou uma má ideia e
— Dado que não vai me responder, darei por afirmativo — gargalhou com
vontades esta vez, enquanto ela com o cenho franzido lhe respondia:
— Agora descansará, amanhã irá com meus homens a isso que você chama
— Ira… — Misha se aproximou dela pegando sua frente para lhe falar com
a voz suave e com mais sinceridade da que queria aparentar. — Não foi minha
intenção te insultar nem a ti nem a seu lar, mas desde hoje esta será sua casa. Não
— Quer que esteja feliz quando você mesmo ontem me disse que agora era
tua, que pagou por mim? Por Deus, Misha, o que tem na cabeça? Esta não é minha
de como.
Ira moveu a cabeça de um lado a outro, não podia acreditar. Seu sentido da
razão lhe dizia que tinha que fugir daquela casa, dele. Não podia estar com um
homem que, além de estar sendo investigado, era um criminoso que não aparecia
em nenhum lugar, um fantasma, não existia. Mas por outro lado sua consciência
recriminava-a que esse era seu trabalho, era uma agente federal que devia
daquele russo para impedir o golpe terrorista que se estava forjando, para isso se
infiltrou, não para deixar-se enrolar por um homem. Entretanto seu coração, um
que não escutava muito frequentemente para não sair machucada, tinha vibrado
com frenesi com cada uma dessas palavras, que representavam muito para um
homem como esse. Era um futuro incerto cheio de riscos que ele estava disposto a
levar. Isso era o que lhe desarmava todas as teorias que se fazia, por isso não
podia deixar de pensar nele. Isso era o que a atraía com uma força sobre-humana
para ele e… essa mesma força era a que a levaria a salvá-lo, porque por muito que
seu coração a traísse, não podia pôr em jogo a milhares de vítimas inocentes, as
que não deixaram de olhar-se nem um segundo sequer, — mas não serei sua
— Você não gosta tanto de estar com a Katiuska? Pois bem, agora tem uma
nova ocupação.
— Quer que seja babá? — Perguntou com horror de todo coração, para isso
sim que não estava preparada nem em um milhão de anos e pelo resto distava
A risada que emanou do interior do russo nesse momento pôde ser ouvida
claramente em toda a mansão. Ele nunca tinha rido com tanta vontade e com…
tanta felicidade.
para beijá-lo, beijo que é obvio terminou na cama e se prolongou por várias horas
até o anoitecer.
Emily Claxon nunca se relaxava, mas agora algo tinha acontecido que sim o
Voltou a colocar sua roupa e caminhou até a porta. Quando a abriu o ruído
já era muito mais forte. Demorou apenas dois segundos em dar-se conta que
naquela casa estava se celebrando uma grande festa. Rapidamente foi ao quarto
da Katiuska. Ali não se escutava nada e a pequena dormia como o anjinho que
era, feliz e alheia a tudo, isso a tranquilizou, saiu e caminhou até o corrimão do
tipo de substâncias que eram subministradas nada mais e nada menos que por
estavam no lugar, mas sim também o vor. Não gostava nada desse homem e
divertindo com alguma das garotas em algum lugar. É que ele não se cansava?
Vários minutos esteve recriando em sua mente mil e uma cenas. Ela não desceria,
se Misha não a tinha despertado era porque simplesmente não a queria com ele.
detalhes da operação com o Ahmed. Estavam reunidos a mais de duas horas. Por
sunita e seus mais escuros segredos. Apesar de pertencer a uma das máfias mais
respeitar os entendimentos, e disso era o que Misha não estava seguro, algo lhe
dizia que não confiasse naquele homem. Agora só lhes faltava definir o quando,
mas isso o veria diretamente com o Vadik, e embora queria estar feliz depois de
Ele o único que tinha em mente era na mulher que o esperava no quarto,
nunca tinha tido tanta vontade de viver experiências novas e estava disposto a
entregar-se por completo, mas ela não estava. Não compreendia o que a freava,
por que não só se limitava a viver tudo o que lhe podia entregar se ela não tinha
nada e agora sim poderia ter tudo? Mas também por outro lado sua irritação era
monumental, não era a primeira vez que Ahmed ou seu vor expressavam
Vadik entrou no quarto com várias mulheres dispostas a celebrar com eles
e realizar os caprichos que quisessem. Mas ele não dava atenção, isso também o
conseguia encontrar uma explicação lógica e racional sobre o que acontecia com
quarto.
segundos, nem quando viu-a aninhada olhando pela janela pôde serenar-se,
protestos dela e que estivesse vestida apenas com uma fina camisola.
— O que foi que você disse? — Não entendia nada. — Por acaso você me
viu?
sem importar as pessoas olhando. Misha caminhava com ela entre todos os
convidados como se fosse a coisa mais normal. — Que não estava aqui?!
festa nem sabia quem estava, embora isso pouco lhe importava, quando Vadik
queria fazer uma festa não se importava com gastos e muito menos pedia
permissão a ele para usar sua própria casa, depois de todo ele era o vor.
— Você desceu? — Quis saber zangado, ela não tinha por que ter feito.
— Não, imbecil — bufou, — te vi do andar de acima — lhe recriminou
para repreendê-la.
— Me escute bem porque será a única vez que lhe diga — chiou entre
dentes. — Não suporto mentiras e não vou permitir que você minta para mim, e
— Eu não minto!
pessoas formavam redemoinhos para vê-los. — Porque se não escutei mal está me
dizendo que eu estava aqui embaixo na festa. Acredita que estava com outra
resposta, Ira — lhe advertiu, — porque não vou tolerar que me ofenda
impunemente nem que minta na minha cara. Fui claro com o que sentia por você
e com o que quero te oferecer, assim pensa bem nessa resposta ou… você não
acreditou em nada do que te disse? Não confia em mim? Prefere ser puta a levar
Com essas palavras ela tremeu, um calafrio percorreu seu corpo, estava a
ponto de explodir, mas devia tranquilizar-se, ela era uma mulher sensata que
Perfeito! Segue o que estava fazendo, mas não me busque — exclamou com
impotência a ponto de chorar, e ela não era uma mulher de derramar lágrimas, o
agarrou pelos braços colocando-a sobre seu ombro para seguir caminhando,
e Vadik a fazia, seguro de que o ucraniano estaria e nunca se alegrou tanto de ver
quem o necessitava.
— Trouxe a máquina?
viria a seguir.
— Vamos.
pessoas que se abriam a seu passo como se fosse uma divindade, e bem, para
quase todos ele era. Ao chegar a uma porta de uma só patada ele a abriu e ao
acender a luz a agente ficou cegada por uns segundos. Passar de luzes coloridas e
escuridão a uma luz branca de néon lhe afetou a vista. Só sentiu quando ainda
com ela no ombro Misha, arrastou a cadeira e a sentou com a frente para o
respaldo.
— O que pensa que está fazendo? — chiou quando ele com uma só de suas
Não lhe respondeu, em troca se dirigiu ao Dimitri que com cuidado tirava
Ao escutá-lo falar Ira se alertou, tentou com todas suas forças levantar-se,
mas com a mão que o russo tinha livre voltou a pegá-la, não tinha nenhuma só
possibilidade de mover-se assim como estava, nem sequer as pernas podia mover
mas sobretudo pela valentia dessa mulher, lançou-se a seus lábios para devorá-
los. Não tinha costume de tratar com gente que o insultasse ou que simplesmente
se negasse a suas ordens, mas ela era diferente, era a única que lhe enfrentava, a
única que discutia com ele, a única que não lhe respeitava e a única que o fazia
perder a razão para que lhe dominasse o coração. Por isso e por muitas coisas
mais que ainda não tinha definido, tinha decidido fazê-la sua, e a única forma
Quando separou seus lábios dos de Ira pôde sentir o sabor metálico de seu
sangue e com um gesto despreocupado lambeu seu próprio sabor e lhe falou em
Não fizeram falta mais palavras, Dimitri assentiu com a cabeça entendendo
— Irmão…
— Senhor, para isso teria que tatuá-la na frente, como as minhas garotas.
lhe tranquilizava, mas saber que ia ser tatuada a deixava nervosa. Só de escutar a
ordem de Misha já sabia o que lhe iriam tatuar, isso ela não poderia disfarçar
responder:
gozaria te vendo sofrer, mas não sou, o que me excita é ver sua cara quando te
fodo e você perde a noção, porque embora me diga que não e lhe negue isso a
com ódio, e tragou a dor que a máquina lhe estava produzindo. A verdade é que
doía muito, estava tensa e não havia maneira que pudesse relaxar. Tentou
recordar quando sua irmã fez uma e tinha pedido a ela que também se tatuasse
para ficarem iguais, e não tinha sido capaz, foi sentir a primeira espetada e sair
apavorada do local, e agora vários anos depois a estavam tatuando contra sua
vontade.
mãos tremendo arrancou o plástico que cobria grande parte de suas costas.
“Misha” em russo.
Sentiu-se um intruso em sua própria casa e pela primeira vez quis aproximar-se
de alguém e embalá-lo, sentindo-se em parte culpado por sua dor, mas não por
havê-la tatuado. Tão silencioso como entrou se retirou, era melhor deixá-la
explodia da dor que sentia, só queria fechar os olhos e dormir. Não soube nada
dele até que amanheceu e a primeira coisa que viu sobre a cama foi um pote com
que levar esse desenho por um longo tempo seria melhor que cuidasse dele, se
decidiu vestir uma camiseta de Misha para que não lhe roçasse a pele, depois
Uma vez que esteve no primeiro piso estranhou não ver o russo, mas
aproximaram dela e lhe disseram que tinham ordens de levá-la a sua casa. Isso
O que Ira não esperava foi que, ao descer do carro, ambos os guarda-costas
o fizessem também.
«Idiota», pensou.
para intimidá-la. — Misha nos ordenou cuidar de você e faremos isso, importa-
continuou. — Tem trinta minutos para recolher suas coisas, puta. Nem um a mais
Rapidamente correu pelas escadas até que chegou a sua casa. Era a
primeira vez desde que tinha chegado a Rússia que o fato de entrar nesse
Pegou seu computador e teclou uma mensagem direta, sabia que seus
Depois disso trocou de roupa, vestiu outro traje sobre o que já tinha e logo,
calçando seus tênis, abriu a janela. Seu plano era simples: devia passar ao outro
apartamento e sair pela escada de emergência, cruzar a rua e correr até onde
estavam seus amigos, tudo isto sem ser vista pelos guarda-costas. Simples, muito
primeiro golpe quando esta se abriu e sentiu como uns fortes braços a apertavam
— Emily!
Diante desse primeiro contato tão forte ela pigarreou, não lhe doíam os
machucados da explosão que ainda tinha visíveis, mas sim lhe ardia as costas.
— Garota, superpoderosa! — continuou Jeff feliz por vê-la. — Ainda está
em forma.
Separando-se um pouco para abraçá-lo foi até seu grande amigo, mas este
ao sentir que se queixava como se fosse uma boneca de trapo e sem que
— Está marcada — comentou Peter. Ele sabia tanto de tatuagens como ela,
— Como que não é para tanto?! — vociferou Brad. — Que merda fizeram
com você?
— Como? — falou Brad em um tom pétreo esperando que Peter lhe desse
amiga que, embora não notasse, estava tremendo, não estava preparada para
na habitação.
Ela simplesmente fechou os olhos, já temia uma coisa assim e apertou forte
a mandíbula para que não lhe tremesse e seus amigos não a vissem tão
vulnerável.
— Isso não é importante agora — Jeff o cortou. — nos diga algo mais sobre
a maldita tatuagem.
história através de seu corpo. — Todos assentiram. — E embora não é comum que
vezes acontece e o fazem para demonstrar algo. Neste caso o entardecer com aves
voando significa que a pessoa nasceu para ser livre, mas… — Fez uma pausa, —
neste caso significa que sua liberdade termina e começa com Misha. É de sua
mulheres podem ser castigadas da pior maneira e não me refiro a que sejam
fatais, a não ser muito pior em vida. Se seu dono não voltar a aceitá-las, podem
parte de uma rede de prostituição e se tiverem melhor sorte alcançar a morte, mas
— Isso não acontecerá, voltará para casa agora — sentenciou Brad tomando
seu telefone via satélite para informar a seus superiores que Emily Claxon
por como o estavam olhando. — Não vou arriscar sua vida como se fosse uma
isca.
perdedora e não queria, — não pode me enviar de volta para casa, isto vai muito
além de uma simples tatuagem que... que depois não terá importância quando
acabar a missão.
— Esta não é sua decisão, é minha, nossa! Somos uma equipe —apontou a
mulheres vamos proteger? Não é para isso que nós treinamos. Não é por isso que
cérebro? Não entende que agora pertence a ele?! — Esse era o ponto que
intercâmbio e com isso poderemos deter uma das bratvas mais poderosas da
Rússia.
informação.
— Estou de acordo — concluiu Jeff. Ele pensava que quanto mais rápido
acabassem a missão, mais rápido Emily estaria longe e a salvo. Agora sim que
tinham que deter essa bratva, não só pela humanidade, mas sim pela
Todos, exceto Brad o fizeram, não necessitaram mais palavras para deixar
— O colar não serve porque não tem autonomia própria, mas estes brincos
autônoma. Tudo o que você ouça ouviremos nós e… — anunciou agora tirando
uma pequena pistola tipo seringa de injeção que lhe aproximou do braço, — isto
— Se você tirar….
uma só vez não haverá nada que lhe salve de abortar a missão.
— Estou de acordo — afirmou Jeff muito sério, — o que você escute, nós
escutaremos também.
nos mandar tudo sem desencriptar, nós o arrumamos aqui, assim não perderá
Sem sequer despedir-se Brad deu a volta para sair, não podia ficar, o medo
que sentia por ela o impedia de sentir-se orgulhoso pelo que estava fazendo,
sabia, mas não podia evitar. Ela estava se comportando como uma autêntica
agente.
— Jeff, eu…
passador para o cabelo, — basta um clique eu estarei a seu lado em dez minutos,
esteja onde estiver, faça o que fizer. Isto é entre você e eu. Estamos de acordo?
— Obrigada…
— Vai.
Capítulo 09
Da mesma forma que saiu voltou a entrar em sua casa, mas agora tinha o
semblante triste. Não queria estar zangada com o Brad, isso a afetava, tampouco
objeto que chocou com a parede, fazendo que o guarda-costas fechasse a porta.
Rapidamente colocou umas coisas na bolsa e olhando uma última vez sua
dela a sua nova casa estaria mais feliz, mas se surpreendeu ao ver que não era
assim.
— pois bem, começa com a roupa — disse para diminur a tensão do assunto. Ela
só havia trazido o que considerava necessário, já que o tempo não foi suficiente
— Hoje terei uma reunião importante com o Vadik e Ahmed, depois eles
jantarão aqui e necessito que você se comporte como uma mulher normal, que os
Ira só o fulminou com o olhar. Uma mulher normal? Uma merda! Mas sem
momento.
Não, agora tinha que pensar como obter mais informação. Seu cérebro de
agente começou a trabalhar formando um plano. Isso lhe deu calafrios, mas
o que faço, não estou perdendo a cabeça e… se não for pedir muito, não escutem o
*************
Conhecia a agente e conhecia a mulher que habitava nela, por isso depois de
escutar ao russo, não lhe custou nada adivinhar o que a garota superpoderosa ia
fazer.
*************
vestia. Quis com todo seu ser poder ser capaz de tirar a calcinha também, mas era
chegasse a seu objetivo. A cada passo que dava sentia que o coração acelerava um
pouco mais. Voltou a arrumar o coque pela enésima vez em três minutos e ao fim,
Uma vez… duas vezes… e nada, até que finalmente um Misha mal-
humorado abriu, ficando um segundo impactado com o que viam seus olhos.
— Posso passar?
«Claro, é obvio», quis lhe dizer, mas em vez disso apenas respondeu:
— Entra.
Ira estava diante da grande porta reforçada apenas com uma bata de seda
negra e uns impressionantes saltos da mesma cor, que faziam que suas pernas
parecessem totalmente perfeitas e torneadas. Avançou dois passos até situar-se no
quando esteve segura de que tinha toda sua atenção, deixou que o objeto se
deslizasse por todo seu corpo até chegar ao chão, enquanto um calafrio percorria
Misha, ofuscado pelo que via, atraiu-a pela cintura até ficar totalmente
antes de que Ira capturasse sua boca, o agarrasse pela nuca por surpresa e o
beijasse com toda a paixão que podia reunir em segundos, manipulando-o com a
começava a vibrar com o contato. Apressada para que as coisas saíssem bem e,
embora não quisesse reconhecer, excitada pelas coisas que Misha lhe estava
fazendo, entregou-se ao momento, sem lhe negar nada de nada. Não estava
único que esperava era que seus amigos lhe tivessem feito caso e não a estivessem
desespero, essa mulher o fazia perder o controle. Acariciou seus seios, queria
possuir seu corpo, nem sequer pretendia dissimular seu desejo, desejava de
Em uma última estocada que se levaria tudo, Misha agarrou com força sua
para que nesse preciso momento ambos chegassem ao clímax, proferindo seus
costas e caminhava como se não tivesse acontecido nada até sentá-la sobre a mesa
objetivo.
como… — fez uma pausa e com um ágil movimento desceu da mesa, — uma
mulher normal.
Ao ouvir essas palavras tão frias e o olhar que agora lhe dava, sem denotar
sua raiva nem sua decepção, subiu as calças, rodeou a mesa e se sentou, para logo
— Você terá roupa para vestir, direi a uma das garotas que leve algo para
você.
pacientemente que ele se levantasse para teclar o código na parede e, antes de que
ele fechasse definitivamente, escutou como lhe dizia diante dos dois homens que
Quis dar a volta e gritar com ele, inclusive chutá-lo, mas em vez disso
seguiu caminhado como se não tivesse dito nada, embora em realidade fervia de
raiva por dentro. Não podia seguir negando o que já sabia e seu corpo lhe dizia:
esse russo era o único que a fazia voar e sentir como nenhum outro homem fez.
cão.
Enquanto tomava um banho com água fria para esquecer o vivido, não
deixava de pensar nessas mãos, nesses olhos, nessa pele… Suas mãos a
— Você não sabe bater? — recriminou-a, atando ainda mais forte a toalha
ao corpo.
— Vim te trazer isto — disse lançando algo ao chão, mas com o que Keyla
não contava era com os bons reflexos de Ira, quem pegou a roupa em segundos,
surpreendendo-a.
Sem dizer nada mais a garota se foi, olhando-a com desprezo. Estava claro
que ela não era de seu agrado e a razão não era muito difícil de adivinhar.
Com toda a tranquilidade do mundo Ira se vestiu, não tinha nenhum
interesse em ir a esse jantar e quando estava pronta contou até dez para não soltar
frente do espelho, observando como a tatuagem que levava nas costas se via
único decote que tinha era nas costas, que a deixava totalmente descoberta. —
Assim quer que todo mundo veja a quem pertenço — murmurou em voz alta.
orelha e para adorná-lo colocou o passador que seu amigo havia presenteado. Por
Uma vez que esteve pronta foi até o quarto de Katiuska. Ela ao vê-la se
lançou a seus braços para que a embalasse. O amor que tinham se podia apalpar,
Isso a fez rir e esquecer por segundos a raiva que sentia do russo.
volta sobre si mesma para que a visse com seu belo vestido celeste, que fazia
— Como estou?!
Ira fechou os olhos um momento. Como diria o que tinha que comunicar a
seguir sem estragar a ilusão de uma criança? Impossível, mas era por seu bem.
— Necessito que esta noite fique deitada, que não desça para jantar
— Você é uma princesa e a mais linda da Rússia, mas por favor… esta noite
— Você não gosta das pessoas que jantarão aqui hoje? — perguntou
Antes de que pudesse responder a abraçou com força, com amor e com
toda a ternura do mundo, soltando assim o ar que nem sequer sabia que tinha
— De verdade?
— Tudo, preciosa, tudo o você quiser, mas agora vem, deixa eu molhar um
pouco seu cabelo. Agora você está com febre e sua cabeça dói, será nosso segredo.
Katiuska, encantada por ver a alegria de sua amiga, deixou-a fazer o que
queria. Logo com cuidado a levou à cama, tirou-lhe o vestido e a deitou, e ao dar a
Mordendo o lábio para não rir de sua idéia deu a volta e lhe disse:
Saiu do quarto e, é obvio, estava atrasada. Não era sua intenção atrasar-se
tanto com a Katiuska, mas era tarde para lamentar porque no meio do corredor, e
à altura do peito.
— Acredito ter sido claro contigo e ter dito que eu não gosto das mentiras.
muito segura de suas palavras, mas quando Misha começou a caminhar para a
— É uma menina!
— A cultura dele é ter a uma menina que não chega a dezesseis anos como
favor, deixa que fique aqui em uma realidade diferente da que está acontecendo
lá embaixo, deixa que conserve sua inocência pelo maior tempo possível. Não
digo que viva enganada, mas é uma menina e em seus curtos seis anos passou
a pelo braço para descerem. Odiava quando o olhava com esses olhos que podiam
transpassar todas as suas barreiras, esses olhos que o deixavam com o coração
Com a mão de Ira tomada muito forte, desceram até chegar ao salão onde
de mãos dadas foi Vadik, que moveu a cabeça em forma de reprovação, mas
segundos Ahmed também se uniu, mais que olhar o desenho estava olhando seu
traseiro.
— Eu te falei que ela tinha dono —Vadik falou olhando a Misha pelo canto
amargura, — eu não vou foder você, a que te fode os miolos é… esta — concluiu
levantando-se para alcançar o copo de vodca que uma das garotas lhe trazia.
Misha não só ignorou seu comentário, mas se esforçou para não dizer nada
aos homens que comiam com os olhos a mulher que ele pensava ser de sua
um decote que terminava na parte baixa de suas costas faziam que todas as
como uma anfitriã estupenda, inclusive ela mesma entregou um copo ao sunita,
coisa que também o incomodou. Por que tinha que sorrir para ele?
Por outro lado a agente fervia de raiva, sabia que era o objeto de vários
murmúrios. Sempre tinha odiado que dissessem coisas a suas costas e mais ainda
ser o foco de atenção desse tipo de homens. No clube era diferente, não se sentia
tão fora de lugar como nesse momento. Mas o que acabou com sua paciência foi
ver como Ahmed manuseava a garota que tanto estimava. Ela se sentia incômoda
e mais ainda quando Vadik a fez aproximar-se. Sentiu vontade de lançar nele o
copo que segurava, quebrá-lo e passar pela garganta de ambos homens. Nesse
reagir de maneira nenhuma, mas não pôde evitar olhar a Misha com olhos
tinham data de entrega e tudo perfeitamente estudado, não havia nada que
pudesse sair mal. Ahmed celebrava vociferando suas façanhas e contando suas
estimulava-o a que contasse mais, quanto mais soubesse de seu agora aliado mais
fácil seria encontrar seu ponto fraco se chegava o momento, e era claro que o
desse homem eram as adolescentes, gosto que ele também compartilhava, só que
por razões muito diferentes. Ele apenas as utilizava para esquecer a uma, em troca
queria uma diversão de última hora, ver sua mão direita nessa posição trazia
bolso, digitar algo e entregar-lhe. Ira, que estava a seu lado, teve que apertar os
dentes para tranquilizar-se, pelo canto do olho tinha visto como na tela apareciam
passou por cada uma das imagens até que tocou uma e ampliou a imagem. A
garota que aparecia ante eles tinha o cabelo comprido, olhos grandes,
tudo o que você quiser colocar e sempre pede mais, tem uma tolerância à dor que
poucas têm e não é necessário drogá-la até as sobrancelhas para que se renda.
A Ira nesse momento lhe percorreu um grande calafrio por todo o corpo ao
pensar nessas mulheres, que certamente aguentavam todo tipo de ofensas ao estar
diante de todos combinava com Zhenya, enquanto Ira retorcia as mãos pensando
em que ele não tinha remorsos e muito menos sentimentos. Quando voltou a
sentar-se a seu lado soltou um suspiro que tinha contido, olhando-o com
desprezo.
respondeu:
acompanharemos.
— E não sabe quanto mais posso chegar a ser — o ouviu dizer enquanto
Não chegou a entrar quando a peituda que tinha uma queda pelo russo
entrou também, entregando outro vestido. Este era de um azul brilhante, claro,
muito mais curto que o anterior. Ao vesti-lo como não era dela, inevitavelmente
A meia hora que demoraram para chegar ao novo clube foi uma eternidade
para Ira, sobretudo porque teve que aguentar a festa privada que faziam as
amigas de Misha, o vor, Ahmed e Lea, a moça, que ao menos parecia desfrutar,
fossem os donos do lugar e não estava longe da realidade. Havia uma zona
dentro para fora. Em um canto uma zona muito mais elegante que dava a entrada
a um quarto com vistas a uma espécie de cubículo com diferentes artefatos para
Ira não demorou nada em divisar Zhenya ao fundo desse quarto, e a seu
lado outra mulher que parecia beber algo. Sem perder mais tempo, Ahmed
agarrou a mão de Lea e caminhou com passo firme à habitação, enquanto o vor
chamando uma garçonete para que trouxesse uma garrafa de vodca que nem
— Este é seu mundo — comentou mais para ele que para ela.
Ira só lhe respondeu com esse olhar depreciativo e de reprovação que tanto
Passear-se como se fosse uma avenida não era normal naquele clube, todo
— Me respeitam.
Misha franziu o cenho e a agarrou ainda mais forte pela mão. Odiava
quando ficava assim, não havia forma de impor nada a essa mulher, nunca tinha
— Assim que isso é o que você pensa… perfeito — bufou dando a volta até
Ira sentia que o maldito percurso não terminava nunca e o russo, além de
irritado, já estava perdendo a paciência. Não havia ninguém nesse clube que não
olhasse o traseiro dessa mulher. O vestido não estava colado, era pior, era como
— O que?
— Bem, você vai ficar muito tempo aí? Ou dançará como te ordenei?
Contar até dez não seria suficiente. Subiu ao cenário e quando chegava ao
para ele.
Ira abriu muito os olhos e olhou para todos os lados antes de começar a
de um felino que estuda a sua presa, parando em cada degrau que dava a
vestido. — Não se cubra — disse detendo a mão que ia em direção a cobrir seus
seios.
Com cuidado e lentidão Ira baixou sua mão, sentia-se totalmente exposta a
— Responde.
Ira tomou ar, precisava encher seus pulmões e assim poder aplacar o que
emudeceu. Não era respeito, era medo à forma em que a estava olhando e ao
— Você e sempre você, eu disse coisas a você que nem sequer sabe
sua calcinha e, como se fosse papel, rasgou o tecido, para agora sim deixá-la
completamente, iluminando-a.
fácil para você, porque só obedeceria, deixaria sua vontade de lado e não teria que
pensar.
agora já não havia luzes coloridas, era uma luz que não deixava nada sem
iluminar.
Ira começou a sentir mais que sua cara se tingia de vermelho, inclusive seu
peito subia e descia rapidamente. Ao ver que o russo ia pressionar outro botão
tire a mão. Você acha que eu sou um monstro, seus olhos me dizem isso.
perfeitamente como o vor e Ahmed jogavam. Ao russo não lhe moveu nem um
e observar?
O que significava isso? Que merda importava aquela diferença? Tremendo
Ficou colada ao vidro, não se atreveu nem sequer a fechar os olhos por
faria cair e quebrar em mil pedaços. Lentamente passou um de seus largos dedos
— Não.
Só sorriu.
— Um pouco…
Teria gostado ter tatuado meu nome em outro lugar, mas o ucraniano teria visto
apenas as costas.
Ira apertou os dentes, sentia dor, não uma que não pudesse suportar, mas
sim uma que se mesclava com um prazer que roçava a excitação, uma que sabia
— Vejo… vejo…
— O que? — Voltou para a carga, mas desta vez Ira se apertou mais ao
vidro para não chiar e ao fazê-lo escutou a voz do árabe dirigir-se à garota. E
colocando seus cinco sentidos em alerta pôde fixar-se na mulher, que estava
emitindo todo tipo de sons pedindo para ser golpeada para estimular ainda mais
seu prazer.
— Deus santo… — murmurou para ela. A mulher que via não era uma
menina, isso podia notar agora que estava realmente observando, não tinha um
corpo infantil nem tinha esse tipo de compleição, nem traços. Ofegou quando
Misha tirou a pressão de seu sexo. Ele a olhou ameaçador para que lhe dissesse de
uma vez por todas o que via, e tomando a sua cara sussurrou em seu ouvido:
— Sou um monstro como acredita que sou…? Me diga, sou esse tipo de
degenerado que sua cabeça tenta demonstrar? — Ira negou com a cabeça, a
verdade é que não podia nem pensar. — Nem sequer fale, nem sequer respire,
esta sala não é à prova de som e o que fizer será visto, chamará a atenção deles e
Não conseguiu respirar quando sentiu seus dedos outra vez, inclinou a
as costas para não gritar e atrair a atenção das pessoas. De repente sentiu como
Misha baixava o zíper de sua calça, introduzindo seu membro onde segundos
antes seu dedo esteve. Um gemido lhe saiu ao primeiro contato e foi Misha, com
um olhar agora brincalhão, quem colocou um dedo nos lábios para que se calasse,
o mesmo dedo que antes estava em seu interior, esse mesmo que logo lambeu sem
nenhum pudor.
— Silêncio…
Eles podiam escutar perfeitamente o que diziam e como gemiam, o que Ira
não sabia nem imaginava era que seus vizinhos não podiam vê-los e, como não
sabia, quando Vadik olhou para a janela, ela tentou afastar-se, assustada,
engolindo um grito que foi sossegado pela mão do russo, quem estava
Ela negou com a cabeça enquanto Misha investia com gosto um par de
dizer nada, sem poder gritar, sem poder ofegar, o prazer que estava lhe
podia fazê-lo. Sua respiração se acelerava a cada segundo mais excitando-o, ele
Quando ela se deu conta o primeiro que fez foi cobrir-se e olhar pela
para logo deixá-la cair lentamente, desfrutando de tudo o que intensamente lhe
vidro enquanto Ira tinha a metade do corpo no chão. Rapidamente lhe deu a volta
e antes de que ela pudesse falar colocou a língua em sua boca, agarrou-lhe a cara
para ela era inevitável, impossível fugir e com desespero chegou ao final do
Agarrou seus punhos por sobre sua cabeça com uma mão e começou a
meter-se nela novamente. Ira não conseguia pensar, não podia, suas sensações
falavam por ela, seus ofegos gritavam por ela e seus olhos diziam o que sentia.
movimento de seu corpo, a luz iluminava aos dois sem deixar nenhuma sombra a
seu redor. Ela se retorceu sob seu corpo gritando de prazer, nunca em sua vida
havia sentido tanto, nunca em sua vida tinha estado tão exposta, nunca em sua
Com cuidado Misha se separou. Esperando sua reação, aferrou-a com força
e lhe beijou a testa. Ira ficou com os olhos fechados pensando em tudo o que tinha
eles, mas também a ela, tinha-a feito acreditar que seriam escutados e tinha
acreditado nele, isso era melhor que uma atuação para obter o Óscar, era… muito
mais.
Estava totalmente instável, sem nada claro, não entendia nada. Sentiu
lhe dava uma verdadeira lição? Ou acreditava que era e não o era? Apertou os
olhos mais fortes quando Misha passou seu cabelo por detrás da orelha, recordou
— Ira…
Logo depois disso soltou uma grande gargalhada que retumbou por todo o
Quase duas horas depois, incrivelmente ele seguia acariciando suas costas.
segundos Ira se vestiu, enquanto com toda a calma do mundo Misha vestia as
calças.
— Vadik…
— Bom, acredito que eu poderia dar aulas para você, afinal essa é uma das
algum outro lugar, ele ainda tinha que apagar sua sede.
pela nuca e a beijou com ferocidade, e ao soltá-la notou que algo lhe faltava.
Óscar, mas ao menos sim uma nominação aos “Globos de Ouro”. — Misha, era de
minha mãe.
colar.
Sem lhe dizer nada a agarrou pelo braço para dirigir-se à escada que levava
ao segundo andar. Apesar de ter passado várias vezes por aí Ira ainda se
só pelos dois gorilas que custodiavam a entrada e os outros dois que estavam na
porta do escritório, mas sim também pela porta de acesso com leitor digital, e
se deu conta de que sobre a mesa havia uns planos. Claramente eram de um
acesso e junto a ele uma direção de correio eletrônico mais uma chave.
Uma vez que saíram, ele voltou a fechar com mesmo cuidado que entrou.
Ira sorriu, sabia que ao pôr um pé fora desse escritório o microfone começaria a
transmitir toda a informação, isso se é que não o tinha feito já ao vivo e em direto.
Ira, embora não quisesse reconhecer, estava nervosa, não desejava deitar-se a seu
gargalhadas.
— Vem, deite-se.
opções da conversação. Tinha que informar-se de algum jeito, por isso quando
comprar bonecas no centro comercial, saíram nessa direção, mas não foram
Durante todo o trajeto foi transmitindo sua localização e esperava que seus
estava feliz, nunca tinha tido uma saída assim, não foi difícil despistar os guarda-
costas e entrar em uma grande loja de bonecas, onde se podia escolher de tudo
certo?
entender nada, até que de repente se topou totalmente com a loja de lingerie, tirou
atendendo a uma modelo que tinha chegado minutos antes assim, aproveitando-
se dessa oportunidade, agarrou um par de objetos e entrou em setor de
provadores.
referia e não estava preparada para responder. — Quando e onde será a entrega?
E Brad?
necessitavam de palavras.
idiota usou um porto franco como base de operações. O melhor ponto para
terra do país que o usa por dizê-lo de algum modo, entende? — perguntou para
assegurar-se. Chegado a esse ponto não podia ficar nada sem esclarecer. —
Perfeito —disse ficando sério quando ela assentiu e olhando aos dois continuou.
— Ahmed já introduziu o urânio, isso quer dizer que não podemos confiar
esperava. — Isso quer dizer também que o maldito não só está negociando com o
Vadik, mas sim com o melhor comprador, não sabemos quem é sua outra opção e
está e ele mesmo a introduziu no país por uma enorme soma de dinheiro.
— Sim e não.
— O que?
escravos. Esse desgraçado… — vaiou furioso, — trafica seres humanos, isso foi o
que veio buscar nos países do Leste. Só aceitou o trato com o Vadik porque o filho
de puta, além disso, entregou-lhe como bônus extra uma certa quantidade de
sentido uma vontade espantosa de vomitar, a mesma vontade que havia sentido
antes.
— Não é necessário que você nos dê — interveio Blake ao ver sua cara,
pensando em que ela não sabia como conseguir. — Estaremos infiltrados com
— Não — negou Jeff com a cabeça, — o apoio são forças especiais do nosso
política. Os vor zakone estão em todo lugar, não sabemos qual é sua verdadeira
pode ser corrompida — falou exasperando-se. Tantos meses para nada, tanto
Novamente Jeff negou com a cabeça, sabia que não gostaria do que ouviria
a seguir.
— Por isso, você — se apressou a falar o outro agente, — sairá dessa casa
assim que o russo partir. Não vamos correr nenhum risco, você me entende?
— E… e Katiuska?
— Você não pode fazer nada! Não é uma super heroína, Emily! — gritou
— Agente — disse falando com ela como superior nesse momento, — Brad
queria tirar você do caso ontem, desde que sabe o que acontecerá. Nós estamos
colocando tudo neste caso, e se você ainda fica é porque precisamos saber se algo
Emily olhou-o. O que acabam de lhe dizer era brutal, a bratva do Vadik e
todos seus integrantes, inclusive Misha deixariam de existir em três dias. Como
Saiu pensando em tudo o que lhe haviam dito, não havia como voltar atrás,
por sua bochecha. Sem ser vista por ninguém entrou na loja de bonecas e o
Isso a deixou mais tranquila, podia ver o amor que a menina lhe professava
— Perfeito.
mas tinha prometido, assim sem demora, foi ao quarto e tiraram as lindas bonecas
— Me diga, me diga um nome que não seja o teu, assim poremos a esta
boneca.
— Eu gosto!
Depois disso ambas ficaram a rir, fazia tanto tempo que não dizia seu
Katiuska ao vê-lo aparecer assim, do nada, atirou-se aos braços dela como
lhe pedindo amparo, coisa que lhe chegou até a medula dos ossos.
Ira franziu o cenho reprovando sua atitude, alguma vez ia ter uma atitude
sorriria à pequena, que ainda estava assustada, mas não, em realidade não podia
esperar nada de um homem assim, um homem que por um lado dizia que ia
cuidar dela e por outro era capaz de entregar pessoas em troca de um poderoso
como podia sentir coisas por um homem assim? Porque podia negar-lhe ao
mundo, mas não a ela mesma. O que sentia por Misha jamais havia sentido, e
— Não vou ficar trancada aqui — espetou com frieza, estava odiando-o.
— Ficará aqui nos próximos dias com a cria porque eu estou ordenando
isso.
— Pelo menos poderia chamar a sua filha pelo nome — murmurou raivosa,
— O que escutou.
mas Ira estava zangada, ferida, sobretudo afligida pelo que sabia. — Não sou o
Ira fechou os olhos. Como queria acreditar nele, mas rapidamente surgiram
imagens das vinte pessoas em sua mente, e ao voltar a olhá-lo o fez com ódio.
estava rasgando por dentro. — Porque como eu te vejo você não gostaria de sabê-
— Não tem nem puta ideia de como sou, maldita seja! Não me conhece!
Nesse momento ambos se calaram e Ira lhe fez um gesto para que as
seu quarto.
Depois de quase uma hora ela saiu, e é obvio ele a estava esperando com os
inexpressivo.
— Temos uma conversa pendente — foi quão único disse e a segurou pela
mão até que chegaram a seu escritório. Era tal a cara que trazia que nenhum dos
— Você dirá.
— O que quer que te diga? Ontem vi uma mulher, não a uma menina, está
contente?!
confie em mim apenas por uns dias, logo tudo será diferente.
Ela negou com a cabeça sem entender nada e antes de que voltasse a falar
pôs dois dedos em seus lábios. Sabia que tudo o que dissesse o estariam
Misha sustentou seu rosto com suas grandes mãos. Desejava e precisava
lhe transmitir muitas coisas, principalmente lhe rogar uns dias e que confiasse
Tinha que fazer algo. A fez se levantar e ele caminhou até seu computador,
teclou um código de acesso que ela memorizou sem que se desse conta, abriu uma
Não que isso não fosse um delito, mas ao menos não era um capital. Levantou a
vista e ele a estava olhando de uma forma meio estranha. Acariciou a bochecha
como algo doloroso abria caminho em seu peito. Quem esse homem era
realmente? Era tão mau como ele queria que todos acreditassem?
— O que sou não vou mudar nem me arrependo, mas isso sim que não sou
Ira lhe sustentou o olhar, e podia notar que em seus olhos havia
sinceridade. Isso a rasgou ainda mais, mas devia continuar, era uma agente
qualificada e a missão já estava chegando a seu fim, por muito que ela desejasse
olharam sem mediar palavra. Nisso estavam quando a porta de repente se abriu e
— Muitas coisas, querido amigo, muitas coisas que você me pode dar,
— Vai —Misha ordenou a Ira, quem saiu o mais rapidamente possível. Ela
todas as suas forças ter um computador para poder as pôr em ordem, mas não
tinha.
contra ela. Talvez não fosse o melhor plano e não sobrevivesse, depois de tudo o
faria sozinha, sem equipe, especialmente sem que ninguém soubesse. Era muito
intuição pela primeira vez e esperava ser a garota superpoderosa para poder
resistir, quebraria muitas regras tanto pessoais como profissionais. Mas não
importava, havia algo que lhe dizia que devia fazê-lo e o único que jogava a seu
favor era que ela tinha os dados do correio, e o mais importante: a chave que
profundamente, e ele se dedicou a observá-la, não havia nada nessa mulher que
não lhe chamasse a atenção. Ficou pensativo e caminhou até sentar-se a seu lado,
era como se algo o obrigasse a chegar até ela. Tentou não atender o que sua mente
e algo a mais lhe diziam, mas era impossível, o que sentia para aquela mulher era
superior à sua vontade, não sabia como definir, mas com ela lhe tinham
Ele sempre tinha acreditado que podia controlar os sentimentos, que ele
podia, de fato assim o tinha feito durante toda sua vida, já que via como homens
se envolviam nessa teia de aranha e não saíam jamais, inclusive alguns eram
absorvidos tendo o mesmo resultado. Por isso há muitos anos tinha decidido
fechar todo tipo de sentimentos e concentrar-se em seu trabalho por isso era um
dos melhores, ninguém podia negar. Mas de repente, de um nada Ira apareceu e
todas as suas regras internas começaram a rachar-se, nem sequer lhe importou
que fora prostituta e muito menos o trabalho que exercia, bastava um só de seus
olhares e algo acontecia em seu interior. Tampouco lhe importou ter que comprá-
la para poder estar com ela, sabia que essa seria a única maneira. Não fazia as
coisas pela metade na vida, era tudo ou nada, e ela tinha dono com nome e
Começou com cuidado a tirar os lençóis e a lhe acariciar a pele, era tersa e
suave. Logo aproximou seus lábios, desejava senti-la e como sempre passava se
momento que Misha aproveitou para estreitá-la entre seus fortes braços.
E assim começou a lhe dar quentes beijos por todo seu corpo. Queria
Não obteve resposta, ao menos verbal, porque em troca recebeu uma muito
corporal. Misha começou a mover os quadris para ao fim encontrar o alívio que
procurava. Com mestria e uma delicadeza que jamais antes tinha tido a penetrou
lentamente sem deixar de olhá-la aos olhos, mas o que ela via em seu olhar era
— Confia em mim, por favor — pediu com a última esperança que tinha.
Ele negou com a cabeça e em coisa de segundos seu rosto mudou, agora
— Não preciso compartilhar nada contigo que não seja isto — respondeu
deixe dormir.
irritado ante o que ouvia. Começou a possui-la como tanto o necessitava, sem lhe
dar trégua, de uma forma brutal. Nem sequer se deteve quando ela chegou ao
orgasmo, mas sim seguiu inclusive muito além de seu próprio final. Em nenhum
momento deixou de beijá-la, inclusive com desespero. Lhe doía tudo, mas não
importava, a dor passaria, essa seria a última vez que estaria com ele e
professando. Ela o olhou sem entender nada e ele com a voz carregada lhe
momento assim onde era quase impossível negar algo. Não podia lhe dar essa
informação tão confidencial, muito menos a ele, mas já que não haveria um
— Ems…
com muita suavidade. E assim, com beijos tenros, adormeceu, enquanto Ira
acabava de fazer. Tinha lhe dado seu nome. Fechou os olhos pensando em tudo o
*************
Não sabia como exteriorizar o que sentia, mas tinha que lhe dar uma ordem, e se
dias quero que tire tudo da caixa forte e parta para longe.
— Mas…
que quiser — anunciou enquanto anotava uma série de números sobre um papel
e entregava a ela. Não podia nem queria ficar e falar mais com ela. Levava anos
tipo de sentimentos até que tinha chegado ela. Três letras de um nome que lhe
tinham desordenado a vida, implicando-o em problemas que ela nem sequer era
capaz de imaginar.
quarto escutou:
— Me despeça da Katiuska.
Ante isso apenas seguiu, sem olhar para trás, sem remorsos. Assim Misha
saiu desse quarto, e com isso também do mundo de Ira e da vida do Emily
Claxon.
Mas…
quatro paredes. Sem adiar mais a situação se levantou, tinha menos de quarenta e
oito horas para executar o plano mais arriscado de sua vida. Depois de banhar-se
tirou um dos vestidos Misha tinha lhe presenteado, escolheu o mais chamativo,
justo o que Emily Claxon não usaria jamais, e o vestiu. Maquiou-se acentuando os
traços da cara e pôs sobretudo ênfase em seus lábios. Sim, era uma Ira 2.0 a que
brincos, deixando-os sobre a mesa de noite. Quão único rogava era que os
meninos pensassem que ainda dormia depois da amalucada noite que teve.
pasmados ao vê-la, jamais a tinham visto assim, e isso era todo um privilégio para
a vista.
Por fora parecia que estava controlada, com um olhar duro e tão frio como
a Rússia, quando em realidade era justamente o contrário. Foi tão cortante e direta
a ordem que deu aos gorilas que estes apenas assentiram com a cabeça. Seu
adulações por atendê-la. Uma vez que se foi, rapidamente sua cabeça começou a
Foi muito simples sair pela porta traseira do local, e só lhe bastou abrir o
momento.
parapeito.
«Imbecis, posso vê-los a quilômetros », pensou enquanto avançava, até que de
repente dois homens saíram a seu encontro, apontando-a com suas metralhadoras
PKM carregadas.
— Pare!
— O vor não gosta de esperar, deixa de me olhar e vá avisar lhe que seu
voltou a falar.
Os gorilas se olharam sem entender nada, mas foi o que estava mais atrás o
— A você não tenho que dizer nada. Quero ver o vor, diga a ele que tenho
sim ao russo que tinha uma grande fama que o precedia. — Não deveria estar
aqui.
perfeitamente quem era esse homem, de fato seu plano já estava marchando sobre
rodas. Era ele, a mão direita do vor, a quem tinha que lhe chamar a atenção, e já o
até que a deixou sozinha em uma habitação, custodiada por dois camaradas mais.
O homem saiu da habitação e depois de vários minutos, que a Ira lhe fizera
eternos, voltou a entrar, mas esta vez não vinha sozinho, mas sim nada menos
— Não acredito no que vejo. Sim que é preciosa — falou com total
cor vermelha.
pouco mais. Quando acabaram, ela, com um elegante caminhar, chegou até seu
lado e teve que deixar de respirar quando o vor acendeu um charuto lhe largando
a fumaça na cara.
escrutinando completamente.
bofetada, mas em vez disso lhe dedicou seu melhor sorriso antes de responder,
homens, era muita gente a que estava nesse lugar, — e não acredito que deseje
Com arrogância o vor fez um gesto e todos menos Ivano saíram da sala.
— Estou ouvindo — a apressou enquanto aspirava novamente seu charuto.
Agora se jogaria sua vida como Ira, como agente, e o mais importante,
— Sei do trato que perdeu com o Ahmed Zeliff e eu sou a pessoa que pode
mão direita para que saísse, isso veria sozinho e diretamente com ela.
brincando comigo ou me faz perder tempo não sairá daqui e me importa uma
merda que seja a puta de vez de Misha e que Vadik seja seu vor. Estamos claros?
olhando-o de frente, enquanto ele passava a mão pelo próprio pescoço, — sei que
sim também um de carne e osso. — Isso fez que o vor levantasse as sobrancelhas
surpreso. — E como se isso fosse pouco, obteve como prêmio a algumas menores
— Vá… vá, agora sim captou minha atenção — murmurou surpreso ante
tanta informação. Ele e seu bratva traficavam principalmente com drogas e armas,
mas seu negócio não era nem a prostituição nem o tráfico mulheres, isso deixaria
para a outras organizações com menos escrúpulos, como a do Vadik, que era se
não a mais, uma das mais importantes de todo o país e seus arredores, inclusive
— Além disso, sei o lugar e hora da entrega — continuou Ira sem revelar
que ela tinha o único código de comunicação. —Agora lhe parece importante
minha informação?
O vor afirmou com a cabeça e se aproximou dela agarrando-a pelos
ombros, pondo seus cinco sentidos em alerta. Se tentava algo não duvidaria em
responder, embora toda sua operação fosse a merda por isso, não perderia a vida
— Porque eu lhe darei a hora e o lugar da entrega, o que faça com o sunita
não me importa.
— Nada.
— Sempre disse e hoje reafirmo, o inferno não tem tanta fúria como a de
entrecerrando os olhos. — Me diga, o que esse homem te fez pelo qual todas
morrem?
livre e não devia falar de meus problemas com você — bufou olhando o relógio.
prová-la.
— Para falar a verdade não. Sei que o último vor designado também estaria
feliz de receber esta informação, se vim aqui é porque sei que você também
negociou e… — Tomou seu tempo, o que lhe diria a seguir sabia como agente,
não como Ira. — Tem contas pendentes com o Vadik, uma com corpo e nome de
mulher, ou me engano?
justiça. Já lhe arrebataram algo uma vez que considerava seu, deixará que Vadik
ganhe de novo?
— Trato feito — falou sério estirando a mão, — embora não deseje nada
agora, pode me pedir o que queira depois. E agora me diga onde e quando.
Nesse momento Ira começou a lhe relatar seu plano. Em rigor era bastante
singelo, lhe daria a hora e o lugar exato, o resto sabia que seus companheiros o
eles era arriscado e sobretudo tinham poucas horas para igualar o pagamento, o
em suas mãos. — Me localize com este telefone, tem uma linha fantasma,
Quando pôs um pé fora do edifício sentiu que a alma lhe voltava para corpo, ao
menos salvaria a Misha e a Katiuska, embora não voltaria a vê-los nunca mais.
Correu até onde estava o taxista. Tinha passado o tempo, mas o homem de
passar desapercebida.
Com uma parcimônia que não tinha nesse momento saiu do luxuoso
restaurante, e o primeiro que fez para distrair aos gorilas foi soltar:
carro e prosseguiu:
— Ninguém come algo tão asqueroso, denigre a seu país, em troca no meu
mais, enquanto Ira já estava ganhando o Óscar por sua atuação, mas sua mente
estava muito longe dali. Era agora quando tinha que seguir com a segunda parte
de seu plano, que não era precisamente a mais fácil, a não ser justamente o
hora da entrega. Para qualquer ser humano normal isso seria quase impossível,
mas não para ela, e não por ser a garota superpoderosa, mas sim porque era uma
das melhores Hacker de seu país e, por que não dizer, do mundo também.
Em seu histórico como Hacker podia atribuir-se ser quão única tinha
isso antes de trabalhar para o lado correto da lei. Isso tinha acontecido quando era
ingressando no FBI e desde esse dia fazia tudo sob as normas da lei… exceto
agora, que não romperia uma, a não ser todas as regras estabelecidas, jogando-se,
além da vida, sua carreira como agente. Quão único necessitava agora era entrar
Ao chegar correu para o quarto, não queria ser incomodada por ninguém,
as mulheres do russo a olharam com desprezo. Para elas, Ira só era um estorvo,
recolocar os brincos e simular que acabava de acordar. Sim, agora não só ganhava
Não tinha tempo de trocar de roupa, odiava esse vestido, mas nem modo.
Saiu sem ser vista para seguir executando a segunda parte de seu plano. Apesar
cabos da câmara que dava ao corredor e assim seguiu cortando até que apagou
seis de diferentes lugares, para logo baixar e esperar a que os gorilas descessem
correndo pelas escadas que estavam pelo lado onde se encontrava o escritório.
Os homens não demoraram para descer, e foi nesse momento que ela
de energia, e ela tinha vários brincos desse material que agora, ao ouvir os gritos e
blasfemando, agora não tinha visão alguma no perímetro interior da casa. Ele
pensava que era pelos ineptos de seus homens, quem sabia utilizar armas,
Com cuidado e olhando para todos lados Ira ingressou no cômodo, era a
primeira vez que via e ficou pasma ao ver a quantidade de tecnologia que tinham.
Várias telas estavam totalmente sincronizadas, podia ver tanto o exterior como o
russa, ou seja, nada que umas simples “tecladinhas” não pudessem averiguar.
Com fluidez teclou códigos e como se fossem luzes de árvores de Natal as telas
acesso do computador de Misha, mas se deteve ante uma ameaça de alerta, se não
introduzia o último código o computador se auto destruiria, essa era sua grande
medida de segurança.
exclamou quando o código lhe deu luz verde para acessar a todos os arquivos do
diziam seus amigos, e ao pensar neles voltou a ficar cega, já não lhe iluminou o
lado todo esse tesouro virtual para concentrar-se no correio. Abriu-o, e teclando
da entrega.
— Merda!
Com isso sim que não contava, ela esperava que o encontro fosse à noite e
em dois dias, não dentro de tão pouco tempo. Tudo tinha sido adiantado, a
Com as mãos trêmulas pelo que faria a seguir, enviou uma nova hora de
entrega e esperou.
Esperou apenas cinco longos segundos até que a resposta chegou em forma
autentificar a informação.
Um calafrio percorreu seu corpo, agora tinha uma só oportunidade para
olhos, até que como se encontrasse uma agulha em um palheiro este se deteve e
viu como vários números apareciam diante de seus olhos. Sim! Tinha conseguido,
ou melhor dizendo, o troiano que tinha inventado sobre chaves encriptadas tinha
feito, com certeza Jeff estaria orgulhoso dela, mas novamente ao pensar neles o
afirmação direta.
Agora sim que já estava tudo preparado. Quão último fez antes de desviar
o correio fantasma ao telefone que tinha foi trocar o IP desse computador. Toda a
via mensagem, chegaria a ela e só ela o receberia. Agora todos jogariam o jogo
Quando soltou o agarre por seu lábio sentiu como um sabor metalizado se
mesclava com sua saliva, não tinha notado quanta pressão tinha utilizado, tanta,
Isso ao menos a fez respirar em paz, embora a cada passo que dava sentia
que todos os anos de serviço, de sacrifício, estavam indo para o lixo, e, por quê?
Por amor.
Desceu pelas escadas sem dar-se conta de que era observada até que
chegou a seu quarto. Meteu-se no banheiro e tirou o espantoso vestido que trazia.
Deu-se uma ducha purificadora, e enrolada numa toalha saiu, agora deveria sair
daquela mansão… seu trabalho estava concluído. Já não tinha nada mais que
fazer ali.
Ficou espantada, e seu corpo não deu nem um passo mais. Vendo-a com
mãos nos bolsos enquanto avançava lentamente para ela, com temor ela dava dois
bolsos, — está recebendo um pacote para mim, demorará alguns dias em retornar.
mas enfim — suspirou, — tudo me pertence — anunciou pondo a mão sobre seu
ombro nu.
— Oh!… não sabe que dizer? — burlou-se afastando-se para caminhar para
a porta e deixar a mão posta sobre o trinco, isso embora por um segundo breve a
— Sim, a verdade é que sim… entre outras coisas também, mas não estou
aqui para ser analisado, e muito menos por alguém como você — comentou sem
toalha.
— Como…?
— Ah! Bom, imaginei que não seria tão fácil — disse abrindo a porta, e
quarto. Não lhe deu tempo nem sequer de reagir, um a cada flanco seguraram
eu gosto mais.
não podia se soltar do agarre desses homens que tinham olhos apenas para seu
vor.
traseiro, esse que todos olham. O resto não me importa, você está velha para o
que eu gosto — afirmou arqueando as sobrancelhas como lhe dizendo que aquela
informação não era nova, nem para ela, nem para ninguém. — Mas devo
reconhecer que você me põe, esquenta-me como faz anos ninguém o fazia —
— Não… — sussurrou.
— Não? Bom — suspirou, — então terei que procurar a alguém que não
cuidá-la tanto, lhe salvar a vida e tudo para que? Para entregá-la às garras do
lobo…
sabe o que farei — comentou passando um de seus dedos por entre seus seios. —
Vou foder seu traseiro, mas antes — prendeu a respiração e acertou sua cara com
uma bofetada, o golpe foi tão forte que se não tivesse sido porque estava
sustentada teria ido dar ao chão, —vai pedir desculpas por levantar a voz para
mim.
Vadik olhou a seus homens e estes a soltaram, ela cambaleou, mas não
caiu.
imediatamente e o olhou.
— Bem, é uma cadela boa, eu gosto assim, e agora engatinha até a cama e te
deite de barriga para baixo — lhe falou como quem fala com alguém que não
sozinhos.
pescoço dela, — se gritar, nada acontecerá, tanto você, como eu, sabemos que
ninguém aparecerá por essa porta e tampouco ninguém te escutará — advertiu
dito que ninguém a escutaria pensou em que sim… sim a estavam escutando,
sabia que quatro pares de ouvidos estavam sendo testemunhas auditivas do que
aconteceria a seguir, e quando sentiu o som do metal do zíper baixar, soube que
Não sabia como preparar-se para isso, apenas fechou os olhos, e o primeiro
que viu foram os olhos de sua irmã que de algum jeito lhe davam força para
aguentar.
Todo seu corpo estava contraído, rígido e assim não facilitaria o trabalho
de Vadik, por isso ele, ao notar, puxou mais seu cabelo e voltou a lhe falar no
ouvido:
— Ou te relaxa ou sofrerá, não vou ter compaixão com uma puta como
Emily se desconectou.
E ela como mulher nem sequer se moveu, não daria esse gosto a ele, nem
nessa nem nas investidas seguiram à primeira, e assim esperou a que Vadik
movimentos, — porque se abrir a boca não duvidarei em acabar com sua vida —
puxou seu cabelo com tanta força que a chegou a levantar, Ira se aferrou aos
lençóis mas mesmo assim sentiu como estes se rasgavam pela força que utilizava
seu torturante.
Passados uns minutos, logo depois de lhe dar um beijo no cabelo que
voltarei por mais. É uma boa cadela, embora esteja seguro de que a próxima vez
brincos com raiva, atirando-os longe, e para aplacar o grito de suas vísceras o
intimidade, uma que sabia não tinha nem menos possuía. Tinham-na humilhado
da pior forma possível. O vor a tinha violado e ela, para salvar a Katiuska, tinha
aceitado.
Capítulo 11
enquanto rememorava o vivido, encontrou-se com esse anjo que lhe dava luz a
Ems.
braços exclamou:
gesto. E como quase nunca fazia, o vor saiu com a pequena para satisfazê-la.
Esse dia para ele estava saindo melhor que o planejado e tinha que celebrá-
lo. Assim escoltado apenas por dois de seus guarda-costas e acompanhados pela
*************
Embora tentasse com todas suas forças, algo em seu interior não a deixava
parar de chorar, já não tinha lágrimas, era um aperto incontrolável o que sentia. A
agente estava nua com o cabelo emaranhado e espalhado na cama. Tinha o rímel
borrado e mal podia ver, seus olhos estavam inchados de tanto chorar. Agora
sabia como sua irmã havia se sentido, e como tantas mulheres se sentiam que
levantou-se com dor e caminhou até onde estava o telefone que Zakhar tinha lhe
entregue. Sem titubear, nem tremer, marcou seu número e ao segundo toque, ele
respondeu:
— Quero que mate a Vadik — demandou com uma voz tão cortante e
gélida que o deixou sem palavras, e nesse mesmo instante, no interior de Zakhar
adormecida. Há anos, ele tinha perdido a uma amiga muito querida nas mãos
desse homem, mas ele não pôde fazer nada, simplesmente se resignou a perdê-la,
mas agora tinha a oportunidade de vingá-la, e desta vez não falharia, depois de
*************
interior, se permitiu derramar somente uma lágrima mais. A vida como tinha
vivido até agora tinha mudado, seu plano mestre poderia funcionar, mas sua vida
Mas era momento de reagir, primeiro por ela e segundo… por ela também.
Depois da ducha fria que tomou, vestiu uma calça, um casaco e apertou o
até o portão, e com tão só duas palavras, este se abriu diante de seus olhos, uns
Não foi necessário avançar mais, antes que percebesse, uma caminhonete
negra se deteve, rapidamente e sem ser consciente de como, uns braços a levaram
estava matando. Queria abraçá-la, apoiá-la, mas a conhecia, e isso era o que
companheiros chegassem a sentir lástima dela, mas isso…, isso não era o que eles
sentiam por ela, a não ser uma profunda admiração, mas… até que ponto?
— Mas seus homens sim… — chiou com raiva apertando o volante com
— Tampouco estarão.
A freada que deu Jeff nesse momento poderia ter causado um acidente se
não estivessem com o cinto de segurança, mas isso não era o mais grave da
situação, virou para olhar a Emily, e ela com olhos culpados devolveu o olhar.
interrompendo-os.
— Chegaram. Isto será por você, agente — falou com voz de autoridade,
Ninguém seria tomado cativo, seria uma caçada, um ajuste de contas e não
só pelo dever de proteger seu país, mas também por um companheiro. As bratvas
atuavam sem modéstia e jamais eram julgadas, mas aí estavam eles dispostos a
acabar vitoriosos nessa missão. Deviam ser precavidos, um dos terroristas mais
procurados estaria aí, e eliminá-lo era a parte primordial, uma escória menos no
mundo, um psicopata menos que vigiar, e se a isso somavam que um dos vor
Brad, Peter e Blake se olharam pela última vez, levando a mão ao coração
entravam no hangar por uma porta traseira, seguidas de uma limusine branca e
claramente eram parte da comitiva do sunita, embora de Ahmed não havia rastro.
caminhonetes.
— Mas que merda…? — sussurrou Brad ao ver esses russos com cara
desconhecida para eles. Fechou os olhos e não demorou nada em tirar suas
Isso doía como superior, mas, sobretudo como homem, porque só existia
Não teve tempo de pensar mais, já que imediatamente teve que voltar para
agora os sunitas.
Como já tinha entardecido a visibilidade não era tão boa, mas sim,
suficientemente clara para ver aqueles rostos cheios de confusão e de raiva, eles
tratava, também porque Emily o tinha escolhido, esse homem era tão procurado
quanto Vadik, só que não era seu objetivo, nem sua missão. — Em suas mãos o
que dizia era verdade. — Tudo segue igual, confirmam nossas ordens desde a
unidade, mas…
Isso sim alertou aos agentes, um, ‘mas’ não podia significar nada bom.
sabia ele que trazer ajuda no último minuto podia sair mais caro do que benéfico.
pouco mais em realidade dava o mesmo, o único que sabiam era que o sunita
do russo, Ivano, tirou várias malas metálicas com dinheiro, gabando-se de como
Ao vê-lo, Ahmed, fez um sinal para que baixassem a caixa que continha o
Mundial.
Mas isso não foi tudo, de repente das caminhonetes começaram a sair
enquanto Jeff segurava seus cabelos e acariciava suas costas, era totalmente
haviam imaginado, mas que descessem como se isso fosse uma passarela de
exibição era ainda pior, por isso, e antes que as garotas dessem um passo, Brad
impossibilitados de escapar.
Como uma gazela, Brad caminhou por sobre o trilho do teto até chegar a
seu objetivo, o vor, e sem pestanejar, nem vacilar disparou em seu coração. Este
Não era com ele com quem queria descarregar sua arma, mas Zakhar de
Os russos feridos gemiam de dor, mas isto durava pouco, já que à medida
que os soldados se aproximavam iam dando fim a sua eterna agonia, matando-os
sem compaixão.
que em vez de sair correndo, protegidas pelos soldados, ficou petrificada sem
poder mover-se.
Ele a usaria como escudo humano, e por que não, como segurança para
sua fuga.
Brad de cima, deu um salto até chegar ao chão e em meio ao tiroteio, sem
infame como esse, nem sequer para ser torturado, ele sabia muito bem que
embora o torturassem, jamais diria nenhuma só palavra, e pior ainda, que podia
ser alvo de extorsão para seu país, e ele não estava disposto a uma coisa assim.
sua amiga sentia por ajudá-las, entendeu que ao ver o terror dessas garotas
alguém tinha que fazer algo, e como ninguém o fazia, era a garota superpoderosa
Com cuidado a tirou do tiroteio, ainda não tinha terminado, ele tinha que
sido um massacre, não havia baixas, e o objetivo, que era recuperar o urânio,
cumpriu-se.
Enquanto avançava para a saída para reunir-se com seus homens sentiu
como o hangar explodia, obra de sua equipe, eles não deixariam rastro algum de
você nos deve uma explicação e espero que seja uma muito boa.
Com lágrimas nos olhos, Emily tomou o radiotransmissor, esta vez sim
cortando a comunicação para falar com sua amiga. — Pronta para voltar para casa
e escolher um cão?
esta vez provinha de seu bolso, levou as mãos a ele, e tirou o telefone que soava e
vibrava.
— Irina?
— Sim…
— Seu pedido está cumprido —falou uma voz rouca do outro lado,
Jeff, que a olhava de soslaio, soube que agora sua amiga já começaria a
*************
Mas o que ela, nem ninguém sabia era que, justo no momento em que
Vadik estava sentado com Katiuska e seus homens em um bonito café do centro
comercial, depois de ter comprado a boneca morena, tinha recebido uma chamada
mais tranquilidade se levantou junto a seus homens e foi nesse momento em que
A força centrífuga foi tão grande, que Vadik nem sequer foi capaz de
Algumas horas atrás era simplesmente Ira, assim tinha vivido por seis
missão mais importante de sua vida, a que a levaria a subir de posição no FBI,
aonde não só ela estava orgulhosa, mas seus companheiros também. Sabiam que
tinha aptidões de sobra para o caso, era a melhor, a garota superpoderosa como a
ante essas sensações, simplesmente se entregou, e o fez por completo sem guardar
sua missão, desobedecendo suas próprias regras. Mas isso não era o único mau
Reuniu-se com seus companheiros que estavam a par de tudo o que tinha
lhe acontecido, e muito pelo contrário do que ela pensava, os quatro a apoiaram,
inclusive foi Brad o primeiro em dizer a ela que ele como agente superior,
esclareceria todo o mal entendido, depois de tudo a missão tinha saído bem, não
procurados por terrorismo e como se isso ainda fosse pouco, não tinham deixado
Mas Emily Claxon não ia permitir que nenhum de seus amigos se culpasse
por ela, assim enquanto viajava na parte traseira do avião tinha sido ela mesma
quem tinha relatado os fatos a Hardy Krause, sem lhe ocultar nada, nem sequer
Enquanto isso, Brad correu a seu lado, ele não permitiria que nada lhe
acontecesse.
permitir…
agora levaremos a senhorita Claxon ao escritório para que revise sua confissão e
se está tudo como ela me relatou por telefone, assinará. Logo iremos ao hospital
Nesse momento Emily, que não esperava ter que ir a nenhum hospital, com
preencher os informes podiam ir para casa, nenhum dos três aceitou. Ficariam
*************
a, — não te promoverão?
— Não permitiremos que te julguem, esquece! — gritou Brad alterado. —
apenas…
Era muito duro o que tinha que comunicar a eles a seguir, seu castigo tinha
Central.
Blake, que jamais subia a voz. — Esses policiais se dedicam ao turismo! Cuidam
da cidade em bicicleta! Você… você não serve para isso, vai me dizer que terá que
— Blake — tentou tranquilizá-lo, isso lhe doía tanto como a eles, mas
no distrito financeiro e…
energúmeno.
Krause o viu vir pelo canto do olho e inclusive se assustou ao ver sua
reação.
agente devia saber imediatamente, por isso apesar da raiva que via em seu
subordinado caminhou até onde ela mantinha uma acalorada conversa com seus
companheiros.
— Tudo o que tenha que dizer a ela faça-o diante de nós — ordenou Brad
agarrando-a pelo ombro para lhe dar segurança. Emily ao vê-lo assim assentiu
com a cabeça.
informes.
começava a girar a seu redor, e um calafrio subia por sua coluna vertebral até que
Se não tivesse sido pela rápida reação de Brad, com certeza teria se
machucado mais.
Muito mais.
SEGUNDA PARTE
Quatro anos depois…
San Francisco.
Consumida e devastada pela dor e a raiva, Emily abandonou tudo o que a fazia
recordar para começar uma nova vida, em um lugar afastado do que até esse
minuto conhecia para começar de zero.
Capítulo 13
Sete dos dez lugares mais turísticos eram resguardados por eles.
Agora já não tinha casos perigosos, nem muito menos onde sua vida
estivesse em risco, não, agora ela era diferente, muito mais tranquila que a Emily
de antes.
Sim, desejava um pouco mais de ação em sua vida, mas se conformava com
e de admiração, e não só por sua cara bonita, mas sim todos sabiam das proezas
da garota superpoderosa, o que eles não sabiam era a verdadeira razão de sua
estadia na estação. Esse tinha sido um dos benefícios que tinha obtido graças ao
bom trabalho que tinha realizado na Rússia, país que, embora tentasse esquecer
com todas suas forças, não podia, havia algo que a fazia recordá-lo dia a dia, e
tormenta, que certamente jogaria por terra todos os seus planos. Por isso, mal-
— Isso dói!
— Não me diga? — zombou, era a terceira vez em menos de dois meses
que capturava esse ladrão, capturavam-no, e poucos dias depois voltava para as
ruas, o problema é que agora não só o tinha pego em um roubo com intimidação,
mas sim estava segura que se não tivesse chegado a tempo, a moça a que estava
é que estavam se deleitando com ela, as gotas de chuva tinham molhado seu
corpo e a camiseta branca que levava tinha grudado completamente em sua pele.
A contra gosto fez o detido se sentar para, pela terceira vez, tirar suas
impressões digitais.
se nem sequer se secou as mãos. Olhou o relógio de parede e voltou a bufar. Meia
hora de atraso seria o menos que conseguiria, embora informasse rápido seus
Antes que acabasse, Emily agarrou sua cabeça chocando-a contra a mesa,
de puta.
o caráter de Emily, era tenaz e uma das melhores, mas havia delitos que ela
simplesmente não passava por cima, ou palavras, como tinha sido esta vez.
— Eu termino com ele, Claxon.
menos, como diz ele — o olhou com desdém, — sairá em três dias, porém em
Uma vez que o teve preso e entregue ao encarregado que o levaria a cela
— Ems…
Rapidamente Digel, que era vários centímetros mais alto, aproximou-se até
ela para tomá-la pelos ombros. Esse gesto tão inesperado a fez estremecer, odiava
ter essa sensação, mas acontecia cada vez que algo ou alguém a surpreendia.
mesma resposta, Digel. Acredite em mim que não mudará — espetou saindo de
expor os fatos primeiro, depois de tudo não tinha quebrado o nariz de uma santa
pomba inocente.
aconteceu.
O capitão, um homem mais velho, olhou-a com esses suspicazes olhos café
que a admiravam, ele era o único que sabia do verdadeiro motivo pelo qual
estava ali, e tal como o tinha prometido, se dependia dele, ninguém ia saber
jamais.
favor?
nenhuma palavra, havia dois pares de olhos que a olhavam desde atrás. Um com
Quatro longos anos tinham se passado até chegar a esse momento. Quatros
anos sem saber o que tinha acontecido e por quê. Quatro anos procurando uma
e, apesar de estar vestida com um uniforme de polícia este ficava incrível nela,
moldava perigosamente ao seu corpo, inclusive a essa zona que tanto gostava de
olhar.
Agora usava o cabelo curto, não chegava ao pescoço, isso estranhou. Mas o
que terminou de aluciná-lo foi ver quando levantou a camiseta e notar ainda a
esfregou, percebeu que estava tensa e pela forma como se movia, estava ansiosa.
Venho planejando isto com o amor da minha vida faz mais de um ano, e nem ele
O salto que Emily deu não teve comparação com o do capitão, que sentiu
Sem lhe dar tempo a nada, Emily se girou para ver de onde provinha o
Dias, semanas, meses, anos tentando apagar seu passado para que agora
voltasse a aparecer frente a ela. Sentiu que seu peito se oprimia, que seu sangue
viu dentro de sua mente tudo o que seu terapeuta lhe ajudava a esquecer.
Porque, embora ninguém soubesse, ela ia uma vez por semana a uma
— Não se movam!
— Capitão, você não sabe quem são! — chiou tentando controlar o tremor
de suas mãos.
caminhou direto até ela sem vacilar nem se intimidar, até situar-se justo em sua
frente.
Provocando-a.
se via bastante menor ao lado deste que a estava fulminando com o olhar.
Não faça algo que depois possa se arrepender — pediu com voz baixa, mas
carregada de autoridade.
dobrou-o com a força justa para não causar danos nas suas costas, e lhe falou em
um tom arrepiante, justo no momento em que Jeff também entrava e lhe apontava
com sua arma. Nada do que estava acontecendo estava saindo conforme o
— Não volte a apontar com uma arma para mim nunca mais.
Agente, aqui não aceitamos a violência de nenhum tipo — desviou o olhar para o
— Que merda eles fazem aqui?! — grunhiu Jeff ficando ao lado de Emily,
mesmo — fez uma pausa para olhá-los com arrogância e continuou erguendo-se o
— E que merda faz um agente do serviço secreto russo aqui? — vaiou Jeff
entre dentes, apertando a mão de Emily, que agora tremia como uma folha de
papel sem poder falar pela impressão. Se antes lhe custava respirar, agora
— Porque, além disso, — falou Brad fechando a porta, entando com brio,
subdiretor devia tê-los esperado, e mais, o russo que tanto odiava devia ter
esperado. Eles já se reuniram no dia anterior e assim não era como as coisas
assim como o SVR prepara homens para que se infiltrem com a máfia russa, nós
desde muito tenra idade e passam as provas como qualquer mortal, só são
infiltrado para ser aceito, e desbaratar uma das organizações mais importantes da
Rússia, e do mundo! Para que vocês… — apontou aos três agentes— venham com
sentia-se estúpido pela primeira vez em sua vida, jamais percebeu quem eram
eles, mas o que mais lhe corroía, como veneno pelas veias, era não ter percebido
que ela, Ira, a mulher pela qual se arriscou tanto, também era agente, e pior ainda,
tinha-o enganado.
anos para saber como dirigir as organizações de tráfico de pessoas, as que movem
— Nós também cumpríamos uma ordem — Brad falou forte e claro, depois
— Sua missão era o urânio… — grunhiu Misha, — não fazer acordos com o
Emily deu um passo para trás, assustada. Isto não podia estar acontecendo
Tudo pelo que tanto tinha lutado para esquecer estava diante de seus
Zhenya.
Emily e Jeff olharam para Brad, que nesse momento baixava a cabeça,
Na4o era assim que as coisas tinham que ocorrer, e o que lhes contaria a
— Faz uns meses voltamos para a Rússia com o Peter, tínhamos que
significava, a agora policial teve que agarrar-se para não cair. — Estávamos em
uma missão, muito perto de agarrá-lo… — falou entre dentes, — mas ele foi
— Brad — comentou Jeff exigindo a ele, como seu chefe direto, uma
explicação.
asfixiaram até matá-la, deixando uma gravação e uma mensagem para nós.
raiva era tanta que estava cego. O russo, de um ágil movimento, deteve o golpe,
Emily tinha ficado tão impactada com a última informação que nem sequer
Blake, ela mesma tinha sofrido as consequências de uma verdadeira escória, claro,
O tumulto que se armou era tão grande, que os policiais que estavam de
acariciando o rosto dela, ato que não passou desapercebido para Misha, que nesse
momento estava sendo levado para um canto, e por alguma maldita razão não
depois de muitos anos, comunicou-se com seu único contato, informando-o o que
jamais soube da existência do Emily Claxon, ou Ira, como a recordava, mas sim
tinha sido o próprio subdiretor da agência e seu único contato quem tinha lhe
a glória incluída, aparecia ela em toda sua expressão, por isso a noite anterior não
pôde dormir, as ânsias eram tão grandes que em vez de tomar o voo da manhã,
que levaria a todos até San Francisco para abordar a situação como equipe,
decidiu fazê-lo de carro e percorrer por mais de doze horas seguidas a estrada que
esperando-o.
ficou atônito, teve que fazer um grande esforço para não a encarar, porque isso é o
que tinha pensado fazer durante quatro longos anos quando a encontrasse, exigir
respostas. Mas o fez? Não, impossível, foi vê-la e esquecer tudo. Ela não era a
mesma de antes, seu corpo perfeito tinha mudado, mas isso era algo que agora lhe
atraía muito mais, queria fundir-se nela e fazê-la entender que pertencia somente
a ele.
deixava levar por impulsos. Tinha quebrado mais de cinco protocolos, e ainda por
cima todos seus companheiros a olhavam muito mais do que devia, sobretudo
Para Misha o cúmulo foi ver a tatuagem, essa que deveria recordar a quem
ela pertencia. Mas ao escutá-la falar do amor de sua vida, e um tal Odie, tinha
vontade de matar aos dois e de ensinar a ela, não de boa maneira, as regras de seu
próprio jogo.
Todos estavam em perigo e Vadik não pararia até cobrar todas as dívidas
pendentes que tinha com eles. E se chegava a descobrir que Ira, Emily, ou como se
chamasse agora, ainda existia sobre a face da terra, se vingaria pessoalmente, ele a
Isso era o que Misha temia, e por isso, desde que soube que ela tinha sido
companheira, tranquilizou-se.
absolutamente tudo, e tirando um tablet de seu bolso deslizou seu dedo e uma
de Blake, com uma sacola na cabeça, nua, e na parede fotografias de Brad com a
Mary, e de Jeff junto a Annie com uma inscrição em letras vermelhas, que
— Peter delatou apenas a nós. Minha mulher está sob proteção, e neste
momento estão fazendo o mesmo com a Annie — disse isto olhando para Jeff.
— Como?! — grunhiu como se fosse um animal, sabia que não podia fazer
escutado o bastante, e se ela não estava nessa lista não tinha nada mais que fazer
nessa sala, porque o que devia fazer agora era mais importante que todos eles.
— Não!
— É obvio que vou — advertiu tomando sua arma, mas não conseguiu dar
— Você está louco se acha que vou ficar aqui, com você russo, depois do
ameaçador, — vim ajudá-los, porque assim me ordenou meu superior. — Isso não
era de tudo certo, só estava aqui por ela, ele apenas pensava em lhes dar toda a
informação e logo voltar para o que o interessava. Brad, Blake e Jeff não
Zhenya se surpreendeu com o que escutou, ela não tinha nem ideia das
— ME importa uma merda o motivo pelo qual tenha vindo, não estão me
amizade que tenho por ti que se arrependerá — anunciou levando a mão até sua
arma.
Brad a soltou, não por medo à arma, mas sim porque via o terror nos olhos
de sua amiga e sabia que não a deixariam sair, junto a ele tinham chegado vários
Não chegou a dar dois passos quando viu que vários homens se
subdiretor não permitirei que nenhum integrante mais desta missão padeça em
resguardado.
— Mas é meu filho! — soltou sem poder se controlar mais, — nem você,
Zhenya olhou a Misha, que tinha ficado pálido com essa informação que
Jeff, que nesse instante tinha deixado de falar e tranquilizar a sua mulher,
aproximou-se dela para abraçá-la e estender o celular que sempre levava consigo,
— Diga a ele que sua mãe irá buscá-lo — interveio Brad, — que irá a um
— Sim, preciosa, e você agora deve ser a garota superpoderosa, por ele —
repique do telefone, até que uma voz de menino invadiu todo o lugar.
— Sim?
— Miko!
— Miko, me escute — pediu quase sem voz, — os avós irão te buscar, eu…
sei que prometi isso. Algo surgiu na delegacia de polícia, devo resolver.
— Você jurou!
Nesse momento Jeff arrebatou o telefone de Emily, quem agora tinha a cara
— Olá, campeão! Como está o super menino? Preparado para uma nova
aventura?
— Não — resmungou, — íamos ao bosque com minha mamãe, íamos
acampar no lago.
— Wow! Mas se sua mamãe tem medo de formigas — sorriu com tristeza
— Em uns dias sua mamãe irá te buscar e vocês passarão toda a semana no
Miko pensou um pouco, era um menino, mas não por isso era tolo, mas sim
presente…
pedia para falar com sua mãe. Emily se aproximou do telefone e prometeu a ele
Depois de dar um relatório não tão detalhado a seu pai, que sempre a
entendia e apoiava, pediu que fossem pelo Miko, que seriam apenas uns dias. É
obvio que ele aceitou sem falar, conhecia sua filha e seu trabalho, mas antes de
direção da organização.
— vocês partirão para umas instalações secretas, aí ficarão até que tudo isto
termine.
Brad não falou durante o trajeto, olhava para Emily de soslaio e sabia
Por outro lado, por mais que Jeff tentasse procurá-la, ela se afastava, não
queria falar com nenhum deles, saber que o homem que tinha marcado sua vida
Tantos anos acreditando estar morto tinham servido para viver em paz,
O voo durou duas horas, nas quais foram informados dos últimos
refugiar-se em um destino que apenas Misha como sua mão direita conhecia,
onde esperaria que levasse as boas notícias de que tinha acabado com seus
inimigos, os agentes.
transportavam faziam muito mais, não por seu tamanho, mas sim pela proteção
agência.
Misha, ao vê-las, bufou movendo a cabeça, para ele tudo isso não era mais
que chamar a atenção, essa era uma das grandes diferenças entre ambas as
organizações, e embora não gostasse, devia reconhecer, o SVR era muito mais
precavido e discreto, bom, eram os Ex-KGB e não por nada tinham conseguido
realmente não se via nada, exceto terra, quilômetros de terra, e de fundo uma
montanha que lhes cortava o caminho, não se via nenhum caminho aparente.
um enorme muro de rochas, uma grande montanha, mas ao dar um novo giro,
frente a eles apareceu um complexo militar, que foi construída dentro dela.
“Cheyenne Mountain”, que se supunha ser uma instalação preparada para uma
explosão nuclear com capacidade para albergar oitocentas pessoas durante trinta
nenhum intruso pudesse entrar nas instalações, que estavam a meio quilômetro,
de puro granito. Uma cúpula para sobreviventes, ou neste caso, uma para
escondê-los.
notar sua moléstia, não foram escutados. Emily, que era a única mulher, já que
Zhenya tinha sido chamada no último momento, trataram-na com mais respeito,
só a revisaram por cima. Ela sorriu com amargura, que idiotas podiam ser às
vezes os homens!
telefones, cartões, tudo. Agora entravam como quatro NN, unicamente lhes
número de identificação.
identificação.
atitude levantou a metralhadora apontando para ele, mas antes que pudesse
armados como os anteriores, só que estes lhe entregaram uns trajes de uma só
Estavam em uma espécie de sala com janelas, onde em todo momento estavam
sendo monitorados, embora não vissem ninguém, sim se detectavam câmeras que
Os olhos de Emily se conectaram com os de Jeff, não era fácil ter que
despir-se ante todos eles. Seu amigo a compreendeu perfeitamente e ficou diante
dela de costas para assim poder cobri-la. Embora cobrisse apenas um pouco.
tentou tampá-la o melhor possível, Misha pôde ver mais do que desejava e
merecia, ele por sua parte estava controlando-se para não tirá-lo de lá e poder
Sabia que não era o momento para ter esse tipo de pensamentos, mas sua
parte animal lhe indicava que essa mulher era de sua propriedade, por isso levava
parar em posição de sentido frente a Brad Cambell, lhe entregando uma nova
identificação e uma corrente com um código que não passou despercebido para
ninguém.
Dito isto, vários homens ficaram em posição de sentido frente a Brad, para
prestar-lhe continência.
Brad olhou sua identificação sentindo o poder que este lhe outorgava, fazia
muitos anos que não a tinha. Com um sorriso de orgulho, sustentando-a para
mostrar a eles.
cuidado, não podia dizer tudo. — Pertenço, ou melhor dizendo, volto a pertencer
FBI agora volto para minhas origens para vingar a nossos amigos e de uma vez
por todas…
— Olha, Brad, isto sim que eu não esperava — concluiu Jeff, tomando a
identificação de metal brilhante com bordas de borracha negra em suas mãos para
admirá-lo.
pensando que eram como uma grande família e que entre eles não existiam
segredos, para que de repente toda essa confiança se quebrasse. Brad não só era
um agente do FBI, mas sim também um Delta Force. Doía-lhes, essa era a
parte.
O coronel sorriu ante a resposta. Esse moço com sotaque russo tinha
culhões e gostava.
que Brad Cambell, um de seus melhores homens, estava entre eles, abriu-lhes a
porta do recinto sem perder mais tempo. Se com isso recuperava a seu homem,
afastada com acesso a comunicações via satélite onde poderão estar conectados
pulular pelas instalações comuns. Tenho entendido que pela manhã receberemos
Brad, que nesse momento se fez o oficial a cargo, guiou-os até onde lhes
Caminharam uns metros até que chegaram à zona indicada. O local que
para exercitar-se. Estava claro que não era a primeira vez que eram utilizadas, e
estava tudo pensado para que os homens e mulheres que o usavam, além de
necessitava. Logo se foi a um dos quartos mais afastados, não queria ver nem
uma espécie de centro de operações como os que se via nos filmes, inclusive
contava com uma mesa holográfica que projetava diversos cenários. Jeff se sentiu
no paraíso, com o que tinha em frente podia fazer maravilhas, assim rapidamente
Ele devia começar já a rastrear Vadik, e esperava não se equivocar, tinha motivos
*************
macacão escuro e largo, mas sim umas leggings negras e um Top da mesma cor.
era o que mais lhe doía, isso e bom, ter ao russo que se jurou uma vez não voltar a
certamente a essas horas já estaria com seu filho começando a celebração de seu
aniversário no bosque, que era o que mais adorava a seu pequeno, e com quem
Um murro mais forte, seguido de um grande chute, foi o que fez o saco dar
voltas, mas com agilidade o esquivou, e ao se afastar para trás sentiu como uns
tão boa forma. Fazia muito tempo que não praticava. Agora nadava, porque
assim, quando estava mergulhando, era a única forma que tinha para encontrar
paz e esquecer.
— Nós temos que conversar, você está batendo nesse saco há uma hora.
se lançou para ele, Brad não a viu vir, Emily colidiu contra seu corpo.
Rapidamente ficou em posição para defender-se, e assim, como se
comportamento.
— Não! Jamais.
— Estava te protegendo!
— De você mesma, mulher, por Deus! Você não pode ver? — exclamou
que acontecia e não gostou do que viu. Ela tinha a cara vermelha pelo esforço,
sobretudo pela raiva que sentia, olhava Brad com recriminação, mas mais que isso
— Você sabia?
— Você não estava bem, se trancou na casa de seus pais, e com o que você
— Cale a boca! — gritou assustada, isso sim que não queria recordar, —
não há uma só puta razão para que todos tenham mentido para mim com algo
assim, vivi quatro anos sem preocupações pensando que tudo tinha acabado, e
para lamentar, agora todos corriam perigo, — você tem que se centrar no que
— Não fale como se fosse meu superior porque já não é, e não tem nem
— Sim, eu sei.
desprotegida de saber a verdade, deixando que acreditasse que tudo estava bem
— Não quero saber, Brad Cambell, se é que esse seja seu verdadeiro nome
— lhe cuspiu fazendo alusão a seu recente descobrimento como agente do Delta
Force.
— Eu sempre soube quem você é, embora faça quatro anos nos traiu como
essas palavras que nunca tinham sido pronunciadas em voz alta, agora tinha
— E paguei por isso — respondeu com uma lágrima em seu rosto. Esse
golpe tinha sido duro, a desconfiança na amizade era um golpe cruel. Ela sabia
que tinha cometido um engano, mas seu coração nesse momento estava dividido.
— E não me arrependo, porque tenho desse tempo o melhor que pôde ter ficado.
— Emily, Brad, não podemos nos desunir neste momento, isso é o que
Vadik quer conseguir, que nos assustemos e com isso sim nos destruirá.
vocês pelo que aconteceu há quatro anos, e se hoje não estamos unidos… — A voz
lhe quebrou, que estivessem sendo caçados era muito grave e ela não queria
acreditavam que não vinha ao caso comentar nesse momento, assim ambos
Logo depois de olhá-los aos olhos, como se fechasse um pacto, saiu da sala,
precisava estar ao ar livre. «Oxalá pudesse ir nadar», pensou, coisa que era
impossível nesse lugar. Por isso se foi para seu quarto, ligou a ducha e sob as
discussão acalorada. Por isso, sem querer esperar mais, pensou que já era hora de
estava a ponto de alcançá-la. Maldição! Não tinha seus medicamentos, estava lhe
contando desde cem para trás. Isso deveria ajudá-la, pelo menos isso foi o que sua
doutora disse.
sendo arrastado por um rio, voltando-se contra ela, bem diante de seus olhos.
Tinha uma mescla de sentimentos: escutar que Brad a culpava, que seu
pior pesadelo estava vivo e que Misha estava a metros dela era muito espantoso
para ser verdade. Era uma realidade que tinha querido cobrir. Principalmente, era
— Aaahh… — tentou tomar ar, logo tossiu para voltar a inspirar, sua pele
clara estava ficando roxa. Deus… estava se sufocando. O ar já não chegava a seus
pulmões e com isso sabia que desmaiaria, tinha que pedir ajuda, era consciente
Como pôde caminhou até a porta, e justo quando estava a ponto de girar a
Entrou sem sequer olhá-la, não podia se queria falar com ela, por isso
países do Leste da Europa movendo céu, mar e terra para te encontrar, e resulta
que você — falou mais alto, socando a parede, — estava na América! E não é órfã,
podia pronunciá-lo.
mas a porta se fechou e não tinha forças para voltar a abri-la. Assim só pôde fazer
um pequeno som.
— Aaahh…
precisava tranquilizar-se para encará-la, não queria ser violento e sabia que se
desse a volta o seria, porque durante essas horas cada vez que essa mulher tinha
olhado para ele, tinha sentido sua aversão, e isso o estava matando lentamente. —
Te disse inúmeras vezes, te protegi de tudo e de todos, tatuei sua pele para que
— Não! —a calou ainda mais forte. — Agora que sei toda a verdade, quero
que me esclareça o que me falta por entender. Por que você me enganou?! Por que
mentiu para mim?! Tão pouca confiança te inspirava?! Ou é que sempre me viu
— Aaahh… — respirou com força, agora a seu sufoco se somava que seus
olhos eram duas represas, tanto tempo pensando que ele a tinha esquecido,
aferrando-se a isso para tirá-lo de suas lembranças, para dar-se conta que nunca
— Por acaso nada teve importância para você?! — gritou com a voz
mandar tudo a merda por você, por nós, só necessitava mais uns dias!
Emily estava no chão com os lábios roxos, totalmente nua. Bastaram-lhe apenas
dois grandes passos para chegar até ela e embalá-la entre seus braços. Ao sentir
que não se movia, a raiva, o ódio e o rancor desapareceram como água entre os
Seu coração começou a bater com força, colocando todos seus sentidos em
Ao escutar gritos provenientes do quarto, tinha ido junto com Jeff verificar
Misha levantou o rosto, em seus olhos havia incerteza, assim foi Jeff quem
se agachou para ver se respirava. Tomou-a nos braços e a levou até a cama.
— Vamos, Ems… — começou a dizer. Ao ver seus lábios soube o que lhe
acontecia, — respira, Ems, vamos, conta, você está comigo, tudo estará bem agora,
tranquilidade a todos.
com água morna para ela. — Logo voltou com ela. — Isso aí, Ems… conta, dez,
nove…
pelo que Jeff dizia, enquanto Misha já tinha ido ligar a água.
— Claro que sim! — elevou a voz vaiando entre dentes. — depois do que
Vadik fez a ela, Emily tem sofrido, disse a você que isto traria consequências.
por culpa sua — vaiou olhando ao russo, que nesse momento saía do banheiro
— Vadik…
— Emily… — vaiou com raiva, mal podia controlar a ira que esse tema o
fazia sentir.
— Cale a boca, Brad — Jeff o cortou forte e claro. Via o terror nos olhos de
sua amiga, agora ao menos respirava, mas tremia como uma folha em plena
tormenta.
— Diga a porra da verdade a este imbecil para que de uma puta vez saiba o
Sem lhe importar quem a estivesse vendo, porque já não aguentava mais,
perdendo toda a força começou a chorar, sua antiga ferida de guerra se abriu e
agora sangrava sem deter-se, manchando tudo a seu passo, rasgando sua alma e
seu coração.
— Fora! — gritou Jeff ficando de pé com ela entre seus braços. — Saiam
daqui. Agora!
Foi tal a magnitude da força que usou em suas palavras que ambos os
tinha acontecido, queria respostas e agora tinha mil e uma dúvidas, começando
totalmente sua busca, não lhe interessava Vadik, nem Rússia, nem a morte do
vida, mostrando o símbolo da organização russa, uma estrela com cinco pontas
recurso na busca de Ira, mas agora tudo era diferente, queria respostas e se sua
própria agência, a que tinha servido, respeitado e entregue sua vida o tinha
Não só tinha entregado anos de sua vida a eles, mas sim também
quando pediu respostas, estas foram negadas, o subdiretor da agência não lhe
havia dito nada. Sim, o FBI o tinha abandonado, assim era como se sentia.
conseguir informação, iria direto à fonte. Depois veria o que fazer no futuro, sabia
que agir como estava a ponto de fazê-lo traria consequências, muitas comportas
Uma vez dentro da página, com seu código que o validava como agente,
russa. Em dois segundos recebeu um alerta aonde devia pôr um único código de
acesso. Sem titubear nem se intimidar teclou o código e…. voilà, toda a
necessário. Sim, ele era invencível, ao menos assim se sentia. Agora que tinha os
Apesar de suas ânsias, com um ligeiro tremor nos dedos escreveu o nome e
copo de água que segurava entre suas mãos caiu, espatifando-se com força no
chão.
não havia sentido jamais. Ante seus olhos se confirmava que ela tinha um filho
chamado Markov Claxon, cuja idade coincidia exatamente com o tempo em que a
tinha estado procurando, e como se isso fosse pouco, tinha sido rebaixada depois
isso? E por que ele não podia ter acesso? Seguiu lendo e a frase “Danos colaterais”
voltou a chamar sua atenção. Que merda aconteceu com ela? Pela primeira vez
em sua vida se tocou o coração, este pulsava tão às pressas que inclusive estava
enjoando-o.
O que sentia não era normal, algo lhe dizia que “Danos colaterais” era
cabeça, isso não podia ter acontecido. Apertou os dentes com tanta força que estes
Caminhou com grandes passos para onde certamente estaria o único que
seria capaz de lhe dar respostas, e antes de chegar até onde Brad se encontrava,
olhou-o colérico. Tinha os olhos tão avermelhados que seu aspecto era de temer.
O Delta Force ao vê-lo se aprumou para recebê-lo, já sabia para que vinha,
mas apesar de querer gritar a ele com aversão o que tinha acontecido por sua
culpa, sabia que não correspondia a ele fazer isso, e só por Emily, e o amor
incondicional que lhe professava, não a delataria, embora suas vísceras o
— Não sou quem pode… — Não pôde dizer nem meia palavra mais
quando, ante a negativa de seguir, Misha arremeteu contra ele com o ombro,
com dor.
Com uma joelhada Brad o afastou, ficando agora escarranchado sobre ele.
Assim seguiram se golpeando uns minutos até que Jeff, alertado pelos
punho do russo, apertando-lhe com força, detendo em parte sua fúria. — Não
faça que algo tão importante para ela e tão doloroso saia á luz, sem necessidade—
sorriu com tristeza, — nenhum de nós é seu inimigo, essa mulher que está aí
dentro é nossa amiga, e faremos tudo por ela, hoje e sempre, e se você — disse
olhando-o nos olhos com valor, — a respeita ou sente algo por ela, deixe que seja
prosseguiu Brad, cortando Jeff. — Emily sofreu muitos danos para que, além
disso, agora você exija verdades que ela tenta enterrar. Você, o primeiro deles —
finalizou com veneno em sua voz, — porque com um dedo não se pode tampar o
sol.
entendia o que tinha acontecido, apenas esperava ferventemente que não fosse o
que seu coração estava gritando para si. Porque se fosse assim, isso jamais se
Brad não aceitou a mão que o russo estendeu para ele, levantou-se com
lentidão, e com a palma limpou o sangue que corria pelo canto de seus lábios, e
sem lhe dizer nem meia palavra mais saiu, deixando-os sozinhos. Não tinha
gostado de Misha nem antes nem agora, ainda seguia sendo um fantasma.
— Deixa Emily descansar, não é fácil saber que os mortos voltam para a
— Necessito respostas.
«Óbvias?» Pensou, nada era óbvio para ele, não queria tirar conjeturas,
*************
tranquila. Jeff com uma massagem, depois do banho quente, tinha conseguido
que relaxasse, mas não aguentou assim por muito tempo. Seu estômago
reclamava por comida, ajustou-se uma bata e decidiu ver se encontrava algo,
sabia que tinha que descansar, o dia seguinte seria uma jornada dura e devia estar
concentrada para o que viesse, e para piorar, esse dia era o aniversário de seu
precioso menino.
bastava estar a centenas de metros abaixo da terra, mas sim também os tinham às
escuras. Chegou ao que parecia uma cozinha, não tinha nada de aconchegante
como a sua, que estava cheia de desenhos e adesivos. Esta possuía alguns móveis
uma água aromatizada, mas como não tinha, teve que se conformar.
— odeio beber neste caneca de metal, odeio este lugar, odeio não poder estar
fazendo o bolo…
— Não acha que seus ódios estão muito dispersos? — sussurrou o russo
— Não, todo meu ódio provém da mesma causa — vaiou esticando-se, não
— Não sei nada diferente do que você sabe, em umas horas nos reuniremos
evadindo o tema importante, porque não queria referir-se a nada do que havia
— Ira…
cortou.
falando a verdade, quero saber quando pensava em me dizer que Markov é meu
filho.
Se não tivesse sido por seus rápidos reflexos, a caneca que segurava entre
suas mãos teria caído ao chão. Com uma reserva abismal virou para vê-lo, com
toda a força que pôde reunir nesse momento. Ante essa reação, Misha ficou
pasmado, — não permito que você volte sequer a pensar uma coisa assim.
— Controle-se.
— Que se dane o controle — repetiu ficando nas pontas dos pés para ficar a
sua altura, — se você está aqui é unicamente pelo “Projeto Russo”, não venha
lábios, — e não vou voltar a perder. Quero… não, exijo respostas, e as quero
— Ou senão o que?
Nesse momento, e sem poder conter mais seus instintos primitivos, Misha
calou o resto de suas palavras jogando-se contra ela, deixando-a tão surpreendida
que não foi capaz sequer de reagir, inclusive seus lábios a traíram abrindo-se para
ele, enquanto passava a língua por seu lábio inferior, observando o brilho de seus
olhos, que estavam tão abertos que inclusive podia ver seu reflexo.
nele saísse à luz e possuísse sua boca como tanto desejava, com um beijo
Esse beijo demonstraria a química que existia, o desejo que ele tinha e o
Mas não esperava pelo que recebeu em troca, nesse contato de pele contra
pele, Emily, a mulher, a amante, a mãe, a agente, transportou-se para o baú das
apagada. Não só era algo químico, era celestial, era como se todo seu corpo
Esse tinha sido seu ponto de quebra, o momento em que tudo mudou, e
Com uma dificuldade que não esperava que seu corpo lhe desse, retirou-se
afligida, ferida, ressentida, sobretudo confusa, esse prazer que acreditou jamais
voltar a ter o havia sentido outra vez, e com ele, com o russo, com Misha… com o
que escapasse, apertando-a tanto que inclusive Emily pôde sentir como o corpo
viril desse homem a estava reclamando, suplicando por apagar a chama acesa da
luxúria e da paixão. E o que ela fez? Ficou? Não, não podia voltar a viver de novo
essa vida que tinha esquecido, não queria estar em risco e menos em perigo,
porque esse homem significava isso, e há quase quatro anos ela já tinha
— Não… — murmurou Misha, usando um tom novo para ela, não era
súplica, nem ordem, eram palavras expressas do mais profundo de seu ser, que
era capaz de esquecer rancores só para avançar pelo caminho do amor, —deixe-
maneira.
— Não necessito que me ratifique o que já sei, e o que não sei o averiguarei,
isso tenha certeza — respondeu com um tom muito tranquilo, mas, sobretudo,
seguro e arrogante.
Quando chegou ao seu quarto, fechou a porta com chave, e como se seu
corpo pesasse toneladas arrastou suas costas pela parede até ficar totalmente
sentada no chão.
Misha e Emily estavam reunidos na cozinha com uma caneca de café fumegante,
A primeira a sair foi ela, esse era um dia muito especial e Brad sabia, por
isso deixou-a retirar-se sem repreendê-la. Ele sempre a tinha admirado, não só
porque se destacava nas operações, mas sim pelo grande caráter que possuía, o
que nunca imaginou foi o grande sentimento que tinha por ela. Apaixonou-se em
pouco tempo de conhecê-la, mas como homem inteligente, também soube que
Tomou ar e valor para avançar até onde estava sentada, olhando um ponto
qualquer na parede.
— Farei quando sairmos daqui — respondeu ausente. Ela estava com sua
— Não — a cortou, deixando que a frase se perdesse no ar, — isso não vai
acontecer. Além disso, Emily, esse bastardo não sabe que você e Miko existem,
Ante essas palavras, Emily abraçou a seu amigo, e este feliz lhe
— Sim, não me olhe assim, te escutei ontem à noite e te direi apenas, e não
por lealdade a ti, que a deixe em paz. Se te interessa saber a verdade, dê tempo a
ela.
bem seu trabalho, o que precisamos saber é se está com o Vadik ou deste lado.
— Melhor que esteja — sussurrou afastando-se para chegar até sua amiga e
unir-se ao abraço.
irmandade, algo que em seu mundo não existia. Nem sequer com a Zhenya, a que
Force. Brad conhecia a todos, e assim tinham notado seus companheiros pela
— Pelo que o coronel Hunger nos disse, nós devemos terminar uma missão
que vocês falharam — expressou um dos homens, que tinha a cabeça raspada e
cacarejou como uma galinha choca — criticou Cooper, em tom de zombaria. Esses
que eram de uma raça imensamente superior, bom, não por menos eram
Antes que Brad pudesse defender a seu amigo e companheiro, uma voz ao
churrasqueira…
começado a alojar-se em sua garganta com o simples fato de imaginar o que seu
— não estamos aqui para julgar ninguém, a não ser para iniciar um plano de
caminhou para a tela, que nesse momento baixava e lhes mostrava um mapa com
técnicos.
— Você está bem? — Jeff perguntou muito baixinho a sua amiga, vendo-a
retorcer as mãos uma e outra vez, sem perder atenção de tudo o que se dizia.
— Eu sei, mas você estará aqui porque não pode se arriscar, deve isso ao
— Odie foi meu fiel companheiro, não sei o que teria feito sem ele, você
«Maldição, outra vez esse maldito nome», pensou o russo. Quem era esse tal
também acabaremos com uma segunda missão inconclusa, acabando de uma vez
por todas com uma das máfias mais importantes da Rússia. Assim, eles estarão
prosseguisse.
— Há quatro anos, a operação “Projeto Russo” foi terminada com alguns
bratva, mas também capturamos com vida parte de uma das células terroristas
cabeça morreu no ato, mas graças a isso, durante este tempo, controlamos essa
parte do mundo. Eles são, por assim dizer, muito colaboradores com a CIA.
melhor maneira.
olhando para Emily, sentindo-se culpado, — Vadik se tornou mais forte e está
trocando seus negócios, já que o tráfico de mulheres não está sendo tão lucrativo,
mas o que ainda não podemos averiguar é para que está reunindo tanto dinheiro.
para fabricar droga, que será vendida na América e seus arredores, partindo da
Colômbia, já que Vadik fez uma aliança com um poderoso narcotraficante que
dirige um dos cartéis mais cotados que, além disso, dá acesso completo ao
falar, agora com soberba, levantando-se com um lápis para começar a riscar a tela
recordou olhando ao Brad, — é atacar ao Vadik e sair da zona sem ser vistos,
mas… — voltou a olhá-los e riscou outra parte, — nenhum veículo aéreo pode
monitorado por radares via satélite particulares que jamais darão acesso a sua
única forma de atacar é por terra, pelas montanhas rochosas, atravessando este
descampado. E para sair, a única forma será fazê-lo no único aparelho autorizado
para voar: um helicóptero, que é propriedade do vor, que deve fazer escala para
reabastecer em um ponto que também é controlado por ele. Vocês têm alguma
ideia de como pode ter êxito na missão? — Olhou a todos e a cada um deles aos
Todos sem exceção a olharam como se estivesse louca e lhe saíssem cobras
pela cabeça ou não soubesse nada, mas como sempre, sua inteligência se antepôs
aos fatos, por isso era uma das melhores, embora hoje em dia não fosse
sua linda cabecinha? Porque isto não é um filme do Tom Cruise, nem James Bond
nos ajudará.
— Primeiro de tudo, meu nome é Emily Claxon, e não acredito que isto seja
um filme de ação, a não ser a realidade, e se por acaso não você não se percebeu,
fomos nós os que estivemos nessa missão infiltrados... Ah! Claro, você não sabe o
embevecido ao escutá-la falar, essa mescla de voz rouca com a segurança de suas
— Como lhes dizia anteriormente, nenhum de nós pode entrar nem por
terra nem por ar sem sermos descobertos. Nesse lugar só podemos ser apoio desta
O coronel lhe fez um gesto com a mão para que prosseguisse, por alguma
histórico, estratégia de guerra para ser mais precisa, onde um grupo de homens se
— Você está louca… — murmurou Stark, um pouco furioso por ser tratado
como idiota.
tinha olhado com respeito e muita atenção durante a longa hora que levavam
conversando.
acostumado a acatar planos de ninguém que não fora ele, este lhe pareceu genial e
completamente inteligente.
— Eu.
sua vez é o vor, neste caso Vadik, suponho que agora já nos estamos entendendo.
— Apenas um brilho feroz divisou naqueles olhos, mas não lhe importava. — E o
brigadir é sua mão direita e esse, como saberão, cavalheiros… sou eu.
— Não.
— passei cinco anos na prisão fingindo ser um ladrão entre os homens mais
perigosos, para poder chegar a ser um vor zakone e assim ter informação de
anos era uma vida e esse russo, que em um princípio tinha subestimado, era toda
18
Brigadir: Membro de uma brigada.
19
Pakhan: É outra forma de chamar ao Vor.
uma lenda. Era sabido por todos que a KGB utilizava esse tipo de homens para
infiltrar-se, mas de que existissem e fossem reais, nada se sabia… até agora.
— Não tenho que te dar explicação sobre nada do que tenho feito, Stark,
nem a você nem a ninguém. Só me reporto com meu oficial, que pertence ao
serviço de inteligência, entende? Isto não é um jogo de meninos com super armas,
secreta até o final. O único que sim, gostaria de dizer, é que tudo o que tenho
bagunça em que hoje estão metidos seus compatriotas porque, além disso, sou o
encarregado de acabar com suas vidas. Está claro ou preciso desenhar para que o
entenda?
— Basta já! — cortou-os o superior ao mando, ele não estava tratando com
meninos, a não ser com peritos, especialmente com seus egos, e ele sabia muito
bem. Tinha-os observado reagir e os tinha deixado opinar, precisava ter uma
agir sozinho com seus homens, esta vez necessitava a colaboração dos agentes,
ninguém, mas desta vez tudo era diferente, e porra, tudo era distinto e a culpada
tinha nome e sobrenome, ele não teria se envolvido se ela não estivesse correndo
perigo, sabia que embora não a tivessem delatado, Vadik demoraria pouco ou
— Não obedecerei às suas ordens, mas sim me guiarei pelo protocolo que
— Não vou mentir para você, se fosse por mim ou meus homens não
pediríamos ajuda a você, mas sei que é o único capaz de chegar até o vor, e pelo
que tenho nestes documentos — indicou fazendo alusão a uns papéis que lhe
tinham chegado recentemente e que tinha lido enquanto eles estavam falando, —
é o homem indicado, com habilidades qualificadas para esta missão, mas aqui não
cavalheiros, com códigos implícitos que iam muito além do escrito. Era a lei da
palavra pronunciada.
falhava.
escória. Eram todos muito parecidos e muito diferentes ao mesmo tempo, mas
tinham um único objetivo e como sempre dariam sua vida pela nova missão.
favorável para ter uma complicação menos na missão. Você — anunciou olhando
nossos rastreadores estão a sua disposição, e você, docinho, faz a magia que sabe
fazer com os computadores e nos dê tudo o que nos seja de ajuda, quero que
procure até debaixo das pedras. De acordo com o que Brad me disse, é a garota
depois de tudo, Brad Cambell já não era agente, voltava para seu rebanho, —
beijando seu cabelo, coisa que o russo não gostou e o fez notar com um gesto
sério.
ordens já estavam dadas. Agora começava a ação, deviam agir rápido, quanto
para seu filho, não tinha tempo a perder conversando nem com os homens que
acreditavam ser o Rambo nem com seus antigos companheiros, que tinham
ocultado dela a existência do Vadik, e muito menos para o russo, que não deixava
isso acreditava, foi até onde estava a zona de enfermaria. Depois de vinte minutos
lá dentro saiu renovada, não com um sorriso, mas sim com um semblante mais
tranquilo.
O que ela não imaginava era que, bem de perto, Misha seguia
O russo a viu sentar-se muito diligente, colocar uns óculos que a faziam
parecer uma mulher diferente, concentrada, mas o que passou em sua cabeça foi
uma imagem muito diferente dessa. Para ele, ela estava mais que sexy e
apetecível, ainda mais, quando Emily sentou, estirou os braços e jogou as costas
para trás, lugares de seu corpo que acreditava adormecidos voltaram a despertar.
tremor de sua voz, enquanto se dizia mentalmente que tudo estava bem.
Com a arrogância que o caracterizava, o russo esboçou um meio sorriso.
indicador, que estava a ponto de cair sobre uma tecla, sentou-se na cadeira ao
lado.
saídas as quais era capaz de acessar. Queria conhecer todas as opções, o plano
embora parecesse simples não era, e ele queria estar totalmente seguro.
importante, sendo seu próprio superior de missões, agora tinha um oficial direto
Tanto Misha como Emily sabiam que estavam seguindo ordens, assim que
Misha, que não perdia um detalhe, olhou de esguelha primeiro a ela e logo à tela.
Sua expressão dava medo, por isso ela nem sequer se virava para olhá-lo.
estava fazendo não era correto, mas ela não estava aqui para isso, tinha um
objetivo e conseguiria de qualquer jeito. Saberia tudo do Vadik, até o que havia no
Essa era a magia do que falava o coronel. Era uma de suas virtudes, ser um
hacker, podia ver tudo e mais de quem quiser, e há quatro anos tinha
voltou-os a abrir e digitou o que sua mente lhe ordenava e começou a contar os
segundos.
sabiam.
circuito elétrico.
— Como você fez isso? — grunhiu afastando a cadeira da mesa para poder
comprovar com seus próprios olhos, não acreditava no que via. Todos os
— Por acaso você não sabe que está falando com a garota superpoderosa?
dados e chegar até você em segundos — falou lambendo os lábios com soberba.
— Totalmente.
Emily suspirou, o que ele não sabia é que enquanto ele a olhava de
— Não tenho tempo para te demonstrar do que sou capaz, russo, mas te
direi que Alfa 3 Gama 5 Beta, Bromo 34569 já não é uma chave segura para você
Diante disso o russo ficou totalmente em silêncio, esse era mais que um
— Mas…
tenho algo que você nunca sonhou nem em suas melhores noites.
— Uma massagem?
computador que tinha deixado com todos os dados abertos, só se dedicou a segui-
los sem perder detalhes de como Jeff a abraçava com muita confiança para seu
gosto.
Vários metros mais à frente, depois de felicitá-la pelo êxito, pediu-lhe que
fechasse os olhos um segundo. Emily não estava para jogos, tinha seus cinco
sentidos alerta, mas a voz tão tranquila de seu amigo a fez obedecê-lo.
— Mamãe! —Emily Claxon escutou que lhe diziam, e assim que abriu os
olhos viu frente a ela o ser humano que mais amava sobre a face da terra. — Eu te
vejo!
— Sim! E sou Batman, o vovô vai me comprar uma capa e o tio Jeff uma
moto de verdade.
que o pequeno dizia. Miko era um menino ativo que não tinha medo de nada nem
Misha, que os seguiu, ficou petrificado quando viu a cara desse pequeno,
foi vê-lo e voltar a sua infância, a mesma forma segura de falar, esse mesmo
sorriso pícaro que via ante o espelho, mas, sobretudo, era o mesmo olhar doce, tão
Sentiu que desfalecia pela primeira vez em sua vida, suas vísceras se
respirar. Tentou falar, mas nem meia palavra saiu de seu interior.
Estava hipnotizado, escutando-o dar ordens ocultas, igual como ele fazia
sempre.
Não era capaz de racionalizar em sua cabeça como esse pequeno era seu
Ele, que tinha derramado tanto sangue, marcado sua vida pela máfia, um
homem ao que muitos temiam, sentiu uma vontade louca de chorar e de gritar a
ele que era seu pai, mas a sua vez o medo de ser rejeitado o invadiu,
principalmente quando o escutou falar do tal Odie com tanto carinho. Sentiu-se
destronado, excluído. Jamais quis se envolver com ninguém, por isso tampouco
falava mais de duas palavras com a Katiuska, mas agora era diferente, era sangue
de seu sangue.
Encontrar Emily tinha sido seu objetivo durante anos, mas não para formar
uma família nem nada parecido, só a queria para ele e ninguém mais, sem ter que
sua existência.
Esse menino pagaria com sua vida a raiva de tantos anos acumulada pelo
vor.
saber sobre sua existência, senão as consequências seriam muito… não, nem
com os do pequeno, mas quando o escutou perguntar a sua mãe por ele, o russo
— Mamãe?
— Ele… ele é…
para vê-lo de perto, enquanto Misha não saía de seu assombro, e é obvio Emily
tampouco.
— Olá, senhor Misha! Eu gosto das tatuagens, minha mamãe tem uma nas
engolir saliva, já que agora Jeff tampouco entendia nada e ficou mudo.
Era incapaz de seguir inventando outra mentira para cobrir a anterior, seu
russo atrás deles. Ela, que sempre tinha tudo claro, que sempre tinha um plano B
em sua vida, agora estava sendo apanhada por um menino de quatro anos.
Tampouco podia desdizer tudo o que tinha contado a ele sobre a tatuagem que
«Por que isso acontece comigo, porra!», gritou em sua mente enquanto tratava
de recuperar a razão.
— Ahn, ele não… não… — gaguejou movendo a cabeça de um lado a
outro, — não é…
— Não sou o Capitão América — falou por fim Misha, salvando a situação
típico do russo, — e por que o seu nome é igual ao do amigo especial da minha
mamãe?
falava era todo um homem, protegendo o que considerava dele e disso o russo
russo, apertando seu pescoço, dizendo que não dissesse nada mais ou se veria
com ele, — e agora, Miko, devemos seguir trabalhando, se despeça de sua mãe.
Lembre-se que quanto mais rápido terminemos, mais cedo ela voltará com você.
— Bom, mas eu pensava que seu amigo especial tivesse morrido, por isso
tinha seu nome escrito nas costas — expressou para Emily ignorando Brad, coisa
que fez graça a Misha, que sentia que a alma voltava ao seu para corpo.
— É verdade o que Brad diz, vá com os avós, em alguns dias nos veremos
— continuou sua mãe aproximando-se do monitor para ver somente a ele, e como
se seu filho pressentisse o que ia fazer, ambos ao mesmo tempo beijaram a tela,
Brad com raiva. — Está proibido todo tipo de comunicação com o exterior. Por
estamos todos como iguais, além disso, é o aniversário de Miko, não me peça que
não faça um simples contato, que por sinal ninguém seria capaz de rastrear.
— Você é imbecil!
queria que Jeff sofresse as penas do inferno por sua culpa, não era justo.
— Contigo vou falar depois, não temos tempo! Os minutos são ouro e
climatológico, vocês partirão em dois dias — anunciou dando a volta para ver o
Assim que a tela se apagou ele tinha voltado para seu computador, agora
trabalhava com mais afinco, não podia falhar, nada podia terminar mal.
Nesse momento Emily assentiu olhando a Brad, que de tranquilo não tinha
computador. Desde esse minuto em adiante, ambos como equipe e amigos que
Poucos minutos depois, Misha não pôde suportar mais e decidiu sair do
lugar, ele não queria ser testemunha nem podia desconcentrar-se de seu objetivo,
havia algo que não gostava, algo não encaixava e não sabia decifrar bem o que.
tivessem melhorado, não era o momento exato para iniciar um ataque, ainda
apoio, liderada por Brad. Ambos os homens já tinham tomado seus cargos e
ponto ao azar.
começava a forjar-se em seu interior. Apesar de querer esquecer, ele sempre seria
um Delta Force, era sua natureza e por mais que tentasse atuar de modo diferente,
Passou a mão por um par de armas até que chegou a sua favorita, uma
preparado, e como era costume, eles não levavam nada que os pudesse delatar,
destacamento, mas tinha muitas preocupações sobre eles, eram homens criados
preparados para pensar, apenas para reagir e atacar, não era por nada que eram a
melhor arma do pentágono, e ele como homem e, sobretudo como amigo sabia
que agora Brad Cambell deixava seu nome para converter-se em um ser ávido de
**************
Emily estava sentada sobre a mesa com uma xícara de chá entre as mãos
quando o viu chegar. Soube imediatamente que Brad já não era o mesmo e em um
ato reflexo, que para ele teve sabor de glória, estendeu-lhe a xícara.
— Está… está seguro de que isto é o que você quer?
— Isto tem que acabar de uma vez por todas, e não me olhe como se
estivesse com pena, Emily Claxon, não depois de ter escondido de você que Vadik
sempre tinha levado um anel. Ele não se separou nem tirou a mão, só a observou.
— O que você me escondeu todos estes anos suponho que foi para me
considerasse tão idiota para não ter notado que você me vigiava… então, não me
dá pena. Só tem que me prometer que voltar a ser um Delta Force é o que
realmente quer em sua vida, que de verdade quer deixar de ser o agente Cambell
e que isto não é para pagar o engano que eu e só eu cometi faz anos deixando-o
vivo. Isso sim que me daria pena, e não por ti, mas por mim.
necessita proteção e isso sim me mataria. Embora te admire por tomar uma
braço. Isso só podia significar que a conversa tinha chegado a seu fim.
para ele antes que o caráter explosivo de Brad estalasse. — Mas saiba que eu sei
me cuidar e não necessito de nenhuma babá a meu lado. E que se estamos todos
aqui é porque estão nos caçando, e como a agente ou a policial que sou vou me
defender com minhas próprias armas, não vou deixar que um punhado de
Rambos cuide do meu traseiro. — Ele assentiu com aparente calma, uma que é
obvio não sentia, mas se mostraria seguro e frio ante a decisão. Ele sempre estaria
cuidando dela, mais da posição de Rambo que estava tomando, embora não se
visse nem de longe como Sylvester Stallone, ele se via como ele, como Brad
Cambell. — Não quero ter problemas com você depois, está claro, soldado? Não
quero que me proteja de nada, que me vigie nem que minta para me ocultar a
realidade da situação.
Estava lhe dando ordens tão claras como a água, mas ele não era capaz de
palavras significavam deixá-la ir para sempre, deixar que voasse livre e ele não
estava preparado para isso. Durante anos sua forma de… amá-la tinha sido essa,
imaginava.
Realmente tudo estava saindo do controle, não queria nem pensar o que
— Não te prometerei nada até que esse filho da puta esteja acabado, e antes
que siga falando… fim da conversa! — bufou e saiu deixando-a sozinha, sumida
**************
A terceira noite já estava caindo, não sabiam por que a viam, mas sim pela
ver o sol. Estava totalmente segura de que estar a setecentos metros abaixo da
terra estava afetando seu estado de ânimo. Levava mais de dez minutos sumida
contrário do que se pensa, essa era sua forma de soltar adrenalina, de manter a
começando a sangrar, mas não lhe importava, de algum jeito devia tirar a raiva e
a angústia que lhe produzia não poder corroborar a verdade da própria Emily,
dentro de sua calça. Alegrou sua alma, esse número só seu filho o tinha, era sua
Sem olhá-lo com efusividade, mas devagar para que ninguém percebesse
— Miko!
claro, desafia toda lógica, mas vindo de seu DNA não me surpreende. — A voz
arrepiou sua pele e fez que o rebote da bola chocasse diretamente no seu peito,
Como se fosse um robô, Emily se ergueu na cadeira e tentou que sua voz
uma pausa que pareceu eterna e logo com uma risada amarga continuou. — Que
gracioso, não? Tudo se volta em meu favor, como nunca deveria deixar de ser.
Assim agora me escute bem, cadela de merda. Sairá ao exterior, Zhenya estará te
um tom grave. — Você não imagina a minha surpresa quando soube de você,
mas… me parece que não tão surpreso como parece estar você agora. Se te servir
de consolo, foi seu adorado Misha quem me levou até você. Deveria se sentir
orgulhosa, fez bem, não? Encontrei seu calcanhar de Aquiles, puta, embora não
— Bem! Mais que bem, mas agora não estamos falando dele, você tem uma
braços, você o verá com o bastardo — voltou a rir, — que nem sequer sabe quem é
o pai. Você sabe, puta? Porque meu não pode ser, eu só fodi seu traseiro.
dizer que isto é apenas entre você e eu, igual como aquela vez que me apoderei de
de pé, nem sequer olhou o telefone, agora tinha que agir. Uma sensação de terror
que jamais tinha sentido dominou seu corpo, mas rapidamente foi substituída
Caminhou o mais lento possível até onde estavam os quartos. Tinha que
alcance.
o que necessitava, agarrou uma jaqueta e avançou como se nada acontecesse até o
plano para salvar seu filho, embora o único que podia pensar era em matar Vadik.
pediam, a verdade é que tudo estava sendo muito fácil, coisa que a assustava, não
sabia como ia evitar o controle de saída nem o que diria, mas aí estava a ponto de
«A depor?», pensou, mas não disse nada, agiu o mais normal possível e
seguiu as instruções.
Uma vez fora Zhenya, que vinha totalmente uniformizada, exibiu uma
ordem ao último guarda e este a deixou sair livremente, mas antes que avançasse
Certamente está dizendo a si mesma que tudo vai sair bem, que ninguém sairá
machucado, verdade?
— Cale a boca e faz seu trabalho, me leve até seu vor, traidora.
— Não tão rápido, puta — disse ao mesmo tempo em que a segurava pelo
— Você sim? — cuspiu com raiva, jamais pensou que essa mulher era uma
— Sabe o que Vadik vai fazer assim que esteja em seu poder? Vingará a sua
filha, e sabe por quê? Porque desde que descobriu que foi você a que falou com o
Zakhar Milav para que atentassem contra ele não passou nem um só minuto do
dia em que não pensasse em vingança, é o que o manteve vivo todos estes anos, e
— Você está pior do que pensei se crê que vou acreditar em algo do que
diz.
— Ah não? Acha que minto? Pois não, o dia do atentado a Vadik ele
Milav para que matassem a meu vor pelo que te fez, mas errou, cadela, todos
erraram! Vadik não estava lá quando o míssil explodiu destruindo tudo a seu
passo, matando-a!
escondido dela. Seu estômago se revolveu ao pensar em que sim era a causadora
da morte da pequena, mas era a filha do vor? Respirou fundo para não vomitar e
assim controlar um pouco do pânico que estava sentindo por dentro, porque a
única coisa que soava em sua cabeça era “Dívida de sangue”. Sabia que a máfia
Nenhuma.
— Quero…
— Olá…
— Não se assuste meu amor, estou indo aí agora, não acontecerá nada… —
começou a lhe dizer para que se tranquilizasse, seu filho chorava do outro lado da
escutar nada mais sobre seu pequeno, só pensar destroçava seu coração e isso não
Vadik está aqui, te esperando, só segue dirigindo até onde te ordene e não tente
nada, porque sou capaz de desobedecer e te matar eu mesma pelo que fez a
soltou com raiva, mas nada obteve por parte da russa, parecia um robô que
Esteve conduzindo pela estrada por quase uma hora até que Zhenya lhe
indicou que virasse bruscamente para as montanhas. Sem perguntar nada, com a
perícia que ela tinha, o fez e a russa teve que segurar-se para não cair.
— Para onde vamos? Já é hora que me diga, não será tão idiota e acreditará
que vou escapar, não é? — falou-lhe utilizando suas mesmas palavras. Zhenya
chegada de seus aviões durante a construção da base secreta em que vocês estão
como se eles fossem uns gênios ao tê-la descoberto. — Aí estão te esperam meu
em sua cabeça, ao menos agora sabia por onde começar. Zhenya lhe falava, mas
Diminua a velocidade!
Zhenya tirou uma pistola do meio de sua roupa e apontou à sua cabeça
gritando:
— Desacelere! Agora!
A russa, sem deixar de lhe apontar, tomou o cinto e tratou sem sucesso
encaixá-lo. Estava desesperada, não havia forma de encaixá-lo e ela não diminuía
a velocidade.
— Pare, porra!
— Colisão.
Não conseguiu reagir quando ambas sentiram que chocavam contra uma
segundos foram disparadas para frente. A russa saiu voando pelo para-brisa e
consciência.
trás, em seguida limpou o sangue que corria de seu lábio. — Que dor…!
Com cuidado e cambaleando desceu da caminhonete, deu a volta e
percebeu que se livrou de Zhenya que estava caída no chão. Sim, seu plano tinha
— Espero que Vadik mate a seu bastardo e te deixe viva para sofrer…
A raiva se apoderou dela ao escutá-la e, com toda a força que pôde reunir
celular, destruindo-o com a sola de sua bota, e começou a procurar a arma, quanto
Uma vez que teve a arma em seu poder, em meio da noite, protegida pela
Se Misha tinha aprendido algo durante todos esses anos oculto dentro de
uma das máfias mais perigosas do mundo era a observar, e isso tinha feito com
Emily, viu-a deixar de lançar a bola e falar por telefone muito concentrada.
Possivelmente para qualquer um esse ato tivesse passado despercebido, mas não
para ele.
Confirmou que algo andava mal quando a viu caminhar com um sorriso
Por isso, e porque pela primeira vez esse músculo que tinha no meio do
peito pulsava para algo mais que para bombear seu sangue, tinha decidido
Mas quando viu Zhenya, sua companheira, e porque não dizer, também
sua amiga, mostrar um papel ao soldado, soube imediatamente que algo andava
mau.
Elas apenas se afastaram pela estrada, ele analisou qual veículo pegar, e o
estacionada, nada mais e nada menos que uma Hayes M1030, uma das últimas
Subiu e antes que o guarda pudesse dizer algo acelerou, passando ao lado
dele, ao tempo que lhe dava um chute certeiro no peito, fazendo-o cair.
único objetivo.
não era momento para conceber o medo profundo que sentia. Sabia que a única
razão para que Emily abandonasse tudo e a todos não podia ser outra que seu
filho.
Se algo acontecia com essa mulher ou a esse menino, ele não se perdoaria
recuperando. Há muito tempo tinha aprendido uma dura lição: para viver tinha
que matar ou inclusive torturar, o problema é que desde que essa mulher se
apresentou em sua vida anos atrás, tinha começado a questionar sua forma de
agir.
Não temia a nada nem a ninguém, mas agora tudo era diferente. Emily, Ira,
ou como queria chamar-se, tocava em um lugar que não havia sentido jamais,
amou-a acreditando ser uma prostituta e agora que sabia que não era, e que, além
disso, tinha algo que segundo ele também lhe pertencia, seria impossível deixá-la
escapar, era um sentimento que ia além de toda lógica, já não só lhe bastava estar
não o ajudavam a manter sua mente em branco, principalmente agora que era
— Maldita seja, Emily Claxon, maldita seja pela segunda vez! — gritou
quando viu o que essa insensata estava tentando fazer ao acelerar a caminhonete
motocicleta acelerada ao máximo para chegar mais rápido. Pilotar sem proteção
dificultava sua visão, mas sentiu um alívio incrível quando a viu sair,
cambaleando.
«Mas o que está fazendo?», pensou quando ela chutou a Zhenya e começou a
— Acha que vou te dizer isso? — cuspiu com ódio, — precisamente a você.
— Me dirá agora? — Atingindo esta vez sua cara para que reagisse.
escutá-lo.
— Já é muito tarde, querido Misha, Vadik tem o único que destruirá a essa
cadela e se fará justiça pela morte da Katiuska, esse maldito bastardo pagará com
a vida.
reconhecer que esse pirralho tem coragem igual à mãe dele, inclusive tentou
defender-se.
destruição de seu filho, já que com isso a destruía a ela, fazendo-a pagar pelo
acidente de Katiuska. Voltou a olhar furioso para Zhenya, em troca na cara dela
— Me mate! — provocou-o, mas ele, que era como uma máquina, nesse
momento, sabia que isso era o que ela queria uma morte rápida para deixar de
sofrer, e olhando-a aos olhos tirou a faca que tinha escondido na bota e a cravou
direto debaixo das costelas, justo no fígado. Logo, sem deixar de olhá-la, tomou
sua própria mão e a colocou sobre a ferida, que agora sangrava copiosamente.
desconhecido para ela e uma informação valiosa que seu vor devia saber, mas
agora para ela, ao menos, já era tarde, sabia que sangraria até morrer dentro dos
próximos trinta minutos, sabia que viriam cãibras, a falta de ar e mesmo assim seu
era o mais importante nesse momento para ele. Olhou uma última vez à pessoa
que o tinha traído e seguiu seu caminho como o assassino que era.
Não deixaria a Zhenya viva para que fosse julgada e levada a prisão, uma
que de uma ou outra maneira sairia ou conseguiria benefícios, benefício que ele
decidiria a quem matava ou a quem deixava viver, faria esses homens pagarem
ladrões, estelionatários, violadores e coisas piores, sim, para ele, nenhum merecia
viver.
Com esse pensamento voltou para o veículo que o levaria até Emily.
Pilotava tão rápido que quando a viu ao longe ao girar a motocicleta derrapou.
Isso a pôs em alerta, ela imediatamente soube que alguém a seguia, agachou-se
Esperou que ela reagisse e assimilasse o que acabava de dizer. Ela era uma
mulher não só inteligente, mas, além disso, totalmente preparada para a batalha,
por isso devia estar em guarda, apesar de tê-la entre seus braços.
sem controle, até que com lágrimas de resignação se separou, impotente, para
começar a soluçar:
— Vadik tem meu filho, ele vai matá-lo, Misha… ele vai matá-lo…
— Shhh — a embalou de novo entre seus fortes braços, jamais a tinha visto
chorar assim e não era bom que se sentisse perdedora antes de começar a batalha.
— vamos acabar com isto, mas necessito que esteja concentrada, necessito que seja
com o dorso da mão — sou apenas uma mãe que está disposta a dar a vida pelo
seu filho.
— Não! Você sabe que Vadik jamais o permitirá, reage Ira, por favor — lhe
um assassino que agia sem consciência, não um homem embargado por diferentes
vor para ser torturada cruelmente até ficar como um trapo humano tinha-o
deixado perplexo, não sabia como lhe fazer frente. Além disso, agora ele contava
com o que Zhenya havia dito que fariam com seu filho, todas essas emoções
estavam devastando-o.
Por outro lado ela estava agindo, seguia seu instinto de leoa, defendendo
seu filhote, disposta a tudo e mais, mas sabia que o russo tinha razão, e como a
— Sim.
Só isso lhe respondeu e Emily soube por sua resposta que certamente ela já
horizonte.
não pode ocultar as coisas de mim! Vadik não quer você, ele quer a mim.
— Não vou permitir que você vá sozinha, eu sei o que Vadik fará, porra!
— É uma possibilidade.
para alguém tão preparado como ela, mas precisava escutar, precisava saber para
— Nada.
— Impossível.
— Uma bala viaja a mil e duzentos metros por segundo, quatro vezes mais
existir.
— E sabendo tudo isso ainda quer me ocultar informação?
— Não sei nada diferente do que você sabe, e agora, quer seguir falando ou
agir?
— Quero resgatar Miko e matar a Vadik — espetou tão decidida que não
um plano! Ou você está pensando, chegar até lá, golpear a porta e começar a
disparar? — ironizou molesto, — porque se é assim, deixe-me dizer que antes que
soltou:
— Sim!
— Quando vai entender que não está sozinha nisto?! Que somos
compreender a situação. Agora frente a ela estavam Brad e Jeff, que a olhavam
um pingo de arrependimento.
temos tempo para dar explicações, Emily — olhou diretamente a ela, — estava me
tempo.
— Bem, este não é um grande plano, mas é o que tenho — informou sem
nenhum preâmbulo, — quem falhou no “Projeto Russo” fui eu e por isso estamos
ao ver que Brad ia recordar. — O único que sabemos é que Vadik está na antiga
base militar e tem meu filho como refém e eu vou entrar por ele — comunicou
olhando a todos atentamente. — Não temos tempo para um plano elaborado, ele
está me esperando agora e não vou passar mais tempo conversando com vocês,
porque todos os minutos em que estou aqui Miko está com ele e… não sei em que
— Vadik não lhe fará nada — vaiou Brad, apertando os punhos de raiva.
— Você não pode supor esse tipo de hipóteses — interveio Misha, ele
o vor melhor que ele, — Vadik está cego pela raiva e cobrará a vida da Katiuska,
— Por isso devemos nos mover agora, me entregarei ao Vadik pela vida do
Miko e vocês… bem, vocês farão o melhor que sabem fazer e sairemos todos dali.
— Esse é seu plano? — ironizou Jeff, que tinha se mantido em silêncio
analisando a situação.
porque não conseguirão. Meu filho não morrerá nas mãos desse desgraçado —
sentenciou.
— E você sim?
— Eu não…
— Não me venha com estupidezes, Emily, não somos idiotas, você crê que
pode chegar, bater na porta e se apresentar ante o Vadik e lhe dizer “minha vida
pela do meu filho”? Você é tola ou acha que pode nos enganar?!
— E o que quer que eu faça? — estalou ao fim com todas suas forças. — Eu
jamais pensei em ferir a Katiuska! Essa é uma morte que levarei em minha
consciência toda a vida, mas não vou entregar a vida do Miko em troca da vida de
ninguém.
Emily abriu os olhos implorando que se calasse, mas já era tarde. Brad não
queria guardar nada, não quando sentia que o culpado de tudo era esse maldito
Ele não precisava olhar para Emily para saber como se sentia, além disso, não era
o melhor momento para que Misha descobrisse a verdade — isso é algo que não
encarando-o, queria golpeá-lo pela primeira vez para ver se assim entendia.
Ambos eram amigos, mas agora se desafiavam com o olhar, estavam a
— Pare!
isto, que este filho da puta saiba o que você sofreu por ele.
— Me diga de uma vez o que é isso que tenho que saber, idiota — grunhiu
A ordem que Emily deu não deteria Brad, quem tinha as pupilas dilatadas
pela raiva e a tensão acumulada pela adrenalina, mas, sobretudo, pela culpa que
lhe corroía a alma porque não estava ao seu lado, porque sim o tinha escutado
para o que viria, para isso ela nunca estaria preparada, não havia maneira menos
palavras, abrindo os olhos para dizer uma última suplica, que nunca chegou
que não queria desenterrar ao culpado de todos seus maus, — ele merece saber
pela merda que passou pela merda que ele tem feito você passar.
Ante tanto besteira sem explicação, Misha reagiu, agarrando-o pela lapela
de uma boa vez. Ver o olhar triste de Emily tinha que ter uma razão e ele queria
saber para acabar com sua tortura, porque pela primeira vez em sua vida não
protegi sempre!
— Sabe por que ela se arriscou e foi com outro vor? — gritou na sua cara e
ante o silêncio do assombro continuou, — sabe por quê? Porque se você a tivesse
protegido como diz, Vadik nunca a teria violado… Em sua cama e em sua própria
A confusão se notou em seu rosto. Por um segundo não soube o que dizer e
— O que…?
Antes que repetisse essa fatídica verdade pela segunda vez, o punho de Jeff
chocou em sua cara, atirando-o ao chão. Brad se incorporou sobre seus cotovelos,
pedindo desculpas a Emily, que o olhava arrasada, tudo era muito surrealista
Quando ao fim pôde reagir, Misha caminhou até Emily, que não separava a
horripilante. Emily levantou lentamente a cara até que seus olhos conectaram e
isso bastou ao russo para saber que Brad não mentia. Não pôde seguir
perdendo o equilíbrio, chegou até a moto, que jazia caída a alguns metros.
Agarrando-se como pôde agarrou ao volante, tragando a bílis amarga que subia
Agora Misha voava sobre o caminho, já nem sequer escutava os gritos que
lhe pediam que se detivesse, ele já não era um homem normal, nem um que
simplesmente queria proteger a uma mulher e quem acreditava ser seu filho,
Como podia ser possível? Ele o tinha advertido, não podia tocá-la, e mais,
tinham inclusive um trato. Ainda não era capaz de dimensionar todo o ocorrido,
À velocidade que ia, tinha pouca visibilidade, o vento quase lhe impedia de
ter os olhos abertos, mas era tal sua raiva que nada lhe importava, tinha um único
derrapasse por vários metros, deixando uma esteira de terra a seu passo. Com a
raiva que ainda sentia acelerou várias vezes, queria sentir o rugir do motor para
acalmar suas ânsias. Estava realmente transformado em uma besta, embora não
quisesse, devia recuperar a prudência para poder agir, unicamente por isso agora
sequer deu a volta, sabia perfeitamente quem eram, e muito a seu pesar os
necessitava.
rapazes, mas estava disposto a enfrentar o que fosse. Tudo tinha caído sobre ele
em muito pouco tempo, agora não só se centrava em seu trabalho, em sua missão
de tantos anos, tratava-se de algo muito mais importante, algo que lhe
correspondia como homem, inclusive era mais que uma vingança, apenas
se neles.
— Vocês demoraram.
lugar equivocado, — o que necessitamos agora é nos unir e agir como equipe,
bramou Brad, esse homem não sabia o que era trabalhar em equipe.
Misha fixou a vista em Emily, que o olhava apenas a ele, esperando sua
equipe, — segundo isto nosso alvo deveria estar aqui — apontou olhando Emily
de soslaio para ver sua reação, mas ela estava estoica, uma razão mais para
admirá-la. — Quando entrarmos, teremos uma vantagem máxima de um minuto,
será tudo o que o estalo do gerador nos proporcionará, nesse tempo devemos
— Miko — murmurou Emily referindo-se a seu filho, não queria que fosse
apenas um objetivo.
Emily negou com a cabeça, não era o momento de medir forças nem
conhecimento, a situação não estava para brincadeiras e ela não sabia quanto
percorrendo, o único que sim sabia era que tinha que respirar, não podia sofrer
outra missão. Tinham que trabalhar juntos, senão jamais conseguiriam, tudo o
força e perícia; Jeff, necessitamos de sua paciência, sua calma e da magia que sabe
Markov. Vocês o farão? Preciso saber que seguirão até resgatar meu filho, que não
eram conscientes dos riscos da operação e de que esta podia ser a última, o que
veículo de comando.
sentia realmente, ele não estava disposto a falhar em sua verdadeira missão.
Emily sabia que essa seria toda a resposta que obteria dele, agora só tinha
qualquer custo.
vigiado.
Emily e Jeff se olharam, sabiam que Brad gostava de fazer tudo e não
missões.
Brad voltou a negar com a cabeça. Emily abriu os olhos incrédula pelo que
quando escutou:
avançando sobre ele, mas a rápida reação de Jeff impediu que o alcançasse.
grito, irritado.
passa estamos perdendo um tempo valioso, e tudo porque vocês, imbecis, não
sabem lutar com seus egos. O que acreditam que são? Animais?! Porque não são!
Emily se girou para eles, não necessitava dessa absurda discussão, e menos
dos ataques de testosterona desses machos alfas. Decidida, ficou frente a eles, que
categoria, e você, espião falso, se querem vir, vamos agora mesmo! Se não, podem
ir à merda, mas não me atrasarei nem um só minuto mais por culpa de vocês,
porque é a vida do meu filho que está em jogo — bramou, pondo ênfase em seu
filho.
Essa força, essa entrega e esse jogo na batalha era uma das características
que mais gostavam, mas nesse momento tinha razão, nada era mais importante
que o pequeno Miko. Não era uma simples missão, era “A missão”, uma que se
tirou de sua roupa um pequeno aparelho com sinal via satélite e o entregou ao
Jeff.
— Não pergunte tanto e faz a magia que tanto diz a garota superpoderosa
que sabe fazer, e vejamos o que está fazendo esse babaca do vor — assinalou Brad,
tecnologia.
portátil o telefone celular do Vadik. Nesse momento não lhe interessavam nem os
dados nem as fotos que como formigas começaram a ser gravados, o que lhe
interessava era poder acessar a câmera do aparelho, e não só desse celular, mas
A verdade é que Jeff só tinha escutado falar desse sistema, além do mais,
acreditava que só era um protótipo, mas jamais imaginou ter um em suas mãos e
menos nesse momento. Graças ao Brad, agora já não veriam apenas pontos
marcados em cor vermelha sem rosto no monitor, pois agora lhes poderiam pôr
— Calma, Ems — Brad tentou tocá-la, mas ela não o permitiu. Com as
mãos tremendo pegou o celular do Jeff para assim poder ver melhor a seu filho.
Ele estava sentado em uma espécie de cama sobre uns suportes de metal. Apesar
de que a luz era tênue, podia ver sua cara aflita, isso triturou seu coração.
continuou Jeff, que agora com outro programa colocava cara às luzes vermelhas.
Brad junto à Misha observava o que Jeff estava fazendo, enquanto Emily
seguia contemplando a seu pequeno, que agora segurava os joelhos com seus
bracinhos.
A habitação não era muito grande, ainda assim estava resguardada por
momento, era que o lugar estava equipado com aparelhos de última geração, e
graças a isso eles podiam ter um plano geral. O russo olhou para Jeff, lhe
tomar forma ante seus olhos em forma de plano. A verdade que o programa era
tinham agradecido tanto por ele, sobretudo agora que estavam recebendo dados
corredor longo sem entradas nem saídas, de aproximadamente uns trinta metros.
em sua retina toda a informação, já não havia mais pena nem tristeza e muito
menos algum outro tipo de sentimento, agora sim era a verdadeira garota
Vadik.
informação de todos, exceto de um, que era um… fantasma? Outro? — e esse daí
— É um dos espiões dos Bairros Vermelhos do Vadik, não sei o que está
nada mais.
caminhou até Misha, que ajustava os próprios óculos. Logo depois de uns
ouvindo?
— Ponimat20.
20
Ponimat: Entendido.
Capítulo 18
impensável, mas logo depois de analisá-lo a fundo soube que essa seria a melhor
saída para ele, dando-se conta de que com esse detalhe alteraria tudo, e para
sempre.
Fiel a sua forma de agir montou em sua Hayes M1030, saindo a toda
Não podia cometer erros, porque falhar seria mortal, e não só para ele.
necessitaremos de reforços.
— Você vai estragar a missão! Você será o culpado de tudo o que aconteça.
— Jeff…
Sem mais que dizer, pisou no acelerador o máximo que podia. Como tinha
seguir sem ser vistos, enquanto Brad lhe dava ordens a seus companheiros Delta
seguir fogo, acompanhado de brilhos de faíscas pelos ares. Isso significava apenas
entraram, disparando para tudo o que se movia, como se seu único objetivo fosse
bem na direção deles, mas com tão má sorte que ao roçá-los perdeu o controle,
— Estão todos bem? — perguntou Brad gritando pronto para reagir. Tudo
a seu redor era escuro, só podiam ver através dos óculos e o panorama não era
veículo fosse blindado, sabiam que não resistiria muito tempo estando virado.
Brad, ao soltar o cinto caiu, embora tivesse um grande corte do lado, posicionou a
acreditava ser.
pausa aos agentes, que nesse instante aproveitaram para soltar os cintos e sair
guerra, disparando direto à frente dos que alguma vez foram seus companheiros.
Não pensava, só disparava, derrubando um a um aos homens que apontavam
para eles. O primeiro em morrer foi vítima de um tiro na cabeça, o outro direto ao
coração e o terceiro que estava escondido atrás, que não o viu vir, errou
disparando em seu braço, mas sem deixar sequer de agir, lançou-se contra ele,
agarrando-o com as pernas para logo lhe fazer estalar o pescoço. Logo levantou a
vista, precisava saber apenas que ela estava bem, e quando fizeram contato visual,
— Você está bem? — gritou Jeff por sobre as chamas e explosões, chegando
até Emily, que tinha um corte feio sobre a testa e o visor dos óculos despedaçados.
de visão dos russos. Quando a teve a escassos centímetros, sem lhe importar
nada, tirou-lhe o visor noturno para comprovar a gravidade de sua ferida, que
— Você pode ver? — perguntou pensando que tinha perdido a visão. Seu
Emily. Não gostava desse homem antes e menos agora, mas não obteve resposta
correr junto a seus amigos. Mas de repente, um novo tiroteio os separou, e já não
— Suponho que não precisa saber que, ante qualquer tentativa de escapar,
O russo, que era bastante corpulento, ante essas palavras temeu por sua
vida, não pela faca que a garota superpoderosa sustentava, mas sim pelo que
sabia o que faria seu vor se não fosse capaz de levá-la ante ele. Ele tinha uma
Emily ouviu os gritos dos homens do Vadik, que se escutavam por todos os
tinha desestabilizado e a missão estava sendo favorável para eles, ao menos nesse
instante, embora não por isso relaxava, sabia que a qualquer momento a situação
como escudo humano, em cada esquina era ele quem se mostrava primeiro.
Tinha-o colado a seu corpo, como se fosse uma extensão dela. Cada passo que
muito claro que seu refém não se deixaria mostrar ante o Vadik.
Justo antes de virar a esquina, viu como um guarda protegia a última porta
onde seguramente estaria seu filho. Seu coração se acelerou segundos, suas mãos
prisioneiro, que o fez chiar, avisando com isso ao homem que custodiava a porta,
quem rapidamente sacou sua arma e disparou contra eles, mas em segundos a
Pegando-o com toda a força que restava, o segurou e correu para colidir
equilibrou com a faca na mão, enterrando-a diretamente no peito dele, sem sequer
deixá-lo reagir.
sobretudo em forças. Sentiu como a respiração lhe faltava, sua vista começava a
no chão sem soltá-la, ela com perícia e sem desesperar-se começou a tatear o piso
para encontrar a arma, um… dois… e na terceira tentativa tocou algo duro. Quase
com o último fôlego tirou suas próprias mãos de seu atacante e com o pulso firme,
captor.
ferida, mas sua vontade era mais forte. Com um golpe duro e certeiro abriu a
apontada a sua cabeça, ao mesmo tempo que Vadik possuía um sorriso triunfal no
rosto.
resgatar —disse ele colocando o menino de pé. O pequeno olhou a sua mãe, que
ainda não saía de seu assombro, mas como digno filho dela, e apesar de ter tão só
— Mamãe…
— O que? — cuspiu com ironia, — ainda não pode acreditar? Pois acredite
jamais sequer imaginei um final como este. Sabe? Inclusive cheguei a pensar que
rápido tirou a pistola do cinto e, antes de poder apontar a ele, Vadik com perícia
na têmpora do pequeno.
— Mamãe…!
— Deixe-o ir, imploro-lhe isso, por favor, não faça mal a ele… — suplicou
visto sua mãe chorar, e ele, como seu filho, o único que desejava nesse momento
era poder abraçá-la, apesar da força que fazia para correr a seu lado, o aperto por
**************
Por outro lado, sem titubear nem um segundo só, Misha caminhava ao
mesmo tempo que disparava. Homem que aparecia, homem que caía a seu passo.
Ele não estava ileso, tinha um corte no ombro, embora nem isso o detinha. Vários
dos russos, ao vê-lo se surpreendiam, mas isso não lhes impedia de atacá-lo.
Abriu várias portas antes de encontrar seu alvo principal. Não encontrava
ao vor por nenhuma parte, e claramente no lugar indicado já não estava. A cada
passo que dava, analisava ainda mais a situação. Isto não era um simples
sinal do que Vadik pretendia fazer com Ira ou com o Miko. Ele, o grande vor da
Rússia, mostraria ao mundo inteiro que com ele, um homem poderoso, não se
acertou seu ombro. Misha, apesar de reagir rápido, não foi capaz de repeli-lo com
conseguiu sair do lugar, deixando-o ferido, mas não por isso impedido. Mesmo
assim seguiu adiante, já não podia se mover com tanta agilidade, mas tinha a
certeza de que na última porta que restava encontraria seu objetivo pessoal.
Tinha chegado a hora de vingar-se por tantos anos, e ele era um vingador.
Abriu a porta com ímpeto, e o primeiro que recebeu foi uma bala direta no
Vadik não acreditava no que seus olhos viam. O homem que tinha sido sua
mão direita durante anos e agora acreditava ser um traidor, apresentava-se ante
ele e nada mais e nada menos que utilizando como refém a mulher que acreditava
O vor não era capaz de entender como finalmente ambos tinham chegado
até ele, que era resguardado por mais de doze homens armados até os dentes,
**************
Por outro lado, não muito longe dali, o agente e o Delta Force lutavam para
defender sua vida e avançar para resgatar o Miko, sabiam que os minutos que
perdiam eram ouro, e embora acreditassem que seria mais fácil, estava lhes
avançavam.
**************
Emily sentiu um antebraço pesado e com força apertar seu pescoço sem
poder acreditar. Misha… o russo, seu russo a tinha traído. Agora sim que estava
totalmente segura de uma coisa: ia morrer, só esperava que seu filho não
O pequeno era o que menos entendia algo nesse quarto, só tinha olhos para
sua mãe, que lhe devolvia um olhar seguro e tranquilizador, como lhe dizendo
que nada mal ia acontecer, embora por dentro, Emily sabia que nada ia acabar
bem.
tirou de dentro de sua bota a faca que Jeff a tinha entregado para atacá-lo, mas
Misha, em um movimento que ela não contava, girou-se fazendo que a lâmina de
— Mamãe…!
que nesse momento não derramava nenhuma lágrima pelo rosto. Apesar das
— Deixem que meu filho se vá, deixem que eu tome seu lugar.
— Cale a boca! Você já falou demais — Misha vaiou entre dentes puxando-
a pelo cabelo, movendo com brutalidade sua cabeça para trás. — Foi você a
culpada? — Perguntou, colocando sua própria faca no pescoço com a qual o tinha
um homem que nenhum deles viu entrar, se aproximasse, era o mesmo que tinha
Como se fosse um saco, o vor entregou Miko ao homem, que sem machucá-
lo o agarrou entre seus braços para logo, apesar dos gritos do pequeno, sair da
habitação.
escutar-se e pôde sossegar a Emily, pressionando a garganta dela com seus dedos.
— Sim? Ela, que era uma agente americana trabalhando para o SVR? Ela
que sempre soube onde esteve esta puta? — cuspiu soltando o agarre do pescoço
— Mentira!
agente para tirar informação dele, Vadik? Eu quero ser o próximo vor! Esse é meu
no instante em que o viu titubear que prosseguiu, estirando seu punho para que o
visse.
— Matei por você — assegurou exibindo as caveiras de seus dedos, —
torturei, assassinei em seu nome. E cuidei da Katiuska por seis anos porque o vor
não tem filhos, nem esposa. Lembra? E você está julgando a mim!
voltando a agarrá-la pelo cabelo. Emily já não tinha forças nem para sustentar-se
em pé.
— Para que? Para que nossos inimigos saibam que somos vulneráveis, que
temos pontos fracos? — falou com voz autoritária, como se o vor fosse ele, — para
— Um que não pode voltar a repetir-se, nos custou muito silenciar a todos
os que sabiam de seu segredo para agora voltar a abrir a cripta. Isso tem que
acabar já.
Misha, com decisão, começou a baixar a faca pelo peito de Emily, porém
— Esta puta pagará por tudo o que tem feito, o que me fez, e é obvio o que
para ela.
— Não! Meu vor não manchará as mãos por uma mulher como esta.
suplicarem por suas vidas, as mulheres mais ainda, assim mesmo tinha feito com
a mãe de sua filha, tinha-a obrigado a suplicar até o último momento, inclusive
enquanto a violava, obrigava-a a lhe pedir clemência, por isso agora estava se
Antes que o vor continuasse falando, e para acabar de uma vez com o
lutar para separar-se, mas a cada movimento o metal se enterrava um pouco mais.
lhe caía por seus preciosos olhos, que agora estavam perdendo a vida.
de disparos ao ar. Vadik estava celebrando a morte da mulher que tinha matado a
sua filha, da mulher que esteve a ponto de apanhá-lo e da única mulher que
momento que tinham para escapar. Sem duvidar nem um segundo, Misha se
Os Delta Force já tinham chegado e estavam tomado o lugar. Uma fumaça branca
os em sua ação.
esperava com as hélices girando, e espreitando esperando ver sua mãe aparecer
estava Markov.
de Misha o lançou para trás, fazendo-o cair ao chão. Nunca tinha esperado tanto
por uma vingança, mas já tinha visto e desejado muito, agora nenhuma arma
Inicialmente, Vadik não se deu conta de quem o atacava, mas ao ver que
era seu próprio homem, seu amigo, que minutos antes tinha jurado que não era
um traidor, não pôde acreditar. Como pôde, começou a lutar para tirar sua arma,
conseguindo forças de onde não tinha. O que o golpeava era uma besta
enfurecida que não o deixava respirar. Levantou a perna para deter um golpe,
acertando-o precisamente nas costelas, isso fez que Misha retrocedesse ao ficar
disparo apenas lhe roçou a lateral do corpo, mas o seguinte impacto acertou na
de suas mãos.
verdadeira máquina de destruição, e assim foi. Com tudo o que tinha, arremeteu
contra Vadik, levando-o ao chão, ficando sobre ele. O primeiro que fez foi lhe tirar
a pistola, que voou longe, logo começou a lhe dar golpes certeiros no rosto, sem se
importar que seus nódulos sangrassem, e uma vez que descarregou sua ira,
— Você chegou até aqui, desgraçado! Acabou seu jogo, maldito filho da
puta.
— Essa puta, como você diz, é minha mulher e esse bastardo é meu filho —
afirmou nocauteando-o com sua própria testa. Tinha recuperado todas as suas
forças e não precisou um segundo contato para saber que Vadik já tinha morrido,
já que depois de golpeá-lo com suas próprias mãos, e sem nenhum remorso, tinha
girado sua cabeça primeiro à direita e logo para a esquerda para assegurar-se.
Depois deu a volta para ver o Miko, que estava abraçado ao russo que
pilotaria o helicóptero. Só queria correr e abraçá-lo, para logo descer e ver a mãe
do menino, rogando em silêncio que tudo tivesse saído conforme o planejado com
o Jeff.
— Eu disse para você soltá-lo — voltou a rugir agora com o meio corpo
pequeno com suas próprias mãos, era isso ou padecer sob essas garras animais.
— Miko… vem, eu… — Nunca lhe custou tanto ter que dialogar, o mais
fácil seria tirá-lo e carregá-lo à força, mas sabia que essa não era a solução, e muito
menos para infundir confiança a um pequeno que tinha vivido em poucas horas
ternura que, pela primeira vez em sua vida, comoveu-se e em um ato reflexo o
abraçou com todas suas forças, para segundos depois beijar sua cabecinha.
Sem soltar ao Miko se levantou com ele, nem sequer deixou que os
Misha podia ver o medo e o desconcerto através de seus olhos, mas igual a sua
mãe, era uma pessoa muito forte, jamais se deixavam ver vulneráveis ante
ninguém.
levantou, sentindo uma grande dor, sentia que a cada passo que dava sua coxa
rasgava um pouco mais, mas já não importava, finalmente tinha liberado Emily
da máfia russa, agora nunca mais lhe fariam mal, ela poderia viver em paz. Uma
paz que ele mesmo lhe tinha presenteado, apenas esperava que ela entendesse
Enquanto baixava não podia deixar de recordar uma e outra vez a súplica
dela, mas isso não era o que mais lhe doía, a não ser a decepção que viu em seus
Quando ao fim chegou até o lugar que tinha deixado Emily, um tremor
olhos.
suas pernas, que agora tremiam, não lhe responderam. Fechou os olhos um
momento para ter força e fazer frente ao que seus olhos viam e ele se negava a
aceitar.
quando o fez sentiu que algo dentro de seu peito se partia. Sacudiu a cabeça
sobretudo para proteger seu filho, que nesse momento se aferrou a ele com todas
O golpe o fez cair, mas se Brad pensava que isso o deteria estava muito
enganado. A raiva que estava consumindo-o por dentro fez que Misha se
levantasse e protegesse ao pequeno, que o Delta Force cegado pela raiva não via.
fúria e o desgosto que ambos sentiam. Um porque sentia que tinha perdido uma
das coisas mais valiosas de sua vida, e o outro porque precisava saciar sua sede de
Misha tinha planejado com o Jeff uma estratégia para salvar Emily da
máfia russa para sempre. Faria parecer que ele mesmo tirava a vida dela ante o
vor para ganhar novamente sua confiança e assim ninguém no Leste nem sobre a
face da Terra a buscaria jamais. Logo Jeff teria que encarregar-se de que ela
soubesse que tudo tinha sido uma armadilha, um engano. Por isso inicialmente a
segurou pelo pescoço, para diminuir sua respiração, e assim logo poder cravar-lhe
bruços ao chão, e aí, em um momento, como se nada mais existisse, como se não
pela primeira vez. Viu-a quando ambos colidiram e ele, com o impacto, enviou-a
ao chão, para logo passar por ela sem nenhum pudor. Em frente à janela,
apoiando ambas as mãos no vidro, o dia que ele mesmo tinha pedido
beijo que a tinha obrigado a dar. Via seu olhar quando chegava ao clímax sempre
querendo dizer algo mais, mas ao mesmo tempo contendo-se. Via a determinação
em seus olhos, uns que jamais o temeram, apesar de tudo o que pudesse fazer.
Não, Ira ou Emily jamais se rendeu ante ele, mas sim se entregou, e o mais
devolvido a vontade de viver. Porque isso era o que essa mulher representava
para ele, por isso tinha estado disposto faz anos a abandonar a missão mais
quatro anos e por isso tinha aceitado o plano desatinado do Jeff, e para que?
Tudo o que estava acontecendo era irônico, tantos anos sozinho, sem se
importar com nada nem ninguém, e agora que queria tudo e podia ser capaz de
ter, não era o destino quem o arrebatava, mas sim ele com suas próprias mãos o
tinha destruído.
homem o segurava para tirá-lo dali, mas ele não voltaria a perder a ninguém que
lhe importasse de verdade, e esse pequeno era dele, tão dele como o tinha sido
Emily Claxon.
— Detenham-no — escutou que diziam, sem poder reagir ante alguns
homens que saltaram sobre ele, detendo-o, impedindo de segurar Miko, que
homens mais para detê-lo. Nesse momento viu como, além de levarem seu filho,
Lutou com toda a sua energia, mas era inútil, estava totalmente
veemência que Jeff, ao escutar o som gutural da besta que lhe pedia que se
detivesse, não pôde fazer outra coisa mais que obedecer. Quase deixou de respirar
ao girar-se com sua amiga entre seus braços, mas agora era o momento da
olhar.
companheiro, tinha que sair imperiosamente daí, já haviam perdido muito tempo.
— Me perdoe…
O tempo que o russo observou a garota superpoderosa pareceu uma
eternidade para Jeff, mas sabia que não podia dizer nada a ele, a culpa também
Repentinamente, como se já não tivesse nada mais que fazer nesse lugar,
E ele, fazia poucas horas, estava fazendo caso aos desejos de seu coração.
agarrado a suas próprias pernas. Não deixava que ninguém o tocasse, tinha o
olhar perdido, mas quando viu aparecer ao amigo especial de sua mamãe, correu
a seu encontro, enquanto Misha, como pôde, fez o mesmo até chegar a abraçá-lo.
Capítulo 19
um segundo sequer, parecia um leão enjaulado de tantas voltas que dava. Por fora
podia ter a aparência de um homem tranquilo, inclusive com nervos de aço, mas
em realidade por dentro estava em frangalhos. O único que sabia era Jeff, que
entrava com vários papéis na mão, — temos pouco tempo antes do funeral.
Todos, com dor em seu olhar, assentiram, nenhum queria estar ali entre
essas quatro paredes. Essa manhã fria seriam o funeral com honras da ex-agente
Brad observava com o canto dos olhos todos os movimentos do russo, sem
dissimular sua irritação por tê-lo a tão poucos metros. Enquanto, Jeff estava
para todos e levantou a vista para olhar por um segundo a cada um deles.
enérgico, — estamos reunidos aqui pelo caso “Projeto Russo”, que ao longo dos
anos teve algumas… variações. Apesar de que a missão terminou com êxito faz
algum tempo, os danos colaterais nos afetaram hoje, nos alcançando como equipe
colaboração do SVR foi fundamental neste caso, ajudado, claro, por nossos
também devemos reconhecer que para tão perigosa missão tivemos baixas
aceitáveis. — Um grunhido foi o que realmente todos escutaram e se giraram
rapidamente para o Misha, que tinha as mãos empunhadas nos bolsos de sua
calça. — Cavalheiros, devemos nos enfocar com muita atenção. O caso está
fé do que acaba de dizer. — Agora, por favor, não façamos esperar ao cortejo
fúnebre que nos levará até o cemitério para nos despedir de um companheiro com
Brad, que nesse momento era contido por seu capitão. — Não imagino o estresse
que estão passando, mas depois de hoje poderão retirar-se a umas merecidas
férias — concluiu fechando a pasta de repente, para logo olhar ao russo, — mas
sem poder conter-se, que rodeava perigosamente a mesa para chegar até ele.
— Brad, amigo, o melhor é que Miko fique com uma lembrança alegre da
Emily, ele nas últimas horas passou por muito, precisa ter uma lembrança normal.
— Não me parece…
— Não tem que parecer nada a você… — bufou Misha, contendo-se sem
homens, e tampouco teria que ser um perito para saber por que, embora não por
Uma vez que ficaram sozinhos, Krause lhe ofereceu a cadeira de frente a
Misha e tirou uma nova pasta de sua maleta, com parcimônia a abriu e começou a
jogando seu corpo para frente. — Sabe o que não foi fácil? Passar dezoito anos
infiltrado para uma agência respondendo a outra, isso não foi fácil. Sabe que mais
experimental, onde só fui um número que reporta feitos importantes para que
outros possam atuar sem que ninguém me informe nada — murmurou muito
baixo, — e sabe que mais não foi fácil? Passar cinco anos na prisão forjando um
nome, para ser reconhecido pelo vor. Roubei, torturei e matei para me fazer um
nome e chegar até onde estou. Por minha agência traí meus princípios como
subindo o tom de voz, — e jamais nestes putos anos lhes pedi um favor. Agi
sozinho, lhes entregando muito mais do que correspondia a minha missão, mas
desde ontem se acabou. Já não mais, não quero esperar mais. Quero que você
— Mas é o que deve fazer se quer obter sua recompensa — ironizou Misha,
metendo a mão no bolso, para logo tirar um chip e colcá-lo sobre a mesa à vista
do subdiretor, que ao vê-lo seus olhos brilharam como vaga-lumes em uma noite
sem lua — Isto contém as contas dos homens mais influentes da Rússia que têm
governo, além disso, contém a única prova que você necessita para que o mundo
saiba que sua agência é a melhor, apesar dos buracos que esta possa ter.
— Você está seguro que não quer ficar comigo? Você terá um escritório…
olhando-o aos olhos, — não crê que o melhor lugar para vigiar a vida de seu filho
seja conosco?
de si mesmo, sobretudo, um que ninguém jamais lhe negava nem contradizia, por
— Ah… meu querido Misha, é meu melhor homem e sabe que não é fácil
substitua, que sirva para fazer o trabalho… difícil, e espero que todo mundo
acredite que o fez sozinho — rematou com um sorriso sardônico nos lábios,
ameaças ocultas.
— Que está abandonando o seu país, a organização…, mas, sobretudo a
mim.
homem livre e sem passado, ao fim estendeu os dedos de sua mão mostrando um
chip exatamente igual ao que ele já tinha em seu poder, só que este de cor
— Não repetirei o que você já sabe, subdiretor. Nosso trato, e o quero antes
horas isto estará em todas as redes governamentais dos países mais influentes do
mundo.
terminar viu enfurecido como Misha, o russo, seu fantasma, colocava o chip na
porta USB e, tal como tinha anunciado, informação privilegiada e muito perigosa
capaz não só de começar uma guerra, mas sim também de afundá-lo até o mais
— Adeus, Krause, que tenha uma boa volta a casa, ah! Saúde sua esposa e a
seus filhos, e diga a ela de minha parte que acredito que o corte de cabelo que fez
— Ninguém é inocente nesta merda, Krause — foi o último que disse antes
homem que não fosse as dele mesmo. Nem sequer o próprio diretor da agência
lhe ordenava coisas, apenas o consultava, mas agora, o mesmo homem que ele
computador, tirou o chip para guardar em um lugar seguro, logo veria como
escondê-lo para sempre, e a seguir fez o único que não queria fazer: apagar todos
nenhum dos dois existia, nada, nenhum sinal ficaria depois de que ele digitasse
Nem sequer tinha que preocupar-se com procurar uma nova identidade, pois
O russo tinha feito tudo e, com pesar reconhecia que era digno de se
Claxon não tivesse morrido, não tivesse sido um dano colateral, e sim, voltou a
golpear a mesa, porque certamente tudo teria sido muito diferente. Ambos
certamente trabalhariam para ele, fazendo-o tão invencível que inclusive lhe
**************
Quando o ar frio tocou a cara de Misha por fim pôde respirar em paz.
Nunca em toda sua vida tinha estado tão nervoso, jogou uma carta que jamais
pensou utilizar, ameaçar à agência não era algo pequeno, mas ele, tal como o
havia dito, não era um inocente, só estava sendo precavido. Devia começar uma
nova vida, levar para longe o único bonito e puro que possuía, mas mais que isso,
Jamais se perdoaria o dano que lhe fez ou que lhe fizeram por sua culpa,
tomasse o avião com destino a sua liberdade, muito longe de onde estava agora.
de tudo o que ele queria fazer. Afinal, tinha-o ajudado em cada passo para obter
sua liberdade. O único que não sabia era o “ás” sob a manga que Misha guardava.
homem novo. Não mais FBI, não mais SVR, renunciei a tudo e exigi o que me
corresponde. Sou um homem livre, sem passado, para começar uma nova vida —
asseverou com os olhos frágeis, ainda não podia acreditar que Emily já não
Arrancou com o carro e, frente ao atônito olhar de alguns oficiais, foi rumo à casa
do Jeff, onde Annie e Markov o esperavam, Jeff chegaria logo depois dos funerais.
Capítulo 20
O dia estava cinza. Umas gotas de chuva eram o único que embaçavam o
com culpa.
unindo-se ao resto dos oficiais que levariam o caixão, que já possuía a bandeira
caprichosamente estendida.
Ninguém pensou jamais que a vida de um deles acabaria assim, por isso agora
estavam rendendo homenagem a sua grande amiga, e com todas as honras que dá
decidido fazer algo íntimo. Os pais de Emily tinham morrido dias antes por
Umas poucas palavras foram ditas pelo sacerdote, para em seguida deixar
bandeira à família. Como Emily já não tinha família e Jeff, seu quase irmão,
Teve que ser Jeff quem o contivera. Ele se sentia um homem derrotado, seus olhos
A vários metros, escondido atrás de uma árvore, Misha tinha quebrado seu
admirar, recitando um por um cada um dos votos nas dobras da bandeira, lhe
deixavam de correr por suas bochechas. Pela primeira vez, ele estava chorando,
cem por cem ao que amava, Ira. “A segunda é a crença na vida eterna”, porque
estou seguro de que você viverá em nossos corações. Eu jamais serei capaz de te
esquecer, e te juro não haverá dia em que nosso filho não te recorde. “A terceira é
que não acreditava, mas ao que sim tinha suplicado piedade. — Esse Deus que
o tributo ao país”, país ao que você deu tudo e mais, e deveria sentir-se
agradecido de tudo o que você tem feito. “A sexta é para o lugar no que nosso
coração jaz. É com nosso coração, que lhe prometemos nossa aliança à bandeira”,
mas aqui frente a ela, eu te prometo meu coração eterno. “A sétima é um tributo
vale de sombras da morte”, que estou seguro revolucionará com sua valentia e
tributo a feminilidade. Este é seu tributo, Emily Claxon, foi a força, a feminilidade
feita mulher, lutando até o… final. “A décima é um tributo ao pai, porque ele
também deu seus filhos e filhas para a defesa do país”. Seus pais estão orgulhosos
de você, estejam onde estiver. “A décima primeira, aos olhos dos cidadãos judeus,
Descansa em paz, Ira. Voa tranquila, Emily, e… me ajude a viver sem você, meu
amor — terminou dizendo ao mesmo tempo que via como Brad segurava a
bandeira sobre o peito. Não foi capaz de ver o que seguia, foi em busca de um
pedacinho dela.
principalmente para estar com sua esposa, já tinha chegado o momento de falar e
todos. Ele acreditava que tudo isto lhe tinha deixado uma lição: viver.
— Até logo, Brad, espero que algum dia voltemos a trabalhar juntos.
Ante essa resposta seu amigo não soube o que dizer, só agarrou a mão de
olhou com carinho, mas mais que nada com admiração, seu marido tinha contado
certa forma tinha entendido. Toda sua vida tinha representado um papel e ela
estava disposta a conquistar sabendo toda sua verdade. Deu-lhe um apertão a sua
mão, e logo um bonito sorriso fez que seus olhos brilhassem, e Brad, pela primeira
— Obrigado…
igual a Emily, mas pelos lábios da Mary tinha soado diferente, a… esperança?
Uma vez que a última pessoa deixou o cemitério Jeff o abandonou também,
nem sequer olhou o ataúde. Embora seu estômago não deixasse de lhe dar voltas,
Em tempo recorde chegou até sua casa, onde Annie estava esperando-o
junto à Misha, que parecia uma estátua olhando um ponto cego da sala. Esse
necessitava força para seguir representando seu papel e só sua mulher era capaz
tinha tentado falar com ele, tentado tranquilizá-lo, e mais, tinha estado a ponto de
dizer à ele a verdade algumas vezes, mas se conteve, embora isso partisse o
coração.
— Se não descer em dez minutos subirei por ele, Jeff, não resta mais tempo
— comentou Misha olhando seu telefone celular com um pequeno sorriso. Krause
tinha feito o que pediu, nem Misha e nem Markov existiam para o mundo a partir
desse momento.
— Russo, você necessita inteligência emocional para isto e para tudo o que
virá — o repreendeu. Apesar de saber que esse homem era como um demônio e
não duvidava que fosse um assassino, que para seu sobrinho não haveria lugar
Markov estava sentado abraçando a Odie como se este lhe desse o calor
que lhe dava sua mãe, sua carinha de menino estava de causar pena e sua alma
muita angustiada, mas mesmo assim teve a integridade para dedicar um sorriso a
— Não quero ir com ele — apontou para a porta, aferrando-se mais ainda a
Odie.
estava sendo tudo. Suas emoções também o traíam, sentiu vontades de chorar e
de rir ao mesmo tempo. Esperava estar fazendo o correto, senão sabia que de
importantes em seu currículo, não sabia o que dizer a um menino de quatro anos,
sem contar que o pânico o invadiu ante o que ainda ficava por fazer. De todas as
Odie se moveu.
— Não quero ir com ele, eu não gosto dele — sussurrou e desta vez uma
momento apareceria pela porta buscando-o e nem ele nem um exército completo
poderiam impedir a esse homem que levasse ao seu filho. — Markov, escuta —
começou colocando-o frente a ele, — você tem que me prometer que o que vou te
que não demorou em subir para ver o que acontecia. Jeff abriu os olhos e só com
um olhar pediu silêncio ao pequeno, não tinha sido a forma correta, mas sim a
— Assim agora você irá com o Misha e lhe obedecerá, não esqueça que ele
Annie, que vinha logo atrás, também negou com a cabeça e Odie, ao vê-lo,
grunhiu ao robô.
havia nesse pequeno que o enchia de ternura, obrigando-o a tirar a couraça que
sempre possuía, — Miko, eu sou o amigo especial de sua mamãe, recorda o que
braços de Jeff e caminhou com desplante para o russo, que até agachado era
— Mas…!
seus olhos até o cão, que lhe mostrava suas pequenas presas.
— O que você pensava que era? — perguntou Miko, — é russo como você,
— O único que sempre a conectou com a Rússia foi Odie, além disso, foi
Misha olhou para o chão e viu a pequena bola de pelos que sem saber o
que era tinha odiado tanto, enquanto o cão o olhava também observando-o.
deixou acariciar e ficou ainda mais perplexo quando Markov se aproximou dele,
Ele, um gigante.
Um espião.
um novo futuro.
pouco mais normal, — agora vocês devem ir, o avião sairá as oito — e olhando a
O russo, sem esperar mais tempo, agarrou seu filho. Agora tinha em um
lado ao Markov e ao outro lado o Odie, o único que lhe tinha ficado de seu amor.
Mas quando sentiu um quente beijo em sua bochecha voltou a ficar impactado.
Estava acontecendo tudo de verdade? Foi como sentir sobre sua pele os lábios
Esqueceu-se de todos os presentes, não lhe saíram as palavras, seu filho era
tão perfeito… Mas o mais importante é que estava junto a ele, jamais imaginou ser
pai, menos de uma criatura tão perfeita provindo dele. Apesar de saber como era
seu trabalho, dentro de si sempre se sentiu um monstro, um ser que não podia
amar, mas até isso Emily lhe tinha ensinado, foi vê-la e saber que dentro de seu
peito existia um músculo que não só servia para bombear sangue e mantê-lo vivo,
mas sim lhe dava esperanças ao mesmo tempo que conhecia o amor, por isso ela
tinha sido tão importante para sua vida e agora só ficava esse pequeno. Teria
bom homem, afastados do mundo, onde cada vez a corrupção estava acima da
por isso seu destino mais do que longe, seria uma regressão ao passado, um lugar
que sempre viu por fotografias e ao mesmo tempo invejou, uma ilha no meio do
Pacifico Sul aonde nem sequer suas águas eram cristalinas, mas a beleza de suas
Além de ser um homem novo seria responsável por outro ser e claro, desse
cão que também certamente amaria. Já não tinha nada mais que fazer, devia
partir, estava ansioso para começar de novo e já procuraria a forma de dizer a seu
filho que ele era seu pai. Isso sim lhe dava verdadeiro pavor, e se não o aceitava?
um homem adulto e ante essa incredulidade Jeff, antes que saísse pela porta,
disse-lhe:
— Mmmm, e por isso você disse a ele que Emily iria procurá-lo.
— E como você sabe disso? — exaltou-se soltando sua mão, inclusive seu
agente encoberto, mas te conheço muito e estou segura de que contou parte da
verdade ao Miko e não o fez com Misha porque não teve tempo — sorriu. — Vi a
— Annie, é que…
— Shhh, não diga nada, não seria o homem por quem me apaixonei se
tivesse agido diferente, mas agora acredito que temos assuntos mais importantes
— Sim — afirmou com a cabeça, apertando-a contra ele, — e não sei se será
— Fácil? Não, minha vida, será tudo, menos fácil, e se fosse você entraria
na sala com colete antibalas e… ah! Também deveria cobrir certas partes —
indicou apontando a seus genitais, — quero ter filhos algum dia, agente.
seria decisivo e difícil, mas já era hora, não era necessário esperar mais.
Depois de ter tomar o café da manhã, em que cada um quase nem tocou
seu prato, decidiram que já era o momento. Moveram uma prateleira que estava
Um quarto igual ao de um hospital, com uma cama com tudo o que se necessitava
no meio, e nela uma mulher conectada a um monitor que vigiava seu coração, um
soro que entrava pela veia de seu braço e uma máscara que lhe permitia respirar.
estava imersa em uma lembrança que aparecia uma e outra vez desde que tinha
visto os olhos obscurecidos de Misha, para logo sentir como uma faca entrava al
lado de seu estômago, deixando-a sem respiração. Sentiu novamente como perdia
a força de suas pernas e como, não contente por tê-la apunhalado, o russo… seu
russo a asfixiava, pondo dois dedos em sua traqueia. Lentamente sua respiração
concentrar-se para abrir seus olhos e ver seu filho pela última vez, mas o único
que pôde ver, e muito disperso, foi o reflexo do Jeff, que a sustentava entre seus
braços. Viu também como ele mesmo lhe voltava a fechar os olhos com suas
próprias mãos, até que finalmente tudo se esfumava e se voltava negro e assumia
dor? Onde estava? Tinha tentado abrir os olhos, mas em cada tentativa tinha
fracassado, acreditava também que alguém a sedava cada certo tempo, porque
quando começava a sentir desconforto, um novo líquido entrava por suas veias,
sem dor e a realidade que lhe dizia que com dor existia possibilidade, mas…
quem a estava retendo assim? Vadik a torturaria a seguir? Se era assim queria
viva tinha uma oportunidade para lutar por seu filho, seu suporte, e se lhe restava
vida, para se vingar do russo, que não só lhe tinha arrebatado o coração, também
— Ela despertará logo — falou Annie, acariciando seu rosto branco que
parecia inerte.
poltrona e tinha suas mãos dentro dos bolsos de sua calça, para dissimular seu
que… seria melhor se te visse. — Ele negou com a cabeça, sim, sentia-se covarde.
Ante a negativa de seu querido marido, Annie soube que teria que
quantidade convincente de sangue para qualquer que a visse, mas sem chegar a
assassiná-la. Jeff, por sua parte, quando tinha falado fora da caminhonete, tinha
lhe contado seu plano. Era arriscado, mas simples, Misha devia fazer o vor
acreditar que a tinha matado, para logo ir atrás dele, mas o que Jeff não contou a
ninguém foi a segunda parte de seu plano. Ele mesmo havia coberto a faca dela
dando a ilusão de uma morte. Assim todos acreditariam que Emily Claxon
haveria falecido e isso significaria que ninguém a buscaria jamais, seria livre para
começar uma nova vida. Tinha-o feito sem perguntar a ninguém, ele
simplesmente tinha tomado a decisão, acreditava que assim seria a única forma
de dar uma vida a sua amiga, uma que merecia para vivê-la junto ao russo,
porque ele sabia que, por muitos cães que comprasse, Misha era seu único amor.
Ele a salvou sem ter que revelar seu plano completo a ninguém, esta vez devia
atuar sozinho e fazer ao mundo acreditar que ela havia falecido. Por isso agora ela
estava nessa cama recuperando-se, e já era hora de que ela voltasse para mundo
dos vivos, e assim que se recuperasse ir em busca dos homens que significavam
Vê-la sumida nesse estado indefeso era dilacerador para ele, não suportava
mais olhá-la assim, sentia-se inútil por não poder fazer nada, embora soubesse
que a ferida estava sanando bem. Annie fez um trabalho incrível, depois que ele
mesmo assegurou a todos que estava morta. Como seu amigo mais próximo tinha
ordenado que ninguém a tocasse, que ele se encarregaria de tudo, para ninguém
era um segredo que ela e sua mulher eram grandes amigas, assim que a verdade é
que, com a situação que se suscitava, ninguém colocou objeção, inclusive Brad o
de levá-la para o hospital, levou-a direto até sua casa, onde junto a um amigo
médico a tinha curado. O desconhecido tinha jurado que jamais revelaria nada,
claro, também tinha sido um pouco coagido pelo Jeff, que jurou que o mataria se
falasse, mas agora já nada importava, só que despertasse de uma boa vez.
**************
nome, Emily começou a abrir suas pálpebras, sentia que tinha dormido por uma
eternidade. Olhou a seu redor e se assustou ao não reconhecer onde estava, mas
rapidamente viu sua boa amiga, que lhe dava de presente um maravilhoso
sorriso, para logo abraçá-la e beijá-la como se fosse a ultima vez que a abraçava na
vida. Ela tentou fazer o mesmo, mas não tinha forças nem para levantar a mão, e
isso a assustou.
era tal sua felicidade que não tinha medo de ser recriminado, agora o único que
importava é que tinha despertado. Beijou-a enquanto pedia perdão a ela, e é obvio
ela não entendia nada, apenas olhava para Annie, e quando pôde falar sussurrou:
— Miko…
momento voltou a reviver tudo em câmera lenta. Jeff, como psicólogo, soube
imediatamente o que acontecia e, embora lhe doesse, tinha que contar a verdade o
uma mão, enquanto Annie lhe dava um calmante para que não se estressasse
custou convencê-la, já sabia que devia estar tranquila, já que pelo resto a dor
algodão.
já não existe mais, e te asseguro que já me ocupei de tudo. Quando você estiver
Deus, claro que não tinha inteligência emocional! Agora faltava a segunda
parte, e tal como imaginou, assim que terminou de contar, reunindo toda a força
que pôde e aguentando a dor, deu um pequeno golpe em seu ombro. É obvio que
não doeu nada, mas para ela foi como se batesse nele com a força do Hulk.
Depois de oito longos dias, por fim Emily esteve mais recuperada e
tinha sofrido por seus pais. Ainda não podia ir buscá-los, devia seguir em
computador.
momento.
— Eu quero!!
Dois meses depois.
Logo depois que Jeff mostrou, mediante uma imagem via satélite tomada
por um drone, em que lugar se encontrava seu filho e o que estava fazendo, não
havia dia em que ela não os espiasse, sabia perfeitamente o que seus homens
duas horas ao dia, horas que é obvio eram muito bem utilizadas por Emily, que já
Cada dia que passava voltava a se apaixonar um pouco mais por seu russo,
e cada vez que pensava nele tocava as costas para recordá-lo. Ele, ao final, tinha
imediatamente, não podia ouvir o que falavam, e não porque não tentava, mas
porque era muito perigoso. Não podia fazer nada que chamasse a atenção de
alguma agência, e a NSA registrava tudo e mais, por isso eram tão cautelosos com
a informação.
meio da noite e, sem que ninguém percebesse, acessou ao computador. Sabia que
não os veria essa hora, já que só podia ver o exterior. Dirigiu o drone via satélite a
três mil e seiscentos metros de altura e sim, seu coração começou a bombear como
há muito que não fazia. Ali, a milhares de quilômetros de distância, seu russo, seu
homem, estava sentado olhando ao horizonte e, por uma fração de segundos, ele
olhou ao céu e foi como se ambos se conectassem quando ele levou a mão ao
Com lágrimas nos olhos subiu até onde seus amigos dormiam e acendeu a
luz abruptamente.
— Pronto, acabou! Não posso aguentar nem um só dia mais — ofegou pelo
esforço. Ela ainda não estava totalmente bem, — quero ir a Ilha de Páscoa
amanhã.
— O que? Mas você está louca? — gritou Annie cobrindo-se, ela dormia
chorar, — preciso ir com eles, Jeff. Terminarei de me recuperar lá. Ninguém está
quiser não sairei dessa casa em um ano, mas me ajude a voar até o Pacífico Sul…
— O que? Mas…
— Mas nada — o cortou sua mulher enérgica, — você não diz que é a
melhor? Pois agora vai nos demonstrar isso e amanhã conseguirá uma passagem
Emily não pensou duas vezes, e pensando no lugar ao que iria soltou:
— Ulani21
— Ulani?
sinto — reconheceu abraçando a ambos. Sem eles teria sido impossível suportar
amor dessas duas mulheres tão importantes em sua vida, — amanhã você viajará
à ilha, e você — continuou olhando para Annie, — pagará pela viagem de…
**************
21
Ulani: nome havaiano que significa alegre, animado.
Tal como sua amiga tinha prometido, agora ela viajava há mais de dezoito
horas, com escala de duas horas, literalmente ao fim do mundo, mas não se
tinha mudado em tão poucos anos, de ser uma agente infiltrada tinha passado a
ser oficial de polícia, e agora, depois de quase perder a vida, já nem sequer era
isso. Agora era uma mulher polinésia, com um futuro totalmente incerto e um
passado a apagar.
Fazia poucos meses só tinha um homem em sua vida pelo qual vivia e
algo claro é que o tinha enganado e da pior maneira, por isso agora novamente
embora tinha jurado a seus amigos que estava bem e que nada lhe doía, era
mentira.
sequer gostava do novo corte e tintura de cabelo, embora claro, isso apenas ela
acreditava, porque sabia que vários homens tinham ficado olhando ao entrar a
bordo, mas claro, quem não olhava a uma loira alta com cabelo curto marcando
tendência? Sim, até isso tinha mudado, sua aparência era outra, só esperava que
não chocasse muito ao seu filho e que Misha gostasse assim como estava.
assustou, contraiu o estômago e uma careta de dor apareceu em seu rosto, o que
mais lhe tinham recomendado era não contraí-lo e ela, desde fazia uma hora, não
podia relaxar-se, a isso somado que odiava voar. Mas aí estava… por eles e para
eles.
livro que falava da ilha, de seu idioma e de seus costumes, para ao menos assim
seu destino, vestiu um simples vestido branco que lhe chegava até o chão. Para
ela a cor significava muito, era uma mudança e um novo renascer, e assim queria
chegar à ilha.
Foi uma das primeiras em sair do aeroporto. Não levava bagagem, apenas
mas claramente a ilha não funcionava assim. Cada pessoa que chegava era
— Iorana22.
O menino quase se engasgou ao vê-la. Não era apenas seu porte, era
Como não falava bem ainda, tirou o livro para lhe mostrar um lugar. O
vendiam sucos. Claro, o homem era um pouco áspero, mas tinha grande êxito
com os turistas, sobretudo com as mulheres, e como não, agora bronzeado parecia
22
Iorana: palavra do idioma Rapa Nui que apresenta significados variando desde olá, bom dia e tchau.
Com os dentes apertados, percorreu estoica o caminho até “Praia Ovahe”,
uma das mais afastadas e virgens do lugar. Ao chegar, o primeiro em senti-lo foi
seu coração. Ao longe os viu, inclusive o menino a ajudou para não cair, e nem
sequer escutou quando lhe perguntou se necessitava ajuda. Ela, fiel a seu apelido,
O vento nessa praia aumentava, assim teve que segurar o chapéu com suas
inquieto. A noite anterior quase não tinha podido dormir, a lembrança de Emily
porque se sentia um completo idiota, inclusive seu filho assumia a perda como
um homem, nunca uma cara triste ou um pranto, justamente o contrário, era ele
quem lhe dava ânimos todas as noites e todas as manhãs. Ambos tinham-se
compenetrado de uma maneira sem igual e cada dia ele tentava ser melhor para
Marco, seu filho. Já tinham tido “a conversa”, não porque ele queria adiantar-se,
mas sim Marco, como se chamava agora, era muito inteligente. Uma noite em
frente ao mar parou diante dele e tinha perguntado, olhando-o aos olhos, se ele
era seu pai, com tanta segurança que Misha não foi capaz sequer de demorar a
Seu começo.
Vestido apenas com uma bermuda negra e uma camiseta sem mangas que
deixava ver todas as suas tatuagens, apoiado sobre a barra, ele olhava um grupo
de meninos jogar bola com seu filho na beira da praia, enquanto duas mulheres
sentadas muito perto não deixavam de comê-lo com o olhar, mas a ele nada
interessava.
Com seu olhar relaxado seguiu a bola que caiu ao mar e que, é obvio, o
valente de seu filho correu para buscar. Suspirou pensando em Emily ao mesmo
tempo que negava com a cabeça, não queria pensar mais nela, doía muito e só lhe
causava sofrimento. Tinha que acabar já. Com brutalidade colocou a mão sobre a
delicioso suco de abacaxi misturado com coco. Algo tinha que refrescá-lo, embora
fosse só sua garganta. Verteu-o em um copo e sem sequer saborear o bebeu, mas
todas as garotas. — Desculpem — falou zangado, mas foi aí, nesse preciso
momento, que seu coração se deteve, deixou de pulsar. Era uma soberana
estupidez, sabia, mas sua vista dirigiu-se para uma mulher que caminhava com
um vestido branco ao vento, segurando um chapéu que ameaçava voar. Até que
de repente aconteceu, o chapéu de palha voou direto para a água, deixando a uma
Pestanejou uma, duas e três vezes. O que acontecia a ele que não podia
deixar de olhá-la?
«Que merda…?!».
**************
Emily ouviu os gritos de alguns meninos que jogavam, e o viu. Seu filho
corria atrás da bola, sendo perseguido por vários pequenos mais, mas ele era o
vencedor. Curiosa seguiu-o com o olhar, não queria distrai-lo, não podia
Apesar de ter o cabelo curto, este caía desordenado sobre seu rosto. Era tanta a
vontade que tinha de correr e abraçá-lo que levou a mão ao peito para
não aguentou mais, seu coração simplesmente explodiu quando viu ao seu russo
caminhar com passos decididos para ela, mas sentiu que morria quando, sem
— Mamãe… mamãe…! — gritou seu pequeno. Seus pés não foram capazes
de avançar um só passo mais. Em frente tinha a ele e a sua direita ao seu filho,
**************
mulher loira de branco com grandes óculos de sol. Ele sim que parecia um
outros.
— Emily?
Enquanto corria pôde perceber que sim, sim era sua Emily e… viva! Pôde
vê-la com completa claridade, sua mulher estava com os “moais”. Parada,
olhando a ambos sem saber o que fazer ou como reagir, mas ele sim sabia, trocou
de direção até chegar ao seu filho e agarrá-lo em seus braços, para logo correr ao
seu encontro.
sobretudo, devolvia suas forças e confirmava que não a tinha matado. Quanto a
— Mamãe, já sei que ele não é seu amigo especial, que é o meu papai.
— Misha!
— Ele não se chama assim, seu nome é Alex e eu me chamo Marco — lhe
— E eu me chamo Ulani.
se pareciam.
— Não!
— Pois tampouco eu gosto dos seus nomes — disse enquanto outra lágrima
caía por seu rosto e em seguida, olhando para o céu, levantou sua mão, fazendo
Agora sim que tudo estava bem. Estava em casa e com os homens que
amava, agora sim começaria uma nova vida, e não só para ela, mas sim para os
três.
— Bom, Ulani, ou como quer se chamar, nós devemos ter uma conversa —
reconheceu Misha depois de beijá-la novamente nos lábios. Parecia uma abelha
grudada ao mel, e isso que até o Miko já havia voltado a jogar com seus amigos.
algumas horas e agora finalmente estava com eles, com o amor de sua vida e com
o mais maravilhoso que tinha, seu filho. E o que mais a deixava tranquila era que
esse pequeno estava bem apesar de tudo o que tinha acontecido… Sim, o pequeno
dormiu segurando sua mão, inclusive tinha jurado e voltado a prometer que eles
Por outro lado, olhando-a como se nada mais existisse no mundo e vendo a
cena como um mero espectador, estava Misha. Não se sentia alheio, mas sim com
Com sigilo se aproximou até sua mulher, porque uma coisa sim estava
que a chamava assim, por seu nome verdadeiro. Já não era Ira, era simplesmente
ela. — Acredito que agora por fim, depois de tantos anos, é tempo de falar. Eu
tenho e você tem muitas coisas que me dizer, sei que algumas serão mais difíceis
que outras, mas eu estou aqui, no fim do mundo, por e para você.
— Eu… não sei por onde começar — disse olhando ao Miko, que dormia
— Pelo começo —ajudou olhando-a com tanta intensidade que ela tremeu,
distância, ao menos com uma mesa entre eles. Mas claro, estava muito
que antes jamais tinha pronunciado. Emily queria afastar-se e ele não só sabia,
mas sim o sentia. — Passei quatro anos te buscando, nunca te esqueci. Quatro
anos tentando entender o que tinha acontecido, como tinha desaparecido e por
vulnerável. Frente a ela não estava o russo que todos temiam, tinha a um homem
demorando uns segundos, não porque não o sentisse assim, mas sim porque
Deus, ele ia ficar louco, não só pelo que tinha escutado, mas sim porque
tinha uma vontade incrível de beijá-la, tê-la entre seus braços e fazê-la esquecer
todo o sofrimento que via em seus olhos. Maldita seja, devia acalmar-se e ser o
homem que ela necessitava, não um brutamontes que, além de tudo, queria fazê-
la sua uma e outra vez até que nenhum dos dois tivesse fôlego.
exames no mesmo dia porque…— Uma lágrima percorreu seu rosto, essa maldita
verdade ainda lhe doía muito. Um nó obstruiu sua garganta, levou a mão ao peito
para respirar e ele a olhou aniquilado, impressionado, ela era muito forte.
o que senti sempre por você. Me dê a possibilidade de formar parte de sua vida,
mas por favor, não volte a me abandonar, você é para mim o complemento que
— Não chore, porque você parte meu coração. Se alguém te fizer mal, a
Emily estava muito exposta, muito sensível, muito feliz, muito tudo… e
cadeira para seu colo. Necessitava seu contato e já não queria reprimir-se mais. —
Quero que nossa vida juntos comece hoje. Somos três nesta ilha e te juro que nada
vai acontecer conosco. Não fica nenhum registro sobre nós e Markov não existe
— Misha…
melhor, dizendo, muito a sua maneira. — Sei tudo o que fui no passado: um
assassino, um ladrão, um traficante e muitas coisas mais. Fui juiz e carrasco, deus
inclusive eu gostaria de repeti-las. Também sei o que sou hoje, e eu gosto, sei o
que serei no futuro porque tenho a você e ao meu filho e sei o que não tenho que
fazer, porque esse pequeno, que dorme calmamente, necessita de pais que o
protejam, que o amem, principalmente que o cuidem, porque tanto você como eu
sabemos que o que se vive lá fora não é sempre maravilhoso. — Voltou a limpar
uma lágrima dela. — Mas para isso estamos, para entregar a ele ferramentas
sólidas para enfrentar, juntos você e eu. Porque o que passamos nos ensinou a
sobreviver, mas agora é tempo de viver. — Olhou em seus olhos e colocou ambas
as mãos ao redor de sua cara para que não desviasse sua vista. — Não me importa
nada do que tenha sido antes, quero escutar o que você queira me dizer e essa
será minha verdade. O que aconteceu há quatro anos será um segredo até que
forma, o como…, mas se não quiser ou não se sentir preparada jamais, não
importa. E não me importa não porque não me interessa, mas sim porque eu amo
você, Emily Claxon. Te amei como Ira, sabendo tudo o que significava, e te amo
agora, à mulher, à garota superpoderosa que foi capaz de trair seus valores por
um rato como eu, sem saber quem era realmente. Minha lealdade, minha devoção
e minha vida estão para te servir hoje, amanhã e sempre. Se me diz salta, eu o
farei, e sabe por quê? — Ela negou com a cabeça. — Porque confio em você que é
minha dona desde o dia em que te conheci. Quero passar o resto de vida que
tenho ao seu lado. Sei que não sou um santo e que você tampouco é a Madre
Teresa, mas sim sei que juntos seremos pessoas melhores, porque não estamos
— Se não conto a bola de pelos, meu filho me mata. Tive ciúmes dele pelo
carinho que você tinha por ele, tenho ciúmes por como Miko olha para ele, assim
nós.
— Misha!
olhos umedecidos, — mas sim quero ser uma pessoa melhor para você e fazer as
não sei a quem ele puxou — sorriu — mas o que sim quero te dizer, porque não
quero mentir para você nunca mais, é que Jeff me pagará por isso.
— Mas o único que te salvará de hoje em diante serei eu, e me importa uma
merda que Brad seja um puto Delta Force, estou seguro que mesmo assim posso
vencê-lo.
— Misha!
— O que? Só te digo a verdade, ninguém toca o que é meu, e sim, soa
neandertal, mas é o que sinto. Te amo mais do que você possa imaginar e não
haverá um dia que você não se sinta amada por este bruto que está seguro que
irrompendo tudo uma lágrima caiu pela bochecha da Misha, lhe entregando não
só seu corpo a essa mulher, mas também sua alma. Sentiu-se em paz, pleno, assim
como nunca pensou que sentiria. Há apenas algumas horas acreditava que tinha
perdido a felicidade, que só respirava por seu filho, e agora, como se tudo fosse
um sonho, estava com a mulher que era dona disso que se chamava coração, e
que só há muito pouco sabia que existia não só para bombear sangue.
esse amor verdadeiro que todo ser humano queria experimentar. E o aproveitaria
Sempre que se propunha algo na vida, ele era o melhor, e aqui ele
novamente seria e esperava que fosse eterno, porque Emily Claxon era seu
verdadeiro amor.
— Não posso esperar mais para tê-la. E posso garantir que esperava ser
quarto. Dava igual a cama que os esperava, para ele bastavam seus braços para
resto. Seu vestido branco ficou à altura da cintura e se aferrou a esse traseiro que
tanto gostava, e que tinha sentido tanta falta! Emily envolveu suas pernas ao
redor de sua cintura e deixou de pensar. Apenas se deixou levar, rendendo-se
ante ele.
demonstrando a ele todas suas emoções, enquanto ele, com a mandíbula apertada
Fim.