Você está na página 1de 579

AVISOS

Para quem leu a série Fratelli, este livro se passa depois do último

livro: ANJO ENCONTRADO.

Este é um livro que retrata a violência em todos os níveis, então

se você é sensível a cenas fortes, ele não é recomendado para

você.

Boa leitura!
SINOPSE
Um homem mau. Era assim que Oliver se intitulava.

Como ex-militar e Sargento de armas do moto clube Lobos, ele estava

acostumado a lidar com situações extremas. No entanto, nada o preparou

para um acontecimento inusitado... O motoqueiro não estava preparado

para, numa missão, conhecer Linda, uma garota tão assombrada quanto ele.

Todavia, Oliver, que sempre se considerou um demônio, sentiu em

sua pele a necessidade de protegê-la, e isso acabaria se tornando perigoso

quando as descobertas sobre o passado da garota colocassem em xeque os

novos sentimentos dos dois.

Um passado perturbador. Um presente destruidor.

Oliver não estava disposto a abdicar da melhor coisa que lhe

aconteceu, e lutaria com todas as suas forças para manter sua garota segura.

Linda se tornou não somente sua protegida, mas também seu anjo.
Seu pequeno Querubim.
Sumário
AVISOS

SINOPSE

PRÓLOGO

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9

Capítulo 10

Capítulo 11

Capítulo 12

Capítulo 13

Capítulo 14

Capítulo 15

Capítulo 16
Capítulo 17

Capítulo 18

Capítulo 19

Capítulo 20

Capítulo 21

Capítulo 22

Capítulo 23

Capítulo 24

Capítulo 25

Capítulo 26

Capítulo 27

Capítulo 28

Capítulo 29

Capítulo 30

Capítulo 31

Capítulo 32

Epílogo

OBSTINADA — Livro 3

Prólogo

Ethan
PRÓLOGO

Oliver

“O sol castigava a pele do meu rosto conforme eu me permitia um

pouco de descanso... ao menos alguns minutos longe de toda tensão. Com a

cabeça recostada contra uma árvore, deixei minha respiração sair calma e

serena; eu sentia o cansaço em cada músculo do meu corpo. Não havia

pausa. Era adrenalina quase, vinte e quatro horas por dia.

Às vezes, eu me perguntava o que estava fazendo ali, o que me levou

a aceitar aquela maldita missão. Tanto tempo naquela merda e tudo o que

eu via eram mortes, sangue, mortes, sangue...


Respirei fundo, sentindo o cansaço em cada um dos meus poros. O

peso da arma em minhas mãos, não era nada se comparado a dor e a culpa

que habitavam em meu coração e mente devido a todo terror que presenciei

ao longo dos anos.

Um barulho perto de onde eu estava descansando me fez sobressaltar,

apontando meu fuzil em direção ao som de um traçante no ar. O olhar

assustado que recebi do grupo de crianças e da garota que os liderava fez

eu me sentir derrotado. Eu nunca me acostumaria com aquele tipo de olhar,

como se eu fosse a única chance de sobrevivência deles.

E isso de certa forma me causava remorso, dor e culpa... eu odiava

não ter domínio de todas as coisas ao meu redor, odiava não poder fazer

mais do que estava em minhas mãos para fazer. Costumava questionar a

Deus a respeito de tudo isso, sobre o motivo de Ele permitir tamanha dor e

sofrimento... por quê? Por que permitir tanta violência?

Naquele momento, eu entendi... entendi que as pessoas nasciam para

sofrer. Apenas isso.”


Anos mais tarde

Eu já estava em minha moto quando observei a despedida dramática

entre Daniel e Adela. Não que eu julgasse que fosse algo exagerado, longe

disso, mas eu não conseguia entender a necessidade o qual ambos tinham

um do outro. Houve um tempo em que tive dificuldade de aceitar essa

garota como uma de nós pelo fato de ela ser impulsiva demais, o que era

perigoso para nosso líder. Daniel não precisava de uma mulher tão

explosiva quanto ele para governar. O equilíbrio era necessário.

— Nós vamos trazê-la de volta. — O ouvi dizer para Adela,

referindo-se a Kate.

Kate era uma de nossas garotas, dançarinas do Clube. Porém, ela

sumiu há alguns meses, e sem deixar rastros. Até que alguém entrou em

contato com Adela para contar que Kate estava sendo submetida a coisas

terríveis dentro de uma organização esquisita a qual foi vítima após ter sido

enganada. A mulher, cuja identidade não fora revelada, não entrou em


detalhes, mas contou que o lugar era uma espécie de seita e que tinha um

homem como líder, e mentor.

Joshua e Ethan também estavam a postos, aguardando a saída do

Daniel, considerando que tínhamos de seguir a hierarquia na estrada.

Para aquela missão iríamos precisar de toda ajuda possível, inclusive

dos irmãos Fratelli. Embora o plano de resgate estivesse acontecendo

justamente no dia da formatura da irmã deles, no México, o que não os

permitiria estarem presentes conosco. Entretanto, eles nos enviaram o

caçador, um dos seus melhores homens. Apesar de Ryan não se denominar

membro de nenhuma organização.

Assim que saímos do Clube, paramos logo a frente quando Daniel

recebeu uma ligação.

— Estamos saindo daqui agora — disse ele. Certamente era o Ryan,

pois o caçador estava servindo como interceptador para nossa invasão. —

Chegaremos dentro de alguns minutos. — Verificou o próprio relógio de

pulso. Depois, arrastou os olhos para nosso grupo. Justin, Joe e Colin
também participariam da missão, e isso, talvez, selaria a permanência deles,

no clube, como membros consolidados, considerando que ainda estavam

com colete de MEIO ESCUDO. — Levarei um grupo grande, minha

alcateia dará conta, Ryan. — Sorriu abertamente. Na verdade, todos nós

sorrimos, um sorriso de ânsia, e uma ânsia de destruição e dor..., sangue e

morte.

Depois de alguns minutos, encerrou a ligação e nos encarou com

determinação.

— O local está limpo — decretou. — Não há nenhum sinal de que

estejam sabendo que estamos indo. Pegaremos todos de surpresa.

Travei o maxilar, levando a mão ao acelerador. O barulho não pareceu

abafar os gritos dos meus monstros internos que se atropelavam entre si,

ansiando para sair. Eles queriam brincar.

A fazenda em que estávamos possuía uma vasta área de terras, situada

em uma zona mais rural da cidade, quase deserta. Não havia nenhuma
placa, nenhum indicativo de que naquele lugar teria alguma atividade de

agricultura ou pecuária.

Em meio ao milharal seco, Ryan surgiu, com uma pistola nas mãos. O

homem era uma incógnita para mim desde que o conheci, mas eu não

ousava perguntar nada. Eu sabia que cada um de nós possuía marcas e

traumas do passado, e estes, geralmente deveriam se manter escondidos.

— Chegaram rápido — declarou ele, se aproximando e apertando a

mão do Daniel em um cumprimento.

Ambos descemos das nossas motos conforme Ryan começava a

narrar todos os detalhes do que descobriu, e que facilitaria nossa invasão.

Charles Brown era dono de uma organização que visava, por uma

pseudofilosofia ajudar as pessoas a alcançarem o sucesso profissional e

mental, entretanto, isso não passava de uma fachada para encobrir uma seita

sexual. Segundo as informações que adquirimos ao longo das últimas

semanas, o lado obscuro era a porra de uma irmandade secreta que

escravizava sexualmente suas integrantes. Conforme o relatório adquirido,


uma vez recrutadas, as vítimas eram obrigadas a realizar tarefas domésticas

para o Charles e ter relações sexuais com ele, que era conhecido por

“mestre”.

Apenas pensar nisso já era suficiente para efervescer meu sangue nas

veias.

— Vamos nos separar — avisou Daniel, minutos depois. — Oliver,

Ethan e esse grupo sigam para o celeiro que é onde as garotas estão sendo

mantidas. — Gesticulou. — Eu, Josh, Ryan e os demais iremos para o

casarão. — Seus olhos brilharam, enquanto engatilhava a arma. — Depois,

se quiserem, poderão se juntar a nós.

Me aproximei dele, apertando sua mão e colando nossas testas.

— Guarde alguns para mim — pedi, recebendo seu sorriso em troca.

Não fizemos o uivo, o som característico do grupo, pois isso poderia

avisar sobre nossa chegada ali e arriscaria o plano.

Então, nós somente seguimos o combinado e iniciamos a invasão.


A pouca iluminação favoreceu para avançarmos pelo caminho sem

sermos vistos. Ethan e eu fizemos sinal, em seguida, separamos o grupo de

modo a cercar o local. Os dois homens que faziam a segurança no celeiro

foram mortos com um corte nas gargantas, de modo a não causar alarde.

Assim que tivemos certeza de que a barra estava limpa, entramos no

celeiro. Por um momento, prendi a respiração quando meus olhos se

depararam com umas dez garotas, todas elas, presas por correntes.

— Kate! — Pisquei quando ouvi a voz do Ethan. Ele correu para a

garota num canto mais afastado.

Meu coração batia descompassado, mas me obriguei a manter o foco

e concentração ali, somente ali.

— Atirem contra as correntes — ditei aos demais, já que não

tínhamos as chaves. — Vamos tirar essas garotas daqui.

Nesse momento, Kate se jogou nos braços do Ethan, chorando. Aliás,

ela não era a única a estar chorando ali.


Na porta, atento a tudo ao nosso redor, comecei a gesticular para as

garotas seguirem na direção indicada, amparada pelos nossos. Quando Kate

se aproximou de mim, seus olhos chorosos me desarmaram por completo.

Eu odiava ver mulher chorando.

A amparei quando se jogou em meus braços, apertando meu pescoço.

— Obrigada por virem me salvar — choramingou em meu ouvido,

estremecendo-me.

— Você é uma de nós, garota — soprei, acariciando suas costas. —

Jamais a deixaríamos.

Ethan e eu nos olhamos no instante em que começamos a ouvir uma

saraivada de balas. Certamente quando Daniel e o restante dos homens

invadiram o casarão.

— Temos de sair daqui — avisei a Kate, que se sobressaltou sob

minhas mãos.

Ao contrário do que imaginei, Kate me puxou para o lado oposto do

que eu queria seguir.


— Kate...

Ela me encarou com aqueles olhos úmidos e preocupados.

— Minha amiga está lá — apontou para um enorme pé de caixa

d’água logo adiante. — Por favor, não podemos deixá-la. Ela não tem

ninguém.

Assenti com a cabeça.

Ethan e eu começamos a segui-la até chegarmos ao pé da caixa

d’água. Eu não quis acreditar quando me deparei com uma garota ali,

amordaçada e acorrentada como se fosse um animal selvagem. Os cabelos

loiros caíam em seus ombros enquanto ela se esforçava para se manter em

uma posição confortável, se é que isso era possível.

Ódio tomou conta das minhas entranhas quando a realidade daquela

cena recaiu sobre mim com um peso que arrancou meu ar. A garota de

olhos verdes, quase límpidos, me encarou com um olhar que eu odiava;

odiava, porque isso me remetia a lembranças que eu lutava para esquecer.

Um olhar de súplica.
Com mãos trêmulas, me aproximei da garota e puxei a mordaça dos

seus lábios delicados, que estavam sangrando um pouco. Por um segundo, a

beleza dela e a intensidade do seu olhar me mantiveram refém. Eu sabia que

Ethan e Kate estavam falando algo atrás de mim, mas eu não conseguia

desviar minha atenção daquela garota.

— Como é seu nome? — perguntei com voz estrangulada.

— Linda — respondeu ela, com uma voz que mais parecia o próprio

som da paz. Os olhos logo brilharam com lágrimas.

Eu não conseguia pensar em nome melhor para ela, ao menos não em

um que fazia jus a sua beleza estonteante.

Abri a boca para falar, mas um disparo de bala perto de nós me fez

piscar de susto.

— Puta merda! — Ethan exclamou, agindo rapidamente. Em seguida,

revidou o disparo acertando em um homem que surgira do nada.

Ao olhar para o lado, percebi o corpo da Kate ensanguentado.

— Porra! — praguejei, rangendo os dentes.


A garota ainda presa começou a chorar um pouco mais quando notou

que sua amiga fora ferida.

Ethan pegou Kate nos braços, praguejando também.

Nervoso, me coloquei de pé num rompante.

— Tampe os ouvidos e olhe para o outro lado, querida — avisei,

apontando a pistola contra as correntes que a aprisionavam.

O disparo foi certeiro.

Em seguida, a peguei nos meus braços quando percebi que ela não

conseguiria caminhar devido à fraqueza nas pernas.

— Meu... cordão... — gaguejou aos meus ouvidos, nervosamente,

enquanto massageava o próprio pescoço a procura do objeto. A senti

desesperada, conforme se debatia em meus braços. — Por favor... ele deve

ter caído. — Apontou para o chão em que esteve há poucos minutos.

Com ela ainda em meus braços, retornei alguns passos e varri os

olhos pelo chão, mesmo que cada centímetro do meu corpo me ordenasse

para nos tirar dali o quanto antes.


Assim que vi o objeto, me abaixei sem qualquer dificuldade e peguei

o cordão. Franzi o cenho quando meus dedos se fecharam no pingente de

coração partido.

— Aqui. — Entreguei a ela, que tremia em meu colo.

— O-obrigada — murmurou, com a voz embargada. — Ele é...

importante, porque — engoliu em seco — ganhei... do meu pai — explicou

ela, aos prantos, me deixando pensativo, pois a tal prima desaparecida do

Daniel, há anos, aparentemente possuía um cordão igual aquele.

Todavia, decidi não dar atenção a isso e caminhei com ela em meus

braços, sendo devorado por uma miríade de sentimentos e sensações.

À medida que eu avançava os passos, Linda me abraçava mais e mais

apertado, como se estivesse com medo de eu desaparecer. Como se eu fosse

seu único fôlego de vida.

E mesmo eu não querendo... mesmo eu me esforçando para ignorar,

aquele instinto protetor... aquele que, foi há muito esquecido surgiu com

força total. Aquela garota em meus braços, vulnerável, ferida e


traumatizada se tornaria minha protegida pelo tempo que ela quisesse, pelo

tempo que ela precisasse.


Capítulo 1

Oliver

Naquele momento, eu estava perdido em tantos pensamentos que me

sentia incapaz de raciocinar com clareza a respeito de tudo o que acontecia

ao meu redor, fora da bolha que, inconscientemente, conjurei desde que

resgatei Linda e a escondi em meus braços. E esse era um sentimento

estranho, visto que a garota era uma completa desconhecida, assim como

todas as outras que conseguimos resgatar.

Nunca me considerei um homem romântico, do tipo que faz as

garotas se apaixonarem com facilidade. No máximo, as putas se


apaixonavam pelo sexo duro que encontravam na minha cama. Eu não

falava nada. Não beijava.

Era somente uma foda crua e carnal.

Entretanto, ali, com meus dedos entrelaçados aos daquela garota que

se assemelhava a um anjo de tão linda, meu coração parecia bater num

ritmo diferente. E eu acreditava que perdera a capacidade de sentir esse tipo

de sentimento por outra pessoa além dos meus irmãos do clube.

Fixei meus olhos em nossas mãos unidas; Linda se recusou a me

soltar desde que saímos daquele lugar, há algumas horas. Era como se ela

tivesse depositado em mim sua única chance de vida, de confiança e de

sobrevivência.

Outra vez aquele mesmo olhar...

Uma batida suave na porta me despertou dos meus pensamentos

dispersos e me obrigou a olhar a tempo de ver o Ethan. Sua expressão

sombria me dizia que a notícia era ruim, muito ruim.


Ameacei me levantar, deslizando meus dedos para longe da mão da

Linda, mas isso a despertou. Sua cabeça tombou para meu lado e seus olhos

temeram meu afastamento.

— Por favor, não vá — implorou, com a voz tão cheia de desespero

que me causou dor.

Estávamos na clínica paga pelo clube, com médicos e enfermeiros

que trabalhavam sem fazer perguntas desnecessárias. Linda já fora atendida,

mas ainda precisava fazer mais exames para descartar ferimentos internos.

Eu conseguia notar o quanto ela estava desnorteada, acordando e

desmaiando com frequência desde que chegamos ali.

Apertei sua mão com as minhas, querendo passar uma tranquilidade

que estava longe de sentir.

— Prometo que não vou longe, pequeno Querubim — soprei, fixando

em seus lindos olhos verdes. Não havia melhor forma de me referir a ela do

que como um anjo. — Estarei apenas no corredor — apontei. — Mas logo


voltarei para você — garanti, ansioso para arrancar aquele terror presente

em seu rosto. Definitivamente não combinava com sua beleza.

Levou o olhar para a porta, onde eu havia apontado; vi a desconfiança

brilhando em sua expressão. Enxergar sua vulnerabilidade me causou ainda

mais raiva daquela maldita seita a qual ela fora submetida sabe-se lá por

quanto tempo. Me obriguei a me controlar para não expor minha fúria

naquele momento, pois não seria bom deixá-la ainda mais assustada.

Relutantemente, ela afrouxou o aperto em minha mão e me soltou,

gemendo ao se encolher na cama hospitalar. Uma sensação de vazio me

tomou, mas ignorei enquanto me afastava e seguia para fora do quarto.

Ethan me encarava com a testa franzida, cruzando os braços. Encostei

a porta para que Linda não pudesse ouvir a conversa.

— Pequeno Querubim? — Arqueou as sobrancelhas, com ar cínico.

— É sério isso? — Os lábios estavam espremidos como se estivesse se

controlando muito para não rir. — Por acaso se apaixonou pela vadia?
Rangi os dentes na mesma hora, rumando em sua direção e o

agarrando pela jaqueta. A fúria fazia meus músculos pulsarem

freneticamente, provocando uma pequena dança em minha pele.

— Fale dela dessa maneira desrespeitosa de novo que juro que vou

quebrar todos os seus dentes — rugi em sua cara debochada.

Erguendo as mãos, o idiota continuou rindo, mas optou por não

comentar nada.

Mesmo que o desejo de socá-lo continuasse vibrando em cada fibra

do meu ser, consegui me afastar. Todo meu corpo tremia.

Não quis pensar muito na minha estranha reação.

— Quais as novidades? — perguntei, inspirando o ar enquanto

esfregava meu rosto. — Como está Kate?

Ethan não respondeu de imediato.

— Morta!

Minha cabeça virou tão depressa em sua direção que senti meu

pescoço estalar.
— O quê? — Pisquei, chocado. — Morta? Mas que porra! — Soquei

a parede em minha frente, bem no momento que uma enfermeira passava

por ali. A coitada deu um gritinho de susto, e acelerou os passos para sair de

perto quanto antes. — Os outros já sabem?

Ethan suspirou, se escorando na parede. Parecia tão irritado quanto

eu. Era uma mistura de raiva e frustração, na verdade.

— Não — respondeu, sacudindo a cabeça. — Daniel ainda está com

Ryan na fazenda, terminando com toda aquela merda. Joshua e os recrutas

estão resolvendo o que fazer com as garotas resgatadas; a maioria já foi

(entregue) as suas famílias. — Arqueei as sobrancelhas diante disso, então

Ethan acrescentou: — Mas de um jeito que não comprometa o clube, claro

— explicou. — A porra da bala a atingiu no coração, Oliver — exasperou-

se, sacudindo a cabeça, quando voltou a falar da Kate. — A vadia até lutou

pela vida, mas não teve nenhuma chance. Aqueles filhos da puta, doentes...

Eu estava desnorteado, tentando clarear minha mente. Não era tão

próximo da Kate, mas foi impossível não me sensibilizar com o fim que a
garota teve. Ela não merecia uma morte assim.

De repente, fomos interrompidos pelo toque do meu celular.

— Prez. — Atendi, esbaforido. — Quais as novidades?

— Não pegamos o líder desse caralho! — rosnou Daniel, tão

frustrado que sua fúria parecia evaporar através da linha. — Ao que parece

estavam apenas os discípulos, embora não tenhamos certeza se pegamos

todos. — Bufou. — Como as informações que reunimos diziam, essa porra

parece ser uma organização gigante, Oliver.

Pressionei dois dedos em minha têmpora, obrigando meu espírito a se

acalmar. Aquilo era tudo muito fodido.

— E a Kate? — quis saber ele.

— Não aguentou — respondi, pesaroso, ouvindo seu praguejar do

outro lado da linha. — Um tiro no peito. Não deu tempo de protegê-la.

— Que caralho, Oliver! — exclamou em revolta.

— Quando pretende sair daí? — perguntei, com olhos baixos. —

Melhor não arriscar que os federais apareçam, Prez, pois nem todos estão
em nossa folha de pagamento — lembrei, preocupado. — Ethan e eu

estamos com uma das garotas resgatadas aqui na clínica. Mas acredito que

logo poderemos voltar ao clube e...

De repente, fui cutucado pelo Ethan, que apontou para a porta do

quarto em que Linda estava. Não acreditei quando visualizei a frágil garota

se arrastando para fora, tão assustada quanto uma corsa fugindo do seu

predador.

— Preciso desligar agora, Prez — resmunguei rapidamente, sentindo

cada um dos meus músculos, tensos. — Mas qualquer coisa, Ethan está aqui

comigo.

Mal terminei de falar e já desliguei, rumando em direção a Linda, que

se esforçava para caminhar, apressada, mas falhava miseravelmente visto

que seus tornozelos estavam com cortes profundos devido às correntes em

que esteve presa.

— Ei, aonde vai? — soprei a pergunta, me colocando em sua frente

como uma barreira. Seus olhos se chocaram com os meus e visualizei


alívio, apesar do pavor espreitando seu olhar. — Você não pode sair, baby.

Seus lábios rosados começaram a tremer pelo seu esforço em não

chorar. Na verdade, todo seu corpo estava tremendo violentamente, e fui

rápido o bastante para ampará-la antes que ela caísse no chão quando suas

pernas amoleceram. Novamente senti aquela sensação esquisita por tê-la em

meu calor, escondida em meus braços.

Seu perfume natural entranhou em minhas narinas, e um forte instinto

de posse me abateu, deixando-me um pouco desnorteado. Ignorei o olhar

curioso do Ethan sobre mim e caminhei com Linda de volta ao quarto, onde

a depositei na cama.

Trinquei os dentes quando percebi sua extrema magreza; a coitada

parecia que não comia há dias.

Desesperada, sua mão buscou pela minha, entrelaçando nossos dedos

como antes. Algo em meu peito estalou. Fiquei sem fôlego pela intensidade

de como ela me olhava.


— Estou com medo — soprou, estremecendo. — Eles vêm atrás de

mim.

Meu corpo tencionou com essa possibilidade.

Cobri nossas mãos unidas com minha outra mão, apertando

levemente.

— Eu protejo você — declarei em tom de promessa. — Confie em

mim, pequeno Querubim.

Visualizei seus olhos se fechando, talvez pelo cansaço. Observei

manchas de sangue em seu corpo todo, sobretudo, na mão, onde ela

arrancou o acesso venoso quando decidiu sair andando.

— Promete? — soprou num silvo, de olhos fechados.

Respirei fundo.

— Eu prometo.

— Ainda não sei seu nome — sussurrou com a voz distante.

— Oliver — respondi. — Eu me chamo Oliver.


Puxei a cadeira em que estava sentado antes, e inclinei meu corpo

para mais perto da cama. Foi impossível desviar os olhos do rosto feminino,

que mesmo com tantos cortes ainda continuava lindo, angelical. Os cabelos

loiros estavam espalhados por seu torso, então me atrevi a deslizar os fios

para trás de modo a continuar tendo acesso à visão perfeita de seus traços.

O vestido, que mais parecia um farrapo, estava rasgado em diversos pontos,

deixando boa parte de sua pele alva e delicada a mostra, dando muito para

minha imaginação.

Senti-me a porra de um doente pelos pensamentos luxuriosos que

invadiram minha mente pecaminosa naquele momento, apenas pela

inspeção em seu corpo, que mais parecia uma perdição.

Retornei o olhar para seu rosto atormentado, mesmo em meio ao

sono, e senti, lá no fundo do meu ser que jamais a deixaria.

Linda não fazia ideia do que havia despertado em mim... Aliás, nem

eu mesmo sabia.
Capítulo 2

Oliver

Algumas horas se passaram até que Linda fosse liberada pelo médico.

Eu não saí de perto dela em nenhum momento, embora minha inquietação

pelo que pudesse estar acontecendo fora daquela clínica estivesse a um

nível quase insuportável. Como Sargento de armas do Daniel, meu lugar era

ao lado dele em todos os negócios do clube, então estar ali, de mãos atadas,

me deixava de péssimo humor.

— Pretende levar essa garota para o clube? — Ethan quis saber,

quando desceu da caminhonete em que trouxe para a clínica. — Ela


provavelmente deve ter família, Oliver, alguém esperando em algum lugar

— mencionou.

Travei o maxilar, retornando para o ambiente hospitalar.

— No momento, sou a única pessoa que ela tem — resmunguei, sem

deixar brechas para comentários. De repente, parei de caminhar

abruptamente e, me virei para ele, que me seguia de perto. Seus olhos

semicerraram com algo que viu em meu olhar. — Alguém já pegou minha

Harley? — perguntei, pois, horas antes, nós tivemos que sair daquela

maldita fazenda com a caminhonete para poder levar Linda e Kate ao

pronto-socorro.

— Sim, — respondeu. — Inclusive, Daniel e os outros já saíram de lá

e estão a caminho do clube. — Verificou algo em seu celular. — Vou indo

na frente para deixar você com a va... — ele se calou quando ouviu meu

ranger de dentes — a garota — concluiu, corrigindo o pensamento. O

sorriso cínico em seus lábios me irritou tanto que tive que me segurar para

não o socar.
Erguendo as mãos, ele começou a se afastar, sem me dar as costas,

como se estivesse com medo do que eu pudesse fazer.

Depois disso, ranzinza, caminhei até o quarto. Logo, me deparei com

Linda sentada sobre a cama, com um semblante tão assustado que me

deixou pesaroso. Quando seus olhos encontraram os meus, atentos, percebi

a umidade de lágrimas, embora ela não estivesse chorando. Doeu enxergar

aquela escuridão em seu belo rosto.

— Precisamos ir — avisei, me aproximando com cautela. Parei em

sua frente, analisando suas reações. Sua fragilidade e vulnerabilidade me

desmontavam por completo. — Imagino que não tenha ninguém esperando

por você, então gostaria de levá-la comigo, com meus amigos.

Não que eu quisesse ficar longe dela, mas precisava deixar claro que

ela não estava presa a mim; que sua liberdade estava garantida se assim

desejasse.

Piscando, olhou para baixo, para as próprias mãos em seu colo, tão

delicadas que minha sensação ao senti-las era de que estava sendo tocado
por plumas.

Observei quando ela levou a mão direita ao cordão em seu pescoço,

pensativa.

— Eu gostaria de ir com você — soprou, então ergueu o rosto para

mim. Lambeu os lábios rosados fazendo-me ranger os dentes pela reação

que esse simples gesto causou em meu corpo. Senti-me um filho da puta

tarado pelos meus pensamentos libidinosos. — Não tenho ninguém. —

Franziu o cenho, o que a deixou ainda mais adorável. — Você é o único,

Oliver.

Meu nome saindo de seus lábios daquela maneira, tão firme e

confiante piorou meu estado de excitação. Assenti, esforçando-me a

expulsar aquele calor doentio que invadiu cada centímetro de pele existente

em mim, e desviei os olhos. Continuar olhando para ela só servia para

dificultar a porcaria do meu autocontrole.

Eu era a porra de um tarado!


— Então vamos — falei com a voz estrangulada. Caminhei até a

porta, mas sua voz me forçou a parar.

— Será que você poderia... — se calou, com as bochechas

ruborizadas — me carregar? Sinto-me tão enfraquecida das pernas que

tenho medo de cair. — Voltou a olhar para suas mãos, nitidamente

envergonhada pelo pedido que fez.

Inspirando e expirando, engoli em seco, consciente da tortura que era

tê-la em meus braços, aconchegada ao meu calor.

Retornei para perto de onde ela estava, sem conseguir parar de reparar

em cada detalhe de sua beleza. A garota não fazia ideia do quão linda era.

Realmente parecia um anjo.

Quando me inclinei, com um braço em suas costas e outro logo

abaixo, na dobra das suas pernas, a ajeitei em meu colo. Não pesava nada.

Mordendo os lábios, me encarou de perto.

— Me... perdoe — sussurrou, logo pressionando o rosto em meu

peito, provavelmente ouviria os batimentos acelerados do meu coração.


Linda segurou minha jaqueta com tanta força, que parecia estar com medo

de eu desaparecer a qualquer momento. — Não queria estar te dando

trabalho.

Tentei falar que aquilo não era trabalho nenhum, que eu me sentia

bem em estar cuidando dela, mas minha garganta se fechou de uma maneira

que a voz não saiu.

Assim que parei em frente ao portão eletrônico do clube, logo tive

meu acesso liberado. Nos últimos anos, Daniel reforçou a segurança do

complexo, além de ter mandado construir um prédio isolado para uso

exclusivo dos membros da diretoria. Embora, eu preferisse ficar em minha

casa na maioria das vezes, fora do agrupamento.

Estacionei a caminhonete no espaço aberto e, em seguida, dei a volta

no veículo e abri a porta do passageiro, me deparando com a tensão visível

nos olhos e corpo de Linda. Eu pude sentir seus tremores quando a peguei

no colo e caminhei com ela em direção a entrada do complexo.


— Oliver...

— Está tudo bem, baby. — A tranquilizei. — Essa aqui é minha casa.

Optei por seguir direto para uma das salas compartilhadas, e à medida

que trilhava o espaço do clube comecei a ouvir o barulho de vozes

misturadas. Daniel estava jogado no sofá, com Adela aconchegada ao seu

colo, chorando copiosamente. Entendi que pela morte da Kate. Ethan estava

no sofá também, com o maxilar travado. Joe, Justin e Colin estavam

afastados, os três em silêncio.

Os olhares de todos eles se voltaram para mim quando me aproximei.

Nervosa, Linda se aconchegou um pouco mais ao meu peito, como se

estivesse com ainda mais medo. Não ousou olhar para ninguém,

estremecendo em meus braços.

— Então essa é a garota? — perguntou Daniel, gesticulando.

Travei o maxilar, incomodado com os olhares curiosos sobre Linda.

Aquele sentimento esquisito de posse ameaçando me dominar.


— Sim, se chama Linda — respondi. — Como ela não tinha para

onde ir, decidi trazê-la para cá.

Daniel balançou a cabeça, mas não teceu nenhum comentário, perdido

naquela aura sombria dele.

— Será que Adela podia ajudá-la? — perguntei, tendo a atenção da

ruiva. Seu rosto alvo estava todo vermelho e inchado de tanto chorar. —

Linda está precisando de um banho e roupas limpas. E você é a única que

confio para esta tarefa, ruiva.

Eu podia sentir a curiosidade e confusão dos irmãos, mas nenhum

deles ousou falar nada.

Daniel beijou a cabeça da mulher antes que Adela se afastasse de seus

braços ansiosos. A preocupação com sua Old lady era visível.

— Claro que ajudo — disse Adela, se colocando de pé. — Vamos

conseguir um quarto disponível para ela. — Começou a andar em direção

ao espaço usado como farra noturna dos irmãos. Eu não queria deixar Linda

ali, perto de toda aquela aura pecaminosa. Linda não ficaria ali.
— No prédio da diretoria, Adela — ditei, freando seus passos. A

surpresa banhou seu rosto. Cocei a garganta: — Linda ficará mais à vontade

lá — acrescentei.

— Eu disse que ele estava esquisito — comentou Ethan, em tom

zombeteiro.

Mostrei o dedo do meio para ele.

Adela e eu seguimos na direção do prédio, logo chegando a um dos

quartos vagos. Delicadamente, coloquei Linda sentada sobre a cama

arrumada, observando seu olhar hesitante ao nosso redor.

Ela não dissera nada desde que adentramos ao clube.

— Você vai ficar bem — declarei, segurando suas mãos nas minhas,

enquanto notava seu escrutínio pelo local. — Prometo que está entre

amigos aqui — garanti, desejando que ela acreditasse. Odiava continuar

enxergando aquele pavor em seus olhos verdes. — A garota ali fora é de

confiança e vai cuidar muito bem de você.


Nesse momento, Linda me encarou, quase roubando meu ar pela

intensidade.

— Este aqui é seu quarto? — quis saber, fazendo minhas

sobrancelhas se arquearem.

— Não, baby — respondi, ajeitando a postura. — Mas meu quarto é o

do lado. — Gesticulei para a parede que dividia os dois cômodos. —

Entretanto, não precisa se preocupar, porque está em segurança.

Ela assentiu, parecendo perdida em pensamentos. Cruzou os braços,

abraçando a si mesma.

Me senti tentado a puxá-la contra mim e ampará-la, mas engoli o

desejo desviando o olhar.

— Vou deixá-la agora — avisei. — Mas prometo que a verei mais

tarde.

Linda não disse nada, mas permaneceu me olhando com uma

expressão desalentada. Ou, ao menos foi o que me transmitiu.


Adela estava choramingando no corredor quando saí do quarto,

certamente pensando em Kate. Horas antes, o corpo da garota foi mandado

direto para seus familiares, onde seria velada e sepultada.

— Porra, ruiva! — Segurei sua mão, apertando levemente. Com as

emoções desmoronando, Adela me abraçou. — Eu sinto muito.

— Ainda não acredito que ela morreu — desabafou e, em seguida, se

afastou dos meus braços. Ambos sabíamos quão enciumado Daniel era com

sua propriedade. — Kate era uma garota tão boa, não merecia isso. — Anos

atrás, quando Adela chegou ao clube, acabou percebendo que Kate sofria

agressão física do atual namorado, um membro do clube Road Demons,

liderado pelo Eric. Na época, as coisas ficaram feias, mas o problema foi

resolvido da melhor maneira possível: com uma bala no meio da testa do

infeliz.

Fungando, Adela enxugou as lágrimas, passando as costas das mãos

no rosto avermelhado.

Concordei, tão chateado quanto.


De repente, mirei a porta do quarto, fechada. Não fazia ideia do que

podia estar se passando na mente da Linda naquele momento. Aliás, minha

própria mente estava fervilhando com milhares de perguntas a respeito dela

e de sua vida.

— Quem é ela? — Pisquei com a pergunta da ruiva. Adela

gesticulava para a porta que eu estava olhando fixamente instantes antes. —

Você nunca se preocupou com nenhuma garota assim — observou. — Ao

menos não dessa maneira.

Empertiguei-me com sua pergunta capciosa, ajeitando minha jaqueta.

— Ethan e eu a encontramos separada das outras — respondi,

fechando as mãos em punho com a mera lembrança da cena. — Kate

insistiu para irmos até ela, porque não queria abandonar a amiga. — Baixei

a cabeça, fechando os olhos em frustração. — Foi nesse momento que tudo

aconteceu e Kate foi atingida com uma bala no peito. Não tivemos tempo

de protegê-la.

Adela voltou a fungar, mas se dirigiu para a porta.


— Linda está fragilizada — avisei, preocupado. — Então peço que

tenha paciência com ela.

Adela assentiu, respirando fundo antes de dar duas batidinhas na porta

e entrar.

Esfregando meu rosto barbudo, decidi sair dali. Tinha que me juntar

aos irmãos para me inteirar a respeito do que aconteceu.

Encontrei os irmãos no bar.

Colin, Justin e Joe estavam silenciosos numa das mesas, apenas

atentos ao que acontecia ao redor. Ao longo dos anos, os três se tornaram

amigos inseparáveis, até mesmo na hora de dividir as putas. E não faltava

muito para eles serem efetivados como membros consolidados.

— E o caçador? — intimei, me colocando atrás do balcão do bar.

Precisava desesperadamente de uma dose de qualquer bebida.

— Foi embora — respondeu o Prez. — Mas me disse que estaria por

perto para o caso de precisarmos dele, já que não conseguimos acabar com
essa seita fodida. — Entornou o líquido da garrafa de Bourbon que tinha em

mãos. — Você não faz ideia do que vimos lá. — Fez um movimento para

Joe, que se aproximou, entregando-me um aparelho de celular.

— Acho melhor respirar fundo antes de assistir — avisou Joe, com

olhos sombrios. O garoto era apadrinhado por mim, e eu me sentia muito

orgulhoso pela sua lealdade com o clube, o que me fazia gratificado pela

escolha que fiz lá atrás.

Não entendi muito bem o que ele quis dizer com o aviso, mas bastou

eu apertar o play do vídeo para que meu coração começasse a galopar no

peito e uma fúria descomunal tomasse conta da minha corrente sanguínea.

— Que porra é essa? — rugi, mas para ninguém em especial.

No vídeo aparecia um cômodo com diversos quadros da Linda, cada

um com uma foto diferente; mas em boa parte das fotografias ela aparecia

em poses comprometedoras. Parecia uma espécie de altar, culto macabro ou

coisa assim. Na verdade, não havia uma explicação plausível para aquela

loucura.
— Ao que tudo indica, a sua protegida tem um alvo nas costas —

declarou Daniel, sério. — Quem fez isso... — apontou, referindo-se ao

vídeo — tem extrema obsessão por ela.

— Mantê-la no clube só vai nos trazer problemas — argumentou

Ethan, me forçando a encará-lo com ira contida.

— Vou falar somente uma vez para que todos entendam — sibilei,

entre dentes — Aquela garota acabou de ser libertada de uma merda muito

fodida, e não tem para onde ir. Mandá-la embora agora nos fará tão ou mais

cruéis do que seus antigos algozes.

— Não vamos mandá-la embora, Oliver — reagiu Daniel, enquanto

eu abandonava o celular, enojado demais para continuar assistindo aquela

merda de vídeo. Minha mente estava fervendo com os pensamentos de tudo

o que Linda passou no período em que viveu naquele lugar. Explicava o

vazio que eu enxergava em seus olhos na maioria das vezes. — Apenas

estamos tentando entender o que era tudo aquilo. Se ela ficar aqui...
— Ela vai ficar aqui — o cortei, semicerrando os olhos em sua

direção. Eu sabia que não deveria desafiar o Prez daquela maneira, ainda

mais na frente dos outros irmãos, mas quando o assunto era “Linda”, eu não

conseguia me controlar. — Linda não sairá do clube.

Daniel permaneceu me olhando, nitidamente contrariado. A tensão

tomando conta do ambiente foi cortada apenas pela chegada do Josh.

O idiota já chegou exalando aquele ar de psicopata, esfregando as

mãos uma na outra em pura euforia.

— Voltei, irmãos, mas trouxe um brinquedo. — Vangloriou-se. Todos

nós nos empertigamos com isso. — Larguei a carga lá no galpão. Um dos

discípulos daquela merda — acrescentou. — Que tal uma festinha?

Eu, Daniel e Ethan nos entreolhamos com um sorriso macabro nos

lábios, enquanto nos preparávamos.

— Ei, Prez...

— Ainda não, three fast (três velozes) — Daniel resmungou ao Colin,

entretanto, referindo-se aos três. Era desse jeito que nós os chamávamos. —
Mas prometo que a hora de vocês vai chegar.

Enquanto eu caminhava, sentia minha carne queimando. Tudo o que

me motivava desde que toda essa merda iniciou era derramar sangue,

sobretudo, daqueles que mataram Kate; daqueles que infligiram tanta dor a

Linda.

Eu me vingaria por ela.

Me vingaria pelo meu... pequeno Querubim.


Capítulo 3

Linda

“Afundar o pano na água, tirar, torcer e esfregar o chão. Essa era a

sequência. Eu estava tão exausta...

E sentia ser um cansaço de alma também.

A todo momento, precisava policiar meus músculos fracos, exigindo

que se mantivessem firmes. Ao menos até eu terminar a faxina daquele

chão. Não era sempre que me obrigavam a fazer a limpeza do casarão,

somente quando eu não agradava ao “mestre”.

Pensar nele já bastava para que calafrios me tomassem do dedinho

do pé aos fios do meu cabelo. Eu sentia suas garras apenas em


pensamentos.

Meus ossos o sentiam.

Suspirando audivelmente, passei o esfregão com o máximo de força

que ainda tinha, me concentrando em deixar tudo limpo; tinha de ficar

limpo.

De repente, senti o calor dos raios solares se chocando em minha

pele castigada. Parei, me permitindo relaxar um pouco. Me sentia tão

destruída...

Às vezes, sentia como se meu espírito tivesse se esvaído de mim e

somente meu corpo carnal estivesse vivo; sobrevivendo a todo aquele

sofrimento.

— Por que parou de limpar o chão?

Pulei de susto quando me deparei com um dos discípulos parado ao

meu lado. Os olhos cruéis estavam fixos em mim, chispando em minha

direção com desprezo e luxúria. A hierarquia naquele lugar funcionava de

um jeito único; o “mestre” — líder supremo daquela seita — possuía um


círculo íntimo de seis homens denominados servos, e aquele discípulo ao

meu lado não fazia parte desse grupo seleto.

— Me-e desculpe, senhor — gaguejei, voltando a esfregar o chão. —

Eu só... — todo meu corpo começou a tremer involuntariamente quando ele

se aproximou — estava descansando um pouco — concluí, num silvo.

Abri a boca para gritar quando ele me ergueu e empurrou meu corpo

contra a parede, porém, sua mão abafou meus gritos. Lágrimas deslizaram

de meus olhos no instante que sua perna forçou as minhas abertas. Eu

estava usando um vestido; na verdade, ele mais parecia uma roupa de

freira.

— Você está muito folgada, garota — sibilou ele, com o rosto colado

ao meu. O desprezo nítido em seus olhos escuros. — Você é a preferida do

“mestre”, mas não parece estar o agradando no momento. Então precisa

saber o seu lugar.

Meu rosto já estava banhado em lágrimas, porque me sentia muito

fraca para lutar contra seu agarre.


Estremeci quando comecei a sentir sua mão livre tocando a pele do

meu braço; suas unhas arranhando minha pele sensível.

— Eu posso te ajudar — insinuou, cheio de malicia. — Posso facilitar

sua estadia aqui — ofereceu. — Basta ser boazinha comigo ...

Com esforço, me debati sob seu aperto no instante que ouvi seu

arquejo excitado apenas com a mensagem libidinosa por trás da proposta

que acabara de me fazer. Ânsia tomou meu estômago.

— Você é nojento! — exclamei, me esforçando em empurrá-lo para

longe de mim, mas falhando na missão.

— Você é verdadeiramente a personificação do pecado — declarou,

lambendo meu rosto com aquela língua asquerosa. — Não me admira que o

“mestre” seja tão obcecado por você — afirmou, fazendo-me encolher.

Eu estava sendo mantida em pé, porque ele me segurava, caso

contrário, já teria desfalecido.

Num ato de coragem, mordi sua mão e, prestes a gritar por ajuda,

algo aconteceu e senti o homem sendo tirado de cima de mim. Caí, por não
estar preparada e ter sido pega desprevenida.

— Como ousa tocar na propriedade do “mestre”, seu infeliz? —

reverberou uma voz masculina, para àquele que estava em cima de mim há

poucos instantes. Era um dos que faziam parte do círculo íntimo do

“mestre”. — Ajoelhe-se!

Fiquei encolhida na parede, assustada com tudo o que estava

acontecendo. Logo, os outros cinco servos se aproximaram para ajudar o

parceiro deles a infligirem o castigo àquele que tentou abusar de mim. Os

seis servos do círculo íntimo se diferenciavam por manterem a cabeça

raspada, além de terem uma tatuagem de número no braço direito.

Assisti, chocada e nauseada, quando, sem pestanejar, cortaram as

duas mãos do infeliz. As mãos que, outrora, estavam em meu corpo.

Meu rosto estava molhado de tanto chorar. Eu não conseguia gritar.

Não conseguia me mover.

Havia tanto sangue no chão... e os gritos do homem ficavam ecoando

em minha mente como uma sinfonia.


Assim que terminaram, um dos servos se fixou em mim e ele se

aproximou. Encolhi-me um pouco mais ao vê-lo se abaixar sob os

calcanhares, me encarando como um predador. O sorriso pairando em seus

lábios me causou náuseas.

— Percebe o que você fez, garota? — perguntou, com voz mansa. —

Você desperta isso nos homens, faz com que cometam pecados. Você fica

feliz com isso?

Meu lábio tremeu conforme os soluços do choro me abatiam.

— VOCÊ FICA FELIZ COM ISSO? — berrou, me fazendo ter

espasmos incontroláveis devido ao medo.

Neguei com a cabeça, assustada demais para falar.

— Então por que dificulta nossa vida? — Voltou a amansar a voz. —

Quando você se recusa a agradar ao “mestre”, ele fica infeliz, e sua

infelicidade se reflete em todos nós — rosnou, irritado com esse fato.

Meus soluços aumentaram.

— E-eu... só quero ir embora — resmunguei inutilmente.


Ouvi a risada de todos eles, como se o que eu tivesse acabado de

dizer fosse algum tipo de piada.

— Você só sairá daqui morta, garota! — exclamou contra meu rosto,

apertando meu queixo com força. — Agora se levante e limpe todo esse

sangue.

Mais e mais lágrimas encheram meus olhos. Não tive alternativa a

não ser me colocar de pé e fazer o que ele ordenou, me perguntando quanto

tempo mais minha existência se resumiria àquilo, àquele sofrimento

constante.”

Eu ainda estava sentindo os espasmos dos tremores pelo meu corpo

todo quando uma linda garota entrou no quarto. Percebi sua cautela ao olhar

em minha direção. Seus cabelos ruivos chamaram minha atenção, assim

como a beleza de seus olhos, que pareciam tristes e chorosos.

— Seu nome é Linda, né? — perguntou. Sua voz era suave e calma.

Permaneci em silêncio, apenas a encarando com atenção. Eu não estava


confortável. — Eu me chamo Adela. — Gesticulou para si mesma.

Observei que ela estava usando uma jaqueta de couro, com alguns detalhes

em rosa. — E gostaria muito de ser sua amiga — concluiu.

Pisquei, absorvendo suas palavras. Baixei os olhos para minhas mãos,

me recordando da Kate. Novas lágrimas invadiram meus olhos.

— A-amiga? — soprei, sem coragem de olhar para ela. — Não sei o

que pensar sobre isso, porque minhas experiências em relação a amizades

são bem decepcionantes. — Meus lábios tremeram suavemente. Minha

pulsação estava batendo forte contra minhas costelas.

— Aqui você pode ter amigos — garantiu, sorrindo abertamente

dessa vez. Ficou parada perto da porta. — Posso me aproximar um pouco?

— quis saber.

Ergui os olhos para ela, comovida com seu cuidado comigo, embora a

desconfiança continuasse pairando em meu instinto.

— Eu só quero ajudar, Linda — explicou em tom magoado. — Não

sei pelo que você passou, mas... — se calou, entristecida. — Perdi uma
amiga hoje e estou me sentindo muito... impotente.

Em silêncio, assisti quando ela caminhou pelo quarto espaçoso,

abrindo as portas de um roupeiro de madeira.

— Aqui tem toalhas limpas — conferiu, retirando uma em tom

branco e bem felpuda. Observei ter um brasão bordado numa das pontas.

Era o mesmo símbolo presente na jaqueta que todos ali usavam, um lobo

uivando para lua. — Você pode usar este robe aqui. — Mostrou a peça

vermelha, fechando a porta do roupeiro em seguida. Aproximou-se da

cama. — O banheiro fica ali. — Apontou para uma porta no fundo do

cômodo. — Vou deixá-la sozinha agora, mas prometo que trarei roupas

também, além de algo para comer. Está com fome?

Franzi o cenho, pensativa. Pressionei as mãos em meu estômago,

sentindo uma mistura de fome e náuseas.

— Obrigada, Adela — murmurei, torcendo as mãos uma na outra. —

Sinto muito pela sua... perda.


A linda garota ruiva se segurou ao máximo, mas foi incapaz de

controlar o soluço que escapou da sua garganta.

— Vou trazer o que precisa — falou por trás do timbre de voz

engasgado pelo choro.

Observei quando caminhou para fora do quarto, fechando a porta com

delicadeza.

Ao me ver sozinha ali, um local novo, o pânico retornou com força

total. Levei as mãos aos meus braços, apertando a mim mesma de modo a

aplacar aquela angústia pelo desconhecido.

Após longos minutos, criei coragem e me coloquei de pé. Analisei

todos os detalhes daquele quarto, quase rústico. Eu nunca estive em um

lugar como aquele antes, com pessoas tão diferentes e assustadoras ao

mesmo tempo.

Peguei a toalha e o robe, e segui para a porta fechada no fundo do

cômodo.
No banheiro, arranquei minhas roupas esfarrapadas e logo me vi nua.

Debaixo do chuveiro, liguei o registro e arquejei quando a água morna se

chocou contra minha pele sensível. Ao olhar para baixo, para o ralo,

visualizei a coloração avermelhada. Sangue.

Era o meu sangue.

A água estava lavando meu exterior, mas não podia lavar meus

ferimentos internos. Estes, me acompanhariam para sempre.

Não fazia ideia de quanto tempo fiquei debaixo da (ducha), mas pela

maneira como meus dedos das mãos estavam murchos, entendi que

bastante.

Receosa, espiei primeiro antes de sair; ao perceber que não tinha

ninguém me esperando no lado de fora, saí.

Como prometido, Adela trouxera roupas para eu usar. A maior parte

era em couro. E todas as peças levavam aquele símbolo de lobo.


Nervosa, arranquei o robe que usava e, em seguida, escolhi um

vestido que terminava abaixo dos meus joelhos. Coloquei uma calcinha, um

pouco desconfortável, pois se escondia entre minhas nádegas.

Depois, decidi me aninhar entre as cobertas, cansada demais para

fazer qualquer outra coisa.

Ignorei o resto.

Ignorei a bandeja com diversas coisas saborosas para comer em cima

do pequeno armário de cabeceira.

Ignorei até mesmo os barulhos esquisitos do lado de fora.

Eu só precisava dormir.

E, de preferência, para não acordar mais.


Capítulo 4

Oliver

Quando entramos no galpão, logo enxerguei o prisioneiro sem

camisa, amarrado a uma cadeira. Na verdade, ele estava no chão, com a

cadeira de lado. Certamente pensou que conseguiria fugir.

Rangendo os dentes, Joshua marchou até ele como um lobo indo à

caça.

— Pensando em escapar sem conhecer meus amigos, filho da puta?

— rosnou, segurando o idiota pelo pescoço e o erguendo, com cadeira e

tudo. O som de seu engasgo me deliciou.


Ethan e eu permanecemos afastados, de braços cruzados, enquanto

Daniel se aproximava da mesa em que tinha todo tipo de equipamento de

tortura.

Joshua deu alguns tapinhas no rosto do prisioneiro, trincando os

dentes. Era óbvio que ele estava se esforçando muito para não trucidar o

infeliz. Se afastou, à (contragosto).

— Confesso que sua presença aqui me alegra muito — declarou

Daniel, esquadrinhando o corpo do bastardo. Escolheu uma das suas facas

preferidas. — Foi bem difícil controlar o desejo de eliminar a sua escória,

então o único impulso foi sair matando geral. — Deu uma risadinha.

Ficou de frente para o moribundo. Observei uma tatuagem do número

“dois” em seu braço direito. Não havia nenhum pelo em seu torso também,

nem cabelos na cabeça.

— O que é você? — perguntou Daniel. — O que significa tudo aquilo

que vimos? — O desconhecido continuou calado. Os olhos não

desgrudavam do Prez. — Já entendemos que vocês formam uma seita


nojenta por trás da fachada de programa de autoajuda, do tipo bem doentia,

mas...

— Corte uma cabeça que nascerá duas no lugar — ele interrompeu as

palavras do Daniel.

Todos nós nos empertigamos com isso.

— O que disse? — questionei, furioso. Não conseguia apagar as

imagens grotescas daquele quarto repleto de fotografias da Linda, exposta,

como se fosse um animal exótico.

Os olhos escuros se voltaram para os meus, e eu vi. Vi a podridão e a

escuridão cobrindo cada pedaço da sua alma.

— Que porra isso significa, seu doente? — Ethan explodiu,

impaciente como todos nós.

O idiota não falou mais nada.

Daniel se inquietou, embora se esforçasse para não demonstrar sua

ira.
— Penso que ele esteja precisando de um incentivo, irmãos —

murmurou, arrancando-nos risadas eufóricas.

Aquela era nossa parte preferida sempre que tínhamos um inimigo

sob nosso jugo.

Colocando-se na frente do infeliz, Daniel se inclinou e sinalizou para

que Joshua se aproximasse, ficando atrás de modo a manter a cabeça do

desgraçado parada. E então, Prez começou a deslizar a lâmina da faca no

rosto dele, da testa até o lábio; um profundo corte na transversal. Quase

enxerguei o formato de uma Lua crescente.

Ri com esse pensamento.

Os gritos que inundaram o ambiente me deixaram extasiado e com as

mãos coçando para ter minha vez com o verme.

Daniel continuou deslizando a lâmina mais para baixo, no peito.

— O que são vocês, afinal? — perguntou outra vez. — O que

significa aquilo tudo? Dê-me o paradeiro do líder.


Pegando-nos desprevenidos, o doente começou a rir de maneira

descontrolada.

— O “mestre” não vai descansar enquanto não pegar sua propriedade

de volta, e ele já sabe que estão com ela — murmurou entre risos. — Vocês

não sabem com quem mexeram — rugiu, ficando sério. O rosto escorrendo

sangue. — Arranque uma cabeça e mais duas nascerão no lugar.

— Linda não é propriedade de ninguém, porra! — rugi, me lançando

para ele e o socando com toda minha força. Isso fez com que a cadeira

caísse para trás. — Onde está seu maldito líder? — Soco. — Diga o

paradeiro dele. — Mais socos.

Me debati quando fui arrastado para longe do verme. Era Ethan.

Estava com tanta raiva que acabei o socando também.

— Caralho, Oliver! — reclamou, pressionando o nariz que, com meu

golpe, saiu do lugar. — Você está descontrolado, cara.

Levei as mãos aos cabelos, bagunçando-os em frustração. Meus

punhos tremiam.
— O que está acontecendo, afinal? — quis saber Joshua, nitidamente

confuso.

— Oliver parece ter se apaixonado pela vadia resgatada e...

Rumei até Ethan, mas fui barrado pelo Daniel, que forçou a mão em

meu peito.

— Já chega! — exclamou, segurando meu rosto com uma das mãos.

— Estou cansado de ouvir Ethan chamando Linda de vadia — sibilei,

entre dentes. — E juro que minha paciência está no limite aqui, caralho!

O idiota me encarava por cima do ombro do Daniel.

— Não leve isso para o lado pessoal, irmão — resmungou ele, ainda

pressionando o nariz, que sangrava. — Com exceção das mulheres dos

irmãos, todas são vadias para mim — murmurou, sem um pingo de

remorso.

Trinquei os dentes com tanta força que senti dor.

— Linda está fora dos limites — continuei rosnando como um lobo

raivoso, contido pelo Prez. — Então é melhor você segurar sua maldita
língua sempre que mencionar o nome dela. A garota já sofreu demais na

porra dessa vida para ficar sendo taxada como uma puta.

— Tá legal, Oliver, já chega! — Daniel resmungou, agora amparando

meu rosto com suas duas mãos. Exigiu meu olhar. — Já entendemos, cara.

Já entendemos.

Meu peito subia e descia devido à fúria.

— Oh, porra!

Ambos nos assustamos com a exclamação aturdida do Josh, que

estava levantando a cadeira com o verme; o homem parecia estar tendo

alguma convulsão.

Revoltado, Josh, meteu a mão na boca do infeliz, segurando sua

língua.

— Você não vai morrer ainda — rosnou ele, resfolegante. — Não

assim — acrescentou, com a voz tremulando ira. — Tenho muitos planos

para você.
Eu nem sequer precisava perguntar quais eram esses tais planos dele,

porque de todos nós, Joshua era o mais sanguinário no quesito tortura. E ele

se orgulhava disso.

— Vou lá fora um pouco — avisei, virando em meus calcanhares.

Precisava de ar, ou enlouqueceria.

Com mãos trêmulas, peguei meu maço de cigarro e tirei um. Fechei

os olhos depois da primeira tragada. Meu coração batia descontroladamente

enquanto meus pensamentos se atropelavam entre si. Não precisava ser um

gênio para entender a confusão de meus irmãos diante de minhas reações a

respeito de Linda, eu mesmo estava confuso.

Confuso com esses novos sentimentos.

Apenas pensar nela já bastava para que aquele sentimento de posse

me dominasse; dominasse cada fibra do meu ser. Eu seria capaz de tudo

para protegê-la, para mantê-la a salvo.

De repente, recostado na parede no lado de fora do galpão, percebi a

caminhonete usada pelo Joshua, estacionada alguns metros adiante. O


brilho da minha Harley chamou minha atenção, então cheguei mais perto. A

paz de espírito, duramente conquistada, se dissipou em instantes quando

percebi que minha moto fora batida. Revoltado com isso, joguei a bituca do

cigarro no chão e retornei ao galpão. Alguém teria de pagar por essa merda.

Alguém teria de ser meu saco de pancadas naquela noite.

Quando parei em frente ao meu quarto, olhei para a porta do quarto

ao lado, cogitando ir até ali para saber se Linda estava bem. Até ameacei

espiá-la, mas parei no caminho, perdendo a coragem. Eu estava ficando

louco.

As últimas horas foram intensas demais e eu precisava dormir um

pouco para restabelecer minhas energias e controle perdido.

Com esse pensamento, entrei no meu quarto e segui direto para o

banheiro, onde rapidamente tirei minhas roupas e fui para debaixo da

(ducha) fria.
Por mais que eu me esforçasse, não conseguia bloquear as imagens

daquelas malditas fotografias. Todo meu corpo fervia de ódio sempre que

eu pensava no quanto Linda sofreu na mão daqueles infelizes.

Sem controlar, comecei a socar a parede diversas vezes, ignorando a

dor, ignorando os ferimentos nos nós dos meus dedos. Mesmo tendo feito

da cabeça do discípulo no galpão, uma gelatina, a minha raiva ainda não

amenizara. Eu queria mais.

Longos minutos depois, saí do box e me enxuguei por cima. Não vesti

nada, pois raramente dormia com roupas.

Enfaixei meu punho, liguei o ventilador do teto e, em seguida, me

joguei na cama. Com um dos braços em minha testa, me permiti fechar os

olhos.

Não percebi quanto tempo se passou naquele silêncio ensurdecedor,

até eu me empertigar com alguém abrindo a porta vagarosamente. Na

mesma hora, peguei minha arma debaixo do travesseiro e apontei, porém,

logo baixei a pistola e voltei a escondê-la quando me deparei com Linda ali.
Seus olhos atormentados encontraram os meus, contudo, aumentaram

de tamanho quando se arrastaram pelo meu torso até se fixarem em meu

pau.

Me cobri com o travesseiro. Não por vergonha, mas por respeito a ela.

— Aconteceu algo, baby? — perguntei, ainda sem me mover. Minhas

emoções estavam bem instáveis naquele momento.

Fechando a porta com cuidado, Linda se recostou na madeira atrás de

si. Seu corpo parecia extremamente frágil.

— Será que... — se calou, baixando os olhos, enquanto abraçava a si

mesma — posso dormir aqui?

Pisquei, incrédulo e desnorteado.

— Você quer dormir aqui?

Mesmo de longe, visualizei seus lábios tremendo.

— E-eu estou com medo, Oliver — admitiu, se aproximando da cama.

— Mas quando estou com você...


Meu coração se aqueceu com o que ela quis dizer, mesmo não tendo

conseguido concluir a frase. Saber que ela confiava em mim, e se sentia

segura comigo já me fazia sentir foda pra caralho.

— Tudo bem, pequeno Querubim — murmurei, me colocando de pé,

mas com o travesseiro em minha cintura. A pistola também estava comigo,

escondida. — Deite-se! — Gesticulei para a cama bagunçada. — Prometo

que estarei aqui quando você acordar.

Em silêncio, assisti quando ela fez o que mandei, aninhando-se em

minhas cobertas, tão pequena e delicada. Foi quase impossível segurar o

rosnado de excitação ao perceber que seu cheiro ficaria impregnado em

meus lençóis.

Decidi me deitar no sofá que tinha logo ao lado, entretanto, não

consegui tirar meus olhos dela em nenhum momento. Na verdade, nós dois

parecíamos muito curiosos um com o outro, visto que Linda também não

parava de me olhar.

Minutos se passaram, ou horas, até meus olhos pesarem.


Mas a certeza de que manteria Linda a salvo vibrava em cada fibra do

meu ser.
Capítulo 5

Oliver

Eu me sentia preso entre o sono e a realidade, confuso entre meus

pesadelos e o som de resmungos desesperados. Demorei um pouco para

abrir os olhos e perceber o que acontecia.

Pisquei, levando os olhos para minha cama, então me deparei com

Linda se debatendo. O rosto tão atormentado que me causou dor por vê-la

em sofrimento.

Me levantei rapidamente, porém, primeiro me preocupei em vestir

uma cueca. Em seguida, me aproximei da cama. Linda estava suando

enquanto se debatia no colchão, aterrorizada com o que quer que estivesse


em sua mente durante o sono. Os cabelos loiros, grudados em sua testa,

estavam bagunçados. De seus lábios escapavam palavras incoerentes, eu

não entendia nada. Só sabia que ela parecia estar sofrendo, e isso me

destruía.

Sem saber o que fazer, mas com medo de acordá-la e, isso de alguma

forma piorar seu estado, decidi me deitar ao seu lado e segurar sua mão,

entrelaçando nossos dedos. Eu queria que de algum modo ela me sentisse;

que percebesse minha proteção.

Subitamente, seus olhos se abriram e, em meio ao seu desespero, ela

me encontrou ali, ao seu lado, e então se acalmou um pouco. O aperto em

minha mão ficou mais forte conforme ela se ajeitava na cama, lutando para

controlar os tremores causados pelo pesadelo. Minha fúria aumentava

sempre que presenciava sua vulnerabilidade, pois eu sabia que seus traumas

foram criados por aquelas pessoas, e eu ansiava acabar com todos eles, um

por um.
Linda não falou uma única palavra, apenas voltou a fechar os olhos e,

gradualmente, seu corpo foi relaxando e sua respiração se tornando mais

suave.

Permaneci de lado, com o corpo bem afastado do seu. Eu não tinha a

intenção de assustá-la quando acordasse pela manhã e ainda me encontrasse

na cama. Firmando nossas mãos, continuei admirando seus traços, com a

mente fervendo de perguntas. Desde que coloquei meus olhos sobre ela,

algo mudou dentro de mim, e isso estava me assustando pra caralho.

E eu não precisava de mais problemas. Entretanto, não poderia afastá-

la nem se quisesse.

Mesmo me esforçando, não consegui segurar o cansaço e acabei

adormecendo outra vez.

Abri os olhos, piscando freneticamente até me acostumar com a

claridade presente no quarto. Remexi-me em desespero quando não

encontrei Linda ao meu lado da cama.


Prestes a sair a sua procura, me deparei com sua figura frágil, parada

em frente a janela aberta. Seu perfil de costas era ainda mais

impressionante, com aquela bundinha redonda e arrebitada. O vestido que

usava mal cobria suas coxas. Observei que seus cabelos caíam em cascatas

por suas costas eretas, reluzindo com os raios de sol.

Como se pressentisse meu escrutínio, ela virou a cabeça em minha

direção e um sorriso fraco pairou em seus lábios rosados. Quase arrancou

meu ar.

— Bom dia! — saudou com sua voz melodiosa, que me causava paz.

Continuei a encará-la, buscando algo em sua postura. Na verdade, eu

nem sequer sabia como agir.

— Bom dia! — devolvi a saudação. — Como você está? — Franzi o

cenho, pensando em tudo o que acontecera horas atrás. — Eu não me deitei

ao seu lado de propósito — expliquei, coçando a garganta. — Mas é que

acordei com você tendo um...


— Pesadelo — concluiu meu raciocínio, e eu assenti. — Infelizmente,

eu não sei o que é dormir sem ter um. — Voltou a encarar a paisagem fora

da janela, ficando em silêncio por um segundo. — Eles sempre dão um jeito

de me encontrar, Oliver.

Suas palavras me incomodaram.

— Onde eu estou? — perguntou, mudando o foco da conversa. —

Que lugar é esse?

Me coloquei de pé, sabendo exatamente como estava vestido. Se

Linda se ofendeu com o fato de me ver seminu, não demonstrou.

— Faço parte de um grupo de motoqueiros fora da lei — contei,

enquanto abria meu roupeiro em busca de uma calça de couro. — E você

está na sede principal do clube. Sou o sargento de armas.

— Sargento de armas? — Sua expressão de confusão foi tão adorável

que desejei morder o biquinho que se formou em seus lábios.

Vesti uma camiseta preta.


— Sou o responsável pela segurança do clube, e de todas as

operações que o envolvem.

— Então proteger as pessoas faz parte de quem você é — não foi uma

pergunta, mas uma afirmação. Isso me deixou com uma sensação esquisita

no peito.

Linda saiu de perto da janela e trilhou o espaço, encurtando a

distância entre nós. Os seios de tamanho médio ficaram bem demarcados no

decote do vestido que usava, com os mamilos bem salientes no tecido.

Lambi os lábios, louco para prová-los com minha língua sedenta.

— Não sei se posso ser considerado uma pessoa boa por isso —

rebati, engasgado. Seu cheiro estava me inebriando.

— Você me salvou — afirmou em tom de gratidão. — Me protegeu e

está me mantendo a salvo.

— Sim, eu estou — declarei, aceitando a intensidade do seu olhar

esverdeado.

— Por quê? — quis saber com a voz baixa.


Abri a boca para responder, mas uma batida na porta me impediu. Na

mesma hora, Linda foi tomada por tensão. O corpo delicado se tornou

enrijecido, ao meu lado.

Pedindo para que se acalmasse, caminhei até a porta e me deparei

com Adela. Seus olhos arregalados denunciaram que algo estava errado.

— Acabei de ir ao quarto da Linda, mas ela...

— Está aqui — a cortei, abrindo um pouco mais a porta para que a

ruiva pudesse ver. Surpresa tomou conta de seu olhar, e ela não fez questão

de esconder isso. — Durante a madrugada, Linda se sentiu muito assustada

e entendeu que se sentiria melhor aqui... comigo.

Olhei para Linda, encontrando suas bochechas rubras, enquanto torcia

as mãos uma na outra.

— Ah, isso é compreensível. — Adela simplesmente invadiu meu

quarto para se aproximar da nova amiga. — Você passou por muita coisa,

então deve estar bem assustada.

Cocei a garganta.
— Eu vou deixar vocês duas sozinhas e... — Linda me encarou,

questionando-me aonde eu iria; aquele pavor que me dilacerava —, fica

tranquila, porque Adela é uma ótima companhia e vai cuidar muito bem de

você enquanto eu não estiver por perto — concluí.

Não esperei muito para me afastar, pois, me sentia ansioso demais

para colocar a porra dos pensamentos e emoções em ordem.

Ethan e Joshua estavam na cozinha quando entrei no cômodo,

sentindo a boca seca por um café bem quente.

— Onde está o Daniel? — questionei aos dois, ciente de seus olhares

sobre mim.

— Em uma reunião via satélite com os Fratelli — respondeu Ethan.

— Os italianos estavam ansiosos para saber se a operação resgate-Kate

funcionou.

Suspirei audivelmente, me sentando em uma das banquetas.


— E essa porra ainda nem terminou — resmunguei, bebericando o

líquido fumegante.

— A garota já acordou? — Joshua quis saber, parecendo ansioso para

ver Linda.

Semicerrei meus olhos para ele e arreganhei os dentes.

— Ela está fora dos limites! — decretei, em tom limpo e claro.

— Então você a reivindicou? — desafiou, sorrindo como o doente

que era.

— A garota acabou de ser libertada de uma maldita prisão, por que

acredita que eu iria me atirar nela como a porra de um tarado?

Deu de ombros.

Sacudi a cabeça, buscando paciência para aturar aqueles dois.

— O que pretende? — foi Ethan quem perguntou. — Sabe muito bem

que o lugar daquela coitada não é aqui, conosco — declarou sem qualquer

remorso. — Precisamos fazer com ela o mesmo que foi feito com as outras,

entregá-la aos seus.


— Mas ela não tem ninguém — rosnei, irritado com suas palavras.

— Foda-se! — exclamou. — Não precisamos de mais problemas,

Oliver. O clube já está abarrotado deles. — Esfregou o rosto, parecendo

cansado. — Mais cedo, descobrimos que nosso abastecimento de maconha

de qualidade, do pequeno grupo da Cidade do México, foi cortado. A

família não quer mais negociar conosco.

Arqueei as sobrancelhas, fingindo não ter escutado sua declaração

sobre Linda e, me concentrando nos negócios.

— Sério? — questionei — Por quê? Trabalhamos com eles há anos.

— Eu não conseguia entender. — Daniel já sabe? Caramba! Eles são nossa

principal fonte de exportação da maconha. Nosso principal negócio com os

irmãos Fratelli.

Ethan rangeu os dentes, incomodado com isso.

— Na verdade, esse negócio é nossa principal fonte de renda —

acrescentou num suspiro derrotado. — O líder da família quer conversar —

contou, referindo-se ao pessoal que nos repassava a erva. — Mas agora com
tanta merda acontecendo, não sei como faremos para resolver tudo. Fora

que ainda precisamos organizar o batismo dos Three fast. — Sorriu com

esse final. — Os idiotas estão desesperados para ganhar a jaqueta. Vestir o

pach completo dos lobos é tudo o que eles querem.

— E no decorrer dos anos, eles merecem isso — comentei, sorrindo.

— Embora cada um dos três tenha mudado com o tempo, principalmente,

Colin, desde que aquilo aconteceu com sua mãe.

Há pouco mais de dois anos, soubemos que a mãe do garoto fora

brutalmente assassinada pelo ex-companheiro. Na verdade, a mulher era

uma viciada em entorpecentes e só sabia causar problemas para o filho.

— Todos temos de aprender a lidar com nossos monstros, irmão —

comentou Josh, cheio daquela aura sombria dele. — Aqui nenhum de nós é

santo nem bonzinho, mas todos conseguimos superar, ao menos um pouco,

o desejo de esquecer nossa humanidade.

Engoli em seco, ciente do que ele dizia.


Quando estive na guerra, presenciei tanta coisa fodida que, às vezes,

ficava em dúvida sobre por quem lutar naquela merda.

— Por que estão com essas caras de bunda? — perguntou Daniel,

invadindo o espaço. Foi direto a fruteira e pegou uma maça verde. — O que

eu perdi? — Gesticulou.

— Estávamos falando sobre o batismo do Colin, Justin e Joe —

murmurei.

— Temos de marcar a data logo — resmungou ele, abocanhando a

fruta com vontade. — Mas antes, precisamos entender o problema com a

sua protegida, Oliver — complementou, sério. — Eu não pretendo comprar

uma guerra por uma garota qualquer.

Ofereci um sorriso de escárnio a ele.

— Então isso só é válido para você, Prez? — rebati. — Porque eu

ainda me lembro de como tudo aconteceu entre você e a ruiva, e todos nós o

apoiamos.
— Você foi contra, Oliver — intrometeu-se Ethan, fazendo-me fuzilá-

lo com meus olhos quase assassinos. — Ainda me recordo de você dizendo

que Adela seria um problema para nós e...

— Cala essa maldita boca, seu idiota! — Tentei socá-lo, mas ele

conseguiu escapar, rindo feito uma hiena. — Nenhum de vocês entende. —

Me levantei, sentindo as ondas da fúria me dominando.

— Então explique, irmão — pediu Daniel, gesticulando. — Não

estamos julgando, apenas tentando entender o que essa garota passou a

significar para você desde que a salvou há menos de quarenta e oito horas.

Os três ficaram me olhando, expectantes, enquanto eu continuava de

pé, nervoso demais para conseguir raciocinar com clareza.

Eu sentia como se minha própria mente estivesse batalhando consigo

mesma. Um conflito intenso de sentimentos e emoções.

— Preciso consertar minha moto — avisei, passando por eles.

— Não vai poder fugir por muito tempo, irmão — ouvi Daniel dizer,

mas ignorei completamente.


A garagem do clube ficava logo ao lado do bar, e era enorme. Daniel

se preocupou em equipar com todas as ferramentas necessárias para

podermos fazer os reparos necessários em nossas próprias motos.

Josh não soube me explicar o que aconteceu de fato com minha

Harley na noite anterior, mas naquela altura do campeonato, eu já não me

importava mais. Consertaria sem problemas.

No exército, tínhamos de aprender um pouco de tudo, desde medicina

até pequenos reparos nos carros e motos utilizados em campo. A

necessidade sempre berrava em nossos traseiros obrigando-nos a reagir.

Soltando um suspiro, dei uma analisada na Harley diante de mim,

pensando no que arrumar primeiro.

O tanque fora um pouco amassado, mas nada muito agravante. As

correntes de comando e os cabos de freios e de embreagem foram

rompidos, e as duas lanternas estouradas. Comecei a desconfiar de que

aquilo fora trabalho de algum discípulo daquela merda.


Estava tão concentrado na minha tarefa, andando de um lado ao outro

no espaço, que demorei a notar a presença de alguém.

Linda estava parada na entrada da garagem, parecendo um pouco

perdida e receosa em se aproximar. Meus olhos brilharam maliciosos com

sua escolha de roupa da vez: uma camiseta branca; a barra estava presa na

calça de couro colante. Os cabelos loiros foram trançados para trás.

Sorrindo, sinalizei para que ela se aproximasse. Não perdi a maneira

como seus olhos se arrastaram pelas tatuagens em meu peitoral desnudo,

embora ela tentasse disfarçar.

— Adela abandonou você? — perguntei, observando suas reações.

Fiquei feliz com a leveza em seu olhar quando respondeu:

— Na verdade, eu a abandonei — murmurou, sem jeito, observando

tudo ao redor. — Fiquei um pouco cansada, porque ela fala muito e isso me

deixa nervosa.

Minha risada soou livremente, divertindo Linda, que sorriu também.


— A ruiva realmente fala pelos cotovelos — concordei, entre risos.

— Mas ela é uma garota incrível, e tenho certeza de que vocês duas serão

grandes amigas.

Vi quando suspirou, dando um sorriso triste.

— Eu sei disso — soprou, se tornando distante. — Mas...

Franzi o cenho, sem entender o motivo para sua reação abrupta,

considerando que estava rindo há pouco.

Sentou-se num banco que tinha perto.

— Qual o problema? — intimei.

Mordeu os lábios, olhando para todos os lados, menos para mim.

Frustrado, fui até ela e me ajoelhei em sua frente, tocando em seu

queixo. Percebi que meu toque a fez estremecer sutilmente.

— Responda — exigi, firmando seu olhar no meu.

Engoliu com dificuldade.


— Estou com medo — falou, partindo meu coração. — Eu finalmente

estou livre daquele lugar, mas não faço a menor ideia do que fazer, Oliver

— desabafou, com seus olhos se enchendo de lágrimas. — E eu não acho

justo ficar no seu pé em todos os lugares que esteja, só por você ser o único

que me acalma e me faz sentir segura. — Respirou fundo, remexendo no

cordão em seu pescoço. O rubor estava novamente em suas bochechas. —

Temo que acabe estragando tudo como aconteceu com meu pai. — Olhou

para o pingente de seu cordão, que tinha o formato de um coração partido.

— Minha mãe me dizia que ele tinha se cansado de mim, por isso me

abandonou.

Que espécie de mãe fala uma coisa dessas a própria filha? —

questionei a mim mesmo.

— Eu ouvi sua discussão com seus amigos — declarou ela, visto que

fiquei calado. — E não quero ser um fardo a você. — Sua voz embargou

um pouco. — Se você pedir, juro que vou embora.


Meu coração parou uma batida nesse momento. Neguei com a cabeça,

desesperado.

— Você entendeu tudo errado, pequeno Querubim — murmurei,

escondendo suas mãos nas minhas. — Não estávamos discutindo, apenas

conversando.

Sua testa franziu, e eu quase sorri por perceber que nem isso

amenizava sua beleza angelical.

— Vocês conversam e se agridem ao mesmo tempo? — Se confundiu

ainda mais. — Isso é estranho.

Soltei uma risadinha.

— Onde encontrou esse cordão?

Ambos nos assustamos com a voz inesperada do Daniel. Ele estava

bem próximo, e o rosto mais branco do que papel enquanto encarava Linda.

Linda me encarou com medo, sem saber o que fazer ou dizer. Sacudi

a cabeça, instigando-a, dizendo silenciosamente que estava tudo bem. Me

coloquei de pé, porém não me afastei.


— Foi um presente do meu pai — respondeu com firmeza, orgulho

até. — Eu tinha dez anos.

Daniel me encarou com olhos arregalados, ficando ainda mais pálido.

Eu sabia o que ele estava pensando, pois, foi o mesmo que pensei quando vi

o pingente.

— Não pode ser... — murmurou ele para mim.

Arqueei as sobrancelhas, dando de ombros.

— Os detalhes batem — falei.

— O-o quê? Sobre o que estão falando? — Linda perguntou, nervosa.

Respirei fundo e, em seguida, voltei a me ajoelhar em sua frente;

dessa vez, segurando suas mãos entre as minhas.

— O meu amigo aqui tem uma prima desaparecida há alguns anos, e

estamos pensando que possa ser você — expliquei, vendo o espanto

invadindo seu rosto. — Se isto for verdade, baby, você não irá para lugar

nenhum, porque esta é sua casa.


Uma mistura de sentimentos brilhou nos belos olhos, que desfilavam

entre mim e Daniel.

E seus tremores me diziam claramente que ela estava apavorada. Mas

se realmente existisse um Deus, naquele momento, pedi para que Ele me

ajudasse, pois, ninguém seria capaz de me afastar dela.

Nunca.
Capítulo 6

Linda

Eu estava naquele lugar há apenas poucas horas, mas sentia como se

tudo o que eu precisasse era da presença do Oliver. E essa sensação estava

me assustando e... confundindo.

Na verdade, tudo ali era novo para mim; a maneira como se vestiam

e, falavam uns com os outros. Em um momento eram grosseiros, mas no

outro, já estavam se abraçando e se cumprimentando. Eu não entendia.

Mais cedo, quando acordei e vi Oliver deitado ao meu lado na cama,

algo em meu coração se aqueceu. Ele era um homem forte e assustador com

todo aquele tamanho e tatuagens espalhadas pelo corpo todo. Os cabelos


tinham um corte diferente dos demais, e o deixava ainda mais sombrio.

Entretanto, essa sua aura negra não me amedrontava, pelo contrário. A

necessidade de conhecê-lo, de permanecer ao seu lado vibrava em cada

fibra do meu ser. E eu não conseguia compreender tudo isso.

Minha mente estava tão confusa...

Alívio preencheu minhas entranhas quando senti os dedos do Oliver

entrelaçarem os meus conforme caminhávamos pelo complexo, em direção

a entrada do prédio que estive mais cedo com Adela. Na ocasião, fiquei

entristecida quando escutei Oliver discutindo com seus amigos por minha

culpa; eu não queria causar problemas a ele.

— O que houve? — Adela se preocupou quando nos viu entrar na

sala espaçosa. Notei algumas garotas, que me encararam de cima a baixo.

Elas estavam perto de três rapazes, todos com aquele mesmo olhar vazio.

Estremeci imperceptivelmente quando fui forçada a me sentar num

dos sofás. Rapidamente, encarei Oliver, temendo ficar sozinha.


— Baby, vá buscar a caixa do meu tio. — Daniel pediu para Adela.

Em seguida, seus olhos se voltaram para os meus. Percebi que os seus

estavam brilhando com lágrimas não derramadas.

— Que porra está acontecendo aqui? — perguntou o loiro de cabelos

compridos e barba grande. — Qual o motivo para esse dramalhão todo? —

Gesticulou.

Senti que Oliver ficou tenso ao meu lado, mas não disse nada.

— Estamos desconfiados de que essa garota seja minha prima

desaparecida.

— O quê? — Ficou em choque, olhando dele para mim

freneticamente, sem acreditar. — Puta que pariu, Daniel!

Na verdade, todos ao redor ficaram numa mistura de incredulidade e

espanto.

— Bem que eu notei uma pequena semelhança com o velho —

mencionou o cabeludo, me encarando com curiosidade.


— E mesmo assim continuava irritando o Oliver, chamando a garota

de vadia — murmurou outro rapaz, igualmente tatuado, porém com os

cabelos mais curtos. Algo em suas orelhas chamou minha atenção, elas

tinham o buraco alargado.

— Vadia? — perguntei, piscando, tentando entender. — Por quê?

Nesse momento, Oliver e o líder Daniel começaram a rosnar como

dois cães raivosos, deixando o cabeludo tenso, embora continuasse no

mesmo lugar, sem recuar.

A chegada abrupta de Adela na sala pareceu quebrar a tensão do

ambiente. A ruiva estava esbaforida quando entregou uma pequena caixa ao

Daniel.

Na mesma hora, ele entregou o objeto a mim. Oliver soltou a minha

mão e se sentou ao meu lado no sofá. O silêncio ao redor foi ensurdecedor,

com todos esperando para ver minha reação.

— O que está acontecendo, amor? — Ouvi o sussurro da Adela ao

Daniel, embora minha concentração estivesse naquela caixa em meu colo.


Ignorei todas as conversas e resmungos, e me foquei no que tinha em

mãos.

Lentamente, ergui a tampa e logo meus olhos se encheram de

lágrimas quando reconheci as cartas. Cobri meu rosto com as mãos, de

modo a aplacar a força da emoção.

— Meu Deus! — exclamei, aos prantos.

— São suas, pequeno Querubim? — perguntou Oliver, rosnando para

quem riu de sua maneira doce de falar comigo.

Sacudi a cabeça, assentindo, incapaz de acreditar.

Funguei, enxugando as lágrimas que desciam descontroladas. Busquei

uma respiração funda para conseguir falar.

— Houve um tempo em que as cartas se tornaram nosso único meio

de comunicação — lembrei, com a voz embargada. Comecei a remexer no

conteúdo da caixa, até encontrar a outra parte do pingente de coração. —

Minha mãe não permitia que meu pai me visitasse, porque estava com raiva
dele na época, então esse foi seu jeito de puni-lo. — Meu rosto se contorceu

com novas lágrimas. — Embora essa decisão me punisse também.

De repente, Daniel se sentou ao meu lado, embora não tão perto

quanto Oliver.

Eu podia sentir que ele estava emocionado também.

— O-onde ele está? — perguntei ao Daniel, trêmula da cabeça aos

pés, varrendo os olhos ao redor, procurando. — Eu quero vê-lo. — Voltei a

fixar minha atenção em meu primo.

Respirando com dificuldade, visualizei uma única lágrima deslizar em

sua bochecha, mas logo limpou, controlando suas emoções com um esforço

invejável.

— Infelizmente, faz alguns anos que ele nos deixou — declarou,

fazendo meu coração sangrar. — Foi assassinado durante um assalto.

Voltei a cobrir meu rosto, sentindo como se tudo ao meu redor

estivesse ruindo. Até que Oliver me puxou para seus braços, mantendo-me

escondida em seu calor. E lá estava... a estranha sensação de segurança.


— Meus pais morreram quando eu era um garotinho, então fui criado

pelo seu pai — ouvi Daniel explicando, com a voz carregada de emoção. —

Ele nunca me falou sobre você, então, eu não sabia da sua existência até

pouco tempo atrás.

Suas palavras me confundiram um pouco, então voltei a encará-lo,

ainda aconchegada ao calor de Oliver.

— Por que ele não falou sobre mim? — indaguei, sem esconder a

mágoa no tom. — Por que esconderia a minha existência do restante da

família dele? — Meu rosto se contorceu em decepção.

— Isso também é algo que tento entender — afirmou, perdido em

confusão. — Essa caixa em suas mãos deixa claro quão especial você foi

para ele, Linda, ao ponto de ter guardado todas as cartas que você mandou

— observou, me encarando nos olhos. — Mas infelizmente não tem como

sabermos o motivo para ele tê-la mantido em segredo.

Lágrimas nublaram meus olhos.

— Talvez tivesse vergonha de mim, assim como minha mãe dizia...


— Não! — Daniel exclamou mais do que depressa, aturdido com

minha insinuação. — Isso jamais, querida! — garantiu com tanta

veemência que acreditei nele. — Meu tio foi a melhor pessoa que já existiu

na porra desse mundo; foi o homem que me ensinou a ser alguém digno. Ao

longo dos anos, depois da morte dele, eu me desvirtuei de seus

ensinamentos, mas por culpa própria — murmurou, soltando um suspiro

duro. — Tenho certeza de que você viveu no coração dele até seu último

suspiro, Linda.

Funguei, pensativa sobre suas palavras. Então Daniel acrescentou:

— Sabe de algo que acabei de me lembrar? — perguntou, e eu neguei

com a cabeça, ainda baqueada. — Durante um bom tempo, meu tio se

dedicou a fazer passeios misteriosos ao menos uma vez por semana. Era um

dia sagrado para ele, e eu não podia ir junto— contou, exalando um sorriso

nostálgico. — Não me lembro com detalhes, pois as recordações são como

borrões na minha mente, mas quando ele retornava para casa, eu notava seu

semblante diferente. Meu tio parecia nitidamente mais feliz. — Encarei-o,


assimilando sua declaração. — Talvez fosse por sua causa — argumentou,

sugestivamente. — Quando ia visitá-la...?

Esfreguei o rosto, sentindo-me confusa.

— É, pode ser — murmurei, dando de ombros, embora um pouco

mais aliviada. — Nós dois éramos crianças na época, então fica difícil de

lembrar e, ainda por cima, de entender o que se passou.

— Eu juro que procurei por você — murmurou ele, pesaroso. — Mas

agora vejo que meu esforço para a encontrar não foi suficiente. — Seu

visível martírio estava me machucando.

— Querido... — Adela tentou acalmá-lo, deslizando as mãos por seus

ombros, mas ele não quis ouvi-la.

— Eu teria lutado mais se soubesse o que você estava passando,

Linda — insistiu, atormentado. — Puta merda! Eu devia isso ao meu tio. —

Se colocou de pé, e rumou até uma parede, socando a superfície com tanta

força que me fez pular de susto.


Pisquei, tentando reorganizar meus pensamentos. Eu não desejava

que meu primo se sentisse desse jeito.

— Como foi que você perdeu o contato com seu pai? — perguntou o

cabeludo, tão nervoso quanto Daniel. Naquele momento consegui visualizar

seu nome escrito na jaqueta de couro, Ethan.

Ele estava com um olhar diferente agora, com um resquício de culpa.

Funguei, passando a mão no nariz. Notei que voltei a ganhar a

atenção do Daniel.

— Eu não me lembro da idade que tinha quando o vi pela última vez

— contei, franzindo o cenho. As lembranças eram como pequenos flashes,

mas ainda assim, conseguia vê-lo em minha mente. — Mas sei que mesmo

minha mãe tendo me levado embora da cidade, meu pai e eu passamos a

nos comunicar por cartas. — Olhei para a caixa em minhas mãos. — Isso

durou até meus doze anos, quando ela se casou novamente. Então, depois

disso, a nossa vida mudou completamente. — Nostálgica, comecei a

deslizar os dedos pelas cartas. — Não houve um dia em que eu não


acordasse com meu pai nos pensamentos; porque eu sabia que ele não

desistira de mim, mesmo que minha mãe insistisse em me dizer o contrário.

— Ela dizia isso? — choramingou Adela. — Que malvada.

Assenti com a cabeça.

— Às vezes, uma mulher de coração ferido comete erros sem nem

perceber — murmurei, relembrando seu rosto em minha mente. — Acredito

que meu pai a tenha magoado tanto que ela julgou ser correto me afastar

dele, porque sabia que isso o faria sofrer. — Dei de ombros.

— Mas isso a fez sofrer também — alegou Oliver, me obrigando a

encarar seu rosto ali, tão próximo ao meu.

— Muito. — Me encolhi com as recordações da minha infância.

A tensão ao redor estava me sufocando.

— O que fizeram com você naquela fazenda? Aliás, como você foi

parar lá, afinal? — Foi Daniel quem perguntou, voltando a se sentar ao meu

lado. Seu tom parecia tão sinistro quanto sua postura.


Calafrios me tomaram com o peso que aquela pergunta implicava, e

precisei apertar a mão do Oliver em busca de forças para me acalmar.

— Eu morei nas ruas, dos meus dezesseis aos dezoito anos. — Mordi

os lábios, atormentada com as memórias.

Ouvi uma mistura de arquejo e praguejar.

— Nas ruas? Puta que pariu, essa merda só piora! — rugiu Daniel, se

colocando de pé novamente. Ouvi Adela tentando acalmá-lo.

Meu coração estava batendo depressa, mas me esforcei para continuar

contando:

— Foi durante esse período que conheci a Kate. — Sorri com a

lembrança da garota sorridente. — Ela estava com um grupo de membros

da organização Salvation to all, liderada por Charles Brown.

— O quê? — Oliver exclamou, incrédulo. — Então foi a vadia da

Kate que levou você para aquele inferno?

Soltei um muxoxo enquanto assentia, buscando controlar meus

tremores.
— Ela já fazia parte da organização há alguns meses — expliquei. —

Na ocasião, me ofereceram comida, estudo e moradia, tudo o que eu não

tinha enquanto vivia nas ruas. — Me calei, começando a arranhar meus

braços devido às recordações, só parei, porque Oliver manteve minhas

mãos nas suas. — Então fui com eles, ansiosa demais para mudar o rumo da

minha vida. Não aguentava mais passar fome e ter de enfrentar tantos riscos

na rua. — Estremeci um pouco mais.

— E sua mãe?

Não vi quem perguntou, mas respondi sem desviar os olhos da caixa

em minhas mãos.

— Não a vejo desde meus dezesseis anos — respondi sem dar muitos

detalhes.

— O que houve para você ter ido parar nas ruas?

Exausta, mirei os olhos no Daniel, me deparando com a dor

dilacerante presente nos seus.


— Algo que prefiro não revelar, porque dó muito — falei com a voz

fraca. Eu já estava ficando cansada de forçar essas lembranças do fundo da

minha mente.

— E sobre a seita? — A pergunta partiu do Ethan. — O que tem a nos

dizer? Qualquer detalhe pode ser primordial para nos ajudar a acabar com

eles.

Pisquei, reorganizando meus pensamentos, me permitindo remexer

em coisas que estavam sendo mantidas nos recônditos da minha mente.

— O que posso dizer é que no começo... — suspirei — é

extremamente maravilhoso e comovente a maneira como somos acolhidos

— narrei, inspirando o ar com calma. — Eles realmente se preocupam com

nosso bem-estar, físico e mental; mas, no fundo, tudo isso não passa de uma

névoa de sedução — rangi os dentes —, faz parte do processo ardiloso que

usam para conquistar sua fé e confiança. Conheci pessoas verdadeiramente

cegas perante a liderança do Charles, intitulado líder supremo. Eu mesma

cheguei a ser uma dessas fanáticas religiosas, visto que fui tirada das ruas e
tratada como uma igual. Mas bastou eu enxergar a real face desse homem

para que tudo em mim, gritasse para fugir. Porém, já era tarde demais para

isso.

Senti Oliver ficar ainda mais tenso com minhas palavras, reforçando o

aperto ao meu redor.

— Estou com vinte e dois anos — expus, de olhos baixos. — Entrei

para o programa do Charles aos dezoito.

— Meu Deus! Passou todos esses anos em sofrimento...

Encontrei os olhos chorosos de Adela.

— Como eu disse, no início do meu recrutamento foi bem acolhedor

— expliquei. — Meu verdadeiro inferno começou depois dos meus vinte

anos. — Minha respiração travou no peito. — Quando meus olhos se

abriram e eu decidi sair da organização. — Baixei o olhar para a caixa em

minhas mãos.

O silêncio e a atenção sobre mim, estavam me sufocando.

— Posso ficar com o segundo pingente? — pedi ao Daniel.


Mesmo com dificuldade, ele conseguiu falar:

— A caixa é sua — respondeu, engasgado. — Fique com ela.

Assentindo com a cabeça, pressionei a tampa no lugar e, em seguida,

me coloquei de pé. Meus olhos buscaram pelo Oliver no mesmo instante.

— E-eu gostaria de voltar para o quarto agora — aleguei, nervosa

com tantos olhares sobre mim. — Estou cansada.

— Vou com você, Linda. — Ofereceu-se Adela, e não tive como

recusar, mesmo querendo Oliver.

Segurando minha mão, ele beijou a palma.

— Prometo que mais tarde irei vê-la. — Meu corpo inteiro se

arrepiou.

Assenti em confiança e, então saí com Adela em meu encalço.

— Juro que não vou encher sua cabeça com minhas perguntas —

disse Adela assim que chegamos ao primeiro quarto em que fui colocada

quando cheguei ali. — Mas quero que saiba que estou muito feliz com essa
nova descoberta, de você sendo a prima desaparecida do Daniel. — Sorriu

brilhante. — Meu marido sempre desejou saber seu paradeiro.

Nós nos sentamos na cama.

— Estou feliz também, embora muito assustada — confidenciei,

depositando a caixa no colchão. — É muita coisa para processar.

— Eu compreendo — disse com olhar entristecido. — Apenas

imaginar o que você passou já me causa mal-estar. — Embargou a voz, mas

buscou respirar fundo. — Está com fome? — questionou de repente,

esbaforida. Desejei rir, porque essa garota era uma força da natureza.

Balancei a cabeça, afirmando, então a ruiva rumou para a porta

prometendo que logo voltaria com coisas gostosas para comermos.

As horas se passaram depressa, e não voltei a ver o Oliver depois da

descoberta do meu parentesco com o líder do clube. Como as coisas ainda

estavam confusas num todo, achei melhor permanecer no quarto mesmo.

Entretanto, com o aprofundar da noite, decidi que o procuraria, visto que no


momento, além da Adela, Oliver era minha única base de confiança naquele

lugar.

Na verdade, ele me despertava sensações desconhecidas, e me fazia

acreditar que eu não estava sozinha.

Fechei os olhos quando saí do prédio, sentindo o ar úmido da noite

tocar minha pele.

Caminhei devagar, seguindo o barulho alterado de vozes que vinha do

bar. Adela tinha me mostrado mais cedo, apesar de eu não ter prestado

muita atenção, visto que minha mente estava travada. Era como se eu

estivesse agindo no automático.

Ao entrar no bar, meus olhos varreram o local. Era rústico, com

diversos detalhes interessantes em madeira. Visualizei vários homens

bebendo e se divertindo com algumas mulheres. Logo na porta, presenciei

os três garotos que vi mais cedo, ouvi Oliver se referir a eles como os Three

fast. Naquele momento, eles estavam com uma única mulher sobre eles, e
suas mãos se perdiam entre as partes íntimas dela. E pela maneira como ela

gemia, parecia estar gostando de ter os três lhe tocando daquele jeito.

Desviei os olhos rapidamente, sentindo meu rosto corar e meu

coração batendo depressa, galopando no peito.

— Hm... — fui parada por alguém, um homem alto e forte, com olhos

negros — Puta nova na área? — Me encolhi quando sua mão deslizou por

meu braço. — Que tal ir ali comigo no corredor e dar uma chupada no meu

pau, meu bem?

Arregalei os olhos, atordoada.

— E-eu não...

— Sai fora, Greg — rugiu uma voz perto de nós dois. Era o loiro

cabeludo. Seus olhos ferozes não desgrudavam do homem que tinha me

feito a proposta indecente. — Linda não é nenhuma puta do clube, caralho!

Ela está fora dos limites.

O homem ergueu as mãos, dando passos para trás. Contudo, deu uma

piscadinha marota antes de se afastar de nós.


— Este aqui não é um lugar para você, querida — murmurou Ethan,

me tirando dali o mais depressa que pôde. A tensão estava brilhando em seu

rosto. — Ao menos não com sua mente tão atormentada, porra!

Pisquei, me deixando ser guiada para fora do bar.

Cruzei os braços, sentindo-me uma garotinha acuada por ser flagrada

fazendo arte.

O homem a minha frente parecia extremamente nervoso, sem nem

sequer conseguir me encarar direito.

— Fique aqui — não foi um pedido. — Vou ali dentro chamar o

Oliver, pois de alguma forma esquisita, ele entende você.

Dizendo isso, virou em seus calcanhares e sumiu do meu campo de

visão. Me senti atordoada pela sua reação.

Poucos minutos depois, um Oliver muito preocupado surgiu,

esbaforido e de olhos arregalados.

— O que foi? — Verificou meu corpo, certamente em busca de

ferimentos. — Ethan me mandou vir até aqui para encontrá-la. Nem


acreditei quando ele me disse que você estava fora do quarto uma hora

dessas. — Persistiu em seu escrutínio. — Qual o problema? Ele disse algo?

Alguém fez alguma coisa com você?

Desesperada por algo que eu não entendi na hora, me joguei em seus

braços, escondendo o rosto em seu pescoço onde inalei seu cheiro. Era uma

mistura de perfume, suor e tabaco. Num primeiro momento, Oliver não

reagiu, permanecendo com os braços cerrados ao lado do corpo.

— Não aconteceu nada — garanti-lhe num sussurro. — Eu só...

precisava de você. — Meus olhos inundaram, mas não me permiti chorar.

Suspirando, Oliver me apertou contra si, com um braço em minhas

costas e a outra mão em meus cabelos soltos. Seu toque fazia minha pele

queimar, mas sem doer.

— Tudo bem, pequeno Querubim — soprou, beijando minha cabeça,

causando-me arrepios. Afastei o rosto, me deparando com o seu ali, tão

perto. Lambi os lábios, olhando para os seus. — Você está cansada —

declarou com a voz pesada de um sentimento que não reconheci. Mas vi


que suas pupilas estavam maiores. — Vou ficar no quarto com você até que

pegue no sono.

Dizendo isso, entrelaçou nossos dedos e nos levou para o quarto.

Alívio invadiu meu âmago quando Oliver seguiu direto para seu

próprio quarto. Rapidamente, tirei minhas sandálias e engatinhei sobre o

colchão, arrebitando o bumbum. Ouvi quando Oliver soltou um rosnado

estrangulado, mas não compreendi o motivo.

Eu estava usando um vestido soltinho, e uma calcinha minúscula,

porque foram as peças que Adela deixou para mim.

Me aninhei entre as cobertas, encarando Oliver, que estava parado

perto da porta, endurecido no lugar. Ele estava usando uma calça preta, de

couro; nos pés usava um par de botas. A jaqueta ficava aberta, permitindo-

me enxergar a camiseta com uma estampa de alguma banda de música. Era

possível visualizar os desenhos de suas tatuagens escapando pelo pescoço.

— Vai ficar aí? — Minha pergunta não passou de um silvo.


Tinha algo pesado no ar, uma tensão esquisita, mas que estava

mexendo com meu corpo como jamais aconteceu.

— Durma, pequeno Querubim — declarou em tom de comando. —

Prometo que não sairei daqui.

Um sorriso pairou em meus lábios enquanto fechava os olhos,

sentindo estar segura.

— Gosto quando me chama assim — soprei, mas ele não fez nenhum

comentário. — Quando estamos juntos, me sinto parte de você, Oliver. —

Bocejei. — Obrigada por cuidar de mim.

E outra vez, ele não disse nada.


Capítulo 7

Oliver

“Quando estamos juntos, me sinto parte de você, Oliver. Obrigada

por cuidar de mim.”

As palavras de Linda não abandonaram minha mente pelas horas que

se seguiram. Ficaram pairando em meus pensamentos como a porra de um

mantra.

Eu era a porra de um filho da puta miserável, porque não conseguia

tirar os olhos dela, deitada na minha cama, perfumando meus lençóis com

seu cheiro de flores.


Mesmo me esforçando para levar minha mente para outras coisas que

nada tinham a ver com sexo, não estava funcionando. Talvez fosse pela

bebida que ingeri horas atrás, mas a verdade era que meu cérebro não

parecia estar colaborando. E meu corpo seguia o mesmo caminho, com meu

pau quase furando a calça de tão duro diante da visão perfeita e pecaminosa

daquela garota, esparramada em meu colchão. Completamente alheia a

tortura que me causava.

Alheia a reação que despertava em mim.

Por um bom tempo, eu permaneci ali, na porta do quarto, apenas

observando seu corpo relaxado, em busca de descanso. A forma como seu

peito se movimentava, para cima e para baixo, me fazia consciente de sua

tranquilidade no sono. E essa percepção me anuviava, porque sua devoção a

mim me angustiava.

Eu não era bom. E não havia como negar o nítido horror que essa

garota passou nas mãos daqueles doentes do caralho.


Linda foi libertada, mas acabou transferindo sua confiança total em

mim, a porra de um fora de lei.

E o que eu tinha para oferecer a um anjo como ela? Minhas mãos

eram manchadas de sangue, e minha alma repleta da mais completa

escuridão.

Linda não merecia mais dor em sua vida. Ela merecia muito mais.

Merecia ser livre por completo.

Ter suas asas libertadas.

Suspirando em derrota, cheguei mais perto da cama quando tive

certeza de que Linda dormia serenamente. Sentia-me impotente sempre que

me recordava das coisas terríveis que fizeram com ela. Frágil e delicada.

— Eu vou cuidar de você, pequeno Querubim. — Com as costas dos

dedos acariciei seu rosto perfeito, sentindo a maciez da sua pele de seda. —

Prometo que a protegerei de tudo e todos. — Rangi os dentes enquanto

arrastava os olhos pelo seu corpo, mal escondido pelas cobertas. Era

possível ver pedaços de pele a mostra. — Até mesmo de mim — sibilei.


Mal me controlando, fiz um esforço sobre-humano para me afastar

dela e sair do quarto. Precisava beber.

— Como ela está? — Daniel perguntou assim que atravessei o bar,

ignorando as putas que se esforçavam para chamar minha atenção. Olhei

para o Prez, agarrado a sua Old lady, enquanto mantinha um copo de bebida

na mão. Seu tormento e culpa eram nítidos como água para mim.

Eu sabia que ele não estava bem. Certamente estava se martirizando

por cessar as buscas pela Linda no passado.

— A deixei em meu quarto — respondi, observando seus olhos

brilharem com uma emoção sombria. — Não me olhe assim, porque não

toquei nela.

— Ela é minha prima, Oliver.

— E hoje pela manhã, eu ainda era o único que continuava lutando

por ela, para continuar a mantê-la aqui no clube em segurança — lembrei,


ríspido. Entornei uma dose de conhaque. — Então não me venha com essa

merda de ciúme parental, porque juro que vou mandar você se foder.

Ele era meu prez, mas também era meu amigo.

Joshua estava por perto, com o pau atolado na garganta de uma

morena qualquer. Mal enxergávamos o rosto da coitada, pois víamos apenas

os cabelos pretos ao redor do quadril do idiota. Contudo, a atenção do Josh

estava em nós, concentrado na minha discussão com o prez.

Ethan não estava em nenhum lugar, o que deduzi estar em um dos

quartos, se divertindo com alguém, ou com mais de uma.

O grupo dos Three fast também estavam se divertindo como sempre

faziam, juntos. Uma garota para os três.

— Está me desafiando, Oliver? — Daniel questionou num rugido.

Adela se tornando tensa em seus braços. — Desde que Linda chegou ao

clube, você está exalando fúria por todos os lados, latindo para tudo e todos.

— Entornei mais um gole do líquido ardente, sem tirar os olhos do prez. —

Sei das minhas malditas falhas com minha prima, porém agora que a
descobri, não pretendo abandoná-la. Farei o que estiver ao meu alcance para

que ela não sofra mais do que já sofreu nesta porra de vida.

— E isso significa deixá-la longe de mim? Não me acha digno dela,

Daniel? — Meus lábios se retorceram em desgosto.

Os olhos verdes estavam nos meus, frios como uma geleira.

— Não foi o que eu disse — resmungou, com o rosto endurecido.

Dei um sorriso de escárnio para ele.

— Nem precisou dizer. — Peguei a garrafa de bebida, me preparando

para sair dali, pois com a raiva que eu estava, sabia que não conseguiria me

controlar e acabaria fazendo merda. — Isso está escrito na sua cara.

Raiva vibrava meus músculos. No fundo, eu nem poderia culpá-lo,

porque todos nós éramos uns malditos fodidos de merda. E com tudo o que

Linda passou em sua vida, com certeza merecia alguém muito melhor.

Eu estava sentado no sofá-cama do meu quarto quando presenciei o

exato instante em que Linda abriu os olhos ao acordar. Notei quando me


procurou, meio assustada por não me ver logo de cara. Porém, se acalmou

assim que me viu no sofá ao lado.

O sorriso que me ofereceu foi tão lindo quanto ela toda. Desses,

capazes de fazer meu coração ameaçar parar de bater e meu fôlego travar no

peito.

Ergueu-se, fazendo a coberta deslizar de seu corpo perfeito e

pecaminoso. Ela era tão pequena que tudo o que minha mente doentia

conseguia pensar era em seu corpo abaixo do meu, com ela gemendo meu

nome em delírio.

Puta merda! Minha passagem de ida para o inferno já estava

garantida.

Desviei o olhar, me colocando de pé, inquieto demais para continuar

sentado.

— Bom dia! — saudou ela, alegremente.

— Arrume-se, pois nós vamos sair! — rugi, sem impedir que meu

tom soasse ríspido.


Na verdade, minha irritação não tinha nada a ver com ela, mas

comigo mesmo e minhas emoções descabidas.

Não a olhei, mas percebi que meu tom a fez encolher um pouco.

— A-aonde vamos? — perguntou, gaguejando. Me odiei ainda mais

por causar isso.

Rumei para a porta e girei a maçaneta.

— Daniel quer levá-la para conhecer a casa do seu pai — respondi.

Virei a cabeça, apesar de ainda não a olhar diretamente. — Tome seu café e

coma alguma coisa. — Saiu em tom de ordem mesmo, enquanto gesticulava

para a bandeja que trouxera mais cedo com uma jarra de suco, café, leite e

outras coisas gostosas. Sua magreza ainda me incomodava pra caralho. —

Sairemos em alguns minutos.

Não esperei por respostas e saí, praticamente, fugindo.

Fugindo literalmente do meu fruto proibido, pois era exatamente isso

que Linda era para mim.


Capítulo 8

Linda

Mesmo tendo passado tantos minutos desde que Oliver deixou o

quarto, meu coração ainda batia descompassado, porque percebi que algo

estava errado. Ele parecia incomodado comigo de alguma forma, e eu me

esforçava para entender.

Meu peito começou a sufocar de medo, porque Oliver se tornou a

minha âncora desde o momento em que fui resgatada da fazenda, e apenas

me imaginar longe dele já bastava para me desesperar.

Respirando fundo, terminei de me vestir, me encarando no espelho do

banheiro. Aquela era a primeira vez, em muito tempo, que eu olhava meu
reflexo; olhos verdes intensos, pele quase pálida. Os cabelos loiros

pareciam um pouco sem vida devido à fraca alimentação.

Passei as mãos pela blusa de alça, analisando a calça de couro. Eu

apreciava a maneira como o tecido abraçava minhas poucas curvas,

deixando meu bumbum empinado. Nos pés, optei por um par de botas

pretas.

A ideia de que logo estaria na casa que foi do meu falecido pai me

enchia de uma emoção que sufocava meu peito. Não era justo que eu

tivesse o perdido duas vezes: quando criança, e agora, logo que o

reencontrei.

Fungando, com as emoções afloradas, me preparei para sair do

quarto. Não me surpreendi quando encontrei Adela no corredor, prestes a

vir me chamar.

Sorrimos uma para outra.

— Estava vindo justamente para ver se já estava pronta para ir —

comentou, segurando minha mão e apertando. Seus olhos estavam cálidos


nos meus. — Você está linda!

Minhas bochechas esquentaram com o elogio gentil.

— Obrigada!

Caminhamos em direção a saída do prédio, conversando amenidades.

Adela era uma garota impressionante, pois, por trás de toda aquela beleza

doce, eu podia ver a tempestade. E por alguma razão, eu invejava isso.

Invejava essa força.

Ao longe, notei Daniel recostado em sua moto, e a sua direita estava

Ethan, com seus cabelos compridos bagunçados pelo vento. A expressão

anuviada do meu primo suavizou logo que Adela e eu nos aproximamos.

— Bom dia! — exclamou Daniel, entregando um capacete para

Adela. — Espero que esteja animada para conhecer a casa do seu pai,

Linda. — Fixou sua atenção em mim. — Não tenho certeza se você chegou

a ver a propriedade quando criança.

Pisquei, olhando ao redor.


— Se conheci, não me lembro — resmunguei, procurando Oliver com

meus olhos desesperados.

— Aqui, querida. — Ethan me ofereceu um capacete, chamando

minha atenção para si. O encarei com uma careta, dando passos para trás.

— Não faça assim, anjinho, porque não mordo. A não ser que me peça,

claro. — Deu uma piscadinha, exalando um sorriso libertino.

Franzi o cenho com suas palavras, ignorando-o completamente e me

focando no Daniel.

— Onde está o Oliver? — intimei. Notei que meu primo entortou os

lábios com minha pergunta.

— Não julguei que a presença dele seria necessária — disse, dando de

ombros.

Cruzei os braços, de modo a tentar aplacar meu incômodo.

— Como não é necessária? — indaguei, desnorteada. — Eu quero ir

com ele — declarei. — Me sinto confiante quando Oliver está por perto.
Fiquei chateada com a forma como ele pareceu magoado com minhas

palavras, mas eu não podia ignorar meus sentimentos. Era algo mais forte

do que eu.

Vi que Adela cochichou alguma coisa no ouvido dele, mas não

entendi o quê. Embora fosse o que fosse fez com que meu primo rosnasse

baixinho, bem incomodado.

Encarou Ethan, que continuava em silêncio, apenas esperando a

decisão do Daniel. Ficou claro que ele não estava confortável com a ideia

de me levar em sua moto.

— Vá chamá-lo — ordenou com a voz de trovão. — Diga que Linda

quer ir com ele.

Meu coração acelerado deu um pequeno solavanco com isso, e

precisei respirar fundo para controlar minhas emoções.

Daniel e Adela tentaram falar comigo depois disso, mas não dei muita

atenção. Meu foco estava para além de nós, ansiosa para ver Oliver.
Minutos se passaram até que parei de respirar quando ouvi o ronco do

motor de uma moto acelerando em nossa direção. Oliver parou ao meu

lado, me encarando com aqueles olhos quentes, que me aqueciam de dentro

para fora.

Aceitei quando me ofereceu seu capacete reserva, sem desviar dos

meus olhos, apesar de eu ter percebido o dilatar dos seus ao conferir minhas

roupas. Eu me sentia perdendo totalmente a compostura sempre que

estávamos próximos um do outro, e essa sensação era nova para mim.

— Você... — suspirou, com seu maxilar demarcado — está linda.

Respirei profundamente para esconder o tremor que seu olhar intenso

me causou.

— Obrigada por aceitar ir comigo. — Minha voz soou afetada.

— Também estou aqui, Linda — lembrou Daniel, nitidamente

frustrado com algo que não entendi. — Você não estaria sozinha.

Não falei nada. E não por falta de educação, mas, porque não saberia

o que responder. Nem eu mesma entendia essa necessidade de ter Oliver por
perto.

Oliver me ajudou a subir na garupa de sua moto, forçando-me a

abraçar sua cintura.

Senti suas costas pressionando meus seios e tentei controlar as

estranhas reações tomando conta do meu corpo, mas não funcionou.

— Segure firme! — exigiu, soltando um longo e dolorido gemido.

Não tive tempo de perguntar o que estava acontecendo com ele,

porque o motor da moto rugiu e, nós logo avançamos para fora do

complexo.

Um fogo abrasador começou a queimar em minhas entranhas à

medida que a moto pegava velocidade no asfalto; os batimentos do meu

coração foram aumentando gradativamente, fazendo-me consciente de uma

sensação jamais sentida antes: a liberdade.

Me senti livre.

Livre pela primeira vez na vida.


Depois de alguns minutos de trajeto, finalmente paramos em um local

com pouca vizinhança.

Mal tirei o capacete e já estava chorando quando mirei a casa diante

de nós, que dava de fundos para um enorme terreno arborizado.

Daniel se aproximou de mim, tão emocionado quanto, estendendo sua

mão em minha direção para eu segurar. Olhei para sua mão estendida,

pensativa sobre aceitar ou não.

Senti quando alguém retirou o capacete da minha mão e, em seguida,

Oliver pressionou uma das mãos em minhas costas, fazendo-me olhá-lo ao

meu lado, aconchegado a mim.

Então, me senti confiante em aceitar o aperto de mão do meu primo.

Instantes depois, quando entramos na casa, meus olhos passaram a

mirar cada detalhe, sem conseguir focar em uma coisa só. Era uma mistura

de sentimentos e sensações, lembranças da minha infância que pensei terem

se perdido na minha mente atormentada.

Em silêncio, caminhei pelo lugar, tocando... sentindo... cheirando...


Parei quando me deparei com um porta-retrato em que tinha uma foto

do meu pai. Seus olhos verdes, os quais herdei, estavam brilhantes na

fotografia.

— Ele parece feliz — soprei, com voz embargada, enquanto tocava o

vidro do porta-retrato com meus dedos.

— E ele foi feliz, apesar dos pesares — confidenciou Daniel, parado

ao meu lado. — Mas depois que eu soube de você, acredito que a sua

ausência na vida dele foi algo devastador. Ele a amava.

Virei o rosto para encarar o seu.

— Me conte sobre ele — pedi, visualizando um sofá e me sentando.

Daniel se sentou também, com um olhar nostálgico ao se lembrar do tio.

Eu podia enxergar o brilho das lágrimas em seus olhos, mas ele não

se permitia chorar. Talvez por se obrigar a ser forte o tempo todo, sem

demonstrar fraqueza. Eu não sabia dizer.

Não entendia como funcionava o clube, aquela família de homens

assustadores, desbocados e promíscuos.


— Ele foi um pai para mim, Linda — admitiu, olhando diretamente

para meu rosto. Meu coração se aqueceu com isso, em saber que pelo

menos ele teve a dádiva de ter participado da vida do meu pai.

Ergui os pés no sofá, pressionei o porta-retrato contra o meu peito e

me preparei para ouvir histórias sobre o homem que, por longos anos, se

transformou em minha única fonte de esperança, afeto e amor.

Um mês se passou depois da minha visita à casa que foi do meu pai, e

senti que algo mudou dentro de mim. Descobri que sim, ele foi um bom

homem, e me amou como sempre dissera. E essa certeza foi importante

para confortar meu coração.

Diariamente, Daniel tirava um tempo para me levar na casa como

uma forma de eu me conectar com as coisas que foram do meu pai, e eu

achava isso comovente. Meu primo estava se esforçando para se aproximar

de mim, apesar da nítida culpa que eu ainda via em seus belos olhos sempre
que me olhava. E essa percepção me machucava demais, pois, eu não

enxergava a situação dessa forma.

Quando eu pensava nas coisas que me aconteceram no passado, eu

entendia que, certamente, o destino quis que fosse assim.

Não gostava de me recordar dessa parte negra da minha vida,

entretanto, as últimas semanas me obrigaram, porque entendi que meu

passado estava, de alguma forma, atrapalhando meu futuro. E, talvez fosse

o motivo para o distanciamento do Oliver.

Pensar nele fazia meus olhos se encherem de lágrimas, pois nossa

relação pareceu esfriar, e isso me feria.

— O que há de errado com o Oliver? — perguntei ao Daniel,

fazendo-o parar de remexer numas caixas. Estávamos no porão da casa do

meu pai, organizando suas coisas e descobrindo lembranças novas e antigas.

Adela preferiu não vir conosco dessa vez, e entendi que sua intenção fosse

para fazer seu marido e eu nos aproximarmos.


— Por que a pergunta? — rebateu, semicerrando os olhos em

desconfiança. — Por acaso ele... — pigarreou, incomodado. — Eu sei que

vocês dormem juntos e...

Minhas bochechas ruborizaram quando entendi sua insinuação.

— Não! — exclamei, nervosa. — Oliver me respeita — garanti,

escandalizada. — E nunca me faria nenhum mal, confio nele.

Sacudindo a cabeça, Daniel suspirou.

— Eu sei disso, me desculpe — exasperou-se, parecendo perdido. —

É que eu... — se calou, tentando encontrar as palavras certas a dizer.

De repente, atravessou o espaço bagunçado, desviando de todas

aquelas caixas, até se aproximar de onde eu estava.

— Me sinto tão culpado pelo que aconteceu com você que isso vem

me corroendo dia e noite, Linda — declarou, em tom sofrido. — E de um

jeito estúpido, sinto ciúme pelo fato de que foi o Oliver quem a resgatou, e

que foi ele quem lutou por você para garantir sua permanência no clube

quando até mesmo eu estava cogitando aceitar ou não.


Arregalei os olhos, espantada com sua sinceridade.

— Você pretendia me mandar embora? — Arquejei.

Travou o maxilar, envergonhado em continuar me encarando nos

olhos, então desviou o olhar.

— Você ainda não entendeu como as coisas funcionam no clube,

Linda — murmurou em tom engasgado. — E nenhum de nós é bonzinho.

Matamos, roubamos, traficamos drogas — falou devagar, como se quisesse

ter certeza de que eu estava entendendo a gravidade de cada coisa dita. — E

adquirimos inimigos, como os homens que a mantinham cativa. —

Estremeci automaticamente. — Então, cada passo dado no clube, e pelo

clube precisa ser calculado, entendeu? Somos uma família de foras da lei.

Baixei os olhos, pensativa sobre suas palavras. De repente, respirei

fundo e o encarei, confiante.

— Sabe quando contei da lembrança com meu pai quando o vi pela

última vez?
Daniel assentiu, cruzando os braços e se ajeitando contra um armário,

sério e bem interessado no que eu tinha para falar. Parecia o rei do lugar.

— Eu não tenho certeza de quantos anos eu tinha, mas me recordo

que ele me levou para tomar sorvete. — Sorri com a lembrança. — Lembro

até hoje do sabor... — fechei os olhos em êxtase — morango e baunilha.

Meus preferidos. — Dei uma risadinha. — Minha mãe não gostava de me

dar muitos doces, porque alegava que me engordaria. — Dei de ombros.

Daniel rosnou baixinho. Ele deixara claro que não gostava da minha mãe.

— Esse dia me marcou muito, porque a todo momento meu pai me

encarava com olhos tão amorosos e protetores que todo o medo que eu

estava sentindo se dissipou como mágica. Eu fui feliz naquele dia, Daniel

— contei. — Duas únicas lembranças felizes que marcaram minha vida

intensamente.

Piscou.

— E qual a segunda lembrança mais feliz, então? — quis saber,

curioso.
Sorri um pouco mais.

— Quando Oliver me carregou nos braços para fora daquele tormento

— decretei. — Não há um único dia que eu não me lembre dos olhos dele,

Daniel. Os olhos do homem que me salvou.

Minhas palavras soaram firmes e com toda intensidade que eu sentia

dentro de mim. Daniel baixou os olhos, sacudindo a cabeça. Não falou

nada, mas estendeu as mãos num pedido silencioso para apertar as minhas.

Aceitei.

Não dissemos mais nada.

Acabara de sair do banho quando visualizei a silhueta do Oliver

prestes a sair do quarto.

Eu tinha praticamente me mudado para o quarto dele.

— Oi — falei, antes que ele conseguisse escapar.

Oliver se virou em minha direção, com uma camiseta escura apertada

de modo a me fazer admirar seus músculos por trás do tecido.


Seu olhar se arrastou em puro deleite pelo meu corpo coberto por uma

fina camisola. Presente da Adela.

Pigarreei, nervosa de repente. O ar ameaçando me faltar.

— Você parece bravo comigo — acusei, apesar da dificuldade em me

concentrar. Não estava conseguindo pensar muito nem respirar direito com

ele me olhando daquela forma lasciva. — Fiz alguma coisa que não gostou?

Meu coração começou a bater freneticamente quando Oliver,

simplesmente caminhou até onde eu estava, buscando apoio da parede para

minhas costas. Seu cheiro tomou conta de mim. Era tabaco, bebida e

perfume. Mas bem lá, no fundo, tinha um toque selvagem, seu aroma

natural.

— Sim, você fez... — suspirou ele, fazendo-me sentir o cheiro forte

de álcool em sua respiração. Seu rosto estava endurecido, com seu corpo

quase se elevando sobre o meu como se fosse o dono do meu ar.

— O-o quê? — soprei, tentando entender. — O que eu fiz? — Sua

mão se ergueu, e senti seus dedos deslizando em meu pescoço, subindo até
tocar meu queixo.

— Você está me enlouquecendo — admitiu num murmúrio dolorido.

— Está destruindo minha cabeça, mulher. — Seus olhos acompanhavam

cada movimento de seus dedos, que agora desenhavam minha boca.

De repente, voltou a si e se afastou abruptamente, se colocando de

costas.

Minha pele queimou onde seus dedos tocaram.

— E-eu... não entendo — declarei, assustada com tudo isso. — Não

quero ferir você, Oliver.

— Mas você fere! — exclamou em revolta, me fazendo pular de

susto. — Não percebe quem eu sou, Linda? — Gesticulou para si mesmo,

em nítido sofrimento. — Eu sou um homem mau. Não sou esse salvador

que enxergo em seus olhos sempre que nós estamos juntos.

Lágrimas queimaram meus olhos, mas não me permiti chorar.

— Você se libertou daqueles malditos grilhões, mas parece ter

depositado em mim sua liberdade — continuou dizendo. — E isso não é


certo. Não é justo com você, que merece mais. Merece muito mais. —

Voltou a se aproximar, erguendo a mão para tocar meus cabelos. — Até

mesmo um homem melhor do que eu.

Soltei uma respiração trêmula quando ele inclinou o rosto e cheirou

meus cabelos intensamente.

— Oliver...

— Ultimamente estar perto de você está me matando, por isso a evito

— confidenciou com timbre rouco. — Porque tudo o que minha mente

doentia me mostra é você nua, Linda... — sua mão deslizou para minha

nuca enquanto seu olhar se fixou no meu — e eu chupando sua boceta até

ouvi-la gritar meu nome tão alto que cada filho da puta desse clube saberia

a quem você pertence. — Arquejei, sentindo algo pegajoso inundar minha

calcinha. — Sou um homem mau, pequeno Querubim, e a porra de um

cretino que está louco para fodê-la.

Apoiei as mãos em seu peito, adorando sentir seus batimentos

acelerados sob meus dedos trêmulos.


— Oliver...

Fui prensada contra seus músculos duros quando Oliver colou a boca

na minha, exigindo que eu desse (passagem) para sua língua quente e

faminta. Quando se chocou com a minha, senti seu sabor; era uma mistura

de álcool, tabaco e menta. Gemi, desesperada por algo mais que eu não

sabia identificar. A mão dele se arrastou para minha nuca, forçando minha

cabeça a se manter alinhada ao seu ritmo. No momento que sua perna roçou

entre o vão das minhas, eu gemi inevitavelmente pela fricção naquele local

tão sensível. Como resposta, Oliver rugiu contra minha boca; e foi quase

um rugido de lobo.

Quando afastou o rosto, eu quis reclamar, porque estava gostando. Na

verdade, eu queria mais. Muito mais.

Lambi os lábios, enquanto esfregava uma perna na outra, sentindo um

estranho incômodo naquela região, entretanto, a expressão de Oliver se

anuviou quando prestou atenção em algo na minha boca.


Toquei meu lábio inferior e, em seguida, visualizei uma gota de

sangue em meus dedos. Ele mordeu tão forte que chegou a cortar. E pela

sua expressão, deveria estar se odiando por isso.

— Oliver, não...

Mas ele nem sequer quis me escutar, virando-se em seus calcanhares.

Toquei em seus ombros quando ele parou com a mão na maçaneta.

Sua respiração estava ofegante, assim como a minha.

— Acabei de provar que sou um fodido — murmurou. — Por favor,

Linda, fique longe de mim. É para seu próprio bem.

Não tive como tentar convencê-lo a me escutar, porque o homem

saiu, simplesmente, fugido do quarto, me deixando desesperada e com a

sensação de vazio.

Além daquela umidade abundante entre as pernas.


Capítulo 9

Oliver

Sabor de morangos. Puta que pariu! Ela precisava ter sabor de

morango?

Desnorteado com o que acabara de acontecer entre nós dois, saí

desvairado; preso entre a excitação e a fúria de mim mesmo por ceder à

tentação. O sangue nos lábios delicados de Linda me dizia quão perigoso eu

era para algo tão puro quanto ela toda, proibido para mãos sujas como as

minhas.

Eu era um filho da puta!


Sentindo a aspereza de minha respiração, fui até onde minha moto

estava estacionada e me sentei sobre ela, me preparando para sair. Tinha

que me afastar do clube, ao menos por algumas horas.

Pena não ser capaz de afastar da minha mente a imagem do rosto

corado de Linda, o som delicioso de seus gemidos suaves, quase inaudíveis,

mas que conseguiram destruir meu autocontrole completamente. A

brandura de suas mãos pressionando meu peito, como se precisasse de

apoio perante minha força. Caralho! Eu deveria ter me controlado... Linda

era tão sensível em tantos sentidos...

Inspirei o ar profundamente para meus pulmões, me preparando para

fugir. Necessitava estar em qualquer outro lugar, menos ali no clube.

Quando acionei a segurança do portão e ele se abriu, acelerei para

fora do complexo, fazendo o motor da minha Harley rugir furiosamente,

assim como estava meu interior. Furioso de raiva.

De excitação.
Não pude evitar um gemido quando as lembranças novamente

invadiram meus pensamentos, da sensação escaldante que foi ter Linda em

meus braços, sob meu domínio. Sua entrega foi minha perdição. A maneira

tímida como correspondeu ao meu beijo me desestabilizou completamente.

A verdade era uma só: aquela garota tinha se tornado meu mundo

desde que a resgatei; meu ar, meus pensamentos, meus propósitos. Era tudo

por ela, e para ela.

O motivo da minha maldita existência se transformou em protegê-la

do mundo, e isso me incluía na equação também.

Após longos minutos pilotando por uma das minhas trilhas favoritas,

decidi parar num dos picos mais altos da montanha, e então desci da moto,

fixando-a no pezinho de apoio.

Esfreguei o rosto, frustrado demais com todos aqueles pensamentos

conflitantes que se atropelavam em minha mente. Não conseguia raciocinar

direito.
Caminhando pelo pequeno espaço, quase todo fechado de mata verde,

inspirei o ar fresco da noite buscando acalmar meu espírito. Parado em

frente ao penhasco, joguei a cabeça para trás e fechei os olhos, sentindo a

luz da lua banhar meu rosto.

A única certeza que eu tinha naquele momento era que eu ia para o

inferno.

E com uma passagem só de ida.

Esfregando o rosto, me sentei no chão de terra batida. Os tremores

não abandonavam meu corpo, ainda quente pelo cheiro dela.

O cheiro do proibido.

Deslizei a mão para baixo, apertando meu pau duro por cima da calça.

A ereção não me abandonava, porque a porra da minha mente não parava

de me mostrar o rosto corado de Linda; aqueles lábios cheios, em contraste

com os incríveis olhos verdes. Tão linda e frágil... tão indefesa e miúda...

— AAAAAAAAAH! — berrei em revolta.


Me coloquei de pé num pulo, e comecei a pegar várias pedras e lançar

no abismo logo abaixo.

A fúria estava invadindo minhas veias como um veneno corrosivo

que eu era incapaz de impedir ou controlar.

De repente, me empertiguei quando visualizei luzes de um farol de

moto. O ronco do motor aumentou gradativamente com a aceleração

exagerada. Não tive dúvidas a respeito de quem era.

Ofegante, voltei para perto do penhasco, ignorando completamente a

presença indesejada atrás de mim. Minutos antes, fiquei tão descontrolado

que não percebi que estava sendo seguido.

— Vá embora, Daniel — rugi, sem me dignar a encará-lo.

Mas era óbvio que o idiota não faria isso.

— Que porra aconteceu? — perguntou, com um tom esbaforido. —

Linda entrou no bar desesperada, dizendo que você saiu do clube em

disparada — explicou, fazendo-me ranger os dentes com ainda mais raiva


de mim mesmo por tê-la preocupado. Preferia morrer a lhe causar dor. — O

que você fez, Oliver? O que fez, porra?

Me revoltei com a insinuação em suas últimas palavras.

— O que eu fiz? — revidei, entortando os lábios. Me aproximei dele,

que estava parado logo atrás de mim. — Por que diabos acredita que eu

conseguiria cometer algo contra ela, hein? Desde quando me transformei na

porra de um cuzão pra você, Daniel? — rugi, incapaz de controlar a fúria

que dominava meus sentidos inteiramente. — Se acha tão especial que só

você pode ter uma mulher para aquecer sua cama e...

Fui calado com um soco no rosto, que quase me derrubou.

Com a cabeça tombada de lado, levei os dedos ao meu nariz, sentindo

o sangue escorrendo até meus lábios. O sabor metálico que tomou conta da

minha língua só serviu para inflamar minha fúria.

— Linda não é sua! — exclamou tão furioso quanto. — Não se

tornou sua propriedade só porque a carregou para longe daquela maldita

fazenda.
Revoltado com suas palavras, me movi contra ele, o derrubando no

chão e socando sua cara com toda força. Porém, o filho da puta era bom

também, então começamos a nos agredir pra valer, furiosos demais para

não querer tirar sangue um do outro.

— A sua revolta não é comigo, mas consigo mesmo, porque foi um

fodido que desistiu dela no passado, e agora se culpa pela vida de merda

que Linda teve — acusei, longos minutos depois, sem fôlego. E tive meu

rosto novamente acertado por um de seus golpes de punho.

— Cala essa maldita boca! — rosnou, marchando em minha direção

como um touro.

Desviei e o empurrei no chão, socando seu estômago no processo.

Prestes a cair sobre ele, o desgraçado conseguiu chutar meu peito, fazendo-

me gemer de dor.

— Maldito! — praguejei, pressionando meu peito sem conseguir

respirar direito.
Daniel estava tossindo, com a cara toda arrebentada, se rastejando

pelo chão.

— Você não pode mudar que fui eu quem a salvei — soprei, exausto.

Meu corpo todo reclamava de dor. — Não pode mudar o fato de que sou a

única pessoa que vem à mente dela sempre que está assustada e precisa se

sentir segura. Eu... me tornei a âncora da sua prima, Daniel, e não há como

você mudar isso. Nem mesmo eu posso.

Daniel se colocou de pé e caminhou até estar em minha frente outra

vez; me preparei para mais um golpe, entretanto, ele apenas sacudiu a

cabeça, numa mistura de riso com praguejar.

Passei as mãos pelo rosto, sentindo o odor e o gosto metálico do

sangue. Ele tinha me estourado, mas seu rosto não estava muito diferente do

meu. Sorri com esse pensamento.

— Qual o motivo da risada, seu idiota? — rugiu ele, se colocando em

minha frente, me oferecendo um cantil de uísque. Não fazia ideia de onde

ele conseguira aquela delícia, mas foi muito bem-vinda.


Entornei um gole generoso, bocejando o líquido ardente na boca e,

em seguida, o devolvi observando-o fazer o mesmo.

Logo, nós dois nos sentamos próximo ao penhasco, um ao lado do

outro. Nossas respirações ainda estavam ásperas devido a toda briga de

minutos atrás.

— O que aconteceu? — Ouvi sua pergunta após um longo tempo de

silêncio.

Pensei um pouco antes de responder, mas eu não mentiria. Não tinha

motivos para isso. Eu era um homem de trinta e dois anos, consciente

demais dos meus sentimentos e ações.

— Eu a beijei — respondi, analisando suas reações com o canto dos

olhos. A tensão estava lá, em seus ombros, mas ele não disse nada. —

Contudo, ao contrário do que pensa, não foi nada de caso pensado. Quer

dizer... pensar nela é tudo o que faço desde que Linda entrou na minha vida

e... puta merda! Eu não sou imbecil, Daniel, sei que não sou a melhor
escolha para sua prima. Linda merece mais do que um homem como eu,

com a alma afundada em pura escuridão.

— Você a... beijou. — Ele disse baixinho.

Levei a mão para dentro da minha jaqueta e retirei um cigarro do

maço. Precisava desesperadamente da calmaria momentânea que a nicotina

podia dar.

— Depois que percebi o que estava fazendo, eu me afastei e saí em

disparada com minha Harley — contei, tragando a fumaça e fechando os

olhos. Precisava relaxar.

— Mas você a beijou — enfatizou, como se tudo aquilo fosse algo

impossível de acreditar. Virei a cabeça em sua direção, percebendo o

espanto em seu rosto ensanguentado. — Você nunca beija as mulheres que

fode, Oliver. Conheço você há muito tempo para saber disso.

E ele estava certo. O beijo para mim era uma intimidade que não

podia ser compartilhada com qualquer pessoa.


Bati o cigarro para me livrar das cinzas e, em seguida, voltei a levá-lo

a boca, tragando-o devagar. A fumaça escapou da minha boca e narinas.

— Linda não é como as putas do clube — declarei — E sou capaz de

matar quem ousar se referir a ela dessa maneira, até mesmo um dos irmãos.

Travei o maxilar, continuando a mirar a paisagem além do penhasco.

Ouvi quando Daniel suspirou baixinho.

— Mais cedo, ela me disse que a segunda lembrança mais feliz da

vida dela é de quando você a libertou daquele inferno. — Visualizei os

dedos de sua mão se fechando com força na areia. — Minha prima disse

com todas as letras que não há um único amanhecer que ela não se lembre

dos seus olhos, Oliver — me encarou, exigindo meu olhar no seu —, os

olhos do homem que a salvou.

Engoli em seco, sem saber o que dizer. Na verdade, minha voz ficou

presa na garganta. O nó estava ali.

— Eu me enganei, irmão — decretou ele, apertando meu ombro. —

Agi como um maldito moleque enciumado, e não quis enxergar a verdade.


— Deixou o ar escapar dos lábios. — A verdade em que você salvou minha

família duas vezes. — Voltei a encará-lo, confuso com sua declaração. — A

primeira vez com Adela, a mulher que é minha vida. E agora com Linda, a

prima a qual acreditei que jamais conheceria.

Respirei fundo, assimilando tudo aquilo.

Era muito para pensar.

— Se existe um homem capaz de manter Linda segura e a salvo —

persistiu ele —, sem dúvidas, esse alguém é você. Ela precisa de você.

Dei a última tragada no cigarro e, sem demora, joguei a bituca no

chão próximo aos meus pés, onde apaguei com a bota.

Não falei nada.

E nem sabia o que dizer. Ao menos não naquele momento. Então o

silêncio voltou a nos fazer companhia.

Já era madrugada adentro quando Daniel e eu retornamos ao clube.

Segui direto para meu quarto, tomando o cuidado de não fazer barulho ao
visualizar a silhueta de Linda em minha cama. Me aproximei lentamente,

observando como sua respiração estava descompassada, soltando pequenos

soluços magoados, embora estivesse dormindo. O que me fez deduzir que

chorou até adormecer.

Me senti pior ainda.

Exausto física e psicologicamente, me deixei cair no chão, ao lado da

cama, perto da cabeceira.

Devagar, levei uma das mãos ao seu lindo rosto, desenhando os traços

perfeitos com meus dedos ásperos demais para sua pele sedosa e macia.

— Você está se enraizando em minha pele... — soprei, segurando

alguns fios loiros de seu cabelo, deslizando-os por meus dedos. Inspirei seu

cheiro com ânsia de algo mais. Parecia nunca ser suficiente. — Meu

pequeno Querubim.
Capítulo 10

Linda

Acordei com a claridade invadindo o quarto, os raios de sol

esquentando minha pele. Assim que ameacei me mexer, me assustei ao

encontrar Oliver dormindo no chão, ao lado da cama. Sua mão segurava a

minha de um jeito protetor, como se quisesse ter certeza de que eu estaria

ali quando ele acordasse.

Automaticamente, minha mente foi invadida pela lembrança do beijo

que compartilhamos horas atrás, e senti meu rosto ruborizar. A maneira

como suas mãos quentes e ásperas tocaram meu corpo, causando-me todo

tipo de reação, me fazia estremecer apenas com a recordação. Meu coração


começou a bater descompassado, e piorou quando observei os ferimentos

em seu rosto. Havia sangue seco em seus lábios cortados, nariz e supercílio.

Eu não fazia ideia do que aconteceu com ele, mas vê-lo desse jeito me

causou dor.

Voltei a me remexer na cama, dessa vez soltando sua mão entrelaçada

a minha, porém o gesto foi suficiente para fazer Oliver despertar. Prendi a

respiração quando seus olhos se abriram e pousaram nos meus. Nervosa,

passei a mão pelos cabelos e fixei o olhar nos braços fortes, de músculos

tensos e definidos.

— Linda... — sussurrou, fazendo-me tremer levemente pela

intensidade de seu tom.

Corajosamente, meus olhos voltaram a encontrar os seus.

— O-o que aconteceu? — soprei a pergunta, me sentando na cama,

sem conseguir desviar os olhos de seu rosto machucado. — Por que está

ferido? Quem fez isso com você? — Minha voz se engasgou.


Piscou e, em seguida, tocou o próprio rosto, parecendo ter se dado

conta desse detalhe só porque mencionei.

— Ontem, quando Daniel foi atrás de mim, nós conversamos —

respondeu apenas.

Arregalei os olhos, desnorteada com sua resposta.

— Conversaram? — Vi-me confusa. Oliver se colocou de pé. —

Então foi ele quem fez isso com você? — Arquejei em choque. — Por quê?

Por que meu primo faria isso?

— Porque precisávamos. — Deu de ombros, seguindo para o

banheiro, onde ouvi quando ligou a água da pia. — Tínhamos alguns

assuntos inacabados, mas agora estamos bem.

Eu estava desnorteada.

— E-eu... não entendo — resmunguei, quando ele retornou ao quarto,

enxugando o rosto.

— O que você não entende, baby? — indagou, se sentando ao meu

lado, na cama. O rosto estava limpo de sangue, mas os hematomas eram


bem visíveis.

— Isso. — Gesticulei para seu rosto coberto de machucados. — Por

que vocês dois se agrediriam desse jeito?

O canto de seus lábios se distendeu num sorriso.

— Porque é desse jeito que resolvemos as coisas aqui no clube —

respondeu. — E está tudo bem.

Incrédula, sacudi a cabeça.

— Vocês são tão complicados... — suspirei, me esforçando para

entender tudo aquilo. — Enfim... — me ergui da cama — Onde posso

encontrar uma caixinha de primeiros socorros? — perguntei, me voltando

para ele, que continuava sentado, mas com seu olhar atento no meu, como

uma águia.

— No armário do banheiro. — Apontou.

Assenti, e caminhei até lá, embora sentisse minhas pernas ameaçando

falhar devido à força de seu olhar sob minhas costas. Parei diante da pia,
sentindo minha respiração irregular. Inspirei o ar profundamente e, em

seguida, lavei meu rosto e enrolei meus cabelos num coque frouxo.

Assim que retornei ao quarto — com a caixinha de primeiros socorros

em mãos — engoli em seco ao me deparar com Oliver me encarando de um

jeito que fez meu coração disparar. Nunca nenhum homem me olhou dessa

maneira antes, como se eu fosse algo tão frágil que temesse que eu fosse

quebrar a qualquer momento.

Trêmula, me coloquei entre suas pernas, travando a respiração quando

nossos joelhos se tocaram levemente. Inspirei... e seu cheiro encheu meus

sentidos. Oliver não disse uma única palavra, embora não parasse de me

encarar daquele jeito único, como se quisesse me devorar inteira.

Devagar, umedeci a gases no soro fisiológico e, em seguida, comecei

a pressioná-la nos ferimentos visíveis. Eram muitos.

— Dói? — perguntei baixinho, vendo-o negar com a cabeça, sem

desviar dos meus olhos.

Eu podia sentir sua respiração banhando minha pele.


Quando terminei, continuei entre suas pernas, hipnotizada demais

para conseguir me afastar. Então, voltei a erguer a mão, dessa vez para tocar

seu rosto com meus dedos curiosos.

Lentamente desenhei suas sobrancelhas, descendo pelo maxilar

demarcado, incapaz de desviar meus olhos do movimento que eu fazia. Meu

coração parou uma batida quando Oliver deitou o rosto em minha palma,

parecendo tão dócil que a cena contradizia completamente com a violência

que sua aparência exalava por todos os poros.

Sem resistir a força do desejo que me inebriava, me inclinei e

pressionei meus lábios em sua testa, ouvindo o estremecer de sua

respiração. Em seguida, beijei a bochecha, e cada parte machucada.

Ofeguei no instante que senti o aperto de suas mãos em minha

cintura. Gemendo, me agarrei aos seus ombros quando senti aquela agitação

lá embaixo, uma necessidade que pulsava sem parar.

— Você está me enlouquecendo, Linda... — murmurou com voz

afetada, reforçando o aperto de suas mãos em minha cintura.


Ele me encarou, quase em transe, quando comecei a traçar o formato

de seus lábios.

— Eu... eu não consigo me esquecer do seu beijo — admiti, sem

fôlego. Meus dedos deixando seus lábios para acariciar o queixo. — E sinto

coisas esquisitas sempre que estamos juntos. — Passei a língua pelos lábios,

baixando o olhar para os seus. Calor irradiou minhas bochechas.

Oliver deslizou uma das mãos por minhas costas, forçando meu corpo

mais para junto do seu, arrancando-me outro arquejo.

— Que tipo de coisas, pequeno Querubim? — Segurando minha mão,

ele a levou aos lábios e a beijou. Meu peito quase explodiu.

Voltei a arfar quando senti o toque de sua língua em meus dedos,

arregalando os olhos com a timidez.

— E-eu me sinto queimando, mas sem sentir dor — confessei,

envergonhada. — Sinto calor lá embaixo... e minhas coxas se apertam com

uma necessidade que não consigo entender.


Ofeguei, quando Oliver me rodopiou e me jogou sobre a cama, logo

se unindo a mim com seu corpo quente e viril. Tremi levemente ao sentir

seu peso sobre mim, mas não de medo. Nunca de medo.

Meu coração gritava que eu deveria estar com ele, que Oliver diferia

de qualquer homem que eu já tivera conhecido.

— Porra, Linda... — sussurrou, causando-me arrepios pela coluna.

Pairou o rosto acima do meu, as pálpebras pesadas de luxúria. — Isso não é

certo. — A voz ofegante me fez contorcer abaixo dele, sentindo sua dureza

pressionando meu baixo ventre.

— Por quê? — indaguei, desesperada para que ele acabasse com

aquela necessidade. Enrolei seu pescoço, puxando-o para mais perto, se é

que isso era possível. — Por que não é certo?

Seu rosto ficou tão próximo que nossas respirações se misturaram.

Oliver colou a testa na minha, todos os seus músculos estavam tensos sob

minhas mãos.
— Porque mato pessoas a sangue-frio — respondeu. — Já enfrentei a

morte tantas vezes que perdi as contas. — Segurei a respiração. — Minha

mente é tão fodida que se você soubesse um terço do que se passa aqui

dentro — apontou para a própria cabeça — certamente fugiria de mim

como o diabo foge da cruz. — Voltou a pressionar a testa na minha,

inspirando meu cheiro e me fazendo arquejar. — E você é a garota mais

impressionante que já conheci, Linda — confessou, quase em sofrimento.

— Não posso arriscar tudo e perdê-la. — Seu tom soou dolorido. — Não

posso perder você.

De repente, ele se afastou, se colocando de pé e erguendo as mãos

atrás da cabeça, como se estivesse segurando os próprios instintos. Minha

respiração estava descompassada, com meu peito subindo e descendo.

Pressionei as pernas juntas, desesperada por qualquer fricção ali. Oliver

notou esse movimento e rangeu os dentes, inflando as narinas. Parecia um

cão prestes a atacar sua presa.

— Vou sair agora, antes que eu perca a cabeça — avisou, em

desespero nítido. — Arrume-se, pois o clube tem um evento hoje. —


Pisquei, me obrigando a fazer minha mente assimilar o que ele dizia. Tudo

o que meus olhos e meu corpo viam era a protuberância visível sobre sua

calça. — E você vai comigo, na porra da minha garupa!

Dizendo isso, rumou para a porta e saiu.

Mais uma vez me deixando desejosa, confusa e pegajosa entre as

pernas.
Capítulo 11

Oliver

“Eu não conseguia me mexer, era como se minhas pernas estivessem

imobilizadas. Meus olhos estavam fixos na explosão diante de mim, e me

senti travar da cabeça aos pés. O barulho ensurdecedor fazia meus ouvidos

zumbirem dolorosamente, mas não mais do que aquela cena causava ao

meu coração.

Quando finalmente consegui despertar do transe, comecei a seguir

meus companheiros, que corriam para o prédio em chamas. “Procurem por

sobreviventes”, eles diziam. Mas eu sabia que seria uma missão impossível.
Não havia como alguma daquelas crianças ter sobrevivido àquela

explosão. Infelizmente, eu falhei em protegê-las.”

Encontrei os irmãos na cozinha, conversando sobre o batizado dos

Three Fast que aconteceria logo mais. Colin, Justin e Joe estavam sorrindo,

animados, pois, finalmente ganhariam o colete com o brasão definitivo. Se

tornariam um de nós.

— Puta merda, Oliver! — exclamou Josh, analisando meu rosto. —

Não dá para dizer quem está com a cara pior, se você ou o Daniel.

Dei uma risadinha, enquanto me servia com um café forte. Encarei o

trio.

— Animados? — perguntei.

— Parece mentira que finalmente vou me tornar um irmão. — Sorriu

Justin, vibrando. — Mal posso esperar para exibir meu colete para as

vadias, mais tarde.

Ethan o estapeou na cabeça, achando graça de suas palavras.


— O pach é mais que uma ponte para ganhar bocetas, seu idiota —

ralhou. — Não me faça mudar de ideia ao seu respeito.

A risada foi geral, enquanto Justin formava uma carranca.

— Esse clube se tornou meu lar, então, estou muito ansioso para

poder participar das reuniões na igreja e, consequentemente, de todas as

missões. — Joe esfregou uma mão na outra, parecendo muito eufórico com

o que acabara de falar. Eu tinha muito orgulho dele, de tê-lo apadrinhado

em todos esses anos.

— E você vai, Joe. — Bati em seu ombro. — Será um de nós.

— Ser um lobo é tudo o que aprendi a ser — declarou Colin, com

aquele tom de voz sombrio, assim como ele todo. — Então esperei muito

tempo por esse dia, o dia em que isso será oficializado e com a benção de

todos os irmãos.

Sorrimos, apreciando sua escolha de palavras.

Nesse momento, Daniel e Adela surgiram, rindo de alguma piada de

casal. Quando a ruiva encontrou meus olhos, vi uma careta de desgosto se


formando em seu belo rosto.

— Vocês... — gesticulou de mim para o marido — são dois

estúpidos!

— Concordo — inflamou Ethan, com uma risadinha irritante nos

lábios.

— Cala a boca, seu idiota! — Daniel e eu rugimos juntos, fazendo

risadas ecoarem no cômodo.

— Vou lá conversar com a Linda — avisou Adela, ainda com aquele

ar de decepção. — Provavelmente ela deve estar assustada após ver essa sua

cara toda estourada desse jeito — apontou para mim. — Espero que vocês

parem com isso — ralhou, como uma mãe que briga com o filho. — É bem

desagradável quando minhas duas pessoas favoritas se engalfinham como

dois gladiadores.

— Ei? — Joshua se eriçou. — Como assim suas duas pessoas

favoritas? Eu pensei que o segundo posto era meu, ruiva. — Fez carinha de

choro.
— E você acha mesmo que a ruiva ia favoritar um bundão feito você?

— Ethan zombou. — Além de ser um psicopata do caralho, morre de medo

de histórias de fantasmas.

Nesse momento, Josh se levantou, prestes a avançar contra ele, mas

Ethan foi mais rápido e saiu em disparada da cozinha.

Sacudi a cabeça, rindo.

— Duas crianças grandes. — Adela resmungou, antes de sumir do

nosso campo de visão.

Daniel se aproximou de mim, ansioso por um gole de café preto. Os

hematomas azulados em seu rosto me fizeram sentir um pouco de conforto,

visto que ele fizera o mesmo com o meu. O idiota mereceu cada golpe.

— Como ela reagiu? — perguntou, referindo-se a Linda.

Dei de ombros, esforçando-me para não me lembrar do que aconteceu

entre mim e ela, longos minutos atrás. A garota estava acabando com meu

autocontrole.

Meu pau ainda pulsava dolorosamente.


— Não tão raivosa quanto sua old lady, devo salientar. — Sorri. —

Mas obviamente não gostou.

Ele também sorriu.

Eu quase gozei nas calças quando observei Linda caminhando ao lado

de Adela, com aquela calça de couro que a deixava deslumbrante. Nas

últimas semanas notei que ela engordou um pouco, o que reacendeu suas

curvas deliciosas.

Rosnei quando percebi os outros a secando com os olhos, querendo

deixar claro que ela era minha.

Minha.

A porra do meu coração idiota se agitou ao perceber que ela não

olhou para o lado em nenhum momento, mesmo que o pátio estivesse

lotado de motociclistas, mas continuou seguindo em minha direção. Seus

olhos estavam em mim o tempo todo.


Quando se aproximou, parou ao meu lado, de cabeça baixa,

parecendo perdida em como agir em minha presença, ainda mais com tantos

olhares sobre nós.

Circulei sua cintura, puxando sua silhueta delicada para mais perto. O

arquejo que escapou de seus lábios foi tão excitante quanto ela toda, dentro

daquela roupa de couro que a deixou ‘sexy’ pra caralho.

— Você está fodendo meu juízo, mulher — sussurrei em seu ouvido,

me deleitando com seus pelos se arrepiando.

Estremeceu sob meus braços, cravando suas unhas em meus ombros.

Esse gesto me fez segurar um gemido estrangulado. Quando afastou o rosto

para encarar o meu, notei suas bochechas ruborizadas. Passeei os dedos

sobre elas.

— Adela me explicou como seria o evento, e me ajudou a escolher a

roupa adequada — narrou, nervosa sob meu olhar intenso. Eu estava mais

que louco para avançar naqueles lábios os quais o gosto ainda estava na

minha língua.
— Você está deslumbrante — afirmei, lhe entregando o capacete. —

Tanto que estou me esforçando para não chutar alguns traseiros por não

conseguirem parar de olhar para você, baby.

Ela sorriu, aceitando o capacete.

A auxiliei na subida em minha garupa, segurando suas mãos e as

deslizando para minha cintura. Era a segunda vez que a tinha na garupa da

minha Harley e me senti o filho da puta mais sortudo da face da terra.

Eu adorava a agitação do pessoal quando o evento era de batismo.

Boa parte dos membros aparecia, ansiosos para presenciarem esse momento

tão marcante na vida dos novos irmãos.

Quando paramos, próximo a uma trilha que nos levava a um pequeno

córrego, Linda reforçou o aperto em minha jaqueta. Toquei seu braço, em

torno de minha cintura.

— Está tudo bem — afirmei, me virando para encontrar seus olhos. O

dia estava quente, então era possível visualizar gotas de suor em sua testa,
grudando alguns fios de seu cabelo loiro e sedoso assim que ela tirou

capacete. Toquei sua bochecha com meu polegar. — Procure pela Adela, e

fique com ela até tudo terminar.

Assentiu.

Observei, atento, enquanto ela se afastava, cabeça baixa ao passar

pelos outros irmãos. Dessa vez ninguém ousou olhar para ela mais tempo

do que o necessário.

Nos próximos minutos, nós nos organizamos, deixando todas as

motos alinhadas de modo a formar um corredor que dava direto para o

córrego. Depois da cerimônia, o trio passaria por ele, enquanto

acelerássemos os motores.

Em seguida, formamos um círculo, com os garotos no meio, para que

seus padrinhos dessem início ao batismo.

— Batismo ou juramento... bom, nós preferimos usar o termo

juramento. — Daniel começou o discurso inicial. — Batismo significa por

si só, renascimento. E, na verdade, nós não queremos ninguém renascido,


pelo contrário, queremos pessoas que tenham vivência, experiência e a

certeza do que estão fazendo, para somar. O juramento de um membro, é o

único momento em que a seriedade absoluta impera nesse clube. Isso,

porque o recebimento de um novo integrante que a partir de então, se

transforma em irmão, é motivo de alegria sim, mas também de apreensão.

Embora um novo membro jamais seja aceito antes de cerca de dois anos,

permanecer como aspirante, conhecendo o clube, seus costumes, sua

história e superando todas as dificuldades que lhe são impostas para que

desista da ideia, ainda assim, somente após estar dentro, poderemos ter a

certeza de sua lealdade e do aumento da nossa responsabilidade com mais

um membro na família.

Uma mistura de palmas e uivos se iniciou quando Daniel se calou.

Com tudo pronto, Joe foi escolhido para ser o primeiro. Então me

aproximei, segurando seu colete em minhas mãos.

— Você mereceu, moleque! — O abracei e, em seguida, o auxiliei a

colocar.
Joguei a cabeça para trás, soltando o uivo característico do nosso

clube. Os outros fizeram o mesmo.

Sorrindo, me afastei, gesticulando para que Joe fizesse o juramento:

— Essa segunda pele para mim, é muito importante — apontou para

seu colete, sorrindo de orelha a orelha —, fiquei muito ansioso esperando-a.

Bem, prometo, pela minha honra, defender, respeitar e difundir de forma

harmônica e justa o Brasão e a bandeira do Moto Clube, lutando pelo seu

progresso e ideal, cumprindo com todas as normas vigentes do nosso covil!

— finalizou com o juramento.

Houve outra rodada de uivos.

E assim prosseguiu a cerimônia, com Justin e Colin.

O momento de passarem pelo corredor de motos foi o mais divertido,

pois os três sofreram nas mãos dos rapazes, que ficaram beliscando,

empurrando, embora todos estivéssemos orgulhosos do trio.

Ao final do corredor, eles entraram no córrego, fazendo festa e

espirrando água para todos os lados.


Eu estava gargalhando, até que de repente, uma saraivada de balas

nos atingiu, pegando a todos nós de surpresa. Minha primeira reação foi

arrastar os olhos em busca da Linda.

Ao longe, eu a vi travada no lugar, olhando diretamente para a

caminhonete que se aproximava.

Daniel parou ao meu lado, sacando sua arma.

— Tire-a daqui! — exclamou ele, referindo-se a prima. Em seguida,

deu a mesma ordem ao Joshua, mas, dessa vez falando da Adela.

Abri a boca para retrucar, mas ele não permitiu:

— É uma ordem, Oliver!

Dizendo isso, se afastou, atirando para além de nós.

Nervoso, corri até Linda, que estava em choque.

— Oliver... — todo seu corpo tremia.

Não tive alternativa a não ser pegá-la no colo para acelerar o processo

de fuga.
Seus olhos chorosos partiram meu coração, mas eu não tinha tempo

para consolá-la naquele momento. Precisava protegê-la.

Precisava mantê-la a salvo.


Capítulo 12

Linda

O barulho ensurdecedor dos disparos não saía da minha cabeça,

mesmo eu me esforçando para esquecer. Era difícil.

Minhas pernas estavam quase amortecidas quando Oliver parou a

moto na entrada do complexo. Joshua parou logo depois, com Adela na

garupa.

O pavor nos olhos dela, quando me encarou era o mesmo que eu

estava sentindo. Minha carne tremia descontroladamente.

Trêmula, tentei caminhar, mas quase caí devido às fraquezas nas

pernas. Porém, antes que isso acontecesse, tive minha cintura enlaçada por
braços fortes. Arquejei com o calor do Oliver em minhas costas.

— Você está bem? — soprou a pergunta em tom angustiado. —

Pergunta idiota — ralhou consigo mesmo —, é claro que você não está

bem.

Sem eu estar esperando, me pegou no colo e começou a caminhar

comigo em direção ao prédio compartilhado.

Adela e Joshua vieram logo atrás, conversando entre si, mas eu estava

muito nervosa para conseguir entender o que diziam.

Minutos depois, Oliver me colocou sentada em um sofá, acolhendo

meu rosto em suas mãos quentes. Seus olhos preocupados não desgrudaram

dos meus em nenhum momento.

Segurei suas mãos em meu rosto.

— Aqueles homens... — lambi os lábios ressecados —, eles... eles

estavam atrás de mim?

Vi quando suas narinas inflaram, mas não disse nada. Ao invés disso,

tomou o assento ao meu lado e, em seguida, me puxou para seu peito.


Aceitei seu cuidado, porque eu sabia que, em seus braços, era o lugar mais

seguro que eu poderia estar.

Não vi quanto tempo se passou, mas quando o barulho estrondoso de

motos sendo aceleradas invadiu o complexo, me coloquei de pé

automaticamente. Oliver e Josh trilharam o espaço, deixando Adela e eu

para trás. A ruiva se colocou ao meu lado, tão preocupada quanto.

No momento em que Daniel atravessou a porta de entrada, respirei

aliviada ao ver que ele estava bem, sem nenhum arranhão. Meus olhos

nublaram com lágrimas não derramadas. Seus olhos buscaram

desesperadamente pela mulher, que saiu do meu lado e correu para seus

braços, pulando com as pernas em sua cintura. Meu primo a encheu de

beijos, garantindo estar bem, e que tudo ficaria bem.

Gradualmente, o lugar foi enchendo com os outros irmãos, deixando-

me momentaneamente sufocada.

— Igreja, agora! — rugiu Daniel, olhando para seus irmãos.


Eu não entendi o que isso significava, mas fiquei em silêncio

enquanto os observava seguir para uma direção só.

Estava tão distraída que me assustei quando Adela enrolou o braço no

meu, forçando-me a encarar seu rosto choroso.

— Vem comigo — pediu, me puxando para outro cômodo.

Estava tão desnorteada, que me permiti ser guiada por ela, sem

questionar. Logo, chegamos a uma sala bem espaçosa, cheia de sofás e

aparelhos eletrônicos. Deduzi que fosse usada para os irmãos se divertirem.

Quando entramos, Adela fechou a porta, enquanto eu escolhia um

sofá para me sentar.

Nervosa, a ruiva veio em minha direção, tomando o assento ao meu

lado e buscando minhas mãos nas suas.

— Como você está? — perguntou, preocupada. — Imagino que deva

estar tão assustada quanto eu.

Nas últimas semanas, minha amizade com ela se tornou mais forte,

apesar de eu ainda me sentir mais à vontade com Oliver. Sempre seria ele.
— Estou desesperada — respondi honestamente, soltando suas mãos,

pois me senti inquieta. — E se... — me calei, sem conseguir concluir o

pensamento. — As coisas poderiam ter ficado feias, Adela, e eu não sei

como reagiria se o pior tivesse acontecido. — Minhas lágrimas ameaçaram

cair. — O Oliver... o meu primo...

Adela me puxou para seus braços, apertando-me com tanta força que

cheguei a ficar sem ar, mas não reclamei.

Permanecemos assim por um bom tempo, ambas perdidas em

pensamentos.

Quando se afastou, ela enxugou o resquício de lágrimas abaixo dos

meus olhos e, em seguida, fez o mesmo com os seus.

— Você gosta dele — não foi uma pergunta. E ela nem o nome

precisou verbalizar, porque eu sabia a quem estava se referindo. — Vejo

isso em seus olhos quando se refere ao Oliver, quando olha para ele.

Minhas bochechas ruborizaram, e me empertiguei toda, nervosa

demais com o que disse.


— Ei? — Tocou meu braço, exigindo que eu voltasse a olhar para

seus olhos — não precisa ficar nervosa — afirmou, sorrindo. — É normal

que se sinta confusa, porque as coisas estão acontecendo rápido demais. —

Mordi os lábios, sem saber o que dizer. — Mas Oliver é um bom homem.

Pisquei rapidamente, assimilando suas palavras.

— Ele... — franzi o cenho com uma careta — ele não acredita ser um

homem bom — falei, me recordando de quando Oliver disse isso. — Suas

afirmações são sempre autodepreciativas. — Encarei os olhos verdes da

ruiva. — E eu... não entendo. Não entendo, porque ele é a pessoa que mais

me passa confiança desde que saí daquele inferno. E... — desviei os olhos,

sentindo novamente o rubor da timidez me abater — mesmo sem entender o

que estou sentindo, quero estar com ele a todo momento.

— Você está se apaixonando. — Adela afirmou com um sorriso

enorme, fazendo meu coração acelerar. — Mas tudo o que você passou... —

coçou a garganta, angustiada — aliás, tudo o que fizeram com você, de


alguma forma, está te bloqueando. Então você se sente confusa com suas

emoções e novos sentimentos.

Meus olhos voltaram a queimar com novas lágrimas.

— Estou cansada, Adela — confessei, aos prantos. — Me sinto

exausta.

Fui novamente acolhida por seus braços carinhosos, enquanto me

permitia ser acalentada pela amiga que o destino me deu.

Ficamos assim por tanto tempo que, lentamente, meus olhos foram

pesando e acabei adormecendo.

Abri os olhos, assustada com o sacolejar do meu corpo. Me

empertiguei toda, mas a voz do Oliver me acalmou:

— Está tudo bem, pequeno Querubim — soou de um jeito carinhoso,

me fazendo encará-lo ao meu lado. Estávamos na caminhonete, com ele

dirigindo.
— O que houve? — Me remexi, um pouco dolorida pelo mau jeito.

— Aonde vamos?

— Você estava dormindo quando saí da reunião com os irmãos —

explicou, sem tirar os olhos da estrada. O sol ainda estava bem forte lá fora.

— Então, como não quis acordá-la achei melhor carregar você até a

caminhonete. — Me deu uma olhada rápida.

— Onde estamos indo? — voltei a perguntar.

— Para a minha casa.

Desnorteada, o encarei tão rápido que o movimento abrupto

machucou meu pescoço.

— Sua casa? — Pisquei, surpresa. — Eu pensei que o clube fosse a

sua casa.

Oliver soltou uma risadinha baixa.

— É onde passo a maior parte do meu tempo, mas, às vezes, prefiro a

privacidade do silêncio — respondeu. — E são nesses momentos que vou

para minha casa.


Não falei nada.

Preferi ficar em silêncio, apenas olhando para a paisagem fora da

janela. Minha mente ainda estava bem confusa com tudo o que aconteceu.

Fiquei confusa quando Oliver parou o carro em frente a um muro alto,

com um portão eletrônico na frente. Observei quando apertou um botão em

seu próprio celular e, em seguida, o portão abriu.

Minha confusão aumentou assim que meus olhos se fixaram na

propriedade a nossa frente. Não parecia uma casa nem nada do tipo, me

lembrava muito a um cubo impenetrável.

— Isto é um bunker a prova de bombas? — indaguei, tentando

entender.

Oliver desceu, e eu fiz o mesmo, ainda olhando, embasbacada, para a

propriedade diante de nós.

— Quase isso — respondeu ele, exalando um sorriso orgulhoso.

Estendeu sua mão em minha direção. Aceitei o aperto e, sem demora,


arquejei de susto quando ele, novamente, apertou alguns botões e a mágica

aconteceu diante dos meus olhos chocados.

Uma casa espetacular surgiu, toda envidraçada.

— As paredes móveis, que têm até 2,2 metros de espessura, fazem

com que a propriedade passe de uma inabalável casa de concreto armado

para uma moderna mansão minimalista envidraçada em apenas alguns

segundos — explicou Oliver, enquanto me puxava para a entrada. — Em

caso de perigo, a moradia se fecha, impossibilitando qualquer ameaça que

possa vir do exterior. — Quando entramos, meus olhos aumentaram de

tamanho com a decoração impressionante. — A casa foi construída para

resistir a uma bomba atômica, contudo pela sua decoração e organização

ninguém arriscaria dizer que ela é um forte. — Sorriu, daquele jeito quase

irresistível.

— Uau! — exclamei. — Estou impressionada. Ela é linda e...

incrível.

Caminhei pelo lugar, admirada com todos os detalhes.


— É como ver o caos do mundo através de uma bolha — comentei,

tocando a vidraça com minhas mãos. Repentinamente, minha respiração

começou a se tornar irregular.

— Linda...

— Eu estou há pouco mais de um mês com vocês lá no clube, e me

permiti sentir coisas que julguei jamais sentir — murmurei, interrompendo

sua tentativa de me ludibriar com palavras bonitas. — Não me lembrava de

já ter tido uma amiga como a Adela. — Sorri ao me lembrar da ruiva. —

Conheci meu primo, retornei às minhas origens, revivendo as lembranças

do meu pai... — pressionei o rosto no vidro, sentindo minhas emoções

aflorarem. Respirei fundo ao me voltar para Oliver, que continuava parado

bem atrás de mim, com seu enorme corpo ocupando meu campo de visão.

— E conheci você, Oliver — soprei, sem fôlego. — O único homem que

me faz desejar coisas que nunca desejei. O único homem que me faz sentir

segura. — As lágrimas deslizaram sem eu poder controlar. — E agora isso

vai acabar. Um único mês de paz, foi tudo o que me deram. — Gesticulei

com os dedos.
— Linda... — voltou a falar e, dessa vez, tentando me tocar. Mas não

permiti.

— Não, Oliver! — exclamei, revoltada, não com ele, mas com minha

sorte de merda. — Não minta para mim. Eu sei que o ataque de hoje foi por

minha causa, aqueles homens vieram para me buscar. Eles querem me levar

de volta para... ele. — Calafrios tomaram meu corpo todo.

Comecei a andar de um lado ao outro, com as mãos na cabeça,

literalmente surtando.

— Eu não posso voltar, Oliver... — choraminguei — Prefiro morrer a

estar com ele de novo...

Senti braços em torno do meu corpo quando comecei a me arranhar.

Oliver me aninhou contra seu peito, praticamente me ninando até me levar

para o chão, perto do sofá. Nunca me soltando.

Em meio ao meu tormento interno, Oliver começou a cantarolar uma

canção a qual eu não conhecia, enquanto passeava as mãos por minhas

costas, numa carícia lenta e hipnotizante, assim como sua voz:


You must know me[1] (Você deve me conhecer)

I'm one of your secrets (Eu sou um dos seus segredos)

You must know me (Você deve me conhecer)

I'm one of your secrets (Eu sou um dos seus segredos)

I belong to you (Eu pertenço a você)

I belong to you (Eu pertenço a você)

And you belong to me (Você pertence a mim)

Com meu coração aos pulos, funguei, erguendo a cabeça para encarar

seus lindos olhos. Seu rosto estava ali tão perto... eu podia sentir a força de

seu olhar, o aroma viciante que escapava de seus lábios convidativos.

Mesmo exalando toda aquela aura de violência por todos os lados, eu não

conseguia sentir medo dele, muito pelo contrário.

Perdi o fôlego quando sua mão se ergueu para acolher meu rosto,

gemi feito uma gatinha manhosa.

And I belong to you (E eu pertenço a você)


Yes I belong to you (Sim, eu pertenço a você)

I belong to you (Eu pertenço a você)

And you belong to me (E você pertence a mim)

Cantarolou outro trecho da música, olhando diretamente nos meus

olhos.

Minha boca ficou seca, então lambi os lábios automaticamente. Esse

movimento não passou despercebido pelos olhos perspicazes.

Então, como se eu estivesse hipnotizada, observei Oliver inclinar o

rosto lentamente em minha direção, focado em meus lábios entreabertos. E

eu desejei... desejei com todas as forças que ele me beijasse.

Primeiro, senti o toque de sua língua, como se estivesse pedindo

permissão. E eu cedi, gemendo, totalmente rendida àquela carícia. Arrepios

me abateram com a aspereza de suas mãos em meus braços e cabelos,

esfregando meu couro cabeludo com uma pressão calculada, como se

soubesse exatamente o jeito de me tocar sem causar dor.

— Oliver... — soprei, perdida em seus lábios.


Seus dedos deslizaram pelos traços do meu rosto corado, explorando

os detalhes que lhe intrigavam.

Eu me sentia tão bonita pelo jeito que ele me olhava.

— Eu sou capaz de morrer para manter você segura — afirmou,

fazendo um rebuliço no meu coração. — A protegerei com minha vida,

pequeno Querubim.

Meu coração ainda batia descompassado quando ele voltou a me

aninhar em seus braços fortes.

E como sempre acontecia, a sensação de segurança foi me tomando

por completo. Me ajeitei melhor, ansiando por mais de seu calor

envolvendo meu corpo trêmulo.

Permanecemos ali, em silêncio. E tudo o que eu ouvia era o barulho

frenético de seu coração tão acelerado quanto o meu.


Capítulo 13

Oliver

O assunto discutido na reunião que tivemos na igreja, horas atrás, não

podia ser outro, a não ser sobre a porra do ataque que aconteceu no riacho.

Infelizmente, os infelizes conseguiram escapar, mas um deles ficou para

trás, morto com um tiro na testa. Colin atirou, fazendo o infeliz ser chutado

para fora da caminhonete como se fosse apenas um fardo. Filhos da puta do

caralho!

Só descobrimos de quem se tratavam, porque o idiota morto tinha

uma tatuagem no pescoço, mais especificamente, na nuca. Indicando ser a

porra de um dos seguidores de Charles Brown. Eles estavam atrás de Linda.


Apenas pensar isso já bastava para meu sangue ferver nas veias.

Meu telefone tocou, me tirando do torpor da bagunça de

pensamentos. Atendi, sabendo exatamente quem era.

— Como ela está? — perguntou Daniel.

Enxuguei a mão no pano de louça, espionando o lado de fora da

cozinha, para ter certeza de que estava sozinho ali.

— Está muito assustada — respondi, com um suspiro duro. —

Chorou bastante, mas agora está tomando banho — expliquei, me

recostando na bancada. Não estava a fim de dar detalhes para ele. — A

trouxe para meu forte.

— Ótimo! — exclamou ele, nitidamente mais tranquilo. — Sei que

nem bomba consegue abater essa porra. — Deu uma risadinha. — E no

momento, não há lugar melhor e mais seguro para ela estar do que com

você, Oliver.

Engoli em seco, esfregando um dente no outro, sentindo aquela

sensação esquisita no estômago.


Eu ainda estava me esforçando para não pensar no beijo que Linda e

eu compartilhamos logo que chegamos ali, há pouco mais de vinte minutos.

Era muita coisa para processar.

— Alguma novidade? — perguntei, mudando o foco da conversa. —

Alguma pista?

— Na verdade, sim, — disse, mas o tom não era de alguém satisfeito.

Voltei a olhar para a porta da cozinha, não querendo que Linda

escutasse minha conversa.

— Diga logo — resmunguei, impaciente.

— Ryan entrou em contato comigo — disse, referindo-se ao caçador.

— É como se o filho da puta estivesse de tocaia, apenas observando o

ataque contra nós. — Praguejou, furioso.

— O que ele queria, afinal? Não estou entendendo.

— No dia do resgate às garotas na maldita fazenda, ele conseguiu

roubar um HD de um dos computadores — contou. — Na verdade, do


único computador que não fora danificado. Na ocasião, pensei que os

próprios desgraçados da seita houvessem destruído os equipamentos.

Foi minha vez de praguejar.

— O que ele quer em troca?

Daniel riu.

— O que você acha? — rebateu, irônico. — Dinheiro, é óbvio. É a

única coisa que move aquele infeliz.

Sacudi a cabeça, pensativo.

— Acredita que encontrará algo nesse HD? — indaguei, sentindo

minhas mãos suarem com a ideia de obter informações para acabar com

aqueles desgraçados de uma vez por todas. E o melhor, finalmente colocar

as mãos no líder de toda essa merda.

— Não faço a menor ideia — respondeu, parecendo fadigado. — Mas

torço para que sim. Estou mais que ansioso para colocar as mãos naquele

porco. Charles não perde por esperar...

Rangi os dentes, sentindo o ódio me sufocar.


— Esse merda é meu, Daniel — rugi, em tom tão cavernoso que até

mesmo eu me surpreendi. Ele não disse nada.

De repente, ouvi passos se aproximando, então me apressei em

encerrar a ligação:

— Preciso desligar agora — murmurei. — Mas qualquer novidade,

não hesite em me ligar.

— Não se preocupe — resmungou. — Ou melhor, no momento,

preocupe-se apenas com Linda.

Assenti e, em seguida, desliguei. Instantes depois, Linda surgiu em

meu campo de visão, com o rosto ruborizado quando meus olhos se

arrastaram pelo seu corpo pequeno, usando apenas uma camiseta minha,

visto que nunca levei nenhuma mulher ali. Ela era a primeira... e única.

Percebi que se sentiu constrangida pelo meu olhar, então baixou os

olhos, mirando os pés. Seus cabelos não estavam molhados, mas erguidos

num coque alto, deixando seu pescoço esguio à mostra.


— Eu... — coçou a garganta, nervosa — espero que não se importe,

mas peguei sua camiseta. — O rubor em suas bochechas me enlouquecia.

Encurtei o espaço que nos separava, ansioso demais para tocá-la. Era

mais que uma simples vontade, era como uma necessidade.

Segurei seu queixo, hipnotizado pela cor de seus olhos quando estes

me atingiram. Linda parecia ver através de mim, e talvez fosse isso que me

assustasse sempre que estávamos juntos.

— Por mais que sua timidez seja excitante pra caralho, você não

precisa abaixar a cabeça para mim — murmurei, sério. Eu queria que ela

entendesse isso. — Você é minha convidada. Você é minha protegida. Você

é... — me calei, a palavra brincando em minha língua. Os olhos verdes

pareciam ansiosos nos meus.

— Eu sou...? — instigou-me, num sussurro.

Deslizei a mão por seu rosto, esfregando seu couro cabeludo com

meus dedos, me deleitando com a maneira como ela aninhava o rosto ao

meu toque, de olhos fechados.


— Minha — decretei, observando sua reação. Até mesmo meu

coração se agitou no peito. — Minha — repeti. — Meu pequeno Querubim.

Os lindos olhos se abriram, com um brilho emocionado. Seu peito

subia e descia numa velocidade intensa, deixando nítido seu nervosismo.

— Sua para proteger? — perguntou num murmúrio. Suas frágeis

mãos se estenderam, espalmando meu peitoral. O calor de suas mãos foi

suficiente para me fazer arquejar. Eu notei seu leve tremor.

Peguei suas mãos e beijei as palmas com carinho.

— Para proteger — afirmei, beijando uma palma. — Para cuidar. —

Beijei a outra palma. — E para amar.

— Oliver...

Gesticulei para a mesa logo atrás de nós, ansioso para mudar o foco.

— Eu preparei o jantar — falei, cortando sua tentativa de fala. — O

dia passou depressa e sei que quase não se alimentou direito. E você precisa

comer, baby. Precisa se fortalecer.


Se permitiu ser guiada por mim, até a mesa. Eu fiz macarrão com

queijo. Então, rapidamente, a servi com uma quantia considerável.

— Eu não sabia que você cozinhava — comentou ela, com o rosto

rosado, mas visivelmente surpresa.

Sorri, me sentando à mesa.

— Me obriguei a morar sozinho desde cedo, quando meus pais

morreram — contei, juntando as mãos uma na outra, enquanto gesticulava

para ela comer. — Então tive que aprender a me virar.

— Sinto muito pelos seus pais — comentou, fechando os olhos em

contentamento quando abocanhou uma pequena porção do macarrão. —

Uau! Está delicioso. — Sorri, agraciado com a cena. — Você não vai

comer?

— Depois — murmurei. — No momento, me contento em observá-la

comer. Gosto de ver você comer.

— Por quê?

Franzi o cenho, incapaz de controlar as lembranças.


— Estive no exército por longos anos, Linda, então vi coisas...

horríveis. — Respirei fundo. — A fome de alguém... mexe comigo. — Dei

de ombros, sem querer complementar.

Ela não disse nada, ao invés disso, baixou os olhos para seu prato.

— Minha magreza obviamente vem de uma má alimentação de anos

— contou, e foi tão de repente que cheguei a ficar surpreso. — E essa má

alimentação se dava pela minha rebeldia.

Rangi os dentes, mas de um modo que ela não notasse.

Inspirei profundamente antes de perguntar, baixinho:

— Rebeldia?

Linda parou de comer, fechando os olhos por um segundo.

— Quando eu me recusava a me deitar com Charles, ele me castigava

de várias maneiras — respondeu. — E me deixar sem comer era uma delas.

Precisei baixar as mãos, para fechá-las em punhos. Minha respiração

estava irregular devido as minhas emoções afloradas.


— Como foi que você foi parar nas mãos dele? — consegui forçar

minha voz a sair, apesar do ódio.

Linda continuou comendo, enquanto assimilava minha pergunta.

O silêncio no cômodo se prolongou por longos minutos, até que

Linda finalizasse todo macarrão em seu prato. Entendi que ela queria comer

primeiro, caso contrário temia não ter estômago para continuar comendo

depois.

— Eu não cheguei a conhecê-lo logo que cheguei na organização —

começou a contar. — Na verdade, era como um programa de autoajuda

mesmo; basicamente, uma comunidade guiada por princípios em busca de

empoderar as pessoas e responder questões importantes sobre o que

significa o ser humano — explicou, enquanto me mantive em silêncio,

apesar do custo. — Além de cursos e ‘workshops’, existem outros setores

na organização, algo mais obscuro que fui descobrir somente uns dois anos

depois que entrei. — Respirou fundo. — Fui convidada a recrutar mulheres

para se tornarem escravas sexuais, exclusivas do Charles, designado mestre.


Foi nesse momento que minha mente se abriu e passei a enxergar o que

tudo aquilo era, pois até então eu não entendia. Não via como uma maldita

seita — exasperou-se, remexendo uma mão na outra, inquieta. — Foi

quando tentei sair. — Seus olhos nublaram. — Eu desejei abandonar aquele

lugar, Oliver... — me encarou com o rosto corado pelo desejo de chorar —,

mesmo me sentindo ingrata depois de tudo o que fizeram por mim, eu

desejei ir embora. E desejei isso desesperadamente. — Vi quando suas

narinas inflaram, como se seu corpo estivesse se preparando. — Então, ele

veio ao meu encontro.

— Ele? — Minha voz parecia ter vidro.

— Charles — respondeu com a voz falha. Na verdade, todo seu corpo

tremia. — Ele não me deixou ir. E nesse momento entendi que minha

liberdade estava nas mãos de um sádico. — Seu lindo rosto começou a se

banhar em lágrimas. — Ele descobriu um segredo do meu passado, e

passou a usar isso contra mim, para me obrigar a permanecer lá, com ele.
Não me aguentei mais e me levantei, me jogando aos seus pés,

abrindo os braços para ela poder roubar minhas forças para si.

Seus soluços chacoalhavam seu corpo delicado, piorando o estado do

meu coração. Naquele momento, minha lista de formas de fazer o maldito

Charles sofrer só aumentava.

— E quando ele viu que já não conseguiria continuar usando meu

segredo contra mim, me levou para a fazenda — murmurou, soluçando. —

O lugar em que mantinha todas as garotas que se tornaram suas escravas

sexuais, inclusive a Kate. Ela se arrependeu muito do que fez quando me

viu lá, mas, assim como eu, também foi uma vítima.

— Shh... — soprei, angustiado. Remexi-me e, em seguida, enlacei seu

corpo de modo a erguê-la em meus braços. Seu rosto ficou aninhado em

meu pescoço. — Você já está tremendo, baby.

Caminhei com ela em direção ao andar de cima.

O perfume do sabonete, misturado ao seu cheiro natural estava

inebriando meus sentidos.


No quarto, coloquei-a no meio do colchão, me preocupando em cobrir

seu corpo pecaminoso com as cobertas leves.

— Por que você age como se quisesse estar comigo, e, ao mesmo

tempo, insiste em me dizer ser um homem mau? — perguntou, quebrando o

silêncio.

Quando a olhei, vi estar enxugando abaixo dos olhos. Estava me

encarando com intensidade, esforçando-se para se fixar em mim.

Empertiguei-me, pensativo sobre suas palavras.

— Sabe qual é a maior ironia em toda essa história, Oliver? — voltou

a questionar, cansada de me esperar assimilar sua pergunta anterior.

Bocejou, nitidamente sonolenta. — Charles era um homem de aparência

confiável e de atitudes educadas e generosas. Sua voz era mansa e sedutora

com o poder de colocar pessoas de joelhos... mulheres de joelhos —

acrescentou, fazendo uma careta. E não foi a única. — Mas, em

contrapartida, por dentro ele é um demônio. Um monstro daqueles mais

assustadores.
— Linda...

— Para a sociedade, Oliver, sua aparência é considerada assustadora

— disse, me cortando — com todas essas tatuagens e ‘piercings’. —

Gesticulou em minha direção. — A sua postura denota violência, mas, eu

nunca me senti tão segura em toda minha vida de merda. E olha que minha

bagagem, apesar de ter somente vinte e dois anos, é pesada. — Suspirou. —

Eu não me interesso pelo seu histórico negro, ou para as coisas que faz

quando não está comigo — afirmou, convicta de sua declaração. — Tudo o

que me importa é me sentir bem, entende? Segura, cuidada e... amada.

Seu choro fez meu coração afundar.

Não consegui continuar parado, então me juntei a ela no colchão,

puxando seu corpo trêmulo para meus braços. Enchi seu rosto e sua cabeça

de beijos.

— Eu estou aqui — soprei, perdido em pensamentos e emoções.

Na verdade, eu não estava sabendo lidar com tantas informações ao

mesmo tempo.
Meu coração batia tão desesperadamente que meu ar ameaçava

abandonar meus pulmões.

— Prometo que você está segura comigo — declarei, afastando o

rosto para poder encarar seus olhos brilhantes pelas lágrimas. Eu queria que

ela visse a verdade nos meus. — Vou cuidar de você, pequeno Querubim.

Ajeitei-me, com ela agarrada a mim.

— Por que me chama de Querubim? — Sua voz soou no silêncio do

quarto.

Sorri.

— Porque você parece um anjo, Linda. Um anjo sem asas — reforcei,

acariciando seus cabelos loiros. — O meu anjo. Meu pequeno Querubim.

Ela não respondeu, mas eu pude senti-la sorrindo.

Beijei sua cabeça perfumada.

— Agora durma — pedi. — Durma que estarei aqui, velando seu

sono.
E assim, ela fez... e, pela primeira vez, sua confiança em mim não me

abalou, pelo contrário, me fez sentir vivo.


Capítulo 14

Linda

Acordei com o canto dos pássaros, e o calor reconfortante do sol em

boa parte do meu corpo, refletido pelas vidraças da casa — expostas, pois o

sistema de segurança estava desligado.

Espreguicei-me na cama, sentindo meu corpo descansado, embora as

lembranças de horas atrás povoassem meus pensamentos. Ergui-me,

apoiando meu peso sob as mãos enquanto observava o quarto a procura do

Oliver, mas sem encontrá-lo. Seu cheiro estava em mim, e nos lençóis e no

ambiente... fechei os olhos, me lembrando da maneira carinhosa como ele


me abraçou durante a noite, preocupado em me ajudar a dormir, apesar da

dificuldade causada pela conversa que tivemos sobre meu passado.

E eu sabia que os traumas que ele carregava também eram pesados,

devido a como enxergava a si mesmo, com tanta inferioridade.

Suspirei, jogando as pernas para fora da cama, continuando a me

espreguiçar. Fazia tempo desde a última vez que tivera uma noite tão

tranquila, e sabia que a culpa dessa tranquilidade tinha a ver,

exclusivamente, com Oliver. Ele era minha cura. Era minha força.

Coloquei-me de pé, e nesse momento meus olhos se depararam com

uma bolsa no canto do quarto, perto da porta. Reconheci minhas roupas.

Caminhei até lá, e decidi pegar uma calcinha limpa. Mas continuaria usando

uma das camisetas do Oliver, porque seu cheiro me inebriava. Optei por

uma social. Por um momento, tentei visualizá-lo com traje social. Sorri com

o pensamento.

Minutos depois — com minha higiene matinal pronta — deixei o

quarto e fui atrás do Oliver. Não fazia ideia de onde ele estava, mas
comecei a procurar pela enorme casa.

Eu nunca tivera a oportunidade de estar em um lugar tão requintado

como aquele. Comecei a entrar e sair de diversas portas, conhecendo e

observando detalhes que me chamavam a atenção. Até que cheguei na sala,

fixando os olhos em um único porta-retrato sobre o aparador. Era uma foto

do Oliver mais novo, abraçado a uma garotinha. Aproximei-me, ansiosa

para ver mais de perto. Peguei o objeto em minhas mãos, deslizando os

dedos por cima do vidro, desenhando a foto. Ele parecia feliz... diferente do

vazio que eu enxergava em seus olhos.

— Linda? — Ouvi a voz do Oliver atrás de mim.

Fiquei tão assustada com sua chegada abrupta que acabei derrubando

o porta-retrato no chão e meu corpo estremeceu com o susto, então pulei e

pisei sobre os cacos de vidro, visto que o objeto se espatifou aos meus pés.

— Ai! — Gemi quando senti o caco cravar na sola do meu pé.

— Oh, porra! — Oliver se sobressaltou com a cena, correndo em

minha direção para me socorrer. — Não se mexa — suplicou, em tom


sofrido. — Puta merda! Eu não deveria ter chegado assim, sorrateiro. É

óbvio que você iria se assustar — exasperou-se, se torturando com a culpa.

— Oliver...

— Está tudo bem — cortou-me, se aproximando mais e me pegando

no colo. — Vou levá-la ao banheiro para analisar melhor seu ferimento. —

A tensão em seu corpo duro equiparava-se ao seu tom de voz.

Aninhada ao seu peito nu, inspirei seu cheiro, intoxicada com nossa

proximidade. Eu me sentia tão segura com ele... tão completa com seus

braços ao meu redor.

Quando chegamos ao banheiro, Oliver me colocou sentada sobre a

bancada da pia, parecendo desesperado atrás da caixinha de primeiros

socorros. Em silêncio, analisei sua postura rígida, assim como sua

expressão. Ele estava se culpando pelo que aconteceu comigo.

— Foi um acidente, Oliver — declarei, ganhando sua atenção. — Eu

me assustei.
Seus olhos atingiram os meus com tanta intensidade que o ar

abandonou meus pulmões. Suas mãos seguraram meu pé, pressionando o

ferimento de modo a aplacar o sangramento.

— Eu estava procurando por você — expliquei, nervosa com o

silêncio. — Não queria bisbilhotar suas coisas. — Meu rosto corou de

constrangimento.

Ainda tenso com o que aconteceu, observei Oliver pegar uma (gases)

e a pressionar na sola do meu pé, embebida em algum produto que não

consegui identificar.

Lambendo os lábios, me peguei arrastando os olhos pelo seu peitoral

desnudo. Todas aquelas tatuagens me chamando como um maldito ímã.

Fiquei me perguntando o que ele estava fazendo antes de me encontrar

bisbilhotando. Estaria malhando?

— Estou me odiando por causar isso — referiu-se ao meu ferimento.

Gemi um pouco quando ele pressionou com mais força. — Não suporto ver

você sofrendo, Linda. A ideia de lhe causar dor me destrói.


Visualizei seu maxilar apertado, travado com a mera ideia de me ferir.

Suas palavras me comoveram.

— Não foi você que me feriu, Oliver — repeti. — Eu me assustei e

derrubei o porta-retrato, então foi um acidente. — Vi que respirou com

dificuldade, esforçando-se para aceitar aquele fato. Novamente meus olhos

voltaram a se arrastar pelo seu peitoral, repleto de desenhos coloridos. —

Onde estava?

— Malhando — confirmou minha desconfiança. — Não durmo muito

bem, então gosto de manter minha mente ocupada — acrescentou, sem me

encarar. Estava concentrado em seu trabalho no meu pé.

Assimilei suas palavras, sentindo uma conexão ainda maior. Éramos

duas almas quebradas.

— Quem é aquela garotinha na foto? — perguntei após alguns

minutos de silêncio.

Notei que seu corpo tencionou ainda mais, embora tenha tentado

disfarçar.
Com delicadeza, fez um curativo em meu pé e, em seguida, soltou

uma respiração ofega.

— Minha irmã — respondeu com voz baixa, quase dolorida.

Arregalei os olhos, surpresa. — Ela tinha apenas seis anos quando faleceu,

com meus pais em um acidente de avião — contou. — Eles estavam

viajando para me ver, pois, eu seria condecorado com medalha de honra,

após ter lutado no Vietnã.

— Você lutou na guerra? — perguntei com a voz aflita. Ele apenas

assentiu. — Não consigo imaginar as coisas horríveis que você deve ter

presenciado, e ainda ter de lidar com a morte da sua família... — meus

olhos marejaram, enquanto buscava suas mãos para apertar. — Eu sinto

muito.

— Eu tinha vinte e dois anos na época, e acabei passando por um

período de depressão com tudo isso — narrou, com a voz quebradiça. —

Não tinha uma família para o qual voltar, apenas uma casa vazia, repleta de

recordações que eu não podia suportar. — Meu coração doeu por ele. —
Então decidi retornar ao exército, o lugar que me daria um sentido, um

foco, e não me permitiria surtar.

Baixou a cabeça, encarando minha mão sobre a sua.

— Você encontrou refúgio nisso, com seus amigos do exército —

comentei como uma afirmação.

— No começo sim, — respondeu em tom distante. — Mas após

alguns anos, presenciando tantas merdas, minha mente começou a se tornar

cansada. — Suspirou, e sacudiu a cabeça. Senti seu polegar acariciando

minha mão. — Eu vi muitas pessoas inocentes morrendo, Linda — franziu

o cenho — Muitas crianças chorando sobre os corpos dos pais, ou até

mesmo carregando os corpos de seus irmãos nas costas. — Minha

respiração travou no peito. — E a fome... eu nunca poderei me esquecer da

face monstruosa da fome na expressão daquelas pessoas. Nunca. Isso

jamais sairá das minhas lembranças.

— É por isso que você se preocupa tanto com minha alimentação —

não foi uma pergunta. Seus olhos encontraram os meus. — Sou


imensamente feliz pelos nossos caminhos terem se cruzado. — Soltei sua

mão e ergui a minha para tocar seu rosto, com barba por fazer. — Ninguém

nunca cuidou de mim dessa forma. Nunca tive esses cuidados.

— Você entende que tenho um currículo sangrento? — indagou, com

a voz perigosamente baixa. — Já vi coisas... já fiz coisas que a fariam

correr para as montanhas. — Seus dedos tocaram minhas bochechas com

tanta delicadeza que eu mal senti o toque gentil. — E você merece somente

o melhor, pequeno Querubim... somente o melhor.

— Por isso que quero ficar com você — soprei, apesar da timidez. —

Porque as coisas que sinto com você, eu nunca senti com mais ninguém.

Você é como a minha cura, Oliver, é onde reabasteço minhas forças. Não há

segurança quando você não está por perto. Consegue entender isso?

Consegue entender que não me importo com seu passado ou com as coisas

que você faz, no clube, ou quando está longe de mim?

Notei que sua respiração se tornou ruidosa, e ele chegou mais perto,

sugando o último resquício de ar existente em meus pulmões.


Fechei os olhos, num arquejo, quando seu rosto desceu para meu

pescoço, e Oliver inalou meu cheiro.

— Ficar perto de você está sendo uma tortura... — confessou,

causando-me todo tipo de arrepio.

Meu coração batia descompassado.

— Por quê? — indaguei, com dificuldade.

Nesse momento, sua cabeça tombou para trás, e seus olhos

encontraram os meus. Visualizei como suas pupilas estavam dilatadas.

— Porque quero tocar em você, Linda — respondeu, rouco. — Quero

deslizar minhas mãos em sua pele, explorar seu corpo com meus lábios e

língua... — parou de falar quando ouviu meu arquejo fraco, e analisou

como eu estava me remexendo, parecendo incomodada. Na verdade, suas

palavras estavam me deixando pegajosa entre as pernas. — Você está

excitada? — quis saber, semicerrando os olhos. Apoiei as mãos em seus

ombros, adorando sentir os músculos. Hipnotizada, deslizei os dedos pelo

seu peitoral, desenhando as tatuagens e cicatrizes.


— Estou — respondi com o rosto quente, sem coragem de encarar

seus olhos.

Oliver pressionou meu queixo para cima, ao mesmo tempo, em que se

aninhava ao meu corpo, com minhas pernas ao redor de sua cintura.

— Estou louco para beijá-la — admitiu. Gemi quando suas mãos

começaram a subir pelas minhas costas, arrancando-me pequenos espasmos

de prazer. — Louco para me perder em suas curvas, sentir sua maciez sob

minhas mãos ásperas... sugar sua pele ao ponto de deixar avermelhada. —

Sua respiração estava tão irregular quanto a minha. Fechei os olhos quando

sua mão voltou a minha nuca, passeando os dedos por entre meus cabelos.

— Quero fazê-la gritar meu nome quando eu estiver com a boca em seus

seios, sugando seus mamilos durinhos... — seus dedos desceram para meus

ombros —, ou quando minha boca se afundar em sua boceta, lambendo seu

mel. — Meu rosto esquentou com seu linguajar. — E, por último, quero vê-

la se desmanchar, sem forças, quando eu enterrar meu pau todo em você,

baby... sem pausa, fazendo-a gritar e gritar e gritar... — se calou, buscando

meus olhos —, mas de puro prazer. Somente de prazer.


Eu mal estava respirando.

— Oliver... — meu tom soou como um gemido suplicante.

Audacioso, Oliver apoiou uma das mãos em minha coxa, e senti

minha pele queimar com seu toque.

— Eu sinto o cheiro da sua excitação — soprou, brincando com meus

lábios. — E isso está me matando...

Mal tive tempo de raciocinar, pois, no momento seguinte, sua boca

tomou a minha de assalto, num beijo voraz, roubando completamente meu

ar. Abri a boca quando Oliver exigiu a entrada da sua língua, então seu

sabor tomou meu paladar por completo. Todo meu corpo se arrepiou e se

acendeu ao mesmo tempo. Senti-me viva.

Acessa.

Oliver arrastou a mão da minha coxa ao meu quadril, onde apertou as

nádegas e me forçou para frente de modo a sentir sua protuberância. Gemi

em seus lábios, querendo que ele soubesse que eu estava apreciando.

E queria mais.
O beijo foi ficando cada vez mais intenso; Oliver parecia estar

explorando cada canto da minha boca com sua língua sedenta. Mordi os

lábios quando seus beijos desceram para meu queixo e pescoço; eram beijos

molhados, mas a sensação era de que ele deixava rastros de puro fogo.

Quando Oliver apertou meus seios, tentei juntar as pernas para causar

alguma fricção na região sensível, mas não consegui.

— Oliver... — voltei a gemer, em tom de súplica.

— Eu sei, baby — respondeu ele, voltando a me beijar na boca.

Agarrei-me ao seu corpo duro quando me pegou no colo e me

carregou para o quarto.

Logo, senti minhas costas sobre o colchão macio, e Oliver sobre mim,

me tocando em todos os lugares. Não havia um só lugar que eu não sentia

como se estivesse queimando, mas sem doer.

— Vou cuidar de você — prometeu ele, num sussurro em meu

ouvido. Lambi os lábios, de olhos fechados, apenas me deleitando com seus

toques e carícias. Eu o queria mais que tudo.


Lentamente, Oliver começou a abrir os botões de sua camisa em meu

corpo, aproveitando para lamber minha pele no processo. Quando senti sua

boca em meu mamilo, soltei um grito estrangulado, incapaz de colocar em

palavras o prazer que ele estava me proporcionando.

Era indescritível.

A delicadeza dos toques contradizia com a violência que sua

aparência exalava; Oliver era um homem incrível, e eu faria de tudo para

que ele enxergasse isso também.

— Você gosta de ter minhas mãos nos seus peitos, baby? —

questionou, abocanhando um mamilo enquanto beliscava o outro. — Gosta

de me ter mamando você?

A aspereza de suas mãos deixava tudo ainda mais cru, carnal. Mas eu

ainda conseguia visualizar a delicadeza em seus gestos, em sua preocupação

comigo e com o que eu estava sentindo.

Lambi os lábios antes de responder:

— Sim, gosto de ter suas mãos em mim...


Arquejei no instante que ele abriu todos os botões e, em seguida,

começou a descer os beijos, pausando em meu umbigo, onde o circulou

com a língua antes de continuar o escrutínio, mais para a região sul do meu

corpo febril e necessitado.

De repente, minha mente parou com um estalo e eu me alarmei.

Entretanto, já era tarde, pois Oliver já baixara um pouco minha calcinha.

Ajeitei-me, ficando sob os cotovelos, e notei Oliver paralisado sobre

minhas pernas, encarando logo acima da minha virilha.

— Que porra é isso, Linda? — questionou ele, erguendo os olhos

ferozes em minha direção. Eu sabia que sua raiva não era direcionada a

mim de fato, mas, eu não gostava dessa versão dele.

Meus olhos já estavam nublados de lágrimas quando olhei para baixo

— no meu próprio corpo —, apenas para me deparar com a imagem real do

meu pior pesadelo.

Oliver saiu da cama num pulo, com o olhar que era uma mistura de

choque, raiva e incredulidade.


— CB — balbuciou mais para si mesmo — Charles Brown. —

Sacudiu a cabeça, incrédulo. — As iniciais do nome desse porco estão

tatuadas na sua virilha. — Apontou, pálido. Começou a andar de um lado

ao outro no quarto, passando as mãos na cabeça. — Você foi literalmente

marcada como dele, como propriedade dele. Puta que pariu!

Pulei de susto quando Oliver começou a socar a parede, sem parar. Eu

podia sentir sua raiva emanando no ambiente, vibrando no ar como pólvora.

Sentindo-me pequena e insignificante, me encolhi na cama, cobrindo

meu corpo da melhor maneira possível. E mesmo sem querer, as lembranças

invadiram minha mente...

“Eu estava com a garganta seca, sentindo a fraqueza me dominar.

Cada músculo reclamava de dor, e eu sabia que não demoraria a começar

a sofrer com alucinações. No chão, me aninhei um pouco mais, quase

formando uma bola. Pensei no meu pai. Pensei na minha mãe. Pensei nos

meus sonhos e em tudo o que desejei para minha vida, mas, que
infelizmente não aconteceu e, nem aconteceria. Estava cansada... e com

sede.

De repente, a porta do cômodo se abriu, e o perfume dele invadiu o

lugar, causando-me náuseas. Eu o reconheceria em qualquer lugar, sentia

sua presença a quilômetros.

Travei o maxilar quando ele parou ao meu lado e se abaixou perto da

minha cabeça. Logo, o senti erguendo-me e despejando algo sobre meus

lábios. Água. Era água.

— Já está cansada de se fazer de difícil, querida? — perguntou ele,

usando aquela voz mansa. Eu odiava essa voz, porque contradizia com suas

atitudes horrendas. — Eu não gosto de continuar castigando você, Linda.

Mas por que continua me empurrando para esse lado mau?

Pisquei, esforçando-me para enxergá-lo, apesar da fraca iluminação.

Charles era um homem atraente para sua idade, embora só me

causasse asco.
O sorriso que me oferecia fez meu estômago se retorcer. Eu sabia o

que ele queria de mim... estávamos nisso há meses, comigo, mantida refém

dele e seus homens, além de estar sendo constantemente castigada por não

querer colaborar com seus avanços e planos a meu respeito.

Céus, como eu lutei!

— Está bem — soprei, sem forças. — Faça o que quiser, só... pare de

me castigar.

Na mesma hora, ele se ergueu e deu ordens para que alguém me

tirasse dali e me carregasse para outro quarto.

Minutos depois, me vi sendo colocada em uma cama macia e

perfumada. Ao olhar para os lados, arrepios me tomaram por completo

quando comecei a ver os diversos retratos com fotos minhas. Muitas fotos

minhas.

Lágrimas banharam meus olhos, pois me dei conta de que estava nas

mãos de um sádico, doente. Ele jamais me deixaria escapar.

Eu jamais teria minha liberdade de novo.


Assim que ficamos sozinhos, me vi imóvel no instante que Charles se

aproximou da cama em que fui colocada, arrancando suas próprias roupas.

Seus olhos luxuriosos não se desgrudavam de mim em nenhum momento.

— Erga o vestido e tire a calcinha — exigiu.

Com o rosto molhado pelo choro constante fiz exatamente o que ele

ordenou, pois eu estava cansada de lutar contra. Desde que ameacei deixar

sua organização, Charles começou a me perseguir, alegando que eu era

dele e que jamais me deixaria ir embora.

No momento que ele se juntou a mim na cama, apenas virei o rosto e

fechei os olhos, lutando contra a náusea que me abateu quando senti seu

peso sobre o meu. Meu corpo se retesou no momento da invasão, mas

engoli o grito de dor. Dor pela agressividade da penetração. Dor pelo

roubo da minha inocência, pois eu era virgem.

Meus braços permaneceram imóveis, cerrados ao lado do corpo,

enquanto Charles investia contra mim furiosamente. Seus gemidos e sua

respiração em meu rosto pioravam meu estado de enjoo, mas aguentei


firme. Não queria continuar dando motivos para ele me castigar. Estava

cansada de sofrer.

Depois que acabou, se jogou ao meu lado, exausto. Ignorou minhas

lágrimas. Ignorou meu sofrimento.

Não me mexi. Nem quando a porta foi aberta e alguém entrou.

Continuei do mesmo jeito, como se estivesse em transe.

Eu já perdera minha dignidade de qualquer maneira.

— Pode ir agora — disse Charles a quem quer que fosse.

Em seguida, ele voltou para a cama, dessa vez forçando minha

cabeça em sua direção. Meus olhos embaçados encontraram os seus.

— A partir de agora, você se tornará minha e somente minha —

afirmou, mostrando uma espécie de caneta. Eu sabia o que significava, já

presenciara o ritual. — Vou marcá-la na carne e, isso trará segurança não

somente para mim, mas para você também, porque saberão que você é

minha.
Meu rosto se contorceu com novas lágrimas, e apenas assenti, pois,

não queria irritá-lo.

Continuei imóvel.

Não falei nada. Nem sequer gritei quando a caneta começou a

cauterizar a pele da minha região pélvica.

— Diga as palavras, Linda — exigiu.

Mesmo com a voz embargada, eu falei, selando meu destino:

— Sua dor é a minha dor. Meu corpo e minha lealdade são seus,

mestre.”
Capítulo 15

Oliver

Eu estava com tanta raiva que o ar ameaçava me abandonar. Tudo o

que minha mente sabia me mostrar era aquela porra de tatuagem sobre a

boceta da Linda, a porra de uma marcação sádica do caralho.

Minha garota foi marcada como uma propriedade, e eu não estava

sabendo lidar com essa merda.

Ainda de costas, observei meus punhos sangrando devido aos socos

que desferi contra a parede em meu acesso de raiva. Eu podia ouvir o choro

baixo de Linda, que partia meu coração em pedacinhos.


Desesperado, rumei para fora do quarto. Precisava de ar. Precisava

assimilar toda aquela porra primeiro, sem estragar tudo com Linda. Eu não

queria assustá-la mostrando esse meu lado sombrio. E, no momento, tudo o

que eu desejava era esmagar aquele maldito Charles com minhas mãos e

fazê-lo comer o próprio pau.

No lado de fora do quarto, esfreguei o rosto, fechando os olhos numa

tentativa de me acalmar. Voltei a espalmar a parede, colando a testa na

textura fria. Meu peito subia e descia numa velocidade violenta, deixando

nítido a bagunça em meu interior. Minha alma ansiava por sangue, por caos,

pela escuridão...

Atormentado, segui para o andar de baixo, sentindo minha boca seca

por alguma bebida quente. Eu tinha de me acalmar, sabia disso. Mas

bastava fechar os olhos para que a imagem da tatuagem de Linda invadisse

minha mente, fazendo o estrago ficar maior.

Tudo o que meu instinto gritava era para eu voltar ao quarto e acolhê-

la em meus braços, garantindo que a protegeria de tudo e todos. Mas eu


estava com tanta raiva pelo que fizeram... tanta raiva pelo sofrimento que

lhe infligiram que eu não tinha certeza se conseguiria ampará-la quando

tudo o que eu desejava era matar.

Com mãos trêmulas, cheguei à cozinha e fui direto ao armário de

bebidas. Abri a garrafa de Bourbon com os dentes mesmo e, em seguida,

entornei um generoso gole, sentindo o líquido descer queimando minha

garganta. Podia notar todos os meus músculos tensos, rígidos pela fúria que

me tomava sempre que aquela porra invadia minha mente.

Permaneci ali por um tempo, empenhando-me a controlar meus

demônios, compelindo-me a me acalmar antes de retornar ao quarto. Eu

sabia que Linda precisava de mim, então eu tinha de estar cem por cento

para ela.

Longos minutos depois, ao me sentir preparado, abandonei a garrafa

de uísque na mesa e voltei ao quarto.

Abri a porta devagar, ciente de que encontraria Linda devastada,

considerando toda a situação de merda. Com o coração aos pulos, levei os


olhos para a cama, defrontando-me com seu corpo encolhido e fragilizado.

Porém, quando Linda fixou o olhar no meu, me senti pior do que estava.

Travei o maxilar, ouvindo meus dentes rangerem. Fui incapaz de dar

mais um passo, pois era como se minhas pernas tivessem perdido as forças.

Sendo assim, fechei a porta e me recostei sobre a madeira, deslizando até o

chão, onde me sentei. Linda permaneceu encolhida, me encarando com

aqueles olhos vazios e brilhantes pelas infinitas lágrimas. Ela parecia tão

indefesa e desamparada que novamente comecei a sentir aquele turbilhão de

fúria circulando minhas veias.

Ergui as pernas, apoiando os braços sobre os joelhos, pensativo sobre

tudo o que aconteceu nas últimas horas, dias e semanas. Na verdade, desde

que Linda entrou na minha vida, era tudo sobre ela e para ela.

— Está com nojo de mim? — Ouvi sua voz inundando o silêncio do

quarto. Sua pergunta me destruiu um pouco mais. Como ela podia pensar

isso?
— Nojo de você? — indaguei, espantado. — Por que está

perguntando isso? Puta que pariu, Linda! — Sacudi a cabeça, revoltado, não

com ela, mas com a situação.

— Porque você ficou estranho e... — sua voz embargou — depois

saiu do quarto como se estivesse fugindo.

Meu maxilar estava tão dolorido e enrijecido que eu podia ouvir o

ranger de dentes.

— Linda... — respirei fundo —, você foi marcada feito a porra de um

animal, como esperava que eu reagisse a isso? — Ela não disse nada, mas

vi que começou a chorar um pouco mais. — Eu estou fervendo sim, mas de

puro ódio daquele estuprador filho da puta — rugi em revolta. — Ódio do

mundo por permitir que essa merda toda acontecesse com você, a garota

mais doce que já conheci. Ódio dos seus pais, dois merdas, incapazes de

proteger a única filha que tiveram. — Meu peito subia e descia devido à

irregularidade da minha respiração. — E estou com muito ódio de mim

mesmo, porque estou louco para ir até você de modo a ampará-la em meus
braços, porém, minhas emoções conturbadas não me permitem. E eu não

quero feri-la, pequeno Querubim. Nunca.

Cerrei meus punhos, inspirando e expirando.

Em silêncio, e fungando, Linda se ergueu da cama e caminhou até

onde eu estava sentado.

Fechei os olhos, esfregando o rosto com força. Todo meu corpo

tremia descontroladamente.

— Linda, por favor...

— Você não vai me machucar — soprou ela, com a voz embargada.

Baixei as pernas quando ela se aproximou com a intenção de se aninhar em

meu colo. — E eu preciso de você. Preciso me sentir segura.

Enrolei seu corpo delicado com meus braços, enchendo seu rosto e

sua cabeça de beijos. De olhos fechados, inspirei o perfume de seus cabelos,

sentindo-me intoxicado com o aroma adocicado.

Linda colou o rosto em meu peitoral, espalmando as mãos, uma em

meu peito e outra em minhas costas.


Lentamente, seus tremores foram se acalmando, assim como os meus.

Ficamos desse jeito por um bom tempo, apenas renovando nossas forças um

no outro.

— Eu tentei lutar contra ele, Oliver — comentou de repente, mas

optou por não me encarar. Manteve a cabeça contra meu peitoral. — Me

esforcei ao máximo para cansá-lo, porque, por incrível que possa parecer,

Charles não queria apenas o meu corpo, mas queria a minha rendição —

explicou em tom baixo. — Obviamente que, desde que ele roubou minha

liberdade, impedindo-me de ir embora da organização, podia se forçar

contra mim quando tivesse vontade, mas não era isso que ele queria.

Charles queria que eu cedesse, e enquanto me recusei a fazer isso, ele me

castigou incansavelmente. — Suspirou em derrota. — Foram longos meses

de humilhação, alimentação precária e sede... eu ficava, dias sem beber

água.

— Puta merda! — Não controlei o palavrão.


— Ele ficava bravo, porque eu era uma das poucas que se recusava a

aceitá-lo como mestre — continuou narrando. — Conheci várias garotas lá,

que realmente tiveram uma lavagem cerebral e se sentiam satisfeitas em se

tornarem escravas sexuais. Mas eu não queria aquilo, não planejei aquilo

para minha vida. — Voltou a se calar. — Charles alegava que ficou

obcecado por mim desde a primeira vez que me viu, quando eu ainda tinha

dezenove anos. Provavelmente em alguma palestra dele o qual participei.

Na época, eu era uma verdadeira devota do programa, por causa de tudo o

que foi feito por mim. Eu saí das ruas, graças a ele. Então sim, eu era muito

grata.

Sua voz se calou outra vez, e comecei a sentir seus dedos em meu

peito, como se estivesse desenhando minhas tatuagens.

— Quando minhas forças se acabaram, Oliver, eu cedi. — Voltei a

ouvir sua voz. — Entendi que continuar o recusando só me causaria dor e

sofrimento, então eu cedi. — Sua voz embargou. — Deixei que ele tomasse

meu corpo, minha virgindade, tudo... porque, eu só queria um pouco de paz.

Queria poder comer e beber... dormir. — Meu peito se apertou com seu tom
de voz quebradiço. — Após a tatuagem, me tornei dele completamente —

concluiu. — Charles me reivindicou para si, e infelizmente, isso está

marcado na minha pele. — Buscou uma respiração profunda. — Então vou

entender se essa marca for demais para você suportar, Oliver — soou

derrotada. — Vou entender se você não me quiser e...

— Shh... — não me segurei e amparei seu rosto com minhas duas

mãos, angustiado com tudo o que ouvi — Aquele porco pode ter marcado

sua pele, mas não a sua alma, Linda. Você escapou daquele inferno. Está

aqui agora, e comigo. Não pretendo ir a lugar algum. — Toquei seus lábios

com os meus num beijo suave, enquanto enxugava suas lágrimas com meus

dedos. — E não vou permitir que nenhum mal chegue até você novamente.

Suas pequenas mãos deslizaram pelo meu peito timidamente até

chegarem ao meu pescoço, enquanto seus lábios continuavam nos meus,

explorando.

Acariciei seus ombros, seguindo pelo seu pescoço e nuca; podia sentir

sua pele arrepiada sob meus dedos.


— Eu vou cuidar de você — soprei contra sua boca inchada pelos

meus beijos. — Vou amar você como merece.

Dizendo isso, me coloquei de pé, trazendo-a comigo.

Logo, nós dois estávamos sobre a cama, comigo sobre Linda. Uma

miríade de emoções estampava seus lindos olhos, fazendo-me nervoso

como há muito tempo não me sentia, com uma mulher. Na verdade, só

fiquei nervoso na minha primeira vez.

— Oliver...

— Shh... — murmurei, sugando seu lábio inferior e mordendo-o em

seguida. — Vou mostrar como pode ser prazeroso — falei. — Mostrar que

nada mudou entre nós dois, que eu continuo achando você a garota mais

linda e gostosa que já vi.

Com suas mãos em meus cabelos, fui descendo meus beijos pelo seu

torso enquanto desabotoava a camisa que estava em seu corpo,

aproveitando para lamber sua pele febril. Linda se remexia toda, sem

qualquer domínio de suas reações. Quando cheguei em sua calcinha,


passeei meus dedos por cima do tecido fino e úmido, me deleitando com

seu cheiro. O cheiro de sua excitação por mim, pelo que eu estava lhe

proporcionando. Fixei meus olhos sobre os seus no instante em que enrolei

os dedos nas laterais da calcinha, descendo-a lentamente por suas pernas

torneadas. Eu podia enxergar o peso da luxúria em seu olhar, mas também o

medo e a vergonha.

Assim que a peça minúscula foi arrancada de seu corpo, joguei-a em

qualquer canto pelo chão. De joelhos, me concentrei na belíssima visão

diante de mim... Linda estava nua, com exceção da minha camisa que

usava, com os botões abertos, me permitindo admirar os belos seios de

tamanho médio, durinhos e apontados para mim.

O rubor foi tomando conta de suas bochechas à medida que eu

continuava a encará-la com fascínio e lascívia.

— Oliver... — contorceu-se, ao mesmo tempo, em que tentava se

esconder do meu escrutínio.


A impedi, segurando seus braços e os levando para cima de sua

cabeça. Meu corpo ficou sobre o seu, com meu peitoral esmagando seus

seios deliciosos. Linda arquejou audivelmente.

— Vou aliviar o seu incomodo lá embaixo, baby — soprei em seu

ouvido, lambendo sua pele arrepiada.

Linda se contraiu, esforçando-se para soltar os braços do meu aperto,

mas sem sucesso algum.

Passeei por um seio, amassando o outro com a mão livre. A pele alva

começou a ficar avermelhada, piorando meu estado de excitação; meu pau

parecia querer furar o short.

Lambi a auréola rosada e suguei com vontade, repetindo o mesmo

processo no outro seio empinado. Fiquei nessa tortura por um longo tempo,

ignorando sua boceta propositalmente. Todavia, com sua sensibilidade,

Linda acabou gozando apenas com minhas carícias em seus seios.

Fascinado, observei seu desabrochar... o suor pingando em sua testa...

os espasmos em seu corpo amortecido pelo orgasmo poderoso.


— Mais uma vez — declarei, ouvindo sua respiração áspera.

Dessa vez, sem deixar de encarar seus olhos, desci com beijos

molhados pela sua barriga, mordendo e sugando sua pele lisa. No instante

em que cheguei na tatuagem, acariciei o local levemente sentindo que Linda

estremeceu um pouco, mas não permiti que aquilo estragasse o momento.

Então, me ajeitei entre suas pernas, forçando-as abertas para mim, como um

banquete. O brilho de excitação em seu broto rosa encheu minha boca

d’água.

Na primeira lambida, Linda se desmanchou completamente, gemendo

palavras incoerentes e tentando fechar as pernas devido à sensibilidade

causada pelo orgasmo. Porém, não permiti, e as firmei no lugar.

Mal esperei-a se recuperar e enfiei a cara na sua boceta, me

banqueteando com seu mel, desejando que ela sentisse o que fazia comigo.

O que seu cheiro fazia comigo.

Linda tinha um gosto viciante, e eu sabia que jamais seria suficiente.

Tê-la nunca seria suficiente.


Seus gemidos se tornaram uma melodia deliciosa, então tudo o que

fiz nos próximos minutos foi para ouvir aquela música mais e mais...

mordendo, sugando e chupando. Não necessariamente nessa ordem.

Em determinado momento, passei os braços por baixo de suas coxas e

levei as mãos até seus seios, onde apertei os mamilos túrgidos, brincando

com eles entre meus dedos. Minha boca não abandonava sua boceta,

sensível e pulsante sob minha língua sedenta.

— Oh, meu Deus, Oliver... — esforçou-se para fechar as pernas, mas

eu estava mantendo-as abertas com meus braços.

— Deus não tem nada a ver com isso, baby, apenas eu — falei,

soprando seu brotinho duro. Isso lhe causou um espasmo.

Desesperado para vê-la gozar mais uma vez, trouxe meus dedos para

baixo, enfiando na sua boceta encharcada. Enfiei um, depois outro e outro.

Os movimentos foram frenéticos e intensos. O barulho de sucção que fazia

me enlouquecia, porque sua lubrificação estava escorrendo de meus dedos.


Arqueando as costas, Linda se forçou contra meus dedos e boca,

perdida em sua própria bolha de prazer; desinibida e livre para sentir, sentir

e sentir...

Assisti, hipnotizado, o momento de seu terceiro orgasmo. Seu corpo

sofreu com espasmos descontrolados e sua respiração se tornou ruidosa. O

rosto suado e vermelho estava de lado, conforme ela se esforçava para se

recuperar.

Chupei meus dedos molhados e, em seguida, me ergui, pairando o

corpo sobre o dela, ansioso para encontrar seus olhos.

Sorri em fascínio, enquanto acariciava sua bochecha com meus dedos.

— Um verdadeiro anjo — soprei antes de me inclinar para lhe roubar

um beijo. Inspirei seu cheiro, de olhos fechados. — Você está bem?

Ela não respondeu de imediato, então me preocupei e afastei a cabeça

para poder encontrar seus olhos novamente. Suas lágrimas me

desestabilizaram por completo.

— Linda...
Sentei-me, de olhos arregalados.

— E-eu feri você? — questionei, piscando freneticamente. — Devia

ter imaginado que tudo isso seria demais e...

— Não é nada disso — me interrompeu, segurando minha mão na

sua. Sentou-se também, amparando meu rosto em concha. Logo senti seus

lábios nos meus. — Eu estou bem — garantiu, depois sorriu. — Estou mais

que bem. — Aumentou o sorriso.

Após isso, afastou o rosto. Analisei-o minuciosamente, confuso e

desconfiado.

— Mas... você está chorando. — Deitei a cabeça de lado, tentando

entender.

Linda continuou sorrindo.

— É um choro de alegria — declarou, tímida. — Nunca me senti tão

amada. Tão viva. — Deslizou a mão por meu rosto e nuca. — Obrigada.

— Pelo quê?
— Por afastar o toque dele — respondeu, com uma careta. — Você

me fez esquecer que um dia ele me tocou.

Meu coração estava acelerado, e suas palavras me tocaram

profundamente.

Levei minhas mãos aos seus cabelos, pressionando a testa na sua.

— E... você? — quis saber, nervosa. Eu sabia sobre o que ela estava

falando, mas aquele ainda não era o momento para o meu prazer.

Empurrei a cabeça para trás, ansiando encarar seus lindos olhos

brilhantes.

— Estou bem — declarei. — Você ainda não está pronta para mim,

baby. — Toquei seu queixo com o indicador. — Um passo de cada vez,

pequeno Querubim.

Sorri, maravilhado pelo brilho em seus olhos.

De repente, fomos interrompidos pelo toque do meu celular.

Mesmo a contragosto, soltei Linda e me levantei, dando a volta na

cama. Não podia me dar ao luxo de ignorar nenhuma ligação, ainda mais
com tanta merda acontecendo.

Era o Daniel.

— Preciso de você aqui agora — disse ele assim que atendi.

Franzi o cenho, olhando para minha garota, que ainda exalava aquele

ar de satisfação no rosto.

— O que houve? — A tensão em meu tom de voz pareceu preocupá-

la, pois sua testa ganhou pequenos vincos enquanto se remexia,

incomodada.

— Apenas venha — decretou ele, cheio de mistério.

— Ok! — exclamei com um suspiro. — Estarei aí em alguns minutos.

Dizendo isso, desliguei.

— Qual o problema? — Linda quis saber, apreensiva.

Voltei a suspirar, dando de ombros.

— Eu não sei — desabafei. — Mas seu primo me quer lá no clube por

alguma razão.
Na mesma hora, ela se colocou de pé, me permitindo admirar sua

nudez, apesar da sua nítida timidez.

— Vou junto — afirmou.

— Linda...

— Não me obrigue a ficar aqui — cortou-me, angustiada. — Por

favor...

Rumei até ela, puxando-a contra meus braços num aperto firme.

— Está bem. — Beijei sua cabeça. — Não vou deixá-la. Nunca.

Suspirando, ela circulou minha cintura com seus braços, aninhando o

rosto em meu peito. Parecia tão confortável, tão dona do meu ar...

E, eu desconfiava de que Linda estivesse se tornando dona do meu

coração também.
Capítulo 16

Linda

Meu corpo parecia estar flutuando, envolvido pelas intensas reações

que Oliver provocou não somente em meu corpo, mas em meu interior

também. Desde a primeira vez que meus olhos se chocaram com os dele, eu

senti... senti que nós dois tínhamos uma conexão. Entretanto, quando ele

finalmente me tocou intimamente, descobri ser muito além... era como se

nós nos tornássemos um só.

Uma só carne.

Um só espírito.
A delicadeza de seu toque em minha pele febril me tirou o fôlego,

fazendo-me refém de sua voz, seu cheiro e de suas carícias. A todo

momento, minha mente tentou me levar para longe, contudo, Oliver não

permitiu que eu me perdesse em minhas próprias lembranças, então no

final, tudo o que eu pude sentir foram seus beijos... seus toques... suas

mãos.

Apenas ele.

Somente ele.

Sempre que eu parava para pensar em minha vida a longo prazo, me

sentia angustiada, pois não tinha certeza do que aconteceria conosco, Oliver

e eu. E apenas pensar em ficar longe dele já bastava para meu coração doer

de uma maneira que me despedaçava por inteiro. Oliver era meu protetor,

aquele que impedia os pesadelos constantes; quem afastava a lembrança do

toque... dele.

Respirei fundo, dispersando meus pensamentos quando chegamos ao

complexo do clube. Senti que Oliver se tornou tenso ao observar algumas


motos ao nosso redor.

— O que foi? — perguntei, notando sua preocupação enquanto

arrancava o capacete.

— Essas motos não são nossas. — Apontou, tenso. — Agora entendi

o motivo para o Daniel me querer aqui.

Entrelaçou nossos dedos e saiu me puxando para a entrada do lugar.

Antes mesmo de entrar, já era possível ouvir a mistura de vozes pelo

ambiente barulhento. Agarrei-me ao Oliver quando passamos pelo hall,

onde pude observar algumas garotas desfilando, seminuas, totalmente

desinibidas. O sexo ali era algo tão natural que, às vezes, chegava a me

constranger, já que tudo acontecia diante de todos.

Assim que entramos na área compartilhada, logo chegamos ao bar.

Apertei a mão do Oliver um pouco mais, querendo garantir que ele estava

ali comigo. Eu ainda tinha dificuldade em confiar nas outras pessoas.

Meu coração acelerou com todos os olhares que se voltaram para nós

dois. Observei quatro homens diferentes entre os demais, que certamente


não faziam parte do moto clube do Daniel, pela diferença dos coletes. O

brasão era o próprio diabo, encarando-me com seus dentes afiados. Encolhi-

me nos braços do Oliver, que sentiu meu pavor e beijou minha cabeça.

— Então essa é a garota? — perguntou um dos homens novos,

recostado contra uma parede. Uma das pernas estava erguida, de modo a

manter o corpo relaxado. Seus intensos olhos castanhos estavam em mim.

— Dá para entender por que a querem.

Oliver se tornou tenso ao meu lado.

— Cale a boca, Sinner — rugiu uma voz cavernosa. Procurei-o, e

logo o encontrei perto do Daniel. — Não seja estúpido, porque não vou

mover uma palha para livrar seu traseiro da fúria deles. — Gesticulou ao

redor, impaciente. Em seu colete tinha o nome Eric, com a sigla PREZ.

— O que está acontecendo, afinal? — Oliver questionou, movendo os

olhos ao redor. — Por que esses demônios estão aqui?

Franzi o cenho, confusa com sua maneira de falar, então deduzi que

fosse devido ao nome nos coletes, ROAD DEMONS.


— É um prazer ver você também, vira-lata — ralhou alguém, me

forçando a espiar por cima do ombro do Oliver. O homem estava sentado

em um banco, com as pernas cruzadas. Em sua mão tinha uma espécie de

corrente; forcei os olhos e entendi que se tratava de um crucifixo. Ele

brincava com a corrente entre os dedos, quase hipnotizado pelo objeto. —

Da próxima vez trarei um presente — insinuou com um sorrisinho. — Ouvi

dizer que ossos de porco são seus preferidos.

Na mesma hora, Joshua surgiu do nada e se colocou sobre o homem,

pressionando uma lâmina afiada em seu pescoço, e outra entre suas pernas.

Entretanto, o desconhecido não moveu um músculo para se defender da

fúria do grandalhão, pelo contrário, parecia estar gostando de ter sua

atenção dessa maneira.

— Tenho uma ideia melhor, seu filho da puta — Joshua rosnou,

sombriamente. Minha pele se arrepiou toda. — Acredito que vou

desmembrá-lo e aproveitar para dar seus ossos à nossa matilha. — Sorriu,

deliciado com o plano doentio.


O homem de olhos tão negros quanto a noite continuou tranquilo,

encarando Joshua com uma espécie de prazer.

De repente, tive minha atenção roubada pela risada de alguém, outro

integrante desse moto clube. Em sua jaqueta estava escrito Bloody, VP.

Este era da mesma estatura do Joshua, cabelos compridos e loiros. A

maioria das tatuagens visíveis pareciam cobrir cicatrizes.

— A única coisa que você está conseguindo fazer, vira-lata, é deixá-

lo excitado — apontou, divertido. — Black Soul fica de pau duro com a

ideia se sentir dor.

Franzi o cenho, sem entender aquilo, até que voltei a olhar para

Joshua, que se empertigou e se afastou com um pulo ao som da risada do tal

Black.

— Escroto do caralho! — exclamou Josh, enojado, observando o

Black massageando-se entre as pernas.

— Puta merda! Esse consegue ser mais doente que você, Josh — soou

uma voz conhecida. Logo reconheci Ethan.


— Falou a “besta assassina” — comentou um com olhos

absurdamente verdes, em tom de ironia. Em seu colete dizia que se

chamava Ripper. — Vocês estão bem longe da salvação, cão sarnento.

Todos nós estamos. — Piscou para mim quando me pegou o encarando.

Minhas bochechas queimaram e escondi o rosto no peito do Oliver.

— Acho que já chega dessa merda, hum? — comentou Daniel,

incomodado. — Eu não permiti a entrada de vocês aqui para começarmos a

porra de um massacre, caralho! — Encarou o homem ao seu lado, cujo

nome era Eric. — Que tal controlar seus demônios, Eric?

O líder dos outros rapazes virou a cabeça e pude visualizar uma

enorme cicatriz tomando conta de um lado de seu rosto. Perguntei-me o que

teria acontecido com ele.

— Virei pai agora, porra? — revoltou-se com os seus, indignado. Em

seguida, suspirou, ergueu um tipo de moeda em sua mão e a lançou na

direção do Oliver, que a pegou no ar.

Oliver observou a moeda, sem entender. Eu também estava confusa.


— O que é isso? — perguntou ele.

— Um homem desconhecido e suspeito foi parar em meu território,

alegando estar procurando por uma garota loira. — Apontou para mim.

Meu coração estava aos pulos. — Eu o matei depois de torturá-lo em busca

de mais informações, porém, ele se recusou a cooperar. Contudo, encontrei

isso em seus bolsos. — Gesticulou, referindo-se a moeda na mão do Oliver.

— Não precisa ser gênio para saber que essa moeda é diferente.

— Só nos resta saber o que significa. — Ouvi a voz do Joshua.

— É uma moeda de caçador — soou alguém atrás de nós. Me virei

para trás, defrontando-me com um homem que aparentava ser mais velho.

— Sem dúvidas, essa garota está no sistema negro de recompensas. —

Gesticulou para mim.

— Ryan... — sibilou Daniel, claramente indisposto com a presença

daquele novo visitante.

— Oliver... — soprei. Meu corpo todo estava tremendo.

Abraçando-me, Oliver beijou meus lábios, ansiando me acalmar.


— Baby, eu preciso que você fique com a Adela agora. — Desviou os

olhos para além de nós, gesticulando. — Prometo que vamos resolver tudo.

— Acariciou meu rosto.

Logo, Adela tocou meu braço, exigindo meu olhar.

— Vem comigo, Linda — pediu ela. — Vamos deixar os rapazes se

entenderem e resolverem os problemas. — Segurou minha mão, que estava

fria e trêmula.

Assenti, mesmo a contragosto.

De cabeça baixa, passei por todos eles, enquanto me permitia ser

guiada pela ruiva em direção a sala de jogos.

Torci nervosamente os dedos em frente ao corpo quando chegamos no

cômodo espaçoso. Notei que Adela fechou a porta para podermos ter mais

privacidade.

— Como você está? — quis saber ela. — Senti sua falta, sabia? —

Sorriu, acariciando meu braço. — Já estava acostumada com você aqui

diariamente.
Sorri também, contagiada pelo seu sorriso lindo.

— Confesso que me sinto um pouco nervosa com tudo o que acabei

de ouvir e presenciar. — Arregalei os olhos, ainda atordoada. — O que

significa eu estar num sistema negro de recompensas?

Adela me puxou pela mão em direção aos sofás. Tinha uma música

tocando no ambiente, mas ela diminuiu o volume para podermos conversar.

— Não se preocupe com isso, Linda — pediu. — Tenho certeza de

que nossos homens vão resolver tudo. — Voltou a sorrir, analisando minhas

reações. Fiquei envergonhada. — Não precisa ficar tímida, porque vejo

como você e Oliver se olham, e a maneira protetora que ele a trata desde a

primeira vez que você chegou ao clube.

Baixei os olhos, pensativa. Minha mente sendo invadida por tudo o

que aconteceu entre mim e ele, horas atrás.

— Eu me sinto segura com ele — admiti, sem controlar o canto dos

meus lábios, que se distendeu num sorriso. — Oliver me faz sentir especial,

e não devido à minha aparência.


Adela se jogou ao meu lado no sofá, encolhendo as pernas de modo a

ficar mais relaxada.

— Oliver é um bom homem, sei disso — afirmou ela. — No passado,

quando cheguei aqui, ele me defendeu com a própria vida. Então, posso

afirmar com convicção que ele fará de tudo para te proteger e fazê-la feliz,

Linda.

Olhei para ela, curiosa sobre o que falou.

— Pode me contar a história? — pedi, me ajeitando também.

Então, passamos os próximos minutos conversando sobre as

aventuras de Adela, na verdade, eu fiquei em silêncio em boa parte do

tempo, apenas ouvindo a ruiva tagarelar. Eu não fazia ideia de que a história

de amor entre ela e meu primo tivesse sido tão atribulada, repleta de

perseguição e mortes.

— Mas... e você? — intimou, de repente. Talvez, cansada de falar

sem parar. Apontou para meu rosto. — Suas bochechas estão coradas, e
consigo ver um brilho diferente em seu olhar. Aposto que algo aconteceu

entre você e o Oliver. — Semicerrou os olhos, analisando minhas reações.

Fiquei morrendo de vergonha, e impressionada com sua percepção.

Mas já conhecia Adela suficiente para saber que ela não tinha filtro. A ruiva

era verdadeiramente uma força da natureza.

Levei as mãos aos cabelos soltos, nervosa com a ideia de contar sobre

minha intimidade com Oliver, mesmo que para Adela.

— Eu e ele... — pigarreei — nós... estamos nos entendendo. —

Franzi a testa, assimilando minhas próprias palavras.

— Na cama? — insistiu ela, fazendo meu rosto corar.

Apenas sacudi a cabeça, incapaz de verbalizar a resposta em voz alta.

— Mas... — me calei, respirando fundo.

— O quê? Qual o problema?

Suspirei, brincando com meus próprios dedos em meu colo. Não

queria me sentir incomodada, mas era impossível. Minha própria história de

vida me incomodava.
— Tenho uma tatuagem em minha região pélvica — confessei, mas

sem dar maiores detalhes. — E sinto que ela é como uma barreira entre nós

dois, sabe? Por mais que Oliver negue, sinto isso. — Mordi os lábios,

esforçando-me para apagar da memória o momento em que ele viu a

marcação. — Eu queria poder apagá-la, criar uma lembrança nova, sabe? —

Suspirei, entristecida.

Adela ficou em silêncio por um segundo, até pegar minha mão na sua.

— Mas você pode fazer isso — afirmou, sorridente. — Conheço uma

pessoa de confiança, e ela poderá refazer essa tatuagem, Linda — garantiu,

fazendo meu coração acelerar com a possibilidade de me livrar daquilo. —

Não há motivos para continuar odiando uma parte de seu corpo. Se é isso

que quer, então estou com você. Estarei do seu lado.

Meus olhos nublaram e, emocionada, a puxei para meus braços,

sentindo meu coração inflar com um sentimento de gratidão.

Não havia dúvidas de que aquele lugar era minha casa, aquelas

pessoas eram minha família.


Capítulo 17

Oliver

— Puta que pariu! Essa garota é gostosa pra caralho!

Tanto eu quanto Daniel rosnamos, com os dentes arreganhados para

Bloody, o VP do Eric. O idiota estava sorrindo, com aquele ar de

superioridade que exalava sempre.

— Cuidado como fala da minha garota, Bloody — sibilei entre

dentes. — Linda é minha, então está fora dos limites, porra!

— E ela é minha prima — acrescentou Daniel, tão irritado quanto. —

Lave sua maldita boca antes de se referir a ela dessa maneira desrespeitosa.
O clima se tencionou, embora a expressão de Bloody continuasse

divertida.

— Vamos para a igreja — decretou Daniel, bufando ao encarar Ryan

com fúria contida.

Todos ali estavam a ponto de explodir, devido a toda animosidade

entre os dois clubes.

Minutos depois, começamos a nos reunir na igreja — espaço separado

para discussão de assuntos importantes apenas com os membros

consolidados —, e Daniel se chocou contra Ryan assim que ele atravessou a

porta.

— Você é verdadeiramente uma cobra traiçoeira, caçador — sibilou,

pressionando a ponta de sua faca preferida contra a jugular do infeliz. —

Totalmente governado pelo dinheiro.

Ryan deu uma risada baixa, permanecendo parado.

— Não posso fugir do que eu sou — declarou, estalando os lábios. —

Caçar e roubar são parte de mim, e isso nunca vai mudar.


— Minha prima está sendo caçada agora, seu filho da puta! — O prez

gritou contra seu rosto. — E se você tivesse me entregado essa porra de HD

no dia do resgate, talvez já tivéssemos aniquilado toda essa seita doentia do

caralho.

— Você não acredita nisso — afirmou, rolando os olhos. — Não é

inocente ao ponto de acreditar que conseguiriam acabar com uma

organização tão gigante quanto a do Charles, ainda mais sozinhos.

Numa mistura de irritação e frustração, Daniel o soltou.

— O que tem nesse HD? — rugiu a pergunta.

Ryan soltou uma risada.

— Ainda não conversamos sobre valores — ironizou.

— Você é bem abusado, hein, cara? — sibilou Colin, aproximando-se

do caçador de maneira ameaçadora. — Não estou gostando nenhum pouco

do seu tom de voz.

— Promoveu lobinhos novos? — zombou Ryan, sem qualquer medo.

Nem quando Joe e Justin também se aproximaram, o cercando contra a


parede.

— Wou! Essas reuniões são sempre assim, agitadas? — indagou

Sinner, em tom divertido.

— Confesso que adoro assistir uma briga de cachorro — acrescentou

Ripper, fazendo-me semicerrar os olhos em sua direção.

— Não me obrigue a foder você, porque eu vou, seu filho da puta —

rosnei, repleto de fúria. — Farei você comer o próprio pau. — Cerrei os

punhos.

A tensão se intensificou no ambiente, mas boa parte dos integrantes

do Road Demons estava rindo, se divertindo com a situação. Idiotas do

caralho.

— Já chega, porra! — rugiu Daniel. Em seguida, encarou Ryan: —

Quanto você quer pelo HD?

Ajeitando a jaqueta, Ryan caminhou pelo local, peitando os Three fast

no caminho. Enfiou a mão no bolso e retirou o HD de dentro, em seguida,

entregou o objeto ao Daniel.


— Depois conversamos em particular. — Deu uma piscadela, mas o

prez ignorou. Daniel estava furioso demais para brincadeiras.

— O que você sabe sobre Charles Brown? — Daniel perguntou ao

caçador. — E o que pode nos dizer a respeito da moeda? — Olhou para

mim, então peguei a moeda do bolso e entreguei ao Ryan.

— Não há dúvidas de que alguém colocou a garota no sistema de

recompensas — afirmou, encarando a moeda em sua mão. — E o valor é

alto. — Seus olhos brilharam, e isso me fez rosnar para ele, que me encarou

com intensidade.

— Como sabe disso? — alguém perguntou. — Como sabe que a

recompensa é alta?

— Por a moeda ser de ouro. — Apontou. — Só distribuem esse tipo

de moeda quando as recompensas são altas; o valor é o peso do alvo da

caçada, em ouro — explicou. Suspirou, procurando pelo Eric. — O que

aconteceu com o homem que tinha essa moeda?


Então, passamos os próximos minutos discutindo sobre estratégias e

planos a respeito do que faríamos para expulsar os caçadores do nosso

território, sobretudo, como eliminaríamos Charles e sua organização.

Apesar da animosidade entre nós, Eric e Daniel eram aliados.

Um longo tempo depois, quando todos os outros foram embora e nós,

os lobos, nos vimos sozinhos, Ethan abriu uma garrafa de uísque e a

depositou sobre a mesa, com os copos.

— O que faremos agora? — Josh perguntou. — Não adianta termos

esse HD se não conseguimos abrir as pastas, pois são protegidas por

códigos.

— Eu entendo um pouco de computação, mas infelizmente não

consigo decodificar essa porra — resmungou Joe, frustrado.

— Precisamos dos Fratelli — declarei com um suspiro. — Eles

possuem uma equipe de hackers, que certamente abrirão essas pastas de

olhos fechados. — Me servi com o uísque. — Nós demos cobertura a eles


quando precisaram de nós no passado, na caçada contra Louis Moran —

lembrei. — Chegou a hora de retribuírem a ajuda.

Daniel tiquetaqueou o maxilar, pensativo. Então encarou Ethan, seu

VP.

— Está decidido! Oliver, eu e os Three fast viajaremos para a Itália

— declarou. — Você e Josh ficarão tomando conta do clube e das garotas

— avisou, esfregando o rosto. — Pedirei apoio ao Eric para ajudarem a

manter a segurança, pois nosso território está repleto de filhos da puta

caçando minha prima. — Travei o maxilar com isso.

— Não garanto que vou me controlar se aqueles idiotas chegarem

muito perto — resmungou Ethan com uma careta. — Eles fedem a porra do

inferno.

Uma risada baixa soou perto de nós, e ambos olhamos para a porta da

igreja nos deparando com Ryan.

— Tenho certeza de que eles pensam o mesmo, mas alegando que

vocês fedem como cachorros — zombou ele. Pensávamos que ele já tivesse
ido embora com Eric e seu pessoal.

Ambos rosnamos para ele, que ergueu as mãos em rendição.

— O que quer? — soei ameaçadoramente. — Que eu saiba, Daniel já

acertou seu pagamento.

— Você realmente é muito corajoso em estar aqui depois de tudo o

que fez — acrescentou Ethan em tom cavernoso. — Por acaso quer morrer?

Algo brilhou naqueles olhos escuros.

— A morte seria bem-vinda, mas sou incapaz de facilitar as coisas

para ela — alegou, parecendo divertido. O brilho diferente em seus olhos

foi sumindo gradualmente. — Vim oferecer meus serviços — afirmou. —

Posso descobrir onde Charles Brown se esconde.

Meu coração acelerou, então olhei para o Daniel. Ele era o líder, e eu

não podia me atravessar na frente das negociações, mesmo que tudo em

mim, gritasse para assumir o comando quando o assunto era Linda e seu

passado de merda.

— Quanto tempo? — perguntou o prez.


Ryan baixou os olhos e estalou os lábios.

— Não dou prazos — disse. — Mas garanto eficiência no meu

trabalho. — Voltou a encarar o prez. — Entregarei o maldito “anticristo”

numa bandeja a vocês. — Sorriu, maquiavélico.

— E quanto isso vai custar?

— Nada — respondeu. — Eu só quero participar da execução dele.

Quero poder assistir.

Semicerrei os olhos.

— Por quê? — intimei, tentando entendê-lo. Ryan era uma incógnita

para mim.

Deu de ombros.

— Há coisas que são melhores que dinheiro — alfinetou e deu uma

piscadela ao Daniel. Em seguida, virou as costas. — Entro em contato.

E saiu da igreja.

— Que porra acabou de acontecer? — indagou Josh, tão confuso,

quanto todos nós.


Daniel suspirou, indo se servir com uísque.

— O que mais precisamos discutir? — perguntou, frustrado. — Estou

cansado e louco pra voltar para os braços da minha mulher.

Na mesma hora pensei na Linda, e em tudo o que fizemos quando

estávamos em minha casa. Eu ainda podia sentir o gosto de sua boceta em

minha língua, fazendo-me refém das lembranças de seus gemidos.

Puta merda!

Meu pau chegou a pulsar contra o couro da calça que eu usava.

— Temos de viajar até a Cidade do México — comentou Ethan,

nitidamente frustrado com isso. — Durante as últimas semanas, eu tentei

conversar com o líder do grupo de agricultores da Marijuana, mas não está

funcionando. O miserável está irredutível na ideia de fechar as portas para

nós. E, infelizmente, nós não podemos nos dar ao luxo de perder esse

negócio, porque faturamos uma fortuna ao repassar a erva para os Fratelli.

— Sim, eu sei — murmurou Daniel, buscando uma respiração

profunda. — Porém, nós precisamos resolver essa merda, primeiro —


gesticulou para o HD em sua mão —, depois pensamos no resto. Uma coisa

de cada vez, ou vou surtar. — Bateu o martelo, dando a reunião por

encerrada.

Inspirei fundo, voltando a beber um gole do uísque. Eu estava

nervoso, sentindo-me impotente com a situação a respeito de Linda. Minha

raiva inflamava sempre que eu me lembrava que Charles colocou o nome

dela, no sistema de recompensas, e que por isso tinha um monte de

criminosos a sua procura.

— Finalmente você a reivindicou. — Ouvi Ethan ao meu lado. Seu

olhar estava impressionado. — O cheiro da sua posse está evaporando por

todo lugar. — Gesticulou ele, divertido.

— Juro que não entendo essa necessidade que vocês têm de se

engatar numa única boceta podendo ter todas — espantou-se Joshua. Em

seguida, apertou-se entre as pernas. — Por isso que meu pau não tem dona,

é livre para foder quem quiser.


— Não há nada melhor do que a liberdade das amarras —

confidenciou Justin. — Uma boceta é boa, porém, várias bocetas juntas é a

porra do paraíso. — Riu, esfregando uma mão na outra.

Joe e Colin o acompanharam na risada, um cutucando o outro. Eles

gostavam de festejar a três, compartilhando as putas.

— Ei, Josh? — Ethan o chamou. — O que é isso no seu bolso? —

Apontou.

Joshua franziu o cenho, mas verificou o próprio bolso, dando um pulo

assim que sua mão segurou o medalhão que Ethan ganhou anos atrás,

quando fomos ao México. E ele sabia que Josh não gostava, pois, tinha

medo de coisas ocultas.

O som de risada invadiu o ambiente quando Josh jogou o medalhão

longe, totalmente pálido de medo.

Ethan chegou a se curvar de tanto rir, enquanto zombava do Joshua.

Sacudi a cabeça, achando graça também.


— Você tinha que ter visto a sua cara, irmão — murmurou Ethan,

entre risos. — Os olhos chegaram a querer saltar das órbitas. — Riu um

pouco mais. — Eu juro que nunca vou me cansar disso. — Enxugou abaixo

dos olhos, já que riu tanto ao ponto de lacrimejar. — Um assassino cruel e

sanguinário, mas que é medroso quando o assunto é sobre coisas

sobrenaturais.

— Eu vou te mostrar o medroso, seu filho da puta! — Joshua avançou

na direção do Ethan, que correu da fúria do irmão.

Cansado daquela bagunça, rumei para fora do cômodo, ansioso para

voltar a estar com Linda, meu único foco no momento.

Dei uma batida na porta do meu quarto ali no complexo e, em

seguida, espiei o lado de dentro. Adela tinha me avisado que Linda se sentiu

cansada, então pediu para descansar um pouco.

Quando nossos olhos se encontraram, lambi meus lábios ao observar

o rubor excitante que tomou suas bochechas. Ela não fazia ideia do quanto
isso me excitava.

Entrei no quarto, fechando a porta atrás de mim. Linda se ajeitou na

cama, depositando o livro que estava lendo sobre o armário de cabeceira.

— Que livro é esse? — perguntei, curioso.

Seu rubor se intensificou.

— Ah, é um romance — respondeu, passando as mãos no rosto,

ajeitando os cabelos. — Adela me emprestou para ler e passar o tempo. —

Deu de ombros, nervosa demais para conseguir me encarar nos olhos.

Cheguei mais perto e me sentei ao seu lado, oferecendo o copo de

vitamina que preparei especialmente para ela.

— É uma vitamina de frutas — avisei, desejando que ela se

fortalecesse mais a cada dia. — Beba.

Na mesma hora, ela aceitou o copo das minhas mãos. Por mais que eu

me sentisse um maldito por ter esses pensamentos condenáveis, não

conseguia me controlar sempre que Linda agia com submissão às minhas

ordens.
Puta merda!

— Como você está? — perguntei, analisando-a minuciosamente.

Piscou, respirando fundo.

— Um pouco assustada com tudo o que ouvi e presenciei, mas agora

que você voltou pra mim, me sinto melhor — confessou, enchendo a porra

do meu peito de alegria.

Não resisti a tentação e me aproximei dela, tirando o copo da sua mão

e esmagando sua boca com a minha, desesperado demais para voltar a ter

seus lábios gostosos nos meus. O gemidinho que escapou de seus lábios foi

minha destruição.

— Porra, Linda... — chupei, mordi e suguei seus lábios e queixo,

perdido naquele desejo insano de fazê-la minha de todas as formas.

De repente, meu coração começou a bater mais depressa quando o

medo de a perder se intensificou no meu peito. Eu não tinha certeza se

conseguiria me recuperar se isso acontecesse; minha cota de perdas já

estava bem elevada.


Abandonei seus lábios e a abracei apertado, enchendo seu pescoço e

sua cabeça de beijos.

— Você está tremendo — comentou ela em tom preocupado. — O

que foi? Por que está assim?

Suspirando, me obriguei a afastar a cabeça. Precisava olhar em seus

olhos. Passeei os dedos pelo seu rosto, fascinado demais.

— Vou precisar fazer uma viagem com o Daniel — falei no fim, sem

coragem de verbalizar meu medo em voz alta. Jamais a preocuparia. —

Você ficará aos cuidados do Ethan e do Josh — acrescentei e vi o pavor

inundando seus belos olhos — E Adela lhe fará companhia.

Notei suas sobrancelhas franzidas, enquanto ela se tornava pensativa.

Tentou sair do meu abraço, mas não permiti, então suspirou.

— Aonde vocês vão?

— Para a Itália — respondi, sério. — Não vou mentir pra você,

Linda, mas o clube precisa de ajuda para combater Charles e seu clã —

contei. — Você ouviu o que foi dito, baby, seu nome está no sistema de
recompensas. Não podemos ficar parados, enquanto aquele filho da puta

mexe os pauzinhos para sequestrar você. — Rangi os dentes com isso. — E

eu jurei protegê-la, e vou cumprir. — Acolhi seu rosto, admirando sua boca

saborosa. — Vou mantê-la escondida em meus braços.

Com a respiração entrecortada, perguntou:

— Promete? — As delicadas mãos deslizaram pelo meu peito.

— Prometo com a minha vida — afirmei com veemência.

Lágrimas nublaram seus olhos, e dessa vez foi ela quem me beijou.

Um beijo desesperado, ansioso e com a sensação de algo mais que não

entendi.

Ou, eu estava com medo demais para admitir.


Capítulo 18

Oliver

O dia mal amanhecera quando abri os olhos, sentindo meu corpo

preguiçoso. Surpreendi-me ao flagrar Linda acordada, me encarando com

intensidade. Ela estava deitada de lado, com as duas mãos debaixo da

cabeça.

— Bom dia! — saudei, com a voz rouca pelo sono. — Você sempre

acorda cedo. — Toquei seu rosto, fascinado por vê-la fechar os olhos com

meu carinho.

— Estou acostumada — comentou, também enrouquecida. —

Adquiri esse hábito desde que passei a morar nas ruas. Necessitava estar
sempre desperta e atenta aos perigos constantes.

Franzi o cenho, intrigado com suas palavras.

— Ainda não sei detalhes sobre essa época da sua vida — falei, não

em tom de cobrança, mas de curiosidade mesmo. Vi que desviou os olhos,

encarando meu peitoral desnudo. Acabei dormindo apenas de cueca.

— Prometo que vou contar tudo — murmurou. — Mas não agora. —

Observei sua mão se erguer e espalmar meu peito. Controlei a respiração

quando senti o toque quente de sua palma. — Na verdade, eu gosto de

pensar na minha vida a partir do dia em que conheci você.

— Linda... — segurei sua mão e a trouxe aos lábios, beijando seus

dedos delicados. Odiava me lembrar do quanto ela sofreu na vida.

Seus olhos desceram ao meu peito, com um brilho de pura lascívia.

Soltei sua mão e, em seguida, voltei a senti-la em minha pele onde Linda

começou a desenhar minhas tatuagens com os dedos.

— Eu gosto das suas tatuagens — declarou, passeando os dedos pela

minha tatuagem de caveira. Era o desenho de uma caveira, com uma coroa
no alto do crânio e uma rosa-vermelha entre os dentes, além de estar

cercada de flores. — São assustadoras e lindas ao mesmo tempo. —

Continuou seu escrutínio, causando-me arrepios pelo corpo todo devido ao

seu toque lento e suave.

Minha respiração travou na garganta à medida que sua mão foi

descendo, explorando, sentindo... eu podia ver seu rosto adquirindo uma

coloração avermelhada com meu olhar, deixando a situação ainda mais

excitante.

— Gosto das sensações que você me faz sentir — continuou dizendo,

apesar do seu visível embaraço. — Houve uma época em que acreditei que

o toque masculino servia apenas para ferir, porém, você provou que eu

estava errada. — Pousou a mão sobre meu coração, onde certamente

poderia sentir meus batimentos acelerados. — Eu me sinto viva por dentro e

por fora, Oliver. Você me faz sentir quente sempre que me olha com desejo,

quando me olha com fascínio ou como se quisesse me devorar inteira.


Levei a mão ao seu rosto, deslizando o polegar pelos seus lábios

carnudos.

— Gosto de saber que você aprecia meu olhar — declarei, analisando

seus traços com intensidade. — Porque olhar para você se tornou meu

passatempo preferido do dia.

Fui presenteado com um sorriso lindo.

— O meu também — confessou, fazendo-me arrogante por saber que

ela gostava de me olhar.

Permanecemos nos encarando por um tempo, com ela roçando a mão

pelo meu braço e peito. De repente, notei que suas narinas inflaram tão logo

sua respiração se tornou ruidosa. Vi que seus olhos se mantiveram logo

abaixo do meu umbigo assim que a coberta desceu um pouco mais,

revelando minha cueca.

— E-eu posso...?

Franzi o cenho, tentando entender.

— Você quer tocá-lo? — referi-me ao meu pau.


Eu já estava duro somente pelo seu olhar curioso.

Linda assentiu com a cabeça, apesar da timidez.

Ajeitei-me melhor de modo a facilitar sua exploração. Hipnotizado,

assisti, em silêncio, sua mão se arrastar para baixo com calma e nervosismo.

Primeiro, senti o toque de seus dedos em minha coxa, fazendo meus

músculos se tencionarem. Era incrível o que essa garota fazia comigo, e

sem qualquer esforço aparente. Ela me enlouquecia com uma facilidade

assustadora.

Na hora em que Linda resvalou os dedos trêmulos no meu pau duro,

por cima da cueca, enviou a porra de uma carga de eletricidade por todo

meu corpo. Segurei um gemido estrangulado, e isso fez com que ela me

encarasse em dúvida.

— Fiz algo errado? — Havia vincos em sua testa, e ela afastou a mão,

receosa em continuar sua exploração.

Neguei com a cabeça, me esforçando para recuperar o controle.


— Pelo contrário, baby — soprei, sem fôlego. — Você está me

deixando maluco com toda essa inocência e delicadeza... — acariciei o belo

rosto, descendo a mão pelo seu pescoço ouvindo o seu arquejar.

Reunindo coragem, voltou a me tocar, dessa vez pressionando meu

pau com sua mão delicada. A maneira como mordia os lábios, pelo

nervosismo, deixava a cena ainda mais excitante.

Gemi no instante que sua mão se fechou completamente na minha

grossura, me fitando com cuidado de modo a observar minhas reações ao

seu toque. E, porra...! Eu estava quase gozando na cueca.

Fechei os olhos, lambendo os lábios conforme suas carícias foram se

intensificando, se tornando mais confiantes e ousadas. Levei a mão aos seus

seios, por baixo da blusa de alças que usava, amassando-os com pressão

calculada. Ouvi seu gemido ‘sexy’ quando belisquei o mamilo túrgido.

— Oliver... — abri os olhos com seu chamado. O rubor se

intensificou quando nós nos encaramos — e-eu quero... vê-lo.


Permaneci a encarando, estudando seu rosto sem pressa. Os olhos

verdes estavam pesados, carregados de pura luxúria. Eu podia notar que seu

peito subia e descia rapidamente, deixando nítido o seu frenesi.

Ainda a esquadrinhando com meus olhos atentos, arrastei a mão pelo

meu peitoral até chegar à barra da cueca e, devagar desci o tecido para

libertar meu pau, em riste. Eu estava latejando dolorosamente, e piorou sob

o olhar curioso de Linda.

Sem aguentar o tesão, comecei a movimentar o punho, em um vai e

vem lento, com a mão fechada no meu pau. Lambendo os lábios, Linda

esticou a mão, forçando-me a soltar meu pau para ela poder tocá-lo.

Respirando com dificuldade, a senti trêmula enquanto tocava minha

barriga, arrastando a palma para baixo. Gemi roucamente quando sua mão

macia segurou minha dureza.

Ouvi seu arquejo baixo.

— Ele é... quente — soprou, surpresa e envergonhada.


Belisquei seus mamilos enrijecidos fazendo-a gemer baixinho

enquanto reforçava o aperto em meu pau, que pulsava sob seus dedos.

Desesperado, tirei a coberta de cima de seu corpo, ansiando vê-la

completamente.

— Abra as pernas para mim — saiu em tom de comando. Rangi os

dentes de pura volúpia assim que ela obedeceu sem pestanejar.

A mão que estava em seus seios, desceu pela sua barriga e, em

seguida, se perdeu por baixo de seu short e calcinha. Logo, meus dedos

sentiram o calor e a umidade abundante da sua boceta.

— Oh, puta merda! — Fechei os olhos, embevecido, perdido no

prazer que era senti-la. — Tão molhada, porra...!

Linda se remexeu, rebolando o quadril conforme meus dedos a

acariciavam, afundando e lambuzando-se no seu mel.

Olhando em seus olhos, retirei a mão da sua boceta e levei a minha

boca, chupando sua umidade em meus dedos. Notei seus olhos aumentarem
de tamanho com meu gesto devasso; um fogo abrasador tomando conta de

suas bochechas.

O movimento de sua mão no meu pau se intensificou, fazendo-me

trincar os dentes com o prazer da delicadeza de seu toque.

Retornei a enfiar a mão por baixo de seu short, ansioso para esfregar

seu pontinho sensível, enquanto me aproximava um pouco mais de seu

corpo, desesperado para beijar sua boca.

Cobri sua mão — em meu pau — com a minha, e acelerei os

movimentos, assim como fazia em sua boceta encharcada. Linda gemia em

minha boca, perdida demais no próprio prazer. Minha língua invadiu sua

boca com sofreguidão, como se eu estivesse chupando sua boceta saborosa,

devorando-a sem pausa.

— Oliver... — soprou, sem fôlego, arreganhando-se um pouco mais.

Mordi seu lábio inferior, sugando-o em seguida. Senti que seu clitóris

ficou mais inchado e sua lubrificação potencializada, indicando estar

chegando lá. Seu rosto estava ficando mais corado e pude notar
vermelhidões em outras áreas de seu corpo. Os pelos também ficaram

eriçados.

Grudei nossas bocas num beijo esfomeado, sentindo a liberação da

minha adrenalina; o coração começou a ficar acelerado e veio a sensação de

taquicardia. Meus músculos se contraíram, ficando tensos.

Linda jogou a cabeça para trás, gemendo deliciosamente,

experimentando espasmos involuntários na região do pescoço, dos braços,

das pernas e dos pés, reflexos motores típicos dos orgasmos. Quando me

encarou, vi suas pupilas dilatadas.

Notei quando os músculos da sua boceta se contraíram, esmagando

meus dedos conforme pulsava sem parar por alguns segundos. O gemido

que escapou da sua boca foi minha deixa para liberar meu próprio gozo,

sentindo contrações na base do meu pau. Fechei os olhos, intensificando o

movimento do meu punho, sobre a mão de Linda. Instantes depois, explodi

num orgasmo devastador, perdido na névoa intensa da excitação.


Lentamente, meu corpo começou a relaxar e os movimentos da minha

mão diminuíram. Minha barriga ficou toda lambuzada com meu gozo, e a

sensação que tive foi de que acabara de participar de uma maratona.

Tirei a mão da boceta quente, arrastando pelo seu corpo, apertando

seus seios no processo quando passei por eles. Em seguida, deslizei pelos

cabelos loiros e bagunçados, sentindo o suor de sua pele tocar meus dedos.

Puxei a cabeça de Linda para mim, ansiando seus lábios nos meus.

— Você está bem? — soprei a pergunta, preocupado com o que tudo

isso pudesse desencadear em sua mente.

Senti seu sorriso.

— Estou mais que bem — garantiu. Enrolou o braço em meu

pescoço, com força. — Esse é um jeito delicioso de se começar o dia. —

Deu uma risadinha acanhada, apesar da intimidade que acabamos de

compartilhar.

Sorri também, encantado com sua timidez.


— Vamos tomar um banho...? — pedi, inspirando o aroma que

escapava de seu nariz. — Ainda temos mais um tempinho antes de eu

viajar. — Notei que seu semblante mudou, tornando-se abatido com minha

declaração. — Ei? — Ergui seu queixo. — Prometo que será uma viagem

bem rápida. Nem mesmo terá tempo de sentir minha falta.

— Pois sentirei sua falta cada minuto do meu dia — assegurou com

fervor, apertando-me um pouco mais contra si. — E vou contar os segundos

para seu retorno a mim, para meus braços.

Sorri, encantado com sua escolha de palavras, e a beijei um pouco

mais.

Faltavam alguns minutos para oito da manhã quando Ethan parou a

caminhonete na pista clandestina que costumávamos usar. Os three fast

foram na carroceria, enquanto Daniel e eu fomos à parte de dentro com

Ethan no volante. Por mais que gostássemos de uma corrida de moto, a

viagem para Itália era inviável. Então o negócio era irmos por voo mesmo.
Adam, nosso piloto, já nos aguardava com o jato; ele trabalhava

conosco há anos, e nunca tivemos problemas.

— Eu não preciso lembrar você de que Adela é meu mundo todo, né?

— murmurou Daniel ao Ethan, enquanto pegava sua pequena mala da

carroceria. — E que minha prima é a porra do meu sangue, o que significa

ser tão especial quanto minha old lady.

— Quer me ensinar a fazer meu trabalho agora, caralho? — ralhou

Ethan, impaciente.

Aproximei-me.

— Não é querer ensinar, mas reforçar o lembrete — murmurei,

socando seu ombro. — Proteja as duas e o clube com a própria vida. —

Apontei. — Logo, logo estaremos de volta.

— Qualquer coisa, ligue para meu telefone — avisou Daniel,

seguindo para a aeronave. — Eric está de sobreaviso, então não faça

nenhuma merda se encontrar algum demônio por perto.


— Avise as putas que logo o trio delas estará de volta — comentou

Justin, em tom arrogante, fazendo Ethan revirar os olhos e estapear a cabeça

dele, de modo brincalhão.

— Vê se esquece a porra da cabeça de baixo e comece a trabalhar

com a cabeça de cima, seu idiota — rugiu, embora estivesse rindo.

Depois das despedidas, nós nos aproximamos do jatinho,

cumprimentando Adam.

Assim que nos acomodamos, fechei os olhos tendo a imagem de

Linda em meus pensamentos. Ela se tornou o motivo dos meus sorrisos, da

minha coragem e da minha obstinação em caçar os que queriam lhe fazer

mal. Se dependesse de mim, mandaria todos para o inferno.

Um por um.

Pouco mais de quinze horas de viagem, nós desembarcamos em

Palermo, Itália, sede do império dos irmãos Fratelli. Foi Luca e Fillipo

quem nos recebeu.


— Problemas na “estrela solitária”, meu amigo? — brincou Fillipo,

num fortíssimo sotaque, cumprimentando Daniel.

O prez arqueou as sobrancelhas para ele, bufando.

— E quando nós não temos problemas, italiano? — retrucou.

Fillipo riu, cumprimentando os Three fast. Logo, Luca, o irmão mais

novo da família, se aproximou.

— Não há problemas quando estou nos braços da minha mulher —

retificou ele, sorridente.

Daniel sorriu também, concordando.

Na verdade, eu mesmo estava com um sorriso de orelha a orelha, pois

foi impossível não me lembrar da Linda.

Trocamos mais algumas palavras e, em seguida, seguimos na direção

dos carros. A próxima parada seria na fortaleza deles.

A aliança dos lobos com os italianos já era antiga, e muito forte.

Tínhamos um laço não somente nos negócios, mas também de amizade e


lealdade.

— É realmente ótimo recebê-los na minha casa, Daniel — soou o

capo Rossi, vindo nos receber assim que o carro foi estacionado no enorme

jardim. A casa era uma verdadeira mansão, sofisticada e extremamente

reforçada na segurança. — Por favor, vamos entrando. — Gesticulou para a

entrada da casa grande.

Logo, os gêmeos, Mariano e Manuele surgiram, nos cumprimentando

com igual alegria.

— Como o assunto que trouxe vocês aqui, já fora adiantado antes,

pedi para que um dos hackers da família ficasse a postos de modo a ir

trabalhando no HD assim que chegassem — comentou Mariano, totalmente

por dentro do motivo da nossa visita. — A merda é das grandes mesmo?

— Vocês não fazem ideia, italiano... — resmunguei com um suspiro

— não fazem ideia.


Eu gostava de observar a mudança na vida desses irmãos, pois, pouco

tempo atrás, eles viviam sob a sombra da vingança, sem perspectiva de um

novo começo. Rossi, por ser o irmão mais velho, era como o patriarca da

família e, carregava o maior peso nas costas; porém, pareceu ter aprendido

a compartilhá-lo com os demais depois que se casou. E assim aconteceu

com os outros irmãos, que foram se casando, um por um.

Um lindo garotinho surgiu correndo direto para os braços do pai, o

capo Rossi. Um lindo cão o seguia de perto, nitidamente cuidando do

menino como seu protetor.

— Ele cresceu. — Observou Daniel, encarando a interação do Rossi

com o filho.

— O tempo está passando depressa mesmo — disse, olhando para o

filho com adoração.

— Ah, trouxeram garotos novos?! — comentou uma voz feminina.

Era a esposa do capo, Maya, com aqueles incríveis olhos azuis. — Não me
lembro de já tê-los visto. — Apontou para Colin, Justin e Joe. — É um

prazer conhecê-los. — Estendeu a mão na direção deles.

O trio permaneceu em silêncio, ambos nos encarando com atenção,

preocupados em cometer alguma falha.

— Vão me deixar com a mão estendida por muito tempo? — intimou

ela, impaciente. — Já vou logo avisando que detesto ser ignorada, rapazes.

E quando estou irritada adoro quebrar coisas, especialmente, ossos. — Algo

cintilou naqueles olhos grandes.

Uma risada soou perto de nós.

— E ela é tão psicopata quanto o lobinho de vocês, o Joshua. Então é

melhor tomarem cuidado — comentou Manuele, fazendo a garota rosnar

para ele.

Rossi riu, sacudindo a cabeça em nítida diversão. Colocou o filho no

chão quando outro garoto surgiu na sala, este era mais velho. E veio

acompanhado por um cachorro também.

— Vamos brincar lá fora, Benjamin — fez o convite ao menor.


— Encontrei! — exclamou o rapaz que estava verificando o HD. Não

me lembrava do seu nome, mas seu cabelo era quase como uma marca

registrada. — Aqui tem diversos contratos e documentos de empresas

fantasmas, dessas negociações usadas apenas para lavar dinheiro —

explicou, ganhando nossa atenção. — Também tem uma lista com nomes de

empresários, especificando o ramo e a quantidade de dinheiro que cada um

deles paga mensalmente para participar da seita, podendo escolher a própria

escrava sexual.

Travei o maxilar, fervendo de ódio.

— Quantos são? — foi Daniel quem perguntou, tão tenso quanto.

— Milhares — respondeu o rapaz, nos encarando. — A lista é

gigante. — Bufou.

O praguejar foi unânime na sala.

— Então é preciso trabalhar de outra maneira — comentou Paola,

soldado da família e esposa de um dos irmãos. Ela era uma linda mulher,
letal até os ossos. Toda a atenção ficou nela, que observava as unhas

tranquilamente.

— Como assim? — indagou Mariano, seu marido.

— Ora, destruir toda a organização de maneira mais explosiva —

insinuou, sorrindo maquiavélica. — Jogando todos os podres na mídia.

Soltando as provas de toda a podridão nas mãos dos (tiras) certos. Isso vai

ser um prato cheio para os especuladores.

— O que mais você encontrou aí, rapaz? — perguntei ao hacker, que

continuava com os olhos fixos na tela do computador.

— Tem bastante coisa, entretanto, acredito que ainda é pouco para

destruí-los — estalou os lábios. — Mas já é um começo. — Deu de ombros.

Rangi os dentes, irritado.

— Tudo bem. — Suspirou Rossi, se servindo com uma dose de

uísque. — Vamos conversar sobre Charles Brown. O que sabem até agora?

Quero detalhes do resgate às garotas, e o que aconteceu depois. Somente

assim poderemos saber como ajudar.


Meus músculos tremeram, então me inclinei sobre a mesa de centro e

me servi com uma dose de bebida também. Eu odiava ter de falar sobre o

resgate, porque a imagem de Linda machucada invadia meus pensamentos

automaticamente e isso me feria. Me fazia impotente.

Porém, jurei que a manteria a salvo, e cumpriria essa promessa nem

que precisasse dar minha vida em troca.

Minha garota era mais importante que tudo.


Capítulo 19

Linda

“... eu não quero você nas nossas vidas, pois se você não quer me

assumir, isso também se aplica a sua filha...”

Perdi o número de vezes que li aquela carta, pensativa sobre meu

passado, minha história com meus pais. Sempre me perguntei o motivo para

não ter convivido muito com meu pai, tendo em vista que minha mãe

dificultou as coisas para ele, mas não fazia ideia que isso surgiu desde o

começo do meu nascimento. Descobri, através daquela carta — e de mais

algumas — que Adela e eu encontramos no porão da casa do meu pai, que

minha mãe engravidou na primeira e única noite que tiveram, resultando na


gravidez que me gerou. Resumidamente, minha mãe passou o período da

gravidez sozinha, e só foi rever meu pai após cinco anos. E, mesmo assim,

ele não quis ficar com ela, porque não a amava. Foi um caso de uma única

noite. Porém, minha mãe não entendia isso...

— Você deveria parar de ler essas cartas — apontou Adela. — Está

deixando você mal.

Respirei fundo, soltando o ar lentamente.

— Por pura raiva, ela disse ao meu pai que eu não era filha dele —

murmurei, me lembrando de tudo o que li nas cartas encontradas. — Só

porque ele não quis ficar com ela. — Sacudi a cabeça, magoada. — Preferiu

fazer ele acreditar numa mentira e nos afastar; preferiu ferir meu coração,

só porque o dela estava ferido. Talvez, por isso ele nunca tenha falando de

mim para ninguém, por causa dessa dúvida que minha mãe fez questão de

implantar em sua mente.

Adela suspirou, entristecida.

— Você nunca fala da sua mãe.


Pisquei, enxugando uma lágrima sorrateira que caiu.

Funguei o nariz, enquanto guardava as cartas na caixa. Em seguida,

me levantei, caminhando pelo quarto. Oliver e Daniel estavam fora há dois

dias, e eu não estava me aguentando de saudades.

— Não gosto das lembranças — admiti, com voz baixa. Aproximei-

me da janela e me concentrei na aglomeração que acontecia no pátio

espaçoso. — Às vezes, é mais fácil fingir que certas coisas ou pessoas não

existem, assim ameniza a dor e o sofrimento.

Adela não fez nenhum comentário, o que agradeci. Eu não estava

pronta para reviver certas feridas.

De repente, arregalei os olhos quando começaram a abrir o portão de

ferro lá embaixo.

— O que eles vão fazer? — perguntei, nervosa e, ao mesmo tempo,

curiosa.

Como que sentindo o nervosismo através do meu tom de voz, Adela

saiu da cama e correu até onde eu estava, na janela do meu quarto.


— Oh, droga! — resmungou, tensa.

A encarei, tentando entender sua preocupação.

— O que foi?

Suspirando, ela se afastou e rumou para a porta de saída. Fui atrás,

sem nem pestanejar.

— Eles estão competindo — explicou, enquanto caminhávamos pelo

corredor. — Provavelmente, estão apostando grana.

Desde que Oliver, Daniel e os outros viajaram para a Itália, os

integrantes do outro moto clube, estavam aparecendo em nosso espaço com

mais frequência, apesar de toda a rivalidade entre eles.

Eu não gostava de todo esse aglomero, ainda mais com Oliver

ausente, mas confiava na Adela, então ficávamos sempre juntas.

Minutos depois, nós duas chegamos ao portão aberto e, então

pudemos ver mais de perto. Estava acontecendo uma espécie de corrida de

motos, extremamente barulhenta e emocionante. Nunca presenciei nada

parecido.
Eram dois por vez, um do nosso clube, contra outro do clube rival.

Joshua estava competindo contra aquele homem assustador, que vivia

brincando com um crucifixo entre os dedos.

Cobri a boca com as mãos no momento que ambas as motos passaram

por nós, praticamente, voando na pista. A pulsação do meu coração estava

batendo nas costelas, num misto de medo e adrenalina.

— Que porra está acontecendo aqui, Ethan? — Adela perguntou, em

tom alto para ele poder ouvir.

Estávamos rodeadas por vários homens, nossos e do outro moto

clube.

— Um pequeno passatempo, ruiva — disse ele, com uma piscadela.

— Estamos provando que somos os melhores. — Sorriu daquele jeito

maligno.

— Só se for melhores em perder, cão sarnento — ironizou um homem

loiro. Em sua jaqueta tinha o nome Bloody, com a sigla VP.


As alfinetadas não paravam, o que deixava o clima cada vez mais

tenso entre eles.

— Aposto cem dólares que te venço numa corrida, onde os últimos

dez metros, nós precisaremos empinar a moto. — Ethan provocou,

estalando o pescoço.

O outro loiro riu, terminando de fumar seu cigarro. Fumaça cobria seu

rosto, assustadoramente bonito. Era verdadeiramente uma beleza sombria.

Os dois se aproximaram, quase tocando nariz com nariz. Ethan estava

com os cabelos loiros, presos por um coque, enquanto Bloody fazia questão

de deixar as suas madeixas soltas, deslizando no vento.

De repente, me assustei quando senti o toque de uma mão na minha,

forçando-me a desviar o olhar. Fiquei calma ao perceber que era Adela.

— Venha — disse ela, me puxando por entre o aglomero. Notei que

algumas garotas, que trabalhavam no clube, estavam ali também, entretendo

os homens barulhentos.
— Aonde vamos? — perguntei em tom alto, enquanto observava ao

redor.

— Beber um pouco — afirmou ela, com uma risadinha sapeca. — Se

eles estão se divertindo, também temos esse direito.

Engoli em seco, apesar de sentir o furor da adrenalina dominando

minhas veias.

Horas se passaram e a competição foi se tornando mais empolgante.

Agora estavam apostando com dardos na mosca, ou melhor, facas.

— Meu Deus! E se ele errar? — indaguei a Adela, desesperada

quando vi um dos demônios, como os chamavam, mirando acima da cabeça

de um rapaz. Naquele momento, a disputa chegara a outro nível.

Adela riu, animada devido à bebida. Eu sempre tive um organismo

mais resistente, entretanto, devido ao meu histórico recente de alimentação

precária, decidi não arriscar, então bebi somente uma latinha de cerveja.
— Não vai — garantiu, pegando um pedaço de carne e o enfiando na

boca. — Esses idiotas são bons. — Apontou, dando de ombros.

Pisquei, me esforçando para ter essa certeza e despreocupação que a

ruiva tinha. Mesmo estando ali há quase dois meses, eu ainda custava a me

acostumar, e me assustava com as coisas que presenciava ali; com o estilo

de vida deles.

Aqueles homens pareciam gostar de brincar com a vida.

— Quem está ganhando, Ethan? — Adela perguntou quando o loiro

se aproximou de nós duas, na mesa.

Várias mesas e cadeiras foram colocadas no pátio espaçoso. Até carne

estavam assando.

— O que você acha? — retrucou, todo cheio de si.

De repente, uma gritaria nos interrompeu. Joshua estava gritando com

o Black, aquele com o crucifixo.

— Caralho! — Ethan praguejou, sacudindo a cabeça. Suspirando, se

aproximou de mim e entregou um aparelho de celular. — Oliver quer


conversar com você.

Pisquei, sentindo a ansiedade me dominando quando fechei a mão no

aparelho. Ergui o olhar para o loiro, pegando o momento em que piscou um

olho para mim, todo charmoso.

Não perdi tempo e me afastei da mesa, deixando Adela para trás.

Todo meu corpo foi tomado pela expectativa de voltar a ouvir a voz do

homem que fazia meu coração bater num ritmo diferente.

— Oliver? — Falei ao pressionar o telefone no ouvido.

Olhei ao redor, querendo ficar o mais longe possível, desejando

minha privacidade.

— Pequeno Querubim? — Fechei os olhos, mordendo os lábios com

o som da sua voz. — É tão bom ouvir a sua voz.

Foi impossível controlar o sorriso que invadiu meus lábios, muito

menos as borboletas que se amontoaram em meu estômago.

— Também estou feliz por ouvir a sua — soprei, sentindo meu

coração batendo depressa. Na verdade, todo o meu corpo parecia prestes a


ter um colapso apenas por estar ouvindo sua voz.

Ouvi sua respiração áspera do outro lado da linha.

— Como você está? — perguntou em tom cauteloso. — Ficamos

sabendo que está tendo uma pequena festa aí... você está bem isso?

Lambi e mordi os lábios, encarando ao redor. Permiti-me sorrir um

pouco.

— Confesso que está sendo divertido.

Ouvi algumas vozes do outro lado da linha, como se Oliver estivesse

conversando com mais alguém. Até que o silêncio reinou e logo sua voz

voltou a soar, mais clara e limpa:

— Por que não me conta o que está acontecendo aí? Ou melhor, o

que fez nos últimos dois dias?

Meu sorriso se ampliou.

Já estava fazendo cinco dias que Oliver estava fora, e meu peito

parecia sufocado com a saudade.


Minhas noites não eram mais as mesmas sem ele, sem seus braços ao

meu redor para acalmar os pesadelos.

Uma batida na porta do meu quarto me fez sobressaltar. Mas era a

Adela, acompanhada de uma mulher desconhecida. Aparentava ter uns

quarenta anos, e seu corpo era banhado de tatuagens. Seus olhos

encontraram os meus, e senti meus lábios se distenderem num sorriso

quando ela sorriu para mim. Era um sorriso contagiante realmente.

— Linda, esta é a Mary. — Gesticulou para a mulher sorridente. —

Ela é tatuadora.

Meu coração acelerou na mesma hora.

Adela ficara de me ajudar com meu problema, mesmo eu não tendo

revelado detalhes sobre a origem da minha marcação.

— É um prazer conhecê-la! — exclamou a mulher, se aproximando

de onde eu estava, perto da cama. Aceitei sua mão na minha. — Então, o

que vamos tatuar? — Não escondeu sua animação.


Inspirei o ar devagar, franzindo o cenho devido às lembranças que se

amontoaram em minha mente sem eu poder bloquear. Levantei os olhos

para Adela, que se empertigou e coçou a garganta:

— Bem, acredito que devo deixar vocês duas a sós, então... — se

encaminhou para a porta. — Qualquer coisa, estarei por perto, Linda. —

Fez questão de avisar, o que me fez sorrir, agraciada pelo seu cuidado.

— Obrigada!

Quando a porta se fechou, deixando-me com aquela mulher, eu me

preparei para enfrentar uma das minhas maiores vulnerabilidades.

— Bem, Mary... — pigarreei, nervosa — Isso não é nenhum pouco

fácil para mim — comecei a dizer, torcendo as mãos. Inspirei fundo antes

de complementar: — Mas preciso saber se você não irá fazer perguntas. —

Encarei seus olhos. Eram de um tom castanho-claro. — Não tenho certeza

se poderei respondê-las.

A mulher, com uma aura vibrante, continuou me oferecendo seu lindo

sorriso.
— Não estou aqui para fazer perguntas, menina — explicou, em tom

carinhoso, enquanto passava uma das mãos pelo meu braço. — Adela me

chamou para trabalhar. Na verdade, sou chamada ao clube com frequência

para tatuar os meninos. A própria Adela já foi tatuada por mim, embora

algo bem sutil e meigo.

Arqueei as sobrancelhas, assentindo.

— Eu não sabia que ela tinha uma tatuagem — murmurei, sem jeito.

Podia sentir meu rosto queimando.

— Você é nova aqui — comentou ela, retirando seus materiais da

bolsa que trouxe. — Se bem que já faz tempo que eu não venho para cá,

então estou totalmente por fora das novidades. — Deu uma risadinha.

Lambi os lábios, que estavam secos.

— Sim, sou nova no clube — respondi. — Cheguei há uns dois

meses. Sou prima do Daniel.

— O prez? — surpreendeu-se, piscando os olhos rapidamente.

Assenti com a cabeça. — Uau! Então você ganhou uma família de lobos
protetores, menina. — Sacudiu a cabeça, impressionada. — Porque se tem

uma qualidade visível nesses homens, é a lealdade para com os seus.

Sorri, me lembrando do Oliver.

— Sim, eu sei disso. — Inspirei profundamente.

Instantes depois, ela terminou de ajeitar tudo o que ia precisar e

voltou a me encarar.

— E então? — Bateu ambas as mãos, nitidamente agitada. — O que

faremos?

Esfreguei minhas mãos no lençol da cama, sentindo as palmas suadas.

— Vou mostrar — avisei, me colocando de pé.

Eu estava usando um short curto, então levei os dedos ao botão da

frente. Mary arqueou as sobrancelhas, sem entender o que eu pretendia

fazer, mas permaneceu em silêncio.

Logo, abri o zíper e desci a peça, que se amontoou aos meus pés. Em

seguida, fiz o mesmo com a calcinha, mas não necessariamente até

embaixo, porque a marcação feita pelo Charles ficava na pélvis.


Minhas bochechas queimaram, mas encarei Mary corajosamente nos

olhos, observando os seus, semicerrados em minha direção, encarando

aquela marcação em minha pele.

— Consegue fazer algo... nisso? — Gesticulei, com a mão trêmula.

Eu sabia que ela deveria estar se perguntando o que era aquilo, mas

sua expressão era impenetrável.

— Se eu consigo? — indagou, com ar arrogante, batendo a mão no

colchão num convite para eu voltar a me sentar. — Menina, vou

transformar isso em algo para se admirar, e com os olhos brilhando.

Meu coração deu um sobressalto de animação.

— Por que não me fala sua ideia...? — perguntou.

O bar estava movimentado, com a música exageradamente alta

quando resolvi passar por lá.

Arregalei os olhos quando comecei a presenciar cenas de sexo

explícito por todo canto, como se fosse algo natural. E para eles, realmente
era.

Aproximei-me do Joshua, que estava do outro lado do balcão, mas de

costas para mim.

— Josh? — chamei em tom alto devido ao volume da música.

Ele me encarou, com olhos pesados. Mas quando focalizou meu rosto,

pareceu piscar, desnorteado. Então, se remexeu rapidamente, no susto, o

que fez uma garota surgir abaixo dele.

Céus, ela estava o chupando.

Não pensei que meu rosto pudesse ficar ainda mais quente.

— Me espere lá no quarto, gostosa. — Joshua deu uma batida na

bunda dela, que soltou um gritinho agudo. Não perdi a maneira como ela

piscou para mim, cheia de malícia.

— Me-me desculpe, eu não sabia que você... — não tive coragem de

concluir, porque meu constrangimento estava no auge.

— Você não fez nada, loira — me cortou, com um sorriso gentil. —

Você e Adela sempre serão prioridades aqui. — Senti-me ainda mais


mortificada, sobretudo, com ele me encarando tão de perto. — Mas me fala,

o que você está procurando? Não estou acostumado a ver você aqui, no bar.

Principalmente, sendo essa... — gesticulou ao redor — loucura — concluiu.

Inspirei fundo, remexendo minhas próprias mãos.

— Estou procurando o Ethan — declarei. Eu queria usar o telefone

dele para conversar um pouco com o Oliver.

— Entendi — disse. — Ele está na sala de jogos. — Apontou. —

Pode ir que eu garanto que ninguém ousará chegar perto de você, loira. Se

isso acontecer, farei questão de estraçalhar o infeliz com meus próprios

dentes. — Mordeu forte, dando ênfase ao que dissera.

Estremeci ao imaginar a cena.

Mas me surpreendi pelo fato de não ter me assustado com o Joshua,

pelo contrário, eu estava me sentindo cada vez mais confiante ao lado deles.

Segui pelo caminho que me levaria a sala de jogos, mantendo a

cabeça baixa. Talvez por isso eu não tivesse percebido estar seguindo às

cegas, e acabei esbarrando em alguém. Meu coração se agitou no peito


quando me deparei com o Black, o homem do crucifixo. Arregalei os olhos,

sentindo meus pelos arrepiados, todavia, surpreendi-me quando notei que

ele estava tão assustado quanto eu. Seus músculos pareciam estar tremendo

sob as tatuagens visíveis.

— Você me tocou... — declarou, sem fôlego.

Franzi o cenho, pressionando a mão no peito agitado, tentando

acalmar meus batimentos acelerados.

— Eu não toquei em você — afirmei, soando firme, apesar do

nervosismo. — Esbarrei em você, é diferente — corrigi.

Os olhos negros estavam em mim o tempo todo, como se estivesse

observando, não somente meu corpo, mas minha alma também.

Arrepios me tomaram por completo.

Ao contrário do que pensei, ele não disse mais nada, apenas se

afastou de mim, tomando uma distância considerável.

Pisquei, tentando me recuperar do que acabara de acontecer. De todos

os outros integrantes, definitivamente esse era o mais esquisito.


Talvez, esquisito não era a palavra certa, mas diferente. Sim, Black

era diferente.

Depois que me recuperei do susto com a situação inusitada, continuei

meu caminho. Dei uma batidinha na porta da sala, mas não esperei para

entrar. O lugar estava vazio, com exceção do Ethan, que falava ao telefone

com alguém.

— Não posso acreditar nessa merda, Daniel! — esbravejou ele, de

costas para mim. — Puta merda, ele morreu!

O ar fugiu dos meus pulmões, e estanquei no lugar.

— Morreu? — indaguei em voz alta, sentindo o chão se abrindo sob

meus pés. Ethan se virou em minha direção, com os olhos arregalados. —

Como assim? Quem morreu? — Minha voz embargou, pensando no pior.

— Por favor, me fale que não é o Oliver...

Meus joelhos fraquejaram, e me senti sendo tomada por medo. Na

verdade, medo era quase um eufemismo para o pavor que se instalou em

meu âmago.
Capítulo 20

Oliver

Um tempo antes

— Deveríamos ter mobilizado a porra do delegado e sua equipe,

Rossi — comentou Mariano, um dos gêmeos. — Essa porra vai feder —

observou, tenso.

Estávamos em frente a uma casa noturna, onde acontecia uma enorme

rede de criminosos, composta por aliciadores, responsáveis pelo

recrutamento, transporte, viagens para o exterior, acolhimento, alojamento e

exploração sexual de vítimas (mulheres). Durante nossa estadia na Itália,

com a ajuda dos Fratelli, descobrimos que Charles financiava o tráfico de


mulheres para alimentar sua rede doentia de escravas sexuais; e a ‘boate’ a

nossa frente era usada como uma espécie de alojamento momentâneo, antes

de elas serem mandadas para o Texas e sabe-se lá onde mais.

— Não acredito que está com medo, Fratelli — resmungou Daniel,

saindo do carro. — Porque vou admitir uma coisa para vocês... — sorriu,

um de seus sorrisos maquiavélicos —, eu estou sedento por uma boa ação.

Ansioso para estourar algumas cabeças. — Engatilhou a arma.

Estávamos em dez — eu, o prez e os Three fast, com os cinco irmãos

Fratelli, além de alguns homens que ficariam do lado de fora para nos

darem cobertura.

— A questão não é o medo ou a euforia com a ação, Daniel —

argumentou Mariano —, mas o que encontraremos lá dentro, e o que isso

poderá implicar. Lembro de terem dito que vocês queriam um escândalo,

não uma chacina.

— Não vejo motivos para não obtermos as duas coisas — declarou

Fillipo, terminando de “dar uma bola” no seu baseado.


Dei uma risada, concordando com ele.

— Eliminar um pouco dessa escória não fará mal algum, pelo

contrário — comentou Manuele, se juntando a nós. — Isso vai alimentar

minha sede por sangue e caos. Ainda não acredito que esses filhos da puta

estão fazendo isso bem debaixo do nosso nariz, cazzo!

— Precisamos dar um recado — decretou Rossi, o capo. — Ninguém

faz esse tipo de coisa no meu território e fica vivo para contar a história.

Vamos dizimar esses infelizes primeiro, depois pensaremos na questão

legal.

De repente, ele parou e acionou a escuta que tinha no ouvido, falando

com Luca. O italiano mais novo entrara na frente, em busca de possíveis

falhas para facilitar nossa entrada.

— A saída na parte de trás está liberada — afirmou Rossi, segundos

depois, se preparando. Notei que ele sinalizou para seus homens, que

ficariam no lado de fora.

Então, Daniel e eu fizemos o mesmo com os three fast.


— Vocês não farão nada idiota! — Apontei, num aviso sério. —

Fiquem atrás de nós e não tomem atitudes que possam colocá-los em

perigo, ou pior, nos colocar em perigo.

— Isso aqui é a porra de um ataque do caralho, então fiquem ligados!

— acrescentou Daniel, estapeando os rostos deles. — Somos lobos, mas,

infelizmente, nós também sangramos.

Depois disso, iniciamos a invasão, com balaclavas e coletes a prova

de balas. Não queríamos perder ninguém naquela porra.

À medida que avançávamos, íamos abatendo os seguranças que

surgiam em nosso caminho; ninguém ficaria vivo para contar a história.

— Luca encontrou um cômodo com algumas adolescentes —

comentou Rossi, pressionando a escuta em seu ouvido. — Seis garotas,

mantidas sob cárcere. Parece que chegaram ontem do Brasil.

Rangi os dentes, com minhas veias se enchendo de fúria. Eu estava

me esforçando para não pensar na Linda — que passou pela mesma coisa
— embora fosse impossível, pois ela era dona e proprietária da minha

mente. Não havia outro pensamento que não fosse dela, e para ela.

— Vamos nos separar — avisou Fillipo, gesticulando quando

chegamos a uma bifurcação. — Eu, Mariano e os Three fast iremos ao

encontro do Luca. — Apontou para um lado do corredor. — Em poucos

minutos, nós voltaremos a nos encontrar no escritório dessa porra.

E assim fizemos nos minutos seguintes.

Em determinado momento, me deparei com um desavisado, que

acabou atirando contra meu peito. Gemi pelo impacto da bala no colete.

Meus olhos se tornaram quentes, de uma mistura de ira e revolta.

Chutei sua mão, com a arma, fazendo-a voar longe; em seguida, avancei

contra ele, pressionando a lâmina da minha faca em sua jugular.

— Por acaso sabe por que vai morrer, filho da puta? — indaguei,

encarando seus olhos aterrorizados.

— Não.
Baixei a balaclava e, praticamente, rosnei em sua cara, com meus

dentes arreganhados.

— O pior homem não é aquele que comete o ato contra a mulher, mas

é aquele que compactua com a violência e não faz nada para impedir.

Dizendo isso, cortei sua garganta, sem qualquer piedade ou

misericórdia. Minha obscuridade já estava ativada, e nada poderia me deter.

Segundos depois, marchei em frente, atingindo cinco homens de uma

vez só com minha pistola; nem sequer viram de onde o disparo saiu.

Manuele surgiu ao meu lado, praguejando baixo quando viu os

corpos.

— Puta merda, Oliver! — exclamou em seu idioma, frustrado. —

Você não sabe brincar, porra! — Sacudiu a cabeça, parecendo chateado. —

Estou quase tirando a pistola da sua mão.

Sorri para ele, ciente da minha capacidade em acertar alvos. Eu era a

porra de um atirador de elite.

— Vai sonhando — declarei em italiano, antes de avançar.


Eliminávamos quem íamos encontrando no caminho.

As mulheres estavam sendo orientadas a esperarem do lado de baixo,

pois ao final da operação, nós iriamos conversar com cada uma delas para

descobrirmos suas origens e devolvê-las as suas famílias.

O prédio que abrigava a casa noturna era de três andares, e muito bem

estruturado, com algumas passagens secretas para fuga.

Quando chegamos diante da porta do escritório, nós nos deparamos

com Luca, que pressionava o cano de uma arma contra a testa do “cabeça”

de toda aquela merda. Na verdade, ele era apenas um pião no jogo doentio

de Charles Brown.

A princípio, nós entramos na sala, atentos a qualquer movimento ou

barulho suspeito, e só depois baixamos nossas armas e arrancamos as

balaclavas.

— Onde estão os outros? — Rossi perguntou ao Luca.

— Estão com as garotas — respondeu ele. — Fillipo está reunindo

todas elas para facilitar o processo depois.


O capo assentiu com a cabeça.

— Quem são vocês? Por acaso sabem com quem estão mexendo? —

sibilou o homem sob a mira de Luca.

Manuele arqueou as sobrancelhas.

— Ele realmente acabou de perguntar quem nós somos? É sério isso?

— indagou em revolta, olhando para nós com nítida surpresa.

Sorri, estalando o pescoço.

— Foi justamente isso que ouvi, italiano — falei, colocando lenha na

fogueira. Eu conhecia de perto a vaidade desses irmãos em relação ao poder

e influência que detinham.

Comecei a andar pelo local.

— É, eu também o ouvi falando isso — murmurou Luca, agarrando a

gola da camisa do infeliz e esbarrando sua cabeça contra a mesa. Sangue

espirrou de seu nariz e boca com o impacto. — Quer reformular a pergunta,

seu idiota? Porque o mais correto seria você ter perguntado o que nós

faríamos com você e os homens da sua laia.


— Não, por favor... — implorou feito um maldito covarde. — Não

me matem! O que querem?

Rossi estalou os lábios, caminhando pela sala de tamanho médio.

— Me fale das garotas — pediu, em tom perigosamente baixo.

O homem respirou fundo, com as mãos espalmadas na mesa enquanto

Luca o segurava pela nuca, ainda pressionando a arma em seu crânio.

Manuele também o mantinha na mira do outro lado da sala.

— As mulheres são estrangeiras, e todas estavam cientes que a

viagem seria para prostituição, mas não sabiam que teriam a liberdade

restrita — contou. — Elas são obrigadas a pagar aluguel de 480 dólares, na

verdade, há uma série de pagamentos que elas precisam cumprir, além de

ter que obter o lucro — explicou com voz trêmula. — Eu só cumpria

ordens, por favor...

— E quanto ao Charles Brown? — rugi a pergunta. — Onde ele entra

nisso tudo?

O homem tremeu.
— Eu nunca o vi pessoalmente, pois os negócios eram tratados

somente com seus intermediários — explicou, nervoso. — Mas a ordem era

para selecionarmos as garotas mais bonitas e...

— E o que, seu puto? — irritou-se Luca, quando o homem hesitou. —

Conclua a porra da frase!

— Virgens — decretou, tenso. — Eles queriam as virgens.

Praguejamos todos.

— Há o engano, a coação, a fraude, a vulnerabilidade, endividamento

compulsório — comentou Daniel, analisando alguns documentos. Manuele

também começou a mexer no computador em busca de mais material

incriminatório. — Elas tinham de pagar para ter alimentação, moradia, mas

o que ganhavam nunca era suficiente para quitar as dívidas — detalhou, em

tom raivoso.

— Encontrei diversas fotos e documentos aqui — argumentou

Manuele, com os olhos fixos na tela do computador. — Esse lugar é apenas

uma ramificação, tem muito mais — revoltou-se.


De repente, nós nos enrijecemos com o barulho de uma explosão no

andar de baixo.

— Que merda é essa? — indagamos em uníssono, apontando as

armas na direção da porta, preparados para quem quer que fosse entrar ali.

— O que foi isso, porra? Você vai explicar agora mesmo, ou juro que

vou meter uma bala na sua cabeça. — Ouvi Luca rosnar ao homem.

— Provavelmente algum dos meus homens acionou a segurança do

lugar.

— E o que isso significa, caralho? — Foi Manuele quem rugiu.

— Que o cômodo das garotas foi pelos ares.

Arregalamos os olhos com isso, pois era justamente o lugar que as

garotas estavam sendo reunidas por Fillipo, Mariano e os Three fast.

Luca atirou contra a cabeça do homem, sem pestanejar.

— Que caralho! — Agitou-se.

— Mariano avisou que isso ia dar merda — sibilou Manuele,

rumando para fora.


Todos corremos para o andar debaixo, ainda obrigando nossos olhos a

assimilarem a cena toda.

Minha adrenalina estava a um nível assustador, embora eu soubesse

exatamente como que era ter de lidar com aquele tipo de situação, sob

pressão.

Quando nós nos aproximamos da confusão, logo enxergamos Fillipo

e Mariano, seguido por Justin e Colin, que carregava o corpo

ensanguentado do Joe.

— Ele foi atingido na hora da explosão — murmurou Justin, com

pânico nos olhos.

Rossi, Daniel, Luca e os gêmeos seguiram para o local em ruínas de

modo a verificarem a gravidade da situação.

Trêmulo, me ajoelhei quando Colin deitou o enorme corpo de Joe no

chão. Analisei os ferimentos por cima, percebendo que, infelizmente, não

teríamos o que fazer. Eram múltiplas fraturas. Uma rápida olhada pelo seu
torso me fez notar uma enorme brecha em seu abdômen, mesmo com o

colete a prova de balas.

Joe respirava com dificuldade, enquanto sangue escorria de sua boca.

Trinquei os dentes, pegando sua mão e a apertando.

— Temos que fazer algo — bradou Justin, andando de um lado ao

outro. — Precisamos levá-lo ao pronto-socorro. — Seu desespero era

aparente.

Fillipo o encarou, sacudindo a cabeça como se dissesse que não tinha

mais tempo. Justin gritou, indignado, socando a parede.

— O Joe não pode morrer assim, porra! — esbravejou Colin. De

repente, se abaixou ao meu lado e, ameaçou pegar Joe nos braços outra vez.

— Vou levá-lo eu mesmo.

O impedi, e isso fez com que ele me enfrentasse. O mesmo aconteceu

com Justin, controlado por Fillipo. Eu compreendia a dor que estavam

sentindo, já que os três eram amigos inseparáveis.


— Eu sinto muito, porra! — Segurei sua cabeça, exigindo seus olhos

nos meus. — Mas não tem o que fazer. — Lágrimas nublaram os olhos

dele. — Não tem o que fazer — repeti. — Não.tem.o.que.fazer.

Minha voz embargou com essa declaração.

— É melhor vocês se despedirem — avisou Fillipo, soltando Justin.

— Ou perderão essa oportunidade.

Com o maxilar travado, me afastei do Colin, que já estava aos

prantos, e me aproximei do Joe. Ele se esforçava para balbuciar algumas

palavras, mas eu não entendia.

Todo seu corpo estava sangrando e começando a convulsionar.

Segurei sua mão na minha e aproximei o rosto do seu, observando o

pavor da morte em seus olhos.

— Prometo que sua família não ficará desamparada — avisei com

fervor. — Nós, os lobos, cuidaremos de cada um deles, enquanto você faz

sua partida para o outro lado, meu amigo. Saiba que me sinto muito
honrado de tê-lo apadrinhado. — Toquei sua testa com a minha. — Vá em

paz, Joe.

Dizendo isso, me afastei e me coloquei de pé.

Não consegui continuar ali, então comecei a caminhar sem rumo,

desejando fugir. Desejando escapar daquele mar de sangue e dor.

Ouvi a voz do Daniel ao longe, me chamando, mas ignorei.

Eu não podia parar... não podia.

Quando me vi longe o suficiente, parei, resfolegante, e espalmei

ambas as mãos na parede, sentindo os tremores me dominando. No segundo

em que as lágrimas banharam meu rosto, percebi que meu autocontrole

tinha se dissipado.

E então, me permiti chorar.

Um choro doloroso. De raiva.

E, principalmente, de culpa.
Capítulo 21

Linda

Eu ainda estava soluçando de tanto chorar quando Ethan se

aproximou de onde eu estava sentada, e me ofereceu água com açúcar.

Mesmo com a mão trêmula, a estendi em sua direção e peguei o copo de

vidro que ele me oferecia, levando-o a boca. Logo, senti o líquido doce,

descendo pela minha garganta.

Adela também estava ali, assim como Joshua.

A tensão pesava no ambiente, tendo em vista a notícia que acabaram

de nos dar através do telefone.


— Você tem certeza de que ouviu direito, Ethan? — Ouvi Josh

perguntar. — Eu não consigo acreditar nessa porra.

Ethan travou o maxilar, se empertigando e se afastando, com as mãos

na cabeça de modo frustrado. Adela chorava baixinho, magoada com a

morte de um dos integrantes do clube. Minutos atrás, alívio preencheu meus

sentidos quando descobri que o morto não era o Oliver, porém, isso não

significava que eu estava me sentindo melhor. Era igualmente triste.

— Eu queria estar errado, Josh — murmurou, em tom embargado. —

PORRA! — berrou, pegando uma cadeira e a lançando contra a parede. O

barulho me fez pular na poltrona em que estava. — Ele acabou de se tornar

consolidado — desabafou, mas consigo mesmo.

Ethan espalmou ambas as mãos na mesa de sinuca, parecendo respirar

com dificuldade. Sua dor e raiva exalavam de seus poros.

Eu estava tão concentrada no loiro cabeludo, que não percebi a

aproximação de Adela. Por isso, me assustei com o toque de suas mãos nas

minhas.
Seus olhos vermelhos pelo choro pioraram meu estado de

sensibilidade.

— Vamos para o quarto — pediu, chorosa. — Infelizmente, não tem

nada que nós duas possamos fazer, a não ser esperar o retorno deles.

Baixei os olhos, assimilando suas palavras. Sacudi a cabeça,

assentindo. Meus pensamentos estavam atordoados, pois, ainda podia sentir

em meu corpo, as reações do primeiro impacto da notícia, quando pensei

que algo acontecera ao Oliver.

Coloquei-me de pé, sentindo minhas pernas enfraquecidas.

— E-eu... sinto muito — consegui dizer, encarando as costas do

Ethan.

Ele continuou de costas, e não fez nenhum comentário.

Joshua estava andando de um lado ao outro, enquanto pressionava o

telefone no ouvido. Deduzi que estivesse ansiando falar com alguém lá da

Itália.
Baixei a cabeça, magoada com toda a situação. Aceitei o apoio de

Adela, que enrolou um braço em torno da minha cintura e nos encaminhou

para fora da sala.

A noite seria longa.

Quando amanheceu, decidi sair do quarto sem esperar pela Adela. Na

verdade, eu já estava me sentindo mais confiante com o ambiente; me

acostumando com o pessoal.

Sentia como se aquela fosse minha casa também.

Meu coração doeu quando visualizei uma bandeira preta hasteada no

topo do prédio, assim como um tecido preto, pregado a porta e no portão de

fora.

O clube estava de luto.

Surpreendi-me por notar que não havia ninguém no bar, e o silêncio

— algo que eu jamais presenciei desde que cheguei ali — parecia

ensurdecedor.
— Bom dia! — exclamei, assim que avistei Ethan preparando algo

muito saboroso no fogão.

Ele me olhou de soslaio, e me ofereceu um sorriso fraco.

— Bom dia! — respondeu.

— Onde está a Adela? — perguntei, me sentando em uma das

cadeiras à mesa.

— Saiu com o Josh para resolverem os assuntos referentes ao velório

e ao enterro do Joe — comentou. Percebi que sua voz soou estrangulada. —

Está com fome? — Me encarou, expectante. — Preparei ovos mexidos,

com bacon. Também tem um café fresquinho.

Assenti com a cabeça, sem jeito por não saber o que falar.

Levantei-me para ajudá-lo, pegando as xícaras e os pratos com

talheres. Novamente sentada à mesa, Ethan se juntou a mim, deixando

escapar um suspiro cansado. Levei meus olhos ao seu rosto, estudando sua

expressão abatida. Parecia estar usando as mesmas roupas da noite anterior.


— Você dormiu? — perguntei, enquanto me servia com café. — Seus

olhos estão fundos.

Nesse momento, esfregou o rosto, bagunçando os cabelos no

processo. Ethan era tão, ou mais tatuado que o Oliver. Sua beleza era algo

selvagem, com toda aquela fúria exalando por seus poros.

— Não me lembro quando foi a última vez que dormi uma noite toda,

loira — comentou, sem me encarar. Eu já tinha me acostumado com ele e

Josh se referindo a mim dessa forma. Ao menos, Ethan parou de me chamar

de vadia.

Levei a xícara fumegante aos lábios, fechando os olhos ao apreciar o

sabor marcante.

— Entendo — soprei, respirando fundo. — Há fantasmas que nos

esperam do outro lado.

Nesse momento, Ethan me encarou.

Não falamos nada durante longos segundos. De repente, me

sobressaltei quando sua mão pressionou a minha, em cima da mesa. Seu


olhar estava carregado com uma miríade de emoções.

— Eu fui um tremendo cuzão com você quando chegou aqui —

admitiu. — E quero que saiba que... eu sinto muito por isso. — Suspirou, e

soltou minha mão. — A verdade é que não estou acostumado a me

relacionar com as mulheres de um jeito delicado, sabe? — O canto de seus

lábios se distendeu em um sorriso provocador. — Sou bruto por natureza

mesmo. Grosseiro.

Dei uma risadinha, embora, por dentro, ainda estivesse tentando me

recuperar do seu pedido de desculpas. Eu realmente não estava esperando

por isso.

— No pouco tempo que estou aqui, convivendo com todos vocês, já

percebi que cada um esconde um lado doce.

— O quê? — Sacudiu a cabeça, olhando ao redor como se quisesse

ter certeza de que estávamos sozinhos. — Não repita isso em hipótese

alguma, loira. Ou perderemos credibilidade na casa. — Abocanhou uma

porção de ovos e, em seguida, deu uma piscadela para mim.


Não falei nada, mas sorri.

Já fazia quase vinte horas desde nossa descoberta a respeito da morte

de um integrante do clube, e Adela, Josh e eu estávamos seguindo para a

casa dos familiares do Joe. Mais cedo, os dois foram atrás de tudo o que

seria necessário para o velório, cortejo e o enterro, então agora só faltava

avisar a família. Aceitei ir junto quando me convidaram.

— O que está pensando? — perguntou Adela, chamando minha

atenção para si. Estávamos numa das caminhonetes do clube, embora eu

estivesse na parte de trás, e eles na cabine. — Ficou tão calada desde ontem

à noite. Ainda está preocupada com Oliver?

Senti minhas bochechas esquentarem, porque Josh deu uma olhadinha

para mim através do espelho retrovisor, embora disfarçadamente.

— Estou, porque sei que ele deve estar destruído — admiti, olhando

para fora da janela, admirando as lindas paisagens. — E não estou lá para

ele — lamentei.
Adela esticou o braço e apertou minha mão, sem dizer nada. Mas seu

mero gesto me fez sentir melhor.

— Que tal mudarmos de assunto? — indagou ela, inspirando o ar

profundamente. — Ei, Linda?! Você sabia que o Josh tem medo de coisas

sobrenaturais?

Pisquei, desnorteada, mas sem esconder o lampejo de um sorriso.

— Ah, ruiva... — resmungou ele, chateado enquanto Adela ria. — Eu

não tenho medo — afirmou, empertigado. — Tenho respeito, é diferente —

corrigiu. — Com os vivos, eu sei lidar muito bem. E quando a pessoa passa

para a terra dos pés juntos? Quem garante que não tem nada do outro lado

para foder com a gente? — Estremeceu imperceptivelmente.

Adela só sabia rir, então Josh mostrou o dedo do meio para ela num

gesto obsceno.

— Eu acho algo sábio da sua parte, Josh, que você tenha respeito —

comentei, me ajeitando no banco. — Porque eu acredito que as forças

ocultas estejam interligadas ao plano terreno — declarei, séria. — Quando


criancinha, eu tinha um amigo imaginário chamado Stefan. Ele tinha uma

pele morena com cabelos e olhos escuros. Um dia, brincando com os

sobrinhos do proprietário da casa em que minha mãe e eu morávamos, eu

falei sobre o Stefan. O garoto mais velho ficou muito confuso e chamou sua

tia, a esposa do proprietário, para falar comigo. Ela me pediu para descrever

o Stefan para ela. E assim que eu contei, ela começou a chorar.

Aparentemente, muito antes de nós nos mudarmos para a casa da mulher,

ela teve um bebê que faleceu de SMSI (Síndrome da Morte Súbita Infantil).

O nome dele era Stefan, e ele também tinha cabelos pretos, olhos castanhos

e pele morena.

Joshua ficou tão assustado com meu relato, que acabou diminuindo a

velocidade, jogando a caminhonete no acostamento e freando logo depois.

A palidez que tomou conta de seu rosto me deixou bem culpada.

— Puta que pariu! — sibilou ele, sacudindo a cabeça como se

quisesse espantar alguma imagem que se formou em sua mente. — Isso é

verdade mesmo? — quis saber, em tom aterrorizado.


Pisquei, olhando para Adela, que se mantinha em silêncio, embora

com uma expressão divertida no rosto perfeito.

Cobri a boca com uma das mãos para esconder um sorriso.

— Você vai ficar chateado comigo se eu disser que não? — perguntei,

segurando o desejo de rir.

A risada da Adela inundou o veículo na mesma hora, e isso tornou

ainda mais difícil o meu autocontrole para não rir.

Josh virou o pescoço na minha direção, encarando-me com os olhos

estreitos. Ergueu o indicador e começou a sacudi-lo para mim.

— Você é boa, garota... você é boa — murmurou, entre risos.

No final, todos nós começamos a rir.

Uma risada que, por poucos segundos, me permitiu sentir o corpo

menos tenso.

Foi bem difícil presenciar o sofrimento daquela família perante a

notícia da morte de seu ente querido. Meu coração se tornou pequenino com
a dor da mãe do Joe, pois, automaticamente me lembrei da minha.

Não era sempre que eu me permitia ter certas recordações, sobretudo,

da minha infância. Mas o contato com a família do Joe me fez voltar ao

passado, e eu entendi que, mesmo com todas as falhas, minha mãe foi uma

grande mulher. Ela errou, todavia, também acertou no momento que eu

mais precisei.

Suspirando, me despedi da Adela e do Josh quando a caminhonete

parou no pátio do clube e, em seguida, desci e rumei em direção ao prédio

que ficava meu quarto. Eu precisava de um banho.

No caminho, joguei a cabeça para trás, adorando sentir a umidade da

noite em minha pele quente.

No quarto, arranquei minhas roupas e fui direto ao banheiro, ansiosa

demais para sentir a água banhando meu corpo cansado e tenso dos últimos

acontecimentos.

Liguei o registro do chuveiro e, sem demora, me enfiei debaixo da

forte ducha. De olhos fechados, deixei a água cair livremente, levando todo
o peso consigo. Bloqueei qualquer lembrança indesejada, e assim que me vi

satisfeita, saí do box.

Optei por usar um vestido branco, de renda. Apreciava roupas mais

leves para dormir.

Soltei meus cabelos do coque, pois decidi não os lavar, e comecei a

pentear as madeixas com a escova de cerdas macias. Fiquei nesse processo

por tanto tempo que acabei me perdendo em meus pensamentos, e só voltei

à realidade ao ouvir um barulho ensurdecedor de motores de moto. Isso fez

meu coração parar de bater um segundo.

Abandonei o banheiro na mesma hora, sentindo a adrenalina invadir

meu íntimo. Quando fui até a janela para espiar o lado de fora, visualizei a

chegada de uma caminhonete, além de algumas motos. Reconheci a do

Oliver. Certamente Joshua levou as motos a reboque até a pista de voo.

Apressei-me a calçar um chinelo e, em seguida, corri até a porta,

desesperada para chegar ao pátio o mais rápido possível. Meu coração batia

descompassado, tão forte que eu podia sentir minha pulsação nas costelas.
Oliver estava terminando de tirar o capacete quando me viu chegando

perto, esbaforida. Estanquei no lugar, perdendo as forças de repente.

Toda a atmosfera ao nosso redor parou, e tudo o que eu conseguia ver

era ele.

Somente ele.

Descendo da moto, observei que a firmou no suporte lateral e, em

seguida, marchou até mim... se tornando um gigante à medida que se

aproximava mais e mais, como um predador prestes a atacar sua presa.

Porém, ao invés de fugir, eu permaneci ali... esperando.

Desejando...

Meus olhos já estavam molhados com lágrimas não derramadas no

momento que Oliver parou em minha frente, soltando a respiração em

rajadas ásperas. Inspirei seu aroma quando este atingiu minhas narinas... o

cheiro que eu tanto senti falta nos últimos dias.

Ergueu ambas as mãos em direção ao meu rosto, mas parecia estar

com receio de me tocar.


— Linda... — sua voz soou tão partida, que meu coração sufocou por

ele —, meu pequeno Querubim.

Ele estava vulnerável. Destruído. Quebrado.

Segurei suas mãos e as enrolei em minha cintura, instigando-o a me

abraçar. Eu queria.

Ansiava pelo seu toque mais do que nunca.

Quando seu rosto se escondeu na dobra do meu pescoço e o senti

inspirar meu cheiro, eu fechei os olhos.

— Vamos para o quarto — pedi num sopro.

Oliver não disse nada, mas, suspendeu meu corpo com tanta

facilidade que parecia que eu não pesava nada. Depois, começou a

caminhar comigo em direção ao quarto.

Eu sabia que ele precisava de mim, assim como eu precisava dele.


Capítulo 22

Oliver

Todo meu corpo estava tremendo quando entrei no quarto, com Linda

enroscada em meus braços. Minhas mãos estavam espalmadas na papada do

seu traseiro, onde eu podia sentir a calcinha minúscula se escondendo entre

as nádegas.

A primeira coisa que fiz depois que fechei a porta foi seguir para a

cama, me sentando contra o encosto da cabeceira, sem tirar Linda dos meus

braços. Ajeitei suas pernas ao meu redor, pressionando sua cabeça em meu

peito enquanto massageava seus cabelos, perdido no seu perfume... no seu

cheiro que tanto me fez falta.


Sem controlar o ímpeto, apertei-a contra mim, o que a fez gemer

baixinho por eu desferir muita força.

— Me perdoe — pedi, afastando sua cabeça para poder encarar seus

olhos verdes. — Machuquei você? É que eu estava com tantas saudades...

— deslizei as mãos por seus cabelos, acompanhando o movimento de meus

dedos, hipnotizado pela perfeição angelical.

Negou, acolhendo meu rosto com suas mãos quentes e delicadas.

Inclinou a cabeça e tocou nossos lábios num beijo tão suave que por um

momento pensei ter imaginado.

— Não me machucou — afirmou, sorrindo. — Eu também estava

com saudades.

Meu coração estava batendo depressa.

Voltei a pressionar seu rosto em meu peito, desesperado para aquietar

minhas emoções bagunçadas. As últimas horas foram como a porra de um

‘tsunami’ em cima de mim, e eu precisava de um pouco de descanso.

De silêncio.
Da paz que eu só encontraria com Linda.

Permanecemos assim por um longo tempo, apenas nos acariciando

lentamente, e ouvindo os batimentos acelerados um do outro.

— Você quer conversar? — perguntou, quebrando o silêncio, e

mexendo no zíper da minha jaqueta.

Massageei suas costas, levando as mãos em seus braços, ombros e

cabelos. Eu não tinha forças para afastá-la. Meu desejo era trazê-la para

mais perto e não a soltar nunca mais.

Respirei fundo, admirando seu rosto perfeito quando Linda buscou

meus olhos.

— Consigo ver o sofrimento em seus olhos, Oliver — tocou minha

bochecha barbuda —, e isso está me machucando.

Embrenhei meus dedos em seus cabelos, grudando nossas bocas com

sofreguidão. Em seguida, colei nossas testas, enquanto obrigava minha

respiração a se estabilizar.

Assim que me vi mais calmo, abri a boca para falar:


— Eu já matei muitas pessoas e, vi muitas sendo mortas — contei, em

tom estrangulado. — No exército, fui marcado por tantas tragédias que

houve um tempo em que era como se minha humanidade houvesse se

desligado. — Travei o maxilar com as lembranças. — Eu não sentia mais

nada, e não me importava com mais nada. Seco. Eu estava oco.

Linda não abriu a boca em nenhum momento, continuava me

encarando, paciente para me ouvir desabafar.

— Até que meu batalhão e eu fomos designados a cuidar de uma

pequena vila, e isso durou alguns meses — continuei a narrar, sentindo

meus músculos se tencionando à medida que as lembranças iam se tornando

mais e mais claras na minha mente. — O monstro que me assombrara há

anos, e que eu, com muita dificuldade consegui o trancar num calabouço na

minha mente veio à tona com a morte do Joe. — Me calei por um segundo,

me concentrando nas carícias que Linda fazia em meu peito, por cima da

camiseta.

— E como você está se sentindo?


Respirei profundamente, e soltei o ar em pequenas lufadas.

— Me sinto como naquele trágico dia, na pequena vila — respondi,

com um nó na garganta e olhos lacrimejando —, o dia em que meu batalhão

e eu sofremos um ataque que não estávamos esperando. Eles explodiram

tudo, e eu vi coisas que um ser humano não deveria ver. — Fechei os olhos

com força querendo apagar as imagens horripilantes da minha mente, mas

não adiantava, porque elas continuavam lá, me assombrando. — Eu posso

até te falar, porque sei que por mais que você tente imaginar, você nunca vai

conseguir visualizar a cena de horror. Corpos carbonizados e pedaços

humanos espalhados por toda parte. E, o pior de tudo é que eram apenas

civis inocentes que ali trabalhavam e as pobres crianças. — Minha voz

embargou. — Eram apenas crianças, Linda. Apenas crianças. Anjos que eu

deveria proteger.

Nesse momento, Linda me abraçou fortemente, unindo nossos peitos

e entrelaçando suas mãos em minha nuca; aproximou o rosto do meu. Em

seguida, sussurrou em meu ouvido:


— Ninguém deveria passar por isso. — Sua voz estava embargada

também.

— E agora, anos depois, estou sentindo a mesma sensação —

desabafei, em tom torturado. — Eu sinto o peso da morte do Joe, porque fui

eu que o recrutei. Então, sinto como se a responsabilidade seja toda minha.

Ele era apenas um garoto. Apenas um garoto.

— Shh... está tudo bem — murmurou ela. — Estou aqui ao seu lado, e

vou ajudá-lo a passar por isso.

Voltou a me abraçar apertado, mantendo-me escondido em seus

braços enquanto beijava meu rosto todo, o rastro das minhas lágrimas.

— A culpa não foi sua, Oliver — declarou, firme, apesar das lágrimas

que desciam sem parar. — Joe aceitou o clube como sua família, ele aceitou

estar aqui. Logo, aceitou os lobos com todas as implicações que essa

decisão traria para sua vida. Lembre-se que você não é Deus, não tem

domínio sobre todas as coisas. — Senti seus dedos abaixo dos meus olhos,

limpando a umidade. — Houve um tempo em que eu me culpei por aceitar


me entregar às vontades do Charles, mas depois entendi que o único

culpado era ele, que me chantageou e me privou das minhas necessidades

básicas, sobretudo, da minha liberdade.

Reforcei o aperto ao redor da sua cintura, furioso com a menção ao

nome desse filho da puta.

Linda encarou meus olhos.

— Você não é culpado, entendeu? — Fiquei olhando para ela,

esforçando-me para acreditar e... aceitar. — Entendeu, Oliver?

Respirei fundo, e soltei o ar com aspereza.

Assenti com a cabeça, vagarosamente, enquanto colava nossas testas

e permanecia inspirando o aroma delicioso que escapava de suas narinas.

Seu cheiro conseguia me acalmar, assim como o tom de sua voz que parecia

ser o som dos anjos.

Em pouco tempo, Linda se tornou meu refúgio, meu bálsamo.


Deslizei os dedos pelo rosto sereno de Linda enquanto ela dormia, em

seguida, deixei o quarto, tomando o cuidado de não a acordar.

Eu precisava beber um pouco.

O silêncio do clube piorava meu estado de luto, considerando que isso

não era nada comum. Ignorei Ripper e o Black, sem nem sequer me

importar de perguntar o que faziam ali; meu alvo era o bar.

Peguei três copos e depositei os três sobre o balcão, dois diante do

Colin e Justin, que estavam ali em silêncio. Na verdade, eles não falaram

muito desde o acontecimento.

Foi quando eu bati com a garrafa no balcão e gritei:

— Uma rodada de bebida para todos por minha conta. — Encarei

todos ao redor. — Vamos beber — avisei-lhes, que me encaravam. — Será

em memória do Joe, que com certeza não ia querer ver ninguém triste aqui.

— Enchi os copos de Colin e Justin, ergui o meu e disse: — A você, Joe,

que sempre estará aqui e fará parte da nossa alcateia — declarei, tendo a
atenção de quem estava ali. — Ao Joe! — gritei em alto e, bom som. Em

seguida, entornei um generoso gole.

Com a garganta queimando pelo uísque, me concentrei nos garotos,

que carregavam expressões cabisbaixas. Fui até eles, espalmei ambas as

mãos atrás de seus pescoços e declarei:

— Essa noite, nós vamos afogar nossas dores e enterrá-las nos

buracos mais profundos e escuros que encontrarmos, porque depois que

sepultarmos o Joe, a nossa vida precisa seguir. E nossos inimigos vão

compreender que quando se derruba um lobo, tem que derrubar todos. Ou

seja, uma alcateia inteira. Eles são muitos, nós somos poucos, mas caçamos

juntos e vamos caçá-los um por um. Aí então, a alma do Joe poderá

descansar em paz, pois ele estará vingado.

Os olhos dos dois nublaram com lágrimas não derramadas, e logo

senti a mão deles em minha nuca também.

— Você está certo — afirmou Justin, em tom embargado.


— Joe não ia querer nos ver tristes — complementou Colin. Sacudiu

a cabeça, rindo um pouco. — Aquele desgraçado ia passar a noite inteira

com o pau atolado em alguma boceta.

Ambos rimos e eu me afastei. Peguei a garrafa de Bourbon e nos servi

novamente.

Quando saímos da Itália, deixamos os Fratelli encarregados de

realizarem o embalsamento do corpo do Joe para o transporte dele. E só

então realizaríamos o velório e a homenagem merecida.

“O cara que parou Dallas”, foi assim que Daniel descreveu Joe no

discurso feito no velório, que durou dois dias, sempre recebendo gente. Não

esperávamos tanta comoção.

Joe fora sepultado, no dia anterior, com direito a diversas

homenagens. No começo da tarde, ao som de Metallica, um cortejo com

centenas de motociclistas fez a última homenagem ao companheiro de


estrada. Foi mais de uma hora de trajeto, entre o clube e o cemitério. Muita

gente participou. Ele se tornou uma lenda.

Meu telefone tocou no exato momento em que Linda e eu entramos

em minha casa. Decidi tirá-la do clube por algumas horas. Na verdade, eu

era a porra de um egoísta que a queria apenas para mim, para meus olhos.

Os dias em que nós fomos obrigados a ficar longe um do outro ainda me

feriam, e eu precisava de Linda... de seu cheiro, do seu toque... seus beijos.

— Gosto do clube, mas admito que gosto mais daqui... — mencionou

ela, circulando pelo lugar espaçoso. Assisti, fascinado, quando ela

caminhou até a parede envidraçada de modo a admirar a paisagem.

— Por quê? — indaguei, curioso.

A acompanhei, me colocando em suas costas enquanto circulava sua

cintura e enfiava o nariz na dobra de seu pescoço, adorando visualizar seus

pelos arrepiados com meu toque.

— Porque tenho você só para mim — confessou ela, em tom baixo.

Ao analisar seu rosto, eu vi o costumeiro rubor invadindo suas bochechas.


Eu achava sua timidez adorável.

Virando-a de frente para mim, arrastei os dedos pelo seu rosto,

ajeitando alguns fios loiros que escondiam seus olhos. Ela era tão linda.

Tão perfeita em todos os sentidos.

A puxei para mim, pressionando a palma da minha mão em suas

costas, com meus dedos sentindo o início da dobra de seu traseiro

empinado.

— Os últimos dias foram sombrios — falei, traçando sua bochecha

com o indicador. — Mas quero que saiba que você faz com que as coisas

fiquem suportáveis aqui — apontei para minha cabeça —, e aqui. —

Pressionei meu peito.

Lambeu os lábios, e notei que sua respiração se tornou ainda mais

irregular. Eu podia sentir seus mamilos enrijecendo à medida que eu

pressionava nossos corpos mais e mais...

Entretanto, prestes a avançar minha boca na sua, para reivindicar seus

beijos e seu fôlego, meu telefone voltou a tocar estridente.


Travei o maxilar, irritado pela interrupção.

A contragosto, me afastei e peguei o aparelho de celular do bolso. Era

o Daniel.

— Já chegaram no seu forte? — perguntou ele, quando atendi.

— Sim, por quê? — Meu cenho franziu, e olhei ao redor, preocupado

que algo pudesse estar errado.

— Ligue a TV — pediu ele, piorando meu estado de confusão, mas

corri para perto do aparelho e acionei o controle remoto. Na mesma hora,

imagens da operação contra a organização do Charles começaram a pipocar

na tela. Aumentei o volume:

“Apesar de seu ‘slogan’ ser "trabalhando por um mundo melhor",

Charles Brown coordenava um sistema baseado em papéis de "escravo" e

"mestre". De acordo com os depoimentos colhidos até o momento, pela

Justiça da Itália e, dos EUA, a Salvation to all, operava como uma seita.

Segundo os promotores envolvidos no caso, suas integrantes formavam uma

espécie de irmandade de "escravas" que passaram por uma lavagem


cerebral. Muitas chegaram a ser marcadas a ferro com as iniciais de

Charles e eram forçadas a ter relações sexuais com ele.

Ainda segundo os depoimentos, algumas mulheres foram forçadas a

fazer abortos. E havia um sistema de "escrava e mestre", obrigando

algumas, a oferecer coisas como fotografias humilhantes para mostrar seu

compromisso.

Já foram realizadas muitas prisões, porém, Charles Brown ainda se

encontra foragido.”

— Finalmente está acontecendo, irmão. — Voltei a ouvir a voz do

Daniel. — O castelo daquele porco está desmoronando.

Meus dentes estavam rangendo à medida que meus olhos absorviam

tudo. Com a ajuda dos Fratelli, nós conseguimos reunir provas concretas

contra a organização. Depois do ataque a ‘boate’ — que resultou na morte

do Joe —, Rossi contatou o delegado e, isso foi o estopim necessário para

explodir essa maldita seita do caralho.


De repente, olhei para o lado e notei Linda paralisada, enquanto

encarava a tela da TV.

— Mal posso esperar para colocar as mãos nele — sibilei, entre

dentes. Daniel começou a falar mais alguma coisa, porém, o cortei: —

Preciso desligar agora.

Assim que encerrei a chamada, joguei o celular no sofá ao lado e, em

seguida, me coloquei na frente de Linda. Seu rosto estava pálido encarando

a TV.

Decidi desligar a televisão de uma vez para acabar com aquela

tortura. Notei que o peito de Linda estava subindo e descendo rápido

demais, devido a sua respiração entrecortada.

— Isso... é verdade? — perguntou, apontando para a tela apagada.

Seu tom de voz estava estranho.

Assimilei sua expressão, porém, pela primeira vez, não consegui lê-la.

Apoiei as mãos em seus ombros, massageando seus músculos tensos.


— Sim, — respondi, absorvendo suas reações. — Mas Charles não

será preso.

Estudei seu rosto.

— Por quê? — quis saber.

— Porque o caçador o trará direto para nós, e eu irei matá-lo...

demoradamente.

Assisti quando ela sacudiu a cabeça, assentindo. Respirou fundo,

pensativa. De repente, se afastou de mim e se virou de costas, com as mãos

na cintura.

Esperei, pacientemente enquanto ela assimilava minha declaração.

Então, Linda se voltou para mim e percebi a umidade em seus olhos.

— Isso é uma promessa? — perguntou, fazendo-me piscar de pura

surpresa. Aproximou-se, espalmando meu peitoral tenso com suas mãos

trêmulas. — Você promete que o fará sofrer?

Sentir a angústia em suas palavras fez meu ódio por aquele filho da

puta se intensificar.
Enrolei os braços em seus ombros, trazendo-a para mais perto do meu

corpo ansioso. Beijei sua cabeça.

— Prometo! — exclamei. — Vou vingá-la, nem que isso seja a última

coisa que eu faça na minha vida — garanti com fervor.

E essa era uma promessa que eu cumpriria sem pestanejar.


Capítulo 23

Linda

Eu ainda estava tentando me recuperar do que ouvi através da

reportagem de TV. Não podia ignorar a tensão dos últimos dias, com o

clube inteiro de luto pela morte do Joe, sobretudo, com a torturante dor que

enxergava constantemente nos olhos do Oliver. Mas saber que o império do

meu antigo algoz estava ruindo me deixou sem palavras.

Era um misto de sentimentos.

— Venha aqui, baby. — Oliver me chamou, tirando-me dos meus

devaneios, assim que me ouviu descendo as escadas.


Fazia pouco mais de quarenta minutos desde que chegamos a sua

casa, então decidi tomar um banho para tentar apaziguar a tensão que se

aglomerou em meu corpo com todos os últimos acontecimentos.

Caminhei pelo espaço, intoxicada pelo delicioso aroma de comida

que inundou o ambiente. Engoli em seco com a visão que tive logo que

parei no arco da porta da cozinha. Oliver estava sem camisa, usando sua

rotineira calça de couro e um avental branco.

Ao me olhar, sorriu, um de seus sorrisos irresistíveis. Senti meu rosto

esquentar e meu estômago se retorcer de expectativa, mesmo tentando

controlar minha timidez.

— Estou quase terminando nosso jantar — avisou ele, remexendo em

algo na panela. — Espero que esteja com fome.

Esfreguei as mãos no vestido que eu usava, de modo a controlar meu

nervosismo, enquanto entrava na cozinha.

— Você está me deixando mal-acostumada, sabia? Nunca tive

ninguém cozinhando para mim — comentei, sorrindo, o que o fez me


encarar com olhos calorosos.

— Eu também nunca cozinhei para nenhuma outra mulher —

declarou, me deixando com as sobrancelhas arqueadas, de choque. — Mas

me sinto bem fazendo isso para você. — Piscou um olho para mim. —

Gosto de cuidar de você e de suas necessidades. — Concentrou-se nas

panelas no fogão, o que agradeci, pois, suas palavras me deixaram

desnorteadas por um segundo. — Então, acostume-se, pequeno Querubim.

Mordi os lábios, sem esconder o sorriso bobo que tomou conta de

meus lábios completamente.

Parei quando me aproximei da enorme ilha, que ocupava boa parte do

cômodo. A ilha agregava um aquário abaixo de seu tampo, tornando-a

protagonista do ambiente.

— Como os peixes sobrevivem com o calor produzido pelo Cooktop?

[2]
— Apontei, admirando os bichinhos coloridos.

Oliver zanzou de um lado ao outro, totalmente compenetrado no que

fazia.
— Neste caso, o tampo foi produzido com um material específico,

devido à necessidade de conter a temperatura. Além disso, ele também

levanta de forma que possibilite a limpeza do aquário — explicou.

Fiquei tão encantada com os peixes, que me inclinei, admirando-os

com olhos brilhantes.

— Quando eu era pequena, lembro de ter pedido um peixinho de

presente para minha mãe, mas ela não quis me dar, alegando que eu não

cuidaria. Afirmou que eu não cuidava nem das minhas próprias bonecas,

direito. — Soltei uma risada com a lembrança.

— E ela estava certa? — Oliver perguntou, em tom divertido.

Ergui-me, ajeitando o corpo.

— Com certeza — respondi, entre risos. — Provavelmente o bichinho

morreria em poucos dias.

Oliver também sorriu. Fiquei em silêncio por alguns instantes, apenas

o observando. Ele parecia tão ‘sexy’ que era impossível ignorar as reações
que a visão dele assim, seminu e todo sério, e concentrado na comida,

estava me causando.

— Não faça isso, Linda...

Pisquei, confusa com suas palavras.

— O-o que eu fiz? Não entendi.

Minha respiração acelerou com o peso de seu olhar. Em silêncio,

assisti quando ele desligou as chamas do fogão, me fazendo deduzir que o

jantar estava pronto.

Enxugou as mãos em um pano e, em seguida, caminhou até onde eu

estava recostada. Lambi os lábios secos quando Oliver parou em minha

frente, apoiando as mãos ao meu redor, prendendo-me entre ele e o balcão

em minhas costas.

— Você estava me olhando com fome — afirmou, me encarando com

fogo no olhar —, mas não de comida.

Meu peito subia e descia tão rápido que fiquei com medo de sofrer

uma síncope ali mesmo.


— E-eu... — voltei a lamber os lábios, e isso fez com que ele rosnasse

com meu gesto, piorando meu estado de inquietação. Esfreguei minhas

pernas juntas, desesperada por alguma fricção. — Oliver...

Eu não sabia o que pedir, mas sabia que precisava de ajuda para

acabar com aquele incômodo entre minhas pernas.

Percebendo minha ânsia, Oliver enganchou as mãos abaixo de meus

braços e, em seguida, me ergueu sobre o balcão. Senti suas mãos deslizando

por minhas coxas, abaixo do vestido.

Nossos rostos estavam tão próximos que eu podia sentir sua

respiração ruidosa contra meus lábios.

— Você está excitada — não foi uma pergunta, mas uma constatação

do óbvio. — Seu corpo todo está me dando sinais...

Começou a inclinar o rosto em direção as minhas pernas, sem deixar

de me olhar. Seus olhos estavam fixos nos meus.

Entretanto, pausei sua intenção, segurando seu rosto com minhas

mãos trêmulas.
— O que foi? — Sua testa adquiriu pequenos vincos. — Não quer?

Linda, se não estiver confortável, nós...

O cortei:

— Não é isso. — Enlacei sua cintura com minhas pernas impedindo-o

de se afastar quando ameaçou. — É que eu... — me calei, mordendo os

lábios de maneira nervosa.

Oliver continuou com vincos na testa, esforçando-se para me

compreender.

— É que você...? — instigou-me. — Qual o problema, Linda? Por

acaso aconteceu algo durante minha estadia na Itália? Você está me

deixando preocupado.

Senti sua tensão, então me apressei a explicar a situação de uma vez,

sem mais delongas:

— Eu tenho algo para te mostrar. — Mordi o cantinho interno da

boca, alvoroçada demais. Minha respiração estava áspera. — Uma

surpresa... eu acho. — Baixei os olhos, fechando-os enquanto buscava


respirar fundo. Quando voltei a encarar Oliver, me deparei com a

expectativa no seu olhar.

Levei as mãos até a barra do meu vestido, erguendo a bunda para

facilitar o processo. Quando o vestido se amontoou em minha cintura, me

concentrei na calcinha.

— Linda...

— Está tudo bem — o interrompi, tocando seu rosto. — Eu quero te

mostrar a surpresa, confie em mim.

Ele continuou me encarando, com aquela intensidade toda, me

fazendo sentir quase que uma combustão interna. Forçando o ar para meus

pulmões, voltei a me concentrar na calcinha, descendo-a para que Oliver

pudesse visualizar a tatuagem nova.

Era um coração vermelho, com asas ao redor.

Ouvi o arquejo incrédulo do Oliver, e quando encarei seus olhos notei

o espanto. Na verdade, sua expressão era uma mistura de emoções.


— Primeiramente, eu quero que saiba que não fiz isso por você,

porque acreditei quando me disse que não se importava com essa marca no

meu corpo — murmurei, respirando fundo. — Eu fiz por mim, pois não

conseguia me encarar no espelho, porque cada vez que meus olhos se

deparavam com aquela marcação, era o rosto dele que eu enxergava; eram

as mãos dele em mim... — sacudi a cabeça para expulsar as lembranças

tenebrosas — Então, Adela e eu conversamos a respeito disso, embora eu

não tivesse contado detalhes... — meu rosto esquentou — E ela me fez

compreender que não tinha motivos para que eu continuasse com essa

tortura. Foi aí que o nome da Mary surgiu na conversa.

— A tatuadora do clube — complementou ele, sem parar de admirar

minha tatuagem. — O que a imagem significa?

Sorri, mirando o desenho.

— As asas têm a ver com a forma carinhosa como você me chama, de

pequeno Querubim — expliquei, passeando o indicador sobre elas, eram


escuras. — E a escolha do coração foi pela forma como me sinto em relação

a você.

O encarei, apesar da timidez. Vi que seus olhos aumentaram de

tamanho com minha revelação.

— Linda...

Abracei-o pelo pescoço, puxando-o mais para perto.

— Não posso afirmar que o amo... — sussurrei, sem jeito —, mas sei

que estar com você é... tudo — confessei. — Seu cheiro me liberta das

amarras invisíveis que me prendem; e o seu toque... — peguei sua mão e a

pressionei em meu peito, sobre o coração acelerado —, ele me faz refém de

meu próprio descontrole emocional, porque me sinto queimando de dentro

para fora. Mas é um tipo de fogo que não causa dor. A única dor que sinto é

essa... entre minhas pernas.

Mal terminei de falar e Oliver deslizou sua enorme mão em minha

nuca, embrenhando os dedos em meus cabelos. Logo, sua boca se


aproximou da minha, mas ele não chegou a me beijar. Ficou somente

brincando com meus lábios.

— Não há palavras dentro de mim para descrever o que você passou a

significar na minha vida, Linda — declarou com tanto fervor que meus

olhos queimaram com novas lágrimas. Fechei os olhos com a carícia lenta

que sua mão fez em meu rosto. — Isso aqui... — repetiu meu gesto anterior

e pressionou minha mão em seu peito, onde pude sentir seu coração

acelerado — está acontecendo por sua causa. Você me faz duvidar se vou

conseguir fazer as coisas certas entre nós dois, porque, na verdade, eu quero

que tudo seja perfeito. Porque você não merece nada menos que isso, baby.

Enxugou minhas lágrimas com tanta delicadeza que me deixou ainda

mais emocionada e... encantada.

Segurei-me em seus ombros quando suas mãos circularam minha

cintura e ele me impulsionou para fora da bancada.

Gemi quando sua boca mordeu meu pescoço e sua língua sugou

minha pele. Em seguida, nos encaminhou para fora da cozinha.


Meu coração estava tão acelerado que eu temia não controlar minhas

reações.

Assim que chegamos ao quarto, Oliver me depositou sobre a cama

com tanta brandura que me senti a mais rara das preciosidades. Seu cuidado

comigo sempre me comovia.

Observei, fascinada, enquanto ele arrancava o avental que escondia

seu torso musculoso e repleto de tatuagens. Os olhos, pesados de luxúria,

estavam em mim o tempo todo conforme engatinhava sobre a cama, feito

um verdadeiro lobo selvagem.

Arquejei ao sentir suas mãos se arrastando por minhas pernas,

erguendo meu vestido no processo. Gemi, ensandecida, no momento que

sua boca desceu e seus dentes rasparam minha intimidade, por cima da

calcinha úmida.

— Oliver... — arqueei as costas, lambendo os lábios enquanto

embrenhava os dedos em seus cabelos conforme ele fungava o nariz em

meu amontoado de nervos, que latejava pela sensibilidade.


Prendi o fôlego quando fui puxada para cima de modo a ficar sentada,

espalmando as mãos no peitoral duro de músculos. Nossos rostos ficaram

próximos e pude sentir que sua respiração estava tão alterada quanto a

minha.

Meus dedos estavam sob seu coração, e senti seus batimentos

acelerados.

— Você está nervoso — mencionei em tom baixo, resfolegante.

Deitei a cabeça sob sua mão quando esta se arrastou pela lateral da

minha cabeça, bagunçando meus cabelos.

— Estou — afirmou com voz afetada. — Porque desejo que esse

momento seja perfeito para você.

Acolhi seu rosto com ambas as mãos, sentindo sua barba rala. Uni

nossos lábios em um beijo suave.

— É você aqui comigo, então já está sendo mais que especial.

Ele sorriu, inclinando a cabeça e inspirando o cheiro que escapava do

meu nariz; era como se quisesse respirar minha essência.


Arrepios invadiram minha pele completamente com o roçar de seus

dedos, à medida que erguia meu vestido e o retirava de meu corpo febril.

Fiquei apenas de calcinha.

Podia sentir meu rosto quente com seu olhar intenso.

— Deite-se! — exigiu em tom de comando.

Estremeci com a eletricidade que esse seu lado mandão me encobria.

Mesmo trêmula de expectativa, fiz conforme ele ordenou. Deitei-me

sobre alguns travesseiros, atenta a todo e qualquer movimento do homem

sobre mim.

Oliver levou as mãos às laterais da minha calcinha e, em seguida,

arrancou a peça pequena de meu corpo sensível. Percebi que seus olhos

brilharam, pesados de excitação ao se fixar na fenda entre minhas pernas.

— Essa tatuagem deixou sua boceta ainda mais linda — declarou com

a voz carregada, esfregando as mãos calejadas em minhas coxas. — Mal

estou controlando o animal dentro de mim, que está ansioso para fodê-la,

baby. — Desceu a boca para lamber a pele do interior da minha coxa, e isso
me fez remexer feito uma lagarta na areia quente. — Você vai gozar gostoso

para mim, querida? — Ergueu os olhos até os meus, pressionando o polegar

em um ponto específico da minha intimidade. — Vai gritar meu nome

quando eu esfregar minha cara na sua boceta macia e deliciosa, hum?

Suas palavras chulas, misturadas a pressão de seus dedos estavam me

levando a loucura.

— Sim, — respondi, apesar da timidez. — Oh, sim... — sacudi o

quadril, ansiando por mais e mais.

— Abra os olhos, Linda — exigiu, sério. — Olhe para mim. Eu quero

os seus olhos nos meus enquanto eu estiver fodendo sua boceta com minha

boca.

Meu peito subia e descia desesperadamente com todas as reações que

invadiam meu corpo e minha mente.

Pisquei, esforçando-me para manter meus olhos abertos, levando em

conta todo o prazer que suas carícias estavam me proporcionando. Na

verdade, olhar para aquele homem forte, musculoso, tatuado e selvagem


com o rosto escondido entre minhas pernas intensificava minha excitação.

Era a visão do paraíso.

Em determinado momento, Oliver se ajeitou e apoiou minhas coxas

em seus ombros, sem deixar de me castigar com a pressão constante de sua

língua gulosa entre minhas dobras. Seus dedos se chocavam para dentro de

mim, em movimentos frenéticos e intensos, sem me dar qualquer fôlego.

E isso se perdurou por longos e longos minutos...

Gozei uma vez, e outra e outra... perdi as contas de quantas vezes

Oliver me fez gozar.

Minha voz estava rouca de tantos gritos, e todos os meus músculos

estavam tencionados com o esforço que eu precisava fazer para me

controlar, além das reações que cada orgasmo causava no meu corpo.

Quando se deu por satisfeito, Oliver saiu da cama e tirou sua calça de

couro. Não usava cueca, então seu membro balançou para mim, agitando

meu interior com a expectativa de recebê-lo. Meu coração batia

descompassado.
Acompanhei seus movimentos quando Oliver pegou a calça do chão e

procurou sua carteira; logo, encontrou uma camisinha. Nossos olhos

estavam o tempo todo em contato; eu podia notar que ele estava, além de

nervoso, preocupado com minha reação ao ato em si.

Após estar pronto, retornou para a cama, pairando o corpo sob o meu.

Estudou meu rosto por alguns instantes, como se estivesse procurando

alguma recusa, algo que pudesse impedi-lo de prosseguir.

Segurei seu rosto com ambas as mãos, trazendo-o para mais perto.

— Eu estou bem — garanti. — Estou bem — repeti. — Sei quem está

aqui comigo, e eu não podia estar mais feliz. — Meus olhos nublaram com

lágrimas não derramadas.

Acariciei seu rosto tenso. Em seguida, senti sua boca na minha com

sofreguidão.

Suas pernas forçaram as minhas abertas, e logo depois o senti

posicionar sua masculinidade ali, roçando em meu clitóris de maneira

torturantemente lenta.
— Oliver.

— Eu estou aqui — soprou ele, pressionando a testa na minha.

Circulei sua cintura com minhas pernas, cruzando os tornozelos de

modo a pressionar seu quadril contra mim.

Nossas bocas estavam unidas no momento que a penetração se iniciou

e o senti me alargando. Oliver afastou a cabeça, fixando os olhos nos meus

sem nunca os desviar.

Levei meus dedos ao seu rosto e comecei a acariciar sua pele,

emocionada com a intimidade que estávamos compartilhando. Era mais que

sexo. Mais do que uma simples troca de prazer.

Eu sentia isso.

Lágrimas desceram por minhas bochechas no segundo em que o senti

por completo, e me obriguei a fechar os olhos, mas com um sorriso enorme

nos lábios.

— Linda.
Abri os olhos na mesma hora, me deparando com a preocupação

presente nos seus, apesar da nítida excitação. Suor escorria de sua testa.

Amparei seu rosto e o puxei para minha boca.

— Estou bem — soprei, exigindo seus beijos. — Estou bem — repeti,

sugando seu lábio inferior, arrancando-lhe um rosnado.

Como resposta, Oliver começou a se movimentar com mais

velocidade, intensificando as investidas. Os gemidos que escapavam de sua

boca me arrepiavam e me faziam arrogante por saber que era eu a deixá-lo

daquela forma, tão sem controle... tão entregue.

Uma de suas mãos apertou meu seio esquerdo, beliscando o mamilo

com força calculada e enviando-me uma carga de eletricidade que arrepiou

cada pelo existente em meu corpo.

Gemi, ensandecida, conforme Oliver acelerava os movimentos do seu

quadril, marcando-me como sua de uma maneira que ninguém fora capaz.

— Oliver.
— Eu estou aqui — respondeu, mordendo meu queixo com

ferocidade. Era uma mistura de cuidado, controle e selvageria. — Goze no

meu pau, baby — soou em tom de comando. — Quero sentir sua boceta

ordenhando meu pau, porra!

Suas palavras sujas foram o estopim para que o redemoinho se

formasse em meu baixo ventre, fervendo minha corrente sanguínea e me

fazendo sentir, em cada um dos meus poros, o fogo se alastrando e me

deixando sem fôlego. Quando o orgasmo chegou, me derrubou do mais alto

cume, fazendo-me visualizar uma linda constelação brilhante.

Eu ainda estava me esforçando a me recuperar quando Oliver gozou

com um urro, que me arrepiou toda. Foi lindo.

Investiu em mim mais algumas vezes, até desacelerar de vez.

Com o peito subindo e descendo numa velocidade assustadora, Oliver

começou a beijar meu rosto todo, lambendo o rastro de lágrimas.

— Oliver.
— Meu pequeno Querubim. — Pressionou os lábios nos meus num

beijo suave.

Fiz um muxoxo quando ele se retirou do meu interior e, em seguida,

se jogou ao meu lado, levando-me consigo. Sua mão puxou minha perna

para se entrelaçar na sua.

Fechei os olhos ao sentir seus dedos acariciando meus cabelos

enquanto permitíamos que o silêncio reinasse por alguns segundos.

— Você está bem? — perguntou, de repente. Afastou a cabeça,

querendo encarar meu rosto para ler minha expressão.

Tocou minha bochecha rubra. Sorri, satisfeita.

— Mais do que bem — garanti com fervor. — Eu me sinto completa.

Amada e segura.

Ele não disse nada, apenas puxou meu rosto para o seu, onde me

beijou apaixonadamente.

Naquele momento, percebi que eu podia me acostumar facilmente

com aquele cenário... eu e ele... o único homem cujo toque não me feria,
pelo contrário, me fazia querer mais e mais.
Capítulo 24

Oliver

Mesmo com os olhos fechados, eu podia sentir a força de seu olhar.

Entretanto, continuei fingindo estar dormindo. Era possível sentir a

claridade que invadia o quarto, mesmo eu estando de olhos fechados.

Amanhecera, mas minha mente ainda parecia perdida na intimidade que

compartilhei com Linda horas atrás, quando a fiz minha.

Minha.

Nunca senti por nenhuma outra mulher o que eu sentia pela Linda...

essa necessidade de estar com ela a todo momento; essa sensação de torpor

a cada toque delicado; esse instinto protetor e algo mais selvagem...


Parecíamos errados juntos e, ao mesmo tempo, perfeitos um para o

outro, porque nos completávamos. Um completava o que faltava no outro.

Ali, percebendo que ela estava acordada e, me encarando como se eu

fosse um experimento muito especial, me fez abrir um sorriso preguiçoso e

arrogante.

— Já terminou a inspeção? — perguntei com a voz rouca, enquanto

finalmente abria os olhos e me deparava com Linda sentada, completamente

nua.

O costumeiro rubor aqueceu suas bochechas ao perceber que foi pega

no flagra.

— Gosto das suas tatuagens — murmurou, envergonhada, tentando

cobrir sua nudez de meus olhos gulosos.

— Ei? Não se esconda de mim. — Segurei sua mão, admirando sua

beleza. — Nunca!

Percebi que engoliu em seco, nervosa com meu olhar, ou minhas

palavras, não soube dizer.


— Eu notei que você tem algumas cicatrizes — comentou, esticando

a mão e tocando partes específicas de meu peitoral. — Você as adquiriu

durante seu tempo na guerra?

Travei o maxilar, sem desejar levar minha mente para o passado.

— A maioria — respondi. — Mas também tem algumas que adquiri

desde que entrei no clube. — Ela não disse nada, mas continuou sua

inspeção, passeando os dedos pela minha pele. Isso estava me excitando

com uma força assustadora. — Essa foi de uma facada — falei, assim que

ela tocou em uma marca no meu braço. — Já essa foi de um fragmento de

bomba. — Sua mão pausou sobre meu abdômen.

— Nossa! Você é quase um homem de aço — murmurou, em tom

divertido, fazendo-me sorrir.

Enlacei sua cintura, puxando-a para mim e nos mudando de posição

de modo que eu ficasse por cima de seu corpo tentador. Sua risada me

encheu de alegria.
— Isso soa como um super-herói, e não me sinto desse jeito. Gosto

mais do lado negro da força — brinquei, fazendo sua risada aumentar. —

Talvez seja melhor que eu continue sendo o vilão.

— Então, talvez seja melhor que eu continue sendo seu pequeno

Querubim. — Usou minhas palavras contra mim, sorrindo tão lindo que

meu coração parou uma batida. — Para trazer luz e lhe mostrar o lado bom

da força.

Ponderei suas palavras.

— Gosto dessa nossa balança perfeita — declarei com fervor antes de

inclinar o rosto e reivindicar sua boca macia num beijo.

Seus gemidos me deliciaram tanto que logo toquei seu corpo, moendo

sua pele sedosa com minhas mãos ásperas. Desci com beijos molhados e

mordidinhas pelo seu pescoço, notando que comecei a lhe deixar marcas

devido a toda minha selvageria.

Entretanto, essa visão apenas me deixou ainda mais excitado.


Ainda beijando seu pescoço e seios, levei meus dedos ao meio de suas

pernas, rapidamente sentindo as dobras úmidas de sua boceta. Linda

arquejou, arqueando-se toda abaixo do meu corpo, completamente perdida

no prazer que eu a estava proporcionando.

Com a boca em seu seio, intensifiquei a velocidade dos meus dedos

em sua boceta, praticamente, a fodendo com eles, enquanto minha garota só

sabia gemer e balbuciar palavras incoerentes.

Mordi seu mamilo intumescido, sugando-o em seguida, sem parar de

foder sua boceta com meus dedos hábeis. Assisti, hipnotizado, o instante

que Linda rolou os olhos quando suas paredes pélvicas esmagaram meus

dedos pelo seu orgasmo arrebatador.

Suguei seus mamilos com mais intensidade, perdido na cena diante de

meus olhos. Linda gozando era quase algo pecaminoso de se presenciar.

Quando seus espasmos diminuíram e seus olhos se voltaram para os

meus, retirei meus dedos de sua boceta e os levei a minha boca, lambendo
seu mel. Deliciando-me com seu sabor único. Visualizei suas pupilas

aumentando de tamanho com minha atitude depravada.

— Oliver — gemeu.

Pairei sob ela, inclinando a cabeça para beijar seus lábios

entreabertos.

— Vamos tomar um banho — murmurei contra sua boca saborosa. —

Quero comer sua boceta debaixo do chuveiro.

Fiquei ainda mais duro com os sons despudorados que escapavam de

seus lábios, apesar da sua timidez.

Dei um pulo para fora da cama, logo estendendo a mão para ajudar

Linda a se levantar também. Colei nossos corpos, amparando sua cabeça

com minhas mãos e avançando a boca na sua conforme caminhávamos em

direção ao banheiro da suíte.

Liguei o registro do chuveiro, regulei a água na temperatura morna e,

em seguida, nos coloquei debaixo da forte ducha, com meus braços ao redor

da cintura delgada.
Gemi ao sentir suas mãos pressionando meu peito, totalmente

entregue às minhas carícias.

— Vire-se de costas! — ordenei, tomando o cuidado de encarar seus

olhos, pois desejava observar suas reações a tudo o que fazíamos.

Aconcheguei-me ao seu corpo quando ela fez exatamente o que mandei. —

Vou te comer lento, porém, duro — avisei, lambendo sua orelha, ouvindo-a

suspirar baixinho. Na verdade, seu suspiro soou quase como um

choramingo. — Vou pegar a camisinha.

No instante seguinte, saí do box, remexendo na gaveta do balcão que

tinha ali mesmo, no banheiro.

Assim que revesti meu pau, retornei ao box, me deparando com Linda

na mesma posição, com aquele traseiro delicioso empinado para mim.

Puxei seu rosto em direção ao meu, reivindicando seus lábios

carnudos, desejoso por seus beijos, seu gosto, seu cheiro... tudo. Eu ansiava

por tudo dela.

Ela toda.
Mudando de ideia, a virei de frente para mim e impulsionei seu corpo

com meus braços.

— Enrole as pernas em minha cintura — ditei. — E se segure em

meus ombros.

Ela sorriu, mordendo os lábios conforme me encarava com aquele

olhar carregado de paixão, enlouquecendo-me ainda mais.

Posicionei meu pau em sua entrada escorregadia, lambuzando-me por

alguns segundos antes de começar a penetrá-la.

— Adoro esse seu lado mandão — murmurou ela, entre gemidos. Os

olhos revirando-se nas órbitas a cada investida minha. Sorri, porque já

percebera que ela se excitava com isso, com minhas ordens.

Forcei suas costas contra o piso frio, enganchando as mãos em suas

coxas torneadas, apertando sua carne.

— E eu adoro sua boceta — declarei, escondendo o rosto em seu

pescoço, mordendo sua pele branca. — Adoro seu cheiro, seus beijos, suas

mãos em mim... tudo, Linda. — Lambi sua orelha, delirando com seus
gemidos e a maneira como suas paredes pélvicas me apertavam. — Estou

viciado em você, porra! Viciado!

Intensifiquei os movimentos do meu quadril, penetrando-a com mais

força e velocidade.

— Oliver. — Seu corpo tencionou sob meus braços, avisando-me que

estava perto de gozar.

— Isso, baby... porra! Goza no meu pau!

Nos instantes seguintes, Linda gritou, chamando pelo meu nome

quando seu orgasmo a desmontou completamente. Sorte que eu a segurava

com firmeza.

Aproveitei a deixa e gozei também, libertando meu orgasmo

aterrador. Foi tão forte que minhas pernas chegaram a amolecer.

Com a respiração funda, a desci, porém, a mantive escondida em

meus braços. Ambos respirávamos com dificuldade, e o sorriso satisfeito

era espelhado.
— Posso me acostumar facilmente com isso — brincou ela, me

surpreendendo ao me roubar um beijo.

Dei risada. E por incrível que pudesse parecer, eu estava me

acostumando com essa leveza, apenas por estar com ela.

Linda era a causadora de todos os meus sorrisos mais verdadeiros.

As horas passaram e, após conversar com Daniel a respeito dos riscos

de sair do meu forte, decidi levar Linda para um passeio de fim de tarde. Eu

não gostava de deixá-la presa em casa, ou no clube; o mundo tinha tanta

beleza e oportunidades que não era justo mantê-la enclausurada, e apenas

para meus olhos. Mesmo que meu lado egoísta apreciasse esse apego

emocional que Linda devotava a mim, eu sabia que não era certo.

Ela precisava se libertar de todas as amarras, e isso, infelizmente se

aplicava a mim também.

Parei a moto bem próximo ao ponto que eu queria levar minha garota.

Um dos pontos turísticos da cidade de Dallas.


A Reunion Tower é a torre com uma “bola” no topo, facilmente

identificável em Downtown, Dallas. A noite a bola fica iluminada e as luzes

fazem uma coreografia que dura alguns minutos, trocando de cor em certos

feriados, como o 4 de julho.

— Vamos lá em cima? — Apontou ela, conforme caminhávamos em

direção ao alvo. Sua euforia ficou visível para mim.

— Sim. — Sorri para ela, contagiado com sua alegria. — Vamos

aproveitar o final de tarde para apreciar o pôr do sol lá de cima.

A entrada é pelo hotel Hyatt Regency Dallas, que fica no térreo;

compramos os ingressos, mostramos as bolsas pra segurança, dispensamos

a foto souvenir e pegamos o elevador até o 560 andar, onde fica o

observatório. A torre tem 171 metros de altura. O elevador não fica virado

para a cidade, então a vista que tivemos, subindo, não foi nada demais.

Chegamos ao observatório e, Linda, imediatamente, amou a parede de luzes

coloridas futurística que eles têm bem no meio; depois da parede, ela notou

as telas touch-screen bacanas que mostravam os pontos importantes da


cidade e ficou entretida por ali até irmos ao deck externo dar uma

olhadinha. A vista estava perfeita, a luz do final de tarde refletindo nos

prédios espelhados, o céu azulzinho sem nenhuma nuvem.

Com os binóculos, vimos os trens passando lá embaixo, algumas

vezes, dentre outros pontos turísticos, claro.

— Céus! É lindo! — exclamou ela. As luzes da cidade já estavam se

acendendo, deixando o espetáculo ainda mais impressionante. Estávamos

um ao lado do outro, com meu braço ao redor de sua cintura. — Obrigada

por ter me trazido até aqui.

— Um tempo atrás, fiz uma viagem ao Brasil; especificamente, para a

cidade do Rio de Janeiro — comecei a dizer, recordando-me de algo

inusitado que presenciei —, e observei as pessoas se reunirem para assistir

ao pôr do sol. Na verdade, eles aplaudiam. — Sorri com a lembrança.

— Uau! Sério? — Surpreendeu-se, encantada.

Sacudi a cabeça.
— Nunca me esqueci disso — murmurei. — Mas eu desconfio que

faziam isso, porque estavam felizes com o fato de o sol estar indo embora,

porque aquela cidade parece o inferno de quente — brinquei, fazendo Linda

sorrir. Mas eu sabia que essa era uma antiga tradição do lugar.

Seu sorriso era tão lindo que não resisti ao desejo de puxá-la para

meus braços e lhe roubar um beijo.

Ficamos em silêncio quando Linda posicionou a cabeça na dobra do

meu pescoço.

— O que você está pensando? — perguntou de repente.

Respirei fundo, massageando seus lindos cabelos.

— Estou pensando que quando tudo isso acabar, você estará livre,

Linda — falei. — Livre para viver sua vida e seus sonhos. E eu sei que

você tem sonhos. — Sua cabeça se ergueu para mirar meus olhos, e

aproveitei para acariciar sua bochecha. — Não pense que eu não me sinto a

porra de um sortudo por ser seu escudo de segurança, baby, mas você
precisa reaprender a voar com as próprias asas, entende? Infelizmente, esse

desmame é necessário.

Linda se empertigou, afastando o rosto do meu peito.

— Você está dizendo que... — pareceu engolir em seco —, não quer

mais ficar comigo? É isso?

Meu peito sufocou com a ideia de ficar sem ela, longe dela, pois não

me via mais sem sua presença na minha vida. Amparei seu rosto.

— Não foi isso que eu disse — corrigi, fixando em seus olhos azuis,

querendo que ela compreendesse. — Eu apenas quero que você se liberte

por completo, entende? Que perca essa necessidade de ter a mim por perto

para se sentir segura. — Acarinhei suas bochechas e, em seguida, uni

nossas bocas. — Apesar de que, eu estarei sempre aqui para protegê-la...

para cuidar de você em todos os sentidos se assim você permitir. —

Brinquei com seus lábios antes de lhe roubar um beijo.

Minutos depois, ela me abraçou apertado, como se estivesse se

esforçando para respirar. A senti tremendo.


Esfreguei seus braços e costas, ansiando que ela se acalmasse. Minha

intenção não era deixá-la assim, descontrolada, ou com medo.

De repente, inspirou fundo e se afastou, voltando a encarar meus

olhos. Notei apreensão nos seus, com um brilho de lágrimas.

— Existe algo sobre mim que você ainda não sabe. Aliás, ninguém

aqui sabe — declarou com tanta seriedade que a tensão tomou conta de todo

meu corpo.

Minha testa franziu.

— O quê? Você está me assustando...

Com as duas mãos nas minhas, ela as apertou, baixou a cabeça e

respirou fundo.

E, honestamente, eu não estava preparado para a frase que ela disse a

seguir:

— Eu matei uma pessoa.


Capítulo 25

Linda

Anos antes

“Era estranho, mas eu me sentia mais feliz quando estava fora de

casa, no colégio, ou com meus amigos. Não que eu tivesse muitos amigos,

mas os poucos que tinha me faziam mais feliz do que meu cotidiano de

casa. E isso, de certa forma me entristecia, porque nossa casa deveria ser

nosso refúgio. Mas esse não era meu caso.

Eu não me sentia em casa. Não me sentia parte da família que minha

mãe insistia em impor a mim, quase goela abaixo.


Às vezes, eu me sentia cheia de raiva, porque não tinha uma vida

feliz. Ainda criança, fui afastada do meu pai e obrigada a aceitar que ele

não me queria, mesmo não acreditando nisso. Vivíamos nos mudando,

como duas ciganas, sem criar raízes em nenhum lugar. Meus amigos iam se

perdendo, porque nossa estadia era sempre instável.

Eu me sentia numa mistura de raiva, frustração e tristeza.

Quando finalmente percebi que ficaríamos em uma cidade por um

tempo determinado, que finalmente começaríamos nossas vidas do zero,

nós duas, minha mãe começou a se relacionar com um homem.

Eu tinha quatorze anos, e o odiei à primeira vista. E o que já era

ruim, se tornou ainda pior, porque o homem era um encostado, incapaz de

ficar longe de um copo de bebida. Era uma pessoa que não somava em

nada, só destruía o pingo que tínhamos.

E eu estava tão cansada.

Cansada de assistir minha mãe apanhando, quando, na verdade, ela

só desejava ser amada. Cuidada. Mesmo ela tendo sido a culpada pelo
afastamento do meu pai à minha vida, eu entendia que ela ansiava ser feliz

com um homem que a amasse. Que mulher não desejava isso?

E com o passar dos anos, essa situação foi ficando insustentável, ao

ponto de eu precisar dormir com a porta do meu quarto chaveada, pois

meu padrasto começou a me assediar constantemente. Eu já estava com

dezesseis anos, com meu corpo em desenvolvimento, e isso parecia ser um

ímã para seus olhos nojentos.

Respirei fundo, espantando os pensamentos quando cheguei ao

portão de casa, tomando coragem para entrar. Era uma tortura.

A música alta já me dizia que ele estava alterado, o que me fez

desejar frear os passos e continuar no lado de fora. Qualquer lugar era

melhor que aquele, minha própria casa.

Lentamente, abri a porta de entrada, espiando o interior para ter

certeza se a barra estava limpa. A ideia era passar despercebida e me

trancar no quarto, entretanto, não tive essa sorte. Andrew estava jogado no
sofá, com a garrafa de bebida na boca, me encarando conforme entornava

o líquido fétido.

Minha respiração se tornou ruidosa de medo. Eu morria de medo

dele.

Olhei ao redor, reparando na imundície do lugar. Garrafas e coisas

quebradas por todos os lados.

— Onde minha mãe está? — perguntei, sem demonstrar meu pavor

por estar sozinha com ele.

Terminando de entornar a bebida, acenou para mim.

— Sente-se aqui. — Gesticulou para seu lado no sofá. — Venha

conversar com seu pai e contar como foi seu dia na aula, querida.

Rangi os dentes, enojada.

— Você não é meu pai — reagi, incapaz de me controlar. — E não

tenho interesse de conversar com você, vou para meu quarto e...

— EU MANDEI VOCÊ SE SENTAR COMIGO, GAROTA! — gritou,

me assustando.
Virei em sua direção, querendo observar quais seriam suas próximas

ações, mas não tive tempo de correr, pois, o desgraçado, praticamente, deu

um salto do sofá até se colocar em minha frente, com suas enormes mãos

em minha cintura.

— Andrew, me largue — pedi, esforçando-me para me desvencilhar

de seu toque asqueroso. — Você está bêbado, e minha mãe chegará a

qualquer momento. Por favor... — eu não queria chorar, porque isso

poderia deixá-lo ainda mais agressivo comigo.

— Sua mãe é uma inútil, e pouco me importo se ela está prestes a

chegar ou não. — Sua mão se fechou em minha bunda. — Ela não poderá

me condenar por estar completamente seduzido pela filhinha dela...

Reuni todas as minhas forças e o empurrei, embora ele não houvesse

ido longe. Meus olhos estavam nublados pelas lágrimas.

— Me deixe em paz, seu nojento! — exclamei, sentindo o asco me

dominar.
Ameacei correr para o quarto, mas gritei no momento que ele jogou a

garrafa de bebida contra a parede diante de mim. Cobri meus olhos,

tomada de desespero.

Empertiguei-me quando Andrew colou o corpo em minhas costas,

esfregando sua masculinidade evidente em meu traseiro, piorando minhas

náuseas.

Começamos a lutar um com o outro, pois, eu não facilitaria nada

para ele; não o deixaria roubar minha inocência. Aquele imbecil já tinha

me roubado demais, anos de paz ao lado da minha mãe.

Em determinado momento, ele conseguiu me derrubar no chão,

cobrindo meu corpo miúdo com o seu. Mesmo com a embriaguez, ele era

mais forte e eu não teria nenhuma chance.

— Não precisa continuar fingindo, querida — sibilou, baixando a

cabeça e fungando o nariz em meu pescoço. — Eu sei que você também

quer; vejo como me provoca com olhares e, essas roupas curtas que

retratam sua boceta louca para ser fodida.


Meu rosto já estava banhado de lágrimas, e meu estômago

embrulhado por suas palavras grotescas.

Suas pernas forçaram as minhas enquanto continuava se esfregando

em mim feito um animal no cio.

Seu cheiro estava me causando mais e mais ânsia.

— Não se preocupe, pois, sua mãe vai entender que não conseguimos

resistir um ao outro... sei disso — murmurou, naquela loucura dele.

De repente, enquanto me debatia, senti algo espetando minhas costas,

então olhei para o lado e visualizei alguns cacos da garrafa que tinha se

espatifado instantes antes.

Sem pensar muito e, totalmente movida pela fúria, frustração, dor e

mágoa estiquei o braço e fechei a mão num caco grande, bem afiado, e o

perfurei nas costelas do Andrew, o que o fez gritar na mesma hora.

— Ah, filha da puta! — exclamou, num misto de susto e raiva.

Não o deixei se afastar, e circulei sua cintura com minhas pernas,

fechando-o comigo conforme furava sua barriga, costelas e costas com o


caco de vidro.

Meus gemidos eram como rosnados. Eu não parava.

Não conseguia parar de cravar sua carne nojenta com aquele objeto

pontudo. Era como se eu estivesse me vingando de tudo; todas as atitudes

horríveis dele contra mim, contra minha mãe.

Arregalei os olhos com o barulho de algo se espatifando no chão,

seguido de um grito agudo. Era minha mãe.

Deixei as mãos caírem ao lado do corpo, fixando os olhos nela, que

estava parada na porta. Aos seus pés, havia leite, pois ela deixou a garrafa

de vidro cair com a cena que presenciou logo ao entrar em casa.

— Linda!

Correu em minha direção e, com esforço, tirou seu marido de cima de

mim. Morto.

Ele estava morto.

Continuei no lugar, travada. Minhas roupas estavam fora do lugar;

os tremores eram tão fortes que até mesmo meus dentes sacudiam.
— Querida... o-o que você fez? — indagou ela, se inclinando para

conferir a pulsação do marido. A palidez no rosto da minha mãe deixava

claro seu pavor. — Jesus, Linda, ele está morto! — Começou a chorar,

correndo até a porta para fechá-la. Observei que se apressou a fechar as

cortinas das janelas também.

Logo depois, aproximou-se de mim e analisou-me por inteira. Eu não

conseguia me mexer, nem falar. Senti que ela arrancou o pedaço de vidro

da minha mão, com um pouco de dificuldade, porque meu instinto não me

permitia soltar.

— Ele tentou violentá-la — não foi uma pergunta, ela sabia. Seu

choro dolorido me feriu; eu não gostava de fazê-la sofrer.

Puxou-me para ela, erguendo meu tronco de modo a me sentar.

Comecei a chorar também, sentindo a adrenalina diminuir e o peso da

minha atitude recair sobre meus ombros.

— Eu sinto muito, querida, sinto muito — choramingou, enchendo

meu ombro e pescoço de beijos. — A culpa foi toda minha — afirmou. —


Fui eu que causei isso tudo para nós duas, para nossas vidas. Me perdoe.

Apertou-me um pouco mais em seus braços.

Instantes depois, me afastou e voltou a me analisar.

— Está ferida? — quis saber, com voz trêmula.

Neguei com a cabeça. O sangue em minhas mãos e roupas eram dele.

Assentiu, respirando fundo. Enxugou as lágrimas e se colocou de pé,

pensativa.

Permaneci em silêncio, a assistindo.

— Você precisa ir — decretou, me fazendo franzir o cenho em

confusão. — Não pode ficar aqui.

— Mãe...

— Quando a polícia chegar, vou contar que foi um acidente e que ele

me agrediu...

— Mãe, por favor, não me force a fazer isso. — Meu choro soou

dolorido e angustiado. — Para onde eu irei? Não tenho ninguém. Nós só


temos uma, a outra.

Ela voltou a se aproximar de mim, segurando-me pelos ombros.

— Querida, você ainda não entendeu a gravidade do que fez? —

indagou, tão nervosa quanto. — Andrew está morto, e não tem como

escondermos o corpo dele.

— Então vamos fugir juntas! — exclamei, com meu peito subindo e

descendo.

Segurou-me pelo rosto, me encarando com seriedade.

— Se isso acontecer, você não terá uma vida, querida, porque

teremos que viver fugindo. — Chorou e, em seguida, me puxou para seus

braços. — E eu já destruí sua felicidade por tempo suficiente. Então,

chegou a hora de eu agir como mãe, e é o que vou fazer.

Se aprumou e, em seguida, me forçou a levantar.

— Agora vá tomar um banho, arrumar suas coisas e ir embora —

ditou. — Prometo que você vai ficar bem, querida. — Abraçou-me. — A

mamãe vai cuidar de tudo.”


— Foi então que passei a viver nas ruas — concluí, aos prantos. — E

eu nunca mais a vi. Não faço a menor ideia do que aconteceu com minha

mãe e, isso me martiriza dia após dia, porque permiti que ela assumisse um

crime que foi meu. — Minha angústia se tornou palpável.

Oliver me puxou para seus braços, e eu espalmei sua parede de

músculos com minhas mãos quentes e trêmulas.

— E, no fim das contas, minha vida continuou na merda, já que vivi

nas ruas por dois anos, passando fome, apanhando das pessoas e tendo de

viver fugindo de homens estupradores — lembrei, entre lágrimas.

Fungando, passei uma das mãos no rosto molhado pelo choro. — Por isso

que não pensei nem duas vezes quando Kate me apresentou a organização

do Charles, visto todo o inferno que eram meus dias.

Oliver não falou nada; era como se estivesse em transe com tudo o

que acabara de ouvir, e eu o entendia.

Entendia, porque minha carga era bem difícil de carregar.


— Foi esse segredo que Charles usou contra você? — perguntou,

instantes depois. Notei seu tom estrangulado, como se estivesse se

controlando.

Sacudi a cabeça, afirmando.

— Sim, — respondi. — Com vinte anos, fui apresentada ao lado

negro da Salvation to all, onde as garotas eram usadas como escravas

sexuais. Eu deveria ser uma recrutadora, e isso me enojou, por entender a

gravidade de tudo aquilo. Percebi que algo estava errado. — Respirou

fundo. — Então quis ir embora, e Charles descobriu minha intenção. Ele já

estava de olho em mim.

Oliver continuou massageando meus braços e costas numa carícia

lenta e contínua.

— Fui ameaçada — continuei narrando — Ele disse que bastava uma

palavra dele para que a polícia me pegasse; alegou que eu apodreceria na

cadeia. Eu acreditei. — Suspirei. — Porém, meses depois, sendo obrigada a

presenciar toda a podridão daquele lugar, eu quis desistir. Falei para ele que
preferia a cadeia a continuar sendo testemunha de todo aquele horror. Desse

modo, ele decidiu mostrar a real face do monstro que é, e, simplesmente me

sequestrou. Foi assim que fui parar naquela fazenda. Eu e mais garotas,

claro. — Afastei o rosto do seu ombro, soltando o ar devagar. — Lutei por

meses contra suas investidas, mesmo apanhando, mesmo passando fome e

sede... — me calei, e fixei os olhos nos seus. Ergui a mão direita e toquei

seu rosto, encantada quando ele deitou a cabeça sob minha mão. — Eu sou

uma assassina, Oliver. Matei meu padrasto, e faria isso de novo se tivesse

oportunidade. Seria capaz de buscá-lo no inferno se pudesse, apenas para

cravar aquele caco de vidro em suas tripas e fazê-lo sangrar feito o porco

imundo que era. — Meus dentes rangeram como uma loba.

Oliver segurou meu rosto, puxando minha cabeça para si.

— Sua história só me provou o que eu já sabia, baby... — murmurou

com intensidade, inspirando meu aroma com devoção —, que você é uma

sobrevivente. — Brincou com meus lábios. — É alguém forte, que faz o

que for necessário para sobreviver. E me sinto orgulhoso.


Suas palavras me comoveram e meu rosto se contorceu com novas

lágrimas, então ele me beijou delicadamente.

— Obrigado por confiar em mim para contar seu segredo. —

Continuou me beijando. — Mas saiba que se depender de mim, você não

precisará mais se preocupar em ter de se defender sozinha. Estarei com

você sempre, se assim me permitir.

— Eu permito — declarei mais do que depressa. — Não me vejo

mais sem você, Oliver.

Algo em meu coração se remexeu com essa declaração, porém, Oliver

não falou nada. Apenas me puxou para um beijo de tirar o fôlego.

Já tínhamos chegado em casa fazia alguns minutos, e a primeira coisa

que Oliver fez foi encher a banheira para eu poder relaxar um pouco no

banho com sais. Eu sentia sua tensão sempre que me olhava, e essa

percepção me magoava por saber que fui a causadora da sua preocupação.


— Está melhor? — perguntou, sentado na beirada da banheira,

enquanto umedecia a bucha com água morna e a soltava em minha pele

úmida.

Assenti, sorrindo. Embora o sorriso não alcançasse os olhos. A

verdade era que a conversa que tivemos me desestabilizou, e isso fez com

que minha mente se perdesse em lembranças dolorosas.

Ergueu-se, logo alcançando a toalha.

— Venha — pediu, com o maxilar travado. — Já é hora de sair,

porque vejo que seu corpo está todo arrepiado de frio. Não quero que pegue

um resfriado.

Obediente, fiz exatamente o que pediu.

Primeiro, cobriu meu corpo com uma toalha e, em seguida, começou

a enxugar meus cabelos, retirando a umidade maior, porque afirmou que

depois, usaria o secador. Sorri, encantada e comovida com seus cuidados

comigo.
Longos minutos mais tarde, optei por um conjunto de pijama e, fui

direto para a cama, onde Oliver já me esperava com seus braços abertos.

— Durma, pequeno Querubim — sussurrou em meu ouvido, beijando

minha cabeça. — Estarei aqui para velar seu sono.

Suas mãos iniciaram um movimento lento em meus cabelos, em

silêncio. Fechei os olhos, sentindo-me segura e aquecida no conforto dos

braços do único homem que se entranhou em mim de um jeito enraizado.

Charles poderia ter marcado minha pele, porém, Oliver marcou minha alma.

E, no silêncio do quarto, quando eu estava entre a realidade e o

mundo dos sonhos, ouvi suas palavras em tom baixo:

— Eu também não me vejo mais sem você, Linda.

E apenas o eco que essa frase causou em meu interior já me fez

consciente de que algo mudou em mim, e não tinha mais como continuar

negando o óbvio.

Eu estava completamente apaixonada por ele.


Capítulo 26

Oliver

Uma semana depois

Eu não conseguia perder o hábito de admirar Linda, todas as manhãs,

enquanto ela dormia serenamente na minha cama, em meus lençóis. Os

cabelos loiros, bagunçados sobre o travesseiro, deixavam a visão perfeita,

quase como uma tela de pintura a óleo. As pernas torneadas, entrelaçadas

uma na outra estavam expostas, fazendo minhas mãos coçarem com o

desejo de tocar a pele macia e sedosa, ainda mais por saber que ela estava

nua.

Completamente nua.
Desde que ela confessou o assassinato do padrasto, uma semana atrás,

eu sentia como se algo entre nós dois tivesse mudado, porém, não de um

jeito ruim. Era como se Linda houvesse se conectado a mim com mais

intensidade, seu lado negro com o meu. Nossas almas quebradas se

enredaram, tornando-se uma só.

E não havia mais dúvidas no meu coração de que eu a queria na

minha vida para sempre.

Meu telefone tocou, me fazendo dispersar os pensamentos aleatórios,

e forçando-me a desviar os olhos do anjo adormecido em minha cama.

Visualizei o nome do Daniel da tela do aparelho, e logo atendi,

enquanto me preparava para sair do quarto, já que não tinha a intenção de

acordar Linda:

— Por acaso está de férias e eu não fiquei sabendo? — intimou ele,

assim que atendi.

Achei graça de suas palavras.


— Eu não sabia que minha ausência aí o deixaria com saudades, Prez

— zombei, entre risos. — Está querendo um cheiro?

— Só se for na minha bunda — replicou, em tom azedo, aumentando

minha risada. — Idiota! — exclamou, rindo também. — Como minha

prima está? — perguntou, instantes depois. Obviamente que eu não tinha

contado a ele, nem a ninguém, a respeito do segredo que Linda

confidenciou a mim, pois, não era nada meu para revelar.

— Dormindo — respondi, descendo as escadas que me levariam ao

andar debaixo. O modo de segurança da casa estava ativado, então não era

possível visualizar as paredes envidraçadas que Linda tanto amava. — Sinto

que ela está melhorando, cara — confidenciei, sem esconder a euforia. —

Parece mais confiante consigo mesma, está até fazendo planos. Ontem, ela

me disse que tem vontade de voltar a estudar, e isso me deixou

extremamente feliz, irmão. Sua prima está se esforçando para se reerguer e

isso é foda pra caralho.

Ele ficou em silêncio por um segundo.


— E você já se decidiu sobre ela?

Respirei fundo, inquieto com sua pergunta, todavia, entendendo o

sentido dela. Na cozinha, caminhei até a cafeteira e comecei a prepará-la.

— A única certeza que tenho é de que não posso ficar longe dela —

admiti, honestamente. — Linda se tornou meu objetivo, Daniel, e não me

vejo sem ela.

— Gosto de saber que minha prima tem a sua segurança, irmão —

murmurou, com tom orgulhoso. — Sei que você seria capaz de morrer por

ela, assim como por qualquer irmão do clube.

— Somos uma família — retruquei, com um sorriso.

— Uma família de lobos — devolveu ele, em tom divertido. Em

seguida, escutei seu uivo, o que me fez gargalhar.

Embora, estivesse achando graça, também comecei a uivar,

contagiado por seu impulso louco.

— Por acaso isso é algum tipo de competição? — Me assustei com a

voz da Linda atrás de mim.


Quando me virei, a encontrei recostada no batente da porta, me

observando com um sorriso sutil nos lábios carnudos. Os cabelos loiros

estavam bagunçados, e seu corpo coberto por uma camiseta minha, que

mais parecia um vestido nela, por ser de estatura pequena.

— Não chega a ser uma competição, baby — comentei, me

aproximando dela, que continuou parada no lugar. — Mas se você escutasse

seu primo, certamente ia pensar estar ouvindo uma corneta desafinada.

— Ei?! — reclamou Daniel, lembrando-me que ainda estava na linha.

— Vou te mostrar a corneta que tenho entre as pernas, seu idiota!

Minha risada aumentou.

Cheguei perto de Linda, apertando sua cintura e fungando o nariz na

pele de seu pescoço, adorando visualizar seus pelos se eriçarem ao meu

toque. Sua entrega aos meus estímulos sempre me deixava presunçoso.

— Sei que as férias estão boas, porém, quero você aqui — murmurou

Daniel, obrigando-me a me afastar do corpo tentador sob meus dedos. —

Você e Ethan precisam viajar ao México para conversarem com o grupo da


Cannabis — lembrou. — Temos de convencer aquele velho a voltar a

repassar a maconha para nós.

Suspirei, esfregando o rosto de modo frustrado. Não gostava de

pensar que teria de ficar mais tempo longe de Linda.

A encarei, acariciando seu belo rosto, encantado com sua entrega ao

meu toque. Embora, estivesse em silêncio para não interromper minha

conversa com seu primo.

— Quando? — intimei ao Prez.

— Amanhã — avisou ele. — Mas seria bom que vocês dois viessem

para cá ainda hoje, pois quero que na sua ausência, Linda fique aqui, na

segurança do clube.

Concordei com a cabeça.

— Tá legal — resmunguei, continuando a acariciar os cabelos de

Linda. — Daqui a pouco sairemos daqui.

— Ok.
Trocamos mais algumas palavras e, em seguida, encerrei a ligação,

guardando o celular no bolso.

Não resisti a tentação e avancei na boca carnuda, desesperado para

sentir seu gosto e o toque da sua língua na minha. O beijo foi esfomeado

mesmo, desses sem qualquer controle.

Gemendo em minha boca, como se estivesse sentindo o mesmo

desespero que eu, Linda se apoiou em meus ombros, nitidamente afetada

com o que eu a fazia sentir.

— O que meu primo queria? — perguntou contra meus lábios, numa

mistura de sopro e gemido sofrido.

Desci com beijos pelo seu pescoço, mordendo e sugando sua pele

macia e perfumada, me deleitando com as marcas que meus dentes iam

deixando.

— Infelizmente terei de viajar com Ethan para o México — contei,

sem querer esconder nada dela.


— Sério? — Fez um muxoxo, claramente insatisfeita com a

informação. E eu a entendia, pois, ambos sofremos com a distância quando

viajei para a Itália.

Obriguei-me a parar de beijá-la e encarei seu rosto, sentindo a tensão

preenchendo seu corpo delicado.

A impulsionei para que ela, enlaçasse as pernas ao meu redor, e

caminhei com ela até a sentar sobre o balcão. Suspirei, tocando seu belo

rosto, desejando tirar a tensão que se instalou ali.

— Será uma viagem rápida, a negócios — expliquei, descendo as

mãos até suas nádegas, onde apertei e a forcei para mim, ao encontro do

meu corpo. — Prometo que não ficarei muito tempo longe de você, baby.

Porém, como membro da diretoria do clube, preciso estar preparado, e

disposto a cumprir as ordens do Prez.

Ouvi seu suspiro baixo.

— Eu sei — murmurou, pendendo os ombros. — Mas isso não me

impede de ficar triste. — Baixou a cabeça, olhando para suas mãos.


— Ei?! — Segurei sua cabeça, exigindo seu olhar. — Não será uma

viagem longa — repeti o que já havia dito. — Não será uma viagem longa.

Permaneci a encarando com intensidade, desejando que ela

enxergasse a verdade em meus olhos. Uni nossos rostos, beijando seus

lábios tentadores.

Arrastei a barra da camiseta que ela usava, e logo meus dedos

encontraram o calor de sua boceta, livre de qualquer barreira.

— Sem calcinha, porra! — Afundei minha língua em seus lábios de

forma sedenta. — Quer me enlouquecer?

Riu, numa mistura de diversão e excitação.

— Eu não tenho mais nenhuma ‘lingerie’ aqui, porque você rasgou

todas elas — queixou-se, arrancando-me um sorriso arrogante. Suas mãos

estavam em meus cabelos, puxando os fios com força conforme minha boca

explorava seu corpo com meus lábios sedentos. — Ah, Oliver...

A maneira como ela gemia era tão ‘sexy’ que fazia meu pau latejar

intensamente.
Mordi seu mamilo, fazendo-a gritar descontrolada, remexendo-se sob

meus braços. O aroma de café inundava o ambiente, porém, meu paladar

exigia somente um líquido no momento, e era a delícia que escorria da

boceta da minha garota. Seu cheiro e seu gosto me deixavam ensandecido.

Enfiei dois dedos dentro dela, massageando seu clitóris no processo,

enquanto a firmava no balcão com o outro braço em suas costas. Colei

nossas bocas, engolindo todos os seus gemidos, porque eram todos meus.

Todos para mim e mais ninguém.

— Oliver.

— Sim, sou eu, baby... — mordi seu lábio e o suguei lentamente. —

São meus dedos em você, a levando à loucura.

Arqueando-se toda, Linda resfolegou contra minha boca quando sua

boceta esmagou meus dedos e ela gozou deliciosamente para mim. Assisti,

em fascínio, sua boca tremulando a porra do meu nome.

Quase gozei nas calças com a cena.


— Uau! — exclamou, ainda sem fôlego, me puxando pelo pescoço.

Logo, senti sua boca na minha. — Você me deixa com as pernas bambas,

sabia? Vou sofrer com sua ausência.

Joguei a cabeça para trás, gargalhando.

— Então quer dizer que só vai sentir falta dos meus dedos e do meu

pau?

Suas bochechas se tornaram rubras na mesma hora, com minhas

palavras, o que fez minha risada aumentar.

— Para! Não foi isso que eu disse. — Cobriu o rosto, sem coragem de

me encarar enquanto eu só sabia rir. — Ai que vergonha, Oliver.

Segurei suas mãos e voltei a encarar seus olhos tímidos. Roubei-lhe

um selinho.

— Ouvir da sua boca que gosta de foder comigo, infla meu ego, baby

— declarei com fervor. — Então não pense que eu me ofenderia com esse

tipo de coisa. — Mordeu o lábio inferior, corada. — Agora, venha...

Enrolei os braços em sua cintura, arrancando-a do balcão.


— Aonde vamos?

— Ao quarto — respondi, levando a boca a sua orelha, onde chupei e

mordi o lóbulo de leve. — Sua boceta é meu café da manhã preferido.

Dessa vez, foi ela quem riu. Embora, uma risada com uma pitada de

tesão.

Eu adorava ter Linda na garupa da minha moto; amava ter suas mãos

em meu corpo, me apertando e devotando em mim sua total confiança.

Por ela, eu morreria. Por ela, eu seria capaz de ir ao inferno enfrentar

o próprio diabo se fosse preciso.

Faltando alguns minutos para chegarmos ao complexo do clube, notei

a aproximação de um veículo às nossas costas. E isso me fez ficar em alerta

imediato, porque senti ser suspeito.

Ao dar uma olhada rápida no meu retrovisor, percebi que o condutor

do tal veículo acelerou profundamente para se aproximar de nós; como eu

não era tolo, acelerei junto. E já procurando uma possível rota de fuga.
Levei a mão a minha cintura, para tocar a mão da Linda, e dei um

aperto leve, desejando que ela me abraçasse com mais força, pois eu ia

acelerar um pouco mais.

Quando fiz isso, voltei minha atenção ao retrovisor e visualizei o

momento em que um dos homens que estavam no carro colocou a cabeça

para fora da janela e sacou uma arma. Na mesma hora, minhas pupilas

dilataram, minhas mãos suaram e meu coração disparou. Então gritei para

Linda:

— SEGURE-SE O MAIS FORTE QUE PUDER!

Eu não fazia ideia se ela percebera toda a ação atrás de nós, mas tudo

o que me importava no momento era nos tirar daquele emaranhado.

Acelerei o mais rápido que pude, esforçando-me para escapar dessa

situação; e o atirador, ao perceber meu movimento e, que minha moto era

potente começou a atirar em nossa direção. Linda gritou, desesperada, se

dando conta de toda aquela porra.

Estávamos em alta velocidade e sendo alvos de maníacos com armas.


Foi então que percebi que minha moto começou a sacudir muito

rapidamente, pois o desgraçado conseguiu acertar um tiro no pneu traseiro.

Dei meu melhor, tentando controlar a moto, porém, sabia que o tombo seria

inevitável.

Como num instante de um ‘flash’, estávamos indo ao chão. Por

incrível que pudesse parecer, tudo isso se passou em câmera lenta diante

dos meus olhos, visto que, eu não queria acreditar e nem aceitar que aquela

merda estivesse acontecendo. Eu não poderia falhar com Linda.

Não poderia deixá-la desprotegida e à mercê daqueles desconhecidos.

Linda caiu primeiro, gritando de maneira aflita e dolorosa. Já eu, caí

logo depois, com a moto, e a poucos metros dela. Por instinto, me levantei,

aprumando o corpo com a intenção de pegar minha pistola, mas logo houve

mais dois disparos.

Pânico atingiu meus poros quando notei que fui atingido na perna e

braço. Porém, mesmo ferido, consegui revidar e derrubei dois dos cinco

canalhas que estavam a nos perseguir.


Aos prantos, Linda se jogou no chão e se rastejou até onde eu estava,

atirando contra o carro, que estava parado há alguns metros de nós.

— Por favor, pare com isso e fuja — implorou ela, com a voz

embargada. — Eles querem a mim, Oliver. — Se agarrou em minha calça

ensanguentada. — Vá, e me deixe aqui. — Meu coração se partiu com suas

palavras.

— Nunca! — exclamei, sem fôlego, atingindo mais um.

Foi então que ela me ignorou e se colocou de pé.

— Você não precisa se ferir por minha causa, não entende? — Sua

voz soou atormentada. — O que pensa que acontecerá com meu coração se

eu perder você, Oliver? Eu o amo.

Nem mesmo tive tempo de assimilar sua declaração direito, porque

um terceiro disparo me atingiu de raspão na cabeça, fazendo-me cair com

tudo para trás, zonzo.

E mesmo com meus ouvidos zunindo, ouvi o choro angustiado de

Linda, assim como suas mãos em mim, no meu peito e rosto.


— Oliver? Oliver? — Podia senti-la me chacoalhando, e sua boca

tocando a minha num beijo singelo.

Pisquei, esforçando-me para falar e me mexer.

— Li-linda...

Resfolegante, ela se inclinou e sussurrou em meu ouvido:

— Por favor, se finja de morto — choramingou. — Não faça nada

estúpido, porque eles vão te matar, e se isso acontecer, eu morro junto,

entendeu? Não me obrigue a viver num mundo onde você não estará

presente, Oliver. Por favor...

Depois disso, voltou a me beijar levemente.

— Tenho certeza de que você e os outros lobos irão me encontrar —

soprou, confiante.

Minha respiração estava ruidosa, porém, me vi paralisado no instante

que a senti se afastar.

— OLHEM O QUE VOCÊS FIZERAM! — gritou ela, deixando sua

dor evidente. — ACABARAM DE MATAR O GRANDE AMOR DA


MINHA VIDA.

Não escutei o que falaram com ela, apenas ouvi gritos. Na verdade,

meus sentidos estavam desalinhados.

E por mais que tudo dentro e fora de mim, gritassem para eu reagir,

eu sabia que Linda estava certa; sozinho, eu não poderia fazer nada. Apenas

colocaria nós dois em risco.

Instantes depois, escutei um deles mandando o outro me ignorar ali

no chão, porque tudo o que importava para eles era a garota, então, não

demorou muito e se afastaram, com Linda se debatendo.

Meus olhos se abriram um pouco, conforme os gritos dela começaram

a se entranhar em meus sentidos... lágrimas queimaram meus olhos quando

assisti, sem poder fazer nada, minha garota sendo levada para sabe-se lá

onde.

A sensação de perda me sufocou, pois, não podia acreditar que aquela

porra estava acontecendo.


Tudo o que minha mente me mostrava era o som da voz da Linda, me

pedindo para deixá-la ir... se sacrificando e me dizendo que me amava.

E, eu nem tive tempo de dizer que a amava também.


Capítulo 27

Oliver

Com dificuldade, consegui me remexer no chão e pegar o celular no

meu bolso. Rapidamente fiz a discagem e logo ouvi a voz do Daniel.

— Linda foi levada — avisei, sem rodeios.

— Como assim, levada? Que porra aconteceu? — O pânico em sua

voz ficou evidente.

— Fomos atacados na estrada enquanto íamos ao clube, e atiraram no

pneu traseiro da minha moto, nos derrubando. — Ouvi seu praguejar do

outro lado. — Tentei nos proteger, mas acabei levando dois tiros em cheio,

um, no braço e outro, na perna. Também levei um de raspão na cabeça, o


que me deixou momentaneamente zonzo. — Resfoleguei com as

lembranças. — Linda implorou para que eu a deixasse ir, porque não queria

me ver morto. — Me esforcei a sentar, gemendo de dor.

— Onde você está? — perguntou, e o ouvi conversando com mais

alguém, porque as vozes se misturaram. Então, expliquei o local em que

estava. — Aguenta firme, pois estamos a caminho.

Desliguei a chamada, olhando para a direção em que o carro seguiu

na estrada, levando Linda junto.

Apesar de meus sentidos estarem aguçados, eu sentia meu corpo

enfraquecendo pela perda de sangue; não era idiota ao ponto de não saber

que eu necessitava de ajuda médica urgente, considerando a possível

gravidade de meus ferimentos a bala.

Novamente, me esforcei para me levantar, ansioso para fazer algo; eu

não podia continuar ali, de mãos atadas, enquanto minha garota estava

precisando de mim, sabe-se lá onde.


Mesmo com dificuldade, consegui caminhar, tropegamente, em

direção a minha moto, lutando para erguê-la do chão. Meu braço e perna

doíam, queimavam, assim como a lateral da minha cabeça, mas eu não

podia me acovardar. Linda precisava de mim.

Minha garota precisava de mim.

Entretanto, no segundo em que ergui a moto do chão, minha visão, já

turva, apagou de vez e desfaleci ali mesmo, por cima da moto.

— ACORDA, OLIVER! — Alguém estava batendo forte em meu

rosto. Lutei para abrir os olhos, aliás, lutei para me mexer, mas meu corpo

não me obedecia. — OLIVER? PUTA MERDA!

— Vamos colocá-lo na caminhonete — outro falou, mas não

reconheci a voz.

Na verdade, eu não reconhecia a voz de ninguém ali, embora

soubesse que eles eram meus amigos.


— Filhos da puta! Malditos! — praguejou um deles, enquanto eu me

sentia sendo carregado.

— O médico já está a postos? Eu preciso que ele esteja esperando

para atender nosso irmão, caralho!

— Oliver? — Novamente se esforçaram para me acordar, mas meus

sentidos não me obedeciam, e tudo o que eu via era o breu. Como se eu

estivesse em um túnel escuro, guiado apenas pelas vozes.

— Ele está perdendo muito sangue — ouvi. Em seguida, passei a

sentir o chacoalhar do meu corpo; entendi estarmos na estrada, comigo na

caminhonete.

De repente, a escuridão me tomou de vez e as vozes se silenciaram.

Não fazia ideia de quanto tempo se passou, mas logo voltei a ouvir a

confusão de vozes no túnel escuro em minha mente, e me agitei,

desesperado para sair daquela escuridão que me atormentava. Eu tinha de

encontrar uma saída, pois Linda precisava de mim.


Meu corpo estava tomado de dor, entretanto, nada disso me

importava, eu só queria poder encontrar uma luz a qual me agarrar.

— Eu quero uma varredura pela área; exclusivamente, perto do local

em que houve o ataque, porque precisamos de pistas. Qualquer porra de

pista que possa nos levar ao paradeiro da minha prima.

Daniel. Reconheci a voz do Daniel.

— Eric me disse que seus “demônios” estão a nossa disposição,

então, por favor, Ethan e Joshua, sosseguem a boca e se esforcem para

trabalhar com os caras.

Agitei-me um pouco mais, pois, tudo se tornou borrado e não pude

ouvir mais nada, mesmo me esforçando muito.

Estremeci, me empertigando no segundo em que visualizei — em

minha mente — um fraco feixe de luz logo a frente. Comecei a correr,

desesperado para sair daquele túnel escuro.


E, quando finalmente consegui abrir os olhos, minha visão queimou,

então voltei a fechá-los com força. Aguardei alguns instantes, até abri-los

novamente. Minha respiração estava tão agitada quanto meu corpo todo,

ligado a fios, e esses fios a aparelhos. Mexi a boca, agradecendo por não

terem feito a traqueostomia, tendo em vista que eu não fazia ideia de quanto

tempo fiquei apagado, então não sabia qual era a gravidade dos meus

ferimentos.

Concentrei-me nas reações do meu corpo, lutando para controlar

meus sentidos, para voltar a dominá-los. Aquela não era a primeira vez que

eu me feria desse jeito, então eu não podia me deixar abater.

— Foda-se, cara! — Me assustei com a voz de alguém. Era Daniel

entrando no quarto em que eu estava. — A cidade está fechada por mim,

meus homens e os do Eric — alegou com um suspiro. — Fora que a polícia

federal está atrás desse homem há semanas, então ele tem que estar aqui. Eu

não admito essa demora toda, porra! Minha prima está nas mãos de um

sádico estuprador, como você quer me pedir calma, caralho?


Nesse momento, seus olhos encontraram os meus e vi os seus se

arregalarem de susto por me ver acordado.

— Puta merda! — exclamou, num misto de espanto e alegria. — Não,

não... é que Oliver acabou de acordar. — Correu para a porta que acabara

de passar e sumiu do meu campo de visão.

Quando retornou, já não falava mais ao telefone, e estava com um

médico em seu encalço.

— Oliver, irmão... — Daniel veio para meu lado — Como se sente?

Puta que pariu, cara! Foram cinco dias, apagado, caralho!

Cinco dias?

Abri a boca para falar, mas não saía nenhum som. Eu estava

finalmente acordado, mas não conseguia falar.

— O que há com ele, doutor?

O médico tomou a frente, começando a realizar os procedimentos de

praxe nesses casos.


E por mais que eu me esforçasse para me manter controlado, o medo

do desconhecido me dominou e o ar ameaçou me faltar conforme meu peito

subia e descia rapidamente.

— Como eu já falara antes, os tiros que ele sofreu no braço e na perna

foram tranquilos de tratar, porque não atingiram nenhuma artéria

importante, então consegui estabilizar o sangramento. — O médico

explicava enquanto examinava minhas pupilas. — Porém, o disparo na

cabeça era preocupante, considerando a trajetória da bala. Ela raspou o osso

do crânio, e, infelizmente, não sei o que isso pode significar na recuperação

dele. — Auscultou meus pulmões. — Agora, por exemplo, ele pode estar

escutando o que nós estamos falando, ou não.

Daniel se virou de costas, com as mãos na cabeça, nitidamente

desesperado com a situação inusitada.

— Mas que merda do caralho!

— Eu preciso realizar mais alguns exames, para podermos ter uma

noção da extensão do problema — avisou o médico.


Nesse momento, eu gritei.

E ouvi meu grito, mas entendi que foi em minha mente.

Um tempo depois, eu me sentia prestes a explodir de frustração e ira

conforme era levado de um lado ao outro para fazer exames. Meu braço e

perna estavam imobilizados, contudo, nada disso parecia me importar, pois,

na verdade, o único desejo que fervia em meu coração era o de resgatar

Linda.

Ela era a única imagem que pairava em meus pensamentos, e saber

que ela ainda estava sob cativeiro me enervava demais, visto tudo o que

aquele filho da puta era capaz. Imaginar que ele poderia estar a... puta que

pariu!

Agitei-me na maca, desesperado para sair daquele lugar. Havia uma

enfermeira ali, que tentou me controlar, mas a coitada não tinha nenhuma

chance contra minha força e obstinação. Sentei-me e comecei a arrancar os

fios grudados em minha pele.


Eu era um homem grande e forte, e, certamente não seria parado por

dois tiros. Não podia.

Linda precisava de mim.

Com meu peito subindo e descendo, joguei as pernas para fora da

maca e, prestes a descer, a porta da sala foi aberta com tudo.

Daniel entrou, assustado.

— Caralho, Oliver! — revoltou-se. — O que está fazendo? Você não

pode sair daqui, porra! — Agarrou meu braço, na intenção de me forçar

contra a cama, mas, eu rosnei para ele, que parou, travando o maxilar com

meu gesto.

Minha respiração estava tão ruidosa que feria minhas cordas vocais.

— O que pensa que vai fazer, estando desse jeito, seu idiota? —

questionou, enquanto eu firmava o peso em meus próprios pés. — Mal está

conseguindo se manter de pé, Oliver! Caralho, você não é a porra de um

super-homem, irmão.
Continuei o ignorando, mesmo porque, eu não conseguia fazer minha

voz sair.

Caminhei pela sala, a passos de tartaruga, arrastando minha perna

ferida, e consciente da minha nudez. Encarei a enfermeira, que estava

parada num canto, e gesticulei para meu corpo, num pedido silencioso. Eu

queria minhas roupas.

— Eu sou o seu Prez, Oliver! — revoltou-se Daniel, atrás de mim. —

Exijo que volte para a cama.

Eu podia ouvir o som áspero da minha respiração, quase como um

barulho ensurdecedor aos meus ouvidos.

Frustração, dor e raiva eram a combinação de emoções que me

moviam naquele momento.

O encarei, com meus olhos cheios de cólera.

Eu queria dizer que ninguém me impediria de sair dali para ir em

busca da Linda; nem mesmo ele seria capaz de me parar. Contudo, a porra

da minha voz não me obedecia.


De repente, ouvi quando seu telefone tocou, interrompendo-nos. Sem

tirar sua atenção de mim, atendeu.

Notei quando seu corpo se tencionou e seus olhos se arregalaram. Os

punhos cerraram, e ele travou a respiração.

— Mande o endereço para meu telefone — disse ele, para a pessoa do

outro lado da linha. — Estaremos aí em poucos minutos.

Assim que encerrou a ligação, seus olhos se depararam com os meus,

eu senti sua luta interna.

— Linda foi encontrada — declarou com alívio. Fechei os olhos,

sentindo meu coração aquecido pelo alívio também. — Ryan está com

Charles, e irá nos entregar o filho da puta como prometera. — Meu coração

batia tão descompassado quanto minha respiração irregular. Daniel se

aproximou de mim, me estudando minuciosamente. Tocou meu rosto,

dando alguns tapinhas nele. — E como sei que você é a porra de um

teimoso do caralho, tenho certeza de que não conseguirá manter a bunda

aqui nessa cama. — Encarou meus olhos, pausando como se quisesse me


ouvir falar. Como não aconteceu, ele concluiu: — Arrume-se! Chegou a

hora de tirar todo nosso veneno. Charles não perde por esperar.

A adrenalina que suas palavras me causaram fez meu sangue pulsar

mais rápido nas veias.

Eu mal podia esperar para colocar meus olhos sobre Linda para ter

certeza de que ela realmente estava bem, e esmagar as bolas do Charles

com minhas próprias mãos.


Capítulo 28

Linda

Abri os olhos, notando estar em um quarto desconhecido. Os móveis

eram simples, e a decoração em tons pastéis. Pisquei, me esforçando para

me acostumar com a claridade incômoda. Não fazia ideia de quanto tempo

fiquei apagada, e minha mente parecia uma confusão de imagens e

lembranças.

Gemi, com dor em minhas têmporas. Sentei-me na cama, de olhos

fechados conforme me recordava dos últimos acontecimentos.

Oliver...
Lágrimas nublaram meus olhos na mesma hora quando me lembrei

dos tiros que ele levou ao tentar me defender. Funguei, jogando os pés para

fora da cama, sentindo o gelado do piso, já que eu estava descalço. Meu

coração batia acelerado de medo e angústia, pois, a todo momento meus

pensamentos me sufocavam ao ponto de me arrancar o ar. Eu não sabia

quanto tempo estava ali, desde que fora levada do Oliver e jogada no porta-

malas do veículo desconhecido. Na ocasião, tive um pano umedecido em

alguma substância, pressionado em meu nariz, e foi isso que me fez apagar.

Torci as mãos na frente do corpo, analisando o lugar em que estava.

Tinha um armário pequeno, a cama no meio do cômodo e um roupeiro no

canto. A janela era fechada com grades, e dava para um terreno de mata

fechada. Tremendo, me aproximei da porta a passos lentos, temerosa com

minha mais nova situação. Franzi o cenho com a ardência na pele do meu

braço e perna; quando espiei, notei alguns ferimentos na pele de quando

Oliver e eu caímos da moto durante o ataque.

Novamente senti meu rosto se contorcer com novas lágrimas quando

o rosto dele surgiu em minha mente, preocupada com o que pudesse ter
acontecido depois que o deixei lá... ferido e sangrando.

Meu coração doeu com o aperto apenas ao imaginá-lo sofrendo.

Desesperada, levei a mão até a maçaneta da porta e a girei, mesmo

sabendo que estaria trancada. Mordi os lábios, engolindo os soluços.

— ALGUÉM ESTÁ AÍ? — gritei, batendo na madeira. — OI!

ALGUÉM AÍ? — Continuei batendo, sentindo o pânico me dominar. —

POR FAVOR...

Respirei com dificuldade, enquanto colava a testa na porta, sentindo

as lágrimas deslizando por minhas bochechas. Nervosa, voltei a prestar

atenção no quarto, começando a vasculhar qualquer coisa que pudesse me

ajudar a fugir, mas não tinha nada.

Os armários estavam vazios.

Novamente na porta, colei o ouvido na madeira tentando escutar algo

do lado de fora, porém, não ouvi ninguém. Apenas o silêncio.

O vazio.
Sentindo minhas pernas bambas, recostei-me contra a madeira,

deslizando minhas costas até me sentar no chão, com os joelhos erguidos.

Abracei as pernas, escondendo o rosto entre os joelhos. Estava com

medo, porque não sabia o que ia acontecer comigo, embora não fosse

ingênua ao ponto de não saber quem estaria por trás desse meu sequestro. E

apenas essa percepção já era suficiente para me causar náuseas. Eu não

poderia deixá-lo me tocar.

Não, depois do Oliver.

Meus soluços me sacudiram e, pela primeira vez depois de muito

tempo, chorei de dor e pânico.

Três dias. Eu já estava ali fazia três dias, e minha angústia só estava

aumentando, mesmo me esforçando para manter a fé de que Oliver e meu

primo me encontrariam. Era difícil continuar tendo esperança, visto que, a

constante presença dos meus algozes me dizia que eu estava ferrada quando

Charles chegasse para me buscar.


Porque era isso que ele faria, me pegaria como se eu fosse algo, um

objeto pessoal dele.

Dei um pulo da cama quando ouvi o barulho da chave e a maçaneta

da porta girando. Logo, um homem entrou; eu o reconhecia como do

círculo íntimo do Charles. A falta de cabelo e, a tatuagem dele, de número,

indicava isso.

Fiquei contra a parede, encolhida, temerosa com o que ele pretendia

fazer.

Demorei a perceber que ele carregava um prato de comida e uma

garrafa de água. Espiei por cima de seus ombros e notei outro homem,

parado na porta. O sorriso que os dois carregavam nos lábios deixava mais

do que claro que eu era a gazela ali.

— Sua sorte é que você possui a proteção do “mestre”, sua vadia! —

sibilou o que estava com a comida nas mãos. — Porque se fosse por mim,

depois de tudo o que fez, já estaria toda arregaçada, sendo fodida por todos
os buracos — sibilou ele, porém, parecia estar falando do tempo. — Sua

ingratidão me enoja.

Continuei em silêncio, pois não tinha coragem de abrir a boca para

falar qualquer coisa que fosse.

— Eu penso que ela ainda acredita que aqueles motoqueiros idiotas

virão resgatá-la — comentou aquele que estava na porta. Deu risada,

sacudindo a cabeça. — Vadia burra! Assim que o “mestre” vir te buscar,

ninguém nunca mais vai te encontrar.

Lágrimas inundaram meus olhos.

— Meus amigos não vão permitir — falei num silvo trêmulo.

Encolhi-me toda quando o que estava com o prato de comida marchou até

mim, invadindo meu espaço pessoal, impondo seu tamanho.

— Que amigos? — intimou. — Aqueles que estão na cadeia agora?

— Arregalei os olhos, assustada com esse fato, mas não tive tempo de

raciocinar, porque o que ele disse a seguir acabou comigo, e de uma forma

que eu não sabia se ia me recuperar: — Ou aquele que estava fodendo sua


boceta, mas que está agora no inferno? — Arqueou as sobrancelhas para

mim, deliciando-se com meu sofrimento. — O que foi? Não sabia que seu

amante está morto?

Oliver... Oliver... Oliver...

Levei as mãos a cabeça, chocando as costas contra a parede e me

permitindo deslizar até o chão. Minha cabeça estava girando e girando, mas

sem acreditar nem aceitar aquela informação.

— É mentira — murmurei aos prantos.

Irritado, o homem se ajoelhou diante de mim, ficando sob os próprios

pés e me encarou com soberba e fúria.

— Eu mesmo voltei lá, onde o deixamos caído na estrada, e meti uma

bala na cabeça dele — contou, se deliciando com as palavras. — Adorei ver

o sangue dele espirrando e manchando a terra; foi um dos maiores prazeres

que já senti...

— Cala a boca — soprei, não querendo mais ouvir sua voz asquerosa.
— ... ainda mais por saber que foram aqueles filhos da puta que

destruíram nossa organização — continuou falando, maldosamente, sem se

importar com minha dor. — Você não imagina o prazer que foi saber que

todos foram presos, e se depender do “mestre” vão apodrecer na cadeia.

Então, se quer um conselho, não fique esperançosa de que alguém virá

resgatá-la, porque isso não vai acontecer. Logo, todos nós estaremos longe

daqui, e você voltará a ser a escrava sexual do “mestre”.

— CALA A BOCA! CALA A BOCA! CALA A BOCA!

Revoltei-me e o atingi com meus punhos fechados, surpreendendo-o

pela minha explosão.

Contudo, meu surto foi, obviamente, controlado por suas mãos fortes.

Instantes depois, me vi sem ar quando sua mão se fechou em meu pescoço.

Seus olhos nos meus era puro ódio enquanto me sufocava, apertando

os dedos ao redor do meu pescoço.

— Ele é obcecado por você, e eu não entendo isso — sibilou contra

meu rosto, vermelho pela falta de ar. — Não entendo o motivo para arriscar
nosso pescoço dessa maneira.

— Se eu fosse você, a soltaria agora — declarou o outro, com tensão

na voz. — Se esqueceu que essa garota é a cópia da primeira mulher do

mestre, a qual ele matou com um disparo acidental de arma? — lembrou. —

Por isso, ela é tão importante para ele.

Ao ouvir isso, o homem me soltou, fazendo-me cair longe.

— Coisa idiota! — murmurou, bufando. — Por isso que não me

apaixono, porque o amor destrói um homem.

Fiquei tossindo, sentindo minha garganta queimando enquanto

observava meu algoz se afastar, rindo. Os dois estavam rindo.

Permaneci no chão por um tempo, chorando enquanto assimilava tudo

o que acabara de ouvir. Eu sentia como se meu coração houvesse sido

arrancado do meu peito sempre que pensava no Oliver. Ele não podia estar

morto, não podia.

O que seria de mim sem ele?


Minha mente foi preenchida pelo seu rosto, seu sorriso e o som de sua

voz me dizendo que ficaria tudo bem, pois ele me protegeria. Os soluços me

abateram com a realidade que recaiu sobre mim.

Tive a sorte de encontrar o amor da minha vida, mas este me foi

tirado.

Rastejando pelo chão, fui até os pés da cama, remexendo na comida

no prato. Peguei a coxa de frango e desfiei a carne, em seguida, comecei a

esfregar o osso no chão, afiando a ponta dele.

Com a cabeça sobre o colchão, me permiti chorar e sofrer pelo Oliver,

pelo meu primo e pelos amigos que fiz naquele clube, que, ao que tudo

indicava, eu nunca mais ia ver.

Dois dias depois fui acordada pelo estrondo da porta. Não tive tempo

de sair da cama, então me encolhi contra a cabeceira, desejando me

esconder daqueles olhos maldosos.


O homem jogou uma peça de roupa limpa contra mim, assim como

uma toalha e produtos de higiene.

— O mestre está vindo — avisou. — Você precisa estar limpa e

impecável para ele. Logo, vai se juntar as outras.

Meu corpo todo foi tomado por espasmos, causados pelos calafrios

apenas ao imaginar aquele homem com as mãos sobre mim.

Não falei nada. E mesmo se quisesse falar, não conseguiria, pois,

minha voz ficou presa na garganta.

— Partiremos mais tarde — declarou.

Instantes depois, virou em seus calcanhares e rumou para fora do

quarto, batendo a porta com força, me fazendo tremer de susto.

Trêmula, me sentei na cama, de um jeito menos tenso, e verifiquei as

roupas. Era um vestido branco, com uma calcinha da mesma cor,

minúscula. Meus olhos se encheram de lágrimas.

Lágrimas de tristeza.

De frustração e dor.
Dor pelo futuro feliz que eu jamais ia ter, porque Oliver se foi.

Apesar da ordem, eu continuei na cama, me lamentando pela minha

sorte de merda. Foi então que minha mão foi parar debaixo do travesseiro e

encontrei o osso que eu vinha afiando há dois dias.

Meu cérebro começou a raciocinar e assimilar o que minha alma

desejava, mesmo que isso fosse errado, um ato de covardia. Mas o que seria

da minha vida nas mãos de um sádico? Saber que Charles era obcecado por

mim por eu lembrar sua falecida esposa em nada serviu para apaziguar meu

pavor, pelo contrário.

Com esse pensamento, agarrei o osso de galinha e saí da cama. Fui

até a porta e pressionei o ouvido na madeira, me esforçando para ouvir algo,

mas fui devolvida com o silêncio.

Sem esperanças de que um milagre aconteceria, me deixei deslizar até

o chão e, em seguida, encarei o objeto pontiagudo em minha mão. Meus

instintos mais íntimos me diziam que a saída não devia ser essa, mas eu não

tinha mais forças para suportar a mera ideia de viver sob o jugo do Charles.
Sendo assim, por que aceitar? Eu não precisava.

Então, um longo tempo depois, reunindo coragem, eu me preparei.

Todos os meus sentidos gritando, e minha mente em pleno desespero com a

agitação do que eu estava prestes a fazer.

Engoli o grito de dor quando perfurei o osso em minha barriga, em

busca da minha liberdade.

Porque era isso que eu queria, encontrar a liberdade. Talvez assim, eu

pudesse me encontrar com Oliver do outro lado.

— Mas que merda!

Meu corpo estremeceu em reconhecimento àquela voz e cheiro.

Braços me ergueram do chão e me carregaram até a cama. Eu estava

sofrendo com calafrios intermináveis.

— Quem fez isso? — perguntou Charles, segurando meu rosto de

modo a encarar meus olhos. Pareceu examinar minhas pupilas. — Puta que

pariu! Ela está morrendo.


Revoltou-se, percebendo o ferimento em minha barriga.

— Eu não entendo — murmurou um dos capangas que ficou me

vigiando. — Nós tomamos cuidado para não deixar nada aqui no quarto, a

não ser o básico para ela viver enquanto o senhor não chegasse.

— E do que adiantou, porra?! Olha pra ela — apontou. — A não ser

que eu tenha traidores em meu círculo íntimo.

Se aprumou, apontando uma arma na direção do homem, que ergueu

as mãos em rendição.

— Mestre, por favor... se acalme — pediu, cheio de pânico. — Nós

não fizemos nada com ela, porque sabemos que ela lhe pertence. Sabemos

da importância que essa garota tem para o senhor.

Charles tiquetaqueou o maxilar, olhando de mim para seu capanga;

sem baixar a arma, ele voltou a pressionar a mão em meu rosto febril.

— Ela está ardendo em febre, caralho! — exclamou, tenso. — Sabe-

se lá quanto tempo ficou jogada ali naquele chão, se esvaindo em sangue.


De repente, alguém gritou da porta, alegando que encontrou o objeto

que eu usei para me perfurar.

— Perdoe-nos, mestre, mas não previmos que ela tentaria se matar

com um osso de frango — comentou um deles.

Nesse momento, Charles guardou a arma e voltou a se inclinar sobre

mim, colando nossos rostos. Meu estômago, já embrulhado, se agitou no

instante em que ele pairou a boca no meu ouvido.

— Você não vai morrer, minha querida — sussurrou. — Eu não

permito isso. — Inspirou meu cheiro, fazendo minha respiração acelerar. —

Somente eu tenho o poder aqui, e você é minha. É minha para eu fazer o

que quiser, entendeu? E não admito que você morra, não de novo.

Não de novo? Ele estava fora de si mesmo!

No instante seguinte, ele se afastou, aprumando os ombros.

— Consigam um médico — ordenou. — Temos de garantir que ela vá

aguentar a viagem. Não quero perdê-la.


— Ei, garota? — Abri meus olhos devagar, me esforçando para

enxergar a pessoa diante de mim. — Parece que você fez uma pequena

bagunça aqui. — Pressionou meu ferimento, fazendo-me gemer de dor.

Pisquei, perdida entre a realidade e a inconsciência.

— Ela vai ficar bem? — perguntou Charles. — E em quanto tempo

consegue deixá-la apta para viajar? Não posso continuar aqui, pois minha

cabeça está a prêmio.

O tal médico ergueu minha blusa e examinou o local minuciosamente.

— Consigo costurá-la em pouco tempo — declarou, tenso. — Mas

preciso de privacidade.

— Privacidade é o caralho! — revoltou-se um dos capangas. — Você

vai costurar essa vadia agora, e na nossa frente.

Meu corpo vibrou de pavor quando um disparo atingiu a testa do

homem revoltado. Demorei a perceber que o tiro partira da arma do

Charles.
— Mais alguém quer falar algo sobre a Linda? — intimou, sério.

Como o silêncio reinou, ele se voltou para o médico: — Continue, doutor.

— Gesticulou com a arma.

Eu mal tinha forças para me mover, então meus gemidos soaram

quase inaudíveis à medida que o homem me costurava.

De repente, ouvimos um barulho de explosão no lado de fora do

quarto, seguido por vários disparos.

Charles se empertigou, apontando a arma para a porta, assim como

seus dois capangas que estavam ali.

A ação foi tão rápida que eu mal tive tempo de raciocinar; num

segundo, o médico estava perto de mim, assustado, e no outro, estava

sacando uma arma e atirando nos dois capangas, e desarmando o Charles.

— Mais o que...

— É melhor você ficar bem quietinho, ou juro que meto uma bala na

sua maldita cabeça — rugiu o médico. — E não quero fazer isso, porque

prometi que entregaria você, intacto, para os lobos.


Nesse momento, me empertiguei com suas palavras. Esforcei-me para

abrir a boca:

— Da-daniel...

O tal médico me encarou, e algo em seu semblante me lembrou

alguém. Pensei já tê-lo visto antes lá no clube.

— Isso mesmo, garota — murmurou ele. — Seus amigos estão a

caminho para levar você para casa.

Casa.

Fechei os olhos, sentindo as lágrimas deslizando por minha pele.

Era uma mistura de alívio, dor e angústia, porque eu não sabia o que o

futuro me reservava... sem o Oliver.


Capítulo 29

Oliver

Daniel bufou quando fixou os olhos em minha perna, notando a

mancha de sangue se acumulando ali devido a tanto esforço físico.

— Não acredito que você me forçou a trazê-lo até aqui — ralhou,

claramente contrariado. — Espero que não desabe no chão, feito uma fruta

podre. Idiota teimoso!

Abriu a porta da caminhonete, bufando, quando chegamos a um local

ermo, com uma casa apenas. Ao redor era tudo mato.

Meus olhos se arrastaram pela fachada da casa, notando um alvoroço

grande na frente.
— O que esse idiota está fazendo aqui? — quis saber, Josh, ao se

aproximar de nós dois. Seus olhos semicerraram em minha direção, também

notando a mancha de sangue em minha calça. — Eu pensei que ele ainda

estivesse na clínica, se recuperando.

— Nem pergunte — rosnou Daniel, rolando os olhos. — Onde está o

Ethan?

— Está lá dentro com Ryan e seus homens — respondeu. — O

desgraçado contou que fez uma entrada triunfante aqui. — Deu risada. —

Pareceu coisa de filme.

Continuei andando, sem paciência para os deslumbres do Josh. Minha

preocupação estava em ver a Linda. Eu precisava olhá-la com meus

próprios olhos para acreditar que ela realmente estava bem.

— Oliver! — Ethan se surpreendeu ao me ver. — Por que não está na

clínica?

Não respondi.
— Ele não está falando — comentou Daniel, atrás de mim, fazendo

todos ao nosso redor se espantarem. — E não me pergunte o porquê, pois

nem mesmo o médico soube responder a isso.

Ignorei os cadáveres ao redor, as vozes e gemidos dos feridos,

desviando de qualquer um que se atravessou no meu caminho, desesperado

demais para encontrar Linda.

Meu peito subia e descia, enquanto eu olhava para todos os lados,

ouvindo minha respiração áspera.

Quando cheguei a um dos três quartos que tinha na casa, meus olhos

se fixaram na cama, para a garota ferida. Em seguida, encarei Ryan, que

estava de pé num canto; e, por último, para os pés da cama, onde me

deparei com um homem de meia-idade, calvo. Seus olhos estavam nos

meus, num misto de medo e soberba.

Era ele. Charles Brown.

— Então é você que a estava fodendo? — perguntou ele, me

encarando de cima a baixo. — Aposto como ela te seduziu também, porque


não tem como não viciar naquela boceta apertada.

Minhas narinas inflaram e meus punhos cerraram automaticamente.

Embora estivesse arrastando a perna, marchei até o desgraçado com a

fúria movendo meus músculos, porém fui parado pela voz angelical que

sempre teria o poder de me frear, de me encontrar, mesmo eu estando

perdido em minha própria mente.

— Oliver...?

Meu foco agora estava na cama, fixo naqueles olhos brilhantes pelas

lágrimas.

Notei que outros chegaram no quarto também, entretanto, minha

atenção estava em Linda e em sua mão estendida para mim.

Aproximei-me dela, a passos lentos, arrastando a maldita perna

ferida. Eu não me importava com meu bem-estar, apenas com minha garota.

Quando parei ao seu lado, varri os olhos pelo seu corpo miúdo,

concentrando-me no sangue em sua barriga. Rangi os dentes, sentindo a

impotência me dominando.
— Oliver... — voltei a olhar seu rosto, notando suas lágrimas. Eu

estava tão tenso de raiva com a situação que não sabia como agir.

— Ela se furou com um osso de galinha — explicou Ryan, forçando-

me a desviar os olhos para ele. — Mas, felizmente não perfurou nenhum

órgão importante. Eu a costurei, e acredito que não corra mais risco de

morte. Contudo, não descarto uma ida a clínica para ela ser examinada num

local apropriado.

— Oliver... — Linda voltou a me chamar, fraca. Ela estava tão

vulnerável que fez meu coração se partir em pedaços.

Puta merda! Eu quase a perdi.

Quis me ajoelhar, mas minha perna não permitiria o movimento.

Notei quando Daniel chegou mais perto da cama, conversando com

Linda, examinando-a como eu fizera instante antes. Joshua e Ethan

carregaram Charles para fora do quarto, o homem só sabia gritar. Ryan foi

junto.
— Eu pensei que vocês estavam presos — confidenciou Linda, ao

primo, quando este perguntou o motivo para ela ter se ferido daquela

maneira quase fatal. — Foi o que me disseram aqui, por isso decidi ser tão

radical. — Em seguida, suspirou e olhou para mim, se encolhendo. — Além

disso, também disseram que Oliver estava morto. — Seu rosto se contorceu

com novas lágrimas. — Com isso em mente, eu não via sentido algum em

continuar vivendo... — choramingou.

Abri a boca para falar, mas hesitei, porque minha garganta ardeu.

— Oliver... — ela estendeu a mão, exigindo a minha na sua. A toquei,

sentindo meu peito sufocar com emoções adversas quando nossos dedos se

entrelaçaram. — O-o que há com ele? — Linda questionou, baixinho.

— Não sei — respondeu o Prez, preocupado. — Mas ele ficou

apagado durante todos os dias que você esteve em cativeiro, e acordou há

poucas horas. Porém, ele não está falando. Ao menos não desde que

acordou. O médico desconfia que pode ser psicológico.


Abri os olhos, fixando-os na garota que tinha meu coração na palma

da mão. Com dificuldade, me sentei na cama, afundando o colchão ao seu

lado.

Com a mão livre, amparei seu rosto e aproximei o meu, inspirando

seu aroma.

— M-meu pequeno... Querubim — sussurrei, destravando a voz,

apesar de ela soar estranha. Entendi que o bloqueio da minha mente foi o

responsável para que eu não conseguisse falar; porém, bastou que eu visse

Linda, para que a barreira ruísse.

Aos prantos, Linda enrolou os braços em meu pescoço e se aninhou

ao meu peito. Toda a atmosfera parou, sobrando apenas nós dois ali,

naquele quarto.

— Oliver — repetiu, beijando meu rosto. Fez a mesma coisa que eu

fizera com ela, começou a me examinar, notando meus ferimentos recém-

tratados. — Você está sangrando.

Não falei nada. Não conseguia falar.


Eu apenas olhava para ela...

Tocava sua pele...

Cheirando.

Sentindo.

— M-meu pequeno Querubim — repeti, com meu peito subindo e

descendo. Senti meus olhos nublando com lágrimas não derramadas.

Linda pressionou dois dedos em meus lábios.

— Shh... está tudo bem — soprou, roçando nossos narizes. — Eu sei

que você precisava vir — murmurou. — Você precisava me ver, para

garantir que eu estivesse bem.

Uma lágrima deslizou em minha bochecha e eu amparei o rosto

delicado com minhas mãos grandes.

— E-eu amo você — declarei com fervor, admirando o brilho que

tomou seus lindos olhos verdes.

Quando nossos lábios se tocaram, foi como se finalmente eu estivesse

em casa outra vez.


Tudo se encaixou em meu âmago.

Senti-me completo.

Naquele momento, entendi que Linda se tornou uma parte de mim

que eu não estaria disposto a perder novamente, de jeito algum.

Permanecemos abraçados um ao outro, ignorando qualquer um ao

redor. Entretanto, a voz do caçador chamou minha atenção quando ele

voltou a entrar no quarto dizendo:

— Daniel? — chamou o Prez, que eu não percebera continuar ali no

quarto. — Nós precisamos conversar sobre o Charles.

Empertiguei-me na mesma hora com a menção ao nome do maldito,

sentindo meu corpo voltar a ser tomado por aquele forte sentimento de

fúria. Desvencilhando-me dos braços de Linda, andei em direção a porta e

resmunguei:

— E-este assunto já está resolvido, caçador — ditei, com minha

garganta arranhando. — Charles morre agora, e pelas minhas mãos.


Ryan cruzou os braços em frente ao peito, encarando-me com aqueles

olhos intensos e misteriosos.

— Desculpe, Oliver, mas não posso permitir que isso aconteça —

declarou, fazendo meu coração acelerar com a adrenalina. Senti minhas

pupilas dilatando com a fúria que se intensificou em minhas veias. Apertei

meu maxilar com tanta força que ouvi meus dentes rangerem. E num

instinto primitivo, saquei minha pistola do coldre apontando em direção ao

Ryan — com meu braço bom.

— E-e quem vai me impedir? Você?

No segundo seguinte, Ryan também sacou sua arma, destravando-a e

apontando em minha direção.

Daniel se atravessou na nossa frente, ficando entre nós dois. Usou

suas mãos e forçou as duas armas para baixo, olhando de um para o outro.

— Vocês estão loucos? — intimou, irritado. Depois, mirou a mim: —

Você se esqueceu de que foi Ryan quem salvou a Linda? Se esqueceu de

que minha prima está viva devido à interferência dele?


Baixei a cabeça, assimilando suas palavras. A verdade era que eu

estava deixando a raiva me dominar, comandar meus sentidos. Porém,

mesmo assim, sibilei:

— E-entendo, irmão. Contudo, isso não dá a Ryan o direito de me

impedir de fazer o que eu tenho de fazer e...

Ryan me interrompeu:

— Eu nunca disse que você não iria matá-lo — defendeu-se. —

Compreendo que esse é um direito que pertence a você e a mais ninguém,

visto que a garota é sua para vingar. Todavia, temos um impasse, meu

caro... — arqueei as sobrancelhas para ele, sem entender onde queria chegar

—, porque precisamos arrancar uma informação do maldito Charles.

— E qual seria? — indaguei. — De-deve ser algo muito importante

para você me fazer poupar a vida desse porco, que não vale nem mais um

mísero segundo nesse mundo.

Ryan bufou enquanto guardava sua arma.


— Ao contrário do que pensam, Charles não pretendia levar apenas

Linda com ele — expôs. — Tenho informações seguras de que haverá um

carregamento humano em um contêiner, cuja localização somente o maldito

sabe. Resumindo, se não arrancarmos isso dele, as garotas vão morrer,

abandonadas em algum galpão.

— E como você soube disso? — Foi Daniel quem perguntou, o que

agradeci, porque minha garganta estava queimando.

— Quem me deu essa informação foi o médico, com quem troquei de

lugar após deixar um dos meus homens, gentilmente, com sua esposa e

filho como uma apólice de seguro. Fiz isso para que quando Charles ligasse

para ele, que confirmasse que não poderia estar presente naquele momento,

passando a informação falsa de que eu era um médico de sua confiança.

Bem, funcionou... — deu de ombros, sorrindo de leve. — O idiota permitiu

minha entrada aqui, e pude salvar a vida da pobre garota — apontou para a

Linda.

Sacudi a cabeça, aturdido.


De repente, Linda acrescentou:

— Isso é verdade — murmurou, com a testa franzida. — Eu me

lembro de um dos capangas me dizendo que eu logo me juntaria a mais

garotas.

Daniel e eu nos olhamos, nitidamente frustrados com mais aquele

problema.

— Precisamos fazê-lo falar — ditou ele.

Nesse momento, percebi a gravidade da situação. Por mais que todos

os meus impulsos me levassem a querer matar Charles, se eu o fizesse, teria

de estar disposto a carregar comigo a morte de todas aquelas garotas.

Droga!

Depois de três dias de muita tortura, Charles sucumbiu e, finalmente

entregou a localização do contêiner. Então, Daniel e Ryan comandaram uma

força tarefa com a missão de resgatar e libertar as pobres garotas.


Nesse momento, fiquei muito ansioso, pois sabia que após essa ação

não teria mais empecilho para cumprir minha vingança.

E eu estava louco para mandar o maldito abraçar o diabo.

— Eles chegaram! — exclamou Ethan, entrando no galpão que

usávamos para torturar nossos inimigos. — Deu tudo certo. Entregaram a

informação aos federais; Ryan possui contatos lá, o que facilitou para que

não respingasse em nós. Além disso, ainda estão investigando Charles e sua

maldita seita, então...

— Tudo vai ser somado a ele e suas merdas. — Joshua concluiu o que

eu pensara.

Ainda com um pouco de dificuldade devido aos meus ferimentos, me

aproximei do moribundo. Charles estava nu, e erguido, com cordas nos

braços e nas pernas.

Como eu não estava cem por cento, me deleitei com a crueldade dos

meus irmãos na tortura; cada grito do desgraçado era como música aos
meus ouvidos. Cada abraço, beijo e sorriso da Linda era como se minha

vingança estivesse se concretizando ao vislumbrar a felicidade dela.

Minha garota estava feliz. Estava se recuperando.

Se refazendo lentamente, e comigo ao seu lado. Lugar que me

pertencia.

— Como Joshua arrancou sua língua depois que você nos deu a

informação que precisávamos, eu vou explicar o que faremos daqui a pouco

— murmurei, adorando que ele tenha se retraído ao sentir minha

aproximação. O homem estava irreconhecível. Um dos olhos fora arrancado

por mim, e o outro estava tão inchado que mal conseguia abrir. — Você terá

a ponta das quatro cordas puxadas por motos, e isso fará com que seus

membros sejam arrancados do seu corpo imundo. — Notei sua respiração

ruidosa, e mesmo todo fodido, se empertigou todo, forçando as cordas.

Eu estava rindo, até que ouvi quando Daniel e Ryan chegaram.

— Chegamos a tempo de participar da festa? — indagou o Prez,

caminhando pelo galpão. Ryan se aproximou também, embora sem dizer


nada. Desde que a tortura ao Charles começou, ele permaneceu assistindo,

sem interromper ou se intrometer. Apenas assistia como um telespectador

viciado pela programação em questão.

— Oliver estava explicando a nossa próxima travessura ao nosso

hóspede — confidenciou Josh, entre risos. — E parece que ele não gostou

muito. — Riu.

— Hóspedes ingratos são um saco! — exclamou Ethan, divertido.

Caminhando devagar devido à perna, fui até a mesa com

equipamentos dispostos e, em seguida, escolhi uma faca.

— Preparem-se! — pedi, sabendo que entenderiam o que eu queria

que fizessem. — Vou finalizar o serviço do melhor jeito possível e, em

seguida, será com vocês — avisei.

Desse jeito, voltei a estar frente a frente com Charles.

Colei nossos rostos, sentindo a fúria por ele dominando meus

sentidos.
— Você pensa que a destruiu, mas não conseguiu — declarei, com

fervor. — Uma marca na pele não faz você dono de ninguém, porque

tatuagens são removíveis ou cobertas, agora, amor, essência? Isso não se

tira. E o que você roubou dela, eu devolvi em dobro. Agora, Linda vai

poder superar tudo o que aconteceu, e eu estarei bem aqui, ao lado dela.

Enquanto você estará queimando no mármore do inferno, que é o seu lugar!

Dizendo isso, levei a lâmina da faca ao seu pau, cortando-o fora.

Sangue espirrou em minhas roupas, e aproveitei seus gritos desesperados

para enfiar o órgão nojento em sua boca aberta, fazendo-o se engasgar.

— Nada mais justo do que você morrer engasgado com seu próprio

pau, seu filho da puta! — sibilei em seu ouvido.

Em seguida, me afastei, acenando para que Daniel, Joshua, Ethan e

Colin começassem a acelerar as motos.

Permaneci no meio, assistindo ao espetáculo, ao lado de Ryan.

Meus olhos brilharam com a cena macabra e com os gritos.


Fechei os olhos com o furor no instante em que o corpo se partiu

diante de nós. Psicopata como era, Josh não se contentou apenas com os

membros cortados do homem, e começou a passar com a moto por cima do

tronco, tornando-o uma geleia.

Pude enfim respirar com alívio e leveza.

Me virei para sair do galpão, porém, parei e encarei Ryan.

— Obrigado — agradeci-lhe. — Obrigado — repeti.

Ele sabia o motivo para eu o estar agradecendo, então, apenas

assentiu com a cabeça.

E eu continuei seguindo meu caminho para fora do galpão, tendo um

rumo certo.

Minha garota.

Meu anjo.
Capítulo 30

Linda

Dias depois

— O que está pensando? — Oliver perguntou enquanto deslizava os

dedos em meus cabelos. Eu estava com a cabeça em seu peito, deleitando-

me com o som ritmado de seus batimentos cardíacos.

Os últimos dias foram intensos com tudo o que aconteceu. Meu

sequestro, o susto que senti com os ferimentos do Oliver, e minha

recuperação pela tentativa de suicídio.

Quando eu pensava na coragem que tive para desferir o golpe contra

mim mesma chegava a arrancar meu fôlego; e eu era grata pelo destino não
ter permitido que tivesse terminado de maneira trágica, porque agora, eu

estava bem e feliz vivenciando o amor ao lado do Oliver.

O homem da minha vida.

— Pensando na sorte que tive ao ser resgatada por você, meses atrás

— respondi, brincando com alguns pelos de seu peitoral. — Eu nunca

contei, mas o fato de eu ter ido parar naquele pé de caixa d’água, lá na

fazenda foi porque tentei fugir. Aliás, Kate e eu. — Respirei fundo,

sentindo meu corpo reagir com as recordações. — Ainda é estranho pensar

naquela época; estranho pensar que ela se foi, que não conseguiu... — me

calei, entristecida pela morte da Kate.

Oliver forçou meu rosto para o seu.

— Eu demorei a entender e aceitar que a vida precisa continuar,

apesar de todos os pesares — disse. — Nós não podemos mudar o que

aconteceu, pois, faz parte do destino.

Acariciou meu rosto, com aquele olhar fascinado que fazia meu

coração vibrar no peito.


— E posso soar um cretino com o que vou dizer agora, mas sou grato

a esse mesmo destino por ter me levado até você.

— Você me salvou — declarei com fervor, me ajeitando em seus

braços, querendo mais dele.

Negou com a cabeça.

— Eu apenas a resgatei, baby — corrigiu. — Você mesma se salvou

quando decidiu lutar por uma nova vida — argumentou. — E isso começou

lá atrás. — Engoli em seco, me permitindo voltar ao passado. — Pode ser

que você não acredite na sua força interna, mas foi ela quem me libertou

dos grilhões que me mantiveram aprisionado durante anos. Então, se há

alguém que salvou aqui, essa pessoa foi você, Linda. Salvou a mim. Se

tornou meu anjo, meu pequeno Querubim.

Como sempre, eu era muito emotiva, então já estava chorando feito

uma desesperada.

Oliver tocou nossos lábios num beijo apaixonado. Eu não me cansava

de ouvi-lo dizer que me amava. Não me cansava de sentir em cada


centímetro de pele, em cada um dos meus poros o amor compartilhado entre

nós dois.

Ainda me lembrava de quando Charles foi finalmente morto. Na

ocasião, assim que Oliver chegou ao quarto e me olhou, eu soube... senti a

sensação da liberdade em meus ossos. Naquela noite, nós dois nos amamos

como se fosse a primeira vez. Como se nossa vida estivesse apenas

começando.

E de certa forma, ela estava.

De repente, dispersei os pensamentos e soltei sua boca, sorrindo

assim que ele deu um impulso com o corpo para ficar sobre mim. Sua barba

rala começou a espetar a pele do meu pescoço, causando-me cócegas.

Se afastou, e permaneceu me olhando, sério.

— O que foi? — Remexi-me abaixo de seu corpo, mordendo o lábio

inferior. — Qual o problema?

Oliver me beijou e, em seguida, se sentou na cama. Fiquei nervosa,

então me sentei também, porém, confortável com minha nudez.


— Linda, por tudo o que nós dois já passamos, sinto que falta você

fazer uma última jornada antes de pensarmos em nosso futuro. Mas eu

entendo que essa decisão só cabe a você e a mais ninguém. Então, lhe faço

uma pergunta: você está disposta a enfrentar os fantasmas do seu passado?

Pisquei, pega desprevenida.

Eu não esperava por isso, embora não fosse hipócrita ao ponto de

afirmar que não tinha o desejo de saber como minha mãe estava.

Inspirei o ar profundamente, enquanto jogava as pernas para fora da

cama. Inquieta, me levantei e caminhei pelo quarto, em direção a janela

envidraçada. Estávamos na casa dele, o qual eu amava. Adorava estar ali

com ele, porque era nosso espaço. Meu e dele.

Permaneci de costas, pensativa sobre tudo. Não apenas sobre sua

pergunta.

— Sim, — respondi um tempo depois, com a voz engasgada. —

Desde aquele fatídico dia, eu não penso em outra coisa — fui honesta. —

Estava pronta pra voltar para minha mãe de modo a enfrentar tudo e todos,
porém, antes que eu pudesse fazer isso, caí nas mãos do Charles. E de lá

pra cá, você já conhece minha história. — Me virei para ele, que

continuava sentado na cama. — Então, sim, — sorri, em meio as lágrimas

— eu estou mais que disposta a retornar e enfrentar as consequências dos

meus atos do passado.

Oliver se levantou e encurtou o espaço que nos separava, enlaçando-

me pela cintura.

O calor de seu corpo aqueceu não somente minha pele, mas meu

coração também.

— Não acredito que você morava há apenas três horas do clube —

comentou Oliver, assim que chegamos ao Texas, lugar em que morei com

minha mãe nos nossos últimos tempos juntas. — Daniel procurou por você

durante tanto tempo... — sacudiu a cabeça, como se quisesse espantar os

pensamentos. Depois disso, virou a cabeça para mim. — Está pronta?


Segurei a respiração enquanto encarava a casa diante de nós, tendo

minha mente preenchida por tantas lembranças que todos os meus sentidos

se agitaram.

Estávamos na moto, e eu podia sentir meu corpo tenso, rígido sobre o

do Oliver.

— Não — respondi com sinceridade, buscando respirar com força. —

Estou com medo. — Torci os dedos, nervosamente. — Imaginei isso por

tanto tempo que agora que está acontecendo, que estou aqui, não sei o que

fazer. — O movimento do meu peito começou a subir e descer rapidamente

com os batimentos acelerados do meu coração. — Eu a abandonei, Oliver.

Abandonei minha mãe a própria sorte, e para enfrentar a pena de um crime

que eu cometi. Fui injusta com ela.

— Ei?! — Oliver segurou minhas mãos. — Primeiro, você precisa

entender que seu ato foi em legítima defesa. Logo, a meu ver, não foi crime.

— Arqueou as sobrancelhas, como se estivesse torcendo para eu entender.


— E sua mãe agiu da forma que toda mãe agiria. Tenho certeza de que você

agiria do mesmo jeito por um filho seu.

Enxugou minhas lágrimas, beijando o rastro delas.

— Você é tão fofo, sabia?

Ri da careta que ele fez.

— Não repita isso na frente dos caras, baby — murmurou com uma

piscadela e um selinho em meus lábios sedentos.

Depois disso, nós descemos da moto.

Poucos minutos depois, nós descobrimos o que eu já previra, que

minha mãe foi presa por homicídio, e a casa acabou sendo tomada pelo

Banco por falta de pagamento dos impostos.

Esforcei-me para não me debulhar em lágrimas, embora todo meu

corpo estivesse implorando por isso. A culpa insistia em me mostrar sua

face horrenda.

— Não se preocupe, pois, vamos descobrir o que aconteceu com ela,

baby — garantiu Oliver, enquanto eu me ajeitava na garupa da moto. — Eu


prometo.

Algumas horas depois, finalmente conseguimos saber para onde

minha mãe foi levada, quase seis anos atrás.

Com os contatos do Oliver e alguns telefonemas, ele descobriu em

qual penitenciaria ela ficou, e isso facilitou bastante a nossa busca.

Eu sentia estar anestesiada desde que aceitei embarcar nessa viagem

ao meu passado. A todo momento minha mente era invadida com

lembranças da minha infância, e de tudo o que eu e minha mãe passamos.

Ela não foi a melhor mãe do mundo, mas foi importante para mim. Fez

diferença na minha vida.

— Você está bem? — Senti Oliver apertar minha mão, que se remexia

nervosamente em meu colo. Estávamos sentados um ao lado do outro,

aguardando o retorno do agente penitenciário a qual ficou de verificar o

nome da minha mãe no sistema carcerário.


— Um pouco nervosa — respondi. — Não sei como ela vai me

receber — concluí, num misto de emoções.

Nesse momento, o agente retornou, com um semblante pesaroso.

Coloquei-me de pé num pulo.

— Olha, eu sinto muito — murmurou —, mas no sistema consta que

sua mãe faleceu alguns meses depois que chegou a penitenciaria. — Cobri a

boca com as duas mãos, sentindo meu coração doer tanto que meu ar

chegou a faltar. Oliver enlaçou minha cintura com seu braço, de modo a me

manter de pé. — Foi em decorrência de complicações de um câncer. Na

ocasião, ela não chegou a comentar com você que estava doente?

Neguei com a cabeça, incapaz de abrir a boca para falar.

— Você poderia chamar o carcereiro John para mim, por favor? —

Ouvi Oliver perguntar a ele, mas eu não fazia ideia do que pretendia com

isso.

Na verdade, tudo em mim estava doendo.


A culpa me fez reviver aquele trágico momento várias e várias vezes

conforme a declaração de morte da minha mãe ficava ecoando em minha

mente.

Sua mãe faleceu.

Sua mãe faleceu.

Sua mãe faleceu.

Não me dei conta de que estava sendo guiada para fora daquele lugar,

até perceber o momento em que Oliver me levou a uma sala pequena, no

lado de fora do prédio.

— O que estamos fazendo aqui? — indaguei, aos soluços.

Oliver me colocou sentada e, em seguida, se ajoelhou aos meus pés.

— Eu consegui que você converse com a mulher que dividiu a cela

com sua mãe, querida — declarou, fazendo meus olhos aumentarem de

tamanho e meu coração parar uma batida. — Talvez isso possa ajudar você

a entender as coisas, além de ajudá-la com a culpa que está te corroendo.

Assenti, sem coragem de falar nem de contradizê-lo.


Eu não fazia ideia de como ele conseguira esse feito, mas deduzi que

tivesse sido pela conversa que teve com o tal carcereiro John, o qual me

mantive aérea o tempo todo.

Instantes depois, me coloquei de pé quando o homem surgiu,

escoltando uma mulher de meia-idade, pele negra.

O olhar dela fluiu de mim para o Oliver, contudo, se manteve em meu

rosto boa parte do tempo.

— Vocês têm vinte minutos — avisou o carcereiro. Olhou para

Oliver: — É só isso que posso fazer, cara.

Oliver assentiu, espalmando a mão do ombro do homem, que logo

saiu, nos deixando a sós.

A mulher permaneceu em silêncio, parecendo nervosa com nossa

visita.

Olhei para o Oliver, que me incentivou a falar. Cocei a garganta,

enquanto enxugava meu rosto, que provavelmente devia estar avermelhado

por conta do choro de minutos atrás:


— Bem, a senhora não me conhece, mas eu sou...

— Filha da Lindsay — cortou-me ela, abrindo um sorriso. — Você

tem os olhos dela, querida, não foi difícil de reconhecer. — Foi impossível

não me emocionar. — Ela me disse que um dia você viria aqui. — Buscou

minhas mãos nas suas. — Tinha certeza de que você a encontraria. — Meus

soluços me chacoalharam, e senti a mão do Oliver em meu ombro,

deixando claro que estava ali para mim. — Sua mãe era uma boa mulher, e

lamento muito que ela não esteja aqui para recebê-la, mesmo este sendo um

lugar ruim.

— E-eu não sabia que ela falecera — desabafei. — Nem mesmo tinha

conhecimento do câncer dela.

— Sinto muito por isso — disse ela. — E compreendo o quanto

descobrir a notícia desse jeito tenha te destruído. — Suspirou

dolorosamente. — Então se veio atrás de respostas, acredito que estão nesta

carta que sua mãe deixou aos meus cuidados para lhe entregar. — Vi
quando enfiou a mão entre os seios, retirou um pedaço de papel dobrado de

lá e me entregou.

Minhas mãos tremeram quando toquei a carta, e segurando o choro,

perguntei:

— Tem algo que eu possa fazer pela senhora?

— Tem sim, minha querida. — Apertou a mão que segurava a minha.

— Você pode me ajudar com uma quantia de dinheiro, pois vou apodrecer

neste lugar de qualquer forma. Eu também matei o porco abusador do meu

marido e isso me afastou da minha família. — Deu de ombros.

— Não se preocupe — Oliver respondeu por mim. — Enquanto eu

respirar neste mundo, faço questão de garantir que você tenha o necessário

para viver dignamente aqui dentro.

Os olhos da mulher se emocionaram, e ela assentiu com a cabeça.

— Deus abençoe vocês, meus filhos — disse. — Agora, peço licença

para me retirar. Foram muitas emoções para minha primeira e única visita.

— Sorriu com seus dentes amarelados.


Ficamos de pé e nos despedimos.

Meu cérebro ainda estava tendo dificuldade para assimilar tudo

aquilo. Entretanto, mal estava controlando a ansiedade para ler a carta

deixada pela minha mãe.

Assim que retornamos ao quarto de hotel que Oliver reservou para

nós, corri para cama, retirei as sandálias e me sentei, sentindo meu coração

batendo contra minhas costelas.

As mãos tremiam conforme eu segurava aquela carta.

— Vai abrir? — perguntou ele, percebendo minha hesitação.

— Este pedaço de papel carrega as últimas palavras dela —

murmurei, respirando fundo. — E meu peito, e minha mente estão tão

atordoados com as últimas descobertas que estou sentindo dificuldade para

assimilar tudo...

O colchão afundou ao meu lado quando ele se sentou.


— Você quer ficar a sós para ler? — perguntou. — Eu posso ir ao bar

do hotel, assim você terá mais privacidade em seu momento.

Sacudi a cabeça, negando.

— Não — declarei com firmeza. — Eu prefiro que você fique

comigo. — Estendi o braço, oferecendo a carta para ele. — Você poderia ler

para mim, por favor?

Notei que Oliver engoliu em seco, espantado com meu pedido.

— Sim, meu pequeno Querubim — murmurou com a voz

emocionada. — Tudo por você.

Ajeitei-me contra a cabeceira e inspirei fundo, aguardando.

Assim que Oliver começou a ler, segurei a respiração.

“Minha querida filha...

Se você está lendo esta carta, significa que eu já não estou mais aqui,

e que, enfim sucumbi a este maldito câncer. Quero que saiba que não me

arrependo de nada do que fiz, e se pudesse faria tudo novamente por você.
Desejo que você encontre um homem bom, carinhoso e que lhe ame. Espero

que você não tenha a mesma sorte que eu tive...”

Instantes depois, quando Oliver findou a leitura, se deparou com

meus olhos marejados. Porém, já não era apenas um choro de angústia, mas

sim, um choro de despedida.

Obviamente que eu não me sentia feliz pela morte da minha mãe,

todavia, compreendi o que ela fez, entendi que fez por mim, para eu poder

ter uma chance.

Quando as lágrimas incessantes inundaram meus olhos

completamente, Oliver me abraçou, apertando-me contra seu peito. Senti

seus beijos em minha cabeça dizendo:

— Sua mãe foi uma grande mulher, uma guerreira por passar e

enfrentar toda aquela situação. — Massageou minhas costas numa carícia

lenta e suave. — E se um dia, porventura, você me presentear com uma

menina, ela vai se chamar Lindsay, em homenagem a sua mãe.


Afastei a cabeça de seu peito, para encarar seus olhos, que brilhavam

para mim. Havia um turbilhão de emoções dentro do meu peito, e, ao

mesmo tempo que eu sofria pela dor da perda da minha mãe, ganhara uma

vida nova ao lado do homem que me tinha por completo.

— Está me pedindo em casamento? — Arqueei as sobrancelhas para

ele, fazendo-o sorrir maliciosamente.

— Não é oficial, mas entenda como quiser. — Afundou o rosto na

dobra do meu pescoço, enchendo minha pele de beijos, arrancando-me

risadas em meio ao choro.

Oliver me jogou contra o colchão, me mantendo em seus braços

fortes e me prometendo que tudo ficaria bem.

E eu acreditei.

Acreditei, porque depois de tudo o que o destino nos fez passar era

sua vontade que estivéssemos juntos. Então, chegara hora do meu, felizes

para sempre.
Capítulo 31

Oliver

— Quer parar de ficar olhando para essa porra de telefone? — rugiu

Ethan, cutucando meu braço enquanto estávamos sentados, um ao lado do

outro, à espera do chefe do pequeno grupo familiar da Cidade do México.

— Eu preciso da sua concentração aqui.

Franzi o cenho para ele e, em seguida, arrastei os olhos pelo seu

corpo, notando suas pernas balançando deixando claro seu nervosismo. Eu

sabia que o problema com essa negociação vinha tirando o seu sono nas

últimas semanas, sobretudo, ferindo seu orgulho, porque não conseguia


entender o que havia feito de errado, visto que, Daniel tinha o colocado a

frente para negociar, e não estava dando nada certo.

— Foi mal, cara — murmurei, guardando o celular no bolso da

jaqueta. — Mas eu precisava avisar a Linda que estava tudo bem, pois ela

fica preocupada.

Eu não me sentia confortável em ficar tantos dias longe da minha

garota, mas, infelizmente, as coisas do clube não podiam ser ignoradas.

Ethan não falou nada, pelo contrário, permaneceu exalando aquela

tensão irritante.

— Afinal, qual o seu problema? — resmunguei. — Parece que vai

explodir a qualquer momento.

Vi que seu maxilar demarcou ainda mais, com seus dentes rangendo.

— Detesto isso — gesticulou ao redor. — Detesto estar aqui para nos

humilhar por causa dessa porra. — O movimento da sua perna se

intensificou. — Porque se esse negócio não fosse o mais lucrativo que

temos, juro que mandava esse maldito velho se foder.


Abri a boca para falar, mas fui interrompido pela voz de alguém.

— O maldito velho que você diz por acaso é o meu pai? — Me virei a

tempo de visualizar uma garota de pele bronzeada, cabelos escuros e olhos

da mesma cor, parada nos primeiros degraus da escada.

Senti quando Ethan se empertigou ao meu lado, se tornando tenso

feito uma pedra.

A garota de curvas estonteantes, desceu as escadas, com os olhos

fixos no loiro ao meu lado. O vestido vermelho que usava carregava um

decote fundo, desses que faz a imaginação do homem.

Eu me recordava dela, pois foi ela quem presenteou Ethan, anos atrás,

com o medalhão o qual ele, constantemente, usava para assustar Josh.

— Entenda como quiser, garota — sibilou Ethan, impaciente.

Cutuquei-o, frustrado com sua maneira de falar. Sua grosseria com a

filha do chefe em nada nos ajudaria.

— Perdoe meu companheiro, senhorita... — fiz uma pausa para ela

poder me falar seu nome.


— Sofia — respondeu, mas não tirou os olhos do Ethan, que

continuava a ignorar.

Cocei a garganta, querendo sua atenção em mim.

— A verdade, Sofia, é que seu pai vem nos cansando há semanas, e

isso tira a paciência de qualquer um. — Sorri fraco.

— Entendo — murmurou, caminhando até nós dois, que

continuávamos sentados. Novamente, seus olhos procuraram pelo loiro. —

Mas ele vai recebê-los agora.

Rapidamente nós dois nos levantamos.

Ethan a encarou, e não perdi o momento em que os olhos dele se

detiveram no decote da garota. Sacudi a cabeça, sorrindo de seu

descaramento.

Surpreendi-me quando ela o parou, levando a mão ao seu pescoço de

modo a segurar o cordão pendurado.

— Você ainda usa o medalhão — pareceu desnorteada.


Vi quando ele olhou para baixo, para a mão pequena que segurava o

medalhão em seu pescoço.

— Foi um belo presente — disse apenas.

A garota o encarou com intensidade enquanto assentia com a cabeça.

Em seguida, gesticulou para o andar de cima, para o escritório do seu pai.

Aguardei que Ethan fosse à frente.

O largo corredor era repleto de quadros de fotos da família, e alguns

objetos decorativos.

Ajeitei a jaqueta no instante que Ethan parou diante de uma porta e

deu duas batidas. A voz do velho soou firme do lado de dentro quando

pediu para entrarmos.

Santino Guerrero se colocou de pé, atrás de sua mesa, em um

cumprimento a nós dois, quando entramos. Fiquei para trás e fechei a porta,

enquanto Ethan se adiantava.

— Finalmente vocês conseguiram um tempo para virem — comentou

ele em tom de alfinetada.


— O importante é que agora estamos aqui — retrucou Ethan. — Mas

como eu dissera antes, seria mais fácil se o senhor fosse mais acessível ao

telefone — alfinetou também.

— Olha bem para minha cara... — gesticulou ele, para si mesmo —

Você acredita que com a experiência e idade que tenho, eu confiaria nessas

merdas tecnológicas? — Arqueou as sobrancelhas em desafio. — O segredo

do sucesso dos meus negócios consiste em conversas cara a cara. Gosto de

fazer as coisas a moda antiga.

Aproximei-me da mesa, estendendo minha mão para apertar a dele e

disse:

— Então podemos nos sentar e negociar como bons cavalheiros. —

Dei uma piscadela, servindo de intermediador.

Ethan tomou um dos assentos, nitidamente contrariado.

Sentei-me também, ajeitando-me na poltrona macia. O senhor Santino

era um homem grisalho, e franzino. Os cabelos eram escassos, acumulando-

se num pequeno amontoado no meio da cabeça.


— Vamos direto ao ponto, senhores — declarou o velho, olhando de

mim para o Ethan. — Vocês estão aqui pela minha marijuana, certo? —

Deu uma pausa dramática. — Sei que nós negociamos juntos por um

tempo, porém, como eu já havia dito, não quero e não preciso de mais

nenhum cliente.

Nesse momento, Ethan se empertigou.

— Mas eu gostaria de entender o motivo para essa mudança repentina

— disse ele, eriçado. — O que fizemos de errado, senhor Guerrero? Sempre

pagamos bem, e adiantado, juro que não consigo entender o porquê está nos

cortando da negociação. Por acaso encontrou um comprador melhor, é isso?

— Não — afirmou, sem pestanejar. — Na verdade, eu já estava bem,

financeiramente falando, antes de conhecê-los. E em time que se está

ganhando, não se mexe — Se jogou contra o encosto da sua cadeira, dando

de ombros.

Ethan esbravejou:
— Isso quer dizer que o senhor não vai mais querer fazer negócios

conosco? — Seu rosto estava endurecido. — Essa é sua última palavra?

Nesse momento, o velho se levantou e seguiu até um armário perto da

mesa. Ethan e eu continuamos sentados.

— Bem... — se calou e nos encarou: — Por acaso aceitam uma

tequila?

— Sim, por favor — falei mais do que depressa. Minha garganta

estava seca, e meu corpo tenso com aquela conversa.

Ethan apenas assentiu com a cabeça.

— Posso dizer que sim, há algo que pode me fazer mudar de ideia e

voltar a fornecer toda minha produção de marijuana a vocês —

confidenciou ele, voltando a se aproximar da mesa, com os copos nas mãos.

Depositou os dois sobre o tampo da mesa de vidro. — Porém, duvido muito

que você, Ethan, tenha coragem para aceitar tal missão.

— Não duvide da minha coragem — reagiu Ethan na mesma hora. —

Qual a missão? Eu estou disposto a fazer qualquer coisa — complementou


ele, sem pensar nas consequências de suas palavras.

Nesse momento, senhor Santino voltou a se sentar em sua poltrona,

com os olhos fixos no loiro exaltado ao meu lado.

— Você teria de cuidar do meu bem mais precioso — decretou ele.

— Qual seria? — indagou Ethan, enquanto bebia um gole da tequila.

— Por acaso não seria as suas plantações de marijuana, hum? — zombou,

divertido.

— Cuidar das minhas plantações? — repetiu o velho, com um sorriso

no canto dos lábios. — Este, apenas seria mais um atributo, quase um bônus

após você aceitar minha proposta.

Revirei os olhos, ficando irritado com toda aquela enrolação. Eu não

estava nenhum um pouco contente em ficar longe da Linda, ainda mais

tendo de aturar mistério daquele velho do satanás.

Então, Ethan bateu com o copo na mesa, depois que entornou o

restante da tequila num gole só.


— Eu já disse que estou disposto a enfrentar qualquer missão, velho!

— rugiu, impaciente. — Diga-me que caralho de missão é essa? Qual é o

seu bem mais precioso que eu serei obrigado a cuidar?

De repente, alguém rompeu a porta, obrigando-nos a acompanhar a

entrada da garota atraente que nos recebeu, minutos antes no andar de

baixo.

— Você está olhando para meu bem mais precioso. — Gesticulou

Santino, em direção a sua filha.

Pisquei, demorando a fazer meu cérebro raciocinar. E quando isso

aconteceu, não resisti a gargalhada.

— O senhor está dizendo que quer obrigar Ethan a se casar com sua

filha para continuar nos fornecendo a erva? — indaguei, entre risos. —

Gostaria de saber o que se passa na sua cabeça para propor uma loucura

dessas? Por que acredita que isso vai dar certo?

O loiro ficou tão espantado que não disse nada. Parecia estar

paralisado.
Santino respondeu, gesticulando para que sua filha se aproximasse

dele.

— Eu sou um homem velho, e já falei que faço as coisas a moda

antiga mesmo — explicou, puxando Sofia para seus braços, onde lhe beijou

a testa. A garota não tirava os olhos do Ethan. — E minha filha foi criada

assim, então o que eu disser será feito!

Baixei a cabeça, preso num misto de incredulidade e diversão.

— Essa é a coisa mais absurda que eu já ouvi em toda a minha vida

— finalmente Ethan sibilou, atônito. — E olha que eu já vi e ouvi coisas

que fariam pessoas fracas fugirem para as montanhas.

Santino arqueou as sobrancelhas.

— Eu sabia que você não teria “peito” para encarar isso — alfinetou.

— Na verdade, eu queria mesmo era o Daniel, pena que ele já está casado.

Pois, tenho certeza de que ele já teria apertado minha mão.

Cobri a boca com a mão, segurando o riso enquanto observava a

tensão se acumulando no enorme corpo ao meu lado, pelo Santino ferir seu
ego. O rosto de Ethan se avermelhou de tal maneira que me preparei para

aplacar sua possível explosão, mas sua resposta me chocou. Ou melhor, a

maneira como ele respondeu me chocou.

Ethan, simplesmente se levantou da poltrona, olhou para o velho e

estendeu a mão em sua direção. Não disse nada enquanto apertava os dedos

murchos do Santino.

Nenhuma palavra.

Pisquei, ainda tentando me recuperar do choque, quando observei o

loiro abandonando a sala.

Sacudi a cabeça, me colocando de pé também e me concentrando no

velho a minha frente, ainda abraçado a filha.

— Bom, só me resta dizer que voltaremos a conversar em breve para

resolvermos os detalhes do casamento. — Estendi a mão em sua direção,

apertando a sua com força.

Menos um problema na lista.

Ou, mais um... não soube dizer.


Era madrugada quando retornamos a Dallas, Texas, dois dias depois.

Não esperei nem mais um minuto para correr em direção ao quarto,

desesperado para colocar os olhos sobre minha garota, o anjo que iluminava

meus dias.

Desde que a levei naquela viagem ao seu passado, semanas atrás, eu

senti que Linda estava mais confortável com seu futuro, mais desprendida

de suas amarras invisíveis. Ela ainda parecia sentir dificuldade em se soltar

quando eu não estava por perto, mas lentamente estávamos trabalhando

nisso.

E eu desejava vê-la florescer.

Voar.

Devagar, abri a porta do quarto e entrei. Logo, meus olhos se

detiveram na figura delicada, deitada em minha cama, com o traseiro

arrebitado onde eu podia ver a calcinha minúscula perdida entre as nádegas.


Sem fazer barulho, arranquei a jaqueta, seguido da camiseta. Depois,

tirei a botina e me debrucei sobre a cama, arrastando o nariz pela perna

torneada.

Linda se remexeu um pouco quando funguei o rosto em sua boceta,

inalando seu cheiro que eu tanto era fascinado.

— Hm... — resmungou, arrebitando o traseiro contra meu rosto,

pressionando minha cabeça ali. — Eu pensei que o veria somente ao

amanhecer — soou com a voz rouca pelo sono.

Deslizei sua calcinha para fora, ansioso demais para meter a língua no

seu broto rosado e úmido devido aos meus estímulos. Linda se virou de

barriga para cima, e seus olhos preguiçosos se encontraram com os meus,

ali, entre suas pernas abertas.

Ela ficava cada dia mais desinibida enquanto fazíamos sexo, sempre

disposta a experimentar as coisas comigo.

— Eu não aguentaria ficar mais nem um segundo longe de você, baby

— falei, avançando em sua boceta de modo esfomeado, obrigado a firmar


as mãos em suas coxas para mantê-la parada. — Estava louco para voltar e

me esbaldar em seu mel, me perder em seu cheiro e em sua voz... —

comecei a subir com beijos, me demorando um pouco mais na tatuagem que

ela fez em homenagem a nossa história.

Assim que pairei em seu rosto, sorri ao notar suas pupilas dilatadas.

Desci a cabeça, tocando nossos lábios num beijo sensual, explorando sua

boca com minha língua sedenta, repetindo o mesmo movimento com meu

quadril entre suas pernas.

— Oliver...

— Eu estou aqui — soprei, sugando seu queixo com sofreguidão.

Desesperado, dei um pulo para fora da cama e, de modo ágil tirei a

calça e coloquei uma camisinha. Retornei para a cama, mas, ajeitei o corpo

de Linda de lado, aconchegando-me de conchinha, de modo a arrastar o

nariz em seu pescoço perfumado, com seus cabelos na minha cara.

Nós dois gememos quando afundei meu pau em sua boceta melada, o

que apenas piorou minha excitação; saber e sentir o quanto ela se excitava
comigo me deixava insano. E essa sensação... essa ânsia por mais não

amenizava nunca.

E eu desconfiava que nunca amenizaria. Com Linda, eu sempre iria

querer mais.

Porque parecia jamais ser o suficiente.

Ajeitei suas pernas de modo que ficassem dobradas, e iniciei as

investidas. A princípio, lentas, mas à medida que seus gritos foram

aumentando, meu quadril foi seguindo o mesmo ritmo. Forcei a cabeça de

Linda para mim, pois eu estava desesperado para roubar seus gemidos,

‘sexy’. Pressionei a mão em seus seios, esmagando-os e beliscando seus

mamilos turgidos. Eu batia em sua boceta sem dó, implacavelmente, me

perdendo em sensações.

Éramos um só naquele momento.

De repente, as paredes pélvicas de Linda me apertaram tão gostoso

que não aguentei e acabei gozando com um urro descontrolado. Meu corpo

todo estremeceu com os efeitos do orgasmo.


Com a respiração irregular, me remexi no colchão, trocando de lado e

ficando com a cabeça nos pés da cama. Eu sabia que Linda não gozara,

então a segurei pela cintura e a fiz se sentar na minha cara, com a boceta

bem aberta para mim.

— Rebola na minha cara, baby — estimulei, apertando suas nádegas

com força, sem me importar em deixar marcas em sua pele sedosa.

Apesar de um pouco retraída pela timidez, Linda começou a se soltar

à medida que minha língua passou a preenchê-la em conjunto com meus

dedos.

Meus olhos não a abandonavam, pois, eu queria assistir todas as suas

reações. E puta que pariu! Ela parecia uma deusa quando começou a se

soltar, apertando os próprios seios e rebolando o quadril, exigindo mais dos

meus estímulos.

— Ah, Oliver... oh, puta merda!

Sorri, orgulhoso de vê-la se soltando desse jeito, se permitindo

vivenciar tudo, e ser ela mesma. Livre.


Acelerei os movimentos dos meus dedos, concentrando a pressão da

minha língua em seu clitóris, e isso fez com que espasmos invadissem seus

músculos, entregando seu orgasmo.

Vi-me hipnotizado quando ela gozou, chamando por mim num sopro

tão ‘sexy’ que quase gozei de novo apenas por assisti-la se desmanchando.

Aguardei que ela se recuperasse primeiro, em seguida, a tirei de cima

de mim. Quando se sentou ao meu lado, ergui meu tronco e avancei com

minha boca na sua querendo que ela sentisse o próprio gosto em minha

língua.

— Sinta o quanto é saborosa... — lambisquei seus lábios carnudos e

avermelhados. Passeei meus dedos por suas bochechas rubras. Os lindos

olhos verdes me encaravam, naquele peso de pura luxúria. — Você me

enlouquece.

Voltei a beijá-la, mas dessa vez, sem pressa.


— Eu fiquei com muitas saudades — soou Linda, um tempo depois,

quando estávamos deitados, com as pernas entrelaçadas.

Beijei sua cabeça.

— Sei disso, querida — murmurei, reforçando o aperto em sua

cintura. — Mas estamos juntos de novo; eu sempre voltarei para você.

Sempre — prometi.

Emocionada, ela também me apertou contra si, fungando o nariz em

meu pescoço, me causando arrepios.

— E então? Deu tudo certo na negociação com os mexicanos? —

indagou, curiosa.

Ouvi seu bocejo de sono.

— Depende do que você entende por “dar tudo certo” — respondi,

desejando rir devido à lembrança do que aconteceu.

Linda se empertigou, erguendo a cabeça para poder encarar meus

olhos zombeteiros.

— O que houve?
— Ao que tudo indica, Ethan terá de se casar com a filha do velho se

quiser que o clube mantenha negócios com ele.

Linda não escondeu o espanto, além da risada.

— Imagino que ele deve estar bem irritado — comentou, entre risos.

A acompanhei na risada.

— Irritado não é bem a palavra, querida... — beijei sua testa,

inspirando seu cheiro. — Agora, durma — pedi. — Durma, porque preparei

algo especial para você amanhã.

— Uma surpresa? — Seus olhos brilharam nos meus.

— Sim. — Toquei seu rosto corado.

Em seguida, aninhei-a em meu peito, sem conseguir parar de sorrir. E

mesmo se eu quisesse não conseguia arrancar o sorriso idiota dos meus

lábios.
Capítulo 32

Linda

O dia estava amanhecendo quando Oliver me acordou, avisando que

nós precisávamos partir. Obviamente que todo aquele mistério estava me

deixando nervosa, embora não de um jeito ruim, mas pela curiosidade

mesmo.

E isso piorou bastante quando deixamos o prédio da diretoria e

percebi que boa parte dos integrantes estava reunida no pátio, prontos para

partirem conosco.

— O que você está aprontando? — sussurrei a pergunta ao Oliver,

que me deu um beijo estalado na boca em resposta.


Subi em sua garupa e, instantes depois, nós partimos.

Desde que descobri sobre a morte da minha mãe, e tudo o que

aconteceu na sua vida depois que fui embora, algo mudou em meu âmago.

Comecei a entender que o que ela fez foi para eu poder viver. A culpa ainda

insistia em me atormentar, embora não com a força de antes. Fosse onde

fosse que minha mãe estivesse, eu tinha certeza de que ela estaria me

olhando, me protegendo.

Minha relação com o Oliver estava cada vez mais intensa, e,

gradualmente, eu vinha aprendendo a desapegar, porque ele insistia na ideia

de eu voar com minhas próprias asas. E eu o compreendia. Entendia que

nós éramos um casal sim, mas precisávamos cuidar da nossa

individualidade, para podermos lutar nossas próprias batalhas pessoais.

Obviamente que era muito confortável tê-lo sempre comigo, lutando

por mim e me protegendo debaixo de seus braços; mas Oliver estava certo.

Eu precisava encontrar minhas próprias asas e voar por mim mesma.

Ao lado dele, e não nas costas dele.


Dispersei meus pensamentos no momento que todas as motos

adentraram a um trecho montanhoso de estrada. Eu não fazia ideia do

motivo para estarmos ali.

Quando Oliver parou, retirou o capacete enquanto eu retirava o meu

também. Ajeitei os cabelos devido ao vento forte.

— Por que estamos aqui? — indaguei, olhando ao redor, encantada

com a beleza do lugar.

Desci da moto, agitada demais para permanecer parada. Eu desejava

explorar o lugar magnifico.

De repente, Oliver se aproximou de mim, com um rapaz de cabelos

estilo dreadlocks.

— Este aqui é o Maxwell — apresentou-nos. Aceitei quando o

homem estendeu sua mão para apertar a minha. — Ele é fotógrafo, e vai

fazer um ensaio nosso, de casal.

Arregalei os olhos, atordoada com aquela declaração.


— Um ensaio fotográfico? — repeti, ainda assimilando, embora não

escondesse o quanto aquilo me deixou feliz.

Aproximando-se, Oliver enlaçou minha cintura com seu braço

possessivo, me roubando um beijo.

— Gostou da ideia? — quis saber, ansioso.

Soltei uma risadinha, voltando a olhar para todos os lados.

— Eu amei! — exclamei, deslumbrada. — Só não entendi o motivo

para todos estarem presentes. — Apontei para o pessoal que se espalhara.

— Você sabe que sou tímida, Oliver — lembrei-o. — Então, não sei se

ficarei confortável para ser fotografada tendo tantos olhos sobre mim.

Dessa vez, foi ele quem sorriu, me puxando para ele de modo que eu

ficasse com as costas contra seu peitoral. Gemi ao ter seus lábios tocando

meu pescoço e orelha.

— Eles estão aqui, porque faremos um making off das fotos —

explicou, deixando-me aturdida. — E como são a nossa família, nada mais

certo do que estarem junto nesse momento.


Peguei-me sorrindo, encantada com sua escolha de palavras.

— Eu adoro quando você fala assim... nossa família.

Novamente de frente para ele, Oliver me encarou com aquele olhar

intenso que me enfraquecia.

— Amo você — declarou, enchendo meu coração de amor.

Meus olhos nublaram, mas não chorei, apenas me senti emocionada

como sempre acontecia quando ele se declarava para mim.

Minutos depois, iniciaram as preparações para as fotos. O fotógrafo

levara uma pequena equipe para auxiliar, com figurinos e um camarim

móvel para eu poder trocar as roupas.

Adela estava junto em cada troca, me estimulando e dizendo o quanto

eu estava linda e incrível.

Lentamente, fui me sentindo mais confiante com os closes e me

esquecendo que nós dois tínhamos plateia. Concentrei-me apenas no Oliver,

o homem que mudou a minha vida, não somente por ter me libertado do
cativeiro em que eu estava, mas por ter me resgatado de mim mesma. Ele

me encontrou quando eu nem mesmo sabia estar perdida.

Então, todos os meus sorrisos eram dele.

Para ele.

Em determinado momento, Max deu a ideia de finalizarmos o ensaio

com uma foto fofa, onde nós dois estivéssemos vendados. Oliver foi o

primeiro a ser vendado e, em seguida, fui eu.

Entretanto, segundos depois, Oliver soltou minha mão, e me pediu

para tirar a venda.

Quando fiz isso, precisei de muito esforço para não desmoronar ali

mesmo, naquele Canyon. Oliver estava ajoelhado aos meus pés, com uma

caixinha de veludo aberta, onde um lindo anel brilhava para mim.

Cobrindo o rosto numa tentativa de aplacar as lágrimas insistentes,

olhei ao redor, me deparando com todos em silêncio, assistindo. Adela

fungava baixinho, emocionada. Eles sabiam de tudo.

Aquela era a surpresa, e não o ensaio de fotos.


— Oliver... — murmurei seu nome com a voz embargada. — Você

me... — engoli com dificuldade. — Você me enganou! — consegui dizer,

fazendo-o sorrir.

Pediu minha mão, e eu estendi para ele.

— Minha princesa, você sabe o quanto eu a amo, o quanto você

mudou meu mundo — começou a dizer, tão emocionado quanto. — Hoje,

eu sei que não existe felicidade longe de você. Eu quero construir

infindáveis memórias e uma família com você. Quero superar dificuldades e

festejar conquistas ao seu lado. — Não consegui segurar os soluços. —

Atravessamos alguns momentos complicados e nem sempre estive à altura

das situações, mas ao seu lado tudo parece mais fácil, tudo parece mais

leve.

— PEDE LOGO, PORRA! — gritou alguém, fazendo Oliver desviar

o olhar e mostrar o dedo do meio para a pessoa em questão. A risada

inundou o ambiente, misturada ao barulho do vento.


— Tenho muita sorte de ter encontrado você, e agora que encontrei,

quero viver diariamente ao seu lado — Oliver continuou. — Amo você

demais e a verdade é que não quero mais passar nenhum segundo sem você.

Meu amor, meu pequeno Querubim, você quer casar comigo?

Ainda mais emocionada do que antes, deixei minhas pernas

amolecerem e me ajoelhei em sua frente, amparando seu rosto com minhas

mãos trêmulas.

— Não acredito que você fez tudo isso por mim, para me fazer essa

surpresa — murmurei, com os lábios nos seus.

Fungando, afastei o olhar, fixando meus olhos no lindo anel. Sorri em

meio as lágrimas ao notar o designer da joia, um coração com asas.

— E então? Você aceita? — insistiu Oliver. — Aceita se tornar a

minha old lady?

Aos prantos, me joguei em seus braços, enchendo seu pescoço de

beijos.

— É claro que eu aceito! Sim, mil vezes sim!


O alvoroço ao nosso redor foi estrondoso enquanto Oliver deslizava o

anel em meu dedo.

O sorriso que ele me ofereceu foi a melhor parte de toda aquela

surpresa inusitada.

Se levantou, me puxando com ele, escondendo-me em seus braços

fortes e protetores. Beijou-me apaixonadamente, antes de me afastar um

pouco, sem esconder aquele sorriso brilhante.

— Aqui está, irmão. — Daniel se aproximou de nós dois, carregando

um embrulho. Oliver pegou de suas mãos e, em seguida, retirou uma

jaqueta de dentro.

Fechei os olhos quando meu primo depositou um beijo em minha

testa, deixando nítido sua felicidade por mim.

Voltei minha atenção para a jaqueta de couro em minhas mãos, que

carregava meu nome na frente em tom rosa, com o brasão do clube. Na

parte de trás dizia: OLDY LADY DO OLIVER.

Não perdi tempo e a coloquei, auxiliada por Oliver.


Agarrando-me pelo couro da jaqueta, ele voltou a me beijar, roubando

meu fôlego e meus gemidos. Não havia mais plateia.

Não havia mais nada.

Era apenas nós dois.

Eu, ele e nosso amor.

Dois meses depois

— Ah, você está tão linda — comentou Adela, emocionada.

Ultimamente, ela estava mais sensível devido aos hormônios aflorados por

conta da gravidez que descobriu há algumas semanas. Na ocasião, nós

ficamos todos empolgados com a notícia de que logo teria uma criança para

bagunçar essa família.

Sorri, me encarando no espelho.

Meu vestido era rendado, pouco abaixo dos joelhos. Eu não quis usar

um de noiva. O véu enfeitava meus cabelos cacheados.


— Estou bem nervosa — falei, passando as mãos pela renda branca.

A ruiva veio até mim, segurando minhas mãos frias.

— O nervosismo é normal — alegou. — Senti a mesma coisa na

minha vez. — Deu um sorrisinho.

Nesse momento, ouvimos uma batida na porta. Era o Daniel.

Não perdi a maneira como seus olhos brilharam ao se arrastarem pelo

meu corpo envolto naquele vestido. Meu primo estava nitidamente feliz por

mim.

— Você está deslumbrante! — exclamou ele com um sorriso que me

deixou emocionada. — Estou muito feliz e orgulhoso de você, querida. —

Me puxou para beijar minha testa. — E saiba que eu não estaria te levando

para um homem o qual eu não tivesse certeza de que cuidará de você como

merece, Linda. Oliver é um bom homem, uma excelente escolha.

Fechei os olhos, inspirando fundo para não chorar.

— Você vai fazê-la chorar e borrar a maquiagem, amor — murmurou

Adela, com as lágrimas deslizando em seu próprio rosto.


Daniel e eu rimos, divertidos com a situação engraçada.

Adela era uma figura.

A cerimônia estava acontecendo no pátio do clube, com todos os

nossos amigos reunidos, além de alguns integrantes do moto clube do Eric,

aos quais eu já aprendi a confiar.

A decoração estava linda, com flores por todos os lados, inclusive no

chão, especificamente no caminho que me levaria até ele.

Oliver.

De braços dados com Daniel, comecei a encurtar o espaço que me

separava do homem que fazia meu coração parar de bater apenas com um

sorriso.

O homem que me desnudava apenas com o olhar.

Aquele era o espaço que me separava da minha felicidade certa, a

felicidade plena.
Mesmo me esforçando muito, não consegui segurar a emoção e já

estava chorando quando Oliver e eu ficamos frente a frente. Daniel disse

algumas palavras para ele, mas não prestei atenção. Minha concentração

estava em admirar o belo exemplar de homem que roubou meu coração

para si. Oliver acolheu meu rosto choroso, erguendo o véu e me beijando

nos lábios de maneira cálida.

— Meu pequeno Querubim — soprou intensamente.

Sorri para ele, encantada.

Seu traje continuava o mesmo, couro. Ele não quis colocar o terno, e

eu não fiz questão disso. O mais importante era o significado do que

estávamos fazendo.

O reverendo iniciou a cerimônia, e começamos a prestar atenção.

Depois disso, recitamos os votos, que fez com que eu me debulhasse em

lágrimas outra vez.

O momento da troca de alianças foi marcado pelo alvoroço dos

demais, atiçando o sangue em minhas veias.


Assim que fomos declarados marido e mulher, me assustei com o

barulho de motos sendo aceleradas. Oliver me segurou contra seu corpo

forte, rindo comigo e enchendo meus lábios de beijos.

Quando os nossos — os lobos — começaram a fazer o som

característico dos integrantes do clube, Oliver entrelaçou nossos dedos,

jogou a cabeça para trás e uivou também.

Num misto de emoções que fervia em meu peito, fiz a mesma coisa e

uivei alto, deixando mais do que claro que eu era parte deles também. Eu

era uma loba.

E acabara de me tornar a esposa do meu protetor.

Ao voltar a olhar para frente, me peguei sendo admirada de perto pelo

Oliver.

— Agora você carrega meu sobrenome — afirmou. — Minha para

sempre, porra! — Enlaçou-me pela cintura, apertando minha carne com

seus dedos ansiosos.

Enrolei seu pescoço, mordendo os lábios nervosamente.


— Sua para sempre... porra!

Jogou a cabeça para trás, dando risada por eu falar uma palavra suja.

Arquejei, no segundo em que sua boca tomou a minha de assalto num

beijo estonteante.

O primeiro beijo agora que estávamos casados.

O primeiro beijo do nosso, felizes para sempre.

FIM
Epílogo

Oliver

Os raios do sol iluminavam o corpo tentador e, completamente nu de

uma Linda adormecida na nossa cama.

Nossa cama.

Eu ainda custava a acreditar que nós dois estávamos casados há pouco

mais de um mês. Foram tantas reviravoltas desde que tudo se iniciou lá

atrás, há quase um ano, que acordar hoje e me deparar com essa visão era

surreal, de tirar o fôlego.

Linda amadureceu bastante nos últimos meses, o que muito me

orgulhava, depois de tudo o que ela passou em sua vida. Na verdade, eu


sentia como se nós dois houvéssemos nos encontrado para um completar o

outro, pois eu não conseguiria me completar sozinho. Não conseguiria

aceitar o amor.

E amá-la se tornou minha meta de vida.

Fazê-la feliz era meu passatempo favorito.

Lambendo os lábios, me aproximei da cama e deixei a bandeja com o

café da manhã sobre a mesa de cabeceira. Em seguida, não resisti a tentação

e tirei minha calça, ficando nu, e me arrastei pelo colchão ansiando afundar

minha cara entre as pernas torneadas.

E foi isso que eu fiz.

Linda se remexeu automaticamente, sentindo minha língua em sua

boceta. Resmungou palavras incoerentes e roucas, pela sua voz sonolenta, o

que me fez rir. E minha risada fez com que seu corpo estremecesse devido à

vibração da minha voz ali, naquele local tão sensível.

Ansiosa e, audaciosa, minha garota me empurrou, forçando minhas

costas contra o colchão. Logo, tive a visão de seu rosto corado e cabelos
bagunçados. Eu amava que ela não precisasse de esforço algum para manter

a beleza; sempre se parecia com um anjo para mim.

— Bom dia! — saudou ela, fechando os olhos enquanto se sentava no

meu pau de uma vez só, engolindo-me com sua boceta gulosa encharcada.

Trinquei os dentes com a sensação devastadora, e avancei as mãos em seus

seios durinhos, empinados para meus olhos.

— Oh, merda! — Mordi os lábios, agarrando seu quadril e indo de

encontro aos seus movimentos, torturantemente lentos. A visão de meu pau

entrando e saindo de sua boceta me levava a loucura. Antes mesmo de nos

casarmos, Linda se consultou com um médico especialista, que lhe receitou

um método contraceptivo, o que agradeci, pois, não via a hora de poder

fodê-la sem a porra da camisinha. Pelo no pelo.

Linda espalmou ambas as mãos em meu peito, de modo a ter mais

impulso nos movimentos de sobe e desce.

Em determinado momento, tomado pelo (tesão), ergui o tronco e, com

uma mão segurei sua nuca para avançar em sua boca gostosa, e, com a outra
firmei sua cintura para conseguir investir em sua boceta com mais força e

velocidade.

— Amo quando você me fode, baby, mas não estou conseguindo

controlar o tesão… — aleguei contra sua boca inchada pelos meus beijos.

— Preciso gozar dentro de você… oh, porra!

Levei a boca ao seu pescoço e ombro, mordendo sua pele suada e

macia.

Linda estremeceu toda, arranhando minhas costas enquanto jogava a

cabeça para trás, perdida na própria bolha de prazer. Aproveitei a posição

para chupar seu seio, arrancando-lhe um grito excitado.

Quando sua boceta começou a ordenhar meu pau, entendi estar

gozando, então acelerei os movimentos em busca de minha própria

libertação.

Gozei com um urro, mordendo seu lábio inferior. Nunca era

suficiente, puta que pariu!

Essa garota era tudo.


Sentindo a respiração irregular, me concentrei em seus traços

perfeitos, hipnotizado pelo rubor costumeiro que abrilhantava suas

bochechas.

— Bom dia! — respondi sua saudação de minutos antes, sorrindo

para ela como um libertino. — Trouxe seu café da manhã.

— Notei — brincou, remexendo-se em meu colo e me fazendo gemer,

pois, ainda estávamos conectados. — Adoro receber leite pela manhã. —

Inclinou a cabeça e tocou nossas bocas, sugando meu lábio com o seu e o

puxando com os dentes.

— Puta que pariu, mulher! — exclamei, excitado. — Desse jeito você

me acaba.

Sua risada soou, inundando o quarto com o lindo som. Eu amava vê-

la assim, tão livre, leve… feliz.

Saiu do meu colo, jogando-se na cama. Meus olhos brilharam quando

vi minha porra escorrendo de sua boceta, lambuzando suas coxas. Apenas

essa visão serviu para me deixar duro de novo.


— Que horas são? — perguntou ela, totalmente alheia ao meu tesão

desenfreado, remexendo na bandeja com tudo o que preparei para seu café

da manhã.

Disposto a ignorar meu pau duro, porque planejei algo especial para

ela naquele dia, decidi me colocar de pé e sair da cama. Precisava me

afastar da tentação, ou não sairíamos dali tão cedo.

Sorri quando a encarei e notei o brilho do sol resplandecendo a

aliança em seu dedo. Minha.

Linda era minha.

Para sempre.

Na mesma hora, me recordei da nossa viagem de lua de mel.

Viajamos de moto por uma semana, comigo, apresentando meus lugares

favoritos para ela. Nos aventuramos, sem a mínima pressa, pois tínhamos

um ao outro. Acima de tudo, nós éramos parceiros.

— Ainda é cedo — respondi sua pergunta, dispersando as

lembranças. — Mas tenho uma surpresa para te mostrar.


Nesse momento, ela parou de comer e me encarou com olhos

curiosos.

— O que está tramando dessa vez? — quis saber, sorrindo de maneira

nostálgica. Eu sabia que ela estava se lembrando do momento inusitado a

qual lhe pedi em casamento. Foi realmente surpreendente, e levei uma

semana para organizar tudo, com a ajuda dos meus irmãos. Eu queria que

fosse algo perfeito, a altura da minha garota.

— Se eu contar não será surpresa, hum? — Pisquei um olho para ela

e, em seguida, rumei para o banheiro. — Espero você no banho, baby.

Há duas semanas, Linda voltou a estudar, o que, para mim, foi um

passo enorme para sua liberdade emocional e física. Eu amava que ela se

sentisse confiante e segura comigo, mas ela precisava dessas mesmas

emoções quando estivesse sozinha.

Então, acompanhar sua evolução estava sendo incrível, e eu me

orgulhava de fazer parte disso.


Freei a moto quando chegamos ao nosso destino.

Tirei meu capacete e aguardei Linda descer da garupa, arrancando seu

capacete também.

Visualizei as pequenas rugas que se formaram em sua testa quando

fixou a atenção na casa a nossa frente.

— Não entendi — resmungou. — Por que estamos aqui, na casa que

foi do meu pai?

— Falou certo, foi do seu pai, querida — afirmei. — Agora, ela é sua

— lembrei-a.

Desci da moto também e, em seguida, a apoiei no tripé.

— Sim, ela é minha — falou. — Mas ainda não entendi o motivo para

estarmos aqui.

Respirei fundo, olhando para a casa. Coloquei-me ao lado de Linda,

enlaçando sua cintura com meu braço possessivo.

— Você comentou que tem o desejo de ajudar garotas que sofreram o

mesmo abuso que você sofreu — declarei, tendo sua atenção na mesma
hora. A intensidade daqueles olhos sempre me enfraquecia. — Então,

Daniel e eu conversamos... — gesticulei para a casa —, por que não

construirmos uma ONG aqui, neste lugar?

Linda arregalou os olhos, parecendo assimilar minha declaração.

— Eu e você temos nossa própria casa, Linda, porque tudo o que é

meu, agora é seu. — Sorriu com minhas palavras. — Então, este local está

parado no momento — continuei dizendo, referindo-me a casa do seu pai.

— Podemos contratar uma pequena equipe para auxiliá-la, pessoas de nossa

total confiança, claro. Adela poderá estar com você também, ainda mais

agora que está grávida e tudo o que sabe fazer é comer. — Ambos rimos

com meu comentário.

Linda permaneceu em silêncio por um tempo depois disso, pensativa

sobre tudo.

— Então? O que me diz? — Me coloquei em sua frente, buscando seu

olhar.

Inspirou o ar, enquanto fechava os olhos.


— Linda...? — Me preocupei.

— Chame meu nome de novo? — pediu ela, e um belo sorriso surgiu

em seus lábios carnudos. — Chame, porque quero ter certeza de que não

estou vivendo um sonho.

Voltou a me presentear com o verde de seu olhar.

Sorri, aliviado. Abracei sua cintura quando se aproximou de mim,

agarrando-me pelo pescoço.

— Não tenho palavras para descrever o que você representa na minha

vida, Oliver — murmurou ela, emocionada. — Você cuidou das minhas

feridas externas, depois cuidou das minhas feridas da alma... e agora,

continua me mimando. O seu amor foi e sempre será meu melhor presente.

Todavia, não consigo expressar minha gratidão por isso... — apontou para a

casa, referindo-se a ideia da ONG — Será maravilhoso se eu puder fazer

por essas garotas, um terço do que você e o clube fizeram por mim.

Acariciei seu belo rosto, fascinado pela sua beleza, mesmo chorando.

— Tudo por você, meu amor, meu pequeno Querubim.


Sorriu.

— Eu amo você — soprou, aproximando a boca da minha.

— Não, querida... — deslizei o nariz no seu —, eu amo mais.

Unimos nossas bocas num beijo de amor.

De cumplicidade.

E de promessas de pura felicidade.

Porque, eu não aceitaria menos que o melhor para ela, minha garota.

Meu pequeno Querubim.

FIM
OBSTINADA — Livro 3

Prólogo

Ethan

Eu estava tendo dificuldade em me concentrar em qualquer outra

coisa que não fosse a boca fabulosa da Tiffany em volta do meu pau; de

todas as putas do clube, ela era minha preferida.

Mordi os lábios enquanto embrenhava meus dedos em seus cabelos

loiros, forçando sua cabeça contra mim, exigindo mais.

— Oh, porra! — exclamei quando a vadia chupou minhas bolas, sem

deixar de me acariciar com sua mão.

Estávamos num dos quartos de foda do clube, entretanto, eu me

mantinha vestido, com exceção da calça abaixada até os joelhos. Tiffany

estava completamente nua, com aqueles cabelos loiros deslizando pelos

ombros e costas.
— Puta merda, Tiff! — Joguei a cabeça para trás, sentindo os

músculos das minhas pernas, tensos com a aproximação do orgasmo.

Enrolei seus cabelos em uma das minhas mãos, e comecei a

impulsionar o quadril para frente e para trás, praticamente, fodendo sua

boca. E a vadia nem sequer se engasgava.

De repente, alguém esmurrou a porta.

— O prez quer falar com você, Ethan. — Reconheci a voz do Joshua.

Fechei os olhos, me concentrando somente na boca macia da garota aos

meus pés. Josh esmurrou a porta outra vez: — Então é melhor tirar o pau de

qualquer buraco que estiver agora, ou o prez virá até aqui pessoalmente —

ameaçou.

Trinquei os dentes, preso entre a irritação e o tesão causado pela

sensação da boca da Tiff.

Quando senti minhas bolas enrijecendo, foquei toda minha energia

em gozar, então acelerei meus movimentos contra a boca experiente. Gozei

com um urro, jogando a cabeça para trás.


Sentindo a respiração irregular, olhei para baixo, observando a vadia

chupando meu pau, deixando-o limpo. Ela era tão safada que me encarava

com olhos os brilhantes de pura excitação. Eu podia notar que uma de suas

mãos estava perdida entre suas pernas, onde se masturbava.

Inclinei-me, acariciando seu rosto bonito.

— Preciso ver o que o prez quer comigo, mas me espere aqui —

avisei, deslizando os dedos pelos seus lábios inchados. — Vou foder sua

boceta a noite toda. — Sorri maliciosamente, observando-a espelhar meu

sorriso depravado.

Dizendo isso, me afastei e ajeitei minha calça. Logo, deixei o quarto.

***

Daniel estava em seu escritório quando o procurei minutos após

deixar Tiffany no quarto. O rosto do meu líder e melhor amigo estava tenso,

deixando claro que algo estava errado.

— O que foi? Que cara de bunda é essa? — intimei, fechando a porta.


— Tivemos um problema no carregamento de armas que estava a

caminho da fronteira com o México — respondeu, esfregando o rosto. —

Não sei de maiores detalhes, porque a ligação caiu. Então preciso que você

vá até lá. O motorista está parado no meio do nada. — Olhou para seu

relógio de pulso. — Não posso ir junto, porque Adela está passando mal

com toda essa porra de enjoo. — Fez uma careta, deixando um suspiro

frustrado escapar.

— Ainda não acredito que você vai ter um “lobinho” — comentei,

sorrindo. — É difícil imaginar você como pai.

Trilhei o espaço, ansioso para molhar minha garganta com uma

bebida quente.

— Difícil, por quê? — indignou-se, se remexendo todo na cadeira. —

Pois saiba que eu serei o melhor pai da porra desse mundo!

Dei risada.

— Já se conformou com a ideia de disputar a atenção da ruiva? — O

encarei, notando a careta de desagrado tomar conta de seu rosto. Gargalhei.


— Os meses estão passando, então já vai se acostumando.

— Justamente, os meses estão passando — repetiu minhas palavras,

porém em tom de ironia. — Quando pretende assumir seu compromisso

firmado com a filha do senhor Guerrero? Você deu sua palavra, então

precisa cumprir essa porra!

Meu rosto foi tomado de desgosto.

Servi-me com uma dose de Bourbon, entornando uma boa quantidade

da bebida forte. Apenas a menção àquele assunto de casamento já bastou

para fazer minha pressão aumentar, e meu coração acelerar gradativamente.

Era óbvio que eu estava protelando toda aquela merda, porque eu não

queria me casar. Não queria me amarrar a ninguém, sobretudo, com aquela

garota maluca.

Conheci Sofia Guerrero anos atrás, quando Daniel e eu estávamos

buscando aumentar nossa rede de negócios, então fechamos um acordo

comercial com o pequeno grupo familiar que produzia uma erva de

qualidade. Foi nessa época que Daniel conheceu Adela, e desde então não
se desgrudaram mais. Presenciar a felicidade deles, ainda mais agora, com o

bebê a bordo, me enchia de orgulho. Foi um caminho árduo que os dois

tiveram que trilhar para chegar onde estavam.

O chefe da família Guerrero era um homem sério e desconfiado, o

que dificultou um pouco nossa aliança. Desde as primeiras reuniões, meus

olhos não desgrudaram da Sofia, única filha do velho; a garota, de cabelos

escuros e olhos mais escuros ainda não me deixava em paz, sempre me

provocando e demonstrando que me queria tanto quanto eu a queria. Então,

nosso envolvimento foi inevitável. Transamos duas vezes, como dois

loucos. Eu precisava admitir que foram as duas melhores fodas da minha

vida, e poderíamos ter continuado se eu não tivesse notado que Sofia

começou a demonstrar um apego emocional por mim e isso não fazia parte

dos meus planos. Eu não queria envolvimento emocional com ninguém.

Apreciava demais minha liberdade para me amarrar a alguém, mesmo esta

tendo uma boceta viciante como era o caso da mexicana.

Depois que aceitei seu presente, um lindo medalhão antigo, passei a

ignorá-la. Não pretendia enganá-la com um relacionamento utópico, então


tive que cortar o mal pela raiz.

Entretanto, não esperava que, anos mais tarde, fosse feito a porra de

um acordo de casamento entre nós dois

Embora sentisse orgulho do meu prez e melhor amigo ao vê-lo com

sua garota, me sentia sufocado com a ideia de me casar também. Eu sabia

que precisava enfrentar aquela porra e parar com a tortura da espera, dado

que, não havia outra escolha. O negócio que o clube tinha com o pai de

Sofia era o mais lucrativo do clube, então eu, como vice-líder precisava

abdicar das minhas vontades pelo pach. O moto clube vinha em primeiro

lugar.

— E eu vou cumprir minha palavra — respondi, sem esconder a

irritação na minha voz. A tensão se apoderou do meu corpo.

— Quando? — intimou ele. — Não pense que o velho vai continuar

esperando pela sua boa vontade, Ethan. Já se passaram três meses desde que

firmou o acordo de casamento. Não me faça intervir nessa porra, porque o

único filho que eu tenho, ainda está na barriga da minha mulher.


Não resisti ao desejo de sorrir.

Tomei mais um gole de bebida.

— Josh vai comigo? — perguntei, mudando de assunto e focando no

problema do carregamento. O assunto “casamento” tirava minha paz.

Daniel suspirou, irritado com minha enrolação. Era óbvio que aquele

peso recairia nos ombros dele, pois era o líder.

— Não — respondeu, seco. — Ele, Colin e Justin saíram para

resolver alguns problemas com as corridas. — Esfregou o rosto novamente.

— Então, infelizmente você terá de resolver isso sozinho.

Sacudi a cabeça, assentindo.

— Deixa comigo — murmurei, pegando uma das poltronas. — Me

passe os detalhes do que sabe.

***

No fim das contas, descobri que o problema era dois pneus furados do

caminhão. E pelo fato de o motorista estar sozinho, e ser um senhor de

setenta anos, obviamente não daria conta de fazer a troca. Ainda mais
estando com o caminhão carregado de armas ilegais, parado no meio do

deserto.

Longas horas depois, de uma corrida acelerada, avistei o caminhão

parado na estrada.

Desacelerei a moto e parei. Verifiquei o local, atento a qualquer

movimento suspeito. Desci da moto e, em seguida, peguei minha pistola e

avancei em direção a cabine do caminhão.

Entretanto, não me preparei quando fui cercado por homens de

balaclavas; era um grupo grande.

— Quem são vocês? — indaguei, olhando ao redor em busca de uma

possível fuga. Fui cercado.

Contei oito deles.

— Você pode optar por se entregar e facilitar nosso trabalho —

começou a dizer o homem que estava mais próximo a mim. Não reconheci

o sotaque. — Ou lutar e tornar essa porra mais difícil. Você escolhe.

Travei o maxilar, furioso com a audácia do infeliz.


— Eu escolho meter uma bala bem no meio da sua cabeça, seu cuzão!

— Engatilhei minha pistola, mas fui desarmado antes que pudesse ir

adiante.

Então iniciei uma luta corporal mesmo, pois não facilitaria em nada.

Jamais me entregaria sem lutar. Eu não fazia ideia da identidade deles, mas

ficou mais do que claro que tudo, sobre o problema com o carregamento no

caminhão, não passou de uma armadilha para mim, para o moto clube.

Esforcei-me ao máximo, mas quando menos previ fui atingido pela

coronha da arma e isso me fez apagar.

Apaguei, sem nem saber com quem estava lidando.

***

Não fazia ideia de quanto tempo fiquei apagado quando acordei,

sentindo minha cabeça latejando e sangrando um pouco no local atingido.

Pisquei, olhando ao redor e me deparando com um quarto limpo e bem

cuidado, o que apenas piorou minha confusão.


Com dificuldade, me levantei da cama em que estava e me sentei.

Esfreguei o rosto, querendo reaver o controle do meu raciocínio, pois

precisava dele para sair daquela enrascada, fosse ela qual fosse.

Enfiei a mão nos meus bolsos, encontrando-os vazios, pois

obviamente meus pertences foram levados, o que dificultava meu pedido de

ajuda aos meus irmãos.

— Porra! — resmunguei comigo mesmo.

Respirando fundo, voltei a olhar ao redor, atento a qualquer detalhe

que pudesse me tirar dali, ou me dizer onde eu estava.

O quarto era completo, roupeiro e cama no estilo Dossel. De pé,

caminhei até a vidraça da janela, tomando o cuidado de não me aproximar

muito; franzi o cenho ao perceber que eu estava numa espécie de Aras.

Não tive muito tempo para raciocinar, pois, a porta foi aberta

abruptamente e dois homens entraram, com suas armas apontadas.

Rangendo os dentes, me obriguei a erguer as mãos.

— Ajoelhe-se! — exigiu um deles, naquele sotaque estranho.


— Quem são vocês? O que querem comigo? — perguntei.

— Ajoelhe-se! — repetiu, se aproximando.

— Seja o que for que estiverem pensando em fazer comigo, saibam

que meus amigos virão atrás de mim e...

Fui calado por um chute na minha perna, que me obrigou a ajoelhar.

— Filho da puta! — rosnei, furioso.

— Assim está bem melhor! — ironizou ele, inclinando o rosto para o

meu. Eu ainda não sabia suas identidades, porque continuavam com as

balaclavas.

O outro foi para trás de mim, amarrando meus pulsos, além de

colocar um par de algemas também.

Todos os meus instintos berravam enquanto observava cada

movimento deles.

Fui erguido e forçado a me sentar na cama novamente. A todo

momento estava sob a mira das armas.


Subitamente, notei quando um deles se afastou e foi até a porta e, em

seguida, fez sinal para alguém. Meu coração acelerou assim que uma figura

inusitada surgiu em meu campo de visão, a qual julguei ser feminina devido

à burca. Mas no momento não pude ter certeza, considerando que cada

milímetro da pessoa estava coberto pelo tecido azul.

O homem fez sinal para o parceiro que continuava no quarto, e,

prontamente, os dois se afastaram, me deixando com aquela figura

misteriosa.

Ao entrar, fechou a porta na chave, o que só serviu para aumentar

minha curiosidade e expectativa.

Em silêncio, caminhou até a porta que tinha num dos cantos do

cômodo, provavelmente o banheiro, e, minutos depois, retornou. Tinha uma

bacia nas mãos.

Aproximou-se da cama devagar e, sem dizer uma palavra depositou a

bacia com água sobre a cama. Fiquei surpreso quando ela se ajoelhou diante

de mim e levou as mãos até minhas botinas, arrancando uma de cada vez.
Em seguida, pegou a bacia com água, afundou um pano e começou a lavar

meus pés.

Obviamente que aquilo tudo era muito insano e, minha mente se

esforçava ao máximo para entender toda aquela merda, mas eu estava tão

fascinado por aquela mulher aos meus pés, toda misteriosa, que não estava

conseguindo raciocinar direito. Eu só conseguia prestar atenção nela e em

suas ações.

Minutos depois, as mãos delicadas se arrastaram para cima, no meu

couro. Fiquei de pé para ela poder tirar minha calça, já que deduzi ser o que

ela queria fazer. Como eu não usava cueca, meu pau pulou na cara dela, em

riste, devido a toda excitação que aquela aura de mistério estava me

causando.

Voltei a me sentar no colchão, trincando os dentes ao sentir as

pequenas mãos sob minhas coxas, passando o pano umedecido em água

morna na minha pele. Foi impossível segurar o gemido quando o toque

delicado chegou ao meu pau. Forcei minhas mãos a se soltarem das


amarras, mas não conseguia. Surpreendi-me por perceber que, naquele

instante, meu desejo nem era me libertar para ir embora, mas sim para tocar

aquela mulher e poder enxergar seu rosto.

Segurei a respiração no segundo em que ela ergueu — um pouco — a

parte da burca que cobria seu rosto e inclinou a cabeça, perdendo-se entre

minhas pernas, abocanhando meu pau com tudo. Joguei a cabeça para trás,

apertando meus punhos com tanta força que chegava a doer. Ergui meu

quadril, moendo conforme os movimentos da boca macia.

— Oh, porra! — exclamei, tão excitado que não estava conseguindo

me controlar. — Quem é você?

Ouvi o som da sucção quando ela soltou meu pau, porém, não deixou

de me lamber, chupando e dando mordidinhas.

Senti suas mãos apertando minhas bolas, massageando-as, enquanto

voltava a me abocanhar com sofreguidão. A língua pincelava a cabeça,

numa pressão calculada, apenas para me enlouquecer.


Quando o orgasmo chegou me arrebatou tanto que minha garganta

ardeu com o grito que escapou. A desgraçada lambeu toda minha porra,

deixando meu pau limpo.

Eu ainda estava me esforçando para restabelecer meus sentidos no

momento que a garota se ajeitou, pegando minha calça e colocando-a em

minhas pernas. A auxiliei no processo.

— Ei? Aonde vai? — chamei assim que a vi trilhar o quarto em

direção a porta. Levantei-me também e a segui. — Quem é você? Por que

estou aqui? — ela não respondeu e, simplesmente, saiu do cômodo, batendo

a porta na minha cara. — Porra! — Chutei a madeira com força.

***

O mesmo cenário se repetiu no dia seguinte e no outro e no outro. Eu

estava me sentindo um prostituto durante aqueles três dias de cativeiro.

— Fui sequestrado para me tornar seu escravo sexual, mulher

misteriosa? — perguntei enquanto observava seu trabalho nos meus pés.

Era sempre o mesmo ritual.


Ela não disse nada. Entretanto, nunca dizia.

Ergui o traseiro para ela poder tirar minha calça. Ao contrário do que

aconteceu nos dias anteriores, dessa vez, ela ergueu a burca na parte de

baixo, permitindo-me visualizar a sua boceta lisa; a filha da mãe estava

completamente nua.

Minha boca aguou com a vontade de chupar aquela delícia rosada. Se

tinha uma coisa que me deixava maluco era chupar boceta; eu adorava dar

prazer e assistir enquanto se desfazem sob minhas mãos.

Forcei minhas mãos presas, mas eu não conseguia me soltar para

poder tocá-la. E, puta merda! Eu queria tanto tocá-la.

Aproximando-se, ela ergueu a burca um pouco mais, fazendo-me

visualizar seus seios também. Logo, esfregou eles na minha cara,

exigindo... ansiando pelo toque da minha língua.

Aproveitei para sugar e morder seus mamilos, gemendo pelo (tesão)

que tomava cada centímetro de pele existente em mim. Cada um dos meus

poros parecia queimar de excitação.


Eu não ouvia sua voz, mas podia ouvir seus gemidos, ‘sexy’. Em

determinado momento, ela me empurrou, forçando minha cabeça para trás.

— Deixe-me ver seu rosto — pedi, enlouquecido por ela e por toda

aquela névoa de mistério que pairava entre nós.

Sua mão pousou em meu rosto, como se estivesse memorizando meus

traços. Notei uma pequena tatuagem em seu pulso, mas não tive tempo de

identificar direito o que era, porque a vadia me jogou com tudo para trás e,

em seguida, se sentou em minha cintura, com ambas as pernas abertas.

Urrei no segundo em que sua boceta engoliu meu pau, sem restrições,

apertando-me com suas paredes pélvicas deliciosas. Eu podia sentir o

desconforto por estar com meus braços atados as minhas costas, mas o tesão

que o sexo com aquela mulher misteriosa estava me causando era maior.

Comecei a moer os quadris, indo de encontro aos movimentos dela, que

parecia insaciável. Na verdade, ela parecia uma Amazona, prestes a me

engolir inteiro, sem pausa. Em determinado momento, olhei para baixo no

exato instante que ela ergueu um pouco a burca, então pude ver meu pau
entrando e saindo daquela boceta lisa, rosada e molhada. Foi surreal o tesão

que isso me causou.

Aquela mulher estava me enlouquecendo.

De repente, ela começou a rebolar, fazendo-me trincar os dentes com

o que esse movimento causou no meu corpo.

— Eu vou gozar, porra! — rosnei, sentindo todos os alerta. Meu

coração batia descompassado e minha respiração estava irregular.

Como se minhas palavras tivessem servido como um estímulo, a

desgraçada acelerou os movimentos, engolindo-me com toda fome. Senti

sua boceta me ordenhando, apertando meu pau com tanta força que isso

arrancou-me o orgasmo.

O melhor orgasmo da minha vida.

Ela continuou se movimentando, me fodendo, por mais alguns

instantes até gozar também com um gemido tão ‘sexy’ que quase me fez

gozar de novo.

Depois disso, ela saiu de cima de mim.


Mesmo meio aéreo, consegui ver minha porra escorrendo da boceta

dela, deslizando por suas pernas. Isso me deixou maluco.

Assisti, desacreditado, quando ela seguiu para a porta. Eu não queria

mais continuar ali. Estava cansado de ficar trancado naquele quarto.

— Puta merda! Me tire daqui — sibilei, resfolegante. — Eu fico com

você em qualquer outro lugar, menos aqui.

Ela parou com a mão na maçaneta, mas como sempre, não disse nada.

Gritei de pura frustração no segundo em que ela saiu, fechando a

porta na minha cara.

— VADIA DO CARALHO!

***

No dia seguinte, pulei da cama assim que ouvi o clique da maçaneta

da porta. Todo meu corpo começou a se preparar pela expectativa do sexo

com a mulher misteriosa. Mesmo odiando toda aquela situação, eu não

podia ser hipócrita em não admitir esperar ansiosamente pela visita dela ao

meu quarto. Entretanto, franzi o cenho ao notar que o homem que estava
diante da porta carregava uma sacola de roupas, enquanto o outro me tinha

na mira da sua arma.

— Tome um banho e vista isso! — Jogou a sacola em minha direção,

que peguei no ar.

— Para que isso? — intimei.

— Sem perguntas!

Bateram a porta.

Fechei as mãos em punho, esmagando aquela sacola em minhas

mãos. Eu não fazia ideia do que meus irmãos deviam estar pensando a

respeito do meu sumiço, mas tinha certeza de que estavam atrás de mim.

Quando eu parava para pensar em toda a porra de problemas que se

acumulava em minha vida, fúria evaporava de meus poros. Odiava me

lembrar que, se conseguisse escapar da enrascada que tinha me metido, teria

de me casar com aquela garota maluca.

Droga!

De qualquer jeito, eu estava fodido.


***

Fúria vibrava do meu ser a medida que meus olhos se arrastavam pelo

meu corpo, envolto naquele caralho de terno. Empertiguei-me todo,

sentindo como se estivesse com coceira pelo corpo. Odiava aquele tipo de

traje. Odiava não estar com meu couro.

Ajeitei meus cabelos num coque frouxo e, em seguida, calcei os

sapatos.

Após isso, comecei a andar de um lado ao outro, irritado e

impaciente.

Quando menos previ, a porta foi rompida. Dois homens surgiram.

— Que porra está acontecendo? — indaguei, nervoso. — O que

pretendem com todo esse circo? — Gesticulei para mim mesmo.

— Coloque isso na cabeça. — Jogou um saco preto para mim.

Trinquei os dentes, mas fiz o que mandaram, por ser alvo de duas

pistolas.
Meu coração acelerou no segundo em que a escuridão me tomou e me

senti sendo empurrado para fora do cômodo.

A cada passo dado, meu nervosismo aumentava, pois, eu não sabia

para onde estava indo nem o que pretendiam fazer comigo.

De repente, passei a ouvir vozes e risadas, que aumentaram

gradativamente. Sem eu menos prever tive o saco preto arrancado da minha

cabeça, o que me obrigou a piscar devido à luz do sol.

Instantes depois, fixei o olhar a minha frente, arquejando assim que

meus olhos focalizaram a figura diante de mim.

Sem querer acreditar, olhei ao redor, me deparando com meus irmãos

do clube, além do Eric e seus demônios, que, inclusive, estavam apontando

e rindo da minha cara pelo terno que usava. Daniel sacudiu a cabeça assim

que o encarei, dando de ombros como se dissesse que não fazia parte

daquele plano, mas que não pôde fazer nada para impedir.

Rangendo os dentes, voltei a encarar a garota diante de mim,

observando o instante que ergueu o véu fazendo-me admirar seus traços


perfeitos. Sofia era linda, eu não podia negar.

— Bem-vindo ao nosso casamento, Ethan, querido! — exclamou com

um sorriso travesso.

Minha respiração acelerou com suas palavras. Entretanto, o que me

desestabilizou completamente foi enxergar a pequena tatuagem em seu

pulso, a mesma da mulher misteriosa. Por um momento, pensei que fosse

um devaneio da minha mente que me remeteu àquele maldito cativeiro.

Porém, minha suspeita se confirmou quando senti seu cheiro, isso era

inconfundível. Minha pele se arrepiou num misto de fúria e desejo, pois

sabia que a mulher da burca mexeu com minha cabeça.

E a mulher da burca era Sofia. A desgraçada me raptou.

Enquanto desejei virar-lhe as costas e deixá-la sozinha no altar,

ligando o foda-se para tudo e todos, meu coração disparou, minhas mãos

suaram e minha libido atingiu um nível tão alto que senti meu pau pulsar

dentro daquela porra de calça social. Nessa hora, mal pude me conter,

ansioso demais para fodê-la na lua de mel.


Naquela mistura de fúria, desejo e tesão, aproximei nossos rostos e

inalei seu cheiro.

— Você armou para mim — rosnei baixinho. — E não pense que vou

me esquecer disso — avisei.

Não mesmo!

[1]
Música: SECRET, Seal
[2]
Um cooktop é basicamente as bocas do fogão, só que separadas da parte do forno.

Você também pode gostar