Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Sublime Deal
[Recurso Digital] / April Jones — 1ª Edição; 2023
1. Romance Contemporâneo 2. Literatura Brasileira 3. New Adult 4. Ficção I. Título
Eu nunca sei como escrever uma nota de autora.
Sempre é inevitável passar horas procrastinando, mas nunca tenho
escapatória. Precisava contar como Sublime Deal é o meu diário pessoal;
íntimo e doloroso. Nele estou depositando as coisas que presenciei, não são
relatos que ouvi ou fiquei sabendo por terceiros, entretanto, fique ciente que
também incremento ficção a essas páginas.
Contar sobre a minha vivência em um lar violento me fez repensar
se era certo, sabendo que são minhas dores que vi de pertinho enquanto
crescia. Todavia, deixo meu alento para não deixarem os alertas de gatilho
passar despercebidos.
Em hipótese alguma deixe sua saúde mental em segundo plano.
Priorize-a sempre!
É nesse instante que peço que não ignore os avisos de gatilhos na
página a seguir.
Sublime Deal vai contar a história da nossa querida Stéfany Taylor,
uma garota que mostrou um pouco de si no primeiro livro da trilogia mas,
ainda assim, sua vida continua sendo um completo mistério.
A garota forte que ela sempre demonstra ser, foi construída por
diversas camadas dolorosas para se tornar o que foi mostrado em páginas. A
máscara que ela carrega por anos vem sendo camuflada por batons
vermelhos e uma língua um tanto afiada, é nisso que vemos a verdadeira
Stéfany, aquela em que seu maior ponto fraco é seu pai.
Aqui eu te entrego meus pesadelos em forma de palavras, e nelas
irão descobrir quem é Eric Peterson, uma pessoa completamente oposta da
nossa protagonista, mas tão parecida pelas circunstâncias do seu meio
familiar. A família Peterson não é o exemplo de ouro, ela tem seu lado
obscuro, carregando traumas para seus laços parentais.
É necessário ressaltar que assim como todos os personagens desse
livro, Stéfany e Eric, são reais, com problemas e pensamentos, será
inevitável não fazer conexão à eles. Ambos mentem, escondem segredos,
mágoas e medos. Em alguns momentos vão odiá-los, mas nunca deixar de
amá-los como devem. Peço de antemão que sejam sensíveis com eles, sei
que não será fácil, mas creio que assim como eu os guardei em meu
coração, vocês também irão tomar suas dores escondidas.
Estava claro desde o início que, ao contar a tão esperada história
desses dois, iria trazer muitas consequências, seus tópicos principais de
gatilho e a carga emocional me fizeram levar dois anos para finalmente
sentar e contar como deveria a história deles definitivamente, dar um ponto
final.
Vários pensamentos me sondaram, pensei diversas vezes que
odiariam o livro que tanto me doei. Se tudo que escrevi tocaria o coração de
alguém, talvez mudaria os pensamentos e ações. Foram tantos “e se” que
cogitei largar tudo e desistir. Tantos momentos que achei insuficiente, mas o
apoio que ganhei das vozes de Sté e Eric dizendo: você vai desistir de nós,
mesmo quando você disse para não acabar com tudo naquelas noites que
tivemos, April?
Stéfany quer que, assim como ela, você não desista.
Eric pede que você extraia suas dores, assim como ele.
É importante lembrar que Sublime Deal mesmo sendo possível ler
independente, faz parte de uma trilogia, porém, para entender melhor o
universo, o primeiro livro, Forever You, já está disponível na Amazon e
Kindle Unlimited.
Está nas suas mãos decidir embarcar nesse universo.
Te entrego outra vez as passagens de ida para Boston, pois as aulas
estão retornando, e as portas da Crows Blues University, a universidade
mais falada e amada dos EUA, estão abertas para te receber de braços
abertos!
Com amor,
April!
Gosto de validar que os avisos de gatilhos são tão importantes
quanto a nota da autora, eles são cruciais para iniciar uma leitura, pois
devemos priorizar nossos limites e acima de tudo, nossa saúde mental.
É a primeira vez que adiciono uma página apenas para listar os
gatilhos, entretanto é altamente necessário.
Sublime Deal tem uma carga emocional pesada, como consta na
nota da autora. Nele vou trabalhar sobre: Violência doméstica gráfica,
negligência familiar, abuso psicológico, transtornos psicológicos como
TEI (Transtorno Explosivo Intermitente) – que será retratado de forma
crua, de como surge por consequência de negligência em uma rede familiar
–, automutilação, uso indevido de bebidas alcoólicas e cenas de sexo
explícitas!
De forma clara, ressalto que esse livro não é recomendado para
menores de dezoito anos.
Por fim, relembro: se você já passou ou presenciou qualquer
episódio de violência doméstica, não deixe de denunciar! Nunca, em
hipótese alguma evite pedir ajuda ou ligar para o 180, é gratuito.
Vale lembrar o quão absurdo os casos de violência contra mulher e
feminicídio crescem todos os dias. É nesse exato momento que você se
pergunta: qual é o momento que devo fazer uma denúncia? A partir do
momento que você se depara com o primeiro ato!
Muitas vezes ficamos sem saber como denunciar uma agressão
física ou verbal, mas é importante reconhecer e saber como denunciar a
violência psicológica também. É necessário ter bastante atenção desde os
primeiros sinais, ter coragem de assumir para si mesmo e procurar ajuda o
quanto antes. Tanto se estiver efetivamente na relação, como se houver
qualquer vínculo com qualquer um dos envolvidos. Tentando assim, evitar
prejuízos ainda maiores para a vítima.
NÃO SE CALE. DENUNCIE!
Também é válido frisar que irá encontrar neste livro menção a
suicídio, assim como, infelizmente, pensamentos suicidas e depressivos.
Nesse ponto preciso alertar a você que a Depressão é uma doença
silenciosa, em alguns casos nos recusamos a percebê-la e só é diagnosticada
em circunstâncias drásticas, chegando a acarretar situações angustiantes,
resultando em suicídio.
O suicídio é considerado pelo Ministério da Saúde como um
problema de saúde pública, tirando a vida de uma pessoa por hora no Brasil,
mesmo período no qual outras três tentam se matar.
Preze pela sua vida, ela vale muito!
Caso esteja passando por isso, peço que busque ajuda
imediatamente!
Existe o Centro de Conscientização Sobre a Vida, nele há
profissionais dispostos a ouvir vocês por meio do 188. Novamente: Ligue,
por favor, não desista de viver mesmo que tudo esteja perdido!
Vidas podem ser salvas com apenas uma ligação.
OBSERVAÇÕES IMPORTANTES:
O enredo necessitou passar por adaptações especiais para esta história,
certamente, o processo real para uma carreira de medicina é diferente.
Neste livro, entretanto, Stéfany não precisa seguir as normas da pós-
graduação do curso, como acontece nos EUA. Sendo assim, o universo
fictício permite que alterações deste tipo sejam realizadas.
Eu me esforcei.
Juro com todas as letras que juntei tudo que tinha para não
demonstrar uma reação sequer após ouvir aquilo sair da sua boca.
Você tem uma semana para sair da minha casa.
Ele não tinha o direito de fazer isso. Fui pega completamente de
surpresa, minhas mãos estavam atadas e por mais que eu não quisesse
demonstrar o quanto aquilo me afetou, as expressões não saíram do meu
rosto. A sala de estar havia se tornado um campo minado, em um completo
silêncio. Ninguém se atreveu a dizer uma palavra, porém Alex cortou o
silêncio do cômodo, dizendo:
— Isso não tem graça, cara — Eu não precisava girar meus
calcanhares para saber que ele estava sorrindo pela simples risada que
ecoou, tentando amenizar o estrago que seu amigo babaca tinha feito.
— Eu falei sério — Eric respondeu, sem desviar os malditos olhos
azuis dos meus.
Mesmo me sentindo inútil, eu iria continuar assim, não quebraria
contato visual com Peterson, embora minha vontade fosse correr para meu
quarto e chorar o quanto pudesse debaixo dos meus cobertores. Não
deixaria que tudo que ele proferiu me afetasse.
— Você não pode fazer isso, Eric! — Naquele instante quem
interveio foi Hannah.
Eu ainda não conseguia mover um dedo sequer, porque as palavras
dele me levaram diretamente ao passado em que fui expulsa do lugar onde
deveria ter sido meu porto seguro.
Eric pareceu tanto com ele.
Os homens realmente me odiavam. Não tinha escapatória para me
esquivar deles, na minha vida medíocre. Um ciclo inevitável para a
destruição constante que se tornou minha existência nos últimos anos. Eu
viveria assim eternamente, amaldiçoada por Denner e todas as coisas que
ele praguejou.
— Eu não voltarei atrás na minha decisão, Hannah — rebateu, sem
tirar os olhos dos meus. — Creio que Taylor tenha me ouvido bem. Talvez
assim possamos nos dar bem, não acha?
— Eu ouvi perfeitamente, Peterson — abri um sorriso tranquilo, que
estava levando tudo de mim, quando finalmente fui capaz de falar algo.
Ele não iria mais falar comigo daquela maneira repugnante, como se
eu fosse um nada. Quebrei nossa curta distância, ficando ainda mais
próxima dele, e dali eu podia ouvir sua respiração alta pairando entre nós.
Cada segundo fazia com que meu sangue fervesse mais e mais. Eric
Peterson fazia ser impossível compartilharmos o mesmo ambiente.
— Pode ter certeza que será um imenso prazer não conviver mais na
mesma casa que você — Umedeci meus lábios secos, pelo sacrifício que se
tornou drenar cada sílaba.
O seu corpo ficou tenso quando meu rosto desviou do seu, quase
tocando a boca na pele sensível do seu ouvido. Eric podia disfarçar tanto
quanto eu, mas cada um de seus músculos visíveis ficava apreensivo.
— Eu até poderia agradecer se você não fosse você, mas nesse
instante, a única coisa que eu consigo sentir olhando nos seus olhos é o
quão desprezível você é. Todo meu ser odeia eternamente cada centímetro
seu — Estalei a língua, satisfeita, ao ver sua mandíbula apertada. Aquilo me
deu um gosto bom nos lábios.
Com essas palavras dei um passo para o lado, não aguentando mais
respirar em sua presença. Ficar junto a Peterson envenenava meus pulmões,
talvez até mais que os cigarros que eu fumava diariamente.
Deixei a sala de estar, me dirigindo às escadas, mas não sem antes
ter uma troca de olhares com Hannah e Alex. No segundo em que meus pés
tocaram o degrau, a voz grossa de Peterson retumbou novamente, deixando
meus nervos à flor da pele. Sem esperar que eu fizesse outro movimento,
seus lábios gananciosos disseram com toda arrogância que aquele riquinho
mimado pudesse ter dentro dele:
— O sentimento é mútuo, Taylor, saiba disso — O sorriso que
prendera toda extensão da minha boca desapareceu por completo.
Canalha arrogante!
Como eu o odiava. Algo que hipótese alguma mudaria um dia.
O sentimento seria perpetuamente mútuo.
— O que aconteceu?
Não tive tempo nem de me preparar para o vulto loiro entrando pela
porta do meu quarto. Arqueei uma sobrancelha, vendo suas mãos ao redor
da cintura, onde o volume acentuado da barriga, ficava cada vez mais
visível.
Suspirei me ajustando sobre a cama e em um nanosegundo, meus
olhos capturaram o relógio digital sobre a cômoda. Ainda era cedo para
algumas pessoas, mas tarde para uma universitária que tinha a semana
movida de estresse e estudos.
— Vamos, não vai me contar o por que Eric surtou com você?
— Você sabe que aquele cara é um egocêntrico nojento, Ana. E sabe
mais ainda que meu orgulho não vai me permitir ficar até o final da semana
nesta casa, vendo Peterson em todos os momentos que eu andar pelos
cômodos — compartilhei com ela, ao mesmo tempo que colocava meus pés
para fora da cama. Tinha perdido o sono e já imaginava que Ana não iria
embora até me fazer mudar de ideia.
— Eric vai acabar se arrependendo, Sté. Nathaniel está nesse
instante conversando com ele — Parei no mesmo segundo, procurando seus
olhos, ainda prendendo meus dedos entre os lençóis. — O que houve?
— Nada, apenas desça e fale para Nathaniel que não precisa intervir
nesse assunto, não é problema dele. Apenas meu — respirei fundo.
Não queria que Ana tomasse minhas dores e puxasse Nathaniel para
me ajudar.
— Stéfany, por favor.
— Sem essa, Ana. Eu posso lidar com isso e já estou procurando
quartos pelo dormitório feminino — tentei tranquilizá-la. — Nessa altura do
campeonato deve ter algum.
Com Ana grávida, as medidas foram dobradas por todos em relação
a tudo que a envolvia, não deixando que nada tomasse sua atenção do bebê
que estava a caminho.
Ela não teria preocupações. Minha melhor amiga não sofreria mais.
Ana mordeu o lábio inferior, mudando seu olhar para o assoalho,
mantendo a postura e as íris pensativas. Ah, droga! Lentamente cerrei os
olhos, tentando descobrir o que sua mente estava formulando no silêncio e
tudo que passava pela minha cabeça, não era algo bom.
— Tive uma ideia!
— Por que estou com uma leve sensação de que vou odiar sua ideia?
— Cruzei os braços abaixo dos seios, encarando-a. Havia desistido de sair
da cama, então decidi ver até onde isso iria.
— Eu pensei que... você poderia vir morar comigo — Um sorriso
brotou no segundo seguinte em seus lábios levemente pintados por um rosa
novo, enquanto os meus não compartilhavam nenhum sinal de batom.
— Não — Devolvi seu sorriso, com uma pitada de sarcasmo na
resposta. Era óbvio que eu jamais iria quebrar a privacidade dela. Estava
praticamente tudo preparado para a chegada de Ellie. Então não, de maneira
alguma, iria morar com eles.
— Nathaniel não vai se importar, Sté! — Ana também cruzou seus
braços. Bati uma mão contra a testa, em seguida massageei a região, seria
difícil, mas não impossível de dar um fim a isso.
— Mas eu me importo.
— O que há de errado?
— Tudo? — Abri as mãos, mostrando que estava mais que claro o
motivo. A loira bufou uma rajada de frustração pelos lábios. — Ana,
convenhamos que isso seria estranho. Em breve vocês terão um bebê, não é
como Full House[1], sabe? — Seu tronco murchou, instantaneamente com a
comparação.
Eu a amava tanto, mas não podia deixar que as coisas chegassem a
esse ponto. Ela foi a única pessoa que deixei entrar na minha vida quando
eu me fechei para o mundo, a única que podia contar sempre. A única que
também sabia dos meus maiores medos.
— Eu só... quero ajudar você. Imagino que tenha sido
constrangedor. Não pensei que chegariam a esse ponto de não conseguir
suportar conviver na mesma casa! — Ela se aproximou do colchão e se
sentou junto a mim, deitando a cabeça no espaço do meu ombro. Fechei os
olhos por um segundo, digerindo tudo que aconteceu nos últimos meses. Eu
estava esgotada com todos os acontecimentos desde o natal em Boston há
mais de um ano.
Queria poder me livrar das memórias e esquecer aquilo.
— É uma perda de tempo pensar nisso. Aconteceu, fim — Não
consegui disfarçar minha voz embargada, era um desafio para mim
esconder minhas emoções quando estava com Ana. Eu percebi isso quando
senti sua cabeça deixar meu ombro pouco a pouco. Antes que ela pudesse
perguntar, disparei: — Não aconteceu nada, estou cansada. Só isso.
— Tudo bem. Então está decidido a mudança para o dormitório
feminino?
— Estou encaminhando para que tudo saia bem, se não, eu dou um
jeito. Talvez o dinheiro da boate sirva para isso também.
Fazia um bom tempo que eu dançava na boate. Ajudou a pagar as
mensalidades da faculdade de medicina e tudo que envolvia investir no meu
futuro como médica. Ainda tinha minhas economias na lanchonete, não
pagavam tanto, mas cobria a fachada do dinheiro extra que eu ganhava.
Eu guardava fé que um dia tudo isso iria acabar. Não iria precisar
estar me dividindo em três para dar conta de tudo. E só de pensar que estava
tudo indo bem, antes que meu pai tirasse todo o dinheiro da minha conta
bancária, quando me expulsou da sua vidinha maravilhosa, fazia meu peito
apertar.
Foi preciso apenas uma oportunidade para que ele pudesse destilar
todo seu ódio imenso sobre mim quando, segundos antes, fui capaz de
enfrentar pela primeira vez a sua voz autoritária naquele lar abusivo, onde
passei anos sofrendo nas suas mãos.
Queria que Rose, minha mãe, pudesse se livrar de tudo o que
vivemos naquele lugar. Todo dinheiro que ele tinha encobria o verdadeiro
homem que Denner Taylor realmente era, um ser desprezível, até mais que
Eric. Quer dizer, nada se comparava a viver no inferno que era aquela casa.
Ainda tinha todas as marcas que aquele lugar me deixou,
consequências irreparáveis. Sentimentos impossíveis de esquecer e que
nunca poderia abandonar, porque era inevitável deixar de lado todos os
medos e traumas que desenvolvi enquanto crescia.
Era isso que um lar violento fazia; destruía toda a magia dos sonhos
de uma criança, apagava a ideia de uma família feliz, enquanto vivenciava
agressões constantes dele.
Podia ver todo o filme se repetindo nos meus olhos.
Ainda era possível vê-lo tombando as costas de Rose contra a
parede.
Conseguia visualizar perfeitamente Denner enrolando suas mãos
envolta do pescoço da minha mãe, ainda era capaz de ouvir os seus gritos
pedindo para parar e todo meu corpo tremer com a gritaria do outro lado da
porta. A madeira, por mais que grossa que fosse, não impedia de ouvir o
que acontecia ali.
Rose estava quase mudando de cor, estava chegando em uma
tonalidade assustadora de vermelho, enquanto apontava o dedo contra seu
rosto. Lembro a forma como ele estava destilando sua fúria nela, antes de
ficarem face a face, os palavrões ecoando pela sala. O ar do quarto pareceu
inexistente em questão de segundos.
Cada abuso que presenciei.
Eu lembrava de tudo.
E naquele instante, eu podia sentir meus pesadelos me puxando de
volta para o breu.
Oh, Deus... faça isso cessar de uma vez, faça essa escuridão
desaparecer da minha vida.
Era aterrorizante.
Não, eu não quero voltar para aquele buraco sufocante.
— Stéfany? — Senti o calor dos dedos de Ana envolvendo meu
ombro exposto, sua voz me fez voltar para o quarto e ser capaz de ir para
longe da escuridão.
— Estou aqui — murmurei, isso não parecia ser eu, estava longe de
ser quem mostrava para todos no dia a dia.
— Acho que você está em qualquer lugar, menos aqui — retrucou,
balançando a cabeça antes de fechar os olhos por um breve momento.
Compartilhar minha vida com Ana desde muito nova, deu
benefícios não tão vantajosos para minha amiga de infância. Ter encontrado
ela naquele parquinho tinha me mudado por completo, Ana foi capaz de me
dar alguns anos de vida, pois sem ela, eu não estaria ali há muito tempo.
— Algo está me incomodando, Sté.
— O que? — Franzi o cenho sem entender.
— Que pelo visto não vai ser agora que você vai poder dar um fora
na boate, não é? — A loira perguntou sob o silêncio que tinha se formado
entre nós duas.
Meus pensamentos eram altos demais enquanto refletia sobre minha
vida antes de Boston, antes da faculdade. Definitivamente antes da minha
liberdade.
— Infelizmente, ainda não.
Estava quase tudo certo para sair daquele lugar. Mesmo com um
dinheiro bom, eu não gostava daquele lugar. Amava dançar, mas repugnava
ser sexualizada para aqueles homens nojentos que frequentavam o local.
Havia outra coisa que me incomodava no Destiny 's: as coisas que
aconteciam nos fundos. Onde as meninas que dançavam não eram
permitidas a irem até lá se não fossem chamadas.
Eu tinha medo do que poderia se tratar aquilo, mas sabia que não era
da minha conta. Ser enxerida demais já haviam me dado consequências
dolorosas em momentos que poderiam ter sido evitados, se não fosse pela
minha curiosidade extrema na infância e alguns episódios na adolescência,
no entanto, já era adulta e ficar xeretando não fazia mais parte de mim.
Foi o que eu tive que aprender nos anos da minha existência.
O Destiny 's era uma boate escondida da cidade, onde abriam as
portas para jovens ricos, homens mais velhos cheios de dinheiro para
esbanjar, pessoas com poder, corruptos. Todos os tipos que poderiam existir
na classe alta de Boston.
Havia mais de um ano que recebi uma proposta de emprego na
boate, como dançarina. Tinham me visto dançar em uma festa da qual
frequentei no decorrer do meu ano na faculdade. Era uma das únicas
paixões que Denner não foi capaz de roubar de mim.
O meu amor pela dança, onde eu desde sempre supri um insaciável
desejo de aprender e ser capaz de fazer passos com tanta leveza, como se
em toda minha vida eu fosse uma dançarina nata.
— Você sente falta da Filadélfia?
A dúvida dançou nos meus pensamentos por alguns segundos. Em
algum momento da minha existência eu gostei de morar naquela cidade,
apesar das experiências no meu antigo lar, a Filadélfia me proporcionou
dias bons. Infelizmente, não tanto quanto eu gostaria.
— Às vezes, sim — Seu tom ainda continha incerteza, mas eu
entendia o motivo. — Sinto falta de quando não tínhamos tantas
preocupações, ou quando não precisávamos descontar nossos problemas em
noites regadas de bebida e se divertindo com caras aleatórios.
— É difícil citar uma época em que as coisas tenham sido
totalmente boas, já que sempre em algum momento algo estragava nosso
único instante proveitoso — Relembrar sobre o que realmente aconteceu
durante minha infância não era algo que eu gostaria de contar, porque tudo
aquilo eu queria deixar no passado. Não mudaria nada nas situações que eu
assisti ao longo da vida. — Não temos nada de marcante para relembrar.
Isso é... — Ana tentou buscar algo que pudesse comparar, enquanto fazia
sons de estalos com os dedos.
— Deplorável? — Sugeri, erguendo uma das sobrancelhas.
— Não — Ela riu, mordendo o lábio inferior.
— Horrendo?
Ana sacudiu a cabeça.
— Já sei, tenebroso? — Desviei meus olhos e focando-os na nova
cor das minhas unhas recém pintadas, entretanto, não consegui realizar meu
objetivo quando a pergunta saltou dos seus lábios.
— Ei, por que você está falando todos os sinônimos de palavras com
o mesmo sentido?
Suspirei, dando de ombros, quando na verdade tinha a resposta na
ponta da língua.
— Queria dizer que é estranho, sabe? — pontuou no momento em
que não obtive respostas. — Acho que nunca tivemos uma vida
completamente infeliz, vejamos... quando te conheci, pra mim, foi sem
dúvidas o melhor dia da minha vida.
Oh, eu lembrava bem dessa data. Foi quando tudo começou. E não
de uma maneira empolgante como deveria ter sido.
Poderia dizer que sim, mas o melhor dia da minha vida foi quando
eu coloquei meus pés em Boston, com toda certeza, esse foi o dia em que
fui realmente feliz, mesmo que eu não demonstrasse por conta das coisas
que ouvi naquela manhã.
No aeroporto as pessoas que diziam ser meus pais nunca foram se
despedir quando estava prestes a pegar meu voo. Nem ao menos Rose
estava lá, a única pessoa que cogitei que um dia não fosse cruel comigo,
mas naquela altura do campeonato eu sentia que nem com ela podia contar.
Por um segundo, precisei da sua presença e mesmo que ela não
dissesse nada, valeria a pena.
— Para mim também — Tentei esconder a mentira através do
sorriso que compartilhei com ela.
— Até hoje eu gostaria de saber como conseguimos nos tornar
melhores amigas.
— Como assim?
— Por vários motivos, não lembra? — Ana dedilhou os dedos sobre
o volume do seu ventre.
— Ainda não entendi, e também não consigo ver motivos para não
termos sido amigas quando éramos mais novas.
— Ah, você morava na parte alta da cidade. Seus pais eram podres
de ricos, quer dizer, continuam sendo, tinham uma mansão três vezes maior
que a minha casa, Sté!
As diferenças que tínhamos entre nossas famílias eram gigantescas,
pensando por esse lado. Eu tinha de tudo que pudesse me suprir
financeiramente, menos o essencial, aquele que toda criança deseja ter
desde que se entende por gente e descobre coisas que às vezes não
preferiam saber.
Roger não tinha muito mais a oferecer na área financeira, mas
olhando como era a convivência e o modo como o pai de Ana a criava e
tantos outros aspectos, me fizeram ver com outros olhos o meu.
Denner, seu filho da puta.
Para minha sorte, ele sabia bem que eu o odiaria até o dia em que eu
morresse e nunca mais pudesse vê-lo na face da terra, porque eu preferia
perder tudo que ainda me restava apenas para nunca mais cruzar nossos
caminhos.
— Às vezes, eu queria que as coisas tivessem sido diferentes —
sussurrei.
— Por exemplo? — Ana apoiou o queixo sob a palma da mão.
— Queria que tudo que envolvesse Denner fosse diferente.
Mal capturei o segundo em que meus olhos tinham amolecido, e as
minhas forças tinham extraído do corpo com apenas a breve menção do seu
primeiro nome, por mais que eu tivesse mencionado ele.
Acreditava que com o passar do tempo seu nome não me
amedrontaria mais. Ainda queimava meus lábios. E me propulsionou
náuseas. Também nojo.
— Isso seria perfeito. É impossível tirar da minha cabeça que
qualquer outro homem seria um pai melhor que Denner — A confissão me
surpreendeu.
— Uma pena, não é mesmo? — Por mais que minha voz soasse
indiferente, por dentro eu estava me despedaçando. Apenas por um fio de
não aguentar tudo nas minhas costas. — Por que não paramos de falar sobre
isso? Esse nome sempre atrai coisas ruins, deveríamos mudar de assunto.
— Você quem manda! — Assisti a loira fazer um sinal de
continência, tocando a lateral da mão contra a testa.
Era nesses breves instantes que eu podia notar os pequenos detalhes
da nossa amizade, em como Ana se tornou minha âncora e o meu ponto de
luz, apenas por existir.
Sem Ana não existiria Stéfany.
E mesmo depois de tudo isso, ainda sentia o vazio puxando para um
lugar que eu não queria mas em todas as circunstâncias, era determinante,
não ser arremessada para as profundezas da minha mente.
Ana ficaria bem se eu parasse de existir. Eu seria um peso a menos.
— Seu mundo seria o mesmo se não tivesse voltado para minha casa
naquela tarde? — O amargor ocupou cada centímetro da minha garganta.
— Você está realmente voltando para aquela tarde? — Sua voz
tremeu, assim como cada célula minha. — Por que isso? — Já não
estávamos em um clima bom, na verdade, desde que voltamos da praia tudo
tinha se tornado estranho entre todos nós.
— Apenas quero saber, já que você nunca mencionou nada desde
que “me recuperei” — Ousei fazer aspas com os dedos.
Eu nunca tinha me recuperado daquele dia, nada em mim foi o
mesmo. Minha vida jamais teria essa reviravolta.
— Episódios como esses são difíceis de trazer à tona, mas estamos
falando sobre isso... por que nunca me contou o motivo? Achei que eu
merecesse saber — A menção daquele dia rodopiou na minha cabeça e em
como tive várias oportunidades de revelar os motivos. Entretanto, não era
simples, havia tantas coisas por trás.
— É melhor continuarmos assim.
— Stéfany! — Ana ficou ofendida.
— Achei que não quisesse relembrar — declarei, por fim, deixando
uma lufada de ar se esvaziar nos meus lábios.
Meu olhar permanecia em Ana, que mostrava não estar satisfeita
com minhas últimas palavras. Como consegui mudar o clima entre nós duas
em menos de cinco minutos?
Desviei meus olhos, procurando meu celular ou algo que pudesse
me dizer que horas seriam até que finalmente o encontrei em cima da minha
mesinha de cabeceira, encostado nos meus livros de medicina. Esse era um
dos motivos para estar ali em Boston. O motivo principal para aguentar
tudo nos Destiny 's.
Inclinei um dos meus braços e com o movimento estiquei meu corpo
por completo, na tentativa de apanhar o aparelho sem nenhum problema.
Aos poucos, fui sentindo a textura nas pontas dos dedos, até tê-lo nas mãos.
Quando desbloqueei a tela vi uma sequência de mensagens e
ligações surgindo. Todas de Edith. Ah, droga! O frio da barriga mergulhou
com força, fazendo meus pensamentos me assustarem pela incerteza. O que
poderia ter acontecido? Era o meu dia de folga.
Sem esperar, disquei o número de Edith e no quarto toque ela
atendeu.
— O que aconteceu? — Foi a primeira coisa que eu consegui falar,
todavia consegui sentir minha voz vacilar. Ana também notou ao girar em
minha direção.
— Sei que não é seu dia de trabalho, mas preciso de você aqui —
Seu tom era o mesmo de sempre; Tranquilo além da medida e no final não
podia faltar a arrogância banhada nas últimas palavras. Seu gran finale.
— E eu sei que há garotas capacitadas para isso e, como disse, hoje
não preciso trabalhar — ainda na linha, rebati.
— Todas, mas nenhuma consegue ter todos os clientes na palma da
mão como você, Diana — O nome me fez engolir em seco. — E o melhor,
não deixe eles esperando, sabe que eles pagam tão bem... Você disse que
precisava de dinheiro, não é?
Merda!
— O que me diz? Vai deixar a oportunidade escapar entre seus
dedos? — Edith me fez ficar em silêncio por alguns segundos, mas logo
retornou a linha. — E então?
Mordi a bochecha.
— Certo, Edith. Chegarei em breve — Foram as únicas palavras que
deixei antes de cortar a ligação, todavia, conseguia visualizar o sorriso
vitória de Edith.
— Falando em Destiny´s... está na hora de ir para lá — murmurei,
passando as mãos entre os cachos castanhos escuros. Quando meus olhos
se moveram em direção de Ana, notei seu corpo encolhendo.
Soube bem ali o quanto ela ainda não concordava. Talvez nunca,
porque minha melhor amiga queria me ver em um lugar melhor, um lugar
que eu não precisasse me sexualizar. Eu também.
— Realmente queria que isso acabasse — Suspirou, ao mesmo
tempo que assistia seus dedos dançando sob a ondulação na sua barriga.
— Um dia vai acabar, Ana. Serei a pediatra mais falada nos quatro
cantos da Terra. Não ouvirá outro nome a não ser o meu nos noticiários.
Anote isso porque vai ser nesse dia que saberei o quanto valeu essa noite —
murmurei, mas toda a convicção foi decretada em cada palavra.
Faria tudo se tornar realidade.
Ninguém me impediria.
Não haveria Denner.
Não haveria boates para limitar minha vida e, o melhor, não existiria
Eric Peterson.
Eu seria dona do meu próprio nariz e não precisaria usar do nome de
ninguém para isso.
Era como Cristina Yang[2] disse para Meredith.
Eu sou o sol.
— Eu sei que sim, Sté. Você tem o poder de fazer tudo isso mudar
— Ana concluiu por fim.
Aquele era o ponto decisivo em nossas conversas sobre o Destiny´s
e enquanto seu olhar ainda estava pousado sobre mim, fizemos uma
promessa silenciosa que em hipótese alguma esse assunto voltaria à tona.
— É melhor assim.
SEM CONTROLE
PASSADO
Paralisado.
Foi como fiquei por cinco minutos quando vi pela primeira vez
aquela menina dançando balé no quarto de Hannah, enquanto eu segurava
minha câmera fotográfica que papai havia me dado de presente.
Nunca em minha vida a tinha visto e, de repente, a garotinha estava
ali, como se aquele fosse o seu lugar.
Ela parecia um anjo, girando na ponta dos pés com maestria,
mantendo os olhos fechados e eu continuei quieto, observando cada
movimento. Eram parecidos com algo que minha irmã havia feito uma vez,
porém, os dela eram desajeitados. Hannah não gostava de balé, mamãe a
obrigava a ir às aulas e ela sempre voltava chorando, enquanto se queixava
de dores nos pés e em outros membros do corpo. Algo dentro de mim doía
quando mamãe brigava com ela. Minha mãe era muito rude na maior parte
do tempo, algo que era muito confuso para nossa cabeça.
Ainda observando a menina de cabelos enrolados, eu podia ver
todos os detalhes da sua fisionomia; os cachos estavam presos metade e o
resto solto, eram maiores que os de Hannah, onde seu comprimento loiro
chegava na altura do pescoço. Seu nariz era pequeno, mas achatado; as
bochechas eram redondas e um pouco vermelhas, talvez ela precisasse parar
um pouco para se recuperar e, por fim, sua cor era diferente da minha. Um
tom de marrom um pouco escuro que a deixava mais bonita.
Simplesmente encantadora.
Com cuidado, levantei a câmera na altura dos olhos, e tentei
capturar a linda bailarina à minha frente. Papai me disse que eu deveria tirar
fotos de coisas que apreciasse e, naquele momento, eu apreciava cada
segundo dela dançando.
Com um click instantâneo a imagem foi fotografada, eternizando
aquele momento, e em pouquíssimo tempo, estava comigo a lembrança.
Sorri com minhas bochechas queimando quando olhei para a foto, não
conseguindo parar. Queria passar mais tempo ali, vendo-a dançar, porém
meu plano foi por água abaixo quando ouvi a voz de Mason me chamando.
Arregalei os olhos quando a porta se moveu, emitindo um ruído alto.
A menina parou de dançar no mesmo segundo, procurando o responsável
por interromper seu momento, deixando as mãos que antes, estavam no alto
da sua cabeça, caírem no seu colo.
Me esquivei da sua visão, girando os pés na direção de Mason.
Meu irmão tinha os cabelos castanhos, iguais aos da nossa mãe, o
mesmo tom dos olhos dela também; azul tão escuro quanto o Troféu Lake[5],
um dos lagos localizados na Carolina do Sul.
Eu amava lagos; Eles tomavam minha admiração.
— O que você está fazendo, aí? — Seu olhar estava estreito na
minha direção, a confusão em seu rosto mostrava o quão confuso se
encontrava. Mason não podia saber o que eu estava fazendo. Não podia
saber que eu estava espiando aquela garota dançando. Ele contaria para
todos.
— Nada! — respondi mais rápido do que deveria.
Aquilo foi um terrível erro. Mason suspeitaria com toda certeza.
Ah, meu Deus, não!
Meu irmão levantou uma sobrancelha.
— Você está mentindo! — acusou, apontando o dedo na minha
direção. Desviei meus olhos para o assoalho, estudei toda a textura da
madeira enquanto pensava no que falar. Qual mentira deveria contar
sabendo que isso me causaria um castigo da parte de mamãe. Ela odiava
mentiras. — Quem está aí dentro?
— Ninguém — soltei baixinho, levando as mãos para as costas,
escondendo minha câmera junto com a foto da bailarina desconhecida.
Poderia ter dito ao meu irmão quem estava ali dentro, talvez contado
a verdade. Era o ideal a se fazer, mas não queria que ele soubesse dela.
A pequena bailarina seria meu segredo.
— O que está acontecendo aqui? — A voz do papai ressoou,
chamando toda a minha atenção.
— Eric está bisbilhotando alguém no quarto de Hannah! — Mason
acusou. Não tive escapatória se não desviar meu olhar para o chão.
— Quem está no quarto de Hannah? — Papai perguntou confuso,
unindo as sobrancelhas castanhas.
Ainda com os olhos sobre a madeira, sussurrei:
— Há uma garota ali dentro — Levei meu dedo indicador para a
porta ao meu lado.
— Uma garota? — Meu pai perguntou, confuso, olhando para a
madeira entreaberta. Observei ele depositando duas batidas suaves sobre
sua extensão.
Toc.
Toc.
Estudei a movimentação no cômodo e não demorou muito para
minha irmã aparecer, colocando a cabeça para fora. Os cabelos loiros
estavam bagunçados, sobre o rosto, mesmo que estivessem presos aos
pompons que Lydia, nossa babá, havia posto nela.
— Oi, papai — Hannah usava o mesmo traje que a menina
misteriosa, as cores não eram surpresa, sempre as mesmas. Entretanto,
sempre estava com manchas em algum lugar do seu tutu.
— Princesa, seus irmãos estão curiosos sobre a garota que você
trouxe para o seu quarto. Pode chamá-la, por favor? — Ele sempre falava
com delicadeza quando se tratava de Hannah, como o apelido já explicava
tudo, minha gêmea era a princesa do reino dele. Ela tinha poder sobre
absolutamente o que quisesse e assim nosso pai lhe dava de bom grado, sem
precisar implorar por algo.
— Claro! — Seu sorriso estampou cada centímetro dos seus lábios
ao mesmo tempo em que escondia duas mãos atrás do seu corpo. Hannah
tinha dito apenas uma palavra, curta e direta, mas que me fez ficar ansioso
no mesmo instante.
Por favor, esperava que ela conseguisse tirá-la daquele quarto.
Parecia que minha irmã havia lido meus pensamentos, porque não demorou
mais nenhum segundo para ela desaparecer das minhas vistas.
Perdido nos pensamentos, voltei para o corredor no exato momento
em que dois corpos entraram no meu campo de visão. Ambas usando as
mesmas peças, mas apenas uma me fez paralisar como nunca na vida,
aquele evento passou anos na minha memória.
Finalmente consegui vê-la.
Ela estava tão próxima que me deixava mais nervoso,
completamente inquieto.
Alguém faça isso parar.
— Oi! — Levantou uma mão como forma de comprimento, dando
um grande sorriso envergonhado.
De repente, um fenômeno aconteceu, eu fui capaz de ouvir as
batidas do meu coração, mesmo estando em um corredor com mais quatro
pessoas. Os olhos dela foram o que mais me chamaram atenção, talvez eu
nunca fosse capaz de esquecer aquele grandes e enormes olhos verdes,
incrivelmente felizes na minha direção.
Considerei por anos aquele encontro como o melhor dia da minha
vida.
Brincamos pela tarde inteira.
Tive sua atenção completamente para mim.
Ela foi a primeira garota com quem consegui conversar por tanto
tempo, aquelas horas pareceram uma eternidade.
Eu queria ter todos os seus momentos e a oportunidade de guardar
mais instantes comigo.
Quando vimos o pôr do sol surgir pela vidraçaria da minha casa, um
olhar tristonho surgiu nas suas íris. Era hora de partir. Mas o sentimento
desapareceu no segundo que um homem entrou na sala.
Ele se parecia tanto com a garota.
Tinham tantas semelhanças em comum, o cabelo com a tonalidade
castanha, a pele negra... Absolutamente tudo.
A não ser a cor dos seus olhos, eram diferentes, enquanto seu pai
tinha íris castanhas, ela havia herdado uma cor que nunca tinha visto na
vida. Talvez essa fosse a lembrança que eu carregaria para sempre.
— Você está pronta para ir, minha princesa? — Ele perguntou a ela,
abrindo os braços na sua direção.
Naquele instante, concordei mentalmente. A menina era
definitivamente uma princesa, e quase sorri vendo-a abrir os lábios de ponta
a ponta para seu pai.
Ela parecia feliz.
Eu me senti feliz pela bailarina.
O seu sorriso era a coisa mais linda que eu poderia ver.
Tudo nela era perfeito.
— Eu tenho que ir — sussurrou.
Em um encolher de ombros, um incômodo invadiu cada centímetro
de mim. Ela estava indo embora.
Nunca mais a veria?
— Você vai voltar? — perguntei, ainda tendo sua atenção.
— Papai, posso? — A pergunta me deixou nervoso.
— Se você for bem-vinda, não vejo problema — Novamente um
sorriso se atrasou na sua boca antes de ir.
Eu queria ter tido a oportunidade de tê-la visto mais uma vez e
conseguir gravar nos meus pensamentos o seu rosto com mais clareza.
A única memória que tinha da pequena bailarina era do seu corpo
girando pelo quarto.
Seu nome foi esquecido.
Sua família virou lembrança.
Havia apenas uma lápide com seu nome.
A bailarina morreu.
A sua voz ficou distante, tanto que não fui capaz de memorizar.
Existia somente a notícia nos televisores sobre como partiu com sua
família.
E uma fotografia dela dançando sua música alegremente no fundo
da minha gaveta.
Um vislumbre do seu último momento.
DESTINY´S
PASSADO
William: Uma noite melhor eu já não sei, talvez uma soneca de três
dias após hoje resolveria.
Dê um passo no caos
Olhe ao redor, isso não é nem a metade
Caralho.
De repente, ela parou.
Diana se mostrou confiante, isso foi o que mais me chamou atenção
na medida que a música corria pela boate lentamente, enquanto focava sua
atenção em um dos clientes mais próximos ao palco, como se estivesse
seduzindo ele.
Ela não precisava de muito para conseguir.
Não precisou, porque a garota conseguiu deixar todos os homens à
sua mercê.
Inclusive eu.
MEUS DEMÔNIOS
PASSADO
— Você não vai levar meus filhos, Lilian! — aquela foi a vez do meu pai
gritar, e pelo tom da sua voz estava claro que, tudo que viria no segundo
seguinte, definiria a vida dos meus irmãos e a minha.
Não lembrava a última vez que pude dividir o mesmo cômodo com ambos
sem que iniciassem uma discussão em um estalar de dedos. Era como se
uma névoa envenenasse seus olhos simplesmente por estarem
compartilhando a sala de estar ou a mesma cama. Aos treze anos, não
estava na minha lista programar meus pensamentos para todas as vezes que
isso acontecesse.
Meus pais não tinham um casamento feliz havia três anos, precisamente na
época em que uma das irmãs do meu pai morreu; Tia Wanda. Esse nome
não era citado há muito tempo depois do seu suicídio.
Éramos movidos pela sintonia dos nossos pais e se eles estavam tendo
problemas no seu casamento, ocasionalmente, seríamos afetados de uma
maneira fatal. Não era difícil decifrar tudo que estava acontecendo, ainda
mais quando você encontra seu pai dormindo no sofá, ou até mesmo, no
escritório quando, na noite anterior, sua esposa tinha expulsado-o do
cômodo por não aguentar mais brigar.
— Quem é?
Caí de paraquedas ao retornar para meu quarto, a dúvida no tom de voz era
claro, mas sabia o que Mason queria saber. Quem estaria batendo a essa
hora no nosso quarto? Já fazia alguns minutos que as vozes haviam
cessado, mas algo me dizia que estávamos apenas no começo de uma bola
de neve.
A reação me fez tensionar o maxilar, seu tom era hostil e isso já estava
chegando no meu limite. Meu irmão estava fazendo minha cota de
compreensão esgotar. — Você está horrível com essa boca de lata —
Esboçou uma expressão de nojo, e aquele foi o fim.
Era possível sentir que eu não estava com clima para ver Mason
descontando suas frustrações em nossa irmã. Não era novidade que o
comportamento de todos nós tinha mudado de maneira extrema. Nunca
mais seríamos o mesmo depois do que tudo aconteceu.
— Nada do que você diz vale, então, é melhor guardar apenas para você,
Mason.
— Claro, o Senhor Sabedoria é o único que pode dizer algo aqui, não é? —
zombou. — Você só fala merda, Eric. Deveria ficar na sua.
Havia dois dias, Mason e eu brigamos, entretanto não tinha sido uma briga
verbal, fomos além, e... bem mais do que eu gostaria ter feito. Em algum
momento tudo ficou vermelho na minha mente e os impulsos já não eram
meus.
Lilian, tinha seu lado sombrio. Ela não era a mesma mulher que comandava
um hospital inteiro. Não tratava os filhos como deveriam, em dias normais,
tinha apenas favoritismo por um deles.
Deveríamos torcer muito para ser um deles e implorar por ajuda divina,
para não sermos os escolhidos para descarregar sua raiva de problemas do
trabalho. Quando o caso não era esse, tinha a ver conosco dentro da
mansão, as brigas que ela construía começavam por algo que havíamos
feito.
Hannah, por Cristo! Você está enorme, mal consegue fazer uma atividade
física para não virar uma baleia?Olha como está, desse jeito nunca vai
conseguir um namorado.
Um dia vai acabar se tornando um homem tão violento que nem eu mesmo
vou poder conviver no mesmo espaço que você, Eric!
Notas baixas, Mason? Você sabe quantas horas eu passo no hospital para
chegar em casa e ver o lixo que estão suas notas? Como quer fazer
medicina dessa maneira?
— Isso é culpa sua, irmãozinho. Mamãe está puta com você e agora está
descontando tudo em nosso pai. Sabe por quê? — Todas as lembranças
recentes vibraram em meus sentidos. Não me lembre disso, Mason. Por
favor, era a última coisa que queria reviver. — Porque ao contrário de você,
ele não é um monstro descontrolado — Minha visão se tornava cada vez
mais anuviada.
Tudo que ele dizia não era verdade. Eu não era um monstro descontrolado.
— É tudo culpa sua, Eric. A verdade é essa, nossos pais têm vergonha do
que você representa para todos nós. É uma ameaça para o mundo, e se as
pessoas descobrirem, a cidade vai entrar em alarme por causa de você.
— Cala a boca, Mason! — gritei, tapando os ouvidos, mas ainda assim era
possível ouvi-lo falando.
Era sua parte preferida do dia: fazer chacota de mim. Mason podia ser meu
irmão de sangue, entretanto, não parecíamos em nada. Desde a fisionomia
até nossas personalidades.
— Aceite, Eric.
Mason estava tendo o que queria. Na verdade, o que sempre lutou para
conseguir; O controle de mim já estava nos últimos requisitos.
Ah, não.
Não.
Não
Não.
— É sim, e nada pode mudar o quão desprezível você é para mim, Eric! —
bradou quase sem fôlego em seus pulmões, foi então que decidi afundar um
dos joelhos contra sua barriga.
— Sai de cima de mim, merda! — Mason ralhou, quase sem ar, com todo
seu rosto avermelhado, ou talvez fosse as chamas que cegaram minhas
ações. Eu não tinha mais nada a temer. Aquele momento era a única coisa
que eu tinha que fazer para chegar ao fim.
— Eric, solta ele! — O êmbolo da voz de Hannah, gritou. Não fazia ideia
se ela realmente tinha gritado, ou se eram vozes na minha cabeça que
tentavam me impedir.
Nada era mais expressivo que seu olhar e nele podia vê-la me pedir por
piedade.
Seu corpo foi capaz de girar, derrubando nós dois para fora da cama. O
barulho se alastrou contra o chão, misturado aos gritos em pânico de
Hannah. A dor contra minhas costas me fizeram grunhir, e com o descuido
meu irmão conseguiu desferir um soco no meu maxilar ao rosnar. Uma ira
desconhecida foi descarregada em mim segundos antes de devolver um
golpe em seu nariz, seguidos de outros em todo seu rosto.
A raiva estava movendo todo meu corpo, desde a minha mente até meus
punhos.
Eu não sabia o que ela tinha feito, não sabia se ainda estava no quarto.
Existia apenas uma lacuna entre meus pensamentos.
Dedos envolveram minha cintura com força, aquilo deixava claro que eu
estava voltando para minha verdadeira realidade, onde aquela pessoa não
era eu. Minha respiração estava acelerada, minhas mãos tremiam e quando
fui verificá-las, vi o sangue e as sequelas de nós.
O que eu fiz?
Quanto mais meus olhos focavam na destruição, que tornava cada vez mais
real nas minhas mãos, mais em pânico meu corpo ficava.
Somente eu.
— Esse é seu problema, Lilian. Você não sabe lidar com sua própria família
— Os gritos e desaforos entre ambos estavam longe de ter um devido ponto
final. Apertei meus olhos ainda ouvindo-os cuspirem suas desavenças.
— Vamos, Eric.
Hannah Jane Peterson era minha irmã, mas, acima de tudo, uma parte
crucial em mim. Ela era a única pessoa que podia confiar. Ela era a única
pessoa naquela casa que me entendia, talvez pela conexão que tínhamos
desde crianças. Antes de Mason vir ao mundo, existia apenas nós dois um
para o outro.
Eu magoei seu coração, porque se tinha uma coisa que Hannah não
suportava, eram brigas. Independente se fosse entre nossos pais ou entre
um de nós três. Meus ataques de raiva me fizeram quebrar a promessa que
fiz para ela dias antes.
Prometi que não faria novamente, contudo, foi impossível cumprir. Era
mais forte do que eu mesmo poderia pensar. Não tive controle suficiente
para evitar chegar no ápice.
— Não vai acontecer nada com você, se é isso que tanto teme. Quer dizer,
não vou tocar um dedo em você — Meu pai já estava se sentando em seu
assento, desabrochando a gravata do pescoço, então não satisfeito tirou o
tecido por completo. — Sente-se — Assim o fiz.
— Eu sei.
— A verdade, Eric.
— Eu não sei, pai. Pergunte para Mason, talvez ele saiba a resposta.
— Eric — Sua voz me advertiu. — Acho que já tenho uma ideia do que
pode ser — O silêncio voltou a ser palco do seu escritório. — Sua mãe e eu
vamos nos separar, mas ainda não chegamos ao ponto de pedir o divórcio.
— Ok. As coisas que estão acontecendo no meu casamento com sua mãe
não têm relação nenhuma à vocês três, são apenas desentendimentos
recorrentes nossos. Entende?
— Sua mãe vai viajar em alguns dias, e vai levar Hannah com ela.
Aquilo teve um efeito estranho em mim, porém, não foi apenas por saber
que iam se separar, mas porque Hannah ia ser tirada de mim. Anos depois,
eu soube o real motivo de somente Hannah ter ido naquela viagem.
Mamãe não queria que ela fosse afetada pelos meus picos de raiva.
Segundo Lilian, eu poderia ser um perigo para a minha própria irmã.
SEJA MINHA
Não conseguia lembrar a última vez em que estava de ressaca e todo meu
corpo se arrependeu do que tinha feito na noite anterior.
Droga, não deveria ter aceitado o convite de William, porque sua cortesia
tinha sérios problemas no dia seguinte e, na maioria das vezes, a única
pessoa que teria uma manhã ruim seria eu. O que poderia esperar do meu
organismo depois de tudo que fiz?
Não poderia continuar naquele lugar se quisesse dar um rumo melhor para
minha vida, ela estava saindo do controle mais e mais, sempre que meus
pés pisavam naquele lugar. Minha ruína nunca teria fim se não colocasse
definitivamente um ponto final naquilo e esse dia havia chegado.
Um zumbido se difundiu por todo meu quarto e não demorou mais nenhum
minuto para fazer o barulho se tornar um som mortal dentro da minha
cabeça. Apertei os olhos com desespero, procurando o celular ao arrastar os
dedos sob a mesinha de cabeceira.
Podia decretar, sem sombra de dúvidas, que aquela era a pior ressaca da
minha vida.
Mais uma chamada perdida. Com mais essa, contabilizava quatro ligações
não atendidas dele.
Então quando notei as expressões nos seus olhos, percebi o quanto ela
temia aquela conversa, assim como eu. A preocupação em suas íris eram
inconfundíveis.
— Eu sei.
Eram tantas coisas que não conseguia ser capaz de enfrentar em uma
conversa com minha própria família. Eu evitava a todo custo as datas
comemorativas para não precisar interagir ou ser uma pessoa que
definitivamente não era.
— Você não vai estar sozinho, Eric. Não precisa ter medo, é apenas nosso
pai.
— Não estou com medo, só não quero ter que vê-lo. A última vez que
tivemos uma reunião em família não terminou bem. E se Mason estiver lá
também?
— Não recebemos notícias se eles já estão em Boston, então não precisa se
preocupar com isso. Vamos?
Fiquei pensando.
Foi inevitável não revirar os olhos com a cena que se fundava a cada
segundo.
Tinha esquecido do fato que já não era mais de manhã, o relógio marcava
exatamente dezesseis horas.
— Não, nenhum.
Meus olhos não conseguiam olhar somente para ela. Meu subconsciente
estava fora de órbita. E isso permaneceu por um bom tempo, me deixando
nervoso.
Procurando seu corpo minúsculo, Hannah não era tão baixa como
aparentava ser aos meus olhos, constando que eu tinha um metro e oitenta
nove de altura, então, ficava óbvio que qualquer pessoa seria considerada
menor em compensação a mim.
Sem esperar que Hannah batesse na porta para anunciar que tínhamos
chegado, ergui a mão em direção da maçaneta, deixando-a completamente
incrédula com a minha ação e todas as perguntas existentes na minha
cabeça brigaram, para qual iria sair dos meus lábios primeiro, enquanto
analisava o que poderia ver pela frente.
Éramos filhos dele, não seus empregados que precisavam fazer parte para
serem anunciados. Quando foi que isso mudou? Fazia anos desde a última
vez que cruzei por esses corredores, não me recordava bem, talvez antes da
época em que meus pais tinham se separado?
Era melhor, uma época totalmente diferente naquele momento. Sem tantas
preocupações.
— Sempre, Hannah.
Travei.
Porra, não tinha como não ser afetado com a sua confissão. Parecia que eu
havia voltado a ter treze anos e estava recebendo a notícia da separação dos
meus pais.
Uma das coisas mais difíceis na vida era deixar Hannah chateada e, naquele
segundo, eu tinha sido o causador.
— Oh, claro que não. Entre, Jane — Oliver divagou, fazendo Hannah
enrugar a ponta do seu nariz arrebitado em uma careta.
— Jane, pai? — Ela repetiu seu nome do meio ainda sustentando um vinco
entre as sobrancelhas.
— Ah, Eric. Você veio! — Meu pai sorriu. Caralho, ele realmente estava
sorrindo? — Entra, filho — Tudo virou um vácuo na minha mente. Queria
poder levar momentos como aquele com tranquilidade, mas quase sempre
não sabia como reagir.
Aniversário de casamento.
— Não faça essa cara, Jane... — Oliver murmurou. — Sabe que se não
fosse muito importante, eu não impediria que você não fosse.
— Jane?
Era de fato importante, ao contrário do que ela fazia parecer. Minha irmã
evitava a todo custo problemas que tinham ligação diretamente com nossa
mãe desde muito nova e tudo piorou com a viagem da separação provisória.
Oliver respirou fundo, antes dos seus olhos verdes claros alcançarem os
meus. Sua expressão denunciava o quanto estava pensativo se deveria
realmente prosseguir. Analisei seus dedos se juntando sobre a mesa em uma
confirmação do que eu já sabia.
— Também outro assunto que quero falar com você, Eric — disse. Eu já
podia imaginar. — Já devem saber que Mason está voltando para Boston.
Com a filha dos Morrison.
Essa notícia seria uma manchete de primeira mão no segundo em que os
dois colocassem os pés para fora do avião. Podia imaginar o sorriso
provocativo de Mason quando nos encontrássemos. Minha mãe ficaria
extasiada pelo seu filho caçula com a novidade.
— Sim.
Na verdade, não. Eu ligava pra caralho. Mas eu não podia admitir. Seria
uma chacota para toda a cidade. As palavras estavam na ponta da língua,
elas poderiam me crucificar, ou seriam minha salvação.
— Estou com alguém, acho que entende que não tenho porque me importar
com Stacy — falei, mexendo os pés por debaixo da mesa, nervoso.
— Ah, pai. Ela é uma amiga minha... Ela é... Stéfany Taylor. Isso, Stéfany
Taylor — Hannah disparou, fazendo-me reprimir a vontade de unir as
sobrancelhas.
— Stéfany Taylor... — Nosso pai repetiu. — Posso jurar que já ouvi esse
nome em algum lugar. Ela não estava no evento beneficente ano passado?
Ambos assentimos.
Pela sua reação, pareceu que Hannah tinha dito a oitava maravilha do
mundo. A expressão no seu rosto era impagável, seus olhos brilhavam
orgulhosamente.
— É, filho. Acho que sua mãe vai querer conhecê-la, assim como eu. Será
uma boa oportunidade — Oliver divagou, sorrindo.
Boa oportunidade?
Não.
Definitivamente, não.
— Ok, eu queria poder conversar mais com vocês, mas tenho uma reunião
em alguns minutos... Me desculpem, crianças — ele murmurou,
espremendo os lábios.
Oliver tentava em todos os momentos ser um bom e decente pai para nós.
Ele se saía bem na maioria das vezes.
— O nome dela foi o único que veio à mente, mas foi você que começou
tudo, Eric. Não me culpe.
Bufei.
— Olha, até que não é uma péssima ideia. Você podia... Vamos ver... Entrar
em um acordo ou algo do tipo.
A parte ruim da minha vida novamente estava dando as caras e era mais
que um breve “olá”. O meu velho eu explosivo vinha tomando controle de
noventa e nove por cento da minha vida.
Como sempre, tão sonhadora. Talvez fosse por isso que o amor não foi
benevolente com a doce e intolerante garota na mesma medida de anos
atrás.
Porra, de onde tirou essa ideia tosca? Preferia engolir navalhas a ter que
implorar pela ajuda de Taylor.
— Não sonhe tão alto, Hannah. A queda pode ser mais dura do que você
pode imaginar — adverti.
— Você está agindo como uma criança mimada, Eric. Não seja cabeça
dura, talvez por obra do destino, tudo consiga se encaminhar do jeito certo
— Um sorriso brilhante mudou seu rosto.
Hannah não sorria com tanta facilidade nos últimos dias, parecia que nada
surtia um bom humor na sua vida. Eu a conhecia perfeitamente bem, sabia
de todas as suas facetas e via a menina sorridente guardada ali dentro.
Ainda não acreditava no que minha irmã tinha feito quando, finalmente,
deu hora a de irmos para casa. Se em algum momento eu tivesse alguma
ideia de que aquela burrada sairia dos seus lábios, eu nunca recorreria a sua
ajuda.
Não tive tempo suficiente para fazer Hannah voltar para o escritório do
nosso pai e desmentir tudo que ela havia dito, porque me faria como
mentiroso também, e seria pior ainda.
Eu teria dito que aquilo era apenas um sonho e que eu acordaria na manhã
seguinte com a mesma ressaca, a mesma tontura e tudo que poderia surgir
nos efeitos da ressaca.
— Eric, eu realmente quis ajudar, não sabia o que falar de imediato, foi
somente o nome dela que veio à minha mente — minha irmã disse,
soltando um sorriso fraco. — Em algum momento você vai me perdoar, eu
realmente sinto muito — resmungou, um pouco sem graça.
Era visível o quanto Hannah ficou desconfortável após a reunião ter sido
encerrada. Mas não esquentei com ela, realmente tive que enfrentar várias
coisas naquele dia e uma delas, era o meu passado, então não tinha muito o
que dizer por conta de condições diferentes.
William: Puta que pariu, eu quero matar o Hughes por ter metido ela nisso.
Droga, a julgar minha reação parecia que quem não tirava o nome da garota
da boca era eu. Depois da noite passada não consegui vê-la após sua dança,
para falar a verdade, não lembrava de muita coisa do que havia acontecido.
William: Não sei, cara. Diana nunca deu bola para ninguém, inclusive nem
para mim. Fica a pergunta:
William: Tem outro detalhe, Diana não sabe da existência do galpão nos
fundos do Destiny´s. Então...
Se tornava cada vez pior esse cenário enlouquecedor, e não podia negar que
sempre estive ciente dessa merda toda; Lutas clandestinas e a boate por si
só empregando garotas menores de idade para trabalharem como
dançarinas.
Esse era um dos motivos para nunca ter aceitado ir na boate antes, como
um cliente. Entretanto, os acontecimentos me fizeram ir diretamente para
minha destruição. A imagem de Diana tinha poderes inimagináveis na
minha cabeça outra vez.
SEM SAÍDA
PASSADO
A loira finalmente iria ter a sua primeira prova do vestido de noiva. Teria
alguns ajustes até o final da gestação, entretanto, saberíamos naquele dia
como seria o vestido misterioso de Ana, que ela mesma tinha desenhado do
zero.
Por mais que minha amiga estivesse animada e que eu quisesse muito
compartilhar da sua alegria, infelizmente, havia uma lacuna nos meus
pensamentos e não conseguia pensar em outra coisa, tudo girava em torno
da proposta de Eric.
Nunca imaginei que chegaria àquele momento. Merda, era bem pior do que
eu imaginava. Quando que eu pensaria em lutas ilegais? A cena se repetia
inúmeras vezes na minha frente. Foi aterrorizante. Me senti vendo um dos
episódios das agressões de Denner com Rose, e em outros momentos
lembrava do que ele fazia comigo.
E além de tudo, Eric Peterson estava metido até o último fio de cabelo. A
maneira como ele batia naquele homem, como o sangue escorria pelo rosto
do oponente, poderia até mesmo se remeter a um monstro. Pela primeira
vez na vida, eu o vi descontrolado. O meu pior pesadelo, tinha ganhado
uma passagem direta para o quarto do pânico, onde a garotinha na minha
mente continuava apavorada enquanto se escondia do próprio pai.
— Vamos, Sté. Holly deve estar nos esperando — Ana chamou-me, com os
olhos no espelho do meu quarto.
— Tudo bem, vou indo, também preciso encontrar algo para comer... — A
loira esfregou a barriga, mas não em um gesto carinhoso, demonstrava estar
realmente com fome. — Espero que tenha pelo menos algum docinho.
— Quem sabe você não acha alguns? Alex vive comprando guloseimas,
mas nunca as come de fato. Quer dizer, nunca vi — relembrei algo que
tinha notado nos últimos dias, às vezes ele as guardava no seu quarto e saía
novamente à noite com suas compras. Ele dizia que gostava de comer
algumas besteiras enquanto consertava os veículos da oficina.
— Estranho, não acha? — divagou, pensativa, porém o gesto não
conseguiu durar por mais tempo quando um barulho mergulhou pelo
quarto. Era semelhante a um ronco.
— Oh, claro. Dê logo comida para essa garota antes que nasça e prepare
algo para si mesma — censurei Ana, que logo levantou as mãos em
rendição. Assisti a loira alcançar a maçaneta, mas antes que ela saísse,
ouvimos um barulho que arranhava a porta. — O que é isso?
Ana optou por abrir a porta, mas não havia ninguém até que algo chamou
nossa atenção, e olhamos para o alto. O animal de pelagem escura entrou
no nosso campo de visão e então, Brigitte, a macaquinha de Alex, entrou.
— Vou levá-la para o Alex. Ele deve estar louco atrás dela — Observei
seus dedos tocando na pele dela cuidadosamente, logo depois, levantou seu
olhar azulado. — Não demore muito!
— Me aguarde.
— O que você está fazendo aqui? — Cruzei os braços, fingindo que a noite
anterior não se passou de um pesadelo.
— Olá, namorada. Não era assim que pensei que me receberia — a voz
rouca inundou meu quarto.
Não foi preciso muito para fazer todos os pelos existentes no meu corpo se
arrepiarem, não por suas palavras, mas pelo timbre carregado de sarcasmo.
— Já eu, acho que você deve ensaiar como vai interagir com a minha
família.
— Não precisa ir, pode ficar nessa casa o tempo que quiser.
— Outro detalhe, você não precisa voltar para o Destiny´s. Está livre, e não
precisará pagar sua mensalidade da faculdade.
— Você não vai mais embora — destacou, firme. Meus ombros estavam
apreensivos. Não podia negar que sempre mantive meu orgulho acima de
tudo e não queria depender de Eric para nada. — Como eu já disse, agora
você é minha.
— Apenas por uma noite e nada mais. Se acha que terá algum proveito
nisso, está muito enganado.
Meu olhar desceu para a caixa que ele tinha nas mãos, isso me fez ajustar a
postura. Caixas de presente tinham um efeito ruim sobre mim. Era como
uma regressão ao passado com passagem só de ida.
— Isto é para você — Eric percebeu onde meu olhar estava e deu passos
lentos em minha direção.
Infelizmente, ele não podia ouvir o pânico na minha mente. Nem sentir a
textura de minhas mãos suando ou saber como minha garganta estava
clamando pelo ar.
Pare, Peterson. Por favor, apenas pare de se aproximar de mim com essa
caixa.
Apenas… pare.
— Qual a parte que você não entendeu? Não quero nada seu.
— Além do mais, foi minha mãe que mandou para você — continuou
quando não disse nada.
— Sua mãe?
Soltando um resmungo, ele desfez todo o pacote, deixando que ambos
pudéssemos ver o que tinha de tão especial. Mas como um ser indelicado
que era, o loiro praticamente destruiu a caixa.
— Veja, sua sogra já ama você — A ironia escorreu ácida nos seus lábios,
diferente dos olhos que mostravam a realidade.
Tampouco um vínculo.
Por mais que falassem sobre o ódio e seus males, não conseguia reprimir ou
perdoar de fato.
De repente, meu olhar perdeu o brilho quando o tecido entrou na frente. Era
vermelho, com o caimento longo. A única coisa que podia ser aproveitado
dele era a cor.
Peterson era a única pessoa que não via o quão feio era aquele vestido,
ficaria desproporcional no meu corpo e todas as curvas desenhadas.
— Faça o que bem entender com ele, mas devolver, está fora de cogitação.
Com isso, ele deixou a peça de roupa sobre a minha cama e saiu do quarto.
No minuto que ouvi o som da porta batendo contra o batente, um grito
agudo saiu dos meus lábios.
Antes de deixar o quarto, olhei mais uma vez para o projeto de vestido
bagunçado sobre o meu colchão. Alcancei o tecido e o coloquei junto com
a bolsa, poderia juntar o útil ao agradável, já que estava me deslocando de
casa para o ateliê.
Assim o fiz, sem que Ana percebesse, pedi a Holly que reformasse todo o
vestido com todos os detalhes que havia explicado. E melhor, a ideia foi
boa o suficiente para me arrancar sorrisos orgulhosos de mim mesma.
Eric iria se arrepender de não ter devolvido o vestido. Pelo pouco que notei,
sua mãe seria a pessoa que eu mais odiaria naquela festa.
CICLO INTERMINÁVEL
Porque ninguém nunca ficou tão bem em um vestido
E isso machuca, porque eu sei que você não vai ser minha esta noite
Ninguém nunca me fez sentir como você faz
Nobody Compares | One Direction
PASSADO
Me dê um segundo, que eu
Eu preciso contar a minha história direito
Meus amigos estão no banheiro
Ficando mais altos do que o Empire State
1° Nada de beijos.
2° Somos até o fim somente um acordo.
3° Eu sempre vou te odiar.
4° Exclusivos até o acordo acabar.
5° Três meses de namoro até o casamento da Ana.
PASSADO
Um jantar em família.
Sempre achei que ocasiões como essas estivessem ultrapassadas,
infelizmente, foi um engano meu. Mamãe queria me infernizar até a morte,
no entanto, parecia que o mais novo premiado para esse show caótico, não
tinha sido apenas eu.
Hannah estava na mesa com Ethan à minha direita.
E na minha frente, estavam sentados Stacy e Mason.
Lilian não ficou satisfeita com a apresentação que fiz de Taylor.
Deveria imaginar que o seu aniversário de casamento não seria meu
único tormento nessa Terra e Lilian que sempre foi ocupada para os filhos,
estava com tempo suficiente para organizar jantares.
Naquele instante, implorava para alguém pisar no meu pescoço. Eu
já não aguentava mais nenhum segundo respirando o mesmo ar que Mason.
Lentamente, comecei a bater o solado do meu sapato contra o piso
de porcelanato azul.
— É maravilhoso ter nossos filhos conosco ao mesmo tempo, depois
de tanto tempo. Não acha, Oliver?
Sua mão deslizou sobre a do marido lentamente. Meu pai, por outro
lado, parecia sincero com o sorriso que desenhou nos lábios.
— Sim, querida. É bom tê-los juntos de novo, como uma grande
família! — Oliver demonstrava cansaço apenas com o olhar, mas não
deixou que isso ofuscasse a alegria em seu interior.
Não se pode ganhar todas, não é, pai? Foi isso que ele me ensinou
no decorrer da minha trajetória com meus problemas mentais.
Não se pode ganhar todas, Eric. Em algum momento, ter o gosto da
derrota é necessário. Elas servem para lhe colocar uma linha tênue. É
essencial para o seu equilíbrio como pessoa. Você pode acertar cem vezes,
mas em algum momento, vai acontecer de errar cinquenta. É como a vida
funciona em todo o seu mistério. Ninguém é de ferro, somos programados
para cair e levantar incontáveis vezes.
É, pai. Parece que no momento estou errando o triplo da média.
Não tenho mais esperança em um futuro.
Só queria ser a criança que sempre foi fã daquelas histórias infantis.
Foram elas que me incentivaram a leitura.
A vaga lembrança se fez mais forte em questão de segundos quando
consegui ouvir novamente a voz carregada, por conta da idade avançada.
Simplesmente reconheci. Era Acácia, uma senhora que, por anos, regrou
nossas vidas quando eu ainda era uma criança, mas infelizmente, a morte a
chamou.
Acácia amava contar as histórias que ouvia de sua mãe desde a
infância. A favorita dela, sem dúvidas, ainda conseguia me lembrar: Peter
Pan[9]. A paixão em prender minha atenção como a dos meus irmãos, foi
unicamente forte em apenas uma pessoa, ou melhor, uma criança.
A versão mais jovem e menos problemática de Eric Peterson.
Porque quando se é uma criança, a fase adulta parece nunca chegar.
O tempo corre lentamente.
Era difícil ter muitas expectativas para uma vida que demoraria para
acontecer, eu preferia ficar na biblioteca, preso em meus livros. Nos
universos fictícios que tinham o poder de me salvar, mesmo que
temporariamente, da minha realidade caótica.
De repente, eu estava entre a sala de jantar e o meu passado.
Os meus olhos não se moviam, eles apenas encaravam a garota ao
meu lado. Ela podia sentir. Ela com certeza havia notado o gesto, porque
seus ombros estavam tensos, enquanto o punho seguia fechado na barra fina
da toalha de mesa.
No brilho fino de luz, entre o abismo que nos separava, era quase
impossível identificar os nós que se formavam nas costas da sua mão. Seria
incômodo? Algo estava acontecendo com Stéfany.
O jantar. Todos ao seu redor. Até mesmo eu.
A respiração proseguia falha, ainda que ninguém houvesse calado a
porra da boca desde que se sentaram em seus lugares. Mas, de todas que se
sobrepunham na mesa, a única que não escutei, foi a voz dela. Desde que
entrou pelas infernais portas da minha casa, o silêncio a acompanhou.
Ela assistia tudo atentamente. Observava a farsa se alastrando ao
nosso redor.
Foi bem ali que descobri algo nela: Taylor era uma garota
observadora. Assim como eu, notava que tudo naquela família gritava
desespero. Uma grande mentira para a sociedade. Nunca poderia saber o
que se passava na sua mente, apenas uma única pergunta rondava meus
pensamentos.
O que você guarda atrás do seu coração partido, Taylor?
Era uma boa pergunta que, um dia, adoraria ter a maldita resposta.
Mas talvez isso nunca acontecesse. Pensar naquilo me fez unir as
sobrancelhas.
Quando foi que minha missão de vida se tornou descobrir o passado
de Stéfany Taylor?
Curiosamente, aquilo se tornou uma pergunta persistente nos
últimos dias turbulentos.
Paz era algo que se tornou inexistente por semanas a fio.
Em alguns dias, eu até podia ouvir como minha própria mente tinha
se tornado uma tarefa incansável, em outros, existia somente um eco.
Apertei rapidamente os olhos, precisando levar um tempo para
raciocinar e entender o que estava acontecendo ao meu redor, e
principalmente comigo. Não era normal e nisso eu deveria ser honesto.
Stéfany Taylor estava dominando os meus pensamentos, ações e
mais: os meus desejos.
A mentira que criamos estava se tornando algo que não tínhamos
controle.
Eu a queria fora das paredes da minha mente. E outra vez fui capaz
de ouvir a voz melancólica de Acácia: "Você não precisa sentir pena dela.
Ela era do tipo que gostaria de crescer. No final, ela cresceu muito mais
rápido do que qualquer outra garota.”
O que aconteceu com você, Stéfany? Quem te feriu? Quem te
arruinou?
Eu daria qualquer coisa para descobrir quem havia sido o filho da
puta. Seria capaz de arrancar a porra das suas mãos por tê-la trasformado no
que era. Uma garota fria, com um coração duro e um sorriso falso, que
escondia todas as suas nuances. Na maior parte do tempo era solitária, as
pessoas ao seu lado nunca definiam o quão social ela poderia ser.
Ela queria fugir daquela mesa, eu consegui desvendar a respiração
ritmada, as mãos prendendo a barra da toalha. Taylor estava se agarrando ao
que podia para se manter calma, mas a cada segundo que assistia aquele
desastre, mais certeza de que aquele jantar seria o nosso fiasco.
Ela estava vazia, carregava mágoa nos olhos. Mas era ambiciosa
pelo sucesso, talvez isso, em algum momento do seu dia, arrancasse um
sorriso vitorioso. Talvez uma chama calorosa pudesse abraçá-la e a
consolasse quando não tinha ninguém por perto.
Entretanto, por cima de tudo isso, existia uma língua afiada que,
sem dúvida, arrancava-me do meu mundo silencioso, mas nem um pouco
tranquilo. Ela me mostrava coisas inimagináveis e mesmo que, às vezes, eu
pudesse ser barulhento quando menos esperava, ela ainda continuava ali,
sendo o meu espelho. Algo que me assustava e me puxava para si.
Aquilo era uma droga. Um vício.
— Há quanto tempo estão juntos, Stéfany? É Stefany, não é?
Tomando minha atenção, ergui os olhos em direção de Lilian, com
os cotovelos apoiados na mesa, seu olhar parecia questionador ao tirar todo
o silêncio e se tornar o centro de todo entretenimento.
Eu sabia o que ela estava querendo fazer.
— Não há muito tempo.
— Há quase um ano.
Mesmo que a pergunta fosse direcionada apenas para a garota ao
meu lado, eu não deixaria aquela conversa tomar proporções maiores.
Minha mãe não teria seu show de horrores aquela noite, e se dependesse de
mim, nunca mais aconteceria.
— Não entendi — Lilian ergueu uma sobrancelha.
Maldição, não era hora para essas perguntas, mãe.
— Como ia dizendo... — Stéfany voltou a falar, mas percebi que seu
tom de voz estava diferente, pelo simples fato de que estava sendo
direcionado a mim. Com a chama se transformando nos meus olhos, eu a
encarei de volta. — Não considero um ano muito tempo. Para alguns isso
pode significar que sim, mas para mim ainda é pouco — rebateu a
provocação da minha mãe.
— Realmente — Pela primeira vez desde que se sentou à mesa, ela
concordou com algo diante daquele jantar. — Há vários pontos de vista e o
meu diz que um ano é muito tempo, principalmente quando seu filho está
com uma garota e sua família não faz ideia de quem é.
Não ouse continuar com essa droga de joguinho, mamãe.
Os olhos de Taylor penetraram os meus.
Ofuscantes e lindos.
— Eu sabia que eles estavam juntos, mãe. E eu sei quem Stéfany é
— Hannah murmurou, seu olhar se intensificava na sua bebida, onde o
vinho ainda era presente na taça. Seu dedo indicador traçou a borda
silenciosamente após dizer as primeiras palavras à mesa.
— Claro, meu coração de mãe fica tranquilo com isso, filha. Mas eu
quero saber da boca do novo casal — continuou a provocação.
— Lilian, por favor — A voz exausta do meu pai preencheu cada
centímetro da sala de jantar. Os olhos cansados denunciavam que a primeira
coisa que faria era seguir para a cama.
Pobre, Oliver.
— Ah, não vamos deixar que esse clima ruim destrua nosso jantar.
Principalmente por ser o jantar de boas-vindas, pessoal, a nós! — Mason
quis deixar a situação menos constrangedora, entretanto, ele sabia que todo
esse show forçado estava piorando tudo.
Seu tom de voz. O sorriso lascivo. E o modo como erguia sua taça.
Há anos que eu não sentia aquela brasa crescendo de mim.
— Você sabe que esse jantar não é somente para enaltecer o filho
pródigo, Mason — cuspi entredentes.
— Óbvio, é sobre nosso querido Eric que conseguiu uma namorada.
Aliás, irmãozinho, pensei que esse dia não chegaria.
— Não tem como arrumar uma namorada com você na mesma
cidade, Mason. Normalmente, você as toma de mim — Forcei um sorriso,
mas na verdade, eu queria estar batendo a cabeça do meu irmão até sangrar
naquela mesa em que suas mãos descansavam.
Sem jeito, capturei o segundo que Stacy tocou no ombro de Mason,
em seguida seus lábios sussurram algo. Apenas os dois sabiam.
— Estava demorando... — Hannah murmurou com desdém,
enquanto também assistia o momento do casal.
— Eu preciso... ir ao banheiro — Stéfany disse, tirando da atenção
de Mason.
Ele não merecia ser o centro de tudo.
Preferia queimar a deixar meu irmão estragar tudo na minha vida
novamente, seria demais. A mera cogitação fez uma neblina de fumaça me
cegar e só voltou quando a voz de Taylor soou como uma melodia doce nos
meus ouvidos, em seguida, o toque suave da sua mão se juntou na minha.
— Pode me levar, amor?
Porra.
Engoli em seco.
Mas que merda, Stéfany.
— Claro, my heart.
Um sorriso moldou seus lábios, enquanto afundava sua unha afiada
contra a minha pele. Aquele foi um sinal claro de que ela estava odiando
cada segundo ali.
Taylor soltou minha mão para empurrar a cadeira logo atrás dela, e
eu repeti o mesmo gesto para me pôr de pé. Dei passagem para que seguisse
na frente e nos locomovemos juntos até a área dos banheiros no andar de
cima, no mesmo corredor que ficava a biblioteca.
Iríamos subir juntos àqueles degraus infernais.
Ela parou em frente a escada, esperando por mim.
— Vá na frente — Abracei meus dedos nas suas costas, fazendo
com que ficasse completamente dura na minha mão.
Seu corpo se retraiu, mas por pouco não se esquivou do meu toque.
— Espero que você tire essa mão de mim o mais rápido possível.
Não acatei suas ordens, pelo contrário, intensifiquei meu aperto na
sua coluna. Taylor pareceu me odiar mais um pouco apenas pelo gesto,
tomando impulso para subir a escada o mais rápido possível.
Quando chegamos no fim, a ouvir dizer:
— Preciso que me leve a algum lugar com janelas.
Estranhei o seu pedido.
— Você não queria ir ao banheiro?
— Não, sua família me causa dores de cabeças terríveis. Quero
fumar, Peterson. Preciso fumar. Seria pedir demais?
— Tudo bem — Não evitei resmungar.
— Sua família é um porre, isso inclui você. A única pessoa que se
salva é Hannah — enquanto subia à minha frente, ia chiando. — Agora me
leve a um lugar com janelas — ordenou, sem nenhuma paciência.
Mordi a parte interna da bochecha, analisando a situação.
— A biblioteca.
Imediatamente seu rosto transmitiu dúvida.
— Há janelas imensas na biblioteca — suspirei, nervoso, pensando
se deveria levá-la até aquela área apenas para alimentar o vício.
— Uma biblioteca... Ana me mataria se soubesse que estou indo
fumar no lugar que ela facilmente viveria — confessou seus pensamentos,
mas ao mesmo tempo não negou.
Ela realmente estava disposta a ir até aquele cômodo.
Não haveria problemas quanto a isso porque sabia que ninguém iria
nos procurar ali, a única pessoa que perambulava com frequência naquele
lugar era eu, sempre que podia estava lá. Faça chuva ou faça sol, me sentia
em outro mundo.
Puta merda.
O pensamento me levou para fora da atmosfera, enquanto eu a
levava até lá.
As portas se mantinham fechadas desde sempre, só eram abertas
quando as empregadas iam limpar, fora isso, nenhum outro membro da
minha família frequentava aquele lugar. Havia livros infantis,
contemporâneos, terror, fantasia, livros sobre tudo, menos romance. Ler era
conhecimentos, foi o que eu mais procurei.
— Quando você vai parar de fumar essa merda? — indaguei,
enquanto cruzava os braços na sua frente.
Taylor tirava algo dentre seus seios e... porra, era um esqueiro. Em
seguida, seu olhar foi parar na bolsa que carregava consigo. Em hipótese
alguma a garota me permitiu guardá-la e naquele momento entendi o
porquê.
Ótimo.
Ela apoiou as duas mãos atrás do seu corpo, ainda carregando o
pequeno vício nos dedos. Com o gesto, a jaqueta abriu, fazendo-me engolir
um novo palavrão nos lábios.
Mas que merda, Taylor.
— Agora, respondendo a sua pergunta: eu posso parar a hora que eu
bem entender.
Eu ri, porra. Ri pra valer.
— Acho que não, no mínimo, você não aguentaria uma semana sem
a porra do cigarro, my heart — contornei o joguinho que aquela conversa
estava virando em questão de minutos. — Eu já experimentei esse seu
vício, pode parecer bom a longo prazo, mas não vai fazer você esquecer
realmente dos seus verdadeiros demônios.
— Você não me conhece de verdade, Peterson — Agarrei o
momento em que ela caminhou pelo ambiente de uma maneira tão... não
tinha palavras para descrever. O que aquela garota estava fazendo com a
minha mente? Ela tinha ganhado o domínio em pouco tempo. — Eu tenho o
poder de acabar com tudo no segundo que eu quiser.
— Tem? — sondei, erguendo as sobrancelhas, abrindo um leve
sorriso. Incrível como ela conseguia me tirar do sério e arrancar toda minha
sanidade em um curto espaço de tempo. Às vezes, eu só desejava que lidar
com aquela garota fosse mais simples, sem dores de cabeça ou estresse. —
Me diz, Taylor. Consegue ficar sem isso? — inclinei a cabeça apontando
sutilmente para o cigarro ainda em seus dedos. — Consegue se manter
longe do seu único meio de escape do mundo fodido?
Um sorriso cruza seus lábios.
— Nunca deixei que duvidasse do contrário.
— Poderia dizer que queria muito acreditar.
— Ah, pois deveria, às vezes você se deixa levar por tão pouco... e
em outras situações se torna um babaca muito careta — testemunhei suas
mãos fazerem alguns movimentos após terminar de provocar meu
sepultamento por três vezes seguidas, em cinco minutos compartilhando o
mesmo espaço. — Na verdade, você sempre foi tudo isso ao mesmo tempo,
não é?
— Filha da…
Stéfany ergueu um dedo e eu deixei o rastro de uma risada se extrair
da minha garganta, quando sem precisar verificar qual dedo ela tinha me
mostrado, já que um segundo antes, iria jurar que tinha sido o seu dedo
médio, mas pelo canto do olho vi seu indicador ainda levantado.
— Pense bem no que vai dizer, pode acabar se arrependendo
amargamente. Talvez me daria prazer.
— O sentimento poderia ser mútuo, mas antes eu eliminaria essa
palavra grotesca que você insinuou.
— Prazer? — Repeti, apenas para irritá-la, sabia que a deixaria fora
de si.
Meu humor estava sendo outro nos últimos meses, mas nunca
perderia a oportunidade de importuná-la. Talvez, eu estivesse sendo afetado
pelas travessuras de Alex. Nunca foi tanto como a cara dele fazer isso com
as pessoas ao seu redor.
Independentemente de quem fosse, não escaparia uma única pessoa.
Quer dizer, eu achava que Hannah estivesse fora desta lista ridícula.
— E qual seria?
— Exatamente, a última coisa que eu poderia sentir por você, seria
prazer. Já que tudo em você me traz sentimento contrário.
PASSADO
— Quem vai na fraternidade avisar sobre a festa? — Alex
perguntou, relembrando que ainda teria que convidar as meninas da
fraternidade onde Hannah morava.
— Vamos tentar a sorte — Nathaniel sugeriu, sacudindo as cinzas
do cigarro no cinzeiro na mesinha de centro.
Tudo começou com uma recepção para as calouras da CBU.
Nathaniel estava a fim de fazer uma festa antes das aulas iniciarem,
e isso foi um bom pretexto para chamar todas as garotas do campus para o
apartamento, onde morava Nathaniel Sullivan e Alexander James, ou
somente Alex, como preferiu ser chamado desde que nos tornando amigos
no colegial.
Nos conhecemos ainda fedelhos, e Nathaniel com suas tatuagens e
arrogância havia chegado por último na turma. Antes dele existiam Alex,
Hannah e eu.
E no momento que o colégio abriu inscrições para o time de futebol
americano, soubemos que poderíamos ser um time.
Um trio.
No nosso mundo, parecia inviável adicionar Nathaniel, não
encontramos motivos plausíveis ao ver o badboy, ele também nunca se
encaixaria conosco. Enquanto ele curtia cigarros e vandalismo, Alex
gostava de fazer piadas, na maioria contendo humor ácido.
E de repente, nos completamos como um grande quebra-cabeça.
Naquele instante, sabia que havia mais entre nós.
Uma conexão do caralho que se fundiu com tão pouco tempo de
convívio.
— Como isso vai funcionar, Alex? — indaguei.
— Ah, vamos tentar com a moeda. Primeiro um de vocês, em
seguida eu e a pessoa que perder.
— Que porra é essa, Alex? — Uni as sobrancelhas.
— Ah, cara. Você quer ir sem precisar jogar a moeda?
— Puta merda, jogue logo essa merda! — Nathaniel advertiu,
bufando enquanto passava a mão direita contra o rosto. O cara parecia
impaciente com nossa falta de vontade para ir até a irmandade.
— Primeiro de tudo, preciso de uma moeda para isso, irmão — Alex
resmungou, apalpando os bolsos. — E falando nisso, não tenho um tostão
furado comigo agora — O filho da mãe forçou um sorriso.
— Porra, você não tem uma moeda consigo? — questionei,
encarando-o.
— Não... Pode me arrumar?
Revirei os olhos, deslizando a palma contra o tecido, e de repente a
compreensão me acertou. Eu também não tinha nada dentro dos meus
bolsos.
— Ah, vocês só podem estar brincando com a minha cara —
Nathaniel, o único tatuado do trio, esbravejou. Não demorou dois segundos
para que ele fizesse surgir uma moeda entre seus dedos. — Aqui. Já que eu
quem arrumou a moeda, irei joga-lá. Cara ou coroa, Eric?
— Cara.
Nathaniel assentiu, jogando-a para o alto e, quando ela retornou para
suas mãos, todos nós olhamos para ela, tentando identificar o lado que
estava para cima.
Até que...
— Coroa, meu caro Eric — O moreno sorriu.
— Me passa a moeda — falei, inclinando minha mão na sua
direção. Nathaniel jogou-a entre meus dedos. Levei meu olhar sobre Alex.
— Cara ou coroa?
— Cara — Assenti arremessando-a para o alto.
— Mas que caralho! — xinguei.
Tinha dado cara.
Eu quero te levar a um lugar para que você saiba que me importo (..)
E eu quero beijar você, fazer você se sentir bem
Estou simplesmente tão cansado de dividir minhas noites
Eu quero chorar e eu quero amar
Mas todas as minhas lágrimas foram gastas
Em outro amor, outro amor
Another Love | Tom Odell
Estava cansada.
Havia dias que não sabia o que era uma noite de sono decente. E
pior, não podia reclamar, já que o compilado de situações me obrigam a
ceder à exaustão, a última coisa que tinha, era um minuto de descanso.
Respirei fundo, balançando as pernas carregadas de desespero. Eu
estava sentindo vontade de fumar, tinha que admitir.
Por mais que eu tivesse determinado que iria parar, meu organismo
estava contra mim. A nicotina tinha um poder indescritível que não
conseguia mensurar minha necessidade, essa era a verdade por trás do
primeiro passo que um viciado dá para o fim do vício.
Era só a ponta do iceberg de todas as etapas.
Sempre soube dos riscos e o que poderiam repercutir na minha
saúde. Foi por essa razão que aceitei o primeiro cigarro que me ofereceram
na vida. Eu estava tão quebrada após minha falha tentativa de suicídio, que
percorri a outros métodos de uma morte lenta, entretanto, quis acelerar o
processo passando a fumar cerca de quatro cigarros por dia.
Precisava de água.
Meu corpo implorava por algo que me acalmasse.
Água talvez ajudasse.
Pensando justamente nisso, vaguei meus olhos sobre a porta na
minha frente, e sem esperar mais um segundo, apressei os passos antes que
a aflição me impedisse de chegar no andar de baixo.
Passei pelo corredor e segui até as escadas, a cada degrau que eu
descia meu coração martelava descontroladamente contra o peito.
Droga, eu não iria durar muito ali.
Com as mãos trêmulas, abri a geladeira e peguei a garrafa de água,
me servindo. Quando pensei que poderia respirar melhor, a porta da entrada
se abriu e o meu humor foi lá embaixo, quando identifiquei o rosto de
Peterson.
Que droga.
— Você parece tão feliz em me ver — zombou, jogando suas chaves
na mesinha de centro próxima ao sofá.
— Como não ficar animada em vê-lo enquanto estou de
abstinência? Tudo que eu mais queria era te matar pelo desafio idiota.
— Que você aceitou, aliás.
Apertei os dedos em volta do copo.
— Argh, cretino!
— Um doce como sempre... — Seus olhos azuis me analisavam,
todavia ele passou tempo demais me encarando, que um incômodo surgiu
pelo meu corpo.
— Por que está me olhando assim?
— Porque vou te levar a um lugar, Taylor. Vista roupas confortáveis.
Pode ser leggings ou shorts largos — declarou, fazendo-me arquear as
sobrancelhas. Ele só podia estar brincando. — Estou falando sério.
— Quem disse que vou com você a qualquer lugar? — Cruzei os
braços.
— Porque você é minha namorada, e por mais que fique uma
gracinha com esses braços cruzados. Quero que vá no seu quarto e coloque
algo que possa se movimentar.
— Primeiro de tudo: Não somos namorados de verdade, se você não
entendeu. Segundo: não vou a lugar nenhum com você! — Fiz uma careta.
— Taylor, mexa essa bunda linda e faça o que eu pedir. Vamos
resolver essa sua abstinência, já que o desafio veio de mim. Ou vai acabar
perdendo, e todos vamos saber que Stéfany Taylor é refém do vício.
Respirei fundo, ficando em silêncio.
— Para onde vamos?
— Para o paraíso, Taylor. Onde consigo ser eu mesmo.
PARADISE
Era o que dizia no letreiro.
E logo abaixo, estava escrito em letras um pouco menores:
Academia de Luta.
— Não entendi — foi a primeira coisa que falei no momento em que
seu carro estacionou na frente do estabelecimento.
— Isso é uma academia de luta, Taylor, como o nome mesmo já diz.
Por isso que eu pedi para que colocasse roupas confortáveis — Seu olhar
desceu pelas minhas roupas. Eu estava usando uma saia de couro bem justa
no meu corpo.
Sempre que tinha a oportunidade de irritar ele, eu agarrava o
momento sem pensar duas vezes.
— Nem sei como concordei em sair do meu conforto para vir em
uma academia de luta. Eu só podia estar dodói da cabeça — me censurei,
cruzando os braços.
— Oh, princesa, saia desse pedestal que eu tenho mais o que fazer
— resmungou, colocando uma das suas mãos nas minhas costas, guiando-
me até a entrada da academia. Fechei a cara no mesmo instante que pisei na
superfície. — Aqui você vai ver que não é tão ruim deixar as armaduras
caírem. Todos aqui têm um passado. Somos uma unidade, Taylor. Aqui
ninguém melhor do que ninguém, se eu te trouxe aqui, para o lugar que
nunca trouxe nem mesmo meus melhores amigos, é porque tem um
significado.
Fiquei em silêncio.
Ficar daquela maneira parecia mais confortável.
Me sentia mais confiante.
— Eu fui diagnosticado com TEI aos treze anos, no começo achava
que era normal querer bater no meu irmão por algo tão bobo. Eu não tinha
controle da minha vida, mas depois que comecei a lutar, as coisas foram
entrando nos eixos — Peterson disse, umedecendo os lábios. — Aqui eu
sou mais que um transtorno. No tatame e no ringue, eu sou Eric, o
verdadeiro Eric. Não o cara calado, ou o cretino babaca que você gosta de
me nomear, Taylor. Agora deixo nas suas mãos. Você vai entrar ou quer que
eu chame um carro de aplicativo?
Não falei uma palavra.
Mesmo que ferisse meu ego, dei outro passo para dentro.
Peterson entendeu minha resposta, sabia que eu era durona demais
para dar o braço a torcer, enquanto vinha atrás de mim.
Meu olhar percorreu pela área, capturando cada centímetro daquele
lugar, até que... Droga, dei outro passo, mas para trás daquela vez. Não vi
quando Peterson se prontificou atrás de mim, no momento que meus olhos
viram alguém familiar. Ah, não.
Não. Não. E não.
William Clark estava ali.
— Ei, que fantasma você viu? — Peterson perguntou com as mãos
na minha cintura.
— Você voltou! — A voz dele ecoou nos meus ouvidos. Será que
ele tinha me visto?
Passos preencheram o espaço.
Puta que pariu.
— Diana? — Willian e eu estávamos frente a frente. Seus olhos
pareciam tão confusos enquanto me analisava, em seguida sua atenção foi
para o cara bem atrás de mim. — Eric?
— Precisamos conversar, Will. — O loiro, ainda atrás de mim,
declarou. — Aconteceu algo desde o meu último dia no Destiny´s. E...
Diana, não é Diana.
— E ela é quem então?
— Ela é Stéfany.
Seu queixo caiu.
— Puta merda!
— Fiquei exatamente assim quando eu a vi como prêmio daquela
noite — Eric afirmou. William ficou pensativo por alguns minutos.
— Você veio treiná-la?
— Eu ainda estou aqui, William.
— Eu sei, linda — Sorriu. — Então, você vai treinar aqui?
— Vou — declarei, por fim. Sem ter a maior noção do que fazer. —
É para isso que vim, não é?
— É, mas não vai render por conta da saia justa.
— Consegue me arrumar alguns shorts masculino? — Eric
perguntou para Will.
— Acho que consigo, é para ela? — Inclinou a cabeça na minha
direção.
— Isso — disse.
Não demorou para que ele retornasse com as peças.
— Pega aí — As jogou na minha direção.
Apanhei as roupas e as verifiquei.
— Eu espero muito que isso não seja seu, Clark.
Eu preciso de você na minha vida, sim, o dia todo, todos os dias, eu preciso
de você
E cada vez que te vejo, meus sentimentos ficam mais profundos
Kiss Me Thru The Phone | B1
E eu havia vencido.
E era provável que aquela tivesse sido a luta mais rápida de toda a
minha vida.
Sté era a causadora daquilo.
Ela tinha me provocado.
E eu a faria se arrepender por isso.
UM MÊS DEPOIS
Inspira e expira.
Tentei levar tudo que Alan dizia para mim enquanto me treinava na
adolescência e com o passar dos anos, minha dupla de treino se tornou
William.
Precisei de muita concentração para me acalmar, mas infelizmente
estava longe de conseguir. Fechei os olhos quando os passos soaram pelo
corredor.
Não fazia ideia de quem poderia ser, até que...
— Eric.
Levantei a cabeça procurando a voz de Alex.
— Ela quer ficar sozinha... — Balancei a cabeça antes que ele
pudesse terminar de falar. Eu sentia que algo estava estranho. Tudo estava
fora de linha. E por mais complicada que se tornou a situação, não podia
deixá-la sozinha. Não conseguia.
— Eric, por favor. Fazer escolta na porta do quarto não vai surtir
efeito. Stéfany quer ficar sozinha... — As palavras atingiram bem no centro
do meu peito.
Eu queria poder fazer algo por ela.
— Não posso, Alex. O resto do pessoal não sabe que ela está assim,
você não chegou a ver qual era o estado dela — contei para ele, ainda
atordoado.
Não sabia qual dos sentimentos que lutavam para se extrair de mim.
A mágoa ou a raiva.
Fechava os olhos e ainda podia sentir Stéfany bem na minha frente,
bêbada e machucada.
— Acho que ela foi para a sua antiga casa.
— Como sabe?
— Stéfany estava com uma marca de um tapa da cara, e o canto do
lábio estava sangrando — contei, irritado.
Só de lembrar, a raiva voltou para meu corpo.
Apertei o punho lado a lado do quadril.
— Porra! — Deixou o palavrão escapar. — Sabe, se quer fazer algo,
vingue o que fizeram com ela. Vá atrás do pai dela, Denner Taylor.
A surpresa estava estampada no meu rosto, não podia ver, mas
conseguia senti-la.
Eric: Me manda o endereço da casa dos pais da Stéfany.
Não demorou muito tempo para a mensagem retornar no meu
celular.
Ana havia me mandado o endereço.
Quase meia hora depois, eu estava na mansão dos Taylor, seu portão
estava entreaberto como se não tivesse nenhuma pessoa para fiscalizar
aquele lugar. Foi apenas uma brecha ao meu favor para entrar sem que
alguém precisasse me receber.
Sua porta, no entanto, se encontrava fechada. Eu precisei bater até
que alguém pudesse surgir dali. Foram incansáveis batidas contra a madeira
lisa, e de repente, ouvi a maçaneta sendo girada sobre meus olhos.
O rangido se alastrou em um barulho alto, mas houve hesitação
também.
A pessoa encarregada de atender a porta certamente estava com o
receio em seus ombros.
Mas então, algo aconteceu.
A porta se abriu por completo.
Uma mulher surgiu na porta.
Notei as semelhanças que gritavam entre as duas, possivelmente,
aquela era Rose. A mulher que a criou em conjunto do marido abusivo, e no
segundo que seus olhos me encontraram, ela temeu o pior.
Vi seu rosto perdendo a cor.
— O que quer? — Questionou engolindo em seco, puxando a porta
logo atrás de si. Ela estava escondendo algo. Eu sabia quem. Rose, mesmo
depois de tudo, continuava encobrindo o marido após anos sem voz no
casamento.
Sua alma constrangida implorava pelo grito de liberdade que foi
tirado dela.
— Onde está Denner?
— Por favor, vá embora! — Pavor moldava seus olhos castanhos
escuros.
Havia somente medo e desespero.
Eu sorri, era a única munição que eu precisava.
— Não, preciso resolver minhas contas com aquele filho da puta —
Foi apenas mencioná-lo outra vez, que ele surgiu por uma porta.
— Que porra é essa, Rose? Virou uma vagabunda também? — Algo
impregnava cada metro quadrado daquele hall quando ele abriu a boca para
xingar a esposa.
— Oh, Denner. Eu não vim atrás da sua esposa, vim resolver nossas
pendências — E foi apenas isso que falei antes de acertar o primeiro soco
no seu nariz.
Eu consegui ouvir o seu osso se quebrando, mas com o primeiro
golpe eu senti mais chance de ir para o contra-ataque. No terceiro soco, ele
caiu para trás, se esbaldando no chão.
Houve gritos desesperados e choros de uma criança no meio da sala,
eu sabia que pela lei, era definitivamente errado, mas eu não voltaria atrás
se pudesse escolher fazer de novo.
Eu queria fazê-lo sentir pelo menos um terço do que ele fez com
Stéfany.
O filho da puta que a quebrou.
FORA DOS LIMITES
Atenda o telefone
Harry, você não fica bem sozinho
Por que você está sentando no chão da sua casa?
As It Was | Harry Styles
..................................................................................................................................................................
..................................................................................................................................................................
..................................................................................................................................................................
..................................................................................................................................................................
..................................................................................................................................................................
..................................................................................................................................................................
..................................................................................................................................................................
..................................................................................................................................................................
..................................................................................................................................................................
..................................................................................................................................................................
..................................................................................................................................................................
..................................................................................................................................................................
..................................................................................................................................................................
..................................................................................................................................................................
..................................................................................................................................................................
..................................................................................................................................................................
..................................................................................................................................................................
..................................................................................................................................................................
..................................................................................................................................................................
..................................................................................................................................................................
..................................................................................................................................................................
..................................................................................................................................................................
..................................................................................................................................................................
..................................................................................................................................................................
..................................................................................................................................................................
..................................................................................................................................................................
..................................................................................................................................................................
..................................................................................................................................................................
..................................................................................................................................................................
..................................................................................................................................................................
..................................................................................................................................................................
..................................................................................................................................................................
..................................................................................................................................................................
..................................................................................................................................................................
..................................................................................................................................................................
..................................................................................................................................................................
..................................................................................................................................................................
..................................................................................................................................................................
..................................................................................................................................................................
..................................................................................................................................................................
..................................................................................................................................................................
..................................................................................................................................................................
..................................................................................................................................................................
..................................................................................................................................................................
..................................................................................................................................................................
..................................................................................................................................................................
..................................................................................................................................................................
..................................................................................................................................................................
..................................................................................................................................................................
..................................................................................................................................................................
..................................................................................................................................................................
..................................................................................................................................................................
..................................................................................................................................................................
..................................................................................................................................................................
..................................................................................................................................................................
..................................................................................................................................................................
..................................................................................................................................................................
..................................................................................................................................................................
..................................................................................................................................................................
..................................................................................................................................................................
..................................................................................................................................................................
..................................................................................................................................................................
..................................................................................................................................................................
..................................................................................................................................................................
..................................................................................................................................................................
..................................................................................................................................................................
..................................................................................................................................................................
..................................................................................................................................................................
....................................................................................
NOSSO ÚLTIMO ADEUS
PASSADO
UM MÊS DEPOIS
Inquieta.
Era a forma que eu me encontrava na espera dos advogados.
Rose estava do outro lado da sala pensativa, queria acreditar que sua
imagem não fosse de arrependimento.
Mas ela não poderia chegar até ali para voltar atrás na sua decisão,
daquela vez, eu não iria permitir. E por mais que Rose fosse uma vítima
assim como eu, somente os advogados sabiam qual seria seu futuro quando
fosse confessar o que Denner e ela fizeram comigo.
Eu queria fazer Denner arder no fogo do inferno. Queria fazer com
que ele sentisse todo mal que me causou a vida toda.
Eu perdi tanto por culpa dele.
Suspirei, sentindo um toque calmo e gentil no meu rosto, a palma
rechonchuda de Dean tocava no meu rosto suavemente. Esse garoto era o
único motivo para eu me manter sã.
Passei os dedos em volta dos seus cachos — parecidos com os meus
—, entretanto curtos, que começaram a se formar, talvez fosse algo que
todos na nossa família tinham em comum, pelo menos por parte da minha
mãe biológica.
Uma dúvida surgiu na minha mente.
— Com quem eu pareço, Rose? — Minha voz a fez olhar para mim.
— Como?
— Meus pais, com quem eu tenho mais semelhança? — Formulei as
palavras para ela.
— Oh... Você é uma mistura dos dois, como eu te contei uma vez.
Era verdade — murmurou, a menção ao nosso passado fez meu maxilar
endurecer.
Lembrava que dias depois disso, Denner me agrediu com chutes.
Como se eu fosse um brinquedo.
Meus olhos arderam, ameaçando que eu poderia acabar em lágrimas
na frente dela.
— Por que você deixou Denner fazer aquilo comigo?
— Stéfany... É um assunto complicado. Eu não tinha voz naquela
época e até um mês atrás — Rose parecia tão frágil naquele momento, ela
precisou respirar fundo para recuperar o controle.
Ficar sob pressão a deixava fora de órbita.
No momento que eu estava prestes a dizer algo, batidas foram
desferidas contra a porta. Rose e eu fizemos uma troca de olhares,
prendendo em seguida nossa atenção na maçaneta rodando.
De repente, um corpo surgiu.
Era Beckey entrando.
— Oi.
— Oi — minha tia e eu respondemos em uníssono.
— Posso falar com você antes dos advogados chegarem? — A
garota murmurou, com o olhar absorto em mim. Rebekah ou Beckey, já não
tinha as madeixas lisas como quando eu a conheci, seus olhos... eles não
eram mais o castanho escuro que vi nos últimos dois anos. Ela... Beckey
tinha escondido um traço da nossa família por anos. — É… ainda é
estranho pode dizer que somos irmãs. Tudo bem para você?
Beckey parecia com medo da minha resposta.
— Sim, é bom saber que existia alguém que procurava por mim. Só
queria que isso tivesse acontecido bem antes... — Deixei uma lágrima cair,
mas imediatamente a limpei.
— Eu queria muito isso, entretanto, eu era nova demais. Temos
apenas dois anos de diferença e não tinha como comprovar isso. Você
simplesmente poderia não acreditar em mim e achar que eu fosse uma
louca... não sei.
— Eu entendo que não estava no seu domínio, me desculpa. Não
posso te culpar por algo que você não tem culpa — declarei, abrindo um
meio sorriso.
— Você acha que poderíamos recuperar o tempo perdido?
Minhas pernas estavam quase cedendo.
— Claro, depois que tudo isso acabar eu quero saber tudo sobre
nossa família. Não me sinto confortável perguntando para Rose, sempre
acho que ela está omitindo algo. Mas não posso julgar completamente ela
por isso. Ela também sofreu.
— Sim... Posso te dar um abraço? Eu queria poder fazer isso desde a
primeira vez que estive na irmandade — Backey sorriu.
— Eu também quero esse abraço — Sorri de volta, em seguida seus
braços me envolveram.
Seu toque era quente, aconchegante. Era um abraço que nunca
imaginei que poderia sentir falta. Estávamos ali, as irmãs Hammond juntas
novamente, e daquela vez mais fortes do que nunca.
Porque eu achei que estava perdido.
Seremos implacáveis dali em diante.
— Obrigada por ter sobrevivido.
— Obrigada por ter me encontrado.
O momento durou por quase cinco minutos até uma movimentação
preencher o corredor. Os advogados tinham chegado, porém não eram
somente dois. Tinha quatro pessoas se aproximando.
Nathaniel tinha mencionado para Ana que seria uma casal a cuidar
do meu caso.
Annabeth e Sebastian Mclaughlin.
Havia dois jovens logo atrás deles.
Seria seus filhos?
O primeiro que surgiu na frente foi um garoto alto de pele
bronzeada. Suas madeixas eram castanhas onduladas que cobriam boa parte
da testa dele. Uma linda confusão por sinal, podia ver algumas tatuagens
cobrindo sua pele, mas não tanto por conta dos trajes que provavelmente
serviam para escondê-las.
A garota ao seu lado, era uma cópia esculpida dele, mas dava para
notar que ela era mais rebelde que o garoto. Parecia que ambos eram o
equilíbrio um do outro, todavia tão iguais. Sua pele não escondia a tinta que
desenhava várias partes do seu corpo, fazia questão de deixá-las visíveis.
Seus cabelos eram castanhos também, mas mantinha uma tonalidade rosa
em algumas mechas.
Wow, uma menina rebelde. Gostei.
— Você deveria ter pelo menos escondido as tatuagens, Rowena —
A voz do cara se instalou pelo corredor, seus pais pareciam não escutá-los
enquanto conversavam com um oficial.
— Pra que, Blake? Não é apenas uma reunião? — Rowena foi
apresentada sem perceber para mim.
— Às vezes, até mesmo em uma reunião você precisará manter a
linha, nossos pais odeiam quando você os desobedece — advertiu o garoto,
mas eu sabia que a sua intenção era amorosa. Dava para sentir. — Mas em
breve, você não precisará disso.
— Disso o que? — Rowena indagou.
— Se esconder do mundo, somos os Mclaughlin. — Um sorriso
diabólico cobriu os lábios dele. Ele claramente era uma definição de perigo.
Confusão daquelas que todos deveriam se manter longe. — Não
precisamos nos submeter a isso.
Foi apenas isso que eles me permitiram ouvir. Apenas o suficiente
para que eu entendesse quem são: Blake e Rowena Mclaughlin. Os
herdeiros dos advogados que irão cuidar do meu caso.
E mesmo com pouco, sabia que havia mais desses dois para
descobrir.
A pergunta me tirou de órbita.
— Boa tarde? — Toquei em sua mão como sinal de cumprimento.
— As senhoritas são Rebekah e Stéfany Hammond? — Não sabia se seria
permitido usar meu verdadeiro sobrenome, mas não aguentava mais
continuar com o Taylor.
Hammond era meu por direito.
— Sim — Falamos juntas.
— Perfeito, vamos entrar? Rose Taylor já está presente? —
Annabeth indagou, levando os dedos até a maçaneta.
— Está! — Beckey respondeu, logo em seguida, todos entraram e se
acomodaram. Começamos a colocar tudo na mesa, como se deu início,
quais eram as intenções de Rose em aceitar inicialmente mudar todos os
meu documentos.
Foi duro vê-la daquela forma.
Entrariam com o pedido para que todos os meus bens e os de
Beckey fossem alterados para outras contas bancárias. Denner não iria mais
usufruir de mais nenhum tostão nosso. Infelizmente, Rose também foi
indiciada, e, na medida que ela embarcou nisso, os pesos foram divididos.
Rose era cúmplice.
Ela precisou fazer algumas delações para perder alguns anos de
prisão.
Então, não pensou duas vezes antes de contar absolutamente tudo.
Foi condenada a doze anos de prisão, mas poderia conceder alguns
benefícios com a pena. Talvez em seis, cinco anos estivesse fora da cadeia e
poderia ver o filho sempre que pudesse.
Era incrível como nada nesta vida é por acaso, porque morei com
eles por doze anos.
E Denner seria encontrado e encaminhado para uma penitenciária, o
mais rápido que fosse possível. Sua pena seria dez vezes maior que a de
Rose, ele pagaria por muito.
Enfim, um momento de paz.
Ou não.
Ligação 1:
Alô, eu... Sinto muito.
Ligação 10:
Alô? São três horas da madrugada, Taylor. Onde você está? Eu...
porra. Você simplesmente sumiu. Todos estão procurando por você pela
cidade, por favor... apareça.
Ligação 132:
Recebemos a notícia que o seu avião caiu, my heart. Há tantos
feridos, mas infelizmente não conseguiram identificar todos os corpos sem
vida. Espero muito que o seu não seja um deles, eu me culparia para
sempre.
Ligação 189:
Oi… My heart… Eu sei que não deveria continuar, mas não
consigo. Estou voltando para casa. Para Boston, onde você deveria estar
também, acordada, em meus braços. Os médicos disseram que você está em
coma e que não tem uma previsão de quando vai acordar. Isso dói, pensei
que ouvir você falar que nunca existiria “nós” iria doer mais, mas, não
ouvir sua voz, é pior.
Ligação 190:
Ligação 191:
Eles não me deixam ver você, acham que vou perder o controle com você
porque brigamos, mas isso seria última coisa que faria. Você é o meu
controle, Stéfany. Como perderia, se a minha única motivação é ver seu
rosto? Você é o meu controle, Stéfany.
Sua voz girava na minha mente, tanto que era capaz de ouvi-lo
sussurrar as mesma palavras no lóbulo da minha orelha. Eric falou meu
nome pela segunda vez, a primeira por mais que tenha acontecido em um
episódio intenso, gostei de ouvir como soava nos seus lábios.
Foi reconfortante.
Ligação 230:
Ligação 280:
Ligação 304:
Os médicos disseram que seu quadro está evoluindo a cada dia.
Me sinto bem ouvindo isso.
Maravilhosamente bem.
Ligação 399:
A ligação ficou muda, não consegui ouvir por tanto tempo, mas
precisei ser paciente. Eu queria ouvir tudo que ele deixou para mim nesse
período. E pelo seu tom de voz constava que estava bêbado. De novo.
Ligação 400:
Ligação 422:
Você estava certa, Taylor. Nunca seríamos compatíveis, não temos um laço
forte o suficiente para nos unir. Não há salvação para a mentira que
criamos, é fatal, tanto que acreditei nela. Nunca poderá existir um nós.
Essa é a última ligação que eu deixo para você.
De instantes surgimos,
de mentiras nos formamos,
e, no fim, de verdades acabamos.
Entre o pó e as cinzas dos meus vestígios,
você me achará pela multidão,
porque é onde eu preciso do seu perdão.
Pisquei.
Piquei outra vez.
Após terminar de ler o poema com garganta apertada e sentindo meu
coração pulsando descoordenadamente, uma chuva de palmas animadas
soaram pelo auditório. Aquilo não deveria ter sido para mim, eu não
merecia aqueles aplausos.
Eram de Stéfany.
Ela estava aqui.
Eu sabia que ela estava aqui e perfeitamente onde poderia achá-la.
Não foi por acaso as pistas que colocou nas entrelinhas.
Sem conseguir moldar uma expressão, me obriguei a sair do palco,
indo em direção aos degraus com os olhos na multidão de estudantes e pais
que vieram prestigiar seus filhos.
Meus amigos me encaravam em silêncio.
Eles sabiam. Todos sabiam de tudo.
— Ela realmente está aqui? — Perguntei para que qualquer um
deles me respondesse.
— Eric, ela deixou explícito. Lembre-se... — Alex declarou,
segurando a macaquinha no colo.
Porra.
FIM.
UMA FAMÍLIA
Com amor,
April!
CAPA
1
SUBLIME
DEAL 2
NOTA DA
AUTORA 3
AVISO DE
GATILHOS 5
OBSERVAÇÕES
IMPORTANTES: 6
PLAYLIST
7
EPÍGRAFE
9
PRÓLOGO 1
1
1 13
2 15
3 18
4 27
5 36
6 40
7 45
8 51
9 64
10 74
11 80
12 87
13 93
14 97
15 101
16 106
17 112
18 120
19 124
20 128
21 133
22 142
23 145
24 150
25 157
26 162
27 166
28 171
29 174
30 178
31 181
32 183
33 185
34 189
35 195
EPÍLOGO 20
0
BÔNUS 202
AGRADECIMENTOS 2
04
SUMÁRIO 206
do gênero de comédia e sitcom criada por Jeff Franklin para o canal ABC.
[2]
Uma personagem fictícia da série de televisão de drama médico Grey's Anatomy, exibida pela
American Broadcasting Company (ABC) nos Estados Unidos. A personagem foi criada pela
produtora da série Shonda Rhimes e era interpretada pela atriz Sandra Oh. Introduzida como interna
cirúrgica no fictício Seattle Grace Hospital.
[3]
Se trata de uma desordem comportamental caracterizada por explosões de
raiva e violência, que são desproporcionais com a situação em questão por
meios de gritos impulsivos, desencadeados a partir de eventos relativamente
inconsequentes.
[4]
O jab é um soco lançado com a mão que está à frente da guarda. Esse é o
golpe mais rápido do boxe. Para executá-lo, o pugilista faz um giro do
quadril, seguido de um giro com o ombro. Nesse movimento de giro, o peso
da perna da frente tem de ser deslocado para a perna de trás, completando o
golpe.
[5]
Lago fictício criado unicamente para completar o enredo da autora.
[6]
Romance da escritora britânica Emily Brontë. Considerado um clássico da literatura inglesa,
recebeu fortes críticas no século XIX.
[7]
Cidade fictícia criada unicamente para o enredo.
[8]
Na mitologia grega, Medusa era uma criatura representada por uma mulher com serpentes no
lugar dos cabelos, presas de bronze e asas de ouro. Condenada a viver assim pela deusa Atena.
Simbolicamente, Medusa era trágica, solitária e a figura de uma mulher incapaz de amar e ser amada.
[9]
Peter and Wendy – ou Peter Pan –, publicado em 1911 por J.M. Barrie, narra a clássica história
dos irmãos Darling. Wendy, João e Miguel, que acompanham Peter Pan em uma viagem pela Terra
do Nunca, onde convivem com indígenas, sereias e estranhos animais. Juntos enfrentam o Capitão
Gancho e seus piratas, além de muitos outros perigos.
[10]
William Shakespeare foi um poeta, dramaturgo e ator inglês, tido como o maior escritor do
idioma inglês e o mais influente dramaturgo do mundo.
[11]
Comédia romântica lançada em 2003, com direção de Donald Petrie e estrelado por Kate Hudson
e Matthew McConaughey.
[12]
Comédia romântica lançada em 1999, com direção de Gil Junger e estrelada por Heath Ledger e
Julia Stiles.
[13]
A caixa de Pandora é um objeto extraordinário em que, segundo a lenda, os deuses aprisionaram
todas as desgraças do mundo. A caixa continha as guerras, as doenças físicas, espirituais e a
discórdia.
[14]
O Grinch é uma criatura verde e mesquinha que odeia o espírito de Natal.
É um movimento da perna e do pé sob a forma de batida. Com o tronco
[15]