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1.2.

Objetivo
O objetivo central deste relato é promover uma interpretação da experiência,
de ser pai/mãe de um filho sindrômico, que exige cuidados especiais, dessa forma
possibilitar para que estes, compreendam seu papel como sujeito, além de sua
interpretação paterna/materna.
Utilizando a perspectiva grupal psicanalítica, visamos compreender os
elementos objetivos e subjetivos que fizeram parte do interjogo grupal e dos
participantes, bem como todos os processos psíquicos que os cernem a relação
pai/mãe e filho, dessa forma oferecendo um espaço para escuta dos mesmos.

1.3. Demanda
Pais de crianças sindrômicas, as quais encontram-se em processo
terapêutico fisioterápico e/ou fonoaudiólogo.

2. Fundamentação Teórica

Psicanálise e Processos pré-natal

Para a psicanálise o nascimento de um bebe está calcado num legar


imaginário, simbólico, mas ao mesmo tempo real, o qual influencia na forma como
os pais desejam e ofertam à este filho, ou seja, o processo pré-natal é carregado de
representações e sentidos. Neste período, os pais, principalmente a mãe, revivem
seus processos narcísicos , entendendo este novo ser como seu objeto de amor e
libinal, “apresentando-se cada vez mais na condição inevitável de sujeito faltante, o
qual renuncia ao prazer” (VALENTE, LOPES, 2008).

Na primeira infância é caracterizada pelo período que se estende desde o


nascimento até os primeiros seis anos de vida da criança. Compreendida como
etapa de desenvolvimento muito importante, pois as experiências afetivas, sociais e
físicas desta época são levadas para o resto da vida.

Ocorre que, esta etapa do desenvolvimento infantil, se da em um processo


constante de simbiose, o qual configura-se extremamente significativo para a
criança, pois a mãe desempenha o papel de continente para seu filho, encontrando-
se em relação constante, onde não há separação entre mãe e bebê. Dessa forma,
para um desenvolvimento saudável, é necessária a inserção de uma nova figura
nesta relação, a qual irá desempenhar um novo papel, impondo regras e limites,
sociais e principalmente afetivos, em prol da configuração deste sujeito não como
objeto de desejo e simbiótico da mãe, mas como um novo eu.

“Identificando-se com um bebê, a mãe deposita nele um ideal de uma


possibilidade para si de ser o que não foi. Nas palavras de Freud (1914/1969) a
criança seria a possibilidade de imortalizar o ego, de se fazer eternizar” (LOPES,
VALENTE, 2008).

Pensando nessa perspectiva, propomos uma análise contextual, a respeito


destes processos de vinculação, transferências e projeção quando o nascimento de
um filho, não representa a idealização parental.

Com o nascimento do bebê, o filho real separa-se da mãe gradativamente e


onde este começa a tomar lugar do filho imaginário. Dessa forma, as decepções
paternas naturais vão surgindo, pois o próprio nascimento é fantasioso e idealizado,
portanto o parto é metaforicamente castrador para o campo materno, pois esta que
desejava-se fundir-se com criança, retoma à sua realidade. Já com o nascimento de
filhos sindrômicos, ou com má formação, este novo ser, produz estranhamento e
choque para as representações parentais, assim sendo, reativa os conflitos
psíquicos maternos e paternos, no que se refere à elaboração de seus processos,
partindo da perspectiva de que este bebê não poderá realizar suas projeções,
idealizações e fantasias, trazendo consigo grande sentimento de frustação em
relação ao desejo (MARQUES, 2008).

Luto Simbólico

O processo de luto está intrinsecamente associado às dinâmicas entre vida e


morte, sendo um processo físico, mas também psíquico. Para a teoria psicanalítica,
o luto é caracterizado “pela perda de um vínculo significativo entre a pessoa e seu
objeto. Este processo é carregado de simbolismo emocional e afetivo que relaciona-
se inconscientemente. Com a reativação de suas elaborações infantis, bem como
sua capacidade de adaptação à nova realidade, ou seja, no processo de luto
simbólico materno, o que está em jogo é o distanciamento entre a identificação do
ideal de ego e o desejo.
“Luto é um processo doloroso, porém, a justificativa para isso seria
encontrada quando tivessem condições de apresentar uma caracterização da
dor. Em 1926, o autor apresenta que a Dor, na dimensão mental, também é a
reação real à perda do objeto. Segundo Freud (1926), quando há uma dor
física, ocorre um alto grau do que pode ser denominado de catexia narcísica
da parte do corpo que se sente a dor. Na dimensão mental, diante de uma
situação dolorosa, essa catexia está concentrada no objeto do qual se sente
falta ou que está perdido, por não poder ser apaziguada, essa catexia tende a
aumentar com firmeza. A dor na dimensão mental produz a mesma condição
econômica que é criada diante de uma dor física. A transição da dor física
para a mental corresponde a uma mudança da catexia narcísica (investida na
parte danificada do corpo) para a catexia do objeto (objeto perdido do qual se
sente falta), (FREUD, 1915).
Segundo Gaudener (1985), “os pais de uma criança deficiente, estão em
constante luto, devido a perda do filho saudável que não veio, existindo dessa forma,
apenas uma criança substituta e definitivamente lesada”.

Não obstante, os pais sofrem devido a necessidade psíquica de desvencilhar-


se desta fantasia, sofrem em relação à sua auto-estima, pois apresentam
pensamentos calcados no estigma social. Nasce este ser, não esperado e idealizado
pelos pais, que devido a falta de preparação para este, cernem as ansiedades de
caráter depressivo. Ao mesmo tempo, existe nessa demanda a negação consciente
e inconsciente quanto aos sentimentos reais de desgosto em relação à criança
(MARQUES, 2008).

Assim, a elaboração deste luto simbólico, fica cada vez mais deficitária, deste
evento perturbador e doloroso, pois o filho que representaria a projeção da própria
imagem materna do ideal de ego descaracteriza-se, representando retrato oposto,
onde o diagnóstico afeta diretamente a imagem narcisística da mãe, causando-lhe
uma ferida ao seu amor próprio, e todo seu referencial de identificação interna,
sugerindo distanciamento de si e perda brusca sobre seu entendimento indenitária
(MANNONI, 1988).

Referencias

MARQUES, Luciana Pacheco. O Filho Sonhado e o Filho Real. Revista Brasileira


de Educação Especial. Departamento de Psicologia da Educação e Psicologia
Educacional da UFJF, 2008. Disponível em: <
http://www.abpee.net/homepageabpee04_06/artigos_em_pdf/revista3numero1pdf/
r3_comentario01.pdf > . Acesso em: 09 de Dezembro de 2016.
CHECINNATO, Durval. Psicanálise dos Pais. À S'occuper Uniquement de L'enfant,
On Le Rejette en tant que sujet. Disponível em: <
http://www.acpsicanalise.org.br/docs/psicanalise-dos-pais.pdf > . Acesso em: 09 de
Dezembro de 2016.

BONFIM, Tania Ekena, CAVALCANTE, Andreza Catarine, SAMCZUK, Milena Lieto.


O Conceito Psicanalítico do Luto: Uma Perspectiva a partir de Freud E Klein.
Instituto Metodista do Ensino Superior, 2013. Disponível em: <
http://pepsic.bvsalud.org/pdf/psicoinfo/v17n17/v17n17a07.pdf > . Acesso em: 09 de
Dezembro de 2016.

NEDER, Malthide, QUAYLE, Julieta. O Luto pelo Filho Idealizado: O Atendimento


Psicológico de casais ante o Diagnóstico de Malformação Fetal Incompatível
com a Vida. Hospital das Clínicas, São Paulo, 1998. Disponível em: <
http://www.infocien.org/Interface/Colets/v01n01a06.pdf > . Acesso em 10 de
Dezembro de 2016.

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